DOSSIER O LNEC CONVERSAS Carlos Pina e Eduardo Júlio
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DOSSIER O LNEC CONVERSAS Carlos Pina e Eduardo Júlio
62 N° 62 . julho/agosto 2014 . 6.50 DOSSIER O LNEC CONVERSAS Carlos Pina e Eduardo Júlio ficha técnica diretor Eduardo Júlio diretora executiva Carla Santos Silva [email protected] conselho científico Abel Henriques (UP), Albano Neves e Sousa (UTL), Álvaro Cunha (UP), Álvaro Seco (UC), Aníbal Costa (UA), António Pais Antunes (UC), António Pinheiro (UTL), António Reis (UTL), António Tadeu (UC), Armando Rito, Carlos Borrego (UA), Carlos Pina (LNEC), Conceição Cunha (UC), Daniel Dias da Costa (UC), Dinar Camotim (UTL), Diogo Mateus (UC), Elsa Caetano (UP), Elton Bauer (UnB, Brasil), Emanuel Maranha das Neves (UTL), Fernando Branco (UTL), Fernando Garrido Branco (UC), Fernando Sanchez Salvador (UTL), Fernando Seabra Santos (UC), Francisco Nunes Correia (UTL), Francisco Taveira Pinto (UP), Helder Araújo (UC), Helena Cruz (LNEC), Helena Gervásio (UC), Helena Sousa (IPL), Hipólito de Sousa (UP), Humberto Varum (UA), João Almeida (UTL), João Mendes Ribeiro (UC), João Pedroso de Lima (UC), João Ramôa Correia (UTL), Joaquim Barros (UM), Joaquim Figueiras (UP), Jorge Alfaiate (UTL), Jorge Almeida e Sousa (UC), Jorge Coelho (UC), Jorge de Brito (UTL), José Aguiar (UTL), José Amorim Faria (UP), José António Bandeirinha (UC), José Câmara (UTL), José Luís Câncio Martins, José Pinto Duarte (UTL), Júlio Appleton (UTL), Laura Caldeira (LNEC), Luciano Lima (UERJ, Brasil), Luis Calado (UTL), Luís Canhoto Neves (UNL), Luís Godinho (UC), Luís Guerreiro (UTL), Luís Juvandes (UP), Luís Lemos (UC), Luís Oliveira Santos (LNEC), Luís Picado Santos (UTL), Luís Simões da Silva (UC), Maria Cecilia A. Teixeira da Silva (UNICAMP, Brasil), Mário Krüger (UC), Manuel Pipa (LNEC), Maria do Rosário Veiga (LNEC), Nuno Silvestre (UTL), Paulo Coelho (UC), Paulo Cruz (UM), Paulo Lourenço (UM), Paulo M. Pimenta (USP, Brasil), Paulo Maranha Tiago (IPC), Paulo Providência (UC), Pedro Vellasco (UERJ, Brasil), Paulo Vila Real (UA), Raimundo Mendes da Silva (UC), Rui Faria (UP), Said Jalali (UM), Sérgio Lopes (UC), Teresa Valsassina Heitor (UTL), Valter Lúcio (UNL), Vasco Freitas (UP), Vítor Abrantes (UP), Walter Rossa (UC) redação Cátia Vilaça [email protected] marketing e publicidade Helena Fialho [email protected] Pedro Braga [email protected] editor António Malheiro grafismo avawise assinaturas Tel. 22 589 96 25 [email protected] redação e edição Engenho e Média, Lda. Grupo Publindústria propriedade Publindústria, Lda. Praça da Corujeira, 38 - 4300-144 PORTO Tel. 22 589 96 20, Fax 22 589 96 29 [email protected] | www.publindustria.pt publicação periódica Registo n.o 123.765 tiragem 6.500 exemplares issn 1645 – 1767 depósito legal 164 778/01 2 editorial 4_42 dossier | o lnec 4_9 conversas Carlos Pina e Eduado Júlio 10_13 Sistemas semi-ativos para a mitigação de vibrações em edifícios com isolamento de base sujeitos a ações sísmicas – fernando oliveira , paulo morais e afzal suleman 14_17 Geotecnia Ambiental: proteção, valorização e reabilitação de recursos naturais – antónio josé roque 18_20 Apoio ao projeto e construção recente de grandes barragens de betão e obras subterrâneas – antónio lopes batista , josé vieira de lemos , luís lamas , antónio tavares de castro 22_25 Duas décadas de cooperação europeia no âmbito da ID&I em engenharia sísmica no LNEC – alfredo campos costa , ema coelho, alexandra carvalho, paulo candeias , antónio a . correia 26_28 A problemática da degradação de estruturas de betão por reações expansivas internas – j. custódio, a . santos silva , a . b. ribeiro e a . gonçalves 30_33 Aplicação de resíduos de construção e demolição em infraestruturas rodoviárias – maria de lurdes antunes e ana cristina freire 34_38 A modelação física no apoio ao projeto de obras marítimas – conceição juana fortes , maria teresa reis , maria graça neves , luís gabriel silva , rui capitão e rute lemos 40_42 A avaliação do estado de conservação na reabilitação urbana – joão branco pedro e antónio vilhena 44_47 análise e simulação Análise estrutural da cabine de um pequeno submarino de recreio e investigação – hugo macedo, óscar lópez , filipe pedro e fernando seabra santos 48_49 arquitetura Intervenção na Herdade de Torre da Palma – joão mendes ribeiro 50_51 térmica Marcação CE e Avaliação Técnica Europeia de produtos e sistemas de isolamento térmico de edifícios 52_53 betão estrutural A arte no projeto do betão estrutural 54_55 alvenaria e construções antigas Análise com GPR da constituição de chaminés industriais em alvenaria 56 sustentabilidade Eco-inovação para o desenvolvimento sustentável 57_59 notícias 60_63 mercado 64 eventos capa © LNEC 1 Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos autores. Próxima edição > Dossier O ITeCons editorial A crise económico-financeira que o país atravessa provocou uma contracção sem precedentes no sector da Construção, tendo o Governo da República procedido a um desinvestimento tão significativo que levou à extinção do Ministério das Obras Públicas. Como consequência desta nova realidade, as grandes construtoras passaram a apostar quase exclusivamente na internacionalização e os jovens deixaram de ver a Engenharia Civil como uma profissão de prestígio, essencial ao desenvolvimento da sociedade de amanhã, mas como um estigma, garantia de emigração forçada. De facto, o número de candidatos a este curso foi de tal maneira reduzido nos últimos anos que, no futuro, a manter-se esta tendência, as duas mais prestigiadas e antigas Escolas de Engenharia do país, o IST e a FEUP, serão suficientes para dar resposta à procura. Acresce que a actual direcção da Fundação para a Ciência e Tecnologia, embora não definindo explicitamente prioridades em termos de investigação, claramente não considera relevante a Engenharia Civil, tendo havido cortes superlativos no número de projectos financiados e de bolsas de pós-doc e de doutoramento atribuídas nesta área do conhecimento. A tão apregoada reabilitação urbana poderia/poderá melhorar este cenário mas tarda em acontecer e, entretanto, pequenas e médias construtoras fecham, assim como muitos gabinetes de projecto, as Escolas de Engenharia definham, e muitos dos melhores engenheiros e investigadores abandonam o país... Na conjuntura quase-apocalíptica, porém rigorosa, atrás traçada, importa reflectir sobre qual deve ser a missão da Engenharia Civil nacional nos próximos 25 anos e definir uma estratégia para a operacionalizar. A oferta das universidades deve ser redimensionada e os cursos que subsistirem devem ser reformulados, os objectivos dos centros de investigação devem ser reajustados, as empresas e os técnicos devem actualizar-se, e o Governo deve traçar um plano para congregar esforços no relançamento da Engenharia Civil nacional ao serviço de um novo Portugal, mais moderno, mais organizado, mais eficiente, mais próspero. E qualquer que seja o modelo a adoptar, há uma instituição que surge como incontornável, a qual, mais do que fazer parte, deverá estar no centro da solução: o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Com efeito, o futuro deve ser pensado sem esquecer o passado, e o LNEC é o expoente máximo do prestígio e do reconhecimento internacional da Engenharia Civil portuguesa, casa-mãe dos mais brilhantes engenheiros civis portugueses, e.g. Manuel Rocha e Júlio Ferry Borges, e um exemplo de pioneirismo em diferentes áreas do conhecimento. Defendo, por isso, convictamente, o reforço e a renovação do LNEC, dentro de uma estrutura modernizada e optimizada do Sistema Científico Tecnológico Nacional, i.e. de muito alto rendimento e com uma dimensão à escala do país. Este número da Construção Magazine pretende dar a conhecer aos leitores uma visão alargada do LNEC, do passado glorioso aos desafios do presente. O dossier temático apresenta a estrutura habitual: uma entrevista ao actual presidente do LNEC, o Eng.º Carlos Pina, e artigos técnicocientíficos da autoria de diversos investigadores da instituição, ilustrativos de algumas das actividades desenvolvidas no seio dos diferentes departamentos. Espero que este número seja do agrado dos leitores e que, de algum modo, contribua para evidenciar a necessidade de apoiar o Laboratório Nacional de Engenharia Civil e de reforçar o seu papel numa estratégia que urge definir de reposicionamento da Engenharia Civil como um dos pilares essenciais ao desenvolvimento sustentado do Portugal do século XXI. Eduardo Júlio Director *O Professor Eduardo Júlio escreve de acordo com a antiga ortografia. 2 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 4_9 conversas Carlos Pina e Eduardo Júlio Fotografia por Cátia Vilaça carlos pina e eduardo júlio Numa edição dedicada ao LNEC, o diretor da Construção Magazine, Eduardo Júlio (à direita), conversa com Carlos Pina (à esquerda), presidente da instituição. Começando pelo início auspicioso do LNEC, para o qual contribuiu o facto de agregar todas as áreas da engenharia civil, a conversa desenrola-se pelos atuais desafios, nomeadamente ao nível do financiamento e da capacidade de adaptação ao presente e futuro da construção civil. 4 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 AS ORIGENS Eduardo Júlio (EJ) – Começava por pedir-lhe que fizesse uma breve resenha histórica do LNEC, desde a sua criação até ao momento presente, referindo os aspetos que considera mais marcantes nesta história já longa e tão marcante para a engenharia civil nacional. Carlos Pina (CP) – O LNEC surge em meados dos anos 40, coincidindo com um plano de infraestruturação do país mais ligado à energia hidroelétrica. No entanto, também nessa altura houve planos para outro tipo de infraestruturas, como estradas ou caminhos-de-ferro. A ideia dos políticos, engenheiros e professores da época era a de que não havia meios para desenvolver essa infraestruturação no país, pelo que ia ser realizada com capacidade e conhecimento existente no exterior, mas que era muito importante que isso rapidamente se alterasse. É então que surge a ideia da criação deste laboratório, que resultou da junção de duas instituições: uma que já existia há muitos anos no Ministério das Obras Públicas, ligada aos materiais, e outra do Instituto Superior Técnico, ligada à Mecânica Aplicada. Essas duas instituições juntaram-se e criou-se o Laboratório Nacional de Engenharia Civil. O primeiro diretor foi o Eng.º Eduardo Arantes de Oliveira, tendo como subdiretor o Eng.º Manuel Rocha, e eles fizeram com que este objetivo [de infraestruturação] fosse conseguido. A título de exemplo, em poucos anos as barragens passaram a ser projetadas e construídas com conhecimento português, através da engenharia portuguesa. Um exemplo disso é a barragem do Cabril, que é dos anos 50, cujo projetista é português. Houve outros casos também nas pontes e noutras áreas, em que realmente se conseguiu adquirir conhecimento e começar a ter mão naquilo que se ia fazendo no país, o que também é um aspeto, do meu ponto de vista, muito determinante. Outro aspeto que eu gostaria de realçar, dessa época mas que se tem mantido e continua a ser uma vertente fundamental da atividade do LNEC, é o facto de os engenheiros que estavam cá nessa altura terem uma preocupação muito grande com o que se iria passar com as obras a ser construídas no futuro. Preocuparam-se em colocar instrumentos nas obras que fornecessem informação JULHO/AGOSTO 2014 “estamos agora a fazer um esforço estratégico no sentido de produzir ferramentas de apoio à construção em portugal, na área da reabilitação“ – carlos pina para avaliar as condições futuras dessas obras. Isto foi um elemento determinante e ainda hoje é uma das bases fundamentais da atividade do LNEC. Recolhemos informação de variadíssimos tipos de obras, e isso permite-nos fazer avaliações regulares das suas condições de segurança. A segurança sísmica foi outra área que começou a ser desenvolvida. Sabe-se que Portugal é um país com risco sísmico, e foi desenvolvido um conhecimento muito significativo nesse domínio através de um dos pioneiros nessa área, o Eng.º Ferry Borges, tendo depois sido sucessivamente apoiado por outros investigadores, como o Eng.º Artur Ravara, e que também fizeram com que o LNEC ganhasse uma projeção nesta matéria a nível mundial. Claramente estávamos, e penso que ainda estamos, no topo do conhecimento nesta área. Não foi por acaso que foi construída, aqui no LNEC, uma grande instalação experimental: uma mesa sísmica de grandes dimensões, que na altura era, se não a maior, uma das maiores do mundo, precisamente para alavancar os desenvolvimentos que foram sendo realizados em Portugal, na área da engenharia sísmica. Finalmente, foi também criado um departamento de hidráulica, um ano ou dois após a fundação do LNEC, sob a responsabilidade do Eng.º Fernando Abecassis, que o liderou esse durante muitos anos. Neste setor desenvolvem-se estudos de hidráulica marítima, fluvial, e sanitária, e tem uma par- cela muito significativa de atividade ligada à modelação física dos fenómenos hidráulicos, que se mantém ainda hoje como uma vertente muito importante da atividade do LNEC. Não queria deixar de realçar aquilo que é uma das razões do sucesso do LNEC, que é a capacidade de ter, dentro do mesmo campus, todas as valências ligadas à engenharia civil. Essa interação foi, do meu ponto de vista, uma mais-valia extraordinária para o LNEC, que o torna num caso, não direi ímpar, mas muito raro a nível mundial. É evidente que isto também tem muito que ver com a dimensão do nosso país. Noutros países este laboratório não seria o ideal. Temos, aliás, a experiência de países de maior dimensão em que se criaram laboratórios independentes cobrindo áreas parcelares da engenharia civil, mas no nosso país foi possível criar o laboratório desta maneira e, do meu ponto de vista, isto dá-nos uma vantagem competitiva quando confrontados com “competição” externa muito significativa. Esta vertente da complementaridade, de ter várias valências, fez com que, ao longo dos anos, fossem também introduzidas outras áreas de conhecimento dentro do LNEC, ao lado da engenharia civil, mas complementares e necessárias par a o que é o nosso produto, ou seja, as obras de engenharia civil: desde logo, as valências da química, mecânica e eletrotecnia, que estão muito ligadas à instrumentação e aos ensaios, e, posteriormente, a informática, a economia, a arquitetura, com o arquiteto Nuno Portas e a valência das Ciências Sociais, com a ecologia social. EJ – Esse núcleo não foi, entretanto, extinto? CP – A valência não foi extinta. O que houve foi uma reorganização, em que nos pareceu que podíamos potenciar as capacidades que temos nessa matéria junto com a própria arquitetura, que estava muito ligada ao ordenamento do território. Criámos um novo setor, que se denomina Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais, onde estão as valências específicas da arquitetura, urbanismo e ecologia social. A experiência dessa ligação ainda é pequena, mas parece-nos que tem sido positiva porque tem, por um lado, aumentado a massa crítica, que é um aspeto determinante, nomeadamente nos dias de hoje, em que há uma redução muito significativa do número de pessoas. Salientava que fizemos uma reorganização há cerca de um ano, mas preocupámo-nos em tentar manter todo o conhecimento que fosse considerado importante, independentemente da arrumação estrutural ou orgânica da instituição. Queremos manter o conhecimento, mas da melhor maneira e com a melhor produtividade possível. O PIONEIRISMO DO LNEC EJ – A inovação sempre esteve no ‘ADN’ do LNEC. Por exemplo, no capítulo da monitorização, a Ponte 25 de Abril tem um sistema que foi desenvolvido aqui na casa e que na altura era JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 5 conversas conversas absolutamente inovador, o que demonstra o pioneirismo do LNEC. Outro aspeto importante é o da multidisciplinaridade, que é uma mais-valia e torna o LNEC um caso ímpar, provavelmente a nível mundial. Neste aspeto, figuras como o Eng.º Arantes de Oliveira, o Eng.º Manuel Rocha e o Eng.º Ferry Borges tiveram um papel muito importante. A conjuntura também era muito diferente da de hoje, pois no pós-guerra a engenharia tinha um papel preponderante e o LNEC beneficiou do plano Marshall, portanto teve a possibilidade de ter equipamentos muito bons e modernos nessa altura. Mas o papel do Eng.º Manuel Rocha também foi determinante ao nível da exigência. A engenharia civil naquela altura não era o que é hoje. Estava bastante atrasada relativamente ao que é hoje o paradigma da Ciência. O Eng.º Manuel Rocha conseguiu importar a prática americana e, portanto, definir padrões de elevadíssima exigência relativamente às provas e aos graus LNEC. CP – Esse é um aspeto mui to importante da contribuição da direção do Eng.º Manuel Rocha, ainda na sequência do que foi feito sob orientação do Eng.º Eduardo Arantes de Oliveira, ou seja, a tentativa de apropriação das melhores práticas e do melhor conhecimento existente. O caminho seguido foi o de fomentar a ligação com os melhores centros de conhecimento do mundo. Os investigadores do LNEC tiveram várias missões no estrangeiro com o objetivo central de ver o que de melhor se fazia nesses países e de tentar trazer para Portugal aquilo que seria a melhor experiência na área da investigação. Um dos aspetos relevantes foi precisamente a grande exigência colocada nos quadros que pertenceriam ao LNEC. Na altura, nas universidades portuguesas, na área da engenharia civil, a atribuição do grau de doutor praticamente não existia, e por iniciativa do Eng.º Manuel Rocha legislou-se nesse sentido, com a criação dos graus LNEC, que correspondiam precisamente aos graus atribuídos na Universidade. Ao grau de Doutor correspondeu o grau de Especialista do LNEC, enquanto que as provas para Investigador, que mais tarde passou a ser para o grau de habilitado, eram equivalentes às de Professor Catedrático. Objetivo central daquilo que se fez e do que se legislou foi garantir que os quadros 6_ CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 da carreira de investigação do LNEC eram quadros altamente habilitados e com as melhores exigências do mundo e isso foi claramente fundamental para o sucesso do LNEC, do meu ponto de vista. É evidente que, a certa altura deste caminho, com base em doutoramentos no estrangeiro, as universidades passaram a ter meios humanos com essas exigências e com essas qualificações académicas. EJ – O LNEC, no fundo, definiu padrões de exigência que não existiam na universidade e criou o grau LNEC. A partir do momento em que a Universidade acompanhou esses graus de exigência, deixa de fazer sentido o grau LNEC? CP – Exato, embora dentro da instituição tenha havido algumas reticências em aceitar esse caminho. No entanto, foi claramente aceite e há muitos anos que todos os investigadores do LNEC são doutorados nas universidades portuguesas e estrangeiras. EJ – Apesar de já termos falado do Eng.º Manuel Rocha e do Eng.º Ferry Borges, seria uma falha se não referíssemos o papel que este último teve na atual filosofia de segurança subjacente aos Eurocódigos estruturais. CP – O Eng.º Ferry Borges é uma figura determinante para o LNEC. Do meu ponto de vista são as duas figuras, em termos científicos, que marcam o LNEC. Embora ambos da área de estruturas, o Eng.º Manuel Rocha depois caminhou mais no sentido da mecânica das rochas, e veio a participar na criação dessa nova ciência e foi o primeiro presidente da Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas, que foi criada nos anos 60 e cuja sede é, ainda hoje, aqui no LNEC. O Eng.º Ferry Borges manteve-se na área de estruturas, tendo toda uma atividade muito intensa na área da engenharia sísmica, e precisamente nessa área é determinante a questão da fiabilidade das construções e a probabilidade de ocorrência de rotura, ou seja, o método probabilístico aplicado à segurança de estruturas é determinante, e o Eng.º Ferry Borges realmente passou para esta área, e teve também uma influência muito importante, precisamente pelos seus escritos nesse domínio, no lançamento dos Eurocódigos na Europa. No início, era ele o presidente da associação europeia que deu o pontapé de saída para a criação dos Eurocódigos e já com a filosofia da segurança em termos muito evoluídos de um ponto de vista probabilístico. Portugal teve um papel importante no desenvolvimento dos Eurocódigos, porque a sua própria legislação já tinha essa filosofia, e também a nossa adaptação aos Eurocódigos foi relativamente fácil, ao contrário de outros países. O Eng.º Ferry Borges foi uma das pessoas a dar o pontapé de saída nessa área. Por outro lado, na área da engenharia sísmica, a base do desenvolvimento do respetivo Eurocódigo foi feita em Portugal, e essa matéria continua a ser sediada no LNEC. EJ – O mérito do Eng.º Ferry Borges é reconhecido não só em Portugal, aliás a Associação Portuguesa de Engenharia de Estruturas até tem o prémio Ferry Borges, e este ano, nas Jornadas Portuguesas de Engenharia de Estruturas vai haver, na única sessão plenária, uma homenagem à sua figura, mas também internacionalmente. Houve um congresso no México sobre estruturas em que a enorme relevância do seu trabalho foi de tal forma reconhecida que causou surpresa na comitiva portuguesa. CP – Eu falo por experiência própria: em vários contactos que tenho externamente, muitas vezes me é referido o nome do Eng.º Ferry Borges. É um dos nomes que mostram que a engenharia portuguesa da altura era realmente marcante a nível internacional e promovia a criação de contactos internacionais e de redes, não só deslocando-se como recebendo. Há muitos engenheiros que vieram cá ter formação no LNEC e, portanto, criaram uma rede de conhecimento muito importante. Hoje, todos nós sabemos que sem essas redes não vamos a lado nenhum mas à época não era assim, aliás Portugal vivia sozinho em vários domínios científicos e evoluía, de alguma forma, desligado do exterior, mas neste domínio, esses ilustres engenheiros marcaram a nossa engenharia. O FINANCIAMENTO EJ – Para fazer boa investigação são precisos bons investigadores mas também dinheiro. Nessa época havia a chamada regra de ouro das três áreas do financiamento. O LNEC tinha definido uma investigação programada, e que correspondia, sensivelmente, a um terço da atividade, e que era financiada através do PIDDAC (Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central). Havia um terço que se traduzia em investigação aplicada, ou seja, era suportada por um cliente para problemas de grande complexidade. O último terço era financiado pelo Orçamento de Estado – não incluído no PIDDAC – e tinha a ver com as outras atividades, também científicas e técnicas e que, em grande parte, têm a ver com a missão do LNEC, que extravasa, ainda hoje, a competência das universidades: normalização, regulamentação e também prestação de serviços e apoio a tribunais... CP – E à definição das orientações políticas do Governo, que precisam de apoio técnico. Essa regra de ouro, ainda hoje, do meu ponto de vista, se mantém. A questão do financiamento é que se alterou um pouco. As percentagens relativas mantêm-se – se não é um terço, anda entre os 30 e os 40 por cento, em termos de atividade. Aquilo que refere acerca do PIDDAC, ou seja, do investimento para investigação em determinados domínios, vem também daquele período em que foi fundado o LNEC, em que o Estado português tinha planos de investimento em infraestruturas hidráulicas, rodoviárias e em portos. Esses planos tinham financiamento, dentro do Orçamento de Estado, e parte desse financiamento era alocado ao LNEC para o desenvolvimento dessa investigação. Depois houve os planos de fomento, mas após o 25 de Abril morreu um pouco esta visão sobre o que se deveria fazer com o PIDDAC em termos de investigação. Continuámos a ter financiamento do PIDDAC mas não alocado ao estudo de estradas ou de barragens, que eram as orientações políticas que existiam. Perdeu-se um pouco a orientação política estratégica do que o país deveria fazer. O financiamento continuou a existir, foi-se reduzindo, mas continuou a existir sem este aspeto que para mim é importante, que é definir em que áreas a investigação deve ser feita, ou com que objetivos de médio e longo prazo deve ser feita. Por outro lado, alterouse a forma de financiamento da investigação. Apareceram as agências de financiamento – caso da Fundação para a Ciência e Tecnologia JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 7 conversas (FCT), em Portugal. Também passaram a existir agências de financiamento a nível europeu e internacional. O desafio do LNEC é a capacidade de ir captar esse dinheiro para a atividade de investigação a agências de financiamento e também – e isto é um desafio para o Conselho Diretivo – tentar definir, junto do Governo, uma estratégia de investigação que seja suportada por financiamento. Como sabemos, a FCT tem tido alguma dificuldade em definir áreas prioritárias de desenvolvimento da investigação. No período de desenvolvimento do país, o que interessava era ter cada vez mais capacidade e mais conhecimento em todas as áreas. Tal como referi há pouco, em termos de laboratório é necessário manter as capacidades mas também definir uma base de apoio à investigação em todos os domínios científicos. Depois têm de se definir áreas estratégicas onde vamos investir mais, para orientar também o produto da investigação. Esse é um esforço que estamos a fazer junto do Governo e que tem sido bem acolhido tanto no LNEC como nos outros centros de investigação do país. Nesta fase de menor capacidade financeira do Estado português, as orientações estratégicas que estamos a seguir são as da União Europeia. EJ – Mas Portugal é um contribuinte líquido da União Europeia em matéria de I&D, ou seja, dá mais dinheiro do que aquele que vai buscar. Devia haver uma estratégia nacional, e uma vez que as universidades já não funcionam como há algumas décadas, em que não havia essa qualidade comparável à do LNEC, os esforços deviam ser congregados. CP – A esse propósito também gostaria de dizer – é uma opinião pessoal, mas sou acompanhado por vários investigadores do LNEC– que o Estado tem de repensar essa questão da contribuição líquida, que tem muito a ver com a capacidade do país para liderar projetos. Há muito dinheiro na coordenação dos projetos, mas há que avaliar a capacidade do país para ganhar as candidaturas. Do meu ponto de vista, Portugal tem um problema estrutural, que é a dimensão das suas instituições. É uma dimensão demasiado pequena para o país ser um coordenador de topo de projetos de investigação a nível europeu. Do meu ponto de vista, é preciso fazer esforços no sentido de escalar as capacidades do país. Tentámos e vamos conti- 8 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 nuar a tentar, na área de engenharia civil, juntar as várias instituições para ganharmos escala, no sentido de sermos capazes de, no contexto europeu, deixarmos de ser um contribuinte líquido. Isso passa, necessariamente, pela capacidade de coordenarmos projetos a nível europeu e deixarmos de ser apenas o parceiro que aparece porque é o país do sul que tem alguma capacidade e reconhecimento. Também acho que, ao nível da FCT, devia haver esforços neste caminho. Deveria tentar-se introduzir alguns incentivos a este tipo de atividades, porque só assim seremos capazes de deixar de ser contribuintes líquidos. EJ – Mas a realidade atual é muito adversa. Em engenharia civil estamos com um número mínimo de alunos a concorrer à universidade, temos demasiados cursos em demasiadas escolas, portanto tudo isto vai, provavelmente, sofrer uma reformulação. CP – Vai haver um ajustamento, e eu aí também tenho de assumir as minhas culpas e as culpas dos engenheiros civis, que deixaram, em certa medida, empolar a situação. O caminho era fácil, havia muita obra, os engenheiros civis tinham emprego à saída, garantido, eram precisos muitos e não houve a visão de perceber que isso não continuaria assim. Basta olhar para países como Estados Unidos ou França para perceber que é preciso ajustar a oferta à procura. E O FUTURO, QUANDO COMEÇA? EJ – Quando comecei a fazer o doutoramento, em 1995, escolhi a área da Reabilitação porque era o futuro, mas o futuro ainda não chegou. Parece que finalmente vai ser definida essa grande prioridade e essa necessidade absolutamente crucial para o país, porque quanto mais as coisas se degradam mais caro vai ser recuperá-las. Nesta lógica de poupar, também se deve preservar para depois não gastar mais dinheiro do que o necessário aos contribuintes. Nessa medida, o Governo e o LNEC não deveriam colocar a reabilitação no topo das prioridades? CP – O que disse é uma realidade e resultou também do facto de não nos termos apercebido que estávamos a caminhar num sentido que ia ter um fim, e que tinha de ser alterado de alguma forma. Não diria que a engenharia tem aí muitas responsabilidades. Isso tem que ver com a política económica e financeira do país. O dinheiro “mais fácil” após a entrada no euro fez com que as pessoas quisessem ter uma habitação sua e nova, pelo que temos um parque habitacional que é quase o dobro do necessário. EJ – De facto, aí a responsabilidade é dos políticos. A responsabilidade dos engenheiros está na conceção... CP – As pessoas que, como eu, estão em cargos dirigentes, têm alguma responsabilidade porque podem dar pistas noutros caminhos. EJ – E o LNEC tem dado. Por exemplo, no caso do aeroporto foi referido que não era o local mais adequado e alertou-se para os custos inerentes... CP – E no que toca à reabilitação, há uns anos largos que temos vindo a investir e a trabalhar no sentido de nos prepararmos para essa realidade. Nota-se, pelos indicadores da construção, que começa a haver um crescimento na área da reabilitação, depois de alguns anos de uma redução brutal da atividade da engenharia e da construção em construção nova, e em que a reabilitação se manteve mais ou menos estável. Desde há dois anos que o investimento nessa área começou a crescer mesmo. Há, realmente, mais atividade na reabilitação agora, e naturalmente a atividade centra-se na reabilitação do edificado, mas não é só o edificado que vai necessitar de reabilitação. O desafio que os engenheiros têm, e aqui é um desafio do LNEC, mas também das universidades, é o facto de, do meu ponto de vista, a atividade na área da reabilitação precisar de outro tipo de conhecimento. É preciso preparar os engenheiros para essa atividade. Temos de ter engenheiros mais vocacionados para a reabilitação e com mais formação nesse domínio. EJ – E as universidades estão preparadas para preparar? CP – Estão a preparar-se, tal como o LNEC se está a preparar... EJ – No Técnico, sou responsável pela disciplina de Reabilitação e Reforço de Estruturas, e já em Coimbra tinha sido responsável por essa disciplina, mas era uma disciplina de opção. Do programa do curso de Mestrado não consta nenhuma disciplina obrigatória na área da reabilitação, portanto a lógica continua a ser a da construção nova, e obviamente Perfil Carlos Pina preside ao LNEC desde 2010. Tem o grau de Especialista pelo LNEC, obtido na área científica de Barragens. É também Professor Catedrático Convidado no Instituto Superior Técnico. É presidente da Comissão dos Eurocódigos Estruturais e membro da Comissão Nacional Portuguesa das Grandes Barragens. Eduardo Júlio é Professor Catedrático no Instituto Superior Técnico, sendo o coordenador do Grupo de Estruturas de Betão e o presidente do Instituto de Engenharia de Estruturas, Território e Construção (ICIST) esse paradigma tem de mudar, mas julgo que será um processo reativo, não preventivo. CP – Eu acho importante que se comece a dar passos nesse sentido... Já falámos das universidades, do LNEC e, como disse, acho que nos estamos a preparar. Temos apoiado o Governo em algumas iniciativas legislativas nessa matéria, dando a informação técnica necessária para a produção legislativa. Claramente, o Governo quer apostar na reabilitação, mas há várias questões que se levantam, em termos económicos e financeiros, fundamentalmente. No entanto, acho importante que a própria sociedade valorize ou considere que as casas reabilitadas são tão boas ou melhores do que a construção nova, e portanto esse aspeto também faz parte do nosso esforço, que é comum a todos os centros de investigação, às universidades, até à própria Ordem dos Engenheiros: criar mecanismos, fazer exposições e conferências no sentido de fazer com que a sociedade também mude um pouco o seu paradigma. Sabemos que, ainda hoje, entre uma construção nova e uma construção reabilitada, no mesmo sítio, a opção recai na nova. EJ – A reabilitação de que se fala é, essencialmente, reabilitação urbana. Esse é o tipo de obra mais na área das pequenas e médias empresas, nunca das grandes empresas. As grandes empresas encontraram na internacionalização a forma de resolver o problema. O LNEC, tendo também de adaptar-se à realidade atual, não pode também aproveitar esta saída das grandes empresas portuguesas e, de alguma forma, “re-internacionalizar-se” (não digo internacionalizar-se porque o LNEC já fez muita obra em todo o mundo nos tempos áureos), mas atualmente não poderá também ter essa vertente? CP – O LNEC é uma instituição pública que segue as orientações do Governo e, como sabemos, um dos objetivos estratégicos do Governo é aumentar a capacidade de exportação do país, portanto o LNEC caminha também nesse sentido. Tem feito, inclusive, um esforço no sentido de desenvolver atividade nos mercados externos, em especial nesses mercados em que realmente o LNEC é uma mais-valia, pelo reconhecimento da instituição e da sua capacidade, como são os mercados dos PALOP, mas também o mercado do norte de África. Temos procurado entrar nesses mercados, sempre em conjunto com as empresas portuguesas, tentando, com a nossa presença, aumentarlhes a competitividade. Ainda não estamos com 70 ou 80 por cento da atividade fora do país, como as empresas de construção portuguesas, mas já andaremos nos 30, 40 por cento. De qualquer forma, não ambicionamos uma fatia muito maior, pois o LNEC continua a ser um laboratório português, para servir Portugal, e portanto é aqui que tem de manter a sua base de atividade. Os PALOP são um bom exemplo da atividade externa porque estão numa fase de desenvolvimento, de infraestruturação. Existe muita atividade nesse domínio, e praticamente sempre com empresas portuguesas. Aproveito para referir que Portugal tem um peso muito grande de micro, pequenas e médias empresas, que são a base da indústria da construção em Portugal. Do nosso ponto de vista, é preciso fazer um esforço para que essas empresas também ganhem qualidade, e o LNEC pode contribuir nesse sentido, nomeadamente nas áreas de certificação, de garantias de qualidade dos materiais e dos sistemas. Estamos agora a fazer um esforço estratégico no sentido de produzir ferramentas de apoio à construção em Portugal, na área da reabilitação, que consideramos poder melhorar a qualidade daquilo que se vai fazer em Portugal. É preciso não esquecer que a reabilitação, em especial a urbana, vai ser feita por essas pequenas empresas, e portanto é preciso que elas sejam capazes de a fazer com qualidade. Estamos a pensar ter um selo de qualidade para acompanhar as obras de reabilitação do princípio ao fim. Algo determinante para qualidade da reabilitação é a forma como se constrói. As ligações entre aquilo que já existe e o novo são muito importantes para o resultado final. Há muitas falhas em termos de conhecimento das próprias empresas, e esse é um caminho para a intervenção do LNEC. Gostaria que se fizesse um conjunto do tipo daquilo a que se chama Especificações LNEC, ou seja, documentos que ajudem as empresas, e que também ajudem a própria sociedade a perceber se o produto que lhe é vendido tem qualidade. EJ – Acho que aí há mais espaço para a interação com a universidade: combinar cursos de formação, que simultaneamente passam para os técnicos essas Especificações LNEC. CP – Um desafio que o LNEC e as universidades têm é o de serem capazes de fazer com que o conhecimento existente nos vários centros de investigação que, desde os anos 80, 90, se desenvolveram em Portugal, na área da Engenharia Civil, seja passado para a prática. JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 9 10_13 o lnec sistemas semi-ativos para a mitigação de vibrações em edifícios com isolamento de base sujeitos a ações sísmicas Fernando Oliveira, Bolseiro, FCT/LNEC Paulo Morais, Investigador Auxiliar, LNEC Afzal Suleman, Investigador Principal, IDMEC-IST INTRODUÇÃO No projeto e construção de estruturas têm vindo a ser aplicados, de forma crescente, princípios sustentáveis tendo em atenção as ações a que as referidas estruturas poderão vir a estar sujeitas. Visando a mitigação dos efeitos produzidos por ações sísmicas recorre-se cada vez mais à utilização de sistemas complementares com o objetivo destes sistemas dissiparem parte substancial da energia imposta pelo sismo, ficando assim a estrutura menos vulnerável. Esses sistemas podem ser classificados como: i) Passivos; ii) Semi-activos; iii) Activos; iv) e Híbridos; [1]. Uma das soluções que tem vindo a ser frequentemente utilizada em edifícios é o isolamento de base que se enquadra na classe dos sistemas passivos. Um edifício com isolamento de base compreende a utilização de uma superfície de descontinuidade no plano horizontal entre a fundação (subestrutura) e a estrutura (superstrutura) através de aparelhos de apoio (isoladores) que conferem à estrutura uma elevada rigidez vertical e uma baixa rigidez horizontal. Esta solução tem vindo a ser concretizada em vários edifícios nomeadamente os de importância vital para a proteção civil, tais como hospitais, quartéis de bombeiros, 10 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 centros de comunicação, entre outras, que indubitavelmente devem permanecer operacionais após a ocorrência dum sismo [2-3]. Contudo, para certos tipos de ações sísmicas é referido na literatura que os deslocamentos observados ao nível dos isoladores podem tornar-se incompatíveis com a envolvente da estrutura [4]. Para minorar este problema é necessário desenvolver soluções que conduzam à redução do deslocamento ao nível dos isoladores sem aumentar a resposta da superstrutura. Nesse sentido, têm sido recentemente estudadas e propostas estruturas com isolamento de base e amortecedores viscosos instalados ao nível da interface de isolamento [5]. Muito embora esta solução requeira menos recursos, alguns estudos referem que as respostas da estrutura, para determinadas ações sísmicas, agravam-se em relação à solução original [4]. Por outro lado, o recurso a dispositivos do tipo ativo, mais eficazes, nem sempre é fiável, uma vez que requerem potências instaladas elevadas não sendo possível garantir que estejam operacionais durante a ocorrência do evento sísmico. As soluções que recorrem a dispositivos do tipo semi-ativo surgem, assim, como um compromisso que reúne as melhores características das soluções anteriores. Os dispositivos semi-ativos podem ser vistos como soluções passivas preparadas para terem características variáveis que são controladas em função da resposta da estrutura. Amortecedores do tipo magneto-reológico ou os amortecedores do tipo viscoso de característica variável são alguns dos exemplos de dispositivos utilizados em sistemas semi-ativos [6]. Este trabalho de investigação procurou avaliar as potencialidades dos sistemas semi-ativos associados a edifícios com isolamento de base (denominados por sistemas híbridos) na redução de vibrações impostas por ações sísmicas. Recorre-se à modelação matemática para exemplificar o conceito e depois explorase a modelação física para validar a solução. Os resultados mostram que a solução híbrida proposta revela um desempenho melhor que a solução passiva. SISTEMA HÍBRIDO: ISOLAMENTO DE BASE COM SISTEMA SEMI-ATIVO A estrutura híbrida compreende a estrutura isolada com sistemas semi-ativos sendo o conjunto visto como um sistema controlado em anel fechado (Fig. 1). Desta forma, as respostas dos sensores são utilizadas na deter- Superstrutura Dispositivo SA Aparelhos de Apoio ag Sistema Dispositivo SA Isolamento de Base Ação Sísmica z Estrutura Superstrutura e Isol. Base f u y Controlador >1 base. Foram abordadas as estratégias do tipo ‘seguimento de força’ com recurso a: controlo com ação integral; controlo com regulador linear quadrático; e controlo preditivo. Foi ainda considerada uma estratégia de controlo não linear do tipo linearização por realimentação de entrada-saída. MODELAÇÃO MATEMÁTICA DO SISTEMA HÍBRIDO O desempenho das soluções propostas foi avaliado num modelo de um edifício típico com 10 pisos e isolamento de base (3 primei- ros modos: f1=0,39 Hz, ξ1=9%, f 2=2,99 Hz, ξ2=6%, f3=5,87 Hz e ξ3=7%) e equipado com amortecedores de característica variável. Consideraram-se ações típicas para o território português (10 ações tipo 1.1 e 10 ações do tipo 2.1, segundo o Eurocódigo 8 [7]). Os resultados das simulações numéricas (Fig. 2) efectuadas mostram que as soluções estudadas permitem a redução dos deslocamentos relativos e das acelerações absolutas. Observa-se que para a mesma redução de deslocamentos relativos a solução com sistemas semi-ativos reduz melhor as acelerações que a melhor solução do tipo passivo (Passivo Cid): cerca de 20% e 35% melhor para ações do tipo 1 e 2 respetiva- modelo linear respostas (valores de pico) à acão do tipo 2 mf x10 10 mf x9 9 mf x8 8 mf x7 7 mf x6 6 mf x5 5 mf x4 mf x3 3 3 mf x2 2 2 mf x1 x0 1 1 mi Dispositivo ag Modelos unidirecional c/11 GDL 10 9 Original Passivo Cid 7 Passivo Cmax Semi-Ativo Passivo Cmax Semi-Ativo 6 4 0 gnd Original 8 Passivo Cid piso piso Sistema linar com massa, rigidez e amortecimento constantes em altura Superstrutura: Estrutura mista de 10 pisos respostas (valores de pico) à acão do tipo 1 Isolamento de Base minação das variáveis de controlo associadas ao dispositivo amortecedor e que modifica as suas caraterísticas, com vista a minimizar os efeitos (respostas da superstrutura) produzidos pela ação sísmica. Os sistemas resultantes da associação da estrutura com o dispositivo semi-ativo exibem um comportamento não linear mesmo quando a estrutura e o dispositivo podem ser descritos por modelos lineares. Como a variável de controlo é limitada na sua amplitude o problema de controlo torna-se ainda mais complexo. O comportamento dinâmico deste tipo de estruturas é dominado pelo primeiro modo de vibração, o qual está essencialmente associado à deformação dos isoladores. Assume-se para efeitos de estabelecimento das leis de controlo que a superstrutura é rígida e, consequentemente, o controlo é colocado, entendendo-se por tal que a aplicação da ação de controlo é efetuada no mesmo ponto da medição das respostas. Em termos de implementação prática esta solução é compacta, tal como uma solução do tipo passivo, uma vez que os sensores, unidade de processamento e fonte de alimentação podem ser integrados junto do dispositivo semi-ativo. O desempenho final da estrutura depende da estratégia de controlo utilizada e em particular do ajuste dos parâmetros do controlador. Estabeleceram-se várias estratégias de controlo para este tipo de sistemas dando-se ênfase àquelas que trazem vantagens de desempenho sísmico em edifícios com isolamento de 5 4 0 Mag = 4,5 m/s2 0 0.1 0.2 Mxrg (m) 0.3 1.2 1.4 1.6 1.8 2 2.2 Ma (m/s2) gnd Mag = 3,8 m/s2 0 0.05 0.1 Mxrg (m) 0,6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 Ma (m/s2) >2 > Figura 1: Edifício com isolamento de base e sistema semi-ativo (esquerda); respetivo anel de controlo (direita). > Figura 2: Modelo da estrutura com 10 pisos e isolamento de base (esq.) e respostas a ações sísmicas do tipo 1 (centro) e do tipo 2 (direita) em termos da média dos valores de pico de deslocamentos relativos (Mxrg) e acelerações (Ma) para estrutura original, com dispositivo Passivo e com dispositivo Semi-Ativo. JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 11 o lnec mente. A solução com amortecimento máximo (Passivo Cmax) conduz a deslocamentos mais baixos mas amplifica as acelerações. MODELAÇÃO FÍSICA DO SISTEMA HÍBRIDO >3 Modelo 2 GDL massa ms Transdutor de massa mI molas k Dispositivo SA I molas ks Deslocamento Transdutor de Força Atuador & T. Desloc. P. Sísmica Acelerómetro Plataforma Sísmica Sistema de Aquisição e Controlo Referência p/ Disposivo SA Servo Controlador Grupo Hidráulico Referência p/ P. Sísmica >4 > Quadro 1: Indicadores de desempenho das várias soluções (casos passivos e semi-ativo) em termos de redução dos valores de pico médios em relação aos da estrutura original para os deslocamentos relativos (Rxig , Rxsi) e acelerações (Rai , Ra s). Valores em termos percentuais: positivos (+) indicam amplificações; negativos (-) indicam reduções. Modelo 2 GDL Ação tipo 1 Sistema / Ação tipo 2 Variável Rxig Rxsi Rai Ras Rxig Rxsi Rai Ras Passivo 1 -55 -33 -6 -33 -48 -19 41 -19 Passivo 5 -81 29 69 29 -79 67 185 67 SA -55 -43 -4 -44 -48 -32 26 -32 Desenvolveu-se a um modelo experimental de dois graus de liberdade com caraterísticas dinâmicas equivalentes às do modelo de um edifício de 10 pisos com isolamento de base (ajuste das duas primeiras frequências naturais), para validar as soluções estudadas. A solução proposta compreende um sistema com duas massas (mi e ms) interligadas por quatro molas (ki e ks) e montadas sobre rodas na plataforma sísmica de um grau de liberdade do LNEC (Fig. 3 e 4). O dispositivo semi-ativo utilizado é do tipo magneto-reológico e compreende um conjunto com controlador de corrente e amortecedor. A medição das grandezas físicas e a implementação das estratégias de controlo no modelo descrito é efetuada com recurso: i) a sensores - três acelerómetros, três transdutores de deslocamento e um transdutor de força para medição de acelerações, deslocamentos e força; ii) hardware e software – um sistema de aquisição de dados e controlo; sistema de condicionamento de sinal para alimentação e ajuste dos sinais elétricos dos sensores (interface entre os sensores e sistema de medição). Efetuouse a caraterização metrológica do sistema de medição e procedeu-se à caraterização experimental de cada um dos componentes mecânicos do sistema. A partir dos modelos parametrizados foi construído o modelo dinâmico do sistema e realizadas simulações numéricas para extração de resultados e comparação com os resultados obtidos na experiência realizada na plataforma sísmica. Foram consideradas as mesma ações sísmicas referidas anteriormente com fatores de escala de 0,16 e 0,40 nas ações do tipo 1 e tipo 2 respetivamente por forma a satisfazer as limitações físicas da instalação experimental. Os resultados obtidos (Quadro 1) mostram novamente que a solução recorrendo > Figura 3: Instalação experimental: sistema mecânico com dois graus de liberdade (2GDL) instalado na mesa sísmica uniaxial do LNEC. > Figura 4: Representação esquemática da instalação experimental. 12 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 a sistemas semi-ativos conduz a um melhor desempenho que a melhor solução passiva (Passivo 1), pois com a primeira conseguem-se maiores reduções em relação à estrutura original em termos de acelerações e deslocamento relativo do grau de liberdade superior para o mesmo nível de deslocamentos relativos ao nível dos isoladores (ver valores a negrito e sublinhados). Tal como anteriormente a solução passiva com maior dissipação (Passivo 5) conduz a deslocamentos mais baixos mas amplifica as acelerações. CONCLUSÕES PUB A associação de dispositivos semi-ativos a estruturas com isolamento de base constitui uma solução híbrida que evidencia um desempenho melhor que a melhor solução passiva na redução de vibrações impostas por ações sísmicas. Com esta solução consegue-se reduzir o deslocamento relativo do sistema de isolamento e também as respostas associadas à superstrutura, de forma mais eficaz que a solução passiva. Com esta última regulada para maior dissipação de energia é possível reduzir ainda mais o deslocamento relativo ao nível dos isoladores mas as respostas associadas à superstrutura aumentam em relação à solução original. Como a solução proposta se baseia numa estratégia de controlo colocado, a implementação em edifícios com isolamento de base simplifica-se uma vez que todo o sistema semiativo a associar à estrutura (sensores, unidade de processamento, fonte de alimentação e dispositivo semi-ativo) pode ser concebido num conjunto compacto, semelhante ao de uma solução passiva. REFERÊNCIAS [1] Soong T.T., Spencer Jr. B.F., Supplemental energy dissipation: state-of-the-art and state-of-the-practice, Engineering Structures 24(3), 2002, pp. 243–259. [2] Lopes M., Sismos e Edifícios (1ª edição), Edições Orion, Amadora, 2008. [3] Chopra A. K., Dynamics of Structures: Theory and Applications to Earthquake Engineering (2nd edn), Prentice-Hall, New York, 1995. [4] Kelly J.M., The Role of Damping in Seismic Isolation, Earthquake Engineering and Structural Dynamics 28(1), 1999, pp. 3-20. [5] Wolff E. D., Constantinou M. C., Experimental Study of Seismic Isolation Systems with Emphasis on Secondary System Response and Verification of Accuracy of Dynamic Response History Analysis Methods, Report No. MCEER-04-0001, Buffalo, NY, 2004. [6] Symans, M.D. and Constantinou, M.C., Semi-active control systems for seismic protection of structures: a state-of-the-art review, Engineering Structures 21(6), 1999, pp. 469–487. [7] NP EN 1998-1, Eurocodigo8, Projecto de Estruturas para Resistência aos Sismos – Parte1: Regras Gerais, Acções Símicas e Regras para Edifícios, Instituto Português da Qualidade, 2010. Inovação é quando o conforto começa logo na instalação. Schlüter®-DITRA-HEAT-E O inovador sistema para a climatização eléctrica do piso não se limita a aquecer de uma forma muito rápida e eficiente como exactamente onde é necessário. E graças ao desacoplamento conjunto com a tecnologia DITRA comprovada, tal se torna mesmo possível sobre bases críticas. Prático para o instalador: os fios de aquecimento são simplesmente encaixados entre os cones. Isto é extremamente rápido e muito fácil. Schlüter ®-DITRA-HEAT-E. Confie no original. www.schluter.pt JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 13 14_17 o lnec geotecnia ambiental: proteção, valorização e reabilitação de recursos naturais António José Roque, Investigador Principal do LNEC A Geotecnia Ambiental (GA) é a subdisciplina científica da Geotecnia que procura minimizar os efeitos de impactes antrópicos no ambiente. O seu surgimento, algumas décadas após a Mecânica dos Solos, a Mecânica das Rochas e a Geologia de Engenharia, igualmente subdisciplinas da Geotecnia, deveu-se à necessidade de dar resposta às manifestações públicas de descontentamento crescente após cada novo incidente/acidente ambiental, à tomada de consciência das autoridades públicas que a eliminação dos resíduos sem nenhum controle constituía uma fonte importante de contaminação dos solos e dos recursos hídricos e, assim, uma ameaça à qualidade de vida das populações, e ao facto da quantidade de resíduos continuar a aumentar. Entre os primeiros e mais importantes incidentes/ acidentes ambientais desencadeadores da perceção dos riscos ambientais estão o armazenamento de 3.000 toneladas de arsénio e de cianeto num lago alemão, em 1971; a descoberta de bidões de cianeto abandonados num local utilizado como jardim-de-infância próximo de Nuneaton, na Grã-Bretanha, em 1972; e a fuga de lixiviados e de gás tóxicos em Love Canal, Nova Iorque, nos EUA, em 1977. A abordagem profissional e racional a respeito dos riscos que as obras de engenharia e a atividade humana podem causar ao ambiente é cada vez mais importante e valorizada nas sociedades modernas. O âmbito de intervenção da GA envolve as 14 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 atividades e os processos relacionados principalmente com as seguintes áreas: – deposição de resíduos em aterro; – prevenção da contaminação dos solos e dos recursos hídricos; – remediação de terrenos contaminados; – reciclagem de resíduos; – reabilitação de áreas degradadas; – estudos de impacte ambiental; e – melhoramento in situ do comportamento mecânico de resíduos. As primeiras intervenções do Departamento de Geotecnia (DG) do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) nos domínios da GA tiveram início na primeira metade da década de 90, havendo, por isso, um cúmulo de experiência, ao longo de 25 anos, em atividades de investigação, consultoria, desenvolvimento de equipamentos para ensaios de laboratório e de campo e prática experimental na sua realização, produção de documentos regulamentares (ex., normas e especificações), ensino e gestão de ciência e tecnologia. A especialização e atualização dos investigadores do LNEC é contínua e permanente, designadamente, através da realização de pós-graduações em universidades nacionais e estrangeiras, em particular das dissertações de mestrado e das teses de doutoramento, da participação em cursos e conferências nacionais e internacionais, e da cooperação com universidades e entidades dos domínios público do estado e privado, em candidaturas a projetos de investigação nacionais e comunitários. Em todas as ações que contribuem para o melhoramento e o aperfeiçoamento dos conhecimentos, o principal foco é que estas possam, por um lado, dar resposta aos diversos problemas ambientais da sociedade civil, e por outro, ir ao encontro das principais preocupações e expetativas da tutela, dos parceiros e dos clientes. Na atividade experimental, quer laboratorial quer de campo, existe uma equipa técnica com formação igualmente especializada, competente e experiente. Na área da Deposição de Resíduos em Aterro e da Prevenção da Contaminação dos Solos e dos Recursos Hídricos, a GA do LNEC vem desenvolvendo, desde meados da década de 90, importante atividade de consultoria no estudo de sítios e na fase de projeto, mas, principalmente, no controlo da qualidade da construção dos aterros de resíduos (figura 1), mediante, por ex., as ações e os processos que envolvem a utilização dos geossintéticos e dos solos, onde se inclui a elaboração de Planos de Garantia de Qualidade. No âmbito da consultoria, presta-se igualmente assistência técnica ao dono de obra e à fiscalização na implementação dos Planos e procede-se à realização de ensaios de verificação da conformidade dos materiais em laboratório e no campo. Ainda no domínio dos aterros de resíduos, foi solicitada ao LNEC, entre 2003 e 2004, a avaliação da conformidade de sistemas de deposição em >1 aterro, existentes e em fase de projeto, com os requisitos técnicos e legais relevantes para a garantia da sua qualidade. A prestação de serviços neste tipo de obras é apoiada em meios laboratoriais e de campo existentes na Unidade de Geossintéticos (UGeoS) e na Unidade de Resíduos e Solos Contaminados em Geotecnia (UGeoAmb). Na UGeoS podem ser realizados, entre outros, os ensaios seguintes: massa por unidade de área, porometria, permeabilidade no plano e normal ao plano, fluência à compressão (todos em geotêxteis e produtos afins); resistência das juntas (corte e arranque) das geomembranas; e massa por unidade de área, índice de expansibilidade, índice de fluxo/permeabilidade ao líquido (todos em geocompósitos bentoníticos). Para além disso, no âmbito de um projeto de investigação, foi desenvolvido um equipamento, designado por GeoSafe (figura 2), para a deteção e localização semiautomática de orifícios em geomembranas aplicadas no sistema de confinamento basal dos aterros >3 >2 de resíduos. Na UGeoAmb existem valências para a realização dos ensaios seguintes: azul-de-metileno, permeabilidade e difusão. Para além dos meios experimentais existentes nestas duas Unidades, também se recorre ao método geofísico da resistividade elétrica, como se verificou, por ex., no estudo relativo à ressurgência de lixiviado a jusante do Aterro de Resíduos de Mato da Cruz; na avaliação da cota do lixiviado na massa de resíduos do Aterro do Barlavento Algarvio; e no estudo de sítio do Novo Aterro de Resíduos da Resulima. Neste último, foi igualmente utilizado o método geofísico da refração sísmica. Na Remediação de Terrenos Contaminados existem valências na planificação e aceção de estudos diversificados de avaliação ambiental relativos aos diferentes compartimentos ambientais, mas com particular incidência no solo, na rocha, na água subterrânea e nos sedimentos (ex., contaminação dos solos por explosivos e metais no local do Novo Aeroporto de Lisboa, em Alcochete); na elaboração de especificações técnicas para a recolha de amostras de solos e de água, seu transporte e respetiva análise laboratorial, apropriadas à execução de estudos para determinação de potenciais contaminações por compostos orgânicos e inorgânicos (ex., especificações técnicas para a avaliação da contaminação dos solos na Base Aérea das Lajes e nas áreas associadas); na definição de metodologias para a abordagem de áreas mineiras degradas (ex., caso de estudo da mina de ouro de Santo António, em Penedono, figura 3); e na implementação de metodologias de remediação de locais e de materiais contaminados e de metodologias de análise laboratorial (ex., ensaios piloto para a utilização do ferro zero nanoparticulado em locais contaminados por metais; bioremediação de balastro de ferrovias contaminado por óleos; determinação do teor em cimento de solos tratados por soilmixing). A UGeoAmb está equipada com meios experimentais para determinar, em laboratório e no campo, a concentração de espécies químicas inorgânicas por Fluorescência de Raios-X (figura 4) e o teor em cimento dos solos tratados por soilmixing. Também nesta área se tem utilizado o método geofísico da resistividade elétrica, entre outros, no estudo da contaminação ambiental com derrame por hidrocarbonetos na Base Aérea das Lajes, no estudo da remediação de aquíferos em programas de investigação financiados pela Comunidade Europeia, e em locais de áreas mineiras degradadas. Para a atividade desenvolvida nesta área muito contribuíram a participação em projetos europeus, como por ex., o Concerted Action for Risk Assessment for Contaminated Sites in Eu- >4 > Figura 1: Controlo da qualidade da construção dos aterros de resíduos. > Figura 2: GeoSafe – deteção e localização de orifícios em geomembranas. > Figura 3: Caso de estudo de solos contaminados – mina de ouro de Santo António. > Figura 4: Avaliação do teor em metais por FRX em materiais contaminados. JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 15 o lnec >5 >6 rope (CARACAS, 1996-1998) e o Contaminated Land Rehabilitation Network for Environmental Technologies (CLARINET, 1998-2000). Atualmente, o LNEC é parceiro da Network for Industrially Contaminated Land in Europe (NICOLE). Refere-se ainda a produção de documentos normativos, como por ex. a transposição da Lista Europeia de Resíduos (LER). A contribuição da GA do LNEC para a Reciclagem de Resíduos iniciou-se no princípio deste século, tendo-se estudado até ao presente sete tipos de resíduos: lamas provenientes do corte e polimento de mármores; lamas das Estações de Tratamento de Água de abastecimento público; finos da produção de agregados em pedreiras de granito; escórias de aciaria provenientes da produção do aço; e resíduos de construção e demolição. Os resultados obtidos evidenciaram a viabilidade técnica da utilização destes materiais reciclados numa ou em várias das aplicações seguintes: aterros estruturais, camadas de drenagem, camada de confinamento basal de aterros de resíduos, camada de leito de pavimento rodoviário, entre outras. No caso das escórias de aciaria, o estudo realizado em parceria com a Universidade do Minho e o Centro para a Valorização de Resíduos, permitiu que a Siderurgia Nacional iniciasse a sua comercialização como um agregado reciclado, o Agregado Siderúrgico Inerte para a Construção (ASIC), com marcação CE (figura 5). O mesmo se prevê que aconteça com outros, como é o caso, em particular, dos resíduos de construção e demolição, cuja utilização em obra já é contemplada na versão mais recente do Caderno de Encargos Tipo Obra da Estradas de Portugal. Ao nível dos resíduos de construção e demolição registam--se a intervenção na revisão do Decreto-Lei n.º 46/2008, de 12 de março, e as participações no grupo de trabalho que elaborou as especificações LNEC E 474 (figura 6) e no projeto FCT Suprema – Aplicação Sustentável de Resíduos de Construção e Demolição em Infraestruturas Rodoviárias. A atividade experimental em laboratório e no campo na área da reciclagem de resíduos é assegurada pela UGeoAmb. Alguns dos ensaios que podem ser realizados na UGeoAmb são: massas volúmicas, porosidade, teor máximo em água de absorção, desgaste em meio aquoso, permeabilidade e lixiviação. Nos casos em que há necessidade, a UGeoS e a UGeoAmb recorrem à Unidade de Solos, Enrocamentos e Misturas (UGeoMat), do mesmo Departamento, ou a outras unidades do LNEC. Na Reabilitação de Áreas Degradadas, o LNEC desenvolveu intensa atividade no âmbito da apreciação de candidaturas/projetos do programa de recuperação de áreas mineiras degradadas, entre 2004 e 2006. Mais recentemente, desde 2010, intervém no estudo para a reabilitação do passivo ambiental resultante da deposição de resíduos perigosos nas escombreiras da antiga mina de carvão de > Figura 5: Construção de aterro com ASIC em via rodoviária. > Figura 6: Especificações LNEC para a reciclagem de RCD em obras de engenharia civil. > Figura 7: Passivo ambiental nas escombreiras da antiga mina de carvão de São Pedro da Cova. 16 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 São Pedro da Cova, em Gondomar (figura 7). No âmbito dos Estudos de Impacte Ambiental o DG tem desenvolvido atividade na análise de conformidade de Estudo de Impacte Ambiental (EIA) e no processo de Avaliação de Impacte Ambiental de empreendimentos de grande valor económico ou de grande extensão linear e de instalações de atividades potencialmente perigosas (ex., análise da conformidade dos EIA referentes à Linha de Alta Velocidade e parecer sobre as novas Instalações da Carmona – Limpeza e tratamento de combustíveis e óleos queimados). Com o objetivo de acompanhar as principais preocupações da sociedade civil e dar as melhores respostas às solicitações exteriores, os investigadores do LNEC com competências científicas e técnicas em GA trabalham em vários projetos de investigação, a seguir referidos, para adquirir novas competências: i) confinamento com barreiras verticais de contaminações no subsolo, em particular em áreas com águas subterrâneas; ii) monitorização da poluição no subsolo com recurso ao método geofísico da resistividade elétrica; iii) desenvolvimento e aplicação de metodologias emergentes na reabilitação de áreas contaminadas; iv) inventariação da contaminação em solos com atividade agrícola; v) reciclagem de resíduos mineiros em geotecnia; vi) modelação da perigosidade ambiental dos resíduos aplicados nas obras geotécnicas com base >7 vem a sua atividade na área da GA é comprovada pelos convites para lecionarem nas universidades (ex., Diploma de Formação Avançada em Geotecnia para Engenheiros Civis, do IST/UNL/ LNEC) e em cursos (ex., FUNDEC e APEMETA); PUB em critérios de desempenho; e vii) estabelecimento de critérios de classificação de balastro contaminado de ferrovias. O reconhecimento das capacidades e do prestígio dos investigadores do LNEC que desenvol- integrarem os órgãos diretivos de comissões técnicas nacionais (ex., Comissão Portuguesa de Geotecnia Ambiental e Comissão Portuguesa de Geossintéticos, ambas da Sociedade Portuguesa de Geotecnia); serem membros de comissões técnicas nacionais (ex., Comissão Portuguesa de Geotecnia nos Transportes) e internacionais (ex., TC215 – “Environmental Geotechnics”, da International Society for Soil Mechanics and Geotechnical Engineering” e C27 – “Environmental Aspects of Constrution Materials”, da International Association of Engineering Geology and the Environment); e reverem artigos para revistas e conferências nacionais e internacionais, entre outros. O autor agradece as contribuições dos seus colegas, igualmente investigadores do LNEC, Doutora Celeste Jorge, Doutora Madalena Barroso e Doutor Rogério Mota, para a elaboração deste artigo. JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 17 18_20 o lnec apoio ao projeto e construção recente de grandes barragens de betão e obras subterrâneas António Lopes Batista, José Vieira de Lemos, Luís Lamas, António Tavares de Castro LNEC 1. INTRODUÇÃO Desde a sua criação, em 1946, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) tem dado um apoio significativo ao projeto e à construção de barragens de betão e obras subterrâneas associadas, tanto em Portugal como no estrangeiro, em estudos e atividades relacionados com a caracterização dos maciços rochosos, a definição de formas estruturais e hidráulicas, utilizando modelação física e matemática, a análise estrutural por métodos experimentais e numéricos, e na observação do comportamento e no controlo da segurança das obras. No sentido de reduzir a dependência energética de Portugal, nos últimos anos tem vindo a ser aumentada a capacidade de produção hidroelétrica, com o reforço de potência de aproveitamentos existentes e com a construção de novos aproveitamentos. Destacam-se cinco reforços de potência e novos aproveitamentos que integram doze grandes barragens de betão (Figura 1), destinando-se a barragem do Alto Ceira II a substituir a antiga, que já não era possível reabilitar. O LNEC foi novamente solicitado a dar apoio ao projeto estrutural e hidráulico e à implementação do plano de observação das obras. Decorrente das suas atribuições no Regulamento de Segurança de Barragens (RSB), 18 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 o acompanhamento do comportamento das obras pelo LNEC prossegue no primeiro enchimento da albufeira, que constitui um verdadeiro ensaio de carga das estruturas e fundações, e prolonga-se nas fases de exploração e eventual abandono e demolição, por forma a garantir-se a segurança em todas as fases de vida. Para tal dispõe de um sistema integrado de arquivo e gestão da informação relativa à observação do comportamento das obras, que suporta o controlo da segurança nas vertentes estrutural, hidráulica e ambiental. A intervenção do Departamento de Barragens de Betão (DBB) do LNEC no apoio ao projeto estrutural destas obras envolveu um vasto conjunto de atividades, nomeadamente o estudo dos maciços rochosos, os estudos em modelo matemático para análise da segurança estrutural, considerando os três cenários principais (as ações sísmicas, a degradação do betão e a rotura pelo maciço rochoso de fundação) e a elaboração de planos de observação. Estes estudos foram realizados diretamente para os concessionários ou para as empresas encarregues da elaboração dos projetos. A atividade do LNEC na construção das obras tem sido de carácter diversificado, nomeadamente na caracterização do comportamento de materiais, no acompanhamento das escavações de fundações e de obras subterrâneas associadas e na implementação dos planos de observação. 2. ESTUDOS DE APOIO AO PROJETO Para caracterização geomecânica dos maciços rochosos de fundação das barragens, bem como das obras subterrâneas associadas (circuitos hidráulicos e centrais subterrâneas), foi realizado um vasto conjunto de estudos, incluindo principalmente ensaios de campo e de laboratório. Estes estudos incluíram: levantamentos da compartimentação dos maciços de fundação; caracterização da deformabilidade dos maciços rochosos por diversos tipos de ensaios de campo; e medição do estado de tensão in situ para as obras subterrâneas utilizando a combinação de várias metodologias. Foi executado um grande número de ensaios laboratoriais para caracterização da resistência e da deformabilidade, quer de provetes de rocha quer das superfícies de descontinuidade do maciço. Os estudos de análise estrutural para apoio ao projeto das novas barragens compreenderam a análise em modelos numéricos das diversas situações de projeto, nomeadamente de cenários correntes de exploração e de cenários de rotura, tendo-se centrado principalmente nestes últimos. Foram utilizados os métodos dos Novas barragens e reforços de potência 1 Alto Ceira II Ceira 2 Baixo Sabor (montante) Sabor 3 Baixo Sabor (jusante) Sabor 4 Ribeiradio Vouga 5 Ermida Vouga 6 Foz Tua Tua 7 Fridão (montante) Tâmega 8 Fridão (jusante) Tâmega 9 Alvito Ocreza 10 Alto Tâmega Tâmega 11 Daivões Tâmega 12 Gouvães Torno/Tâmega 13 Girabolhos Mondego 14 Picote II Douro 15 Bemposta II Douro 16 Alqueva II Guadiana 17 Salamonde II Cávado 18 Venda Nova III Rabagão >1 >2 >3 Rio >4 Concessionário EDP Iberdrola elementos finitos, das diferenças finitas e dos elementos discretos, que foram escolhidos em função dos objetivos dos estudos (Figuras 2 e 3). Nas obras subterrâneas modelou-se o comportamento deformacional nas fases de escavação e colocação dos suportes (Figura 4). O LNEC elaborou ainda os planos de observação de diversas barragens, a pedido dos concessionários, e reviu os que não elaborou, no âmbito da intervenção definida pelo RSB para as barragens de maior risco potencial, incluídas na classe I daquele regulamento. Endesa EDP 3. ACOMPANHAMENTO DA CONSTRUÇÃO Devido ao pequeno investimento realizado nas últimas décadas na construção de grandes barragens de betão, existe uma experiência limitada nas empresas de projeto, construção civil e fiscalização, em instrumentação de barragens. Neste contexto, a EDP, o maior concessionário de grandes aproveitamentos hidroelétricos, decidiu recorrer aos serviços do LNEC, através do DBB, para a constituição de equipas especializadas de instrumentação (EEI). Estas equipas, que integram técnicos permanentemente deslocados nas obras, assumem particulares responsabilidades em todas as atividades relacionadas com a instrumentação e a observação das obras. No que respeita às obras subterrâneas, o LNEC tem vindo a acompanhar a realização das escavações, a implementação dos sistemas de observação e o primeiro enchimento e entrada em funcionamento das obras. Destaca-se ainda um protocolo de colaboração entre a EDP e o Departamento de Materiais do LNEC, ao abrigo do qual são realizados estudos específicos sobre os materiais a utilizar nas obras em construção ou em reabilitação. Deve também ser referida a colaboração do Departamento de Geotecnia do LNEC na realização de ensaios para controlo da qualidade dos trabalhos de tratamento das fundações rochosas. > Figura 1: Localização das treze novas barragens de betão e dos cinco reforços de potência. > Figura 2: Barragem de montante do aproveitamento hidroelétrico do Baixo Sabor. Vista da obra no final da construção e perspetiva do modelo de elementos discretos utilizado no estudo do comportamento sísmico. > Figura 3: Perspetiva do modelo da barragem de Girabolhos, utilizado para estudo de cenários de rotura pela fundação, considerando blocos no maciço rochoso e elementos finitos na barragem. > Figura 4: Perspetiva do modelo numérico da central subterrânea de Salamonde II, utilizado para o acompanhamento das escavações. JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 19 o lnec Finalmente salienta-se a colaboração do DBB na definição dos sistemas de observação geodésica e na realização de campanhas para a medição de deslocamentos na generalidade das grandes obras. 4. SÍNTESE DAS ATIVIDADES REALIZADAS No Quadro 1 apresenta-se uma síntese das atividades realizadas pelo LNEC, nos últimos anos, no apoio ao projeto de treze grandes barragens de betão portuguesas, bem como na construção de seis delas. Nos reforços de potência de Picote II, Bemposta II e Alqueva II, levados a efeito entre 2006 e 2012, o LNEC efetuou a caracterização dos maciços rochosos, fez estudos de apoio ao projeto e acompanhou a realização das escavações, a implementação dos sistemas de observação e a entrada em funcionamento das obras. Para as obras similares em curso, nomeadamente Salamonde II, Venda Nova II e Foz Tua, o envolvimento do LNEC tem sido, em tudo, semelhante. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O projeto e a construção, nos últimos anos, de barragens de betão e de obras subterrâneas integradas em aproveitamentos hidroelétricos, constituíram um desafio importante para a engenharia portuguesa, quer pelo número e dimensão das obras, quer pela necessidade de recorrer a tecnologias adequadas para satisfazer os requisitos de segurança, ambientais e económicos. O LNEC teve um envolvimento significativo nos estudos de apoio ao projeto, nas suas diversas vertentes, desde a prospeção dos locais de implantação das obras até à modelação dos comportamentos estruturais e hidráulicos, bem como na definição ou revisão de planos de observação e de primeiro enchimento. O apoio do LNEC, que tem prosseguido na construção, primeiro enchimento das albufeiras e exploração das obras, tanto nas atividades que decorrem das suas obrigações legais no âmbito do cumprimento do RSB como em outros aspetos relacionados com o comportamento das obras, tem motivado a investigação e a inovação, através de diferentes tipos de desen- volvimentos teóricos e experimentais. A atividade do LNEC tem permitido, para além da garantia da qualidade das obras e o controlo continuado da sua segurança, a manutenção de capacidades numéricas e laboratoriais, assentes num corpo técnico especializado, constituído por investigadores e experimentadores. Estas capacidades têm estado ao serviço dos diferentes agentes envolvidos na engenharia de barragens, nomeadamente donos de obra, empresas de construção e de fiscalização, bem como autoridades estatais responsáveis pelo acompanhamento das obras, tanto em Portugal como no estrangeiro. 6. NOTA Colaboraram nos estudos referidos, para além dos autores, os investigadores do DBB Carlos Serra, Eduardo Bretas, Eliane Portela, Ivo Dias, João Casaca, Jorge Pereira Gomes, José Muralha, José Nuno Lima, José Piteira Gomes, Margarida Espada, Maria Luísa Braga Farinha, Noemi Leitão, Nuno Azevedo, Ricardo Resende, Romano Câmara e Sérgio Oliveira. > Quadro 1: Estudos realizados pelo LNEC para apoio ao projeto e construção recente de grandes barragens de betão Caracterização geomecânica do local de implantação Análise de cenários correntes e de rotura Elaboração (E) ou revisão (R) de planos de observação (PO) e de primeiro enchimento (PE) Acompanhamento da construção Barragem Tipo estrutural Altura máxima (m) Alto Ceira II Abóbada 41,00 1992 2008 e 2011 RPO (2007) RPE (2013) 2011 a 2013 Baixo Sabor (montante) Abóbada 123,00 2004 e 2005 2008 RPO (2008) RPE (2013) EEI (2011 a 2014) Baixo Sabor (jusante) Gravidade 45,00 2004 e 2005 2008 RPO (2008 e 2013) RPE (2014) EEI (2011 a 2014) Ribeiradio Arco-gravidade 83,00 2009 2009 e 2014 RPO (2010) RPE (2014) EEI (2012 a 2014) Ermida Gravidade 35,00 — — RPO (2010) RPE (2014) EEI (2012 a 2014) Foz Tua Abóbada 108,00 2010 2010 RPO (2010) EEI (2013 a 2015) Fridão (montante) Abóbada 98,00 1989 2011 RPO (2013) (*) Fridão (jusante) Gravidade 34,00 2009 - RPO (2013) (*) Alvito Gravidade (BCC) 89,00 2010 2011 EPO (2010) (*) Alto Tâmega Abóbada 106,50 2010 e 2011 2010 e 2014 EPO (2011) (*) Daivões Arco-gravidade 77,50 2010 e 2011 2011 EPO (2011) (*) Gouvães Gravidade 30,00 2010 — EPO (2011) (*) Girabolhos Abóbada 105,50 — 2011 EPO (2011) (*) (*) Barragens cuja construção ainda não foi iniciada em meados de 2014 20 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 22_25 o lnec duas décadas de cooperação europeia no âmbito da id&i em engenharia sísmica no lnec Alfredo Campos Costa, Ema Coelho, Alexandra Carvalho, Paulo Candeias, António A. Correia LNEC 1. A ENGENHARIA SÍSMICA NO LNEC O Laboratório Nacional de Engenharia Civil tem uma longa experiência na área da Engenharia Sísmica, sendo uma das instituições de referência, a nível europeu, em todos os campos desta área das Ciências da Engenharia. A investigação europeia em Engenharia Sísmica teve início no final da década de 50, tendo sido o LNEC, na pessoa do Engenheiro Júlio Ferry Borges, o seu principal impulsionador. Desde então, assistiu-se ao estudo dos diferentes aspetos da fenomenologia ligada à caraterização da ação sísmica e ao comportamento das estruturas sujeitas à ação dos sismos, como ilustrado pelas cerca de 50 teses de mestrado e doutoramento nos diferentes domínios da Engenharia Sísmica, desenvolvidas no Núcleo de Engenharia Sísmica e Dinâmica de Estruturas (NESDE), nas duas ultimas décadas, e por mais de uma centena de investigadores visitantes, nacionais e estrangeiros. No âmbito da avaliação do risco sísmico, o LNEC tem tido um papel fundamental a nível nacional, assumindo a liderança da investigação científica nas matérias relacionadas com a perigosidade sísmica, a caraterização da ação sísmica, a avaliação do risco, e o desenvolvimento de estratégias para redução da vulnerabilidade sísmica. A preparação da regulamentação sísmica em Portugal, que data da década de 60, tem sido da responsabilidade do LNEC, que tem também 22 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 coordenado a contribuição portuguesa para o Eurocódigo 8 (EC8) relativo ao projeto sísmico de estruturas, e que assegura o secretariado técnico europeu do EC8. O LNEC tem estado envolvido, a nível europeu e nacional, em diversas atividades conjuntas de ID&I, tendo sido responsável pelo desenvolvimento de importantes estudos e contribuído para o conhecimento europeu em domínios chave da Engenharia Sísmica. A atividade continuada de investigação em cooperação permitiu o estabelecimento e a consolidação de laços significativos com a maior parte das instituições europeias e nacionais de investigação em Engenharia Sísmica. No campo experimental, o LNEC dispõe de uma instalação de ensaios sísmicos de excelência, facto a que não é alheia a grande vocação do LNEC para a investigação experimental, em todas as áreas ligadas à Engenharia Civil. Esta instalação foi integrada, desde 1995, nas Grandes Instalações Europeias de Investigação. Para além da excelência da instalação enquanto integração de importantes recursos materiais, é de salientar a interdisciplinaridade da equipa responsável pela conceção e preparação dos programas experimentais, pela complexa operação da instalação e pela análise e interpretação dos resultados, dispondo, para tal, de especialistas em todos os campos da Engenharia Sísmica, em estreita colaboração com especialistas de Instrumentação Científica. 2. BREVE HISTORIAL E CARATERÍSTICAS DA INSTALAÇÃO EXPERIMENTAL No LNEC, a atividade experimental na área da Engenharia Sísmica teve início, de forma continuada, na década de 60, no âmbito da atividade do Núcleo de Dinâmica Aplicada. Essa atividade ganhou maior dimensão e importância na década de 70, altura em que se concebeu e desenvolveu uma nova plataforma sísmica uniaxial e um novo sistema de controlo adaptativo. Posteriormente, e até final dos anos oitenta, para além de ter servido de suporte experimental em estudos de investigação científica, o LNEC explorou essa plataforma em estudos de natureza experimental, para entidades públicas e privadas, com o objetivo de testar equipamentos eletrónicos de grande sensibilidade, sujeitos à ação de vibrações intensas. Na sequência do sucesso dos primeiros ensaios, e dada a crescente exigência para o maior conhecimento do comportamento sísmico de estruturas próximo do colapso, o LNEC construiu uma das mais importantes instalações experimentais europeias de investigação científica na área da Engenharia Sísmica. O montante global envolvido na construção da infraestrutura foi da ordem de 5 milhões de Euros, e em parte financiado pela UE no âmbito do projeto SEISMIER. A candidatura a financiamento por fundos comunitários constituiu, à >1 >2 época, uma ação pioneira, associada à integração de Portugal na UE. O restante investimento proveio de financiamentos nacionais e das receitas próprias do LNEC (Figura 1). A instalação possui uma plataforma de ensaios sísmicos triaxial de grandes dimensões (6mx5m) e duas mesas sísmicas unidirecionais de menores dimensões (4mx2m e 3mx2m), localizadas numa moderna nave de ensaios, com pé-direito de 10 m, permitindo ensaiar grandes estruturas. Uma ponte rolante com capacidade 400kN e controlo de velocidade possibilita o transporte de grandes modelos físicos facilitando a utilização da instalação para repetição dos ciclos de construção, instrumentação e remoção de modelos. A instalação foi integralmente concebida e executada no LNEC, tanto o edifício e instalações anexas (arquitetura, engenharia civil e especialidades), como a plataforma sísmica triaxial (conceção e dimensionamento, supervisão da construção, especificação do sistema de comando e controlo e de outra instrumentação). Ao longo da sua exploração, foram levadas a cabo importantes beneficiações dos equipamentos. Em 2000-2001 teve lugar uma significativa melhoria da capacidade da plataforma sísmica, através da atualização do sistema óleo hidráulico que permitiu alcançar velocidades de pico de cerca de 70cm/s a 90cm/s, valores mais consentâneos com intensidades sísmicas elevadas. Dez anos mais tarde, o hardware proprietário de controlo digital e o software foram substituídos por uma plataforma informática aberta mais avançada. A nova plataforma integra componentes de eletrónica e foi montada por uma firma nacional em estreita colaboração e sob supervisão do LNEC. O software de controlo foi melhorado e totalmente reescrito em códigofonte aberto o que permite a implementação de novas estratégias de controlo e de novas metodologias de ensaio. O comando e controlo da mesa sísmica são totalmente digitais e capazes de simular registos sísmicos expressos em termos de espectros de resposta ou de séries temporais. O software de aquisição e análise de registos dos sensores que monitorizam a resposta dos modelos físicos foi desenvolvido seguindo o estado da arte em aquisição, monitorização e análise de sinal existentes em instalações congéneres europeias e mundiais (Figura 2). A plataforma sísmica triaxial está rodeada por três paredes estruturais capazes de suportar forças horizontais elevadas, aumentando a capacidade do equipamento em termos dos múltiplos arranjos de ensaios sísmicos sobre a plataforma. 3. ATIVIDADE DESENVOLVIDA A instalação começou a operar em 1996 e completadas cerca de duas décadas, foi possível realizar um número significativo de ensaios de grande envergadura. 3.1 Estudos experimentais com financiamento europeu No que diz respeito à cooperação europeia em projetos ID&I, o LNEC tem participado em inúmeros projetos integrados em diferentes redes europeias de investigação com forte componente de mobilidade de investigadores entre instituições. A exploração da instalação experimental foi durante cerca de dez anos assegurada essencialmente por financiamento europeu, no âmbito dos programas HCM – Human Capital and Mobility, TMR – Training and Mobility of Researchers, IHP – Improving Human Potential e IHR – Improving Human Research and the Socio-Economic Knowledge Base, dos IV e V Programas Quadro da União Europeia. Os projectos ECOEST (European Consortium of Earthquake Shaking Tables) e ECOLEADERLIS (European Consortium of Laboratories for Earthquake and Dynamic Experimental – Lis- > Figura 1: Edifício Ferry Borges; nave de ensaios; vista inferior da plataforma sísmica triaxial. > Figura 2: Esquema da plataforma com um modelo de um edifício; vista da sala de controlo e atuador. JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 23 o lnec >3 >4 >5 bon), financiados pelos programas HCM, TMR e IHP, enquadraram entre 1997 e 2005 o acesso à plataforma sísmica do LNEC de grupos de investigadores europeus, para a realização de estudos experimentais de dimensão significativa em colaboração com o LNEC, com financiamento integral da UE (Figura 3). O LNEC realizou, em paralelo, ensaios no âmbito de projetos de investigação em cooperação com outras instituições europeias de investigação, cofinanciados pelos mesmos programas comunitários TMR e IHP, ao abrigo da mobilidade de investigadores, e pelo programa RTD (Research, Technological Development and Demonstration, dos Programas Quadro IV e V (Figura 4). No âmbito do 6º Programa Quadro da UE a instalação desempenhou um papel importante no projeto integrado LESSLOSS (Risk Mitigation for Earthquakes and Landslides), desenvolvido entre 2004 e 2007 em colaboração com 45 instituições europeias (Figura 5). Mais recentemente, ao abrigo do 7 º ProgramaQuadro, o LNEC participou em vários projetos de investigação de grande dimensão, salientando-se os estudos experimentais do projeto integrado SERIES, na sua vertente de Acesso Transnacional ao LNEC, como Grande Instalação Europeia de Investigação em Engenharia Sísmica. Estes envolveram a colaboração com instituições de I&D e empresas do sector industrial, algumas nacionais, mas na maior parte europeias. Foram realizados ensaios sísmicos de edifícios de madeira em escala real, de edifícios novos de alvenaria (em escala real ou pouco reduzida) incluindo soluções que visam melhorar a sua resistência sísmica, de edifícios de betão armado com painéis de enchimento em alvenaria, e ainda de diferentes soluções de reforço em edifícios antigos de alvenaria (Figura 6). Refere-se ainda o projeto SAFECAST que deu continuidade à investigação experimental em estruturas pré-fabricadas de betão armado >6 > Figura 3: Ensaio sísmico de pórticos de betão armado: a) preenchidos com painéis de alvenaria; b) reforçados com dispositivos dissipadores de energia. > Figura 4: Ensaios sísmicos a) paredes de betão fracamente armadas; b) edifício em alvenaria de pedra; c) estrutura metálica; d) edifício em betão armado irregular em planta. > Figura 5: Fluxograma da aplicação LNECloss para simulação de cenários sísmicos e apoio à decisão. > Figura 6: Ensaios sísmicos de edifícios de madeira em escala real, de um edifício de betão armado com enchimento em alvenaria, e de edifícios de alvenaria. 24 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 em colaboração com diversas instituições europeias de investigação e com empresas europeias de pré-fabricação incluindo Portugal. >7 3.2 Estudos experimentais com financiamento nacional Foram igualmente desenvolvidos diversos trabalhos de investigação experimental com financiamento nacional, salientando-se, entre 1999 e 2003 e entre 2005 e 2008, o ensaio sísmico de modelos de edifícios de grande porte em alvenaria representativos de tipologias vulneráveis existentes, com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e do LNEC (Figura 7). Também entre 2005 e 2008 foi desenvolvido um programa experimental no âmbito do projeto “Sistemas inteligentes para proteção sísmica de estruturas” do LNEC, dedicado ao estudo do controlo de vibrações dinâmicas com recurso à utilização de dispositivos do tipo Amortecedores de Líquido Sintonizado (TLD – Tuned Liquid Dampers) como sistemas de proteção sísmica (Figura 8). Foram realizados ensaios experimentais em grandes modelos de edifícios de alvenaria armada, entre 2009 e 2011, em colaboração com a Universidade do Minho, com o objetivo de estudar o seu comportamento sísmico (Figura 9). 4. INTEGRAÇÃO EM INFRAESTRUTURAS INTERNACIONAIS A instalação para ensaios sísmicos do LNEC é um dos principais parceiros de um consórcio europeu de instalações experimentais de engenharia sísmica e dinâmica estrutural, responsável pelo desenvolvimento do projeto integrado SERIES já referido e pela preparação de futuras colaborações. Além disso, está integrada em várias redes europeias e bases de dados de infraestruturas, das quais se salientam: >8 >9 – MERIL (Mapping of the European Research Infrastructures) – Inventário das infraestruturas de investigação mais importantes na Europa com relevância internacional em todos os domínios científicos; Fonte de informação para investigadores que procuram o acesso às instalações e para decisores políticos que analisam o estado atual da investigação na Europa. – ESFRI (European Strategy Forum on Research Infrastructures) – Instrumento estratégico da UE para a integração científica e posicionamento internacional da Europa, que divulga o acesso competitivo aberto às infraestruturas de excelência como meio de promoção do valor de cientistas europeus, e de atração dos melhores investigadores de todo o mundo. – ERNCIP (European Reference Network for Critical Infrastructure Protection) – Iniciativa da Comissão Europeia que enquadra nas instalações experimentais a partilha de conhecimentos e experiências, a harmonização dos métodos de ensaio em toda a Europa, com o objetivo final da melhor proteção das infraestruturas críticas perante todos os tipos de riscos e ameaças; Tem a missão de promover soluções para a segurança, inovadoras, qualificadas, eficientes e competitivas, através da criação de redes de recursos experimentais europeus. > Figura 7: Ensaio sísmico de modelos de edifícios de grande porte em alvenaria de pedra. > Figura 8: Ensaio de sistemas de proteção sísmica (TLD). > Figura 9: Ensaio sísmico de edifícios em alvenaria armada. JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 25 26_28 o lnec a problemática da degradação de estruturas de betão por reações expansivas internas Em Portugal, e a nível mundial, existe um número significativo de estruturas de betão, que inclui pontes, viadutos, barragens, etc., onde se verifica a ocorrência de processos de deterioração com origem em reações expansivas internas do betão, mais especificamente reações álcalis-sílica (RAS) e reações sulfáticas internas (RSI). Face à importância social e económica daquelas estruturas e às consequências gravosas que podem advir deste tipo de reações, o LNEC tem desenvolvido uma intensa atividade de investigação e de realização de estudos e pareceres no domínio da prevenção da sua ocorrência em estruturas novas e do seu diagnóstico e prognóstico em estruturas já afetadas por estas anomalias. Na presente comunicação refere-se, de forma sucinta, a atividade que o LNEC tem vindo a realizar neste âmbito e as perspetivas futuras para a mitigação dos riscos associados ao desenvolvimento das reações expansivas internas no betão. 1. INTRODUÇÃO As reações álcalis-sílica (RAS) correspondem a uma designação atribuída a um grupo de reações que ocorrem entre alguns constituintes reativos dos agregados e os iões alcalinos (Na+ e K+) e hidroxilos (OH–) presentes na solução intersticial do betão. Estas reações originam um gel higroscópico com características expansivas que pode levar à fissuração e perda acentuada da resistência deste material. Para que a RAS se possa desenvolver é necessário que, em simultâneo, se verifiquem as seguintes condições: um teor crítico de constituintes reativos no agregado, uma quantidade suficiente de álcalis (e hidróxido de cálcio) na solução intersticial dos poros do betão e a presença de humidade. Daí que as recomendações para a prevenção da RAS procuram essencialmente excluir pelo menos um dos três fatores referidos. As reações sulfáticas internas (RSI) são reações que ocorrem entre os aluminatos e os sulfatos do cimento (ou de outros constituintes 26 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 do betão que por alteração possam ser fontes de sulfatos ou aluminatos), com formação de compostos de etringite expansiva. A etringite é um composto normal da hidratação do cimento portland e que se forma nas primeiras idades, em geral sem consequências negativas para o betão, mas que pode conduzir à degradação do betão, quando formada tardiamente. A etringite formada tardiamente tem atingido betões que sofreram tratamentos térmicos nos estágios iniciais da hidratação (>65 ºC) ou betões em grandes massas e com elevada dosagem de cimento. Para prevenir a ocorrência da RSI pode, por exemplo, limitar-se a temperatura atingida pelo betão nas primeiras idades e os teores de aluminatos e sulfatos do ligante, para além de se manter o betão num estado relativamente seco. A deterioração causada pela RAS ou pela RSI é progressiva, originando a expansão, fissuração e consequentemente perda de resistência do betão, podendo, a médio e longo prazo, comprometer irremediavelmente a funcionalidade das estruturas onde ocorrem. J. Custódio, A. Santos Silva, A. B. Ribeiro e A. Gonçalves LNEC Os principais sintomas deste tipo de anomalia são: a fissuração que se carateriza, em geral, pelo aparecimento na superfície do betão de fissuras com distribuição aleatória ou ao longo das armaduras principais; exsudação de produtos de reação à superfície e descoloração das zonas adjacentes às fissuras; e deslocamentos e deformações irreversíveis que podem dar origem a movimentos diferenciais entre elementos, deslizamentos, fecho de juntas, etc. (Figura 1). No caso de estarem reunidas as condições necessárias ao seu desenvolvimento, a RSI manifesta-se mais cedo do que a RAS, e fá-lo de uma forma mais expressiva, visto a expansão associada ser, em geral, superior à provocada pelo desenvolvimento da RAS. Assim, enquanto os efeitos da RSI são visíveis ao fim de poucos anos (habitualmente menos de dez anos), as evidências da presença da RAS surgem normalmente apenas ao fim de uma ou várias décadas. Não existe ainda um método totalmente eficaz de reparação para estruturas afetadas por RAS ou RSI, havendo já dois casos registados Figura 1 > Exemplos de evidências da presença de reações expansivas internas e de anomalias que delas podem advir. e (ii) efetuar o diagnóstico e o prognóstico das reações em estruturas existentes. 2. ESTRUTURAS DE BETÃO NOVAS O conhecimento atual acerca deste tipo de reações permite já, com elevada probabilidade, evitar o seu desenvolvimento em estruturas novas, estando publicada desde 2007 uma Especificação LNEC, a E 461, que indica a me- Figura 2 > Mapa de Portugal ilustrando zonas onde se encontram grandes estruturas de betão afetadas por reações expansivas internas. PUB em Portugal em que as estruturas irão ser desativadas e demolidas. A problemática da degradação de estruturas de betão por reações expansivas internas é um assunto de grande atualidade e de elevado interesse devido à crescente identificação de obras públicas sujeitas a este tipo de deterioração (Figura 2). Este tema tem vindo a ser desenvolvido no LNEC nas últimas duas décadas em duas vertentes principais, (i) evitar a ocorrência destas reações em novas estruturas de betão JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 27 o lnec todologia a seguir para prevenir a ocorrência de reações expansivas internas no betão. Esta Especificação resultou, não só da vasta investigação realizada no LNEC, em colaboração com a comunidade científica nacional e internacional, mas também da experiência e conhecimentos adquiridos através dos vários estudos e pareceres realizados para entidades nacionais e estrangeiras, relativos à avaliação da reatividade de agregados e da suscetibilidade de composições de betão virem a desenvolver RAS ou RSI. A medida mais eficaz de evitar a RAS, ou seja, a não utilização de agregados reativos aos álcalis, tem por vezes custos muito elevados, como por exemplo na construção de grandes barragens de betão em locais onde não existe outro agregado disponível nas proximidades. Para estas situações é imperativo controlar a alcalinidade da solução dos poros do betão, através, por exemplo, da utilização de ligantes que incorporem adições do tipo II (v.g., cinza volante siliciosa). É, neste caso, essencial que se melhorem as metodologias para avaliar a eficácia da introdução das referidas adições. De facto, os métodos existentes não são totalmente adequados para alguns tipos de agregados nacionais (v.g., agregados ditos de reatividade muito lenta como os granitos), podendo conduzir a avaliações erradas que minimizam o potencial de desenvolvimento da RAS deletéria. Tendo em consideração esta problemática, está atualmente em curso no LNEC, com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), um projeto de investigação que visa melhorar as metodologias existentes para a caracterização da reatividade aos álcalis dos agregados nacionais, encontrando-se também a decorrer a revisão da Especificação LNEC E 461 para incorporar os mais recentes desenvolvimentos neste campo. 3. ESTRUTURAS DE BETÃO EXISTENTES No que diz respeito a estruturas existentes afetadas por este tipo de reações, existem ainda limitações sobre os métodos de monitorização e de previsão do seu comportamento futuro, bem como sobre as intervenções a realizar, no sentido de assegurar a operacionalidade dessas estruturas. O número de estruturas onde se diagnosticou a ocorrência de RAS ou de RSI continua a aumentar (Figura 3), em parte devido à rápida desatualização das metodologias e dos critérios usados para avaliar a possibilidade do desenvolvimento das reações, mas também em resultado dos elevados ritmos de construção de muitas obras, com recurso a dosagens de cimento elevadas e sequências de betonagem inadequadas. A abrangência do problema e a perceção de que será desejável que a maioria destas estruturas continue a operar, por vezes para além da vida útil originalmente prevista, justifica o trabalho que o LNEC vem realizando no âmbito do desempenho de estruturas de betão afetadas por reações expansivas internas. Neste contexto, o LNEC tem desenvolvido uma significativa atividade de investigação e de consultoria técnica avançada em Portugal, mas também com atividade no estrangeiro, no âmbito do diagnóstico e do prognóstico sobre o potencial expansivo do betão, bem como na interpretação e previsão do comportamento Figura 3 > Exemplo de estruturas de betão afetadas por reações expansivas internas. 28 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 ao longo do tempo de estruturas de betão afetadas por reações expansivas internas, com vista à avaliação das condições de funcionalidade e de segurança dessas obras, como por exemplo de barragens. Face à inexistência de normas, guias ou especificações a nível nacional que abordem a problemática da RAS e da RSI em estruturas existentes, o LNEC prevê publicar uma Especificação LNEC contemplando a monitorização e a reparação de estruturas afetadas por estas reações. 4. PERSPECTIVAS FUTURAS Para estruturas novas, os desenvolvimentos futuros nesta área prendem-se principalmente com a necessidade de aperfeiçoar os métodos de avaliação do potencial para as misturas de agregados ou as composições de betão desenvolverem a RAS, aproximando os resultados obtidos em laboratório do comportamento real observado. O mesmo se verifica no que respeita à avaliação do efeito da incorporação de adições tipo II no betão para prevenir o desenvolvimento da RAS e da RSI. No caso da RAS, por exemplo, importa controlar a lixiviação dos álcalis durante os ensaios e estimar a quantidade destes iões que podem ser libertados pelos agregados. No que diz respeito às estruturas existentes, é necessário continuar o estudo de medidas que permitam inibir ou mitigar o desenvolvimento da RAS e da RSI em estruturas afetadas, bem como o desenvolvimento de modelos para prever a evolução do processo degradativo e o seu efeito na segurança das estruturas, em particular das estruturas de betão armado. PUBLI-REPORTAGEM COLABORAÇÃO ENTRE A EP – ESTRADAS DE PORTUGAL E O LNEC PARA A AVALIAÇÃO DO ESTADO DE DEGRADAÇÃO DO BETÃO CONSTITUINTE DAS PONTES INSERIDAS NA ALBUFEIRA DA BARRAGEM DA AGUIEIRA As obras de arte integradas pela rede viária da Aguieira apresentam degradação química do betão constituinte através de reações expansivas de origem interna – RAS (Reação Alcalis-Sílica dos agregados) e RSI (Reação Sulfática Interna na pasta). Estas reações ocorrem apenas quando se verifica a existência no betão de quantidade suficiente de álcalis, sílica potencialmente reativa e de água. Apenas na presença dos três reagentes e em determinadas proporções se desenvolvem as reações. As reações anteriormente indicadas levam a um processo expansivo que pode conduzir a uma diminuição acentuada da capacidade resistente, associada à degradação geral do betão, redução da resistência à compressão do betão e do módulo de elasticidade e corrosão progressiva de armaduras nas zonas com degradação do betão e consequente perda de secção. A existência de reações expansivas no betão das obras de arte inseridas na Albufeira da Agueira foi detetada a partir de inspeções principais, inspeções subaquáticas e vistorias promovidas pela EP às obras de arte, detetando-se diversas anomalias nos seus elementos construtivos, nomeadamente ao nível dos fustes dos pilares, embasamentos e sapatas. O LNEC tem vindo a colaborar com o Departamento de Projetos de Obras de Arte da EP no processo de avaliação das condições de segurança estrutural das obras de arte, através da realização dos seguintes trabalhos: — Avaliação do estado de degradação do betão armado nas pontes do complexo da Aguieira – Realização de uma campanha geral de ensaios in situ e em laboratório sobre carotes recolhidas nas várias obras, com o objetivo de despistar a presença de reações expansivas internas no betão, indiciadas pelo aspeto visual da fissuração existente nalgumas zonas, particularmente em contacto com a água e pela presumível SERVIÇOS STAKEHOLDERS SUSTENTABILIDADE www.estradasdeportugal.pt natureza dos agregados. Em função dos resultados obtidos, procedeu o LNEC à quantificação do potencial de reatividade existente; — Nivelamento geométrico de precisão do topo dos pilares – Medição periódica dos deslocamentos verticais dos topos dos pilares das pontes, no sentido de avaliar a evolução do comportamento estrutural das obras ao longo do tempo em conjunto com as informações disponibilizadas quer pelos ensaios de caracterização dos materiais quer pelos ensaios dinâmicos; — Ensaios de caracterização dinâmica – Realização de ensaios periódicos de caracterização dinâmica com o objetivo de avaliar a evolução das características dinâmicas das estruturas e, consequentemente, verificar a existência de alterações no seu estado de degradação; A colaboração com o LNEC neste âmbito tem permitido à EP obter um conhecimento mais aproximado do estado real de degradação das pontes, auxiliando deste modo a tomada de decisões relacionados com a gestão das vias onde se inserem as estruturas, nomeadamente nas várias intervenções que a EP tem promovido no sentido de resolver os problemas estruturais detetados. 30_33 o lnec aplicação de resíduos de construção e demolição em infraestruturas rodoviárias Maria de Lurdes Antunes, Investigadora Coordenadora, LNEC Ana Cristina Freire, Investigadora Auxiliar, LNEC INTRODUÇÃO Na União Europeia, cerca de 30% da quantidade total de resíduos produzidos provém da indústria da construção. O facto de o volume de produção deste fluxo específico de resíduos, designados por Resíduos de Construção e Demolição (RCD), ser muito elevado, associado ao seu potencial de valorização, que em alguns Estados-Membros atinge níveis superiores a 80%, torna evidente que a diminuição dos volumes existentes destes materiais através da sua reutilização e reciclagem é uma alternativa não só possível, como motora de um desenvolvimento mais sustentável. Existem diversos tipos de aplicações de RCD na construção rodoviária tecnicamente viáveis, com evidentes vantagens ambientais e económicas, designadamente por permitirem a incorporação de grandes quantidades dos materiais em apreço, resultando simultaneamente numa apreciável redução do consumo de recursos naturais. Contudo, em particular no nosso país, existem ainda importantes barreiras que limitam a aplicação generalizada dos RCD, de que se destacam as relacionadas com lacunas no conhecimento do comportamento em obra dos materiais, e com a insuficiência de especificações técnicas e metodologias de ensaio e de controlo de qualidade que proporcionem confiança aos donos de obra e aos responsáveis pelo ambiente. 30 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 Nos últimos anos, o LNEC tem vindo a desenvolver diversos projetos de investigação relativos à aplicação de RCD em obras de pavimentação, que incluíram o estudo de reciclagem de misturas betuminosas, bem como o estudo da aplicação de diversos tipos de agregados reciclados de RCD como materiais “não ligados” em camadas de base e de sub-base de pavimentos e em camadas de aterro ou leito de pavimento. Neste trabalho descreve-se em linhas gerais a metodologia adotada pelo LNEC nesses estudos e apresentam-se alguns exemplos de resultados obtidos. METODOLOGIA Os trabalhos realizados no âmbito dos projetos de investigação relativos à aplicação de agregados de RCD abrangem todas as fases do ciclo de vida da infraestrutura rodoviária, envolvendo essencialmente: a) a caracterização física e química dos materiais e a sua classificação no âmbito da normalização aplicável, tendo em vista avaliar características relacionadas com o seu comportamento mecânico e ambiental; b) o desenvolvimento de metodologias para a formulação das misturas, a caracterização do seu desempenho em laboratório e a obtenção de parâmetros para o projeto de pavimentação; c) a execução de trechos experimentais para demonstração dos processos construtivos, a caracterização do comportamento em obra das estruturas e a subsequente observação do seu desempenho em serviço e, preferencialmente ao longo do seu ciclo de vida; d) a elaboração de recomendações práticas para a aplicação de agregados de RCD em obras de pavimentação. CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE AGREGADOS DE RCD PARA A CONSTRUÇÃO RODOVIÁRIA Os RCD podem ser classificados em função da sua origem (resíduos de construção, resíduos de reabilitação ou remodelação e resíduos de demolição), da sua composição (por exemplo, materiais pétreos, betão e argamassas, materiais cerâmicos, vidro e metais, materiais betuminosos e outros) e do seu destino final (reutilização, reciclagem, deposição em aterro). Os agregados reciclados de RCD podem ser aplicados em aterros, terraplenagens, fundações e sistemas de drenagem, obras de pavimentação, ou no fabrico de betões e argamassas. A aplicação em pavimentação, sobretudo em camadas de base e de sub-base de estradas de baixo volume de tráfego, tem constituído uma das formas mais simples e económica de utilização daquele material, possibilitando a reciclagem de elevadas quantidades de agregados de RCD. A caracterização da composição dos RCD é um passo essencial para a avaliação da sua adequabilidade para os diversos tipos de aplicação como agregados reciclados. Para a caracterização da sua composição, no âmbito da normalização para agregados foi desenvolvida a norma Europeia EN 933-11, que estabelece uma metodologia baseada na separação de diferentes tipos de materiais por inspeção visual e na determinação das respetivas percentagens em massa (separando previamente os materiais leves). Um outro aspeto essencial a ter em conta para a utilização de RCD como agregados para construção é a avaliação do seu potencial poluente, realizada através da análise química do material e da análise quí- mica dos lixiviados obtidos da percolação da água através dos materiais, em determinadas condições. Neste contexto, referem-se duas normas de ensaio Europeias, a EN 12457-4, utilizada na avaliação do potencial poluente com vista à deposição em aterro de resíduos inertes, e a EN 1744-3, utilizada no contexto da utilização de resíduos como agregados. No caso particular dos RCD com misturas betuminosas na sua composição, refere-se ainda a necessidade de assegurar que não existe alcatrão, que é considerado uma substância perigosa, quer através do conhecimento da origem dos resíduos, quer através da despistagem por processos expeditos, por exemplo baseados na observação direta e sob luz UV, de amostras embebidas num produto, conforme ilustrado na figura seguinte (Figura 1), para uma mistura betuminosa fresada (MBF). >1 Anota-se que a aplicação de RCD na construção rodoviária deve ser estudada de forma criteriosa, por forma a tirar o melhor partido, do ponto de vista técnico e económico, dos materiais disponíveis. Deste modo, por exemplo, se uma determinada mistura betuminosa recuperada for passível de ser reciclada no fabrico de misturas betuminosas a quente para as camadas “mais nobres” do pavimento, não se recomenda a sua aplicação como agregados em camadas “inferiores”. APLICAÇÃO DE RCD COMO AGREGADOS “NÃO LIGADOS” EM CAMADAS DE BASE E DE SUB-BASE LEGENDA Ra – Material betuminoso; Rb – Elementos de alvenaria de materiais argilosos (tijolo, ladrilhos, telhas, etc.), elementos de alvenaria de silicatos de cálcio e betão celular não flutuante; Rc – Betão, produtos de betão e argamassas; F L – Material flutuante em volume; R u – Agregados não ligados, pedra natural, agregados tratados com ligantes hidráulicos; Rg – Vidro; X – Outros materiais coesivos (por ex. solos argilosos), plástico, borracha, metais (ferrosos e não ferrosos), matérias não flutuantes e estuque. >2 Alguns dos estudos recentemente desenvolvidos no LNEC no domínio da aplicação de agregados de RCD em camadas “não ligadas” de infraestruturas rodoviárias inserem-se no projeto SUPREMA – Aplicação Sustentável de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) em Infra-estruturas Rodoviárias, co-financiado pela FCT (PTDC/ECM/100931/2008), coordenado pelo LNEC e realizado em parceria com o IST. Este projeto teve como propósito promover a aplicação de agregados reciclados de RCD em infraestruturas rodoviárias, destacando-se, de entre as várias tarefas realizadas, a avaliação do comportamento ambiental e do comportamento mecânico de materiais representativos de RCD passíveis de serem utilizados (Figura 2) em camadas de base e de sub-base de pavimentos, incluindo a execução e instrumentação de trechos experimentais, a par dos ensaios mais correntes para agregados (Freire, A. C et al., 2012; Freire, A. C et al., 2012a). Tendo em atenção as características geralmente exigidas aos materiais a aplicar em camadas de base e sub-base não ligadas, designadamente a granulometria, foram estu- > Figura 1: Despistagem da presença de alcatrão numa mistura betuminosa fresada. > Figura 2: Constituintes dos RCD, de acordo com a norma EN 933-11:2009 . JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 31 o lnec dadas 4 composições de materiais: incluindo uma composição unicamente constituída por materiais naturais, destinada a servir de referência (Figura 3). Estes materiais foram aplicados em camadas de base e de sub-base de 4 secções experimentais de um pavimento flexível à escala real, utilizando os processos construtivos usuais. Realizaram-se ensaios de caracterização química dos lixiviados obtidos em laboratório utilizando as duas normas anteriormente referidas (EN 12457-4 e EN 1744-3), para avaliação do potencial poluente das composições de RCD estudadas neste projeto, tendo-se verificado que, nos ensaios segundo a EN 1744-3 o mecanismo de libertação das espécies químicas é mais lento, devido à maior dimensão das partículas ensaiadas, conduzindo a concentrações inferiores. Em qualquer das situações, os materiais ensaiados foram, em geral, classificados como “resíduos inertes” (Freire, A. C et al., 2012a ; Freire, A.C. et al., 2013a). Construíram-se lisímetros em obra, sob as secções experimentais de pavimento, bem como outros lisímetros no campus do LNEC, expostos diretamente aos agentes atmosféricos (Figura 4). A análise dos lixiviados obtidos nestes lisímetros, que ainda se encontra em curso, permitirá avaliar o potencial poluente dos materiais quando aplicados em obra, quer em pavimentos flexíveis revestidos, quer em caminhos “não revestidos” e aferir a adequabilidade dos métodos de ensaio em laboratório. Tendo em vista a caracterização do comportamento mecânico das camadas construídas com RCD, procedeu-se à instrumentação das secções experimentais e à realização de ensaios de carga com deflectómetro de impacto (Figura 5) durante e após conclusão da obra, estando também em curso a realização de ensaios triaxiais cíclicos em laboratório. Os resultados obtidos até ao presente demonstram que é possível obter comportamentos mecânicos adequados em camadas construídas com agregados reciclados de RCD (Freire, A. C. et al., 2013; Neves, J. et al., 2013). (a) Mistura de 50% Betão Britado com 50% de Betão Britado com alvenaria (BBM) (b) Mistura Betuminosa Britada (MBB) (c) Mistura de 70% de Agregado Calcário com 30% de Mistura Betuminosa Fresada (70/30 MBF) (d) Agregado Calcário (ABGE) a) Instalação de lisímetro sob o pavimento b) Instalação de lisímetro no campus do LNEC >3 >4 Módulo de deformabilidade médio (MPa) 350 300 250 200 150 100 50 0 70/30 MBF CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 BBM MBB >5 GUIAS PARA A APLICAÇÃO DE AGREGADOS RECICLADOS DE RCD EM OBRAS DE PAVIMENTAÇÃO Tendo por objetivo fornecer ao meio técnico orientações para as utilizações potenciais mais comuns de RCD no sector da construção civil, dando assim resposta às principais necessidades dos operadores e agentes do sector, o LNEC tem vindo a elaborar especificações técnicas fornecendo recomendações e estabelecendo requisitos mínimos para o uso de agregados reciclados em diversos tipos de aplicação. > Figura 3: Composições estudadas. > Figura 4: Instalação de lisímetros para recolha de lixiviados em obra. > Figura 5: Determinação dos módulos de deformabilidade das camadas de base em ensaios de carga realizados após a construção. 32 ABGE Neste contexto, foram elaboradas em 2006, a pedido da Agência Portuguesa do Ambiente – APA (na ocasião, Instituto dos Resíduos), e posteriormente revistas em 2009, 4 especificações técnicas sobre RCD: – LNEC E 471 – Guia para a Utilização de Agregados Reciclados Grossos em Betões de Ligantes Hidráulicos – LNEC E 472 – Guia para a Reciclagem de Misturas Betuminosas a Quente em Central – LNEC E 473 – Guia para a Utilização de Agregados Reciclados em Camadas Não Ligadas de Pavimentos – LNEC E 474 – Guia para a Utilização de Resíduos de Construção e Demolição em Aterro e Camada de Leito de Infra-Estruturas de Transporte BIBLIOGRAFIA – Fische C, Werge M. EU as a Recycling Society. Present recycling levels of Municipal Waste and Construction & Demolition Waste in the EU :ETC/SCP working paper 2/2009; 2009. – Freire, A., Neves, J., Roque, A.J., Martins, I. M., Antunes, M. L. and Faria, G., Sustainable application of construction and demolition recycled materials (C&DRM) in road infrastructures. Proceedings of the 1st International Conference on WASTES: Solutions, Treatments and Opportunities, Guimarães, Portugal; 2012. – Freire, A.C., Neves, J., Roque, A. J., Martins, I. Antunes, M. L. e Faria, G. Aplicação de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) em Pavimentos Rodoviários, XIII Congresso Nacional de Geotecnia, LNEC, Lisboa, 2012a. – Freire, A., Neves, J., Roque, A. J., Martins, I. M., Antunes, M. L. e Faria, G., Aplicação de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) em camadas granulares de Pavimentos Rodoviários validada em trecho piloto. Atas do 7º Congresso Rodoviário Português, 10 a 12 de abril, Lisboa, 2013. – Neves, J., Freire, A., Roque, A. J., Martins, I. M., Antunes, M. L. e Faria, G., Utilization of recycled materials in unbound granular layers validated by experimental test sections, Proceedings of the 9th International Conference on the Bearing Capacity of Roads, Railways and Airfields. 25-27 June, Trondheim, Norway, 2013. – Freire, A., Neves, J., Roque, A. J., Martins, I. M., Antunes, M. L. e Faria, G., “SUPREMA – Aplicação Sustentável de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) em Infra-estruturas Rodoviárias” – Relatório Final do Projeto PTDC/ECM/100931/2008, 2013a. PUB Estas especificações têm sido estabelecidas com base na experiência do LNEC nestes domínios e nos requisitos estabelecidos para a utilização dos RCD noutros países da Comunidade Europeia, complementados com a experiência prática do meio técnico nacional, recolhida através de consultas precedidas pela distribuição de versões preliminares dos documentos. Atualmente, julga-se oportuno o desenvolvimento de especificações para outros tipos de aplicações complementares, com base nos estudos recentemente realizados, nomeadamente a aplicação de RCD em caminhos rurais, agrícolas ou florestais, ou a aplicação de misturas betuminosas recuperadas em camadas de base e de sub-base, nos casos em que estas não podem ser recicladas no fabrico de outras misturas betuminosas. Urimat Diziam que não era possível – Sem água – Sem óleos – Sem químicos – Sem odores AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o apoio financeiro do projeto “PTDC/ECM/100931/2008 - SUPREMA - Aplicação Sustentável de Construção e Demolição Materiais Reciclados (RCD) em Infra-Estruturas Rodoviárias” financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. São apresentados agradecimentos à empresa Ambigroup, SGPS, SA, pelo fornecimento dos materiais estudados, bem como pela disponibilização dos meios necessários à construção do trecho experimental. Também são devidos agradecimentos aos colegas que participaram no projeto SUPREMA: Prof. José Neves, do IST e os Investigadores António José Roque, Isabel Maria Martins e Gonçalo Faria do LNEC. O mictório sem água JULHO/AGOSTO 2014 Qualidade suíca desde 1998. Helder Nicolau Tel.: (+351) 91 00 700 10 [email protected] CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 33 www.urimat.pt 34_38 o lnec a modelação física no apoio ao projeto de obras marítimas Neste artigo, apresenta-se uma breve descrição do papel da modelação física no apoio ao projeto de obras marítimas, seguida de um exemplo de ensaios realizados no âmbito da ampliação do porto de pesca de Rabo de Peixe, São Miguel – Açores, para o qual a variedade de estudos efetuados ilustra as potencialidades da modelação física no apoio ao projeto. Por fim, apresentam-se as considerações finais e os futuros desenvolvimentos. 1. INTRODUÇÃO O incremento das trocas comerciais, da náutica de recreio e da ocupação da orla costeira para fins turísticos levam à necessidade de intervenções na costa, quer relacionadas com o aumento, melhoramento e manutenção das obras marítimas existentes, quer com a resolução de problemas ambientais. As condições severas a que normalmente as estruturas marítimas estão sujeitas, conduzem a situações de obras muito complexas e dispendiosas, quer ao nível do primeiro investimento, quer da sua manutenção. Para tentar resolver estes problemas tem-se investido muito em Portugal em termos da obtenção e tratamento de dados de agitação marítima, da caracterização dos regimes de agitação marítima, de estudos da dinâmica e morfodinâmica costeira e estuarina, do planeamento e projeto de obras marítimas (quebramares, guias de correntes, estruturas de proteção costeira, canais de acessos a portos), etc. É neste quadro que a modelação física (eventualmente combinada com modelação numérica, ferramentas empíricas e observações in situ) se tornou uma ferramenta fundamental de apoio na análise destes problemas, bem como das suas soluções, em particular no projeto 34 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 de obras marítimas, dada a complexidade associada quer aos fenómenos de propagação de ondas, quer de interação onda-estrutura. A modelação física é francamente utilizada para avaliar e otimizar diferentes aspetos do projeto como, por exemplo, as condições de tranquilidade na zona portuária, as sobrelevações nessa zona, as condições de estabilidade e galgamentos das suas estruturas de proteção. 2. O PAPEL DA MODELAÇÃO FÍSICA A modelação física em Hidráulica Marítima é, sem dúvida, a representação mais próxima do conjunto de fenómenos envolvidos na ação da agitação marítima às estruturas portuárias e costeiras, uma vez que permite uma “fotografia” e análise instantâneas dos complexos processos físicos envolvidos na propagação de ondas e na interação destas com as estruturas. Efetivamente, a modelação física permite a simulação simultânea de fenómenos físicos tão distintos e complexos como a refração, a difração, a rebentação e a reflexão das ondas, o espraiamento e o galgamento, assim como a estabilidade de estruturas ou a interação de ondas com navios amarrados. Apesar de ser uma técnica mais onerosa e Conceição Juana Fortes, Maria Teresa Reis, Maria Graça Neves, Luís Gabriel Silva, Rui Capitão, Rute Lemos LNEC demorada do que o uso de ferramentas empíricas ou de modelos numéricos (atualmente em franco desenvolvimento devido à melhoria da qualidade e da capacidade de computação atualmente instalada), a modelação física é muitas vezes a única capaz de modelar adequadamente alguns fenómenos físicos. Além disso, é utilizada no desenvolvimento de métodos empíricos e na calibração e/ou validação de modelos numéricos. Em Portugal, esta atividade tem vindo a ser desenvolvida, desde 1948, no Núcleo de Portos e Estruturas Marítimas (NPE) do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). O LNEC dispõe de instalações experimentais (Fig. 1) com uma área de 6500 m2, ocupada essencialmente por tanques e canais de ondas, apetrechados com sistemas de geração de ondas e com os equipamentos de medição necessários a este tipo de estudos. Para apoio ao projeto de obras marítimas no país e no estrangeiro, o NPE já realizou mais de 250 estudos em modelo físico. Os ensaios mais frequentemente realizados são (Figura 2): a) ensaios de estabilidade e galgamentos de estruturas marítimas; b) ensaios de agitação de zonas abrigadas, para avaliação das condições de tranquilidade; e c) ensaios de sobrelevação de zonas portuárias. 3. ENSAIOS EM MODELO FÍSICO DA AMPLIAÇÃO DO PORTO DE PESCA DE RABO DE PEIXE >1 3.1. Objetivos do estudo a) >2 b) c) Rabo de Peixe é uma das mais importantes comunidades piscatórias da ilha de S. Miguel, Açores (Fig. 3), cujas condições portuárias se pretendeu melhorar. Para o efeito, a Lotaçor – Serviço de Lotas dos Açores, encomendou à CONSULMAR - Projectistas e Consultores, Lda. os respetivos estudos e projetos. Foram analisadas onze soluções alternativas, tendo a solução selecionada sido validada no que diz respeito à estabilidade, aos galgamentos e às condições de agitação e sobrelevação, através de modelação física tridimensional, solicitada ao LNEC pela Secretaria Regional do Ambiente e do Mar (SRAM) da Região Autónoma dos Açores. Esta vasta gama de estudos para apoio a este projeto ilustra a importância da modelação física nesta área de engenharia (Luís et al., 2011). Tratou-se de um estudo que se revestiu de alguma complexidade e cuja realização decorreu em 2011, no LNEC. Na Fig. 3 apresentam-se duas fotografias do porto antes e após a sua ampliação. 3.2. Caracterização do Modelo >3 O modelo foi construído e explorado à escala geométrica de 1:54 num tanque do NPE (semelhança de Froude). Foram representados (Fig. 4): configuração dos fundos, totalidade da bacia portuária e linha de costa envolvente, obras de abrigo e obras interiores existentes - Situação Atual, obras de abrigo e obras interiores previstas (incluindo o alteamento do muro-cortina do molhe existente) – Solução Projetada. Para a verificação da tranquilidade portuária procedeu-se à medição das características da agitação marítima à saída do gerador e no exterior, na entrada e no interior do porto. Para a avaliação expedita das sobrelevações foram realizadas medições em “mar aberto”, em frente à cabeça do molhe existente e no interior da > Figura 1: Vista de um dos tanques das instalações experimentais. > Figura 2: Modelos físicos: a) Estabilidade e galgamentos, Vila Franca, Açores; b) Agitação, Socorridos, Madeira; c) Estabilidade e sobrelevação, Ponta Delgada, Açores. > Figura 3: Localização e aspeto geral do Porto de Rabo de Peixe em 1998 e em 2014, antes e após a sua ampliação, respetivamente. JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 35 o lnec a) b) >4 bacia portuária. Para a avaliação dos galgamentos, procedeu-se à medição de volumes de galgamentos no tardoz do molhe existente. Os ensaios foram realizados com os rumos da agitação marítima correspondentes às direções de NNW e N, simulando-se agitação irregular. Ensaiaram-se dois níveis de maré: Baixa-mar mínimo (BM) e Preia-mar máximo (PM). Foram ainda realizados, para um conjunto reduzido de condições de agitação marítima, ensaios com um nível de água excecional, Preia-mar máximo acrescido de sobrelevação meteorológica (PM+S). Foram reproduzidos valores de período de pico da agitação incidente, Tp, de 8 s, 11 s e 14 s. A cada valor de Tp associaram-se valores de altura de onda significativa, Hs, compreendidos entre 3.0 m e o limite imposto pela rebentação das ondas na aproximação ao porto. >5 >6 3.3. Ensaios de Agitação e Sobrelevação Com base nos registos de elevação da superfície livre obtidos foi possível verificar que o conjunto de estruturas proposto proporcio- >7 > Figura 4: Aspeto geral do modelo: a) Situação Atual e b) Solução Projetada. > Figura 5: Condições de agitação no interior e no exterior do porto (Solução Projetada). > Figura 6: Exemplificação da elevação do nível de água no anteporto, visível junto ao cais. > Figura 7: Inundação dos terraplenos do porto para a Solução Projetada. 36 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 nava uma tranquilidade efetiva à renovada bacia portuária, tendo em conta as direções de agitação marítima mais frequentes e adversas e os níveis de exigência das embarcações servidas e das operações próprias de um porto de pesca (Fig. 5). Os ensaios permitiram confirmar a existência de sobrelevações com algum relevo no interior da bacia portuária (Fig. 6). Para os níveis mais elevados da maré, as sobrelevações causaram inundação dos terraplenos portuários (Fig. 7). Como tal, o LNEC recomendou a subida da cota dos terraplenos e/ou a construção de um mure- te com as devidas condições de drenagem, ao longo do perímetro da bacia portuária. 3.4. Ensaios de Estabilidade a) b) No que respeita à estabilidade, os ensaios permitiram constatar que a subida da cota de coroamento do muro-cortina do molhe não pôs em causa a estabilidade da estrutura, apesar de para a Solução Projetada se ter observado um número superior de quedas e movimentos dos cubos Antifer do manto resistente do tronco, relativamente ao verificado para a Situação Atual. Os ensaios de estabilidade da Solução Projetada permitiram concluir sobre a possibilidade de diminuição da robustez do sector interior da cabeça do contra-molhe, o que veio a traduzirse numa redução do custo final da empreitada. Nas Figs. 8 e 9 apresentam-se exemplos do aspeto do tronco do molhe principal (Situação Atual) e do enraizamento do contra-molhe (Solução Projetada), respetivamente, antes e depois de um ensaio. >8 a) b) >9 3.5. Ensaios de Galgamento > 10 Os ensaios da Situação Atual permitiram confirmar que o molhe principal era francamente galgado para condições de agitação marítima adversas associadas aos níveis de maré mais elevados (Fig. 10). O alteamento da cota do muro-cortina em 2.5 m mostrou-se bastante eficaz, tendo reduzido o volume de galgamentos para 1/5 a 1/6 dos volumes registados para a Situação Atual. Face às condições de agitação reproduzidas no modelo, o contra-molhe pode considerar-se como uma estrutura quase não galgável. a) b) > Figura 8: Situação Atual. Aspeto do tronco do molhe principal no ensaio com o rumo NNW, nível de maré de BM, Tp = 14 s: a) início do ensaio e b) após atuação de Hs = 6.0 m. > Figura 9: Solução Projetada. Aspeto do enraizamento do contra-molhe no ensaio com o rumo N, PM, Tp = 11 s: a) início do ensaio e b) após atuação de Hs = 7.5 m. > Figura 10: Exemplificação do aspeto de alguns dos maiores galgamentos observados no decurso dos ensaios: a) Situação Atual, rumo NNW, nível de maré de PM, Tp = 14 s e Hs = 7.0 m; b) Solução Projetada, rumo NNW, nível de maré de PM+S, Tp = 14 s e Hs = 7.0 m. o lnec 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E FUTUROS DESENVOLVIMENTOS Neste artigo, apresentou-se de forma sucinta o papel da modelação física no apoio ao projeto de obras marítimas, ressaltando que, até à data, é esta a única ferramenta que permite reproduzir, com confiança, alguns dos fenómenos presentes e atuantes nas estruturas. Ao longo do tempo de implementação desta metodologia, ela tem vindo a ser sucessivamente melhorada, tanto em termos da simulação da agitação marítima incidente, como em termos de técnicas de obtenção de resultados (caracterização da agitação marítima e observação e análise de resultados obtidos). Tendo em conta a continuação da utilização desta ferramenta de interesse inquestionável, mantém- se o investimento físico e intelectual no sentido de aperfeiçoar técnicas e equipamentos, de entre as quais se destacam: a implementação de técnicas de estereofotogrametria – utilizada no levantamento de envolventes e perfis de modelos de quebramares, Fig. 11; a análise digital de imagens para comparação de fotografias obtidas no final de cada ensaio; e o desenvolvimento de software de deteção de movimentos de blocos durante a realização de ensaios. Para além destes aspetos, e no sentido de facilitar o acesso aos ensaios em modelo físico pelos seus utilizadores finais (projetistas, donos de obra, investigadores, etc) tem vindo também a assistir-se ao desenvolvimento de técnicas de visualização dos ensaios em tempo real através de image streaming e à utilização de software de acesso remoto para visualização e partilha de dados obtidos nos ensaios, Fig. 12. AGRADECIMENTOS Agradece-se à Secretaria Regional do Ambiente e do Mar (SRAM) da Região Autónoma dos Açores, a permissão para a apresentação dos resultados dos ensaios em modelo físico. Agradece-se também ao Eng. Francisco Silva as fotografias disponibilizadas e à CONSULMAR a colaboração no âmbito deste estudo. REFERÊNCIAS – LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil. “Obras de expansão do porto de pesca de Rabo de Peixe (ilha de S. Miguel – Açores). Ensaios em modelo reduzido”. Relatório 247/2011 – NPE, Lisboa, julho de 2011. – Luís, L.; Freire, S.C.; Reis, M.T.; Rodrigues, E.; Silva, G. (2011). “Ampliação do porto de pesca de Rabo de Peixe, São Miguel, Açores. Estudos, projectos e ensaios físicos tridimensionais”. Proc. 7ªs Jornadas Portuguesas de Engenharia Costeira e Portuária, AIPCN/PIANC, Porto, 6 e 7 de outubro de 2011. a) b) > 11 > 12 > Figura 11: Técnicas de estereofotogrametria. > Figura 12: Visualização de um ensaio em tempo real através de image streaming (a) e acesso remoto para visualização da aquisição de dados durante os ensaios (b) 38 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 40_42 o lnec a avaliação do estado de conservação na reabilitação urbana João Branco Pedro, Investigador Auxiliar, LNEC António Vilhena, Investigador Auxiliar, LNEC 1. ANTECEDENTES A revisão do regime de arrendamento urbano (RAU) de 2006 pretendeu, entre outros objetivos, promover a reabilitação do edificado (Figura 1) e permitir a atualização extraordinária das rendas antigas. Tendo em vista estes objetivos, a definição do valor máximo de atualização das rendas tinha em conta o estado de conservação dos locados e a existência de infraestruturas básicas, através de um coeficiente de conservação. Para determinar o coeficiente de conservação foi adotado o «Método de avaliação do estado da conservação de imóveis» (MAEC). Até 2011 foram realizadas mais de 30 000 vistorias com o MAEC e estiveram inscritos mais de 2400 técnicos na bolsa de avaliadores. Uma > Figura 1: Reabilitação de edifício. > Figura 2: Obrigação de manter e de reabilitar ou de demolir. CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 circunstâncias: 1) avaliar o estado de conservação de unidades destinadas ao realojamento de arrendatários; 2) determinar a execução de obras de conservação necessárias à correção de más condições de segurança ou de salubridade ou à melhoria do arranjo estético (obrigação de reabilitar e obras coercivas); 3) ordenar a demolição total ou parcial das construções que ameacem ruína ou ofereçam perigo para a saúde pública e para a segurança das pessoas (Figura 2); 4) determinar a aplicabilidade do Estatuto de Benefícios Fiscais como incentivo à reabilitação urbana. 2. O MAEC NO QUADRO LEGAL ATUAL Neste quadro legal, a avaliação do estado Em 2012, o RAU foi revisto, deixando a atualização das rendas antigas de contemplar a avaliação do estado de conservação dos locados. Simultaneamente foram revistos os Regimes Jurídicos da Reabilitação Urbana e das Obras em Prédios Arrendados. Neste quadro, foi estabelecido um único regime de determinação do nível de conservação assente no MAEC. Assim, este método mantém-se em vigor em tudo o que não for incompatível com o atual quadro legal e com as necessárias adaptações. Atualmente, o nível de conservação determinado com o MAEC é utilizado em quatro >1 40 análise ao funcionamento do MAEC evidenciou que as avaliações refletiam, de um modo geral, o real estado do locado, cumprindo assim os objetivos para os quais foi concebido [4]. Verificou-se ainda que os técnicos avaliadores apresentavam lacunas de formação e que existia possibilidade de aperfeiçoar o modelo de avaliação. A revisão do arrendamento de 2006 não atingiu todavia plenamente os resultados a que se propôs. Entre 2006 e 2011, de um universo de cerca 255 mil imóveis com contratos anteriores a 1990, apenas 2888 contratos foram atualizados recorrendo ao sistema implementado. >2 de conservação é ordenada pela Câmara Municipal por solicitação do proprietário, usufrutuário ou superficiário, do senhorio ou do arrendatário, de sociedades de reabilitação urbana ou de outras entidades. O MAEC continua a ser aplicado por engenheiros, arquitetos ou engenheiros técnicos, inscritos nas respetivas ordens profissionais, sendo designados pela Câmara Municipal, entre os técnicos que exercem funções no município, ou escolhidos por sorteio entre os técnicos que constem de uma lista fornecida ao município pelas ordens. O Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) concebeu e tem acompanhado e apoiado a aplicação do MAEC [3]: dando resposta a dúvidas técnicas, analisando os resultados das vistorias e recolhendo a opinião dos principais intervenientes no processo de avaliação. Paralelamente, foi realizado um estudo sobre a aplicação do MAEC [4] que incluía uma análise comparativa do MAEC com outros métodos nacionais e estrangeiros que avaliam o estado de conservação de imóveis. Atendendo à experiência colhida e tendo em vista responder às necessidades que o meio técnico tem manifestado, considera-se importante criar ferramentas para apoiar a gestão do MAEC pelos municípios e a avaliação de unidades pelos técnicos. A aplicação do MAEC no novo quadro legal tem motivado questões, nomeadamente: Qual o papel das ordens profissionais? É necessária formação específica para realizar vistorias? Como avaliar um prédio urbano no seu conjunto? Os resultados das vistorias são validados e, em caso afirmativo, por quem? Existe algum mecanismo de supervisão das avaliações? Será possível realizar uma avaliação apenas com base em fotografias anteriores à interven- ção de reabilitação? Para responder a estas questões considera-se prioritário adequar as instruções de aplicação do MAEC ao novo quadro legal. É ainda importante aperfeiçoar o modelo de avaliação do MAEC para simplificar a avaliação e aumentar o rigor dos resultados. Todavia, a implementação destes aperfeiçoamentos depende da revisão da portaria que aprovou o MAEC. 3. OUTRAS UTILIZAÇÕES DO MAEC O domínio geral de aplicação do MAEC é informar e fundamentar processos de tomada de decisão relativos à gestão de imóveis isolados ou de parques imobiliários. Neste âmbito, podem perspetivar-se diversas utilizações para o MAEC, nomeadamente: PUB Betão Projectado com malhas de carbono Reforço de encostas e taludes Reforço de asfalto com malhas revestidas a betume Betão Projectado com malhas de carbono FRP - Polimeros reforçados com fibras ESPECIALISTAS MUNDIAIS EM REFORÇO ESTRUTURAL CARBOPHALT® GLASPHALT® Diminuição custos de manutenção Incremento de carga Aumento da vida útil www.sp-reinforcement.eu [email protected] linha de apoio: 212 253 371 ARMO-MESH® ARMO-CRETE® ARMO-MUR® Isento de corrosão elevada durabilidade LAMINADOS CFK MANTAS FRP PRÉ ESFORÇADO Reforço à Flexão e ao Corte; Axial ao Impacto e Explosão; Sismico 190x130_CONST_MAGAZINE.indd 1 5/9/14 5:17 pm JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 41 o lnec 1) Verificação da extensão de danos devido a ações de origem natural ou em consequência de atividades humanas. Para este efeito o método deve ser aplicado antes e depois da ação. Esta verificação pode, por exemplo, ser requerida para reclamar prémios de seguro, definir indemnizações ou deliberar em situações de contencioso. 2) Determinação do valor patrimonial de um imóvel. O estado de conservação é um dos parâmetros estabelecidos no Código do Imposto Municipal sobre Imóveis para determinar o valor patrimonial de um imóvel. Os critérios de avaliação estabelecidos neste código podem ser substituídos com vantagem pelo MAEC [1]. 3) Determinação do valor de um imóvel aquando de uma transação imobiliária. O estado de conservação é um aspeto utilizado nos diferentes modelos de avaliação imobiliária. A utilização de um método uniformizado para a sua determinação contribuiria para a clarificação e menor subjetividade da avaliação [2]. A informação resultante poderá interessar ao potencial comprador ou arrendatário, à entidade financeira ou seguradora ou ao próprio proprietário. 4) Avaliação do estado de conservação de parques edificados. A aplicação sistemática do MAEC a parques edificados (Figura 3) permite obter informação para a definição de estratégias de reabilitação que podem incluir: lista e calendarização das intervenções; estimativa do custo da reabilitação; associação de intervenções com o mesmo fim; e manutenção preventiva em edifícios que partilham as características construtivas com outros edifícios já afetados por anomalias. 5) Uniformização dos métodos de avaliação do estado da conservação definidos no quadro legal português. Além do MAEC, estão consagrados na lei outros métodos de avaliação do estado de conservação de imóveis, nomeadamente no Regime Jurídico dos Contratos de Arrendamento de Renda Condicionada e no Código do Imposto Municipal sobre Imóveis. Diversos municípios também utilizam instrumentos semelhantes ao MAEC na gestão municipal. A existência, a nível nacional, de um método padrão de avaliação do estado de conservação, baseado no MAEC, é exequível [1] e afigura-se vantajosa na medida em que: a) permite a utilização de uma avaliação para vários fins; b) promove a equidade na avaliação; c) facilita a formação e a especialização dos técnicos avaliadores assim como a sua mobilidade; d) é um instrumento que pode ser progressivamente aperfeiçoado com a experiência prática adquirida na aplicação; e e) possibilita a gradual constituição de informação cuja análise pode contribuir para a definição de políticas, nacionais ou municipais, de requalificação e gestão urbana. A avaliação do estado de conservação pode ser integrada com a avaliação de outras dimensões como sejam, a avaliação da segurança (e.g., risco sísmico, risco de incêndio), do valor cultural, da premência social e do desempenho ambiental. Os resultados das avaliações realizadas em cada domínio poderão ser conjugados num único índice que traduza a prioridade de intervenção. 4. CONCLUSÃO Ao longo da última década, foi realizada no LNEC uma intensa atividade sobre a avaliação do estado de conservação de edifícios. Foram desenvolvidos estudos de investigação, >3 > Figura 3: O conjunto edificado necessita de uma estratégia de reabilitação para potenciação de recursos, 42 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 trabalhos de consultoria e desenvolvimento, bem como atividades de formação e divulgação. O conhecimento e experiência obtidos até à data permitem afirmar o interesse e a utilidade que os instrumentos de avaliação do estado de conservação em geral, e do MAEC em particular, têm para a implementação das políticas públicas de reabilitação do parque edificado e para a definição das intervenções de reabilitação. O MAEC avalia o estado de conservação de um edifício de forma expedita, com base nas anomalias existentes no imóvel, sem que no entanto sejam determinadas as respetivas causas que estão na origem. Será de grande interesse o desenvolvimento de instrumentos complementares que apoiem a identificação das causas das anomalias e a definição dos trabalhos corretivos. Até à data o MAEC foi aplicado no quadro de iniciativas legislativas. Como se procurou evidenciar, este método tem um elevado potencial de aplicação em outros domínios que deverá ser explorado. O LNEC tem competências e está disponível para adaptar o MAEC a outros objetivos ou objetos de estudo, introduzindo as alterações que se mostrem necessárias, bem como para apoiar o desenvolvimento de ferramentas complementares à aplicação do MAEC e para apoiar a formação de técnicos avaliadores. REFERÊNCIAS [1] Delgado, V. – Uniformização dos métodos de avaliação do estado de conservação de edifícios definidos no quadro legal português. Lisboa: FCT/ UNL, 2013. Dissertação de mestrado. [2] Formiga, V. – Estudo sobre a utilização do MAEC na determinação do valor de imóveis. Lisboa: FCT/ UNL, 2013. Dissertação de mestrado. [3] Pedro, J.B.; Vilhena, A.; Paiva, J.V.– Avaliação do estado de conservação de edifícios: desenvolvimentos recentes e linhas de investigação futura. Lisboa: LNEC, 2013. Relatório n.º 42/2013 DED/ NAU. [4] Vilhena, A. – Método de avaliação do estado de conservação de edifícios. Análise e contributos para o seu aperfeiçoamento e alargamento do âmbito. Lisboa: LNEC, 2012. TPI 72. Tese de doutoramento. PUBLI-REPORTAGEM URIMAT – URINÓIS SEM ÁGUA O conceito Urimat alia economia a proteção do meio ambiente. Estes urinóis não implicam consumo de água, dispensam a utilização de químicos e não libertam odores. A Urimat garante, com a utilização deste equipamento, uma poupança média de 100.000 litros de água potável por ano. Além disso, os mictórios Urimat são fabricados em policarbonato de alta qualidade sem emissões de dióxido de carbono. Hélder Nicolau, responsável pela assistência e apoio Urimat em Portugal, explica que, após a urina escorrer por gravidade pelas paredes do mictório e entrar no sifão, a membrana existente no seu interior abre e deixa passar o líquido, fechando-se de seguida. Ao fechar, os odores ficam retidos, o que garante a sua eliminação nas instalações sanitárias, evitando-se a utilização de fluxómetros. A montagem do equipamento também é muito simples. Segundo explica Hélder Nicolau, é feita a ligação à parede com dois furos e a ligação ao esgoto. A substituição dos urinóis é possível sem necessidade de fazer obras.Além disso, de acordo com o responsável a colocação de um urinol Urimat é mais barata do que a de um urinol tradicional. Também o transporte é feito de forma sustentável. O reduzido peso dos mictórios de plástico permite enviar, através de encomenda postal, duas unidades dentro de uma caixa. Assim, os levantamentos dispendiosos e poluentes com camião não são necessários para os envios nacionais. LIMPEZA DO MICTÓRIO A Urimat disponibiliza, também, o produto de limpeza a utilizar os mictórios, MB-Active Clean. Trata-se de um agente de limpeza anti-microbiano e com pH neutro. Segundo o que se pode ler no site da Urimat, o produto foi testado dermatologicamente e obteve a classificação de «muito bom». MB-Active Clean impede a formação de odores desagradáveis que resultariam da decomposição de substâncias orgânicas. É adequado para a limpeza de manutenção e eliminação de odores nas áreas sanitárias que registam um elevado nível de utilização. Os microrganismos penetram profundamente nos poros (fissuras) e decompõem os resíduos que formam os odores que lá se depositam. O agente de limpeza ativa MB assegura, segundo a empresa, uma frescura agradável duradoura e a utilização diária previne nova formação de odores. A limpeza com este produto deve ser feita duas vezes ao dia. Apesar de existir a possibilidade de colocar estes urinóis no mercado residencial, é no setor comercial que a presença é mais expressiva, de acordo com Hélder Nicolau. Com vários hipermercados e centros comerciais equipados, mas também estações de serviço, hotéis e fábricas. Em Portugal, foram até agora instalados 7 mil urinóis. SECADOR DE MÃOS Além da gama de urinóis, a Urimat disponibiliza também um secador de mãos, que permite a secagem com ar frio em apenas 10 segundos e retém 99 por cento das impurezas através de um filtro de ar interno. O equipamento é também silencioso, com apenas 68 decibéis na potência máxima. O dispositivo incorpora iluminação LED e temporizador. O ar é facilmente comutável, passando de frio para quente através de um interruptor simples protegido por uma tampa. É integralmente fabricado com material reciclado. Regulação passo a passo patenteada A regulação em três passos da capa de proteção influencia a duração do efeito do cubo ativo integrado e controla a durabilidade. Cubo ativo integrado O cubo ativo integrado aumenta a higiene e evita a formação de sedimentos e de crostas causados por substâncias orgânicas, óleos e gorduras no interior do ralo coletor, assim como no interior dos tubos de drenagem. Garantia de funcionamento Após a decomposição do cubo ativo, a superfície de apoio vermelha situada por baixo da capa de proteção transparente sinaliza que o ralo coletor deve ser substituído. Sistema de membrana vertical que se fecha A técnica da membrana vertical garante a ausência absoluta de odores. A baixa e a alta pressão são compensadas pela membrana. O surgimento de gases do sistema de esgotos é eliminado. www.urimat.pt 44_47 análise e simulação análise estrutural da cabine de um pequeno submarino de recreio e investigação Hugo Macedo, Óscar López, Filipe Pedro ITeCons – Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade Fernando Seabra Santos Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Coimbra Friday, Ciência e Engenharia do Lazer, S.A. 1. ENQUADRAMENTO As atividades de ocupação dos tempos livres e do lazer estão em expansão em todo o mundo desenvolvido. Uma parte significativa das oportunidades de negócio criadas por essa evolução passa pelo uso diversificado dos planos de água, tanto interiores como marítimos, proporcionando um enquadramento adequado à expansão da Náutica de Recreio em países que, como o nosso, dispõem de um elevado grau de competências técnicas na área e podem proporcionar-lhe condições naturais particularmente favoráveis. Num contexto de integração dos Mares e dos Oceanos na estratégia nacional para um Desenvolvimento Sustentável, tal como parece desenhar-se em Portugal, as sinergias entre as práticas do Lazer, o Desporto, a Cultura, a aproximação à Natureza, a Náutica de Recreio e as indústrias turística, de hotelaria e de restauração constituem, pois, elementos-chave a promover com vista à consolidação de novas políticas de fomento da Economia do Mar. Vão neste sentido as conclusões de diferentes estudos e relatórios de trabalho realizados recentemente, dos quais se mencionam, pela profundidade da análise e tratamento exaustivo do tema, “O Hypercluster da Economia do Mar: um domínio de potencial estratégico para o desenvolvimento da economia portu- 44 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 guesa”, elaborado em fevereiro de 2009 por uma equipa liderada por Ernâni Lopes, por iniciativa da Associação Comercial de Lisboa, ou ainda, “Náutica de Recreio em Portugal, um pilar do desenvolvimento local e da economia do mar: propostas de atuação e planos de ação”, elaborado em janeiro de 2012 para a EPUL – Empresa Pública de Urbanização de Lisboa, por um grupo de trabalho coordenado por Eduardo Almeida Faria. Numa extensão óbvia e justificada do conceito de economia do mar, como aliás se faz em qualquer dos estudos referidos, os planos de água interiores não podem deixar de ser valorizados. Até porque, atendendo à maior proteção natural de que dispõem contra as intempéries, o seu ciclo de exploração comercial se pode estender, sem grandes investimentos, a praticamente todo o ano. Esta visão está amplamente justificada na mais recente revisão do PENT - Plano Estratégico Nacional do Turismo. A criação da empresa Friday, Ciência e Engenharia do Lazer, S.A., pelo último autor, em novembro de 2012, visou consolidar uma equipa de trabalho interdisciplinar com vista à identificação, conceção, projeto e desenvolvimento de produtos na área da náutica de recreio, cujas características específicas se insiram particularmente bem nas linhas de força a que a empresa procura corresponder: a despreocupação responsável, o espírito de fim de semana, a aproximação ativa à Natureza em contexto náutico, o nomadismo, a autonomia, a sustentabilidade energética e ambiental, a tranquilidade. Desde março de 2014, a empresa conta com um forte investimento da maior financiadora nacional de capital de risco, a Portugal Ventures, S.A. 2. CONDICIONANTES E ESPECIFICAÇÕES DO PROJETO Para responder aos desafios acima enunciados, a Friday selecionou dois produtos bandeira que se encontram já em fase de prototipagem: – uma Casa Flutuante, para águas interiores, com tipologia variando entre T0 e T2, para duas a seis pessoas, com 10 a 17m de comprimento e uma largura de 6m, com mobilidade moderada e autonomia total para 7 dias, produzindo 80% da energia que consome no ciclo anual; – um submarino de recreio/investigação, com uma versão para duas e outra para três pessoas, capaz de mergulhar a 300 m de profundidade, em missões de até 8h de duração. Foi neste contexto que a Friday convidou o ITeCons para participar na equipa de projeto deste submarino, coordenada pelo último autor, que é também o autor do projeto geral, tendo a seu cargo a componente da análise estrutural da cabine, dos tanques pressurizados e da exostrutura. Pretende-se que este aparelho seja, dentro da sua classe, o mais leve e o de menores dimensões atualmente existente no mercado, visando, com isso, aumentar a sua transportabilidade, tornando possível operar a partir de embarcações de menores dimensões. A mobilidade será assegurada por dois propulsores elétricos horizontais e dois outros verticais. Toda a energia necessária para o funcionamento do aparelho é armazenada em três grupos de baterias, duas principais e uma de emergência, com um total de cerca de 21 kWh. A navegação está igualmente dependente do funcionamento de um conjunto de válvulas elétricas, que regulam a entrada de ar e de água nos tanques de imersão e nos tanques de compensação. Os resultados que se apresentam neste artigo reportam-se à primeira parte deste trabalho, o dimensionamento estrutural da cabine. 3. GEOMETRIA E MATERIAL A parte mais crítica no desenho de um pequeno submarino é o cálculo do casco de pressão. A sua missão é acomodar a tripulação à pressão atmosférica e resistir à pressão de mergulho, pelo que o seu desenho tem de ser elaborado de acordo com rigorosas especificações. Além disso, cada etapa do processo de construção será alvo de certificação específica e estará sujeita a estritos testes de segurança que permitirão fornecer uma alta precisão e garantir que as tolerâncias de fabrico sejam as mais reduzidas possível. Assim, o dimensionamento do casco de pressão foi precedido de um estudo comparativo que envolveu a seleção da geometria em função das condicionantes de projeto, a seleção dos materiais mais adequados e, finalmente, a definição do processo de fabrico que terá que satisfazer as tolerâncias adotadas. As condicionantes impostas quanto às dimensões e ao peso, referidas no >1 ponto anterior, são igualmente importantes critérios de projeto já que obrigam a utilizar formas eficientes e espessuras mínimas, incompatíveis com baixos níveis de precisão na fabricação do casco. Como seria de esperar, foi selecionada a esfera por ser a geometria mais apropriada para resistir às pressões externas com o mínimo peso. Por outro lado, os materiais utilizados em pequenos submarinos, sobretudo nos tripulados, têm de possuir características técnicas muito específicas. A estrutura tem de ser realizada com materiais de alta resistência para suportar as altas tensões de compressão geradas, assim como, um elevado módulo de Young, para que as deformações sejam mínimas. Também se exige que os materiais sejam resistentes à corrosão, nomeadamente à resultante do contacto com a água do mar. Foi desenhado um casco de pressão esférico, com um diâmetro médio de 1520 mm, constituído por um setor esférico de aço, com uma abertura de 210º e, na parte frontal do submarino, completando a esfera, uma grande “viewport” (janela) com 150º de abertura radial (Figura 1). Esta última permite à tripulação obter um campo visual bastante amplo durante qualquer tipo de operação. No setor de aço foi localizada uma escotilha (abertura livre de 500 mm) pela qual se faz o embarque e o desembarque dos passageiros. Para o setor esférico de aço foi escolhido um aço especial, habitualmente utilizado em peças sujeitas a elevadas pressões. A sua composição química confere ao material propriedades especiais: alto limite de cedência (Rp0,2 ≥ 355 MPa), elevada tensão última de rotura (Rm ≥ 530 MPa) e elevada elongação (A = 21%). O material da “viewport” é o polimetil metacrilato (PMMA), usualmente conhecido como acrílico, destacando-se pela sua dureza superficial (tensão de rotura ≥ 62 MPa), pela sua alta transmissão de luz e pela sua vida útil extremamente longa. 4. COMBINAÇÕES DE AÇÕES O cálculo estrutural da esfera de pressão iniciou-se, como em qualquer outra estrutura, com a definição de todas as ações suscetíveis de poder atuar sobre o submarino e que têm de ser incluídas no plano de cargas do mesmo (Load plan). A principal ação a que estará sujeita a cabine é a pressão da água para a profundidade máxima de operação do submarino. Após um estudo preliminar da espessura mínima necessária em função da profundidade, a Friday definiu uma profundidade máxima de mergulho de 300 metros, equivalente a uma pressão de 30.30 bar. Como já foi referido no ponto anterior, um dos maiores desafios é garantir a segurança estrutural da cabine, tendo em consideração a incerteza que introduzem nos cálculos as tolerâncias de fabrico: pequenos erros na esfericidade e na espessura da cabine podem aumentar em grande parte as tensões geradas e pôr em risco a sua segurança estrutural. Para ter em conta todas estas incertezas foram definidos dois fatores de segurança sobre a pressão máxima de mergulho, S1 e S2, que determinam duas pressões adicionais de dimensionamento. O fator de segurança S1 foi utilizado para obter a pressão à qual a cabine deve de ser testada após o seu fabrico, para verificar que o seu dimensionamento e fabricação ga- > Figura 1: Imagem geral da cabine do submarino. JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 45 análise e simulação rantem a profundidade máxima de mergulho antes da sua utilização. O fator de segurança S2 permite obter a pressão real de colapso da cabine e que será a pressão principal utilizada durante o dimensionamento (semelhante a um estado limite último de dimensionamento de qualquer estrutura). Assim, para uma profundidade máxima de mergulho de 300 metros (30.30 bar), a esfera de pressão foi desenhada e calculada para uma profundidade máxima de 561 metros (56.661 bar) tendo um fator de segurança de 1.87 relativamente à pressão de colapso. Depois do fabrico, a cabine tem de passar um teste de pressão numa câmara hiperbárica, equivalente a uma profundidade de 360 metros (36.36 bar), garantindo assim, como mínimo, um fator de segurança de 1.2 quando comparado com a pressão máxima de mergulho. Estes dois fatores garantem uma segurança estrutural global da cabine, desde o seu dimensionamento até à utilização final por parte do usuário. O submarino é calculado para abranger amplas zonas de operação, em que a massa volúmica da água pode variar entre 995 kg/m3 e 1030 kg/m3, a temperatura da água desde os -2 ºC até os +32 ºC, e a temperatura do ar exterior desde os -10 ºC até os +60 ºC. Para além da carga de pressão, foram consideradas todas as ações exteriores que podem atuar sobre a cabine, desde a ação do vento, a ação das ondas do mar e a variação de temperatura, até à possibilidade de geração de gelo nas superfícies acima da linha de flutuação em missões localizadas em zonas frias. Foram também modeladas e calculadas as pressões locais hidrodinâmicas geradas para as velocidades e acelerações máximas de operação do submarino, que dependem muito do tipo de missão e do modo de operação. Foi dado especial interesse na consideração de uma carga de colisão por se tratar de uma carga pontual, intensa e súbita, de vital importância para garantir a segurança dos passageiros na profundidade máxima de mergulho. Assim, em função do tipo de missões para o qual é desenhado este pequeno submarino, das velocidades de operação e das acelerações a que pode estar sujeito, foi considerada uma carga de colisão equivalente a uma aceleração de 3g. 46 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 Foram incluídas também no cálculo todas as ações que atuam no interior da cabine, nomeadamente o peso do equipamento, o peso da tripulação (160 kgf) e o de eventuais cargas destinados a diferentes missões (até um peso máximo de 60 kgf). Foram definidos três estados ou casos de carga para o cálculo da cabine: – Caso de carga I: definido pelas cargas de operação para a pressão máxima de mergulho (30.30 bar) e é formado por todas as combinações de carga possíveis para as ações referidas anteriormente (quer submerso quer à superfície); – Caso de carga II: definido pela pressão máxima de colapso da cabine (56.661 bar); – Caso de carga III: definido pela pressão de 36.36 bar e por todas as ações que possam atuar durante os testes de pressão. Adicionalmente, foi realizado um cálculo de fadiga para 10.000 ciclos de imersão da cabine para estudar o comportamento e a perda de resistência dos materiais e de determinadas zonas críticas sujeitas a ciclos de pressãodescompressão sucessivos (soldaduras, ligações de peças, etc). 5. ANÁLISE ESTRUTURAL Ainda que o estado de tensão de uma esfera possa ser conhecido facilmente através de equações fundamentais (Timoshenko), quando a superfície real se afasta da superfície teórica ou quando são feitas penetrações que debilitam determinadas zonas da estrutura, o cálculo das tensões geradas torna-se complicado e, por isso, foram utilizados meios de cálculo computacionais com o recurso ao Método dos Elementos Finitos (FEM). O cálculo da cabine pelo FEM permitiu um estudo global e pormenorizado das tensões e deslocamentos gerados para os casos de carga I, II e III de dimensionamento. Este método, amplamente utilizado em todos os campos da engenharia, permite obter um grande número de simulações num curto período de tempo até se atingir a solução ótima, evitando a necessidade de se procederem a experiências com protótipos. Setor esférico de aço A construção de uma esfera perfeita de espessura constante é impossível. Qualquer processo de fabricação está associado a determinadas tolerâncias, por isso, o cálculo da cabine foi feito em estreita colaboração com empresas especializadas (ampla experiência em maquinação e fabrico de peças com elevada precisão), para o conhecimento rigoroso do processo e das tolerâncias de fabricação, ainda durante a fase de projeto. De facto, um dos parâmetros fundamentais para o dimensionamento é o denominado “out-of-roundness”. Esta dimensão, que será avaliada após a fabricação, representa o achatamento local da superfície do casco de pressão causada pelas tolerâncias de fabrico, e é fundamental para garantir a pressão máxima de mergulho desejada. Na fase de cálculo foram verificados os principais parâmetros de dimensionamento, tais como as tensões, as deformações, a pressão de colapso e a pressão de encurvadura elastoplástica para garantir a resistência estrutural da cabine. Relativamente às tensões, para os três casos de carga foram definidos limites de tensões admissíveis, definidos por fatores de segurança sobre a tensão de cedência e a tensão última. Também foi verificada a pressão de colapso da esfera, para as tolerâncias de fabricação, na sua consideração mais desfavorável, resultando uma pressão de colapso superior à pressão de colapso de cálculo (56.661 bar). A pressão crítica de encurvadura, determinada por uma análise elasto-plástica, é dependente dos módulos de Young longitudinal e transversal, que, para níveis elevados de tensões, são função das tensões geradas. Por isso, o cálculo requer um método iterativo até que o valor de pressão convirja até ao valor de pressão crítica que, para garantir a segurança estrutural, tem de ser inferior à pressão de colapso. Adicionalmente, a necessidade de realização de penetrações no setor esférico de aço irá gerar pontos fracos que vão fragilizar a estrutura, nomeadamente as aberturas da escotilha e as localizadas na zona posterior inferior, que servem para ligar ao interior da cabine os equipamentos necessários ao seu funcionamento (ar, oxigénio, energia, sinais, etc). Para garantir a segurança estrutural destas zonas optou-se pela regra de reforçar a penetração utilizando, no mínimo, a mesma quantidade de material que é removida e verificar, via FEM, as tensões e deslocamentos locais e globais (Figura 2.a)). Também foi imposto um limite dependente da pressão de cálculo e que tem em conta a relação entre a área total da esfera sujeita a pressão e a resistente na zona de influência da penetração. No dimensionamento destas aberturas críticas garantiram-se fatores de segurança mínimos de 1.2 em comparação com a pressão de mergulho (30.30 bar), de teste (36.36 bar) e de colapso (56.661 bar). Após a primeira fase de cálculo, que tinha por objetivo o dimensionamento da cabine, foi obtida uma espessura do setor de aço de 11 mm, que será construído mediante um processo de fabricação muito rigoroso. Setor esférico de acrílico (PMMA) Foi elaborado um estudo intensivo de janelas acrílicas utilizadas em pequenos submarinos. Em geral, as janelas de submersíveis são pequenas por serem pontos fracos da estrutura, quer de vedação quer de resistência. No entanto, ter um campo visual amplo é fundamental em operações de recreio e de investigação. Por isso, para o dimensionamento da “viewport” foi necessário um cálculo estrutural rigoroso e de compatibilidade com o setor de aço, já que a superfície do acrílico representa 41.7% da superfície total da cabine, e porque o comportamento dos dois materiais é bastante diferente. Para o dimensionamento do setor esférico de acrílico foi definido um fator de conversão de 6.66 em função da temperatura de desenho de 28.5ºC, considerando os máximos valores de temperatura exterior (32ºC) e interior (25ºC); e uma vida útil de 20 anos ou 10.000 ciclos de pressão. Foi obtida uma pressão crítica a curto prazo da “viewport” de 20.2 MPa, sendo necessário, após esta primeira fase de dimensionamento, uma espessura estrutural de 80 mm (Figura 2.b). As simulações realizadas mostram uma homogeneidade das tensões obtidas, no aço e no acrílico, para os diferentes casos de carga. No entanto, o material de reforço adicionado, nas duas penetrações realizadas no setor de aço e na flange de união entre os dois materiais, torna mais rígida a estrutura nestas zonas, com o consequente aumento de tensões junto às zonas de transição de espessura. Na parte inferior da face interna do setor de acrílico são geradas maiores tensões devido à necessidade de compatibilidade no comportamento dos dois materiais, nomeadamente, através dos maiores deslocamentos originados na zona inferior do setor de aço. Estas concentrações de tensões podem observar-se na Figura 2, correspondente à lei de tensões de Von Mises para o caso de carga II. 6. CONCLUSÕES Na sequência de uma extensa pesquisa dos materiais, tolerâncias de fabrico, cálculos analíticos e simulações com software de elementos finitos (FEM), foi possível obter um casco de pressão muito leve. Isso resultará num submarino muito ligeiro com uma grande “viewport” de acrílico. O cálculo mediante o FEM permitiu simular o comportamento estrutural completo da cabine e otimizar ao máximo a quantidade de material, de forma a dar cumprimento às especificações de segurança. Todos os fatores de segurança aplicados às pressões de dimensionamento e tensões admissíveis garantem uma elevada segurança estrutural para a profundidade máxima de operação do submarino – 300 metros. A análise elástica de encurvadura e a análise elasto-plástica mostraram, igualmente, um fator de segurança elevado em comparação com a pressão máxima de mergulho. REFERÊNCIAS – Germanischer Lloyd, “Rules for Classification and Construction, I Ship Technology, 5 Underwater Technology, 2 Submersibles”, edition 2009. – The American Society of Mechanical Engineers, “ASME PVHO-1-2012, Safety Standard for Pressure Vessels for Human Occupancy”, Edição 2012. – Klaus-Jürgen Bathe, “Finite Element Procedures in Engineering Analysis”, Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, New Jersey, Edição 1982. – S.P. Timoshenko, J.N. Goodier, Theory of Elasticity, 3ª Edição, McGraw-Hill Book Company, 1970. – S.P. Timoshenko, J.M. Gere, Theory of Elastic Stability, 2ª Edição, McGraw-Hill Book Company, 1961. >2 a) b) > Figura 2: Dimensionamento da cabine – tensões obtidas pelo método dos elementos finitos no setor esférico: a) de aço; b) de acrílico. JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 47 48_49 arquitetura intervenção na herdade de torre da palma Integrada na paisagem de grandes planícies do Alto Alentejo, a Herdade de Torre de Palma, em Vaiamonte, inclui uma extensão de terreno agrícola e um núcleo edificado de escala considerável circunscrito no lado sudeste da propriedade. O projecto de intervenção para instalação de um Hotel Rural na herdade procurou, respeitando as características arquitectónicas do conjunto e da paisagem envolvente, dar resposta ao novo programa funcional. A inter venção incluiu tanto a recuperação e remodelação do conjunto de edifícios preexistente como a construção de raiz de um conjunto de novos edifícios, baseada em gestos claros, precisos e sensíveis às características do lugar. por João Mendes Ribeiro, arquiteto © DO MAL O MENOS – EDUARDO NASCIMENTO E JOÃO FÔJA Nos casos de recuperação de estruturas preexistentes, a configuração geral de cada edifício foi mantida, procedendo-se apenas a alterações ao nível da organização espacial interior, à construção de elementos pontuais ou à abertura de novos vãos. Sempre que necessário, procedeuse ainda à substituição de coberturas, peças estruturais ou revestimentos. No terreiro central, a casa-mãe é ocupada pelos espaços de recepção, acolhimento e serviços administrativos, no piso térreo, sendo o piso superior reservado à habitação do proprietário. A torre, adjacente à casa-mãe, foi pensada para funcionar como biblioteca e como observatório astronómico, no terraço do último piso. Ao lado, o edifício do antigo celeiro acomoda o SPA e uma zona de quartos 48 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 distribuída por dois pisos. As antigas cavalariças correspondem actualmente à área social e de lazer, enquanto os edifícios das antigas oficinas e casas de operários foram adaptados para receber a zona de quartos e apartamentos. A capela existente na propriedade manteve as características arquitectónicas originais e foi complementada com a construção de um novo adro no exterior. Os edifícios construídos de raiz têm duas naturezas distintas: edifícios que substituem antigas construções – degradadas e sem interesse patrimonial ou arquitectónico – e edifícios que se implantam segundo novas regras, fora do núcleo original. No primeiro grupo incluem-se os edifícios da adega, do restaurante e da casa do caseiro, © DO MAL O MENOS – EDUARDO NASCIMENTO E JOÃO FÔJA construídos na localização exacta das construções anteriores, com uma lógica material comum a todos eles: estrutura em betão, paredes de alvenaria e cobertura em lajetas de betão. No segundo grupo, fora do núcleo original, o conjunto da piscina estende-se para noroeste, no alinhamento da casa-mãe, e inclui uma plataforma de madeira com piscina, balneários e área técnica semienterrada sob a plataforma. A nascente do núcleo original foram implantadas arrecadações agrícolas, zonas técnicas e uma área de estacionamento coberto e, a poente, o edifício das novas cavalariças associado à zona do picadeiro. Na generalidade, o terreno manteve a sua morfologia e características originais, com variações pontuais consoante a especificidade de cada área da Herdade. No interior do núcleo edificado, o terreiro foi regularizado – unificando o conjunto – com pavimento em saibro na área central, delimitado por um perímetro de calçada de mármore branco de Estremoz e uma zona de caleira contínua, com seixo rolado, em torno dos edifícios. No exterior do núcleo edificado principal, foram criadas cinco áreas distintas: uma zona de vinha ao longo da levada, uma zona de olival junto à piscina, uma horta biológica cultivada em canteiros e um pomar, junto aos armazéns agrícolas e ainda uma zona de prado, a oeste, associada à cavalariça e ao picadeiro. João Mendes Ribeiro escreve de acordo com a antiga ortografia. DATA DO PROJECTO: 2009 a 2012 DATA DE CONSTRUÇÃO: 2012 a 2014 CLIENTE: Torre de Palma, Lda. – Dr. Paulo Barradas Rebelo, Dr.ª Isabel Rebelo LOCALIZAÇÃO: Vaiamonte, Monforte, Portalegre FICHA TÉCNICA ARQUITECTURA: João Mendes Ribeiro ESPECIALIDADES CO-AUTORIA: Luísa Bebiano (nos edifícios da Adega e Casa do Caseiro) FUNDAÇÕES E ESTRUTURAS: Paulo Maranha Tiago COLABORAÇÃO EM FASE DE PROJECTO: Ana Cerqueira, Ana Isabel Fernandes, Carina Carmo, INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS: Vítor Ribeiro Carolina Ferreira, Catarina Fortuna, Catarina Leal, Diogo Rodrigues, Filipe Catarino, Joana Brandão, INSTALAÇÕES ELÉCTRICAS E DE TELECOMUNICAÇÕES: Luís Filipe Besteiro Ribeiro Joana Canas Marques, Joana Figueiredo, Luísa Bebiano, Mafalda Moreira, Margarida Tavares, INSTALAÇÕES MECÂNICAS: Francisco Viçoso, João Madeira da Silva, Pedro Dias Maria Jerónima, Pedro Martins, Rui Santos, Sara Ataíde, Sofia Rangel, Teresa Silvestre. INSTALAÇÕES DE GÁS: Pedro Ramos COLABORAÇÃO EM FASE DE OBRA: Ana Cerqueira, Ana Maria Feijão, Catarina Fortuna, Filipe Catarino, ESPAÇOS EXTERIORES: João Mendes Ribeiro Inês Lourenço, Joana Brandão, Joana Figueiredo, Nuno Alves Pereira. COORDENAÇÃO DE OBRA: Filipe Catarino CONSTRUTOR: ABA – A. Baptista de Almeida, Construções Civis e Obras Públicas JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 49 50_51 térmica MARCAÇÃO CE E AVALIAÇÃO TÉCNICA EUROPEIA DE PRODUTOS E SISTEMAS DE ISOLAMENTO TÉRMICO DE EDIFÍCIOS Carlos Pina dos Santos, Eng.º Civil, Investigador Principal do LNEC Os Estados-Membros introduziram disposições que incluem requisitos relativos não só à segurança dos edifícios e de outras obras de construção mas também à saúde, à durabilidade, à poupança de energia, à protecção do ambiente, a aspectos económicos e a outros aspectos importantes de interesse público (RPC) Nesta coluna, há cerca de um ano [1] abordámos o tema da marcação CE dos produtos e sistemas de isolamento térmico de edifícios e da sua relevância para os respetivos mercados, aplicação, qualidade e inovação. Foram então apontadas quais, em nosso entender, as vantagens reais registadas e as fragilidades ou limitações observadas direta ou indiretamente, beneficiando ou afetando, consoante o caso, os fabricantes, os projetistas, os donos de obra e os utilizadores finais1 . O Regulamento dos Produtos de Construção (RPC) [2], que substituiu a Diretiva dos Produtos de Construção (DPC), visa simplificar e clarificar o quadro existente e melhorar a transparência e a eficácia das medidas em vigor. O tempo dirá se estes objetivos foram, na realidade, alcançados. A obrigatoriedade da marcação CE para os produtos cobertos por uma norma harmonizada mantém-se. As soluções inovadoras − parcial ou totalmente não cobertas por uma dessas normas − desde que disponham de uma Avaliação Técnica Europeia (ATE) voluntária, passam a ser obrigadas à marcação CE. De notar que as normas europeias harmonizadas e os ETAGs2 já publicados continuarão, a médio prazo, a constituir as especificações técnicas harmonizadas que servem de base à Declaração de Desempenho que permite a marcação CE. Embora, como é natural, a segurança (nomeadamente, no que respeita aos isolantes térmicos, a segurança face ao incêndio) seja um requisito básico fundamental e incontornável das obras, não foram esquecidos os outros requisitos básicos definidos na anterior Dire- 50 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 tiva, aos quais se junta o novo e atual requisito sobre a utilização sustentável dos recursos naturais3. Além da reconhecida importância de facilitar a livre circulação dos produtos de isolamento térmico no mercado interno europeu, através da eliminação de entraves técnicos (para o que contribui a harmonização normativa), os aspetos económicos adquirem, como também é compreensível, um papel de relevância. Foram introduzidas simplificações significativas nos procedimentos que conduzem à marcação CE, baseada quer numa norma harmonizada quer numa ATE. As simplificações criadas devem traduzir-se por uma redução dos custos para os fabricantes dos produtos de construção e, desejavelmente, para os donos de obra e utentes finais. Em qualquer situação de conformidade com aquelas especificações técnicas, a marcação CE será feita após a elaboração, pelo fabricante 4 , de uma Declaração de Desempenho aquando da respetiva colocação no mercado. Todavia, poderá deixar alguma reserva o facto de o RPC determinar que a declaração tem de indicar o desempenho de pelo menos uma das características essenciais5 do produto de construção que seja relevante para a utilização ou utilizações previstas declaradas [2], sob pena de se revelar uma declaração vazia. Por outro lado, as ATEs, onde também foram introduzidas simplificações nos procedimentos de concessão, devem conter pelo menos uma descrição geral do produto de construção, a lista das suas características essenciais relevantes para a utilização do produto prevista pelo fabricante e acordada entre este [2] e a organização dos Organismos de Avaliação Técnica (OAT). Cabe, portanto, ao fabricante, ou ao fabricante em conjunto com um organismo notificado ou de avaliação técnica (no caso das ATEs) decidir quais as características de desempenho a declarar. Como também já aqui tínhamos referido, as normas de isolantes térmicos não são suficientemente detalhadas para permitir a seleção de uma solução que se adeque a uma determinada aplicação específica, em particular se essa aplicação é exigente em termos de desempenho face às ações a que está sujeito ou aos requisitos a cumprir, constantes ou não da legislação e regulamentação vigentes. No que respeita ao conteúdo técnico das ATEs, a experiência passada revela, com frequência, a ausência de informação suficiente para o utilizador comum (projetista, licenciador, dono de obra) que lhe permita avaliar a adequação (e.g. climática, construtiva, funcional) ou mesmo a segurança (e.g. incêndio) e outros aspetos relevantes de desempenho da solução em consideração. Por outro lado, regista-se, como seria natural, uma transição de soluções inovadoras para soluções normalizadas, à medida que a divulgação e a experiência adquirida aumentam, nomeadamente no que respeita a determinadas soluções de ETICS 6 e outras de isolamento térmico pelo exterior. Algumas destas transições são questionáveis, e indevidamente generalizadas para produtos ou soluções sobre os quais ainda não existe conhecimento sedimentado. Em diversos Estados-Membros, sobretudo França, Reino Unido, Alemanha, Espanha, e mesmo Portugal, proliferam e impõem-se (a nível nacional) as certificações, marcas de qualidade, sistemas de etiquetagem ou documentos de aplicação técnica7 que visam ultrapassar as limitações identificadas na harmonização europeia. Todavia, todas estas medidas podem revelar-se como novas barreiras técnicas e económicas à tão desejada livre circulação dos produtos no mercado interno. Porém, o próprio RPC refere e admite que, além da marcação CE, podem ser utilizadas outras marcações, desde que contribuam para melhorar a proteção dos utilizadores de produtos de construção e não estejam abrangidas pela legislação de harmonização da União em vigor. Outra via passa pela legislação nacional. No domínio da segurança face ao incêndio, a regulamentação dos diversos estados-membros incorporou a nova solução harmonizada e Ficaram ainda por abordar dois aspetos demasiado importantes, embora um deles não se integre no âmbito de um RPC, e o outro tarde a ser uma realidade: a preocupação com as boas regras e práticas de conceção e de aplicação dos sistemas de isolamento térmico; e o controlo efetivo do mercado pelas entidades de fiscalização competentes. Como resultado do que se referiu nesta coluna, há que questionar se a Declaração de Desempenho que permite a marcação CE é suficiente, por si só, para conduzir ao bom desempenho global e à durabilidade das soluções de isolamento térmico praticadas e à concorrência leal entre fabricantes. A resposta parece óbvia. CONSTRUÇÃO MAGAZINE (Carlos Pina Santos) – Os isolantes 1 térmicos, a marcação CE e o novo regulamento dos produtos da construção. CM56 julho-agosto 2013, Coluna Térmica, p.p 44-45 2 http://www.lnec.pt/qpe/marcacao (site onde se podem encontrar os links para a documentação relevante e atualizada sobre o RPC) PUB transversal de ensaio e de classificação da reação ou da resistência ao fogo, embora mantendo a diversidade de requisitos de desempenho consoante a sua tradição ou critérios de segurança considerados aceitáveis. Em Portugal, a adoção da nova classificação europeia permitiu definir ou reequacionar algumas das exigências regulamentares que envolvem soluções de isolamento térmico da envolvente dos edifícios, nomeadamente os sistemas ETICS e as fachadas ventiladas. Sem dúvida que se contribuiu (com o apoio e uma maior atenção por parte das entidades de licenciamento e de fiscalização) para minimizar o risco associado a soluções inaceitáveis, desadequadamente ou não classificadas. Todavia, reconhece-se que estas soluções, ou ainda outras para isolamento pelo interior – todas elas suscetíveis de vulgarização na reabilitação térmica – necessitam de mais suporte técnico e legislativo. A SOLUÇÃO DE POUPANÇA ENERGÉTICA E CONFORTO EM EDIFÍCIOS O SEU ISOLANTE TÉRMICO IBERFIBRAN – POLIESTIRENO EXTRUDIDO, S.A. Avenida 16 de Maio, Z.I. Ovar, 3 8 8 0 -102 Ovar Tel: +351 256 579 670 E- mail: iber fibran@iber fibran.pt f i b ra n .co m . p t JULHO/AGOSTO 2014 / i b e r f i b ra n CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 51 52_53 betão estrutural A ARTE NO PROJETO DO BETÃO ESTRUTURAL José Manuel Noronha da Câmara, Sócio-gerente da JSJ, Lda. Professor Associado IST e Coordenador da Especialização de Estruturas da OE Pode parecer estranho que comece por denominar, logo no título, a engenharia de estruturas e, em particular, a do betão estrutural de Arte. A palavra arte, que vem do latim ars, queria dizer técnica e/ou habilidade e estava também ligada às manifestações de ordem estética e comunicativa. Embora o conceito de arte tenha sofrido um grande evolução ao longo dos tempos, a sua etimologia remete-nos para uma ideia essencial de técnica ou habilidade que está implícita nos projetos de betão estrutural. Com uma parte grande da minha vida dedicada a esta arte, em diferentes vertentes, atravessando a investigação, o ensino e o projeto, creio poder afirmar, sem dúvidas, que apesar de não sermos acompanhados pela sociedade em geral, sou apoiado, por muitos colegas, nesta convicção. A nossa atividade começa na conceção estrutural e aqui, inseridos em equipas pluridisciplinares, tentamos integrar as soluções a desenvolver nos objetivos dos donos de Obra, Instituições Públicas, Promotores Privados ou diretamente de outros projetistas, em particular dos arquitetos. Como viabilizar soluções que pretendem cumprir as suas funcionalidades, com valorização estética e com uma solução estrutural e economicamente eficiente? Na fig. 1 ilustram-se exemplos do Viaduto Urbano do Eixo Norte/Sul e da Torre pertencente ao Núcleo Judiciário no Parque das Nações, em que estes aspetos da conceção inicial foram importantes. Se esta é talvez a componente mais nobre da atividade, e para a qual os anos de envolvimento, se vividos intensa e interessadamente, são uma importante mais-valia, o certo é que esta vertente não é mais do que o início da nossa ação. No início é importante a definição de uma boa solução base, tendo presente a eficiência estrutural do ponto de vista da qualidade da resposta às funções para que está prevista e da competitividade económica. O betão estrutural, englobando as suas recentes evoluções a nível do melhoramento da sua performance, é e continuará a ser um material chave para encontrar essa solução, associado, quando per tinente, à integração do pré-esforço. Repare-se que não me refiro à procura de soluções ótimas, como muitas vezes digo aos meus alunos, mas de boas soluções e, como é interessante nesta arte verificar que, muitas vezes, duas formas diferentes de equacionar uma situação podem facilmente ser duas boas soluções. Depois há uma fase do projeto, por vezes denominada com um pendor crítico como sendo dos “calculistas”, que é a da análise detalhada e perceção concisa do encaminhamento das cargas na estrutura prevista e dos seus efeitos, quer a nível da distribuição das tensões quer das deformações. Nesta matéria > Figura 1: Soluções estruturais concebidas com preocupações de integração estética e eficiência económica. 52 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 MAIO/JUNHO 2014 é curioso explicar, em particular a quem está mais afastado desta arte, quais são as nossas preocupações fundamentais de segurança, ou seja, garantir a não rotura da estrutura com uma certeza “quase” inquestionável e assegurar que as características do comportamento, em situações correntes, satisfazem as exigências funcionais da obra em causa e com a durabilidade adequada. Neste contexto de verificação da segurança, a compreensão clara sobre a forma diferente como o betão estrutural responde a diferentes tipos de ações, as cargas gravíticas, as deformações impostas ou a ação sísmica são, ainda hoje, um desafio nesta arte. A utilização e interpretação correta dos resultados das ferramentas computacionais potentes hoje disponíveis não é simples. Na atividade de projeto há que saber questionar opções anteriores, revê-las e mudá-las, se for caso disso. Muitas vezes, a nossa energia pode ser mal despendida, em “cálculos” que não levam a “bom porto”, porque a solução em causa é menos adequada. No processo do projeto nunca se devem fechar, completamente, etapas anteriores, mas sim ir questionando-as mentalmente e/ou por avaliações de segurança mais detalhadas. Há que saber avançar tão rápido quanto possível, mas controlando e questionando as opções anteriormente tomadas. Só com dedicação ao trabalho com uma vivencia envolvente e interiorizada, a atividade ganha relevância para o enriquecimento da experiência como engenheiro de estruturas. Não posso deixar de referir o quanto as indicações regulamentares podem orientar menos bem opções de colegas da arte. Na fig. 2, mostra-se o edifício do Hospital de Cascais, em que a estrutura é contínua num comprimento de mais de 100 metros, muito mais robusta sismicamente, quando os regulamentos atuais orientariam para adoção de juntas estruturais afastadas da ordem dos 30 metros, com vários tipos de inconvenientes. Para além disso a quantidade > Figura 2: Vista Geral do Hospital de Cascais com dimensões significativas e concebido com minimização de juntas estruturais. a qual deveria haver condições de poder ser apreciada no futuro. Na fig. 3 estão ilustrados os pilares adotados para uma infraestrutura de transporte urbano ligeiro no Concelho de Oeiras, em que a geometria definida para os pilares tem uma lógica estrutural, funcional e estética, e onde se mostra um desenho de detalhe da arte de pormenorização das armaduras. Só que, para já, o betão não é trans- parente... e essa vertente da nossa arte fica escondida para a generalidade das pessoas. É preciso valorizar a nossa Arte e fazer a sociedade perceber que o engenheiro de estruturas em geral e do betão estrutural em particular, não é aquele inevitável colaborador que tem de fazer umas contas para que se possa construir e que pouco pode trazer à eficiência, à estética, à segurança e à economia da obra. PUB e, por vezes, complexidade dos documentos regulamentares, podem contribuir para enlear o engenheiro nas suas congeminações de forma que, a certa altura, não sabe, em termos físicos, que avaliações de segurança está a fazer e porquê. Nessa altura deixa de ser engenheiro e torna-se “aquele calculista” cheio de automatismos que, como referido acima, por vezes, nos acusam de ser. Não se pode deixar de referir quão útil são, nos tempos correntes, as ferramentas de análise das estruturas, permitindo uma fiabilidade das nossas opções, sem precedentes em relação a um passado não muito distante. No entanto, não há bela sem senão, e é preciso reforçar o perigo que é ter engenharia a ser produzida automaticamente, por programas, sem avaliações intermédias dos engenheiros. Quantas asneiras se fazem, hoje em dia, por acreditar que os computadores resolvem os problemas? Eles não são mais que ferramentas, cujos resultados têm de ser cuidadosamente avaliados pelos engenheiros e, assim, nos valorizamos e crescemos na nossa arte. Finalmente, uma não menos importante fase da nossa Arte de projetistas de betão estrutural é preparar e desenvolver os desenhos com todo o cuidado e dedicação. É a partir destes que o nosso projeto vai ser construído. Não esqueçamos que, na obra, os elementos de referência são as denominadas peças desenhadas que devem ser cuidadosamente pensados de tal maneira que quem depois queira construir possa definir a geometria, nos seus mais pequenos pormenores, e saber que armaduras adotar e como as dispor, recorrendo o menos possível a informação escrita. Há, nalguns casos particulares, desenhos de disposição de armaduras que são, em si, obras de arte, com um detalhe e uma lógica estrutural, para > Figura 3: A arte na Conceção, na compreensão do encaminhamento das cargas e na pormenorização das armaduras nos pilares de um Sistema de transporte ligeiro urbano. ... agora em todos os suportes, onde quer que se encontre! Desc arregue a app gr atuitamente par a ios e anDroiD MAIO/JUNHO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 53 54_55 alvenaria e construções antigas ANÁLISE COM GPR DA CONSTITUIÇÃO DE CHAMINÉS INDUSTRIAIS EM ALVENARIA Francisco M. Fernandes, ISISE, U.Lusíada de Vila Nova de Famalicão O património industrial português está invariavelmente ligado à indústria têxtil, que teve, no passado, uma forte atividade, especialmente no norte de Portugal. Hoje em dia, o que resta de muitas dessas indústrias são os edifícios em avançado estado de degradação e as suas chaminés características em alvenaria de tijolo. Hoje, essas chaminés representam um património industrial valioso, assim como um património artístico e paisagístico muito relevante. Efetivamente, a presença destes “canudos” por entre o arvoredo ou no centro das cidades é uma atração forte e um símbolo da atividade que se produzia nesse local (ver Figura 1). Atualmente, tem-se observado a reutilização desses espaços para outro tipo de atividades. Assim, torna-se necessário proceder à reabilitação dessas estruturas. Esta breve comunicação irá debruçar-se sobre a análise que pode ser realizada e os resultados que podem ser obtidos aquando da inspeção dessas chaminés através de georadar. O georadar é um método não destrutivo e não invasivo para a avaliação de determinadas propriedades de estruturas em alvenaria, entre outros [1]. Esta técnica permite, de maneira muito eficaz, determinar vários parâmetros geométricos, tais como a espessura de paredes [3], a deteção de panos de alvenaria [3,4], etc. assim como a deteção de anomalias e/ou danos. As chaminés de alvenaria são geralmente constituídas por fiadas de tijolo maciço, colocados na horizontal. No entanto, não existe (a) (b) bibliografia que mostre como estas estruturas eram construídas, sendo que, antigamente, as chaminés eram construídas no local por reconhecidos mestres que as faziam “à medida”. Assim, a manutenção e reparação deste tipo de estrutura revela-se um grande desafio, tendo em conta os requisitos estruturais de segurança atuais e a necessidade de perceber como é que a estrutura funciona para a determinação de uma intervenção segura, mas económica. Nesse sentido, determinar com precisão a sua geometria, a constituição das suas paredes e a existência de prováveis zonas deterioradas é primordial, tanto mais que estes fatores influenciam decisivamente o seu comportamento estrutural, o que irá ditar as possíveis medidas de reforço, quer do ponto de vista técnico quer económico. Nesta comunicação são relatados os casos de duas chaminés que foram observadas com recurso ao georadar com o intuito de conhecer as suas características geométricas, entre outras. São elas a chaminé da Fábrica do Teles, em Santo Tirso, e a chaminé da zona industrial de Couros, em Guimarães. Ambas as estruturas são hoje locais de estudo, eventos culturais e exposição. Relativamente à primeira, é uma chaminé bastante alta (mais de 76 m de altura), apresentava curvatura acentuada e danos relevantes na extremidade de topo e fendas ao longo de todo o corpo. O equipamento a utilizar foi escolhido tendo em conta a variação das espessuras a detetar (que variavam entre 0.30 (c) > Figura 1: Exemplos de chaminés industriais em alvenaria de tijolo: (a) Cerâmica Rosa de Alvarães, em Viana do Castelo, (b) Fábrica do Teles, Santo Tirso e (c, d) chaminé na zona de Espinho. 54 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 e 1.10 m), a precisão necessária, a exequibilidade das leituras e o manuseamento e transportabilidade do sistema. Nesse sentido, foi escolhida a antena de 800 MHz. Alguns radargramas podem ser analisados nas Figuras 2 e 3 e ilustram a variação de espessura em altura e a espessura radial. Em todas as leituras foi possível verificar que as várias secções transversais da chaminé apresentavam uma relativa homogeneidade em termos materiais e em termos de geometria horizontal. Relativamente à variação da espessura na vertical, verificou-se que está distribuída por troços de espessura relativamente constante (cinco troços) e que o seu valor vai diminuindo com a altura. Um dos pontos onde se verifica essa variação está ilustrado na Figura 2. Convém aqui analisar com algum cuidado algumas situações. A leitura radial (Figura 3) é efetuada de maneira a que a antena fique tangente à superfície. Assim, os radargramas parecem indicar que, em determinadas áreas a espessura é irregular devido, provavelmente à erosão inerente ao uso. Igualmente de notar algumas zonas onde não houve reflexão da superfície. Esse facto parece indicar a presença de um material que absorve a radiação eletromagnética emitida pela antena, muito provavelmente cinza (facto também ocorrido em [5]). Relativamente à segunda, trata-se de uma chaminé de pequeno porte com danos estruturais significativos na base. Nesta situação foram utilizadas duas antenas (1.6 GHz no topo e 800 MHz na base) consoante a espessura espectável. Neste caso, a informação obtida foi similar. Notem-se os radargramas ilustrados na Figura 4. No radargrama vertical é possível observar a alteração da espessura da parede da chaminé. No perfil horizontal, efetuado na base da chaminé, é possível observar uma linha horizontal correspondente à camada de tijolo exterior, indiciando que, em determinadas zonas os tijolos não estão ligados, sendo unicamente uma camada de revestimento. Resulta evidente que este tipo de detalhe é muito importante para qualquer ação de reforço ou estudo do comportamento estrutural. AGRADECIMENTOS O autor agradece o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia através do projeto de investigação “Técnicas melhoradas e inovadoras para o diagnóstico e a monitoração da alvenaria histórica”, PTDC/ECM/104045/2008. O autor também quer deixar um agradecimento especial ao Fernando Pedro Ferreira da Silva Ribeiro, aluno de arquitetura na Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão, pelas numerosas e interessantes conversas sobre esta temática. > Figura 2: Exemplos de perfis de georadar verticais em várias posições ao longo da chaminé, incluindo um radargrama exibindo o ponto onde a espessura da parede da chaminé varia. REFERÊNCIAS > Figura 3: Exemplos de perfis de georadar horizontais em várias posições ao longo da chaminé. > Figura 4: Exemplos de perfis de georadar que mostram a alteração de espessura (verticalmente) e as camadas constituintes (horizontalmente). PUB [1] Daniels, D.J. (2004). “Ground Penetrating Radar – 2nd Edition.” Radar, sonar, navigation and avionics series 15, IEE, London, UK, ISBN 0-86341-360-9, 726p. [2] Fernandes, F.M., Ramos, L.F., Manning, E., Ferreira, J., Mendes P. (2013). “Multi-technique approach for the assessment of historical masonry constructions.” Em 10th International Conference on Damage Assessment of Structures (DAMAS 2013), 8 th-10 th July, Dublin, Ireland. Biswajit Basu (Ed.) Key Engineering Materials, Vol 569-570, pp. 1249-1256. [3] Alves, C., Vasconcelos, G., Fernandes, F.M., Silva, S. (2014). “Deterioration of the granitic stone at Misericórdia chapel in Murça (northern Portugal).” Em REHAB 2014 – International Conference on Preservation, Maintenance and Rehabilitation of Historic Buildings and Structures (REHAB 2014), 19 th-21th March, Tomar, Portugal. [4] Vasconcelos, G., Fernandes, F.M., Alves, C., Ramos, L.F. (2014). “Assessment of the stability conditions of an ancient stone masonry tower.” Em REHAB 2014 – International Conference on Preservation, Maintenance and Rehabilitation of Historic Buildings and Structures (REHAB 2014), 19 th-21th March, Tomar, Portugal. [5] Binda, L.; Cantini, L.; Fernandes, F.; Saisi, A.; Tedeschi, C.; Zanzi, L. (2004). “Diagnostic investigation on the historical masonry structures of a castle by the complementary use of non destructive techniques.” 13th International Brick and Block Masonry Conference, Amsterdam, the Netherlands, 10p. JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 55 56 sustentabilidade ECO-INOVAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Carlos Borrego, Professor Catedrático, Diretor do Dep. Ambiente e Ordenamento, U.Aveiro A análise da literatura académica, não académica e governamental identificou várias maneiras diferentes de aplicar os termos desenvolvimento sustentável e sustentabilidade (J. Rockström, 2014). Que o conceito de desenvolvimento sustentável e o qualificativo sustentabilidade têm sofrido abusos, foi recentemente reconhecido pela “mãe” destes termos, a norueguesa Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega e coordenadora da Comissão que em 1987 produziu o relatório “Nosso Futuro Comum”, onde o conceito foi evidenciado. Na abertura do Fórum Mundial de Sustentabilidade, em Manaus, à pergunta «A senhora cansou-se do termo “sustentabilidade”?», Gro Brundtland respondeu de modo categórico: “A expressão é desenvolvimento sustentável”. Nos últimos dez anos, as pessoas (cientistas e outros) começaram a usar “sustentabilidade” como forma alternativa. Diz Brundtland, que sempre teve cuidado em não usar a palavra “sustentabilidade” sozinha, enquanto conceito, já que precisamos de sustentabilidade em diversas áreas, mas também precisamos de desenvolvimento sustentável. Percebemos, portanto, que devemos focalizar o nosso esforço no conceito de desenvolvimento sustentável, o qual é usado em diversas situações. Do ponto de vista organizacional, Schaltegger e Wagner (2008) destacam o crescimento do desenvolvimento sustentável na gestão das organizações. Para esses autores, com a introdução de abordagens inovadoras, os empresários e gestores podem moldar os mercados, e consequentemente a sociedade, proporcionando melhorias organizacionais, mas também técnicas, produtos e serviços que podem ser vendidos no mercado com sucesso, uma vez que a inovação exige objetivos ambientais, económicos e sociais. No entanto, o conceito de inovação é bastante variado, dependendo, principalmente, da sua aplicação. De forma sucinta, inovação é a exploração, com sucesso, de novas ideias. Na União Europeia, e em resposta à crise econó- 56 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 mica e financeira, a estratégia Europa 2020 reforçou a capacidade da UE para a inovação, garantindo um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo. Os objetivos da estratégia estão a ser implementados através de diversas iniciativas emblemáticas que dão resposta aos principais desafios. A iniciativa emblemática «União da Inovação» apresentou um plano de ação sobre ecoinovação, entendida como qualquer forma de inovação que permite ou visa progressos significativos demonstráveis na consecução do objetivo de desenvolvimento sustentável, através da redução dos impactos no ambiente, do aumento da resiliência às pressões ambientais ou de uma utilização mais eficiente e responsável dos recursos naturais. A ecoinovação está intimamente ligada à forma como utilizamos os recursos naturais e aos nossos modos de produção e consumo. Os benefícios ambientais, sociais e comerciais previstos da generalização da ecoinovação podem ser consideráveis. As ecoindústrias europeias já constituem um setor económico importante, com um volume de negócios anual previsto de 319 mil milhões de EUR, cerca de 2,5% do produto interno bruto da UE (IDEA and Ecorys, 2009). Nos últimos dois anos, 45% das empresas europeias ativas nos setores do fabrico, da agricultura, da água e dos serviços alimentares contribuíram para a ecoinovação e beneficiaram desta. Em Portugal, identificaram-se 15% de empresas ativas nos setores da cortiça, mar, agricultura, água e telecomunicações. Um recente inquérito do Eurobarómetro (2011) sobre as atitudes das PME europeias em relação à ecoinovação mostra que a incerteza da procura do mercado e da rentabilidade do investimento são dois dos principais obstáculos, ao passo que os preços elevados da energia e dos materiais, as novas normas e regulamentações e o acesso ao conhecimento constituem os principais fatores impulsionadores da ecoinovação. Por isso, as medidas em curso da regulamentação dos incentivos, da contratação pública e privada e das normas e objetivos de desempenho, podem contribuir para reforçar e estabilizar a procura de ecoinovação no mercado. Devem igualmente ser mobilizados recursos financeiros suplementares, nos programas operacionais do Portugal 2020, para investimento em ecoinovação e são necessárias medidas políticas para diminuir e gerir os riscos para os empresários e os investidores. Uma estratégia de longo prazo, baseada na I&I (Investigação e Inovação) e no estabelecimento de parcerias, reforçará a ecoinovação, aumentando a massa crítica necessária para a inovação, garantindo o intercâmbio de ideias e boas práticas e criando redes e relações comerciais, dando consistência e fomentando o desenvolvimento sustentável. BIBLIOGRAFIA – Eurobarómetro (2011): Attitudes of European entrepreneurs towards eco-innovation, Flash n.º 315, Bruxelas. – IDEA Consulting and Ecorys (2009): Study on the competitiveness of the EU eco-industry, EC, Brussels. – Rockström, J (2014): World Development on a Stable Planet, to be presented at IARU Sustainability Science Congress, Oct 22nd–24th, Copenhagen, Denmark. – Schaltegger, S. e Wagner, M. (2008): Types of sustainable entrepreneurship and conditions for sustainability innovation: from the administration of a technical challenge to the management of an entrepreneurial opportunity. In: Wüstenhagen, Rolf; Hamschmidt, Jost, Sharma, Sanjay and Starik, Mark. Sustainable innovation and entrepreneurship. Cheltenham, UK, pp. 27-48 45_46 notícias dinamização do cluster habitat sustentável Promovido pela Plataforma para a Construção Sustentável, como entidade gestora do Cluster Habitat Sustentável, está em curso o projeto de “Dinamização e Internacionalização do Cluster Habitat Sustentável” (projeto SIAC nº40969, apoiado pelo COMPETE). O projeto decorre até dezembro. A iniciativa envolve uma abordagem inovadora à internacionalização, baseada num processo de criação de negócios junto de mercados de valor acrescentado, visando uma ação comercial concertada por parte de 5 grupos da fileira do habitat em segmentos de mercado internacionais como os de fornecimento ou construção de hotéis, hospitais, escolas, empreendimentos urbanísticos e ainda infraestruturas do setor do ambiente. As empresas participantes terão acesso ao ranking e comparação entre 33 mercados internacionais prioritários e seus segmentos de mercado selecionados, ao envolvimento nos processos de decisão de internacionalização com potenciais parceiros de competências complementares e sinérgicas e a metodolo- gias avançadas de Competitive Intelligence, capazes de reduzir os riscos e incertezas da Internacionalização, bem como reforçar a certeza na aplicação das melhores estratégias para cada um dos mercados de elevado potencial selecionados pelos empresários. Estas empresas terão, também, acesso a contactos privilegiados dos Mercados de elevado potencial e seus centros de decisão, para potencial efetivação de negócios. www.centrohabitat.net exportações do setor metalúrgico e metalomecânico atingem o valor mais alto de sempre em maio Os dados são da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP), e relatam um crescimento de 6,5 por cento relativamente a maio de 2013. Nos primeiros cinco meses do ano, as vendas ao exterior já atingiram o valor recorde de 5672 milhões de euros. Estes números representam, também, um crescimento de 9,9 por cento em relação a abril, sendo de salientar que as exportações do setor cresceram pelo quarto mês consecutivo relativamente aos meses homólogos do ano anterior. À semelhança do que já tinha sucedido em abril, os números de maio assentam especialmente nas transações com os países da União Europeia, com destaque para Espanha, Alemanha, França e Reino Unido. Aliás, o peso percentual das vendas para os restantes países da União Europeia foi exatamente igual ao verificado no mês de abril, tendo ascendido a 71% das vendas totais do setor. O índice que mede a evolução do nível de atividade das empresas a operar no segmento da Reabilitação Urbana registou um crescimento de 23,8% em junho, face ao mês anterior. Esta melhoria no Indicador de Atividade foi acompanhada por um aumento de 2,4% do índice que mede a evolução da Carteira de Encomendas, com o número de meses de atividade assegurada neste segmento a superar, pela primeira vez, os 5 meses. Nos primeiros 5 meses de 2014, foram licenciadas, pelas Câmaras Municipais, 2.975 obras de reabilitação urbana, das quais 1.477 respeitam a edifícios habitacionais e 1.498 a edifícios não residenciais. Estes números traduzem, em termos homólogos, uma redução global de 2,2%, uma redução de 4,1% nos edifícios habitacionais e uma estabilização no licenciamento dos edifícios não residenciais. Considerando apenas o mês de maio, as licenças emitidas para obras de Reabilitação registam um aumento homólogo de 5,8%, em resultado de um aumento de 13,5% das licenças emitidas para a reabilitação de edifícios não residenciais. www.aiccopn.pt O setor metalúrgico e metalomecânico exportou, no passado mês de maio, um total de 1.266 milhões de euros, o que constituiu o mais elevado valor mensal de exportações desta indústria desde que há registos detalhados sobre o tema. JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 57 notícias utilização de cortiça em revestimentos multifuncionais Um projeto desenvolvido em parceria entre a Universidade de Aveiro e a Amorim Cork Research & Services e apoiado pelo Compete tem como objetivo incorporar cortiça em revestimentos. Tradicionalmente a proteção de substratos metálicos efetua-se através da aplicação de revestimentos poliméricos contendo pigmentos anticorrosivos. O revestimento polimérico atua como barreira protetora, evitando o contacto direto entre o substrato e o exterior (proteção passiva), enquanto os pigmentos anticorrosivos previnem e inibem a corrosão quando a barreira do revestimento falha (pro- teção ativa). Tradicionalmente, inibidores como sais à base de cromatos eram adicionados às formulações para prevenir a corrosão. No entanto, esses aditivos foram banidos do mercado devido à sua alta toxicidade e potenciais efeitos cancerígenos. Este projeto aposta na utilização da cortiça como material ecológico e altamente sustentável para ser incorporado em revestimentos. os objetivos passam por desenvolver novos revestimentos multifuncionais usando a cortiça como produto de enchimento, otimizar a compatibilidade físico-química da cortiça com a formulação dos revestimentos utilizados, usar a cortiça como reservatório de inibidores de corrosão e incorporá-la em revestimentos multifuncionais e, por fim, caracterizar e avaliar os revestimentos multifuncionais desenvolvidos. Ao incorporar cortiça como material de enchimento num revestimento, este ficará dotado das suas propriedades de impermeabilidade a líquidos e gases. É também possível usar a cortiça como reservatório de espécies ativas, nomeadamente inibidores de corrosão, uma vez que a cortiça possui na sua constituição estrutural uma quantidade significativa de poros, onde poderão ser imobilizados os inibidores de corrosão. www.pofc.qren.pt grupo ramos ferreira ganha obra em moçambique O Grupo Ramos Ferreira vai ser responsável, em parceria com a empresa ECV Moçambique, pelas Instalações Elétricas, AVAC, Telecomunicações e Gestão Técnica Centralizada da sua primeira obra em Moçambique. Trata-se da segunda fase do Edifício Platinum em Maputo, um investimento de cerca 40 milhões de euros, cuja empreitada de Construção Civil está a cargo da Mota-Engil. Uma tecnologia para Tablet com sistema operativo Android, que rapidamente faz o diagnóstico das patologias dos pavimentos das redes rodoviárias, designada por iRoad (inspection of ROADS), foi idealizada por uma equipa de investigadores do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra (UC). 58 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 Projetado pelo arquiteto Frederico Valsassina, o Edifício Platinum inlcui uma fusão de Residências (Platinum Residences), Escritórios (Platinum Corporate) e Lojas (Platinum Shops) num só edifício. Apresenta-se como um edifício multifuncional, flexível e sustentável do ponto de vista ambiental. As especialidades adjudicadas arrancaram no passado mês de julho e a sua conclusão está prevista para o segundo semestre de 2015. O iROAD, também conhecido por “Dr. Road”, “permite fazer o diagnóstico das patologias dos pavimentos (fendilhamento, pele de crocodilo, covas, peladas, etc.) ou de outras componentes da rede rodoviária (sinalização, passagens para peões, drenagem, etc.). Trata-se de uma ferramenta portátil de custo reduzido, com teclados virtuais configuráveis em função do que se pretende inspecionar/auscultar, com possibilidade de anexar imagens, vídeos, comentários escritos ou falados”, afirma o coordenador científico do projeto, Adelino Ferreira. O iROAD é constituído por vários módulos divididos por Elementos – características da estrada que se pretendem inspecionar/auscultar; Teclados – configuráveis em função dos elementos que se pretendem avaliar; Secções e Levantamentos – onde se definem as secções e, posteriormente, se faz o levantamento; Importação e Exportação – para interagir com outras ferramentas, como o SIGPAV, um Sistema Informático de Gestão da Conservação de Pavimentos para computador. O sistema, desenvolvido em parceria com a empresa informática Byline Solutions no âmbito do projeto MODAT – Multi-objective DecisionAid Tool for Highway Asset Management, financiado pelo Programa Operacional Fatores de Competitividade (COMPETE) no âmbito do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN) e pelo Fundo Comunitário Europeu FEDER, encontra-se em fase de protótipo. notícias volvo estuda tecnologia rodoviária de carregamento de veículos elétricos A Volvo, fabricante de automóveis, autocarros e equipamento de construção, está a desenvolver uma tecnologia rodoviária cujo objetivo é permitir aos autocarros urbanos, elétricos e híbridos carregarem automaticamente as suas baterias durante a circulação. © VOLVO GROUP O sistema está a ser desenvolvido em cooperação com a Administração de Transportes da Suécia, e utilizará tecnologia de indução para a transmissão de energia desde o pavimento da estrada até à base do chassis dos veículos. As baterias dos veículos estarão em constante carregamento, não sendo necessário parquear os autocarros para reabastecimento energético, o que permitirá a utilização de baterias de menor autonomia e de mais reduzida dimensão e proporcionará poupanças tanto a nível de custos de operação como a nível ambiental. Um trecho de teste de 500 metros será brevemente construído no trajeto entre Chalmers e Lindholmen, em Gotemburgo, que será batizado de ElectriCity. PUB engenhariacivil.com JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 59 60_63 mercado pattex cx para reparações urgentes de colagem e preenchimento A Henkel acaba de lançar no mercado profissional da construção a sua nova argamassa adesiva Pattex CX10, um produto pronto a usar em diferentes materiais como cerâmica, madeira, alvenaria e em múltiplas aplicações, especialmente desenvolvido para permitir reparações rápidas de colagem e preenchimento. A utilização da argamassa tradicional é pouco versátil e tem algumas limitações na resolução rápida e eficiente de problemas e necessidades específicas das pequenas obras e reparações na construção. Como solução, a Henkel propõe a argamassa adesiva multimateriais Pattex CX10, um produto que, de acordo com a empresa, é extremamente versátil e pode ser aplicado sob qualquer condição, mesmo com temperaturas baixas e níveis de humidade ele- vados. Os seus usos vão desde a reparação de pavimentos de madeira e o preenchimento de fissuras à colagem de sanitários ou aplicação de telhas ou painéis de pladur. A argamassa adesiva Pattex CX10, já disponível no mercado em embalagens de 850 ml, é muito fácil e rápida de aplicar com uma pistola especial para espuma, garante a Henkel. Outras características destacadas pela Henkel são o poder de fixação, a secagem muito rápida (cerca de 2 horas) e um elevado poder de expansão e preenchimento (muito útil para superfícies irregulares). Este produto permite manter um elevado controlo quando se expande, não se expandindo tanto quando são colocadas barreiras, o que permite obter melhores resultados e acabamentos muito mais perfeitos. A argamassa adesiva Pattex CX10 caraterizase por ser um adesivo expansivo universal de poliuretano monocomponente, que não contém CFC’s e endurece em contacto com a humidade. Possibilita a eliminação de pontes térmicas e possui os elevados padrões de força aderente próprios da argamassa para alvenaria (EN 998-2). www.pattex.pt schlüter®-kerdi: quadrícula impressa para uma instalação mais fácil Com a nova quadrícula impressa, que inclui o lote de produção, a manipulação da lâmina Schlüter®-KERDI é mais fácil, segura e simples. Prático: O indicador contínuo informa sobre a quantidade de material restante no rolo. 60 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 Com uma nova e prática quadrícula, a lâmina de impermeabilização Schlüter®-KERDI é mais fácil de instalar, de acordo com a empresa. Este inteligente sistema ajuda a cortar no rolo a medida necessária de um modo fácil e simples. Devido à informação impressa na lâmina, o aplicador está informado a todo o momento sobre a quantidade de material restante no rolo. Além disso, a quadrícula impressa proporciona uma ajuda prática para a execução uniforme das sobreposições entre lâminas e/ou bandas de impermeabilização. Outra novidade é a impressão do número de fabrico em cada rolo. Isto facilita a rastreabilidade do produto e indica que o material foi aprovado com êxito nos mais exigentes controlos de qualidade para sistemas de impermeabilização. A introdução da nova lâmina impressa vai ser feita progressivamente, e em breve estará disponível em todas as longitudes de fornecimento da lâmina de impermeabilização Schlüter®KERDI-200. O sistema de impermeabilização Schlüter®-KERDI é utilizado há mais de 25 anos para a colocação de cerâmica ou pedra natural. É um sistema rápido e simples de aplicar, que oferece a maior segurança e garantia, através da espessura uniforme e do adesivo de selagem das juntas Schlüter®-KERDI-COLL. Além disso, estão disponíveis peças especiais, como peças de ângulo e de remate a tubagens, que permitem soluções inteligentes, para os detalhes de construção mais críticos. www.schluter.pt mercado A série de peneiras TS caracteriza-se, segundo a Metso, pelo seu design inovador, composto por duas tecnologias: combinação de inclinações múltiplas e o movimento elíptico variável. Esta série comprovada está a ser complementada com a novo crivo TS6.3. Tal design propicia uma alta velocidade do material na extremidade de alimentação, com redução da velocidade na extremidade de descarga, o que proporciona uma melhor estratificação. Esta combinação da TS6.3 aumenta a eficiência e a capacidade do crivo. A série de crivos TS da Metso oferece maior espaço entre os decks, o que agiliza as intervenções para manutenção com melhores condições de ergonomia, e atende a todas as exigências de segurança, de acordo com a empresa. Recentemente, a Metso vendeu várias peneiras de inclinações múltiplas de 25 m2 para mineração, como a TS6.3 para a Ferrostaal na Mauritânia, e também no setor de construção, por exemplo, Holcim em Lynwood, Austrália, Georyt na Polônia, Apaxco no México e também para Newmont no Peru. www.metso.com O novo crivoTS6.3 da Metso possui uma área de crivagem de 25 m2 . esmalte aquoso smp acqua da robbialac SMP Acqua é um esmalte aquoso indicado para madeira e metal que de destaca, segundo a Robbialac, pelo toque suave, boa opacidade e facilidade de aplicação. O produto está disponível nos acabamentos Brilhante e Fosco, em branco e em cores claras, médias e afináveis através do Sistema de Tintagem Super Colorizer. SMP Acqua é comercializado em embalagens de 0,75L e 4L. Este esmalte aquoso detém, também, a classificação máxima da Qualidade do Ar Interior, A+. O ensaio realizado pelo Laboratório da Qualidade do Ar Interior (LQAI) revelou que SMP ACQUA não liberta substâncias nocivas após a secagem. www.robbialac.pt/smpacqua cabine de insonorização minitec O sistema de perfil de alumínio modular da MiniTec facilita, de acordo com a distribuidora, Fluidotronica, a construção de dispositivos de proteção física, como barreiras de segurança, ou sonoras (isolamento acústico). A cabine de insonorização pode ser instalada num curto espaço de tempo, de forma simples, modular e flexível. Esta estrutura, que pode ser desenvolvida de acordo com as suas necessidades, permite não só reduzir os ruídos - respeitando todas as normas de saúde e segurança - como também cria um limite físico - protegendo operários de zonas potencialmente perigosas. Estas cabines são caracterizadas pela acessibilidade otimizada, através de portas de dobradiças simples, portas elevatórias ou através de janelas para manutenção com painéis facilmente amovíveis (permite acesso abrangente à área isolada, que facilita a manutenção). Opcionalmente, é possível o isolamento térmico. www.fluidotronica.com JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 61 mercado betafence com novas soluções residenciais A Betafence aposta no segmento residencial ao ampliar duas das gamas do setor BEKAFOR ESSENTIAL: SEGURANÇA E PRIVACIDADE Bekafor Essential apresenta-se em 2014 como a extensão da gama de referência a nível de vedações residenciais em painéis, a Bekafor Classic. Fabricadas com arame de aço galvanizado e plastificado e com nervura de reforço, estas vedações diferenciam-se pela dimensão da malha, diâmetro do arame e n.º de arames na nervura. Ambos os sistemas combinam durabilidade, rigidez e facilidade de instalação. Para uma privacidade plena, as soluções de privacidade Collfort e Nevada poderão ser integradas nos respectivos sistemas. PANTANET ESSENTIAL: DISCRIÇÃO E HARMONIA COM O AMBIENTE Dependendo do índice de robustez, determinado pela dimensão das malhas e pela espessura do diâmetro dos arames, e da duração de vida pretendida do produto, os quatro tipos da gama Pantanet asseguram, segundo a Betafence, qualidade e discrição na delimitação do jardim. O novo Pantanet Essential e o Pantanet Light designam dois modelos de produtos com uma ampla variedade de alturas e disponíveis em dois comprimentos. A malha de reduzidas dimensões do Pantanet Protect e o arame duplo na extremidade superior e inferior do Pantanet Family são, de acordo com a Betafence, a garantia de uma excelente robustez e qualidade superior. www.betafence.pt A serra de metal GCD 12 JL Professional da Bosch permite, segundo a empresa, um corte em metal preciso e praticamente sem faíscas, graças ao seu disco “Expert for Steel” desenvolvido para este fim. A descoloração e a formação de arestas que podem ocorrer com a utilização de rebarbadoras são minimizadas ao cortar com a GCD 12 JL Professional da Bosch, eliminando desta forma a necessidade dos frequentes e, muitas vezes demorados, trabalhos de retoque. Além disso, graças ao baixo nível de faíscas produzido, os profissionais têm uma visão clara da linha de corte. Por outro lado, o laser integrado permite marcar a linha de corte com exatidão, facilitando, por exemplo, o corte limpo e preciso em comprimento de tubos e perfis quadrados ou angulares. Esta ferramenta está equipada com um motor de 2.000 W de 1.500 r.p.m., assegurando cortes retos em perfis de aço ocos de 100 mm de largura e 100 mm de altura sem dificuldade, segundo a Bosch. As aparas caem diretamente no coletor removível. A serra de metal GCD 12 JL Professional da Bosch corta também peças longas com precisão, de acordo com a Bosch, graças à base de trabalho lateral extensível em alumínio reforçado. www.bosch.pt 62 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 mercado reforço de pavimentos com grelhas termo-aderentes – ensaios de controlo de execução e qualidade em obra O aumento de tráfego em carga e em intensidade tem provocado danos nos pavimentos rodoviários, quer seja por fendilhação de reflexão de fissuras de base, quer seja por fadiga das camadas de mistura betuminosa. Numa estratégia de recuperação do pavimento, a colocação de novas camadas betuminosas sobre camadas existentes fendilhadas, quando aplicadas sem os devidos cuidados no combate à propagação das fendas existentes, na grande maioria dos casos resultam em insucessos. As grelhas pré-betuminadas de anti-propagação de fendas em fibra de vidro têm vindo a ser utilizadas com o objetivo de solucionar as anomalias supracitadas, enquanto as grelhas pré-betuminadas de reforço de pavimentos em fibra de carbono são utilizadas para recuperar estruturalmente os pavimentos rodoviários e aeroportuários. Isto resulta no aumento significativo da vida útil do pavimento e a correspondente diminuição nos custos de manutenção. Estas técnicas têm sido usadas na Europa desde a década de 80, principalmente em países frios, com ciclos de gelo e degelo, onde a reflexão de fissuras é mais rápida e danosa. No entanto, só em 2005 estas técnicas foram introduzidas em Portugal. Desde 2005 até aos dias de hoje foram aplicados mais de meio milhão de metros quadrados de grelhas de reforço de pavimentos. A beneficiação da “A22 lanço da Guia/Nó de Faro Aeroporto” foi a primeira grande obra onde foi aplicado este tipo de grelhas. Esta obra, projetada pela Coba, apresentava diversos problemas de fissuração de difícil resolução e com vários insucessos anteriores. A obra encontra-se realizada desde 2007 e com um bom comportamento e desempenho. No entanto, em Portugal este tipo de tecnologia ainda tem pouco controlo, quer na execução quer no seu real desempenho, não só por falta de ensaios de acompanhamento em obra ou ensaios laboratoriais, mas também por falta de uma regulamentação. Em alguns países europeus, como a Holanda, Polónia, Alemanha, Suíça e outros, já existe regulamentação ou recomendações de entidades estatais ou governamentais de estradas. Outra das preocupações que têm vindo a discussão é o caráter intrusivo deste tipo de tecnologia, no que diz respeito à aderência entre camadas. Num estudo do RILEM de 2013, foi analisada a importância da aderência entre camadas em pavimentos flexíveis. Foram também estudados vários métodos de ensaio de controlo de aderência em obra e laboratório, bem como a sua relevância para o desempenho dos pavimentos em geral. Os resultados revelam extrema importância, como era de esperar, tendo-se concluído que uma diminuição de aderência entre camadas, dependendo da sua localização, pode levar a reduções de durabilidade na ordem dos 90% relativamente ao que seria esperado em projeto quando consideramos as camadas ligadas ou parcialmente aderentes. Este estudo revela também que um método relativamente simples, barato e fiável, pode avaliar em obra a aderência entre camadas com grande eficiência.Este método de ensaios, conhecido por método de Leutner modificado, recentemente transposto pata uma Pré-norma Europeia, a EN 12697-48, avalia a ligação entre camadas, determinando, assim, o valor máximo verificado no momento da rotura, ou seja, na separação entre camadas em carotes de 150 mm de diâmetro. Este princípio, aplicado à instalação de grelhas, é ainda mais importante dado que, sem uma boa aderência intercalar entre camadas, a grelha não é realmente acionada. Por outro lado, a grelha, ao dificultar esta aderência, poderá pôr em causa a resistência à fadiga de toda a estrutura. “Esta preocupação constante levou a que a S&P levasse a cabo vários estudos em obra ensaiados pelo LNEC para a avaliação da aderência entre camadas, utilizando as grelhas prébetuminadas aplicadas por termo-aderência”, explica o CEO da empresa, Filipe Dourado, que acrescenta que “os excelentes resultados obtidos contribuíram para uma maior exigência por parte de alguns Donos de Obra e Projetistas na elaboração dos seus Cadernos de Encargos, e onde a exigência de ensaios de aderência, em provetes retirados aleatoriamente em obra, começou a ser uma constante.” Sabe-se que a maior parte das grelhas existentes no mercado não oferecem garantias de aderência quando ensaiadas em obra. A baixa taxa de revestimento de betume que estas grelhas apresentam é a principal razão deste insucesso que, por sua vez, condiciona a sua aplicação, excluindo logo à partida a aplicação por termo-aderência. Tendo em vista um estudo mais elucidativo, iniciou-se este ano um DA (documento de aplicação) com o objetivo de orientar e completar a informação existente sobre o reforço de pavimentos utilizando estas tecnologias, tais como o desempenho destas grelhas de reforço, o método de aplicação e os ensaios a efetuar em obra, entre outros. A S&P acredita que este estudo trará uma nova abordagem a este tema, delineará orientações úteis a todos os projetistas, donos de obra e investigadores sobre estas novas tecnologias, e elevará os níveis de qualidade e aceitação de materiais de reforço em obra através de um maior controlo de execução e ensaios simples de rotina. www.sp-reinforcement.eu JULHO/AGOSTO 2014 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 63 eventos bim international conference 2014 As JPEE 2014 são dirigidas a todos os interessados nos domínios da engenharia de estruturas, do betão estrutural, da sismologia e da engenharia sísmica. Estas Jornadas destinam-se principalmente a projetistas, consultores, empreiteiros ou produtores de materiais e componentes para estruturas, seja como responsáveis 5 as Jornadas Portuguesas pela gestão e fiscalização de obras, seja ainda como intervenientes em atividades de Engenharia de Estruturas de ensino ou investigação. Encontro Nacional As Jornadas de Engenharia de Estruturas (JPEE) têm sido organizadas Betão Portuguesas Estrutural 2014 desde 1982 pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) em parceria com o Congresso Nacional de três9associações nacionais interessadas na engenharia de estruturas: a AssociaSismologia e Engenharia Sísmica ção Portuguesa de Engenharia de Estruturas (APEE), o Grupo Português de Betão Estrutural (GPBE) e a Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES). Em 2014, verificando-se a proximidade das datas previstas para o encontro do GPBE, o congresso da SPES e as 5as JPEE, entendeu-se mais adequada a realização conjunta dos três eventos, já que muitos dos assuntos a discutir são do interesse de Lisboa • LNEC todas que organizam as Jornadas, juntando ainda outras atividades 26 aas 28associações de novembro de 2014 específicas como a atribuição de prémios. Líderes da indústria da construção de todo o mundo vão reunir-se em Lisboa para a segunda edição da Conferência Internacional dedicada à metodologia Building Information Modeling (BIM), sob o tema “Desafios a vencer”, a decorrer nos dias 9 e 10 de outubro, entre as 9h e as 18h30, no Hotel Olissipo Oriente. A iniciativa pretende debater e divulgar o BIM, uma nova tecnologia de suporte à conceção, planeamento, construção e manutenção de edifícios com vantagens em termos de eficiência e economia de custos. Vários países impõem já a sua implementação obrigatória para determinados tipos de obra, com previsão de que esta obrigatoriedade seja alargada a países como o Reino Unido ou Singapura até 2015 ou 2016. O evento, promovido pelo BIMFórum Portugal (movimento sem fins lucrativos) contará com a presença de especialistas mundiais, líderes do setor da construção, promotores imobiliários, arquitetos, projetistas e construtores, estando confirmados participantes um pouco de todo o mundo. Além da partilha de experiências, pretende-se também proporcionar a prospeção de oportunidades de negócio. jpee2014.lnec.pt www.bimforum.com.pt calendário de eventos es, rigidos a: jpee2014.lnec.pt BIM INTERNATIONAL FORUM 2014 Metodologia Building Information Modeling (BIM) 9 e 10 outubro 2014 Lisboa www.bimforum.com.pt Portugal 16 outubro 2014 Lisboa Portugal www.ordemengenheiros.pt CUSRSO DIMENSIONAMENTO Cofragens e preparação de armaduras 6 a 11 novembro DE COFRAGENS 2014 Coimbra Portugal www.itecons.uc.pt CINCOS 14 Construção Sustentável e Inovação 13 e 14 novembro 2014 Porto Portugal www.cincos.pt III CLA DE CONSTRUÇÃO Construção metálica sustentável METÁLICA SUSTENTÁVEL 20 e 21 novembro 2014 Luanda Angola www.cmm.pt 5AS JORNADAS PORT. DE ESTRUTURAS ENG.ª DE ESTRUTURAS 26 e 29 novembro 2014 Lisboa Portugal jpee2014.lnec.pt 14 AS JORNADAS DE TECNOLOGIAS AVAC ENG.ª DE CLIMATIZAÇÃO As informações constantes deste calendário poderão sofrer alterações. Para confirmação oficial, contactar a Organização. 64 CONSTRUÇÃO MAGAZINE 62 JULHO/AGOSTO 2014 5as Jornadas Portuguesas de Engenharia de Estruturas Encontro Nacional Betão Estrutural 2014 9o Congresso Nacional de Sismologia e Engenharia Sísmica Lisboa • LNEC 26 a 28 de novembro de 2014 INFORMAÇÕES O pedido de obtenção de informações complementares, bem como o envio de correspondência deverão ser dirigidos a: JPEE2014 a/c LNEC Av. do Brasil 101 • 1700-066 LISBOA tel.: 21 844 32 60 • fax: 21 844 30 25 e-mail: [email protected] • jpee2014.lnec.pt jpee2014.lnec.pt Soluções S l çõ p para automatização de acessos Manutenção de portas de outras marcas Portas deslizantes Portas batentes b Portas giratórias C i Cortinas d de ar Portas P i dustriais indu i i Serviço S i pós ó venda d ASSA ABLOY Entrance Systems é um fornecedor líder em soluçõess de automatização de acessos para um fluxo eficaz de mercadorias e pessoas. 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