um desafio para a formação dos formadores. Ir. Ignes Burin

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um desafio para a formação dos formadores. Ir. Ignes Burin
ACOMPANHAMENTO – UM DESAFIO PARA OS FORMADORES
Como realizar o acompanhamento:
um desafio para a formação dos formadores.
Ir. Ignes Burin - CSAC
INTRODUÇÃO
“Se um cego conduz a outro, tombarão ambos na mesma vala” (Mt 15,14).
O Mestre Jesus nos revela aqui a importância fundamental para quem deve guiar outros, a fim de que
tenha a capacidade de enxergar e enxergar bem. O tema do acompanhamento pessoal é realmente um desafio
tanto para os formadores como para toda a Congregação. Um formador não se improvisa: deve preparar-se,
estudar e aprender a exercitar o seu ministério junto a um mestre capaz de ajudá-lo a resolver as dúvidas; deve
aprender a escutar, a ser prudente, deve, portanto, aprender a aprender.
Ninguém é mestre se antes não foi discípulo. Em nossa família religiosa, temos o exemplo de S. Vicente
Pallotti; ele sabia que o melhor modo de ajudar os outros no caminho do crescimento espiritual era deixar-se
ajudar. Na verdade, ele mesmo procurava praticar o que ensinava. 1
Jesus, protótipo do Novo Testamento, tem muitos discípulos, mas prepara de modo especial um grupo
que chamará apóstolos. Nos primeiros séculos do cristianismo encontramos os padres e as madres do deserto,
no Oriente com Pacômio e Basílio, depois no Ocidente que tem como figura central S. Bento.
Para nós, é fundamental olharmos Jesus, o Mestre por excelência. Nosso Fundador S. Vicente Pallotti diz:
“Nosso Senhor Jesus Cristo coepit facere ed docere...” 2 aprendeu a fazer e depois a ensinar. Permanecendo no tema,
podemos dizer que, em primeiro lugar, o formador deve ser preparado, porque deve considerar o sujeito da
formação do ponto de vista antropológico-cristão-interdisciplinar. Isto supõe capacidade de acompanhar a
pessoa no seu todo e nos vários componentes passíveis de serem trabalhados, pois a formação pode contribuir
para que o candidato reconheça o plano que o Criador tem sobre ele, para corresponder melhor ao chamado.
O ser humano não é somente psíquico, nem unicamente corpo, como nem somente espírito. Entre essas
dimensões, embora diversas, não existem divisões e nem se confundem. O objetivo da formação é atingir todas
as dimensões, oferecer a possibilidade de conhecer e compreender o comportamento e as reações da pessoa
acompanhada, ajudando-a a alcançar a maturidade. Podemos dizer que o verdadeiro trabalho formativo é o de
ajudar a pessoa, criada à imagem de Deus, a tomar nas mãos sua própria vida, buscando a integração do seu ser. 3
O FORMADOR
Sem dúvida, o primeiro sujeito do processo formativo é o formando. O formador, porém, não pode
ajudar as pessoas em formação se antes ele mesmo não percorreu um adequado caminho de formação. As
diversas áreas de sua personalidade devem ser conhecidas por ele mesmo, como também integradas e
amadurecidas.
Os formadores devem estar em condições de oferecer aos candidatos uma ajuda que favoreça a integração
da personalidade e lhes permita realizar uma mudança estrutural.4 Por isso, o formador dever ser uma pessoa
adulta e madura, que tenha superado o nível das necessidades infantis. “Quando era criança, falava como criança,
pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei adulto, eliminei as coisas de criança”
(1Cor 13,11).
O Papa João Paulo II, de feliz memória, nos fala: “Diante de missão tão delicada, resulta verdadeiramente
importante a formação de formadores idôneos, que, no seu serviço, assegurem uma grande sintonia com o
caminho de toda a Igreja... será oportuno criar estruturas adequadas para a preparação dos formadores..." 5.
Para superar o nível infantil, é necessário amadurecer na capacidade de amar. A criança espera somente
amor, tem necessidade de ser vista e continuamente ajudada..., enquanto que, de um formador, espera-se que
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Cf. Società dell’Apostolato Cattolico, Ratio Institutionis, Roma, 2004, n. 57
S. Vincenzo Pallotti, Regoli Fondamentali, a cura di P. A. Faller, Roma, 1944 n. 24
Cf. Simone Pacot, L’evangelizzazione Del Profondo – Ed. Quiriniana, Bresecia 1999, p. 21
Cf. Società Dell’Apostolato Cattolico, Ratio Institutionis, Roma, 2004, n.175
Giovanni Paolo II, Esortazione Apostolica,Vita Cosecrata, Ed. Vaticana, Città del Vaticano, 1996, n. 66
tenha atingido uma boa identidade e atitudes maduras. Em outras palavras, os superiores que nomeiam um
formador devem conhecer sua personalidade e as atitudes necessárias para poder orientar os jovens formandos.
Cito o Documento Repartir de Cristo “…deseja-se que sejam destinadas para a formação as melhores
forças, mesmo que isso comporte notáveis sacrifícios. A nomeação de pessoas qualificadas e sua adequada
preparaçã, são um dever prioritário. Devemos ser bastante generosos para dedicar o tempo e as melhores
energias à formação. As pessoas dos consagrados, com efeito, estão entre os bens mais preciosos de que a Igreja
dispõe. Sem elas, todos os planos formativos e apostólicos permanecem mera teoria e desejos ineficazes”. 6
O QUE SE ESPERA DE UM FORMADOR?
Do formador exige-se uma personalidade sadia e equilibrada. Ser formador é uma arte que inclui dons
naturais e adquiridos, como também dons espirituais cultivados com tenacidade.
Referindo-se à direção espiritual, Benito Goya diz: “Tratando-se ‘da arte das artes,’ requererem-se guias
ricas não somente de dons naturais e de experiência humana, mas também competentes e especializadas nas
ciências espirituais e na unificação de todas as dimensões da personalidade natural e transcendente”.7
Para realizar a função de acompanhador, o formador deve ter alcançado um bom nível de experiência
espiritual que inclua os valores da consagração religiosa e do Carisma da Congregação; grande empenho e alegria
em realizar esta missão, pois deve orientar os candidatos no processo de discernimento, para que cheguem a uma
opção vocacional livre. “Deverá também ser dada particular atenção a uma formação cultural sintonizada com o
tempo e em diálogo com a procura de sentido do homem de hoje. Por isso, exige-se uma maior preparação no
campo filosófico, teológico, psicológico, psicopedagógico e uma orientação ainda mais profunda para a vida
espiritual, bem como modelos mais adequados no respeito às culturas nas quais nascem as novas vocações e
itinerários bem definidos para a formação permanente...” 8.
QUE DONS E QUE DISPOSIÇÕES?
Podemos dizer que ele mesmo deve ter consciência de que o Formador por excelência é o Pai. “Deus Pai,
pelo dom contínuo de Cristo e do Espírito Santo, é o formador por excelência de quem a ele se consagra. Mas
nesta obra ele serve-se da mediação humana, colocando ao lado dos que chama alguns irmãos e irmãs mais
velhos. A formação é, portanto, participação na ação do Pai que, através do Espírito, plasma no coração dos
jovens e das jovens os sentimentos do Filho”. 9
CARACTERÍSTICAS INDISPENSÁVEIS PARA UM FORMADOR.
Uma personalidade madura e integrada é base para adquirir outras características necessárias a essa missão.
Na realidade, mais importante que as técnicas e os métodos aplicados é a capacidade de relacionamento, de
acolhida e de boa comunicação.
Para acolher os outros e ajudá-los no seu crescimento, é necessário conhecer antes a própria história, as
motivações inconscientes, que com freqüência se manifestam no comportamento. Além de conhecer as próprias
motivações a nível mais profundo, é necessário purificá-las, pois, enfrentá-las com sinceridade e coragem é uma
possibilidade para a harmonização interior, a fim de que as reações da pessoa não sejam mais guiadas pela
emotividade. Diz B. Goya, cito: “... particular incidência da imaturidade é percebida pelo acompanhado, pois os
estados de ânimo, de segurança ou insegurança se transmitem incisivamente. Quando a pessoa possui um bom e
suficiente grau de maturidade, é dona de si mesma e livre da procura obsessiva de aprovação ou de falsas
compensações inconscientes”. 10
CAPACIDADE DE ACOLHIDA E ESCUTA DO OUTRO
Acolher e escutar o outro com total disponibilidade é um aspecto da linguagem do amor. Acolher,
respeitar e revelar estima pela pessoa assim como é, de modo incondicional, significa também ser livre da
preocupação de ter que dar sempre alguma coisa. Somente quem consegue olhar o outro como possuidor de
don, torna-se capaz de exercer a verdadeira acolhida. É impossível que uma pessoa que acredita saber
sempre tudo e possuir todas as respostas seja acolhedora, pois, de maneira consciente ou inconsciente, julgase sempre superior ao outro. Ninguém que se aproximou de Jesus ou lhe pediu ajuda foi ignorado na sua dor
6
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CIVCSVA, Ripartire da Cristo, Ed. Vaticana, Città del Vaticano, 2002, n. 18
Benito Goya, Luce e Guida nel Cammino – Ed. EDB – Bologna, 2004 – p. 77
Ripartire da Cristo, n. 18
Papa Giovanni Paolo II, Esortazione Apostolica VC, n. 66
Benito Goya, Luce e Guida nel Cammino, Ed. EDB, 2004, p. 78
2
ou necessidade. Também esta atitude é uma conseqüência, pois, somente quem já escutou e acolheu a si
mesmo com suas virtudes, capacidades, limites e pecados, é capaz de acolher o outro.
Escutar o outro significa também ser capaz de acolher os próprios sentimentos e emoções, tomando
consciência dos mesmos para trabalhá-los; esta atitude permite-nos entrar em empatia com a pessoa e ter as
condições de escutar os seus sentimentos como um serviço ativo.
Não é indiferente que no trabalho de acompanhamento se tenha presente os próprios sentimentos para ser
livre diante deles e não se deixar influenciar pelos dos outros, para poder ajudá-los no caminho de
crescimento.
Juntamente com a atitude de escuta, é necessário exercitar-se na capacidade de silenciar as próprias idéias,
não julgar a pessoa em diálogo e esvaziar-se, pois o esvaziamento interior é uma atitude de maturidade.
Para acompanhar jovens e adultos em formação, requer-se que o acompanhador tenha alcançado uma
boa identidade como também que possua personalidade sadia e generosa, capaz de superar o egocentrismo,
pois cada pessoa merece ser escutada com paciência, respeito e grande atenção. Jesus nos convida a doar a
própria vida e todos sabemos o que significa doar-se aos outros. Podemos doá-la, ajudando materialmente,
superando o egoísmo para acolher o outro na sua individualidade, fazendo-o conhecer e experimentar a sua
dignidade. O outro espontaneamente intui se nossa atitude é de escuta ou não. No acompanhamento é
fundamental também prestar atenção aos sinais não verbais expressos através de frases não acabadas, ao tom
da voz, ao olhar, ao movimento das mãos e à posição do corpo no seu todo.
CAPACIDADE DE PERCORRER O CAMINHO ESPIRITUAL COM CRESCENTE FIDELIDADE
Não se pode falar de personalidade madura sem mencionar a dedicação por um caminho de crescimento
espiritual para a santidade. A santidade é uma proposta para todos indistintamente, não somente para os
consagrados.
O Senhor disse a Moisés: “Fala a toda a comunidade dos Israelitas: sede santos, porque Eu, o Senhor,
vosso Deus, sou santo” (Lv 19,1-2).
Jesus, homem maduro por excelência, alimenta íntimo e profundo relacionamento com o Pai, por isso
nos adverte: “Sede, portanto, perfeitos como é perfeito vosso Pai celeste” (Mt 5,48). O caminho de
santidade inclui atitudes de verdadeiros filhos de Deus a exemplo de Jesus. Santidade é viver em plenitude o
amor para com Deus e os irmãos.
Cito Amedeo Cencini - “Na realidade, existe uma só vocação, a do amor, a deixar-se amar e amar,
anunciar o amor e a traduzi-lo em gestos correspondentes de acolhida, perdão, gratidão, gratuidade,
benevolência, serviço, sacrifício de si, paixão, paz, solidariedade, martírio. Qualquer que seja a vocação
específica do indivíduo, ou o caminho que então será chamado a percorrer, não altera o destino final de sua
existência, isto é: o amor de receber e de ser doado”.11
A formação deveria ajudar-nos a compreender e a viver sempre melhor a resposta de Jesus ao escriba
sobre o primeiro mandamento. “O Senhor teu Deus é o único Senhor; amarás portanto o Senhor teu Deus
com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu pensamento e a teu
próximo como a ti mesmo” (Mc 12,30-31); Lc 10,27).
A nível humano, mas também espiritual, o amor nos impulsiona a procurar o amado, a estar com ele para
deixar-nos amar e contemplá-lo, como narra o Cântico dos Cânticos. O coração então encontra o verdadeiro
sentido que plenifica a vida. Em sua primeira Encíclica nosso Papa escreve: “O amor compreende a
totalidade da existência em cada dimensão, também na do tempo. Não poderia ser diferente, porque sua
promessa visa o definitivo: o amor visa a eternidade”. 12
A maneira de cultivar o amor, para nós consagrados, é também o de reservar tempos fortes de oração
pessoal e comunitária, por isso o tempo é um fator indispensável. O próprio Jesus muitas vezes aparece em
oração; isto revela que Ele se sente amado do Pai e deseja corresponder a tal amor, e que, como homem, tem
necessidade de contemplar o Pai para realizar plenamente sua missão. O testemunho de oração do Mestre
desperta nos apóstolos o desejo de aprender a rezar. “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João
ensinou aos seus discípulos” (Lc 11,1-2).
11
12
Amedeo Cencini, Quando la carne è debole, Paoline, Milano, 2004 p. 3
Papa Benedetto XVI, Lettera Enciclica, “Deus Caritas Est” Ed. Vaticana, Vaticano 2006, n. 6
3
É impossível seguir e imitar Jesus sem permanecer por muito tempo em oração e contemplação. “Os
jovens necessitam ser estimulados aos altos ideais do seguimento de Cristo e às profundezas da santidade em
vista de uma vocação que os supera e talvez vai além do projeto inicial que os moveu a entrar em um
determinado Instituto.” 13
E segue o mesmo documento dizendo: “Uma autêntica vida espiritual requer que todos, ainda que nas
diversas vocações, dediquem regularmente, todos os dias, momentos apropriados para aprofundar-se no
colóquio silencioso com Aquele por quem sabem ser amados, a fim de compartilhar com Ele a própria vida
e receber luz para continuar o caminho cotidiano.”14
ACOMPANHAMENTO PERSONALIZADO
Se no passado a formação era programada com uma ou duas conferências ao dia, com momentos de
oração em comum e horários estabelecidos, hoje estes esquemas não são mais suficientes. Graças à escuta do
Espírito Santo, a Igreja, através do Vat II, convidou a vida consagrada a renovar-se, a retornar às raízes do
próprio Carisma e a uma espiritualidade mais profunda e encarnada. Com alegria, constatamos que as
Congregações comprometeram-se com uma mais sólida e personalizada formação dos formadores a nível:
antropológico, teológico-bíblico, cristológico e carismático.
Acompanhar significa “pôr-se ao lado”, caminhar com; para nós significa percorrer junto o caminho da
vida consagrada e religiosa. Portanto, o acompanhamento personalizado não é e não pode ser um
comportamento passivo. O acompanhador é um instrumento ativo do Espírito Santo e realiza uma grande
missão. Ele é chamado a ser um acompanhador atento, consciente de que o verdadeiro formador é sempre o
Espírito Santo. O trabalho de acompanhamento tem como fundamento uma dimensão teológica. “...é, na
realidade, o Espírito do Pai e do Filho que permanece ao lado do ser humano para recordar-lhe a palavra do Mestre; é ainda o
Espírito que habita no homem, para suscitar nele a consciência de ser filho do Pai celeste. É, portanto, o Espírito o modelo no
qual deve inspirar-se aquele irmão ou irmã maior que acompanha um irmão ou uma irmã menor”. 15
Compreende-se sempre mais que a orientação da Igreja visa ajudar as Congregações a fazer com que a
formação se mantenha atenta à integração dos membros em todos os níveis, para que possam aderir com
alegria ao chamado no seguimento de Jesus Cristo.
Como em pedagogia, o tema da personalização é forte, também na formação para a vida consagrado o
trabalho dos formadores é o de levar em consideração o acompanhamento do indivíduo com seus valores,
capacidades, dons, tendências, dificuldades, situações familiares e feridas que necessitam ser tratadas e
curadas porque condicionam o comportamento.
Vivendo numa sociedade globalizada e frenética, corre-se o risco de estarmos juntos sem sermos
conhecidos de ninguém. Vivemos hoje inúmeras crises de fraternidade, autoridade, crises de valores
humanos, religiosos e espirituais, tantas dúvidas e incertezas, por isso, a necessidade de acompanhamento
faz-se ainda mais exigente. Os jovens precisam de guias, de pontos de referência que os orientem e os
ajudem a descobrir quem são, para compreender o sentido da vida e o caminho de retorno ao essencial da
existência humana. Necessitam reconhecer os verdadeiros valores que o Criador já colocou no coração, e
dos quais os falsos valores esconderam a beleza, enfraqueceram a bondade, diminuíram a força de atração,
que é a segurança em Deus, nosso Pai.
Tenhamos presente que a formação personalizada não diz respeito somente aos jovens, mas também aos
adultos que devem ser ajudados em cada fase de sua vida, considerando o próprio ritmo real de crescimento.
O acompanhador deve agir de tal modo que o acompanhado assuma e integre livremente os valores da vida
consagrada, para não “passar” pelo processo de formação sem vivê-lo. Aplico aqui as palavras da GS:
“Portanto, a dignidade do ser humano requer que ele aja segundo escolhas conscientes e livres, movido e
conduzido por convicções pessoais e não por um cego impulso interno ou por mera coação externa”. 16
Temos consciência de que a responsabilidade primeira de viver o caminho de formação é da própria
pessoa que escolhe a vida consagrada. Cito o documento – Diretivas sobre a Formação nos Institutos
Religiosos: “É o próprio religioso que tem a responsabilidade primeira de dizer “sim” ao chamado que
recebeu e aceitar todas as conseqüências de tal resposta, que não é tanto de ordem intelectual, quanto de
13
14
15
16
Ripartire da Cristo n. 18
Ibid. n. 25
Nuove Vocazioni per una Nuova Europa, -Ed. ELLE DI CI, Roma, 1997, n.34
Costituzione Pastorale del Concilio Vaticano II, GS, Roma, 1965, n. 17
4
ordem vital”. 17 Acredito que o trabalho mais atento do formador seja o de seguir o formando de maneira
que possa constatar e confirmar seu crescimento e amadurecimento humano e espiritual.
A FORMAÇÃO É UM CAMINHO DE CRESCIMENTO
Falar de formação é falar em caminho em vida que tem como finalidade adquirir boa capacidade de
relacionamento consigo mesmo, com os outros e com Deus. A pessoa é um ser “em relação”, portanto, a
formação é uma realidade dinâmica, que inclui todas as dimensões da pessoa. É um processo que se
desenvolve não somente em sentido horizontal, mas também vertical e em profundidade. Em síntese, a
formação deve ser “o trabalho dos trabalhos” que ajuda os jovens a compreender e reconstruir neles a
imagem e semelhança de Deus.
Isto nos ajuda a entender que a formação é um processo de toda a vida, mas com características diversas,
em continuidade e conexão entre elas, nas diferentes idades e situações e em momentos especiais, sobretudo
de crise. Por isso, a formação ou é continua, ou não é formação. A respeito de crescimento e de
acompanhamento personalizado, S. Vicente Pallotti diz: Não devemos ter a preocupação de formar um
grande número, é preferível poucos, mas repletos de bom espírito pois também só um, possuído do espírito
de Jesus Cristo, fará muito, enquanto que alguém, sem o espírito de Cristo, será de grande prejuízo mesmo
entre muitos”. 18
O QUE SE DEVE TER PRESENTE NO ACOMPANHAMENTO
Sabemos de que realidade social e familiar são provenientes os jovens que hoje buscam a vida religiosa.
Basta considerar a fragilidade das famílias, a pouca consciência dos verdadeiros valores humanos, morais, sociais
e cristãos, e em muitos casos, a disponibilidade econômica, permitindo a satisfação imediata das necessidades
agradáveis, a influência dos meios de comunicação apresentando-lhes um mundo de sonho e fantasia, onde tudo
parece “perfeito e facilitado”...
Além disso, a secularização e o humanismo profundo influenciam a consciência dos jovens, impedindo o
despertar da aspiração religiosa enxertada pelo Criador no coração humano. Tal humanismo solicita o gozo dos
instintos, a absolutização da liberdade, da autonomia e da independência, valores não compreendidos em seu
verdadeiro sentido. Sem dúvida, a realidade do “gosto” ou “não gosto” de fazer aquilo que “me satisfaz” e
deixar o que “não me satisfaz”, do “ter tudo imediato”, apresenta uma grande lacuna de sentido evangélico. 19
Esta atmosfera que evolve as famílias e os jovens do nosso tempo, atinge a todos; isto pode servir-nos de
alerta para maior vigilância na formação. Cito: “A força dos valores cristãos, hoje, está enfraquecida, enquanto
aumenta a das necessidades psicológicas, nem sempre em harmonia com os valores do seguimento de Jesus
Cristo”. 20
Pessoas que buscam a vida consagrada com estas e outras experiências, facilmente entram em conflito de
consciência, rejeitando qualquer tipo de autoridade, por causa do “vazio existencial”. O trabalho mais
comprometedor, neste caso, é o de ajudar a discernir a presença do chamado divino e a perceber se existem as
condições necessárias para o seguimento do Senhor e, ainda, se há empenho para adquirir tais atitudes. “Se
alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia sua cruz e me siga” (Lc 9,23).
“Visto que a observância da castidade perfeita atinge intimamente inclinações mais profundas da natureza
humana, os candidatos não abracem tal estado, nem sejam admitidos à profissão da castidade, senão depois
duma prova verdadeiramente suficiente e com a devida maturidade psicológica e afetiva”. 21
É responsabilidade do formador seguir com cuidado, prudência e atenção e com lealdade, o caminho de
formação e amadurecimento dos candidatos. A. Cencini diz: “Reconhecer a situação real da pessoa que se
apresenta...não é importante e decisivo somente para sua admissão ao caminho formativo, mas é necessário e
indispensável para oferecer-lhe quanto antes uma ajuda; ajuda de conhecimento de si mesma, de indicação de
eventuais vias ou recursos terapêuticos (não necessariamente em sentido clínico), ainda, de um acompanhamento
pessoal, de modo que o individuo enfrente os problemas reais, para colocá-lo em condições de superá-los, de têlos sob controle, para ser sempre menos dependente deles, enfim, uma ajuda que ofereça critérios de uma
escolha bem ponderada, em tempos não suspeitos e favoráveis para um discernimento (não às vésperas do
diaconato, da profissão perpétua ou da ordenação sacerdotal).
17
18
19
20
21
CIVCSVA, Direttive sulla formazione negli Istituti religiosi, EDB – Bologna, 1990, n. 29
OOCC III, 327
Cf. Benito Goya, Aiuto Fraterno, Ed. EDB, Bologna, 2006, p. 140
Società dell’Apostolato Cattolico, Ratio Institutionis,, Roma, 2004, n. 161
Concilio Vaticano II, Decreto Perfectae Caritatis, Roma, 1965, n. 12
5
Quando se oferece à pessoa este tipo de ajuda desde o início do caminho educativo-formativo, realiza-se
um verdadeiro serviço a respeito da pessoa que está procurando identificar sua própria opção de vida, se está
realizando verdadeiramente trabalho de formação...quando isto não é feito ou talvez não com tanta atenção,
colocam-se as premissas de um caminho ambíguo e de um discernimento ainda mais difícil e problemático”. 22
 MOTIVAÇÕES
No acompanhamento é indispensável considerar atentamente as motivações. Estas jogam uma função de
importância fundamental na vida da pessoa.
O formador tem o dever de ajudar o formando a perceber que motivações profundas influenciam ou
determinam suas ações. S. Paulo experimenta em si as motivações inconscientes que o impulsionam a agir. “...
realmente, não faço o bem que desejo, mas o mal que não quero” (Rm 7,19).
Para fazer com que as motivações que impulsionam a um determinado comportamento venham a nível
consciente, torna-se necessária a intervenção do mestre, que favorece ao candidato a percepção e o
conhecimento daquilo que o move no seu comportamento. É sempre particularmente necessário um forte
empenho na meditação e contemplação da Palavra de Deus, na assimilação dos conteúdos bíblicos, cristológicos
e carismáticos, oferecidos pelo programa formativo; tudo isto deveria ajudar na purificação das motivações.
Todos trazemos em nosso interior feridas e motivações mescladas com interesses egoísticos e egocêntricos que
interferem em nossa doação ao Senhor e no serviço aos irmãos. Aquele que busca a vida religiosa, pode ser
motivado por um verdadeiro valor ou ainda por uma necessidade. Se é um valor, merece ser cultivado com o
apoio do acompanhador, que deve também verificar sua existência, através da observação do candidato em suas
atitudes de perseverança, de capacidade de renúncia, de doação e de alegria também nos momentos de crise ou
de dificuldade comunitária (Cfr Mt 13,44).
Se a motivação é uma necessidade inconsciente, o mestre deve ajudar a fazê-la vir à tona para que seja
purificada. Se não acontecer a purificação, o seguimento ao Senhor não será de qualidade, porque a qualidade da
vida religiosa depende da paixão por Jesus Cristo e não da satisfação de uma necessidade, por exemplo, de
receber aprovação, atenção, afeto ou outra... Uma motivação social, como ajudar os pobres, em si mesma, não é
suficiente para seguir a vida religiosa. “Quem quiser salvar a própria vida a perderá, mas quem perder a própria
vida, por mim e pelo evangelho, a salvará” (Lc 9,24).
 ÁREA AFETIVA – CAPACIDADE DE AMAR
É ainda responsabilidade do mestre acompanhar o candidato no processo de maturação e harmonização
da área afetiva, pois esta influencia sobre todo seu comportamento e decisões. Não é impossível entrar num
Instituto, mas é impossível seguir com fidelidade, gratidão e gratuidade o Senhor, sem a capacidade de amar.
Somos “Imagem e semelhança de Deus” que é amor (Gn 1,26), por isso, criados por amor e chamados a amar.
Deus é amor relacional, Deus Trindade. Disto deriva que o ser humano é chamado a relacionar-se no amor.
Somente quem ama vive! E nós, pertencentes à Família Palotina, temos muito a aprender do nosso Fundador,
que se deixou envolver por Deus, Amor e Misericórdia infinita, de tal maneira que escreve: “Não pode viver,
meu Jesus, quem não te ama”. 23
É necessário grande atenção porque, se a área afetiva não é suficientemente amadurecida, a busca de
compensações tomará o lugar do essencial na vida consagrada.
Estas podem apresentar-se de diversas maneiras e em níveis diferentes como: excessiva necessidade de
relacionamentos inter-pessoais, incapacidade de viver a solidão, dificuldade de relacionamentos sadios com a
comunidade, uso não adequado dos meios de comunicação, tendência ao acúmulo de coisas, ao domínio no
grupo, busca de poder, indelicadezas no tratamento com outros, falta de criatividade apostólica, sentimento de
superioridade e auto-suficiência, inconsistência na perseverança e infidelidade à oração, exageros na alimentação,
abuso de álcool, etc... 24
Tudo isto deve ser acompanhado com grande atenção, a fim de que o discernimento contribua para a
qualidade da vida consagrada e para o bem da Congregação que é chamada a ser na Igreja profecia de Cristo
crucificado e ressuscitado
22
23
24
A. Cencini, Quando la carne è debole, Ed. Paoline, Milano, 2004, p. 6
OOCC X, p. 226
Cf. A. Cencini, Verginità e Celibato Oggi, EDB, Bologna, 2006, p. 73
6
 DISPONIBILIDADE À DOAÇÃO
A característica fundamental do amor é ser doação. Jesus revela-se como o amor doado. “O Pai me ama,
porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder
de a dar, como tenho o poder de reassumir” (Jo 10, 17-18).
Maria de Nazaré, da anunciação à morte do Filho, vive em contínua atitude de doação. Ela é para nós
testemunho de disponibilidade, serviço silencioso e alegre, prestando auxílio a sua prima Elisabete.
A vida não tem sentido se voltada somente para si; pois, criados à imagem e semelhança de Deus criador,
única fonte de vida, somos chamados a gerar e a promover a vida. Quem abraça a vida consagrada, assume uma
forma específica de doação, onde as satisfações imediatas, como aquelas de ordem sexual e matrimonial, são
renunciadas por um amor maior; por isso, para crescer na fidelidade ao Senhor e caminhar na alegria, que dá
sentido à vida, é necessário que haja uma forte e verdadeira motivação, capaz de transcender.
No período de formação, é fundamental que o candidato seja bem conhecido pelo formador e que ele
mesmo conheça suas capacidades de disponibilidade e doação; ao mesmo tempo, o acompanhador deve
assegurar-se do empenho na doação generosa que se revela através do serviço gratuito e de renúncias em favor
da vida comunitária.
 CAPACIDADE DE RENUNCIAR COM ALEGRIA
Doação e renúncia caminham juntas. Com a consagração o religioso doa tudo: corpo, mente, coração,
afetos e forças a serviço do Reino. Doar é um gesto de entrega, comporta renúncia, mas, para ser de qualidade,
exclui lamentações ou compensações... A renúncia exige que se tenha recebido o dom (do celibato ou da
virgindade) “...nem todos são capazes de compreender, mas somente aqueles a quem foi concedido” (Mt 19,11).
A renúncia deve ser livre, inteligente e baseada em reais condições pessoais, sempre a favor da escolha de alguém
ou de alguma coisa capaz de plenificar a vida e dar alegria ao coração humano.
Para renunciar ao matrimônio e escolher Jesus como a maior paixão, exige-se maturidade afetiva e
capacidade de amar realmente também outros irmãos e irmãs. A. Cencini assim se expressa: “A virgindade é feita
de amor e é possível somente como escolha ditada pelo amor”. 25
Por isso, desde o início da formação, o mestre deve estar atento em oferecer ao candidato a necessária
ajuda para o crescimento e amadurecimento na sua decisão de abraçar com generosidade e alegria a consagração
religiosa com todas as suas conseqüências. “... vai, vende... terás um tesouro... depois vem e segue-me!” (Cf Mt
19, 21).
 CAPACIDADE DE PERDÃO
Este aspecto não é indiferente. Na formação, é necessário haver por parte da pessoa um verdadeiro
trabalho interior para curar as feridas que a impedem de viver o perdão profundo. Com freqüência encontramos
religiosos “parados” no caminho espiritual, incapazes de bom relacionamento na vida comunitária, porque nunca
chegaram a perdoar em profundidade. As pessoas não são responsáveis pelas feridas que trazem, mas tornam-se
responsáveis pelas atitudes que assumem diante delas. Em geral, as feridas são o resultado de relacionamentos
vividos na primeira infância com as pessoas mais significativas: pais, irmãos, educadores e colegas etc...
A pessoa pode ter vivido relacionamentos de sofrimento ou tê-los “sentido” como tais. A dor causada por
esta realidade continua viva, não se pode simplesmente “ignorá-la”... pois as feridas “ignoradas” continuam
ativas, fazem sofrer e têm as mais diversas conseqüências que se manifestam no relacionamento conosco
mesmos, com os outros, com Deus... como por exemplo: raiva, ódio, rancor, rebelião, fechamento, tristeza,
depressão, compensações etc... A docilidade e sinceridade consigo mesma leva a pessoa a aceitar a verdade da
própria história, através dos meios oferecidos, para prosseguir com cuidado o caminho para a cura completa. Em
particular, o exercício da reconciliação, guiado pela escuta e contemplação da Palavra de Deus, é o meio por
excelência para adquirir a capacidade de perdoar.
 BUSCA DE UMA VIDA CENTRADA EM DEUS – EXPERIÊNCIA DE DEUS
O dom do chamado e do seguimento é sempre em função de uma missão específica como a de Moisés, de
Isaías, dos apóstolos. “Depois, subiu ao monte, e chamou os que Ele quis. E foram a Ele. Designou doze dentre
eles para ficar em sua companhia. Ele os enviaria a pregar...” (Mc 3,13-15). Vemos com clareza que o chamado
inclui duas atitudes fundamentais: estar com Ele e anunciar.
25
Ibid. p.19
7
Estando com Ele aprende-se a amar, a missão é expressão do amor. Embora os apóstolos tenham
permanecido longo tempo na escola do Mestre, antes de confiar a Pedro a grande responsabilidade, Jesus quer
ter certeza se ele havia compreendido o essencial da lição. Por isso, Jesus dirige-se a ele, perguntando-lhe por
três vezes: “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes”? Respondeu ele: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te
amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta os meus cordeiros”. Mas Jesus pergunta uma outra vez: “Simão, filho de João,
amas-me”? E a resposta novamente é: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta os
meus cordeiros”. A pergunta voltou pela terceira vez: “Simão, filho de João, amas-me”? Mesmo um tanto
aborrecido pelas diversas perguntas e sem compreender bem o porquê, a resposta de Pedro é positiva: “Senhor,
sabes tudo, tu sabes que te amo”. Disse-lhe então Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,15-17).
O amor é condição indispensável para orientar outros. É como se Jesus dissesse: agora vocês estão
capacitados, têm as condições necessárias para orientar outros e ensinar-lhes aquilo que aprenderam de mim; do
contrário, os cordeiros e as ovelhas se dispersarão. 26
Como conseqüência lógica, quem procura a vida consagrada é chamado a ter verdadeira paixão pelo
Senhor, único capaz de dar sentido à vida e dinamismo à missão. Somente quem vive na caridade, na oração
profunda e na contemplação de sua face, pode responder ao dom do chamado. Por isso, quem abraça a vida
consagrada deve demonstrar empenho pelo seu crescimento e maturação espiritual que se revela, sobretudo, no
amor à Eucaristia, aos sacramentos e no relacionamento fraterno.
É ainda o Papa João Paulo II que, com sabedoria, nos diz: “Sem uma vida interior de amor que atraia a si
o Verbo, o Pai e o Espírito... não pode haver um olhar de fé e, por conseguinte, a própria vida vai perdendo
gradativamente o sentido; o rosto dos irmãos faz-se opaco, tornando-se impossível descobrir neles o rosto de
Cristo; os acontecimentos da história permanecem ambíguos, quando não, desprovidos de esperança e a missão
apostólica e caritativa decai em atividade dispersiva”. 27
 CAPACIDADE DE VIVER A VIDA FRATERNA EM COMUNIDADE.
Sendo a vida comunitária essencial para a vida religiosa, por seu fundamento teológico, cristológico e
carismático, é necessário que desde o início da formação o mestre e os superiores considerem se o candidato
apresenta condições suficientes para viver esta forma de vida, onde se torne possível a unidade na diversidade e
se é idôneo a encarnar o Carisma da fundação. Na realidade, a vida comunitária é o lugar principal da formação;
nela o candidato vive as alegrias cotidianas como também as dificuldades, renúncias e privações que acontecem
no convívio diário com aqueles que Deus colocou a seu lado, com suas características positivas, diferenças e
limitações.28 O exemplo dos primeiros cristãos permanece ainda hoje, para nós, um grande desafio.
“A vida fraterna, concebida como vida partilhada no amor, é sinal eloqüente da comunhão eclesial. Com
particular cuidado, é cultivada pelos Institutos religiosos e pelas sociedades de Vida Apostólica, onde adquire
especial significado a vida em comunidade”.29
Nosso Fundador, S. Vicente Pallotti, nos dá a orientação, quando diz com clareza: “A caridade, exercitada
como a descreve o apóstolo, forma todo o substancial constitutivo da Pia Sociedade. Se a caridade viesse a faltar,
já não existiria na Pia Sociedade o Apostolado Católico”. 30 Ele mesmo descreve qual seria a forma concreta de
viver a caridade... E nos propõe ainda a Sagrada Família de Nazaré como modelo a ser imitado, tanto em nossa
vida comum, como nos deveres que assumimos com Deus, com as Superioras, com o próximo e conosco
mesmos.31
Não é possível construir vida comunitária sem explícito empenho de colaboração e participação de cada
membro. Também sobre este ponto fundamental é importante verificar se os candidatos manifestam disposições
de participar, com alegria, no processo de construção da comunidade, com o coração pleno de amor a Deus e
disponibilidade com o próximo. Tal atitude encontra seu sustento na Eucaristia, Sacramento de unidade e
vínculo de caridade. 32
O Fundador recorda-nos expressamente que “Jesus Cristo se fez modelo de vida pobre, laboriosa e
desprezada, e declarou que não veio para ser servido, mas para servir”.
26
27
28
29
30
31
32
Cf. Ignes Burin, XV Encontro Palotino Sul Americano, Fé e Caridade, Dinamismo para a Missão, Conferência, Santa
Maria, Brasil, 2000, p.142
CIVCSVA, RdC, Ed Vaticana- Città del Vaticano, 2002 n. 25
Cf. Irmãs Missionárias do Apostolato Católico, Manual Internacional de Formação, Roma, 2004 p .31
VC n.42
Cf. S. Vincenzo Pallotti, RF n. 21
Vincenzo Pallotti, Testamento, a cura di Angario Faller, Istituto Pallotti, Roma, 1944, p. 24
Società dell’Apostolato Cattolico, Ratio Institutionis, Roma, 2004, n. 193
8
 IDENTIFICAÇÃO COM O CARISMA FUNDACIONAL E DISPONIBILIDADE PARA A MISSÃO
“O Carisma da vida religiosa é fruto do Espírito, que sempre age na Igreja”.33
Somos testemunhas de como S. Vicente Pallotti, mediante o serviço apostólico, fez frutificar o Carisma
recebido como dom do Espírito Santo, para o bem de toda a Igreja.
Assumindo o Carisma da fundação, assumimos também uma forma específica de vida comunitária e de
missão como caminho de crescimento na santidade a serviço do Reino.
É tarefa primordial dos formadores transmitir o Carisma, ajudando os jovens a fazer com que, juntamente
com a identidade humana e religiosa, se empenhem em adquirir uma clara identidade carismática e um profundo
sentido de pertença ao Instituto. Se tudo isto é acolhido, a conseqüência imediata é a assimilação do Carisma
específico, colocando os dons pessoais a serviço do mesmo. O mestre, por isso, deve assegurar-se que a pessoa
tenha dado claros sinais de ter assimilado a identidade do Instituto e seja capaz de colocar seus dons a serviço
deste Carisma, com disponibilidade e generosidade.34
Como a formação não termina com o noviciado nem com o juniorato, o religioso tem pessoalmente a
responsabilidade de cultivar sua própria vocação e de melhorar sua formação. Ao mesmo tempo, os superiores e
os formadores não podem declinar de sua responsabilidade de seguir e continuar a oferecer meios para estes
períodos de formação. A fidelidade ao Carisma fundacional e ao patrimônio espiritual do Instituto se tornará
concreta se repropuser com coragem o espírito de iniciativa, a criatividade e a santidade dos Fundadores, como
respostas aos sinais dos tempos, visíveis no mundo de hoje, isto é sinal de renovação e vitalidade do próprio
Instituto. 35
Esta vitalidade concretiza-se mediante a santidade dos membros e sua dedicação à missão, como
aconteceu aos apóstolos, que se revelam realmente corajosos somente após a vinda do Espírito Santo. S. Vicente
Pallotti, tendo compreendido plenamente esta realidade, desejava permanecer no Cenáculo para acolher em
plenitude os dons do Espírito e, por isso, deixou como padroeira de nossa família religiosa Maria Santíssima,
Rainha dos Apóstolos.
CONCLUSÃO
Ao preparar este tema, encontrei-me diante de uma estrada que deveria percorrer com vocês; isto me fez
refletir muito para discernir quais poderiam ser os aspectos essenciais a serem apresentados, em vista de quanto,
hoje, se requer dos Formadores no trabalho de acompanhamento.
Deixei-me iluminar pelo exemplo e pela Palavra de Jesus ao chamar os apóstolos a seguí-Lo. Neste
convite estão implícitas duas exigências indispensáveis: permanecer com Ele e anunciá-Lo. Experiência e missão.
Ainda hoje, estas duas dimensões continuam sendo essenciais. Em primeiro lugar, a responsabilidade da própria
formação é tarefa de cada pessoa que sente o chamado e manifesta o desejo de seguir Jesus na vida consagrada.
Os Superiores maiores são os primeiros responsáveis pelo cuidado dos programas formativos e também pela
escolha das pessoas que deverão acompanhar os candidatos. 36
O próprio formador, tendo conseguido uma personalidade integrada através de uma verdadeira
experiência de Deus, deve estar consciente de sua responsabilidade diante de tal comprometedora missão. O
Papa diz: “Os formadores devem ser especialistas no caminho da procura de Deus, para serem capazes de acompanhar também
outros neste itinerário”. 37 Por isso, deles se requer uma verdadeira paixão pelo Senhor e grande amor aos irmãos,
dimensões essenciais que dão sentido e plenitude de vida.
Tenho consciência de que desenvolver o tema “Acompanhamento, um desafio para os Formadores hoje”,
não é fácil. Contudo, tendo presente que o acompanhador não é chamado a resolver os problemas, mas ser,
antes de tudo, instrumento dócil e útil do Espírito Santo, deixei-me guiar por Ele, para partilhar com vocês estas
reflexões.
Nos tempos atuais, imersos numa sociedade globalizada e atraída por tantos estímulos negativos, requer-se
personalidades formadas e bem preparadas, capazes de fazer com que a formação chegue a tocar todas as
dimensões do ser humano, ajudando-o a adquirir adequada identidade e maturidade. As indicações aqui
apresentadas não são as únicas, poderíamos mencionar muitas outras.
33
34
35
36
37
Paulo VI, Exortação Apostólica, Evangelica Testificatio, Cidade do Vaticano, 1971, n. 11
Cf. CIVCSVA, Direttive sulla Formazione negli Istituti Religiosi, Roma, 1990, n. 24
Cf. VC, n. 36- 37
Cf. RdC n. 14
VC, n. 66
9
Dissemos já que o candidato é o primeiro responsável pela própria formação; os superiores, porém, não
podem declinar somente aos formadores a responsabilidade de seguir atentamente os planos formativos, mas
devem oferecer conteúdos sólidos e pessoas preparadas para cumprir tal missão, a fim de que a vida religiosa
tenha condições suficientes para ser de qualidade. É da vida vivida com intensa paixão pelo Senhor que deriva a
vitalidade do Instituto, e a renovação da vida Consagrada depende da profunda convicção de cada um de nós em
perguntar-se: “A quem iremos, Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna! (Jo 6, 68). Um só é o vosso Mestre,
Cristo. Somente a verdadeira experiência de Deus será garantia para a fidelidade de quem abraça a forma de vida
de Jesus.
O futuro da vida Consagrada será proporcional à seriedade do empenho de “Partir de Cristo”!
Bibliografia
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1944.
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Gaudium Et Spes, Documenti del Concilio Vaticano II, Roma 1965.
CIVCSVA, Direttive Sulla formazione negli Istituti Religiosi, Ed. EDB, Roma 1990.
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CIVCSVA, “Ripartire da Cristo”, Città del Vaticano, Roma, 2002.
Pontificia Opera per le Vocazioni Sacerdotali, Nuove Vocazioni per una Nuova Europa, Roma 1998.
Paulo VI, Esortazione Apostolica “Evangelica Testificatio”, Roma 1971.
Società dell’Apostolato Cattolico, Ratio Institutionis, Roma 2004.
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Codice di Diritto Canonico, Ed. Vaticana, Roma 1983.
Pacot Simone, L’Evangelizzazione del Profondo, Ed. Quiriniana, Brescia 1999.
Goya B., Luce e Guida nel cammino, EDB, 2004.
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1997.
Goya B., Formazione Integrale alla Vita Consacrata, EDB, 2000.
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