Artigo 13
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V Seminário Internacional de Defesa Civil - DEFENCIL São Paulo – 18, 19 e 20 de Novembro de 2009 ANAIS ELETRÔNICOS – ARTIGOS O Twitter e suas potencialidades como ferramenta de comunicação em ambientes acometidos por desastres Carla Cardoso1 Evandro Paulo Bolsoni2 Carlos Henrique Medeiros de Souza3 Resumo As redes sociais estão sendo cada vez mais utilizadas pela nossa sociedade em geral. Para tanto estão surgindo novos fenômenos de ambientes que a cada dia atrai milhares de usuários. Nesta perspectiva, optamos em analisar o Twitter, que de maneira avassaladora vem trazendo e levando informações para todo o canto do mundo. Dentre os espaços que vem sendo ocupado esta a comunicação em ambientes acometidos por desastres. Por meio de um pequeno celular ou micro-computador se tornou possível mandar mensagens (na forma de som, texto ou imagens) de qualquer ponto utilizando o fantástico crescimento das redes de comunicação e da internet (ciberespaço). Este artigo propõe uma reflexão sobre a evolução e importância destes recursos midiáticos na divulgação, controle e comunicação de desastres. Palavras Chaves: Desastres; Mídia; Redes Sociais Abstract Generally, social networks are increasingly being used among us. Because of that, phenomena of new environments emerges and attract thousands of users. From this perspective, we chose to examine the Twitter, that is widely bringing and taking information to every part of the world. Among the areas that have been occupied, it is the communication in environments affected by disasters. By means of a simple mobile or a personal computer, it became possible to send messages (in the form of sound, text 1 2 3 Mestranda em Cognição e Linguagem - UENF e-mail: [email protected] Mestrando em Cognição e Linguagem – UENF e-mail: [email protected] Doutor em Comunicação (UFRJ) Coordenador do mestrado em Cognição e Linguagem - UENF Universidade Estadual do Norte Fluminense– UENF e-mail: [email protected] 1 V Seminário Internacional de Defesa Civil - DEFENCIL São Paulo – 18, 19 e 20 de Novembro de 2009 ANAIS ELETRÔNICOS - ARTIGOS or images) from any part by the use of the fantastic growth of networks communication and internet (cyberspace). This article proposes a reflection on the evolution and importance of media resources in the disclosure, control and communication of disasters. Keywords: Disasters, Media, Social Networks O ciberespaço e suas potencialidades perpassam por quase todos os setores da sociedade. A mediação pelo computador gerou essas novas formas de sociabilidade, vindo a tornar-se uma importante ferramenta de comunicação também ambiente acometido por desastres. As Redes Sociais e suas facilidades de acesso podem ser utilizadas, inclusive, para salvar vidas. Notícia publicada no dia 1º de setembro de 2009 no site de notícias G14 confirma esse parecer. A matéria notifica que americanos se inscreveram no site da Safe America Foundation para participar de treinamento de formas alternativas de comunicação em casos de desastre. O grupo de segurança norteamericano Safe America Foundation diz que o Twitter, as redes sociais e mensagens de texto podem ajudar as famílias a estabelecerem contato com unidades de resgate ou órgãos competentes, logo após um desastre. Tomemos como ponto de partida, as informações noticiadas na reportagem vinculada a Safe America Foundation5 , que está liderando uma campanha no território norte americano para “treinar famílias sobre formas alternativas de comunicação”, caso, os métodos tradicionais conhecidos apresentem problemas de funcionamento. Um texto vinculado a esta mesma fundação aponta que: “A expectativa é de que mais de 200 mil pessoas participem da iniciativa, que oferecerá treinamento sobre como usar instrumentos alternativos de comunicação de emergência”. No mesmo site, esta um nota que aponta o perfil dos interessados neste curso: “Entre os participantes das primeiras turmas, estão pessoas que se inscreveram no site da organização, assim como funcionários de diversas empresas que planejam realizar exercícios de segurança com suas equipes”. Para dar prosseguimento a esses apontamentos, partiremos do seguinte questionamento: o que pode ser considerado um desastre? 4 5 No site: www.g1.com.br. Acesso em 26/10/09. Mais informações sobre a instituição podem ser obtidas no site: www.safeamerica.org. 2 V Seminário Internacional de Defesa Civil - DEFENCIL São Paulo – 18, 19 e 20 de Novembro de 2009 ANAIS ELETRÔNICOS - ARTIGOS A revista eletrônica Geo Brasil 20026, publicada pelo IBAMA identifica características diversas e aponta uma variedade de fatos considerados desastrosos. Sua evolução, sua intensidade e origem, são as bases para a identificação de um desastre, que pode ser identificado dentro dos seguintes parâmetros: a)Desastres súbitos ou de evolução aguda: deslizamentos, enxurradas, vendavais, incêndios em instalações industriais e em edificações com grandes quantidades de usuários, abalos sísmicos, erupções vulcânicas e outros. b) Desastres de evolução crônica, ou graduais: seca, erosão, perda de solo agricultável, desertificação, salinização do solo e outros. c) Desastres por somação de efeitos parciais: acidentes de trânsito, acidentes de trabalho, incremento da violência, tráfico de drogas, cólera, malária, síndrome da imunodeficiência adquirida, (IBAMA, 2002, p.148). O documento aponta níveis de intensidade para cada fator desastroso e observa que, no Brasil, (...) desastres de Níveis de intensidade III e IV são reconhecidos, legalmente, pelos Governos Federal, Estaduais e Municipais, como situação de emergência e estado de calamidade pública. Os desastres agudos e os de muito grande intensidade são raríssimos em nosso país. Em compensação, os desastres por somação de efeitos parciais e de evolução crônica ocorrem com grande freqüência e geram, a cada ano, maiores danos e prejuízos, (Ibidem). Identifiquemos, portanto, as características dos desastres, frisando, que, como ressalta o documento, a maioria dos desastres pode causar danos humanos, materiais e ambientais, sendo que, estes últimos, englobariam a quase totalidade dos fatos desastrosos. De acordo com a Doutrina Brasileira de Defesa Civil, desastre é o resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais e ambientais, e prejuízos econômicos e sociais. A revista Geo Brasil identifica ainda os desastres como: desastres humanos ou antropogênicos, casos de natureza tecnológica, social e biológica. Os primeiros relacionam-se, por exemplo, a “(...) incêndios em instalações industriais e em edificações, com concentrações demográficas e com riscos de colapso ou exaurimento de energia e de outros recursos ou sistemas essenciais”, (IBAMA, 2002, p.148). Já os de natureza social, (...) são os relacionados a ecossistemas urbanos e rurais 6 No site: http://ibama2.ibama.gov.br/cnia2/download/publicacoes/geobr/Livro/cap2/desastres.pdf. Acesso em 28/10/09. 3 V Seminário Internacional de Defesa Civil - DEFENCIL São Paulo – 18, 19 e 20 de Novembro de 2009 ANAIS ELETRÔNICOS - ARTIGOS (destruição intencional da flora e da fauna, depredação por desmatamento sem controle e má gestão agropecuária, acumulação de rejeitos da mineração e outros); relacionados com convulsões sociais (desemprego, fome e desnutrição, migrações intensas e descontroladas, intensificação da violência, infância e juventude marginalizadas ou carentes, tumultos e desordens generalizadas, tráfico de drogas, incremento dos índices de criminalidade, banditismo e crime organizado, terrorismo, perseguições de conflitos religiosos, ideológicos e raciais), relacionados com conflitos bélicos (guerras urbanas, civis e revolucionárias, guerras convencionais, guerrilhas, guerras biológicas, químicas e nucleares), (Ibidem). Os de natureza biológica, dizem respeito a: “(...) dengue, febre amarela, malária, doença de chagas, cólera, salmonelas, shigeloses, intoxicações alimentares, sarampo, tuberculose, meningite, hepatite B e C, e outros”, (Ibidem). Após traçar breves conceitos e características do que seja um considerado um desastre, vamos tratar do contexto do ciberespaço, pois será possível relacioná-lo com tamanha comoção e oferecer uma oportunidade prática de comunicação global, quando se trata de um fato desastroso? E como utilizar a Rede a esse favor? Sobre essas questões, pontuaremos a seguir. Informação no ciberespaço Castells (2003) define a Rede como o novo modelo organizacional da chamada Era da Informação. Segundo o autor, a rede, que tem por base tecnológica a Internet, é um conjunto de nós interconectados, cujo modelo de organização permite a conexão de muitos em escala global, moldando, desta forma, um novo modelo de sociabilidade inserida nessa sociedade, as redes sociais. Redes sociais, ou comunidades virtuais (Recuero, 2001), são um grupo de pessoas que estabelecem entre si relações sociais através da Comunicação Mediada por Computador (CMC)7. Essas relações são construídas por interações mútuas e reativas, de acordo com a classificação de Primo (2000). Outras características das comunidades são a utilização dos virtual settlements, „lugar‟ onde os membros da comunidade se associam (Jones, 1998, apud Recuero, 2003), a permanência, ou seja, o tempo de freqüência dos membros de uma comunidade no espaço, o pertencimento, que é o 7 Também conhecida como comunicação eletrônica, trata-se da comunicação realizada entre duas ou mais pessoas, ante a utilização de tecnologias computacionais e redes telemáticas que possibilitam essa comunicação. Esse formato surgiu em meados dos anos 70 do século XX e tem como sua mais famosa representante a internet, surgida inicialmente para comunicação em ambientes militares. 4 V Seminário Internacional de Defesa Civil - DEFENCIL São Paulo – 18, 19 e 20 de Novembro de 2009 ANAIS ELETRÔNICOS - ARTIGOS sentido de ligação entre os freqüentadores da comunidade (Palácios apud Recuero, 2003) e a moral da reciprocidade (Lévy, 1999), onde os participantes sentem a necessidade de expressar seus conhecimentos quando se deparam com algum acontecimento ou a formulação de questionamentos. Fato importante para situarmos a construção da informação nesses ambientes, a uma multiplicidade de receptores que alimentam o fluxo dessas informações. Mas como o ciberespaço propicia essa divulgação? Há sempre uma novidade no ciberespaço que visa buscar cada vez mais agilidade e eficácia na comunicação, em um momento em que o homem vive numa sociedade onde as novas ferramentas tecnológicas são rapidamente substituídas por outras, ainda mais velozes e eficazes. Kucinski (2005) diz que a Internet, portanto, o ciberespaço, é a mais importante derivação das novas tecnologias que fazem parte do campo de atuação da comunicação. O pesquisador identifica quatro principais funções exercidas pela Rede: (...) a de transmissão de dados, ampliando o leque de instrumentos de meios e transmissão que compreende também o telefone, o telégrafo e o fax; a de mídia, a mais nova depois da invenção da TV nos anos 1950; a de ferramenta de trabalho, que permite acessar bancos de dados, fazer entrevistas, ler jornais e publicações de todo o mundo e trabalhar com base nesse material; a de memória de toda produção intelectual, artística e científica, na forma de arquivos digitalizados, acessíveis de qualquer parte do mundo, (Kucinski, 2005, p.73). Neste espaço, identificamos o Twitter, uma espécie de microblog que mantém um serviço global de mensagens rápidas, onde os participantes postam as informações respondendo a uma pergunta básica: What are you doing? (O que vocês está fazendo?). O serviço de troca de mensagens foi criado em 2006 por Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Williams, foi “descoberto” pelos internautas, principalmente pelos brasileiros, em 2008, e vem crescendo de forma absurda. Segundo aponta o artigo de Rodrigo Afonso8, (...) o número de internautas residenciais brasileiros que visitou serviço de microblogging pulou de 344 mil em fevereiro deste ano para 677 mil em março, aumento de quase 97%, segundo dados do Ibope Nielsen Online. Esse contingente representa 2,7% dos internautas residenciais do Brasil, que somaram 24,8 milhões em março. 8 No artigo: „Sua empresa deve estar no Twitter?‟, de 28/05/09, disponível http://pcworld.uol.com.br/dicas/2009/05/28/sua-empresa-deve-estar-no-twitter, com acesso em 16/06/09. Rodrigo Afonso fez a matéria especialmente para a PC World. em 5 V Seminário Internacional de Defesa Civil - DEFENCIL São Paulo – 18, 19 e 20 de Novembro de 2009 ANAIS ELETRÔNICOS - ARTIGOS Mas o que vem a ser o Twitter? Quais suas características dessa ferramenta alternativa e como suas potencialidades podem ser utilizadas na comunicação de desastres ambientais e até mesmo, na salvação de vidas? Prosseguiremos buscando apontamentos para as questões. O Twitter Mistura de blog e celular, o Twitter é um espaço onde troca-se mensagens de 140 toques, assim como os torpedos de telefones celulares, só que, num espaço na Internet, como um blog, ou, neste formato, um microblog. Segundo a pesquisadora Gabriela Zago (2008): Microblogs podem ser considerados como espécies de “blogs simplificados”, na medida em que possuem os recursos inerentes ao formato blog (como publicação de conteúdo em ordem cronológica inversa, e as demais características dos blogs), mas de forma simplificada. A principal diferença diz respeito ao fato de que as atualizações possuem limitações de tamanho, como no caso da ferramenta Twitter, na qual cada atualização não pode ultrapassar o limite máximo de 140 caracteres (que é também o tamanho máximo permitido em uma mensagem de celular), (Zago, 2008 p.3). O serviço foi lançado em outubro de 2006 pela empresa Obvious. Essas mensagens curtas, constantemente enviadas, são também chamadas de tweets ou piados (está aí a explicação do nome e do símbolo do serviço, um pássaro). É possível utilizar o espaço para se postar fotografias, imagens que complementem as notícias. Desde coisas banais como qual o menu do dia, no almoço, ao fato de se ter presenciado algum incidente grave. No espaço, é possível acompanhar múltiplas informações o que faz com que o interesse em “seguir” seja grande. São milhares e milhares de seguidores atentos às informações postadas a todos os momentos, numa comunicação rápida e contínua. Outra característica citada por Gabriela Zago é o fato de que, além da internet, os microblogs podem ser atualizados também a partir de ferramentas como o telefone celular (através de SMS9 ou web móvel), o que amplia ainda mais a possibilidade de se comunicar uma questão emergencial, como são os casos dos desastres ambientais, e buscar um socorro com maior facilidade. No caso do Twitter, as mensagens, no entanto, não vão para apenas uma pessoa, como acontece no celular, mas sim, para todos os “seguidores”, ou seja, aqueles 9 Do inglês Short Message Service. Tecnologia amplamente utilizada em telefonia celular para a transmissão de mensagens de texto curtas. (Wikipedia, acessado em 09/04/2009) 6 V Seminário Internacional de Defesa Civil - DEFENCIL São Paulo – 18, 19 e 20 de Novembro de 2009 ANAIS ELETRÔNICOS - ARTIGOS que acompanham o cotidiano do emissor da mensagem – sejam elas do seu convívio social, ou desconhecidas. Quem se cadastrar no espaço vai ficar informado de todos os passos do twitteiro10. A proposta inicial de construção das mensagens colocada pelo site era a resposta a pergunta “What are you doing?” (O que você está fazendo?), presente na página inicial do site. Nela, os participantes, através dos 140 caracteres já mencionados, tentam responder a essa pergunta a cada um dos seus seguidores que, voluntariamente, recebem todos os posts do autor. No lado direito da página inicial de cada usuário, pode ser encontrada uma lista com cada um dos outros usuários que ele segue. Além das postagens mais pessoais, que basicamente respondem à pergunta proposta pelo site, tornou-se comum no meio a utilização do espaço para a publicação de opiniões e links favoritos dos autores dos posts, fazendo também com que os usuários tenham a função de gatewatchers. De acordo com a definição de Primo e Trasel11, gatewatching seria o processo de seleção das notícias (ou conteúdo) presente na web, em função semelhante à de um bibliotecário. Essa função popularizou ainda mais o Twitter, e o transformou em uma importante fonte de informação em pautas importantes da mídia, como a cobertura das eleições norte-americanas de 2008, onde os candidatos Barack Obama e John McCain mantiveram seus perfis sempre atualizados Nos EUA, o serviço chamou a atenção no ano passado, durante as eleições para a presidência, em 2008. Barack Obama e John McCain mantiveram seus perfis no Twitter sempre atualizados. A pesquisadora Raquel Recuero (2009) lembra que a comunicação, base das formas de organização, é preciso que essas informações circulem “para que os processos sociais coletivos possam manter a estrutura social e as interações possam continuar acontecendo”, (Recuero, 2009, p. 89.) Recuero (2009) explica que as relações e laços sociais têm como matéria-prima a interação. A pesquisadora cita Parsons e Shill (1975) ao explicar que na interação, um constitui-se em elemento de interação para o outro. A ação de um depende da reação do outro, e há orientação com relação às expectativas. Essas ações podem ser coordenadas através, por exemplo, da conversação, onde a ação de um autor social depende da percepção daquilo 10 11 Pessoa que utiliza o serviço, assim como internauta. Retirado de HTTP://www.ufrgs.br/limc 7 V Seminário Internacional de Defesa Civil - DEFENCIL São Paulo – 18, 19 e 20 de Novembro de 2009 ANAIS ELETRÔNICOS - ARTIGOS que o outro está dizendo. Interações... são parte de suas percepções do universo que os rodeia, influenciadas por elas e pelas motivações particulares desses atores. Neste sentido, Watslawick, Beavin e Jackson (2000) explicam que a interação representa um processo sempre comunicacional. (Recuero, 2009, pp.30-31) A pesquisadora aponta ainda a interação como um caráter social intrinsecamente ligado ao processo comunicacional, e cita Cooley ao afirmar que este se torna, com isso, o último mecanismo das interações sociais. Ressaltamos, portanto, que, embora tenha sido criada como um micro diário onde é possível postar fatos corriqueiros do cotidiano, o Twitter faz parte do processo de “metamorfose dos dispositivos informacionais” apontada por Lévy (1997), onde suas potencialidades foram acopladas e transformadas em uma alternativa de denúncia social. A iniciativa é interessante e vem a corroborar para a atuação funcional do Twitter, microblog que se tornou conhecido pelo grande público, exatamente como ferramenta de denúncia, como vemos a seguir. O caso do uso do twitter durante os conflitos nas eleições do Irã No mês de junho de 2009, um fato político-social em especial marcou o Irã: as polêmicas eleições presidenciais daquele país. Depois da reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, eclodiram no Irã manifestações violentas nas ruas contra o resultado do pleito, considerado fraudulento. Instaura-se, nesse caso, um desastre humano de natureza social, como identifica a Revista Geo Brasil 2002 (p.148). A censura e as restrições do governo iraniano foram os motivos para que os partidários do candidato reformista derrotado e líder da oposição, Mir Hossein Mousavi, apelassem para o Twitter, para noticiar o que realmente estava a acontecer nas ruas da capital durante os protestos em massa12. Olhares de todo o mundo puderam observar as constantes manifestações de iranianos, por meio da ferramenta da web. Se não fosse o microblog, muitas atrocidades que aconteceram no país passariam despercebidas no resto do globo. 12 Informações obtidas nas edições de 16, 17 e 18 de junho de 2009 na Folha Online, no site: http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica. Acesso em 18/06/09. 8 V Seminário Internacional de Defesa Civil - DEFENCIL São Paulo – 18, 19 e 20 de Novembro de 2009 ANAIS ELETRÔNICOS - ARTIGOS Apoiador do candidato derrotado Mir Hossein Mousavi protesta em Teerã (Foto: Olivier Laban-Mattei/AFP) Partidários do candidato reformista Mir Hussein Moussavi protestam contra a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad para a Presidência do Irã, em Teerã (Foto: AP) 9 V Seminário Internacional de Defesa Civil - DEFENCIL São Paulo – 18, 19 e 20 de Novembro de 2009 ANAIS ELETRÔNICOS - ARTIGOS http://fernandodeholanda.com/o-twitter-nas-eleicoes-do-ira/ No quadro acima, disponível pelo blogueiro Fernando de Holanda13, podemos perceber que o verde é a cor da oposição no Irã. O grupo, por meio da desta importante ferramenta, levou fotos e mensagens para o mundo todo. Diversos jornalistas, famosos e anônimos mudaram seus avatares (imagens que ilustram os perfis) para tons de verde a fim de apoiar tais manifestações. Holanda explica a importância da ferramenta para a mundialização e publicização de tais acontecimentos. Para se ter uma idéia da dimensão da manifestação virtual, palavras como iranelection, seguido de Tehran e Iranian são algumas das mais acessadas na busca do Twitter. Apesar de proibidos e bloqueados pelo governo de Ahmadinejad, o Twitter e o Facebook continuam sendo acessados e são, nos últimos dias, uma das poucas ferramentas para divulgar as informações do que está acontecendo no Irã (jornalistas estrangeiros que cobriram as eleições estão proibidos de deixar os hotéis). Por conta disto, o Departamento de Estado dos EUA pediu que as manutenções periódicas do sistema fossem interrompidas para que ele permanecesse no ar 13 No site http://fernandodeholanda.com/o-twitter-nas-eleicoes-do-ira - acesso em 20 de outubro de 2009. 10 V Seminário Internacional de Defesa Civil - DEFENCIL São Paulo – 18, 19 e 20 de Novembro de 2009 ANAIS ELETRÔNICOS - ARTIGOS continuadamente, e foi atendido. Um dos dirigentes do Twitter, Biz Stone, publicou um post em seu blog oficial afirmando que a NTT America, responsável pelo servidor do site, reconhece o papel do Twitter como uma importante ferramenta de comunicação no Irã e por isso as manutenções foram temporariamente suspensas. Considerações – Twitter como comunicação alternativa no Brasil Assim como foi apontado nos Estados Unidos pela Safe America Foundation, no Brasil, o Twitter também pode ser aproveitado como meio alternativo de comunicação para denúncia de desastres. Embora sejam culturas diferentes, é possível essa adaptação no país, já que a ferramenta é bem aceita por aqui, vide as diversas manifestações apontadas na Rede, por usuários que denunciam corrupção política por exemplo. O espaço já é utilizado como local de protesto, como foi com o senador José Sarney14. O fato fez com que políticos também aderissem ao espaço que, durante as campanhas eleitorais, será aproveitado como local de propaganda, segundo a permissão da legislação. Outro exemplo pode ser bem aproveitado neste caso, específico em um caso de desastre ambiental. Em maio deste ano, um temporal atingiu Salvador, na Bahia. O blogueiro Emílio Moreno15, do blog Liberdade Digital, relatava que no Twitter, “(...) os moradores da cidade alertavam sobre os pontos de alagamento, acidentes, escolas inundadas(...)”. Moreno prossegue pontuando que “(...) a todo instante a página retorna com informações e fotos das pessoas, via Twitpic(...)”. Por meio da ferramenta, as pessoas puderam colaborar, enviando fotografias que mostravam além dos pontos do alagamento, outras situações de risco, avisando umas às outras, por meio da rede, onde estavam os pontos mais críticos. O fato, certamente, serviria como uma bússola norteadora para equipes da defesa civil, por exemplo. 14 Uma página intitulada 'Fora Sarney' foi criada no http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1211395-5601,00SARNEY+E+ALVO+DE+PROTESTO+VIRTUAL+NO+TWITTER.html. Acesso em 27/10/09. 15 micro blog. No site http://liberdade.blogueisso.com/2009/05/05/enchentes-nordeste-em-salvador-jornalismo-naofaz-prestacao-de-servicos. Acesso em 28/10/09. 11 V Seminário Internacional de Defesa Civil - DEFENCIL São Paulo – 18, 19 e 20 de Novembro de 2009 ANAIS ELETRÔNICOS - ARTIGOS O que observamos é um crescimento abrupto na utilização do ciberespaço. Citamos mais uma vez a pesquisadora Raquel Recuero que postou no site Pontomídia16, em 28 de abril de 2009, uma pesquisa do Via Ibope/NetRatings, que contabiliza dados do crescimento do número de usuários residenciais do Twitter no Brasil no mês de março, mostrando uma consistência no serviço. A pesquisa mostra que até janeiro de 2009, a média de usuários residenciais ficou em torno de 40 mil usuários. De fevereiro em diante essa base aumentou para mais de 240 mil usuários (mais de 500%!). Recuero lembra que os dados do Ibope focaram apenas os usuários residenciais, enquanto muitos afirmam que a maioria dos acessos vem do local de trabalho, usuários que muitas vezes podem não ter internet em casa. Nota-se, contudo, um forte potencial para que a ferramenta seja aproveitada e utilizada para auxílio na comunicação aos mecanismos de defesa civil do país. O assunto, ainda em processo de pesquisa, rende muitos outros questionamentos pertinentes a serem investigados e respondidos em outros momentos, pois o tema não se esgota neste trabalho que teve como objetivo apresentar uma leitura inicial sobre a questão. Referências Castels, Manuel. (1999). A Sociedade em Rede. A Era da Informática: Economia, Sociedade e Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Amor. _______________ (2003). 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