Segunda-feira, 3 de março de 2003

Transcrição

Segunda-feira, 3 de março de 2003
Domingo, 7 de agosto de 2011
19º do Tempo Comum, Ano “A”, 3ª Semana do Saltério (Livro III), cor litúrgica Verde
Santos: Máximo Auspício, Betário, Celsino, Eufrônio Pedro de Osma (bispos) Catarina, Teódota Evádio, Rutílio
(Mártires) Pedro Fabro, Estêvão I (papa, Roma, 257), Pedro Julião (1868) e Rutílio
Antífona: Considerai, Senhor, vossa aliança, e não abandoneis para sempre o vosso povo. Levantai-vos, Senhor,
defendei vossa causa, e não desprezeis o clamor de que vos busca. (Sl 73, 20.19.22.23)
Oração: Deus eterno e todo-poderoso, a quem ousamos chamar de Pai, dai-nos cada vez mais um coração de filhos,
para alcançarmos um dia a herança que prometestes. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo.
1ª Leitura: 1º Livro dos Reis (1Rs 19, 9a.11-13a)
Elias encontra-se com Deus de bondade e misericórdia
Naqueles dias, ao chegar a Horeb, o monte de Deus, 9ao profeta Elias entrou numa gruta, onde
passou a noite. E eis que a palavra do Senhor lhe foi dirigida nestes termos: 11"Sai e permanece
sobre o monte diante do Senhor, porque o Senhor vai passar". Antes do Senhor, porém, veio um
vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos. Mas o Senhor não
estava no vento. Depois do vento, houve um terremoto. Mas o Senhor não estava no terremoto.
12
Passado o terremoto, veio um fogo. Mas o Senhor não estava no fogo. E, depois do fogo, ouviuse o murmúrio de uma leve brisa. 13aOuvindo isso, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôsse à entrada da gruta. Palavra do Senhor!
Comentando a I Leitura
Experimentar Deus nos conflitos
Com o massacre dos profetas de Baal (1Rs 18), Elias livrara o Reino de Israel da catástrofe
nacional e da idolatria que sustentava e fomentava a exploração das massas populares sob o
reinado de Acab. Esse episódio, contudo, fez explodir o furor de Jezabel, esposa do rei e
patrocinadora do culto a Baal, a qual decreta a morte de Elias.
O profeta foge rumo ao sul, atravessando o Reino de Judá e entrando no deserto. Deseja morrer,
mas Javé o nutre com misterioso alimento, atraindo-o ao monte Horeb (= Sinai), lugar da aliança
de Deus com seu povo.
A situação e a experiência de Elias são semelhantes às de Moisés, depois que o povo pecou (cf.
Ex 32-33). Ambos experimentam Deus em momentos de profundas crises no meio do povo. A
ambos Deus se mostra próximo e íntimo, dialogando com eles.
A forma como Elias experimenta Deus é diferente da de Moisés (cf. Ex 33,18-23): Javé não está
no furacão que racha as montanhas e quebra os rochedos, nem no terremoto ou no fogo,
elementos ordinários das teofanias do Êxodo (cf. também 2Sm 22,7-16; Is 29,6; Sl 50,3; 97,35), mas no murmúrio de uma brisa suave, quase imperceptível.
Elias tem de fazer uma experiência nova de Deus, que já não se serve dos fenômenos
espetaculares da natureza para se manifestar. Por quê? Qual o sentido do novo nessa
experiência? Segundo as narrativas mitológicas de Ugarit, Baal era o deus da tempestade, senhor
do trovão e do raio, diante dos quais a terra entrava em pânico (terremoto). A vitória de Javé
sobre Baal (cap. 18) não quer afirmar que ele toma o lugar do deus da tempestade. Elias sente
que a experiência com Javé é totalmente diferente em relação às anteriores: a majestade de
Deus se manifesta nas coisas quase imperceptíveis, como a brisa da manhã. Não é majestade
que apavora e espanta, mas cativa e transmite serenidade. Aí reside a novidade da experiência
de Deus. Ao fazê-la, percebe-se que só Javé pode ser considerado Deus, pois só ele “faz sair” da
Evangelho do Dia
07/08/11
Mundo Católico (www.mundocatolico.org.br)
Pg.1
caverna para a comunhão e compromisso com ele.
Vento e fogo estão associados à vida de Elias, homem impetuoso e fogoso por caráter. Sua
missão anterior e posterior a essa experiência o demonstra: era um demolidor. Contudo,
encontra Deus na solidão da montanha e no silêncio da brisa mansa, longe do tumulto. Ouvindo o
vento suave, ele cobre o rosto com o manto, pois aí percebe a presença de Javé.
Esse texto serviu, erroneamente, para apoiar certa fuga aos compromissos e lutas próprios do ser
cristão. O episódio de Elias no monte Horeb não é fuga ou subtração mais ou menos velada às
exigências da atitude profética. A ação de Elias, antes e depois da experiência de Deus, denota-o
muito bem. Basta ler essa experiência em seu contexto para perceber que se trata de uma
“refontização”, tendo em vista a luta pela justiça desejada por Deus. É a mística dos que
enfrentam a idolatria, particularmente a do poder absolutista e tirano. [Vida Pastoral nº 261, Paulus,
2008]
Salmo: 84(85), 9ab-10.11-12.13-14 (R/.8)
Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e
a vossa salvação nos concedei!
Quero ouvir o que o Senhor irá falar: é a paz que ele vai anunciar. Está perto a salvação dos que
o temem, e a glória habitará em nossa terra.
A verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão; da terra brotará a fidelidade,
e a justiça olhará dos altos céus.
O Senhor nos dará tudo o que é bom, e a nossa terra nos dará suas colheitas; a justiça andará na
sua frente e a salvação há de seguir os passos seus.
II Leitura: Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 9, 1-5)
Deus está perto de nós e sua salvação é certa
Irmãos: 1Não estou mentindo, mas, em Cristo, digo a verdade, apoiado no testemunho do
Espírito Santo e da minha consciência.
2
Tenho no coração uma grande tristeza e uma dor contínua, 3a ponto de desejar ser eu mesmo
segregado por Cristo em favor de meus irmãos, os de minha raça.
4
Eles são israelitas. A eles pertencem a filiação adotiva, a glória, as alianças, as leis, o culto, as
promessas 5e também os patriarcas. Deles é que descende, quanto à sua humanidade, Cristo, o
qual está acima de todos, Deus bendito para sempre! Amém! Palavra do Senhor!
Comentando a II Leitura
O projeto de Deus sofre resistências
Rm 9-11 trata do tema da fidelidade de Deus e da incredulidade de Israel. A grande angústia que
atormentou a vida de Paulo foi a rejeição de seus irmãos na carne ao anúncio do evangelho. De
fato, desde a sua conversão até a estada em Roma, Paulo se esforçou por anunciar o projeto de
Deus aos de sua raça. Em troca recebeu rejeições, acusações e perseguição sistemática.
Estando em Corinto, ele escreve aos romanos, fazendo-os partilhar de sua angústia e dor. A
rejeição do evangelho por parte dos parentes de Paulo “segundo a carne” criava obstáculos à
própria evangelização no meio dos pagãos.
Paulo inicia sua argumentação com plena consciência de estar dizendo a verdade em Cristo,
apelando para o testemunho do Espírito Santo (v. 1). Ele não entende o porquê da rejeição. E sua
dor é tamanha (v. 2), que, para conduzi-los a Cristo, desejaria ser amaldiçoado por Cristo (v. 3),
Evangelho do Dia
07/08/11
Mundo Católico (www.mundocatolico.org.br)
Pg.2
isto é, privado da comunhão com Jesus (cf. também Gl 1,9). É possível ver nesse gesto de Paulo
a repetição do pedido de Moisés, que põe em jogo a própria vida para salvar o povo: “Agora, se
perdoasses seu pecado… Se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste” (Ex 32,32).
A seguir (vv. 4-5), são relacionados oito privilégios dos israelitas, como provas indiscutíveis do
amor de Deus. Nota-se um crescendo da fidelidade de Deus, que vai da adoção de Israel como
povo eleito até o fato de o Cristo segundo a carne ter nascido no meio dele: “a adoção filial, a
glória, as alianças, a lei, o culto e as promessas; a eles pertencem os patriarcas, e deles é o
Cristo segundo a carne” (vv. 4-5a).
Paulo constata que o projeto de Deus sofre resistências exatamente por parte dos que receberam
as maiores provas da fidelidade de Deus. Contudo, sua preocupação não é estimular a polêmica;
pelo contrário, aceita até ser amaldiçoado por Cristo para que o impasse seja superado. Sua vida
não conta quando se trata de encontrar formas a fim de que o projeto de Deus seja aceito por
todos. Ele crê firmemente que Deus não abandonou seu povo, pois a fidelidade divina permanece
inalterada.
E o que dizer, hoje, quando o projeto de Deus encontra resistências no meio das próprias
comunidades cristãs, nas legislações que não levam em conta o bem comum, a justiça, a paz
social? Não é um escândalo que cristãos rejeitem Cristo nos necessitados? Não é escandaloso
quando nos dividimos em tantas Igrejas, sendo Cristo um só? Quem é capaz de ter os
sentimentos de Paulo? [Vida Pastoral nº 261, Paulus, 2008]
Evangelho: Mateus (Mt 14, 22-33)
Jesus espera de nós uma entrega sem reservas a ele
Depois da multiplicação dos pães, 22Jesus mandou que os discípulos entrassem na barca e
seguissem, à sua frente, para o outro lado do mar, enquanto ele despediria as multidões.
23
Depois de despedi-las, Jesus subiu ao monte, para orar a sós. A noite chegou, e Jesus
continuava ali, sozinho.
24
A barca, porém, já longe da terra, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário.
três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar.
25
Pelas
26
Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram apavorados e disseram: "E um
fantasma". E gritaram de medo.
27
Jesus, porém, logo lhes disse: "Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!" 28Então Pedro lhe disse:
"Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água".
29
E Jesus respondeu: "Vem!" Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção
a Jesus. 30Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: "Senhor,
salva-me!"
31
Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: "Homem fraco na fé, por que
duvidaste?" 32Assim que subiram no barco, o vento se acalmou. 33Os que estavam no barco
prostraram-se diante dele, dizendo: "Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!" Palavra da
Salvação!
Comentando o Evangelho
Deus está presente nas lutas da comunidade
No Evangelho de Mateus, a seção 13,53 a 17,27 é a parte narrativa do quarto livrinho, que pode
ser sintetizado assim: o seguimento do mestre da justiça. O trecho de hoje (e o do domingo
passado) pertence a essa parte narrativa.
No trecho do domingo passado, vimos Jesus inaugurando com os pobres e explorados nova
humanidade, em que o comércio é substituído pela partilha dos bens da criação. A partilha é o
Evangelho do Dia
07/08/11
Mundo Católico (www.mundocatolico.org.br)
Pg.3
grande milagre capaz de saciar a todos. E a abundância do que sobra será capaz de matar a fome
de tantos outros.
O texto de hoje se inicia com uma afirmação estranha: Jesus obriga os discípulos a entrar na
barca e seguir à sua frente, para o outro lado do mar (v. 22). Três coisas chamam a atenção: 1.
Jesus obriga os discípulos a embarcar (é a única vez que o verbo obrigar aparece em Mateus).
Jesus mostrou, no episódio anterior, que a partilha é a regra de ouro para o mundo novo. O ideal
da partilha é confiado, agora, aos que seguem a Jesus. Ele os obriga a continuar o que acabou de
fazer. 2. Os discípulos têm de atravessar o mar. O texto sintetiza bem a situação de uma
comunidade em missão, em meio a dificuldades e tentativas de instauração do projeto de Deus.
3. Os discípulos são mandados à outra margem do lago, em território pagão, para semear as
sementes do mundo novo: é o aspecto universal da missão da comunidade cristã.
Jesus passa a noite em oração (v. 23). No Evangelho de Mateus só há duas menções a Jesus que
reza a sós (cf. 26,36ss). Não sabemos o conteúdo da oração de Jesus no monte, mas certamente
está relacionado com a missão dos discípulos e os desafios da “travessia” missionária. De fato, “a
barca, já longe da terra, era batida pelas ondas, pois o vento era contrário” (v. 24). O vento
contrário são as resistências ao projeto de Deus. A fragilidade da barca, a noite, o vento contrário
dão a dimensão exata da fragilidade, obscuridade e desafios enfrentados pelas comunidades
cristãs, sementes do reino da justiça. O mar fala da dimensão itinerante do cristianismo, abrindo
caminhos desconhecidos.
Jesus vai ao encontro dos discípulos de madrugada, andando sobre o mar (v. 25). Andar sobre o
mar é prerrogativa divina (cf. Jó 9,8; 38,16). E a menção à madrugada pode ser entendida como
referência à manhã da ressurreição. No Evangelho de Mateus Jesus é o Deus-conosco (cf. 1,23)
para sempre (cf. 28,20). A memória disso o torna presente sobretudo nas horas difíceis da
“travessia”.
Contudo, há sempre o risco de não captar sua presença nos acontecimentos, considerando-o um
fantasma (cf. v. 26). Jesus se dá a conhecer como Deus presente que liberta das dificuldades:
“Sou eu” (v. 27; em grego ego eimi, que recorda a revelação do Nome divino em Ex 3,14). O
contato com sua palavra dá coragem e afasta o temor. A expressão “coragem!” possui, no Novo
Testamento, duas conotações: 1. Tomar coragem depois de algo que assustou e fez desfalecer
(9,2.22; Mc 10,49); 2. Abastecer-se de coragem, por conta dos desafios futuros ou das
perseguições (cf. Jo 16,33; At 23,11). O encorajamento de Jesus tem essas duas dimensões.
Os vv. 28-31 são breve cena dentro do conjunto maior. Aparece a figura de Pedro que, desejando
andar sobre as águas, retrata o anseio da comunidade cristã em participar da condição divina de
Jesus. Pedro o reconhece como Senhor que tem poder de superar os desafios (v. 28). Mas revela
também a insegurança e a inconstância dos que, desejando superar os obstáculos, se detêm mais
nas dificuldades do que na força do apelo daquele que enviou e chama: “Venha!” Demonstra,
além disso, que nem ele nem os cristãos chegaram ainda a compreender que participar da vida
de Jesus e do seu projeto é superar os desafios e obstáculos, sem pretender que Jesus resolva
tudo com um milagre. O milagre é o de caminhar em meio aos desafios. O cristão se torna filho
de Deus e participa do seu plano em meio às oposições e perseguições da sociedade que rejeita o
projeto de Deus.
A repreensão de Jesus vale, portanto, para todos: “Homem fraco na fé, por que você duvidou?”
(v. 31). A dúvida é o oposto ao risco ante os desafios. Não é o risco que faz afundar, mas a
dúvida paralisante: “Quem enfrenta os desafios arrisca errar; quem não arrisca erra sempre!”
Os vv. 32-33 salientam dois aspectos importantes: 1. Depois que Jesus subiu à barca o vento
cessou; ou seja, quando a comunidade cristã reconhece que Jesus caminha com ela, nenhum
desafio é maior que a força ou a capacidade de superá-lo. A memória da presença do Deusconosco é determinante para atravessar qualquer tempestade. 2. Essa memória leva ao
reconhecimento de quem é Jesus: ajoelharam-se diante dele, dizendo: “De fato, tu és o Filho de
Deus”.
Evangelho do Dia
07/08/11
Mundo Católico (www.mundocatolico.org.br)
Pg.4
O Deus perto de nós
As leituras apresentam duas cenas de teofania:
Deus se manifesta ao profeta Elias na brisa à
entrada da caverna do Horeb; aos apóstolos, e
particularmente a Pedro, manifesta-se na pessoa
de Jesus que domina o mar (1ª leitura e
evangelho). A mensagem contida nessas duas
revelações de Deus nos é mostrada no salmo de
meditação que fala de salvação, agora próxima,
expressa na rica terminologia de misericórdia,
paz, graça, fidelidade, justiça...
Deus está conosco
Deus vem ao encontro do homem especialmente
nos momentos de necessidade, quando ele o
invoca com fé. O Deus dos profetas e de Jesus é
aquele que toma a defesa dos pobres e dos
fracos, e decepciona as esperanças dos que
querem se servir de seu poder. Ele não está nos
fenômenos naturais grandiosos e violentos:
vento, terremoto, fogo; mas no sopro leve da
brisa, como que significando a espiritualidade e a
intimidade das manifestações de Deus ao
homem.
Deus está próximo e
assiste a sua Igreja
A comunidade cristã vive uma existência
atormentada
pela
hostilidade
das
forças
adversas, que se manifestam nas perseguições e
dificuldades externas e internas. Unicamente com suas forças, ela não chegaria ao fim de seu
caminho. Mas Jesus ressuscitado está presente no meio dos seus, embora invisível, ele os
assiste. A Igreja revive, assim, a experiência da peregrinação do Êxodo. Sua fé, como a de Pedro,
é posta a dura prova, mas a mão de Jesus que salva do abismo nunca deixa de estender-se.
Jesus oferece, pois, à sua Igreja, a vitória sobre as forças do mal e a segurança nas provações,
mas pede como condição essencial uma confiança sem hesitação. Só a fé é vitoriosa, a fé do
cristão que caminha ao encontro do Senhor ressuscitado, no meio da tempestade. Uma fé que às
vezes, como a de Pedro, impele a ir longe, a deixar a segurança tranqüila da terra firme, para
caminhar sobre as águas.
Deus é o absolutamente-Outro
Afirmar que Cristo venceu as forças do mal é, na realidade, reconhecer as dimensões cósmicas da
sua obra. Antes dele, a solidariedade no pecado abrangia toda a criação: ele rompe essa cadeia.
A vitória do cristão, portanto, não é apenas uma vitória sobre si mesmo: nem também uma
ressonância cósmica. O cristão vence realmente o mundo cujos elementos domina, como Cristo e
Pedro dominaram o mar. A missão do cristão consiste em abalar o domínio do mal em qualquer
campo em que ele se manifeste.
Mas a palavra de Deus (1ª leitura) quer ressaltar também outro aspecto do mistério de Deus e da
visão religiosa do universo. A experiência de Elias o leva a compreender que Deus não está nos
fenômenos naturais: furacão, terremoto, raios, como pensavam os pagãos e as religiões da
Evangelho do Dia
07/08/11
Mundo Católico (www.mundocatolico.org.br)
Pg.5
natureza; nem está no fogo, onde o imaginava a tradição javista (Ex 19,18). Deus não se deixa
aprisionar por nenhum dos elementos que ele mesmo criou. A experiência de Elias é
particularmente significativa da fé vivida no mundo moderno. Na mesma medida com que a
ciência secularizou a natureza e o mundo, prestou um serviço à idéia de Deus, pois Deus não
pode ser aprisionado dentro das categorias humanas, nem contido - e portanto atingível - nos
fenômenos da natureza: ele é o absolutamente-Outro.
O homem o descobre através dos sinais
No mundo ateu e secularizado em que vivem aqueles que crêem. Deus não lhes fala tanto
através da natureza e dos fenômenos cósmicos; eles se tornaram opacos e fechados; os fiéis
reconhecem Deus em muitos outros sinais dos tempos que revelam sua vontade, seu plano sobre
o mundo e o homem. Eles não ouvem a Deus através da linguagem maravilhosa, mas ambígua,
das criaturas, e sim através do sinal privilegiado de Deus no mundo: o homem. Feito à imagem e
semelhança de Deus, o homem, descobre sua presença no íntimo do próprio ser, na própria
história, nas aspirações profundas pelas quais "o homem supera infinitamente o homem"
(Pascal).
"Uma vez que tudo foi criado em Cristo, por meio de Cristo, em vista de Cristo, todo aspecto de
verdade, beleza, bondade, dinamismo, que se encontra nas coisas e em todo o universo, nas
instituições humanas, nas ciências, nas artes, em todas as realidades terrestres e particularmente
no homem e na história, tudo isto é sinal e caminho para anunciar o mistério de Cristo". [MISSAL
DOMINICAL ©Paulus, 1995]
Oração da assembleia (Missal Dominical)
Peçamos ao Senhor que nos ajude a descobrir sua presença e proximidade nos acontecimentos
de nossa vida de cada dia. Senhor, ouvi a nossa prece.
 Pela santa Igreja de Deus, para que nas tempestades deste mundo ponha em Cristo toda a
sua confiança, rezemos.
 Pelo Papa e os Pastores da igreja, para que não se deixem vencer pelo desânimo e o medo,
mas confiando na presença de Cristo saibam infundir e suscitar esperança e otimismo,
rezemos.
 Pelos vacilantes e fracos na fé, para que a caridade e o otimismo dos que os cercam, façamlhes sentir a proximidade de Deus, rezemos.
 (outras intenções)
Concedei, Senhor todo-poderoso, que saibamos reconhecer-vos com os olhos da fé, aqui na terra
a fim de podermos contemplar-vos face a face com os vossos santos no céu. Por Cristo nosso
Senhor.
Oração sobre as Oferendas:
Ó Deus, acolhei com misericórdia os dons que concedestes a vossa Igreja e que ela agora vos
oferece. Transformai-os por vosso poder em sacramento de salvação. Por Cristo, nosso Senhor.
Antífona da comunhão:
O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo, diz o Senhor. (o 6,52)
Oração Depois da Comunhão:
Ó Deus, o vosso sacramento que acabamos de receber nos traga a salvação e nos confirme na
vossa verdade. Por Cristo, nosso Senhor.
Sustentabilidades
Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte - MG
No quadro dos tratamentos adequados para a realidade contemporânea, à luz de responsabilidades
sociais e políticas, tendo em vista seus inadiáveis e demandados avanços, situa-se o tema pertinente
em torno das sustentabilidades.
Evangelho do Dia
07/08/11
Mundo Católico (www.mundocatolico.org.br)
Pg.6
É um imprescindível capítulo para todo e qualquer projeto e programa. Sua abordagem e efetivação
são uma obviedade que se configura como exigência determinante no que se faz e para quem se faz.
Não se pode fazer por fazer, simplesmente por querer ou sem razões plausíveis em vistas de
atendimentos de necessidades e prioridades, com uma competência traduzida na inteligência da
sustentabilidade. Assim, sustentabilidade é questão de inteligência e, ao mesmo tempo, de exigência e
de respeito à integridade da vida, da natureza e ao conjunto da sociedade nos seus funcionamentos
balizados pelos serviços prestados a todos, particularmente aos mais pobres e excluídos.
A abordagem da sustentabilidade em todos os seus capítulos e diversificadas nuances é um luzeiro que
permite diagnósticos importantes na vida social e política de sociedades e nações. Não é, portanto,
uma questão que se restringe a uma única dimensão, tal como aquela da economia. Quando, pois, se
percorre os diversos cenários que configuram a sociedade contemporânea – como, por exemplo, a
nossa, brasileira, tratando basicamente o que a mídia oferece a cada dia -, pode-se chegar à conclusão
importante de que as sustentabilidades não são restritas ao que diz respeito à natureza no seu
funcionamento, às necessidades humanas na sua sobrevivência ou à manutenção de projetos e
programas com seus impactos e influências para a vida chamada moderna.
Vale aqui fazer um rápido percurso nestes cenários contemporâneos bem próximos de todos para
detectar uma imprescindível sustentabilidade entre as sustentabilidades, pensadas na sua sofisticação
própria de ciência e de estratégia quando se defronta com o mal endêmico da corrupção na sociedade.
Referência, por exemplo, ao pedreiro laranja ou ao vendedor, que se descobriram empresários e donos
de fortuna, vítimas do uso criminoso de seus nomes em favor de beneficiários que assaltaram os
cofres públicos, trazendo enormes prejuízos.
Na esteira destes absurdos estão aqueles que multiplicam seu patrimônio no exercício de mandatos
governamentais. E os dribles dados na Receita Federal? As auditorias de órgãos competentes revelam
sobejamente irregularidades de contratos que pesam desafortunadamente aos cofres públicos em
detrimento do urgente atendimento de necessidades básicas da população carente, passando fome,
subnutrida e enjaulada pela condição abominável de não ter moradia decente. Privada de uma
participação digna na vida da sociedade na qual está inserida também como cidadã.
Percorrendo os bastidores da vida política, de encontro ao seu sentido próprio e de grande importância
como coluna sustentadora da sociedade, se conhece o fluxo de disputas felinas por cadeiras, poder,
domínio de fontes de dinheiro, ainda quando na contramão de uma mínima coerência ideológicopartidária.
É um enorme desafio. Até inexplicável no âmbito da realidade da infraestrutura na sociedade
brasileira, em se considerando as demandas existentes como transporte, moradia, saúde e trabalho, a
lentidão dos fluxos nas respostas e incompetências contracenando com as possibilidades econômicas,
sem deixar de fazer menção ao que já se conquistou. Do bojo deste âmbito determinante para a vida
da sociedade surgem escândalos de corrupção, os atrasos advindos das burocracias que revelam má
vontade e até preguiça, envenenando a nobreza do altruísmo e do sentido de cidadania, com o
usufruto imoral do que pertence ao erário publico e com destinação própria.
Destas questões grandes, hospedadas em cenários que compõem a sociedade contemporânea, se
chega facilmente aos desvios de condutas que revelam cidadanias comprometidas - fruto de
mesquinhez e de maldades, impedindo uma participação com maior dignidade e nobreza no que diz
respeito à edificação da sociedade em maiores ou menores proporções. Desde o que está no seio de
uma família, passando por projetos pequenos, mas importantes, até a honestidade esperada nos
gestos e nas palavras de cada pessoa, nos âmbitos públicos e privados.
Esta ladainha de descalabros nas suas contas intermináveis produz um prejuízo material incalculável.
Atrasos centenários, sacrifícios intoleráveis e um desgosto que desfigura o mais precioso da vida de
cada um: o sentido de viver. Este mal não é sanado apenas pela inteligência e pela ciência de
sustentabilidades outras, senão, ao tudo que tem a ver com a sustentabilidade que advém da
moralidade.
A moralidade é um investimento urgente e permanente sob pena de comprometer, com desarranjos e
preponderância da tendência natural de desorganização, a inviabilização de outras pretendidas
sustentabilidades. [CNBB]
Evangelho do Dia
07/08/11
Mundo Católico (www.mundocatolico.org.br)
Pg.7