Moda Manifesto Vol 1 VERSÃO 5.1.P65
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Moda Manifesto Vol 1 VERSÃO 5.1.P65
modamanifesto em revista l moda além do óbvio l #1 l out/05 l gilles lipovetsky um encontro entre filosofia e moda e mais: ronaldo fraga em entrevista exclusiva moinhos fashion show a volta do balonê 2 índice editorial ................................................................................................................... 3 quem faz ................................................................................................................. 3 um encontro com gilles lipovestky ............................................................................. 4 moinhos fashion show .............................................................................................. 7 expediente Coordenação Thais Gomes Fraga Conteúdo, Reportagem e Edição Ana Carolina Acom Carolina Citton Puccini Janaína Kiesling Braga minimalismo ........................................................................................................... 10 Laura Ferrazza de Lima descosturando ronaldo .......................................................................................... 12 Marianna Rebelatto brechómania .......................................................................................................... 14 Renata Cerolini último grito ............................................................................................................ 15 a moda e o existencialismo ..................................................................................... 16 um pequeno desejo em grande estilo ..................................................................... 18 a semana farroupilha ............................................................................................. 20 o retorno do balonê ............................................................................................... 22 cinema + moda: cult total ....................................................................................... 23 glossário ................................................................................................................ 24 Laura Madalosso Thais Gomes Fraga Projeto Gráfico Carolina Citton Puccini Laura Madalosso Diagramação Carolina Citton Puccini Revisão Ana Carolina Acom Carolina Citton Puccini Laura Madalosso fashionauta ........................................................................................................... 25 Marianna Rebelatto teoria de moda ...................................................................................................... 25 Thais Gomes Fraga Renata Cerolini 3 editorial A idéia da Revista Eletrônica surgiu a partir da realização do curso de extensão “A História Social da Moda no Século XX”, ocorrido na PUC nos meses de maio e junho de 2005, em que se acreditava oportuno um espaço para pensar e discutir novos conceitos sobre consumo, cultura, sociedade, comportamento, luxo, gênero, enfim um espaço multidisciplinar e absolutamente arejado para pensar Moda, enquanto fenômeno cultural da sociedade contemporânea do século XXI. Iniciamos um circuito de reuniões e principalmente troca de e-mails. Fomos afinando idéias, redefinindo-as, confirmando-as. Nossos e-mails tornavam-se mais e mais coloridos e suculentos beirando a poli sensorialidade, como sugere nosso guru Gilles Lipovetsky. O grupo formado por filósofa, jornalistas, historiadoras, publicitárias, está convencido que a transdiciplinariedade deve ser de fato uma práxis. Assim, foram surgindo as idéias, as histórias, as memórias e outros que tais, os quais apresentamos aqui dentro desse espaço, e que esperamos se torne um delicioso lugar para compartilhar e descobrir novas possibilidades para se pensar MODA, esse tema tão controverso e ao mesmo tempo tão instigante! Thais Gomes Fraga Historiadora e Pesquisadora de Moda quem faz Ana Carolina Acom Carolina Citton Puccini Filósofa da moda - formada em Filosofia pela UFRGS, pesquisa moda e semiótica das vestimentas. Estudante de Publicidade e Propaganda da PUCRS, diagramadora de plantão e com a moda no sangue. Janaína Kiesling Braga Laura Ferrazza de Lima Bacharel em Direito por descuido e estudante auto-didata de moda desde os 14 anos. Atualmente trabalha na área de vendas e possui um Brechó. Graduada em História pela UFRGS. Pesquisadora de História da Moda. Laura Madalosso Marianna Rebelatto Estudante de Publicidade e Propaganda da UFRGS, pseudo-designer e fashion addicted declarada. Estudante de Jornalismo da PUCRS e interessada pela moda e sua história. Renata Cerolini Thais Gomes Fraga Estudante de Jornalismo da PUCRS, amante do novo e exagerada em tudo. Mestre em história pela UFRGS, pesquisadora de moda. Movida pela curiosidade e pelas coisas belas. 4 um encontro com Gilles Lipovetsky Por Laura Ferrazza de Lima Estrear uma revista que fala de moda, comportamento, arte e tantos outros temas ligados a contemporaneidade é por si só excitante. Porém, poder ter na nossa primeira edição uma entrevista recente de um dos maiores, senão o maior pensador de moda da atualidade é um verdadeiro furo de reportagem. Esse personagem real é o filósofo francês Gilles Lipovetsky que esteve em visita recente ao nosso país e mais especificamente ao nosso estado, o Rio Grande do Sul. Autor de livros como: “A Era do Vazio”, no qual discute a questão da pós-modernidade, “O Império do Efêmero”, onde constrói uma arqueologia da Moda, para anunciá-la enquanto fenômeno histórico. Conta ainda com “O Luxo Eterno”, um de seus últimos trabalhos traduzidos no Brasil, onde faz um apanhado do luxo ao longo da história da humanidade, para lhe dar um novo conceito, que ultrapassa a idéia do supérfluo. Poderia discorrer longamente sobre a extensa produção teórica do autor, mas vamos aos fatos! O encontro não se deu num lugar qualquer, mas em um grande evento cultural já consagrado no estado, foi na 11ª Jornada Literária de Passo Fundo, um evento de proporções internacio- nais. Gilles Lipovetsky foi convidado para compor uma mesa de debates no dia 24 de agosto de 2005. Sob a lona principal do circo da cultura, se instalam centenas, quiçá milhares de pessoas, numa tarde de vento frio, ás 14:30 iniciouse a mesa de palestras. Composta por inúmeros nomes ilustres da literatura e humanidades: Inácio de Loyola Brandão, Alcione de Araújo, Júlio Diniz (anfitriões do encontro) e palestrantes como Carlos Reis, crítico literário português, Professor da Faculdade de Coimbra, Portugal; Mauro Maldonado, psicanalista italiano e Gilles Lipovetsky, o qual já foi longamente referido. O tema do painel era: A Indústria Cultural, homogeneização, diversidade e resistências. Os três palestrantes principais abordaram cada um dentro de sua especialidade e linha de pensamento o tema proposto. O primeiro a falar foi Carlos Reis que tratou da transformação da produção literária voltada para um mercado de consumo. Logo após falou Gilles Lipovetsky, como sempre polêmico. Disse que a questão da Indústria Cultural não é de hoje, seria um debate antigo. O que o sociólogo questiona é a acusação que pesa sobre a mesma, a de ser um ins- trumento de manipulação das massas. Ele não deixa de fazer uma denúncia ao processo de globalização, que tenta impor um modelo hegemônico e máquinas de produzir cultura. A mídia tem um certo poder na mudança de comportamentos e gostos. Teria mesmo a capacidade de criar uma similitude de comportamentos. Porém, ele critica a idéia de homogeneização, mesmo que a mídia se dirija a todos não consegue homogeneizar. Os gostos e práticas culturais podem ser determinados pela classe de origem. O impacto da TV difere conforme a classe social a que pertencemos. Essas idéias têm pertinência, mas a mídia é mais, é o advento de uma nova cultura individualista. As culturas não são mais compartimentadas entre classes, há uma erosão das barreiras culturais e classistas. Afinal, todos os grupos participam do consumo, ao menos tem acesso ao universo do consumismo, podem ver o que está na moda, mesmo os desfavorecidos. Ele afirma que por trás de uma aparente uniformização existe uma heterogenização de comportamentos. A hipermodernidade gera grupos que não são mais homogêneos em si, mas 55 permeados por gostos individuais. Portanto, a mídia não deve ser vista como uma máquina poderosa que domina a mente. É preciso recusar a visão de que as pessoas estão passivas perante a cultura de massa. Os indivíduos possuem seus filtros. Assim, ela teria também um lado positivo, de trazer diferentes opções e acesso a informação. Gera questionamentos, mas as críticas radicais se apagam e as parciais se multiplicam. Não há acordos e consensos. Por um lado, a mídia faz com que não se pense, superficializa comportamentos e culturas, por outro coloca em questão seu próprio comportamento. Acusa-se a Indústria Cultural de romper com culturas, mas a questão é mais complexa. A tentativa de globalização cultural gera uma necessidade de defender as diferenças e identidades regionais. Não podemos permanecer passivos diante da mesma, porque ela não é uma mercadoria como as outras. A cultura identifica um povo e é essencial para a criação. O último a falar foi o psicanalista italiano Mauro Maldonado, que defendeu a idéia de que o homem é um animal cultural. O único capaz de acumular memória e de tirar proveito dela. Após a apresentação para o grande público, nossa equipe pode participar da coletiva de imprensa de Gilles Lipovetsky. Num auditório de proporções médias, mas com um número nem tão expressivo de jornalistas. Tratando-se de uma coletiva temos um jogo de perguntas e respostas que tentarei sintetizar para vocês leitores. A fala do autor inicia com uma apreciação a respeito da Jornada Literária. Segundo Lipovetsky não se poderia imaginar um evento assim na Eu- ropa, uma tal concentração de pessoas num evento cultural o transforma de certa maneira nem evento de massa. Chegou a referi-lo como uma espécie de gigantismo cultural. A presença maciça das pessoas faz crer que o evento responde a um certo número de necessidades. Isso poderia ser uma indicação para os intelectuais que tem que se adaptar a outro universo. II II Muitas das perguntas giram em torno do seu livro mais recente lançado no Brasil, “O Luxo Eterno”. Sobre o luxo o autor responde com argumentos inovadores. Conforme ele há 50 anos a sociedade de consumo e de comunicação legitimou o prazer neste mundo. Todos os prazeres na nossa sociedade hedonista seriam reconhecidos como legítimos e o luxo é um deles. As sociedades antigas, regidas pela Igreja condenavam o luxo. Atualmente há uma cultura de exaltação do gozo do presente. Só há essa vida e deve ser aproveitada. Quando questionado sobre a diferença temática entre ele e os filósofos clássicos, faz uma crítica ao pensamento conservador: “Talvez exista no código genético dos filósofos uma resistência ao efêmero”.Segundo ele, foi através da observação da sociedade atual e da percepção de um papel preponderante que o efêmero ocupa nela que ele encontra as grandes perguntas filosóficas. Algumas das quais por ele citadas e que enumero aqui: “De um modo geral para que espécie de mundo o luxo e o efêmero estão nos conduzindo? Será que é preciso denunciá-lo ou sacralizá-lo completamente? Não haveria algo de positivo nesse universo da versatilidade?” Ele coloca-se como um moderado ao responder tais problemas em relação a seus predecessores. A quase totalidade desses denunciava o luxo, como um vício. Ele afirma que na situação nova em que vivemos elogiar o luxo é obsceno. Contudo ele declara-se incapaz de denunciá-lo. Nas palavras dele: “O luxo significa de qualquer maneira a beleza, o sonho, a extrema qualidade... será que nós desejamos um universo sem luxo, sem essa generosidade da beleza?” Ele pondera a questão com o desejo de que o luxo seja um pouco menos privado e mais público. Finalmente essa humilde historiadora, que empreendeu a aventura jornalística que as circunstâncias exigiam lançou sua questão. Resgatando seus estudos acerca da moda, solicitei uma relação entre essa e a arte, se a criação artística poderia ser comparada com a criação de alguns estilistas. As ligações entre a moda e a arte eram muito amplas e complexas para serem respon- 6 didas numa entrevista. Mesmo assim Lipovetsky não se furtou de uma resposta analítica. Conforme ele, “a moda moderna a partir de meados do século XIX inventou as núpcias entre a moda e a arte. Por que o grande costureiro se Gilles Lipovetsky coloca realmente como um artista, se coloca como um criador. Mesmo atu-almente os gran-des criadores não se colocam como comerciantes, mas como criadores”. Entretanto, nos últimos 20 anos entramos numa nova fase. Antes, o costureiro era mesmo um criador soberano. Ele era capaz de impor um estilo, impor uma moda. Era uma espécie de ditador de aparências. As mulheres da alta sociedade obedeciam à moda. Isso acabou, as mulheres não aceitam mais mudanças de estilo impostas do exterior. Isso não corresponde mais à cultura viva. Acrescenta ainda que o aspecto artístico no sentido forte do termo está recuando em favor do marketing. Existe hoje a necessidade de escutar o mercado. O grande costureiro do século XIX era uma espécie de senhor da moda. Ele ganhava dinheiro, mas não estava preocupado em satisfazer as necessidades da sociedade. Nenhuma grande “maison” de hoje funciona assim. Não quer dizer que os costureiros não sejam mais grandes criadores, mas o lado comercial assume uma importância cada vez maior. Ele aponta essas como uma das razões pela qual não vemos mais grandes revoluções na moda. Afirmação que certamente fará muitos fashionistas pular da cadeira. Ele afirma que se age atualmente como se fosse necessário responder ao mercado, o que segundo ele escapa do conceito original da moda. Outro ponto a destacar na entrevista é a utilização de conceitos novos, como o da hipermodernidade. Segundo ele, seria uma revisão do conceito de pós-modernidade que ele mesmo ajudou a difundir. Baseado no avanço tecnológico acredita que assistimos a uma radicalização da modernidade. Seria a saída de uma modernidade autoritária e ideológica em favor de um hedonismo de consumo, isso teria se desenvolvido a partir da década de 50, 60 e 70. Porem, a sociedade hiper só vai entrar na sua fase de pleno desenvolvimento com a globalização no final dos anos 90. O tema da publicidade também é nuançado, sobre o seu papel Lipovetsky reforça a posição que tinha apresentado em sua palestra. Ela tem um papel nas transformações, mas é um elemento entre outros. Segundo ele a mudança fundamental está no fato de que no passado as classes populares pensavam que o luxo não era para elas. A sociedade de consumo revolucionou tudo isso. Trouxe a idéia de que o prazer existe para todos. A publicidade colocou isso em imagens, mas todo mundo contribui para criar uma espécie de vício pelo bem estar. Portanto, considera os ataques de certos intelectuais a publicidade um exagero. Ela não é uma espécie de ditador que poderia tudo mudar sozinha. Ressoou pelo auditório uma pergunta, afinal, como fica a questão da inclusão social em relação a publicidade, ela exclui? Resposta do autor: “sim e não. Sim, porque a publicidade e o consumo fazem de certa maneira com que toda sociedade participe de um mesmo mundo. Ao mesmo tempo podemos considerar que ela acentua o sentimento de exclusão. Justamente o sentimento de que não se participa. Por isso falamos com freqüência que a violência da mídia é terrível. Existe de certa maneira também uma violência da publicidade, no consumo, capaz de criar um sentimento de inferioridade. Esse fenômeno é muito violento para as pessoas desfavorecidas. Por que eles não são apenas pobres, mas pobres que não gostariam de sê-lo, que não aceitam a condição em que estão”.Talvez seja melhor dizer que além de excluídos sociais ficam também à margem do consumo. Certamente foram deixados de lado nessa reportagem alguns detalhes tanto da palestra como da entrevista. Espero ter conseguido apresentar as idéias principais que acompanham o pensamento desse grande teórico da moda. Muitas vezes ambíguo, outras vezes paradoxal, mas certamente instigante. Lipovetsky nos estimula a refletir sobre temas efêmeros, por que talvez eles sejam a melhor tradução da sociedade atual. A moda ganha complexidade, o luxo preponderância. Os debates suscitados são polêmicos. Apesar da qualidade de sua escrita e de sua oratória sedutora, certamente ele mesmo não gostaria de nos ver aceitar passivos suas idéias. MOINHOS Fashion SHOW Por Laura Madalosso O modamanifesto também esteve presente no domingo de desfiles que teve como tema “Peace and Love around the world”. Idealizado por Soraya Mendes Ribeiro, o evento propôs a reunião de criadores e empresários de moda na Associação Leopoldina Juvenil, para a exposição das tendências de O evento pediu paz no mundo primavera-verão 2005/2006 ao público. A data emblemática não passou despercebida. O 11 de setembro inspirou a equipe de produção, que por sua vez transmitiu a idéia aos criadores das coleções. Todas as marcas que subiram à passarela tiveram uma temática sugerida, em sua maioria pedidos de paz como “Revolution, o protesto” de Maria Xique e o “Luto” de Vol Fioravantte. As temáticas serviram de guia para a escolha dos looks desfilados. O domingo também foi de homenagens, com destaque para aquelas feitas à Célia Ribeiro e Rui Spohr. A jornalista teve reverenciado seu trabalho realizado em diversos veículos de comunicação na área de moda ao longo dos anos. Rui, comemorando cinco décadas dedicadas à moda, tanto na alta-costura Exposição de novos talentos quanto no prêt-à-porter, mostrou ao 7 público a coleção criada com a participação de Gonçalo Assis Brasil, que já trabalhou com Marc Jacobs e atualmente colabora no ateliê de Jill Sanders. Além dos quatro blocos de 10 desfiles cada que perpassaram o dia inteiro, o Moinhos Fashion Show também contou com a mostra “Talentos Premiados”, na qual Vitória Cuervo, Daniel Lyon, Nájua Saleh, Rafael Korbes e Hoerton, que mesmo jovens já tiveram seu trabalho reconhecido, expuseram algumas criações juntamente com cinco estilistas que pela primeira vez apresentavam-se ao grande público: Helga Kern, Daniela Kreling, Maria Carolina Stockler, Dunga e Juliana Homrich. Criação de Dunga O que o modamanifesto amou: Criação de Vitória Cuervo ● a proposta de tolerância e maior entendimento entre as crenças da Bênção Ecumênica; ● os manifestos explícitos de amor e paz que desfilaram junto com os looks; ● o desfile da sempre rock and roll Carmim, e sua trilogia love, sexy and beauty; ● as saias de gomo em todas as cores, comprimentos e materiais; ● as bermudas pontuadas pelos favos de abelha das bombachas na passarela de Luciana Candia; ● os tricôs misturados com crochê, bordado, fuxico e renda trazidos pela Kaimana; ● os acessórios e sobreposições que a No Stress investiu na primeira parte do seu desfile; ● Fernanda Evangelista e suas tatuagens; ● a acessibilidade das meninas da produção. 8 Fernanda Evangelista Calil Bopp Carmim Carmim Calil Bopp Carmim Maria Xique Carmen Steffens Maria Xique 99 Benção Ecumênica - Monge Budista Cadica e Borghetti para Luciana Candia Kaimana Saia de gomos Luciana Candia Vestido de Noite Hering - Camisetas Customizadas Vestido de Noite Saia de gomos versão glamour Vol Fioravantte 10 Minimalismo arte, moda e reação ao cansativo apelo visual do excesso O Minimalismo, forma de arte conceitual, emergiu nos anos 50 perdurando através dos anos 60 e 70. Teve suas manifestações na pintura e escultura, influenciando também a música, a arquitetura e mais tarde a moda. Sua inspiração, meio século depois, partiu de um quadro do pintor russo Kasimir Malevitch, que mostra um quadrado preto sobre um fundo branco. Esta forma artística é resultado de uma reação ao action painting, ramo do Expressionismo Abstrato que dominou a arte americana de vanguarda durante grande parte da década de 50. O Expressionismo Abstrato priorizava excessos de profunda subjetividade e emocionismo alusivo. Já o Minimalismo, representa o ápice das tendências reducionistas da arte moderna, caracterizado pela extrema simplicidade de formas e pela abordagem objetiva de seus temas. Seu amplo conceito alude à redução da variedade visual na imagem, conciliando conteúdo e forma. Esta arte se Por Ana Carolina Acom “O Minimalismo é sempre uma resposta. Mas o que vejo na moda brasileira, é uma confusão entre identidade nacional com regionalismo.“ Desfile de Glória Coelho no São Paula Fashion Week Verão 2006. Na abertura do artigo, modelos de Yohji Yamamoto. concentra no poder dos materiais, cores e espaço. Usa formas geométricas bem simples. Seus principais expoentes na pintura são: Ad Reinhardt, Frank Stella, Elsworth Kelly, Karl Benjamin, Kenneth Noland e Dorothea Rockburne. Na escultura: Carl André , Dan Flavin, Donald Judd, Sol Lewitt e Robert Morris. E na música: Philip Glass, que inclusive chegou a tocar em galerias de arte. Moda década de 80, explodia a tradicional extravagância nas vestes, a qual crescia cada vez mais vergada pelo sucesso. A fascinação pela moda tomava conta de todo o mundo, que voltava os olhos para Europa. E a moda se tornava sinônimo de exacerbação; lugar de bordados, dourados, coloridos, além de enormes ombreiras. Em meio a isso tudo, surge o japonês Yohji Yamamoto, consagrando o preto de vez. Há quem esteja de luto até hoje, graças a esse gênio dos tecidos. Yohji rompe com o exagero que caracterizou esta década, por muitos definida como perdida. Usando uma palheta de cores simplificada, ele erradica de suas indumentárias qualquer afetação, reduzindo a roupa ao essen- 11 Elsworth Kelly cial. Sem quaisquer acessórios, ele envolve a silhueta feminina em mistério, não abandonando a sensualidade. É a sua reação a degradação irreversível da moda e de seus valores tradicionais de elegância. Emerge, assim, a moda conceitual? Yohji Yamamoto é hoje conhecido como o pai do Minimalismo na moda, influenciando gerações de estilistas. Como um escultor da arte Minimalista ele começa pelo material, tocando e observando a vocação formal que este possui, para depois, então, criar. Alguns definiram suas roupas na época, com uma austeridade medieval. O fato é que ele revolucionou os códigos de pudor e sedução, indo de embate a um mundo que exaltava o corpo e sua exposição a todos os olhares. É mais ou menos isso que acontece no Brasil. Os minimalistas do SPFW, chamam atenção em meio a tanta “carregação” em coloridos e misturas. Se destacaram aqueles que usaram monocromia e a forma vocacional dos tecidos. O desfile de Glória Coelho foi muito bem sucedido no uso das cores, ao melhor estilo minimalista; o preto com detalhes coloridos, não poderia ser mais verão, preto com azul, vermelho, amarelo... O destaque material fica por conta do tule, tendência fortíssima dos estilistas na Europa. Este tecido revivido, vem apesar de carregado de lembranças, super moderno. Além disso também houve tons pastéis e chá, com roupas super leves envoltas em belíssimas flores que inevitavelmente mexem com o imaginário feminino. Sol Lewitt Donald Judd Destaco outros desfiles como o da Fórum, algo mais para o comercial, mas que abusou do preto mais uma vez. Outros desfiles minimalistas que deram um show de moda conceitual foram; Huis Clos, e Jefferson KuVestido de Huis Clos lig. O desfile da grife Uma também se destaca, pelas cores e androgenia, apesar de ser uma moda mais sport wear. O Minimalismo é sempre uma resposta. Longe de fazer qualquer comparação com a homogeneidade dos anos 80, pois hoje se tem uma liberdade total de criação, além dos mais diferentes tipos de consumidores. Mas o que vejo na moda brasileira, é uma confusão entre identidade nacional com regionalismo. A sensualidade, como mostrou Yamamoto, não está só na exposição corporal. E como vimos nos desfiles do Brasil de verão, a identidade brasileira não está necessariamente nas cores e estampas só porque somos um país tropical. Mas, usemos o preto, o branco. Abusemos da reinvenção dos clássicos, tornando-os com uma cara bem nossa. 12 Descosturando Ronaldo Por Carolina Citton Puccini moda nessa época, no final dos anos 80. Moda era só roupa, era quem tivesse maior agilidade em copiar o que era lançado lá fora e só. Até o ensino de moda, quando se falava em ingressar numa faculdade de moda, isso era visto, no mínimo como se a pessoa fosse um lunático que não se preocupava com o seu futuro, uma coisa absurda. Em virtude das transformações e da democratização da informação de moda nesses últimos 10 anos, eu olho pra trás e posso dizer que passei por muitas dificuldades, sim. Mas eu estava lá, achando que era isso mesmo, que era o caminho que eu tinha escolhido e resolvi encarar. Nos dias 30 e 31 de agosto aconteceu o Encontro de Moda e Negócios do RS, realizado pelo Núcleo RS Moda, da FIERGS. Visando atingir comeciantes, estudantes e pessoas de outras áreas interessadas em moda, o evento trouxe para o estado vários palestrantes interessantes, como Paulo Pedó Filho, gerente de Marketing da Melissa, e Jussara Romão, editora de moda da revista Elle. Quem também participou foi Ronaldo Fraga, que em entrevista exclusiva, falou do aniversário de 10 anos de carreira e de sua última coleção, Descosturando Nilza. Como é que começou seu interesse por moda? Na verdade sempre me interessei muito pelo desenho, pelo traço, por esse processo da transformação do traço em produto, e isso desde criança. Se a gente pode colocar isso como moda, talvez tenha começado daí. Agora o trabalho mesmo com moda, foi no final dos anos 80, quando eu ingressei no curso de estilismo da UFMG de Belo Horizonte. Você encontrou alguma dificuldade no ce ce-nário quando começou? Como era o cenário de moda? Claro que sim, isso foi há quase 20 anos atrás. Então você imagina o que era falar de A coleção, apresentada primeiramente no SPFW, foi adaptada para ser vista pelos participantes do evento Todas as suas coleções contam uma história. Como é que acontece esse processo de criação, tua inspiração, o desenvolvimento de tudo? Eu acredito que a moda hoje, muito mais do que produto, ela é contexto, ela tem que se aproximar muito mais, se não do mundo real, do mundo imaginário que o design quer propor pra quem vem a consumir a moda. Sendo assim, eu gosto desse exercício de estar criando, a cada coleção, um universo para convidar as pessoas a penetrar. Hoje vale dizer que muito mais do que criar um produto, você tem que desenvolver e oferecer um universo inteiro. Então é 13 uma forma que eu me sinto extramente à vontade de estar fazendo e falando de moda. A participação na produção da lei básica vai até aonde? Na Lei Básica eu faço a direção criativa do núcleo. A Lei Básica tem sua equipe própria, eu crio um núcleo de pesquisa, o tema da coleção, a parte prática e comercial. O desdobramento da coleção é feito por uma equipe. Eu desenho em torno de 80 modelos, 700 peças. O que mais marcou na sua carreira até agora? Eu acho que não tiraria nada, tudo vem em um processo de evolução. A minha história não existe sem essa ou aquela coleção, ou aquele momento. Houve momentos que, para os estudiosos, e quem acompanha meu trabalho, são colocados como marcantes, até na história da moda brasileira. A minha estréia no Phytoervas Fashion, com a coleção “Eu Amo Coração de Galinha”, a coleção “Quem Matou Zuzu Angel”, que foi em uma época que ninguém falava, nem sabia quem era Zuzu Angel, “O Corpo Cru”, que foi a coleção pós 11 de setembro, que não tinha modelos na passarela, me deu prazer fazer. Na coleção do Drummond, foi delicioso esse exercício de olhar a obra de um medalhão que você admira e tentar olhar e falar dele através da moda, que é algo que ainda é muito recente no Brasil, esse exercício. A última coleção, que foi meu vigésimo desfile, também por falar de uma coisa que é simples e que é básico, que é essa coisa da criação e da produção, e que às vezes a mídia coloca um buraco imenso entre uma coisa e outra. Moda é arte ou é consumo? Nenhum dos dois. A moda é e pode vir a ser arte aplicada. Ela pode ter um diálogo com a arte. E a moda não sobrevive só com o consumo. Ela precisa de tudo isso. A coleção homenageia Nilza, costureira do estilista. Ronaldo traz muitos voils, gases e malhas furadinhas, tudo nas cores que chama de “cores de sabonete”. 14 Por Janaína Kiesling Braga Brechó – a palavra é uma corruptela de Belchior, nome do comerciante português que fundou a primeira loja de roupas usadas no Rio de Janeiro no final do século XIX. A loja era chamada de “Loja de Belchior” ou “Casa de Belchior”, e no linguajar popular Belchior acabou transformando-se em brechó. Os brechós também podem recebem a denominação de bricabraques (do francês bric a brac) ou adelos (do árabe ad dallãl). A venda de roupas usadas é um dos comércios mais antigos que existe e tem sua provável origem nas casas de penhores, onde as pessoas de baixa renda e os nobres falidos dos séculos passados obtiam empréstimos dando como garantia suas roupas (e tudo o mais que tivesse valor), sempre na esperança de poder resgatá-las, o que fatalmente não ocorria, quando então elas eram vendidas a outras pessoas. Durante muito tempo os brechós caminharam à margem da sociedade, passando por períodos de alguma inserção social no final dos anos 60 e durante os anos 70, com os jovens estudantes de Paris e o movimento hippie norte-americano. Estiveram em baixa nos anos 80, com exceção dos brechós de luxo que vendem roupas de grifes famosas e surgiram nessa época. Nos anos 90 e 2000 com a onda vintage, a moda brechó voltou com força total e agora proliferam-se por toda parte brechós dos mais variados estilos e freqüentá-los não é mais vergonhoso e sim exemplo de total adequação aos novos tempos, em que nada deve ser desperdiçado e economizar é sinônimo de inteligência, não de pobreza. Outro fator preponderante no culto aos brechós é o desejo de individualidade e exclusividade. A moda brechó serve para quem quer estar na moda, mas primordialmente para quem quer criar moda, ser referência, lançar tendências - existe na Alemanha o chamado trendshopper (comprador de tendências) que vai à caça daquilo que ele próprio dita como tendência, recorrendo à brechós e aos novos estilistas da cena alternativa, rejeitando totalmente o usual e vestindo hoje o “must have” de amanhã. O revival das décadas passadas e a presente liberdade no vestir, tornam os brechós uma escolha econômica e divertida, bem como pede a moda dos anos 2000. Para ingressar no universo dos brechós tenha em mente duas palavrinhas da salvação: garimpar e “mixagem”. Garimpar é uma mania e uma arte. Vasculhe tudo. Com paciência, olho clínico e um pouquinho de informação de moda, você será uma perfeita ratinha (ou ratinho) de brechós e dará um “up” no seu guarda-roupa gastando quase nada. A “mixagem” garante cadeira vip no mundinho fashion. Mesclar belas peças antigas com outras super atuais lhe conferem um visual moderno e único, por que o abuso do retrô pode transformá-la na musa (ou rei) do baile do ridículo. De qualquer maneira o espelho é o melhor conselheiro... Consulte - o sempre. Os brechós servem à todos os tipos de pessoas que tiverem mente aberta e tempo livre para decifrá-los e devorá-los. Experimentem, e vejam se conseguem resistir à “Brechómania”! 15 As produções do público que conferiu o Donna Fashion Iguatemi adiantaram nos corredores as tendências desfiladas na passarela. Eis as nossas apostas para a primavera-verão 2005/6: Por Carolina Puccini e Laura Madalosso 2.Vestido longo para o dia: 1. Muito Ouro: As lojas estão cheias de acessórios dourados. São cintos (principalmente os tressês, como o do detalhe), bolsas de todos os formatos e tamanhos e sandálias de verão. Muita gente resiste e fica na dúvida se deve ou não apostar no tom, com medo de parecer perua. Mas acredite: o acessório dourado, além de fácil de ser usado, é um clássico. O dourado deve ser usado apenas em uma das peças da produção (mesma premissa das estampas de bicho). No calor fica bem principalmente com branco e tons pastéis. Aproveite para realçar a pele bronzeada! Esse é a cara da próxima estação. Nos últimos desfiles, poucas foram as grifes que não mostraram ao menos um vestido longo na passarela. Ele surge mais esportivo para poder ser usado durante o dia, em tecidos bem leves, como jérsei ou algodão. A onda vem dos anos 70 e a modelagem mais vista tem cintura império, com corte logo abaixo do busto, como se fosse uma bata bem longa. Outro modelo que vai ser hit no verão é o vestidão cigano, com a saia em gomos. Mas há opções para todos os gostos: camisão, caftan e modelos bem godês. O modamanifesto flagrou entre um desfile e outro este lindo modelo em patchwork. Isabela Capeto 3. Bermuda revisitada: Cinto Tressê bota dourada - lounge DFI Colcci patchwork - lounge DFI Zapping Colcci As bermudas dão um ar esportivo à produção além de serem extremamente confortáveis. Saruel, de modelagem justa até o joelho, ou mais curtas tendendo para o oversized; todas estão valendo, é só escolher. A tendência está mais democrática do que nunca. No inverno apareceu em looks bem urbanos e o povo fashion aderiu com vontade. Gostamos de vê-las com saltos altos e finos, bem hi-lo. Agora também montam produções leves com cara de beach wear, fresquinhas para encarar a estação do calor. As bermudas marcaram presença na passarela do DFI em várias versões, principalmente para Colcci e Zapping. Zapping Zapping 16 A moda e o Existencialismo 100 anos do nascimento de Jean Paul Sartre Por Ana Carolina Acom “A existência pressupõe a essência”. É o que defende o existencialismo sartreano, sem entrarmos em detalhes conceituais, é possível ver a efemeridade da matéria ou mesmo a sua função “essencial”. Gostaria de chamar a atenção que até onde a moda é impensável, há moda. Pois as roupas devem dizer algo da pessoa que as veste, ainda que seja: “não dou a mínima”. A roupa está intrinsecamente ligada à noção de identidade, já que ela é parte de uma escolha ou obrigação. Ter estilo não significa preocupação com modismos e aparência, mas sim saber escolher, se conhecer muito bem e se definir. Por quê ligar Sartre à moda, o escritor do niilismo? Cito um trecho de Gerd Bornheim: “ Se há uma palavra que define todos os empenhos de Sartre, ela é liberdade, o lugar por excelência de todas as contradições, de todos os encontros e desencontros, sinônimo que é, sem nenhuma retórica adjetivante, da própria existência humana”. O Existencialismo, com seu principal expoente em Jean Paul Sartre, se desenvolveu na França em um ambiente de desânimo e desespero do pós-guerra. Sua repercussão não foi somente nos meios acadêmicos, pois além de doutrina filosófica foi constantemente identificado como um estilo de vida, forma comportamental, caracterizada como atitude excêntrica pelos meios Juliette Greco, cantora e de comunicação, com estardalhaço. musa existencialista Envolvendo seus adeptos em uma verdadeira mitologia. Jovens vestidos displicentemente, com casacos de couro preto circulavam pelas caves parisiense, ouvindo jazz. A cantora Juliette Greco foi considerada a musa existencialista, circulava entre a boemia francesa em meio a Jean Cocteau, Sartre e outros poetas e intelectuais. O estilo de Juliette foi muito copiado, cabelos negros e chanel com franja. Seu estilo era uma fusão de intensidade intelectual com uma tendência à sensualidade “divertida”. O Existencialismo foi 17 bastante disseminado no Brasil, principalmente nos anos 60, onde era cool ser intelectual, ler Sartre, Joice e assistir filmes noir franceses (nouvelle vague) de Truffaut e Godard. Segundo a teoria Existencialista, a base da existência humana está na liberdade de escolha que cada homem faz de si mesmo e de sua maneira de ser. O homem é inteiramente responsável por aquilo que ele é; não tem sentido as pessoas quererem atribuir suas falhas a fatores externos, como hereditariedade ou ação do meio ambiente ou a influência de outras pessoas. É abrir mão da liberdade na escolha de sua essência agir por Sartre e Simone de Beauvoir imitação, sujeitando-se ao ridículo imposto, assentando em vestir o que é dito moda. Em contraponto, dentro dos limites convencionais morais da sociedade, o indivíduo tem espaço para afirmação de sua identidade, onde a escolha arbitrária de um estilo de vida e a opção visual são imprescindíveis. Sartre costumava escrever em cafés, mesmo repleto de pessoas, diferente da solidão e recolhimento de lugares como bibliotecas. Moda não deve ser a imposição de vitrines e revistas, isto é uniformização bitolada, é abrir mão do auto conhecimento que envolve o momento da escolha. Em um mundo onde pertencer a um grupo significa alienação de si mesmo em pró do pensamento, visual e atitude homogênea com o grupo escolhido. Moda é ter estilo, e este adotado exclusivamente por aquilo que a pessoa é, ou melhor, como define o existencialismo, o homem não é nada mais além daquilo que projeta ser. Pois através da liberdade o homem escolhe o que há de ser, o homem é pura liberdade, escolhe sua essência e busca realizá-la. Toda essa liberdade possuída pelo homem, descrita por Sartre, não precisa ser interpretada, na questão do vestuário, como a aparência descuidada e desprezo pelo estético. Mas a liberdade de escolha entre alternativas (hoje quero ser uma lady retrô, ou uma romântica princesa roqueira, ou mesmo ambas) se defronta com o que constitui a essência, a identidade. Hoje em dia, mais do que nunca, na moda é tempo de liberdade. Há tendências para todos os estilos e gostos, basta saber que projeto tens de si mesmo e ir em busca de sua definição, de sua identidade. Pois primeiro o homem existe, descobre-se, surge no mundo; depois se define. O homem, tal como concebe o existencialismo, primeiramente não é nada, depois será algo, dependendo de como ele próprio Jean Cocteau, intelectual amigo de Sartre e Juliette Greco “se fizer”. 18 Um Pequeno Desejo em Grande Estilo: Moda e Solidariedade Por Laura Madalosso No mês passado, quando o modamanifesto estava ainda em vias de oficialização, realizei – como criança estreando em parque de diversões – minha primeira “cobertura oficial” de um evento de moda. Tratava-se do desfile beneficente Um Pequeno Desejo em Grande Estilo, que reuniu criações exclusivas de dez dos mais renomados estilistas gaúchos. Desde 2003, através de parcerias e de ajuda voluntária, o Instituto Enio, ONG aqui de Porto Alegre concede pequenos desejos a pequenos bravos guerreiros. Tendo o site e o mailing list como ferramentas, a instituição estabelece um canal entre crianças em tratamento médico e aqueles que querem e podem realizar seus desejos. A proposta é simples, foi baseada no trabalho da americana Make a Wish e os números comprovam o sucesso: aproximadamente 700 desejos realizados até hoje. No intuito de celebrar as conquistas, recrutar novos colaboradores e voluntários, e por sua vez ajudar cada vez mais ‘pequenos’, o Instituto organiza eventos como o desfile em que estive presente. Aquela noite deu-se realmente em grande estilo. Flashes, glamour, alta-costura, sorrisos de satisfação, desejos realizados. Soube em contato com a presidente do Instituto, Rosane Verlangieri, que todos a quem ela havia solicitado apoio para a organização tinham aderido com entusiasmo e se colocado à inteira disposição. Ou seja, o Instituto não teve nenhuma despesa e contabilizou, ao final da mobilização, mais 40 novos desejos realizados. O sucesso de público também foi comentado. Foram vendidos todos os 500 convites impressos e, nas próprias palavras de Rosane, “se tivéssemos mais 300 teríamos vendido facilmente”. Então, a minha dúvida. A maioria das pessoas ao pensar em moda recorre apenas do efêmero ao fútil; da vaidade egoísta ao materialismo e ao consumismo. Pergunto eu por que, mesmo assim vemos a defesa de grandes causas como a do Instituto Enio, constantemente associadas ao fenômeno? Como permitimos que a nobre solidariedade tenha na moda uma das mais assíduas aliadas? Não. Não estou tentando convencer ninguém de que a moda vai mudar o mundo - até porque a dissonância por si só é inconcebível. Defendo sim, a adoção de uma ótica livre de tantos preconceitos. Consideremos a moda como o fenômeno social e cultural de grande capacidade de convencimento popular que é, e que do fato dela se inserir cotidianamente entre as pessoas vem tal potencial de mobilização, por exemplo, em pró da solidariedade. Acredito não ser grande sacrifício refletirmos um pouco mais antes de condenarmos a moda. Uma visão crítica, mas não limitada. Esse é o meu pequeno desejo. Saiba mais sobre o Instituto Enio – Um Pequeno Desejo (que não tem preconceitos com a moda) em www.pequenodesejo.org. Alta-costura ao vivo e em todas as cores Por Laura Madalosso e Renata Cerolini Apresentando três criações exclusivas cada, Elisa Chanan, Neusinha Pereira, Luciano Baron, Sergio Pacheco, Milka, Clarice Innig, Solaine Piccoli, Marco Tarragô, Rui Spohr e Vol Fioravantte reuniram-se na mesma passarela em pró das crianças do Instituto Enio – Um Pequeno Desejo. Realizado no Country Club de Porto Alegre, o desfile Um Pequeno Desejo em Grande Estilo alcançou público máximo que aplaudiu trajes ricos em beleza e perfeição de acaba-mento. A heterogeneidade dos estilistas pro-porcionou uma explosão de informação na passarela. Democracia de cores, comprimentos, cortes e tecidos para todos os gostos. O ápice da noite foi o momento em que pisou na passarela Jéssica Cunha Pires, 15 anos, de Estância Velha. Usando um luxuoso vestido frente única branco criado por Vol Fioravantte, a menina representou em grande estilo todos os pequenos que já foram ajudados pelo Instituto Enio. Deise Nunes esteve presente e desfilou modelitos para Milka e Marco Tarragô. Confira a catwalk exclusiva Um Pequeno Desejo em Grande Estilo para o modamanifesto modamanifesto. 19 catwalk Elisa Chanan Rui Spohr Sérgio Pacheco Vol Fioravantte Deise Nunes para Milka Neusinha Pereira Clarice Inning Luciano Baron Solaine Piccoli Jéssica para Vol Deise Nunes para Marco Tarragô Marco Tarragô 20 No início foi a Exposição do Centenário Farroupilha... Hoje, é ela: A Semana Farroupilha Em 1935 foi inaugurada uma exposição de proporções inimagináveis pelos habitantes da cidade de Porto Alegre. Tratava-se de um evento de enorme envergadura, cujo intento eram as comemorações do Centenário da Revolução Farroupilha aliada à divulgação da produção rio-grandense nas áreas da indústria, do comércio e da agro-pecuária, momento em que toda grandiosidade e poder do Estado Republicano do Sul estariam visíveis. A exposição ocorreu no Campo da Redenção, também conhecida como Várzea pelos porto-alegrenses até então, e que a partir desse evento se denominará Parque Farroupilha. O Parque recebeu por conta da exposição um “plano de embelezamento” projetado pelo urbanista Agache que constava da construção de um verdadeiro cenário para abrigar vários pavilhões que sediariam os prédios dos estados estrangeiros, brasileiros e dos respectivos municípios gaúchos. Foram construídos inúmeros equipamentos, tais como a fonte luminosa, que se tornou um espetáculo à parte, “pela sua beleza e ineditismo” nos brindando até hoje com a atmosfera daqueles dias que tinham o objetivo de seduzir os visitantes. Além disso, contava a exposição com um pórtico Por Thais Gomes Fraga de entrada monumental em que era exibida a escultura gigante do famoso Bento Gonçalves, herói farroupilha em seu garboso cavalo, que foi posteriormente transferida para avenida de mesmo nome. Também, foram previstos a construção de um estúdio fotográfico, que seria responsável pelo registro daqueles dias afortunados, e um cassino para que “reunisse o nosso mundo social em ambiente seleto e de alto conforto”, assim registraram os responsáveis pela organização do evento. Mas havia muito mais: lago, auditório, pavilhão cultural, hoje atual Instituto de Educação General Flores da Cunha, parque de diversões, departamento de imprensa, bilheteria, sanitários entre outros. A inauguração se deu em 20 de setembro de 1935 e esteve repleta como não poderia deixar de ser pelo “eskol” das elites argentina, uruguaia, brasileira e obviamente gaúcha. Foram dias “fashion” em que casacas, fraques, gravatas, chapéus, cartolas, vestidos, sapatos, sombrinhas desfilaram aos borbotões. A presença do Presidente da República Getúlio Vargas, sempre de irretocável aparência, coloca em evidência a moda masculina e nos propõe 21 nesse contexto estético e social a percepção de como os trajes e acessórios da indumentária tornam-se documentos para análise daquela sociedade. Também, nesse evento político e social que foi a exposição, podemos perceber a importância na economia gaúcha de diversas fábricas e lojas ligadas ao vestuário como, por exemplo, Rheingantz, Fábrica de Chapéus Renner Ltda, Fiateci entre outras, que tiveram importante papel no desenvolvimento da indústria do vestuário e da moda no Rio Grande do Sul. Não por acaso, esse mesmo espírito gaúcho tem suas reedições anuais, para lembrar, ou melhor, para que não se esqueçam certas tradições. Essas são celebradas na badalada Expointer e posteriormente na singular Semana Farroupilha. Enquanto a primeira ocorre anualmente no Parque de Exposições Assis Brasil, no município de Esteio, e certamente é uma das maiores vitrines do setor agropecuário, a segunda ocorre por todos os cantos desse Rio Grande. Porto Alegre sedia esse culto ao gauchismo no Parque da Harmonia onde é montada uma verdadeira cidade dos gaúchos em que se instalam literalmente de mala e cuia. Destacamos ainda, o elemento “abaixo de chuva”, pois o mês de setembro costuma ser chuvoso, além da lama, muita lama, da melhor espécie é claro, pois, o parque situa-se numa grande extensão de terra no chamado “chão batido” muito ao gosto da gauderiada. Mas, se voltarmos ao tema tradição um dos fatos que mais chamam atenção nesses dois grandes eventos são as vestimentas. Aliás, o uso da “pilcha gaúcha” como indumentária foi oficializado como traje de honra e de uso preferencial no Rio Grande do Sul para ambos os sexos pela lei nº 8.813, de 10 de janeiro de 1989. Onde se estabelece como “pilcha gaúcha” os elementos de sobriedade histórica, conforme os ditames do Movimento Tradicionalista Gaúcho, podendo essa substituir o traje convencional em todos os atos oficiais, públicos ou privados realizados no Rio Grande do Sul. Quanto poder para a pilcha! “N esse contexto es“Nesse tético e social os trajes e acessórios da indumen indumen-tária tornam-se documentos para análise daquela sociedade. sociedade.”” As fotos mostram a inauguração da Expo-Farroupilha. Na página anterior, aspecto da Inauguração da estatua equestre a Bento Gonçalves. 22 Por Marianna Rebelatto Constantemente, estilistas buscam inspiração em outras épocas para criarem suas coleções. Modelitos que até pouco tempo atrás eram considerados bregas são repaginados e voltam a freqüentar os guarda-roupas dos moderninhos. Nada se cria, tudo se copia. Já faz algum tempo que os estilistas vêm trazendo para as passarelas referências dos anos 80. O punk, as mangasmorcego e outros exageros da época foram relembrados em coleções recentes. Mas, quem pensou que os anos 80 iam dar um tempo antes de voltar ao mundinho da moda se enganou. Um dos ícones da década, o balonê, é a nova proposta de marcas como Zapping, Triton e outras. Deixando de ser uma referência cafona no passado de muita gente, o estilo volumoso e bufante está nas sais e shorts, tudo muito míni, e também nas mangas. Com um ar romântico e jovial, as peças balonês surgiram mais discretas, com um volume menor do que o usado no passado, porém, inconfundíveis. A proposta foi lançada. Agora, é esperar para ver se o público vai aderir a mais essa moda retro. Depois dessa, fica uma dica: pense duas vezes antes de jogar fora aquela roupinha horrorosa que você comprou há uns anos atrás e acha que nunca mais vai usar. Ela pode ser útil algum dia. Vestidos, bermudas, saias e mangas balonê na coleção da Zapping A Triton também apostou no balonê para sua última coleção 23 Por Thais Gomes Fraga O dia já está amanhecendo quando um indefectível táxi novaiorquino pára em frente à Joalheria Tiffany’s e uma jovem de ar misterioso salta do carro carregando seu café com rosquinhas ou coisa similar. Aí está ela: Holly Golightly com seu look preto total, luvas e óculos, uma profusão de pérolas e uma coroa de strass. A imagem perfeita do poder de sedução da jovem e do preto. Assim é o impacto da cena inicial do filme “Breakfast at Tiffany’s” ou o famoso “Bonequinha de Luxo” lançado em 1961. O diretor Blake Edwards A beleza de Audrey transformou o roteiro inspirado na novela de em “Sabrina” Truman Capote em um filme memorável, tanto por sua temática quanto pelo carisma e elegância de Audrey Hepburn aliados aos figurinos de Givenchy. A excelente fotografia e os maravilhosos figurinos desenhados pelo estilista francês especialmente para Audrey Hepburn, foram os principais elementos que transformaram “Bonequinha de Luxo” em um dos maiores cult’s do cinema. O figurino da atriz, composto por vestidos pretos são copiados até hoje. Givenchy fez também os figurinos para vários filmes de Audrey Hepburn, como “Sabrina” (1954), “Cinderela em Paris” (1957) e “Charada” (1963). “Bonequinha de Luxo” foi ambientado nos mais autênticos cenários de Manhattam e tem como protagonistas Audrey Hepburn interpretando Holly Golightly, em uma de suas melhores Cena clássica de “Bonequinha”, com Givenchy assinando os figurinos atuações no cinema, e George Peppard no papel de Paul Varjak. O par romântico de Holly e Paul se identifica pela sua condição de iguais que buscam a superação de suas vidas vazias e solitárias através do encontro do amor, da amizade libertadora e verdadeira que colocará a nocaute os medos e frustrações de ambos. Com uma forte carga emocional e estética deprê elegante a personagem de Holly parece antecipar em 40 anos o mundo desbussolado em que vivemos, “fico deprimida quando engordo ou quando chove”. Arredia tanto quanto seu gato, outra pérola do filme, o gato adestrado que se chamava simplesmente “gato”, era amarelo malhado e protagoniza com a atriz a cena final do filme, onde fica protegido por ela, dentro de um trench coat Givenchy. A atriz se abraça a George Peppard, e assim os dois personagens se beijam, embaixo de uma chuva torrencial tipicamente novaiorquina ao som de “Moon River. A trilha musical acabou sendo premiada com o Oscar de melhor música de 1961, e foi executada por Henry Mancini, autor das mais conhecidas canções compostas para o cinema”. Além da harmonia musical, o filme teve uma importante campanha publicitária, aliada as já comentadas belas tomadas externas de Nova York, filmadas nas ruas, nos parques e na própria loja Tiffany’s, que comove os corações, “A Tiffany’s costuma ser generosa” refere-se o vendedor diante de um pedido inusitado do par romântico. O cinema desde seus primórdios criou mitos e despertou muitos desejos de consumo, em “Bonequinha de Luxo” por exemplo, o guarda-roupa da personagem Holly Golightly estava repleto de clássicos, como os vestidos pretos, as luvas, as sapatilhas Chanel, as calças capri, os trench coat, que tornaram Audrey Hepburn e Givenchy sinônimos de elegância e refinamento afirmando a moda como um dos principais vetores da sétima arte. 24 (do inglês acid, ácido e wash, lavagem) processo de lavagem de jeans patenteado pela firma italiana Cândida Laundry. Consiste em bater pedra pomes com cloro e usar esse poder abrasivo para alvejar o jeans em contrastes acentuados (nítidos). A técnica, e as peças resultantes do processo também são conhecidas como moon, fog, marble, ice e frosted. a palavra vem do inglês customized ou customade, justamente dessa idéia de “feito por encomenda”, “sob medida”. Na moda contemporânea, o termo refere-se a interferências de qualquer espécie feitas em peças de roupas e acessórios. Recortes, apliques, tingimentos, costuras, bordados, enfim, a intenção é transformar e/ou renovar as peças do armário. A customização hoje é movimento consolidado por viabilizar a personalização do vestir. recente tendência de moda que propõe a mistura de elementos de estilo requintado com outros de apelo popular, num mesmo look. O nome, que vem da abreviação de duas palavras em inglês - high (alto) e low (baixo) -, automaticamente conceitua o tipo de produção. Estão reunidas uma parte “alta”, como uma peça de grife cara, e uma parte “baixa”, ou “menos nobre”. É hi-lo, usar jeans e camiseta básica com acessórios sofisticados, por exemplo uma bolsa toda bordada em paetês e sandálias carésimas. Por Laura Madalosso (do inglês over (pref.), extremamente; excessivamente e size, tamanho) refere-se às roupas de modelagem grande, maior do que a numeração teoricamente ideal. Pela liberdade de movimentos que as dimensões largas proporcionam, a tendência foi adotada em larga escala pelos skatistas e dessa forma ganhou destaque. É aposta do atual hip hop style, cujas calças e bermudas inevitavelmente caídas deixam aparentes as cuecas samba-canção. palavra do inglês que significa algo como “trabalho feito de retalhos”. Trata-se de uma técnica de artesanato, pela qual se dá a união coordenada de retalhos ou de tecidos de diferentes padronagens e cores. Surgiu no Oriente Médio, como processo de reciclagem, e foi trazida para o Ocidente pelos colonizadores ingleses. Em vez de costurar os pedaços de pano de qualquer jeito, as artesãs pioneiras planejavam e costuravam formando padrões muito artísticos dando vazão às suas ambições, desejos e sentimentos. É freqüentemente tendência do mundinho fashion. A saber, foi personagem central no desfile primavera/ verão 2005-2006 de Lino Villaventura, na SPFW. 25 Por Ana Carolina Acom Por Carolina Citton Puccini h t t p : / / w w w. j a p a n e s e s t r e e t s . c o m / Os japoneses são super ligados em moda. Consumo desenfreado, têndencias novas a cada semana, combinações inusitadas, e muito, muito estilo. Nesse site é possível ver a moda que os japinhas estão usando em fotos atualizadas frequentemente. As fotos são separadas por categorias: moda de rua, vitrines, desfiles e convenções de cosplay. Cada foto possui uma descrição embaixo e você ainda pode votar na sua favorita. Em inglês. “Por milhares de anos os seres humanos têm se comunicado na linguagem das roupas. Muito antes de eu ter me aproximado o suficiente para falar com você na rua, em uma reunião ou em uma festa, você comunica seu sexo, idade, e classe social através do que está vestindo.” Assim começa o livro A Linguagem das Roupas de Alison Lurie. Dos muitos símbolos e expressões, a roupa é uma das mais importantes linguagens não verbalizadas do eu. E este adorável livro, aborda as questões da identidade e as significações que a as roupas refletem, como instrumento para tal, Lurie passa pela história, estética, psicologia, ética, artes plásticas, sociologia, comportamento, economia, literatura entre outros. O livro não é uma história da moda linear, mas sua análise percorre as mais diversas fases e contextos da humanidade. Expondo as diferenças e expressões das roupas através dos gêneros, das plurais opções sexuais, hábitos da juventude e velhice, sem, com tudo isso esquecer da elegância, da tradição do jeans e claro do mau gosto, também. A autora defende, que as roupas que usamos, dizem muito a nosso respeito, quem somos ou parecemos ser. Além de transmitirem, antes mesmo de nos expressarmos verbalmente, informações a respeito de nossa profissão, origem geográfica, personalidade, opiniões, gostos, desejos e estado de ânimo. Seja pelo uso das cores, uniformes, idade aparente ou época do tempo em que nos encontramos. Enfim, é um livro delicioso não só para quem se interessa por moda e comportamento. Com divertidíssimas gravuras, este livro, como diz sua orelha: “tem licença para figurar com destaque em todas as estantes, do estudante de moda ao mais exigente intelectual, do jornalista aos diversos formadores de opinião, do estilista a freqüentadores das colunas sociais, do historiador diletante aos psicanalistas, do ator ao cenógrafo, da feminista pós-moderna às garotas liberadas.” modamanifesto modamanifesto modamanifesto modamanifesto modamanifesto 26 Capa: Desenho exclusivo de Val Kuhn manifeste-se! Site Oficial: www.modamanifesto.com.br E-mail: [email protected] Yahoo Grupos: http://br.groups.yahoo.com/group/modamanifesto Comunidade no Orkut: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=3682363 Fotos Pág. 6 - Tiago Lermen/Reprodução Pág. 7 - Janaína Kiesling Braga Págs. 8 e 9 - Carolina Citton Puccini, Laura Madalosso e Janaína Kiesling Braga Págs. 10 e 11 - Reprodução Págs. 12 e 13 - Laura Ferrazza de Lima Pág. 14 - Janaína Kiesling Braga Pág. 15 - Laura Madalosso/Reprodução Págs. 16 e 17 - Reprodução Pág. 19 - Renata Cerolini Págs. 20 e 21 - Reprodução Págs. 22, 23, 24 e 25 - Reprodução Agradecimentos Bureau de Estilo by Soraya Mendes Ribeiro FIERGS/Núcleo RS Moda Organização Moinhos Fashion Show Gabriel Ibias João Rosito Joseane Camargo Maria Elisa Cruz Lema Maria Stella Madalosso Muriel Paraboni (Produtora Solaris) Raiza Gomes Fraga Val Kuhn