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ISSN 1659-2697
ANO 7 | 2011 | Nº 14
LEGISLAÇÃO
Lei das Geleiras, promulgada legislação
declarando as geleiras como patrimônio
público, proibindo sua destruição ou
remoção de grandes massas de gelo e
impondo severas sanções aos infratores.
TECNOLOGIA
ANO 7 | 2011 | N°14
Tecnologia verde de ponta e inovadora
garante, por meio do uso da mucilagem
do cacto (nopal), água pura em regiões
altamente contaminadas.
RELEXÕES COM AL GORE
SOBRE A ÁGUA
Desafio ético e moral
ISSN 1659-2697
ANO 7 | 2011 | N. 14
ANO 7 | 2011 | Nº 14
LEGISLAÇÃO
Lei das Geleiras, promulgada legislação
declarando as geleiras como patrimônio
público, proibindo sua destruição ou
remoção de grandes massas de gelo e
impondo severas sanções aos infratores.
Nossa sabedoria é a dos rios.
Não temos outra.
Persistir. Ir com os rios,
onda a onda.
Os peixes cruzarão nossos rostos vazios.
Intactos passaremos sob a correnteza
feita por nós e o nosso desespero.
Passaremos límpidos.
E nos moveremos,
rio dentro do rio,
corpo dentro do corpo,
como antigos veleiros.
TECNOLOGIA
ANO 7 | 2011 | N°14
Tecnologia verde de ponta e inovadora
garante, por meio do uso da mucilagem
do cacto (nopal), água pura em regiões
altamente contaminadas.
RELEXÕES COM AL GORE
SOBRE A ÁGUA
Desafio ético e moral
CONSELHO EDITORIAL
Beneditto Braga | Vice-presidente do Conselho
Mundial de Água (WWC). Professor Titular da Escola
Politécnica da USP (Brasil).
Maureen Ballestero | Presidente da Global Water Partnership
(GWP) Costa Rica. Membro do Comitê Diretivo da GWP
América Central.
Claudio Osorio | Consultor Internacional de Água
e Saneamento.
Eduardo Mestre | Diretor da Tribuna da Água,
Expo Zaragoza 2008.
DIRECTORA GENERAl
Yazmín Trejos | Gerente de Comunicación Corporativa,
Mexichem Brasil.
PRODUÇÃO EDITORIAL
Satori Editorial | www.satoreditorial.com
EDITOR CHEFE | Boris Ramirez
EDITORA DE ARTE | Carmen Abdo
DESIGN | Gerson Tung
REVISÃO | María del Mar Gómez
CAPA | Carmen Abdo e Gerson Tung
COLABORADORES
Christiana Figueres | Secretária Executiva da Convenção
das Nações Unidas sobre Mudança Climática.
Ángel Gurría | Secretário Geral da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Eng. Norma Alcantar | Professora Associada do Departamento
de Química e Engenharia Biomédica. Universidade do Sul da Flórida.
Dr. Andrei N. Tchernitchin | Profesor Titular da Faculdade de
Medicina, Universidade do Chile. Diretor Científico, Conselho
de Desenvolvimento Sustentável (Comissão Assessora
Presidencial DS 90/98).
Denis Schmidli | Gerente Sênior de Produto, Pictet-Water. Zurich.
Eng. Diego Paredes Calvo | Engenheiro Sanitarista do Grupo de
Pesquisas em Água e Saneamento. Universidade Tecnológica
de Pereira, Colombia.
Luís Carlos Vernozi Nejar
(Porto Alegre, 11 de janeiro de 1993),
é poeta, ficcionista, tradutor e crítico brasileiro,
membro da Academia Brasileira de Letras.
ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
Luis Alonso Ramirez
FALE CONOSCO
[email protected]
Uma publicação promovida pelo Grupo Mexichem
Foto: Igor Tomic
TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS
Elisa Homem de Mello e Candeias | EB VERSÃO BRASILEIRA
CONTEÚDO
06
06
24
24
32
36
44
MATÉRIA DE CAPA
REFLEXÕES COM AL GORE SOBRE A ÁGUA
O líder ambiental global e Prêmio Nobel da Paz 2007 afirma que mudança climática não é um
problema político, científico ou ambiental. Seus impactos são um problema ético e moral que
devemos resolver. Principais impactos na América Latina e projetos reconhecidos mundialmente
com selo latino-americano promovem a mitigação e a adaptação do problema na região.
AMBIENTE
FÓRMULA EFICAZ E VENCEDORA
O uso de zonas úmidas artificiais oferece importantes benefícios ambientais e ajuda na gestão
de águas residuais mediante processos naturais de remoção de poluentes que ocorrem na
vegetação, no solo e na população microbiológica associada.
ALTO PERFIL
ÁGUA COMO FATOR DE INTERCONEXÃO
Christiana Figueres, Secretária Executiva da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança
Climática, pede continuidade no lobby inteligente para exigir dos governos o espírito de
compromisso com a mitigação e a adaptação aos impactos do aquecimento global no setor
hídrico e de saneamento.
TECNOLOGIA
NOPAL: ALIADO NA PURIFICAÇÃO DA ÁGUA
OMS reconhece a necessidade de pesquisas sobre novas tecnologias de baixo custo físicoquímicas e físicas para eliminar o aspecto turvo da água. A mucilagem do cacto mexicano
produz uma substância pastosa que, por meio de tecnologia especializada, garante água pura
em regiões altamente contaminadas.
CULTURA
“RANGO”. A INDÚSTRIA DO CINEMA SAI EM DEFESA DA ÁGUA.
Estrelas de Hollywood vêem nos recursos hídricos um dos dilemas do nosso mundo atual: Johnny
Depp, Alfred Molina, George Lucas, Gore Verbinski e Paramount Pictures se unem para criar e
promover uma mensagem em defesa da água
PERSPECTIVA 05
ECONOMIA 18
BREVES DO MUNDO 21
CASOS 22
LEGISLAÇÃO 28
INFOGRÁFICO 30
OPINIÃO 31
SAÚDE 39
INTERNACIONAL 42
SITES DE INTERESSE 48
36
PERSPECTIVA
A
A qua Vitae marcou presença no I Fórum Empresarial de
Sustentabilidade e Meio Ambiente, realizado na Costa
Rica, onde Al Gore - líder ambiental global e Prêmio
Nobel da Paz 2007 -, adverte novamente para o fato de estarmos
diante de um desafio moral e ético de enormes dimensões para
as gerações atuais e futuras. Nesta edição, compartilhamos quatro
considerações importantes, que surgem a partir das mensagens
deixadas por Al Gore.
A pesquisadora mexicana e Engenheira Norma Alcantár nos revela, junto com sua equipe de trabalho, como a ideia de sua avó,
de que o cacto (Nopal ou Tabaibeira) servia para limpar água,
hoje se tornou um estudo interessante para remover arsênico e
turvidez da água, graças à mucilagem do Nopal.
Da mesma forma, em Pereira (Colômbia), com a supervisão do
Engenheiro Diego Paredes, foi desenvolvida uma interessante plataforma para a construção de zonas úmidas artificiais, que ajudam
na proteção de bacias hidrográficas, além de uma série de outros
serviços ambientais que favorecem o ciclo da água.
Os moradores de Comarapa, na Bolívia, aprenderam que além de
receber água potável e ter serviços de saneamento, é importante
unir-se para proteger os recursos hídricos em um contínuo esforço
para proteger zonas de matas, como reposta sistêmica ao manejo
de uma bacia.
A Terra, este ente querido e integrador, tem todas as possibilidades
de proteger e prover recursos vitais a todos os seres humanos, mas
somos nós que devemos nos somar a esta gesta de devolver com
trabalho, ação e devoção todo o que temos recebido, como uma
forma de selar um pacto de viver e equilíbrio.
Yazmín Trejos
Diretora - aqua Vitae
AquA VitAe 5
REFLEXÕES
COM AL GORE
a aQua Vitae esteVe presente durante a palestra do líder mundial sobre
mudança climática, realiZada na costa rica. durante a conFerÊncia, o prÊmio
nobel da paZ de 2007 reuniu líderes políticos, empresariais e sociais para reiterar
os compromissos Que permitam atenuar o aQuecimento Global e adaptar a
população para um noVo cenário. daí surGiram importantes reFlexÕes sobre
a áGua.
Foto: NASA
Por BORIS RAMÍREZ
6 AquA VitAe
“E
ste não é um problema político, científico
ou ambiental. Os impactos da mudança
climática são um problema ético e moral
que devemos resolver”. Sereno e direto, Al
Gore não poupa palavras para expor um tema com o qual
está totalmente comprometido.
Como principal convidado do Fórum Empresarial sobre Sustentabilidade e Meio Ambiente em San José, na Costa Rica,
Gore conseguiu reunir líderes políticos, empresariais e sociais para discutir e refletir sobre os enormes desafios que
a humanidade enfrenta nestes tempos, sob o slogan: “Mitigação e adaptação são caminhos que devemos fortalecer,
porque o aquecimento global não é uma teoria, é um fato”.
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos sustenta que o
aquecimento da Terra é irreversível devido às emissões
de gases de efeito estufa (GEE) e de determinadas ações
do homem, fatores que causaram durante este século
um aumento da temperatura do planeta estimado entre
1,8ºC e 4ºC. Como consequência, o gelo no Pólo Norte
vai acabar derretendo completamente e o nível da água
do mar pode subir até 59 cm, o que afetaria muitas po-
pulações, algumas das quais já sofrem visivelmente com
os impactos.
Esta opinião não é partilhada por muitos setores, que questionam os argumentos de Al Gore e do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, (IPCC, por suas siglas em
inglês), indicando que o aquecimento global não tem nada
de antropológico (criado pelo homem), é apenas um dos
picos da atividade solar.
“O homem e seu efeito estufa não são culpados de nada
que não seja parte de um processo natural da história, mas o
descuido de nossa amada Terra em si tem um impacto direto
no biossistema que habitamos e isso, não podemos negar, é
total culpa nossa. Mas entre não poder beber água potável
ou comer de maneira saudável e o aquecimento global existe
uma lacuna que ninguém se atreve a discutir seriamente”,
afirma o biofísico Nasif Nahle, membro da Academia de Ciências de Nova York e da Sociedade Americana para a Física.
Da conferência de Al Gore, centrada nos desafios da sociedade ante um cenário de aquecimento global, foi possível
extrair quatro importantes reflexões sobre a questão hídrica:
Foto: Garret Britton
AquA VitAe 7
1
A água é um recurso natural que está sendo impactado
pelos efeitos do aquecimento global.
As fontes de água estão em perigo devido aos impactos negativos do aquecimento global. “O primeiro grande desafio que
enfrentamos é: como garantir água e alimento aos 7 bilhões de
pessoas, registrados em 2010?”, questionou de maneira direta,
Al Gore.
Desde 2007, os habitantes da Terra mantêm uma produção de
29,9 milhões de toneladas de CO2 no mundo. Se não mudarmos
este comportamento, como indica Rajendra Pachauri – presidente
do IPCC – , “as conseqüências resultarão em escassez hídrica e
impacto nos ecossistemas”, o que, sem dúvida, continuará incidindo negativamente no ciclo da água.
Esta realidade se enquadra na situação mais geral do aquecimento global devido ao efeito do aumento das temperaturas
no ciclo da água, “um fato real, não uma teoria, que se baseia
em estudos realizados pelo IPCC sobre aquecimento, há vários
anos”, afirma o ex-vice-presidente.
As principais fontes hídricas estão sendo afetadas por este fenômeno, especialmente as calotas polares e as geleiras, cujas dimensões sofreram reduções significativas.
Por esta razão, Al Gore insiste que o aquecimento global deve
ser entendido como aumento da temperatura da Terra devido
ao excessivo uso de combustíveis fósseis (carvão natural, gás
natural, petróleo e seus derivados), além de outros processos
industriais que provocam um acúmulo de gases estufa na atmosfera.
“A redução de blocos de neve e de gelo é mais um indício do
aquecimento. Dados de satélites obtidos desde 1978 indicam que
a média anual da extensão das geleiras do Ártico diminuiu 2,7%
a cada década, com reduções ainda mais acentuadas no verão
(7,4% por década). Em média, as geleiras da montanha e os picos
de neve sofreram redução em ambos os hemisférios”, segundo
o VII Relatório sobre Mudança Climática do IPCC, apresentado
em 2007.
Este efeito provoca ondas de calor e tem um impacto direto
no ciclo natural da água. Elementos vitais como a água estão
ameaçados “pela falta de vontade política de países como Estados Unidos, China e Índia, de reduzirem sua emissão de GEE”,
argumenta Al Gore, acrescentando que anos de estudos com
base em dados históricos determinaram o aumento da temperatura global.
• AONUparaAgriculturaeAlimentação(FAO)advertiu, em 2009, que devido à redução da produtividade pela degradação dos solos 50 milhões de
pessoas na América Latina sofrem com a escassez
de alimentos;
Além disso – sustenta Al Gore – o fluxo de vários rios importantes
também diminuiu devido à evaporação provocada pelo calor.
Esta situação põe em risco o abastecimento hídrico, tanto para
consumo humano como para produção alimentícia. “Em 2035, as
extrações hídricas com o objetivo de garantir água para a produção de alimentos serão 27% maiores que a atual, por isso devemos proteger as fontes de abastecimento para a agricultura”, de
acordo com o Instituto Internacional de Pesquisas sobre Política
Alimentícia e o Instituto Internacional para o Manejo Hídrico.
Anomalias Globais de temperatura
• OFundoEcológicoMundialnaArgentinainforma
que o aumento na temperatura acarreta uma
redução de entre 2,5% e 5% na produção de
milho, trigo, arroz e soja;
• A produção de milho deve cair cerca de 15%
no Brasil e 5% na Argentina, 3º e 5º produtores
mundiais, respectivamente.
Foto: SXC
8 AquA VitAe
Fuente: Instituto Goddard de Estudios Espaciales de la NASA,
con base en información de 1000 estaciones en el mundo.
Ano
Ranking mundial de emissões de CO 2
Emissões totais em milhões de toneladas de CO2
coréia do sul
irã
itália
áFrica do sul
méxico
arábia saudita
França
austrália
brasil
espanha
ucrânia
polônia
857,6
10,4
reino unido
alemanha
japão
índia
6.017,7 5.902,8 1.704,4 1.293 1.245
4,6
14,8 12
1,2
9,8
canadá
Foto: SXC
rússia
eua
china
Emissões per capita (%) de CO2
614,3
18,8
585,7
9,7
514,5
10,5
443,6
7,3
468,2
8,1
443,6
10
435,6
4,1
424,1
15,7
417,8
6,6
417,1
20,6
377,2
2
372,6
9,2
328,7
7,1
301,4
7,9
AquA VitAe 9
AMÉRICA LATINA. PERDA ESTIMADA DE TERRENOS DEGRADADOS POR
EXPLORAÇÃO E DESERTIFICAÇÃO
Expectativa de
área degradada
até 2050 (Km2)
Expectativa de
área degradada
até 2100 (Km2)
BOLÍVIA
60.339
123.301
243.979
CHILE
77.230
157.818
312.278
EQUADOR
40.136
82.011
162.289
PARAGUAI
66.704
136.308
269.716
PERÚ
197.211
402.996
797.418
Fonte: Avaliação Mundial da Degradação e Aperfeiçoamento de Terra.
TEMPERATURAS MÁXIMAS EM VÁRIAS REGIÕES DA AMÉRICA LATINA
CIDADE / PAÍS
TEMPERATURA (ºC)
Puebla, México
Puerto Salgar, Colômbia
San Salvador, El Salvador
DATA
49
Junho/2011
42,3
Janeiro/2010
42
Maio/2011
Rio de Janeiro, Brasil
41,5
Caracas, Venezuela
40
Maio/2010
Libéria, Costa Rica
37,2
Maio/2011
Veraguas, Panamá
37
Maio/2011
Loreto, Peru
37
Janeiro/2010
Valparaíso, Chile
37
Janeiro/2010
Buenos Aires, Argentina
Guayaquil, Equador
Fonte: Registros meteorológicos dos países.
10 AquA VitAe
36,5
36
Fevereiro/2010
Novembro/2008
Fevereiro/2010
O relatório “A Economia das Mudanças Climáticas na América Latina e no
Caribe”, apresentado em 2010 pela Comissão Econômica para América Latina
e o Caribe (CEPAL), mostra os efeitos
do aquecimento global na região, com
particular impacto na água:
• Atemperaturadeveaumentarentre2ºC
e 4ºC por conta da mudança climática,
no próximo século;
• Há evidências de aumento no nível do
mar no Brasil, México e na Colômbia.
• Ospadrõesdeprecipitaçãooscilamcom
aumento entre 5% e 10% e reduções
entre 20 e 40%;
• Intensificaçãodaschuvasnocentrodo
México, nas regiões tropicais da América
Central e no sudeste da América do Sul;
• Ondas de calor na América Central e
América do Sul;
• ReduçãodechuvasnonordestedoBrasil
e norte do Chile;
• Derretimento de geleiras na Bolívia,
Colômbia, Argentina, Peru, Equador e
Chile. O relatório do PNUMA indica que
nestes dois últimos países a altura das
geleiras sofreu redução de 35 metros
entre 1960 e 2003.
Foto: NASA
Área degradada
atualmente (Km2)
País
queStÃO De iMPACtO
As inundações e as secas produzem severos impactos sociais e econômicos. Estes são alguns exemplos ocorridos na
América Latina entre 2010 e o 1º Semestre de 2011.
BRASIL: Em janeiro de 2010, o impacto de uma semana de
chuvas torrenciais nas regiões serranas do Rio de Janeiro
gerou um dos estados de emergência mais drásticos do país.
• Os principais efeitos se observaram no setor agrícola,
sendo as regiões mais afetadas as de Coquimbo e Valparaíso;
• Os níveis dos reservatórios baixaram, provocando uma
crise na energia elétrica.
EQUADOR: Fortes chuvas e inundações atingiram o país
em abril de 2010.
•676mortese350desaparecidos;
•29mortose34,5milpessoasafetadas;
•BairrossoterradosemNovaFriburgo,TeresópolisePetrópolis. Destruição de pontes, estradas e moradias. A região
ficou semanas sem água, nem eletricidade;
•Apenasnosprimeirosdias,US$350milhõesforaminvestidos para atender às pessoas afetadas;
•Oeventomudouageografiadaregião,causandodanos
irreparáveis, como a alteração de bacias hidrográficas, de
rios e córregos.
BOLÍVIA: Entre janeiro e abril de 2010, uma grave seca
afetou a região de El Chaco, em Santa Cruz.
• 2.203 casas destruídas nas regiões de Santa Elena, Los
Ríos, Manabí e El Oro;
•EnchentesnosriosNapo,Poro,TenaeMisahualli.
GUATEMALA: Desde 2009, o país vem enfrentando períodos de graves secas, que, na época, tinha resultado na
morte de 54 crianças. Em 2010, estes foram os impactos:
•Regiõesmaisafetadas:Zacapa,Jutiapa,ElProgreso,Chiquimula, Santa Rosa;
•Diminuiçãode38%noíndicepluviométrico;
• 7 municípios afetados. Perdas de 90% nas lavouras de
milho;
•75%detodasasmoradiasperderamasreservasdesuas
caixas d’água. As fontes de água superficial baixaram 60%;
•Adesnutriçãocrônicainfantilafetou25%dapopulação;
•Overão2009–2010foiomaissecoem20anos.
Foto: NASA
COLÔMBIA: De abril de 2010 até maio deste ano, o país
sofreu com uma intensa temporada de chuvas, cujos resultados até agora foram:
•400mortos,3milhõesdepessoasafetadas;
•1,3milhãohectaresinundados;70milcabeçasdegadomortas;
•1.030municípiosafetadosdeumtotalde1.120emtodo
o país;
• Investimento de US$ 34 milhões para atender 680 mil
pessoas e garantir o fornecimento de alimentos, água potável, serviços e equipe de saúde.
MÉXICO: Em setembro de 2010, dois furacões afetaram
Veracruz e Sonora.
•FuracãoKarl.DurantesuapassagemporVeracruzeestados localizados ao sul do México, o furacão deixou 18 mortos, 1 milhão de desabrigados, 140 mil casas destruídas,
enchente em 7 rios. Os manguezais na área levarão cerca
de 10 anos para se recuperarem;
• Furacão Georgette. Durante sua passagem por Sonora,
o furacão provocou 10 dias de chuva em 28 estados da
República Mexicana, danificando estradas, moradias e o
sistema de abastecimento de água.
NICARÁGUA: A passagem do furacão Matthew, em setembro passado, resultou em:
•MaisdeU$2bilhõesdestinadosàsreparaçõeseminfraestrutura: estradas, rede de esgoto, moradias.
•54mortose5mildesabrigados;
CHILE: Do final de 2010 até o início deste ano, o Chile
enfrentou o clima seco.
•8milcasasinundadaseestragosemLeón,Chinandega,
Matagalpa, Jinotega e Estelí;
•AsecaseestendeupelasregiõesdeAtacama,Coquimbo,
Valparaíso, Metropolitana e O’Higgins;
•AumentoperigosodaságuasdoLagodeManágua.
AquA VitAe 11
A água é um recurso estratégico vulnerável devido aos impactos de
eventos extremos associados ao aquecimento global.
‘‘
‘‘
2
40% da população mundial obtém seu
abastecimento de água pelos rios,
porém eles estão acabando
Uma segunda reflexão sobre a água, surgida na ocasião, trata de uma realidade inegável: nosso planeta enfrenta eventos
extremos, com incidência direta nas fontes de água. “A cada
dia que passa as secas e as tempestades são mais fortes”, afirmou Al Gore, explicando que estes eventos – associados ao
aquecimento global – nos obrigam a considerar três aspectos
fundamentais:
- Mortalidade dos seres humanos;
- Envolvimento de fontes hídricas e redução da quantidade e
qualidade da água;
- Destruição de infraestrutura: pontes, estradas, rede de esgotos, casas, escolas, hospitais;
“Neste último século vivemos os 10 anos mais quentes da existência humana. Os dados são preocupantes”, assinala Al Gore,
enfatizando que “o mesmo calor que favorece a evaporação
de água do oceano, desidrata os solos e promove a desertificação”.
Como efeito direto, os recursos hídricos enfrentam uma situação estressante de duas maneiras: por um lado, secas extremas
como as vividas no Paquistão e na Índia em 2010, devido a altíssimas temperaturas (os termômetros alcançaram os 53,2ºC);
por outro, inundações causadas por fortes tempestades e enchentes de rios que, durante 10 meses consecutivos, inundaram
900 dos 1.102 municípios da Colômbia, entre 2010 e 2011, fazendo com que 2 milhões de pessoas fossem afetadas e trazendo grandes prejuízos para o setor da construção civil.
“De onde vem este estresse hídrico? Em parte, da natureza.
Não há um dia sequer que chova de maneira regular. De fato,
12 AquA VitAe
há séculos, o ser humano se acostumou a ver a chuva cair de
forma irregular. Mais recentemente, com a chamada mudança
climática, a irregularidade das precipitações tem aumentado,
por isso alguns países enfrentam, atualmente, dificuldades cada
vez maiores com relação à quantidade de água disponível. Mas
a maioria do estresse hídrico não é devido a irregularidade das
chuvas, e sim ao crescimento das atividades e da evolução da forma de vida dos seres humanos”, afirma Gérard Payen, Presidente
da Federação Internacional de Empresas Hídricas Privadas.
A degradação das terras áridas, semiáridas e sub-úmidas secas
constituem um dos problemas ambientais atuais. Mais de 20 milhões de km² da superfície da América Latina e do Caribe são
consideradas áreas suscetíveis a se tornarem desertos.
O VII Relatório sobre Mudança Climática do IPCC, de 2007, afirma que, caso as tendências de elevação de temperatura se mantenham, “muito provavelmente, aumentará a frequência extrema
das ondas de calor e das precipitações intensas e, provavelmente,
também aumentará a intensidade dos ciclones tropicais e haverá menor credibilidade para que os ciclones ao redor do mundo
diminuam”.
O impacto direto em termos hídricos refere-se a dois fatores: menor disponibilidade de água e aumento das secas em latitudes
médias e latitudes baixas semiáridas, além de centenas de milhares de pessoas expostas a um maior estresse hídrico.
Ao confrontar o auditório com imagens chocantes dos efeitos
dos ciclos de secas e inundações no México, Brasil, Bolívia, América Central, Estados Unidos, Europa, Filipinas, Índia e China, Al
Gore afirmou: “40% da população mundial obtém água via água
dos rios, mas eles estão morrendo”. A lista de regiões afetadas
pelos eventos extremos é cada vez maior. (ver box)
POSSÍVEIS IMPACTOS DA MUDANÇA CLIMÁTICA POR ALTERAÇÃO DE FENÔMENOS ATMOSFÉRICOS E CLIMÁTICOS EXTREMOS
Projeções até a segunda metade do século XXI
EVENTO ATMOSFÉRICO
E CLIMÁTICO EXTREMO
PROBABILIDADE DE TENDÊNCIA
FUTURA COM BASE EM CENÁRIOS DO
IECE (Informe Especial sobre Cenários
de Emissões)
IMPACTOS DE GRANDE MAGNITUDE
NOS RECURSOS HÍDRICOS
Na maioria das áreas terrestres, dias
e noites mais quentes, frio menos
frequente
Quase certo
Aumento do degelo com efeitos
sobre alguns abastecimentos
hídricos.
Aumento da frequência de ondas
de calor
Muito provável
Aumento da demanda de água;
problemas com a qualidade da
água (Ex.: proliferação de algas).
Aumento da frequência de eventos
de precipitação intensa
Muito provável
Efeitos adversos sobre a
qualidade da água superficial e
subterrânea; contaminação dos
abastecimentos hídricos.
Secas intensificadas em todo
o mundo
Provável
Maiores extensões serão
afetadas pelo estresse hídrico.
Aumento na intensidade dos
ciclones tropicais
Provável
Cortes de energia elétrica
e possíveis alterações no
abastecimento hídrico público.
Maior incidência nos aumentos
extremos do nível do mar (não inclui
tsunamis)
Provável
Menor disponibilidade de água
doce devido à intrusão de água
salgada.
Fonte: Mudança Climática 2007. Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática.
AquA VitAe 13
3
A água é um recurso para o desenvolvimento humano e deve estar na agenda de mitigação e
adaptação no cenário do aquecimento global.
O principal apelo feito pelo Prêmio Nobel da Paz 2007 e ativista
ambiental Al Gore é levar a sério as ações de mitigação e adaptação, enfatizando que é preciso distinguir entre um conceito e
outro para se tomar as melhores decisões.
A ação de atenuar ou mitigar, em relação à mudança climática,
refere-se à aplicação de políticas destinadas a reduzir as emissões
dos gases do efeito estufa (GEE) e potencializar os sumidouros. Já
a adaptação está ligada às iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos, diante dos efeitos
reais ou esperados de uma mudança climática. Alguns exemplos
de adaptação são a construção de diques fluviais ou costeiros, a
substituição de plantas sensíveis ao choque térmico por outras
mais resistentes, etc.
É aí que Al Gore lança um grande desafio aos governos, empresas e cidadãos: “Vamos taxar a emissão de CO2”. Só assim poderemos gerar recursos econômicos suficientes para as ações de
mitigação e adaptação, que não podem ser apenas projetos no
papel, devem ser uma realidade diária dos países. Outras fontes
de recursos que estão sendo aplicadas em diferentes países são
instrumentos econômicos, tais como: pagamentos de serviços
ambientais, taxas por descarga de água, entre outros.
Segundo Al Gore, estes dois assuntos são básicos, e afirma: “hoje
devemos atender às populações que migram de regiões onde as
secas estão lhe causando forte impacto ou as inundações lhes
forçando a mover-se”.
“Nas disposições mais recentes, o principal interesse é direcionado à regulamentação e gestão integrada dos recursos hidrológicos, que responde às limitações e desarticulações dos enfoques
setoriais. As leis sobre os recursos hídricos se caracterizam por
utilizar a bacia hidrográfica como unidade de gestão, o que descentraliza funções e responsabilidades do Estado em relação aos
governos locais”. Esta é a abordagem promovida pelo Centro
Regional de Informação sobre Desastres (CRID), quanto a análise
do tema de medidas de adaptação do setor hídrico diante das
mudanças climáticas.
Ele insiste que o número de deslocados pelo aquecimento global
aumentará, sobretudo diante do aumento dos níveis do mar, o
que obrigará populações inteiras a evacuar as áreas afetadas para
não morrerem afogadas. Al Gore destaca que, atualmente, existem 400 milhões de refugiados por esta razão.
Não se pode esquecer que, como afirma Al Gore, é geralmente mais caro remediar que prevenir e reparar os danos frente
aos impactos do aquecimento globa depois de já ocorridos será
mais oneroso e difícil do que se preparar com antecipação para
enfrentá-los.
ENERGIAS RENOVÁVEIS
OUTRAS FONTES DE ENERGIA PARA REDUZIR A DEMANDA DE PRODUÇÃO HIDROELÉTRICA
14 AquA VitAe
ENERGIA GEOTÉRMICA
ENERGIA SOLAR
ENERGIA EÓLICA
ENERGIA DE BIOMASSA
FOTOVOLTAICA
TÉRMICA
BIOMASSA RESIDUAL
BIOCARBURANTES
CULTIVOS ENERGÉTICOS
ENERGIA HIDRÁULICA
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
Para os próximos anos, será essencial que o planejamento dos recursos hídricos se ajuste aos princípios de gestão e adaptação
que assegurem a integridade dos ecossistemas, e se volte para os cenários de vulnerabilidade frente à mudança climática. Será
preciso tomar medidas para:
- fechar a lacuna entre oferta-demanda, desenvolvendo programas de contigência para enfrentar a seca;
- reduzir as perdas no abastecimento de água potável;
- desenvolver uma cultura hídrica;
- manter e restabelecer as principais funções de zonas úmidas e bacias hidrográficas;
- introduzir políticas ambientais para fazer frente às inundações e secas.
Fonte: Centro Regional de Informação sobre Desastres (CRID)
ReFuGiADOS AMBieNtAiS
O termo refugiado ambiental, introduzido em 1985 pelo professor Essam El-Hinnawi, se refere a “uma pessoa que foi forçada a deixar seu habitat tradicional, temporal ou permanentemente, como consequência de um desequilíbrio ambiental
significativo, seja por perigos naturais e/ou provocados pela atividade humana, o que põe em risco a sua existência e/ou afeta
sua qualidade de vida”. Atualmente, leva-se em conta os prejuízos provocados pelos efeitos da mudança climática: aumento
do nível do mar, eventos hidrometeorológicos e desertificação.
Em maio de 2008, a passagem do ciclone Nargis por Mianmar resultou em 800 mil refugiados ambientais, que foram
obrigados a se instalarem em outras regiões. Não existem
mecanismos ou instrumentos para determinar este tipo de
deslocamento. Não obstante, caso a temperatura do planeta
continue aumentando, o Escritório do Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) prevê entre 200 e
250 milhões de refugiados ambientais até 2050.
Aqui estão alguns números de pessoas já registradas como
refugiados ambientais na América Latina:
• 2003. A enchente do rio Salado, na Província de Santa Fé (Argentina) deslocou milhares de pessoas. Embora não haja dados oficiais, calcula-se 100 mil pessoas afetadas diretamente.
De acordo com estudos, esta é uma consequência do mau
manejo das bacias hidrográficas, do desmatamento descontrolado e excessivo e da má construção de uma barragem
que fez o rio transbordar, juntamente com as fortes chuvas;
• 2005.ApassagemdofuracãoStanpelaGuatemalaprovocou chuvas, desmoronamentos e inundações, a destruição
de todo o povoado de Panabaj, na região do Lago Atitlán;
2.400 pessoas foram deslocadas para refúgios localizados
em outra zona de risco;
• 2007.OMinistériodoInteriordoMéxicoreportaasseguintes informações:
-28,6 milhões de mexicanos vivem em zonas de alto risco
ambiental;
-11 milhões, em zonas de alto risco;
-10 milhões de pessoas foram afetadas nas regiões fronteiriças do norte porque os aquíferos estão secando, o Rio
Colorado está secando e as chuvas estão diminuindo;
- 20 milhões de pessoas foram afetadas nas regiões do Golfo de México pelos furacões.
• 2009.Umtotalde30milpessoasabandonaramsuascasas
na Argentina, pelas seguintes razões:
- Deslizamentos de terra provocados pelo excessivo desmatamento foram os responsáveis pelo deslocamento de
1.000 pessoas em Tartagal, na província de Salta;
- Tornados na província de Misiones deixaram 100 mil famílias desabrigadas;
- Chuvas e inundações na Região Norte Grande Argentino e
Entre Rios provocaram 14 mil deslocamentos por enchentes
dos Rios Paraná e Uruguai.
AquA VitAe 15
4
A água é um recurso indispensável que deve ser
garantido como um direito real e concreto.
Al Gore afirma, sem dúvidas, que a água é um direito de todos
os seres humanos, um elemento vital e necessário para a existência do homem e um recurso para produzir alimento, energia
e desenvolvimento.
Para reiterar a afirmação, disse que tal direito é um tema de ética
e moral, um compromisso que não deve ser adiado e que “devemos agir rapidamente, já que as novas gerações nos pergun-
tarão do por que não fizemos nada”. Esta questão importante
– diz ele – deve nos levar a ter coragem para agir, “porque a mudança climática não é automática: você tem que estar convicto”.
Mas a convicção apenas não basta se não for acompanhada por
ações que demonstrem que todos aceitam a responsabilidade
de assumir o desafio.
iNiCiAtiVAS CONCRetAS: MeLHORiAS CeRtAS
Atenuar e adaptar são verbos que fazem parte da nova realidade e devem ser incorporadas na linguagem do desafio
hídrico, mas especialmente para projetos que alcancem significativo impacto ambiental na mitigação dos efeitos do aquecimento global. Estas são algumas histórias de sucesso com
selo latino-americano, reconhecidas mundialmente.
A estratégia desenvolve duas agendas: ànacional, que inclui
atenuação, adaptação e relação entre mudança climática e
competitividade do país; internacional, que busca ter influência e atrair recursos econômicos de distintos países. Mais informações: www.encc.go.cr
BRASIL. Fundo Amazônia: A riqueza da biodiversidade, a
captura de carbono e a abundância de água doce na Amazônia não tem comparação com nenhum outro ecossistema
do mundo. O governo brasileiro estabeleceu este fundo para
financiar ações de organizações governamentais ou não, destinadas a combater o desmatamento e promover a conservação e o uso sustentável da Amazônia como um reservatório
de água e vida. O Brasil estabelece políticas e cria incentivos
fiscais dentro de seu Plano Nacional de Mudança Climática,
que fixa como meta a redução de 80% do desmatamento da
Floresta até 2020, em comparação com os níveis registrados
entre1996e2005.Para2021,espera-seumaportedeUS$
21 bilhões vindos de pessoas, empresas e doações institucionais, incluindo os governos dos países vizinhos. Para isso, o
Brasil conta com o apoio da Noruega e tenta englobar todos
os países da bacia amazônica (Bolívia, Colômbia, Equador,
Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela). Mais
informações: www.fundoamazonia.gov.br
EQUADOR. Iniciativa Yasuní-ITT: Esta proposta evita explorar
combustíveis fósseis ao inibir ou proibir a extração de petróleo
em áreas de alta sensibilidade biológica e cultural. Esta iniciativa é realizada no Parque Nacional Yasuní, local de grande
biodiversidade, tombado pela UNESCO, em 1989, como Reserva Mundial da Biosfera. O estado equatoriano se compromete a deixar no solo, indefinidamente, em torno de 856 milhões de barris de petróleo, para evitar a emissão na atmosfera
de 407 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono
que seriam produzidos com a queima destes combustíveis
fósseis. A suspensão da extração ocorreu em troca de uma
compensação financeira da comunidade internacional por
uma fração do valor estimado em 50% dos lucros que seriam
gerados, caso ocorra a exploração deste recurso (aproximadamenteUS$350milhõesporanos).Osfundoscaptadosforam
reinvestidos na gestão de 19 áreas protegidas, num programa de reflorestamento na mudança da matriz energética. Isso
foi possível com o apoio da Alemanha e da Fundação AVINA.
Mais informações: www.yasuni-itt.gob.ec
COSTA RICA. Neutralidade de carbono: O país decidiu,
unilateralmente, se tornar um território neutro em carbono, em 2021. Para isto, planejou uma estratégia integrada
para adaptar as mudanças climáticas à sua economia e que
pode ser aplicada em países com características similares.
O processo começou por colocar a questão climática como
prioridade do Plano Nacional de Desenvolvimento da Costa
Rica. A estratégia estabelece um balanço zero ou negativo
do inventário nacional de emissões, por fontes de todas as
atividades realizadas pelo ser humano, dentro dos parâmetros do Painel Intergovernamental da Mudança Climática.
Desta forma, pretende-se exercer impacto zero no clima.
AquA VitAe
VitAe
16 AquA
16
MÉXICO. Sistema de captação de água pluvial. A Comissão
Nacional da Água (CONAGUA) do México deverá lançar licitaçõesdeUS$26milhões,paraconstruirumsistemadecaptação de águas pluviais do Rio dos Remédios na Cidade do
México. As obras compreenderão a construção de dois túneis
novos, que deverão se ligar com outros dois túneis de drenagem: Emissor Poniente e Emissor Oriente, atualmente em construção no estado do México. A água da chuva seria utilizada
em sistemas de irrigação e em outras atividades. A CONAGUA
pretende completar quatro projetos deste sistema no período
2008-2012. Mais informações: www.cna.gob.mx
ViSÕeS SeMeLHANteS
Existem vários outros líderes mundiais que fazem um apelo similar para enfrentar este desafio de dimensões éticas:
“Não poderemos sequer pensar em direito à água, se não existe água. Este é um dilema humano que devemos resolver”.
Maude Barlow, Prêmio Nobel Alternativo. Fundadora do Projeto Azul, Canadá.
“Os dados ocultos por detrás de tanto falatório revelam que 20% da humanidade comete 80% das agressões contra a
natureza, crimes estes que a humanidade inteira pagará pelas consequências da degradação da terra, pela intoxicação do
ar, o envenenamento hídrico, pela variações do clima e pela dilapidação dos recursos naturais não renováveis”. Eduardo
Galeano, escritor uruguaio.
“Estamos entrando numa fase altamente vulnerável da existência de nosso planeta e da existência da humanidade. Nenhuma redução (de gases do efeito estufa) evitará outro aumento de temperatura de menos de 0,7 ºC nas próximas duas
décadas”. Saleemul Huq, Instituto Internacional para o Ambiente e o Desenvolvimento, Bangladesh.
Foto: NASA
“Para evitar a tragédia, é urgente reduzir as emissões com estratégias de adaptação, mitigação, concessão de tecnologias
aos países mais vulneráveis e financiamento abundante para estimular tais medidas. A preocupação agora, não é garantir
a continuidade do status quo, mas sim equilibrar o sistema terrestre, a vida em geral e a vida humana em particular”, Leonardo Boff. Teólogo, filósofo, escritor brasileiro.
AquA VitAe
VitAe 17
17
AquA
Foto: Carmen Abdo
economia
Investir em água permite não
apenas contribuir com a melhoria
das condições de vida humana,
como também gerar excelentes
rentabilidades financeiras. Foi a
conclusão do fundo especializado
Pictet-Water.
18 AquA VitAe
ÁGUA:
FONTE DE VIDA
E DE RENDA
DENIS SCHMIDLI, Gerente de Produtos Sênior
Pictet-Water. Zurique.
A
Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou 22
de março como “Dia Mundial da Água” e estimou que
a população mundial crescerá 40%, atingindo os 9 bilhões até 2050. Por causa do aumento do poder aquisitivo, os habitantes dos países em desenvolvimento, como Brasil,
China e Índia, consomem cada vez mais itens que necessitam de
água para sua produção. Tomemos o exemplo da carne: a quantidade de água necessária para sua produção é dez vezes superior
à dos cereais. Finalmente, vários estudos indicam que a demanda
de água doce avança duas vezes mais rápido que o crescimento
da população mundial.
A água tornou-se um recurso estratégico no século XXI, como os
recursos energéticos. Portanto, os investimentos em infraestruturas para a produção e o tratamento hídrico terão de continuar
em escala mundial.
Para ilustrar a evolução do mercado hídrico no decorrer dos próximos anos, vejamos algumas cifras: na China, os investimentos
em projetos de conservação hídrica atingiram um nível recorde
de 142,7 bilhões de Yuans (o equivalente a quase US$ 21 bilhões)
em 2009, ou seja, mais que o dobro dos gastos registrados em
2008. E a tendência deve continuar durante os próximos anos,
caso Pequim intencione continuar cumprindo seus ambiciosos
objetivos econômicos e evitar desordens sóciopolíticas relacionadas aos problemas de insuficiência hídrica.
Nos países desenvolvidos, após diretrizes mais estritas, a União
Européia prevê um investimento total de aproximadamente €$
350 bilhões, entre 2006 e 2025 em novas infraestruturas. E nos
EUA, os investimentos nestes setores devem chegar a aproximadamente €$ 900 bilhões até 2019.
Mas os estados não poderão solucionar apenas o problema do
aumento da demanda de água. Num contexto em que muitos
‘‘
países buscam os meios de reduzir seu endividamento, as indústrias e as pessoas também deverão contar com o setor privado.
O tamanho deste mercado – denominado outsourcing – é importante, já que representa um volume de negócio anual estimado
em US$ 260 bilhões.
Estas considerações ilustram a magnitude dos desafios que surgirão no decorrer dos próximos anos. Será possível cumprí-los?
Em teoria sim: a água é um recurso renovável e seu ciclo funciona em circuito fechado. Da Terra e dos oceanos, em particular, as moléculas de água se dissipam na atmosfera antes de
voltar a se infiltrar na terra. Assim, a quantidade total de água
disponível permanece estável ao longo do tempo. No entanto,
as pessoas não podem usar diretamente mais de 0,25% do recurso, dado que o restante é formado por água do mar, geleiras
e águas residuais.
Por isso, a demanda mundial de água doce vai continuar a exceder a oferta nas próximas décadas, o que deverá implicar num
aumento contínuo dos preços. Atualmente, o tamanho do mercado hídrico mundial é de US$ 500 bilhões e seu crescimento
permanece estável em 6% ao ano. Muitas empresas de capital
aberto participam deste boom e oferecem grandes perspectivas
a seus investidores. Um setor particularmente promissor é o de
técnicas de dessalinização hídrica, que registra as maiores taxas
de crescimento. Estes procedimentos produzem água potável a
partir de água do mar a um custo razoável em regiões onde a
água potável é escassa.
A experiência tem demonstrado que uma rigorosa seleção de
empresas do setor hídrico – eleitas por suas vantagens competitivas, suas perspectivas de crescimento e suas avaliações – continuará oferecendo perspectivas de rendimentos muito superiores
no longo prazo que os índices de renda variável, como o MSCI
World. Consequentemente, investir em água pode não só contribuir para a melhoria das condições de vida humana, como também gerar excelentes rentabilidades financeiras.
(Foi solicitada permissão à Picter-Funds para a reprodução deste artigo)
Em geral, os criadores dos modelos tendem a calcular que estas
medidas teriam um custo atual de aproximadamente 1% e 3% do
Produto Mundial Bruto. Todas as projeções apontam que o custo de
não reagir com prontidão será muito maior do que o custo de
tomar as medidas para eliminar as emissões.
‘‘
AquA VitAe 19
RENTABILIDADE DO FUNDO
O fundo tem por objetivo o crescimento do capital, investindo
pelo menos dois terços de seu patrimônio total em ações de
empresas do mundo todo que operam no setor de água e do
ar. A divisão é focada em empresas envolvidas no abasteci-
mento de água, serviços de tratamento, tecnologia hídrica,
bem como serviços ambientais. O gráfico apresenta os valores
anuais de rentabilidade, indexados entre janeiro de 2007 e
julho de 2011.
Fonte: Pictet Funds, S.A. www.pictetfunds.com
CONHeÇA MeLHOR O MeRCADO HÍDRiCO
Um artigo publicado pela especialista Paula Mercado, da empresa VDOS Stochastics, em fevereiro de 2011, cita a
Pictet Water como sendo uma pioneira no investimento do setor hídrico:
• Pictet-Water é o fundo especializado de maior volume no setor hídrico, com ativos sob gestão de €$ 2,65 bilhões, segundo
dados de 7 de fevereiro de 2011;
• O Fundo é gerenciado por Hans Peter Portner e Philippe Rohner, dois especialistas e analistas que conseguiram ver um
nicho importante no setor hídrico e de saneamento;
• No mundo, existem 300 mil empresas ligadas à água, que faturam US$ 500 bilhões por ano. Do total destas empresas, 250
mil fornecem serviços de água e esgoto. Sua representação no mercado de ações é formada por 750 empresas, das quais
apenas 270 – das 40 mil estimadas no mundo – têm exposição significativa para as indústrias de água. Estas 270 empresas
representam uma capitalização total no mercado de capitais de aproximadamente €$ 360 bilhões;
• É preciso gerenciar o risco de execução, incluindo os fatores políticos, normativos e ambientais, para limitar o investimento
no setor hídrico às empresas capazes de criar valor;
• Nos próximos dez anos, o consumo de água irá aumentar com a população e a urbanização. A China já declarou que a
água é um recurso estratégico e planeja investir bilhões para assegurar suas ambiciosas metas econômicas;
• A indústria está se desenvolvendo rapidamente com empresas locais em mercados emergentes. Alguns exemplos bem
sucedidos:
- SABESP, localizada no Estado de São Paulo (Brasil), está entre as dez maiores participantes do fundo;
- Manila Water, das Filipinas, após conseguir resolver com sucesso problemas de infraestrutura em seu país, conseguiu
expandir-se na Índia;
- Singapura tem investido em seu programa de tratamento de águas para reduzir sua dependência da Malásia.
20 AquA VitAe
BReVeS DO MuNDO
NANOFiLtRO PARA PuRiFiCAR
Um filtro formado por um pedaço de tecido de algodão, impregnado
com nanotubos de carbono e nanofios de prata, pode se tornar uma
tecnologia valiosa no combate às doenças transmitidas pela água devido
a sua simplicidade, ao baixo custo e sua eficiência.
O novo filtro pode evitar o bloqueio dos sistemas de filtração hídrica
industrial quando do acúmulo de bactérias em seu interior. No lugar de
reter as bactérias, como fazem a maioria dos filtros, a “nanomembrana”
desenvolvida pelos cientistas da Universidade de Stanford as mata. Como
as bactérias são destruídas, ao invés de recolhidas, os poros da tela que
é feito o novo filtro podem ser maiores, garantindo que a água escorra
mais rápido e impeça que o filtro entupa e precise ser substituído.
Em testes de laboratório, a aplicação de uma corrente de 20 volts
dentro do filtro eliminou 98% das bactérias E. coli (micróbio que vive
no intestino dos seres humanos e em águas paradas), responsáveis pela
causa de infecções graves. “Nosso dispositivo atua com 20% menos
energia e pode filtrar 80 mil vezes mais rápido que os filtros convencionais. Também pode custar menos”, afirmou Yi Cui, pesquisador líder do
projeto da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Fonte: Revista NanoLetters, publicação da Associação Química dos Estados Unidos.
Dessalinizar: Solução para a China
Água suja para aquecer as cidades
Cientistas chineses trabalham no desenvolvimento de novas
tecnologias de dessalinização que aliviem, nos próximos anos,
a grave escassez de água sofrida por todo o país. Em breve, a
falta de água em Pequim será de 200 a 300 milhões de metros
cúbicos, segundo relatos da imprensa estatal, enquanto a cidade
aguarda a conclusão do Projeto de Transferência de Água do Sul
para o Norte, que deslocou cerca de 330 mil pessoas. Enquanto
isso, mais ao sul, países asiáticos como Birmânia, Laos, Camboja
e Vietnã afirmam que a política agressiva da China de construir
barragens no rio Mekong priva seus cidadãos de água.
Para alguns, a resposta está na tecnologia de dessalinização.
A China tem realizado pesquisas nesta área desde 1958 e, em
1975, começou a testar seus primeiros artefatos. Em 1986, concluiu a fabricação de um dispositivo para a dessalinização da água
do mar por osmose reversa.
Tianjin, cidade costeira a cerca de 150 km de Pequim, representa a vanguarda nacional nessa tecnologia. Segundo o governo
local, o Projeto de Dessalinização de Água Marinha de Dagang
Xinquan é a “maior central da Ásia”. Wang Shichang, diretor do
Centro de Tecnologias de Dessalinização da Universidade de Tianjin, disse que os cientistas chineses trabalham em mais de 200
projetos e recebem apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia,
bem como da Fundação Nacional da Ciência da China.
A capacidade de dessalinização chinesa atingiu quase 200 mil
toneladas diárias em 2008, contra 30 mil em 2005. De acordo
com o atual plano de desenvolvimento do governo, o montante
pode chegar a variar entre 800 mil e 1 milhão de toneladas no
final de 2011.
A França tem investido na utilização de suas águas residuais para
o aquecimento público, de moradias e de piscinas municipais. Trata-se do mais recente empreendimento de várias cidades francesas. É
o princípio da energia geotérmica sendo aplicada a uma vasta rede
de águas residuais canalizadas no subsolo que, graças à tecnologia,
serve para aquecer os prédios públicos. A Prefeitura de Valenciennes – cidade onde nasceu o Ministro do Meio Ambiente Jean Louis
Borloo – inaugurou, em novembro de 2010, o novo sistema de calefação de um edifício do século XVIII, que conta com 8,5 mil metros
quadrados. A água procedente dos chuveiros, dos eletrodomésticos
ou do esgoto da cidade deverá servir para o aquecimento do local.
O sistema é simples, foi patenteado na Suíça e já importado pela
Alemanha. A companhia Lyonnaise des Eaux, filial da gigante Suez
Environnement, é responsável pelo desenvolvimento do projeto.
A energia térmica das águas residuais varia entre 11°C e 20°C,
de acordo com a época do ano e chega a uma série de transportadores de calor instalados nas redes de recuperação dos esgotos, de
onde uma bomba térmica alimenta um circuito de calefação. Esta
pequena revolução técnica pode aportar uma economia à Prefeitura de aproximadamente US$ 100 mil por ano, caso todo o edifício possa ser aquecido. Quando a temperatura fica abaixo de zero,
como no último inverno de 2011, o sistema cobre 77% do consumo
energético, trazendo uma economia de US$ 60 mil para os contribuintes. Este mesmo sistema é utilizado na piscina pública da cidade
de Levallois-Perret, ao norte de Paris. Em setembro passado, a piscina municipal se tornou a primeira a empregar águas residuais para
aquecer em até 29ºC a água utilizada pelos moradores da cidade.
Fonte: InterPress Services (IPS).
Fonte: Ministério do Meio Ambiente, França.
AquA VitAe 21
casos
Compromisso Com
a proTEÇÃo
O povo de Comarapa, na Bolívia, aprendeu que
além de receber água potável e contar com
serviços de saneamento é importante estar
unido para proteger os recursos hídricos.
Por BORIS RAMÍREZ
22 AquA VitAe
CaraCterístiCas da Comunidade
Comarapa é uma cidade localizada na província de Caballero,
a 243 km da capital do departamento de santa Cruz, na Bolívia. sua população é de 14.584 habitantes, numa área de
15.034 hectares e altitude variando entre 1.630 e 3.122 metros;
63% do município de Comarapa faz parte do Parque nacional
amboró;onde 33% do território é área protegida.
situação iniCial
devido às precárias condições de acesso à água potável, bem
como problemas no uso hídrico para a agricultura, um grupo de
pessoas levantou a necessidade de resolver a situação que ameaçava sua qualidade de vida.
• a maioria da população pegava água às margens dos rios. elas
a usavam para consumo doméstico, produção agrícola e irrigação. Por causa do mau uso do recurso, algumas fontes foram
contaminadas;
• Falta de sistemas de esgoto para garantir a qualidade da água.
• 80% da agricultura de irrigação: 6 mil hectares sem boas práticas em uma zona de proteção aquífera;
• 20% da economia baseada na atividade pecuária e artesanal,
com precário manejo hídrico.
Como a situação Foi resolVida?
os moradores formaram a Cooperativa de serviços Públicos Caballero ltda. em outubro de 1966. seus 43
membros propuseram um equilíbrio entre o consumo
de água e a água utilizada para irrigação na zona de
proteção natural através do compromisso de cooperação para gerar responsabilidades comunitárias e da
distribuição dos lucros gerados pelo serviço de acesso
à água e esgoto.
em 2008, a Cooperativa criou o Fundo ambiental, graças a um convênio entre a Fundação natura Bolívia e o
Governo municipal de Comarapa. em seguida, uniram-se à associação de irrigadores de saipina, a fim de
conservar a bacia do rio Comapara e assegurar a provisão de água para consumo humano e para a produção,
em longo prazo.
resultados
os dados apresentados no i encontro de Gestores Comunitários da Água, realizado em agosto 2010, apresentaram os seguintes resultados:
•
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•
a Cooperativa passou de 43 membros em 1966,
para 1.462 em 2010;
98% têm acesso à água e 68% dispõem de sistema de esgoto;
todos os usuários têm medidores de consumo
para uma melhor administração de seus recursos.
a Cooperativa fez uma classificação do consumo
hídrico para incentivar o uso racional;
76% dos usuários consomem, atualmente, menos
de 15 metros cúbicos por mês e pagam us$ 0,15
por metro cúbico consumido;
se o consumo mensal oscila entre 16 e 30 metros
cúbicos, há uma cobrança de us$ 0,20 por metro
cúbico excedido, e assim por diante, aumentando
a carga para o consumo;
1.462 famílias são atendidas pelo serviço de coleta
de lixo e tratamento de águas residuais.
a Cooperativa é retransmissora de dois canais de
televisão na região;
Graças ao Fundo ambiental, 1.013 hectares de
nascentes do rio Comarapa são conservados, área
esta que foi adquirida por us$ 34 mil;
os cooperativistas atuam na gestão para fortalecer uma Área municipal Protegida por um período
de 10 anos, junto à Fundação natura Bolívia e graças ao aporte da associação dos irrigadores, que
pagam us$ 1,50 por hectare ao ano.
JuNtOS FAZeMOS A DiFeReNÇA
a aqua Vitae foi até a Bolívia para conversar com Fanor Cabello,
um dos membros da Cooperativa de serviços Públicos Caballero
ltda. esta organização decidiu melhorar a qualidade de vida de
seus habitantes, a partir do uso da água.
Como foi o processo que levou a entender que a proteção
da bacia hidrográfica era importante para garantir o uso e
o consumo de água?
após vários anos de trabalho em prol da água e do meio ambiente, e graças à nossa localização numa Área Protegida, acreditamos que tal decisão deva preservar a bacia do rio, porque é aí
que vamos garantir água. recebemos ajuda da Fundação natura
Bolívia e do município.
O fato de ser uma cooperativa dá mais garantia ao compromisso?
Como somos uma cooperativa de serviços, é importante dar garantia de serviço aos nossos membros. Fomos criados para resolver o problema de acesso à água, mas com o tempo, e com base
em nossos objetivos, juntos temos aprendido que, por meio da
água, podemos construir progresso e qualidade de vida.
Quais as principais lições para garantir acesso à água e
melhorar os serviços de saneamento?
a coisa mais importante que aprendemos ao longo dos anos
é que a água é sinônimo de saúde e também uma maneira de
trazer o progresso.
Quais seus planos para o futuro?
ter mais parceiros para nossos serviços. além de continuar a
sensibilizar sobre o uso da água e proteção dos recursos hídricos.
AquA VitAe 23
Fotos: Grupo de Pesquisa em Água e Saneamento
AMBIENTE
FÓRMULA EFICAZ E VENCEDORA
O USO DE ZONAS ÚMIDAS ARTIFICIAIS OFERECE BENEFÍCIOS AMBIENTAIS
SIGNIFICATIVOS E AJUDA NA GESTÃO DE ÁGUAS RESIDUAIS, MEDIANTE A
PROCESSOS NATURAIS DE REMOÇÃO DE POLUENTES QUE OCORREM NA
VEGETAÇÃO, NO SOLO E NA POPULAÇÃO MICROBIOLÓGICA ASSOCIADA.
24 AquA VitAe
Por DIEGO PAREDES CALVO
Engenheiro Sanitário do Grupo de Pesquisa em Água e Saneamento
Universidade Tecnológica de Pereira, Colômbia
[email protected]
S
egundo as estatísticas citadas pela Organização Panamericana da Saúde, a situação é crítica para o saneamento
básico na América Latina (AL): 23% da população não
tem acesso aos serviços adequados de saneamento,
49% carecem de sistemas de esgoto e apenas 15% das águas residuais coletadas são transportadas para estações de tratamento,
a maioria das quais não funcionam satisfatoriamente.
Na Colômbia, a situação não tem diferenças significativas do resto
da AL: o país trata apenas 9% de suas águas residuais, apesar de
contar com uma capacidade instalada para tratar até 32%; há necessidade de construir mais 900 sistemas. Muitos fatores podem
ser identificados como causadores desta situação, no entanto, os
elementos mais importantes podem ser resumidos da seguinte
forma: as tecnologias selecionadas não consideram as características, nem condições econômicas dos municípios, há uma séria
falta de treinamento e, consequentemente, há escassez de recursos econômicos.
Nos países desenvolvidos, as Zonas Úmidas Construídas foram projetadas para imitar os sistemas de zonas úmidas naturais, a fim de
tratar vários tipos de água residual. Em contraste, a média de aprovação de seu uso em países em desenvolvimento tem sido baixa,
embora cerca da metade das zonas úmidas naturais do mundo estejam nos trópicos. Além disso, a maioria dos países em desenvolvimento tem condições climáticas favoráveis para a alta atividade
bacteriana e a produtividade biológica, o que melhoraria o desempenho dos sistemas e aproveitaria a riqueza biótica nestas regiões.
RESPOSTA AMBIENTAL VANTAJOSA
O tratamento das águas residuais com plantas aquáticas tem sido
utilizado pelo ser humano há séculos, mais pela necessidade de
remover e descartar os resíduos líquidos que pelo tratamento em
si. As zonas úmidas naturais serviram para este propósito quando
estavam próximas dos assentamentos, mas lamentavelmente
descargas descontroladas de águas residuais em zonas úmidas
naturais levou, em muitos casos, a mudanças irreversíveis destes
ecossistemas.
As Zonas Úmidas Construídas podem ser formadas com um maior
grau de controle, permitindo assim combinar o efeito de diferentes
tipos de plantas, solos e padrões hidráulicos sobre os mecanismos
de remoção e transformação de poluentes. Além disso, apresenta
outras vantagens em comparação com o uso de zonas úmidas
naturais, como a seleção do local, flexibilidade no design e, talvez
o elemento mais importante, o controle sobre o regime hidráulico
e os tempos de retenção.
Como de costume, quando se fala de sistemas de tratamento, há
sempre discussões sobre o tipo de zona úmida mais conveniente
ou mais eficaz. A resposta a esta pergunta depende das características do esgoto a ser tratado e das condições locais.
AquA VitAe 25
COMPONENTES DO SISTEMA
As Zonas Úmidas Construídas são sistemas concebidos e produzidos por seres humanos como sendo mecanismos de remoção de
contaminantes, baseados nos processos naturais que ocorrem em
populações microbiológicas do solo, vegetação e associados, mas
em um ambiente mais controlado. Alguns deles têm um propósito,
como o tratamento de águas residuais, enquanto outros podem ser
concebidos para fins múltiplos, como a criação e restauração de
habitats para a vida silvestre.
Uma Zona Úmida Construída é formada por plantas, material filtrante e água. Um elemento importante é que ela requer um pré-tratamento básico que remove as partículas sólidas suspensas,
presentes nos resíduos.
Anteriormente, pensava-se que as plantas eram as responsáveis
pelos diferentes processos que ocorriam no sistema. Hoje, sabemos
que existe uma forte interação entre plantas, microorganismos, solo
e água, e a maior responsabilidade recai sobre os microorganismos.
requerem menos área. No entanto, os processos de remoção
são mais eficientes em sistemas baseados em meios filtrantes
de menor diâmetro, embora estes sejam mais suscetíveis ao
entupimento. É preferível usar um filtro de cascalho médio ou
de cantos arredondados com diâmetros entre 0,5 e 2,5 cm.
Não se devem usar misturas de solos nem areias finas, pois os
mesmos entopem em poucos meses.
Muitos dos processos ou mecanismos de remoção dependem do
solo e, especialmente, da capacidade de absorção do meio. As
plantas ajudam a aumentar ou manter esta capacidade de absorção, não obstante, é possível que depois de um tempo a eficácia
do aparelho diminua, devido a capacidade de geração de novas
áreas de absorção serem menores que a fixação dos poluentes.
Os sistemas de tratamento de zonas úmidas baseados na capacidade de absorção do solo necessitarão de mudança periódica
do material filtrante, aspecto que não tende a ser mencionado
ao se promover a tecnologia.
As plantas têm um papel importante no sistema, pois permitem a
liberação de oxigênio e nutrientes na rizosfera (zona de interação
entre as raízes das plantas e os microorganismos do solo), elementos indispensáveis para o crescimento microbiológico.
Algumas plantas podem, gradualmente, acumular certos elementos
tóxicos, como metais pesados. O maior armazenamento se dá como
um mecanismo de defesa na zona radicular; um menor acúmulo se
dá no tronco; e valores mais baixos estão nas folhas. Isto depende
de vários fatores, entre eles a forma ou o estado em que o poluente
se encontra. Nem todas as plantas podem acumular elementos tóxicos sem serem afetadas por eles.
Até o momento, não foi possível comprovar que as plantas liberam
antibióticos nos suores de suas raízes ou que estes sejam responsáveis pela remoção de organismos patogênicos.
Na hora de escolher as plantas, é preciso trabalhar o máximo possível com espécies nativas da região onde o sistema será construído
para evitar qualquer impacto negativo sobre os ecossistemas naturais e proporcionar uma influência positiva na medida em que se dá
um valor agregado à biomassa produzida.
É importante também, para futuros trabalhos, avaliar espécies nativas com alta taxa de evaporação por suor, o que pode otimizar os
processos e gerar 100% de remoções em cargas contaminantes.
Neste sentido, a experiência em países escandinavos pode ser um
bom referencial.
VANTAGENS DE USAR UM MEIO FILTRANTE
O meio filtrante não apenas serve como suporte das plantas. Ele
funciona também como suporte de microorganismos e como
parte dos processos de remoção de poluentes. O meio filtrante
define o tamanho do sistema: os meios filtrantes com pequenos
diâmetros de partículas requerem áreas maiores devido sua baixa
capacidade de filtração (condutividade hidráulica). Meios filtrantes que permitem a passagem de partículas de maior diâmetro
26 AquA VitAe
MAiS BeNeFÍCiOS
O uso de zonas úmidas construídas reúne mais benefícios. Vale a pena conhecê-los.
REMOÇÃO DE POLUENTES
• Com tempos de retenção de 1 ou 2 dias em sitemas de fluxo vertical ou horizontal são retiradas
entre 1 e 2 unidades de patogênicos;
• A contaminação de um sistema vertical com um
horizontal permite a remoção de 4 a 5 unidades de
patogênicos.
GERAÇÃO DE LODOS
• Há produção de lodos e, com o passar do tempo, eles se acumulam no sitema. Estas biopelículas
geralmente, são bastante porosas e têm alta capacidade de absorção com um conteúdo de até 95%
de água.
CUSTOS
• Os custos de investimento inicial são acrecidos ou
ligeiramente maiores que os sistemas tradicionais.
A diferença está nos custos de operação e manutenção. Os avanços de um novo modelo de custos
nos indicam que, em termos de investimento inicial,
é mais favorável (mais econômico) do que os sistemas convencionais de lodo ativado, para populações de 10 mill pessoas.
tiPOS De ZONAS ÚMiDAS
Este diagrama explora algumas possibilidades para a construção de zonas úmidas:
A. Zona Úmida superficial de fluxo horizontal com plantas flutuantes.
B. Zona Úmida superficial de fluxo horizontal com plantas submersas.
C. Zona Úmida superficial de fluxo horizontal com plantas emergentes.
D. Zona Úmida sub-superficial de fluxo
horizontal.
E. Zona Úmida sub-superficial de fluxo
vertical.
• As zonas úmidas superficiais de fluxo
horizontal podem ter plantas aquáticas
emergentes, submersas ou flutuantes.
Neste tipo de sistema, a água residual a
ser tratada é exposta ao ar e a direção
do fluxo é horizontal.
• Nas zonas úmidas sub-superficiais de
fluxo vertical a alimentação da água residual é feita pela parte superior do sistema e a coleta de água residual tratada
é feita pela parte inferior. A área necessária neste caso é menor, mas o projeto
operacional é um pouco mais complexo.
• Sistemas combinados ou híbridos, baseados no uso de dois ou mais sistemas
dentre os descritos anteriormente.
AquA VitAe 27
Foto: Ariel da Silva Parreira/SXC.HU
legislação
LEI FRIA, MAS DE PONTA
Argentina coloca a questão da proteção das geleiras em primeiro plano e
promulga legislação declarando-as como patrimônio público, proibindo sua
destruição ou remoção e impondo severas sanções aos infratores.
Por BORIS RAMÍREZ
28 AquA VitAe
Foto: Ariel da Silva Parreira/SXC.HU
M
ais uma vez, um país da América Latina coloca a
questão da proteção dos recursos hídricos no centro das atenções. Desta vez foi a Argentina, que em
setembro de 2010 aprovou uma lei pioneira para
a proteção dos enormes recursos líquidos existentes nas zonas
glaciais e em seu entorno.
Trata-se da Lei 26.639: “Regime de Orçamento Mínimo para a
Preservação das Geleiras e do Ambiente Periglacial”, conhecida
popularmente como Lei das Geleiras. A legislação foi promulgada
em 30 de setembro de 2010 pelas autoridades do Senado e da
Câmara dos Deputados da Argentina.
A discussão dessa lei se tornou uma questão nacional, levando
grupos sociais a entrarem em acordo sobre o dever de preservar
as geleiras como sendo reservas estratégicas dos recursos hídricos
para o consumo humano, para a agricultura e como provedores
de água para recarregar as bacias hidrográficas. Também forçou
estes grupos a criarem um inventário nacional destes bens – agora
declarado público – e discutir os limites que devem ser estabelecidos, sobretudo pelos impactos da expansão das atividades de
mineração, desenvolvidas nas regiões consideradas de alta vulnerabilidade.
PARA ENTENDER A LEI
Publicada em 30 de setembro de 2010, no Diário Oficial La Gaceta, estes são alguns de seus conteúdos:
OBJETO: Proteger as geleiras e o ambiente periglacial como bens
de caráter público e reservas estratégicas para o consumo humano e a agricultura, bem como fontes de informação científica
e atração turística. As geleiras constituem bens de caráter público.
DEFINIÇÃO. Entende-se por geleira ou glacial toda massa de
gelo perene e estável ou que flui lentamente, com ou sem água
intersticial, formada pela recristalização de neve, localizada em
diferentes ecossistemas, independentemente de seu tamanho,
forma ou estado de conservação. São partes integrantes de cada
geleira os restos rochosos e os cursos internos e superficiais hídricos. Entende-se por ambiente periglacial na alta montanha, a
área com solos congelados que atua como regulador do recurso
hídrico, e na média e baixa montanha a área que fornece água
aos solos saturados de gelo.
INVENTÁRIO. Criação do Inventário Nacional das Geleiras, para
realização de um levantamento de todos os glaciais e geoformas
periglaciais existentes no território nacional, com toda informação
necessária para sua adequada proteção, controle e monitoramento.
O inventário e o monitoramento das geleiras e do ambiente periglacial será de responsabilidade do Instituto Argentino de Nívologia,
Glaciología y Ciencias Ambientales (IANIGLA). O Ministério das Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto tem o direito de
intervir no caso de zonas fronteiriças pendentes de demarcação de
limite internacional prévio ao registro do inventário.
‘‘
O campo de gelo sul, entre
Argentina e Chile, tem uma
extensão de quase 17.000 km2
e é o maior do mundo em
regiões não polares.
‘‘
ATIVIDADES PROIBIDAS. Fica proibido:
a) A liberação, dispersão ou eliminação de substâncias ou elementos poluentes, produtos químicos ou resíduos de qualquer
natureza ou volume. Incluídos nesta restrição os que se desenvolvem no ambiente periglacial;
b) A construção de obras de arquitetura ou infraestrutura, com
exceção daquelas necessárias para a pesquisa científica e as prevenções de risco;
c) A exploração de minérios e hidrocarbonetos. Incluídos nesta
restrição os que se desenvolvem no ambiente periglacial;
d) A instalação de indústrias ou desenvolvimento de obras ou
atividades industriais.
AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL. Todas as atividades
planejadas nas geleiras e no ambiente periglacial, desde que não
se encontrem proibidas, estarão sujeitas a uma avaliação de impacto ambiental e avaliação ambiental estratégica. Exceções a
estes requisitos: resgates resultantes de emergências; pesquisas
desenvolvidas a pé ou em esquis, com eventual tomada de amostragens, que não deixem resíduos nas geleiras e no ambiente periglacial; práticas desportivas, incluindo montanhismo, escalada e
esportes não motorizados que não perturbem o ambiente.
INFRAÇÕES E SANÇÕES. As sanções ao não cumprimento desta
lei e das regulamentações emitidas em sua execução, sem prejuízo das demais competências que possam ser aplicáveis, serão
estabelecidas em cada uma das jurisdições, conforme o poder da
polícia que lhes corresponda, os quais não poderão ser inferiores
aos estabelecidos por esta lei. As jurisdições que não possuem
um regime de sanções aplicarão as que correspondem à jurisdição nacional:
- Aviso;
- Multa de 100 a 100 mil salários-base da categoria inicial da
administração pública nacional;
- Suspensão ou revogação de licenças. A suspensão da atividade
poderá ser de 30 dias até um ano, conforme o caso e suas
circunstâncias;
- Cessação definitiva da atividade.
AQUA VITAE 29
PROtetORA DA ÁGuA
A terra é como uma mãe provedora e protetora dos recursos vitais dos quais os seres humanos
necessitam para subsistir. Seu corpo está cheio de cavidades que permitem guardar, por dias,
anos, séculos e milênios, porções de água pluviométrica, que se infiltram no solo e formam parte
da água subterrânea. uma vez no solo, parte desta água corre próximo à superfície e outra parte
se armazena em zonas profundas.
O movimento da água por debaixo da superfície depende da permeabilidade e da porosidade dos materiais onde a água encontra-se contida. A água pode correr em direção aos lençóis
freáticos mais profundos, de onde levará anos para voltar a se tornar parte do meio ambiente, sem
deixar, no entanto, de se manter como uma enorme e vital reserva.
Fonte: Serviço Geológico dos Estados Unidos.
Dias
Anos
Séculos
Zona não-saturada
Aquífero não confinado
Capa confinada
Aquífero confinado
Milênios
Capa confinada
Aquífero confinado
30 AquA VitAe
OPINIÃO
ANGEL GURRÍA
Secretário Geral
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE)
AMeAÇAS À SeGuRANÇA HÍDRiCA
A mudança climática é uma realidade e atualmente está afetando a
segurança hídrica. Não devemos apenas reduzir as emissões, mas
também enfrentar as situações que já se apresentam por causa do
fenômeno.
A questão da mudança climática e suas drásticas consequências devem
ser abordadas em vários campos: embora a maioria dos enfoques esteja
voltada para a redução de emissões de Gases do Efeito Estufa, há uma
crescente consciência de que parte da mudança climática é um fato definitivo, cujo impacto já se reflete em nossas economias, sociedades e meio
ambiente, e que devemos agir para nos adaptarmos a esta situação, já
que o risco relacionado com a água também vai aumentar por causa da
mudança climática.
Situações como o excesso ou a escassez de chuvas, o derretimento precipitado da neve e a diminuição das geleiras ameaçam a segurança hídrica.
Para os agricultores, isto poderia representar seca durante a época de
cultivo e inundações durante o período de colheita. Para os moradores
urbanos poderia significar falta d’água em suas casas ou inundação de
pontes, edifícios e outras infraestruturas. É hora de agir e definir alternativas de políticas e soluções para evitar novas vítimas.
A mudança climática, em muitos casos, simplesmente exacerbará as tensões já existentes no setor hídrico: de acordo com as últimas tendências,
47% da população mundial viverão em áreas com um elevado stress hídrico em 2030. Fazem-se necessárias políticas hídricas melhores e mais
eficazes para enfrentar este desafio e gerenciar os recursos hídricos nos
locais mais necessitados. É preciso projetar uma infraestrutura hídrica que
considere cenários extremos com perspectivas a longuíssimos prazos, incluindo o armazenamento, a proteção contra inundações e o controle
de drenagem e esgotos das cidades costeiras que são afetadas pelo aumento do nível do mar. Parte do problema é de responsabilidade dos
intervenientes-chave no setor hídrico, enquanto outros aspectos são mais
relacionados com a agricultura, energia ou o desenvolvimento urbano.
A comunidade hídrica sabe bem como trazer o tema da variabilidade
climática e hidrológica, e a comunidade interessada na questão da
adaptação às alterações climáticas pode se beneficiar desta experiência.
Contudo, a gestão dos recursos hídricos baseia-se no envolvimento de
temperatura e precipitação “normal” e, infelizmente, as flutuações históricas do clima já não representam um guia preciso para o planejamento
futuro. Temos de melhorar nossos sistemas de informação hídrica e incrementar a flexibilidade de nossas políticas e instituições, considerando
o fator incerteza e habilitando processos de reação imediata à mudança.
O que devemos fazer? A adaptação consiste, em grande parte, de um
senso comum: a primeira e mais óbvia medida a se tomar é reduzir nosso
consumo de água. Além de soluções “drásticas”, como a construção de
infraestrutura adicional, é hora de avançar na transição para soluções
“moderadas” que possam tornar mais eficiente o uso dos recursos hídricos e gerar lucros. Isto inclui maior ênfase na gestão da demanda de
água, tomada de decisões participativas e o uso de instrumentos econômicos. Deve incluir também uma melhor regulamentação (como o estabelecimento de padrões de qualidade hídrica que possam facilitar sua
reutilização), bem como, uma utilização mais sistemática de instrumentos
econômicos, incluindo taxas para emissão de poluentes, modelos de tarifação hídrica, pagamento por serviços ambientais e comercialização de
direitos hídricos. Isso pode ajudar a melhorar a eficiência hídrica, gestão
de demanda, gerenciamento dos recursos hídricos e dos lucros. A transição para estas soluções, no entanto, vai exigir mecanismos saudáveis de
governança para gerenciar a inter-relação entre múltiplos atores, entre os
ministérios e entidades públicas, entre os níveis de governo e captação
de água.
A mudança climática é um grande impulso para a reforma no setor hídrico e a COP16 é o fórum ideal para garantir que a água seja a questão
central nas discussões sobre as políticas necessárias para a adaptação às
mudanças climáticas.
A Aqua Vitae não emite nenhum parecer sobre as opiniões expressadas nesta seção.
No entanto, somos um fórum aberto a diferentes perspectivas sobre a gestão dos
recursos hídricos.
AquA VitAe 31
ALTO PERFIL
ÁGUA COMO FATOR DE
INTERCONEXÃO
Por BORIS RAMÍREZ
C
lara e direta, como quando se comprometeu em Cancun, em dezembro
de 2010, para falar sobre os temas
água e saneamento nas discussões
sobre mudança climática, Christiana Figueres Secretária Executiva da Convenção das Nações
Unidas sobre Mudança Climática -, comentou
em entrevista exclusiva à Aqua Vitae que o assunto é fundamental e deve ser promovido cada
vez mais pelas interconexões existentes com outros setores importantes para a vida e o desenvolvimento humano.
Christiana Figueres,
Secretária Executiva
da Convenção das
Nações Unidas sobre
Mudança Climática, pede
continuidade no lobby
inteligente para exigir
dos governos o espírito
de compromisso com a
mitigação e adaptação aos
impactos do aquecimento
global no setor hídrico e
de saneamento.
32 AquA VitAe
“O setor hídrico e de saneamento deve continuar
recolhendo e compilando dados e informações
que ajudem na tomada de decisões, e olhar
além das fronteiras para atuar junto a outros setores, já que esta é uma área de interconexões
com os setores energéticos, sanitários e agrícolas, para mencionar apenas alguns.”
A COP 16 de Cancun, ocorrida em dezembro de 2010, serviu para colocar o tema
água dentro das ações gerais sobre mudança climática. Por que antes a água não
tinha um lugar de destaque?
O tema sempre foi considerado na Convenção
das Nações Unidas para a Mudança Climática
(CMNUCC). No Artigo 4.1, do compromisso de
todas as partes, os recursos hídricos figuram
no contexto de cooperação para a adaptação
às mudanças climáticas. As ações concretas,
tanto quanto aos recursos hídricos como aos
outros temas e setores, devem ser realizadas
pelos países.
Quais as ações específicas dentro da
Convenção sobre Mudança Climática para
que o tema água tenha um melhor espaço
para a discussão, refl exão e busca por
soluções dentro da agenda mundial?
A água é um recurso indispensável e está
sendo afetada pelas mudanças de clima em
proporções significativas. Parte das conquistas
da COP 16 foi o estabelecimento de um Marco
de Adaptação, no qual os países são convidados a planejar, priorizar e implementar ações
para a adaptação, incluindo o tema hídrico. A
Conferência estabeleceu ainda um Comitê de
Adaptação e, na ocasião, os países começaram
a trabalhar na composição e nos procedimentos
deste Comitê, visando a próxima Conferência
das Partes, marcada para dezembro de 2011,
em Durban (África do Sul). É de se esperar que
o tema água (em excesso ou escassez) seja um
dos mais preponderantes no âmbito das ações
identificadas para a adaptação.
Devido à mudança climática, a água sofre
alterações que geram inundações, secas,
nevascas, chuvas torrenciais. Como podemos nos adaptar, especialmente para garantir a água para o consumo, a saúde e
produção agrícola, após estes eventos naturais, cada vez mais extremos?
É necessário levar sempre em conta as sinergias entre a adaptação à mudança climática,
a redução de risco e o desenvolvimento, bem
como as dimensões nas quais as ações podem
ser realizadas em nível internacional, regional,
Fotos: Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática
‘‘
As medidas de adaptação no setor
hídrico, incluindo a recuperação dos
sistemas pluviais, o apoio à saúde dos
rios, a aplicação de métodos sustentáveis
de colheita e as medidas de controle
de inundações, reduzem os riscos para
a agricultura, a saúde humana e o
desenvolvimento.
nacional e local. Depois dos eventos naturais, a reconstrução deve ser “inteligente
com o clima” (climate-smart), tendo em
conta os eventuais impactos da mudança
climática, incluindo eventos naturais extremos. Embora não haja estratégias e ações
de adaptação que sejam “comum de dois”
(one size fits all), existem certas medidas
que podem ser aplicadas com sucesso em
diferentes lugares, como por exemplo,
seleção de cultivos apropriados, uso de
irrigação por gotejamento ou aproveitaÉ essencial continuar a trabalhar com base
mento de águas pluviais.
no que já foi alcançado até o momento.
Desde o início de janeiro de 2010, de- Em Cancun, fizemos avanços significativos,
vido à mudança climática, o principal graças ao compromisso dos governos e da
afluente do Rio Amazonas (o Rio Negro) sociedade, mas estas conquistas são relatiapresenta uma diminuição em seu vamente pequenas diante da magnitude do
fluxo, afetando 37 comunidades e co- problema que enfrentamos globalmente. A
locando em risco o equilíbrio deste sis- sociedade deve continuar a exigir aos gotema fluvial tão necessário para o abas- vernos que façam acordos, tenham acesso
tecimento hídrico e para a produção à cooperação e destinem os recursos finanagrícola. Como os governos e a socie- ceiros, tecnológicos e de capital humano
dade podem atuar diante dos impactos necessários para a execução de ações,
produzidos no meio ambiente causados tanto para mitigar as emissões de gases
do efeito estufa como para a adaptação
pelo aquecimento global?
‘‘
à mudança climática. Há uma relação direta entre mitigação e adaptação: quanto
mais rápida for a mitigação eficaz, menos
necessidade de adaptação. Ao contrário,
quanto mais lenta for a mitigação, mais
difícil será a adaptação.
Há espaço para que especialistas no
tema possam ter uma maior incidência
na discussão mundial? Quais as necessidades do setor hídrico e de saneamento no que se refere às ações e aos
compromissos para a nova COP 17, na
África do Sul?
AquA VitAe 33
É importante que os dois setores continuem com um lobby inteligente, voltado
para os governos que os representam na
Convenção, desafiando-os e lhes exigindo
negociações baseadas no espírito de compromisso e colaboração que leve à ação
imediata e oportuna, bem como à provisão
dos recursos necessários para realizar tais
ações. O setor hídrico e de saneamento,
assim como os demais setores, devem
continuar recolhendo e compilando dados
e informações que ajudem na tomada de
decisões, e olhar além das fronteiras para
atuar junto a outros setores, já que esta é
uma área de interconexões com os setores energéticos, sanitários e agrícolas para
mencionar apenas alguns.
Dados do Painel Intergovernamental
sobre Mudança Climática (IPCC) indicam que 30 milhões de pessoas nas
cidades de Quito, Lima e La Paz estão
vulneráveis ao acesso à água devido
ao derretimento das geleiras. Quais
seriam os mecanismos necessários
para criar um fundo mundial com recursos econômicos capazes de promover programas de adaptação para
estas novas realidades?
AquA
VitAe VitAe
34 AquA
34
Os Acordos de Cancun incluem uma
decisão histórica sob muitos aspectos, dentre eles o estabelecimento do Fundo Verde
para o Clima para fornecer financiamento
em longo prazo a projetos, programas,
políticas e outras atividades nos países
em desenvolvimento, por meio de vários
enfoques temáticos, tanto em mitigação
quanto em adaptação. Durante este ano,
um Comitê de Transição deverá desenhar
este Fundo, desenvolvendo seus aspectos
estruturais e operacionais. Os acordos da
COP 16 reconhecem o compromisso dos
países desenvolvidos de mobilizarem US$
100 bilhões até 2020, para dar suporte às
necessidades dos países em desenvolvimento. Na verdade, dada sua importância,
as medidas de adaptação relacionadas à
água devem ser objeto de financiamento,
via este Fundo.
O setor hídrico tem de se adaptar às áreaschave para o desenvolvimento humano:
alimentação, saúde e geração de energia. Como se prevê assegurar medidas de
prevenção e adaptação nestes setores?
Há uma grande interconexão entre os
setores hídrico e agrícola, especialmente
em termos de escassez de água devido
ao consumo e à produtividade agrícola e,
portanto, igual em termos de produção de
alimentos. Algumas regiões têm presenciado um aumento na demanda de água
para a agricultura de aproximadamente
50% a 70%, e tal demanda deve continuar
aumentando. O aumento da ocorrência de
condições meteorológicas extremas (incluindo inundações) supõe um risco para
o fornecimento de energia, por conta dos
danos causados à infraestrutura, tais como
barragens, redes elétricas e instalações de
petróleo. Em outros casos, a energia hidroelétrica está sendo prejudicada pela falta
de abastecimento adequado de água nos
rios. Portanto, medidas de adaptação no
setor hídrico, incluindo recuperação dos
sistemas pluviais, apoio à saúde dos rios,
aplicação de métodos sustentáveis de colheita e medidas de controle de inundações,
reduzem riscos para a agricultura, saúde
humana e o desenvolvimento.
Do total de área da América Latina, 20
milhões de km2 estão sujeitos a processos acelerados de desertifi cação
devido à mudança climática. Isto signifi ca perda econômica, social e ambiental. De que forma estas regiões
podem ser compensadas ante eventos
tão prejudiciais ao desenvolvimento?
A Convenção não tem provisões para
compensação por perdas causadas pela
mudança climática. No entanto, conta
com provisões para apoiar os países em
desenvolvimento vulneráveis a adaptação
às alterações climáticas. Este apoio inclui
fornecimento de fundos, que podem ser
obtidos pelo Fundo para o Meio Ambiente
Mundial (GEF, por suas siglas em inglês),
pelo Fundo de Adaptação do Protocolo
de Kyoto e, num futuro próximo, através do Fundo Verde para o Clima. Como
Como continuar a engajar a sociedade civil
a desempenhar um papel mais ativo em
torno da mudança climática e das deman-
‘‘
‘‘
mencionei, em Cancun, foi estabelecido
o Marco de Adaptação de Cancun, que
deverá reforçar as ações de adaptação
nos países em desenvolvimento, por meio
da cooperação internacional. Além disso,
a COP 16 também estabeleceu um programa de trabalho sobre abordagens para
lidar com perdas e danos associados aos
impactos da mudança climática nos países
em desenvolvimento, particularmente os
mais vulneráveis aos seus efeitos adversos.
O setor hídrico e de saneamento,
assim como todos os demais, devem
continuar recolhendo e compilando
dados e informações que ajudem na
tomada de decisões.
das que enfrentamos nas atuais condições?
A sociedade civil desempenha um papel
ativo muito importante, ligado tanto à
relação com os diferentes níveis de governo
quanto à relação com o setor privado.
Ela precisa continuar pressionando os
governos a chegarem a acordos internacionais, a implementarem tais acordos e executarem ações congruentes. No
âmbito nacional e local, a sociedade civil
deve exigir que legisladores e governantes
promulguem leis e regulamentos sobre a
mudança climática e sua correta aplicação.
Além do mais, a sociedade civil é um consumidor de produtos/serviços prestados
pelo setor privado (e em alguns casos pelo
setor público) e deve, portanto, exigir que
as empresas não sejam um obstáculo para
os acordos e suas implementações.
Deve-se exigir, também que assumam a
responsabilidade de realizar investimentos
que ajudem a combater a mudança climática. As empresas precisam enxergar a
sustentabilidade não como um gasto, mas
como um investimento.
PROMOtORA dA MudAnçA
A Convenção sobre Mudança Climática estabelece uma estrutura geral para os esforços intergovernamentais
para enfrentar o desafio destas alterações. Ela reconhece que o sistema climático é um recurso compartilhado,
cuja estabilidade pode ver-se afetada pelas atividades industriais e outros tipos de atividades que emitam dióxido de carbono e outros gases que retêm o calor. Em virtude de sua natureza de trabalho, os governos reúnem
e compartilham informações sobre o tema, põem em prática estratégias nacionais para abordar o problema da
emissão de gases e cooperam para a preparação e adaptação aos efeitos da mudança climática.
Christiana Figueres Olsen foi nomeada Secretária Executiva da Convenção das Nações Unidas, em maio de 2010.
• NasceuemSanJosé(CostaRica),ondeatuouemdiversoscargospúblicos.Foimembrodaequipenegociadora
de seu país, tanto da Convenção quanto do Protocolo de Kyoto, desde 1995;
• RepresentantedaAméricaLatinaeCaribenoConselhodoMecanismodeDesenvolvimentoLimpo,em2007.
Vice-presidentedaConvençãoMarco2008-2009,representandoaAméricaLatinaeoCaribe;
• Em1995,fundouoCentroparaoDesenvolvimentoSustentávelnasAméricas(CEDSA),atuandocomoDiretora
desta ONG sem fins lucrativos durante oito anos;
• ProjetoueajudouaestabelecerprogramasnacionaisparaamudançaclimáticaparaosgovernosdaGuatemala,Panamá,Colômbia,Argentina,Equador,Honduras,ElSalvadoreRepúblicaDominicana;
• Prêmio “Herói do Planeta”, da National Geographic, em reconhecimento a sua liderança internacional em
energia sustentável e mudança climática, outorgado em 2001.
AquA VitAe 35
TECNOLOGIA
36 AquA VitAe
NOPAL: ALIADO NA
PURIFICAÇÃO DA ÁGUA
Uma tecnologia verde de ponta e inovadora
garante, por meio do uso da mucilagem
do cacto, ou Nopal, água pura nas regiões
altamente contaminadas.
O
uso de agentes naturais e benignos no tratamento
de água potável está ganhando interesse devido ao
seu caráter renovável e de baixa toxidade. O cacto
mexicano é responsável pela produção de uma substância pastosa, conhecida como mucilagem de cactos ou Nopal,
que apresenta uma capacidade de floculação (etapa do processo
de purificação de águas de origem superficial e tratamento de
esgotos domésticos, industriais e minerais) superior à do sulfato
de alumínio de uso geral.
Os resultados mostram a eficácia da mucilagem para reduzir arsênico e partículas da água potável, conforme determinado pela
dispersão da luz, pela absorção atômica e a geração de hidretos
de espectroscopia de fluorescência atômica.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a necessidade
de pesquisas sobre novas tecnologias de baixo custo físico-químicas para eliminar o aspecto turvo da água.
Este estudo tenta validar uma nova tecnologia que pode ser implementada para reduzir a turvidez e remover o arsênico das zonas de
OBjETIVO Nº 1
ELIMINAR TURVIDEZ
DA ÁGUA
A mucilagem de Nopal tem sido pesquisada
como principal fonte do processo de floculação.
Trata-se ainda de caracterizar a mucilagem quimicamente, a fim de determinar quais capacidades estruturais da mucilagem podem servir.
Por NORMA ALCANTAR
Professora Associada do Departamento de
Química e Engenharia Biomédica
Universidade do Sul da Flórida
[email protected]
contaminação em locais onde a população não pode investir em
métodos caros. As pessoas expostas à contaminação de arsênico
nas águas subterrâneas podem se beneficiar de uma tecnologia barata, fácil de implementar, natural e que é apropriada social, cultural,
ambiental e cientificamente para melhorar sua qualidade de vida e
saúde. Esta tecnologia é baseada na capacidade do Nopal (Opuntia
ficus-indica, OFI) de reduzir turvidez de águas sujas.
Estes são alguns aspectos importantes de se conhecer sobre este
estudo:
ÁREA DE PESQUISA: TEMAMATLA / MÉXICO
Comunidades de: Região dos Lagos, Zimapán, Hierve
El água e Temamatla. A 25 km ao sudeste da Cidade
do México
A comunidade testada neste projeto foi escolhida com base
na presença de contaminação por arsênico em quantidade
acima das recomendadas pela OMS, além de presença de
sujeira na água por partículas sólidas em suspensão.
OBjETIVO Nº 2
2.N OVITEjBO
REMOÇÃO DE ARSÊNICO
Tentativa de determinar a eficácia da mucilagem
na redução da concentração de arsênico para, em
seguida, avaliar aficácia na eliminição de metais
pesados como o arsêncio, o selênio, cádmio, entre outros nocivos.
AquA VitAe 37
ELEMENTO NATURAL: O NOPAL
OPUNTIA FICUS-INDICA
(conhecido como Nopal, Tuna ou ainda Tabaibeira)
É o maior cacto da família Cactaceae, a qual conta com 1.400
espécies. Estão presentes desde o oeste do Canadá até a ponta da
América do Sul. Seu cultivo é abundante no México, onde chega
a atingir o tamanho de uma árvore.
A mucilagem do Nopal é uma substância espessa e viscosa que
oferece uma capacidade natural para armazenar quantidades de
água. Quando está na água, ela incha, adquirindo a propriedade de precipitar partículas e íons a partir de soluções aquosas. A
mucilagem é extraída dos brotos dos cactos e é formada por 55
resíduos, incluindo a arabinose, ramnose, galactose e xilose, glucanos e glicoproteínas.
Foi escolhida por causa da familiaridade do povo mexicano com
o cacto não-tóxico, apreciado na culinária, cujo uso existe conhecimento empírico desde a antiguidade para reduzir a turvidez e a
dureza de águas de nascentes.
O Nopal é uma planta carnosa, suculenta e com o tronco segmentado em lâminas que se sobrepõem, geralmente sem folhas.
Apresenta espinhos por toda sua superfície.
eStuDiOS De FLOCuLACiÓN
ReMOÇÃO De ARSÊNiCO
Foram realizados testes de cilindro, onde se utilizou uma
mistura de caulim (argila branca bastante pura usada
como absorvente), incluindo uma quantidade de solução
de floculante (a extração foi obtida a partir da mucilagem). Estes testes foram realizados com diferentes concentrações das três mucilagens.
As concentrações de arsênico total foram analisados
por espectrometria de fluorescência atômica-geração
de hidretos. Realizou-se um experimento para avaliar
a capacidade de redução do extrato de gelificação,
após 30 minutos as partículas de arênico se assentaram no gel da mucilagem.
SAiBA MAiS SOBRe O CACtO
• É cultivado no México, no Peru, Brasil, Chile, Espanha, Itália, Marrocos, Argélia, Egito, Israel, Arábia
Saudita e Etiópia.
• Floresce uma vez por ano e tanto o fruto como a flor podem ser verde ou vermelho;
• O cultivo é realizado em regiões áridas e com escassez d’água;
• Usado para alimentos em pratos doces ou salgados: verdura, saladas, mel e queijos, compotas, néctar
e cristalizado;
• É conhecido como Tuna na Argentina, Bolívia, Chile e Peru. Como figo na Cômbia. Como Tabaibeira no
Brasil. Como Nopal ou fruto Tuna no México.
38 AquA VitAe
SAÚDE
Produtos tóxicos presentes na água potável e na água de irrigação
UMA QUESTÃO DE SEQUELAS
Chumbo, cádmio, arsênico, dioxinas, DDT ou malation causam sequelas na saúde humana.
Estes elementos podem estar presentes naturalmente ou por conta de atividades mineiras,
agrícolas, industriais, uso de agrotóxicos ou vazamento de substâncias em aterros sanitários.
Por DR. ANDREI N. TCHERNITCHIN
Professor Titular da Faculdade de Medicina,
Universidade do Chile
Diretor Científico, Conselho de Desenvolvimento Sustentável
(Comissão Assessora Presidencial DS 90/98)
[email protected] / [email protected]
A
presença de contaminantes ambientais no ar, águas superficiais e profundas, incluindo água potável, solos e
alimentos tende a afetar os seres humanos que estão expostos a tais substâncias, resultando efeitos adversos em
sua saúde, sendo alguns deles quase imediatamente, poucas horas
ou dias depois da exposição. Já as exposições crônicas tendem a produzir dano cumulativo, que se manifestam com um sintoma quando
o dano já é considerável.
Com frequência, a água potável é misturada com substâncias prejudiciais à saúde, devido às tubulações feitas de chumbo ou às em
mau estado; devido a produtos de consumo massivo ou a atividades
industriais e agrícolas. É importante saber mais sobre a origem e os
efeitos desses contaminantes, de modo que as pessoas possam ter
controle sobre eles.
Os efeitos nocivos da exposição às toxinas na água vão muito
além do imediato: foram encontradas sequelas em nível de
imprinting ou desprogramação celular (um efeito tardio, causado por exposição pré-natal ou infantil precoce). Este mecanismo foi pesquisado e descrito por Arthur L. Herbst e colaboradores, em 1971 e por György Csaba, em 1976. Estudos
subsequentes determinaram que os contaminantes ambientais tóxicos podem chegar à água potável ou de irrigação por
liberação acidental ou derramamento intencional, de diversos
processos industriais, rejeitos de mineração, uso de agrotóxicos e substâncias químicas cloradas de lixões, aterros sanitários e barragens de mineração. O importante é saber onde se
encontram, quais as sequelas que causam e, principalmente,
como controlá-los.
AQUA VITAE 39
CHUMBO
Símbolo: Pb. Nº atômico: 82. O chumbo é um metal
pesado. De aspecto azulado ou acinzentado. Combina-se facilmente para formar sais ou fundir-se com
outros metais.
ARSÊNICO
Símbolo: As. Nº atômico: 33. Metalóide de cor cinza metálico, que combinado ao oxigênio (O2) ou outros elementos
constitui um veneno perigoso.
ONDE ENCONTRAR?
ONDE ENCONTRAR?
• Água potável contendo este elemento;
• O metal está na fonte de origem da água (solo ou
camadas com chumbo);
• Atividades industriais, especialmente a mineração (extração de minerais, refino, mineração ou fundição de minérios
e barragens de rejeitos).
• Redes de água potável com tubulações à base de
chumbo;
SEQUELAS DEIXADAS PELA EXPOSIÇÃO:
• Dissolução de canos à base de chumbo ainda existentes em edificações antigas;
• Exposição crônica: aumento da mortalidade por câncer
bronco pulmonar, de bexiga, renal, hepático e pele;
• Combustíveis aos quais se adicionou o chumbo tetraetila ou TEL (aditivo para gasolina já eliminado na
maioria dos países);
• Exposição pré-natal: alterações no aparelho respiratório e
aumento de mortalidade por bronquiectasia.
• Tintas com alto teor de chumbo com as quais se
pintam casas, móveis e outros objetos;
• Alimentos enlatados, consumidos após a data vencimento ou provenientes de recipientes amassados;
DDT
• Verduras cultivadas em zonas urbanas com alta contaminação atmosférica com este metal ou cultivadas
nas proximidades de rodovias.
Dicloro-Difenil-Tricloroetano. Substância tóxica usada como
pesticida na agricultura.
SEQUELAS DEIXADAS PELA EXPOSIÇÃO:
ONDE ENCONTRAR?
• A exposição pré-natal ao chumbo altera, para o
resto da vida, a ação dos estrogênios no útero, causando infertilidade e abortos durante a idade adulta.
Diminui de forma irreversível o coeficiente intelectual
e a capacidade de atenção. Determina uma personalidade agressiva com tendência a desenvolver no
futuro condutas antissociais e criminais. Favorece a
dependência de drogas, de estimulantes e opiáceos.
• Agrotóxico bastante persistente no meio ambiente.
40 AQUA VITAE
SEQUELAS DEIXADAS PELA EXPOSIÇÃO:
• Exposição pré-natal: sequelas irreversíveis, alterações nos
receptores de acetilcolina muscarínicos cerebrais, encontrados nas terminações neuromusculares, no sistema nervoso
central e periférico; alterações comportamentais perenes.
DIOXINAS, FURANOS e
BIFENILPOLICLORADO
Grupo de compostos químicos organoclorados, também
chamados de PCBs, com estruturas químicas semelhantes.
Alguns tem propriedades nocivas, dependendo do número e posição dos átomos de cloro. Um dos PCBs é um
veneno extremamente perigoso e a substância responsável pelo câncer mais ativo do qual se tem conhecimento.
CÁDMIO
Símbolo: Cd. Nº atômico: 48. Metal branco azulado,
dúctil e maleável. Assemelha-se ao Alumínio em vários
aspectos, apesar de ser um dos metais mais tóxicos.
ONDE ENCONTRAR?
• Diversos processos industriais;
ONDE ENCONTRAR?
• Subproduto de extrações de zinco, chumbo e cobre;
• Combustão de matéria orgânica a temperaturas entre
600ºC e 1.000ºC na presença do cloro;
• Lixiviação das águas subterrâneas em aterros sanitários
e lixões.
• Indústrias de celulose, principalmente aquelas que utilizam o cloro ou seus subprodutos para o branqueamento
de papéis;
SEQUELAS DEIXADAS PELA EXPOSIÇÃO:
• Indústria de cimento que utiliza petcoke ou outros combustíveis não tradicionais (pneus, produtos farmacêuticos
e hospitalares, madeira e serragem tratadas com pentaclorofenol). Estes compostos não são gerados na câmara
de combustão, mas nos gases emitidos da câmara à medida que se resfriam;
• O bifenilpoliclorado também pode ser sintetizado para
produzir óleos utilizados em bombas de alto vácuo ou no
resfriamento de transformadores de alta tensão, normalmente são lançados no meio ambiente depois de completar sua função.
SEQUELAS DEIXADAS PELA EXPOSIÇÃO:
• A exposição a dioxinas, furanos e bifenilpoliclorados é
uma das causas de desenvolvimento de câncer. Considera-se que em torno de 10% de todos os cânceres humanos foram causados por exposição a dioxinas;
• Exposição pré-natal ou infantil precoce: seus efeitos são
irreversíveis, ou seja, duram para o resto da vida. Causa
déficit neurocomportamental e imunológico. Além de
masculinização e feminilização morfológica e comportamental. Estudos na Dinamarca apresentaram uma correlação entre níveis de dioxinas e bifenilpoliclorados nos
sangues de recém-nascidos e uma posterior feminilização em meninos ou masculinização em meninas em suas
condutas durante jogos infantis. Além de infertilidade e
danos às funções respiratórias.
• Exposição crônica em adultos: insuficiência renal, câncer de próstata e câncer bronco pulmonar. Em doses
altas, aumenta o risco de fraturas ósseas;
• Exposição pré-natal: avanço da puberdade, alterações
diferidas nas glândulas mamárias, alterações neurológicas e comportamentais perenes.
MALATIÓN
Inseticida organofosforado sintético. Em estado puro
é um líquido incolor. O malation de qualidade técnica,
que contém mais de 90% de malation e impurezas num
solvente, é um líquido pardo amarelado de odor forte
semelhante ao alho.
ONDE ENCONTRAR?
• Químico utilizado, dentre outras coisas, para matar
moscas de frutas.
SEQUELAS DEIXADAS PELA EXPOSIÇÃO:
• Exposição pré-natal: alterações persistentes na atividade da colinesterase (fermento que hidrolisa a acetilcolina no sangue e nos tecidos, tornando-a inativa);
• Descobriu-se que a exposição pré-natal em animais experimentais facilita a dependência do álcool.
AQUA VITAE 41
VITRINE DE ÁGUA
Mais uma vez, Berlim, capital da Alemanha, tornou-se cenário para fusão de dois aspectos fundamentais na
garantia do abastecimento hídrico: a tecnologia e a reflexão sobre o presente e o futuro deste elemento vital
Por BORIS RAMÍREZ
O
mês de maio é hoje uma obrigação para quem quer
analisar os desafios presentes e futuros das questões
de água e saneamento. O Berlin Wasser International
está se tornando um ímã enorme para os estudiosos e
inovadores no campo, que se reúnem em uma conferência, cuja
agenda inclui aspectos-chave a respeito do tratamento do consumo, oferta, utilização e tratamento da água.
Especialistas participantes definiram claramente o propósito da
reunião. “Só nos próximos 10 anos haverá um aumento de 70%
na demanda de alimentos e um aumento de 80% na demanda
de energia. Ambos precisam de água”, afirma Peter Gammeltoft,
42 AquA VitAe
especialista da Comissão Européia e representante da Dinamarca,
que faz uma advertência específica para a existência de um aumento na competitividade pela água limpa.
O evento solicita que as autoridades do governo (nacional, regional
e local), bem como o setor industrial, promovam a criação e aplicação de novas tecnologias para garantir acesso, abastecimento e
sistemas de irrigação.
O Berlin Wasser International também se tornou uma feira especializada em tecnologia hídrica. “Trata-se de um evento multi-setorial
único na Europa, que se concentra totalmente na água. Mostra
Fotos: Wasser Berlin International
Foto: COP16
INTERNACIONAL
a capacidade de inovação da indústria hídrica na Alemanha e
também fornece uma visão global do progresso tecnológico na
indústria da água internacional”, disse Dr. Christian Göke, um dos
organizadores.
O nível alcançado pelo evento tem atraído a atenção de delegações fora da Europa. Este ano, dentre os 34 países participantes,
dois latino-americanos estavam presentes: Honduras e Colômbia,
que se uniram aos 696 expositores e 25 mil visitantes semanais
para discutir os métodos de melhoria do abastecimento hídrico e
de sistemas de disposição de águas residuais.
As discussões envolvem dois aspectos que os organizadores consideram básicos: promover a educação dos cidadãos e das empresas
no uso e aproveitamento da água, e incentivar a criação de empregos na indústria do setor hídrico, como um mecanismo para
formar profissionais preparados para dar as respostas necessárias
hoje e amanhã.
COLÔMBiA eM BeRLiM
A América Latina começou a participar mais diretamente,
através dos esforços das câmaras de comércio alemãs na região. Desta vez, os representantes da Colômbia foram a Berlim
para encontrar informações atualizadas sobre o tratamento de
água, para aplicá-las em um projeto interessante:
• Habitação Sustentável: Proposta de construção de 20 mil
moradias, onde os engenheiros pretendem reutilizar parte da
água cinzenta e da chuva. A idéia é que estas casas utilizem
esta água para atividades dentro do lar, além de tratar o esgoto
e utilizá-lo na produção de energia. A intenção é provar tais
tecnologias e aplicá-las na melhoria das condições de moradia,
bem como reduzir custos. O projeto está a cargo da empresa
APIROS LTDA., a segunda no setor de construção habitacional
de benefício social, em Bogotá.
AquA VitAe 43
CULTURA
A indústria do cinema sai em defesa da água
IMAGENS POR UM
COMPROMISSO VITAL
Por BORIS RAMÍREZ
Estrelas de Hollywood vêem na água um dos dilemas do nosso mundo atual. Johnny Depp, Alfred Molina,
George Lucas, Gore Verbinski e a Paramount Pictures se unem para criar e promover uma mensagem
em defesa da água
44 AquA VitAe
A
lguns dos maiores nomes de Hollywood se unem em um impactante projeto cinematográfico, em cujo script a água flui como
um dos temas mais importantes de nossas vidas. Este importante
projeto reúne a genialidade de Johnny Depp, a profundidade de
Alfred Molina, a visão original de George Lucas e a direção magistral de Gore
Verbinski. Destas estrelas da indústria do cinema surge uma animação – longa
metragem – na qual inovação e compromisso se misturam com o líquido vital.
O resultado: Rango! Uma comédia animada por computação gráfica que conta
a história de um camaleão domesticado que passa por uma crise de identidade.
Para superá-la, parte em uma viagem de autoconhecimento que o leva ao
Velho Oeste, especificamente numa cidade chamada Dirt (Sujeira, em inglês),
onde deixa de ser um animal de estimação mimado e se transforma em um
herói que ajuda a população a lutar para manter seu principal tesouro: a água.
O filme estreou sua turnê nas salas de cinema do mundo em março de 2011
e já se tornou um sucesso de bilheterias, graças ao potencial de todos os que
participam desta história com seu talento. O que trazem cada uma destas estrelas mundiais do cinema para o filme?
Fotos: Rangothemovie.com
AquA VitAe 45
Johnny Depp. Três vezes indicado ao Oscar, o intérprete do capitão
Jack Sparrow da saga “Piratas do Caribe”, do Chapeleiro Maluco de
“Alice nos País das Maravilhas” e de Sr. Willy Wonka de “A Fantástica
Fábrica de Chocolate” é o responsável por dar voz e vida ao camaleão
Rango, herói do filme e quem lidera um resgate de água na cidade.
A ÁGUA NO CENTRO DAS ATENÇÕES
Uma enorme consciência ambiental é o tema central de muitos filmes que estão sendo produzidos pela meca cinematográfica. Rango vem se unir a esta iniciativa e coloca em seus
argumentos questões filosóficas em torno do tema água.
Alfred Molina. Com 34 filmes no currículo, o britânico Alfred Molina
já foi Dr. Octopus em “Homem-Aranha 2”, Diego Rivera em “Frida” e
até o bispo Manuel Aringarosa em “O Código Da Vinci”. Molina é o responsável pela voz e a personalidade do tatu Roadkill, que desempenha
um papel fundamental nas discussões sobre o valor da água.
O protagonista Rango descobre que o povo está morrendo
por falta d’água. O problema piora quando ladrões roubam
a pequena reserva monetária que ainda restava nos cofres
do banco. Rango tem de reunir, então, um pequeno grupo
de voluntários para recuperar o dinheiro. O filme usa a idéia
genial de substituir o dinheiro por água, o que nos faz pensar no dilema atual em torno ao valor da água e como encontrar o equilíbrio em seu uso atual.
George Lucas. Durante dois anos consecutivos, considerado uma das
quatro figuras mais poderosas da indústria cinematográfica, Lucas é o
criador das sagas mais importantes na história do cinema moderno:
“Guerra nas Estrelas”, “Indiana Jones” e “Jurassic Park”. Em Rango, a
Industrial Light and Magic (empresa de Lucas) é responsável por fazer
um filme com efeitos especiais integrados.
Gore Verbinski. Reconhecido mundialmente pela saga “Piratas do Caribe”, o diretor fez um roteiro com profundos argumentos que ligam a
relação vital do ser humano com a água.
Paramount Pictures. Fundada em 1908, a Paramount é um dos mais
poderosos estúdios de Hollywood. Foi a primeira produtora cinematográfica a contribuir com o desenvolvimento da dublagem. Entre suas
mais famosas produções estão: “Cleópatra” de 1934, “Os Dez Mandamentos” de 1956, além de “Psicose”, “O Poderoso Chefão”, “King
Kong” e “Os Embalos de Sábado à Noite”. A Paramount é co-produtora
de Rango em parceria com a Nickelodeon Movies e GK Film.
Rango recebeu um investimento de US$ 135 milhões e já na primeira
semana de estréia alcançou o primeiro lugar em vendas nas bilheterias.
Só nos Estados Unidos, o filme faturou US$ 38 milhões.
AquAVitAe
VitAe
46AquA
46
Após a recuperação da água, Rango e seus novos amigos
passam muitas aventuras para acabar com a grave seca que
ameaça a vida de todos os habitantes de Dirt. Segundo a
crítica, os diálogos de Rango com seus amigos répteis e roedores são, por vezes, de uma profundidade digna de filósofos discutindo o rumo do mundo, mesmo narrado por este
extravagante camaleão.
uSO DiDÁtiCO
O filme é considerado por muitos como um mecanismo didático, para ensinar a buscar equilíbrio no uso da
água. Uma frase marcante do filme - “quem tem água, tem o poder” –, dá o tom de reflexão em torno do
tema, que flui por todo o filme:
• Respeito pelos recursos naturais;
• Proteção das fontes de água;
• Uso racional da água;
• O ciclo da água nos vários tipos de climas.
Para mais informações, acesse:
www.rangolapelicula.com.mx (em espanhol)
www.rangotheworld.com/ (videogame em inglês)
AquA VitAe 47
SITES DE INTERESSE
www.espacioagua.org.ar
www.abrh.org.br
www.archivohistoricodelagua.info
ESPACIO AGUA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
ARCHIVO HISTÓRICO
Organização argentina sem fins lucrativos,
DE RECURSOS HÍDRICOS
DEL AGUA DE MÉXICO
formada por organizações da sociedade
Organização fundada em 1977, que pro-
Criado em 1994 pela Comissão Nacional
civil, governos locais, universidades, em-
cura unir pessoas e empresas envolvidas
da Água (CNA) e o Centro de Pesquisa e
presas e profissionais, cuja missão é con-
no planejamento e na gestão dos recur-
Estudos Superiores em Antropologia So-
tribuir com a gestão integral dos recursos
sos hídricos no Brasil. Por meio de seus
cial. Sua missão é recuperar os acervos
hídricos e o reconhecimento formal do
parceiros, a ABRH desenvolve ações de
documentários e históricos sobre o tema
acesso universal à água potável e ao sa-
estrutura central técnico-científica de suas
hídrico. Atualmente, mantem sete bibliote-
neamento como um direito humano. Tem
operações no âmbito legal, institucional
cas: Aproveitamentos Superficiais, Águas
como estratégia “inundar” a agenda pú-
e social. Consonante com as abordagens
Nacionais, Consultoria Técnica, Infra-estru-
blica e privada por meio de ações de co-
mais modernas para a ciência da gestão
tura Hidráulica, Comissão do Rio Grijalva,
municação e educação de alto impacto,
hídrica, foi inicialmente formada apenas
Comissão do Rio Papaloapan e Acervo
criando, promovendo e fortalecendo ce-
por engenheiros civis, mas hoje envolve
Fotográfico, abrangendo o período que
nários propícios para o diálogo.
profissionais de vários setores. A ABRH é
vai de 1888 a 1980. Os documentos que
um fórum para se discutir e procurar so-
estão no AHA tornam possível reconstruir
luções para os desafios no campo dos
a forma como a água tem sido utilizada no
recursos hídricos.
México há mais de 100 anos.
www.watermonitoringalliance.net
www.internationalwaterlaw.org
www.charitywater.org
WATER MONITORING ALLIANCE
INTERNATIONAL WATER LAW PROJECT
CHARITY: WATER
Iniciativa do Conselho Mundial da Água,
Criado e dirigido por Gabriel Eckstein, a
Organização sem fins lucrativos fundada
composta por organizações envolvidas
missão do Projeto de Lei Internacional da
por Scott Harrison para levar água limpa e
na coleta, análise, divulgação e dissemi-
Água (IWLP) é servir como principal re-
potável para pessoas em países em desen-
nação de informações sobre a água em
curso on-line sobre direito internacional
volvimento. Em quatro anos, levantou mais
todos os seus usos, para criar um sistema
hídrico e questões políticas. Seu propó-
de US$ 20 milhões em doações, tendo in-
global de monitoramento hídrico. Tem
sito é educar e fornecer recursos relevan-
vestido em 3.811 projetos hídricos: 71 pro-
como objetivo melhorar o intercâmbio de
tes para o público e facilitar a cooperação
jetos em clínicas e hospitais, 384 escolas
informações entre organizações e progra-
em recursos mundiais de água doce.
e 3.356 em comunidades da Ásia, África
mas envolvidos na recompilação e divul-
Como a questão evolui e se desenvolve,
e América Central (Honduras) por meio
gação de dados sobre a água, a fim de
o IWLP continuará atualizando suas pági-
de programas de arrecadação de fundos
proporcionar melhor acesso à informação
nas e bancos de dados com publicações,
(fundraising), recrutamento de voluntários
para tomada de decisão, mídia e público
notícias, casos, correções e comentários
e conscientização sobre a questão da água
em geral.
sobre a legislação hídrica.
e saneamento.
48 AquA VitAe
ANO 7 | 2011 | N. 14
Nossa sabedoria é a dos rios.
Não temos outra.
Persistir. Ir com os rios,
onda a onda.
Os peixes cruzarão nossos rostos vazios.
Intactos passaremos sob a correnteza
feita por nós e o nosso desespero.
Passaremos límpidos.
E nos moveremos,
rio dentro do rio,
corpo dentro do corpo,
como antigos veleiros.
CONSELHO EDITORIAL
Beneditto Braga | Vice-presidente do Conselho
Mundial de Água (WWC). Professor Titular da Escola
Politécnica da USP (Brasil).
Maureen Ballestero | Presidente da Global Water Partnership
(GWP) Costa Rica. Membro do Comitê Diretivo da GWP
América Central.
Claudio Osorio | Consultor Internacional de Água
e Saneamento.
Eduardo Mestre | Diretor da Tribuna da Água,
Expo Zaragoza 2008.
DIRECTORA GENERAl
Yazmín Trejos | Gerente de Comunicación Corporativa,
Mexichem Brasil.
PRODUÇÃO EDITORIAL
Satori Editorial | www.satoreditorial.com
EDITOR CHEFE | Boris Ramirez
EDITORA DE ARTE | Carmen Abdo
DESIGN | Gerson Tung
REVISÃO | María del Mar Gómez
CAPA | Carmen Abdo e Gerson Tung
COLABORADORES
Christiana Figueres | Secretária Executiva da Convenção
das Nações Unidas sobre Mudança Climática.
Ángel Gurría | Secretário Geral da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Eng. Norma Alcantar | Professora Associada do Departamento
de Química e Engenharia Biomédica. Universidade do Sul da Flórida.
Dr. Andrei N. Tchernitchin | Profesor Titular da Faculdade de
Medicina, Universidade do Chile. Diretor Científico, Conselho
de Desenvolvimento Sustentável (Comissão Assessora
Presidencial DS 90/98).
Denis Schmidli | Gerente Sênior de Produto, Pictet-Water. Zurich.
Eng. Diego Paredes Calvo | Engenheiro Sanitarista do Grupo de
Pesquisas em Água e Saneamento. Universidade Tecnológica
de Pereira, Colombia.
Luís Carlos Vernozi Nejar
(Porto Alegre, 11 de janeiro de 1993),
é poeta, ficcionista, tradutor e crítico brasileiro,
membro da Academia Brasileira de Letras.
ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
Luis Alonso Ramirez
FALE CONOSCO
[email protected]
Uma publicação promovida pelo Grupo Mexichem
Foto: Igor Tomic
TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS
Elisa Homem de Mello e Candeias | EB VERSÃO BRASILEIRA
ISSN 1659-2697
ANO 7 | 2011 | Nº 14
LEGISLAÇÃO
Lei das Geleiras, promulgada legislação
declarando as geleiras como patrimônio
público, proibindo sua destruição ou
remoção de grandes massas de gelo e
impondo severas sanções aos infratores.
TECNOLOGIA
ANO 7 | 2011 | N°14
Tecnologia verde de ponta e inovadora
garante, por meio do uso da mucilagem
do cacto (nopal), água pura em regiões
altamente contaminadas.
RELEXÕES COM AL GORE
SOBRE A ÁGUA
Desafio ético e moral

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