A ameaça do capital estrangeiro na saúde

Transcrição

A ameaça do capital estrangeiro na saúde
DR!
Revista
Nº 89 | 2016
Publicação do SIMESP
Sindicato dos Médicos de São Paulo
abril/maio/junho
A ameaça do
capital estrangeiro
na saúde
A ampliação da atuação de investidores
internacionais na saúde suplementar deve
provocar impacto direto no Sistema Único
de Saúde e nas relações de trabalho em geral
Páginas Verdes
Áquilas Mendes
Artigo
Lucio Flávio Gonzaga Silva
Revista DR! • 1
87 anos de história
e cada vez mais presente
para facilitar
a defesa do médico
e de seu trabalho
2 • Revista DR!
Sumário
Nº 89 | 2016
abril/maio/junho
Sustentabilidade
Horas Vagas
Médico
artista
Espaço
cultural
18
26
34
Iniciativas de pequenos
Os palcos conquistaram
Mergulhe no mundo
agricultores e da
o psiquiatra
das bibliotecas, que
comunidade em geral
Saulo Ciasca, que
se tornaram espaços
defendem alimentos
recentemente se tornou
interativos de lazer
sem agrotóxico
ator profissional
e cultura
Alimento
orgânico
Cultura
5 Editorial
29 Redes Sociais
32 Crônica
39 Literatura
22
Especial
Saúde do médico
Revista DR! • 3
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4 • Revista DR!
Editorial
Direitos ameaçados
Diretoria do Simesp
O momento pelo qual passa o país
O lobby em favor das empresas
balho, protelamos um olhar mais
é delicado, com ameaças a diver-
de planos de saúde tem se forta-
atento para nosso bem-estar. Até
sos direitos sociais conquistados
lecido junto ao Congresso Nacio-
adoecermos. A matéria Especial
pelo povo brasileiro nas últimas
nal e já vinha dando a linha nas
destaca que os locais de trabalho
gerações, especialmente o direito
políticas de saúde suplementar.
não oferecem serviço de apoio ao
à saúde pública por meio de nosso
Agora, pasme: um representante
médico, tampouco sabem lidar
Sistema Único de Saúde (SUS).
à frente do Ministério da Saúde,
com o problema. Muitas vezes, o
Uma dessas ameaças é a am-
que no primeiro dia na função de-
empregador simplesmente afas-
pliação da atuação do capital es-
fendeu “rever o tamanho do SUS”,
ta o profissional dando férias ou
trangeiro no setor, em todos os
declarou não ser possível garantir
chegando ao extremo de demiti-
segmentos. Uma lei assinada no
os direitos que a Constituição de-
lo. É urgente que esse tema deixe
apagar das luzes do ano de 2014
termina e apontou, como saída, a
de ser tabu e passe a fazer parte
permite aos investidores estran-
ampliação de oferta de saúde para
das nossas discussões.
geiros explorarem a saúde brasi-
a população.
leira, tornando-a um bem mera-
Por fim, aproveitamos para in-
Com os incentivos fiscais e a
formar que o Simesp está inician-
possibilidade de que empresas
do a campanha salarial 2016 do
A diretoria do Simesp preocu-
comandadas pelo capital inter-
setor privado, que inclui as organi-
pa-se com os próximos capítulos
nacional controlem tanto planos
zações sociais e filantrópicas. Para
dessa história. A partir dos oli-
de saúde quanto hospitais, inclu-
uma boa negociação, é importante
gopólios que temos observado se
sive filantrópicos, possivelmen-
a participação de todos nas assem-
formarem, a organização de nos-
te assistiremos recursos de nos-
bleias do Sindicato. O médico pode
sos serviços de saúde passará por
so trabalho e do erário público
acompanhar as informações pelo
grandes transformações que têm
transferidos para os seus sócios
site e pelo Jornal do Simesp, ou ain-
a ver tanto com a dinâmica assis-
nos diversos cantos do planeta.
da, ligando para nosso canal de Re-
tencial quanto com as relações
Esse assunto está na reportagem
lacionamento. Boa leitura!
de trabalho. Com maior oferta de
de Capa desta Revista DR!, com
médicos e um menor número de
ampla abordagem e opiniões de
empresas dominando o mercado
diversos especialistas.
mente comerciável.
haverá desafios para viabilizarmos
Outro assunto em destaque
um padrão razoável de vencimen-
nesta edição chama a atenção
tos e manutenção na qualidade de
para a saúde do médico. Sim,
insumos.
muitas vezes somos displicentes
com nós mesmos. Na rotina extenuante, inerente ao nosso tra-
Revista DR! • 5
Páginas Verdes
Áquilas Mendes
“Devido à dominância
do capital financeiro,
é na sua esfera que
novas fontes devem
ser pensadas”
O dinheiro que hoje faz tanta falta ao Sistema Único de Saúde (SUS) existe, mas está represado, por exemplo, no setor bancário brasileiro que, a
cada trimestre, bate recordes de lucro (a despeito de qualquer crise ou
quadro recessivo). Para Áquilas Mendes, professor doutor livre-docente
de Economia da Saúde da Faculdade de Saúde Pública da Universidade
de São Paulo, é daí que poderiam vir os recursos necessários para garantir a sustentabilidade financeira de um sistema que hoje é subfinanciado. Ele propõe, entre outros, a criação de uma contribuição sobre grandes
transações financeiras e também sobre as grandes fortunas do Brasil,
garantindo que uma parte do dinheiro arrecadado tivesse como destinação exclusiva o campo da saúde. O professor é contra a lei que permite a entrada do capital estrangeiro na saúde brasileira por avaliar que
um dos seus objetivos é o de abocanhar, por meio de renúncias, isenções
fiscais e outros, os já escassos recursos públicos disponíveis. “Não resta
dúvida que o aumento desses incentivos fiscais ao capital privado vem
respondendo à necessidade de valorização desse capital no contexto do
capitalismo financeirizado e sua crise”. O professor concedeu entrevista
à revista DR! por e-mail, no final do mês de abril
Leonardo Gomes Nogueira
6 • Revista DR!
O senhor é contra a lei que permite a entrada do capital estrangeiro na saúde brasileira?
É importante esclarecer que, ao
lado de várias entidades vinculadas à saúde pública, mantemos nosso compromisso com a
preservação do direito universal
à saúde e com a responsabilidade do Estado na garantia desse
direito. A Lei 13.097/2015, aprovada no ano passado, dentre outros aspectos, promove a abertura da saúde para que empresas
e capitais estrangeiros possam
instalar, operar ou explorar clínicas, hospitais gerais, inclusive
filantrópicos, por meio da permissão de aquisição das santas
casas – instituições que basicamente são financiadas pelo Estado brasileiro. Atualmente, a
presença do capital externo já
existe em outras áreas da saúde, a exemplo dos planos e seguros de saúde. Essa nova Lei
altera a Lei Orgânica da Saúde
(8.080/90), que originalmente
proíbe os investimentos estrangeiros no setor, e fere também a
Constituição Federal de 1988, em
seu artigo 199, em relação à proposta do SUS.
A lei deve aprofundar os problemas na saúde pública?
Entendemos que essa lei agrava e aprofunda ainda mais as
dificuldades de nosso sistema
público de saúde, ampliando
uma concorrência privada que
já tem sido totalmente desigual
para o SUS, inibindo qualquer
possibilidade de ampliação e
consolidação desse sistema.
Concordamos com as várias entidades vinculadas à saúde pública, como a Frente Nacional
contra a Privatização da Saúde
(FNPS), que vem realizando esforços contrários a essa nova
lei e defendendo que o Supre-
“O Estado irá
transferir recursos
financeiros para
o capital
estrangeiro?”
mo Tribunal Federal (STF) decida pela aprovação da Ação
Direta de Inconstitucionalidade
(Adin). Entendemos que essa
luta não deve ser apenas jurídica, mas sobretudo política, no
sentido de incorporarmos em
nossa agenda o repúdio a essa
medida e ao posicionamento do
governo federal que vem mantendo o seu argumento a favor.
Na realidade, o governo federal
tem insistido que a primeira
“brecha” para a entrada de capital estrangeiro no mercado
de saúde brasileiro ocorreu em
1998, com a lei que regulamenta
planos de saúde e, sendo assim,
a 13.097 não constitui novidade nesse campo. A partir da lei
de 1998, operadoras de saúde de
capital internacional, sob a liderança do capital financeiro,
foram autorizadas a comprar
planos no Brasil. Sabe-se que,
desde então, a empresa United Health adquiriu a Amil e o
grupo americano Bain Capital
- fundo de private equity e venture capital – comprou a Intermédica. Sem dúvida, a Lei 13.097
veio para agravar ainda mais a
possibilidade de ampliarmos a
conquista desse direito pela sociedade brasileira e assegurar a
insaciabilidade do capital, sob a
dominância do capital financeiro, na forma de apropriação do
fundo público. Nesse sentido,
cabem as indagações: como um
hospital filantrópico pode ser
vendido e, particularmente, a
uma empresa estrangeira? Se a
sua característica de filantropia
não for alterada, continuando a
receber recursos do SUS, significa que o Estado irá transferir
recursos financeiros para o capital estrangeiro?
A Lei de Responsabilidade Fiscal dificulta a ampliação dos
gastos com saúde e até mesmo
estimula o uso das organizações
sociais na gestão desse sistema,
correto?
Há 16 anos, desde que a Lei Complementar 101/2000, denominada Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), foi aprovada, as áreas
Revista DR! • 7
Páginas Verdes
Áquilas Mendes
sociais, em especial a saúde, vêm
sendo prejudicadas no tocante à
execução das suas ações e serviços. Conforme o princípio maior
da lei em que os entes públicos
devem gastar bem menos do que
arrecadam, vários limites são
determinados ao poder Executivo, especificamente as despesas
de pessoal que não podem ultrapassar 54% da receita corrente
líquida do município. Caso isto
venha a ocorrer, as penalidades
são significativas, conforme indica a Lei 10.028/2000 que tipifica
crime em finanças públicas. Tal
exigência legal vem afetando o
comprometimento das esferas
de governo, em especial da instância municipal com a execução das ações e serviços públicos de saúde em geral, e com a
Estratégia Saúde da Família em
particular. Na realidade, o respeito a esse limite da LRF, por
parte dos municípios, tem levado a que direcionem seus gastos para a despesa com serviços
de terceiros - pessoa jurídica -,
isto é, referente à contratação
de organizações sociais da saúde
(OSSs) ou organizações civis de
interesse público (Oscips). Trata-se de uma grave distorção na
aplicação dos recursos do SUS,
8 • Revista DR!
“Sem dúvida,
essas entidades
privadas acabam
por administrar
parcela importante
dos serviços da rede
pública com a lógica
mercantil”
sendo usados prioritariamente
para financiar essas entidades
privadas, a fim de executarem
as ações e serviços de saúde que
deveriam ser de responsabilidade dos municípios. Sem dúvida,
essas entidades privadas acabam por administrar parcela
importante dos serviços da rede
pública com a lógica mercantil.
Entendemos ser urgente e fundamental que todos os defensores do SUS público, integral e de
qualidade reúnam forças para
solicitar a aprovação da proposta
que exclui o limite das despesas
de pessoal da LRF para a saúde.
A ideia do capital estrangeiro,
ao ingressar no Brasil, é capturar uma parte do dinheiro público oferecido ao setor privado
por meio de renúncias e isenções fiscais?
É importante começar essa discussão das renúncias e isenções
fiscais concedidas pelo governo
federal à saúde privada, na forma de redução de Imposto de
Renda a pagar da Pessoa Física
ou Jurídica e de tributos para as
entidades sem fins lucrativos e
para a indústria farmacêutica,
por meio de seus medicamentos,
relacionando-a com a questão
do subfinanciamento do SUS.
Como já é conhecido por muitos, um dos maiores problemas
desse sistema é o seu subfinanciamento histórico que acaba
refletindo no comportamento
do gasto público em saúde brasileiro, que ainda é baixo (3,9%
do PIB em 2014) em relação ao
dos demais países que têm um
sistema público universal. Para
que o Brasil atinja o nível desses
países, precisaria dobrar a participação do SUS em relação ao
PIB (Produto Interno Bruto), a
fim de equipará-lo à média dos
países de capitalismo avançado
(Reino Unido, Canadá, França e
Espanha), isto é, 8%. Nota-se que
o total desses benefícios tributários à saúde privada vem crescendo de forma considerada.
Registre-se: R$ 3,67 bilhões em
2003, passando para R$ 8,70 bi-
lhões em 2006 ; R$ 15,85 bilhões
em 2009, e, por fim, R$ 19,98 bilhões em 2014 (dados extraídos
da Secretaria da Receita Federal). Não resta dúvida que o aumento desses incentivos fiscais
ao capital privado vem respondendo à necessidade de valorização desse capital no contexto
do capitalismo financeirizado e
sua crise.
O senhor tem algumas ideias
interessantes para garantir a
sustentabilidade financeira do
SUS...
Devido à dominância do capital
financeiro na fase contemporânea do capitalismo, é na sua
esfera que novas fontes devem
ser pensadas. Destacamos: 1)
adoção de mecanismos de tributação para a esfera financeira, como por meio da criação
de uma Contribuição sobre as
Grandes Transações Financeiras (CGTF) progressiva ou, por
exemplo, acima de uma renda
de R$ 2 milhões mensais – sendo essa contribuição vinculada
à Seguridade Social e com destinação de 50% para a Saúde;
2) estabelecimento da Contribuição sobre Grandes Fortunas
com vinculação para a seguridade social, com destinação de
50% para a saúde; 3) aprofundamento dos mecanismos de
tributação para a remessas de
lucros e dividendos realizadas
pelas empresas multinacionais,
atualmente isentas na legislação, destinadas ao Orçamento
da Seguridade Social (saúde,
previdência e assistência social); 4) ampliação constante da
alíquota da Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido (CSLL)
para instituições financeiras;
5) revisão da tributação sobre
heranças (ITMCD) e com parte
de sua destinação à seguridade
social (saúde).
Há ainda outras propostas alternativas?
Sim. Em outro plano de discussão sobre propostas de fontes
alternativas, destacamos: 1) o
fim das isenções de Imposto de
Renda das Pessoas Físicas (IRPF)
com despesas médicas e do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ), das empresas que
prestam assistência médica a
seus funcionários; 2) o estabelecimento de uma política de
renúncia fiscal para entidades
sem fins lucrativos e para a indústria farmacêutica; 3) a extinção dos subsídios públicos
aos planos prwivados de saúde;
4) o repúdio à Lei 13.097/2015 que
permite a entrada de capital estrangeiro na saúde pública. !
Revista DR! • 9
Capa
Capital Estrangeiro
O Capital
no Século 21
A Lei 13.097, aprovada, sem debate, às
vésperas de um recesso parlamentar,
permite que o dinheiro estrangeiro atue em
quase todos os setores da saúde brasileira
Leonardo Gomes Nogueira
10 • Revista DR!
No final da 54ª legislatura, às vés-
O que alguns que acompanha-
peras do início do recesso parla-
ram o assunto, como a professo-
mentar de fim de ano, escondida
ra Ligia Bahia, da Universidade
“Essa lei é manifestamente in-
em meio a dezenas de artigos tra-
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
constitucional”, disse Silva. “Nos-
tando dos mais variados assuntos,
classificaram como “X Tudo” (o
sa preocupação como membros
o Congresso Nacional aprovou,
sanduíche que reúne ingredien-
do ministério público não é discu-
em 10 de dezembro de 2014, regra
tes em grande quantidade e tão
tir a mão invisível do mercado de
que amplia, em muito, o campo
diferentes entre si quanto os ar-
um lado ou as virtudes do Estado
de atuação do capital estrangeiro
tigos inseridos na lei do capital
no controle da sociedade do outro.
na saúde do Brasil.
estrangeiro).
Nós somos operadores jurídicos. E
A presidente Dilma Rousseff,
ignorando o pedido de diversas
entidades e organizações que trabalham em defesa da saúde pública, aprovaria a mesma regra
em 19 de janeiro de 2015.
Antes restrito aos planos e seguros, agora o capital de fora pode,
Especialistas
criticam o fato de a
lei ter sido aprovada
sem o necessário
debate
Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste).
nosso dever é defender a Constituição”, ressaltou.
Oswaldo José Barbosa Silva, da
Associação Nacional do Ministério Público de Defesa da Saúde
(Ampasa), lembrou que o artigo 199 da Constituição brasileira
veda a participação (direta ou in-
de forma direta ou indireta, atuar
“Não foi uma surpresa”, co-
direta) de empresas ou capitais
na assistência à saúde. O que in-
mentou Ligia. “Era um pleito das
estrangeiros na assistência à saú-
clui hospitais (inclusive filantró-
entidades do meio empresarial.
de e acrescentou: “salvo nos casos
picos), clínicas e laboratórios. É o
Não teve oposição. Não há oposi-
previstos em lei.”
que diz, em resumo, o Artigo 142
ção a essa lei”, avaliou a professo-
Ele acredita que os consti-
da Lei 13.097 (que altera trechos da
ra da UFRJ, citando o deputado fe-
tuintes redigiram o texto dessa
8.080, de 19 de setembro de 1990),
deral Ivan Valente como uma das
maneira, prevendo algum tipo
que definiria o âmago do futuro
poucas vozes no parlamento que
de exceção ao veto para casos ex-
Sistema Único de Saúde (SUS).
se opôs ao tema.
cepcionais que obrigassem o país
A lei sancionada pela presi-
“É triste porque é uma mudan-
a aceitar a entrada do capital de
dente agora afastada tem 169 ar-
ça constitucional. Como que uma
fora. “Então, você tem uma regra
tigos. Além do tamanho, também
mudança constitucional ocorre
e uma exceção. Só que essa lei
chama atenção pelo fato de que os
sem um grande debate na socie-
transformou exceção em regra”,
seus artigos têm pouco ou nenhu-
dade?”, indagou.
avaliou.
ma relação entre si.
O subprocurador-geral da Re-
“Na prática designa-se, por
Ela trata de coisas tão díspares
pública, Oswaldo José Barbosa
exceção, a possibilidade do capi-
como a “Desoneração Tributária
Silva, classificou o processo como
tal estrangeiro entrar em toda e
de Partes Utilizadas em Aerogera-
“vergonhoso”. “Essa lei foi uma
qualquer ação e serviço de saú-
dores” e o “Descarte das Matrizes
colcha de retalhos”, criticou, em
de. Agora, a legislação brasileira
Físicas no Processo Administrati-
25 de junho de 2015, durante de-
sobre saúde traz duas políticas
vo Eletrônico”.
bate promovido pela Associação
opostas na mesma norma”, escreRevista DR! • 11
Capa
Capital Estrangeiro
veu o professor Mário Scheffer
brasileiras e criem um setor forte-
em artigo (leia mais na página 16).
mente oligopolizado, permitindo,
Uma Ação Direta de Incons-
dessa forma, que o poder de ne-
titucionalidade questionando a
gociação ou mesmo de imposição
legalidade dessa lei aguarda julga-
desses grupos cresça à medida que
mento, desde fevereiro de 2015, no
o dos trabalhadores diminui. Isto
Supremo Tribunal Federal (STF). A
somado ao fato de que, em poucos
liminar, quando (e se) houver um
anos, haverá uma maior oferta de
julgamento da questão, será apre-
médicos no mercado, tornando
ciada pela ministra Rosa Weber.
quase certo que a famosa lei da
oferta e da procura favoreça os “se-
O supermercado da saúde
nhores da humanidade”.
No mesmo debate promovido pela
Associação Brasileira de Defesa do
Relações trabalhistas
Consumidor, o na época presiden-
A entrada de investidores estran-
te do Conselho Regional de Medi-
geiros deve também provocar
cina do Estado de São Paulo (Cre-
grande impacto no mercado de
mesp), Bráulio Luna Filho, avaliou
trabalho, nas relações entre mé-
que o ingresso do capital estran-
dicos e empresas de saúde. “O ca-
geiro pouco ou nada contribuirá
pital estrangeiro é mais agressivo
para o avanço da saúde ofertada
no que diz respeito à obtenção do
ao brasileiro ou mesmo para a me-
lucro, essa é a prioridade máxima”,
lhoria das condições salariais e de
afirmou Eder Gatti, presidente do
trabalho entre os médicos.
Simesp.
“Em dez anos, nós vamos ter
Para Gatti, a busca desenfrea-
não mais 300 mil médicos no país,
da pelo lucro vai precarizar ainda
vamos ter quase 500 mil. E os médi-
mais as relações de trabalho de
cos não vão ter alternativas”, disse
todos os profissionais, inclusive
Luna Filho, lembrando a tendência
do médico. “A tendência é ampliar
de que grandes grupos econômicos
a terceirização, ao mesmo tempo
estrangeiros adquiram empresas
que não darão abertura para o mé-
“Senhores da humanidade”
12 • Revista DR!
Expressão criada pelo filóso-
defensor do livre mercado e
fo e economista Adam Smith
dos benefícios da “mão invisí-
para se referir aos indivíduos
vel” desse (outro termo criado
que concentram grande poder
por ele), Adam Smith reconhe-
econômico e, portanto, político
cia, já no século 18, que essa eli-
em suas mãos. Mesmo sendo a
te se guiava pelo seguinte lema:
figura que praticamente inau-
“Tudo para nós e nada para os
gura o liberalismo econômico,
outros”.
dico empreendedor. Serão criados
grandes conglomerados, empresas
menores serão absorvidas pelas
maiores. E nesses conglomerados
cria-se uma dinâmica de linha de
produção: o médico será mais uma
engrenagem nesse sistema”, enfatizou o presidente do Simesp.
Atualmente já existem hospitais que trabalham numa dinâmica de telemarketing. No pronto-socorro, por exemplo, o médico
sofre uma pressão por quantidade,
>Segundo Ligia Bahia, a aprovação da lei atende pleito do meio empresarial
tendo que atender rapidamente os
pacientes. “As previsões não são
“O setor privado de saúde em
“Com volatilidade e vocação
nada boas. Se hoje há exploração
mercados
oferece
especulativa, investimentos es-
e insegurança, o cenário só tende
retornos atrativos para os inves-
trangeiros escolherão leitos, exa-
a piorar no setor privado”, avaliou.
tidores. Em contrapartida, inves-
mes e procedimentos que geram
timentos estrangeiros em estru-
altos retornos financeiros, prin-
Sem sucesso
turas privadas de saúde de países
cipalmente
O Brasil não é um caso isolado,
de renda média e baixa melho-
em valores e preferências parti-
lembrou Luna Filho. Há uma ten-
raram pontualmente a qualida-
culares, e que praticam a seleção
dência global de que empresas da
de de serviços hospitalares alta-
adversa, afastando-se do atendi-
área de saúde procurem investir
mente especializados acessíveis
mento a populações que vivem
em países emergentes. Lugares
a clientela restrita, mas também
em áreas distantes de recursos as-
onde, até então, quase sempre
foram responsáveis pela disputa
sistenciais, do atendimento a ido-
esse tipo de atividade era restrita,
predatória por recursos huma-
sos, crônicos graves, portadores
ao capital local (fosse ele privado
nos, agravando a falta de médicos
de transtornos mentais e outros
ou público). “Melhorou a saúde da
e de outros profissionais de saúde
pacientes que demandam aten-
Índia?”, perguntou. “Não melho-
nos estabelecimentos públicos e
ção contínua”, diz o mesmo arti-
rou”, o próprio respondeu.
nas áreas remotas. No Brasil, os
go, publicado em abril de 2015, na
emergentes
serviços
baseados
A médica sanitarista Maria
padrões atuais já sugerem que
revista mensal Cadernos de Saúde
Angélica Borges também desta-
o uso excessivo do setor privado
Pública (produzida pela Escola
cou, em programa disponível na
promove
desleal
Nacional de Saúde Pública Sergio
internet, a mesma onda que se
com o setor público, drenando
Arouca, ligada à Fundação Oswal-
verifica, sobretudo, nos chama-
serviços, recursos humanos e fi-
do Cruz).
dos países emergentes (como é o
nanceiros do SUS”, escreveu Má-
Na esteira da nova lei, em 28
caso, entre outros, do Brasil e da
rio Scheffer, professor do Depar-
de novembro de 2015, a Folha de S.
China). No ano 2000, lembra a mé-
tamento de Medicina Preventiva
Paulo noticiou que a americana
dica, a Índia abriu o país ao capi-
da Faculdade de Medicina da USP,
United Health comprou o Hospi-
tal externo. “E ela não é nenhum
no artigo “O capital estrangeiro e
tal Samaritano de São Paulo por
exemplo de sistema de saúde para
a privatização do sistema de saú-
cerca de US$ 1,3 bilhão. Em 2012,
a população”, avaliou.
de brasileiro”.
a mesma companhia já havia ad-
concorrência
Revista DR! • 13
Capa
Capital Estrangeiro
quirido a operada Amil por US$
se idêntica, mudando apenas os
4,9 bilhões, ainda de acordo com a
seus donos (leia entrevista a partir
reportagem.
da página 6).
“Pelo alvo ser um hospital fi-
A reportagem da Folha de S.
lantrópico, a transação levanta
Paulo levanta outra questão im-
questionamentos.
hospitais
portante: os hospitais filantrópi-
filantrópicos se beneficiam com
Os
cos, como é o caso do Samaritano,
isenção tributária sobre patrimô-
são obrigados por lei a destinar
nios, rendas ou serviços – benefí-
60% da sua capacidade operacio-
cio que contribuiu para formar a
nal para atendimentos pelo Sis-
estrutura que agora vai para uma
tema Único de Saúde ou 20% dos
empresa com fins lucrativos”, diz
atendimentos em serviços gratui-
a matéria assinada por Claudia
tos. Isso será ou mesmo tem sido
Collucci e Tatiana Freitas.
respeitado?
Para o professor Áquilas Men-
14 • Revista DR!
des, da Faculdade de Saúde Públi-
É o fim do SUS como conhecemos?
ca da Universidade de São Paulo
Dez dias antes de Dilma Rousseff
(USP), é muito provável que ao
aprovar, em definitivo, a lei 13.097,
invés de injetar dinheiro no país,
organizações da área da saúde di-
empresas
retirem
vulgaram manifesto, em 9 de ja-
mais capital do que o eventual-
neiro de 2015, pedindo que a presi-
mente investido.
dente a vetasse. O texto é assinado
estrangeiras
Além disso, lembra Mendes,
pela já citada Ampasa e ainda por
fusões ou aquisições não signifi-
entidades como o Centro Brasilei-
cam, obviamente, um aumento
ro de Estudos da Saúde (Cebes), a
do número de leitos ou da capa-
Associação Brasileira da Saúde
cidade de atendimento já que a
Coletiva (Abrasco) e a Associação
estrutura, geralmente, mantém-
Paulista de Saúde Pública.
e aquisições. É uma intensificação
disso”, avisou Maria Angélica.
“Urge”, como escreveu o professor Mário Scheffer, “uma agenda
nacional de pesquisas que ofereça
terreno para acompanhar o impacto do capital estrangeiro no
processo de privatização nos vários componentes do sistema de
saúde: no financiamento, na prestação de serviços, na gestão e nos
investimentos em saúde”.
“A gente está em outra conjuntura. Era uma conjuntura de crescimento econômico”, lembrou Li“O domínio pelo capital estran-
igualdade para entidades munici-
gia Bahia sobre a época do grande
geiro na saúde brasileira inviabili-
pais, estaduais, controle social etc.
lobby e da posterior aprovação da
za o projeto de um Sistema Único de
Nesse arcabouço, o SUS acaba até
nova lei, o que, em sua opinião,
Saúde e, consequentemente, o di-
do ponto de vista da construção
fez com que o capital estrangeiro
reito à saúde, tornando a saúde um
institucional que nós fizemos para
ainda não se interessasse em in-
bem comerciável, ao qual somen-
ele”, avaliou no programa “Sala de
gressar, de fato, no Brasil.
te quem tem dinheiro tem acesso.
Convidados”, do Canal Saúde, da
Com a possibilidade do capital es-
Fundação Oswaldo Cruz.
Em 23 de junho passado, o tema
foi abordado no Simesp Debate,
trangeiro ou empresas estrangei-
Afinal, o Sistema Único de Saú-
evento promovido pelo Sindicato
ras possuírem hospitais e clínicas
de se estrutura com a participação
para tratar de temas de interesse
– inclusive filantrópicas, podendo
dos três entes federativos (União,
aos médicos. Na ocasião, Scheffer
atuar de forma complementar no
estados e municípios) e, além disso,
conclamou entidades ligadas ao
SUS –, ocorrerá uma apropriação
há uma série de instâncias, como
setor e aos trabalhadores a se mo-
do fundo público brasileiro, repre-
os conselhos de saúde, para que a
bilizarem, a fim de que, daqui a
sentando mais um passo rumo à
população e representantes do po-
alguns anos, “não cheguemos no
privatização e desmonte do SUS”,
der público possam acompanhar a
ponto do que ocorreu com as OSs
diz trecho do manifesto.
gestão e garantir a execução dessa
(organizações sociais), que foram
Para a médica sanitarista Ma-
política. Modelo que, na avaliação
surgindo, se disseminando” e ti-
ria Angélica Borges, pesquisadora
da médica, estaria ameaçado pela
veram sua existência legitimada
da Escola Nacional de Saúde Públi-
nova lei. “O arcabouço que a gente
no país.
ca Sergio Arouca, a nova lei sacra-
demorou 30 anos para construir
“Se há uma notícia boa nisso
menta ou, ao menos, contribuirá
e ter algum equilíbrio está jogado
tudo, talvez seja a de que essa cri-
bastante para o desmonte de toda
por terra”, lamentou.
se está reascendendo uma mobi-
a estrutura legal construída ao
Para a pesquisadora, a exemplo
lização conjunta, de novo, em de-
longo das últimas décadas na ten-
de outros especialistas no tema, o
fesa da saúde enquanto direito”,
tativa de efetivação do SUS.
resultado dessa abertura não será
pontuou, complementando: “Essa
“Todo o arcabouço do SUS é
“a expansão da capacidade insta-
situação precisa ser acompanha-
desenhado para dar condição de
lada”. “É um movimento de fusões
da de perto”. !
Revista DR! • 15
Saúde em Questão
A quem interessa o capital
estrangeiro na saúde?
Mário Scheffer
Professor do Departamento de Medicina Preventiva
da Faculdade de Medicina da USP
Logo após a sanção pela presiden-
ria em hospitais e outros serviços.
retornos financeiros, e serviços
te Dilma Rousseff, em 2015, a lei
Talvez assustado com as crises
por produção para atendimento
que escancarou a saúde ao capital
econômica e política, o “novo” ca-
de demandas individualizadas,
estrangeiro foi ovacionada pelo
pital estrangeiro ainda não desem-
como as clínicas populares de
setor privado e por vários gestores
barcou em peso. A origem da lei, no
consultas nas periferias.
do SUS.
entanto, antecipou reais interesses
Tal movimento integra pauta
Agora liberado para se associar
e expectativas. O tema foi inserido
antiga dos planos de saúde, que
a hospitais privados e até filantró-
sorrateiramente, no apagar das lu-
também pedem liberação de rea-
picos, o capital estrangeiro já estava
zes de 2014, em Medida Provisória
justes de mensalidades, anistia de
aí, nas empresas farmacêuticas, no
(MP 656) que tratava de assuntos
multas, mais subsídios públicos
varejo de farmácias e nos laborató-
sem conexão com a saúde. O au-
e obrigatoriedade de plano pri-
rios de diagnose, em muitas situa-
tor da emenda, um deputado do
vado para empregados, este últi-
ções de forma ilegal mas consenti-
PMDB que quase virou ministro
mo o teor da PEC 451, de Eduardo
da por órgãos governamentais.
da Saúde, teve sua campanha fi-
Cunha, mais um que recebeu di-
nanciada por plano de saúde.
nheiro do setor nas eleições.
No caso dos planos de saúde,
chamou atenção a rapidez com
No rastro de delações premia-
Com rede própria insuficiente
que a ANS e Advocacia-Geral da
das e da operação que apura nego-
de média complexidade e especia-
União (AGU) validaram a com-
ciações em torno de MPs que vira-
lidades, o setor público seria po-
pra da Amil pela United Health
ram leis e beneficiaram empresas
tencial comprador desses serviços
em 2013, mas desde 1998 esse tipo
do setor automotivo, talvez pos-
e, portanto, avalista da expansão
de transação era previsto em lei.
sam ser esclarecidas também as
da rede privada via capital estran-
Por interpretação marota, hospi-
MPs que nos últimos anos atende-
geiro, como, aliás, ocorreu na edu-
tais que compõem rede própria de
ram ao lobby do consórcio forma-
cação, que expandiu a oferta de
operadoras também já eram bene-
do por planos de saúde e hospitais
cursos superiores, mas sem con-
ficiados por aportes estrangeiros.
privados.
trapartida de qualidade.
Motivados por rendimentos
Segundo seus patrocinadores a
Em cenário de desfinancia-
elevados e por generosidades fis-
lei permitirá expandir a capacida-
mento público, o capital estrangei-
cais e legislativas, poderão vir
de instalada de serviços hospita-
ro chega como mais uma ameaça
com mais intensidade os investi-
lares, para que os planos de saúde
à universalidade do SUS, pois fará
mentos de empresas multinacio-
possam aumentar sua clientela.
aumentar as despesas privadas, a
nais, grandes bancos ou fundos
O capital que vem de fora tem
segmentação de clientelas e as de-
na
preferência por leitos, exames
sigualdades de acesso no sistema
compra ou participação acioná-
e procedimentos que dão altos
de saúde brasileiro.
especulativos,
16 • Revista DR!
interessados
Revista DR! • 17
Sustentabilidade
Plantação de produtos
orgânicos no meio
acadêmico: a médica Thaís
Mauad é coordenadora
da horta comunitária da
FMUSP. Ao lado, a feira do
Parque da Água Branca
18 • Revista DR!
utilização de agrotóxicos
A
A prática contribui para o Bra-
em lavouras prejudica o
sil ser o país que mais consome
meio ambiente, conta-
agrotóxico no mundo, conforme o
mina o solo e também pode con-
Relatório de Indicadores de Desen-
taminar a água se atingir lençóis
volvimento Sustentável do IBGE,
freáticos, lagos, represas e rios.
divulgado em 2015. São utilizados
A terra que recebe grande quan-
cerca de sete quilos de agrotóxicos
tidade desses produtos quími-
por hectare, mais que o dobro do
cos é esgotada de tal forma que é
que era usado há 12 anos no plantio.
preciso ser renovada. Para isso, o
Além de ser prejudicial ao meio
agricultor tem que utilizar outras
ambiente, tem alto custo para o
áreas para o cultivo enquanto tra-
produtor, como conta o agricul-
ta o solo, geralmente com fertili-
tor João Carlos Fonte Basso, que
zantes químicos.
utilizava o sistema. “A terra ficava
Esse processo de renovação
ruim, tínhamos que gastar muito
é bem comum, já que em todo o
para renová-la e ficávamos um pe-
Brasil existem mais de cinco mi-
ríodo sem plantar naquela área”,
lhões de estabelecimentos agro-
afirma. Ele destaca ainda que o
pecuários que fazem o cultivo
custo maior era com a saúde. “Tí-
conhecido como sistema tradi-
nhamos vários problemas respira-
cional (com uso de agrotóxicos),
tórios. Os médicos nos orientaram
conforme dados do último censo
a parar de utilizar agrotóxicos”.
do setor, realizado em 2006 pelo
A médica Thaís Mauad, profes-
Instituto Brasileiro de Geografia e
sora de patologia geral na Faculda-
Estatística (IBGE).
de de Medicina da Universidade
Por uma vida
com menos
agrotóxicos
Cultivo de alimentos orgânicos resultou em
mais qualidade de vida para as famílias
de pequenos agricultores, melhorou a renda
e reduziu os danos à natureza
Nádia Machado
de São Paulo (FMUSP) alerta que
Escola de Engenharia da USP em
cheio para a proliferação de pra-
o contato direto, por tempo pro-
São Carlos, o agricultor pode ter
gas. “Esse tipo de cultivo auxilia
longado com agrotóxicos, também
contato direto com o agrotóxico
na renovação da terra, sem es-
pode causar aumento da incidên-
de diversas formas, entre elas, o
gotá-la, e acaba deixando o solo
cia de cânceres, doenças neuroló-
manejo inadequado, a utilização
mais úmido”, explica Maria Edna.
gicas e infertilidade.
incorreta dos equipamentos de
Thaís coordena a Horta Comunitária da FMUSP, criada com
proteção, e por meio de água con-
Incentivo à agricultura familiar
taminada com o veneno.
O agricultor João Carlos Fonte Bas-
o intuito de introduzir os concei-
“O agrotóxico aplicado nas fo-
so, que citamos anteriormente,
tos de alimentação saudável, com
lhas das plantas pode atingir o
mantém uma pequena produção
ampla diversidade alimentar. A
solo, por meio da penetração da
familiar na cidade de Jundiaí. A
médica ressalta que o consumo de
água da chuva, chegando aos len-
terra é herança do avô, que chegou
produtos com agrotóxicos incen-
çóis freáticos que, muitas vezes,
da Itália em 1913. Até os anos 1980,
tiva a manutenção desse tipo de
são fontes de poços, ou até mesmo
o plantio era feito da forma tradi-
produção. “Estamos fomentando
ser levado pela enxurrada para
cional. Após recomendação médi-
que grande parcela da população
lagos e represas, nos quais o pro-
ca, a família optou pela produção
brasileira, que lida diariamente
dutor utiliza para o consumo pró-
de alimentos orgânicos. “Hoje eu
na lavoura com agrotóxicos, te-
prio”, esclarece.
trabalho tranquilo, a saúde dos
nha a saúde prejudicada”, alerta.
A produção orgânica é livre de
meus filhos também melhorou”,
Segundo Maria Edna Tenório
produtos químicos porque a for-
Nunes, pós-doutoranda em enge-
ma do cultivo é diferente. Nela a
A renda da família aumentou
nharia agrônoma, ligada ao Nú-
biodiversidade é responsável pela
a partir de 2002, quando começa-
cleo de Ecotoxicologia e Ecologia
manutenção do solo, um organis-
ram a comercializar seus produ-
Aplicada, do Centro de Recursos
mo protege o outro, ao contrário
tos sem atravessadores, na Feira
Hídricos e Estudos Ambientais da
da monocultura que é um prato
do Produtor Orgânico do Parque
ressalta.
Revista DR! • 19
Sustentabilidade
da Água Branca. “Antes vendíamos na Ceagesp (Companhia de
Entrepostos e Armazéns Gerais de
São Paulo), mas quase não tínhamos lucro”, relata.
A feira é gerida pela Associação de Agricultura Orgânica
(AAO). Para comercializar no local é necessário ter certificação de
que o produto, processo ou servi-
> Em São Paulo, apenas 3.371 estabelecimentos produzem alimentos orgânicos
ço obedece às normas e práticas
da produção orgânica, conforme
Produção de orgânicos
Paulo, dos mais de 200 mil estabe-
estabelecido pelo Ministério da
Outro objetivo da AAO é que o
lecimentos agropecuários, apenas
Agricultura, Pecuária e Abasteci-
produto orgânico seja mais aces-
3.371 são voltados para a agricultu-
mento (Mapa).
sível à população. O secretário-
ra orgânica. Destes, apenas 451 são
O evento acontece há 25 anos
executivo da associação acredi-
certificados.
e, atualmente, auxilia cerca de
ta que a regulamentação da Lei
Na contramão ao incentivo
150 famílias a comercializarem
16.140, de março de 2015, da Prefei-
da produção de alimentos orgâ-
produtos como frutas, verduras,
tura de São Paulo, irá contribuir
nicos, a Câmara dos Deputados
legumes, laticínios, temperos e
para isso, já que a proposta é ofe-
instalou, em 12 de abril deste ano,
comida pronta de 45 pequenos
recer 100% de alimentos orgâni-
uma comissão especial para ana-
produtores. Ademais, é possível
cos para toda a rede municipal de
lisar o Projeto de Lei 3.200, de 2015,
comer quitutes orgânicos, como
ensino no prazo de 11 anos a con-
que trata sobre a regulamentação
salgados, bolos, tortas e até pizzas
tar desde a implantação da lei.
de agrotóxicos, o que não agra-
“Para atender toda a deman-
dou aos órgãos de defesa ambien-
Um dos objetivos da associação
da da cidade será necessário que
tal. “A proposta é um retrocesso.
é acabar com o mito de que pro-
haja incentivo por parte do gover-
Os ruralistas querem fazer com
dutos orgânicos são mais caros.
no para ampliar a produção. Atu-
agrotóxico aquilo que consegui-
“Quando o consumidor compra
almente, a agricultura familiar
ram fazer com transgênicos em
direto do produtor ele paga mais
ainda está em segundo plano”, la-
2005: liberar geral. Não bastasse o
barato, porque não há interme-
menta Stanziani. Segundo o Cen-
Brasil ser o país que usa a maior
diário”, explica Márcio Stanziani,
so Agropecuário do IBGE, no Bra-
quantidade de agrotóxicos no
secretário-executivo da AAO e
sil existem pouco mais de 90 mil
planeta”, argumenta Rafael Cruz,
completa: “E ele consegue pagar
unidades de plantio de alimentos
da Campanha de Agricultura do
mais barato, ainda, quando está
orgânicos. O mesmo levantamen-
Greenpeace, em nota divulgada
na época da safra do produto”.
to mostra que, no estado de São
pela instituição.
e pastéis integrais.
SERVIÇO
A feira do Produtor Orgânico do Parque da Água Branca é realizada todas as terças-feiras, sábados
e domingos, das 7h às 12h (Rua Francisco Matarazzo, 455, Barra Funda, zona oeste da capital paulista).
20 • Revista DR!
Tecnologia
Qual é o seu
problema?
App oferece lista de hospitais com as melhores
indicações para o paciente buscar atendimento
Adriana Cardoso
Imagine se você tiver uma dor de
cabeça e poder, com um clique, encontrar o melhor tratamento para o
problema no melhor hospital, seja
público ou privado, e o mais próximo
de casa possível. Isso será factível
por meio do aplicativo que vem sendo desenvolvido pelo psiquiatra Felipe Salles Neves Machado, 33 anos. O
dispositivo seria lançado no início de
julho para todas as plataformas existentes.
A ideia do App nasceu no ano
passado, a partir do seu Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) para o Master em Liderança e Gestão Pública
(MLG) do Centro de Liderança Pública
(CLP), em parceria com a instituição
americana Harvard Kennedy School,
uma das melhores do mundo. A inspiração dele e de seu colega de curso, o engenheiro Rodolfo Fiori, veio
dos sites e aplicativos de hospedagem, como o Booking.com e Trivago,
pelos quais o usuário pode encontrar
a melhor e mais bem avaliada oferta
de hotéis por outros clientes.
“Durante a minha rotina de trabalho, percebi a insatisfação das
pessoas com o atendimento que re-
cebem, muitas vezes atribuída à falta
de humanidade do médico, quando
na verdade o problema está mais na
infraestrutura e falta de profissionais.
A partir dessa percepção, nossa ideia
foi a de organizar melhor o fluxo dessas informações para quem não trabalha na área de saúde e analisar os
motivos da insatisfação dos usuários
com o sistema de saúde”, conta.
Após a conclusão do MBA, o médico fundou uma startup para que
pudesse ir atrás de recursos para capitalizar seu projeto.
Ele participou de um edital (Vai
Tec) lançado pela Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo da Prefeitura de São
Paulo, dentro do projeto Tech Sampa
promovido pela AdeSampa, lançado
em 2014 justamente para promover
projetos como os dele. Foi selecionado para receber R$ 25 mil.
Com o dinheiro, ele contratou
uma agência para desenvolver a plataforma. “Realizamos, com o apoio
de um gabinete da câmara municipal, reuniões com as áreas técnicas
da Secretaria Municipal de Saúde e
com a Secretaria de Estado da Saúde
para implementar este projeto nos
estabelecimentos das redes pública e privada que atendam também
pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A plataforma será o mais simples
possível para permitir que qualquer
cidadão faça uso dela”, diz.
Basta clicar a patologia e a região
onde está, e o usuário receberá uma
lista com as melhores indicações de
onde poderá buscar atendimento.
O App também permitirá que
os usuários deixem suas opiniões
sobre os serviços prestados, com a
finalidade de formar filtros nos mesmos moldes dos sites/aplicativos de
hospedagem, para auxiliar nas escolhas dos outros.
“Queremos, a partir dessas opiniões, promover a humanização da
área da saúde, elencando os serviços mais e menos humanizados.
Além disso, há equipamentos (públicos e privados) subutilizados que as
pessoas nem sabem que são bons.
Queremos fazer a divulgação de forma positiva”, conjectura.
Mais informações do projeto podem ser encontradas no site www.
saluz.me
Revista DR! • 21
Especial Saúde do Médico
Precisamos falar
sobre a sua saúde
As doenças que acometem médicos ainda
permanecem um tabu, gerando uma
série de consequências graves não só aos
profissionais, mas à assistência à população
Adriana Cardoso
Há um dito que circula entre
panela de pressão impedindo que
Sócrates é um dos médicos da
profissionais da área médica, de
o vapor saia. Uma hora ela explode
Unidade de Pesquisa em Álcool e
que os médicos são bons para
e é quando o médico adoece, seja
Drogas (Uniad), serviço que ofe-
cuidar dos outros, mas displicen-
física ou mentalmente. Incapaz de
rece auxílio psiquiátrico a depen-
tes quando se tornam pacientes.
pedir ajuda, muitos acabam recor-
dentes de substâncias psicoativas
A princípio, podemos até achar
rendo ao álcool e às drogas. Para
com apoio do Conselho Regional
graça, mas o assunto é bastante
piorar, muitas vezes os colegas de
de Medicina do Estado de São Pau-
grave, pois as agruras que afligem
trabalho percebem o problema,
lo (Cremesp).
quem zela pela saúde do outro
mas fazem vistas grossas.
A principal queixa dos mé-
“Os hospitais não têm serviço
dicos que buscam auxílio, conta
Pressionados durante a resi-
de apoio (a profissionais com de-
o psiquiatra, é da sobrecarga de
dência médica; jornadas e plan-
pendência química) e não sabem
trabalho. “É uma constante desde
tões extenuantes no decorrer do
lidar com isso. Quando desco-
a residência até os 50 anos de pro-
exercício da profissão; carreira
brem, ou os demitem, ou fazem
fissão”, diz.
nada atraente na rede pública;
com que tirem férias, porém não
Entre as especialidades mais
planos de saúde que pagam va-
solucionam o problema”, ressalta
vulneráveis à dependência aten-
lores irrisórios por consultas e
o psiquiatra Daniel Sócrates, es-
didos por Sócrates estão os clíni-
procedimentos; e lidar com a li-
pecialista em dependência quí-
cos-gerais, anestesiologistas e ci-
nha tênue entre a vida e a morte
mica e doutor em psiquiatria pela
rurgiões. A maioria é de homens e
de quem está sob o seus cuidados.
Universidade Federal de São Pau-
em faixa etária economicamente
É como abaixar a válvula de uma
lo (Unifesp-SP).
ativa (28 aos 50 anos).
ainda permanecem um tabu.
22 • Revista DR!
Célio Luigi
Importante salientar que é ne-
O silêncio é tão devastador que
suspensos parcial ou totalmente
cessário ter predisposição genéti-
não são incomuns casos de pro-
pelo Cremesp devido a problemas
ca para tornar-se um dependente
fissionais que morrem de over-
relacionados à dependência quí-
químico. Mas o que, segundo o
dose nos banheiros de hospitais e
mica ou outros desses males. Es-
psiquiatra da Unifesp, diferen-
unidades básicas de saúde, o que
ses casos chegam ao conselho por
cia a categoria é o fácil acesso à
faz Sócrates lançar um alerta: “A
meio de denúncias, muitas vezes
medicação (e à automedicação),
questão (da dependência química
feitas pelos próprios pacientes
especialmente a opioides, uma
de médicos) precisa deixar de ser
ou diretores das localidades onde
das substâncias-base das anes-
um tabu”.
trabalham. Parece pouco, mas
tesias com potencial altamente
viciante.
Tão tabu que a reportagem da
Revista DR! tentou falar com al-
o número corresponde apenas
àqueles que chegaram ao órgão.
“Essa questão do opioide é mui-
guns profissionais que enfrenta-
O presidente do Cremesp, o psi-
to grave! Muita gente não fala, os
ram o problema e nenhum deles
quiatra Mauro Aranha, expõe que
colegas não falam, a família não
quis contar sua experiência nem
a questão das drogas é o que mais
fala porque na maioria dos casos
mesmo sob anonimato.
preocupa, pois afeta diretamente
o profissional é o provedor do
o trabalho e pode levar o profissio-
lar. Dificulta muito o fato de nin-
Outros males
nal à morte. “O primeiro contato
guém falar a respeito”, critica Só-
Depressão, Burnout (esgotamen-
começa já na faculdade. Há muita
crates, que já se sentiu fracassado
to), transtorno bipolar, síndrome
oferta de drogas e bebidas. Além
quando perdeu um paciente víti-
do pânico também são recorren-
disso, muitos estudantes usam es-
ma de overdose após uma recaída.
tes. Atualmente, 85 médicos estão
timulantes cognitivos, como deri-
Revista DR! • 23
Especial Saúde do Médico
(Da esquerda para a direita)
O presidente do Cremesp,
Mauro Aranha, e os
psiquiatras da Unifesp Luiz
Antonio Nogueira Martins
e Daniel Sócrates veem com
preocupação a saúde
dos médicos
vados de anfetaminas, para conse-
por dia para ganhar uma quantia
guirem estudar”, relata.
que valha a pena e isso é humana-
Ele mesmo já atendeu e ainda
Por isso, ele acredita que o ca-
diversos em seu consultório par-
minho para não surtar é buscar
ticular. “A maioria dessas doenças
compensações. Ele próprio en-
têm fatores desencadeantes e há,
controu as suas envolvendo-se
obviamente, uma predisposição
em pesquisas, participando de as-
do paciente”, explica.
sociações.
Aranha salienta que o perfil
O fim da linha pode ser a op-
workaholic, aquele sujeito viciado
ção por tirar a própria vida. Um
em trabalho, está também entre
estudo conduzido por Cremesp/
os mais suscetíveis a sofrer um
Unifesp há alguns anos aponta
colapso.
que a taxa de morte por suicídio
Os médicos normalmente tra-
nessa população foi de 4,2 por 100
balham muito para conseguir
mil no período de 2000 a 2009 no
manter um padrão de vida que,
estado de São Paulo. A taxa é com-
muitas vezes, nem mesmo conse-
parável à da população em geral
guem desfrutar. Para o psiquiatra
(4,6 por 100 mil).
Luiz Antonio Nogueira Martins,
Foram avaliados dados de 2.927
também da Unifesp, a culpa de
declarações de óbitos de médicos
o médico virar um workaholic é
falecidos no estado naquele pe-
precarização da medicina ocasio-
ríodo, com idades entre 23 e 104
nada pelos planos de saúde.
anos. O que mais surpreendeu é
“A medicina piorou muito no
geral. Mas, com o que pagam os
24 • Revista DR!
mente impossível”, presume.
atende médicos com distúrbios
que a morte entre mulheres foi
maior que a de homens.
convênios, os médicos são obri-
O balanço da saúde física dos
gados a atender 20, 30 pacientes
profissionais também preocu-
Divulgação
pa. Mauro Aranha conta que no
“A residência é o ponto de con-
como tirar um membro do corpo –
mesmo levantamento feito pelo
vergência da profissão. O médico
ele perde a razão de existir. Parar,
Cremesp as mulheres médicas
se sente refém quando sai dela,
assim como começar, também é
morrem menos de câncer de colo
pois é jogado no mundo, terá que
um processo difícil que pode levá-
de útero que as não médicas. Por
decidir sozinho. Quando come-
-lo a adoecer”, observa Martins.
outro lado, o índice de óbitos é
ça a trabalhar, ele está cheio de
Mauro Aranha, do Cremesp,
igual para câncer intestinal. Ele
ideias, mas esbarra nas dificul-
reforça ainda que, quando algo
atribui isso à falta de exames
dades do dia a dia, na falta de in-
não vai bem na saúde, o médico
periódicos, como de sangue nas
fraestrutura e é quando começa a
normalmente é culpabilizado. “As
fezes, e uma alimentação desba-
sua frustração”, salienta.
iniciativas governamentais vão
lanceada por conta de rotina de
Ao longo da residência o pro-
mais no sentido de culpá-lo pelos
fissional passa a lidar com pro-
problemas em vez de ajudá-lo em
“É importante que os médicos
blemas do mundo real, que não
suas agruras.”
reconheçam suas limitações e di-
existiam na graduação, como a
Diante da importância que o
ficuldades, não se automediquem
responsabilidade profissional, os
médico tem na vida da popula-
e busquem ajuda”, aconselha Ara-
plantões, o assédio e as pressões.
ção, é imprescindível que cuide
nha.
A concorrência entre os próprios
de si. Aranha confessa que já teve
residentes é bastante pungente
depressão duas vezes (“não por
nessa fase, segundo Martins.
causa do trabalho, mas por proble-
trabalho.
Residência
A saúde do médico passou a in-
“O primeiro ano da residência
mas pessoais”) e se tratou. Martins
teressar Luiz Antonio Nogueira
é o mais estressante. Basicamen-
também já teve suas “crises” quan-
Martins quando fazia residência
te ele é muito inexperiente e tem
do principiante e Daniel Sócrates
na Unifesp. Ele fez uma pesquisa
que lidar com o não saber”, avalia.
cuida da mente para poder ajudar
para o doutorado sobre o tema em
Na outra ponta desse ciclo, o
1994, que acabou virando um li-
fim da carreira também é difícil.
Ter problemas, adoecer física
vro (“Residência Médica, Estresse
“Ele não fez outra coisa na vida.
ou mentalmente é da condição
e Crescimento”, Editora: Casa do
Formou-se médico e vai morrer
humana. É preciso falar disso sem
Psicólogo).
médico. Se deixa de fazer isso é
culpa ou vergonha.
os outros.
Revista DR! • 25
Horas Vagas
Teatro
De médico ao louco
O psiquiatra Saulo Ciasca, apaixonado pelo teatro,
interpreta o interno de um hospício do século 19 em sua
primeira experiência como ator profissional
Leonardo Gomes Nogueira
M
etalinguagem é quan-
queio criativo e, por isso, sofre
A peça em si é metalinguística
do usamos uma de-
para levar adiante o seu novo fil-
e mostra a encenação, feita pelos
terminada linguagem
me. O “branco” do cineasta fictício
internos de um hospício em 1808,
para falar da própria. Também é,
toma a tela de Fellini de assalto,
do assassinato do médico e revo-
outra definição possível, a “lingua-
inclusive e, sobretudo, na ofus-
lucionário francês Jean Paul Ma-
gem utilizada para descrever outra
cante fotografia do filme.
rat. “Dirigida pelo ferino Marquês
linguagem ou qualquer sistema de
Assim como a “loucura” to-
de Sade, a peça apresenta embates
significação”, segundo o dicioná-
mará conta do psiquiatra Saulo
fictícios entre o ex-marquês e o
rio Aurélio. Não é incomum, por
Ciasca nos minutos que antece-
revolucionário acerca da política,
exemplo, a realização de peças ou
dem um dos últimos ensaios da
dos conflitos sociais e da própria
filmes nos quais se fala da própria
peça “Marat – Sade”, que ficou em
condição humana”, diz o texto de
montagem.
cartaz entre os meses de maio e
apresentação da peça.
Um bom exemplo é “Oito e
junho na cidade de São Paulo. A
O psiquiatra Saulo Ciasca in-
Meio” (ou apenas 8 ½), de Federi-
montagem, do Teatro da Pequena
terpreta um desses internos. “Um
co Fellini, no qual o personagem
Morte, é inspirada num drama
louco bem louco”, brinca. “Eu faço
interpretado por Marcello Mas-
musical do autor alemão e tem di-
um louco... O que eu acho muito
troianni tem algum tipo de blo-
reção de Reginaldo Nascimento.
legal porque eu sou psiquiatra”,
26 • Revista DR!
>Psiquiatra usa experiência com os seus pacientes para interpretar personagem na peça “Marat Sade”
diz. “Quando eu faço o louco eu
bremos que há uma peça dentro
ação. Na data da entrevista, aliás,
uso um monte de experiências que
da outra), havia sido assassina-
o médico estava a poucos dias de
tive com pacientes meus”, afirma.
do em 1793 (muitos anos antes,
formalizar o registro, em sua car-
“Naquela época, não eram só
portanto, da montagem realiza-
teira de trabalho, que atesta que
pessoas com questões, proble-
da pelos internos do hospício de
agora ele é um ator profissional.
mas mentais, tinham pessoas que
Charenton sob direção do famoso
também eram presos políticos”,
escritor libertino).
A partir de 2011, Ciasca começa a trabalhar no Ambulatório
ressalta, ao explicar o perfil dos
O médico, formado pela Facul-
Transdisciplinar de Identidade de
indivíduos internados, naquele
dade de Medicina da Universidade
Gênero e Orientação Sexual (Am-
momento, nessas instituições.
de São Paulo (FMUSP) em 2006, diz
tigos), do Instituto de Psiquiatria
Ele lembra que o próprio Sade
que sempre gostou de teatro e que
do Hospital das Clínicas da Facul-
ficou internado no hospício no
retomou contato com ele por meio
dade de Medicina da USP. “A gen-
qual se passa a peça. “É uma peça
de uma pós-graduação em psico-
te atende crianças e adolescentes
dentro de uma peça”, resume, de
drama.
transgêneros”, resume.
forma simples, a metalinguagem
“É uma modalidade, uma téc-
Boa parte ou, até o momento, a
contida na montagem. “Um dos
nica psicoterápica na qual a gente
totalidade da trajetória profissio-
loucos, um dos internos desse
usa muitos elementos do teatro
nal do médico está ligada ao ins-
hospício, que é o Marquês de Sade,
para atender pacientes”, explica.
tituto de psiquiatria já citado. Ele
dirige a peça”, diz. “Mas tem uma
“Eu já gostava de teatro antes, re-
foi residente em psiquiatria entre
intenção por trás, que é fazer os
solvi fazer psicodrama”, acrescen-
os anos de 2007 e 2009 e preceptor
loucos se revoltarem”, conclui.
ta o psiquiatra.
no mesmo instituto de 2010 a 2011.
É importante contextualizar:
Por causa do seu interesse pela
De 2011 até hoje, ele se integrou ao
1808, ano no qual se passa a peça,
área, Ciasca fez um curso profis-
era um tempo de grande agitação
sionalizante no tradicional Teatro
“A gente tem alguns quadros
política por causa da ainda recen-
Escola Macunaíma. Ao se formar,
que exigem internação. Mas são
te, na época, é claro, eclosão da Re-
em dezembro de 2015, ele foi con-
breves”, diz. “A psiquiatria mo-
volução Francesa, em 1789. O líder
vidado para participar da peça que
derna não preconiza mais uma
revolucionário Jean Paul Marat,
tem alguma ou bastante familiari-
internação de longuíssimo prazo”,
ao qual ambas se referem (lem-
dade com a sua outra área de atu-
ressalta.
Amtigos.
Revista DR! • 27
+ SIMPLES
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28 • Revista DR!
Redes Sociais
>"Há uma arrogância epistêmica de profissionais que fazem afirmações sem experimentações", diz Luís Cláudio Correia
Ciência mais
importante que
a crença
Cardiologista defende em blog a importância
de se pautar condutas médicas em
informações cientificamente comprovadas
Adriana Cardoso
Quando criou o blog em 2010, Correia pretendia promover, dentro de um espaço acessível a todos, discussões
metodológicas de importantes trabalhos publicados na literatura médica. Usando tais artigos como exemplos, ele
procura transmitir conhecimento de técnicas de análise crítica da confiabilidade e relevância de evidências, trazendo
reflexões quanto à necessidade de hipóteses lógicas serem
comprovadas experimentalmente antes da incorporação na
decisão médica.
“A ideia do blog partiu da percepção de uma lacuna entre o pensamento médico tradicional e a forma científica de
Logo abaixo do nome do blog “Medicina Baseada em Evi-
pensar. Por vezes, o pensamento médico é pouco científico
dências”, uma linha fina traz a seguinte explicação: “in-
e baseado em crenças que, por sua vez, são baseadas em
terpretação de evidências científicas com foco especial na
sofismas”, diz o também coordenador científico do Hospi-
área cardiovascular e discussão de conceitos referentes à
tal São Rafael, na capital baiana.
metodologia científica”.
O médico aponta para a necessidade de se colocar a
Em um post de 12 de dezembro de 2014, o cardiologista
arrogância sob o jaleco. “No paradigma científico devemos
Luís Cláudio Correia, 46 anos, professor-adjunto da Escola
experimentar em cima de hipóteses para ver se são verda-
Bahiana de Medicina e Saúde Pública, em Salvador, sinte-
deiras ou não, mas há uma arrogância epistêmica de profis-
tiza a ideia de onde queria chegar quando decidiu colocar
sionais que fazem afirmações sem experimentações”, frisa.
tudo o que pensava sobre como deve ser um protocolo mé-
No blog, o cardiologista também discute outros temas
dico: “Não há evidência para tudo”. O título, na verdade,
inerentes à prática médica, além de trazer vídeos com en-
vai na contramão do que ele próprio pensa. Trata-se de uma
trevistas, como a que fez com o médico alemão Franz Porz-
assertiva – da qual Correia lança mão para provocar um de-
solt, criador do conceito de “economia clínica”.
bate sobre a postura profissional – comumente usada por
médicos na promoção da “liberdade de definir condutas
médicas com base em suas próprias crenças”.
Mais informações:
www.medicinabaseadaemevidencias.blogspot.com
Revista DR! • 29
Simesp por Dentro
Memória
Associado
A criação do estatuto
do Sindicato
Felipe Gonçalves Corneau
Especialista em Medicina
de Família e Comunidade
Sindicalizado desde o ato de
posse da atual gestão do Simesp (2014-2017), em junho de
2014, Felipe Corneau sempre
foi engajado na defesa da
categoria. Formado pela Faculdade de Medicina da USP,
em 2011, participou do Centro
Acadêmico Oswaldo Cruz e
da Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina (Denem).
>Primeiro estatuto definia objetivos da entidade de forma abrangente
Ele conta que acompanhou
as discussões sobre o reajuste
O primeiro estatuto do Sindica-
o controle e fiscalização do Estado
salarial dos médicos que pres-
to dos Médicos de São Paulo (Si-
durante um longo período. O Si-
tam serviço à Prefeitura de São
mesp) foi aprovado logo após sua
mesp cuidava “apenas das ques-
Paulo, por meio de organiza-
fundação, em 1929. O documento
tões de ordem moral” da categoria,
ções sociais, na qual o Simesp
com cinco capítulos estabelecia
como explicou Flamínio Fávero,
conquistou melhores reajus-
os objetivos da entidade, ainda
primeiro presidente da entidade,
tes, além das denúncias contra
de forma muito abrangente. No
durante um discurso em 1931.
as irregularidades na terceirização do serviço público.
primeiro artigo do Capítulo 1, por
Os objetivos estabelecidos no
exemplo, definia como atribuição
primeiro estatuto se confundem
Felipe espera que o Simesp
do Sindicato uma “(...) associação
com os do conselho de ética pro-
continue defendendo os mé-
destinada a promover o estudo, a
fissional, órgão que foi criado
dicos e que consiga se envol-
defesa e o desenvolvimento dos
apenas três décadas depois, tra-
ver cada vez mais na luta por
interesses gerais da profissão mé-
tando de temas como ética mé-
um Sistema Único de Saúde
dica e dos interesses profissionais
dica, fiscalização e princípios da
(SUS) de qualidade. “O Sindi-
e econômicos de seus membros”.
atividade profissional, além do
cato é importante para termos
O aprofundamento das dis-
controle, fiscalização e denúncia
nossos direitos respaldados,
cussões, em defesa da categoria,
do exercício ilegal da medicina.
mas também para nos ajudar
sobre as questões trabalhistas fo-
As atividades dos membros do
a construir um sistema que
ram sendo moldadas nos anos se-
Sindicato resultaram na elabora-
nos permita cuidar melhor da
guintes, pois o Sindicato ficou sob
ção de um Código de Ética Médica.
saúde das pessoas”, enfatiza.
30 • Revista DR!
Artigo
Pela qualidade da formação
do médico brasileiro
Lucio Flávio Gonzaga Silva
Professor da Universidade Federal do Ceará e conselheiro
do Conselho Federal de Medicina (CFM)
O jornal O Estado de S. Paulo, na
Os últimos anos testemunha-
mativa do estudante de medicina,
sua edição de 20 de julho de 2015,
ram um exagero na abertura
devolutiva para a escola e que haja
publicou reportagem cuja man-
de novos cursos de medicina no
consequências, o que lamentavel-
chete "Governo federal cria novos
Brasil. Entre 1808, ano da inaugu-
mente não tem ocorrido no Brasil.
cursos de medicina em cidades
ração da 1ª escola (Faculdade de
Escolas mal avaliadas continuam
sem estrutura" chamava a aten-
Medicina da Bahia), e 1994 surgi-
abertas, formando profissionais
ção para um fato inquietante:
ram 82 faculdades de medicina.
de qualificação questionável.
a proliferação de faculdades de
De 1995 até o princípio deste ano
Há duas frentes de ação: criou
medicina em nosso país sem a
de 2016, foram 184. Só nos últimos
o CFM, em parceria com a Associa-
preocupação com a qualidade da
três anos, 88.
ção Brasileira de Educação Médica
O cenário posto é o de grande
(Abem), o Sistema de Acreditação
A reportagem trata de dois
expansão de vagas e de cursos em
das Escolas Médicas (Saeme) e ex-
editais publicados pelo Ministé-
nosso país. Há uma expectativa
ternou integral apoio à Avaliação
rio da Educação (MEC), que sele-
de que teremos entre 350 e 450
Nacional Seriada dos Estudantes
cionam e pré-selecionam muni-
escolas de medicina na próxima
de Medicina (Anasem).
cípios para albergarem escolas de
década, a persistir a tendência
O Saeme está em progresso,
medicina, todas particulares. O
atual. Haverá infraestrutura ade-
sob a coordenação do professor
primeiro selecionou 36 cidades,
quada, corpo docente qualificado,
Milton Arruda, avaliando 31 esco-
principalmente do Sul e Sudes-
hospitais de ensino e cenários de
las médicas que voluntariamente
te, e o segundo pré-selecionou 22
prática para toda essa estudanta-
se apresentaram para a acredita-
para o mesmo fim, no Norte, Nor-
da no Brasil?
ção. Sua avaliação autônoma, ex-
formação do médico brasileiro.
São pontos de inquietação do
terna e independente do governo
Surpreendentemente, a maio-
Conselho Federal de Medicina
e o prestígio das instituições pro-
ria das cidades não atende aos
(CFM). Há preocupação com a
motoras conferem ao programa
próprios critérios definidos pelo
qualidade da formação do médi-
alta credibilidade.
MEC para este fim: 20 dentre as
co a refletir diretamente na qua-
A Anasem, avaliação seriada
36 selecionadas não atendem ao
lidade da assistência do paciente
dos estudantes de medicina no 2º,
critério de cinco leitos do SUS
brasileiro.
4º e 6º anos, por suas característi-
deste e Centro-Oeste.
por aluno. Apenas seis possuem
O CFM tem um histórico de
cas formativa, devolutiva e con-
ou estão inseridas em regiões de
luta pela avaliação do ensino mé-
sequente, prospecta ótimas novi-
saúde que contam com um hospi-
dico no Brasil. Sempre pugnou por
dades para a formação do médico
tal de ensino.
uma avaliação progressiva e for-
brasileiro.
Revista DR! • 31
Eu e a Medicina
Crônica
Morte
Compensada
Helio Begliomini
Membro da Academia de Medicina de São Paulo;
urologista do Hospital do Servidor Público
Estadual e do Imuvi; e associado do Simesp
D
ona Brasilina representava o país até no nome.
Era
idosa,
subnutrida,
desletrada, mal cuidada e com
pobre saúde bucal, infelizmente,
físico, estudo radiológico, eletro-
vítima das precárias condições
cardiograma e exames laborato-
sociais que desafortunadamen-
riais era de se supor as dificulda-
te teve. Contudo, sentia-se quase
des que se tinha no aprendizado e
que uma rainha pela atenção que
no exercício da profissão. Um dos
nós dávamos a ela, na enfermaria
aforismos que muito sucesso fa-
de mulheres, durante nosso inter-
zia – repetido à exaustão desde o
nato de clÍnica médica há quase
ensino da semiologia – era de que
quatro décadas.
“A Clínica é Soberana”.
Éramos instruídos a chamar o
Dona Brasilina parecia não se
paciente pelo nome. Sempre solíci-
importar com a permanência de
ta, não se furtava quando reitera-
semanas e semanas ou até de me-
damente era indagada pelos grupos
ses internada numa enfermaria
de internos que se revezavam – ávi-
coletiva de cerca de 20 pacientes.
dos em aprender! – em repetir in-
Ao contrário, parecia que até gos-
formações e em disponibilizar seu
tava, pois fazia daquele singelo es-
arqueado corpo para o estudo dos
paço sua morada, além de ter sua
sinais que lhe eram abundantes.
autoestima elevada pela atenção e
Numa época em que os recur-
32 • Revista DR!
carinho que recebia.
sos diagnósticos se baseavam tão
Apesar do bom humor de dona
somente na anamnese, exame
Brasilina, em sua última inter-
Célio Luigi
nação ela apresentou um quadro
preceptor sobre a possibilidade de
bacilo de Koch se faz presente no
incipiente de consumpção: ina-
se instituir um teste terapêutico,
escarro, e, curiosamente, outros
petência, lento emagrecimento,
tendo em vista a forte suspeita de
parâmetros pesquisados encon-
tosse e sudorese. Nas discussões
tuberculose, apesar da ausência
tram-se equilibrados.
diárias com o preceptor, após a
de comprovação laboratorial. De-
A terapêutica para a tubercu-
evolução da paciente, sempre co-
balde. A intransigência era gran-
lose fora prontamente ministra-
gitávamos quadro de tuberculo-
de de nosso orientador, visto que
da, contudo, mostrara-se ineficaz,
se. Por mais que pesquisássemos
na clínica aprendíamos que era
pois, em poucos dias sucessivos,
radiológica e laboratorialmente
indispensável saber o diagnósti-
ela, já muito debilitada, veio a
não conseguíamos ratificar essa
co para se empreender a melhor
óbito, perplexamente com diag-
hipótese diagnóstica. Orientações
conduta
nóstico e compensada!
para a correção dos distúrbios hi-
estávamos lá para aprender e de-
O conceito de medicina ba-
droeletrolíticos, da albumina, da
veríamos cumprir determinações
seada em evidências viria a ser
mecânica pulmonar com inala-
superiores: persistir na pesquisa
cunhado décadas depois. Hoje em
ções e tapotagens, dentre outros,
laboratorial, dar suporte clínico e
dia, numa época em que predomi-
parâmetros eram rotineiras.
compensar parâmetros séricos em
na o tecnicismo e o uso desmesu-
desacordo com a normalidade.
rado de aparelhos em detrimento
Os dias foram se sucedendo e
terapêutica.
Ademais,
o quadro clínico de dona Brasili-
Mais alguns dias, e dona Bra-
da propedêutica, seria anacrônico
na ficava cada vez pior. Lembro-
silina entra em estado de obnubi-
dizer que “A Clínica ainda é Sobe-
me que, muito aflitos, chegamos
lação e se torna hiporreativa. Sur-
rana”? Ou melhor: que o “Raciocí-
até a discutir asperamente com o
preendentemente a pesquisa do
nio Clínico é Soberano”!?
Revista DR! • 33
Cultura
Bibliotecas
modernizadas
Elas deixaram de ser um espaço exclusivo para
leitura, diversificaram seus serviços com inclusão
de tecnologia, saraus literários, contação de
histórias e continuam vivas, atraindo público de
todas as idades e classe sociais
Adriana Cardoso
Desde o boom da internet, princi-
Ruprecht,
palmente ao longo dos anos 2000,
Associação Paulista de Bibliotecas
as bibliotecas foram forçadas a
e Leitura (SP Leituras), uma orga-
A própria construção da Bi-
agregar a tecnologia para conti-
nização social sem fins lucrativos
blioteca de São Paulo possui mui-
nuar atraindo público e existindo.
responsável pela gestão de alguns
tos significados. Muita gente deve
Sim, a maioria delas ainda não
dos símbolos mais importantes da
lembrar-se que, por quase 50 anos,
perdeu sua característica prin-
cultura do estado, como a Sala São
aquela área abrigou a Casa de De-
cipal, que é a de ser um grande
Paulo, a Pinacoteca e as duas úni-
tenção de São Paulo, popularmen-
acervo de livros. Mas tiveram que
cas bibliotecas atreladas à esfera
te conhecida como Carandiru,
diversificar
continuarem
estadual na cidade – a Biblioteca
que foi parcialmente demolida
atraentes ao leitor. Com a dissemi-
de São Paulo (BSP), no Carandiru,
em dezembro de 2002 para dar lu-
nação do acesso à rede mundial,
região central, e seu braço caçula,
gar ao Parque da Juventude, onde
deixaram de ser apenas locais de
a Biblioteca do Parque Villa-Lobos,
fica a BSP. A prisão, famosa após o
pesquisa (até porque muita gente
na zona oeste.
massacre de 111 presos pela polícia
para
diretor-executivo
da
está calcado na ideia de uma biblioteca viva”, elucubra.
hoje faz isso do computador de
O modelo de biblioteca como
num episódio bastante controver-
casa) para se transformarem em
conhecemos, na opinião de Ru-
so em 1992, hoje é um espaço de la-
espaços lúdicos, com atividades
precht, não corresponde mais à
zer e cultura.
para formar novos leitores, pro-
realidade atual. “Há uma enorme
O local recebe cerca de mil
mover debates e entreter toda a
diferença entre um local abarro-
pessoas diariamente (27 a 28 mil
família.
tado de prateleiras de livros e uma
por mês), sendo boa parte delas
“A biblioteca é a casa da pala-
biblioteca. O que diferencia uma
formada por moradores de rua
vra e o pensamento precisa de li-
coisa da outra são as ações e ser-
do entorno que vão ler jornais e
berdade”, sintetiza Pierre Andre
viços. Por essa razão, nosso projeto
usar a internet gratuitamente.
34 • Revista DR!
Renato Leary
>No lugar onde antes era uma casa de detenção, Biblioteca de São Paulo virou um importante espaço de cultura e lazer
Nos moldes do que acontece des-
Em linha com a tecnologia, há
E por que Mário é o seu patro-
de sempre, os associados podem
uma sala com jogos de videoga-
no? Porque foi ele quem criou na
emprestar livros e levá-los para
mes, luaus literários e musicais,
década de 1930 o departamento
casa. Há também Kindles (leito-
contação de histórias e um espaço
que veio a ser, mais tarde, a Secre-
res eletrônicos) disponibilizados
lúdico (Bebelê) que busca incenti-
taria Municipal de Cultura. Deste
apenas no local para que as pes-
var a leitura de crianças dos zero
departamento, nasceu a ideia de
soas os conheçam (“mas elas não
aos quatro anos.
uma biblioteca que agregasse toda
se interessam muito”, diz Rupre-
a história cultural da cidade e do
cht, numa demonstração de que
Mário de Andrade
país. Mário, que também foi um
nem nas bibliotecas esse modelo
A biblioteca que leva o nome de
grande ativista cultural, musicis-
se popularizou). Há também sa-
um dos maiores poetas e escrito-
ta e folclorista, defendia a arte e a
raus, debates e uma programa-
res brasileiros, é a segunda maior
cultura como um bem comum. A
ção mensal variada.
biblioteca pública do país (só per-
BMA só ganhou seu nome na dé-
Inaugurada em dezembro
dendo para a Biblioteca Nacional,
cada de 1960.
de 2014, a Biblioteca do Parque
no Rio de Janeiro) e, segundo Tar-
Projetado pelo arquiteto fran-
Villa-Lobos, mais voltada à fa-
cila Lucena, supervisora do depar-
cês Jacques Pilon, o prédio da
mília, recebe gente não só que
tamento de Ação Cultural da uni-
BMA é considerado um marco
vai ao parque exercitar-se, mas
dade, a vigésima do mundo. Foi
da arquitetura moderna do país
a população da região metropo-
inaugurada em 1926, na Rua Sete
e, por essa razão, é tombado pelo
litana, como Osasco e Franco da
de Abril, como Biblioteca Munici-
patrimônio histórico e cultural
Rocha. São 2.500 por dia no fim
pal de São Paulo, e só em 1942 mu-
da cidade. Além disso, guarda um
de semana e, segundo Ruprecht,
dou-se para o prédio atual, na Rua
acervo valioso de obras raras, her-
a frequência só cresce.
da Consolação, no Centro.
dadas de bibliotecas particulares
Revista DR! • 35
Sylvia Masini
Cultura
> As bibliotecas municipais Hans Christian Andersen e Monteiro Lobato são focadas no público infanto-juvenil
de gente do calibre de Paulo Pra-
mapas) ficou mais fácil. A tecno-
do, poeta e escritor organizador da
logia também ganhou lugar. “Não
Semana de Arte Moderna de 1922
podemos encarar a cultura digital
(da qual Mário também foi uma
como ameaça”, frisa Tarcila.
das vozes mais importantes); e de
A rede Wi-Fi foi melhorada
Batista Pereira, advogado e genro
com a reforma (“pega em qualquer
de Rui Barbosa. Na seção, há 52
lugar da biblioteca”, afirma Tarci-
mil livros, quase 9 mil periódicos e
la) e iniciou-se um grande projeto
outros documentos que só podem
de catalogação digital do acervo.
ser consultados no local.
“Temos outros projetos de longo
A importância da Mário de An-
prazo, como fazer uma platafor-
drade para a cidade (e para o país)
ma com lançamentos de e-books
é tamanha que, em 2005, obteve
(livros eletrônicos) em parceria
status de departamento pela Se-
com as editoras”, antecipa a super-
cretaria Municipal de Cultura, ga-
visora, que tem experiência de dez
nhando, assim, autonomia admi-
anos no mercado editorial.
nistrativa. De 2007 a 2010, passou
Outro projeto de sonho é levar a
por uma grande reforma, tendo
biblioteca para uma nuvem digital,
sido reinaugurada em 2011.
o que permitiria às pessoas acessa-
Com a reforma, o contato do
36 • Revista DR!
rem o acervo de qualquer lugar.
público com o acervo (são mais de
A programação cultural tam-
53 mil livros, além de periódicos,
bém é diversificada, com música,
Sylvia Masini
> Localizada no coração de São Paulo, a Mário de Andrade é a segunda maior biblioteca pública do país
debates, teatro, artes em geral. São
as várias linguagens se encon-
versas linguagens”, filosofa.
Outro belo exemplo de ocupa-
Abrir as portas das bibliotecas
ção pela comunidade aconteceu
à comunidade, como quem abre
na Menotti Del Picchia, no bairro
as portas de casa, tem sido a estra-
do Limão, na zona norte. “A biblio-
Vocação particular
tégia utilizada para atrair público.
teca fica num lugar escondido,
Das 52 unidades diretamente li-
Ainda, usufruir do potencial de
numa rua sem saída. As pessoas
gadas à coordenadoria do sistema
cada uma.
invadiam, depredavam o prédio,
trando num mesmo lugar.
municipal de bibliotecas, 28 pos-
Dois bons exemplos são as vol-
pois não havia uma interlocução
suem telecentros para acesso à
tadas ao público infantil Hans
com a comunidade. Houve, então,
internet. “Antigamente, as biblio-
Christian Andersen, que home-
uma aproximação com a popula-
tecas eram mais voltadas a aten-
nageia o escritor dinamarquês
ção local, como cantores de hip-
der o aluno. Com a proliferação da
de livros infantis (quem nunca
hop, e hoje, o espaço é totalmente
internet, perderam muito dessa
ouviu falar de “O Soldadinho de
diferente”, elogia Nalles.
função”, diz Waltemir Nalles, co-
Chumbo” e “O Patinho Feio”?), no
O coordenador defende que
ordenador de bibliotecas da Secre-
Tatuapé, zona leste da cidade; e a
esses espaços públicos devem ir
taria Municipal de Cultura.
tradicionalíssima Monteiro Lo-
atrás das pessoas em vez de espe-
Por isso, investiu-se na diversi-
bato (dispensa apresentações), no
rá-las. “As bibliotecas são um lu-
ficação de programações culturais,
Centro, concebida por Mário de
gar de interlocução e devem fazer
pois, no entender de Nalles, os li-
Andrade, e que completou 80 anos
sentido para a comunidade, como
vros não são a única ferramenta
este ano. Ambas já tinham apelo
escolas, moradores do entorno.
para formar leitores. “O mundo
aos pequenos e às mamães e a coor-
Essa é a receita para serem um cir-
forma leitores. A literatura tem di-
denação aproveitou-se disso.
cuito de sucesso”, acredita.
Revista DR! • 37
Cultura
Fabiola Rizzo Sanchez Anjos
Frequência à biblioteca da FMUSP aumenta
com redução de tempo em sala de aula
> Estabelecimento disponibiliza documentos digitalizados que podem ser acessados de qualquer lugar
A Faculdade de Medicina da Uni-
filtro ao que é ou não mais rele-
versidade de São Paulo (FMUSP)
vante.
Estão disponíveis também
e-books que podem ser acessa-
tem passado por uma mudança
Apesar da possibilidade de aces-
dos do celular dos alunos, atlas
na grade curricular, para que
so ao acervo a distância, a frequên-
anatômicos em três dimensões,
o aluno possa despender mais
cia de alunos é grande. “A bibliote-
além de uma série de iniciativas
tempo em atividades de pesqui-
ca dispõe de espaço interativo, com
em andamento para facilitar o
sa fora da sala de aula. Boa parte
ambiente e equipamentos prepa-
estudo.
desse tempo, segundo a coorde-
rados para tornar mais acolhedor
nação da biblioteca da unidade,
e descontraído o estudo. É um am-
Serviço
é despendido lá.
biente que estimula a leitura, a pes-
Para saber mais
quisa e o aprendizado colaborativo
Biblioteca Mário de Andrade
dos estudantes”, diz.
www.bma.sp.gov.br
“A missão de uma biblioteca
universitária é diferente da de
Biblioteca de São Paulo
uma biblioteca pública. Nosso
Oficialmente conhecida como
público-alvo é a comunidade aca-
Divisão de Biblioteca e Documen-
www.bsp.org.br
dêmica e, mais especificamente,
tação da FMUSP, a unidade foi
Biblioteca Parque Villa-Lobos
da área de medicina”, diz Rosa
fundada em 1912, junto com a fa-
www.bvl.org.br
Maria Fischi, bibliotecária super-
culdade. Teve apoio financeiro da
Biblioteca da Faculdade
visora do Serviço de Promoção e
Fundação Rockfeller, dos Estados
de Medicina da USP
Divulgação da biblioteca.
Unidos, e tem seu acervo (51.582
www.fm.usp.br/biblioteca
Documentos foram digitali-
livros, 11 mil teses entre outros)
Para informações sobre as
zados e podem ser acessados a
organizado de acordo com a clas-
bibliotecas do município de
distância. É nesse ponto, segun-
sificação da National Library of
São Paulo
do Rosa, que se torna muito im-
Medicine (EUA), uma das mais re-
www.prefeitura.sp.gov.br/
portante o papel da biblioteca,
putadas, se não a mais, na área de
cidade/secretarias/cultura/
de servir como uma espécie de
medicina.
bibliotecas
38 • Revista DR!
Literatura
Pedagogia do oprimido na saúde
Leonardo Gomes Nogueira
> Médico defende que discussão "saia da academia e passe para a prática, para a classe trabalhadora"
O livro De que Adoecem e Morrem os Trabalhadores na
“Esse livro, digamos assim, é de pedagogia na saúde.
Era dos Monopólios - A Violência do Trabalho no Brasil, or-
Pedagogia dos oprimidos na saúde”, sugere. O médico se
ganizado pelo médico Herval Pina Ribeiro, é o capítulo final
refere ao famoso método criado pelo educador Paulo Freire
de um trabalho de mais de 30 anos.
(1921-1997).
Lançado no final do ano passado, o livro foi precedido
No livro Pedagogia do Oprimido, escrito no final dos anos
por uma obra anterior, de 1984, intitulada De que Adoecem
1960, Freire relaciona todo o aprendizado ao contexto social
e Morrem os Trabalhadores. Ambas, ressalta o médico for-
e defende que tanto o educador quanto o educando produ-
mado pela Universidade Federal da Bahia, abordam as rela-
zam conhecimento, ainda que distintos, e que deve prevale-
ções entre trabalho e saúde.
cer o diálogo e a troca de informações entre as partes.
O lançamento em 19 de novembro de 2015, deu-se em
“Os médicos deveriam se inserir nisso enquanto traba-
meio a um ciclo de debates realizado na Faculdade de Saú-
lhadores. E não o fazem”, avalia o médico que coordenou,
de Pública da Universidade de São Paulo (USP).
entre os anos de 1980 e 1984, o recém-criado Departamen-
A ideia, conta o médico, doutor em saúde pública pela
USP, é que essa discussão possa “sair da academia e pas-
to Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho (Diesat).
sar para a prática, para a classe trabalhadora”. “A preocu-
Uma parte da tiragem inicial do livro, de dois mil exem-
pação é justamente ter uma bibliografia, um conhecimento
plares, já foi comprada por sindicatos. Outra pode ser
que você possa, realmente, devolver aos trabalhadores”,
adquirida de forma avulsa. Para quem tiver interesse na
ressalta.
publicação ou mesmo em promover um debate, o médico
Não por acaso, Herval Pina Ribeiro tem realizado deba-
disponibiliza o seu e-mail: [email protected]
tes em sindicatos e outras organizações sociais para discu-
Ele também sugere acessar a página do Centro Nacio-
tir os assuntos abordados na obra. “A intenção é de forma-
nal de Apoio em Pesquisas sobre as Relações de Trabalho
ção de interlocutores”, resume.
(Cenpras).
Revista DR! • 39
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40 • Revista DR!
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Importante: as regras para utilização dos benefícios estão descritas no site oficial do Simesp.
Revista DR! • 41
Olhares
Numa campina
amazônica
"Esta imagem foi feita numa campina amazônica na região de Humaitá,
fronteira entre os estados do Amazonas e Rondônia.
Meu hobby é fotografar aves e, para tal, viajo pelo país sempre que
possível, buscando fotografar aves ainda desconhecidas por mim.
É claro que, além das aves, cenas apaixonantes da natureza, como este
belo exemplar de borboleta, sempre se manifestam e são devidamente
registradas através das nossas (minha e da minha mulher) lentes”.
Marco Guedes
Ortopedista
Seu olhar pode ser publicado nas próximas edições da Revista DR!.
Envie sua foto para [email protected]
42 • Revista DR!
Revista DR! • 43
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que chegou para fazer muito mais
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44 • Revista DR!
11 3292.9147
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