Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Escola

Transcrição

Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Escola
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Escola Nacional de Botânica Tropical
Conhecimento etnobotânico de mateiros residentes no
entorno de Unidades de Conservação no estado do
Rio de Janeiro
Felipe de Araújo Pinto Sobrinho
2007
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Escola Nacional de Botânica Tropical
Conhecimento etnobotânico de mateiros residentes no
entorno de Unidades de Conservação no estado do
Rio de Janeiro
Felipe de Araújo Pinto Sobrinho
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Botânica, Escola
Nacional de Botânica Tropical, do
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do título de
Mestre em Botânica.
Orientador: Rejan R Guedes Bruni
Rio de Janeiro
2007
ii
Conhecimento etnobotânico de mateiros residentes no entorno de
Unidades de Conservação no estado do Rio de Janeiro
Felipe de Araújo Pinto Sobrinho
Dissertação submetida ao corpo docente da Escola Nacional de Botânica
Tropical, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro - JBRJ, como
parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre.
Aprovada por:
Prof. Dra Rejan R. Guedes-Bruni (Orientador) __________________
Prof. Dr. Rogério Ribeiro de Oliveira
___________________
Prof. Dr. Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira ___________________
em 12/ 04/ 2007
Rio de Janeiro
2007
iii
P659
Pinto Sobrinho, Felipe de Araújo
Estudo etnobotânico de mateiros residentes no entorno de
Unidades de Conservação no estado do Rio de Janeiro. – Rio de
Janeiro, 2007.
xi, 73 f. : il.
Dissertação (mestrado) – Instituto de Pesquisas Jardim Botânico
do Rio de Janeiro/Escola Nacional de Botânica Tropical, 2007.
Orientadora: Dra. Rejan R. Guedes-Bruni.
Bibliografia.
1. Mata Atlântica. 2. Etnobotânica. 3. Unidades de Conservação
(RJ) - Entorno. 4. Rio de Janeiro (Estado). I.Título. II. Escola Nacional
de Botânica Tropical.
CDD 581.61
iv
Resumo
(Conhecimento etnobotânico de mateiros residentes no entorno de Unidades de
Conservação no estado do Rio de Janeiro). No presente estudo propôs-se investigar o
conhecimento local de mateiros moradores no entorno de duas Unidades de Conservação
no estado do Rio de Janeiro: Reserva Biológica do Tinguá e Reserva Biológica de Poço das
Antas. São reunidas informações sobre o uso de plantas a partir de entrevistas com oito
informantes. Para o Entorno da Rebio do Tinguá (ERBT) foram obtidas 136 citações de uso
de 116 espécies, subordinadas a 49 famílias, para o Entorno da Rebio de Poço das Antas
(ERBPA) totalizaram-se 116 citações de uso de 76 espécies subordinadas a 30 famílias
botânicas. As famílias que apresentaram maior riqueza no ERBT foram Leguminosae,
Asteraceae, Myrtaceae, Bignoniaceae, Apocynaceae, Lauraceae e Anacardiaceae. Já para o
ERBPA as famílias mais ricas em número de espécies foram Leguminosae, Lauraceae,
Bignoniaceae e Asteraceae. A categoria de uso que se destacou no ERBT foi a medicinal,
sendo a maioria dessas espécies, árvores com ampla ocorrência na Floresta Atlântica.
Dentre essas espécies medicinais o Jatobá (Hymenaea courbaril) obteve o Índice de
Importância Relativa (IR) máximo, sendo a espécie mais versátil em relação aos seus usos
medicinais. Para o ERBPA as categorias combustível e construção tiveram destaque, sendo
muitas dessas espécies bem comum na região do entorno e também nas áreas antropizadas
da Rebio. O índice de Shannon (H’) obtido para as áreas foi de 2,02 para o ERBT e 1,85
para o ERBPA. O maior número de espécies citadas pelos mateiros do ERBT, pode estar
relacionado a maior riqueza florística dessa região, o que ocasiona um maior número de
recursos disponíveis. Verificou-se que existe uma diferença significativa entre o
conhecimento dos mateiros nas duas áreas estudas (X2 = 49,59; g.l = 7; p<0, 010), valendose do teste Qui-Quadrado (X2). Estudos dessa natureza tornam-se cada vez mais
importantes nas regiões sob domínio da Mata Atlântica, que apesar do histórico de
destruição ainda possui uma grande importância econômica, ecológica, cultural e social.
Esses mateiros, devido à grande vivência nas matas das regiões de estudo, podem ser
consideradas como verdadeiros especialistas locais. Estes atores sociais não deveriam ser
mais vistos como meros informantes locais, pois seus conhecimentos poderiam ser úteis na
manutenção e administração das unidades de conservação.
Palavras chaves: Floresta Atlântica, etnobotânica, conhecimento local, Entorno de
Unidades de Conservação, mateiros.
v
Abstract
(Ethnobotanical knowledge of foresters residing at the surroundings of conservation units
in the state of Rio de Janeiro). The present study proposes to investigate the local
knowledge of foresters living at the surroundings of two conservation units in the state of
Rio de Janeiro: Tinguá and Poço das Antas Biological Reserves. Informations about the use
of plants were gathered from interviews with eight informants. For the surroundings of the
Tinguá Biological Reserve (STBR) a total of 136 citations of use were found for 116
species, subordinated to 49 families. For the surroundings of the Poço das Antas Biological
Reserve (SPABR) a total of 116 citations of use were found for 76 species subordinated to
30 botanical families. The families that presented the greatest richness at STBR were
Leguminosae, Asteraceae, Myrtaceae, Bignoniaceae, Apocynaceae, Lauraceae and
Anacardiaceae. For the SPABR the richest families in number of species were
Leguminosae, Lauraceae, Bignoniaceae and Asteraceae. The medicinal use category was
the most cited for STBR, most of these species being trees widely spread in the Atlantic
Forest. Among these medicinal species the Jatobá (Hymenaea courbaril) obtaind the
maximum relative importance index (RI), being the most versatile in relation to its
medicinal uses. For SPABR, the categories fuel and construction were highlighted, many of
these species being very common in the surroundings as well as the altered areas of the
reserve. The Shannon index (H’) obtained for the areas was 2,02 for STBR and 1,85 for
SPABR. The higher number of species cited by the STBR foresters can be correlated to a
higher floristic richness of this region, generating a greater number of available resources.
A significant difference between the knowledge of foresters from these studied areas was
verified (X2 = 49,59; g.l = 7; p<0, 010), using the Qui-square (X2) test. This kind of study
has become increasingly important in the Atlantic Forest domain, that although the history
of devastation still present a great economical, ecological, cultural and social importance.
These foresters, due to their great experience in the jungles of the studied region, can be
considered true local experts. These social actors can be regarded as much more than local
informers, being able to influence with their knowledge the administration of conservation
units.
Key words: Atlantic Forest, ethnobotany, local knowledge, Surroundings of Conservation
Units, foresters.
vi
Agradecimentos
Primeiramente a Deus, por me guiar nesse caminho de luz e paz, e por fazer da minha vida
um eterno presente;
À minha orientadora Dra Rejan, pela amizade e confiança e por todos os ensinamentos não
só acadêmicos mais também de generosidade, humildade e paciência;
Ao amigo Alexandre Gabriel Christo“Chicão”, pelo companheirismo, generosidade e pelas
boas idéias que ajudaram a enriquecer nosso trabalho;
À Escola Nacional de Botânica e, conseqüentemente, ao Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, pela dedicação aos seus alunos de pós – graduação, por todo auxilio logístico e ao
corpo de funcionários e de pesquisadores pelo apoio e entusiasmo.
À Dra Ariane Luna Peixoto pela atenção e carinho ao ler a dissertação na disciplina
seminários II e pelas importantes dicas para o trabalho;
Aos pesquisadores e taxonomistas que me auxiliaram na valiosa identificação de material
botânico, em sua maior parte em estado vegetativo, sem o qual o trabalho não poderia ter
sido realizado com a acurácia desejada: Alexandre Quinet (Lauraceae), Adriana Lobão
(Annonaceae), Marcelo de Souza (Myrtaceae), Ronaldo Marquete (Flacourtiaceae),
Sebastião José da Silva Neto (Rubiaceae), Haroldo Cavalcante de Lima e Dra. Marli Pires
Morim (Leguminosae), Dra. Ariane Luna Peixoto (Monnimiaceae), Dra. Elsie Frankling
Guimarães (Boraginaceae e Piperaceae), Dr. José Fernando de A. Baumgratz
(Melastomataceae), Claudine Massi Mynssen (Pteridófitas), Dra. Regina Helena Postch
Andreata (Smilacaceae );
Ao Programa Mata Atlântica - PMA, e, por conseguinte à Petrobrás, pelos recursos
alocados para o desenvolvimento da pesquisa. Agradeço também a ajuda dos bolsistas do
PMA Leonardo Gnatalli e Rosenbergue da Silva na solução de alguns problemas relativos a
informática e assuntos afins;
À Curadoria do Herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB) pela facilidade de
acesso ao seu acervo, bem como pela qualidade do material consultado;
À Márcia Aparecida Demby e Abílio Cardoso, ex-coordenadores do programa de pósgraduação da ENBT, por toda dedicação e auxilio, sempre preocupados com o bom
andamento da dissertação;
Ao irmão Bruno Rezende Silva, pela amizade, apoio e pelas meditações coletivas, que
foram de fundamental importância para que a tranqüilidade e a paz sempre estivessem
presente, fazendo com que tudo ocorresse da forma mais natural, sem estresse;
vii
Aos amigos de pós-graduação: Arno, Rodrigo, Maria, Daniele, Jack, Isabel, Marcelinho,
Jerônimo, Rúbia e Inês,
Ao Sr Cristiano Camerman por ter permitido que parte do estudo fosse realizado na RPPN
(CEC) Tinguá, e a todos funcionários da RPPN, pela amizade e apoio;
Aos professores de campo “mateiros”: Sr Walter, Sr Francisco, Sr Almir, Totonho,
Adilson, Sr Antonio, Sr Durval e Sr Ismael, por todo apoio, paciência e ensinamento, sem
vocês esse estudo não seria possível, valeu!!!
Á minha família pelo apoio, amor e carinho;
E finalmente, mas não menos importante e a todos meus irmãos e tios da Sahaja Yoga pela
amizade e carinho e a Shri Mataji Nirmala Devi, por ter me ensinado o verdadeiro sentido
da vida.
viii
Sumário
1. Introdução ......................................................................................................
12
2. Síntese bibliográfica sobre conhecimento local.............................................
14
3. Área de estudo ...............................................................................................
17
3.1 - O município de Nova Iguaçu ............................................................
17
3. 2 - A Reserva Biológica do Tinguá e seu entorno ................................
18
3. 3 - O município de Silva Jardim ...........................................................
21
3.4 - A Reserva Biológica de Poço das Antas e seu entorno ....................
22
4. Métodos .........................................................................................................
26
4.1 - Informantes locais “mateiros” ..........................................................
26
4.2 - Trabalho de campo ...........................................................................
27
5. Resultados e discussão ...................................................................................
30
5.1 - Entorno da Reserva Biológica do Tinguá ( ERBT )..........................
30
5.2 - Entorno da Reserva Biológica de Poço das Antas (ERBPA)............
47
6. Comparação entre as áreas..............................................................................
56
7. Conclusões .....................................................................................................
62
8. .Referência bibliográficas .............................................................................
64
Índice das tabelas; e figuras (mapas e gráficos )
Tabelas
Tabela 1. Descrição das categorias de uso das espécies indicadas pelos mateiros
nas áreas de estudo ................................................................................................
28
Tabela 2. Relação de espécies referenciadas como úteis nos entorno da Reserva
Biológicas do Tinguá, Nova Iguaçu, RJ................................................................
35
ix
Tabelas. continuação...
Tabela 3. Categorias de doença associadas às espécies medicinais, citadas pelos
informantes no ERBT, Nova Iguaçu, RJ, de acordo com a classificação da
Organização Mundial de Saúde, porcentagem de espécie medicinais citada em
cada categoria de doença e seus respectivos tratamentos segundo citações dos
mateiros.................................................................................................................
44
Tabela 4. Índice de Importância Relativa (IR) das espécies indicadas como
medicinais no entorno da Rebio do Tinguá, Nova Iguaçu,.. RJ............................
47
Tabela 5. Relação de espécies referentes como úteis no entorno da Reserva
Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, RJ....................................................
52
Tabela 6. Relação de espécies referentes como úteis comuns às duas áreas de
estudo.....................................................................................................................
57
Tabela 7. Comparação de índices de diversidade em estudos realizados em
comunidades situadas no domínio da Mata Atlântica e ecossistemas
associados..............................................................................................................
61
Figuras
Figura 1. Mapa de localização da Reserva Biologica do Tinguá, estado do Rio
de Janeiro, Brasil, e municípios limítrofes, incluindo o bairro de Tinguá ............
24
Figura 2. Mapa de localização da Rebio de Poço das Antas. e da comunidade
Gleba Aldeia Velha ...............................................................................................
25
Figura 3. Distribuição dos habitats das plantas citadas como úteis pelos
mateiros moradores do ERBT, Nova Iguaçu RJ.
...........................................................................
Figura 4. Famílias que se destacaram quanto às suas riquezas específica no
ERBT, Nova Iguaçu, Tinguá, RJ...........................................................................
31
33
Figura 5. Distribuição das formas de vida das espécies indicadas como úteis
pelos mateiros moradores do ERBT, Nova Iguaçu, Tinguá, RJ...........................
33
Figura 6. Distribuição da porcentagem de espécies indicadas em cada categoria
de uso, pelos mateiros moradores do ERBT, Nova Iguaçu, Tinguá, RJ................
34
Figura 7. Curva de esforço amostral relacionada às citações das espécies pelos
mateiros moradores no ERBT, Nova Iguaçu, Tinguá, RJ.....................................
34
x
Figuras. Continuação...
Figura 8. Distribuição das partes vegetais utilizadas para o preparo de remédios
pelos mateiros do ERBT........................................................................................
42
Figura 9 - Distribuição dos habitats das plantas citadas como úteis pelos
mateiros moradores do ERBPA, Silva Jardim, RJ................................................
47
Tabela 10 – Descrição das partes vegetais mais utilizadas pelos informantes....
48
Figura 11. Famílias que se destacaram quanto às suas riquezas especificas no
ERBPA, Silva Jardim, RJ......................................................................................
50
Figura 12. Distribuição das formas de vida das espécies indicadas como úteis
pelos mateiros moradores no entorno da reserva Biológica de poço das Antas,
Silva Jardim, RJ.........................................................................................................................
50
Figura 13. Distribuição da porcentagem de espécies indicadas em cada
categoria de uso pelos mateiros moradores no entorno da Reserva Biológica de
Poço das Antas, Silva Jardim, RJ..........................................................................
51
Figura 14. Curva do esforço amostral relacionada às citações das espécies pelos
mateiros moradores no Entorno da Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva
Jardim, RJ.....................................................................................................
51
Figura 15. Distribuição do número de espécies indicadas em cada categoria de
uso.nas duas áreas de estudo..................................................................................
59
Figura 16. Curva do esforço amostral relacionada às espécies citadas pelos
mateiros no Entorno das Reservas Biológicas do Tinguá (ERBT) e de Poço das
Antas (ERBPA).....................................................................................................
60
Anexos...................................................................................................................
72
xi
1. INTRODUÇÃO
As formações florestais que compõem o Domínio Atlântico brasileiro têm sofrido
influência de antropização, que data desde a época da colonização até os dias atuais. A
despeito de sua descaracterização e fragmentação, elas possuem grande importância
ecológica, econômica, social e cultural, decorrentes de sua excepcional biodiversidade e
elevadas taxas de endemismo (Pavan-Fruehauf, 2000), razão pela qual é considerada o
quinto, dentre os 25 “hotspots” mais importantes do mundo, segundo Myes et al.
(2000).
A forte pressão antrópica que esses remanescentes vêm sofrendo tem levado à perda
de extensas áreas verdes, da cultura e das tradições das comunidades que habitam estas
áreas, as quais dependem muitas vezes de recursos do meio para sobreviver (Fonseca &
Sá 1997). Outro fator que contribuiu para a erosão dessa cultura local foi o modelo
excludente, adotado no Brasil, para a criação das unidades de conservação, para o qual,
essas populações, que habitavam dentro ou no entorno dessas áreas, constituíam uma
ameaça a sua integridade.
Atualmente, um novo paradigma vem surgindo, onde essas populações têm sido
vistas como atores sociais de grande importância, tanto na criação, como na manutenção
dessas áreas protegidas. Segundo Albuquerque (2002), os conhecimentos acumulados
pelas populações locais, constituem poderosa ferramenta dos quais, desenvolvimentistas
e conservacionistas podem se valer no planejamento e conservação.
Através do “saber local” podem surgir formas sustentáveis de utilização e,
conseqüente, conservação in situ dos recursos naturais existentes nessas florestas, o qual
corre o risco de se perder devido a fatores, tais como: falecimento ou doenças senis das
pessoas mais idosas que os detêm e, ao mesmo tempo, desinteresse ou até mesmo
empobrecimento de informações por parte dos indivíduos das camadas etárias mais jovens.
À perda do “saber local”, podem estar associados, também, fenômenos decorrentes da
urbanização, das migrações internas, da massificação imposta pelos veículos de
comunicação, da desvalorização do conhecimento dos mais velhos – estes dois últimos
mais relacionados aos jovens - que por sua vez, ocasionam a perda da identidade cultural.
12
Para Boerna & Koohafkan (2004) esse sistema de conhecimento é gerado pelas
práticas específicas da inter-relação entre esses atores com o ecossistema, incluindo sua
paisagem, água e recursos biológicos ocorrentes no mesmo. Esta relação esta legitimada,
regulada e orientada pelo direito de acesso aos recursos. Para proteger a existência desse
sistema de conhecimento e sua contínua evolução, primeiramente, temos que salvaguardar
a existência dessa específica relação entre o povo e seu ambiente. Essa relação é de crucial
importância para a sobrevivência desse sistema de conhecimento local e para o manejo
sustentável do ecossistema.
Na região do Domínio Atlântico, conhecedores locais - identificados em suas
regiões por seus elevados conhecimentos sobre trilhas, plantas e animais das áreas naturais
- designados como “mateiros” vêm desempenhando importante papel no auxilio para o
desenvolvimento de pesquisas científicas. Especialmente no âmbito do Programa Mata
Atlântica (PMA), do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), há
dezoito anos, os raros mateiros encontrados nas regiões têm sido integrados à equipe
executora dos diferentes projetos em curso, em atendimento à missão de promover o
conhecimento das comunidades vegetais dos remanescentes de Mata Atlântica em diversas
Unidades de conservação (UC’s) do estado, entre elas: Reserva Ecológica de Macaé de
Cima, Estação Ecológica Estadual do Paraíso, Reserva Biológica de Poço das Antas,
Parque Nacional do Itatiaia e, mais recentemente, a Reserva Biológica do Tinguá.
De acordo com Rodrigues (1997) os estudos etnobotânicos têm sido de grande
importância, no resgate desses conhecimentos locais, principalmente, para áreas a serem
conservadas. Sua importância reside na constatação de que moradores locais conhecem,
profundamente, e, às vezes, de modo surpreendente ao universo acadêmico, os recursos
naturais disponíveis nessas áreas. Este conhecimento, denominado empírico, é
construído a partir de percepções e experimentações individuais, que acabam sendo
coletivizadas, decorrentes das necessidades de sobrevivência, pelas condições adversas
ao cotidiano do homem do campo. Os estudos etnobotânicos desenvolvidos sob o
Domínio Atlântico, são ainda poucos, muito recentes e corroboram sua relevância, a
exemplo de: Christo et al. 2006; Fonseca-Kruel et al. 2004; Medeiros et al. 2004;
Hanazaki et al. 2000; Rossato et al. 1999; Fonseca 1998; Figueiredo et al. 1993.
13
Partindo do princípio que não se pode conservar o que não se conhece, é de suma
importância o resgate do conhecimento das populações, que vivem no entorno de
Unidades de Conservação da Floresta Ombrófila Densa Atlântica, no estado do Rio de
Janeiro, pois esses estudos poderão servir como subsídios para melhor conhecermos o
potencial de uso dos recursos vegetais da floresta, e suportarmos, conceitualmente,
alternativas de manejo sustentado, além de destacar a importância desses agentes sociais,
como co-participes do processo de conservação não só da diversidade biológica como
igualmente das culturas locais.
Objetivando resgatar o conhecimento sobre a flora e uso dos recursos vegetais de
informantes locais, designados mateiros, elementos culturais raros à realidade do Brasil
sudeste, opta-se por explorar duas áreas de estudo, já previamente inventariadas pelo
Programa Mata Atlântica. Assim sendo, foram selecionadas, duas áreas de floresta
conservadas, adjacentes às Reservas Biológicas do Tinguá e Poço das Antas.
Sob esta ótica, busca-se reconhecer novos informantes, que detenham
conhecimento sobre a floresta e sobre os usos de seus componentes vegetais, bem como
agregar à interpretação ecológica e silvicultural, dados etnobotânicos como
instrumentos, de igual importância, à conservação e manejo de espécies vegetais típicas
à Floresta Ombrófila Densa Atlântica.
2. SÍNTESE BIBLIOGRÁFICA SOBRE CONHECIMENTO LOCAL
Atualmente diversos estudos sobre conservação e manejo sustentável (Wong 2000;
Pimpert, M. P & Pretty, J. N 2000; Sheil & Lawrence 2004; Donavan & Puri 2004; Boerna
& Koohafkan 2004; Albuquerque & Albuquerque 2005.), têm valorizado o conhecimento
local de populações diante do meio ambiente em que vivem.
A utilização do conhecimento local tem auxiliado projetos de conservação em
diversas linhas de investigação, quais sejam: quantificação da biodiversidade (Martins et al.
2001; Novotny et al. 2002 ), monitoramento de impacto ambiental (Basset et al. 2001),
14
manejo sustentável (Sheil et al. 2001), desenvolvimento de políticas para conservação (
Moef & Unep 2000), entre outras.
De acordo com Chaves (2002) o conhecimento local contribui na semantização do
território, se expressa nas práticas do dia a dia e é, por definição, heterogêneo. Segundo o
mesmo autor usualmente se confunde conhecimento local e tradição, e isto ocorre pelo
indiscutível fato de que dentro dos grupos que dependem em alto grau do ambiente natural,
o corpus central do conhecimento deriva do conhecimento acumulado, transmitido através
de várias gerações. Só que este conhecimento encontra-se profundamente misturado e em
meio ao processo de territorialização. A territorialização segundo o autor tem um sentido
dinâmico, onde a construção do espaço, a dotação do sentido do local que se habita toma
sua forma através das práticas cotidianas, não suprimindo também o valor dos processos
ocorridos no passado.
O conhecimento local é uma coleção de fatos e relaciona-se com todo o sistema de
conceitos, crenças e percepções que as populações têm sobre o mundo a sua volta. Isto
inclui a maneira como elas observam e mensuram o que os rodeia, de como resolvem seus
problemas, e validam novas informações. Inclui também os processos, através dos quais, o
conhecimento é gerado, armazenado, aplicado e transmitido aos outros. (FAO 2005).
O artigo 8 (J) da Convensão da Diversidade Biológica (CDB) reconhece a
importância das comunidades indígenas e locais na contribuição da conservação e do uso
sustentável da diversidade biológica. Assim diz o artigo:
“Cada Parte Contratante deve, na medida do possível e conforme
o caso:
(j) Em conformidade com sua legislação nacional, respeitar,
preservar e manter o conhecimento, inovações e práticas das
comunidades locais e populações indígenas com estilo de vida
tradicionais relevantes à conservação e à utilização sustentável da
diversidade biológica e incentivar sua mais ampla aplicação com a
aprovação e a participação dos detentores desse conhecimento, inovações
e práticas; e encorajar a repartição eqüitativa dos benefícios oriundos da
utilização desse conhecimento, inovações e práticas”.
15
A importância desses saberes e as formas de manejo a eles pertinentes são
destacadas por Castro (2000) como de fundamental importância para intervir na crise
ecológica atual. Segundo a mesma autora, essa adaptação, a um meio ecológico complexo,
se deve ao acúmulo desses saberes sobre o território e às diferentes formas pelas quais o
trabalho é realizado, assim como também a complexidade dessa relação deve-se às
múltiplas formas de relacionamento com os recursos, muitas vezes com formas apropriadas
de manejo.
A característica chave do sistema de conhecimento local, segundo Boerna &
Koohafkan (2004), é que ele tem co-evoluído com o ambiente biofísico que o cerca, desde
o nível da paisagem até os recursos genéticos, incluindo outras associações sociais,
econômicas e culturais.
Pimpert & Pretty (2000), destacam a importância da utilização da diversidade: das
práticas locais de manejo dos recursos, complexas, flexíveis, não regulamentadas e de
longo termo, para o manejo de áreas protegidas, em substituição das técnicas atuais que são
impostas de cima para baixo, padronizadas, simplificadas, rígidas e de curto termo. Os
mesmos autores discorrem ainda:
“A descentralização do planejamento, implementação, manejo,
monitoramento e avaliação das áreas protegidas pelos comunitários e
grupos de baixa renda é uma fronteira que precisa ser explorada pelas
organizações conservacionistas modernas e pelos governos. Pessoas
dentro e ao redor de áreas protegidas deveriam não ser mais vistas como
simples informantes, mas sim como professores, ativistas, extensionistas e
avaliadores. Os especialistas locais abrangem guardas florestais,
veterinários, herbalistas, extrativistas, pastoralistas, pescadores etc... A
ênfase em especialistas locais e diferentes grupos de usuários dos
recursos permite que suas habilidades e conhecimentos dêem forma ás
prioridades administrativas das áreas protegidas .
O modelo emergente de proteção ambiental, e que se fortalece cada vez mais,
atribui um lugar fundamental à inserção e colaboração da população local, tanto na
concepção, quanto na implantação de áreas protegidas. Ele reconhece que as múltiplas
16
demandas sobre os recursos precisam ser satisfeitas e é favorável à formulação de planos de
uso dos recursos de maneira a permitir a satisfação das diferentes necessidades. Na prática,
já existem em alguns estados brasileiros e em outros países várias iniciativas que se
inscrevem neste modelo recente (Cribb 2005).
Algumas experiências vêm mostrando que o sucesso das ações de conservação de
um ecossistema em um espaço protegido depende da integração da população que habita o
entorno dessas áreas e da forma que essas pessoas se relacionam com a ambiente que os
cercam. Soares et al (2002) cita através de um estudo de caso a atuação positiva das
populações locais do entorno de UC’s em varias regiões do Brasil, na participação da
tomada de decisões tanto na manutenção dessas áreas como na construção de uma
economia ecológica.
Na região sob influência do Domínio Atlântico, muito se tem falado a respeito do
desenvolvimento sustentável, desde a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento - UNCED, celebrada no Rio de Janeiro em Junho de 1992.
Alguns projetos estão sendo desenvolvidos, a partir do envolvimento de Organizações não
Governamentais (ONGs), junto às populações locais que vivem no entorno de UC’s, porém
são ainda incipientes as políticas públicas que se propõem com vistas à consolidação da
sustentabilidade.
Torna-se cada vez mais necessário conhecermos melhor as relações entre a
manutenção da biodiversidade e a conservação da sociodiversidade, pois ambas são faces
de uma mesma moeda. Essas pessoas poderiam desempenhar um importante papel como
agentes multiplicadores para conscientização de atores sociais no entorno das UC’s.
3. ÁREA DE ESTUDO
3.1 - O MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU.
O município de Nova Iguaçu situa-se na região geográfica denominada baixada
fluminense, na área metropolitana do Rio de Janeiro, o qual constitui seu maior município
(11,1% da Área Metropolitana) cuja coordenada central é 22º 45'33"S e 43º 27`04"W Gr.,
17
com população estimada em 830 mil habitantes (Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu
2006).
Sua cobertura florestal com remanescentes de Floresta Ombrófila Densa, constituída
por 19.973 ha, encontra-se reduzida a 38% de sua extensão original e integra o Corredor de
Biodiversidade da Serra do Mar (Corredores de Biodiversidade da Mata Atlântica 2006).
Segundo dados oficiais da Prefeitura Municipal de Nova Iguaçú (PMNI), 67% do
território do município foi transformado em área de preservação ambiental, dos quais fazem
parte unidades de conservação federais, estaduais e municipais. Destaca-se como a mais
relevante dentre todas as demais, em função de sua reconhecida importância para a
conservação da biodiversidade da porção do norte serrano da região de baixada, a Reserva
Biológica do Tinguá, unidade federal, subordinada ao IBAMA e cujos arredores
constituíram nossa área de interesse, para efeito de inventário das espécies vegetais e do
conhecimento dos moradores que auxiliam diversos pesquisadores que trabalham na região,
através de orientação pelas diversas trilhas de floresta, no desenvolvimento de diferentes
estudos ali implementados.
Um estudo detalhado sobre as transformações históricas da paisagem, os processos
de ocupação da região bem como o resgate das trilhas e coleções botânicas dos naturalistas
que por ali passaram no século XIX até os dias atuais pode ser encontrado em Custódio
(2007).
3.2 - A RESERVA BIOLÓGICA DO TINGUÁ E SEU ENTORNO.
A Reserva Biológica do Tinguá (Rebio) foi criada pelo Decreto Federal nº 97780 de
23 de maio de 1989. Localizada entre a Serra do Mar e a Baixada Fluminense, sua área
abrange os municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Miguel Pereira e Petrópolis
(coordenadas: 22º 28’ e 22º 39’S; 43º 13’ e 43º34’W) e possui uma área aproximada de
26.000 ha (Rodrigues 1996) (fig.1).
Segundo Vaz (1984), a serra do Tinguá, apesar da colonização a que foi submetida
no passado, constitui refúgio natural, cuja riqueza da flora e da fauna tornam-na uma das
mais importantes áreas de vida silvestre da região Centro-Sul do estado.
18
A vegetação da Reserva caracteriza-se como Floresta Ombrófila Densa, em suas
diferentes categorias: submontana, montana e alto-montana, além do Sistema dos Refúgios
Vegetacionais (Relíquias), segundo Veloso et al. (1991), também conhecidos como campos
de altitude. Este grande remanescente florestal, que recobre todo o Maciço do Tinguá,
torna-se de extrema relevância à medida que se encontra ilhado, face ao crescimento,
contínuo, dos municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Miguel Pereira e Petrópolis.
Estudos realizados por Lima (2002) na área da Rebio registraram a presença de
espécies arbóreas muito raras atualmente em áreas de Mata Atlântica destacando-se entre
elas: Manilkara salzmannii (maçaranduba), Myrocarpus frondosus (óleo-pardo ou
cabreuva), Aspidosperma ramiflorum (guatambu), Geissospermum laeve (pau-pereira),
Peltogyne angustiflora (pau-roxo), Teminalia januarensis (mirindiba), Ocotea odorifera
(canela-sassafrás), Apuleia leiocarpa (garapa), Copaifera lucens (óleo-copaíba), Pradosia
kuhlmannii (casca-doce), e entre estas a presença de uma reconhecida como ameaça de
extinção: Mezilaurus navalium (canela-tapinhoã).
Dentre as ameaças ambientais que ocorrem na Reserva podemos destacar a presença
de dutos de transporte de combustível que passam no seu interior, que tornam a área de alto
risco. Lima (2002).
A ocupação da área do entorno da Rebio do Tinguá caracteriza-se por uma
ocupação urbana onde se alternam espaços densamente urbanizados, com outros onde
predominam atividades rurais, além de malhas de loteamento, porém com baixa ocupação.
O estudo, ora apresentado, foi realizado no bairro de Tinguá, o qual se situa no
extremo nordeste do município de Nova Iguaçu, em áreas limítrofes à área da Reserva
Biológica do Tinguá. A vegetação local é caracterizada segundo Veloso et al. ( 1991) como
Floresta Ombrófila Densa Sub-montana.
Nesse bairro existe um grande número de fragmentos florestais, de diversos
tamanhos e diferentes níveis de degradação. Grande parte destes fragmentos está situada
em propriedades particulares, os quais, em sua maioria, são sítios de veraneio, onde os
proprietários passam os finais de semana. Existe apenas uma Reserva Particular do
Patrimônio Nacional (RPPN) nessa região do entorno denominada CEC Tinguá,
pertencente à organização não governamental (ONG): Centro de Assessoria ao Movimento
Popular (Campo).
19
Como atividades econômicas locais podem ser citadas: comércio, agricultura e
criação de animais, principalmente gado. Entre as espécies plantadas pelos habitantes locais
se inserem: mandioca (Manihot sculenta) e frutíferas como banana (Musa paradisíaca),
goiaba (Psidium guajava) e mamão (Carica papaya), além de oleaginosas, em geral.
Segundo comentário dos próprios agricultores, a maioria da produção é escoada para o
CEASA e, pequena parte, para o abastecimento local e de cidades vizinhas.
Essa região, por suas belezas naturais, atrai um grande número de visitantes nos
finais de semana, oriundos, principalmente, das demais cidades da baixada fluminense, em
busca das cachoeiras locais, únicas fontes de arrefecimento das elevadas temperaturas
típicas à região e áreas gratuitas de lazer, visto que as praias distam mais de uma hora e
meia de deslocamento.
Entre os principais problemas ambientais ocorrentes na região do entorno da
Reserva podemos destacar: (1) poluição dos mananciais hídricos, principalmente do rio
Tinguá, onde moradores despejam o esgoto de suas casas diretamente no rio; (2)
represamento dos locais para captação de água e utilização como piscinas naturais; e (3)
poluição das cachoeiras, devido ao lixo deixado pelos visitantes; (4) retirada de areia das
margens dos córregos e rios; (5) desmatamento para implantação de lavoura de mandioca,
banana, entre outras; (6) caça; (7) extração de palmito (Euterpe edulis); (8) contaminação
dos solos devido ao uso indiscriminado de agrotóxicos e (9) construção de residências nas
margens dos rios e córregos (Lima 2002).
Merece
destaque
o
trabalho
desempenhado
pelas
Organizações
Não
Governamentais (ONG’S), tais como: Centro de Assessoria ao Movimento Popular
(Campo) e Centro Integrado de Educação Ambiental e Práticas Sustentáveis (Onda Verde)
que estão presentes na região desenvolvendo diversas atividades voltadas à conservação e
conscientização ambiental da população local.
A coleta de dados etnobotânicos ocorreu em fragmentos florestais presentes no
bairro, entre eles a RPPN Centro de Ecologia e Cidadania Tinguá (CEC Tinguá) que possui
uma área de 16,5 ha, além de coletas nos próprios quintais ou próximo às casas dos
informantes.
20
3.3 - O MUNICÍPIO DE SILVA JARDIM.
Localizado na parte central costeira do estado do Rio de Janeiro com coordenada
central de 22° 39’03”S lat, 42°23’30”W long, o município de Silva Jardim possui um
2
território com cerca de 1.000 km (Fundação CIDE, 2006). Sua cobertura florestal com
remanescentes de Mata Atlântica, constituída por 34.328 ha, encontra-se reduzida a 36% de
sua extensão original e também integra o Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar
(Corredores de Biodiversidade da Mata Atlântica 2006).
Esse município possui o maior número de RPPN’s do Brasil. Devido ao elevado
grau de fragmentação dos remanescentes florestais da região do norte do estado, bem como
pela necessidade de áreas protegidas para assegurar a consolidação das populações
introduzidas do mico-leão-dourado, espécie ameaçada de extinção no Brasil, tem sido
levado ao longo dos últimos vinte anos, um intenso trabalho integrado entre Associação
Mico-leão-dourado (AMLD), World Wildlife Foundation (WWF) e o IBAMA,
representado pelas chefias das Reservas Biológicas de Poço das Antas e União. Este
esforço de esclarecimento dos proprietários rurais sobre a importância dos fragmentos para
suportar as populações de mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), associado aos
benefícios financeiros oriundos desta prática de tombamento regulado da floresta, tem sido
responsável pelo sucesso deste modelo de RPPNs na região. Concorre ainda para este êxito,
os benefícios oriundos dos royaltes de petróleo a que fazem juz os municípios da região, o
que favorece a melhoria da qualidade de vida das cidades, aumentando o fluxo de visitantes
e potencializando a criação de estabelecimentos como pousadas e pequenos hotéis e que
têm nas RPPNs uma oportunidade de negócios.
Localizada neste município, a Reserva Biológica de Poço das Antas (Rebio),
subordinada ao IBAMA, foi criada para assegurar a sobrevivência do mico-leão-dourado e
de uma amostra de seu habitat - espécie de primata que só existe em sete municípios da
região dos Lagos fluminense e em nenhuma outra parte do mundo. (AMLD, 2006).
21
3.4 - A RESERVA BIOLÓGICA DE POÇO DAS ANTAS E SEU ENTORNO.
A Reserva Biológica de Poço das Antas (22º30’ e 22º33’S e 42º19’W) está situada
no município de Silva Jardim, a 130 km da capital do estado, com área de 5.000 ha,
limítrofes ao município de Casimiro de Abreu (IBAMA 2006).
Nos tempos anteriores à criação da Reserva, a área abrigava diversas fazendas de
gado, onde havia algumas culturas de subsistência, pomares, pastos e remanescentes
florestais.
Deste modo, a cobertura da Rebio segundo Lima et al. 2006, adotando o sistema de
classificação fisionômico-ecológico proposto por Veloso & Goes-Filho (1982), é
representada por um trecho de Floresta Ombrófila Densa subdividida em seis formações
obedecendo a uma hierarquia topográfica e fisionômica: Floresta aluvial, floresta
submontana, formação pioneira com influência fluvial, capoeira aluvial, capoeira
submontana e campo antrópico.
A estrada de ferro que corta o interior da unidade e a existência da barragem de
Juturnaiba afetam muito a Unidade. A barragem alagou terras da unidade a montante e
promoveu uma radical drenagem a jusante, ocasionando a modificação de parte do
ecossistema, que era de matas inundáveis (área de cerca de 900 ha), onde hoje ocorrem os
grandes incêndios da Reserva, aumentando a pressão antrópica sobre ela (IBAMA 2006).
Existem três assentamentos situados no entorno da ReBio, são eles: Gleba Aldeia
Velha (GAV) com cerca de 20 anos e Cambucaes (CAM) com aproximadamente 10 anos,
mais recentemente estabeleceu-se uma nova ocupação do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra denominado assentamento Sebastião Lan (SEB).
Os habitantes destas comunidades subsistem da agricultura através do cultivo da
banana (Musa paradisiaca), inhame (Dioscorea sp), milho (Zea mays) mandioca (Manihot
sculenta), entre outros além da criação de animais como o gado, para corte e leite, os
produtos são vendidos em feiras na própria região.
As comunidades rurais habitantes de GAV e CAM são formadas por antigos
trabalhadores das fazendas locais e por seus descendentes, já em SEB residem moradores
que migraram das áreas canavieiras, principalmente da região norte fluminense (Christo et
al. 2006).
22
Segundo os mesmos autores, dentre às três comunidades a GAV é a que apresenta
uma maior relação com a Reserva, tendo inclusive alguns moradores que trabalham na
Rebio, muitos dos quais residem na região há mais tempo que aqueles das demais
comunidades e, por conseguinte, detendo maior parcela do conhecimento histórico da
região.
A coleta dos dados etnobotânicos ocorreu em um trecho de floresta pertencente à
Fazenda Santa Helena, localizada no distrito de Peclas, município de Silva Jardim, área
adjacente à Reserva Biológica de Poço das Antas e também nos próprios quintais dos
informantes, todos moradores da Gleba Aldeia Velha.
23
Figura 1 - Mapa de localização da Reserva Biológica do Tinguá, Estado do Rio de Janeiro, Brasil, e municípios limítrofes, incluindo o
bairro de Tinguá. Fonte: Programa Mata Atlântica / JBRJ (modificado)
24
Figura 2 – Mapa de localização da ReBio de Poço das Antas e da comunidade Gleba Aldeia Velha (GAV). Fonte: Programa Mata
Atlântica / JBRJ (modificado)
25
4. MÉTODOS
4.1 - INFORMANTES LOCAIS “MATEIROS”
O público alvo, “informantes chaves” do levantamento etnobotânico foi formado
por mateiros, habitantes nas circunvizinhanças das Reservas Biológicas do Tinguá (ERBT)
e de Poço das Antas (ERBPA).
Mateiros de acordo com a definição do dicionário da língua portuguesa (Houaiss
2001) são indivíduos que, por sua grande vivência em matas cerradas, trabalham como guia
para outras pessoas. Muitas vezes estas pessoas devido à grande vivência em campo,
passam a ser verdadeiros especialistas locais, se destacando quanto ao conhecimento da
biodiversidade regional.
Segundo Sheil & Laurence (2004), especialistas locais podem ser treinados para
serem efetivos parataxonomistas, desempenhando importantes papeis na documentação e
avaliação da biodiversidade tropical além de auxiliarem na administração dos recursos
naturais e na conservação.
No contexto internacional, o termo parataxonomista é definido por Janzen (2004)
como pessoas locais, vivendo em áreas relativamente rurais dos trópicos, e que tenham sido
treinados, especificamente, para atividades parataxonomistas. Dentre essas atividades
podemos citar inventários da biodiversidade e valoração, pesquisas ecológicas, plano de
conservação, manejo e monitoramento biológico.
Entre os mateiros escolhidos alguns já eram conhecidos, pois já vinham auxiliando,
nos últimos dezoito anos, o Programa Mata Atlântica do Instituto de Pesquisa Jardim
Botânico do Rio de Janeiro. Outros, por sua vez, também possuíam grande experiência de
campo decorrente do acompanhamento, durante muitos anos, a pesquisadores de outras
instituições públicas do estado do Rio de Janeiro como por exemplo a Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, em seus projetos científicos.
Para seleção dos informantes, nos respectivos locais de estudo, foram realizadas
entrevistas informais e semi-estruturadas (Alexiades 1996), onde os informantes foram
entrevistados individualmente, e as conversas eram anotadas e às vezes gravadas. Alguns
26
foram escolhidos a partir da técnica conhecida como “bola de neve” (Snow ball), onde os
próprios informantes indicaram outras pessoas, as quais após entrevista informal, foram
acrescidos ao elenco de informantes para o trabalho (Bernard 1986).
Foram intrevistados oito informantes, sendo três residentes no entorno da Reserva
Biológica do Tinguá (ERBT), mais especificamente no bairro do Tinguá e cinco residentes
no entorno da Reserva Biológica de Poço das Antas (ERBPA), mais precisamente na
localidade Gleba Aldeia Velha. Eles tinham idades entre 40 e 80 anos, todos do sexo
masculino.
4.2 - TRABALHO DE CAMPO
Os dados sobre as espécies úteis foram coletadas em excursões mensais, no período
de junho de 2005 a outubro de 2006, destinando-se os primeiros meses para a escolha das
áreas de estudo e seleção dos informantes.
Para tanto, a coleta de dados sobre a utilidade das espécies contou com entrevistas
abertas (Alexiades 1996) e caminhadas livres (walk-in-the-wood) (Phillips & Gentry 1993),
onde todas as espécies, reconhecidas como úteis, eram registradas através da técnica de
observação direta e listagem livre (Cotton 1996).
Para se verificar a suficiência amostral nas duas áreas estudadas, foi calculada a
curva de esforço amostral a partir do programa EXCELL.
As informações de cada espécie foram catalogadas através de fichas onde
constavam os seguintes dados: local de coleta, nome científico, família botânica, nome
local, hábitat, forma de vida, atribuições de uso(s), parte utilizada, forma de preparo, grupo
de afecções tratadas (quando espécie identificada como medicinal), nome do informante e
nome do coletor.
O material botânico coletado foi herborizado segundo os métodos usuais em
botânica, enquanto a identificação taxonômica do material foi feita valendo-se de
bibliografia especializada, bem como, através de comparação com exsicatas do herbário
do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB) e submetidas, quando necessário, aos
27
especialistas nos grupos taxonômicos complexos. O material botânico testemunho
encontra-se depositado no Herbário do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de
Janeiro (RB).
O sistema de classificação adotado foi o de Cronquist (1988) sendo Leguminosae
considerada como família única, adotando-se Polhill et al. (1981). A atualização
nomenclatural foi conferida através das bases de dados W3 Tropicos (Missouri Botanical
Garden's VAST -Vascular Tropicos) e IPNI (The International Plants Names Index).
As categorias de uso para as espécies úteis foram adaptadas e padronizadas de
acordo com o proposto por Rios (2002) totalizando nove tipos de usos: alimentação,
combustível, construção, medicinal, ornamental, ritualística, tecnologia, recurso para fauna
e veterinária.(Tabela 2).
Tabela 1. Descrição das categorias de uso das espécies indicadas pelos mateiros nas áreas
de estudo.
Alimentação
Utilizadas como alimentação
Combustível
Utilizadas como combustível para fogões a lenha
Construção
Construção de casas, ranchos (caibros, dormentes e ripas de telhado) e esteio para cerca.
Medicinal
Utilizadas para curar e aliviar enfermidades.
Ritualística
Plantas com efeito "mágico", utilizadas para tirar "mau olhado" e "abrir caminho".
Recurso para fauna
Utilizadas como alimento pela fauna silvestre.
Tecnologia
Construção de móveis, janelas, ferramentas, assoalho, etc.
Ornamental
Plantas utilizadas para adornar quintais e residências.
Veterinária
Utilizado para infestação de pulgas e carrapatos.
28
Os dados coligidos em campo e laboratório foram organizados numa matriz,
utilizando planilha EXCELL, contendo os seguintes campos: família botânica, nome
científico, nome popular, hábito, habitat, indicações de uso, coletor, número de coleta e
nome do informante.
As espécies indicadas para fins medicinais, tiveram anotadas suas indicações
terapêuticas, formas de uso, partes da planta utilizada, modo de preparo e dosagem.
Com o intuito de se comparar esse estudo com outros similares, desenvolvidos sobre
a região de influencia da Mata Atlântica, foi calculado, para as duas áreas, o Índice de
diversidade de Shannon (Magurran 1988), adaptado por Begossi (1996), para quem seu
emprego permite comparar o uso de plantas diferentes em ambientes distintos.
S
H ' = −∑ ( pi )(log pi )
i =1
e
pi =
, nas bases 10 e e,
ni
N , onde:
s = número de espécies; ni = número de citações por espécie e N = número total de
citações.
Devido ao elevado número plantas medicinais citadas pelos informantes, moradores
no entorno da Rebio do Tinguá (ERBT), as indicações das mesmas foram padronizadas e
adaptadas a partir da classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS) de acordo
com Almeida & Albuquerque (2002) e agrupadas nas seguintes categorias: (a) doenças
infecciosas e parasitárias, (b) doenças das glândulas endócrinas, da nutrição e do
metabolismo, (c) doenças do sangue e dos órgãos hematopoéticos, (d) transtornos do
sistema nervoso, (e) transtornos do sistema circulatório, (f) transtornos do sistema
respiratório, (g) transtornos do sistema digestivo, (h) transtornos do sistema genito-urinário,
(i) doenças da pele e do tecido celular sub-cutâneo, j) doenças do sistema osteomuscular e
do tecido conjuntivo, (k) afecções e dores não definidas, (l) inapetência sexual e (m)
debilidade física e mental. Em seguida foi calculado o Índice de Importância Relativa
29
(Bennett & Prance 2000) dessas espécies, onde o valor máximo alcançado por uma espécie
corresponde a 2,00 e é obtido através da fórmula:
IR = NSC + NP , onde:
IR = índice de importância relativa; NSC = corresponde ao número de sistemas
corporais tratados, por uma determinada espécie (NSCE), dividido pelo número total de
sistemas corporais tratados pela espécie mais versátil (NSCEV); NP = corresponde ao
número de propriedades atribuídas a uma determinada espécie (NPE) dividido pelo número
total de propriedades atribuídas à espécie mais versátil (NPEV).
5 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 - ENTORNO DA RESERVA BIOLÓGICA DO TINGUÁ ( ERBT )
Das entrevistas com os informantes, totalizaram-se 136 citações de uso para as
plantas, sendo reconhecidas 116 espécies, das quais 13 em morfoespécies, pertencentes a
49 famílias (Tab. 2). As famílias mais representativas quanto ao número de espécies foram
Leguminosae (13 espécies), Asteraceae (12 espécies), Myrtaceae (5 espécies) e
Bignoniaceae, Apocynaceae Lauraceae e Anacardiaceae com 4 espécies cada. (fig 4).
A forma de vida predominante entre as plantas úteis foi a arbórea, representada por
69 espécies do total de espécies encontradas para a área de estudo, seguido por herbácea,
representada por 27 espécies. (Fig. 5).
As partes das plantas mais citadas foram: folha (32%), seguida por caule (20%),
fruto (19%), casca (11%), planta inteira (6,5%), raiz (4,3 %), seiva (3,6 %) e palmito
(1,4%).
Podemos observar, nesse estudo, a prática dos mateiros relacionada ao
reconhecimento e utilidade das espécies arbóreas nativas na região do (ERBT), Dentre
todas as plantas citadas como úteis, a maioria (58,6%) (Fig 3) é composta por plantas
nativas provenientes de remanescentes de florestas, sendo encontradas nas bordas ou
30
interior de fragmentos florestais estudados. Muitas dessas espécies foram registradas nos
levantamentos florísticos dentro da ReBio por Lima ( 2002 ), dentre elas podemos citar:
Apuleia leiocarpa (garapa), Cedrella odorata (cedro), Copaífera langsdorffii (copaíba),
Copaifera trapezifolia (copaíba-verdadeira), Cybistax antisyphilitica (ipê-cinco-folhas),
Geissospermum vellosii (pau-pereira), Hymenaea courbaril (jatobá), Malouetia arborea
(esperta-roxa), Myrocarpus frondosus (óleo pardo), Stifftia chrysantha (candeia, rabo-decutia).
Figura 3 - Distribuição dos habitats das plantas citadas como úteis pelos
mateiros moradores do ERBT, Nova Iguaçu RJ.
As espécies espontâneas (20,7 %), se caracterizam por plantas que crescem em
diversos tipos de ambientes como beira de estradas, em gramados, beira de córregos, pastos
abandonados entre outros,
sendo na grande maioria plantas herbáceas e arbustivas
utilizadas para fins medicinais. Já as plantas cultivadas em quintais (20,7 %) são formadas
por plantas herbáceas, sendo a grande maioria, para fins medicinais e por árvores frutíferas
que são utilizadas tanto para a alimentação como para fins medicinais.
As plantas foram agrupadas em oito categorias, segundo a sua utilização, sendo a
categoria medicinal a que apresentou o mais elevado nível de táxons (52 % das espécies),
seguido da categoria construção (13%) e alimentício (12 %) (Fig. 6). De todas as espécies
arbóreas encontradas no estudo, 49% apresentaram alguma propriedade medicinal.
O índice de Shannon (H’) obtido a partir das entrevistas com os mateiros habitantes
no ERBT foi de 2,02 (base 10) e 4,65 (base e) e assemelham-se aos valores encontrados por
31
outros autores, ainda que não tenham trabalhado com especialistas locais, mas sim com
uma amostra superior ao que identificamos como especialistas locais (Figueiredo et al.
1993, 1997; Hanazaki et al. 2000a, b; Lima et al. 2000; Fonseca-Kruel et al. 2004; Christo
et al. 2006).
Ao observarmos a curva do esforço amostral, relacionada às citações das espécies
para o ERBT, percebe-se que a curva não tendeu a se estabilizar, provavelmente, o que
denota que provavelmente um aumento no esforço amostral para a área irá acarretar num
aumento da riqueza observada (Fig. 7).
Para Pimpert & Pretty ( 2000), pessoas, dentro e ao redor de áreas protegidas,
deveriam não ser mais vistas como simples informantes, mas sim como professores,
ativistas, extensionistas e avaliadores. A ênfase em especialistas locais e diferentes grupos
de usuários dos recursos permitem que suas habilidades e conhecimentos dêem forma às
prioridades administrativas das áreas protegidas A descentralização do planejamento,
implementação, manejo, monitoramento e avaliação das áreas protegidas pelos
comunitários e grupos de baixa renda é uma fronteira que precisa ser explorada pelas
organizações conservacionistas modernas e pelos governos.
Algumas espécies pertencentes ao mesmo gênero botânico Copaifera trapezifolia
(copaíba verdadeira), Copaífera langsdorffii (copaíba), e Virola gardineri (Bicuiba
verdadeira), Virola oleifera (Bicuiba), são reconhecidos pelos mateiros pela sua
proximidade botânica ao nível de morfoespécies, sendo diferenciadas em verdadeira e não
verdadeira, devido a diferenças entre o crescimento das árvores, onde a verdadeira tem um
crescimento mais lento e como conseqüência, a madeira é de melhor qualidade para
utilização nas categorias de construção e tecnologia. Outra diferença reconhecida pelos
mateiros quanto à diferenciação dessas morfoespécies está relacionada à categoria
medicinal, pois para eles, a planta conhecida como verdadeira, possui seiva de melhor
qualidade para o tratamento de enfermidades.
A região do ERBT se destacou quanto ao uso dos recursos para fins medicinais,
dentre as quais podemos destacar espécies arbóreas típicas da Mata Atlântica: Hymenaea
courbaril (jatobá), Copaífera langsdorffii (copaiba), Copaifera trapezifolia (copaíba
verdadeira), Geissospermum vellosei (pau-pereira), Virola gardineri (bicuiba-verdadeira),
Virola oleifera (bicuiba), entre outras.
32
Leguminosae
13
Asteraceae
12
famílias
Myrtaceae
5
Lauraceae
4
Bignoniaceae
4
Apocynaceae
4
Anacardiaceae
4
Rutaceae
3
Poaceae
3
Moraceae
3
Lamiaceae
3
Annonaceae
3
0
5
10
15
número de espécies
Figura 4. Famílias que se destacaram quanto às suas riquezas específica no
ERBT, Nova Iguaçu, RJ.
árvore
69
herbácea
hábito
27
arbusto
15
trepadeira
5
0
20
40
60
80
número de espécies
Figura 5. Distribuição das formas de vida das espécies indicadas como úteis
pelos mateiros moradores do ERBT, Nova Iguaçu, RJ.
33
medicinal
52
13
construção
cat. uso
alimentício
12
11
combustível
tecnologia
5
3
rec.fauna
ritualistico
2
1
veterinário
0
10
20
30
40
50
60
porcentagem de espécies (%)
Figura 6. Distribuição da porcentagem de espécies indicadas em cada
categoria de uso, pelos mateiros moradores do ERBT, Nova Iguaçu, RJ.
120
número de espécies
105
90
75
60
45
30
15
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100 110 120 130 140
número de citações
Figura 7. Curva de esforço amostral relacionada às citações das espécies
pelos mateiros moradores no ERBT, Nova Iguaçu, RJ.
34
Tabela 2. Relação de espécies referidas
(ENBT), Nova Iguaçu, RJ.
Família/ espécie
ALISMATACEAE
Echinodorus grandiflorus
(Cham. & Schltdl.) Micheli
AMARANTHACEAE
Amaranthus viridis L.
ANACARDIACEAE
Astronium graveolens Jacq.
Anacardium occidentale L.
Schinus terebenthifolia Raddi
Spondias lutea Eng.
ANNONACEAE
Annona muricata L.
Guatteria candolleana Schltdl.
Xylopia brasiliensis Spreng.
APOCYNACEAE
Geissospermum vellosii Allemão
Himatanthus sp1
Malouetia arborea
(Vell.) Miers
Peschiera affinis (Müll. Arg.) Miers
ARECACEAE
Astrocaryum aculeatissimum
(Schott) Burret
Euterpe edulis Mart.
ASTERACEAE
Ageratum conyzoides L.
Baccharis trimera (Less.) DC.
como úteis pelos mateiros moradores no Entorno da Reserva Biológica do Tinguá
Nome local
Hab
Hat
Uso
Pu
Nc
chapeu-de-couro
herb
cult
med
fo
FAS53
caruru/amarantu
herb
esp
alim
fo
FAS61
aderne
cajú
aroeirinha
caja-manga
arv
arv
arv
arv
nat
cult
nat
cult
cons
med
med
med
ca
cas
cas
fr
FAS77
FAS46
FAS19
-
graviola
conde
pindaíba
arv
arv
arv
cult
nat
nat
alim, med
comb, cons, rec
comb, rec
fo,fr
ca,fr
ca,se
FAS67
FAS82
FAS81
pau-pereira
aguniada
arv
arv
nat
nat
nat
med
med
cas
fo
ca
FAS88
FAS87
esperta roxa
esperta
arv
arv
nat
comb
comb
nat
ca
FAS89
-
fr,pa
iri
juçara
arv
arv
nat
alim, cons
alim, cons
pa
-
erva-de-são-joão
carqueja
herb
herb
esp
cult
med
med
int
fo
FAS60
-
35
Tabela 2. Continuação.
Família/ espécie
ASTERACEAE
Bidens pilosa (L.)
Emilia sonchifolia (L.)DC.
Solidago chilensis Meyen.
Stifftia chrysantha Mikan.
Stifftia sp1
Taraxacum officinale L.
Vernona sp1
Vernonia discolor (Spreng.) Less.
Vernonia polyanthes Less.
BIGNONIACEAE
Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart.
Jacaranda macrantha Cham.
Jacaranda semiserrata Cham.
Sparattosperma leucantum Mart.
ex Meisn
BIXACEAE
Bixa orellana L.
BORAGINACEAE
Symphytum officinale L.
BRASSICACEAE
Nasturtium officinale R. Br.
CAPRIFOLIACEAE
Sambucus nigra L.
CARICACEAE
Jacaratia spinosa (Aubl.) A. DC.
CECROPIACEAE
Cecropia glaziovi Snethl.
Nome local
Hab.
Hat
Uso
Pu
Nc
picão
pincel-de-estudante
arnica/cruzadinha
candeia/rabo-de-cutia
candeia/rabo-de-cutia
dente-de-leão
assa-peixe
cambará
assa peixe preto
herb
herb
herb
arv
arv
herb
arb
arv
arb
esp
esp
esp
nat
nat
esp
esp
nat
esp
med
med
med
cons
comb, cons
med
med
comb, cons
med
ra
fo
fo
ca
ca
fo
fo
ca
fo
FAS02
FAS01
FAS15
FAS23
FAS83
FAS03
FAS84
FAS66
cinco-folhas/ipê
caróba
caróba
cinco-folhas/ipê-branco
arv
arv
arv
arv
nat
nat
nat
nat
comb
med
med
comb
ca
ca,fo
ca,fo
ca
FAS74
FAS72
FAS06
FAS73
urucum
arb
cult
alim, med
se
FAS11
confrei
herb
cult
med
fo
-
agrião
herb
cult
med
fo
-
sabugueiro
arv
cult
med
fo,fr
FAS65
mamão-jacatiá
arv
nat
med
fr
FAS63
embaúba
arv
nat
med
fo,ra
FAS54
36
Tabela 2. Continuação
Família/ espécie
CURCUBITACEAE
Momordica charantia L.
CRASSULACAEA
Kalanchoe brasiliensis Cambess.
EUPHORBIACEAE
Joannesia princeps Vell.
Phyllanthus corcovadensis Müll. Arg.
Ricinus communis L.
HIPPOCRATEACEAE
Tontelea ovalifolia (Miers) A.C. Sm.
LACISTEMATACEAE
Lacistema pubescens Mart.
LAMIACEAE
Leonorus sibiricus L.
Leonotis nepetifolia (L.) R. Br.
Ocimum gratissimum L.
Stachytarpheta canescens Kurth
LAURACEAE
Aiouea saligna Meisn.
Mezilaurus navalium Taub.
Ex mez
Ocotea odorifera (Vellozo) Rohwer
Persea americana Mill.
LECYTHIDACEAE
Cariniana sp1
Lecythis pisonis Cambess.
Nome local
Hab.
Hat
Uso
Pu
Nc
melão-de-são-caetano
trep
esp
med
int
FAS59
saião
herb
cult
med
fo
FAS41
cotieira
quebra-pedra
mamona
arv
herb
arb
nat
esp
esp
med
med
med
se
int
se
FAS56
FAS38
castanha-mineira
trep
nat
med
fr
FAS34
sabonete
arv
nat
comb
ca
-
macaé
cordão-de-frade
alfavaca
gervão-roxo
herb
herb
arb
herb
esp
esp
cult
esp
med
med
alim, med
med
fo
int
fo
fo,fr
FAS04
FAS52
FAS14
FAS10
canela-parda
tapinuã
arv
arv
nat
nat
cons
cons, tecn
ca
ca
FAS80
FAS26
sassafraz
abacate
arv
arv
nat
cult
med
alim, med
cas,ra
fo,fr
FAS44
FAS68
jequitiba
sapucaia
arv
arv
nat
nat
cons, med
alim, cons, med
cas,ca
fr
FAS75
37
Tabela 2. Continuação.
Família/ espécie
LEGUMINOSAE
Apuleia leiocarpa (Vogel)
J.F. Macbr.
Bauhinia forficata Link
Bauhinia radiata Vell.
Copaífera langsdorffii Desf.
Copaifera trapezifolia Haine
Dahlstedtia pinnata (Benth.) Malme
Hymenaea courbaril L
Inga edulis Mart.
Inga subnuda subsp. luschnathiana
(Benth.) T.D. Penn.
Mimosa pudica L.
Myrocarpus frondosus Allemão
Piptadenia gonoacantha (Mart.)
J.F. Macbr.
Pseudopiptadenia contorta (DC.)
G.P. Lewis & M.P. Lima
MALVACEAE
Gossypium hirsutum L.
MELASTOMATACEAE
Miconia cinnamomifolia (DC.)
Naudin
MELIACEAE
Cabralea canjerana (Vell.) Mart.
Cedrella odorata L.
MONIMIACEAE
Siparuna guianensis Aubl.
Nome local
Hab.
Hat
Uso
Pu
Nc
garapa/pau-de-preguiça
arv
nat
comb, cons, tecn
ca
-
pata-de-vaca
pata-de-vaca
copaíba
copaíba-verdadeira
timbó
jatobá
ingá
ingá-de-varzea
arv
trep
arv
arv
arv
arv
arv
arv
nat
nat
nat
nat
nat
nat
nat
nat
med
med
med, tecn
med, tecn
vet
alim, med
alim
alim, comb
fo
fo
sei
sei
int
cas,fr,sei
fr
ca,fr
FAS64
FAS05
FAS25
FAS27
FAS70
FAS24
dormideira/sensitiva
óleo-pardo
jacaré
herb
arv
arv
esp
nat
nat
med
cons
comb
fo
ca
ca
FAS12
FAS93
FAS92
angico-cambui
arv
nat
comb
ca
FAS91
algodão
arb
cult
med
fo
FAS57
jacatirão
arv
nat
cons
ca
FAS90
canjerana
cedro
arv
arv
nat
nat
cons, tecn
cons, med
ca
FAS76
FAS37
negramina
arv
nat
rit
ca,cas
FAS85
FAS20
38
Tabela 2. Continuação.
Família/ espécie
MORACEAE
Artacarpus altilis (Parkinson) Fosberg
Morus alba L
Sorocea bonplandii (Baill.) W.C.
Burger, Lanj. & Wess. Boer
MYRISTICACEAE
Virola gardneri (A. DC.) Warb.
Virola oleifera (Schott) A.C. Sm
MYRTACEAE
Eugenia uniflora L.
Psidium guajava L.
Psidium guineense Sw.
Psidium sp.
Eugenia tomentulosa Standl
NYCTAGINACEAE
Guapira opposita (Vell.) Reitz
Mirabilis jalapa L.
OXALIDACEAE
Averrhoa carambola L.
PHYTOLACACEAE
Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms
PIPERACEAE
Piper anisum (Spreng.) Angely
Piper aduncum L.
POACEAE
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf
Cynoddon dactylon (L.) pers.
Zea mays L.
Nome local
Hab.
Hat
Uso
Pu
Nc
fruta-pão
amora
espinheira-santa
arv
arv
arv
cult
cult
nat
alim
alim, med
med
fr
fo,fr
fo
FAS32
bicuiba-verdadeira
bicuiba
arv
arv
nat
nat
cons, med
med
ca,sei
sei
FAS28
-
pitanga
goiabeira
araça
araça
cabeludinha
arb
arv
arv
arb
arb
cult
cult
nat
nat
nat
med
med
alim
alim
alim
fo
fo
fr
fr
fr
FAS43
FAS40
FAS79
FAS69
FAS18
cebola
maravilha
arv
herb
nat
esp
rec
med
fr
fo,fl,fr
FAS58
carambola
arv
cult
med
fo,fr
FAS45
pau-d'alho
arv
nat
vet
cas,fo
FAS39
jaborandi
jaborandi-falso
arb
herb
nat
esp
med
med
ra,fo
fo,fl
FAS36
FAS51
capim-limão
pé-de-galinha
milho
herb
herb
arb
cult
esp
cult
med
med
med
fo
int
fr
FAS16
FAS49
-
39
Tabela 2. Continuação
Família/ espécie
POLIGONACEAE
Poligonum persicaria L.
Rumex obtusifolius L.
PROTEACEAE
Roupala sculpta L
PTERIDACEAE
Adiantum sp
PUNICACEAE
Punica granatum L.
RUBIACEAE
Genipa americana L.
RUTACEAE
Hortia arborea Engl.
Citrus sp1
Zanthoxylum rhoifolium Lam.
SAPINDACEAE
Cupania oblongifolia Mart.
Cupania racemosa (Vell.) Radlk
SAPOTACEAE
Pradosia kuhlmannii Toledo
SCHIZAEACEAE
Lygodium volubile Sw.
SMILACACEAE
Smilax sp1
Smilax sp2
SOLANACEAE
Solanum americanum Mill.
Solanum paniculatum L.
Nome local
Hab.
Hat
Uso
Pu
Nc
erva-de-bicho
erva-grossa
herb
herb
esp
esp
med
med
int
fo
FAS55
FAS48
carne-de-vaca
arv
nat
cons, tecn
ca
FAS94
samambaia
herb
esp
med, tox
int
FAS50
romã
arb
cult
med
fr
FAS42
genipapo
arv
nat
med
cas,fr
FAS17
casca-d'anta/para-tudo
limão-galego
mamica-de-porca
arv
arv
arv
nat
cult
nat
med
alim, med
cons
cas
fr
ca
FAS21
FAS78
bilreira/camboatá
camboata
arv
arv
nat
nat
comb, med, tecn, rec cas,fo
cau,fr
comb, rec
casca-doce
arv
nat
med
cas
FAS35
abre-caminho
trep
nat
rit
int
FAS22
salsa-parrilha
unha-de-gato
arb
trep
nat
nat
med
med
ra
fo
FAS29
FAS71
erva-moura
jurubeba
herb
arb
esp
esp
med
med
fo
fr
FAS62
FAS47
FAS08
-
40
Tabela 2. Continuação
Família/ espécie
VERBENACEAE
Lantana camara L.
Lippia alba (Mill)
ZINGIBERACEAE
Costus spiralis (Jacq.) Roscoe
INDETERMINADA
Indet sp1
Indet sp2
Indet sp3
Indet sp4
Indet sp5
Hat
Uso
Pu
Nc
cambará/erva-chumbinho herb
erva-cidreira
arb
esp
cult
med
med
fo
fo
FAS07
FAS13
cana-do-brejo
herb
cult
med
ca,fo
canela-de-cutia
catuaba
catuaba-lisa
guiné-pipiu
piquia
arv
arv
arv
arv
arv
nat
nat
nat
nat
nat
med
med
med
rit
tec
cas,ra
cas
cas,fo,ra
fo
ca
Nome local
Hab.
FAS33
FAS30
FAS31
FAS86
Hab - hábito: arb - arbusto; arv - arbóreo; herb - herbáceo; .Hat - habitat: cult - cultivada nos quintais; nat -nativa; Uso: ali alimentar; comb -combustível; const -construção; med -medicinal; ornamental – orn; tecn – tecnologia; Pu: parte usada: ca –
caule; cas – casca; fo – folha; fr: fruto; fl – flor; int - planta inteira; ; pa – palmito; ra - raiz ; se – semente; sei – seiva; N.c:
Número de coleta: FAS - Sobrinho, F. A.
41
As famílias que apresentaram o maior número de espécies com propriedades
medicinais foram Asteraceae ( 8 spp.), Leguminosae (5 spp.) e Poaceae (3spp.). Outros
autores estudando as plantas medicinais em região sob Domínio Atlântico (Christo et al
2006, Fonseca-Kruel et al 2004 e Medeiros et al 2004) também encontraram a família
Asteraceae como a mais rica em relação ao número de espécies com propriedades
medicinais.
Todas as partes vegetais foram indicadas pelos mateiros para o preparo de remédios
sendo que as mais citadas foram: folhas (46,6%), fruto (14,8 %) e casca (13,6 9%) (Fig. 8).
folha
46,6
parte usada
fruto
14,8
13,6
casca
inteira
8,0
raiz
8,0
5,7
seiva
3,4
semente
0
10
20
30
40
50
porcentagem (%)
Figura 8 - Distribuição das partes vegetais utilizadas para o
preparo de remédios pelos mateiros do ERBT.
Ao serem padronizadas e adaptadas, a partir da classificação da Organização
Mundial de Saúde (OMS), verificou-se que a maior freqüência das plantas medicinais,
reconhecidas como tais e citadas pelos informantes, destina-se ao tratamento de doenças
referentes a transtornos dos sistemas digestivo e circulatório, cada uma representada por
18% das espécies , vindo em seguida doenças infecciosas e parasitárias com 16%. (Tab. 3).
Na categoria de uso transtornos do sistema digestivo, a maioria dos tratamentos
indicados pelos informantes ao utilizar as plantas medicinais foram para a cura de úlcera,
42
enjôos do estômago, e má digestão. Já na categoria de uso transtorno do sistema
circulatório a maioria das plantas são utilizadas como depurativo do sangue, fortificante,
afrodiziaco e problema de pressão alta.
A espécie Hymenaea courbaril (jatobá) se destacou quanto a multiplicidade de uso
das plantas tratando cinco tipos de afecções orgânicas (fortificante, depurativo do sangue,
diabete, bronquite e afrodisíaco). Sendo que para todos esses tratamentos, utiliza-se a seiva
para a manufatura dos remédios que podem ser ingerida na sua forma pura ou na forma de
garrafada, misturada a outras plantas. Foi concenso dos informantes que a melhor época
para a retirada da mesma é na lua - nova.
Observa-se com o uso do Índice de Importância Relativa das espécies medicinais
(IR) que oito espécies apresentaram IR ≥ 1,00 e foram indicadas para o tratamento de até 5
categorias de doenças, dentre estas a espécie mais versátil em relação a seus usos, de
acordo com a Importância Relativa (IR) foi o jatobá (Hymenaea courbaril L.) que
apresentou o IR máximo (2,00), (Tab. 4). Christo et al (2006) estudando as plantas
medicinais utilizadas na comunidade Gleba Aldeia Velha em Silva Jardim-RJ, também
obtiveram resultado bem próximo a este com cinco espécies com IR ≥ 1, também indicadas
para o tratamento de até cinco categorias de doenças. Almeida & Albuquerque (2002)
utilizando o mesmo índice, em estudo realizado em Caruaru, estado de Pernambuco
encontraram resultado próximo, onde nove espécies com IR ≥ 1 foram indicadas para o
tratamento de até oito categorias de doença.
43
Tabela 3. Categorias de doença associadas às espécies medicinais, citadas pelos informantes no ERBT, Nova Iguaçu, RJ, de
acordo com a classificação da Organização Mundial de Saúde, porcentagem de espécie medicinais citada em cada categoria de
doença e seus respectivos tratamentos segundo citações dos mateiros.
Categoria de doenças
Espécies(%)
Tratamentos
Transtornos do sistema digestivo
18 %
ulcera, digestivo, dor de estômago, enjôo do estomago, gastrite,
prisão de ventre, dor de barriga
Transtornos do sistema circulatório
18 %
fortificante, depurativo do sangue, problema de circulação, câimbra,
dormência, , abaixa pressão
Doenças infecciosas e parasitárias
16 %
piolho,sarna,caspa, resfriado, infecção interna, frieira,leptospirose,
sarampo, analgésico, intoxicação intestinal, inflamação geral,
inflamação de garganta
Doenças das glândulas endócrinas,
da nutrição e do metabolismo
13 %
equilíbrio hormonal, diabete, problema de fígado, hepatite.
Transtornos do sistema genitourinário
13 %
diurético, acido úrico, pedra nos rins, inflamação genital, cistite,
cólica renal, corrimento vaginal
Transtornos do sistema respiratório
12 %
bronquite, expectorante, pneumonia, tuberculose
Doenças da pele e do tecido celular
sub-cutâneo
12 %
sarna, coceira, infecção de pele, inchaço na pele, furúnculo
Doenças do sangue e dos órgãos
hematopoéticos
9%
anemia, furúnculo, colesterol alto, depurativo do sangue, cicatrizante
44
Tabela 3. Continuação.
Categoria de doenças
Espécies(%)
Tratamentos
Doenças do sistema osteomuscular
e do tecido conjuntivo
9%
reumatismo, contusão, pancada, torção, artrite, artrose, contusões,
osteoporose
Transtornos do sistema nervoso
5%
calmante, sonífero, anti-depressivo
Viroses
5%
resfriado, sarampo.
Inapetênia sexual
4%
fortificante, afrodisíaco
Neoplasia
4%
câncer, câncer próstata.
Debilidade física e mental
4%
Fortificante.
Afecções e dores não definidas
3%
dor de dente e tônico capilar.
45
Tabela 4. Índice de Importância Relativa (IR) das espécies medicinais indicadas pelos mateiros como medicinais no entorno da
Reserva Biologica do Tinguá., RJ.
IR
Espécies
2,00
Hymenaea courbaril.
1,80
Smilax sp1.
1,40
Cymbopogon citratus, Jacaranda macrantha
1,20
Lippia alba, Nectandra odorifera, Piper anisum, Solidago chilensis
1,00
Copaífera langsdorffii, Copaifera trapezifolia, Gossypium hirsutum, Rumex obtusifolius, Vernonia
polyanthes.
0,80
Adiantum sp, Anacardium occidentales, Averrhoa carambola, Bauhinia radiata, Bidens pilosa,
Geissospermum vellosii, Genipa americana, Hortia arborea, Indet sp1, Indet sp2, Indet sp3, , Lecythis
pisonis, Morus alba, Poligonum persicaria, Psidium guajava, Sambucos nigra, Siparuna guianensis,
Solanum paniculatum
0,60
Ageratum conyzoides, Bixa orellana, Cecropia glaziovi, Cedrella odorata, Echinodorus grandiflorus, Emilia
sonchifolia, Leonorus sibiricus, Nasturtium officinale, Ocimum gratissimum, Phyllanthus corcovadensis,
Ricinus communis, Schinus terebenthifolia, Sorocea bonplandii, Taraxacum officinales
0,40
Baccharis trimera, Bauhinia forficata, Cariniana sp, Citrus sp, Costus spiralis, Cupania oblongifolia,
Cynoddon dactylon, Eugenia uniflora, Himatanthus sp1, Jacaratia spinosa, Kalanchoe brasiliensis, Lantana
camara, Leonotis nepetifolia, Mimosa pudica, Mirabilis jalapa, Momordica charantia, Persea americana,
Piper aduncum, Pradosia kuhlmannii, Punica granatum, Smilax sp2, Solanum americanum, Spondias lutea,
Stachytarpheta canescens, Tontelea ovalifolia, Vernona sp1, Virola gardineri, Virola oleifera, Zea mays
46
5.2 - ENTORNO DA RESERVA BIOLÓGICA DE POÇO DAS ANTAS (ERBPA)
A partir de 116 citações de uso das plantas indicadas pelos mateiros, foram
encontradas um total de 76 espécies, das quais 16 em morfo-espécies, subordinadas a 30
famílias botânicas (Tab. 5), As famílias que se destacaram quanto ao número de espécies
foram Leguminosae (20 espécies), Lauraceae (5 espécies), Bignoniaceae e Asteraceae com
3 espécies cada (fig. 11).
A forma de vida dominante foi a arbórea com 66 espécies citadas, em seguida
vieram as formas arbustiva e herbácea cada uma com cinco espécies citadas (fig. 12).
Dentre as plantas citadas como úteis pelos mateiros, a maioria (87 %) é representada
por espécies nativas da região, encontradas nas bordas e interior de fragmentos de
remanescentes florestais (Fig. 9). O restante das plantas citadas são cultivadas, provenientes
dos quintais e roças dos informantes, sendo a maioria das mesmas utilizadas como alimento
ou para fins medicinais.
Figura 9 - Distribuição dos habitats das plantas citadas como úteis
pelos mateiros moradores do ERBPA, Silva Jardim, RJ.
A parte das plantas mais utilizada, segundo as citações, foi o caule (68%), seguida
por folha (16%). Sendo que a maioria das citações para caule se referem ao uso
combustível, enquanto que as folhas são mais utilizadas para o preparo de medicamentos
(Tab.10).
47
Caule
68
Parte usada
Folha
16
Fruto
7,6
3,8
Flor
2,5
Seiva
1,3
Casca
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Porcentagem (%)
Figura 10 - Descrição das partes vegetais mais utilizadas pelos informantes.
As plantas foram agrupadas em seis categorias de uso, sendo que a maior freqüência
quanto a utilização das espécies citadas pelos mateiros estão inseridas nas categorias
combustível (29% das espécies) e construção (28% ) (Fig. 13).
A categoria de uso combustível esta relacionada às espécies utilizadas como lenha
para os fogões, e dentre elas se destacam espécies típicas e muito abundantes na região,
principalmente nas áreas antropizadas da Rebio, podendo destacar: Inga edulis (ingá),
Cupania oblongifolia (camboatá), Guarea guidonea (carrapeta) Miconia cinnamamifolia
(jacatirão) e Vernonia discolor (cambará).
Para a categoria construção se destacaram espécies que são reconhecidas pelos
mateiros devido à grande durabilidade da madeira, principalmente no que diz respeito: a
caibros e ripas para a construção de telhados de residências, tábuas utilizadas para o piso
das casas e ranchos para abrigar animais. Dentre estas espécies podemos destacar como as
mais citadas: Calophyllum brasiliense (guanandi), Dalbergia nigra (jacarandá),
Plathymenia
foliolosa
(vinhático),
Senefeldera
multiflora
(sucanga)
e
iconia
cinnamomifolia (jacatirão). Sendo a lua-nova a melhor lua para a retirada das madeiras que
segundo os informantes protege a mesma contra ataque de insetos, aumentando assim a sua
durabilidade.
48
O grande conhecimento dos mateiros sobre as plantas relacionadas às categorias
combustível e construção pode ser explicado, em parte, ao histórico de uso da terra da
região no passado, pois os mesmos habitava as áreas da Reserva nas décadas de 1970 e
1980, época em que se estabeleceram grandes madeireiras na região. Este fato foi também
comentado por Christo et al ( 2006 ) ao estudarem o uso dos recursos vegetais no entorno
da Reserva Biológica de Poço das Antas.
Dentre as espécies reconhecidas como medicinal pelos mateiros, a maior parte delas
64 % são plantas nativas proveniente de áreas remanescentes de florestas, o restante das
plantas medicinais citadas são cultivadas nos quintais. Vale destacar o papel das mulheres
dos informantes que na maioria das vezes são as responsáveis pelo cultivo e manejo das
espécies encontradas nos quintais, e também é delas a responsabilidade de colher, preparar
e ministrar as plantas medicinais para toda a família..
A parte das plantas mais utilizada para o preparo de medicamentos foi a folhas
(79%), seguida pela seiva (14%) e casca (7%).
O índice de Shannon (H’) encontrado a partir das entrevistas com os mateiros
habitantes no ERBPA foi de 1,85 (base 10) e 4,25 (base e).
A curva do esforço amostral desenhada para a região do entorno da Reserva
Biológica de Poço das Antas mostrou uma tendência à estabilidade, provavelmente um
aumento no esforço amostral irá acarretar pouco ou nenhum incremento na riqueza
observada (fig 14).
49
20
Leguminosae
5
Famílias
Lauraceae
Bignoniaceae
4
Asteraceae
4
Meliaceae
3
Melastomataceae
3
Sapindaceae
2
Myrtaceae
2
Lamiaceae
2
Clusiaceae
2
Annonaceae
2
Anacardiaceae
2
0
5
10
15
20
25
Número de espécies
Figura 11 - Famílias que se destacaram quanto às suas riquezas especificas
no ERBPA, Silva Jardim, RJ.
hábito
árvore
66
herbaceo
5
arbusto
5
0
10
20
30
40
50
60
70
número de espécies
Figura 12 - Distribuição das formas de vida das espécies indicadas como
úteis pelos mateiros moradores no ERBPA, Silva Jardim, RJ.
50
combustível
29
cat. uso
construção
28
tecnologia
14
medicinal
14
alimentíco
11
ornamental
3
0
5
10
15
20
25
30
35
porcentagem de espécies
Figura 13 - Distribuição da porcentagem de espécies indicadas em cada
categoria de uso, pelos mateiros moradores no ERBPA, Silva Jardim, RJ
90
número de espécies
75
60
45
30
15
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90 100 110 120
número de citações
Figura 14 - Curva do esforço amostral relacionada às citações das espécies
pelos mateiros moradores no ERBPA, Silva Jardim, RJ.
51
Tabela 5. Relação de espécies referentes como úteis pelos mateiros moradores no Entorno da Reserva Biológica de Poço das
Antas (ERBPA), Silva Jardim, RJ.
Família/espécie
Nome local
Hab.
Hat Uso
Pu
N.c
ANACARDIACEAE
Tapirira guinensis Aubl.
canela-cedro
arv
nat comb, const
ca
FAS116
Schinus terebinthifolius Raddi
aroeira
arv
nat comb
ca
FAS110
ANNONACEAE
Guatteria sp.
bicuibuçú
arv
nat comb
ca
Xylopia brasiliensis Spreng.
Imbiú
arv
nat cons, tecn
ca
FAS115
ARECACEAE
Attalea humilis Mart.
pindoba
arv
nat cons
fo
AGC339
ASTERACEAE
Baccharis trimera (Less.) DC.
carqueja
herb
cult med
fo
AGC175
Coreopsis grandiflora Hogg ex Sweet
camomila
herb
cult med
fo
AGC55
Lactuca sativa L.
alface
herb
cult alim
fo
Vernonia discolor (Spreng.) Less.
câmara/cambará
arv
nat comb, med
ca,fo
AGC316
BIGNONIACEAE
Jacaranda semiserrata Cham
carobinha
arv
nat med
fo
FAS96
Sparattosperma leucanthum (Vell.)
cinco-folhas
arv
nat comb,cons,med ca,fo
FAS105
K. Schum.
Tabebuia cassinoides (Lam.) DC.
ipê tamanco
arv
nat tecn
ca
FAS109
Tabebuia umbellata (Sond.) Sandwith
ipê-amarelo
arv
nat orn, tecn
ca/fl
FAS97
BOMBACACEAE
Bombacopsis glabra (Pasquale) Robyns
castanheira
arv
nat orn
fl
AGC355
CARICACEAE
Jacaratia spinosa (Aubl.) A. DC.
mamão-jacatiá
arv
nat alim
ca
AGC354
CLUSIACEAE
Calophyllum brasiliense Cambess.
guanandí
arv
nat cons
ca
FAS108
Symphonia globulifera L. F.
guanandirana
arv
nat tecn
ca
FAS107
EUPHORBIACEAE
Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll. Arg.
tapia
arv
nat tecn
ca
AGC361
-
52
Tabela 5. Continuação
Família/espécie
EUPHORBIACEAE
Manihot esculenta Crantz
Senefeldera multiflora Müll. Arg.
LAMIACEAE
Plectranthus barbatus Andrews
Plectranthus grandis (Cramer) R. Willemse
LAURACEAE
Aniba firmula (Nees & C. Mart.) Mez
Lauraceae sp1
Nectandra oppositifolia Nees & Mart.
Nectandra puberula (Schott) Nees
Ocotea sp.
LECYTHIDACEAE
Cariniana legalis (Mart.) Kuntze
LEGUMINOSAE
Andira fraxinifolia Benth
Leguminosae sp2
Balizia pedicellaris
(DC.) Barneby & J.W. Grimes
Bauhinia forficata Link
Chamaecrista ensiformis (Vell.) H.S.
Irwin & Barneby
Copaifera langsdorfii. Desf.
Copaifera trapezifolia Haine
Dalbergia nigra (Vell.) Allemao ex Benth.
Hymenaea courbaril L.
Inga laurina (Sw.) Willd.
Inga edulis Mart.
Inga sp1
Leguminosae sp1.
Nome local
Hab.
Hat
Uso
Pu
N.c
mandioca
sucanga
arb
arv
cult
nat
alim
cons
ra
ca
AGC268
boldo
alcachofra
arb
arb
cult
cult
med
med
fo
fo
AGC44
AGC240
canela-cheirosa
canela
canela-jacú
canela
canela
arv
arv
arv
arv
arv
nat
nat
nat
nat
nat
cons
tecn, const
cons, comb
cons
cons
ca
ca
ca
ca
ca
FAS120
FAS98
AGC318
AGC269
jequitibá
arv
nat
cons
ca
-
angelim-pedra
angelim
cambuí-branco
arv
arv
arv
nat
nat
nat
comb
comb
cons
ca
ca
ca
FAS119
FAS101
AGC328
pata-de-vaca
oiti
arv
nat
nat
med
comb
fo
ca
FAS118
AGC271
copaíba
copaiba
jacarandá
Jatobá
ingá-feijão
ingá
ingá-banana
mal-casado
arv
arv
arv
arv
arv
arv
arv
arv
nat
nat
nat
nat
nat
nat
nat
nat
med
cons, med
cons
cons
alim
alim, comb
alim
comb
sei
sei
ca
ca
fr
fr,ca
fr
ca
AGC366
FAS111
AGC332FAS112
FAS113
FAS100
AGC312
-
53
Tabela 5. Continuação
Família/espécie
LEGUMINOSAE
Leguminosae sp3
Machaerium nyctitans (Vell.) Benth.
Phaseolus vulgaris L.
Piptadenia gonoacantha (Mart.) J. F. Macbr.
Piptadenia paniculata Benth.
Plathymenia foliolosa Benth.
Pseudopiptadenia contorta
(DC.) G.P. Lewis & M.P. Lima
MELASTOMATACEAE
Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin
Miconia lepidota Schrank & Mart. ex DC.
Tibouchina granulosa (Desr.) Cogn.
MELIACEAE
Cabralea canjerana (Vell.) Mart.
Guarea guidonia (L.) Sleumer
MONIMIACEAE
Siparuna guianensis Aubl.
MORACEAE
Sorocea guilleminiana Gaudich.
MYRISTICACEAE
Virola gardneri(A. DC.) Warb.
MYRSINACEAE
Rapanea ferruginea (Ruiz & Pav.) Mez
MYRTACEAE
Myrciaria floribunda
(H. West ex Willd.) O. Berg
Myrtaceae sp1
POACEAE
Oryza sativa L.
Nome local
Hab.
uso
Pu
N.c
cambui-preto
guaxumbé
feijão
pau-jacaré
angicão
vinhático
angico-preto
arv
arv
herb
arv
arv
arv
arv
nat
nat
cult
nat
nat
nat
nat
tecn
comb
alim
comb
cons
cons, tecn
cons
ca
ca
fr
ca
ca
ca
ca
FAS99
AGC333
AGC364
AGC329
FAS102
AGC266
jacatirão
mirindiba
quaresmeira
arv
arv
arv
nat
nat
nat
cons
comb
orn
ca
ca
fl
FAS117
AGC278
AGC330
cedro-rosa
carrapeta
arv
arv
nat
nat
tecn
comb, med
ca
ca,fo
AGC383
AGC349
fedegoso
arv
nat
comb
ca
AGC359
espinheira-santa
arv
nat
med
fo
AGC280
imbiú-preto
arv
nat
comb
ca
AGC273
capororoca
arv
nat
comb
ca
AGC357
goiabeira-do-mato
arv
nat
comb
ca
AGC275
canema
arv
nat
comb
ca
FAS95
arroz
herb
nat
alim
fr
-
54
Tabela 5. Continuação
Família/espécie
Nome local
Hab.
uso
Pu
N.c
RUBIACEAE
Genipa americana L.
genipapo
arv
nat alim
fr
AGC362
RUTACEAE
Zanthoxylum rhoifolium Lam.
mamica-de-porca
arv
nat tecn
ca
FAS114
SAPINDACEAE
Cupania oblongifolia Mart.
cambotá
arv
nat comb,cons, tecn ca
FAS103
Cupania racemosa (Vell.) Radlk.
camboatazinho
arv
nat cons, tecn
ca
FAS104
SAPOTACEAE
Ecclinusa ramiflora Mart.
acá
arv
nat comb
ca
AGC276
SIMAROUBACEAE
Picramnia ciliata Mart
pau-pereira
arv
nat med
cas
AGC272
SOLANACEAE
Solanum tuberosum L.
batata
arb
cult alim
ULMACEAE
Trema micrantha (L.) Blume
crandiúba
arv
nat comb, tecn
ca
FAS106
VERBENACEAE
Lippia alba (Mill.) N.E. Br.
erva-cidreira
arb
cult med
fo
AGC157
VOCHYSIACEAE
Vochysia sp.
tarumã
arv
nat comb
ca
AGC321
INDETERMINADA
Indet 1
milho-cozido
arv
nat comb
ca
AGC270
Indet 2
bacubichá
arv
nat comb
ca
AGC279
Indet 3
mirindiba-ipê
arv
nat cons
ca
AGC282
Indet 4
araribá-rosa
arv
nat cons
ca
AGC284
Indet 5
bico-de-papagaio
arv
nat cons
ca
AGC324
Indet 6
gameleira
arv
nat cons
ca
AGC325
Hab - hábito: arb - arbusto; arv - arbóreo; herb - herbáceo; .Hat - habitat: cult - cultivada nos quintais; nat – nativa; Uso: ali alimentar; comb – combustível; const – construção; med – medicinal; ornamental – orn; tecn – tecnologia. N.C: Número de
coleta: AGC – Christo, A. C. e FAS – Sobrinho, F. A. Pu: parte usada: ca – caule; cas – casca; fo – folha; fr: fruto; fl – flor; ra raiz ; se – semente; sei – seiva; N.c: Número de coleta: FAS - Sobrinho, F. A; AGC – Christo, A. G.
55
6 - COMPARAÇÃO ENTRE AS ÁREAS
Comparando as duas áreas de estudo percebeu-se que, em ambas, a família
Leguminosae se destacou quanto à sua riqueza específica, apresentando maior quantidade
de espécies úteis segundo a citação dos informantes. Outros estudos relacionados ao uso de
recursos vegetais e etnobotânica na região da Mata Atlântica (Christo et al. 2006 e Cunha et
al. 2005) também encontraram a família Leguminosae como a mais representativa quanto
ao número de espécies úteis.
Quanto à forma de vida das plantas citadas pelos mateiros a arbórea se destacou nas
duas áreas, perfazendo 70 % (135 espécies) de todas as espécies citadas para as duas
regiões (192 espécies), com isso podemos perceber o grande conhecimento local dos
mateiros moradores nas duas regiões referente às espécies arbóreas típicas da Mata
Atlântica.
Entre todas as espécies citadas pelos mateiros, 28 espécies foram comuns às duas
áreas de estudo (Tab 6), sendo que desse total, a grande maioria (26 espécies) são arbóreas
e de ampla ocorrência nas regiões circunscritas ao domínio da Mata Atlântica.
No total, as plantas citadas como úteis, foram agrupadas em nove categorias de uso,
sendo que para a região do ERBT totalizou-se oito categorias enquanto que no ERBPA
somaram-se seis categorias, sendo cinco categorias comuns às duas áreas: medicinal,
combustível, tecnologia, construção, alimentício (Fig. 15).
As plantas mais citadas pelos mateiros, nas duas comunidades, foram espécies
muito encontradiças em áreas alteradas de floresta e margens de caminhos e trilhas, a saber:
camboatá (Cupania oblongifolia), jacatirão (Miconia cinnamomifolia) e aroerinha (Schinus
terebinthifolius) cada uma citada por cinco mateiros.
As espécies mais versáteis quanto ao número de categorias de uso, nas duas áreas,
foram: Cupania oblongifolia (camboatá), incluída nas categorias combustível, medicinal,
tecnologia, construção e recursos para fauna e Xilopia sericea (pindaíba), cujas categorias
foram combustível, construção, recurso para fauna e tecnologia.
56
Tabela 6. Relação de espécies referentes como úteis comuns às duas áreas de estudo. Hab: hábito: arb – arbusto; arv – arbóreo;
herb – herbáceo; Uso: ali – alimentar; comb – combustível; const – construção; med – medicinal; ornamental – orn; tecn –
tecnologia. Sendo os nomes populares e citações de uso referentes: 1 ao conhecimento dos mateiros residentes no entorno da Rebio
2
do Tinguá e; ao conhecimento dos mateiros residentes no entorno da Rebio de Poço das Antas.
Família/nome científico
ANACARDIACEAE
Schinus terebenthifolius Raddi
Nome popular
Hab.
Uso.
aroeirinha1, aroeira2
arv
med1, comb2
ANNONACEAE
Xylopia sericea A. St.-Hil.
pindaíba1, imbiu2
arv
comb1, rec1, cons2, tecn2
ASTERACEAE
Baccharis trimera (Less.) DC.
Vernonia discolor (Spreng.) Less.
carqueja1,2
cambará1,camará2
herb
arv
med1,2
comb1,2, cons 1
caróba1, carobinha 2
cinco-folhas1,2, ipê-branco1
arv
arv
med1, 2
comb1,2, med2
mamão-jacatiá1,2
arv
med1, alim2
copaiba1,2
copaíba-verdadeira1, copaíba 2
jatobá1,2
ingá1, 2
pau -jacaré1, 2
angico-cambui1, angico-preto2
arv
arv
arv
arv
arv
arv
med1,2, tecn1
, med1, 2, tecn1, cons 2
alim1, med1, cons2
alim1, 2, comb 2
comb1,2
comb1, cons2
jacatirão1,2
arv
cons1,2
BIGNONIACEAE
Jacaranda semiserrata Cham
Sparattosperma leucanthum (Vell.) K. Schum.
CARICACEAE
Jacaratia spinosa (Aubl.) A. DC.
LEGUMINOSAE
Copaífera langsdorffii Desf.
Copaifera trapezifolia Haine
Hymenaea courbaril L
Inga edulis Mart.
Piptadenia gonoacantha (Mart.) J. F. Macbr.
Pseudopiptadenia contorta (DC.) G.P.
Lewis & M.P. Lima
MELASTOMATACEAE
Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin
57
Tabela 6. continação
Família/nome científico
MELIACEAE
Cabralea canjerana (Vell.) Mart.
Nome popular
Hab.
Uso.
canjerana1, cedro-rosa2
arv
cons1, tecn1,2
MONIMIACEAE
Siparuna guianensis Aubl
negramina1, fedegoso2
arv
med 1, rit1, comb2
MORACEAE
Sorocea guilleminiana Gaudich.
espinheira-santa1, 2
arv
med1, 2
MYRISTICACEAE
Virola gardneri (A. DC.) Warb.
bicuiba-verdadeira1, imbiú-preto2
arv
cons1, med1, comb2
genipapo1,2
arv
med1, alim2
mamica-de-porca1, 2
arv
cons1, tecn 2
bilreira1, camboatá1,2
camboata1, camboatazinho2
erva-cidreira1,2
arv
arv
arb
comb1,2, med1, tecn1, rec1
comb1,2, rec1cons2, tecn2
med1,2
RUBIACEAE
Genipa americana L.
RUTACEAE
Zanthoxilum rhoifolium Lam.
SAPINDACEAE
Cupania oblongifolia Mart.
Cupania racemosa (Vell.) Radlk
Lippia alba (Mill)
58
Verificou-se que existe uma diferença significativa entre o conhecimento dos
mateiros nas duas áreas (X2 = 49,59; g.l = 7; p<0, 010) valendo-se do teste Qui-Quadrado
(X2). O principal motivo quanto a essa diferença está no grande número de espécies
utilizadas na categoria de uso medicinal, citadas pelos mateiros moradores do ERBT.
Figura 15 – Distribuição do número de espécies indicadas em cada categoria de
uso.nas duas áreas de estudo.
Comparando-se a curva do esforço amostral, relacionando-a as citações das espécies
úteis (fig 16), percebe-se que a curva para o ERBT obteve maior inclinação, apresentando
um maior número de espécie por unidade de esforço amostral. Provavelmente um aumento
no esforço amostral para a área do ERBT acarretará num acréscimo da riqueza observada.
Para Amoroso (2002), a disponibilidade das espécies a serem utilizadas, influencia o
conhecimento de uso das mesmas, logo, uma região que possua uma maior riqueza
florística apresentará um maior número de espécies a serem utilizadas pelas populações.
Os resultados, ora obtidos, corroboram esta observação de Amoroso (2002), visto
que apesar da região do ERBT ter apresentado um menor número de informantes (3
informantes) do que o ERBPA (5 informantes), essa apresentou um maior número de
espécies citadas pelos referidos informantes.
59
número de espécies
120
100
80
60
40
20
0
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140
número de citações
Tinguá
Poço das Antas
Figura 16 - Curva do esforço amostral relacionada às espécies citadas pelos
mateiros no Entorno das Reservas Biológicas do Tinguá (ERBT) e de Poço
das Antas (ERBPA).
A diversidade de espécies, expressa através do índice de Shannon (H’), adaptado
por Begossi (1996), tem sido utilizado em comparações de estudos etnobotânicos realizados
no Brasil, alguns dos quais analisados neste trabalho, os quais encontram-se sumarizados na
Tabela 7. No estado do Rio de Janeiro em um estudo realizado em Gamboa, Ilha de
Itacuruçá, Figueiredo et al. (1993) obtiveram 558 citações de uso de plantas
correspondendo a 90 espécies vegetais. Os mesmos autores, em 1997, ao estudarem a
diversidade de espécies indicadas como úteis por uma comunidade situada na Baía de
Sepetiba, encontraram 75 espécies entrevistando 42 informantes. Fonseca-Kruel & Peixoto
(2004) em um estudo realizado em Arraial do Cabo, Rio de Janeiro, obtiveram 68 espécies
das 444 citações de uso de plantas. Em estudo realizado em Ponta do Almada e Praia de
Camburí (SP) por Hanazaki et al. (2000), os autores obtiveram 152 e 162 espécies úteis
utilizadas, respectivamente, pelas comunidades. No Paraná, Lima et al. (2000) catalogaram
uma diversidade de 445 plantas em entrevistas realizadas com 90 informantes na Área de
Proteção Ambiental de Guaraqueçaba.
60
O índice de Shannon (H’) obtido neste estudo foi de 2,02 (base 10) e 4,65 para o
entorno da Reserva Biológica do Tinguá (ERBT) e 1,85 (base 10) e 4,25 (base e) para o
Entorno da reserva Biológica de Poço das Antas (ERBPA), indicando que os mateiros
moradores destas regiões detém um bom conhecimento sobre o uso de recursos vegetais.
Quando estes índices são comparados aos demais das sete comunidades anteriormente
citadas, os mateiros do ERBT
situam-se em terceiro lugar, em relação ao índice de
diversidade H’, já os mateiros do ERBPA ficaram em quinto lugar no que tange a esse
parâmetro (Tab. 7).
Tabela 7. Comparação de índices de diversidade em estudos realizados em comunidades
situadas no domínio da Mata Atlântica e ecossistemas associados. (NE: número de
espécies; NI: número de informantes; NC: número de citações de uso; H’: índice de
Shannon), ERBT: Entorno da Reserva Biológica do Tinguá, Nova Iguaçu, RJ ERPA:
Entorno da Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, RJ.
H’
base 10
base e
1,65
-
Local de estudo
NE
NI
NC
Fonte:
Gamboa, RJ
90
58
558
Chalhaus, RJ
75
42
482
1,53
-
Arraial do Cabo, RJ
68
15
444
1,78
4,10
Fonseca-Kruel et al. 2004
Praia de Camburí, SP
162
57
541
1,98
4,57
Hanazaki et al. 2000
Ponta do Almada, SP
152
45
434
1,99
4,59
Hanazaki et al. 2000
Guaraqueçaba, PR
445
90
3.400
2,38
5,48
Lima et al. 2000
Silva Jardim, RJ
209
19
548
2,20
5,07
Christo et al. 2006
ERBPA
76
5
116
1,85
4,25
Este estudo
ERBT
116
3
136
2,02
4,65
Este estudo
Figueiredo et al. 1993
Figueiredo et al. 1997
61
7 – CONCLUSÃO
Percebeu-se com esse estudo o grande conhecimento local dos mateiros no que diz
respeito a utilização dos recursos vegetais, dentre todas as espécies úteis a maioria são
árvore típicas da Mata Atlântica.
No ERBT a maioria das plantas reconhecidas pelos mateiros como úteis, possui
alguma utilidade medicinal, sendo grande parte, árvores nativas da região.
No ERBPA a categoria de uso combustível teve o maior destaque entre todas as
plantas citadas como úteis, sendo a maioria, árvores típicas de áreas antropizadas do
interior da Rebio.
As espécies Cupania oblongifolia (camboatá), Miconia cinnamomifolia (jacatirão)
e a Schinus terebinthifolius (aroerinha) foram as espécies mais citadas nas duas áreas de
estudo.
Entre as espécies mais versáteis se destacaram Cupania oblongifolia (camboatá) e
Xilopia sericea (pindaíba), sendo, cada uma, incluída em cinco e quatro categorias de uso,
respectivamente.
A região do ERBT apresentou um maior número de espécies por unidade de esforço
amostral, o qual ficou evidenciado devido à maior inclinação da curva de esforço amostral,
esse fato pode estar associado à maior riqueza florística existente na região do Entorno da
Reserva Bilógica do Tinguá, o que conseqüentemente, acarreta uma maior disponibilidade
de recursos.
Verificou-se com o teste Qui- quadrado X2 que existe diferença significativa quanto
ao conhecimento local dos mateiros entre as duas áreas estudadas.
Na região do ERBT, as famílias Asteraceae, Leguminosae e Poaceae apresentaram
um maior número de espécie com propriedades medicinais.
A maioria das plantas medicinais, quando padronizadas de acordo com a
classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS), são utilizadas para problemas
relacionados a transtornos do sistema digestivo e do sistema circulatório
A espécie Hymenaea courbaril (jatobá) apresentou o IR máximo, e consiste na
espécie mais versátil, em relação a seus usos medicinais.
Muitas plantas freqüentemente utilizadas por populações locais ainda não foram
estudadas ou seus princípios ativos ainda não foram identificados para validá-las como
62
medicamentos ou para aproveitá-las economicamente (Berg 1993). Ainda assim, muitas
plantas são utilizadas e comercializadas na atualidade e o Brasil, um dos países com maior
biodiversidade do mundo, se revela como um importante e potencial provedor de um
recurso tão valioso como as plantas medicinais.
Essas pessoas, devido à grande vivência nas matas das regiões de estudo, podem ser
consideradas como verdadeiros especialistas locais, reconhecendo diversas morfoespécies .
Estes atores sociais não deveriam ser mais vistos como meros informantes locais,
pois seus conhecimentos poderiam ser úteis na manutenção e administração das unidades
de conservação inclusive auxiliando no plano de manejo das mesmas, além de serem
importantes aliados no desenvolvimento de projetos de educação ambiental em suas
regiões.
Tão importante como resgatar as informações sobre a diversidade biológica é o
resgate da cultura do uso de plantas por parte destes informantes, que desde o século XVIII,
acompanham os naturalistas em suas expedições científicas. Assim como a fragmentação
das áreas naturais têm influenciado as taxas demográficas e fluxos gênicos de espécies
vegetais - no passado, abundantes na natureza - assim também se dá, nos dias atuais, com
os reconhecidos mateiros. O resgate da diversidade cultural que estes informantes detêm
não só é importante como prioritário. A corrosão do conhecimento que se dá através das
migrações de populações humanas e envelhecimento das mesmas, faz com que a
apropriação do conhecimento empírico, que se dá via oral pelas gerações posteriores, é
perdido, Prova disto é a dificuldade encontrada, mesmo por instituições que trabalham a
longo prazo em determinadas áreas (como é o caso do Jardim Botânico do Rio de Janeiro),
de encontrarem informantes que saibam, realmente, o que é, onde se encontram e como se
diferenciam as espécies procuradas pelos representantes da academia.
Assim, todo informante que seja encontrado numa área de estudo deve ser
valorizado pelo volume de informação qualificada que coloca à disposição do estudo,
independente do que se preconiza como ideal de amostra para fins de análises quantitativas.
A área de Mata Atlântica está muito distante desta recomendação de desenho experimental.
Estudos dessa natureza tornam-se cada vez mais importantes nas regiões sob
domínio da Mata Atlântica, que apesar do histórico de destruição ainda possui uma grande
importância econômica, ecológica, cultural e social.
63
8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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71
Anexos
a
b
c
d
e
f
Figuras a-f. a) Sede da RPPN (CEC) Tinguá, Nova Iguaçu, RJ.; b) Vista da Rebio do Tinguá; c)
Quintal do Sr Walter (mateiro); d) Fragmento florestal da RPPN (CEC) Tinguá; e) Equipe de
campo do Programa Mata Atlântica na Rebio de Poço das Antas, Silva Jardim, RJ, da esquerda para
a direita: Totonho (mateiro), Adilson (mateiro) e Alexandre (Técnico); f) Coleta de campo no
Entorno da Rebio Poço das Antas.
72
g
h
i
j
l
m
n
o
Figuras a-f. g) Totonho (mateiro), morador do Entorno da Rebio de Poço das Antas e auxiliar de
campo do PMA. h) Sr Francisco (especialista em plantas medicinais), morador do entorno da Rebio
do Tinguá; i) Sr Walter, assistente de campo do PMA, morador do Entorno da Rebio do Tinguá; j)
Fruta pão (Artacarpus altilis (Park.)), utilizada como recurso alimentar no Entorno da Rebio do
Tinguá; l), Coleta de campo; m) Cana do Brejo (Costus spiralis (Jacq.) roscoe) utilizada como
recurso medicinal no entorno da Rebio do Tinguá; n) Jatobá (Hymenaea courbaril L), utilizada
como planta medicinal e alimentícia; o) Pata de Vaca (Bauhinia forficata Link ) planta medicinal
utilizada nas duas áreas estudadas.
73