Atlântida - Revista de Cultura, vol. LVII 2012

Transcrição

Atlântida - Revista de Cultura, vol. LVII 2012
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ficha técnica
Direção . Paulo Alexandre Vilela Martins Raimundo
Patrocínio
Design / Paginação . Angelina Caixeiro / José Augusto Guerra
Tiragem . 1000 exemplares
Depósito legal . 174164/01
ISSN . 1645-6815
N.º de registo na ERC . 100455
Apoio
Esta revista é propriedade de . Instituto Açoriano de Cultura
Alto das Covas - Apartado 67
9700-220 Angra do Heroísmo
T. F. 295 214 442
[email protected]
www.iac-azores.org
Instituição de Utilidade Pública por Resolução nº 45/86,
do Conselho do Governo Regional dos Açores,
de 5 de Março de 1986
Preço. 20,00 euros
Sócios Patronos
Câmara Municipal da Calheta
Junta de Freguesia dos Altares, Angra do Heroísmo
Junta de Freguesia do Porto Judeu, Angra do Heroísmo
Teles Travel Agency
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sumário
ESTUDOS E CRIAÇÃO
ARTÍSTICA
CIÊNCIAS
HUMANAS
OUTROS
SABERES
09. MÁRIO PEREIRA
DA SILVA (1921–2009)
41. ÍNDICES DO CARTÓRIO
DA MITRA DE ANGRA (ILHA
DE SÃO MIGUEL – PARTE I)
147. EXTINÇÕES, EVOLUÇÃO
E O IMPACTO DE
HOMO SAPIENS A PARTIR
DO ANO 1000 A.D.
José Guilherme Reis Leite
Filipe Pinheiro Campos
19. FERNANDO LANHAS
João Fernandes
ESTUDOS E CRIAÇÃO
LITERÁRIA
23. VASCO PEREIRA
DA COSTA – O MAR IMENSO
E ÍNTIMO DO POETA
INCENDIADO
PELO FOGO OCULTO
DA ILHA RASGADA
SOBRE O MUNDO
Elisa Branquinho, Anabela Sardo
e Zaida Ferreira
29. A MINHA DESCOBERTA
LITERÁRIA – AÇORIANIDADE
J. Chrys Chrystello
João Pedro Barreiros
99. FRANCISCO FERREIRA
DRUMMOND – HOMEM DO SEU
E NOSSO TEMPO.
ATUALIDADE DO SEU
LEGADO PEDAGÓGICO
163. IN ILLO TEMPORE –
BENEDICAMUS DOMINUM NO
SEMINÁRIO DE ANGRA NA
DÉCADA DE 50 A 60
António Neves Leal
Nuno Vieira
105. CONDIÇÕES DO ATRASO
DO POVO PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS
187. A FÁBRICA DE BRAÇO
DE PRATA EM LISBOA
Nuno Nabais
Miguel Soares Albergaria
199. RIBEIRA DOS MOINHOS,
A RIBEIRA QUE A BAIXA
DE ANGRA NUNCA VIU
Paulo Barcelos
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ESTUDOS E CRIAÇÃO ARTÍSTICA
Fotografia de MÁRIO SILVA
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José Guilherme Reis Leite
MÁRIO
PEREIRA
DA SILVA
Mário Silva, como era conhecido, é um caso típico de um
continental açorianisado. Nasceu na Figueira da Foz, na freguesia de Buarcos, a 5 de Janeiro de 1921, mantendo sempre
ligações à terra de origem, nomeadamente através da
fotografia. Muitas das fotografias mais emblemáticas de tipos
populares são de conterrâneos seus. Mas Mário Silva transformou-se num açoriano e deixou-nos um vasto testemunho
dessa sua transformação, desejada e trabalhada transformação, que não inconsciente e amorfa. Veio parar à ilha
Terceira em 1946 à Base Aérea n.º4, sediada nas Lajes, como
militar da Força Aérea, onde ingressou em 1941 (em plena
Guerra Mundial). Foi nesta Base, mas já como funcionário da
Navy, no destacamento americano, que passou a sua vida
profissional até se reformar. Casou na ilha, em 1948, com
uma senhora de uma conhecida família de Angra do Heroísmo, sendo esse o primeiro e mais importante passo para a
sua açorianisação.
*Este artigo respeita a grafia anterior ao Acordo Ortográfico.
[9]
(1921-2009)*
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[10]
Revolução de 25 de Abril.
Contudo, a sua grande vocação era a fotografia e a ela dedicou
o melhor da vida. Como bom fotógrafo, seguia atentamente a
evolução dos meios técnicos. O contacto com os americanos,
na Base, permitia-lhe estar sempre actualizado, numa época
em que as inovações chegavam atrasadas e a preços proibitivos
a Portugal. A sua colecção, se assim se pode chamar, de máquinas fotográficas é um testemunho dessas preocupações. Para o
artista, as tecnologias eram um meio e não um fim. As máquinas
serviam não para as contemplar, mas sim, servindo-se delas,
evoluir.
Desde cedo, de 1953, pelos menos, partilhou generosamente
com os seus concidadãos a sua arte. As exposições que promoveu em lugares públicos ou em sociedades mais reservadas
eram o meio privilegiado que utilizava para dialogar com os
outros quer fossem os muitos ou os poucos interessados nas
fotografias que gostava de partilhar. A lista de exposições, que
começa com uma no Museu de Angra em 1953 e termina com
uma outra na Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade,
em 2009, ano do seu falecimento, é um testemunho dessa
faceta simpática de partilha da sua arte com os angrenses.
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MÁRIO
PEREIRA
DA SILVA
[11]
[1921-2009]
Encontro do Presidente Nixon com
o Presidente Spínola na Base Aérea n.º 4.
Mário Silva deixou um vastíssimo espólio de milhares de fotografias que felizmente e de uma forma geral foram preservadas
através de digitalização promovida por ele próprio, tanto na
Biblioteca Pública como no Museu de Angra do Heroísmo. Não
temos, infelizmente, ainda um inventário desse mesmo espólio,
mas a sua existência em lugar seguro é, pelo menos, um passo
decisivo. Creio até que Mário Silva tinha consciência disso e
também por isso se empenhou, nos últimos anos da sua vida,
tantas vezes com incompreensão, em resguardar com meios
técnicos mais evoluídos e seguros, as suas fotografias.
Pelo que conheço, o pouco que conheço, do espólio de Mário
Silva proponho dividi-lo em 3 grandes áreas.
A primeira é composta pelas fotografias artísticas e que vem de
uma velha tradição dos fotógrafos que se dedicam à captação
de imagens trabalhadas, como fazem os pintores, os escultores
e outros quaisquer artistas. Aí, nessas fotografias, põe muito da
sua sensibilidade, da sua visão do mundo e do homem, da sua
maneira de encarar a sociedade, os seus anseios e até frustrações. É sem dúvida, a parte mais nobre do artista e a prova
real não só da mestria mas também das suas sensibilidades e
das suas aspirações. É por elas que se ficará a conhecer o
verdadeiro fotógrafo, o seu mundo e o seu pensamento. Não
admira, pois, que seja nessas fotografias, que todos os que se
dedicavam à arte de fotografar se empenham, conscientes que
através delas ficarão para a posteridade.
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[12]
Sismo de 1 de Janeiro de 1980.
São fotografias de Mário Silva como artista fotógrafo, que este
número da Atlântida valoriza mais através de um conjunto de
imagens de figuras humanas, quase todas sofridas, que a
objectiva do artista captou. O nosso fotógrafo, por aquilo que
tem sido mais divulgado, encontrava nas crianças e nos velhos
os seus modelos profissionais e ninguém fica indiferente à
mestria de uma imagem captada com a luz certa, o ângulo mais
dramático da expressão e a espontaneidade com que o artista
fixou o seu modelo.
A segunda é composta por reportagens, as reportagens de momentos marcantes da vida insular, como a Cimeira de Nixon/
Pompidou, em 1971, que entusiasmou os terceirenses em geral,
os angrenses em particular e o nosso fotógrafo sem dúvida.
Captou imagens dos momentos solenes, dos momentos
protocolares, dos momentos de descontracção e até da pompa
com que o então Primeiro-ministro de Portugal, Marcelo Caetano, rodeou a recepção dos chefes de Estado da América e
França. Algumas dessas imagens não deixam até de ser irónicas,
ainda que predomine o entusiasmo embevecido pela novidade.
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MÁRIO
PEREIRA
DA SILVA
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[1921-2009]
Cimeira Nixon/Pompidou, 1971.
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Sismo de 1 de Janeiro de 1980.
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MÁRIO
PEREIRA
DA SILVA
[15]
[1921-2009]
Revolução de 25 de Abril.
Outra colecção, também muito rica, refere-se aos dias e
meses que se seguiram ao Golpe de Estado de 25 de Abril e à
sua transformação em revolução. O pasmo inicial, a surpresa,
a retracção seguida de movimentações políticas de rua, que
por sua vez provocaram reacções contra revolucionárias,
ficaram registados. É uma colecção importantíssima para compreender o que se passou em Angra e como evoluiu entre nós
o 25 de Abril.
A objectiva de Mário Silva não foi, nem possivelmente
pretendeu ser, isenta nem amorfa. O fotógrafo, que nunca
aparece fisicamente nas suas fotos, não deixa de estar intimamente presente em todas, mas sobretudo nesta reportagem
da revolução dos cravos. Isso é, aliás, uma mais valia e uma
prova que um bom fotógrafo nunca se ausenta das suas
imagens.
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[16]
Sismo de 1 de Janeiro de 1980.
A colecção referente ao sismo de 1 de Janeiro de 1980, contando a tragédia que se abateu sobre Angra e a ilha em geral, é
ela também um testemunho material como o fotógrafo viveu
estes dias e se aproximou dos seus concidadãos, deixando-nos
imagens de desolação, de sofrimento e de desalento, mas onde
se podem ler sinais de determinação para enfrentar a desgraça
e para refazer a vida. As imagens que Mário Silva captou de
Angra destruída e dos angrenses, não deixam, pelos pormenores captados, de anunciar a reconstrução da cidade.
Outras reportagens se poderiam apontar. Talvez menos explícitas e até menos conseguidas, mas elas também úteis, até
imprescindíveis para a nossa memória colectiva.
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MÁRIO
PEREIRA
DA SILVA
[17]
[1921-2009]
Sismo de 1 de Janeiro de 1980.
A terceira área do seu espólio é também muito interessante,
porque nos revela um Mário Silva atento àqueles que o precederam na fotografia. Assim nasceu o coleccionador de fotografias antigas, de pessoas, de paisagens, de acontecimentos,
mas sempre um coleccionador exigente, que escolhe com
critério os temas e a qualidade.
Entusiasmado que fiquei com o que vi do espólio do artista só
posso desejar que o renascer do interesse por ele seja um
incentivo para se valorizar o que herdamos e como era seu
desejo, que a sua arte sirva os vindouros e a cultura, o gosto
pela memória colectiva e pelos açorianos.
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LISTAGEM DAS EXPOSIÇÕES
1953 . Museu de Angra do Heroísmo
1959 . Clube Musical Angrense
2001 . Secretaria Regional da Educação e Cultura
(Cimeira Nixon/Pompidou, 30 anos depois)
1960 . Lawn Tennis Club
2004 . Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo
(O 25 de Abril: história de um passado recente)
1985 . Fanfarra Operária
2005 . Casa de Povo de S. Bento
1985 . Teatro Angrense
2005 . Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo
(Memórias Fotográficas)
1959 . Sé de Angra
[18]
2001 . Igreja da Misericórdia de Angra (Pessoas e Lugares)
2001 . Adro da Sé (Estendal Fotográfico)
2006 . Casa do Sal (Tenente-Coronel José Agostinho)
2009 . Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade
(O Sismo de 80)
Pessoas e Lugares.
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João Fernandes
FERNANDO
LANHAS*
A sua obra situa o artista numa busca do conhecimento do porquê das coisas da arte e da vida. Para Lanhas, descobrir é fazer,
sendo a invenção e a sua divulgação processos da evidência da
condição humana na sua relação com o mundo.
Uma contínua interrogação do Universo manifesta-se quer na
sua pintura, quer na sua poesia, nos seus sonhos, na arquitectura, assim como nos estudos desenvolvidos em áreas como
a arqueologia, a astronomia, a geologia ou a etnografia, que
coabitam e revelam as consequências de uma relação particular
e idiossincrática com a realidade. Para Lanhas, um quadro não é
mais nem menos do que uma pedra pintada ou por pintar, um
poema, um sonho, um projecto de arquitectura, um fóssil, um
meteorito, um artefacto neolítico, a cartografia de uma área de
conhecimento. Os saberes e as artes acontecem enquanto manifestações de uma ligação particular do criador com os universos possíveis de descobrir e referenciar em outros tantos processos de criação e descoberta.
"Rapaz e menina"
s/d, assin., tinta da China s/ cartão,
100x70 cm
*Este artigo respeita a grafia anterior ao Acordo Ortográfico.
[19]
Fernando Lanhas (Porto, 1923-2012) é um dos exemplos mais
singulares da história da arte portuguesa do século XX.
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Sendo o primeiro pintor abstracto na arte portuguesa,
Lanhas jamais poderá, ser apenas considerado como o
introdutor da abstracção no contexto nacional. A sua
abstracção é contemporânea de um vasto contexto
internacional que a poderia facilmente integrar e legitimar. Contudo, trata-se de uma abstracção pessoal
que tanto o leva ao quadro como à colagem ou à
apropriação da natureza, como se constata nas únicas
e singulares criações que concretiza com as suas
pinturas em seixos rolados ou em rochedos encontrados nas serranias de Valongo.
[20]
Fernando Lanhas assumiu com uma desarmante
simplicidade uma relação ética com o mundo, com
a arte e o conhecimento. A representação como
conhecimento e o conhecimento como representação constituem dicotomias unificadoras da diversidade dos interesses que Fernando Lanhas sempre manifestou em relação a áreas tão diferenciadas como a arte, a arquitectura, a arqueologia, a
astronomia ou a etnografia.
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ESTUDOS E CRIAÇÃO LITERÁRIA
Fotografia de MÁRIO SILVA
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VASCO PEREIRA
DA COSTA
– O MAR IMENSO
E ÍNTIMO DO POETA
INCENDIADO
PELO FOGO OCULTO
DA ILHA RASGADA
SOBRE O MUNDO
[23]
Elisa Branquinho
Anabela Sardo
Zaida Ferreira
A ilha que esboço (onde sempre renasço)
fica na redondez do mundo
infindo
onde me prefiguro e me recorto.
Vasco Pereira da Costa, “Lição de Montaigne” in Fogo Oculto, p. 19.
Tudo que se passa no onde vivemos é em nós que se passa.
Bernardo Soares
O presente artigo, como o título deixa antever, está dividido em
duas partes fundamentais. A primeira esboça, de forma abreviada, um possível retrato de Vasco Pereira da Costa, para, numa
segunda parte, ancorar a análise do seu livro de poemas O Fogo
Oculto no qual, indubitavelmente, o homem/poeta/escritor se
desvela, como mostram alguns versos dos quais destacamos os
seguintes: “Conheci princípios claros, ideologias limpas./ Hoje,
com três quartos de caminho andado,/ aguardo a vinda dos amigos” (Costa, 2011: 15); “Olho o tudo. E ninguém ouse/ questionar o mais profundo/ do que penso quero e faço” (Costa,
2011: 19); “Não pode a ilha ser o limite” (Costa, 2011: 67).
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Homem de cultura, Vasco Pereira da Costa nasceu em Angra
do Heroísmo, numa ilha por cima do mundo, como o próprio
afirma, no ano de 1948. Licenciado em Filologia Românica, na
Universidade de Coimbra, foi, durante vários anos, professor
do ensino secundário e esteve ligado à formação de professores, exercendo funções docentes na Escola Superior de Educação de Coimbra. Do seu vasto e culto currículo, fazem parte,
ainda, outras funções como a de diretor do Departamento de
Cultura, Turismo e Espaços Verdes da Câmara Municipal de
Coimbra assim como a de cônsul honorário de França nesta cidade. Entre 2001 e 2008, regressou aos Açores para ser diretor
da área da Cultura no Governo.
[24]
A sua vasta experiência pedagógica, cultural e literária tem levado Vasco Pereira da Costa a diversos cantos do globo (EUA,
Venezuela, África do Sul, Senegal, Espanha, França, Inglaterra,
Bélgica, Holanda, Itália e Macau), para além de Portugal, onde
tem proferido conferências sobre temas literários e pedagógicos. Para além disso, tem exercido as funções de consultor
para programas infantis e trabalhado para a rádio e televisão em
programas de índole literária e cultural.
Registem-se algumas exposições que aconteceram, em 2009,
primeiro no Museu dos Baleeiros das Lajes do Pico, depois na
Ilha Terceira e, por último, em São Miguel (Portas do Mar), com
o sugestivo título de As Ilhas Conhecidas – Cartografia e Iconografia. Segundo o texto de M. Poivreau, que consta do catálogo
das exposições:
As paisagens daqui resultantes (…) são abstratas essencialmente, e admitem, mesmo assim, uma grande diversidade
de motivos figurativos tratados de maneira realista por
vezes, de um modo naïf outras vezes. Eis como surgem
mares, linhas de costa, céus, as cartografias – tudo reinventado através da matéria e da cor (…). Os quadros de
Manuel Policarpo, que insiste na busca de signos sobre os
rituais do Espírito Santo, tão enraizados nas suas ilhas dos
Açores, [formulam] imagens que [conduzem] a uma leitura crítica, na tentativa de explorar valores socioculturais.
A extensa obra literária1 do autor passa pela ficção, poesia e
memórias, tendo sido distinguido, em 1984, com o Prémio
Literário Miguel Torga. Recorde-se, igualmente, o conto não
publicado O Maestro, o Poeta e o Menino de sua Mãe, escrito em
1985, que foi distinguido com o Prémio Aquilino Ribeiro.
Recordemos, igualmente, a exposição de cartografia e etnografia, Ilhas Conhecidas, que esteve patente no Pavilhão do Mar,
em Ponta Delgada, até fevereiro de 2010, uma revisitação, um
retrato e um itinerário feito por quem conhece e vive nos
Açores. Segundo o próprio, as telas revelam as ilhas conhecidas
por si. Deste modo, esta exposição assume-se como um permanente diálogo entre os universos telúrico, etnográfico e
mitográfico das ilhas. Nessa mostra, cada tela de Manuel Policarpo tem carimbo açoriano, retratado através de técnicas mistas, jogando com diversos materiais, emprestando-lhe, como
reforça, outras significações. Usa, portanto, o óleo, o acrílico
bem como outros componentes materiais, como, por exemplo, as rendas açorianas.
A versatilidade do homem, escritor e poeta transformou-o,
igualmente, num notável pintor, criador de Manuel Policarpo,
heterónimo oriundo da ilha do Pico. Com rápida passagem pela
Terceira, desde há muito este pintor vai calcorreando o mundo.
Contudo, quando lhe perguntam onde nasceu, responde, mitificando:
Sintetizando a essência de Manuel Policarpo, podemos usar as
palavras de Vasco Pereira da Costa, quando o retrata como circunstância do tempo e dos espaços e que apenas caminha por
onde o levam seus próprios passos (http://www.carminagaleria.
com/artistas/policarpo.php) reclamando a sua condição de intelectual europeu. Contudo, em nossa opinião, sendo o pintor um
A 20 de abril de 2011, Vasco Pereira da Costa foi distinguido
com o título Honoris Causa em Letras pela Universidade de São
José, em Macau, fundada em 1996 pela Universidade Católica
Portuguesa e pela diocese local.
nasci numa ilha
por cima do mundo.
(http://www.carminagaleria.com/artistas/policarpo.php).
1Bibliografia completa do autor no final do texto.
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VASCO PEREIRA
DA COSTA
– O MAR IMENSO
E ÍNTIMO DO POETA INCENDIADO
PELO FOGO OCULTO
DA ILHA RASGADA
SOBRE O MUNDO
Manuel Policarpo afirma ter olhos de cartógrafo, mãos impulsivas, índole de gravador. Experimenta, experimenta sempre,
nunca estabelecendo, a priori, a técnica que vai utilizar
(http://www.carminagaleria.com/artistas/policarpo.php).
Como romancista, contista, novelista e poeta, Vasco Pereira da
Costa reconhece-se, essencialmente, como um contador de
histórias: “das coisas que me dão mais gozo, é ouvir uma história, mas também contá-la porque a palavra pode ser fruída”
(http://lusografias.wordpress.com/2010/07/11/vasco-pereira-da-costacontador-de-historias).
Para concluir este breve retrato, pintado com a ajuda dos
relatos encontrados e através das palavras de Vasco Pereira da
Costa, citamos um excerto de um texto seu, sobre o pintor
Manuel Policarpo, que nos parece, igualmente, descrever o
próprio poeta:
Por isso dele dizem: é um poseur! – alça a sobrancelha esquerda por detrás das lentes do estigmatismo com desdenhoso trejeito perante a mediocridade e, tão só porque
peregrinou as sete partidas e já tem cãs sobejas e aprendizagens múltiplas, nem sequer reage aos que o sussurram
como diletante, cultivando uma ironia que, por vezes, roça
o sarcasmo impiedoso.
- ‘Tou-me marimbando’! – proclama do pico do Pico da sua
altivez senhoril, do cume da sua libertada escravidão, do
topo da sabedoria que lhe concedeu o passadio.
http://www.carminagaleria.com/artistas/policarpo.php).
Da vasta obra de Vasco Pereira da Costa, iremos deter-nos no
seu último livro O Fogo Oculto, composto por trinta e um poemas breves, com o objetivo de partilhar um olhar/olhares sobre
os seus versos. A análise irá girar à volta do universo do sujeito
poético, das suas imagens mais recorrentes e das palavras com
sentidos de forte açorianidade e simbolismo que tocam o mar
e o atravessam numa viagem em que as memórias se cruzam
com a amplitude do sonho e se rasgam sobre o mundo.
O pulsar íntimo da ilha/ilhas percorre este conjunto de poemas
em que o sujeito poético se diz nascido “- Numa ilha, por cima
do mundo” (Costa, 2011: 7), tal como também declara Manuel
Policarpo, recusando ser prisioneiro do espaço (da terra), dando voz à palavra e libertando-a, fazendo-a respirar, insuflando-lhe vida, fazendo arder o silêncio e, desfeita em água, transforma-a em chuva, escapando, assim, à clausura cinzenta da nuvem ameaçadora que reduz a amplitude e a liberdade: “Tenta
que o verso contenha apenas/ as palavras do teu aparo (…)./ E
que tenham voz sopro e batimento/ e se de terra acolham a
charrua/ e se de fogo incendeiem o silêncio/ e se de água não
sejam nuvem mas chuva” (Costa, 2011: 9). Emerge este segundo poema de O Fogo Oculto, indução que permite desde logo o
próprio título, “Arte Poética”, como uma revelação da arte
poética de Vasco Pereira da Costa.
“São as palavras essenciais, as mais úteis/ as que te digam
inteiro” (Costa, 2011: 9) “que, cumprindo o seu destino na rota
do poeta, rasgam o horizonte como um pássaro e, apesar da
barreira geográfica do mar, se alargam no universo, ainda que
se alimentem do fogo oculto da terra e regressem ao inteiro
silêncio do íntimo do ser (também fogo oculto?) onde se poderão aprender os traços do vazio” (Costa, 2011: 37).
“As palavras sabem a água, a fogo e a verde, tudo escorrido das
montanhas, e o poeta, mago na ilha sem limites, rasga as portas
do mar” (Costa, 2011: 67), que é “um terraço de prata” (Costa,
2011: 55), que se abre para o mundo permitindo a viagem/viagens. A ilha “por cima do mundo” (Costa, 2011: 7) é o berço
que embala o poeta nesta rota em que a palavra eleita e apurada
cumpre a sua função poética sem derrames semânticos de
aventurosos e inúteis malabarismos estéticos. As ilhas contêm
em si as emoções, as tonalidades, a luz, a diversidade, o cheiro
e o sabor da terra mater, o fogo das entranhas, a beleza deslumbrante da natureza intocada, o silêncio, a água, na sua pureza e
[25]
homem do mundo, que vagamundeou o planeta, revela na sua
obra um apelo fatal pela(s) sua(s) ilha(s) no Atlântico, concentração, no espaço, de tudo aquilo que inspira a sua alma de
pintor. Síntese, portanto, do que as suas pupilas registaram, no
disco duro da moleirinha, no seu périplo pela Europa, pelas áfricas, as américas e as ásias, de uma infância repleta de experiências que influenciaram a sua criação artística e do espaço de vivência das ilhas açorianas que determinam o seu código genético.
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[26]
no seu poder fecundo e transformador. As palavras estão lá, no
cenário genuíno da ilha, alojadas na sua íntima autenticidade,
provavelmente ainda agarradas “ao cascalho”, como diria Miguel
Torga (Diário XII); basta apurá-las para que cumpram a missão
de revelar o poeta da ilha na sua totalidade. Basta dar-lhes “voz
sopro e batimento” (Costa, 2011: 9), pedaços de vida carregados de emoções para que possam dizer o poeta inteiro e saibam
ser a casa como espaço de aconchego e segurança; barco que
permite a travessia, a viagem, o conhecimento; campo fértil que
oferece o alimento ou entidade que permite o sonho, a evasão.
Palavras com sabor a terra lavrada, palavras fogo que incendeiam o silêncio, palavras água nascidas no ventre da terra em
forma de chuva abençoada. Deste modo, sente-se o pulsar da
ilha/ilhas em cada palavra de Vasco Pereira da Costa e pressente-se o fogo incandescente e oculto do poeta que, embora
marcado pela forte açorianidade, não se deixa consumir por ele
e se alarga para além da ilha numa cosmovisão de viajante, sabendo que nas “veias do mundo correm violas e versos” (Costa,
2011: 23), que ainda “há mares não sabidos” (Costa, 2011: 11)
e que “Não pode a ilha ser o limite” (Costa, 2011: 67).
Ao longo dos poemas, há revisitação/revisitações das ilhas, enquanto espaços de memórias, e uma intensa concentração de
emoções e afetos nesses lugares referidos como se em cada
um deles estivesse para sempre gravado, em forma de lava, um
pedaço de humanidade (a do poeta, a de cada ilhéu e a de cada
um de nós).
Em o Retrato recorda:
Quando era jovem
O Arnaldo da Foto Lilaz tirou-me o retrato
que minha mãe suspendeu na sala.
Um terramoto impudente abalroou a casa
e o retrato ficou guardado entre pedaços
de memória amarela e dispersa.
Alguém que abra a gaveta
saberá como fui antes de conhecer
a provável morte.
(Costa, 2011:17)
Os lugares são reais, mas existem em cada poema numa combinação imagística que nos transporta ao universo interior do
poeta, resultante da proeza artística do fingimento poético que
revela a sinceridade intelectual das emoções carregadas de simbolismo e nos permite aproximar do seu fogo oculto numa
enorme generosidade literária.
Nesta obra de Vasco Pereira da Costa, perpassa o testemunho
vulcânico da ilha/ilhas, como exalta o poema Furnas do Enxofre:
“Uma harmonia sem cuidado/ aqui onde há tufos de seda
verde/ e nuvens saídas das entranhas da terra:/ é a sintaxe do
magma ordenando os verbos do planeta” (Costa, 2011: 43); “a
majestática beleza selvagem aparecendo como um paraíso
genuíno, as calhetas, as fajãs, como estonteantes cenários de
verdura e lagoas cristalinas, num namoro idílico com o oceano,
a perpetuar o paraíso e a revelar-se como terraço sobre o mar:
O sol vai abrir a cancela do mundo (…)/ Após a chuva desta
noite/ há um verde que tanto insulta/ que exulta de tão verde.”
(Costa, 2011: 53); o murmúrio da água, elemento líquido de
grande relevância temática e ambiental, que canta as suas cantigas de frescura, conferindo à ilha a exuberância, a cor, a luz e
a fertilidade e que, ao mesmo tempo, simboliza o traço de
separação e aproximação do mundo, de um novo mundo.
Em Fajã dos Cubres, o poeta, em breves, doces e belas pinceladas metafóricas, e soprando um leve toque de animismo, cria
uma harmonia que enfeitiça os próprios peixes:
Sobe o mar para sorver a cinza do céu.
Um soluço de onda. Um arfar de pedra.
Um sol de silêncio em pingos dispersos.
Mordem os peixes o anzol dos versos
(Costa, 2011: 61).
A dolorosa solidão das ilhas e a toada, sempre presente, de
uma saudade que chora na serenidade dos dias são outros
importantes leitmotiv que atravessam esta obra. Mas a ilha não
está enclausurada em si mesma nem o poeta aprisionado na
ilha. Em Lição de Montaigne afirma, de forma assertiva:
Que sei? A utilidade de mim
em mim repousa.
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VASCO PEREIRA
DA COSTA
– O MAR IMENSO
E ÍNTIMO DO POETA INCENDIADO
PELO FOGO OCULTO
DA ILHA RASGADA
SOBRE O MUNDO
A ilha que esboço (onde sempre renasço)
fica na redondez do mundo
infindo
onde me prefiguro e me recorto.
E se morrer que seja a morte
que me destino.
(Costa, 2011: 19).
Do mesmo modo, em Cantoria, o poeta revela-se livre como o
cantador e os pássaros:
As rimas do cantador estreitam o mar
e expandem a ilha até à tensão da agonia
enquanto os doze bordões de arame do tocador
rasgam espessos horizontes mudos.
(Costa, 2011: 23).
Também em Baía da Cré “rema o tempo a solidão/ numa penumbra de espuma” (Costa, 2011: 65). Mas o poeta é lúcido e
sabe que
De nada vale contar as ondas uma a uma./
Ninguém aqui é/
porque ninguém aqui pode predicar a vida
(Costa, 2011: 23).
E, então, para sair da penumbra, da agonia insular da solidão e
da melancolia, deseja “um T4/ em Nova Iorque/na Quinta Avenida”, no centro da confusão e do movimento, para, finalmente,
“poder predicar a vida” (Costa, 2011: 65). No entanto, o poeta
também experimenta o prazer da tranquilidade e da paz da ilha
quando se “fecham as portadas do silêncio” (Costa, 2011: 45).
Pode a ilha ser uma “clepsidra fantástica” em que tudo tem raiz
na água, deter toda a luz e toda a majestade dos picos altaneiros, albergar cagarros protegidos nas suas mansões naturais,
deslumbrar pela variedade exótica das cores, pelos contornos
mais belos do seu corpo geográfico resultante das explosões
vulcânicas, com albas que revelam após “a chuva desta noite”
(Costa, 2011: 53) um verde “que insulta de tão verde” (Costa,
2011: 53) e “que exulta de tão verde” (Costa, 2011: 53).
Pode a ilha ser o berço, a casa, o barco, o porto, a baía, a água
e a terra, abrasada pelo fogo oculto, rica do imaginário ligado às
aventuras marítimas, mas como tão claramente anuncia o poeta:
Não pode a ilha ser o limite:
há picos que violam as nuvens
há sóis que fecundam as chuvas
há ventos que nenhum deus domina.
E os sonhos que rasgam as portas do mar
são de uma gente altiva
que tira o fogo oculto da terra
para incendiar as entranhas da vida.
(Costa, 2011: 67).
Também os picos têm os seus cais que se rasgam para os oceanos pelo desejo e sonho do homem que quer partir e o poeta,
que só o é porque é dono da sua liberdade, diz já ter escrito
“todos os versos deste mar” (Costa, 2011: 47) em que “os
olhos dos peixes incendeiam as vagas” (Costa, 2011: 57).
Vamberto Freitas interroga-se sobre a possibilidade de O Fogo
Oculto poder encerrar um ciclo de escrita pelo tom da sua
linguagem, asseverando ter Vasco Pereira da Costa traçado já
um cânone literário pessoal que espelha as andanças que mais
o ‘definem’ (http://vambertofreitas.wordpress.com/2011/06/04/numoutro%E2%80%9Cregresso%E2%80%9D-a-casa/ e em
http://www.lusofonias.net/estudos%20e%20cadernos%20a%E7orianos/in
dex.htm).
Pensamos que esta opinião, com a qual concordamos, é sustentada pelos poemas Arte Poética (Costa, 2011: 9) e Fogo Oculto
(Costa, 2011: 67). Parece-nos, contudo, que a devolução de múltiplas imagens e memórias dispersas, de que fala Freitas, assenta,
essencialmente, em geografias que nos são pátrias. Atente-se nos
versos seguintes que nos parecem iluminadores da presença de
geografias que são pátrias ao sujeito poético:
[27]
Olho o tudo. E ninguém ouse
questionar o mais profundo
do que penso quero e faço.
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Conheci princípios claros. Ideologias limpas/
Hoje, com três quartos de caminho andado,/
aguardo a vinda dos amigos. Varri o alpendre./
Junquei de alecrim o chão da casa./
Aqueci o forno./
Cozi o pão.
(Costa, 2011: 15).
Finalmente, o poeta, que se pensa a si próprio e nunca se abandona, revela:
Então alcanço do Pico o pico.
O oceano se abre. Suspenso
Assim do mundo das águas fito
lá em baixo mas perto de mim que me penso
(emigrado para a terra que cria segura e longa
partindo dum cais ao rés das ondas)
De mesquinhas mágoas de ilhéu.
(Costa, 2011: 47).
Assim, a açorianidade, a insularidade, a hospitalidade, o vulcanismo, e outras particulares tão próprios da idiossincrasia do
arquipélago atlântico, de onde são originários Vasco Pereira da
Costa e Manuel Policarpo, permitem-nos associar o poeta e o
pintor que, num exercício de completude, dialogam, entre si
utilizando imagens e simbolismos que os correlacionam, expressando o poeta e o pintor inteiros na sua complexa construção de entidades criadoras.
Em ambos, sempre o consequente desejo de rasgar “as portas
do mar” (Costa, 2011: 67). Marcados pelas memórias, o poeta
e o pintor (o poeta/pintor) refletem sobre si próprio(s) e, tal
como os outros ilhéus, deixam-se incendiar pelo “fogo oculto
da terra” (Costa, 2011: 67), num intenso exercício simbólico
alimentado na própria Natureza, berço de maravilhosas energias imagísticas, e plenamente conscientes, na linha de Bernardo Soares, de que “Tudo que se passa no onde vivemos é em
nós que se passa.”
[28]
BIBLIOGRAFIA:
LIVROS DE VASCO PEREIRA DA COSTA
(1978) Nas Escadas do Império. Contos, Coimbra:
Centelha.
(1979) Amanhece a cidade. Romance, Coimbra: Centelha.
(1999) My Californian Friends. Poesia, 1ª ed. Palimage/
Gávea Brown, Viseu, 2000; 2ª ed. 2001; ed. bilingue,
San Jose, CA, USA, 2009.
(1980) FARIA, Duarte, Recensão crítica a Nas
Escadas do Império e Amanhece a Cidade. Revista
Colóquio/Letras, n.º 54, março, pp. 74-75.
(2011) O Fogo Oculto. Poesia, Vila Nova de Gaia:
Calendário de Letras.
(2011) FREITAS, Vamberto, Num Outro Regresso a
Casa. Disponível em http://vambertofreitas.word
press.com/2011/06/04/num-outro%E2%80%9
Cregresso%E2%80%9D-a-casa / e em http://www.
lusofonias.net/estudos%20e%20cadernos%20a%E
7orianos/index.htm, consulta em 20 de agosto.
(1980) Venho cá mandado do Senhor Espírito Santo.
Memória, Lisboa: Banco Espírito Santo e Comercial
de Lisboa.
OUTROS LIVROS
(1980) Ilhíada. Poemas, Coleção Gaivota, Angra do
Heroísmo: SREC.
(1982) PESSOA, Fernando, Livro do Desassossego por
Bernardo Soares. Org. e Pref. de Jacinto do Prado
Coelho. Lisboa: Ática, volume II.
(1984) Plantador de Palavras Vendedor de Lérias. Contos, Coimbra: Edição Câmara Municipal de Coimbra.
(1977) TORGA, Miguel, Diário XII. Coimbra: Edição
de Autor.
INTERNET: ARTIGOS E ENTREVISTAS
(1987) Memória Breve. Contos. Nova Série, nº 1,
Angra do Heroísmo: Instituto Açoriano de Cultura.
(2011) http://www.carminagaleria.com/artistas/
policarpo.php, consulta a 11 de junho.
(1992) Riscos de Marear. Poesia, Ponta Delgada:
Eurosigno.
(2010) CHRYSTELLO, Helena e GIRÃO, Rosário
(coordenadoras), Cadernos (e Suplementos) Estudos
Açorianos, caderno e suplemento 4 Vasco Pereira da
Costa, Associação Internacional dos Colóquios da
Lusofonia. Disponível em http://www.lusofonias.net/
estudos%20e%20cadernos%20a%E7orianos/
index.htm, consulta em 24 de agosto de 2011.
(1994) Sobre-Ripas Sobre-Rimas. Poesia, Coimbra:
Minerva.
(1997) Terras. Poesia, Porto: Campo das Letras –
Editores.
(2011) JCS, Vasco Pereira da Costa recebe título
Honoris Causa em Letras da Universidade de São
José, Lusa/Fim. Disponível em
http://noticias.sapo.mz/lusa/artigo/12445072.html,
consulta em 23 de agosto.
(2011) http://lusografias.wordpress.com/2010/07/11/
vasco-pereira-da-costa-contador-de-historias, consulta
em 11 de junho.
(2011)http://www.mycalifornianfriends.com/poet_tr
anslators.htm, consulta em 25 de agosto.
(2010) RTP, Ilhas Conhecidas – de Vasco Pereira da
Costa (entrevista). Disponível em
http://videos.sapo.pt/QlsskgZEtIZRSYuZ6zbS,
consulta em 16 de julho.
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A MINHA DESCOBERTA
LITERÁRIA
AÇORIANIDADE
Grandes vultos das letras e das artes nasceram nos Açores como
Gaspar Frutuoso, o conde de Ávila, Manuel de Arriaga, Antero
de Quental, Teófilo Braga, Roberto Ivens, Tomaz Borba, Francisco de Lacerda, Canto da Maya, Domingos Rebelo, Vitorino
Nemésio, António Dacosta, Carlos Wallenstein, Victor Câmara
e Carlos Carreiro. Dos autores contemporâneos de que falarei
aqui, selecionei aqueles por quem nutro mais apreciação.
Acolho como premissa o conceito de açorianidade de Martins
Garcia que, admite uma literatura açoriana «enquanto superestrutura emanada dum habitat, duma vivência e duma
mundividência»1. A açorianidade literária2 (termo cunhado por
Vitorino Nemésio, na revista Insula, em 1932) não está exclusivamente relacionada com peculiaridades regionais, nem
com temas comummente abordados na literatura, tais como a
solidão, o mar, a emigração. Martins Garcia não se mostra
empenhado em definir a literatura açoriana, mas a sua qualidade
estética. Na obra Para uma literatura açoriana (1987) afirma:
1http://lusofonia.com.sapo.pt/acores/acorianidade_pavao_1988.htm#_ft
n11#_ftn11
2 ASSIS BRASIL, Luiz António de. Escritos açorianos: a viagem de retorno tópicos acerca da narrativa açoriana pós-25 de abril. Lisboa: Salamandra,
2003, p.14.
[29]
J. Chrys Chrystello
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“...utilizar um conceito antropológico de cultura para provar a
diferença entre os Açores e o Continente é admitir que um traço
distintivo venha a justificar uma autonomia, quando, na realidade,
são as diferenças culturais que formam um acréscimo que dão
identidade, seja a uma literatura, seja a um povo”.3
1. O clima inculca um caráter de torpor e de morosidade;
Em Constantes da insularidade numa definição de literatura açoriana, J. Almeida Pavão (1988) diz “...sobre a existência de uma
Literatura Açoriana...assume-se tal Literatura com o estatuto de
uma autonomia, consentânea com uma essencialidade que a
diferencia da Literatura Continental. No polo positivo de um
extremo, enquadrar-se-ia a posição de Borges Garcia e no outro
extremo situar-se-ia o polo, naturalmente contestatário, formado
por Gaspar Simões e Cristóvão de Aguiar. Isto, sem falarmos de
outros tantos depoimentos, compendiados na obra A Questão da
Literatura Açoriana, de Onésimo Almeida (1983).”4
4. A adjacência das gentes à terra persiste ainda imune a aculturações, fora das pequenas metrópoles que comandam a vida
em cada ilha, opondo-se ao centralismo autofágico e macrocéfalo, que regem esses dois submundos como vasos não-comunicantes.
[30]
Depois de, no meu fervor iniciático, ter sido um adepto da
Literatura Açoriana, à medida que lia os mais consagrados e
badalados, ficava com uma sensação amarga. Há muitos, mas
de qualidade irregular, dir-se-ia duvidosa. Sorri da minha ingenuidade. Ao ler Dias de Melo, guardei as baleias, o livro
intimista À Boquinha da Noite (2001) e poucos mais. Lera mas
não gostara doutros com um neorrealismo primário que nada
tem a ver com os livros mais antigos sobre os baleeiros.
Onésimo (T. Almeida) ficaria como um bom croniqueiro e
eram notáveis as piadas que sempre o caraterizaram em qualquer fórum. De Daniel de Sá retive a novela O Pastor das
Casas Mortas e Ilha grande fechada (1992/2011). Entretanto, li
outros poetas e escritores espantosos de quem poucos falavam. Martins Garcia era um deles...
Como tradutor que sou, e não como crítico literário, no seio
desta geografia idílica, não busquei a essência do ser azórico em
miríades de variações nem cuidei de saber se o homem se
adaptou às ilhas ou se estas condicionaram a presença humana,
para evidenciar a sua especificidade ou açorianidade. Deduzi no
decurso da sua tradução caraterísticas relevantes para a açorianidade:
2. Os povos quedam hoje, física e culturalmente, quase tão
distantes de Portugal como há séculos atrás;
3. O recorte dos estratos sociais: é ainda vincadamente feudal
apesar do humanismo que a revolução de 1974 alegadamente introduziu nas relações sociais e familiares;
Daniel de Sá dedicou O Pastor das Casas Mortas “às mulheres e
aos homens que ainda acendem o lume nas últimas aldeias de
Portugal”. O herói busca um amor perdido no léxico e na sintaxe dos montes escalavrados da Beira Alta. Por entre o pastoreio, calcorreia paixões sofridas, numa apologia da solidão. O
retrato de Manuel Cordovão, lusitano de um amor só, é uma
ode ao açoriano apartado de si e do mundo por um amor
impossível inconcretizado. Em Santa Maria ilha-mãe Daniel de
Sá viaja ao passado mítico, refulgente de nostalgia lírica por uma
infância despretensiosa. Visita o isolamento de séculos, permeado por ataques de piratas, a inculcar mais vincadamente as
crenças religiosas. O título gerou controvérsia mas o autor
notaria: “Não se trata de "mãe" adjetivo, mas sim de dois substantivos. É uma ilha que é mãe também...”. Como magistralmente
disse a escritora canadiana Ann-Marie Macdonald, “A tradução
é uma arte e uma maestria, com um toque de alquimia. Quando o
autor e o tradutor se reúnem, o resultado pode ser inspirador. As
nuances traduzem a língua numa forma de arte”.
3 RIBEIRO, Lúcia Helena M., A questão da identidade da terra: a ideia de
permanência na obra Contrabando Original, de José Martins Garcia.
Dissertação (Mestrado em Letras) - Pontifícia Universidade Católica
Rio Grande do Sul, 1996.
4 O Centenário (1963) (poesia); Esperança-21 (1969) (peça de teatro);
Cérebros do Grande Público (1970) (ensaio); Da Vida Quotidiana na
Lusalândia (1975) (estudo); “José Rodrigues Miguéis/Portugal” in
Manhattan (1983) (ensaio); A Questão da Literatura Açoriana (1983)
(ensaio); (Sapa)teia Americana (1983) (contos); Mensagem - Uma
Tentativa de Reinterpretação (1987) (ensaio); Açores, Açorianos e
Açorianidade (1989) (ensaio).
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A MINHA DESCOBERTA
LITERÁRIA
AÇORIANIDADE
Nas ilhas existem interesses esconsos e panelinhas em que
pontificam menos-valias com fama fácil e nomes menores da
literatura local. Com a paixão de descobrirmos estes autores,
olvidamos o conhecimento dos restantes. Deixamo-nos embalar pela açorianidade, a diegese das ilhas, seus costumes ancestrais, o canto das suas sereias... Lemos outros açorianos espantosos de que ninguém fala como Garcia5. Sobre ele escreveu
David Mourão-Ferreira “Se não vivêssemos, vicentinamente,
num País em que a “barca do purgatório” anda sempre mais
carregada que as outras duas, o [seu] nome deveria ser hoje
saudado como o do escritor mais completo e mais complexo que
no último decénio entre nós se revelou; (...) com igual mestria
tanto abrange os registos da mistificação narrativa como os da
exegese crítica, tanto os da desmistificação satírica como os da
transfiguração telúrica, e que sem dúvida não encontra paralelo,
pela convergência e concentração de todos estes vetores, na produção de qualquer outro seu coetâneo”6. E Maria Lúcia Lepecki
acrescentou “É a arte de narrar “em puro” que Martins Garcia
cultiva: de modo que opta por não fazer quaisquer tipos de experimentações. Vai sempre reexperimentando, e confirmando, o contar
histórias”.
Armando Côrtes-Rodrigues é outro nome a fixar juntamente com Emanuel de Sousa poeta e autor de Eurídice7
com prefácio de Natália Correia; e autor de Ariadne8. Saiu
recentemente (2009) uma rica edição de uma antologia de
contos de Martins Garcia, intitulada Biblioteca Açoriana e
dirigida por Urbano Bettencourt e Carlos Alberto Machado9.
Já foram publicados, nesta coleção, em 2009: Almas Cativas e
Poemas Dispersos, de Roberto de Mesquita10; A Moldura, de
Conceição Maciel; Português, Contrabandista, de Garcia, antologia de contos, a maior parte inexistente no mercado, com
um posfácio de Urbano Bettencourt.
Há mais nomes a não esquecer: Vasco Pereira da Costa,
poeta, romancista, nascido em Angra em 1948. Além disso é
pintor com o pseudónimo de Manuel Policarpo. A sua Exposição As Ilhas Conhecidas - Cartografia e Iconografia contém quadros relativos ao culto do Espírito Santo que são uma forte
crítica não só ao culto da terceira pessoa como à sociedade...
5 Outras obras de referência do autor: (1975), Lugar de massacre.
Lisboa, Afrodite. (1978), Vitorino Nemésio, A obra e o homem. Lisboa,
Arcádia. (1978), A Fome. Lisboa, Afrodite. (1982), Imitação da morte.
Lisboa, Moraes. (1984), Invocação a um poeta e outros poemas. Angra
do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1985),
Fernando Pessoa: “Coração despedaçado”. Ponta Delgada, Universidade
dos Açores. (1986), Temporal. Providence, Gávea Brown. (1987),
Contrabando original. Lisboa, Vega. (1988), Vitorino Nemésio – À Luz do
Verbo. Lisboa, Vega. (1990), Memória da terra. Lisboa, Vega. (1996), No
crescer dos dias. Lisboa, Salamandra. (1999), (Quase) Teóricos e
malditos. Lisboa, Salamandra. Ensaio (1987), Para uma literatura
açoriana. Ponta Delgada, Universidade dos Açores. (1987), David
Mourão-Ferreira/ /Narrador. Lisboa, Vega. (1995), Exercício da crítica.
Lisboa, Salamandra. Conto: (1978), Receitas para fritar a humanidade.
Lisboa, Edições Montanha. (1979), Morrer devagar. Lisboa, Arcádia.
(1987), Contos infernais. Ponta Delgada, Brumarte. (1992), Katafaraum
ressurrecto. S.I., M. Garcia. Teatro: (1987), Domiciano, Angra do
Heroísmo, Direção Regional de Assuntos Culturais (Prémio Armando
Côrtes-Rodrigues, da SREC).
6 Jornal Signo, 30/9/1987.
7 Edição Quetzal.
8 Idem.
9 Diretor do Centro de Estudos do Mar nas Lajes do Pico.
10 Prólogo e organização de Carlos Bessa.
[31]
Dias de Melo escrevia sobre os baleeiros, como se da sua
“Cabana do Pai Tomás”, no Alto da Rocha do Canto da Baía, na
Calheta de Nesquim na ilha do Pico, vigiasse os botes e as lanchas da Calheta baleando contra os Vilas e os Ribeiras. A escrita
embrenha-se como o nevoeiro em que os trancadores se
debatiam na luta inglória para ganhar a vida. Resumo o autor a
uma frase: Injustiça Social. É da sua denúncia que trata ao abordar a emigração, as realidades sociais e económicas, a repressão do Estado Novo e os dramas humanos, na linguagem simples dos homens do mar. Fica-se com a sensação de uma sociedade arbitrária e perversa. Coube-lhe a sorte de ter recebido
homenagens públicas nos últimos meses de vida, reeditaram
alguns dos seus livros. Como espetador atento da luta quotidiana e da condição humana, nunca se coibiu de a viver e
contar. Cumpre evitar que essa memória se esvaneça e porfiar
para que seja lido pelas novas gerações, pois, como ele
escreveu: “A esperança num mundo melhor já não será para mim,
nem para nenhum de nós e eu revolto-me com o que vejo à volta
de mim”.
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Há ainda Eduardo Jorge Brum (fundador e diretor do Semanário “Expresso das Nove”) poeta, contista e romancista, nascido em Rabo de Peixe. Escritor maldito, na linha de Luiz Pacheco. As suas principais obras foram todas publicadas na
Europa-América, com exceção de uma, que saiu na Vega11, e
por último, Marcolino Candeias, nascido em Angra em 1952.
Poeta estreado aos 16 anos com um livro Por Ter Escrito Amor
que terá repudiado, pois não consta na sua bibliografia. A 2.ª
edição intitula-se: Na Distância deste Tempo12.
Como se pode ver há muito para além das hortênsias e dos
romeiros, tema desesperado de tanto aspirante a escritor numa eterna antologia de autores açorianos, mas nem todos eles
serão obreiros de verdadeira literatura.
[32]
Deixei premeditadamente para o fim Cristóvão de Aguiar13,
um escritor incómodo. Não só se libertou das grilhetas do cativeiro confinado da ilha como demonstrou com a sua prolífica
publicação aquilo que mais se entreteve a negar: a existência de
uma literatura açoriana. Exigente consigo e com os outros, com
fama de intransigente, não se inibe com polémicas e controvérsias. Domina a língua como só os grandes escritores almejam, enquanto se deixa consumir na incandescente falta de confiança genética de ilhéu. Eterno insatisfeito burila as filigranas
letras com que nos enleia no basalto da sua ilha adotiva, o Pico.
Como visitou e viveu para lá da fronteira invisível do grande
Mar Oceano olha retrospetivamente para o Pico da Pedra, em
São Miguel, onde nasceu, e vislumbra a pequenez das gentes
encarceradas nas ilhas, contentadas com qualquer emigração
económica e a canga feudal que persiste. Pedaços de gente
dura e impiedosa cumprindo rituais. Intolerante, devota e invejosa na sua ânsia de emigrar. Depois, o regresso de aparência
gloriosa, mas sem acarrearem na desafogada bagagem algo de
valor. Apenas dinheiro e bens materiais.
Sobre a sua marilha natal, diz Cristóvão:
São Miguel já não é a mesma Ilha onde fui nado e criado e
vivi até à arrogância dos vinte anos. Pude verificá-lo, há
pouco, durante o 4.º Encontro Açoriano da Lusofonia, em
que, para regozijo meu, não encontrei os costumeiros intelectuais de pacotilha, que sabem tudo quanto no Universo
se passa, com retrato de pose na galeria dos imortais há
muito mumificados… Nem é sequer a mesma Ilha que foi,
11 Oriana ou o nome das coisas.
12 2.ª ed. Salamandra.
13Poesia: Mãos Vazias; ed. do Autor, com a Chancela da Livraria Almedina,
Coimbra, 1965, O Pão da Palavra; Cancioneiro Vértice, Coimbra, 1977,
Sonetos de Amor Ilhéu; ed. do Autor, Coimbra, 1992.
Prosa: Breve Memória Histórica da Faculdade de Ciências (II Centenário da
Reforma Pombalina), Coimbra, 1972; Alguns dados sobre a Emigração
Açoriana; Separata da Revista Vértice, Coimbra, 1976; Raiz Comovida (A
Semente e a Seiva; 1.ª ed., Coimbra, 1978 (Prémio Ricardo Malheiros
Academia de Ciências Lisboa); Raiz Comovida II (Vindima de Fogo); 1.ª ed.,
Coimbra, 1979; Raiz Comovida III (O Fruto e o Sonho); 1.ª ed., Angra do
Heroísmo, SREC, 1981; Raiz Comovida (Trilogia Romanesca); Revista e
remodelada num Volume, Editorial Caminho, Lisboa, 1987, Edições D.
Quixote, Lisboa, 2003; Ciclone de Setembro; (Romance ou o que lhe
queiram chamar), Editorial Caminho, Lisboa, 1985, Incluído agora no
romance Marilha, Publicações D. Quixote, 2005; Com Paulo Quintela à
mesa da tertúlia; Nótulas Biográficas, Publicações da Universidade de
Coimbra, 1986, 2.ª ed. revista e aumentada, Imprensa da Universidade,
2005; Passageiro em Trânsito; Novela em Espiral ou o Romance de um ponto
a que se vai sempre acrescentando mais um conto, Editora Signo, Ponta
Delgada, 1988; 2.ª ed. refundida, Salamandra, Lisboa, 1994; Emigração e
outros temas ilhéus; Miscelânea, Editora Signo, Ponta Delgada, 1992; A
Descoberta da Cidade e outras Histórias; Contos, Editora Signo, Ponta
Delgada, 1992; Um Grito em Chamas; Polifonia Romanesca, Edições
Salamandra, Lisboa, 1995, integrado no Romance Marilha; Relação de
Bordo (1964-1988); Diário ou nem tanto ou talvez muito mais (Grande
Prémio da Literatura Biográfica da Ape / CMP), Campo das Letras, 1999;
Relação de Bordo II (1989-92); Diário ou nem tanto ou talvez muito mais,
Campo das Letras, 2000; Relação de Bordo III, Diário ou nem tanto ou
talvez muito mais, P. D. Quixote, 2004; Trasfega, Casos e Contos, Prémio
Miguel Torga / Cidade de Coimbra, 2002; Marilha, Sequência Narrativa,
D. Quixote, 2004; A Tabuada do Tempo, Prémio Miguel Torga, Almedina,
2006; Miguel Torga – O Lavrador das Letras – Um Percurso Partilhado,
Almedina 2007; Braço Tatuado – Retalhos da Guerra Colonial, D. Quixote,
2008.
Tradução: A Riqueza das Nações, Adam Smith, Fundação Calouste
Gulbenkian, 1982.
Colaboração: Vietname; Antologia Poética, Nova Realidade, 1970;
Antologia de Poesia Açoriana, Org. por Pedro da Silveira, Livraria Sá da
Costa, Lisboa, 1977; Para o Mundo de todos os Homens; Pequena Antologia
de Poesia de Autores Portugueses Contra o Racismo e Colonialismo, Conselho Português para a Paz e Cooperação, 1977; Antologia Panorâmica do
Conto Açoriano, organizada por João de Melo, Vega, Lisboa, 1978; O
Eclipse; Extrato de Romance, Revista Vértice, 448, Maio-Junho de 1982
(Número dedicado à Cultura Açoriana, organizado pelo autor); The Sea
Within; A Selection of Azorean Poems, Gávea-Brown, Providence, 1983.
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A MINHA DESCOBERTA
LITERÁRIA
AÇORIANIDADE
Cristóvão é um permanente Passageiro em trânsito, título do
seu mais benquisto livro na rota do inconformismo. É a voz
ininterrupta de uma consciência coletiva que não se asfixia.
Granjeou o direito a chamar os bois pelo nome sem se deter
nas finuras das convenções do parece bem. É crítico impiedoso
do destino que alguns queriam eterno, da subserviência e submissão aos senhores das ilhas, descendentes diretos dos feudais opressores da gleba. Narrativas dissecantes que se assemelham a uma técnica de travelling em filmagem. Grandes planos, zooms, e paragens esmiuçadas nos rostos e mentes dos
atores principais dos seus diários, intitulados Relação de Bordo
(trilogia) e A Tabuada do Tempo. A câmara detém-se e escalpeliza a alma daqueles que filma com palavras aceradas. Dói e
magoa como o vento mata-vacas que sopra do Nordeste. Psicanalisando as gentes e a terra que o viram nascer adotou uma
nova ilha mátria, em 1996:
A Ilha do Pico faz-me as vezes de mulher amada. Desvenda-se aos poucos, em erótico vagar, para se lhe descobrir os
recantos e sortilégios mais íntimos. E nunca se chega, nem
se precisa, ao cerne do feitiço... Meio encoberta, meio desnudada, sempre ataviada de cheiros exóticos e eróticos, faz
com que se abram as narinas de cio. Colhem os olhos as
tonalidades indefiníveis de seus roxos e azuis, o cinza
entorresmado de seus mistérios, seus verdes percorrendo
toda a escala cromática, vertidos na paleta primigénia de
que se serviu o Criador para matizar a tela da Natureza.
Sempre que caem sobre o mar do canal, cavado e furioso
ou espelho de Narciso, a Ilha de São Jorge, nua e arroxeada,
a garantir mais mundo, os olhos coalham-se de espanto em
face do mistério de assistirem ao primeiro dia da
Criação...Não cabe no olhar a Montanha bíblica. Extravasa
a humana retina. Bíblica. Acredito ter sido em seu cimo,
que roça o Céu, que Moisés recebeu as Dez Tábuas da Lei.
E de um penedo fez jorrar a água que saciou a sede do seu
Povo.
Cristóvão de Aguiar não é um autor fácil nem facilita o léxico
para leitores de pacotilha. Amaldiçoado mas nunca maldito,
outros o forjaram malquisto. Acossado por tudo e por todos.
Exige tanto dos seus leitores como de si. As suas palavras pungentes estão gravadas visceralmente num granito alheio às ilhas
que se encontra na trilogia Relação de Bordo. No último volume, deparámos com uma interminável história de amor sem
que os leitores enxerguem esses arroubos. Ele é o magma de
que são feitas as gentes de bem. Terei encontrado o escritor
neste amigo novo? Este autor que ora descobri como se o
conhecesse há muito, como se tivesse sido irmão caçulo ou
compagnon de route 66 à la Jack Kérouac, iluminando o túnel das
ideias14. Navego imerso na sua escrita tateando como um
recém-nascido fora do ventre materno. Aprendo com este
mestre contemporâneo da literatura de matriz açoriana. Muito
apoucado me aquilato em tão ínclita companhia.
14 Pressagio cordões umbilicais curiosos. Criamos os sulcos que
trilhamos percorrendo as savanas e estepes do sofrimento pessoal,
das amarguras e romances que nos embargavam a escrita e nos
dispersavam. Plantámos árvores, publicámos poesia e tivemos filhos
em buscas incessantes pelo Santo Graal. Cumprimos missões
inomináveis no exército colonial português. Em Mafra, Tomar e Leiria.
Cristóvão entrou para o Teatro Universitário em Coimbra e eu para o
Teatro Universitário do Porto quando me insinuava como jovem
independente pensante, batalhando com Zeca Afonso, mestre José
Rodrigues e um dos melhores declamadores de sempre, o Mário Viegas.
Em Coimbra, o ilhéu Cristóvão lidou com Paulo Quintela, Miguel
Torga, Luís Albuquerque, Joaquim Namorado e outros monstros
sagrados do nosso imaginário.
[33]
até há poucos anos, muito nublada, já não digo por um
nevoeiro absoluto, mas por alguns resquícios aparentados
a certas pesporrências de má memória. Temos, porém, de
convir que, durante séculos, certas forças religiosas,
conluiadas com todos os poderes, foram o sustentáculo da
ignorância abençoada pela trilogia Deus, Pátria e Rei de
outros tempos, e Deus, Pátria e Família, do tempo de
muitos de nós. Direi como Mestre Gil Vicente: E assim se
fazem as cousas. Levou tempo, mas o inevitável aconteceu.
Acaba sempre. O medo e outras rançosas virtudes impostos ao espírito e nele lavrado em sulcos mais ou menos profundos (nem toda a terra consente a ignomínia), com relhas enferrujadas e passadistas, têm destes percalços – no
ápice de um instante imprevisto esse terreno enfastiado de
tanta aridez fementida e coerciva, súbito se devolve à sua
límpida condição de húmus que favorece a estrutura do
solo e do subsolo e do infra-subsolo: o consciente, o subconsciente e o inconsciente.
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Nestas navegações literárias, uma pessoa não lê apenas Cristóvão de Aguiar, empreende uma viagem tridimensional repleta
de sentidos. Confluem na escrita como lava “pahoe-hoe” (pron.
pah hoi-hoi) de aparência viscosa mas fluida, prateada e entrançada como cordas de baleeiro. A escrita lávica de Cristóvão fica
a boiar no nosso espairecido imaginário. Foi ela que nos instigou
a rabiscar esta lamentação com o frémito ciumento dos que não
conseguem escrever da forma única e inimitável como só ele
sabe e sente sobre os Açores. Essa a forma de amar e de ressarcir a terra que o viu nascer... As ilhas irão, um dia, desatar as
grilhetas que as enjaulam no passado e Cristóvão ficará então
desobrigado da tarefa hercúlea de acarrear a sua ilha como um
fardo ou amor enjeitado, que nisto de ilharias há muitas paixões
não correspondidas. Termino com o poema “Boeing” de Vasco
Pereira da Costa e suas traduções.
Nota: Depois disto, os Colóquios da Lusofonia disponibilizaram gratuitamente em linha os Cadernos de Estudos (e Literatura) Açorianos
(http://www.lusofonias.eu/estudos-acorianos/estudos-acorianos.html),
editados trimestralmente; criaram um Curso de Açorianidade(s) e
Insularidade(s) na Universidade do Minho; apoiaram a edição da Antologia
Bilingue de (15) Autores Açorianos Contemporâneos; coordenaram a
tradução de excertos de obras açorianas em francês, inglês, búlgaro, russo,
italiano, romeno, polaco e esloveno, um poema de Vasco Pereira da Costa
foi traduzido em 14 línguas (como adiante se documenta) e a obra O
Passageiro em Trânsito de Cristóvão de Aguiar foi totalmente traduzida para
italiano; mantiveram as homenagens contra o esquecimento convidando
vários autores a estarem presentes divulgando as suas obras no Brasil
(2010), em Macau (2011) e na Galiza (2012). Tanto que ainda falta fazer
para dar a conhecer a matriz açoriana da literatura…
[34]
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A MINHA DESCOBERTA
LITERÁRIA
AÇORIANIDADE
Em louvor do Boeing 737
À la louange du Boeing 737
Em voo encaro
as ilhas corredias num tropel
de nuvens tecidas de gaze
En vol je fixe mon regard
sur les îles qui défilent dans un flot
de nuages tissés de gaze
Daqui quase
a todas podia tocar
no húmido quente da sua pele
(mulheres de um amor bravo de mar)
com uma paixão à Garrett
D’ici je les toucherais presque toutes
leur peau chaude et humide
(femmes d’un amour ardent de mer)
passionné comme Garrett
E assim veloz as invado
alado
no Boeing 737
Et ainsi rapide je les envahis
Ailé
Dans le Boeing 737
(Vasco Pereira da Costa)
(Vasco Pereira da Costa)
Manuel José Silva - francês
LOBREDE AUF DIE Boeing 737
ХВАЛÁ НА БОИНГ 737
Im Fluge betracht ich
die Inseln, in einem Durcheinander gleitend
von aus Gaze gewobenen Wolken
В полет срещам
купчината гладки острови,
от облаци, тъкани в газ
Von hier aus, beinah,
könnt ich sie alle berühren
in der warmen Feuchte ihrer Haut
(Frauen von einer Liebe, wild wie das Meer)
mit einer Leidenschaft wie bei Garrett
Оттук почти
всички аз мога да докосна
да сетя кожата им, влажна, топла
(жени насред беснеещо в любов море)
със страст, подобна на Гарет
Und so schnell dringe ich in sie ein
beflügelt
in der Boeing 737
И тъй стремглаво в тях прониквам
с криле
на Боинг 737
(Vasco Pereira da Costa)
Rolf Kemmler - alemão
(Вашку Перейра да Коща)
Ilyana Chalakova - búlgaro
[35]
UM POEMA DE VASCO PEREIRA DA COSTA
EM 14 LÍNGUAS
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[36]
LOF VAN DE Boeing 737
TER ERE VAN DE BOEING 737
In vlucht zie ik de eilanden
aanglijden door wolkenhopen
van ragfijn gaas
Tijdens de vlucht kijk ik recht
op de glijdende eilanden in een kleed van
wolken uit gaas geweven
Van hier kan ik van allemaal
bijna de warme vochtigheid
aanraken van hun huid
(vrouwen van een onstuimige zeeliefde)
met een passie als die van Garrett
Van hieruit kan ik
ze bijna alle aanraken
in de vochtige warmte van hun huid
(vrouwen met een onstuimige liefde voor de zee)
met een hartstocht à la Garrett
En zo neem ik ze in bezit
op snelle vleugels
in een Boeing 737
En zo dring ik ze binnen gezwind
en gevleugeld
in de Boeing 737
(Vasco Pereira da Costa)
Arie Pos - neerlandês
(Vasco Pereira da Costa)
Francesca Blockheel - flamengo
Я вижу в полёте
Lauding Boeing 737
острова, скользящие в беспорядке
среди сплетённых из марли облаков
Отсюда, казалось, я мог бы коснуться
During flight I face
the running islands in a shuffle
of clouds weaved in gauze
их всех,
их влажной обжигающей кожи
(супруги бурной любви морской)
со страстью Гарретта
I could almost touch
them all from here
on the humid warmth of their skin
(women full of brave sea love)
passionate as Garrett
Вот так я в них быстро вторгаюсь
на крылатом
Boeing 737
(Васко Перейра да Коста)
Larysa Shotropa - russo
And, thus, quick as lightning I invade them
winged
on a Boeing 737
(Vasco Pereira da Costa)
Chrys Chrystello - inglês
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A MINHA DESCOBERTA
LITERÁRIA
致波音737
737
我在飞
看到如幻的岛屿
洁白的云朵如丝锦
‫قدحأ ناريطلا لالخ‬
‫رمت يتلا رزجلا فيط يف‬
‫فافش بوثك ةجوسنم بحس يف‬
从这里
伸手可触及
那如热恋中的少妇
肌肤般的湿润
加莱特式的爱情
‫ابيرقت انه نم‬
‫اهلك اهسمل يننكمي‬
‫اهدلج ةبوطر ةرارح‬
‫رحب بح نونج ءاسن‬
‫تيراغ قشعك‬
飞翔
乘着翅膀
在波音737上
‫ريطأ ةعرسب اذكه و‬
‫ةحنجأب‬
‫ غنيوب يف‬737
(Vasco Pereira da Costa)
Sun Lam - chinês
‫ةطشوكد ةريغب كشاف‬
Habiba Chafai - árabe
Laudă pentru Boeing 737
Pochwała samolotu Boeing 737
În zbor văd
Insulele diapozitivate într o îmbulzeală
De nori ţesuţi în tifon
W locie spotykam
Wyspy znikające w galopie
jak chmury utkane z muślinu
De aici aproape
s-ar putea atinge
umezeala feirbinte a pielii
(femei cu o dragoste nebună de mare)
cu o pasiune demnă de Garrett
Stąd prawie
Każdą mógłbym dotknąć
Po gorącej wilgotnej ich skórze
(kobiet nieprzytomnie zakochanych w morzu)
milością romantyczną jak u Garretta/Mickiewicza
Şi astfel fulgerător le invadez
înaripat
în Boeing 737
W pędzie zdobywam kobiety
Uskrzydlony
jak Boeing 737
(Vasco Pereira de Costa)
Simona Vermeire - romeno
(Vasco Pereira da Costa)
Anna Kalewska - polaco
[37]
AÇORIANIDADE
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En lloança del Boeing 737
En alabanza del Boeing 737
En vol m'encaro
amb les illes furtives en un tropell
de núvols teixits de gasa
En vuelo me encaro
con las islas furtivas en un tropel
de nubes tejidas de gasa
Des de aqui gairebé
totes podria tocar
en l'humit calent de la seva pell
(dones d'un amor brau de mar)
amb una passió a l´estil de Garrett
Desde aqui casi
todas podría tocar
en lo húmedo caliente de su piel
(mujeres de un amor bravo de mar)
con una pasión a lo Garrett
I així veloç les envaeixo
alat
en el Boeing 737
Y así veloz las invado
alado
en el Boeing 737
(Vasco Pereira da Costa)
Jesus Requena - catalão
(Vasco Pereira da Costa)
Jesus Requena - castelhano
[38]
IN LODE DEL Boeing 737
In volo avvisto
le isole fluenti in una confusione
di nubi tessute di garza
Da qui quasi
le potrei palpare tutte
nell’umido caldo della loro pelle
(donne di un amore coraggioso di mare)
con una passione alla Garrett
E così veloce le invado
Alato
nel Boeing 737
(Vasco Pereira da Costa)
Emmanuele Ducrochi - italiano
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CIÊNCIAS HUMANAS
Fotografia de MÁRIO SILVA
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Filipe Pinheiro de Campos
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
A ilha de São Miguel, a maior do Arquipélago, encontra-se dividida em oito Arciprestados compostos por diferentes paróquias:
• Arciprestado das Capelas: Ajuda da Bretanha, Fenais da Luz,
Matriz das Capelas, Pilar da Bretanha, Remédios, São Vicente
Ferreira, Santa Bárbara (Ponta Delgada) e Santo António
(Ponta Delgada);
• Arciprestado dos Fenais da Ajuda: Achada, Achadinha, Fenais
da Ajuda, Lomba da Maia, Maia, Porto Formoso, Salga, Santana e São Brás;
• Arciprestado da Lagoa: Água de Pau, Atalhada, Cabouco,
Livramento, Ribeira Chã, Rosário e Santa Cruz da Lagoa;
• Arciprestado do Nordeste: Algarvia, Matriz do Nordeste, Nossa Senhora da Conceição da Fazenda, Pedreira, Santo António do Nordestinho e São Pedro do Nordestinho;
• Arciprestado de Ponta Delgada: Arrifes (Milagres), Arrifes
(Saúde), Covoada, Fajã de Baixo, Fajã de Cima, Feteiras do
Sul, Ginetes, Matriz de Ponta Delgada, Mosteiros, Nossa
Senhora das Candeias (Candelária), Relva, Santa Clara, São
José, São Pedro (Ponta Delgada), São Roque e Sete Cidades;
• Arciprestado da Povoação: Água Retorta, Faial da Terra, Matriz,
Remédios (Lomba do Loução) e Ribeira Quente;
• Arciprestado da Ribeira Grande: Calhetas, Conceição (Ribeira
Grande), Matriz da Ribeira Grande, Pico da Pedra, Rabo de
Peixe, Ribeira Seca, Ribeirinha e Santa Bárbara;
• Arciprestado de Vila Franca do Campo: Água de Alto, Matriz de
Vila Franca do Campo, Ponta Garça, Ribeira das Taínhas e
São Pedro (Vila Franca do Campo).
Os documentos correspondentes à ilha de São Miguel, seja de
indivíduos naturais da mesma sejam aí residentes correspondem a uma totalidade de 276 maços a que correspondem 7379
documentos1 abarcando um período temporal de 1648 a 1927.
Fruto do elevado número de paróquias, naturalmente que o
número de documentos é também elevado. Estes, sejam de indivíduos naturais da mesma ou aí residentes correspondem a
uma totalidade de 276 maços a que correspondem 7379 documentos abarcando um período temporal de 1648 a 1927.
1 O número poderá não corresponder à realidade uma vez que existem
peças soltas pertencentes a um mesmo documento e dispersas por
diferentes maços assim como documentos que, não estando agrupados
pelo seu processo original, são contabilizados como unitários.
[41]
Após a publicação do Cartório da Mitra relativo às ilhas de Santa
Maria e das Flores, inicia-se neste número a inventariação dos
documentos que compõe o mesmo fundo, relativamente à ilha
de São Miguel. Pelo elevado número de espécimenes documentais, o trabalho decorrente da inventariação relativa a São
Miguel será feito em diferentes partes.
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[42]
Entre as diferentes possibilidades de apresentar a tipologia da
documentação existente, optamos como nos artigos antecedentes pela sua divisão em categorias para mais fácil indexação
se bem que mantendo a numeração atribuída no inventário
manuscrito disponível na BPARAH.
• Dispensas Matrimoniais (1731-1927) que incluem alvarás
matrimoniais, licenças para casamentos e autos de fé de pobreza, destinados à obtenção de dispensa por razões de consanguinidade, afinidade ou por qualquer outro impedimento
canónico;
• Habilitações de Genere e Ordenações Sacerdotais
(1656-1897) compreendem todos os processos de diligências para Inquirição de genere relativos a indivíduos que se
pretendem habilitar nas ordens sacras, processos de vita et
moribus (de vida e costumes), de ordenação e tomada de
ordens assim como colações e nomeações em diferentes
benefícios eclesiásticos;
• Documentação Diversa (1648-1927) onde se incluem requerimentos, inventários, licenças para oratório, relações e
autos de pagamento de direitos de mercê e imposto de selo,
breves diversos, autos de redução de legados e reunião de
vínculos, atestados, requerimentos e certidões várias, correspondência, relações de empregados, religiosos e sacerdotes,
documentação relativa a freiras e conventos, demandas e devassas e avulsos.
• Patrimónios Eclesiásticos (1658-1894) onde se incluem
todos os processos destinados à constituição e dotação de
património temporal para os ordinandos;
A indexação que se apresenta no presente artigo contempla a
categoria relativa a Habilitações de Genere, Processos de Vita
et Moribus e Autos de Colação.
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
[43]
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Diligências para Inquirição de genere de Leandro de Sousa (10 de Junho de 1699)
Doc. 15 Maço 399.
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[44]
Processo de vita et moribus de Francisco de Bettencourt (18 de Junho de 1729)
Doc. 5 Maço 404.
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
ARQUIVO REGIONAL DE ANGRA DO HEROÍSMO
CARTÓRIO DA MITRA E CABIDO DE ANGRA
ILHA DE SÃO MIGUEL
HABILITAÇÕES DE GENERE E PROCESSOS DE VITA ET MORIBUS
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Adriano José de Paiva
Inquirição de genere
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Jerónimo
Caetano de Paiva e Adriana Rosa Jacinta, ambos da Ribeira Grande, n.p. de Jerónimo
de Paiva, da Matriz e de Úrsula da Conceição, de Nossa Senhora da Conceição
e n.m. de António Carreiro de Lemos, de Nossa Senhora da Luz dos Fenais e
Bárbara do Sacramento, de Nossa Senhora da Conceição da Ribeira Grande.
16.10.1788
7
413
Alexandre de Sousa
Vertente
Diligências de Compatriotado
Natural da Madeira e morador em Ponta Delgada.
18.08.1764
8
564
Ambrósio do Rego
Inquirição de genere
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Sebastião do Rego e Vitória
Rodrigues, n.p. de Francisco Martins e Francisca do Rego e n.m. de Pedro da Ponte e
Isabel da Silva.
14.03.1686
9
399
André de Bettencourt
e Sá
Inquirição de genere
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de João Borges da Câmara e de D. Bárbara
de Bettencourt. Era primo do Padre João José do Canto, filho de D. Antónia Faustina
Leite e Medeiros, irmão do pai do habilitando e também primo do Padre Manuel de
Bettencourt e Sá, filho de João de Bettencourt e Sá, irmão da mãe do habilitando.
16.04.1738
4
406
André de Sousa
Henriques
Inquirição de genere
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de José de Sousa Henriques e Catarina
Pacheco, de São Pedro, n.p. de Manuel Travassos, de São Pedro e Maria de Sousa,
da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário) e n.m. de Manuel Pereira, de São Pedro e
Bernarda Pacheco, da Fajã. Irmão do Padre Nicolau de Sousa Pereira.
26.05.1758
5
410
André de Sousa
Henriques
Inquirição de genere
Natural de Ponta Delgada (São José), irmão do Padre Nicolau de Sousa Pereira,
Cura na Ermida de Nossa Senhora da Oliveira da Fajã, filhos de José de Sousa Henriques
e Catarina Pacheco, naturais da mesma, n.p. de Manuel Travassos, de São Pedro e
Maria de Sousa, da Lagoa e n.m. de Manuel Pereira, de São Pedro e Bernarda Pacheco,
da Fajã (Nossa Senhora dos Anjos).
26.05.1758
5
410
16.12.1751
3
409
André Francisco da Rosa Inquirição de genere
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião) e menino de coro na Matriz da mesma, filho
de André da Rosa, natural de Nossa Senhora dos Remédios da Praia (Faial) e de
Francisca do Rosário, natural de São Sebastião, n.p. de Sebastião Rodrigues e Maria
Furtado e n.m. de Gaspar Pacheco, de Vila do Porto (Santa Maria) e Mariana da Costa,
de São Sebastião.
[45]
Nome
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Nome
Documento (Sumário)
[46]
Data
Doc. Maço
André Francisco do Rego Inquirição de genere.
Natural de Santa Luzia das Feteiras, filho de Filipe Martins, natural da mesma e de
Teresa do Rego, dos Fenais (Nossa Senhora da Luz), n.p. de João Martins e Maria
Rodrigues, ambos das Feteiras e n.m. de Francisco Vieira, natural da Ribeira Grande
(Matriz) e Feliciana do Rego, natural dos Fenais.
29.01.1752
4
409
André Manuel
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São José), irmão de António de Fontes e ambos filhos de
André de Fontes e Margarida Francisca de Vasconcelos, naturais de São José.
25.07.1755
11
409
António Bernardo
da Cunha
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão de José Custódio da Cunha, já
habilitado, filhos do Sargento-mor Custódio Vieira Soares da Cunha, de Rio de
Moinhos (Penafiel) e de D. Caetana Inácia Leonor, de Ponta Delgada (São Sebastião),
n.p. de Manuel Vieira da Cunha e Catarina Ferreira e n.m. de Lourenço Pereira de
Carvalho e Margarida Teresa dos Santos.
14.05.1804
2
531
António Caetano da Silva Inquirição de genere.
21.08.1813
Nasceu em Água de Pau em 29.02.1796. Beneficiado na Matriz de Nossa Senhora dos
Anjos de Água de Pau, filho de António da Silva Lopes e de Francisca do Espírito Santo,
n.p. de Caetano Lopes e Maria da Silva e n.m. de Lourenço da Costa e Rosa de Medeiros.
7
531
António Camelo
de Medeiros e
João Soares do Rego
2
408
Inquirição de genere.
06.05.1743
Naturais de Santo António, filhos de Manuel Camelo Pavão e de Ana de Medeiros, naturais
da mesma, n.p. de Manuel Pavão Camelo, dos Mosteiros e de Francisca de Viveiros, de
Santo António e n.m. de Manuel de Medeiros e Ana de Almeida, ambos de Santo António.
António da Mota Botelho Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo e morador em Coimbra onde era estudante na
Universidade, filho de Pedro Botelho da Mota e de Ana Ferreira, n.p. de Gonçalo de
Medeiros da Mota e Isabel Soares e n.m. de João Favela e Catarina Ferreira, todos de
Vila Franca do Campo (São Miguel).
14.02.1755
10
409
António de Amaral
e Melo
Processo de vita et moribus.
Natural da Ribeira Seca, filho de Caetano José de Amaral e Rosa Maria, n.p. de António
de Amaral e Clara Maria e n.m. de Francisco Tavares e Maria de Melo.
04.02.1840
7
538
António de Matos
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Manuel de Matos Prestes e de Antónia
Cabral, naturais da mesma, n.p. de Manuel de Matos e Maria Correia, naturais de São
Pedro e n.m. de Manuel da Costa, dos Mosteiros e de Maria Cabral, de São Pedro.
02.01.1751
1
409
António de Sousa Pavão
e João de Sousa Pavão
Inquirição de genere.
Naturais dos Ginetes e moradores na Candelária, filhos do Alferes João de Sousa Pavão
e de Maria da Conceição, ambos dos Ginetes, n.p. de Domingos Pavão, de Santa Luzia
das Feteiras e Maria Martins, dos Ginetes e n.m. de Brás de Sousa da Mota e de Maria de
Sousa Furtado, ambos dos Ginetes.
14.07.1756
3
410
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
António do Rego Bicudo
Inquirição de genere.
22.01.1811
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel do Rego Baldaia e de Escolástica Maria,
naturais da Matriz referida, n.p. de Pedro do Rego Baldaia e Teresa de Paiva e n.m. de José
Raposo Bicudo e Maria dos Santos.
5
531
António Feliciano Remy
Processo de vita et moribus.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), irmão do Padre João Félix
Remy, filhos de José Duarte Remy e de Vicência Rosa Tomázia, n.p. de Bernardo de Sousa
Silva e Maria Teresa de Santo André e n.m. de Matias Vieira da Silva e Genoveva Rosa.
20.09.1826
5
538
António Francisco
de Melo e
Francisco António
de Melo
Inquirição de genere.
04.01.1789
Naturais da Ribeira Grande, filhos de António de Melo Machado, da Capela de São
Gonçalo, São João d’El-Rei e D. Francisca Eufrázia Rosa, da Povoação, n.p. de Pedro de
Melo, da referida Capela de São Gonçalo e de Ana Machado, da Capela de Santo António,
Senhora do Pilar em São João d’El-Rei (filha de António Machado, da Fonte Bastardo,
Terceira e de Catarina da Encarnação, de São Sebastião de Ponta Delgada) e n.m. do Alferes
Manuel Nunes Raposo, da Matriz da Ribeira Grande e de D. Antónia Maria, da Povoação.
1
414
António Francisco
de Oliveira
Inquirição de genere.
Natural de Nossa Senhora da Luz dos Fenais, filho de António Francisco de Oliveira e de
Quitéria de Jesus, n.p. de Manuel de Oliveira e Francisca de Sousa e n.m. de Simão da
Cota e Catarina Álvares, todos dos Fenais.
03.10.1796
3
416
António Francisco
de Resende
Inquirição de genere.
04.01.1831
Natural da Povoação, filho de António José Jácome Raposo, natural da Povoação e de Rosa
Jacinta de Resende, natural de Nossa Senhora da Graça, do Faial, n.p. de António Francisco
Rebelo e de Maria Clara Raposo e n.m. de Manuel Francisco de Resende e Bernarda de Jesus.
3
532
António Francisco
do Couto
Inquirição de genere.
Natural de Rosto de Cão, filho de António de Sousa da Mota, de Ponta Delgada
(São Pedro) e Francisca Teresa de Sousa, de Rosto de Cão, n.p. de Manuel Rodrigues,
de Ponta Delgada (São Sebastião) e Isabel de Sousa, de São Pedro e n.m. de Gonçalo
do Couto da Costa e Sebastiana Francisca de Sousa, de Rosto de Cão.
08.11.1753
13
409
António Francisco
Tavares Raposo
Processo de vita et moribus.
Natural de São Miguel de Vila Franca do Campo, filho de António Francisco Botelho
Tavares Raposo e de D. Rosa Bernarda Leonora, n.p. do Capitão André Tavares Raposo e
de D. Francisca Inácia de Melo e n.m. de Lázaro Francisco Botelho e Úrsula Quitéria.
29.12.1840
4
539
António Jacinto
da Câmara
Inquirição de genere.
23.07.1795
Natural de Rabo de Peixe, filho do Capitão Maurício de Arruda e Melo, de Rabo de Peixe,
e de D. Ana Úrsula da Câmara, da Bretanha, n.p. de Sebastião de Arruda da Costa e
D. Maria Antónia de Mello, naturais de Rabo de Peixe, e n.m. de António Moreira da
Câmara, da Bretanha, e D. Jerónima Francisca de Vasconcelos, da Candelária.
8
415
António Jacinto
de Gouveia
Inquirição de genere.
Natural de Rabo de Peixe, filho de Francisco Dias de Gouveia e Escolástica Madalena,
n.p. de Francisco de Sousa Dias e Maria Joaquina de Gouveia e n.m. de Bonifácio José de
Medeiros e Eugénia Rosa, naturais de Rabo de Peixe.
10
533
23.08.1842
[47]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 48
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
António Jacinto
de Gouveia
Processo de vita et moribus.
Natural de Rabo de Peixe, filho de Francisco Dias de Gouveia e Escolástica Madalena,
n.p. de Francisco de Sousa Dias e Maria Joaquina de Gouveia e n.m. de Bonifácio José de
Medeiros e Eugénia Rosa, naturais de Rabo de Peixe.
12.09.1843
8
540
António Jacinto
de Miranda
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de José Jacinto de Miranda, da Ribeira Seca e
de D. Ana Umbelina, da referida Matriz, n.p. de Patrício José da Estrela e Rosa Jacinta
de Miranda, ambos da Ribeira Seca e n.m. de Manuel do Rego Baldaia e Bicudo e
D. Joaquina Bernarda de Arruda.
28.01.1847
1
535
António Jacinto
de Miranda
Processo de vita et moribus.
16.05.1848
Natural da Ribeira Seca, filho de José Jacinto de Miranda, da mesma e de D. Ana
Umbelina, natural da Ribeira Grande (Matriz), n.p. de Patrício José da Estrela e Rosa Jacinta
de Miranda, naturais da Ribeira Seca e n.m. de Manuel do Rego Baldaia e Bicudo e
D. Joaquina Bernarda de Arruda, naturais da Ribeira Grande.
1
542
[48]
António Jacinto de Sousa Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Francisco de Sousa e de Florinda Rosa,
n.p. de António de Sousa e Maria dos Santos, naturais de São Pedro e n.m. de Francisco
Tavares, natural das Capelas e Madalena de Jesus, de São Pedro.
09.07.1824
11
531
António Jacinto
do Monte Bastos
07.01.1862
10
544
António Jacinto dos Anjos Processo de vita et moribus.
14.11.1864
Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho de Manuel José dos Anjos e Ana Emília.
11
544
António Jacinto
Ferreira Machado
Inquirição de genere.
02.11.1824
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de José Inácio Ferreira Machado, natural da
Ribeira Grande (Matriz) e de Ana Jacinta, natural de Nossa Senhora da Luz dos Fenais,
n.p. de Bento José Carreiro e Rosa Jacinta e n.m. de Pedro de Andrade e Quitéria da Ponte.
12
531
António Jacinto
Ferreira Machado
Processo de vita et moribus.
11.12.1740
Natural da Ribeira Grande, filho de José Inácio Ferreira Machado, natural da Ribeira Grande
(Matriz) e de Ana Jacinta, natural dos Fenais da Luz, n.p. de Bento José Carneiro
e Rosa Jacinta e n.m. de Pedro de Andrade e Quitéria da Ponte.
2
539
António Jacinto Moniz
Inquirição de genere.
Natural da Maia, filho de João do Monte Carvalho, natural da Maia e Joaquina Tomázia
da Esperança, de Vila Franca do Campo (São Miguel), n.p. de Francisco do Monte Bastos
e Ana Cordeiro e n.m. de António Moniz Furtado e Maria de Jesus.
25.07.1849
8
536
António Jacinto Moniz
Processo de vita et moribus.
16.02.1850
3
543
Processo de vita et moribus.
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de José do Monte Bastos e de Maria
Cândida de Jesus.
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 49
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
António Jacinto Pacheco
Inquirição de genere.
23.11.1845
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Bento José Pacheco e
Josefa Inácia, da mesma, n.p. de António José Pacheco, de Nossa Senhora da Estrela e de
Genoveva Rosa, de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de Manuel da Ponte, da mesma e
de Ana dos Anjos, da Ribeira Seca.
4
534
António Jacinto Pacheco
Processo de vita et moribus.
05.07.1847
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Bento José Pacheco e
Josefa Inácia, da mesma, n.p. de António José Pacheco, de Nossa Senhora da Estrela e de
Genoveva Rosa, de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de Manuel da Ponte, da mesma e
de Ana dos Anjos, da Ribeira Seca.
8
541
António João
de Mendonça
Inquirição de genere.
Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de António da Cunha Gouveia, de
Rosto de Cão, e Antónia Francisca de Mendonça, da Lagoa, n.p. de António Rodrigues e
Apolónia da Cunha, ambos de Rosto de Cão e n.m. de Manuel Correia de Mendonça e
Josefa de Lima, ambos da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário).
15.04.1765
7
410
António Joaquim
da Fonseca e
Manuel Raposo
da Câmara
Inquirição de genere.
Naturais de Ponta Delgada (São José), filhos de Gonçalo Raposo da Câmara, natural de
São José e de D. Joana Clara Moniz de Ataíde Corte Real, de Lisboa (Santa Engrácia),
n.p. de Francisco Pereira de Bettencourt, de São Sebastião e D. Francisca Antónia de
Medeiros, de São José e n.m. de António José da Fonseca, da Madalena (Lisboa) e
D. Maria Rosa de Ataíde, de Santo Estêvão de Alfama (Lisboa).
30.03.1785
8
412
António José
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho do Alferes Manuel Rodrigues de Matos e
Maria Martins Machado, n.p. de João Rodrigues Sacoto e Maria Lopes e n.m. de Francisco
Fernandes Orsa e Maria Martins Machado, todos da referida Matriz da Ribeira Grande.
20.03.1756
2
410
António José
Inquirição de genere.
20.11.1788
Natural da Ribeira Grande, filho de Francisco Rodrigues e de Rosa Maria, naturais de
São Pedro da Ribeira Grande, n.p. de António Rodrigues, da Matriz da Ribeira Grande e
Maria Cordeiro, de São Pedro e n.m. de Manuel Vieira, de Nossa Senhora da Conceição e
Ana Francisca, de São Pedro, tudo na Ribeira Grande.
10
413
António José Lopes
da Luz
Inquirição de genere.
23.06.1873
Natural de Água de Pau, morador no Seminário de Santarém, filho de Luciano José Lopes e
de Albina de Jesus, n.p. de José Inácio Lopes e Ana Joaquina, ambos de Água de Pau e n.m.
de António Furtado, do Porto Formoso e Francisca Cândida, de Agua de Pau.
12
537
4
531
António Leandro Raposo Inquirição de genere.
10.11.1807
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão do Padre José Miguel Raposo e do Padre
João Hipólito Raposo, filhos de Victorino José Nunes e de Maria Madalena, de São Sebastião.
[49]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 50
Nome
[50]
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
António Miguel,
Francisco Xavier,
José Severino,
André Miguel,
Adriano José e
Manuel Henriques
Inquirição de genere.
Naturais de Vila Franca do Campo (São Pedro), com exceção de Manuel, nascido
na Matriz, filhos de Miguel Francisco Borges, de São Pedro e Bernarda Francisca
de Medeiros, da Matriz de Vila Franca, n.p. de Simão Martins e Catarina Luís, ambos
de São Pedro e n.m. de Melchior Fagundes, da Matriz de Vila Franca e Catarina de
Matos, de São Pedro de Vila Franca.
12.01.1756
1
410
António Moniz
de Medeiros
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel Moniz, natural da Achada Grande e
de Maria da Assunção, da Matriz, n.p. de Manuel Moniz e Maria do Amaral, ambos da
Achada Grande e n.m. de António de Medeiros, natural do Nordeste e Juliana Botelho,
da Achadinha.
02.12.1848
9
535
António Moniz
de Medeiros
Processo de vita et moribus.
25.07.1849
Natural da Ribeira Grande, filho de Manuel Moniz, natural da Achada Grande e de Maria
da Assunção, natural da Ribeira Grande (Matriz), n.p. de Manuel Moniz e Maria do Amaral,
naturais da Achada Grande e n.m. de António de Medeiros, do Nordeste e de
Juliana Botelho, da Achadinha.
6
542
António Pacheco
Ferreira
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Miguel Ferreira e de Maria Pacheco, n.p. de
Manuel Ferreira e Joana Fernandes e n.m. de Pedro Figueiredo e Marta Rodrigues,
todos naturais da Ribeira Grande.
11.04.1752
5
409
António Rebelo
da Gama e
Nicolau de Sequeira
Machado
Inquirição de genere.
02.07.1798
Naturais de Ponta Delgada (São Sebastião), filhos de José Nicolau Rebelo, natural de São
Sebastião e de D. Francisca Bonina de Sequeira da Gama, natural de Lisboa (Santa Catarina),
n.p. do Dr. António Rebelo Borges, de São José e D. Ana Felícia de Melo, de São Sebastião
e n.m. do Sargento-mor José Caetano Correia da Costa, de São José e D. Maria Isabel
Filipa de Sequeira da Gama, da Matriz de Santos (Rio de Janeiro).
5
416
António Rebelo da Gama Processo de vita et moribus.
17.09.1803
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José Nicolau Rebelo, natural de São
Sebastião e de D. Francisca Bonina de Sequeira da Gama, natural de Lisboa (Santa Catarina),
n.p. do Dr. António Rebelo Borges, de São José e D. Ana Felícia de Melo, de São Sebastião
e n.m. do Sargento-mor José Caetano Correia da Costa, de São José e D. Maria Isabel Filipa
de Sequeira da Gama, da Matriz de Santos (Rio de Janeiro).
1
538
António Soares Leite
Inquirição de genere.
Natural da Achadinha, filho de Pedro Soares Leite, da Povoação e de Ana do Amaral, da
Achadinha, n.p. de António Furtado Leandro e Bárbara Furtado, ambos da Povoação
e n.m. de José de Amaral e Vasconcelos e Maria Correia, ambos da Achadinha.
17.10.1788
8
413
António Torres
de Sampayo
Inquirição de genere.
05.03.1738
Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de Manuel de Sampayo Aguiar, natural
de São Pedro de Ponta Delgada e de Maria Álvares do Cabo, de Lagoa, n.p. de Nicolau
Rodrigues de Aguiar, natural de São Pedro e Maria de Sampayo, da mesma e n.m. de João
Rodrigues Franco, natural da Lagoa e Mariana Correia, de Ponta Delgada (São Mateus).
1
406
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Igreja de São José (Convento de Nossa Senhora da Esperança).
Igreja de São Pedro.
[51]
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 52
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
2
414
Bernardo António
Pacheco e Resende
Inquirição de genere.
12.06.1846
Natural de Ponta Garça, filho de António José Pacheco e Resende, natural da Maia e de
D. Inácia Jacinta Pacheco, natural de Ponta Garça, n.p. do Tenente Francisco José Pacheco e
Resende e de D. Maria de São José e Bettencourt e n.m. de Bernardo José Pacheco e
Bárbara Francisca.
6
534
Bernardo António
Pacheco e Resende
Processo de vita et moribus.
20.05.1847
Natural de Ponta Garça, filho de António José Pacheco e Resende, natural da Maia e de
D. Inácia Jacinta Pacheco, natural de Ponta Garça, n.p. do Tenente Francisco José Pacheco e
Resende e de D. Maria de São José e Bettencourt e n.m. de Bernardo José Pacheco e
Bárbara Francisca.
7
541
Cândido Moniz Furtado
Inquirição de genere
28.01.1846
Natural do Nordestinho, filho de Francisco António de Macedo e Ana Jacinta de Carvalho,
naturais do Nordestinho, n.p. de Ventura Rebelo e Maria Pacheco e n.m. de Francisco
Machado Furtado e Maria de Carvalho.
5
534
Cândido Moniz Furtado
Processo de vita et moribus, sendo então Tesoureiro da Matriz do Nordeste.
22.04.1847
Natural do Nordestinho, filho de Francisco António de Macedo e Ana Jacinta de Carvalho,
naturais do Nordestinho, n.p. de Ventura Rebelo e Maria Pacheco e n.m. de Francisco
Machado Furtado e Maria de Carvalho.
6
541
Carlos da Fonseca
de Medeiros
Inquirição de genere
Natural de Lagoa (Santa Cruz), irmão de Tomás Pacheco de Arruda e ambos filhos do
Capitão Manuel Pacheco Tavares e Maria Cabral de Melo, da mesma.
3
400
Cosme de Frias Pereira
Inquirição de genere.
02.06.1736
Natural da Povoação e morador na Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho
do Capitão João de Frias Pereira, natural de Vila Franca do Campo (São Miguel) e D. Vitória
de Sousa Castelo Branco, da Ribeira Grande (Matriz), n.p. do Capitão Sargento-mor João de
Frias Pereira, de Vila Franca do Campo e D. Maria Soares, natural da Maia e n.m. de
Manuel de Sousa, natural da Ribeira Seca e Maria Carneiro, natural da Ribeira Grande.
13
405
Cosme José de Sousa
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Cosme José de Sousa e de Luísa Cândida,
n.p. de Manuel de Sousa e Luzia do Espírito Santo e n.m. de António Pacheco Ferreira e
Maria da Paixão, todos da mesma freguesia da Matriz.
08.02.1840
5
532
Cosme José de Sousa
Processo de vita et moribus.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Cosme José de Sousa e de Luísa Cândida,
n.p. de Manuel de Sousa e Luzia do Espírito Santo e n.m. de António Pacheco Ferreira e
Maria da Paixão, todos da mesma freguesia da Matriz.
12.06.1840
5
532
[52]
António Xavier de Sousa Inquirição de genere.
05.01.1789
Natural de São Sebastião de Ponta Delgada, Organista da Igreja de São Pedro e irmão
de José Inácio de Sousa, filhos de Bernardo de Sousa, de São Sebastião e de Maria Antónia
Joaquina, de São José, n.p. de Manuel de Sousa, da Ilha de Santa Maria e de Maria Furtado,
de São José e n.m. de Manuel Machado Coelho e de Clara Machado, ambos de São José
de Ponta Delgada.
16.06.1707
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Igreja do Colégio dos Jesuítas.
Igreja da Matriz de São Sebastião.
[53]
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
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Nome
[54]
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Domingos da Rocha
Inquirição de genere.
Natural da Achadinha, filho de Domingos Vaz Vieira e Bárbara de Oliveira, ambos
da Achadinha, n.p. de Domingos Vaz Vieira, da Achadinha e Ana da Rocha Benevides,
da Ribeira Grande (Matriz) e n.m. do Capitão António de Amaral, da Achadinha e
Ana Furtado, da Povoação.
03.08.1698
13
399
Elizardo José Moreira
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de José Venâncio da Costa e Joaquina Rosa,
n.p. de Bernardo Pereira e Francisca do Sacramento e n.m. de António Francisco
Moreira e Josefa Rosa da Encarnação, naturais da Ribeira Grande (Matriz).
30.05.1844
13
533
Elizardo José Moreira
Processo de vita et moribus.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de José Venâncio da Costa e Joaquina Rosa,
n.p. de Bernardo Pereira e Francisca do Sacramento e n.m. de António Francisco
Moreira e Josefa Rosa da Encarnação, naturais da Ribeira Grande (Matriz).
31.12.1844
2
541
Estêvão Álvares da Costa Inquirição de genere.
Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de Manuel de Matos, de Vila Franca
do Campo (São Lázaro) e de Maria da Costa, de Rosto de Cão, n.p. de Manuel de Matos,
de São Lázaro e Maria do Amaral, de Vila Franca do Campo (São Miguel) e n.m.
de Jerónimo Fernandes e Isabel da Costa.
04.04.1715
10
400
Estêvão de Pimentel
Inquirição de genere.
Natural da Lagoa (Santa Cruz), filho de Francisco de Paiva Ponte e de Maria de Puga,
n.p. de Manuel de Paiva Ponte e Maria Cabral e n.m. de António de Puga Moniz e
Catarina de Pimentel.
15.02.1743
10
407
Felisberto Borges
Brandão e Teve
Inquirição de genere.
12.01.1737
Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho do Alferes Francisco Borges Brandão,
natural do Nordeste e D. Antónia Madalena de Medeiros, da Lagoa, n.p. de Manuel Borges
Furtado e Ana Correia, naturais do Nordeste e n.m. do Capitão Marcos de Sousa e
Medeiros e Maria da Costa Tavares, naturais da Lagoa.
15
405
Filipe Francisco
de Medeiros
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Brás de Araújo, de Santo António e de
Ângela de Medeiros, da Matriz, n.p. de Amador Dias de Vasconcelos, da Candelária e
Ana Cabral, de Santo António e n.m. de Manuel da Costa Luís e Joana de Medeiros,
ambos da Matriz da Ribeira Grande.
23.10.1766
2
411
Francisco António
Inquirição de genere.
Natural da Relva, filho de Francisco de Sousa e Bárbara Furtado, n.p. de Manuel de Sousa
e Francisca Ferreira e n.m. de Manuel Furtado e Maria de Sousa, todos naturais da Relva.
08.06.1768
7
411
Francisco António
de Macedo
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho do Alferes Francisco
Carvalho de Macedo e de Antónia Maria, naturais da mesma, n.p. de Manuel Soares
Pereira, dos Fenais de Vera Cruz e Josefa de Carvalho, da Ribeira Grande e n.m. de
Sebastião da Costa Maiato e Maria Pacheco, naturais da Ribeira Grande.
03.07.1743
5
408
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 55
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Francisco António
de Medeiros
Inquirição de genere.
Natural da Maia, filho de Sebastião da Costa e Medeiros e Maria da Costa e Sousa,
n.p. de António da Costa Leite e Teresa de Medeiros e n.m. de José da Costa Soeiro e
Maria de Sousa, todos da Maia.
24.10.1784
7
412
Francisco Caetano
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de António Caetano Pereira, de Santa
Luzia de Angra e Maria da Ressurreição, de São Sebastião de Ponta Delgada, n.p. de
Jacinto Pereira e Joana do Rosário, ambos de Santa Luzia e n.m. de Manuel Carvalho,
da Fajã e Isabel Ferraz, de Santa Cruz, Lagoa.
01.06.1766
11
410
Francisco Caetano
de Amaral
Inquirição de genere.
09.02.1755
Natural dos Fenais (Nossa Senhora da Luz), filho do Capitão Francisco de Amaral Raposo e
Catarina Rosa, n.p. de Manuel de Sousa Raposo e Bárbara de Amaral e n.m. do Alferes
Manuel de Melo de Sousa e Isabel de Viveiros, todos dos Fenais.
9
409
Francisco da Silva
Inquirição de genere.
Natural dos Fenais da Luz, filho de Manuel da Silva e de Bárbara Rodrigues, naturais da
mesma, n.p. de Jerónimo Alves, dos Fenais da Luz e de Maria da Silva, de Ponta Delgada
(São Sebastião) e n.m. de José Rodrigues Farto e de Maria das Cortes, dos Fenais da Luz.
15.06.1726
5
403
Francisco da Silva Nunes
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira (Nossa Senhora da Estrela), filho de Manuel Dias Correia e de
Maria Alves, n.p. de João Correia e de Maria Dias e n.m. de Manuel da Silva e
Maria Alves, naturais da mesma.
25.03.1738
3
406
Francisco de Andrade
de Albuquerque
Bettencourt,
António Feliciano
de Andrade,
Mateus Francisco
de Andrade e
Manuel de Andrade
Inquirição de genere.
27.02.1789
Naturais de São José (Ponta Delgada), com excepção de Mateus, nascido em Rosto de Cão,
filhos de Caetano de Andrade Albuquerque, de São José e de D. Teresa Inocência Taveira
da Silveira e Brum, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), n.p. do
Dr. Jacinto de Andrade Bettencourt e Albuquerque (batizado como António em São José) e
de D. Margarida Maria de Araújo e Vasconcelos, da Fajã e n.m. de Francisco Tavares Homem,
da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição) e de D. Ana Úrsula Botelho de Arruda,
da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela).
4
414
Francisco de Benevides
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José Marques, natural dos Ginetes e
Catarina de Benevides, natural de Ponta Delgada (São José), n.p. de António Marques e
Bárbara de Carvalho, dos Ginetes e n.m. de António Cabral e Bárbara Dias,
ambos de São José.
03.11.1755
12
409
18.06.1729
5
404
Francisco de Bettencourt Processo de vita et moribus.
Natural de Ponta Delgada (São Mateus), irmão de João Borges, filhos do Capitão Manuel
de Medeiros de Sousa, natural de São Roque e de D. Isabel de Quental, natural de
São José, n.p. do Capitão José Furtado de Medeiros, de São Sebastião e D. Maria de
Medeiros, de São José e n.m. de Pedro Garcia Cordeiro, de São Pedro e Ana Cordeiro
de Sampayo, de São José.
[55]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 56
Nome
Data
Doc. Maço
Francisco de Borja
Pereira Raposo
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José Pereira Raposo e Maria de Jesus,
naturais dos Fenais (Nossa Senhora da Luz). Era irmão dos Padres José Francisco Pereira,
João José Caetano Pereira e Luís Manuel Raposo.
09.02.1782
2
412
Francisco de Medeiros
Inquirição de genere.
Natural de Nossa Senhora da Graça do Faial, filho do Capitão André de Medeiros Freitas,
da mesma freguesia e de Margarida de Resendes de Macedo, dos Fenais de Vera Cruz,
n.p. do Capitão Francisco de Freitas da Costa, de Vila Franca do Campo (Matriz) e de
Beatriz de Medeiros, da Achadinha e n.m. do Alferes José da Costa Mendes, de
Vila Franca do Campo e Úrsula de Resendes, da Povoação.
08.08.1765
9
410
Francisco de Puga
Inquirição de genere.
Natural da Lagoa, filho de Francisco de Puga e Maria Marques (inclui escritura de
património feita em 26.7.1673 pelo Padre Agostinho da Costa).
20.07.1673
3
399
Francisco de Sousa
Raposo
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), irmão do Padre Manuel de Sousa Nunes,
Cura da Matriz de Nossa Senhora da Estrela, filhos de Manuel de Sousa Vieira e de Luzia
Cabral Nunes, ambos de Rabo de Peixe, n.p. de Pedro Vieira de Sousa, de Rabo de Peixe
e de Maria Rodrigues, da Matriz e n.m. de António Cabral Nunes e de Maria da Fonseca,
ambos de Rabo de Peixe.
14.01.1728
10
403
Francisco Duarte
Inquirição de genere.
07.01.1768
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel Clemente e de Maria Vieira, ambos da
Matriz, n.p. de José da Costa e de Maria Clemente Dias e n.m. de Bartolomeu Vieira e
Joana de Sousa, todos da Matriz da Ribeira Grande.
4
411
Francisco Inácio da Silva
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Mateus José, natural de São Pedro
(Santa Maria) e de Rosa Vicência, de São Sebastião de Ponta Delgada, n.p. de Francisco
Velho e Ana Maria, naturais de São Pedro e n.m. de António da Silva e Inácia Rosa,
naturais de São Sebastião.
10.03.1841
1
533
Francisco Inácio da Silva
Processo de vita et moribus.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Mateus José, natural de São Pedro
(Santa Maria) e de Rosa Vicência, de São Sebastião de Ponta Delgada, n.p. de Francisco
Velho e Ana Maria, naturais de São Pedro e n.m. de António da Silva e Inácia Rosa,
naturais de São Sebastião.
18.08.1843
6
540
Francisco Inácio
de Medeiros
Inquirição de genere.
28.06.1769
Natural dos Ginetes, filho de José Pavão de Vasconcelos, dos Mosteiros e de Maria de
Medeiros Botelho, da Relva, n.p. de Tomás de Sousa, de Rabo de Peixe e Victória Pavão, dos
Mosteiros e n.m. do Capitão Diogo de Viveiros, de Santo António e Isabel Botelho, da Relva.
8
411
Francisco Inácio Raposo
Inquirição de genere.
Natural da Fajã (Nossa Senhora dos Anjos), filho de Francisco Machado Ferreira, da
mesma e de Antónia Jacinta, de Vila Franca do Campo (Matriz), n.p. de Bento Pereira e
Bibiana da Conceição e n.m. de Miguel da Costa Raposo e Ana de Andrade.
8
416
[56]
Documento (Sumário)
20.06.1799
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 57
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Inquirição de genere.
26.01.1811
Filho de Manuel José Vieira e de Maria da Estrela. (Compreende ainda as escrituras de
dotação de património feitas por Luís da Câmara Coutinho Carreiro e mulher D. Francisca
Miquelina de Montojos Paim da Câmara em 27.3.1811 e de seus pais, com data de 25.3.1811).
6
531
Francisco José
Inquirição de genere.
28.07.1769
Natural de São José, Ponta Delgada, filho de Miguel de Benevides e Bárbara Francisca,
ambos de São José, n.p. de Domingos de Benevides, de São Mateus e Agostinha de Melo,
da Relva e n.m. de António Jorge, de São Sebastião e Antónia do Sacramento, de São Mateus.
9
411
Francisco José Barbosa
Processo de vita et moribus.
Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho de Francisco Furtado e de
Francisca Teresa, n.p. de Francisco Furtado e Joana Carneiro e n.m. de Luís Barbosa e
Antónia de Medeiros, naturais de Vila Franca.
30.04.1813
2
538
Francisco José
de Almeida
Inquirição de genere.
29.03.1789
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de Tomás de Almeida e Costa e de
Mariana de Jesus, naturais de São Miguel de Vila Franca, n.p. de Manuel da Costa, de
São Pedro de Vila Franca e de Francisca de Almeida, da Matriz e n.m. de Manuel de Sousa
Matela, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição) e Margarida Luísa, da Matriz de
Vila Franca.
9
414
Francisco José
de Benevides
Processo de vita et moribus.
03.04.1839
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de António José da Silva, natural da mesma
e de Umbelina Rosa, natural de São Pedro, n.p. de António José da Silva, de São José e
Teresa de Jesus, de Vila Franca do Campo e n.m. de António Borges e Mariana Jacinta,
ambos de São Pedro.
6
538
12
410
Francisco José de Viveiros Inquirição de genere.
04.08.1788
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de João de Viveiros, de São Sebastião e de
Maria do Espírito Santo, de São José, n.p. de Manuel de Viveiros, das Capelas e Maria da
Cruz, de Santo António e n.m. de Tomé de Benevides, de São José e Joana Tavares, da Relva.
3
413
Francisco José de Viveiros Inquirição de genere.
Natural de São José (Ponta Delgada), filho de Manuel de Viveiros e de Francisca do
Livramento, n.p. de Francisco de Viveiros, de São José e de Ana Gonçalves, de Rabo de
Peixe e n.m. de André Machado e de Maria do Rego, ambos de São José.
20.03.1789
7
414
Francisco José do Couto
Inquirição de genere.
Natural de Rabo de Peixe, filho de João José do Couto e Miquelina Rosa, n.p. de João do
Couto e Maria Francisca e n.m. de Antónia Francisca, naturais de Rabo de Peixe.
29.12.1843
12
533
Francisco José do Couto
Processo de vita et moribus.
Natural de Rabo de Peixe, filho de João José do Couto e Miquelina Rosa, n.p. de João do
Couto e Maria Francisca e n.m. de Antónia Francisca, naturais de Rabo de Peixe.
16.12.1846
5
541
Francisco José de Chaves Inquirição de genere.
Natural de Ponta Garça, filho de António José Rebelo e de Maria do Rosário de Chaves,
n.p. de Manuel Furtado Rebelo e Joana Furtado, naturais de Ponta Garça e n.m. de Diogo
de Chaves Sarmento e Margarida de Sousa, naturais de Vila Franca do Campo (Matriz).
21.06.1766
[57]
Francisco Inácio Vieira
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Nome
[58]
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Francisco José do Rego
Baldaia
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de João do Rego Baldaia e de D. Maria de São
José Bicuda, n.m. de Francisco do Amaral e de D. Maria Bicuda, ambos da mesma
freguesia. Era irmão do Padre José Francisco do Rego Baldaia, nascido em 22.9.1755.
12.05.1796
9
415
Francisco José Martins
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), irmão do Cura António Jacinto Martins, e ambos
filhos de Luís Francisco Martins e Genoveva Rosa, n.p. de António Martins Cabaço e
Maria do Rosário e n.m. de José Tavares e Flávia Maria.
18.09.1830
2
532
Francisco José Moreira e Inquirição de genere.
18.02.1770
Estêvão Manuel Moreira Naturais de Vila Franca do Campo (São Miguel), filhos do Alferes Estêvão Dias Moreira e
Antónia Margarida de Frias, naturais de São Miguel de Vila Franca do Campo, n.p. do
Ajudante Domingos Dias Moreira, de Nossa Senhora da Estrela, Ribeira Grande e Agostinha
de Sousa, de Vila Franca e n.m. de Apolinário Correia e Margarida de Oliveira, ambos de
Vila Franca do Campo.
10
411
Francisco José Pereira
Inquirição de genere.
Natural de Rabo de Peixe, filho de Miguel Moniz de Faria, de Rabo de Peixe e de
Rosa Maria Pereira, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), n.p. de Matias Simões
Dias e Maria Moniz Cabral e n.m. de Manuel Pereira Luís e Antónia Maria.
13.05.1796
1
416
Francisco Luís Raposo,
João José Raposo e
José Miguel Raposo
Inquirição de genere.
Naturais de Ponta Delgada (São Sebastião), filhos de Vicente José Nunes e de Maria
Madalena Rosa, naturais de São Sebastião, n.p. de José de Sousa Nunes, de São José e
Maria Martins, de São Sebastião e n.m. de João Francisco, de Nossa Senhora do Rosário
da Lagoa e Antónia Francisca, de São Sebastião.
18.07.1794
4
415
Francisco Moniz da Rocha Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Martinho da Rocha, da mesma e
de Francisca Moniz da Costa, natural da Ribeira Seca, n.p. de Lourenço da Rocha,
de São Sebastião e de Maria Moreno, de São José e n.m. do Capitão Francisco de Mariz
Carneiro e Isabel Carneiro, da Ribeira Seca.
05.10.1743
9
408
Francisco Paulo de Melo
Inquirição de genere
Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Melchior Gomes de Melo e
Rosa Francisca, ambos da Matriz de Vila Franca, n.p. de Melchior Gomes de Melo,
de Vila do Porto e Maria de Matos, da Matriz de Vila Franca e n.m. de Domingos Franco
de Andrade e de Maria Jácome de Melo, ambos da Matriz de Vila Franca do Campo.
17.03.1768
5
411
Francisco Soares
de Oliveira
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Francisco Soares e de Maria de
Matos, naturais da Matriz, n.p. de Francisco Soares, da Matriz e Josefa de Oliveira,
de Ponta Garça e n.m. de Francisco de Matos e Úrsula da Costa, ambos da Matriz.
15.08.1788
6
413
Francisco Soares
de Oliveira
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo, filho de Francisco Soares de Oliveira e de Mariana
de Jesus, n.p. de José Soares e Flora Jacinta, naturais da Matriz de Vila Franca e n.m.
de Filipe Tavares e Mariana do Rosário, naturais de São Pedro da mesma.
11.02.1845
1
534
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Francisco Soares
de Oliveira
Processo de vita et moribus.
Natural de Vila Franca do Campo, filho de Francisco Soares de Oliveira e de Mariana
de Jesus, n.p. de José Soares e Flora Jacinta, naturais da Matriz de Vila Franca e n.m.
de Filipe Tavares e Mariana do Rosário, naturais de São Pedro da mesma.
28.03.1848
2
542
Francisco Tavares
de Brum
Processo de vita et moribus.
Natural de Rabo de Peixe, filho de Manuel Alves Nunes e de Maria Úrsula, n.p.
de António Álvares Nunes e Úrsula dos Santos e n.m. de João Pedro Tavares e
Maria Tavares.
12.07.1826
3
538
Francisco Xavier Botelho Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Manuel Furtado Botelho,
dos Fenais de Vera Cruz e Teresa de Araújo, da Matriz de Vila Franca, n.p. de Manuel
Furtado Botelho e Maria Moniz, ambos dos Fenais e n.m. de Gonçalo da Costa e
Maria Ferreira, ambos da Matriz de Vila Franca do Campo (era irmão do habilitado
Matias Francisco de Araújo, nascido em 16.2.1730).
02.09.1784
6
412
Francisco Xavier Soares,
José Luciano e
Vicente Soares
Inquirição de genere.
Naturais de São Sebastião de Ponta Delgada, filhos de João Soares de Sousa Teixeira
de Albergaria, de São Pedro e de D. Francisca Tomázia Brum da Silveira, de São Pedro,
n.p. de António Soares de Sousa Ferreira, de São Pedro e de D. Bárbara Mariana do
Canto, de São Sebastião e n.m. de Rodrigo Velho de Melo Cabral e de D. Catarina
Mariana da Silveira, ambos de São José.
12.03.1789
6
414
Gabriel Pereira
de Mendonça
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de António Gonçalves Velho e Teresa
Pereira de Mendonça, naturais de São Sebastião, n.p. de António Gonçalves Velho e
Joana da Rocha Machado, ambos de São Bartolomeu (Terceira) e n.m. de Manuel João e
Maria Rodrigues Maciel, ambos de São Sebastião.
02.11.1723
9
402
Gaspar da Silva Raposo
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão do Padre Francisco da Silva, filhos
de João Raposo e Bárbara da Silva.
06.03.1743
11
407
Gaspar José Correia
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião) e morador em Coimbra, formado na
Faculdade de Cânones, filho de Pedro da Ponte Bicudo, natural da mesma e de D. Maria
Úrsula Corte Real, natural de Angra (Sé), n.p. de Manuel Raposo Correia, de Rosto de
Cão e de D. Maria da Câmara e Medeiros, de São José (Ponta Delgada) e n.m. de
António de Brum da Silveira, da Matriz do Salvador (Horta) e D. Catarina de Brum,
natural de Angra (Sé).
15.03.1738
2
406
Henrique Botelho
Figueira
Inquirição de genere.
25.01.1741
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de José Botelho Figueira e Sebastiana
Guerreiro, n.p. de Manuel Figueira e Isabel Botelho e n.m. de Jorge Rodrigues Piquetes e
Maria Guerreiro, naturas de Vila Franca do Campo.
13
406
[59]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 60
Nome
Data
Doc. Maço
Henrique de Melo
Inquirição de genere.
Natural de Rosto de Cão, filho de João de Melo, natural de Santa Maria (São Pedro) e de
Maria do Couto, de Rosto de Cão, n.p. de António Velho, de São Pedro e de Inês
de Fontes, de Santo Espírito na mesma ilha, n.m. de Manuel de Medeiros Sousa e Maria
do Couto, ambos de Rosto de Cão.
17.02.1726
2
403
Henrique Manuel
de Melo
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho do Alferes Francisco de
Frias Machado e Maria de Melo Cabral, naturais da Ribeira Grande, n.p. de
Bartolomeu de Frias Camelo e Maria de Medeiros, naturais de São Pedro e n.m.
de João de Almeida Mascarenhas e Maria de Melo Cabral, naturais da Ribeira Grande.
05.11.1731
3
405
Henrique Martins
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de António de Sousa Nunes, natural de
São Mateus e de Antónia Cabral, de São Pedro, n.p. de António de Sousa Nunes e
Catarina Martins, ambos de São Mateus e n.m. de Manuel Martins Prestes e Maria
Luís da Rocha, ambos de São Sebastião.
20.04.1724
11
402
Inácio da Costa
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Inácio da Costa, de São Sebastião e
Maria Correia, de São Mateus da mesma cidade, n.p. de Inácio da Costa e Clara Lopes,
ambos de São Sebastião e n.m. de Jorge Furtado, de São Mateus e Catarina
das Cortes, das Capelas.
10.08.1698
14
399
Inácio Manuel da Cunha
Inquirição de genere.
Natural da Relva, filho do Alferes Manuel da Cunha e de Rosa Francisca, naturais da
Relva, n.p. do Capitão João Pavão e de Antónia da Cunha, ambos da Relva e
n.m. do Capitão Leandro de Sousa e Vasconcelos, de Santo António e de Antónia
Francisca de Vasconcelos, da Relva.
10.03.1789
5
414
Inácio Xavier Jácome
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Francisco da Costa Silva, do Porto
Formoso e de Maria Margarida Jácome, da Matriz de Vila Franca, n.p. de Manuel
Fernandes da Costa e Maria da Silva, ambos do Porto Formoso e n.m. de Domingos
de Paiva e Margarida de Matos, ambos de Vila Franca do Campo.
10.11.1767
3
411
Jacinto Botelho
do Amaral
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de José Bento Pereira e de
Antónia Luciana, naturais da mesma, n.p. de Bento Pereira e Inácia Jacinta, de Vila
Franca e n.m. de Silvestre Botelho, de Vila Franca e Antónia Jacinta, de Ponta
Garça (inclui Património Eclesiástico de 22.11.1849 com escritura de património
feita em 13.12.1849 por Teotónio Claudino da Silveira, bacharel em Direito e
processo de vita et moribus de 09.11.1849).
16.01.1849
1
536
Jacinto de Medeiros
Costa
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de António de Medeiros e de
Teresa Inácia, n.p. de Manuel de Medeiros, de Ponta Garça e Bárbara da Conceição,
da referida freguesia de São Miguel e n.m. de José Bento, de Ponta Garça e
Rosa da Assunção, de São Miguel.
21.01.1831
4
532
[60]
Documento (Sumário)
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Jacinto Félix de Paiva
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Félix José de Paiva, da Matriz e
Jacinta Querubina, de Nossa Senhora da Conceição da mesma vila, n.p. de João de
Paiva e Antónia Maria, ambos da Matriz e n.m. de José Francisco da Silva, da
Achadinha e Teresa de Jesus, de Nossa Senhora da Conceição.
24.05.1841
3
533
Jacinto Félix Machado
Inquirição de genere.
Natural do Nordeste, filho de Roberto Soares de Amaral, do Nordeste e de Mariana
de Jesus, de São Pedro do Nordestinho, n.p. de Sebastião Machado e Rosa de Amaral,
ambos do Nordeste e n.m. de António Borges e Maria Clara.
16.05.1840
8
532
Jacinto Ferreira
do Couto
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Seca, filho de José Ferreira do Couto e de Maria Jacinta Borges,
n.p. de Luís Ferreira do Couto e Maria do Nascimento e n.m. de António Pedro
Cabral e Maria Rita da Paixão, todos da Ribeira Seca.
24.01.1856
6
537
Jacinto Inácio
de Medeiros
Inquirição de genere.
Natural da Maia, filho de José Lopes, natural do Porto Formoso e de Maria Joaquina
de Medeiros, natural da Maia, n.p. de António Lopes e Francisca do Couto e n.m.
de Manuel de Medeiros Nunes e Rosa Maria.
27.10.1848
6
535
Jacinto Inácio
de Medeiros
Processo de vita et moribus.
Natural da Maia, filho de José Lopes e de Maria Joaquina de Medeiros, n.p. de António
Lopes e Francisca do Couto, naturais da Maia e n.m. de Manuel de Medeiros Nunes
e Rosa Maria, naturais do Porto Formoso.
09.12.1849
8
542
Jacinto Inácio de Melo
Processo de vita et moribus.
Natural do Nordeste, filho do Capitão Jordão Francisco de Melo, do Nordeste e de
Margarida Rosa de Medeiros, de Nossa Senhora da Graça do Faial, n.p. de Manuel
Bulhões, natural da Ribeira Seca e Emerenciana Correia, do Nordeste e n.m. de Manuel
de Medeiros Sampayo e Margarida Rosa de Resendes, naturais do Faial. Incluiu processo
de património com escritura de dotação feita em 30.12.1840 por seu tio José
Jacinto de Melo.
12.02.1841
6
539
Jacinto Inácio de Sousa
Inquirição de genere.
09.06.1851
Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de Jacinto Inácio de Sousa Sénior,
de São José e de Maria Amália de Abranches, de São Pedro de Folhadosa, n.p. de José
Inácio de Sousa e Rosa Jacinta, ambos de São José e n.m. de Manuel António de Abranches e
Rita Margarida de Elvas, naturais da Folhadosa.
2
537
Jacinto Inácio de Sousa
Processo de vita et moribus.
09.07.1851
Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de Jacinto Inácio de Sousa Sénior,
de São José e de Maria Amália de Abranches, de São Pedro de Folhadosa, n.p. de José
Inácio de Sousa e Rosa Jacinta, ambos de São José e n.m. de Manuel António de Abranches e
Rita Margarida de Elvas, naturais da Folhadosa.
2
544
[61]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 62
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Inquirição de genere.
14.05.1804
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão de José Custódio da Cunha, já habilitado,
filhos do Sargento-mor Custódio Vieira Soares da Cunha, de Rio de Moinhos (Penafiel) e de
D. Caetana Inácia Leonor, de Ponta Delgada (São Sebastião), n.p. de Manuel Vieira da Cunha
e Catarina Ferreira e n.m. de Lourenço Pereira de Carvalho e Margarida Teresa dos Santos.
2
531
Jacinto José Moreira e
José Francisco Moreira
Inquirição de genere.
Naturais da Ribeira Grande (São Pedro), filhos de José Moreira e Josefa Maria, naturais
da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), n.p. de Francisco Moreira e Antónia
Maria, de São Pedro da Ribeira Seca e n.m. de João da Costa Chadinha, da Achada e de
Catarina de Sousa, de Nossa Senhora da Conceição.
28.08.1784
5
412
Jacinto José Vieira
da Fonseca
Inquirição de genere.
Natural das Capelas, filho de Sebastião Vieira da Fonseca e de Antónia Francisca de
São José, n.p. de Manuel Vieira da Mota e de Maria da Fonseca, ambos dos Fenais e n.m.
de Miguel da Costa e Maria Pereira, de Ponta Delgada (São José).
07.06.1795
6
415
Jacinto Pacheco
do Amaral
Inquirição de genere.
22.08.1846
Natural da Achadinha, filho de António de Sousa Cabral e de Mariana Vitória do Amaral,
n.p. de Eusébio de Sousa e Antónia Cabral, naturais da Achadinha e n.m. de Manuel Garcia,
da Povoação e Ana Jacinta do Amaral, da Achadinha. Inclui património (21.12.1846) feito
por escritura de 28.08.1846 por José Borges, Maria Luísa, Francisca Tomázia e Jacinta
Flora e processo de vita et moribus (17.12.1840).
8
534
Jerónimo de Paiva
e Lemos
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Adriano José de
Paiva e Lemos e de Albina Mariana de Arruda, naturais da referida freguesia da Ribeira
Grande, n.p. de Jerónimo Caetano de Paiva e Adriana Rosa e n.m. de Duarte José
Rebelo e Maria Leonor de Arruda.
04.06.1830
1
532
João Alves Ribeiro
Inquirição de genere.
Natural da Lagoa (Santa Cruz), filho de Fortunato Alves Ribeiro e Antónia Tomázia do
Coração de Jesus, naturais da Lagoa, n.p. de Joaquim José de Melo e Francisca Inácia de
Jesus, ambos de Santa Cruz e n.m. de Apolinário José, de Santa Cruz e de Ana Joaquina,
de Nossa Senhora do Rosário da Lagoa.
12.03.1859
9
537
João António Botelho
Inquirição de genere.
29.05.1848
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel José Botelho e de Delfina Rosa, n.p.
de Francisco Botelho e Rosa Maria, naturais da referida Matriz e n.m. de Custódio Pacheco,
da Ribeira Grande (Conceição) e Maria Vieira, da dita Matriz.
5
535
João António Botelho
Processo de vita et moribus.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel José Botelho e de Delfina Rosa,
n.p. de Francisco Botelho e Rosa Maria e n.m. de Custódio Pacheco e Maria Vieira,
naturais da Ribeira Grande.
5
542
[62]
Jacinto José da Cunha
24.07.1849
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 63
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
João Borges da Câmara e Inquirição de genere.
Gonçalo Raposo
Naturais de Ponta Delgada (São Sebastião), filhos do Capitão Manuel Raposo Bicudo e de
da Câmara
D. Mariana da Câmara, naturais de São Sebastião, n.p. do Capitão Antão Pacheco de
Sousa, de São Sebastião e Maria Carneiro Bicudo, da Ribeira Grande e n.m. do Capitão
Manuel Rebelo Furtado, de São Pedro e D. Maria da Câmara, de São Sebastião.
26.04.1719
4
401
João Borges de Macedo,
Tomás Francisco
de Macedo e
Francisco Borges
da Costa
10.05.1729
3
404
08.07.1753
6
409
João Borges de Medeiros Inquirição de genere.
05.02.1726
Natural de Ponta Delgada (São José), filho do Capitão Manuel de Medeiros, de São
Sebastião e de D. Isabel de Quental, de São José, n.p. do Capitão José Furtado de Medeiros,
de São Sebastião e de D. Maria de Bettencourt, de São José e n.m. de Pedro Garcia
Cordeiro, de São Pedro e de Ana Cordeiro de Sampayo, de São José de Ponta Delgada.
1
403
João Cabral
de Mendonça e
Francisco Inácio
de Mendonça
Inquirição de genere.
21.07.1750
Naturais de Vila Franca do Campo (São Pedro), filhos de Amaro Teixeira e de Bárbara Luís,
naturais da mesma, n.p. de Miguel Teixeira e de Isabel Cabral e n.m. de Manuel Teixeira e
Maria Mendes, de São Pedro de Ponta Delgada.
21
408
João Cordeiro
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de André Moreira, natural da
Ribeira Seca e Maria Luís, de Nossa Senhora da Estrela, n.p. de Inácio Cordeiro e
Isabel Gonçalves e n.m. de Manuel da Costa e Maria Luís.
13.02.1733
10
405
João Crisóstomo,
António Jacinto e
Francisco Joaquim
Inquirição de genere.
Naturais de Ponta Delgada (São Sebastião), filhos de João dos Santos e Rosa Maria, n.p.
de José Martins, natural de São José e Antónia do Sacramento, natural de São Sebastião e
n.m. de Manuel de Sousa, natural de São José e Ana dos Anjos, de São Sebastião.
28.04.1799
7
416
João da Costa Morato
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de João Morato e de Teresa
Palmeiro, n.p. de Manuel Vieira Morato, natural de Rabo de Peixe e Maria Teixeira,
da Ribeira Grande e n.m. de Manuel da Costa e Bárbara Palmeiro, da Ribeira Grande.
28.08.1731
1
405
João de Azevedo
Furtado de Mendonça
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel Vaz de Campos e de Luísa de
Sampayo, naturais da mesma, n.p. de Manuel Correia e Úrsula Ribeiro e n.m. de António
Clemente e Luzia da Costa, todos da Ribeira Grande.
09.05.1748
18
408
Processo de vita et moribus.
Naturais de São Sebastião, filhos de José de Castro de Macedo, de São Pedro e
Gertrudes Borges, de São José, n.p. de Manuel de Castro, dos Fenais da Luz e Joana
de Pina, de São Sebastião e n.m. de Manuel de Almeida Quental, do Nordestinho e
Úrsula de Sousa e Vasconcelos, dos Mosteiros.
João Borges de Medeiros Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São José), filho do Alferes João Borges de Medeiros
Bettencourt, natural da mesma e de D. Josefa Francisca do Rego, natural da Relva, n.p.
do Capitão Manuel de Medeiros de Sousa, de Rosto de Cão e D. Isabel do Quental, de
São Pedro e n.m. do Alferes João Velho Cabral de Melo e Antónia Maria, ambos da Relva.
[63]
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
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Nome
[64]
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
João de Fontes
Ferraz Júnior
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (Matriz), filho de João de Fontes Ferraz e de Joana
Amélia Correia.
25.01.1897
13
João de Fontes
Ferraz Júnior
Processo de vita et moribus.
Natural de Ponta Delgada (Matriz), filho de João de Fontes Ferraz e de Joana
Amélia Correia.
25.01.1897
13/14 544
João de Medeiros
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Manuel de Medeiros Pimentel, natural da
Lagoa (Santa Cruz) e de Isabel da Costa, natural de São Pedro, n.p. de Pedro Mendes e
Maria Fernandes, ambos da Lagoa e n.m. de Bartolomeu Fernandes e Isabel da Costa,
ambos de São Pedro.
18.12.1705
20
399
João de Medeiros Maeda Inquirição de genere.
20.03.1747
Natural da Lagoa (Matriz), filho de José de Medeiros Maeda e de Maria do Couto, n.p.
de João de Medeiros, natural da Lagoa e Maria Rodrigues, natural da Ribeira Grande (Matriz)
e n.m. de Agostinho Fernandes de Reboredo e Isabel do Couto, naturais da Lagoa.
16
408
João de Medeiros Raposo Inquirição de genere.
Natural da Achada Grande, filho do Capitão António de Medeiros Raposo, natural do
Nordestinho e Joana do Amaral e Vasconcelos, natural da Achadinha, n.p. de Domingos
Carvalho e Maria de Susa de Medeiros, do Nordestinho e n.m. do Capitão Manuel Vieira
Nunes e Bárbara de Amaral e Vasconcelos, da Achadinha.
03.05.1740
9
406
João de Paiva Moniz
Inquirição de genere.
25.04.1727
Natural de Rabo de Peixe, filho de Manuel Gonçalves Moniz e de Guiomar Nunes, naturais
de Rabo de Peixe, n.p. de Manuel Gonçalves e Ana da Silva, ambos de Rabo de Peixe e
n.m. de Baltazar Vaz, de Rabo de Peixe e de Jerónima Gomes, da Matriz da Ribeira Grande.
7
403
João de Sousa
Inquirição de genere.
06.03.1741
Natural do Rosto de Cão, filho de Lourenço de Sousa e Josefa de Almeida, n.p. de António
Correia, de Rosto de Cão e Maria Leda, da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário) e n.m. de
Manuel Gonçalves, da Relva e Maria Jorge, de Ponta Delgada (Chagas).
14
406
João de Sousa Machado
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de João de Sousa de Viveiros e de Isabel de
Sousa Machado, ambos de São Pedro, n.p. de André de Sousa Faleiro, de Rosto de Cão e
de Antónia de Viveiros, de São Pedro e n.m. de Lourenço de Sousa, de São Pedro e
Teresa Machado, da Fajã.
1757
4
410
João do Sacramento
Inquirição de genere.
Natural dos Fenais de Rabo de Peixe, irmão no Vale da Piedade de Água de Pau, filho de
Manuel Raposo Moreira e de Maria de Paiva, ambos dos Fenais de Rabo de Peixe, n.p. de
Sebastião Raposo e Bárbara de Sousa, da mesma e n.m. de João de Lima, também dos
Fenais e Ana de Paiva, da Lagoa.
08.12.1705
19
399
João Eloy do Rego
Processo de vita et moribus.
Inclui Demissória de 13.11.1867.
17.06.1867
12
544
537
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
João Emídio Botelho e
Manuel Sabino Botelho
Inquirição de genere.
Naturais de Lisboa (Santos-o-Velho), filho de João Botelho Neves e Escolástica Rosa,
n.p. de Manuel Botelho e Antónia de Almeida e n.m. de Francisco de Viveiros e Maria
Rosa, todos da Relva.
04.12.1799
9
416
João Francisco
Botelho de Bulhões
Inquirição de genere.
Natural da Povoação, filho de Lourenço Botelho de Bulhões, da Relva e de Teresa
Maria de Vasconcelos, da Povoação, n.p. de Matias Rodrigues, das Feteiras e Joana
Botelho, da Ribeira Seca e n.m. de Manuel Teixeira Fernandes, do Nordeste e Maria
Vieira de Vasconcelos, dos Fenais de Vera Cruz.
04.02.1766
10
410
João Francisco
de Pimentel
Inquirição de genere.
19.09.1771
Natural de Santa Cruz, Lagoa, filho de Francisco de Paiva Pimentel, de Santa Cruz, Lagoa,
e de Antónia de Sousa, de Nossa Senhora do Rosário da Lagoa, n.p. de Francisco de Paiva
Pimentel, de Santa Cruz, Lagoa e de Teresa Francisca da Rocha, da Maia e n.m. de Manuel
de Sousa dos Prazeres, de Rabo de Peixe e de Ângela de Lima, de Nossa Senhora do
Rosário da Lagoa.
12
411
João Gaspar da Silva
Inquirição de genere.
Natural da Relva, filho de Manuel da Silva, de São José e de Rosa Jacinta, da Relva, n.p.
de João da Silva e Teresa Cordeiro, naturais de São José e n.m. de Manuel Ferreira,
da Ribeirinha e Antónia de São João, da Relva.
03.03.1856
5
537
João Inácio de Medeiros
Inquirição de genere.
02.01.1742
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de João de Medeiros, natural das Capelas
e de Filipa Tavares, natural de São Pedro, n.p. de João de Medeiros, de Nossa Senhora dos
Anjos da Fajã e Catarina Meirinha, das Capelas e n.m. de André Tavares e Maria Lopes,
de São Pedro.
1
407
João Inácio Tavares
Inquirição de genere.
08.06.1764
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Domingos Dias Tavares,
da Matriz e Isabel Rosa, de Rosto de Cão, n.p. de Manuel Lopes e Maria Lopes, ambos de
Rosto de Cão e n.m. de Manuel Rebelo Feio e Maria Álvares de Sousa, de Rosto de Cão.
6
410
João Jacinto Ferreira
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Pedro João Ferreira e Margarida Inácia, n.p.
de André Ferreira e Maria Soares e n.m. de José de Sousa Soeiro e Maria Pereira.
27.09.1798
6
416
João Jacinto Pacheco
Inquirição de genere.
Natural do Nordeste, filho de Francisco Pacheco de Carvalho e Francisca de Jesus, n.p.
de Manuel de Carvalho e Maria Pimentel e n.m. de João Furtado e Vitória Maria,
naturais do Nordeste.
07.03.1845
2
534
João Jacinto Pacheco
Processo de vita et moribus.
Natural do Nordeste, filho de Francisco Pacheco de Carvalho e Francisca de Jesus,
n.p. de Manuel de Carvalho e Maria Pimentel e n.m. de João Furtado e Vitória Maria,
naturais do Nordeste.
07.12.1848
4
542
[65]
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 66
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Inquirição de genere.
31.03.1795
Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Manuel dos Santos, natural da Relva e de
Maria Francisca Leonor, de São José, n.p. de Manuel de Sousa (filho de Gonçalo de Sousa e
Ana de Oliveira, dos Ginetes) e de Maria Ferreira (filha de António Raposo e de Maria
Ferreira, da Relva) e n.m. de Miguel António (filho de João da Rocha e Francisca Alves,
de São José) e de Quitéria de São José (filha de Manuel Correia de Aguiar e Teresa
Rodrigues, de Rosto de Cão).
5
415
João José de Arruda
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (São Pedro), filho de João Álvares Reão e de Rosa
Margarida, naturais de São Pedro, n.p. de Manuel Álvares Reão e Maria de Paiva e n.m.
de José de Sousa de Amaral e Josefa de Medeiros.
08.08.1788
4
413
João José de Faria
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Francisco dos Ramos e de Francisca
Xavier, n.p. de José da Costa Lopes e Joana Rosa e n.m. de Bartolomeu de Faria e
Sebastiana de Jesus, naturais de São Sebastião.
06.02.1797
4
416
João José Machado
Processo de vita et moribus.
22.02.1815
9
400
João José Machado
Processo de vita et moribus.
Natural de Ponta Delgada, filho de João Machado e de Ana Luísa Tomázia.
13.07.1814
4
538
João José Pavão
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de João de Sousa Pavão, natural dos
Ginetes e de Maria Antónia, de Ponta Delgada (São José), n.p. de António de Sousa
Póvoas e Isabel Travassos, ambos dos Ginetes e n.m. de Manuel Furtado, de São
José e Ana Pavão, de Santa Luzia das Feteiras.
05.06.1765
8
410
João José Rodrigues,
Inquirição de genere.
10.05.1785
André Francisco de Melo Naturais da Povoação, filhos do Alferes João Rodrigues Almeida, da Povoação e de
e Eusébio de Melo
Francisca Pacheco de São João, de Nossa Senhora da Graça, n.p. de Estêvão Rodrigues da
Costa, de Vila Franca (São Pedro) e Antónia Manuel, da Povoação e n.m. de Pedro Lopes
de Andrade e Josefa de Melo, ambos do Porto Formoso.
9
412
João José Rodrigues
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Seca, filho de Manuel Rodrigues e de Francisca Helena, n.p. de Manuel
Rodrigues e Maria dos Anjos, da Ribeira Seca e n.m. de Francisco da Ponte Pacheco, do
Nordeste e Maria de Medeiros, da Ribeira Seca.
10
536
João José Rodrigues
Processo de vita et moribus.
18.01.1851
Natural da Ribeira Grande (Lomba de Santa Barbara), filho de Manuel Rodrigues e de
Francisca Helena, naturais da Ribeira Seca, n.p. de Manuel Rodrigues e Maria dos Anjos, da
Ribeira Seca e n.m. de Francisco da Ponte Pacheco, natural do Nordeste e Maria de
Medeiros, natural da Ribeira Seca.
1
544
João José Soares
de Mendonça
Inquirição de genere
Natural da Povoação, filho de Feliciano Pacheco de Mendonça e Bárbara Soares,
da Povoação, n.p. de Pedro Pacheco de Mendonça e de Inês Ferreira e n.m. de
Tomás Soares de Arruda e Margarida Ferreira, da Povoação.
4
412
[66]
João José da Rocha
Nepomuceno
16.09.1849
13.08.1784
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 67
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
João Pedro de Medeiros
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Manuel de Medeiros, natural da
Achadinha e de Helena de São João, natural de São Miguel de Vila Franca, n.p. de
Pedro Pacheco e Bernarda de Resendes e n.m. de Miguel Rodrigues e Ana da Costa.
08.08.1796
2
416
João Soares
Inquirição de genere.
Natural de São Sebastião, Ponta Delgada, filho de António Cordeiro, de São José e
de Maria Tavares, de São Sebastião, n.p. de Manuel Cordeiro Rodovalho, da Relva e de
Ana Soares, de São José e n.m., de Manuel de Almeida, de São Sebastião e de Maria
Tavares, da Bretanha.
08.04.1771
11
411
João Soares de Oliveira
Processo de vita et moribus.
Natural de São Pedro de Vila Franca, filho de António Soares de Oliveira e de Ana Júlia,
n.p. de José Soares e Flora Jacinta e n.m. de João Moniz e Teresa Maria de Jesus.
Inclui processo de património eclesiástico com escritura de dotação de 27.03.1844
feita por seus pais (2.08.1844).
07.12.1844
1
541
João Soares de Sousa
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Manuel Soares e de Jacinta Cândida,
naturais de São José, n.p. de João Soares e Rosa Jacinta, ambos de São José e n.m.
de José Francisco de Sousa, de São José e Leonor Jacinta da Conceição, natural de
Santo António.
13.07.1841
5
533
João Soares de Sousa
Processo de vita et moribus.
Nasceu em Ponta Delgada (São José), filho de Manuel Soares e de Jacinta Cândida,
naturais de São José, n.p. de João Soares e Rosa Jacinta, ambos de São José e n.m.
de José Francisco de Sousa, de São José e Leonor Jacinta da Conceição, natural
de Santo António.
28.11.1842
2
540
João Tavares
Inquirição de genere.
Natural de Rabo de Peixe, irmão do Padre Miguel Tavares do Amaral, Cura da Ermida
de Nossa Senhora dos Prazeres de Rabo de Peixe, filhos de Miguel da Câmara, natural
de Rabo de Peixe e de Maria de Amaral, natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário),
n.p. de Domingos Pires e Maria Simões, ambos de Rabo de Peixe e n.m. de Amaro da
Costa, natural da Lagoa e Francisca do Amaral, de Rabo de Peixe.
08.08.1754
8
409
João Tavares de Oliveira
Inquirição de genere.
04.05.1842
Natural de Rabo de Peixe, filho de Francisco Tavares de Oliveira e Antónia Clara de Jesus,
n.p. de António Tavares da Costa e Antónia Cabral e n.m. de Francisco Tavares do Couto
e Josefa Inácia, naturais de Rabo de Peixe.
8
533
João Tavares de Oliveira
Processo de vita et moribus.
18.05.1843
Natural de Rabo de Peixe, filho de Francisco Tavares de Oliveira e Antónia Clara de Jesus,
n.p. de António Tavares da Costa e Antónia Cabral e n.m. de Francisco Tavares do Couto
e Josefa Inácia, naturais de Rabo de Peixe.
5
540
João Velho e
André de Sousa Velho
Inquirição de genere.
25.10.1723
Naturais de Ponta Delgada (São Mateus), filhos de João Velho, da mesma e de Maria da
Costa, natural da Maia, n.p. de João Velho, de São Mateus e de Bárbara Cabral, de São José
e n.m. de Pedro Teixeira, do Porto Formoso e Maria da Costa Leite, natural da Maia.
8
402
[67]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 68
Nome
Data
Doc. Maço
João Velho da Costa
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca, filho de António de Sequeira Pato e Bárbara de Medeiros, n.p.
de Miguel da Silva Pato e Catarina Vieira e n.m. de Pedro Curvelo e Maria Bultoa,
todos de Vila Franca.
23.08.1680
6
399
João Velho de Faria
Machado
Inquirição de genere.
05.10.1699
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), Vigário Geral do Bispado de Angra, formado
em Coimbra em Cânones, filho de Francisco Machado de Faria e Mariana Cabral de Melo,
n.p. de António de Faria e Maia e Margarida Maria e n.m. de Manuel Alves Senra e
Isabel Cabral de Melo.
16
399
João Xavier
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Francisco Xavier
Tavares e de Teresa de Jesus, n.p. de António de Sousa e Teodora Tavares e n.m. de
José Vieira e Isabel Francisca.
15.05.1814
8
531
Joaquim António Soares
Inquirição de genere.
Natural do Pico da Pedra, filho de Caetano Alves e Maria de Jesus, n.p. de José Alves e
Cecília da Conceição e n.m. de José Soares e Luísa de Viveiros, todos do Pico da Pedra.
24.04.1845
3
534
Joaquim António Soares
Processo de vita et moribus.
Natural do Pico da Pedra, filho de Caetano Alves e Maria de Jesus, n.p. de José Alves e
Cecília da Conceição e n.m. de José Soares e Luísa de Viveiros, todos do Pico da Pedra.
10.03.1852
6
544
Joaquim Ferreira Souto
Inquirição de genere.
Natural de Santiago de Beduído (Feira) e Tesoureiro da Matriz de São Miguel de
Vila Franca do Campo, filho de Manuel Ferreira e de Ana Marques, n.p. de António
Ferreira e Antónia Marques e n.m. de Marcelino Dias e Bernarda Marques.
11.07.1817
9
531
Joaquim Guilherme
da Costa
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de José Venâncio da Costa e Mariana de Jesus,
n.p. de António José da Costa e Antónia da Conceição e n.m. de José Inácio Correia e
Rosa Maria, naturais da referida Matriz.
17.08.1841
7
533
Joaquim Guilherme
da Costa
Processo de vita et moribus.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de José Venâncio da Costa e Mariana de Jesus,
n.p. de António José da Costa e Antónia da Conceição e n.m. de José Inácio Correia e
Rosa Maria, naturais da referida Matriz.
02.01.1843
3
540
Joaquim José de Gouveia Inquirição de genere.
14.11.1788
e Maurício José
Naturais de Rabo de Peixe, filhos de Bartolomeu Garcia, da Matriz da Ribeira Grande e
Josefa Teresa, de Rabo de Peixe, n.p. de João Garcia, da Matriz e Ana de Almeida, de Nossa
Senhora da Conceição da Ribeira Grande e n.m. de Manuel da Costa Cruz e Josefa
dos Santos, ambos de Rabo de Peixe.
9
413
Joaquim José
de Vasconcelos
2
413
[68]
Documento (Sumário)
Inquirição de genere.
06.07.1786
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José Francisco da Cunha, de São José e
de Rosa Isabel, de São Sebastião, n.p. de António da Cunha, de São Sebastião e Maria
Francisca, de São José e n.m. de Manuel de Sousa Vasconcelos, de São Pedro e Luzia
Inácia, de São Sebastião.
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 69
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Jorge de Sousa Rocha
Inquirição de genere.
Natural da Maia, filho de Baltazar de Sousa Homem, da Maia e de Ana da Rocha, da
Ribeira Grande, n.p. de Francisco Vieira Homem e Maria da Costa Sousa e n.m. de
Francisco Pires Paiva, da Ribeira Seca e Maria Francisca, da Ribeira Grande.
10.02.1706
1
400
José Afonso Anes e
Francisco da Costa Feijó
Inquirição de genere.
Naturais da Lagoa (Matriz), filhos de João Feijó, natural de Rosto de Cão e Maria da
Costa do Cabo, natural da Matriz, n.p. de Manuel de Oliveira, de Rosto de Cão e de
Ana Fernandes, da mesma e n.m. de Manuel da Silva Dorta e de Maria do Couto,
ambos da Matriz da Lagoa.
16.04.1721
10
402
José Alexandre Arcuffe
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho do Capitão Alexandre Aires da Silva, do
Funchal (Sé) e de Maria Catarina da Piedade, da Ribeira Grande. Era sobrinho paterno
do Padre António Manuel do Sacramento, Presbítero do Hábito de São Pedro, João
Francisco Regis e Filipe Néri, familiares do Santo Ofício e sobrinho materno dos Padres
João Arcuffe e Pedro João Arcuffe, Vigário da Paróquia de São Roque.
28.11.1781
1
412
José Álvares
de Bettencourt e
António Xavier
de Macedo
Inquirição de genere.
16.02.1720
Naturais de Ponta Delgada (São Sebastião), filhos de José de Macedo, da mesma e de Maria
de Teves, de São Mateus, n.p. de José de Bettencourt, de São Sebastião e Ana de Macedo,
de São Mateus e n.m. de Diogo da Silva e Antónia de Teves, ambos de São Mateus
(hoje São José).
10
401
José Álvares de Melo
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Manuel Álvares Correia e
Josefa de Melo Machado, naturais da mesma, n.p. de António Correia, da Maia e Maria
Álvares, da Ribeira Grande e n.m. de Manuel Martins e Maria Moreira.
12.01.1743
8
407
José António Barbosa
Processo de vita et moribus e então Tesoureiro da Igreja da Achada Grande.
Natural da Ribeira Grande, filho de Francisco Inácio Barbosa e de Rosa Jacinta, naturais
da Ribeira Grande (Matriz), n.p. de José Caetano Barbosa e de Vitória da Ascensão e
n.m. de José António de Bulhões e Maria Teresa.
11.02.1840
8
538
José António de Freitas2
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de Pedro de Freitas da Costa,
da mesma e de Maria Teixeira, das Manadas (São Jorge), n.p. de Pedro Rodrigues e
Susana de Freitas e n.m. de Francisco Gaspar e Margarida Pires.
01.04.1719
-
401
20.11.1788
11
413
José António de Medeiros Inquirição de genere
Natural da Achadinha (Nossa Senhora do Rosário), filho de Caetano de Medeiros, do
Faial (Nossa Senhora da Graça) e Maria Pacheco, da Achadinha, n.p. do Capitão Gonçalo
Raposo de Medeiros, do Faial e Joana Cabral, do Nordeste e n.m. do Alferes Manuel da
Rosa Carneiro, da Achadinha e Maria Pacheco das Neves, da Ribeira Grande
(Nossa Senhora da Conceição).
2 Processo muito incompleto.
[69]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 70
Nome
Documento (Sumário)
[70]
Data
Doc. Maço
José António de Medeiros Inquirição de genere.
Natural dos Fenais da Vera Cruz, filho de José da Senra Carreiro e Ana Maria Soares,
naturais dos Fenais da Vera Cruz, n.p. de Manuel da Senra, da Matriz da Ribeira Grande e
Margarida Lopes, dos Fenais e n.m. de Manuel de Sousa Correia e Mariana Soares,
ambos dos Fenais de Vera Cruz.
09.08.1788
5
413
José António
de Medeiros Santos
07.01.1841
5
539
José António de Melo e Inquirição de genere.
15.12.1788
Jacinto de Sousa de Melo Naturais de Ponta Delgada (São José), filhos de José António de Melo, de São Pedro e
Francisca Rita de Jesus, de São José, n.p. de Manuel Rodrigues, de São Sebastião e Jacinta de
Melo, de São Pedro e n.m. de Manuel de Sousa e Maria da Assunção, ambos de São José.
12
413
José Augusto da Ponte
Inquirição de genere.
12.12.1848
Natural de Rabo de Peixe, filho de Manuel José da Ponte e de Ana Joaquina, n.p. de José da
Ponte e de Antónia de São José e n.m. de José Gonçalves Entrudo e Josefa de São Miguel.
10
535
José Augusto da Ponte
Processo de vita et moribus.
24.10.1849
Natural de Rabo de Peixe, filho de Manuel José da Ponte e de Ana Joaquina, n.p. de José da
Ponte e de Antónia de São José e n.m. de José Gonçalves Entrudo e Josefa de São Miguel,
todos de Rabo de Peixe.
7
542
José Bento
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel Ferreira Gama e de Rosa Maria, n.p.
de João Ferreira Gama e Sebastiana Rodrigues e n.m. de Manuel da Costa Rosa e Isabel
Rodrigues, todos da Matriz da Ribeira Grande.
16.06.1768
6
411
José Borges,
Pedro Borges Celestino,
Luís Borges,
Francisco Xavier e
Adrião Borges
Inquirição de genere.
22.06.1751
Naturais de Santo António do Bom Retiro de Roça Grande, Sabará (Brasil) menos Adrião,
natural da Matriz de Santo António do Rio Acima, filhos do Alferes Manuel de Sousa Rego,
de Ponta Delgada (São Sebastião) e de Brízida Paes Leme, natural de São Paulo (Matriz),
n.p. de Manuel da Costa e Clara de Sousa e n.m., do Capitão Aurélio Pinto Guedes e
Ana Borges de Sequeira.
2
409
José Caetano
de Medeiros,
António Francisco
de Medeiros e
Manuel João Ramiles
Inquirição de genere.
04.02.1742
Naturais de Vila Franca do Campo (São Miguel), filhos do Capitão Manuel João Ramiles,
Familiar do Santo Ofício, natural de São Pedro de Rates (Braga) e de Gertrudes Maria de
Medeiros, natural de Água de Pau, n.p. de Pedro João Ramiles, de São Julião de Gulões (Tuy)
e Paula Antónia, de São Pedro de Rates e n.m. de João de Oliveira e Maria de Medeiros.
3
407
José Caetano Tavares
Inquirição de genere.
07.02.1849
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de José Jacinto Jácome Tavares e
de Francisca Luciana, n.p. de Manuel Veríssimo de Medeiros, de São Miguel e Helena Rosa,
de São Pedro da mesma e n.m. de António Nicolau Lima e de Bernardina Leonor, ambos
de São Miguel de Vila Franca do Campo.
3
536
Processo de vita et moribus.
Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho de André José de Medeiros e de
Rosa Inácia de Jesus, da mesma, n.p. de Filipe de Matos e Teresa de Medeiros, de
Vila Franca do Campo e n.m. de João Raposo, de Vila Franca e Maria Joaquina, da
Lagoa (Nossa Senhora do Rosário).
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
José Caetano Travassos
e Lima
Processo de vita et moribus.
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de José Jacinto Jácome Travassos
e de Francisca Luciana.
14.11.1851
3
544
José da Estrela
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Pedro José de Matos e Francisca Teresa,
n.p. de Francisco de Matos e Francisca do Rosário, naturais de São José e n.m. de
Manuel Martins, do Porto Formoso e Maria da Estrela, de Água de Pau.
24.05.1801
1
531
José da Silva
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Manuel de Sousa Soares, dos Fenais
(Nossa Senhora da Luz) e Maria da Silva, natural de São Sebastião, n.p. de Belchior de
Sousa, natural de Vila do Porto (Santa Maria) e Isabel Cabral, de Nossa Senhora da Luz
e n.m. de João Machado e Maria Martins, ambos de São Sebastião.
04.09.1745
6
408
José da Silva
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Manuel de Sousa Soares, natural de
Nossa Senhora da Luz dos Fenais e de Maria da Silva, natural de São Sebastião, n.p. de
Belchior de Sousa, natural de Vila do Porto (Santa Maria) e Isabel Cabral, de Nossa
Senhora da Luz e n.m. de João Machado e Maria Martins, ambos de São Sebastião.
10.08.1748
15
408
José da Silva
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Seca, filho de José da Silva e Marta da Ponte, naturais da Ribeira
Seca, n.p. de José da Silva, da Ribeira Grande (Matriz) e Ana Rodrigues, natural da Ribeira
Seca e n.m. de António Lopes, da Ribeira Grande (Matriz) e Maria Dias, da Ribeira Seca.
09.02.1749
19
408
José da Silva
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de António Rodrigues Piques e de Maria do
Monte, n.p. de Francisco Rodrigues Piques e de Maria de Matos e n.m. de Manuel do
Monte e de Maria da Costa, todos da Ribeira Grande.
06.07.1722
2
402
José da Silva Avelar e
Manuel da Silva Avelar
Inquirição de genere.
14.06.1789
Naturais de São Pedro da Ribeira Seca, filhos do Alferes Manuel da Silva Avelar, da Ribeira
Seca e de Antónia Rosa Joaquina, de Rabo de Peixe, n.p. de José da Silva e de Marta da
Ponte e Sousa, ambos de São Pedro e n.m. de Manuel de Gouveia Mariz e de Luzia Cabral,
ambos de Rabo de Peixe.
10
414
José da Silva Nunes
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira (Nossa Senhora da Estrela), filho de Manuel Dias Correia e de Maria
Alves, n.p. de João Correia e de Maria Dias e n.m. de Manuel da Silva e Maria Alves,
naturais da mesma.
25.03.1738
3
406
José de Andrade Ledo
Inquirição de genere.
Natural dos Fenais da Luz, filho de Manuel de Andrade e Maria de Sousa, naturais da
mesma, n.p. de Manuel de Sousa Ledo, das Capelas e Maria de Andrade, dos Fenais da
Luz e n.m. de Manuel Coelho e Maria de Sousa, ambos dos Fenais da Luz.
16.04.1721
12
401
José de Faria de Melo
Inquirição de genere.
Natural do Porto Formoso, filho de Matias Moreira de Aragão e de Inês de Melo, n.p. de
Domingos de Oliveira, natural da Ribeira Grande (Matriz) e Maria Moreira, de Santo
António e n.m. de Sebastião de Araújo e Bárbara da Costa, do Porto Formoso.
02.01.1743
7
407
[71]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 72
Nome
Data
Doc. Maço
José de Frias Pacheco
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Domingos Pacheco e Justa de Sousa, n.p.
de Domingos Dias e Maria Pacheco e n.m. de António de Sousa e Maria de Frias,
todos da Ribeira Grande.
12.03.1716
1
401
José de Lima
Inquirição de genere.
Natural da Lagoa, filho de António de Lima e de Luzia da Conceição, n.p. de Simão de
Lima e de Águeda de Sousa, ambos da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário) e n.m. de
Manuel de Almeida, da Lagoa e de Maria Cabral, da Relva.
27.03.1789
8
414
José de Medeiros
Inquirição de genere.
Natural de Nossa Senhora dos Anjos da Fajã, filho de Domingos de Sousa, natural dos
Fenais (Nossa Senhora da Luz) e Ana de Medeiros, natural de Ponta Delgada
(São Sebastião), n.p. de Francisco de Benevides, natural da Relva e Bárbara da Costa, de
Rosto de Cão e n.m. de Francisco de Araújo, de São Sebastião e Esperança da Costa,
de Santo António.
27.01.1744
11
408
José de Medeiros
Inquirição de genere.
27.10.1731
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de António da Costa Sousa,
natural da Achada Grande e de Josefa de Paiva, natural de Rabo de Peixe, n.p. de Francisco
Voltão, da Achadinha e de Ana da Rosa, natural da Achada Grande e n.m. de António de
Medeiros da Costa e Ana de Paiva, ambos de Rabo de Peixe.
12
405
José de Medeiros e
Francisco Borges
de Medeiros
Processo de vita et moribus.
17.11.1730
Naturais de Ponta Delgada, filhos de Manuel Raposo da Câmara, natural de São Sebastião e
de D. Maria Leonor de Medeiros, de São Mateus, n.p. de Manuel Raposo Bicudo, de
São Sebastião e de D. Mariana da Câmara, de São Mateus e n.m. de Gaspar de Medeiros,
de São Sebastião e de D. Ana de Gusmão, da Ribeira Grande (Matriz).
14
404
José de Medeiros
Bettencourt
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Mateus), filho do Capitão Lourenço de Bettencourt, de
São Sebastião e de D. Maria de São Payo, de São Mateus, n.p. do Capitão José Furtado
de Mendonça (anteriormente ao Crisma, Daniel Furtado de Mendonça), de São Sebastião
e D. Maria de Bettencourt, de São Mateus e n.m. de Jorge Ferreira, da Candelária e
Maria Martins, de São Mateus.
29.12.1718
-
401
José de Medeiros
de Sousa e
Miguel de Sousa
Inquirição de genere.
22.08.1726
Naturais das Capelas, filhos do Capitão Miguel de Sousa Travassos, das Capelas e de Maria
da Fonseca e Medeiros, de Santo António, n.p. de Francisco Travassos, das Capelas e de
Maria de Benevides, natural da Relva e n.m. de Francisco da Fonseca e Catarina de
Resende e Medeiros, ambos de Santo António.
6
403
9
406
[72]
Documento (Sumário)
José de Medeiros Raposo Inquirição de genere.
Natural da Achadinha, filho do Capitão António de Medeiros Raposo, natural do
Nordestinho e Joana do Amaral e Vasconcelos, natural da Achadinha, n.p. de
Domingos Carvalho e Maria de Susa de Medeiros, do Nordestinho e n.m. do Capitão
Manuel Vieira Nunes e Bárbara de Amaral e Vasconcelos, da Achadinha.
03.05.1740
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 73
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
José de Melo da Costa
Processo de vita et moribus.
Natural da Ribeira Seca, filho de Domingos de Melo e Maria da Costa, n.p. de Manuel
da Costa Salgado e Úrsula de Melo Jordão e n.m. de Manuel Pires e Maria da Costa,
todos da Ribeira Seca.
20.10.1730
13
404
José de Sousa
Inquirição de genere.
10.06.1728
Natural da Ribeira Seca, filho de João de Sousa Carneiro, natural da Ribeira Seca, e de
Bárbara Cabral, da Matriz da Ribeira Grande, n.p. de João de Pimentel Resende, do
Porto Formoso e de Isabel de Sousa, da Ribeira Seca e n.m. de Manuel de Sousa Trilhado e
Maria Teixeira, ambos da Ribeira Grande.
13
403
José de Sousa
Inquirição de genere.
Natural da Maia, filho de António Correia de Sousa e de Maria do Couto, n.p. de António
Rebelo e Bárbara de Sousa e n.m. de Manuel do Couto e Maria Manuel.
14
405
José de Sousa Simas
Inquirição de genere.
15.08.1740
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de António de Simas e
Maria de Sousa, ambos da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), n.p. de Lourenço da
Costa e Genoveva de Simas, do Faial (Nossa Senhora da Graça) e n.m. de António
Martins e Maria de Sousa.
8
406
José Dias Tavares
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Manuel Dias e de
Francisca do Rosário, ambos de Nossa Senhora da Conceição, n.p. de Manuel Dias e
Maria Gomes, da Matriz da Ribeira Grande e n.m. de Manuel da Costa e Josefa da Ponte,
da mesma Matriz.
1
411
José Eloy do Rego
Inquirição de genere.
30.10.1866
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), morador no Seminário de Santarém, filho de
António do Rego, da Fajã de Baixo e de Teresa Miquelina, de São Sebastião, n.p. de Manuel
do Rego e Ana de Jesus, ambos da Fajã de Baixo e n.m. de João de Viveiros, de São
Sebastião e Ana Miquelina da Glória, de Santo António.
11
537
José Ferreira de Brum,
João Velho
de Melo Cabral e
António Xavier de Brum
Inquirição de genere.
27.10.1728
Naturais da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filhos do Capitão-mor
Francisco Tavares Homem e de D. Bárbara Teresa de Mendonça, n.p. do Capitão Rodrigo
Tavares Homem e de D. Luzia da Silva, naturais da Matriz e n.m. do Dr. Rodrigo Velho
de Melo e de D. Guiomar de Mendonça, naturais de São Mateus (Ponta Delgada).
18
403
José Francisco do Rego
Inquirição de genere.
Natural da Relva e morador no Rio Grande (Brasil), filho de António de Sousa Coelho e
de Josefa de Jesus, n.p. de António de Sousa Coelho e Ana de São Miguel, naturais de
Ponta Delgada (São José) e n.m. de Francisco da Silva e Josefa do Rego, naturais da Relva.
26.09.1790
1
415
José Francisco Mendes e
António Jacinto de Jesus
Inquirição de genere.
Naturais de São Sebastião de Ponta Delgada, filhos de João José Mendes, de São
Sebastião e de Umbelina Rosa, de São Pedro, n.p. de João Alves Mendes, da Relva e de
Maria Francisca, de Santo António e n.m. de Miguel Dias de Sousa e de Mariana de Jesus,
ambos de São Sebastião de Ponta Delgada.
26.02.1789
3
414
30.10.1736
06.09.1766
[73]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 74
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
José Francisco Nunes
Inquirição de genere.
12.05.1791
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Cosme Rodrigues Nunes, de Santo
António do Ribeirão de Santa Bárbara, Minas Gerais e de Francisca Maria Rosa, de
Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, n.p. de João Rodrigues Nunes, da Ribeira
Grande e de Josefa da Costa Nunes, de Santo António do Ribeirão e n.m. de João de Paiva.
2
415
José Francisco Pereira
Inquirição de genere.
10.09.1793
Natural dos Ginetes, filho de António Pereira Raposo, dos Ginetes e de Antónia Francisca,
dos Mosteiros, n.p. de Matias Pereira e Joana Raposo, naturais dos Ginetes e n.m. de
Manuel Benevides Furtado, da Relva e Bárbara Pavão, dos Mosteiros.
3
415
1
413
José Francisco Tavares e Inquirição de genere.
António José de Medeiros Naturais de Rabo de Peixe, filhos de José Tavares Moniz, de Rabo de Peixe, e Ana
Joaquina de Belém, da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), n.p. de António da Silva
Moniz e Antónia Tavares e n.m. de Paulo de Medeiros e Josefa de Medeiros.
09.04.1788
Inquirição de genere.
09.11.1860
Natural da Lagoa (Santa Cruz), morador no Seminário de Santarém, filho de Francisco
Inácio de Faria, natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição) e de Fortunata
Emília, da mesma vila (Matriz), n.p. de Inácio José de Faria, de Rabo de Peixe e
Adriana Rosa, de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de João José Mendes, de São José e
Ana Perpétua, de Nossa Senhora da Estrela (Ribeira Grande).
10
537
José Inácio de Faria
Processo de vita et moribus.
11.11.1867
Natural da Lagoa (Santa Cruz), morador no Seminário de Santarém, filho de
Francisco Inácio de Faria, natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição) e de
Fortunata Emília, da mesma vila (Matriz), n.p. de Inácio José de Faria, de Rabo de Peixe e
Adriana Rosa, de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de João José Mendes, de São José e
Ana Perpétua, de Nossa Senhora da Estrela (Ribeira Grande).
9
544
José Inácio de Sousa,
Alexandre José
de Sousa e
Nicolau Francisco
de Sousa
Inquirição de genere.
Naturais da Ribeira Grande (Matriz), filhos do Alferes Duarte Manuel de Sousa, da
Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição) e Rosa Jacinta, da Matriz, n.p. de João
Rodrigues Álvares e Maria da Paixão, ambos de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de
Nicolau de Sousa e Ana Francisca, ambos da Matriz da Ribeira Grande.
12.08.1785
10
412
José Inácio de
Viveiros Melo
Inquirição de genere.
Natural dos Fenais da Luz, filho de Manuel Inácio de Viveiros Melo e de Ana de Jesus,
n.p. de Manuel Inácio de Viveiros Melo e Joana de Jesus e n.m. de Manuel Francisco de
Teves e Maria de Jesus.
12.05.1849
7
536
José Inácio de
Viveiros Melo
Processo de vita et moribus.
Natural dos Fenais da Luz, filho de Manuel Inácio de Viveiros Melo e de Ana de Jesus,
n.p. de Manuel Inácio de Viveiros Melo e Joana de Jesus e n.m. de Manuel Francisco de
Teves e Maria de Jesus.
25.11.1851
4
544
José Jacinto
do Monte Bastos
Inquirição de genere.
Natural da Maia, filho de José do Monte Bastos, da Maia e de Maria Cândida de Jesus,
da Ribeira Grande (Matriz), n.p. de João do Monte Bastos e Rosa Jacinta, naturais da
Maia e n.m. de Manuel Raposo Quintanilha e Maria de Jesus, da Ribeira Grande.
01.03.1852
3
537
[74]
José Inácio de Faria
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 75
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
José Jacinto
do Monte Bastos
Processo de vita et moribus.
Natural da Maia, filho de José do Monte Bastos, da Maia e de Maria Cândida de Jesus,
da Ribeira Grande (Matriz), n.p. de João do Monte Bastos e Rosa Jacinta, naturais da
Maia e n.m. de Manuel Raposo Quintanilha e Maria de Jesus, da Ribeira Grande.
12.02.1853
8
544
José Jacinto Pereira
Inquirição de genere.
Natural de Nossa Senhora da Luz dos Fenais, filho de António José Correia e de Mariana
Jacinta da Estrela, dos Fenais, n.p. de António Correia, de São José de Ponta Delgada e
Bárbara da Conceição, dos Fenais e n.m. de António José e Ana dos Santos, dos Fenais.
12.01.1822
10
531
José Jácome Carreiro
Inquirição de genere.
09.06.1795
Natural dos Ginetes, filho de João Carreiro e de Bárbara da Trindade, ambos dos Ginetes,
n.p. de João Carreiro, dos Ginetes e de Maria Jácome, das Feteiras e n.m. de Manuel
Rodrigues e Maria do Livramento, ambos dos Ginetes.
7
415
José Júlio Teixeira
Inquirição de genere.
Natural de São Pedro (Ponta Delgada), filho de Francisco António Teixeira, de São Pedro
e de Jacinta Angélica Póvoas, de Rosto de Cão, n.p. de José Teixeira Cordeiro, natural das
Velas e de Maria Prudenciana, de São Pedro e n.m. de Manuel Luís Póvoas, de
São José e Ana Leonor, de São Pedro.
11.06.1856
7
537
José Leonel de Paiva
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Félix José de Paiva, da Matriz e Jacinta
Querubina, de Nossa Senhora da Conceição da mesma vila, n.p. de João de Paiva e
Antónia Maria, ambos da Matriz e n.m. de José Francisco da Silva, da Achadinha e
Teresa de Jesus, de Nossa Senhora da Conceição.
24.05.1841
3
533
José Leonel de Paiva
Processo de vita et moribus.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Félix José de Paiva, da Matriz e Jacinta
Querubina, de Nossa Senhora da Conceição da mesma vila, n.p. de João de Paiva e
Antónia Maria, ambos da Matriz e n.m. de José Francisco da Silva, da Achadinha e
Teresa de Jesus, de Nossa Senhora da Conceição.
25.09.1846
4
541
José Marcelino Tavares
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de incógnitos e “educado em aulas
publicas por benefício e esmola de bem feitor a pontos de frequentar os estudos de Latim e
Sagrada Teologia”.
13.11.1848
8
535
José Marcelino Tavares
Processo de vita et moribus.
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de incógnitos e dado a criar a
Jacinta Cândida, de Ponta Garça, casada com Jacinto Carôlo.
22.02.1850
4
543
José Nunes da Costa
Processo de vita et moribus.
20.11.1729
Natural de Rabo de Peixe, filho do Capitão Manuel da Costa Travassos e Maria Lopes, n.p.
de Domingos da Costa Travassos e Maria Nunes e n.m. de Manuel Pires Silva e Maria
Lopes, todos de Rabo de Peixe.
8
404
[75]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 76
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Inquirição de genere.
25.11.1732
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Matias Pacheco e de Margarida de
Sousa, naturais da mesma, n.p. de Manuel Pacheco, de Santa Maria (Matriz) e de Isabel de
Melo, da mesma ilha (Nossa Senhora das Candeias) e n.m. de Manuel Machado, natural de
Angra (Conceição) e Joana de Sousa, natural de São Sebastião.
9
405
José Ulisses
de Normandia
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de João Jacinto Leonardo e de
Antónia Margarida, de Vila Franca do Campo, n.p. de António Leonardo e Joaquina de
Belém e n.m. de Manuel Veríssimo de Medeiros e Helena Rosa, esta de São Pedro de
Vila Franca do Campo.
02.05.1840
7
532
José Ulisses
de Normandia
Processo de vita et moribus.
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de João Jacinto Leonardo e de
Antónia Margarida, de Vila Franca do Campo, n.p. de António Leonardo e Joaquina de
Belém e n.m. de Manuel Veríssimo de Medeiros e Helena Rosa, esta de São Pedro de
Vila Franca do Campo.
25.02.1841
7
539
José Virgolino Pereira
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José Francisco Pereira e Francisca
Jacinta, n.p. de Sebastião Pereira e Quitéria Joana, de São Sebastião e n.m. de Francisco
Cabral e Ana Maria, ambos da freguesia de São José.
02.09.1806
3
531
Justino Pereira
de Medeiros
Inquirição de genere.
22.01.1848
Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de António Pereira, natural da mesma
e de Claudina Margarida, de Rabo de Peixe, n.p. de André Pereira e Bárbara de Medeiros
e n.m. de António de Medeiros, da Achadinha e Sebastiana de Jesus, de Rabo de Peixe.
3
535
Justino Pereira
de Medeiros
Processo de vita et moribus.
05.04.1850
Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de António Pereira, da mesma e de
Cláudia Margarida, de Rabo de Peixe, n.p. de André Pereira e Bárbara de Medeiros, da
Lagoa e n.m. de António de Medeiros, da Achadinha e Sebastiana de Jesus, de Rabo de Peixe.
6
543
Leandro de Sousa
Inquirição de genere.
10.06.1699
Natural da Relva, filho de João de Sousa de Vasconcelos, da Bretanha e de Isabel Cordeiro,
da Relva, n.p. de Amaro da Costa, de Santo António e Ana de Vasconcelos, da Bretanha e
n.m. de Ascêncio Gonçalves, da Relva e Isabel Cordeiro, da mesma.
15
399
Luciano Francisco
de Medeiros
Inquirição de genere.
Natural da Lagoa (Santa Cruz), filho de António Pacheco de Medeiros Araújo, natural
de Água de Pau e de D. Ana Emília Soares, da Lagoa, n.p. de Francisco António de
Medeiros e de Ana Joaquina de Medeiros e n.m. de António Soares de Macedo e
Florência Rosa do Sacramento.
11
532
Luciano Francisco
de Medeiros
Processo de vita et moribus.
08.02.1843
Natural da Lagoa (Santa Cruz), filho de António Pacheco de Medeiros Araújo, natural
de Água de Pau e de D. Ana Emília Soares, da Lagoa, n.p. de Francisco António de Medeiros
e de Ana Joaquina de Medeiros e n.m. de António Soares de Macedo e Florência Rosa
do Sacramento.
4
540
[76]
José Pacheco
30.07.1840
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 77
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Luís Francisco Cordeiro
Inquirição de genere.
Natural de Rosto de Cão, filho de Luís Francisco Cordeiro e de D. Jacinta Tomázia
Cordeiro, n.p. de António Cordeiro e Rosa Francisca e n.m. de Manuel de Fontes e
D. Ana Joaquina.
27.05.1840
9
532
Luís Francisco Cordeiro
Processo de vita et moribus.
Natural de Rosto de Cão, filho de Luís Francisco Cordeiro e de D. Jacinta Tomázia
Cordeiro, n.p. de António Cordeiro e Rosa Francisca e n.m. de Manuel de Fontes e
D. Ana Joaquina.
20.11.1840
9
538
Manuel Afonso de Melo
Inquirição de genere.
Natural dos Fenais de Vera Cruz, filho do Capitão Manuel Afonso de Melo e D. Maria
de Bettencourt, n.p. de Carlos de Sousa Torres e Maria de Melo Leite e n.m. de António
Vaz e Maria de Bettencourt.
05.01.1742
2
407
Manuel Álvares Cabral
Inquirição de genere.
Natural de Rabo de Peixe, filho de André Álvares Cabral, de Rabo de Peixe e de Maria de
Pimentel, dos Fenais da Luz, n.p. de Estêvão Álvares Barreiros, de Santa Cruz (Lagoa) e
Guiomar Cabral de Melo, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela) e n.m. de Rafael
de Sousa, da Candelária e Maria de Pimentel, dos Fenais da Luz.
06.09.1715
13
400
Manuel Álvares Puga
Processo de vita et moribus.
Natural da Lagoa (Santa Cruz), filho do Dr. Manuel Álvares Puga e Isabel de Medeiros,
n.p. de Manuel de Puga e Catarina de Paiva, naturais de Santa Cruz e n.m. do Capitão
Jerónimo Ledo de Medeiros, de Água de Pau e Maria de Quental, de Santa Cruz.
07.10.1729
6
404
Manuel António
Inquirição de genere.
19.06.1841
de Bettencourt e Silveira3 Natural da Graciosa (Nossa Senhora de Guadalupe), filho de João de Quadros de
Bettencourt, de Nossa Senhora da Luz (Graciosa) e D. Rosa Isabel de Bettencourt e
Silva, de São Mateus da vila da Praia, n.p. de Manuel Correia de Quadros, de São Mateus
da vila da Praia e D. Catarina da Encarnação, de Nossa Senhora da Luz e n.m. de Manuel
de Sousa da Silva e D. Isabel Baptista de Bettencourt, ambos de São Mateus da vila da Praia.
4
533
Manuel António
de Frias Coutinho
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Inocêncio de Frias Coutinho, natural de
Nossa Senhora da Conceição da mesma vila e de D. Maria Júlia de Medeiros, da
referida Matriz, n.p. do Capitão João Bernardo de Frias Coutinho, da Matriz e
D. Miquelina Borges do Canto, de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de Manuel de
Medeiros Braga e Maria Ricarda Josefa, da Matriz.
21.03.1849
5
536
Manuel António
de Frias Coutinho
Processo de vita et moribus.
23.02.1850
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Inocêncio de Frias Coutinho, natural de
Nossa Senhora da Conceição da mesma vila e de D. Maria Júlia de Medeiros, da referida
Matriz, n.p. do Capitão João Bernardo de Frias Coutinho, da Matriz e D. Miquelina Borges
do Canto, de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de Manuel de Medeiros Braga e
Maria Ricarda Josefa, da Matriz.
5
543
[77]
Nome
3 Deveria estar incluído no fundo Graciosa.
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Nome
Documento (Sumário)
[78]
Data
Doc. Maço
Manuel Caetano de Brum Inquirição de genere.
Natural da Maia, filho de Caetano José de Brum e Joaquina Emília da Esperança,
naturais da Maia, n.p. de Manuel Alves Nunes e Maria Úrsula dos Santos, naturais
de Rabo de Peixe e n.m. de José de Medeiros Bulhões, da Maia e Luísa Inácia,
do Porto Formoso.
13.08.1850
1
537
Manuel Caetano de Brum Processo de vita et moribus.
Natural da Maia, filho de Caetano José de Brum e Joaquina Emília da Esperança,
naturais da Maia, n.p. de Manuel Alves Nunes e Maria Úrsula dos Santos, naturais
de Rabo de Peixe e n.m. de José de Medeiros Bulhões, da Maia e Luísa Inácia,
do Porto Formoso.
08.03.1852
5
544
Manuel Caetano
do Rosário
Processo de vita et moribus.
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Francisco de Horta, de Rosto de Cão e
Catarina de Medeiros, de São Pedro, n.p. de Baltazar Fernandes de Horta e Maria Luís e
n.m. de Manuel Fernandes e Luzia de Medeiros.
16.04.1730
12
404
Manuel Caetano Leite
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão de António Lourenço da Silva, Cura
que foi na Ermida de Nossa Senhora da Saúde e já falecido, filhos de Manuel da Silva
Leite e de Ana da Silva Cordeiro.
26.06.1745
14
408
Manuel Cordeiro
Castelo Branco
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de Miguel Cardoso de Sousa e de
Antónia de Sousa, n.p. de Manuel de Sousa Correia e Maria de Sousa, naturais de Vila
Franca do Campo e n.m. de Francisco dos Santos, de Vila Franca do Campo e de Maria
de Sousa, da Relva.
03.05.1743
1
408
Manuel Cordeiro da Silva Inquirição de genere.
26.09.1740
Natural da Ribeira Seca, filho de Salvador Cordeiro e Maria de Matos, naturais da Ribeira
Grande (Nossa Senhora da Estrela), n.p. de João Rodrigues e Maria de Pimentel e n.m. de
Simão Fernandes e Maria de Matos.
11/12 406
Manuel da Costa
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Seca, filho de Paulo Rodrigues e Ana da Costa (inclui escritura de
património feita em 25.07.1662 por seus pais).
20.09.1662
2
399
Manuel da Costa
Inquirição de genere.
Natural de Santo António, filho de Tomé da Costa e Esperança de Viveiros, ambos de
Santo António, n.p. de José da Costa, de Santo António e Maria Travassos, dos Mosteiros
e n.m. de Sebastião da Costa e Maria de Viveiros, de Santo António.
06.09.1707
4
400
Manuel da Silva
Inquirição de genere.
Filho de Francisco de Lima Pato e Ana da Silva, n.p. de João Pires e Francisca Pires e
n.m. de Silvestre Gonçalves e Francisca Fernandes.
26.10.1656
1
399
Manuel da Silva
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Francisco da Silva e
Catarina da Costa, n.p. de António da Silva e Marta Rodrigues, de São Pedro da Ribeira
Seca e n.m. de João da Costa Capinha e Maria Ferreira, da Ribeira Grande.
17.07.1715
11
400
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Inquirição de genere.
13.09.1723
Natural dos Fenais de Vera Cruz, filho de Manuel da Silva, natural do Porto Formoso e de
Maria Vieira de Macedo, do Porto Formoso, n.p. de Manuel da Silva, da Maia e de Maria
Travassos, do Porto Formoso e n.m. de Manuel da Mota de Oliveira e Ana Vieira de
Macedo, dos Fenais de Vera Cruz.
5
402
Manuel da Silva
Processo de vita et moribus.
Natural da Ribeira Grande, filho de Manuel da Silva e de Maria Martins, n.p. de Brás
Fernandes e de Maria Dias e n.m. de Manuel de Fontes e de Leonor Martins, todos da
Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela).
20.05.1730
-
404
Manuel de Brum
e Frias Taveira
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho do Capitão Cosme de Brum Ferreira Taveira,
da mesma e de D. Ana Francisca da Silveira, natural da Horta (Matriz), n.p. do
Capitão-mor Manuel de Brum e Frias, da Matriz da Ribeira Grande e de Guiomar Soeiro
Camelo, de Rosto de Cão e n.m. de Francisco Pereira Teixeira e D. Mariana Pereira da
Silveira, naturais da Matriz da Horta.
18.04.1721
13
401
Manuel de Lima Raposo
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Manuel de Lima e de Maria de Sousa,
n.p. de Diogo da Costa e Margarida de Matos e n.m. de Brás Raposo e Catarina de
Sousa, todos da Lagoa.
19.04.1684
8
399
Manuel de Matos
Inquirição de genere.
06.03.1743
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Manuel de Matos e Antónia Cabral, n.p. de
Manuel de Matos e Maria Correia, ambos de São Pedro e n.m. de Manuel da Costa, dos
Mosteiros e Maria Cabral, de São Pedro.
12
407
Manuel de Medeiros
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José de Medeiros, natural de São
José da mesma cidade e de Susana Cabeceiras, natural de Rosto de Cão, n.p. de Manuel
da Costa, de São Sebastião e Úrsula de Medeiros, de São Pedro e n.m. de Bartolomeu
Fernandes e Maria de Carvalho, ambos de Rosto de Cão.
16.05.1754
7
409
Manuel de Medeiros
Inquirição de genere.
12.11.1722
Natural de Santo António, filho de Manuel da Costa Ponte, natural do Nordeste e de
Catarina da Costa, natural de Santo António, n.p. de António da Costa Coelho e de Maria
da Silva, naturais do Nordeste e n.m. do Capitão Francisco d Resendes e Maria de Melo,
naturais de Santo António.
3
402
Manuel de Medeiros
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Francisco de Arruda e Antónia Martins,
naturais de São José, n.p. de Sebastião de Arruda e Clara de Medeiros, ambos de
São Sebastião e n.m. de Miguel da Costa e Sebastiana Martins, ambos de São José.
03.04.1743
14
407
Manuel de Medeiros
Inquirição de genere.
03.04.1743
Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Matias Pereira, natural da mesma e de Joana
de Medeiros, natural de São Pedro, n.p. de Manuel Pereira e Bárbara Dias, ambos de São
José e n.m. de António de Sousa Nunes, de São José e Antónia Cabral, de São Pedro.
13
407
[79]
Manuel da Silva
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 80
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Seca, filho de Manuel Pacheco Pimentel e de Josefa de Medeiros,
n.p. de António Pacheco e Isabel de Resende e n.m. do Capitão Gaspar de Medeiros
Furtado e de Maria do Couto, naturais da Ribeira Seca.
10.09.1728
16
403
Manuel de Melo Camelo Inquirição de genere.
e Lourenço Machado
Naturais de Ponta Delgada (São José), filhos do Alferes António Dias Camelo e de
Camelo
D. Josefa de Melo, ambos de São Pedro, n.m. do Capitão Luís da Mota, cavaleiro do
hábito de Santiago, de São Sebastião e Ana Pacheco, da Ribeira Grande
(Nossa Senhora da Estrela).
16.01.1720
7
401
Manuel de Morais
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Gaspar de Almeida e
Teresa Ferreira, n.p. de João de Almeida e Bárbara Lopes e n.m. de Manuel de Morais e
Maria Álvares, naturais da Ribeira Grande.
20.01.1739
6
406
Manuel de Oliveira
Inquirição de genere.
Natural dos Fenais de Vera Cruz, filho de João de Oliveira e Águeda Ferreira, naturais da
mesma, n.p. de Lázaro de Oliveira e Bárbara Cabeceiras, ambos dos Fenais e n.m. de
José Rodrigues, dos Fenais e Maria Ferreira, da Povoação.
22.09.1743
8
408
Manuel de Oliveira
Inquirição de genere.
Natural dos Fenais de Nossa Senhora da Luz, filho de Manuel Pavão, natural das Capelas
e de Sebastiana de Oliveira, natural dos Fenais, n.p. de Tomé Pavão, da Candelária e de
Bárbara de Sousa, das Capelas e n.m. de Matias de Oliveira e Maria Lopes, naturais de
Nossa Senhora da Luz dos Fenais.
05.04.1747
17
408
Manuel de Oliveira
de Aguiar
Inquirição de genere.
Natural das Capelas, filho de Baltazar da Costa de Aguiar e Maria Pereira, ambos das
Capelas, n.p. de Manuel da Costa Pombeiro, de São Pedro e Ana de Aguiar, das
Capelas e n.m. de Pedro Gonçalves, das Feteiras e Luzia Gonçalves, das Capelas.
27.09.1705
17
399
Manuel de Pimentel
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande, filho de Francisco Pires Pimentel e de Madalena Fernandes,
n.p. de Sebastião Pires Pimentel e Maria de Almeida e n.m. de André Gonçalves e
Catarina Dias (inclui escritura de património feita em 18.4.1684 por seus pais).
18.04.1684
7
399
Manuel de Pimentel
Carvalho
Processo de vita et moribus.
Natural da Lagoa (Rosário), filho do Alferes Manuel de Pimentel Carvalho e de Joana
Pereira, n.p. de Manuel de Pimentel Resendes e Maria Borges, do Rosário e n.m. de
Manuel Pereira Machado, da mesma e Rosa de Sousa, de Santa Cruz da Lagoa.
18.02.1730
11
404
Manuel de Resende
Cabral
Inquirição de genere.
Natural de Nossa Senhora da Graça do Faial, filho de Manuel de Simas e Bárbara
Pimentel, naturais da mesma, n.p. de João de Simas e Maria de Resende, naturais
do Nordeste e n.m. de João Cabral Pimentel, do Nordeste e Ana Correia, do Faial.
06.09.1743
7
408
Manuel de Medeiros
Furtado
[80]
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filha do Capitão José Tavares
de Arruda, de Rabo de Peixe e de D. Mariana de Melo, natural da Ribeira Grande e n.m.
do Capitão Manuel Pacheco Botelho e de D. Maria de Arruda e n.m. de António
Rodrigues Cardoso e Ana Cabral de Melo.
30.03.1732
4
405
Manuel de Sousa Botelho Inquirição de genere.
e António Manuel
Naturais da Ribeira Grande (Matriz), filhos do Capitão-mor Manuel de Sousa Correia
da Silveira e Sousa
e D. Clara Maria da Silveira, naturais da mesma, n.p. de João Rodrigues Estrela e
Bárbara de Sousa Correia e n.m. de André Botelho de Sampayo e D. Isabel Pacheco,
todos naturais da Ribeira Grande.
12.05.1743
3
408
Manuel de Sousa
de Almeida
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Lourenço de Sousa, da mesma e de
Catarina de Almeida, natural da Relva, n.p. de Manuel Martins, natural de São Pedro da
mesma e Maria de Sousa, natural de São Sebastião e n.m. de Jacinto Martins e
Catarina de Almeida, naturais da Relva.
19.10.1724
13
402
Manuel de Sousa Furtado Inquirição de genere.
Natural dos Ginetes, filho de Brás de Sousa da Mota e de Maria de Sousa, naturais dos
Ginetes, n.p. de Domingos de Sousa, natural dos Ginetes e de Luzia Martins, natural da
Bretanha e n.m. de João Travassos e de Luzia de Sousa, dos Ginetes.
08.12.1728
19
403
Manuel de Sousa Lopes
20.05.1743
4
408
Manuel de Sousa Pacheco Inquirição de genere.
20.06.1727
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de João de Sousa Pacheco
e de Francisca da Costa, n.p. de Manuel de Sousa e de Ana Pacheco e n.m. de Francisco
Lopes e de Ana da Costa, todos da referida freguesia.
8
403
Manuel de Sousa Pacheco Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho do Capitão Francisco de Sousa Pacheco,
natural de São Mateus e de D. Isabel Stone, natural de São Pedro, n.p. do Capitão João
de Sousa Pacheco e D. Úrsula de Frias, naturais de São Sebastião e n.m. de João Stone,
natural de Londres e Maria Osório, natural de São Pedro.
23.04.1732
5
405
Manuel de Sousa
Rodovalho
Processo de vita et moribus.
Natural da Lagoa, viúvo de Bárbara da Fonseca Paim, filho de Lourenço Fernandes
Rodovalho e de Bárbara de Sousa de Azevedo, n.p. de Dionísio Fragoso e Isabel Lopes
e n.m. de Gaspar Raposo e Ana Mendes de Azevedo, todos de Santa Cruz da Lagoa.
10.01.1730
9
404
Manuel de Sousa
Rodrigues
Inquirição de genere.
19.08.1742
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Manuel Rodrigues Trindade
e Antónia de Sousa, naturais da mesma, n.p. de Manuel Rodrigues Trindade e Maria
Rodrigues e n.m. de João da Costa e Ana de Sousa.
4
407
Manuel de Sampayo
Pacheco
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Seca, filho de Matias Lopes e de Maria de Sousa, naturais da Ribeira
Seca, n.p. de João Lopes do Cabo e Maria Dias, naturais da Ribeira Seca e n.m. de
António Rodrigues, da Ribeira Grande (Matriz) e Ana de Sousa, da Ribeira Seca.
[81]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 82
Nome
Manuel Fernandes
Resende
Documento (Sumário)
Data
Inquirição de genere.
04.05.1677
Natural de Vila Franca do Campo, filho de Manuel Fernandes e de Catarina da Costa,
n.p. de António Gonçalves e Catarina Gonçalves e n.m. de Belchior Jorge e Maria do Couto,
todos de Vila Franca do Campo.
Doc. Maço
4
399
[82]
Manuel Ferreira Carvalho Processo de vita et moribus.
Natural da Fajã (Nossa Senhora dos Anjos), filho de Manuel Ferreira e de Úrsula Pereira
Carvalho, da mesma, n.p. de Manuel Ferreira, dos Ginetes e Bárbara Concelos, da
Bretanha e n.m. de Manuel Dias Batalha, da Fajã e Margarida Carvalho, de São Sebastião.
07.04.1729
2
404
Manuel Furtado e
Lázaro Furtado
15.10.1729
7
404
Manuel Jacinto de Arruda Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Manuel da Ponte
Arruda e Ana Rosa, naturais de Nossa Senhora da Conceição, n.p. de José da Ponte Caió,
da mesma freguesia e Quitéria Rosa, de São Pedro da Ribeira Seca e n.m. de António
de Sousa, de Nossa Senhora da Conceição e Bárbara Victória, natural da Maia.
04.05.1841
2
533
Manuel Jacinto de Arruda Processo de vita et moribus.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Manuel da Ponte
Arruda e Ana Rosa, naturais de Nossa Senhora da Conceição, n.p. de José da Ponte Caió,
da mesma freguesia e Quitéria Rosa, de São Pedro da Ribeira Seca e n.m. de António
de Sousa, de Nossa Senhora da Conceição e Bárbara Victória, natural da Maia.
09.09.1843
7
540
Manuel Jacinto Tavares
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), irmão do Padre José Ulisses Normandia,
filhos de João Jacinto Leonardo e de Antónia Margarida da Natividade, da mesma, n.p. de
António Leonardo e Joaquina de Belém e n.m. de Manuel Veríssimo de Medeiros e de
Helena Rosa, todos da Matriz de Vila Franca.
05.03.1849
4
536
Manuel Jacinto Tavares
Processo de vita et moribus.
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), irmão do Padre José Ulisses Normandia,
filhos de João Jacinto Leonardo e de Antónia Margarida da Natividade, da mesma, n.p. de
António Leonardo e Joaquina de Belém e n.m. de Manuel Veríssimo de Medeiros e de
Helena Rosa, todos da Matriz de Vila Franca.
12.02.1850
1
543
Manuel Jácome Raposo
Inquirição de genere.
Natural da Povoação, filho de Manuel de Freitas da Costa, natural de Vila Franca do
Campo (São Miguel) e Catarina Jácome, da Povoação, n.p. de António de Freitas da
Costa e Maria de Oliveira e n.m. do Capitão António Jácome Raposo, do Nordeste e
Isabel do Monte, da Povoação.
13.11.1705
18
399
Manuel Joaquim Borges
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Joaquim Borges e de Francisca Inácia,
n.p. de José Borges Furtado e de Francisca Rosa e n.m. de José Inácio da Silveira e
Bárbara da Silveira. Irmão do Padre José Joaquim Borges.
27.04.1840
6
532
Processo de vita et moribus.
Naturais da Povoação, filhos de Manuel Furtado e Maria Raposo, n.p. de João Rodrigues
Camelo e Maria Furtado e n.m. de Manuel Raposo, da Ribeira Seca e Bárbara Ferreira,
da Povoação.
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Manuel Joaquim Soares
Inquirição de genere.
Natural dos Fenais da Ajuda, filho de Manuel Soares Pimentel e de Maria Rosa, n.p. de
Manuel Soares Pimentel, dos Fenais da Ajuda e de Margarida do Rosário, de São Roque
do Pico e n.m. de Custódio de Sousa, da Achadinha e de Cecília de Medeiros,
dos Fenais da Ajuda.
30.05.1840
10
532
Manuel Joaquim Soares
Processo de vita et moribus.
Natural dos Fenais da Ajuda, filho de Manuel Soares Pimentel e de Maria Rosa, n.p. de
Manuel Soares Pimentel, dos Fenais da Ajuda e de Margarida do Rosário, de São Roque
do Pico e n.m. de Custódio de Sousa, da Achadinha e de Cecília de Medeiros,
dos Fenais da Ajuda.
31.03.1841
9
539
Manuel José da Silveira
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Lázaro Tavares da Silveira, natural da
mesma e Francisca Josefa de Melo, natural de Vila Franca do Campo (Matriz), n.p. de
Pedro Sabal da Silveira, de Angra (Salvador) e Teresa Tavares da Silveira, de São Sebastião
e n.m. de Francisco de Melo e Maria da Coluna, naturas de Vila Franca do Campo.
24.04.1744
13
408
20.05.1848
4
535
Manuel José de Medeiros Processo de vita et moribus.
14.02.1850
Natural de Ponta Garça, filho de António João de Medeiros e de Maria Joaquina, n.p. de
António João de Medeiros, de Vila Franca do Campo e Tomázia de Jesus, de Ponta Garça e
n.m. de Manuel Pacheco Raposo e Ana Maria, naturais de Ponta Garça.
2
543
Manuel Lopes Cordeiro
15
404
Manuel Lopes de Almeida Inquirição de genere.
28.08.1731
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de André Rodrigues Tezo
e Bárbara de Almeida, naturais da Ribeira Grande, n.p. de Manuel Pires e Maria Lopes
e n.m. de Manuel Lopes Macaia, natural de São Pedro e Bárbara Luís, natural da Povoação.
2
405
Manuel Machado Pereira Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Cristóvão Machado Pereira, de
São Sebastião e de Isabel Teixeira, da mesma, n.p. de Manuel Machado Pereira, de São
Sebastião e Bárbara de Fontes, de Santa Maria (Matriz) e n.m. de Manuel da Costa,
natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário) e Maria Teixeira, de São Sebastião.
02.12.1739
7
406
Inquirição de genere.
09.10.1857
Natural de Rosto de Cão, filho de António Martins Vales e de Ana Emília, naturais da
mesma, n.p. de José de Vales, de São Roque e Laurinda Jacinta, da Lagoa (Nossa Senhora
do Rosário) e n.m. de Manuel do Rego, da Fajã de Baixo e Antónia Francisca, de São Roque.
8
537
Manuel José de Medeiros Inquirição de genere.
Natural de Ponta Garça, filho de António João de Madeiros e Maria Joaquina, naturais da
mesma, n.p. de André João de Medeiros, de Ponta Garça e Tomázia de Jesus, de São
Miguel de Vila Franca do Campo e n.m. de Manuel Pacheco Raposo e Ana Maria,
ambos de Ponta Garça.
Manuel Martins do Rego
Processo de vita et moribus.
Natural da Ribeira Seca, filho de Manuel Lopes Feijó e de Inês Cordeiro, n.p. de
António Lopes Feijó, da Ribeira Grande (Matriz) e de Maria Dias, da Ribeira Seca e
n.m. de Silvestre Cordeiro e Maria Rebelo, ambos da Ribeira Seca.
[83]
Nome
15.12.1730
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 84
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Ventura Nunes e
Josefa Moreira, n.p. de Simeão Nunes Álvares e Margarida Lopes e n.m. de Pascoal
Moreira e Maria Ferreira, naturais da Ribeira Grande.
02.05.1732
6
405
Manuel Pacheco Bulhões Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Jacinto Pacheco Bulhões
e Ana Jacinta do Espírito Santo, n.p. de Cândido Bulhões e Rosa Maria e n.m. de Valério
Francisco e Maria Jacinta, todos da Ribeira Grande.
09.12.1852
4
537
Manuel Pacheco Raposo
Inquirição de genere.
Natural da Maia, filho do Capitão Paulo Pacheco da Mota e Francisca Raposo Pereira,
naturais da Maia, n.p. do Capitão Bento Pacheco da Mota e Maria da Rocha e n.m. de
António Pereira Ouros e Maria Raposo.
08.07.1686
10
399
Manuel Pinheiro
Processo de vita et moribus.
Natural de Rabo de Peixe, filho de Lourenço Pinheiro, da mesma e Teresa da Fonseca,
da Relva, n.p. de António Pinheiro, de Nossa Senhora da Estrela e Isabel Fernandes,
de Rabo de Peixe e n.m. de Jacinto da Fonseca e Maria Simões, naturais da Relva.
14.01.1730
10
404
Manuel Raposo
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande, filho de Manuel Raposo, da Matriz e de D. Maria Bicuda,
natural do Porto Formoso, n.p. de Francisco Vieira Monte e de D. Catarina do Rego e
n.m. de António Sabido e Maria da Trindade.
22.10.1723
7
402
Manuel Ribeiro da Veiga
Diligências de Compatriotado.
Natural de Taveiro e morador em Ponta Delgada.
18.08.1764
9
564
Manuel Rodrigues Âmbar Inquirição de genere.
06.12.1728
Natural da Ribeira Seca, filho de Inácio Rodrigues Machado, da Ribeira Seca e de Maria
Vieira, da Ribeira Grande (Matriz), n.p. de Sebastião Rodrigues Machado, da referida Matriz
e de Maria Dias, da Ribeira Seca e n.m. de Mateus Álvares e Helena Vieira, ambos da Matriz.
20
403
Manuel Soares de Oliveira Inquirição de genere.
24.09.1840
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de José Soares e Flora Jacinta, n.p. de
Francisco Soares e Maria de Matos e n.m. de Luís António de Resendes e Joana Francisca.
12
532
Manuel Soares de Oliveira Processo de vita et moribus.
23.03.1841
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de José Soares e Flora Jacinta, n.p. de
Francisco Soares e Maria de Matos e n.m. de Luís António de Resendes e Joana Francisca.
8
539
Manuel Tavares da Silva
Inquirição de genere.
17.05.1740
Natural de Água de Pau, filho do Capitão Manuel Tavares de Sousa e Bárbara de Sousa,
ambos de Água de Pau, n.p. do Capitão-mor Manuel de Sousa Vasconcelos, natural da
Bretanha e Isabel Tavares, de Água de Pau e n.m. de João de Oliveira e Maria de Medeiros,
ambos de Água de Pau.
10
406
Manuel Tavares da Silva
Processo de vita et moribus.
07.01.1729
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de João da Silva e Luzia de
Morais, n.p. de João da Silva e Bárbara Lopes e n.m. de Manuel de Morais e Maria Álvares.
1
404
Manuel Nunes Moreira
[84]
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Manuel Tavares
de Resendes
Inquirição de genere.
Natural de Rabo de Peixe, filho de José Tavares de Resendes e de Teresa de Jesus, n.p. de
Manuel José de Resendes e Antónia Rosa e n.m. de Manuel Tavares de Gouveia e Eugénia
Maria, todos de Rabo de Peixe.
02.12.1847
2
535
Manuel Tavares
de Resendes
Processo de vita et moribus.
Natural de Rabo de Peixe, filho de José Tavares de Resendes e de Teresa de Jesus, n.p. de
Manuel José de Resendes e Antónia Rosa e n.m. de Manuel Tavares de Gouveia e Eugénia
Maria, naturais de Rabo de Peixe.
07.12.1848
3
542
Manuel Vaz Carreiro
Inquirição de genere.
07.03.1726
Natural de Ponta Delgada (São Mateus), filho do Capitão Manuel Vaz Carreiro, natural da
mesma e de Agostinha de Melo, da Relva, n.p. do Capitão Sebastião de Sousa Carreiro, de
São Sebastião e Maria Ferreira, de São Mateus e n.m. de Manuel de Sousa Benevides e de
Catarina Ferreira Escócia, naturais da Relva.
4
403
Manuel Vieira
Inquirição de genere.
22.11.1709
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Bartolomeu Vieira e Maria
Cabral, naturais da mesma, n.p. de Francisco Lopes, da Matriz da mesma vila e Isabel Vieira,
de São Pedro e n.m. do Capitão Manuel Pacheco Resendes, do Porto Formoso e Bárbara
Carrasco, de Nossa Senhora da Estrela.
6
400
Manuel Vieira
Inquirição de genere.
17.08.1719
Natural da Ribeira Grande, filho de Manuel Vieira e de Joana Ferreira, n.p. de Manuel Vieira
e de Maria Luzia e n.m. de João Ferreira e Maria Manuel, todos da Ribeira Grande (Nossa
Senhora da Estrela).
6
401
Manuel Vieira Nunes
Inquirição de genere.
05.07.1741
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Manuel Vieira Esteves e de
Teresa de Paiva, n.p. de António Vieira e Domingas Vieira, de Nossa Senhora da Estrela e
n.m. de Manuel Francisco, da Povoação e Luzia de Paiva, de Nossa Senhora da Estrela.
15
406
Marcelino da Silva
Inquirição de genere.
Natural de Lisboa (Santa Cruz do Castelo), filho de João da Silva e Isabel Francisca e
n.p. de Francisco da Silva, natural de Rabo de Peixe.
13.10.1723
6
402
Mariano Alberto Botelho Inquirição de genere.
Natural da Povoação, filho de Alberto Francisco de Araújo, natural do Porto Formoso,
e de D. Maria Querubina Botelho, da Povoação, n.p. de Miguel Francisco de Araújo e
de Maria Rita dos Anjos, ambos de Porto Formoso e n.m. de António Francisco
Botelho de Bulhões e Vitória Maria da Encarnação, ambos da Povoação.
22.01.1849
2
536
Mariano Jacinto Martins
de Medeiros
03.12.1842
11
533
Inquirição de genere
Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho de Francisco Manuel Martins e Luzia
Clara, naturais de São Pedro, n.p. de Luís Martins, de São Pedro e Clara Jacinta, de São
Miguel de Vila Franca do Campo e n.m. de Vicente de Medeiros e Maria do Coito,
ambos de São Pedro.
[85]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 86
Nome
[86]
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Mariano Jacinto Martins
de Medeiros
Processo de vita et moribus.
Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho de Francisco Manuel Martins e Luzia
Clara, naturais de São Pedro, n.p. de Luís Martins, de São Pedro e Clara Jacinta, de São
Miguel de Vila Franca do Campo e n.m. de Vicente de Medeiros e Maria do Coito,
ambos de São Pedro.
19.12.1845
3
541
Mariano José de Sousa
Bulhões
Processo de vita et moribus.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), irmão do Padre José de Sousa de Bulhões, Cura de
São José da Salga e do Padre Manuel José de Sousa Bulhões, Beneficiado na Matriz de
Nossa Senhora da Estrela, filhos de António José de Sousa e Antónia Jacinta, da mesma.
26.03.1840
1
539
Mariano José Ferreira
Inquirição de genere.
08.06.1842
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Francisco Inácio Ferreira e Victória Jacinta, n.p.
de João da Costa Ferreira e Maria do Rosário, naturais da Matriz e n.m. de Miguel da Silva,
de Ponta Delgada (São Pedro) e Inácia de São Miguel, da Matriz da Ribeira Grande.
9
533
Mariano José Ferreira
Processo de vita et moribus.
12.10.1842
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Francisco Inácio Ferreira e Victória Jacinta, n.p.
de João da Costa Ferreira e Maria do Rosário, naturais da Matriz e n.m. de Miguel da Silva,
de Ponta Delgada (São Pedro) e Inácia de São Miguel, da Matriz da Ribeira Grande.
1
540
Martinho de Melo Velho
Inquirição de genere.
20.04.1707
Natural da Ribeira Grande, filho de António Vieira Gago, da Ribeira Grande (Nossa Senhora
da Estrela) e de Maria de Paiva e Melo, de Rabo de Peixe, n.p. de Jerónimo Vieira, de São
Pedro e Jerónima Rodrigues, da Ribeira Grande e n.m. de João Cabeceiras e Bárbara de
Paiva, ambos de Rabo de Peixe.
2
400
Miguel de Arruda
Inquirição de genere.
Natural de Rosto de Cão, filho de Manuel Luís e Maria de Arruda, da mesma, n.p. de
Manuel Luís e Isabel da Costa, ambos de Rosto de Cão e n.m. de Domingos Gonçalves,
de Rosto de Cão e Bárbara de Pimentel, de Água de Pau.
08.02.1743
9
407
Miguel Furtado Couto
Processo de vita et moribus sendo então Tesoureiro de São Pedro de Vila Franca do Campo. 23.12.1840
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de Miguel Furtado e de Jacinta Rosa,
n.p. de Miguel Furtado e Bárbara Josefa e n.m. de António do Couto e Quitéria da Trindade,
todos naturais de Vila Franca do Campo.
3
539
Miguel Tavares
Inquirição de genere.
Natural da Lagoa, filho de Miguel da Câmara, de Rabo de Peixe e de Maria de Amaral,
natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), n.p. de Domingos Pires e Maria Simões,
ambos de Rabo de Peixe e n.m. de Amaro da Costa, da Lagoa e Francisca de Amaral,
de Rabo de Peixe.
10.10.1732
7
405
Nicolau de Sá
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Roque da Costa, natural de Rosto de
Cão e de Maria de Carvalho, de São Sebastião, n.p. de António da Costa e de Maria da
Costa, ambos de Rosto de Cão e n.m. de Sebastião de Sá, de São Sebastião e de Maria
de Carvalho da Silva, de São Pedro (Ponta Delgada).
12.01.1722
1
402
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Nicolau Francisco Dias
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Francisco da Rocha Freitas e de
Maria Gomes, naturais da mesma, n.p. de Amaro de Freitas e Maria do Rosário, natural
da Ribeira Grande (Matriz) e n.m. de Lucas Gonçalves e Bárbara Gomes, ambos de
Rabo de Peixe.
10.03.1744
12
408
Nicolau Pereira
Inquirição de genere.
16.04.1721
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Manuel Ferreira Rebelo, natural da
Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela) e Paula Pereira, de Ponta Delgada (São Pedro),
n.p. de António Rebelo e Maria Ferreira, naturais da Ribeira Grande e n.m. de Manuel Pavão,
de Água de Pau e de Antónia Martins, de São Pedro.
11
401
Nicolau Pereira
Inquirição de genere.
15.05.1750
Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de José de Sousa e Catarina Pacheco, n.p.
de Manuel Travassos, natural de São Pedro e Maria de Sousa, da Lagoa (Nossa Senhora do
Rosário) e n.m. de Manuel Pereira, de São Pedro e Bernarda Pacheco, de Nossa Senhora
dos Anjos da Fajã.
20
408
Nicolau Rodrigues Azedo Inquirição de genere.
25.08.1728
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Simão Ferreira Cassua e de Maria Manuel, n.p.
de João Vieira Cassua e de Maria Ferreira e n.m. de Mateus Rodrigues Félix e de Maria
Manuel, naturais da Matriz.
14
403
Nuno Bicudo
de Mendonça
Inquirição de genere.
25.08.1674
Natural da Ribeira Grande, filho do Capitão Vicente Anes Bicudo e D. Maria de Arruda
Botelho, n.p. de Manuel Antunes Cardoso e Maria Bicudo de Mendonça e n.m. do Capitão
Gonçalo Vaz Botelho e D. Ana de Arruda Botelho, todos da Ribeira Grande (inclui
escritura de património feita por seus pais em 13.11.1691).
5
399
Patrício Teixeira
Inquirição de genere.
10.03.1728
Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho de Miguel Teixeira, natural da mesma
e de Isabel Cabral, natural de São Miguel de Vila Franca, n.p. de Francisco Teixeira, de São
Miguel e de Maria de Araújo, de São Pedro e n.m. de Brás Gonçalves e de Leonor Cardoso,
ambos da Matriz de Vila Franca.
11
403
Paulo de Sequeira
Processo de vita et moribus.
Natural de São Sebastião, filho de Amaro de Sequeira, natural de São José e de Catarina
Correia, de São Sebastião, n.p. de Salvador Rodrigues Âmbar, da Ribeira Seca e Luzia de
Sequeira, de Água de Pau e n.m. de António Garcia Sarmento, de São Sebastião e Maria
Correia, dos Ginetes.
27.05.1729
4
404
Pedro Barbosa da Silva
Inquirição de genere.
26.02.1726
Natural de Ponta Delgada, irmão dos Padres Manuel Pereira Botelho e Francisco
Barbosa da Silva, filhos do Capitão Rui Pereira do Amaral e de D. Mariana da Câmara,
naturais de Ponta Delgada, n.p. do Licenciado Manuel Pereira Botelho, de Ponta Delgada e
de D. Ângela de Mendonça, da Ribeira Grande e n.m. de Sebastião Barbosa da Silva e
D. Isabel da Câmara, naturais de Ponta Delgada.
3
403
[87]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 88
Nome
[88]
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Pedro Cabral
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de António Cabral Teixeira, natural da mesma e
de Bárbara de Pimentel, natural do Nordeste, n.p. de Pedro Lopes Teixeira, da Ribeira
Seca e de Maria Rodrigues, da referida Matriz e n.m. de Matias Pereira e Isabel Teixeira
Pimentel, ambos do Nordeste.
12.09.1728
17
403
Pedro Cabral de Melo
Inquirição de genere.
21.01.1720
Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Sebastião de Melo Cabral, da mesma e
de Teresa Carreiro, de São Pedro da mesma, n.p. de Mateus Valadão, da Matriz da Praia
(Terceira) e Maria de Melo, da Matriz de Vila Franca e n.m. de Bartolomeu Cabral de Frias
e Ana Fernandes, ambos de São Pedro de Vila Franca.
8
401
Pedro Coelho
de Albuquerque
Inquirição de genere.
Natural de Lisboa (Santo Estêvão), filho de Vicente Coelho de Góis e de D. Ana Josefa,
n.p. de Pedro Coelho Correia e D. Inês de Miranda e n.m. de Pedro de Lapenha e
D. Inês da Silva.
16.11.1686
11
399
Pedro da Costa
Inquirição de genere.
25.07.1715
Natural da Maia, filho de Miguel da Costa e de Ana Jorge, naturais da Maia, n.p. de Gaspar
Lourenço e Maria Darges e n.m. de Manuel Jorge e Luzia Delgado, todos da Maia.
12
400
Pedro da Costa
e Medeiros
Inquirição de genere.
Natural da Maia, filho de António da Costa Leite e de Teresa de Medeiros, naturais da
Maia, n.p. de Miguel da Costa e Ana Jorge e n.m. de Manuel Cardoso e Maria da Costa,
todos da Maia.
26.04.1743
15
407
Pedro da Costa Franco
Inquirição de genere.
Natural da Lagoa, filho de António Pacheco Lima e de Maria Franco, naturais da Lagoa
(Nossa Senhora do Rosário), n.p. de Manuel de Lima, da mesma e de Ana Pacheco, de
Ponta Delgada (São Sebastião) e n.m. de João Rodrigues Francisco, de São Sebastião e
Mariana Correia, de Ponta Delgada (São Mateus).
01.02.1713
8
400
Pedro da Costa Lima
Inquirição de genere.
Morador na Lagoa, filho de Sebastião da Costa e Maria Luís, n.p. de Manuel de
Lima e Ana Pacheco e n.m. de Francisco Fernandes da Costa e Catarina Correia,
todos naturais da Lagoa (Santa Cruz).
09.02.1712
7
400
Pedro da Costa Lima
Inquirição de genere.
Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de Filipe da Costa Lima, natural da
Lagoa (Matriz) e Bárbara Romeiro, de Nossa Senhora do Rosário, n.p. de Sebastião da
Costa Lima, de Nossa Senhora do Rosário e de Maria Luís, da Matriz e n.m. de Baltazar
Alves, da Matriz e de Ana Romeiro, de Nossa Senhora do Rosário.
05.04.1728
12
403
5
407
Pedro da Fonseca Falcão Inquirição de genere.
12.12.1742
Natural da Candelária, filho do Capitão Pedro da Fonseca, natural dos Mosteiros e de
Maria Pavão, dos Ginetes, n.p. do Capitão Manuel da Fonseca e Catarina Ferreira Pavão, dos
Mosteiros e n.m. de Domingos Pavão, das Feteiras e Maria Martins de Sousa, dos Ginetes.
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Pedro de Oliveira Cabral Inquirição de genere.
Natural das Capelas, filho de Manuel de Oliveira Cabral, natural das Capelas e Maria de
Viveiros, natural de Santo António, n.p. de Manuel de Oliveira Cabral e Ana de Sousa,
ambos das Capelas e n.m. do Alferes Francisco de Viveiros da Costa, de Santo António e
Ana Jorge Figueira, natural do Nordeste.
30.10.1738
5
406
Pedro de Pimentel
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão dos Padres Bernardo de Pimentel e
João de Pimentel, filhos de Manuel da Rocha, de Rosto de Cão e Maria de Pimentel,
de São Sebastião.
11.07.1718
3
401
Pedro Ferreira
de Medeiros
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Manuel Ferreira, natural de Angra
(Conceição) e de Joana de Medeiros, de São Sebastião, n.p. de Tomé Jorge, de Rabo de
Peixe e Catarina Ferreira, do Cabo da Praia (Terceira) e n.m. de Tomé Fernandes e
Maria de Medeiros, ambos de Rosto de Cão.
07.09.1707
5
400
Pedro Ferreira
e Vasconcelos
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Francisco Ferreira e Isabel Teixeira,
n.p. de João Ferreira e Isabel de Paiva e n.m. de Manuel Teixeira e Águeda Clemente,
naturais da Ribeira Grande (Matriz).
10.10.1724
12
402
Pedro Inácio Tavares
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Seca, filho de Amaro Rodrigues de Oliveira e de Ana Tavares, n.p. de
Manuel Rodrigues e Maria Teixeira, ambos da Ribeira Seca e n.m. de Manuel Fernandes
Vieira, da Ribeira Seca e Isabel de Amaral, de Rabo de Peixe.
20.03.1735
11
405
Pedro Jácome Raposo
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Domingos de Paiva, natural da mesma
e Margarida de Matos, de São Pedro da mesma, n.p. de José de Paiva e Ana de Sousa,
ambos da Matriz e n.m. de Francisco de Lima e Ana de Matos, ambos de São Pedro.
28.08.1728
15
403
Pedro Moniz da Costa
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José Moniz Pereira e Francisca da
Costa, naturais da mesma, n.p. de Manuel Pereira, de São Sebastião e Maria Moniz, de
Rosto de Cão e n.m. de Belchior Rodrigues Matam, da Ribeira Grande e Ana Rodrigues,
de São Sebastião.
01.06.1719
5
401
Pedro Moniz da Silveira
Inquirição de genere.
05.08.1723
Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho do Capitão Manuel Furtado de Medeiros,
natural dos Fenais (Santos Reis Magos) e de Maria Pacheco de Medeiros, de São Pedro, n.p.
do Capitão Brás Furtado de Medeiros, dos Fenais e n.m. do Alferes Manuel Pacheco
de Deus, de São Pedro de Vila Franca e Maria Medeiros da Silveira, natural da Maia.
4
402
Pedro Rodrigues da Silva
Inquirição de genere.
10.05.1716
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão do Padre Manuel Ferreira, Vigário da Igreja
de Nossa Senhora dos Anjos de Água de Pau, filhos de Sebastião Ferreira e Luzia Ferreira,
n.p. de Manuel Ferreira e Maria Rodrigues, naturais da Madalena (Pico) e n.m. de Vicente
Gonçalves e Bárbara Jorge, da Ribeira Grande.
2
401
[89]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 90
Nome
[90]
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Pedro Teixeira
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande, filho de Manuel Rodrigues Teixeira e Maria Francisca, n.p. de
Manuel Rodrigues Teixeira e Bárbara Manuel e n.m. de Domingos Dias e Maria Francisca.
24.05.1694
12
399
Primo José Pacheco
Inquirição de genere.
Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Jacinto Pacheco e de Maria da Trindade,
n.p. de António Pacheco e Teresa de Jesus e n.m. de António da Costa e Francisca de
Jesus, todos da referida Matriz.
10.11.1848
7
535
Primo José Pacheco
Processo de vita et moribus.
Natural da Ribeira Grande, filho de Jacinto Pacheco e de Maria da Trindade, n.p. de
António Pacheco e Teresa de Jesus e n.m. de António da Costa e Francisca de Jesus,
todos da Ribeira Grande (Matriz).
10.06.1850
7
543
Raimundo António
Jácome Raposo
Inquirição de genere.
Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), irmão do Padre Pedro Jácome Raposo,
ambos filhos de Domingos de Paiva, da mesma e de Margarida de Matos, de São Pedro
da mesma vila, n.p. de José de Paiva e Leonor de Sousa e n.m. de Francisco de Lima e
Ana de Matos.
12.12.1742
6
407
Sebastião de Sousa Estrela Inquirição de genere.
22.01.1744
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), irmão do Padre João
Rodrigues Estrela, filhos de João Rodrigues Estrela e de Antónia de Sousa, naturais da Ribeira
Grande (Matriz), n.p. de Manuel Rodrigues Estrela e Bárbara Vieira, naturais de Nossa
Senhora da Conceição e n.m. de Manuel Rodrigues Castelão e Águeda de Sousa Correia,
naturais da Matriz.
10
408
Sebastião Ferreira Raposo Inquirição de genere.
12.10.1731
Natural da Relva, filho de Francisco Raposo, natural dos Ginetes e de Catarina Neto,
natural da Relva, n.p. de António Raposo, natural dos Ginetes e Isabel de Vasconcelos, dos
Mosteiros e n.m. de Sebastião Ferreira, natural de Lisboa “que veio para São Miguel há vinte
e três para vinte e coatro anos servindo o officio de copeiro em casa do Conde Dom Manoel”
e Ana de Benevides, natural da Relva.
8
405
Sebastião Garcia Darge4
Para se promover a tirar Inquirição de genere, vita et moribus.
Tesoureiro na Igreja de São Pedro de Ponta Delgada, filho de Bartolomeu Garcia, de
Rosto de Cão e de Maria Moniz Carneiro, de São Pedro, n.p. de António Martins, de São
Sebastião e de Vitória Garcia, do Nordeste e n.m. de Manuel Álvares, da Ribeira Seca e
Maria Moniz de Sousa, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela).
17.07.1725
18
563
Simão de Sousa
Inquirição de genere.
02.06.1736
Natural da Povoação e morador na Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho
do Capitão João de Frias Pereira, natural de Vila Franca do Campo (São Miguel) e D. Vitória
de Sousa Castelo Branco, da Ribeira Grande (Matriz), n.p. do Capitão Sargento-mor
João de Frias Pereira, de Vila Franca do Campo e D. Maria Soares, natural da Maia e n.m.
de Manuel de Sousa, natural da Ribeira Seca e Maria Carneiro, natural da Ribeira Grande.
13
405
4 Consta também como documento 9 no Maço 403 mas apenas a capa do
processo.
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 91
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Tomé Botelho
Inquirição de genere.
Natural da Relva, filho de Sebastião de Sousa Neto, da Relva e Maria do Céu, de Rabo
de Peixe, n.p. de Miguel Neto e Mariana de Sousa, naturais da Relva e n.m. de Manuel
Tavares da Silva, de Rabo de Peixe e Maria Botelho, da Relva.
20.02.1784
3
412
Venâncio de Sousa
Costa Cabral
Inquirição de genere.
22.07.1841
Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Manuel de Sousa Cabral,
natural da Matriz da Ribeira Grande e Rosa Joaquina, de Nossa Senhora da Conceição, n.p.
de Manuel de Sousa Cabral, de Nossa Senhora do Rosário da Lagoa e Rosa Quitéria do
Espírito Santo, da Matriz da Ribeira Grande e n.m. de António José de Sousa e Aurélia
Rosa, ambos da referida freguesia de Nossa Senhora da Conceição.
6
533
Veríssimo José
de Sousa Machado
Inquirição de genere.
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Veríssimo José de Sousa, de Nossa
Senhora das Candeias (Santa Maria) e Jacinta Rosa, de Ponta Delgada (São José), n.p. de
José de Sousa e Antónia de Sousa e n.m. de Manuel Machado e Joana Francisca.
22.06.1846
7
534
Veríssimo José
de Sousa Machado
Processo de vita et moribus.
10.07.1852
Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Veríssimo José de Sousa, de Santa
Maria (Nossa Senhora das Candeias) e de Jacinta Rosa, natural de São José, n.p. de José de
Sousa e Antónia de Sousa, naturais de Santa Maria e n.m. de Manuel Machado, de São José
e Joana Francisca, natural de São Pedro.
7
544
Vitorino José de Carvalho Inquirição de genere.
30.06.1820
Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de Henrique José de Carvalho, natural
da mesma e Maria Rosa Luciana, natural de Santa Cruz da mesma vila, n.p. de João de
Carvalho, de Santa Cruz e Ana de São José, de Nossa Senhora do Rosário e n.m. de José
Correia Cabral, de Nossa Senhora do Rosário e Isabel de Pimentel, de Santa Cruz.
9
401
[91]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 92
COLAÇÕES
Nome
[92]
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
André Francisco Pereira
Tavares (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Na Vigairaria da Igreja de Nossa Senhora das Neves da Relva.
22.06.1814
13
528
André Miguel
Ayres (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Igreja de São Roque de Rosto de Cão.
16.06.1800
20
527
António Bernardo
da Cunha (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Na Vigairaria da Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande.
24.07.1813
11
528
António de Melo
e Sousa (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
No Mestrado da Capela da Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande.
12.07.1800
21
527
António Filipe
Dolphaos (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Igreja de Santa Cruz da Lagoa.
22.08.1767
9
527
António Francisco
de Resendes (Pe.)
Carta de Colação.
Em benefício na Matriz de São Sebastião que foi o Pe. Luís José de Sousa.
14.01.1843
3
530
António Garcia
de Abranches (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Matriz de São Miguel de Vila Franca do Campo, vago por óbito
do Pe. Manuel Henriques Ayres.
27.11.1815
6
529
António Jacinto
Borges (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada.
03.09.1814
16
528
António Jacinto
da Silva (Pe.)
Carta de Colação.
Na Igreja do Senhor Bom Jesus de Rabo de Peixe.
27.03.1848
12
530
António Jacinto
da Silva (Pe.)
Carta de Colação.
Na Igreja de São Sebastião, por óbito do Pe. Raulino Borges de Leão.
16.01.1843
8
530
António João
Moniz (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Matriz da Ribeira Grande.
29.12.1817
18
529
António Joaquim
Álvares (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Igreja Colegial de São Pedro de Ponta Delgada, vago por óbito
do Pe. António João de Mendonça.
26.08.1815
4
529
António Joaquim
de Medeiros (Pe.
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Igreja Colegial de São José de Ponta Delgada.
27.11.1815
5
529
03.04.1818
19
529
António Joaquim de
Autuação de uma Carta de Colação.
Medeiros Rodovalho (Pe.) Em benefício na Matriz de Nossa Senhora dos Anjos de Água de Pau, por óbito do
Pe. Henrique José Álvares de Sousa.
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
António Joaquim Pereira
de Almeida (Pe.)
Carta de Colação.
29.08.1849
Beneficiado Encomendado da Colegiada da Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada,
instituído na cadeira da mesma por óbito do Padre João Hipólito Raposo Nunes Chicharro.
9
536
António Vieira
Raposo (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Na Vigairaria da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda da Bretanha.
31.03.1802
3
528
António Vieira
Raposo (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para uma Vigairaria da Igreja de Nossa Senhora da Luz dos Fenais.
22.02.1815
1
529
Bento Joaquim Tavares
Taveira Brum (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Matriz da Ribeira Grande.
02.05.1800
15
527
Caetano António
da Silva (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada, vago por óbito do
Pe. Manuel José de Medeiros Bettencourt.
23.11.1816
16
529
Duarte Borges
de Sousa (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Colegiada de São José de Ponta Delgada.
02.05.1800
16
527
Elizardo José
de Castro (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, vago por
óbito do Pe. Jorge Caetano de Sousa.
23.03.1816
8
529
Elizardo José Moreira
(Pe.)
Carta de Colação.
Beneficiado na Matriz de São Sebastião, instituído na mesma por desistência do
Reverendo António Jacinto da Silva.
07.05.1849
6
536
Estêvão Rufino
de Freitas Oliveira (Pe.)
Carta de Colação.
Na Matriz de São Sebastião, por óbito do Pe. António Jacinto Borges.
12.01.1843
6
530
Francisco José
de Benevides (Pe.)
Carta de Colação.
Na Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada onde foi provido por
Decreto de 26.11.1846.
13.04.1847
10
530
Francisco José
do Amaral e Melo (Pe.)
Carta de Colação.
Na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres do Pico da Pedra onde foi provido
por Decreto de 12.03.1845.
18.09.1846
16
530
Francisco José
Pacheco (Pe.)
Carta de Colação.
Na Igreja de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande onde foi provido por
Decreto de 11.07.1847.
07.04.1847
9
530
Francisco Pacheco
de Bulhões (Pe.)
Carta de Colação.
Em benefício curado na Matriz de São Sebastião que foi do Pe. António Vicente Arruda.
14.01.1843
7
530
Francisco Pimentel
de Medeiros (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Igreja de São Miguel de Vila Franca do Campo, vago por óbito do
Pe. Henrique Botelho de Figueiredo.
19.08.1815
3
529
[93]
Nome
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 94
Nome
[94]
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Gaspar José
Correia (Dr.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Igreja de São José de Ponta Delgada.
08.05.1769
10
527
Germano José
Pacheco (Pe.)
Carta de Colação.
Em benefício na Matriz de São Sebastião que foi do Pe. António Rebelo da Gama.
07.01.1843
4
530
Inácio Caetano
Ferreira (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Igreja de Nossa Senhora das Neves da Relva.
30.04.1800
19
527
Inácio Manuel
Soares (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Ermida de Santa Ana, filial da Matriz de Ponta Delgada.
18.03.1802
2
528
Jacinto Botelho
do Amaral (Pe.)
Carta de Colação.
Para a Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande.
09.01.1862
23
530
Jacinto Félix
Machado (Pe.)
Carta de Colação.
Na Matriz de São Jorge do Nordeste.
23.10.1852
18
530
Jacinto Inácio
de Sousa (Pe.)
Carta de Colação.
Para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Lagoa.
27.06.1865
24
530
Jacinto Tavares
Pereira (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Na Vigairaria da Colegial de São José de Ponta Delgada.
24.07.1813
12
528
João Bento Pacheco
de Arruda (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Na Vigairaria de São Pedro de Ponta Delgada.
04.08.1789
13
527
João de Sousa
Freire (Pe.)
Autuação de Petição.
Para ser colado na Vigairaria da Matriz de Nossa Senhora dos Anjos de Água de Pau.
11.01.1710
4
527
João Inácio
de Medeiros (Pe.)
Autuação de Petição.
Para ser colado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Achadinha.
27.09.1759
6
527
João José
Rodrigues (Pe.)
Carta de Colação.
Para a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda da Bretanha.
27.06.1865
24
530
João Manuel
de Faria (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Igreja de São Miguel de Vila Franca do Campo que foi do
Pe. Leandro Francisco Botelho.
11.06.1819
22
529
João Palha
de Macedo (Pe.)
Diligências para Colação.
Em benefício da Matriz da Ribeira Grande.
26.08.1663
2
527.
João Velho
de Faria (Dr.)
Diligências para Colação.
Em uma das Conezias da Sé, vaga por óbito do Cónego Pedro de Alpoim.
20.08.1691
3
527
José Álvares
Canijo (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Igreja dos Santos Reis Magos dos Fenais da Ajuda.
02.11.1769
11
527
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ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
José Bento
Rodovalho (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Matriz de Nossa Senhora dos Anjos de Água de Pau.
03.04.1818
20
529
José Borges
de Brito (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Igreja de São Pedro de Ponta Delgada, vago por óbito do
Pe. Manuel Inácio de Melo.
21.11.1816
10
529
José da Rocha Martins
Furtado (Pe.)
Carta de Colação.
No Primado da Matriz de São Sebastião.
17.12.1841
2
530
José de Medeiros (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Na Vigairaria da Igreja do Bom Jesus de Rabo de Peixe.
13.08.1814
15
528
José de Medeiros
Pacheco e Arruda (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, vago por
óbito do Pe. Bento José Taveira.
20.03.1816
7
529
José de Medeiros
Sousa (Pe.)
Carta de Colação.
Na Igreja de São José de Ponta Delgada.
06.03.1847
13
530
José Elias da Câmara
Frazão (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Igreja de Nossa Senhora da Apresentação das Capelas, vago por
óbito do Pe. António José de Medeiros Vasconcelos.
24.04.1816
9
529
José Ferreira
do Rego (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Igreja Colegial de São Pedro, vago por óbito do Pe. Manuel José
de Sousa Macedo.
20.03.1816
13
529
José Francisco
do Rego Baldaia (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, vago por
óbito do Pe. Manuel José Raposo.
07.02.1816
12
529
José Francisco
Moreira (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Como Cura na Ermida de São Lázaro, sufragânea da Igreja de São Pedro de Vila
Franca do Campo.
19.06.1802
4
528
José Francisco
Pereira (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para a Vigairaria da Igreja de Nossa Senhora das Candeias da Candelária.
20.03.1816
14
529
José Francisco
Tavares (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Na Vigairaria de São Pedro da Ribeira Seca.
06.10.1804
6
528
José Francisco Tavares
de Melo (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para uma Vigairaria na Igreja de Santo António.
05.04.1815
2
529
José Inácio da Silva
Pacheco (Pe.)
Carta de Colação.
Em benefício na Matriz de São Sebastião que foi do Pe. João Soares do Amaral.
10.01.1843
5
530
[95]
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
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Nome
[96]
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
José Inácio de Melo
Estrela (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Ribeira Grande.
10.01.1809
9
528
José Jacinto da Cunha
Morato (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande,
vago por óbito do Pe. Manuel de Oliveira Arruda.
14.02.1817
17
529
José Miguel Borges
de Bettencourt (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Colegiada de São José de Ponta Delgada.
08.10.1800
22
527
José Raposo Álvares (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Igreja Colegial de São Pedro de Ponta Delgada.
12.07.1805
7
528
José Tavares
de Medeiros (Pe.)
Carta de Colação.
Na Igreja de São Miguel de Vila Franca do Campo.
28.10.1840
1
530
José Tavares
do Rego (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Igreja Colegial de São José de Ponta Delgada.
06.07.1814
14
528
José Ulisses
de Normandia (Pe.)
Carta de Colação.
Em benefício da Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada.
09.12.1852
19
530
Justino Pereira
de Medeiros (Pe.)
Carta de Colação.
Em benefício da Colegial de São Sebastião de Ponta Delgada.
23.05.1859
22
530
Lourenço de Melo
Camelo Monteiro (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício de Vigário na Igreja de São José de Ponta Delgada.
10.11.1760
7
527
Luís Francisco
Cordeiro (Pe.)
Carta de Colação.
Em benefício na Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada.
03.03.1855
21
530
Luís Francisco
Cordeiro (Pe.)
Carta de Colação.
Em benefício na Matriz de Ponta Delgada.
16.02.1844
14
530
Luís Francisco
Cordeiro (Pe.)
Carta de Colação.
Na Igreja de São Roque de Rosto de Cão.
11.11.1847
11
530
Luís Maria de Melo
Raposo (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada.
18.02.1802
1
528
Manuel Cabral
de Melo (Pe.)
Carta de Colação.
Egresso Franciscano, no benefício da Matriz, vago por óbito do
Pe. Estêvão Rufino de Freitas.
20.08.1846
15
530
Manuel da Costa
Morato (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício da Igreja de Santa Cruz da Lagoa.
23.02.1662
1
527
Manuel de Oliveira (Pe.)
Autuação de Petição.
Para ser colado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Lagoa.
29.07.1720
5
527
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 97
ÍNDICES
DO CARTÓRIO
DA MITRA
DE ANGRA
Nome
Documento (Sumário)
Data
Doc. Maço
Manuel Gomes
Tavares (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Colegial de São Pedro, vago por óbito do Pe. André Francisco da Ponte.
14.05.1818
21
529
Manuel Inácio
de Melo (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Igreja de São Pedro de Ponta Delgada.
24.06.1771
12
527
Manuel José da Costa
e Câmara (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, vago por
óbito do Pe. Manuel Tavares de Sousa.
23.11.1816
11
529
Manuel José de Sousa
Tavares (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Vigairaria da Igreja dos Santos Reis Magos dos Fenais da Ajuda.
06.05.1800
17
527
Manuel José de Sousa
Tavares (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Igreja de Nossa Senhora da Graça do Porto Formoso.
15.11.1806
8
528
Manuel José
do Rego (Pe.)
Autuação de uma Carita de Colação.
Em benefício na Vigairaria da Colegiada de São José de Ponta Delgada.
06.05.1800
18
527
Manuel Nunes
Moreira (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em Benefício na Colegiada de São José.
26.03.1762
8
527
Manuel Pereira
Resendes (Pe.)
Carta de Colação.
Na Igreja de São Jorge do Nordeste.
03.07.1848
17
530
Mateus Duarte
de Sousa (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Matriz da Ribeira Grande.
28.06.1802
5
528
Maurício José
de Resende (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Na Vigairaria da Igreja de Nossa Senhora da Graça do Porto Formoso.
03.09.1814
17
528
Maurício Pinheiro
de Mendonça (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Em benefício na Igreja do Bom Jesus de Rabo de Peixe.
18.09.1810
10
528
Pedro Inácio
de Sousa (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Na Vigairaria de Nossa Senhora da Conceição da Ribeira Grande.
05.08.1789
14
527
Pedro José
Victorino (Pe.)
Autuação de uma Carta de Colação.
Para um benefício na Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande,
vago por óbito do Pe. Mateus Duarte de Sousa.
23.03.1816
15
529
Venâncio de Sousa
Cabral
Carta de Colação.
No Mestrado de Capela da Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande.
31.12.1852
20
530
(continua)
[97]
(ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I)
CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 98
[98]
Caldeiras nas Furnas
(Bilhete Postal, 1905)
Col. do Autor
CH_Antonio Leal_01z_Layout 1 11/27/12 6:26 PM Page 99
FRANCISCO
FERREIRA
DRUMMOND
HOMEM DO SEU
E NOSSO TEMPO.
ATUALIDADE
DO SEU LEGADO
PEDAGÓGICO
[99]
António Neves Leal
INTRODUÇÃO
Para começar permitam-me que, como filólogo de formação, faça uma pequena apresentação do patrono desta
Escola, recordando que a sua origem, como se vê pelo próprio nome Drummond, é estrangeira. Não é, como pensa
muita gente, de origem francesa, mas escocesa. O mesmo
erro tem acontecido com Garrett (este vindo da Irlanda e
muito disseminado nos E.U.A.).
A linhagem dos Drummond tem a sua génese em Stobhall,
no reino da Escócia. No séc. XV, rumam à ilha da Madeira e
depois, no XVII, João Escórcio Drummond e sua mulher, D.
Branca Afonso, de que descende o patrono deste estabelecimento, passaram da Madeira para a Terceira, constituindo neste rincão sebastianense um lugar de eleição, verdadeiro feudo ou coutada dessa nobre família. Nesta vila,
vivem hoje inúmeras famílias com esse nome, grafado de
diferentes maneiras nos registos de identificação: Drumond,
Drumonde e Ormonde. Os Drummond aqui instalados
tiveram notável influência e preponderância, sobretudo nos
séculos XVIII e XIX. como se verá mais adiante.
CH_Antonio Leal_01z_Layout 1 11/27/12 6:26 PM Page 100
melhor lição. Ora estes dois aspetos são indissociáveis na personalidade do nosso homenageado. Ele não só merece a nossa
admiração e respeito, mas também o nosso agradecimento e
gratidão. Esta virtude adorna o mais nobre e belo sentimento
que se pode cultivar no coração de um ser humano, e concretiza-se no reconhecimento de uma sociedade bem formada e
que se preze.
Evocar, aqui e agora, Francisco Ferreira Drummond é saldar
uma enorme dívida por tudo o que fez em prol desta sua e
nossa Ilha de Jesus, assim como do arquipélago. Viemos, esta
noite, lembrá-lo como patrono, e oxalá o saibamos fazer da
melhor forma e, sobretudo, aprender com o valioso legado
que, generosamente, nos deixou. E às gerações que hão de vir.
ALGUNS ELEMENTOS BIOGRÁFICOS
[100]
O Dr. J. Corte-Real e Amaral, aquando da inauguração do monumento à memória de Francisco Ferreira Drummond, em 14
de outubro de 1951, afirmava sobre esta família:
À Igreja, ao magistério, à governança, à cultura das letras,
Desde a meninice, revelou vocação precoce para o estudo das
letras e da música, tendo sido bem apoiado pelos familiares,
gente de ricos recursos materiais e culturais. Seu pai, Tomé
Ferreira Drummond pertencia à nobreza sebastianense. Era
um abastado lavrador, que assumiu as funções de Presidente da
Câmara local em 1821.
da música e da historiografia, deu ela, com efeito como
nenhuma outra, figuras de marcado relevo, que com o seu
labor dignificaram e enalteceram esta Vila (In Biografias e
Outros Escritos, p.34). Ao que eu acrescentaria, o seu concelho
e a nossa ilha.
O tema que escolhi para a comemoração deste Dia do Patrono intitula-se Homem do seu e nosso tempo, e tem como subtítulo atualidade do seu legado pedagógico, por razões circunstanciais evidentes. Darei especial destaque à vertente formativa
da sua obra e o eventual interesse, daí resultante, para os docentes e discentes atuais e para os que, no futuro, frequentarem este magnífico edifício acabado de construir. E, obviamente, para toda a comunidade terceirense.
Pretende-se com esta comunicação lembrar que o estudo do
passado ensina muito. Já os Latinos defendiam que a História era
a mestra da vida. E o exemplo dos homens, na sua praxis, é a
Depois do ensino das primeiras letras (o ensino primário),
aprende na cadeira de Gramática Latina, existente aqui de 1783
a 1824, Latim, Lógica e Retórica, então disciplinas obrigatórias
do currículo escolar. Era muito estudioso, procurando, cada
vez mais, aumentar a sua formação literária e artística. O ambiente familiar em que viveu aguçou-lhe o gosto pelo saber. Para
isso contribuíram alguns parentes, tidos como conceituados
professores: Sebastião Ferreira Drummond e Francisco Machado Drummond, notável docente com 30 anos de ensino,
cidadão exemplar, homem abastado e magnânimo. Contudo,
foi o Pe. José Ferreira Drummond, distinta figura do clero
diocesano, seu primo e padrinho, e talentoso organista, quem
maior influência exerceu sobre o autor dos Anais da Ilha Terceira, sendo o seu primeiro mestre na arte dos sons. Prosseguiu, com grande êxito, os estudos musicais a cargo de Fr.
António de Pádua, vigário do coro do Convento de S. Francisco, durante duas décadas.
CH_Antonio Leal_01z_Layout 1 11/27/12 6:26 PM Page 101
FRANCISCO
FERREIRA
DRUMMOND
HOMEM DO SEU
E NOSSO TEMPO.
ATUALIDADE
DO SEU LEGADO
PEDAGÓGICO
FORMAÇÃO E LEGADO PEDAGÓGICO
Para quem conheça a história do séc. XVIII e a cultura clássica
greco-latina, encontrará, facilmente, muitos aspetos coincidentes com os valores defendidos pelo humanista terceirense.
O trivium e o quadrivium aristotélicos nele surgem como base
da sua formação cultural. A gramática, oratória e dialética, do
primeiro, e do segundo, a aritmética, a astronomia e a música,
que seria uma das suas maiores paixões. Agora se compreenderá, melhor, o motivo por que existem, nos nossos dias,
tantos músicos de formação científica (engenheiros, matemáticos, físicos, médicos e arquitetos). Se lembrarmo-nos dos
fundamentos matemáticos, das linhas geométricas e dos tempos musicais, não sentiremos qualquer surpresa no casamento
entre essas ciências e a música, que para muitos é, desde a
Antiguidade, a primeira das artes.
A comprovar essa influência da cultura clássica, refira-se, ainda,
uma série de inúmeras citações de autores latinos como Tácito,
Vergílio, Ovídio (deste último transcreve mesmo versos de
uma elegia, no frontispício da obra que o notabilizou). De realçar, também, que Quintus Ennius, um dos maiores e mais
universais poetas romanos, publicara um imponente poema
épico sobre a história de Roma – Annales, em 18 volumes, em
cujo epitáfio, um dia, alguém gravou a frase seguinte: É ao ler
Ennius que os alunos romanos aprendiam a vida dos antigos heróis
assim como as virtudes romanas. Elas eram várias, entre as quais
a pietas, que abrangia os deveres religiosos, civis e familiares; a
fides, isto é, o respeito pelos compromissos assumidos e constantia, ou seja, a firmeza de caráter.
O ideal romano está bem sintetizado na feliz expressão lapidar
mens sana in corpore sano, ainda hoje dotada de pertinente
atualidade. As qualidades morais indicadas deviam, segundo
Francisco Ferreira Drummond, preocupar o político, o polemista e o orador. A oratória não devia brilhar apenas na arte de
dizer, isto é, na forma estilística em detrimento do conteúdo. E
que flagrante acuidade e utilidade tem este conceito para os
discursos dos nossos políticos e demais profissionais da palavra!
No caso de Francisco Ferreira Drummond, além dos valores
supramencionados, há que sublinhar ainda outros pelos quais
lutou, afincadamente, no seu ofício de historiador. Refiro-me ao
conceito de superioridade do labor intelectual. Este o obrigou
a fazer dois decénios de pesquisas em cartórios, arquivos públicos e particulares, registos paroquiais e familiares para poder
escrever os Anais da Ilha Terceira. De referir também a probidade e humildade do historiador. Veja-se este exemplo: 1751
foi um dos anos mais escassos de fruta na ilha..., porém não alcancei a causa. (Confissões como esta abundam na sua obra). A
necessidade de saber sempre mais; a isenção na pesquisa das
fontes; o equilíbrio (mesura dos clássicos); a busca constante da
verdade; o rigor e o espírito crítico (tão necessários nos tempos
que vivemos em que tanta palha, lixo e atentados à inteligência
são impingidos pelos media, cinema e internet); o culto da liberdade, que o levou ao exílio dum ano em Lisboa, só regressando
após a Abrilada, quando os ventos lhe eram mais propícios, são
valores universais, válidos em todos os tempos, e pelos quais
ele quis sempre pautar a sua conduta.
O incumprimento ou abastardamento de muitos deles leva-o às
denúncias contra a injustiça, o desleixo, a usurpação do que é
dos outros, e às críticas aos desmandos partidários. Insurge-se,
igualmente, contra os portugueses que não colaboram no progresso do País, vivendo na indiferença castradora, cobarde e indigna, enquanto o povo passa fome e anda andrajoso por ruelas
sujas.
Afinal, onde já ouvimos ou lemos tomadas de posição tão idênticas às expendidas por Francisco Ferreira Drummond e que
enumerámos acima?!
[101]
Dotado de boa preparação de latinista, Francisco Ferreira
Drummond é nomeado, com apenas 15 anos, organista da
Matriz da Praia, onde esteve 47 anos, quase até à sua morte,
aos 62 anos de idade. Durante esse longo magistério, vai consolidando o estudo dos principais autores latinos e lusos, num
meio social acanhado e pobre.
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A MÚSICA NA VIDA DE
FRANCISCO FERREIRA DRUMMOND
AS MAIORES REALIZAÇÕES DE
FRANCISCO FERREIRA DRUMMOND
Não desempenhou somente a função de organista, como já foi
dito atrás. Foi também organeiro, procedendo a reparações ou
substituição de peças dos instrumentos existentes, nas várias
freguesias da ilha, ou resolvendo problemas de afinação nos
mais usados ou maltratados. Interessado na divulgação das inovações que iam sendo conhecidas nos países mais desenvolvidos da Europa, sensibilizou as entidades paroquiais para esses
progressos e propôs aos responsáveis da Matriz da Praia a
imediata aquisição do primeiro harmónio que veio substituir,
com as suas sonoridades mais expressivas, os velhos órgãos
usados nas igrejas terceirenses, mas foi a Santa Casa da Misericórdia praiense a primeira entidade a fazê-lo, o que deslumbrou o organista Francisco Ferreira Drummond.
A maior de todas é, sem dúvida, os Anais da Ilha Terceira, fruto
do seu beneditino labor intelectual. O júri, que apreciou o
manuscrito era composto por dois dos mais ilustres vultos das
letras terceirenses: os Drs. António Moniz Corte-Real e João
Augusto Cabral de Melo, tendo lavrado, em ata, a sua apreciação, nos seguintes termos:
[102]
É de realçar a importância da música sacra nas celebrações dos
grandes acontecimentos civis e religiosos. Na obra de Drummond, proliferam os Te-Deum, nas mais diversas ocasiões, tal
como as luminárias. É o caso do aniversário de D. Pedro, em
1831.
No mesmo dia 5 de março foi solenizada, na Vila de S. Sebastião,
a chegada do imperador com todas as demonstrações de público
regozijo, assistindo a Câmara Municipal na igreja Matriz a um
solene Te-Deum…, enumerando a seguir as individualidades e as
corporações presentes naquele importante ato.
Apesar dos seus múltiplos afazeres, tocava todos os dias o
cravo e o manicórdio, durante duas horas, para seu prazer pessoal e, acima de tudo, para aperfeiçoamento do seu trabalho
artístico que ele muito considerava e prestigiou. A música sacra
era, até ao Concílio do Vaticano II (1962), fundamental nas
cerimónias litúrgicas, totalmente ditas em latim, a língua oficial
da Igreja Católica. E ambas contribuíam para a elevação do
espírito e a criação nos fiéis de uma atmosfera de misticismo ou
mistério. Pensava-se que, assim, se chegaria mais perto da
glória de Deus e dos seus anjos (arcanjos, querubins e serafins),
alguns deles tocando seus vistosos instrumentos cor de ouro.
Não há dúvida que o autor desta obra é digno do reconhecimento público, pelo relevante serviço que fez à sua
pátria, revolvendo e explorando os arquivos públicos e
particulares, colhendo e coordenando notícias e tradições
históricas, desde o descobrimento da ilha e copiando quantos documentos pôde encontrar relativos ao governo civil,
militar e eclesiástico; não há dúvida que esta obra tem
merecimento real, oferecendo, reunidos, muitos elementos
necessários, assim para a história geral deste arquipélago,
como particularmente a desta ilha, sua antiga capital, e
teatro ilustre de muitos sucessos memoráveis (…) Pena é
que se não possa fazer até aos nossos dias a continuação
desta obra. (cit. por J. Corte-Real e Amaral, in Biografias e
Outros Escritos, p.45)
Outra grande realização a que esteve ligado, na qualidade de
Presidente da Câmara, foi a gigantesca obra da canalização da
água do Pico da Cruz – Nascente do Cabrito – para a Vila de S.
Sebastião (a maior efetuada na Terceira). Os números falam por
si: produção do débito diário 12 milhões de litros, servindo a
vila e Porto Judeu; extensão do encanamento duas léguas; duração dos trabalhos 25 meses (1842-1844). O governador da
altura, José Silvestre Ribeiro, o reconstrutor da Praia, a qual lhe
erigiu um monumento no centro do seu jardim, afirmou no dia
da inauguração da mesma:
Confesso ingenuamente que há muito não assistia a espectáculo
que tanto vivamente me captivasse a atenção e banhasse a minha
alma de delícias e contentamento. (Cit. em Biografias e Outros
Escritos, p.41). Refere-se, em seguida, à grandiosidade e aos
perigos de um tal empreendimento, à coragem e ao génio do
responsável pela obra, o rico proprietário, Manuel Gonçalves
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FRANCISCO
FERREIRA
DRUMMOND
[103]
HOMEM DO SEU
E NOSSO TEMPO.
ATUALIDADE
DO SEU LEGADO
PEDAGÓGICO
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Fagundes, que nela gastou mais de 4 contos (uma fortuna para
a época). Francisco Ferreira Drummond, nesse contexto,
revelou-se um hábil negociador no meio de vários incidentes
até se chegar à expropriação dos terrenos daquela abundantíssima nascente, impedindo que o maior manancial aquífero da
ilha fosse encaminhado para a Vila da Praia.
Não foi fácil a vida deste homem que devotou um acrisolado
amor à sua terra, advogando com denodo e valentia os interesses do seu concelho (formado pelas freguesias servidas por esta
Escola, e o Raminho, na costa norte), em momentos muito
adversos. Fê-lo na Câmara, na Junta Geral, na imprensa, por
todos os meios, designadamente quando tudo prenunciava a
extinção do seu concelho (1855), o que não se cumpriu de imediato. Comportou-se sempre como lutador indefetível, paladino da cidadania e liberal avesso às injustiças dos magnates, o
que lhe valeria inimizades e dissabores. Recorde-se que, já em
1822, por razões meramente políticas (querelas partidárias),
tivera de sair para o exílio lisboeta, onde permaneceu mais de
um ano. O pretexto terá sido ter tocado, várias vezes, o hino
constitucional no Mosteiro da Luz da Vila da Praia.
Em conclusão, permitam-me que, nesta Escola Básica Integrada
com o seu nome, eu repita o apelo feito, aquando da comemoração do bicentenário do seu nascimento, neste mesmo dia 20
de janeiro de 1997. Oxalá a sua obra seja mais lida e o seu
exemplo de cidadão interventivo e devotado à sua terra inspire as
futuras gerações e estimule as hodiernas.
A merecida e feliz escolha de Francisco Ferreira Drummond
para patrono deste estabelecimento e esta oportuna sessão são
já um bom augúrio. As sementes estão lançadas. Vão germinar
e dar frutos para alimento e crescimento de todos os seus beneficiários, isto é, todos os que por aqui passarem, nos próximos tempos. Oxalá seja assim, ad multos annos.
[104]
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
“Quais as causas dessa decadência, tão visível (…)
e geralmente tão pouco explicada?”
Antero de Quental (1871)
INTRODUÇÃO: REGRESSO ÀS
CONFERÊNCIAS DO CASINO
Suponhamos que uma resolução consistente da atual crise
portuguesa1 requer instituições (i.e. organizações e regras
formais ou informais) que garantam a longo prazo os equilíbrios financeiros que hoje tentamos para o curto prazo, e
que permitam substituir meras rendas económicas por uma
efetiva competitividade. Essa requisição foi feita, entre
outros, por Vítor Bento no editorial que assinou no Diário de
Notícias a 29 de dezembro de 20112. O economista e conselheiro de Estado concluiu porém avisando que esse é um
problema cultural, difícil de resolver até pelos interesses
particulares que aí obtêm os respetivos rendimentos.
1 O presente ensaio foi escrito entre princípios de janeiro e fins de abril
de 2012. A sua edição revista, mais explícita lógico-argumentativamente
e com menos referências circunstanciais, será publicada como livro pela
Palimpsesto Editora (Lisboa) em 2012.
2 V. Bento tinha antes relevado como causa estritamente económica desta
crise a secundarização da produção de bens transacionáveis desde a
nossa adesão à CEE (O Nó Cego da Economia – Como Resolver o Principal
Bloqueio do Crescimento Económico, Lisboa: Bnomics, 2010).
[105]
Miguel Soares de Albergaria
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Ou seja, a escolha coletiva que pôs Portugal no rumo da
presente situação não terá sido a mera secundarização dos
bens transacionáveis, etc.. Antes disso (numa anterioridade
lógica, não necessariamente cronológica), ter-se-ão escolhido
instituições que induzem a obtenção de rendas em detrimento
da produção de riqueza. Escolha essa que, por sua vez, indicia
o postulado radical de valores segundo os quais um número
suficiente de portugueses terá precisamente optado por
aquelas instituições, em correlação (dos valores) a princípios
segundo os quais essas pessoas conceberam as alternativas que
se lhes abriam3.
[106]
Percorrendo o caminho inverso à anterior inferência, um
primeiro passo radical da resolução consistente da economia
portuguesa será pois a indicação de quaisquer princípios e
valores que nos induzam a opções institucionais sustentáveis.
Entretanto o próprio facto de se intervir em função disso
mediante a escrita, e numa publicação prestigiada, sem que
esse meio seja único – poder-se-á também subir a um banquinho em qualquer speakers’ corner e falar a quem passa,
manter um blogue… que talvez só o autor leia, etc. – indicia um
outro passo paralelo àquele: o da opção pelo modo de se
estabelecer tais princípios e valores numa parcela da população
que constitua a massa crítica social que, nessa nova base conceptual e axiológica, logre criar e consolidar regras e organizações que facultem a competitividade da economia. O nosso
propósito nestas páginas é precisamente o de remontarmos ao
nível resolutivo radical e contribuirmos para estes dois passos,
uma vez que confirmemos a sua requisição por um problema
económico português de natureza cultural4.
Este empreendimento está porém longe de começar nos dias
que correm. Ao contrário, porventura o momento mais comentado desse primeiro passo ocorreu 140 anos antes daquele
editorial do DN, no diagnóstico proposto por Antero de Quental na sua comunicação à 1ª Sessão das Conferências Democráticas no Casino Lisbonense – na esteira de Alexandre Herculano, também desenvolvida por Oliveira Martins, etc.. Não
parecendo interessante voltar a inventar a roda, far-nos-emos
aqui ao caminho com apoio nessa célebre conferência. Mas
num diálogo crítico, como Antero (1871) também deixou ali
estabelecido: “conheço que as minhas palavras não devem ser
bem aceites por todos. As ideias, porém, não são felizmente o
único laço com que se ligam entre si os espíritos dos homens.
Independente delas, se não acima delas, existe para todas as
consciências retas, sinceras, leais, no meio da maior divergência
de opiniões, uma fraternidade moral, fundada na mútua
tolerância e no mútuo respeito, que une todos os espíritos
numa mesma comunhão – o amor e a procura desinteressada
da verdade”. Nesta comunhão, reconheceremos uma nossa
incapacidade cultural de mantermos o crescimento económico,
todavia teremos que reformular o diagnóstico apresentado em
Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três
Séculos (secção 1). Reformulação que nos levará por um desvio
sobre os princípios e valores que sustentem quaisquer
instituições que mantenham o crescimento económico, até à
proposta de uma taxonomia dessas condições fundamentais
(2). Para na sua base podermos voltar ao caso particular da
cultura económica portuguesa, que de resto teremos indo
3 Chama-se “valor” à referência segundo a qual se faz alguma escolha. Por
facultar uma classificação das alternativas em jogo entre um polo positivo
e outro negativo. E por se poder dispor os valores em hierarquias
segundo as quais se opte nas situações em que diferentes alternativas
têm a mesma classificação segundo valores diferentes. Estas alternativas
são concebidas segundo “princípios” gerais metafísicos e epistemológicos, e particulares como os físicos, económicos, etc..
4 Este texto é um ensaio argumentativo com base particularmente em
conhecimentos científicos. Os quais têm sido distinguidos pelos
epistemólogos ou como verificáveis, ou como falsificáveis. A primeira
condição é a de ser reconhecível a verdade de uma proposição, a
segunda é a de se poder reconhecer apenas a sua falsidade. Nos meus
argumentos tomarei como boas as informações (tratadas) que receberei
de alguns investigadores, para depois evoluir por exclusões de partes,
pela apresentação de contra-casos, etc., estratégias mediante as quais
apenas almejaremos ao descartamento de hipóteses falsas. Já para uma
verificação seria necessária alguma instância que confrontasse a
proposição em causa e a sua referência, atestando o seu ajuste; e depois
uma segunda instância mediadora que ateste o ajustamento entre a
primeira e os dois polos iniciais; e depois uma terceira instância… Como
porém não tenho informação de qualquer contra-caso à regra universal
da mortalidade humana, presumirei de imediato que não poderei seguir
essa remissão ao infinito, o que me compromete com o falsificacionismo.
Em conformidade ao qual não garantirei sequer a verdade de qualquer
proposição que reste sozinha depois das alternativas aqui consideradas
terem sido todas descartadas (poderá ser pela minha falta de capacidade
de naquela reconhecer a falsidade, ou de formular outras).
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
1. DAS CONDIÇÕES DA ESTAGNAÇÃO
RELATIVA DE PORTUGAL NA ECONOMIA
INDUSTRIALIZADA.
1.1. RECONHECIMENTO
DA SITUAÇÃO PORTUGUESA.
A evolução do nosso índice de desenvolvimento humano
(IDH)5 ao longo da primeira década deste século constituiu
uma campainha de alarme. É certo que o valor português subiu
de 0,896, no ano 2000, para 0,909, em 2009. Mas, relativamente ao desempenho de outros países nas mesmas condições
internacionais, não devemos ignorar que se naquela primeira
data Portugal ocupava o 23º lugar do IDH, nove anos depois
encontrava-se no 34º. E, relativamente à sustentabilidade de
um nosso desenvolvimento, o gráfico 1 mostra-nos que, nessa
década, enquanto o PIB português quase estagnou, a nossa
dívida externa bruta mais do que duplicou, e a riqueza que
criámos por ano acabou por ser ultrapassada mesmo pela
dívida externa líquida6 – ou seja, melhorámos as condições de
vida gastando não só a riqueza que até então produzíramos,
mas também parte daquela que teremos agora que produzir,
com a qual não poderemos assim contar para manter essas
mesmas condições de vida.
Alargando porém o horizonte da análise sobre essa sustentabilidade, reconheceremos que a debilidade do nosso crescimento económico não é circunstancial. Ao contrário, o gráfico
2 revela quão persistente é o atraso económico português em
relação a esses seus pares pelo menos desde a Revolução
Industrial7.
5 Enquanto o crescimento se reporta à variação do produto interno bruto
(PIB), o desenvolvimento humano reporta-se não só à quantidade de
riqueza, mas também à sua distribuição e à sua sustentabilidade. Até
2009 o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento elaborava
o IDH tomando como parâmetros a taxa de alfabetização, a taxa de
escolaridade, a expectativa de vida ao nascer, e o PIB per capita (por
habitante) em dólares – v. Human Development Reports. Em 2010 os
parâmetros foram retificados, pelo que só será legítimo comparar
diretamente resultados dos anos anteriores. Em todo o caso registe-se
que, na estimativa para 2011, Portugal foi agora classificado no 41º lugar,
caindo uma posição em relação a 2010, em rota inversa à da Polónia ou
da Lituânia, respetivamente 39º e 40º com ganhos de duas e de quatro
posições face a 2010.
6 As dívidas externa bruta e líquida, indicadas no gráfico 1, indicam respetivamente os valores do que o país deve ao estrangeiro, relativamente
aos quais se calculam os juros a pagar, e os valores anteriores deduzidos
daqueles de que o país é credor. Os valores do gráfico 2 estão
estabelecidos em paridade de poder de compra (mediante o cálculo de
uma taxa de câmbio calculada a partir da média ponderada dos preços
dos bens de um cabaz de bens comum em diversos países).
1. Portugal - PIB, dívida externa (M€)
Fonte: BP, in Santos Pereira, Desmitos
7 Supondo que sejam razoavelmente válidos esses cálculos sobre o
crescimento agregado de regiões que em alguns casos não correspondem aos atuais países referidos, e desde tempos nos quais poucas
estatísticas se reuniam (cf. Landes, 2001: 216-219). Todas as conclusões
a que cheguemos mediante argumentos que contem com tais cálculos
como premissas ficam condicionadas pela legitimidade destes últimos.
[107]
mencionando já ao longo das secções anteriores, e concretizar
o primeiro passo da resolução radical acima apontada (3). Em
função do qual esboçaremos por fim o segundo desses passos
– sobre o modo da intervenção cultural – na base de um
antecedente já não apenas secular mas milenar (4). Em cada
uma destas duas últimas secções farei uma menção particular
ao nosso caso açoriano. E concluirei com uma síntese lógica dos
dois argumentos que sustentam as propostas que apresentarei
ao longo do presente ensaio.
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razão da emigração. Resta o fator do turismo, que permaneceu
para além daquele quartel. Mas a estagnação da curva
portuguesa mostra que não foi suficiente. A esta interpretação
a favor do circunstancialismo da nossa notável convergência
nesse período acrescentemos o juízo de David Landes (2001:
306-308) de que é mais fácil convergir do que participar da
vanguarda; e o de Dani Rodrik (2007: 43) de que o que é difícil,
e portanto significativo, não é espoletar o crescimento mas sim
mantê-lo. Infelizmente, pois, creio bem que este é um daqueles
casos em que temos de olhar para o copo quase vazio, e não
para o copo um bocadinho cheio.
2. PIB per capita, relação à média da UE-15 (preços de 1990)
Fonte: Mateus (2006: 26)
[108]
Um aparente contra-caso a essa afirmação será a taxa de
convergência em especial no quartel entre o fim da II Guerra
Mundial e 1973. Tão significativa quanto ela, porém, será a
quase estagnação da curva portuguesa mesmo após a estabilização político-económica a meados da década de ’80, a despeito das benesses da adesão à CEE. O que bate certo com a
interpretação desenvolvida por Abel Mateus (2006: 84, s.) da
superioridade da taxa de crescimento dos países da Europa do
sul em relação à da Europa ocidental no referido quartel:
beneficiaram “da sua reintegração nos fluxos de comércio
internacional e de transferência de tecnologia e investimento.
Além disso, beneficiaram de dois fatores específicos: a explosão
dos fluxos de turismo e as remessas de emigrantes”. Ora o
primeiro fator geral foi circunstancial – dissolver-se-ia sempre
uma vez cumprida a reintegração. O segundo só não o seria se,
após a época de transferência, nos tornássemos um país de
vanguarda tecnológica, inovando-a – com os índices de escolarização a permanecerem atrasados, apesar das melhorias, pela
minha parte duvido muito que isso pudesse acontecer. De
qualquer modo não aconteceu. Também o quarto fator implica
a sua própria dissolução – uma vez que o crescimento, ainda
que com uma distribuição desigual do rendimento, dissolveria a
Comparemo-nos aliás particularmente à Irlanda, atlântica como
nós, que encetou um extraordinário crescimento após o choque do petróleo de 1973, durante a III Revolução Industrial8…
precisamente quando Portugal estagnou em relação à média
dos 15 países que primeiro constituíram a União Europeia. Ou
com os também 10 milhões de belgas, divididos entre valões e
flamengos no coração da Europa, por isso ocupados em duas
Guerras Mundiais, que perderam o acesso livre aos diamantes
do Congo antes de nós o perdermos ao petróleo e diamantes
de Angola… e que nestes dois séculos se mantiveram sempre
acima da referida média. Ou com a Áustria, que restou qual
cabeça decepada do corpo após a dissolução do seu império
centro-europeu em 1918, que a derrota de 1945 impediu de
quaisquer alianças… mas cujo desempenho ainda assim foi
claramente melhor do que a média dos 15 no último quartel do
séc. XX. Ou ainda com a Finlândia, no extremo escandinavo da
Europa, gelado e sem sol, espartilhada pelo acordo com a
União Soviética após a derrota na II Guerra Mundial… findo o
qual o seu PIB per capita retomou a convergência com os 15 até
ultrapassar a média destes em 2005.
Comparações como a do gráfico 2 são significativas para uma
compreensão do problema político-económico português:
dificilmente as causas do desempenho nacional em relação ao
dos nossos pares se encontrarão nas condições que se nos
8 Facultada pela robótica, energias alternativas aos combustíveis fósseis,
informática, telecomunicações, etc..
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
impõem, pois pequena dimensão, periferia geográfica, guerras
e crises nos parceiros comerciais… também se verificam em
países que todavia tiveram sucesso. Uma vez que o problema
não estará no que nos é dado, então ou bem que se encontra
no modo como lidamos com tais situações, ou bem que deriva
da pouca sorte, do fado, da Bruxa Má… Por esta segunda
hipótese não precisaremos de nos preocupar com quaisquer
reflexões – como a presente – decisões e ações, pois o que
acontecer não dependerá destas. Mas mal também não fará se
prosseguirmos a presente reflexão. E, em troca, cada um de
nós poderá preparar-se melhor para as decisões pessoais e
coletivas que nos esperam, se supusermos a hipótese anterior.
Afinal, como dizia o meu avô Eduardo, “Quanto mais trabalho,
mais sorte tenho”. Experimentemos assim, o leitor e eu, trabalharmos reflexivamente mais um pouco, a ver se (individual
e/ou coletivamente) temos mais alguma sorte do que a revelada
pelos gráficos acima.
O modo de lidarmos com as situações dadas, sendo-nos
crónico, não será próprio desta ou daquela oligarquia, ou sequer desta ou daquela geração, mas sim do que todas estas
implementam. Que serão então os princípios de compreensão
da realidade, os valores que nela nos orientam (v. nota 3), e as
consequentes conceções particulares e práticas comuns – ou
seja, a cultura – da maioria dos portugueses pelo menos nestes
dois séculos de economia industrializada. Pois é muito pouco
provável que, em cada momento histórico, ocorra sempre
algum obstáculo circunstancial, e que isso apenas aconteça num
certo retângulo à beira mar plantado mais nuns quantos rochedos espalhados no mar em frente!
1.2. O DIAGNÓSTICO ANTERIANO
E SUA AVALIAÇÃO.
Uma vez reconhecido o problema, e compreendido como
cultural, procuremos o que o possa ter causado (ou pelo menos as respetivas condições) em vista à sua ulterior resolução.
Como avancei no início, encontramos uma proposta de diagnóstico nas três causas que Antero de Quental (1871) apontou: a Contrarreforma católica, o absolutismo político destrui-
dor das liberdades locais medievais, e uma intencionalidade
mais conquistadora do que comercial da expansão ultramarina.
Os “efeitos morais” desses fenómenos históricos terão sido o
impedimento de, respetivamente, “a liberdade moral, conquistada pela Reforma ou pela filosofia; a elevação da classe
média, instrumento do progresso nas sociedades modernas, e
diretora dos reis, até ao dia em que os destronou; a indústria,
finalmente, verdadeiro fundamento do mundo atual, que veio
dar às nações uma conceção nova do Direito, substituindo o
trabalho à força, e o comércio à guerra de conquista”. E o autor
ordena rigorosamente essas relações causais: “dado o catolicismo absoluto, era impossível que se lhe não seguisse,
deduzindo-se dele, o absolutismo monárquico. Dado o absolutismo, vinha necessariamente o espírito aristocrático, com o
seu cortejo de privilégios, de injustiças, com o predomínio das
tendências guerreiras sobre as industriais. Os erros políticos e
económicos saíam daqui naturalmente; e de tudo isto, pela
transgressão das leis da vida social, saía naturalmente também
a decadência sob todas as formas” (op.cit.).
No nosso diálogo com este intelectual açoriano, terei no entanto de imediatamente bater em retirada das posições avançadas
de uma causalidade para a trincheira mais segura da mera condicionalidade, pois confesso que não sei qual deva ser a rigor o
significado, ou como se deva aplicar em cada caso, o conceito
de “causa”. Tomemos assim algo como “condição” de outro
quando o segundo, em alguma medida, depender do primeiro.
Devem distinguir-se as suficientes – que bastam para que o
condicionado ocorra – das necessárias – sem as quais este não
ocorre, mas que podem não ser suficientes para isto – das
necessárias e suficientes. No fim do parágrafo 3.2 explicitarei a
proposta de três destas últimas condições para um nosso crescimento económico sustentado. Mas ainda aí a ambição deste
nível noético será menor do que a daquele em que evoluiu o
nosso interlocutor oitocentista, pois não se excluirá a possibilidade da causa efetiva de um dado fenómeno ser outra que não
alguma sua condição necessária e suficiente que se verifique
conjuntamente.
Entretanto esta humildade noética permitir-nos-á tomar
indiferentemente como condições o que, aristotélico-tomis-
[109]
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
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[110]
tamente, poderíamos discriminar em Antero: a Contrarreforma, o absolutismo e a conquista como causas eficientes (fenómenos que espoletam a ocorrência de outros), enquanto a
falta de liberdade, de classe média e de indústria, independentemente de serem ou não efeitos (morais) das anteriores,
como causas formais (identificadoras) dos acontecimentos
político-económicos pontuais portugueses. Considerando
então essas eventuais seis condições, creio que, hoje, podemos
tomar o que o próprio Antero aponta como resultante, a
deficiência industrial, como a expressão sintética do nosso
problema de participação numa economia mundial industrializada. Isto é, o que procuramos são as condições dessa
deficiência, sobre as quais haverá que intervir em ordem a uma
resolução dos “erros políticos e económicos [e da] decadência
sob todas as formas”. Por outro lado, relativamente à eventual
condição respetiva, o espírito de conquista, simplesmente deixou de ter oportunidade em 1975, pelo que não se nos dispõe
hoje como alvo de qualquer intervenção resolutiva nossa.
Restam quatro eventuais condições. Seguindo a ordenação do
nosso interlocutor, comecemos pois por averiguar se o
catolicismo que implemente ainda o Concílio de Trento, assim
como o centralismo – presente na burocracia administrativa,
no sistema eleitoral que concentra a decisão política nos diretórios dos dois partidos que se revezam nos órgãos do Estado,
etc. – que implemente ainda o absolutismo moderno, podem
ser considerados como condições necessárias do que os gráficos anteriores assinalam em Portugal. Julgo que dados como
estes precisamente nos obrigam a enjeitar tal hipótese.
Pois de cultura católica também são os irlandeses, três quartos
dos austríacos, e cerca de metade dos belgas, mas têm tido
sucesso na economia industrializada. Quando muito a herança
do Concílio de Trento participará de algum complexo de
condições, mas não será suficiente, e não se verificará pelo
menos uma das condições necessárias em cada um daqueles
outros países. Logo, o catalisador do nosso atraso crónico não
será o catolicismo. Entretanto não é sequer impossível que a
evolução desta denominação cristã a constitua hoje como um
fator de crescimento económico, eventualmente travado por
outras condições9.
O gráfico 2 também é significativo para a recusa do centralismo
e autoritarismo como condições da menoridade económica –
não descarta, é certo, a recusa do grau absoluto do centralismo
e autoritarismo, mas, uma vez que esse grau já só se verificará
na Coreia do Norte, em narco-Estados… poderemos considerar aqui graus mitigados de centralismo económico. Os quais
não serão relevantes para o desempenho económico visto que
as instituições de países centro-europeus, como a Áustria, tendem a ser mais centralistas do que as de países anglo-saxónicos,
como a Irlanda, enquanto as dos países escandinavos, como a
Finlândia, oscilam para o primeiro lado nuns casos, e para o
segundo noutros (v. Amable, 2005: Ch. 5). E todavia os respetivos desempenhos económicos são equiparáveis. No mesmo
sentido, veja-se adiante a referência de Dani Rodrik (2007: Ch.
1) ao crescimento do PIB per capita de regimes autoritários e
intervencionistas como o chinês.
Em suma, há indícios que sustentam a nossa hipótese inicial de
um crónico problema económico português, que se manifesta
numa nossa deficiente participação na economia industrial
globalizada, mas que já se verificava à entrada desta, e cuja
natureza última será cultural. Para o diagnóstico desse problema reteremos de Antero a hipótese de que o atraso português
porventura se deixará equacionar, ao menos em parte, como
resultando de uma falta de liberdade moral e de uma fraca
classe média. Condições estas que porém não derivarão das
causas eficientes que lhes são apontadas em Causas da
Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos10.
Convém-nos pois alargar o horizonte da nossa informação em
busca de elementos para um diagnóstico que nos permita orientar a resolução daquele problema.
9 Ao leitor que se disponha a continuar a reflexão encetada nestas páginas,
sugiro a leitura da resposta de Michael Novak (1993) à célebre tese de
Max Weber da vantagem do calvinismo para o crescimento económico.
10 Julgo que o argumento anteriano vem a enfermar precisamente da
falácia que o autor reclama ter evitado: “Examinemos os fenómenos
que se deram na Península durante o decurso do século XVI, período
de transição entre a Idade Média e os tempos modernos, e em que aparecem os gérmenes, bons e maus, que mais tarde, desenvolvendo-se
nas sociedades modernas, deram a cada qual o seu verdadeiro caráter.
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
O método de exclusão por partes, que usei atrás, tem a sua
aplicação ótima na procura dos fatores responsáveis por uma
reação química através da variação dos reagentes um a um. Mas
o que o economista dispõe de mais próximo ao laboratório do
químico é a história. É nesta que melhor (ou menos mal)
poderemos isolar as condições culturais gerais do crescimento
económico – sobre cuja verificação em Portugal nos perguntaremos na secção 3. Para uma primeira confirmação das
investigações históricas que por isso usaremos escolhi duas
abordagens perpendiculares entre si, uma longitudinal ao curso
histórico, a outra transversal às recentes experiências econó-
micas de diferentes regiões e países, a fim de as cruzar numa
verificação mútua (2.1) – para me apoiar nesse cruzamento
elaborei a tabela 1, a sua consulta talvez também seja útil ao
leitor nos próximos parágrafos. Procurei compensar esse
escasso número de fontes com algum selo de qualidade, neste
caso o da universidade de Harvard onde ambos os autores
trabalharam… Antero de Quental porventura sentir-se-ia tentado a responder à minha nota 10 acusando-me aqui da falácia
ad verecundiam (apelo à autoridade), para tentar escapar-lhe
ensaiarei a seguir uma pequena prova real testando o nosso
isolado no movimento inverso, então da cultura para o desempenho económico, a ver se na inferência anterior não teremos
chegado a condições meramente contingentes deste último
(2.2). Terminaremos com a determinação de uma taxonomia
dos princípios e valores recolhidos, que possamos depois aplicar ao caso português (2.3).
[111]
2. PARA UMA TAXONOMIA
DOS VALORES E PRINCÍPIOS
ECONOMICAMENTE SIGNIFICATIVOS.
1. Valores e princípios político-económico-culturais
D. Landes (2001)
Valores
Trabalho
Liberdade de iniciativa
Invenção
Mercado
Propriedade privada
(do produto)
Limitação do poder
político
Conhecimento teórico
Acumulação de capital (Parcimónia)
Honestidade
Tenacidade (Paciência)
D. Rodrik (2007)
Princípios gerais
Tempo linear e
progressivo
Subordinação da Natureza
ao homem
(Conceção do ser humano
como pessoa)
Princípios económicos
Direito de propriedade
Incentivos numa economia
de mercado
Primado da lei
Consistência da moeda
Sustentabilidade fiscal
Regulação financeira
Seletividade dos apoios sociais
Compatibilidade entre apoios
e incentivos
Valor político
Democraticidade
Se esses fenómenos forem novos, universais, se abrangerem todas as
esferas da atividade nacional, desde a religião até à indústria, ligando-se
assim intimamente ao que há de mais vital nos povos estarei autorizado
a empregar o argumento (neste caso, rigorosamente lógico) post hoc,
ergo propter hoc, e a concluir que é nesses novos fenómenos que se
devem buscar e encontrar as causas da decadência da Península”
(op.cit.). Chama-se falácia “post hoc” (depois disso, portanto por causa
disso) ao estabelecimento de uma relação causal entre dois fenómenos
apenas porque se verifica uma sua proximidade temporal. Uma vez que
encontrámos contra-casos que destroem a universalidade que Antero
exige no antecedente dessa sua última condição, é precisamente dessa
falácia que passa a enfermar o argumento que conclui aquele consequente apenas na base do exame de fenómenos peninsulares quinhentistas.
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2.1. RECOLHA E COMPREENSÃO DE
INFORMAÇÕES (JÁ TRATADAS).
[112]
a) Abordagem diacrónica geral: David S. Landes (2001) é-nos
particularmente significativo quer para Portugal, quer para a
compreensão da natureza do problema que temos vindo a
assumir com Vítor Bento e Antero de Quental. Neste último
âmbito, porque aquele historiador norte-americano, através de
um périplo que o traz desde as primeiras respostas europeia e
chinesa às respetivas condições geográficas até uma reflexão
sobre as condições económico-culturais asiáticas e ocidentais
no fim do séc. XX, conclui que “se aprendemos alguma coisa
através da história do desenvolvimento económico, é o facto
de a cultura ser a principal geradora das suas diferenças. (Max
Weber estava certo quanto a isso.)” (op.cit.: 584). Embora logo
na página seguinte o autor assinale que esta condição não é
suficiente, uma vez que pode ser bloqueada por condições
locais, nomeadamente más opções políticas – a importância
destes particularismos é enfatizada na obra que referiremos a
seguir.
Antes de os considerarmos importará porém atender, de um
lado, ao impacto sobre o crescimento económico que, segundo
Landes, apenas a invenção consegue. O seu capítulo 4 é
dedicado à ênfase que lhe foi conferida na civilização ocidental
que nasceu na Alta Idade Média, e que o autor ratifica (p. 63)
no valor judaico-cristão do trabalho manual, no princípio
judaico-cristão do tempo linear e eminentemente progressivo,
no princípio judaico-cristão da subordinação da Natureza ao
homem, e no incremento do mercado. O historiador atribui
este último processo à liberdade de iniciativa, à preservação
dos ganhos por quem os produzir, e à limitação do poder dos
detentores de órgãos políticos.
Desenvolverei esta sua interpretação assinalando que a
subordinação da Natureza ao homem se encontra logo no Livro
do Génesis, mas com duas interpretações: como uma exploração antropocêntrica, ou como um usufruto mas simultaneamente zelo do homem por uma Natureza em que ele se
encontra, de que depende, e que não criou. É quase pacífico,
no dealbar do séc. XXI, que a opção pelo segundo disjunto se
tornou uma condição do chamado desenvolvimento sustentado.
Para o ulterior cruzamento da análise de Landes com a do seu
colega, convirá também assinalar que os valores da iniciativa, e
da responsabilidade pelos resultados das escolhas, correspondem à conceção judaico-cristã de pessoa humana (precisamente dotada de capacidade de escolha e de ação) – isto é, o
que os polos positivos desses valores estabelecem é igual por
definição (tanto quanto os conceitos das humanidades o podem
ser!) a “pessoa”11. Enfim, considerando as três “fontes decisivas
e distintamente europeias de sucesso” que Landes (2001: 223,
s. e cap. 18) aponta – a saber, a crescente autonomia de uma
reflexão intelectual crítica (livre de condicionantes extraracionais); o desenvolvimento do método hipotético-dedutivo
com a experimentação controlada e a matematização dos
conhecimentos; e a constituição de uma comunidade intelectual internacional cujos membros se estimulavam e criticavam
mutuamente – acrescentaremos à lista anterior (ao menos para
o caso dos países que se pretendem “europeus”) o valor grego
da teoria.
De outro lado, porém, não podemos ignorar duas condições
que têm determinado a sustentação do crescimento independentemente de quaisquer invenções. Pelo menos na Europa
desde o séc. XVI essa sustentação tem dependido de alguma
acumulação de capital em ordem ao investimento, em vez do
consumo imediato de toda a riqueza criada. Um acesso ao
financiamento que, como aconteceu nas economias que se
procuraram industrializar rapidamente no séc. XIX sem antes
terem acumulado capital, se diversificou pelas formas do
investimento pessoal, do crédito bancário, dos incentivos
governamentais e da atração de fluxos financeiros internacionais (v. Landes, 2001: 291, s.). E, pelo menos desde que há
história, a sustentabilidade tem dependido de uma intencionalidade orientada para a soma de pequenos ganhos conseguidos a longo prazo mediante trabalho, e não para rasgos de
curto prazo que facultem o poder de se estabelecer em seguida
quaisquer rendas parasitárias.
11 Para uma introdução à história das ideias com que os ocidentais se têm
constituído cf. Jacqueline Russ (1997) – em particular sobre o significado e dignidade da pessoa humana v. Russ (1997: 40, 53, 54, 332).
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
Sobre a importância da cultura nessa inversão de processos, o
nosso autor destaca na expansão marítima portuguesa a opção
pela aprendizagem por sucessão de experiências – na construção naval e técnicas de navegação – e uma intencionalidade
primeiramente orientada para os negócios, embora secundada
por um empenho evangelizador que dificultava aquela outra.
Mas em 1506 fez-se em Lisboa um primeiro progrom, em 1540
foi instalada a Inquisição, que queimou o seu primeiro herege
em 1543, e que endureceu a partir de 1580 com a reunião das
coroas portuguesa e espanhola. Daí a fuga acima referida dos
intelectuais, bem como dos grandes comerciantes. Entretanto
cresceu a concorrência das antigas rotas das especiarias, até
que Veneza readquiriu o estatuto de centro europeu desse
comércio no último quartel do séc. XVI. Em resposta, em 1570
a Coroa portuguesa desistiu de participar do comércio entre
Goa e Lisboa, passando a vender concessões. E o facto é que
durante a primeira metade do século seguinte os portugueses
foram substituídos no Oriente pelos holandeses e ingleses. (À
atenção da proposta de Herculano, de Antero, porventura logo
de D. Luís da Cunha, lembremo-nos de que o Concílio de
Trento ocorreu durante, e não antes desse processo de fechamento intelectual, moral e político, e que a consolidação do
Estado absolutista é posterior ao séc. XVI, pelo que não podem
ter sido as causas eficientes desta decadência).
A contraposição entre o comportamento seiscentista destes
outros povos (v. respetivamente, op.cit.: cap. 10, 11) e o dos
portugueses é mais uma das que permitem a David Landes
(2001: 592) enfim concluir: “o que conta é trabalho, parcimónia, honestidade, paciência, tenacidade”, a que se acrescentam
os valores da invenção, com as respetivas implicações, bem
como do conhecimento teórico e da acumulação de capital em
vista ao investimento.
b) Abordagem sincrónica contemporânea: Essa conclusão geral
diacrónica parece ser confirmada por uma análise sincrónica
das atuais economias nacionais. Mais precisamente, pela implicação daqueles valores e princípios gerais no respeito pelos
“higher-order principles of sound economic governance”, que
Dani Rodrik (2007) reconheceu em todas as economias que
têm tido sucesso nas últimas duas ou três décadas, não tendo
encontrado qualquer país mal sucedido que os respeitasse a
todos.
Este outro autor (op.cit.: 31-35, 87) divide-os por três
conjuntos: princípios microeconómicos, macroeconómicos, e
de política social12. O primeiro conjunto visa a eficiência na
12 Logo na p. 3, Rodrik declara o seu credo teórico neoclássico, mas
definindo-o não logo pelos postulados da racionalidade económica
individual e do natural equilíbrio dos mercados, antes tão só por uma
“methodological predisposition: social phenomena can best be
understood by considering them to be an aggregation of purposeful
behaviour by individuals – in their roles as consumer, producer,
investor, politician, and so on – interacting with each other and acting
[113]
Um dos exemplos que o historiador aponta dessas condições
do desempenho económico é o português, ao qual se refere
particularmente nos capítulos 6 e 9 – por serem tão raras as
passagens de obras internacionais que destacam o nosso caso
usarei diretamente as suas palavras: “Portugal é um pequeno
país de moderada fertilidade. No séc. XV a sua população era
estimada em cerca de um milhão e os seus principais produtos
e exportações consistiam em vinho (…) e cana-de-açúcar, que
crescia rapidamente. Tivessem os Portugueses desse tempo
podido antever a hoje clássica análise da vantagem comparativa
de David Ricardo, e teriam prosseguido nesse rumo sensato, a
cuidar da sua própria vida e negociando os seus produtos
naturais em troca das manufaturas de outras nações. Em vez
disso, esquivaram-se a seguir o caminho que a racionalidade
lhes apontava e converteram a sua terra numa plataforma para
o império” (op.cit.: 137) – por “racionalidade” entende-se aqui
a sensatez que reconhece as vantagens comparativas, e não já a
faculdade que pondera a possibilidade de saltos para atividades
que prometem maiores ganhos. “Em 1600, e mais ainda em
1700, Portugal tornara-se um país atrasado e fraco. Os
cientistas, matemáticos e físicos criptojudeus de anos idos,
tinham fugido todos e nenhuma voz discordante veio ocupar o
lugar deles” – abandonáramos, pois, o exercício da racionalidade crítica e especulativa – “Em 1736, D. Luís da Cunha
deplorou a ausência de uma comunidade reformista (calvinista)
em Portugal” (op.cit.: 149).
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[114]
alocação dos recursos. Para o que estabelece um mercado
regulado pelo direito de propriedade – dos investidores a pelo
menos parte do retorno do seu investimento (ex. o governo
chinês reconhece aos agricultores o direito a parte dos seus
eventuais lucros, mas não à totalidade, nem à terra utilizada) –
por incentivos – ao dinamismo, à diversificação e à internacionalização da produção numa economia de mercado, em
articulação aos custos e benefícios sociais – e pelo primado da
lei – que garante a transparência e estabilidade das regras
formais, e facilita a estabilidade política. O objetivo do segundo
conjunto é a estabilidade macroeconómica e financeira. É
constituído pelos princípios da consistência da moeda – que
subordina a liquidez financeira a uma inflação razoável – da
sustentabilidade fiscal – que subordina a dívida pública aos
valores agregados nacionais – e da regulação financeira – que
impede este sistema de correr riscos excessivos. Enquanto os
princípios de política social visam reduzir a pobreza e a
proteção social, contribuindo assim também para a estabilidade
política. Rodrik reconhece aí a seletividade – que dirige os
programas de apoio tanto quanto possível para os pretendidos
beneficiários – e a compatibilidade com os incentivos – que
minimiza a distorção provocada por estes últimos13. (Proposta:
como atualização do retrato português por David Landes, e
para uma explicação da situação em que nos encontramos hoje,
experimente o leitor verificar a satisfação de cada um destes
princípios no Portugal dos últimos 15 anos, à exceção do
primeiro princípio macroeconómico uma vez que este não depende de nós mas do Banco Central Europeu – pela minha parte, apenas reconheço claramente o primeiro princípio microeconómico…).
Em cada país, todavia, a implementação desses oito princípios
é mediada por algum conjunto de instituições formais e
informais que a promovem nas escolhas dos agentes económicos, sociais e políticos. Mas esse conjunto não é único.
Antes encontra-se uma diversidade de instituições que têm
facultado uma boa implementação daqueles princípios, ao
contrário de outras que os impedem (cf. Amable, 2005: Ch. 5).
As respetivas potencialidades variam em função da sua adequação aos particularismos locais e históricos – veja-se o fracasso soviético, durante a segunda metade da década de 1980, na
aplicação de um sistema de preços parcialmente livre e parcialmente tabelado, pela falta de instituições formais ou informais
que fizessem vigorar o plano de quotas uma vez aceite o
mercado, as quais terão sido determinantes do sucesso chinês
em semelhante sistema (Rodrik, 2007: 42, nota 21). A escolha
contextual das instituições torna-se assim decisiva. Até porque,
mais difícil do que quaisquer sucessos de curto prazo, têm sido
as consolidações a longo prazo do crescimento – a curva
portuguesa do nosso gráfico 2 será uma ilustração disto. E “the
key to longer-term prosperity, once growth is launched, is to
develop institutions that maintain productive dynamism and
generate resilience to external shocks” (op.cit.: 43). Com esta
constatação de Dani Rodrik reforçamos, mas ainda sem a
confirmarmos, a nossa hipótese inicial de que o crescimento
regular depende de algum complexo institucional, os quais
porém, não sendo únicos, têm que ser escolhidos, logo implicam os valores segundo os quais o tenham sido, bem como os
princípios da conceção dessa alternativa.
under the constraints that their environment imposes”. Um credo
teórico que, ao contrário, reconheça ao plano macroeconómico uma
função decisiva e não apenas de enquadramento, porventura levará ao
isolamento de princípios diferentes destes. Isso porém não será
suficiente para se enjeitar a presente tábua de princípios económicos
de ordem superior, uma vez que o atual jogo económico entre os
países aparentemente se deixa formular mediante aquele primeiro
credo – i.e. essa formulação neoclássica não é desmentida pela
investigação empírica documentada na referida obra. Enquanto assim
for, ela será pelo menos tão legítima quanto qualquer outra
formulação. Pelo que as implicações que aqui lhe reconheceremos não
serão irrelevantes. Note-se entretanto que o credo neoclássico, assim
formulado, de modo nenhum se esgota – como este autor repetidamente enfatiza – na receita do consenso de Washington (privatizações,
etc.), abrindo antes à diversidade institucional a seguir mencionada.
13 Nesta dilaceração em que nos encontramos hoje, em Portugal e na
Europa, entre a necessidade de reequilíbrio das contas públicas, e a
carência de investimento, pergunto-me se um estreito caminho do meio
não será manter algum endividamento, mas desviando-o do consumo
para o investimento segundo o princípio microeconómico dos incentivos, de forma a produzir-se riqueza, que permita aquele necessário
reequilíbrio macroeconómico. A quantificação desse “algum”, e a determinação dos incentivos num jogo com os restantes princípios de
Rodrik, são no entanto questões bem a jusante deste plano resolutivo
radical. Além de requererem uma competência técnica que também
me ultrapassa.
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
Mais precisamente, é certo que comparações entre cerca de
uma centena de países sugerem a esse autor que não haverá
uma correlação forte entre o regime político e o crescimento
económico de longo prazo. E o mesmo para o espoletamento
deste último processo no curto prazo – no qual, note-se, os
regimes autoritários não têm conseguido melhores resultados
do que países democráticos como as ilhas Maurícias (Rodrik,
2007: 166-168). Todavia verifica-se uma correlação entre os
regimes politicamente abertos e uma menor variância das respetivas taxas de crescimento em relação à média desta última,
ao passo que as taxas dos países com regimes autoritários
variam mais em relação a tal média. Também se verificam
correlações equivalentes aos respetivos graus de volatilidade
económica no curto prazo. Além disso, em regra, o grau de
participação política varia inversamente com o grau de
desigualdade na distribuição dos rendimentos (quanto maior
for a desigualdade, menor será a participação e controlo
políticos)14. Verifica-se ainda (op.cit.: 178, 179) que os países
com maior capacidade institucional de assunção dos conflitos, e
da sua resolução pacífica, têm apresentado um melhor
desempenho na sequência de choques externos – ex. a Coreia
do Sul e a Tailândia, com regimes políticos mais abertos do que
o indonésio, comportaram-se melhor durante a crise financeira
asiática dos anos ‘90 do que este outro país. Além de que, nas
fases de declínio económico, os países com menor controlo
dos poderes legislativo e judicial sobre o executivo, e com
menor acesso ao poder pelas pessoas comuns – duas caraterísticas dos regimes autoritários – têm apresentado resultados
mais graves do que os países cujo executivo é sujeito a controlo
extrínseco e onde se verifica uma maior mobilidade social
(ibid.). Em suma, na volátil economia globalizada atual pelo
menos parece claramente mais fácil, e menos arriscado, agir
em países cujo poder político é participado, do que em países
autoritários – e porventura aquele primeiro regime propiciará
mesmo um maior crescimento a longo prazo.
Este autor identifica as instituições de maior participação
política à democracia – no sentido “liberal” do termo. Mas,
como ele próprio alerta (op.cit.: 28), diversas instituições, ou
conjuntos institucionais, poderão facultar uma mesma função.
Por exemplo, pegando-lhe na palavra julgo termos de admitir
que uma máxima valorização da racionalidade crítica possa
compensar uma desvalorização do indivíduo nos processos
coletivos de tomada de decisão, de forma que um detentor do
poder numa organização totalitarista possa permitir a evidenciação de conflitos latentes nessa última, e promover uma sua
resolução pacífica. O problema é que, mesmo que aquela máxima valorização ocorra numa determinada cultura também
totalitarista e autoritária, cada detentor do poder é de cada vez
livre de assumir ou não a racionalidade crítica, ao passo que em
democracia ele é sempre formalmente obrigado a isso (cf.
Rodrik, 2007: 166). A democracia liberal, ainda que não detenha o exclusivo da participação e controlo políticos, será pois
o regime que melhor os facultará. Julgo que poderemos assim
14 Mbabazi et.al. (2003: 135), na sua recolha de bibliografia estatística,
encontram evidências de que a desigualdade retarda o crescimento a
longo prazo. Se os significados dos três termos forem equivalentes,
tomando desigualdade como termo médio e dadas as relações inversas
que estabelece quer com a democraticidade quer com o crescimento,
então, a longo prazo, estes últimos parâmetros variarão diretamente,
ou seja, à melhoria num corresponderá à melhoria no outro – para
confrontar com Rodrik (2007) verifique-se as respetivas metodologias
estatísticas, além dos referidos significados.
[115]
Maximamente relevantes para o crescimento económico sustentado serão entretanto as “metainstituições” de escolha
institucional, que Rodrik analisa no capítulo 5 (em particular nas
pp. 166-182). A sua conclusão é fina, e o valor negativo português adiante no eixo das ordenadas da fig. B requer que se lhe
dê atenção: um caso como o da China constitui-se apenas
como exceção – e apenas provisória, que falta verificar os seus
resultados assim que o desafio já não for retirar da miséria
grande parte da população, mas elevar uma classe média então
maioritária… – à regra de que instituições que implementam a
participação pública na deliberação, decisão, controlo e avaliação das opções político-económico-sociais, acolhendo nessa
participação a divergência de opiniões, facultam aos respetivos
países uma maior estabilidade económica do que a registada
normalmente nos países com regimes autoritários. A abertura
política facilita portanto os processos de decisão económica.
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erigi-la no valor político que mais fortemente induzirá o cumprimento dos anteriores oito princípios económicos15.
A propósito, e além das estatísticas apresentadas nas obras
referidas, valerá a pena comparar os valores dos gráficos 3 (no
qual faltam dados apenas sobre o Luxemburgo, e onde as
melhores classificações são representadas pelos valores
quantitativos mais baixos) e 4 com o anterior gráfico 2. (Para a
secção 3, a boa notícia é que num destes não ficamos no último
lugar. A má notícia é que o resultado é da classe dos que
costumamos alcançar no Eurofestival da canção).
c) Verificação mútua das abordagens anteriores: Em apoio à tese
de Dani Rodrik da vantagem económica da democraticidade
liberal, julgo saltar aos olhos a correlação entre os países pior
classificados no gráfico 3, o teor de diversas notícias de há uns
dois anos a esta parte sobre os cinco pigs (PIIGS) – nomea15 Desde as Revoluções Norte-Americana e Francesa, seguidas da Industrial,
[116]
3. Participação e controlo do poder político
Fonte: World Audit
4. UE-15: Desiguldades de rendimentos (Índice de Gini)
Fonte: Index Mundi
as três grandes opções ideológicas que se têm democraticamente contraposto são o conservadorismo, o liberalismo e o socialismo (v. Heywood,
2003). O método mais seguro de definição de um conjunto é o da
descrição dos seus elementos, neste caso, das decisões e práticas que
normalmente são próprias a cada uma dessas opções. Acontece porém
que tais práticas constituem-se como a aplicação, num dado contexto
histórico, do que quer que as tenha reunido precisamente num mesmo
conjunto: a hierarquia de valores que distingue essa ideologia. De modo
que, alterando-se o contexto, esta última deixa de se poder definir, e
implementar, pelas práticas que a mediavam nos contextos anteriores.
Por exemplo, se desde o new deal até ao fim do acordo de Bretton
Woods e os choques do petróleo, o socialismo democrático foi aplicado
mediante um endividamento público em obras estruturais, que
dinamizassem a economia até pelos salários, reequilibrando-se as contas
públicas pelos impostos sobre o crescimento obtido, o fim do controlo
aduaneiro na economia globalizada arrisca a que, no terceiro passo, se
some afinal o endividamento externo ao público (pelo aumento das
importações). Paralelamente, o liberalismo exige um Estado fiscalizador
forte… força que a recente crise financeira indicia faltar às instituições
supranacionais que são supostas reger a globalização. Quanto ao
conservadorismo tradicional, que possibilidade lhe resta num mundo que,
nesta primeira década do séc. XXI, deixou de se centrar claramente na
cultura ocidental? As opções políticas concretas encontram-se a jusante
do ponto resolutivo a que aqui remontamos. Mas não deixarei de apontar
que, hoje, aquelas três ideologias deverão ser definidas mediante uma
ascensão às hierarquias axiológicas que sempre foram as suas – respetivamente, a prioridade conservadora da segurança, a prioridade liberal da
liberdade individual, e a prioridade socialista da igualdade – e a dedução
das práticas que as possam implementar neste novo contexto histórico.
De outra forma suponho que se dissolverão, ou numa nova era
civilizacional que gere novas ideologias, ou na dissolução do Ocidente por
abdicar desses instrumentos de orientação das práticas coletivas, e restar
numa navegação à vista oferecendo o flanco a quaisquer novos
navegadores de alto mar.
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
E assim confirmamos também uma das hipóteses que
retivemos da nossa análise crítica à conferência de Antero de
Quental: a de que a liberdade moral, que requer um controlo
do poder político, será economicamente positiva. A segunda
hipótese que assumimos em Causas da Decadência dos Povos
Peninsulares… foi que igualmente positiva será a dimensão e o
poder da classe média. Mas deixo a sua verificação ao cuidado
do leitor – considerando que estes últimos valores serão tão
mais altos quanto menor for a desigualdade de rendimentos,
sugiro-lhe que confronte o presente gráfico 4 com um histograma das variações das taxas de crescimento desses 15 países,
o qual imagino que facilmente encontrará online; se as classificações dos países corresponderem aproximadamente, é
provável que Antero tenha tido razão. Entretanto eu verificarei
nas próximas linhas a atualidade dos restantes valores e princípios que David Landes encontrou na história económica.
A outra condição apontada por esse autor para o incremento do
mercado – a preservação dos ganhos (ao menos em parte) pelo
produtor – é expressamente reconhecida por Dani Rodrik no
seu primeiro princípio microeconómico. Tal como o segundo
destes princípios – incentivos a favor de uma economia de
mercado – confirma a exposição diacrónica anterior pelo menos
desde os processos de industrialização acelerada dos países que
seguiram o Reino Unido no séc. XIX, concretamente na terceira
forma de financiamento atrás apontada. Enquanto o último
princípio microeconómico reconhece expressamente o pri-
mado da lei, implicado em qualquer controlo político, particularmente sobre o poder executivo – que acima voltámos a
lembrar como condição diacrónica do mercado.
Relativamente aos três princípios macroeconómicos de Rodrik,
julgo poderem ser constituídos como um desenvolvimento
analítico do alerta do seu colega contra políticas pontuais que
impeçam a realização mesmo de uma cultura económica positiva que eventualmente aí se verifique. A saber, se não se
desequilibrar a moeda, a dívida pública e a regulação financeira,
então será possível seguir os valores implicados nos restantes
cinco princípios económicos, e implementar estes últimos.
A mesma subordinação de quaisquer desejos, juízos de justiça,
etc., às possibilidades encontra-se implicada na subordinação
dos benefícios sociais à funcionalidade dos incentivos microeconómicos. Numa política social que, incorporando ainda o princípio da seletividade desses benefícios, implica em geral a
dignidade e a realização da pessoa humana. Uma vez que este
conceito será igual por definição ao que os polos positivos da
iniciativa e responsabilidade estabelecem, é razoável considerar
que estes últimos são implicados por aqueles princípios de ordem superior. Temos seguido aqui apenas condições estritamente económicas, mas acrescentemos que o valor do controlo
do poder político executivo, sob o princípio do primado da lei,
implementados especialmente pela democracia liberal, serão
convergentemente reforçados pela assunção da pessoa humana,
então numa condição política, na medida em que a realização da
pessoa constitua a função daqueles princípios e valores.
As diversas regressões estatísticas de Dani Rodrik (e seus
colaboradores) confirmam assim a conclusão de David Landes,
ao implicarem diretamente parte dos princípios gerais e dos
valores distinguidos por este outro em princípios económicos
de ordem superior, reconhecíveis nas atuais economias bem
sucedidas. Logicamente, porém, a implicação de princípios e
valores por certos procedimentos económicos apenas constitui
os primeiros como condições necessárias dos segundos, não os
constitui como únicas condições, e muito menos como suficientes para sustentar um crescimento positivo uma vez que
este seja espoletado por quaisquer estímulos pontuais. Para os
[117]
damente, que só aquele cujo problema não será económico
mas financeiro é que escapa ao fim desta classificação – e o
alerta de David Landes sobre a possibilidade de más políticas
destruírem potencialidades de crescimento económico – que
suporte o desenvolvimento humano dessas comunidades. Este
último autor, aliás, reconheceu a importância da valorização da
iniciativa privada e do controlo do poder político, como condições do incremento do mercado, que por sua vez se constitui
como condição da invenção, que enfim se constitui como
condição do crescimento – uma vez que esses primeiros dois
valores são respeitados especialmente no seio do regime
democrático, as duas análises confirmam-se ao se cruzarem
nesta questão político-económica.
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tomarmos como alvo das nossas intervenções em ordem à
resolução do crónico problema económico português importa
verificar se se podem constituir como condições necessárias e
suficientes desta resolução – se puderem, então, mesmo que se
admita a possibilidade de outros alvos, já teremos uma
orientação possível para o trabalho resolutivo radical a que o
gráfico 2 nos chama.
2.2. CONFIRMAÇÃO DA HIPÓTESE
DA CONDIÇÃO CULTURAL DO
CRESCIMENTO ECONÓMICO REGULAR.
[118]
fig. A. Mapa cultural
Com todas as ressalvas metodológicas que se impõem ao
usarmos estatísticas de tamanha ambição, creio que as que têm
resultado dos sucessivos World Values Survey16 nos podem ser
sugestivas nesta inversão do anterior movimento, agora da
cultura para o desempenho económico – tal como serão bem
sugestivas para a secção 3.
Sinteticamente, observemos o mapa cultural (fig. A) de
Inglehart e Welzel com base no WVS de 1999-2004. Distingue
regiões do mundo e países segundo dois eixos de valores, os
chamados tradicionais versus os seculares e racionais, e os
valores ditos de sobrevivência versus os de expressão pessoal. O
primeiro eixo afere não só a influência religiosa, mas também a
valorização da autoridade, na família e na sociedade em geral,
posições negativas em questões como o aborto ou a eutanásia,
ou ainda o espírito nacionalista – valores elevados nestes
parâmetros são indicados pelos números negativos, e o contrário pelos positivos. Ou seja, estes últimos valores tendem a
corresponder às liberdades política e económica atrás enfatizadas, ao primado da lei civil e controlo do poder político.
16 “The World Values Surveys were designed to provide measurement of
fig. B. Posição portuguesa no mapa cultural
Fonte: World Values Survey
all major areas of human concern, from religion to politics and social
life and two dimensions dominate the picture (…). These two
dimensions explain more than 70 percent of the cross-national
variance in a factor analysis of ten indicators – and each of these
dimensions is strongly correlated with scores of other important
orientations.” In: The WVS Cultural Map of the World. Para os valores
do inquérito de 1990 v. ficheiro anexo a essa página.
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
Editei a fig. B a partir da fig. A em ordem ao caso português,
mas imagine o leitor também a primeira figura com dois eixos
perpendiculares tirados a partir dos respetivos zeros, de forma
a obter quatro quadrantes: no primeiro (numeram-se contra o
sentido dos ponteiros do relógio, a partir do superior direito),
ficará basicamente a Europa protestante, parte da católica, o
Reino Unido e o Japão; no segundo, os países de cultura
confucionista, europeus ex-comunistas, e europeus católicos;
no terceiro, o sudeste asiático e a África; no quarto, a América
latina – um certo país que de facto parece para lá ter ido em
alguma jangada de pedra – e a maior parte dos países anglófonos, mas estes bem puxados para o extremo positivo do eixo
das abcissas (horizontal), e com os valores negativos mínimos
no eixo das ordenadas (vertical), precisamente o contrário da
América latina… e de quem lá deu à costa. É pacífico: do
terceiro quadrante – onde os valores de ambos os eixos são
negativos – para o primeiro – onde todos esses valores são
positivos – evolui-se também tendencialmente das economias
com pior desempenho para as com melhor desempenho. E,
mais precisamente, dos países com piores IDH’s para os países
com melhores IDH’s. Não é preciso conhecer a lei dos grandes
números para supor que, muito provavelmente, haverá alguma
correlação entre cultura e economia – uma correlação eminen-
temente orientada da primeira para a segunda, entenda-se, que
as análises e comparações de casos, desde as de Landes e de
Rodrik até à do nosso gráfico 2, desmentem quaisquer teorias
gerais economicistas como a marxista.
A sugestão que recebemos do WVS, portanto, é que algumas
condições culturais ou se constituem como induções muito
fortes do desempenho económico, ou são mesmo necessárias
a este último. Entre as quais se dispõem, além de outras
apontadas diacronicamente por David Landes e sincronicamente por Dani Rodrik, pelo menos a liberdade moral que
Antero de Quental enfatizou.
2.3. PROPOSTA DE TAXONOMIA
POLÍTICO-ECONÓMICO-CULTURAL.
Regressamos assim ao diálogo com esse nosso antecessor, mas
munidos de conjuntos mais vastos de condições culturais do
crescimento económico a aplicar ao Portugal destas primeiras
décadas do séc. XXI. Precisamente no interesse prático da sua
aplicação convém, se não mesmo se impõe, alguma organização daquele conjunto geral de condições que, ao menos, nos
faculte a orientação de onde começar a intervenção resolutiva,
e que intencionalidade deve ela assumir nesse momento.
Tomando como dados as recolhas empíricas dos historiadores
económicos que estudámos, podemos estabelecer essa organização mediante o que os lógicos chamam a introdução de uma
condicional: colocando os dados mais imediatos como hipótese,
aferimos se a partir daí chegamos a algum outro, se assim for
constituímos este como condição da verdade daqueles (pois se
o segundo for falso, os primeiros também o serão).
Voltando à nossa tabela 1, as colunas mais imediatamente
relacionadas ao crescimento económico contemporâneo são as
de Rodrik, cuja compreensão procuramos enriquecer mediante um desvio fundamentador pelas colunas de Landes.
Naquelas, as linhas de um subconjunto podem ser tomadas
como condição prévia: se não houver riqueza, os princípios de
política social não podem ser satisfeitos; se se impedir a produção de riqueza, por outras palavras, se esta for obstaculizada,
[119]
Além disso correspondem à valorização do espírito crítico
próprio à racionalidade, em especial a especulativa, e assim
permitem o exercício da invenção que dá corpo à progressividade de uma temporalidade linear. Na medida, claro, em
que se subordinem os desejos e juízos de justiça às possibilidades reais. O segundo eixo assinala a distinção entre sociedades industriais e pós-industriais. Os números negativos
indicam valores também ditos materialistas, relativos à segurança física e económica, enquanto os positivos indicam valores
pós-materialistas, relativos à qualidade de vida e à expressão ou
realização pessoal. Estes valores positivos respeitam assim a
conceção do ser humano como pessoa, cuja realização requer
no entanto a subordinação realista atrás mencionada, e a que
pelo menos convém a política social também mencionada.
Grosso modo, pois, podem estabelecer-se algumas correlações
significativas entre as categorias do WVS e as que analisamos
anteriormente.
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então os princípios microeconómicos não podem ser satisfeitos; mas o percurso lógico inverso não se verifica, pois os
princípios macroeconómicos podem ser satisfeitos ainda que se
não aproveite a oportunidade para aumentar a riqueza, ou para
a redistribuir depois; portanto, estes últimos princípios são logicamente primeiros.
[120]
A sua satisfação, porém, implica o valor cujo polo positivo
precisamente induza tais comportamentos. Em conformidade
ao que avancei logo quando os relacionei a quaisquer valores,
chamarei realismo a esse valor – que estabelece como positivos
quaisquer atos ou instituições cuja intenção considere alguma
realidade, e como negativos aqueles que a desprezem – chamando “realidade” ao que quer com que se não possa deixar de
contar17. Com efeito, crescer economicamente não é uma
necessidade, é uma possibilidade eventualmente cumprida. Tal
como muitas comunidades se têm organizado em negação do
desenvolvimento humano – é o caso das tiranias. Pelo que nada
impede que, na hierarquia axiológica de uma cultura, outros
valores se superiorizem aos que David Landes apontou como
condições habituais do crescimento económico sustentado.
Por exemplo o da socialização, em função da qual o emprego
profissional será sempre primeiro um horizonte de relacionamento interpessoal e só depois de produção – uma ilustração
desta outra hierarquia é capaz de estar na cultura económica de
um país que tenha sido subsidiado durante um quarto de século
para se dotar das infraestruturas necessárias à produtividade
que o tornasse competitivo, e que após esse tempo persista o
menos competitivo dos 15 que temos vindo a comparar18.
Mas, a longo prazo, um crescimento económico negativo, e se
calhar nem já absoluto mas apenas relativo aos parceiros/competidores (!) económicos, destrói a possibilidade dessa mesma
opção cultural – porque dissolve a autonomia (doação a si da
sua lei) implicada em qualquer opção própria, na anomia
(ausência de lei, anarquia) ou logo em alguma heteronomia
(imposição da lei por outrem, desde exércitos ocupantes… a
troikas). Estes dois últimos estados político-legislativos costumam ser as resultantes do desrespeito pelo realismo – não satisfazendo os princípios macroeconómicos de ordem superior.
O respeito por uma realidade implica por sua vez duas valorizações: a da autonomia – pois sem este valor nada obsta à opção
pelo irrealismo conducente à heteronomia (em que a anomia
costuma tombar rapidamente) – e a da verdade – a qual distingue as manifestações, representações… reais das que o não
sejam19. Passando para a coluna esquerda da tabela 1, o
exercício autonómico desde logo implica o princípio da liberdade de iniciativa própria à pessoa humana – cuja dignidade e
realização requererá os princípios de ordem superior de política social, bem como o princípio microeconómico do primado
17 Em Albergaria (2011) assumi esta definição como um mero postulado…
18 Segundo o último relatório do World Economic Forum, Portugal “still
holds one of the poorest competitive positions among advanced
economies and suffers from serious weaknesses. In addition to the
well-documented macroeconomic difficulties of a national savings rate
below 10 percent (128th), a high deficit (122nd), and high public debt
(128th) that hinder the availability of financial resources for local
companies, the economy suffers from rigidities in its labor market
(136th) and a disconnect between salaries and productivity (112th)
that have hampered Portugal’s capacity to remain internationally
competitive. Moreover, the traditional lag in company R&D (41st) and
other innovation-oriented investments have prevented it from moving
toward higher-value-added activities, so it suffers the consequences of
fierce competition from cheaper production sites, such as Eastern
Europe and China.” – In: The Global Competitiveness Report 2011-2012:
Country Profile Highlights, p. 5. Por sua vez os Açores, nos quadros de
uma divisão das NUTS III portuguesas em seis grupos de
competitividade decrescente, em 2005 encontravam-se entre os
grupos III – “Regiões intermédias” e IV – “Regiões menos
desenvolvidas” (v. Competitividade Territorial e Coesão Económica e
Social, pp. 17, 18), mas em último lugar no parâmetro da coesão, o que
colocava a região no pior quartil da classificação combinada (op.cit., p.
20). A dimensão e a dispersão das ilhas não deve ser aqui derrotistamente invocada como justificação, ou sequer passivamente como
explicação, mas sim como mais um dado do problema a resolver,
aumentando a importância dos recursos que restem disponíveis –
nomeadamente o cultural.
19 Na nota 17 referi um meu artigo – que porventura servirá para
reforçar a tese de Miguel Real (1998: Cap. 3) de que a filosofia não tem
sido coisa para o dente português… – no qual argumentei que se
verificam duas grandes conceções do que se deverá chamar
“realidade”. Ainda não tive oportunidade para desenvolver essa
reflexão para o campo epistemológico, mas creio que da resolução
daquela disjunção decorrerá o sentido do termo com que, no
subconjunto chamado “humano” do conjunto real, os respetivos
elementos têm distinguido as formulações do que precisamente é real:
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
funda esta segunda prescrição, a parcimónia, enquanto contemplando a acumulação, implicará algum outro princípio ou
valor que precisamente a fundamente, obstando a que se
consuma exatamente o que se produz. Além de um princípio
ou valor que obste ao mero desperdício da riqueza acumulada,
constituindo-a assim como capital em ordem ao investimento,
apenas o qual pode facultar crescimento positivo.
Essas duas funções são induzidas pelo valor de uma progressividade proposta para a temporalidade linear aberta – ou pelo
princípio de uma temporalidade linear e progressiva. Isto é,
uma vez que se diferencie o enriquecimento (não apenas financeiro) e a consolidação como polo positivo da vivência linear do
tempo, em detrimento do empobrecimento e da dissolução, o
agente que se identifica precisamente mediante uma tal temporalidade destinar-se-á à realização do progresso. O cumpri-
A qual – segundo Dani Rodrik – estabelece os referidos
princípios macroeconómicos como condição de sustentação da
autonomia. Nesta base teórica, e dadas as relações lógicas atrás
assinaladas, podemos então estabelecer o realismo como condição necessária de um crescimento económico não negativo,
que faculte a autonomia pela qual a comunidade decidirá se
mantém um crescimento nulo (ou porventura positivo mas estacionário em relação aos competidores), ou se envereda por
um crescimento positivo (propondo-se ultrapassar os competidores).
a “verdade”. Para o que aqui nos importa, é irrelevante qual daquelas
conceções se implementará, o que o valor do realismo induz é que
alguma (ou uma combinação hierarquizada de ambas) o seja. Por
conseguinte também à valorização da verdade (a honestidade) será
irrelevante se uma dada cultura implementa a conceção
correspondencialista da verdade – adequação entre a expressão e o seu
objeto – se alguma das conceções coerentistas – adequação entre
crenças no seio de um sistema fechado destas. Apenas importará que,
nessa cultura, a honestidade acompanhe o realismo no topo da
hierarquia axiológica, visando a distinção entre realidade e fantasia, em
detrimento da sua indiferenciação. Resta assinalar que, se porventura
afinal a filosofia não for inalcançável a alguns portugueses, e o trabalho
intelectual destes puder contribuir para a cultura geral portuguesa, e
em particular a económica, então os equacionamentos e respostas a
tais questões metafísicas e epistemológicas poderão eventualmente
constituir-se como a base radical do que a presente secção 3 virá a
requerer: o progresso para um novo estádio cultural que faculte pelo
menos o crescimento económico necessário à autonomia, e
porventura mesmo o crescimento positivo que sustente um
continuado desenvolvimento humano a este povo.
Creio que poderemos ainda isolar a condição necessária e
suficiente desta última decisão no eixo de um outro valor (na
coluna esquerda da tabela) que também implica o realismo: a
parcimónia – se não se deve consumir tudo o que se produz,
por maioria de razão menos se deverá tentar consumir o que
se não produz (quem tiver dúvidas sobre esta ilação lógica
poderá pedir uma explicação empírica aos herdeiros da década
analisada no gráfico 1). No entanto, se o complexo realista
20 O leitor interessado encontra uma introdução, já clássica, à
plasticidade da temporalidade em Eliade (s.d.: cap. II). Aproveito para
avançar que, ao designar o que delimita a mesmidade face ao que lhe
é outro, a “identidade” implica uma estrutura que faculte essa
delimitação. Uma vez que a mesmidade pode ser tanto homogénea,
estacionária, como processual, essa estrutura é a temporalidade (que
precisamente tanto comporta a duração pura como quaisquer
desenvolvimentos). Daí que assumiremos adiante o estabelecimento
da estrutura temporal, em cujos quadros essa determinação poderá
prosseguir em níveis consequentes, como primeiro nível lógico de
qualquer identificação.
[121]
da lei, numa limitação do poder executivo, cuja menos má
realização tem sido a democrática. Além disso, a autonomia
implica uma temporalidade linear aberta (não necessariamente
progressiva) – isto é, uma experiência ou vivência do tempo
que assuma este último como uma sucessão orientada de
momentos mutuamente relevantes que se não repetem. Pois a
temporalidade pode antes ser estruturada circularmente,
constituindo-se a história singular ou coletiva como uma mera
repetição cíclica de fases; ou estruturada seja como uma série
de pontos isolados entre si, cada um dos quais abrindo a um
substrato comum, seja como uma continuidade homogénea
que se limita a exprimir esse substrato, de modo que é neste
segundo nível, e não no daqueles pontos ou continuidade, que
se decide o que ocorre aqui20. Mas nestas outras temporalidades, e suas variantes, a lei que rege um momento não
advém de uma decisão nesse instante ou no momento anterior
– daí a implicação do modelo linear aberto pelo exercício
autonómico. Por outro lado, poderemos chamar honestidade à
valorização da verdade em geral; que em particular sobre
quaisquer representações abstratas e justificadas se constitui
como uma valorização da teoria.
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mento desta destinação implica por sua vez a valorização
daquilo que a efetiva: o trabalho – como atividade pela qual se
produz para um momento consequente o que não havia no
antecedente – e a tenacidade ou paciência – dada a abertura
desse tempo linear, que furta a possibilidade de qualquer cumprimento próximo e definitivo. Mais particularmente, segundo
Landes e Rodrik, a progressividade será melhor satisfeita se,
por um lado, se respeitar o princípio microeconómico da propriedade do produtor pelo menos de parte do seu produto,
bem como, na atual economia industrializada e globalizada, o
segundo desses princípios sobre a oportunidade de incentivos
em prol de uma economia de mercado. E se, por outro lado, o
homem assumir a Natureza como um conjunto de recursos (e
um meio cujo equilíbrio é condição da sobrevivência humana!).
[122]
Se não me está a falhar algum visto nas entradas da tabela 1,
com a conjunção entre o valor do complexo realista, e o valor
da progressividade (mais os referidos dois princípios microeconómicos) associada ao princípio geral de uma temporalidade
linear, cobrimos todos os traços político-económico-culturais
que, nas suas abordagens diacrónica e sincrónica, esses autores
encontraram nas economias bem-sucedidas, sem terem encontrado alguma que o não fosse mas que apresentasse todos
esses traços. Nesta base, proponho então tal conjunção como
condição necessária e suficiente do crescimento positivo, além
do complexo realista como condição necessária e suficiente do
mero crescimento não negativo (pelo menos até que se aponte
algum contra-caso relevante aos resultados daquelas duas abordagens históricas).
Em termos práticos, a sustentação de uma resolução do
crónico atraso económico português nestes dois séculos de
industrialização assentará portanto no posicionamento firme
desse realismo no topo da nossa hierarquia axiológica, bem
como dessa progressividade aplicada a uma temporalidade que
igualmente importa conceber como linear e aberta. Quão
perto, ou quão longe, estamos dessas hierarquizações e desta
conceção, é o que nos perguntaremos na próxima secção. E
assim concluiremos este ensaio do primeiro passo resolutivo
que isolámos na introdução: a indicação de princípios e valores
que nos induzam a opções institucionais sustentáveis e por-
ventura mesmo desenvolvimentistas21. O segundo passo, de
índole prática ou metodológica, ficará para a secção consequente.
3. DO POVO PORTUGUÊS – DA SUA
TEMPORALIDADE, DA SUA REALIDADE…
3.1. DESDE AS CIÊNCIAS SOCIAIS…
Ao fazermos zoom sobre um caso particular saltam aos olhos
também as dificuldades metodológicas pontuais (O diabo está
nos detalhes!). Com efeito, os valores atribuídos a Portugal pelo
inquérito de 1990 do WVS (os posteriores não incluem o nosso
país) são -0,21 de ordenada, e -0,43 de abcissa, o que deslocaria a posição portuguesa num pequeno vetor para a esquerda
e para cima (fig. B). Embora, tomando os itens considerados
nesses inquéritos, o último referendo sobre o aborto, alguns
inquéritos sobre a eutanásia, etc., provavelmente obriguem a
uma reaproximação de Portugal ao primeiro quadrante pelo
eixo das abcissas. Em todo o caso, encontrar-nos-emos entre o
terceiro e o quarto quadrantes, mas sempre mais próximos
daquele do que do primeiro. Dificilmente, pois, nos poderemos
filiar com propriedade na família axiológica de países já como a
Croácia, a Espanha, a Itália…
21 Por exemplo, é a jusante do complexo realista que se estabelecerá o
juízo de que o melhor equacionamento da crise socioeconómica
portuguesa não é o que confira a prioridade ao desemprego, mas o
que a confira à alteração da estrutura produtiva nacional em ordem aos
bens transacionáveis. Pois enquanto esta segunda equação permitirá
inclusivamente resolver aquele problema particular, a equação anterior
apenas o mascarará. Mas, mesmo a quem não derivar esse juízo
daquele complexo, importará assumir este último naquela que creio
que será a hora crucial da resolução desta crise, e afinal da
reorientação do país desde o meio milénio de comércio ultramarino
colonial para a normalização europeia após 1986 (que a geração então
no poder não estava culturalmente preparada para levar a cabo): a
altura em que, regularizadas as contas públicas, se nos abra a
alternativa entre um desaperto do cinto que não prejudique o
investimento, muito menos retomando o desvario macroeconómico, e
precisamente este último no abandono até da fivela.
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
Dadas porém aquelas dúvidas metodológicas confrontemos a
anterior classificação com outras suas congéneres, como a que
é proposta pela equipa orientada por Geert Hofstede – visa
particularmente valores tidos como relevantes no trabalho (já
agora, comparando com os valores dos outros quatro países
considerados no gráfico 2):
5. Valores profissionalmente relevantes
Fonte: www.geert-hofstede.com
Distância do poder (DP): grau de aceitação, pelos menos poderosos, da desigualdade do poder.
Individualismo (Ind): grau de independência entre os membros da sociedade.
Competitividade vs. qualidade de vida (C-QV): motivação pela vitória em
competição, ou pelo gosto pelo que se faz e pela solidariedade (os autores,
julgo que de forma ambígua, designam este parâmetro por “masculinidade”,
que representa a competitividade alta, enquanto os valores baixos, “feminilidade”, representam a segunda motivação).
Intolerância da incerteza (IntInc): grau do sentimento de ameaça pela incerteza.
Orientação para o longo prazo (OLP): numa procura pragmática da virtude,
em contraposição ao valor da normatização e dos resultados imediatistas.
socioeconómicas alargadas, privilegia a lealdade ao grupo antes
de quaisquer outros valores (como a verdade, a solidariedade,
o trabalho…). “A country where the key word is consensus”.
Que extrema a tendência ocidental e do Médio Oriente – cf.
adiante a referência a uma herança de Al-Mu’tamid! – para a
intencionalidade posta no curto prazo, bem como para a imposição das verdades reconhecidas. Enfim, destacam os autores,
“if there is a dimension that defines Portugal very clearly, it is
Uncertainty Avoidance” (IntInc). Será pois um caso máximo, no
seio e à medida da civilização Ocidental, de manutenção de
rígidos sistemas de crenças e comportamentos, e de intolerância pelas heterodoxias… entre as quais se encontram quaisquer invenções substanciais. Esta síntese termina com uma
frase que será significativa para a nossa leitura de Gil (2005): nos
países com elevados valores neste parâmetro da intolerância da
incerteza, “security is an important element in individual
motivation”.
Esse estudo converge pois no mesmo sentido do anterior – v.
análise dos parâmetros do mapa cultural do WVS no parágrafo
2.2: a cultura portuguesa carateriza-se pela subvalorização de
várias condições que reunimos na tabela 1, e que classificámos
na taxonomia consequente. A saber, desconsidera a participação e o controlo do poder político (cf. gráfico 3) – naturalmente
não ao nível da Guiné-Bissau, mais ainda assim o suficiente para
ser plausível hoje falar-se de uma candidatura ao cargo político
que mais requer credibilidade (eticidade, cf. parágrafo 4.2) do
seu detentor por parte de um nosso ex-primeiro ministro cujo
princípio orientador não será tanto ideológico, ou sequer o
respeito por condições económicas mínimas como as de
Rodrik, mas – na melhor das hipóteses! – alguma preferência
pelo clima de Bruxelas em detrimento do de Lisboa… ou
qualquer juízo equivalente22. Também a pessoa humana parece
subavaliada na cultura portuguesa (que acompanha a valori-
22 Se não, veja o leitor: quando líder da oposição, esse senhor justificou-
Os autores identificam a cultura portuguesa pela aceitação das
distâncias hierárquicas, e dos privilégios de quem detém o poder. Pelo coletivismo, que na Europa apenas se equipara ao
espanhol, cuja hierarquia axiológica, da família às organizações
-se não por tal função mas porque viria a ser melhor primeiro-ministro
do que o então detentor do cargo; quando enfim lá chegou, suportado
numa coligação, identificou o país por “estar de tanga”; e portanto,
assim que lhe acenaram com um cargo fora de portas de maior
notoriedade pública, maior conta bancária, e menor possibilidade de
[123]
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 124
zação da solidariedade, cf. gráfico 4). Tal como o espírito
crítico, que é condição da teorização (uma vez que se privilegie
o consenso em detrimento da verdade). Enquanto se enfatiza
o curto prazo no quadro temporal, e o valor da segurança que
– segundo uma das pistas que exploraremos no próximo parágrafo sobre estas duas ênfases – será significativo da posição
que reservamos ao realismo e à honestidade na nossa hierarquia axiológica.
[124]
Em suma, materialmente, para o nosso propósito aqui
destacam-se estas duas últimas ilações. A falta de espírito crítico
– que é também assinalada no mapa cultural que vimos atrás –
por nos afastar da procura da verdade, o que indicia uma
desvalorização do realismo. E a ênfase no curto prazo por
igualmente se afastar da outra referência da taxonomia que
assumimos, uma vez que reparte a temporalidade linear aberta
em pequenos segmentos que se não projetam naquela continuidade longa. Formalmente, apenas olhando para as barras do
gráfico 5, acrescento que me parece a cultura portuguesa
apresentar a maior variância no conjunto das médias dos cinco,
o que significa que será a cultura mais distante do padrão que
esses países estabelecem – para não destoar dos gráficos
económicos anteriormente vistos. Precisamente, após a evolução da nossa classificação no IDH ao longo da década passada,
dos gráficos 1-4 – acrescente-lhes o leitor a consulta aos
diversos gráficos em Rodrik (2007) que incluem o caso
português – ou da plausibilidade que muitos de nós (especialmente nós os estrangeirados) reconhecemos face ao retrato por
David Landes do Portugal de 1506 a 1736, esse estudo da
equipa de Geert Hofstede, bem como aliás o do World Values
Survey, não surpreende.
Esta conclusão, porém, não é apenas relativizada pelas dúvidas
metodológicas pontuais que mencionei tanto sobre o WVS
quanto logo na nota 7. Mais radicalmente, como resultado das
ciências sociais e humanas, o seu estatuto epistemológico é
aquele que o conhecimento científico moderno faculta. E, nessa
cientificidade (cf. nota 4), só quem nada sabe cientificamente é
que tem fé. Deixando o reforço científico das conclusões anteriores para a mesma oportunidade de complementação por
outras abordagens à história económica, esbocemos nós aqui o
alargamento mais básico a uma forma de conhecimento que
não a científica. A saber, às humanidades, com a sua abordagem
eminentemente qualitativa, atenta às singularidades, em
intuições que se não limitam ao que se puder confirmar, e que
por isso abrem pistas e hipóteses não só orientadoras de eventuais investigações científicas, mas ainda sugestivas para práticas
que frequentemente não podem esperar por um enquadramento teórico justificado. As propostas das humanidades
não têm por isso de ser subordinadas, ou até opostas à abordagem generalizante, quantitativa e confirmável das ciências
modernas, mas antes postas com estas num complemento
mútuo, afinal em função de uma realidade que se não reduz a
fotografia obtida por qualquer delas, antes as ultrapassa e engloba a ambas.
3.2. …ÀS HUMANIDADES.
a) Pista sobre a temporalidade portuguesa, e não só: Aqui sim,
aproximando-me perigosamente da falácia ad verecundiam,
começarei por recorrer à mera autoridade que pelo menos
muitos dos opinion makers nacionais, e uma anormal quantidade
de compradores (não sei se leitores) de não-ficção conferiram
ao ensaio que José Gil publicou primeiro em 2004, precisamente sobre a estrutura que tanto começa por nos identificar
ao a implementarmos, quanto condiciona o valor do crescimento económico, e portanto do desenvolvimento humano
que nos será próprio: a temporalidade.
responsabilização em quaisquer fracassos, o contributo que teve para
dar a Portugal foi o de, à tanga, acrescentar a elevada probabilidade de
uma crise política. Em nome, claro, do prestígio internacional desta
velha nação, e da influência para atrair para aqui mais umas quantas
benesses. A condição destas vantagens, também me parece claro, é
que a inteligência e poder dos políticos alemães, franceses…
estivessem para as dos nossos como nas anedotas do tipo “Ia um
português, um alemão e um francês num avião, um dos motores
começou a arder…” – facultasse o cargo esta influência e prestígio ao
país, e não apenas aquela notoriedade, conta bancária e tranquilidade
pessoais, que eles o tomariam para si. E assim, contando anedotas a
nós próprios, da tanga descemos para a folha de parra. Pela minha
parte, após esta descida, não sei como explicar aquela putativa
candidatura à Presidência da República aos jovens perplexos no seu
atual espartilho entre o desemprego, o subemprego e a emigração,
que não seja mediante uma disjunção entre os valores portugueses no
gráfico 3, e a nossa avaliação no eixo das ordenadas da fig. A.
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
Num discurso não lógico-argumentativo, antes sugerindo as
suas teses a partir de umas poucas situações-tipo do quotidiano, de metáforas como a do nevoeiro (mental) onde se
verificará a habitual não-inscrição dos portugueses, e da
exemplificação de tais noções em ocorrências pontuais, o
ensaísta (Gil, 2005: 53) afirma: “forma-se a ilusão de um tempo
contínuo de inscrição, quando de contínuo e homogéneo
apenas se extrai a não-inscrição entre dois investimentos
descontínuos em duas pequenas coisas. (…) Sempre saltitando,
em trânsito permanente para parte nenhuma”. A temporalidade portuguesa constituirá assim uma variante ao modelo
da série de pontos isolados entre si, que mencionámos no
parágrafo 2.3, quando muito encontrando-se num denominador comum que na secção 1 tínhamos entrevisto como a
sorte, o fado, a Bruxa Má… Não identificaremos pois tudo com
que se conta, nós inclusive, mediante uma estrutura linear, e só
mesmo ao curtíssimo prazo de um presente que se prolongue
um pouco é que poderemos atender – como parece ser
confirmado pelo último parâmetro do gráfico 5. De modo que
não há lugar para o valor da progressividade consistente no
topo da nossa hierarquia axiológica. Pelo que, ao séc. XV
português – que David Landes realçou – só por sorte se
poderiam seguir outros que não os nossos séc. XVI, XVII,
XVIII…
Daí a referida não-inscrição. Esta noção (op.cit.: 48, 49) significa
a negação do processo da constituição de algo como real. O
autor formaliza-o mediante a noção de “desejo”, cuja “pressão” de algum seu congénere, ou “violência” de qualquer acontecimento para além já desse plano, resulta precisamente na
delimitação essencial, por um lado, e na posição desse isolado
no plano do ser, por outro lado, que constituem os entes (as
coisas reais) como tais. Esta última análise de dois planos
conceptuais originários, bem como as noções destacadas em
itálico, não são de José Gil mas minhas (Albergaria, 2011), num
artigo onde usei a noção de resistência – equiparável a “pressão” e “violência” – como sintoma do que há, ou que é real.
Substituo-as às daquele ensaísta por julgar que a pista deste
outro é conceptualmente aporética: se o que espera, ou convoca, o desejo é a existência, o horizonte do real, então que
estatuto ontológico tem aquele desejo, assim como o medo que
Gil reconhece nos portugueses por tal destino, e portanto estes
últimos como sujeitos de tais vivências, antes de precisamente
se cumprir alguma existência? Se ali se decide deste cumprimento, então são prévios à existência. Logo não existem
ainda. Mas, se não existem, então como podem decidir o que
quer que seja? Julgo que, conceptualmente, será mais frutuoso
formular de vez no plano metafísico um modo débil, incumprido de ser, que resulte num ente humano cujas vivências,
inquinadas por essa debilidade, possam ser expressas então
reflexivamente como “medo de existir”. Nesta minha reinterpretação metafísica daquele discurso muito marcado por
categorias psicológicas ou psicanalíticas, o medo que caracterizará o modo português de ser constitui-se como a tradução
vivencial qualitativa, no ente humano português, das relações
que este estabelece com quaisquer entes (humanos ou não)
uma vez que as respetivas conceções visam não se cumprir. O
que haverá que conceber metafisicamente são precisamente
essas relações – e naturalmente o que nelas se relaciona – que
serão depois traduzidas vivencialmente por alguma noção como
aquela.
Apressando-me porém a recuar desses áridos cumes metafísicos… ainda que apenas para os vales da mesma cordilheira,
lembro que o uso da noção “medo” vem bem a propósito
daquela última citação da equipa de Hofstede – pois erigir a
segurança como valor primordial constitui-se como um forte
indício de que se vive num medo larvar, prévio a qualquer medo concreto. Tal como a sobrevalorização da lealdade ao grupo
em detrimento da verdade, do trabalho… será indício de um
ente destinado a não se cumprir essencial e ontologicamente,
ao qual não restará uma suficiente delimitação essencial, ou
identidade, além do estatuto que o grupo lhe confere. Assim
como lhe restará encontrar uma compensação ontológica para
essa sua debilidade originária na confirmação que recebe do
grupo, uma vez que desempenhe neste os papéis sociais correspondentes àquele estatuto.
b) Pista sobre o (ir)realismo português. Deixo o desenvolvimento
dessa formulação radical da identidade portuguesa, na parte
que me toca, para alguma outra eventual oportunidade. Até lá,
registarei aqui o desenvolvimento do juízo científico de uma
[125]
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
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[126]
desconsideração portuguesa do realismo na conclusão que
Miguel Real (1998: 179) retirou da sua sinopse das abordagens
mais conhecidas a essa identidade: “a sua [do povo português]
virtualidade mais forte é a de ser o que não é ou (…) ‘estar onde
não se está’”. Este outro ensaísta refere-se explicitamente ao
modo como a (suposta) mentalidade portuguesa se tem projetado na ação ao longo da nossa história (op.cit.: 156, 157). E
para essa síntese convergem tanto as interpretações providencialistas de Portugal – que, de Bernardo de Brito e Camões a
Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva,
reconhecem a este país um destino único e messiânico –
quanto as interpretações europeístas e normalizadoras – como a
de António José Saraiva (em cuja esteira me inscrevo), que
reconhece que cabe conceber Portugal mediante as mesmas
categorias aplicáveis a qualquer outro país europeu. A diferença
entre os apóstolos da primeira, e os arguentes da segunda, é
que estes últimos apontam esse irrealismo – a indistinção entre
realidade e fantasia – como condição necessária do que os
gráficos 1-4 revelam… e lamentam o sofrimento real que daí
decorre. Ao passo que os anteriores apóstolos têm fé em que,
da indistinção entre cozinhar e sonhar que se cozinha, resultarão um dia fartos pratos de bacalhau capazes de alimentar as
gentes. (Estarei pronto a considerar seriamente os seus discursos, mas só depois de os irem propor aos dois milhões de
pobres portugueses bem como à diáspora que daqui foi expulsa, e de abdicarem de quaisquer recursos que os poupassem às
condições de vida destas outras pessoas. Até lá, confesso, falta-me paciência para atender as suas profecias).
À atenção da observação da equipa de Hofstede sobre a
classificação portuguesa no parâmetro da Orientação para o
longo prazo, e em particular para o leitor que mantenha o
interesse anteriano por quaisquer causas do nosso atraso económico, vem a propósito o ensaio de Adalberto Alves (1999:
10-16) sobre a herança do rei-poeta al-Mu’tamid na cultura
portuguesa: “A pergunta de Shakespeare, ‘ser ou não ser?’
resolve-se em ‘ser e não ser’” (op.cit.: 15). Permita-me porém
esse leitor que responda aos encómios do ensaísta a tal
exortação: primeiro, tais encómios constituem apenas um
projeto conceptual, nomeadamente dos significados de “ser”,
“nada”… e das suas relações exatas até eventualmente se che-
gar àquela conclusão – de modo nenhum a sua mera afirmação
se constitui já como uma tese teórica capaz de orientar, tão
sustentadamente quanto possível, qualquer atividade prática.
Segundo, o único desenvolvimento teórico que conheço desse
projeto é o da Ciência da Lógica de Hegel, logo no seu capítulo
inicial. Que, num pequeno artigo escrito ainda nos meus
tempos de estudante – “Hegel, ou da insustentabilidade de uma
ontologia absoluta” (disponível em PDF) – julguei ser
falacioso23. Terceiro, se não estou esquecido do que li sobre
física quântica (e se cheguei sequer a entendê-la!), a teoria que
Louis de Broglie formulou da dualidade onda-corpúsculo – único
exemplo dado por Alves da “Nova Ciência” que enjeitará o
princípio de não-contradição – estabelece que as componentes
radicais dos entes materiais se comportam ora como onda, ora
como corpúsculos, dependendo da situação em que o movimento é verificado – lembro-me de ter lido algures que essas
componentes “se movem como ondas, e chegam [aos respetivos alvos] como partículas”. Portanto não ocorre aí qualquer
violação desse princípio lógico – formulado por Aristóteles em
Metafísica, B, 2 (996b26-30), – uma vez que não é no mesmo
aspeto e/ou ao mesmo tempo que se atribuem os predicados
“onda” e “corpúsculo” ao sujeito “componentes materiais”.
Logo, essa teoria não se constitui como contra-caso ao referido
princípio lógico. Quarto, a lógica difusa – que Alves também
invoca – é uma das respostas aos sorites paradoxes (não sei
como se traduz em português), como o que se terá colocado
àquele nosso outro primeiro-ministro que, apesar da sugestão
que poderia ter recebido do seu nome ilustre, ao julgar que
uma vez que um centimozinho a mais numa barra central do
nosso gráfico 1 não afetaria a relação desta barra com a que lhe
23 Mais precisamente, julguei padecer da falácia da ambiguidade no uso da
negativa alemã ora como nome (Nichts) ora adverbializada (nichts),
sem respeitar a diferença de sentidos metafísicos dessas classes
gramaticais. Contra mim devo porém salientar que, além de quaisquer
ilações erradas de que esse meu antigo argumento já padeça, poderá
ainda ser refutado se, primeiro, se confirmar a teoria semântica da
referência indireta – segundo a qual mais do que um termo linguístico
em geral podem ter a mesma referência – para possibilitar uma confirmação ulterior de que um nome e um advérbio em particular podem
ter a mesma referência, o que possibilitará enfim uma confirmação de
que este será precisamente o caso referido. Mas aqui não irei mais
longe do que abrir este meu flanco aos hegelianos.
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
alternância destas últimas não implica qualquer confusão, no
plano paralelo, entre “ser” e “nada”. Em suma, de modo nenhum, julgo eu, se viola tanto o valor do realismo quanto o da
verdade, que respetivamente se opõem à fantasia e à
falsidade24.
Depois de na obra de José Gil encontrarmos a sugestão de uma
temporalidade portuguesa totalmente díspar daquela que
David Landes reconhece nas economias que melhor têm sustentado o desenvolvimento humano, tanto esse ensaio quanto
o de Miguel Real também nos sugerem um nosso modo de
considerarmos a realidade que não satisfaz sequer a condição
axiológica da autonomia, quanto mais a de um crescimento
positivo sustentado… Nada para o qual as conclusões das
ciências sociais não nos viessem já preparando. Ou que as
regulares visitas da troika não tivessem já evidenciado.
Do primeiro passo a que nos propusemos na introdução para
uma resolução radical do atraso português obtemos pois: i) é
sobre a temporalidade, em ordem a uma sua reconstituição
linear e aberta, que deveremos basicamente trabalhar –
porventura contra um pontilhamento temporal que nos seja
tradicional. ii) Tal como deveremos trabalhar pela elevação do
realismo para o topo da hierarquia axiológica portuguesa, que
implica a honestidade que esclarece as condições reais, e a
autonomia que permite a escolha desta hierarquia – porventura
contra uma nossa tradicional imbricação entre ser e não-ser25.
A implementação desse último valor também faculta uma
eventual opção pelo crescimento, o que nos obrigará a
trabalhar iii) pela mesma elevação do valor do progresso – ou
24 Numa tentativa de intervenção cultural que falhou rotundamente, de
julho de 2009 a abril de 2010 (e mais dois posfácios a compensar uns
quantos posts entretanto eliminados) mantive o blogue O nó do problema ocidental, cujo post de 06/02/2010 é para aqui significativo tanto
pelo conteúdo e suas hiperligações, quanto logo pelo título: “Urgentemente: pelo pensamento disjuntivo e científico!”.
25 Um par de semanas depois de ter terminado este texto li o recente
ensaio de Rob Riemen O Eterno Retorno do Fascismo (Editorial Bizâncio,
2012), que nos lembra algo que, pelo que temos aqui reconhecido da
cultura portuguesa, temo bem que justifique o acrescento desta nota.
Em síntese, direi que esse autor coloca o fascismo não como um regime
[127]
fica à esquerda, parece ter julgado que “um centimozinho a
mais” vezes muitos milhões também não a afetaria. (Diz-se que
o senhor, enfim fazendo jus ao nome, foi estudar filosofia para
Paris, se assim é recomendo-lhe vivamente a leitura do capítulo
11, mas em correlação ao capítulo 1, de Graham Priest (2008)).
Diremos então que há um número infinito de graus de “verdade” para a frase “estamos sobre-endividados”, enquanto
aplicarmos esta última ao longo dessa impercetível variação.
Mas, assim que as continuidades são interrompidas, por exemplo no instante em que os investidores desviam os seus investimentos e os credores reclamam o pagamento das dívidas,
temos que voltar à lógica clássica, que admite apenas dois
valores de verdade – “verdadeiro” e “falso” – e supõe o valor
do realismo que nos obriga a chamar “fantasia” a qualquer projeção dos comportamentos anteriores à referida interrupção
para a fase posterior a esta. Ou seja, a lógica difusa aplica-se,
exclusivamente, a continuidades por entre limites, uma vez
porém que se deva pensar sobre cada um desses blocos como
unidades voltamos à lógica clássica bivalente. A qual portanto
não é substituída, é complementada por aquela outra – a pergunta de Adalberto Alves “lógica clássica ou lógica difusa?” resolve-se em “lógica clássica e lógica difusa”. Quinto, voltando a Aristóteles, parece-me claramente um falhar do alvo atribuir-lhe o
pensamento dicotómico que inibe a compreensão do movimento – como o das impercetíveis evoluções acima mencionadas. Nem de propósito, foi exatamente este filósofo, mediante o par conceptual ser em potência e ser em ato (note-se
que “ser” não fica restringido ao segundo modo), quem
primeiro facultou alguma conceção de tais evoluções mas
tomando-as como limitadas que são (o salto do desemprego
para 15%, que li há bocado no jornal, é mais uma representação do limite da evolução das barras centrais e direitas,
para um lado, e esquerdas, para o outro, no gráfico 1 – e não é
com al-Mu’tamid, é com Aristóteles que poderemos preparar
uma resposta a quem sofre tais saltos). Sexto, e fundamental:
na base do meu artigo de 2011, julgo que Adalberto Alves
confunde o plano ontológico (estritamente do ser), ou até
mesmo ôntico (já do ente que resulta conceptualmente da
relação entre ser e essência), com o plano estritamente
essencial das delimitações do que há, apenas no qual se jogam
delimitações como as de “onda” e de “corpúsculo”. Isto é, uma
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pela determinação da linearidade temporal como progressiva –
acompanhado pelas respetivas condições de implementação
(trabalho, capitalização, teorização, etc.). Resta-nos determinar
o modo como o trabalho de promoção de uma tal evolução
cultural pode ser implementado. Mas antes deixarei aqui duas
pequenas menções particulares que julgo que serão relevantes
precisamente para essa ulterior implementação: uma sobre a
concretização do caso português no âmbito estrito desta publicação, a outra sobre um pormaior da nossa identidade histórica.
3.3. …E AO CASO AÇORIANO.
FILIANDO-NOS EM QUEM“COM
ESTE O REINO PRÓSPERO FLORECE”.
[128]
a) A portuguesidade açoriana: a oportunidade da publicação
numa revista eminentemente açoriana de uma reflexão sobre a
cultura portuguesa em ordem ao crescimento económico
variará com o grau de participação da cultura regional na
nacional. Ao saber, portanto, da recente reedição revista da
obra de Onésimo Teotónio de Almeida (2011) sobre a
“açorianidade” cuidei de aferir se precisamente não negaria
esta participação, em particular sobre os valores e princípios da
taxonomia aqui proposta, diminuindo essa oportunidade. A
dead line para o presente texto apenas me permite a leitura do
capítulo cujo título – “O caso singular açoriano” – ameaçaria
esta diminuição. Mas (infelizmente… ou talvez não, que a
próxima alínea lembrar-nos-á que poderíamos ser pior) o que
encontrei, ao contrário, foi o reconhecimento da nota 18 que
eu entretanto já inscrevera neste texto: “a geografia, para nós,
vale outro tanto como a história (…). Para nós […] ilhéus
natos, contumazes, açorianidade é o nosso modo de afirmação
no mundo (…) não pretendemos descobrir-nos nalgum novo
padrão antropológico […] Lusos somos” – citações de Vitorino
Nemésio em Almeida (2011: 30). Pelo menos segundo essas
páginas, pois, nenhuma esperança de neste “arquipélago quase
no meio do Atlântico, entre a Europa e a América” (op.cit.: 25),
se verificar um maior realismo, uma temporalidade linear e
aberta, eventualmente até progressiva…
autoritário conservador, como uma extrema-direita do Antigo Regime
prévio à Revolução Francesa, etc., mas, tão simplesmente, como a
expressão política do que Ortega y Gasset chamou A Rebelião das
Massas. Um fenómeno histórico tipicamente contemporâneo, que aliás
diria não ser tanto uma “rebelião” como uma “libertinagem”. Tornouse possível na segunda metade do séc. XIX, quando os herdeiros das
antigas elites ocidentais – isto é, daqueles capazes de reconhecer e
equacionar os problemas, e de propor respetivas soluções consistentes
(de modo nenhum me refiro a “elites” sociais, económicas, eclesiásticas…) – se encarregaram de denunciar a relatividade e gratuitidade dos princípios e valores civilizacionais que haviam herdado,
demitindo-se porém de os substituir por outras referências às quais os
homens e as sociedades subordinassem as respetivas conceções, e as
respetivas escolhas práticas. Estas ações perdem assim qualquer limite
a respeitar, ou fim a cumprir, a passam a constituir-se, e a justificar-se,
como meros exercícios do poder humano. Daí o fascínio pela
tecnologia, e por quaisquer vertiginosas sucessões das suas aplicações.
Para cujo exercício o único critério restante será o do prazer imediato,
segundo o padrão do que é comum, das escolhas que a massa vai
fazendo. Nos anos de 1920-30, esta última deu o nome a tal expressão
política mediante o conceito de “facho”; agora a inspiração parece vir
antes da libertinagem – diversas forças políticas fascizantes dizem-se
hoje “Partido da liberdade” (numa troca de palavras que não incomoda
quem começa por se libertar do valor da honestidade e da verdade). O
que é conforme ao primeiro passo do fascismo propriamente dito: a
libertação da massa, como que tomando o freio nos dentes, contra
quaisquer elites que recordem a esta última o freio de uma realidade,
de uma verdade, de um bem aos quais os homens e as sociedades se
devam submeter. Sem tal submissão, porém, o facto é que os governos
da massa, pela massa, e para a massa não têm conseguido soluções
consistentes para os problemas dos povos – veja-se a dúzia de anos, e
a destruição da Europa particularmente a da Alemanha, em que
resultou o Reich que era suposto durar 1000 anos e elevar esta última
über alles! Outra coisa não seria de esperar de quem se recusa a pensar
rigorosamente. Mas então precisam de bodes expiatórios que lhes
justifiquem os fracassos – os judeus, os pretos, os muçulmanos…
Perseguem-nos irracional e violentamente, reduzindo-se às emoções
do ódio por esses postulados inimigos externos, do ressentimento
contra quem avise que à libertinagem das massas apenas se pode
suceder o desastre, e do par paixão/inveja pelos seus pares na massa.
Como a política económica hitleriana, a moral familiar e sexual do
nacional-socialismo, etc., bem mostram, o “homem-massa” de que
Riemen fala está portanto nos antípodas do liberalismo, mas não é mais
conservador do que socialista, não é mais de direita do que de
esquerda. É apenas cobarde na sua recusa de enfrentar os enigmas da
existência, imbecil na sua irracionalidade elementar, destruidor no seu
ressentimento, e, acima de tudo, hiperarrogante no seu autoposicionamento no centro de um universo que ele destitui de quaisquer
referências além do prazer humano e da massa com que se identifica
(de novo, “homem-massa” designa uma atitude possível a pessoas de
qualquer classe socioeconómica, de modo nenhum designa os
elementos de alguma destas). Ora essas raízes do fascismo começam
de novo a ativar-se: de um lado, o pós-modernismo da segunda metade
do séc. XX extremou a obra de denúncia de quaisquer referências
teóricas e éticas. Do outro lado, a crise financeira de 2008-09 acaba
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
Daí a exortação da nota 18.
b) Uma precisão da ocidentalidade portuguesa: no balanço do estudo de Hofstede sobre a cultura portuguesa apontei que esta
registará a maior variância em relação às médias das cinco culturas nacionais ali analisadas. Todavia, à exceção talvez no parâmetro do individualismo, Portugal não parece opor-se diametralmente aos valores comuns desses países europeus – v.
também gráfico 3 (onde divergimos mais na corrupção, mas
não ficamos isolados). Como é igualmente sugerido pelo mapa
cultural de Inglehart e Welzel que, pese embora nos afaste do
núcleo ocidental, nos coloca na periferia desta civilização, semelhantes aos latino-americanos. Será portanto em grau, e não
em substância, que divergimos do núcleo civilizacional a que
entretanto nos reportamos.
Uma peculiar condição europeia da identidade portuguesa foi
também proposta, de novo no âmbito das humanidades, por
Eduardo Lourenço (1988). Pois a Europa cientista, industrial…
que no séc. XIX dominou o mundo e fascinou intelectuais
periféricos como Antero de Quental, terá sido um mito. Por
um lado, por não só não se constituir efetivamente como
vanguarda de uma história universal una, de que outras
civilizações seriam apenas momentos atrasados, como por nem
sequer corporizar uma história europeia una – a constatação
por Dani Rodrik de uma diversidade de complexos institucionais eficazes constitui um reforço dessa recusa do universa-
com a satisfação das massas ocidentais por ter deixado de ser possível
o endividamento que compensou quer a redução do crescimento após
os choques do petróleo, quer o agravamento da relação do número de
pensionistas pelo de trabalhadores que os sustentam em resultado da
inversão da pirâmide demográfica, e do prolongamento da esperança
média de vida. Particularmente em Portugal, nas próximas décadas não
parece possível a universalidade e constância de um Estado social que,
suponho, terá atraído a massa a assumir como uma revolução sua o
golpe de Estado que a corporação dos oficiais intermédios levou a cabo
em abril de 1974. Se aliarmos o ressentimento que plausivelmente
resultará desta frustração – aliás, que me parece já estar a resultar – aos
indicadores portugueses na fig. A e nos gráficos 3 e 5, e à ausência (que
eu me aperceba) de elites culturais dignas deste nome, temos o cocktail
perfeito para uma eclosão do fascismo em Portugal. Mais ainda do que
nos países cujos regimes democráticos têm logrado resultados
socialmente satisfatórios, como a atual Alemanha. Se um dia cair o
travão institucional da União Europeia ao autoritarismo – e sigamos o
evoluir da reação europeia ao caso grego… – faltará apenas que no dia
seguinte, pela manhazinha, apareça um líder carismático e populista
para catalisar a solução. Por certo contará até com o apoio dos conservadores que costumam julgar, enganando-se, poderem controlar tais
saltimbancos histriónicos. Não me refiro com efeito a um novo
conservadorismo autoritário, que submeta a nação (não a massa) a supostos princípios e valores tradicionais. Pois o corte da cultura popular
portuguesa com essas tradições no último quartel do séc. XX tornará
quase impossível uma reedição consistente do Estado Novo – por mais
que os jargões usados comecem por ser precisamente estes. Diria
antes um fascismo à italiana, mas despido do imperialismo militarista…
para o qual duvido que os nossos dois submarinos novos sejam
suficientes (a história nunca se repete exatamente!). Entregues porém
à irracionalidade e ao ressentimento, e sem um crescimento europeu
como alavanca, nem um período limitado e circunstancial como o de
1950-1973 (v. gráfico 2) será provável repetirmos. Ao contrário, o
desastre que se deveria suceder a uma tal opção política estaria para a
atual crise como um furacão está para um mero dia invernoso. Na
nossa presente conjuntura, o desvio do atrator cultural português para
a zona do campo de possibilidades de acontecimentos – v. parágrafo
4.1.c – onde se implementam os valores do realismo e da honestidade
será portanto uma base não apenas para a resolução consistente da
crise atual, como ainda para se evitar alguma próxima deriva fascista,
mais a desgraça que esta acarretaria.
[129]
Essa sugestão vinda das humanidades converge de resto com o
esboço científico que avançámos em Albergaria (coord. 2006).
Nesse estudo escolar procurámos identificar o sistema social de
inovação e produção açoriano segundo a classificação das instituições tidas por relevantes na bibliografia então mais recente.
Reunimos assim alguns dados relativos aos domínios tidos nessa
última como relevantes – a concorrência no mercado de
produtos, a proteção social, a concorrência no mercado do
trabalho e as relações salariais, a intermediação financeira, e os
subsistemas educativos. Embora tenhamos tido a prudência de
não projetarmos conclusões precipitadas na base de dados tão
insuficientes quanto também o seria a preparação teórica da
equipa para os interpretar, não deixámos de assinalar vários
sinais de que a economia regional participará do modelo mediterrânico de capitalismo. Esse modelo distingue-se do liberal, do
social-democrata, do europeu continental, e do asiático. Segundo
o autor ali citado, tem sido exemplificado (o modelo mediterrânico) pela economia portuguesa. E, tanto segundo ele como
segundo os gráficos que eu agora aqui trouxe, mais todas as já
referidas notícias, etc., daqueles cinco modelos de capitalismo,
é o que pior está a corresponder às condições da III Revolução
Industrial.
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[130]
lismo iluminista. Ao contrário, segundo esse ensaísta português
a Europa será plural, e uma das suas dimensões será precisamente a dos países ibéricos que, se não a desenvolveram
racional e economicamente, foi por a desenvolverem no espaço, nomeadamente americano, ao combinarem a cultura tradicional ocidental com a americana e a africana para ali transportada. Mito, por outro lado, porque o niilismo tecnocrático
que terá orientado aquele desenvolvimento racional e económico terá conduzido este último a um presente que continua
a reportar-se a valores como a liberdade, a justiça, ou a verdade
e objetividade, mas não os constituindo já como “virtudes” –
literalmente, capacidades de realizarem aquilo mesmo que
visam – de modo que a Europa resta praticamente sem
qualquer intenção além de resistir, ano após ano, a uma sua
dissolução. A atual dificuldade da União Europeia em responder
às crises financeiras de pequenos países como a Grécia, Portugal e a Irlanda parece tornar ainda mais de hoje, do que de há
um quarto de século, este juízo de Lourenço sobre uma carência de tais virtudes. O autor sugere então que a cultura portuguesa contribua contra esse “esvaziamento por dentro” precisamente na peculiaridade europeia que supõe ser a nossa, a
saber, “é quixotescamente que devemos viver a Europa e
desejar que a Europa viva” (op.cit.: 37). Dado o irrealismo que
a personagem de Cervantes muito bem exemplifica, e dado o
que aqui já argumentei a favor do valor inverso – mas pouparei
o leitor a uma minha resposta a Eduardo Lourenço paralela à
que encetei a Adalberto Alves – é óbvio que o famoso ensaísta
e eu nos oferecemos como contra-caso ao juízo da equipa de
Hofstede “a country where the key word is consensus”. No
entanto, além da nota anterior sobre a pluralidade de uma
cultura ocidental da qual um dos modos será o português, destaco a breve referência na p. 30 desse ensaio ao apelo de Alexandre Herculano por um equilíbrio das principais virtudes da
tradição portuguesa – um “cristianismo popular e orgânico”, e
liberdades municipais – com a liberdade racional e crítica entretanto conquistada pela “outra Europa”.
E com esta referência regressamos à tradição inteletual que
assumimos, criticamente, com Antero de Quental. Este não é
o local de avançarmos a discussão sobre um tal equilíbrio – e por
consequência sobre o exato contributo que poderemos dar
contra o niilismo ocidental. Mas como veremos no parágrafo
4.1.a, é determinante que à partida reconheçamos que será em
grau, e não substancialmente, que divergimos de algum padrão
cultural ocidental. Até porque o grau desse equilíbrio nem
sempre foi o que os nossos gráficos 1 e 2 revelam, nem sequer
o de uma expansão ultramarina que todavia logo se precipitou
nos acontecimentos quinhentistas que lhe sucederam. Como
testemunha Dante em A Divina Comédia, onde o reino de D.
Dinis aparece no lugar aqui ocupado pela Bélgica, pela Áustria
e pela Irlanda (Pizarro, 2008: 262). Ou como lembrou Camões
em Os Lusíadas, III, 96-98, quando precisamente daí começámos a descer. No parágrafo 2.1.b propus ao leitor que avaliasse
os últimos 15 anos segundo os princípios económicos de ordem superior de Dani Rodrik. Para compensar, proponho-lhe
agora que faça o mesmo a esse reinado também português, e
não só segundo aqueles oito princípios, mas em conformidade
à taxonomia a que chegámos atrás. Da procura de equilíbrios
políticos internos à legislação processual e ao fortalecimento de
um Estado que se não esgotava no poder real; da exploração
mineira à arroteia de novos campos e plantação de floresta; da
fortificação da fronteira ao povoamento do território e à
constituição de feiras para o comércio interno; da diplomacia
política, militar quando necessário, e comercial, à constituição
de marinhas mercante e de guerra; do culto das letras e da
instituição do uso oficial da língua vernácula nacional, à criação
da universidade… (v. Pizarro, 2008), implementando um pensamento político sistemático dois séculos antes deste modelo
se estabelecer na Europa protestante e racionalista, D. Dinis,
penso, é a prova de como nem sempre nos quedámos pelo
curto prazo, numa temporalidade pontilhada, incapaz de
progresso. Tal como nem sempre embarcaram uns para Alcácer Quibir, ficando os outros à espera de que os derrotados
pudessem regressar numa manhã de nevoeiro.
Se o desenvolvimento da identidade portuguesa pôde divergir
dessas primeiras décadas do séc. XIV, talvez possa hoje
inspirar-se nesse passado antes de em qualquer outro, optando nós por desenvolvermos as virtudes aí patentes. Pois são
essas que facultam as melhores condições coletivas de vida no
mundo globalizado e industrializado, em especial desde a última década do séc. XX.
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
A anterior referência aos velhos paradoxos lógicos leva-me a
começar este segundo passo resolutivo pelo paradoxo do mentiroso: “tudo o que eu disser hoje é mentira” – se esta frase é
verdadeira, então o que quer que eu diga hoje é falso, incluindo
aquela frase que acabei de dizer; se é falsa, então pelo menos
uma coisa que direi hoje é verdadeira, logo aquela frase pode
ser verdadeira. Mutatis mutandis, qualquer teoria da evolução
cultural, como teoria que é, é um produto cultural. Logo, se ela
afirmar que se verifica uma evolução cultural, nenhum produto
cultural será absoluto, incluindo esta mesma afirmação. Se
afirmar que pelo menos a tese de que a cultura evolui é absoluta, então é falso que em geral a cultura evolua…
Deixo esse problema para os estudantes de filosofia em Paris.
Aqui, queimando etapas, assumirei de vez um desnivelamento
entre a ordem da evolução cultural e aquele seu momento em
que nela se reflete sobre si própria, de forma que o que no
segundo nível se afirma sobre o primeiro não incida sobre esta
mesma reflexão. Mas não se desmazelem aqueles estudantes
em falácias políticas nos cafés do Quartier Latin, pois enquanto
não nos facultarem uma solução avançaremos aqui sobre gelo
fino! Mais precisamente, exploraremos duas direções: uma, enquadrante, sobre os traços gerais das evoluções culturais – não
sendo necessário que qualquer destas os verifique a todos, será
nos quadros dos que se verificarem em Portugal que cada
agente cultural português deverá orientar as suas intervenções.
As quais – como é patente no retrato nacional nos parágrafos
anteriores – se constituirão como tentativas de influência sobre
a maioria da sociedade portuguesa por uma sua minoria. Mas,
para que o resultado não seja o da exortação camoniana no séc.
XVI a uma “pátria (…) que está metida/ No gosto da cobiça e
na rudeza / Dhua austera, apagada e vil tristeza”, o resultado
dos estrangeirados dos séc. XVII e XVIII, dos vencidos da vida do
séc. XIX, dos republicanos do séc. XX que confiaram no regime político como condição suficiente do crescimento e desenvolvimento sustentados (não me refiro às hostes do PRP
que confiaram no regime mas como condição de rendas privadas), importa que hoje cada agente escolha o modo de intervir
que faculte alguma eficácia à tentativa de uma minoria influenciar a maioria – no parágrafo 4.2 ensaiaremos uma exploração
desta segunda direção.
4.1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
DE UMA EVOLUÇÃO CULTURAL
PORTUGUESA.
a) O tipo da evolução cultural portuguesa: em geral podemos
considerar a cultura como informação que, ainda que suportada pela informação natural designadamente no ADN humano, escapa a esta última ao refletir sobre ela seja ao concebê-la
como tal – “ácido desoxirribonucleico” é um conceito tão
válido e tão discutível quanto qualquer produto do conhecimento científico – seja ao promover quaisquer interferências
na realidade assim concebida – ex. da engenharia genética à
agricultura (nome de onde provém “cultura humana”). Todavia,
nessa reflexão de primeira ordem sobre a informação natural,
a cultura tem encontrado modelos para uma compreensão de
si própria em segunda ordem. Neste contexto teórico não
admira que muitos autores tenham seguido o conhecido
biólogo darwinista Richard Dawkins no uso do conceito de
“meme” para designar a unidade de informação cultural (v.
Mosterín, 1993: 73-79). A correlação a “gene” é intencional.
Embora estas outras unidades de informação natural sejam
materialmente suportadas por um determinado ácido, sejam
codificadas pela frequência do emparelhamento das bases nitrogenadas, e se encontrem implicadas na produção de proteínas correspondentes. Em troca, os memes tanto são suportados pelas mentes humanas quanto por artefactos como
revistas, a internet, etc.; a sua codificação é também multíplice
(ex. verbal e não verbal); e não correspondem biunivocamente
a quaisquer entidades materiais, antes são supostos na base de
comportamentos observáveis mediante a interpretação destes
últimos, podendo supor-se memes distintos na base de um
mesmo comportamento, assim como se atribuir comportamentos distintos (nomeadamente em situações diferentes) a
[131]
4. DA TEORIA E DA PRÁTICA
DA EVOLUÇÃO CULTURAL.
CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 132
um mesmo meme26. Estas unidades de informação cultural
agrupam-se em dimensões – ex. a escrita, a navegação em alto
mar… – tal como os genes se agrupam em segmentos de cromossomas; e, assim como as espécies vivas não partilham os
mesmos cromossomas, as culturas humanas não têm de partilhar as mesmas dimensões (op.cit.: 82, 83). Mesmo quando as
partilham, não têm de as compor com os mesmos memes –
por exemplo os que constituem qualquer escrita por logogramas, como a chinesa, são alternativos aos memes da escrita
segmental latina que aqui estamos a usar. Memes funcionalmente alternativos chamam-se “alelomemes”.
[132]
Posto isto, há três tipos de evolução cultural: pela introdução
de uma nova dimensão cultural – ex. a navegação em alto mar
na cultura europeia pelos portugueses do séc. XV. Pela introdução de novos memes em dimensões já existentes, isto é, pela
substituição de alelomemes – ex. a numeração romana que
acabei de usar foi quase completamente substituída na Europa
pela numeração árabe. E pela variação das frequências relativas
dos alelomemes numa dimensão ao longo do tempo.
A razão pela qual no parágrafo 3.3 explicitei que será em grau,
e não em substância, que divergimos de um padrão cultural
ocidental, e que insisti no exemplo dionisino – supondo (esperando!) que não haverá uma rutura de significado do termo
“português” entre o seu uso relativo a esse reinado e o seu uso
relativo a nós hoje – foi para, agora, poder determinar a evolução que nos cabe em conformidade a esse terceiro tipo.
Mesmo que culturalmente porventura estejamos mais próximos dos elementos do Mercosul do que dos nossos parceiros
político-sócio-económicos na União Europeia, além da generalidade dos alelomemes ocidentais, não só verificamos as dimensões culturais do modo de existir e da temporalidade –
próprias a quaisquer seres humanos – como podemos supor
nelas tanto os alelomemes do “medo” e da “não-inscrição”, ou
de um “ser e não ser”, quanto os do “realismo” e da “honestidade” que precisamente induzem a denúncia dos anteriores
numa sua “inscrição”; tanto os alelomemes de um pontilhamento temporal quando muito reunido no postulado de um
difuso substrato do fado, quanto os da linearidade consequente
e progressiva patentes nos diagnósticos e propostas terapêuticas desde Herculano e Antero a Vítor Bento e a nós aqui.
Para correspondermos com eficácia a estas propostas temos
porém de identificar as forças que poderão aumentar a frequência relativa dos segundos alelomemes nessas dimensões,
diminuindo proporcionalmente a frequência dos primeiros.
b) A dinâmica cultural: Jesús Mosterín (1993: 92, 93) usou esta
expressão – em correlação à dinâmica física – para designar o
estudo não das metamorfoses de uma cultura ao longo do
tempo, que caberá à história, à etnologia… mas das forças que
originam e orientam essas metamorfoses, explicando portanto
estas últimas.
Pelo menos à época dessa obra, a dinâmica cultural não tinha
porém estabelecido um conjunto único de tais forças. Com efeito, analisando as teorias mencionadas por esse autor, de um
lado poderemos colocar a de Cavalli-Sforza e Feldman em
1981 – que reconhecem a mutação cultural (por invenção, e
por erro na imitação); a transmissão (não apenas vertical como
a da informação genética dos progenitores aos filhos, mas
também horizontal e oblíqua); a deriva cultural; a seleção
cultural (segundo decisões individuais); e a seleção natural
(pelas consequências dos traços culturais). Bem como a distinção de William Durham em 1991 entre forças transmissivas
e não-transmissivas, que desenvolverá a anterior proposta.
26 O meme distingue-se da unidade binária bit, por cuja associação se
expressarão formalmente quaisquer informações dadas, precisamente
porque, antes desta expressão, há que gerar logicamente a informação
a dar, e essa geração é sempre contextual. Com efeito, o isolamento
de quaisquer eventuais unidades mínimas da informação depende do
interesse ao menos do recetor da mensagem, se não também do emissor, e não exclusivamente da forma de codificar qualquer mensagem –
ex. na linguagem verbal encontra-se informação numa letra isolada
(que assim nega, nessa posição, todas as outras do alfabeto), tal como
se encontra numa palavra, numa sentença, num discurso; esta última
informação memética não implica as anteriores (ex. os discursos metafóricos e irónicos remetem precisamente para letras negadas pelas
usadas), e cabe ao utente da linguagem selecionar aquela que se ajusta
ao nível em que ele começa por se colocar. Conforme o contexto, a
expressão “um meme” pode portanto corresponder a um bit ou a
milhões deles.
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
Mais precisamente, Boyd e Richerson (2005: 3-5) sumariam o
seu programa em cinco proposições, das quais a primeira é:
“culture is information that people acquire from others by
teaching, imitation, and other forms of social learning”. Esta
desconsideração da possibilidade do transmissor alterar
intencionalmente a mensagem que recebeu antes ou durante a
sua transmissão permite a segunda proposição: “culture change
should be modeled as a Darwinian evolutionary process” – ou
seja, um modelo de transmissão de informação em três fases:
pequenas, pontuais e casuais introduções de novidades (porventura por erro na cópia da informação); as quais são em seguida selecionadas segundo a respetiva adequação ao meio
(neste caso, não só natural mas também social e cultural); para
enfim serem transmitidas (não apenas verticalmente, como no
caso biológico, mas também de modo horizontal e oblíquo por
difusão na sociedade alargada) aquelas que facultam aos respetivos detentores a sobrevivência e um maior poder. Note-se
que os autores não equiparam diretamente a evolução cultural
à biológica segundo a interpretação darwinista desta última.
Antes consideram ambas como instâncias particulares de uma
forma geral que, por sugestão histórica da instância natural,
designam “darwiniana”, para depois interpretarem a evolução
cultural segundo esta forma, estabelecendo uma instância
paralela à que Darwin e Mendel estabeleceram para a evolução
das espécies. Estas instâncias paralelas distinguem-se desde os
processos da transmissão da informação – replicação molecular
na reprodução sexuada, e repetição comportamental na
evolução cultural – até à substituição de informação genética ao
longo das gerações, em contraposição à cumulatividade da informação memética ao longo da história humana (ex. desenvolvimentos da matemática, do platonismo e do aristotelismo
na filosofia…). Mas partilharão a forma daquelas três fases de
transmissão de informação.
Avaliando esse programa teórico apenas na sua apresentação,
creio que erra o alvo precisamente ao seguir a sugestão biológica darwinista, de primeira ordem, na reflexão, já de segunda
ordem, sobre a evolução cultural como transmissão de informação. Em conformidade à argumentação seguinte, julgo que
quem intentar manter a inspiração biológica melhor fará se
assumir algum modelo lamarckiano para essa transmissão – não
será por o lamarckismo quase não se verificar no âmbito biológico de primeira ordem (cf. reprodução viral) que não se verificará em outros âmbitos de transmissão de informação.
A diferença destes outros modelos centra-se na segunda fase
da forma: transmite-se não apenas a informação recebida, mas
eventualmente também as alterações que cada sujeito lhe
tenha imposto, na sua adequação crítica ao meio. Pelo que se
admite uma invenção ou inovação intencional da informação.
Se bem entendi Landes (2001), a história económica é uma boa
confirmação (cf. nota 4) deste modelo lamarckiano da evolução
cultural, e um contra-caso ao modelo darwiniano – veja-se
desde o exemplo japonês, na imitação intencional e consistentemente melhoradora quer das espingardas portuguesas no séc.
XVI, quer dos processos e produtos industriais norte-americanos após a II Guerra Mundial, até o exemplo da aqui citada
invenção europeia da invenção. Ou veja-se o próprio exemplo
de Robert Boyd e de Peter J. Richerson a imitarem a invenção
teórica de primeira ordem de Charles Darwin, mas num seu
desenvolvimento criador de segunda ordem que a constitui como
instância exemplificadora de uma forma geral de transmissão da
[133]
Uma vez que as primeiras forças – que selecionam a informação ao transmiti-la – são constituídas pela eficiência dos modelos sociais, e pelas seleções natural e cultural, enquanto as
não-transmissivas – que introduzem a novidade – são a inovação e síntese, a migração e difusão (transmissão de memes
entre grupos étnicos ou sociais), e a deriva cultural (surgimento
casual de diferenças meméticas, por exemplo por erro de
cópia). Distinta num ponto que julgo ser crucial é a proposta de
R. Boyd e P. Richerson já em 1985, pelo que a colocarei de
outro lado: reconhece forças casuais (erros, deriva), de seleção
natural, e de decisão. Mas, literalmente, “decidir” apenas significa deixar cair todas as alternativas menos uma, não contempla a invenção ou sequer o desenvolvimento inovador destas. Estes últimos autores distinguem-se pois dos anteriores por
não (ou muito pouco) considerarem a inovação intencional e
consciente como força de evolução cultural além das casuais e
da seleção natural.
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informação; tal como o nosso exemplo aqui, ao desenvolvermos
na segunda ordem antes a invenção de primeira ordem do
Cavaleiro de Lamarck para denunciar essa contradição dos
darwinianos culturais27.
[134]
Estes últimos, aliás, talvez devam refletir sobre as palavras de
Dan Sperber (1996: 118): “the model of cultural attraction that
I have outlined is, quite obviously, of Darwinian inspiration in
the way it explains large-scale regularities as the cumulative
effect of micro-processes. (…) Culture evolution is explained
as the cumulative effect of differences in frequency between
different possible transformations of representations and of
productions in the process of transmission.” Ou seja, porventura o núcleo da explicação darwinista biológica, que merecerá
ser estendido à segunda ordem, não é já o modelo trifásico de
transmissão da informação que apenas admite a variação desta
por pequenos erros contingentes, mas, antes, a opção geral por
uma conceção de tipo bottom-up que, ao admitir alguma
contingência, não recusa a liberdade e criatividade dos agentes,
em detrimento da conceção top-down que os constitui como
meros pacientes de forças estruturais.
E com essa última citação procuro, se não matar, pelo menos
atingir três coelhos de uma só cajadada: reforçar a pista de uma
evolução cultural por variação da frequência relativa de
“representações mentais” (que podemos, mas não somos
obrigados a conceber como memes); e começar a ensaiar uma
coerência epistemológica geral deste meu ensaio tão díspar na
sua transdisciplinaridade, numa articulação da presente secção
4 com a recolha e primeiro tratamento da informação económica, nomeadamente por Dani Rodrik, de cujos princípios
partimos para a nossa proposta taxonómica no parágrafo 2.3 –
verifique o leitor, na nota 12, como aquele autor também se
identifica epistemologicamente pela adoção, no âmbito da pessoa humana (!), da conceção bottom-up (ainda que mitigada
pelo reconhecimento de condições naturais e culturais sobre
agentes nunca absolutamente livres)28.
Na alínea seguinte visaremos o terceiro coelho, mas antes
voltemos a Mosterín (1993: 155) para fazermos uma segunda
opção teórica após a relativa ao tipo de evolução cultural portuguesa. “La racionalidad es la actitud de segundo orden que nos
lleva a analizar nuestros valores de primer orden y eventualmente a criticarlos y cambiarlos, si detectamos inconsistencias
entre ellos, tratando de que nuestro sistema global de valores
sea consistente y dé preferencia a los valores objetivamente
preferibles, cuando se manifiesten conflictos entre valores ponderables opuestos. La racionalidade, la elección racional de muchos individuos, es una poderosa fuerza que actúa decisivamente sobre la evolución cultural. Cuando no se ve frenada por
la imposición y la violencia, acaba conduciendo al progreso”.
27 Como Gardner (2004: 5-7) bem aponta, comprometemo-nos assim
também com o cognitivismo – ou melhor, com o conjunto dos
paradigmas concetuais que lhe sejam equivalentes, ao qual aquele
paradigma também pertence. Com efeito, após os fracassos da
psicologia introspetiva das últimas décadas do séc. XIX – que tentou
um acesso direto de cada pessoa aos respetivos estados mentais
conscientes – e do comportamentalismo que lhe sucedeu na primeira
metade do século seguinte – que se restringiu à consideração dos
comportamentos observáveis – o cognitivismo, por sugestão da
informática e com a confirmação posterior das neurociências, postula
e determina uma mente como instância processadora de informação
entre um input e um output observáveis. Ou, na proposta teórica de
Sperber (1996: 99), como faculdade das representações que, uma vez
intercaladas com produções públicas – quaisquer modificações
percetíveis do meio condicionadas ou causadas pelo comportamento
humano – precisamente facultam uma explicação para as diferenças
observadas na série destas últimas.
28 Aqui está um exemplo de como a oportunidade de respondermos aos
desafios da existência depende primeiramente não da nossa
preparação, mas da história de que participamos: em Albergaria (2011)
reconheci esta irredutibilidade radical dos indivíduos como uma das
possibilidades concetuais (nominalismo), em alternativa a uma
radicalidade antes de classes (realismo metafísico), e essa dicotomia,
por sua vez, eventualmente em alternativa a alguma articulação entre
as opções anteriores mediante uma conceção analógica de “ser”.
Ainda não terminei sequer o artigo que tenho em mãos sobre a
decisão em metafísica, e todavia aqui estou a pelo menos rejeitar a
segunda destas três opções concetuais! Dada a crise atual, no
parágrafo 4.2 explicarei porque julgo que, a verificar-se qualquer
preparação, por mínima que seja, para se contribuir para uma
resolução consistente, esta é a oportunidade desse contributo. Para
aqueles de nós que podem avançar algum destes, ainda que apenas em
conformidade a resultados que antevemos nas pistas que temos vindo
a desenvolver embora a favor dos quais não consigamos ainda
propriamente argumentar, esta é a hora de falarmos… ou corremos o
risco de nos devermos calar para sempre – não por proibição de falar,
mas por então já não valer a pena.
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
c) Um modelo de evolução cultural: falta-nos, enfim, articular
todas essas forças de forma a podermos intervir a favor da
variação da frequência relativa das representações portuguesas,
nas dimensões da atitude perante a realidade e da temporalidade, que alcance aquele equilíbrio. Para o que coloco à
consideração do leitor o atrás mencionado modelo de atração
cultural, delineado em Sperber (1996: Ch. 5).
Desde logo porque sendo naturalista tem a dupla vantagem de
não romper o tipo de abordagem teórica que temos vindo a
implementar na presente secção, preservando alguma funcionalidade no necessário desenvolvimento desta abordagem até
obtermos resultados que possamos confrontar a outras; e de,
ao longo desse primeiro desenvolvimento, permitir a confirmação falsificacionista que as ciências naturais mais facilmente
facultam29. Além disso, o outro coelho que pretendi atingir
com esta referência foi o de não nos reduzirmos à partida à
conceção das unidades ou parcelas de informação cultural
mediante um conceito como “meme”.
Pois, segundo este último, aquelas unidades serão estáveis
enquanto durarem, isto é, enquanto não se desenvolverem no
seio dos respetivos limites temporais. É esta conceção que
permite o modelo da evolução cultural (tal como a biológica),
por seleção de uns memes (genes) fixos em detrimento de
outros por alguma instância que lhes seja externa – como o
meio a que têm de se adequar. Se porém aceitamos que a
alteração da informação também pode ser contínua ao longo da
retransmissão, então ela poderá não só ajustar-se continuamente ao respetivo meio, como também interferir continuamente com este a favor dela própria. O modelo da seleção
constitui-se assim como um caso particular no seio de algum
outro modelo englobante. E numa mera primeira aproximação
– como a que estamos aqui a implementar – à questão do
modo de uma evolução cultural portuguesa será prudente não
nos comprometermos com casos particulares.
Mais: como modelo englobante, terá que englobar a própria
informação sobre o estabelecimento e definição de qualquer
critério de seleção – ou seja, terá que facultar uma reflexão de
terceira ordem (!) sobre este próprio desnivelamento em duas
ordens que temos implementado (se o objeto da terceira
ordem for o desnivelamento concetual em si mesmo, talvez
possamos parar por aí sem cairmos numa remissão ao
infinito…).
Creio que a proposta de Dan Sperber, particularmente no
exemplo do conto (op.cit.: 108), poderá talvez satisfazer estes
requisitos: imagine-se uma transmissão da informação sobre o
Capuchinho Vermelho que omita a parcela relativa à Avó; em
concorrência com o conto integral, essa versão defeituosa
provavelmente cairia em desuso; como de resto (julgo não trair
o autor ao acrescentar) cairia outra que, por excesso, introduzisse o Coelhinho da Páscoa ao lado da Menina; assim como
outra que baralhasse a ordem narrativa… Cairiam em desuso
porque, à medida que acontecimentos à partida possíveis vão
sendo negados, ou ao menos complicados, pela sucessão de informações, no campo dessas possibilidades vão-se constituindo
zonas onde é mais provável que se encontrem acontecimentos
que i) completem a série anterior sem deixar pontas soltas, que
ii) não a compliquem com informação desnecessária, e que iii)
29 Sperber define as explicações “mecanicistas naturalistas”, como a que
se propõe implementar, por reduzirem relações causais complexas a
outras elementares, e por estas últimas poderem ser descritas num
plano da natureza.
[135]
Esperando que sim (!), em consequência da anterior denúncia
de contradição lógica dos darwinianos culturais, e por exclusão
de partes, com William Durham reconheceremos não apenas
as referidas forças transmissivas de evolução cultural mas
também as não-transmissivas. Entre as quais destacaremos,
para este nosso desafio português, a síntese (inovadora) e a
difusão. A implementar a primeira destas forças na esteira do
apelo de Alexandre Herculano ao equilíbrio entre alguma
idiossincrasia cultural portuguesa e as condições económicas
que hoje ao menos garantam a autonomia para implementar
quaisquer caraterísticas culturais. E a implementar a difusão a
partir do grupo social que mencionarei no fim da alínea
seguinte.
CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 136
[136]
disponham essa série da forma mais atrativa30 – e esses são os
acontecimentos que compõem as poucas versões desse conto
que perduram. Esta zona do campo de possibilidades constitui
o que Sperber chamou um “atrator”. Um exemplo de primeira
ordem será o da tese darwinista da seleção natural das girafas
que nascem com os pescoços mais compridos, que se tornou
mais atrativa do que a tese de Lamarck da seleção das girafas
que mais estiquem os pescoços, a partir da negação ou
complicação desta última por informação empírica que
entretanto foi avançada. Outro exemplo de atrator cultural
nessa ordem será o da tese de Rodrik de oito princípios
económicos, que ocupam uma zona teórica que resta após a
negação de muitas outras pelas investigações empíricas
reunidas por esse autor e os seus pares, aumentando assim a
probabilidade de para ela convergirmos nas reflexões sobre
crescimento económico. Um exemplo de segunda ordem
espero que seja esta opção por um modelo lamarckiano da
evolução cultural, em detrimento do que se poderá delinear na
esteira de Dawkins. E um exemplo de terceira ordem será o da
proposta de desnivelamento por Bertrand Russell, perante os
paradoxos da teoria ingénua dos conjuntos.
Para aplicarmos ao nosso caso esse modelo de evolução por
um atrator, importa reconhecer que a projeção destes últimos
depende de dois tipos de fatores (v. Sperber, 1996: 113-118):
“ecológicos” – próprios ao meio (não apenas físico), o qual
condiciona a sobrevivência da população que suporta a cultura
em transmissão; onde se encontram todos os inputs que
podem ser dados aos elementos da população considerada
para que cada um destes os processe (eventualmente gerando
quaisquer outputs, v. nota 27); meio esse que determina
quando, onde e por que meios de transmissão esta é possível;
e que condiciona a formação e estabilidade de diversas produções públicas (outputs). E fatores “psicológicos” – próprios à
organização mental dos indivíduos, a qual determina quais dos
inputs disponíveis serão processados, como o serão, e que
informação orientará os comportamentos que, inversamente,
modificarão o meio. Estes dois tipos de fatores interagem em
quatro planos com ritmos crescentes, designadamente, o da
evolução biológica, o da história sociocultural, o do desenvol-
vimento afetivo-cognitivo dos indivíduos, e o dos microprocessos de transmissão das informações. Estes últimos, como temos visto, não se limitam a replicá-las, podem alterá-las, constituindo assim uma evolução em função de algum atrator em
qualquer dos três planos anteriores. Dos quais nos interessa
aqui especialmente o segundo.
Na história sociocultural, alguns atratores são projetados,
implementados e dissolvidos por meros fatores ecológicos –
implicando pois apenas forças transmissivas. A maior parte
dessas alterações, porém, dependerá da referida interação
entre fatores ecológicos e psicológicos – que incluem forças
não-transmissivas no processamento mental de quaisquer
inputs. Concretamente, essas alterações correspondem ao
aumento, ou diminuição, da densidade quer de representações
mentais, quer de produções públicas, nas diferentes áreas do
espaço dos acontecimentos possíveis. A questão prática é:
quais dessas alterações reforçam/enfraquecem um atrator, e
como o fazem?
O aumento da densidade de produções públicas na proximidade do atrator reforça-o, que mais não seja por aumentar a
probabilidade das pessoas lhes dedicarem alguma atenção,
projetando assim as representações mentais destas últimas em
direção àquele atrator. Todavia, se as representações forem
repetidas, na economia dos esforços mentais a alta densidade
delas diminui a respetiva relevância, diminuindo a probabilidade
das atenções, e assim enfraquecendo o atrator. Em particular,
práticas estabelecidas (ex. moda, etiqueta…) tanto podem
fortalecer um atrator quanto, pela sua (delas) expetabilidade e
consequente irrelevância, enfraquece-lo – daí a importância da
redescrição, que consideraremos no próximo parágrafo. A
tensão entre esses sentidos opostos nas direções que convergem no atrator facilita o deslocamento da zona de atratividade
para acontecimentos próximos do atrator em vigor, não o
desrespeitando por completo, mas também não o segurando –
30 Julgo que a terceira condição é a que deixa mais perplexos os epistemólogos… Entretanto não tenho dúvidas de que essa passagem sobre o
Capuchinho Vermelho é música para os ouvidos dos leitores que estejam
a voltar à nossa leitura após um desvio pela porta aberta na nota 4.
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
PORTUGUÊS
o autor dá o exemplo da moda, que varia bastante mas normalmente sem ruturas absolutas. Ou seja, uma evolução cultural
por alteração da frequência relativa de representações (ou
alelomemes), como a que requeremos para Portugal, será mais
fácil do que uma revolução que substitua um atrator numa zona
do espaço de possibilidades diretamente por outro noutra zona
separada da anterior – tanto melhor para nós.
Em função do fator das resistências à evolução cultural, que
também consideraremos a seguir, importa ainda reter deste
modelo que uma prática repetitiva pode manter-se relevante
por quatro razões: i) porque os seus efeitos o são – ex. o
proveito de uma prática profissional ou económica torna esta
última relevante. ii) Uma vez em alternativa a alguma outra
prática, a escolha da primeira pode ser relevante para o sujeito
– ex. a primazia do valor da lealdade ao grupo sobre os valores
da verdade, da solidariedade… de modo que se enjeitem os
comportamentos que satisfaçam estes últimos sempre que isso
coloque o grupo em causa, como é próprio das culturas com
valor negativo no eixo das ordenadas da fig. A, faculta ao sujeito, particularmente ao sujeito ontologicamente débil, uma
identidade como membro do grupo. Uma prática repetitiva
pode ainda ser relevante iii) por diversos indivíduos a disputarem em função a algum sucesso que decorra do seu exercício
– ex. rituais que garantam prestígio social aos respetivos
executantes. Bem como porque iv) embora repetitiva, faculte
uma diversidade de interpretações aos seus agentes – ex.
práticas religiosas. Seja para identificar as resistências que se
oporão a qualquer intervenção de evolução cultural, seja para
consolidar um rumo que ao menos garanta a autonomia que
faculte a própria prossecução desse rumo uma vez que este
tenha sido assumido, importa considerar essas razões de relevância das produções públicas práticas, e das representações
mentais nelas implicadas.
Em suma, a opção racional que aqui deixo proposta é a de um
modelo de evolução cultural lamarckiano, como o do atrator,
que articule forças evolutivas não só transmissivas (ecológicas)
mas também não-transmissivas (psicológicas), em ordem a uma
evolução cultural portuguesa por variação da frequência
relativa das representações que a compõem, e não pela intro-
dução de novas dimensões culturais ou de novas representações nas dimensões que já assumimos. Ao leitor que me
tenha acompanhado nessas opções, bem como aliás na da taxonomia axiológica delineada no parágrafo 2.3, recordo porém
que Jesús Mosterín apontou uma condição para a eficácia de
quaisquer propostas racionais: que sejam “la elección racional
de muchos individuos”. Mas… quantos são “muitos”? Esta é
uma pergunta sem resposta geral, pois “muito” é um conceito
qualitativo e não quantitativo, as qualidades constituem-se nas
relações entre o objeto e o sujeito que o considera, e as
relações de eficácia são sempre contextuais – quanto maior for
o poder de influência do agente da evolução cultural menor
terá que ser o número destes, e inversamente. Precisamente
para reforçar esse poder dos agentes, assinalarei assim em
seguida sete fatores de eficácia do exercício da segunda força
não-transmissiva que enfatizei no fim da alínea anterior. A saber,
da difusão das representações mentais do grupo social
português minoritário cujo trabalho foi desconsiderado, quando
não entravado pela maioria que, em odes à obra feita (sempre
em betão), trouxe o país desde a vitória da construção de IP’s
e autoestradas, à vitória da Expo98 e do Euro2004, passando
pela vitória das casas próprias, dos carros novos e das viagens
às Caraíbas… direito à derrota final dos presentes gráficos 1-5.
O meu avô Eduardo também costumava repetir (este sim, um
bom legado árabe!): os cães ladram, e a caravana passa. Concordo, avô, mas chegou a hora das caravanas apresentarem as
suas cargas.
4.2. NOTAS PRÁTICAS SOBRE O MODO DE UMA
MINORIA CULTURAL INFLUENCIAR A MAIORIA.
“Of the modes of persuasion furnished by the spoken word
there are three kinds. The first kind depends on the personal
character of the speaker; the second on putting the audience
into a certain frame of mind; the third on the proof, or apparent
proof, provided by the words of the speech itself. Persuasion is
achieved by the speaker’s personal character when the speech
is so spoken as to make us think him credible. We believe good
men more fully and more readily than others: this is true
generally whatever the question is, and absolutely true where
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exact certainty is impossible and opinions are divided. This kind
of persuasion, like the others, should be achieved by what the
speaker says, not by what people think of his character before
he begins to speak. It is not true, as some writers assume in
their treatises on rhetoric, that the personal goodness revealed
by the speaker contributes nothing to his power of persuasion;
on the contrary, his character may almost be called the most
effective means of persuasion he possesses. Secondly,
persuasion may come through the hearers, when the speech
stirs their emotions. Our judgements when we are pleased and
friendly are not the same as when we are pained and hostile. It
is towards producing these effects, as we maintain, that
present-day writers on rhetoric direct the whole of their
efforts. This subject shall be treated in detail when we come to
speak of the emotions. Thirdly, persuasion is effected through
the speech itself when we have proved a truth or an apparent
truth by means of the persuasive arguments suitable to the case
in question. There are, then, these three means of effecting
persuasion. The man who is to be in command of them must,
it is clear, be able (1) to reason logically, (2) to understand
human character and goodness in their various forms, and (3)
to understand the emotions – that is, to name them and
describe them, to know their causes and the way they are
excited” (trad. Roberts). Nas últimas páginas tenho abusado
das citações, mas, a cortar alguma, nunca seria esta agora. Pois
com essas palavras, escritas há quase dois milénios e meio por
Aristóteles na Retórica, I.2, a cultura ocidental abriu, e tanto
quanto sei fechou, a questão do espaço de qualquer persuasão.
Desde então temos assumido pacificamente que, da venda de
automóveis usados à demonstração de teoremas matemáticos
(enquanto na base de axiomas tidos por evidentes, mediante
uma lógica igualmente tida como tal), passando por alguma
intervenção a favor do realismo e de uma temporalidade linear,
aberta e progressiva, o sucesso de qualquer empreendimento
persuasivo depende do seu valor nas três dimensões que
estruturam este espaço. Designadamente, o ethos (credibilidade do emissor), o logos (validade lógico-empírica da mensagem), e o pathos (quadro emocional do recetor).
Em todo o caso o espaço retórico aristotélico tem sido analisado com vantagem prática, por exemplo pelo norte-americano
Howard Gardner – conhecido pela sua teoria das inteligências
múltiplas – que distinguiu até as particularidades de intervenções
diretas de alguns agentes socialmente proeminentes, como as
dos nossos ex-primeiros ministros aqui mencionados e putativos
candidatos a intervenções futuras… previsivelmente outra vez
do calibre contra o qual David Landes nos alertou (fá-las-ão se e
só se a maioria dos eleitores intervier nesse sentido!), das
particularidades de intervenções indiretas, como as dos autores
aqui referidos mediante estas suas obras, e minha também
mediante este pequeno ensaio. Em conformidade a este último
estatuto, porém, nestas páginas limitar-nos-emos a considerar
os sete fatores gerais de persuasão – os sete “Re’s” assinalados
por esse psicólogo contemporâneo – de uma minoria sobre a
maioria.
Começando pela dimensão do ethos – o enquadramento
aristotélico é meu – Gardner (2004: Ch. 1) assinala a ressonância (Resonance) em que o recetor da mensagem se coloca
emocionalmente perante um emissor a quem confira credibilidade. O filósofo grego, como vimos, restringiu a validade desta
dimensão retórica aos juízos que os recetores possam fazer na
base da emissão da mensagem em causa. Precisamente para
não violar por completo essa restrição, em vez de me limitar a
retornar à Universidade de Harvard (onde também este investigador trabalha) para recolher informação com chancela respeitada, sugeri ao menos uma pista de validação desta análise
dos fatores de influência com a referência à tradição retórica
aristotélica – cujos resultados são de fácil acesso ao leitor, mas
cuja crítica obviamente escapa ao âmbito deste texto. Espero
assim, ainda uma vez, ter escapado à ad verecundiam! Que
todavia é implementada por todas aquelas pessoas em função
das quais os publicitários pagam a um excelente chutador de
bolas em direção a balizas para emitir publicamente juízos
sobre produtos financeiros. Esses honorários são no entanto
economicamente justificados: a experiência sugere que grandes
parcelas da população são influenciadas por se colocarem em
ressonância com sujeitos cuja eticidade escapa ao âmbito da
mensagem – lembremo-nos, desde os Gregos, da querela
entre Tucídides e Alcibíades sobre a estratégia a seguir na
guerra do Peloponeso, das credenciais de um e do outro arguente, e da decisão da maioria na assembleia ateniense… (Já
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CONDIÇÕES
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DO POVO
PORTUGUÊS
agora, e sem chegarmos necessariamente a violar o princípio
político de Dani Rodrik, lembremo-nos também do resultado
desta decisão).
À atenção em particular de quem se proponha intervir diretamente a favor do realismo, bem como de uma temporalidade
linear, aberta e porventura progressiva – que nas intervenções
indiretas a mediação das obras desvaloriza essa eticidade lateral
dos emissores – Gardner explicita que a ressonância
frequentemente ocorre porque o recetor se sente relacionado
ao emissor que lhe propõe a mudança de representações
mentais ou de produções públicas, ou porque julga este último
fiável (Reliability), ou porque o respeita – “three additional ‘re’
terms” (op.cit.: 16). O problema daquela intervenção em
Portugal é que o critério segundo o qual a maioria social se
sentirá relacionada, julgará fiável, ou respeitará as credenciais
dos interventores minoritários, muito provavelmente é constituído pelos valores e princípios contra os quais se colocarão as
mensagens destes últimos… Não sei se este problema do critério de ressonância não obrigará, nesta estrita zona do campo
de possibilidades das representações e produções públicas, a
um corte com o atrator em vigor, saltando-se para alguma zona
separada onde se possa estabelecer um outro critério, e para a
qual assim se comece a puxar o atrator cultural português. Mas,
depois de reconhecer esta batata quente, com todo o respeito
por quem se proponha a tal intervenção direta apenas posso
nestas páginas passa-la para as suas mãos. (A minha absoluta
falta de eticidade lateral dispensa-me (felizmente!) do desafio
dessas outras intervenções).
A ressonância verifica também a dimensão do logos, pois uma
ideia, ou perspetiva, pode ressoar afetivamente a um recetor
que a sinta como válida, ou que pareça a este último que se
adequa à situação em causa, e assim o convença de que são
desnecessárias outras considerações – sobre a articulação entre a racionalidade e a emocionalidade nos nossos juízos lembrarei aliás a célebre obra O Erro de Descartes de António
Damásio. Estritamente nesta segunda dimensão retórica,
encontramos três outros fatores assinalados por Gardner: a
racionalidade (Reason), a investigação (Research), e a redescrição
de representações mentais. Este quarto fator, como avançamos
no parágrafo precedente, é importante para garantir a
relevância das representações mais frequentes. Por exemplo,
foi o que procurei fazer ao formalizar esta minha mensagem
tanto verbalmente quanto por meio de gráficos e imagens, ao
me reportar tanto às ciências sociais e humanas quanto às
humanidades. Procurei igualmente aumentar a eficácia desta
minha intervenção sobre a cultura maioritária e tradicional de
Portugal ao investigar, nos limites de um ensaio, obras por sua
vez de investigação empírica alargada e sistemática que aqui
deixo sugeridas ao leitor, acompanhadas – como recomenda
Gardner – pela interpretação que delas fiz como significativas
para uma nossa evolução cultural. Paralelamente, desde a
procura de implicações – ou o que os lógicos chamam
“introdução de condicionais” – à eliminação de outras por
contra-casos, passando por alguma atenção às falácias lógicas,
etc., tentei que este meu ensaio ilustrasse aquele segundo fator,
ainda que ao nível de uma racionalidade ligeira que me parece
ajustada a esta forma de expressão. As obras para que daqui
abri (incluindo, creio, Albergaria, 2011), tendem naturalmente
a um rigor lógico mais sistemático e até cru. Mas, ainda que eu
não tenha conseguido exemplifica-los, aqui fica a referência a
mais estes três fatores de influência.
Dos sete, no entanto, não falhei o quinto – antes pudesse tê-lo
feito… Este investigador norte-americano reconheceu que
alguns acontecimentos (Real world events) têm um tal impacto
público que podem catalisar uma alteração de representações
mentais. Entre outros, dá o exemplo de depressões económicas – de onde eu precisamente parti na secção 1,
estendendo-me, mediante o IDH, a outras dimensões da vida
coletiva portuguesa uma vez que são sustentadas pela
económica. Julgo que este fator será absolutamente crucial para
a determinação da oportunidade da intervenção da minoria
sobre a maioria social: o leitor possivelmente lembrar-se-á do
tratamento público que foi dado à meia dúzia de analistas que,
desde o início da década anterior ou mesmo desde o fim dos
anos ’90 até à atual crise, vieram alertando na comunicação
social para gráficos económicos como os que aqui incluí – de
“amalucados” quase a “traidores à pátria”, porque os malefícios
nacionais não seriam por eles denunciados mas sim causados
uma vez que no estrangeiro se ouviam as suas vozes credíveis
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NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
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[140]
(de novo, os estrangeiros haviam de ser os outros passageiros
no avião com o motor a arder…), tudo lhes foi chamado. E
entretanto as maiorias eleitorais, nacionais e intrapartidárias,
continuaram substancialmente as mesmas. Pela minha pequenina e anónima parte, lembro-me da reação social e profissional
que fui recebendo desde quando, há cerca de duas décadas,
perguntava pelo que estaríamos a aprender a produzir para,
uma vez concluídos os IP’s e autoestradas, aí transportarmos
com um tal ganho de competitividade que precisamente pagasse esse investimento. Quando, há pouco mais de uma dúzia de
anos, perguntava se não haveria em Trás-os-Montes, no Alentejo, até nos centros históricos de Lisboa e Porto, outros empreendimentos sociais ou económicos mais necessários do que
a reconversão da zona oriental da capital, numa Expo cuja
virtualidade provavelmente estaria para o nosso gráfico 2 como
a exposição do Mundo Português também já tinha estado. Ou
quando me manifestava perplexo perante a indexação das
reformas aos últimos e normalmente mais elevados rendimentos, na data em que se assinalava já um quarto de século
desde o fim dos trinta gloriosos (1945-1973), e da inversão da
pirâmide demográfica… Mas aqueles adjetivos, antes sempre
tão prontos a serem lançados, dissolveram-se nas bocas agora
fechadas, ou foram engolidos em seco, perante a explosão da
crise que prevíamos. Aparentemente, de súbito a eticidade que
nos é conferida aumentou. Esta é pois a oportunidade de
intervenções diretas que inclusivamente poderiam estar empatadas por um critério de ressonância que impedisse qualquer
deslocação contínua do atrator português tradicional, permitindo apenas uma revolução todavia mais difícil. Esta foi pois, assim pensei, a oportunidade que na nota 28 atribuí à presente intervenção indireta. E também por isso comecei a desenvolvê-la,
na dimensão do logos, precisamente a partir de informações
relativas a esse real world event.
Mais eficazes nessa influência do que muitos de nós que a
tentámos encetar no passado, porém, serão os emissores de
mensagens que possam satisfazer o fator do reforço positivo, ou
prémio (Reward) – estimulando, na dimensão do pathos, emoções que satisfaçam a maioria a influenciar. Até porque, se não
estou em erro, ainda mais detestados do que os supostos
causadores da desgraça, costumam ser aqueles que tenham
alertado para ela, que por isso mesmo então tenham sido
castigados pelos que, depois, a têm que sofrer, e assim se
constituam como o espelho onde estes últimos reveem concretamente a sua culpa (o ato de contrição é fácil… mas em
abstrato). Em especial aos recém-chegados à causa, portanto,
interessará saber que Gardner enfatizou neste fator a provisão
de recursos que facilitem a deslocação do atrator num determinado sentido, precisamente por facilitá-lo. É o que aqui
tenho tentado fazer desde a sugestão do recurso aos oito
princípios de Rodrik, da proposta de uma taxonomia que espero que seja razoavelmente funcional (pelo menos como ponto de partida para outras melhores)… até à síntese lógica na
conclusão a seguir.
Enfim, além desses seis fatores que facilitam o deslocamento de
atratores culturais, todos devemos atender a que “we develop
strong views and perspectives that are resistant to change. Any
effort to understand the changing of minds must take into
account the power of various resistances” (Gardner, 2004: 17,
18) – que ativam, na dimensão do pathos, emoções contrárias à
instabilidade e ao esforço de qualquer mudança. Na ulterior
exemplificação dos seus sete grandes fatores de influência de
uma minoria sobre a maioria (op.cit.: 78), o autor destaca como
Margareth Thatcher visou “from the first” as resistências políticas que se lhe opunham até no interior do seu partido. A
orientação tática de qualquer esforço de alteração mental deverá pois visar desde o início as resistências que se lhe oponham.
No parágrafo anterior avançámos quatro tipos destas ao
analisarmos as razões pelas quais uma prática repetitiva pode
manter a sua relevância. Quanto à primeira, a relevância das
práticas socioeconómicas tradicionais portuguesas mediante os
respetivos resultados terá sido verificada com as rendas e os
interesses instalados denunciados por analistas como Vítor
Bento, e por historiadores como David Landes. Cuja disparidade de distribuição naturalmente não revoltou uma sociedade que verifica os valores portugueses no quinto parâmetro
do gráfico 3, no eixo das ordenadas da fig. A, ou no primeiro
parâmetro do gráfico 5. No entanto, os atuais números do
rendimento disponível das famílias, dos inscritos nos centros de
emprego, dos novos emigrantes, etc., indiciam que deixou de
haver rendimento suficiente para distribuir por todos. E precisa-
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CONDIÇÕES
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DOIS SÉCULOS
CONCLUSÃO: PARA “QUEBRAR
RESOLUTAMENTE COM O PASSADO”.
Numa redescrição agora global das duas propostas anteriores, e
esperando assim prover ao leitor particularmente racional mais
um recurso que facilite a sua consideração crítica dessas minhas
propostas, reapresentá-las-ei sucintamente mas organizadas
segundo as relações lógicas informais entre os seus pontos nucleares.
Ambos os argumentos se dividem num lado geral e noutro
particularmente português. O argumento das secções 1-3, no
primeiro desses seus lados, toma como premissas os resultados
da investigação diacrónica de David Landes e da investigação
sincrónica contemporânea de Dani Rodrik, para da sua
conjugação retirar uma taxonomia – relevante para o crescimento económico – que privilegia o valor do realismo, e o princípio de uma temporalidade linear, aberta e porventura progressiva. Como fundamentos de algum complexo institucional,
ajustado a cada contexto, que mantenha o crescimento económico, base do desenvolvimento humano regular.
O lado português é mais complexo. No seu primeiro plano de
premissas, toma a interpretação por Abel Mateus do extraor-
dinário crescimento português entre 1950 e 1973, além de um
juízo de David Landes sobre o crescimento de uns países na
sequência de outros, e de outro juízo de Dani Rodrik sobre o
reduzido significado de curtos períodos de crescimento, para a
partir dos três convergir na conclusão de que aquele período
da nossa história económica terá sido eminentemente circunstancial, não se constituindo pois como contra-caso à interpretação da longa série apresentada no gráfico 2 como reveladora
de um atraso português crónico pelo menos desde a Revolução
Industrial.
No segundo plano de premissas deste lado, essa primeira
conclusão intermédia conjuga-se com a sequência, apontada
por D. Landes, desde alguns fenómenos político-culturais logo
no início do séc. XVI até outros de natureza económica no
último terço desse século; com o IDH português ao longo da
última década; com a relação entre as nossas variações do PIB
e da dívida externa neste período; com os resultados do World
Values Survey; bem como com os obtidos pela equipa de Geert
Hofstede; e afinal com a estimativa da probabilidade de haver
sempre, e só entre nós, algum obstáculo circunstancial. A conjugação destas sete premissas é tida como significativa para uma
identificação desse problema económico como radicalmente
cultural.
A análise desta segunda conclusão intermédia reconhece a
negação portuguesa de uma temporalidade linear e aberta,
bem como uma nossa desvalorização da realidade. Traços
sobre os quais também convergem a síntese por Miguel Real de
diversas abordagens literárias e historiográficas à identidade
portuguesa, e a hermenêutica desta última por José Gil. Com a
vantagem de abrirem duas pistas de investigação sobre os traços que tradicionalmente nos têm identificado nos dois parâmetros fundamentais da taxonomia a que chega o lado geral do
argumento.
Precisamente com essa taxonomia conjuga-se enfim a anterior
análise da segunda conclusão intermédia do lado português,
para se obter a conclusão final de que é necessário intervir na
cultura deste país a favor de uma temporalidade que enquadre
[141]
mente a crescente exclusão de boa parte da população portuguesa, em particular o atingimento dos adultos, com emprego,
das maioritárias classes média-baixa e média-média, pelas condições antes limitadas a boa parte dos reformados, aos desempregados e aos jovens, retira à maior parte da sociedade portuguesa a segunda razão para considerar relevantes aquelas suas
práticas tradicionais – como a pertença a um grupo que mantivesse o sujeito. Deixo à consideração do leitor uma eventual
verificação atual das outras duas razões de relevância dessas
nossas práticas. Por mim fico-me pelo apontamento daquelas
brechas abertas nas primeiras duas resistências. Sugerindo que
os proponentes de valores e princípios da taxonomia aqui proposta, ou outros equivalentes, ataquem por aí o tradicional
atrator cultural português.
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pelo menos uma nossa autonomia consistente, e que discrimine
alguma realidade de quaisquer fantasias.
Mas a multiplicidade de formas de intervenção torna prudente,
se não necessário, identificar as que possam ser mais eficazes.
[142]
Para concluir nessa identificação, o argumento da secção 4, no
seu lado geral, toma como primeiras premissas a virtualidade
de um modelo de inspiração biológica para a evolução cultural
– que sugere três tipos de evolução – e a negação do modelo
darwiniano pela apresentação de contra-casos na história económica. Por exclusão de partes nesse horizonte inspirativo,
assume-se um modelo lamarckiano, que contempla tanto forças transmissivas quanto não-transmissivas, do qual o anterior
será afinal um caso particular. Como exemplificação e sugestão
prática, essa conclusão intermédia foi desenvolvida em
conformidade ao modelo do atrator, de Dan Sperber. E este
modelo foi por sua vez desenvolvido pelas sugestões práticas
de Howard Gardner no seio do espaço retórico aristotélico.
Entretanto, no lado português, este segundo argumento toma
como premissas a referida sugestão de três tipos de evolução
cultural, e as informações no argumento anterior sobre a cultura portuguesa mais uma referência ao reinado de D. Dinis,
para da sua conjugação concluir que o tipo de evolução requerida para Portugal será o de uma mera alteração da frequência
relativa dos nossos traços culturais.
Conjugando finalmente esta última conclusão intermédia e a
anterior (por um modelo lamarckiano), conclui-se que, entre
outras eventuais brechas nas resistências à intervenção a favor
de uma evolução cultural, os agentes culturais deverão atender
prioritariamente a uma atual insatisfação da maioria da sociedade portuguesa com os resultados das práticas económico-profissionais que tem implementado; e a um provável enfraquecimento da identificação social que não só os excluídos, mas
ainda os que se sentem ameaçados de exclusão (por exemplo,
pelo risco de desemprego), retirarão das suas participações
públicas nessas práticas. O reconhecimento desta insatisfação e
deste enfraquecimento identitário, e a proposta de soluções
alternativas às agora caducas, deverão facilitar a adesão emocional destas pessoas a intervenções de alcance cultural, sejam
elas diretas, como as dos políticos, comentadores televisivos,
etc., sejam indiretas, como esta minha. Além disso, essas intervenções deverão estar hoje reforçadas pelo conhecimento, e
pelo sofrimento da crise económica a que aquelas outras práticas, e representações mentais que lhes subjazam, trouxeram
o país.
Os agentes da evolução cultural deverão também reforçar-se
por facultarem aos seus recetores alguma esperança positiva,
ou por facilitarem as novas práticas e representações mentais
sugeridas; por segurarem as respetivas mensagens pela investigação, pela coerência lógica, e desejavelmente pela sua desmultiplicação em formas paralelas; e ainda, no caso das intervenções diretas, pelo cuidado com a credibilidade dos emissores
aos olhos dos destinatários da intervenção cultural.
Num texto ensaístico como este julgo que estou dispensado de
uma articulação lógica formalmente rigorosa de cada um dos
anteriores argumentos, bem como de uma sua avaliação do
mesmo nível. Sobre esta, direi apenas que obviamente os dois
argumentos são indutivos (as respetivas conclusões terão algum
grau de probabilidade inferior à certeza absoluta – conseguida
por argumentos dedutivos), mas deixo ao leitor a estimativa da
força de cada uma dessas induções.
Pois, antes de nos embrenharmos em tais minudências, creio
que é prudente que atendamos ao aviso de Antero de Quental
(1871) a todos quantos as assumam, bem como em geral ao
trabalho a favor da evolução cultural portuguesa: “é necessário
um esforço viril, um esforço supremo: cortar resolutamente
com o passado”. Compreendemos aqui porquê: uma cultura
eminentemente tradicionalista, contrária à ponderação e crítica
racionais – como parece ser a portuguesa, ainda que abrindo
agora as brechas acima referidas – tenderá a rejeitar, quais
corpos estranhos no seu organismo, aquelas intervenções
evolutivas. Uma forte resolução será condição psicológica da
implementação destas últimas.
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CONDIÇÕES
DO ATRASO
DO POVO
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NOS ÚLTIMOS
DOIS SÉCULOS
“Resolutamente” não é de todo idêntico a “absoluta”, “completamente”… visto referir-se ao ânimo do sujeito que implementa o corte, e não à dimensão deste no seu objeto. O próprio Antero, aliás, evoca as virtudes peninsulares anteriores ao
séc. XVI, num reforço daquela intencionalidade por uma evolução, e não uma revolução da cultura portuguesa. E foi precisamente na base dessa leitura crítica de Causas da Decadência
dos Povos Peninsulares nos últimos Três Séculos que nas secções
1-3 evoluímos desde a identificação de um problema antes
reconhecido até à sugestão de uma pista resolutiva que, a
jusante do nível radical em que aqui nos mantivemos, possa
gerar instituições que por sua vez consolidem o reequilíbrio
financeiro, e a alteração da estrutura produtiva portuguesa a
favor dos bens transacionáveis, requeridos hoje por analistas
como Vítor Bento.
minha intervenção cultural, quanto num genuíno tributo ao calor
que Antero soube trazer ao verbo e, acima de tudo, à autenticidade com que este nosso antepassado tentou viver o que
assim formulou, voltarei então a essa nossa base, para concluir
o presente ensaio numa sua paráfrase:
Oponhamos ao irrealismo, não a indiferença ou uma fria
negação do sofrimento, mas a ardente afirmação da realidade apenas em cujo seio se podem encontrar soluções,
ainda que parciais, para esse sofrimento. Oponhamos a
uma temporalidade porventura pontilhada a federação
desses pontos numa linha aberta, mas que faculte um
progresso, porque só ela é a base (…) de todas as reformas
práticas (…). Finalmente, à inércia industrial oponhamos a
iniciativa do trabalho livre, a indústria do povo, pelo povo,
espontânea, não entregue à anarquia cega da concorrência, mas organizada, segundo a opção democrática
pluralista, seja pela igualização socialista, seja pela liberalidade (liberal), seja pela segurança conservadora, operando assim gradualmente a transição para o novo mundo
industrial (…) a quem pertence o futuro, e o presente.
[143]
e para o povo, não dirigida e protegida pelo Estado, mas
Essa crítica, para que o próprio poeta nos estimulou, afastou-nos
porém das suas palavras quase ao ponto de lhes perdermos o
rasto, sem que eu em troca fosse capaz de formular outras
sequer perto do nível de atratividade em que o autor dos Sonetos
pôde colocar aquela sua comunicação de 1871 no Casino
Lisbonense. Tanto no interesse de aumentar a eficácia desta
CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 144
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OUTROS SABERES
Fotografia de MÁRIO SILVA
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EXTINÇÕES,
EVOLUÇÃO E O
IMPACTO DE
HOMO SAPIENS
A PARTIR
DO ANO 1000 A.D.*
[147]
João Pedro Barreiros
1. INTRODUÇÃO
Hoje em dia, é pacificamente aceite pela generalidade da comunidade científica que a extinção de espécies é um fenómeno
natural e que, segundo Flannery & Schouten (2002), pode ser
vista como “(…) o destino de todas as espécies – tão inevitável
como a vida e a morte”. A História da Vida na Terra está repleta
de crises biológicas sendo a mais conhecida, mas não a que teve
maior impacte na biodiversidade do Planeta, a provável colisão
de um corpo celeste de grandes dimensões, há cerca de 65
milhões de anos (Ma) e que determinou a extinção de cerca de
42% das espécies vivas incluindo os famosos dinossauros. Todavia, na transição Triássico/Jurássico, há 206 Ma, extinguiram-se
45% das espécies (Palmer, 2000).
*Este artigo respeita a grafia anterior ao Acordo Ortográfico.
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Foi porém no início do Mesozóico que ocorreu uma imensa mudança de faunas devido àquela que, provavelmente, constituiu a
maior extinção em massa da vida na Terra. Moody (1980), indica
que cerca de 70% a 95% de todas as espécies vivas desapareceram da face do Planeta no fim do Permiano, precisamente
o último período geológico do Paleozóico. Este autor indica que
o desaparecimento de vastas áreas costeiras de baixa profundidade terá estado na origem desta autêntica catástrofe biológica.
No final do Eoceno, segunda época do Cenozóico, assistiu-se a
um novo episódio de extinção em massa, provavelmente originado pelo desaparecimento do Mar de Thethys com a consequente, e profunda, alteração climática global, nomeadamente
pela expansão de zonas áridas e pelo início da formação das
calotes polares (Prothero, 1994; Haines, 2001).
[148]
O fim do Pleistoceno, há apenas 10.000 anos, assistiu à última
extinção em massa, embora de um modo selectivo uma vez que
afectou, principalmente, um elevadíssimo número de espécies
de mamíferos de grande porte (ver Martin & Klein, 1995). Este
episódio coincidiu com a expansão do Homo sapiens e acarretou
inclusive o desaparecimento de outras espécies de Homo, sendo
a mais conhecida H. neanderthalensis (Jordan, 2000) mas também H. erectus (Martin, 1995) e o recentemente descoberto H.
floresiensis (Brown et al., 2004; Morwood et al., 2004).
2. EXTINÇÕES EM MASSA
NO FIM DO PALEOZÓICO
As extinções que marcaram o fim do Paleozóico (durante o Permiano, seu último período) e o início da mais famosa Era Geológica, o Mesozóico, foram o episódio mais catastrófico que a
Terra até hoje assistiu em termos de extinção em massa. De
facto, cerca 70 a 95% de todas espécies ter-se-ão extinguido
em consequência de uma drástica e rápida descida dos mares
pouco profundos das plataformas continentais (Moody, 1980) e
inevitáveis alterações climáticas. Estes mares, no final do Permiano, estariam reduzidos a cerca de um terço da sua área
original o que terá originado uma drástica redução de espaço e
consequente aumento dos processos de competição e predação. Terá sido, porventura, a maior extinção em massa da história da vida na Terra.
O desaparecimento de espécies afectou, sobretudo, os ambientes marinhos. Cerca de metade dos seus invertebrados
desapareceram durante o Permiano. A redução do nível dos
mares costeiros terá também levado a graves rupturas nas
cadeias tróficas, acarretando efeitos drásticos tanto em consumidores primários como em consumidores secundários.
Sendo provável que a recente expansão de H. sapiens nas
Américas tenha contribuído para a extinção Holocénica de
muitas espécies, sobretudo as frágeis faunas insulares das Caraíbas, foi a expansão europeia iniciada no séc. XIV que, dramaticamente, causou o novo período de extinções em massa que
estamos a atravessar (Flannery & Schouten, 2002). A expansão
Polinésia nas ilhas do Pacífico, em Madagáscar e na Nova Zelândia, num período relativamente anterior à expansão europeia, igualmente causou importantes reduções faunísticas, sobretudo de espécies insulares endémicas e portanto de distribuição restrita, mas também de vastas populações aparentemente menos sensíveis (Balouet, 1990).
No fim do Permiano, os principais taxon até então dominantes,
haviam desaparecido numa mega-extinção não selectiva. De
entre estes contam-se os corais rochosos tabulados e rugosos
(substituídos pelos escleractinários), os stromatoporoidea e os
famosos trilobites, artrópodes de grande diversidade de
espécies e que ocuparam, do Ordovício ao Permiano, praticamente todos os nichos marinhos. Estes grandes grupos foram
acompanhados pelos protozoários fusulinídeos, por vastos
grupos de briozoários e por muitas espécies de crinóides e
amonoides. A sua rápida extinção deixou um vazio de ocupação de nichos que só se restabeleceu com a nova subida dos
níveis do mar já em pleno Triássico.
Neste artigo iremos apresentar dados e discutir aspectos relativos à extinção de espécies, numa perspectiva ecológica e de
conservação. No Anexo I apresenta-se uma tabela cronológica
das eras geológicas.
A maioria dos autores concorda que as drásticas mudanças
climatéricas então verificadas, ao eliminarem os característicos
desertos e calotes glaciares do Permiano, igualmente conduziram à extinção de muitos grupos de anfíbios e de répteis.
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EXTINÇÕES,
EVOLUÇÃO E O
IMPACTO DE
HOMO SAPIENS
A PARTIR
DO ANO 1000 A.D.
Eon
Era
Período
Época
Início do Intervalo
Temporal (Ma)
Pré-Câmbrico
Hadeano
Archeano
Proterozóico
Paleozóico
Câmbrico
Ordovício
Silúrico
Devoniano
Carbonífero
Mississipiano
Pensilvânio
Inferior
Superior
Paleoceno
Eoceno
Oligoceno
Mioceno
Plioceno
Pleistoceno
Holoceno
4600
3800
2500
545
495
443
417
354
323
290
248
206
142
85
65
55
34
24
5
1.8
0.01
Phanerozóico
Mesozóico
Cenozóico
Permiano
Triássico
Jurássico
Cretácico
Terciário
Quaternário
Fonte: Palmer (1999).
3. A FRONTEIRA TRIÁSSICO – JURÁSSICO
Embora a maior parte das pessoas pense na fronteira Cretácico
– Terciário (K-T boundary) quando ouve falar em extinções em
massa, as evidências paleontológicas apontam para um número
maior de espécies extintas quando o Triássico termina, há cerca
de 206 Ma. Nesta fase, verifica-se, principalmente, uma extinção em massa selectiva ao nível da herpetofauna. Neste caso,
em vez de uma substituição faunística, verificou-se um “desvio”
faunístico entre grupos de répteis. Como indica Benton (1990),
vários grupos importantes de répteis, entre os quais os procolophonidae, os trilophosauria, os rynchosauria, os prolacertiformes, os phytosauria, os aetosauria, os rauisuchia, os
ornithosuchidae, os dicynodontia e a maior parte dos cynodontia, estes últimos reconhecidamente mamaliformes, foram gradualmente substituídos por novos grupos, alguns dos quais
permanecem até aos nossos dias. Neste período de transição
herpetológica, que durou cerca de 20 a 25 Ma, aparecem as
[149]
ANEXO I
ESCALA GEOLÓGICA
TEMPORAL DA TERRA
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tartarugas (Chelonia), os sphenodontia (com as Tuataras,
Sphenodon guntheri e S. punctatus, da Nova Zelândia, como
únicas espécies ainda vivas), os crocodilia, os pterosauria e os
dinosauria bem como os primeiros mamíferos. Esta extinção
em massa foi, pois, mais do que o resultado de grandes mudanças climáticas, decorrente de um processo de competição
entre os répteis therapsida e os mais evoluídos thecodontia,
numa primeira fase, e os dinosauria numa segunda fase (Moody,
1980). A separação definitiva do super-continente Pangaea em
duas grandes massas, Laurasia e Gondwana, também implicou
drásticas mudanças climáticas que marcaram o fim do Triássico.
declínio há muitos milhões de anos. Nos últimos tempos do
Mesozóico, a Terra apresentava uma intensa actividade vulcânica e a atmosfera estaria contaminada por intensas emissões
de CO2 e de CO para além de vários gases sulfurosos. Os
dinosauria, os plesiosauria e os pterosauria, desde há muito que
apresentavam sinais de declínio pelo que, e de acordo com
Haines (1999) e Palmer (2000), o impacto de Chicxulub (onde
hoje se localiza a Península de Yucatán, México) apenas veio
acelerar um processo de extinção inevitável. Assim, e embora
global, alguns grupos particularmente sensíveis, como os anfíbios e as tartarugas pouco sofreram nesta transição enquanto
4. O FIM DO MESOZÓICO
[150]
A popularidade dos Dinossauros em todo
o Mundo, especialmente os de grande
porte entre os quais se conta o emblemático Tyranosaurus rex, tem
originado filmes e documentários
que, graças ao aumento considerável dos conhecimentos de
paleoecologia, paleobotânica e
paleoetologia e à evolução
tecnológica de animação digital, permitem a realização
de produções de grande
qualidade, credibilidade
e realismo. Em qualquer canto do Mundo,
crianças e adultos reconhecem dinossauros e sabem
descrever o impacto do “cometa”
que os exterminou. Porém, a extinção em massa que se
verificou há 65 Ma e que exterminou cerca de 42% de todas as
espécies ainda é alvo de intensos e apaixonados debates. A
jazida de Hell Creek, em Montana, é um dos mais famosos
locais onde a fronteira K-T é mais evidente. No entanto, parece
existir entre os vários autores um consenso cada vez maior em
torno da hipótese da colisão de um objecto extra-terrestre,
não como a causa principal mas como um “golpe de misericórdia” num conjunto faunístico que já apresentava sinais de
os grandes cefalópodes dominantes, as amonites (que já existiam no Planeta desde o fim do Silúrico – 400 Ma), os plesiosauria,
os pterosauria, os mosasauria e os corais escleractinários, entre
muitos outros, desapareceram totalmente. Por outro lado, vários grupos zoológicos, alguns anteriores aos dinossauros, sobreviveram quase sem aparente declínio. Entre estes encontram-se as aves (na verdade dinossauros – vd. Palmer, 2000), os
crocodilia, os chondrichthyes, os mamíferos, as serpentes e os
lagartos, para além de clássicos “fósseis vivos” como os caranguejos-ferradura, os crinóides, uma diversidade extremamente
reduzida de brachiopoda e o emblemático celacanto, hoje representado pelas espécies Latimeria chalumnae e L. menadoensis.
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EXTINÇÕES,
EVOLUÇÃO E O
IMPACTO DE
HOMO SAPIENS
5. TEMPO DE MUDANÇA
– A TRANSIÇÃO EOCENO/OLIGOCENO
6. O FIM DA MEGAFAUNA
PLEISTOCÉNICA
O fim do Eoceno caracteriza-se pela deriva continental que
separou a Austrália da Antártida. Iniciou-se assim uma primeira
fase de circulação circumpolar que restringiu as trocas térmicas
entre as águas equatoriais e antárcticas. Este fenómeno implicou uma drástica descida da temperatura, numa média global
de cerca de menos 5°C. Foi o início de uma nova Era Glaciar,
algo a que o Planeta não assistia desde a glaciação do Permiano,
200 Ma antes. Consequentemente, o nível médio das águas do
mar diminuiu em cerca de 30m o que acarretou o desaparecimento de muitos mares pouco profundos, especialmente impactantes no caso da divisão do Mar de Tethys em dois corpos:
os mares Mediterrâneo e Paratethys. A Europa Eocénica
deixou de ter uma estrutura de “Arquipélago” e foi invadida por
espécies de mamíferos de origem Asiática (Agustí & Antón,
2002). A extinção em massa afectou diversos grupos de mamíferos entre os quais se incluem várias espécies de roedores e
insectívoros, bem como todos os primatas arborícolas da
Europa, num total de cerca de 20% das espécies Eocénicas
(Palmer, 2000). A diminuição de condições climatéricas favoráveis a grandes extensões de florestas provocaram o seu retrocesso e vastas áreas do Planeta passaram a ter um coberto
vegetal dominado por pradarias e savanas onde despontavam,
pela primeira vez, as plantas mais versáteis e adaptáveis da
Terra – as gramíneas (Cerling, 1992). Como indica Haines
(2001), a catástrofe climática que marca o fim do Eoceno pode
ser comparada ao fenómeno “El Niño” mas numa mega-escala.
As águas frias da Antártida invadiram, num curto espaço de
tempo, regiões de baixas latitudes dada a sua elevada densidade
e extrema mobilidade. Os mamíferos sofreram, nesta época, a
sua primeira extinção em massa.
No início do Mioceno, os mamíferos atingiram um pico de
diversidade nunca antes (ou depois) alcançado, tanto no que
respeita a ordens como a famílias e, consequentemente, ao
número total de espécies. A proporção de mamíferos de
grande porte (mais de 5kg de peso-vivo) aumentava (vd.
Bourliére, 1975) no que terá sido uma resposta evolutiva à
expansão das savanas e redução de florestas densas.
No entanto, a partir do fim do Mioceno, iniciou-se uma série de
declínios que se prolongaram até às extinções do final do
Pleistoceno. Segundo Graham & Lundelius, Jr. (1995), uma coevolução em desequilíbrio poderá ter largamente contribuído
para esta extinção em massa dada a rapidez das mudanças
climatéricas então verificadas. O Planeta vivia um ciclo de períodos glaciares de 100.000 anos e interglaciares de 10.000 anos
(actualmente vivemos no fim de um desses interglaciares) que
durou cerca de 1,6 Ma (Moody, 1980). Cada fim de fase glaciar
acarretou drásticas e rápidas mudanças, tanto no coberto vegetal como nas correntes oceânicas e, obviamente, em todo o
clima numa escala global. Subidas e descidas do nível dos mares
foram sempre uma constante. Assim, a sazonalidade variável, os
grandes períodos de gestação da mega-fauna e a forte dependência dos carnívoros desta última teria tido, de acordo com
Kiltie (1999) um efeito de extinção rápida e maciça num grande
número de espécies. Se, em alguns casos, a extinção foi total,
i.e., não deu lugar a substituições faunísticas, noutros casos
determinados grupos foram gradualmente substituídos por afins
con-familiares. Dois dos melhores exemplos deste caso podem
encontrar-se nas Famílias Felidae e Ursidae. Durante cerca de
30 Ma, a Tribo Machairodontini, popularmente conhecida como
“tigres-dente-de-sabre” dominou a Eurásia, África e Américas.
Progressivamente, os Pantherini, onde se incluem os actuais
Tigres, Leões, Leopardos e Jaguares entre outros, substituíram
os anteriores sendo este fenómeno evidenciado por uma
sequência bem documentada nos registos fósseis. Assim, os
Machairodontini extinguem-se em África há cerca de 1 Ma, com
[151]
A PARTIR
DO ANO 1000 A.D.
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o género Dinofelis como último representante, na Eurásia há
500.000 anos, com Homotherium, e nas Américas apenas há
10.000 anos onde H. serum e os famosos Smilodon fatalis
(América do Norte) e S. populator (América do Sul) conviveram
com os modernos Pantherini entre os quais Panthera leo
(entretanto também extinto nas Américas), P. onca e Puma
concolor. O trabalho de Turner (1997) analisa exaustivamente a
história natural da Família Felidae desde a sua origem, há cerca
de 30 Ma, até ao presente.
[152]
No caso dos Ursidae, a competição, por um lado, e o declínio
de habitats e condições ecológicas favoráveis por outro, estará
eventualmente na origem da rápida extinção de duas espécies
outrora abundantes. Uma norte-americana e outra europeia,
respectivamente Arctodus simus e Ursus spelaeus. O primeiro
foi o maior mamífero carnívoro terrestre até hoje conhecido.
Um urso exclusivamente carnívoro, de membros altos,
pesando até cerca de 1.000kg e provavelmente necrófago,
embora existam algumas evidências de comportamentos de
predação activa (vd. Barton et al. 2002; Oakes, 2003).
Extinguiu-se há 10.000 anos, altura em que o moderno Ursus
arctos invadiu as Américas. No outro lado do Atlântico o
comum urso-das-cavernas (a julgar pelos milhares de ossos fossilizados encontrados em inúmeras jazidas da Europa central e
Península Ibérica), um vegetariano quase exclusivo, também se
extinguia na mesma época (Kurtén, 1995 descreve com grande
detalhe e precisão a eco-biologia do urso-das-cavernas) e aqui
a competição com o urso pardo poderá ter sido ainda mais impactante do que no caso de A. simus, que deverá ter tido mais
a ver com as rápidas mudanças climatéricas e ruptura de cadeias e teias tróficas.
A mega-fauna de mamíferos Pleistocénica atingiu uma diversidade muito elevada em todos os continentes. As causas da sua
extinção são alvo de intenso debate, dividindo-se as opiniões
entre: i) excesso de caça por Homo sapiens; ii) zoonoses epidémicas; iii) mudanças climáticas drásticas e rápidas e iv) uma
combinação de todos, ou de alguns, destes factores.
Se, por um lado, parece difícil imaginar que populações reduzidas de H. sapiens possam ser responsáveis por uma tão vasta
catástrofe biológica, não deixam de chamar a atenção as seguintes coincidências (vd. Oakes, 2003):
A chegada de H. sapiens à Austrália, há cerca de 50.000 anos,
coincide com um rápido declínio da variada e única mega-fauna
de marsupiais;
Há 13.000, H. sapiens entra na América do Norte via Beringia
e, num espaço de tempo de 2.000 anos (+/- 500 anos) instala-se até à Tierra del Fuego – 75% dos mamíferos com mais de
45kg de peso-vivo extingue-se;
Na Eurásia, as extinções são mais modestas, cifrando-se em
cerca de 30% – o H. sapiens já habitava esta região há, pelo
menos, 80.000 anos;
Em África, onde a presença de H. sapiens data de há 150.000
anos, as extinções foram inferiores a 10% (vd. igualmente
Stuart & Stuart, 1996).
Hoje, a mega-fauna de mamíferos apenas ocorre em África,
no sub-continente Indiano e na Indo-Malásia. Terá este facto a
ver com uma “experiência ecológica” de coevolução com H.
sapiens?
Actualmente, quando pensamos em elefantes ou leões
associamo-los a África (embora Elephas maximus ainda ocorra
na Ásia e uma população relíquia de cerca de 300 leões asiáticos
– Panthera leo persica – subsista na Reserva de Gir, no extremo
Sul da Península de Gujarat). Há 15.000 anos, as Américas,
sobretudo a América do Norte, possuíam a maior diversidade
simultânea de Proboscidea jamais vista sobre a Terra. Pelo menos 4 espécies eram comuns (Agenbroad, 1995; Barton et al.
2002): o Mastodonte Americano – Mammut americanum e os
Elephantidae Mammuthus columbi, M. primigenius e Elephas
exilis, inclusive com formas anãs nas ilhas do Canal (Califórnia),
muito semelhantes a Elephas falconeri das maiores ilhas Mediterrânicas (Attenborough, 1988).
Um outro caso emblemático do rápido declino da riqueza
pleistocénica é o leão. Embora, tradicionalmente, muitos autores tenham incluído o leão americano e o leão-das-cavernas
europeu, respectivamente, nas espécies Panthera atrox e P.
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EXTINÇÕES,
EVOLUÇÃO E O
IMPACTO DE
HOMO SAPIENS
spelaea (ou, neste último, na subespécie P. l. spelaea) é hoje
quase consensual que ambos pertencem à espécie viva P. leo.
Esta, há 12.000 anos, apresentava uma vasta distribuição geográfica que se estendia do Alaska ao Perú, quase toda a Eurásia
e, obviamente, o continente Africano com excepção do Sahara
e das florestas tropicais do centro-oeste (Turner, 1997). O
declínio do leão tem vindo a ser analisado por vários autores na
procura de mais evidências que ajudem a entender o complexo
quadro das extinções Pleistocénicas. O declínio histórico de P.
leo é detalhado num trabalho recente de Patterson (2004).
Terá H. sapiens tido um papel decisivo, também, na extinção de
três dos seus congenéricos? Os desaparecimentos do bem
adaptado H. neanderthalensis1 há 30.000 anos, do Hominídeo
mais longevo, H. erectus, há 50.000 anos (Lynch & Barrett,
2002) ou do recém-descoberto H. floresiensis há apenas 12.000
anos (Brown et al., 2004) estarão relacionados com a expansão
global de H. sapiens? Certo é, porém, que o H. sapiens Holocénico, principalmente a partir do ano 2000 a.C., extinguiu
vários outros grupos e populações de H. sapiens. Talvez um dos
mais trágicos tenha sido a destruição dos Aborígenes da Tasmânia, no séc. XIX (Balouet, 1990).
Apenas com um significativo aumento do esforço de investigação nas mais importantes e produtivas jazidas Pleistocénicas, bem como a procura de novos locais, poderemos obter
um melhor entendimento de conjunto desta tão recente extinção em massa a qual, por muito pouco, nos impediu de contemplar um dos mais exuberantes conjuntos biológicos que a
história da vida na Terra jamais produziu.
7. EXTINÇÕES
POSTERIORES A 1500 A.D.
A expansão dos povos orientais no
Pacífico, com início na colonização de
Taiwan no ano 3500 a.C., e dos Europeus
por todo o Mundo são a causa primeira das
extinções em massa, embora numa dimensão menos catastrófica que as anteriores, que se verificaram no Holoceno. Antes
de 1500 A.D., a colonização do Hawaii, no ano 600, de
Madagáscar no ano 1, da Nova Zelândia, entre 1200 e 1300 e
de um sem fim de ilhas do Indo-Pacífico numa expansão que se
estendeu para leste até à minúscula e isolada ilha de Pitcairn, no
ano 1000 e à Ilha da Páscoa, no ano 500, precederam os
europeus num processo de extinções que destruiu espécies
endémicas, sobretudo insulares e de extrema fragilidade ecológica, por todos esses lugares. Uma combinação de excesso
de caça e de introdução de espécies exóticas (p.ex. Canis
familiaris, Capra hircus, Felis catus2, Oryctolagus cuniculus, Rattus
exulans, R. norvegicus, R. rattus, Vulpes vulpes ou várias espécies
de mangustos – Herpestidae) constituiu o nemésis de muitas
espécies únicas tais como os lémures gigantes do género
Megaladapis e a Ave-Elefante, Aepyornis maximus, ambos de
Madagáscar, as Moas-gigantes, Dinornis giganteus e as Águias
gigantes (Águia de Haast) da Nova Zelândia ou um ainda desconhecido número da rica avifauna do Hawaii. Populações
Ameríndias terão igualmente extinguido várias espécies
endémicas das ilhas das Caraíbas, nomeadamente as últimas
preguiças-gigantes, parentes próximas dos colossos de mais de
6m de comprimento que, no Pleistoceno, ocorriam em várias
partes das Américas e numa grande riqueza de espécies
(Oakes, 2003).
Foram, porém, os Europeus que, a partir do séc. XV, iniciaram
o maior processo de extinção em massa do Holoceno. Se
apenas nos limitarmos a Aves, Répteis e Mamíferos, conhecem-se, com todo o rigor, as extinções de mais de 103 espécies3
(entre elas, como o Pombo-Migrador da América do Norte,
Ectopistes migratorius, algumas outrora extremamente abundantes) e um número ainda maior de subespécies no período
decorrido entre 1500 e 1989 (Flannery & Schouten, 2001),
para além da redução de muitas populações para níveis
1 A descoberta recente de um fóssil de H. sapiens com 25.000 anos
apresentando características neandertaloides em Lagar Velho, Leiria,
reacendeu o debate de uma possível hibridação entre as duas espécies.
2 O passeriforme Xenicus lyalli, historicamente restrito à pequena ilha de
Stephens, Nova Zelândia, foi extinto, em 1894, por um único gato
pertencente ao faroleiro que aí foi viver (vd. Flannery & Schouten, 2002).
3 Ver Anexo II.
[153]
A PARTIR
DO ANO 1000 A.D.
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mínimos, algumas das quais, como por exemplo o Golfinho-Lacustre-Chinês, Lipotes vexilifer (vd. Salvadori, 1990; Laidler &
Laidler, 1996), declarado extinto em 2011 com a triste honra
de ser o primeiro cetáceo exterminado por causas antrópicas.
Uma combinação de factores tem conduzido à extinção de
muitas espécies e subespécies4 entre as quais destacamos as
seguintes: i) excesso de caça/pesca; ii) destruição de habitats; iii)
introdução de espécies exóticas e iv) introdução de zoonoses.
A expansão humana e impacto ecológico das suas acções acarretam catástrofes de dimensão variável em todos os ecossistemas do Planeta. Apenas um profundo conhecimento da ecobiologia dessas espécies, do conhecimento das suas dimensões
populacionais e das comunidades em que estão inseridas permitirá a sua manutenção enquanto espécies vivas integrantes da
imensa e diversificada mega-comunidade que é a Biosfera.
[154]
8. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Como pudemos constatar nos temas acima expostos, os
processos de extinção de espécies são uma constante da Vida
na Terra. Para além dos mega-episódios mais críticos que
discutimos neste texto, muitos outros exemplos de grupos
zoológicos diversificados e, aparentemente, adaptados a vários
nichos e ambientes se extinguiram num espaço de tempo mais
ou menos longo. O declínio dos Pterosauria começou muito
antes do fim do Mesozóico bem como a extinção dos répteis
melhor adaptados ao meio aquático – os Ichthyosauria (Benton,
1990). A competição, que se estendeu do Eoceno ao Mioceno,
entre os verdadeiros Carnivora e os Creodontia, com
vantagem dos primeiros, acarretou a extinção de um diversificado e longevo grupo de carnívoros, facto este, aliás, repetido
dentro da própria Ordem Carnivora com a substituição dos
Nimravidae pelos Felidae (Turner, 1997) e coincidente,
também, com o gradual declínio dos grandes herbívoros monogástricos (principalmente representados pela Ordem Perissodactyla) e a diversificação “explosiva” dos Ruminantia (Agustí
& Antón, 2002). Outros grupos, como por exemplo os
Elasmobranchii, os Chelonia ou os Crocodilia, parecem “imunes” à extinção subsistindo no Planeta desde há centenas de
milhões de anos e tendo, portando, superado todas as megaextinções acima discutidas.
Provavelmente, e se atendermos aos trabalhos de Dixon
(1998) e Dixon & Adams (2003), Homo sapiens caminha para
uma inevitável extinção. Com certeza que, após esse evento, a
Terra continuará o seu rumo evolutivo e muitas espécies se
sucederão num processo contínuo que apenas terminará com
o desaparecimento total das condições de vida na Terra aquando da inevitável expansão do Sol dentro de cerca de 8.000 Ma.
Todavia, o esforço global para a protecção de espécies tem
vindo a crescer e, se por um lado, esse esforço chegou tarde
demais para o sapo-dourado da Costa Rica (Bufo periglenes –
extinto em 1989), para os Tigres de Bali (ext. 1937), do Cáspio
(ext. 1974) e de Java (ext. 1981) (respectivamente Panthera
tigris balica, P. t. virgata e P. t. sondaicus) ou para os Leões do
Cabo (ext. 1857) ou do Atlas (ext. 1927) (respectivamente
Panthera leo melanochaitus e P. l. leo), existem casos de sucesso
em que espécies no limiar da extinção, como a Baleia-Azul
(Balaenoptera musculus), a Lontra-Gigante da Amazónia
(Pteronura brasiliensis), o Rinoceronte de Java (Rhinoceros
sondaicus – recentemente redescoberto no Vietname e no
Cambodja mas em populações residuais e dadas como extintas
em 2010 por alguns autores) ou o Condor da Califórnia
(Gymnogyps californianus), recuperam lentamente ou até ultrapassaram os efectivos calculados antes das suas reduções populacionais – casos do Elefante marinho do Norte (Mirounga
leonina), da Lontra Marinha (Enhydra lutris) ou da Águia-calva
(Haliaetus leucocephalus).
O estudo e análise científica dos processos históricos que
conduziram a extinções e o monitoramento de populações e
comunidades são uma ferramenta essencial de preservação da
biodiversidade terrestre.
4 Ver Anexo III para uma lista de espécies e subespécies com o estatuto de
criticamente ameaçadas. Ver igualmente, para dados completos e actualizados, http://www.redlist.org, Ross (1992), Carwardine (1995) e Gil (2001).
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EXTINÇÕES,
EVOLUÇÃO E O
IMPACTO DE
HOMO SAPIENS
A PARTIR
DO ANO 1000 A.D.
ANEXO II
ESPÉCIES COMPROVADAMENTE EXTINTAS
DE AVES, RÉPTEIS E MAMÍFEROS APÓS 1500 A.D.
(ORDEM CRONOLÓGICA)
Classe
Nome Comum
Nome Científico
Distribuição Histórica
Data da Extinção
Aves
Aves
Mammalia
Megalapteryx didinus
Raphus cucullatus
Hydrodamalis gigas
Prosobonia leucoptera
Aves
Periquito de Raiatea
Cyanoramphus ulietanus
Aves
Mammalia
Mammalia
Galinhola Branca
Antílope Azul
Pequena Raposa
Voadora das Maurícias
Estorninho Misterioso
Pombo Azul das Maurícias
Lagartixa Gigante
de Tonga
Estorninho de Kosrae
Galeirão de Kosrae
Tordo de Kittlitz
Porphyrio albus
Hippotragus leucophaeus
Pteropus subniger
Bico Grande
das Ilhas Bonin
Cuco de Delalande
Papagaio das Mascarenas
O’o de Oahu
Huppe
Rato-Canguru
de orelhas grandes
Periquito do Tahiti
Alca gigante
Rato-coelho
de patas brancas
Corvo Marinho
de óculos
Kaka de Norfolk
Ratazana do arroz
gigante de Sta. Lúcia
Rato de Gould
Chaunoproctus
ferreorostris
Coua delalandei
Mascarinus mascarinus
Moho apicalis
Fregilupus varius
Notomys macrotis
Ilha do Sul, N. Zelândia
Ilha Maurícia, Mascarenas
Ilhas Bering e Copper,
Mar de Bering W, Oceano Pacífico N
Tahiti e Moorea,
Ilhas Sociedade, Oceano Pacífico
Raiatea, Ilhas Sociedade,
Oceano Pacífico
Ilha de Lord Howe, Austrália
SW da África do Sul
Ilhas Reunião e Maurícia,
Mascarenas
Mauke, Ilhas Cook, Oceano Pacífico
Ilha Maurícia, Mascarenas
Togatapu, Arquipélago
de Tonga, Oceano Pacífico
Kosrae, Ilhas Carolinas, Oceano Pacífico
Kosrae, Ilhas Carolinas, Oceano Pacífico
Ilha Chichijima (Peel), Arquipélago
de Ogasawara (Bonin), Japão
Ilha Chichijima (Peel), Arquipélago
de Ogasawara (Bonin), Japão
Madagáscar
Ilha de Reunião, Mascarenas
Ilha de Oahu, Arquipélago do Hawaii
Ilha de Reunião, Mascarenas
SW da Austrália
1500
1681
1768
Aves
Moa de Montanha
Dodo
Vaca Marinha
de Steller
Maçarico do Tahiti
1834
1834
1837
1840
1843
Cyanoramphus zealandicus
Pinguinus impennis
Conilurus albipes
Tahiti, Ilhas Sociedade, Oceano Pacífico
Atlântico Norte
SE da Austrália
1844
1844
1845
Phalacrocorax
perspicillatus
Nestor productus
Megalomys luciae
Ilhas Bering e Commander,
Mar de Bering W, Oceano Pacífico N
Ilha de Norfolk, Austrália
Santa Lúcia, Caraíbas
1850
1851
1852
Pseudomys gouldii
E da Austrália
1857
Aves
Aves
Aves
Aves
Aves
Aves
Aves
Aves
Mammalia
Aves
Aves
Mammalia
Aves
Aves
Mammalia
Mammalia
Aplonis mavornata
Alectroenas nitidissima
Tachygia microlepis
Aplonis corvina
Porzana monasa
Zoothera terrestris
1777
1788
1800
1800
1825
1826
1827
1828
1828
1828
1828
[155]
Aves
Aves
Reptilia
1777
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Classe
Nome Comum
Nome Científico
Distribuição Histórica
Data da Extinção
Aves
Kioea
Noitibó pequeno da Jamaica
Arara vermelha de Cuba
Periquito das Seychelles
Reptilia
Mammalia
Aves
Aves
Aves
Mammalia
Mammalia
Aves
Aves
Osga Gigante
da Nova Zelândia
Galeirão Madeireiro
de Samoa
Grande Raposa-voadora
de Palau
Potoroo de face larga
Periquito de Newton
Pato do Labrador
Codorniz dos Himalaias
Lagartixa Gigante
Cão das Malvinas
Colibri Esmeralda de Brace
Galeirão pintado do Hawaii
Pombo Madeireiro
de Bonin
Canguru-lebre Oriental
Tentilhão pequeno de Koa
Ula-ai-hawane
Morcego frugívoro
de nariz tubular de Sta. Cruz
Gazela vermelha
Bico grande de Kona
Carriça de Stephen
Tentilhão grande de Koa
Rato-saltador de cauda curta
Ratazana do arroz de Nelson
Mamo
Galeirão de Chatham
Aves
Pardal de Chatham
Bowdleria rufescens
Aves
Aves
Mammalia
Mammalia
Carcará de Guadalupe
Grande Amakihi
Bandicoot de pés de porco
Rato-saltador de cauda longa
Polyborus lutosus
Hemignathus sagittirostris
Chaeropus ecaudatus
Notomys longicaudatus
Ilhas Hawaii e Oahu,
Arquipélago do Hawaii
Jamaica, Caraíbas
Cuba, Caraíbas
Ilhas Mahé e Silhouete,
Arquipélago das Seychelles
Ilha do Norte,
Nova Zelândia
Savaii, Ilhas Samoa,
Oceano Pacífico
Ilhas Palau, Micronésia,
Oceano Pacífico
SW da Austrália
Ilha de Rodrigues, Mascarenas
Costa NE da América do Norte
W dos Himalaias
Nova Caledónia, Oceano Pacífico
Ilhas Malvinas
New Providence, Ilhas Bahamas
Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii
Ilhas Chichijima (Peel) e Nakondo-shima,
Arquipélago de Ogasawara (Bonin), Japão
SE da Austrália
Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii
Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii
Ilhas Santa Cruz, Arquipélago
das Salomão, Oceano Pacífico
Norte da Argélia, África
Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii
Ilha de Stephen, Nova Zelândia
Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii
Austrália Central
Ilha de Maria Madre, Três Marias, México
Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii
Ilhas Pit e Mangere, Arquipélago
de Chatham, Oceano Pacífico
Ilhas Pit e Mangere, Arquipélago
de Chatham, Oceano Pacífico
Ilha de Guadalupe, México
Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii
Austrália
Austrália
1859
Aves
Aves
Aves
Chaetoptila
angustipluma
Siphonorhis americanus
Ara tricolor
Psittacula wardi
Aves
Mammalia
[156]
Mammalia
Aves
Aves
Aves
Reptilia
Mammalia
Aves
Aves
Aves
Mammalia
Aves
Aves
Mammalia
Hoplodactylus delcourti
Pareudiastes pacificus
Pteropus pilosus
Potorus platyops
Psittacula exsul
Camptorhynchus labradorius
Ophrysia superciliosa
Phoboscincus boucorti
Dusicyon australis
Chlorostilbon bracei
Pennula sandwuichensis
Columba versicolor
Lagorchestes leporides
Rhodacanthis flaviceps
Ciridops anna
Nyctimene sactacrucis
Gazella rufina
Chloridops kona
Xenicus lyalli
Rhodacanthis palmeri
Notomys amplus
Oryzomys nelsoni
Drepanis pacifica
Gallirallus modestus
1859
1864
1870
1870
1874
1874
1875
1875
1875
1876
1876
1876
1877
1884
1889
1889
1891
1892
1892
1894
1894
1894
1896
1896
1897
1898
1900
1900
1900
1901
1901
1901
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EXTINÇÕES,
EVOLUÇÃO E O
IMPACTO DE
HOMO SAPIENS
A PARTIR
DO ANO 1000 A.D.
Classe
Nome Comum
Nome Científico
Distribuição Histórica
Data da Extinção
Aves
Merganso de Auckland
Mergus australis
1902
Aves
Piopio
Turnagra capensis
Mammalia
Megalomys desmarestii
Aves
Aves
Aves
Aves
Aves
Aves
Aves
Mamo Negro
Huia
Colibri de Bogotá
Gralha de bico estreito
Tordo da Grande Caimão
Petrel de Guadalupe
Mocho Risonho
Drepanis funérea
Heteralocha acutirostris
Heliangelus zusii
Quiscalus palustris
Turdus ravidus
Oceanodroma macrodactyla
Sceloglaux albifacies
Reptilia
Lagarto
Macroscincus coctei
Aves
Aves
Aves
Aves
Pombo Migrador5
Periquito da Carolina
Olho-branco
Rola frugívora
de bigode vermelho
Periquito do Paraíso
Ratazana do arroz
de Darwin
Rato-veado de Pemberton
Pombo Madeireiro
de Ryukyu
Rato-pequeno
dos ninhos de pau
O’o do Hawaii
Canguru-rato do Deserto
Ectopistes migratorius
Conuropsis carolinensis
Zosterops strennus
Ptilonopus mercierii
Leporillus apicalis
Ilha de Natal, Oceano Índico
Ilha de Natal, Oceano Índico
Ilha de Choiseul, Arquipélago
das Salomão, Oceano Pacífico
Ilhas de Maui e Molokai,
Arquipélago do Hawaii
Ilha de Molokai, Arquipélago do Hawaii
Ilha do Norte, Nova Zelândia
Bogotá, Colômbia
Rio Lerma, México
Ilha Grand Cayman, Índias Ocidentais
Ilha de Guadalupe, México
Ilhas, Norte, Sul e de Stewart,
Nova Zelândia
Ilhéus Branco e Raso,
Arquipélago de Cabo Verde
E da América do Norte
E da América do Norte
Ilha de Lord Howe, Austrália
Ilhas de Nuku Hiva e de Hiva Oa,
Arquipélago das Marquesas
NE da Austrália
Ilha de Santa Cruz,
Arquipélago das Galápagos
Ilha de S. Pedro Nolasco, México
Ilhas Ryukyu e Borodino,
Japão
S da Austrália
1903
1903
1904
Aves
Ratazana do arroz
gigante da Martinica
Ratazana de MacLear
Ratazana Bulldog
Pombo Coroado
de Choiseul
O’o de Molokai
Ilhas de Campbell e Adams,
Arquipélago de Auckland, Nova Zelândia
Ilhas, Norte, Sul e de Stephen,
Nova Zelândia
Martinica, Caraíbas
Moho nobilis
Caloprymnus campestris
Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii
Austrália central
1934
1935
Aves
Mammalia
Mammalia
Aves
Mammalia
Aves
Mammalia
Rattus macleari
Rattus nativitatis
Microgoura meeki
Moho bishopi
Psephotus pulcherrimus
Nesoryzomys darwini
Peromyscus pembertoni
Columba jouyi
1902
1904
1907
1907
1909
1910
1911
1911
1914
1914
1914
1918
1918
1920
1927
1929
1931
1931
1933
5 No início do séc. XIX era a ave mais comum da América do Norte (4 em
cada 10 aves). Segundo alguns autores foi a ave mais abundante jamais
existente.
[157]
Mammalia
Mammalia
Aves
1902
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Classe
Nome Comum
Nome Científico
Distribuição Histórica
Data da Extinção
Aves
Pato de cabeça rosa
Lobo Marsupial
Canguru de Toolache
Galeirão de Laysan
Galeirão de Wake
Foca-monge
das Caraíbas
Canguru-rato pequeno
Ratazana de Ilin
Cutia de Little Swan
Planícies aluviais dos rios
Ganges e Brahmaputra, Índia
Tasmânia
S da Austrália
Ilha de Laysan, Arquipélago do Hawaii
Ilha de Wake, Oceano Pacífico
Índias Ocidentais, Florida,
Yucatan e E da América Central
Austrália Central
Ilha de Ilin, Filipinas
Ilha de Little-Swan,
NE das Honduras
Centro e W da Austrália
1936
Mammalia
Mammalia
Aves
Aves
Mammalia
Rhodonessa
caryophyllacea
Thylacinus cynocephalus
Macropus greyi
Porzana palmeri
Gallirallus wakensis
Monachus tropicalis
Mammalia
Mammalia
Mammalia
Mammalia
Mammalia
Mammalia
Aves
[158]
Aves
Mammalia
Mammalia
Aves
Canguru de crescente
branco
Rato-toupeira Bávaro
Grande Morcego
de cauda-curta
Pequeno pardal
dos bosques
Galeirão de asas
listadas
Raposa voadora
de Guam
Morcego frugívoro
de costas nuas das Filipinas
Galeirão de Atitlán
Macrotis leucura
Crateromys paulus
Geocapromys
thoracatus
Onychogalea lunata
Microtis bavaricus
Mystacina robusta
1936
1939
1943
1945
1952
1952
1953
1955
1956
Dobsonia chapmani
Alpes Bávaros e Italianos
Ilhéus adjacentes à Ilha de Stewart,
Nova Zelândia
Ilhas, Norte, Sul e de Stewart,
Nova Zelândia
Ilhas de Viti Levu e Ovalau,
Arquipélago das Fiji
Ilha de Guam, Arquipélago
das Marianas, Micronésia
Ilha dos Negros, Filipinas
1980
Podilymbus gigas
Lago Atitlán, Guatemala
1989
Xenicus longipes
Nesoclopeus
poecilopterus
Pteropus tokudae
1962
1965
1972
1973
1974
Fonte: Flannery & Schouten (2002).
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EXTINÇÕES,
EVOLUÇÃO E O
IMPACTO DE
HOMO SAPIENS
A PARTIR
DO ANO 1000 A.D.
Classe
Nome Comum
Nome Científico
Estatuto IUCN
Distribuição Actual e Efectivo Total
Mammalia
Aves
Gorila de montanha
Condor da Califórnia
Gorilla beringei beringei
Gymnogyps californianus
Criticamente Ameaçado
Criticamente Ameaçado
Actinopterygii
Peixe-Morcego
pintado
Brachionichthys hirsutus
Criticamente Ameaçado
Mammalia
Pteropus rodricensis
Criticamente Ameaçado
Mammalia
Raposa voadora
de Rodrigues
Lemur Vermelho
Varecia variegata rubra
Criticamente Ameaçado
Mammalia
Mammalia
Tigre Chinês
Lobo Mexicano
Reptilia
Tartaruga-de-couro
Dermochelys coriacea
Criticamente Ameaçado
Mammalia
Golfinho-lacustre
Chinês
Lipotes vexillifer
Provavelmente Extinto
Mammalia
Phocoena sima
Criticamente Ameaçado
Reptilia
Vaquita ou Toninha
de Cortéz
Aligátor Chinês
Alligator sinensis
Criticamente Ameaçado
Reptilia
Crocodilo Cubano
Crocodylus rhombifer
Criticamente Ameaçado
Reptilia
Crocodilo Siamês
Crocodylus siamensis
Mammalia
Mammalia
Golfinho do Indus
Leão Asiático
Platanista minor
Panthera leo persica
Criticamente Ameaçado,
provavelmente Extinto
no Estado Selvagem
Criticamente Ameaçado
Criticamente Ameaçado
< 1000 no Rwanda, Burundi e Uganda
150 dos quais 120 em cativeiro
Califórnia e Arizona
Nº total desconhecido
Distribuição limitada a
um estuário na Tasmânia
1500 a 2000 na Ilha de Rodrigues,
Mascarenas, Oceano Índico
Nº total desconhecido
Distribuição limitada à Península
de Masoara, Madagáscar.
Existem grupos em cativeiro
500 dos quais 470 da China
< 50 em estações
de reprodução no Arizona
População do Pacífico em colapso
e muito reduzida no Atlântico
Extinto no delta do Rio Yangtze.
Eventuais grupos em cativeiro
muito diminutos ou já inexistentes.
500 no N do Mar de Cortéz
e delta do Rio Colorado
< 500 no delta do Rio Yangtze.
Alguns grupos em cativeiro
< 1000 no S de Cuba. Alguns grupos
em cativeiro. Hibridação com o
introduzido Caiman latirostris
e com Crocodylus acutus
Nº total desconhecido
Alguns grupos em cativeiro
Reptilia
Iguana de Ricord
Cyclura ricordi
Criticamente Ameaçado
Aves
Águia Filipina
Pithecophaga jefferyi
Criticamente Ameaçado
Mammalia
Foca Monge
Mediterrânica
Monachus monachus
Criticamente Ameaçado
Panthera tigris amoyensis Criticamente Ameaçado
Canis lupus baileyi
Extinto no Estado Selvagem
500 no Rio Indus, Paquistão
< 500 limitados à Reserva
de Gir, Gujarat, Índia
2000 a 4000 no SW
da República Dominicana
650 nas raras florestas
remanescentes das Filipinas
< 500 dispersas por pequenas
populações no Mediterrâneo,
Madeira e costa NW de África
[159]
ANEXO III
LISTAGEM TENTATIVA DE ALGUMAS DAS ESPÉCIES
DE VERTEBRADOS MAIS AMEAÇADAS NO MUNDO
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[160]
Classe
Nome Comum
Nome Científico
Estatuto IUCN
Mammalia
Órix de cornos de cimitarra
Oryx dammah
Extinto no Estado Selvagem
Aves
Íbis careca do Norte
Actinopterygii
Atum Azul do Sul
Mammalia
Rinoceronte de Samatra
Mammalia
Rinoceronte de Java
Mammalia
Cavalo de Przewalski
Reptilia
Reptilia
Tartaruga dos Pântanos
do W da Austrália
Iguana da Jamaica
Mammalia
Lince Ibérico
Mammalia
Chita Asiática
Mammalia
Leopardo
da Barbaria
Falcão das Maurícias
Aves
Aves
Mammalia
Aves
Papa moscas negro
das Seychelles
Camelo Selvagem
Íbis Japonês
Mammalia
Baleia Franca Boreal
Distribuição Actual e Efectivo Total
3500 em centros de reprodução.
Reintrodução prevista em
Marrocos e na Tunísia
Geronticus eremita
Criticamente Ameaçado
Nº total desconhecido
mas extremamente reduzido
Thunnus maccoyii
Criticamente Ameaçado
Nº total desconhecido.
Populações em colapso
Dicerorhinus sumatrensis Criticamente Ameaçado
< 300 dispersos na Malásia,
Samatra e Bornéu
Rhinoceros sondaicus
Criticamente Ameaçado
< 100 limitados à Reserva de Udjung-Kulon, NW de Java. Recentemente
redescoberto no Cambodja e Vietname
onde deve ter sido extinto em 2010
Equus ferus przewalski Extinto no Estado Selvagem
> 1000 em cativeiro com processos
de reintrodução em curso
na China e Mongólia
Pseudemydura umbrina
Criticamente Ameaçado
330 dos quais 200
em cativeiro
Cyclura collei
Criticamente Ameaçado
200 animais redescobertos
nos anos 90
Lynx pardina
Criticamente Ameaçado
< 600 no S de Espanha com cerca
de 20 em Portugal
Acinonyx jubatus
Criticamente Ameaçado
< 250 no Irão
venaticus
Panthera pardus
Criticamente Ameaçado
< 50 em Marrocos
panthera
Falco punctatus
Criticamente Ameaçado
< 30 no estado selvagem,
< 100 em cativeiro. Ilhas Maurícias,
Oceano Índico
Tersiphone corvina
Criticamente Ameaçado
< 70 na Ilha de La Digue,
Arquipélago das Seychelles
Camelus bactrianus
Criticamente Ameaçado
500 no Deserto de Gobi, Mongólia
Nipponia nippon
Criticamente Ameaçado
< 50 no Japão e E da China.
Possível na Coreia so S
Eubalaena glacialis
Criticamente Ameaçado
< 500 no Atlântico e Pacífico N
Adaptado de Salvadori (1990), Ross (1991), Carwardine (1995) e Gil (2001). Adicionado de dados do autor.
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EXTINÇÕES,
EVOLUÇÃO E O
IMPACTO DE
HOMO SAPIENS
A PARTIR
DO ANO 1000 A.D.
BIBLIOGRAFIA:
Agustí, J. & M. Antón 2002. Mammoths, Sabertooths
and Hominids – 65 Million Years of Mammalian
Evolution in Europe. Columbia University Press, N.Y.
x + 313pp.
Attenborough, D. 1988. O Primeiro Éden – O Mundo
Mediterrânico e o Homem. Gradiva, Lisboa. 235pp.
Balouet, J.-C. 1990. Extinct Species of the World.
Barron’s Educational Series, Inc., Auckland, New
Zealand. 192pp.
Barton, M.; N. Bean, S. Dunleavy, I. Gray & A.
White 2002. Wild New World – Recreating Ice-Age
North America. BBC Worldwide, London. 192pp.
Benton, M. 1990. The Reign of the Reptiles.
Crescent Books, N.Y. 143pp.
Bourliére, F. 1975. Mammals, small and large: The
ecological implications of size. p. 1-8 In: Small
Mammals: Their Productivity and Population Dynamics
(Golley, E. B., editor). Cambridge University Press,
London.
Dixon, D. & Adams J. 2003. The Future is Wild.
Firefly Books Ltd., N.Y. 160pp.
Flannery, T. & P. Schouten 2002. A Gap in Nature –
Discovering the World’s Extinct Animals. William
Heinemann, London. xxiv + 184pp.
Fortey, R. 1998. Life – A Natural History of the First
Four Billion Years of Life on Earth. Alfred A. Knopf,
N.Y. xiii + 346pp.
Gil, P. R. (general direction) 2001. The Red Book –
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OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 162
[162]
Mammuthus primigenius.
Espécie extinta
na era Pleistocénica/Holocénica.
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Nuno A. Vieira
In Illo Tempore
BENEDICAMUS
DOMINUM
NO SEMINÁRIO DE ANGRA
NA DÉCADA DE 50 A 60
Comemorando o sesquincentenário
Instituição dedicada, urbi et orbi, ao serviço
da Igreja, da sociedade, das artes e da cultura
PALAVRA PREAMBULAR
Teatro no Seminário, Natal de 1958.
Da esquerda para a direita, Manuel
Raimundo e Artur Goulart. Mais tarde,
foram, respetivamente, um professor
em Lisboa e o outro diretor do museu
de Évora.
Neste artigo, proponho-me escrever acerca do Seminário de
Angra do Heroísmo na década que vai de meados dos anos 50
a meados dos anos 60. O Seminário, como qualquer instituição,
sujeitou-se a mudanças e desafios. Formou sacerdotes e homens de impacto na sociedade açoriana, nacional e, também,
no palco internacional. Ao lado das suas virtudes, teve os seus
defeitos. Não tenho apetite absolutamente nenhum para falar
desses. De momento, opto por deixá-los cair no escopo do
“errare humanum est”. Usarei nomes, apenas, como um mero
enquadramento na época a que me refiro. Como antigo aluno
do Seminário, aderirei aos factos tanto quanto possível como os
conheço na minha experiência pessoal e naquela que colhi, em
conversa, com antigos colegas. Esta minha visão de maneira
nenhuma pretende ser abrangente de todos os aspetos da vida
diária da instituição que, em Angra do Heroísmo, de várias formas, encontrou o acolhimento nobre, leal e constante que caracteriza esta cidade. Poder-se-á dizer que, para muitos, o Seminário e a cidade, conjuntamente, formaram e urbanizaram o
sacerdote e o homem do futuro.
[163]
da fundação do Seminário de Angra
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Alunos do Seminário acompanhados
do prefeito Padre David Botelho do
Couto, na cratera do Monte Brasil.
15/05/1958.
[164]
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In Illo Tempore
BENEDICAMUS
DOMINUM
NO SEMINÁRIO DE ANGRA
NA DÉCADA DE 50 A 60
INTRODUÇÃO
Tinha-se dez ou mais anos. Deixava-se pai e mãe, família e freguesia, e ia-se para o Seminário. Nos fins de setembro, princípios de outubro, chegavam a Angra dezenas de jovens seminaristas, vindos do oeste do Arquipélago no Carvalho Araújo e do
este no Cedros ou Ponta Delgada. Quase simultaneamente,
vindos do grupo central, no Terra Alta, Santo Amaro ou no
Espírito Santo, aportava, na mesma baía, mais rapaziada com
destino também ao Seminário. No cais da cidade, debaixo do
abrigo da fachada da imponente Igreja da Misericórdia, numa
explosão de alegria e entusiasmo, abraçavam-se superiores,
jovens teólogos elegantemente vestidos de redingote, alunos
do Curso de Filosofia e Miúdos - como eram tratados os mais
novos.
Alunos do Seminário, na cratera do Monte Brasil.
15/05/1958.
[165]
O Seminário estava então dividido em três Prefeituras, distribuídas por três zonas diferentes do mesmo edifício. Havia os
Teólogos, na Prefeitura do Sagrado Coração de Jesus (alunos do
nono ao décimo segundo ano), os Médios, na Prefeitura de São
José (alunos do quinto ao oitavo ano) e os Miúdos na Prefeitura
de São Luís de Gonzaga (alunos do primeiro ao quarto ano).
Cada Prefeitura era chefiada pelo padre prefeito que acompanhava os seus alunos, praticamente, todo o dia, para todo o
lado, incluindo as horas de recreio. Na sua ausência esporádica,
havia um monitor que era um seminarista mais velho. Nos Teólogos, já havia um diferente nível de flexibilidade.
Passeio à Praia da Vitória.
Páscoa do ano de 1958.
AS PRIMEIRAS 24 HORAS
A criança, de dez ou mais anos, entrava no Seminário e era
acompanhada para a sua camarata, onde lhe estava destinada
uma cama e um guarda-roupa comum. Já sozinho, fazia a sua
cama, distribuía a sua roupa pela mesa-de-cabeceira e guarda-fato, e colocava a sua mala no sítio onde ficaria para o resto do
ano – debaixo da cama. Malas de tamanho maior seriam guardadas em arrecadações conhecidas por “porões”.
O calção do menino havia ficado em casa. O vestuário, agora,
seria outro, mais sóbrio em cores e simples em estilo: sapatos
e calças pretas, colarinho branco a arrematar um peitinho pre-
to. No dia-a-dia, vestia-se um guarda-pó, usualmente de cotim,
(uma espécie de bata). Para passear pela cidade e arredores,
levava-se a batina com romeira e o chapéu preto. Assim se
vestia uma criança de 10 anos. No princípio do ano, era opcional comprar-se ou não o barrete eclesiástico.
Começava-se logo a andar em grupo – fila indiana – para a sala
de estudo, capela, refeitório e pelas ruas da cidade. (Não era infrequente ouvir-se: “Vai chover hoje! Aí vêm os melros pretos!
Aí vêm os estorninhos!”).
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Havia meia hora para a higiene da manhã. Então, às 6 horas, do
lado de fora da capela, vestidos de batina e sobrepeliz, formava-se uma linha, em pares, e entrava-se na capela onde se prosseguia com as orações da manhã, meditação e missa.
Seminaristas vestidos de guarda-pó em
frente das salas de aula – 20/01/1958.
[166]
O silêncio era observado em todo o lugar, menos nas horas de
recreio. Na noite do primeiro dia, era-se levado para a capela
de Nossa Senhora da Natividade, onde o padre prefeito, da última bancada, conduzia as orações da noite – exame de consciência, ato de contrição, terço, preces por pessoas, organizações, situações e pelas almas do purgatório, especialmente as
mais abandonadas. Tudo terminava com a “Salve Rainha, mãe de
misericórdia, vida doçura, esperança nossa...”.
Então, já passante das 21:30, um por um, em silêncio, saía-se da
capela, pela porta traseira e dirigíamo-nos para as camaratas.
De uma maneira muito discreta, era-nos comunicada a mensagem de que devíamos despir as calças debaixo dos lençóis. Sem
mais explicações, esta passaria a ser a norma, para os próximos
8 anos, para o vestir e despir das calças. Com um sorriso,
ligeiramente condescendente, o prefeito apagava as luzes e o
menino ali dormia, pela primeira vez, na distância da família,
sem o beijo da mãe e a bênção do pai.
Na manhã seguinte, às 5:30, o padre prefeito acendia as luzes e
batendo palmas, de uma ponta à outra da camarata, dizia:
“Benedicamus Dominum! Benedicamus Dominum!”. Eventualmente, alguém oferecia a tradução: “Bendigamos ao Senhor!
Bendigamos ao Senhor!”.
Terminada a missa, seguia-se para a sala de estudo para mais
uma hora de estudo. Daqui, ia-se para o refeitório, em silêncio,
para o pequeno-almoço também em silêncio. Em mesas compridas, ocupávamos um lugar designado. O cheiro agradável do
café enchia os corredores adjacentes ao refeitório. Servia-se
pão com manteiga e, às vezes, havia queijo ou marmelada. Se o
pão, vindo da padaria Angrense, na Rua do Rego, acontecia a
ser quente era motivo de regozijo para a pequenada.
O menino seminarista, sem ter conhecimento total do que se
estava passando, estava prestes a iniciar um retiro – retiro espiritual – de um ou dois dias. Passadas 24 horas, o novo seminarista já se poderia equiparar ao personagem de um dos contos
da famosa escritora barcelonesa, Ana Maria Matute. A escritora
narra a história de um menino que sai de casa, a noite inteira,
em busca do seu amigo que havia desaparecido. De manhã, ao
chegar a casa, a mãe abriu-lhe a porta, e, numa linguagem simbólica da transformação que a criança havia sofrido pelo seu
primeiro contacto com a morte de um amigo, disse-lhe:
“Cuanto ha crecido este niño, Dios mio, cuanto ha crecido”.
Havia-se deixado o lar, atravessado o mar e entrado numa
instituição de formação sacerdotal. A única comunicação com a
família seria uma carta sujeita ao capricho do tempo e dos precários meios de comunicação de então. Os das ilhas do grupo
ocidental, de inverno, devido ao mau tempo, podiam estar
tanto como dois meses sem notícias dos seus pais e vice-versa.
O padre prefeito, de uma maneira inequívoca, instruía o menino de dez anos para que lhe entregasse abertas as cartas
dirigidas aos pais. De igual modo, a correspondência recebida
era aberta de acordo com a descrição do prefeito. Pelo Natal e
pela Páscoa, a maior parte recebia uma encomenda (caixote)
de casa, com guloseimas, fruta da época, ou qualquer outra
comida que não se estragasse facilmente. Às vezes, inocentemente, lá vinha uma garrafa de vinho, de anis, ou vinho abafado. Na Prefeitura dos Médios, esses caixotes, guardados em
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In Illo Tempore
BENEDICAMUS
DOMINUM
NO SEMINÁRIO DE ANGRA
NA DÉCADA DE 50 A 60
[167]
Alunos do 3.º ano do Seminário, no
seu vestuário diário guarda-pó/bata.
06/10/1957.
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duas arrecadações chamadas porões, eram uma tentação enorme para a ratazana que não era nada inibida. Junto desses porões havia o corredor das batatas – espécie de Via Láctea para
a aula de Música – que era também um chamariz de ratos. Mas
companheiros fiéis de estudo eram os ratos que se entretinham
com as teias de aranha no corredor de despejos adjacente ao
Salão Nobre de Festas, que era a sala de estudo dos Médios.
Havia, ainda, os ratos artistas que davam saltos acrobáticos na
cave do palco de teatro. Absolutamente inofensivos e divertidos. Todos morreram com as obras que se seguiram ao abalo
de terra de 1 de janeiro, do ano 1980.
O SEMINÁRIO COMO
INSTITUIÇÃO DE FORMAÇÃO
[168]
O Seminário era uma instituição em que simultaneamente se
formava o homem e o futuro sacerdote. Por um lado, seria
necessário desenvolver uma cultura verdadeiramente humanista no seu vasto espetro de valores morais, espirituais, literários, artísticos, científicos, e até empresariais, onde todas as
potencialidades do homem fossem atualizadas e postas ao
serviço do indivíduo, da família e da sociedade. Por outro lado,
teria que se compreender e viver os valores cristãos da fraternidade e equidade numa perspetiva Cristo-cêntrica. Era-se
exortado a apreciar os dons de Deus nas palavras de S.
Clemente I, terceiro sucessor de S. Pedro: “A vida na imortalidade, o esplendor na justiça, a fé na confiança, a continência na
santidade”. O jovem seminarista teria que crescer “mens sana
in corpore sano”.
Desde o princípio, era-nos explicado o significado da palavra
“seminário” como “viveiro de plantas”. Assim como as plantas
têm que ser cultivadas, adubadas, podadas e protegidas, assim
também o aspirante ao sacerdócio. – O Hino do Seminário,
que se encontra em apêndice a este trabalho, tem três quadras
que de alguma maneira sintetizam os objetivos da instituição:
Se há grandeza no mundo, é aquela
que surgiu sob o influxo dos céus;
é por isso que és grande e que és bela,
Casa santa, mimosa de Deus.
Exultai nobres filhos da ciência,
que da Fé recebeis o vigor!
Consagrai toda a vossa existência
aos combates da Cruz do Senhor!
É assim que teu código ensina
que mais alta riqueza não há
que a ciência que a mente ilumina
e a virtude que a glória nos dá.
Está-se, portanto, numa casa de formação eclesiástica onde há
que aprender a trabalhar com todas as ferramentas necessárias
para a criação de um mundo melhor através da boa nova do
evangelho. Ter-se-á que aprender acerca do homem, do
mundo e de Deus. Haverá desafios, nos campos da razão e do
sobrenatural, que acabarão por ser considerados complementares.
O IMPOSSÍVEL: A CHAMADA
Aqueles que passaram pelo Seminário e hoje são avós, ao olharem para os seus netos na idade aproximada dos 10 anos, interrogam-se a si próprios: como foi possível que os nossos pais
nos deixassem sair de casa tão novos? Onde foram pais e filhos
buscar tanta coragem? Talvez, a razão não encontre toda a
resposta para estas perguntas.
Em princípio, trata-se de um ideal superior. Supostamente,
num dado momento da sua meninice, a criança foi tocada ou
inspirada por uma situação, gesto, ou frase que lhe despertou
um chamamento duradoiro ou temporário. Naquela altura, a
Igreja tinha um papel preponderante na vida individual, social e
religiosa das pessoas. A assistência à missa ocorria em números
elevados. A catequese e a influência da família eram outros
fatores. A eventual chegada de um novo pároco à freguesia
com o acompanhamento da banda de música local, a entrega
de um ramo de flores e as primeiras palavras do novo sacerdote, em repetição das do Divino Mestre: “A messe é grande e
os operários são poucos. Eu vim para que tivessem vida e a
tivessem em mais abundância. Eu sou o bom pastor e o bom pastor
conhece as suas ovelhas e as suas ovelhas conhecem-no a ele. Vós
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In Illo Tempore
BENEDICAMUS
DOMINUM
NO SEMINÁRIO DE ANGRA
NA DÉCADA DE 50 A 60
sois o sal da terra e a luz do mundo. Aqueles a quem perdoardes
os pecados, eles serão perdoados. Aqueles a quem os retiveres, eles
serão retidos”. Noutra altura, a beleza humana, espiritual e literária do Sermão da Montanha ou ainda o pensamento tão poderoso quanto sublime: “Ego sum alter Christus”. O encanto de
ser pescador de almas, narrado pelo padre da aldeia, num sermão junto da orla do mar, no dia de São Pedro, no fim do mês
de junho.
Alunos do 4.º ano, em 06/01/1958, junto da Ermida de Santo
António, no Monte Brasil. Ao centro, vê-se o Cónego Jeremias
da Rocha Simões, na altura vice-reitor do Seminário.
[169]
Os três pensamentos, que me ocorrem neste momento, são
do conhecimento comum: a mente tem a sua maneira própria
de operar, o coração tem razões que a mente não entende, e,
finalmente, os caminhos de Deus são imperscrutáveis. Parece
ser razoável concluir-se que, numa determinada altura, a criança sentiu uma chamada. Vocação?
NOÇÕES DE CIVILIDADE
Muito cedo, no ano letivo, no salão de estudo, o padre prefeito
de então, Agostinho do Couto Tavares, com relativa seriedade,
passou algumas horas instruindo o menino em normas de conduta, de cortesia e boa educação. Lavagem diária dos dentes.
Sentar em posição ereta. Não por as mãos nos bolsos, em público
ou na Igreja. Dar o lado de dentro do passeio aos mais velhos ou a
um superior. À mesa, partir o pão com as mãos em pedacinhos pequenos. Por porções pequenas de comida na boca. Não beber, nem
falar enquanto se tem a boca cheia. Não deixar marca dos lábios
nos copos ou chávenas. A colher ou garfo é que vão à boca e não
vice-versa. Limpar a boca no interior do guardanapo. Nunca por os
cotovelos sobre a mesa. Apresentar-se, onde quer que seja, limpo
e penteado. Assoar-se sem fazer ruído. Não cuspir na rua.
A maneira como o seminarista se apresentasse em público era
importante. O cónego Jeremias da Rocha Simões, quando
reitor, costumava repetir: “o hábito não faz o frade, mas ajuda a
fazê-lo”. Como isso, regra geral, era dito no contexto das
últimas admoestações para as férias de verão, o mesmo reitor
prosseguia: “quando forem nadar, levem o colarinho até à praia e,
então, só lá, tirem-no”.
Atividade na turma dos escuteiros no campo dos miúdos
(Seminário) no ano de 1959.
A FORMAÇÃO CRISTÃ
Neste ponto, não percamos de vista que estamos a falar do
Seminário de Angra, no período de tempo que vai de meados
da década de 50 a meados da década de 60. Gostaria, agora, de
fazer alusão aos seguintes dois pontos referentes a esta data: a
formação cristã e a formação académica dessa instituição.
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Se Deus é omnipresente, o crucifixo também o era. Havia um
crucifixo em todo o lugar: na sala de estudo, no refeitório, nas
camaratas, nas salas de aula, em recintos abertos e áreas de recreio. Há anos, quando principiei a dar aulas numa universidade
católica, nos Estados Unidos, todo este cenário me veio à mente, como se tivesse sido ontem. Aqui, o crucifixo também está
presente everywhere, se bem que de uma maneira mais velada.
O dia começava com as orações da manhã, missa e comunhão.
Num abrir e fechar de olhos, aprendia-se a ajudar à missa, em
Latim:
Tomava-se consciência da iminente subida ao altar: Introibo ad
altare Dei.
A confissão dos pecados: Confiteor Deo omnipotenti, etc..
Invocava-se a misericórdia de Deus em Grego: Kýrie,
eléison/Kýrie, eléison/Kýrie, eléison/Kýrie, eléison.
Glorificava-se Deus com: Gloria in excélsis Deo.
[170]
Professava-se a fé, dizendo: Credo in unum Deum.
Toda a gente entendia o: Dominus vobiscum.
Toda a gente sabia responder: Et cum spiritu tuo.
A transubstanciação do pão: Hoc est enim Corpus meum.
A consagração do cálice: Hic est enim Cálix Sánguinis mei, etc..
A oração do Senhor: Pater noster, qui est in caelis, etc..
O momento da paz: Pax Dómini sit semper vobiscum.
O apresentar da hóstia: Ecce Agnus Dei: ecce, qui tollit peccata
mundi.
O fim da missa era anunciado desta maneira: Ite, Missa est.
A assembleia respondia: Deo grátias.
Antes das horas de estudo, no início das aulas e no começo das
refeições, rezava-se uma Avé Maria ou um Pai Nosso. (Talvez no
seguimento de uma tradição monástica medieval, as refeições,
em princípio, eram em silêncio. Cada semana, havia um leitor
que, de um estrado no meio do refeitório, começava por ler
uma passagem da Bíblia e prosseguia com a leitura de uma obra
de caráter ligeiro. Às vezes, permitia-se a conversa na segunda
parte da refeição e, em casos extraordinários, poder-se-ia conversar durante toda a refeição).
Num clima de espiritualidade ideal, em que a perfeição cristã é
o objetivo principal, recomenda-se a confissão semanal. Para
esse efeito, na capela dos Miúdos, havia todas as manhãs um
confessor à disposição do menino seminarista e nos Médios, na
aula número 12, adjacente à capela, havia o diretor espiritual,
também disponível para aqueles que se quisessem confessar.
Para que o confessando se sentisse mais à vontade, o capelão
de São Rafael, o Sr. Padre Martinho, vinha, uma vez por semana,
ouvir confissões àqueles que assim optassem. Os seminaristas,
então, deixavam para ele um ou outro pecado que julgassem
mais grave (pesado) e, por esse motivo, o capelão era conhecido como o Carregador Açoriano. Aqueles de nós, que já
vivemos 50 ou mais anos por este mundo fora e lhe demos
meia volta, sabemos muito bem que se passava no Seminário
uma juventude sã, em ambiente absolutamente são, onde, a
priori, sem querer-se ser Deus, podemos dizer que não havia
pecados de bradar aos céus. Grave bastante, poderia ser, talvez,
um olhar mais distraído para uma rapariga, em fato de banho,
na Poça dos Frades. De resto, no foro humano, havia que
resfriar os sentidos e refrear a língua, pois que, trimestralmente, o seminarista era chamado ao quarto do padre prefeito
para receber uma nota em comportamento que corria a
seguinte escala: mau, sofrível, bom, muito bom, excelente. Esta
nota era importante por que era mandada para os pais e para
o pároco da freguesia.
O retiro espiritual, com uma confissão geral que poderia incluir
os pecados da vida inteira, não só constituía uma oportunidade
de se dar um balanço à vida de relações com o Criador, mas era
também parte essencial do crescer-se em virtude na aspiração
contínua a uma vida de perfeição. Assim, os retiros tinham lugar
uma vez no mês. Ao longo do ano, alguns eram de meio-dia.
Mais frequentemente, eram de um ou dois dias, exceto pelo
Carnaval. Nessa altura, enquanto os jovens da nossa idade
gozavam os festejos carnavalescos, o jovem seminarista tinha
aproximadamente cinco dias de retiro. Em vez de nos levantarmos às cinco e meia da manhã, gozávamos do privilégio de
dormir mais meia hora, para então se iniciar um dia de intensa
atividade espiritual, onde a abertura dos canais da graça e sintonia com a divindade eram objetivos primordiais. Assim, uma
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In Illo Tempore
BENEDICAMUS
DOMINUM
NO SEMINÁRIO DE ANGRA
NA DÉCADA DE 50 A 60
Seminaristas numa peça de teatro ensaiada pelo Padre Manuel
Coelho de Sousa – Natal de 1958.
Fotografia dos alunos do curso do 1º ano de Filosofia com o
Professor Dr. Caetano Tomás.
Grupo de teatro formado por alunos do Curso de Teologia
(atrás). À frente, da esquerda para a direita, vê-se: o Sr. Padre
José Baptista, o reitor do Seminário José de Oliveira Lopes, o
Padre Coelho de Sousa e o Dr. José Enes. Natal de 1954.
[171]
O orfeão do Seminário sob a regência do maestro Dr. Antonino Tavares
no sarau músico-literário de S. Tomás de Aquino, 15/03/1959.
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As conferências espirituais, durante os retiros, não obstante serem quase sempre feitas pelo mesmo conferencista, eram ricamente preparadas, com conteúdo espiritual atraente e motivante.
Na capela interior do Seminário, em missa solene
em honra de São Tomás de Aquino. Meados da
década de 50.
Nos dias de retiro, a seguir ao almoço, havia um período de repouso, na cama. Despia-se a batina, tirava-se o colarinho e os
sapatos, fechavam-se as portadas da camarata e dormia-se/repousava-se por uma hora. Uma vez vestida a batina preta, que
no conjunto de tanto seminarista, dava um ar de austeridade ao
ambiente, ia-se para a capela, onde se rezava a Ladainha de Todos os Santos. Numa tarde escura ou de chuva, no mês de fevereiro, esta poderia ser a hora mais sombria e sonolenta do
dia. A Ladainha era isso mesmo, uma ladainha:
[172]
Kýrie, eléison.
Christe, eléison.
Spiritus Sancte, Deus, miserere nobis.
Sancta Virgo virginum, miserere nobis.
Sancta Maria Magdaléna, miserere nobis.
Omnes Sancti et Sanctae Dei, intercédite pro nobis.
Ab ira tua, libera nos, Domine.
Ut inimícos sanctae Ecclésiae humiliáre dignéris, te rogamus, audi
nos.
E terminava-se a ladainha com um Pai Nosso, em voz baixa.
Alunos da Congregação Mariana, no ano de 1959.
Ao centro vê-se o orientador Dr. Américo Caetano
Vieira, na altura director espiritual do Seminário.
vez mais, oração da manhã, meditação, missa, comunhão, uma
média de três a quatro conferências por dia, (chamavam-lhes
práticas espirituais), seguidas de períodos de reflexão que poderiam ser feitos ou a passear nos pátios interiores do Seminário, ou então, sentados à mesa de estudo, no salão de estudo.
Nessa altura, o seminarista poderia fazer um resumo da conferência, por escrito, e de igual modo poderia anotar algumas das
suas resoluções.
À tarde, havia pelo menos, mais uma conferência. A noite
fechava-se com as orações do costume e a bênção do Santíssimo. No tempo da Quaresma, fazia-se a via-sacra.
Os retiros, mesmo os de uma semana, eram feitos em absoluto
silêncio. Não havia comunicação nenhuma. Nem sequer
reflexão em grupo. (Cabe-me abrir um parêntesis para notar
que em tempo algum, durante o ano letivo, podiam os alunos
de uma prefeitura comunicar com os de outra sem a autorização dos prefeitos de ambas as prefeituras. Assim era, mesmo
que se tivesse um irmão noutra prefeitura).
A Congregação Mariana era outra associação de caráter
religioso que promovia a devoção a Maria Santíssima. Estava
sob a orientação do diretor espiritual da época, o Dr. Américo
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DOMINUM
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NA DÉCADA DE 50 A 60
A apoteose da devoção à Virgem culminava no mês de maio, o
mês de Maria. Mesmo meio século mais tarde, a memória ainda
regista a imensidão das variadas flores que ornamentavam a
capela, a nuvem do incenso que envolvia a imagem da Senhora
e a harmonia de uma execução perfeita de cânticos religiosos.
De resto, a prática da perfeição cristã recomendava que cada
aspirante ao sacerdócio tivesse um diretor espiritual que o
assistisse no crescimento da sua vida espiritual e o auxiliasse a
definir a sua vocação. Cada seminarista encontrava-se com o
seu diretor espiritual periodicamente. Nos Miúdos, na década
de 50 a 60, foram diretores espirituais, por algum tempo, os
Drs. António da Silva Pereira e Artur Pacheco Custódio. No
mesmo período, a direção espiritual dos Médios e Teólogos esteve a cargo do Dr. Américo Caetano Vieira.
Não obstante haver um sacerdote especificamente designado
para a direção espiritual – o diretor espiritual – o seminarista
tinha a opção de escolher qualquer outro sacerdote.
O ano letivo principiava sempre com a invocação do Espírito
Santo, Espírito de Luz. A Missa solene era precedida com a
entoação do lindo hino: Veni Creator Spiritus.
O seminarista não só estava rodeado de uma intensa prática
religiosa no Seminário, mas ainda participava de festas litúrgicas
de grande significado religioso, por toda a cidade. Esta participação tinha o apreço e admiração do público de Angra. Festas principais: a de Nossa Senhora da Conceição, na Igreja do
mesmo nome. A de Cristo Rei, na Igreja da Sé. A Semana Santa,
com a bênção dos santos óleos na manhã da Quinta-Feira Santa
e a instituição da Eucaristia na noite do mesmo dia. A adoração
da cruz na Sexta-Feira Santa e, à noite, a Procissão do Senhor
morto, pelas ruas da cidade, seguida de sermão proferido por
orador de qualidade, na catedral repleta de gente mergulhada
em silêncio fúnebre. A Missa dos Catecúmenos no Sábado de
Aleluia e a Missa da Ressurreição no Domingo de Páscoa. A
Missa do Domingo de Pentecostes sumarizava a razão da
existência do Seminário com a cerimónia da Ordenação sacerdotal. Ocasionalmente, poderia haver uma cerimónia religiosa
numa das igrejas da cidade, como a Igreja do Colégio, a Igreja
de São Francisco, ou a Igreja da Misericórdia. Todos os anos, no
dia 31 de dezembro, cantava-se o Te Deum de Ação de Graças,
geralmente na Igreja da Sé.
A capela do Seminário, dirigida por maestros de talento e
conhecimento como os Doutores Antonino Tavares e Edmundo Machado de Oliveira, dava grande brilho aos atos litúrgicos
e significado ao culto religioso. Ao órgão, tocava o distinto
músico Pe. Jaime Luís da Silveira. O Canto Gregoriano, canto
coral monofónico, também conhecido por canto chão, era frequentemente cantado no espírito que o viu nascer – era uma
oração cantada em que se rezava o próprio Deus e não somente
para Deus. Com o primor artístico de vozes altamente educadas, cantava-se música sacra do mais elevado conteúdo espiritual. Algumas das peças:
Ave verum / Adoro te / Agnus Dei /Asperges me / O sacrum
convívium / Tantum ergo / O Salutaris Hóstia / Ubi Caritas /
Adorémus / Adéste, fidéles / Puer natus / Jesu Redémptor /
Miserére Mei Deus / Crux fidelis / Stabat Mater / Pange língua / Ave
maris stella / Ave Maria de Gunot ou de Shubert / O lux beata /
Regina caeli / Salve Regina / Te Deum / Pater noster / Magnificat /
Tota pulchra est Maria / Cantáte Domino / De profundis / Requiem
aeternam e Missas de diferentes compositores.
[173]
Caetano Vieira, e reunia-se todos os sábados. Discutiam-se temas concernentes ao caminho da perfeição e ventilavam-se sugestões em diferentes áreas. Fazia-se um propósito para a semana, por exemplo o de evitar a crítica negativa. Sugeriam-se
ofertas, não monetárias ou materiais, mas através de Ramalhetes Espirituais, para homenagear um superior, apoiar um
colega, ou de intercessão por uma causa. Assim, ao fim de algum tempo, totalizava-se o número de Missas ouvidas, Pai Nossos e Avé Marias rezadas, jaculatórias proferidas, etc. etc. e, em
boa caligrafia, transpunha-se isso para uma estampilha e oferecia-se à pessoa desejada.
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verdadeiramente apóstolos, verão como tudo pode concorrer para
os fins não duma vã e humana glória e vaidade, mas do ministério
divino, da salvação das almas”.
Numa prática espiritual no Seminário, um conferencista ao
tentar sensibilizar o seu auditório no sentido de lhe despertar
interesse pela vida de estudo, mencionou as palavras de um
sacerdote francês, de passagem pelas ilhas, durante o verão:
“ao ver a quantidade e a qualidade dos livros das bibliotecas do
clero nestas ilhas, penso que esses homens devem ser pessoas de
pecado grosso”.
Os novos sacerdotes ordenados em 28/04/1963, pelo
prelado diocesano D. Manuel Afonso de Carvalho.
[174]
Os novos presbíteros ordenados pelo Bispo da
Diocese D. Manuel Afonso de Carvalho. 07/06/1959.
A FORMAÇÃO ACADÉMICA
Na capa da Sebenta, que naquela altura se comprava no Seminário para apontamentos, aparecia a seguinte transcrição do
Papa Pio XI, dirigida a um grupo de seminaristas a 24 de julho
de 1929: “... os alunos destas escolas de sacerdócio não devem
perder um átomo do tesouro, que lhes é oferecido. Recolham os
tesouros de ciência, quanto poderem, todos, mesmo a custo de
sacrifícios. Verão depois, em mil circunstâncias da vida, feitos
Parece ser razoável afirmar-se que a importância dada ao setor
académico era paralela àquela da formação cristã. Todos os
professores do Seminário eram sacerdotes, com exceção do
médico que regia o curso de Higiene e Medicina Pastoral – inicialmente o Sr. Dr. Hélio Flores Brasil e, posteriormente, o Sr.
Dr. Mário Lima. A grande maioria desses sacerdotes havia-se
formado na Universidade Pontifícia, em Roma. De uma
maneira geral, possuíam qualidades de liderança e uma visão
clara dos objetivos a seguir para a promoção do homem e da
sociedade. Eram dotados de inteligência e de uma cultura geral,
e específica nas suas áreas de estudo. Estavam, na realidade,
munidos com o equipamento necessário para a construção das
estruturas que garantissem um mundo melhor para o seu
semelhante.
Vários dos membros do corpo docente do Seminário publicaram livros de diferentes géneros literários e especialidades,
assumiram a redação de jornais, escreveram artigos para
revistas literárias e de cultura, proferiram conferências na rádio
(isto, antes da televisão chegar aos Açores), pregaram sermões
e orientaram diversas organizações como a Ação Católica,
Cursos de Cristandade, Escuteiros, Clubes locais de diversa
ordem e outras atividades congéneres. Foram, ainda, professores do Seminário que fundaram o Instituto Açoriano de Cultura e iniciaram as Semanas de Estudo, movimento de impacto
único na vida cultural dos Açores. A dois destes inovadores,
mais tarde, caber-lhes-ia a honra de serem, um, o fundador e
primeiro reitor da Universidade dos Açores – o Dr. José Enes
Pereira Cardoso, o outro, o Dr. Artur Cunha de Oliveira,
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NA DÉCADA DE 50 A 60
O Programa de estudos do Seminário estava dividido em três
cursos:
Alunos teólogos, participantes no grupo de teatro do
Seminário, no ano de 1958.
1º. O Curso de Preparatórios, do primeiro ao quinto ano.
Estudava-se: Religião, Português, Latim, Francês, Geografia,
Matemática, Ciências, Música, Urbanidade e Educação Física.
2º. O Curso de Filosofia, do sexto ao oitavo ano. Incluía as
seguintes matérias: Filosofia, Psicologia, Literatura, Latinidade,
Grego, Grego Bíblico, Hebraico, História Universal e Pátria,
Arte Sacra, Desenho e Música.
3º. O Curso de Teologia, do nono ao décimo segundo ano.
Nestes quatro anos cursavam-se as disciplinas de Dogma Fundamental, Dogma Especial, Moral, Sagrada Escritura, História
Eclesiástica, Direito Canónico, Sociologia, Liturgia, Casuística,
Ascética e Mística, Pastoral, Eloquência Sagrada, Canto Gregoriano, Música, Ação Católica e Higiene e Medicina Pastoral.
Numa certa altura, um dos prefeitos, mereceu o cognome de
Terror dos Infernos pela rigidez do seu semblante. Anos depois,
encontrei-o, já acabado pelos anos, na Dundas Street, em
Toronto. O senhor reconheceu-me e não sabia o que me havia
de fazer. Rebuscou os bolsos e disse: “eu pensava que tinha uma
estampa do Senhor Santo Cristo comigo, mas não tenho. Vou-te
dar o meu terço pessoal”. Vi-me obrigado a aceitá-lo devido à
insistência do senhor. Era um homem bondoso. Hoje, guardo o
terço na minha mesa-de-cabeceira.
Das segundas aos sábados, havia diariamente cinco tempos de
classe. Cada estudante tinha, em média, quatro ou cinco aulas
por dia. Havia duas horas de estudo antes do jantar, uma depois
do jantar e outra no dia seguinte, antes do pequeno-almoço,
num total de quatro horas de estudo para a preparação diária
das aulas. As horas de estudo eram feitas em silêncio, sob a
supervisão do prefeito. Só o prefeito ou o monitor, na ausência
daquele, poderiam dar autorização para um aluno sair da sala
de estudo, normalmente para utilizar o quarto de banho, ou ir
tomar duche num dos três dias estipulados para esse efeito, ou
ainda para ir à direção espiritual. Outras razões menos repetitivas poderiam justificar o ausentar-se da sala de estudo.
Segundo o costume da altura, o ensino seguia, mais frequentemente do que não, a fórmula dogmática da Idade Média do
“magister dixit”. Daí, o estudante ficar entregue a si próprio,
para resolver qualquer tipo de dúvida. Era apenas no curto
tempo de recreio que se recorria a um colega para se esclarecer uma questão. O Seminário era uma instituição de gente
visivelmente ocupada. Além das aulas do Seminário e de outros
envolvimentos na sociedade angrense, alguns professores davam aulas no Liceu ou então explicações particulares. Há que
recordar que o corpo docente do Seminário era bastante mal
remunerado. Os superiores nunca se negavam a auxiliar um
estudante, mas sabia-se que eles estavam demasiadamente
ocupados. Os seminaristas, por seu turno, tinham as mãos
cheias com a preparação das aulas, ensaios de música, ensaios
[175]
eurodeputado pelos Açores. A mundividência destes homens
sacerdotes e professores do Semináio, de então, era reconhecida e respeitada pelo público angrense e açoriano e era considerada progressista, equilibrada, justa e promotora do bem
comum e da causa cristã. Foram pedagogos deste calibre que
presidiram à orientação académica do Seminário dos anos 50 e
60. Não era invulgar ouvir-se dizer que o Seminário era a
universidade dos Açores daquele tempo. Na verdade, lembro-me de um professor de Teologia dizer, ao dar as provas da
divindade de Cristo: “dei-vos absolutamente tudo o que aprendi
na Gregoriana, em Roma”.
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Monsenhor José Pereira da Silva, ladeado pelos reitores do
Liceu e Escola Industrial, preside ao Sarau Músico–Literário
em louvor de São Tomás de Aquino, a 15 de março de 1959.
[176]
Orfeão do Seminário, sob a regência do maestro Dr. Antonino Tavares,
na Festa de São Tomás de Aquino, realizada a 15 de março de 1959.
de peças de teatro, construção do presépio do Natal, assistência na organização da biblioteca, eventos especiais, uma
missa de funeral, etc.. Não havia tempo para desperdiçar. A
palavra “aborrecimento” não existia nos lábios de ninguém. De
resto, era-se incitado a ler livros ou revistas relacionadas, ou
não, com os estudos.
A aprendizagem não se cingia apenas à sala de aula. Desta maneira, ocasionalmente havia um passeio de estudo, ouvia-se
conferencistas a discorrer sobre variados temas. Havia Academias Literárias em que se apresentavam trabalhos sobre uma
obra, um autor, ou uma corrente literária ou filosófica. Ainda
conheci as Sabatinas (do Latim, Sabbatum, “sábado” porque
tomavam lugar num sábado), nas quais se apresentava uma tese
e, de acordo com um protocolo, se debatiam os argumentos a
favor e contra. Lembro-me de se visitar os Laticínios, o liceu da
Base Aérea – tudo sempre no intuito de aprender algo de novo.
A festa de maior projeção do Seminário, para o público, era a
Festa de São Tomás de Aquino, à volta de 7 de março. Havia um
Sarau Músico-Literário, em que um seminarista, orador principal, apresentava um trabalho da sua investigação, praticamente
sobre qualquer tópico - filosófico, teológico, histórico, ou sociológico. Havia música instrumental e coral com o Orfeão do
Seminário executando composições de renome sob a direção
dos Doutores Antonino Tavares e Edmundo Machado de Oliveira, em datas diferentes. Individualidades, de alta distinção na
sociedade angrense, marcavam com agrado pessoal, a sua presença, nesse dia. O prelado diocesano, D. Manuel Afonso de
Carvalho, cujas visitas ao Seminário eram raras e de aparente
inconsequência, presidia à cerimónia, ladeado pelos reitores do
Liceu e da Escola Industrial, por muitos anos, respetivamente os
senhores Dr. Eliseu Pato François e Dr. Victor Magalhães.
Através da organização de São Vicente de Paulo, visitavam-se
pobres e prisioneiros. Os Escuteiros também exerciam um papel de grande atividade naquela altura.
O sucesso da vida académica do Seminário, na época a que me
refiro, deve-se essencialmente a dois fatores: primeiro, à visão
global das coisas, do mundo, e das situações, por parte dos
membros do corpo docente. O seu inconformismo com o
status quo e a sua determinação e urgência em produzir mudança. As coisas não eram para se fazer. Faziam-se hic et nunc.
Segundo, a motivação, disciplina e ambiente de estudo criados
à volta do estudante seminarista. Em dezembro de 2008, Onésimo de Almeida, em discurso de homenagem ao Monsenhor
José Machado Lourenço, referiu-se ao corpo docente do Seminário dos anos 60, como “magnífico”. Na realidade, muitos
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NA DÉCADA DE 50 A 60
indicadores sugerem que havia um sistema de educação ideal,
onde informação se transformava em conhecimento e conhecimento em sabedoria.
O LATIM
Desde a manhã do primeiro dia, em que o menino foi despertado, em Latim, com as palmas estridentes e a voz rouca do padre prefeito, com o Benedicamus Dominum, até ao dia da saída
do Seminário, o Latim foi parte integrante da sua vida diária.
Estudou-se a língua nas suas estruturas linguísticas. Traduziram-se autores clássicos e, ano após ano, muitos dos compêndios
de texto, em várias disciplinas, eram escritos em Latim. Ainda
disponho de alguns destes livros para autenticar esse ponto:
*Os compêndios de Filosofia: Cursus Philosophiae, Carolus
Boyesr, S.I., Volumen Primum e Volumen Alterum.
*Compêndios de Teologia: Sacrae Theologiae Summa, Vol. I.
Introductio in Theologiam. De Vera religione. De Ecclesia Christi.
Alunos do Curso de Filosofia, no ano de 1959. Ao centro,
vê-se o Sr. Vigário Geral, Monsenhor José Pereira de Silva.
À direita o professor de Filosofia, Dr. Caetano Tomás e, à
esquerda, o reitor do Seminário, Cónego Jeremias da
Rocha Simões.
[177]
No escopo deste trabalho, não me cabe especificar as várias
maneiras como muitos dos professores desta época se distinguiram quer no setor académico, religioso, literário, media ou
social. Tal tarefa poderia ser objeto de outro artigo. Contudo,
gostaria de deixar uma lista daqueles que conheci no Seminário
nos anos 1954-1963. Como não fui aluno de todos, corro o
risco de omitir alguns nomes. Todos eles eram sacerdotes. Em
ordem alfabética: Jacinto da Costa Almeida, José Maria de
Almeida, José Batista, Augusto Cabral, José Enes Pereira Cardoso, Francisco do Carmo, David Botelho do Couto, Artur
Pacheco Custódio, Valentim Borges de Freitas, Artur Goulart,
José Mendonça de Lima, José de Oliveira Lopes, José Machado
Lourenço, Horácio da Silveira Noronha, José Nunes, Artur
Cunha de Oliveira, Edmundo Machado de Oliveira, José
Augusto Pereira, Manuel Medeiros Pereira, Caetano Valadão
Serpa, António Pereira da Silva, José Pereira da Silva, Jaime Luís
da Silveira, Jeremias da Rocha Simões, Manuel Coelho de
Sousa, Francisco Caetano Tomás, Agostinho do Couto Tavares,
Antonino do Couto Tavares, Francisco Vitorino de Vasconcelos
e Américo Caetano Vieira.
De Sacra Scriptura e Vol. II. De Deo uno et trino. De Deo creante
et elevante, P. Iosepho M. Dalmau, S. I. e P. Iosepho F. Sagüés, S. I..
*O Compendio de Teologia Moral: Manuale Theologiae Moralis,
Secundum Principia S. Thomae Aquinatis, Dominicus M. Prümer O.
P., Tomus I..
*A Gramática de Grego Bíblico: Graecitas Bíblica, Maximiliano
Zerwick S. J., Editio Quarta Aucta et Emendata.
*A Gramática para o estudo do Hebraico: Elementa
Grammaticae Hebraicae, Italu Pizzi.
*Compendio de Direito Canónico: Compendium Iuris Publici
Ecclesiastici, Laurentius R. Sotillo, F. Regatillo, S. I..
Esses são alguns dos títulos a que de momento tenho acesso.
Num aparte, gostaria de acrescentar que tudo isto poderá realmente ser latim e grego para alguns leitores no estado presente
de coisas, mas a verdade é que o Latim, língua morta, continua
vivo em várias instituições seculares de ensino, por este mundo
fora, quer ao nível secundário, quer ao nível universitário. Eu
próprio lecionei-o no liceu de Stoughton, em Massachusetts,
por vários anos e, de momento, ensino-o ao nível superior, no
Stonehill College, universidade situada em Easton, também no
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Voltando ao Latim no Seminário, é fácil de concluir que com
tanto compêndio em Latim, não só em linguística como em
Filosofia, Teologia, Moral e Direito, a língua tornava-se, se não
uma segunda natureza, pelo menos um recurso de aprendizagem absolutamente sine qua non.
Jovens seminaristas, a seguir ao almoço, jogam ao futebol no
campo dos miúdos, voltado para a Rua do Rego. Ano de 1955.
Os estudantes, que frequentaram o Seminário, incorporavam o
Latim na sua linguagem e escrita diárias, como meio natural e
espontâneo de expressão, desde que a língua latina, para quem
se habitua a ela, tem um poder de expressividade único e
insubstituível. Algumas expressões comuns serão estas: a priori,
a posteriori, ab initio, ab ovo, bona fide, culpa lata, mea culpa, de
facto, de iure, ex libris, in loco parentis, inter alia, ipso facto, iusta
causa, mala fide, modus operandi, per annum, per capita, per se,
persona non grata, pro forma. Como é bem sabido, muitas dessas expressões ainda são usadas em Jurisprudência.
[178]
O pregador, no púlpito, séculos depois do Padre António
Vieira, concretamente, nos anos 50 e 60, começava o sermão
com uma citação em Latim, ao ponto de pessoas que nunca
haviam estudado essa língua, com mais ou menos precisão,
reconheciam algumas destas frases. Por exemplo: Ego sum pastor bónus. Ego sum lux mundi. Tu es Petrus et super hanc petram
aedificabo Ecclesiam meam. In principio erat Verbum et Verbum
erat apud Deum et Deus erat Verbum. In principio creavit Deus
caelum et terram. Dixit Deus, “Fiat Lux,”et facta est lux. Et creavit
Deus hominem ad imaginem Suam.” Tu es Christus, Filius Dei vivi.
Seminaristas, a seguir ao almoço, jogam ao futebol no
campo adjacente à Rua do Rego. Ano de 1955.
estado de Massachusetts. Já tive o prazer de assistir ao concerto anual de Natal dado pela Faculdade de Línguas Clássicas da
Brown University, na cidade de Providence, RI. Tudo se passou
em Latim e Grego: as apresentações, os agradecimentos, leituras bíblicas referentes ao nascimento de Cristo e as canções
próprias da época, incluindo a dos Doze Dias de Natal.
Ainda nos dias de hoje, os que estudaram Latim preferem fazer
algumas citações nessa língua: Homo homini lúpus. Bonum
faciendum est malumque evitandum. Cogito, ergo sum. Sum, ergo
cogito. Ars longa, vita brevis. In vino laetitia est. In vino veritas.
Dura lex, sed lex. Pares cum paribus facillime congregantur. Carpe
diem. Alea jacta est. Havia um axioma que era frequentemente
usado para explicar, o que talvez fosse inexplicável, quer em
Filosofia quer em Teologia: “Entia non sunt multiplicanda sine
necessitate”. - Os que uma vez aprenderam a orar em Latim,
preferem-no fazer assim, se não por uma vida inteira, ao
menos, por algum tempo.
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NO SEMINÁRIO DE ANGRA
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[179]
Jovens seminaristas, na hora de
almoço, jogam ao futebol no campo
dos miúdos, voltado para a Rua do
Rego. Ano de 1955.
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No Seminário, também se procurava a natureza e sítios fora da
azáfama das multidões. Ia-se para o Porto Pipas, o Cais da
Figueirinha, o Relvão, o Monte Brasil, Silveira, Pico da Urze, São
Carlos, São Mateus, Terra Chã, Memória, etc.. Com uma certa
subtileza, convinha-se a mensagem de que o centro da cidade
e o jardim serviriam mais como pontos de passagem e não
como um destino.
Equipa de futebol na cratera do Monte Brasil.
15/05/1959.
[180]
A cultura greco-romana e respetivas línguas eram parte essencial da formação e estruturação da mente do jovem seminarista
de tempos passados, incluindo a década dos 50 aos 60, no
Seminário de Angra.
OS PASSEIOS, ENTRETENIMENTO,
DESPORTOS E GINÁSTICA
Muito do que se conhece da vida de Jesus sobre a Terra
passou-se em contato com a natureza. Foi batizado nas margens do Rio Jordão. No Monte das Bem-Aventuranças, proferiu o famoso sermão da montanha, amplamente conhecido
pela sua espiritualidade. Jejuou no deserto. Transfigurou-se no
Monte Tabor. Sofreu a sua paixão no Monte das Oliveiras.
Morreu no Monte Calvário. Acalmou o mar e caminhou sobre
as suas águas. Já na filosofia oriental, a natureza surge como um
karma tranquilizante. Muitos hão subido os montes Himalaias
em busca de sossego e paz de espírito. Na era moderna, vai-se à SPA (do Latim, Sanus Per Aquam) para suavizar o espírito.
Lugares movimentados, como aeroportos, hoje em dia,
proveem um quarto para meditação (the meditation room). O
homem – mesmo o homem de negócio – tem que se
encontrar consigo mesmo, no silêncio de algum lugar, para se
concentrar e produzir.
Nos primeiros anos, ocasionalmente, passava-se um dia na
cratera do Monte Brasil, jogando futebol e outros desportos ou
jogos. Uma vez no ano, dava-se um passeio de camioneta à
volta da ilha. Poder-se-ia entrar na Base, no campo do golfo, ou
passar algum tempo na mata da Serreta. A visita a uma igreja
era coisa bastante ortodoxa. Raramente acontecia que o pároco duma freguesia distribuísse uns figos passados com uma
aguardente ou vinho do Porto, mas quando isto acontecia era
mesmo um figo. Aqui, recordo-me do Sr. Pe. Inocêncio, da freguesia dos Altares.
Procurava-se assitir a qualquer atividade considerada cultural.
Às vezes, via-se um filme de ficção científica ou de caráter humorístico. Filmes como Os Dez Mandamentos, a Vida de Cristo
e o Cardeal eram legais. Uma sessão de Ilusionismo era sempre
bem-vinda, quando aparecia.
De resto, durante as férias do Natal e da Páscoa, o levantar
meia hora mais tarde, passear mais e ter menos horas de estudo ao som de música clássica vinda de um gira-discos colocado
sobre a secretária do padre prefeito, era um privilégio. Ainda
pelo Natal e pela Páscoa, permitia-se a compra de uns chocolates, figos passados, passas, ou amêndoas, e isso já constituía
um paliativo agradável. Essas guloseimas eram compradas pelo
padre prefeito que administrava o dinheiro de cada seminarista,
já que este não podia ter dinheiro em sua posse, fosse qual
fosse a sua idade.
Um momento de grande alegria, para todos, era a Consoada.
Havia três refeitórios – um para os superiores, outro para os
teólogos e outro conjuntamente para os Médios e Miúdos. Na
Noite da Consoada, comiam todos juntos no mesmo refeitório.
O ambiente era familiar e festivo e a ementa satisfazia qualquer
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NA DÉCADA DE 50 A 60
Num passeio à volta da Ilha – 1957.
Passeio de estudo ao Monte Brasil orientado
pelo Te. Coronel José Agostinho.
Almoço nas imediações da Praia da Vitória,
num passeio à volta da Ilha, em 1958.
[181]
Seminaristas numa peça de teatro
finais dos anos 50.
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paladar. Por um lado, estava-se em casa, mas por outro lado, o
lar pairava na mente de muitos. Certamente não haveria brinquedo de Natal para o menino...
No setor de desportos, havia uma hora e meia diária para esta
prática, a seguir ao almoço. Havia três campos, respetivamente
para os Miúdos, Médios e Teólogos. O futebol, o voleibol e o
basquetebol eram as modalidades básicas. O futebol era sempre o desporto rei. O Seminário tinha uma equipa excelente de
voleibol e chegou a competir, em campeonato, com o liceu, no
Law Tennis Club. Eram jogos renhidos que entusiasmavam ambas as instituições e demais assistência. O uniforme da equipa
do Seminário consistia de calça preta e camisa branca.
[182]
Assistir a um desafio de futebol no campo de jogos era um
acontecimento especial. Geralmente, via-se as duas equipas
principais: Lusitânia-Angrense. Também se via jogos com equipas do continente ou de São Miguel. Houve uma altura, em que
se ia ver hóquei em patins.
Quanto à educação física, passou-se por várias fases. A princípio, não existia. Depois, em alturas diferentes, os professores
do Liceu e da Escola Industrial, respetivamente Nuno Pais e
Jorge Tavares da Silva, passaram a dar aulas duas vezes por semana. Mais tarde, a aula de ginástica era conduzida por um dos
prefeitos com mais preparação física.
DENTRO DO MURO
Estava-se no mundo, mas não se era do mundo. Falava-se numa
linguagem correta e própria. Não havia palavrões. Os colegas
eram rapazes e os professores eram homens – a presença
feminina era inexistente. Por ordem da campainha (a cabra),
cumpria-se um horário meticulosamente calculado em todas as
suas partes. Celibatários para a vida, por exigência das tarefas
da Vinha, teriam que estar devidamente sincronizados com o
seu Mestre. Assim: Orações da manhã. Orações da noite. Missa
e comunhão diárias. Confissão semanal. Retiro e direção
espiritual mensais. A divindade incarnada, mas invisível, rodeada
de Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins. Indumentária, em
que cada peça tinha um significado simbólico: amito, alva,
cíngulo, manipulo, estola, casula, barrete e dalmática. A um
nível de maior participação no sacerdócio (penso que esta é a
terminologia apropriada): solidéu, mitra e báculo. Utensílios e
acessórios específicos: manutérgio, corporal, galhetas, cálice,
píxide, custódia, naveta, turíbulo, incenso, velas e pateta. Tudo
isso servia um culto que tinha vários graus de ordem: prima
tonsura, ostiariato, leitorado, exorcistado, acolitado, subdiaconado, diaconado e presbiterado, por sua vez sujeito a uma
hierarquia – presbítero, bispo, cardeal e papa.
A vida de piedade aprendida e vivida no Seminário seria a arma
de defesa para o presbítero, quando só, sem estrutura alguma,
nem o toque da campainha, se encontrasse no povoado do seu
múnus apostólico. Uma outra arma levava ele consigo – a leitura
do breviário que o podia acompanhar em cada hora do dia. O
breviário tinha 8 momentos de oração durante o dia, mas com
as reformas do Concílio Vaticano II, passou a designar-se Liturgia
das Horas e os momentos de oração foram reduzidos a cinco:
Ofício de Leitura, Laudes, Hora Intermédia, Vésperas e Completas.
Portanto, cinco horas durante o dia, em que o presbítero se
pode alimentar de orações e leituras que o mantenham em
união com a divindade e o coloquem na situação de Cristo, em
união com a sua Esposa – a Igreja.
Assistia-se a uma liturgia primorosamente elaborada e com rico
conteúdo espiritual. A música era sublime e bem executada.
Fora da capela, ouviam-se os clássicos: Haendel, Bach, Haydn,
Mozart, Beethoven, Schubert, Chopin, Schumann, Berlioz,
Mendelssohn, Brahms, Liszt, Strauss, Wagner, Rossini e muitos
outros. Compuseram-se peças que continuam a fazer parte do
álbum musical sentimental de quem pisou o chão do Seminário.
O canto gregoriano ainda ressoa com um timbre que nem toda
a gente descodifica. A Missa de Requiem, de Mozart, por uma
vida inteira, satisfará a sensibilidade musical desenvolvida nos
anos de Seminário. Alguma música popular açoriana também se
catalogou no reportório musical do seminarista de então. Estudantes músicos escreveram composições não só de música sacra como também de música folclórica.
Um dos cânticos que se cantava, por altura da comunhão, continha uns versos que traduzem a amizade fraterna que se sedi-
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BENEDICAMUS
DOMINUM
NO SEMINÁRIO DE ANGRA
NA DÉCADA DE 50 A 60
Nesse mesmo contexto, recentemente, o escritor, poeta e livreiro da livraria Culsete, em Setúbal, Manuel Medeiros Pereira, sob o pseudónimo de Resendes Ventura, em Papel A Mais,
livro publicado em 2009, escreveu o seguinte: “... estive em
Angra do Heroísmo. Não vir referi-lo aqui? Um momento tão bom?
E a alegria que de lá trouxe para os meus dias de Culsete? Portanto,
está tudo certo. Fui comemorar com os colegas o fim do nosso
curso. 1958-2008, cinquenta anos. Crianças no primeiro ano em
1946 e agora eu, tão velho, a ser ali o mais novo... Dispersos pelo
mundo, alguns não os via há cinquenta anos. A alegria de sentir que
os colegas eram pessoas tão boas e tão válidas, todos com obra
feita e mesmo excecional... Acima de tudo, o banho de fraternidade. Compreende-se. Fizemo-nos juntos de crianças a homens
e num ambiente de grande qualidade.” (p. 225).
Em face do que acabamos de dizer, o seminarista no Seminário,
viveu uma vida que, em si mesma, independentemente do
Sacramento da Ordem, imprimiu caráter – um caráter sui
generis. Na situação de “ex”, seja ex-seminarista ou ex-padre,
reconhece-se essa postura.
eclesiástica e passou a ser de sabor mais secular. A vida não é
regulamentada pelo toque da sineta. O sustento pessoal cabe
ao ex-seminarista – já tem idade de o prover, mas conseguir
emprego não é fácil. De passagem por Lisboa, um antigo aluno
do Seminário, então estudante de uma das faculdades, informou-me da enorme dificuldade financeira porque estava passando e das necessidades que enfrentava. Outro dilema a considerar era o da guerra em três fronteiras. De um momento para
o outro, desfizeram-se as estruturas e o seminarista do dia anterior, no dia seguinte na situação de “ex”, passa a ser o único
orientador do seu destino.
Os pontos de referência são outros. Antes, segundo as instruções recebidas, se um dia alguém precisasse de alguma coisa
devia dirigir-se ao pároco da freguesia. Agora, ou dirigimo-nos
a um estranho ou entramos num café. Os cafés são uma nova
experiência.
No entretanto, o mundo revela-se bom. Fazem-se boas amizades. Encontra-se gente boa, de princípios e bem formada. Que
sorte! Mas também se encontram outros filósofos de teorias
tão complexas como perplexas. Uma vez, com a minha entrada
no mundo, um homem casado, pai de vários filhos, meu vizinho, começou a falar comigo e acabou por me dizer: “O senhor
tem que saber o que é a vida. Vocês não sabem o que é a vida.
Gostava que fosse dar uma volta comigo, depois do jantar, num dia
destes”. Seguro, eu, da nulidade da alquimia desse cavalheiro,
anuí ao convite. Chegado o dia, lá me levou para a Rua dos
Quatro Cantos, por onde havia passado centenas de vezes, em
rumo ao Relvão ou Monte Brasil. Sem me dizer nada, de olhos
meios fechados, pôs-se o homem a olhar para o fim da rua, por
cerca de uns dez minutos. Não se viu nada. Nada. Nenhuma
atividade. No rosto do homem transparecia a desilusão da
pretendida lição.
FORA DE MUROS
Já se está no mundo, mas não se é do mundo ainda. As estruturas de vida espiritual são necessariamente outras. O diretor
espiritual que ocasionalmente dizia que a porta se abria em dois
sentidos, despedia-se do seu aconselhando, desejando-lhe muitas felicidades. Aí ficara cortado o cordão umbilical da filiação
espiritual. De resto, já não se está para ser padre. Contata-se
com gente de ambos os sexos. A linguagem deixou de ser
Lição número 2. Um dia, à noite, ia a subir uma rua na cidade
e lá estava um indivíduo que eu conhecia do funcionalismo público. Dei-lhe a boa noite e, para ter alguma coisa que dizer,
perguntei-lhe: que fazes por aqui? Respondeu-me: “Estou aqui
a ver se dou umas palmadas nas nádegas de uma gaja”. Como
não tinha suficiente background para digerir a resposta, comecei
a matutar no conteúdo da mesma.
[183]
mentou entre os colegas durante os anos de Seminário: “Quanta paz e quanto bem, quanta alegria nos vem de vivermos como
irmãos”. Antes do Natal de 2008, o curso do Seminário de
1958, reuniu-se em Ponta Delgada, São Miguel, para celebrar
50 anos de entrada para o Seminário. O jornalista José Gabriel
Ávila escreveu no seu blogue: “De há cinquenta anos para cá,
perdura, entre muitos de nós, uma amizade profunda, como se da
mesma família fôssemos, cimentada nas lágrimas que, ao fim e ao
cabo, todos choramos, e nos valores humano-cristãos que fomos
aprofundando e experienciando”.
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Lição número 3. Estando eu em vias de entrar para o serviço
militar, travei conhecimento com um capitão que tinha acabado
o curso de oficiais milicianos, em Mafra. Depois da devida informação acerca do que se passava em Mafra, começou a falar-me
da vida em Lisboa. Não falou de nada cultural. Contou-me
então a aventura de se ter encontrado “com uma gaja que tinha
os seios tão firmes, que quando estavam sentados em lados opostos da cama, e ela soltou o último colchete do soutien, este respingou-lhe para a cara com grande impacto”. Fiquei eu a olhar
para o capitãozinho, oriundo das Ilhas de Baixo, bem certo da
minha ignorância em anatomia feminina.
Lição número 4. Um amigo meu, ex-padre, estava a paroquiar
numa paróquia, numa das ilhas dos Açores. Num dia de verão,
sol forte e as portadas das janelas fechadas, uma paroquiana,
conhecedora do passal, entra pela porta da cozinha, arrasta o
padre para o quarto de cama e despe-se. O reverendo desmaia
ao enfrentar um cenário desconhecido.
[184]
E assim era. Num dia, despiam-se e vestiam-se as calças debaixo dos lençóis. No dia seguinte, desaparecia todo o pudor e
aparecia-se completamente nu, diante de uma junta militar,
constituída pelo médico, comandante de batalhão e capelão
militar. Aprovado para todo o serviço! Dias depois, na Escola de
Cadetes de Mafra, que havia sido um convento onde monges
certamente caminhavam em hábitos compridos, uma vez mais,
se deixava cair toda a roupa, para mais um exame médico. Tudo
bem.
A marcha de vida, no Exército, também era bastante diferente.
Havia uma bíblia nova – o Regulamento de Disciplina Militar
(RDM). A hierarquia, num escalão ascensional de postos, era
diferente também. Os compêndios de Filosofia e Teologia haviam
sido substituídos por títulos como estes: Manual do Oficial
Miliciano (1º. vol., 2º. vol.), Manual de Educação Cívica e Militar
para uso nos Cursos de Oficiais e Sargentos Milicianos, Espingarda
Mauser, Espingarda Automática, a G-3, Pistola Metralhadora, Pistola
Walther, Metralhadora Ligeira, Granada de Mão e “Energa”,
Granada de Mão Ofensiva, Granada de Mão Defensiva, Lança
Granadas-Foguete, Instrução Elementar de Serventes de Canhão,
Instruções para o emprego do Emissor-Receptor AN/GRC-9, Reacção
a Emboscadas, Exploração das Transmissões, Instrução Individual do
Combatente pela Imagem, Secção e Pelotão de Caçadores, Generalidades/Cartas/Planimetria/Altimetria/Declives, Fotografia Aérea,
Instrução de Contra Guerrilha, Análise de Crateras/Morteiros, Tiro de
Pontaria Instintiva, etc..
As palmas do despertar pela manhã, com a simples prece
“Benedicamus Dominum”, agora eram substituídas pelo som da
trombeta, se bem que uma hora mais tarde. A linguagem, de
vez em quando, era diferente: “porra, filho da puta, sacana de
merda, seu caralho”. Na parada do Antigo Convento de Mafra,
o alferes dava as suas ordens de comando para um passo de
marcha mais vivo e acelerado: abram a vagina!
Quero deixar aqui registado que de maneira nenhuma menosprezo a minha experiência no Exército Português, onde como
alferes miliciano de Infantaria, fiz serviço militar na antiga Guiné
portuguesa, por um período de 21 meses. Aí, encontrei colegas
bastante cultos, naturalmente bons, com quem ainda hoje me
correspondo e recordo com saudade.
Fora de muros, havia novidades, algumas delas tão simples
como: ir ao cinema com uma rapariga, ver-lhe o fundo da mala
de mão e vê-la puxar pelo batom e retocar os lábios ou pegar
na maquilhagem para arranjar os olhos.
Será possível, algum dia, que o homem novo se dispa do
homem velho? A resposta poder-se-á encontrar em “Aventuras
De Um Nabogador”, de Onésimo Teotónio Almeida, antigo
aluno do Seminário de Angra nos anos 50 e 60, professor universitário nos Estados Unidos e autor de uma vastíssima obra
literária. Nos fins da década de oitenta, o escritor descobre a
ficção de David Lodge – o romance académico. Então,
Onésimo confessa as suas tentações por este género de
literatura: “Antes de conhecer o ramo, tive eu próprio tentações de
incluir alguns contos baseados em experiências pessoais...Narrar
essas histórias na primeira pessoa parecia-me, no mínimo, eticamente dúbio, e por variadíssimas razões...seria preciso incluir a linguagem crua a que ainda não me habituei, por mais banal que se
tenha tornado a ficção contemporânea”. Referindo-se a uso de
fucks e quejandos, sem complexos, na literatura de David Lodge,
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BENEDICAMUS
DOMINUM
NO SEMINÁRIO DE ANGRA
NA DÉCADA DE 50 A 60
O firmamento era o mesmo, mas a paisagem havia mudado. Na
rádio, ouviam-se outras estações de música. Entrava-se numa
sala de baile ... com o passo trocado ... De qualquer modo,
“Deus, vendo toda a Sua obra, considerou-a boa. Assim, surgiu a
tarde e, em seguida a manhã: foi o sexto dia.” (Gen.I,31). Continua:
“O Senhor Deus disse: «Não é conveniente que o homem esteja
só: vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele»” (Gen. II, 18). “E
aparece a mulher: «Da costela que retirara do homem, o Senhor
Deus fez a mulher e conduziu-a até ao homem». (Gen. II, 22). Terá
sido nesse mesmo espírito que a mente celibatária do passado
procurou a sua complementaridade.
O HOMEM E O PROFISSIONAL
O ex-seminarista/ex-padre havia alcançado um plateau de
consistência ideológica dificilmente neutralizável por simples
trivialidades. Se bem que o período posterior à saída do Seminário fosse um tempo de adaptação, descoberta e alguma luta,
descortinava-se, simultaneamente, um mundo de possibilidades. A luz de um ideal superior continuava a cintilar. Deus continuava a ser Pai e a natureza seguia os seus melhores instintos.
Parece que havia um contingente de pessoas prontas a assistir-nos e a desejar-nos bem. Já que se tinha mudado de rumo na
vida, agora o objetivo principal era o conseguir uma carreira
dignificante e de acordo com o muito que se havia aprendido.
Era gratificante sentir-se que culturalmente se estava ambientado por onde quer que se caminhasse. Por outro lado, criança
que havia saído de casa em tão tenra idade parece ter adquirido
um grande poder de adaptação e resistência. É assim que, hoje,
vemos o ex-seminarista e o ex-padre do Seminário de Angra
espalhados por todas as partes do globo, nas mais variadas profissões.
ensino superior em que se matriculasse. Hoje, nos Açores,
Portugal Continental, Europa, África, América do Norte e do
Sul encontra-se uma miríade de profissionais formados em
universidades nacionais e estrangeiras que foram antigos alunos
do Seminário de Angra do Heroísmo. A maioria destes profissionais dedicou-se e dedica-se ao ensino aos três níveis: elementar, secundário e universitário. Esta incidência profissional
parece conjugar-se com a preparação académica de todo o aspirante ao sacerdócio. O professor Francisco Cota Fagundes,
da Universidade de Massachusetts, em Amherst, numa conferência realizada na Brown University, na primavera de 2008,
afirmou que uma área que ainda não está devidamente estudada é a do impacto dos ex-seminaristas de língua portuguesa no
âmbito cultural americano – (parafraseando).
Não obstante o ensino ser a profissão que atraiu um maior
número de antigos alunos do Seminário, há um grupo de profissionais que seguiu diferentes carreiras: política, advocacia, enfermagem, assistência social, comunicação social (rádio, televisão e imprensa), administração escolar, pública e empresarial.
Muitos deram um grande contributo às respetivas áreas profissionais. Há os que são líderes comunitários de impacto substancial. Há os escritores a diferentes níveis – literário, filosófico
e teológico. Há ainda os que se distinguem no campo da música. Já muitos daqueles que desistiram do sacerdócio deixaram
atrás de si uma obra que, ainda hoje, quarenta ou cinquenta
anos mais tarde, merece palavras de carinho e apreço por parte
dos seus antigos paroquianos ou alunos.
Poder-se-á dizer que se a realização pessoal equaciona a
realização profissional, está-se em face de um grupo de indivíduos realmente feliz. O que foi o Seminário de Angra em décadas anteriores, o rumo que seguiram muitos dos que lá estiveram, as diferentes partes do mundo que trilharam e a obra deixada por onde passaram é trabalho que ainda está por registar.
APÊNDICE
O problema da equivalência de estudos dependia não só do número de anos de Seminário que o aluno tivesse, mas também
do país em que continuasse estudos e ainda da instituição de
Mutatis mutandis, ao terminar este artigo, faço minhas as palavras do Cónego J. A. Pereira, no seu livro “O Seminário de Angra – Esboço Histórico”, 1958, pp. 42-44: “A fechar este esboço
[185]
Onésimo escreve: “Mas eu não me atreveria nunca a contar as
cenas de uma aluna que usou o termo comigo em convite imperativo a sangue quente – ainda o politicamente correcto não existia
e os anos sessenta se prolongavam nos finais da década seguinte”.
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histórico, julgamos não haver melhor documento do que o hino do
Seminário, festivamente cantado por tantas gerações, e que é da
autoria do então seminarista António Francisco de Melo, natural
da freguesia de S. Pedro do Nordestino, na ilha de S. Miguel, o qual,
depois de paroquiar, por poucos anos, na sua Ilha, foi para o Brasil,
onde faleceu há cerca de 20 anos, no seu campo de apostolado.
Há la fora paixões e ignorância
que, nas almas as trevas produz;
dás levitas esp’rados com ânsia
que desparzem, nas trevas, a luz.
Vai a nuvem mui ténue e ligeira
engrossar-se no pêgo sem fim,
“A Música deste Hino é do secular, muito distinto músico, Pedro M.
de Alcântara”.
para vir fecundar a clareira:
como a nuvem, são eles assim.
Seja o filho plebeu, seja o nobre,
do festim ou da dor todos vem;
HINO DO SEMINÁRIO
mas depois, já nem rico nem pobre
distingui-los não sabe ninguém.
[186]
Se há grandeza, no mundo, é aquela
É assim que teu código ensina
que surgiu sob o influxo dos céus;
que mais alta riqueza não há
é por isso que és grande e que és bela,
que a ciência que a mente ilumina
Casa santa, mimosa de Deus.
e a virtude que a glória nos dá.
Exultai nobres filhos da ciência,
Não importa que o ímpio descante
que da Fé recebeis o vigor!
da vitoria seu hino infernal;
Consagrai toda a vossa existência
que tu mandas marchar para avante
aos combates da Cruz do Senhor!
cada ano uma leva marcial.
Como um astro que ri de bonança
Abençoada, mil vezes bendita
através do horizonte, sem luz,
seja a mão que do nada te ergueu!
assim, tu és a doce esperança
Abençoado quem hoje te excita
dos que vivem à sombra da Cruz.
os auxílios da terra e do Céu!
Arrancados aos braços convulsos
Aos murmúrios da brisa ou da onda
Tenros filhos demandam teu lar;
destas plagas que envolve o Açor,
aqui tomam vigor em seus pulsos
se misture o teu nome e responda
com que irão para o mundo lutar.
cada qual com mil preitos d’amor.
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Nuno Nabais
A FÁBRICA DE
BRAÇO DE PRATA
EM LISBOA.
CONTORNOS
*Este artigo respeita a grafia anterior ao Acordo Ortográfico.
Ninguém sabe muito bem o que a Fábrica é. E isso tem sempre
jogado a favor do que lá acontece. Logo no plano dos seus contornos físicos. A Fábrica de Braço de Prata é um edifício meio
abandonado, vestígio do lugar da administração da antiga fábrica de material de guerra, com 12 salas mutantes, que tanto são
salas de concerto, como galerias de arte, gabinetes de curiosidades, estúdio de cinema, atelier de artes plásticas, oficina de
ourivesaria, loja de roupas usadas e de outras coisas a usar, salas
de jantar, bar, ou simplesmente livrarias. Mas também é um
imenso muro exterior, que desenha por fora um terreiro, e
onde várias camadas de graffiti se têm vindo a depositar como
películas de memória. Também foi uma tenda de circo durante
dois anos, onde houve concertos, feiras, performances e acrobacia aérea. E também é uma esplanada enorme, lugar para
espectáculos de teatro e circo, concertos de verão, e jogos de
bola para crianças em domingos à tarde. Durante 3 anos a
Fábrica cedeu três salas da cave à artista Teresa Carneiro, que
ali criou uma galeria exclusivamente dedicada ao desenho.
Todos os meses eram ali apresentados trabalhos novos, alguns
deles construídos no lugar em regime de residências artísticas.
Os artistas não foram apenas locais. Graças a um protocolo
com os serviços culturais ingleses, perto de 30% das expo-
[187]
APRESENTAÇÃO DE UM CASO
DE SOBREVIVÊNCIA DE UM LUGAR
DE ARTE E PENSAMENTO
QUE NUNCA RECEBEU
UM ÚNICO CÊNTIMO
DE SUBSÍDIOS*
OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 188
sições dos Espaços de Desenho tiveram uma tonalidade menos
meridional. Os Espaços de Desenho organizaram também
workshops, conferências, projecções de documentários, pequenos debates sobre a arte das linhas e das sombras. Dois
outros lugares são dedicados à construção de objectos novos.
O atelier da artista plástica Joana Villaverde e a oficina do
escultor Miguel Figueiredo. São artistas residentes quase desde
a fundação da Fábrica. Regularmente apresentam os seus trabalhos nas exposições que a Fábrica organiza.
[188]
O desenho institucional da Fábrica é ainda mais disforme do
que a sua configuração física. A Fábrica foi criada através de um
acordo verbal de comodato entre uma empresa privada – a
Eterno Retorno, Sociedade Unipessoal Limitada, que tinha
criado e gerido a Livraria Eterno Retorno, habitante do Bairro
Alto entre 2001 e 2005 – e a Obriverca, empresa imobiliária
que se tinha tornado proprietária de toda a antiga fábrica de
material de guerra para aí construir um condomínio de luxo. O
acordo estabelecia que a Eterno Retorno poderia ocupar o edifício da antiga administração e o terreno circundante, enquanto
a Câmara Municipal não desembargasse a construção do condomínio Jardins do Braço de Prata, a ser edificado no outro lado
da avenida, com projecto do Arquitecto Renzo Piano. Quando
a construção desse condomínio pudesse ser retomada, a Obriverca iria utilizar o edifício que cedia à Eterno Retorno como
stand de venda dos apartamentos e como escritório de obra.
No final da obra, o edifício e o terreno passariam para propriedade da Câmara, como contrapartida pelo investimento municipal em infraestruturas para o condomínio.
Desde o início que a Fábrica estava a prazo e sustentada em um
acordo verbal de ocupação permitida. Nada de mais vulnerável.
Mas, não é essa a condição de quase todas as comunidades dedicadas à invenção de objectos improváveis?
A FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA
COMO LABORATÓRIO
DE OUTRAS “FÁBRICAS”
A Fábrica teve em Lisboa um papel inaugural no movimento de
reciclagem de edifícios esquecidos. E esse papel não se expri-
miu apenas na condição de exemplo feliz, de modelo a reproduzir. É que foi uma parte da comunidade que inventou a Fábrica que esteve ligada à criação de algo semelhante, mas a uma
escala muito maior.
Uma semana antes de a Eterno Retorno se instalar no edifício,
a Livraria Ler Devagar pediu para ocupar 3 das salas. Fez-se
também um acordo com esta Livraria, até porque havia uma
memória comum. De facto, quando a Eterno Retorno se instalou no Bairro Alto, ficou vizinha da Ler Devagar na Rua S. Boaventura. Criou-se o hábito, durante os 4 anos de proximidade,
de organizar coisas em comum, como conferências, ciclos de
leituras encenadas, concertos, e as famosas Festas de S. Boaventura, no mês de Junho, com performances e churrascos na
rua. Quando a Ler Devagar teve que abandonar as suas instalações, por o edifício onde estava instalada dever ser demolido,
propôs à Eterno Retorno associar-se a ela para criarem uma
livraria conjunta em um espaço comum. Esse espaço acabou
por se revelar inviável e aceitaram provisoriamente transferirse para dois pequenos espaços, também no Bairro Alto, entre
2006 e 2007. Foi por a Eterno Retorno se sentir muito desonfortável nesses dois espaços que decidiu romper o acordo
com a Ler Devagar e transferir-se para a Fábrica de Braço de
Prata. Para grande surpresa nossa, a Ler Devagar acabou por
também querer encerrar as outras duas pequenas livrarias provisórias, e por pedir para ocupar 3 salas da Fábrica. Assim, no
dia de inauguração, a 14 de Junho de 2007, a nova realidade foi
apresentada, não ainda como Fábrica de Braço de Prata, mas
como Eterno Retorno+Ler Devagar. E, em grande medida, foi
essa conjugação de duas livrarias, que tinham tido um grande
impacto na vida do Bairro Alto, que funcionou como atracção
para o público que começou a deslocar-se para aquela zona de
Poço do Bispo. No entanto, como era demasiado complicada a
designação daquela aventura apenas a partir das duas livrarias
que aí estavam instaladas, acabámos por preferir apagar a
referência à Eterno Retorno e à Ler Devagar, e assumirmos a
história daquele lugar como a nossa própria identidade. Foi
assim que, logo a partir de Setembro de 2007, nos passámos a
apresentar como a Fábrica de Braço de Prata. Esta falsa ressurreição da antiga fábrica de armamento criou alguns equívocos,
como o de um filho de um soldado ferido nas colónias por uma
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A FÁBRICA DE
BRAÇO DE PRATA
EM LISBOA.
avaria de uma pistola metralhadora da marca FBP (Fábrica de
Braço de Prata) que nos visitou para apresentar um pedido de
indemnização, ou de um cheque enviado pelo Ministério da
Defesa da Austrália para acerto de contas de fornecimento de
armas àquele país.
Como consequência do sucesso da Fábrica de Braço de Prata,
mas sobretudo pelo precedente que ela abriu no plano de uma
recuperação temporária de edifícios desactivados que conseguiam sobreviver sem reunirem as condições mínimas exigidas
pela Câmara para terem licenciamento de espaço público, os
responsáveis da Livraria Ler Devagar foram convidados a reproduzir o “efeito Fábrica” naquilo que ficou conhecido como
a LXFactory. Neste caso, foram os proprietários dos edifícios
eles mesmos a decidirem tirar proveito daqueles espaços
enquanto esperavam pelas licenças de demolição e construção.
E, em lugar de aceitarem apenas contractos de comodato,
aproveitaram o entusiasmo criado em torno da Fábrica de
Braço de Prata para pedirem rendas bastante elevadas às várias
dezenas de empresas, cooperativas ou criadores individuais
que procuraram ali um abrigo. Inicialmente, a Ler Devagar pensou acumular as duas livrarias. Mas, em Abril de 2009 a Ler
Devagar decidiu abandonar o projecto conjunto na Fábrica de
Braço de Prata e transferir-se integralmente para a LXFactory,
onde criou um monumental espaço dedicado aos livros, com
exposições também e alguns concertos. Essa transferência
marcou verdadeiramente o arranque desse novo território no
limite ocidental de Lisboa. Como se a Fábrica de Braço de Prata
aumentasse de escala, como se passasse do tamanho M ao
tamanho LX. Como o próprio Dr. António Costa afirmou num
debate recente organizado pela Ordem dos Arquitectos da
Região Sul, a Fábrica de Braço de Prata foi a incubadora da
LXFactory.
A TERCEIRA CRIAÇÃO
DA FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA
A construção desse “clone” em tamanho LX na zona de
Alcântara, em 2009, teve vários efeitos sobre a Fábrica original.
Em primeiro lugar, permitiu à Eterno Retorno assumir integralmente a ocupação e gestão das salas da Livraria. Foi possível
assim criar uma grande livraria de ciências humanas, em parceria com cinco grandes editoras: a Assírio & Alvim, a Cotovia,
a Relógio d’Água, a Presença e a Almedina. Em segundo lugar,
para marcar a singularidade da aventura de Braço de Prata,
reforçaram-se os vínculos entre todas as dimensões da Fábrica.
Para a diferenciar do universo da LXFactory, onde várias empresas autónomas ocupam diferentes lugares como num
imenso centro comercial de artes e de empresas criativas, procurámos que cada actividade da Fábrica tivesse sempre
ressonâncias em todas as outras. Isso foi experimentado na
programação conjunta de concertos, debates em torno de
livros, e exposições de artes plásticas, ou na criação de noites
temáticas que envolvessem toda a Fábrica. E, para reforçar essa
unidade geral – e também para tornar mais transparente a coincidência entre a realidade global da Fábrica e a empresa privada
responsável pela sua gestão – criámos em 2010 uma nova
entidade, a Braço de Ferro, Livros e Artes, Unipessoal Lda. É ela
que gere todas as dimensões da Fábrica de Braço de Prata,
desde a livraria, os concertos, as exposições, até ao bar.
Mas falta referir uma outra “criação” da Fábrica. Aquela que
aconteceu em 2008.
LISBOA ADOPTA A FÁBRICA.
COMO UMA PERFORMANCE CLANDESTINA
SE TRANSFORMA EM PATRIMÓNIO
DA CIDADE
Ficou por explicar por que ainda não se deu o despejo da
Fábrica, uma vez que o desembargo da obra por parte da
Câmara Municipal já aconteceu. Essa é a parte mais improvável
de toda a história da Fábrica. Pouco mais de um ano depois de
termos inaugurado aquela aventura, a Câmara Municipal
decidiu, em reunião de 16 de Julho de 2008, atribuir de novo à
Obriverca a licença de construção. Isso significaria imediatamente o nosso despejo. Para que tal não acontecesse, e sem
que tivéssemos tido qualquer interferência nesse processo, a
Arq. Helena Roseta conseguiu que fosse aprovada por
unanimidade na Assembleia Municipal, nessa mesma reunião de
16 de Julho, a proposta de declarar o edifício da Fábrica de
Braço de Prata como equipamento cultural da cidade e de
[189]
APRESENTAÇÃO DE UM CASO DE SOBREVIVÊNCIA DE UM LUGAR
DE ARTE E PENSAMENTO QUE NUNCA RECEBEU
UM ÚNICO CÊNTIMO DE SUBSÍDIOS
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atribuir à Eterno Retorno a responsabilidade de continuar a
gerir esse equipamento cultural em nome da Câmara a partir
do momento em que ele passasse para património municipal (o
que deverá acontecer quando o condomínio Jardins do Braço de
Prata estiver concluído e as licenças de habitação tiverem sido
atribuídas aos apartamentos construídos). Soube posteriormente que um dos argumentos apresentados pela Arq. Helena
Roseta ao conjunto dos membros da Assembleia Municipal foi
uma cópia de um artigo publicado no New York Times, um mês
antes. Aí o jornalista anunciava que Lisboa tinha alcançado
recentemente o estatuto de cidade de cultura, ao nível de
Berlim, Amsterdão ou Londres, por causa de um conjunto de
novas ofertas surgidas na cidade. Entre essas ofertas fazia a
descrição entusiástica da Fábrica de Braço de Prata. Essa
descrição era apresentada logo em primeiro lugar, e ocupando
um terço de todo o artigo. Uma das afirmações fortes do texto
era a de que a cidade de Lisboa inteira se tinha mudado para a
Fábrica.
[190]
Na tarde desse mesmo dia 16 de Julho recebo um telefonema
da Arq. Helena Roseta dando-me notícia dessas deliberações
camarárias. Eu agradeço enormemente a vontade de a Câmara
perpetuar a aventura da Fábrica, mas alerto a Arq. Roseta para
o perigo de a Obriverca, agora que teria a licença para recomeçar a construção do condomínio, querer o nosso despejo para
transformar o edifício em stand de venda dos futuros apartamentos. A Arq. Helena Roseta tenta fazer-me acreditar que
isso não seria possível uma vez que, segundo ela, a própria
direcção da Obriverca irá reconhecer os benefícios que irá
obter por o novo condomínio ficar ao lado do espaço de artes
e ideias mais inovador da cidade. Eu anuncio logo ter
dificuldade em acreditar nessa inteligência das coisas por parte
da Obriverca. E, no dia seguinte, recebo um email, precisamente da Obriverca, informando-me da deliberação da Câmara
quanto ao desembargo da obra, e solicitando que eu abandone
o edifício no prazo de um mês, conforme o nosso acordo
verbal de comodato. Imediatamente informo a Arq. Helena
Roseta deste email. Ela fica desesperada. Anuncia que tentará
dissuadir a direcção da Obriverca da intenção de usar o edifício
da Fábrica como stand de vendas. No dia seguinte liga-me de
novo para me dar a notícia, que chegou em forma de milagre:
a Obriverca aceita prescindir daquele edifício, uma vez que a
Câmara decidiu ceder a sua gestão à Eterno Retorno no momento em que o recebesse da Obriverca. Não faria, portanto,
qualquer sentido interromper a existência daquele espaço de
concertos, exposições e debates apenas enquanto fosse necessário vender os apartamentos em construção. A Eterno
Retorno recebe alguns dias depois uma carta assinada pelo
Presidente da Câmara, Dr. António Costa, informando-a da
decisão de atribuir a gestão do edifício da Fábrica aos seus
actuais responsáveis, pedindo que entrássemos em contacto
com os serviços jurídicos da Câmara para estabelecermos os
termos de um contracto que legitimasse a nossa ocupação da
antiga fábrica e a sua transformação em equipamento cultural.
Alguns dias depois dirigimo-nos aos serviços jurídicos da Câmara Municipal. Fomos aí informados que era ainda impossível
à Câmara estabelecer qualquer contracto connosco, uma vez
que a Câmara ainda não era a proprietária do edifício. Foi-nos
sugerido que estabelecêssemos um novo acordo de comodato
com a Obriverca, para o período em que teríamos que esperar
a transição de propriedade. A Obriverca recusou-se a fazer um
tal acordo, invocando os seus deveres para com a Câmara que
a obrigavam a entregar o edifício livre de ónus ou encargos.
Como consequência final, a Fábrica de Braço de Prata está
impossibilitada de ter um estatuto legal. Nem a Obriverca, nem
a Câmara Municipal podem fazer connosco um contracto (de
comodato, de aluguer, de gestão). Isso impede-nos de obter os
licenciamentos fundamentais para o funcionamento daquele
espaço, porque nos falta a base para qualquer solicitação de
alvará ou de licença de utilização como espaço público. Claro
que, apesar dessa ilegalidade de fundo, continuamos a pagar
todos os impostos, IRC, IVA, Segurança Social, Pagamento por
Conta, SPA, etc..
Regularmente somos visitados por inspectores da ASAE, e
regularmente somos objecto de contra-ordenações que nos
levam a tribunal. Algumas vezes somos absolvidos, outras vezes
somos obrigados a pagar pesadas multas. Felizmente, essas
multas podem ser pagas a prestações. Se não fosse esse o caso,
há muito que a Fábrica estaria financeiramente asfixiada. O que
é então a Fábrica, enquanto instituição? Uma empresa legal
instalada ilegalmente num edifício que virá a ser da Câmara e do
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A FÁBRICA DE
BRAÇO DE PRATA
EM LISBOA.
qual ainda não foi despejada pela sua actual proprietária devido
à intervenção protectora da própria Câmara. Um facto que
criou a sua própria justificação, uma performance insólita que
obrigou a razão colectiva a alargar a sua ideia de arte pública.
Esta condição paradoxal, apenas possível em um país como
Portugal, onde uma ilegalidade com quase 5 anos é abençoada
pela própria Câmara, constitui talvez a base da liberdade
fundamental do que existe na Fábrica. Porque a nossa ilegalidade nos impede de concorrer a subsídios, a financiamentos
de mecenato, a patrocínios regulares, fomos libertados da
necessidade de viver na permanente expectativa quanto a ajudas financeiras externas. Não recebemos um único cêntimo
por parte do Ministério da Cultura, da Fundação Gulbenkian,
do pelouro da Cultura da Câmara, dos programas de animação
da Junta de Freguesia de Marvila, ou das verbas sociais da
paróquia. O orçamento da Fábrica está todo ele suportado na
facturação realizada com as nossas actividades.
UMA GESTÃO SEM CONDIÇÕES
O centro vital da Fábrica é, assim, não tanto um conjunto de
acasos, mas uma ideia, uma certa ideia. E essa ideia emergiu do
próprio edifício. Desde o primeiro dia em que visitei as várias
salas abandonadas, desde o primeiro passeio entre a lixeira de
automóveis e sucata abandonada que enchia o terreno exterior,
que aquele cenário apareceu como projecto, ou como um
projéctil. Tinha claramente a forma de um navio encalhado à
entrada de Lisboa, pronto a ser colocado de novo a navegar.
De facto, um edifício de 3 andares, com salas com 6 metros de
altura, rodeado de um muro imenso, e a 50 metros de distância
do rio, parecia tudo menos a ruína de uma fábrica de material
de guerra. Era antes algo entre um porta-aviões e um imenso
cargueiro. E só pedia um novo fôlego, uma segunda oportunidade. Isso implicava trazer para ali um povo, trazer para ali
uma comunidade que instaurasse naquele lugar uma soberania.
A grande dificuldade seria garantir que essa soberania tivesse
alguma perenidade. As versões mais libertárias, como as de
ocupação pura e simples de territórios abandonados, já se
tinham mostrado demasiado frágeis. Dependem de tolerâncias
de gente demais fora do edifício, e, do lado de dentro, de
demasiada militância de muita outra gente. Eu próprio tinha
participado de uma ocupação de um edifício em 1975. E experimentei na pele a desagregação progressiva da comunidade
que o habitava. O esforço foi excessivo. Por muitos membros
que fôssemos, exigia-se uma dedicação permanente à preservação do edifício e à salvaguarda da nossa soberania. Esse
esforço acabou por produzir entre todos mais do que um
desespero, quase uma náusea. Isso afastou muitos daqueles
companheiros de qualquer combate político por muitos anos.
Essa minha memória dos tempos do PREC acabou por
determinar a forma da solução para a soberania a inventar na
Fábrica de Braço de Prata. A ideia foi utilizar a empresa privada
que eu já tinha constituído para gerir a Livraria Eterno Retorno
no Bairro Alto para fazer um acordo de comodato com o
proprietário. E utilizar essa empresa privada para criar um
regime absolutamente novo de sustentabilidade daquele navio:
seria uma propriedade comum garantida por uma estrutura
privada (jurídica e económica). A empresa unipessoal, com as
suas obrigações jurídicas e financeiras, forneceria as condições
de uma comunidade soberana, isto é, incondicionada, que, sem
se preocupar com as condições da sua própria existência, se
limitasse a ocupar aquelas salas e a colocá-las ao serviço dos
criadores que nelas se reconhecessem. É um modelo
extravagante. Uma empresa privada que oferece as condições
a uma comunidade para que ela possa impor uma soberania
sem condições. A empresa privada faz a gestão cuidadosa de
todas as despesas e de todos os lucros para assegurar a sustentabilidade de um território que é utilizado, não por essa
empresa, mas pela comunidade flutuante que ali faz o seu
habitat. E essa comunidade não tem que se preocupar com
nada. Não tem que mobilizar militâncias, não tem que apelar a
solidariedades, não tem que se esgotar em serviços comunitários. Cada membro dessa comunidade usa o território apenas
em seu benefício próprio. Sabe que, desse modo, graças à
“mão invisível” da empresa privada que o sustenta, ele produz
um benefício colectivo que acaba por garantir a sobrevivência
de todos. E esses membros não têm uma função específica, não
têm que desempenhar papéis pré-determinados. Ocupam
aleatoriamente lugares muitas vezes inversos. Umas vezes são
músicos, outras vezes vêm montar objectos para exposição,
[191][191
]
APRESENTAÇÃO DE UM CASO DE SOBREVIVÊNCIA DE UM LUGAR
DE ARTE E PENSAMENTO QUE NUNCA RECEBEU
UM ÚNICO CÊNTIMO DE SUBSÍDIOS
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outras vezes vêm participar em uma discussão sobre um livro
acabado de editar, e outras vezes vêm simplesmente beber
uma cerveja para conversar com amigos ou visitar as exposições. E da “harmonia” entre esses vários agenciamentos resulta um orçamento global, gerido por uma empresa privada,
mas colocada integralmente ao serviço da comunidade que
habita a Fábrica. Os cálculos são bastante simples.
ALGUMA CONTABILIDADE
[192]
A Fábrica de Braço de Prata garante o sustento global de 12
colaboradores. Entre o trabalho no bar, o serviço de limpeza, a
programação das exposições, a direcção da livraria, o acompanhamento técnico dos músicos, conseguimos que ali encontre
o seu salário mensal um número acima da média nacional no
campo das pequenas e médias empresas. Mas a Fábrica não
contribui apenas para o orçamento dos seus colaboradores. No
plano musical, ao longo destes anos, conseguimos transferir
para as centenas de músicos que tocam regularmente na
Fábrica o valor aproximadamente de 400.000 euros. Este valor
foi integralmente realizado pela bilheteira dos concertos, uma
vez que a Fábrica não fica com nenhuma percentagem. O
regime é muito transparente. As pessoas que entram na Fábrica
a partir do momento em que se iniciam os concertos, pagam 3
euros às quartas e quintas, e 5 euros às sextas e sábados. No
final de todos os concertos (temos em média cinco concertos
por cada noite de sexta e sábado, e dois concertos nas quartas
e quintas) dividimos o dinheiro realizado na bilheteira por todos
os músicos que tiverem actuado nessa noite. Todos os músicos
ganham o mesmo. Procuramos que recebam, no mínimo, 50
euros. Para que isso seja possível, fazemos de modo a que o
número de músicos por noite, independentemente do número
de bandas, não ultrapasse aquele que nos permita, com base
numa expectativa aproximada do montante global final, pagar
esse valor.
Esta divisão aritmética da bilheteira por todos os músicos de
uma mesma noite tem várias vantagens. A primeira, é não
perdermos tempo a discutir cachets prévios com os músicos.
Todos eles ganharão o mesmo numa mesma noite, e tal depende da quantidade de público que conseguirem atrair. A segunda
vantagem é transferir para os músicos parte da responsabilidade
de mobilização dos seus públicos. Porque todas as bandas têm
o seu endereço de Myspace ou a sua conta no Facebook, são
elas que funcionam como agenciamento dos seus próprios
concertos. A terceira é mostrar aos músicos como a Fábrica
quer ser apenas o lugar do seu acolhimento e da oferta de
cenários e condições materiais para a sua apresentação ao
público. Apesar de a Fábrica ter gasto várias dezenas de milhares
de euros na aquisição de dois pianos de concerto, um piano
vertical, duas baterias, e imenso material de som (mesas de
mistura, microfones, cabos, colunas, que alimentam nada menos
do que 4 salas de concertos), a Fábrica não retém nenhuma
percentagem do valor realizado na bilheteira dos concertos. E
isso é único. Por isso as centenas de músicos que querem vir
apresentar o seu trabalho às nossas salas estão dispostos a
arriscar uma noite com pouco público e, portanto, com um
valor menor do que os 50 euros por músico no final da noite.
Eles sabem que a Fábrica fez tudo o que podia para que tal não
acontecesse, desde a criação de condições de material e de
cenário, até à divulgação no nosso site e nas nossas newsletters,
até prescindir de qualquer percentagem sobre a bilheteira.
Como é então possível ter quatro salas de concertos, receber
quatro ou mais concertos por noite e não cobrar nenhum valor
sobre a bilheteira? Porque fazemos algum dinheiro no bar. É
com esse dinheiro que pagamos todas as despesas funcionais da
Fábrica, desde limpeza, consumíveis, aos salários das pessoas
que fazem a bilheteira dos concertos e do técnico de som que
acompanha cada banda, até ao responsável pelas exposições.
De facto, em uma das salas da Fábrica montámos um bar (que
também recebe exposições e alguns concertos). Apenas assim
tem sido possível fixar o público que nos visita todas as noites,
uma vez que a Fábrica fica longe de lugares de restauração
abertos até tarde.
ILEGALIDADE, SOBERANIA,
INDEPENDÊNCIA
A independência face a subsídios ou apoios externos que o bar
nos permite, dá-nos uma liberdade imensa, tanto no programa
dos concertos, como no domínio da organização das exposições.
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A FÁBRICA DE
BRAÇO DE PRATA
EM LISBOA.
[193]
APRESENTAÇÃO DE UM CASO DE SOBREVIVÊNCIA DE UM LUGAR
DE ARTE E PENSAMENTO QUE NUNCA RECEBEU
UM ÚNICO CÊNTIMO DE SUBSÍDIOS
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Temos 7 espaços expositivos (entre salas, corredores e mesmo
as escadas do elevador desactivado). Acolhemos em média 7
conjuntos de trabalhos diferentes todos os meses. Recebemos,
nestes quase cinco anos, mais de 300 artistas diferentes. Foram
sobretudo exposições de pintura. Mas também organizámos
exposições de fotografia, de vídeo, de desenho, de escultura,
assim como instalações construídas especificamente para o lugar
da sua aparição. Durante um ano essas salas receberam também
um festival de artes performativas, o Epipiderme.
[194]
A partir de 2009 o fotógrafo Fabrice Ziegler ofereceu-se para
assumir a responsabilidade das exposições. Ele já estava ligado
à vida da Fábrica desde 2008. Tinha sido ele a criar as Fotos à
Sexta, isto é, a construção de séries de imagens subordinadas
semanalmente a temas sugeridos por ele e que serviam de
mote ou cenários para que qualquer pessoa se deixasse
fotografar. A entrada do Fabrice Ziegler veio produzir uma
revolução na forma de organizar a apresentação de obras de
arte. Não tanto no plano dos critérios de acolhimento de obras
que nos eram propostas, mas no do acompanhamento dos
artistas e no método de montagem das peças a apresentar.
AS DIFICULDADES
DE UMA EMPRESA COMERCIAL
NOS LABIRINTOS
DA ARTE CONTEMPORÂNEA
Oferecer condições privadas para que a dimensão do comum
seja incondicionada, inventar um pequeno território de comunismo com dispositivos capitalistas – é esta, portanto, a ideia
fundamental da Fábrica. Mas não é apenas no plano da gestão
das mil e uma dimensões da Fábrica que a empresa privada
constitui o fundamento daquela comunidade. Porque a Fábrica
está condenada a ser ilegal, a empresa privada é também a
protecção jurídica do território. Regularmente, é a empresa
privada que é obrigada a apresentar-se em tribunal e a procurar
reduzir as penalizações decretadas contra a situação anómala
daquele lugar.
Mas, a função mais difícil da empresa privada que gere a Fábrica
é a de estabelecer os critérios de selecção e de calendarização
das propostas artísticas que nos chegam de todos os lados. E
esses critérios são o que há de menos óbvio. Como recusar um
concerto ou uma exposição precisamente no interior de um
território que se quer propriedade comum? Mas é por aí que
passa a linha de sobrevivência da Fábrica. São as nossas escolhas
que definem a nossa identidade. Mas, porque não recebemos
quaisquer subsídios, não podemos dar-nos o luxo de ter critérios demasiado identitários. Não procuramos criar um livro de
estilo, não queremos ser uma escola. Os nossos critérios procuram equilibrar a nossa vontade de colocar em destaque os
artistas que mais admiramos com a necessidade de garantir público para esses artistas. Sem esses critérios a Fábrica deixaria
de ser atractiva para as pessoas que a sustentam financeiramente, ou seja, aquelas que pagam a bilheteira e que consomem no nosso bar. Sem um olhar selectivo sobre os objectos
que queremos pôr à disposição e consumo daqueles que nos
visitam, ficaríamos condenados ao deserto. Há, necessariamente, uma lógica “comercial” que inspira uma parte dos nossos
critérios. Não podemos repetir demasiadas vezes concertos
que, invariavelmente, não são capazes de atrair público. Esses
critérios são menos constrangedores no domínio das exposições. Porque as pessoas que as visitam, vêm também para os
concertos, a livraria, o bar, ou simplesmente para outras exposições simultâneas, é impossível estabelecer uma equação
entre o conteúdo do que é apresentado e a sua recepção pelo
público. Mas isso não nos liberta da dificuldade da selecção.
Pelo contrário, porque as exposições têm um impacto maior
do que os concertos (temos 7 exposições por mês, enquanto
os concertos são habitualmente 50 ou 60 em um só mês), e
porque elas significam também um acompanhamento dos
artistas no processo de conclusão das suas peças, cada obra
apresentada exprime um compromisso de critérios muito mais
íntimo do que aquele que existe com as bandas que acolhemos.
Por isso, grande parte do tempo usado no trabalho de programação, tanto com os músicos como com os artistas plásticos, é passado na análise das suas propostas e na discussão dos
critérios que invocamos para a sua exclusão ou inclusão. E se,
de início, havia uma disponibilidade muito maior para experimentações um pouco selvagens, à medida que a Fábrica se foi
impondo como território autónomo de artes, fomos sendo
capazes de ir traçando, não uma, mas uma pluralidade finita de
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A FÁBRICA DE
BRAÇO DE PRATA
EM LISBOA.
ideias acerca do belo e do sublime que acreditamos definirem
a maior parte das obras (musicais e de artes plásticas) que dão
conteúdo à Fábrica.
Como com os músicos que nos procuram, os artistas plásticos
que nos apresentam os seus portfolios vão percebendo que os
nossos juízos de gosto têm vários fundamentos. Em primeiro
lugar, uma certa rebeldia face às instituições canónicas dos
museus e das galerias de arte. Se bem que as exposições tenham longinquamente objectivos comerciais, uma vez que
todas as peças expostas estão à venda, no entanto, como com
os concertos, só excepcionalmente cobramos 20% sobre o
valor das obras vendidas nas exposições que organizamos.
Alguns artistas oferecem para o acervo da Fábrica uma obra. E
é tudo. O que lhes oferecemos também não é muito. Acompanhamos a construção das suas peças, ajudamos a conceber o
conjunto da exposição, participamos na montagem. Ao mesmo
tempo, construímos para cada exposição um pequeno catálogo
virtual, disponível no nosso site.
Mas há outros critérios que orientam a construção da nossa
agenda de exposições. Porque temos várias salas de apresentação de obras, procuramos que, em cada mês, seja possível aceder a diferentes registos estéticos em simultâneo. Colocamos lado a lado, no interior da Fábrica, instalações vídeo, objectos de
design, pintura, escultura, desenho e, muitas vezes, graffitis. No
interior destes registos é possível encontrar, como que ao acaso,
pintura figurativa, cromatismos conceptuais, montagens de texturas, colagens. Os autores definem-se por condições quase de
contraste. Nas quase 300 exposições já realizadas, temos recebido sobretudo artistas portugueses. Mas já fizeram residências
artísticas na Fábrica criadores vindos da Alemanha, da França, da
Polónia, de Itália, de Inglaterra ou Estados Unidos. Raros são
aqueles que não têm uma relação profissional com as obras que
criam. Desde recém-formados por escolas de artes (sobretudo
ArCo, Faculdade de Belas Artes de Lisboa ou Faculdade de
Arquitectura de Lisboa) até professores dessas mesmas escolas,
há sempre um envolvimento enorme com as coisas que fabricam. Isso é logo visível na dimensão serial das peças apresentadas. Têm todas a forma de tentativas quase alucinatórias de
fazer a mesma peça em número infinito.
Porque a condição de Galeria de Arte se foi instalando na imagem pública da Fábrica, aparecem cada vez mais conjunto de
peças que foram pensadas desde a sua raiz para serem
apresentadas ali. Assim se tem vindo a descobrir novos dispositivos de aparição da arte no interior daquelas salas. De
início, os milhares de metros quadrados de parede – que a
ocupação daquele espaço abandonado tinha revelado – apareciam apenas como superfície passiva, como matéria de pura
inscrição de objectos à procura de serem apresentados. Mas,
com a sucessão de camadas de memória que se foi depositando
naquele ecran informe, o espaço criou as suas próprias nervuras.
Já nem todos os objectos se deixam afixar naquelas paredes. Há
esquinas que só aceitam esculturas suspensas ou artefactos de
design, corredores que exigem ser inundados com fotografias
ou serigrafias, salas vagamente iluminadas que apenas ganham
espessura quando recebem instalações vídeo ou séries de
esculturas com cores em desaparecimento. Como se a própria
arquitectura íntima da Fábrica fosse uma estratégia de singularização absoluta de cada coisa que se torna ali presente.
Quanto mais exposições se têm depositado nas nossas paredes,
mais elas se revelam como inspiração para outras peças.
UM COMUM QUE
ULTRAPASSA A COMUNIDADE
As visitas aos nossos catálogos on-line, significativamente, são
mais numerosas depois de as exposições terem sido desmontadas. Mostra que o nosso arquivo, de fotos de obras e de textos
sobre as exposições, é reconhecido como um património útil,
como uma forma de acesso a um panorama paralelo da arte
contemporânea em Portugal. Esta é, talvez, a dimensão mais
surpreendente da Fábrica: a de memória colectiva de acesso
livre. O nosso arquivo, que conserva todas as programações
semanais dos últimos 3 anos, permite contar não apenas a
história da música alternativa do início do séc. XXI em Portugal,
como de uma grande parte da criação artística no domínios das
artes plásticas. Tanto no domínio do jazz, como do pop/rock, da
worldmusic ou mesmo do fado, qualquer visita à colecção online das nossas newsletters conduz directamente à maior enciclopédia de bandas nacionais alguma vez construída. Podemos
dizer que, à excepção das bandas que têm a capacidade de
[195]
APRESENTAÇÃO DE UM CASO DE SOBREVIVÊNCIA DE UM LUGAR
DE ARTE E PENSAMENTO QUE NUNCA RECEBEU
UM ÚNICO CÊNTIMO DE SUBSÍDIOS
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actuar nas grandes salas, como o CCB, a Culturgest, o Campo
Pequeno, todas as outras passaram pela Fábrica, algumas mais
do que uma vez. E dessas passagens existe um registo vídeo que
ultrapassa em muito as gravações que, pontualmente, a equipa
da Fábrica foi fazendo e publicando on-line. De forma esporádica e ocasional, ou com uma técnica de alta fidelidade, centenas de concertos feitos na Fábrica estão agora disponíveis no
YouTube. É um segundo arquivo, desta vez de autores anónimos, e de comunidades espontâneas. Algumas das gravações
foram feitas logo nos primeiros meses de existência, algumas
vezes com câmaras de telemóvel, onde se regista o concerto e,
quase sofregamente, também a atmosfera, a decoração da sala.
E, em todas essas gravações, que crescem todos os dias no
YouTube, descobre-se que quem regista essas discretas imagens
de um concerto está a registar qualquer coisa de único e de
absolutamente contingente. Pode-se dizer que a existência da
Fábrica é muito mais virtual do que actual. A quantidade de
entradas sobre a Fábrica no Google (blogs que contam pequenas histórias sobre a Fábrica em registo de diário íntimo,
sites que anunciam eventos, notícias em jornais) e as centenas
de pequenos e grandes vídeos que circulam no YouTube excedem infinitamente a pequena realidade material do quotidiano
daquele edifício e daquilo que todos os dias ali é tornado actual.
Há um paradoxo metafísico nesta desproporção entre a causa e
os seus efeitos. O conjunto dos vestígios da Fábrica tem uma
realidade muito maior do que aquilo que lhe deu origem. E essa
extravagância metafísica não é apenas a que é devida à autonomia das imagens face aos objectos que elas capturam. Porque
a Fábrica se transformou numa verdadeira Casa do Povo da
cidade de Lisboa, cada um vai buscar ali um pouco do que lá
construiu. Desde o início que muita gente sentiu aquele cenário
entre a nostalgia de uma antiga fábrica e a modernidade de uma
sala multiusos, como um dispositivo de actualização de projectos remotos. Subitamente, todas as famílias querem realizar
ali os aniversários dos seus pequenos, tirando partido da possibilidade de usar a sala de cinema como um pequeno salão onde se
junta o lanche e a projecção de vídeos infantis. Músicos que
descobrem que os dois pianos de concertos, porque instalados
no interior de salas forradas a livros, produzem sons que nunca
tinham escutado, querem fazer ali os seus concertos e algumas
gravações. Artistas plásticos decidem preferir os corredores da
Fábrica para pendurarem as suas peças às vitrines limpas das
galerias. É a forma mais eficaz de tornarem o seu trabalho
efectivamente visível, de o darem a conhecer aos milhares de
utilizadores que mensalmente percorrem avidamente aqueles
lugares. Há um estranho efeito de revelador que se instala na
Fábrica. As pessoas que ali entram começam subitamente a ter
visões de coisas que não suspeitavam sequer que pudessem um
dia vir a ser reais. É que, como muitas vezes nos confessam
alguns artistas, grande parte das exposições e dos concertos
foram pela primeira vez concebidos mentalmente no acto de os
seus autores entrarem na Fábrica.
No espaço exterior é onde é mais visível essa sintonia entre as
obras e os seus lugares de materialização. Por um lado, temos
uma exposição mutante de graffiti (actualmente com 21 painéis). Muitos desses graffiti tomam não apenas o lugar onde
estão inscritos, mas o conjunto da própria Fábrica, como motivo da sua construção. Por outro lado, um conjunto de hortas
urbanas, geridas por uma comunidade dedicada à cultura biológica, faz nascer regularmente flores e couves de pequenos
pedaços de jardim que fomos conservando. Há ainda uma pequena aldeia para artistas de rua (em fase de construção) que
utilizará sobretudo as técnicas de construção em terra.
No interior ainda é preciso sublinhar a existência de uma sala
de Teatro/Cinema. De facto, uma das salas de concerto, a Sala
Visconti, tem uma tela de cinema e projector de vídeo de alta
definição. Também tem um pequeno palco, com uma pequena
teia de luzes. Por isso tem sido possível aí receber ciclos de
cinema (nem sempre da nossa iniciativa) e algumas companhias
de teatro.
Todas as nossas salas têm também funcionado como estúdios de
experimentação. Um dos muitos benefícios que a Fábrica de
Braço de Prata tem oferecido à cidade de Lisboa tem sido a utilização regular das suas salas de concerto para ensaios de músicos. De forma absolutamente gratuita, ali temos recebido milhares de horas de experimentalismo musical, algumas vezes por
parte de músicos que nem chegam a apresentar-se no programa
musical da Fábrica por exigirem cachets demasiado elevados (foi
o caso de músicos como Marisa, Mísia, Mafalda Arnaut).
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A FÁBRICA DE
BRAÇO DE PRATA
EM LISBOA.
APRESENTAÇÃO DE UM CASO DE SOBREVIVÊNCIA DE UM LUGAR
DE ARTE E PENSAMENTO QUE NUNCA RECEBEU
UM ÚNICO CÊNTIMO DE SUBSÍDIOS
O CONCEITO COMO
MATERIALIZAÇÃO DA IDEIA
É agora o momento de falar do centro mais vital da Fábrica: as
quatro salas da Livraria. Graças a parcerias que estabelecemos
com as principais editoras nacionais nesta área, temos os catálogos integrais disponíveis de forma permanente das editoras
Assírio & Alvim e Relógio d’Água. O mesmo acontece com as
editoras Presença, Almedina, INCM, mas apenas nas áreas da
Filosofia, Direito, Economia, Psicologia, História, Teoria da Literatura, Antropologia, Sociologia. A livraria é gerida por um licenciado em filosofia, que foi responsável pela Livraria da FNAC do
Centro Comercial Colombo durante quase 5 anos. Em paralelo
com a preocupação de dar a ver as edições mais recentes, a
nossa livraria organiza regularmente selecções temática de
obras, tanto para responder a situações nacionais ou internacionais que ganham em ser apreendidas a partir de uma bibliografia recente, como para potenciar algum evento (lançamento
de livro, conferência, debate). Assim, nas várias salas de concerto e de exposição tem sido possível organizar muitos ciclos
de conferências (nem sempre da nossa iniciativa), seminários
teóricos, cursos regulares. Alguns desses cursos chegaram a
receber mais de 200 inscrições, e prolongaram-se por quase um
ano lectivo. Esses cursos vão desde Pensamento Crítico Contemporâneo ou Política e Estética (da iniciativa de UNIPOP), a
questões do género, problemas da arquitectura contemporânea, abordagens da economia, passando por debates com artistas que se apresentaram na Fábrica (músicos e artistas plásticos)
e apresentações críticas de obras recentes em destaque na
nossa livraria. A livraria não é apenas mais uma dimensão
“comercial” da Fábrica. Até porque, muitos são os meses em
que a livraria não se sustenta a si própria. Com uma frequência
cada vez maior, é o rendimento do Bar que permite pagar os
salários e segurança social dos colaboradores da livraria.
A livraria existe porque responde a três ideias. Preservar a
arqueologia do lugar, uma vez que a aventura da Fábrica de
Braço de Prata começou numa livraria, na Livraria Eterno
Retorno, em 2001, no Bairro Alto. Em segundo lugar, resistir à
degradação da forma-livro. São cada vez menos as livrarias que
sobrevivem à invasão de novos suportes para o texto e das
novas formas de analfabetismo. Depois do encerramento de
livrarias paradigmáticas, e da lenta transformação da FNAC em
loja de vídeo e informática, é uma obrigação civilizacional manter alguns templos de livros. E essa obrigação é especialmente
grave no domínio das ciências humanas. A Fábrica é o lugar
mais exaustivo de tudo o que foi editado em língua portuguesa
nas áreas da Filosofia, da Sociologia, Antropologia, Psicologia,
Teoria da Literatura. A terceira ideia que alimenta a livraria é do
domínio de uma certa encenação do pensamento, aquilo a que
Deleuze chamava uma “personagem conceptual”. Acreditamos
que tudo o que tem sido possível na Fábrica, e tudo o que está
ainda por ser possível ali, exprime alguns conceitos. Conceitos
de “soberania”, de “desobediência civil”, de “sustentabilidade
financeira”, de “independência face a subsídios” são tão importantes para os quase cinco anos de vida daquele território,
como a boa gestão dos seus proventos. Ou antes, são esses
conceitos que permitem que a empresa que gere os proventos
não se aproprie de um único cêntimo do orçamento da Fábrica.
As duas pessoas que representam a empresa privada na vida da
Fábrica são precisamente as únicas que não recebem qualquer
vencimento. Porque o seu sustento vem de outras actividades
exteriores à Fábrica, todo o dinheiro conseguido com a actividade da Fábrica é reintroduzido no seu orçamento. Inicialmente, houve mesmo uma enorme contribuição para esse orçamento que veio dos salários dos seus gestores, contribuição
essa que nunca será reembolsada. Há quem chama a isso
“mecenato”. Nós chamamos – construir o comum a golpes de
gestão privada. E isso teve que ser primeiro pensado, transformado pacientemente em conceitos, para que pudesse inspirar
decisões, gestos, acções. A Fábrica nunca teria existido se o
Michel Foucault não tivesse escrito Vigiar e Punir ou se o Deleuze e o Guattari tivessem publicado apenas O Anti-Édipo. E vai
[197]
Mas as nossas salas não se esgotam em cenários de acolhimento de concertos, de exposições. Existem duas pequenas
Lojas. A primeira é um atelier de joalharia, onde se fabricam
peças com materiais e formas escolhidas pelos próprios futuros
utilizadores. Promovem com regularidade workshops de
joalharia. Uma outra loja, é de produtos em segunda-mão. É a
Oficina Impossível. Vende sobretudo roupa usada em regime
de consignação, joalharia e livros manuseados.
OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 198
[198]
continuando a existir porque o Jacques Rancière escreveu
Aisthèsis ou porque o Toni Negri e o Michael Hardt leram com
entusiasmo Foucault e Deleuze e escreveram Multidão e O
Poder Constituinte. Por isso a Fábrica precisa de uma livraria.
Está lá tudo. O resto vem da cidade de Lisboa, da sua vitalidade,
da sua capacidade de resistência, do seu poder de alegria.
É que, no fundo, a Fábrica não é nada do que aqui se disse. Poderíamos pensar a Fábrica como uma imensa instalação efémera? Ou uma ready-made, feita de reciclagem e colagem paradoxal de partes de uma fábrica de material de guerra? A Fábrica
não é uma livraria, não é um conjunto de salas de concertos,
não é um cinema, não são 7 salas de exposição com mais 1.000
m2 de paredes com graffiti, não é também um bar. A Fábrica é
muito mais do que isso. A Fábrica é uma festa, uma festa que
está apenas a começar. E uma festa onde, como queria Rousseau, não há diferença entre espectáculo e espectadores, entre
arte e banalidade, porque é um território comum onde todos
estamos embarcados. Sem dinheiro e sem culpa, a Fábrica, pela
sua ilegalidade, pela sua clandestinidade, pela sua economia paralela, pelo seu mercado negro de sons, formas, conceitos e
cores, é um dos laboratórios mais felizes daquilo a que poderemos chamar uma ARTE NEGRA.
OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 199
RIBEIRA
DOS MOINHOS,
A RIBEIRA
QUE A BAIXA DE ANGRA
NUNCA VIU
“Se queremos fazer história devemos principiar pelo princípio…
porque temos usado e abusado da síntese sem buscar novos
elementos de progresso, sem crítica nem verificação
do que outros antes de nós fizeram.”
Luís da Silva Ribeiro1
São comuns as referências à Ribeira dos Moinhos, não só nos
primeiros 3 séculos do povoamento da ilha Terceira2,3,4,5,
como também depois disso e até datas mais recentes. Atualmente é possível encontrar várias alusões escritas a essa ribeira, colaterais ou tratando especificamente esse assunto, ou até
como tema de conversa entre curiosos e profissionais da
nossa história.
* Associação Os Montanheiros, ilha Terceira.
1 RIBEIRO, 1943, p. 3.
2 “… pelo meio desta cidade corre outra grossa ribeira de água, a qual vem ter
ao porto...” (FRUTUOSO, 2005, p. 14).
3 “… esta cercada de tres outeiros, hum dos coais fica sobre ella ao norte, ao
longo da ribeira dos moinhos que corre pollo meio da Cidade…” (CHAGAS,
2007, p. 226).
4 “… com sua praça vistosa, pela qual se despenha por abóbadas uma
ribeira...” (MONT’ALVERNE, 1988, p. 9).
5 “… grandioza Ribeira que pelo mejo della corre, tão despenhada desde o seu
principio donde vem formada…” (MALDONADO, 1989, vol. 1 p. 98).
[199]
Paulo J. M. Barcelos*
OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 200
No caso da Ribeira dos Moinhos6, apesar de tão falada ao longo
de séculos, podemos estar a assistir a uma repetição de ideias,
não acompanhadas da devida reflexão da época em que são
proferidas, o que tendo ocorrido teria originado oportunas,
valiosas e atualizadas informações. A transcrição introdutória a
este trabalho, de Luís da Silva Ribeiro, reflete isso mesmo.
Numa altura em que surge a intenção de classificar a Ribeira dos
Moinhos como património municipal, e como sejam ainda
poucas as vozes que convictamente venham a público com
idêntica opinião, achei oportuno lançar à discussão uma ideia
que me acompanha há vários anos, de que esta ribeira nunca
terá cruzado a baixa de Angra, contra aquilo que foi durante
séculos repetido por cronistas e historiadores. Fluía sim pela
Grota do Venial abaixo, afluía na Ribeira de São Bento e derramava
sobre a Baía das Águas.
[200]
Pelo que se sabe ou se julga saber, Álvaro Martins Homem, responsável pelo povoamento de Angra, terá sido mentor e engenheiro da maior obra hidráulica dos primeiros séculos de colonização humana desta ilha, comparável apenas à construção do
Cano Real, à canalização de água do interior da Caldeira da Serra
de Santa Bárbara, através das Minas da Serra, e ao aproveitamento e canalização das águas das furnas do Biscoito das Águas
para São Sebastião (a requerer maior esforço de pesquisa), estes
últimos dois surgindo mais de 3 séculos depois. Sobre estas
obras pensamos apresentar algumas notas em trabalhos futuros.
Terá ordenado a construção de uma levada e terá mandado
fazer diversos moinhos, ou autorizado a sua construção. Como
é de aceitar-se que, de entre os primeiros, funcionariam já aqueles junto à Memória, isso prova que Álvaro Martins Homem teria completado o desvio da ribeira e que a levada de água tinha
sido já construída, num percurso idêntico (ou muito próximo)
àquele que é visível, parcialmente, nos dias de hoje.
Martins Homem que assume a capitania da Praia e para lá se
muda. Fica assim por avaliar o verdadeiro complemento que
João Vaz Corte-Real terá dado a esse projeto… o que acrescentou ou melhorou. Talvez tenha marcado mais a sua intervenção na parte final da ribeira, na sua definitiva condução para
o mar, ou então em aperfeiçoamentos do aqueduto e em novos
desvios (embora pequenos) para servir novos moinhos e
aumentar a sua utilidade. Reconhecendo as importantes ações
de ambos, Henrique Braz é no entanto perentório em afirmar
“… sabendo-se que a povoação de Angra lhes deve o seu belo
traçado, a captação e regularização da ribeira que a atravessava,
bifurcando-se, por dois ramais, até ao mar.” (BRAZ, 1947, p. 125,
nota 4 no rodapé). Supomos que os dois ramais a que se refere
o autor sejam as duas condutas paralelas, uma sobrelevada em
relação à outra, que compõem a levada, naquilo a que Maduro
Dias refere como “… dois canais: um inferior, de água suja, que
passava pelos moinhos, pelo matadouro e por outros locais; um
superior, que garantia água limpa para beber e que era canalizada
para vários chafarizes espalhados pela cidade ou para as casas
senhoriais, que ao tempo possuíam água potável no seu interior”
(MADURO DIAS, 2009).
Penso que há ainda um trabalho a ser feito, que esclareça da
verdadeira importância ou abrangência territorial dessa calha
superior na sua função de abastecer os chafarizes. Ainda em
1891 vem numa ata municipal a referência a “… aquedutos
d’água potável e de despejos…” 8, no entanto fisicamente não
consegui descortinar essa calha superior em nenhum outro
ponto a montante do Pisão9.
6 Ribeira dos Moinhos, também chamada de Ribeira de Angra, Ribeira do
Castelo dos Moinhos ou Ribeira de São João de Deus.
7 Carta da Doação da Capitania de Angra a João Vaz da Costa Corte-Real,
datada de 2 abril de 1474. (CANTO, vol. IV, pp. 158-160).
8 Acórdão da Câmara de 24 de julho de 1891.
Drummond não parece ter dúvidas ao referir dever-se a Álvaro
Martins Homem o “completo encanamento da ribeira que atravessa a cidade.” (DRUMMOND, 1981, p. 69).
João Vaz Corte-Real terá chegado a Angra provavelmente em
1474, ano em que lhe é atribuída7 essa capitania. Sucede a Álvaro
9 Em conversa com Maduro Dias, a 2 de Julho de 2012, levantou-se a possibilidade da levada se ter bifurcado quando chegou às Alcaçarias, seguindo apenas daí para baixo nas duas calhas que se observam no Museu de
Angra, junto à Rua Frei Diogo das Chagas. A construção de uma 2ª calha
(junto da primeira… ou quem sabe dentro desta pois poderia ter sido
construída mais tarde) poderá justificar-se pela forte “contaminação” da
água da levada, que a atividade dos curtumes produzia.
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RIBEIRA
DOS MOINHOS,
A RIBEIRA
QUE A BAIXA DE ANGRA
NUNCA VIU
Todos os outros que vieram depois dele, se desconheciam a sua
obra, só tinham a levada para ver e as memórias de tempos idos
para ouvir, transmitidas de uma geração à seguinte, numa soma
crescente. Nessas condições, fica a dúvida se algumas das referências escritas terão vindo verdadeiramente de informação
recolhida ou se terão sido deduções dos autores.
A Ribeira dos Moinhos não era apenas mais um afluente da
Ribeira de São Bento. A sua importância assentava no facto de
ser alimentada principalmente pelas abundantes nascentes da
Nasce-Água, conferindo-lhe um regime permanente. Não fosse
esse facto e a simples drenagem de águas pluviais colocá-la-ia
numa classe inferior, onde estão a grande maioria das restantes
ribeiras da ilha.
Terá sido a necessidade, mas principalmente a visão de como
assegurar um fluxo contínuo de água através do centro da urbe,
que fez com que Álvaro Martins Homem se tivesse decidido
pela urgência da sua canalização. O seu desvio, a partir do local
em que achamos ter sido a ribeira efetivamente desviada, foi
possível com recurso à construção de um canal em pedra completamente artificial. A importância que esta levada tinha na vida
dos angrenses e visitantes, como força motriz de moinhos e de
outros engenhos, como serras-de-água e pisões (estes últimos
de acordo com a toponímia local, pois não conhecemos outras
referências), providenciando conforto na lavagem das roupas,
na limpeza das casas e espaços públicos da cidade, pouco usual
à época10, no abastecimento às alcaçarias e noutros usos diferentes, era tão significativa que durante quase 5 séculos cumpriu as funções a que se destinava.
As águas dessa Ribeira de Angra, mais tarde batizada de Ribeira
dos Moinhos, em consequência dos muitos que viria a pôr em
movimento, nos primórdios do desenvolvimento de Angra e
durante vários séculos, deixaram de correr no seu leito primitivo para, em muitos locais, fazê-lo por canais e aquedutos em
pedra de cantaria, ainda hoje parcialmente preservados. O
nome acabou, no entanto, por tomar conta de toda a linha de
água, incluindo as partes naturais, estendendo-se para montante até às nascentes, por onde foram surgindo outros moinhos em consequência da expansão demográfica e territorial da
população.
OS PRIMEIROS POVOADORES
Álvaro Martins Homem, se chegou por mar, terá desembarcado na baía de Angra onde existiria, provavelmente, algum
pequeno areal na base das arribas virgens, não muito diferente
daquilo que hoje se pode observar. Se chegou por terra, pelo
litoral sul, terá avistado e sido atraído pelo Monte Brasil e pelas
condições topográficas que este proporcionava. Para além da
vegetação, neste corta-mato por terra, o grupo teria encontrado outros obstáculos. Teria descido a escarpa de falha da
Atalaia, entrado na Grota do Vale e avançado até encontrar a
Ribeira de São Bento, uma ribeira de perfil bastante aberto e
profundo, pelo menos na sua parte final. Seria impossível, ou
muito trabalhoso, atravessar esse vale nos primeiros quinhentos metros a montante da sua foz. Se porventura se depararam
com tal obstáculo não se terão dado a esse trabalho mas antes
subido a ribeira e atravessado junto ao atual largo de São Bento.
Nesse novo rumo teriam chegado finalmente a Angra.
Chegados aqui cerca de 1462 (GREGÓRIO, 2007, p. 45) Álvaro
Martins Homem terá começado por indicar os pontos mais
altos para os seus povoadores se fixarem, enquanto encontrava
forma de controlar a entrada das águas pluviais que escorriam
para a baixa. A sua provável motivação terá sido abrir uma via
de comunicação ao exterior com a construção de um local de
embarque e desembarque, estabelecendo uma ligação com o
10 “Eisaqui pois mais uma vantagem de que não gosa a própria Capital da
Monarchia.” (ANDRADE, 1843, Parte primeira, p. 99).
[201]
Se Gaspar Frutuoso conheceu a Ribeira dos Moinhos, essa era já
uma levada que atravessava Angra. Nasceu em 1522, cerca de
48 anos após a saída de Álvaro Martins Homem de Angra e terá
escrito (terminado) as suas Saudades da Terra cerca de 110 anos
após essa mesma data, altura em que a parte mais significativa
dessa empreitada estaria já executada. Não podemos no entanto deixar de atender à possibilidade, já aludida no passado
por Henrique Braz quando sentiu a necessidade de justificar o
rigor das palavras de Frutuoso, de que este cronista poderá ter
ouvido muitas dessas informações dos filhos dos povoadores,
que as ouviram de seus pais.
OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 202
[202]
Nasce-Água, União dos Riachos.
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RIBEIRA
DOS MOINHOS,
A RIBEIRA
QUE A BAIXA DE ANGRA
NUNCA VIU
Reino, com as outras ilhas, com a vizinha Praia e com outros
pequenos e improvisados embarcadouros que fossem surgindo
em redor da Terceira.
artificial que também ia sendo direcionado e construído. O
mais certo é que o primeiro assentamento não se tenha feito
por conta de qualquer ribeira, mas muito provavelmente por
ser aqui possível o providencial acesso ao mar.
A BAIXA DE ANGRA
Fossilizada há alguns milhares de anos pelas cinzas da erupção
do Monte Brasil, a vegetação regenerou-se a cotas um pouco
mais elevadas, dando origem a uma nova floresta… provavelmente aquela que recebeu os primeiros povoadores. Há evidências de fósseis11, principalmente de espécies como louros
(Laurus azorica) e heras (Hedera azorica), e relatos escritos que
indiciam a exuberância da vegetação arbórea neste local.
Maldonado12 refere isso mesmo e também a tradição de que a
Praça Velha teria sido uma lagoa… o que nos parece altamente
improvável.
Diríamos antes que a baixa seria uma zona de descarga temporária de águas, ocasionalmente com maior caudal e um
pouco mais turbulentas, que chegando aqui infiltravam-se ou
corriam calmamente para o mar por alguma linha de água escavada nos depósitos. Não há evidências de que as águas fossem
represadas de alguma forma, deixando uma lâmina estável de
água livre neste local… embora sondagens ao subsolo possam
vir a indiciar ou indicar o contrário. Esse fluxo hídrico e detrítico
teria provavelmente regime torrencial, ocorrendo apenas durante a época mais chuvosa do ano, não sendo alimentado por
nascentes.
Não é pois exatamente verdade que o povoado de Angra tenha
crescido, “no seu modelo sinuoso de traçado medieval”, ao longo
do seu principal curso de água, a Ribeira dos Moinhos. Na sua
baixa e arredores, cresceu sim junto com um curso de água
ÁGUA PARA CONSUMO
A água seria, sem dúvida, uma das grandes e constantes preocupações dos primeiros povoadores destas novas terras. Havia
que suprir-se a necessidade primária e imediata deste precioso
líquido, para homens e animais. Logo nos primeiros meses do
povoamento de Angra terá sido o problema parcialmente
resolvido, recolhendo a água que fluía ou persistia em poças
naturais (ou poços) nas ribeiras mais próximas.
Afortunadamente, pelo menos numa dessas, a água teria forçosamente de correr todo o ano, para drenar o que jorrava das
poderosas fontes anichadas na base da Serra do Morião. Por
tradição e necessidade, terá surgido a vontade de a subir e descobrir as nascentes mais próximas de Angra: as da Nasce-Água,
a pouco mais de 3,5 km da baixa. Qual dessas linhas de água
terão subido? Julgo que terá sido o afluente da Ribeira de São
Bento que corre mais a ocidente, começando talvez a partir do
Largo de São Bento, pois essa terá sido a primeira ponte construída sobre esta ribeira, mais tarde incluída na principal via de
saída de Angra para oriente.
11 Presentes em várias coleções, nomeadamente no Museu Vulcanoespeleológico da Associação Os Montanheiros.
12 Na abertura dos alicerces do Colégio novo dos Jesuítas comprovou-se
ser o chão composto de “… hua immundicie occazionada das inchentes
das ribeiras que prouinhão dos altos da Cidade e que estas atulharão aquelle
chão que em algu tempo fora vale; e tanto assim que he tradição antiga que
o lugar em que hoje existe a Praça d Angra continguo com o Collegio era
alagoa, e seos oredores pouoados de altas e grossas madeiras, e assim o
mostra a experiencia nas que em dia se achão nas cercas e quintais das
moradias mais proximas a dita Praça.” MALDONADO, 1990, vol. 2, p. 333.
“… as calçadas das ruas da Cidade de que dependia a limpeza della que a
não serem estas fora totalmente Angra incapaz de ruas pela inundação dos
lameiros a que de antes estava em todo sogeita em rezão do citio em que foi
fundada.” MALDONADO, 1989, vol. 1, p. 393.
[203]
Arrastadas por águas que confluíam a este local, antes de
descerem ao mar, terão chegado detritos de aluvião, ocupando
estratos inferiores do que hoje é a área ocupada pelo Jardim de
Baixo, Praça Velha e, boa parte da área entre a Rua Direita e Rua
de Santo Espírito. Essas condições de humidade e qualidade do
solo, aliadas às condições de vale abrigado, virado a sul, terão
possibilitado o crescimento de uma floresta autóctone.
OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 204
Descobertas as nascentes, inicialmente a água seria trazida e
distribuída pelas populações e habitações em pipas de madeira
ou cântaros de barro, para nas décadas seguintes se valerem
deste aqueduto. Como antes sugeri, essa evolução, dos poços
de ribeira à água de nascente… trazida de longe ou recolhida
no aqueduto, é ainda pouco conhecida. A distribuição de água
potável à cidade de Angra, ao longo dos séculos, é matéria que
merecia um estudo aprofundado, ainda por fazer.
PÃO
Logo no início que os povoadores destas ilhas pautaram a sua
atividade agrícola pela associação: trigo > farinha > pão > sustento. Enquanto se limpavam as terras dos matos naturais, para
as sementeiras do trigo (trabalho que poderia levar 2 anos ou
mais a dar frutos), construíam-se mecanismos para moer o
grão: atafonas e moinhos-de-mão (de produções mais modestas) e azenhas (de maiores rendimentos).
[204]
Na Terceira, algumas ribeiras de regime permanente permitiam
a laboração de azenhas durante longos períodos, por vezes
durante todo o ano. Justificou-se a construção dessas fábricas
de farinha em 4 ribeiras da ilha: Ribeira dos Moinhos (Angra),
Ribeira do Frei João (São Sebastião), Ribeira da Agualva (Agualva),
Ribeira Grande (Quatro Ribeiras) e Ribeira da Areia (São Brás).
Há ainda o caso da Ribeira das Sete (Santa Bárbara) onde surgiram moinhos muito sazonais, que funcionavam com recurso
a represas. Excecionalmente possui também as Quatro Ribeiras
um importante núcleo de moinhos próximos da falésia costeira,
na Baía Grande das Quatro Ribeiras, alimentados diretamente
pelas captações das nascentes que brotam no local.
Em todos estes casos, à exceção de um, a construção dos moinhos foi feita junto às linhas de água naturais, construindo-se
levadas modestas13, compridas apenas o suficiente para permitir a chegada da água ao topo das rodas de azenha, e mais
curtas quando eram rodas de rodízio… e não mais do que isso,
por ser esforço e obra desnecessária. A Ribeira dos Moinhos é
a exceção, com a sua extensa levada.
Apresentava o maior conjunto de engenhos de todas as ribeiras
da Terceira, sendo referida na literatura ao longo de 5 séculos.
Trabalhar essas informações deixa, no entanto, por vezes algumas dúvidas.
O documento coevo mais antigo que interessa a esta matéria é
a carta de doação da capitania de Angra a João Vaz Corte-Real14,
onde são referidos os moinhos construídos por Álvaro Martins
Homem15. Talvez se possa aceitar como verdade, pelo menos
até novas evidências, que nessa data não seriam ainda 12 os
moinhos dentro da cidade, como aponta Gaspar Frutuoso
(FRUTUOSO, 2005, p. 14), mas provavelmente em número
inferior, como sugere Maldonado16.
É possível que cerca do ano 1580 (segundo Frutuoso) fossem
já efetivamente 12 os moinhos existentes dentro da cidade,
embora no mapa de 1595 de Linschoten17 venha um número
inferior, mas assinalando já 2 moinhos para São João de Deus.
De forma alguma se retira importância ao mapa de Linschoten
por apresentar algumas representações menos fiéis, como: a
Ribeira dos Moinhos a passar no lado “errado” de uma Ladeira
de S. Francisco recentemente aberta; aparecerem demasiadas
casas com empenas voltadas ao caminho, numa representação
tendenciosa, à maneira holandesa; ruas excessivamente orladas
de casas, demonstrando talvez acabamentos feitos posterior-
13 Embora na Ribeira dos Moinhos só troços de cantaria tenham chegado
aos nossos dias, há relatos de casos em que foi usado nos Açores barro
ou madeira nas levadas.
14 Datada de 2 de abril de 1474.
15 D. Beatriz diz: “E por quanto o dito Álvaro Martins tinha feito certos moinhos
na parte de Angra, os quais agora devem ficar ao dito João Vaz, praz-me que
seja com tal condição que ele faça ao dito Álvaro Martins outros tantos.”
16 “… moinhos que na Ribeira da Cidade havia já fabricado Álvaro Martins
Homem, e senão todos os doze que nella se achão parte deles…”.
(MALDONADO, 1989, vol. 1, p. 100).
17 Na sua famosa carta Angrae urbis Tercerae que insularum quas Azores, de
1595, Jan Huygen van LINSCHOTEN, assinala claramente 6 engenhos
(certamente moinhos) do Pisão à Memória e outros 2 mais acima, em
São João de Deus. Há apenas mais uma construção assinalada, ou eventualmente duas, com algumas hipóteses de serem moinhos… o que daria
um total de 10 moinhos. Não é de todo de excluir a hipótese de haver
outros que tenham ficado por assinalar, principalmente do Convento dos
Franciscanos ao mar.
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RIBEIRA
DOS MOINHOS,
A RIBEIRA
QUE A BAIXA DE ANGRA
NUNCA VIU
Frederico Lopes (LOPES, 1980, p. 167) refere: “O Bairro de São
João de Deus, construído em 1657, a mando do Capitão João de
Ávila, naquela que terá sido a primeira tentativa de expansão urbana desde a fundação de Angra”, facto avançado também pelo Pe.
Alfredo Lucas (LUCAS, 1976, p. 95) que indica inclusive o dia
23 de abril para tal ocasião18.
mente; ou mesmo a eventual falta doutros moinhos, por achar
a sua representação desnecessária aos seus intentos.
Por volta de 1700 (MALDONADO, 1989, vol. 1, p. 100) Maldonado refere como existindo dentro da cidade também 12
moinhos, somando ainda outros 6 fora dela.
Quais seriam os limites da cidade, considerados à época? O que
seria neste caso o fora dela?
Hoje, a parte terrestre do perímetro que define a cidade é a
circular externa de Angra, da Silveira à Grota do Vale (e daí para
o mar), segundo o que é assumido pela autarquia em várias
disposições municipais.
Gaspar Frutuoso diz que o povoamento de Angra fora demorado, referindo a propósito, uma postura da Câmara em que se
aplicava uma coima a qualquer pessoa que passasse do Outeiro
das Pedras para cima (atualmente o lugar do Outeiro e Memória) “… e a razão da pena era por não se perder a gente, embrenhando-se no mato que dali por diante, para dentro da serra, era
muito espesso e sombrio.”. Infelizmente não descobri a data de
tal postura.
[205]
Ponta do Muro, Moinho de Henrique Sozinho.
Tradicionalmente edificava-se num edifício único o moinho e a
moradia do moleiro e família, por vezes com mais de um piso
no interior e que nalguns casos ocultava por completo a roda do
moinho, factos que podemos ainda observar. Podemos então
admitir, embora com algumas reservas, que em São João de
Deus começou por ser construída uma levada, acompanhada
provavelmente por um caminho vicinal, junto do qual, antes de
quaisquer outros moradores, se fixaram pelo menos 2 moinhos
(é o que nos mostra o mapa de Linschoten) e provavelmente
seus moleiros.
Se para Maldonado, em princípios de 1700, o limite norte de Angra seria ainda o mesmo, com alguma certeza poderemos supor
que os 6 moinhos que identifica como existindo fora da cidade
possam ter surgido entre 1657 e 1700, em São João de Deus.
É também possível que algum desses moinhos tenha sido edificado mais para norte, até mesmo na Nasce-Água. Embora o
afastamento à urbe e a qualidade dos acessos pendam desfavoravelmente para essa hipótese, outros fatores, como os terrenos pertencerem a grandes senhorios, poderiam justificá-lo.
Mas podemos também pensar que em 1700 a Ponta do Muro e
o Lameirinho seriam as franjas onde acabava a cidade, até onde
o casario se estendia de forma mais ou menos regular. Os 6 moinhos fora da cidade estariam portanto espalhados, algures entre
a Vinha Brava e a Nasce-Água. Mas nesse caso, entre Frutuoso
e Maldonado nenhum outro moinho teria sido construído entre
a baixa e o fim de São João de Deus… algo muito improvável.
18 Alfredo da Silva Sampaio (SAMPAIO, 1904, p. 265) e Alfredo Luís
Campos (CAMPOS, 1903, p. 314) avançam referências sobre esta
ermida, com algumas variações quanto a datas e autoria da obra,
clarificadas pelo Pe. Alfredo Lucas na sua obra.
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A LEVADA QUE SECOU A RIBEIRA
Pouco acima do local onde hoje temos parte da circular externa
de Angra foi iniciada uma extensa levada, ou aqueduto, em cantaria, completamente artificial. Essa calha que conduzia a água
de engenho em engenho, da Ponta do Muro, passando pelo Largo (ou Terreiro) de São João de Deus, Memória, Convento de São
Francisco, a caminho da baixa de Angra e do mar, estendia-se
por aproximadamente 2200 m.
Na proximidade de todo esse percurso não se consegue vislumbrar qualquer rocha nativa, que se assemelhe a um antigo
leito de uma ribeira permanente. Nem tão pouco para oeste,
em Santa Luzia se observa tal facto.
[206]
Nesse percurso é orograficamente muito difícil (para não dizer
impossível) explicar a existência de uma ribeira primitiva. Esta
lomba onde está instalado S. João de Deus, junto com a do
Lameirinho, formam duas linhas elevadas que definem o vale
(ou depressão) onde está agora implantado o bairro social e
para onde toda a água teria fisicamente de escorrer. Pode-se
comprovar tal facto pela observação das cotas de nível nas cartas topográficas, pela observação direta de quem suba o caminho principal no interior do bairro Social ou por este extrato
registado em ata da Câmara de Angra:
“…enormes prejuízos causados pela catástrofe, sem exemplo, sucedida em a noite de 22 para 23 do corrente [julho
de 1891]… a causa destes grandes estragos, foi a Ribeira dos
Moinhos ter subido do seu leito em dois pontos, um em S.
João de Deus, que atravessando cerrados, veio ter à Canada
do Outeiro…”
(Acórdão de 24 de julho de 1891)
Essa seria a linha natural de escoamento das águas neste vale,
embora também aqui não haja vestígios de ter em tempos corrido qualquer ribeira. No entanto, poderá o topónimo “Lameirinho”, por analogia aos “lameiros” do norte de Portugal, ter
surgido com idêntico significado de pântano ou charco, devido
aos encharcamentos temporários dos terrenos neste vale?
Além dessa impossibilidade orográfica, se existisse alguma linha
natural de água a descer São João de Deus, não teria a cons-
trução urbana nesse bairro respeitado essa ribeira mantendo o
seu leito primitivo, como aconteceu junto das restantes ribeiras
da ilha, e não teriam sido construídos apenas pequenos desvios/
levadas para alimentar cada moinho, canalizando novamente a
água para o curso natural da ribeira?
A PRIMITIVA RIBEIRA DOS MOINHOS
Alfredo da Silva Sampaio acerca da primitiva ribeira refere:
“Esta ribeira foi mandada encanar por Álvaro Martins Homem,
donatário d’Angra, visto que a sua primitiva direção, além de
embaraçar as edificações da cidade que se pretendiam
fazer, não podia ser aproveitada para a moagem dos cereais, como
hoje está sendo.” (SAMPAIO, 1904, p. 265).
Não nos parece possível a parte salientada. Uma análise à orografia do terreno leva-nos a manter a hipótese de que as águas,
daquela que viria a ser chamada de Ribeira dos Moinhos, nunca
correram até à baixa de Angra. Então, qual seria o percurso original desta ribeira?
Comecemos por identificar um troço superior, com início junto
das nascentes da Nasce-Água (embora de cima ainda venham
pequenas grotas cavadas pelas chuvas invernais que descem a
encosta do Morião até aqui), que mantém-se idêntico ao que
era primitivamente durante cerca de 2000 m, com uma ou
outra pequena retificação, geralmente para viabilizar o trânsito
de pessoas e viaturas, e que acaba junto da Casa de Saúde do
Espírito Santo (logo acima da Casa de Saúde de São Rafael).
Nos primórdios do povoamento, para se seguir para norte do
que hoje é o cruzamento do Lameirinho com a circular externa
de Angra, ter-se-ia de usar um insípido caminho rural, a uma
cota mais baixa e que muito provavelmente acompanhava a
nossa pequena ribeira, ou Grota do Venial.
Terá sido junto aos terrenos onde está agora instalada a Casa de
Saúde do Espírito Santo, que o desvio da ribeira se deu. Saiu a
água do leito primitivo para uma levada, que manteve a cota
necessária para fazer funcionar um moinho na Ponta do Muro,
umas dezenas de metros mais abaixo, e ainda muitos outros,
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RIBEIRA
DOS MOINHOS,
[207]
A RIBEIRA
QUE A BAIXA DE ANGRA
NUNCA VIU
São João de Deus, aspetos da levada.
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até que por fim acabaria por levar as suas águas até ao mar, no
local onde hoje é a moagem dos herdeiros de Basílio Simões,
mas apenas depois de em tempos ter feito girar as mós e balancear a serra d’água, deste complexo fabril.
No local (estimado) do desvio observamos que a levada faz
uma apertada curva à direita, num ângulo de 90°, algo que seria
invulgar num percurso natural de ribeira, ainda para mais quando vemos que é em frente, no cerrado fundo entre o caminho
para a Vinha Brava e a Casa de Saúde de São Rafael que as cotas
são mais baixas. Hoje, a água da ribeira ainda é desviada para a
levada, correndo cerca de 360 m numa calha disfarçada num
muro parcialmente cimentado, numa cota sobre-elevada em
relação ao referido cerrado. No entanto, ao chegar à circular
desaparece. Foi esse aliás o motivo pelo qual me questionei durante algum tempo, já depois de construída a circular externa
de Angra: Uma vez que as nascentes não secaram, para onde estaria a ir a água da Ribeira dos Moinhos?
[208]
À leitura de algumas fotografias aéreas antigas seguiu-se as
constatações no terreno e a inquirição a um dos antigos moradores neste local, o que nos permitiu concluir que, já antes de
construída a rotunda haviam sido repostas as águas no leito da
primitiva ribeira, que via as águas voltarem 400 anos depois.
Bastou para tal canalizá-las por debaixo do caminho e encaminhá-las para o troço de ribeira que agora parece começar
junto à rotunda da Circular, nos quintais a leste das casas do
Lameirinho.
Do local do referido desvio até se ligar a esta grota, a ribeira
primitiva desceria 370 m sob o que agora é o caminho, mais de
1 metro abaixo já que o perfil deste caminho subiu bastante, as
últimas vezes por causa da construção da circular e mais tarde
da rotunda.
De novo no seu percurso, pré-povoamento, a água desce agora
a oeste do Cemitério da Conceição, sendo (como sempre foi)
o mais perene afluente da Ribeira de São Bento que desaguava
na Baía das Águas19. Esse facto ajuda também a justificar a forma
acentuadamente erodida com que a Ribeira de São Bento chega
à Av. Jácome de Bruges e prossegue daí para o mar.
Se analisarmos a Carta Corográfica da ilha Terceira, com levantamento topográfico de 1899, vemos que a primitiva ribeira
está lá desenhada. Sobre a carta está traçado a branco o aqueduto artificial que abasteceu a baixa durante séculos.
AS INUNDAÇÕES DA BAIXA
Julgamos ser mais real a possibilidade de outras linhas de escoamento, desaparecidas sob as calçadas das ruas, terem sido
responsáveis pela chegada de águas pluviais à baixa de Angra. À
principal convencionámos chamar-lhe de “Grota do Chafariz
Velho”. Esta linha de água terá tido um papel importante sobre
a baixa de Angra nos milénios que antecederam o seu povoamento. Hoje apenas se adivinha o percurso mas pensamos que
pudesse ser aquele que consta da fotografia aérea apresentada,
que mostra também a delimitação da bacia que potencialmente
drenava para essa linha. Escoava as águas da chuva acumuladas
num pequeno trajeto com início entre o novo hospital e a escarpa de falha do Espigão, passando pelo Chafariz Velho e desaguando na Praça Velha.
Corrobora as evidências topográficas o relato que Maldonado
assim descreve:
“No mesmo ano de 1608, aos 11 de Fevereiro sendo pelas
nove horas da noite comessarão a emanar do Ceo hus choveiros tão copiozos, que sobrevindo estes quazi na menha
com major força, em rezão das muitas agoas que decerão
dos montes e serros, enundarão estas os campos em tal forma que se vejo dellas a formar diluvio, e sendo incorporadas
e iuntas vierão a parar na grota de Santa Luzia em que se
termina a largura da Cidade.
Foi o Senhor servido que estas agoas não cabendo naquela
grota rompessem a hu tempo divididas em coatro partes.
Hua destas, e principal vejo pela rua que chamão Miragaia,
que he a mais enladeirada da Cidade por cuja cauza procedeo com tal vehemencia que levou ante si todas as cazas que
achou opostas, e vindo assim nesta fúria, no tanto que che-
19 Nome que talvez advenha do facto de sobre esta baía desaguar uma
ribeira, que correria permanentemente nos primórdios do povoamento.
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RIBEIRA
DOS MOINHOS,
A RIBEIRA
QUE A BAIXA DE ANGRA
NUNCA VIU
que neste local esta grota terá causado aos seus vizinhos, quando esporadicamente saltava fora do seu leito.
Esta não terá sido provavelmente a única inundação histórica,
com tais contornos, e não terá certamente sido a única que canalizou águas até à baixa de Angra. Quanto às águas da primitiva
Ribeira dos Moinhos (pré-povoamento) essas passavam umas
dezenas de metros ao lado dessa possibilidade.
AS PREOCUPAÇÕES DA CÂMARA
COM A RIBEIRA
Extrato da Carta Corográfica da Ilha Terceira (3ª edição).
Levantada em 1899. Instituto Geográfico e Cadastral.
gou a Rua do Rego, despoz o [SIC] providencia divina que
esta inundação se devidisse em duas partes, tomando hua
dellas pela rua abaixo que se diz da Natividade e a outra
esgilhada pela rua das cazas do Marquez. E ambas estas
correndo ao principal da Cidade que he a rua que se diz
Direita forão parar no porão do porto, cujas muralhas em
todo arruinarão”.
(MALDONADO, 1990, vol. 2, pp. 26-27)
Para um melhor entendimento: Santa Luzia compreendia em
1608 o que hoje é a freguesia do Posto Santo. O lugar aludido
da “grota de Santa Luzia em que se termina a largura da Cidade”
é hoje conhecido por Grota do Medo. Aqui acabava a cidade
para quem rumava a norte. Suspeito que o nome “Grota do
Medo” terá origem nos graves prejuízos e nos muitos receios
A Ribeira dos Moinhos não mantinha o mesmo caudal ao longo
do ano. Na segunda metade do século XIX era a gestão da rede
de aquedutos e de chafarizes (cuja expansão começava já a estabilizar) um dos principais fatores que influenciava o caudal desta
ribeira, para além obviamente da sazonalidade pluviométrica.
Surgiam regularmente disposições camarárias no sentido de se
lançar água na ribeira, ou para evitar o risco de rotura das condutas de água potável pela excessiva pressão a que pudesse estar
sujeita na época das chuvas, ou a pedido dos moleiros, para
garantirem um caudal mínimo que os permitisse laborar na época de estiagem. Nesse último caso, a solução era frequentemente devolver à ribeira, à noite, parte do caudal. Eis alguns exemplos dos muitos que se foram repetindo ao longo dos anos:
“Havendo presentemente grande abundância de água, de
modo que não podem com ela os aquedutos gerais, deliberou a Câmara se lance para a ribeira, denominada dos Moinhos, doze a vinte anéis de água, para se tornar a receber
quando a Câmara o julgar conveniente”.
(Acórdão de 29 de março de 1862)
[209]
Desta feita, na Grota do Medo, a água saltou fora do leito, e
uma das partes, ao invés de seguir para o Posto Santo como as
restantes três, virou à esquerda, desceu a Ladeira da Pateira e
seguiu pela Canada do Cano Real, que já existia pelo menos
desde 1605 (SAMPAIO, 1904, p. 327). Uma vez aqui, as águas
desceram a Miragaia e dividiram-se pelas ruas do Palácio e do
Marquês, chegando sempre, inevitavelmente, à baixa de Angra
e daí pela Rua Direita até ao mar.
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“Deliberou-se que, visto experimentar-se grande escassez
de água na ribeira dos Moinhos, se diminua a água dos
chafarizes públicos e particulares, do dia quinze do
corrente em diante, desde as nove horas da noite até às três
horas e meia da madrugada, para abastecer de água suficiente aquela ribeira, como é de conveniência e necessidade pública, visto que sem esta providência não podem
moer nos diferentes moinhos que dependem da mesma
ribeira, nem, por conseguinte haver a precisa abundância
de farinhas para subsistência dos povos; e que isto se
anuncie por editais e anúncios nos periódicos”.
dispõe a postura artigo 29, e se realizarem efetivamente,
pena de incorrer na multa cominada na dita postura, e de
pagarem as respetivas despesas quando a Câmara se veja
na precisão de mandá-los fazer”.
(Acórdão de 25 de junho de 1863)
“Deliberou-se se intimem todos os donos dos moinhos da
ribeira denominada dos Moinhos para concertarem o respetivo encanamento, que se acha muito deteriorado, na
forma determinada pelo artigo 29 das posturas…”.
(Acórdão de 19 de julho de 1865)
(Acórdão de 10 de junho de 1863)
[210]
Outras razões ocorriam ainda para que chegasse o caudal mais
fraco aos moinhos. De entre elas estava a rotura do leito da
ribeira (das partes artificiais), facto que a Câmara não aceitava
intimando os interessados a procederem às imediatas reparações necessárias, sob pena de suspender a introdução de
água na ribeira. O extravio da água acarretava muitas vezes
consideráveis estragos para os caminhos públicos o que era
inaceitável.
“Em razão do estado de deterioração em que se encontra o
leito da Ribeira dos Moinhos, resolveu a Câmara se oficie
ao Sr. Comissário da Policia solicitando-lhe para mandar
intimar os moleiros e donos de moinhos, que se utilizam
da dita ribeira, a que nos dias 9 e 10 do corrente, se munam
com pessoal conveniente a fim de se proceder a uma
reparação geral e simultânea na dita ribeira, para o que
esta deixará de correr e que se não o fizerem será retirado
o suplemento d’Água que até agora se tem concedido”.
(Acórdão de 4 de agosto de 1897)
“Deliberou-se que sejam intimados os moleiros para
concertarem a ribeira dos Moinhos, desde a quinta da
Calha ou Nasce-Água pertencente a António da Silva
Batista até ao último moinho junto ao mar, visto que as
águas dessa ribeira estão deteriorando o caminho, e este
precisa urgentemente de ser concertado, a bem do trânsito
e comodidade pública; - oficiando-se a este respeito ao administrador do concelho para mandar fazer a intimidação,
e dar parte do resultado”.
(Acórdão de 4 de maio de 1853).
De acordo com a lei vigente recaía a obrigação dessas reparações nos proprietários dos moinhos:
“Achando-se a ribeira, denominada dos Moinhos, com os
muros extremamente estragados, precisando de graves
concertos, sendo isso certamente a origem da falta de água
que se experimenta na mesma ribeira, deliberou a Câmara
se proceda ali prontamente aos necessários concertos, sendo para isso intimado os proprietários dos respetivos moinhos, que tem obrigação de fazer esses concertos, como
Havia também o problema do estado de limpeza em que muitas
vezes se encontrava a ribeira, ligado a hábitos antigos, que influenciava não só a normal fluidez das águas neste sistema mas que
acarretava também outros problemas. A água da ribeira era usada
como força motriz mas também para lavagem das roupas, razão
porque se estabeleceram pias públicas em vários locais do seu
percurso. O uso menos correto e abusivo, fazendo desta levada
uma calha de despejo de imundices diversas, trouxe problemas a
vários utilizadores, tendo a Câmara de agir em conformidade:
“…fez a seguinte postura: “É proibido lavar couros, ou
outros quaisquer objetos, sejam de que natureza forem, na
ribeira que fica defronte do cruzeiro do extinto convento
de São Francisco desta cidade, exceto unicamente roupa,
como sempre ali se costumara lavar”.
(Acórdão de 27 de janeiro de 1864)
“A Câmara delibera se intime Francisco Vieira de Andrade,
proprietário de um moinho na ribeira dos Moinhos, para
mandar limpar a ribeira junto ao seu moinho, na forma da
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RIBEIRA
DOS MOINHOS,
A RIBEIRA
QUE A BAIXA DE ANGRA
NUNCA VIU
(Acórdão de 9 de janeiro de 1867)
“Expôs o vereador Parreira que a ribeira denominada dos
Moinhos, especialmente na parte que atravessa esta cidade,
em consequência das imundices e animais mortos que nela
se lançam frequentemente, e que os moinhos nela colocados retêm, se torna um verdadeiro foco de infeção, quando
não seja desembaraçada convenientemente a sua correnteza, e tirados da proximidade dos moinhos as indicadas
imundices que ali se juntam e noutros sítios da mesma
ribeira, propondo se fizesse uma postura para obviar os
ditos inconvenientes a bem da salubridade pública. A
Câmara, achando o objeto carecedor de providências, e
aprovando plenamente a proposta, fez a seguinte postura: Os proprietários dos moinhos e seus moleiros que se
servem da água da ribeira denominada – Dos Moinhos –
serão obrigados a abrir as suas respetivas represas, ou a
deitar água fora, nos dias primeiro e quinze de cada mês,
pelas seis horas da manhã, limpando-as de imundices, e
não as tapando senão uma hora depois, para que a
correnteza da água lave a dita ribeira convenientemente. O
infrator desta postura pagará a multa de 6$000 reis, e no
caso de reincidência o dobro, além da pena que lhe for
imposta em juízo correcionalmente. Parágrafo único. Na
mesma pena incorrerá aquele que fizer depósito das imundices ou maçames da ribeira proximamente a ela, devendo,
logo que se tirarem, ser levados para lugares distantes e
afastados das povoações…”.
(Acórdão de 14 de abril de 1858)
Essa “purga” da ribeira, imposta por postura de 1858 e que terá
sido incorporada nos hábitos dos moleiros, resultando no levantamento de todas as represas do aqueduto principal, que desviavam água para os moinhos, permitia um caudal e velocidade da
água pouco usuais. Assim parece a quem lê a seguinte ata:
“Foi presente outro ofício do mesmo Diretor das obras
públicas, nº 272, de 12 do corrente, pedindo seja adiada a
limpeza da ribeira dos Moinhos – que tinha de realizar-se a
15 deste mês, para não turvar o mar e poder trabalhar-se
nas obras do cais desta cidade a que se está procedendo. O
excelentíssimo presidente expôs haver em consequência
mandado suspender, por ora, a limpeza da dita ribeira,
para que as obras do cais prossigam sem embaraço, em vista da indicada requisição; o que a Câmara plenamente
aprovou”.
(Acórdão de 17 de julho de 1861)
Para combater o abusivo costume dos moradores dos prédios
confinantes com a Ribeira dos Moinhos, e também de outros,
de lançarem nela imundices e lixos, a Câmara cobriu alguns
troços da levada por volta de 1925:
“Conforme o deliberado por esta Câmara, está-se procedendo à cobertura de uma parte do leito da mesma ribeira, obra do maior alcance para o saneamento e higiene da
cidade, mas o abuso não cessou e os despejos continuam a
fazer-se com o agravante dos detritos, na parte coberta não
serem arrastados pela corrente. Torna-se necessário e urgente pôr cobro a este procedimento, ressalvando porém, o
direito dos mesmos vizinhos encanarem, nas devidas condições de salubridade, para o leito da ribeira, os esgotos dos
seus prédios. Nesta conformidade a vossa Comissão executiva propõe a seguinte postura:
1 - É proibido lançar lixos ou quaisquer imundices sobre a
cobertura ou nas margens do leito da Ribeira dos Moinhos, sob pena de vinte e cinco escudos, moeda insulana, pela primeira vez, o dobro desta quantia pela primeira reincidência e trezentos escudos, sempre moeda
insulana, por cada uma das subsequentes.
2 - Esta postura não abrange o direito que os donos dos prédios confinantes com a dita ribeira tenham de encanar
para ela, nas devidas condições, os esgotos dos mesmos
prédios.
3 - Ficam revogados as posturas em contrário”.
(Acórdão de 5 de agosto de 1925)
Sobre este capítulo podemos ainda apresentar algumas referências a alterações, por variados motivos, do percurso da ribeira:
[211]
postura artigo 28, 1º, no prazo de oito dias, findo o qual
será examinada por perito, pena de ser a limpeza feita à
custa do município, paga a despesa depois pelo dito proprietário e a respetiva multa”.
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“Deliberou-se se oficie a António da Silva Batista sobre a
falta de água limpa e pura que se experimenta, com grave
incómodo público, no lugar ou depósito da ribeira dos –
Moinhos – onde muitas famílias pobres circunvizinhas costumam lavar, falta ocasionada pela mudança de leito que
ele fizera na ribeira quando construíra o seu último moinho...” (Acórdão de 29 de julho de 1857) “Deliberou-se se lhe
diga que não podia mudar o leito da ribeira sem licença da
Câmara: que esta não pode deixar de fazer correr a água da
mesma ribeira no depósito onde o público lavava”.
(Acórdão de 5 de agosto de 1857)
“Deliberou-se se oficie ao proprietário Estulano Inácio
Parreira pedindo-lhe haja de permitir que a ribeira denominada – dos Moinhos – passe alguns dias pelo canto de
um cerrado que lhe pertence, para que o dono do moinho
novo, João Coelho Vaz, possa concertar o encanamento
junto ao mesmo moinho, para que fora intimado de ordem
da Câmara, concertos que levará poucos dias, e não pode
efetuar-se sem mudar-se a direção temporária da ribeira”.
(Acórdão de 11 de junho de 1862)
[212]
“A Câmara delibera, ir hoje em vistoria à Ribeira dos Moinhos, no lugar denominado – a Ponta do Muro e fazer demolir as atenções feitas arbitrariamente no leito da dita ribeira
por José Martins Areias, junto do moinho de Joaquim
Machado Lourenço, em prejuízo do moinho confinante de
Manuel Inácio de Meneses, e das casas circunvizinhas”.
(Acórdão de 19 de julho de 1871)
“Sob requisição do senhor Parreira resolveu a Câmara dar
nova direção à Ribeiras dos Moinhos no lugar do Cruzeiro,
afim de aformosear aquele sítio e livrar dos prejuízos a
Ladeira de S. Francisco, ocasionados pelas águas pluviais”.
(Acórdão de 19 de abril de 1876)
“Deliberou a Câmara se intime o proprietário ou o rendeiro
do moinho de São João de Deus, que está moendo sem
licença desde o ano 1866 inclusive”.
(Acórdão de 7 de agosto de 1867)
Por escritura de 1 de outubro de 1877 a Câmara Municipal assina uma escritura de transação com Manuel Homem de Noronha e mais herdeiros do Visconde de Noronha, relativa à água
da quinta da “Nasce-Água” nos termos da anterior resolução
da Câmara sancionada pelo conselho do distrito, tornando-se
proprietária da nascente da Nasce-Água, assumindo também
que só as sobras das nascentes pertencem às azenhas existentes na Ribeira dos Moinhos (Acórdãos de 3 de outubro de 1877
e de 30 de junho de 1955).
O FIM DE UM CICLO
Com base em informações preciosas da Sra. Inês Teixeira (80
anos), do Sr. Francisco Barcelos (70 anos), do Sr. Alberto Machado (75 Anos – moleiro de profissão), do Sr. João Machado
Vitória (82 anos – moleiro de profissão), da Sra. Bernardina
Tristão (78 anos), do Sr. António Simões (70 anos) e de outros,
foi possível identificar os locais onde funcionaram moinhos,
muitos deles ainda a laborar no início da segunda metade do
século XX, e conseguir alguns nomes pelos quais eram identificados, geralmente o da pessoa responsável pelo moinho.
Alguns desses moinhos eram arrendados. O conjunto de 5
moinhos no lugar da Nasce-Água (os primeiros do mapa anexo)
é disso bom exemplo. Os proprietários seriam os donos dos
terrenos circundantes, entregando a gestão dos mesmos à exploração de terceiros.20 Outros eram construídos em terrenos
aforados à Câmara.21
Moer farinha era uma atividade económica e como tal passou a
ser necessário licença para o fazer:
“O proprietário ou rendeiro de qualquer moinho, movido
com água da ribeira denominada – dos Moinhos – é obrigado a tirar licença da Câmara anualmente, pena de pagar a
multa de 6$000R”. “Deve ser o moinho limpo e preparado
com todos os utensílios, e aferidas as medidas, sob pena de
pagar, por qualquer falta, a multa de 600R”.
(Acórdão de 8 de junho de 1864)
20 Em reunião da Câmara Municipal de 27 de outubro de 1955 é apresentada uma carta de Maria Luíza Brites de B. Silva do Rego Botelho assumindo-se como proprietária de 5 moinhos existentes na Nasce-Água.
21 “… Requerendo os proprietários Manuel Machado Pereira e Manuel
Espínola de Mendonça providências sobre a direção das águas no lugar
do Pisão próximo das alcaçarias, onde construíram moinhos que ali têm
em terrenos aforados a este município…” Acórdão de 10 de dezembro
de 1962.
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RIBEIRA
DOS MOINHOS,
[213]
A RIBEIRA
QUE A BAIXA DE ANGRA
NUNCA VIU
Moinho no Pisão.
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Nos anos de 1949 e seguintes22 Angra assiste a um grande projeto, de responsabilidade camarária: as obras de Abastecimento
de Águas e Rede de Esgotos, adjudicadas à firma Silva & Ferreira
Limitada.
Foram substituídas e aumentadas redes de água e esgotos, mas
também construído um grande reservatório de água em São
João de Deus, junto à Ribeira do Moinho. Essas obras terão sido
o princípio do fim dos moinhos a água, em São João de Deus e
daí para sul. Em 1955 a Câmara alega que:
[214]
“Por se verificar a necessidade de se proceder à secagem da
“Ribeira dos Moinhos” desta cidade – medida de saneamento prevista no projecto das redes de águas e esgotos da
cidade de Angra do Heroísmo – e atendendo a que com a
adopção de tal medida, as azenhas que por ela eram
accionadas, ficam impossibilitadas de funcionar… deliberou a Câmara por unanimidade conceder aos proprietários
das mesmas azenhas as indemnizações seguintes… com a
condição deles fazerem entrega dos respectivos alvarás…”.
Considerando ainda que a circunstância das azenhas não laborarem trazia um problema de “ordem moral”, a Câmara decide
resgatar os alvarás a alguns proprietários de moinhos, forçando
a imobilização das suas azenhas e pagando as respetivas indemnizações (Acórdão de 6 de maio de 1955). Segue-se a lista
de proprietários de 5 azenhas: 1 na Rua de Santo Espírito, 1 no
Largo de Santo Cristo e 3 na Rua João de Deus23, e o valor das
indemnizações. (Acórdãos de 6 maio de 1955 e 14 de julho de
1955).
A Câmara compromete-se a comparticipar financeiramente a
mudança da força motriz das restantes azenhas para energia
elétrica, garantindo a capacidade industrial das mesmas, encarregando os Serviços Municipalizados (Secção elétrica) de avaliar
o custo dessa obra, individualizada por cada azenha tendo em
conta o diâmetro da sua roda. Mais tarde decide indemnizar as
despesas do Senhor Basílio Simões & Irmão (na Estrada 28 de
Maio)24 e do Senhor Guilherme Martins de Castro (na Rua João
de Deus), por já terem efetuado essa conversão. (Acórdão de
30 de junho de 1955).
Ainda em 1955 a Câmara deu início à ligação da Ribeira dos
Moinhos à rede de esgotos, junto à Igreja de São Francisco, desta cidade. (Acórdão de 27 de outubro de 1955).
Estando ainda por fazer a eletrificação doutras azenhas, que
não tinham sido expropriadas, decidiu-se que esses encargos
seriam repartidos por 3 entidades: Câmara Municipal, Junta-Geral e Comissariado do Desemprego.
João Vitória esteve presente nos últimos anos da laboração do
moinho da Rua de Santo Espírito. Em 1956 via a roda parar em
definitivo, pois, tal como nos confirmou, a Câmara Municipal de
então “pagou para fechar a água da Ladeira de São Francisco para
baixo…”. Este moleiro de profissão, encerrado o moinho da
Rua de Santo Espírito, subiu a São João de Deus, onde “a água
ainda corria”, e encontrou trabalho no Moinho da Sra. Isabe-
22 Em ata da reunião da Câmara Municipal de 19 de maio de 1955 vem
Em 1954 (MERELIM, 1979, pp. 92-93) entram em funcionamento as Centrais Hídricas da Nasce-Água, São João de Deus
e de Angra. Algum tempo depois a Câmara Municipal compromete-se a comparticipar financeiramente o novo projeto de
distribuição de água potável “Ribeirinha/Cabo da Praia” e garantir o abastecimento dessa rede a partir da Nasce-Água. Essa
é também uma forma de compensar a Junta-Geral de Distrito
pelos aproveitamentos hidroelétricos realizados. O abastecimento público é assim o responsável por deixarem de existir
sobras que mantenham as azenhas a funcionar. (Acórdão de 30
de junho de 1955).
referida a “… recepção definitiva da obra da rede de águas e esgotos”,
pelo que terá durado cerca de 6 anos a ficar concluída.
23 A rua que teve o nome de Rua João de Deus é conhecida atualmente
apenas pelo nome de Ladeira de São Francisco. O moinho em causa é o
moinho que foi adquirido pela Câmara Municipal e recuperado
parcialmente.
24 A estrada que liga o Porto das Pipas ao Cais da Figueirinha era
denominada no séc. XIX de Estrada Bernardino Machado. Na primeira
metade do séc. XX o nome mudou para Estrada 28 de Maio, e
atualmente foi renomeada com 2 nomes: para oeste do Cais da
Alfândega ficou como Estrada Gaspar Corte-Real e para leste como
Estrada Pero de Barcelos… troço onde estava a moagem do Senhor
Basílio Simões & Irmão, hoje dos descendentes.
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RIBEIRA
DOS MOINHOS,
A RIBEIRA
QUE A BAIXA DE ANGRA
NUNCA VIU
Sem água em São João de Deus, João Vitória mudou-se novamente, desta feita para o Moinho do João Murrão, na Vinha
Brava. Diz-nos que este moinho: “tinha motor e água… quando
a água enfraquecia ligava-se o motor”. Apenas em 1967 trocou o
moinho pela emigração.
Afigura-se-nos como certas duas realidades: (1) Terão cortado
a água por troços, em momentos diferentes, talvez porque a
planificação das obras o previam. Os moinhos perto da baixa de
Angra pararam em conjunto, em primeiro lugar. Meses depois
os de São João de Deus. Na Vinha Brava a levada nunca secou,
mas o caudal enfraquecido deixou de satisfazer as necessidades
dos engenhos; (2) Face aos moinhos existentes, tendo em
conta os poucos a quem foram resgatadas as licenças e sabendo
que também não foram muitos os que se adaptaram a funcionar com outro tipo de energia que não a água (i. e. motores de
combustão ou eletricidade26), grande parte dos moinhos estariam já em situação precária de sobrevivência, acabando por
encerrar naturalmente nas convulsões desta década de 50.
Não consegui qualquer indicação precisa do ano em que a água
fez farinha pela última vez, em que deixou de fazer girar a última
roda ou rodízio. Terá sido provavelmente em final da década de
60, na Vinha Brava, e certamente um moinho misto: a água e a
motor – os únicos então com viabilidade. Com o surgimento das
moagens mecânicas o velho moinho a água foi destronado. Como por vezes na vida, só os adaptados sobrevivem.
A razão para a quebra do caudal da ribeira é matéria que pode
ser melhor estudada mas, ao contrário do que afirma Frederico
Lopes (LOPES, 1980, p. 209) e outros que também lemos, a
entrada em funcionamento das centrais hidroelétricas não terá
tido qualquer papel nessa matéria. Não foram desviadas águas
do curso da ribeira ou das nascentes da Nasce-Água para essas
centrais. Todas elas funcionam em série, com a mesma água
que nasce no interior das furnas d’Água e do Cabrito (MERELIM, 1979, p. 56), a vários quilómetros de distância. Mesmo
depois de iniciarem a sua atividade houve moinhos em funcionamento ainda por vários anos.
Em anexo está uma lista de engenhos, alimentados pela Ribeira
dos Moinhos, que nos foi possível inventariar e localizar27, não
só dos moinhos mas de outras fábricas. Trata-se de informação
recolhida de forma oral junto dos decanos vizinhos desta ribeira, anteriormente identificados, e na obra “A Ribeira dos Moinhos de Angra do Heroísmo” de Isabel Silva, apresentada ao
público já no decorrer das revisões finais deste trabalho. A mesma autora (SILVA, 2012, p. 64) relembra a existência de uma
fábrica de papel que usava a água da Ribeira dos Moinhos como
força motriz sem que tenha adiantado mais pormenores sobre
a sua localização, razão porque acho oportuno o apontamento
que se segue.
A primeira fábrica de papel da Terceira (e ao que parece dos
Açores) terá sido fundada por António Gil da Silveira Machado
Bettencourt. Leia-se o que em jeito de obituário escreveu “O
Angrense”, após o seu falecimento a 3 de Agosto de 1883:
“Um dia António Gil pensou em fazer-se industrial. As disposições naturais da ilha terceira cortada em diversos sentidos por
caudalosas ribeiras, já aproveitadas como motor para fábricas
de moagem e pregadura, fizeram despertar-lhe a ideia de fun-
25 Esse moinho e o que lhe está mais próximo (do Ti António Patrício)
eram propriedade do conhecido José Tomás da Praça Velha.
26 Usaram-se motores a gasóleo, e penso que também a gasolina. Pelo que
me foi dito, este tipo de motor de combustão pareceu-me bem mais
comum que os motores elétricos.
27 Francisco Maduro Dias afirma que em 1956 o curso de água movia 42
moinhos, muitos deles de azenha, outros de rodízio (“Diário Insular”,
2009). Já Isabel Silva avança que “… contavam-se, em meados do séc.
XX, cerca de 45…” (SILVA, 2012, p. 54). Nesta lista apresentamos a
localização de 43 moinhos.
[215]
linha25. Passados 19 meses (o tempo que João Vitória se demorou por lá), terá sido a vez de cortar a água da levada em São
João de Deus. Alberto Machado, com o seu moinho perto do
da Sra. Isabelinha, diz-nos que: “quando deixou de correr… foi
para todos”. Embora não saibam precisar a data, parece-nos
correto que tal terá ocorrido por volta de 1958, altura em que
a água da levada, junto à Casa de Saúde de São Rafael, terá sido
desviada de volta ao seu leito de ribeira primitivo… mas a levada ainda corria na Vinha Brava.
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[216]
Ribeira dos Moinhos – troço primitivo
Levada artificial (aqueduto) da Ribeira dos Moinhos
Delimitação da bacia hidrográfica da baixa de Angra
DA NASCE-ÁGUA À MARINA DE ANGRA
1 - Moinho arrendado a Ti António André (*)
2 - Moinho arrendado a José Negrinho (*)
A - Pias
3 - Moinho arrendado a António Ferreira (*)
4 - Moinho arrendado a João Pé d’Alho (*)
5 - Moinho arrendado a Júlio Pintado (*)
6 - Moinho do António Gregório Martins de Castro (“Cabeça”)
7 - Moinho do António Gonçalves Silva (“Bicha Fria”)
8 - Moinho do Aníbal Alberto Ferreira Toste
9 e 10 - Moinhos do Francisco Medeiros
11 - Moinho do Ti João da Roda (“Murrão”)
12 - Moinho do Ti Manuel da Roda
13 - Moinho do Henrique Sozinho
14 e B - Moinho (**) que mais tarde foi convertido na fábrica de
pregos e fundição de ferro “A Preserverança”, conhecida
também por Engenho dos Pregos
15 - Moinho do António Negrinho
16 - Moinho de Alberto Machado dos Santos (“Cebolinho”)
17 - Moinho do Chico Lagarto [Ferreira das Bananas (*)]
18 - Moinho da Sra. Isabelinha [José Tomás (*)]
19 - Moinho do Ti António Patrício
20 - Moinho do Mestre António Graciosa, depois adquirido por
Joaquim Flores [José da Cunha (*)]
C - Pias
21 - Moinho do Graciosa (**)
22 - Moinho de José Augusto. Mais tarde do filho Gilberto e
depois da família Simões que já não usou a água como força
motriz. Ardeu em 1965. [Guilherme Martins de Castro (*)]
23 - Moinho da D. Mariazinha (?). De proprietários da Vila Nova
24 - Moinho desaparecido em inícios da década de 60, quando foi
aberta a Rua Beato João Baptista Machado
25 - Moinho de João Dutra (*)
26 - Moinho do Besugo (**)
27 - Moinho do Besugo (*)
28 - Moinho de Guilherme Dutra
29 - Moinho do Besugo (*)
30 - Moinho do Ramalho (*)
31 - Moinho de (?). Atualmente propriedade municipal
D - Alcaçarias
32 - Moinho do “Bravo dos Biscoitos” (**)
33 - Moinho do “Vieira da Agualva” (**)
34 - Moinho de (?)
E - Fábrica de Tabaco Âncora
35 - Moinho associado à fábrica de tabaco (?)
36 - Moinho da Viúva, de Maria José da Silva Saúde
37 - Moinho da Balança, de Francisco Coelho Maduro Dias
38 e 39 - Moinhos do Alfredo Cabeça (por último da viúva Maria da
Conceição Martins)
40 - Moinho do Guilherme Martins de Castro
41 - Moinho de João Fernandes de Miranda, operado por João
Vitória
42 - Moinho de (?)
43 - Moagem Terceirense
F - Serra-de-água
(*) - nome retirado de: (**) - existência do moinho retirada de:
SILVA, 2012 - Plantas de Localização SILVA, 2012
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RIBEIRA
DOS MOINHOS,
A RIBEIRA
QUE A BAIXA DE ANGRA
NUNCA VIU
Ficamos a saber como funcionava, mas não a sua localização.
No entanto, de acordo com o Inquérito Industrial de 1881 uma
fábrica instalada em 1879, com a denominação de “Insulana”
produzia papel para o mercado regional. Existia ainda em 1885,
tendo por sócio maioritário José Augusto da Silva Sampaio:
“Instalada no lugar da Pateira em Angra, produzia esmagadoramente papel de embrulho, tendo no entanto realizado
ensaios para a produção de papel de escrever…” (SOUSA,
2000, pp. 135 e 137).
Como a informação disponível, apesar de reduzida, não choca
uma com a outra, pensamos tratar-se da mesma fábrica que
mudou de dono após a morte de António Gil, sendo provável
que estivesse a funcionar nalgum imóvel que depois veio a ser
um dos moinhos que identificamos na fotografia anexa, no lugar
da Pateira.
Não foi possível precisar todos os que estariam a funcionar
quando foi sendo cortada a água da levada.
EPÍLOGO
Não tive hipóteses de falar com outros protagonistas desta história, nem ainda a oportunidade de voltar a falar segunda vez
com esses informadores. Também fica coxa a pesquisa bibliográfica nos acórdãos da Câmara, pela mesma falta de tempo.
Opto por cumprir os timings “sugeridos” para entrega deste
apontamento sobre a Ribeira dos Moinhos de Angra, pois caso
contrário correria o tão habitual risco de me dispersar por outras áreas… o que acabou acontecendo um pouco neste trabalho mas de forma controlada.
Um agradecimento ao Zé Maria dos Montanheiros, que não
cessa em resgatar às garras do Tempo fragmentos da nossa história, que vão desaparecendo entre matagal e ruínas, nos locais
recônditos desta ilha, ou que vão sendo paulatinamente destruídos.
Com esta obra extraordinária a vários níveis, surgiu o “Pisão” a
“Rua Ribeira dos Moinhos” e a “Canada do Moinho”. Quando
tudo mais desaparece, da vista e da memória dos homens, fica
ainda a toponímia.
[217]
dar uma fábrica de papel. Veio a Lisboa, visitou as diversas fábricas do paíz, fez aquisição de operários práticos e regressou à
ilha muito satisfeito com o êxito assegurado da sua empresa. Ia-se-lhe adiantando no entanto, uma lesão no coração. Não
esmoreceu, porém. A Fábrica fundou-se e vinte e cinco dias
antes de falecer teve o prazer de ler um jornal impresso em
excelente papel da sua fábrica, a primeira que funcionava nos
Açores.” (Jornal “O Angrense” nº 1997, pp. 2-3, de 9 de agosto
de 1883).
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Moinho de Guilherme Martins de Castro.
[218]
BIBLIOGRAFIA:
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foi a última no tempo. 2012.
FRUTUOSO, Gaspar – Saudades da Terra (Livro VI)
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Vol. 4(2), 2000.
Jornal “O Angrense”, nº 1997, de 9 de Agosto de
1883, pp. 2-3.
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Fotografia de MÁRIO SILVA
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