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ISSN 1659-2697 ANO 7 | 2011 | Nº 14 LEGISLAÇÃO Lei das Geleiras, promulgada legislação declarando as geleiras como patrimônio público, proibindo sua destruição ou remoção de grandes massas de gelo e impondo severas sanções aos infratores. TECNOLOGIA ANO 7 | 2011 | N°14 Tecnologia verde de ponta e inovadora garante, por meio do uso da mucilagem do cacto (nopal), água pura em regiões altamente contaminadas. RELEXÕES COM AL GORE SOBRE A ÁGUA Desafio ético e moral ISSN 1659-2697 ANO 7 | 2011 | N. 14 ANO 7 | 2011 | Nº 14 LEGISLAÇÃO Lei das Geleiras, promulgada legislação declarando as geleiras como patrimônio público, proibindo sua destruição ou remoção de grandes massas de gelo e impondo severas sanções aos infratores. Nossa sabedoria é a dos rios. Não temos outra. Persistir. Ir com os rios, onda a onda. Os peixes cruzarão nossos rostos vazios. Intactos passaremos sob a correnteza feita por nós e o nosso desespero. Passaremos límpidos. E nos moveremos, rio dentro do rio, corpo dentro do corpo, como antigos veleiros. TECNOLOGIA ANO 7 | 2011 | N°14 Tecnologia verde de ponta e inovadora garante, por meio do uso da mucilagem do cacto (nopal), água pura em regiões altamente contaminadas. RELEXÕES COM AL GORE SOBRE A ÁGUA Desafio ético e moral CONSELHO EDITORIAL Beneditto Braga | Vice-presidente do Conselho Mundial de Água (WWC). Professor Titular da Escola Politécnica da USP (Brasil). Maureen Ballestero | Presidente da Global Water Partnership (GWP) Costa Rica. Membro do Comitê Diretivo da GWP América Central. Claudio Osorio | Consultor Internacional de Água e Saneamento. Eduardo Mestre | Diretor da Tribuna da Água, Expo Zaragoza 2008. DIRECTORA GENERAl Yazmín Trejos | Gerente de Comunicación Corporativa, Mexichem Brasil. PRODUÇÃO EDITORIAL Satori Editorial | www.satoreditorial.com EDITOR CHEFE | Boris Ramirez EDITORA DE ARTE | Carmen Abdo DESIGN | Gerson Tung REVISÃO | María del Mar Gómez CAPA | Carmen Abdo e Gerson Tung COLABORADORES Christiana Figueres | Secretária Executiva da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática. Ángel Gurría | Secretário Geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Eng. Norma Alcantar | Professora Associada do Departamento de Química e Engenharia Biomédica. Universidade do Sul da Flórida. Dr. Andrei N. Tchernitchin | Profesor Titular da Faculdade de Medicina, Universidade do Chile. Diretor Científico, Conselho de Desenvolvimento Sustentável (Comissão Assessora Presidencial DS 90/98). Denis Schmidli | Gerente Sênior de Produto, Pictet-Water. Zurich. Eng. Diego Paredes Calvo | Engenheiro Sanitarista do Grupo de Pesquisas em Água e Saneamento. Universidade Tecnológica de Pereira, Colombia. Luís Carlos Vernozi Nejar (Porto Alegre, 11 de janeiro de 1993), é poeta, ficcionista, tradutor e crítico brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras. ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Luis Alonso Ramirez FALE CONOSCO [email protected] Uma publicação promovida pelo Grupo Mexichem Foto: Igor Tomic TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS Elisa Homem de Mello e Candeias | EB VERSÃO BRASILEIRA CONTEÚDO 06 06 24 24 32 36 44 MATÉRIA DE CAPA REFLEXÕES COM AL GORE SOBRE A ÁGUA O líder ambiental global e Prêmio Nobel da Paz 2007 afirma que mudança climática não é um problema político, científico ou ambiental. Seus impactos são um problema ético e moral que devemos resolver. Principais impactos na América Latina e projetos reconhecidos mundialmente com selo latino-americano promovem a mitigação e a adaptação do problema na região. AMBIENTE FÓRMULA EFICAZ E VENCEDORA O uso de zonas úmidas artificiais oferece importantes benefícios ambientais e ajuda na gestão de águas residuais mediante processos naturais de remoção de poluentes que ocorrem na vegetação, no solo e na população microbiológica associada. ALTO PERFIL ÁGUA COMO FATOR DE INTERCONEXÃO Christiana Figueres, Secretária Executiva da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, pede continuidade no lobby inteligente para exigir dos governos o espírito de compromisso com a mitigação e a adaptação aos impactos do aquecimento global no setor hídrico e de saneamento. TECNOLOGIA NOPAL: ALIADO NA PURIFICAÇÃO DA ÁGUA OMS reconhece a necessidade de pesquisas sobre novas tecnologias de baixo custo físicoquímicas e físicas para eliminar o aspecto turvo da água. A mucilagem do cacto mexicano produz uma substância pastosa que, por meio de tecnologia especializada, garante água pura em regiões altamente contaminadas. CULTURA “RANGO”. A INDÚSTRIA DO CINEMA SAI EM DEFESA DA ÁGUA. Estrelas de Hollywood vêem nos recursos hídricos um dos dilemas do nosso mundo atual: Johnny Depp, Alfred Molina, George Lucas, Gore Verbinski e Paramount Pictures se unem para criar e promover uma mensagem em defesa da água PERSPECTIVA 05 ECONOMIA 18 BREVES DO MUNDO 21 CASOS 22 LEGISLAÇÃO 28 INFOGRÁFICO 30 OPINIÃO 31 SAÚDE 39 INTERNACIONAL 42 SITES DE INTERESSE 48 36 PERSPECTIVA A A qua Vitae marcou presença no I Fórum Empresarial de Sustentabilidade e Meio Ambiente, realizado na Costa Rica, onde Al Gore - líder ambiental global e Prêmio Nobel da Paz 2007 -, adverte novamente para o fato de estarmos diante de um desafio moral e ético de enormes dimensões para as gerações atuais e futuras. Nesta edição, compartilhamos quatro considerações importantes, que surgem a partir das mensagens deixadas por Al Gore. A pesquisadora mexicana e Engenheira Norma Alcantár nos revela, junto com sua equipe de trabalho, como a ideia de sua avó, de que o cacto (Nopal ou Tabaibeira) servia para limpar água, hoje se tornou um estudo interessante para remover arsênico e turvidez da água, graças à mucilagem do Nopal. Da mesma forma, em Pereira (Colômbia), com a supervisão do Engenheiro Diego Paredes, foi desenvolvida uma interessante plataforma para a construção de zonas úmidas artificiais, que ajudam na proteção de bacias hidrográficas, além de uma série de outros serviços ambientais que favorecem o ciclo da água. Os moradores de Comarapa, na Bolívia, aprenderam que além de receber água potável e ter serviços de saneamento, é importante unir-se para proteger os recursos hídricos em um contínuo esforço para proteger zonas de matas, como reposta sistêmica ao manejo de uma bacia. A Terra, este ente querido e integrador, tem todas as possibilidades de proteger e prover recursos vitais a todos os seres humanos, mas somos nós que devemos nos somar a esta gesta de devolver com trabalho, ação e devoção todo o que temos recebido, como uma forma de selar um pacto de viver e equilíbrio. Yazmín Trejos Diretora - aqua Vitae AquA VitAe 5 REFLEXÕES COM AL GORE a aQua Vitae esteVe presente durante a palestra do líder mundial sobre mudança climática, realiZada na costa rica. durante a conFerÊncia, o prÊmio nobel da paZ de 2007 reuniu líderes políticos, empresariais e sociais para reiterar os compromissos Que permitam atenuar o aQuecimento Global e adaptar a população para um noVo cenário. daí surGiram importantes reFlexÕes sobre a áGua. Foto: NASA Por BORIS RAMÍREZ 6 AquA VitAe “E ste não é um problema político, científico ou ambiental. Os impactos da mudança climática são um problema ético e moral que devemos resolver”. Sereno e direto, Al Gore não poupa palavras para expor um tema com o qual está totalmente comprometido. Como principal convidado do Fórum Empresarial sobre Sustentabilidade e Meio Ambiente em San José, na Costa Rica, Gore conseguiu reunir líderes políticos, empresariais e sociais para discutir e refletir sobre os enormes desafios que a humanidade enfrenta nestes tempos, sob o slogan: “Mitigação e adaptação são caminhos que devemos fortalecer, porque o aquecimento global não é uma teoria, é um fato”. O ex-vice-presidente dos Estados Unidos sustenta que o aquecimento da Terra é irreversível devido às emissões de gases de efeito estufa (GEE) e de determinadas ações do homem, fatores que causaram durante este século um aumento da temperatura do planeta estimado entre 1,8ºC e 4ºC. Como consequência, o gelo no Pólo Norte vai acabar derretendo completamente e o nível da água do mar pode subir até 59 cm, o que afetaria muitas po- pulações, algumas das quais já sofrem visivelmente com os impactos. Esta opinião não é partilhada por muitos setores, que questionam os argumentos de Al Gore e do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, (IPCC, por suas siglas em inglês), indicando que o aquecimento global não tem nada de antropológico (criado pelo homem), é apenas um dos picos da atividade solar. “O homem e seu efeito estufa não são culpados de nada que não seja parte de um processo natural da história, mas o descuido de nossa amada Terra em si tem um impacto direto no biossistema que habitamos e isso, não podemos negar, é total culpa nossa. Mas entre não poder beber água potável ou comer de maneira saudável e o aquecimento global existe uma lacuna que ninguém se atreve a discutir seriamente”, afirma o biofísico Nasif Nahle, membro da Academia de Ciências de Nova York e da Sociedade Americana para a Física. Da conferência de Al Gore, centrada nos desafios da sociedade ante um cenário de aquecimento global, foi possível extrair quatro importantes reflexões sobre a questão hídrica: Foto: Garret Britton AquA VitAe 7 1 A água é um recurso natural que está sendo impactado pelos efeitos do aquecimento global. As fontes de água estão em perigo devido aos impactos negativos do aquecimento global. “O primeiro grande desafio que enfrentamos é: como garantir água e alimento aos 7 bilhões de pessoas, registrados em 2010?”, questionou de maneira direta, Al Gore. Desde 2007, os habitantes da Terra mantêm uma produção de 29,9 milhões de toneladas de CO2 no mundo. Se não mudarmos este comportamento, como indica Rajendra Pachauri – presidente do IPCC – , “as conseqüências resultarão em escassez hídrica e impacto nos ecossistemas”, o que, sem dúvida, continuará incidindo negativamente no ciclo da água. Esta realidade se enquadra na situação mais geral do aquecimento global devido ao efeito do aumento das temperaturas no ciclo da água, “um fato real, não uma teoria, que se baseia em estudos realizados pelo IPCC sobre aquecimento, há vários anos”, afirma o ex-vice-presidente. As principais fontes hídricas estão sendo afetadas por este fenômeno, especialmente as calotas polares e as geleiras, cujas dimensões sofreram reduções significativas. Por esta razão, Al Gore insiste que o aquecimento global deve ser entendido como aumento da temperatura da Terra devido ao excessivo uso de combustíveis fósseis (carvão natural, gás natural, petróleo e seus derivados), além de outros processos industriais que provocam um acúmulo de gases estufa na atmosfera. “A redução de blocos de neve e de gelo é mais um indício do aquecimento. Dados de satélites obtidos desde 1978 indicam que a média anual da extensão das geleiras do Ártico diminuiu 2,7% a cada década, com reduções ainda mais acentuadas no verão (7,4% por década). Em média, as geleiras da montanha e os picos de neve sofreram redução em ambos os hemisférios”, segundo o VII Relatório sobre Mudança Climática do IPCC, apresentado em 2007. Este efeito provoca ondas de calor e tem um impacto direto no ciclo natural da água. Elementos vitais como a água estão ameaçados “pela falta de vontade política de países como Estados Unidos, China e Índia, de reduzirem sua emissão de GEE”, argumenta Al Gore, acrescentando que anos de estudos com base em dados históricos determinaram o aumento da temperatura global. • AONUparaAgriculturaeAlimentação(FAO)advertiu, em 2009, que devido à redução da produtividade pela degradação dos solos 50 milhões de pessoas na América Latina sofrem com a escassez de alimentos; Além disso – sustenta Al Gore – o fluxo de vários rios importantes também diminuiu devido à evaporação provocada pelo calor. Esta situação põe em risco o abastecimento hídrico, tanto para consumo humano como para produção alimentícia. “Em 2035, as extrações hídricas com o objetivo de garantir água para a produção de alimentos serão 27% maiores que a atual, por isso devemos proteger as fontes de abastecimento para a agricultura”, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisas sobre Política Alimentícia e o Instituto Internacional para o Manejo Hídrico. Anomalias Globais de temperatura • OFundoEcológicoMundialnaArgentinainforma que o aumento na temperatura acarreta uma redução de entre 2,5% e 5% na produção de milho, trigo, arroz e soja; • A produção de milho deve cair cerca de 15% no Brasil e 5% na Argentina, 3º e 5º produtores mundiais, respectivamente. Foto: SXC 8 AquA VitAe Fuente: Instituto Goddard de Estudios Espaciales de la NASA, con base en información de 1000 estaciones en el mundo. Ano Ranking mundial de emissões de CO 2 Emissões totais em milhões de toneladas de CO2 coréia do sul irã itália áFrica do sul méxico arábia saudita França austrália brasil espanha ucrânia polônia 857,6 10,4 reino unido alemanha japão índia 6.017,7 5.902,8 1.704,4 1.293 1.245 4,6 14,8 12 1,2 9,8 canadá Foto: SXC rússia eua china Emissões per capita (%) de CO2 614,3 18,8 585,7 9,7 514,5 10,5 443,6 7,3 468,2 8,1 443,6 10 435,6 4,1 424,1 15,7 417,8 6,6 417,1 20,6 377,2 2 372,6 9,2 328,7 7,1 301,4 7,9 AquA VitAe 9 AMÉRICA LATINA. PERDA ESTIMADA DE TERRENOS DEGRADADOS POR EXPLORAÇÃO E DESERTIFICAÇÃO Expectativa de área degradada até 2050 (Km2) Expectativa de área degradada até 2100 (Km2) BOLÍVIA 60.339 123.301 243.979 CHILE 77.230 157.818 312.278 EQUADOR 40.136 82.011 162.289 PARAGUAI 66.704 136.308 269.716 PERÚ 197.211 402.996 797.418 Fonte: Avaliação Mundial da Degradação e Aperfeiçoamento de Terra. TEMPERATURAS MÁXIMAS EM VÁRIAS REGIÕES DA AMÉRICA LATINA CIDADE / PAÍS TEMPERATURA (ºC) Puebla, México Puerto Salgar, Colômbia San Salvador, El Salvador DATA 49 Junho/2011 42,3 Janeiro/2010 42 Maio/2011 Rio de Janeiro, Brasil 41,5 Caracas, Venezuela 40 Maio/2010 Libéria, Costa Rica 37,2 Maio/2011 Veraguas, Panamá 37 Maio/2011 Loreto, Peru 37 Janeiro/2010 Valparaíso, Chile 37 Janeiro/2010 Buenos Aires, Argentina Guayaquil, Equador Fonte: Registros meteorológicos dos países. 10 AquA VitAe 36,5 36 Fevereiro/2010 Novembro/2008 Fevereiro/2010 O relatório “A Economia das Mudanças Climáticas na América Latina e no Caribe”, apresentado em 2010 pela Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL), mostra os efeitos do aquecimento global na região, com particular impacto na água: • Atemperaturadeveaumentarentre2ºC e 4ºC por conta da mudança climática, no próximo século; • Há evidências de aumento no nível do mar no Brasil, México e na Colômbia. • Ospadrõesdeprecipitaçãooscilamcom aumento entre 5% e 10% e reduções entre 20 e 40%; • Intensificaçãodaschuvasnocentrodo México, nas regiões tropicais da América Central e no sudeste da América do Sul; • Ondas de calor na América Central e América do Sul; • ReduçãodechuvasnonordestedoBrasil e norte do Chile; • Derretimento de geleiras na Bolívia, Colômbia, Argentina, Peru, Equador e Chile. O relatório do PNUMA indica que nestes dois últimos países a altura das geleiras sofreu redução de 35 metros entre 1960 e 2003. Foto: NASA Área degradada atualmente (Km2) País queStÃO De iMPACtO As inundações e as secas produzem severos impactos sociais e econômicos. Estes são alguns exemplos ocorridos na América Latina entre 2010 e o 1º Semestre de 2011. BRASIL: Em janeiro de 2010, o impacto de uma semana de chuvas torrenciais nas regiões serranas do Rio de Janeiro gerou um dos estados de emergência mais drásticos do país. • Os principais efeitos se observaram no setor agrícola, sendo as regiões mais afetadas as de Coquimbo e Valparaíso; • Os níveis dos reservatórios baixaram, provocando uma crise na energia elétrica. EQUADOR: Fortes chuvas e inundações atingiram o país em abril de 2010. •676mortese350desaparecidos; •29mortose34,5milpessoasafetadas; •BairrossoterradosemNovaFriburgo,TeresópolisePetrópolis. Destruição de pontes, estradas e moradias. A região ficou semanas sem água, nem eletricidade; •Apenasnosprimeirosdias,US$350milhõesforaminvestidos para atender às pessoas afetadas; •Oeventomudouageografiadaregião,causandodanos irreparáveis, como a alteração de bacias hidrográficas, de rios e córregos. BOLÍVIA: Entre janeiro e abril de 2010, uma grave seca afetou a região de El Chaco, em Santa Cruz. • 2.203 casas destruídas nas regiões de Santa Elena, Los Ríos, Manabí e El Oro; •EnchentesnosriosNapo,Poro,TenaeMisahualli. GUATEMALA: Desde 2009, o país vem enfrentando períodos de graves secas, que, na época, tinha resultado na morte de 54 crianças. Em 2010, estes foram os impactos: •Regiõesmaisafetadas:Zacapa,Jutiapa,ElProgreso,Chiquimula, Santa Rosa; •Diminuiçãode38%noíndicepluviométrico; • 7 municípios afetados. Perdas de 90% nas lavouras de milho; •75%detodasasmoradiasperderamasreservasdesuas caixas d’água. As fontes de água superficial baixaram 60%; •Adesnutriçãocrônicainfantilafetou25%dapopulação; •Overão2009–2010foiomaissecoem20anos. Foto: NASA COLÔMBIA: De abril de 2010 até maio deste ano, o país sofreu com uma intensa temporada de chuvas, cujos resultados até agora foram: •400mortos,3milhõesdepessoasafetadas; •1,3milhãohectaresinundados;70milcabeçasdegadomortas; •1.030municípiosafetadosdeumtotalde1.120emtodo o país; • Investimento de US$ 34 milhões para atender 680 mil pessoas e garantir o fornecimento de alimentos, água potável, serviços e equipe de saúde. MÉXICO: Em setembro de 2010, dois furacões afetaram Veracruz e Sonora. •FuracãoKarl.DurantesuapassagemporVeracruzeestados localizados ao sul do México, o furacão deixou 18 mortos, 1 milhão de desabrigados, 140 mil casas destruídas, enchente em 7 rios. Os manguezais na área levarão cerca de 10 anos para se recuperarem; • Furacão Georgette. Durante sua passagem por Sonora, o furacão provocou 10 dias de chuva em 28 estados da República Mexicana, danificando estradas, moradias e o sistema de abastecimento de água. NICARÁGUA: A passagem do furacão Matthew, em setembro passado, resultou em: •MaisdeU$2bilhõesdestinadosàsreparaçõeseminfraestrutura: estradas, rede de esgoto, moradias. •54mortose5mildesabrigados; CHILE: Do final de 2010 até o início deste ano, o Chile enfrentou o clima seco. •8milcasasinundadaseestragosemLeón,Chinandega, Matagalpa, Jinotega e Estelí; •AsecaseestendeupelasregiõesdeAtacama,Coquimbo, Valparaíso, Metropolitana e O’Higgins; •AumentoperigosodaságuasdoLagodeManágua. AquA VitAe 11 A água é um recurso estratégico vulnerável devido aos impactos de eventos extremos associados ao aquecimento global. ‘‘ ‘‘ 2 40% da população mundial obtém seu abastecimento de água pelos rios, porém eles estão acabando Uma segunda reflexão sobre a água, surgida na ocasião, trata de uma realidade inegável: nosso planeta enfrenta eventos extremos, com incidência direta nas fontes de água. “A cada dia que passa as secas e as tempestades são mais fortes”, afirmou Al Gore, explicando que estes eventos – associados ao aquecimento global – nos obrigam a considerar três aspectos fundamentais: - Mortalidade dos seres humanos; - Envolvimento de fontes hídricas e redução da quantidade e qualidade da água; - Destruição de infraestrutura: pontes, estradas, rede de esgotos, casas, escolas, hospitais; “Neste último século vivemos os 10 anos mais quentes da existência humana. Os dados são preocupantes”, assinala Al Gore, enfatizando que “o mesmo calor que favorece a evaporação de água do oceano, desidrata os solos e promove a desertificação”. Como efeito direto, os recursos hídricos enfrentam uma situação estressante de duas maneiras: por um lado, secas extremas como as vividas no Paquistão e na Índia em 2010, devido a altíssimas temperaturas (os termômetros alcançaram os 53,2ºC); por outro, inundações causadas por fortes tempestades e enchentes de rios que, durante 10 meses consecutivos, inundaram 900 dos 1.102 municípios da Colômbia, entre 2010 e 2011, fazendo com que 2 milhões de pessoas fossem afetadas e trazendo grandes prejuízos para o setor da construção civil. “De onde vem este estresse hídrico? Em parte, da natureza. Não há um dia sequer que chova de maneira regular. De fato, 12 AquA VitAe há séculos, o ser humano se acostumou a ver a chuva cair de forma irregular. Mais recentemente, com a chamada mudança climática, a irregularidade das precipitações tem aumentado, por isso alguns países enfrentam, atualmente, dificuldades cada vez maiores com relação à quantidade de água disponível. Mas a maioria do estresse hídrico não é devido a irregularidade das chuvas, e sim ao crescimento das atividades e da evolução da forma de vida dos seres humanos”, afirma Gérard Payen, Presidente da Federação Internacional de Empresas Hídricas Privadas. A degradação das terras áridas, semiáridas e sub-úmidas secas constituem um dos problemas ambientais atuais. Mais de 20 milhões de km² da superfície da América Latina e do Caribe são consideradas áreas suscetíveis a se tornarem desertos. O VII Relatório sobre Mudança Climática do IPCC, de 2007, afirma que, caso as tendências de elevação de temperatura se mantenham, “muito provavelmente, aumentará a frequência extrema das ondas de calor e das precipitações intensas e, provavelmente, também aumentará a intensidade dos ciclones tropicais e haverá menor credibilidade para que os ciclones ao redor do mundo diminuam”. O impacto direto em termos hídricos refere-se a dois fatores: menor disponibilidade de água e aumento das secas em latitudes médias e latitudes baixas semiáridas, além de centenas de milhares de pessoas expostas a um maior estresse hídrico. Ao confrontar o auditório com imagens chocantes dos efeitos dos ciclos de secas e inundações no México, Brasil, Bolívia, América Central, Estados Unidos, Europa, Filipinas, Índia e China, Al Gore afirmou: “40% da população mundial obtém água via água dos rios, mas eles estão morrendo”. A lista de regiões afetadas pelos eventos extremos é cada vez maior. (ver box) POSSÍVEIS IMPACTOS DA MUDANÇA CLIMÁTICA POR ALTERAÇÃO DE FENÔMENOS ATMOSFÉRICOS E CLIMÁTICOS EXTREMOS Projeções até a segunda metade do século XXI EVENTO ATMOSFÉRICO E CLIMÁTICO EXTREMO PROBABILIDADE DE TENDÊNCIA FUTURA COM BASE EM CENÁRIOS DO IECE (Informe Especial sobre Cenários de Emissões) IMPACTOS DE GRANDE MAGNITUDE NOS RECURSOS HÍDRICOS Na maioria das áreas terrestres, dias e noites mais quentes, frio menos frequente Quase certo Aumento do degelo com efeitos sobre alguns abastecimentos hídricos. Aumento da frequência de ondas de calor Muito provável Aumento da demanda de água; problemas com a qualidade da água (Ex.: proliferação de algas). Aumento da frequência de eventos de precipitação intensa Muito provável Efeitos adversos sobre a qualidade da água superficial e subterrânea; contaminação dos abastecimentos hídricos. Secas intensificadas em todo o mundo Provável Maiores extensões serão afetadas pelo estresse hídrico. Aumento na intensidade dos ciclones tropicais Provável Cortes de energia elétrica e possíveis alterações no abastecimento hídrico público. Maior incidência nos aumentos extremos do nível do mar (não inclui tsunamis) Provável Menor disponibilidade de água doce devido à intrusão de água salgada. Fonte: Mudança Climática 2007. Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática. AquA VitAe 13 3 A água é um recurso para o desenvolvimento humano e deve estar na agenda de mitigação e adaptação no cenário do aquecimento global. O principal apelo feito pelo Prêmio Nobel da Paz 2007 e ativista ambiental Al Gore é levar a sério as ações de mitigação e adaptação, enfatizando que é preciso distinguir entre um conceito e outro para se tomar as melhores decisões. A ação de atenuar ou mitigar, em relação à mudança climática, refere-se à aplicação de políticas destinadas a reduzir as emissões dos gases do efeito estufa (GEE) e potencializar os sumidouros. Já a adaptação está ligada às iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos, diante dos efeitos reais ou esperados de uma mudança climática. Alguns exemplos de adaptação são a construção de diques fluviais ou costeiros, a substituição de plantas sensíveis ao choque térmico por outras mais resistentes, etc. É aí que Al Gore lança um grande desafio aos governos, empresas e cidadãos: “Vamos taxar a emissão de CO2”. Só assim poderemos gerar recursos econômicos suficientes para as ações de mitigação e adaptação, que não podem ser apenas projetos no papel, devem ser uma realidade diária dos países. Outras fontes de recursos que estão sendo aplicadas em diferentes países são instrumentos econômicos, tais como: pagamentos de serviços ambientais, taxas por descarga de água, entre outros. Segundo Al Gore, estes dois assuntos são básicos, e afirma: “hoje devemos atender às populações que migram de regiões onde as secas estão lhe causando forte impacto ou as inundações lhes forçando a mover-se”. “Nas disposições mais recentes, o principal interesse é direcionado à regulamentação e gestão integrada dos recursos hidrológicos, que responde às limitações e desarticulações dos enfoques setoriais. As leis sobre os recursos hídricos se caracterizam por utilizar a bacia hidrográfica como unidade de gestão, o que descentraliza funções e responsabilidades do Estado em relação aos governos locais”. Esta é a abordagem promovida pelo Centro Regional de Informação sobre Desastres (CRID), quanto a análise do tema de medidas de adaptação do setor hídrico diante das mudanças climáticas. Ele insiste que o número de deslocados pelo aquecimento global aumentará, sobretudo diante do aumento dos níveis do mar, o que obrigará populações inteiras a evacuar as áreas afetadas para não morrerem afogadas. Al Gore destaca que, atualmente, existem 400 milhões de refugiados por esta razão. Não se pode esquecer que, como afirma Al Gore, é geralmente mais caro remediar que prevenir e reparar os danos frente aos impactos do aquecimento globa depois de já ocorridos será mais oneroso e difícil do que se preparar com antecipação para enfrentá-los. ENERGIAS RENOVÁVEIS OUTRAS FONTES DE ENERGIA PARA REDUZIR A DEMANDA DE PRODUÇÃO HIDROELÉTRICA 14 AquA VitAe ENERGIA GEOTÉRMICA ENERGIA SOLAR ENERGIA EÓLICA ENERGIA DE BIOMASSA FOTOVOLTAICA TÉRMICA BIOMASSA RESIDUAL BIOCARBURANTES CULTIVOS ENERGÉTICOS ENERGIA HIDRÁULICA RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS Para os próximos anos, será essencial que o planejamento dos recursos hídricos se ajuste aos princípios de gestão e adaptação que assegurem a integridade dos ecossistemas, e se volte para os cenários de vulnerabilidade frente à mudança climática. Será preciso tomar medidas para: - fechar a lacuna entre oferta-demanda, desenvolvendo programas de contigência para enfrentar a seca; - reduzir as perdas no abastecimento de água potável; - desenvolver uma cultura hídrica; - manter e restabelecer as principais funções de zonas úmidas e bacias hidrográficas; - introduzir políticas ambientais para fazer frente às inundações e secas. Fonte: Centro Regional de Informação sobre Desastres (CRID) ReFuGiADOS AMBieNtAiS O termo refugiado ambiental, introduzido em 1985 pelo professor Essam El-Hinnawi, se refere a “uma pessoa que foi forçada a deixar seu habitat tradicional, temporal ou permanentemente, como consequência de um desequilíbrio ambiental significativo, seja por perigos naturais e/ou provocados pela atividade humana, o que põe em risco a sua existência e/ou afeta sua qualidade de vida”. Atualmente, leva-se em conta os prejuízos provocados pelos efeitos da mudança climática: aumento do nível do mar, eventos hidrometeorológicos e desertificação. Em maio de 2008, a passagem do ciclone Nargis por Mianmar resultou em 800 mil refugiados ambientais, que foram obrigados a se instalarem em outras regiões. Não existem mecanismos ou instrumentos para determinar este tipo de deslocamento. Não obstante, caso a temperatura do planeta continue aumentando, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) prevê entre 200 e 250 milhões de refugiados ambientais até 2050. Aqui estão alguns números de pessoas já registradas como refugiados ambientais na América Latina: • 2003. A enchente do rio Salado, na Província de Santa Fé (Argentina) deslocou milhares de pessoas. Embora não haja dados oficiais, calcula-se 100 mil pessoas afetadas diretamente. De acordo com estudos, esta é uma consequência do mau manejo das bacias hidrográficas, do desmatamento descontrolado e excessivo e da má construção de uma barragem que fez o rio transbordar, juntamente com as fortes chuvas; • 2005.ApassagemdofuracãoStanpelaGuatemalaprovocou chuvas, desmoronamentos e inundações, a destruição de todo o povoado de Panabaj, na região do Lago Atitlán; 2.400 pessoas foram deslocadas para refúgios localizados em outra zona de risco; • 2007.OMinistériodoInteriordoMéxicoreportaasseguintes informações: -28,6 milhões de mexicanos vivem em zonas de alto risco ambiental; -11 milhões, em zonas de alto risco; -10 milhões de pessoas foram afetadas nas regiões fronteiriças do norte porque os aquíferos estão secando, o Rio Colorado está secando e as chuvas estão diminuindo; - 20 milhões de pessoas foram afetadas nas regiões do Golfo de México pelos furacões. • 2009.Umtotalde30milpessoasabandonaramsuascasas na Argentina, pelas seguintes razões: - Deslizamentos de terra provocados pelo excessivo desmatamento foram os responsáveis pelo deslocamento de 1.000 pessoas em Tartagal, na província de Salta; - Tornados na província de Misiones deixaram 100 mil famílias desabrigadas; - Chuvas e inundações na Região Norte Grande Argentino e Entre Rios provocaram 14 mil deslocamentos por enchentes dos Rios Paraná e Uruguai. AquA VitAe 15 4 A água é um recurso indispensável que deve ser garantido como um direito real e concreto. Al Gore afirma, sem dúvidas, que a água é um direito de todos os seres humanos, um elemento vital e necessário para a existência do homem e um recurso para produzir alimento, energia e desenvolvimento. Para reiterar a afirmação, disse que tal direito é um tema de ética e moral, um compromisso que não deve ser adiado e que “devemos agir rapidamente, já que as novas gerações nos pergun- tarão do por que não fizemos nada”. Esta questão importante – diz ele – deve nos levar a ter coragem para agir, “porque a mudança climática não é automática: você tem que estar convicto”. Mas a convicção apenas não basta se não for acompanhada por ações que demonstrem que todos aceitam a responsabilidade de assumir o desafio. iNiCiAtiVAS CONCRetAS: MeLHORiAS CeRtAS Atenuar e adaptar são verbos que fazem parte da nova realidade e devem ser incorporadas na linguagem do desafio hídrico, mas especialmente para projetos que alcancem significativo impacto ambiental na mitigação dos efeitos do aquecimento global. Estas são algumas histórias de sucesso com selo latino-americano, reconhecidas mundialmente. A estratégia desenvolve duas agendas: ànacional, que inclui atenuação, adaptação e relação entre mudança climática e competitividade do país; internacional, que busca ter influência e atrair recursos econômicos de distintos países. Mais informações: www.encc.go.cr BRASIL. Fundo Amazônia: A riqueza da biodiversidade, a captura de carbono e a abundância de água doce na Amazônia não tem comparação com nenhum outro ecossistema do mundo. O governo brasileiro estabeleceu este fundo para financiar ações de organizações governamentais ou não, destinadas a combater o desmatamento e promover a conservação e o uso sustentável da Amazônia como um reservatório de água e vida. O Brasil estabelece políticas e cria incentivos fiscais dentro de seu Plano Nacional de Mudança Climática, que fixa como meta a redução de 80% do desmatamento da Floresta até 2020, em comparação com os níveis registrados entre1996e2005.Para2021,espera-seumaportedeUS$ 21 bilhões vindos de pessoas, empresas e doações institucionais, incluindo os governos dos países vizinhos. Para isso, o Brasil conta com o apoio da Noruega e tenta englobar todos os países da bacia amazônica (Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela). Mais informações: www.fundoamazonia.gov.br EQUADOR. Iniciativa Yasuní-ITT: Esta proposta evita explorar combustíveis fósseis ao inibir ou proibir a extração de petróleo em áreas de alta sensibilidade biológica e cultural. Esta iniciativa é realizada no Parque Nacional Yasuní, local de grande biodiversidade, tombado pela UNESCO, em 1989, como Reserva Mundial da Biosfera. O estado equatoriano se compromete a deixar no solo, indefinidamente, em torno de 856 milhões de barris de petróleo, para evitar a emissão na atmosfera de 407 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono que seriam produzidos com a queima destes combustíveis fósseis. A suspensão da extração ocorreu em troca de uma compensação financeira da comunidade internacional por uma fração do valor estimado em 50% dos lucros que seriam gerados, caso ocorra a exploração deste recurso (aproximadamenteUS$350milhõesporanos).Osfundoscaptadosforam reinvestidos na gestão de 19 áreas protegidas, num programa de reflorestamento na mudança da matriz energética. Isso foi possível com o apoio da Alemanha e da Fundação AVINA. Mais informações: www.yasuni-itt.gob.ec COSTA RICA. Neutralidade de carbono: O país decidiu, unilateralmente, se tornar um território neutro em carbono, em 2021. Para isto, planejou uma estratégia integrada para adaptar as mudanças climáticas à sua economia e que pode ser aplicada em países com características similares. O processo começou por colocar a questão climática como prioridade do Plano Nacional de Desenvolvimento da Costa Rica. A estratégia estabelece um balanço zero ou negativo do inventário nacional de emissões, por fontes de todas as atividades realizadas pelo ser humano, dentro dos parâmetros do Painel Intergovernamental da Mudança Climática. Desta forma, pretende-se exercer impacto zero no clima. AquA VitAe VitAe 16 AquA 16 MÉXICO. Sistema de captação de água pluvial. A Comissão Nacional da Água (CONAGUA) do México deverá lançar licitaçõesdeUS$26milhões,paraconstruirumsistemadecaptação de águas pluviais do Rio dos Remédios na Cidade do México. As obras compreenderão a construção de dois túneis novos, que deverão se ligar com outros dois túneis de drenagem: Emissor Poniente e Emissor Oriente, atualmente em construção no estado do México. A água da chuva seria utilizada em sistemas de irrigação e em outras atividades. A CONAGUA pretende completar quatro projetos deste sistema no período 2008-2012. Mais informações: www.cna.gob.mx ViSÕeS SeMeLHANteS Existem vários outros líderes mundiais que fazem um apelo similar para enfrentar este desafio de dimensões éticas: “Não poderemos sequer pensar em direito à água, se não existe água. Este é um dilema humano que devemos resolver”. Maude Barlow, Prêmio Nobel Alternativo. Fundadora do Projeto Azul, Canadá. “Os dados ocultos por detrás de tanto falatório revelam que 20% da humanidade comete 80% das agressões contra a natureza, crimes estes que a humanidade inteira pagará pelas consequências da degradação da terra, pela intoxicação do ar, o envenenamento hídrico, pela variações do clima e pela dilapidação dos recursos naturais não renováveis”. Eduardo Galeano, escritor uruguaio. “Estamos entrando numa fase altamente vulnerável da existência de nosso planeta e da existência da humanidade. Nenhuma redução (de gases do efeito estufa) evitará outro aumento de temperatura de menos de 0,7 ºC nas próximas duas décadas”. Saleemul Huq, Instituto Internacional para o Ambiente e o Desenvolvimento, Bangladesh. Foto: NASA “Para evitar a tragédia, é urgente reduzir as emissões com estratégias de adaptação, mitigação, concessão de tecnologias aos países mais vulneráveis e financiamento abundante para estimular tais medidas. A preocupação agora, não é garantir a continuidade do status quo, mas sim equilibrar o sistema terrestre, a vida em geral e a vida humana em particular”, Leonardo Boff. Teólogo, filósofo, escritor brasileiro. AquA VitAe VitAe 17 17 AquA Foto: Carmen Abdo economia Investir em água permite não apenas contribuir com a melhoria das condições de vida humana, como também gerar excelentes rentabilidades financeiras. Foi a conclusão do fundo especializado Pictet-Water. 18 AquA VitAe ÁGUA: FONTE DE VIDA E DE RENDA DENIS SCHMIDLI, Gerente de Produtos Sênior Pictet-Water. Zurique. A Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou 22 de março como “Dia Mundial da Água” e estimou que a população mundial crescerá 40%, atingindo os 9 bilhões até 2050. Por causa do aumento do poder aquisitivo, os habitantes dos países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia, consomem cada vez mais itens que necessitam de água para sua produção. Tomemos o exemplo da carne: a quantidade de água necessária para sua produção é dez vezes superior à dos cereais. Finalmente, vários estudos indicam que a demanda de água doce avança duas vezes mais rápido que o crescimento da população mundial. A água tornou-se um recurso estratégico no século XXI, como os recursos energéticos. Portanto, os investimentos em infraestruturas para a produção e o tratamento hídrico terão de continuar em escala mundial. Para ilustrar a evolução do mercado hídrico no decorrer dos próximos anos, vejamos algumas cifras: na China, os investimentos em projetos de conservação hídrica atingiram um nível recorde de 142,7 bilhões de Yuans (o equivalente a quase US$ 21 bilhões) em 2009, ou seja, mais que o dobro dos gastos registrados em 2008. E a tendência deve continuar durante os próximos anos, caso Pequim intencione continuar cumprindo seus ambiciosos objetivos econômicos e evitar desordens sóciopolíticas relacionadas aos problemas de insuficiência hídrica. Nos países desenvolvidos, após diretrizes mais estritas, a União Européia prevê um investimento total de aproximadamente €$ 350 bilhões, entre 2006 e 2025 em novas infraestruturas. E nos EUA, os investimentos nestes setores devem chegar a aproximadamente €$ 900 bilhões até 2019. Mas os estados não poderão solucionar apenas o problema do aumento da demanda de água. Num contexto em que muitos ‘‘ países buscam os meios de reduzir seu endividamento, as indústrias e as pessoas também deverão contar com o setor privado. O tamanho deste mercado – denominado outsourcing – é importante, já que representa um volume de negócio anual estimado em US$ 260 bilhões. Estas considerações ilustram a magnitude dos desafios que surgirão no decorrer dos próximos anos. Será possível cumprí-los? Em teoria sim: a água é um recurso renovável e seu ciclo funciona em circuito fechado. Da Terra e dos oceanos, em particular, as moléculas de água se dissipam na atmosfera antes de voltar a se infiltrar na terra. Assim, a quantidade total de água disponível permanece estável ao longo do tempo. No entanto, as pessoas não podem usar diretamente mais de 0,25% do recurso, dado que o restante é formado por água do mar, geleiras e águas residuais. Por isso, a demanda mundial de água doce vai continuar a exceder a oferta nas próximas décadas, o que deverá implicar num aumento contínuo dos preços. Atualmente, o tamanho do mercado hídrico mundial é de US$ 500 bilhões e seu crescimento permanece estável em 6% ao ano. Muitas empresas de capital aberto participam deste boom e oferecem grandes perspectivas a seus investidores. Um setor particularmente promissor é o de técnicas de dessalinização hídrica, que registra as maiores taxas de crescimento. Estes procedimentos produzem água potável a partir de água do mar a um custo razoável em regiões onde a água potável é escassa. A experiência tem demonstrado que uma rigorosa seleção de empresas do setor hídrico – eleitas por suas vantagens competitivas, suas perspectivas de crescimento e suas avaliações – continuará oferecendo perspectivas de rendimentos muito superiores no longo prazo que os índices de renda variável, como o MSCI World. Consequentemente, investir em água pode não só contribuir para a melhoria das condições de vida humana, como também gerar excelentes rentabilidades financeiras. (Foi solicitada permissão à Picter-Funds para a reprodução deste artigo) Em geral, os criadores dos modelos tendem a calcular que estas medidas teriam um custo atual de aproximadamente 1% e 3% do Produto Mundial Bruto. Todas as projeções apontam que o custo de não reagir com prontidão será muito maior do que o custo de tomar as medidas para eliminar as emissões. ‘‘ AquA VitAe 19 RENTABILIDADE DO FUNDO O fundo tem por objetivo o crescimento do capital, investindo pelo menos dois terços de seu patrimônio total em ações de empresas do mundo todo que operam no setor de água e do ar. A divisão é focada em empresas envolvidas no abasteci- mento de água, serviços de tratamento, tecnologia hídrica, bem como serviços ambientais. O gráfico apresenta os valores anuais de rentabilidade, indexados entre janeiro de 2007 e julho de 2011. Fonte: Pictet Funds, S.A. www.pictetfunds.com CONHeÇA MeLHOR O MeRCADO HÍDRiCO Um artigo publicado pela especialista Paula Mercado, da empresa VDOS Stochastics, em fevereiro de 2011, cita a Pictet Water como sendo uma pioneira no investimento do setor hídrico: • Pictet-Water é o fundo especializado de maior volume no setor hídrico, com ativos sob gestão de €$ 2,65 bilhões, segundo dados de 7 de fevereiro de 2011; • O Fundo é gerenciado por Hans Peter Portner e Philippe Rohner, dois especialistas e analistas que conseguiram ver um nicho importante no setor hídrico e de saneamento; • No mundo, existem 300 mil empresas ligadas à água, que faturam US$ 500 bilhões por ano. Do total destas empresas, 250 mil fornecem serviços de água e esgoto. Sua representação no mercado de ações é formada por 750 empresas, das quais apenas 270 – das 40 mil estimadas no mundo – têm exposição significativa para as indústrias de água. Estas 270 empresas representam uma capitalização total no mercado de capitais de aproximadamente €$ 360 bilhões; • É preciso gerenciar o risco de execução, incluindo os fatores políticos, normativos e ambientais, para limitar o investimento no setor hídrico às empresas capazes de criar valor; • Nos próximos dez anos, o consumo de água irá aumentar com a população e a urbanização. A China já declarou que a água é um recurso estratégico e planeja investir bilhões para assegurar suas ambiciosas metas econômicas; • A indústria está se desenvolvendo rapidamente com empresas locais em mercados emergentes. Alguns exemplos bem sucedidos: - SABESP, localizada no Estado de São Paulo (Brasil), está entre as dez maiores participantes do fundo; - Manila Water, das Filipinas, após conseguir resolver com sucesso problemas de infraestrutura em seu país, conseguiu expandir-se na Índia; - Singapura tem investido em seu programa de tratamento de águas para reduzir sua dependência da Malásia. 20 AquA VitAe BReVeS DO MuNDO NANOFiLtRO PARA PuRiFiCAR Um filtro formado por um pedaço de tecido de algodão, impregnado com nanotubos de carbono e nanofios de prata, pode se tornar uma tecnologia valiosa no combate às doenças transmitidas pela água devido a sua simplicidade, ao baixo custo e sua eficiência. O novo filtro pode evitar o bloqueio dos sistemas de filtração hídrica industrial quando do acúmulo de bactérias em seu interior. No lugar de reter as bactérias, como fazem a maioria dos filtros, a “nanomembrana” desenvolvida pelos cientistas da Universidade de Stanford as mata. Como as bactérias são destruídas, ao invés de recolhidas, os poros da tela que é feito o novo filtro podem ser maiores, garantindo que a água escorra mais rápido e impeça que o filtro entupa e precise ser substituído. Em testes de laboratório, a aplicação de uma corrente de 20 volts dentro do filtro eliminou 98% das bactérias E. coli (micróbio que vive no intestino dos seres humanos e em águas paradas), responsáveis pela causa de infecções graves. “Nosso dispositivo atua com 20% menos energia e pode filtrar 80 mil vezes mais rápido que os filtros convencionais. Também pode custar menos”, afirmou Yi Cui, pesquisador líder do projeto da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Fonte: Revista NanoLetters, publicação da Associação Química dos Estados Unidos. Dessalinizar: Solução para a China Água suja para aquecer as cidades Cientistas chineses trabalham no desenvolvimento de novas tecnologias de dessalinização que aliviem, nos próximos anos, a grave escassez de água sofrida por todo o país. Em breve, a falta de água em Pequim será de 200 a 300 milhões de metros cúbicos, segundo relatos da imprensa estatal, enquanto a cidade aguarda a conclusão do Projeto de Transferência de Água do Sul para o Norte, que deslocou cerca de 330 mil pessoas. Enquanto isso, mais ao sul, países asiáticos como Birmânia, Laos, Camboja e Vietnã afirmam que a política agressiva da China de construir barragens no rio Mekong priva seus cidadãos de água. Para alguns, a resposta está na tecnologia de dessalinização. A China tem realizado pesquisas nesta área desde 1958 e, em 1975, começou a testar seus primeiros artefatos. Em 1986, concluiu a fabricação de um dispositivo para a dessalinização da água do mar por osmose reversa. Tianjin, cidade costeira a cerca de 150 km de Pequim, representa a vanguarda nacional nessa tecnologia. Segundo o governo local, o Projeto de Dessalinização de Água Marinha de Dagang Xinquan é a “maior central da Ásia”. Wang Shichang, diretor do Centro de Tecnologias de Dessalinização da Universidade de Tianjin, disse que os cientistas chineses trabalham em mais de 200 projetos e recebem apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, bem como da Fundação Nacional da Ciência da China. A capacidade de dessalinização chinesa atingiu quase 200 mil toneladas diárias em 2008, contra 30 mil em 2005. De acordo com o atual plano de desenvolvimento do governo, o montante pode chegar a variar entre 800 mil e 1 milhão de toneladas no final de 2011. A França tem investido na utilização de suas águas residuais para o aquecimento público, de moradias e de piscinas municipais. Trata-se do mais recente empreendimento de várias cidades francesas. É o princípio da energia geotérmica sendo aplicada a uma vasta rede de águas residuais canalizadas no subsolo que, graças à tecnologia, serve para aquecer os prédios públicos. A Prefeitura de Valenciennes – cidade onde nasceu o Ministro do Meio Ambiente Jean Louis Borloo – inaugurou, em novembro de 2010, o novo sistema de calefação de um edifício do século XVIII, que conta com 8,5 mil metros quadrados. A água procedente dos chuveiros, dos eletrodomésticos ou do esgoto da cidade deverá servir para o aquecimento do local. O sistema é simples, foi patenteado na Suíça e já importado pela Alemanha. A companhia Lyonnaise des Eaux, filial da gigante Suez Environnement, é responsável pelo desenvolvimento do projeto. A energia térmica das águas residuais varia entre 11°C e 20°C, de acordo com a época do ano e chega a uma série de transportadores de calor instalados nas redes de recuperação dos esgotos, de onde uma bomba térmica alimenta um circuito de calefação. Esta pequena revolução técnica pode aportar uma economia à Prefeitura de aproximadamente US$ 100 mil por ano, caso todo o edifício possa ser aquecido. Quando a temperatura fica abaixo de zero, como no último inverno de 2011, o sistema cobre 77% do consumo energético, trazendo uma economia de US$ 60 mil para os contribuintes. Este mesmo sistema é utilizado na piscina pública da cidade de Levallois-Perret, ao norte de Paris. Em setembro passado, a piscina municipal se tornou a primeira a empregar águas residuais para aquecer em até 29ºC a água utilizada pelos moradores da cidade. Fonte: InterPress Services (IPS). Fonte: Ministério do Meio Ambiente, França. AquA VitAe 21 casos Compromisso Com a proTEÇÃo O povo de Comarapa, na Bolívia, aprendeu que além de receber água potável e contar com serviços de saneamento é importante estar unido para proteger os recursos hídricos. Por BORIS RAMÍREZ 22 AquA VitAe CaraCterístiCas da Comunidade Comarapa é uma cidade localizada na província de Caballero, a 243 km da capital do departamento de santa Cruz, na Bolívia. sua população é de 14.584 habitantes, numa área de 15.034 hectares e altitude variando entre 1.630 e 3.122 metros; 63% do município de Comarapa faz parte do Parque nacional amboró;onde 33% do território é área protegida. situação iniCial devido às precárias condições de acesso à água potável, bem como problemas no uso hídrico para a agricultura, um grupo de pessoas levantou a necessidade de resolver a situação que ameaçava sua qualidade de vida. • a maioria da população pegava água às margens dos rios. elas a usavam para consumo doméstico, produção agrícola e irrigação. Por causa do mau uso do recurso, algumas fontes foram contaminadas; • Falta de sistemas de esgoto para garantir a qualidade da água. • 80% da agricultura de irrigação: 6 mil hectares sem boas práticas em uma zona de proteção aquífera; • 20% da economia baseada na atividade pecuária e artesanal, com precário manejo hídrico. Como a situação Foi resolVida? os moradores formaram a Cooperativa de serviços Públicos Caballero ltda. em outubro de 1966. seus 43 membros propuseram um equilíbrio entre o consumo de água e a água utilizada para irrigação na zona de proteção natural através do compromisso de cooperação para gerar responsabilidades comunitárias e da distribuição dos lucros gerados pelo serviço de acesso à água e esgoto. em 2008, a Cooperativa criou o Fundo ambiental, graças a um convênio entre a Fundação natura Bolívia e o Governo municipal de Comarapa. em seguida, uniram-se à associação de irrigadores de saipina, a fim de conservar a bacia do rio Comapara e assegurar a provisão de água para consumo humano e para a produção, em longo prazo. resultados os dados apresentados no i encontro de Gestores Comunitários da Água, realizado em agosto 2010, apresentaram os seguintes resultados: • • • • • • • • • • a Cooperativa passou de 43 membros em 1966, para 1.462 em 2010; 98% têm acesso à água e 68% dispõem de sistema de esgoto; todos os usuários têm medidores de consumo para uma melhor administração de seus recursos. a Cooperativa fez uma classificação do consumo hídrico para incentivar o uso racional; 76% dos usuários consomem, atualmente, menos de 15 metros cúbicos por mês e pagam us$ 0,15 por metro cúbico consumido; se o consumo mensal oscila entre 16 e 30 metros cúbicos, há uma cobrança de us$ 0,20 por metro cúbico excedido, e assim por diante, aumentando a carga para o consumo; 1.462 famílias são atendidas pelo serviço de coleta de lixo e tratamento de águas residuais. a Cooperativa é retransmissora de dois canais de televisão na região; Graças ao Fundo ambiental, 1.013 hectares de nascentes do rio Comarapa são conservados, área esta que foi adquirida por us$ 34 mil; os cooperativistas atuam na gestão para fortalecer uma Área municipal Protegida por um período de 10 anos, junto à Fundação natura Bolívia e graças ao aporte da associação dos irrigadores, que pagam us$ 1,50 por hectare ao ano. JuNtOS FAZeMOS A DiFeReNÇA a aqua Vitae foi até a Bolívia para conversar com Fanor Cabello, um dos membros da Cooperativa de serviços Públicos Caballero ltda. esta organização decidiu melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, a partir do uso da água. Como foi o processo que levou a entender que a proteção da bacia hidrográfica era importante para garantir o uso e o consumo de água? após vários anos de trabalho em prol da água e do meio ambiente, e graças à nossa localização numa Área Protegida, acreditamos que tal decisão deva preservar a bacia do rio, porque é aí que vamos garantir água. recebemos ajuda da Fundação natura Bolívia e do município. O fato de ser uma cooperativa dá mais garantia ao compromisso? Como somos uma cooperativa de serviços, é importante dar garantia de serviço aos nossos membros. Fomos criados para resolver o problema de acesso à água, mas com o tempo, e com base em nossos objetivos, juntos temos aprendido que, por meio da água, podemos construir progresso e qualidade de vida. Quais as principais lições para garantir acesso à água e melhorar os serviços de saneamento? a coisa mais importante que aprendemos ao longo dos anos é que a água é sinônimo de saúde e também uma maneira de trazer o progresso. Quais seus planos para o futuro? ter mais parceiros para nossos serviços. além de continuar a sensibilizar sobre o uso da água e proteção dos recursos hídricos. AquA VitAe 23 Fotos: Grupo de Pesquisa em Água e Saneamento AMBIENTE FÓRMULA EFICAZ E VENCEDORA O USO DE ZONAS ÚMIDAS ARTIFICIAIS OFERECE BENEFÍCIOS AMBIENTAIS SIGNIFICATIVOS E AJUDA NA GESTÃO DE ÁGUAS RESIDUAIS, MEDIANTE A PROCESSOS NATURAIS DE REMOÇÃO DE POLUENTES QUE OCORREM NA VEGETAÇÃO, NO SOLO E NA POPULAÇÃO MICROBIOLÓGICA ASSOCIADA. 24 AquA VitAe Por DIEGO PAREDES CALVO Engenheiro Sanitário do Grupo de Pesquisa em Água e Saneamento Universidade Tecnológica de Pereira, Colômbia [email protected] S egundo as estatísticas citadas pela Organização Panamericana da Saúde, a situação é crítica para o saneamento básico na América Latina (AL): 23% da população não tem acesso aos serviços adequados de saneamento, 49% carecem de sistemas de esgoto e apenas 15% das águas residuais coletadas são transportadas para estações de tratamento, a maioria das quais não funcionam satisfatoriamente. Na Colômbia, a situação não tem diferenças significativas do resto da AL: o país trata apenas 9% de suas águas residuais, apesar de contar com uma capacidade instalada para tratar até 32%; há necessidade de construir mais 900 sistemas. Muitos fatores podem ser identificados como causadores desta situação, no entanto, os elementos mais importantes podem ser resumidos da seguinte forma: as tecnologias selecionadas não consideram as características, nem condições econômicas dos municípios, há uma séria falta de treinamento e, consequentemente, há escassez de recursos econômicos. Nos países desenvolvidos, as Zonas Úmidas Construídas foram projetadas para imitar os sistemas de zonas úmidas naturais, a fim de tratar vários tipos de água residual. Em contraste, a média de aprovação de seu uso em países em desenvolvimento tem sido baixa, embora cerca da metade das zonas úmidas naturais do mundo estejam nos trópicos. Além disso, a maioria dos países em desenvolvimento tem condições climáticas favoráveis para a alta atividade bacteriana e a produtividade biológica, o que melhoraria o desempenho dos sistemas e aproveitaria a riqueza biótica nestas regiões. RESPOSTA AMBIENTAL VANTAJOSA O tratamento das águas residuais com plantas aquáticas tem sido utilizado pelo ser humano há séculos, mais pela necessidade de remover e descartar os resíduos líquidos que pelo tratamento em si. As zonas úmidas naturais serviram para este propósito quando estavam próximas dos assentamentos, mas lamentavelmente descargas descontroladas de águas residuais em zonas úmidas naturais levou, em muitos casos, a mudanças irreversíveis destes ecossistemas. As Zonas Úmidas Construídas podem ser formadas com um maior grau de controle, permitindo assim combinar o efeito de diferentes tipos de plantas, solos e padrões hidráulicos sobre os mecanismos de remoção e transformação de poluentes. Além disso, apresenta outras vantagens em comparação com o uso de zonas úmidas naturais, como a seleção do local, flexibilidade no design e, talvez o elemento mais importante, o controle sobre o regime hidráulico e os tempos de retenção. Como de costume, quando se fala de sistemas de tratamento, há sempre discussões sobre o tipo de zona úmida mais conveniente ou mais eficaz. A resposta a esta pergunta depende das características do esgoto a ser tratado e das condições locais. AquA VitAe 25 COMPONENTES DO SISTEMA As Zonas Úmidas Construídas são sistemas concebidos e produzidos por seres humanos como sendo mecanismos de remoção de contaminantes, baseados nos processos naturais que ocorrem em populações microbiológicas do solo, vegetação e associados, mas em um ambiente mais controlado. Alguns deles têm um propósito, como o tratamento de águas residuais, enquanto outros podem ser concebidos para fins múltiplos, como a criação e restauração de habitats para a vida silvestre. Uma Zona Úmida Construída é formada por plantas, material filtrante e água. Um elemento importante é que ela requer um pré-tratamento básico que remove as partículas sólidas suspensas, presentes nos resíduos. Anteriormente, pensava-se que as plantas eram as responsáveis pelos diferentes processos que ocorriam no sistema. Hoje, sabemos que existe uma forte interação entre plantas, microorganismos, solo e água, e a maior responsabilidade recai sobre os microorganismos. requerem menos área. No entanto, os processos de remoção são mais eficientes em sistemas baseados em meios filtrantes de menor diâmetro, embora estes sejam mais suscetíveis ao entupimento. É preferível usar um filtro de cascalho médio ou de cantos arredondados com diâmetros entre 0,5 e 2,5 cm. Não se devem usar misturas de solos nem areias finas, pois os mesmos entopem em poucos meses. Muitos dos processos ou mecanismos de remoção dependem do solo e, especialmente, da capacidade de absorção do meio. As plantas ajudam a aumentar ou manter esta capacidade de absorção, não obstante, é possível que depois de um tempo a eficácia do aparelho diminua, devido a capacidade de geração de novas áreas de absorção serem menores que a fixação dos poluentes. Os sistemas de tratamento de zonas úmidas baseados na capacidade de absorção do solo necessitarão de mudança periódica do material filtrante, aspecto que não tende a ser mencionado ao se promover a tecnologia. As plantas têm um papel importante no sistema, pois permitem a liberação de oxigênio e nutrientes na rizosfera (zona de interação entre as raízes das plantas e os microorganismos do solo), elementos indispensáveis para o crescimento microbiológico. Algumas plantas podem, gradualmente, acumular certos elementos tóxicos, como metais pesados. O maior armazenamento se dá como um mecanismo de defesa na zona radicular; um menor acúmulo se dá no tronco; e valores mais baixos estão nas folhas. Isto depende de vários fatores, entre eles a forma ou o estado em que o poluente se encontra. Nem todas as plantas podem acumular elementos tóxicos sem serem afetadas por eles. Até o momento, não foi possível comprovar que as plantas liberam antibióticos nos suores de suas raízes ou que estes sejam responsáveis pela remoção de organismos patogênicos. Na hora de escolher as plantas, é preciso trabalhar o máximo possível com espécies nativas da região onde o sistema será construído para evitar qualquer impacto negativo sobre os ecossistemas naturais e proporcionar uma influência positiva na medida em que se dá um valor agregado à biomassa produzida. É importante também, para futuros trabalhos, avaliar espécies nativas com alta taxa de evaporação por suor, o que pode otimizar os processos e gerar 100% de remoções em cargas contaminantes. Neste sentido, a experiência em países escandinavos pode ser um bom referencial. VANTAGENS DE USAR UM MEIO FILTRANTE O meio filtrante não apenas serve como suporte das plantas. Ele funciona também como suporte de microorganismos e como parte dos processos de remoção de poluentes. O meio filtrante define o tamanho do sistema: os meios filtrantes com pequenos diâmetros de partículas requerem áreas maiores devido sua baixa capacidade de filtração (condutividade hidráulica). Meios filtrantes que permitem a passagem de partículas de maior diâmetro 26 AquA VitAe MAiS BeNeFÍCiOS O uso de zonas úmidas construídas reúne mais benefícios. Vale a pena conhecê-los. REMOÇÃO DE POLUENTES • Com tempos de retenção de 1 ou 2 dias em sitemas de fluxo vertical ou horizontal são retiradas entre 1 e 2 unidades de patogênicos; • A contaminação de um sistema vertical com um horizontal permite a remoção de 4 a 5 unidades de patogênicos. GERAÇÃO DE LODOS • Há produção de lodos e, com o passar do tempo, eles se acumulam no sitema. Estas biopelículas geralmente, são bastante porosas e têm alta capacidade de absorção com um conteúdo de até 95% de água. CUSTOS • Os custos de investimento inicial são acrecidos ou ligeiramente maiores que os sistemas tradicionais. A diferença está nos custos de operação e manutenção. Os avanços de um novo modelo de custos nos indicam que, em termos de investimento inicial, é mais favorável (mais econômico) do que os sistemas convencionais de lodo ativado, para populações de 10 mill pessoas. tiPOS De ZONAS ÚMiDAS Este diagrama explora algumas possibilidades para a construção de zonas úmidas: A. Zona Úmida superficial de fluxo horizontal com plantas flutuantes. B. Zona Úmida superficial de fluxo horizontal com plantas submersas. C. Zona Úmida superficial de fluxo horizontal com plantas emergentes. D. Zona Úmida sub-superficial de fluxo horizontal. E. Zona Úmida sub-superficial de fluxo vertical. • As zonas úmidas superficiais de fluxo horizontal podem ter plantas aquáticas emergentes, submersas ou flutuantes. Neste tipo de sistema, a água residual a ser tratada é exposta ao ar e a direção do fluxo é horizontal. • Nas zonas úmidas sub-superficiais de fluxo vertical a alimentação da água residual é feita pela parte superior do sistema e a coleta de água residual tratada é feita pela parte inferior. A área necessária neste caso é menor, mas o projeto operacional é um pouco mais complexo. • Sistemas combinados ou híbridos, baseados no uso de dois ou mais sistemas dentre os descritos anteriormente. AquA VitAe 27 Foto: Ariel da Silva Parreira/SXC.HU legislação LEI FRIA, MAS DE PONTA Argentina coloca a questão da proteção das geleiras em primeiro plano e promulga legislação declarando-as como patrimônio público, proibindo sua destruição ou remoção e impondo severas sanções aos infratores. Por BORIS RAMÍREZ 28 AquA VitAe Foto: Ariel da Silva Parreira/SXC.HU M ais uma vez, um país da América Latina coloca a questão da proteção dos recursos hídricos no centro das atenções. Desta vez foi a Argentina, que em setembro de 2010 aprovou uma lei pioneira para a proteção dos enormes recursos líquidos existentes nas zonas glaciais e em seu entorno. Trata-se da Lei 26.639: “Regime de Orçamento Mínimo para a Preservação das Geleiras e do Ambiente Periglacial”, conhecida popularmente como Lei das Geleiras. A legislação foi promulgada em 30 de setembro de 2010 pelas autoridades do Senado e da Câmara dos Deputados da Argentina. A discussão dessa lei se tornou uma questão nacional, levando grupos sociais a entrarem em acordo sobre o dever de preservar as geleiras como sendo reservas estratégicas dos recursos hídricos para o consumo humano, para a agricultura e como provedores de água para recarregar as bacias hidrográficas. Também forçou estes grupos a criarem um inventário nacional destes bens – agora declarado público – e discutir os limites que devem ser estabelecidos, sobretudo pelos impactos da expansão das atividades de mineração, desenvolvidas nas regiões consideradas de alta vulnerabilidade. PARA ENTENDER A LEI Publicada em 30 de setembro de 2010, no Diário Oficial La Gaceta, estes são alguns de seus conteúdos: OBJETO: Proteger as geleiras e o ambiente periglacial como bens de caráter público e reservas estratégicas para o consumo humano e a agricultura, bem como fontes de informação científica e atração turística. As geleiras constituem bens de caráter público. DEFINIÇÃO. Entende-se por geleira ou glacial toda massa de gelo perene e estável ou que flui lentamente, com ou sem água intersticial, formada pela recristalização de neve, localizada em diferentes ecossistemas, independentemente de seu tamanho, forma ou estado de conservação. São partes integrantes de cada geleira os restos rochosos e os cursos internos e superficiais hídricos. Entende-se por ambiente periglacial na alta montanha, a área com solos congelados que atua como regulador do recurso hídrico, e na média e baixa montanha a área que fornece água aos solos saturados de gelo. INVENTÁRIO. Criação do Inventário Nacional das Geleiras, para realização de um levantamento de todos os glaciais e geoformas periglaciais existentes no território nacional, com toda informação necessária para sua adequada proteção, controle e monitoramento. O inventário e o monitoramento das geleiras e do ambiente periglacial será de responsabilidade do Instituto Argentino de Nívologia, Glaciología y Ciencias Ambientales (IANIGLA). O Ministério das Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto tem o direito de intervir no caso de zonas fronteiriças pendentes de demarcação de limite internacional prévio ao registro do inventário. ‘‘ O campo de gelo sul, entre Argentina e Chile, tem uma extensão de quase 17.000 km2 e é o maior do mundo em regiões não polares. ‘‘ ATIVIDADES PROIBIDAS. Fica proibido: a) A liberação, dispersão ou eliminação de substâncias ou elementos poluentes, produtos químicos ou resíduos de qualquer natureza ou volume. Incluídos nesta restrição os que se desenvolvem no ambiente periglacial; b) A construção de obras de arquitetura ou infraestrutura, com exceção daquelas necessárias para a pesquisa científica e as prevenções de risco; c) A exploração de minérios e hidrocarbonetos. Incluídos nesta restrição os que se desenvolvem no ambiente periglacial; d) A instalação de indústrias ou desenvolvimento de obras ou atividades industriais. AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL. Todas as atividades planejadas nas geleiras e no ambiente periglacial, desde que não se encontrem proibidas, estarão sujeitas a uma avaliação de impacto ambiental e avaliação ambiental estratégica. Exceções a estes requisitos: resgates resultantes de emergências; pesquisas desenvolvidas a pé ou em esquis, com eventual tomada de amostragens, que não deixem resíduos nas geleiras e no ambiente periglacial; práticas desportivas, incluindo montanhismo, escalada e esportes não motorizados que não perturbem o ambiente. INFRAÇÕES E SANÇÕES. As sanções ao não cumprimento desta lei e das regulamentações emitidas em sua execução, sem prejuízo das demais competências que possam ser aplicáveis, serão estabelecidas em cada uma das jurisdições, conforme o poder da polícia que lhes corresponda, os quais não poderão ser inferiores aos estabelecidos por esta lei. As jurisdições que não possuem um regime de sanções aplicarão as que correspondem à jurisdição nacional: - Aviso; - Multa de 100 a 100 mil salários-base da categoria inicial da administração pública nacional; - Suspensão ou revogação de licenças. A suspensão da atividade poderá ser de 30 dias até um ano, conforme o caso e suas circunstâncias; - Cessação definitiva da atividade. AQUA VITAE 29 PROtetORA DA ÁGuA A terra é como uma mãe provedora e protetora dos recursos vitais dos quais os seres humanos necessitam para subsistir. Seu corpo está cheio de cavidades que permitem guardar, por dias, anos, séculos e milênios, porções de água pluviométrica, que se infiltram no solo e formam parte da água subterrânea. uma vez no solo, parte desta água corre próximo à superfície e outra parte se armazena em zonas profundas. O movimento da água por debaixo da superfície depende da permeabilidade e da porosidade dos materiais onde a água encontra-se contida. A água pode correr em direção aos lençóis freáticos mais profundos, de onde levará anos para voltar a se tornar parte do meio ambiente, sem deixar, no entanto, de se manter como uma enorme e vital reserva. Fonte: Serviço Geológico dos Estados Unidos. Dias Anos Séculos Zona não-saturada Aquífero não confinado Capa confinada Aquífero confinado Milênios Capa confinada Aquífero confinado 30 AquA VitAe OPINIÃO ANGEL GURRÍA Secretário Geral Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) AMeAÇAS À SeGuRANÇA HÍDRiCA A mudança climática é uma realidade e atualmente está afetando a segurança hídrica. Não devemos apenas reduzir as emissões, mas também enfrentar as situações que já se apresentam por causa do fenômeno. A questão da mudança climática e suas drásticas consequências devem ser abordadas em vários campos: embora a maioria dos enfoques esteja voltada para a redução de emissões de Gases do Efeito Estufa, há uma crescente consciência de que parte da mudança climática é um fato definitivo, cujo impacto já se reflete em nossas economias, sociedades e meio ambiente, e que devemos agir para nos adaptarmos a esta situação, já que o risco relacionado com a água também vai aumentar por causa da mudança climática. Situações como o excesso ou a escassez de chuvas, o derretimento precipitado da neve e a diminuição das geleiras ameaçam a segurança hídrica. Para os agricultores, isto poderia representar seca durante a época de cultivo e inundações durante o período de colheita. Para os moradores urbanos poderia significar falta d’água em suas casas ou inundação de pontes, edifícios e outras infraestruturas. É hora de agir e definir alternativas de políticas e soluções para evitar novas vítimas. A mudança climática, em muitos casos, simplesmente exacerbará as tensões já existentes no setor hídrico: de acordo com as últimas tendências, 47% da população mundial viverão em áreas com um elevado stress hídrico em 2030. Fazem-se necessárias políticas hídricas melhores e mais eficazes para enfrentar este desafio e gerenciar os recursos hídricos nos locais mais necessitados. É preciso projetar uma infraestrutura hídrica que considere cenários extremos com perspectivas a longuíssimos prazos, incluindo o armazenamento, a proteção contra inundações e o controle de drenagem e esgotos das cidades costeiras que são afetadas pelo aumento do nível do mar. Parte do problema é de responsabilidade dos intervenientes-chave no setor hídrico, enquanto outros aspectos são mais relacionados com a agricultura, energia ou o desenvolvimento urbano. A comunidade hídrica sabe bem como trazer o tema da variabilidade climática e hidrológica, e a comunidade interessada na questão da adaptação às alterações climáticas pode se beneficiar desta experiência. Contudo, a gestão dos recursos hídricos baseia-se no envolvimento de temperatura e precipitação “normal” e, infelizmente, as flutuações históricas do clima já não representam um guia preciso para o planejamento futuro. Temos de melhorar nossos sistemas de informação hídrica e incrementar a flexibilidade de nossas políticas e instituições, considerando o fator incerteza e habilitando processos de reação imediata à mudança. O que devemos fazer? A adaptação consiste, em grande parte, de um senso comum: a primeira e mais óbvia medida a se tomar é reduzir nosso consumo de água. Além de soluções “drásticas”, como a construção de infraestrutura adicional, é hora de avançar na transição para soluções “moderadas” que possam tornar mais eficiente o uso dos recursos hídricos e gerar lucros. Isto inclui maior ênfase na gestão da demanda de água, tomada de decisões participativas e o uso de instrumentos econômicos. Deve incluir também uma melhor regulamentação (como o estabelecimento de padrões de qualidade hídrica que possam facilitar sua reutilização), bem como, uma utilização mais sistemática de instrumentos econômicos, incluindo taxas para emissão de poluentes, modelos de tarifação hídrica, pagamento por serviços ambientais e comercialização de direitos hídricos. Isso pode ajudar a melhorar a eficiência hídrica, gestão de demanda, gerenciamento dos recursos hídricos e dos lucros. A transição para estas soluções, no entanto, vai exigir mecanismos saudáveis de governança para gerenciar a inter-relação entre múltiplos atores, entre os ministérios e entidades públicas, entre os níveis de governo e captação de água. A mudança climática é um grande impulso para a reforma no setor hídrico e a COP16 é o fórum ideal para garantir que a água seja a questão central nas discussões sobre as políticas necessárias para a adaptação às mudanças climáticas. A Aqua Vitae não emite nenhum parecer sobre as opiniões expressadas nesta seção. No entanto, somos um fórum aberto a diferentes perspectivas sobre a gestão dos recursos hídricos. AquA VitAe 31 ALTO PERFIL ÁGUA COMO FATOR DE INTERCONEXÃO Por BORIS RAMÍREZ C lara e direta, como quando se comprometeu em Cancun, em dezembro de 2010, para falar sobre os temas água e saneamento nas discussões sobre mudança climática, Christiana Figueres Secretária Executiva da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática -, comentou em entrevista exclusiva à Aqua Vitae que o assunto é fundamental e deve ser promovido cada vez mais pelas interconexões existentes com outros setores importantes para a vida e o desenvolvimento humano. Christiana Figueres, Secretária Executiva da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, pede continuidade no lobby inteligente para exigir dos governos o espírito de compromisso com a mitigação e adaptação aos impactos do aquecimento global no setor hídrico e de saneamento. 32 AquA VitAe “O setor hídrico e de saneamento deve continuar recolhendo e compilando dados e informações que ajudem na tomada de decisões, e olhar além das fronteiras para atuar junto a outros setores, já que esta é uma área de interconexões com os setores energéticos, sanitários e agrícolas, para mencionar apenas alguns.” A COP 16 de Cancun, ocorrida em dezembro de 2010, serviu para colocar o tema água dentro das ações gerais sobre mudança climática. Por que antes a água não tinha um lugar de destaque? O tema sempre foi considerado na Convenção das Nações Unidas para a Mudança Climática (CMNUCC). No Artigo 4.1, do compromisso de todas as partes, os recursos hídricos figuram no contexto de cooperação para a adaptação às mudanças climáticas. As ações concretas, tanto quanto aos recursos hídricos como aos outros temas e setores, devem ser realizadas pelos países. Quais as ações específicas dentro da Convenção sobre Mudança Climática para que o tema água tenha um melhor espaço para a discussão, refl exão e busca por soluções dentro da agenda mundial? A água é um recurso indispensável e está sendo afetada pelas mudanças de clima em proporções significativas. Parte das conquistas da COP 16 foi o estabelecimento de um Marco de Adaptação, no qual os países são convidados a planejar, priorizar e implementar ações para a adaptação, incluindo o tema hídrico. A Conferência estabeleceu ainda um Comitê de Adaptação e, na ocasião, os países começaram a trabalhar na composição e nos procedimentos deste Comitê, visando a próxima Conferência das Partes, marcada para dezembro de 2011, em Durban (África do Sul). É de se esperar que o tema água (em excesso ou escassez) seja um dos mais preponderantes no âmbito das ações identificadas para a adaptação. Devido à mudança climática, a água sofre alterações que geram inundações, secas, nevascas, chuvas torrenciais. Como podemos nos adaptar, especialmente para garantir a água para o consumo, a saúde e produção agrícola, após estes eventos naturais, cada vez mais extremos? É necessário levar sempre em conta as sinergias entre a adaptação à mudança climática, a redução de risco e o desenvolvimento, bem como as dimensões nas quais as ações podem ser realizadas em nível internacional, regional, Fotos: Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática ‘‘ As medidas de adaptação no setor hídrico, incluindo a recuperação dos sistemas pluviais, o apoio à saúde dos rios, a aplicação de métodos sustentáveis de colheita e as medidas de controle de inundações, reduzem os riscos para a agricultura, a saúde humana e o desenvolvimento. nacional e local. Depois dos eventos naturais, a reconstrução deve ser “inteligente com o clima” (climate-smart), tendo em conta os eventuais impactos da mudança climática, incluindo eventos naturais extremos. Embora não haja estratégias e ações de adaptação que sejam “comum de dois” (one size fits all), existem certas medidas que podem ser aplicadas com sucesso em diferentes lugares, como por exemplo, seleção de cultivos apropriados, uso de irrigação por gotejamento ou aproveitaÉ essencial continuar a trabalhar com base mento de águas pluviais. no que já foi alcançado até o momento. Desde o início de janeiro de 2010, de- Em Cancun, fizemos avanços significativos, vido à mudança climática, o principal graças ao compromisso dos governos e da afluente do Rio Amazonas (o Rio Negro) sociedade, mas estas conquistas são relatiapresenta uma diminuição em seu vamente pequenas diante da magnitude do fluxo, afetando 37 comunidades e co- problema que enfrentamos globalmente. A locando em risco o equilíbrio deste sis- sociedade deve continuar a exigir aos gotema fluvial tão necessário para o abas- vernos que façam acordos, tenham acesso tecimento hídrico e para a produção à cooperação e destinem os recursos finanagrícola. Como os governos e a socie- ceiros, tecnológicos e de capital humano dade podem atuar diante dos impactos necessários para a execução de ações, produzidos no meio ambiente causados tanto para mitigar as emissões de gases do efeito estufa como para a adaptação pelo aquecimento global? ‘‘ à mudança climática. Há uma relação direta entre mitigação e adaptação: quanto mais rápida for a mitigação eficaz, menos necessidade de adaptação. Ao contrário, quanto mais lenta for a mitigação, mais difícil será a adaptação. Há espaço para que especialistas no tema possam ter uma maior incidência na discussão mundial? Quais as necessidades do setor hídrico e de saneamento no que se refere às ações e aos compromissos para a nova COP 17, na África do Sul? AquA VitAe 33 É importante que os dois setores continuem com um lobby inteligente, voltado para os governos que os representam na Convenção, desafiando-os e lhes exigindo negociações baseadas no espírito de compromisso e colaboração que leve à ação imediata e oportuna, bem como à provisão dos recursos necessários para realizar tais ações. O setor hídrico e de saneamento, assim como os demais setores, devem continuar recolhendo e compilando dados e informações que ajudem na tomada de decisões, e olhar além das fronteiras para atuar junto a outros setores, já que esta é uma área de interconexões com os setores energéticos, sanitários e agrícolas para mencionar apenas alguns. Dados do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) indicam que 30 milhões de pessoas nas cidades de Quito, Lima e La Paz estão vulneráveis ao acesso à água devido ao derretimento das geleiras. Quais seriam os mecanismos necessários para criar um fundo mundial com recursos econômicos capazes de promover programas de adaptação para estas novas realidades? AquA VitAe VitAe 34 AquA 34 Os Acordos de Cancun incluem uma decisão histórica sob muitos aspectos, dentre eles o estabelecimento do Fundo Verde para o Clima para fornecer financiamento em longo prazo a projetos, programas, políticas e outras atividades nos países em desenvolvimento, por meio de vários enfoques temáticos, tanto em mitigação quanto em adaptação. Durante este ano, um Comitê de Transição deverá desenhar este Fundo, desenvolvendo seus aspectos estruturais e operacionais. Os acordos da COP 16 reconhecem o compromisso dos países desenvolvidos de mobilizarem US$ 100 bilhões até 2020, para dar suporte às necessidades dos países em desenvolvimento. Na verdade, dada sua importância, as medidas de adaptação relacionadas à água devem ser objeto de financiamento, via este Fundo. O setor hídrico tem de se adaptar às áreaschave para o desenvolvimento humano: alimentação, saúde e geração de energia. Como se prevê assegurar medidas de prevenção e adaptação nestes setores? Há uma grande interconexão entre os setores hídrico e agrícola, especialmente em termos de escassez de água devido ao consumo e à produtividade agrícola e, portanto, igual em termos de produção de alimentos. Algumas regiões têm presenciado um aumento na demanda de água para a agricultura de aproximadamente 50% a 70%, e tal demanda deve continuar aumentando. O aumento da ocorrência de condições meteorológicas extremas (incluindo inundações) supõe um risco para o fornecimento de energia, por conta dos danos causados à infraestrutura, tais como barragens, redes elétricas e instalações de petróleo. Em outros casos, a energia hidroelétrica está sendo prejudicada pela falta de abastecimento adequado de água nos rios. Portanto, medidas de adaptação no setor hídrico, incluindo recuperação dos sistemas pluviais, apoio à saúde dos rios, aplicação de métodos sustentáveis de colheita e medidas de controle de inundações, reduzem riscos para a agricultura, saúde humana e o desenvolvimento. Do total de área da América Latina, 20 milhões de km2 estão sujeitos a processos acelerados de desertifi cação devido à mudança climática. Isto signifi ca perda econômica, social e ambiental. De que forma estas regiões podem ser compensadas ante eventos tão prejudiciais ao desenvolvimento? A Convenção não tem provisões para compensação por perdas causadas pela mudança climática. No entanto, conta com provisões para apoiar os países em desenvolvimento vulneráveis a adaptação às alterações climáticas. Este apoio inclui fornecimento de fundos, que podem ser obtidos pelo Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF, por suas siglas em inglês), pelo Fundo de Adaptação do Protocolo de Kyoto e, num futuro próximo, através do Fundo Verde para o Clima. Como Como continuar a engajar a sociedade civil a desempenhar um papel mais ativo em torno da mudança climática e das deman- ‘‘ ‘‘ mencionei, em Cancun, foi estabelecido o Marco de Adaptação de Cancun, que deverá reforçar as ações de adaptação nos países em desenvolvimento, por meio da cooperação internacional. Além disso, a COP 16 também estabeleceu um programa de trabalho sobre abordagens para lidar com perdas e danos associados aos impactos da mudança climática nos países em desenvolvimento, particularmente os mais vulneráveis aos seus efeitos adversos. O setor hídrico e de saneamento, assim como todos os demais, devem continuar recolhendo e compilando dados e informações que ajudem na tomada de decisões. das que enfrentamos nas atuais condições? A sociedade civil desempenha um papel ativo muito importante, ligado tanto à relação com os diferentes níveis de governo quanto à relação com o setor privado. Ela precisa continuar pressionando os governos a chegarem a acordos internacionais, a implementarem tais acordos e executarem ações congruentes. No âmbito nacional e local, a sociedade civil deve exigir que legisladores e governantes promulguem leis e regulamentos sobre a mudança climática e sua correta aplicação. Além do mais, a sociedade civil é um consumidor de produtos/serviços prestados pelo setor privado (e em alguns casos pelo setor público) e deve, portanto, exigir que as empresas não sejam um obstáculo para os acordos e suas implementações. Deve-se exigir, também que assumam a responsabilidade de realizar investimentos que ajudem a combater a mudança climática. As empresas precisam enxergar a sustentabilidade não como um gasto, mas como um investimento. PROMOtORA dA MudAnçA A Convenção sobre Mudança Climática estabelece uma estrutura geral para os esforços intergovernamentais para enfrentar o desafio destas alterações. Ela reconhece que o sistema climático é um recurso compartilhado, cuja estabilidade pode ver-se afetada pelas atividades industriais e outros tipos de atividades que emitam dióxido de carbono e outros gases que retêm o calor. Em virtude de sua natureza de trabalho, os governos reúnem e compartilham informações sobre o tema, põem em prática estratégias nacionais para abordar o problema da emissão de gases e cooperam para a preparação e adaptação aos efeitos da mudança climática. Christiana Figueres Olsen foi nomeada Secretária Executiva da Convenção das Nações Unidas, em maio de 2010. • NasceuemSanJosé(CostaRica),ondeatuouemdiversoscargospúblicos.Foimembrodaequipenegociadora de seu país, tanto da Convenção quanto do Protocolo de Kyoto, desde 1995; • RepresentantedaAméricaLatinaeCaribenoConselhodoMecanismodeDesenvolvimentoLimpo,em2007. Vice-presidentedaConvençãoMarco2008-2009,representandoaAméricaLatinaeoCaribe; • Em1995,fundouoCentroparaoDesenvolvimentoSustentávelnasAméricas(CEDSA),atuandocomoDiretora desta ONG sem fins lucrativos durante oito anos; • ProjetoueajudouaestabelecerprogramasnacionaisparaamudançaclimáticaparaosgovernosdaGuatemala,Panamá,Colômbia,Argentina,Equador,Honduras,ElSalvadoreRepúblicaDominicana; • Prêmio “Herói do Planeta”, da National Geographic, em reconhecimento a sua liderança internacional em energia sustentável e mudança climática, outorgado em 2001. AquA VitAe 35 TECNOLOGIA 36 AquA VitAe NOPAL: ALIADO NA PURIFICAÇÃO DA ÁGUA Uma tecnologia verde de ponta e inovadora garante, por meio do uso da mucilagem do cacto, ou Nopal, água pura nas regiões altamente contaminadas. O uso de agentes naturais e benignos no tratamento de água potável está ganhando interesse devido ao seu caráter renovável e de baixa toxidade. O cacto mexicano é responsável pela produção de uma substância pastosa, conhecida como mucilagem de cactos ou Nopal, que apresenta uma capacidade de floculação (etapa do processo de purificação de águas de origem superficial e tratamento de esgotos domésticos, industriais e minerais) superior à do sulfato de alumínio de uso geral. Os resultados mostram a eficácia da mucilagem para reduzir arsênico e partículas da água potável, conforme determinado pela dispersão da luz, pela absorção atômica e a geração de hidretos de espectroscopia de fluorescência atômica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a necessidade de pesquisas sobre novas tecnologias de baixo custo físico-químicas para eliminar o aspecto turvo da água. Este estudo tenta validar uma nova tecnologia que pode ser implementada para reduzir a turvidez e remover o arsênico das zonas de OBjETIVO Nº 1 ELIMINAR TURVIDEZ DA ÁGUA A mucilagem de Nopal tem sido pesquisada como principal fonte do processo de floculação. Trata-se ainda de caracterizar a mucilagem quimicamente, a fim de determinar quais capacidades estruturais da mucilagem podem servir. Por NORMA ALCANTAR Professora Associada do Departamento de Química e Engenharia Biomédica Universidade do Sul da Flórida [email protected] contaminação em locais onde a população não pode investir em métodos caros. As pessoas expostas à contaminação de arsênico nas águas subterrâneas podem se beneficiar de uma tecnologia barata, fácil de implementar, natural e que é apropriada social, cultural, ambiental e cientificamente para melhorar sua qualidade de vida e saúde. Esta tecnologia é baseada na capacidade do Nopal (Opuntia ficus-indica, OFI) de reduzir turvidez de águas sujas. Estes são alguns aspectos importantes de se conhecer sobre este estudo: ÁREA DE PESQUISA: TEMAMATLA / MÉXICO Comunidades de: Região dos Lagos, Zimapán, Hierve El água e Temamatla. A 25 km ao sudeste da Cidade do México A comunidade testada neste projeto foi escolhida com base na presença de contaminação por arsênico em quantidade acima das recomendadas pela OMS, além de presença de sujeira na água por partículas sólidas em suspensão. OBjETIVO Nº 2 2.N OVITEjBO REMOÇÃO DE ARSÊNICO Tentativa de determinar a eficácia da mucilagem na redução da concentração de arsênico para, em seguida, avaliar aficácia na eliminição de metais pesados como o arsêncio, o selênio, cádmio, entre outros nocivos. AquA VitAe 37 ELEMENTO NATURAL: O NOPAL OPUNTIA FICUS-INDICA (conhecido como Nopal, Tuna ou ainda Tabaibeira) É o maior cacto da família Cactaceae, a qual conta com 1.400 espécies. Estão presentes desde o oeste do Canadá até a ponta da América do Sul. Seu cultivo é abundante no México, onde chega a atingir o tamanho de uma árvore. A mucilagem do Nopal é uma substância espessa e viscosa que oferece uma capacidade natural para armazenar quantidades de água. Quando está na água, ela incha, adquirindo a propriedade de precipitar partículas e íons a partir de soluções aquosas. A mucilagem é extraída dos brotos dos cactos e é formada por 55 resíduos, incluindo a arabinose, ramnose, galactose e xilose, glucanos e glicoproteínas. Foi escolhida por causa da familiaridade do povo mexicano com o cacto não-tóxico, apreciado na culinária, cujo uso existe conhecimento empírico desde a antiguidade para reduzir a turvidez e a dureza de águas de nascentes. O Nopal é uma planta carnosa, suculenta e com o tronco segmentado em lâminas que se sobrepõem, geralmente sem folhas. Apresenta espinhos por toda sua superfície. eStuDiOS De FLOCuLACiÓN ReMOÇÃO De ARSÊNiCO Foram realizados testes de cilindro, onde se utilizou uma mistura de caulim (argila branca bastante pura usada como absorvente), incluindo uma quantidade de solução de floculante (a extração foi obtida a partir da mucilagem). Estes testes foram realizados com diferentes concentrações das três mucilagens. As concentrações de arsênico total foram analisados por espectrometria de fluorescência atômica-geração de hidretos. Realizou-se um experimento para avaliar a capacidade de redução do extrato de gelificação, após 30 minutos as partículas de arênico se assentaram no gel da mucilagem. SAiBA MAiS SOBRe O CACtO • É cultivado no México, no Peru, Brasil, Chile, Espanha, Itália, Marrocos, Argélia, Egito, Israel, Arábia Saudita e Etiópia. • Floresce uma vez por ano e tanto o fruto como a flor podem ser verde ou vermelho; • O cultivo é realizado em regiões áridas e com escassez d’água; • Usado para alimentos em pratos doces ou salgados: verdura, saladas, mel e queijos, compotas, néctar e cristalizado; • É conhecido como Tuna na Argentina, Bolívia, Chile e Peru. Como figo na Cômbia. Como Tabaibeira no Brasil. Como Nopal ou fruto Tuna no México. 38 AquA VitAe SAÚDE Produtos tóxicos presentes na água potável e na água de irrigação UMA QUESTÃO DE SEQUELAS Chumbo, cádmio, arsênico, dioxinas, DDT ou malation causam sequelas na saúde humana. Estes elementos podem estar presentes naturalmente ou por conta de atividades mineiras, agrícolas, industriais, uso de agrotóxicos ou vazamento de substâncias em aterros sanitários. Por DR. ANDREI N. TCHERNITCHIN Professor Titular da Faculdade de Medicina, Universidade do Chile Diretor Científico, Conselho de Desenvolvimento Sustentável (Comissão Assessora Presidencial DS 90/98) [email protected] / [email protected] A presença de contaminantes ambientais no ar, águas superficiais e profundas, incluindo água potável, solos e alimentos tende a afetar os seres humanos que estão expostos a tais substâncias, resultando efeitos adversos em sua saúde, sendo alguns deles quase imediatamente, poucas horas ou dias depois da exposição. Já as exposições crônicas tendem a produzir dano cumulativo, que se manifestam com um sintoma quando o dano já é considerável. Com frequência, a água potável é misturada com substâncias prejudiciais à saúde, devido às tubulações feitas de chumbo ou às em mau estado; devido a produtos de consumo massivo ou a atividades industriais e agrícolas. É importante saber mais sobre a origem e os efeitos desses contaminantes, de modo que as pessoas possam ter controle sobre eles. Os efeitos nocivos da exposição às toxinas na água vão muito além do imediato: foram encontradas sequelas em nível de imprinting ou desprogramação celular (um efeito tardio, causado por exposição pré-natal ou infantil precoce). Este mecanismo foi pesquisado e descrito por Arthur L. Herbst e colaboradores, em 1971 e por György Csaba, em 1976. Estudos subsequentes determinaram que os contaminantes ambientais tóxicos podem chegar à água potável ou de irrigação por liberação acidental ou derramamento intencional, de diversos processos industriais, rejeitos de mineração, uso de agrotóxicos e substâncias químicas cloradas de lixões, aterros sanitários e barragens de mineração. O importante é saber onde se encontram, quais as sequelas que causam e, principalmente, como controlá-los. AQUA VITAE 39 CHUMBO Símbolo: Pb. Nº atômico: 82. O chumbo é um metal pesado. De aspecto azulado ou acinzentado. Combina-se facilmente para formar sais ou fundir-se com outros metais. ARSÊNICO Símbolo: As. Nº atômico: 33. Metalóide de cor cinza metálico, que combinado ao oxigênio (O2) ou outros elementos constitui um veneno perigoso. ONDE ENCONTRAR? ONDE ENCONTRAR? • Água potável contendo este elemento; • O metal está na fonte de origem da água (solo ou camadas com chumbo); • Atividades industriais, especialmente a mineração (extração de minerais, refino, mineração ou fundição de minérios e barragens de rejeitos). • Redes de água potável com tubulações à base de chumbo; SEQUELAS DEIXADAS PELA EXPOSIÇÃO: • Dissolução de canos à base de chumbo ainda existentes em edificações antigas; • Exposição crônica: aumento da mortalidade por câncer bronco pulmonar, de bexiga, renal, hepático e pele; • Combustíveis aos quais se adicionou o chumbo tetraetila ou TEL (aditivo para gasolina já eliminado na maioria dos países); • Exposição pré-natal: alterações no aparelho respiratório e aumento de mortalidade por bronquiectasia. • Tintas com alto teor de chumbo com as quais se pintam casas, móveis e outros objetos; • Alimentos enlatados, consumidos após a data vencimento ou provenientes de recipientes amassados; DDT • Verduras cultivadas em zonas urbanas com alta contaminação atmosférica com este metal ou cultivadas nas proximidades de rodovias. Dicloro-Difenil-Tricloroetano. Substância tóxica usada como pesticida na agricultura. SEQUELAS DEIXADAS PELA EXPOSIÇÃO: ONDE ENCONTRAR? • A exposição pré-natal ao chumbo altera, para o resto da vida, a ação dos estrogênios no útero, causando infertilidade e abortos durante a idade adulta. Diminui de forma irreversível o coeficiente intelectual e a capacidade de atenção. Determina uma personalidade agressiva com tendência a desenvolver no futuro condutas antissociais e criminais. Favorece a dependência de drogas, de estimulantes e opiáceos. • Agrotóxico bastante persistente no meio ambiente. 40 AQUA VITAE SEQUELAS DEIXADAS PELA EXPOSIÇÃO: • Exposição pré-natal: sequelas irreversíveis, alterações nos receptores de acetilcolina muscarínicos cerebrais, encontrados nas terminações neuromusculares, no sistema nervoso central e periférico; alterações comportamentais perenes. DIOXINAS, FURANOS e BIFENILPOLICLORADO Grupo de compostos químicos organoclorados, também chamados de PCBs, com estruturas químicas semelhantes. Alguns tem propriedades nocivas, dependendo do número e posição dos átomos de cloro. Um dos PCBs é um veneno extremamente perigoso e a substância responsável pelo câncer mais ativo do qual se tem conhecimento. CÁDMIO Símbolo: Cd. Nº atômico: 48. Metal branco azulado, dúctil e maleável. Assemelha-se ao Alumínio em vários aspectos, apesar de ser um dos metais mais tóxicos. ONDE ENCONTRAR? • Diversos processos industriais; ONDE ENCONTRAR? • Subproduto de extrações de zinco, chumbo e cobre; • Combustão de matéria orgânica a temperaturas entre 600ºC e 1.000ºC na presença do cloro; • Lixiviação das águas subterrâneas em aterros sanitários e lixões. • Indústrias de celulose, principalmente aquelas que utilizam o cloro ou seus subprodutos para o branqueamento de papéis; SEQUELAS DEIXADAS PELA EXPOSIÇÃO: • Indústria de cimento que utiliza petcoke ou outros combustíveis não tradicionais (pneus, produtos farmacêuticos e hospitalares, madeira e serragem tratadas com pentaclorofenol). Estes compostos não são gerados na câmara de combustão, mas nos gases emitidos da câmara à medida que se resfriam; • O bifenilpoliclorado também pode ser sintetizado para produzir óleos utilizados em bombas de alto vácuo ou no resfriamento de transformadores de alta tensão, normalmente são lançados no meio ambiente depois de completar sua função. SEQUELAS DEIXADAS PELA EXPOSIÇÃO: • A exposição a dioxinas, furanos e bifenilpoliclorados é uma das causas de desenvolvimento de câncer. Considera-se que em torno de 10% de todos os cânceres humanos foram causados por exposição a dioxinas; • Exposição pré-natal ou infantil precoce: seus efeitos são irreversíveis, ou seja, duram para o resto da vida. Causa déficit neurocomportamental e imunológico. Além de masculinização e feminilização morfológica e comportamental. Estudos na Dinamarca apresentaram uma correlação entre níveis de dioxinas e bifenilpoliclorados nos sangues de recém-nascidos e uma posterior feminilização em meninos ou masculinização em meninas em suas condutas durante jogos infantis. Além de infertilidade e danos às funções respiratórias. • Exposição crônica em adultos: insuficiência renal, câncer de próstata e câncer bronco pulmonar. Em doses altas, aumenta o risco de fraturas ósseas; • Exposição pré-natal: avanço da puberdade, alterações diferidas nas glândulas mamárias, alterações neurológicas e comportamentais perenes. MALATIÓN Inseticida organofosforado sintético. Em estado puro é um líquido incolor. O malation de qualidade técnica, que contém mais de 90% de malation e impurezas num solvente, é um líquido pardo amarelado de odor forte semelhante ao alho. ONDE ENCONTRAR? • Químico utilizado, dentre outras coisas, para matar moscas de frutas. SEQUELAS DEIXADAS PELA EXPOSIÇÃO: • Exposição pré-natal: alterações persistentes na atividade da colinesterase (fermento que hidrolisa a acetilcolina no sangue e nos tecidos, tornando-a inativa); • Descobriu-se que a exposição pré-natal em animais experimentais facilita a dependência do álcool. AQUA VITAE 41 VITRINE DE ÁGUA Mais uma vez, Berlim, capital da Alemanha, tornou-se cenário para fusão de dois aspectos fundamentais na garantia do abastecimento hídrico: a tecnologia e a reflexão sobre o presente e o futuro deste elemento vital Por BORIS RAMÍREZ O mês de maio é hoje uma obrigação para quem quer analisar os desafios presentes e futuros das questões de água e saneamento. O Berlin Wasser International está se tornando um ímã enorme para os estudiosos e inovadores no campo, que se reúnem em uma conferência, cuja agenda inclui aspectos-chave a respeito do tratamento do consumo, oferta, utilização e tratamento da água. Especialistas participantes definiram claramente o propósito da reunião. “Só nos próximos 10 anos haverá um aumento de 70% na demanda de alimentos e um aumento de 80% na demanda de energia. Ambos precisam de água”, afirma Peter Gammeltoft, 42 AquA VitAe especialista da Comissão Européia e representante da Dinamarca, que faz uma advertência específica para a existência de um aumento na competitividade pela água limpa. O evento solicita que as autoridades do governo (nacional, regional e local), bem como o setor industrial, promovam a criação e aplicação de novas tecnologias para garantir acesso, abastecimento e sistemas de irrigação. O Berlin Wasser International também se tornou uma feira especializada em tecnologia hídrica. “Trata-se de um evento multi-setorial único na Europa, que se concentra totalmente na água. Mostra Fotos: Wasser Berlin International Foto: COP16 INTERNACIONAL a capacidade de inovação da indústria hídrica na Alemanha e também fornece uma visão global do progresso tecnológico na indústria da água internacional”, disse Dr. Christian Göke, um dos organizadores. O nível alcançado pelo evento tem atraído a atenção de delegações fora da Europa. Este ano, dentre os 34 países participantes, dois latino-americanos estavam presentes: Honduras e Colômbia, que se uniram aos 696 expositores e 25 mil visitantes semanais para discutir os métodos de melhoria do abastecimento hídrico e de sistemas de disposição de águas residuais. As discussões envolvem dois aspectos que os organizadores consideram básicos: promover a educação dos cidadãos e das empresas no uso e aproveitamento da água, e incentivar a criação de empregos na indústria do setor hídrico, como um mecanismo para formar profissionais preparados para dar as respostas necessárias hoje e amanhã. COLÔMBiA eM BeRLiM A América Latina começou a participar mais diretamente, através dos esforços das câmaras de comércio alemãs na região. Desta vez, os representantes da Colômbia foram a Berlim para encontrar informações atualizadas sobre o tratamento de água, para aplicá-las em um projeto interessante: • Habitação Sustentável: Proposta de construção de 20 mil moradias, onde os engenheiros pretendem reutilizar parte da água cinzenta e da chuva. A idéia é que estas casas utilizem esta água para atividades dentro do lar, além de tratar o esgoto e utilizá-lo na produção de energia. A intenção é provar tais tecnologias e aplicá-las na melhoria das condições de moradia, bem como reduzir custos. O projeto está a cargo da empresa APIROS LTDA., a segunda no setor de construção habitacional de benefício social, em Bogotá. AquA VitAe 43 CULTURA A indústria do cinema sai em defesa da água IMAGENS POR UM COMPROMISSO VITAL Por BORIS RAMÍREZ Estrelas de Hollywood vêem na água um dos dilemas do nosso mundo atual. Johnny Depp, Alfred Molina, George Lucas, Gore Verbinski e a Paramount Pictures se unem para criar e promover uma mensagem em defesa da água 44 AquA VitAe A lguns dos maiores nomes de Hollywood se unem em um impactante projeto cinematográfico, em cujo script a água flui como um dos temas mais importantes de nossas vidas. Este importante projeto reúne a genialidade de Johnny Depp, a profundidade de Alfred Molina, a visão original de George Lucas e a direção magistral de Gore Verbinski. Destas estrelas da indústria do cinema surge uma animação – longa metragem – na qual inovação e compromisso se misturam com o líquido vital. O resultado: Rango! Uma comédia animada por computação gráfica que conta a história de um camaleão domesticado que passa por uma crise de identidade. Para superá-la, parte em uma viagem de autoconhecimento que o leva ao Velho Oeste, especificamente numa cidade chamada Dirt (Sujeira, em inglês), onde deixa de ser um animal de estimação mimado e se transforma em um herói que ajuda a população a lutar para manter seu principal tesouro: a água. O filme estreou sua turnê nas salas de cinema do mundo em março de 2011 e já se tornou um sucesso de bilheterias, graças ao potencial de todos os que participam desta história com seu talento. O que trazem cada uma destas estrelas mundiais do cinema para o filme? Fotos: Rangothemovie.com AquA VitAe 45 Johnny Depp. Três vezes indicado ao Oscar, o intérprete do capitão Jack Sparrow da saga “Piratas do Caribe”, do Chapeleiro Maluco de “Alice nos País das Maravilhas” e de Sr. Willy Wonka de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” é o responsável por dar voz e vida ao camaleão Rango, herói do filme e quem lidera um resgate de água na cidade. A ÁGUA NO CENTRO DAS ATENÇÕES Uma enorme consciência ambiental é o tema central de muitos filmes que estão sendo produzidos pela meca cinematográfica. Rango vem se unir a esta iniciativa e coloca em seus argumentos questões filosóficas em torno do tema água. Alfred Molina. Com 34 filmes no currículo, o britânico Alfred Molina já foi Dr. Octopus em “Homem-Aranha 2”, Diego Rivera em “Frida” e até o bispo Manuel Aringarosa em “O Código Da Vinci”. Molina é o responsável pela voz e a personalidade do tatu Roadkill, que desempenha um papel fundamental nas discussões sobre o valor da água. O protagonista Rango descobre que o povo está morrendo por falta d’água. O problema piora quando ladrões roubam a pequena reserva monetária que ainda restava nos cofres do banco. Rango tem de reunir, então, um pequeno grupo de voluntários para recuperar o dinheiro. O filme usa a idéia genial de substituir o dinheiro por água, o que nos faz pensar no dilema atual em torno ao valor da água e como encontrar o equilíbrio em seu uso atual. George Lucas. Durante dois anos consecutivos, considerado uma das quatro figuras mais poderosas da indústria cinematográfica, Lucas é o criador das sagas mais importantes na história do cinema moderno: “Guerra nas Estrelas”, “Indiana Jones” e “Jurassic Park”. Em Rango, a Industrial Light and Magic (empresa de Lucas) é responsável por fazer um filme com efeitos especiais integrados. Gore Verbinski. Reconhecido mundialmente pela saga “Piratas do Caribe”, o diretor fez um roteiro com profundos argumentos que ligam a relação vital do ser humano com a água. Paramount Pictures. Fundada em 1908, a Paramount é um dos mais poderosos estúdios de Hollywood. Foi a primeira produtora cinematográfica a contribuir com o desenvolvimento da dublagem. Entre suas mais famosas produções estão: “Cleópatra” de 1934, “Os Dez Mandamentos” de 1956, além de “Psicose”, “O Poderoso Chefão”, “King Kong” e “Os Embalos de Sábado à Noite”. A Paramount é co-produtora de Rango em parceria com a Nickelodeon Movies e GK Film. Rango recebeu um investimento de US$ 135 milhões e já na primeira semana de estréia alcançou o primeiro lugar em vendas nas bilheterias. Só nos Estados Unidos, o filme faturou US$ 38 milhões. AquAVitAe VitAe 46AquA 46 Após a recuperação da água, Rango e seus novos amigos passam muitas aventuras para acabar com a grave seca que ameaça a vida de todos os habitantes de Dirt. Segundo a crítica, os diálogos de Rango com seus amigos répteis e roedores são, por vezes, de uma profundidade digna de filósofos discutindo o rumo do mundo, mesmo narrado por este extravagante camaleão. uSO DiDÁtiCO O filme é considerado por muitos como um mecanismo didático, para ensinar a buscar equilíbrio no uso da água. Uma frase marcante do filme - “quem tem água, tem o poder” –, dá o tom de reflexão em torno do tema, que flui por todo o filme: • Respeito pelos recursos naturais; • Proteção das fontes de água; • Uso racional da água; • O ciclo da água nos vários tipos de climas. Para mais informações, acesse: www.rangolapelicula.com.mx (em espanhol) www.rangotheworld.com/ (videogame em inglês) AquA VitAe 47 SITES DE INTERESSE www.espacioagua.org.ar www.abrh.org.br www.archivohistoricodelagua.info ESPACIO AGUA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA ARCHIVO HISTÓRICO Organização argentina sem fins lucrativos, DE RECURSOS HÍDRICOS DEL AGUA DE MÉXICO formada por organizações da sociedade Organização fundada em 1977, que pro- Criado em 1994 pela Comissão Nacional civil, governos locais, universidades, em- cura unir pessoas e empresas envolvidas da Água (CNA) e o Centro de Pesquisa e presas e profissionais, cuja missão é con- no planejamento e na gestão dos recur- Estudos Superiores em Antropologia So- tribuir com a gestão integral dos recursos sos hídricos no Brasil. Por meio de seus cial. Sua missão é recuperar os acervos hídricos e o reconhecimento formal do parceiros, a ABRH desenvolve ações de documentários e históricos sobre o tema acesso universal à água potável e ao sa- estrutura central técnico-científica de suas hídrico. Atualmente, mantem sete bibliote- neamento como um direito humano. Tem operações no âmbito legal, institucional cas: Aproveitamentos Superficiais, Águas como estratégia “inundar” a agenda pú- e social. Consonante com as abordagens Nacionais, Consultoria Técnica, Infra-estru- blica e privada por meio de ações de co- mais modernas para a ciência da gestão tura Hidráulica, Comissão do Rio Grijalva, municação e educação de alto impacto, hídrica, foi inicialmente formada apenas Comissão do Rio Papaloapan e Acervo criando, promovendo e fortalecendo ce- por engenheiros civis, mas hoje envolve Fotográfico, abrangendo o período que nários propícios para o diálogo. profissionais de vários setores. A ABRH é vai de 1888 a 1980. Os documentos que um fórum para se discutir e procurar so- estão no AHA tornam possível reconstruir luções para os desafios no campo dos a forma como a água tem sido utilizada no recursos hídricos. México há mais de 100 anos. www.watermonitoringalliance.net www.internationalwaterlaw.org www.charitywater.org WATER MONITORING ALLIANCE INTERNATIONAL WATER LAW PROJECT CHARITY: WATER Iniciativa do Conselho Mundial da Água, Criado e dirigido por Gabriel Eckstein, a Organização sem fins lucrativos fundada composta por organizações envolvidas missão do Projeto de Lei Internacional da por Scott Harrison para levar água limpa e na coleta, análise, divulgação e dissemi- Água (IWLP) é servir como principal re- potável para pessoas em países em desen- nação de informações sobre a água em curso on-line sobre direito internacional volvimento. Em quatro anos, levantou mais todos os seus usos, para criar um sistema hídrico e questões políticas. Seu propó- de US$ 20 milhões em doações, tendo in- global de monitoramento hídrico. Tem sito é educar e fornecer recursos relevan- vestido em 3.811 projetos hídricos: 71 pro- como objetivo melhorar o intercâmbio de tes para o público e facilitar a cooperação jetos em clínicas e hospitais, 384 escolas informações entre organizações e progra- em recursos mundiais de água doce. e 3.356 em comunidades da Ásia, África mas envolvidos na recompilação e divul- Como a questão evolui e se desenvolve, e América Central (Honduras) por meio gação de dados sobre a água, a fim de o IWLP continuará atualizando suas pági- de programas de arrecadação de fundos proporcionar melhor acesso à informação nas e bancos de dados com publicações, (fundraising), recrutamento de voluntários para tomada de decisão, mídia e público notícias, casos, correções e comentários e conscientização sobre a questão da água em geral. sobre a legislação hídrica. e saneamento. 48 AquA VitAe ANO 7 | 2011 | N. 14 Nossa sabedoria é a dos rios. Não temos outra. Persistir. Ir com os rios, onda a onda. Os peixes cruzarão nossos rostos vazios. Intactos passaremos sob a correnteza feita por nós e o nosso desespero. Passaremos límpidos. E nos moveremos, rio dentro do rio, corpo dentro do corpo, como antigos veleiros. CONSELHO EDITORIAL Beneditto Braga | Vice-presidente do Conselho Mundial de Água (WWC). Professor Titular da Escola Politécnica da USP (Brasil). Maureen Ballestero | Presidente da Global Water Partnership (GWP) Costa Rica. Membro do Comitê Diretivo da GWP América Central. Claudio Osorio | Consultor Internacional de Água e Saneamento. Eduardo Mestre | Diretor da Tribuna da Água, Expo Zaragoza 2008. DIRECTORA GENERAl Yazmín Trejos | Gerente de Comunicación Corporativa, Mexichem Brasil. PRODUÇÃO EDITORIAL Satori Editorial | www.satoreditorial.com EDITOR CHEFE | Boris Ramirez EDITORA DE ARTE | Carmen Abdo DESIGN | Gerson Tung REVISÃO | María del Mar Gómez CAPA | Carmen Abdo e Gerson Tung COLABORADORES Christiana Figueres | Secretária Executiva da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática. Ángel Gurría | Secretário Geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Eng. Norma Alcantar | Professora Associada do Departamento de Química e Engenharia Biomédica. Universidade do Sul da Flórida. Dr. Andrei N. Tchernitchin | Profesor Titular da Faculdade de Medicina, Universidade do Chile. Diretor Científico, Conselho de Desenvolvimento Sustentável (Comissão Assessora Presidencial DS 90/98). Denis Schmidli | Gerente Sênior de Produto, Pictet-Water. Zurich. Eng. Diego Paredes Calvo | Engenheiro Sanitarista do Grupo de Pesquisas em Água e Saneamento. Universidade Tecnológica de Pereira, Colombia. Luís Carlos Vernozi Nejar (Porto Alegre, 11 de janeiro de 1993), é poeta, ficcionista, tradutor e crítico brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras. ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Luis Alonso Ramirez FALE CONOSCO [email protected] Uma publicação promovida pelo Grupo Mexichem Foto: Igor Tomic TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS Elisa Homem de Mello e Candeias | EB VERSÃO BRASILEIRA ISSN 1659-2697 ANO 7 | 2011 | Nº 14 LEGISLAÇÃO Lei das Geleiras, promulgada legislação declarando as geleiras como patrimônio público, proibindo sua destruição ou remoção de grandes massas de gelo e impondo severas sanções aos infratores. TECNOLOGIA ANO 7 | 2011 | N°14 Tecnologia verde de ponta e inovadora garante, por meio do uso da mucilagem do cacto (nopal), água pura em regiões altamente contaminadas. RELEXÕES COM AL GORE SOBRE A ÁGUA Desafio ético e moral
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