VV_4158 - Cáritas Portuguesa

Transcrição

VV_4158 - Cáritas Portuguesa
Diretor: P. Nuno Rosário Fernandes
Ano 83 • Edição nº 4158
Domingo, 8 de março de 2015
Semanário • 0,40 €
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www.vozdaverdade.org
Os ‘novos amanhãs’ oferecidos
pela Cáritas de Lisboa
pág.02
Lembrar o Cardeal Policarpo, Inscrições para Encontro das
em São Vicente de Fora Famílias terminam dia 10
O Cardeal-Patriarca de Lisboa,
D. Manuel Clemente,
preside, no próximo dia
12 de março, quinta-feira,
às 12h00, a uma Missa
de ação de graças pelo
Cardeal D. José Policarpo,
Patriarca Emérito de
Lisboa, falecido há um ano.
A celebração vai decorrer
no Panteão dos Patriarcas,
na igreja de São Vicente
de Fora, em Lisboa.
Pastoral Social na Europa
pelo P. Duarte da Cunha
O Setor da Pastoral da Família do Patriarcado de Lisboa, em colaboração com o Departamento Nacional da
Pastoral Familiar, está a organizar uma peregrinação ao
Encontro Mundial das Famílias em Filadélfia, nos Estados
Unidos, de 22 a 27 de setembro, cujas inscrições terminam
no próximo dia 10 de março. O encontro deste ano, que vai
contar com a presença do Papa Francisco, tem como tema
‘O amor é a nossa missão: a família plenamente viva’.
O Encontro Mundial das Famílias foi criado pelo Papa
João Paulo II, em 1994, com objetivo de promover um
tempo de partilha entre as famílias de todo o mundo, para
poderem testemunhar a beleza o papel central da família.
Inscrições: http://familia.patriarcado-lisboa.pt/emf
Quaresma
“A alegria na
Sagrada Escritura”
D. Nuno Brás, Bispo Auxiliar
de Lisboa, proferiu a
2ª Catequese Quaresmal,
lembrando que “a alegria
que marca a vida de
Jesus é uma realidade
sempre presente”.
pág.08
O “Syriza”, o “Podemos”,
ou o Homem sem Humanidade
por Isilda Pegado
Opinião
pág.15
www.vozdaverdade.org
o2/ Especial
Cáritas Diocesana de Lisboa
Pegar na vida com as
próprias mãos e avançar
Nos últimos sete anos, perto de 3.500 famílias foram apoiadas diretamente
pelo gabinete de ação social da Cáritas Diocesana de Lisboa. Considerada o
‘braço direito’ do Bispo na caridade, esta instituição ajuda ainda muitos outros
milhares de pessoas através das suas várias valências, que o Jornal VOZ DA
VERDADE dá a conhecer neste Dia Nacional da Cáritas (8 de março).
texto e fotos por Diogo Paiva Brandão e Filipe Teixeira
Maria (nome fictício) tinha o que se poderia chamar de uma boa vida. Católica,
estava “bem casada, com um marido que
tinha os mesmos valores” e de quem tem
dois filhos. Tinha também um emprego e
uma boa casa. “Era uma vida normal, da
classe média”, conta ao Jornal VOZ DA
VERDADE. Certo dia, há pouco mais
de sete anos, a ‘bomba’ rebenta e o mundo
de Maria desfez-se: o marido sai de casa e
deixa inúmeras dívidas em seu nome. “Estava casada há 13 anos e de repente, sem
nada que o fizesse prever, o meu marido
quis sair de casa e mudar completamente
de vida. Foi um choque, fiquei numa situação financeira péssima”, relata esta professora do ensino público que dá aulas em
escolas da cidade de Lisboa, recordando:
“Todo um projeto de vida que tínhamos
construído, ruiu”. Os anos passaram e as
dificuldades não diminuíram. Pelo contrário. Como filha única, Maria teve também, nestes últimos anos, de prestar maior
auxílio aos pais devido à idade e às doenças destes. “Nesse tempo, o que me valeu
foi ter fé e confiar que alguma coisa havia
de conseguir”, refere. No passado mês de
dezembro, uma amiga de Maria aconselhou-a a ir falar com a Cáritas Diocesana
de Lisboa. Este aparente simples conselho trouxe uma nova esperança à vida de
Maria. “Como perdi a morada de família,
tinha de alugar uma casa para viver com
os meus filhos e o apoio da Cáritas de
Lisboa foi feito através do pagamento de
três mensalidades. Foi uma ajuda fabulosa,
porque deu início ao processo de mudança
de vida”. A futura nova casa de Maria pertence a um programa estatal de auxílio, em
que a renda mensal depende do valor que
o inquilino gastar nas obras. Junto da Cáritas de Lisboa, Maria conseguiu também
“contactos de empreiteiros de confiança”
que estão agora a realizar as remodelações
necessárias.
Hoje, esta professora destaca “a rapidez
na resposta” por parte da Cáritas Diocesana de Lisboa e sente-se “grata” pela ajuda
prestada pela Igreja. Através das páginas
do semanário diocesano, Maria procura
dar “uma palavra de esperança” a quem
passa atualmente por dificuldades, incentivando as pessoas a “não terem vergonha”
da sua situação.
A mudança de Maria e dos filhos para a
nova residência de família vai acontecer
no final deste mês de março, início de
abril. “Esta vai ser, com certeza, uma Páscoa muito feliz! Com a ajuda da Cáritas
de Lisboa, vai ser realmente a passagem
para uma vida nova”, aponta, esperançada.
Maria é apenas um dos rostos das perto
de 3.500 famílias que foram ajudadas pelo
gabinete de ação social da Cáritas Diocesana de Lisboa nos últimos sete anos. Os
números do relatório de atividades des-
ta instituição, a que o Jornal VOZ DA
VERDADE teve acesso, dizem que, entre
2009 e 2014, o apoio a estas famílias carenciadas rondou valores perto dos 60 mil
euros.
Divulgar o projeto ‘Igreja
Solidária’
Maria dirigiu-se à sede da Cáritas Diocesana de Lisboa e foi atendida por uma
assistente social, que a reencaminhou para
um dos parceiros da rede de solidariedade social, na sua paróquia de residência.
Esta é uma forma de atuar que procura
agilizar todo o processo de ajuda aos necessitados. “Sem o projeto ‘Igreja Solidá-
ria’, da Cáritas Diocesana de Lisboa, não
conseguíamos ajudar metade das famílias
que apoiamos”, refere ao Jornal VOZ DA
VERDADE a coordenadora da equipa do
Rendimento Social de Inserção no Centro Comunitário Paroquial de Famões,
Lucrécia Dionísio. Esta responsável por
uma equipa de 15 pessoas destaca a “rapidez na resposta” e o “trabalho de proximidade” realizado com a Cáritas Diocesana.
“A rapidez facilita bastante o trabalho e há
sempre uma resposta ou uma abordagem
no sentido de conseguir uma solução. Por
vezes não conseguimos o dinheiro, mas
conseguimos o equipamento que precisamos. Existe uma ligação muito próxima
que é muito benéfica e sabemos que funciona!”, expõe. De entre os casos mais comuns que necessitam de apoio, destacam-se as rendas em atraso e as mensalidades
dos infantários e creches, além dos custos
com medicamentos que atualmente “denota menos pedidos”, quando comparado
com igual período do ano anterior.
Para Sónia Constantino, uma das técnicas da mesma instituição e que também
é responsável pelo acompanhamento dos
pedidos de apoio feitos através do fundo
‘Igreja Solidária’, a existência de um projeto com estas características é “um suporte
bastante significativo e com algumas respostas que, de há um tempo para cá, têm
sido mais limitadas por parte da Seguran-
ÁREAS DE INTERVENÇÃO DA CÁRITAS DIOCESANA DE LISBOA
Gabinete de Ação
Social e Formação
Av. Sidónio Pais, nº 20 - 5º Dto.
1050-215 Lisboa
E-mail: [email protected]
Telefone: 213573386
‘Projeto Amigo’
Projeto ‘Igreja Solidária’
Email: [email protected]
Doação de vestuário
usado, em qualquer um
dos 510 contentores
amarelos espalhados
pela Diocese de Lisboa
Especial /03
Morada da Cáritas Diocesana de Lisboa
Contactos da Cáritas de Lisboa
Av. Sidónio Pais, nº 20 - 5º Dto.,
1050-215 Lisboa
ça Social”. “Também por isso, temos recorrido ainda mais à Cáritas Diocesana”,
justifica.
O Centro Comunitário Paroquial de Famões, através do ‘Igreja Solidária’, apoia,
desde 2009, cerca de 40 a 50 famílias por
ano, com ajudas que vão desde o pagamento de rendas em atraso, passando pela aquisição de eletrodomésticos, até à compra de
livros escolares. Para a coordenadora Lucrécia Dionísio, a existência deste projeto
do Patriarcado de Lisboa deve ser ainda
mais divulgado, de forma a chegar a “mais
famílias que não sabem onde se devem dirigir para pedir um apoio”, sublinha.
A profissionalização de um
grupo voluntário
“Éramos um conjunto de pessoas, mas
não um grupo”. A frase pertence a Teresa Palha, voluntária da Cáritas Paroquial
de Castanheira do Ribatejo. “Foi preciso o
nosso grupo fazer a formação com a Cáritas Diocesana de Lisboa para se começar
a sentir como tal: um grupo de ação social.
Também neste aspeto, foi muito importante a formação”, revela ao Jornal VOZ
DA VERDADE esta leiga, casada e mãe
de quatro filhos. A formação é outra das
valências da Cáritas de Lisboa. O programa ‘+Próximo’, da Cáritas Portuguesa, foi
concretizado pela Cáritas Diocesana que
no ano passado formou mais de 600 leigos
das instituições e paróquias de Lisboa.
Há cerca de três anos, após conversa com
o coadjutor da sua paróquia, Teresa começou a visitar dois lares, onde rezava o terço com os idosos, cantava e tocava viola.
Foi nesta experiência que conheceu Maria
Elisa, responsável pela Cáritas Paroquial
de Castanheira do Ribatejo, que a desafiou a integrar este grupo caritativo. De
imediato Teresa começou “a distribuir
alimentos e a fazer recados”, mas dentro
de si nascia o sentimento de que este grupo paroquial não funcionava como tal.
“Em setembro/outubro, no início deste
ano pastoral, começámos a pensar que na
nossa Cáritas Paroquial de Castanheira do Ribatejo os papéis das pessoas não
estavam definidos. Somos 10 elementos, fazíamos todos a mesma coisa o que
trouxe alguns conflitos entre os voluntários. Não havia regras e tínhamos a ne-
Telefone: 213573386
Fax: 213573565
roupa, que chega a esta paróquia através
da comunidade e do ‘Projeto Amigo’, da
Cáritas Diocesana de Lisboa.
Os ‘amarelinhos’
cessidade de nos organizarmos melhor”,
reconhece, justificando, desta forma, a
necessidade que o grupo tinha de formação. Ao mesmo tempo, revela Teresa Palha, o Banco Alimentar Contra a Fome
fez “uma reunião muito profissional” com
esta Cáritas Paroquial, alertando para “a
falta de profissionalismo do grupo”.
A formação de todo o grupo da Cáritas
Paroquial de Castanheira do Ribatejo
com a Cáritas Diocesana de Lisboa iniciou-se então em janeiro deste ano, nos
espaços da paróquia. “Já realizámos dois
módulos e vamos continuar a fazer formação”, garante esta voluntária.
Atualmente, o grupo de ação social desta
paróquia da Vigararia de Vila Franca de
Xira - Azambuja faz acolhimento a cerca
de 100 famílias para distribuir, duas vezes por mês, alimentos da autarquia local
e do Banco Alimentar. “Há casos de famílias que não estão sinalizadas mas que
nos veem pedir ajuda, a quem nós prestamos também auxílio”, aponta Teresa Palha. A Cáritas Paroquial de Castanheira do Ribatejo faz ainda distribuição de
Nos últimos anos, um pouco por toda a
cidade de Lisboa e arredores, muitos são
os contentores amarelos que estão nas ruas
e que recebem roupa doada. O ‘Projeto
Amigo’ dá emprego atualmente a 15 pessoas e recolhe, através dos 510 contentores
amarelos espalhados pela diocese, toda a
espécie de roupa. O vestuário que não está
em condições de ser (re)utilizado é enviado para uma empresa em Itália que faz a
reciclagem dessa mesma roupa em mau
estado e em troca dá à Cáritas Diocesana de Lisboa um valor em dinheiro, que é
canalizado para o fundo diocesano ‘Igreja
Solidária’. A roupa que está em bom estado, é selecionada, lavada, tratada e distribuída. “Mais de 1600 famílias, oriundas
do concelho de Lisboa e até da margem
sul, foram apoiadas pela Loja Solidária ‘É
Dado’, da Cáritas Diocesana de Lisboa”,
conta, ao Jornal VOZ DA VERDADE,
Ana Amaral, uma das voluntárias da loja
do Alto dos Moinhos, que abre portas,
normalmente, três dias por semana (terça-feira, quinta-feira e sábado) para oferecer
roupa a quem mais precisa.
Presente desde o dia de abertura da loja,
em 2009, esta voluntária destaca a “gente muito variada” que a Cáritas de Lisboa
já atendeu nestes anos. “Desempregados,
gente com o Rendimento Social de Inserção, muitos africanos que vieram trabalhar
na construção civil e que atualmente não
têm meios de subsistência”, são apenas
algumas das pessoas que procuram ajuda na Loja Solidária ‘É Dado’. Outros,
“não sendo desempregados, têm um rendimento que também já não é suficiente
para o pagamento da água e da luz e, pelo
menos, na roupa podem poupar alguma
coisa”, refere Ana Amaral. Pontualmente,
existem outros casos onde a resposta carece de maior “urgência e prontidão”, lembrando o exemplo recente de uma família com sete crianças a quem ardeu a casa.
“Viram-se, de repente, sem nada. A estas
situações, procuramos dar uma ajuda ime-
diata, procuramos dar aquilo que temos”,
garante Ana.
Esta voluntária, que também pertence à
direção da Cáritas Diocesana, destaca um
aumento significativo da procura por esta
valência, em 2012, quando se registou o
pico da crise económica. Tal facto, juntamente com o aparecimento, em Lisboa, de
novas lojas solidárias de outras instituições, obrigou também a adotar novas regras de funcionamento. “As pessoas sinalizadas podiam vir buscar roupa de dois em
dois meses, o que era uma sobrecarga para
nós até porque as doações de roupa começaram a ser mais escassas, em especial na
roupa de homem e criança. Por isso, desde o ano passado, alargámos o prazo para
três meses e atendemos pessoas que sejam
encaminhadas por uma instituição ou assistente social ou até pela própria Cáritas
de Lisboa, através do gabinete de ação social”, descreve.
Aprender a ‘Dar e Receber’
com a Cáritas de Lisboa
Na edição de 5 de outubro último, o Jornal
VOZ DA VERDADE dava a conhecer
Loja Solidária ‘É Dado’
Creche Cáritas
Rua João de Freitas Branco, nº 30
1500-359 Lisboa
Horário: 3as e 5asfeiras,
das 10h30 às 12h30
Rua Manuela Porto, nº 13 e 13A,
1500-421 Lisboa
E-mail: [email protected]
Telefone: 217163682
Projeto
‘Dar e Receber’
www.darereceber.pt
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o projeto ‘Dar e Receber’, que nasceu de
uma parceria entre a Cáritas Portuguesa
e a Entrajuda e que, então, estava presente
em cinco dioceses portuguesas: Vila Real,
Setúbal, Braga, Évora e Viseu. Nas páginas do semanário diocesano, a presidente da direção da Entrajuda, Isabel Jonet,
garantia que “a Diocese de Lisboa é uma
diocese riquíssima em respostas sociais”,
mas “onde há também a necessidade de
incentivar o trabalho em rede e a partilha
de recursos”. Por isso, na referida reportagem, Isabel Jonet expressava o desejo
de que o Patriarcado de Lisboa assumisse
também este projeto, algo que aconteceu
em janeiro desde ano, através da Cáritas
Diocesana. “O projeto, para a Diocese de
Lisboa, terá uma duração de três meses,
com eventual prorrogação para mais três”,
salienta ao Jornal VOZ DA VERDADE
a coordenadora diocesana do projeto ‘Dar
e Receber’ para a Diocese de Lisboa, Inês
Pereira, que é assistente social da Cáritas
Diocesana de Lisboa há 2 anos. “Da parte
da Cáritas de Lisboa, a responsabilidade é
sobretudo a divulgação da plataforma online do ‘Dar e Receber’, através do portal
www.darereceber.pt, que tem três áreas de
ação: a ajuda social, o banco de voluntariado e o banco de bens doados online. No
fundo, este projeto permite que, enquanto
Cáritas Diocesana, possamos estar a fazer um investimento maior em termos de
tempo, de recursos e de disponibilidade de
recursos humanos para este apoio às paróquias, que é uma missão prioritária nossa”.
Inês Pereira explica que “a divulgação tem
sido feita através da distribuição de materiais, como cartazes, flyers e folhetos,
às instituições e aos grupos paroquiais
de ação social, e através de apresentações
públicas com uma explicação sumária do
projeto e da plataforma online”. Esta responsável diocesana mostra-se ainda “satisfeita” com o acolhimento que o ‘Dar e
Receber’ está a ter na caridade da diocese,
com a intervenção da Cáritas Diocesana
de Lisboa.
Acolher as crianças e…
os pais
Em Carnide está presente, desde 2010,
a creche da Cáritas, que aposta na “valorização da relação com as famílias”. A
coordenadora pedagógica, Helena Veiga,
refere ao Jornal VOZ DA VERDADE
que a missão da creche da Cáritas Diocesana de Lisboa vai para além do espaço da
instituição. “Se pudermos contribuir para
que a estrutura familiar esteja equilibrada, a criança estará muito mais tranquila
e terá um desenvolvimento são. Na entrevista com os pais, que fazemos quando a
criança é admitida na creche, digo-lhes
para que nos contactem sempre que sentirem dificuldades. Já tivemos muitas mães
que vêm à creche, a chorar, pedindo uma
orientação. Acabamos por ser um pouco
psicólogas dos pais”, refere a coordenadora pedagógica, salientando que, por vezes,
também é necessário dar o primeiro passo.
“Apercebemo-nos de casos de famílias que
não nos pedem nada mas em que notamos
existirem dificuldades. Nesses casos, temos
tido a iniciativa de abordar os pais, tentando conhecer o problema, ganhar confiança, até que eles sintam segurança da nossa
parte para responder a alguma dificuldade.
Queremos que seja uma educação circular
e não numa pirâmide em que ‘o educador
é que sabe’. Como instituição de solidariedade, somos os primeiros a estar disponíveis para acolher as situações e dar uma
alternativa. Por isso, a creche é apenas uma
das valências que está incluída na ação social”, aponta Helena Veiga.
Presente na instituição desde a sua abertura, há quase cinco anos, esta responsável, que é natural da freguesia de Carnide, destaca o repentino crescimento de
pedidos para revisão da mensalidade que
se registou a partir de 2012. “De repente,
famílias com vidas estáveis, de classe mé-
Cáritas Diocesana de Lisboa na internet
Site: www.caritas.pt/lisboa
Email: [email protected]
dia e baixa, viram-se em situações muito
complicadas”, descreve Helena. A creche
da Cáritas Diocesana de Lisboa apoia,
atualmente, 38 crianças, com muitas a
passarem por várias dificuldades familiares e que encontram na instituição “um
importante auxílio”, revela Helena Veiga,
apontando um dos desejos da equipa que
coordena: “Para o futuro, desejamos ter a
valência de jardim-de-infância para dar
continuidade, neste espaço, ao processo
educativo, após os três anos de idade”.
conseguido ter um preço bastante acessível para as famílias”.
Esta resposta da Cáritas de Lisboa à terceira idade procura “proporcionar um ambiente acolhedor, promotor do bem-estar
físico e psicológico de cada residente”.
“Além do apoio nas atividades da vida
diária, os residentes podem contar com ginástica, apoio psicológico, religioso, assistência médica e de enfermagem e diversas
atividades de animação cultural”, observa
Ana Catarina, destacando “o apoio prestado pelos voluntários”.
Desde há uns anos, o Lar da Bafureira
tem também uma outra resposta de emergência: a Cantina Social, que serve todos
A atenção à pessoa idosa
e o dar de comer a quem
tem fome
Ana Catarina Calado é diretora técnica
do Lar da Bafureira desde que esta valência da Cáritas Diocesana de Lisboa
reabriu, em 2001, após obras de melhoramento dos espaços. Atualmente com
uma capacidade para 50 utentes, ao cuidado de cerca de 30 funcionários, este lar
situado na freguesia da Parede, em Cascais, acolhe pessoas a partir dos 65 anos,
de ambos os sexos, em regime residencial.
“O Lar da Bafureira sempre teve ligação
à Cáritas de Lisboa e começou por ser
um centro de acolhimento temporário de
pessoas retornadas de África, na altura
da descolonização. Algumas conseguiram reconstruir a sua vida, mas nos dias
de hoje ainda acolhemos pessoas dessa
época, que têm atualmente 90 anos e que
na altura tinham 50”, expõe a diretora,
frisando o trabalho de acolhimento aos
idosos: “O Lar da Bafureira é uma importante área de intervenção da Cáritas Diocesana de Lisboa. Cada vez mais
sentimos isso. Temos uma lista de espera
de 200 pessoas e aquilo que sentimos é
que realmente há muito poucas respostas
que tenham em conta os parcos recursos
económicos das famílias. Contamos com
o apoio da Segurança Social, mas temos
os dias 30 refeições. “Ajudamos cerca de
15 pessoas, porque optámos por dar duas
refeições diárias aos necessitados. Temos
pessoas que só vão buscar as refeições e
a tomam no domicílio e outras almoçam
no lar e levam o jantar para tomar em sua
casa”, conta a diretora técnica da instituição, sublinhando que esta valência da
Cáritas de Lisboa “vai trabalhando igualmente com estas pessoas carenciadas, tendo em vista a sua autonomia e a resolução
da situação de cada um”.
Ajuda à legalização
Depois de mais de 20 anos à procura de se
tornar uma cidadã legal em Portugal, Luísa Gomes foi ter com a Cáritas Diocesana de Lisboa já sem qualquer esperança
de ver este seu desejo concretizado. Hoje
com 55 anos, Luísa chegou ao nosso país
há 33, com uma filha de um ano. “Saí de
Cabo Verde com a ‘carta de chamada’, ter-
Lar da Bafureira
e Cantina Social
CLAII - Centro Local de Apoio à
Integração de Imigrantes (4 gabinetes)
Rua Camilo Dionísio Alvares, nº 565,
2775-373 Parede
E-mail: [email protected]
Telefone: 214570075
Bairro da Cruz Vermelha - Gabinete Mais Perto
Praceta do Autódromo, Loja 1, 2645-276 Alcabideche
E-mail: [email protected]
Horário: 5ªfeira, das 10h00 às 13h00
Especial /05
Donativos à Cáritas Diocesana de Lisboa
Transferência Bancária (Banco Millennium BCP)
NIB: 003300005005711170705
‘Num só coração, uma só família humana’
A Semana Nacional Cáritas, com o tema ‘Num
só coração, uma só família humana’, teve início
no passado Domingo, 1 de março, e pretende
chamar a atenção para todas as questões relacionadas com a família. “A semana deste ano
(1 a 8 de março) surge-nos como chamada de
atenção para que a nossa solidariedade – os
tempos de crise têm-na estimulado em termos de criatividade e inovação – se torne mais operativa e generosa”, escreve o vogal da Comissão Episcopal da Pastoral
Social e Mobilidade Humana D. José Traquina, que é também Bispo Auxiliar de Lisboa, na Mensagem para a Semana Nacional Cáritas.
Esta iniciativa leva à rua o habitual peditório público, que se realiza em diversas cidades e estabelecimentos comerciais entre os dias de 5 a 8 de março. O valor angariado
neste gesto público reverte a favor dos diferentes projetos sociais concretizados em
cada uma das Cáritas Diocesanas do país. Telefone: 214570075
mo de responsabilidade, contrato de trabalho e sempre tive emprego”, conta ao Jornal
VOZ DA VERDADE. Luísa tinha autorização de residência e recorda que quando a filha teve idade para ir para a escola,
foi ela própria quem deu a sua residência,
que então estava caducada. “Quando fui ao
SEF - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras,
eles não tinham nada, não encontravam a
minha residência. Nem para renovar, nem
para nada. Nunca conseguiram encontrar
a minha residência através de mim mesma, mas através da minha filha”, descreve.
“Andei a ser explorada, a trabalhar, a fazer
descontos, sempre com passaporte e fiquei
sem nada. Estava complemente ilegal!”, recorda, lembrando-se das dificuldades por
que passou: “Eu cheguei a ter de ‘transformar’ um litro de leite em três, para poder
dar aos meus filhos”.
Após quase duas décadas a ‘lutar’ pela sua
legalização, Luísa Gomes dirigiu-se ao gabinete da Parede do CLAII (Centro Local
de Apoio à Integração de Imigrantes) de
Cascais, situado junto ao Lar da Bafureira, cujo objetivo é acolher os imigrantes,
apoiando-os no processo de integração e
que surgiu de uma parceria entre a Cáritas
Diocesana de Lisboa, o ACIDI (Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural) e a Câmara Municipal de Cascais. “Cheguei ao CLAII, em 2012, sem
esperança. Nessa altura estava com uma
depressão, um esgotamento, e não acreditava que a minha situação, com mais de 20
anos, se pudesse resolver. A verdade é que
em menos de um ano eu já tinha o documento, através do CLAII. Eu nem acreditava! Fiquei uma semana sem dormir”,
narra, visivelmente satisfeita, Luísa Gomes,
sublinhando que desta valência da Cáritas
Diocesana de Lisboa recebeu ainda “ajuda
alimentar, como carne e peixe”.
Hoje, Luísa Gomes destaca a “relação familiar” que mantém com as técnicas do
CLAII, que nunca “desconfiaram” da sua
palavra, e mostra-se “muito agradecida” a
esta rede. “Através do CLAII consegui dar
uma volta muito grande à minha vida, consegui ajuda no médico, consegui uma escola para o meu filho mais novo, que hoje
em dia também já tem abono. Eu hoje sou
gente”, termina.
Parede - Lar da Bafureira
Rua Camilo Dionísio Alvares, nº 565, 2775-373 Parede
E-mail: [email protected]
Telefone: 214570075
Horário: 2ªfeira, das 9h00 às 13h00 e das 14h00
às 16h00; 4ªfeira, das 9h00 às 13h00
Donativo dos 0,5% do IRS
à Cáritas de Lisboa
NIF: 500910227
(Quadro 9 do Anexo H, campo 901)
“Pegar na vida com as
próprias mãos”
A atual direção da Cáritas Diocesana de
Lisboa encontra-se em função há sete
anos, cumprindo atualmente o terceiro
mandato. “A Cáritas Diocesana de Lisboa teve uma alavancagem muito grande
– e aqui o orgulho é pelos colaboradores,
funcionários e voluntários da instituição,
que lá trabalham todos os dias”, manifesta ao Jornal VOZ DA VERDADE
o presidente da instituição, José Frias
Gomes. Com a crise económica e financeira, este responsável destaca que a
Cáritas de Lisboa teve de ser “inovadora em alguns aspetos”, como “o conceito
das lojas solidárias, que não existia, e o
fundo diocesano ‘Igreja Solidária’, que
nasceu por intuição do senhor D. José
Policarpo, antes da criação de qualquer
fundo e muito antes até do pico da crise,
e que atualmente está com uma média
de atribuição de apoios na ordem dos
4.500 a 6.000 euros mensais”.
Frias Gomes sublinha igualmente que a
Cáritas de Lisboa “não pode ser alheia à
dimensão da promoção humana”. “Além
da chamada primeira ajuda, imediata,
num primeiro momento, a Cáritas Diocesana de Lisboa tem de promover a autonomização das pessoas. Ou seja, as pessoas conseguirem pegar na sua própria
vida com as suas próprias mãos e avançar”.
Entre os novos projetos, o presidente da
Cáritas de Lisboa salienta “o sonho nascido
de criar uma residência universitária para
jovens carenciados que venham estudar
para a cidade”. “Pela informação que nos
chega, muitos jovens abandonaram o ensino superior porque são de fora de Lisboa.
A Cáritas Diocesana tem um valor que ultrapassa o milhão e meio de euros alocado
a este projeto, mas há que encontrar um
edifício que seja aproveitável para realizar
este sonho. Para tal, temos mantido diálogo com a Câmara Municipal de Lisboa”,
expõe José Frias Gomes, destacando ainda
“o desejo de poder pagar as propinas aos
melhores alunos da residência”.
Este responsável revela também um novo
projeto da Cáritas de Lisboa, em parceria com a ACEGE - Associação Cristã
de Empresários e Gestores e a BTEN,
Cascais - Edifício Multi-Serviços da Torre
Rua das Caravelas à Praça Atlântico, 2750-615 Cascais
E-mail: [email protected]
Telefone: 214861908
Horário: 2ªfeira, das 14h00 às 17h00;
4ªfeira, das 9h30 às 13h00 e das 14h00 às 17h00
uma empresa de consultoria. “A ideia é
proporcionar aos desempregados de longa duração, com mais de 35 anos, baixas
qualificações e já com algum grau de desmotivação, um espaço onde possam montar a sua empresa e dar-lhes condições”,
explica. Frias Gomes destaca igualmente
um novo projeto, em cooperação com
o ‘Sem Fim’ – “provavelmente o maior
e melhor centro de formação profissional do país para a indústria metalúrgica e metalomecânica” – e a Câmara de
Comércio e Indústria Luso-Italiana em
Portugal, para apresentar “uma candidatura a Bruxelas para financiar estágios
de jovens, tipo Erasmus, que terminem
cursos profissionais a nível de 12º ano e
enviá-los para empresas italianas”. Outro
possível novo projeto da Cáritas Diocesana, “que está atualmente em análise na
direção”, é “a criação de um centro de dia
para doentes com Alzheimer”.
Nestes sete anos, os rostos ajudados pela
Cáritas Diocesana de Lisboa têm sido
muitos. Muitas são também as famílias
atingidas pelo trabalho deste organismo
da Igreja. Através do semanário diocesano, José Frias Gomes deixa a garantia
de que a Cáritas Diocesana a que preside
“vai continuar a estar atenta e atuante”,
procurando “ajuda para cada pessoa” que
se dirija à instituição, “seja com os meios
da Cáritas, seja encaminhando para outras instituições, mesmo que não sejam
ligadas à Igreja”. “O que interessa, de facto, é a pessoa”, assegura o presidente da
Cáritas Diocesana de Lisboa.
Matos Cheirinhos - Gabinete Mais Perto
Rua Rodrigues Sampaio, Loja do Lote 5,
2785-320 São Domingos de Rana
E-mail: [email protected]
Horário: 5ªfeira, das 9h45 às 12h45
Domingo, 8 de março de 2015
www.vozdaverdade.org
Faleceu o padre José da Silva
o6/ Lisboa
Natural de Pombal, Diocese de Coimbra, e ordenado sacerdote
em Lisboa, em março de 1962, faleceu, com 84 anos, o padre
José da Silva, que foi pároco de Coz e Maiorga, de 1979 a 2009
Entrevista de D. Manuel Clemente ao L’Osservatore Romano
“Lisboa foi porta de entrada
para muitos”
Vigararia de Oeiras
“Deixemo-nos encontrar
por Ele”
O Bispo Auxiliar de Lisboa D. Joaquim
Mendes convidou os cristãos da Vigararia
de Oeiras a fazerem acontecer a verdadeira Páscoa de Jesus Cristo. “Não fiquemos
à margem deste caminho, da esperança
viva, da vida que o Senhor nos oferece
na celebração da sua páscoa. Demos o
passo para o encontro ou reencontro com
Jesus. Deixemo-nos encontrar por Ele.
Busquemo-lo. Convertamo-nos a Ele e ao
Evangelho para que Ele nos transforme e
nós com Ele,com a força do seu amor,da sua
ressurreição, da sua vida em nós possamos
transformar o mundo e façamos acontecer
verdadeira páscoa, “passagem” em nós, façamos brotar rebentos novos de esperança.
Que este seja o fruto desta Via-Sacra!”,
desejou o Bispo Auxiliar de Lisboa.
Durante esta Via-Sacra, que percorreu, no
passado Domingo, 1 de março, as ruas da
paróquia de São Pedro de Barcarena, D.
Joaquim Mendes lembrou ainda que “o
desejo de Deus” acompanha os cristãos:
“Só Deus pode satisfazer a sede de felicidade do nosso coração”.
Antes de receber o anel e o barrete cardinalício, D. Manuel Clemente
concedeu uma entrevista ao jornal oficial do Vaticano, L’Osservatore
Romano (OR), destacando a especificidade da diocese.
No próximo Domingo, dia 15 de março,
pelas 15h30, decorre uma Via Crucis
com início no Hospital de Santa Marta
e que termina na igreja do Hospital dos
Capuchos, em Lisboa. É o terceiro ano
consecutivo da recriação da Via Sacra que,
outrora, se realizava entre os Conventos
de Santa Marta e de Santo António dos
Capuchos, na colina de Santa Ana, em
Lisboa. Pela primeira vez, a paróquia
de Nossa Senhora da Pena participa
nesta celebração, envolvendo-se na sua
organização juntamente com a Unidade
de Assistência Espiritual e Religiosa do
CHLC - Capelanias dos Hospitais de
Santa Marta e de Santo António dos
Capuchos e o Património Cultural do
CHLC.
De entre os 20 novos cardeais da Igreja, grande parte lidera igrejas “periféricas”
em países pobres. Questionado pelo OR
se também se pode considerar periférico
o Patriarcado de Lisboa, D. Manuel Clemente lembrou que a diocese da capital
portuguesa “fica na periferia ocidental do
continente europeu”. “Por isso, foi uma
porta de saída para o mundo e também
porta de entrada para muitos. À volta de
Lisboa existem amplos espaços suburbanos, onde a pouco e pouco as pessoas
se vão integrando na cidade, provenientes de várias partes do mundo. Por outro
lado, existem no centro histórico e noutros
lugares da cidade novas “periferias” de isolamento e abandono, especialmente para
os idosos e sós. Juntam-se as periferias
culturais pouco integradas”, respondeu.
Acerca da situação de crise em Portugal, o Patriarca de Lisboa, que é também
presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, enalteceu o trabalho da Igreja.
“Se a situação não é pior, isso deve-se em
boa parte às instituições de solidariedade
social, ligadas em grande número à Igreja
Católica, ou integradas por católicos, com
outras pessoas de boa vontade. O trabalho
episcopal passa também pelo estímulo e
apoio a essas instituições e à respetiva atividade. Este é certamente um dos aspetos
peculiares do caso português, na presente
crise económica e social europeia”.
Sobre a sua nomeação para Cardeal, D.
Manuel Clemente voltou a repetir que
acolheu a notícia “com simplicidade e alguma surpresa”. “É um motivo para estar
ainda mais próximo do Papa Francisco e
do seu providencial ministério”, observou.
Entrevista na íntegra: http://goo.gl/LLa1i2
Prémio ‘Cidadão Europeu 2014’
Oficinas de Oração e Vida
Taxas moderadoras
Paróquia de Oeiras
A Ordem Hospitaleira de São João de
Deus foi distinguida, pelo Parlamento
Europeu, com o Prémio ‘Cidadão Europeu 2014’. À Agencia Ecclesia, o provincial desta Ordem destacou a importância
deste “reconhecimento” e alertou para
o facto de a saúde mental ser o “parente pobre” por “não encher urgências”.
“Há realmente promessas de que este
ano vão aplicar as medidas políticas ao
nível dos cuidados continuados em saúde mental preconizadas desde 2010”,
referiu o irmão Vítor Lameiras, sublinhando que “sobretudo a depressão” vai
ser a “segunda causa de incapacidade a
nível mundial”.
As Oficinas de Oração e Vida promovem,
no dia 14 de março, sábado, entre as 9h00
e as 18h00, na Casa das Irmãs de São
Vicente de Paulo (ao Campo Grande),
em Lisboa, um retiro de um dia, dirigido
a todos os interessados, como “guias,
oficinitas, ex-oficinistas, familiares e
amigos”. “A Quaresma é um tempo forte
de conversão e vivência do amor, ao Senhor e aos irmãos. É por este motivo que
o realizamos na Quaresma. Enquanto
retiro, guarda-se estritamente o silêncio,
inclusive no momento da refeição. O
almoço não é partilhado, para que não
haja quebra do silêncio nem dispersão”,
aponta um comunicado.
A Associação Portuguesa de Famílias
Numerosas (APFN) congratulou-se,
em comunicado, com “o fim da injustiça
na aplicação das taxas moderadoras a
menores”. Segundo a Presidência do
Conselho de Ministros, “as crianças
acima dos 12 anos, e até aos 18, passam
a estar isentas de taxa moderadora nos
estabelecimentos do Serviço Nacional
de Saúde”. “Esta foi, durante os últimos
anos, uma reivindicação constante da
APFN junto do Governo e do Provedor
de Justiça, por atingir com especial
impacto as famílias mais numerosas”,
observa a nota da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas.
A paróquia de Nossa Senhora da Purificação de Oeiras organizou uma caminhada
pelas ruas da vila, que contou com a participação de todas as crianças da catequese,
os seus catequistas, pais e avós, além de
muitos cristãos que se cruzaram pelo
caminho, levando algumas mensagens da
exortação apostólica do Papa Francisco
‘A Alegria do Evangelho’. Esta iniciativa
integrou-se na caminhada sinodal da
diocese e decorreu na manhã do passado
dia 28 de fevereiro. “Uma forma simbólica de trazer à rua uma outra forma de
viver a Quaresma que dá sentido e leva à
vivência em pleno da Páscoa”, salienta um
comunicado.
Ordem Hospitaleira
distinguida
Via Crucis
Recriação da Via Sacra
entre os Conventos de
Santa Marta e Capuchos
Retiro de um dia,
em Lisboa
APFN congratula-se com
nova legislação
Espalhar pelas ruas a
alegria do Evangelho
Missão /07
www.fecongd.org
Pedro Cabrita
Missão é sair de mim
e ir ao encontro do Irmão
Pedro Cabrita nasceu a 12 de dezembro de 1978 em Faro. É licenciado em Engenharia
Civil e está, neste momento, a concluir o mestrado na mesma área. A sua caminhada
cristã começou no seio da sua família, que lhe transmitiu os valores cristãos.
texto por Catarina António, FEC – Fundação Fé e Cooperação
“É nesta comunhão que a
missão acontece!”
Fez a catequese na Paróquia de S. Luís,
em Faro. Entrou na universidade, mudou-se para Lisboa, onde integrou um grupo
de jovens, “Grupo da Palavra”, orientado
pelas Servas de Nossa Senhora de Fátima,
onde permaneceu durante 2 anos. “Uma
mudança de casa “afastou-me” temporariamente de uma presença mais ativa na
Igreja”, partilha. Durante uma celebração da missa na sua “nova Paróquia” (São
Tomás de Aquino – Laranjeiras) ouviu o
anúncio da preparação para o Crisma e
percebeu que estava na hora de confirmar
a fé que já vivia. Em maio de 2003 recebeu o Sacramento do Crisma e considera que “acabou por ser o ponto de partida para uma caminhada missionária mais
consciente.” No mesmo ano, no verão, foi
a Taizé pela primeira vez e partilha que a
semana que lá viveu o “marcou muito pelo
espírito de comunidade que lá se vive,
pela envolvência dos momentos de oração embelezada pelos cânticos entoados
de forma repetitiva por 5 mil jovens, pela
simplicidade com que se fala de Deus aos
jovens”, diz. Começou a frequentar as orações de Taizé, na Paróquia de São Tomás
de Aquino e integrou a equipa de voluntários que acolheu os peregrinos que participaram no Encontro Europeu de Taizé
em Lisboa, onde conheceu várias pessoas
que o convidaram a integrar um grupo de
jovens na Paróquia – os Jovens sem Fronteiras ( JSF) - que “bebe da espiritualidade
dos Missionários do Espírito Santo. Missão não é nada mais do que sair de mim,
sair do meu conforto e ir ao encontro do
meu irmão e saber que nesse irmão está
presente o nosso Pai”, partilha de coração.
Em 2005 participou com os JSF numa semana missionária, numa aldeia do interior
do país e desses dias conta-nos que “é impressionante como em apenas 10 dias se
consegue estabelecer uma relação tão pró-
xima com uma comunidade que nos era
desconhecida. Se, por um lado, nós vamos
com os nossos corações abertos, do outro
lado somos recebidos de braços abertos e
é nesta comunhão que a missão acontece.”
“A missão não tem de ser
complicada!”
Em 2007 sentiu a vontade de participar
num projeto missionário fora do país.
“A vontade foi amadurecendo e, depois
de muita reflexão, resolvi aceitar o convite que Deus me fazia e candidatei-me
ao Projeto Ponte 2008 – Saúde e educação em tempo de Paz.” Após um ano de
preparação, partiu para Angola integrado
num grupo de JSF onde esteve durante
o mês de agosto. Deste mês, abre-nos o
coração e partilha “as palavras não conseguem descrever tudo o que lá vivi, só
mesmo os olhos que brilham ou o sorriso
que espontaneamente surge na cara quando me recordo de tudo o que lá se passou.
Impressionou-me a forma como o povo
nos acolheu de braços abertos e com vozes
de alegria. Marcou-me bastante o facto de
perceber que, o muito pouco que lá fomos
fazer, foi para eles um verdadeiro sinal de
esperança.” No regresso de Angola sentiu
que a missão não acabou ali, que foi mais
um ponto de passagem no caminho missionário. “O facto de ser longe de casa, fora
da zona de conforto e de “segurança” torna
o desafio maior e ajuda-nos a crescer. Por
estarmos no meio de uma cultura diferente, por percebermos que existem maneiras diferentes de pensar e viver a vida, isso
acaba por alargar os nossos horizontes”,
partilha. Entre 2010 e 2013 fez parte da
Coordenação Regional Sul dos JSF. Em
2010 conheceu o Movimento ao Serviço
da Vida (MSV) desafiado por alguns amigos. Participou em algumas reuniões para
“perceber como funcionavam” e inseriu-se no Grupo de Ação e Fé (GAFE) que
assenta em três pilares: oração, serviço e
comunidade. “Apesar da base missionária
presente nestes dois movimentos ( JSF e
MSV) ser parecida, achei que eram complementares e, como tinha disponibilidade e conseguia conciliar os dois, abracei a
nova aventura”. No MSV um dos proje-
tos desenvolvidos pelo GAFE é o “Projeto Alcoutim”: deslocam-se mensalmente ao encontro das pessoas mais idosas do
conselho de Alcoutim (interior algarvio),
criando ao longo das visitas uma “relação
de confiança e amizade com as pessoas.
Vamos simplesmente para ESTAR com
as pessoas, ouvir as suas histórias de vida,
os seus problemas, para rezar, para rir, para
cantar.” Em paralelo, foi sendo voluntário
no âmbito do apoio escolar, foi monitor
de uma colónia de férias para crianças institucionalizadas (Casa das Cores) e em 3
campos de férias para jovens de um bairro social. Em 2013 deixou a Coordenação
Regional JSF e integrou, como voluntário,
a equipa de sócios da ONGD Sol Sem
Fronteiras, que “tem sido um trabalho difícil mas desafiante”, encontrando novas
fontes de financiamento e a angariação
e fidelização de novos sócios. Em 2014
Deus voltou a fazer-lhe o convite para
participar numa experiência missionária
fora de Portugal, ao qual respondeu de
imediato “SIM!” Em conjunto com mais 4
jovens do MSV, rumou a S. Tomé e Príncipe, onde o plano era “muito simples: ESTAR com as pessoas! Parece simples e é
simples! A missão não tem de ser complicada.” Esta experiência aconteceu durantes os meses de agosto e setembro, onde,
apesar das inúmeras atividades que realizaram, considera que “o mais importante
foi a relação que se criou com as pessoas.
Uma relação fraterna, baseada na partilha
de experiências, na humildade e simplicidade. Missão é Viver! Viver o Estar, o Ser,
o Partilhar o Amor de Cristo!” Ao terminar a nossa conversa, partilha que aprendeu com estas experiências que “a missão
continua com o exemplo e o testemunho
que damos, com o que aprendemos e
transportamos para a nossa vida. A vida
só faz sentido se fizermos dela um ato de
entrega e serviço aos outros. Tem que ser
um verdadeiro ato de Amor.”
Domingo, 8 de março de 2015
www.vozdaverdade.org
o8/ Quaresma
2ª Catequese Quaresmal
A ALEGRIA NA
SAGRADA
ESCRITURA
Entrar na torrente da alegria
(EG 4-5)
Evangelii gaudium: “A alegria do Evangelho” – o Evangelho, diz-nos o Papa Francisco logo no título da sua Exortação, é
fonte de alegria. Evangelizar não pode
deixar de constituir um anúncio alegre
que, simultaneamente, confere à vida daquele que evangeliza e daquele que é evangelizado uma característica de alegria, não
como consequência acessória mas como
critério da própria verdade e fruto do conteúdo do Evangelho.
Acolher o Evangelho não é só acolher
um conjunto de doutrinas ou de utopias humanas. É acolher o próprio Jesus.
O Evangelho é a pessoa de Jesus, e não
apenas as palavras que Ele proclama ou
os gestos que realiza, como mostra com
clareza S. Lucas, ao narrar o episódio de
Zaqueu que, após ter escutado o convite
do Senhor, “desceu rapidamente e acolheu
Jesus com alegria” (Lc 19,6).
Mesmo quando denuncia e nos confronta com o pecado, o Evangelho constitui
sempre uma “alegre notícia” porque não se
limita a colocar em evidência o mal que
praticámos e no qual vivemos. Antes disso, já o anúncio evangélico nos fez tomar
consciência do amor infinito de Deus por
cada pecador (por cada um de nós e por
todos), manifestado em Jesus de Nazaré; e
porque este amor contrasta radicalmente
com o pecado, o Evangelho provoca então
em nós a dor espiritual e a necessidade e a
alegria da conversão.
Todo o Homem procura a alegria. Contudo, neste mundo, essa alegria é sempre imperfeita enquanto não for acolhida como
dom do Espírito Santo. A multiplicação
da procura dos prazeres do mundo anda,
ontem como hoje, a par da procura da verdadeira alegria e (simultaneamente) da
impossibilidade de o ser humano a gerar
por si mesmo (cf. GD p.10)1. Como afirmou o Beato Paulo VI:
A alegria é espiritual. Assim, o dinheiro, o
conforto, a higiene e a segurança material
muitas vezes não faltam; e, apesar disso, o
tédio, o mau humor e a tristeza continuam
a ser a sorte que a muitos cabe. E isto, não
raro, até ao ponto de se tornar angústia e
desespero, que a aparente ausência de cuidados, o frenesim da felicidade presente e
os paraísos artificiais não conseguem eliminar. […] Será, portanto, mediante um
tornar-se presente a Deus, principalmente, e um consequente afastar-se do pecado,
que o homem poderá entrar, verdadeiramente, na alegria espiritual. A carne e o
sangue são, sem dúvida, incapazes disso.
Mas a Revelação pode abrir esta perspectiva, e a graça pode operar esta conversão
(GD pp. 11.14).
O mesmo Papa dá-nos uma definição da
“alegria cristã”: “é a participação espiritual
na alegria insondável, conjuntamente divina e humana, que está no coração de
Cristo glorificado” (GD p. 15).
Na Exortação Apostólica em que convoca
toda a Igreja para um renovado empenho
na tarefa da evangelização, o Papa Francisco não deixa de notar, em dois parágrafos como, na Sagrada Escritura, entre
“Evangelho” e “alegria” encontramos duas
realidades que se requerem uma à outra,
e que constituem o fruto da presença de
Próxima Catequese Quaresmal
Domingo, 8 de março, às 18h00, com transmissão
em directo: www.patriarcado-lisboa.pt
Deus na história humana. São estes dois
números que agora vos convido a reler.
Notemos, antes de mais, que o Papa Francisco não nos oferece um tratado sobre a
alegria na Sagrada Escritura, com a preocupação de elencar os diferentes matizes
que o conceito assume no Antigo e no
Novo Testamento. O Santo Padre preocupa-se antes em fazer ressaltar a participação humana na alegria divina.
A alegria está presente em toda a Sagrada Escritura. É verdade que na Escritura
encontramos a tristeza (e mesmo a vergonha) causada pelo pecado humano; mas é
igualmente verdade que o convite à alegria é quase omnipresente, seja no Antigo
seja no Novo Testamento. Estamos bem
longe do pessimismo derrotista do fado
mitológico ou ainda de um qualquer divertimento humano que, como vemos em
tantos programas de TV, à viva força, procura esquecer os momentos de tristeza e
dificuldade, para arrancar alguns minutos
hilariantes, passageiros, e de sabor sempre
superficial que, por isso, são repetidos até
à saciedade, confessando, assim, a sua imperfeição e limite.
1. O Antigo Testamento:
alegria do homem,
da natureza, de Deus
No Antigo Testamento encontramos, por
vezes, referências a estes “divertimentos
simplesmente humanos”, como é o caso
dos banquetes oferecidos pelos poderosos,
ignorando o sofrimento do povo. Contudo, são bem mais frequentes as referências
à alegria vivida fruto de uma intervenção
divina num determinado momento da
história (cf. Ex 15) ou à alegria esperada
para os tempos do Messias.
Como afirma Paulo VI, na Exortação
Gaudete in Domino, no Antigo Testamento vem-nos ao encontro uma alegria que
se amplia e comunica, sempre ameaçada e
sempre a renascer, fruto duma experiência
de libertação com origem no amor misericordioso de Deus para com o Seu Povo,
figura da libertação definitiva trazida por
Jesus; uma alegria sempre actual, de viver
com Deus e para Deus; uma alegria “gloriosa e sobrenatural profetizada em favor
da nova Jerusalém resgatada do exílio e
amada pelo próprio Deus com um amor
místico” (GD p. 16).
Nos parágrafos 4 da Evangelii gaudium,
o Papa Francisco faz referência a 7 das
imensas passagens veterotestamentárias
em que Israel é convidado à alegria. Delas,
4 são retiradas do profeta Isaías, a que o
Papa acrescenta Zac 9,9 e Sof 3,17. Para
além dos profetas, é aberta a excepção para
uma referência à alegria quotidiana, incitando a não nos privarmos dela, desde que
legítima, com Sir 14,11.14.
Isaías é, sem dúvida, o “profeta da alegria”. O convite à alegria é frequente ao
longo de todo o livro, com uma preponderância que contrasta com os demais escritos proféticos.
Duas das passagens referidas pelo Papa
Francisco (9,2 e 12,6) são retiradas do
chamado “Livro do Emanuel”, que ocupa os capítulos 6-12 de Isaías, quando o
Profeta é enviado a Acaz (por volta de
740 aC) para se opor às alianças do rei
e anunciar a sua falência e derrota, bem
como para anunciar a vinda do “Emanuel”
(7,14), da salvação de que ele é portador
e que se realizará por intervenção divina (9,2) – e que S. Mateus não hesita em
aplicar ao próprio Jesus e ao início do seu
anúncio evangélico (Mt 4,12-17).
Diz Isaías, depois de anunciar a luz do
Salvador: “Multiplicastes o povo, deste-lhe
grande alegria: eles alegram-se na tua presença como se alegram os ceifeiros na ceifa,
como se regozijam os que repartem despojos”.
E, mais à frente, no poema conclusivo do
Livro (Is 12) e referindo-se uma vez mais
à intervenção salvadora de Deus, depois
de ter afirmado que o povo há-de, com
alegria, saciar-se das fontes da salvação (v.
3), o Profeta termina: “Ergue gritos alegres,
exulta, ó morada de Sião, porque é grande no
meio de ti o Santo de Israel” (12,6).
Para o Profeta, a intervenção de Deus
em favor do seu povo – ou seja: a vinda
do Emanuel, do “Deus connosco” – é tão
grande e segura quanto a alegria dos ceifeiros perante a colheita, ou a dos guerreiros que, no final da vitória repartem entre
si os despojos. Por isso, Israel não pode ficar calado: à grandeza da presença divina
Quaresma /09
na sua vida o povo corresponderá, melhor:
saberá colher uma alegria contagiante.
Mas se, apesar disto, a leitura dos primeiros
39 capítulos de Isaías nos deixa a impressão de um tom profético essencialmente
denunciador, tal percepção transforma-se
radicalmente no chamado “Livro da consolação de Israel” (Is 40-55) – não sem razão atribuído pela exegese contemporânea
à pena doutro escritor sagrado.
Logo a abrir o Livro da Consolação encontramos uma “cantata a diversas vozes”2
que anuncia o fim da escravidão e o início
de um novo Êxodo conduzido por Deus
(40,9) e pelo seu Servo. E, após o chamado “segundo canto do Servo” (49,1-7) é a
criação inteira que é convidada a participar na alegria da salvação: “Cantai, ó céus!
Exulta de alegria, ó terra! Rompei em exclamações, ó montes! Na verdade, o Senhor consola o seu povo e se compadece dos desamparados” (49,13).
À certeza da intervenção divina, ao convite à alegria contagiante por parte de Israel
é agora chamada a associar-se a própria
natureza, não por qualquer coisa que Deus
tenha realizado directamente em seu favor
mas porque “o Senhor consola o Seu povo e se
compadece dos desamparados”.
Este convite vai ainda mais longe se lermos a passagem de Sofonias (3,17) referida pelo Papa Francisco: «O Senhor, teu
Deus, no meio de ti é um poderoso salvador! Exultará de alegria por tua causa, com
o seu amor te renovará. Exultará por tua
causa com cânticos de alegria».
Como vemos, a alegria é dita do próprio Deus: a salvação do Seu Povo faz
Deus exultar de alegria. Ezequiel afirma
o mesmo, ainda que de um modo negativo: “Afinal, teria Eu alguma alegria na
morte do ímpio? – Oráculo do Senhor
Deus – Ao contrário, não me dá muito mais prazer ver o ímpio converter-se
dos seus maus caminhos e viver?” (Ez
18,23; cf. 33,11).
2. O Novo Testamento:
participantes da alegria
de Jesus
A vinda e a presença de Cristo no seio da
história farão com que a alegria que marca o Antigo Testamento se veja redobrada.
Para além da presença de Deus no seio da
história, agora não apenas percebida nos
seus efeitos salvadores, como acontecia na
Antiga Aliança, mas concreta, vista, escutada, palpável (1Jo 1), encontrada na pessoa de Jesus, é toda a expectativa do Povo
de Deus que não apenas se vê realizada
como até mesmo ultrapassada. Mais ainda: é a alegria a que todos são convidados,
vindos de todos os povos e nações. O mesmo é, também, dizer: “todos aqueles que,
no decorrer dos tempos, virão a acolher a
Sua mensagem” (GD p. 17).
Para além das “alegrias humanas” vividas
por Jesus em acção de graças ao Pai (GD
p. 19), encontramos igualmente no Novo
Testamento a alegria experimentada pelo
Senhor e que é fruto da constante e singular presença do Pai: dela nos dá particular
testemunho o evangelho de S. João, em
passagens centradas no mistério pascal e
no convite à vivência cristã.
É precisamente a “cruz gloriosa” que o
Papa Francisco não hesita em colocar no
centro da sua leitura neotestamentária do
convite à alegria: “O Evangelho – afirma o
Papa logo no início do n. 5 da Exortação
–, onde resplandece gloriosa a Cruz de Cristo,
convida insistentemente à alegria”.
Não se detém, por isso, o Santo Padre nas
referências à alegria que é própria de Jesus. Sobre esta faz apenas uma referência,
ao afirmar que “o próprio Jesus estremeceu
de alegria sob a acção do Espírito Santo” (Lc
10, 21).
As outras passagens que o Papa Francisco refere testemunham antes o convite à
participação humana na alegria de Jesus,
que é a alegria de Deus ao oferecer-nos a
salvação. Em primeiro lugar, no chamado
“Evangelho da Infância” de S. Lucas. Aqui
a Virgem é convidada à alegria pelo Anjo
que Lhe foi enviado da parte de Deus,
porque Ela foi plenificada pela graça divina: “Alegra-Te, ó cheia de graça”.
A esta plenitude da graça, que o “Sim” virginal de Maria permitiu se fizesse carne
no Seu ventre, corresponde, depois, o próprio João Baptista, ainda no seio de sua
mãe, Isabel, exultando quase prematuramente de alegria, e como que dando voz
não só à esperança do Antigo Testamento como a toda a humanidade ainda por
nascer perante o milagre a que assistia da
presença de Deus na plenitude da história (Lc 1,41; cf. Gal 4,4). Aliás, no quarto
evangelho, e como recorda o Santo Padre,
o mesmo Baptista afirmará ao encontrar-se com Jesus: “Esta é a minha alegria! E
tornou-se completa!” (Jo 3, 29).
Mas o Papa não pode ainda deixar de referir a alegria da Virgem Maria quando
confrontada com este alegre acolhimento
humano da salvação divina, assumindo-se não só como porta-voz mas também
como “resumo” da humanidade redimida,
ao entoar o Magnificat: “O meu espírito se
alegra em Deus, meu Salvador” (Lc 1,47).
O Papa Francisco faz ainda notar com
insistência como Jesus convida os seus
discípulos à participação da Sua alegria,
o mesmo é dizer, do Seu “coração transbordante”: “Manifestei-vos estas coisas, para
que a minha alegria esteja em vós, e a vossa
alegria seja completa” (Jo 15,11).
Estas palavras do Senhor são pronunciadas durante a Última Ceia, logo após
a imagem da videira e dos sarmentos e a
afirmação da necessidade de “permanecer”
no Senhor como condição para dar muito
fruto e ser discípulo de Jesus. Permanecer
no amor é guardar os mandamentos de Jesus como Ele o fez do Pai (v.10) e amar o
irmão como Jesus amou os discípulos, ou
seja, dando a vida (porque “ninguém tem
maior amor do que aquele que dá a vida
pelos amigos” – v. 13). Nisso se resume
tudo – tudo o que o Senhor escutou do
Pai e tudo o que nos quis dar. A alegria
do cristão torna-se, deste modo, sinónimo
da própria vida cristã, do receber e permanecer na vida divina – aquela que, desde
sempre o Verbo recebe do Pai e da qual faz
participantes os seus.
Mas é uma alegria que se encontra bem
distante daquela alegria fácil, do divertimento inventado pelos homens. É uma
alegria que brota do mistério pascal, da
cruz gloriosa, afirma Jesus logo a seguir –
e o Santo Padre recorda-o.
É, aliás, o próprio Senhor quem contrapõe a alegria do mundo à alegria cristã.
Com efeito, no capítulo 16 do evangelho
de S. João Ele não hesita em se referir aos
acontecimentos da cruz que estão para
ter lugar (e que englobam todos aqueles outros acontecimentos que marcam a
presença da cruz na vida cristã): “chorareis e lamentar-vos-eis, enquanto o mundo se alegrará; entristecer-vos-eis mas a
vossa tristeza transformar-se-á em alegria”
(Jo 16,20). E o Beato Paulo VI comenta:
O mundo – aquele mundo que é inepto
para receber o Espírito da Verdade, que
ele não vê nem conhece – não se apercebe
senão dum aspecto das coisas. Ele considera apenas a aflição e a pobreza do discípulo, enquanto este permanece sempre,
no mais íntimo de si mesmo, na alegria,
porque ele está em comunhão com o Pai e
com o Seu Filho, Jesus Cristo (GD p. 25).
E essa alegria, que é dom do Ressuscitado, será de tal forma perene e firme,
sólida, que nenhum acontecimento ou
ninguém a poderá tirar aos discípulos
porque é dom de Deus: “Eu hei-de ver-
-vos de novo! Então, o vosso coração há-de
alegrar-se e ninguém vos poderá tirar a vossa
alegria” (Jo 16, 22).
E, de facto, quando o Ressuscitado se faz
encontrar pelos discípulos, na tarde de
Páscoa, eles “alegraram-se ao verem o Senhor” (Jo 20,20). Diz o texto grego, usando a mesma palavra que o Anjo empregara para saudar a Virgem Maria, e a que
já fizemos referência. É a alegria realizada, perfeita, do discípulo que faz da sua
carne o lugar de acolhimento do mesmo
Verbo de Deus, que dá, na sua existência
quotidiana, carne à vida divina a frutificar no sei da história.
É a alegria da fé – aquela mesma que
constantemente nos surpreende ao longo do Livro dos Actos dos Apóstolos, como
marca da vida cristã. Como nos recorda o
Papa Francisco:
O livro dos Actos dos Apóstolos conta que, na primitiva comunidade, «tomavam o alimento com alegria» (2, 46).
Por onde passaram os discípulos, «houve
grande alegria» (8, 8); e eles, no meio da
perseguição, «estavam cheios de alegria»
(13, 52). Um eunuco, recém-baptizado,
«seguiu o seu caminho cheio de alegria»
(8, 39); e o carcereiro «entregou-se, com
a família, à alegria de ter acreditado em
Deus» (16, 34).
Esta alegria que marca a vida de Jesus,
daqueles que são os seus discípulos e daqueles outros que acreditam depois deles
é pois uma realidade sempre presente, que
chega até nós daquele acontecimento primeiro, e que se destina a todos. É a alegria do Reino de Deus que nos envolve,
nos conduz à plenitude e que é fruto da
presença, entre nós, do Espírito do Senhor
ressuscitado, vivo.
Dito com palavras do Papa Paulo VI, a
alegria tal como nos é apresentada no
Novo Testamento mostra-se como “uma
torrente que transborda” (GD p. 17). É a
abundância da presença de Deus no meio
de nós e do mundo, e a surpresa inabalável
da vida divina que nos é dada participar tal
como surgiu, inesperada mas arrebatadora, do sepulcro do Senhor.
É por isso que não podemos deixar de
tomar a sério – para nós e para o mundo
inteiro – o convite que o Papa Francisco
faz no final dos dois números dedicados à
presença da alegria na Sagrada Escritura:
“Porque não havemos de entrar, também nós,
nesta torrente de alegria?” (EG 5).
+ Nuno, Bispo Auxiliar de Lisboa
Catequese Quaresmal
II Domingo da Quaresma
Sé Patriarcal, 1 de Março de 2015
1
2
Usamos a versão Lisboa, Paulus, 2014.
Cf. Bíblia de Jerusalém, nota b) a Is 40.
Domingo, 8 de março de 2015
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10/ Igreja no Mundo
Sudão do Sul: a tragédia quase esquecida das crianças-soldado
A perda da inocência
É o mais novo país do mundo mas transporta já consigo todos os defeitos da humanidade. A festa da independência, em
Julho de 2011, durou pouco tempo. Menos de dois anos depois, o Sudão do Sul
iniciou uma guerra consigo mesmo. É a
pior das guerras, quando o inimigo está
dentro de portas, fala a mesma língua, vive
na mesma cidade, às vezes pertence, até, à
mesma família.
Fevereiro. Homens armados invadem
uma aldeia e fazem buscas casa a casa.
Levam consigo oitenta e nove rapazes.
Agora não se sabe deles. Sequestrados,
muito provavelmente vão engrossar um
dos muitos grupos armados que pululam no país. Quase todas estas crianças
tinham pouco mais de 12 anos. Os pais,
desesperados, perderam-lhes o rasto. É
quase sempre assim. Só no ano passado,
mais de 12 mil crianças serviram os senhores desta guerra.
três milhões de pessoas precisam de urgente ajuda alimentar. O número cresce,
quase para 7 milhões, se juntarmos à fome
as doenças. No Sudão do Sul, hoje em dia,
as populações precisam tanto de comida
como de paz.
“Rezem por nós”
No epicentro desta loucura está também
Malakal. Monsenhor Roko Taban diz que
a violência que se abateu sobre a sua diocese foi como um “terramoto”. Em Julho
do ano passado, num par de dias, tudo se
transformou. As cidades de Bentiu, Malakal e Bor ficaram irreconhecíveis. Cerca
de 30 mil casas em ruína e mais de 100
mil pessoas sem nada para comer. Quantas destas famílias perderam também os
seus filhos, “recrutados” à força? Oito meses depois, os golpes da violência conti-
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Deixaram de ser crianças cedo de mais. São quase todos rapazes. Foram raptados.
Vestiram-lhes um uniforme, deram-lhes uma arma e mandaram-nos para o mato.
Para a guerra. Só no ano passado, calcula-se que mais de 12 mil crianças
foram transformadas em soldados no Sudão do Sul. São os novos
escravos de que quase ninguém fala.
nuam à vista de todos, como uma ferida
que não consegue cicatrizar. “Os ataques
foram brutais. Muitas das nossas igrejas
e casas foram completamente destruídas
e tudo o que tínhamos foi saqueado. Nós
estamos num estado miserável”, reconhece Monsenhor Roko. Dirigindo-se aos
benfeitores da Fundação AIS, D. Taban
deixa um apelo: “Por favor, lembrem-se de
nós nas vossas orações!”
Pobre país rico
As crianças são o elo fraco nesta tragédia regional que o mundo parece querer
ignorar. Depois da fome da Etiópia e do
genocídio do Ruanda, o Sudão do Sul parece apostado em acordar os fantasmas do
apocalipse.
Talvez o facto de ser um país rico em petróleo explique esta voragem em que está
Ninguém está a salvo em lugar algum.
©UNPhoto
As crianças são arrancadas à família, mobilizadas à força e transformadas em soldados.
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O Sudão do Sul ganhou a sua independência em 2011, depois de uma longa e
terrível guerra com o Norte. Tanta violência, porém, revelou-se insuficiente. Desde
Dezembro de 2013 que o país está dividido entre partidários do presidente e do
ex-vice-presidente. Entre os que seguem
Salva Kiir e Riek Machar há mais ódio do
que ideologia. Kiir pertence à etnia Dinka.
Machar é da etnia Nuer. Como parecem
hoje longínquos os discursos de Julho de
2011, quando ambos assumiram perante
o mundo o desejo de construírem uma
nação de paz, de progresso e de felicidade
para as suas populações. A guerra civil já
provocou dezenas de milhares de mortos
e quase 1 milhão de refugiados. Unidade,
Alto Nilo e Jonglei têm sido regiões palco
de uma violência demente, quase animal.
Há casos de pessoas mortas mesmo em
Igrejas e mesquitas. Ninguém está a salvo
em lugar algum. Os números são assustadores. Segundo as Nações Unidas, quase
©UNPhoto
Violência demente
Um país rico em armas, mas pobre em tudo o resto.
mergulhado. Também é um país rico em
armas, mas pobre em tudo o resto. As
crianças, que são arrancadas à família e
mobilizadas à força, são transformadas
em soldados. Sem escrúpulos, dão-lhes
um uniforme e uma arma. Ensinam-lhes
a despejar as balas que enchem os carregadores e enviam-nas para o mato, para as
frentes da guerra, para o abismo. Muitas
destas crianças morrem. Mesmo as que
sobrevivem às balas, morrem de alguma
maneira. Perdem a inocência para sempre.
Muitas destas crianças nunca mais são
vistas. Mesmo que sobrevivam aos combates, mesmo que consigam fugir dos carcereiros, nunca mais se sabe delas.
Terra de ninguém
Esta região de África é quase uma terra de
ninguém. Não é só no Sudão do Sul. Mais
a Norte, na capital do Sudão, Cartum, calcula-se que haverá mais de 700 mil crianças que vivem nas ruas. Muitas terão sido
também crianças-soldado. As que conseguiram fugir da guerra provavelmente irão
cair nas mãos de gangues criminosos que
as obrigarão à mendicidade, ou que as farão cair em tenebrosas cadeias de tráfico
de órgãos.
Às vezes, é possível resgatar alguns destes rapazes. Quando já estão a salvo, normalmente em acampamentos das Nações
Unidas ou de organizações humanitárias e
da Igreja, em vez de brincarem como seria de esperar, começam a marchar como
se estivessem ainda mobilizados, como
se carregassem ainda uma arma, como se
uma voz interior lhes desse uma ordem. É
preciso sempre muito tempo, paciência e
amor para tirar a guerra de dentro destas
crianças-soldado. Às vezes é impossível.
texto por Paulo Aido,
Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
www.fundacao-ais.pt | 217 544 000
com Aura Miguel
Jornalista da Rádio Renascença,
à conversa com Diogo Paiva Brandão
A uma janela de Roma /11
“Onde não são honrados os idosos, não há futuro para os jovens”
O Papa Francisco dedicou a catequese de quarta-feira aos idosos. Na semana em que o Vaticano publicou
as normas para reforma económica, as ameaças terroristas reforçaram a segurança no Vaticano, o Papa
recebeu os bispos do norte de África e recordou os cristãos raptados na Síria.
1.
2.
3.
4.
5.
1.
Descartar e desprezar os idosos é
um “pecado mortal”, considerou, na passada quarta-feira, dia 4 de março, o Papa
Francisco. Durante a audiência-geral, no
Vaticano, Francisco recordou que quando
era Arcebispo de Buenos Aires, na Argentina, costumava visitar lares de idosos,
onde perguntava às pessoas se os familiares os acompanhavam. Para mostrar que
abandonar pais e avós é um “pecado mortal”, aludiu a um caso particular em que a
última visita dos filhos a um idoso tinha
acontecido no Natal, quando já se estava
em agosto. “Oito meses sem ser visitado
pelos filhos! Oito meses abandonado! A
isto chama-se pecado mortal. Entendido?”, declarou Francisco.
O Papa lembrou que a Igreja não pode tolerar estas atitudes e desafiou os cristãos
a cuidarem dos mais velhos. “Devemos
despertar o sentimento coletivo de gratidão, apreço, hospitalidade, que faça sentir
ao idoso que este é parte ativa da sua comunidade. Porque os idosos são homens
e mulheres, pais e mães, dos quais recebemos muito”, afirmou. “Todos nós, os
idosos, somos algo frágeis; há alguns, no
entanto, que são particularmente fracos,
muitos estão sós a braços com a doença.
Alguns dependem de cuidados indispensáveis e da atenção dos outros. Mas, por
esse motivo, vamos dar um passo atrás?
Vamos abandoná-los ao seu destino?”,
perguntou Francisco.
O Papa defendeu que a qualidade de uma
“civilização” se mede também pela forma
como se respeitam os idosos, porque disso
também depende o futuro: “Uma sociedade sem proximidade, onde a gratuidade e
o afeto desinteressado vão desaparecendo,
mesmo para com os de fora da família,
é uma sociedade perversa. A Igreja, fiel
à Palavra de Deus, não pode tolerar tais
degenerações. Onde não são honrados os
idosos, não há futuro para os jovens”.
No final da audiência-geral, o Papa recebeu, das mãos do reitor da Universidade
de Lisboa, António Cruz Serra, acompanhado por António Nóvoa, ex-reitor, a
‘Obra Completa do Padre António Vieira’, concluída em dezembro passado. A
obra publicada pelo Círculo de Leitores,
em 30 volumes divididos em quatro tomos, começou a ser publicada em abril de
2013 e foi considerada pelo historiador
José Eduardo Franco, um dos seus coordenadores, “o maior projeto da história
editorial portuguesa”. A ‘Obra Completa
do Padre António Vieira’ juntou 52 investigadores de várias áreas, de Portugal
e do Brasil.
2. O Vaticano divulgou, esta terça-feira,
dia 3, a nova legislação que governa e regula os esforços para tornar as operações
financeiras da Santa Sé mais eficientes e
transparentes. As regras dizem respeito
a três instituições diferentes: o Conselho
Económico, composto por 15 pessoas e
que é responsável por orientar as políticas
económicas do Vaticano; o Secretariado
Económico, responsável por aplicar essas
orientações e supervisionar toda a esfera económica da Santa Sé, chefiado pelo
cardeal australiano George Pell, e ainda a
posição de auditor-geral.
3.
A ameaça dos terroristas islâmicos
existe e o nível de alerta no Vaticano é
um nível alto. Quem o diz é o responsável
máximo pela segurança do Papa. Numa
entrevista concedida a um jornal italiano,
o comandante Domenico Gianni – que
vemos sempre ao lado do Papa Francisco
– revelou que os serviços de segurança do
Vaticano estão em contacto permanente
com os seus colegas italianos e de outros
países estrangeiros e que o estado de alerta
é permanente. As ameaças não vêm só do
autodenominado Estado Islâmico, mas há
também o risco de haver ações solitárias,
o que torna tudo mais perigoso, porque se
trata de ações totalmente isoladas e imprevisíveis.
Interrogado sobre como o Papa enfrenta
estas ameaças, o comandante Gianni refere que Francisco não pretende abandonar o estilo do seu pontificado, baseado na
proximidade e no encontro pessoal com o
maior número possível de pessoas.
4.
O Papa recebeu na passada segunda-feira, dia 2 de março, no Vaticano, os
bispos do Norte de África. Francisco disse
que Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia são
“uma periferia do mundo” e que os bispos
desses países “são o rosto e o coração com
o qual Deus chega aquela gente”.
O Papa também agradeceu “a coragem,
a lealdade e a perseverança da Igreja líbia que, apesar dos muitos perigos, são
autênticas testemunhas do Evangelho”.
Francisco encorajou os que permanecem
naquele território a “prosseguirem os esforços para contribuírem para a paz e reconciliação em toda a região”.
5.
O Papa Francisco voltou a recordar o drama vivido pelas comunidades
cristãs na Síria e no Iraque, no passado
Domingo, 1 de março, no final da oração do Angelus, na Praça de São Pedro.
Francisco assegura os cristãos das suas
insistentes orações, “para que se ponha
fim à intolerável brutalidade de que são
vítimas”. “Não param de chegar notícias
dramáticas da Síria e do Iraque, relativas
à violência, sequestros de pessoas e abusos e danos cometidos contra cristãos e
membros de outros grupos. Queremos
assegurar a quantos se veem envolvidos
nestas situações que não os esquecemos”, garantiu ainda o Papa, revelando
que esta foi a intenção especial da Missa
que celebrou, juntamente com a Cúria
Romana, durante os exercícios espirituais, na sexta-feira, dia 27 de fevereiro.
No final ao Angelus, o Papa Francisco
pediu uns momentos de oração em silêncio por esta intenção.
Domingo, 8 de março de 2015
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12/ Família
Contactos da Pastoral Familiar
Telefone: 218810500
E-mail: [email protected]
Site: www.familia.patriarcado-lisboa.pt
Familiarmente | A missão de ser família
O Papa Francisco recorda-nos recorrentemente que ser cristão é ser missionário.
O cristão tem a missão de anunciar Cristo com alegria. Esta missão individual
concretiza-se, também, NA família, EM
família, e COM a família.
Para o cristão, a família é lugar privilegiado da manifestação do amor de Deus,
refletida no amor entre esposos, pais, filhos, irmãos, avós, netos, primos, tios…
A família é uma escola de afetos. Amar
é algo que se aprende primeiramente em
família, pois é no sentir-se amada pelos
pais que a criança descobre o que é amar.
O afeto recebido em família prepara-nos
para dar e para receber, despertando-nos
para o amor ao outro e a Deus. Em família aprende-se a amar a vida que nasce,
a vida nas suas debilidades e diferentes
etapas.
Quem tem fé vive animado pelo grande amor que Deus tem por todos e cada
um de nós. Quem se sabe amado deseja
partilhar essa alegria. Como tal, é muito importante que a fé não seja remetida
para o âmbito privado e pessoal de cada
elemento da família, mas que seja celebrada e vivida em conjunto. Sabemos que
em muitas famílias há elementos que se
definem como ateus, agnósticos e até indiferentes. Muitas vezes por suposto respeito para com estas pessoas, coibimo-
-nos de manifestar a nossa fé. Porém, é
necessário estar alerta para esta situação,
pois a boa-nova deve ser anunciada a todos, sem exceção: os outros podem decidir que não querem ouvir, podem decidir
discordar ou ignorar, mas nós não podemos deixar de propor! Portanto devemos
sempre procurar encontrar e anunciar
Cristo na nossa família.
É, por isso, uma boa prática, a oração em
família. Rezemos uns com os outros e
uns pelos outros. É importante rezar as
alegrias e preocupações, os desentendimentos, os fracassos, as imperfeições… A
oração dá esperança e fortalece, ajuda a
colocar em perspetiva. Rezar o dia-a-dia
é bom e é expressão de que o nosso Deus
é próximo e que se quer revelar no concreto da nossa vida.
Cada pessoa conta e todos fazem falta
nesta missão evangelizadora. Por exemplo, as crianças são o “meio” para muitos pais se (re)aproximarem de Deus e
da vivência comunitária, nomeadamente
quando iniciam a catequese, pois os pais
aproximam-se de outros pais em circunstância semelhante e, progressivamente,
vão fazendo um caminho de (re)encontro da fé. Os adultos, por sua vez, são
muitas vezes o garante da memória e das
tradições, recordando os que estão mais
sós, os que estão doentes ou aqueles que
não têm nada e ajudando os mais novos
a valorizar todas as bênção que lhes são
concedidas.
Por fim, famílias evangelizadas são também famílias evangelizadoras. E esta
dinâmica é muito poderosa! Deus quer
precisar de nós e do nosso testemunho
para se manifestar. Confiemo-nos, pois,
ao seu amor, para que ele transforme a
nossa família e, através de nós, muitos
outros possam conhecê-Lo.
texto escrito por Catarina
e Nuno Luís Fortes
CATEQUESE DOMÉSTICA: A Alegria do Evangelho
Em pleno caminho sinodal, a catequese
doméstica deste mês apresenta a exortação que serve de instrumento de trabalho
para esta etapa que a Diocese de Lisboa
está a viver. Falamos de “A Alegria do
Evangelho”, a primeira exortação apostólica do Papa Francisco. Trata-se de um
documento que há-de conduzir a vida da
Igreja nos próximos tempos, tal como diz
o Papa: «Não ignoro que hoje os documentos não suscitam o mesmo interesse
que noutras épocas, acabando rapidamente esquecidos. Apesar disso sublinho
que aquilo que pretendo deixar expresso
aqui, possui um significado programático
e tem consequências importantes. Espero que todas as comunidades se esforcem
por usar os meios necessários para avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as
coisas como estão. Neste momento, não
nos serve uma “simples administração”.
Constituamo-nos em “estado permanente
de missão”, em todas as regiões da Terra»
(EG 25).
Nesta exortação o Papa recolhe a riqueza dos trabalhos sinodais sobre a “Nova
Evangelização e transmissão da fé” e as
preocupações que movem a obra evangelizadora da Igreja (cf. EG 16). As diretrizes
deste documento baseiam-se na doutrina
da Constituição Dogmática Lumen Gen-
tium, mais especificamente nos seguintes
temas: a) a reforma da Igreja em saída
missionaria, b) as tentações dos agentes
pastorais, c) a Igreja vista como a totalidade do Povo de Deus que evangeliza, d)
a homilia e a sua preparação, e) a inclusão social dos pobres, f) a paz e o diálogo
social, g) as motivações espirituais para o
compromisso comunitário.
O primeiro capítulo desta exortação introduz-nos neste “sonho missionário de chegar a todos” (cf. EG31). O Papa pede uma
transformação missionária da Igreja; pede
uma Igreja que saia às periferias da existência humana: «Saiamos, saiamos para
oferecer a todos a vida de Jesus Cristo!
(...) Prefiro uma Igreja acidentada, ferida,
enlameada por ter saído pelas estradas,
a uma Igreja enferma pelo fechamento e
comodidade de se agarrar às próprias seguranças» (EG49). Para isso é preciso par-
tir do coração do Evangelho, do essencial
da mensagem cristã, ou seja, a beleza do
amor salvífico de Jesus. Lembra-nos ainda
que a Igreja é uma mãe de coração aberto, e por isso pede que as comunidades
cristãs estejam de portas abertas, prontas
para acolher: «a Igreja é uma casa paterna
e não uma alfândega» (EG47).
No Segundo capítulo o Papa descreve o
contexto em que temos de viver e atuar,
falando-nos da crise do compromisso comunitário em que este mundo está imerso. Apresenta-nos esta crise não apenas
como uma constatação, mas acima de
tudo como um desafio que somos chamados a enfrentar para o transformar.
O anuncio do Evangelho é o tema do terceiro capítulo. Nele o Papa começa por
nos dizer que o anuncio do Evangelho
não é tarefa de alguns especialistas, mas
é tarefa de todo o Povo de Deus; os ca-
Família /13
Pastoral Familiar no Facebook
Programa
Siga-nos em www.facebook.com/familia.patriarcadolisboa
Modalidade I: Pré-jornadas e Encontro com estadia
junto de famílias em Filadélfia
15 a 27 de Setembro
Modalidade II: Encontro
Mundial das Famílias
21 a 28 de Setembro
15 DE SETEMBRO
Voo Lisboa-Filadélfia na US Airways.
Chegada a Filadélfia e viagem de bus
para Nova Iorque. Acomodação
e jantar no hotel.
21 SETEMBRO
Voo Lisboa-Filadélfia na US Airways.
Chegada a Filadélfia e transfer para
os locais de alojamento.
Grand Central Terminal | New York Public
Library. Jantar no centro e visita noturna
a Times Square.
19 SETEMBRO | NOVA IORQUE |
WASHINGTON
Transfer para o centro de Manhattan
para dia livre| Bus para Washington
16 DE SETEMBRO | NOVA IORQUE |
Lower Manhattan
Passeio por: Wall Street e New York
Stock Exchange |Trinity Church. South
Street Seaport | Brooklin Bridge |
Chinatown | Little Italy | St Patrick Old
Cathedral.
20 SETEMBRO | WASHINGTON
Celebração com comunidade local.
Passeio pelo Lincoln Memorial | Casa
Branca e Us Capitol Biblioteca do
congresso | Basílica Nacional da
Imaculada Conceição.
17 SETEMBRO | NOVA IORQUE |
Down Town
Passeio por: Union Square | Grace Church
| East Village | Metro para Midtown |
Subida ao Empire State Building.
Preço
28 DE SETEMBRO | REGRESSO
Voo Filadélfia-Lisboa na US Airways
21 SETEMBRO | WASHINGTON
Passeio em Georgetown | Viagem de
bus para Filadélfia
18 SETEMBRO | NOVA IORQUE |
Midtown e Upper East side | Central
Park
Celebração em St Patrick Cathedral.
Passeio por: Central Park | Carnie Hall |
Inclui
21 A 28 SETEMBRO | Filadélfia
Participação no Encontro Mundial
das Famílias e presença na celebração
litúrgica com sua Santidade
Papa Francisco.
22 A 27 SETEMBRO | FILADÉLFIA
Participação no Encontro Mundial das
Famílias e presença na celebração litúrgica com sua Santidade Papa Francisco |
Regresso a Lisboa no final do dia 27
Encontros
de Preparação
1.270€ (Criança)
1.440€ (Adulto em quarto familiar)
800€
- Nova Iorque, Washington: estadia em hotel em regime de pequeno-almoço.
- Refeições indicadas no programa.
- Passeios e transfers mencionados, guias em Português, entrada no Empire State Building;
- Na chegada, transfer para o
centro da cidade
TEMA II
Anunciar o Evangelho
da Família hoje
Dia 20 de março, às 21h30,
na Igreja do Algueirão
Orienta: D. Nuno Brás,
Bispo Auxiliar do Patriarcado
Voos diretos Lisboa/Filadélfia; Filadélfia/Lisboa
- Pack de Registo
- Seguros de acidentes pessoais.
- Estadia em alojamento junto de famílias locais em Filadélfia.
rismas de todos e de cada um estão ao
serviço da comunhão evangelizadora. A
evangelização acontece pela simplicidade do testemunho de vida, por contágio; acontece pessoa a pessoa. Numa
segunda parte deste capítulo, o Papa
Francisco fala-nos da importância da
homilia e da pregação como momento
verdadeiramente evangelizador. Por fim,
apela a que a Igreja seja mais querigmática, pois o primeiro anúncio da fé
cristã deve ocupar o centro da atividade
evangelizadora da Igreja: «Jesus Cristo,
ama-te, deu a Sua vida para te salvar, e
agora vive contigo todos os dias para te
iluminar, fortalecer, libertar» (EG164).
O quarto Capítulo apresenta-nos a dimensão social da Evangelização, pois evangelizar é tornar o Reino de Deus presente
neste mundo. O Papa lembra-nos que o
querigma (primeiro anuncio da fé) possui
um conteúdo inevitavelmente social, pois
no coração do Evangelho aparece inevitavelmente a vida comunitária e o compromisso com os outros (cf. EG177)
O quinto capítulo desta exortação intitula-se “Evangelizadores com Espírito”. O
Papa diz-nos que Jesus quer evangelizadores que anunciem a Boa-Nova, não só
com palavra, mas sobretudo com uma vida
TEMA I
Orientar os noivos no
caminho de preparação para o
Matrimónio e acompanhamento
dos casais novos
Dia 13 de março, às 21h30,
na Igreja do Cacém
Orienta: D. José Traquina,
Bispo Auxiliar de Lisboa
transfigurada pela presença de Deus; isto
acontece no encontro pessoal com o amor
de Jesus Cristo que nos salva. A última parte deste capítulo apresenta-nos Nossa Senhora, como Mãe da Evangelização. Nossa
Senhora é a missionária por excelência que
vai ao encontro das periferias da existência
humana e apresenta-as ao seu Filho quando lhe diz: «não tem vinho».
Que Nossa Senhora nos ajude a dizer o
nosso “sim” para que a Igreja possa cada
vez mais fazer ressoar a Boa Nova de Jesus.
texto escrito por Pe. Rui Pedro
Trigo Carvalho
TEMA III
A família no Sínodo
Dia 21 de abril, às 21h30,
na Igreja de Rio de Mouro
Orienta: D. Manuel Clemente,
Cardeal-Patriarca de Lisboa
TEMA IV
A transmissão da vida, o desafio
da diminuição da natalidade
e da educação e o papel da
família na Evangelização
Dia 15 de maio, às 21h30, na
Igreja de São Miguel - Sintra
Orienta: D. Joaquim Mendes,
Bispo Auxiliar de Lisboa
Domingo, 8 de março de 2015
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14/ Domingo
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SUGESTÃO CULTURAL
À PROCURA DA PALAVRA
Jesuítas de Portugal:
1542-1759
DOMINGO III DA QUARESMA Ano B
“Destruí este templo e em três dias o levantarei.”
Jo 2, 21
O templo e o corpo
A senhora Maria era uma mulher fiel.
Em cada manhã, ao sair de casa, a primeira coisa que fazia era ir “falar com
Deus Nosso Senhor” na igreja da terra,
desde cedo aberta. Não adiantava dar-lhe os bons dias, ou pedir-lhe alguma
coisa naquele itinerário: ela não perdia
tempo para o ansiado encontro matinal. Contudo, um dia, deu com a porta
fechada! Pôs-se logo a pensar mal do
sacristão, do padre, ou de quem tinha
causado aquele enorme incómodo. Mas
o escândalo foi ainda maior quando viu
um papel afixado na porta onde se lia:
“Eu também estou aí fora!”. E a assinatura era bem legível: “Deus”!
É bom lembrar que o substantivo “igreja” designa, em primeiro lugar e na sua
etimologia, a “assembleia”, a “reunião
daqueles que foram chamados por
Cristo”. Foi aos poucos que passou a
designar o lugar desse encontro, vindo
a tornar-se esse o seu significado mais
comum. Os espaços que habitamos
revelam-nos. O filósofo Martin Heidegger dizia que “habitar é o traço essen-
pelo P. Vítor Gonçalves
cial do ser de acordo com o qual os mortais
são”, e Saint-Exupéry descobria que “os
homens habitam e que o sentido das coisas
varia para eles em função do sentido das
suas casas”. Por isso, para além das casas,
os lugares sagrados sempre foram expressão do encontro com o divino. Do
santuário “portátil” que acompanhava o
povo de Israel no deserto ao Templo de
Jerusalém, duas vezes edificado, fez-se
um enorme caminho. E o Templo, no
tempo de Jesus, era o coração de Israel.
Nele, Jesus foi consagrado ao Senhor;
ali se perdeu em debates teológicos
com os doutores da Lei; e também virou tudo do avesso ao ver o átrio dos
gentios transformado em mercado. Decididamente, o messias esperado não
iria atacar a religião que estava “tão bem
organizadinha” em esquemas de sacrifícios, mandamentos e preceitos, clarinha quem nem água para distinguir os
“verdadeiros” dos “falsos crentes”! Assustados com a alusão à destruição do
Templo (outra vez?) não entendem que
a ressurreição de Jesus nos dará o “novo
templo” do seu corpo.
E andaremos sempre a descobrir a maravilhosa ousadia de nos “encontrarmos”
no Corpo de Cristo, e de ser membros
deste “Corpo”. Para nos encontrarmos
com Deus não basta entrar numa igreja (embora possa ser um passo, e daí a
importância de serem reflexo da beleza
que é ser cristão!). É preciso entrar na
intimidade com Jesus, encantarmo-nos com o seu projecto, viver ao seu
jeito. Mais do que ser “pedra” de uma
construção, todos podem descobrir-se
“membros” de um corpo, com uma vida
interdependente, onde não há “átrios”
de discriminação, e as portas estão
abertas a todos, especialmente os mais
necessitados de vida e de amor. Sim, é
um habitar diferente, mais ao ar livre,
sem telhados nem paredes, onde o Espírito Santo nos convoca e estimula a
viver em plenitude. Numa comunhão
em que, se um membro sofre, todos
sofrem, e se um se alegra, todos se alegram. Há muito ainda a aprender para
viver assim, não é verdade?
A obra ‘Jesuítas de Portugal: 1542-1759’,
de Fausto Sanches Martins, relata a história da Companhia de Jesus em Portugal.
“O tema central do livro é o estudo da
Companhia de Jesus nas vertentes da arte,
culto e vida quotidiana, e traduz-se num
importante contributo para todos os que
se dedicam ao estudo desta companhia em
Portugal”, refere um comunicado.
Professor associado do departamento de
Ciências e Técnicas do Património, da
Faculdade de Letras da Universidade do
Porto, Fausto Sanches Martins publica
em livro o resultado de 20 anos de investigação histórica sobre a Companhia de Jesus, desde a fundação do primeiro colégio
de Coimbra em 1542, até à sua expulsão
do país em 1759. Este foi também o tema
da tese de doutoramento do docente da
Universidade do Porto.
DOMINGO IV DA QUARESMA – B (15 DE MARÇO)
DEPARTAMENTO
DE LITURGIA DO
PATRIARCADO
DE LISBOA
USO LITÚRGICO
CÂNTICO
COMPOSITOR
FONTE
Entrada
Alegre-se o coração
M. Simões
CEC II 134
Entrada
Iremos com alegria
M. Luís
SR 354
Apresentação dos Dons
Em Vós, Senhor, está a fonte da vida
Az. Oliveira
IC 371
Comunhão / A. Dons
Aproximai-vos do Senhor
F. Santos
CEC II 18
Comunhão
Deus amou de tal modo o mundo
M. Luís
CEC II 34
Pós Comunhão / A. Dons
Jesus Cristo amou-nos
M. Luís
CAC 203
Final
Jesus, nossa redenção
M. Luís
NCT 496
SIGLAS | CAC – Manuel Luís, Cânticos da Assembleia Cristã, Secretariado Nacional de Liturgia | CEC – Cânticos de Entrada e Comunhão, vol. I-II, Secretariado Nacional de Liturgia | IC – A Igreja Canta,
Comissão Bracarense de Música Sacra | NCT – Novo Cantemos Todos, Editorial Missões | SR – Manuel Luís, Salmos Responsoriais
Opinião /15
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O “Syriza”, o “Podemos”,
ou o Homem sem Humanidade
por Isilda Pegado
Presidente da Federação Portuguesa pela Vida
1 – Vivemos num mundo onde a “eterna
juventude” é Ídolo. Não se trata apenas do
cuidado corporal (que nada tem de mal),
mas acima de tudo é uma atitude de carácter individual e de organização social.
Tal atitude radica profundamente num
subjectivismo e livre-arbítrio que conferem ao indivíduo a ilusão de que tudo
depende de si. Não há limites à vontade
individual, ao seu querer.
2 – Ora, para se alcançar a maturidade é
necessário caminhar nas experiências da
vida, no significado do que acontece, num
juízo sobre o que faço e assim, descobrindo o sentido das coisas.
Se este caminhar na realidade for substituído pela adesão fácil às “modas” que vão
surgindo, na convicção de que tudo lhe é
permitido fazer, na infantilidade de que “o
homem quando nasce, nasce selvagem, é
de ninguém” (como diz a cantiga) então,
teremos homens e mulheres fracos a quem
falta a energia da consciência.
3 – O Poder gosta daquela forma de ser
dos homens. Não o afrontam. Usam a
contestação, a irreverência, a ousadia, mas
apenas num primeiro momento, depois
falta-lhes a energia. Vimos isto na Primavera de 68 em França ( Jean-Paul Sartre)
que pouco tempo durou. Mas, vemos também nos movimentos de contestação que
surgiram nos Países Árabes, que rapidamente se esfumaram.
4 – Aproveitando a incapacidade de juízo
e a debilidade da consciência dos indivíduos isolados, novas formas de pertença e
de populismo prometem aos ingénuos respostas novas para problemas antigos, “sistemas tão perfeitos que já ninguém precise
de ser bom”.
Neste novo messianismo político, Deus e
a religião são postos de parte, como obstáculos para a realização desse “admirável
mundo novo”, feito de relativismo, tolerância abstracta e pequenas liberdades que
pretendem iludir o coração do homem.
Mas não nos devemos deixar enganar.
Mesmo no debate sobre religião e liber-
Pastoral Social na Europa
pelo P. Duarte da Cunha,
Secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa
É Jesus, o Bom Pastor, que guia, alimenta,
cura e acompanha os Seus discípulos, mas é
através da Igreja que Ele Se faz presente e
nos conduz. Por ser uma acção da Igreja enquanto comunidade, a pastoral precisa de ser
organizada e bem pensada. Mas a força da
pastoral são as pessoas apaixonadas por Jesus
Cristo, movidas pelos mesmos sentimentos
que havia em Cristo: amor ao Pai e compaixão pela multidão, que tantas vezes aparece
como ovelhas sem pastor. É isso que faz a diferença. E é isso que precisa de ser sempre e
cada vez mais recordado.
Um campo muito específico da pastoral é a
chamada pastoral social. Por ela entendemos
todo o esforço de ir ao encontro dos mais necessitados da sociedade, e todo o empenho
em fazer da nossa sociedade uma autêntica
casa para todos, com leis justas, com uma cultura de acolhimento, com sensibilidade para
com os pobres, os doentes, os que estão sozinhos.
O que se tem feito é imenso. Basta pensar no
trabalho das Caritas, o empenho dos Centros
Sociais Paroquiais, as centenas de IPSS’s, o
empenho político de tanta gente generosa
que procura chamar a atenção para o bem
comum, os profissionais de saúde, os psicólogos, os assistentes sociais, e muitos outros que
movidos pela fé, em obras católicas, inspiradas no Evangelho ou mesmo não-confessionais, procuram levar o olhar e a ajuda de Deus
através do seu trabalho sério e competente.
Não tem sido um trabalho em vão! Todos o
reconhecem. A par de todo o empenho educativo nas escolas e sobretudo nas famílias, a
pastoral social é um enorme sinal do amor de
Deus que a Igreja se alegra de empreender.
A pastoral social é no mundo, e também na
Europa, um facto inegável sem o qual a crise
teria já deixado muita mais gente abandonada, com fome e desorientada.
Recentemente, o Conselho das Conferências
Episcopais da Europa (CCEE) reuniu em
Paris cinco redes de organizações da Igreja
presentes em todos ou quase todos os países
europeus e empenhados na Pastoral Social:
Caritas Europa; Comissão Católica Internacional para as Migrações (ICMC); Centro
Europeu para as Questões dos Trabalhadores
(EZA), a Comissão Justiça e Paz Europa e a
Comissão das Conferências Episcopais junto da Comunidade Europeia (COMECE).
Além de contar com a sintonia da União
dade/violência, tão actual na discussão
política na Europa, muitas ideias falsas
acabam por penetrar também entre os católicos de boa fé.
5 – Por isso assistimos à adesão massiva
a movimentos políticos como o Syriza
na Grécia e o Podemos em Espanha onde
tudo é prometido e negado em simultâneo. Onde, cada homem fica prisioneiro
destas promessas, porque a sua consciência é vulnerável e frágil e não tem energia
que a suporte.
Ora, essa energia que nos faz verdadeiramente adultos só virá do confronto com a
realidade que nos é dada. Eu não nasci do
nada (ao contrário do que diz a cantiga –
“é de ninguém”).
6 – Encontramos cada vez mais pessoas
pobres de valores, de razões de viver e do
valor da própria vida. Para estes é indiferente ser a favor ou contra a liberalização
do aborto. Para estes o casamento tanto
pode ser entre um homem e uma mulher
como ser entre duas pessoas do mesmo
sexo, ou uma relação entre 3 pessoas. Negam a realidade das coisas – por exemplo
– que no aborto há uma vida humana que
é destruída, que o casamento se destina à
complementaridade dos esposos e tem vocação para a procriação, etc., etc.
7 – Há uma história que me suporta, há
uma realidade que me é oferecida e que
desperta a minha pessoa, para algo maior
– Deus.
E esta relação com Deus faz-me participar
de um todo que vai muito além das minhas capacidade e onde a minha liberdade
tem efectivamente valor. A Liberdade não
radica nas convenções feitas pelos homens
que amanhã, se podem rasgar.
A Liberdade está ancorada na própria Natureza Humana, é o traço que distingue o
Homem de todos os seres.
Reconhecer o Homem nesta condição de
criatura, a quem é dada a realidade infinita
para que possa ser livre, é de facto tornar
grande a nossa Humanidade.
Internacional das Associações Patronais Católicas (UNIAPAC) e Movimento Europeu
de Trabalhadores cristãos (ECWM), embora
não tenham participado no encontro.
Por um lado, foi possível partilhar o que cada
um dos organismos que é membro destas redes faz e é imenso. Por outro lado, foi uma
ocasião para partilhar um olhar sobre a situação actual da Europa. Não apenas um olhar
sociológico, mas um olhar de fé, porque é
este que vê mais profundamente o que está
em jogo. Como foi dito no comunicado final
desse encontro, a sociedade europeia atravessa uma série de problemas sociais e todos eles
estão interligados entre si. A crise demográfica numa Europa que envelhece, o aumento
de pobres, o número elevado de desempregados, o aumento do número de migrantes
que chegam á Europa fugidos de guerras, ou
da instabilidade política ou simplesmente em
busca de trabalho para alimentar a família, a
fragilidade familiar, as guerras e os ataques à
vida, são tudo problemas que não podem ser
vistos isoladamente.
Depois deste encontro, ficou ainda mais claro
que é absolutamente necessário todos colaborarmos. Foi muito relevante o compromisso de continuarmos a encontrarmo-nos para
ter uma visão autêntica do que se passa e um
pensamento sobre a realidade social da Europa, e para se saber o que fazer de concreto.
Mas o mais importante foi o testemunho de
amor a Cristo e à Igreja que perpassou quer
nas pessoas quer no que contaram sobre as
suas obras. Aquela antiga separação entre
Pastoral Social e Evangelização já não faz
sentido e até é perigosa. Tal como perdeu
toda a actualidade opor os que cuidam da família ou defendem a vida dos que defendem
os trabalhadores porque todos tentam fazer a
vontade de Deus e lutam por uma sociedade
mais justa, fraterna e humana.
Não há católicos de esquerda ou de direita
quando se trata de levar Cristo aos outros e
de ajudar quem está em dificuldade. Há católicos sensíveis que sentem os apelos de Deus
e dos que sofrem, e há católicos adormecidos
que urge despertar!
Domingo, 8 de março de 2015
www.vozdaverdade.org
16/ Última Página
AGENDA SEMANAL [9 a 15 de março]
Segunda-feira, dia 9
10h00 – Reunião com o clero da Vigararia
de Lisboa III – D. Joaquim Mendes
21h15 – Entrega das Bíblias a uma comunidade do Caminho Neocatecumenal, em
Alcoentre – D. Nuno Brás
D. Joaquim Mendes e D. Nuno Brás
14h00 – Reunião com o clero da Vigararia
de Cascais – D. Joaquim Mendes
19h00 – Missa e encontro com os crismandos na paróquia de Algueirão –
D. Joaquim Mendes
Terça-feira, dia 10
10h00 – Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa, em Fátima
– Cardeal-Patriarca
10h00 – Reunião do clero da Vigararia de
Caldas-Peniche, em Caldas da Rainha –
D. José Traquina
16h00 – Encontro com o clero da Vigararia de Vila Franca de Xira - Azambuja, em
Castanheira do Ribatejo – D. Nuno Brás
20h00 – Conferência ‘A Vocação do Líder
Empresarial’, para a ACEGE (Associação
Cristã de Empresários e Gestores) de Leiria, na Quinta das Palmeiras, em Pousos,
Leira – Cardeal-Patriarca
Sexta-feira, dia 13
10h00 – Reunião do clero da Vigararia da
Lourinhã, em Alguber – D. José Traquina
21h30 – Conferência no Santuário do
Senhor Jesus do Carvalhal – preside Cardeal-Patriarca
21h30 – Reflexão sobre Pastoral da Família: acompanhamento de casais novos
na paróquia do Cacém – D. José Traquina
Quarta-feira, dia 11
10h00 – Reunião com o clero da Vigararia
de Sintra – D. Joaquim Mendes
10h15 – Encontro com o clero da Vigararia de Mafra, em Enxara do Bispo –
D. Nuno Brás
19h00 – Missa em São Nicolau – preside
Cardeal-Patriarca
21h00 – Catequese Quaresmal em Carcavelos – D. Nuno Brás
Quinta-feira, dia 12
10h00 – Reunião do clero da Vigararia de
Alcobaça - Nazaré, em Alcobaça – D. José
Traquina
12h00 – Missa de aniversário do falecimento do Cardeal D. José Policarpo, Patriarca Emérito de Lisboa, no Panteão dos
Patriarca, na igreja de São Vicente de Fora
– preside Cardeal-Patriarca, concelebra
Sábado, dia 14
16h00 – Encontro com a Missão País –
Cardeal-Patriarca
21h00 – Catequese Quaresmal em Castanheira do Ribatejo – D. Nuno Brás
21h30 – Vigília de Oração na igreja de
Santa Cruz (Silveira) com os jovens da Vigararia de Torres Vedras – D. José Traquina
Domingo, dia 15
10h00 – Missa em São Francisco de Assis
– preside Cardeal-Patriarca
10h30 – Missa em Oeiras com os Escuteiros do Núcleo da Barra do CNE (Dia do
Núcleo) – D. José Traquina
11h00 – Eucaristia em Sacavém – D. Nuno
Brás
12h00 – Missa em Santa Engrácia – preside Cardeal-Patriarca
15h30 – Missa na igreja de Santa Cruz (Silveira), a concluir a Jornada Penitencial da
Vigararia de Torres Vedras – D. José Traquina
16h00 – Crisma na paróquia de Algueirão
– D. Joaquim Mendes
18h00 – 4ª Catequese Quaresmal, na Sé
de Lisboa – D. Nuno Brás
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NA TUA PALAVRA
A herança mais preciosa
D. Nuno Brás
As comunidades cristãs de vários países do Médio Oriente de há muito que
não têm paz. Elas que, desde Jerusalém,
foram as primeiras a receber o cristianismo, parece não terem o direito de
professar publicamente de um modo
pacífico a fé que receberam há 2 mil
anos e na qual persistem em viver.
Nos últimos tempos essa perseguição
redobrou e atingiu níveis de uma ferocidade impensável. Basta recordar os
21 mártires decapitados pelo califado
Islâmico numa praia do Líbano e cujo
vídeo terrível foi publicado através da
internet no passado dia 15 de Fevereiro.
Vinham de várias aldeias e em comum
tinham uma coisa: eram cristãos. Na
boca de todos eles se percebiam orações
enquanto eram mortos. E um deles,
Milad Saber, um camponês proveniente de uma aldeia do Médio Egipto, conseguiu proclamar claramente o nome
de Jesus enquanto o matavam.
Não tenho dúvidas de que estes como
todos aqueles que desde o início do
cristianismo até aos nossos dias deram
a sua vida por serem cristãos são verdadeiros mártires da fé. Testemunhas de
que a vida está longe de se esgotar neste
mundo e de que Cristo, a verdade da fé,
está acima de qualquer perseguição.
Milad Saber e os seus companheiros fo-
ram mortos por serem cristãos. Como
nos primeiros tempos, também a eles
quiseram calar, impedir de proclamar
que Jesus Cristo é o Senhor. Não fizeram nada de mal. Não mataram a ninguém. É por tudo isso que o seu testemunho continuará a falar. A vontade
dos carrascos foi e será incapaz de calar
o nome do Salvador que pronunciaram
ao morrer. O seu testemunho permanecerá para sempre.
Diante de testemunhos como estes,
torna-se difícil não olhar para a nossa
vida de cristãos portugueses e de nos
questionarmos uns aos outros sobre o
que fizemos da fé que recebemos dos
Apóstolos e que tantos antes de nós viveram e nos transmitiram como a herança mais preciosa.
FICHA TÉCNICA
Registo n.º 100277 (DGCS) - Depósito legal: 137400/99; Propriedade: Nova Terra, Empresa Editorial, Lda; Capital Social: 100.000 euros; NIF: 500881626; Editor: Nova Terra, Empresa Editorial, Lda.; Tiragem: 11.000 exemplares;
Diretor: P. Nuno Rosário Fernandes ([email protected]); Site: www.vozdaverdade.org; Redação: Diogo Paiva Brandão ([email protected]), Filipe Teixeira ([email protected]); Colaboradores regulares: Aura Miguel,
D. Nuno Brás, Margarida Vaqueiro Lopes, P. Vítor Gonçalves; Opinião: António Bagão Félix, A. Pereira Caldas, Guilherme d’Oliveira Martins, Isilda Pegado, Nuno Cardoso Dias, Padre Alexandre Palma, Padre Duarte da Cunha, Padre Gonçalo Portocarrero de
Almada, Padre Manuel Barbosa, Pedro Vaz Patto; Colaboração: Departamento de Liturgia, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, FEC - Fundação Fé e Cooperação, Setor de Animação Vocacional, Setor da Pastoral Familiar, Serviço da Juventude, Comissão Justiça
e Paz dos Religiosos, Departamento da Pastoral da Mobilidade; Design Gráfico e Paginação: Moving Wide, Lda., [email protected]; Pré-impressão e impressão: Empresa do Diário do Minho, Lda. - Rua Cidade do Porto, Complexo Industrial Grundig
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