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Clipping de de Educação Brasília, 13 de junho de 2016 15/06/16 NEGÓCIOS Quem ocupará esta cadeira? A Estácio é disputada pelas concorrentes Kroton e Ser, em um negócio que vai definir a liderança do setor de educação privada Por: Rodrigo Caetano e André Jankavski Na última década, o setor de educação foi um dos maiores protagonistas da economia brasileira. O grande número de jovens sedentos para entrar no mercado de trabalho criou um contingente de milhares de estudantes que, beneficiados pelos programas governamentais como o ProUni e o Fies, possibilitaram o surgimento de grandes grupos empresariais focados no ensino superior, como a Kroton, a Estácio e a Ser Educacional. Preocupações com o fato do ensino se pautar mais por uma lógica financeira do que acadêmica, no entanto, sempre estiveram presentes. É essa mesma polêmica que, agora, se encontra no centro de uma disputa comercial entre três dos maiores conglomerados educacionais do País. A Kroton, líder do setor, disputa com a Ser Educacional, o quinto maior grupo em faturamento, o controle da Estácio, segunda maior empresa do mercado. A primeira, cujo faturamento foi de R$ 5,2 bilhões em 2015, tem a seu favor a força do dinheiro. Sua proposta é considerada mais vantajosa pelo mercado. A Ser, que faturou R$ 1 bilhão no ano passado, por sua vez, aposta na ideia da união de forças para gerar crescimento orgânico, em uma proposta que flerta com o sentimentalismo. Os argumentos de ambas as empresas já teriam colocado o conselho de administração e o corpo gerencial da Estácio, liderado pelo presidente Rogério Melzi, em lados opostos. A disputa ganhou notoriedade na quinta-feira 2, quando a Kroton admitiu publicamente uma possível combinação com a Estácio. No domingo 5, foi a vez da Ser Educacional, controlada pelo empresário Janguiê Diniz, indicar interesse numa junção dos negócios com a empresa. A proposta da Kroton, apresentada oficialmente na segunda-feira 8, envolve a troca de 0,977 ações ordinárias da companhia para cada ação uma da Estácio. Pelos termos, os acionistas da concorrente ficariam com 15,7% da nova empresa. Já a proposta da Ser é de realizar um pagamento extraordinário de dividendos aos atuais acionistas da Estácio no valor de R$ 590 milhões, o equivalente a R$ 1,92 por ação. Após a distribuição de proventos, as empresas combinariam seus negócios, dividindo seu capital em 68,7% para os acionistas da Estácio e 31,3% para os acionistas da Ser. Neste caso, os executivos da Estácio ficariam no comando da nova empresa. O mercado parece ter escolhido um lado. Consultores ouvidos pela DINHEIRO enxergam uma clara vantagem na negociação com a Kroton. “Mesmo com uma possível intervenção do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, estrategicamente faz mais sentido para a Estácio se juntar à Kroton”, diz Bruno Giardino, analista de educação do Banco Santander. Até mesmo concorrentes não colocam fé que a Ser Educacional vai se dar bem nessa briga. “É praticamente claro que a Kroton vai ganhar, o potencial de sinergia é monstruoso”, diz o presidente de uma companhia rival. O mercado demonstrou essa intenção no valor das ações. Desde o anúncio da negociação, no dia 2, as ações da Estácio subiram 40,3%, enquanto as da Kroton aumentaram em 20,4%. A força da proposta da líder do mercado está baseada nas sinergias que viriam com o negócio, no curto prazo, em função da junção das áreas administrativas das duas empresas. Segundo estimativa do Bank of America Merrill Lynch isso poderia resultar em uma economia de R$ 4 bilhões. “Esses números são até conservadores, pois vemos potencial de até R$ 8 bilhões”, diz um executivo da Kroton que acompanha as negociações. Tais números fizeram os olhos dos integrantes conselho da Estácio brilharem. Mas alguns fatores ainda dificultam a conclusão da negociação. O 15/06/16 conselho da empresa, presidido por João Cox, ex-CEO da empresa de telefonia Claro, está exigindo o pagamento de um prêmio pelas ações da empresa. O presidente da Kroton, Rodrigo Galindo, já confidenciou a interlocutores que está disposto a pagá-lo. O valor, no entanto, ainda não está definido e não será fácil chegar a um consenso. Isso porque os fundos Oppenheimer, Capital, BlackRock e Coronation, que são donos de 40% do capital da Estácio, com valor de mercado de R$ 4,9 bilhões, são também detentores de uma fatia de 21,6% da Kroton, avaliada em mais de R$ 22 bilhões. O pagamento de um prêmio elevado esbarraria no interesse desses grupos. Do lado da Ser, apesar de considerada menos vantajosa do ponto de vista financeiro, a proposta ganha atratividade em função da complementaridade dos negócios. Juntas, Ser e Estácio formariam a maior empresa de ensino presencial do Brasil em número de alunos: 570 mil estudantes, contra 450 mil da Kroton. As sinergias seriam de cerca de R$ 6 bilhões, no cenário mais otimista, ante R$ 8 bilhões da concorrente. Porém, segundo Jânyo Diniz, presidente da Ser, os ganhos operacionais em termos acadêmicos seriam maiores. “Nós temos uma área de ensino à distância (EAD) ainda em desenvolvimento, enquanto a Estácio já tem um EAD maduro”, diz o executivo, que é irmão de Janguiê Diniz, fundador da companhia. “No longo prazo, a união das duas empresas traz um potencial maior de crescimento e de ganhos para os acionistas, em comparação à proposta da concorrente, que oferece ganhos maiores no curto prazo.” Regionalmente, no entanto, a Estácio, que tem 93 campi espalhados pela região Norte e pelo Estado do Rio de Janeiro, complementa as operações das duas empresas. A Ser tem 43 campi, quase todos no Nordeste. A Kroton, por sua vez, concentra suas 123 unidades no Sudeste, com exceção do Rio de Janeiro, e no Centro Oeste. A Ser já vinha estudando, segundo Diniz, uma união com a Estácio há algum tempo. A divulgação de uma proposta foi acelerada por conta da movimentação feita pela Kroton. O executivo acredita que, no mercado de educação, tamanho faz diferença por conta da maior capacidade de investimentos na área acadêmica. “Com custos administrativos compartilhados, é possível investir mais em biblioteca, laboratórios e outros equipamentos”, afirma. “Em termos de número de professores, nada muda, mas a infraestrutura é melhorada.” Caso perca a disputa, a Ser ficará em grande desvantagem. Kroton e Estácio, unidas, disparam na liderança do mercado, com um faturamento conjunto superior a R$ 8 bilhões e 23,5% de participação de mercado, ante um faturamento de R$ 1 bilhão da Ser, dona de uma fatia de apenas 2,1% do setor. Essa visão, segundo apurou a DINHEIRO, é compartilhada pela gerência da Estácio, que se preocupa com a sobreposição de cargos e departamentos numa eventual união com a Kroton. O consenso é que, nesses casos, as escolhas tendem a pender mais para o lado da Kroton do que da Estácio. Seria difícil, por exemplo, a nova empresa não ser comandada por Rodrigo Galindo, afinal, numa eventual fusão, os acionistas da Estácio ficariam somente com 15,7% da nova empresa. Há também uma grande rivalidade entre as companhias. Isso porque, em 2013, as duas disputaram o controle de outro grande grupo educacional brasileiro, a Anhanguera, batalha que foi vencida pela Kroton. Essa fusão, inclusive, justifica os receios dos executivos da Estácio, já que a maioria dos gestores da empresa adquirida acabou perdendo o cargo ou sendo deslocada para funções menores. O então presidente da Anhanguera, Roberto Valério, por exemplo, foi nomeado como vice-presidente de ensino à distância. O tamanho da companhia resultante da união entre Kroton e Estácio levanta, ainda, questões ligadas à livre concorrência. É possível que o Cade coloque barreiras para a negociação. A diretoria da Kroton, no entanto, já fez um estudo de viabilidade da nova companhia. Segundo pessoas familiarizadas com o trabalho, a conclusão foi que a venda da UniSEB, comprada pela Estácio em 2013 por R$ 615 milhões, seria o suficiente para diminuir a concentração no segmento de ensino à distância, que estaria na faixa de 50%, deixando pouca margem para contestações. Além 15/06/16 disso, outros pequenos ativos poderiam ser vendidos. “Não teria impacto maior do que 5% na receita”, diz um executivo ligado à Kroton. Independentemente de quem leve a melhor nessa disputa, a tendência é que as fusões e aquisições no mercado de educação não parem por aí. “A economia está dando mais sinais de estabilidade e, por ser um mercado ainda muito pulverizado, as compras estão longe de se esgotar”, afirma Roberto Rudzit, sócio da Veirano Advogados, escritório especializado em fusões e aquisições. Jânyo Diniz, inclusive, dá margem para esse tipo de especulação. Questionado sobre o que faria se não fosse o vencedor, ele disse que há sempre um plano B. “Nossa posição é confortável, temos muito espaço para crescer organicamente”, afirma o executivo. “Mas estamos sempre estudando possibilidades.” O GLOBO 13/06/16 O PAÍS Urgência em xeque na liberação de novos créditos tanto por meio de decretos quanto por meio de MPs, uma novidade até agora no julgamento das contas pelo TCU. Múcio poderá submeter 24 indícios de irregularidades à apreciação pelo plenário. Uma primeira análise pelo colegiado está prevista para ocorrer na quarta-feira, 15. O relator deve dar um prazo de 30 dias para a presidente apresentar explicações. Ministério Público aponta ‘grave irregularidade’ na edição de MPs que criaram despesas -BRASÍLIA- Um parecer do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) aponta como "grave irregularidade" a edição de quatro medidas provisórias em 2015 que criaram gastos extras de R$ 49,6 bilhões, sem levar em conta critérios de urgência, imprevisibilidade ou calamidade, necessários à proposição de MPs pelo presidente da República. O parecer integra o processo no TCU que analisa as contas de 2015 da presidente afastada Dilma Rousseff, e foi encaminhado aos gabinetes dos ministros na última sexta-feira pelo relator do processo, ministro José Múcio Monteiro. O Ministério Público elencou cinco irregularidades relacionadas às MPs que criaram os créditos extraordinários. Os apontamentos se somam a outros 19 indícios de irregularidades nas contas de Dilma, listados pela área técnica do TCU num documento de 117 páginas. Entre esses indícios está a edição de seis decretos autorizando créditos suplementares, sem aval do Congresso — antes da aprovação da nova meta fiscal enviada ao Parlamento. Assim, a análise das contas de 2015 de Dilma pode levar em conta indícios de irregularidades O ministro decidirá hoje quais pontos indicados pelos auditores e pelo Ministério Público serão levados à sessão de quarta. No ano passado, os ministros do TCU aprovaram um parecer pela rejeição das contas de 2014 com base em 13 indícios de irregularidades. A rejeição pode voltar a ocorrer neste ano. A palavra final é do Congresso. O processo de impeachment de Dilma, afastada desde 12 de maio, tem como base a edição de decretos de créditos suplementares e a prática das "pedaladas" fiscais, presente no julgamento das contas. "MPS EXPANDIRAM GASTOS EM CENÁRIO ADVERSO" O parecer que considera irregulares as MPs 686, 697, 702 e 709 de 2015 — todas convertidas em lei — é assinado 13/06/16 pelo procurador-geral do Ministério Público junto ao TCU, Paulo Soares Bugarin. "Além da abertura de créditos suplementares sem autorização legislativa, por meio de decretos do Executivo, houve também a abertura de créditos extraordinários por medida provisória, com inobservância aos pressupostos constitucionais de imprevisibilidade e urgência", afirma. "As graves irregularidades cometidas tiveram como consequência a manutenção ou expansão dos gastos públicos em um cenário onde a legislação orçamentária e fiscal impunha uma maior restrição na execução dos gastos." Conforme o Ministério Público junto ao TCU, a abertura de créditos extraordinários por meio de MPs só é possível para atender a despesas "imprevisíveis e urgentes", como em casos de guerra, comoção interna ou calamidade pública. Uma das MPs abriu crédito de R$ 5,1 bilhões para o Ministério da Educação garantir a continuidade do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies); de R$ 4,6 bilhões para o pagamento de auxílio nos juros cobrados pelo BNDES; e de R$ 35,8 milhões para a aplicação do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). “Não é possível identificar nenhum fato imprevisível que justificasse tal medida”, diz o procurador-geral no parecer. “Há características de créditos suplementares, apesar de classificados como extraordinários. Assim, as autorizações dessas despesas deveriam ter prévia autorização legislativa”, continua. O procurador argumenta que aumentos de despesa devem ser acompanhados de cortes de outros gastos em valores equivalentes. “O uso de MP para créditos suplementares burla a exigência de observância da meta fiscal, macula as estatísticas fiscais, aumentando valores destinados a créditos extraordinários fictícios, o que atenta contra as normas de direito financeiro, em especial a lei orçamentária e o adequado controle legislativo”, cita o parecer. Outra MP abriu créditos extraordinários de R$ 2,5 bilhões ao Ministério da Saúde, para aumento de demandas de média e alta complexidade no SUS; R$ 10,9 bilhões ao Ministério do Trabalho e Emprego, para pagamento de passivos do FGTS; R$ 8,9 bilhões ao Ministério das Cidades, destinado a passivos do Minha Casa Minha Vida; e R$ 15,1 bilhões para passivos com o BNDES por conta de auxílios nos juros de financiamentos. O dinheiro destinado à Saúde está de acordo com o que prevê a Constituição para MPs, segundo o procurador-geral, “ante a alegada situação de vulnerabilidade para a ocorrência de surto das epidemias de dengue, zika e chikungunya”. Os outros três casos dizem respeito a pagamentos de “pedaladas”, o que não deveria ser feito via MP, segundo o MP. O documento conclui que a abertura de créditos viola a Constituição, normas gerais do direito financeiro, a lei orçamentária e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Além disso, o Ministério Público entende que a autorização de operação de financiamento do projeto de compra de novos caças para a Aeronáutica infringiu a LRF. ERROS REPETIDOS EM DOIS ANOS SEGUIDOS O relatório técnico que embasará o voto de Múcio considerou ilegal o pagamento das “pedaladas” feito nos últimos dias de 2015, na ordem de R$ 74 bilhões. Este registro foi incluído como parte dos indícios de irregularidades nas contas de 2015. O ex-advogado-geral da União José Eduardo Cardozo, que faz a defesa da presidente afastada, disse ao GLOBO que os créditos não precisavam passar pelo Congresso, conforme a lei orçamentária. — As despesas autorizadas não eram incompatíveis com a meta fiscal, uma vez que estavam contingenciadas. O curioso é que o próprio TCU, no período, também pediu um decreto semelhante — disse, por meio de mensagem de celular. 13/06/16 O GLOBO 13/06/16 O PAÍS Teto de gastos públicos será novo teste para Temer no Congresso Presidente interino entregará PEC pessoalmente na quarta-feira -BRASÍLIA- Completados 30 dias de governo provisório, o presidente interino Michel Temer vai pôr novamente seu prestígio à prova no Congresso. Ele pretende ir pessoalmente ao Legislativo para entregar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que vai criar um teto para os gastos públicos. Seu maior problema, no entanto, está dentro da própria equipe, que diverge sobre o texto final. O teto fixaria que as despesas do governo durante o ano seriam iguais ao orçamento do ano anterior, mais a inflação. O impasse no governo provisório se dá devido ao prazo de duração do teto. De um lado, os ministros políticos defendem um prazo mais curto para facilitar a aprovação. Do outro, está a área econômica, que quer um prazo de pelo menos dez anos para mostrar ao mercado um compromisso de longo prazo com o reequilíbrio fiscal. Segundo um interlocutor do Planalto, há propostas de dois, cinco, sete e até dez anos. Mas segundo ele, Temer está propenso a fazer vinculações de tempo a mandatos presidenciais. Assim, o teto duraria até o fim de 2018, quando acaba o atual governo, ou até o fim de 2022, quando seriam sete anos e dois mandatos presidenciais. O teto para os gastos será calculado tendo como base inicial as despesas de 2016. Pensão. Ainda como parte do esforço para manter positiva a relação com a maioria no Congresso, Temer continuará os encontros extraagenda com senadores. Ele trabalha com o placar de 59 votos a favor do afastamento definitivo da presidente Dilma. A partir daí, eles só subiriam com base na inflação registrada no ano anterior. Temer voltou ontem de São Paulo e se reunirá hoje com os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Henrique Meirelles e Dyogo de Oliveira (Planejamento). Há chances de o presidente interino optar por um prazo maior para não desagradar a Meirelles. A ideia é fechar o texto até esta terça-feira. O peemedebista pretende ir ao Congresso no dia seguinte. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que o governo completa 30 dias com votações importantes no Congresso e com uma maioria expressiva — o que é importante para manter o placar a favor do impeachment de Dilma. — Nestes 30 dias, aprovamos tudo o que precisávamos e com mais de 2/3 dos votos. Há quanto tempo o governo não conseguia isso? — disse Padilha. DEFESA DA APROVAÇÃO DA DRU O presidente também defenderá, na Câmara, a aprovação da nova DRU (mecanismo que permite ao governo mexer livremente em 30% de suas receitas carimbadas até 2023) no Senado, as Leis das Estatais e a Lei dos Fundos de O ministro adotou o discurso de que o governo Temer já está levando a uma retomada da atividade econômica, apesar dos números ruins, e aproveitou para dizer que a reforma da Previdência não prejudicará ninguém. — O governo não tem uma proposta. Tem muitas. Queremos uma reforma da Previdência juntamente com a visão dos interessados — disse Padilha. O GLOBO 13/06/16 O PAÍS Programas sociais federais têm repasses atrasados Manutenção de centros é uma das ações ameaçadas -BRASÍLIA- A manutenção dos milhares de centros de referência de assistência social espalhados pelo país, a política de implantação de cisternas e o programa de aquisição de alimentos da agricultura familiar estão ameaçados por falta de recursos. O ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, confirma que repasses estão atrasados e que só de débitos acumulados, principalmente desde 2014, a pasta deve R$ 1,6 bilhão a estados e municípios. Diferentemente do Bolsa Família, que tem orçamento assegurado na pasta, essas políticas são pagas com recursos discricionários, que podem ser cortados pelo governo. E foram. Tal verba já caiu 38,4%, de R$ 5,25 bi em 2015 para R$ 3,27 bi no orçamento deste ano, em valores nominais. Terra disse que negocia com a equipe econômica a liberação de dinheiro para quitar os atrasados antes de pensar novos compromissos: — É baque enorme na área social, que vinha sendo desidratada silenciosamente pelo governo Dilma. Estou conversando com o presidente para vencermos os débitos em primeiro lugar. O maior montante em atraso é o do Sistema Único de Assistência Social, de R$ 829 milhões, recursos vitais para centros de referência de assistência social (Cras e Creas), nos estados e municípios, em benefício de idosos, deficientes e moradores de rua. O segundo programa mais prejudicado é o Plano de Segurança Alimentar Nutricional. Repasses atrasados para ações como compra de alimentos da agricultura familiar para a merenda escolar já somam R$ 465 milhões. A implantação de cisternas, via Programa de Aceleração do Crescimento, tem R$ 322 milhões a serem quitados. O orçamento da pasta para despesas discricionárias, que bancam tais programas, mas podem ser contingenciadas, vem caindo desde 2012. A diminuição, entretanto, ficava em torno de 10% ao ano. A grande tesourada — a queda de quase 40% — se deu no orçamento sancionado por Dilma neste ano. Os montantes empenhados (reservados para pagamento posterior) e efetivamente pagos (quando a obra/serviço já foi entregue) também vêm caindo. O empenho em 2014 (R$ 5,5 bilhões) representou 92,1% do orçamento autorizado. Em 2015, essa proporção caiu para 73,5% (R$ 3,8 bilhões). O pago também caiu: de 80% do total em 2014 para 61,3% no ano seguinte. As primeiras liberações feitas por Osmar Terra a 2.650 prefeituras ocorreram semana passada. O ministério conseguiu pagar pouco mais de R$ 200 milhões, referentes a repasses de 2015, do Brasil Carinhoso. O valor varia por cada criança do Bolsa Família de 0 a 48 meses matriculadas em creches. A transferência costumava ser feita no último trimestre de cada ano. Mas, no fim do ano passado, o governo editou MP modificando as regras. Tudo isso fez com que a 1ª parcela de 2015, depositada só em fevereiro passado, somasse R$ 406 milhões, ante os R$ 766,1 milhões transferidos no repasse único de 2014, ano eleitoral. O governo argumentou, em dezembro, ao mudar a MP, que as prefeituras tinham ainda em conta, em outubro passado, R$ 476,3 milhões de saldo — 33% do que havia sido transferido até então desde o início do Brasil Carinhoso: R$ 1,4 bi. O GLOBO 13/06/16 SOCIEDADE FOLHA DE SÃO PAULO 13/06/16 Estica e puxa A nova administração do Ministério da Educação fez as contas e concluiu: falta dinheiro para realizar o Enem. Cálculos iniciais indicam que seria necessária a liberação de cerca de R$ 75 milhões além do já separado pela pasta para a realização das provas. Para conseguir o aval do Planejamento para os recursos, o ministério terá de “oferecer” em troca cortes em outros gastos — de preferência da mesma monta. A equipe de Mendonça Filho debruça-se sobre as despesas administrativas. Vai dar tudo certo A cúpula do ministério, ainda assim, está confiante de que as coisas se acertarão. Diz que há “garantia política” de que os recursos necessários para a prova serão assegurados e que o remanejamento deve resolver a situação do exame. Dívida pra década O MEC também negocia o aumento no limite de gastos com restos a pagar do FNDE, fundo de desenvolvimento da educação. Há R$ 10 bilhões em compromissos, mas a autorização de desembolso de 2016 é de cerca de R$ 1 bilhão. Haja promessa Boa parte do montante refere-se a construções e obras em escolas e creches. A ideia é analisar e separar o que é prioritário do que pode ser adiado. PAINEL FOLHA DE SÃO PAULO 13/06/16 CIÊNCIA Ciência sem Fronteiras põe só 3,7% dos alunos em instituições 'top' SABINE RIGHETTI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Menos de 4% dos alunos que participaram do programa federal de intercâmbio Ciência sem Fronteiras foram estudar nas melhores universidades do mundo. O levantamento foi feito pela Folha na base de dados pública do programa federal. Ao todo, 108.865 estudantes foram beneficiados com bolsas do Ciência sem Fronteiras. Uma parte ainda está com a bolsa vigente, mas a maioria já voltou para o Brasil (veja infográfico). A proposta do programa, conforme seu material institucional, era que os estudantes do Ciência sem Fronteiras teriam treinamento "nas melhores instituições e grupos de pesquisa disponíveis (...) de acordo com os principais rankings internacionais." Uma dessas classificações é o ranking britânico THE. Mas só 3,7% dos estudantes tiveram passagem por algumas das 25 melhores instituições de ensino superior do mundo, como Harvard (EUA) ou Oxford (Reino Unido). A classificação utilizada foi o ranking de universidades THE (Times Higher Education), lista considerada a mais importante atualmente. De acordo com a literatura científica sobre ensino superior, o primeiro quadrante dos rankings universitários revela as escolas "de elite". As britânicas LSE (London School of Economics) e College London, que estão no grupo das melhores do mundo, não receberam nenhum brasileiro do programa. instituições de língua inglesa. Já a Universidade Kingston, também do Reino Unido, classificada no grupo 601º-800º no ranking THE, teve 150 brasileiros (a partir da 201ª posição, o THE agrupa as universidades). Para se ter uma ideia, a USP, melhor brasileira no ranking, está no grupo 201º- 250º. Ela teve uma bolsa de um ano e meio do Ciência sem Fronteiras na Universidade de Toronto (Canadá), uma das melhores do mundo. Fez seis meses de inglês, estágio e um ano de disciplinas. Na escolha da instituição, levou em consideração sua posição em rankings e também a facilidade do processo de ingresso em comparação com outros países. O número de alunos que frequentou universidades "top" pelo programa foi menor do que o de alunos enviados para Portugal –país sem universidades entre as 350 melhores do mundo no THE. A Universidade de Coimbra, com 952 alunos brasileiros, por exemplo, está no grupo 401º-500º no ranking THE. O "boom" da demanda por universidades de Portugal aconteceu logo no início do programa. Em 2012, as escolas portuguesas chegaram a concentrar um em cada cinco bolsistas brasileiros. O país acabou sendo excluído do programa e alguns alunos foram realocados para Estar em uma universidade de elite pode fazer a diferença. "Trabalhei com professores que são referência mundial em nutrigenômica [ciência que estuda a relação entre nutrição e genética]", diz a farmacêutica Karina Mendonça, 26, da Unifesp. Nem todos os alunos do programa, no entanto, foram para "universidades". Alguns foram para instituições como hospitais e institutos de pesquisa, como a agência espacial norte-americana Nasa. Para o especialista em internacionalização da Unicamp Leandro Tessler, a baixa quantidade de participantes do Ciência sem Fronteiras em universidades de ponta não é surpreendente. "O anúncio de que os alunos iriam para as melhores universidades do mundo mostra 13/06/16 que o governo estava fora da realidade", diz. "A maioria dos alunos brasileiros não fala inglês." Suspenso e sem perspectiva de receber novas verbas para continuar, o programa divide opiniões no meio acadêmico, principalmente no que diz respeito às bolsas de graduação –8 em cada 10 do total disponibilizado. Uma das críticas mais comuns ao projeto é a de que estágios no exterior poderiam trazer benefício real apenas durante a pós- graduação. Já a bióloga Helena Nader, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) elogia o programa."Esses meninos vão transformar a ciência nacional", disse em entrevista recente à Folha. A SBPC traz, desde 2012, uma sessão com relatos de ex-bolsistas do programa na sua reunião anual. OUTRO LADO A reportagem não conseguiu retorno do governo sobre o programa. O MEC orientou a Folha a falar com a Capes, uma das agências federais responsáveis pelo projeto, que informou que está passando por um momento de transição. O novo presidente da agência, o sociólogo Abílio Afonso Baeta Neves, foi nomeado na sexta (10). A Folha apurou que o novo governo deve priorizar as bolsas de pesquisa científica nacionalmente até que a situação econômica do país se estabilize. O ESTADO DE S. PAULO 13/06/16 Snapchat vira arma para atrair estudante METRÓPOLE 13/06/16 O ESTADO DE S. PAULO 13/06/16 ECONOMIA CORREIO BRAZILIENSE 13/06/16 ECONOMIA CONJUNTURA » Temer reforçará proposta de Meirelles para gastos ANTONIO TEMÓTEO Diante do temor dos investidores de que as pressões políticas enfraqueçam a equipe econômica, o presidente interino, Michel Temer, vai reforçar o apoio ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, na definição do prazo de vigência do limite para o aumento dos gastos públicos. A perspectiva inicial de Meirelles era de que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que deverá ser encaminhada nesta semana ao Congresso, não definisse um período específico para que a alta dos gastos se limitasse à inflação do ano anterior. Mas um grupo palaciano começou a se movimentar para que a validade da PEC fosse de, no máximo, cinco anos, tempo considerado curto pelo ministro da Fazenda para fazer a dívida pública cair em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). A tendência de Temer é de fixar a vigência da medida entre sete e 10 anos. “Não podemos emitir nenhum sinal de fragilidade da equipe econômica neste momento”, diz um dos mais próximos auxiliares de Temer. “Estamos falando do principal pilar de sustentação do governo, que ainda é provisório e está sujeito às chantagens do Congresso para aprovar o impeachment”, acrescenta. Segundo esse auxiliar, está claro para o presidente interino que existe hoje uma linha divisória dentro do governo. De um lado, está a equipe econômica, que é intocável; de outro, o resto, que se move de acordo com as perspectivas políticas e o andamento do impeachment de Dilma Rousseff no Senado. “Portanto, não há por que enfraquecer justamente o lado que está trazendo de volta a confiança e vai pavimentar a retomada do crescimento econômico”, frisa. O governo identificou, nos últimos dias, um certo incômodo dos agentes econômicos com ruídos vindos da seara de Meirelles. O ministro teve que ceder em relação ao aumento dos servidores, que custará cerca de R$ 100 bilhões até 2019, e não conseguiu pôr em prática várias medidas, como o aumento de impostos, para arrumar as contas públicas por causa da necessidade de amplo apoio do Congresso a Temer. O quadro só não desandou porque o governo obteve vitórias como a aprovação em dois turnos, na Câmara, do aumento da desvinculação de receitas da União (DRU) e a ratificação do nome de Ilan Goldfajn para a presidência do Banco Central. “Meirelles está ciente da pequena margem de manobra política do governo. Por isso, vem sendo compreensível. Mas isso não quer dizer que aceitará qualquer coisa. O prazo de vigência para o teto dos gastos tem que garantir a trajetória de queda da dívida”, afirma um aliado do ministro. “Disso, ele não abre mão.” Agência Brasil http://agenciabrasil.ebc.com.br/ 13/06/2016 Selecionados no Sisu têm até amanhã para fazer a matrícula Mariana Tokarnia - Repórter da Agência Brasil Brasília - O Sisu seleciona candidatos às vagas em universidades federais e institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia com base na nota do Enem Elza Fiuza/ Agência Brasil Os estudantes selecionados no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) têm até amanhã (14) para fazer a matrícula nas instituições de ensino. O estudante deve verificar, na instituição de ensino em que foi aprovado, o local, horário e os procedimentos para a matrícula. Lista de espera O resultado está disponível para consulta na página do programa, na internet. Para acessar o resultado, o estudante precisa do número de inscrição no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2015 e da senha. Está aberto o prazo para aqueles que não foram selecionados se inscreverem na lista de espera do programa. Isso pode ser feito até o dia 17 de junho. Os candidatos na lista começarão a ser convocados a partir do dia 23 de junho. O Sisu seleciona candidatos às vagas em universidades federais e institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia com base na nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Puderam participar do Sisu os estudantes que fizeram o Enem de 2015 e não tiraram 0 na redação. Para participar da lista, o candidato deve acessar o sistema e, em seu boletim, clicar no botão que corresponde à confirmação de interesse em participar da lista de espera do Sisu. É importante certificar-se de que sua manifestação foi registrada. Ao finalizar a confirmação, o sistema emitirá uma mensagem. Nesta edição foram ofertadas 56.422 vagas, em 65 universidades federais e estaduais e institutos federais. Edição: Maria Claudia PÁGINAS AMARELAS 15/06/16 Entrevista – Robert Gordon A ilusão digital O economista americano afirma que as novidades criadas pela revolução da internet não aumentam a produtividade da economia e empalidecem diante dos avanços trazidos pelo século XX LUIZ LIMA Há meio século o economista Robert Gordon dedica-se ao estudo do crescimento econômico. Sua pesquisa o levou a uma conclusão surpreendente: embora muito se fale em inovação, as maravilhas da revolução digital não se comparam, em impacto na vida humana e importância econômica, à miríade de invenções que vieram à luz entre 1870 e 1970 — um período que ele chama de “século especial”. Suas conclusões são expostas no livro The Rise and Fall of American Growth (Ascensão e Queda do Crescimento Americano), que não apenas mobilizou a academia, mas também chegou às listas americanas de livros mais vendidos. “As invenções de hoje têm um impacto mais restrito que o surgimento do automóvel ou do ar-condicionado”, afirma Gordon, na entrevista a seguir. A inovação tecnológica ocorre atualmente em ritmo acelerado» mas sua pesquisa afirma que a importância desses novos serviços e produtos superestimada. Por quê? é Quando nós, economistas, procuramos isolar o peso da inovação no crescimento econômico, recorremos a uma métrica chamada Produtividade Total dos Fatores (PTF). Minha pesquisa me levou a estudar o comportamento dessa variável na economia americana a partir de 1870. Os resultados são incontestáveis. Nas cinco décadas entre 1920 e 1970, o crescimento da produtividade devido à inovação foi quase três vezes maior do que no período seguinte, o nosso período. Houve uma década, entre 1994 e 2004, em que a revolução digital deu sinais de que entregaria a sua promessa. Mas depois disso os ganhos de produtividade caíram novamente. Então, é preciso concluir que as tecnologias que moldaram nosso mundo entre 1920 e 1970 tiveram um impacto transformador mais profundo na economia e em nossos padrões de vida do que o computador e as tecnologias de informação que definem nossa época. Onde a revolução digital falhou? O investidor Peter Thiel tem uma ótima frase que, a meu ver, resume o problema: “Queríamos carros voadores, e nos deram 140 caracteres”. Nada contra as redes de troca de mensagens, mas, do ponto de vista econômico, há energia demais sendo gasta em aspectos relativamente efêmeros e desimportantes da vida humana. Maciços investimentos são feitos em tecnologias cuja relevância para a produtividade dos negócios é duvidosa, na melhor das hipóteses. Enquanto surgem vídeos que se autodestroem em quinze segundos, as ferramentas que melhoram nossa vida no ambiente de trabalho são basicamente as mesmas de uma década atrás. A tecnologia da informação, no entanto, é um campo em que os avanços são palpáveis. Como o senhor avalia os ganhos trazidos pela TI? É verdade que ampliamos de maneira espantosa nossa capacidade de lidar com a informação e de nos comunicar. Essa mudança merece o nome de revolução. Ainda assim, essa é apenas uma parte da vida humana. Pense no controle da temperatura nos ambientes internos, que mudou nossa casa e nosso local de trabalho. Pense nos transportes. Entre a velocidade do cavalo e a velocidade do avião a jato, demos um salto extraordinário. A vida humana se alterou radicalmente 15/06/16 naquilo que chamo de século especial, que vai de 1870 a 1970. Foi um período em que muita coisa mudou ao mesmo tempo, inclusive os meios de lidar com a informação. Essa não seria uma visão limitada das possibilidades da internet e das tecnologias a ela associadas? Nem toda inovação se traduz em maior produtividade. Na internet as pessoas compram, se informam, fazem negócios, conversam com os amigos, namoram, compartilham fotos. Algumas dessas atividades têm impacto econômico direto, outras não. O smartphone acrescenta algo à produtividade da economia? Sem dúvida. O mesmo se pode dizer de aplicativos que procuram melhorar a dinâmica de reuniões de negócios ou organizar o fluxo de informações dentro de uma companhia, e que se autointitulam aplicativos de produtividade. Mas, em todos os casos, são ganhos apenas marginais, se comparados às mudanças do século especial. disse que na década entre 1994 e 2004 as métricas de produtividade deram um salto positivo. Interpreto esse salto como sendo o resultado da revolução da internet e das comunicações aplicada aos negócios. Ou seja, essa revolução digital já acabou. A mágica já aconteceu, e agora só teremos avanços marginais. Mas há outras inovações cujo impacto só poderemos medir dentro de alguns anos. Há robôs e inteligência artificial. Há impressoras 3D. Avançamos gradualmente em direção a carros que não precisam de motorista. E temos um universo a explorar nos campos médico e farmacêutico. Ainda assim, meu sentimento pessoal é que não teremos novamente uma explosão semelhante àquela que observamos entre 1870 e 1970. Não é possível que ainda estejamos por testemunhar avanços na produtividade trazidos por inovações que, pelo fato de serem muito recentes, ainda não tiveram seus benefícios assimilados? O senhor não mencionou aqueles produtos que conectam à internet objetos antes “inanimados”, como os chamados wearables, itens que podem ser vestidos e que processam informações a respeito de seus donos, ou aparelhos domésticos com sensores que permitem automatizar certos aspectos da rotina familiar. Há quem diga que é desse casamento entre as coisas e a internet que virá a verdadeira Terceira Revolução Industriai. O senhor discorda? Se você está falando de mudanças que computadores, smartphones e aplicativos podem trazer, minha resposta é negativa. No começo de nossa conversa, eu Todos esses produtos, “vestiveis” ou não, como relógios e óculos inteligentes, são variações de uma tecnologia já tornada possível com o surgimento dos smartphones. E variações triviais, diga-se de passagem. Essas invenções terão impacto na vida dos consumidores, mas um impacto pequeno. E serão ainda menos relevantes no que se refere a ampliar a produtividade geral da economia. O período entre 1870 e 1970, que o senhor chama de século especial, foi então um momento único na história? O que caracteriza o século especial é a simultaneidade de muitas inovações que definem um padrão de vida moderno. Luz elétrica, motor de combustão interna, produtos químicos, plásticos, água encanada: todas essas invenções, combinadas, causaram uma reação em cadeia que mudou para sempre as áreas do transporte, da informação, da comunicação, da alimentação, da vestimenta, do tratamento de doenças, da habitação, do trabalho. A experiência humana mudou. Mas boa parte dessas transformações só acontece uma vez. Você não “reinventa” o sistema hidráulico que abastece os prédios modernos. As famílias já foram libertadas das tarefas de lavar e secar roupa e louça, isso não acontecerá novamente. Existe aí um elemento de coincidência histórica difícil de reproduzir. É improvável que tanta coisa mude ao mesmo tempo novamente. Qual o futuro do emprego? Meu ceticismo em relação ao impacto da inovação me leva a 15/06/16 dizer que as máquinas não substituirão as pessoas, ao menos não da maneira dramática como alguns futurólogos preveem. Não vejo indícios estatísticos de que nos próximos vinte anos metade dos empregos desaparecerá por causa dos computadores e da inteligência artificial. A preocupação deveria estar em outro ponto, a qualidade do emprego. Parece haver uma tendência para que os postos de trabalho que continuam sendo criados exijam baixa qualificação. Os dados mostram que nos últimos quinze anos aumentou, nos Estados Unidos, o número de pessoas com diploma superior que exercem trabalhos manuais, em vez de atuar na área em que se formaram. Estamos falando numa mudança para pior no perfil da ocupação. Como tendência? inverter em outras nações ricas. E não se trata apenas de números, mas de qualidade do ensino. Os americanos vão mal em provas como o Programme for International Student Assessment (Pisa), o teste de referência internacional que apura o estágio de aprendizado dos adolescentes, e têm notas baixas em leitura e matemática. É claro que ainda temos instituições de elite, entre as melhores do mundo. Mas, na média, nossos alunos são hoje mal preparados no colégio, têm passagem medíocre pela universidade e, quando se formam, não conseguem ocupar de fato os empregos para os quais julgavam estar se preparando. O que o Brasil deve fazer para melhorar a produtividade de sua economia? essa Investindo em educação. Os Estados Unidos, por incrível que possa parecer, estão falhando nesse quesito. Durante a maior parte do século XX, o país teve os porcentuais mais altos de jovens formados na universidade. Hoje, no entanto, estamos apenas em 12lugar nessa estatística entre as nações desenvolvidas. Mas o problema começa muito antes. Apenas 38% das crianças americanas de 3 anos frequentam a escola, contra 70%, em média, É preciso abordar de forma ainda mais urgente o problema da educação. O fosso que começa a existir nos Estados Unidos é profundo desde sempre no Brasil. Por isso, não se pode perder mais tempo. As recompensas desse investimento são certas. É todo o padrão de vida de um país que se altera quando crescem os níveis de educação. Quanto aos indicadores econômicos propriamente ditos, trabalhadores mais bem qualificados são mais produtivos e têm mais confiança no futuro. Confiança em alta entre trabalhadores e empresários se traduz em pujança e prosperidade. Educação é um investimento de longo prazo. O que pode ser feito de mais imediato? Em um país como o Brasil, a inovação é menos importante que a existência de um mercado livre e aberto. É possível fazer avanços incorporando a tecnologia inventada em países desenvolvidos. Isso facilita o surgimento de empresas e a criação de negócios e empregos. Meu conselho ao governo brasileiro é: fique fora do caminho e simplifique as leis para o setor privado. Isso vai levar ao surgimento de novas atividades e novos postos de trabalho. E quando falo em simplificar as leis também falo das leis trabalhistas. O país está se aproveitando da tendência global de migração de empregos das economias mais desenvolvidas para as menos desenvolvidas? Nem todos os empregos “perdidos” nos Estados Unidos estão indo para a China. Há um aumento substancial da fuga de empresas americanas em direção ao México, por exemplo. Muitos empregos poderiam migrar para o Brasil se o país criasse um ambiente de negócios atraentes. O país deve focar setores nos quais já tem vantagens, buscando ampliar aí sua produtividade e sua atratividade para o capital externo. 15/06/16 ENTREVISTA OSMAR TERRA A volta de Dilma seria um desastre absoluto Ministro do Desenvolvimento Social diz que o Congresso não dará aval para o retorno da presidente afastada, antecipa mudanças no Bolsa Família e critica propostas de liberação das drogas Há praticamente um mês à frente do Ministério do Desenvolvimento Social, o gaúcho Osmar Terra adotou como meta o estímulo à saída de beneficiários do programa Bolsa Família a partir de sua inclusão no mercado de trabalho. Polêmico, ele avalia que a política comandada pelos governos petistas era muito “assistencialista” e diz que “uma família não pode se conformar em passar a vida inteira vivendo do Bolsa Família”. Deputado federal licenciado, Terra revela preocupação diante dos últimos acontecimentos da operação Lava Jato, mas diz acreditar que seu partido e o governo de Michel Temer terão forças para sobreviver à investigação. “O PMDB tem uma estrutura gigantesca no País e não será avalista do desastre que poderia ser a volta da Dilma”, sentencia. “A volta dela seria um desastre absoluto”. ISTOÉ – O pedido de prisão de líderes como Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney pode ser decisivo para o futuro do governo de Michel Temer? Osmar Terra – Isso é consequência de um levantamento feito pelo Ministério Público. É o curso normal da Lava Jato, que tem que seguir. O fato de ter vazado a denúncia é muito desgastante, mas Renan, Sarney e Jucá têm condições de se explicar e de se defender. Mas o governo e suas propostas para o País voltar aos trilhos sobrevivem. ISTOÉ – O que o leva a ter tanta certeza disso? Terra – Primeiro, eles têm uma chance de provar que não cometeram os crimes apontados pela PGR. Se não provarem, que o processo siga seu curso. Mas o PMDB tem uma estrutura gigantesca no País. O partido tem quadros para ajudar o governo a não sucumbir a uma pressão destas. Talvez seja o partido com mais resiliência para avançar, porque tem uma base social muito forte. Não vejo, até agora, nada que comprometa o presidente Temer. O nosso real problema é que o governo do PT quebrou o Brasil. Quebrou quebradinho. ISTOÉ – Mas isso não aumenta as dificuldades do presidente no Congresso e até na votação do impeachment no Senado? Terra – Ninguém vai ser avalista do desastre absoluto que seria a volta da Dilma. O País está quebrado. Temos de apostar na equipe econômica do presidente Temer, comandada pelo ministro Henrique Meirelles. Ou eles dão certo ou quebra tudo. Precisamos dar a maior força possível para o governo superar a destruição da economia e aguardar o resultado. Mas não é um resultado milagroso. O que houve no Brasil foi um terremoto, agora é a reacomodação das placas. Este é um governo de transição. O problema é readquirir a credibilidade. Nem o PT defende mais a volta da Dilma, agora pedem novas eleições. Metade das pessoas do Pronatec saiu do programa antes de terminar o curso e, das que ficaram, 90% não conseguiram emprego. Assim não adianta ISTOÉ – O senhor foi criticado, recentemente, por pedir ressarcimento por uma nota de pipoca no cinema. Como foi isso? Terra – É uma coisa bem simples. Na Câmara, a gente tem direito de ressarcimento pelos alimentos consumidos nos dias em que estamos trabalhando, da forma mais transparente possível, com nota fiscal. Não é esse cartão corporativo da Presidência que fica tudo escondido. Em 18 dias, a Dilma comprou R$ 54 mil em pão de queijo no Alvorada e ninguém falou nada. Mas um dia, por puro descuido, entrou essa nota que não tinha nada a ver com minha 15/06/16 atividade parlamentar. Já devolvi. Todo fim de semana, eu almoço e janto com minha família em restaurantes, porque minha mulher se recusa a fazer comida. E nunca vão encontrar uma nota dessas. Eu sei que vai tudo para a transparência, vou me “queimar” com uma pipoca? ISTOÉ – Neste primeiro mês como ministro, o que o senhor encontrou no Ministério? Terra – Houve um corte brutal, nos últimos anos, de toda a área social. O corte foi nas despesas discricionárias para o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que está com a metade dos valores previstos que tinha em 2014. Em dois anos, a dotação autorizada passou de R$ 5,97 bilhões para R$ 3,27 bilhões. E, em 2015, a execução já tinha sido reduzida em 30%. Há uma queda abrupta. São os maiores cortes da história. O discurso deles desaparece diante dos fatos. ISTOÉ – Há muita dívida? Terra – Só de restos a pagar, herdamos uma dívida de R$ 1,8 bilhão. O programa Brasil Carinhoso, por exemplo, tem R$ 202,9 milhões em repasses atrasados para os 2.650 municípios que ampliaram a presença de crianças atendidas pelo Bolsa Família nas creches. ISTOÉ – Esse Ministério era o cartão de visitas da gestão petista. Terra – Houve um viés assistencialista muito grande. A proposta de inclusão produtiva do programa não avançou por falta de estímulos adequados. Os prefeitos não têm, hoje, nenhum estímulo, nenhum prêmio, para tirar um monte de gente do Bolsa Família e botar em empresas e microempreendimentos. Isso ficou faltando. O nome do ministério é “Ministério do Desenvolvimento Social”, ele pressupõe um progresso das pessoas no campo social. Mas, na realidade, ele manteve o status quo, só não deixava as pessoas passarem fome. Em dez anos, o Bolsa Família subiu de três milhões para 14 milhões de usuários. ISTOÉ – Isso significa que foi ampliada a cobertura do programa ou que a pobreza aumentou? Terra – Significa que tem muita gente na faixa de pobreza e nós temos que reduzir isso. Se nós temos hoje 50 milhões de pessoas na pobreza extrema, que precisam em média de R$ 160 por família para não ficarem na miséria, nós temos 50 milhões de pobres. Pobre para mim é quem não tem renda própria suficiente para suas necessidades básicas. Eles mantiveram 50 milhões de pessoas na beira da miséria e disseram que essas pessoas saíram da pobreza, isso não é verdade. ISTOÉ – Como o senhor pretende estimular essa inclusão produtiva? Terra – Até o fim de julho, vamos lançar um pacote detalhado, elaborado com especialistas como Ricardo Paes de Barros, Augusto de Franco, Elisabete Ferrarezi, o pessoal que trabalhou no “Comunidade Solidária” (programa de erradicação da pobreza do governo de Fernando Henrique Cardoso, do qual Terra foi secretário-executivo). Não vamos cortar nada, se a pessoa for para um empreendimento e fracassar ela volta automaticamente. Queremos criar essa rede de proteção e fazer com que haja uma progressão na vida dessas pessoas. Uma família não pode se conformar em passar a vida inteira vivendo do Bolsa Família. Vamos condicionar o benefício à participação em cursos profissionalizantes e à inclusão dos usuários no mercado de trabalho. Na ponta, além da assistência social, teremos um agente de desenvolvimento local que ofereça os serviços dos beneficiários do Bolsa Família nas empresas. Uma espécie de Sistema Nacional de Emprego para usuários do programa e prêmio para a prefeitura que tiver uma taxa grande de saída. ISTOÉ – Há recursos para isso? Terra – Queremos um microcrédito diferente. Hoje, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal fazem muita exigência. Não é um crédito para pobre que quer deixar de ser pobre, é para microempresário já estabelecido. ISTOÉ – E o Pronatec? Terra – O problema é que a política do Pronatec era muito passiva. Eram oferecidos os cursos, as pessoas não necessariamente encontravam uma utilidade prática para arrumar um emprego. Então, 50% das pessoas 15/06/16 do Pronatec saíram do programa antes de terminar o curso e, das que ficaram, 90% não conseguiu emprego. Assim não adianta. Esse programa precisa mudar. O Pronatec tem de estar vinculado a um emprego que já existe, que seja necessário, que a empresa precise. ISTOÉ – O senhor sempre criticou a política de drogas desenvolvida pelo governo federal. E agora? Terra – Quem vai determinar a ação do governo é o ministro da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad). Só estou preocupado com o aumento da pobreza pela epidemia das drogas, que está devastando um número cada vez maior de famílias e jogando milhões de pessoas na miséria. Se você vai numa “cracolândia”, ali é tudo miserável.Os caras não têm nem o que comer, perdem o controle da própria vida. ISTOÉ – Do ponto de vista da prevenção, como o Ministério pode contribuir? Terra – Podemos ajudar no acolhimento das pessoas com dependência química que querem se tratar. Até agora, o Ministério da Saúde e a Senad eram a favor da liberação das drogas e contra qualquer tipo de acolhimento, achavam que as pessoas tinham o direito de se drogar. Eles propõem só a redução de danos. O Braços Abertos (programa do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad) é um fiasco, não funcionou. Pega o resultado e vê quantas pessoas deixaram de usar drogas. Ninguém, no máximo um ou dois. 15/06/16 ECOMONIA & NEGÓCIOS O engraxate que virou um bilionário da educação Na juventude, Janguiê Diniz lustrou sapatos e vendeu laranjas para sobreviver. Hoje é dono da Ser Educacional, um dos maiores grupos do ensino superior privado do País EDUCADOR Aos 52 anos, Janguiê (no centro, entre alunos) rejeita o rótulo de homem de negócios (Crédito: Pedro Dias/Ag. IstoÉ) Mariana Queiroz Barboza FUSÃO Rogério Melzi, presidente da Estácio, analisou as propostas da Kroton e da Ser (Crédito:Leo Pinheiro/ Valor) Todos os dias, cerca de cinquenta e-mails chegam à caixa de entrada do empresário paraibano Janguiê Diniz vindos de alunos das instituições do grupo Ser Educacional, fundado por ele há 13 anos. As demandas são diversas, mas o tratamento é comum. Informal e acessível, Janguiê gosta de ser chamado de professor, apesar de já ter exercido as funções de juiz e procurador do trabalho em Recife. “Os alunos me vêem como um exemplo e isso me enche de energia”, diz. A identificação não acontece por acaso. Embora as instituições do grupo que inclui UniNassau, Faculdade Joaquim Nabuco e Universidade Guarulhos, para citar alguns exemplos, tenham perfis diversos, a maioria dos estudantes é composta por jovens trabalhadores entre 21 e 26 anos das classe média e média-baixa. Janguiê também foi um deles. Quando criança, trabalhou como engraxate e vendedor de laranjas. Na adolescência, mudou-se para a casa de um tio na capital pernambucana, onde trabalhou como datilógrafo e conseguiu se formar em Direito pela universidade federal. Foi lá que criou um curso preparatório para concursos públicos e deu início à companhia que se tornaria líder em educação no Norte e Nordeste. Se tudo der certo, em breve Janguiê abandonará o hábito de se corresponder com os alunos por email simplesmente porque eles serão muitos. Na semana passada, a Ser Educacional fez sua mais ousada investida ao propor uma fusão com a Estácio, segunda maior empresa de ensino superior privado do Brasil e com um número de alunos quatro vezes maior que a Ser. Dessa combinação, nasceria uma corporação de R$ 4 bilhões em receita, com enorme potencial no ensino à distância (até o fechamento desta edição, a Estácio e seu presidente, Rogério Melzi, não haviam aceitado nenhuma proposta). A nova empresa ainda seria menor que a Kroton, líder do mercado e primeira a fazer uma oferta pela Estácio, mas obrigaria as concorrentes a se movimentar num setor já bastante dinâmico em fusões e aquisições e que tem passado por um período de transição, devido aos recentes cortes no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). O programa do governo federal foi peça-chave na expansão do mercado nos últimos anos. Em 2010, segundo o Observatório do Ensino do Direito da Fundação Getulio Vargas, as instituições privadas receberam R$ 880,3 milhões via Fies. Em 2014, esse montante saltou para R$ 13,7 bilhões. “A indústria sentiu um choque com o congelamento dos pagamentos do Fies no ano passado”, diz Bruno Giardino, analista de educação do Santander. “Mas, em 2016, houve uma sinalização de que os pagamentos seriam honrados no prazo e as empresas voltaram a pensar em comprar.” No início do ano, os rumores eram de que o alvo da Kroton seria a Ser. “Já recebi inúmeras propostas tanto de grupos nacionais quanto estrangeiros”, 15/06/16 afirma Janguiê. “Não aceitei, porque meu objetivo não é financeiro. Esse é um projeto de vida. A educação transformou minha vida e pode transformar a de todo mundo.” Em junho de 2014, o professor entrou na lista dos bilionários organizada pela revista Forbes com uma fortuna estimada em US$ 1,1 bilhão, mas garante que não é um homem de negócios. O acompanhamento das ações da empresa na bolsa de valores (“vez ou outra as pessoas me dizem que subiram”) não é tão frequente quanto a visita aos campi, aos seminários, congressos e atividades esportivas promovidos pelas instituições do grupo. “Meu sonho é proporcionar educação de qualidade para o maior número de pessoas a um preço acessível”, diz. A política agressiva de preços das faculdades particulares, ao lado da expansão desenfreada de cursos e vagas, está no centro das críticas sobre a baixa qualidade do ensino nessas instituições. O economista e expresidente do Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcio Pochmann chegou a classificar o fenômeno como uma “indústria de certificação”. As empresas, em contrapartida, dizem que, quanto maiores elas são, maiores são os ganhos de escala e os investimentos em tecnologia, fundamentais, sobretudo, ao ensino à distância. Autor de 15 livros – o mais recente foi a autobiografia “Transformando Sonhos em Realidade”, lançada no ano passado –, Janguiê se considera, antes de tudo, um educador. Por isso, promove palestras para contar sua história. Nessas ocasiões, realiza sorteios e organiza uma fila para tirar “selfies” com a plateia. “Quero estar entre os melhores”, afirma o ex-engraxate. “Só o impossível é digno de ser sonhado.” O GLOBO 12/06/16 EDITORIAL País precisa multiplicar bons exemplos na Educação A notícia de que o carioca Marcelo Viana, diretorgeral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), se tornou o primeiro brasileiro a receber o Grande Prêmio Científico Louis D. — a maior distinção da França na área de pesquisa científica — traz orgulho e inquietação ao mesmo tempo: por que o país que produz mentes brilhantes como a de Viana tem um desempenho tão ruim no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), entre outros indicadores? Viana não é o único. Há menos de dois anos o matemático Artur Ávila Cordeiro de Melo ganhou a Medalha Fields, o "Nobel" de matemática, sendo o primeiro pesquisador da América Latina a receber a láurea da União Internacional de Matemáticos. Enquanto isso, só 1,4% dos alunos brasileiros alcança os níveis 5 e 6 (os mais altos) do Pisa, sendo a média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico de 13,8%, e a de Cingapura, 42,4%. Apesar do quadro desanimador, há escolas públicas em regiões pobres cujos estudantes apresentam bom desempenho, pondo em xeque o fatalismo de que nada se pode fazer enquanto condições adversas fora das salas de aula — baixa renda familiar, ambiente violento e pais de pouca, ou nenhuma, escolaridade — não forem vencidas. É certo que tais circunstâncias são grandes obstáculos — mas não intransponíveis — ao aprendizado, porém é preciso transformar a multiplicação das boas experiências numa prática educacional efetiva. Há estudos recentes nesse sentido, como o da Fundação Lemann, que teve como ponto de partida a série do GLOBO "Aula de excelência na pobreza", ganhadora do Prêmio Esso na categoria Educação. As reportagens abordaram 82 escolas públicas brasileiras que, em 2009, estavam entre as 25% que atendiam alunos com menor nível socioeconômico e, ao mesmo tempo, atingiam um Índice de Desenvolvimento da Educação Básica igual ou superior a 6 (objetivo do governo para todas as escolas até 2022). O estudo diz que é preciso definir metas claramente; acompanhar de perto, e continuamente, os alunos; usar dados sobre o aprendizado para embasar ações pedagógicas; e fazer da escola um lugar agradável. Também é necessário incentivar o envolvimento da família e vencer o corporativismo, que dificulta cobrar desempenho dos professores e premiar os melhores. Estudantes brasileiros só vão se equiparar aos melhores do mundo se forem educados num ambiente de meritocracia, em que o indispensável apoio para suprir deficiências socioeconômicas não pode ser confundido com paternalismo. Não são bem-vindos, portanto, o populismo da aprovação automática, a subordinação do conteúdo a ideologias e demais práticas úteis para partidos e categorias profissionais, mas desastrosos para os estudantes. FOLHA DE SÃO PAULO 12/06/16 TENDÊNCIAS & DEBATES Língua portuguesa contra o trabalho infantil LUÍS ANTONIO TORELLI A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) instituiu 2016 como o seu Ano de Combate ao Trabalho Infantil. A iniciativa é muito pertinente, pois o problema atinge praticamente todas as nove nações que compõem o bloco, incluindo o Brasil -3,2 milhões de crianças e adolescentes trabalham ilegalmente no país, segundo pesquisa do IBGE de 2013. O momento mais marcante da campanha será neste domingo (12), Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil. Trata-se de data oficial da Organização Internacional do Trabalho (OIT), à qual a CPLP juntou-se em 2011, engajando-se nos esforços para mitigar a grave questão humanitária. Os eixos prioritários dessa causa são informação, troca de experiência, realização de campanhas conjuntas de sensibilização, harmonização de metodologias e cooperação técnica. O Brasil será presidente da CPLP até 2018. Em seu mandato, há metas bastante congruentes com o combate ao trabalho infantil, em especial no eixo da informação, conforme deliberado pelo Ministério da Cultura: investimentos em processos contínuos que divulguem a língua portuguesa; promoção de livros brasileiros no exterior; melhora na comunicação entre países membros da CPLP; e maior foco na adoção de parcerias entre sociedade civil, acadêmica e privada com a CPLP. economia criativa. A Câmara Brasileira do Livro (CBL) está atuante no âmbito desses objetivos, a começar pela internacionalização de nossa produção editorial, por meio do programa Brazilian Publishers, que organiza a participação de editoras brasileiras nas mais importantes feiras internacionais do setor, para vender nossos livros e divulgar nossa cultura. Nacionalmente, a CBL tem defendido a realização de projetos voltados à disseminação da leitura entre crianças e jovens, como forma de promover inclusão e melhor formação. Ressaltamos, também, que a entidade criou, em 2015, a Comissão para a Promoção de Conteúdo em Língua Portuguesa. O grupo trabalha fortemente em três eixos: valorização nacional da língua portuguesa -com exemplos do que está sendo feito no país-, mecanismos para alavancar a internacionalização e aproximação com outras entidades da área de Todas essas iniciativas, que significam a participação da sociedade civil nos objetivos das nações de língua portuguesa, contribuem para que o idioma seja um consistente fator de integração e fortalecimento de ações conjuntas, dentre elas o combate ao trabalho infantil. Do mesmo modo, temos defendido firmemente a manutenção dos programas governamentais de aquisição de livros para alunos de baixa renda matriculados nas escolas públicas, que sofreram quebras e atrasos no cenário de crise vivenciado pelo país. Nesse sentido, tivemos recente êxito com o pagamento às editoras de obras adquiridas pela União no âmbito do Programa Nacional Bibliotecas da Escola 2015. Em todas as frentes, é preciso 12/06/16 amplo engajamento na luta para prover cultura, informação, escolaridade, proteção, saúde e alimentação para crianças e adolescentes. O livro tem missão importante nesse processo, pois supre parte expressiva do que o mundo necessita para o combate ao trabalho infantil: conhecimento! Afinal, quanto mais culta for a sociedade, menos espaço haverá para a prática de crimes, irregularidades e atentados à dignidade humana. LUÍS ANTONIO TORELLI é presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL) FOLHA DE SÃO PAULO 12/06/16 PODER Governo Temer quer reformular TV estatal Extinção é defendida por alguns ministros O impasse entre o presidente interino, Michel Temer, e a direção da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), coordenada pelo jornalista Ricardo Melo, levou o Planalto a estudar reformulações na TV estatal pública. Alguns ministros, como Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), defendem a extinção da pasta, como publicou o colunista Jorge Bastos Moreno, de "O Globo". Segundo a Folha apurou, no entanto, não há consenso nesse sentido. O plano A do governo continua sendo derrubar Melo — nomeado por Dilma Rousseff dias antes dela ser afastada, o jornalista segue no cargo com liminar do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal — e fazer uma reformulação profunda na EBC. A tese da reestruturação, vista com bons olhos por interlocutores de Temer, prega que a TV, nas mãos de um aliado, use mais os servidores da casa, pondo fim à contratação de terceiros que, dizem, "custam muito, mas não agregam audiência" ao canal. Com orçamento em torno de R$ 530 milhões, a EBC tem cerca de 2.000 servidores concursados, um entrave à ideia de extinção da estatal. Outra proposta é estimular parcerias com TVs estaduais, como a paulista TV Cultura — hoje sob comando do governador Geraldo Alckmin, do PSDB, sigla aliada a Temer. Ironicamente, neste sábado (11) o governador defendeu a extinção da EBC, que chamou "TV do Lula". "Tem é que fechar a EBC. É a TV do Lula. Não tem a menor justificativa e não tem audiência. É preciso mudar essa concepção porque a cada dia cria custo", disse Alckmin. Os defensores da reestruturação dizem que parcerias poderiam reduzir custos e ampliar as chances de a TV buscar fontes de financiamento para suas atividades. Outra ideia é minimizar o que integrantes do governo Temer classificam como "viés político" da emissora e investir em prestação de serviços, levando ao ar programas produzidos pela TV Escola, do MEC (Ministério da Educação). FOLHA DE SÃO PAULO 12/06/16 MERCADO Especialistas temem efeito de concentração na educação Setor de ensino superior privado volta a negociar possíveis junções entre grandes instituições como Kroton ou Ser com a Estácio O recente movimento de fusões e aquisições no mercado educacional pode elevar a concentração das instituições de ensino superior no país, com consequências sobre preços e qualidade, segundo consultorias especializadas no setor. Nos últimos dias, a Kroton, líder do setor, e a Ser Educacional, uma das dez maiores, tornaram públicos seus interesses em se juntarem à fluminense Estácio. Analistas do setor consideram que a fusão da Estácio com a Kroton enfrentaria restrições do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A expectativa de que o órgão imponha entraves é menor se o acordo for fechado com a Ser. Cálculos da CM Consultoria, indicam que, com 2,7 milhões de matrículas, os dez maiores grupos concentram 46% do volume total do setor privado. E o número de alunos da Kroton supera em 25% os do segundo e do terceiro grupos (Estácio e Unip) no ranking da consultoria. Segundo estudo da consultoria com base em dados do MEC de 2014, a união com a Kroton geraria uma instituição com mais de 1 milhão de matrículas de graduação. No caso da Ser, seria menos expressivo, com aproximadamente 500 mil alunos. "No cenário de fusão com a Kroton, o grupo Kroton/Estácio deteria 5 de cada 10 alunos, ou seja, fazer frente em volume de alunos a esse gigante significaria fundirem-se todas as demais companhias do ranking das dez maiores", diz Carlos Monteiro, presidente da CM. Na hipótese de fusão com a Ser, segundo Monteiro, a Kroton continuaria no domínio, mas com uma diferença de apenas 10,5% em relação ao total de alunos do segundo e do terceiro maiores. Influência aumentada "Se houver um único grupo educacional com mais de 1 milhão de alunos, considerando que o Brasil tem cerca de 8 milhões de alunos públicos e privados, este grupo terá uma influência muito grande nos rumos da educação no Brasil", afirma William Klein, CEO da consultoria Hoper Educação. "Visto por esse ângulo, é importante que o Cade e o MEC observem bem", diz. Do ponto de vista da qualidade, os benefícios do negócio também são questionados. Os ganhos de escala podem ser interessantes para os resultados financeiros, mas comprometer o acompanhamento individualizado dos alunos, 12/06/16 valioso na educação. Para Klein, da Hoper, também prejudicam a qualidade os movimentos de compra e venda de empresas dentro de prazos muito curtos, porque os projetos de melhoria de ensino carecem de ciclos longos. Um exemplo de venda rápida foi a operação de ensino à distância Uniasselvi. Como condição do Cade para aprovar a compra da Anhanguera anunciada em 2013, a Kroton vendeu a Uniasselvi, adquirida em 2012. Uma pesquisa de maio do departamento de estudos econômicos do Cade conclui que, embora os ganhos de escala permitam redução de custos, essa queda só será repassada na forma de diminuição de preços se após a fusão o mercado "mantiver níveis razoáveis de rivalidade e possibilidade de entradas suficientes para estimular a concorrência e distribuição". O Cade não comenta negócios em andamento. Para Monteiro, da CM, a concentração acabará com as instituições de menor porte, que são maioria no país, prejudicando ainda mais a competitividade. "Das pouco mais de 2.000 instituições do país, cerca de 1.800 têm menos de 3.000 alunos. É difícil competir com as grandes." A Kroton diz que em 2014, após a fusão com a Anhanguera, a companhia registrou 98% de conceitos satisfatórios no indicador de desempenho IGC, valor 1% superior ao ano anterior. Ser e Estácio não quiseram comentar. 12/06/16 FOLHA DE SÃO PAULO 12/06/16 MERCADO Temporada de greve na USP SAMUEL PESSÔA Como ocorre todo ano neste período, a USP decretou greve. O professor da Faculdade de Educação da USP César Minto, presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), explica em coluna nesta Folha, na seção "Tendências e Debates" de quartafeira (8), que um dos motivos da greve é "o governo não honrar a sua palavra de aumentar o percentual de repasse em razão da ampliação dos campi e do incremento expressivo de graduados de 75% em relação a 1995". O país passa pela maior perda de PIB per capita dos últimos 120 anos. A taxa de desemprego caminha para 12% até o fim do ano. A receita de ICMS entre janeiro e março de 2016 cresceu em termos nominas 2,2%, o que significa queda real de 7,2%, ante igual período de 2015. A crise é fiscal, consequência da enorme incerteza que um setor público à beira da insolvência produz em todos os agentes econômicos. Todas as empresas estão revendo seus planos de negócios e orçamentos, alterando seus processos com vistas à redução dos custos. Nada disso importa. A Adusp deseja que São Paulo aumente a proporção do ICMS -por volta de 5,9% da quota parte recebida pelo Estado desse imposto- que transfere mensalmente para a universidade. Segundo o presidente da associação, a USP "devolve à sociedade um número expressivo de professores de educação básica, de mestres e doutores que abastecem universidades estaduais e federais Brasil afora". O problema é que qualquer rubrica do orçamento público devolve algo à sociedade. Ou seja, de quem devemos tirar recursos para aumentar os repasses para a USP? A grande dificuldade do gestor público é essa. Se tomarmos qualquer linha do orçamento público, no final dela estará o cidadão. Em particular, se descuidarmos do equilíbrio fiscal, produziremos inflação, o que também gera custos imensos para a sociedade. Qualquer pessoa que viveu o período dos anos 80 até meados dos anos 90 conhece muito bem essa realidade. O presidente da Adusp tem todo o direito de olhar o mundo a partir do seu interesse particular e de não se preocupar com os impactos que o aumento de recursos para as universidades paulistas teria sobre o orçamento do Estado e todas as demais políticas públicas. Por outro lado, a obrigação do governador é olhar o orçamento do Estado de forma global e certamente não há menor condição de aumentarse a proporção do ICMS repassada para as universidades. Tira-se de onde? Da educação básica, da saúde, da expansão do metrô, aumenta-se o deficit público? As universidades públicas precisam melhorar a gestão. Há muito espaço para aumentar a eficiência. No entanto, para tal, será necessário pensar fora da caixa. Considerar cobrança de mensalidade de aluno, formas de aumentar a rentabilidade do enorme potencial imobiliário que o campus oferece, novas formas de contratação e gestão de pessoal, além de critérios mais rígidos para efetivação de professores no modelo americano do "tenure track". As universidades públicas são só um pequeno exemplo de que não é possível mais atacarmos todos os problemas do Estado brasileiro aumentando a carga tributária e mandando a conta para a sociedade. O modelo esgotou-se. A economia já cai do abismo em direção ao desastre da década de 80. Se não segurarmos no cabo que Temer tentará nos jogar com suas medidas de ajuste fiscal, chegaremos lá. FOLHA DE SÃO PAULO 12/06/16 COTIDIANO 40% dos alunos do noturno não trabalham PAULO SALDAÑA DE SÃO PAULO Considerado um dos gargalos da educação básica no país, o ensino médio ainda tem um em cada três alunos em escolas noturnas. A oferta atende quem precisa trabalhar, mas o quadro revela desafios de garantir educação de qualidade para todos. Cerca de 40% desses estudantes estão à noite, mas não trabalham, segundo dados do Censo Escolar de 2013 analisados pelo Instituto Unibanco. A falta de infraestrutura para aumentar o atendimento no diurno é uma das causas, conclui a instituição. À noite, a carga de aulas é menor e, muitas vezes, o atendimento é precário. Estudos mostram alta rotatividade de docentes e falta de funcionamento de bibliotecas e laboratórios. Indicadores educacionais também são piores. Comparados ao período diurno, alunos do noturno tiveram média 26 pontos menor em português e 22 em matemática no Saeb (Sistema de avaliação federal) de 2013, segundo pesquisa do Instituto Ayrton Senna de 2015. escolas, o governo desistiu. A nota em português no 3º ano do ensino médio noturno, de 240 pontos, fica abaixo da média do 9º ano, o último do fundamental, de 246. A nota 300 é a adequada. Matricular-se em uma escola por ser a única do bairro é motivo de 32% dos estudantes do noturno, compartilhado somente por 1,1% dos alunos do diurnos, segundo o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. O superintendente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, diz que, além das piores condições de estudo, outro desafio é o perfil dos estudantes, mais pobres em geral. "São alunos mais vulneráveis, com maior chance de abandono, que precisam de atenção especial". No noturno, as mães de 22% dos estudantes não concluíram o 5º ano. No diurno, a taxa é de 15,7%. Com 53% dos alunos com mais de dois anos de repetência, a taxa de abandono (de 14,5%) é três vezes maior do que pela manhã. Na Escola Estadual Diadema, na Grande São Paulo, o ensino médio só é oferecido à noite. "O médio foi fechando de manhã. Logo quando eu ia para o 1º ano, só tinha no noturno", diz a estudante Rafaela Bonifácio, 16, hoje no 3º ano e sem trabalhar. Ano passado, a reorganização da rede estadual fecharia a etapa na unidade. Com as ocupações das HISTÓRICO As matrículas no ensino médio tiveram expansão nas décadas de 1980 e 1990, com a inclusão dos jovens mais pobres. Mesmo assim, ainda há 1,5 milhão de jovens entre 15 e 17 anos fora da escola. Dos 8,3 milhões de matrículas no ensino médio atual, 2,3 milhões (33%) estão à noite. Segundo Roberto Catelli Junior, da ONG Ação Educativa, não se pode "abrir mão de um noturno significativo, mas com qualidade, o que pede investimentos". Secretário de Educação Básica do Ministério da Educação, Rossieli da Silva, concorda que nem sempre as redes têm vaga no diurno, mas diz ser impossível prescindir do noturno. "Temos de aproximar a etapa ao mundo do trabalho, com atenção maior nesse período". 12/06/16 FOLHA DE SÃO PAULO 12/06/16 Leituras do Currículo Prevista desde a Constituição de 1988, a Base Nacional Comum Curricular é um documento que organiza os conteúdos mínimos que as escolas, tanto públicas quanto privadas, devem abordar em sala de aula, da educação infantil ao ensino médio. A proposta teve seu cronograma definido por lei de 2014 e se tornou alvo de debates desde setembro de 2015, quando a primeira versão foi apresentada pelo Ministério da Educação. O texto foi modificado e uma segunda versão foi apresentada em maio — atenuando críticas, por exemplo, de que previa pouca gramática, era vago em literatura e não valorizava a história da Europa. Agora, deve passar por mais discussões em seminários. O currículo deveria ser consolidado pelo governo federal em junho de 2016, mas sofreu atrasos —a nova previsão é novembro. Ele ainda será submetido ao Conselho Nacional de Educação, e a expectativa é que a implementação ainda demore alguns anos. Os colunistas da Folha Vinicius Torres Freire e Hélio Schwartsman mostram suas visões sobre os dois eixos da proposta. COTIDIANO FOLHA DE SÃO PAULO 12/06/16 COTIDIANO ANÁLISE Equívocos grotescos saíram, mas desequilíbrio permanece HÉLIO SCHWARTSMAN Se a ideia era valorizar a segunda versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), lançada em maio, a estratégia escolhida não poderia ter sido melhor. A primeira versão do documento, divulgada em setembro de 2015, apresentava tantos problemas que a simples retirada de parte deles já dá a sensação de que mudamos da água para o vinho. As metáforas cabíveis aqui são a do bode na sala e a do copo meio cheio, meio vazio. Como removemos o caprídeo do recinto, fica a ilusão de que o vasilhame contém mais líquido do que de fato existe. É claro que houve melhoras importantes. Elas aparecem logo nas primeiras páginas. Enquanto o primeiro esboço era um documento sem autores —apócrifo, alguns diriam—, a segunda versão está repleta deles. Há vários índices, como o de coordenadores, de especialistas, de colaboradores, de assessores, de revisores, de pesquisadores, de leitores críticos. Imagino até que exista quem se incomode com tantas idas e vindas, substanciadas em consultas públicas, pareceres críticos etc. — o "assembleísmo permanente" enfim—, mas não é o meu caso. Ao contrário, esse é o tipo de processo que precisa mesmo envolver a sociedade, para que a BNCC, depois de aprovada, se torne algo vivo, para que "pegue". Se não, teria sido muito mais simples (e barato) apenas traduzir uma boa base curricular estrangeira, fazendo as adaptações necessárias. Depois seria só baixar um decreto obrigando a adoção da nova BNCC e dizer "missão cumprida". GRAMÁTICA Também é importante frisar que os equívocos mais grotescos que haviam passado na primeira versão foram parcialmente consertados. Agora já há um pouco de gramática na parte de língua portuguesa e a Antiguidade e o feudalismo voltaram a fazer parte explícita do currículo. Os jovens não se dedicarão mais só às civilizações ameríndias e à história da África. Penso até que ainda sobraram mais referências do que o necessário a esse "ensino alternativo", mas imagino que as necessidades do mundo real se encarregarão de reequilibrar as coisas. 12/06/16 Sem nenhum demérito aos incas e ao Império Kanem-Bornu, nossa sociedade tem sua principal matriz na civilização ocidental e ela precisa ocupar um espaço substancial do currículo. Ainda pelo lado positivo, considerando só as áreas de linguagens e ciências humanas, parece-me que a segunda versão da BNCC conseguiu, mais no ensino fundamental do que no infantil e médio, cumprir os objetivos de ser estruturalmente coerente, razoavelmente clara e suficientemente detalhista, isto é, de dizer o que todos os alunos precisam saber a cada etapa do aprendizado, mas sem baixar o "centralismo democrático". CORPORATIVISTA Passando agora para o lado "meio vazio", creio que a BNCC ainda carece de um bom centro de gravidade. Os americanos, por exemplo, por entender que língua e matemática têm um caráter muito mais básico e instrumental do que as outras disciplinas, limitaram seu "common core" (base comum) a essas duas matérias. Por aqui, na contramão do que fizeram os norte-americanos, seguiu-se uma lógica mais corporativista. Todas as disciplinas precisam estar paritariamente representadas na base curricular, de preferência ocupando o mesmo número de páginas. Com isso, a BNCC mergulha num mar de pseudoplatitudes expressas no mais puro pedagoguês. Lembra a Marina Silva comentando um documento da ONU (Organização das Nações Unidas), se a metáfora é apta. A BNCC traz passagens enaltecendo, por exemplo, o caráter "republicano" da educação física e como ela ajuda na "reconstrução crítica da herança cultural acumulada pela humanidade". Está na página 99 do documento, para os que acham que estou inventando. Já a dança, ao oferecer uma nova "epistemologia" do corpo em movimento, permite que o estudante desenvolva novas visões de si mesmo e do mundo (página 115). Menos, gente, menos. A educação física e a dança têm obviamente o seu valor, que advém principalmente do fato de que a atividade física é importante em todas as idades. Não é necessário buscar justificativas muito transcendentais para a inclusão dessas disciplinas nem detalhar o que cada aluno precisa ser capaz de "fruir" em cada etapa de sua vida escolar. Na verdade, ao igualar ginásticas, dança, música, teatro, artes visuais, esportes, brincadeiras e jogos aos mais fundamentais português e matemática, a BNCC acaba mesmo é desequilibrando o currículo. FOLHA DE SÃO PAULO 12/06/16 COTIDIANO ANÁLISE Nova proposta ainda prevê fazer muito em pouco tempo VINICIUS TORRES FREIRE COLUNISTA DA FOLHA A Base Nacional Comum Curricular ainda é um rascunho de 628 páginas. Fez bem o Ministério da Educação de adiar de junho para novembro a redação final desse documento pouco objetivo no que interessa, os "objetivos de aprendizagem". O texto não parece de todo mau, pelo menos a um leigo interessado. Mas não faz o essencial do que se propõe: a síntese do mínimo comum nacional do aprendizado. Francamente, seria uma alegria que todas as crianças do primário aprendessem tudo aquilo, do modo razoável, humanizado e por vezes até criativo proposto nos tabelões detalhados que distribuem os vários "conteúdos" pela sequência escolar. Ressalte-se o "tudo aquilo". Assuntos e sua sequência não diferem do que vi na escola, faz quase 40 anos, ou do curso de minha filha, ora caloura na faculdade. Mas a BNCC não deveria ser só referência do mínimo fundamental? Parece mais um currículo ideal, extenso. De resto, essa base em tese ainda será acrescida de 40% de conteúdos extras, que dependem de variações regionais ou de projetos específicos da escola, não fica claro. Enfim, não há quadros sintéticos dos pontos mínimos a serem aprendidos. A ambição continua desmedida, embora seja comum quem saia do ensino superior inseguro de calcular proporções ou porcentagens, de pensar equações de primeiro grau ou de explicar as estações do ano. Os assuntos de ciência no colégio são astronomicamente extensos, literalmente, no caso de física. No ano final, se propõe a ensinar desde física de partículas a cosmologia. Como? Não se diz. Em um texto de 628 páginas, a descrição de temas de biologia, física e química leva não mais que sete páginas cada uma. São sumários impraticáveis. FÍSICA O caso da física é grave. O currículo lembra um índice de ementa de cursos superiores. Trata de toda a matéria que hoje jamais é dada na íntegra: mecânica, termologia, óptica, ondas, eletricidade, eletromagnetismo e ainda expande brutalmente a introdução à física moderna. Tudo bem tratar de assuntos que animem a imaginação dos 12/06/16 estudantes. Mas como ensinar evolução das estrelas e cálculos gravitacionais? Tudo isso pode se tornar apenas falação descritiva, se tanto conceitual. Os jovens não terão os rudimentos de matemática para lidar com o mínimo desses assuntos. Aliás, em um texto cheio de petições de princípio vazias sobre integração de disciplinas e retórica de "formação integral", não se trata da relação de física com matemática, sem o que as aulas de física logo se transformam em massa amorfa de conceitos. Por falar em matemática, é a disciplina de "ciências" mais bem cuidada na BNCC. O currículo do secundário foi enxuto. Saem, por exemplo, números complexos e matrizes. Raro haver tempo para motivações e aplicações no ensino colegial desses temas. Nesse nível, podem ser rapidamente aprendidos na universidade. Mas o que fazer de alunos mais avançados ou especializados? Não parece haver organização ou recursos para definir, em nível nacional, classes especiais ou optativas, até porque o colegial brasileiro tem disciplinas demais (uma dúzia). Ainda em matemática, há ênfase nova em probabilidade, estatística e matemática financeira. Bom. Mas quer se dar para jovens de 11 ou 15 anos noções avançadas demais de probabilidade ou amostragem, assuntos sutis e mal ensinados até em universidades. O currículo de química parece extenso também. Parece que o curso tradicional foi acrescido de "química vida real": do que são feitos remédios, alimentos; impactos tecnológicos e ambientais. Parece também que se cortou o calculismo estéril. "Parece". O currículo é vago. O texto da BNCC é muito ocupado por repetitivas explicações burocráticas da hierarquia de leis em que se baseia, de manifestos teoréticos com platitudes pedagógicas, psicológicas e sociológicas. Pelo bem ou pelo mal, as orientações ou divagações metodológicas pouco transparecem nos tabelões de "conteúdos" a serem ensinados. Dá para ignorar a insistência em "sujeitos críticos". Ou coisas como a "juventude como condição histórico-cultural de uma categoria de sujeitos" a "ser considerada em suas múltiplas dimensões [...]articuladas com uma multiplicidade de atravessamentos sociais e culturais, produzindo múltiplas culturas juvenis ou muitas juventudes. No entanto, ainda falta muito método na articulação das disciplinas e seu sequenciamento, princípios tantas vezes manifestos com ênfase na BNCC, mas que não aparecem na prática de definir os "objetivos de aprendizagem". O ESTADO DE S. PAULO 12/06/16 NOTAS & INFORMAÇÕES O gasto social na era PT Houve expressivo crescimento do gasto social público no Brasil entre 2002 e 2015, aponta recente estudo da Secretaria do Tesouro Nacional. Em 2002, o governo federal gastou R$ 422 bilhões, equivalentes a 12,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2015, os dispêndios sociais alcançaram a cifra de R$ 928 bilhões, representando 15,7% do PIB. Ao mesmo tempo que indicam a forte atuação do poder público na área social – o que certamente é positivo –, os números aconselham prudência. Com tanto dinheiro público envolvido, todo cuidado é pouco. No estudo, a Secretaria do Tesouro Nacional considerou como gastos sociais os dispêndios referentes ao atendimento de pessoas em situação de vulnerabilidade econômica, bem como aqueles que “proporcionam oportunidades de promoção social”. Para tanto, reuniu em sete categorias os gastos sociais presentes no Orçamento da União: assistência social, educação e cultura, organização agrária, previdência social, saneamento básico e habitação, saúde e, por último, trabalho e emprego. Houve crescimento tanto dos gastos sociais diretos – aqueles executados diretamente pelo poder público – quanto dos gastos sociais tributários – que se referem aos valores que o governo deixou de arrecadar para as áreas sociais em razão, por exemplo, de renúncia fiscal. Chama a atenção o vertiginoso aumento dos gastos tributários, proporcionalmente bem maior que o dos gastos diretos. Em 2002, os dispêndios sociais tributários representaram 0,3% do PIB. Em 2015, o porcentual foi de 1,8% do PIB. Em tese, governos de esquerda não priorizam esse modelo de investimento social e optam por uma atuação estatal direta. O PT parece, porém, ter escolhido outra via. Em 2002, 418 entidades civis receberam benefícios tributários relacionados à assistência social. Em 2008, esse número era de 4.843. Em 2015, eram 17.765 as entidades beneficiadas. Tendo em vista o complicado histórico petista de parcerias com ONGs, está aqui um bom campo de investigação. Entre 2002 e 2015, os gastos sociais que apresentaram maior crescimento em relação ao PIB foram previdência social (0,97% do PIB), assistência social (0,78% do PIB) e educação e cultura (0,74% do PIB). Já os dispêndios com saúde se mantiveram estáveis no período. Como reconhece o estudo, “a complexidade do arcabouço orçamentário brasileiro dificulta uma visão global sobre a composição do gasto público e qual o significado econômico de tais dispêndios”. Dessa complexidade decorre a importância do estudo da Secretaria do Tesouro Nacional, ao desvelar em grandes linhas o gasto social público. Por exemplo, no período analisado, o gasto previdenciário (do regime geral e do regime público) representou mais da metade de todo o gasto social público. Essa é, por exemplo, uma forma eficaz de investir no desenvolvimento social? Avançar na qualidade das políticas sociais exige, portanto, melhorar a compreensão dos efeitos desses gastos sobre a sociedade – também quanto aos efeitos políticos desses dispêndios. Gasto social é sinônimo de poder eleitoral. Lula e Dilma, por exemplo, não tiveram grandes escrúpulos em usar programas sociais federais como seus cabos eleitorais em eleições presidenciais. O estudo da Secretaria do Tesouro Nacional relaciona o aumento dos gastos sociais com a melhora dos indicadores sociais. Salienta, por exemplo, o efeito benéfico das transferências sociais diretas – Bolsa Família e outros programas – para a redução da desigualdade e a diminuição da pobreza. A responsabilidade com o dinheiro público, contudo, exige ir além e procurar com isenção respostas para as muitas questões ainda em aberto. Por exemplo, o aumento dos gastos em educação – de R$ 57 bilhões (2012) para R$ 160 bilhões (2015) – não proporcionou nem de longe uma correspondente melhora na qualidade da escola pública. Afinal, os recursos públicos são escassos – e o gasto social deve ser realmente transformador. O ESTADO DE S. PAULO 12/06/16 POLÍTICA As lutas do marxista tucano sem capital Autor de ajuste fiscal contra "colapso" do Mato Grosso, Taques enfrenta greves e protestos No apartamento com vista panorâmica para Cuiabá, um quadro de Karl Marx, o grande teórico do comunismo, ocupa a parede central da sala e chama a atenção dos visitantes. O dono do espaço, porém, não é um governante do PT ou de qualquer outro partido de esquerda, mas o ex-procurador Pedro Taques, de 48 anos, governador do Mato Grosso desde janeiro de 2015 e filiado ao PSDB desde agosto do ano passado, quando deixou o PDT. Ainda uma esfinge para o tucanato, o Estado acompanhou durante dois dia so bastidores da ação de Taques após seu governo implementar um pacote de ajuste fiscal. "Tenho ele há 15 anos. Fiquei de tirar uma foto do quadro e mandar para a minha amiga (senadora) Vanessa Graziotin, do PC do B (AM)", diz ele, sorrindo. "Discordo de alguns pontos da construção filosófica e doutrinária de Marx. Mas sou o que fui e não posso mudar minha história. Essa posição marxista é no sentido de manter alguns princípios", acrescenta. Cristão novo no ninho, Taques foi o primeiro governador do PSDB a pedir o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, mas se colocou contra a ocupação de ministérios pela legenda quando o impedimento se consolidou. Hoje, Taques é vanguarda novamente ao repetir para Michel Temer, de quem foi aluno no curso preparatório para procurador, em São Paulo, as mesmas cobranças que fez à petista. E no mesmo tom. "Espero que governo federal estabeleça uma carência de dois anos para o pagamento das dívidas. Há, ainda, as dívidas contraídas pelos Estados que foram sede da Copa do Mundo. AUnião tem responsabilidade nisso. Não tenho culpa se perdemos de 7 a 1 para a Alemanha", compara. Tempestade perfeita. O pacote do ajuste fiscal de Taques, mesmo tendo provocado uma tempestade política perfeita, foi feito para evitar, segundo ele, o "colapso" de sua administração. As medidas atingiram indiscriminadamente os três Poderes locais, servidores públicos, estudantes e o agronegócio. Uma greve geral deflagrada na semana passada envolveu quase todas as categorias do funcionalismo. A demanda é por um aumento salarial de 11,28%, equivalente à inflação de 2015, no momento em que 25 dos 27 Estados não ofereceram nada. O Judiciário e Legislativo, por sua vez, não aceitam a redução dos repasses de 15% do duodécimo (porcentagem da receita corrente líquida do Estado dividida em 12 12/06/16 partes a que tem direito), agricultores repudiam a ideia de taxar commodities agrícolas e sindicalistas são contrários ao projeto de promover parcerias público-privadas (PPP) na educação. Dezenas de escolas foram ocupadas em um movimento similar ao que ocorreu em São Paulo, na gestão Geraldo Alckmin (PSDB). O discurso dos ativistas parece ter saído de um manual comum. "Pedro Taques é golpista. Ele não paga a reposição salarial e faz PPPs. O governador está terceirizando a educação", reclama João Custódio, presidente em Cuiabá do Sindicato dos Profissionais da Educação do Mato Grosso. Uma dezena de manifestantes tem passado parte dos últimos dias em um acampamento instalado no entorno do Palácio Paiaguás, sede do governo. Taques escuta o som do alto-falante de sua mesa com a mesma normalidade com que recebe diariamente representantes e lideranças de todas categorias em formato de assembleias com direito a microfone aberto. Só sai dos encontros, que chegam a durar quatro horas consecutivas, quando o assunto se esgota e ninguém mais pede a palavra. A peça de resistência das intervenções de Taques baseia-se em uma equação desconcertante. O Mato Grosso é um Estado rico e seu orçamento previsto para 2016 cresceu 6% em relação ao ano passado, mas o gasto com o funcionalismo cresce de forma vertiginosa, como em vários entes federativos, e hoje é responsável por 50% desse valor. Em 2014, ano eleitoral, o governo anterior aprovou 31 leis de carreira com aumento salarial. Com isso, sobram entre 3% e 6% do orçamento para investimento. O antecessor de Taques, Silval Barbosa (PMDB), foi preso em uma investigação sobre um esquema de corrupção com ramificação em todos os Poderes. "Mato Grosso tem R$ i7,5bi de orçamento, mas para investir só R$ 350 milhões. Não chega a 2%", diz Taques. Corrupção. O governador criou a primeira Secretaria de Transparência e Combate à Corrupção do Brasil. No dia 16 de maio, foi além e, por decreto, tornou obrigatório um dispositivo que prevê a rescisão, por parte do governo, dos contratos com empresas alvo de investigações de corrupção. "Está em todos os contratos. Os anteriores tiveram aditivo contratual", detalha a secretaria Adriana Vandoni. Poucos dias antes da assinatura do decreto, porém, Taques enfrentou o primeiro escândalo de sua gestão. O Ministério Público desencadeou a Operação Rêmora para combater fraudes em licitações e contratos administrativos de construções e reformas de escolas que teriam ocorrido na Secretaria de Educação de Mato Grosso. As suspeitas de irregularidades em processos de licitação atingem 23 obras de reforma e construção de escolas que somam R$ 56 milhões. O esquema envolveu servidores da secretaria. No dia seguinte à revelação dos resultados da investigação, o secretário Permínio Pinto, do PSDB, foi exonerado. "Nós pedimos o direito de defesa para evitar decisões sumárias, mas apoiamos a medida. Estamos combatendo a corrupção interna e externa", diz o empresário Júlio Flávio Miranda, presidente do Sindicato da Construção Civil do Mato Grosso. Plataformas. Para evitar a "paralisação" do Estado, Taques elaborou uma agenda de ações e parcerias com o mercado. Aprovou uma lei que isenta o querosene de aviação do ICMS e fechou uma aliança com a empresa aérea Azul. O aeroporto da capital foi internacionalizado e será um hub regional. A ideia é abrir voos de Cuiabá paraa Bolívia, Chile, Paraguai e Miami. Em parceria com o ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), ele planeja desenvolver o Zicosur-Zona Integração do Centro-Oeste Sul-Americana. Um embaixador enviado pelo chanceler foi ao Mato Grosso falar sobre integração. É um plano ousado em plena crise, mas pode significar uma porta para voos mais altos na encruzilhada do marxista tucano. O ESTADO DE S. PAULO 12/06/16 ECONOMIA Entrevista / Edmar Bacha 'Teto dos gastos vai parar o governo se não for bem feito', diz Bacha Um dos pais do Plano Real lembra que maior parte da despesa é rígida e prevista na Constituição; se isso não mudar, governo não terá verba para comprar um lápis ALEXA SALOMÃO - O ESTADO DE S.PAULO Na avaliação do economista Edmar Bacha, diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica da Casa das Garças e um dos pais do Plano Real, há dois pontos que merecem atenção redobrada no ajuste fiscal em curso. O primeiro é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que vai fixar o teto para os gastos públicos. A proposta precisa, obrigatoriamente, ser acompanhada pela suspensão temporária das despesas obrigatórias previstas na Constituição. “Se você impuser um teto de gasto, com a pequeníssima margem que existe hoje, poderia fazer o governo parar por não ter lápis nem papel higiênico para poder operar”, diz Bacha. Para Edmar Bacha, Brasil precisa mudar sistema político, mexer na Previdência e também na estrutura de imposto Para Edmar Bacha, Brasil precisa mudar sistema político, mexer na Previdência e também na estrutura de imposto O outro ponto importante é que o governo precisa deixar mais claro à população que o tamanho do rombo das contas públicas é muito maior do que o projetado quando se inclui o pagamento dos juros da dívida. “O buraco não é de R$ 170 bilhões. É de R$ 570 bilhões. Por alguma razão, o pessoal esquece que a gente precisa pagar juros.” A seguir, os principais trechos da entrevista que o economista concedeu ao Estado. Como o sr. avalia as primeiras semanas do governo em exercício? Achei melhor do que a encomenda. O início foi muito auspicioso. Temos agora uma equipe econômica excelente. Foi uma mudança da água para o vinho. Agora tem gente que entende do que está fazendo. É um pessoal da mesma linhagem do Plano Real. Estou especialmente impressionado com a capacidade do governo de fazer passar coisas que eram muito difíceis no governo Dilma. Passaram agora, com enorme facilidade, a DRU (Desvinculação de Receitas da União). E passaram com uma votação impressionante a favor. Eu lembro, lá atrás, a dureza que foi passar o fundo social de emergência (uma espécie de DRU, esse fundo deu ao governo de Fernando Henrique Cardoso o controle de 20% das verbas ao governo federal). Lá atrás eram 20%. Agora, eles passaram 30% e 12/06/16 aplicando para os governos estaduais e municipais também. Se fosse a Dilma, a proposta já tinha sido toda desvirtuada e não andaria. E como o sr. viu o apoio do governo ao projeto que aumenta o salário dos servidores e eleva gastos? Parece que havia essa herança e tiveram de acomodar. Obviamente, não quiseram comprar essa briga logo na saída. É um dano, mas é parcial. Esse governo precisa saber como se equilibrar na questão política de uma forma que não é necessariamente a que mais gostaríamos. A situação para ele é muito precária. Tem a questão da interinidade e da incerteza que ainda permanece em relação à votação final do impeachment. Por outro lado, ainda tem a Lava Jato. Não se sabe até onde ela vai. Esses são dois grandes fatores de insegurança. Em um artigo recente, o sr. ressaltou que o déficit projetado pelo governo em exercício, de R$ 170 bilhões, era apenas um pedaço do buraco. Poderia explicar melhor? Os R$ 170 bilhões incluem apenas o déficit primário (despesas com pessoal, previdência, saúde, educação, benefícios sociais e investimentos). Não incluem a conta dos juros (da dívida pública). Eu fiz uma conta de quanto haverá de juros, baseada no que os juros foram no ano passado e até maio deste ano, comparado com maio do ano passado. Deu R$ 400 bilhões. O buraco não é de R$ 170 bilhões. É de R$ 570 bilhões. As pessoas não estão levando isso em consideração. Por alguma razão, o pessoal só conversa sobre o primário e esquece que a gente também precisa pagar juros da dívida. Vários colegas seus, economistas, se queixam que a discussão dos juros fica de lado. Eles têm mesmo razão de se queixar. Essa conta é muito salgada. E como resolver essa conta? Tem duas maneiras. A maneira errada é dar o calote. A maneira certa é fazer um esforço fiscal do ponto de vista de curto, de médio e, especialmente, de longo prazo, que aponte para a sustentabilidade da dívida. A partir daí, com a confiança de que as contas vão se equilibrar – não agora, mas que isso está a caminho, por medidas legislativas e ações do governo. Isso cria no mercado, instantaneamente, uma (perspectiva de) queda do juro no longo prazo. E a questão da inflação? Contribui agora termos um Banco Central com mais credibilidade, com um novo presidente afirmando, com ênfase, que vai perseguir o centro da meta de inflação (de 4,5% ao ano). Isso cria expectativa favorável quanto ao curso futuro dos juros. Os dois fatores – confiança no equilíbrio fiscal futuro e a responsabilidade monetária sendo restabelecida – criam condições para que as expectativas em relação à inflação baixem. Isso permite ao Banco Central, em função dessa queda de perspectiva inflacionária, reduzir os juros mais fortemente. Essas condições não existiam antes. Vamos ver como será a próxima etapa crucial para que cheguemos a isso: o presidente Michel Temer levar ao Congresso a emenda constitucional que estabelece o teto para os gastos. Como o sr. viu a iniciativa de fixar o teto para os gastos? Foi ótima. Para definir a 12/06/16 medida, Meirelles (Henrique Meirelles, ministro da Fazenda) está usando uma palavra com muito simbolismo: nominalismo. Muito simbolismo para meia dúzia de pessoas. No caso, economistas. O sr. pode explicar qual o simbolismo do ‘nominalismo’ do ministro? O simbolismo da medida é que, com ela, nós não vamos acomodar a inflação. Não vamos fazer como os militares, que indexaram tudo e deixaram a inflação correr. As pessoas andam preocupadas com detalhes da medida. Obviamente, precisam ser avaliados. Mas o importante é que a expectativa em torno da medida não se frustre. A margem de manobra que o governo tem sobre os gastos do orçamento, com as regras constitucionais hoje existentes, é muito pequena. Se você impuser um teto de gasto, com a pequeníssima margem que existe hoje, poderia fazer o governo parar por não ter lápis nem papel higiênico para poder operar. Por isso, essa medida precisa ser acompanhada de outras que flexibilizem gastos obrigatórios – que também são constitucionais. É a mensagem mais importante. Essa questão é considerada fundamental, principalmente porque não há consenso de que bastaria desvincular os gastos na própria emenda ou se seria necessária uma série de medidas paralelas para desarmar o engessamento. O sr. tem uma sugestão? A PEC que estabelece o teto teria de valer durante um período, de 10 ou 20 anos. Não seria ad infinitum. Precisaria de um prazo de vigência longo, mas não para sempre. E enquanto a PEC estiver valendo, você suspende a constitucionalidade das vinculações, da estabilidade do funcionalismo e da gratuidade da saúde e da educação, por exemplo. Pode ir tudo junto, na mesma PEC. É mais ou menos assim: no artigo primeiro, estabelece-se o teto, e, no artigo segundo, já vem algo como: ‘enquanto estiver valendo o teto, as seguintes regras constitucionais deixam de ser observadas e passam a ser reguladas por meio de leis complementares’. Assim, vai se fixar como fica o financiamento e o copagamento no sistema de saúde, no ensino público superior e as desvinculações em geral. Pode ser na mesma emenda, em disposições transitórias. O que não pode é estabelecer um teto e paralisar o governo. Precisa mexer no gasto obrigatório. A flexibilização significa que o governo vai ter de deixar de fazer algumas coisas. Hoje ele faz A, B e C. Ele vai ter de parar de pagar C, para que A e B possam funcionar. Mas esse C está protegido pela Constituição. A flexibilidade é necessária. O governo ainda não explicou quem vai pagar a conta do ajuste. Ao pedir as desvinculações, os críticos alegam que vai sobrar para a população, que depende dos serviços básicos que o sr. mencionou. Há esse risco? Não é verdade. A saúde pública e a educação pública podem até melhorar, mas elas não vão mais estar disponíveis, de graça, para quem pode pagar. Para quem tem recursos é preciso que a medida venha acompanhada de um regime de coparticipação. Assim, a boa saúde e a boa educação públicas ficam disponíveis para quem não tem recursos. O Zé Márcio (José Márcio Camargo, economista da Opus) tem uma proposta: quem pagou ensino médio, paga ensino superior. Quem tem seguro médico, paga o SUS. O tratamento aos mais pobres deve ser mantido. O que não pode é essa judicialização da 12/06/16 saúde. Pessoas com recursos conseguem acesso a tratamentos ultra sofisticados e a remédios caríssimos pelo SUS. Isso acontece porque diz lá na Constituição: é gratuito, é universal. Então, precisa dizer que temporariamente não será. O sr. concorda que nada disso está claro ainda? Não está claro e é compreensível que o governo não queira levantar essas lebres agora, antes da definição do impeachment. Ele lança agora o teto, é importante criar essa expectativa. Nos próximos dois meses, vamos discutir como dar efetividade ao teto. Depois do impeachment, vamos ver quais são as medidas necessárias para que o governo continue a funcionar com o teto – e isso protegendo integralmente os gastos que se destinam à parcela mais pobre da população. Seus colegas de Plano Real dizem que ele ficou incompleto. Daqui para frente, há espaço para implementar as reformas que faltaram? Eu não gosto dessa mitologia sobre o Plano Real. Eu mesmo sou culpado por isso. Acabei de falar da linhagem do Plano Real. Vamos deixá-lo para trás. Virou história. Mas, olhando para frente, a mãe de todas as reformas é a reforma política. Precisamos de um sistema político minimamente decente – essa é a palavra a ser usada. O sistema precisa ser redefinido de modo que tenha a representação mais fidedigna da vontade popular de hoje. Não dá para ficar com o sistema que esta aí. Há outras reformas vitais? Precisamos dar um jeito no sistema tributário. A Previdência precisa apontar para o equilíbrio. A reforma trabalhista precisa vir para acabar com o grau de informalidade e a extraordinária rotatividade no emprego, que impede o aprendizado do trabalhador. Temos de retomar as coisas que foram abandonadas. Precisamos de um mecanismo para que o governo, junto com o setor privado, possa investir. E finalmente tem o meu tema predileto: a abertura da economia. Nossa participação ínfima no comércio internacional é uma anomalia. O sr. se considera otimista? É muito difícil ficar otimista com essa situação. Tem um grau de incerteza brutal, por causa da interinidade do governo e da extensão da Lava Jato. A interinidade se resolve em agosto; a Lava Jato, segundo uma declaração de Sérgio Moro, pode mudar em dezembro. Estamos agora na fase de quem deveria (ser envolvido), já foi. Quem não foi, não vai mais. E foi muita gente. Até o japonês da Federal. O ESTADO DE S. PAULO 12/06/16 ECONOMIA PIB per capita retrocede cinco anos Dados do FMI mostram que renda dos brasileiros deve cair para US$ 15 mil este ano, depois de ter atingido US$ 16,2 mil em 2014 A atual crise econômica parece ter reforçado ainda mais a armadilha da renda média que prende o Brasil. Com a pior recessão desde a década de 30, pelo menos, o empobrecimento do País deve levar o Produto Interno Bruto (PIB) per capita ao mesmo patamar de cinco anos atrás. Os recentes dados divulgados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que o PIB per capita deverá encolher para US$ 15 mil em 2016. Em 2011, era de US$ 15,1 mil. A crise atual marca uma inversão de tendência. Embora o País tenha enfrentado turbulências internacionais ao longo dos anos, sempre conseguiu manter um avanço da renda. No auge, em 2014, o PIB per capita brasileiro chegou a US$ 16,2 mil. A previsão atual é que esse patamar só seja superado novamente em 2020 (ver quadro). Dessa forma, a economia brasileira deverá ficar um bom tempo estagnada na atual década. Os dados do FMI foram calculados em Paridade do Poder de Compra (PPC). Ou seja: leva em conta não o valor nominal da moeda local em relação ao dólar, mas quanto ela pode comprar, o que torna possível a comparação entre os países. Dessa forma, mais preocupante do que a queda da renda do brasileiro passa a ser a comparação com outras economias. Neste ano, segundo o fundo, o PIB per capita da China será de US$ 15,1 mil e ultrapassará o brasileiro pela primeira vez. Nos Estados Unidos, por exemplo, a cifra chega a US$ 57,2 mil. O caminho do Brasil para voltar a crescer e, consequentemente, enriquecer, passa por três desafios, segundo economistas. Nos próximos anos, será preciso elevar a taxa de investimento, melhorar a qualidade da educação e, numa combinação desses dois desafios, aumentar a produtividade. "Para o aumento da produtividade entram questões mais estruturais, como a melhora de ambiente de negócios, que passa por regulação, desburocratização, melhora do sistema tributário e abertura de economia", diz Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada. Para a Tendências, quando se calcula o PIB per capita sem eliminar os efeitos do câmbio, o futuro brasileiro será ainda mais pobre. Em 2026, a renda média será de US$10.736. Produtividade. O entrave começa a surgir quando são analisados todos os fatores que podem contribuir para o aumento do PIB per capita. O investimento está em queda. Na educação, o Brasil figura nas últimas posições dos rankings internacionais e os indicadores nacionais ainda não apontam para uma melhora consistente. Por fim, a produtividade também está em queda. "Uma análise de todos os setores da economia nos últimos anos mostra que só houve aumento da produtividade na agricultura por causa da adoção de novas tecnologias e pesquisas", diz Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas (CPP). "Na indústria, a produtividade está estagnada e, no setor de serviços, está em queda", diz. Nas últimas décadas, a produtividade da economia brasileira só cresceu de forma mais consistente entre as décadas de 60 e 80, quando boa parte dos brasileiros trocou o trabalho agrário pelo industrial. Desde então, o País vem patinando. "Esse problema vem desde 1980. É algo estrutural. Tem alguma coisa errada com a nossa economia, porque não conseguimos aumentar a nossa produtividade", afirma Menezes Filho. 12/06/16 O ESTADO DE S. PAULO 12/06/16 ECONOMIA Educação é entrave para recuperação Um dos principais entraves apontados por especialistas para que o Brasil saia da "armadilha do desenvolvimento" é a educação, considerada de má qualidade em todo o País. Pelos dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), apenas 0,8% dos alunos brasileiros entre 15 e 16 anos conseguem realizar análises complexas em matemática. No geral, 67,1% dos alunos nessa faixa etária estão em um nível considerado baixo de entendimento da disciplina. Dos 2,7milhões de alunos avaliados na pesquisa divulgada em fevereiro, o País tinha1,9 milhão de estudantes de 15 anos com dificuldades em matemática básica, além de 1,4 milhão com problemas em leitura e 1,5 milhão em ciências. Cruzados, os números indicam que 1.165.231 estudantes tinham dificuldades em cumprir tarefas básicas nas três áreas de conhecimento. Em posições piores que o Brasil estavam apenas Catar, Peru, Albânia, Argentina, Jordânia, Indonésia, Colômbia, Uruguai e Tunísia. Outra constatação do estudo é de que o País está no "top 10" de países mais desiguais do mundo quanto à diferença de desempenho entre estudantes de classes sociais diferentes. Apesar do grande contingente de alunos com desempenho abaixo do esperado, o Brasil era, dentre todos os 64 países analisados, um dos nove que mais reduziram - em 18% - o número de estudantes com problema em matemática entre 2003 e2012, segundo a organização. Também houve redução tímida no porcentual de alunos com baixo desempenho em leitura e ciências. Para a OCDE ,parte dos resultados ainda muito negativos do Brasil se deve à inclusão de estudantes no sistema educacional ao longo dos últimos 15 anos. CORREIO BRAZILIENSE 12/06/16 POLÍTICA NAS ENTRELINHAS O bonde da Educação por Luiz Carlos Azedo [email protected] Um jovem monarquista que protestava contra a convocação de uma greve geral na Universidade de Brasília foi agredido por colegas que desejam paralisar a universidade em protesto contra o impeachment e o governo Temer, na terça-feira passada, porque estendeu uma bandeira do Brasil Império. Debaixo de socos e pontapés, conseguiu recuperá-la. Essas cenas da agressão, do tipo todos contra um, ocorreram na ala norte do Instituto Central de Ciências (ICC), o famoso “Minhocão”, e foram expostas na internet; no dia seguinte, o jovem agredido voltou às redes sociais para dizer que não se deixaria intimidar. Ele acredita que a agressão foi um sinal de que a bandeira da monarquia, diante da crise ética, está incomodando. Na quarta-feira, durante assembleia da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), que reuniu 148 professores, o pós-doutor em bioética Volnei Garrafa sugeriu que a delegação da ADUnB apresente, no congresso do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), em Roraima, uma proposta para que o segundo semestre das universidades federais não se inicie enquanto a presidente Dilma Rousseff não voltar ao comando do governo. A maioria apoiou a proposta. O presidente da associação, Virgílio Arraes, disse que a sugestão será encaminhada, mas ponderou que a instituição tem cerca de 2.500 professores. A Associação dos Docentes da UnB fez uma pesquisa eletrônica para saber a opinião dos colegas sobre os temas abordados na assembleia. Apenas 478 professores responderam ao questionário, dos quais 225 (47,47%) concordam com a tese de que o impeachment é golpe e 249 (52,53%) discordam; 300 professores (63,29%) são a favor de debater o assunto e 174 (36,71%) são contra. Mais: 265 professores (55,91%) foram contra a realização da assembleia; e 209 (44,9 %), a favor. Ou seja, uma situação na qual professores engajados num projeto de poder não respeitam a maioria dos colegas e a minoria da minoria (o jovem monarquista) não pode sequer se expressar sem apanhar. Esse é o ambiente político numa das melhores universidades do país. Aparatos ideológicos Nos anos 1970, o livro Os aparatos ideológicos do Estado, do filósofo franco-argelino Louis Althusser, fez muito sucesso entre estudantes e professores que faziam oposição ao regime militar, ao lado do livro Os Conceitos elementares do materialismo histórico, da professora chilena Marta Harnecker Cerdá, que participou do governo socialista de Salvador Allende e foi assessora de Hugo Chávez, de 2002 e 2006. Discípula de Althusser e casada com Manuel Piñeiro, o lendário Barba Ruiva (líder do PC cubano encarregado da relação com a esquerda da América Latina), com seu livro, Marta fez a cabeça da esquerda brasileira nas universidades. Em consequência, boa parte das lideranças das universidades públicas do país tem uma visão 12/06/16 sobre suas instituições próxima das ideias de Althusser, ainda que seu livro tenha sido publicado há quase 50 anos. Grosso modo, atribui aos aparatos ideológicos do Estado o papel de reproduzir a ideologia dominante para garantir a reprodução ampliada do capital. Quais são esses aparatos? A família, as igrejas, os partidos, os meios de comunicação, a cultura (literatura, arte e esporte), os sindicatos e, principalmente, a escola. O sistema jurídico, teria duplo caráter: aparato ideológico e, ao mesmo tempo, repressivo. É uma visão meio “funcionalista” do conceito de hegemonia. Althusser questiona o papel do professor que se esforça para construir um discurso moderno mas não tem uma prática, digamos, revolucionária. Ao cumprir seu papel como professor, simplesmente reproduziria as relações de poder dominantes. Essa concepção está por trás do ativismo político de boa parte dos integrantes dos conselhos universitários e até de alguns reitores, o que de certa forma explica o apoio incondicional que deram aos governos Lula e Dilma, muito embora a qualidade do ensino e a capacidade de produzir ciência e tecnologia de nossas universidades deixem muito a desejar. Na cartilha althusseriana, professores devem se posicionar contra o sistema e contra as práticas que os aprisionam e transmitir isso aos seus alunos. A Matemática, o Português, a História, a Geografia e as Ciências só têm sentido ao contestar a exploração e a dominação de classe. O devotamento à Educação contribui para alimentar a ideologia burguesa e faz da escola algo parecido com a Igreja medieval. Enquanto pensam assim, o Brasil perde o bonde da revolução do conhecimento. Estamos diante de uma situação na qual professores engajados num projeto de poder não respeitam a maioria dos colegas e a minoria da minoria (o jovem monarquista) não pode se expressar sem apanhar O GLOBO 11/06/16 Pró e contra No esforço para barrar o impeachment na Câmara, Dilma entregou o bilionário FNDE a Gastão Vieira, do nanico PROS. Para obter apoio nas votações, Temer confirmou o maranhense no cargo. Na propaganda na TV, esta semana, o partido investiu tudo na boa sorte de Gastão. CONEXÃO SÃO PAULO LUIZ ANTÔNIO NOVAES FOLHA DE SÃO PAULO 11/06/16 TENDÊNCIAS & DEBATES Governo deve desvincular gastos obrigatórios em educação e saúde? SIM DEMOCRACIA E EFICÁCIA DO GASTO PÚBLICO FERNANDO VELOSO O governo anunciou recentemente que enviará ao Congresso Nacional uma proposta de emenda constitucional que estabelecerá um limite para o crescimento do gasto primário da União. Nas últimas duas décadas, o gasto primário tem crescido a uma taxa muito acima do crescimento do PIB, o que aponta para uma trajetória fiscal insustentável caso não sejam adotadas medidas de ajuste. O atraso no pagamento de salários e a interrupção no fornecimento de serviços públicos em vários Estados e municípios mostram o custo incorrido pela sociedade quando esse ajuste é feito de forma desordenada. De acordo com o projeto, o aumento do gasto público terá como limite a taxa de inflação. Embora os detalhes ainda não tenham sido explicitados, a proposta necessariamente envolverá uma revisão de várias regras que resultam em crescimento dos gastos a uma taxa superior à das receitas necessárias para financiá-los. Além da questão da solvência do setor público, essa proposta coloca em discussão a forma como as escolhas da sociedade se refletem no orçamento, em particular por meio de vinculações nas áreas de educação e saúde. A Constituição de 1988 estabeleceu que o governo federal deve destinar 18% de suas receitas para a educação; para Estados e municípios, esse percentual é de 25%. O Plano Nacional de Educação criou uma vinculação adicional ao estabelecer que o gasto público no setor deverá atingir um montante correspondente a 10% do PIB até 2024. No caso da saúde, a emenda constitucional 29/2000 determinou que o gasto do governo federal seria vinculado ao crescimento do PIB nominal. Em 2015, outra emenda estabeleceu uma vinculação dos gastos em saúde da União à receita corrente líquida. Embora o objetivo de assegurar fontes de financiamento para saúde e educação seja meritório, vinculações orçamentárias não representam uma forma adequada de fazê-lo por dois motivos. Primeiro, o orçamento é o espaço democrático para o debate sobre as decisões de como alocar os recursos públicos. Na medida em que grande parcela do orçamento é fixada por leis e regras de indexação, a margem de escolha do governante para executar as políticas defendidas na campanha é muito limitada. Segundo, a vinculação reduz a efetividade do gasto público ao impor uma regra que não leva em consideração o fato de que as necessidades variam em função das condições locais e ao longo do tempo. De fato, uma das iniciativas mais importantes em educação representou uma tentativa de contornar a rigidez imposta pela vinculação. Na década de 1990, 11/06/16 constatou-se que, em Estados nos quais a rede municipal tinha grande participação no ensino fundamental, principalmente no Nordeste, a vinculação de 25% da receita era excessiva para a rede estadual, mas insuficiente para a rede municipal. Em função disso, foi criado o Fundef, que redistribuiu os recursos entre cada Estado e seus municípios, de acordo com o número de alunos matriculados na rede local de ensino fundamental. Na medida em que tornou-se necessário aumentar os recursos para a educação infantil e o ensino médio, foi criado posteriormente o Fundeb, que estendeu o mecanismo do Fundef para toda a educação básica. A vinculação de recursos orçamentários deveria ser uma exceção, não a regra. Deveria ter objetivos específicos, ser limitada no tempo e condicionada a uma avaliação periódica de seus resultados. A desvinculação seria um passo importante na direção de uma alocação mais democrática e eficaz do gasto público. FERNANDO VELOSO, 49, doutor em economia pela Universidade de Chicago, é pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas. Foi colunista dos cadernos "Mercado" e "Saber", da Folha FOLHA DE SÃO PAULO 11/06/16 TENDÊNCIAS & DEBATES Governo deve desvincular gastos obrigatórios em educação e saúde? NÃO Conta será paga pelos mais pobres NAERCIO MENEZES FILHO Os gastos do governo federal cresceram mais do que as receitas nos últimos anos, o que ajudou a provocar a recessão atual. A nova equipe econômica propôs estabelecer um teto para o crescimento das despesas públicas, em linha com a inflação. Para isso, será necessário quebrar os vínculos dos gastos de educação e saúde com as receitas da União, dos Estados e municípios. Será que isso faz sentido? Faz todo o sentido limitar o crescimento dos gastos do governo para não agravar a crise econômica. Além disso, é necessário aumentar a produtividade do gasto público, pois o governo tende a ser muito ineficiente em várias áreas. Entretanto, não deveríamos acabar com o sistema de vinculação dos gastos em educação e saúde ao crescimento das receitas, por vários motivos. Em primeiro lugar, os gastos vinculados em educação e saúde não foram os principais responsáveis pela crise fiscal. Os recursos aplicados na saúde estão estáveis em relação ao PIB há vários anos; já os destinados à educação aumentaram acima da vinculação nos últimos anos por conta de programas equivocados, que devem ser reduzidos. Os maiores responsáveis pelo aumento nas despesas federais foram os benefícios previdenciários e assistenciais e os subsídios. Em segundo lugar, os gastos em educação e saúde beneficiam milhões de brasileiros que não podem pagar por esses serviços. Esses recursos são concentrados nas famílias mais pobres, as que mais necessitam de investimentos para que possamos promover mais igualdade de oportunidades e o aumento da produtividade do país. Em terceiro lugar, o sistema de vinculação tem funcionado muito bem. A Constituição de 1988 vinculou 18% das receitas do governo federal e 25% das receitas dos Estados e municípios a gastos educacionais. Quando as receitas aumentam, os gastos também podem aumentar. Esse sistema foi aperfeiçoado pelo ministro da Educação Paulo Renato Souza (governo FHC) por meio do Fundef, fundo de desenvolvimento do ensino fundamental que transferiu recursos dos municípios mais ricos com poucos alunos para os mais pobres com muitos alunos. Depois o fundo foi substituído pelo Fundeb, que incluiu a educação infantil e o ensino médio. Como resultados dessas políticas, as matrículas aumentaram bastante em todos os níveis. Será que deveríamos desmantelar um sistema que levou 30 anos para ser construído para resolver um problema fiscal que não foi causado por ele? O quarto ponto: com essa proposta de desvinculação, se a inflação se estabilizar e o PIB voltar a crescer, os gastos em educação e saúde iriam diminuir cada vez mais como proporção do 11/06/16 PIB, já que seus benefícios são dispersos e seus defensores têm menor poder de barganha no Congresso. melhores resultados. Temos que reformar urgentemente a Previdência e auditar todos os subsídios existentes. Basta examinar nossa história social antes de 1988. Os constituintes criaram as vinculações para evitar a escassez de recursos em setores tão fundamentais. Para amarrar as próprias mãos. Num mundo ideal, essas vinculações não seriam necessárias. Nossos políticos, entretanto, estão muito longe desse ideal. Todavia, não deveríamos eliminar as vinculações em um momento em que a Câmara aprova um reajuste para os servidores que custará R$ 58 bilhões nos próximos anos. Isso não seria justo. Em suma, temos que avaliar todos os programas existentes nas áreas de educação e saúde de forma rigorosa, pois mais gastos não significam necessariamente NAERCIO MENEZES FILHO, doutor em economia pela Universidade de Londres, é coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e professor associado da Faculdade de Economia e Administração da USP FOLHA DE SÃO PAULO 11/06/16 MERCADO Fazenda quer prazo renovável para teto A equipe do ministro Henrique Meirelles (Fazenda) vai defender que, caso seja estabelecido um prazo para o teto de gastos da União, ele seja renovável até que a dívida pública caia para um patamar considerado sustentável. Além disso, o prazo precisa ficar condicionado a níveis da dívida, seu custo de financiamento e a evolução das receitas, entre outros critérios. Hoje, a dívida pública do país está perto de 70% do PIB e pode chegar a 75% no curto prazo se nada for feito. Um patamar considerado ideal fica entre 45% e 50% do PIB. O mecanismo de teto proposto pelo governo limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior. Conforme antecipou o "Painel" nesta sexta (10), ministros do presidente interino Michel Temer defendem um prazo para o teto que fique entre 3 e 5 anos. E EU COM ISSO? Segundo interlocutores, o ministro da Fazenda considera, porém, que três anos são insuficientes para conter a dívida e a restrição de gastos públicos precisa ser suficientemente longa "para dar conforto de que haverá equilíbrio fiscal de novo no país". O controle da dívida pública é condição indispensável para recuperar a confiança de investidores e reduzir os juros pagos pelo país e por suas empresas. A equipe da Fazenda vai passar o fim de semana elaborando a proposta de emenda constitucional que será enviada ao Congresso por Temer até quarta-feira (15). NEGOCIAÇÕES A equipe econômica reconhece que, politicamente, será preciso negociar um prazo. Nas tratativas com o Congresso, a área econômica vai lembrar que, apesar de a dívida pública brasileira ser menor que a de países desenvolvidos, ela é alta para um país emergente e tem custo de financiamento elevado. Eles destacam que, no futuro, caso o Brasil tenha taxas de juros de países civilizados, a dívida pública brasileira pode voltar a crescer. EDUCAÇÃO E SAÚDE Em relação aos gastos de saúde e educação, a ideia é que os percentuais atuais destinados às duas áreas sejam mantidos durante a vigência do teto. Um técnico destaca que, se o Congresso quiser aumentar essas receitas, poderá fazê-lo, desde que outras despesas sejam comprimidas para que o teto global não seja desrespeitado. Na visão do Ministério da Fazenda, o limite de gastos públicos, a ser incluído na Constituição, será o primeiro grande ajuste estrutural na área fiscal e irá garantir a retomada do crescimento de forma sustentável no país. BNDES Sobre a devolução de R$ 100 bilhões ao Tesouro pelo BNDES, anunciada pela equipe econômica, a Fazenda diz que o governo vai aguardar uma avaliação do TCU (Tribunal de Contas da União). O Ministério não considera que a antecipação configure uma operação de crédito, como as pedaladas fiscais praticadas pela gestão Dilma Rousseff. Se o TCU, no entanto, entender que a devolução não é legal, o governo não levará a proposta adiante. O ESTADO DE S. PAULO 11/06/16 POLÍTICA Governo decide corte de 4.300 comissionados Ministro interino do Planejamento admite que economia de R$ 230 mi ao ano é baixa; outros 10 mil postos serão convertidos em concursados O governo vai eliminar, em 30 dias, um total de 4.307 cargos em comissão, funções e gratificações, segundo informou ontem o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Outros 10.462 cargos comissionados de Direção e Assessoramento Superior (DAS) serão reservados para servidores concursados. A medida deve gerar economia de R$ 230 milhões ao ano, pouco perto dos R$ 250 bilhões que o governo federal gasta anualmente com sua folha salarial. Com isso, o governo tenta se contrapor ao desgaste gerado pela aprovação, na Câmara, de um projeto de lei que cria 14 mil novos cargos. O próprio ministro interino do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Dyogo Oliveira, reconheceu que essa medida poderá não resultar em economia de recursos públicos. "É baixo. Mas assim é o número de cargos existentes", disse Oliveira. Boa parte dos cargos DAS tornados exclusivos dos concursados já são ocupados por servidores de carreira. Essa reserva de vagas não é novidade: desde 2005,75% dos cargos DAS nível 1,2 e 3, além de 50% dos DAS 4, são de ocupação exclusiva de servidores de carreira. Hoje, essa reserva seria de cerca de 9.400 vagas. Mas o fato é que há muito mais concursados em cargos de comissão do que as vagas legalmente reservadas a eles. Dos 21.700 ocupantes de cargos DAS, 16.085 (77%) são servidores de carreira, segundo o mais recente Boletim Estatístico de Pessoal, publicado em fevereiro. Ou seja, na prática,a reserva de 10 mil cargos para concursados pode não ter efeito significativo. Apesar disso, o governo afirma estar fazendo um "enxugamento" que se coaduna com o esforço de ajuste fiscal. Prazo. Um decreto assinado ontem pelo presidente em exercício Michel Temer detalha quantos postos serão cortados em cada ministério. Eles terão um prazo de 30 dias para entregálos.Até o momento,o Planejamento já recolheu,para posterior extinção, 881 cargos. Essa redução, porém, foi efetivada no governo da presidente afastada Dilma Rousseff. Segundo o secretário de Gestão do Ministério do Planejamento, Gleisson Rubin, os maiores cortes, em termos absolutos, ocorrerão nas pastas de Saúde, Educação, Planejamento e Justiça. Em termos proporcionais, os ministérios que terão maior enxugamento são aqueles resultantes de fusão: Transportes (que recebeu Portos e Aviação Civil),Comunicações (que foi fundido com Ciência e Tecnologia) e Justiça (que recebeu estruturas da área social). No total, serão extintas 33 secretarias, das quais 13 já foram cortadas e outras 20 ainda serão eliminadas. Estatais. O governo prepara medidas adicionais para aumentar o controle sobre as empresas estatais, disse Oliveira. "Elas vão no sentido de melhoria do controle e governança das estatais", afirmou. Uma delas é a criação de comitês de auditoria vinculados aos conselhos de administração das empresas. "Estaremos adotando em breve", disse. "E é importante darmos seguimento ao projeto de lei que regulamenta a ocupação e determina outras regras de funcionamento das estatais." CORREIO BRAZILIENSE 11/06/16 ECONOMIA CONJUNTURA » 26% dos jovens sem emprego claro que, quando há uma situação de crise, o problema se acentua, com menos vagas oferecidas”, ponderou. “Os empregadores desconfiam de empregar os mais jovens, por causa da pouca maturidade, o que provoca muita rotatividade e aumento de custos”, afirmou. A estudante do primeiro ano de contabilidade Gabriela Dantas procura por uma vaga há mais de um ano A crise econômica atingiu em cheio os jovens. A taxa de desemprego entre os brasileiros de 14 a 24 anos saltou de 20,89%, no quarto trimestre de 2015, para 26,36% no primeiro trimestre deste ano. Isso significa que uma em cada quatro pessoas com menos de 25 anos não consegue se colocar no mercado de trabalho. Foi o que mostrou pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estudo também revelou que a situação é mais grave entre mulheres e pessoas com ensino médio incompleto, moradores das regiões metropolitanas e que não são chefes de família. O professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos ressaltou que o desemprego da população mais jovem não é um fenômeno brasileiro, mas sim mundial. “É A estudante do segundo ano do ensino médio Janaína Alves, 18 anos, sente o problema na pele. “Já tentei de tudo: vaga para recepcionista, caixa, vendedora, e nada. Não tem oportunidades para primeiro emprego. Estou precisando muito ajudar meus pais. Somos cinco em casa.” A estudante do primeiro ano de contabilidade do UniCeub Gabriela Dantas, 18 anos, também está à procura de uma colocação há, pelo menos, um ano. “Até achei um lugar, mas eles queriam só quem estivesse no sétimo semestre”, lamentou. A falta de experiência pode dificultar, mas o recém-formado em química Arthur Felipe Bardella, 24, garante que não existem vagas. “Estou há um ano procurando. Não tenho carro, e, por isso, só procurei perto de casa, no Núcleo Bandeirante, mas já considero ampliar a área de busca, mesmo sem ter um transporte público que me permita ir e voltar facilmente”, disse. (CP) CORREIO BRAZILIENSE 11/06/16 ECONOMIA CONJUNTURA » Ensino longe do mercado A incompatibilidade entre o ambiente escolar no Brasil, principalmente do ensino médio, e o mundo do trabalho, que tem códigos e valores diferentes, agrava o problema do desemprego entre jovens, na opinião do professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos. “Aqui o ensino não é como o dos países nórdicos, que incluem no currículo cursos no chão de fábrica, onde os alunos entram de manhã e batem ponto. Os empregadores já os conhecem. Não à toa, Suécia, Dinamarca e Finlândia têm baixos índices de desemprego nessa faixa etária, ao contrário dos países do sul da Europa, como a Espanha, onde a taxa atinge cerca de 40%”, salientou. O documento apresentado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) destaca que a proporção de jovens ocupados vem caindo desde 2013, após atingir um pico de 44% no terceiro trimestre de 2012. No primeiro trimestre de 2016, os jovens ocupados eram apenas 37%. No entanto, até 2015, essa queda refletia muito mais o aumento daqueles que apenas estudavam do que a elevação do numero de desempregados. A parcela de jovens que somente estudavam subiu de 35%, em 2012, a 38,2% no fim de 2014, e recuou a 36,3% no início de 2016. A proporção de desocupados, que oscilava em torno de 8% até 2015, saltou para 13,2% em 2016. O grupo conhecido como nem-nem (nem estudam nem trabalham) manteve-se em torno de 13% durante o período. (CP) CORREIO BRAZILIENSE 11/06/16 CIDADES TRANSPORTE » 100 mil perderão o Passe Livre Grupo terá o cartão bloqueado a partir de 1º de julho por não ter direito ao benefício. A previsão do Governo do Distrito Federal é que essa exclusão represente economia de cerca de R$ 9 milhões por mês » NATHÁLIA CARDIM Alunos de escolas do Cruzeiro protestaram contra suspensão do transporte escolar na Estrutural, onde moram Em 1º de julho, estudantes que não se recadastrarem ou estiverem com alguma pendência terão o Passe Livre Estudantil suspenso. Balanço divulgado ontem pela manhã pela Secretaria de Mobilidade e pelo Transporte Urbano do DF (DFTrans) revelou que pelo menos 100 mil pessoas não tinham direito à gratuidade e devem ter os cartões bloqueados após o término do recadastramento. Os órgãos anunciaram, ainda, que, com as novas medidas de fiscalização, a expectativa é de que haja uma economia de aproximadamente R$ 9 milhões mensais. O cadastramento eletrônico foi uma novidade em Brasília, bem como a exigência do cadastro de pessoas físicas (CPF) do próprio estudante para o processo. A informação é cruzada com dados da Receita Federal. Antes, a inscrição era feita manualmente por funcionários terceirizados, em postos da autarquia. Não havia necessidade, por exemplo, da digitalização de documentos. Mesmo assim, houve falhas no sistema. Na segunda-feira, estudantes ocuparam o posto do DFTrans em busca de melhorias no Passe Livre. Eles alegaram estar sem o benefício e pediram ao GDF para resolver a situação. O Executivo local havia informado que houve um problema na leitura dos cartões. Ontem, o secretário de Mobilidade, Marcos Dantas, explicou que, até 1º de abril, foram realizados 227.171 pedidos de alunos da rede pública e particular para a liberação da gratuidade. “Nós temos agora uma base de dados mais confiável, podemos dizer que daremos o benefício a quem realmente tem direito”, explicou. Dos que fizeram a solicitação em março e abril, 166 mil tiveram o cadastro aprovado e 61 mil estão com algum tipo de pendência, a maioria relacionada a foto. O governo entregou aproximadamente 70 mil novos cartões até agora, a maioria em substituição aos velhos. Quinze mil pessoas que tiveram a data marcada para buscar o benefício ainda não compareceram ao posto. Protesto Ainda na manhã de ontem, cerca de 70 alunos do centros educacionais 1 e 2 (CED 1) e (CED 2) do Cruzeiro se reuniram em frente ao Palácio do Buriti para protestar contra a decisão do GDF em suspender os ônibus escolares que fazem o transporte dos estudantes da Estrutural para as escolas daquela região administrativa. Segundo eles, os veículos foram substituídos pelo Passe Livre. Uma das organizadoras do protesto, a estudante Yasmin Costa, 16 anos, disse que o objetivo da manifestação é mostrar que o grupo não aceitará a medida e cobra por uma resposta do Executivo local. “Nós formamos uma comissão para ir ao Buriti levar as nossas reivindicações. Esses alunos não podem ser prejudicados em concluir o ano letivo. O transporte escolar é um direito nosso”, cobrou. Caso o serviço seja suspenso, os estudantes pedem a criação de uma linha direta da Estrutural até os colégios. “Não tem paradas de ônibus próximo às escolas. As que têm são muito distantes. Não temos 11/06/16 segurança nenhuma. Os ônibus da linha normal ficam entupidos de gente, fora os atrasos. Muitos alunos só assistem ao segundo horário”, denunciou. A Secretaria da Educação informou, por meio da assessoria de Comunicação, que suspendeu o serviço dos ônibus escolares, pois há linhas de transporte coletivo que fazem o mesmo trajeto entre a escola e a residência dos estudantes. “A ação é para que não haja a duplicidade de benefício. Neste ano, foram retirados 15 ônibus escolares das regiões administrativas Estrutural, Samambaia e Planaltina. Guará e Sobradinho também terão o transporte suspenso, ainda neste ano. A pasta está fazendo levantamento de quantos estudantes estão cadastrados no DFTrans.” Ainda segundo a nota, “representantes da Secretaria de Mobilidade, da Casa Civil e do DFTrans se reuniram com os estudantes, na manhã desta sextafeira e ficou definido que será feito um estudo para buscar a solução do problema, seja promovendo mudanças em linhas existentes, seja criando uma linha.”
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