Atlântida - Revista de Cultura, vol. LVII 2012
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Atlântida - Revista de Cultura, vol. LVII 2012
ATL'12_1as pags + separadores_z_Layout 1 11/27/12 10:36 PM Page 1 ATL'12_1as pags + separadores_z_Layout 1 11/27/12 10:36 PM Page 2 ficha técnica Direção . Paulo Alexandre Vilela Martins Raimundo Patrocínio Design / Paginação . Angelina Caixeiro / José Augusto Guerra Tiragem . 1000 exemplares Depósito legal . 174164/01 ISSN . 1645-6815 N.º de registo na ERC . 100455 Apoio Esta revista é propriedade de . Instituto Açoriano de Cultura Alto das Covas - Apartado 67 9700-220 Angra do Heroísmo T. F. 295 214 442 [email protected] www.iac-azores.org Instituição de Utilidade Pública por Resolução nº 45/86, do Conselho do Governo Regional dos Açores, de 5 de Março de 1986 Preço. 20,00 euros Sócios Patronos Câmara Municipal da Calheta Junta de Freguesia dos Altares, Angra do Heroísmo Junta de Freguesia do Porto Judeu, Angra do Heroísmo Teles Travel Agency ATL'12_1as pags + separadores_z_Layout 1 11/27/12 10:36 PM Page 3 ATL'12_1as pags + separadores_z_Layout 1 11/27/12 10:36 PM Page 4 ATL'12_1as pags + separadores_z_Layout 1 11/27/12 10:36 PM Page 5 sumário ESTUDOS E CRIAÇÃO ARTÍSTICA CIÊNCIAS HUMANAS OUTROS SABERES 09. MÁRIO PEREIRA DA SILVA (1921–2009) 41. ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL – PARTE I) 147. EXTINÇÕES, EVOLUÇÃO E O IMPACTO DE HOMO SAPIENS A PARTIR DO ANO 1000 A.D. José Guilherme Reis Leite Filipe Pinheiro Campos 19. FERNANDO LANHAS João Fernandes ESTUDOS E CRIAÇÃO LITERÁRIA 23. VASCO PEREIRA DA COSTA – O MAR IMENSO E ÍNTIMO DO POETA INCENDIADO PELO FOGO OCULTO DA ILHA RASGADA SOBRE O MUNDO Elisa Branquinho, Anabela Sardo e Zaida Ferreira 29. A MINHA DESCOBERTA LITERÁRIA – AÇORIANIDADE J. Chrys Chrystello João Pedro Barreiros 99. FRANCISCO FERREIRA DRUMMOND – HOMEM DO SEU E NOSSO TEMPO. ATUALIDADE DO SEU LEGADO PEDAGÓGICO 163. IN ILLO TEMPORE – BENEDICAMUS DOMINUM NO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE 50 A 60 António Neves Leal Nuno Vieira 105. CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS 187. A FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA EM LISBOA Nuno Nabais Miguel Soares Albergaria 199. RIBEIRA DOS MOINHOS, A RIBEIRA QUE A BAIXA DE ANGRA NUNCA VIU Paulo Barcelos ATL'12_1as pags + separadores_z_Layout 1 11/27/12 10:36 PM Page 6 ATL'12_1as pags + separadores_z_Layout 1 11/27/12 10:36 PM Page 7 ATL'12_1as pags + separadores_z_Layout 1 11/27/12 10:36 PM Page 8 ESTUDOS E CRIAÇÃO ARTÍSTICA Fotografia de MÁRIO SILVA ECA_Reis Leite_z_Layout 1 11/27/12 4:59 PM Page 9 José Guilherme Reis Leite MÁRIO PEREIRA DA SILVA Mário Silva, como era conhecido, é um caso típico de um continental açorianisado. Nasceu na Figueira da Foz, na freguesia de Buarcos, a 5 de Janeiro de 1921, mantendo sempre ligações à terra de origem, nomeadamente através da fotografia. Muitas das fotografias mais emblemáticas de tipos populares são de conterrâneos seus. Mas Mário Silva transformou-se num açoriano e deixou-nos um vasto testemunho dessa sua transformação, desejada e trabalhada transformação, que não inconsciente e amorfa. Veio parar à ilha Terceira em 1946 à Base Aérea n.º4, sediada nas Lajes, como militar da Força Aérea, onde ingressou em 1941 (em plena Guerra Mundial). Foi nesta Base, mas já como funcionário da Navy, no destacamento americano, que passou a sua vida profissional até se reformar. Casou na ilha, em 1948, com uma senhora de uma conhecida família de Angra do Heroísmo, sendo esse o primeiro e mais importante passo para a sua açorianisação. *Este artigo respeita a grafia anterior ao Acordo Ortográfico. [9] (1921-2009)* ECA_Reis Leite_z_Layout 1 11/27/12 4:59 PM Page 10 [10] Revolução de 25 de Abril. Contudo, a sua grande vocação era a fotografia e a ela dedicou o melhor da vida. Como bom fotógrafo, seguia atentamente a evolução dos meios técnicos. O contacto com os americanos, na Base, permitia-lhe estar sempre actualizado, numa época em que as inovações chegavam atrasadas e a preços proibitivos a Portugal. A sua colecção, se assim se pode chamar, de máquinas fotográficas é um testemunho dessas preocupações. Para o artista, as tecnologias eram um meio e não um fim. As máquinas serviam não para as contemplar, mas sim, servindo-se delas, evoluir. Desde cedo, de 1953, pelos menos, partilhou generosamente com os seus concidadãos a sua arte. As exposições que promoveu em lugares públicos ou em sociedades mais reservadas eram o meio privilegiado que utilizava para dialogar com os outros quer fossem os muitos ou os poucos interessados nas fotografias que gostava de partilhar. A lista de exposições, que começa com uma no Museu de Angra em 1953 e termina com uma outra na Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade, em 2009, ano do seu falecimento, é um testemunho dessa faceta simpática de partilha da sua arte com os angrenses. ECA_Reis Leite_z_Layout 1 11/27/12 4:59 PM Page 11 MÁRIO PEREIRA DA SILVA [11] [1921-2009] Encontro do Presidente Nixon com o Presidente Spínola na Base Aérea n.º 4. Mário Silva deixou um vastíssimo espólio de milhares de fotografias que felizmente e de uma forma geral foram preservadas através de digitalização promovida por ele próprio, tanto na Biblioteca Pública como no Museu de Angra do Heroísmo. Não temos, infelizmente, ainda um inventário desse mesmo espólio, mas a sua existência em lugar seguro é, pelo menos, um passo decisivo. Creio até que Mário Silva tinha consciência disso e também por isso se empenhou, nos últimos anos da sua vida, tantas vezes com incompreensão, em resguardar com meios técnicos mais evoluídos e seguros, as suas fotografias. Pelo que conheço, o pouco que conheço, do espólio de Mário Silva proponho dividi-lo em 3 grandes áreas. A primeira é composta pelas fotografias artísticas e que vem de uma velha tradição dos fotógrafos que se dedicam à captação de imagens trabalhadas, como fazem os pintores, os escultores e outros quaisquer artistas. Aí, nessas fotografias, põe muito da sua sensibilidade, da sua visão do mundo e do homem, da sua maneira de encarar a sociedade, os seus anseios e até frustrações. É sem dúvida, a parte mais nobre do artista e a prova real não só da mestria mas também das suas sensibilidades e das suas aspirações. É por elas que se ficará a conhecer o verdadeiro fotógrafo, o seu mundo e o seu pensamento. Não admira, pois, que seja nessas fotografias, que todos os que se dedicavam à arte de fotografar se empenham, conscientes que através delas ficarão para a posteridade. ECA_Reis Leite_z_Layout 1 11/27/12 4:59 PM Page 12 [12] Sismo de 1 de Janeiro de 1980. São fotografias de Mário Silva como artista fotógrafo, que este número da Atlântida valoriza mais através de um conjunto de imagens de figuras humanas, quase todas sofridas, que a objectiva do artista captou. O nosso fotógrafo, por aquilo que tem sido mais divulgado, encontrava nas crianças e nos velhos os seus modelos profissionais e ninguém fica indiferente à mestria de uma imagem captada com a luz certa, o ângulo mais dramático da expressão e a espontaneidade com que o artista fixou o seu modelo. A segunda é composta por reportagens, as reportagens de momentos marcantes da vida insular, como a Cimeira de Nixon/ Pompidou, em 1971, que entusiasmou os terceirenses em geral, os angrenses em particular e o nosso fotógrafo sem dúvida. Captou imagens dos momentos solenes, dos momentos protocolares, dos momentos de descontracção e até da pompa com que o então Primeiro-ministro de Portugal, Marcelo Caetano, rodeou a recepção dos chefes de Estado da América e França. Algumas dessas imagens não deixam até de ser irónicas, ainda que predomine o entusiasmo embevecido pela novidade. ECA_Reis Leite_z_Layout 1 11/27/12 4:59 PM Page 13 MÁRIO PEREIRA DA SILVA [13] [1921-2009] Cimeira Nixon/Pompidou, 1971. ECA_Reis Leite_z_Layout 1 11/27/12 4:59 PM Page 14 [14] Sismo de 1 de Janeiro de 1980. ECA_Reis Leite_z_Layout 1 11/27/12 4:59 PM Page 15 MÁRIO PEREIRA DA SILVA [15] [1921-2009] Revolução de 25 de Abril. Outra colecção, também muito rica, refere-se aos dias e meses que se seguiram ao Golpe de Estado de 25 de Abril e à sua transformação em revolução. O pasmo inicial, a surpresa, a retracção seguida de movimentações políticas de rua, que por sua vez provocaram reacções contra revolucionárias, ficaram registados. É uma colecção importantíssima para compreender o que se passou em Angra e como evoluiu entre nós o 25 de Abril. A objectiva de Mário Silva não foi, nem possivelmente pretendeu ser, isenta nem amorfa. O fotógrafo, que nunca aparece fisicamente nas suas fotos, não deixa de estar intimamente presente em todas, mas sobretudo nesta reportagem da revolução dos cravos. Isso é, aliás, uma mais valia e uma prova que um bom fotógrafo nunca se ausenta das suas imagens. ECA_Reis Leite_z_Layout 1 11/27/12 4:59 PM Page 16 [16] Sismo de 1 de Janeiro de 1980. A colecção referente ao sismo de 1 de Janeiro de 1980, contando a tragédia que se abateu sobre Angra e a ilha em geral, é ela também um testemunho material como o fotógrafo viveu estes dias e se aproximou dos seus concidadãos, deixando-nos imagens de desolação, de sofrimento e de desalento, mas onde se podem ler sinais de determinação para enfrentar a desgraça e para refazer a vida. As imagens que Mário Silva captou de Angra destruída e dos angrenses, não deixam, pelos pormenores captados, de anunciar a reconstrução da cidade. Outras reportagens se poderiam apontar. Talvez menos explícitas e até menos conseguidas, mas elas também úteis, até imprescindíveis para a nossa memória colectiva. ECA_Reis Leite_z_Layout 1 11/27/12 4:59 PM Page 17 MÁRIO PEREIRA DA SILVA [17] [1921-2009] Sismo de 1 de Janeiro de 1980. A terceira área do seu espólio é também muito interessante, porque nos revela um Mário Silva atento àqueles que o precederam na fotografia. Assim nasceu o coleccionador de fotografias antigas, de pessoas, de paisagens, de acontecimentos, mas sempre um coleccionador exigente, que escolhe com critério os temas e a qualidade. Entusiasmado que fiquei com o que vi do espólio do artista só posso desejar que o renascer do interesse por ele seja um incentivo para se valorizar o que herdamos e como era seu desejo, que a sua arte sirva os vindouros e a cultura, o gosto pela memória colectiva e pelos açorianos. ECA_Reis Leite_z_Layout 1 11/27/12 4:59 PM Page 18 LISTAGEM DAS EXPOSIÇÕES 1953 . Museu de Angra do Heroísmo 1959 . Clube Musical Angrense 2001 . Secretaria Regional da Educação e Cultura (Cimeira Nixon/Pompidou, 30 anos depois) 1960 . Lawn Tennis Club 2004 . Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo (O 25 de Abril: história de um passado recente) 1985 . Fanfarra Operária 2005 . Casa de Povo de S. Bento 1985 . Teatro Angrense 2005 . Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo (Memórias Fotográficas) 1959 . Sé de Angra [18] 2001 . Igreja da Misericórdia de Angra (Pessoas e Lugares) 2001 . Adro da Sé (Estendal Fotográfico) 2006 . Casa do Sal (Tenente-Coronel José Agostinho) 2009 . Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade (O Sismo de 80) Pessoas e Lugares. ECA_Joao_Fernandes_01z_Layout 1 11/27/12 5:21 PM Page 19 João Fernandes FERNANDO LANHAS* A sua obra situa o artista numa busca do conhecimento do porquê das coisas da arte e da vida. Para Lanhas, descobrir é fazer, sendo a invenção e a sua divulgação processos da evidência da condição humana na sua relação com o mundo. Uma contínua interrogação do Universo manifesta-se quer na sua pintura, quer na sua poesia, nos seus sonhos, na arquitectura, assim como nos estudos desenvolvidos em áreas como a arqueologia, a astronomia, a geologia ou a etnografia, que coabitam e revelam as consequências de uma relação particular e idiossincrática com a realidade. Para Lanhas, um quadro não é mais nem menos do que uma pedra pintada ou por pintar, um poema, um sonho, um projecto de arquitectura, um fóssil, um meteorito, um artefacto neolítico, a cartografia de uma área de conhecimento. Os saberes e as artes acontecem enquanto manifestações de uma ligação particular do criador com os universos possíveis de descobrir e referenciar em outros tantos processos de criação e descoberta. "Rapaz e menina" s/d, assin., tinta da China s/ cartão, 100x70 cm *Este artigo respeita a grafia anterior ao Acordo Ortográfico. [19] Fernando Lanhas (Porto, 1923-2012) é um dos exemplos mais singulares da história da arte portuguesa do século XX. ECA_Joao_Fernandes_01z_Layout 1 11/27/12 5:21 PM Page 20 Sendo o primeiro pintor abstracto na arte portuguesa, Lanhas jamais poderá, ser apenas considerado como o introdutor da abstracção no contexto nacional. A sua abstracção é contemporânea de um vasto contexto internacional que a poderia facilmente integrar e legitimar. Contudo, trata-se de uma abstracção pessoal que tanto o leva ao quadro como à colagem ou à apropriação da natureza, como se constata nas únicas e singulares criações que concretiza com as suas pinturas em seixos rolados ou em rochedos encontrados nas serranias de Valongo. [20] Fernando Lanhas assumiu com uma desarmante simplicidade uma relação ética com o mundo, com a arte e o conhecimento. A representação como conhecimento e o conhecimento como representação constituem dicotomias unificadoras da diversidade dos interesses que Fernando Lanhas sempre manifestou em relação a áreas tão diferenciadas como a arte, a arquitectura, a arqueologia, a astronomia ou a etnografia. ATL'12_1as pags + separadores_z_Layout 1 11/27/12 10:36 PM Page 9 ATL'12_1as pags + separadores_z_Layout 1 11/27/12 10:36 PM Page 10 ESTUDOS E CRIAÇÃO LITERÁRIA Fotografia de MÁRIO SILVA ECL_ELISA.ANABELA.ZAIDA_01z_Layout 1 11/27/12 5:35 PM Page 23 VASCO PEREIRA DA COSTA – O MAR IMENSO E ÍNTIMO DO POETA INCENDIADO PELO FOGO OCULTO DA ILHA RASGADA SOBRE O MUNDO [23] Elisa Branquinho Anabela Sardo Zaida Ferreira A ilha que esboço (onde sempre renasço) fica na redondez do mundo infindo onde me prefiguro e me recorto. Vasco Pereira da Costa, “Lição de Montaigne” in Fogo Oculto, p. 19. Tudo que se passa no onde vivemos é em nós que se passa. Bernardo Soares O presente artigo, como o título deixa antever, está dividido em duas partes fundamentais. A primeira esboça, de forma abreviada, um possível retrato de Vasco Pereira da Costa, para, numa segunda parte, ancorar a análise do seu livro de poemas O Fogo Oculto no qual, indubitavelmente, o homem/poeta/escritor se desvela, como mostram alguns versos dos quais destacamos os seguintes: “Conheci princípios claros, ideologias limpas./ Hoje, com três quartos de caminho andado,/ aguardo a vinda dos amigos” (Costa, 2011: 15); “Olho o tudo. E ninguém ouse/ questionar o mais profundo/ do que penso quero e faço” (Costa, 2011: 19); “Não pode a ilha ser o limite” (Costa, 2011: 67). ECL_ELISA.ANABELA.ZAIDA_01z_Layout 1 11/27/12 5:35 PM Page 24 Homem de cultura, Vasco Pereira da Costa nasceu em Angra do Heroísmo, numa ilha por cima do mundo, como o próprio afirma, no ano de 1948. Licenciado em Filologia Românica, na Universidade de Coimbra, foi, durante vários anos, professor do ensino secundário e esteve ligado à formação de professores, exercendo funções docentes na Escola Superior de Educação de Coimbra. Do seu vasto e culto currículo, fazem parte, ainda, outras funções como a de diretor do Departamento de Cultura, Turismo e Espaços Verdes da Câmara Municipal de Coimbra assim como a de cônsul honorário de França nesta cidade. Entre 2001 e 2008, regressou aos Açores para ser diretor da área da Cultura no Governo. [24] A sua vasta experiência pedagógica, cultural e literária tem levado Vasco Pereira da Costa a diversos cantos do globo (EUA, Venezuela, África do Sul, Senegal, Espanha, França, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Itália e Macau), para além de Portugal, onde tem proferido conferências sobre temas literários e pedagógicos. Para além disso, tem exercido as funções de consultor para programas infantis e trabalhado para a rádio e televisão em programas de índole literária e cultural. Registem-se algumas exposições que aconteceram, em 2009, primeiro no Museu dos Baleeiros das Lajes do Pico, depois na Ilha Terceira e, por último, em São Miguel (Portas do Mar), com o sugestivo título de As Ilhas Conhecidas – Cartografia e Iconografia. Segundo o texto de M. Poivreau, que consta do catálogo das exposições: As paisagens daqui resultantes (…) são abstratas essencialmente, e admitem, mesmo assim, uma grande diversidade de motivos figurativos tratados de maneira realista por vezes, de um modo naïf outras vezes. Eis como surgem mares, linhas de costa, céus, as cartografias – tudo reinventado através da matéria e da cor (…). Os quadros de Manuel Policarpo, que insiste na busca de signos sobre os rituais do Espírito Santo, tão enraizados nas suas ilhas dos Açores, [formulam] imagens que [conduzem] a uma leitura crítica, na tentativa de explorar valores socioculturais. A extensa obra literária1 do autor passa pela ficção, poesia e memórias, tendo sido distinguido, em 1984, com o Prémio Literário Miguel Torga. Recorde-se, igualmente, o conto não publicado O Maestro, o Poeta e o Menino de sua Mãe, escrito em 1985, que foi distinguido com o Prémio Aquilino Ribeiro. Recordemos, igualmente, a exposição de cartografia e etnografia, Ilhas Conhecidas, que esteve patente no Pavilhão do Mar, em Ponta Delgada, até fevereiro de 2010, uma revisitação, um retrato e um itinerário feito por quem conhece e vive nos Açores. Segundo o próprio, as telas revelam as ilhas conhecidas por si. Deste modo, esta exposição assume-se como um permanente diálogo entre os universos telúrico, etnográfico e mitográfico das ilhas. Nessa mostra, cada tela de Manuel Policarpo tem carimbo açoriano, retratado através de técnicas mistas, jogando com diversos materiais, emprestando-lhe, como reforça, outras significações. Usa, portanto, o óleo, o acrílico bem como outros componentes materiais, como, por exemplo, as rendas açorianas. A versatilidade do homem, escritor e poeta transformou-o, igualmente, num notável pintor, criador de Manuel Policarpo, heterónimo oriundo da ilha do Pico. Com rápida passagem pela Terceira, desde há muito este pintor vai calcorreando o mundo. Contudo, quando lhe perguntam onde nasceu, responde, mitificando: Sintetizando a essência de Manuel Policarpo, podemos usar as palavras de Vasco Pereira da Costa, quando o retrata como circunstância do tempo e dos espaços e que apenas caminha por onde o levam seus próprios passos (http://www.carminagaleria. com/artistas/policarpo.php) reclamando a sua condição de intelectual europeu. Contudo, em nossa opinião, sendo o pintor um A 20 de abril de 2011, Vasco Pereira da Costa foi distinguido com o título Honoris Causa em Letras pela Universidade de São José, em Macau, fundada em 1996 pela Universidade Católica Portuguesa e pela diocese local. nasci numa ilha por cima do mundo. (http://www.carminagaleria.com/artistas/policarpo.php). 1Bibliografia completa do autor no final do texto. ECL_ELISA.ANABELA.ZAIDA_01z_Layout 1 11/27/12 5:35 PM Page 25 VASCO PEREIRA DA COSTA – O MAR IMENSO E ÍNTIMO DO POETA INCENDIADO PELO FOGO OCULTO DA ILHA RASGADA SOBRE O MUNDO Manuel Policarpo afirma ter olhos de cartógrafo, mãos impulsivas, índole de gravador. Experimenta, experimenta sempre, nunca estabelecendo, a priori, a técnica que vai utilizar (http://www.carminagaleria.com/artistas/policarpo.php). Como romancista, contista, novelista e poeta, Vasco Pereira da Costa reconhece-se, essencialmente, como um contador de histórias: “das coisas que me dão mais gozo, é ouvir uma história, mas também contá-la porque a palavra pode ser fruída” (http://lusografias.wordpress.com/2010/07/11/vasco-pereira-da-costacontador-de-historias). Para concluir este breve retrato, pintado com a ajuda dos relatos encontrados e através das palavras de Vasco Pereira da Costa, citamos um excerto de um texto seu, sobre o pintor Manuel Policarpo, que nos parece, igualmente, descrever o próprio poeta: Por isso dele dizem: é um poseur! – alça a sobrancelha esquerda por detrás das lentes do estigmatismo com desdenhoso trejeito perante a mediocridade e, tão só porque peregrinou as sete partidas e já tem cãs sobejas e aprendizagens múltiplas, nem sequer reage aos que o sussurram como diletante, cultivando uma ironia que, por vezes, roça o sarcasmo impiedoso. - ‘Tou-me marimbando’! – proclama do pico do Pico da sua altivez senhoril, do cume da sua libertada escravidão, do topo da sabedoria que lhe concedeu o passadio. http://www.carminagaleria.com/artistas/policarpo.php). Da vasta obra de Vasco Pereira da Costa, iremos deter-nos no seu último livro O Fogo Oculto, composto por trinta e um poemas breves, com o objetivo de partilhar um olhar/olhares sobre os seus versos. A análise irá girar à volta do universo do sujeito poético, das suas imagens mais recorrentes e das palavras com sentidos de forte açorianidade e simbolismo que tocam o mar e o atravessam numa viagem em que as memórias se cruzam com a amplitude do sonho e se rasgam sobre o mundo. O pulsar íntimo da ilha/ilhas percorre este conjunto de poemas em que o sujeito poético se diz nascido “- Numa ilha, por cima do mundo” (Costa, 2011: 7), tal como também declara Manuel Policarpo, recusando ser prisioneiro do espaço (da terra), dando voz à palavra e libertando-a, fazendo-a respirar, insuflando-lhe vida, fazendo arder o silêncio e, desfeita em água, transforma-a em chuva, escapando, assim, à clausura cinzenta da nuvem ameaçadora que reduz a amplitude e a liberdade: “Tenta que o verso contenha apenas/ as palavras do teu aparo (…)./ E que tenham voz sopro e batimento/ e se de terra acolham a charrua/ e se de fogo incendeiem o silêncio/ e se de água não sejam nuvem mas chuva” (Costa, 2011: 9). Emerge este segundo poema de O Fogo Oculto, indução que permite desde logo o próprio título, “Arte Poética”, como uma revelação da arte poética de Vasco Pereira da Costa. “São as palavras essenciais, as mais úteis/ as que te digam inteiro” (Costa, 2011: 9) “que, cumprindo o seu destino na rota do poeta, rasgam o horizonte como um pássaro e, apesar da barreira geográfica do mar, se alargam no universo, ainda que se alimentem do fogo oculto da terra e regressem ao inteiro silêncio do íntimo do ser (também fogo oculto?) onde se poderão aprender os traços do vazio” (Costa, 2011: 37). “As palavras sabem a água, a fogo e a verde, tudo escorrido das montanhas, e o poeta, mago na ilha sem limites, rasga as portas do mar” (Costa, 2011: 67), que é “um terraço de prata” (Costa, 2011: 55), que se abre para o mundo permitindo a viagem/viagens. A ilha “por cima do mundo” (Costa, 2011: 7) é o berço que embala o poeta nesta rota em que a palavra eleita e apurada cumpre a sua função poética sem derrames semânticos de aventurosos e inúteis malabarismos estéticos. As ilhas contêm em si as emoções, as tonalidades, a luz, a diversidade, o cheiro e o sabor da terra mater, o fogo das entranhas, a beleza deslumbrante da natureza intocada, o silêncio, a água, na sua pureza e [25] homem do mundo, que vagamundeou o planeta, revela na sua obra um apelo fatal pela(s) sua(s) ilha(s) no Atlântico, concentração, no espaço, de tudo aquilo que inspira a sua alma de pintor. Síntese, portanto, do que as suas pupilas registaram, no disco duro da moleirinha, no seu périplo pela Europa, pelas áfricas, as américas e as ásias, de uma infância repleta de experiências que influenciaram a sua criação artística e do espaço de vivência das ilhas açorianas que determinam o seu código genético. ECL_ELISA.ANABELA.ZAIDA_01z_Layout 1 11/27/12 5:35 PM Page 26 [26] no seu poder fecundo e transformador. As palavras estão lá, no cenário genuíno da ilha, alojadas na sua íntima autenticidade, provavelmente ainda agarradas “ao cascalho”, como diria Miguel Torga (Diário XII); basta apurá-las para que cumpram a missão de revelar o poeta da ilha na sua totalidade. Basta dar-lhes “voz sopro e batimento” (Costa, 2011: 9), pedaços de vida carregados de emoções para que possam dizer o poeta inteiro e saibam ser a casa como espaço de aconchego e segurança; barco que permite a travessia, a viagem, o conhecimento; campo fértil que oferece o alimento ou entidade que permite o sonho, a evasão. Palavras com sabor a terra lavrada, palavras fogo que incendeiam o silêncio, palavras água nascidas no ventre da terra em forma de chuva abençoada. Deste modo, sente-se o pulsar da ilha/ilhas em cada palavra de Vasco Pereira da Costa e pressente-se o fogo incandescente e oculto do poeta que, embora marcado pela forte açorianidade, não se deixa consumir por ele e se alarga para além da ilha numa cosmovisão de viajante, sabendo que nas “veias do mundo correm violas e versos” (Costa, 2011: 23), que ainda “há mares não sabidos” (Costa, 2011: 11) e que “Não pode a ilha ser o limite” (Costa, 2011: 67). Ao longo dos poemas, há revisitação/revisitações das ilhas, enquanto espaços de memórias, e uma intensa concentração de emoções e afetos nesses lugares referidos como se em cada um deles estivesse para sempre gravado, em forma de lava, um pedaço de humanidade (a do poeta, a de cada ilhéu e a de cada um de nós). Em o Retrato recorda: Quando era jovem O Arnaldo da Foto Lilaz tirou-me o retrato que minha mãe suspendeu na sala. Um terramoto impudente abalroou a casa e o retrato ficou guardado entre pedaços de memória amarela e dispersa. Alguém que abra a gaveta saberá como fui antes de conhecer a provável morte. (Costa, 2011:17) Os lugares são reais, mas existem em cada poema numa combinação imagística que nos transporta ao universo interior do poeta, resultante da proeza artística do fingimento poético que revela a sinceridade intelectual das emoções carregadas de simbolismo e nos permite aproximar do seu fogo oculto numa enorme generosidade literária. Nesta obra de Vasco Pereira da Costa, perpassa o testemunho vulcânico da ilha/ilhas, como exalta o poema Furnas do Enxofre: “Uma harmonia sem cuidado/ aqui onde há tufos de seda verde/ e nuvens saídas das entranhas da terra:/ é a sintaxe do magma ordenando os verbos do planeta” (Costa, 2011: 43); “a majestática beleza selvagem aparecendo como um paraíso genuíno, as calhetas, as fajãs, como estonteantes cenários de verdura e lagoas cristalinas, num namoro idílico com o oceano, a perpetuar o paraíso e a revelar-se como terraço sobre o mar: O sol vai abrir a cancela do mundo (…)/ Após a chuva desta noite/ há um verde que tanto insulta/ que exulta de tão verde.” (Costa, 2011: 53); o murmúrio da água, elemento líquido de grande relevância temática e ambiental, que canta as suas cantigas de frescura, conferindo à ilha a exuberância, a cor, a luz e a fertilidade e que, ao mesmo tempo, simboliza o traço de separação e aproximação do mundo, de um novo mundo. Em Fajã dos Cubres, o poeta, em breves, doces e belas pinceladas metafóricas, e soprando um leve toque de animismo, cria uma harmonia que enfeitiça os próprios peixes: Sobe o mar para sorver a cinza do céu. Um soluço de onda. Um arfar de pedra. Um sol de silêncio em pingos dispersos. Mordem os peixes o anzol dos versos (Costa, 2011: 61). A dolorosa solidão das ilhas e a toada, sempre presente, de uma saudade que chora na serenidade dos dias são outros importantes leitmotiv que atravessam esta obra. Mas a ilha não está enclausurada em si mesma nem o poeta aprisionado na ilha. Em Lição de Montaigne afirma, de forma assertiva: Que sei? A utilidade de mim em mim repousa. ECL_ELISA.ANABELA.ZAIDA_01z_Layout 1 11/27/12 5:35 PM Page 27 VASCO PEREIRA DA COSTA – O MAR IMENSO E ÍNTIMO DO POETA INCENDIADO PELO FOGO OCULTO DA ILHA RASGADA SOBRE O MUNDO A ilha que esboço (onde sempre renasço) fica na redondez do mundo infindo onde me prefiguro e me recorto. E se morrer que seja a morte que me destino. (Costa, 2011: 19). Do mesmo modo, em Cantoria, o poeta revela-se livre como o cantador e os pássaros: As rimas do cantador estreitam o mar e expandem a ilha até à tensão da agonia enquanto os doze bordões de arame do tocador rasgam espessos horizontes mudos. (Costa, 2011: 23). Também em Baía da Cré “rema o tempo a solidão/ numa penumbra de espuma” (Costa, 2011: 65). Mas o poeta é lúcido e sabe que De nada vale contar as ondas uma a uma./ Ninguém aqui é/ porque ninguém aqui pode predicar a vida (Costa, 2011: 23). E, então, para sair da penumbra, da agonia insular da solidão e da melancolia, deseja “um T4/ em Nova Iorque/na Quinta Avenida”, no centro da confusão e do movimento, para, finalmente, “poder predicar a vida” (Costa, 2011: 65). No entanto, o poeta também experimenta o prazer da tranquilidade e da paz da ilha quando se “fecham as portadas do silêncio” (Costa, 2011: 45). Pode a ilha ser uma “clepsidra fantástica” em que tudo tem raiz na água, deter toda a luz e toda a majestade dos picos altaneiros, albergar cagarros protegidos nas suas mansões naturais, deslumbrar pela variedade exótica das cores, pelos contornos mais belos do seu corpo geográfico resultante das explosões vulcânicas, com albas que revelam após “a chuva desta noite” (Costa, 2011: 53) um verde “que insulta de tão verde” (Costa, 2011: 53) e “que exulta de tão verde” (Costa, 2011: 53). Pode a ilha ser o berço, a casa, o barco, o porto, a baía, a água e a terra, abrasada pelo fogo oculto, rica do imaginário ligado às aventuras marítimas, mas como tão claramente anuncia o poeta: Não pode a ilha ser o limite: há picos que violam as nuvens há sóis que fecundam as chuvas há ventos que nenhum deus domina. E os sonhos que rasgam as portas do mar são de uma gente altiva que tira o fogo oculto da terra para incendiar as entranhas da vida. (Costa, 2011: 67). Também os picos têm os seus cais que se rasgam para os oceanos pelo desejo e sonho do homem que quer partir e o poeta, que só o é porque é dono da sua liberdade, diz já ter escrito “todos os versos deste mar” (Costa, 2011: 47) em que “os olhos dos peixes incendeiam as vagas” (Costa, 2011: 57). Vamberto Freitas interroga-se sobre a possibilidade de O Fogo Oculto poder encerrar um ciclo de escrita pelo tom da sua linguagem, asseverando ter Vasco Pereira da Costa traçado já um cânone literário pessoal que espelha as andanças que mais o ‘definem’ (http://vambertofreitas.wordpress.com/2011/06/04/numoutro%E2%80%9Cregresso%E2%80%9D-a-casa/ e em http://www.lusofonias.net/estudos%20e%20cadernos%20a%E7orianos/in dex.htm). Pensamos que esta opinião, com a qual concordamos, é sustentada pelos poemas Arte Poética (Costa, 2011: 9) e Fogo Oculto (Costa, 2011: 67). Parece-nos, contudo, que a devolução de múltiplas imagens e memórias dispersas, de que fala Freitas, assenta, essencialmente, em geografias que nos são pátrias. Atente-se nos versos seguintes que nos parecem iluminadores da presença de geografias que são pátrias ao sujeito poético: [27] Olho o tudo. E ninguém ouse questionar o mais profundo do que penso quero e faço. ECL_ELISA.ANABELA.ZAIDA_01z_Layout 1 11/27/12 5:35 PM Page 28 Conheci princípios claros. Ideologias limpas/ Hoje, com três quartos de caminho andado,/ aguardo a vinda dos amigos. Varri o alpendre./ Junquei de alecrim o chão da casa./ Aqueci o forno./ Cozi o pão. (Costa, 2011: 15). Finalmente, o poeta, que se pensa a si próprio e nunca se abandona, revela: Então alcanço do Pico o pico. O oceano se abre. Suspenso Assim do mundo das águas fito lá em baixo mas perto de mim que me penso (emigrado para a terra que cria segura e longa partindo dum cais ao rés das ondas) De mesquinhas mágoas de ilhéu. (Costa, 2011: 47). Assim, a açorianidade, a insularidade, a hospitalidade, o vulcanismo, e outras particulares tão próprios da idiossincrasia do arquipélago atlântico, de onde são originários Vasco Pereira da Costa e Manuel Policarpo, permitem-nos associar o poeta e o pintor que, num exercício de completude, dialogam, entre si utilizando imagens e simbolismos que os correlacionam, expressando o poeta e o pintor inteiros na sua complexa construção de entidades criadoras. Em ambos, sempre o consequente desejo de rasgar “as portas do mar” (Costa, 2011: 67). Marcados pelas memórias, o poeta e o pintor (o poeta/pintor) refletem sobre si próprio(s) e, tal como os outros ilhéus, deixam-se incendiar pelo “fogo oculto da terra” (Costa, 2011: 67), num intenso exercício simbólico alimentado na própria Natureza, berço de maravilhosas energias imagísticas, e plenamente conscientes, na linha de Bernardo Soares, de que “Tudo que se passa no onde vivemos é em nós que se passa.” [28] BIBLIOGRAFIA: LIVROS DE VASCO PEREIRA DA COSTA (1978) Nas Escadas do Império. Contos, Coimbra: Centelha. (1979) Amanhece a cidade. Romance, Coimbra: Centelha. (1999) My Californian Friends. Poesia, 1ª ed. Palimage/ Gávea Brown, Viseu, 2000; 2ª ed. 2001; ed. bilingue, San Jose, CA, USA, 2009. (1980) FARIA, Duarte, Recensão crítica a Nas Escadas do Império e Amanhece a Cidade. Revista Colóquio/Letras, n.º 54, março, pp. 74-75. (2011) O Fogo Oculto. Poesia, Vila Nova de Gaia: Calendário de Letras. (2011) FREITAS, Vamberto, Num Outro Regresso a Casa. Disponível em http://vambertofreitas.word press.com/2011/06/04/num-outro%E2%80%9 Cregresso%E2%80%9D-a-casa / e em http://www. lusofonias.net/estudos%20e%20cadernos%20a%E 7orianos/index.htm, consulta em 20 de agosto. (1980) Venho cá mandado do Senhor Espírito Santo. Memória, Lisboa: Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa. OUTROS LIVROS (1980) Ilhíada. Poemas, Coleção Gaivota, Angra do Heroísmo: SREC. (1982) PESSOA, Fernando, Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Org. e Pref. de Jacinto do Prado Coelho. Lisboa: Ática, volume II. (1984) Plantador de Palavras Vendedor de Lérias. Contos, Coimbra: Edição Câmara Municipal de Coimbra. (1977) TORGA, Miguel, Diário XII. Coimbra: Edição de Autor. INTERNET: ARTIGOS E ENTREVISTAS (1987) Memória Breve. Contos. Nova Série, nº 1, Angra do Heroísmo: Instituto Açoriano de Cultura. (2011) http://www.carminagaleria.com/artistas/ policarpo.php, consulta a 11 de junho. (1992) Riscos de Marear. Poesia, Ponta Delgada: Eurosigno. (2010) CHRYSTELLO, Helena e GIRÃO, Rosário (coordenadoras), Cadernos (e Suplementos) Estudos Açorianos, caderno e suplemento 4 Vasco Pereira da Costa, Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia. Disponível em http://www.lusofonias.net/ estudos%20e%20cadernos%20a%E7orianos/ index.htm, consulta em 24 de agosto de 2011. (1994) Sobre-Ripas Sobre-Rimas. Poesia, Coimbra: Minerva. (1997) Terras. Poesia, Porto: Campo das Letras – Editores. (2011) JCS, Vasco Pereira da Costa recebe título Honoris Causa em Letras da Universidade de São José, Lusa/Fim. Disponível em http://noticias.sapo.mz/lusa/artigo/12445072.html, consulta em 23 de agosto. (2011) http://lusografias.wordpress.com/2010/07/11/ vasco-pereira-da-costa-contador-de-historias, consulta em 11 de junho. (2011)http://www.mycalifornianfriends.com/poet_tr anslators.htm, consulta em 25 de agosto. (2010) RTP, Ilhas Conhecidas – de Vasco Pereira da Costa (entrevista). Disponível em http://videos.sapo.pt/QlsskgZEtIZRSYuZ6zbS, consulta em 16 de julho. ECL_Chris_01z_Layout 1 11/27/12 5:41 PM Page 29 A MINHA DESCOBERTA LITERÁRIA AÇORIANIDADE Grandes vultos das letras e das artes nasceram nos Açores como Gaspar Frutuoso, o conde de Ávila, Manuel de Arriaga, Antero de Quental, Teófilo Braga, Roberto Ivens, Tomaz Borba, Francisco de Lacerda, Canto da Maya, Domingos Rebelo, Vitorino Nemésio, António Dacosta, Carlos Wallenstein, Victor Câmara e Carlos Carreiro. Dos autores contemporâneos de que falarei aqui, selecionei aqueles por quem nutro mais apreciação. Acolho como premissa o conceito de açorianidade de Martins Garcia que, admite uma literatura açoriana «enquanto superestrutura emanada dum habitat, duma vivência e duma mundividência»1. A açorianidade literária2 (termo cunhado por Vitorino Nemésio, na revista Insula, em 1932) não está exclusivamente relacionada com peculiaridades regionais, nem com temas comummente abordados na literatura, tais como a solidão, o mar, a emigração. Martins Garcia não se mostra empenhado em definir a literatura açoriana, mas a sua qualidade estética. Na obra Para uma literatura açoriana (1987) afirma: 1http://lusofonia.com.sapo.pt/acores/acorianidade_pavao_1988.htm#_ft n11#_ftn11 2 ASSIS BRASIL, Luiz António de. Escritos açorianos: a viagem de retorno tópicos acerca da narrativa açoriana pós-25 de abril. Lisboa: Salamandra, 2003, p.14. [29] J. Chrys Chrystello ECL_Chris_01z_Layout 1 11/27/12 5:41 PM Page 30 “...utilizar um conceito antropológico de cultura para provar a diferença entre os Açores e o Continente é admitir que um traço distintivo venha a justificar uma autonomia, quando, na realidade, são as diferenças culturais que formam um acréscimo que dão identidade, seja a uma literatura, seja a um povo”.3 1. O clima inculca um caráter de torpor e de morosidade; Em Constantes da insularidade numa definição de literatura açoriana, J. Almeida Pavão (1988) diz “...sobre a existência de uma Literatura Açoriana...assume-se tal Literatura com o estatuto de uma autonomia, consentânea com uma essencialidade que a diferencia da Literatura Continental. No polo positivo de um extremo, enquadrar-se-ia a posição de Borges Garcia e no outro extremo situar-se-ia o polo, naturalmente contestatário, formado por Gaspar Simões e Cristóvão de Aguiar. Isto, sem falarmos de outros tantos depoimentos, compendiados na obra A Questão da Literatura Açoriana, de Onésimo Almeida (1983).”4 4. A adjacência das gentes à terra persiste ainda imune a aculturações, fora das pequenas metrópoles que comandam a vida em cada ilha, opondo-se ao centralismo autofágico e macrocéfalo, que regem esses dois submundos como vasos não-comunicantes. [30] Depois de, no meu fervor iniciático, ter sido um adepto da Literatura Açoriana, à medida que lia os mais consagrados e badalados, ficava com uma sensação amarga. Há muitos, mas de qualidade irregular, dir-se-ia duvidosa. Sorri da minha ingenuidade. Ao ler Dias de Melo, guardei as baleias, o livro intimista À Boquinha da Noite (2001) e poucos mais. Lera mas não gostara doutros com um neorrealismo primário que nada tem a ver com os livros mais antigos sobre os baleeiros. Onésimo (T. Almeida) ficaria como um bom croniqueiro e eram notáveis as piadas que sempre o caraterizaram em qualquer fórum. De Daniel de Sá retive a novela O Pastor das Casas Mortas e Ilha grande fechada (1992/2011). Entretanto, li outros poetas e escritores espantosos de quem poucos falavam. Martins Garcia era um deles... Como tradutor que sou, e não como crítico literário, no seio desta geografia idílica, não busquei a essência do ser azórico em miríades de variações nem cuidei de saber se o homem se adaptou às ilhas ou se estas condicionaram a presença humana, para evidenciar a sua especificidade ou açorianidade. Deduzi no decurso da sua tradução caraterísticas relevantes para a açorianidade: 2. Os povos quedam hoje, física e culturalmente, quase tão distantes de Portugal como há séculos atrás; 3. O recorte dos estratos sociais: é ainda vincadamente feudal apesar do humanismo que a revolução de 1974 alegadamente introduziu nas relações sociais e familiares; Daniel de Sá dedicou O Pastor das Casas Mortas “às mulheres e aos homens que ainda acendem o lume nas últimas aldeias de Portugal”. O herói busca um amor perdido no léxico e na sintaxe dos montes escalavrados da Beira Alta. Por entre o pastoreio, calcorreia paixões sofridas, numa apologia da solidão. O retrato de Manuel Cordovão, lusitano de um amor só, é uma ode ao açoriano apartado de si e do mundo por um amor impossível inconcretizado. Em Santa Maria ilha-mãe Daniel de Sá viaja ao passado mítico, refulgente de nostalgia lírica por uma infância despretensiosa. Visita o isolamento de séculos, permeado por ataques de piratas, a inculcar mais vincadamente as crenças religiosas. O título gerou controvérsia mas o autor notaria: “Não se trata de "mãe" adjetivo, mas sim de dois substantivos. É uma ilha que é mãe também...”. Como magistralmente disse a escritora canadiana Ann-Marie Macdonald, “A tradução é uma arte e uma maestria, com um toque de alquimia. Quando o autor e o tradutor se reúnem, o resultado pode ser inspirador. As nuances traduzem a língua numa forma de arte”. 3 RIBEIRO, Lúcia Helena M., A questão da identidade da terra: a ideia de permanência na obra Contrabando Original, de José Martins Garcia. Dissertação (Mestrado em Letras) - Pontifícia Universidade Católica Rio Grande do Sul, 1996. 4 O Centenário (1963) (poesia); Esperança-21 (1969) (peça de teatro); Cérebros do Grande Público (1970) (ensaio); Da Vida Quotidiana na Lusalândia (1975) (estudo); “José Rodrigues Miguéis/Portugal” in Manhattan (1983) (ensaio); A Questão da Literatura Açoriana (1983) (ensaio); (Sapa)teia Americana (1983) (contos); Mensagem - Uma Tentativa de Reinterpretação (1987) (ensaio); Açores, Açorianos e Açorianidade (1989) (ensaio). ECL_Chris_01z_Layout 1 11/27/12 5:41 PM Page 31 A MINHA DESCOBERTA LITERÁRIA AÇORIANIDADE Nas ilhas existem interesses esconsos e panelinhas em que pontificam menos-valias com fama fácil e nomes menores da literatura local. Com a paixão de descobrirmos estes autores, olvidamos o conhecimento dos restantes. Deixamo-nos embalar pela açorianidade, a diegese das ilhas, seus costumes ancestrais, o canto das suas sereias... Lemos outros açorianos espantosos de que ninguém fala como Garcia5. Sobre ele escreveu David Mourão-Ferreira “Se não vivêssemos, vicentinamente, num País em que a “barca do purgatório” anda sempre mais carregada que as outras duas, o [seu] nome deveria ser hoje saudado como o do escritor mais completo e mais complexo que no último decénio entre nós se revelou; (...) com igual mestria tanto abrange os registos da mistificação narrativa como os da exegese crítica, tanto os da desmistificação satírica como os da transfiguração telúrica, e que sem dúvida não encontra paralelo, pela convergência e concentração de todos estes vetores, na produção de qualquer outro seu coetâneo”6. E Maria Lúcia Lepecki acrescentou “É a arte de narrar “em puro” que Martins Garcia cultiva: de modo que opta por não fazer quaisquer tipos de experimentações. Vai sempre reexperimentando, e confirmando, o contar histórias”. Armando Côrtes-Rodrigues é outro nome a fixar juntamente com Emanuel de Sousa poeta e autor de Eurídice7 com prefácio de Natália Correia; e autor de Ariadne8. Saiu recentemente (2009) uma rica edição de uma antologia de contos de Martins Garcia, intitulada Biblioteca Açoriana e dirigida por Urbano Bettencourt e Carlos Alberto Machado9. Já foram publicados, nesta coleção, em 2009: Almas Cativas e Poemas Dispersos, de Roberto de Mesquita10; A Moldura, de Conceição Maciel; Português, Contrabandista, de Garcia, antologia de contos, a maior parte inexistente no mercado, com um posfácio de Urbano Bettencourt. Há mais nomes a não esquecer: Vasco Pereira da Costa, poeta, romancista, nascido em Angra em 1948. Além disso é pintor com o pseudónimo de Manuel Policarpo. A sua Exposição As Ilhas Conhecidas - Cartografia e Iconografia contém quadros relativos ao culto do Espírito Santo que são uma forte crítica não só ao culto da terceira pessoa como à sociedade... 5 Outras obras de referência do autor: (1975), Lugar de massacre. Lisboa, Afrodite. (1978), Vitorino Nemésio, A obra e o homem. Lisboa, Arcádia. (1978), A Fome. Lisboa, Afrodite. (1982), Imitação da morte. Lisboa, Moraes. (1984), Invocação a um poeta e outros poemas. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1985), Fernando Pessoa: “Coração despedaçado”. Ponta Delgada, Universidade dos Açores. (1986), Temporal. Providence, Gávea Brown. (1987), Contrabando original. Lisboa, Vega. (1988), Vitorino Nemésio – À Luz do Verbo. Lisboa, Vega. (1990), Memória da terra. Lisboa, Vega. (1996), No crescer dos dias. Lisboa, Salamandra. (1999), (Quase) Teóricos e malditos. Lisboa, Salamandra. Ensaio (1987), Para uma literatura açoriana. Ponta Delgada, Universidade dos Açores. (1987), David Mourão-Ferreira/ /Narrador. Lisboa, Vega. (1995), Exercício da crítica. Lisboa, Salamandra. Conto: (1978), Receitas para fritar a humanidade. Lisboa, Edições Montanha. (1979), Morrer devagar. Lisboa, Arcádia. (1987), Contos infernais. Ponta Delgada, Brumarte. (1992), Katafaraum ressurrecto. S.I., M. Garcia. Teatro: (1987), Domiciano, Angra do Heroísmo, Direção Regional de Assuntos Culturais (Prémio Armando Côrtes-Rodrigues, da SREC). 6 Jornal Signo, 30/9/1987. 7 Edição Quetzal. 8 Idem. 9 Diretor do Centro de Estudos do Mar nas Lajes do Pico. 10 Prólogo e organização de Carlos Bessa. [31] Dias de Melo escrevia sobre os baleeiros, como se da sua “Cabana do Pai Tomás”, no Alto da Rocha do Canto da Baía, na Calheta de Nesquim na ilha do Pico, vigiasse os botes e as lanchas da Calheta baleando contra os Vilas e os Ribeiras. A escrita embrenha-se como o nevoeiro em que os trancadores se debatiam na luta inglória para ganhar a vida. Resumo o autor a uma frase: Injustiça Social. É da sua denúncia que trata ao abordar a emigração, as realidades sociais e económicas, a repressão do Estado Novo e os dramas humanos, na linguagem simples dos homens do mar. Fica-se com a sensação de uma sociedade arbitrária e perversa. Coube-lhe a sorte de ter recebido homenagens públicas nos últimos meses de vida, reeditaram alguns dos seus livros. Como espetador atento da luta quotidiana e da condição humana, nunca se coibiu de a viver e contar. Cumpre evitar que essa memória se esvaneça e porfiar para que seja lido pelas novas gerações, pois, como ele escreveu: “A esperança num mundo melhor já não será para mim, nem para nenhum de nós e eu revolto-me com o que vejo à volta de mim”. ECL_Chris_01z_Layout 1 11/27/12 5:41 PM Page 32 Há ainda Eduardo Jorge Brum (fundador e diretor do Semanário “Expresso das Nove”) poeta, contista e romancista, nascido em Rabo de Peixe. Escritor maldito, na linha de Luiz Pacheco. As suas principais obras foram todas publicadas na Europa-América, com exceção de uma, que saiu na Vega11, e por último, Marcolino Candeias, nascido em Angra em 1952. Poeta estreado aos 16 anos com um livro Por Ter Escrito Amor que terá repudiado, pois não consta na sua bibliografia. A 2.ª edição intitula-se: Na Distância deste Tempo12. Como se pode ver há muito para além das hortênsias e dos romeiros, tema desesperado de tanto aspirante a escritor numa eterna antologia de autores açorianos, mas nem todos eles serão obreiros de verdadeira literatura. [32] Deixei premeditadamente para o fim Cristóvão de Aguiar13, um escritor incómodo. Não só se libertou das grilhetas do cativeiro confinado da ilha como demonstrou com a sua prolífica publicação aquilo que mais se entreteve a negar: a existência de uma literatura açoriana. Exigente consigo e com os outros, com fama de intransigente, não se inibe com polémicas e controvérsias. Domina a língua como só os grandes escritores almejam, enquanto se deixa consumir na incandescente falta de confiança genética de ilhéu. Eterno insatisfeito burila as filigranas letras com que nos enleia no basalto da sua ilha adotiva, o Pico. Como visitou e viveu para lá da fronteira invisível do grande Mar Oceano olha retrospetivamente para o Pico da Pedra, em São Miguel, onde nasceu, e vislumbra a pequenez das gentes encarceradas nas ilhas, contentadas com qualquer emigração económica e a canga feudal que persiste. Pedaços de gente dura e impiedosa cumprindo rituais. Intolerante, devota e invejosa na sua ânsia de emigrar. Depois, o regresso de aparência gloriosa, mas sem acarrearem na desafogada bagagem algo de valor. Apenas dinheiro e bens materiais. Sobre a sua marilha natal, diz Cristóvão: São Miguel já não é a mesma Ilha onde fui nado e criado e vivi até à arrogância dos vinte anos. Pude verificá-lo, há pouco, durante o 4.º Encontro Açoriano da Lusofonia, em que, para regozijo meu, não encontrei os costumeiros intelectuais de pacotilha, que sabem tudo quanto no Universo se passa, com retrato de pose na galeria dos imortais há muito mumificados… Nem é sequer a mesma Ilha que foi, 11 Oriana ou o nome das coisas. 12 2.ª ed. Salamandra. 13Poesia: Mãos Vazias; ed. do Autor, com a Chancela da Livraria Almedina, Coimbra, 1965, O Pão da Palavra; Cancioneiro Vértice, Coimbra, 1977, Sonetos de Amor Ilhéu; ed. do Autor, Coimbra, 1992. Prosa: Breve Memória Histórica da Faculdade de Ciências (II Centenário da Reforma Pombalina), Coimbra, 1972; Alguns dados sobre a Emigração Açoriana; Separata da Revista Vértice, Coimbra, 1976; Raiz Comovida (A Semente e a Seiva; 1.ª ed., Coimbra, 1978 (Prémio Ricardo Malheiros Academia de Ciências Lisboa); Raiz Comovida II (Vindima de Fogo); 1.ª ed., Coimbra, 1979; Raiz Comovida III (O Fruto e o Sonho); 1.ª ed., Angra do Heroísmo, SREC, 1981; Raiz Comovida (Trilogia Romanesca); Revista e remodelada num Volume, Editorial Caminho, Lisboa, 1987, Edições D. Quixote, Lisboa, 2003; Ciclone de Setembro; (Romance ou o que lhe queiram chamar), Editorial Caminho, Lisboa, 1985, Incluído agora no romance Marilha, Publicações D. Quixote, 2005; Com Paulo Quintela à mesa da tertúlia; Nótulas Biográficas, Publicações da Universidade de Coimbra, 1986, 2.ª ed. revista e aumentada, Imprensa da Universidade, 2005; Passageiro em Trânsito; Novela em Espiral ou o Romance de um ponto a que se vai sempre acrescentando mais um conto, Editora Signo, Ponta Delgada, 1988; 2.ª ed. refundida, Salamandra, Lisboa, 1994; Emigração e outros temas ilhéus; Miscelânea, Editora Signo, Ponta Delgada, 1992; A Descoberta da Cidade e outras Histórias; Contos, Editora Signo, Ponta Delgada, 1992; Um Grito em Chamas; Polifonia Romanesca, Edições Salamandra, Lisboa, 1995, integrado no Romance Marilha; Relação de Bordo (1964-1988); Diário ou nem tanto ou talvez muito mais (Grande Prémio da Literatura Biográfica da Ape / CMP), Campo das Letras, 1999; Relação de Bordo II (1989-92); Diário ou nem tanto ou talvez muito mais, Campo das Letras, 2000; Relação de Bordo III, Diário ou nem tanto ou talvez muito mais, P. D. Quixote, 2004; Trasfega, Casos e Contos, Prémio Miguel Torga / Cidade de Coimbra, 2002; Marilha, Sequência Narrativa, D. Quixote, 2004; A Tabuada do Tempo, Prémio Miguel Torga, Almedina, 2006; Miguel Torga – O Lavrador das Letras – Um Percurso Partilhado, Almedina 2007; Braço Tatuado – Retalhos da Guerra Colonial, D. Quixote, 2008. Tradução: A Riqueza das Nações, Adam Smith, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982. Colaboração: Vietname; Antologia Poética, Nova Realidade, 1970; Antologia de Poesia Açoriana, Org. por Pedro da Silveira, Livraria Sá da Costa, Lisboa, 1977; Para o Mundo de todos os Homens; Pequena Antologia de Poesia de Autores Portugueses Contra o Racismo e Colonialismo, Conselho Português para a Paz e Cooperação, 1977; Antologia Panorâmica do Conto Açoriano, organizada por João de Melo, Vega, Lisboa, 1978; O Eclipse; Extrato de Romance, Revista Vértice, 448, Maio-Junho de 1982 (Número dedicado à Cultura Açoriana, organizado pelo autor); The Sea Within; A Selection of Azorean Poems, Gávea-Brown, Providence, 1983. ECL_Chris_01z_Layout 1 11/27/12 5:41 PM Page 33 A MINHA DESCOBERTA LITERÁRIA AÇORIANIDADE Cristóvão é um permanente Passageiro em trânsito, título do seu mais benquisto livro na rota do inconformismo. É a voz ininterrupta de uma consciência coletiva que não se asfixia. Granjeou o direito a chamar os bois pelo nome sem se deter nas finuras das convenções do parece bem. É crítico impiedoso do destino que alguns queriam eterno, da subserviência e submissão aos senhores das ilhas, descendentes diretos dos feudais opressores da gleba. Narrativas dissecantes que se assemelham a uma técnica de travelling em filmagem. Grandes planos, zooms, e paragens esmiuçadas nos rostos e mentes dos atores principais dos seus diários, intitulados Relação de Bordo (trilogia) e A Tabuada do Tempo. A câmara detém-se e escalpeliza a alma daqueles que filma com palavras aceradas. Dói e magoa como o vento mata-vacas que sopra do Nordeste. Psicanalisando as gentes e a terra que o viram nascer adotou uma nova ilha mátria, em 1996: A Ilha do Pico faz-me as vezes de mulher amada. Desvenda-se aos poucos, em erótico vagar, para se lhe descobrir os recantos e sortilégios mais íntimos. E nunca se chega, nem se precisa, ao cerne do feitiço... Meio encoberta, meio desnudada, sempre ataviada de cheiros exóticos e eróticos, faz com que se abram as narinas de cio. Colhem os olhos as tonalidades indefiníveis de seus roxos e azuis, o cinza entorresmado de seus mistérios, seus verdes percorrendo toda a escala cromática, vertidos na paleta primigénia de que se serviu o Criador para matizar a tela da Natureza. Sempre que caem sobre o mar do canal, cavado e furioso ou espelho de Narciso, a Ilha de São Jorge, nua e arroxeada, a garantir mais mundo, os olhos coalham-se de espanto em face do mistério de assistirem ao primeiro dia da Criação...Não cabe no olhar a Montanha bíblica. Extravasa a humana retina. Bíblica. Acredito ter sido em seu cimo, que roça o Céu, que Moisés recebeu as Dez Tábuas da Lei. E de um penedo fez jorrar a água que saciou a sede do seu Povo. Cristóvão de Aguiar não é um autor fácil nem facilita o léxico para leitores de pacotilha. Amaldiçoado mas nunca maldito, outros o forjaram malquisto. Acossado por tudo e por todos. Exige tanto dos seus leitores como de si. As suas palavras pungentes estão gravadas visceralmente num granito alheio às ilhas que se encontra na trilogia Relação de Bordo. No último volume, deparámos com uma interminável história de amor sem que os leitores enxerguem esses arroubos. Ele é o magma de que são feitas as gentes de bem. Terei encontrado o escritor neste amigo novo? Este autor que ora descobri como se o conhecesse há muito, como se tivesse sido irmão caçulo ou compagnon de route 66 à la Jack Kérouac, iluminando o túnel das ideias14. Navego imerso na sua escrita tateando como um recém-nascido fora do ventre materno. Aprendo com este mestre contemporâneo da literatura de matriz açoriana. Muito apoucado me aquilato em tão ínclita companhia. 14 Pressagio cordões umbilicais curiosos. Criamos os sulcos que trilhamos percorrendo as savanas e estepes do sofrimento pessoal, das amarguras e romances que nos embargavam a escrita e nos dispersavam. Plantámos árvores, publicámos poesia e tivemos filhos em buscas incessantes pelo Santo Graal. Cumprimos missões inomináveis no exército colonial português. Em Mafra, Tomar e Leiria. Cristóvão entrou para o Teatro Universitário em Coimbra e eu para o Teatro Universitário do Porto quando me insinuava como jovem independente pensante, batalhando com Zeca Afonso, mestre José Rodrigues e um dos melhores declamadores de sempre, o Mário Viegas. Em Coimbra, o ilhéu Cristóvão lidou com Paulo Quintela, Miguel Torga, Luís Albuquerque, Joaquim Namorado e outros monstros sagrados do nosso imaginário. [33] até há poucos anos, muito nublada, já não digo por um nevoeiro absoluto, mas por alguns resquícios aparentados a certas pesporrências de má memória. Temos, porém, de convir que, durante séculos, certas forças religiosas, conluiadas com todos os poderes, foram o sustentáculo da ignorância abençoada pela trilogia Deus, Pátria e Rei de outros tempos, e Deus, Pátria e Família, do tempo de muitos de nós. Direi como Mestre Gil Vicente: E assim se fazem as cousas. Levou tempo, mas o inevitável aconteceu. Acaba sempre. O medo e outras rançosas virtudes impostos ao espírito e nele lavrado em sulcos mais ou menos profundos (nem toda a terra consente a ignomínia), com relhas enferrujadas e passadistas, têm destes percalços – no ápice de um instante imprevisto esse terreno enfastiado de tanta aridez fementida e coerciva, súbito se devolve à sua límpida condição de húmus que favorece a estrutura do solo e do subsolo e do infra-subsolo: o consciente, o subconsciente e o inconsciente. ECL_Chris_01z_Layout 1 11/27/12 5:41 PM Page 34 Nestas navegações literárias, uma pessoa não lê apenas Cristóvão de Aguiar, empreende uma viagem tridimensional repleta de sentidos. Confluem na escrita como lava “pahoe-hoe” (pron. pah hoi-hoi) de aparência viscosa mas fluida, prateada e entrançada como cordas de baleeiro. A escrita lávica de Cristóvão fica a boiar no nosso espairecido imaginário. Foi ela que nos instigou a rabiscar esta lamentação com o frémito ciumento dos que não conseguem escrever da forma única e inimitável como só ele sabe e sente sobre os Açores. Essa a forma de amar e de ressarcir a terra que o viu nascer... As ilhas irão, um dia, desatar as grilhetas que as enjaulam no passado e Cristóvão ficará então desobrigado da tarefa hercúlea de acarrear a sua ilha como um fardo ou amor enjeitado, que nisto de ilharias há muitas paixões não correspondidas. Termino com o poema “Boeing” de Vasco Pereira da Costa e suas traduções. Nota: Depois disto, os Colóquios da Lusofonia disponibilizaram gratuitamente em linha os Cadernos de Estudos (e Literatura) Açorianos (http://www.lusofonias.eu/estudos-acorianos/estudos-acorianos.html), editados trimestralmente; criaram um Curso de Açorianidade(s) e Insularidade(s) na Universidade do Minho; apoiaram a edição da Antologia Bilingue de (15) Autores Açorianos Contemporâneos; coordenaram a tradução de excertos de obras açorianas em francês, inglês, búlgaro, russo, italiano, romeno, polaco e esloveno, um poema de Vasco Pereira da Costa foi traduzido em 14 línguas (como adiante se documenta) e a obra O Passageiro em Trânsito de Cristóvão de Aguiar foi totalmente traduzida para italiano; mantiveram as homenagens contra o esquecimento convidando vários autores a estarem presentes divulgando as suas obras no Brasil (2010), em Macau (2011) e na Galiza (2012). Tanto que ainda falta fazer para dar a conhecer a matriz açoriana da literatura… [34] ECL_Chris_01z_Layout 1 11/27/12 5:41 PM Page 35 A MINHA DESCOBERTA LITERÁRIA AÇORIANIDADE Em louvor do Boeing 737 À la louange du Boeing 737 Em voo encaro as ilhas corredias num tropel de nuvens tecidas de gaze En vol je fixe mon regard sur les îles qui défilent dans un flot de nuages tissés de gaze Daqui quase a todas podia tocar no húmido quente da sua pele (mulheres de um amor bravo de mar) com uma paixão à Garrett D’ici je les toucherais presque toutes leur peau chaude et humide (femmes d’un amour ardent de mer) passionné comme Garrett E assim veloz as invado alado no Boeing 737 Et ainsi rapide je les envahis Ailé Dans le Boeing 737 (Vasco Pereira da Costa) (Vasco Pereira da Costa) Manuel José Silva - francês LOBREDE AUF DIE Boeing 737 ХВАЛÁ НА БОИНГ 737 Im Fluge betracht ich die Inseln, in einem Durcheinander gleitend von aus Gaze gewobenen Wolken В полет срещам купчината гладки острови, от облаци, тъкани в газ Von hier aus, beinah, könnt ich sie alle berühren in der warmen Feuchte ihrer Haut (Frauen von einer Liebe, wild wie das Meer) mit einer Leidenschaft wie bei Garrett Оттук почти всички аз мога да докосна да сетя кожата им, влажна, топла (жени насред беснеещо в любов море) със страст, подобна на Гарет Und so schnell dringe ich in sie ein beflügelt in der Boeing 737 И тъй стремглаво в тях прониквам с криле на Боинг 737 (Vasco Pereira da Costa) Rolf Kemmler - alemão (Вашку Перейра да Коща) Ilyana Chalakova - búlgaro [35] UM POEMA DE VASCO PEREIRA DA COSTA EM 14 LÍNGUAS ECL_Chris_01z_Layout 1 11/27/12 5:41 PM Page 36 [36] LOF VAN DE Boeing 737 TER ERE VAN DE BOEING 737 In vlucht zie ik de eilanden aanglijden door wolkenhopen van ragfijn gaas Tijdens de vlucht kijk ik recht op de glijdende eilanden in een kleed van wolken uit gaas geweven Van hier kan ik van allemaal bijna de warme vochtigheid aanraken van hun huid (vrouwen van een onstuimige zeeliefde) met een passie als die van Garrett Van hieruit kan ik ze bijna alle aanraken in de vochtige warmte van hun huid (vrouwen met een onstuimige liefde voor de zee) met een hartstocht à la Garrett En zo neem ik ze in bezit op snelle vleugels in een Boeing 737 En zo dring ik ze binnen gezwind en gevleugeld in de Boeing 737 (Vasco Pereira da Costa) Arie Pos - neerlandês (Vasco Pereira da Costa) Francesca Blockheel - flamengo Я вижу в полёте Lauding Boeing 737 острова, скользящие в беспорядке среди сплетённых из марли облаков Отсюда, казалось, я мог бы коснуться During flight I face the running islands in a shuffle of clouds weaved in gauze их всех, их влажной обжигающей кожи (супруги бурной любви морской) со страстью Гарретта I could almost touch them all from here on the humid warmth of their skin (women full of brave sea love) passionate as Garrett Вот так я в них быстро вторгаюсь на крылатом Boeing 737 (Васко Перейра да Коста) Larysa Shotropa - russo And, thus, quick as lightning I invade them winged on a Boeing 737 (Vasco Pereira da Costa) Chrys Chrystello - inglês ECL_Chris_01z_Layout 1 11/27/12 5:41 PM Page 37 A MINHA DESCOBERTA LITERÁRIA 致波音737 737 我在飞 看到如幻的岛屿 洁白的云朵如丝锦 قدحأ ناريطلا لالخ رمت يتلا رزجلا فيط يف فافش بوثك ةجوسنم بحس يف 从这里 伸手可触及 那如热恋中的少妇 肌肤般的湿润 加莱特式的爱情 ابيرقت انه نم اهلك اهسمل يننكمي اهدلج ةبوطر ةرارح رحب بح نونج ءاسن تيراغ قشعك 飞翔 乘着翅膀 在波音737上 ريطأ ةعرسب اذكه و ةحنجأب غنيوب يف737 (Vasco Pereira da Costa) Sun Lam - chinês ةطشوكد ةريغب كشاف Habiba Chafai - árabe Laudă pentru Boeing 737 Pochwała samolotu Boeing 737 În zbor văd Insulele diapozitivate într o îmbulzeală De nori ţesuţi în tifon W locie spotykam Wyspy znikające w galopie jak chmury utkane z muślinu De aici aproape s-ar putea atinge umezeala feirbinte a pielii (femei cu o dragoste nebună de mare) cu o pasiune demnă de Garrett Stąd prawie Każdą mógłbym dotknąć Po gorącej wilgotnej ich skórze (kobiet nieprzytomnie zakochanych w morzu) milością romantyczną jak u Garretta/Mickiewicza Şi astfel fulgerător le invadez înaripat în Boeing 737 W pędzie zdobywam kobiety Uskrzydlony jak Boeing 737 (Vasco Pereira de Costa) Simona Vermeire - romeno (Vasco Pereira da Costa) Anna Kalewska - polaco [37] AÇORIANIDADE ECL_Chris_01z_Layout 1 11/27/12 5:41 PM Page 38 En lloança del Boeing 737 En alabanza del Boeing 737 En vol m'encaro amb les illes furtives en un tropell de núvols teixits de gasa En vuelo me encaro con las islas furtivas en un tropel de nubes tejidas de gasa Des de aqui gairebé totes podria tocar en l'humit calent de la seva pell (dones d'un amor brau de mar) amb una passió a l´estil de Garrett Desde aqui casi todas podría tocar en lo húmedo caliente de su piel (mujeres de un amor bravo de mar) con una pasión a lo Garrett I així veloç les envaeixo alat en el Boeing 737 Y así veloz las invado alado en el Boeing 737 (Vasco Pereira da Costa) Jesus Requena - catalão (Vasco Pereira da Costa) Jesus Requena - castelhano [38] IN LODE DEL Boeing 737 In volo avvisto le isole fluenti in una confusione di nubi tessute di garza Da qui quasi le potrei palpare tutte nell’umido caldo della loro pelle (donne di un amore coraggioso di mare) con una passione alla Garrett E così veloce le invado Alato nel Boeing 737 (Vasco Pereira da Costa) Emmanuele Ducrochi - italiano ATL'12_1as pags + separadores_z_Layout 1 11/27/12 10:36 PM Page 11 ATL'12_1as pags + separadores_z_Layout 1 11/27/12 10:36 PM Page 12 CIÊNCIAS HUMANAS Fotografia de MÁRIO SILVA CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 41 Filipe Pinheiro de Campos ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) A ilha de São Miguel, a maior do Arquipélago, encontra-se dividida em oito Arciprestados compostos por diferentes paróquias: • Arciprestado das Capelas: Ajuda da Bretanha, Fenais da Luz, Matriz das Capelas, Pilar da Bretanha, Remédios, São Vicente Ferreira, Santa Bárbara (Ponta Delgada) e Santo António (Ponta Delgada); • Arciprestado dos Fenais da Ajuda: Achada, Achadinha, Fenais da Ajuda, Lomba da Maia, Maia, Porto Formoso, Salga, Santana e São Brás; • Arciprestado da Lagoa: Água de Pau, Atalhada, Cabouco, Livramento, Ribeira Chã, Rosário e Santa Cruz da Lagoa; • Arciprestado do Nordeste: Algarvia, Matriz do Nordeste, Nossa Senhora da Conceição da Fazenda, Pedreira, Santo António do Nordestinho e São Pedro do Nordestinho; • Arciprestado de Ponta Delgada: Arrifes (Milagres), Arrifes (Saúde), Covoada, Fajã de Baixo, Fajã de Cima, Feteiras do Sul, Ginetes, Matriz de Ponta Delgada, Mosteiros, Nossa Senhora das Candeias (Candelária), Relva, Santa Clara, São José, São Pedro (Ponta Delgada), São Roque e Sete Cidades; • Arciprestado da Povoação: Água Retorta, Faial da Terra, Matriz, Remédios (Lomba do Loução) e Ribeira Quente; • Arciprestado da Ribeira Grande: Calhetas, Conceição (Ribeira Grande), Matriz da Ribeira Grande, Pico da Pedra, Rabo de Peixe, Ribeira Seca, Ribeirinha e Santa Bárbara; • Arciprestado de Vila Franca do Campo: Água de Alto, Matriz de Vila Franca do Campo, Ponta Garça, Ribeira das Taínhas e São Pedro (Vila Franca do Campo). Os documentos correspondentes à ilha de São Miguel, seja de indivíduos naturais da mesma sejam aí residentes correspondem a uma totalidade de 276 maços a que correspondem 7379 documentos1 abarcando um período temporal de 1648 a 1927. Fruto do elevado número de paróquias, naturalmente que o número de documentos é também elevado. Estes, sejam de indivíduos naturais da mesma ou aí residentes correspondem a uma totalidade de 276 maços a que correspondem 7379 documentos abarcando um período temporal de 1648 a 1927. 1 O número poderá não corresponder à realidade uma vez que existem peças soltas pertencentes a um mesmo documento e dispersas por diferentes maços assim como documentos que, não estando agrupados pelo seu processo original, são contabilizados como unitários. [41] Após a publicação do Cartório da Mitra relativo às ilhas de Santa Maria e das Flores, inicia-se neste número a inventariação dos documentos que compõe o mesmo fundo, relativamente à ilha de São Miguel. Pelo elevado número de espécimenes documentais, o trabalho decorrente da inventariação relativa a São Miguel será feito em diferentes partes. CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 42 [42] Entre as diferentes possibilidades de apresentar a tipologia da documentação existente, optamos como nos artigos antecedentes pela sua divisão em categorias para mais fácil indexação se bem que mantendo a numeração atribuída no inventário manuscrito disponível na BPARAH. • Dispensas Matrimoniais (1731-1927) que incluem alvarás matrimoniais, licenças para casamentos e autos de fé de pobreza, destinados à obtenção de dispensa por razões de consanguinidade, afinidade ou por qualquer outro impedimento canónico; • Habilitações de Genere e Ordenações Sacerdotais (1656-1897) compreendem todos os processos de diligências para Inquirição de genere relativos a indivíduos que se pretendem habilitar nas ordens sacras, processos de vita et moribus (de vida e costumes), de ordenação e tomada de ordens assim como colações e nomeações em diferentes benefícios eclesiásticos; • Documentação Diversa (1648-1927) onde se incluem requerimentos, inventários, licenças para oratório, relações e autos de pagamento de direitos de mercê e imposto de selo, breves diversos, autos de redução de legados e reunião de vínculos, atestados, requerimentos e certidões várias, correspondência, relações de empregados, religiosos e sacerdotes, documentação relativa a freiras e conventos, demandas e devassas e avulsos. • Patrimónios Eclesiásticos (1658-1894) onde se incluem todos os processos destinados à constituição e dotação de património temporal para os ordinandos; A indexação que se apresenta no presente artigo contempla a categoria relativa a Habilitações de Genere, Processos de Vita et Moribus e Autos de Colação. CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 43 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA [43] (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Diligências para Inquirição de genere de Leandro de Sousa (10 de Junho de 1699) Doc. 15 Maço 399. CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 44 [44] Processo de vita et moribus de Francisco de Bettencourt (18 de Junho de 1729) Doc. 5 Maço 404. CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 45 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) ARQUIVO REGIONAL DE ANGRA DO HEROÍSMO CARTÓRIO DA MITRA E CABIDO DE ANGRA ILHA DE SÃO MIGUEL HABILITAÇÕES DE GENERE E PROCESSOS DE VITA ET MORIBUS Documento (Sumário) Data Doc. Maço Adriano José de Paiva Inquirição de genere Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Jerónimo Caetano de Paiva e Adriana Rosa Jacinta, ambos da Ribeira Grande, n.p. de Jerónimo de Paiva, da Matriz e de Úrsula da Conceição, de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de António Carreiro de Lemos, de Nossa Senhora da Luz dos Fenais e Bárbara do Sacramento, de Nossa Senhora da Conceição da Ribeira Grande. 16.10.1788 7 413 Alexandre de Sousa Vertente Diligências de Compatriotado Natural da Madeira e morador em Ponta Delgada. 18.08.1764 8 564 Ambrósio do Rego Inquirição de genere Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Sebastião do Rego e Vitória Rodrigues, n.p. de Francisco Martins e Francisca do Rego e n.m. de Pedro da Ponte e Isabel da Silva. 14.03.1686 9 399 André de Bettencourt e Sá Inquirição de genere Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de João Borges da Câmara e de D. Bárbara de Bettencourt. Era primo do Padre João José do Canto, filho de D. Antónia Faustina Leite e Medeiros, irmão do pai do habilitando e também primo do Padre Manuel de Bettencourt e Sá, filho de João de Bettencourt e Sá, irmão da mãe do habilitando. 16.04.1738 4 406 André de Sousa Henriques Inquirição de genere Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de José de Sousa Henriques e Catarina Pacheco, de São Pedro, n.p. de Manuel Travassos, de São Pedro e Maria de Sousa, da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário) e n.m. de Manuel Pereira, de São Pedro e Bernarda Pacheco, da Fajã. Irmão do Padre Nicolau de Sousa Pereira. 26.05.1758 5 410 André de Sousa Henriques Inquirição de genere Natural de Ponta Delgada (São José), irmão do Padre Nicolau de Sousa Pereira, Cura na Ermida de Nossa Senhora da Oliveira da Fajã, filhos de José de Sousa Henriques e Catarina Pacheco, naturais da mesma, n.p. de Manuel Travassos, de São Pedro e Maria de Sousa, da Lagoa e n.m. de Manuel Pereira, de São Pedro e Bernarda Pacheco, da Fajã (Nossa Senhora dos Anjos). 26.05.1758 5 410 16.12.1751 3 409 André Francisco da Rosa Inquirição de genere Natural de Ponta Delgada (São Sebastião) e menino de coro na Matriz da mesma, filho de André da Rosa, natural de Nossa Senhora dos Remédios da Praia (Faial) e de Francisca do Rosário, natural de São Sebastião, n.p. de Sebastião Rodrigues e Maria Furtado e n.m. de Gaspar Pacheco, de Vila do Porto (Santa Maria) e Mariana da Costa, de São Sebastião. [45] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 46 Nome Documento (Sumário) [46] Data Doc. Maço André Francisco do Rego Inquirição de genere. Natural de Santa Luzia das Feteiras, filho de Filipe Martins, natural da mesma e de Teresa do Rego, dos Fenais (Nossa Senhora da Luz), n.p. de João Martins e Maria Rodrigues, ambos das Feteiras e n.m. de Francisco Vieira, natural da Ribeira Grande (Matriz) e Feliciana do Rego, natural dos Fenais. 29.01.1752 4 409 André Manuel Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São José), irmão de António de Fontes e ambos filhos de André de Fontes e Margarida Francisca de Vasconcelos, naturais de São José. 25.07.1755 11 409 António Bernardo da Cunha Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão de José Custódio da Cunha, já habilitado, filhos do Sargento-mor Custódio Vieira Soares da Cunha, de Rio de Moinhos (Penafiel) e de D. Caetana Inácia Leonor, de Ponta Delgada (São Sebastião), n.p. de Manuel Vieira da Cunha e Catarina Ferreira e n.m. de Lourenço Pereira de Carvalho e Margarida Teresa dos Santos. 14.05.1804 2 531 António Caetano da Silva Inquirição de genere. 21.08.1813 Nasceu em Água de Pau em 29.02.1796. Beneficiado na Matriz de Nossa Senhora dos Anjos de Água de Pau, filho de António da Silva Lopes e de Francisca do Espírito Santo, n.p. de Caetano Lopes e Maria da Silva e n.m. de Lourenço da Costa e Rosa de Medeiros. 7 531 António Camelo de Medeiros e João Soares do Rego 2 408 Inquirição de genere. 06.05.1743 Naturais de Santo António, filhos de Manuel Camelo Pavão e de Ana de Medeiros, naturais da mesma, n.p. de Manuel Pavão Camelo, dos Mosteiros e de Francisca de Viveiros, de Santo António e n.m. de Manuel de Medeiros e Ana de Almeida, ambos de Santo António. António da Mota Botelho Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo e morador em Coimbra onde era estudante na Universidade, filho de Pedro Botelho da Mota e de Ana Ferreira, n.p. de Gonçalo de Medeiros da Mota e Isabel Soares e n.m. de João Favela e Catarina Ferreira, todos de Vila Franca do Campo (São Miguel). 14.02.1755 10 409 António de Amaral e Melo Processo de vita et moribus. Natural da Ribeira Seca, filho de Caetano José de Amaral e Rosa Maria, n.p. de António de Amaral e Clara Maria e n.m. de Francisco Tavares e Maria de Melo. 04.02.1840 7 538 António de Matos Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Manuel de Matos Prestes e de Antónia Cabral, naturais da mesma, n.p. de Manuel de Matos e Maria Correia, naturais de São Pedro e n.m. de Manuel da Costa, dos Mosteiros e de Maria Cabral, de São Pedro. 02.01.1751 1 409 António de Sousa Pavão e João de Sousa Pavão Inquirição de genere. Naturais dos Ginetes e moradores na Candelária, filhos do Alferes João de Sousa Pavão e de Maria da Conceição, ambos dos Ginetes, n.p. de Domingos Pavão, de Santa Luzia das Feteiras e Maria Martins, dos Ginetes e n.m. de Brás de Sousa da Mota e de Maria de Sousa Furtado, ambos dos Ginetes. 14.07.1756 3 410 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 47 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço António do Rego Bicudo Inquirição de genere. 22.01.1811 Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel do Rego Baldaia e de Escolástica Maria, naturais da Matriz referida, n.p. de Pedro do Rego Baldaia e Teresa de Paiva e n.m. de José Raposo Bicudo e Maria dos Santos. 5 531 António Feliciano Remy Processo de vita et moribus. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), irmão do Padre João Félix Remy, filhos de José Duarte Remy e de Vicência Rosa Tomázia, n.p. de Bernardo de Sousa Silva e Maria Teresa de Santo André e n.m. de Matias Vieira da Silva e Genoveva Rosa. 20.09.1826 5 538 António Francisco de Melo e Francisco António de Melo Inquirição de genere. 04.01.1789 Naturais da Ribeira Grande, filhos de António de Melo Machado, da Capela de São Gonçalo, São João d’El-Rei e D. Francisca Eufrázia Rosa, da Povoação, n.p. de Pedro de Melo, da referida Capela de São Gonçalo e de Ana Machado, da Capela de Santo António, Senhora do Pilar em São João d’El-Rei (filha de António Machado, da Fonte Bastardo, Terceira e de Catarina da Encarnação, de São Sebastião de Ponta Delgada) e n.m. do Alferes Manuel Nunes Raposo, da Matriz da Ribeira Grande e de D. Antónia Maria, da Povoação. 1 414 António Francisco de Oliveira Inquirição de genere. Natural de Nossa Senhora da Luz dos Fenais, filho de António Francisco de Oliveira e de Quitéria de Jesus, n.p. de Manuel de Oliveira e Francisca de Sousa e n.m. de Simão da Cota e Catarina Álvares, todos dos Fenais. 03.10.1796 3 416 António Francisco de Resende Inquirição de genere. 04.01.1831 Natural da Povoação, filho de António José Jácome Raposo, natural da Povoação e de Rosa Jacinta de Resende, natural de Nossa Senhora da Graça, do Faial, n.p. de António Francisco Rebelo e de Maria Clara Raposo e n.m. de Manuel Francisco de Resende e Bernarda de Jesus. 3 532 António Francisco do Couto Inquirição de genere. Natural de Rosto de Cão, filho de António de Sousa da Mota, de Ponta Delgada (São Pedro) e Francisca Teresa de Sousa, de Rosto de Cão, n.p. de Manuel Rodrigues, de Ponta Delgada (São Sebastião) e Isabel de Sousa, de São Pedro e n.m. de Gonçalo do Couto da Costa e Sebastiana Francisca de Sousa, de Rosto de Cão. 08.11.1753 13 409 António Francisco Tavares Raposo Processo de vita et moribus. Natural de São Miguel de Vila Franca do Campo, filho de António Francisco Botelho Tavares Raposo e de D. Rosa Bernarda Leonora, n.p. do Capitão André Tavares Raposo e de D. Francisca Inácia de Melo e n.m. de Lázaro Francisco Botelho e Úrsula Quitéria. 29.12.1840 4 539 António Jacinto da Câmara Inquirição de genere. 23.07.1795 Natural de Rabo de Peixe, filho do Capitão Maurício de Arruda e Melo, de Rabo de Peixe, e de D. Ana Úrsula da Câmara, da Bretanha, n.p. de Sebastião de Arruda da Costa e D. Maria Antónia de Mello, naturais de Rabo de Peixe, e n.m. de António Moreira da Câmara, da Bretanha, e D. Jerónima Francisca de Vasconcelos, da Candelária. 8 415 António Jacinto de Gouveia Inquirição de genere. Natural de Rabo de Peixe, filho de Francisco Dias de Gouveia e Escolástica Madalena, n.p. de Francisco de Sousa Dias e Maria Joaquina de Gouveia e n.m. de Bonifácio José de Medeiros e Eugénia Rosa, naturais de Rabo de Peixe. 10 533 23.08.1842 [47] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 48 Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço António Jacinto de Gouveia Processo de vita et moribus. Natural de Rabo de Peixe, filho de Francisco Dias de Gouveia e Escolástica Madalena, n.p. de Francisco de Sousa Dias e Maria Joaquina de Gouveia e n.m. de Bonifácio José de Medeiros e Eugénia Rosa, naturais de Rabo de Peixe. 12.09.1843 8 540 António Jacinto de Miranda Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de José Jacinto de Miranda, da Ribeira Seca e de D. Ana Umbelina, da referida Matriz, n.p. de Patrício José da Estrela e Rosa Jacinta de Miranda, ambos da Ribeira Seca e n.m. de Manuel do Rego Baldaia e Bicudo e D. Joaquina Bernarda de Arruda. 28.01.1847 1 535 António Jacinto de Miranda Processo de vita et moribus. 16.05.1848 Natural da Ribeira Seca, filho de José Jacinto de Miranda, da mesma e de D. Ana Umbelina, natural da Ribeira Grande (Matriz), n.p. de Patrício José da Estrela e Rosa Jacinta de Miranda, naturais da Ribeira Seca e n.m. de Manuel do Rego Baldaia e Bicudo e D. Joaquina Bernarda de Arruda, naturais da Ribeira Grande. 1 542 [48] António Jacinto de Sousa Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Francisco de Sousa e de Florinda Rosa, n.p. de António de Sousa e Maria dos Santos, naturais de São Pedro e n.m. de Francisco Tavares, natural das Capelas e Madalena de Jesus, de São Pedro. 09.07.1824 11 531 António Jacinto do Monte Bastos 07.01.1862 10 544 António Jacinto dos Anjos Processo de vita et moribus. 14.11.1864 Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho de Manuel José dos Anjos e Ana Emília. 11 544 António Jacinto Ferreira Machado Inquirição de genere. 02.11.1824 Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de José Inácio Ferreira Machado, natural da Ribeira Grande (Matriz) e de Ana Jacinta, natural de Nossa Senhora da Luz dos Fenais, n.p. de Bento José Carreiro e Rosa Jacinta e n.m. de Pedro de Andrade e Quitéria da Ponte. 12 531 António Jacinto Ferreira Machado Processo de vita et moribus. 11.12.1740 Natural da Ribeira Grande, filho de José Inácio Ferreira Machado, natural da Ribeira Grande (Matriz) e de Ana Jacinta, natural dos Fenais da Luz, n.p. de Bento José Carneiro e Rosa Jacinta e n.m. de Pedro de Andrade e Quitéria da Ponte. 2 539 António Jacinto Moniz Inquirição de genere. Natural da Maia, filho de João do Monte Carvalho, natural da Maia e Joaquina Tomázia da Esperança, de Vila Franca do Campo (São Miguel), n.p. de Francisco do Monte Bastos e Ana Cordeiro e n.m. de António Moniz Furtado e Maria de Jesus. 25.07.1849 8 536 António Jacinto Moniz Processo de vita et moribus. 16.02.1850 3 543 Processo de vita et moribus. Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de José do Monte Bastos e de Maria Cândida de Jesus. CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 49 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço António Jacinto Pacheco Inquirição de genere. 23.11.1845 Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Bento José Pacheco e Josefa Inácia, da mesma, n.p. de António José Pacheco, de Nossa Senhora da Estrela e de Genoveva Rosa, de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de Manuel da Ponte, da mesma e de Ana dos Anjos, da Ribeira Seca. 4 534 António Jacinto Pacheco Processo de vita et moribus. 05.07.1847 Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Bento José Pacheco e Josefa Inácia, da mesma, n.p. de António José Pacheco, de Nossa Senhora da Estrela e de Genoveva Rosa, de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de Manuel da Ponte, da mesma e de Ana dos Anjos, da Ribeira Seca. 8 541 António João de Mendonça Inquirição de genere. Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de António da Cunha Gouveia, de Rosto de Cão, e Antónia Francisca de Mendonça, da Lagoa, n.p. de António Rodrigues e Apolónia da Cunha, ambos de Rosto de Cão e n.m. de Manuel Correia de Mendonça e Josefa de Lima, ambos da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário). 15.04.1765 7 410 António Joaquim da Fonseca e Manuel Raposo da Câmara Inquirição de genere. Naturais de Ponta Delgada (São José), filhos de Gonçalo Raposo da Câmara, natural de São José e de D. Joana Clara Moniz de Ataíde Corte Real, de Lisboa (Santa Engrácia), n.p. de Francisco Pereira de Bettencourt, de São Sebastião e D. Francisca Antónia de Medeiros, de São José e n.m. de António José da Fonseca, da Madalena (Lisboa) e D. Maria Rosa de Ataíde, de Santo Estêvão de Alfama (Lisboa). 30.03.1785 8 412 António José Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho do Alferes Manuel Rodrigues de Matos e Maria Martins Machado, n.p. de João Rodrigues Sacoto e Maria Lopes e n.m. de Francisco Fernandes Orsa e Maria Martins Machado, todos da referida Matriz da Ribeira Grande. 20.03.1756 2 410 António José Inquirição de genere. 20.11.1788 Natural da Ribeira Grande, filho de Francisco Rodrigues e de Rosa Maria, naturais de São Pedro da Ribeira Grande, n.p. de António Rodrigues, da Matriz da Ribeira Grande e Maria Cordeiro, de São Pedro e n.m. de Manuel Vieira, de Nossa Senhora da Conceição e Ana Francisca, de São Pedro, tudo na Ribeira Grande. 10 413 António José Lopes da Luz Inquirição de genere. 23.06.1873 Natural de Água de Pau, morador no Seminário de Santarém, filho de Luciano José Lopes e de Albina de Jesus, n.p. de José Inácio Lopes e Ana Joaquina, ambos de Água de Pau e n.m. de António Furtado, do Porto Formoso e Francisca Cândida, de Agua de Pau. 12 537 4 531 António Leandro Raposo Inquirição de genere. 10.11.1807 Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão do Padre José Miguel Raposo e do Padre João Hipólito Raposo, filhos de Victorino José Nunes e de Maria Madalena, de São Sebastião. [49] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 50 Nome [50] Documento (Sumário) Data Doc. Maço António Miguel, Francisco Xavier, José Severino, André Miguel, Adriano José e Manuel Henriques Inquirição de genere. Naturais de Vila Franca do Campo (São Pedro), com exceção de Manuel, nascido na Matriz, filhos de Miguel Francisco Borges, de São Pedro e Bernarda Francisca de Medeiros, da Matriz de Vila Franca, n.p. de Simão Martins e Catarina Luís, ambos de São Pedro e n.m. de Melchior Fagundes, da Matriz de Vila Franca e Catarina de Matos, de São Pedro de Vila Franca. 12.01.1756 1 410 António Moniz de Medeiros Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel Moniz, natural da Achada Grande e de Maria da Assunção, da Matriz, n.p. de Manuel Moniz e Maria do Amaral, ambos da Achada Grande e n.m. de António de Medeiros, natural do Nordeste e Juliana Botelho, da Achadinha. 02.12.1848 9 535 António Moniz de Medeiros Processo de vita et moribus. 25.07.1849 Natural da Ribeira Grande, filho de Manuel Moniz, natural da Achada Grande e de Maria da Assunção, natural da Ribeira Grande (Matriz), n.p. de Manuel Moniz e Maria do Amaral, naturais da Achada Grande e n.m. de António de Medeiros, do Nordeste e de Juliana Botelho, da Achadinha. 6 542 António Pacheco Ferreira Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Miguel Ferreira e de Maria Pacheco, n.p. de Manuel Ferreira e Joana Fernandes e n.m. de Pedro Figueiredo e Marta Rodrigues, todos naturais da Ribeira Grande. 11.04.1752 5 409 António Rebelo da Gama e Nicolau de Sequeira Machado Inquirição de genere. 02.07.1798 Naturais de Ponta Delgada (São Sebastião), filhos de José Nicolau Rebelo, natural de São Sebastião e de D. Francisca Bonina de Sequeira da Gama, natural de Lisboa (Santa Catarina), n.p. do Dr. António Rebelo Borges, de São José e D. Ana Felícia de Melo, de São Sebastião e n.m. do Sargento-mor José Caetano Correia da Costa, de São José e D. Maria Isabel Filipa de Sequeira da Gama, da Matriz de Santos (Rio de Janeiro). 5 416 António Rebelo da Gama Processo de vita et moribus. 17.09.1803 Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José Nicolau Rebelo, natural de São Sebastião e de D. Francisca Bonina de Sequeira da Gama, natural de Lisboa (Santa Catarina), n.p. do Dr. António Rebelo Borges, de São José e D. Ana Felícia de Melo, de São Sebastião e n.m. do Sargento-mor José Caetano Correia da Costa, de São José e D. Maria Isabel Filipa de Sequeira da Gama, da Matriz de Santos (Rio de Janeiro). 1 538 António Soares Leite Inquirição de genere. Natural da Achadinha, filho de Pedro Soares Leite, da Povoação e de Ana do Amaral, da Achadinha, n.p. de António Furtado Leandro e Bárbara Furtado, ambos da Povoação e n.m. de José de Amaral e Vasconcelos e Maria Correia, ambos da Achadinha. 17.10.1788 8 413 António Torres de Sampayo Inquirição de genere. 05.03.1738 Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de Manuel de Sampayo Aguiar, natural de São Pedro de Ponta Delgada e de Maria Álvares do Cabo, de Lagoa, n.p. de Nicolau Rodrigues de Aguiar, natural de São Pedro e Maria de Sampayo, da mesma e n.m. de João Rodrigues Franco, natural da Lagoa e Mariana Correia, de Ponta Delgada (São Mateus). 1 406 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 51 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Igreja de São José (Convento de Nossa Senhora da Esperança). Igreja de São Pedro. [51] (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 52 Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço 2 414 Bernardo António Pacheco e Resende Inquirição de genere. 12.06.1846 Natural de Ponta Garça, filho de António José Pacheco e Resende, natural da Maia e de D. Inácia Jacinta Pacheco, natural de Ponta Garça, n.p. do Tenente Francisco José Pacheco e Resende e de D. Maria de São José e Bettencourt e n.m. de Bernardo José Pacheco e Bárbara Francisca. 6 534 Bernardo António Pacheco e Resende Processo de vita et moribus. 20.05.1847 Natural de Ponta Garça, filho de António José Pacheco e Resende, natural da Maia e de D. Inácia Jacinta Pacheco, natural de Ponta Garça, n.p. do Tenente Francisco José Pacheco e Resende e de D. Maria de São José e Bettencourt e n.m. de Bernardo José Pacheco e Bárbara Francisca. 7 541 Cândido Moniz Furtado Inquirição de genere 28.01.1846 Natural do Nordestinho, filho de Francisco António de Macedo e Ana Jacinta de Carvalho, naturais do Nordestinho, n.p. de Ventura Rebelo e Maria Pacheco e n.m. de Francisco Machado Furtado e Maria de Carvalho. 5 534 Cândido Moniz Furtado Processo de vita et moribus, sendo então Tesoureiro da Matriz do Nordeste. 22.04.1847 Natural do Nordestinho, filho de Francisco António de Macedo e Ana Jacinta de Carvalho, naturais do Nordestinho, n.p. de Ventura Rebelo e Maria Pacheco e n.m. de Francisco Machado Furtado e Maria de Carvalho. 6 541 Carlos da Fonseca de Medeiros Inquirição de genere Natural de Lagoa (Santa Cruz), irmão de Tomás Pacheco de Arruda e ambos filhos do Capitão Manuel Pacheco Tavares e Maria Cabral de Melo, da mesma. 3 400 Cosme de Frias Pereira Inquirição de genere. 02.06.1736 Natural da Povoação e morador na Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho do Capitão João de Frias Pereira, natural de Vila Franca do Campo (São Miguel) e D. Vitória de Sousa Castelo Branco, da Ribeira Grande (Matriz), n.p. do Capitão Sargento-mor João de Frias Pereira, de Vila Franca do Campo e D. Maria Soares, natural da Maia e n.m. de Manuel de Sousa, natural da Ribeira Seca e Maria Carneiro, natural da Ribeira Grande. 13 405 Cosme José de Sousa Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Cosme José de Sousa e de Luísa Cândida, n.p. de Manuel de Sousa e Luzia do Espírito Santo e n.m. de António Pacheco Ferreira e Maria da Paixão, todos da mesma freguesia da Matriz. 08.02.1840 5 532 Cosme José de Sousa Processo de vita et moribus. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Cosme José de Sousa e de Luísa Cândida, n.p. de Manuel de Sousa e Luzia do Espírito Santo e n.m. de António Pacheco Ferreira e Maria da Paixão, todos da mesma freguesia da Matriz. 12.06.1840 5 532 [52] António Xavier de Sousa Inquirição de genere. 05.01.1789 Natural de São Sebastião de Ponta Delgada, Organista da Igreja de São Pedro e irmão de José Inácio de Sousa, filhos de Bernardo de Sousa, de São Sebastião e de Maria Antónia Joaquina, de São José, n.p. de Manuel de Sousa, da Ilha de Santa Maria e de Maria Furtado, de São José e n.m. de Manuel Machado Coelho e de Clara Machado, ambos de São José de Ponta Delgada. 16.06.1707 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 53 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Igreja do Colégio dos Jesuítas. Igreja da Matriz de São Sebastião. [53] (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 54 Nome [54] Documento (Sumário) Data Doc. Maço Domingos da Rocha Inquirição de genere. Natural da Achadinha, filho de Domingos Vaz Vieira e Bárbara de Oliveira, ambos da Achadinha, n.p. de Domingos Vaz Vieira, da Achadinha e Ana da Rocha Benevides, da Ribeira Grande (Matriz) e n.m. do Capitão António de Amaral, da Achadinha e Ana Furtado, da Povoação. 03.08.1698 13 399 Elizardo José Moreira Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de José Venâncio da Costa e Joaquina Rosa, n.p. de Bernardo Pereira e Francisca do Sacramento e n.m. de António Francisco Moreira e Josefa Rosa da Encarnação, naturais da Ribeira Grande (Matriz). 30.05.1844 13 533 Elizardo José Moreira Processo de vita et moribus. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de José Venâncio da Costa e Joaquina Rosa, n.p. de Bernardo Pereira e Francisca do Sacramento e n.m. de António Francisco Moreira e Josefa Rosa da Encarnação, naturais da Ribeira Grande (Matriz). 31.12.1844 2 541 Estêvão Álvares da Costa Inquirição de genere. Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de Manuel de Matos, de Vila Franca do Campo (São Lázaro) e de Maria da Costa, de Rosto de Cão, n.p. de Manuel de Matos, de São Lázaro e Maria do Amaral, de Vila Franca do Campo (São Miguel) e n.m. de Jerónimo Fernandes e Isabel da Costa. 04.04.1715 10 400 Estêvão de Pimentel Inquirição de genere. Natural da Lagoa (Santa Cruz), filho de Francisco de Paiva Ponte e de Maria de Puga, n.p. de Manuel de Paiva Ponte e Maria Cabral e n.m. de António de Puga Moniz e Catarina de Pimentel. 15.02.1743 10 407 Felisberto Borges Brandão e Teve Inquirição de genere. 12.01.1737 Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho do Alferes Francisco Borges Brandão, natural do Nordeste e D. Antónia Madalena de Medeiros, da Lagoa, n.p. de Manuel Borges Furtado e Ana Correia, naturais do Nordeste e n.m. do Capitão Marcos de Sousa e Medeiros e Maria da Costa Tavares, naturais da Lagoa. 15 405 Filipe Francisco de Medeiros Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Brás de Araújo, de Santo António e de Ângela de Medeiros, da Matriz, n.p. de Amador Dias de Vasconcelos, da Candelária e Ana Cabral, de Santo António e n.m. de Manuel da Costa Luís e Joana de Medeiros, ambos da Matriz da Ribeira Grande. 23.10.1766 2 411 Francisco António Inquirição de genere. Natural da Relva, filho de Francisco de Sousa e Bárbara Furtado, n.p. de Manuel de Sousa e Francisca Ferreira e n.m. de Manuel Furtado e Maria de Sousa, todos naturais da Relva. 08.06.1768 7 411 Francisco António de Macedo Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho do Alferes Francisco Carvalho de Macedo e de Antónia Maria, naturais da mesma, n.p. de Manuel Soares Pereira, dos Fenais de Vera Cruz e Josefa de Carvalho, da Ribeira Grande e n.m. de Sebastião da Costa Maiato e Maria Pacheco, naturais da Ribeira Grande. 03.07.1743 5 408 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 55 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço Francisco António de Medeiros Inquirição de genere. Natural da Maia, filho de Sebastião da Costa e Medeiros e Maria da Costa e Sousa, n.p. de António da Costa Leite e Teresa de Medeiros e n.m. de José da Costa Soeiro e Maria de Sousa, todos da Maia. 24.10.1784 7 412 Francisco Caetano Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de António Caetano Pereira, de Santa Luzia de Angra e Maria da Ressurreição, de São Sebastião de Ponta Delgada, n.p. de Jacinto Pereira e Joana do Rosário, ambos de Santa Luzia e n.m. de Manuel Carvalho, da Fajã e Isabel Ferraz, de Santa Cruz, Lagoa. 01.06.1766 11 410 Francisco Caetano de Amaral Inquirição de genere. 09.02.1755 Natural dos Fenais (Nossa Senhora da Luz), filho do Capitão Francisco de Amaral Raposo e Catarina Rosa, n.p. de Manuel de Sousa Raposo e Bárbara de Amaral e n.m. do Alferes Manuel de Melo de Sousa e Isabel de Viveiros, todos dos Fenais. 9 409 Francisco da Silva Inquirição de genere. Natural dos Fenais da Luz, filho de Manuel da Silva e de Bárbara Rodrigues, naturais da mesma, n.p. de Jerónimo Alves, dos Fenais da Luz e de Maria da Silva, de Ponta Delgada (São Sebastião) e n.m. de José Rodrigues Farto e de Maria das Cortes, dos Fenais da Luz. 15.06.1726 5 403 Francisco da Silva Nunes Inquirição de genere. Natural da Ribeira (Nossa Senhora da Estrela), filho de Manuel Dias Correia e de Maria Alves, n.p. de João Correia e de Maria Dias e n.m. de Manuel da Silva e Maria Alves, naturais da mesma. 25.03.1738 3 406 Francisco de Andrade de Albuquerque Bettencourt, António Feliciano de Andrade, Mateus Francisco de Andrade e Manuel de Andrade Inquirição de genere. 27.02.1789 Naturais de São José (Ponta Delgada), com excepção de Mateus, nascido em Rosto de Cão, filhos de Caetano de Andrade Albuquerque, de São José e de D. Teresa Inocência Taveira da Silveira e Brum, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), n.p. do Dr. Jacinto de Andrade Bettencourt e Albuquerque (batizado como António em São José) e de D. Margarida Maria de Araújo e Vasconcelos, da Fajã e n.m. de Francisco Tavares Homem, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição) e de D. Ana Úrsula Botelho de Arruda, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela). 4 414 Francisco de Benevides Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José Marques, natural dos Ginetes e Catarina de Benevides, natural de Ponta Delgada (São José), n.p. de António Marques e Bárbara de Carvalho, dos Ginetes e n.m. de António Cabral e Bárbara Dias, ambos de São José. 03.11.1755 12 409 18.06.1729 5 404 Francisco de Bettencourt Processo de vita et moribus. Natural de Ponta Delgada (São Mateus), irmão de João Borges, filhos do Capitão Manuel de Medeiros de Sousa, natural de São Roque e de D. Isabel de Quental, natural de São José, n.p. do Capitão José Furtado de Medeiros, de São Sebastião e D. Maria de Medeiros, de São José e n.m. de Pedro Garcia Cordeiro, de São Pedro e Ana Cordeiro de Sampayo, de São José. [55] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 56 Nome Data Doc. Maço Francisco de Borja Pereira Raposo Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José Pereira Raposo e Maria de Jesus, naturais dos Fenais (Nossa Senhora da Luz). Era irmão dos Padres José Francisco Pereira, João José Caetano Pereira e Luís Manuel Raposo. 09.02.1782 2 412 Francisco de Medeiros Inquirição de genere. Natural de Nossa Senhora da Graça do Faial, filho do Capitão André de Medeiros Freitas, da mesma freguesia e de Margarida de Resendes de Macedo, dos Fenais de Vera Cruz, n.p. do Capitão Francisco de Freitas da Costa, de Vila Franca do Campo (Matriz) e de Beatriz de Medeiros, da Achadinha e n.m. do Alferes José da Costa Mendes, de Vila Franca do Campo e Úrsula de Resendes, da Povoação. 08.08.1765 9 410 Francisco de Puga Inquirição de genere. Natural da Lagoa, filho de Francisco de Puga e Maria Marques (inclui escritura de património feita em 26.7.1673 pelo Padre Agostinho da Costa). 20.07.1673 3 399 Francisco de Sousa Raposo Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), irmão do Padre Manuel de Sousa Nunes, Cura da Matriz de Nossa Senhora da Estrela, filhos de Manuel de Sousa Vieira e de Luzia Cabral Nunes, ambos de Rabo de Peixe, n.p. de Pedro Vieira de Sousa, de Rabo de Peixe e de Maria Rodrigues, da Matriz e n.m. de António Cabral Nunes e de Maria da Fonseca, ambos de Rabo de Peixe. 14.01.1728 10 403 Francisco Duarte Inquirição de genere. 07.01.1768 Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel Clemente e de Maria Vieira, ambos da Matriz, n.p. de José da Costa e de Maria Clemente Dias e n.m. de Bartolomeu Vieira e Joana de Sousa, todos da Matriz da Ribeira Grande. 4 411 Francisco Inácio da Silva Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Mateus José, natural de São Pedro (Santa Maria) e de Rosa Vicência, de São Sebastião de Ponta Delgada, n.p. de Francisco Velho e Ana Maria, naturais de São Pedro e n.m. de António da Silva e Inácia Rosa, naturais de São Sebastião. 10.03.1841 1 533 Francisco Inácio da Silva Processo de vita et moribus. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Mateus José, natural de São Pedro (Santa Maria) e de Rosa Vicência, de São Sebastião de Ponta Delgada, n.p. de Francisco Velho e Ana Maria, naturais de São Pedro e n.m. de António da Silva e Inácia Rosa, naturais de São Sebastião. 18.08.1843 6 540 Francisco Inácio de Medeiros Inquirição de genere. 28.06.1769 Natural dos Ginetes, filho de José Pavão de Vasconcelos, dos Mosteiros e de Maria de Medeiros Botelho, da Relva, n.p. de Tomás de Sousa, de Rabo de Peixe e Victória Pavão, dos Mosteiros e n.m. do Capitão Diogo de Viveiros, de Santo António e Isabel Botelho, da Relva. 8 411 Francisco Inácio Raposo Inquirição de genere. Natural da Fajã (Nossa Senhora dos Anjos), filho de Francisco Machado Ferreira, da mesma e de Antónia Jacinta, de Vila Franca do Campo (Matriz), n.p. de Bento Pereira e Bibiana da Conceição e n.m. de Miguel da Costa Raposo e Ana de Andrade. 8 416 [56] Documento (Sumário) 20.06.1799 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 57 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço Inquirição de genere. 26.01.1811 Filho de Manuel José Vieira e de Maria da Estrela. (Compreende ainda as escrituras de dotação de património feitas por Luís da Câmara Coutinho Carreiro e mulher D. Francisca Miquelina de Montojos Paim da Câmara em 27.3.1811 e de seus pais, com data de 25.3.1811). 6 531 Francisco José Inquirição de genere. 28.07.1769 Natural de São José, Ponta Delgada, filho de Miguel de Benevides e Bárbara Francisca, ambos de São José, n.p. de Domingos de Benevides, de São Mateus e Agostinha de Melo, da Relva e n.m. de António Jorge, de São Sebastião e Antónia do Sacramento, de São Mateus. 9 411 Francisco José Barbosa Processo de vita et moribus. Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho de Francisco Furtado e de Francisca Teresa, n.p. de Francisco Furtado e Joana Carneiro e n.m. de Luís Barbosa e Antónia de Medeiros, naturais de Vila Franca. 30.04.1813 2 538 Francisco José de Almeida Inquirição de genere. 29.03.1789 Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de Tomás de Almeida e Costa e de Mariana de Jesus, naturais de São Miguel de Vila Franca, n.p. de Manuel da Costa, de São Pedro de Vila Franca e de Francisca de Almeida, da Matriz e n.m. de Manuel de Sousa Matela, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição) e Margarida Luísa, da Matriz de Vila Franca. 9 414 Francisco José de Benevides Processo de vita et moribus. 03.04.1839 Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de António José da Silva, natural da mesma e de Umbelina Rosa, natural de São Pedro, n.p. de António José da Silva, de São José e Teresa de Jesus, de Vila Franca do Campo e n.m. de António Borges e Mariana Jacinta, ambos de São Pedro. 6 538 12 410 Francisco José de Viveiros Inquirição de genere. 04.08.1788 Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de João de Viveiros, de São Sebastião e de Maria do Espírito Santo, de São José, n.p. de Manuel de Viveiros, das Capelas e Maria da Cruz, de Santo António e n.m. de Tomé de Benevides, de São José e Joana Tavares, da Relva. 3 413 Francisco José de Viveiros Inquirição de genere. Natural de São José (Ponta Delgada), filho de Manuel de Viveiros e de Francisca do Livramento, n.p. de Francisco de Viveiros, de São José e de Ana Gonçalves, de Rabo de Peixe e n.m. de André Machado e de Maria do Rego, ambos de São José. 20.03.1789 7 414 Francisco José do Couto Inquirição de genere. Natural de Rabo de Peixe, filho de João José do Couto e Miquelina Rosa, n.p. de João do Couto e Maria Francisca e n.m. de Antónia Francisca, naturais de Rabo de Peixe. 29.12.1843 12 533 Francisco José do Couto Processo de vita et moribus. Natural de Rabo de Peixe, filho de João José do Couto e Miquelina Rosa, n.p. de João do Couto e Maria Francisca e n.m. de Antónia Francisca, naturais de Rabo de Peixe. 16.12.1846 5 541 Francisco José de Chaves Inquirição de genere. Natural de Ponta Garça, filho de António José Rebelo e de Maria do Rosário de Chaves, n.p. de Manuel Furtado Rebelo e Joana Furtado, naturais de Ponta Garça e n.m. de Diogo de Chaves Sarmento e Margarida de Sousa, naturais de Vila Franca do Campo (Matriz). 21.06.1766 [57] Francisco Inácio Vieira CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 58 Nome [58] Documento (Sumário) Data Doc. Maço Francisco José do Rego Baldaia Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de João do Rego Baldaia e de D. Maria de São José Bicuda, n.m. de Francisco do Amaral e de D. Maria Bicuda, ambos da mesma freguesia. Era irmão do Padre José Francisco do Rego Baldaia, nascido em 22.9.1755. 12.05.1796 9 415 Francisco José Martins Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), irmão do Cura António Jacinto Martins, e ambos filhos de Luís Francisco Martins e Genoveva Rosa, n.p. de António Martins Cabaço e Maria do Rosário e n.m. de José Tavares e Flávia Maria. 18.09.1830 2 532 Francisco José Moreira e Inquirição de genere. 18.02.1770 Estêvão Manuel Moreira Naturais de Vila Franca do Campo (São Miguel), filhos do Alferes Estêvão Dias Moreira e Antónia Margarida de Frias, naturais de São Miguel de Vila Franca do Campo, n.p. do Ajudante Domingos Dias Moreira, de Nossa Senhora da Estrela, Ribeira Grande e Agostinha de Sousa, de Vila Franca e n.m. de Apolinário Correia e Margarida de Oliveira, ambos de Vila Franca do Campo. 10 411 Francisco José Pereira Inquirição de genere. Natural de Rabo de Peixe, filho de Miguel Moniz de Faria, de Rabo de Peixe e de Rosa Maria Pereira, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), n.p. de Matias Simões Dias e Maria Moniz Cabral e n.m. de Manuel Pereira Luís e Antónia Maria. 13.05.1796 1 416 Francisco Luís Raposo, João José Raposo e José Miguel Raposo Inquirição de genere. Naturais de Ponta Delgada (São Sebastião), filhos de Vicente José Nunes e de Maria Madalena Rosa, naturais de São Sebastião, n.p. de José de Sousa Nunes, de São José e Maria Martins, de São Sebastião e n.m. de João Francisco, de Nossa Senhora do Rosário da Lagoa e Antónia Francisca, de São Sebastião. 18.07.1794 4 415 Francisco Moniz da Rocha Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Martinho da Rocha, da mesma e de Francisca Moniz da Costa, natural da Ribeira Seca, n.p. de Lourenço da Rocha, de São Sebastião e de Maria Moreno, de São José e n.m. do Capitão Francisco de Mariz Carneiro e Isabel Carneiro, da Ribeira Seca. 05.10.1743 9 408 Francisco Paulo de Melo Inquirição de genere Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Melchior Gomes de Melo e Rosa Francisca, ambos da Matriz de Vila Franca, n.p. de Melchior Gomes de Melo, de Vila do Porto e Maria de Matos, da Matriz de Vila Franca e n.m. de Domingos Franco de Andrade e de Maria Jácome de Melo, ambos da Matriz de Vila Franca do Campo. 17.03.1768 5 411 Francisco Soares de Oliveira Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Francisco Soares e de Maria de Matos, naturais da Matriz, n.p. de Francisco Soares, da Matriz e Josefa de Oliveira, de Ponta Garça e n.m. de Francisco de Matos e Úrsula da Costa, ambos da Matriz. 15.08.1788 6 413 Francisco Soares de Oliveira Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo, filho de Francisco Soares de Oliveira e de Mariana de Jesus, n.p. de José Soares e Flora Jacinta, naturais da Matriz de Vila Franca e n.m. de Filipe Tavares e Mariana do Rosário, naturais de São Pedro da mesma. 11.02.1845 1 534 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 59 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço Francisco Soares de Oliveira Processo de vita et moribus. Natural de Vila Franca do Campo, filho de Francisco Soares de Oliveira e de Mariana de Jesus, n.p. de José Soares e Flora Jacinta, naturais da Matriz de Vila Franca e n.m. de Filipe Tavares e Mariana do Rosário, naturais de São Pedro da mesma. 28.03.1848 2 542 Francisco Tavares de Brum Processo de vita et moribus. Natural de Rabo de Peixe, filho de Manuel Alves Nunes e de Maria Úrsula, n.p. de António Álvares Nunes e Úrsula dos Santos e n.m. de João Pedro Tavares e Maria Tavares. 12.07.1826 3 538 Francisco Xavier Botelho Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Manuel Furtado Botelho, dos Fenais de Vera Cruz e Teresa de Araújo, da Matriz de Vila Franca, n.p. de Manuel Furtado Botelho e Maria Moniz, ambos dos Fenais e n.m. de Gonçalo da Costa e Maria Ferreira, ambos da Matriz de Vila Franca do Campo (era irmão do habilitado Matias Francisco de Araújo, nascido em 16.2.1730). 02.09.1784 6 412 Francisco Xavier Soares, José Luciano e Vicente Soares Inquirição de genere. Naturais de São Sebastião de Ponta Delgada, filhos de João Soares de Sousa Teixeira de Albergaria, de São Pedro e de D. Francisca Tomázia Brum da Silveira, de São Pedro, n.p. de António Soares de Sousa Ferreira, de São Pedro e de D. Bárbara Mariana do Canto, de São Sebastião e n.m. de Rodrigo Velho de Melo Cabral e de D. Catarina Mariana da Silveira, ambos de São José. 12.03.1789 6 414 Gabriel Pereira de Mendonça Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de António Gonçalves Velho e Teresa Pereira de Mendonça, naturais de São Sebastião, n.p. de António Gonçalves Velho e Joana da Rocha Machado, ambos de São Bartolomeu (Terceira) e n.m. de Manuel João e Maria Rodrigues Maciel, ambos de São Sebastião. 02.11.1723 9 402 Gaspar da Silva Raposo Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão do Padre Francisco da Silva, filhos de João Raposo e Bárbara da Silva. 06.03.1743 11 407 Gaspar José Correia Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião) e morador em Coimbra, formado na Faculdade de Cânones, filho de Pedro da Ponte Bicudo, natural da mesma e de D. Maria Úrsula Corte Real, natural de Angra (Sé), n.p. de Manuel Raposo Correia, de Rosto de Cão e de D. Maria da Câmara e Medeiros, de São José (Ponta Delgada) e n.m. de António de Brum da Silveira, da Matriz do Salvador (Horta) e D. Catarina de Brum, natural de Angra (Sé). 15.03.1738 2 406 Henrique Botelho Figueira Inquirição de genere. 25.01.1741 Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de José Botelho Figueira e Sebastiana Guerreiro, n.p. de Manuel Figueira e Isabel Botelho e n.m. de Jorge Rodrigues Piquetes e Maria Guerreiro, naturas de Vila Franca do Campo. 13 406 [59] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 60 Nome Data Doc. Maço Henrique de Melo Inquirição de genere. Natural de Rosto de Cão, filho de João de Melo, natural de Santa Maria (São Pedro) e de Maria do Couto, de Rosto de Cão, n.p. de António Velho, de São Pedro e de Inês de Fontes, de Santo Espírito na mesma ilha, n.m. de Manuel de Medeiros Sousa e Maria do Couto, ambos de Rosto de Cão. 17.02.1726 2 403 Henrique Manuel de Melo Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho do Alferes Francisco de Frias Machado e Maria de Melo Cabral, naturais da Ribeira Grande, n.p. de Bartolomeu de Frias Camelo e Maria de Medeiros, naturais de São Pedro e n.m. de João de Almeida Mascarenhas e Maria de Melo Cabral, naturais da Ribeira Grande. 05.11.1731 3 405 Henrique Martins Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de António de Sousa Nunes, natural de São Mateus e de Antónia Cabral, de São Pedro, n.p. de António de Sousa Nunes e Catarina Martins, ambos de São Mateus e n.m. de Manuel Martins Prestes e Maria Luís da Rocha, ambos de São Sebastião. 20.04.1724 11 402 Inácio da Costa Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Inácio da Costa, de São Sebastião e Maria Correia, de São Mateus da mesma cidade, n.p. de Inácio da Costa e Clara Lopes, ambos de São Sebastião e n.m. de Jorge Furtado, de São Mateus e Catarina das Cortes, das Capelas. 10.08.1698 14 399 Inácio Manuel da Cunha Inquirição de genere. Natural da Relva, filho do Alferes Manuel da Cunha e de Rosa Francisca, naturais da Relva, n.p. do Capitão João Pavão e de Antónia da Cunha, ambos da Relva e n.m. do Capitão Leandro de Sousa e Vasconcelos, de Santo António e de Antónia Francisca de Vasconcelos, da Relva. 10.03.1789 5 414 Inácio Xavier Jácome Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Francisco da Costa Silva, do Porto Formoso e de Maria Margarida Jácome, da Matriz de Vila Franca, n.p. de Manuel Fernandes da Costa e Maria da Silva, ambos do Porto Formoso e n.m. de Domingos de Paiva e Margarida de Matos, ambos de Vila Franca do Campo. 10.11.1767 3 411 Jacinto Botelho do Amaral Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de José Bento Pereira e de Antónia Luciana, naturais da mesma, n.p. de Bento Pereira e Inácia Jacinta, de Vila Franca e n.m. de Silvestre Botelho, de Vila Franca e Antónia Jacinta, de Ponta Garça (inclui Património Eclesiástico de 22.11.1849 com escritura de património feita em 13.12.1849 por Teotónio Claudino da Silveira, bacharel em Direito e processo de vita et moribus de 09.11.1849). 16.01.1849 1 536 Jacinto de Medeiros Costa Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de António de Medeiros e de Teresa Inácia, n.p. de Manuel de Medeiros, de Ponta Garça e Bárbara da Conceição, da referida freguesia de São Miguel e n.m. de José Bento, de Ponta Garça e Rosa da Assunção, de São Miguel. 21.01.1831 4 532 [60] Documento (Sumário) CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 61 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço Jacinto Félix de Paiva Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Félix José de Paiva, da Matriz e Jacinta Querubina, de Nossa Senhora da Conceição da mesma vila, n.p. de João de Paiva e Antónia Maria, ambos da Matriz e n.m. de José Francisco da Silva, da Achadinha e Teresa de Jesus, de Nossa Senhora da Conceição. 24.05.1841 3 533 Jacinto Félix Machado Inquirição de genere. Natural do Nordeste, filho de Roberto Soares de Amaral, do Nordeste e de Mariana de Jesus, de São Pedro do Nordestinho, n.p. de Sebastião Machado e Rosa de Amaral, ambos do Nordeste e n.m. de António Borges e Maria Clara. 16.05.1840 8 532 Jacinto Ferreira do Couto Inquirição de genere. Natural da Ribeira Seca, filho de José Ferreira do Couto e de Maria Jacinta Borges, n.p. de Luís Ferreira do Couto e Maria do Nascimento e n.m. de António Pedro Cabral e Maria Rita da Paixão, todos da Ribeira Seca. 24.01.1856 6 537 Jacinto Inácio de Medeiros Inquirição de genere. Natural da Maia, filho de José Lopes, natural do Porto Formoso e de Maria Joaquina de Medeiros, natural da Maia, n.p. de António Lopes e Francisca do Couto e n.m. de Manuel de Medeiros Nunes e Rosa Maria. 27.10.1848 6 535 Jacinto Inácio de Medeiros Processo de vita et moribus. Natural da Maia, filho de José Lopes e de Maria Joaquina de Medeiros, n.p. de António Lopes e Francisca do Couto, naturais da Maia e n.m. de Manuel de Medeiros Nunes e Rosa Maria, naturais do Porto Formoso. 09.12.1849 8 542 Jacinto Inácio de Melo Processo de vita et moribus. Natural do Nordeste, filho do Capitão Jordão Francisco de Melo, do Nordeste e de Margarida Rosa de Medeiros, de Nossa Senhora da Graça do Faial, n.p. de Manuel Bulhões, natural da Ribeira Seca e Emerenciana Correia, do Nordeste e n.m. de Manuel de Medeiros Sampayo e Margarida Rosa de Resendes, naturais do Faial. Incluiu processo de património com escritura de dotação feita em 30.12.1840 por seu tio José Jacinto de Melo. 12.02.1841 6 539 Jacinto Inácio de Sousa Inquirição de genere. 09.06.1851 Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de Jacinto Inácio de Sousa Sénior, de São José e de Maria Amália de Abranches, de São Pedro de Folhadosa, n.p. de José Inácio de Sousa e Rosa Jacinta, ambos de São José e n.m. de Manuel António de Abranches e Rita Margarida de Elvas, naturais da Folhadosa. 2 537 Jacinto Inácio de Sousa Processo de vita et moribus. 09.07.1851 Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de Jacinto Inácio de Sousa Sénior, de São José e de Maria Amália de Abranches, de São Pedro de Folhadosa, n.p. de José Inácio de Sousa e Rosa Jacinta, ambos de São José e n.m. de Manuel António de Abranches e Rita Margarida de Elvas, naturais da Folhadosa. 2 544 [61] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 62 Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço Inquirição de genere. 14.05.1804 Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão de José Custódio da Cunha, já habilitado, filhos do Sargento-mor Custódio Vieira Soares da Cunha, de Rio de Moinhos (Penafiel) e de D. Caetana Inácia Leonor, de Ponta Delgada (São Sebastião), n.p. de Manuel Vieira da Cunha e Catarina Ferreira e n.m. de Lourenço Pereira de Carvalho e Margarida Teresa dos Santos. 2 531 Jacinto José Moreira e José Francisco Moreira Inquirição de genere. Naturais da Ribeira Grande (São Pedro), filhos de José Moreira e Josefa Maria, naturais da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), n.p. de Francisco Moreira e Antónia Maria, de São Pedro da Ribeira Seca e n.m. de João da Costa Chadinha, da Achada e de Catarina de Sousa, de Nossa Senhora da Conceição. 28.08.1784 5 412 Jacinto José Vieira da Fonseca Inquirição de genere. Natural das Capelas, filho de Sebastião Vieira da Fonseca e de Antónia Francisca de São José, n.p. de Manuel Vieira da Mota e de Maria da Fonseca, ambos dos Fenais e n.m. de Miguel da Costa e Maria Pereira, de Ponta Delgada (São José). 07.06.1795 6 415 Jacinto Pacheco do Amaral Inquirição de genere. 22.08.1846 Natural da Achadinha, filho de António de Sousa Cabral e de Mariana Vitória do Amaral, n.p. de Eusébio de Sousa e Antónia Cabral, naturais da Achadinha e n.m. de Manuel Garcia, da Povoação e Ana Jacinta do Amaral, da Achadinha. Inclui património (21.12.1846) feito por escritura de 28.08.1846 por José Borges, Maria Luísa, Francisca Tomázia e Jacinta Flora e processo de vita et moribus (17.12.1840). 8 534 Jerónimo de Paiva e Lemos Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Adriano José de Paiva e Lemos e de Albina Mariana de Arruda, naturais da referida freguesia da Ribeira Grande, n.p. de Jerónimo Caetano de Paiva e Adriana Rosa e n.m. de Duarte José Rebelo e Maria Leonor de Arruda. 04.06.1830 1 532 João Alves Ribeiro Inquirição de genere. Natural da Lagoa (Santa Cruz), filho de Fortunato Alves Ribeiro e Antónia Tomázia do Coração de Jesus, naturais da Lagoa, n.p. de Joaquim José de Melo e Francisca Inácia de Jesus, ambos de Santa Cruz e n.m. de Apolinário José, de Santa Cruz e de Ana Joaquina, de Nossa Senhora do Rosário da Lagoa. 12.03.1859 9 537 João António Botelho Inquirição de genere. 29.05.1848 Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel José Botelho e de Delfina Rosa, n.p. de Francisco Botelho e Rosa Maria, naturais da referida Matriz e n.m. de Custódio Pacheco, da Ribeira Grande (Conceição) e Maria Vieira, da dita Matriz. 5 535 João António Botelho Processo de vita et moribus. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel José Botelho e de Delfina Rosa, n.p. de Francisco Botelho e Rosa Maria e n.m. de Custódio Pacheco e Maria Vieira, naturais da Ribeira Grande. 5 542 [62] Jacinto José da Cunha 24.07.1849 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 63 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço João Borges da Câmara e Inquirição de genere. Gonçalo Raposo Naturais de Ponta Delgada (São Sebastião), filhos do Capitão Manuel Raposo Bicudo e de da Câmara D. Mariana da Câmara, naturais de São Sebastião, n.p. do Capitão Antão Pacheco de Sousa, de São Sebastião e Maria Carneiro Bicudo, da Ribeira Grande e n.m. do Capitão Manuel Rebelo Furtado, de São Pedro e D. Maria da Câmara, de São Sebastião. 26.04.1719 4 401 João Borges de Macedo, Tomás Francisco de Macedo e Francisco Borges da Costa 10.05.1729 3 404 08.07.1753 6 409 João Borges de Medeiros Inquirição de genere. 05.02.1726 Natural de Ponta Delgada (São José), filho do Capitão Manuel de Medeiros, de São Sebastião e de D. Isabel de Quental, de São José, n.p. do Capitão José Furtado de Medeiros, de São Sebastião e de D. Maria de Bettencourt, de São José e n.m. de Pedro Garcia Cordeiro, de São Pedro e de Ana Cordeiro de Sampayo, de São José de Ponta Delgada. 1 403 João Cabral de Mendonça e Francisco Inácio de Mendonça Inquirição de genere. 21.07.1750 Naturais de Vila Franca do Campo (São Pedro), filhos de Amaro Teixeira e de Bárbara Luís, naturais da mesma, n.p. de Miguel Teixeira e de Isabel Cabral e n.m. de Manuel Teixeira e Maria Mendes, de São Pedro de Ponta Delgada. 21 408 João Cordeiro Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de André Moreira, natural da Ribeira Seca e Maria Luís, de Nossa Senhora da Estrela, n.p. de Inácio Cordeiro e Isabel Gonçalves e n.m. de Manuel da Costa e Maria Luís. 13.02.1733 10 405 João Crisóstomo, António Jacinto e Francisco Joaquim Inquirição de genere. Naturais de Ponta Delgada (São Sebastião), filhos de João dos Santos e Rosa Maria, n.p. de José Martins, natural de São José e Antónia do Sacramento, natural de São Sebastião e n.m. de Manuel de Sousa, natural de São José e Ana dos Anjos, de São Sebastião. 28.04.1799 7 416 João da Costa Morato Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de João Morato e de Teresa Palmeiro, n.p. de Manuel Vieira Morato, natural de Rabo de Peixe e Maria Teixeira, da Ribeira Grande e n.m. de Manuel da Costa e Bárbara Palmeiro, da Ribeira Grande. 28.08.1731 1 405 João de Azevedo Furtado de Mendonça Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel Vaz de Campos e de Luísa de Sampayo, naturais da mesma, n.p. de Manuel Correia e Úrsula Ribeiro e n.m. de António Clemente e Luzia da Costa, todos da Ribeira Grande. 09.05.1748 18 408 Processo de vita et moribus. Naturais de São Sebastião, filhos de José de Castro de Macedo, de São Pedro e Gertrudes Borges, de São José, n.p. de Manuel de Castro, dos Fenais da Luz e Joana de Pina, de São Sebastião e n.m. de Manuel de Almeida Quental, do Nordestinho e Úrsula de Sousa e Vasconcelos, dos Mosteiros. João Borges de Medeiros Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São José), filho do Alferes João Borges de Medeiros Bettencourt, natural da mesma e de D. Josefa Francisca do Rego, natural da Relva, n.p. do Capitão Manuel de Medeiros de Sousa, de Rosto de Cão e D. Isabel do Quental, de São Pedro e n.m. do Alferes João Velho Cabral de Melo e Antónia Maria, ambos da Relva. [63] (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 64 Nome [64] Documento (Sumário) Data Doc. Maço João de Fontes Ferraz Júnior Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (Matriz), filho de João de Fontes Ferraz e de Joana Amélia Correia. 25.01.1897 13 João de Fontes Ferraz Júnior Processo de vita et moribus. Natural de Ponta Delgada (Matriz), filho de João de Fontes Ferraz e de Joana Amélia Correia. 25.01.1897 13/14 544 João de Medeiros Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Manuel de Medeiros Pimentel, natural da Lagoa (Santa Cruz) e de Isabel da Costa, natural de São Pedro, n.p. de Pedro Mendes e Maria Fernandes, ambos da Lagoa e n.m. de Bartolomeu Fernandes e Isabel da Costa, ambos de São Pedro. 18.12.1705 20 399 João de Medeiros Maeda Inquirição de genere. 20.03.1747 Natural da Lagoa (Matriz), filho de José de Medeiros Maeda e de Maria do Couto, n.p. de João de Medeiros, natural da Lagoa e Maria Rodrigues, natural da Ribeira Grande (Matriz) e n.m. de Agostinho Fernandes de Reboredo e Isabel do Couto, naturais da Lagoa. 16 408 João de Medeiros Raposo Inquirição de genere. Natural da Achada Grande, filho do Capitão António de Medeiros Raposo, natural do Nordestinho e Joana do Amaral e Vasconcelos, natural da Achadinha, n.p. de Domingos Carvalho e Maria de Susa de Medeiros, do Nordestinho e n.m. do Capitão Manuel Vieira Nunes e Bárbara de Amaral e Vasconcelos, da Achadinha. 03.05.1740 9 406 João de Paiva Moniz Inquirição de genere. 25.04.1727 Natural de Rabo de Peixe, filho de Manuel Gonçalves Moniz e de Guiomar Nunes, naturais de Rabo de Peixe, n.p. de Manuel Gonçalves e Ana da Silva, ambos de Rabo de Peixe e n.m. de Baltazar Vaz, de Rabo de Peixe e de Jerónima Gomes, da Matriz da Ribeira Grande. 7 403 João de Sousa Inquirição de genere. 06.03.1741 Natural do Rosto de Cão, filho de Lourenço de Sousa e Josefa de Almeida, n.p. de António Correia, de Rosto de Cão e Maria Leda, da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário) e n.m. de Manuel Gonçalves, da Relva e Maria Jorge, de Ponta Delgada (Chagas). 14 406 João de Sousa Machado Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de João de Sousa de Viveiros e de Isabel de Sousa Machado, ambos de São Pedro, n.p. de André de Sousa Faleiro, de Rosto de Cão e de Antónia de Viveiros, de São Pedro e n.m. de Lourenço de Sousa, de São Pedro e Teresa Machado, da Fajã. 1757 4 410 João do Sacramento Inquirição de genere. Natural dos Fenais de Rabo de Peixe, irmão no Vale da Piedade de Água de Pau, filho de Manuel Raposo Moreira e de Maria de Paiva, ambos dos Fenais de Rabo de Peixe, n.p. de Sebastião Raposo e Bárbara de Sousa, da mesma e n.m. de João de Lima, também dos Fenais e Ana de Paiva, da Lagoa. 08.12.1705 19 399 João Eloy do Rego Processo de vita et moribus. Inclui Demissória de 13.11.1867. 17.06.1867 12 544 537 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 65 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço João Emídio Botelho e Manuel Sabino Botelho Inquirição de genere. Naturais de Lisboa (Santos-o-Velho), filho de João Botelho Neves e Escolástica Rosa, n.p. de Manuel Botelho e Antónia de Almeida e n.m. de Francisco de Viveiros e Maria Rosa, todos da Relva. 04.12.1799 9 416 João Francisco Botelho de Bulhões Inquirição de genere. Natural da Povoação, filho de Lourenço Botelho de Bulhões, da Relva e de Teresa Maria de Vasconcelos, da Povoação, n.p. de Matias Rodrigues, das Feteiras e Joana Botelho, da Ribeira Seca e n.m. de Manuel Teixeira Fernandes, do Nordeste e Maria Vieira de Vasconcelos, dos Fenais de Vera Cruz. 04.02.1766 10 410 João Francisco de Pimentel Inquirição de genere. 19.09.1771 Natural de Santa Cruz, Lagoa, filho de Francisco de Paiva Pimentel, de Santa Cruz, Lagoa, e de Antónia de Sousa, de Nossa Senhora do Rosário da Lagoa, n.p. de Francisco de Paiva Pimentel, de Santa Cruz, Lagoa e de Teresa Francisca da Rocha, da Maia e n.m. de Manuel de Sousa dos Prazeres, de Rabo de Peixe e de Ângela de Lima, de Nossa Senhora do Rosário da Lagoa. 12 411 João Gaspar da Silva Inquirição de genere. Natural da Relva, filho de Manuel da Silva, de São José e de Rosa Jacinta, da Relva, n.p. de João da Silva e Teresa Cordeiro, naturais de São José e n.m. de Manuel Ferreira, da Ribeirinha e Antónia de São João, da Relva. 03.03.1856 5 537 João Inácio de Medeiros Inquirição de genere. 02.01.1742 Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de João de Medeiros, natural das Capelas e de Filipa Tavares, natural de São Pedro, n.p. de João de Medeiros, de Nossa Senhora dos Anjos da Fajã e Catarina Meirinha, das Capelas e n.m. de André Tavares e Maria Lopes, de São Pedro. 1 407 João Inácio Tavares Inquirição de genere. 08.06.1764 Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Domingos Dias Tavares, da Matriz e Isabel Rosa, de Rosto de Cão, n.p. de Manuel Lopes e Maria Lopes, ambos de Rosto de Cão e n.m. de Manuel Rebelo Feio e Maria Álvares de Sousa, de Rosto de Cão. 6 410 João Jacinto Ferreira Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Pedro João Ferreira e Margarida Inácia, n.p. de André Ferreira e Maria Soares e n.m. de José de Sousa Soeiro e Maria Pereira. 27.09.1798 6 416 João Jacinto Pacheco Inquirição de genere. Natural do Nordeste, filho de Francisco Pacheco de Carvalho e Francisca de Jesus, n.p. de Manuel de Carvalho e Maria Pimentel e n.m. de João Furtado e Vitória Maria, naturais do Nordeste. 07.03.1845 2 534 João Jacinto Pacheco Processo de vita et moribus. Natural do Nordeste, filho de Francisco Pacheco de Carvalho e Francisca de Jesus, n.p. de Manuel de Carvalho e Maria Pimentel e n.m. de João Furtado e Vitória Maria, naturais do Nordeste. 07.12.1848 4 542 [65] (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 66 Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço Inquirição de genere. 31.03.1795 Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Manuel dos Santos, natural da Relva e de Maria Francisca Leonor, de São José, n.p. de Manuel de Sousa (filho de Gonçalo de Sousa e Ana de Oliveira, dos Ginetes) e de Maria Ferreira (filha de António Raposo e de Maria Ferreira, da Relva) e n.m. de Miguel António (filho de João da Rocha e Francisca Alves, de São José) e de Quitéria de São José (filha de Manuel Correia de Aguiar e Teresa Rodrigues, de Rosto de Cão). 5 415 João José de Arruda Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (São Pedro), filho de João Álvares Reão e de Rosa Margarida, naturais de São Pedro, n.p. de Manuel Álvares Reão e Maria de Paiva e n.m. de José de Sousa de Amaral e Josefa de Medeiros. 08.08.1788 4 413 João José de Faria Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Francisco dos Ramos e de Francisca Xavier, n.p. de José da Costa Lopes e Joana Rosa e n.m. de Bartolomeu de Faria e Sebastiana de Jesus, naturais de São Sebastião. 06.02.1797 4 416 João José Machado Processo de vita et moribus. 22.02.1815 9 400 João José Machado Processo de vita et moribus. Natural de Ponta Delgada, filho de João Machado e de Ana Luísa Tomázia. 13.07.1814 4 538 João José Pavão Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de João de Sousa Pavão, natural dos Ginetes e de Maria Antónia, de Ponta Delgada (São José), n.p. de António de Sousa Póvoas e Isabel Travassos, ambos dos Ginetes e n.m. de Manuel Furtado, de São José e Ana Pavão, de Santa Luzia das Feteiras. 05.06.1765 8 410 João José Rodrigues, Inquirição de genere. 10.05.1785 André Francisco de Melo Naturais da Povoação, filhos do Alferes João Rodrigues Almeida, da Povoação e de e Eusébio de Melo Francisca Pacheco de São João, de Nossa Senhora da Graça, n.p. de Estêvão Rodrigues da Costa, de Vila Franca (São Pedro) e Antónia Manuel, da Povoação e n.m. de Pedro Lopes de Andrade e Josefa de Melo, ambos do Porto Formoso. 9 412 João José Rodrigues Inquirição de genere. Natural da Ribeira Seca, filho de Manuel Rodrigues e de Francisca Helena, n.p. de Manuel Rodrigues e Maria dos Anjos, da Ribeira Seca e n.m. de Francisco da Ponte Pacheco, do Nordeste e Maria de Medeiros, da Ribeira Seca. 10 536 João José Rodrigues Processo de vita et moribus. 18.01.1851 Natural da Ribeira Grande (Lomba de Santa Barbara), filho de Manuel Rodrigues e de Francisca Helena, naturais da Ribeira Seca, n.p. de Manuel Rodrigues e Maria dos Anjos, da Ribeira Seca e n.m. de Francisco da Ponte Pacheco, natural do Nordeste e Maria de Medeiros, natural da Ribeira Seca. 1 544 João José Soares de Mendonça Inquirição de genere Natural da Povoação, filho de Feliciano Pacheco de Mendonça e Bárbara Soares, da Povoação, n.p. de Pedro Pacheco de Mendonça e de Inês Ferreira e n.m. de Tomás Soares de Arruda e Margarida Ferreira, da Povoação. 4 412 [66] João José da Rocha Nepomuceno 16.09.1849 13.08.1784 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 67 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço João Pedro de Medeiros Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Manuel de Medeiros, natural da Achadinha e de Helena de São João, natural de São Miguel de Vila Franca, n.p. de Pedro Pacheco e Bernarda de Resendes e n.m. de Miguel Rodrigues e Ana da Costa. 08.08.1796 2 416 João Soares Inquirição de genere. Natural de São Sebastião, Ponta Delgada, filho de António Cordeiro, de São José e de Maria Tavares, de São Sebastião, n.p. de Manuel Cordeiro Rodovalho, da Relva e de Ana Soares, de São José e n.m., de Manuel de Almeida, de São Sebastião e de Maria Tavares, da Bretanha. 08.04.1771 11 411 João Soares de Oliveira Processo de vita et moribus. Natural de São Pedro de Vila Franca, filho de António Soares de Oliveira e de Ana Júlia, n.p. de José Soares e Flora Jacinta e n.m. de João Moniz e Teresa Maria de Jesus. Inclui processo de património eclesiástico com escritura de dotação de 27.03.1844 feita por seus pais (2.08.1844). 07.12.1844 1 541 João Soares de Sousa Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Manuel Soares e de Jacinta Cândida, naturais de São José, n.p. de João Soares e Rosa Jacinta, ambos de São José e n.m. de José Francisco de Sousa, de São José e Leonor Jacinta da Conceição, natural de Santo António. 13.07.1841 5 533 João Soares de Sousa Processo de vita et moribus. Nasceu em Ponta Delgada (São José), filho de Manuel Soares e de Jacinta Cândida, naturais de São José, n.p. de João Soares e Rosa Jacinta, ambos de São José e n.m. de José Francisco de Sousa, de São José e Leonor Jacinta da Conceição, natural de Santo António. 28.11.1842 2 540 João Tavares Inquirição de genere. Natural de Rabo de Peixe, irmão do Padre Miguel Tavares do Amaral, Cura da Ermida de Nossa Senhora dos Prazeres de Rabo de Peixe, filhos de Miguel da Câmara, natural de Rabo de Peixe e de Maria de Amaral, natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), n.p. de Domingos Pires e Maria Simões, ambos de Rabo de Peixe e n.m. de Amaro da Costa, natural da Lagoa e Francisca do Amaral, de Rabo de Peixe. 08.08.1754 8 409 João Tavares de Oliveira Inquirição de genere. 04.05.1842 Natural de Rabo de Peixe, filho de Francisco Tavares de Oliveira e Antónia Clara de Jesus, n.p. de António Tavares da Costa e Antónia Cabral e n.m. de Francisco Tavares do Couto e Josefa Inácia, naturais de Rabo de Peixe. 8 533 João Tavares de Oliveira Processo de vita et moribus. 18.05.1843 Natural de Rabo de Peixe, filho de Francisco Tavares de Oliveira e Antónia Clara de Jesus, n.p. de António Tavares da Costa e Antónia Cabral e n.m. de Francisco Tavares do Couto e Josefa Inácia, naturais de Rabo de Peixe. 5 540 João Velho e André de Sousa Velho Inquirição de genere. 25.10.1723 Naturais de Ponta Delgada (São Mateus), filhos de João Velho, da mesma e de Maria da Costa, natural da Maia, n.p. de João Velho, de São Mateus e de Bárbara Cabral, de São José e n.m. de Pedro Teixeira, do Porto Formoso e Maria da Costa Leite, natural da Maia. 8 402 [67] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 68 Nome Data Doc. Maço João Velho da Costa Inquirição de genere. Natural de Vila Franca, filho de António de Sequeira Pato e Bárbara de Medeiros, n.p. de Miguel da Silva Pato e Catarina Vieira e n.m. de Pedro Curvelo e Maria Bultoa, todos de Vila Franca. 23.08.1680 6 399 João Velho de Faria Machado Inquirição de genere. 05.10.1699 Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), Vigário Geral do Bispado de Angra, formado em Coimbra em Cânones, filho de Francisco Machado de Faria e Mariana Cabral de Melo, n.p. de António de Faria e Maia e Margarida Maria e n.m. de Manuel Alves Senra e Isabel Cabral de Melo. 16 399 João Xavier Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Francisco Xavier Tavares e de Teresa de Jesus, n.p. de António de Sousa e Teodora Tavares e n.m. de José Vieira e Isabel Francisca. 15.05.1814 8 531 Joaquim António Soares Inquirição de genere. Natural do Pico da Pedra, filho de Caetano Alves e Maria de Jesus, n.p. de José Alves e Cecília da Conceição e n.m. de José Soares e Luísa de Viveiros, todos do Pico da Pedra. 24.04.1845 3 534 Joaquim António Soares Processo de vita et moribus. Natural do Pico da Pedra, filho de Caetano Alves e Maria de Jesus, n.p. de José Alves e Cecília da Conceição e n.m. de José Soares e Luísa de Viveiros, todos do Pico da Pedra. 10.03.1852 6 544 Joaquim Ferreira Souto Inquirição de genere. Natural de Santiago de Beduído (Feira) e Tesoureiro da Matriz de São Miguel de Vila Franca do Campo, filho de Manuel Ferreira e de Ana Marques, n.p. de António Ferreira e Antónia Marques e n.m. de Marcelino Dias e Bernarda Marques. 11.07.1817 9 531 Joaquim Guilherme da Costa Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de José Venâncio da Costa e Mariana de Jesus, n.p. de António José da Costa e Antónia da Conceição e n.m. de José Inácio Correia e Rosa Maria, naturais da referida Matriz. 17.08.1841 7 533 Joaquim Guilherme da Costa Processo de vita et moribus. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de José Venâncio da Costa e Mariana de Jesus, n.p. de António José da Costa e Antónia da Conceição e n.m. de José Inácio Correia e Rosa Maria, naturais da referida Matriz. 02.01.1843 3 540 Joaquim José de Gouveia Inquirição de genere. 14.11.1788 e Maurício José Naturais de Rabo de Peixe, filhos de Bartolomeu Garcia, da Matriz da Ribeira Grande e Josefa Teresa, de Rabo de Peixe, n.p. de João Garcia, da Matriz e Ana de Almeida, de Nossa Senhora da Conceição da Ribeira Grande e n.m. de Manuel da Costa Cruz e Josefa dos Santos, ambos de Rabo de Peixe. 9 413 Joaquim José de Vasconcelos 2 413 [68] Documento (Sumário) Inquirição de genere. 06.07.1786 Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José Francisco da Cunha, de São José e de Rosa Isabel, de São Sebastião, n.p. de António da Cunha, de São Sebastião e Maria Francisca, de São José e n.m. de Manuel de Sousa Vasconcelos, de São Pedro e Luzia Inácia, de São Sebastião. CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 69 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço Jorge de Sousa Rocha Inquirição de genere. Natural da Maia, filho de Baltazar de Sousa Homem, da Maia e de Ana da Rocha, da Ribeira Grande, n.p. de Francisco Vieira Homem e Maria da Costa Sousa e n.m. de Francisco Pires Paiva, da Ribeira Seca e Maria Francisca, da Ribeira Grande. 10.02.1706 1 400 José Afonso Anes e Francisco da Costa Feijó Inquirição de genere. Naturais da Lagoa (Matriz), filhos de João Feijó, natural de Rosto de Cão e Maria da Costa do Cabo, natural da Matriz, n.p. de Manuel de Oliveira, de Rosto de Cão e de Ana Fernandes, da mesma e n.m. de Manuel da Silva Dorta e de Maria do Couto, ambos da Matriz da Lagoa. 16.04.1721 10 402 José Alexandre Arcuffe Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho do Capitão Alexandre Aires da Silva, do Funchal (Sé) e de Maria Catarina da Piedade, da Ribeira Grande. Era sobrinho paterno do Padre António Manuel do Sacramento, Presbítero do Hábito de São Pedro, João Francisco Regis e Filipe Néri, familiares do Santo Ofício e sobrinho materno dos Padres João Arcuffe e Pedro João Arcuffe, Vigário da Paróquia de São Roque. 28.11.1781 1 412 José Álvares de Bettencourt e António Xavier de Macedo Inquirição de genere. 16.02.1720 Naturais de Ponta Delgada (São Sebastião), filhos de José de Macedo, da mesma e de Maria de Teves, de São Mateus, n.p. de José de Bettencourt, de São Sebastião e Ana de Macedo, de São Mateus e n.m. de Diogo da Silva e Antónia de Teves, ambos de São Mateus (hoje São José). 10 401 José Álvares de Melo Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Manuel Álvares Correia e Josefa de Melo Machado, naturais da mesma, n.p. de António Correia, da Maia e Maria Álvares, da Ribeira Grande e n.m. de Manuel Martins e Maria Moreira. 12.01.1743 8 407 José António Barbosa Processo de vita et moribus e então Tesoureiro da Igreja da Achada Grande. Natural da Ribeira Grande, filho de Francisco Inácio Barbosa e de Rosa Jacinta, naturais da Ribeira Grande (Matriz), n.p. de José Caetano Barbosa e de Vitória da Ascensão e n.m. de José António de Bulhões e Maria Teresa. 11.02.1840 8 538 José António de Freitas2 Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de Pedro de Freitas da Costa, da mesma e de Maria Teixeira, das Manadas (São Jorge), n.p. de Pedro Rodrigues e Susana de Freitas e n.m. de Francisco Gaspar e Margarida Pires. 01.04.1719 - 401 20.11.1788 11 413 José António de Medeiros Inquirição de genere Natural da Achadinha (Nossa Senhora do Rosário), filho de Caetano de Medeiros, do Faial (Nossa Senhora da Graça) e Maria Pacheco, da Achadinha, n.p. do Capitão Gonçalo Raposo de Medeiros, do Faial e Joana Cabral, do Nordeste e n.m. do Alferes Manuel da Rosa Carneiro, da Achadinha e Maria Pacheco das Neves, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição). 2 Processo muito incompleto. [69] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 70 Nome Documento (Sumário) [70] Data Doc. Maço José António de Medeiros Inquirição de genere. Natural dos Fenais da Vera Cruz, filho de José da Senra Carreiro e Ana Maria Soares, naturais dos Fenais da Vera Cruz, n.p. de Manuel da Senra, da Matriz da Ribeira Grande e Margarida Lopes, dos Fenais e n.m. de Manuel de Sousa Correia e Mariana Soares, ambos dos Fenais de Vera Cruz. 09.08.1788 5 413 José António de Medeiros Santos 07.01.1841 5 539 José António de Melo e Inquirição de genere. 15.12.1788 Jacinto de Sousa de Melo Naturais de Ponta Delgada (São José), filhos de José António de Melo, de São Pedro e Francisca Rita de Jesus, de São José, n.p. de Manuel Rodrigues, de São Sebastião e Jacinta de Melo, de São Pedro e n.m. de Manuel de Sousa e Maria da Assunção, ambos de São José. 12 413 José Augusto da Ponte Inquirição de genere. 12.12.1848 Natural de Rabo de Peixe, filho de Manuel José da Ponte e de Ana Joaquina, n.p. de José da Ponte e de Antónia de São José e n.m. de José Gonçalves Entrudo e Josefa de São Miguel. 10 535 José Augusto da Ponte Processo de vita et moribus. 24.10.1849 Natural de Rabo de Peixe, filho de Manuel José da Ponte e de Ana Joaquina, n.p. de José da Ponte e de Antónia de São José e n.m. de José Gonçalves Entrudo e Josefa de São Miguel, todos de Rabo de Peixe. 7 542 José Bento Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Manuel Ferreira Gama e de Rosa Maria, n.p. de João Ferreira Gama e Sebastiana Rodrigues e n.m. de Manuel da Costa Rosa e Isabel Rodrigues, todos da Matriz da Ribeira Grande. 16.06.1768 6 411 José Borges, Pedro Borges Celestino, Luís Borges, Francisco Xavier e Adrião Borges Inquirição de genere. 22.06.1751 Naturais de Santo António do Bom Retiro de Roça Grande, Sabará (Brasil) menos Adrião, natural da Matriz de Santo António do Rio Acima, filhos do Alferes Manuel de Sousa Rego, de Ponta Delgada (São Sebastião) e de Brízida Paes Leme, natural de São Paulo (Matriz), n.p. de Manuel da Costa e Clara de Sousa e n.m., do Capitão Aurélio Pinto Guedes e Ana Borges de Sequeira. 2 409 José Caetano de Medeiros, António Francisco de Medeiros e Manuel João Ramiles Inquirição de genere. 04.02.1742 Naturais de Vila Franca do Campo (São Miguel), filhos do Capitão Manuel João Ramiles, Familiar do Santo Ofício, natural de São Pedro de Rates (Braga) e de Gertrudes Maria de Medeiros, natural de Água de Pau, n.p. de Pedro João Ramiles, de São Julião de Gulões (Tuy) e Paula Antónia, de São Pedro de Rates e n.m. de João de Oliveira e Maria de Medeiros. 3 407 José Caetano Tavares Inquirição de genere. 07.02.1849 Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de José Jacinto Jácome Tavares e de Francisca Luciana, n.p. de Manuel Veríssimo de Medeiros, de São Miguel e Helena Rosa, de São Pedro da mesma e n.m. de António Nicolau Lima e de Bernardina Leonor, ambos de São Miguel de Vila Franca do Campo. 3 536 Processo de vita et moribus. Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho de André José de Medeiros e de Rosa Inácia de Jesus, da mesma, n.p. de Filipe de Matos e Teresa de Medeiros, de Vila Franca do Campo e n.m. de João Raposo, de Vila Franca e Maria Joaquina, da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário). CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 71 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço José Caetano Travassos e Lima Processo de vita et moribus. Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de José Jacinto Jácome Travassos e de Francisca Luciana. 14.11.1851 3 544 José da Estrela Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Pedro José de Matos e Francisca Teresa, n.p. de Francisco de Matos e Francisca do Rosário, naturais de São José e n.m. de Manuel Martins, do Porto Formoso e Maria da Estrela, de Água de Pau. 24.05.1801 1 531 José da Silva Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Manuel de Sousa Soares, dos Fenais (Nossa Senhora da Luz) e Maria da Silva, natural de São Sebastião, n.p. de Belchior de Sousa, natural de Vila do Porto (Santa Maria) e Isabel Cabral, de Nossa Senhora da Luz e n.m. de João Machado e Maria Martins, ambos de São Sebastião. 04.09.1745 6 408 José da Silva Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Manuel de Sousa Soares, natural de Nossa Senhora da Luz dos Fenais e de Maria da Silva, natural de São Sebastião, n.p. de Belchior de Sousa, natural de Vila do Porto (Santa Maria) e Isabel Cabral, de Nossa Senhora da Luz e n.m. de João Machado e Maria Martins, ambos de São Sebastião. 10.08.1748 15 408 José da Silva Inquirição de genere. Natural da Ribeira Seca, filho de José da Silva e Marta da Ponte, naturais da Ribeira Seca, n.p. de José da Silva, da Ribeira Grande (Matriz) e Ana Rodrigues, natural da Ribeira Seca e n.m. de António Lopes, da Ribeira Grande (Matriz) e Maria Dias, da Ribeira Seca. 09.02.1749 19 408 José da Silva Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de António Rodrigues Piques e de Maria do Monte, n.p. de Francisco Rodrigues Piques e de Maria de Matos e n.m. de Manuel do Monte e de Maria da Costa, todos da Ribeira Grande. 06.07.1722 2 402 José da Silva Avelar e Manuel da Silva Avelar Inquirição de genere. 14.06.1789 Naturais de São Pedro da Ribeira Seca, filhos do Alferes Manuel da Silva Avelar, da Ribeira Seca e de Antónia Rosa Joaquina, de Rabo de Peixe, n.p. de José da Silva e de Marta da Ponte e Sousa, ambos de São Pedro e n.m. de Manuel de Gouveia Mariz e de Luzia Cabral, ambos de Rabo de Peixe. 10 414 José da Silva Nunes Inquirição de genere. Natural da Ribeira (Nossa Senhora da Estrela), filho de Manuel Dias Correia e de Maria Alves, n.p. de João Correia e de Maria Dias e n.m. de Manuel da Silva e Maria Alves, naturais da mesma. 25.03.1738 3 406 José de Andrade Ledo Inquirição de genere. Natural dos Fenais da Luz, filho de Manuel de Andrade e Maria de Sousa, naturais da mesma, n.p. de Manuel de Sousa Ledo, das Capelas e Maria de Andrade, dos Fenais da Luz e n.m. de Manuel Coelho e Maria de Sousa, ambos dos Fenais da Luz. 16.04.1721 12 401 José de Faria de Melo Inquirição de genere. Natural do Porto Formoso, filho de Matias Moreira de Aragão e de Inês de Melo, n.p. de Domingos de Oliveira, natural da Ribeira Grande (Matriz) e Maria Moreira, de Santo António e n.m. de Sebastião de Araújo e Bárbara da Costa, do Porto Formoso. 02.01.1743 7 407 [71] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 72 Nome Data Doc. Maço José de Frias Pacheco Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Domingos Pacheco e Justa de Sousa, n.p. de Domingos Dias e Maria Pacheco e n.m. de António de Sousa e Maria de Frias, todos da Ribeira Grande. 12.03.1716 1 401 José de Lima Inquirição de genere. Natural da Lagoa, filho de António de Lima e de Luzia da Conceição, n.p. de Simão de Lima e de Águeda de Sousa, ambos da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário) e n.m. de Manuel de Almeida, da Lagoa e de Maria Cabral, da Relva. 27.03.1789 8 414 José de Medeiros Inquirição de genere. Natural de Nossa Senhora dos Anjos da Fajã, filho de Domingos de Sousa, natural dos Fenais (Nossa Senhora da Luz) e Ana de Medeiros, natural de Ponta Delgada (São Sebastião), n.p. de Francisco de Benevides, natural da Relva e Bárbara da Costa, de Rosto de Cão e n.m. de Francisco de Araújo, de São Sebastião e Esperança da Costa, de Santo António. 27.01.1744 11 408 José de Medeiros Inquirição de genere. 27.10.1731 Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de António da Costa Sousa, natural da Achada Grande e de Josefa de Paiva, natural de Rabo de Peixe, n.p. de Francisco Voltão, da Achadinha e de Ana da Rosa, natural da Achada Grande e n.m. de António de Medeiros da Costa e Ana de Paiva, ambos de Rabo de Peixe. 12 405 José de Medeiros e Francisco Borges de Medeiros Processo de vita et moribus. 17.11.1730 Naturais de Ponta Delgada, filhos de Manuel Raposo da Câmara, natural de São Sebastião e de D. Maria Leonor de Medeiros, de São Mateus, n.p. de Manuel Raposo Bicudo, de São Sebastião e de D. Mariana da Câmara, de São Mateus e n.m. de Gaspar de Medeiros, de São Sebastião e de D. Ana de Gusmão, da Ribeira Grande (Matriz). 14 404 José de Medeiros Bettencourt Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Mateus), filho do Capitão Lourenço de Bettencourt, de São Sebastião e de D. Maria de São Payo, de São Mateus, n.p. do Capitão José Furtado de Mendonça (anteriormente ao Crisma, Daniel Furtado de Mendonça), de São Sebastião e D. Maria de Bettencourt, de São Mateus e n.m. de Jorge Ferreira, da Candelária e Maria Martins, de São Mateus. 29.12.1718 - 401 José de Medeiros de Sousa e Miguel de Sousa Inquirição de genere. 22.08.1726 Naturais das Capelas, filhos do Capitão Miguel de Sousa Travassos, das Capelas e de Maria da Fonseca e Medeiros, de Santo António, n.p. de Francisco Travassos, das Capelas e de Maria de Benevides, natural da Relva e n.m. de Francisco da Fonseca e Catarina de Resende e Medeiros, ambos de Santo António. 6 403 9 406 [72] Documento (Sumário) José de Medeiros Raposo Inquirição de genere. Natural da Achadinha, filho do Capitão António de Medeiros Raposo, natural do Nordestinho e Joana do Amaral e Vasconcelos, natural da Achadinha, n.p. de Domingos Carvalho e Maria de Susa de Medeiros, do Nordestinho e n.m. do Capitão Manuel Vieira Nunes e Bárbara de Amaral e Vasconcelos, da Achadinha. 03.05.1740 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 73 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço José de Melo da Costa Processo de vita et moribus. Natural da Ribeira Seca, filho de Domingos de Melo e Maria da Costa, n.p. de Manuel da Costa Salgado e Úrsula de Melo Jordão e n.m. de Manuel Pires e Maria da Costa, todos da Ribeira Seca. 20.10.1730 13 404 José de Sousa Inquirição de genere. 10.06.1728 Natural da Ribeira Seca, filho de João de Sousa Carneiro, natural da Ribeira Seca, e de Bárbara Cabral, da Matriz da Ribeira Grande, n.p. de João de Pimentel Resende, do Porto Formoso e de Isabel de Sousa, da Ribeira Seca e n.m. de Manuel de Sousa Trilhado e Maria Teixeira, ambos da Ribeira Grande. 13 403 José de Sousa Inquirição de genere. Natural da Maia, filho de António Correia de Sousa e de Maria do Couto, n.p. de António Rebelo e Bárbara de Sousa e n.m. de Manuel do Couto e Maria Manuel. 14 405 José de Sousa Simas Inquirição de genere. 15.08.1740 Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de António de Simas e Maria de Sousa, ambos da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), n.p. de Lourenço da Costa e Genoveva de Simas, do Faial (Nossa Senhora da Graça) e n.m. de António Martins e Maria de Sousa. 8 406 José Dias Tavares Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Manuel Dias e de Francisca do Rosário, ambos de Nossa Senhora da Conceição, n.p. de Manuel Dias e Maria Gomes, da Matriz da Ribeira Grande e n.m. de Manuel da Costa e Josefa da Ponte, da mesma Matriz. 1 411 José Eloy do Rego Inquirição de genere. 30.10.1866 Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), morador no Seminário de Santarém, filho de António do Rego, da Fajã de Baixo e de Teresa Miquelina, de São Sebastião, n.p. de Manuel do Rego e Ana de Jesus, ambos da Fajã de Baixo e n.m. de João de Viveiros, de São Sebastião e Ana Miquelina da Glória, de Santo António. 11 537 José Ferreira de Brum, João Velho de Melo Cabral e António Xavier de Brum Inquirição de genere. 27.10.1728 Naturais da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filhos do Capitão-mor Francisco Tavares Homem e de D. Bárbara Teresa de Mendonça, n.p. do Capitão Rodrigo Tavares Homem e de D. Luzia da Silva, naturais da Matriz e n.m. do Dr. Rodrigo Velho de Melo e de D. Guiomar de Mendonça, naturais de São Mateus (Ponta Delgada). 18 403 José Francisco do Rego Inquirição de genere. Natural da Relva e morador no Rio Grande (Brasil), filho de António de Sousa Coelho e de Josefa de Jesus, n.p. de António de Sousa Coelho e Ana de São Miguel, naturais de Ponta Delgada (São José) e n.m. de Francisco da Silva e Josefa do Rego, naturais da Relva. 26.09.1790 1 415 José Francisco Mendes e António Jacinto de Jesus Inquirição de genere. Naturais de São Sebastião de Ponta Delgada, filhos de João José Mendes, de São Sebastião e de Umbelina Rosa, de São Pedro, n.p. de João Alves Mendes, da Relva e de Maria Francisca, de Santo António e n.m. de Miguel Dias de Sousa e de Mariana de Jesus, ambos de São Sebastião de Ponta Delgada. 26.02.1789 3 414 30.10.1736 06.09.1766 [73] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 74 Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço José Francisco Nunes Inquirição de genere. 12.05.1791 Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Cosme Rodrigues Nunes, de Santo António do Ribeirão de Santa Bárbara, Minas Gerais e de Francisca Maria Rosa, de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, n.p. de João Rodrigues Nunes, da Ribeira Grande e de Josefa da Costa Nunes, de Santo António do Ribeirão e n.m. de João de Paiva. 2 415 José Francisco Pereira Inquirição de genere. 10.09.1793 Natural dos Ginetes, filho de António Pereira Raposo, dos Ginetes e de Antónia Francisca, dos Mosteiros, n.p. de Matias Pereira e Joana Raposo, naturais dos Ginetes e n.m. de Manuel Benevides Furtado, da Relva e Bárbara Pavão, dos Mosteiros. 3 415 1 413 José Francisco Tavares e Inquirição de genere. António José de Medeiros Naturais de Rabo de Peixe, filhos de José Tavares Moniz, de Rabo de Peixe, e Ana Joaquina de Belém, da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), n.p. de António da Silva Moniz e Antónia Tavares e n.m. de Paulo de Medeiros e Josefa de Medeiros. 09.04.1788 Inquirição de genere. 09.11.1860 Natural da Lagoa (Santa Cruz), morador no Seminário de Santarém, filho de Francisco Inácio de Faria, natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição) e de Fortunata Emília, da mesma vila (Matriz), n.p. de Inácio José de Faria, de Rabo de Peixe e Adriana Rosa, de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de João José Mendes, de São José e Ana Perpétua, de Nossa Senhora da Estrela (Ribeira Grande). 10 537 José Inácio de Faria Processo de vita et moribus. 11.11.1867 Natural da Lagoa (Santa Cruz), morador no Seminário de Santarém, filho de Francisco Inácio de Faria, natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição) e de Fortunata Emília, da mesma vila (Matriz), n.p. de Inácio José de Faria, de Rabo de Peixe e Adriana Rosa, de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de João José Mendes, de São José e Ana Perpétua, de Nossa Senhora da Estrela (Ribeira Grande). 9 544 José Inácio de Sousa, Alexandre José de Sousa e Nicolau Francisco de Sousa Inquirição de genere. Naturais da Ribeira Grande (Matriz), filhos do Alferes Duarte Manuel de Sousa, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição) e Rosa Jacinta, da Matriz, n.p. de João Rodrigues Álvares e Maria da Paixão, ambos de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de Nicolau de Sousa e Ana Francisca, ambos da Matriz da Ribeira Grande. 12.08.1785 10 412 José Inácio de Viveiros Melo Inquirição de genere. Natural dos Fenais da Luz, filho de Manuel Inácio de Viveiros Melo e de Ana de Jesus, n.p. de Manuel Inácio de Viveiros Melo e Joana de Jesus e n.m. de Manuel Francisco de Teves e Maria de Jesus. 12.05.1849 7 536 José Inácio de Viveiros Melo Processo de vita et moribus. Natural dos Fenais da Luz, filho de Manuel Inácio de Viveiros Melo e de Ana de Jesus, n.p. de Manuel Inácio de Viveiros Melo e Joana de Jesus e n.m. de Manuel Francisco de Teves e Maria de Jesus. 25.11.1851 4 544 José Jacinto do Monte Bastos Inquirição de genere. Natural da Maia, filho de José do Monte Bastos, da Maia e de Maria Cândida de Jesus, da Ribeira Grande (Matriz), n.p. de João do Monte Bastos e Rosa Jacinta, naturais da Maia e n.m. de Manuel Raposo Quintanilha e Maria de Jesus, da Ribeira Grande. 01.03.1852 3 537 [74] José Inácio de Faria CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 75 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço José Jacinto do Monte Bastos Processo de vita et moribus. Natural da Maia, filho de José do Monte Bastos, da Maia e de Maria Cândida de Jesus, da Ribeira Grande (Matriz), n.p. de João do Monte Bastos e Rosa Jacinta, naturais da Maia e n.m. de Manuel Raposo Quintanilha e Maria de Jesus, da Ribeira Grande. 12.02.1853 8 544 José Jacinto Pereira Inquirição de genere. Natural de Nossa Senhora da Luz dos Fenais, filho de António José Correia e de Mariana Jacinta da Estrela, dos Fenais, n.p. de António Correia, de São José de Ponta Delgada e Bárbara da Conceição, dos Fenais e n.m. de António José e Ana dos Santos, dos Fenais. 12.01.1822 10 531 José Jácome Carreiro Inquirição de genere. 09.06.1795 Natural dos Ginetes, filho de João Carreiro e de Bárbara da Trindade, ambos dos Ginetes, n.p. de João Carreiro, dos Ginetes e de Maria Jácome, das Feteiras e n.m. de Manuel Rodrigues e Maria do Livramento, ambos dos Ginetes. 7 415 José Júlio Teixeira Inquirição de genere. Natural de São Pedro (Ponta Delgada), filho de Francisco António Teixeira, de São Pedro e de Jacinta Angélica Póvoas, de Rosto de Cão, n.p. de José Teixeira Cordeiro, natural das Velas e de Maria Prudenciana, de São Pedro e n.m. de Manuel Luís Póvoas, de São José e Ana Leonor, de São Pedro. 11.06.1856 7 537 José Leonel de Paiva Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Félix José de Paiva, da Matriz e Jacinta Querubina, de Nossa Senhora da Conceição da mesma vila, n.p. de João de Paiva e Antónia Maria, ambos da Matriz e n.m. de José Francisco da Silva, da Achadinha e Teresa de Jesus, de Nossa Senhora da Conceição. 24.05.1841 3 533 José Leonel de Paiva Processo de vita et moribus. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Félix José de Paiva, da Matriz e Jacinta Querubina, de Nossa Senhora da Conceição da mesma vila, n.p. de João de Paiva e Antónia Maria, ambos da Matriz e n.m. de José Francisco da Silva, da Achadinha e Teresa de Jesus, de Nossa Senhora da Conceição. 25.09.1846 4 541 José Marcelino Tavares Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de incógnitos e “educado em aulas publicas por benefício e esmola de bem feitor a pontos de frequentar os estudos de Latim e Sagrada Teologia”. 13.11.1848 8 535 José Marcelino Tavares Processo de vita et moribus. Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de incógnitos e dado a criar a Jacinta Cândida, de Ponta Garça, casada com Jacinto Carôlo. 22.02.1850 4 543 José Nunes da Costa Processo de vita et moribus. 20.11.1729 Natural de Rabo de Peixe, filho do Capitão Manuel da Costa Travassos e Maria Lopes, n.p. de Domingos da Costa Travassos e Maria Nunes e n.m. de Manuel Pires Silva e Maria Lopes, todos de Rabo de Peixe. 8 404 [75] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 76 Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço Inquirição de genere. 25.11.1732 Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Matias Pacheco e de Margarida de Sousa, naturais da mesma, n.p. de Manuel Pacheco, de Santa Maria (Matriz) e de Isabel de Melo, da mesma ilha (Nossa Senhora das Candeias) e n.m. de Manuel Machado, natural de Angra (Conceição) e Joana de Sousa, natural de São Sebastião. 9 405 José Ulisses de Normandia Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de João Jacinto Leonardo e de Antónia Margarida, de Vila Franca do Campo, n.p. de António Leonardo e Joaquina de Belém e n.m. de Manuel Veríssimo de Medeiros e Helena Rosa, esta de São Pedro de Vila Franca do Campo. 02.05.1840 7 532 José Ulisses de Normandia Processo de vita et moribus. Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de João Jacinto Leonardo e de Antónia Margarida, de Vila Franca do Campo, n.p. de António Leonardo e Joaquina de Belém e n.m. de Manuel Veríssimo de Medeiros e Helena Rosa, esta de São Pedro de Vila Franca do Campo. 25.02.1841 7 539 José Virgolino Pereira Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José Francisco Pereira e Francisca Jacinta, n.p. de Sebastião Pereira e Quitéria Joana, de São Sebastião e n.m. de Francisco Cabral e Ana Maria, ambos da freguesia de São José. 02.09.1806 3 531 Justino Pereira de Medeiros Inquirição de genere. 22.01.1848 Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de António Pereira, natural da mesma e de Claudina Margarida, de Rabo de Peixe, n.p. de André Pereira e Bárbara de Medeiros e n.m. de António de Medeiros, da Achadinha e Sebastiana de Jesus, de Rabo de Peixe. 3 535 Justino Pereira de Medeiros Processo de vita et moribus. 05.04.1850 Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de António Pereira, da mesma e de Cláudia Margarida, de Rabo de Peixe, n.p. de André Pereira e Bárbara de Medeiros, da Lagoa e n.m. de António de Medeiros, da Achadinha e Sebastiana de Jesus, de Rabo de Peixe. 6 543 Leandro de Sousa Inquirição de genere. 10.06.1699 Natural da Relva, filho de João de Sousa de Vasconcelos, da Bretanha e de Isabel Cordeiro, da Relva, n.p. de Amaro da Costa, de Santo António e Ana de Vasconcelos, da Bretanha e n.m. de Ascêncio Gonçalves, da Relva e Isabel Cordeiro, da mesma. 15 399 Luciano Francisco de Medeiros Inquirição de genere. Natural da Lagoa (Santa Cruz), filho de António Pacheco de Medeiros Araújo, natural de Água de Pau e de D. Ana Emília Soares, da Lagoa, n.p. de Francisco António de Medeiros e de Ana Joaquina de Medeiros e n.m. de António Soares de Macedo e Florência Rosa do Sacramento. 11 532 Luciano Francisco de Medeiros Processo de vita et moribus. 08.02.1843 Natural da Lagoa (Santa Cruz), filho de António Pacheco de Medeiros Araújo, natural de Água de Pau e de D. Ana Emília Soares, da Lagoa, n.p. de Francisco António de Medeiros e de Ana Joaquina de Medeiros e n.m. de António Soares de Macedo e Florência Rosa do Sacramento. 4 540 [76] José Pacheco 30.07.1840 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 77 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço Luís Francisco Cordeiro Inquirição de genere. Natural de Rosto de Cão, filho de Luís Francisco Cordeiro e de D. Jacinta Tomázia Cordeiro, n.p. de António Cordeiro e Rosa Francisca e n.m. de Manuel de Fontes e D. Ana Joaquina. 27.05.1840 9 532 Luís Francisco Cordeiro Processo de vita et moribus. Natural de Rosto de Cão, filho de Luís Francisco Cordeiro e de D. Jacinta Tomázia Cordeiro, n.p. de António Cordeiro e Rosa Francisca e n.m. de Manuel de Fontes e D. Ana Joaquina. 20.11.1840 9 538 Manuel Afonso de Melo Inquirição de genere. Natural dos Fenais de Vera Cruz, filho do Capitão Manuel Afonso de Melo e D. Maria de Bettencourt, n.p. de Carlos de Sousa Torres e Maria de Melo Leite e n.m. de António Vaz e Maria de Bettencourt. 05.01.1742 2 407 Manuel Álvares Cabral Inquirição de genere. Natural de Rabo de Peixe, filho de André Álvares Cabral, de Rabo de Peixe e de Maria de Pimentel, dos Fenais da Luz, n.p. de Estêvão Álvares Barreiros, de Santa Cruz (Lagoa) e Guiomar Cabral de Melo, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela) e n.m. de Rafael de Sousa, da Candelária e Maria de Pimentel, dos Fenais da Luz. 06.09.1715 13 400 Manuel Álvares Puga Processo de vita et moribus. Natural da Lagoa (Santa Cruz), filho do Dr. Manuel Álvares Puga e Isabel de Medeiros, n.p. de Manuel de Puga e Catarina de Paiva, naturais de Santa Cruz e n.m. do Capitão Jerónimo Ledo de Medeiros, de Água de Pau e Maria de Quental, de Santa Cruz. 07.10.1729 6 404 Manuel António Inquirição de genere. 19.06.1841 de Bettencourt e Silveira3 Natural da Graciosa (Nossa Senhora de Guadalupe), filho de João de Quadros de Bettencourt, de Nossa Senhora da Luz (Graciosa) e D. Rosa Isabel de Bettencourt e Silva, de São Mateus da vila da Praia, n.p. de Manuel Correia de Quadros, de São Mateus da vila da Praia e D. Catarina da Encarnação, de Nossa Senhora da Luz e n.m. de Manuel de Sousa da Silva e D. Isabel Baptista de Bettencourt, ambos de São Mateus da vila da Praia. 4 533 Manuel António de Frias Coutinho Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Inocêncio de Frias Coutinho, natural de Nossa Senhora da Conceição da mesma vila e de D. Maria Júlia de Medeiros, da referida Matriz, n.p. do Capitão João Bernardo de Frias Coutinho, da Matriz e D. Miquelina Borges do Canto, de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de Manuel de Medeiros Braga e Maria Ricarda Josefa, da Matriz. 21.03.1849 5 536 Manuel António de Frias Coutinho Processo de vita et moribus. 23.02.1850 Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Inocêncio de Frias Coutinho, natural de Nossa Senhora da Conceição da mesma vila e de D. Maria Júlia de Medeiros, da referida Matriz, n.p. do Capitão João Bernardo de Frias Coutinho, da Matriz e D. Miquelina Borges do Canto, de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de Manuel de Medeiros Braga e Maria Ricarda Josefa, da Matriz. 5 543 [77] Nome 3 Deveria estar incluído no fundo Graciosa. CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 78 Nome Documento (Sumário) [78] Data Doc. Maço Manuel Caetano de Brum Inquirição de genere. Natural da Maia, filho de Caetano José de Brum e Joaquina Emília da Esperança, naturais da Maia, n.p. de Manuel Alves Nunes e Maria Úrsula dos Santos, naturais de Rabo de Peixe e n.m. de José de Medeiros Bulhões, da Maia e Luísa Inácia, do Porto Formoso. 13.08.1850 1 537 Manuel Caetano de Brum Processo de vita et moribus. Natural da Maia, filho de Caetano José de Brum e Joaquina Emília da Esperança, naturais da Maia, n.p. de Manuel Alves Nunes e Maria Úrsula dos Santos, naturais de Rabo de Peixe e n.m. de José de Medeiros Bulhões, da Maia e Luísa Inácia, do Porto Formoso. 08.03.1852 5 544 Manuel Caetano do Rosário Processo de vita et moribus. Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Francisco de Horta, de Rosto de Cão e Catarina de Medeiros, de São Pedro, n.p. de Baltazar Fernandes de Horta e Maria Luís e n.m. de Manuel Fernandes e Luzia de Medeiros. 16.04.1730 12 404 Manuel Caetano Leite Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão de António Lourenço da Silva, Cura que foi na Ermida de Nossa Senhora da Saúde e já falecido, filhos de Manuel da Silva Leite e de Ana da Silva Cordeiro. 26.06.1745 14 408 Manuel Cordeiro Castelo Branco Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de Miguel Cardoso de Sousa e de Antónia de Sousa, n.p. de Manuel de Sousa Correia e Maria de Sousa, naturais de Vila Franca do Campo e n.m. de Francisco dos Santos, de Vila Franca do Campo e de Maria de Sousa, da Relva. 03.05.1743 1 408 Manuel Cordeiro da Silva Inquirição de genere. 26.09.1740 Natural da Ribeira Seca, filho de Salvador Cordeiro e Maria de Matos, naturais da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), n.p. de João Rodrigues e Maria de Pimentel e n.m. de Simão Fernandes e Maria de Matos. 11/12 406 Manuel da Costa Inquirição de genere. Natural da Ribeira Seca, filho de Paulo Rodrigues e Ana da Costa (inclui escritura de património feita em 25.07.1662 por seus pais). 20.09.1662 2 399 Manuel da Costa Inquirição de genere. Natural de Santo António, filho de Tomé da Costa e Esperança de Viveiros, ambos de Santo António, n.p. de José da Costa, de Santo António e Maria Travassos, dos Mosteiros e n.m. de Sebastião da Costa e Maria de Viveiros, de Santo António. 06.09.1707 4 400 Manuel da Silva Inquirição de genere. Filho de Francisco de Lima Pato e Ana da Silva, n.p. de João Pires e Francisca Pires e n.m. de Silvestre Gonçalves e Francisca Fernandes. 26.10.1656 1 399 Manuel da Silva Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Francisco da Silva e Catarina da Costa, n.p. de António da Silva e Marta Rodrigues, de São Pedro da Ribeira Seca e n.m. de João da Costa Capinha e Maria Ferreira, da Ribeira Grande. 17.07.1715 11 400 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 79 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço Inquirição de genere. 13.09.1723 Natural dos Fenais de Vera Cruz, filho de Manuel da Silva, natural do Porto Formoso e de Maria Vieira de Macedo, do Porto Formoso, n.p. de Manuel da Silva, da Maia e de Maria Travassos, do Porto Formoso e n.m. de Manuel da Mota de Oliveira e Ana Vieira de Macedo, dos Fenais de Vera Cruz. 5 402 Manuel da Silva Processo de vita et moribus. Natural da Ribeira Grande, filho de Manuel da Silva e de Maria Martins, n.p. de Brás Fernandes e de Maria Dias e n.m. de Manuel de Fontes e de Leonor Martins, todos da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela). 20.05.1730 - 404 Manuel de Brum e Frias Taveira Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho do Capitão Cosme de Brum Ferreira Taveira, da mesma e de D. Ana Francisca da Silveira, natural da Horta (Matriz), n.p. do Capitão-mor Manuel de Brum e Frias, da Matriz da Ribeira Grande e de Guiomar Soeiro Camelo, de Rosto de Cão e n.m. de Francisco Pereira Teixeira e D. Mariana Pereira da Silveira, naturais da Matriz da Horta. 18.04.1721 13 401 Manuel de Lima Raposo Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Manuel de Lima e de Maria de Sousa, n.p. de Diogo da Costa e Margarida de Matos e n.m. de Brás Raposo e Catarina de Sousa, todos da Lagoa. 19.04.1684 8 399 Manuel de Matos Inquirição de genere. 06.03.1743 Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Manuel de Matos e Antónia Cabral, n.p. de Manuel de Matos e Maria Correia, ambos de São Pedro e n.m. de Manuel da Costa, dos Mosteiros e Maria Cabral, de São Pedro. 12 407 Manuel de Medeiros Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José de Medeiros, natural de São José da mesma cidade e de Susana Cabeceiras, natural de Rosto de Cão, n.p. de Manuel da Costa, de São Sebastião e Úrsula de Medeiros, de São Pedro e n.m. de Bartolomeu Fernandes e Maria de Carvalho, ambos de Rosto de Cão. 16.05.1754 7 409 Manuel de Medeiros Inquirição de genere. 12.11.1722 Natural de Santo António, filho de Manuel da Costa Ponte, natural do Nordeste e de Catarina da Costa, natural de Santo António, n.p. de António da Costa Coelho e de Maria da Silva, naturais do Nordeste e n.m. do Capitão Francisco d Resendes e Maria de Melo, naturais de Santo António. 3 402 Manuel de Medeiros Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Francisco de Arruda e Antónia Martins, naturais de São José, n.p. de Sebastião de Arruda e Clara de Medeiros, ambos de São Sebastião e n.m. de Miguel da Costa e Sebastiana Martins, ambos de São José. 03.04.1743 14 407 Manuel de Medeiros Inquirição de genere. 03.04.1743 Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Matias Pereira, natural da mesma e de Joana de Medeiros, natural de São Pedro, n.p. de Manuel Pereira e Bárbara Dias, ambos de São José e n.m. de António de Sousa Nunes, de São José e Antónia Cabral, de São Pedro. 13 407 [79] Manuel da Silva CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 80 Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço Inquirição de genere. Natural da Ribeira Seca, filho de Manuel Pacheco Pimentel e de Josefa de Medeiros, n.p. de António Pacheco e Isabel de Resende e n.m. do Capitão Gaspar de Medeiros Furtado e de Maria do Couto, naturais da Ribeira Seca. 10.09.1728 16 403 Manuel de Melo Camelo Inquirição de genere. e Lourenço Machado Naturais de Ponta Delgada (São José), filhos do Alferes António Dias Camelo e de Camelo D. Josefa de Melo, ambos de São Pedro, n.m. do Capitão Luís da Mota, cavaleiro do hábito de Santiago, de São Sebastião e Ana Pacheco, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela). 16.01.1720 7 401 Manuel de Morais Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Gaspar de Almeida e Teresa Ferreira, n.p. de João de Almeida e Bárbara Lopes e n.m. de Manuel de Morais e Maria Álvares, naturais da Ribeira Grande. 20.01.1739 6 406 Manuel de Oliveira Inquirição de genere. Natural dos Fenais de Vera Cruz, filho de João de Oliveira e Águeda Ferreira, naturais da mesma, n.p. de Lázaro de Oliveira e Bárbara Cabeceiras, ambos dos Fenais e n.m. de José Rodrigues, dos Fenais e Maria Ferreira, da Povoação. 22.09.1743 8 408 Manuel de Oliveira Inquirição de genere. Natural dos Fenais de Nossa Senhora da Luz, filho de Manuel Pavão, natural das Capelas e de Sebastiana de Oliveira, natural dos Fenais, n.p. de Tomé Pavão, da Candelária e de Bárbara de Sousa, das Capelas e n.m. de Matias de Oliveira e Maria Lopes, naturais de Nossa Senhora da Luz dos Fenais. 05.04.1747 17 408 Manuel de Oliveira de Aguiar Inquirição de genere. Natural das Capelas, filho de Baltazar da Costa de Aguiar e Maria Pereira, ambos das Capelas, n.p. de Manuel da Costa Pombeiro, de São Pedro e Ana de Aguiar, das Capelas e n.m. de Pedro Gonçalves, das Feteiras e Luzia Gonçalves, das Capelas. 27.09.1705 17 399 Manuel de Pimentel Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande, filho de Francisco Pires Pimentel e de Madalena Fernandes, n.p. de Sebastião Pires Pimentel e Maria de Almeida e n.m. de André Gonçalves e Catarina Dias (inclui escritura de património feita em 18.4.1684 por seus pais). 18.04.1684 7 399 Manuel de Pimentel Carvalho Processo de vita et moribus. Natural da Lagoa (Rosário), filho do Alferes Manuel de Pimentel Carvalho e de Joana Pereira, n.p. de Manuel de Pimentel Resendes e Maria Borges, do Rosário e n.m. de Manuel Pereira Machado, da mesma e Rosa de Sousa, de Santa Cruz da Lagoa. 18.02.1730 11 404 Manuel de Resende Cabral Inquirição de genere. Natural de Nossa Senhora da Graça do Faial, filho de Manuel de Simas e Bárbara Pimentel, naturais da mesma, n.p. de João de Simas e Maria de Resende, naturais do Nordeste e n.m. de João Cabral Pimentel, do Nordeste e Ana Correia, do Faial. 06.09.1743 7 408 Manuel de Medeiros Furtado [80] CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 81 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filha do Capitão José Tavares de Arruda, de Rabo de Peixe e de D. Mariana de Melo, natural da Ribeira Grande e n.m. do Capitão Manuel Pacheco Botelho e de D. Maria de Arruda e n.m. de António Rodrigues Cardoso e Ana Cabral de Melo. 30.03.1732 4 405 Manuel de Sousa Botelho Inquirição de genere. e António Manuel Naturais da Ribeira Grande (Matriz), filhos do Capitão-mor Manuel de Sousa Correia da Silveira e Sousa e D. Clara Maria da Silveira, naturais da mesma, n.p. de João Rodrigues Estrela e Bárbara de Sousa Correia e n.m. de André Botelho de Sampayo e D. Isabel Pacheco, todos naturais da Ribeira Grande. 12.05.1743 3 408 Manuel de Sousa de Almeida Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Lourenço de Sousa, da mesma e de Catarina de Almeida, natural da Relva, n.p. de Manuel Martins, natural de São Pedro da mesma e Maria de Sousa, natural de São Sebastião e n.m. de Jacinto Martins e Catarina de Almeida, naturais da Relva. 19.10.1724 13 402 Manuel de Sousa Furtado Inquirição de genere. Natural dos Ginetes, filho de Brás de Sousa da Mota e de Maria de Sousa, naturais dos Ginetes, n.p. de Domingos de Sousa, natural dos Ginetes e de Luzia Martins, natural da Bretanha e n.m. de João Travassos e de Luzia de Sousa, dos Ginetes. 08.12.1728 19 403 Manuel de Sousa Lopes 20.05.1743 4 408 Manuel de Sousa Pacheco Inquirição de genere. 20.06.1727 Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de João de Sousa Pacheco e de Francisca da Costa, n.p. de Manuel de Sousa e de Ana Pacheco e n.m. de Francisco Lopes e de Ana da Costa, todos da referida freguesia. 8 403 Manuel de Sousa Pacheco Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho do Capitão Francisco de Sousa Pacheco, natural de São Mateus e de D. Isabel Stone, natural de São Pedro, n.p. do Capitão João de Sousa Pacheco e D. Úrsula de Frias, naturais de São Sebastião e n.m. de João Stone, natural de Londres e Maria Osório, natural de São Pedro. 23.04.1732 5 405 Manuel de Sousa Rodovalho Processo de vita et moribus. Natural da Lagoa, viúvo de Bárbara da Fonseca Paim, filho de Lourenço Fernandes Rodovalho e de Bárbara de Sousa de Azevedo, n.p. de Dionísio Fragoso e Isabel Lopes e n.m. de Gaspar Raposo e Ana Mendes de Azevedo, todos de Santa Cruz da Lagoa. 10.01.1730 9 404 Manuel de Sousa Rodrigues Inquirição de genere. 19.08.1742 Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Manuel Rodrigues Trindade e Antónia de Sousa, naturais da mesma, n.p. de Manuel Rodrigues Trindade e Maria Rodrigues e n.m. de João da Costa e Ana de Sousa. 4 407 Manuel de Sampayo Pacheco Inquirição de genere. Natural da Ribeira Seca, filho de Matias Lopes e de Maria de Sousa, naturais da Ribeira Seca, n.p. de João Lopes do Cabo e Maria Dias, naturais da Ribeira Seca e n.m. de António Rodrigues, da Ribeira Grande (Matriz) e Ana de Sousa, da Ribeira Seca. [81] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 82 Nome Manuel Fernandes Resende Documento (Sumário) Data Inquirição de genere. 04.05.1677 Natural de Vila Franca do Campo, filho de Manuel Fernandes e de Catarina da Costa, n.p. de António Gonçalves e Catarina Gonçalves e n.m. de Belchior Jorge e Maria do Couto, todos de Vila Franca do Campo. Doc. Maço 4 399 [82] Manuel Ferreira Carvalho Processo de vita et moribus. Natural da Fajã (Nossa Senhora dos Anjos), filho de Manuel Ferreira e de Úrsula Pereira Carvalho, da mesma, n.p. de Manuel Ferreira, dos Ginetes e Bárbara Concelos, da Bretanha e n.m. de Manuel Dias Batalha, da Fajã e Margarida Carvalho, de São Sebastião. 07.04.1729 2 404 Manuel Furtado e Lázaro Furtado 15.10.1729 7 404 Manuel Jacinto de Arruda Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Manuel da Ponte Arruda e Ana Rosa, naturais de Nossa Senhora da Conceição, n.p. de José da Ponte Caió, da mesma freguesia e Quitéria Rosa, de São Pedro da Ribeira Seca e n.m. de António de Sousa, de Nossa Senhora da Conceição e Bárbara Victória, natural da Maia. 04.05.1841 2 533 Manuel Jacinto de Arruda Processo de vita et moribus. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Manuel da Ponte Arruda e Ana Rosa, naturais de Nossa Senhora da Conceição, n.p. de José da Ponte Caió, da mesma freguesia e Quitéria Rosa, de São Pedro da Ribeira Seca e n.m. de António de Sousa, de Nossa Senhora da Conceição e Bárbara Victória, natural da Maia. 09.09.1843 7 540 Manuel Jacinto Tavares Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), irmão do Padre José Ulisses Normandia, filhos de João Jacinto Leonardo e de Antónia Margarida da Natividade, da mesma, n.p. de António Leonardo e Joaquina de Belém e n.m. de Manuel Veríssimo de Medeiros e de Helena Rosa, todos da Matriz de Vila Franca. 05.03.1849 4 536 Manuel Jacinto Tavares Processo de vita et moribus. Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), irmão do Padre José Ulisses Normandia, filhos de João Jacinto Leonardo e de Antónia Margarida da Natividade, da mesma, n.p. de António Leonardo e Joaquina de Belém e n.m. de Manuel Veríssimo de Medeiros e de Helena Rosa, todos da Matriz de Vila Franca. 12.02.1850 1 543 Manuel Jácome Raposo Inquirição de genere. Natural da Povoação, filho de Manuel de Freitas da Costa, natural de Vila Franca do Campo (São Miguel) e Catarina Jácome, da Povoação, n.p. de António de Freitas da Costa e Maria de Oliveira e n.m. do Capitão António Jácome Raposo, do Nordeste e Isabel do Monte, da Povoação. 13.11.1705 18 399 Manuel Joaquim Borges Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São José), filho de Joaquim Borges e de Francisca Inácia, n.p. de José Borges Furtado e de Francisca Rosa e n.m. de José Inácio da Silveira e Bárbara da Silveira. Irmão do Padre José Joaquim Borges. 27.04.1840 6 532 Processo de vita et moribus. Naturais da Povoação, filhos de Manuel Furtado e Maria Raposo, n.p. de João Rodrigues Camelo e Maria Furtado e n.m. de Manuel Raposo, da Ribeira Seca e Bárbara Ferreira, da Povoação. CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 83 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço Manuel Joaquim Soares Inquirição de genere. Natural dos Fenais da Ajuda, filho de Manuel Soares Pimentel e de Maria Rosa, n.p. de Manuel Soares Pimentel, dos Fenais da Ajuda e de Margarida do Rosário, de São Roque do Pico e n.m. de Custódio de Sousa, da Achadinha e de Cecília de Medeiros, dos Fenais da Ajuda. 30.05.1840 10 532 Manuel Joaquim Soares Processo de vita et moribus. Natural dos Fenais da Ajuda, filho de Manuel Soares Pimentel e de Maria Rosa, n.p. de Manuel Soares Pimentel, dos Fenais da Ajuda e de Margarida do Rosário, de São Roque do Pico e n.m. de Custódio de Sousa, da Achadinha e de Cecília de Medeiros, dos Fenais da Ajuda. 31.03.1841 9 539 Manuel José da Silveira Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Lázaro Tavares da Silveira, natural da mesma e Francisca Josefa de Melo, natural de Vila Franca do Campo (Matriz), n.p. de Pedro Sabal da Silveira, de Angra (Salvador) e Teresa Tavares da Silveira, de São Sebastião e n.m. de Francisco de Melo e Maria da Coluna, naturas de Vila Franca do Campo. 24.04.1744 13 408 20.05.1848 4 535 Manuel José de Medeiros Processo de vita et moribus. 14.02.1850 Natural de Ponta Garça, filho de António João de Medeiros e de Maria Joaquina, n.p. de António João de Medeiros, de Vila Franca do Campo e Tomázia de Jesus, de Ponta Garça e n.m. de Manuel Pacheco Raposo e Ana Maria, naturais de Ponta Garça. 2 543 Manuel Lopes Cordeiro 15 404 Manuel Lopes de Almeida Inquirição de genere. 28.08.1731 Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de André Rodrigues Tezo e Bárbara de Almeida, naturais da Ribeira Grande, n.p. de Manuel Pires e Maria Lopes e n.m. de Manuel Lopes Macaia, natural de São Pedro e Bárbara Luís, natural da Povoação. 2 405 Manuel Machado Pereira Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Cristóvão Machado Pereira, de São Sebastião e de Isabel Teixeira, da mesma, n.p. de Manuel Machado Pereira, de São Sebastião e Bárbara de Fontes, de Santa Maria (Matriz) e n.m. de Manuel da Costa, natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário) e Maria Teixeira, de São Sebastião. 02.12.1739 7 406 Inquirição de genere. 09.10.1857 Natural de Rosto de Cão, filho de António Martins Vales e de Ana Emília, naturais da mesma, n.p. de José de Vales, de São Roque e Laurinda Jacinta, da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário) e n.m. de Manuel do Rego, da Fajã de Baixo e Antónia Francisca, de São Roque. 8 537 Manuel José de Medeiros Inquirição de genere. Natural de Ponta Garça, filho de António João de Madeiros e Maria Joaquina, naturais da mesma, n.p. de André João de Medeiros, de Ponta Garça e Tomázia de Jesus, de São Miguel de Vila Franca do Campo e n.m. de Manuel Pacheco Raposo e Ana Maria, ambos de Ponta Garça. Manuel Martins do Rego Processo de vita et moribus. Natural da Ribeira Seca, filho de Manuel Lopes Feijó e de Inês Cordeiro, n.p. de António Lopes Feijó, da Ribeira Grande (Matriz) e de Maria Dias, da Ribeira Seca e n.m. de Silvestre Cordeiro e Maria Rebelo, ambos da Ribeira Seca. [83] Nome 15.12.1730 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 84 Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Ventura Nunes e Josefa Moreira, n.p. de Simeão Nunes Álvares e Margarida Lopes e n.m. de Pascoal Moreira e Maria Ferreira, naturais da Ribeira Grande. 02.05.1732 6 405 Manuel Pacheco Bulhões Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Jacinto Pacheco Bulhões e Ana Jacinta do Espírito Santo, n.p. de Cândido Bulhões e Rosa Maria e n.m. de Valério Francisco e Maria Jacinta, todos da Ribeira Grande. 09.12.1852 4 537 Manuel Pacheco Raposo Inquirição de genere. Natural da Maia, filho do Capitão Paulo Pacheco da Mota e Francisca Raposo Pereira, naturais da Maia, n.p. do Capitão Bento Pacheco da Mota e Maria da Rocha e n.m. de António Pereira Ouros e Maria Raposo. 08.07.1686 10 399 Manuel Pinheiro Processo de vita et moribus. Natural de Rabo de Peixe, filho de Lourenço Pinheiro, da mesma e Teresa da Fonseca, da Relva, n.p. de António Pinheiro, de Nossa Senhora da Estrela e Isabel Fernandes, de Rabo de Peixe e n.m. de Jacinto da Fonseca e Maria Simões, naturais da Relva. 14.01.1730 10 404 Manuel Raposo Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande, filho de Manuel Raposo, da Matriz e de D. Maria Bicuda, natural do Porto Formoso, n.p. de Francisco Vieira Monte e de D. Catarina do Rego e n.m. de António Sabido e Maria da Trindade. 22.10.1723 7 402 Manuel Ribeiro da Veiga Diligências de Compatriotado. Natural de Taveiro e morador em Ponta Delgada. 18.08.1764 9 564 Manuel Rodrigues Âmbar Inquirição de genere. 06.12.1728 Natural da Ribeira Seca, filho de Inácio Rodrigues Machado, da Ribeira Seca e de Maria Vieira, da Ribeira Grande (Matriz), n.p. de Sebastião Rodrigues Machado, da referida Matriz e de Maria Dias, da Ribeira Seca e n.m. de Mateus Álvares e Helena Vieira, ambos da Matriz. 20 403 Manuel Soares de Oliveira Inquirição de genere. 24.09.1840 Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de José Soares e Flora Jacinta, n.p. de Francisco Soares e Maria de Matos e n.m. de Luís António de Resendes e Joana Francisca. 12 532 Manuel Soares de Oliveira Processo de vita et moribus. 23.03.1841 Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de José Soares e Flora Jacinta, n.p. de Francisco Soares e Maria de Matos e n.m. de Luís António de Resendes e Joana Francisca. 8 539 Manuel Tavares da Silva Inquirição de genere. 17.05.1740 Natural de Água de Pau, filho do Capitão Manuel Tavares de Sousa e Bárbara de Sousa, ambos de Água de Pau, n.p. do Capitão-mor Manuel de Sousa Vasconcelos, natural da Bretanha e Isabel Tavares, de Água de Pau e n.m. de João de Oliveira e Maria de Medeiros, ambos de Água de Pau. 10 406 Manuel Tavares da Silva Processo de vita et moribus. 07.01.1729 Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de João da Silva e Luzia de Morais, n.p. de João da Silva e Bárbara Lopes e n.m. de Manuel de Morais e Maria Álvares. 1 404 Manuel Nunes Moreira [84] CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 85 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço Manuel Tavares de Resendes Inquirição de genere. Natural de Rabo de Peixe, filho de José Tavares de Resendes e de Teresa de Jesus, n.p. de Manuel José de Resendes e Antónia Rosa e n.m. de Manuel Tavares de Gouveia e Eugénia Maria, todos de Rabo de Peixe. 02.12.1847 2 535 Manuel Tavares de Resendes Processo de vita et moribus. Natural de Rabo de Peixe, filho de José Tavares de Resendes e de Teresa de Jesus, n.p. de Manuel José de Resendes e Antónia Rosa e n.m. de Manuel Tavares de Gouveia e Eugénia Maria, naturais de Rabo de Peixe. 07.12.1848 3 542 Manuel Vaz Carreiro Inquirição de genere. 07.03.1726 Natural de Ponta Delgada (São Mateus), filho do Capitão Manuel Vaz Carreiro, natural da mesma e de Agostinha de Melo, da Relva, n.p. do Capitão Sebastião de Sousa Carreiro, de São Sebastião e Maria Ferreira, de São Mateus e n.m. de Manuel de Sousa Benevides e de Catarina Ferreira Escócia, naturais da Relva. 4 403 Manuel Vieira Inquirição de genere. 22.11.1709 Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Bartolomeu Vieira e Maria Cabral, naturais da mesma, n.p. de Francisco Lopes, da Matriz da mesma vila e Isabel Vieira, de São Pedro e n.m. do Capitão Manuel Pacheco Resendes, do Porto Formoso e Bárbara Carrasco, de Nossa Senhora da Estrela. 6 400 Manuel Vieira Inquirição de genere. 17.08.1719 Natural da Ribeira Grande, filho de Manuel Vieira e de Joana Ferreira, n.p. de Manuel Vieira e de Maria Luzia e n.m. de João Ferreira e Maria Manuel, todos da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela). 6 401 Manuel Vieira Nunes Inquirição de genere. 05.07.1741 Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela), filho de Manuel Vieira Esteves e de Teresa de Paiva, n.p. de António Vieira e Domingas Vieira, de Nossa Senhora da Estrela e n.m. de Manuel Francisco, da Povoação e Luzia de Paiva, de Nossa Senhora da Estrela. 15 406 Marcelino da Silva Inquirição de genere. Natural de Lisboa (Santa Cruz do Castelo), filho de João da Silva e Isabel Francisca e n.p. de Francisco da Silva, natural de Rabo de Peixe. 13.10.1723 6 402 Mariano Alberto Botelho Inquirição de genere. Natural da Povoação, filho de Alberto Francisco de Araújo, natural do Porto Formoso, e de D. Maria Querubina Botelho, da Povoação, n.p. de Miguel Francisco de Araújo e de Maria Rita dos Anjos, ambos de Porto Formoso e n.m. de António Francisco Botelho de Bulhões e Vitória Maria da Encarnação, ambos da Povoação. 22.01.1849 2 536 Mariano Jacinto Martins de Medeiros 03.12.1842 11 533 Inquirição de genere Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho de Francisco Manuel Martins e Luzia Clara, naturais de São Pedro, n.p. de Luís Martins, de São Pedro e Clara Jacinta, de São Miguel de Vila Franca do Campo e n.m. de Vicente de Medeiros e Maria do Coito, ambos de São Pedro. [85] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 86 Nome [86] Documento (Sumário) Data Doc. Maço Mariano Jacinto Martins de Medeiros Processo de vita et moribus. Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho de Francisco Manuel Martins e Luzia Clara, naturais de São Pedro, n.p. de Luís Martins, de São Pedro e Clara Jacinta, de São Miguel de Vila Franca do Campo e n.m. de Vicente de Medeiros e Maria do Coito, ambos de São Pedro. 19.12.1845 3 541 Mariano José de Sousa Bulhões Processo de vita et moribus. Natural da Ribeira Grande (Matriz), irmão do Padre José de Sousa de Bulhões, Cura de São José da Salga e do Padre Manuel José de Sousa Bulhões, Beneficiado na Matriz de Nossa Senhora da Estrela, filhos de António José de Sousa e Antónia Jacinta, da mesma. 26.03.1840 1 539 Mariano José Ferreira Inquirição de genere. 08.06.1842 Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Francisco Inácio Ferreira e Victória Jacinta, n.p. de João da Costa Ferreira e Maria do Rosário, naturais da Matriz e n.m. de Miguel da Silva, de Ponta Delgada (São Pedro) e Inácia de São Miguel, da Matriz da Ribeira Grande. 9 533 Mariano José Ferreira Processo de vita et moribus. 12.10.1842 Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Francisco Inácio Ferreira e Victória Jacinta, n.p. de João da Costa Ferreira e Maria do Rosário, naturais da Matriz e n.m. de Miguel da Silva, de Ponta Delgada (São Pedro) e Inácia de São Miguel, da Matriz da Ribeira Grande. 1 540 Martinho de Melo Velho Inquirição de genere. 20.04.1707 Natural da Ribeira Grande, filho de António Vieira Gago, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela) e de Maria de Paiva e Melo, de Rabo de Peixe, n.p. de Jerónimo Vieira, de São Pedro e Jerónima Rodrigues, da Ribeira Grande e n.m. de João Cabeceiras e Bárbara de Paiva, ambos de Rabo de Peixe. 2 400 Miguel de Arruda Inquirição de genere. Natural de Rosto de Cão, filho de Manuel Luís e Maria de Arruda, da mesma, n.p. de Manuel Luís e Isabel da Costa, ambos de Rosto de Cão e n.m. de Domingos Gonçalves, de Rosto de Cão e Bárbara de Pimentel, de Água de Pau. 08.02.1743 9 407 Miguel Furtado Couto Processo de vita et moribus sendo então Tesoureiro de São Pedro de Vila Franca do Campo. 23.12.1840 Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), filho de Miguel Furtado e de Jacinta Rosa, n.p. de Miguel Furtado e Bárbara Josefa e n.m. de António do Couto e Quitéria da Trindade, todos naturais de Vila Franca do Campo. 3 539 Miguel Tavares Inquirição de genere. Natural da Lagoa, filho de Miguel da Câmara, de Rabo de Peixe e de Maria de Amaral, natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), n.p. de Domingos Pires e Maria Simões, ambos de Rabo de Peixe e n.m. de Amaro da Costa, da Lagoa e Francisca de Amaral, de Rabo de Peixe. 10.10.1732 7 405 Nicolau de Sá Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Roque da Costa, natural de Rosto de Cão e de Maria de Carvalho, de São Sebastião, n.p. de António da Costa e de Maria da Costa, ambos de Rosto de Cão e n.m. de Sebastião de Sá, de São Sebastião e de Maria de Carvalho da Silva, de São Pedro (Ponta Delgada). 12.01.1722 1 402 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 87 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço Nicolau Francisco Dias Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Francisco da Rocha Freitas e de Maria Gomes, naturais da mesma, n.p. de Amaro de Freitas e Maria do Rosário, natural da Ribeira Grande (Matriz) e n.m. de Lucas Gonçalves e Bárbara Gomes, ambos de Rabo de Peixe. 10.03.1744 12 408 Nicolau Pereira Inquirição de genere. 16.04.1721 Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de Manuel Ferreira Rebelo, natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela) e Paula Pereira, de Ponta Delgada (São Pedro), n.p. de António Rebelo e Maria Ferreira, naturais da Ribeira Grande e n.m. de Manuel Pavão, de Água de Pau e de Antónia Martins, de São Pedro. 11 401 Nicolau Pereira Inquirição de genere. 15.05.1750 Natural de Ponta Delgada (São Pedro), filho de José de Sousa e Catarina Pacheco, n.p. de Manuel Travassos, natural de São Pedro e Maria de Sousa, da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário) e n.m. de Manuel Pereira, de São Pedro e Bernarda Pacheco, de Nossa Senhora dos Anjos da Fajã. 20 408 Nicolau Rodrigues Azedo Inquirição de genere. 25.08.1728 Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Simão Ferreira Cassua e de Maria Manuel, n.p. de João Vieira Cassua e de Maria Ferreira e n.m. de Mateus Rodrigues Félix e de Maria Manuel, naturais da Matriz. 14 403 Nuno Bicudo de Mendonça Inquirição de genere. 25.08.1674 Natural da Ribeira Grande, filho do Capitão Vicente Anes Bicudo e D. Maria de Arruda Botelho, n.p. de Manuel Antunes Cardoso e Maria Bicudo de Mendonça e n.m. do Capitão Gonçalo Vaz Botelho e D. Ana de Arruda Botelho, todos da Ribeira Grande (inclui escritura de património feita por seus pais em 13.11.1691). 5 399 Patrício Teixeira Inquirição de genere. 10.03.1728 Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho de Miguel Teixeira, natural da mesma e de Isabel Cabral, natural de São Miguel de Vila Franca, n.p. de Francisco Teixeira, de São Miguel e de Maria de Araújo, de São Pedro e n.m. de Brás Gonçalves e de Leonor Cardoso, ambos da Matriz de Vila Franca. 11 403 Paulo de Sequeira Processo de vita et moribus. Natural de São Sebastião, filho de Amaro de Sequeira, natural de São José e de Catarina Correia, de São Sebastião, n.p. de Salvador Rodrigues Âmbar, da Ribeira Seca e Luzia de Sequeira, de Água de Pau e n.m. de António Garcia Sarmento, de São Sebastião e Maria Correia, dos Ginetes. 27.05.1729 4 404 Pedro Barbosa da Silva Inquirição de genere. 26.02.1726 Natural de Ponta Delgada, irmão dos Padres Manuel Pereira Botelho e Francisco Barbosa da Silva, filhos do Capitão Rui Pereira do Amaral e de D. Mariana da Câmara, naturais de Ponta Delgada, n.p. do Licenciado Manuel Pereira Botelho, de Ponta Delgada e de D. Ângela de Mendonça, da Ribeira Grande e n.m. de Sebastião Barbosa da Silva e D. Isabel da Câmara, naturais de Ponta Delgada. 3 403 [87] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 88 Nome [88] Documento (Sumário) Data Doc. Maço Pedro Cabral Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de António Cabral Teixeira, natural da mesma e de Bárbara de Pimentel, natural do Nordeste, n.p. de Pedro Lopes Teixeira, da Ribeira Seca e de Maria Rodrigues, da referida Matriz e n.m. de Matias Pereira e Isabel Teixeira Pimentel, ambos do Nordeste. 12.09.1728 17 403 Pedro Cabral de Melo Inquirição de genere. 21.01.1720 Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Sebastião de Melo Cabral, da mesma e de Teresa Carreiro, de São Pedro da mesma, n.p. de Mateus Valadão, da Matriz da Praia (Terceira) e Maria de Melo, da Matriz de Vila Franca e n.m. de Bartolomeu Cabral de Frias e Ana Fernandes, ambos de São Pedro de Vila Franca. 8 401 Pedro Coelho de Albuquerque Inquirição de genere. Natural de Lisboa (Santo Estêvão), filho de Vicente Coelho de Góis e de D. Ana Josefa, n.p. de Pedro Coelho Correia e D. Inês de Miranda e n.m. de Pedro de Lapenha e D. Inês da Silva. 16.11.1686 11 399 Pedro da Costa Inquirição de genere. 25.07.1715 Natural da Maia, filho de Miguel da Costa e de Ana Jorge, naturais da Maia, n.p. de Gaspar Lourenço e Maria Darges e n.m. de Manuel Jorge e Luzia Delgado, todos da Maia. 12 400 Pedro da Costa e Medeiros Inquirição de genere. Natural da Maia, filho de António da Costa Leite e de Teresa de Medeiros, naturais da Maia, n.p. de Miguel da Costa e Ana Jorge e n.m. de Manuel Cardoso e Maria da Costa, todos da Maia. 26.04.1743 15 407 Pedro da Costa Franco Inquirição de genere. Natural da Lagoa, filho de António Pacheco Lima e de Maria Franco, naturais da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), n.p. de Manuel de Lima, da mesma e de Ana Pacheco, de Ponta Delgada (São Sebastião) e n.m. de João Rodrigues Francisco, de São Sebastião e Mariana Correia, de Ponta Delgada (São Mateus). 01.02.1713 8 400 Pedro da Costa Lima Inquirição de genere. Morador na Lagoa, filho de Sebastião da Costa e Maria Luís, n.p. de Manuel de Lima e Ana Pacheco e n.m. de Francisco Fernandes da Costa e Catarina Correia, todos naturais da Lagoa (Santa Cruz). 09.02.1712 7 400 Pedro da Costa Lima Inquirição de genere. Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de Filipe da Costa Lima, natural da Lagoa (Matriz) e Bárbara Romeiro, de Nossa Senhora do Rosário, n.p. de Sebastião da Costa Lima, de Nossa Senhora do Rosário e de Maria Luís, da Matriz e n.m. de Baltazar Alves, da Matriz e de Ana Romeiro, de Nossa Senhora do Rosário. 05.04.1728 12 403 5 407 Pedro da Fonseca Falcão Inquirição de genere. 12.12.1742 Natural da Candelária, filho do Capitão Pedro da Fonseca, natural dos Mosteiros e de Maria Pavão, dos Ginetes, n.p. do Capitão Manuel da Fonseca e Catarina Ferreira Pavão, dos Mosteiros e n.m. de Domingos Pavão, das Feteiras e Maria Martins de Sousa, dos Ginetes. CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 89 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço Pedro de Oliveira Cabral Inquirição de genere. Natural das Capelas, filho de Manuel de Oliveira Cabral, natural das Capelas e Maria de Viveiros, natural de Santo António, n.p. de Manuel de Oliveira Cabral e Ana de Sousa, ambos das Capelas e n.m. do Alferes Francisco de Viveiros da Costa, de Santo António e Ana Jorge Figueira, natural do Nordeste. 30.10.1738 5 406 Pedro de Pimentel Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão dos Padres Bernardo de Pimentel e João de Pimentel, filhos de Manuel da Rocha, de Rosto de Cão e Maria de Pimentel, de São Sebastião. 11.07.1718 3 401 Pedro Ferreira de Medeiros Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Manuel Ferreira, natural de Angra (Conceição) e de Joana de Medeiros, de São Sebastião, n.p. de Tomé Jorge, de Rabo de Peixe e Catarina Ferreira, do Cabo da Praia (Terceira) e n.m. de Tomé Fernandes e Maria de Medeiros, ambos de Rosto de Cão. 07.09.1707 5 400 Pedro Ferreira e Vasconcelos Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Francisco Ferreira e Isabel Teixeira, n.p. de João Ferreira e Isabel de Paiva e n.m. de Manuel Teixeira e Águeda Clemente, naturais da Ribeira Grande (Matriz). 10.10.1724 12 402 Pedro Inácio Tavares Inquirição de genere. Natural da Ribeira Seca, filho de Amaro Rodrigues de Oliveira e de Ana Tavares, n.p. de Manuel Rodrigues e Maria Teixeira, ambos da Ribeira Seca e n.m. de Manuel Fernandes Vieira, da Ribeira Seca e Isabel de Amaral, de Rabo de Peixe. 20.03.1735 11 405 Pedro Jácome Raposo Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo (Matriz), filho de Domingos de Paiva, natural da mesma e Margarida de Matos, de São Pedro da mesma, n.p. de José de Paiva e Ana de Sousa, ambos da Matriz e n.m. de Francisco de Lima e Ana de Matos, ambos de São Pedro. 28.08.1728 15 403 Pedro Moniz da Costa Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de José Moniz Pereira e Francisca da Costa, naturais da mesma, n.p. de Manuel Pereira, de São Sebastião e Maria Moniz, de Rosto de Cão e n.m. de Belchior Rodrigues Matam, da Ribeira Grande e Ana Rodrigues, de São Sebastião. 01.06.1719 5 401 Pedro Moniz da Silveira Inquirição de genere. 05.08.1723 Natural de Vila Franca do Campo (São Pedro), filho do Capitão Manuel Furtado de Medeiros, natural dos Fenais (Santos Reis Magos) e de Maria Pacheco de Medeiros, de São Pedro, n.p. do Capitão Brás Furtado de Medeiros, dos Fenais e n.m. do Alferes Manuel Pacheco de Deus, de São Pedro de Vila Franca e Maria Medeiros da Silveira, natural da Maia. 4 402 Pedro Rodrigues da Silva Inquirição de genere. 10.05.1716 Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), irmão do Padre Manuel Ferreira, Vigário da Igreja de Nossa Senhora dos Anjos de Água de Pau, filhos de Sebastião Ferreira e Luzia Ferreira, n.p. de Manuel Ferreira e Maria Rodrigues, naturais da Madalena (Pico) e n.m. de Vicente Gonçalves e Bárbara Jorge, da Ribeira Grande. 2 401 [89] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 90 Nome [90] Documento (Sumário) Data Doc. Maço Pedro Teixeira Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande, filho de Manuel Rodrigues Teixeira e Maria Francisca, n.p. de Manuel Rodrigues Teixeira e Bárbara Manuel e n.m. de Domingos Dias e Maria Francisca. 24.05.1694 12 399 Primo José Pacheco Inquirição de genere. Natural da Ribeira Grande (Matriz), filho de Jacinto Pacheco e de Maria da Trindade, n.p. de António Pacheco e Teresa de Jesus e n.m. de António da Costa e Francisca de Jesus, todos da referida Matriz. 10.11.1848 7 535 Primo José Pacheco Processo de vita et moribus. Natural da Ribeira Grande, filho de Jacinto Pacheco e de Maria da Trindade, n.p. de António Pacheco e Teresa de Jesus e n.m. de António da Costa e Francisca de Jesus, todos da Ribeira Grande (Matriz). 10.06.1850 7 543 Raimundo António Jácome Raposo Inquirição de genere. Natural de Vila Franca do Campo (São Miguel), irmão do Padre Pedro Jácome Raposo, ambos filhos de Domingos de Paiva, da mesma e de Margarida de Matos, de São Pedro da mesma vila, n.p. de José de Paiva e Leonor de Sousa e n.m. de Francisco de Lima e Ana de Matos. 12.12.1742 6 407 Sebastião de Sousa Estrela Inquirição de genere. 22.01.1744 Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), irmão do Padre João Rodrigues Estrela, filhos de João Rodrigues Estrela e de Antónia de Sousa, naturais da Ribeira Grande (Matriz), n.p. de Manuel Rodrigues Estrela e Bárbara Vieira, naturais de Nossa Senhora da Conceição e n.m. de Manuel Rodrigues Castelão e Águeda de Sousa Correia, naturais da Matriz. 10 408 Sebastião Ferreira Raposo Inquirição de genere. 12.10.1731 Natural da Relva, filho de Francisco Raposo, natural dos Ginetes e de Catarina Neto, natural da Relva, n.p. de António Raposo, natural dos Ginetes e Isabel de Vasconcelos, dos Mosteiros e n.m. de Sebastião Ferreira, natural de Lisboa “que veio para São Miguel há vinte e três para vinte e coatro anos servindo o officio de copeiro em casa do Conde Dom Manoel” e Ana de Benevides, natural da Relva. 8 405 Sebastião Garcia Darge4 Para se promover a tirar Inquirição de genere, vita et moribus. Tesoureiro na Igreja de São Pedro de Ponta Delgada, filho de Bartolomeu Garcia, de Rosto de Cão e de Maria Moniz Carneiro, de São Pedro, n.p. de António Martins, de São Sebastião e de Vitória Garcia, do Nordeste e n.m. de Manuel Álvares, da Ribeira Seca e Maria Moniz de Sousa, da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Estrela). 17.07.1725 18 563 Simão de Sousa Inquirição de genere. 02.06.1736 Natural da Povoação e morador na Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho do Capitão João de Frias Pereira, natural de Vila Franca do Campo (São Miguel) e D. Vitória de Sousa Castelo Branco, da Ribeira Grande (Matriz), n.p. do Capitão Sargento-mor João de Frias Pereira, de Vila Franca do Campo e D. Maria Soares, natural da Maia e n.m. de Manuel de Sousa, natural da Ribeira Seca e Maria Carneiro, natural da Ribeira Grande. 13 405 4 Consta também como documento 9 no Maço 403 mas apenas a capa do processo. CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 91 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço Tomé Botelho Inquirição de genere. Natural da Relva, filho de Sebastião de Sousa Neto, da Relva e Maria do Céu, de Rabo de Peixe, n.p. de Miguel Neto e Mariana de Sousa, naturais da Relva e n.m. de Manuel Tavares da Silva, de Rabo de Peixe e Maria Botelho, da Relva. 20.02.1784 3 412 Venâncio de Sousa Costa Cabral Inquirição de genere. 22.07.1841 Natural da Ribeira Grande (Nossa Senhora da Conceição), filho de Manuel de Sousa Cabral, natural da Matriz da Ribeira Grande e Rosa Joaquina, de Nossa Senhora da Conceição, n.p. de Manuel de Sousa Cabral, de Nossa Senhora do Rosário da Lagoa e Rosa Quitéria do Espírito Santo, da Matriz da Ribeira Grande e n.m. de António José de Sousa e Aurélia Rosa, ambos da referida freguesia de Nossa Senhora da Conceição. 6 533 Veríssimo José de Sousa Machado Inquirição de genere. Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Veríssimo José de Sousa, de Nossa Senhora das Candeias (Santa Maria) e Jacinta Rosa, de Ponta Delgada (São José), n.p. de José de Sousa e Antónia de Sousa e n.m. de Manuel Machado e Joana Francisca. 22.06.1846 7 534 Veríssimo José de Sousa Machado Processo de vita et moribus. 10.07.1852 Natural de Ponta Delgada (São Sebastião), filho de Veríssimo José de Sousa, de Santa Maria (Nossa Senhora das Candeias) e de Jacinta Rosa, natural de São José, n.p. de José de Sousa e Antónia de Sousa, naturais de Santa Maria e n.m. de Manuel Machado, de São José e Joana Francisca, natural de São Pedro. 7 544 Vitorino José de Carvalho Inquirição de genere. 30.06.1820 Natural da Lagoa (Nossa Senhora do Rosário), filho de Henrique José de Carvalho, natural da mesma e Maria Rosa Luciana, natural de Santa Cruz da mesma vila, n.p. de João de Carvalho, de Santa Cruz e Ana de São José, de Nossa Senhora do Rosário e n.m. de José Correia Cabral, de Nossa Senhora do Rosário e Isabel de Pimentel, de Santa Cruz. 9 401 [91] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 92 COLAÇÕES Nome [92] Documento (Sumário) Data Doc. Maço André Francisco Pereira Tavares (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Na Vigairaria da Igreja de Nossa Senhora das Neves da Relva. 22.06.1814 13 528 André Miguel Ayres (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Igreja de São Roque de Rosto de Cão. 16.06.1800 20 527 António Bernardo da Cunha (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Na Vigairaria da Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande. 24.07.1813 11 528 António de Melo e Sousa (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. No Mestrado da Capela da Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande. 12.07.1800 21 527 António Filipe Dolphaos (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Igreja de Santa Cruz da Lagoa. 22.08.1767 9 527 António Francisco de Resendes (Pe.) Carta de Colação. Em benefício na Matriz de São Sebastião que foi o Pe. Luís José de Sousa. 14.01.1843 3 530 António Garcia de Abranches (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Matriz de São Miguel de Vila Franca do Campo, vago por óbito do Pe. Manuel Henriques Ayres. 27.11.1815 6 529 António Jacinto Borges (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada. 03.09.1814 16 528 António Jacinto da Silva (Pe.) Carta de Colação. Na Igreja do Senhor Bom Jesus de Rabo de Peixe. 27.03.1848 12 530 António Jacinto da Silva (Pe.) Carta de Colação. Na Igreja de São Sebastião, por óbito do Pe. Raulino Borges de Leão. 16.01.1843 8 530 António João Moniz (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Matriz da Ribeira Grande. 29.12.1817 18 529 António Joaquim Álvares (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Igreja Colegial de São Pedro de Ponta Delgada, vago por óbito do Pe. António João de Mendonça. 26.08.1815 4 529 António Joaquim de Medeiros (Pe. Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Igreja Colegial de São José de Ponta Delgada. 27.11.1815 5 529 03.04.1818 19 529 António Joaquim de Autuação de uma Carta de Colação. Medeiros Rodovalho (Pe.) Em benefício na Matriz de Nossa Senhora dos Anjos de Água de Pau, por óbito do Pe. Henrique José Álvares de Sousa. CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 93 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) Documento (Sumário) Data Doc. Maço António Joaquim Pereira de Almeida (Pe.) Carta de Colação. 29.08.1849 Beneficiado Encomendado da Colegiada da Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada, instituído na cadeira da mesma por óbito do Padre João Hipólito Raposo Nunes Chicharro. 9 536 António Vieira Raposo (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Na Vigairaria da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda da Bretanha. 31.03.1802 3 528 António Vieira Raposo (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para uma Vigairaria da Igreja de Nossa Senhora da Luz dos Fenais. 22.02.1815 1 529 Bento Joaquim Tavares Taveira Brum (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Matriz da Ribeira Grande. 02.05.1800 15 527 Caetano António da Silva (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada, vago por óbito do Pe. Manuel José de Medeiros Bettencourt. 23.11.1816 16 529 Duarte Borges de Sousa (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Colegiada de São José de Ponta Delgada. 02.05.1800 16 527 Elizardo José de Castro (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, vago por óbito do Pe. Jorge Caetano de Sousa. 23.03.1816 8 529 Elizardo José Moreira (Pe.) Carta de Colação. Beneficiado na Matriz de São Sebastião, instituído na mesma por desistência do Reverendo António Jacinto da Silva. 07.05.1849 6 536 Estêvão Rufino de Freitas Oliveira (Pe.) Carta de Colação. Na Matriz de São Sebastião, por óbito do Pe. António Jacinto Borges. 12.01.1843 6 530 Francisco José de Benevides (Pe.) Carta de Colação. Na Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada onde foi provido por Decreto de 26.11.1846. 13.04.1847 10 530 Francisco José do Amaral e Melo (Pe.) Carta de Colação. Na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres do Pico da Pedra onde foi provido por Decreto de 12.03.1845. 18.09.1846 16 530 Francisco José Pacheco (Pe.) Carta de Colação. Na Igreja de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande onde foi provido por Decreto de 11.07.1847. 07.04.1847 9 530 Francisco Pacheco de Bulhões (Pe.) Carta de Colação. Em benefício curado na Matriz de São Sebastião que foi do Pe. António Vicente Arruda. 14.01.1843 7 530 Francisco Pimentel de Medeiros (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Igreja de São Miguel de Vila Franca do Campo, vago por óbito do Pe. Henrique Botelho de Figueiredo. 19.08.1815 3 529 [93] Nome CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 94 Nome [94] Documento (Sumário) Data Doc. Maço Gaspar José Correia (Dr.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Igreja de São José de Ponta Delgada. 08.05.1769 10 527 Germano José Pacheco (Pe.) Carta de Colação. Em benefício na Matriz de São Sebastião que foi do Pe. António Rebelo da Gama. 07.01.1843 4 530 Inácio Caetano Ferreira (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Igreja de Nossa Senhora das Neves da Relva. 30.04.1800 19 527 Inácio Manuel Soares (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Ermida de Santa Ana, filial da Matriz de Ponta Delgada. 18.03.1802 2 528 Jacinto Botelho do Amaral (Pe.) Carta de Colação. Para a Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande. 09.01.1862 23 530 Jacinto Félix Machado (Pe.) Carta de Colação. Na Matriz de São Jorge do Nordeste. 23.10.1852 18 530 Jacinto Inácio de Sousa (Pe.) Carta de Colação. Para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Lagoa. 27.06.1865 24 530 Jacinto Tavares Pereira (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Na Vigairaria da Colegial de São José de Ponta Delgada. 24.07.1813 12 528 João Bento Pacheco de Arruda (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Na Vigairaria de São Pedro de Ponta Delgada. 04.08.1789 13 527 João de Sousa Freire (Pe.) Autuação de Petição. Para ser colado na Vigairaria da Matriz de Nossa Senhora dos Anjos de Água de Pau. 11.01.1710 4 527 João Inácio de Medeiros (Pe.) Autuação de Petição. Para ser colado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Achadinha. 27.09.1759 6 527 João José Rodrigues (Pe.) Carta de Colação. Para a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda da Bretanha. 27.06.1865 24 530 João Manuel de Faria (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Igreja de São Miguel de Vila Franca do Campo que foi do Pe. Leandro Francisco Botelho. 11.06.1819 22 529 João Palha de Macedo (Pe.) Diligências para Colação. Em benefício da Matriz da Ribeira Grande. 26.08.1663 2 527. João Velho de Faria (Dr.) Diligências para Colação. Em uma das Conezias da Sé, vaga por óbito do Cónego Pedro de Alpoim. 20.08.1691 3 527 José Álvares Canijo (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Igreja dos Santos Reis Magos dos Fenais da Ajuda. 02.11.1769 11 527 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 95 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço José Bento Rodovalho (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Matriz de Nossa Senhora dos Anjos de Água de Pau. 03.04.1818 20 529 José Borges de Brito (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Igreja de São Pedro de Ponta Delgada, vago por óbito do Pe. Manuel Inácio de Melo. 21.11.1816 10 529 José da Rocha Martins Furtado (Pe.) Carta de Colação. No Primado da Matriz de São Sebastião. 17.12.1841 2 530 José de Medeiros (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Na Vigairaria da Igreja do Bom Jesus de Rabo de Peixe. 13.08.1814 15 528 José de Medeiros Pacheco e Arruda (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, vago por óbito do Pe. Bento José Taveira. 20.03.1816 7 529 José de Medeiros Sousa (Pe.) Carta de Colação. Na Igreja de São José de Ponta Delgada. 06.03.1847 13 530 José Elias da Câmara Frazão (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Igreja de Nossa Senhora da Apresentação das Capelas, vago por óbito do Pe. António José de Medeiros Vasconcelos. 24.04.1816 9 529 José Ferreira do Rego (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Igreja Colegial de São Pedro, vago por óbito do Pe. Manuel José de Sousa Macedo. 20.03.1816 13 529 José Francisco do Rego Baldaia (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, vago por óbito do Pe. Manuel José Raposo. 07.02.1816 12 529 José Francisco Moreira (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Como Cura na Ermida de São Lázaro, sufragânea da Igreja de São Pedro de Vila Franca do Campo. 19.06.1802 4 528 José Francisco Pereira (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para a Vigairaria da Igreja de Nossa Senhora das Candeias da Candelária. 20.03.1816 14 529 José Francisco Tavares (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Na Vigairaria de São Pedro da Ribeira Seca. 06.10.1804 6 528 José Francisco Tavares de Melo (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para uma Vigairaria na Igreja de Santo António. 05.04.1815 2 529 José Inácio da Silva Pacheco (Pe.) Carta de Colação. Em benefício na Matriz de São Sebastião que foi do Pe. João Soares do Amaral. 10.01.1843 5 530 [95] (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 96 Nome [96] Documento (Sumário) Data Doc. Maço José Inácio de Melo Estrela (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Ribeira Grande. 10.01.1809 9 528 José Jacinto da Cunha Morato (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, vago por óbito do Pe. Manuel de Oliveira Arruda. 14.02.1817 17 529 José Miguel Borges de Bettencourt (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Colegiada de São José de Ponta Delgada. 08.10.1800 22 527 José Raposo Álvares (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Igreja Colegial de São Pedro de Ponta Delgada. 12.07.1805 7 528 José Tavares de Medeiros (Pe.) Carta de Colação. Na Igreja de São Miguel de Vila Franca do Campo. 28.10.1840 1 530 José Tavares do Rego (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Igreja Colegial de São José de Ponta Delgada. 06.07.1814 14 528 José Ulisses de Normandia (Pe.) Carta de Colação. Em benefício da Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada. 09.12.1852 19 530 Justino Pereira de Medeiros (Pe.) Carta de Colação. Em benefício da Colegial de São Sebastião de Ponta Delgada. 23.05.1859 22 530 Lourenço de Melo Camelo Monteiro (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício de Vigário na Igreja de São José de Ponta Delgada. 10.11.1760 7 527 Luís Francisco Cordeiro (Pe.) Carta de Colação. Em benefício na Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada. 03.03.1855 21 530 Luís Francisco Cordeiro (Pe.) Carta de Colação. Em benefício na Matriz de Ponta Delgada. 16.02.1844 14 530 Luís Francisco Cordeiro (Pe.) Carta de Colação. Na Igreja de São Roque de Rosto de Cão. 11.11.1847 11 530 Luís Maria de Melo Raposo (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada. 18.02.1802 1 528 Manuel Cabral de Melo (Pe.) Carta de Colação. Egresso Franciscano, no benefício da Matriz, vago por óbito do Pe. Estêvão Rufino de Freitas. 20.08.1846 15 530 Manuel da Costa Morato (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício da Igreja de Santa Cruz da Lagoa. 23.02.1662 1 527 Manuel de Oliveira (Pe.) Autuação de Petição. Para ser colado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário da Lagoa. 29.07.1720 5 527 CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 97 ÍNDICES DO CARTÓRIO DA MITRA DE ANGRA Nome Documento (Sumário) Data Doc. Maço Manuel Gomes Tavares (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Colegial de São Pedro, vago por óbito do Pe. André Francisco da Ponte. 14.05.1818 21 529 Manuel Inácio de Melo (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Igreja de São Pedro de Ponta Delgada. 24.06.1771 12 527 Manuel José da Costa e Câmara (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, vago por óbito do Pe. Manuel Tavares de Sousa. 23.11.1816 11 529 Manuel José de Sousa Tavares (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Vigairaria da Igreja dos Santos Reis Magos dos Fenais da Ajuda. 06.05.1800 17 527 Manuel José de Sousa Tavares (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Igreja de Nossa Senhora da Graça do Porto Formoso. 15.11.1806 8 528 Manuel José do Rego (Pe.) Autuação de uma Carita de Colação. Em benefício na Vigairaria da Colegiada de São José de Ponta Delgada. 06.05.1800 18 527 Manuel Nunes Moreira (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em Benefício na Colegiada de São José. 26.03.1762 8 527 Manuel Pereira Resendes (Pe.) Carta de Colação. Na Igreja de São Jorge do Nordeste. 03.07.1848 17 530 Mateus Duarte de Sousa (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Matriz da Ribeira Grande. 28.06.1802 5 528 Maurício José de Resende (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Na Vigairaria da Igreja de Nossa Senhora da Graça do Porto Formoso. 03.09.1814 17 528 Maurício Pinheiro de Mendonça (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Em benefício na Igreja do Bom Jesus de Rabo de Peixe. 18.09.1810 10 528 Pedro Inácio de Sousa (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Na Vigairaria de Nossa Senhora da Conceição da Ribeira Grande. 05.08.1789 14 527 Pedro José Victorino (Pe.) Autuação de uma Carta de Colação. Para um benefício na Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande, vago por óbito do Pe. Mateus Duarte de Sousa. 23.03.1816 15 529 Venâncio de Sousa Cabral Carta de Colação. No Mestrado de Capela da Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande. 31.12.1852 20 530 (continua) [97] (ILHA DE SÃO MIGUEL - PARTE I) CH_Filipe Campos_02z_Layout 1 11/27/12 6:19 PM Page 98 [98] Caldeiras nas Furnas (Bilhete Postal, 1905) Col. do Autor CH_Antonio Leal_01z_Layout 1 11/27/12 6:26 PM Page 99 FRANCISCO FERREIRA DRUMMOND HOMEM DO SEU E NOSSO TEMPO. ATUALIDADE DO SEU LEGADO PEDAGÓGICO [99] António Neves Leal INTRODUÇÃO Para começar permitam-me que, como filólogo de formação, faça uma pequena apresentação do patrono desta Escola, recordando que a sua origem, como se vê pelo próprio nome Drummond, é estrangeira. Não é, como pensa muita gente, de origem francesa, mas escocesa. O mesmo erro tem acontecido com Garrett (este vindo da Irlanda e muito disseminado nos E.U.A.). A linhagem dos Drummond tem a sua génese em Stobhall, no reino da Escócia. No séc. XV, rumam à ilha da Madeira e depois, no XVII, João Escórcio Drummond e sua mulher, D. Branca Afonso, de que descende o patrono deste estabelecimento, passaram da Madeira para a Terceira, constituindo neste rincão sebastianense um lugar de eleição, verdadeiro feudo ou coutada dessa nobre família. Nesta vila, vivem hoje inúmeras famílias com esse nome, grafado de diferentes maneiras nos registos de identificação: Drumond, Drumonde e Ormonde. Os Drummond aqui instalados tiveram notável influência e preponderância, sobretudo nos séculos XVIII e XIX. como se verá mais adiante. CH_Antonio Leal_01z_Layout 1 11/27/12 6:26 PM Page 100 melhor lição. Ora estes dois aspetos são indissociáveis na personalidade do nosso homenageado. Ele não só merece a nossa admiração e respeito, mas também o nosso agradecimento e gratidão. Esta virtude adorna o mais nobre e belo sentimento que se pode cultivar no coração de um ser humano, e concretiza-se no reconhecimento de uma sociedade bem formada e que se preze. Evocar, aqui e agora, Francisco Ferreira Drummond é saldar uma enorme dívida por tudo o que fez em prol desta sua e nossa Ilha de Jesus, assim como do arquipélago. Viemos, esta noite, lembrá-lo como patrono, e oxalá o saibamos fazer da melhor forma e, sobretudo, aprender com o valioso legado que, generosamente, nos deixou. E às gerações que hão de vir. ALGUNS ELEMENTOS BIOGRÁFICOS [100] O Dr. J. Corte-Real e Amaral, aquando da inauguração do monumento à memória de Francisco Ferreira Drummond, em 14 de outubro de 1951, afirmava sobre esta família: À Igreja, ao magistério, à governança, à cultura das letras, Desde a meninice, revelou vocação precoce para o estudo das letras e da música, tendo sido bem apoiado pelos familiares, gente de ricos recursos materiais e culturais. Seu pai, Tomé Ferreira Drummond pertencia à nobreza sebastianense. Era um abastado lavrador, que assumiu as funções de Presidente da Câmara local em 1821. da música e da historiografia, deu ela, com efeito como nenhuma outra, figuras de marcado relevo, que com o seu labor dignificaram e enalteceram esta Vila (In Biografias e Outros Escritos, p.34). Ao que eu acrescentaria, o seu concelho e a nossa ilha. O tema que escolhi para a comemoração deste Dia do Patrono intitula-se Homem do seu e nosso tempo, e tem como subtítulo atualidade do seu legado pedagógico, por razões circunstanciais evidentes. Darei especial destaque à vertente formativa da sua obra e o eventual interesse, daí resultante, para os docentes e discentes atuais e para os que, no futuro, frequentarem este magnífico edifício acabado de construir. E, obviamente, para toda a comunidade terceirense. Pretende-se com esta comunicação lembrar que o estudo do passado ensina muito. Já os Latinos defendiam que a História era a mestra da vida. E o exemplo dos homens, na sua praxis, é a Depois do ensino das primeiras letras (o ensino primário), aprende na cadeira de Gramática Latina, existente aqui de 1783 a 1824, Latim, Lógica e Retórica, então disciplinas obrigatórias do currículo escolar. Era muito estudioso, procurando, cada vez mais, aumentar a sua formação literária e artística. O ambiente familiar em que viveu aguçou-lhe o gosto pelo saber. Para isso contribuíram alguns parentes, tidos como conceituados professores: Sebastião Ferreira Drummond e Francisco Machado Drummond, notável docente com 30 anos de ensino, cidadão exemplar, homem abastado e magnânimo. Contudo, foi o Pe. José Ferreira Drummond, distinta figura do clero diocesano, seu primo e padrinho, e talentoso organista, quem maior influência exerceu sobre o autor dos Anais da Ilha Terceira, sendo o seu primeiro mestre na arte dos sons. Prosseguiu, com grande êxito, os estudos musicais a cargo de Fr. António de Pádua, vigário do coro do Convento de S. Francisco, durante duas décadas. CH_Antonio Leal_01z_Layout 1 11/27/12 6:26 PM Page 101 FRANCISCO FERREIRA DRUMMOND HOMEM DO SEU E NOSSO TEMPO. ATUALIDADE DO SEU LEGADO PEDAGÓGICO FORMAÇÃO E LEGADO PEDAGÓGICO Para quem conheça a história do séc. XVIII e a cultura clássica greco-latina, encontrará, facilmente, muitos aspetos coincidentes com os valores defendidos pelo humanista terceirense. O trivium e o quadrivium aristotélicos nele surgem como base da sua formação cultural. A gramática, oratória e dialética, do primeiro, e do segundo, a aritmética, a astronomia e a música, que seria uma das suas maiores paixões. Agora se compreenderá, melhor, o motivo por que existem, nos nossos dias, tantos músicos de formação científica (engenheiros, matemáticos, físicos, médicos e arquitetos). Se lembrarmo-nos dos fundamentos matemáticos, das linhas geométricas e dos tempos musicais, não sentiremos qualquer surpresa no casamento entre essas ciências e a música, que para muitos é, desde a Antiguidade, a primeira das artes. A comprovar essa influência da cultura clássica, refira-se, ainda, uma série de inúmeras citações de autores latinos como Tácito, Vergílio, Ovídio (deste último transcreve mesmo versos de uma elegia, no frontispício da obra que o notabilizou). De realçar, também, que Quintus Ennius, um dos maiores e mais universais poetas romanos, publicara um imponente poema épico sobre a história de Roma – Annales, em 18 volumes, em cujo epitáfio, um dia, alguém gravou a frase seguinte: É ao ler Ennius que os alunos romanos aprendiam a vida dos antigos heróis assim como as virtudes romanas. Elas eram várias, entre as quais a pietas, que abrangia os deveres religiosos, civis e familiares; a fides, isto é, o respeito pelos compromissos assumidos e constantia, ou seja, a firmeza de caráter. O ideal romano está bem sintetizado na feliz expressão lapidar mens sana in corpore sano, ainda hoje dotada de pertinente atualidade. As qualidades morais indicadas deviam, segundo Francisco Ferreira Drummond, preocupar o político, o polemista e o orador. A oratória não devia brilhar apenas na arte de dizer, isto é, na forma estilística em detrimento do conteúdo. E que flagrante acuidade e utilidade tem este conceito para os discursos dos nossos políticos e demais profissionais da palavra! No caso de Francisco Ferreira Drummond, além dos valores supramencionados, há que sublinhar ainda outros pelos quais lutou, afincadamente, no seu ofício de historiador. Refiro-me ao conceito de superioridade do labor intelectual. Este o obrigou a fazer dois decénios de pesquisas em cartórios, arquivos públicos e particulares, registos paroquiais e familiares para poder escrever os Anais da Ilha Terceira. De referir também a probidade e humildade do historiador. Veja-se este exemplo: 1751 foi um dos anos mais escassos de fruta na ilha..., porém não alcancei a causa. (Confissões como esta abundam na sua obra). A necessidade de saber sempre mais; a isenção na pesquisa das fontes; o equilíbrio (mesura dos clássicos); a busca constante da verdade; o rigor e o espírito crítico (tão necessários nos tempos que vivemos em que tanta palha, lixo e atentados à inteligência são impingidos pelos media, cinema e internet); o culto da liberdade, que o levou ao exílio dum ano em Lisboa, só regressando após a Abrilada, quando os ventos lhe eram mais propícios, são valores universais, válidos em todos os tempos, e pelos quais ele quis sempre pautar a sua conduta. O incumprimento ou abastardamento de muitos deles leva-o às denúncias contra a injustiça, o desleixo, a usurpação do que é dos outros, e às críticas aos desmandos partidários. Insurge-se, igualmente, contra os portugueses que não colaboram no progresso do País, vivendo na indiferença castradora, cobarde e indigna, enquanto o povo passa fome e anda andrajoso por ruelas sujas. Afinal, onde já ouvimos ou lemos tomadas de posição tão idênticas às expendidas por Francisco Ferreira Drummond e que enumerámos acima?! [101] Dotado de boa preparação de latinista, Francisco Ferreira Drummond é nomeado, com apenas 15 anos, organista da Matriz da Praia, onde esteve 47 anos, quase até à sua morte, aos 62 anos de idade. Durante esse longo magistério, vai consolidando o estudo dos principais autores latinos e lusos, num meio social acanhado e pobre. CH_Antonio Leal_01z_Layout 1 11/27/12 6:26 PM Page 102 A MÚSICA NA VIDA DE FRANCISCO FERREIRA DRUMMOND AS MAIORES REALIZAÇÕES DE FRANCISCO FERREIRA DRUMMOND Não desempenhou somente a função de organista, como já foi dito atrás. Foi também organeiro, procedendo a reparações ou substituição de peças dos instrumentos existentes, nas várias freguesias da ilha, ou resolvendo problemas de afinação nos mais usados ou maltratados. Interessado na divulgação das inovações que iam sendo conhecidas nos países mais desenvolvidos da Europa, sensibilizou as entidades paroquiais para esses progressos e propôs aos responsáveis da Matriz da Praia a imediata aquisição do primeiro harmónio que veio substituir, com as suas sonoridades mais expressivas, os velhos órgãos usados nas igrejas terceirenses, mas foi a Santa Casa da Misericórdia praiense a primeira entidade a fazê-lo, o que deslumbrou o organista Francisco Ferreira Drummond. A maior de todas é, sem dúvida, os Anais da Ilha Terceira, fruto do seu beneditino labor intelectual. O júri, que apreciou o manuscrito era composto por dois dos mais ilustres vultos das letras terceirenses: os Drs. António Moniz Corte-Real e João Augusto Cabral de Melo, tendo lavrado, em ata, a sua apreciação, nos seguintes termos: [102] É de realçar a importância da música sacra nas celebrações dos grandes acontecimentos civis e religiosos. Na obra de Drummond, proliferam os Te-Deum, nas mais diversas ocasiões, tal como as luminárias. É o caso do aniversário de D. Pedro, em 1831. No mesmo dia 5 de março foi solenizada, na Vila de S. Sebastião, a chegada do imperador com todas as demonstrações de público regozijo, assistindo a Câmara Municipal na igreja Matriz a um solene Te-Deum…, enumerando a seguir as individualidades e as corporações presentes naquele importante ato. Apesar dos seus múltiplos afazeres, tocava todos os dias o cravo e o manicórdio, durante duas horas, para seu prazer pessoal e, acima de tudo, para aperfeiçoamento do seu trabalho artístico que ele muito considerava e prestigiou. A música sacra era, até ao Concílio do Vaticano II (1962), fundamental nas cerimónias litúrgicas, totalmente ditas em latim, a língua oficial da Igreja Católica. E ambas contribuíam para a elevação do espírito e a criação nos fiéis de uma atmosfera de misticismo ou mistério. Pensava-se que, assim, se chegaria mais perto da glória de Deus e dos seus anjos (arcanjos, querubins e serafins), alguns deles tocando seus vistosos instrumentos cor de ouro. Não há dúvida que o autor desta obra é digno do reconhecimento público, pelo relevante serviço que fez à sua pátria, revolvendo e explorando os arquivos públicos e particulares, colhendo e coordenando notícias e tradições históricas, desde o descobrimento da ilha e copiando quantos documentos pôde encontrar relativos ao governo civil, militar e eclesiástico; não há dúvida que esta obra tem merecimento real, oferecendo, reunidos, muitos elementos necessários, assim para a história geral deste arquipélago, como particularmente a desta ilha, sua antiga capital, e teatro ilustre de muitos sucessos memoráveis (…) Pena é que se não possa fazer até aos nossos dias a continuação desta obra. (cit. por J. Corte-Real e Amaral, in Biografias e Outros Escritos, p.45) Outra grande realização a que esteve ligado, na qualidade de Presidente da Câmara, foi a gigantesca obra da canalização da água do Pico da Cruz – Nascente do Cabrito – para a Vila de S. Sebastião (a maior efetuada na Terceira). Os números falam por si: produção do débito diário 12 milhões de litros, servindo a vila e Porto Judeu; extensão do encanamento duas léguas; duração dos trabalhos 25 meses (1842-1844). O governador da altura, José Silvestre Ribeiro, o reconstrutor da Praia, a qual lhe erigiu um monumento no centro do seu jardim, afirmou no dia da inauguração da mesma: Confesso ingenuamente que há muito não assistia a espectáculo que tanto vivamente me captivasse a atenção e banhasse a minha alma de delícias e contentamento. (Cit. em Biografias e Outros Escritos, p.41). Refere-se, em seguida, à grandiosidade e aos perigos de um tal empreendimento, à coragem e ao génio do responsável pela obra, o rico proprietário, Manuel Gonçalves CH_Antonio Leal_01z_Layout 1 11/27/12 6:26 PM Page 103 FRANCISCO FERREIRA DRUMMOND [103] HOMEM DO SEU E NOSSO TEMPO. ATUALIDADE DO SEU LEGADO PEDAGÓGICO CH_Antonio Leal_01z_Layout 1 11/27/12 6:26 PM Page 104 Fagundes, que nela gastou mais de 4 contos (uma fortuna para a época). Francisco Ferreira Drummond, nesse contexto, revelou-se um hábil negociador no meio de vários incidentes até se chegar à expropriação dos terrenos daquela abundantíssima nascente, impedindo que o maior manancial aquífero da ilha fosse encaminhado para a Vila da Praia. Não foi fácil a vida deste homem que devotou um acrisolado amor à sua terra, advogando com denodo e valentia os interesses do seu concelho (formado pelas freguesias servidas por esta Escola, e o Raminho, na costa norte), em momentos muito adversos. Fê-lo na Câmara, na Junta Geral, na imprensa, por todos os meios, designadamente quando tudo prenunciava a extinção do seu concelho (1855), o que não se cumpriu de imediato. Comportou-se sempre como lutador indefetível, paladino da cidadania e liberal avesso às injustiças dos magnates, o que lhe valeria inimizades e dissabores. Recorde-se que, já em 1822, por razões meramente políticas (querelas partidárias), tivera de sair para o exílio lisboeta, onde permaneceu mais de um ano. O pretexto terá sido ter tocado, várias vezes, o hino constitucional no Mosteiro da Luz da Vila da Praia. Em conclusão, permitam-me que, nesta Escola Básica Integrada com o seu nome, eu repita o apelo feito, aquando da comemoração do bicentenário do seu nascimento, neste mesmo dia 20 de janeiro de 1997. Oxalá a sua obra seja mais lida e o seu exemplo de cidadão interventivo e devotado à sua terra inspire as futuras gerações e estimule as hodiernas. A merecida e feliz escolha de Francisco Ferreira Drummond para patrono deste estabelecimento e esta oportuna sessão são já um bom augúrio. As sementes estão lançadas. Vão germinar e dar frutos para alimento e crescimento de todos os seus beneficiários, isto é, todos os que por aqui passarem, nos próximos tempos. Oxalá seja assim, ad multos annos. [104] CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 105 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS “Quais as causas dessa decadência, tão visível (…) e geralmente tão pouco explicada?” Antero de Quental (1871) INTRODUÇÃO: REGRESSO ÀS CONFERÊNCIAS DO CASINO Suponhamos que uma resolução consistente da atual crise portuguesa1 requer instituições (i.e. organizações e regras formais ou informais) que garantam a longo prazo os equilíbrios financeiros que hoje tentamos para o curto prazo, e que permitam substituir meras rendas económicas por uma efetiva competitividade. Essa requisição foi feita, entre outros, por Vítor Bento no editorial que assinou no Diário de Notícias a 29 de dezembro de 20112. O economista e conselheiro de Estado concluiu porém avisando que esse é um problema cultural, difícil de resolver até pelos interesses particulares que aí obtêm os respetivos rendimentos. 1 O presente ensaio foi escrito entre princípios de janeiro e fins de abril de 2012. A sua edição revista, mais explícita lógico-argumentativamente e com menos referências circunstanciais, será publicada como livro pela Palimpsesto Editora (Lisboa) em 2012. 2 V. Bento tinha antes relevado como causa estritamente económica desta crise a secundarização da produção de bens transacionáveis desde a nossa adesão à CEE (O Nó Cego da Economia – Como Resolver o Principal Bloqueio do Crescimento Económico, Lisboa: Bnomics, 2010). [105] Miguel Soares de Albergaria CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 106 Ou seja, a escolha coletiva que pôs Portugal no rumo da presente situação não terá sido a mera secundarização dos bens transacionáveis, etc.. Antes disso (numa anterioridade lógica, não necessariamente cronológica), ter-se-ão escolhido instituições que induzem a obtenção de rendas em detrimento da produção de riqueza. Escolha essa que, por sua vez, indicia o postulado radical de valores segundo os quais um número suficiente de portugueses terá precisamente optado por aquelas instituições, em correlação (dos valores) a princípios segundo os quais essas pessoas conceberam as alternativas que se lhes abriam3. [106] Percorrendo o caminho inverso à anterior inferência, um primeiro passo radical da resolução consistente da economia portuguesa será pois a indicação de quaisquer princípios e valores que nos induzam a opções institucionais sustentáveis. Entretanto o próprio facto de se intervir em função disso mediante a escrita, e numa publicação prestigiada, sem que esse meio seja único – poder-se-á também subir a um banquinho em qualquer speakers’ corner e falar a quem passa, manter um blogue… que talvez só o autor leia, etc. – indicia um outro passo paralelo àquele: o da opção pelo modo de se estabelecer tais princípios e valores numa parcela da população que constitua a massa crítica social que, nessa nova base conceptual e axiológica, logre criar e consolidar regras e organizações que facultem a competitividade da economia. O nosso propósito nestas páginas é precisamente o de remontarmos ao nível resolutivo radical e contribuirmos para estes dois passos, uma vez que confirmemos a sua requisição por um problema económico português de natureza cultural4. Este empreendimento está porém longe de começar nos dias que correm. Ao contrário, porventura o momento mais comentado desse primeiro passo ocorreu 140 anos antes daquele editorial do DN, no diagnóstico proposto por Antero de Quental na sua comunicação à 1ª Sessão das Conferências Democráticas no Casino Lisbonense – na esteira de Alexandre Herculano, também desenvolvida por Oliveira Martins, etc.. Não parecendo interessante voltar a inventar a roda, far-nos-emos aqui ao caminho com apoio nessa célebre conferência. Mas num diálogo crítico, como Antero (1871) também deixou ali estabelecido: “conheço que as minhas palavras não devem ser bem aceites por todos. As ideias, porém, não são felizmente o único laço com que se ligam entre si os espíritos dos homens. Independente delas, se não acima delas, existe para todas as consciências retas, sinceras, leais, no meio da maior divergência de opiniões, uma fraternidade moral, fundada na mútua tolerância e no mútuo respeito, que une todos os espíritos numa mesma comunhão – o amor e a procura desinteressada da verdade”. Nesta comunhão, reconheceremos uma nossa incapacidade cultural de mantermos o crescimento económico, todavia teremos que reformular o diagnóstico apresentado em Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos (secção 1). Reformulação que nos levará por um desvio sobre os princípios e valores que sustentem quaisquer instituições que mantenham o crescimento económico, até à proposta de uma taxonomia dessas condições fundamentais (2). Para na sua base podermos voltar ao caso particular da cultura económica portuguesa, que de resto teremos indo 3 Chama-se “valor” à referência segundo a qual se faz alguma escolha. Por facultar uma classificação das alternativas em jogo entre um polo positivo e outro negativo. E por se poder dispor os valores em hierarquias segundo as quais se opte nas situações em que diferentes alternativas têm a mesma classificação segundo valores diferentes. Estas alternativas são concebidas segundo “princípios” gerais metafísicos e epistemológicos, e particulares como os físicos, económicos, etc.. 4 Este texto é um ensaio argumentativo com base particularmente em conhecimentos científicos. Os quais têm sido distinguidos pelos epistemólogos ou como verificáveis, ou como falsificáveis. A primeira condição é a de ser reconhecível a verdade de uma proposição, a segunda é a de se poder reconhecer apenas a sua falsidade. Nos meus argumentos tomarei como boas as informações (tratadas) que receberei de alguns investigadores, para depois evoluir por exclusões de partes, pela apresentação de contra-casos, etc., estratégias mediante as quais apenas almejaremos ao descartamento de hipóteses falsas. Já para uma verificação seria necessária alguma instância que confrontasse a proposição em causa e a sua referência, atestando o seu ajuste; e depois uma segunda instância mediadora que ateste o ajustamento entre a primeira e os dois polos iniciais; e depois uma terceira instância… Como porém não tenho informação de qualquer contra-caso à regra universal da mortalidade humana, presumirei de imediato que não poderei seguir essa remissão ao infinito, o que me compromete com o falsificacionismo. Em conformidade ao qual não garantirei sequer a verdade de qualquer proposição que reste sozinha depois das alternativas aqui consideradas terem sido todas descartadas (poderá ser pela minha falta de capacidade de naquela reconhecer a falsidade, ou de formular outras). CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 107 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS 1. DAS CONDIÇÕES DA ESTAGNAÇÃO RELATIVA DE PORTUGAL NA ECONOMIA INDUSTRIALIZADA. 1.1. RECONHECIMENTO DA SITUAÇÃO PORTUGUESA. A evolução do nosso índice de desenvolvimento humano (IDH)5 ao longo da primeira década deste século constituiu uma campainha de alarme. É certo que o valor português subiu de 0,896, no ano 2000, para 0,909, em 2009. Mas, relativamente ao desempenho de outros países nas mesmas condições internacionais, não devemos ignorar que se naquela primeira data Portugal ocupava o 23º lugar do IDH, nove anos depois encontrava-se no 34º. E, relativamente à sustentabilidade de um nosso desenvolvimento, o gráfico 1 mostra-nos que, nessa década, enquanto o PIB português quase estagnou, a nossa dívida externa bruta mais do que duplicou, e a riqueza que criámos por ano acabou por ser ultrapassada mesmo pela dívida externa líquida6 – ou seja, melhorámos as condições de vida gastando não só a riqueza que até então produzíramos, mas também parte daquela que teremos agora que produzir, com a qual não poderemos assim contar para manter essas mesmas condições de vida. Alargando porém o horizonte da análise sobre essa sustentabilidade, reconheceremos que a debilidade do nosso crescimento económico não é circunstancial. Ao contrário, o gráfico 2 revela quão persistente é o atraso económico português em relação a esses seus pares pelo menos desde a Revolução Industrial7. 5 Enquanto o crescimento se reporta à variação do produto interno bruto (PIB), o desenvolvimento humano reporta-se não só à quantidade de riqueza, mas também à sua distribuição e à sua sustentabilidade. Até 2009 o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento elaborava o IDH tomando como parâmetros a taxa de alfabetização, a taxa de escolaridade, a expectativa de vida ao nascer, e o PIB per capita (por habitante) em dólares – v. Human Development Reports. Em 2010 os parâmetros foram retificados, pelo que só será legítimo comparar diretamente resultados dos anos anteriores. Em todo o caso registe-se que, na estimativa para 2011, Portugal foi agora classificado no 41º lugar, caindo uma posição em relação a 2010, em rota inversa à da Polónia ou da Lituânia, respetivamente 39º e 40º com ganhos de duas e de quatro posições face a 2010. 6 As dívidas externa bruta e líquida, indicadas no gráfico 1, indicam respetivamente os valores do que o país deve ao estrangeiro, relativamente aos quais se calculam os juros a pagar, e os valores anteriores deduzidos daqueles de que o país é credor. Os valores do gráfico 2 estão estabelecidos em paridade de poder de compra (mediante o cálculo de uma taxa de câmbio calculada a partir da média ponderada dos preços dos bens de um cabaz de bens comum em diversos países). 1. Portugal - PIB, dívida externa (M€) Fonte: BP, in Santos Pereira, Desmitos 7 Supondo que sejam razoavelmente válidos esses cálculos sobre o crescimento agregado de regiões que em alguns casos não correspondem aos atuais países referidos, e desde tempos nos quais poucas estatísticas se reuniam (cf. Landes, 2001: 216-219). Todas as conclusões a que cheguemos mediante argumentos que contem com tais cálculos como premissas ficam condicionadas pela legitimidade destes últimos. [107] mencionando já ao longo das secções anteriores, e concretizar o primeiro passo da resolução radical acima apontada (3). Em função do qual esboçaremos por fim o segundo desses passos – sobre o modo da intervenção cultural – na base de um antecedente já não apenas secular mas milenar (4). Em cada uma destas duas últimas secções farei uma menção particular ao nosso caso açoriano. E concluirei com uma síntese lógica dos dois argumentos que sustentam as propostas que apresentarei ao longo do presente ensaio. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 108 razão da emigração. Resta o fator do turismo, que permaneceu para além daquele quartel. Mas a estagnação da curva portuguesa mostra que não foi suficiente. A esta interpretação a favor do circunstancialismo da nossa notável convergência nesse período acrescentemos o juízo de David Landes (2001: 306-308) de que é mais fácil convergir do que participar da vanguarda; e o de Dani Rodrik (2007: 43) de que o que é difícil, e portanto significativo, não é espoletar o crescimento mas sim mantê-lo. Infelizmente, pois, creio bem que este é um daqueles casos em que temos de olhar para o copo quase vazio, e não para o copo um bocadinho cheio. 2. PIB per capita, relação à média da UE-15 (preços de 1990) Fonte: Mateus (2006: 26) [108] Um aparente contra-caso a essa afirmação será a taxa de convergência em especial no quartel entre o fim da II Guerra Mundial e 1973. Tão significativa quanto ela, porém, será a quase estagnação da curva portuguesa mesmo após a estabilização político-económica a meados da década de ’80, a despeito das benesses da adesão à CEE. O que bate certo com a interpretação desenvolvida por Abel Mateus (2006: 84, s.) da superioridade da taxa de crescimento dos países da Europa do sul em relação à da Europa ocidental no referido quartel: beneficiaram “da sua reintegração nos fluxos de comércio internacional e de transferência de tecnologia e investimento. Além disso, beneficiaram de dois fatores específicos: a explosão dos fluxos de turismo e as remessas de emigrantes”. Ora o primeiro fator geral foi circunstancial – dissolver-se-ia sempre uma vez cumprida a reintegração. O segundo só não o seria se, após a época de transferência, nos tornássemos um país de vanguarda tecnológica, inovando-a – com os índices de escolarização a permanecerem atrasados, apesar das melhorias, pela minha parte duvido muito que isso pudesse acontecer. De qualquer modo não aconteceu. Também o quarto fator implica a sua própria dissolução – uma vez que o crescimento, ainda que com uma distribuição desigual do rendimento, dissolveria a Comparemo-nos aliás particularmente à Irlanda, atlântica como nós, que encetou um extraordinário crescimento após o choque do petróleo de 1973, durante a III Revolução Industrial8… precisamente quando Portugal estagnou em relação à média dos 15 países que primeiro constituíram a União Europeia. Ou com os também 10 milhões de belgas, divididos entre valões e flamengos no coração da Europa, por isso ocupados em duas Guerras Mundiais, que perderam o acesso livre aos diamantes do Congo antes de nós o perdermos ao petróleo e diamantes de Angola… e que nestes dois séculos se mantiveram sempre acima da referida média. Ou com a Áustria, que restou qual cabeça decepada do corpo após a dissolução do seu império centro-europeu em 1918, que a derrota de 1945 impediu de quaisquer alianças… mas cujo desempenho ainda assim foi claramente melhor do que a média dos 15 no último quartel do séc. XX. Ou ainda com a Finlândia, no extremo escandinavo da Europa, gelado e sem sol, espartilhada pelo acordo com a União Soviética após a derrota na II Guerra Mundial… findo o qual o seu PIB per capita retomou a convergência com os 15 até ultrapassar a média destes em 2005. Comparações como a do gráfico 2 são significativas para uma compreensão do problema político-económico português: dificilmente as causas do desempenho nacional em relação ao dos nossos pares se encontrarão nas condições que se nos 8 Facultada pela robótica, energias alternativas aos combustíveis fósseis, informática, telecomunicações, etc.. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 109 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS impõem, pois pequena dimensão, periferia geográfica, guerras e crises nos parceiros comerciais… também se verificam em países que todavia tiveram sucesso. Uma vez que o problema não estará no que nos é dado, então ou bem que se encontra no modo como lidamos com tais situações, ou bem que deriva da pouca sorte, do fado, da Bruxa Má… Por esta segunda hipótese não precisaremos de nos preocupar com quaisquer reflexões – como a presente – decisões e ações, pois o que acontecer não dependerá destas. Mas mal também não fará se prosseguirmos a presente reflexão. E, em troca, cada um de nós poderá preparar-se melhor para as decisões pessoais e coletivas que nos esperam, se supusermos a hipótese anterior. Afinal, como dizia o meu avô Eduardo, “Quanto mais trabalho, mais sorte tenho”. Experimentemos assim, o leitor e eu, trabalharmos reflexivamente mais um pouco, a ver se (individual e/ou coletivamente) temos mais alguma sorte do que a revelada pelos gráficos acima. O modo de lidarmos com as situações dadas, sendo-nos crónico, não será próprio desta ou daquela oligarquia, ou sequer desta ou daquela geração, mas sim do que todas estas implementam. Que serão então os princípios de compreensão da realidade, os valores que nela nos orientam (v. nota 3), e as consequentes conceções particulares e práticas comuns – ou seja, a cultura – da maioria dos portugueses pelo menos nestes dois séculos de economia industrializada. Pois é muito pouco provável que, em cada momento histórico, ocorra sempre algum obstáculo circunstancial, e que isso apenas aconteça num certo retângulo à beira mar plantado mais nuns quantos rochedos espalhados no mar em frente! 1.2. O DIAGNÓSTICO ANTERIANO E SUA AVALIAÇÃO. Uma vez reconhecido o problema, e compreendido como cultural, procuremos o que o possa ter causado (ou pelo menos as respetivas condições) em vista à sua ulterior resolução. Como avancei no início, encontramos uma proposta de diagnóstico nas três causas que Antero de Quental (1871) apontou: a Contrarreforma católica, o absolutismo político destrui- dor das liberdades locais medievais, e uma intencionalidade mais conquistadora do que comercial da expansão ultramarina. Os “efeitos morais” desses fenómenos históricos terão sido o impedimento de, respetivamente, “a liberdade moral, conquistada pela Reforma ou pela filosofia; a elevação da classe média, instrumento do progresso nas sociedades modernas, e diretora dos reis, até ao dia em que os destronou; a indústria, finalmente, verdadeiro fundamento do mundo atual, que veio dar às nações uma conceção nova do Direito, substituindo o trabalho à força, e o comércio à guerra de conquista”. E o autor ordena rigorosamente essas relações causais: “dado o catolicismo absoluto, era impossível que se lhe não seguisse, deduzindo-se dele, o absolutismo monárquico. Dado o absolutismo, vinha necessariamente o espírito aristocrático, com o seu cortejo de privilégios, de injustiças, com o predomínio das tendências guerreiras sobre as industriais. Os erros políticos e económicos saíam daqui naturalmente; e de tudo isto, pela transgressão das leis da vida social, saía naturalmente também a decadência sob todas as formas” (op.cit.). No nosso diálogo com este intelectual açoriano, terei no entanto de imediatamente bater em retirada das posições avançadas de uma causalidade para a trincheira mais segura da mera condicionalidade, pois confesso que não sei qual deva ser a rigor o significado, ou como se deva aplicar em cada caso, o conceito de “causa”. Tomemos assim algo como “condição” de outro quando o segundo, em alguma medida, depender do primeiro. Devem distinguir-se as suficientes – que bastam para que o condicionado ocorra – das necessárias – sem as quais este não ocorre, mas que podem não ser suficientes para isto – das necessárias e suficientes. No fim do parágrafo 3.2 explicitarei a proposta de três destas últimas condições para um nosso crescimento económico sustentado. Mas ainda aí a ambição deste nível noético será menor do que a daquele em que evoluiu o nosso interlocutor oitocentista, pois não se excluirá a possibilidade da causa efetiva de um dado fenómeno ser outra que não alguma sua condição necessária e suficiente que se verifique conjuntamente. Entretanto esta humildade noética permitir-nos-á tomar indiferentemente como condições o que, aristotélico-tomis- [109] NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 110 [110] tamente, poderíamos discriminar em Antero: a Contrarreforma, o absolutismo e a conquista como causas eficientes (fenómenos que espoletam a ocorrência de outros), enquanto a falta de liberdade, de classe média e de indústria, independentemente de serem ou não efeitos (morais) das anteriores, como causas formais (identificadoras) dos acontecimentos político-económicos pontuais portugueses. Considerando então essas eventuais seis condições, creio que, hoje, podemos tomar o que o próprio Antero aponta como resultante, a deficiência industrial, como a expressão sintética do nosso problema de participação numa economia mundial industrializada. Isto é, o que procuramos são as condições dessa deficiência, sobre as quais haverá que intervir em ordem a uma resolução dos “erros políticos e económicos [e da] decadência sob todas as formas”. Por outro lado, relativamente à eventual condição respetiva, o espírito de conquista, simplesmente deixou de ter oportunidade em 1975, pelo que não se nos dispõe hoje como alvo de qualquer intervenção resolutiva nossa. Restam quatro eventuais condições. Seguindo a ordenação do nosso interlocutor, comecemos pois por averiguar se o catolicismo que implemente ainda o Concílio de Trento, assim como o centralismo – presente na burocracia administrativa, no sistema eleitoral que concentra a decisão política nos diretórios dos dois partidos que se revezam nos órgãos do Estado, etc. – que implemente ainda o absolutismo moderno, podem ser considerados como condições necessárias do que os gráficos anteriores assinalam em Portugal. Julgo que dados como estes precisamente nos obrigam a enjeitar tal hipótese. Pois de cultura católica também são os irlandeses, três quartos dos austríacos, e cerca de metade dos belgas, mas têm tido sucesso na economia industrializada. Quando muito a herança do Concílio de Trento participará de algum complexo de condições, mas não será suficiente, e não se verificará pelo menos uma das condições necessárias em cada um daqueles outros países. Logo, o catalisador do nosso atraso crónico não será o catolicismo. Entretanto não é sequer impossível que a evolução desta denominação cristã a constitua hoje como um fator de crescimento económico, eventualmente travado por outras condições9. O gráfico 2 também é significativo para a recusa do centralismo e autoritarismo como condições da menoridade económica – não descarta, é certo, a recusa do grau absoluto do centralismo e autoritarismo, mas, uma vez que esse grau já só se verificará na Coreia do Norte, em narco-Estados… poderemos considerar aqui graus mitigados de centralismo económico. Os quais não serão relevantes para o desempenho económico visto que as instituições de países centro-europeus, como a Áustria, tendem a ser mais centralistas do que as de países anglo-saxónicos, como a Irlanda, enquanto as dos países escandinavos, como a Finlândia, oscilam para o primeiro lado nuns casos, e para o segundo noutros (v. Amable, 2005: Ch. 5). E todavia os respetivos desempenhos económicos são equiparáveis. No mesmo sentido, veja-se adiante a referência de Dani Rodrik (2007: Ch. 1) ao crescimento do PIB per capita de regimes autoritários e intervencionistas como o chinês. Em suma, há indícios que sustentam a nossa hipótese inicial de um crónico problema económico português, que se manifesta numa nossa deficiente participação na economia industrial globalizada, mas que já se verificava à entrada desta, e cuja natureza última será cultural. Para o diagnóstico desse problema reteremos de Antero a hipótese de que o atraso português porventura se deixará equacionar, ao menos em parte, como resultando de uma falta de liberdade moral e de uma fraca classe média. Condições estas que porém não derivarão das causas eficientes que lhes são apontadas em Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos10. Convém-nos pois alargar o horizonte da nossa informação em busca de elementos para um diagnóstico que nos permita orientar a resolução daquele problema. 9 Ao leitor que se disponha a continuar a reflexão encetada nestas páginas, sugiro a leitura da resposta de Michael Novak (1993) à célebre tese de Max Weber da vantagem do calvinismo para o crescimento económico. 10 Julgo que o argumento anteriano vem a enfermar precisamente da falácia que o autor reclama ter evitado: “Examinemos os fenómenos que se deram na Península durante o decurso do século XVI, período de transição entre a Idade Média e os tempos modernos, e em que aparecem os gérmenes, bons e maus, que mais tarde, desenvolvendo-se nas sociedades modernas, deram a cada qual o seu verdadeiro caráter. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 111 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS O método de exclusão por partes, que usei atrás, tem a sua aplicação ótima na procura dos fatores responsáveis por uma reação química através da variação dos reagentes um a um. Mas o que o economista dispõe de mais próximo ao laboratório do químico é a história. É nesta que melhor (ou menos mal) poderemos isolar as condições culturais gerais do crescimento económico – sobre cuja verificação em Portugal nos perguntaremos na secção 3. Para uma primeira confirmação das investigações históricas que por isso usaremos escolhi duas abordagens perpendiculares entre si, uma longitudinal ao curso histórico, a outra transversal às recentes experiências econó- micas de diferentes regiões e países, a fim de as cruzar numa verificação mútua (2.1) – para me apoiar nesse cruzamento elaborei a tabela 1, a sua consulta talvez também seja útil ao leitor nos próximos parágrafos. Procurei compensar esse escasso número de fontes com algum selo de qualidade, neste caso o da universidade de Harvard onde ambos os autores trabalharam… Antero de Quental porventura sentir-se-ia tentado a responder à minha nota 10 acusando-me aqui da falácia ad verecundiam (apelo à autoridade), para tentar escapar-lhe ensaiarei a seguir uma pequena prova real testando o nosso isolado no movimento inverso, então da cultura para o desempenho económico, a ver se na inferência anterior não teremos chegado a condições meramente contingentes deste último (2.2). Terminaremos com a determinação de uma taxonomia dos princípios e valores recolhidos, que possamos depois aplicar ao caso português (2.3). [111] 2. PARA UMA TAXONOMIA DOS VALORES E PRINCÍPIOS ECONOMICAMENTE SIGNIFICATIVOS. 1. Valores e princípios político-económico-culturais D. Landes (2001) Valores Trabalho Liberdade de iniciativa Invenção Mercado Propriedade privada (do produto) Limitação do poder político Conhecimento teórico Acumulação de capital (Parcimónia) Honestidade Tenacidade (Paciência) D. Rodrik (2007) Princípios gerais Tempo linear e progressivo Subordinação da Natureza ao homem (Conceção do ser humano como pessoa) Princípios económicos Direito de propriedade Incentivos numa economia de mercado Primado da lei Consistência da moeda Sustentabilidade fiscal Regulação financeira Seletividade dos apoios sociais Compatibilidade entre apoios e incentivos Valor político Democraticidade Se esses fenómenos forem novos, universais, se abrangerem todas as esferas da atividade nacional, desde a religião até à indústria, ligando-se assim intimamente ao que há de mais vital nos povos estarei autorizado a empregar o argumento (neste caso, rigorosamente lógico) post hoc, ergo propter hoc, e a concluir que é nesses novos fenómenos que se devem buscar e encontrar as causas da decadência da Península” (op.cit.). Chama-se falácia “post hoc” (depois disso, portanto por causa disso) ao estabelecimento de uma relação causal entre dois fenómenos apenas porque se verifica uma sua proximidade temporal. Uma vez que encontrámos contra-casos que destroem a universalidade que Antero exige no antecedente dessa sua última condição, é precisamente dessa falácia que passa a enfermar o argumento que conclui aquele consequente apenas na base do exame de fenómenos peninsulares quinhentistas. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 112 2.1. RECOLHA E COMPREENSÃO DE INFORMAÇÕES (JÁ TRATADAS). [112] a) Abordagem diacrónica geral: David S. Landes (2001) é-nos particularmente significativo quer para Portugal, quer para a compreensão da natureza do problema que temos vindo a assumir com Vítor Bento e Antero de Quental. Neste último âmbito, porque aquele historiador norte-americano, através de um périplo que o traz desde as primeiras respostas europeia e chinesa às respetivas condições geográficas até uma reflexão sobre as condições económico-culturais asiáticas e ocidentais no fim do séc. XX, conclui que “se aprendemos alguma coisa através da história do desenvolvimento económico, é o facto de a cultura ser a principal geradora das suas diferenças. (Max Weber estava certo quanto a isso.)” (op.cit.: 584). Embora logo na página seguinte o autor assinale que esta condição não é suficiente, uma vez que pode ser bloqueada por condições locais, nomeadamente más opções políticas – a importância destes particularismos é enfatizada na obra que referiremos a seguir. Antes de os considerarmos importará porém atender, de um lado, ao impacto sobre o crescimento económico que, segundo Landes, apenas a invenção consegue. O seu capítulo 4 é dedicado à ênfase que lhe foi conferida na civilização ocidental que nasceu na Alta Idade Média, e que o autor ratifica (p. 63) no valor judaico-cristão do trabalho manual, no princípio judaico-cristão do tempo linear e eminentemente progressivo, no princípio judaico-cristão da subordinação da Natureza ao homem, e no incremento do mercado. O historiador atribui este último processo à liberdade de iniciativa, à preservação dos ganhos por quem os produzir, e à limitação do poder dos detentores de órgãos políticos. Desenvolverei esta sua interpretação assinalando que a subordinação da Natureza ao homem se encontra logo no Livro do Génesis, mas com duas interpretações: como uma exploração antropocêntrica, ou como um usufruto mas simultaneamente zelo do homem por uma Natureza em que ele se encontra, de que depende, e que não criou. É quase pacífico, no dealbar do séc. XXI, que a opção pelo segundo disjunto se tornou uma condição do chamado desenvolvimento sustentado. Para o ulterior cruzamento da análise de Landes com a do seu colega, convirá também assinalar que os valores da iniciativa, e da responsabilidade pelos resultados das escolhas, correspondem à conceção judaico-cristã de pessoa humana (precisamente dotada de capacidade de escolha e de ação) – isto é, o que os polos positivos desses valores estabelecem é igual por definição (tanto quanto os conceitos das humanidades o podem ser!) a “pessoa”11. Enfim, considerando as três “fontes decisivas e distintamente europeias de sucesso” que Landes (2001: 223, s. e cap. 18) aponta – a saber, a crescente autonomia de uma reflexão intelectual crítica (livre de condicionantes extraracionais); o desenvolvimento do método hipotético-dedutivo com a experimentação controlada e a matematização dos conhecimentos; e a constituição de uma comunidade intelectual internacional cujos membros se estimulavam e criticavam mutuamente – acrescentaremos à lista anterior (ao menos para o caso dos países que se pretendem “europeus”) o valor grego da teoria. De outro lado, porém, não podemos ignorar duas condições que têm determinado a sustentação do crescimento independentemente de quaisquer invenções. Pelo menos na Europa desde o séc. XVI essa sustentação tem dependido de alguma acumulação de capital em ordem ao investimento, em vez do consumo imediato de toda a riqueza criada. Um acesso ao financiamento que, como aconteceu nas economias que se procuraram industrializar rapidamente no séc. XIX sem antes terem acumulado capital, se diversificou pelas formas do investimento pessoal, do crédito bancário, dos incentivos governamentais e da atração de fluxos financeiros internacionais (v. Landes, 2001: 291, s.). E, pelo menos desde que há história, a sustentabilidade tem dependido de uma intencionalidade orientada para a soma de pequenos ganhos conseguidos a longo prazo mediante trabalho, e não para rasgos de curto prazo que facultem o poder de se estabelecer em seguida quaisquer rendas parasitárias. 11 Para uma introdução à história das ideias com que os ocidentais se têm constituído cf. Jacqueline Russ (1997) – em particular sobre o significado e dignidade da pessoa humana v. Russ (1997: 40, 53, 54, 332). CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 113 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS Sobre a importância da cultura nessa inversão de processos, o nosso autor destaca na expansão marítima portuguesa a opção pela aprendizagem por sucessão de experiências – na construção naval e técnicas de navegação – e uma intencionalidade primeiramente orientada para os negócios, embora secundada por um empenho evangelizador que dificultava aquela outra. Mas em 1506 fez-se em Lisboa um primeiro progrom, em 1540 foi instalada a Inquisição, que queimou o seu primeiro herege em 1543, e que endureceu a partir de 1580 com a reunião das coroas portuguesa e espanhola. Daí a fuga acima referida dos intelectuais, bem como dos grandes comerciantes. Entretanto cresceu a concorrência das antigas rotas das especiarias, até que Veneza readquiriu o estatuto de centro europeu desse comércio no último quartel do séc. XVI. Em resposta, em 1570 a Coroa portuguesa desistiu de participar do comércio entre Goa e Lisboa, passando a vender concessões. E o facto é que durante a primeira metade do século seguinte os portugueses foram substituídos no Oriente pelos holandeses e ingleses. (À atenção da proposta de Herculano, de Antero, porventura logo de D. Luís da Cunha, lembremo-nos de que o Concílio de Trento ocorreu durante, e não antes desse processo de fechamento intelectual, moral e político, e que a consolidação do Estado absolutista é posterior ao séc. XVI, pelo que não podem ter sido as causas eficientes desta decadência). A contraposição entre o comportamento seiscentista destes outros povos (v. respetivamente, op.cit.: cap. 10, 11) e o dos portugueses é mais uma das que permitem a David Landes (2001: 592) enfim concluir: “o que conta é trabalho, parcimónia, honestidade, paciência, tenacidade”, a que se acrescentam os valores da invenção, com as respetivas implicações, bem como do conhecimento teórico e da acumulação de capital em vista ao investimento. b) Abordagem sincrónica contemporânea: Essa conclusão geral diacrónica parece ser confirmada por uma análise sincrónica das atuais economias nacionais. Mais precisamente, pela implicação daqueles valores e princípios gerais no respeito pelos “higher-order principles of sound economic governance”, que Dani Rodrik (2007) reconheceu em todas as economias que têm tido sucesso nas últimas duas ou três décadas, não tendo encontrado qualquer país mal sucedido que os respeitasse a todos. Este outro autor (op.cit.: 31-35, 87) divide-os por três conjuntos: princípios microeconómicos, macroeconómicos, e de política social12. O primeiro conjunto visa a eficiência na 12 Logo na p. 3, Rodrik declara o seu credo teórico neoclássico, mas definindo-o não logo pelos postulados da racionalidade económica individual e do natural equilíbrio dos mercados, antes tão só por uma “methodological predisposition: social phenomena can best be understood by considering them to be an aggregation of purposeful behaviour by individuals – in their roles as consumer, producer, investor, politician, and so on – interacting with each other and acting [113] Um dos exemplos que o historiador aponta dessas condições do desempenho económico é o português, ao qual se refere particularmente nos capítulos 6 e 9 – por serem tão raras as passagens de obras internacionais que destacam o nosso caso usarei diretamente as suas palavras: “Portugal é um pequeno país de moderada fertilidade. No séc. XV a sua população era estimada em cerca de um milhão e os seus principais produtos e exportações consistiam em vinho (…) e cana-de-açúcar, que crescia rapidamente. Tivessem os Portugueses desse tempo podido antever a hoje clássica análise da vantagem comparativa de David Ricardo, e teriam prosseguido nesse rumo sensato, a cuidar da sua própria vida e negociando os seus produtos naturais em troca das manufaturas de outras nações. Em vez disso, esquivaram-se a seguir o caminho que a racionalidade lhes apontava e converteram a sua terra numa plataforma para o império” (op.cit.: 137) – por “racionalidade” entende-se aqui a sensatez que reconhece as vantagens comparativas, e não já a faculdade que pondera a possibilidade de saltos para atividades que prometem maiores ganhos. “Em 1600, e mais ainda em 1700, Portugal tornara-se um país atrasado e fraco. Os cientistas, matemáticos e físicos criptojudeus de anos idos, tinham fugido todos e nenhuma voz discordante veio ocupar o lugar deles” – abandonáramos, pois, o exercício da racionalidade crítica e especulativa – “Em 1736, D. Luís da Cunha deplorou a ausência de uma comunidade reformista (calvinista) em Portugal” (op.cit.: 149). CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 114 [114] alocação dos recursos. Para o que estabelece um mercado regulado pelo direito de propriedade – dos investidores a pelo menos parte do retorno do seu investimento (ex. o governo chinês reconhece aos agricultores o direito a parte dos seus eventuais lucros, mas não à totalidade, nem à terra utilizada) – por incentivos – ao dinamismo, à diversificação e à internacionalização da produção numa economia de mercado, em articulação aos custos e benefícios sociais – e pelo primado da lei – que garante a transparência e estabilidade das regras formais, e facilita a estabilidade política. O objetivo do segundo conjunto é a estabilidade macroeconómica e financeira. É constituído pelos princípios da consistência da moeda – que subordina a liquidez financeira a uma inflação razoável – da sustentabilidade fiscal – que subordina a dívida pública aos valores agregados nacionais – e da regulação financeira – que impede este sistema de correr riscos excessivos. Enquanto os princípios de política social visam reduzir a pobreza e a proteção social, contribuindo assim também para a estabilidade política. Rodrik reconhece aí a seletividade – que dirige os programas de apoio tanto quanto possível para os pretendidos beneficiários – e a compatibilidade com os incentivos – que minimiza a distorção provocada por estes últimos13. (Proposta: como atualização do retrato português por David Landes, e para uma explicação da situação em que nos encontramos hoje, experimente o leitor verificar a satisfação de cada um destes princípios no Portugal dos últimos 15 anos, à exceção do primeiro princípio macroeconómico uma vez que este não depende de nós mas do Banco Central Europeu – pela minha parte, apenas reconheço claramente o primeiro princípio microeconómico…). Em cada país, todavia, a implementação desses oito princípios é mediada por algum conjunto de instituições formais e informais que a promovem nas escolhas dos agentes económicos, sociais e políticos. Mas esse conjunto não é único. Antes encontra-se uma diversidade de instituições que têm facultado uma boa implementação daqueles princípios, ao contrário de outras que os impedem (cf. Amable, 2005: Ch. 5). As respetivas potencialidades variam em função da sua adequação aos particularismos locais e históricos – veja-se o fracasso soviético, durante a segunda metade da década de 1980, na aplicação de um sistema de preços parcialmente livre e parcialmente tabelado, pela falta de instituições formais ou informais que fizessem vigorar o plano de quotas uma vez aceite o mercado, as quais terão sido determinantes do sucesso chinês em semelhante sistema (Rodrik, 2007: 42, nota 21). A escolha contextual das instituições torna-se assim decisiva. Até porque, mais difícil do que quaisquer sucessos de curto prazo, têm sido as consolidações a longo prazo do crescimento – a curva portuguesa do nosso gráfico 2 será uma ilustração disto. E “the key to longer-term prosperity, once growth is launched, is to develop institutions that maintain productive dynamism and generate resilience to external shocks” (op.cit.: 43). Com esta constatação de Dani Rodrik reforçamos, mas ainda sem a confirmarmos, a nossa hipótese inicial de que o crescimento regular depende de algum complexo institucional, os quais porém, não sendo únicos, têm que ser escolhidos, logo implicam os valores segundo os quais o tenham sido, bem como os princípios da conceção dessa alternativa. under the constraints that their environment imposes”. Um credo teórico que, ao contrário, reconheça ao plano macroeconómico uma função decisiva e não apenas de enquadramento, porventura levará ao isolamento de princípios diferentes destes. Isso porém não será suficiente para se enjeitar a presente tábua de princípios económicos de ordem superior, uma vez que o atual jogo económico entre os países aparentemente se deixa formular mediante aquele primeiro credo – i.e. essa formulação neoclássica não é desmentida pela investigação empírica documentada na referida obra. Enquanto assim for, ela será pelo menos tão legítima quanto qualquer outra formulação. Pelo que as implicações que aqui lhe reconheceremos não serão irrelevantes. Note-se entretanto que o credo neoclássico, assim formulado, de modo nenhum se esgota – como este autor repetidamente enfatiza – na receita do consenso de Washington (privatizações, etc.), abrindo antes à diversidade institucional a seguir mencionada. 13 Nesta dilaceração em que nos encontramos hoje, em Portugal e na Europa, entre a necessidade de reequilíbrio das contas públicas, e a carência de investimento, pergunto-me se um estreito caminho do meio não será manter algum endividamento, mas desviando-o do consumo para o investimento segundo o princípio microeconómico dos incentivos, de forma a produzir-se riqueza, que permita aquele necessário reequilíbrio macroeconómico. A quantificação desse “algum”, e a determinação dos incentivos num jogo com os restantes princípios de Rodrik, são no entanto questões bem a jusante deste plano resolutivo radical. Além de requererem uma competência técnica que também me ultrapassa. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 115 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS Mais precisamente, é certo que comparações entre cerca de uma centena de países sugerem a esse autor que não haverá uma correlação forte entre o regime político e o crescimento económico de longo prazo. E o mesmo para o espoletamento deste último processo no curto prazo – no qual, note-se, os regimes autoritários não têm conseguido melhores resultados do que países democráticos como as ilhas Maurícias (Rodrik, 2007: 166-168). Todavia verifica-se uma correlação entre os regimes politicamente abertos e uma menor variância das respetivas taxas de crescimento em relação à média desta última, ao passo que as taxas dos países com regimes autoritários variam mais em relação a tal média. Também se verificam correlações equivalentes aos respetivos graus de volatilidade económica no curto prazo. Além disso, em regra, o grau de participação política varia inversamente com o grau de desigualdade na distribuição dos rendimentos (quanto maior for a desigualdade, menor será a participação e controlo políticos)14. Verifica-se ainda (op.cit.: 178, 179) que os países com maior capacidade institucional de assunção dos conflitos, e da sua resolução pacífica, têm apresentado um melhor desempenho na sequência de choques externos – ex. a Coreia do Sul e a Tailândia, com regimes políticos mais abertos do que o indonésio, comportaram-se melhor durante a crise financeira asiática dos anos ‘90 do que este outro país. Além de que, nas fases de declínio económico, os países com menor controlo dos poderes legislativo e judicial sobre o executivo, e com menor acesso ao poder pelas pessoas comuns – duas caraterísticas dos regimes autoritários – têm apresentado resultados mais graves do que os países cujo executivo é sujeito a controlo extrínseco e onde se verifica uma maior mobilidade social (ibid.). Em suma, na volátil economia globalizada atual pelo menos parece claramente mais fácil, e menos arriscado, agir em países cujo poder político é participado, do que em países autoritários – e porventura aquele primeiro regime propiciará mesmo um maior crescimento a longo prazo. Este autor identifica as instituições de maior participação política à democracia – no sentido “liberal” do termo. Mas, como ele próprio alerta (op.cit.: 28), diversas instituições, ou conjuntos institucionais, poderão facultar uma mesma função. Por exemplo, pegando-lhe na palavra julgo termos de admitir que uma máxima valorização da racionalidade crítica possa compensar uma desvalorização do indivíduo nos processos coletivos de tomada de decisão, de forma que um detentor do poder numa organização totalitarista possa permitir a evidenciação de conflitos latentes nessa última, e promover uma sua resolução pacífica. O problema é que, mesmo que aquela máxima valorização ocorra numa determinada cultura também totalitarista e autoritária, cada detentor do poder é de cada vez livre de assumir ou não a racionalidade crítica, ao passo que em democracia ele é sempre formalmente obrigado a isso (cf. Rodrik, 2007: 166). A democracia liberal, ainda que não detenha o exclusivo da participação e controlo políticos, será pois o regime que melhor os facultará. Julgo que poderemos assim 14 Mbabazi et.al. (2003: 135), na sua recolha de bibliografia estatística, encontram evidências de que a desigualdade retarda o crescimento a longo prazo. Se os significados dos três termos forem equivalentes, tomando desigualdade como termo médio e dadas as relações inversas que estabelece quer com a democraticidade quer com o crescimento, então, a longo prazo, estes últimos parâmetros variarão diretamente, ou seja, à melhoria num corresponderá à melhoria no outro – para confrontar com Rodrik (2007) verifique-se as respetivas metodologias estatísticas, além dos referidos significados. [115] Maximamente relevantes para o crescimento económico sustentado serão entretanto as “metainstituições” de escolha institucional, que Rodrik analisa no capítulo 5 (em particular nas pp. 166-182). A sua conclusão é fina, e o valor negativo português adiante no eixo das ordenadas da fig. B requer que se lhe dê atenção: um caso como o da China constitui-se apenas como exceção – e apenas provisória, que falta verificar os seus resultados assim que o desafio já não for retirar da miséria grande parte da população, mas elevar uma classe média então maioritária… – à regra de que instituições que implementam a participação pública na deliberação, decisão, controlo e avaliação das opções político-económico-sociais, acolhendo nessa participação a divergência de opiniões, facultam aos respetivos países uma maior estabilidade económica do que a registada normalmente nos países com regimes autoritários. A abertura política facilita portanto os processos de decisão económica. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 116 erigi-la no valor político que mais fortemente induzirá o cumprimento dos anteriores oito princípios económicos15. A propósito, e além das estatísticas apresentadas nas obras referidas, valerá a pena comparar os valores dos gráficos 3 (no qual faltam dados apenas sobre o Luxemburgo, e onde as melhores classificações são representadas pelos valores quantitativos mais baixos) e 4 com o anterior gráfico 2. (Para a secção 3, a boa notícia é que num destes não ficamos no último lugar. A má notícia é que o resultado é da classe dos que costumamos alcançar no Eurofestival da canção). c) Verificação mútua das abordagens anteriores: Em apoio à tese de Dani Rodrik da vantagem económica da democraticidade liberal, julgo saltar aos olhos a correlação entre os países pior classificados no gráfico 3, o teor de diversas notícias de há uns dois anos a esta parte sobre os cinco pigs (PIIGS) – nomea15 Desde as Revoluções Norte-Americana e Francesa, seguidas da Industrial, [116] 3. Participação e controlo do poder político Fonte: World Audit 4. UE-15: Desiguldades de rendimentos (Índice de Gini) Fonte: Index Mundi as três grandes opções ideológicas que se têm democraticamente contraposto são o conservadorismo, o liberalismo e o socialismo (v. Heywood, 2003). O método mais seguro de definição de um conjunto é o da descrição dos seus elementos, neste caso, das decisões e práticas que normalmente são próprias a cada uma dessas opções. Acontece porém que tais práticas constituem-se como a aplicação, num dado contexto histórico, do que quer que as tenha reunido precisamente num mesmo conjunto: a hierarquia de valores que distingue essa ideologia. De modo que, alterando-se o contexto, esta última deixa de se poder definir, e implementar, pelas práticas que a mediavam nos contextos anteriores. Por exemplo, se desde o new deal até ao fim do acordo de Bretton Woods e os choques do petróleo, o socialismo democrático foi aplicado mediante um endividamento público em obras estruturais, que dinamizassem a economia até pelos salários, reequilibrando-se as contas públicas pelos impostos sobre o crescimento obtido, o fim do controlo aduaneiro na economia globalizada arrisca a que, no terceiro passo, se some afinal o endividamento externo ao público (pelo aumento das importações). Paralelamente, o liberalismo exige um Estado fiscalizador forte… força que a recente crise financeira indicia faltar às instituições supranacionais que são supostas reger a globalização. Quanto ao conservadorismo tradicional, que possibilidade lhe resta num mundo que, nesta primeira década do séc. XXI, deixou de se centrar claramente na cultura ocidental? As opções políticas concretas encontram-se a jusante do ponto resolutivo a que aqui remontamos. Mas não deixarei de apontar que, hoje, aquelas três ideologias deverão ser definidas mediante uma ascensão às hierarquias axiológicas que sempre foram as suas – respetivamente, a prioridade conservadora da segurança, a prioridade liberal da liberdade individual, e a prioridade socialista da igualdade – e a dedução das práticas que as possam implementar neste novo contexto histórico. De outra forma suponho que se dissolverão, ou numa nova era civilizacional que gere novas ideologias, ou na dissolução do Ocidente por abdicar desses instrumentos de orientação das práticas coletivas, e restar numa navegação à vista oferecendo o flanco a quaisquer novos navegadores de alto mar. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 117 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS E assim confirmamos também uma das hipóteses que retivemos da nossa análise crítica à conferência de Antero de Quental: a de que a liberdade moral, que requer um controlo do poder político, será economicamente positiva. A segunda hipótese que assumimos em Causas da Decadência dos Povos Peninsulares… foi que igualmente positiva será a dimensão e o poder da classe média. Mas deixo a sua verificação ao cuidado do leitor – considerando que estes últimos valores serão tão mais altos quanto menor for a desigualdade de rendimentos, sugiro-lhe que confronte o presente gráfico 4 com um histograma das variações das taxas de crescimento desses 15 países, o qual imagino que facilmente encontrará online; se as classificações dos países corresponderem aproximadamente, é provável que Antero tenha tido razão. Entretanto eu verificarei nas próximas linhas a atualidade dos restantes valores e princípios que David Landes encontrou na história económica. A outra condição apontada por esse autor para o incremento do mercado – a preservação dos ganhos (ao menos em parte) pelo produtor – é expressamente reconhecida por Dani Rodrik no seu primeiro princípio microeconómico. Tal como o segundo destes princípios – incentivos a favor de uma economia de mercado – confirma a exposição diacrónica anterior pelo menos desde os processos de industrialização acelerada dos países que seguiram o Reino Unido no séc. XIX, concretamente na terceira forma de financiamento atrás apontada. Enquanto o último princípio microeconómico reconhece expressamente o pri- mado da lei, implicado em qualquer controlo político, particularmente sobre o poder executivo – que acima voltámos a lembrar como condição diacrónica do mercado. Relativamente aos três princípios macroeconómicos de Rodrik, julgo poderem ser constituídos como um desenvolvimento analítico do alerta do seu colega contra políticas pontuais que impeçam a realização mesmo de uma cultura económica positiva que eventualmente aí se verifique. A saber, se não se desequilibrar a moeda, a dívida pública e a regulação financeira, então será possível seguir os valores implicados nos restantes cinco princípios económicos, e implementar estes últimos. A mesma subordinação de quaisquer desejos, juízos de justiça, etc., às possibilidades encontra-se implicada na subordinação dos benefícios sociais à funcionalidade dos incentivos microeconómicos. Numa política social que, incorporando ainda o princípio da seletividade desses benefícios, implica em geral a dignidade e a realização da pessoa humana. Uma vez que este conceito será igual por definição ao que os polos positivos da iniciativa e responsabilidade estabelecem, é razoável considerar que estes últimos são implicados por aqueles princípios de ordem superior. Temos seguido aqui apenas condições estritamente económicas, mas acrescentemos que o valor do controlo do poder político executivo, sob o princípio do primado da lei, implementados especialmente pela democracia liberal, serão convergentemente reforçados pela assunção da pessoa humana, então numa condição política, na medida em que a realização da pessoa constitua a função daqueles princípios e valores. As diversas regressões estatísticas de Dani Rodrik (e seus colaboradores) confirmam assim a conclusão de David Landes, ao implicarem diretamente parte dos princípios gerais e dos valores distinguidos por este outro em princípios económicos de ordem superior, reconhecíveis nas atuais economias bem sucedidas. Logicamente, porém, a implicação de princípios e valores por certos procedimentos económicos apenas constitui os primeiros como condições necessárias dos segundos, não os constitui como únicas condições, e muito menos como suficientes para sustentar um crescimento positivo uma vez que este seja espoletado por quaisquer estímulos pontuais. Para os [117] damente, que só aquele cujo problema não será económico mas financeiro é que escapa ao fim desta classificação – e o alerta de David Landes sobre a possibilidade de más políticas destruírem potencialidades de crescimento económico – que suporte o desenvolvimento humano dessas comunidades. Este último autor, aliás, reconheceu a importância da valorização da iniciativa privada e do controlo do poder político, como condições do incremento do mercado, que por sua vez se constitui como condição da invenção, que enfim se constitui como condição do crescimento – uma vez que esses primeiros dois valores são respeitados especialmente no seio do regime democrático, as duas análises confirmam-se ao se cruzarem nesta questão político-económica. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 118 tomarmos como alvo das nossas intervenções em ordem à resolução do crónico problema económico português importa verificar se se podem constituir como condições necessárias e suficientes desta resolução – se puderem, então, mesmo que se admita a possibilidade de outros alvos, já teremos uma orientação possível para o trabalho resolutivo radical a que o gráfico 2 nos chama. 2.2. CONFIRMAÇÃO DA HIPÓTESE DA CONDIÇÃO CULTURAL DO CRESCIMENTO ECONÓMICO REGULAR. [118] fig. A. Mapa cultural Com todas as ressalvas metodológicas que se impõem ao usarmos estatísticas de tamanha ambição, creio que as que têm resultado dos sucessivos World Values Survey16 nos podem ser sugestivas nesta inversão do anterior movimento, agora da cultura para o desempenho económico – tal como serão bem sugestivas para a secção 3. Sinteticamente, observemos o mapa cultural (fig. A) de Inglehart e Welzel com base no WVS de 1999-2004. Distingue regiões do mundo e países segundo dois eixos de valores, os chamados tradicionais versus os seculares e racionais, e os valores ditos de sobrevivência versus os de expressão pessoal. O primeiro eixo afere não só a influência religiosa, mas também a valorização da autoridade, na família e na sociedade em geral, posições negativas em questões como o aborto ou a eutanásia, ou ainda o espírito nacionalista – valores elevados nestes parâmetros são indicados pelos números negativos, e o contrário pelos positivos. Ou seja, estes últimos valores tendem a corresponder às liberdades política e económica atrás enfatizadas, ao primado da lei civil e controlo do poder político. 16 “The World Values Surveys were designed to provide measurement of fig. B. Posição portuguesa no mapa cultural Fonte: World Values Survey all major areas of human concern, from religion to politics and social life and two dimensions dominate the picture (…). These two dimensions explain more than 70 percent of the cross-national variance in a factor analysis of ten indicators – and each of these dimensions is strongly correlated with scores of other important orientations.” In: The WVS Cultural Map of the World. Para os valores do inquérito de 1990 v. ficheiro anexo a essa página. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 119 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS Editei a fig. B a partir da fig. A em ordem ao caso português, mas imagine o leitor também a primeira figura com dois eixos perpendiculares tirados a partir dos respetivos zeros, de forma a obter quatro quadrantes: no primeiro (numeram-se contra o sentido dos ponteiros do relógio, a partir do superior direito), ficará basicamente a Europa protestante, parte da católica, o Reino Unido e o Japão; no segundo, os países de cultura confucionista, europeus ex-comunistas, e europeus católicos; no terceiro, o sudeste asiático e a África; no quarto, a América latina – um certo país que de facto parece para lá ter ido em alguma jangada de pedra – e a maior parte dos países anglófonos, mas estes bem puxados para o extremo positivo do eixo das abcissas (horizontal), e com os valores negativos mínimos no eixo das ordenadas (vertical), precisamente o contrário da América latina… e de quem lá deu à costa. É pacífico: do terceiro quadrante – onde os valores de ambos os eixos são negativos – para o primeiro – onde todos esses valores são positivos – evolui-se também tendencialmente das economias com pior desempenho para as com melhor desempenho. E, mais precisamente, dos países com piores IDH’s para os países com melhores IDH’s. Não é preciso conhecer a lei dos grandes números para supor que, muito provavelmente, haverá alguma correlação entre cultura e economia – uma correlação eminen- temente orientada da primeira para a segunda, entenda-se, que as análises e comparações de casos, desde as de Landes e de Rodrik até à do nosso gráfico 2, desmentem quaisquer teorias gerais economicistas como a marxista. A sugestão que recebemos do WVS, portanto, é que algumas condições culturais ou se constituem como induções muito fortes do desempenho económico, ou são mesmo necessárias a este último. Entre as quais se dispõem, além de outras apontadas diacronicamente por David Landes e sincronicamente por Dani Rodrik, pelo menos a liberdade moral que Antero de Quental enfatizou. 2.3. PROPOSTA DE TAXONOMIA POLÍTICO-ECONÓMICO-CULTURAL. Regressamos assim ao diálogo com esse nosso antecessor, mas munidos de conjuntos mais vastos de condições culturais do crescimento económico a aplicar ao Portugal destas primeiras décadas do séc. XXI. Precisamente no interesse prático da sua aplicação convém, se não mesmo se impõe, alguma organização daquele conjunto geral de condições que, ao menos, nos faculte a orientação de onde começar a intervenção resolutiva, e que intencionalidade deve ela assumir nesse momento. Tomando como dados as recolhas empíricas dos historiadores económicos que estudámos, podemos estabelecer essa organização mediante o que os lógicos chamam a introdução de uma condicional: colocando os dados mais imediatos como hipótese, aferimos se a partir daí chegamos a algum outro, se assim for constituímos este como condição da verdade daqueles (pois se o segundo for falso, os primeiros também o serão). Voltando à nossa tabela 1, as colunas mais imediatamente relacionadas ao crescimento económico contemporâneo são as de Rodrik, cuja compreensão procuramos enriquecer mediante um desvio fundamentador pelas colunas de Landes. Naquelas, as linhas de um subconjunto podem ser tomadas como condição prévia: se não houver riqueza, os princípios de política social não podem ser satisfeitos; se se impedir a produção de riqueza, por outras palavras, se esta for obstaculizada, [119] Além disso correspondem à valorização do espírito crítico próprio à racionalidade, em especial a especulativa, e assim permitem o exercício da invenção que dá corpo à progressividade de uma temporalidade linear. Na medida, claro, em que se subordinem os desejos e juízos de justiça às possibilidades reais. O segundo eixo assinala a distinção entre sociedades industriais e pós-industriais. Os números negativos indicam valores também ditos materialistas, relativos à segurança física e económica, enquanto os positivos indicam valores pós-materialistas, relativos à qualidade de vida e à expressão ou realização pessoal. Estes valores positivos respeitam assim a conceção do ser humano como pessoa, cuja realização requer no entanto a subordinação realista atrás mencionada, e a que pelo menos convém a política social também mencionada. Grosso modo, pois, podem estabelecer-se algumas correlações significativas entre as categorias do WVS e as que analisamos anteriormente. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 120 então os princípios microeconómicos não podem ser satisfeitos; mas o percurso lógico inverso não se verifica, pois os princípios macroeconómicos podem ser satisfeitos ainda que se não aproveite a oportunidade para aumentar a riqueza, ou para a redistribuir depois; portanto, estes últimos princípios são logicamente primeiros. [120] A sua satisfação, porém, implica o valor cujo polo positivo precisamente induza tais comportamentos. Em conformidade ao que avancei logo quando os relacionei a quaisquer valores, chamarei realismo a esse valor – que estabelece como positivos quaisquer atos ou instituições cuja intenção considere alguma realidade, e como negativos aqueles que a desprezem – chamando “realidade” ao que quer com que se não possa deixar de contar17. Com efeito, crescer economicamente não é uma necessidade, é uma possibilidade eventualmente cumprida. Tal como muitas comunidades se têm organizado em negação do desenvolvimento humano – é o caso das tiranias. Pelo que nada impede que, na hierarquia axiológica de uma cultura, outros valores se superiorizem aos que David Landes apontou como condições habituais do crescimento económico sustentado. Por exemplo o da socialização, em função da qual o emprego profissional será sempre primeiro um horizonte de relacionamento interpessoal e só depois de produção – uma ilustração desta outra hierarquia é capaz de estar na cultura económica de um país que tenha sido subsidiado durante um quarto de século para se dotar das infraestruturas necessárias à produtividade que o tornasse competitivo, e que após esse tempo persista o menos competitivo dos 15 que temos vindo a comparar18. Mas, a longo prazo, um crescimento económico negativo, e se calhar nem já absoluto mas apenas relativo aos parceiros/competidores (!) económicos, destrói a possibilidade dessa mesma opção cultural – porque dissolve a autonomia (doação a si da sua lei) implicada em qualquer opção própria, na anomia (ausência de lei, anarquia) ou logo em alguma heteronomia (imposição da lei por outrem, desde exércitos ocupantes… a troikas). Estes dois últimos estados político-legislativos costumam ser as resultantes do desrespeito pelo realismo – não satisfazendo os princípios macroeconómicos de ordem superior. O respeito por uma realidade implica por sua vez duas valorizações: a da autonomia – pois sem este valor nada obsta à opção pelo irrealismo conducente à heteronomia (em que a anomia costuma tombar rapidamente) – e a da verdade – a qual distingue as manifestações, representações… reais das que o não sejam19. Passando para a coluna esquerda da tabela 1, o exercício autonómico desde logo implica o princípio da liberdade de iniciativa própria à pessoa humana – cuja dignidade e realização requererá os princípios de ordem superior de política social, bem como o princípio microeconómico do primado 17 Em Albergaria (2011) assumi esta definição como um mero postulado… 18 Segundo o último relatório do World Economic Forum, Portugal “still holds one of the poorest competitive positions among advanced economies and suffers from serious weaknesses. In addition to the well-documented macroeconomic difficulties of a national savings rate below 10 percent (128th), a high deficit (122nd), and high public debt (128th) that hinder the availability of financial resources for local companies, the economy suffers from rigidities in its labor market (136th) and a disconnect between salaries and productivity (112th) that have hampered Portugal’s capacity to remain internationally competitive. Moreover, the traditional lag in company R&D (41st) and other innovation-oriented investments have prevented it from moving toward higher-value-added activities, so it suffers the consequences of fierce competition from cheaper production sites, such as Eastern Europe and China.” – In: The Global Competitiveness Report 2011-2012: Country Profile Highlights, p. 5. Por sua vez os Açores, nos quadros de uma divisão das NUTS III portuguesas em seis grupos de competitividade decrescente, em 2005 encontravam-se entre os grupos III – “Regiões intermédias” e IV – “Regiões menos desenvolvidas” (v. Competitividade Territorial e Coesão Económica e Social, pp. 17, 18), mas em último lugar no parâmetro da coesão, o que colocava a região no pior quartil da classificação combinada (op.cit., p. 20). A dimensão e a dispersão das ilhas não deve ser aqui derrotistamente invocada como justificação, ou sequer passivamente como explicação, mas sim como mais um dado do problema a resolver, aumentando a importância dos recursos que restem disponíveis – nomeadamente o cultural. 19 Na nota 17 referi um meu artigo – que porventura servirá para reforçar a tese de Miguel Real (1998: Cap. 3) de que a filosofia não tem sido coisa para o dente português… – no qual argumentei que se verificam duas grandes conceções do que se deverá chamar “realidade”. Ainda não tive oportunidade para desenvolver essa reflexão para o campo epistemológico, mas creio que da resolução daquela disjunção decorrerá o sentido do termo com que, no subconjunto chamado “humano” do conjunto real, os respetivos elementos têm distinguido as formulações do que precisamente é real: CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 121 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS funda esta segunda prescrição, a parcimónia, enquanto contemplando a acumulação, implicará algum outro princípio ou valor que precisamente a fundamente, obstando a que se consuma exatamente o que se produz. Além de um princípio ou valor que obste ao mero desperdício da riqueza acumulada, constituindo-a assim como capital em ordem ao investimento, apenas o qual pode facultar crescimento positivo. Essas duas funções são induzidas pelo valor de uma progressividade proposta para a temporalidade linear aberta – ou pelo princípio de uma temporalidade linear e progressiva. Isto é, uma vez que se diferencie o enriquecimento (não apenas financeiro) e a consolidação como polo positivo da vivência linear do tempo, em detrimento do empobrecimento e da dissolução, o agente que se identifica precisamente mediante uma tal temporalidade destinar-se-á à realização do progresso. O cumpri- A qual – segundo Dani Rodrik – estabelece os referidos princípios macroeconómicos como condição de sustentação da autonomia. Nesta base teórica, e dadas as relações lógicas atrás assinaladas, podemos então estabelecer o realismo como condição necessária de um crescimento económico não negativo, que faculte a autonomia pela qual a comunidade decidirá se mantém um crescimento nulo (ou porventura positivo mas estacionário em relação aos competidores), ou se envereda por um crescimento positivo (propondo-se ultrapassar os competidores). a “verdade”. Para o que aqui nos importa, é irrelevante qual daquelas conceções se implementará, o que o valor do realismo induz é que alguma (ou uma combinação hierarquizada de ambas) o seja. Por conseguinte também à valorização da verdade (a honestidade) será irrelevante se uma dada cultura implementa a conceção correspondencialista da verdade – adequação entre a expressão e o seu objeto – se alguma das conceções coerentistas – adequação entre crenças no seio de um sistema fechado destas. Apenas importará que, nessa cultura, a honestidade acompanhe o realismo no topo da hierarquia axiológica, visando a distinção entre realidade e fantasia, em detrimento da sua indiferenciação. Resta assinalar que, se porventura afinal a filosofia não for inalcançável a alguns portugueses, e o trabalho intelectual destes puder contribuir para a cultura geral portuguesa, e em particular a económica, então os equacionamentos e respostas a tais questões metafísicas e epistemológicas poderão eventualmente constituir-se como a base radical do que a presente secção 3 virá a requerer: o progresso para um novo estádio cultural que faculte pelo menos o crescimento económico necessário à autonomia, e porventura mesmo o crescimento positivo que sustente um continuado desenvolvimento humano a este povo. Creio que poderemos ainda isolar a condição necessária e suficiente desta última decisão no eixo de um outro valor (na coluna esquerda da tabela) que também implica o realismo: a parcimónia – se não se deve consumir tudo o que se produz, por maioria de razão menos se deverá tentar consumir o que se não produz (quem tiver dúvidas sobre esta ilação lógica poderá pedir uma explicação empírica aos herdeiros da década analisada no gráfico 1). No entanto, se o complexo realista 20 O leitor interessado encontra uma introdução, já clássica, à plasticidade da temporalidade em Eliade (s.d.: cap. II). Aproveito para avançar que, ao designar o que delimita a mesmidade face ao que lhe é outro, a “identidade” implica uma estrutura que faculte essa delimitação. Uma vez que a mesmidade pode ser tanto homogénea, estacionária, como processual, essa estrutura é a temporalidade (que precisamente tanto comporta a duração pura como quaisquer desenvolvimentos). Daí que assumiremos adiante o estabelecimento da estrutura temporal, em cujos quadros essa determinação poderá prosseguir em níveis consequentes, como primeiro nível lógico de qualquer identificação. [121] da lei, numa limitação do poder executivo, cuja menos má realização tem sido a democrática. Além disso, a autonomia implica uma temporalidade linear aberta (não necessariamente progressiva) – isto é, uma experiência ou vivência do tempo que assuma este último como uma sucessão orientada de momentos mutuamente relevantes que se não repetem. Pois a temporalidade pode antes ser estruturada circularmente, constituindo-se a história singular ou coletiva como uma mera repetição cíclica de fases; ou estruturada seja como uma série de pontos isolados entre si, cada um dos quais abrindo a um substrato comum, seja como uma continuidade homogénea que se limita a exprimir esse substrato, de modo que é neste segundo nível, e não no daqueles pontos ou continuidade, que se decide o que ocorre aqui20. Mas nestas outras temporalidades, e suas variantes, a lei que rege um momento não advém de uma decisão nesse instante ou no momento anterior – daí a implicação do modelo linear aberto pelo exercício autonómico. Por outro lado, poderemos chamar honestidade à valorização da verdade em geral; que em particular sobre quaisquer representações abstratas e justificadas se constitui como uma valorização da teoria. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 122 mento desta destinação implica por sua vez a valorização daquilo que a efetiva: o trabalho – como atividade pela qual se produz para um momento consequente o que não havia no antecedente – e a tenacidade ou paciência – dada a abertura desse tempo linear, que furta a possibilidade de qualquer cumprimento próximo e definitivo. Mais particularmente, segundo Landes e Rodrik, a progressividade será melhor satisfeita se, por um lado, se respeitar o princípio microeconómico da propriedade do produtor pelo menos de parte do seu produto, bem como, na atual economia industrializada e globalizada, o segundo desses princípios sobre a oportunidade de incentivos em prol de uma economia de mercado. E se, por outro lado, o homem assumir a Natureza como um conjunto de recursos (e um meio cujo equilíbrio é condição da sobrevivência humana!). [122] Se não me está a falhar algum visto nas entradas da tabela 1, com a conjunção entre o valor do complexo realista, e o valor da progressividade (mais os referidos dois princípios microeconómicos) associada ao princípio geral de uma temporalidade linear, cobrimos todos os traços político-económico-culturais que, nas suas abordagens diacrónica e sincrónica, esses autores encontraram nas economias bem-sucedidas, sem terem encontrado alguma que o não fosse mas que apresentasse todos esses traços. Nesta base, proponho então tal conjunção como condição necessária e suficiente do crescimento positivo, além do complexo realista como condição necessária e suficiente do mero crescimento não negativo (pelo menos até que se aponte algum contra-caso relevante aos resultados daquelas duas abordagens históricas). Em termos práticos, a sustentação de uma resolução do crónico atraso económico português nestes dois séculos de industrialização assentará portanto no posicionamento firme desse realismo no topo da nossa hierarquia axiológica, bem como dessa progressividade aplicada a uma temporalidade que igualmente importa conceber como linear e aberta. Quão perto, ou quão longe, estamos dessas hierarquizações e desta conceção, é o que nos perguntaremos na próxima secção. E assim concluiremos este ensaio do primeiro passo resolutivo que isolámos na introdução: a indicação de princípios e valores que nos induzam a opções institucionais sustentáveis e por- ventura mesmo desenvolvimentistas21. O segundo passo, de índole prática ou metodológica, ficará para a secção consequente. 3. DO POVO PORTUGUÊS – DA SUA TEMPORALIDADE, DA SUA REALIDADE… 3.1. DESDE AS CIÊNCIAS SOCIAIS… Ao fazermos zoom sobre um caso particular saltam aos olhos também as dificuldades metodológicas pontuais (O diabo está nos detalhes!). Com efeito, os valores atribuídos a Portugal pelo inquérito de 1990 do WVS (os posteriores não incluem o nosso país) são -0,21 de ordenada, e -0,43 de abcissa, o que deslocaria a posição portuguesa num pequeno vetor para a esquerda e para cima (fig. B). Embora, tomando os itens considerados nesses inquéritos, o último referendo sobre o aborto, alguns inquéritos sobre a eutanásia, etc., provavelmente obriguem a uma reaproximação de Portugal ao primeiro quadrante pelo eixo das abcissas. Em todo o caso, encontrar-nos-emos entre o terceiro e o quarto quadrantes, mas sempre mais próximos daquele do que do primeiro. Dificilmente, pois, nos poderemos filiar com propriedade na família axiológica de países já como a Croácia, a Espanha, a Itália… 21 Por exemplo, é a jusante do complexo realista que se estabelecerá o juízo de que o melhor equacionamento da crise socioeconómica portuguesa não é o que confira a prioridade ao desemprego, mas o que a confira à alteração da estrutura produtiva nacional em ordem aos bens transacionáveis. Pois enquanto esta segunda equação permitirá inclusivamente resolver aquele problema particular, a equação anterior apenas o mascarará. Mas, mesmo a quem não derivar esse juízo daquele complexo, importará assumir este último naquela que creio que será a hora crucial da resolução desta crise, e afinal da reorientação do país desde o meio milénio de comércio ultramarino colonial para a normalização europeia após 1986 (que a geração então no poder não estava culturalmente preparada para levar a cabo): a altura em que, regularizadas as contas públicas, se nos abra a alternativa entre um desaperto do cinto que não prejudique o investimento, muito menos retomando o desvario macroeconómico, e precisamente este último no abandono até da fivela. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 123 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS Dadas porém aquelas dúvidas metodológicas confrontemos a anterior classificação com outras suas congéneres, como a que é proposta pela equipa orientada por Geert Hofstede – visa particularmente valores tidos como relevantes no trabalho (já agora, comparando com os valores dos outros quatro países considerados no gráfico 2): 5. Valores profissionalmente relevantes Fonte: www.geert-hofstede.com Distância do poder (DP): grau de aceitação, pelos menos poderosos, da desigualdade do poder. Individualismo (Ind): grau de independência entre os membros da sociedade. Competitividade vs. qualidade de vida (C-QV): motivação pela vitória em competição, ou pelo gosto pelo que se faz e pela solidariedade (os autores, julgo que de forma ambígua, designam este parâmetro por “masculinidade”, que representa a competitividade alta, enquanto os valores baixos, “feminilidade”, representam a segunda motivação). Intolerância da incerteza (IntInc): grau do sentimento de ameaça pela incerteza. Orientação para o longo prazo (OLP): numa procura pragmática da virtude, em contraposição ao valor da normatização e dos resultados imediatistas. socioeconómicas alargadas, privilegia a lealdade ao grupo antes de quaisquer outros valores (como a verdade, a solidariedade, o trabalho…). “A country where the key word is consensus”. Que extrema a tendência ocidental e do Médio Oriente – cf. adiante a referência a uma herança de Al-Mu’tamid! – para a intencionalidade posta no curto prazo, bem como para a imposição das verdades reconhecidas. Enfim, destacam os autores, “if there is a dimension that defines Portugal very clearly, it is Uncertainty Avoidance” (IntInc). Será pois um caso máximo, no seio e à medida da civilização Ocidental, de manutenção de rígidos sistemas de crenças e comportamentos, e de intolerância pelas heterodoxias… entre as quais se encontram quaisquer invenções substanciais. Esta síntese termina com uma frase que será significativa para a nossa leitura de Gil (2005): nos países com elevados valores neste parâmetro da intolerância da incerteza, “security is an important element in individual motivation”. Esse estudo converge pois no mesmo sentido do anterior – v. análise dos parâmetros do mapa cultural do WVS no parágrafo 2.2: a cultura portuguesa carateriza-se pela subvalorização de várias condições que reunimos na tabela 1, e que classificámos na taxonomia consequente. A saber, desconsidera a participação e o controlo do poder político (cf. gráfico 3) – naturalmente não ao nível da Guiné-Bissau, mais ainda assim o suficiente para ser plausível hoje falar-se de uma candidatura ao cargo político que mais requer credibilidade (eticidade, cf. parágrafo 4.2) do seu detentor por parte de um nosso ex-primeiro ministro cujo princípio orientador não será tanto ideológico, ou sequer o respeito por condições económicas mínimas como as de Rodrik, mas – na melhor das hipóteses! – alguma preferência pelo clima de Bruxelas em detrimento do de Lisboa… ou qualquer juízo equivalente22. Também a pessoa humana parece subavaliada na cultura portuguesa (que acompanha a valori- 22 Se não, veja o leitor: quando líder da oposição, esse senhor justificou- Os autores identificam a cultura portuguesa pela aceitação das distâncias hierárquicas, e dos privilégios de quem detém o poder. Pelo coletivismo, que na Europa apenas se equipara ao espanhol, cuja hierarquia axiológica, da família às organizações -se não por tal função mas porque viria a ser melhor primeiro-ministro do que o então detentor do cargo; quando enfim lá chegou, suportado numa coligação, identificou o país por “estar de tanga”; e portanto, assim que lhe acenaram com um cargo fora de portas de maior notoriedade pública, maior conta bancária, e menor possibilidade de [123] NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 124 zação da solidariedade, cf. gráfico 4). Tal como o espírito crítico, que é condição da teorização (uma vez que se privilegie o consenso em detrimento da verdade). Enquanto se enfatiza o curto prazo no quadro temporal, e o valor da segurança que – segundo uma das pistas que exploraremos no próximo parágrafo sobre estas duas ênfases – será significativo da posição que reservamos ao realismo e à honestidade na nossa hierarquia axiológica. [124] Em suma, materialmente, para o nosso propósito aqui destacam-se estas duas últimas ilações. A falta de espírito crítico – que é também assinalada no mapa cultural que vimos atrás – por nos afastar da procura da verdade, o que indicia uma desvalorização do realismo. E a ênfase no curto prazo por igualmente se afastar da outra referência da taxonomia que assumimos, uma vez que reparte a temporalidade linear aberta em pequenos segmentos que se não projetam naquela continuidade longa. Formalmente, apenas olhando para as barras do gráfico 5, acrescento que me parece a cultura portuguesa apresentar a maior variância no conjunto das médias dos cinco, o que significa que será a cultura mais distante do padrão que esses países estabelecem – para não destoar dos gráficos económicos anteriormente vistos. Precisamente, após a evolução da nossa classificação no IDH ao longo da década passada, dos gráficos 1-4 – acrescente-lhes o leitor a consulta aos diversos gráficos em Rodrik (2007) que incluem o caso português – ou da plausibilidade que muitos de nós (especialmente nós os estrangeirados) reconhecemos face ao retrato por David Landes do Portugal de 1506 a 1736, esse estudo da equipa de Geert Hofstede, bem como aliás o do World Values Survey, não surpreende. Esta conclusão, porém, não é apenas relativizada pelas dúvidas metodológicas pontuais que mencionei tanto sobre o WVS quanto logo na nota 7. Mais radicalmente, como resultado das ciências sociais e humanas, o seu estatuto epistemológico é aquele que o conhecimento científico moderno faculta. E, nessa cientificidade (cf. nota 4), só quem nada sabe cientificamente é que tem fé. Deixando o reforço científico das conclusões anteriores para a mesma oportunidade de complementação por outras abordagens à história económica, esbocemos nós aqui o alargamento mais básico a uma forma de conhecimento que não a científica. A saber, às humanidades, com a sua abordagem eminentemente qualitativa, atenta às singularidades, em intuições que se não limitam ao que se puder confirmar, e que por isso abrem pistas e hipóteses não só orientadoras de eventuais investigações científicas, mas ainda sugestivas para práticas que frequentemente não podem esperar por um enquadramento teórico justificado. As propostas das humanidades não têm por isso de ser subordinadas, ou até opostas à abordagem generalizante, quantitativa e confirmável das ciências modernas, mas antes postas com estas num complemento mútuo, afinal em função de uma realidade que se não reduz a fotografia obtida por qualquer delas, antes as ultrapassa e engloba a ambas. 3.2. …ÀS HUMANIDADES. a) Pista sobre a temporalidade portuguesa, e não só: Aqui sim, aproximando-me perigosamente da falácia ad verecundiam, começarei por recorrer à mera autoridade que pelo menos muitos dos opinion makers nacionais, e uma anormal quantidade de compradores (não sei se leitores) de não-ficção conferiram ao ensaio que José Gil publicou primeiro em 2004, precisamente sobre a estrutura que tanto começa por nos identificar ao a implementarmos, quanto condiciona o valor do crescimento económico, e portanto do desenvolvimento humano que nos será próprio: a temporalidade. responsabilização em quaisquer fracassos, o contributo que teve para dar a Portugal foi o de, à tanga, acrescentar a elevada probabilidade de uma crise política. Em nome, claro, do prestígio internacional desta velha nação, e da influência para atrair para aqui mais umas quantas benesses. A condição destas vantagens, também me parece claro, é que a inteligência e poder dos políticos alemães, franceses… estivessem para as dos nossos como nas anedotas do tipo “Ia um português, um alemão e um francês num avião, um dos motores começou a arder…” – facultasse o cargo esta influência e prestígio ao país, e não apenas aquela notoriedade, conta bancária e tranquilidade pessoais, que eles o tomariam para si. E assim, contando anedotas a nós próprios, da tanga descemos para a folha de parra. Pela minha parte, após esta descida, não sei como explicar aquela putativa candidatura à Presidência da República aos jovens perplexos no seu atual espartilho entre o desemprego, o subemprego e a emigração, que não seja mediante uma disjunção entre os valores portugueses no gráfico 3, e a nossa avaliação no eixo das ordenadas da fig. A. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 125 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS Num discurso não lógico-argumentativo, antes sugerindo as suas teses a partir de umas poucas situações-tipo do quotidiano, de metáforas como a do nevoeiro (mental) onde se verificará a habitual não-inscrição dos portugueses, e da exemplificação de tais noções em ocorrências pontuais, o ensaísta (Gil, 2005: 53) afirma: “forma-se a ilusão de um tempo contínuo de inscrição, quando de contínuo e homogéneo apenas se extrai a não-inscrição entre dois investimentos descontínuos em duas pequenas coisas. (…) Sempre saltitando, em trânsito permanente para parte nenhuma”. A temporalidade portuguesa constituirá assim uma variante ao modelo da série de pontos isolados entre si, que mencionámos no parágrafo 2.3, quando muito encontrando-se num denominador comum que na secção 1 tínhamos entrevisto como a sorte, o fado, a Bruxa Má… Não identificaremos pois tudo com que se conta, nós inclusive, mediante uma estrutura linear, e só mesmo ao curtíssimo prazo de um presente que se prolongue um pouco é que poderemos atender – como parece ser confirmado pelo último parâmetro do gráfico 5. De modo que não há lugar para o valor da progressividade consistente no topo da nossa hierarquia axiológica. Pelo que, ao séc. XV português – que David Landes realçou – só por sorte se poderiam seguir outros que não os nossos séc. XVI, XVII, XVIII… Daí a referida não-inscrição. Esta noção (op.cit.: 48, 49) significa a negação do processo da constituição de algo como real. O autor formaliza-o mediante a noção de “desejo”, cuja “pressão” de algum seu congénere, ou “violência” de qualquer acontecimento para além já desse plano, resulta precisamente na delimitação essencial, por um lado, e na posição desse isolado no plano do ser, por outro lado, que constituem os entes (as coisas reais) como tais. Esta última análise de dois planos conceptuais originários, bem como as noções destacadas em itálico, não são de José Gil mas minhas (Albergaria, 2011), num artigo onde usei a noção de resistência – equiparável a “pressão” e “violência” – como sintoma do que há, ou que é real. Substituo-as às daquele ensaísta por julgar que a pista deste outro é conceptualmente aporética: se o que espera, ou convoca, o desejo é a existência, o horizonte do real, então que estatuto ontológico tem aquele desejo, assim como o medo que Gil reconhece nos portugueses por tal destino, e portanto estes últimos como sujeitos de tais vivências, antes de precisamente se cumprir alguma existência? Se ali se decide deste cumprimento, então são prévios à existência. Logo não existem ainda. Mas, se não existem, então como podem decidir o que quer que seja? Julgo que, conceptualmente, será mais frutuoso formular de vez no plano metafísico um modo débil, incumprido de ser, que resulte num ente humano cujas vivências, inquinadas por essa debilidade, possam ser expressas então reflexivamente como “medo de existir”. Nesta minha reinterpretação metafísica daquele discurso muito marcado por categorias psicológicas ou psicanalíticas, o medo que caracterizará o modo português de ser constitui-se como a tradução vivencial qualitativa, no ente humano português, das relações que este estabelece com quaisquer entes (humanos ou não) uma vez que as respetivas conceções visam não se cumprir. O que haverá que conceber metafisicamente são precisamente essas relações – e naturalmente o que nelas se relaciona – que serão depois traduzidas vivencialmente por alguma noção como aquela. Apressando-me porém a recuar desses áridos cumes metafísicos… ainda que apenas para os vales da mesma cordilheira, lembro que o uso da noção “medo” vem bem a propósito daquela última citação da equipa de Hofstede – pois erigir a segurança como valor primordial constitui-se como um forte indício de que se vive num medo larvar, prévio a qualquer medo concreto. Tal como a sobrevalorização da lealdade ao grupo em detrimento da verdade, do trabalho… será indício de um ente destinado a não se cumprir essencial e ontologicamente, ao qual não restará uma suficiente delimitação essencial, ou identidade, além do estatuto que o grupo lhe confere. Assim como lhe restará encontrar uma compensação ontológica para essa sua debilidade originária na confirmação que recebe do grupo, uma vez que desempenhe neste os papéis sociais correspondentes àquele estatuto. b) Pista sobre o (ir)realismo português. Deixo o desenvolvimento dessa formulação radical da identidade portuguesa, na parte que me toca, para alguma outra eventual oportunidade. Até lá, registarei aqui o desenvolvimento do juízo científico de uma [125] NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 126 [126] desconsideração portuguesa do realismo na conclusão que Miguel Real (1998: 179) retirou da sua sinopse das abordagens mais conhecidas a essa identidade: “a sua [do povo português] virtualidade mais forte é a de ser o que não é ou (…) ‘estar onde não se está’”. Este outro ensaísta refere-se explicitamente ao modo como a (suposta) mentalidade portuguesa se tem projetado na ação ao longo da nossa história (op.cit.: 156, 157). E para essa síntese convergem tanto as interpretações providencialistas de Portugal – que, de Bernardo de Brito e Camões a Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, reconhecem a este país um destino único e messiânico – quanto as interpretações europeístas e normalizadoras – como a de António José Saraiva (em cuja esteira me inscrevo), que reconhece que cabe conceber Portugal mediante as mesmas categorias aplicáveis a qualquer outro país europeu. A diferença entre os apóstolos da primeira, e os arguentes da segunda, é que estes últimos apontam esse irrealismo – a indistinção entre realidade e fantasia – como condição necessária do que os gráficos 1-4 revelam… e lamentam o sofrimento real que daí decorre. Ao passo que os anteriores apóstolos têm fé em que, da indistinção entre cozinhar e sonhar que se cozinha, resultarão um dia fartos pratos de bacalhau capazes de alimentar as gentes. (Estarei pronto a considerar seriamente os seus discursos, mas só depois de os irem propor aos dois milhões de pobres portugueses bem como à diáspora que daqui foi expulsa, e de abdicarem de quaisquer recursos que os poupassem às condições de vida destas outras pessoas. Até lá, confesso, falta-me paciência para atender as suas profecias). À atenção da observação da equipa de Hofstede sobre a classificação portuguesa no parâmetro da Orientação para o longo prazo, e em particular para o leitor que mantenha o interesse anteriano por quaisquer causas do nosso atraso económico, vem a propósito o ensaio de Adalberto Alves (1999: 10-16) sobre a herança do rei-poeta al-Mu’tamid na cultura portuguesa: “A pergunta de Shakespeare, ‘ser ou não ser?’ resolve-se em ‘ser e não ser’” (op.cit.: 15). Permita-me porém esse leitor que responda aos encómios do ensaísta a tal exortação: primeiro, tais encómios constituem apenas um projeto conceptual, nomeadamente dos significados de “ser”, “nada”… e das suas relações exatas até eventualmente se che- gar àquela conclusão – de modo nenhum a sua mera afirmação se constitui já como uma tese teórica capaz de orientar, tão sustentadamente quanto possível, qualquer atividade prática. Segundo, o único desenvolvimento teórico que conheço desse projeto é o da Ciência da Lógica de Hegel, logo no seu capítulo inicial. Que, num pequeno artigo escrito ainda nos meus tempos de estudante – “Hegel, ou da insustentabilidade de uma ontologia absoluta” (disponível em PDF) – julguei ser falacioso23. Terceiro, se não estou esquecido do que li sobre física quântica (e se cheguei sequer a entendê-la!), a teoria que Louis de Broglie formulou da dualidade onda-corpúsculo – único exemplo dado por Alves da “Nova Ciência” que enjeitará o princípio de não-contradição – estabelece que as componentes radicais dos entes materiais se comportam ora como onda, ora como corpúsculos, dependendo da situação em que o movimento é verificado – lembro-me de ter lido algures que essas componentes “se movem como ondas, e chegam [aos respetivos alvos] como partículas”. Portanto não ocorre aí qualquer violação desse princípio lógico – formulado por Aristóteles em Metafísica, B, 2 (996b26-30), – uma vez que não é no mesmo aspeto e/ou ao mesmo tempo que se atribuem os predicados “onda” e “corpúsculo” ao sujeito “componentes materiais”. Logo, essa teoria não se constitui como contra-caso ao referido princípio lógico. Quarto, a lógica difusa – que Alves também invoca – é uma das respostas aos sorites paradoxes (não sei como se traduz em português), como o que se terá colocado àquele nosso outro primeiro-ministro que, apesar da sugestão que poderia ter recebido do seu nome ilustre, ao julgar que uma vez que um centimozinho a mais numa barra central do nosso gráfico 1 não afetaria a relação desta barra com a que lhe 23 Mais precisamente, julguei padecer da falácia da ambiguidade no uso da negativa alemã ora como nome (Nichts) ora adverbializada (nichts), sem respeitar a diferença de sentidos metafísicos dessas classes gramaticais. Contra mim devo porém salientar que, além de quaisquer ilações erradas de que esse meu antigo argumento já padeça, poderá ainda ser refutado se, primeiro, se confirmar a teoria semântica da referência indireta – segundo a qual mais do que um termo linguístico em geral podem ter a mesma referência – para possibilitar uma confirmação ulterior de que um nome e um advérbio em particular podem ter a mesma referência, o que possibilitará enfim uma confirmação de que este será precisamente o caso referido. Mas aqui não irei mais longe do que abrir este meu flanco aos hegelianos. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 127 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS alternância destas últimas não implica qualquer confusão, no plano paralelo, entre “ser” e “nada”. Em suma, de modo nenhum, julgo eu, se viola tanto o valor do realismo quanto o da verdade, que respetivamente se opõem à fantasia e à falsidade24. Depois de na obra de José Gil encontrarmos a sugestão de uma temporalidade portuguesa totalmente díspar daquela que David Landes reconhece nas economias que melhor têm sustentado o desenvolvimento humano, tanto esse ensaio quanto o de Miguel Real também nos sugerem um nosso modo de considerarmos a realidade que não satisfaz sequer a condição axiológica da autonomia, quanto mais a de um crescimento positivo sustentado… Nada para o qual as conclusões das ciências sociais não nos viessem já preparando. Ou que as regulares visitas da troika não tivessem já evidenciado. Do primeiro passo a que nos propusemos na introdução para uma resolução radical do atraso português obtemos pois: i) é sobre a temporalidade, em ordem a uma sua reconstituição linear e aberta, que deveremos basicamente trabalhar – porventura contra um pontilhamento temporal que nos seja tradicional. ii) Tal como deveremos trabalhar pela elevação do realismo para o topo da hierarquia axiológica portuguesa, que implica a honestidade que esclarece as condições reais, e a autonomia que permite a escolha desta hierarquia – porventura contra uma nossa tradicional imbricação entre ser e não-ser25. A implementação desse último valor também faculta uma eventual opção pelo crescimento, o que nos obrigará a trabalhar iii) pela mesma elevação do valor do progresso – ou 24 Numa tentativa de intervenção cultural que falhou rotundamente, de julho de 2009 a abril de 2010 (e mais dois posfácios a compensar uns quantos posts entretanto eliminados) mantive o blogue O nó do problema ocidental, cujo post de 06/02/2010 é para aqui significativo tanto pelo conteúdo e suas hiperligações, quanto logo pelo título: “Urgentemente: pelo pensamento disjuntivo e científico!”. 25 Um par de semanas depois de ter terminado este texto li o recente ensaio de Rob Riemen O Eterno Retorno do Fascismo (Editorial Bizâncio, 2012), que nos lembra algo que, pelo que temos aqui reconhecido da cultura portuguesa, temo bem que justifique o acrescento desta nota. Em síntese, direi que esse autor coloca o fascismo não como um regime [127] fica à esquerda, parece ter julgado que “um centimozinho a mais” vezes muitos milhões também não a afetaria. (Diz-se que o senhor, enfim fazendo jus ao nome, foi estudar filosofia para Paris, se assim é recomendo-lhe vivamente a leitura do capítulo 11, mas em correlação ao capítulo 1, de Graham Priest (2008)). Diremos então que há um número infinito de graus de “verdade” para a frase “estamos sobre-endividados”, enquanto aplicarmos esta última ao longo dessa impercetível variação. Mas, assim que as continuidades são interrompidas, por exemplo no instante em que os investidores desviam os seus investimentos e os credores reclamam o pagamento das dívidas, temos que voltar à lógica clássica, que admite apenas dois valores de verdade – “verdadeiro” e “falso” – e supõe o valor do realismo que nos obriga a chamar “fantasia” a qualquer projeção dos comportamentos anteriores à referida interrupção para a fase posterior a esta. Ou seja, a lógica difusa aplica-se, exclusivamente, a continuidades por entre limites, uma vez porém que se deva pensar sobre cada um desses blocos como unidades voltamos à lógica clássica bivalente. A qual portanto não é substituída, é complementada por aquela outra – a pergunta de Adalberto Alves “lógica clássica ou lógica difusa?” resolve-se em “lógica clássica e lógica difusa”. Quinto, voltando a Aristóteles, parece-me claramente um falhar do alvo atribuir-lhe o pensamento dicotómico que inibe a compreensão do movimento – como o das impercetíveis evoluções acima mencionadas. Nem de propósito, foi exatamente este filósofo, mediante o par conceptual ser em potência e ser em ato (note-se que “ser” não fica restringido ao segundo modo), quem primeiro facultou alguma conceção de tais evoluções mas tomando-as como limitadas que são (o salto do desemprego para 15%, que li há bocado no jornal, é mais uma representação do limite da evolução das barras centrais e direitas, para um lado, e esquerdas, para o outro, no gráfico 1 – e não é com al-Mu’tamid, é com Aristóteles que poderemos preparar uma resposta a quem sofre tais saltos). Sexto, e fundamental: na base do meu artigo de 2011, julgo que Adalberto Alves confunde o plano ontológico (estritamente do ser), ou até mesmo ôntico (já do ente que resulta conceptualmente da relação entre ser e essência), com o plano estritamente essencial das delimitações do que há, apenas no qual se jogam delimitações como as de “onda” e de “corpúsculo”. Isto é, uma CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 128 pela determinação da linearidade temporal como progressiva – acompanhado pelas respetivas condições de implementação (trabalho, capitalização, teorização, etc.). Resta-nos determinar o modo como o trabalho de promoção de uma tal evolução cultural pode ser implementado. Mas antes deixarei aqui duas pequenas menções particulares que julgo que serão relevantes precisamente para essa ulterior implementação: uma sobre a concretização do caso português no âmbito estrito desta publicação, a outra sobre um pormaior da nossa identidade histórica. 3.3. …E AO CASO AÇORIANO. FILIANDO-NOS EM QUEM“COM ESTE O REINO PRÓSPERO FLORECE”. [128] a) A portuguesidade açoriana: a oportunidade da publicação numa revista eminentemente açoriana de uma reflexão sobre a cultura portuguesa em ordem ao crescimento económico variará com o grau de participação da cultura regional na nacional. Ao saber, portanto, da recente reedição revista da obra de Onésimo Teotónio de Almeida (2011) sobre a “açorianidade” cuidei de aferir se precisamente não negaria esta participação, em particular sobre os valores e princípios da taxonomia aqui proposta, diminuindo essa oportunidade. A dead line para o presente texto apenas me permite a leitura do capítulo cujo título – “O caso singular açoriano” – ameaçaria esta diminuição. Mas (infelizmente… ou talvez não, que a próxima alínea lembrar-nos-á que poderíamos ser pior) o que encontrei, ao contrário, foi o reconhecimento da nota 18 que eu entretanto já inscrevera neste texto: “a geografia, para nós, vale outro tanto como a história (…). Para nós […] ilhéus natos, contumazes, açorianidade é o nosso modo de afirmação no mundo (…) não pretendemos descobrir-nos nalgum novo padrão antropológico […] Lusos somos” – citações de Vitorino Nemésio em Almeida (2011: 30). Pelo menos segundo essas páginas, pois, nenhuma esperança de neste “arquipélago quase no meio do Atlântico, entre a Europa e a América” (op.cit.: 25), se verificar um maior realismo, uma temporalidade linear e aberta, eventualmente até progressiva… autoritário conservador, como uma extrema-direita do Antigo Regime prévio à Revolução Francesa, etc., mas, tão simplesmente, como a expressão política do que Ortega y Gasset chamou A Rebelião das Massas. Um fenómeno histórico tipicamente contemporâneo, que aliás diria não ser tanto uma “rebelião” como uma “libertinagem”. Tornouse possível na segunda metade do séc. XIX, quando os herdeiros das antigas elites ocidentais – isto é, daqueles capazes de reconhecer e equacionar os problemas, e de propor respetivas soluções consistentes (de modo nenhum me refiro a “elites” sociais, económicas, eclesiásticas…) – se encarregaram de denunciar a relatividade e gratuitidade dos princípios e valores civilizacionais que haviam herdado, demitindo-se porém de os substituir por outras referências às quais os homens e as sociedades subordinassem as respetivas conceções, e as respetivas escolhas práticas. Estas ações perdem assim qualquer limite a respeitar, ou fim a cumprir, a passam a constituir-se, e a justificar-se, como meros exercícios do poder humano. Daí o fascínio pela tecnologia, e por quaisquer vertiginosas sucessões das suas aplicações. Para cujo exercício o único critério restante será o do prazer imediato, segundo o padrão do que é comum, das escolhas que a massa vai fazendo. Nos anos de 1920-30, esta última deu o nome a tal expressão política mediante o conceito de “facho”; agora a inspiração parece vir antes da libertinagem – diversas forças políticas fascizantes dizem-se hoje “Partido da liberdade” (numa troca de palavras que não incomoda quem começa por se libertar do valor da honestidade e da verdade). O que é conforme ao primeiro passo do fascismo propriamente dito: a libertação da massa, como que tomando o freio nos dentes, contra quaisquer elites que recordem a esta última o freio de uma realidade, de uma verdade, de um bem aos quais os homens e as sociedades se devam submeter. Sem tal submissão, porém, o facto é que os governos da massa, pela massa, e para a massa não têm conseguido soluções consistentes para os problemas dos povos – veja-se a dúzia de anos, e a destruição da Europa particularmente a da Alemanha, em que resultou o Reich que era suposto durar 1000 anos e elevar esta última über alles! Outra coisa não seria de esperar de quem se recusa a pensar rigorosamente. Mas então precisam de bodes expiatórios que lhes justifiquem os fracassos – os judeus, os pretos, os muçulmanos… Perseguem-nos irracional e violentamente, reduzindo-se às emoções do ódio por esses postulados inimigos externos, do ressentimento contra quem avise que à libertinagem das massas apenas se pode suceder o desastre, e do par paixão/inveja pelos seus pares na massa. Como a política económica hitleriana, a moral familiar e sexual do nacional-socialismo, etc., bem mostram, o “homem-massa” de que Riemen fala está portanto nos antípodas do liberalismo, mas não é mais conservador do que socialista, não é mais de direita do que de esquerda. É apenas cobarde na sua recusa de enfrentar os enigmas da existência, imbecil na sua irracionalidade elementar, destruidor no seu ressentimento, e, acima de tudo, hiperarrogante no seu autoposicionamento no centro de um universo que ele destitui de quaisquer referências além do prazer humano e da massa com que se identifica (de novo, “homem-massa” designa uma atitude possível a pessoas de qualquer classe socioeconómica, de modo nenhum designa os elementos de alguma destas). Ora essas raízes do fascismo começam de novo a ativar-se: de um lado, o pós-modernismo da segunda metade do séc. XX extremou a obra de denúncia de quaisquer referências teóricas e éticas. Do outro lado, a crise financeira de 2008-09 acaba CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 129 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS Daí a exortação da nota 18. b) Uma precisão da ocidentalidade portuguesa: no balanço do estudo de Hofstede sobre a cultura portuguesa apontei que esta registará a maior variância em relação às médias das cinco culturas nacionais ali analisadas. Todavia, à exceção talvez no parâmetro do individualismo, Portugal não parece opor-se diametralmente aos valores comuns desses países europeus – v. também gráfico 3 (onde divergimos mais na corrupção, mas não ficamos isolados). Como é igualmente sugerido pelo mapa cultural de Inglehart e Welzel que, pese embora nos afaste do núcleo ocidental, nos coloca na periferia desta civilização, semelhantes aos latino-americanos. Será portanto em grau, e não em substância, que divergimos do núcleo civilizacional a que entretanto nos reportamos. Uma peculiar condição europeia da identidade portuguesa foi também proposta, de novo no âmbito das humanidades, por Eduardo Lourenço (1988). Pois a Europa cientista, industrial… que no séc. XIX dominou o mundo e fascinou intelectuais periféricos como Antero de Quental, terá sido um mito. Por um lado, por não só não se constituir efetivamente como vanguarda de uma história universal una, de que outras civilizações seriam apenas momentos atrasados, como por nem sequer corporizar uma história europeia una – a constatação por Dani Rodrik de uma diversidade de complexos institucionais eficazes constitui um reforço dessa recusa do universa- com a satisfação das massas ocidentais por ter deixado de ser possível o endividamento que compensou quer a redução do crescimento após os choques do petróleo, quer o agravamento da relação do número de pensionistas pelo de trabalhadores que os sustentam em resultado da inversão da pirâmide demográfica, e do prolongamento da esperança média de vida. Particularmente em Portugal, nas próximas décadas não parece possível a universalidade e constância de um Estado social que, suponho, terá atraído a massa a assumir como uma revolução sua o golpe de Estado que a corporação dos oficiais intermédios levou a cabo em abril de 1974. Se aliarmos o ressentimento que plausivelmente resultará desta frustração – aliás, que me parece já estar a resultar – aos indicadores portugueses na fig. A e nos gráficos 3 e 5, e à ausência (que eu me aperceba) de elites culturais dignas deste nome, temos o cocktail perfeito para uma eclosão do fascismo em Portugal. Mais ainda do que nos países cujos regimes democráticos têm logrado resultados socialmente satisfatórios, como a atual Alemanha. Se um dia cair o travão institucional da União Europeia ao autoritarismo – e sigamos o evoluir da reação europeia ao caso grego… – faltará apenas que no dia seguinte, pela manhazinha, apareça um líder carismático e populista para catalisar a solução. Por certo contará até com o apoio dos conservadores que costumam julgar, enganando-se, poderem controlar tais saltimbancos histriónicos. Não me refiro com efeito a um novo conservadorismo autoritário, que submeta a nação (não a massa) a supostos princípios e valores tradicionais. Pois o corte da cultura popular portuguesa com essas tradições no último quartel do séc. XX tornará quase impossível uma reedição consistente do Estado Novo – por mais que os jargões usados comecem por ser precisamente estes. Diria antes um fascismo à italiana, mas despido do imperialismo militarista… para o qual duvido que os nossos dois submarinos novos sejam suficientes (a história nunca se repete exatamente!). Entregues porém à irracionalidade e ao ressentimento, e sem um crescimento europeu como alavanca, nem um período limitado e circunstancial como o de 1950-1973 (v. gráfico 2) será provável repetirmos. Ao contrário, o desastre que se deveria suceder a uma tal opção política estaria para a atual crise como um furacão está para um mero dia invernoso. Na nossa presente conjuntura, o desvio do atrator cultural português para a zona do campo de possibilidades de acontecimentos – v. parágrafo 4.1.c – onde se implementam os valores do realismo e da honestidade será portanto uma base não apenas para a resolução consistente da crise atual, como ainda para se evitar alguma próxima deriva fascista, mais a desgraça que esta acarretaria. [129] Essa sugestão vinda das humanidades converge de resto com o esboço científico que avançámos em Albergaria (coord. 2006). Nesse estudo escolar procurámos identificar o sistema social de inovação e produção açoriano segundo a classificação das instituições tidas por relevantes na bibliografia então mais recente. Reunimos assim alguns dados relativos aos domínios tidos nessa última como relevantes – a concorrência no mercado de produtos, a proteção social, a concorrência no mercado do trabalho e as relações salariais, a intermediação financeira, e os subsistemas educativos. Embora tenhamos tido a prudência de não projetarmos conclusões precipitadas na base de dados tão insuficientes quanto também o seria a preparação teórica da equipa para os interpretar, não deixámos de assinalar vários sinais de que a economia regional participará do modelo mediterrânico de capitalismo. Esse modelo distingue-se do liberal, do social-democrata, do europeu continental, e do asiático. Segundo o autor ali citado, tem sido exemplificado (o modelo mediterrânico) pela economia portuguesa. E, tanto segundo ele como segundo os gráficos que eu agora aqui trouxe, mais todas as já referidas notícias, etc., daqueles cinco modelos de capitalismo, é o que pior está a corresponder às condições da III Revolução Industrial. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 130 [130] lismo iluminista. Ao contrário, segundo esse ensaísta português a Europa será plural, e uma das suas dimensões será precisamente a dos países ibéricos que, se não a desenvolveram racional e economicamente, foi por a desenvolverem no espaço, nomeadamente americano, ao combinarem a cultura tradicional ocidental com a americana e a africana para ali transportada. Mito, por outro lado, porque o niilismo tecnocrático que terá orientado aquele desenvolvimento racional e económico terá conduzido este último a um presente que continua a reportar-se a valores como a liberdade, a justiça, ou a verdade e objetividade, mas não os constituindo já como “virtudes” – literalmente, capacidades de realizarem aquilo mesmo que visam – de modo que a Europa resta praticamente sem qualquer intenção além de resistir, ano após ano, a uma sua dissolução. A atual dificuldade da União Europeia em responder às crises financeiras de pequenos países como a Grécia, Portugal e a Irlanda parece tornar ainda mais de hoje, do que de há um quarto de século, este juízo de Lourenço sobre uma carência de tais virtudes. O autor sugere então que a cultura portuguesa contribua contra esse “esvaziamento por dentro” precisamente na peculiaridade europeia que supõe ser a nossa, a saber, “é quixotescamente que devemos viver a Europa e desejar que a Europa viva” (op.cit.: 37). Dado o irrealismo que a personagem de Cervantes muito bem exemplifica, e dado o que aqui já argumentei a favor do valor inverso – mas pouparei o leitor a uma minha resposta a Eduardo Lourenço paralela à que encetei a Adalberto Alves – é óbvio que o famoso ensaísta e eu nos oferecemos como contra-caso ao juízo da equipa de Hofstede “a country where the key word is consensus”. No entanto, além da nota anterior sobre a pluralidade de uma cultura ocidental da qual um dos modos será o português, destaco a breve referência na p. 30 desse ensaio ao apelo de Alexandre Herculano por um equilíbrio das principais virtudes da tradição portuguesa – um “cristianismo popular e orgânico”, e liberdades municipais – com a liberdade racional e crítica entretanto conquistada pela “outra Europa”. E com esta referência regressamos à tradição inteletual que assumimos, criticamente, com Antero de Quental. Este não é o local de avançarmos a discussão sobre um tal equilíbrio – e por consequência sobre o exato contributo que poderemos dar contra o niilismo ocidental. Mas como veremos no parágrafo 4.1.a, é determinante que à partida reconheçamos que será em grau, e não substancialmente, que divergimos de algum padrão cultural ocidental. Até porque o grau desse equilíbrio nem sempre foi o que os nossos gráficos 1 e 2 revelam, nem sequer o de uma expansão ultramarina que todavia logo se precipitou nos acontecimentos quinhentistas que lhe sucederam. Como testemunha Dante em A Divina Comédia, onde o reino de D. Dinis aparece no lugar aqui ocupado pela Bélgica, pela Áustria e pela Irlanda (Pizarro, 2008: 262). Ou como lembrou Camões em Os Lusíadas, III, 96-98, quando precisamente daí começámos a descer. No parágrafo 2.1.b propus ao leitor que avaliasse os últimos 15 anos segundo os princípios económicos de ordem superior de Dani Rodrik. Para compensar, proponho-lhe agora que faça o mesmo a esse reinado também português, e não só segundo aqueles oito princípios, mas em conformidade à taxonomia a que chegámos atrás. Da procura de equilíbrios políticos internos à legislação processual e ao fortalecimento de um Estado que se não esgotava no poder real; da exploração mineira à arroteia de novos campos e plantação de floresta; da fortificação da fronteira ao povoamento do território e à constituição de feiras para o comércio interno; da diplomacia política, militar quando necessário, e comercial, à constituição de marinhas mercante e de guerra; do culto das letras e da instituição do uso oficial da língua vernácula nacional, à criação da universidade… (v. Pizarro, 2008), implementando um pensamento político sistemático dois séculos antes deste modelo se estabelecer na Europa protestante e racionalista, D. Dinis, penso, é a prova de como nem sempre nos quedámos pelo curto prazo, numa temporalidade pontilhada, incapaz de progresso. Tal como nem sempre embarcaram uns para Alcácer Quibir, ficando os outros à espera de que os derrotados pudessem regressar numa manhã de nevoeiro. Se o desenvolvimento da identidade portuguesa pôde divergir dessas primeiras décadas do séc. XIV, talvez possa hoje inspirar-se nesse passado antes de em qualquer outro, optando nós por desenvolvermos as virtudes aí patentes. Pois são essas que facultam as melhores condições coletivas de vida no mundo globalizado e industrializado, em especial desde a última década do séc. XX. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 131 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS A anterior referência aos velhos paradoxos lógicos leva-me a começar este segundo passo resolutivo pelo paradoxo do mentiroso: “tudo o que eu disser hoje é mentira” – se esta frase é verdadeira, então o que quer que eu diga hoje é falso, incluindo aquela frase que acabei de dizer; se é falsa, então pelo menos uma coisa que direi hoje é verdadeira, logo aquela frase pode ser verdadeira. Mutatis mutandis, qualquer teoria da evolução cultural, como teoria que é, é um produto cultural. Logo, se ela afirmar que se verifica uma evolução cultural, nenhum produto cultural será absoluto, incluindo esta mesma afirmação. Se afirmar que pelo menos a tese de que a cultura evolui é absoluta, então é falso que em geral a cultura evolua… Deixo esse problema para os estudantes de filosofia em Paris. Aqui, queimando etapas, assumirei de vez um desnivelamento entre a ordem da evolução cultural e aquele seu momento em que nela se reflete sobre si própria, de forma que o que no segundo nível se afirma sobre o primeiro não incida sobre esta mesma reflexão. Mas não se desmazelem aqueles estudantes em falácias políticas nos cafés do Quartier Latin, pois enquanto não nos facultarem uma solução avançaremos aqui sobre gelo fino! Mais precisamente, exploraremos duas direções: uma, enquadrante, sobre os traços gerais das evoluções culturais – não sendo necessário que qualquer destas os verifique a todos, será nos quadros dos que se verificarem em Portugal que cada agente cultural português deverá orientar as suas intervenções. As quais – como é patente no retrato nacional nos parágrafos anteriores – se constituirão como tentativas de influência sobre a maioria da sociedade portuguesa por uma sua minoria. Mas, para que o resultado não seja o da exortação camoniana no séc. XVI a uma “pátria (…) que está metida/ No gosto da cobiça e na rudeza / Dhua austera, apagada e vil tristeza”, o resultado dos estrangeirados dos séc. XVII e XVIII, dos vencidos da vida do séc. XIX, dos republicanos do séc. XX que confiaram no regime político como condição suficiente do crescimento e desenvolvimento sustentados (não me refiro às hostes do PRP que confiaram no regime mas como condição de rendas privadas), importa que hoje cada agente escolha o modo de intervir que faculte alguma eficácia à tentativa de uma minoria influenciar a maioria – no parágrafo 4.2 ensaiaremos uma exploração desta segunda direção. 4.1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO DE UMA EVOLUÇÃO CULTURAL PORTUGUESA. a) O tipo da evolução cultural portuguesa: em geral podemos considerar a cultura como informação que, ainda que suportada pela informação natural designadamente no ADN humano, escapa a esta última ao refletir sobre ela seja ao concebê-la como tal – “ácido desoxirribonucleico” é um conceito tão válido e tão discutível quanto qualquer produto do conhecimento científico – seja ao promover quaisquer interferências na realidade assim concebida – ex. da engenharia genética à agricultura (nome de onde provém “cultura humana”). Todavia, nessa reflexão de primeira ordem sobre a informação natural, a cultura tem encontrado modelos para uma compreensão de si própria em segunda ordem. Neste contexto teórico não admira que muitos autores tenham seguido o conhecido biólogo darwinista Richard Dawkins no uso do conceito de “meme” para designar a unidade de informação cultural (v. Mosterín, 1993: 73-79). A correlação a “gene” é intencional. Embora estas outras unidades de informação natural sejam materialmente suportadas por um determinado ácido, sejam codificadas pela frequência do emparelhamento das bases nitrogenadas, e se encontrem implicadas na produção de proteínas correspondentes. Em troca, os memes tanto são suportados pelas mentes humanas quanto por artefactos como revistas, a internet, etc.; a sua codificação é também multíplice (ex. verbal e não verbal); e não correspondem biunivocamente a quaisquer entidades materiais, antes são supostos na base de comportamentos observáveis mediante a interpretação destes últimos, podendo supor-se memes distintos na base de um mesmo comportamento, assim como se atribuir comportamentos distintos (nomeadamente em situações diferentes) a [131] 4. DA TEORIA E DA PRÁTICA DA EVOLUÇÃO CULTURAL. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 132 um mesmo meme26. Estas unidades de informação cultural agrupam-se em dimensões – ex. a escrita, a navegação em alto mar… – tal como os genes se agrupam em segmentos de cromossomas; e, assim como as espécies vivas não partilham os mesmos cromossomas, as culturas humanas não têm de partilhar as mesmas dimensões (op.cit.: 82, 83). Mesmo quando as partilham, não têm de as compor com os mesmos memes – por exemplo os que constituem qualquer escrita por logogramas, como a chinesa, são alternativos aos memes da escrita segmental latina que aqui estamos a usar. Memes funcionalmente alternativos chamam-se “alelomemes”. [132] Posto isto, há três tipos de evolução cultural: pela introdução de uma nova dimensão cultural – ex. a navegação em alto mar na cultura europeia pelos portugueses do séc. XV. Pela introdução de novos memes em dimensões já existentes, isto é, pela substituição de alelomemes – ex. a numeração romana que acabei de usar foi quase completamente substituída na Europa pela numeração árabe. E pela variação das frequências relativas dos alelomemes numa dimensão ao longo do tempo. A razão pela qual no parágrafo 3.3 explicitei que será em grau, e não em substância, que divergimos de um padrão cultural ocidental, e que insisti no exemplo dionisino – supondo (esperando!) que não haverá uma rutura de significado do termo “português” entre o seu uso relativo a esse reinado e o seu uso relativo a nós hoje – foi para, agora, poder determinar a evolução que nos cabe em conformidade a esse terceiro tipo. Mesmo que culturalmente porventura estejamos mais próximos dos elementos do Mercosul do que dos nossos parceiros político-sócio-económicos na União Europeia, além da generalidade dos alelomemes ocidentais, não só verificamos as dimensões culturais do modo de existir e da temporalidade – próprias a quaisquer seres humanos – como podemos supor nelas tanto os alelomemes do “medo” e da “não-inscrição”, ou de um “ser e não ser”, quanto os do “realismo” e da “honestidade” que precisamente induzem a denúncia dos anteriores numa sua “inscrição”; tanto os alelomemes de um pontilhamento temporal quando muito reunido no postulado de um difuso substrato do fado, quanto os da linearidade consequente e progressiva patentes nos diagnósticos e propostas terapêuticas desde Herculano e Antero a Vítor Bento e a nós aqui. Para correspondermos com eficácia a estas propostas temos porém de identificar as forças que poderão aumentar a frequência relativa dos segundos alelomemes nessas dimensões, diminuindo proporcionalmente a frequência dos primeiros. b) A dinâmica cultural: Jesús Mosterín (1993: 92, 93) usou esta expressão – em correlação à dinâmica física – para designar o estudo não das metamorfoses de uma cultura ao longo do tempo, que caberá à história, à etnologia… mas das forças que originam e orientam essas metamorfoses, explicando portanto estas últimas. Pelo menos à época dessa obra, a dinâmica cultural não tinha porém estabelecido um conjunto único de tais forças. Com efeito, analisando as teorias mencionadas por esse autor, de um lado poderemos colocar a de Cavalli-Sforza e Feldman em 1981 – que reconhecem a mutação cultural (por invenção, e por erro na imitação); a transmissão (não apenas vertical como a da informação genética dos progenitores aos filhos, mas também horizontal e oblíqua); a deriva cultural; a seleção cultural (segundo decisões individuais); e a seleção natural (pelas consequências dos traços culturais). Bem como a distinção de William Durham em 1991 entre forças transmissivas e não-transmissivas, que desenvolverá a anterior proposta. 26 O meme distingue-se da unidade binária bit, por cuja associação se expressarão formalmente quaisquer informações dadas, precisamente porque, antes desta expressão, há que gerar logicamente a informação a dar, e essa geração é sempre contextual. Com efeito, o isolamento de quaisquer eventuais unidades mínimas da informação depende do interesse ao menos do recetor da mensagem, se não também do emissor, e não exclusivamente da forma de codificar qualquer mensagem – ex. na linguagem verbal encontra-se informação numa letra isolada (que assim nega, nessa posição, todas as outras do alfabeto), tal como se encontra numa palavra, numa sentença, num discurso; esta última informação memética não implica as anteriores (ex. os discursos metafóricos e irónicos remetem precisamente para letras negadas pelas usadas), e cabe ao utente da linguagem selecionar aquela que se ajusta ao nível em que ele começa por se colocar. Conforme o contexto, a expressão “um meme” pode portanto corresponder a um bit ou a milhões deles. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 133 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS Mais precisamente, Boyd e Richerson (2005: 3-5) sumariam o seu programa em cinco proposições, das quais a primeira é: “culture is information that people acquire from others by teaching, imitation, and other forms of social learning”. Esta desconsideração da possibilidade do transmissor alterar intencionalmente a mensagem que recebeu antes ou durante a sua transmissão permite a segunda proposição: “culture change should be modeled as a Darwinian evolutionary process” – ou seja, um modelo de transmissão de informação em três fases: pequenas, pontuais e casuais introduções de novidades (porventura por erro na cópia da informação); as quais são em seguida selecionadas segundo a respetiva adequação ao meio (neste caso, não só natural mas também social e cultural); para enfim serem transmitidas (não apenas verticalmente, como no caso biológico, mas também de modo horizontal e oblíquo por difusão na sociedade alargada) aquelas que facultam aos respetivos detentores a sobrevivência e um maior poder. Note-se que os autores não equiparam diretamente a evolução cultural à biológica segundo a interpretação darwinista desta última. Antes consideram ambas como instâncias particulares de uma forma geral que, por sugestão histórica da instância natural, designam “darwiniana”, para depois interpretarem a evolução cultural segundo esta forma, estabelecendo uma instância paralela à que Darwin e Mendel estabeleceram para a evolução das espécies. Estas instâncias paralelas distinguem-se desde os processos da transmissão da informação – replicação molecular na reprodução sexuada, e repetição comportamental na evolução cultural – até à substituição de informação genética ao longo das gerações, em contraposição à cumulatividade da informação memética ao longo da história humana (ex. desenvolvimentos da matemática, do platonismo e do aristotelismo na filosofia…). Mas partilharão a forma daquelas três fases de transmissão de informação. Avaliando esse programa teórico apenas na sua apresentação, creio que erra o alvo precisamente ao seguir a sugestão biológica darwinista, de primeira ordem, na reflexão, já de segunda ordem, sobre a evolução cultural como transmissão de informação. Em conformidade à argumentação seguinte, julgo que quem intentar manter a inspiração biológica melhor fará se assumir algum modelo lamarckiano para essa transmissão – não será por o lamarckismo quase não se verificar no âmbito biológico de primeira ordem (cf. reprodução viral) que não se verificará em outros âmbitos de transmissão de informação. A diferença destes outros modelos centra-se na segunda fase da forma: transmite-se não apenas a informação recebida, mas eventualmente também as alterações que cada sujeito lhe tenha imposto, na sua adequação crítica ao meio. Pelo que se admite uma invenção ou inovação intencional da informação. Se bem entendi Landes (2001), a história económica é uma boa confirmação (cf. nota 4) deste modelo lamarckiano da evolução cultural, e um contra-caso ao modelo darwiniano – veja-se desde o exemplo japonês, na imitação intencional e consistentemente melhoradora quer das espingardas portuguesas no séc. XVI, quer dos processos e produtos industriais norte-americanos após a II Guerra Mundial, até o exemplo da aqui citada invenção europeia da invenção. Ou veja-se o próprio exemplo de Robert Boyd e de Peter J. Richerson a imitarem a invenção teórica de primeira ordem de Charles Darwin, mas num seu desenvolvimento criador de segunda ordem que a constitui como instância exemplificadora de uma forma geral de transmissão da [133] Uma vez que as primeiras forças – que selecionam a informação ao transmiti-la – são constituídas pela eficiência dos modelos sociais, e pelas seleções natural e cultural, enquanto as não-transmissivas – que introduzem a novidade – são a inovação e síntese, a migração e difusão (transmissão de memes entre grupos étnicos ou sociais), e a deriva cultural (surgimento casual de diferenças meméticas, por exemplo por erro de cópia). Distinta num ponto que julgo ser crucial é a proposta de R. Boyd e P. Richerson já em 1985, pelo que a colocarei de outro lado: reconhece forças casuais (erros, deriva), de seleção natural, e de decisão. Mas, literalmente, “decidir” apenas significa deixar cair todas as alternativas menos uma, não contempla a invenção ou sequer o desenvolvimento inovador destas. Estes últimos autores distinguem-se pois dos anteriores por não (ou muito pouco) considerarem a inovação intencional e consciente como força de evolução cultural além das casuais e da seleção natural. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 134 informação; tal como o nosso exemplo aqui, ao desenvolvermos na segunda ordem antes a invenção de primeira ordem do Cavaleiro de Lamarck para denunciar essa contradição dos darwinianos culturais27. [134] Estes últimos, aliás, talvez devam refletir sobre as palavras de Dan Sperber (1996: 118): “the model of cultural attraction that I have outlined is, quite obviously, of Darwinian inspiration in the way it explains large-scale regularities as the cumulative effect of micro-processes. (…) Culture evolution is explained as the cumulative effect of differences in frequency between different possible transformations of representations and of productions in the process of transmission.” Ou seja, porventura o núcleo da explicação darwinista biológica, que merecerá ser estendido à segunda ordem, não é já o modelo trifásico de transmissão da informação que apenas admite a variação desta por pequenos erros contingentes, mas, antes, a opção geral por uma conceção de tipo bottom-up que, ao admitir alguma contingência, não recusa a liberdade e criatividade dos agentes, em detrimento da conceção top-down que os constitui como meros pacientes de forças estruturais. E com essa última citação procuro, se não matar, pelo menos atingir três coelhos de uma só cajadada: reforçar a pista de uma evolução cultural por variação da frequência relativa de “representações mentais” (que podemos, mas não somos obrigados a conceber como memes); e começar a ensaiar uma coerência epistemológica geral deste meu ensaio tão díspar na sua transdisciplinaridade, numa articulação da presente secção 4 com a recolha e primeiro tratamento da informação económica, nomeadamente por Dani Rodrik, de cujos princípios partimos para a nossa proposta taxonómica no parágrafo 2.3 – verifique o leitor, na nota 12, como aquele autor também se identifica epistemologicamente pela adoção, no âmbito da pessoa humana (!), da conceção bottom-up (ainda que mitigada pelo reconhecimento de condições naturais e culturais sobre agentes nunca absolutamente livres)28. Na alínea seguinte visaremos o terceiro coelho, mas antes voltemos a Mosterín (1993: 155) para fazermos uma segunda opção teórica após a relativa ao tipo de evolução cultural portuguesa. “La racionalidad es la actitud de segundo orden que nos lleva a analizar nuestros valores de primer orden y eventualmente a criticarlos y cambiarlos, si detectamos inconsistencias entre ellos, tratando de que nuestro sistema global de valores sea consistente y dé preferencia a los valores objetivamente preferibles, cuando se manifiesten conflictos entre valores ponderables opuestos. La racionalidade, la elección racional de muchos individuos, es una poderosa fuerza que actúa decisivamente sobre la evolución cultural. Cuando no se ve frenada por la imposición y la violencia, acaba conduciendo al progreso”. 27 Como Gardner (2004: 5-7) bem aponta, comprometemo-nos assim também com o cognitivismo – ou melhor, com o conjunto dos paradigmas concetuais que lhe sejam equivalentes, ao qual aquele paradigma também pertence. Com efeito, após os fracassos da psicologia introspetiva das últimas décadas do séc. XIX – que tentou um acesso direto de cada pessoa aos respetivos estados mentais conscientes – e do comportamentalismo que lhe sucedeu na primeira metade do século seguinte – que se restringiu à consideração dos comportamentos observáveis – o cognitivismo, por sugestão da informática e com a confirmação posterior das neurociências, postula e determina uma mente como instância processadora de informação entre um input e um output observáveis. Ou, na proposta teórica de Sperber (1996: 99), como faculdade das representações que, uma vez intercaladas com produções públicas – quaisquer modificações percetíveis do meio condicionadas ou causadas pelo comportamento humano – precisamente facultam uma explicação para as diferenças observadas na série destas últimas. 28 Aqui está um exemplo de como a oportunidade de respondermos aos desafios da existência depende primeiramente não da nossa preparação, mas da história de que participamos: em Albergaria (2011) reconheci esta irredutibilidade radical dos indivíduos como uma das possibilidades concetuais (nominalismo), em alternativa a uma radicalidade antes de classes (realismo metafísico), e essa dicotomia, por sua vez, eventualmente em alternativa a alguma articulação entre as opções anteriores mediante uma conceção analógica de “ser”. Ainda não terminei sequer o artigo que tenho em mãos sobre a decisão em metafísica, e todavia aqui estou a pelo menos rejeitar a segunda destas três opções concetuais! Dada a crise atual, no parágrafo 4.2 explicarei porque julgo que, a verificar-se qualquer preparação, por mínima que seja, para se contribuir para uma resolução consistente, esta é a oportunidade desse contributo. Para aqueles de nós que podem avançar algum destes, ainda que apenas em conformidade a resultados que antevemos nas pistas que temos vindo a desenvolver embora a favor dos quais não consigamos ainda propriamente argumentar, esta é a hora de falarmos… ou corremos o risco de nos devermos calar para sempre – não por proibição de falar, mas por então já não valer a pena. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 135 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS c) Um modelo de evolução cultural: falta-nos, enfim, articular todas essas forças de forma a podermos intervir a favor da variação da frequência relativa das representações portuguesas, nas dimensões da atitude perante a realidade e da temporalidade, que alcance aquele equilíbrio. Para o que coloco à consideração do leitor o atrás mencionado modelo de atração cultural, delineado em Sperber (1996: Ch. 5). Desde logo porque sendo naturalista tem a dupla vantagem de não romper o tipo de abordagem teórica que temos vindo a implementar na presente secção, preservando alguma funcionalidade no necessário desenvolvimento desta abordagem até obtermos resultados que possamos confrontar a outras; e de, ao longo desse primeiro desenvolvimento, permitir a confirmação falsificacionista que as ciências naturais mais facilmente facultam29. Além disso, o outro coelho que pretendi atingir com esta referência foi o de não nos reduzirmos à partida à conceção das unidades ou parcelas de informação cultural mediante um conceito como “meme”. Pois, segundo este último, aquelas unidades serão estáveis enquanto durarem, isto é, enquanto não se desenvolverem no seio dos respetivos limites temporais. É esta conceção que permite o modelo da evolução cultural (tal como a biológica), por seleção de uns memes (genes) fixos em detrimento de outros por alguma instância que lhes seja externa – como o meio a que têm de se adequar. Se porém aceitamos que a alteração da informação também pode ser contínua ao longo da retransmissão, então ela poderá não só ajustar-se continuamente ao respetivo meio, como também interferir continuamente com este a favor dela própria. O modelo da seleção constitui-se assim como um caso particular no seio de algum outro modelo englobante. E numa mera primeira aproximação – como a que estamos aqui a implementar – à questão do modo de uma evolução cultural portuguesa será prudente não nos comprometermos com casos particulares. Mais: como modelo englobante, terá que englobar a própria informação sobre o estabelecimento e definição de qualquer critério de seleção – ou seja, terá que facultar uma reflexão de terceira ordem (!) sobre este próprio desnivelamento em duas ordens que temos implementado (se o objeto da terceira ordem for o desnivelamento concetual em si mesmo, talvez possamos parar por aí sem cairmos numa remissão ao infinito…). Creio que a proposta de Dan Sperber, particularmente no exemplo do conto (op.cit.: 108), poderá talvez satisfazer estes requisitos: imagine-se uma transmissão da informação sobre o Capuchinho Vermelho que omita a parcela relativa à Avó; em concorrência com o conto integral, essa versão defeituosa provavelmente cairia em desuso; como de resto (julgo não trair o autor ao acrescentar) cairia outra que, por excesso, introduzisse o Coelhinho da Páscoa ao lado da Menina; assim como outra que baralhasse a ordem narrativa… Cairiam em desuso porque, à medida que acontecimentos à partida possíveis vão sendo negados, ou ao menos complicados, pela sucessão de informações, no campo dessas possibilidades vão-se constituindo zonas onde é mais provável que se encontrem acontecimentos que i) completem a série anterior sem deixar pontas soltas, que ii) não a compliquem com informação desnecessária, e que iii) 29 Sperber define as explicações “mecanicistas naturalistas”, como a que se propõe implementar, por reduzirem relações causais complexas a outras elementares, e por estas últimas poderem ser descritas num plano da natureza. [135] Esperando que sim (!), em consequência da anterior denúncia de contradição lógica dos darwinianos culturais, e por exclusão de partes, com William Durham reconheceremos não apenas as referidas forças transmissivas de evolução cultural mas também as não-transmissivas. Entre as quais destacaremos, para este nosso desafio português, a síntese (inovadora) e a difusão. A implementar a primeira destas forças na esteira do apelo de Alexandre Herculano ao equilíbrio entre alguma idiossincrasia cultural portuguesa e as condições económicas que hoje ao menos garantam a autonomia para implementar quaisquer caraterísticas culturais. E a implementar a difusão a partir do grupo social que mencionarei no fim da alínea seguinte. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 136 [136] disponham essa série da forma mais atrativa30 – e esses são os acontecimentos que compõem as poucas versões desse conto que perduram. Esta zona do campo de possibilidades constitui o que Sperber chamou um “atrator”. Um exemplo de primeira ordem será o da tese darwinista da seleção natural das girafas que nascem com os pescoços mais compridos, que se tornou mais atrativa do que a tese de Lamarck da seleção das girafas que mais estiquem os pescoços, a partir da negação ou complicação desta última por informação empírica que entretanto foi avançada. Outro exemplo de atrator cultural nessa ordem será o da tese de Rodrik de oito princípios económicos, que ocupam uma zona teórica que resta após a negação de muitas outras pelas investigações empíricas reunidas por esse autor e os seus pares, aumentando assim a probabilidade de para ela convergirmos nas reflexões sobre crescimento económico. Um exemplo de segunda ordem espero que seja esta opção por um modelo lamarckiano da evolução cultural, em detrimento do que se poderá delinear na esteira de Dawkins. E um exemplo de terceira ordem será o da proposta de desnivelamento por Bertrand Russell, perante os paradoxos da teoria ingénua dos conjuntos. Para aplicarmos ao nosso caso esse modelo de evolução por um atrator, importa reconhecer que a projeção destes últimos depende de dois tipos de fatores (v. Sperber, 1996: 113-118): “ecológicos” – próprios ao meio (não apenas físico), o qual condiciona a sobrevivência da população que suporta a cultura em transmissão; onde se encontram todos os inputs que podem ser dados aos elementos da população considerada para que cada um destes os processe (eventualmente gerando quaisquer outputs, v. nota 27); meio esse que determina quando, onde e por que meios de transmissão esta é possível; e que condiciona a formação e estabilidade de diversas produções públicas (outputs). E fatores “psicológicos” – próprios à organização mental dos indivíduos, a qual determina quais dos inputs disponíveis serão processados, como o serão, e que informação orientará os comportamentos que, inversamente, modificarão o meio. Estes dois tipos de fatores interagem em quatro planos com ritmos crescentes, designadamente, o da evolução biológica, o da história sociocultural, o do desenvol- vimento afetivo-cognitivo dos indivíduos, e o dos microprocessos de transmissão das informações. Estes últimos, como temos visto, não se limitam a replicá-las, podem alterá-las, constituindo assim uma evolução em função de algum atrator em qualquer dos três planos anteriores. Dos quais nos interessa aqui especialmente o segundo. Na história sociocultural, alguns atratores são projetados, implementados e dissolvidos por meros fatores ecológicos – implicando pois apenas forças transmissivas. A maior parte dessas alterações, porém, dependerá da referida interação entre fatores ecológicos e psicológicos – que incluem forças não-transmissivas no processamento mental de quaisquer inputs. Concretamente, essas alterações correspondem ao aumento, ou diminuição, da densidade quer de representações mentais, quer de produções públicas, nas diferentes áreas do espaço dos acontecimentos possíveis. A questão prática é: quais dessas alterações reforçam/enfraquecem um atrator, e como o fazem? O aumento da densidade de produções públicas na proximidade do atrator reforça-o, que mais não seja por aumentar a probabilidade das pessoas lhes dedicarem alguma atenção, projetando assim as representações mentais destas últimas em direção àquele atrator. Todavia, se as representações forem repetidas, na economia dos esforços mentais a alta densidade delas diminui a respetiva relevância, diminuindo a probabilidade das atenções, e assim enfraquecendo o atrator. Em particular, práticas estabelecidas (ex. moda, etiqueta…) tanto podem fortalecer um atrator quanto, pela sua (delas) expetabilidade e consequente irrelevância, enfraquece-lo – daí a importância da redescrição, que consideraremos no próximo parágrafo. A tensão entre esses sentidos opostos nas direções que convergem no atrator facilita o deslocamento da zona de atratividade para acontecimentos próximos do atrator em vigor, não o desrespeitando por completo, mas também não o segurando – 30 Julgo que a terceira condição é a que deixa mais perplexos os epistemólogos… Entretanto não tenho dúvidas de que essa passagem sobre o Capuchinho Vermelho é música para os ouvidos dos leitores que estejam a voltar à nossa leitura após um desvio pela porta aberta na nota 4. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 137 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS o autor dá o exemplo da moda, que varia bastante mas normalmente sem ruturas absolutas. Ou seja, uma evolução cultural por alteração da frequência relativa de representações (ou alelomemes), como a que requeremos para Portugal, será mais fácil do que uma revolução que substitua um atrator numa zona do espaço de possibilidades diretamente por outro noutra zona separada da anterior – tanto melhor para nós. Em função do fator das resistências à evolução cultural, que também consideraremos a seguir, importa ainda reter deste modelo que uma prática repetitiva pode manter-se relevante por quatro razões: i) porque os seus efeitos o são – ex. o proveito de uma prática profissional ou económica torna esta última relevante. ii) Uma vez em alternativa a alguma outra prática, a escolha da primeira pode ser relevante para o sujeito – ex. a primazia do valor da lealdade ao grupo sobre os valores da verdade, da solidariedade… de modo que se enjeitem os comportamentos que satisfaçam estes últimos sempre que isso coloque o grupo em causa, como é próprio das culturas com valor negativo no eixo das ordenadas da fig. A, faculta ao sujeito, particularmente ao sujeito ontologicamente débil, uma identidade como membro do grupo. Uma prática repetitiva pode ainda ser relevante iii) por diversos indivíduos a disputarem em função a algum sucesso que decorra do seu exercício – ex. rituais que garantam prestígio social aos respetivos executantes. Bem como porque iv) embora repetitiva, faculte uma diversidade de interpretações aos seus agentes – ex. práticas religiosas. Seja para identificar as resistências que se oporão a qualquer intervenção de evolução cultural, seja para consolidar um rumo que ao menos garanta a autonomia que faculte a própria prossecução desse rumo uma vez que este tenha sido assumido, importa considerar essas razões de relevância das produções públicas práticas, e das representações mentais nelas implicadas. Em suma, a opção racional que aqui deixo proposta é a de um modelo de evolução cultural lamarckiano, como o do atrator, que articule forças evolutivas não só transmissivas (ecológicas) mas também não-transmissivas (psicológicas), em ordem a uma evolução cultural portuguesa por variação da frequência relativa das representações que a compõem, e não pela intro- dução de novas dimensões culturais ou de novas representações nas dimensões que já assumimos. Ao leitor que me tenha acompanhado nessas opções, bem como aliás na da taxonomia axiológica delineada no parágrafo 2.3, recordo porém que Jesús Mosterín apontou uma condição para a eficácia de quaisquer propostas racionais: que sejam “la elección racional de muchos individuos”. Mas… quantos são “muitos”? Esta é uma pergunta sem resposta geral, pois “muito” é um conceito qualitativo e não quantitativo, as qualidades constituem-se nas relações entre o objeto e o sujeito que o considera, e as relações de eficácia são sempre contextuais – quanto maior for o poder de influência do agente da evolução cultural menor terá que ser o número destes, e inversamente. Precisamente para reforçar esse poder dos agentes, assinalarei assim em seguida sete fatores de eficácia do exercício da segunda força não-transmissiva que enfatizei no fim da alínea anterior. A saber, da difusão das representações mentais do grupo social português minoritário cujo trabalho foi desconsiderado, quando não entravado pela maioria que, em odes à obra feita (sempre em betão), trouxe o país desde a vitória da construção de IP’s e autoestradas, à vitória da Expo98 e do Euro2004, passando pela vitória das casas próprias, dos carros novos e das viagens às Caraíbas… direito à derrota final dos presentes gráficos 1-5. O meu avô Eduardo também costumava repetir (este sim, um bom legado árabe!): os cães ladram, e a caravana passa. Concordo, avô, mas chegou a hora das caravanas apresentarem as suas cargas. 4.2. NOTAS PRÁTICAS SOBRE O MODO DE UMA MINORIA CULTURAL INFLUENCIAR A MAIORIA. “Of the modes of persuasion furnished by the spoken word there are three kinds. The first kind depends on the personal character of the speaker; the second on putting the audience into a certain frame of mind; the third on the proof, or apparent proof, provided by the words of the speech itself. Persuasion is achieved by the speaker’s personal character when the speech is so spoken as to make us think him credible. We believe good men more fully and more readily than others: this is true generally whatever the question is, and absolutely true where [137] NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 138 [138] exact certainty is impossible and opinions are divided. This kind of persuasion, like the others, should be achieved by what the speaker says, not by what people think of his character before he begins to speak. It is not true, as some writers assume in their treatises on rhetoric, that the personal goodness revealed by the speaker contributes nothing to his power of persuasion; on the contrary, his character may almost be called the most effective means of persuasion he possesses. Secondly, persuasion may come through the hearers, when the speech stirs their emotions. Our judgements when we are pleased and friendly are not the same as when we are pained and hostile. It is towards producing these effects, as we maintain, that present-day writers on rhetoric direct the whole of their efforts. This subject shall be treated in detail when we come to speak of the emotions. Thirdly, persuasion is effected through the speech itself when we have proved a truth or an apparent truth by means of the persuasive arguments suitable to the case in question. There are, then, these three means of effecting persuasion. The man who is to be in command of them must, it is clear, be able (1) to reason logically, (2) to understand human character and goodness in their various forms, and (3) to understand the emotions – that is, to name them and describe them, to know their causes and the way they are excited” (trad. Roberts). Nas últimas páginas tenho abusado das citações, mas, a cortar alguma, nunca seria esta agora. Pois com essas palavras, escritas há quase dois milénios e meio por Aristóteles na Retórica, I.2, a cultura ocidental abriu, e tanto quanto sei fechou, a questão do espaço de qualquer persuasão. Desde então temos assumido pacificamente que, da venda de automóveis usados à demonstração de teoremas matemáticos (enquanto na base de axiomas tidos por evidentes, mediante uma lógica igualmente tida como tal), passando por alguma intervenção a favor do realismo e de uma temporalidade linear, aberta e progressiva, o sucesso de qualquer empreendimento persuasivo depende do seu valor nas três dimensões que estruturam este espaço. Designadamente, o ethos (credibilidade do emissor), o logos (validade lógico-empírica da mensagem), e o pathos (quadro emocional do recetor). Em todo o caso o espaço retórico aristotélico tem sido analisado com vantagem prática, por exemplo pelo norte-americano Howard Gardner – conhecido pela sua teoria das inteligências múltiplas – que distinguiu até as particularidades de intervenções diretas de alguns agentes socialmente proeminentes, como as dos nossos ex-primeiros ministros aqui mencionados e putativos candidatos a intervenções futuras… previsivelmente outra vez do calibre contra o qual David Landes nos alertou (fá-las-ão se e só se a maioria dos eleitores intervier nesse sentido!), das particularidades de intervenções indiretas, como as dos autores aqui referidos mediante estas suas obras, e minha também mediante este pequeno ensaio. Em conformidade a este último estatuto, porém, nestas páginas limitar-nos-emos a considerar os sete fatores gerais de persuasão – os sete “Re’s” assinalados por esse psicólogo contemporâneo – de uma minoria sobre a maioria. Começando pela dimensão do ethos – o enquadramento aristotélico é meu – Gardner (2004: Ch. 1) assinala a ressonância (Resonance) em que o recetor da mensagem se coloca emocionalmente perante um emissor a quem confira credibilidade. O filósofo grego, como vimos, restringiu a validade desta dimensão retórica aos juízos que os recetores possam fazer na base da emissão da mensagem em causa. Precisamente para não violar por completo essa restrição, em vez de me limitar a retornar à Universidade de Harvard (onde também este investigador trabalha) para recolher informação com chancela respeitada, sugeri ao menos uma pista de validação desta análise dos fatores de influência com a referência à tradição retórica aristotélica – cujos resultados são de fácil acesso ao leitor, mas cuja crítica obviamente escapa ao âmbito deste texto. Espero assim, ainda uma vez, ter escapado à ad verecundiam! Que todavia é implementada por todas aquelas pessoas em função das quais os publicitários pagam a um excelente chutador de bolas em direção a balizas para emitir publicamente juízos sobre produtos financeiros. Esses honorários são no entanto economicamente justificados: a experiência sugere que grandes parcelas da população são influenciadas por se colocarem em ressonância com sujeitos cuja eticidade escapa ao âmbito da mensagem – lembremo-nos, desde os Gregos, da querela entre Tucídides e Alcibíades sobre a estratégia a seguir na guerra do Peloponeso, das credenciais de um e do outro arguente, e da decisão da maioria na assembleia ateniense… (Já CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 139 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS agora, e sem chegarmos necessariamente a violar o princípio político de Dani Rodrik, lembremo-nos também do resultado desta decisão). À atenção em particular de quem se proponha intervir diretamente a favor do realismo, bem como de uma temporalidade linear, aberta e porventura progressiva – que nas intervenções indiretas a mediação das obras desvaloriza essa eticidade lateral dos emissores – Gardner explicita que a ressonância frequentemente ocorre porque o recetor se sente relacionado ao emissor que lhe propõe a mudança de representações mentais ou de produções públicas, ou porque julga este último fiável (Reliability), ou porque o respeita – “three additional ‘re’ terms” (op.cit.: 16). O problema daquela intervenção em Portugal é que o critério segundo o qual a maioria social se sentirá relacionada, julgará fiável, ou respeitará as credenciais dos interventores minoritários, muito provavelmente é constituído pelos valores e princípios contra os quais se colocarão as mensagens destes últimos… Não sei se este problema do critério de ressonância não obrigará, nesta estrita zona do campo de possibilidades das representações e produções públicas, a um corte com o atrator em vigor, saltando-se para alguma zona separada onde se possa estabelecer um outro critério, e para a qual assim se comece a puxar o atrator cultural português. Mas, depois de reconhecer esta batata quente, com todo o respeito por quem se proponha a tal intervenção direta apenas posso nestas páginas passa-la para as suas mãos. (A minha absoluta falta de eticidade lateral dispensa-me (felizmente!) do desafio dessas outras intervenções). A ressonância verifica também a dimensão do logos, pois uma ideia, ou perspetiva, pode ressoar afetivamente a um recetor que a sinta como válida, ou que pareça a este último que se adequa à situação em causa, e assim o convença de que são desnecessárias outras considerações – sobre a articulação entre a racionalidade e a emocionalidade nos nossos juízos lembrarei aliás a célebre obra O Erro de Descartes de António Damásio. Estritamente nesta segunda dimensão retórica, encontramos três outros fatores assinalados por Gardner: a racionalidade (Reason), a investigação (Research), e a redescrição de representações mentais. Este quarto fator, como avançamos no parágrafo precedente, é importante para garantir a relevância das representações mais frequentes. Por exemplo, foi o que procurei fazer ao formalizar esta minha mensagem tanto verbalmente quanto por meio de gráficos e imagens, ao me reportar tanto às ciências sociais e humanas quanto às humanidades. Procurei igualmente aumentar a eficácia desta minha intervenção sobre a cultura maioritária e tradicional de Portugal ao investigar, nos limites de um ensaio, obras por sua vez de investigação empírica alargada e sistemática que aqui deixo sugeridas ao leitor, acompanhadas – como recomenda Gardner – pela interpretação que delas fiz como significativas para uma nossa evolução cultural. Paralelamente, desde a procura de implicações – ou o que os lógicos chamam “introdução de condicionais” – à eliminação de outras por contra-casos, passando por alguma atenção às falácias lógicas, etc., tentei que este meu ensaio ilustrasse aquele segundo fator, ainda que ao nível de uma racionalidade ligeira que me parece ajustada a esta forma de expressão. As obras para que daqui abri (incluindo, creio, Albergaria, 2011), tendem naturalmente a um rigor lógico mais sistemático e até cru. Mas, ainda que eu não tenha conseguido exemplifica-los, aqui fica a referência a mais estes três fatores de influência. Dos sete, no entanto, não falhei o quinto – antes pudesse tê-lo feito… Este investigador norte-americano reconheceu que alguns acontecimentos (Real world events) têm um tal impacto público que podem catalisar uma alteração de representações mentais. Entre outros, dá o exemplo de depressões económicas – de onde eu precisamente parti na secção 1, estendendo-me, mediante o IDH, a outras dimensões da vida coletiva portuguesa uma vez que são sustentadas pela económica. Julgo que este fator será absolutamente crucial para a determinação da oportunidade da intervenção da minoria sobre a maioria social: o leitor possivelmente lembrar-se-á do tratamento público que foi dado à meia dúzia de analistas que, desde o início da década anterior ou mesmo desde o fim dos anos ’90 até à atual crise, vieram alertando na comunicação social para gráficos económicos como os que aqui incluí – de “amalucados” quase a “traidores à pátria”, porque os malefícios nacionais não seriam por eles denunciados mas sim causados uma vez que no estrangeiro se ouviam as suas vozes credíveis [139] NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 140 [140] (de novo, os estrangeiros haviam de ser os outros passageiros no avião com o motor a arder…), tudo lhes foi chamado. E entretanto as maiorias eleitorais, nacionais e intrapartidárias, continuaram substancialmente as mesmas. Pela minha pequenina e anónima parte, lembro-me da reação social e profissional que fui recebendo desde quando, há cerca de duas décadas, perguntava pelo que estaríamos a aprender a produzir para, uma vez concluídos os IP’s e autoestradas, aí transportarmos com um tal ganho de competitividade que precisamente pagasse esse investimento. Quando, há pouco mais de uma dúzia de anos, perguntava se não haveria em Trás-os-Montes, no Alentejo, até nos centros históricos de Lisboa e Porto, outros empreendimentos sociais ou económicos mais necessários do que a reconversão da zona oriental da capital, numa Expo cuja virtualidade provavelmente estaria para o nosso gráfico 2 como a exposição do Mundo Português também já tinha estado. Ou quando me manifestava perplexo perante a indexação das reformas aos últimos e normalmente mais elevados rendimentos, na data em que se assinalava já um quarto de século desde o fim dos trinta gloriosos (1945-1973), e da inversão da pirâmide demográfica… Mas aqueles adjetivos, antes sempre tão prontos a serem lançados, dissolveram-se nas bocas agora fechadas, ou foram engolidos em seco, perante a explosão da crise que prevíamos. Aparentemente, de súbito a eticidade que nos é conferida aumentou. Esta é pois a oportunidade de intervenções diretas que inclusivamente poderiam estar empatadas por um critério de ressonância que impedisse qualquer deslocação contínua do atrator português tradicional, permitindo apenas uma revolução todavia mais difícil. Esta foi pois, assim pensei, a oportunidade que na nota 28 atribuí à presente intervenção indireta. E também por isso comecei a desenvolvê-la, na dimensão do logos, precisamente a partir de informações relativas a esse real world event. Mais eficazes nessa influência do que muitos de nós que a tentámos encetar no passado, porém, serão os emissores de mensagens que possam satisfazer o fator do reforço positivo, ou prémio (Reward) – estimulando, na dimensão do pathos, emoções que satisfaçam a maioria a influenciar. Até porque, se não estou em erro, ainda mais detestados do que os supostos causadores da desgraça, costumam ser aqueles que tenham alertado para ela, que por isso mesmo então tenham sido castigados pelos que, depois, a têm que sofrer, e assim se constituam como o espelho onde estes últimos reveem concretamente a sua culpa (o ato de contrição é fácil… mas em abstrato). Em especial aos recém-chegados à causa, portanto, interessará saber que Gardner enfatizou neste fator a provisão de recursos que facilitem a deslocação do atrator num determinado sentido, precisamente por facilitá-lo. É o que aqui tenho tentado fazer desde a sugestão do recurso aos oito princípios de Rodrik, da proposta de uma taxonomia que espero que seja razoavelmente funcional (pelo menos como ponto de partida para outras melhores)… até à síntese lógica na conclusão a seguir. Enfim, além desses seis fatores que facilitam o deslocamento de atratores culturais, todos devemos atender a que “we develop strong views and perspectives that are resistant to change. Any effort to understand the changing of minds must take into account the power of various resistances” (Gardner, 2004: 17, 18) – que ativam, na dimensão do pathos, emoções contrárias à instabilidade e ao esforço de qualquer mudança. Na ulterior exemplificação dos seus sete grandes fatores de influência de uma minoria sobre a maioria (op.cit.: 78), o autor destaca como Margareth Thatcher visou “from the first” as resistências políticas que se lhe opunham até no interior do seu partido. A orientação tática de qualquer esforço de alteração mental deverá pois visar desde o início as resistências que se lhe oponham. No parágrafo anterior avançámos quatro tipos destas ao analisarmos as razões pelas quais uma prática repetitiva pode manter a sua relevância. Quanto à primeira, a relevância das práticas socioeconómicas tradicionais portuguesas mediante os respetivos resultados terá sido verificada com as rendas e os interesses instalados denunciados por analistas como Vítor Bento, e por historiadores como David Landes. Cuja disparidade de distribuição naturalmente não revoltou uma sociedade que verifica os valores portugueses no quinto parâmetro do gráfico 3, no eixo das ordenadas da fig. A, ou no primeiro parâmetro do gráfico 5. No entanto, os atuais números do rendimento disponível das famílias, dos inscritos nos centros de emprego, dos novos emigrantes, etc., indiciam que deixou de haver rendimento suficiente para distribuir por todos. E precisa- CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 141 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS CONCLUSÃO: PARA “QUEBRAR RESOLUTAMENTE COM O PASSADO”. Numa redescrição agora global das duas propostas anteriores, e esperando assim prover ao leitor particularmente racional mais um recurso que facilite a sua consideração crítica dessas minhas propostas, reapresentá-las-ei sucintamente mas organizadas segundo as relações lógicas informais entre os seus pontos nucleares. Ambos os argumentos se dividem num lado geral e noutro particularmente português. O argumento das secções 1-3, no primeiro desses seus lados, toma como premissas os resultados da investigação diacrónica de David Landes e da investigação sincrónica contemporânea de Dani Rodrik, para da sua conjugação retirar uma taxonomia – relevante para o crescimento económico – que privilegia o valor do realismo, e o princípio de uma temporalidade linear, aberta e porventura progressiva. Como fundamentos de algum complexo institucional, ajustado a cada contexto, que mantenha o crescimento económico, base do desenvolvimento humano regular. O lado português é mais complexo. No seu primeiro plano de premissas, toma a interpretação por Abel Mateus do extraor- dinário crescimento português entre 1950 e 1973, além de um juízo de David Landes sobre o crescimento de uns países na sequência de outros, e de outro juízo de Dani Rodrik sobre o reduzido significado de curtos períodos de crescimento, para a partir dos três convergir na conclusão de que aquele período da nossa história económica terá sido eminentemente circunstancial, não se constituindo pois como contra-caso à interpretação da longa série apresentada no gráfico 2 como reveladora de um atraso português crónico pelo menos desde a Revolução Industrial. No segundo plano de premissas deste lado, essa primeira conclusão intermédia conjuga-se com a sequência, apontada por D. Landes, desde alguns fenómenos político-culturais logo no início do séc. XVI até outros de natureza económica no último terço desse século; com o IDH português ao longo da última década; com a relação entre as nossas variações do PIB e da dívida externa neste período; com os resultados do World Values Survey; bem como com os obtidos pela equipa de Geert Hofstede; e afinal com a estimativa da probabilidade de haver sempre, e só entre nós, algum obstáculo circunstancial. A conjugação destas sete premissas é tida como significativa para uma identificação desse problema económico como radicalmente cultural. A análise desta segunda conclusão intermédia reconhece a negação portuguesa de uma temporalidade linear e aberta, bem como uma nossa desvalorização da realidade. Traços sobre os quais também convergem a síntese por Miguel Real de diversas abordagens literárias e historiográficas à identidade portuguesa, e a hermenêutica desta última por José Gil. Com a vantagem de abrirem duas pistas de investigação sobre os traços que tradicionalmente nos têm identificado nos dois parâmetros fundamentais da taxonomia a que chega o lado geral do argumento. Precisamente com essa taxonomia conjuga-se enfim a anterior análise da segunda conclusão intermédia do lado português, para se obter a conclusão final de que é necessário intervir na cultura deste país a favor de uma temporalidade que enquadre [141] mente a crescente exclusão de boa parte da população portuguesa, em particular o atingimento dos adultos, com emprego, das maioritárias classes média-baixa e média-média, pelas condições antes limitadas a boa parte dos reformados, aos desempregados e aos jovens, retira à maior parte da sociedade portuguesa a segunda razão para considerar relevantes aquelas suas práticas tradicionais – como a pertença a um grupo que mantivesse o sujeito. Deixo à consideração do leitor uma eventual verificação atual das outras duas razões de relevância dessas nossas práticas. Por mim fico-me pelo apontamento daquelas brechas abertas nas primeiras duas resistências. Sugerindo que os proponentes de valores e princípios da taxonomia aqui proposta, ou outros equivalentes, ataquem por aí o tradicional atrator cultural português. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 142 pelo menos uma nossa autonomia consistente, e que discrimine alguma realidade de quaisquer fantasias. Mas a multiplicidade de formas de intervenção torna prudente, se não necessário, identificar as que possam ser mais eficazes. [142] Para concluir nessa identificação, o argumento da secção 4, no seu lado geral, toma como primeiras premissas a virtualidade de um modelo de inspiração biológica para a evolução cultural – que sugere três tipos de evolução – e a negação do modelo darwiniano pela apresentação de contra-casos na história económica. Por exclusão de partes nesse horizonte inspirativo, assume-se um modelo lamarckiano, que contempla tanto forças transmissivas quanto não-transmissivas, do qual o anterior será afinal um caso particular. Como exemplificação e sugestão prática, essa conclusão intermédia foi desenvolvida em conformidade ao modelo do atrator, de Dan Sperber. E este modelo foi por sua vez desenvolvido pelas sugestões práticas de Howard Gardner no seio do espaço retórico aristotélico. Entretanto, no lado português, este segundo argumento toma como premissas a referida sugestão de três tipos de evolução cultural, e as informações no argumento anterior sobre a cultura portuguesa mais uma referência ao reinado de D. Dinis, para da sua conjugação concluir que o tipo de evolução requerida para Portugal será o de uma mera alteração da frequência relativa dos nossos traços culturais. Conjugando finalmente esta última conclusão intermédia e a anterior (por um modelo lamarckiano), conclui-se que, entre outras eventuais brechas nas resistências à intervenção a favor de uma evolução cultural, os agentes culturais deverão atender prioritariamente a uma atual insatisfação da maioria da sociedade portuguesa com os resultados das práticas económico-profissionais que tem implementado; e a um provável enfraquecimento da identificação social que não só os excluídos, mas ainda os que se sentem ameaçados de exclusão (por exemplo, pelo risco de desemprego), retirarão das suas participações públicas nessas práticas. O reconhecimento desta insatisfação e deste enfraquecimento identitário, e a proposta de soluções alternativas às agora caducas, deverão facilitar a adesão emocional destas pessoas a intervenções de alcance cultural, sejam elas diretas, como as dos políticos, comentadores televisivos, etc., sejam indiretas, como esta minha. Além disso, essas intervenções deverão estar hoje reforçadas pelo conhecimento, e pelo sofrimento da crise económica a que aquelas outras práticas, e representações mentais que lhes subjazam, trouxeram o país. Os agentes da evolução cultural deverão também reforçar-se por facultarem aos seus recetores alguma esperança positiva, ou por facilitarem as novas práticas e representações mentais sugeridas; por segurarem as respetivas mensagens pela investigação, pela coerência lógica, e desejavelmente pela sua desmultiplicação em formas paralelas; e ainda, no caso das intervenções diretas, pelo cuidado com a credibilidade dos emissores aos olhos dos destinatários da intervenção cultural. Num texto ensaístico como este julgo que estou dispensado de uma articulação lógica formalmente rigorosa de cada um dos anteriores argumentos, bem como de uma sua avaliação do mesmo nível. Sobre esta, direi apenas que obviamente os dois argumentos são indutivos (as respetivas conclusões terão algum grau de probabilidade inferior à certeza absoluta – conseguida por argumentos dedutivos), mas deixo ao leitor a estimativa da força de cada uma dessas induções. Pois, antes de nos embrenharmos em tais minudências, creio que é prudente que atendamos ao aviso de Antero de Quental (1871) a todos quantos as assumam, bem como em geral ao trabalho a favor da evolução cultural portuguesa: “é necessário um esforço viril, um esforço supremo: cortar resolutamente com o passado”. Compreendemos aqui porquê: uma cultura eminentemente tradicionalista, contrária à ponderação e crítica racionais – como parece ser a portuguesa, ainda que abrindo agora as brechas acima referidas – tenderá a rejeitar, quais corpos estranhos no seu organismo, aquelas intervenções evolutivas. Uma forte resolução será condição psicológica da implementação destas últimas. CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 143 CONDIÇÕES DO ATRASO DO POVO PORTUGUÊS NOS ÚLTIMOS DOIS SÉCULOS “Resolutamente” não é de todo idêntico a “absoluta”, “completamente”… visto referir-se ao ânimo do sujeito que implementa o corte, e não à dimensão deste no seu objeto. O próprio Antero, aliás, evoca as virtudes peninsulares anteriores ao séc. XVI, num reforço daquela intencionalidade por uma evolução, e não uma revolução da cultura portuguesa. E foi precisamente na base dessa leitura crítica de Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos Três Séculos que nas secções 1-3 evoluímos desde a identificação de um problema antes reconhecido até à sugestão de uma pista resolutiva que, a jusante do nível radical em que aqui nos mantivemos, possa gerar instituições que por sua vez consolidem o reequilíbrio financeiro, e a alteração da estrutura produtiva portuguesa a favor dos bens transacionáveis, requeridos hoje por analistas como Vítor Bento. minha intervenção cultural, quanto num genuíno tributo ao calor que Antero soube trazer ao verbo e, acima de tudo, à autenticidade com que este nosso antepassado tentou viver o que assim formulou, voltarei então a essa nossa base, para concluir o presente ensaio numa sua paráfrase: Oponhamos ao irrealismo, não a indiferença ou uma fria negação do sofrimento, mas a ardente afirmação da realidade apenas em cujo seio se podem encontrar soluções, ainda que parciais, para esse sofrimento. Oponhamos a uma temporalidade porventura pontilhada a federação desses pontos numa linha aberta, mas que faculte um progresso, porque só ela é a base (…) de todas as reformas práticas (…). Finalmente, à inércia industrial oponhamos a iniciativa do trabalho livre, a indústria do povo, pelo povo, espontânea, não entregue à anarquia cega da concorrência, mas organizada, segundo a opção democrática pluralista, seja pela igualização socialista, seja pela liberalidade (liberal), seja pela segurança conservadora, operando assim gradualmente a transição para o novo mundo industrial (…) a quem pertence o futuro, e o presente. [143] e para o povo, não dirigida e protegida pelo Estado, mas Essa crítica, para que o próprio poeta nos estimulou, afastou-nos porém das suas palavras quase ao ponto de lhes perdermos o rasto, sem que eu em troca fosse capaz de formular outras sequer perto do nível de atratividade em que o autor dos Sonetos pôde colocar aquela sua comunicação de 1871 no Casino Lisbonense. Tanto no interesse de aumentar a eficácia desta CH_Mig. Albergaria_01z_Layout 1 11/27/12 6:35 PM Page 144 BIBLIOGRAFIA: Albergaria, M.S. (coord.) 2006. Os Açores e o desenvolvimento económico – Alguns elementos do sistema social de inovação e produção açoriano. Atlântida, vol. LI, pp. 249-269. Amable, B. 2005. Les Cinc capitalisms – Diversité des Systèmes Économiques et Sociaux dans la Mondialisation. Paris: Seuil. Boyd, R., Richerson, P.J. 2005. The Origin and Evolution of Cultures. Oxford: Oxford University Press. Eliade, M. s.d. O Sagrado e o Profano – A Essência das Religiões. Lisboa: Livros do Brasil. 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A História da Vida na Terra está repleta de crises biológicas sendo a mais conhecida, mas não a que teve maior impacte na biodiversidade do Planeta, a provável colisão de um corpo celeste de grandes dimensões, há cerca de 65 milhões de anos (Ma) e que determinou a extinção de cerca de 42% das espécies vivas incluindo os famosos dinossauros. Todavia, na transição Triássico/Jurássico, há 206 Ma, extinguiram-se 45% das espécies (Palmer, 2000). *Este artigo respeita a grafia anterior ao Acordo Ortográfico. OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 148 Foi porém no início do Mesozóico que ocorreu uma imensa mudança de faunas devido àquela que, provavelmente, constituiu a maior extinção em massa da vida na Terra. Moody (1980), indica que cerca de 70% a 95% de todas as espécies vivas desapareceram da face do Planeta no fim do Permiano, precisamente o último período geológico do Paleozóico. Este autor indica que o desaparecimento de vastas áreas costeiras de baixa profundidade terá estado na origem desta autêntica catástrofe biológica. No final do Eoceno, segunda época do Cenozóico, assistiu-se a um novo episódio de extinção em massa, provavelmente originado pelo desaparecimento do Mar de Thethys com a consequente, e profunda, alteração climática global, nomeadamente pela expansão de zonas áridas e pelo início da formação das calotes polares (Prothero, 1994; Haines, 2001). [148] O fim do Pleistoceno, há apenas 10.000 anos, assistiu à última extinção em massa, embora de um modo selectivo uma vez que afectou, principalmente, um elevadíssimo número de espécies de mamíferos de grande porte (ver Martin & Klein, 1995). Este episódio coincidiu com a expansão do Homo sapiens e acarretou inclusive o desaparecimento de outras espécies de Homo, sendo a mais conhecida H. neanderthalensis (Jordan, 2000) mas também H. erectus (Martin, 1995) e o recentemente descoberto H. floresiensis (Brown et al., 2004; Morwood et al., 2004). 2. EXTINÇÕES EM MASSA NO FIM DO PALEOZÓICO As extinções que marcaram o fim do Paleozóico (durante o Permiano, seu último período) e o início da mais famosa Era Geológica, o Mesozóico, foram o episódio mais catastrófico que a Terra até hoje assistiu em termos de extinção em massa. De facto, cerca 70 a 95% de todas espécies ter-se-ão extinguido em consequência de uma drástica e rápida descida dos mares pouco profundos das plataformas continentais (Moody, 1980) e inevitáveis alterações climáticas. Estes mares, no final do Permiano, estariam reduzidos a cerca de um terço da sua área original o que terá originado uma drástica redução de espaço e consequente aumento dos processos de competição e predação. Terá sido, porventura, a maior extinção em massa da história da vida na Terra. O desaparecimento de espécies afectou, sobretudo, os ambientes marinhos. Cerca de metade dos seus invertebrados desapareceram durante o Permiano. A redução do nível dos mares costeiros terá também levado a graves rupturas nas cadeias tróficas, acarretando efeitos drásticos tanto em consumidores primários como em consumidores secundários. Sendo provável que a recente expansão de H. sapiens nas Américas tenha contribuído para a extinção Holocénica de muitas espécies, sobretudo as frágeis faunas insulares das Caraíbas, foi a expansão europeia iniciada no séc. XIV que, dramaticamente, causou o novo período de extinções em massa que estamos a atravessar (Flannery & Schouten, 2002). A expansão Polinésia nas ilhas do Pacífico, em Madagáscar e na Nova Zelândia, num período relativamente anterior à expansão europeia, igualmente causou importantes reduções faunísticas, sobretudo de espécies insulares endémicas e portanto de distribuição restrita, mas também de vastas populações aparentemente menos sensíveis (Balouet, 1990). No fim do Permiano, os principais taxon até então dominantes, haviam desaparecido numa mega-extinção não selectiva. De entre estes contam-se os corais rochosos tabulados e rugosos (substituídos pelos escleractinários), os stromatoporoidea e os famosos trilobites, artrópodes de grande diversidade de espécies e que ocuparam, do Ordovício ao Permiano, praticamente todos os nichos marinhos. Estes grandes grupos foram acompanhados pelos protozoários fusulinídeos, por vastos grupos de briozoários e por muitas espécies de crinóides e amonoides. A sua rápida extinção deixou um vazio de ocupação de nichos que só se restabeleceu com a nova subida dos níveis do mar já em pleno Triássico. Neste artigo iremos apresentar dados e discutir aspectos relativos à extinção de espécies, numa perspectiva ecológica e de conservação. No Anexo I apresenta-se uma tabela cronológica das eras geológicas. A maioria dos autores concorda que as drásticas mudanças climatéricas então verificadas, ao eliminarem os característicos desertos e calotes glaciares do Permiano, igualmente conduziram à extinção de muitos grupos de anfíbios e de répteis. OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 149 EXTINÇÕES, EVOLUÇÃO E O IMPACTO DE HOMO SAPIENS A PARTIR DO ANO 1000 A.D. Eon Era Período Época Início do Intervalo Temporal (Ma) Pré-Câmbrico Hadeano Archeano Proterozóico Paleozóico Câmbrico Ordovício Silúrico Devoniano Carbonífero Mississipiano Pensilvânio Inferior Superior Paleoceno Eoceno Oligoceno Mioceno Plioceno Pleistoceno Holoceno 4600 3800 2500 545 495 443 417 354 323 290 248 206 142 85 65 55 34 24 5 1.8 0.01 Phanerozóico Mesozóico Cenozóico Permiano Triássico Jurássico Cretácico Terciário Quaternário Fonte: Palmer (1999). 3. A FRONTEIRA TRIÁSSICO – JURÁSSICO Embora a maior parte das pessoas pense na fronteira Cretácico – Terciário (K-T boundary) quando ouve falar em extinções em massa, as evidências paleontológicas apontam para um número maior de espécies extintas quando o Triássico termina, há cerca de 206 Ma. Nesta fase, verifica-se, principalmente, uma extinção em massa selectiva ao nível da herpetofauna. Neste caso, em vez de uma substituição faunística, verificou-se um “desvio” faunístico entre grupos de répteis. Como indica Benton (1990), vários grupos importantes de répteis, entre os quais os procolophonidae, os trilophosauria, os rynchosauria, os prolacertiformes, os phytosauria, os aetosauria, os rauisuchia, os ornithosuchidae, os dicynodontia e a maior parte dos cynodontia, estes últimos reconhecidamente mamaliformes, foram gradualmente substituídos por novos grupos, alguns dos quais permanecem até aos nossos dias. Neste período de transição herpetológica, que durou cerca de 20 a 25 Ma, aparecem as [149] ANEXO I ESCALA GEOLÓGICA TEMPORAL DA TERRA OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 150 tartarugas (Chelonia), os sphenodontia (com as Tuataras, Sphenodon guntheri e S. punctatus, da Nova Zelândia, como únicas espécies ainda vivas), os crocodilia, os pterosauria e os dinosauria bem como os primeiros mamíferos. Esta extinção em massa foi, pois, mais do que o resultado de grandes mudanças climáticas, decorrente de um processo de competição entre os répteis therapsida e os mais evoluídos thecodontia, numa primeira fase, e os dinosauria numa segunda fase (Moody, 1980). A separação definitiva do super-continente Pangaea em duas grandes massas, Laurasia e Gondwana, também implicou drásticas mudanças climáticas que marcaram o fim do Triássico. declínio há muitos milhões de anos. Nos últimos tempos do Mesozóico, a Terra apresentava uma intensa actividade vulcânica e a atmosfera estaria contaminada por intensas emissões de CO2 e de CO para além de vários gases sulfurosos. Os dinosauria, os plesiosauria e os pterosauria, desde há muito que apresentavam sinais de declínio pelo que, e de acordo com Haines (1999) e Palmer (2000), o impacto de Chicxulub (onde hoje se localiza a Península de Yucatán, México) apenas veio acelerar um processo de extinção inevitável. Assim, e embora global, alguns grupos particularmente sensíveis, como os anfíbios e as tartarugas pouco sofreram nesta transição enquanto 4. O FIM DO MESOZÓICO [150] A popularidade dos Dinossauros em todo o Mundo, especialmente os de grande porte entre os quais se conta o emblemático Tyranosaurus rex, tem originado filmes e documentários que, graças ao aumento considerável dos conhecimentos de paleoecologia, paleobotânica e paleoetologia e à evolução tecnológica de animação digital, permitem a realização de produções de grande qualidade, credibilidade e realismo. Em qualquer canto do Mundo, crianças e adultos reconhecem dinossauros e sabem descrever o impacto do “cometa” que os exterminou. Porém, a extinção em massa que se verificou há 65 Ma e que exterminou cerca de 42% de todas as espécies ainda é alvo de intensos e apaixonados debates. A jazida de Hell Creek, em Montana, é um dos mais famosos locais onde a fronteira K-T é mais evidente. No entanto, parece existir entre os vários autores um consenso cada vez maior em torno da hipótese da colisão de um objecto extra-terrestre, não como a causa principal mas como um “golpe de misericórdia” num conjunto faunístico que já apresentava sinais de os grandes cefalópodes dominantes, as amonites (que já existiam no Planeta desde o fim do Silúrico – 400 Ma), os plesiosauria, os pterosauria, os mosasauria e os corais escleractinários, entre muitos outros, desapareceram totalmente. Por outro lado, vários grupos zoológicos, alguns anteriores aos dinossauros, sobreviveram quase sem aparente declínio. Entre estes encontram-se as aves (na verdade dinossauros – vd. Palmer, 2000), os crocodilia, os chondrichthyes, os mamíferos, as serpentes e os lagartos, para além de clássicos “fósseis vivos” como os caranguejos-ferradura, os crinóides, uma diversidade extremamente reduzida de brachiopoda e o emblemático celacanto, hoje representado pelas espécies Latimeria chalumnae e L. menadoensis. OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 151 EXTINÇÕES, EVOLUÇÃO E O IMPACTO DE HOMO SAPIENS 5. TEMPO DE MUDANÇA – A TRANSIÇÃO EOCENO/OLIGOCENO 6. O FIM DA MEGAFAUNA PLEISTOCÉNICA O fim do Eoceno caracteriza-se pela deriva continental que separou a Austrália da Antártida. Iniciou-se assim uma primeira fase de circulação circumpolar que restringiu as trocas térmicas entre as águas equatoriais e antárcticas. Este fenómeno implicou uma drástica descida da temperatura, numa média global de cerca de menos 5°C. Foi o início de uma nova Era Glaciar, algo a que o Planeta não assistia desde a glaciação do Permiano, 200 Ma antes. Consequentemente, o nível médio das águas do mar diminuiu em cerca de 30m o que acarretou o desaparecimento de muitos mares pouco profundos, especialmente impactantes no caso da divisão do Mar de Tethys em dois corpos: os mares Mediterrâneo e Paratethys. A Europa Eocénica deixou de ter uma estrutura de “Arquipélago” e foi invadida por espécies de mamíferos de origem Asiática (Agustí & Antón, 2002). A extinção em massa afectou diversos grupos de mamíferos entre os quais se incluem várias espécies de roedores e insectívoros, bem como todos os primatas arborícolas da Europa, num total de cerca de 20% das espécies Eocénicas (Palmer, 2000). A diminuição de condições climatéricas favoráveis a grandes extensões de florestas provocaram o seu retrocesso e vastas áreas do Planeta passaram a ter um coberto vegetal dominado por pradarias e savanas onde despontavam, pela primeira vez, as plantas mais versáteis e adaptáveis da Terra – as gramíneas (Cerling, 1992). Como indica Haines (2001), a catástrofe climática que marca o fim do Eoceno pode ser comparada ao fenómeno “El Niño” mas numa mega-escala. As águas frias da Antártida invadiram, num curto espaço de tempo, regiões de baixas latitudes dada a sua elevada densidade e extrema mobilidade. Os mamíferos sofreram, nesta época, a sua primeira extinção em massa. No início do Mioceno, os mamíferos atingiram um pico de diversidade nunca antes (ou depois) alcançado, tanto no que respeita a ordens como a famílias e, consequentemente, ao número total de espécies. A proporção de mamíferos de grande porte (mais de 5kg de peso-vivo) aumentava (vd. Bourliére, 1975) no que terá sido uma resposta evolutiva à expansão das savanas e redução de florestas densas. No entanto, a partir do fim do Mioceno, iniciou-se uma série de declínios que se prolongaram até às extinções do final do Pleistoceno. Segundo Graham & Lundelius, Jr. (1995), uma coevolução em desequilíbrio poderá ter largamente contribuído para esta extinção em massa dada a rapidez das mudanças climatéricas então verificadas. O Planeta vivia um ciclo de períodos glaciares de 100.000 anos e interglaciares de 10.000 anos (actualmente vivemos no fim de um desses interglaciares) que durou cerca de 1,6 Ma (Moody, 1980). Cada fim de fase glaciar acarretou drásticas e rápidas mudanças, tanto no coberto vegetal como nas correntes oceânicas e, obviamente, em todo o clima numa escala global. Subidas e descidas do nível dos mares foram sempre uma constante. Assim, a sazonalidade variável, os grandes períodos de gestação da mega-fauna e a forte dependência dos carnívoros desta última teria tido, de acordo com Kiltie (1999) um efeito de extinção rápida e maciça num grande número de espécies. Se, em alguns casos, a extinção foi total, i.e., não deu lugar a substituições faunísticas, noutros casos determinados grupos foram gradualmente substituídos por afins con-familiares. Dois dos melhores exemplos deste caso podem encontrar-se nas Famílias Felidae e Ursidae. Durante cerca de 30 Ma, a Tribo Machairodontini, popularmente conhecida como “tigres-dente-de-sabre” dominou a Eurásia, África e Américas. Progressivamente, os Pantherini, onde se incluem os actuais Tigres, Leões, Leopardos e Jaguares entre outros, substituíram os anteriores sendo este fenómeno evidenciado por uma sequência bem documentada nos registos fósseis. Assim, os Machairodontini extinguem-se em África há cerca de 1 Ma, com [151] A PARTIR DO ANO 1000 A.D. OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 152 o género Dinofelis como último representante, na Eurásia há 500.000 anos, com Homotherium, e nas Américas apenas há 10.000 anos onde H. serum e os famosos Smilodon fatalis (América do Norte) e S. populator (América do Sul) conviveram com os modernos Pantherini entre os quais Panthera leo (entretanto também extinto nas Américas), P. onca e Puma concolor. O trabalho de Turner (1997) analisa exaustivamente a história natural da Família Felidae desde a sua origem, há cerca de 30 Ma, até ao presente. [152] No caso dos Ursidae, a competição, por um lado, e o declínio de habitats e condições ecológicas favoráveis por outro, estará eventualmente na origem da rápida extinção de duas espécies outrora abundantes. Uma norte-americana e outra europeia, respectivamente Arctodus simus e Ursus spelaeus. O primeiro foi o maior mamífero carnívoro terrestre até hoje conhecido. Um urso exclusivamente carnívoro, de membros altos, pesando até cerca de 1.000kg e provavelmente necrófago, embora existam algumas evidências de comportamentos de predação activa (vd. Barton et al. 2002; Oakes, 2003). Extinguiu-se há 10.000 anos, altura em que o moderno Ursus arctos invadiu as Américas. No outro lado do Atlântico o comum urso-das-cavernas (a julgar pelos milhares de ossos fossilizados encontrados em inúmeras jazidas da Europa central e Península Ibérica), um vegetariano quase exclusivo, também se extinguia na mesma época (Kurtén, 1995 descreve com grande detalhe e precisão a eco-biologia do urso-das-cavernas) e aqui a competição com o urso pardo poderá ter sido ainda mais impactante do que no caso de A. simus, que deverá ter tido mais a ver com as rápidas mudanças climatéricas e ruptura de cadeias e teias tróficas. A mega-fauna de mamíferos Pleistocénica atingiu uma diversidade muito elevada em todos os continentes. As causas da sua extinção são alvo de intenso debate, dividindo-se as opiniões entre: i) excesso de caça por Homo sapiens; ii) zoonoses epidémicas; iii) mudanças climáticas drásticas e rápidas e iv) uma combinação de todos, ou de alguns, destes factores. Se, por um lado, parece difícil imaginar que populações reduzidas de H. sapiens possam ser responsáveis por uma tão vasta catástrofe biológica, não deixam de chamar a atenção as seguintes coincidências (vd. Oakes, 2003): A chegada de H. sapiens à Austrália, há cerca de 50.000 anos, coincide com um rápido declínio da variada e única mega-fauna de marsupiais; Há 13.000, H. sapiens entra na América do Norte via Beringia e, num espaço de tempo de 2.000 anos (+/- 500 anos) instala-se até à Tierra del Fuego – 75% dos mamíferos com mais de 45kg de peso-vivo extingue-se; Na Eurásia, as extinções são mais modestas, cifrando-se em cerca de 30% – o H. sapiens já habitava esta região há, pelo menos, 80.000 anos; Em África, onde a presença de H. sapiens data de há 150.000 anos, as extinções foram inferiores a 10% (vd. igualmente Stuart & Stuart, 1996). Hoje, a mega-fauna de mamíferos apenas ocorre em África, no sub-continente Indiano e na Indo-Malásia. Terá este facto a ver com uma “experiência ecológica” de coevolução com H. sapiens? Actualmente, quando pensamos em elefantes ou leões associamo-los a África (embora Elephas maximus ainda ocorra na Ásia e uma população relíquia de cerca de 300 leões asiáticos – Panthera leo persica – subsista na Reserva de Gir, no extremo Sul da Península de Gujarat). Há 15.000 anos, as Américas, sobretudo a América do Norte, possuíam a maior diversidade simultânea de Proboscidea jamais vista sobre a Terra. Pelo menos 4 espécies eram comuns (Agenbroad, 1995; Barton et al. 2002): o Mastodonte Americano – Mammut americanum e os Elephantidae Mammuthus columbi, M. primigenius e Elephas exilis, inclusive com formas anãs nas ilhas do Canal (Califórnia), muito semelhantes a Elephas falconeri das maiores ilhas Mediterrânicas (Attenborough, 1988). Um outro caso emblemático do rápido declino da riqueza pleistocénica é o leão. Embora, tradicionalmente, muitos autores tenham incluído o leão americano e o leão-das-cavernas europeu, respectivamente, nas espécies Panthera atrox e P. OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 153 EXTINÇÕES, EVOLUÇÃO E O IMPACTO DE HOMO SAPIENS spelaea (ou, neste último, na subespécie P. l. spelaea) é hoje quase consensual que ambos pertencem à espécie viva P. leo. Esta, há 12.000 anos, apresentava uma vasta distribuição geográfica que se estendia do Alaska ao Perú, quase toda a Eurásia e, obviamente, o continente Africano com excepção do Sahara e das florestas tropicais do centro-oeste (Turner, 1997). O declínio do leão tem vindo a ser analisado por vários autores na procura de mais evidências que ajudem a entender o complexo quadro das extinções Pleistocénicas. O declínio histórico de P. leo é detalhado num trabalho recente de Patterson (2004). Terá H. sapiens tido um papel decisivo, também, na extinção de três dos seus congenéricos? Os desaparecimentos do bem adaptado H. neanderthalensis1 há 30.000 anos, do Hominídeo mais longevo, H. erectus, há 50.000 anos (Lynch & Barrett, 2002) ou do recém-descoberto H. floresiensis há apenas 12.000 anos (Brown et al., 2004) estarão relacionados com a expansão global de H. sapiens? Certo é, porém, que o H. sapiens Holocénico, principalmente a partir do ano 2000 a.C., extinguiu vários outros grupos e populações de H. sapiens. Talvez um dos mais trágicos tenha sido a destruição dos Aborígenes da Tasmânia, no séc. XIX (Balouet, 1990). Apenas com um significativo aumento do esforço de investigação nas mais importantes e produtivas jazidas Pleistocénicas, bem como a procura de novos locais, poderemos obter um melhor entendimento de conjunto desta tão recente extinção em massa a qual, por muito pouco, nos impediu de contemplar um dos mais exuberantes conjuntos biológicos que a história da vida na Terra jamais produziu. 7. EXTINÇÕES POSTERIORES A 1500 A.D. A expansão dos povos orientais no Pacífico, com início na colonização de Taiwan no ano 3500 a.C., e dos Europeus por todo o Mundo são a causa primeira das extinções em massa, embora numa dimensão menos catastrófica que as anteriores, que se verificaram no Holoceno. Antes de 1500 A.D., a colonização do Hawaii, no ano 600, de Madagáscar no ano 1, da Nova Zelândia, entre 1200 e 1300 e de um sem fim de ilhas do Indo-Pacífico numa expansão que se estendeu para leste até à minúscula e isolada ilha de Pitcairn, no ano 1000 e à Ilha da Páscoa, no ano 500, precederam os europeus num processo de extinções que destruiu espécies endémicas, sobretudo insulares e de extrema fragilidade ecológica, por todos esses lugares. Uma combinação de excesso de caça e de introdução de espécies exóticas (p.ex. Canis familiaris, Capra hircus, Felis catus2, Oryctolagus cuniculus, Rattus exulans, R. norvegicus, R. rattus, Vulpes vulpes ou várias espécies de mangustos – Herpestidae) constituiu o nemésis de muitas espécies únicas tais como os lémures gigantes do género Megaladapis e a Ave-Elefante, Aepyornis maximus, ambos de Madagáscar, as Moas-gigantes, Dinornis giganteus e as Águias gigantes (Águia de Haast) da Nova Zelândia ou um ainda desconhecido número da rica avifauna do Hawaii. Populações Ameríndias terão igualmente extinguido várias espécies endémicas das ilhas das Caraíbas, nomeadamente as últimas preguiças-gigantes, parentes próximas dos colossos de mais de 6m de comprimento que, no Pleistoceno, ocorriam em várias partes das Américas e numa grande riqueza de espécies (Oakes, 2003). Foram, porém, os Europeus que, a partir do séc. XV, iniciaram o maior processo de extinção em massa do Holoceno. Se apenas nos limitarmos a Aves, Répteis e Mamíferos, conhecem-se, com todo o rigor, as extinções de mais de 103 espécies3 (entre elas, como o Pombo-Migrador da América do Norte, Ectopistes migratorius, algumas outrora extremamente abundantes) e um número ainda maior de subespécies no período decorrido entre 1500 e 1989 (Flannery & Schouten, 2001), para além da redução de muitas populações para níveis 1 A descoberta recente de um fóssil de H. sapiens com 25.000 anos apresentando características neandertaloides em Lagar Velho, Leiria, reacendeu o debate de uma possível hibridação entre as duas espécies. 2 O passeriforme Xenicus lyalli, historicamente restrito à pequena ilha de Stephens, Nova Zelândia, foi extinto, em 1894, por um único gato pertencente ao faroleiro que aí foi viver (vd. Flannery & Schouten, 2002). 3 Ver Anexo II. [153] A PARTIR DO ANO 1000 A.D. OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 154 mínimos, algumas das quais, como por exemplo o Golfinho-Lacustre-Chinês, Lipotes vexilifer (vd. Salvadori, 1990; Laidler & Laidler, 1996), declarado extinto em 2011 com a triste honra de ser o primeiro cetáceo exterminado por causas antrópicas. Uma combinação de factores tem conduzido à extinção de muitas espécies e subespécies4 entre as quais destacamos as seguintes: i) excesso de caça/pesca; ii) destruição de habitats; iii) introdução de espécies exóticas e iv) introdução de zoonoses. A expansão humana e impacto ecológico das suas acções acarretam catástrofes de dimensão variável em todos os ecossistemas do Planeta. Apenas um profundo conhecimento da ecobiologia dessas espécies, do conhecimento das suas dimensões populacionais e das comunidades em que estão inseridas permitirá a sua manutenção enquanto espécies vivas integrantes da imensa e diversificada mega-comunidade que é a Biosfera. [154] 8. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES Como pudemos constatar nos temas acima expostos, os processos de extinção de espécies são uma constante da Vida na Terra. Para além dos mega-episódios mais críticos que discutimos neste texto, muitos outros exemplos de grupos zoológicos diversificados e, aparentemente, adaptados a vários nichos e ambientes se extinguiram num espaço de tempo mais ou menos longo. O declínio dos Pterosauria começou muito antes do fim do Mesozóico bem como a extinção dos répteis melhor adaptados ao meio aquático – os Ichthyosauria (Benton, 1990). A competição, que se estendeu do Eoceno ao Mioceno, entre os verdadeiros Carnivora e os Creodontia, com vantagem dos primeiros, acarretou a extinção de um diversificado e longevo grupo de carnívoros, facto este, aliás, repetido dentro da própria Ordem Carnivora com a substituição dos Nimravidae pelos Felidae (Turner, 1997) e coincidente, também, com o gradual declínio dos grandes herbívoros monogástricos (principalmente representados pela Ordem Perissodactyla) e a diversificação “explosiva” dos Ruminantia (Agustí & Antón, 2002). Outros grupos, como por exemplo os Elasmobranchii, os Chelonia ou os Crocodilia, parecem “imunes” à extinção subsistindo no Planeta desde há centenas de milhões de anos e tendo, portando, superado todas as megaextinções acima discutidas. Provavelmente, e se atendermos aos trabalhos de Dixon (1998) e Dixon & Adams (2003), Homo sapiens caminha para uma inevitável extinção. Com certeza que, após esse evento, a Terra continuará o seu rumo evolutivo e muitas espécies se sucederão num processo contínuo que apenas terminará com o desaparecimento total das condições de vida na Terra aquando da inevitável expansão do Sol dentro de cerca de 8.000 Ma. Todavia, o esforço global para a protecção de espécies tem vindo a crescer e, se por um lado, esse esforço chegou tarde demais para o sapo-dourado da Costa Rica (Bufo periglenes – extinto em 1989), para os Tigres de Bali (ext. 1937), do Cáspio (ext. 1974) e de Java (ext. 1981) (respectivamente Panthera tigris balica, P. t. virgata e P. t. sondaicus) ou para os Leões do Cabo (ext. 1857) ou do Atlas (ext. 1927) (respectivamente Panthera leo melanochaitus e P. l. leo), existem casos de sucesso em que espécies no limiar da extinção, como a Baleia-Azul (Balaenoptera musculus), a Lontra-Gigante da Amazónia (Pteronura brasiliensis), o Rinoceronte de Java (Rhinoceros sondaicus – recentemente redescoberto no Vietname e no Cambodja mas em populações residuais e dadas como extintas em 2010 por alguns autores) ou o Condor da Califórnia (Gymnogyps californianus), recuperam lentamente ou até ultrapassaram os efectivos calculados antes das suas reduções populacionais – casos do Elefante marinho do Norte (Mirounga leonina), da Lontra Marinha (Enhydra lutris) ou da Águia-calva (Haliaetus leucocephalus). O estudo e análise científica dos processos históricos que conduziram a extinções e o monitoramento de populações e comunidades são uma ferramenta essencial de preservação da biodiversidade terrestre. 4 Ver Anexo III para uma lista de espécies e subespécies com o estatuto de criticamente ameaçadas. Ver igualmente, para dados completos e actualizados, http://www.redlist.org, Ross (1992), Carwardine (1995) e Gil (2001). OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 155 EXTINÇÕES, EVOLUÇÃO E O IMPACTO DE HOMO SAPIENS A PARTIR DO ANO 1000 A.D. ANEXO II ESPÉCIES COMPROVADAMENTE EXTINTAS DE AVES, RÉPTEIS E MAMÍFEROS APÓS 1500 A.D. (ORDEM CRONOLÓGICA) Classe Nome Comum Nome Científico Distribuição Histórica Data da Extinção Aves Aves Mammalia Megalapteryx didinus Raphus cucullatus Hydrodamalis gigas Prosobonia leucoptera Aves Periquito de Raiatea Cyanoramphus ulietanus Aves Mammalia Mammalia Galinhola Branca Antílope Azul Pequena Raposa Voadora das Maurícias Estorninho Misterioso Pombo Azul das Maurícias Lagartixa Gigante de Tonga Estorninho de Kosrae Galeirão de Kosrae Tordo de Kittlitz Porphyrio albus Hippotragus leucophaeus Pteropus subniger Bico Grande das Ilhas Bonin Cuco de Delalande Papagaio das Mascarenas O’o de Oahu Huppe Rato-Canguru de orelhas grandes Periquito do Tahiti Alca gigante Rato-coelho de patas brancas Corvo Marinho de óculos Kaka de Norfolk Ratazana do arroz gigante de Sta. Lúcia Rato de Gould Chaunoproctus ferreorostris Coua delalandei Mascarinus mascarinus Moho apicalis Fregilupus varius Notomys macrotis Ilha do Sul, N. Zelândia Ilha Maurícia, Mascarenas Ilhas Bering e Copper, Mar de Bering W, Oceano Pacífico N Tahiti e Moorea, Ilhas Sociedade, Oceano Pacífico Raiatea, Ilhas Sociedade, Oceano Pacífico Ilha de Lord Howe, Austrália SW da África do Sul Ilhas Reunião e Maurícia, Mascarenas Mauke, Ilhas Cook, Oceano Pacífico Ilha Maurícia, Mascarenas Togatapu, Arquipélago de Tonga, Oceano Pacífico Kosrae, Ilhas Carolinas, Oceano Pacífico Kosrae, Ilhas Carolinas, Oceano Pacífico Ilha Chichijima (Peel), Arquipélago de Ogasawara (Bonin), Japão Ilha Chichijima (Peel), Arquipélago de Ogasawara (Bonin), Japão Madagáscar Ilha de Reunião, Mascarenas Ilha de Oahu, Arquipélago do Hawaii Ilha de Reunião, Mascarenas SW da Austrália 1500 1681 1768 Aves Moa de Montanha Dodo Vaca Marinha de Steller Maçarico do Tahiti 1834 1834 1837 1840 1843 Cyanoramphus zealandicus Pinguinus impennis Conilurus albipes Tahiti, Ilhas Sociedade, Oceano Pacífico Atlântico Norte SE da Austrália 1844 1844 1845 Phalacrocorax perspicillatus Nestor productus Megalomys luciae Ilhas Bering e Commander, Mar de Bering W, Oceano Pacífico N Ilha de Norfolk, Austrália Santa Lúcia, Caraíbas 1850 1851 1852 Pseudomys gouldii E da Austrália 1857 Aves Aves Aves Aves Aves Aves Aves Aves Mammalia Aves Aves Mammalia Aves Aves Mammalia Mammalia Aplonis mavornata Alectroenas nitidissima Tachygia microlepis Aplonis corvina Porzana monasa Zoothera terrestris 1777 1788 1800 1800 1825 1826 1827 1828 1828 1828 1828 [155] Aves Aves Reptilia 1777 OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 156 Classe Nome Comum Nome Científico Distribuição Histórica Data da Extinção Aves Kioea Noitibó pequeno da Jamaica Arara vermelha de Cuba Periquito das Seychelles Reptilia Mammalia Aves Aves Aves Mammalia Mammalia Aves Aves Osga Gigante da Nova Zelândia Galeirão Madeireiro de Samoa Grande Raposa-voadora de Palau Potoroo de face larga Periquito de Newton Pato do Labrador Codorniz dos Himalaias Lagartixa Gigante Cão das Malvinas Colibri Esmeralda de Brace Galeirão pintado do Hawaii Pombo Madeireiro de Bonin Canguru-lebre Oriental Tentilhão pequeno de Koa Ula-ai-hawane Morcego frugívoro de nariz tubular de Sta. Cruz Gazela vermelha Bico grande de Kona Carriça de Stephen Tentilhão grande de Koa Rato-saltador de cauda curta Ratazana do arroz de Nelson Mamo Galeirão de Chatham Aves Pardal de Chatham Bowdleria rufescens Aves Aves Mammalia Mammalia Carcará de Guadalupe Grande Amakihi Bandicoot de pés de porco Rato-saltador de cauda longa Polyborus lutosus Hemignathus sagittirostris Chaeropus ecaudatus Notomys longicaudatus Ilhas Hawaii e Oahu, Arquipélago do Hawaii Jamaica, Caraíbas Cuba, Caraíbas Ilhas Mahé e Silhouete, Arquipélago das Seychelles Ilha do Norte, Nova Zelândia Savaii, Ilhas Samoa, Oceano Pacífico Ilhas Palau, Micronésia, Oceano Pacífico SW da Austrália Ilha de Rodrigues, Mascarenas Costa NE da América do Norte W dos Himalaias Nova Caledónia, Oceano Pacífico Ilhas Malvinas New Providence, Ilhas Bahamas Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii Ilhas Chichijima (Peel) e Nakondo-shima, Arquipélago de Ogasawara (Bonin), Japão SE da Austrália Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii Ilhas Santa Cruz, Arquipélago das Salomão, Oceano Pacífico Norte da Argélia, África Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii Ilha de Stephen, Nova Zelândia Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii Austrália Central Ilha de Maria Madre, Três Marias, México Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii Ilhas Pit e Mangere, Arquipélago de Chatham, Oceano Pacífico Ilhas Pit e Mangere, Arquipélago de Chatham, Oceano Pacífico Ilha de Guadalupe, México Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii Austrália Austrália 1859 Aves Aves Aves Chaetoptila angustipluma Siphonorhis americanus Ara tricolor Psittacula wardi Aves Mammalia [156] Mammalia Aves Aves Aves Reptilia Mammalia Aves Aves Aves Mammalia Aves Aves Mammalia Hoplodactylus delcourti Pareudiastes pacificus Pteropus pilosus Potorus platyops Psittacula exsul Camptorhynchus labradorius Ophrysia superciliosa Phoboscincus boucorti Dusicyon australis Chlorostilbon bracei Pennula sandwuichensis Columba versicolor Lagorchestes leporides Rhodacanthis flaviceps Ciridops anna Nyctimene sactacrucis Gazella rufina Chloridops kona Xenicus lyalli Rhodacanthis palmeri Notomys amplus Oryzomys nelsoni Drepanis pacifica Gallirallus modestus 1859 1864 1870 1870 1874 1874 1875 1875 1875 1876 1876 1876 1877 1884 1889 1889 1891 1892 1892 1894 1894 1894 1896 1896 1897 1898 1900 1900 1900 1901 1901 1901 OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 157 EXTINÇÕES, EVOLUÇÃO E O IMPACTO DE HOMO SAPIENS A PARTIR DO ANO 1000 A.D. Classe Nome Comum Nome Científico Distribuição Histórica Data da Extinção Aves Merganso de Auckland Mergus australis 1902 Aves Piopio Turnagra capensis Mammalia Megalomys desmarestii Aves Aves Aves Aves Aves Aves Aves Mamo Negro Huia Colibri de Bogotá Gralha de bico estreito Tordo da Grande Caimão Petrel de Guadalupe Mocho Risonho Drepanis funérea Heteralocha acutirostris Heliangelus zusii Quiscalus palustris Turdus ravidus Oceanodroma macrodactyla Sceloglaux albifacies Reptilia Lagarto Macroscincus coctei Aves Aves Aves Aves Pombo Migrador5 Periquito da Carolina Olho-branco Rola frugívora de bigode vermelho Periquito do Paraíso Ratazana do arroz de Darwin Rato-veado de Pemberton Pombo Madeireiro de Ryukyu Rato-pequeno dos ninhos de pau O’o do Hawaii Canguru-rato do Deserto Ectopistes migratorius Conuropsis carolinensis Zosterops strennus Ptilonopus mercierii Leporillus apicalis Ilha de Natal, Oceano Índico Ilha de Natal, Oceano Índico Ilha de Choiseul, Arquipélago das Salomão, Oceano Pacífico Ilhas de Maui e Molokai, Arquipélago do Hawaii Ilha de Molokai, Arquipélago do Hawaii Ilha do Norte, Nova Zelândia Bogotá, Colômbia Rio Lerma, México Ilha Grand Cayman, Índias Ocidentais Ilha de Guadalupe, México Ilhas, Norte, Sul e de Stewart, Nova Zelândia Ilhéus Branco e Raso, Arquipélago de Cabo Verde E da América do Norte E da América do Norte Ilha de Lord Howe, Austrália Ilhas de Nuku Hiva e de Hiva Oa, Arquipélago das Marquesas NE da Austrália Ilha de Santa Cruz, Arquipélago das Galápagos Ilha de S. Pedro Nolasco, México Ilhas Ryukyu e Borodino, Japão S da Austrália 1903 1903 1904 Aves Ratazana do arroz gigante da Martinica Ratazana de MacLear Ratazana Bulldog Pombo Coroado de Choiseul O’o de Molokai Ilhas de Campbell e Adams, Arquipélago de Auckland, Nova Zelândia Ilhas, Norte, Sul e de Stephen, Nova Zelândia Martinica, Caraíbas Moho nobilis Caloprymnus campestris Ilha de Hawaii, Arquipélago do Hawaii Austrália central 1934 1935 Aves Mammalia Mammalia Aves Mammalia Aves Mammalia Rattus macleari Rattus nativitatis Microgoura meeki Moho bishopi Psephotus pulcherrimus Nesoryzomys darwini Peromyscus pembertoni Columba jouyi 1902 1904 1907 1907 1909 1910 1911 1911 1914 1914 1914 1918 1918 1920 1927 1929 1931 1931 1933 5 No início do séc. XIX era a ave mais comum da América do Norte (4 em cada 10 aves). Segundo alguns autores foi a ave mais abundante jamais existente. [157] Mammalia Mammalia Aves 1902 OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 158 Classe Nome Comum Nome Científico Distribuição Histórica Data da Extinção Aves Pato de cabeça rosa Lobo Marsupial Canguru de Toolache Galeirão de Laysan Galeirão de Wake Foca-monge das Caraíbas Canguru-rato pequeno Ratazana de Ilin Cutia de Little Swan Planícies aluviais dos rios Ganges e Brahmaputra, Índia Tasmânia S da Austrália Ilha de Laysan, Arquipélago do Hawaii Ilha de Wake, Oceano Pacífico Índias Ocidentais, Florida, Yucatan e E da América Central Austrália Central Ilha de Ilin, Filipinas Ilha de Little-Swan, NE das Honduras Centro e W da Austrália 1936 Mammalia Mammalia Aves Aves Mammalia Rhodonessa caryophyllacea Thylacinus cynocephalus Macropus greyi Porzana palmeri Gallirallus wakensis Monachus tropicalis Mammalia Mammalia Mammalia Mammalia Mammalia Mammalia Aves [158] Aves Mammalia Mammalia Aves Canguru de crescente branco Rato-toupeira Bávaro Grande Morcego de cauda-curta Pequeno pardal dos bosques Galeirão de asas listadas Raposa voadora de Guam Morcego frugívoro de costas nuas das Filipinas Galeirão de Atitlán Macrotis leucura Crateromys paulus Geocapromys thoracatus Onychogalea lunata Microtis bavaricus Mystacina robusta 1936 1939 1943 1945 1952 1952 1953 1955 1956 Dobsonia chapmani Alpes Bávaros e Italianos Ilhéus adjacentes à Ilha de Stewart, Nova Zelândia Ilhas, Norte, Sul e de Stewart, Nova Zelândia Ilhas de Viti Levu e Ovalau, Arquipélago das Fiji Ilha de Guam, Arquipélago das Marianas, Micronésia Ilha dos Negros, Filipinas 1980 Podilymbus gigas Lago Atitlán, Guatemala 1989 Xenicus longipes Nesoclopeus poecilopterus Pteropus tokudae 1962 1965 1972 1973 1974 Fonte: Flannery & Schouten (2002). OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 159 EXTINÇÕES, EVOLUÇÃO E O IMPACTO DE HOMO SAPIENS A PARTIR DO ANO 1000 A.D. Classe Nome Comum Nome Científico Estatuto IUCN Distribuição Actual e Efectivo Total Mammalia Aves Gorila de montanha Condor da Califórnia Gorilla beringei beringei Gymnogyps californianus Criticamente Ameaçado Criticamente Ameaçado Actinopterygii Peixe-Morcego pintado Brachionichthys hirsutus Criticamente Ameaçado Mammalia Pteropus rodricensis Criticamente Ameaçado Mammalia Raposa voadora de Rodrigues Lemur Vermelho Varecia variegata rubra Criticamente Ameaçado Mammalia Mammalia Tigre Chinês Lobo Mexicano Reptilia Tartaruga-de-couro Dermochelys coriacea Criticamente Ameaçado Mammalia Golfinho-lacustre Chinês Lipotes vexillifer Provavelmente Extinto Mammalia Phocoena sima Criticamente Ameaçado Reptilia Vaquita ou Toninha de Cortéz Aligátor Chinês Alligator sinensis Criticamente Ameaçado Reptilia Crocodilo Cubano Crocodylus rhombifer Criticamente Ameaçado Reptilia Crocodilo Siamês Crocodylus siamensis Mammalia Mammalia Golfinho do Indus Leão Asiático Platanista minor Panthera leo persica Criticamente Ameaçado, provavelmente Extinto no Estado Selvagem Criticamente Ameaçado Criticamente Ameaçado < 1000 no Rwanda, Burundi e Uganda 150 dos quais 120 em cativeiro Califórnia e Arizona Nº total desconhecido Distribuição limitada a um estuário na Tasmânia 1500 a 2000 na Ilha de Rodrigues, Mascarenas, Oceano Índico Nº total desconhecido Distribuição limitada à Península de Masoara, Madagáscar. Existem grupos em cativeiro 500 dos quais 470 da China < 50 em estações de reprodução no Arizona População do Pacífico em colapso e muito reduzida no Atlântico Extinto no delta do Rio Yangtze. Eventuais grupos em cativeiro muito diminutos ou já inexistentes. 500 no N do Mar de Cortéz e delta do Rio Colorado < 500 no delta do Rio Yangtze. Alguns grupos em cativeiro < 1000 no S de Cuba. Alguns grupos em cativeiro. Hibridação com o introduzido Caiman latirostris e com Crocodylus acutus Nº total desconhecido Alguns grupos em cativeiro Reptilia Iguana de Ricord Cyclura ricordi Criticamente Ameaçado Aves Águia Filipina Pithecophaga jefferyi Criticamente Ameaçado Mammalia Foca Monge Mediterrânica Monachus monachus Criticamente Ameaçado Panthera tigris amoyensis Criticamente Ameaçado Canis lupus baileyi Extinto no Estado Selvagem 500 no Rio Indus, Paquistão < 500 limitados à Reserva de Gir, Gujarat, Índia 2000 a 4000 no SW da República Dominicana 650 nas raras florestas remanescentes das Filipinas < 500 dispersas por pequenas populações no Mediterrâneo, Madeira e costa NW de África [159] ANEXO III LISTAGEM TENTATIVA DE ALGUMAS DAS ESPÉCIES DE VERTEBRADOS MAIS AMEAÇADAS NO MUNDO OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 160 [160] Classe Nome Comum Nome Científico Estatuto IUCN Mammalia Órix de cornos de cimitarra Oryx dammah Extinto no Estado Selvagem Aves Íbis careca do Norte Actinopterygii Atum Azul do Sul Mammalia Rinoceronte de Samatra Mammalia Rinoceronte de Java Mammalia Cavalo de Przewalski Reptilia Reptilia Tartaruga dos Pântanos do W da Austrália Iguana da Jamaica Mammalia Lince Ibérico Mammalia Chita Asiática Mammalia Leopardo da Barbaria Falcão das Maurícias Aves Aves Mammalia Aves Papa moscas negro das Seychelles Camelo Selvagem Íbis Japonês Mammalia Baleia Franca Boreal Distribuição Actual e Efectivo Total 3500 em centros de reprodução. Reintrodução prevista em Marrocos e na Tunísia Geronticus eremita Criticamente Ameaçado Nº total desconhecido mas extremamente reduzido Thunnus maccoyii Criticamente Ameaçado Nº total desconhecido. Populações em colapso Dicerorhinus sumatrensis Criticamente Ameaçado < 300 dispersos na Malásia, Samatra e Bornéu Rhinoceros sondaicus Criticamente Ameaçado < 100 limitados à Reserva de Udjung-Kulon, NW de Java. Recentemente redescoberto no Cambodja e Vietname onde deve ter sido extinto em 2010 Equus ferus przewalski Extinto no Estado Selvagem > 1000 em cativeiro com processos de reintrodução em curso na China e Mongólia Pseudemydura umbrina Criticamente Ameaçado 330 dos quais 200 em cativeiro Cyclura collei Criticamente Ameaçado 200 animais redescobertos nos anos 90 Lynx pardina Criticamente Ameaçado < 600 no S de Espanha com cerca de 20 em Portugal Acinonyx jubatus Criticamente Ameaçado < 250 no Irão venaticus Panthera pardus Criticamente Ameaçado < 50 em Marrocos panthera Falco punctatus Criticamente Ameaçado < 30 no estado selvagem, < 100 em cativeiro. Ilhas Maurícias, Oceano Índico Tersiphone corvina Criticamente Ameaçado < 70 na Ilha de La Digue, Arquipélago das Seychelles Camelus bactrianus Criticamente Ameaçado 500 no Deserto de Gobi, Mongólia Nipponia nippon Criticamente Ameaçado < 50 no Japão e E da China. Possível na Coreia so S Eubalaena glacialis Criticamente Ameaçado < 500 no Atlântico e Pacífico N Adaptado de Salvadori (1990), Ross (1991), Carwardine (1995) e Gil (2001). Adicionado de dados do autor. OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 161 EXTINÇÕES, EVOLUÇÃO E O IMPACTO DE HOMO SAPIENS A PARTIR DO ANO 1000 A.D. BIBLIOGRAFIA: Agustí, J. & M. Antón 2002. Mammoths, Sabertooths and Hominids – 65 Million Years of Mammalian Evolution in Europe. Columbia University Press, N.Y. x + 313pp. Attenborough, D. 1988. O Primeiro Éden – O Mundo Mediterrânico e o Homem. Gradiva, Lisboa. 235pp. Balouet, J.-C. 1990. Extinct Species of the World. Barron’s Educational Series, Inc., Auckland, New Zealand. 192pp. Barton, M.; N. Bean, S. Dunleavy, I. Gray & A. White 2002. Wild New World – Recreating Ice-Age North America. BBC Worldwide, London. 192pp. Benton, M. 1990. The Reign of the Reptiles. Crescent Books, N.Y. 143pp. Bourliére, F. 1975. 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The Big Cats and their Fossil Relatives. Columbia University Press, N.Y. xi + 234. [161] Agenbroad, L. D. 1995. New world Mammoth distribution. p. 90-108 In: Quaternary Extinctions – A Prehistoric Revolution (Martin, P. S. & R. G. Klein, editors). The University of Arizona Press. x + 892pp. OS_ JP_Barreiros_01z_Layout 1 11/27/12 6:54 PM Page 162 [162] Mammuthus primigenius. Espécie extinta na era Pleistocénica/Holocénica. OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 163 Nuno A. Vieira In Illo Tempore BENEDICAMUS DOMINUM NO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE 50 A 60 Comemorando o sesquincentenário Instituição dedicada, urbi et orbi, ao serviço da Igreja, da sociedade, das artes e da cultura PALAVRA PREAMBULAR Teatro no Seminário, Natal de 1958. Da esquerda para a direita, Manuel Raimundo e Artur Goulart. Mais tarde, foram, respetivamente, um professor em Lisboa e o outro diretor do museu de Évora. Neste artigo, proponho-me escrever acerca do Seminário de Angra do Heroísmo na década que vai de meados dos anos 50 a meados dos anos 60. O Seminário, como qualquer instituição, sujeitou-se a mudanças e desafios. Formou sacerdotes e homens de impacto na sociedade açoriana, nacional e, também, no palco internacional. Ao lado das suas virtudes, teve os seus defeitos. Não tenho apetite absolutamente nenhum para falar desses. De momento, opto por deixá-los cair no escopo do “errare humanum est”. Usarei nomes, apenas, como um mero enquadramento na época a que me refiro. Como antigo aluno do Seminário, aderirei aos factos tanto quanto possível como os conheço na minha experiência pessoal e naquela que colhi, em conversa, com antigos colegas. Esta minha visão de maneira nenhuma pretende ser abrangente de todos os aspetos da vida diária da instituição que, em Angra do Heroísmo, de várias formas, encontrou o acolhimento nobre, leal e constante que caracteriza esta cidade. Poder-se-á dizer que, para muitos, o Seminário e a cidade, conjuntamente, formaram e urbanizaram o sacerdote e o homem do futuro. [163] da fundação do Seminário de Angra OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 164 Alunos do Seminário acompanhados do prefeito Padre David Botelho do Couto, na cratera do Monte Brasil. 15/05/1958. [164] OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 165 In Illo Tempore BENEDICAMUS DOMINUM NO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE 50 A 60 INTRODUÇÃO Tinha-se dez ou mais anos. Deixava-se pai e mãe, família e freguesia, e ia-se para o Seminário. Nos fins de setembro, princípios de outubro, chegavam a Angra dezenas de jovens seminaristas, vindos do oeste do Arquipélago no Carvalho Araújo e do este no Cedros ou Ponta Delgada. Quase simultaneamente, vindos do grupo central, no Terra Alta, Santo Amaro ou no Espírito Santo, aportava, na mesma baía, mais rapaziada com destino também ao Seminário. No cais da cidade, debaixo do abrigo da fachada da imponente Igreja da Misericórdia, numa explosão de alegria e entusiasmo, abraçavam-se superiores, jovens teólogos elegantemente vestidos de redingote, alunos do Curso de Filosofia e Miúdos - como eram tratados os mais novos. Alunos do Seminário, na cratera do Monte Brasil. 15/05/1958. [165] O Seminário estava então dividido em três Prefeituras, distribuídas por três zonas diferentes do mesmo edifício. Havia os Teólogos, na Prefeitura do Sagrado Coração de Jesus (alunos do nono ao décimo segundo ano), os Médios, na Prefeitura de São José (alunos do quinto ao oitavo ano) e os Miúdos na Prefeitura de São Luís de Gonzaga (alunos do primeiro ao quarto ano). Cada Prefeitura era chefiada pelo padre prefeito que acompanhava os seus alunos, praticamente, todo o dia, para todo o lado, incluindo as horas de recreio. Na sua ausência esporádica, havia um monitor que era um seminarista mais velho. Nos Teólogos, já havia um diferente nível de flexibilidade. Passeio à Praia da Vitória. Páscoa do ano de 1958. AS PRIMEIRAS 24 HORAS A criança, de dez ou mais anos, entrava no Seminário e era acompanhada para a sua camarata, onde lhe estava destinada uma cama e um guarda-roupa comum. Já sozinho, fazia a sua cama, distribuía a sua roupa pela mesa-de-cabeceira e guarda-fato, e colocava a sua mala no sítio onde ficaria para o resto do ano – debaixo da cama. Malas de tamanho maior seriam guardadas em arrecadações conhecidas por “porões”. O calção do menino havia ficado em casa. O vestuário, agora, seria outro, mais sóbrio em cores e simples em estilo: sapatos e calças pretas, colarinho branco a arrematar um peitinho pre- to. No dia-a-dia, vestia-se um guarda-pó, usualmente de cotim, (uma espécie de bata). Para passear pela cidade e arredores, levava-se a batina com romeira e o chapéu preto. Assim se vestia uma criança de 10 anos. No princípio do ano, era opcional comprar-se ou não o barrete eclesiástico. Começava-se logo a andar em grupo – fila indiana – para a sala de estudo, capela, refeitório e pelas ruas da cidade. (Não era infrequente ouvir-se: “Vai chover hoje! Aí vêm os melros pretos! Aí vêm os estorninhos!”). OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 166 Havia meia hora para a higiene da manhã. Então, às 6 horas, do lado de fora da capela, vestidos de batina e sobrepeliz, formava-se uma linha, em pares, e entrava-se na capela onde se prosseguia com as orações da manhã, meditação e missa. Seminaristas vestidos de guarda-pó em frente das salas de aula – 20/01/1958. [166] O silêncio era observado em todo o lugar, menos nas horas de recreio. Na noite do primeiro dia, era-se levado para a capela de Nossa Senhora da Natividade, onde o padre prefeito, da última bancada, conduzia as orações da noite – exame de consciência, ato de contrição, terço, preces por pessoas, organizações, situações e pelas almas do purgatório, especialmente as mais abandonadas. Tudo terminava com a “Salve Rainha, mãe de misericórdia, vida doçura, esperança nossa...”. Então, já passante das 21:30, um por um, em silêncio, saía-se da capela, pela porta traseira e dirigíamo-nos para as camaratas. De uma maneira muito discreta, era-nos comunicada a mensagem de que devíamos despir as calças debaixo dos lençóis. Sem mais explicações, esta passaria a ser a norma, para os próximos 8 anos, para o vestir e despir das calças. Com um sorriso, ligeiramente condescendente, o prefeito apagava as luzes e o menino ali dormia, pela primeira vez, na distância da família, sem o beijo da mãe e a bênção do pai. Na manhã seguinte, às 5:30, o padre prefeito acendia as luzes e batendo palmas, de uma ponta à outra da camarata, dizia: “Benedicamus Dominum! Benedicamus Dominum!”. Eventualmente, alguém oferecia a tradução: “Bendigamos ao Senhor! Bendigamos ao Senhor!”. Terminada a missa, seguia-se para a sala de estudo para mais uma hora de estudo. Daqui, ia-se para o refeitório, em silêncio, para o pequeno-almoço também em silêncio. Em mesas compridas, ocupávamos um lugar designado. O cheiro agradável do café enchia os corredores adjacentes ao refeitório. Servia-se pão com manteiga e, às vezes, havia queijo ou marmelada. Se o pão, vindo da padaria Angrense, na Rua do Rego, acontecia a ser quente era motivo de regozijo para a pequenada. O menino seminarista, sem ter conhecimento total do que se estava passando, estava prestes a iniciar um retiro – retiro espiritual – de um ou dois dias. Passadas 24 horas, o novo seminarista já se poderia equiparar ao personagem de um dos contos da famosa escritora barcelonesa, Ana Maria Matute. A escritora narra a história de um menino que sai de casa, a noite inteira, em busca do seu amigo que havia desaparecido. De manhã, ao chegar a casa, a mãe abriu-lhe a porta, e, numa linguagem simbólica da transformação que a criança havia sofrido pelo seu primeiro contacto com a morte de um amigo, disse-lhe: “Cuanto ha crecido este niño, Dios mio, cuanto ha crecido”. Havia-se deixado o lar, atravessado o mar e entrado numa instituição de formação sacerdotal. A única comunicação com a família seria uma carta sujeita ao capricho do tempo e dos precários meios de comunicação de então. Os das ilhas do grupo ocidental, de inverno, devido ao mau tempo, podiam estar tanto como dois meses sem notícias dos seus pais e vice-versa. O padre prefeito, de uma maneira inequívoca, instruía o menino de dez anos para que lhe entregasse abertas as cartas dirigidas aos pais. De igual modo, a correspondência recebida era aberta de acordo com a descrição do prefeito. Pelo Natal e pela Páscoa, a maior parte recebia uma encomenda (caixote) de casa, com guloseimas, fruta da época, ou qualquer outra comida que não se estragasse facilmente. Às vezes, inocentemente, lá vinha uma garrafa de vinho, de anis, ou vinho abafado. Na Prefeitura dos Médios, esses caixotes, guardados em OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 167 In Illo Tempore BENEDICAMUS DOMINUM NO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE 50 A 60 [167] Alunos do 3.º ano do Seminário, no seu vestuário diário guarda-pó/bata. 06/10/1957. OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 168 duas arrecadações chamadas porões, eram uma tentação enorme para a ratazana que não era nada inibida. Junto desses porões havia o corredor das batatas – espécie de Via Láctea para a aula de Música – que era também um chamariz de ratos. Mas companheiros fiéis de estudo eram os ratos que se entretinham com as teias de aranha no corredor de despejos adjacente ao Salão Nobre de Festas, que era a sala de estudo dos Médios. Havia, ainda, os ratos artistas que davam saltos acrobáticos na cave do palco de teatro. Absolutamente inofensivos e divertidos. Todos morreram com as obras que se seguiram ao abalo de terra de 1 de janeiro, do ano 1980. O SEMINÁRIO COMO INSTITUIÇÃO DE FORMAÇÃO [168] O Seminário era uma instituição em que simultaneamente se formava o homem e o futuro sacerdote. Por um lado, seria necessário desenvolver uma cultura verdadeiramente humanista no seu vasto espetro de valores morais, espirituais, literários, artísticos, científicos, e até empresariais, onde todas as potencialidades do homem fossem atualizadas e postas ao serviço do indivíduo, da família e da sociedade. Por outro lado, teria que se compreender e viver os valores cristãos da fraternidade e equidade numa perspetiva Cristo-cêntrica. Era-se exortado a apreciar os dons de Deus nas palavras de S. Clemente I, terceiro sucessor de S. Pedro: “A vida na imortalidade, o esplendor na justiça, a fé na confiança, a continência na santidade”. O jovem seminarista teria que crescer “mens sana in corpore sano”. Desde o princípio, era-nos explicado o significado da palavra “seminário” como “viveiro de plantas”. Assim como as plantas têm que ser cultivadas, adubadas, podadas e protegidas, assim também o aspirante ao sacerdócio. – O Hino do Seminário, que se encontra em apêndice a este trabalho, tem três quadras que de alguma maneira sintetizam os objetivos da instituição: Se há grandeza no mundo, é aquela que surgiu sob o influxo dos céus; é por isso que és grande e que és bela, Casa santa, mimosa de Deus. Exultai nobres filhos da ciência, que da Fé recebeis o vigor! Consagrai toda a vossa existência aos combates da Cruz do Senhor! É assim que teu código ensina que mais alta riqueza não há que a ciência que a mente ilumina e a virtude que a glória nos dá. Está-se, portanto, numa casa de formação eclesiástica onde há que aprender a trabalhar com todas as ferramentas necessárias para a criação de um mundo melhor através da boa nova do evangelho. Ter-se-á que aprender acerca do homem, do mundo e de Deus. Haverá desafios, nos campos da razão e do sobrenatural, que acabarão por ser considerados complementares. O IMPOSSÍVEL: A CHAMADA Aqueles que passaram pelo Seminário e hoje são avós, ao olharem para os seus netos na idade aproximada dos 10 anos, interrogam-se a si próprios: como foi possível que os nossos pais nos deixassem sair de casa tão novos? Onde foram pais e filhos buscar tanta coragem? Talvez, a razão não encontre toda a resposta para estas perguntas. Em princípio, trata-se de um ideal superior. Supostamente, num dado momento da sua meninice, a criança foi tocada ou inspirada por uma situação, gesto, ou frase que lhe despertou um chamamento duradoiro ou temporário. Naquela altura, a Igreja tinha um papel preponderante na vida individual, social e religiosa das pessoas. A assistência à missa ocorria em números elevados. A catequese e a influência da família eram outros fatores. A eventual chegada de um novo pároco à freguesia com o acompanhamento da banda de música local, a entrega de um ramo de flores e as primeiras palavras do novo sacerdote, em repetição das do Divino Mestre: “A messe é grande e os operários são poucos. Eu vim para que tivessem vida e a tivessem em mais abundância. Eu sou o bom pastor e o bom pastor conhece as suas ovelhas e as suas ovelhas conhecem-no a ele. Vós OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 169 In Illo Tempore BENEDICAMUS DOMINUM NO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE 50 A 60 sois o sal da terra e a luz do mundo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, eles serão perdoados. Aqueles a quem os retiveres, eles serão retidos”. Noutra altura, a beleza humana, espiritual e literária do Sermão da Montanha ou ainda o pensamento tão poderoso quanto sublime: “Ego sum alter Christus”. O encanto de ser pescador de almas, narrado pelo padre da aldeia, num sermão junto da orla do mar, no dia de São Pedro, no fim do mês de junho. Alunos do 4.º ano, em 06/01/1958, junto da Ermida de Santo António, no Monte Brasil. Ao centro, vê-se o Cónego Jeremias da Rocha Simões, na altura vice-reitor do Seminário. [169] Os três pensamentos, que me ocorrem neste momento, são do conhecimento comum: a mente tem a sua maneira própria de operar, o coração tem razões que a mente não entende, e, finalmente, os caminhos de Deus são imperscrutáveis. Parece ser razoável concluir-se que, numa determinada altura, a criança sentiu uma chamada. Vocação? NOÇÕES DE CIVILIDADE Muito cedo, no ano letivo, no salão de estudo, o padre prefeito de então, Agostinho do Couto Tavares, com relativa seriedade, passou algumas horas instruindo o menino em normas de conduta, de cortesia e boa educação. Lavagem diária dos dentes. Sentar em posição ereta. Não por as mãos nos bolsos, em público ou na Igreja. Dar o lado de dentro do passeio aos mais velhos ou a um superior. À mesa, partir o pão com as mãos em pedacinhos pequenos. Por porções pequenas de comida na boca. Não beber, nem falar enquanto se tem a boca cheia. Não deixar marca dos lábios nos copos ou chávenas. A colher ou garfo é que vão à boca e não vice-versa. Limpar a boca no interior do guardanapo. Nunca por os cotovelos sobre a mesa. Apresentar-se, onde quer que seja, limpo e penteado. Assoar-se sem fazer ruído. Não cuspir na rua. A maneira como o seminarista se apresentasse em público era importante. O cónego Jeremias da Rocha Simões, quando reitor, costumava repetir: “o hábito não faz o frade, mas ajuda a fazê-lo”. Como isso, regra geral, era dito no contexto das últimas admoestações para as férias de verão, o mesmo reitor prosseguia: “quando forem nadar, levem o colarinho até à praia e, então, só lá, tirem-no”. Atividade na turma dos escuteiros no campo dos miúdos (Seminário) no ano de 1959. A FORMAÇÃO CRISTÃ Neste ponto, não percamos de vista que estamos a falar do Seminário de Angra, no período de tempo que vai de meados da década de 50 a meados da década de 60. Gostaria, agora, de fazer alusão aos seguintes dois pontos referentes a esta data: a formação cristã e a formação académica dessa instituição. OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 170 Se Deus é omnipresente, o crucifixo também o era. Havia um crucifixo em todo o lugar: na sala de estudo, no refeitório, nas camaratas, nas salas de aula, em recintos abertos e áreas de recreio. Há anos, quando principiei a dar aulas numa universidade católica, nos Estados Unidos, todo este cenário me veio à mente, como se tivesse sido ontem. Aqui, o crucifixo também está presente everywhere, se bem que de uma maneira mais velada. O dia começava com as orações da manhã, missa e comunhão. Num abrir e fechar de olhos, aprendia-se a ajudar à missa, em Latim: Tomava-se consciência da iminente subida ao altar: Introibo ad altare Dei. A confissão dos pecados: Confiteor Deo omnipotenti, etc.. Invocava-se a misericórdia de Deus em Grego: Kýrie, eléison/Kýrie, eléison/Kýrie, eléison/Kýrie, eléison. Glorificava-se Deus com: Gloria in excélsis Deo. [170] Professava-se a fé, dizendo: Credo in unum Deum. Toda a gente entendia o: Dominus vobiscum. Toda a gente sabia responder: Et cum spiritu tuo. A transubstanciação do pão: Hoc est enim Corpus meum. A consagração do cálice: Hic est enim Cálix Sánguinis mei, etc.. A oração do Senhor: Pater noster, qui est in caelis, etc.. O momento da paz: Pax Dómini sit semper vobiscum. O apresentar da hóstia: Ecce Agnus Dei: ecce, qui tollit peccata mundi. O fim da missa era anunciado desta maneira: Ite, Missa est. A assembleia respondia: Deo grátias. Antes das horas de estudo, no início das aulas e no começo das refeições, rezava-se uma Avé Maria ou um Pai Nosso. (Talvez no seguimento de uma tradição monástica medieval, as refeições, em princípio, eram em silêncio. Cada semana, havia um leitor que, de um estrado no meio do refeitório, começava por ler uma passagem da Bíblia e prosseguia com a leitura de uma obra de caráter ligeiro. Às vezes, permitia-se a conversa na segunda parte da refeição e, em casos extraordinários, poder-se-ia conversar durante toda a refeição). Num clima de espiritualidade ideal, em que a perfeição cristã é o objetivo principal, recomenda-se a confissão semanal. Para esse efeito, na capela dos Miúdos, havia todas as manhãs um confessor à disposição do menino seminarista e nos Médios, na aula número 12, adjacente à capela, havia o diretor espiritual, também disponível para aqueles que se quisessem confessar. Para que o confessando se sentisse mais à vontade, o capelão de São Rafael, o Sr. Padre Martinho, vinha, uma vez por semana, ouvir confissões àqueles que assim optassem. Os seminaristas, então, deixavam para ele um ou outro pecado que julgassem mais grave (pesado) e, por esse motivo, o capelão era conhecido como o Carregador Açoriano. Aqueles de nós, que já vivemos 50 ou mais anos por este mundo fora e lhe demos meia volta, sabemos muito bem que se passava no Seminário uma juventude sã, em ambiente absolutamente são, onde, a priori, sem querer-se ser Deus, podemos dizer que não havia pecados de bradar aos céus. Grave bastante, poderia ser, talvez, um olhar mais distraído para uma rapariga, em fato de banho, na Poça dos Frades. De resto, no foro humano, havia que resfriar os sentidos e refrear a língua, pois que, trimestralmente, o seminarista era chamado ao quarto do padre prefeito para receber uma nota em comportamento que corria a seguinte escala: mau, sofrível, bom, muito bom, excelente. Esta nota era importante por que era mandada para os pais e para o pároco da freguesia. O retiro espiritual, com uma confissão geral que poderia incluir os pecados da vida inteira, não só constituía uma oportunidade de se dar um balanço à vida de relações com o Criador, mas era também parte essencial do crescer-se em virtude na aspiração contínua a uma vida de perfeição. Assim, os retiros tinham lugar uma vez no mês. Ao longo do ano, alguns eram de meio-dia. Mais frequentemente, eram de um ou dois dias, exceto pelo Carnaval. Nessa altura, enquanto os jovens da nossa idade gozavam os festejos carnavalescos, o jovem seminarista tinha aproximadamente cinco dias de retiro. Em vez de nos levantarmos às cinco e meia da manhã, gozávamos do privilégio de dormir mais meia hora, para então se iniciar um dia de intensa atividade espiritual, onde a abertura dos canais da graça e sintonia com a divindade eram objetivos primordiais. Assim, uma OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 171 In Illo Tempore BENEDICAMUS DOMINUM NO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE 50 A 60 Seminaristas numa peça de teatro ensaiada pelo Padre Manuel Coelho de Sousa – Natal de 1958. Fotografia dos alunos do curso do 1º ano de Filosofia com o Professor Dr. Caetano Tomás. Grupo de teatro formado por alunos do Curso de Teologia (atrás). À frente, da esquerda para a direita, vê-se: o Sr. Padre José Baptista, o reitor do Seminário José de Oliveira Lopes, o Padre Coelho de Sousa e o Dr. José Enes. Natal de 1954. [171] O orfeão do Seminário sob a regência do maestro Dr. Antonino Tavares no sarau músico-literário de S. Tomás de Aquino, 15/03/1959. OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 172 As conferências espirituais, durante os retiros, não obstante serem quase sempre feitas pelo mesmo conferencista, eram ricamente preparadas, com conteúdo espiritual atraente e motivante. Na capela interior do Seminário, em missa solene em honra de São Tomás de Aquino. Meados da década de 50. Nos dias de retiro, a seguir ao almoço, havia um período de repouso, na cama. Despia-se a batina, tirava-se o colarinho e os sapatos, fechavam-se as portadas da camarata e dormia-se/repousava-se por uma hora. Uma vez vestida a batina preta, que no conjunto de tanto seminarista, dava um ar de austeridade ao ambiente, ia-se para a capela, onde se rezava a Ladainha de Todos os Santos. Numa tarde escura ou de chuva, no mês de fevereiro, esta poderia ser a hora mais sombria e sonolenta do dia. A Ladainha era isso mesmo, uma ladainha: [172] Kýrie, eléison. Christe, eléison. Spiritus Sancte, Deus, miserere nobis. Sancta Virgo virginum, miserere nobis. Sancta Maria Magdaléna, miserere nobis. Omnes Sancti et Sanctae Dei, intercédite pro nobis. Ab ira tua, libera nos, Domine. Ut inimícos sanctae Ecclésiae humiliáre dignéris, te rogamus, audi nos. E terminava-se a ladainha com um Pai Nosso, em voz baixa. Alunos da Congregação Mariana, no ano de 1959. Ao centro vê-se o orientador Dr. Américo Caetano Vieira, na altura director espiritual do Seminário. vez mais, oração da manhã, meditação, missa, comunhão, uma média de três a quatro conferências por dia, (chamavam-lhes práticas espirituais), seguidas de períodos de reflexão que poderiam ser feitos ou a passear nos pátios interiores do Seminário, ou então, sentados à mesa de estudo, no salão de estudo. Nessa altura, o seminarista poderia fazer um resumo da conferência, por escrito, e de igual modo poderia anotar algumas das suas resoluções. À tarde, havia pelo menos, mais uma conferência. A noite fechava-se com as orações do costume e a bênção do Santíssimo. No tempo da Quaresma, fazia-se a via-sacra. Os retiros, mesmo os de uma semana, eram feitos em absoluto silêncio. Não havia comunicação nenhuma. Nem sequer reflexão em grupo. (Cabe-me abrir um parêntesis para notar que em tempo algum, durante o ano letivo, podiam os alunos de uma prefeitura comunicar com os de outra sem a autorização dos prefeitos de ambas as prefeituras. Assim era, mesmo que se tivesse um irmão noutra prefeitura). A Congregação Mariana era outra associação de caráter religioso que promovia a devoção a Maria Santíssima. Estava sob a orientação do diretor espiritual da época, o Dr. Américo OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 173 In Illo Tempore BENEDICAMUS DOMINUM NO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE 50 A 60 A apoteose da devoção à Virgem culminava no mês de maio, o mês de Maria. Mesmo meio século mais tarde, a memória ainda regista a imensidão das variadas flores que ornamentavam a capela, a nuvem do incenso que envolvia a imagem da Senhora e a harmonia de uma execução perfeita de cânticos religiosos. De resto, a prática da perfeição cristã recomendava que cada aspirante ao sacerdócio tivesse um diretor espiritual que o assistisse no crescimento da sua vida espiritual e o auxiliasse a definir a sua vocação. Cada seminarista encontrava-se com o seu diretor espiritual periodicamente. Nos Miúdos, na década de 50 a 60, foram diretores espirituais, por algum tempo, os Drs. António da Silva Pereira e Artur Pacheco Custódio. No mesmo período, a direção espiritual dos Médios e Teólogos esteve a cargo do Dr. Américo Caetano Vieira. Não obstante haver um sacerdote especificamente designado para a direção espiritual – o diretor espiritual – o seminarista tinha a opção de escolher qualquer outro sacerdote. O ano letivo principiava sempre com a invocação do Espírito Santo, Espírito de Luz. A Missa solene era precedida com a entoação do lindo hino: Veni Creator Spiritus. O seminarista não só estava rodeado de uma intensa prática religiosa no Seminário, mas ainda participava de festas litúrgicas de grande significado religioso, por toda a cidade. Esta participação tinha o apreço e admiração do público de Angra. Festas principais: a de Nossa Senhora da Conceição, na Igreja do mesmo nome. A de Cristo Rei, na Igreja da Sé. A Semana Santa, com a bênção dos santos óleos na manhã da Quinta-Feira Santa e a instituição da Eucaristia na noite do mesmo dia. A adoração da cruz na Sexta-Feira Santa e, à noite, a Procissão do Senhor morto, pelas ruas da cidade, seguida de sermão proferido por orador de qualidade, na catedral repleta de gente mergulhada em silêncio fúnebre. A Missa dos Catecúmenos no Sábado de Aleluia e a Missa da Ressurreição no Domingo de Páscoa. A Missa do Domingo de Pentecostes sumarizava a razão da existência do Seminário com a cerimónia da Ordenação sacerdotal. Ocasionalmente, poderia haver uma cerimónia religiosa numa das igrejas da cidade, como a Igreja do Colégio, a Igreja de São Francisco, ou a Igreja da Misericórdia. Todos os anos, no dia 31 de dezembro, cantava-se o Te Deum de Ação de Graças, geralmente na Igreja da Sé. A capela do Seminário, dirigida por maestros de talento e conhecimento como os Doutores Antonino Tavares e Edmundo Machado de Oliveira, dava grande brilho aos atos litúrgicos e significado ao culto religioso. Ao órgão, tocava o distinto músico Pe. Jaime Luís da Silveira. O Canto Gregoriano, canto coral monofónico, também conhecido por canto chão, era frequentemente cantado no espírito que o viu nascer – era uma oração cantada em que se rezava o próprio Deus e não somente para Deus. Com o primor artístico de vozes altamente educadas, cantava-se música sacra do mais elevado conteúdo espiritual. Algumas das peças: Ave verum / Adoro te / Agnus Dei /Asperges me / O sacrum convívium / Tantum ergo / O Salutaris Hóstia / Ubi Caritas / Adorémus / Adéste, fidéles / Puer natus / Jesu Redémptor / Miserére Mei Deus / Crux fidelis / Stabat Mater / Pange língua / Ave maris stella / Ave Maria de Gunot ou de Shubert / O lux beata / Regina caeli / Salve Regina / Te Deum / Pater noster / Magnificat / Tota pulchra est Maria / Cantáte Domino / De profundis / Requiem aeternam e Missas de diferentes compositores. [173] Caetano Vieira, e reunia-se todos os sábados. Discutiam-se temas concernentes ao caminho da perfeição e ventilavam-se sugestões em diferentes áreas. Fazia-se um propósito para a semana, por exemplo o de evitar a crítica negativa. Sugeriam-se ofertas, não monetárias ou materiais, mas através de Ramalhetes Espirituais, para homenagear um superior, apoiar um colega, ou de intercessão por uma causa. Assim, ao fim de algum tempo, totalizava-se o número de Missas ouvidas, Pai Nossos e Avé Marias rezadas, jaculatórias proferidas, etc. etc. e, em boa caligrafia, transpunha-se isso para uma estampilha e oferecia-se à pessoa desejada. OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 174 verdadeiramente apóstolos, verão como tudo pode concorrer para os fins não duma vã e humana glória e vaidade, mas do ministério divino, da salvação das almas”. Numa prática espiritual no Seminário, um conferencista ao tentar sensibilizar o seu auditório no sentido de lhe despertar interesse pela vida de estudo, mencionou as palavras de um sacerdote francês, de passagem pelas ilhas, durante o verão: “ao ver a quantidade e a qualidade dos livros das bibliotecas do clero nestas ilhas, penso que esses homens devem ser pessoas de pecado grosso”. Os novos sacerdotes ordenados em 28/04/1963, pelo prelado diocesano D. Manuel Afonso de Carvalho. [174] Os novos presbíteros ordenados pelo Bispo da Diocese D. Manuel Afonso de Carvalho. 07/06/1959. A FORMAÇÃO ACADÉMICA Na capa da Sebenta, que naquela altura se comprava no Seminário para apontamentos, aparecia a seguinte transcrição do Papa Pio XI, dirigida a um grupo de seminaristas a 24 de julho de 1929: “... os alunos destas escolas de sacerdócio não devem perder um átomo do tesouro, que lhes é oferecido. Recolham os tesouros de ciência, quanto poderem, todos, mesmo a custo de sacrifícios. Verão depois, em mil circunstâncias da vida, feitos Parece ser razoável afirmar-se que a importância dada ao setor académico era paralela àquela da formação cristã. Todos os professores do Seminário eram sacerdotes, com exceção do médico que regia o curso de Higiene e Medicina Pastoral – inicialmente o Sr. Dr. Hélio Flores Brasil e, posteriormente, o Sr. Dr. Mário Lima. A grande maioria desses sacerdotes havia-se formado na Universidade Pontifícia, em Roma. De uma maneira geral, possuíam qualidades de liderança e uma visão clara dos objetivos a seguir para a promoção do homem e da sociedade. Eram dotados de inteligência e de uma cultura geral, e específica nas suas áreas de estudo. Estavam, na realidade, munidos com o equipamento necessário para a construção das estruturas que garantissem um mundo melhor para o seu semelhante. Vários dos membros do corpo docente do Seminário publicaram livros de diferentes géneros literários e especialidades, assumiram a redação de jornais, escreveram artigos para revistas literárias e de cultura, proferiram conferências na rádio (isto, antes da televisão chegar aos Açores), pregaram sermões e orientaram diversas organizações como a Ação Católica, Cursos de Cristandade, Escuteiros, Clubes locais de diversa ordem e outras atividades congéneres. Foram, ainda, professores do Seminário que fundaram o Instituto Açoriano de Cultura e iniciaram as Semanas de Estudo, movimento de impacto único na vida cultural dos Açores. A dois destes inovadores, mais tarde, caber-lhes-ia a honra de serem, um, o fundador e primeiro reitor da Universidade dos Açores – o Dr. José Enes Pereira Cardoso, o outro, o Dr. Artur Cunha de Oliveira, OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 175 In Illo Tempore BENEDICAMUS DOMINUM NO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE 50 A 60 O Programa de estudos do Seminário estava dividido em três cursos: Alunos teólogos, participantes no grupo de teatro do Seminário, no ano de 1958. 1º. O Curso de Preparatórios, do primeiro ao quinto ano. Estudava-se: Religião, Português, Latim, Francês, Geografia, Matemática, Ciências, Música, Urbanidade e Educação Física. 2º. O Curso de Filosofia, do sexto ao oitavo ano. Incluía as seguintes matérias: Filosofia, Psicologia, Literatura, Latinidade, Grego, Grego Bíblico, Hebraico, História Universal e Pátria, Arte Sacra, Desenho e Música. 3º. O Curso de Teologia, do nono ao décimo segundo ano. Nestes quatro anos cursavam-se as disciplinas de Dogma Fundamental, Dogma Especial, Moral, Sagrada Escritura, História Eclesiástica, Direito Canónico, Sociologia, Liturgia, Casuística, Ascética e Mística, Pastoral, Eloquência Sagrada, Canto Gregoriano, Música, Ação Católica e Higiene e Medicina Pastoral. Numa certa altura, um dos prefeitos, mereceu o cognome de Terror dos Infernos pela rigidez do seu semblante. Anos depois, encontrei-o, já acabado pelos anos, na Dundas Street, em Toronto. O senhor reconheceu-me e não sabia o que me havia de fazer. Rebuscou os bolsos e disse: “eu pensava que tinha uma estampa do Senhor Santo Cristo comigo, mas não tenho. Vou-te dar o meu terço pessoal”. Vi-me obrigado a aceitá-lo devido à insistência do senhor. Era um homem bondoso. Hoje, guardo o terço na minha mesa-de-cabeceira. Das segundas aos sábados, havia diariamente cinco tempos de classe. Cada estudante tinha, em média, quatro ou cinco aulas por dia. Havia duas horas de estudo antes do jantar, uma depois do jantar e outra no dia seguinte, antes do pequeno-almoço, num total de quatro horas de estudo para a preparação diária das aulas. As horas de estudo eram feitas em silêncio, sob a supervisão do prefeito. Só o prefeito ou o monitor, na ausência daquele, poderiam dar autorização para um aluno sair da sala de estudo, normalmente para utilizar o quarto de banho, ou ir tomar duche num dos três dias estipulados para esse efeito, ou ainda para ir à direção espiritual. Outras razões menos repetitivas poderiam justificar o ausentar-se da sala de estudo. Segundo o costume da altura, o ensino seguia, mais frequentemente do que não, a fórmula dogmática da Idade Média do “magister dixit”. Daí, o estudante ficar entregue a si próprio, para resolver qualquer tipo de dúvida. Era apenas no curto tempo de recreio que se recorria a um colega para se esclarecer uma questão. O Seminário era uma instituição de gente visivelmente ocupada. Além das aulas do Seminário e de outros envolvimentos na sociedade angrense, alguns professores davam aulas no Liceu ou então explicações particulares. Há que recordar que o corpo docente do Seminário era bastante mal remunerado. Os superiores nunca se negavam a auxiliar um estudante, mas sabia-se que eles estavam demasiadamente ocupados. Os seminaristas, por seu turno, tinham as mãos cheias com a preparação das aulas, ensaios de música, ensaios [175] eurodeputado pelos Açores. A mundividência destes homens sacerdotes e professores do Semináio, de então, era reconhecida e respeitada pelo público angrense e açoriano e era considerada progressista, equilibrada, justa e promotora do bem comum e da causa cristã. Foram pedagogos deste calibre que presidiram à orientação académica do Seminário dos anos 50 e 60. Não era invulgar ouvir-se dizer que o Seminário era a universidade dos Açores daquele tempo. Na verdade, lembro-me de um professor de Teologia dizer, ao dar as provas da divindade de Cristo: “dei-vos absolutamente tudo o que aprendi na Gregoriana, em Roma”. OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 176 Monsenhor José Pereira da Silva, ladeado pelos reitores do Liceu e Escola Industrial, preside ao Sarau Músico–Literário em louvor de São Tomás de Aquino, a 15 de março de 1959. [176] Orfeão do Seminário, sob a regência do maestro Dr. Antonino Tavares, na Festa de São Tomás de Aquino, realizada a 15 de março de 1959. de peças de teatro, construção do presépio do Natal, assistência na organização da biblioteca, eventos especiais, uma missa de funeral, etc.. Não havia tempo para desperdiçar. A palavra “aborrecimento” não existia nos lábios de ninguém. De resto, era-se incitado a ler livros ou revistas relacionadas, ou não, com os estudos. A aprendizagem não se cingia apenas à sala de aula. Desta maneira, ocasionalmente havia um passeio de estudo, ouvia-se conferencistas a discorrer sobre variados temas. Havia Academias Literárias em que se apresentavam trabalhos sobre uma obra, um autor, ou uma corrente literária ou filosófica. Ainda conheci as Sabatinas (do Latim, Sabbatum, “sábado” porque tomavam lugar num sábado), nas quais se apresentava uma tese e, de acordo com um protocolo, se debatiam os argumentos a favor e contra. Lembro-me de se visitar os Laticínios, o liceu da Base Aérea – tudo sempre no intuito de aprender algo de novo. A festa de maior projeção do Seminário, para o público, era a Festa de São Tomás de Aquino, à volta de 7 de março. Havia um Sarau Músico-Literário, em que um seminarista, orador principal, apresentava um trabalho da sua investigação, praticamente sobre qualquer tópico - filosófico, teológico, histórico, ou sociológico. Havia música instrumental e coral com o Orfeão do Seminário executando composições de renome sob a direção dos Doutores Antonino Tavares e Edmundo Machado de Oliveira, em datas diferentes. Individualidades, de alta distinção na sociedade angrense, marcavam com agrado pessoal, a sua presença, nesse dia. O prelado diocesano, D. Manuel Afonso de Carvalho, cujas visitas ao Seminário eram raras e de aparente inconsequência, presidia à cerimónia, ladeado pelos reitores do Liceu e da Escola Industrial, por muitos anos, respetivamente os senhores Dr. Eliseu Pato François e Dr. Victor Magalhães. Através da organização de São Vicente de Paulo, visitavam-se pobres e prisioneiros. Os Escuteiros também exerciam um papel de grande atividade naquela altura. O sucesso da vida académica do Seminário, na época a que me refiro, deve-se essencialmente a dois fatores: primeiro, à visão global das coisas, do mundo, e das situações, por parte dos membros do corpo docente. O seu inconformismo com o status quo e a sua determinação e urgência em produzir mudança. As coisas não eram para se fazer. Faziam-se hic et nunc. Segundo, a motivação, disciplina e ambiente de estudo criados à volta do estudante seminarista. Em dezembro de 2008, Onésimo de Almeida, em discurso de homenagem ao Monsenhor José Machado Lourenço, referiu-se ao corpo docente do Seminário dos anos 60, como “magnífico”. Na realidade, muitos OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 177 In Illo Tempore BENEDICAMUS DOMINUM NO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE 50 A 60 indicadores sugerem que havia um sistema de educação ideal, onde informação se transformava em conhecimento e conhecimento em sabedoria. O LATIM Desde a manhã do primeiro dia, em que o menino foi despertado, em Latim, com as palmas estridentes e a voz rouca do padre prefeito, com o Benedicamus Dominum, até ao dia da saída do Seminário, o Latim foi parte integrante da sua vida diária. Estudou-se a língua nas suas estruturas linguísticas. Traduziram-se autores clássicos e, ano após ano, muitos dos compêndios de texto, em várias disciplinas, eram escritos em Latim. Ainda disponho de alguns destes livros para autenticar esse ponto: *Os compêndios de Filosofia: Cursus Philosophiae, Carolus Boyesr, S.I., Volumen Primum e Volumen Alterum. *Compêndios de Teologia: Sacrae Theologiae Summa, Vol. I. Introductio in Theologiam. De Vera religione. De Ecclesia Christi. Alunos do Curso de Filosofia, no ano de 1959. Ao centro, vê-se o Sr. Vigário Geral, Monsenhor José Pereira de Silva. À direita o professor de Filosofia, Dr. Caetano Tomás e, à esquerda, o reitor do Seminário, Cónego Jeremias da Rocha Simões. [177] No escopo deste trabalho, não me cabe especificar as várias maneiras como muitos dos professores desta época se distinguiram quer no setor académico, religioso, literário, media ou social. Tal tarefa poderia ser objeto de outro artigo. Contudo, gostaria de deixar uma lista daqueles que conheci no Seminário nos anos 1954-1963. Como não fui aluno de todos, corro o risco de omitir alguns nomes. Todos eles eram sacerdotes. Em ordem alfabética: Jacinto da Costa Almeida, José Maria de Almeida, José Batista, Augusto Cabral, José Enes Pereira Cardoso, Francisco do Carmo, David Botelho do Couto, Artur Pacheco Custódio, Valentim Borges de Freitas, Artur Goulart, José Mendonça de Lima, José de Oliveira Lopes, José Machado Lourenço, Horácio da Silveira Noronha, José Nunes, Artur Cunha de Oliveira, Edmundo Machado de Oliveira, José Augusto Pereira, Manuel Medeiros Pereira, Caetano Valadão Serpa, António Pereira da Silva, José Pereira da Silva, Jaime Luís da Silveira, Jeremias da Rocha Simões, Manuel Coelho de Sousa, Francisco Caetano Tomás, Agostinho do Couto Tavares, Antonino do Couto Tavares, Francisco Vitorino de Vasconcelos e Américo Caetano Vieira. De Sacra Scriptura e Vol. II. De Deo uno et trino. De Deo creante et elevante, P. Iosepho M. Dalmau, S. I. e P. Iosepho F. Sagüés, S. I.. *O Compendio de Teologia Moral: Manuale Theologiae Moralis, Secundum Principia S. Thomae Aquinatis, Dominicus M. Prümer O. P., Tomus I.. *A Gramática de Grego Bíblico: Graecitas Bíblica, Maximiliano Zerwick S. J., Editio Quarta Aucta et Emendata. *A Gramática para o estudo do Hebraico: Elementa Grammaticae Hebraicae, Italu Pizzi. *Compendio de Direito Canónico: Compendium Iuris Publici Ecclesiastici, Laurentius R. Sotillo, F. Regatillo, S. I.. Esses são alguns dos títulos a que de momento tenho acesso. Num aparte, gostaria de acrescentar que tudo isto poderá realmente ser latim e grego para alguns leitores no estado presente de coisas, mas a verdade é que o Latim, língua morta, continua vivo em várias instituições seculares de ensino, por este mundo fora, quer ao nível secundário, quer ao nível universitário. Eu próprio lecionei-o no liceu de Stoughton, em Massachusetts, por vários anos e, de momento, ensino-o ao nível superior, no Stonehill College, universidade situada em Easton, também no OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 178 Voltando ao Latim no Seminário, é fácil de concluir que com tanto compêndio em Latim, não só em linguística como em Filosofia, Teologia, Moral e Direito, a língua tornava-se, se não uma segunda natureza, pelo menos um recurso de aprendizagem absolutamente sine qua non. Jovens seminaristas, a seguir ao almoço, jogam ao futebol no campo dos miúdos, voltado para a Rua do Rego. Ano de 1955. Os estudantes, que frequentaram o Seminário, incorporavam o Latim na sua linguagem e escrita diárias, como meio natural e espontâneo de expressão, desde que a língua latina, para quem se habitua a ela, tem um poder de expressividade único e insubstituível. Algumas expressões comuns serão estas: a priori, a posteriori, ab initio, ab ovo, bona fide, culpa lata, mea culpa, de facto, de iure, ex libris, in loco parentis, inter alia, ipso facto, iusta causa, mala fide, modus operandi, per annum, per capita, per se, persona non grata, pro forma. Como é bem sabido, muitas dessas expressões ainda são usadas em Jurisprudência. [178] O pregador, no púlpito, séculos depois do Padre António Vieira, concretamente, nos anos 50 e 60, começava o sermão com uma citação em Latim, ao ponto de pessoas que nunca haviam estudado essa língua, com mais ou menos precisão, reconheciam algumas destas frases. Por exemplo: Ego sum pastor bónus. Ego sum lux mundi. Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam. In principio erat Verbum et Verbum erat apud Deum et Deus erat Verbum. In principio creavit Deus caelum et terram. Dixit Deus, “Fiat Lux,”et facta est lux. Et creavit Deus hominem ad imaginem Suam.” Tu es Christus, Filius Dei vivi. Seminaristas, a seguir ao almoço, jogam ao futebol no campo adjacente à Rua do Rego. Ano de 1955. estado de Massachusetts. Já tive o prazer de assistir ao concerto anual de Natal dado pela Faculdade de Línguas Clássicas da Brown University, na cidade de Providence, RI. Tudo se passou em Latim e Grego: as apresentações, os agradecimentos, leituras bíblicas referentes ao nascimento de Cristo e as canções próprias da época, incluindo a dos Doze Dias de Natal. Ainda nos dias de hoje, os que estudaram Latim preferem fazer algumas citações nessa língua: Homo homini lúpus. Bonum faciendum est malumque evitandum. Cogito, ergo sum. Sum, ergo cogito. Ars longa, vita brevis. In vino laetitia est. In vino veritas. Dura lex, sed lex. Pares cum paribus facillime congregantur. Carpe diem. Alea jacta est. Havia um axioma que era frequentemente usado para explicar, o que talvez fosse inexplicável, quer em Filosofia quer em Teologia: “Entia non sunt multiplicanda sine necessitate”. - Os que uma vez aprenderam a orar em Latim, preferem-no fazer assim, se não por uma vida inteira, ao menos, por algum tempo. OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 179 In Illo Tempore BENEDICAMUS DOMINUM NO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE 50 A 60 [179] Jovens seminaristas, na hora de almoço, jogam ao futebol no campo dos miúdos, voltado para a Rua do Rego. Ano de 1955. OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 180 No Seminário, também se procurava a natureza e sítios fora da azáfama das multidões. Ia-se para o Porto Pipas, o Cais da Figueirinha, o Relvão, o Monte Brasil, Silveira, Pico da Urze, São Carlos, São Mateus, Terra Chã, Memória, etc.. Com uma certa subtileza, convinha-se a mensagem de que o centro da cidade e o jardim serviriam mais como pontos de passagem e não como um destino. Equipa de futebol na cratera do Monte Brasil. 15/05/1959. [180] A cultura greco-romana e respetivas línguas eram parte essencial da formação e estruturação da mente do jovem seminarista de tempos passados, incluindo a década dos 50 aos 60, no Seminário de Angra. OS PASSEIOS, ENTRETENIMENTO, DESPORTOS E GINÁSTICA Muito do que se conhece da vida de Jesus sobre a Terra passou-se em contato com a natureza. Foi batizado nas margens do Rio Jordão. No Monte das Bem-Aventuranças, proferiu o famoso sermão da montanha, amplamente conhecido pela sua espiritualidade. Jejuou no deserto. Transfigurou-se no Monte Tabor. Sofreu a sua paixão no Monte das Oliveiras. Morreu no Monte Calvário. Acalmou o mar e caminhou sobre as suas águas. Já na filosofia oriental, a natureza surge como um karma tranquilizante. Muitos hão subido os montes Himalaias em busca de sossego e paz de espírito. Na era moderna, vai-se à SPA (do Latim, Sanus Per Aquam) para suavizar o espírito. Lugares movimentados, como aeroportos, hoje em dia, proveem um quarto para meditação (the meditation room). O homem – mesmo o homem de negócio – tem que se encontrar consigo mesmo, no silêncio de algum lugar, para se concentrar e produzir. Nos primeiros anos, ocasionalmente, passava-se um dia na cratera do Monte Brasil, jogando futebol e outros desportos ou jogos. Uma vez no ano, dava-se um passeio de camioneta à volta da ilha. Poder-se-ia entrar na Base, no campo do golfo, ou passar algum tempo na mata da Serreta. A visita a uma igreja era coisa bastante ortodoxa. Raramente acontecia que o pároco duma freguesia distribuísse uns figos passados com uma aguardente ou vinho do Porto, mas quando isto acontecia era mesmo um figo. Aqui, recordo-me do Sr. Pe. Inocêncio, da freguesia dos Altares. Procurava-se assitir a qualquer atividade considerada cultural. Às vezes, via-se um filme de ficção científica ou de caráter humorístico. Filmes como Os Dez Mandamentos, a Vida de Cristo e o Cardeal eram legais. Uma sessão de Ilusionismo era sempre bem-vinda, quando aparecia. De resto, durante as férias do Natal e da Páscoa, o levantar meia hora mais tarde, passear mais e ter menos horas de estudo ao som de música clássica vinda de um gira-discos colocado sobre a secretária do padre prefeito, era um privilégio. Ainda pelo Natal e pela Páscoa, permitia-se a compra de uns chocolates, figos passados, passas, ou amêndoas, e isso já constituía um paliativo agradável. Essas guloseimas eram compradas pelo padre prefeito que administrava o dinheiro de cada seminarista, já que este não podia ter dinheiro em sua posse, fosse qual fosse a sua idade. Um momento de grande alegria, para todos, era a Consoada. Havia três refeitórios – um para os superiores, outro para os teólogos e outro conjuntamente para os Médios e Miúdos. Na Noite da Consoada, comiam todos juntos no mesmo refeitório. O ambiente era familiar e festivo e a ementa satisfazia qualquer OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 181 In Illo Tempore BENEDICAMUS DOMINUM NO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE 50 A 60 Num passeio à volta da Ilha – 1957. Passeio de estudo ao Monte Brasil orientado pelo Te. Coronel José Agostinho. Almoço nas imediações da Praia da Vitória, num passeio à volta da Ilha, em 1958. [181] Seminaristas numa peça de teatro finais dos anos 50. OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 182 paladar. Por um lado, estava-se em casa, mas por outro lado, o lar pairava na mente de muitos. Certamente não haveria brinquedo de Natal para o menino... No setor de desportos, havia uma hora e meia diária para esta prática, a seguir ao almoço. Havia três campos, respetivamente para os Miúdos, Médios e Teólogos. O futebol, o voleibol e o basquetebol eram as modalidades básicas. O futebol era sempre o desporto rei. O Seminário tinha uma equipa excelente de voleibol e chegou a competir, em campeonato, com o liceu, no Law Tennis Club. Eram jogos renhidos que entusiasmavam ambas as instituições e demais assistência. O uniforme da equipa do Seminário consistia de calça preta e camisa branca. [182] Assistir a um desafio de futebol no campo de jogos era um acontecimento especial. Geralmente, via-se as duas equipas principais: Lusitânia-Angrense. Também se via jogos com equipas do continente ou de São Miguel. Houve uma altura, em que se ia ver hóquei em patins. Quanto à educação física, passou-se por várias fases. A princípio, não existia. Depois, em alturas diferentes, os professores do Liceu e da Escola Industrial, respetivamente Nuno Pais e Jorge Tavares da Silva, passaram a dar aulas duas vezes por semana. Mais tarde, a aula de ginástica era conduzida por um dos prefeitos com mais preparação física. DENTRO DO MURO Estava-se no mundo, mas não se era do mundo. Falava-se numa linguagem correta e própria. Não havia palavrões. Os colegas eram rapazes e os professores eram homens – a presença feminina era inexistente. Por ordem da campainha (a cabra), cumpria-se um horário meticulosamente calculado em todas as suas partes. Celibatários para a vida, por exigência das tarefas da Vinha, teriam que estar devidamente sincronizados com o seu Mestre. Assim: Orações da manhã. Orações da noite. Missa e comunhão diárias. Confissão semanal. Retiro e direção espiritual mensais. A divindade incarnada, mas invisível, rodeada de Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins. Indumentária, em que cada peça tinha um significado simbólico: amito, alva, cíngulo, manipulo, estola, casula, barrete e dalmática. A um nível de maior participação no sacerdócio (penso que esta é a terminologia apropriada): solidéu, mitra e báculo. Utensílios e acessórios específicos: manutérgio, corporal, galhetas, cálice, píxide, custódia, naveta, turíbulo, incenso, velas e pateta. Tudo isso servia um culto que tinha vários graus de ordem: prima tonsura, ostiariato, leitorado, exorcistado, acolitado, subdiaconado, diaconado e presbiterado, por sua vez sujeito a uma hierarquia – presbítero, bispo, cardeal e papa. A vida de piedade aprendida e vivida no Seminário seria a arma de defesa para o presbítero, quando só, sem estrutura alguma, nem o toque da campainha, se encontrasse no povoado do seu múnus apostólico. Uma outra arma levava ele consigo – a leitura do breviário que o podia acompanhar em cada hora do dia. O breviário tinha 8 momentos de oração durante o dia, mas com as reformas do Concílio Vaticano II, passou a designar-se Liturgia das Horas e os momentos de oração foram reduzidos a cinco: Ofício de Leitura, Laudes, Hora Intermédia, Vésperas e Completas. Portanto, cinco horas durante o dia, em que o presbítero se pode alimentar de orações e leituras que o mantenham em união com a divindade e o coloquem na situação de Cristo, em união com a sua Esposa – a Igreja. Assistia-se a uma liturgia primorosamente elaborada e com rico conteúdo espiritual. A música era sublime e bem executada. Fora da capela, ouviam-se os clássicos: Haendel, Bach, Haydn, Mozart, Beethoven, Schubert, Chopin, Schumann, Berlioz, Mendelssohn, Brahms, Liszt, Strauss, Wagner, Rossini e muitos outros. Compuseram-se peças que continuam a fazer parte do álbum musical sentimental de quem pisou o chão do Seminário. O canto gregoriano ainda ressoa com um timbre que nem toda a gente descodifica. A Missa de Requiem, de Mozart, por uma vida inteira, satisfará a sensibilidade musical desenvolvida nos anos de Seminário. Alguma música popular açoriana também se catalogou no reportório musical do seminarista de então. Estudantes músicos escreveram composições não só de música sacra como também de música folclórica. Um dos cânticos que se cantava, por altura da comunhão, continha uns versos que traduzem a amizade fraterna que se sedi- OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 183 In Illo Tempore BENEDICAMUS DOMINUM NO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE 50 A 60 Nesse mesmo contexto, recentemente, o escritor, poeta e livreiro da livraria Culsete, em Setúbal, Manuel Medeiros Pereira, sob o pseudónimo de Resendes Ventura, em Papel A Mais, livro publicado em 2009, escreveu o seguinte: “... estive em Angra do Heroísmo. Não vir referi-lo aqui? Um momento tão bom? E a alegria que de lá trouxe para os meus dias de Culsete? Portanto, está tudo certo. Fui comemorar com os colegas o fim do nosso curso. 1958-2008, cinquenta anos. Crianças no primeiro ano em 1946 e agora eu, tão velho, a ser ali o mais novo... Dispersos pelo mundo, alguns não os via há cinquenta anos. A alegria de sentir que os colegas eram pessoas tão boas e tão válidas, todos com obra feita e mesmo excecional... Acima de tudo, o banho de fraternidade. Compreende-se. Fizemo-nos juntos de crianças a homens e num ambiente de grande qualidade.” (p. 225). Em face do que acabamos de dizer, o seminarista no Seminário, viveu uma vida que, em si mesma, independentemente do Sacramento da Ordem, imprimiu caráter – um caráter sui generis. Na situação de “ex”, seja ex-seminarista ou ex-padre, reconhece-se essa postura. eclesiástica e passou a ser de sabor mais secular. A vida não é regulamentada pelo toque da sineta. O sustento pessoal cabe ao ex-seminarista – já tem idade de o prover, mas conseguir emprego não é fácil. De passagem por Lisboa, um antigo aluno do Seminário, então estudante de uma das faculdades, informou-me da enorme dificuldade financeira porque estava passando e das necessidades que enfrentava. Outro dilema a considerar era o da guerra em três fronteiras. De um momento para o outro, desfizeram-se as estruturas e o seminarista do dia anterior, no dia seguinte na situação de “ex”, passa a ser o único orientador do seu destino. Os pontos de referência são outros. Antes, segundo as instruções recebidas, se um dia alguém precisasse de alguma coisa devia dirigir-se ao pároco da freguesia. Agora, ou dirigimo-nos a um estranho ou entramos num café. Os cafés são uma nova experiência. No entretanto, o mundo revela-se bom. Fazem-se boas amizades. Encontra-se gente boa, de princípios e bem formada. Que sorte! Mas também se encontram outros filósofos de teorias tão complexas como perplexas. Uma vez, com a minha entrada no mundo, um homem casado, pai de vários filhos, meu vizinho, começou a falar comigo e acabou por me dizer: “O senhor tem que saber o que é a vida. Vocês não sabem o que é a vida. Gostava que fosse dar uma volta comigo, depois do jantar, num dia destes”. Seguro, eu, da nulidade da alquimia desse cavalheiro, anuí ao convite. Chegado o dia, lá me levou para a Rua dos Quatro Cantos, por onde havia passado centenas de vezes, em rumo ao Relvão ou Monte Brasil. Sem me dizer nada, de olhos meios fechados, pôs-se o homem a olhar para o fim da rua, por cerca de uns dez minutos. Não se viu nada. Nada. Nenhuma atividade. No rosto do homem transparecia a desilusão da pretendida lição. FORA DE MUROS Já se está no mundo, mas não se é do mundo ainda. As estruturas de vida espiritual são necessariamente outras. O diretor espiritual que ocasionalmente dizia que a porta se abria em dois sentidos, despedia-se do seu aconselhando, desejando-lhe muitas felicidades. Aí ficara cortado o cordão umbilical da filiação espiritual. De resto, já não se está para ser padre. Contata-se com gente de ambos os sexos. A linguagem deixou de ser Lição número 2. Um dia, à noite, ia a subir uma rua na cidade e lá estava um indivíduo que eu conhecia do funcionalismo público. Dei-lhe a boa noite e, para ter alguma coisa que dizer, perguntei-lhe: que fazes por aqui? Respondeu-me: “Estou aqui a ver se dou umas palmadas nas nádegas de uma gaja”. Como não tinha suficiente background para digerir a resposta, comecei a matutar no conteúdo da mesma. [183] mentou entre os colegas durante os anos de Seminário: “Quanta paz e quanto bem, quanta alegria nos vem de vivermos como irmãos”. Antes do Natal de 2008, o curso do Seminário de 1958, reuniu-se em Ponta Delgada, São Miguel, para celebrar 50 anos de entrada para o Seminário. O jornalista José Gabriel Ávila escreveu no seu blogue: “De há cinquenta anos para cá, perdura, entre muitos de nós, uma amizade profunda, como se da mesma família fôssemos, cimentada nas lágrimas que, ao fim e ao cabo, todos choramos, e nos valores humano-cristãos que fomos aprofundando e experienciando”. OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 184 Lição número 3. Estando eu em vias de entrar para o serviço militar, travei conhecimento com um capitão que tinha acabado o curso de oficiais milicianos, em Mafra. Depois da devida informação acerca do que se passava em Mafra, começou a falar-me da vida em Lisboa. Não falou de nada cultural. Contou-me então a aventura de se ter encontrado “com uma gaja que tinha os seios tão firmes, que quando estavam sentados em lados opostos da cama, e ela soltou o último colchete do soutien, este respingou-lhe para a cara com grande impacto”. Fiquei eu a olhar para o capitãozinho, oriundo das Ilhas de Baixo, bem certo da minha ignorância em anatomia feminina. Lição número 4. Um amigo meu, ex-padre, estava a paroquiar numa paróquia, numa das ilhas dos Açores. Num dia de verão, sol forte e as portadas das janelas fechadas, uma paroquiana, conhecedora do passal, entra pela porta da cozinha, arrasta o padre para o quarto de cama e despe-se. O reverendo desmaia ao enfrentar um cenário desconhecido. [184] E assim era. Num dia, despiam-se e vestiam-se as calças debaixo dos lençóis. No dia seguinte, desaparecia todo o pudor e aparecia-se completamente nu, diante de uma junta militar, constituída pelo médico, comandante de batalhão e capelão militar. Aprovado para todo o serviço! Dias depois, na Escola de Cadetes de Mafra, que havia sido um convento onde monges certamente caminhavam em hábitos compridos, uma vez mais, se deixava cair toda a roupa, para mais um exame médico. Tudo bem. A marcha de vida, no Exército, também era bastante diferente. Havia uma bíblia nova – o Regulamento de Disciplina Militar (RDM). A hierarquia, num escalão ascensional de postos, era diferente também. Os compêndios de Filosofia e Teologia haviam sido substituídos por títulos como estes: Manual do Oficial Miliciano (1º. vol., 2º. vol.), Manual de Educação Cívica e Militar para uso nos Cursos de Oficiais e Sargentos Milicianos, Espingarda Mauser, Espingarda Automática, a G-3, Pistola Metralhadora, Pistola Walther, Metralhadora Ligeira, Granada de Mão e “Energa”, Granada de Mão Ofensiva, Granada de Mão Defensiva, Lança Granadas-Foguete, Instrução Elementar de Serventes de Canhão, Instruções para o emprego do Emissor-Receptor AN/GRC-9, Reacção a Emboscadas, Exploração das Transmissões, Instrução Individual do Combatente pela Imagem, Secção e Pelotão de Caçadores, Generalidades/Cartas/Planimetria/Altimetria/Declives, Fotografia Aérea, Instrução de Contra Guerrilha, Análise de Crateras/Morteiros, Tiro de Pontaria Instintiva, etc.. As palmas do despertar pela manhã, com a simples prece “Benedicamus Dominum”, agora eram substituídas pelo som da trombeta, se bem que uma hora mais tarde. A linguagem, de vez em quando, era diferente: “porra, filho da puta, sacana de merda, seu caralho”. Na parada do Antigo Convento de Mafra, o alferes dava as suas ordens de comando para um passo de marcha mais vivo e acelerado: abram a vagina! Quero deixar aqui registado que de maneira nenhuma menosprezo a minha experiência no Exército Português, onde como alferes miliciano de Infantaria, fiz serviço militar na antiga Guiné portuguesa, por um período de 21 meses. Aí, encontrei colegas bastante cultos, naturalmente bons, com quem ainda hoje me correspondo e recordo com saudade. Fora de muros, havia novidades, algumas delas tão simples como: ir ao cinema com uma rapariga, ver-lhe o fundo da mala de mão e vê-la puxar pelo batom e retocar os lábios ou pegar na maquilhagem para arranjar os olhos. Será possível, algum dia, que o homem novo se dispa do homem velho? A resposta poder-se-á encontrar em “Aventuras De Um Nabogador”, de Onésimo Teotónio Almeida, antigo aluno do Seminário de Angra nos anos 50 e 60, professor universitário nos Estados Unidos e autor de uma vastíssima obra literária. Nos fins da década de oitenta, o escritor descobre a ficção de David Lodge – o romance académico. Então, Onésimo confessa as suas tentações por este género de literatura: “Antes de conhecer o ramo, tive eu próprio tentações de incluir alguns contos baseados em experiências pessoais...Narrar essas histórias na primeira pessoa parecia-me, no mínimo, eticamente dúbio, e por variadíssimas razões...seria preciso incluir a linguagem crua a que ainda não me habituei, por mais banal que se tenha tornado a ficção contemporânea”. Referindo-se a uso de fucks e quejandos, sem complexos, na literatura de David Lodge, OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 185 In Illo Tempore BENEDICAMUS DOMINUM NO SEMINÁRIO DE ANGRA NA DÉCADA DE 50 A 60 O firmamento era o mesmo, mas a paisagem havia mudado. Na rádio, ouviam-se outras estações de música. Entrava-se numa sala de baile ... com o passo trocado ... De qualquer modo, “Deus, vendo toda a Sua obra, considerou-a boa. Assim, surgiu a tarde e, em seguida a manhã: foi o sexto dia.” (Gen.I,31). Continua: “O Senhor Deus disse: «Não é conveniente que o homem esteja só: vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele»” (Gen. II, 18). “E aparece a mulher: «Da costela que retirara do homem, o Senhor Deus fez a mulher e conduziu-a até ao homem». (Gen. II, 22). Terá sido nesse mesmo espírito que a mente celibatária do passado procurou a sua complementaridade. O HOMEM E O PROFISSIONAL O ex-seminarista/ex-padre havia alcançado um plateau de consistência ideológica dificilmente neutralizável por simples trivialidades. Se bem que o período posterior à saída do Seminário fosse um tempo de adaptação, descoberta e alguma luta, descortinava-se, simultaneamente, um mundo de possibilidades. A luz de um ideal superior continuava a cintilar. Deus continuava a ser Pai e a natureza seguia os seus melhores instintos. Parece que havia um contingente de pessoas prontas a assistir-nos e a desejar-nos bem. Já que se tinha mudado de rumo na vida, agora o objetivo principal era o conseguir uma carreira dignificante e de acordo com o muito que se havia aprendido. Era gratificante sentir-se que culturalmente se estava ambientado por onde quer que se caminhasse. Por outro lado, criança que havia saído de casa em tão tenra idade parece ter adquirido um grande poder de adaptação e resistência. É assim que, hoje, vemos o ex-seminarista e o ex-padre do Seminário de Angra espalhados por todas as partes do globo, nas mais variadas profissões. ensino superior em que se matriculasse. Hoje, nos Açores, Portugal Continental, Europa, África, América do Norte e do Sul encontra-se uma miríade de profissionais formados em universidades nacionais e estrangeiras que foram antigos alunos do Seminário de Angra do Heroísmo. A maioria destes profissionais dedicou-se e dedica-se ao ensino aos três níveis: elementar, secundário e universitário. Esta incidência profissional parece conjugar-se com a preparação académica de todo o aspirante ao sacerdócio. O professor Francisco Cota Fagundes, da Universidade de Massachusetts, em Amherst, numa conferência realizada na Brown University, na primavera de 2008, afirmou que uma área que ainda não está devidamente estudada é a do impacto dos ex-seminaristas de língua portuguesa no âmbito cultural americano – (parafraseando). Não obstante o ensino ser a profissão que atraiu um maior número de antigos alunos do Seminário, há um grupo de profissionais que seguiu diferentes carreiras: política, advocacia, enfermagem, assistência social, comunicação social (rádio, televisão e imprensa), administração escolar, pública e empresarial. Muitos deram um grande contributo às respetivas áreas profissionais. Há os que são líderes comunitários de impacto substancial. Há os escritores a diferentes níveis – literário, filosófico e teológico. Há ainda os que se distinguem no campo da música. Já muitos daqueles que desistiram do sacerdócio deixaram atrás de si uma obra que, ainda hoje, quarenta ou cinquenta anos mais tarde, merece palavras de carinho e apreço por parte dos seus antigos paroquianos ou alunos. Poder-se-á dizer que se a realização pessoal equaciona a realização profissional, está-se em face de um grupo de indivíduos realmente feliz. O que foi o Seminário de Angra em décadas anteriores, o rumo que seguiram muitos dos que lá estiveram, as diferentes partes do mundo que trilharam e a obra deixada por onde passaram é trabalho que ainda está por registar. APÊNDICE O problema da equivalência de estudos dependia não só do número de anos de Seminário que o aluno tivesse, mas também do país em que continuasse estudos e ainda da instituição de Mutatis mutandis, ao terminar este artigo, faço minhas as palavras do Cónego J. A. Pereira, no seu livro “O Seminário de Angra – Esboço Histórico”, 1958, pp. 42-44: “A fechar este esboço [185] Onésimo escreve: “Mas eu não me atreveria nunca a contar as cenas de uma aluna que usou o termo comigo em convite imperativo a sangue quente – ainda o politicamente correcto não existia e os anos sessenta se prolongavam nos finais da década seguinte”. OS_ Nuno Vieira_02z_nt_Layout 1 11/27/12 7:14 PM Page 186 histórico, julgamos não haver melhor documento do que o hino do Seminário, festivamente cantado por tantas gerações, e que é da autoria do então seminarista António Francisco de Melo, natural da freguesia de S. Pedro do Nordestino, na ilha de S. Miguel, o qual, depois de paroquiar, por poucos anos, na sua Ilha, foi para o Brasil, onde faleceu há cerca de 20 anos, no seu campo de apostolado. Há la fora paixões e ignorância que, nas almas as trevas produz; dás levitas esp’rados com ânsia que desparzem, nas trevas, a luz. Vai a nuvem mui ténue e ligeira engrossar-se no pêgo sem fim, “A Música deste Hino é do secular, muito distinto músico, Pedro M. de Alcântara”. para vir fecundar a clareira: como a nuvem, são eles assim. Seja o filho plebeu, seja o nobre, do festim ou da dor todos vem; HINO DO SEMINÁRIO mas depois, já nem rico nem pobre distingui-los não sabe ninguém. [186] Se há grandeza, no mundo, é aquela É assim que teu código ensina que surgiu sob o influxo dos céus; que mais alta riqueza não há é por isso que és grande e que és bela, que a ciência que a mente ilumina Casa santa, mimosa de Deus. e a virtude que a glória nos dá. Exultai nobres filhos da ciência, Não importa que o ímpio descante que da Fé recebeis o vigor! da vitoria seu hino infernal; Consagrai toda a vossa existência que tu mandas marchar para avante aos combates da Cruz do Senhor! cada ano uma leva marcial. Como um astro que ri de bonança Abençoada, mil vezes bendita através do horizonte, sem luz, seja a mão que do nada te ergueu! assim, tu és a doce esperança Abençoado quem hoje te excita dos que vivem à sombra da Cruz. os auxílios da terra e do Céu! Arrancados aos braços convulsos Aos murmúrios da brisa ou da onda Tenros filhos demandam teu lar; destas plagas que envolve o Açor, aqui tomam vigor em seus pulsos se misture o teu nome e responda com que irão para o mundo lutar. cada qual com mil preitos d’amor. OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 187 Nuno Nabais A FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA EM LISBOA. CONTORNOS *Este artigo respeita a grafia anterior ao Acordo Ortográfico. Ninguém sabe muito bem o que a Fábrica é. E isso tem sempre jogado a favor do que lá acontece. Logo no plano dos seus contornos físicos. A Fábrica de Braço de Prata é um edifício meio abandonado, vestígio do lugar da administração da antiga fábrica de material de guerra, com 12 salas mutantes, que tanto são salas de concerto, como galerias de arte, gabinetes de curiosidades, estúdio de cinema, atelier de artes plásticas, oficina de ourivesaria, loja de roupas usadas e de outras coisas a usar, salas de jantar, bar, ou simplesmente livrarias. Mas também é um imenso muro exterior, que desenha por fora um terreiro, e onde várias camadas de graffiti se têm vindo a depositar como películas de memória. Também foi uma tenda de circo durante dois anos, onde houve concertos, feiras, performances e acrobacia aérea. E também é uma esplanada enorme, lugar para espectáculos de teatro e circo, concertos de verão, e jogos de bola para crianças em domingos à tarde. Durante 3 anos a Fábrica cedeu três salas da cave à artista Teresa Carneiro, que ali criou uma galeria exclusivamente dedicada ao desenho. Todos os meses eram ali apresentados trabalhos novos, alguns deles construídos no lugar em regime de residências artísticas. Os artistas não foram apenas locais. Graças a um protocolo com os serviços culturais ingleses, perto de 30% das expo- [187] APRESENTAÇÃO DE UM CASO DE SOBREVIVÊNCIA DE UM LUGAR DE ARTE E PENSAMENTO QUE NUNCA RECEBEU UM ÚNICO CÊNTIMO DE SUBSÍDIOS* OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 188 sições dos Espaços de Desenho tiveram uma tonalidade menos meridional. Os Espaços de Desenho organizaram também workshops, conferências, projecções de documentários, pequenos debates sobre a arte das linhas e das sombras. Dois outros lugares são dedicados à construção de objectos novos. O atelier da artista plástica Joana Villaverde e a oficina do escultor Miguel Figueiredo. São artistas residentes quase desde a fundação da Fábrica. Regularmente apresentam os seus trabalhos nas exposições que a Fábrica organiza. [188] O desenho institucional da Fábrica é ainda mais disforme do que a sua configuração física. A Fábrica foi criada através de um acordo verbal de comodato entre uma empresa privada – a Eterno Retorno, Sociedade Unipessoal Limitada, que tinha criado e gerido a Livraria Eterno Retorno, habitante do Bairro Alto entre 2001 e 2005 – e a Obriverca, empresa imobiliária que se tinha tornado proprietária de toda a antiga fábrica de material de guerra para aí construir um condomínio de luxo. O acordo estabelecia que a Eterno Retorno poderia ocupar o edifício da antiga administração e o terreno circundante, enquanto a Câmara Municipal não desembargasse a construção do condomínio Jardins do Braço de Prata, a ser edificado no outro lado da avenida, com projecto do Arquitecto Renzo Piano. Quando a construção desse condomínio pudesse ser retomada, a Obriverca iria utilizar o edifício que cedia à Eterno Retorno como stand de venda dos apartamentos e como escritório de obra. No final da obra, o edifício e o terreno passariam para propriedade da Câmara, como contrapartida pelo investimento municipal em infraestruturas para o condomínio. Desde o início que a Fábrica estava a prazo e sustentada em um acordo verbal de ocupação permitida. Nada de mais vulnerável. Mas, não é essa a condição de quase todas as comunidades dedicadas à invenção de objectos improváveis? A FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA COMO LABORATÓRIO DE OUTRAS “FÁBRICAS” A Fábrica teve em Lisboa um papel inaugural no movimento de reciclagem de edifícios esquecidos. E esse papel não se expri- miu apenas na condição de exemplo feliz, de modelo a reproduzir. É que foi uma parte da comunidade que inventou a Fábrica que esteve ligada à criação de algo semelhante, mas a uma escala muito maior. Uma semana antes de a Eterno Retorno se instalar no edifício, a Livraria Ler Devagar pediu para ocupar 3 das salas. Fez-se também um acordo com esta Livraria, até porque havia uma memória comum. De facto, quando a Eterno Retorno se instalou no Bairro Alto, ficou vizinha da Ler Devagar na Rua S. Boaventura. Criou-se o hábito, durante os 4 anos de proximidade, de organizar coisas em comum, como conferências, ciclos de leituras encenadas, concertos, e as famosas Festas de S. Boaventura, no mês de Junho, com performances e churrascos na rua. Quando a Ler Devagar teve que abandonar as suas instalações, por o edifício onde estava instalada dever ser demolido, propôs à Eterno Retorno associar-se a ela para criarem uma livraria conjunta em um espaço comum. Esse espaço acabou por se revelar inviável e aceitaram provisoriamente transferirse para dois pequenos espaços, também no Bairro Alto, entre 2006 e 2007. Foi por a Eterno Retorno se sentir muito desonfortável nesses dois espaços que decidiu romper o acordo com a Ler Devagar e transferir-se para a Fábrica de Braço de Prata. Para grande surpresa nossa, a Ler Devagar acabou por também querer encerrar as outras duas pequenas livrarias provisórias, e por pedir para ocupar 3 salas da Fábrica. Assim, no dia de inauguração, a 14 de Junho de 2007, a nova realidade foi apresentada, não ainda como Fábrica de Braço de Prata, mas como Eterno Retorno+Ler Devagar. E, em grande medida, foi essa conjugação de duas livrarias, que tinham tido um grande impacto na vida do Bairro Alto, que funcionou como atracção para o público que começou a deslocar-se para aquela zona de Poço do Bispo. No entanto, como era demasiado complicada a designação daquela aventura apenas a partir das duas livrarias que aí estavam instaladas, acabámos por preferir apagar a referência à Eterno Retorno e à Ler Devagar, e assumirmos a história daquele lugar como a nossa própria identidade. Foi assim que, logo a partir de Setembro de 2007, nos passámos a apresentar como a Fábrica de Braço de Prata. Esta falsa ressurreição da antiga fábrica de armamento criou alguns equívocos, como o de um filho de um soldado ferido nas colónias por uma OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 189 A FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA EM LISBOA. avaria de uma pistola metralhadora da marca FBP (Fábrica de Braço de Prata) que nos visitou para apresentar um pedido de indemnização, ou de um cheque enviado pelo Ministério da Defesa da Austrália para acerto de contas de fornecimento de armas àquele país. Como consequência do sucesso da Fábrica de Braço de Prata, mas sobretudo pelo precedente que ela abriu no plano de uma recuperação temporária de edifícios desactivados que conseguiam sobreviver sem reunirem as condições mínimas exigidas pela Câmara para terem licenciamento de espaço público, os responsáveis da Livraria Ler Devagar foram convidados a reproduzir o “efeito Fábrica” naquilo que ficou conhecido como a LXFactory. Neste caso, foram os proprietários dos edifícios eles mesmos a decidirem tirar proveito daqueles espaços enquanto esperavam pelas licenças de demolição e construção. E, em lugar de aceitarem apenas contractos de comodato, aproveitaram o entusiasmo criado em torno da Fábrica de Braço de Prata para pedirem rendas bastante elevadas às várias dezenas de empresas, cooperativas ou criadores individuais que procuraram ali um abrigo. Inicialmente, a Ler Devagar pensou acumular as duas livrarias. Mas, em Abril de 2009 a Ler Devagar decidiu abandonar o projecto conjunto na Fábrica de Braço de Prata e transferir-se integralmente para a LXFactory, onde criou um monumental espaço dedicado aos livros, com exposições também e alguns concertos. Essa transferência marcou verdadeiramente o arranque desse novo território no limite ocidental de Lisboa. Como se a Fábrica de Braço de Prata aumentasse de escala, como se passasse do tamanho M ao tamanho LX. Como o próprio Dr. António Costa afirmou num debate recente organizado pela Ordem dos Arquitectos da Região Sul, a Fábrica de Braço de Prata foi a incubadora da LXFactory. A TERCEIRA CRIAÇÃO DA FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA A construção desse “clone” em tamanho LX na zona de Alcântara, em 2009, teve vários efeitos sobre a Fábrica original. Em primeiro lugar, permitiu à Eterno Retorno assumir integralmente a ocupação e gestão das salas da Livraria. Foi possível assim criar uma grande livraria de ciências humanas, em parceria com cinco grandes editoras: a Assírio & Alvim, a Cotovia, a Relógio d’Água, a Presença e a Almedina. Em segundo lugar, para marcar a singularidade da aventura de Braço de Prata, reforçaram-se os vínculos entre todas as dimensões da Fábrica. Para a diferenciar do universo da LXFactory, onde várias empresas autónomas ocupam diferentes lugares como num imenso centro comercial de artes e de empresas criativas, procurámos que cada actividade da Fábrica tivesse sempre ressonâncias em todas as outras. Isso foi experimentado na programação conjunta de concertos, debates em torno de livros, e exposições de artes plásticas, ou na criação de noites temáticas que envolvessem toda a Fábrica. E, para reforçar essa unidade geral – e também para tornar mais transparente a coincidência entre a realidade global da Fábrica e a empresa privada responsável pela sua gestão – criámos em 2010 uma nova entidade, a Braço de Ferro, Livros e Artes, Unipessoal Lda. É ela que gere todas as dimensões da Fábrica de Braço de Prata, desde a livraria, os concertos, as exposições, até ao bar. Mas falta referir uma outra “criação” da Fábrica. Aquela que aconteceu em 2008. LISBOA ADOPTA A FÁBRICA. COMO UMA PERFORMANCE CLANDESTINA SE TRANSFORMA EM PATRIMÓNIO DA CIDADE Ficou por explicar por que ainda não se deu o despejo da Fábrica, uma vez que o desembargo da obra por parte da Câmara Municipal já aconteceu. Essa é a parte mais improvável de toda a história da Fábrica. Pouco mais de um ano depois de termos inaugurado aquela aventura, a Câmara Municipal decidiu, em reunião de 16 de Julho de 2008, atribuir de novo à Obriverca a licença de construção. Isso significaria imediatamente o nosso despejo. Para que tal não acontecesse, e sem que tivéssemos tido qualquer interferência nesse processo, a Arq. Helena Roseta conseguiu que fosse aprovada por unanimidade na Assembleia Municipal, nessa mesma reunião de 16 de Julho, a proposta de declarar o edifício da Fábrica de Braço de Prata como equipamento cultural da cidade e de [189] APRESENTAÇÃO DE UM CASO DE SOBREVIVÊNCIA DE UM LUGAR DE ARTE E PENSAMENTO QUE NUNCA RECEBEU UM ÚNICO CÊNTIMO DE SUBSÍDIOS OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 190 atribuir à Eterno Retorno a responsabilidade de continuar a gerir esse equipamento cultural em nome da Câmara a partir do momento em que ele passasse para património municipal (o que deverá acontecer quando o condomínio Jardins do Braço de Prata estiver concluído e as licenças de habitação tiverem sido atribuídas aos apartamentos construídos). Soube posteriormente que um dos argumentos apresentados pela Arq. Helena Roseta ao conjunto dos membros da Assembleia Municipal foi uma cópia de um artigo publicado no New York Times, um mês antes. Aí o jornalista anunciava que Lisboa tinha alcançado recentemente o estatuto de cidade de cultura, ao nível de Berlim, Amsterdão ou Londres, por causa de um conjunto de novas ofertas surgidas na cidade. Entre essas ofertas fazia a descrição entusiástica da Fábrica de Braço de Prata. Essa descrição era apresentada logo em primeiro lugar, e ocupando um terço de todo o artigo. Uma das afirmações fortes do texto era a de que a cidade de Lisboa inteira se tinha mudado para a Fábrica. [190] Na tarde desse mesmo dia 16 de Julho recebo um telefonema da Arq. Helena Roseta dando-me notícia dessas deliberações camarárias. Eu agradeço enormemente a vontade de a Câmara perpetuar a aventura da Fábrica, mas alerto a Arq. Roseta para o perigo de a Obriverca, agora que teria a licença para recomeçar a construção do condomínio, querer o nosso despejo para transformar o edifício em stand de venda dos futuros apartamentos. A Arq. Helena Roseta tenta fazer-me acreditar que isso não seria possível uma vez que, segundo ela, a própria direcção da Obriverca irá reconhecer os benefícios que irá obter por o novo condomínio ficar ao lado do espaço de artes e ideias mais inovador da cidade. Eu anuncio logo ter dificuldade em acreditar nessa inteligência das coisas por parte da Obriverca. E, no dia seguinte, recebo um email, precisamente da Obriverca, informando-me da deliberação da Câmara quanto ao desembargo da obra, e solicitando que eu abandone o edifício no prazo de um mês, conforme o nosso acordo verbal de comodato. Imediatamente informo a Arq. Helena Roseta deste email. Ela fica desesperada. Anuncia que tentará dissuadir a direcção da Obriverca da intenção de usar o edifício da Fábrica como stand de vendas. No dia seguinte liga-me de novo para me dar a notícia, que chegou em forma de milagre: a Obriverca aceita prescindir daquele edifício, uma vez que a Câmara decidiu ceder a sua gestão à Eterno Retorno no momento em que o recebesse da Obriverca. Não faria, portanto, qualquer sentido interromper a existência daquele espaço de concertos, exposições e debates apenas enquanto fosse necessário vender os apartamentos em construção. A Eterno Retorno recebe alguns dias depois uma carta assinada pelo Presidente da Câmara, Dr. António Costa, informando-a da decisão de atribuir a gestão do edifício da Fábrica aos seus actuais responsáveis, pedindo que entrássemos em contacto com os serviços jurídicos da Câmara para estabelecermos os termos de um contracto que legitimasse a nossa ocupação da antiga fábrica e a sua transformação em equipamento cultural. Alguns dias depois dirigimo-nos aos serviços jurídicos da Câmara Municipal. Fomos aí informados que era ainda impossível à Câmara estabelecer qualquer contracto connosco, uma vez que a Câmara ainda não era a proprietária do edifício. Foi-nos sugerido que estabelecêssemos um novo acordo de comodato com a Obriverca, para o período em que teríamos que esperar a transição de propriedade. A Obriverca recusou-se a fazer um tal acordo, invocando os seus deveres para com a Câmara que a obrigavam a entregar o edifício livre de ónus ou encargos. Como consequência final, a Fábrica de Braço de Prata está impossibilitada de ter um estatuto legal. Nem a Obriverca, nem a Câmara Municipal podem fazer connosco um contracto (de comodato, de aluguer, de gestão). Isso impede-nos de obter os licenciamentos fundamentais para o funcionamento daquele espaço, porque nos falta a base para qualquer solicitação de alvará ou de licença de utilização como espaço público. Claro que, apesar dessa ilegalidade de fundo, continuamos a pagar todos os impostos, IRC, IVA, Segurança Social, Pagamento por Conta, SPA, etc.. Regularmente somos visitados por inspectores da ASAE, e regularmente somos objecto de contra-ordenações que nos levam a tribunal. Algumas vezes somos absolvidos, outras vezes somos obrigados a pagar pesadas multas. Felizmente, essas multas podem ser pagas a prestações. Se não fosse esse o caso, há muito que a Fábrica estaria financeiramente asfixiada. O que é então a Fábrica, enquanto instituição? Uma empresa legal instalada ilegalmente num edifício que virá a ser da Câmara e do OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 191 A FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA EM LISBOA. qual ainda não foi despejada pela sua actual proprietária devido à intervenção protectora da própria Câmara. Um facto que criou a sua própria justificação, uma performance insólita que obrigou a razão colectiva a alargar a sua ideia de arte pública. Esta condição paradoxal, apenas possível em um país como Portugal, onde uma ilegalidade com quase 5 anos é abençoada pela própria Câmara, constitui talvez a base da liberdade fundamental do que existe na Fábrica. Porque a nossa ilegalidade nos impede de concorrer a subsídios, a financiamentos de mecenato, a patrocínios regulares, fomos libertados da necessidade de viver na permanente expectativa quanto a ajudas financeiras externas. Não recebemos um único cêntimo por parte do Ministério da Cultura, da Fundação Gulbenkian, do pelouro da Cultura da Câmara, dos programas de animação da Junta de Freguesia de Marvila, ou das verbas sociais da paróquia. O orçamento da Fábrica está todo ele suportado na facturação realizada com as nossas actividades. UMA GESTÃO SEM CONDIÇÕES O centro vital da Fábrica é, assim, não tanto um conjunto de acasos, mas uma ideia, uma certa ideia. E essa ideia emergiu do próprio edifício. Desde o primeiro dia em que visitei as várias salas abandonadas, desde o primeiro passeio entre a lixeira de automóveis e sucata abandonada que enchia o terreno exterior, que aquele cenário apareceu como projecto, ou como um projéctil. Tinha claramente a forma de um navio encalhado à entrada de Lisboa, pronto a ser colocado de novo a navegar. De facto, um edifício de 3 andares, com salas com 6 metros de altura, rodeado de um muro imenso, e a 50 metros de distância do rio, parecia tudo menos a ruína de uma fábrica de material de guerra. Era antes algo entre um porta-aviões e um imenso cargueiro. E só pedia um novo fôlego, uma segunda oportunidade. Isso implicava trazer para ali um povo, trazer para ali uma comunidade que instaurasse naquele lugar uma soberania. A grande dificuldade seria garantir que essa soberania tivesse alguma perenidade. As versões mais libertárias, como as de ocupação pura e simples de territórios abandonados, já se tinham mostrado demasiado frágeis. Dependem de tolerâncias de gente demais fora do edifício, e, do lado de dentro, de demasiada militância de muita outra gente. Eu próprio tinha participado de uma ocupação de um edifício em 1975. E experimentei na pele a desagregação progressiva da comunidade que o habitava. O esforço foi excessivo. Por muitos membros que fôssemos, exigia-se uma dedicação permanente à preservação do edifício e à salvaguarda da nossa soberania. Esse esforço acabou por produzir entre todos mais do que um desespero, quase uma náusea. Isso afastou muitos daqueles companheiros de qualquer combate político por muitos anos. Essa minha memória dos tempos do PREC acabou por determinar a forma da solução para a soberania a inventar na Fábrica de Braço de Prata. A ideia foi utilizar a empresa privada que eu já tinha constituído para gerir a Livraria Eterno Retorno no Bairro Alto para fazer um acordo de comodato com o proprietário. E utilizar essa empresa privada para criar um regime absolutamente novo de sustentabilidade daquele navio: seria uma propriedade comum garantida por uma estrutura privada (jurídica e económica). A empresa unipessoal, com as suas obrigações jurídicas e financeiras, forneceria as condições de uma comunidade soberana, isto é, incondicionada, que, sem se preocupar com as condições da sua própria existência, se limitasse a ocupar aquelas salas e a colocá-las ao serviço dos criadores que nelas se reconhecessem. É um modelo extravagante. Uma empresa privada que oferece as condições a uma comunidade para que ela possa impor uma soberania sem condições. A empresa privada faz a gestão cuidadosa de todas as despesas e de todos os lucros para assegurar a sustentabilidade de um território que é utilizado, não por essa empresa, mas pela comunidade flutuante que ali faz o seu habitat. E essa comunidade não tem que se preocupar com nada. Não tem que mobilizar militâncias, não tem que apelar a solidariedades, não tem que se esgotar em serviços comunitários. Cada membro dessa comunidade usa o território apenas em seu benefício próprio. Sabe que, desse modo, graças à “mão invisível” da empresa privada que o sustenta, ele produz um benefício colectivo que acaba por garantir a sobrevivência de todos. E esses membros não têm uma função específica, não têm que desempenhar papéis pré-determinados. Ocupam aleatoriamente lugares muitas vezes inversos. Umas vezes são músicos, outras vezes vêm montar objectos para exposição, [191][191 ] APRESENTAÇÃO DE UM CASO DE SOBREVIVÊNCIA DE UM LUGAR DE ARTE E PENSAMENTO QUE NUNCA RECEBEU UM ÚNICO CÊNTIMO DE SUBSÍDIOS OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 192 outras vezes vêm participar em uma discussão sobre um livro acabado de editar, e outras vezes vêm simplesmente beber uma cerveja para conversar com amigos ou visitar as exposições. E da “harmonia” entre esses vários agenciamentos resulta um orçamento global, gerido por uma empresa privada, mas colocada integralmente ao serviço da comunidade que habita a Fábrica. Os cálculos são bastante simples. ALGUMA CONTABILIDADE [192] A Fábrica de Braço de Prata garante o sustento global de 12 colaboradores. Entre o trabalho no bar, o serviço de limpeza, a programação das exposições, a direcção da livraria, o acompanhamento técnico dos músicos, conseguimos que ali encontre o seu salário mensal um número acima da média nacional no campo das pequenas e médias empresas. Mas a Fábrica não contribui apenas para o orçamento dos seus colaboradores. No plano musical, ao longo destes anos, conseguimos transferir para as centenas de músicos que tocam regularmente na Fábrica o valor aproximadamente de 400.000 euros. Este valor foi integralmente realizado pela bilheteira dos concertos, uma vez que a Fábrica não fica com nenhuma percentagem. O regime é muito transparente. As pessoas que entram na Fábrica a partir do momento em que se iniciam os concertos, pagam 3 euros às quartas e quintas, e 5 euros às sextas e sábados. No final de todos os concertos (temos em média cinco concertos por cada noite de sexta e sábado, e dois concertos nas quartas e quintas) dividimos o dinheiro realizado na bilheteira por todos os músicos que tiverem actuado nessa noite. Todos os músicos ganham o mesmo. Procuramos que recebam, no mínimo, 50 euros. Para que isso seja possível, fazemos de modo a que o número de músicos por noite, independentemente do número de bandas, não ultrapasse aquele que nos permita, com base numa expectativa aproximada do montante global final, pagar esse valor. Esta divisão aritmética da bilheteira por todos os músicos de uma mesma noite tem várias vantagens. A primeira, é não perdermos tempo a discutir cachets prévios com os músicos. Todos eles ganharão o mesmo numa mesma noite, e tal depende da quantidade de público que conseguirem atrair. A segunda vantagem é transferir para os músicos parte da responsabilidade de mobilização dos seus públicos. Porque todas as bandas têm o seu endereço de Myspace ou a sua conta no Facebook, são elas que funcionam como agenciamento dos seus próprios concertos. A terceira é mostrar aos músicos como a Fábrica quer ser apenas o lugar do seu acolhimento e da oferta de cenários e condições materiais para a sua apresentação ao público. Apesar de a Fábrica ter gasto várias dezenas de milhares de euros na aquisição de dois pianos de concerto, um piano vertical, duas baterias, e imenso material de som (mesas de mistura, microfones, cabos, colunas, que alimentam nada menos do que 4 salas de concertos), a Fábrica não retém nenhuma percentagem do valor realizado na bilheteira dos concertos. E isso é único. Por isso as centenas de músicos que querem vir apresentar o seu trabalho às nossas salas estão dispostos a arriscar uma noite com pouco público e, portanto, com um valor menor do que os 50 euros por músico no final da noite. Eles sabem que a Fábrica fez tudo o que podia para que tal não acontecesse, desde a criação de condições de material e de cenário, até à divulgação no nosso site e nas nossas newsletters, até prescindir de qualquer percentagem sobre a bilheteira. Como é então possível ter quatro salas de concertos, receber quatro ou mais concertos por noite e não cobrar nenhum valor sobre a bilheteira? Porque fazemos algum dinheiro no bar. É com esse dinheiro que pagamos todas as despesas funcionais da Fábrica, desde limpeza, consumíveis, aos salários das pessoas que fazem a bilheteira dos concertos e do técnico de som que acompanha cada banda, até ao responsável pelas exposições. De facto, em uma das salas da Fábrica montámos um bar (que também recebe exposições e alguns concertos). Apenas assim tem sido possível fixar o público que nos visita todas as noites, uma vez que a Fábrica fica longe de lugares de restauração abertos até tarde. ILEGALIDADE, SOBERANIA, INDEPENDÊNCIA A independência face a subsídios ou apoios externos que o bar nos permite, dá-nos uma liberdade imensa, tanto no programa dos concertos, como no domínio da organização das exposições. OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 193 A FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA EM LISBOA. [193] APRESENTAÇÃO DE UM CASO DE SOBREVIVÊNCIA DE UM LUGAR DE ARTE E PENSAMENTO QUE NUNCA RECEBEU UM ÚNICO CÊNTIMO DE SUBSÍDIOS OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 194 Temos 7 espaços expositivos (entre salas, corredores e mesmo as escadas do elevador desactivado). Acolhemos em média 7 conjuntos de trabalhos diferentes todos os meses. Recebemos, nestes quase cinco anos, mais de 300 artistas diferentes. Foram sobretudo exposições de pintura. Mas também organizámos exposições de fotografia, de vídeo, de desenho, de escultura, assim como instalações construídas especificamente para o lugar da sua aparição. Durante um ano essas salas receberam também um festival de artes performativas, o Epipiderme. [194] A partir de 2009 o fotógrafo Fabrice Ziegler ofereceu-se para assumir a responsabilidade das exposições. Ele já estava ligado à vida da Fábrica desde 2008. Tinha sido ele a criar as Fotos à Sexta, isto é, a construção de séries de imagens subordinadas semanalmente a temas sugeridos por ele e que serviam de mote ou cenários para que qualquer pessoa se deixasse fotografar. A entrada do Fabrice Ziegler veio produzir uma revolução na forma de organizar a apresentação de obras de arte. Não tanto no plano dos critérios de acolhimento de obras que nos eram propostas, mas no do acompanhamento dos artistas e no método de montagem das peças a apresentar. AS DIFICULDADES DE UMA EMPRESA COMERCIAL NOS LABIRINTOS DA ARTE CONTEMPORÂNEA Oferecer condições privadas para que a dimensão do comum seja incondicionada, inventar um pequeno território de comunismo com dispositivos capitalistas – é esta, portanto, a ideia fundamental da Fábrica. Mas não é apenas no plano da gestão das mil e uma dimensões da Fábrica que a empresa privada constitui o fundamento daquela comunidade. Porque a Fábrica está condenada a ser ilegal, a empresa privada é também a protecção jurídica do território. Regularmente, é a empresa privada que é obrigada a apresentar-se em tribunal e a procurar reduzir as penalizações decretadas contra a situação anómala daquele lugar. Mas, a função mais difícil da empresa privada que gere a Fábrica é a de estabelecer os critérios de selecção e de calendarização das propostas artísticas que nos chegam de todos os lados. E esses critérios são o que há de menos óbvio. Como recusar um concerto ou uma exposição precisamente no interior de um território que se quer propriedade comum? Mas é por aí que passa a linha de sobrevivência da Fábrica. São as nossas escolhas que definem a nossa identidade. Mas, porque não recebemos quaisquer subsídios, não podemos dar-nos o luxo de ter critérios demasiado identitários. Não procuramos criar um livro de estilo, não queremos ser uma escola. Os nossos critérios procuram equilibrar a nossa vontade de colocar em destaque os artistas que mais admiramos com a necessidade de garantir público para esses artistas. Sem esses critérios a Fábrica deixaria de ser atractiva para as pessoas que a sustentam financeiramente, ou seja, aquelas que pagam a bilheteira e que consomem no nosso bar. Sem um olhar selectivo sobre os objectos que queremos pôr à disposição e consumo daqueles que nos visitam, ficaríamos condenados ao deserto. Há, necessariamente, uma lógica “comercial” que inspira uma parte dos nossos critérios. Não podemos repetir demasiadas vezes concertos que, invariavelmente, não são capazes de atrair público. Esses critérios são menos constrangedores no domínio das exposições. Porque as pessoas que as visitam, vêm também para os concertos, a livraria, o bar, ou simplesmente para outras exposições simultâneas, é impossível estabelecer uma equação entre o conteúdo do que é apresentado e a sua recepção pelo público. Mas isso não nos liberta da dificuldade da selecção. Pelo contrário, porque as exposições têm um impacto maior do que os concertos (temos 7 exposições por mês, enquanto os concertos são habitualmente 50 ou 60 em um só mês), e porque elas significam também um acompanhamento dos artistas no processo de conclusão das suas peças, cada obra apresentada exprime um compromisso de critérios muito mais íntimo do que aquele que existe com as bandas que acolhemos. Por isso, grande parte do tempo usado no trabalho de programação, tanto com os músicos como com os artistas plásticos, é passado na análise das suas propostas e na discussão dos critérios que invocamos para a sua exclusão ou inclusão. E se, de início, havia uma disponibilidade muito maior para experimentações um pouco selvagens, à medida que a Fábrica se foi impondo como território autónomo de artes, fomos sendo capazes de ir traçando, não uma, mas uma pluralidade finita de OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 195 A FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA EM LISBOA. ideias acerca do belo e do sublime que acreditamos definirem a maior parte das obras (musicais e de artes plásticas) que dão conteúdo à Fábrica. Como com os músicos que nos procuram, os artistas plásticos que nos apresentam os seus portfolios vão percebendo que os nossos juízos de gosto têm vários fundamentos. Em primeiro lugar, uma certa rebeldia face às instituições canónicas dos museus e das galerias de arte. Se bem que as exposições tenham longinquamente objectivos comerciais, uma vez que todas as peças expostas estão à venda, no entanto, como com os concertos, só excepcionalmente cobramos 20% sobre o valor das obras vendidas nas exposições que organizamos. Alguns artistas oferecem para o acervo da Fábrica uma obra. E é tudo. O que lhes oferecemos também não é muito. Acompanhamos a construção das suas peças, ajudamos a conceber o conjunto da exposição, participamos na montagem. Ao mesmo tempo, construímos para cada exposição um pequeno catálogo virtual, disponível no nosso site. Mas há outros critérios que orientam a construção da nossa agenda de exposições. Porque temos várias salas de apresentação de obras, procuramos que, em cada mês, seja possível aceder a diferentes registos estéticos em simultâneo. Colocamos lado a lado, no interior da Fábrica, instalações vídeo, objectos de design, pintura, escultura, desenho e, muitas vezes, graffitis. No interior destes registos é possível encontrar, como que ao acaso, pintura figurativa, cromatismos conceptuais, montagens de texturas, colagens. Os autores definem-se por condições quase de contraste. Nas quase 300 exposições já realizadas, temos recebido sobretudo artistas portugueses. Mas já fizeram residências artísticas na Fábrica criadores vindos da Alemanha, da França, da Polónia, de Itália, de Inglaterra ou Estados Unidos. Raros são aqueles que não têm uma relação profissional com as obras que criam. Desde recém-formados por escolas de artes (sobretudo ArCo, Faculdade de Belas Artes de Lisboa ou Faculdade de Arquitectura de Lisboa) até professores dessas mesmas escolas, há sempre um envolvimento enorme com as coisas que fabricam. Isso é logo visível na dimensão serial das peças apresentadas. Têm todas a forma de tentativas quase alucinatórias de fazer a mesma peça em número infinito. Porque a condição de Galeria de Arte se foi instalando na imagem pública da Fábrica, aparecem cada vez mais conjunto de peças que foram pensadas desde a sua raiz para serem apresentadas ali. Assim se tem vindo a descobrir novos dispositivos de aparição da arte no interior daquelas salas. De início, os milhares de metros quadrados de parede – que a ocupação daquele espaço abandonado tinha revelado – apareciam apenas como superfície passiva, como matéria de pura inscrição de objectos à procura de serem apresentados. Mas, com a sucessão de camadas de memória que se foi depositando naquele ecran informe, o espaço criou as suas próprias nervuras. Já nem todos os objectos se deixam afixar naquelas paredes. Há esquinas que só aceitam esculturas suspensas ou artefactos de design, corredores que exigem ser inundados com fotografias ou serigrafias, salas vagamente iluminadas que apenas ganham espessura quando recebem instalações vídeo ou séries de esculturas com cores em desaparecimento. Como se a própria arquitectura íntima da Fábrica fosse uma estratégia de singularização absoluta de cada coisa que se torna ali presente. Quanto mais exposições se têm depositado nas nossas paredes, mais elas se revelam como inspiração para outras peças. UM COMUM QUE ULTRAPASSA A COMUNIDADE As visitas aos nossos catálogos on-line, significativamente, são mais numerosas depois de as exposições terem sido desmontadas. Mostra que o nosso arquivo, de fotos de obras e de textos sobre as exposições, é reconhecido como um património útil, como uma forma de acesso a um panorama paralelo da arte contemporânea em Portugal. Esta é, talvez, a dimensão mais surpreendente da Fábrica: a de memória colectiva de acesso livre. O nosso arquivo, que conserva todas as programações semanais dos últimos 3 anos, permite contar não apenas a história da música alternativa do início do séc. XXI em Portugal, como de uma grande parte da criação artística no domínios das artes plásticas. Tanto no domínio do jazz, como do pop/rock, da worldmusic ou mesmo do fado, qualquer visita à colecção online das nossas newsletters conduz directamente à maior enciclopédia de bandas nacionais alguma vez construída. Podemos dizer que, à excepção das bandas que têm a capacidade de [195] APRESENTAÇÃO DE UM CASO DE SOBREVIVÊNCIA DE UM LUGAR DE ARTE E PENSAMENTO QUE NUNCA RECEBEU UM ÚNICO CÊNTIMO DE SUBSÍDIOS OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 196 [196] actuar nas grandes salas, como o CCB, a Culturgest, o Campo Pequeno, todas as outras passaram pela Fábrica, algumas mais do que uma vez. E dessas passagens existe um registo vídeo que ultrapassa em muito as gravações que, pontualmente, a equipa da Fábrica foi fazendo e publicando on-line. De forma esporádica e ocasional, ou com uma técnica de alta fidelidade, centenas de concertos feitos na Fábrica estão agora disponíveis no YouTube. É um segundo arquivo, desta vez de autores anónimos, e de comunidades espontâneas. Algumas das gravações foram feitas logo nos primeiros meses de existência, algumas vezes com câmaras de telemóvel, onde se regista o concerto e, quase sofregamente, também a atmosfera, a decoração da sala. E, em todas essas gravações, que crescem todos os dias no YouTube, descobre-se que quem regista essas discretas imagens de um concerto está a registar qualquer coisa de único e de absolutamente contingente. Pode-se dizer que a existência da Fábrica é muito mais virtual do que actual. A quantidade de entradas sobre a Fábrica no Google (blogs que contam pequenas histórias sobre a Fábrica em registo de diário íntimo, sites que anunciam eventos, notícias em jornais) e as centenas de pequenos e grandes vídeos que circulam no YouTube excedem infinitamente a pequena realidade material do quotidiano daquele edifício e daquilo que todos os dias ali é tornado actual. Há um paradoxo metafísico nesta desproporção entre a causa e os seus efeitos. O conjunto dos vestígios da Fábrica tem uma realidade muito maior do que aquilo que lhe deu origem. E essa extravagância metafísica não é apenas a que é devida à autonomia das imagens face aos objectos que elas capturam. Porque a Fábrica se transformou numa verdadeira Casa do Povo da cidade de Lisboa, cada um vai buscar ali um pouco do que lá construiu. Desde o início que muita gente sentiu aquele cenário entre a nostalgia de uma antiga fábrica e a modernidade de uma sala multiusos, como um dispositivo de actualização de projectos remotos. Subitamente, todas as famílias querem realizar ali os aniversários dos seus pequenos, tirando partido da possibilidade de usar a sala de cinema como um pequeno salão onde se junta o lanche e a projecção de vídeos infantis. Músicos que descobrem que os dois pianos de concertos, porque instalados no interior de salas forradas a livros, produzem sons que nunca tinham escutado, querem fazer ali os seus concertos e algumas gravações. Artistas plásticos decidem preferir os corredores da Fábrica para pendurarem as suas peças às vitrines limpas das galerias. É a forma mais eficaz de tornarem o seu trabalho efectivamente visível, de o darem a conhecer aos milhares de utilizadores que mensalmente percorrem avidamente aqueles lugares. Há um estranho efeito de revelador que se instala na Fábrica. As pessoas que ali entram começam subitamente a ter visões de coisas que não suspeitavam sequer que pudessem um dia vir a ser reais. É que, como muitas vezes nos confessam alguns artistas, grande parte das exposições e dos concertos foram pela primeira vez concebidos mentalmente no acto de os seus autores entrarem na Fábrica. No espaço exterior é onde é mais visível essa sintonia entre as obras e os seus lugares de materialização. Por um lado, temos uma exposição mutante de graffiti (actualmente com 21 painéis). Muitos desses graffiti tomam não apenas o lugar onde estão inscritos, mas o conjunto da própria Fábrica, como motivo da sua construção. Por outro lado, um conjunto de hortas urbanas, geridas por uma comunidade dedicada à cultura biológica, faz nascer regularmente flores e couves de pequenos pedaços de jardim que fomos conservando. Há ainda uma pequena aldeia para artistas de rua (em fase de construção) que utilizará sobretudo as técnicas de construção em terra. No interior ainda é preciso sublinhar a existência de uma sala de Teatro/Cinema. De facto, uma das salas de concerto, a Sala Visconti, tem uma tela de cinema e projector de vídeo de alta definição. Também tem um pequeno palco, com uma pequena teia de luzes. Por isso tem sido possível aí receber ciclos de cinema (nem sempre da nossa iniciativa) e algumas companhias de teatro. Todas as nossas salas têm também funcionado como estúdios de experimentação. Um dos muitos benefícios que a Fábrica de Braço de Prata tem oferecido à cidade de Lisboa tem sido a utilização regular das suas salas de concerto para ensaios de músicos. De forma absolutamente gratuita, ali temos recebido milhares de horas de experimentalismo musical, algumas vezes por parte de músicos que nem chegam a apresentar-se no programa musical da Fábrica por exigirem cachets demasiado elevados (foi o caso de músicos como Marisa, Mísia, Mafalda Arnaut). OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 197 A FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA EM LISBOA. APRESENTAÇÃO DE UM CASO DE SOBREVIVÊNCIA DE UM LUGAR DE ARTE E PENSAMENTO QUE NUNCA RECEBEU UM ÚNICO CÊNTIMO DE SUBSÍDIOS O CONCEITO COMO MATERIALIZAÇÃO DA IDEIA É agora o momento de falar do centro mais vital da Fábrica: as quatro salas da Livraria. Graças a parcerias que estabelecemos com as principais editoras nacionais nesta área, temos os catálogos integrais disponíveis de forma permanente das editoras Assírio & Alvim e Relógio d’Água. O mesmo acontece com as editoras Presença, Almedina, INCM, mas apenas nas áreas da Filosofia, Direito, Economia, Psicologia, História, Teoria da Literatura, Antropologia, Sociologia. A livraria é gerida por um licenciado em filosofia, que foi responsável pela Livraria da FNAC do Centro Comercial Colombo durante quase 5 anos. Em paralelo com a preocupação de dar a ver as edições mais recentes, a nossa livraria organiza regularmente selecções temática de obras, tanto para responder a situações nacionais ou internacionais que ganham em ser apreendidas a partir de uma bibliografia recente, como para potenciar algum evento (lançamento de livro, conferência, debate). Assim, nas várias salas de concerto e de exposição tem sido possível organizar muitos ciclos de conferências (nem sempre da nossa iniciativa), seminários teóricos, cursos regulares. Alguns desses cursos chegaram a receber mais de 200 inscrições, e prolongaram-se por quase um ano lectivo. Esses cursos vão desde Pensamento Crítico Contemporâneo ou Política e Estética (da iniciativa de UNIPOP), a questões do género, problemas da arquitectura contemporânea, abordagens da economia, passando por debates com artistas que se apresentaram na Fábrica (músicos e artistas plásticos) e apresentações críticas de obras recentes em destaque na nossa livraria. A livraria não é apenas mais uma dimensão “comercial” da Fábrica. Até porque, muitos são os meses em que a livraria não se sustenta a si própria. Com uma frequência cada vez maior, é o rendimento do Bar que permite pagar os salários e segurança social dos colaboradores da livraria. A livraria existe porque responde a três ideias. Preservar a arqueologia do lugar, uma vez que a aventura da Fábrica de Braço de Prata começou numa livraria, na Livraria Eterno Retorno, em 2001, no Bairro Alto. Em segundo lugar, resistir à degradação da forma-livro. São cada vez menos as livrarias que sobrevivem à invasão de novos suportes para o texto e das novas formas de analfabetismo. Depois do encerramento de livrarias paradigmáticas, e da lenta transformação da FNAC em loja de vídeo e informática, é uma obrigação civilizacional manter alguns templos de livros. E essa obrigação é especialmente grave no domínio das ciências humanas. A Fábrica é o lugar mais exaustivo de tudo o que foi editado em língua portuguesa nas áreas da Filosofia, da Sociologia, Antropologia, Psicologia, Teoria da Literatura. A terceira ideia que alimenta a livraria é do domínio de uma certa encenação do pensamento, aquilo a que Deleuze chamava uma “personagem conceptual”. Acreditamos que tudo o que tem sido possível na Fábrica, e tudo o que está ainda por ser possível ali, exprime alguns conceitos. Conceitos de “soberania”, de “desobediência civil”, de “sustentabilidade financeira”, de “independência face a subsídios” são tão importantes para os quase cinco anos de vida daquele território, como a boa gestão dos seus proventos. Ou antes, são esses conceitos que permitem que a empresa que gere os proventos não se aproprie de um único cêntimo do orçamento da Fábrica. As duas pessoas que representam a empresa privada na vida da Fábrica são precisamente as únicas que não recebem qualquer vencimento. Porque o seu sustento vem de outras actividades exteriores à Fábrica, todo o dinheiro conseguido com a actividade da Fábrica é reintroduzido no seu orçamento. Inicialmente, houve mesmo uma enorme contribuição para esse orçamento que veio dos salários dos seus gestores, contribuição essa que nunca será reembolsada. Há quem chama a isso “mecenato”. Nós chamamos – construir o comum a golpes de gestão privada. E isso teve que ser primeiro pensado, transformado pacientemente em conceitos, para que pudesse inspirar decisões, gestos, acções. A Fábrica nunca teria existido se o Michel Foucault não tivesse escrito Vigiar e Punir ou se o Deleuze e o Guattari tivessem publicado apenas O Anti-Édipo. E vai [197] Mas as nossas salas não se esgotam em cenários de acolhimento de concertos, de exposições. Existem duas pequenas Lojas. A primeira é um atelier de joalharia, onde se fabricam peças com materiais e formas escolhidas pelos próprios futuros utilizadores. Promovem com regularidade workshops de joalharia. Uma outra loja, é de produtos em segunda-mão. É a Oficina Impossível. Vende sobretudo roupa usada em regime de consignação, joalharia e livros manuseados. OS_ Nuno Nabais_01z_Layout 1 11/27/12 7:38 PM Page 198 [198] continuando a existir porque o Jacques Rancière escreveu Aisthèsis ou porque o Toni Negri e o Michael Hardt leram com entusiasmo Foucault e Deleuze e escreveram Multidão e O Poder Constituinte. Por isso a Fábrica precisa de uma livraria. Está lá tudo. O resto vem da cidade de Lisboa, da sua vitalidade, da sua capacidade de resistência, do seu poder de alegria. É que, no fundo, a Fábrica não é nada do que aqui se disse. Poderíamos pensar a Fábrica como uma imensa instalação efémera? Ou uma ready-made, feita de reciclagem e colagem paradoxal de partes de uma fábrica de material de guerra? A Fábrica não é uma livraria, não é um conjunto de salas de concertos, não é um cinema, não são 7 salas de exposição com mais 1.000 m2 de paredes com graffiti, não é também um bar. A Fábrica é muito mais do que isso. A Fábrica é uma festa, uma festa que está apenas a começar. E uma festa onde, como queria Rousseau, não há diferença entre espectáculo e espectadores, entre arte e banalidade, porque é um território comum onde todos estamos embarcados. Sem dinheiro e sem culpa, a Fábrica, pela sua ilegalidade, pela sua clandestinidade, pela sua economia paralela, pelo seu mercado negro de sons, formas, conceitos e cores, é um dos laboratórios mais felizes daquilo a que poderemos chamar uma ARTE NEGRA. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 199 RIBEIRA DOS MOINHOS, A RIBEIRA QUE A BAIXA DE ANGRA NUNCA VIU “Se queremos fazer história devemos principiar pelo princípio… porque temos usado e abusado da síntese sem buscar novos elementos de progresso, sem crítica nem verificação do que outros antes de nós fizeram.” Luís da Silva Ribeiro1 São comuns as referências à Ribeira dos Moinhos, não só nos primeiros 3 séculos do povoamento da ilha Terceira2,3,4,5, como também depois disso e até datas mais recentes. Atualmente é possível encontrar várias alusões escritas a essa ribeira, colaterais ou tratando especificamente esse assunto, ou até como tema de conversa entre curiosos e profissionais da nossa história. * Associação Os Montanheiros, ilha Terceira. 1 RIBEIRO, 1943, p. 3. 2 “… pelo meio desta cidade corre outra grossa ribeira de água, a qual vem ter ao porto...” (FRUTUOSO, 2005, p. 14). 3 “… esta cercada de tres outeiros, hum dos coais fica sobre ella ao norte, ao longo da ribeira dos moinhos que corre pollo meio da Cidade…” (CHAGAS, 2007, p. 226). 4 “… com sua praça vistosa, pela qual se despenha por abóbadas uma ribeira...” (MONT’ALVERNE, 1988, p. 9). 5 “… grandioza Ribeira que pelo mejo della corre, tão despenhada desde o seu principio donde vem formada…” (MALDONADO, 1989, vol. 1 p. 98). [199] Paulo J. M. Barcelos* OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 200 No caso da Ribeira dos Moinhos6, apesar de tão falada ao longo de séculos, podemos estar a assistir a uma repetição de ideias, não acompanhadas da devida reflexão da época em que são proferidas, o que tendo ocorrido teria originado oportunas, valiosas e atualizadas informações. A transcrição introdutória a este trabalho, de Luís da Silva Ribeiro, reflete isso mesmo. Numa altura em que surge a intenção de classificar a Ribeira dos Moinhos como património municipal, e como sejam ainda poucas as vozes que convictamente venham a público com idêntica opinião, achei oportuno lançar à discussão uma ideia que me acompanha há vários anos, de que esta ribeira nunca terá cruzado a baixa de Angra, contra aquilo que foi durante séculos repetido por cronistas e historiadores. Fluía sim pela Grota do Venial abaixo, afluía na Ribeira de São Bento e derramava sobre a Baía das Águas. [200] Pelo que se sabe ou se julga saber, Álvaro Martins Homem, responsável pelo povoamento de Angra, terá sido mentor e engenheiro da maior obra hidráulica dos primeiros séculos de colonização humana desta ilha, comparável apenas à construção do Cano Real, à canalização de água do interior da Caldeira da Serra de Santa Bárbara, através das Minas da Serra, e ao aproveitamento e canalização das águas das furnas do Biscoito das Águas para São Sebastião (a requerer maior esforço de pesquisa), estes últimos dois surgindo mais de 3 séculos depois. Sobre estas obras pensamos apresentar algumas notas em trabalhos futuros. Terá ordenado a construção de uma levada e terá mandado fazer diversos moinhos, ou autorizado a sua construção. Como é de aceitar-se que, de entre os primeiros, funcionariam já aqueles junto à Memória, isso prova que Álvaro Martins Homem teria completado o desvio da ribeira e que a levada de água tinha sido já construída, num percurso idêntico (ou muito próximo) àquele que é visível, parcialmente, nos dias de hoje. Martins Homem que assume a capitania da Praia e para lá se muda. Fica assim por avaliar o verdadeiro complemento que João Vaz Corte-Real terá dado a esse projeto… o que acrescentou ou melhorou. Talvez tenha marcado mais a sua intervenção na parte final da ribeira, na sua definitiva condução para o mar, ou então em aperfeiçoamentos do aqueduto e em novos desvios (embora pequenos) para servir novos moinhos e aumentar a sua utilidade. Reconhecendo as importantes ações de ambos, Henrique Braz é no entanto perentório em afirmar “… sabendo-se que a povoação de Angra lhes deve o seu belo traçado, a captação e regularização da ribeira que a atravessava, bifurcando-se, por dois ramais, até ao mar.” (BRAZ, 1947, p. 125, nota 4 no rodapé). Supomos que os dois ramais a que se refere o autor sejam as duas condutas paralelas, uma sobrelevada em relação à outra, que compõem a levada, naquilo a que Maduro Dias refere como “… dois canais: um inferior, de água suja, que passava pelos moinhos, pelo matadouro e por outros locais; um superior, que garantia água limpa para beber e que era canalizada para vários chafarizes espalhados pela cidade ou para as casas senhoriais, que ao tempo possuíam água potável no seu interior” (MADURO DIAS, 2009). Penso que há ainda um trabalho a ser feito, que esclareça da verdadeira importância ou abrangência territorial dessa calha superior na sua função de abastecer os chafarizes. Ainda em 1891 vem numa ata municipal a referência a “… aquedutos d’água potável e de despejos…” 8, no entanto fisicamente não consegui descortinar essa calha superior em nenhum outro ponto a montante do Pisão9. 6 Ribeira dos Moinhos, também chamada de Ribeira de Angra, Ribeira do Castelo dos Moinhos ou Ribeira de São João de Deus. 7 Carta da Doação da Capitania de Angra a João Vaz da Costa Corte-Real, datada de 2 abril de 1474. (CANTO, vol. IV, pp. 158-160). 8 Acórdão da Câmara de 24 de julho de 1891. Drummond não parece ter dúvidas ao referir dever-se a Álvaro Martins Homem o “completo encanamento da ribeira que atravessa a cidade.” (DRUMMOND, 1981, p. 69). João Vaz Corte-Real terá chegado a Angra provavelmente em 1474, ano em que lhe é atribuída7 essa capitania. Sucede a Álvaro 9 Em conversa com Maduro Dias, a 2 de Julho de 2012, levantou-se a possibilidade da levada se ter bifurcado quando chegou às Alcaçarias, seguindo apenas daí para baixo nas duas calhas que se observam no Museu de Angra, junto à Rua Frei Diogo das Chagas. A construção de uma 2ª calha (junto da primeira… ou quem sabe dentro desta pois poderia ter sido construída mais tarde) poderá justificar-se pela forte “contaminação” da água da levada, que a atividade dos curtumes produzia. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 201 RIBEIRA DOS MOINHOS, A RIBEIRA QUE A BAIXA DE ANGRA NUNCA VIU Todos os outros que vieram depois dele, se desconheciam a sua obra, só tinham a levada para ver e as memórias de tempos idos para ouvir, transmitidas de uma geração à seguinte, numa soma crescente. Nessas condições, fica a dúvida se algumas das referências escritas terão vindo verdadeiramente de informação recolhida ou se terão sido deduções dos autores. A Ribeira dos Moinhos não era apenas mais um afluente da Ribeira de São Bento. A sua importância assentava no facto de ser alimentada principalmente pelas abundantes nascentes da Nasce-Água, conferindo-lhe um regime permanente. Não fosse esse facto e a simples drenagem de águas pluviais colocá-la-ia numa classe inferior, onde estão a grande maioria das restantes ribeiras da ilha. Terá sido a necessidade, mas principalmente a visão de como assegurar um fluxo contínuo de água através do centro da urbe, que fez com que Álvaro Martins Homem se tivesse decidido pela urgência da sua canalização. O seu desvio, a partir do local em que achamos ter sido a ribeira efetivamente desviada, foi possível com recurso à construção de um canal em pedra completamente artificial. A importância que esta levada tinha na vida dos angrenses e visitantes, como força motriz de moinhos e de outros engenhos, como serras-de-água e pisões (estes últimos de acordo com a toponímia local, pois não conhecemos outras referências), providenciando conforto na lavagem das roupas, na limpeza das casas e espaços públicos da cidade, pouco usual à época10, no abastecimento às alcaçarias e noutros usos diferentes, era tão significativa que durante quase 5 séculos cumpriu as funções a que se destinava. As águas dessa Ribeira de Angra, mais tarde batizada de Ribeira dos Moinhos, em consequência dos muitos que viria a pôr em movimento, nos primórdios do desenvolvimento de Angra e durante vários séculos, deixaram de correr no seu leito primitivo para, em muitos locais, fazê-lo por canais e aquedutos em pedra de cantaria, ainda hoje parcialmente preservados. O nome acabou, no entanto, por tomar conta de toda a linha de água, incluindo as partes naturais, estendendo-se para montante até às nascentes, por onde foram surgindo outros moinhos em consequência da expansão demográfica e territorial da população. OS PRIMEIROS POVOADORES Álvaro Martins Homem, se chegou por mar, terá desembarcado na baía de Angra onde existiria, provavelmente, algum pequeno areal na base das arribas virgens, não muito diferente daquilo que hoje se pode observar. Se chegou por terra, pelo litoral sul, terá avistado e sido atraído pelo Monte Brasil e pelas condições topográficas que este proporcionava. Para além da vegetação, neste corta-mato por terra, o grupo teria encontrado outros obstáculos. Teria descido a escarpa de falha da Atalaia, entrado na Grota do Vale e avançado até encontrar a Ribeira de São Bento, uma ribeira de perfil bastante aberto e profundo, pelo menos na sua parte final. Seria impossível, ou muito trabalhoso, atravessar esse vale nos primeiros quinhentos metros a montante da sua foz. Se porventura se depararam com tal obstáculo não se terão dado a esse trabalho mas antes subido a ribeira e atravessado junto ao atual largo de São Bento. Nesse novo rumo teriam chegado finalmente a Angra. Chegados aqui cerca de 1462 (GREGÓRIO, 2007, p. 45) Álvaro Martins Homem terá começado por indicar os pontos mais altos para os seus povoadores se fixarem, enquanto encontrava forma de controlar a entrada das águas pluviais que escorriam para a baixa. A sua provável motivação terá sido abrir uma via de comunicação ao exterior com a construção de um local de embarque e desembarque, estabelecendo uma ligação com o 10 “Eisaqui pois mais uma vantagem de que não gosa a própria Capital da Monarchia.” (ANDRADE, 1843, Parte primeira, p. 99). [201] Se Gaspar Frutuoso conheceu a Ribeira dos Moinhos, essa era já uma levada que atravessava Angra. Nasceu em 1522, cerca de 48 anos após a saída de Álvaro Martins Homem de Angra e terá escrito (terminado) as suas Saudades da Terra cerca de 110 anos após essa mesma data, altura em que a parte mais significativa dessa empreitada estaria já executada. Não podemos no entanto deixar de atender à possibilidade, já aludida no passado por Henrique Braz quando sentiu a necessidade de justificar o rigor das palavras de Frutuoso, de que este cronista poderá ter ouvido muitas dessas informações dos filhos dos povoadores, que as ouviram de seus pais. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 202 [202] Nasce-Água, União dos Riachos. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 203 RIBEIRA DOS MOINHOS, A RIBEIRA QUE A BAIXA DE ANGRA NUNCA VIU Reino, com as outras ilhas, com a vizinha Praia e com outros pequenos e improvisados embarcadouros que fossem surgindo em redor da Terceira. artificial que também ia sendo direcionado e construído. O mais certo é que o primeiro assentamento não se tenha feito por conta de qualquer ribeira, mas muito provavelmente por ser aqui possível o providencial acesso ao mar. A BAIXA DE ANGRA Fossilizada há alguns milhares de anos pelas cinzas da erupção do Monte Brasil, a vegetação regenerou-se a cotas um pouco mais elevadas, dando origem a uma nova floresta… provavelmente aquela que recebeu os primeiros povoadores. Há evidências de fósseis11, principalmente de espécies como louros (Laurus azorica) e heras (Hedera azorica), e relatos escritos que indiciam a exuberância da vegetação arbórea neste local. Maldonado12 refere isso mesmo e também a tradição de que a Praça Velha teria sido uma lagoa… o que nos parece altamente improvável. Diríamos antes que a baixa seria uma zona de descarga temporária de águas, ocasionalmente com maior caudal e um pouco mais turbulentas, que chegando aqui infiltravam-se ou corriam calmamente para o mar por alguma linha de água escavada nos depósitos. Não há evidências de que as águas fossem represadas de alguma forma, deixando uma lâmina estável de água livre neste local… embora sondagens ao subsolo possam vir a indiciar ou indicar o contrário. Esse fluxo hídrico e detrítico teria provavelmente regime torrencial, ocorrendo apenas durante a época mais chuvosa do ano, não sendo alimentado por nascentes. Não é pois exatamente verdade que o povoado de Angra tenha crescido, “no seu modelo sinuoso de traçado medieval”, ao longo do seu principal curso de água, a Ribeira dos Moinhos. Na sua baixa e arredores, cresceu sim junto com um curso de água ÁGUA PARA CONSUMO A água seria, sem dúvida, uma das grandes e constantes preocupações dos primeiros povoadores destas novas terras. Havia que suprir-se a necessidade primária e imediata deste precioso líquido, para homens e animais. Logo nos primeiros meses do povoamento de Angra terá sido o problema parcialmente resolvido, recolhendo a água que fluía ou persistia em poças naturais (ou poços) nas ribeiras mais próximas. Afortunadamente, pelo menos numa dessas, a água teria forçosamente de correr todo o ano, para drenar o que jorrava das poderosas fontes anichadas na base da Serra do Morião. Por tradição e necessidade, terá surgido a vontade de a subir e descobrir as nascentes mais próximas de Angra: as da Nasce-Água, a pouco mais de 3,5 km da baixa. Qual dessas linhas de água terão subido? Julgo que terá sido o afluente da Ribeira de São Bento que corre mais a ocidente, começando talvez a partir do Largo de São Bento, pois essa terá sido a primeira ponte construída sobre esta ribeira, mais tarde incluída na principal via de saída de Angra para oriente. 11 Presentes em várias coleções, nomeadamente no Museu Vulcanoespeleológico da Associação Os Montanheiros. 12 Na abertura dos alicerces do Colégio novo dos Jesuítas comprovou-se ser o chão composto de “… hua immundicie occazionada das inchentes das ribeiras que prouinhão dos altos da Cidade e que estas atulharão aquelle chão que em algu tempo fora vale; e tanto assim que he tradição antiga que o lugar em que hoje existe a Praça d Angra continguo com o Collegio era alagoa, e seos oredores pouoados de altas e grossas madeiras, e assim o mostra a experiencia nas que em dia se achão nas cercas e quintais das moradias mais proximas a dita Praça.” MALDONADO, 1990, vol. 2, p. 333. “… as calçadas das ruas da Cidade de que dependia a limpeza della que a não serem estas fora totalmente Angra incapaz de ruas pela inundação dos lameiros a que de antes estava em todo sogeita em rezão do citio em que foi fundada.” MALDONADO, 1989, vol. 1, p. 393. [203] Arrastadas por águas que confluíam a este local, antes de descerem ao mar, terão chegado detritos de aluvião, ocupando estratos inferiores do que hoje é a área ocupada pelo Jardim de Baixo, Praça Velha e, boa parte da área entre a Rua Direita e Rua de Santo Espírito. Essas condições de humidade e qualidade do solo, aliadas às condições de vale abrigado, virado a sul, terão possibilitado o crescimento de uma floresta autóctone. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 204 Descobertas as nascentes, inicialmente a água seria trazida e distribuída pelas populações e habitações em pipas de madeira ou cântaros de barro, para nas décadas seguintes se valerem deste aqueduto. Como antes sugeri, essa evolução, dos poços de ribeira à água de nascente… trazida de longe ou recolhida no aqueduto, é ainda pouco conhecida. A distribuição de água potável à cidade de Angra, ao longo dos séculos, é matéria que merecia um estudo aprofundado, ainda por fazer. PÃO Logo no início que os povoadores destas ilhas pautaram a sua atividade agrícola pela associação: trigo > farinha > pão > sustento. Enquanto se limpavam as terras dos matos naturais, para as sementeiras do trigo (trabalho que poderia levar 2 anos ou mais a dar frutos), construíam-se mecanismos para moer o grão: atafonas e moinhos-de-mão (de produções mais modestas) e azenhas (de maiores rendimentos). [204] Na Terceira, algumas ribeiras de regime permanente permitiam a laboração de azenhas durante longos períodos, por vezes durante todo o ano. Justificou-se a construção dessas fábricas de farinha em 4 ribeiras da ilha: Ribeira dos Moinhos (Angra), Ribeira do Frei João (São Sebastião), Ribeira da Agualva (Agualva), Ribeira Grande (Quatro Ribeiras) e Ribeira da Areia (São Brás). Há ainda o caso da Ribeira das Sete (Santa Bárbara) onde surgiram moinhos muito sazonais, que funcionavam com recurso a represas. Excecionalmente possui também as Quatro Ribeiras um importante núcleo de moinhos próximos da falésia costeira, na Baía Grande das Quatro Ribeiras, alimentados diretamente pelas captações das nascentes que brotam no local. Em todos estes casos, à exceção de um, a construção dos moinhos foi feita junto às linhas de água naturais, construindo-se levadas modestas13, compridas apenas o suficiente para permitir a chegada da água ao topo das rodas de azenha, e mais curtas quando eram rodas de rodízio… e não mais do que isso, por ser esforço e obra desnecessária. A Ribeira dos Moinhos é a exceção, com a sua extensa levada. Apresentava o maior conjunto de engenhos de todas as ribeiras da Terceira, sendo referida na literatura ao longo de 5 séculos. Trabalhar essas informações deixa, no entanto, por vezes algumas dúvidas. O documento coevo mais antigo que interessa a esta matéria é a carta de doação da capitania de Angra a João Vaz Corte-Real14, onde são referidos os moinhos construídos por Álvaro Martins Homem15. Talvez se possa aceitar como verdade, pelo menos até novas evidências, que nessa data não seriam ainda 12 os moinhos dentro da cidade, como aponta Gaspar Frutuoso (FRUTUOSO, 2005, p. 14), mas provavelmente em número inferior, como sugere Maldonado16. É possível que cerca do ano 1580 (segundo Frutuoso) fossem já efetivamente 12 os moinhos existentes dentro da cidade, embora no mapa de 1595 de Linschoten17 venha um número inferior, mas assinalando já 2 moinhos para São João de Deus. De forma alguma se retira importância ao mapa de Linschoten por apresentar algumas representações menos fiéis, como: a Ribeira dos Moinhos a passar no lado “errado” de uma Ladeira de S. Francisco recentemente aberta; aparecerem demasiadas casas com empenas voltadas ao caminho, numa representação tendenciosa, à maneira holandesa; ruas excessivamente orladas de casas, demonstrando talvez acabamentos feitos posterior- 13 Embora na Ribeira dos Moinhos só troços de cantaria tenham chegado aos nossos dias, há relatos de casos em que foi usado nos Açores barro ou madeira nas levadas. 14 Datada de 2 de abril de 1474. 15 D. Beatriz diz: “E por quanto o dito Álvaro Martins tinha feito certos moinhos na parte de Angra, os quais agora devem ficar ao dito João Vaz, praz-me que seja com tal condição que ele faça ao dito Álvaro Martins outros tantos.” 16 “… moinhos que na Ribeira da Cidade havia já fabricado Álvaro Martins Homem, e senão todos os doze que nella se achão parte deles…”. (MALDONADO, 1989, vol. 1, p. 100). 17 Na sua famosa carta Angrae urbis Tercerae que insularum quas Azores, de 1595, Jan Huygen van LINSCHOTEN, assinala claramente 6 engenhos (certamente moinhos) do Pisão à Memória e outros 2 mais acima, em São João de Deus. Há apenas mais uma construção assinalada, ou eventualmente duas, com algumas hipóteses de serem moinhos… o que daria um total de 10 moinhos. Não é de todo de excluir a hipótese de haver outros que tenham ficado por assinalar, principalmente do Convento dos Franciscanos ao mar. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 205 RIBEIRA DOS MOINHOS, A RIBEIRA QUE A BAIXA DE ANGRA NUNCA VIU Frederico Lopes (LOPES, 1980, p. 167) refere: “O Bairro de São João de Deus, construído em 1657, a mando do Capitão João de Ávila, naquela que terá sido a primeira tentativa de expansão urbana desde a fundação de Angra”, facto avançado também pelo Pe. Alfredo Lucas (LUCAS, 1976, p. 95) que indica inclusive o dia 23 de abril para tal ocasião18. mente; ou mesmo a eventual falta doutros moinhos, por achar a sua representação desnecessária aos seus intentos. Por volta de 1700 (MALDONADO, 1989, vol. 1, p. 100) Maldonado refere como existindo dentro da cidade também 12 moinhos, somando ainda outros 6 fora dela. Quais seriam os limites da cidade, considerados à época? O que seria neste caso o fora dela? Hoje, a parte terrestre do perímetro que define a cidade é a circular externa de Angra, da Silveira à Grota do Vale (e daí para o mar), segundo o que é assumido pela autarquia em várias disposições municipais. Gaspar Frutuoso diz que o povoamento de Angra fora demorado, referindo a propósito, uma postura da Câmara em que se aplicava uma coima a qualquer pessoa que passasse do Outeiro das Pedras para cima (atualmente o lugar do Outeiro e Memória) “… e a razão da pena era por não se perder a gente, embrenhando-se no mato que dali por diante, para dentro da serra, era muito espesso e sombrio.”. Infelizmente não descobri a data de tal postura. [205] Ponta do Muro, Moinho de Henrique Sozinho. Tradicionalmente edificava-se num edifício único o moinho e a moradia do moleiro e família, por vezes com mais de um piso no interior e que nalguns casos ocultava por completo a roda do moinho, factos que podemos ainda observar. Podemos então admitir, embora com algumas reservas, que em São João de Deus começou por ser construída uma levada, acompanhada provavelmente por um caminho vicinal, junto do qual, antes de quaisquer outros moradores, se fixaram pelo menos 2 moinhos (é o que nos mostra o mapa de Linschoten) e provavelmente seus moleiros. Se para Maldonado, em princípios de 1700, o limite norte de Angra seria ainda o mesmo, com alguma certeza poderemos supor que os 6 moinhos que identifica como existindo fora da cidade possam ter surgido entre 1657 e 1700, em São João de Deus. É também possível que algum desses moinhos tenha sido edificado mais para norte, até mesmo na Nasce-Água. Embora o afastamento à urbe e a qualidade dos acessos pendam desfavoravelmente para essa hipótese, outros fatores, como os terrenos pertencerem a grandes senhorios, poderiam justificá-lo. Mas podemos também pensar que em 1700 a Ponta do Muro e o Lameirinho seriam as franjas onde acabava a cidade, até onde o casario se estendia de forma mais ou menos regular. Os 6 moinhos fora da cidade estariam portanto espalhados, algures entre a Vinha Brava e a Nasce-Água. Mas nesse caso, entre Frutuoso e Maldonado nenhum outro moinho teria sido construído entre a baixa e o fim de São João de Deus… algo muito improvável. 18 Alfredo da Silva Sampaio (SAMPAIO, 1904, p. 265) e Alfredo Luís Campos (CAMPOS, 1903, p. 314) avançam referências sobre esta ermida, com algumas variações quanto a datas e autoria da obra, clarificadas pelo Pe. Alfredo Lucas na sua obra. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 206 A LEVADA QUE SECOU A RIBEIRA Pouco acima do local onde hoje temos parte da circular externa de Angra foi iniciada uma extensa levada, ou aqueduto, em cantaria, completamente artificial. Essa calha que conduzia a água de engenho em engenho, da Ponta do Muro, passando pelo Largo (ou Terreiro) de São João de Deus, Memória, Convento de São Francisco, a caminho da baixa de Angra e do mar, estendia-se por aproximadamente 2200 m. Na proximidade de todo esse percurso não se consegue vislumbrar qualquer rocha nativa, que se assemelhe a um antigo leito de uma ribeira permanente. Nem tão pouco para oeste, em Santa Luzia se observa tal facto. [206] Nesse percurso é orograficamente muito difícil (para não dizer impossível) explicar a existência de uma ribeira primitiva. Esta lomba onde está instalado S. João de Deus, junto com a do Lameirinho, formam duas linhas elevadas que definem o vale (ou depressão) onde está agora implantado o bairro social e para onde toda a água teria fisicamente de escorrer. Pode-se comprovar tal facto pela observação das cotas de nível nas cartas topográficas, pela observação direta de quem suba o caminho principal no interior do bairro Social ou por este extrato registado em ata da Câmara de Angra: “…enormes prejuízos causados pela catástrofe, sem exemplo, sucedida em a noite de 22 para 23 do corrente [julho de 1891]… a causa destes grandes estragos, foi a Ribeira dos Moinhos ter subido do seu leito em dois pontos, um em S. João de Deus, que atravessando cerrados, veio ter à Canada do Outeiro…” (Acórdão de 24 de julho de 1891) Essa seria a linha natural de escoamento das águas neste vale, embora também aqui não haja vestígios de ter em tempos corrido qualquer ribeira. No entanto, poderá o topónimo “Lameirinho”, por analogia aos “lameiros” do norte de Portugal, ter surgido com idêntico significado de pântano ou charco, devido aos encharcamentos temporários dos terrenos neste vale? Além dessa impossibilidade orográfica, se existisse alguma linha natural de água a descer São João de Deus, não teria a cons- trução urbana nesse bairro respeitado essa ribeira mantendo o seu leito primitivo, como aconteceu junto das restantes ribeiras da ilha, e não teriam sido construídos apenas pequenos desvios/ levadas para alimentar cada moinho, canalizando novamente a água para o curso natural da ribeira? A PRIMITIVA RIBEIRA DOS MOINHOS Alfredo da Silva Sampaio acerca da primitiva ribeira refere: “Esta ribeira foi mandada encanar por Álvaro Martins Homem, donatário d’Angra, visto que a sua primitiva direção, além de embaraçar as edificações da cidade que se pretendiam fazer, não podia ser aproveitada para a moagem dos cereais, como hoje está sendo.” (SAMPAIO, 1904, p. 265). Não nos parece possível a parte salientada. Uma análise à orografia do terreno leva-nos a manter a hipótese de que as águas, daquela que viria a ser chamada de Ribeira dos Moinhos, nunca correram até à baixa de Angra. Então, qual seria o percurso original desta ribeira? Comecemos por identificar um troço superior, com início junto das nascentes da Nasce-Água (embora de cima ainda venham pequenas grotas cavadas pelas chuvas invernais que descem a encosta do Morião até aqui), que mantém-se idêntico ao que era primitivamente durante cerca de 2000 m, com uma ou outra pequena retificação, geralmente para viabilizar o trânsito de pessoas e viaturas, e que acaba junto da Casa de Saúde do Espírito Santo (logo acima da Casa de Saúde de São Rafael). Nos primórdios do povoamento, para se seguir para norte do que hoje é o cruzamento do Lameirinho com a circular externa de Angra, ter-se-ia de usar um insípido caminho rural, a uma cota mais baixa e que muito provavelmente acompanhava a nossa pequena ribeira, ou Grota do Venial. Terá sido junto aos terrenos onde está agora instalada a Casa de Saúde do Espírito Santo, que o desvio da ribeira se deu. Saiu a água do leito primitivo para uma levada, que manteve a cota necessária para fazer funcionar um moinho na Ponta do Muro, umas dezenas de metros mais abaixo, e ainda muitos outros, OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 207 RIBEIRA DOS MOINHOS, [207] A RIBEIRA QUE A BAIXA DE ANGRA NUNCA VIU São João de Deus, aspetos da levada. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 208 até que por fim acabaria por levar as suas águas até ao mar, no local onde hoje é a moagem dos herdeiros de Basílio Simões, mas apenas depois de em tempos ter feito girar as mós e balancear a serra d’água, deste complexo fabril. No local (estimado) do desvio observamos que a levada faz uma apertada curva à direita, num ângulo de 90°, algo que seria invulgar num percurso natural de ribeira, ainda para mais quando vemos que é em frente, no cerrado fundo entre o caminho para a Vinha Brava e a Casa de Saúde de São Rafael que as cotas são mais baixas. Hoje, a água da ribeira ainda é desviada para a levada, correndo cerca de 360 m numa calha disfarçada num muro parcialmente cimentado, numa cota sobre-elevada em relação ao referido cerrado. No entanto, ao chegar à circular desaparece. Foi esse aliás o motivo pelo qual me questionei durante algum tempo, já depois de construída a circular externa de Angra: Uma vez que as nascentes não secaram, para onde estaria a ir a água da Ribeira dos Moinhos? [208] À leitura de algumas fotografias aéreas antigas seguiu-se as constatações no terreno e a inquirição a um dos antigos moradores neste local, o que nos permitiu concluir que, já antes de construída a rotunda haviam sido repostas as águas no leito da primitiva ribeira, que via as águas voltarem 400 anos depois. Bastou para tal canalizá-las por debaixo do caminho e encaminhá-las para o troço de ribeira que agora parece começar junto à rotunda da Circular, nos quintais a leste das casas do Lameirinho. Do local do referido desvio até se ligar a esta grota, a ribeira primitiva desceria 370 m sob o que agora é o caminho, mais de 1 metro abaixo já que o perfil deste caminho subiu bastante, as últimas vezes por causa da construção da circular e mais tarde da rotunda. De novo no seu percurso, pré-povoamento, a água desce agora a oeste do Cemitério da Conceição, sendo (como sempre foi) o mais perene afluente da Ribeira de São Bento que desaguava na Baía das Águas19. Esse facto ajuda também a justificar a forma acentuadamente erodida com que a Ribeira de São Bento chega à Av. Jácome de Bruges e prossegue daí para o mar. Se analisarmos a Carta Corográfica da ilha Terceira, com levantamento topográfico de 1899, vemos que a primitiva ribeira está lá desenhada. Sobre a carta está traçado a branco o aqueduto artificial que abasteceu a baixa durante séculos. AS INUNDAÇÕES DA BAIXA Julgamos ser mais real a possibilidade de outras linhas de escoamento, desaparecidas sob as calçadas das ruas, terem sido responsáveis pela chegada de águas pluviais à baixa de Angra. À principal convencionámos chamar-lhe de “Grota do Chafariz Velho”. Esta linha de água terá tido um papel importante sobre a baixa de Angra nos milénios que antecederam o seu povoamento. Hoje apenas se adivinha o percurso mas pensamos que pudesse ser aquele que consta da fotografia aérea apresentada, que mostra também a delimitação da bacia que potencialmente drenava para essa linha. Escoava as águas da chuva acumuladas num pequeno trajeto com início entre o novo hospital e a escarpa de falha do Espigão, passando pelo Chafariz Velho e desaguando na Praça Velha. Corrobora as evidências topográficas o relato que Maldonado assim descreve: “No mesmo ano de 1608, aos 11 de Fevereiro sendo pelas nove horas da noite comessarão a emanar do Ceo hus choveiros tão copiozos, que sobrevindo estes quazi na menha com major força, em rezão das muitas agoas que decerão dos montes e serros, enundarão estas os campos em tal forma que se vejo dellas a formar diluvio, e sendo incorporadas e iuntas vierão a parar na grota de Santa Luzia em que se termina a largura da Cidade. Foi o Senhor servido que estas agoas não cabendo naquela grota rompessem a hu tempo divididas em coatro partes. Hua destas, e principal vejo pela rua que chamão Miragaia, que he a mais enladeirada da Cidade por cuja cauza procedeo com tal vehemencia que levou ante si todas as cazas que achou opostas, e vindo assim nesta fúria, no tanto que che- 19 Nome que talvez advenha do facto de sobre esta baía desaguar uma ribeira, que correria permanentemente nos primórdios do povoamento. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 209 RIBEIRA DOS MOINHOS, A RIBEIRA QUE A BAIXA DE ANGRA NUNCA VIU que neste local esta grota terá causado aos seus vizinhos, quando esporadicamente saltava fora do seu leito. Esta não terá sido provavelmente a única inundação histórica, com tais contornos, e não terá certamente sido a única que canalizou águas até à baixa de Angra. Quanto às águas da primitiva Ribeira dos Moinhos (pré-povoamento) essas passavam umas dezenas de metros ao lado dessa possibilidade. AS PREOCUPAÇÕES DA CÂMARA COM A RIBEIRA Extrato da Carta Corográfica da Ilha Terceira (3ª edição). Levantada em 1899. Instituto Geográfico e Cadastral. gou a Rua do Rego, despoz o [SIC] providencia divina que esta inundação se devidisse em duas partes, tomando hua dellas pela rua abaixo que se diz da Natividade e a outra esgilhada pela rua das cazas do Marquez. E ambas estas correndo ao principal da Cidade que he a rua que se diz Direita forão parar no porão do porto, cujas muralhas em todo arruinarão”. (MALDONADO, 1990, vol. 2, pp. 26-27) Para um melhor entendimento: Santa Luzia compreendia em 1608 o que hoje é a freguesia do Posto Santo. O lugar aludido da “grota de Santa Luzia em que se termina a largura da Cidade” é hoje conhecido por Grota do Medo. Aqui acabava a cidade para quem rumava a norte. Suspeito que o nome “Grota do Medo” terá origem nos graves prejuízos e nos muitos receios A Ribeira dos Moinhos não mantinha o mesmo caudal ao longo do ano. Na segunda metade do século XIX era a gestão da rede de aquedutos e de chafarizes (cuja expansão começava já a estabilizar) um dos principais fatores que influenciava o caudal desta ribeira, para além obviamente da sazonalidade pluviométrica. Surgiam regularmente disposições camarárias no sentido de se lançar água na ribeira, ou para evitar o risco de rotura das condutas de água potável pela excessiva pressão a que pudesse estar sujeita na época das chuvas, ou a pedido dos moleiros, para garantirem um caudal mínimo que os permitisse laborar na época de estiagem. Nesse último caso, a solução era frequentemente devolver à ribeira, à noite, parte do caudal. Eis alguns exemplos dos muitos que se foram repetindo ao longo dos anos: “Havendo presentemente grande abundância de água, de modo que não podem com ela os aquedutos gerais, deliberou a Câmara se lance para a ribeira, denominada dos Moinhos, doze a vinte anéis de água, para se tornar a receber quando a Câmara o julgar conveniente”. (Acórdão de 29 de março de 1862) [209] Desta feita, na Grota do Medo, a água saltou fora do leito, e uma das partes, ao invés de seguir para o Posto Santo como as restantes três, virou à esquerda, desceu a Ladeira da Pateira e seguiu pela Canada do Cano Real, que já existia pelo menos desde 1605 (SAMPAIO, 1904, p. 327). Uma vez aqui, as águas desceram a Miragaia e dividiram-se pelas ruas do Palácio e do Marquês, chegando sempre, inevitavelmente, à baixa de Angra e daí pela Rua Direita até ao mar. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 210 “Deliberou-se que, visto experimentar-se grande escassez de água na ribeira dos Moinhos, se diminua a água dos chafarizes públicos e particulares, do dia quinze do corrente em diante, desde as nove horas da noite até às três horas e meia da madrugada, para abastecer de água suficiente aquela ribeira, como é de conveniência e necessidade pública, visto que sem esta providência não podem moer nos diferentes moinhos que dependem da mesma ribeira, nem, por conseguinte haver a precisa abundância de farinhas para subsistência dos povos; e que isto se anuncie por editais e anúncios nos periódicos”. dispõe a postura artigo 29, e se realizarem efetivamente, pena de incorrer na multa cominada na dita postura, e de pagarem as respetivas despesas quando a Câmara se veja na precisão de mandá-los fazer”. (Acórdão de 25 de junho de 1863) “Deliberou-se se intimem todos os donos dos moinhos da ribeira denominada dos Moinhos para concertarem o respetivo encanamento, que se acha muito deteriorado, na forma determinada pelo artigo 29 das posturas…”. (Acórdão de 19 de julho de 1865) (Acórdão de 10 de junho de 1863) [210] Outras razões ocorriam ainda para que chegasse o caudal mais fraco aos moinhos. De entre elas estava a rotura do leito da ribeira (das partes artificiais), facto que a Câmara não aceitava intimando os interessados a procederem às imediatas reparações necessárias, sob pena de suspender a introdução de água na ribeira. O extravio da água acarretava muitas vezes consideráveis estragos para os caminhos públicos o que era inaceitável. “Em razão do estado de deterioração em que se encontra o leito da Ribeira dos Moinhos, resolveu a Câmara se oficie ao Sr. Comissário da Policia solicitando-lhe para mandar intimar os moleiros e donos de moinhos, que se utilizam da dita ribeira, a que nos dias 9 e 10 do corrente, se munam com pessoal conveniente a fim de se proceder a uma reparação geral e simultânea na dita ribeira, para o que esta deixará de correr e que se não o fizerem será retirado o suplemento d’Água que até agora se tem concedido”. (Acórdão de 4 de agosto de 1897) “Deliberou-se que sejam intimados os moleiros para concertarem a ribeira dos Moinhos, desde a quinta da Calha ou Nasce-Água pertencente a António da Silva Batista até ao último moinho junto ao mar, visto que as águas dessa ribeira estão deteriorando o caminho, e este precisa urgentemente de ser concertado, a bem do trânsito e comodidade pública; - oficiando-se a este respeito ao administrador do concelho para mandar fazer a intimidação, e dar parte do resultado”. (Acórdão de 4 de maio de 1853). De acordo com a lei vigente recaía a obrigação dessas reparações nos proprietários dos moinhos: “Achando-se a ribeira, denominada dos Moinhos, com os muros extremamente estragados, precisando de graves concertos, sendo isso certamente a origem da falta de água que se experimenta na mesma ribeira, deliberou a Câmara se proceda ali prontamente aos necessários concertos, sendo para isso intimado os proprietários dos respetivos moinhos, que tem obrigação de fazer esses concertos, como Havia também o problema do estado de limpeza em que muitas vezes se encontrava a ribeira, ligado a hábitos antigos, que influenciava não só a normal fluidez das águas neste sistema mas que acarretava também outros problemas. A água da ribeira era usada como força motriz mas também para lavagem das roupas, razão porque se estabeleceram pias públicas em vários locais do seu percurso. O uso menos correto e abusivo, fazendo desta levada uma calha de despejo de imundices diversas, trouxe problemas a vários utilizadores, tendo a Câmara de agir em conformidade: “…fez a seguinte postura: “É proibido lavar couros, ou outros quaisquer objetos, sejam de que natureza forem, na ribeira que fica defronte do cruzeiro do extinto convento de São Francisco desta cidade, exceto unicamente roupa, como sempre ali se costumara lavar”. (Acórdão de 27 de janeiro de 1864) “A Câmara delibera se intime Francisco Vieira de Andrade, proprietário de um moinho na ribeira dos Moinhos, para mandar limpar a ribeira junto ao seu moinho, na forma da OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 211 RIBEIRA DOS MOINHOS, A RIBEIRA QUE A BAIXA DE ANGRA NUNCA VIU (Acórdão de 9 de janeiro de 1867) “Expôs o vereador Parreira que a ribeira denominada dos Moinhos, especialmente na parte que atravessa esta cidade, em consequência das imundices e animais mortos que nela se lançam frequentemente, e que os moinhos nela colocados retêm, se torna um verdadeiro foco de infeção, quando não seja desembaraçada convenientemente a sua correnteza, e tirados da proximidade dos moinhos as indicadas imundices que ali se juntam e noutros sítios da mesma ribeira, propondo se fizesse uma postura para obviar os ditos inconvenientes a bem da salubridade pública. A Câmara, achando o objeto carecedor de providências, e aprovando plenamente a proposta, fez a seguinte postura: Os proprietários dos moinhos e seus moleiros que se servem da água da ribeira denominada – Dos Moinhos – serão obrigados a abrir as suas respetivas represas, ou a deitar água fora, nos dias primeiro e quinze de cada mês, pelas seis horas da manhã, limpando-as de imundices, e não as tapando senão uma hora depois, para que a correnteza da água lave a dita ribeira convenientemente. O infrator desta postura pagará a multa de 6$000 reis, e no caso de reincidência o dobro, além da pena que lhe for imposta em juízo correcionalmente. Parágrafo único. Na mesma pena incorrerá aquele que fizer depósito das imundices ou maçames da ribeira proximamente a ela, devendo, logo que se tirarem, ser levados para lugares distantes e afastados das povoações…”. (Acórdão de 14 de abril de 1858) Essa “purga” da ribeira, imposta por postura de 1858 e que terá sido incorporada nos hábitos dos moleiros, resultando no levantamento de todas as represas do aqueduto principal, que desviavam água para os moinhos, permitia um caudal e velocidade da água pouco usuais. Assim parece a quem lê a seguinte ata: “Foi presente outro ofício do mesmo Diretor das obras públicas, nº 272, de 12 do corrente, pedindo seja adiada a limpeza da ribeira dos Moinhos – que tinha de realizar-se a 15 deste mês, para não turvar o mar e poder trabalhar-se nas obras do cais desta cidade a que se está procedendo. O excelentíssimo presidente expôs haver em consequência mandado suspender, por ora, a limpeza da dita ribeira, para que as obras do cais prossigam sem embaraço, em vista da indicada requisição; o que a Câmara plenamente aprovou”. (Acórdão de 17 de julho de 1861) Para combater o abusivo costume dos moradores dos prédios confinantes com a Ribeira dos Moinhos, e também de outros, de lançarem nela imundices e lixos, a Câmara cobriu alguns troços da levada por volta de 1925: “Conforme o deliberado por esta Câmara, está-se procedendo à cobertura de uma parte do leito da mesma ribeira, obra do maior alcance para o saneamento e higiene da cidade, mas o abuso não cessou e os despejos continuam a fazer-se com o agravante dos detritos, na parte coberta não serem arrastados pela corrente. Torna-se necessário e urgente pôr cobro a este procedimento, ressalvando porém, o direito dos mesmos vizinhos encanarem, nas devidas condições de salubridade, para o leito da ribeira, os esgotos dos seus prédios. Nesta conformidade a vossa Comissão executiva propõe a seguinte postura: 1 - É proibido lançar lixos ou quaisquer imundices sobre a cobertura ou nas margens do leito da Ribeira dos Moinhos, sob pena de vinte e cinco escudos, moeda insulana, pela primeira vez, o dobro desta quantia pela primeira reincidência e trezentos escudos, sempre moeda insulana, por cada uma das subsequentes. 2 - Esta postura não abrange o direito que os donos dos prédios confinantes com a dita ribeira tenham de encanar para ela, nas devidas condições, os esgotos dos mesmos prédios. 3 - Ficam revogados as posturas em contrário”. (Acórdão de 5 de agosto de 1925) Sobre este capítulo podemos ainda apresentar algumas referências a alterações, por variados motivos, do percurso da ribeira: [211] postura artigo 28, 1º, no prazo de oito dias, findo o qual será examinada por perito, pena de ser a limpeza feita à custa do município, paga a despesa depois pelo dito proprietário e a respetiva multa”. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 212 “Deliberou-se se oficie a António da Silva Batista sobre a falta de água limpa e pura que se experimenta, com grave incómodo público, no lugar ou depósito da ribeira dos – Moinhos – onde muitas famílias pobres circunvizinhas costumam lavar, falta ocasionada pela mudança de leito que ele fizera na ribeira quando construíra o seu último moinho...” (Acórdão de 29 de julho de 1857) “Deliberou-se se lhe diga que não podia mudar o leito da ribeira sem licença da Câmara: que esta não pode deixar de fazer correr a água da mesma ribeira no depósito onde o público lavava”. (Acórdão de 5 de agosto de 1857) “Deliberou-se se oficie ao proprietário Estulano Inácio Parreira pedindo-lhe haja de permitir que a ribeira denominada – dos Moinhos – passe alguns dias pelo canto de um cerrado que lhe pertence, para que o dono do moinho novo, João Coelho Vaz, possa concertar o encanamento junto ao mesmo moinho, para que fora intimado de ordem da Câmara, concertos que levará poucos dias, e não pode efetuar-se sem mudar-se a direção temporária da ribeira”. (Acórdão de 11 de junho de 1862) [212] “A Câmara delibera, ir hoje em vistoria à Ribeira dos Moinhos, no lugar denominado – a Ponta do Muro e fazer demolir as atenções feitas arbitrariamente no leito da dita ribeira por José Martins Areias, junto do moinho de Joaquim Machado Lourenço, em prejuízo do moinho confinante de Manuel Inácio de Meneses, e das casas circunvizinhas”. (Acórdão de 19 de julho de 1871) “Sob requisição do senhor Parreira resolveu a Câmara dar nova direção à Ribeiras dos Moinhos no lugar do Cruzeiro, afim de aformosear aquele sítio e livrar dos prejuízos a Ladeira de S. Francisco, ocasionados pelas águas pluviais”. (Acórdão de 19 de abril de 1876) “Deliberou a Câmara se intime o proprietário ou o rendeiro do moinho de São João de Deus, que está moendo sem licença desde o ano 1866 inclusive”. (Acórdão de 7 de agosto de 1867) Por escritura de 1 de outubro de 1877 a Câmara Municipal assina uma escritura de transação com Manuel Homem de Noronha e mais herdeiros do Visconde de Noronha, relativa à água da quinta da “Nasce-Água” nos termos da anterior resolução da Câmara sancionada pelo conselho do distrito, tornando-se proprietária da nascente da Nasce-Água, assumindo também que só as sobras das nascentes pertencem às azenhas existentes na Ribeira dos Moinhos (Acórdãos de 3 de outubro de 1877 e de 30 de junho de 1955). O FIM DE UM CICLO Com base em informações preciosas da Sra. Inês Teixeira (80 anos), do Sr. Francisco Barcelos (70 anos), do Sr. Alberto Machado (75 Anos – moleiro de profissão), do Sr. João Machado Vitória (82 anos – moleiro de profissão), da Sra. Bernardina Tristão (78 anos), do Sr. António Simões (70 anos) e de outros, foi possível identificar os locais onde funcionaram moinhos, muitos deles ainda a laborar no início da segunda metade do século XX, e conseguir alguns nomes pelos quais eram identificados, geralmente o da pessoa responsável pelo moinho. Alguns desses moinhos eram arrendados. O conjunto de 5 moinhos no lugar da Nasce-Água (os primeiros do mapa anexo) é disso bom exemplo. Os proprietários seriam os donos dos terrenos circundantes, entregando a gestão dos mesmos à exploração de terceiros.20 Outros eram construídos em terrenos aforados à Câmara.21 Moer farinha era uma atividade económica e como tal passou a ser necessário licença para o fazer: “O proprietário ou rendeiro de qualquer moinho, movido com água da ribeira denominada – dos Moinhos – é obrigado a tirar licença da Câmara anualmente, pena de pagar a multa de 6$000R”. “Deve ser o moinho limpo e preparado com todos os utensílios, e aferidas as medidas, sob pena de pagar, por qualquer falta, a multa de 600R”. (Acórdão de 8 de junho de 1864) 20 Em reunião da Câmara Municipal de 27 de outubro de 1955 é apresentada uma carta de Maria Luíza Brites de B. Silva do Rego Botelho assumindo-se como proprietária de 5 moinhos existentes na Nasce-Água. 21 “… Requerendo os proprietários Manuel Machado Pereira e Manuel Espínola de Mendonça providências sobre a direção das águas no lugar do Pisão próximo das alcaçarias, onde construíram moinhos que ali têm em terrenos aforados a este município…” Acórdão de 10 de dezembro de 1962. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 213 RIBEIRA DOS MOINHOS, [213] A RIBEIRA QUE A BAIXA DE ANGRA NUNCA VIU Moinho no Pisão. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 214 Nos anos de 1949 e seguintes22 Angra assiste a um grande projeto, de responsabilidade camarária: as obras de Abastecimento de Águas e Rede de Esgotos, adjudicadas à firma Silva & Ferreira Limitada. Foram substituídas e aumentadas redes de água e esgotos, mas também construído um grande reservatório de água em São João de Deus, junto à Ribeira do Moinho. Essas obras terão sido o princípio do fim dos moinhos a água, em São João de Deus e daí para sul. Em 1955 a Câmara alega que: [214] “Por se verificar a necessidade de se proceder à secagem da “Ribeira dos Moinhos” desta cidade – medida de saneamento prevista no projecto das redes de águas e esgotos da cidade de Angra do Heroísmo – e atendendo a que com a adopção de tal medida, as azenhas que por ela eram accionadas, ficam impossibilitadas de funcionar… deliberou a Câmara por unanimidade conceder aos proprietários das mesmas azenhas as indemnizações seguintes… com a condição deles fazerem entrega dos respectivos alvarás…”. Considerando ainda que a circunstância das azenhas não laborarem trazia um problema de “ordem moral”, a Câmara decide resgatar os alvarás a alguns proprietários de moinhos, forçando a imobilização das suas azenhas e pagando as respetivas indemnizações (Acórdão de 6 de maio de 1955). Segue-se a lista de proprietários de 5 azenhas: 1 na Rua de Santo Espírito, 1 no Largo de Santo Cristo e 3 na Rua João de Deus23, e o valor das indemnizações. (Acórdãos de 6 maio de 1955 e 14 de julho de 1955). A Câmara compromete-se a comparticipar financeiramente a mudança da força motriz das restantes azenhas para energia elétrica, garantindo a capacidade industrial das mesmas, encarregando os Serviços Municipalizados (Secção elétrica) de avaliar o custo dessa obra, individualizada por cada azenha tendo em conta o diâmetro da sua roda. Mais tarde decide indemnizar as despesas do Senhor Basílio Simões & Irmão (na Estrada 28 de Maio)24 e do Senhor Guilherme Martins de Castro (na Rua João de Deus), por já terem efetuado essa conversão. (Acórdão de 30 de junho de 1955). Ainda em 1955 a Câmara deu início à ligação da Ribeira dos Moinhos à rede de esgotos, junto à Igreja de São Francisco, desta cidade. (Acórdão de 27 de outubro de 1955). Estando ainda por fazer a eletrificação doutras azenhas, que não tinham sido expropriadas, decidiu-se que esses encargos seriam repartidos por 3 entidades: Câmara Municipal, Junta-Geral e Comissariado do Desemprego. João Vitória esteve presente nos últimos anos da laboração do moinho da Rua de Santo Espírito. Em 1956 via a roda parar em definitivo, pois, tal como nos confirmou, a Câmara Municipal de então “pagou para fechar a água da Ladeira de São Francisco para baixo…”. Este moleiro de profissão, encerrado o moinho da Rua de Santo Espírito, subiu a São João de Deus, onde “a água ainda corria”, e encontrou trabalho no Moinho da Sra. Isabe- 22 Em ata da reunião da Câmara Municipal de 19 de maio de 1955 vem Em 1954 (MERELIM, 1979, pp. 92-93) entram em funcionamento as Centrais Hídricas da Nasce-Água, São João de Deus e de Angra. Algum tempo depois a Câmara Municipal compromete-se a comparticipar financeiramente o novo projeto de distribuição de água potável “Ribeirinha/Cabo da Praia” e garantir o abastecimento dessa rede a partir da Nasce-Água. Essa é também uma forma de compensar a Junta-Geral de Distrito pelos aproveitamentos hidroelétricos realizados. O abastecimento público é assim o responsável por deixarem de existir sobras que mantenham as azenhas a funcionar. (Acórdão de 30 de junho de 1955). referida a “… recepção definitiva da obra da rede de águas e esgotos”, pelo que terá durado cerca de 6 anos a ficar concluída. 23 A rua que teve o nome de Rua João de Deus é conhecida atualmente apenas pelo nome de Ladeira de São Francisco. O moinho em causa é o moinho que foi adquirido pela Câmara Municipal e recuperado parcialmente. 24 A estrada que liga o Porto das Pipas ao Cais da Figueirinha era denominada no séc. XIX de Estrada Bernardino Machado. Na primeira metade do séc. XX o nome mudou para Estrada 28 de Maio, e atualmente foi renomeada com 2 nomes: para oeste do Cais da Alfândega ficou como Estrada Gaspar Corte-Real e para leste como Estrada Pero de Barcelos… troço onde estava a moagem do Senhor Basílio Simões & Irmão, hoje dos descendentes. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 215 RIBEIRA DOS MOINHOS, A RIBEIRA QUE A BAIXA DE ANGRA NUNCA VIU Sem água em São João de Deus, João Vitória mudou-se novamente, desta feita para o Moinho do João Murrão, na Vinha Brava. Diz-nos que este moinho: “tinha motor e água… quando a água enfraquecia ligava-se o motor”. Apenas em 1967 trocou o moinho pela emigração. Afigura-se-nos como certas duas realidades: (1) Terão cortado a água por troços, em momentos diferentes, talvez porque a planificação das obras o previam. Os moinhos perto da baixa de Angra pararam em conjunto, em primeiro lugar. Meses depois os de São João de Deus. Na Vinha Brava a levada nunca secou, mas o caudal enfraquecido deixou de satisfazer as necessidades dos engenhos; (2) Face aos moinhos existentes, tendo em conta os poucos a quem foram resgatadas as licenças e sabendo que também não foram muitos os que se adaptaram a funcionar com outro tipo de energia que não a água (i. e. motores de combustão ou eletricidade26), grande parte dos moinhos estariam já em situação precária de sobrevivência, acabando por encerrar naturalmente nas convulsões desta década de 50. Não consegui qualquer indicação precisa do ano em que a água fez farinha pela última vez, em que deixou de fazer girar a última roda ou rodízio. Terá sido provavelmente em final da década de 60, na Vinha Brava, e certamente um moinho misto: a água e a motor – os únicos então com viabilidade. Com o surgimento das moagens mecânicas o velho moinho a água foi destronado. Como por vezes na vida, só os adaptados sobrevivem. A razão para a quebra do caudal da ribeira é matéria que pode ser melhor estudada mas, ao contrário do que afirma Frederico Lopes (LOPES, 1980, p. 209) e outros que também lemos, a entrada em funcionamento das centrais hidroelétricas não terá tido qualquer papel nessa matéria. Não foram desviadas águas do curso da ribeira ou das nascentes da Nasce-Água para essas centrais. Todas elas funcionam em série, com a mesma água que nasce no interior das furnas d’Água e do Cabrito (MERELIM, 1979, p. 56), a vários quilómetros de distância. Mesmo depois de iniciarem a sua atividade houve moinhos em funcionamento ainda por vários anos. Em anexo está uma lista de engenhos, alimentados pela Ribeira dos Moinhos, que nos foi possível inventariar e localizar27, não só dos moinhos mas de outras fábricas. Trata-se de informação recolhida de forma oral junto dos decanos vizinhos desta ribeira, anteriormente identificados, e na obra “A Ribeira dos Moinhos de Angra do Heroísmo” de Isabel Silva, apresentada ao público já no decorrer das revisões finais deste trabalho. A mesma autora (SILVA, 2012, p. 64) relembra a existência de uma fábrica de papel que usava a água da Ribeira dos Moinhos como força motriz sem que tenha adiantado mais pormenores sobre a sua localização, razão porque acho oportuno o apontamento que se segue. A primeira fábrica de papel da Terceira (e ao que parece dos Açores) terá sido fundada por António Gil da Silveira Machado Bettencourt. Leia-se o que em jeito de obituário escreveu “O Angrense”, após o seu falecimento a 3 de Agosto de 1883: “Um dia António Gil pensou em fazer-se industrial. As disposições naturais da ilha terceira cortada em diversos sentidos por caudalosas ribeiras, já aproveitadas como motor para fábricas de moagem e pregadura, fizeram despertar-lhe a ideia de fun- 25 Esse moinho e o que lhe está mais próximo (do Ti António Patrício) eram propriedade do conhecido José Tomás da Praça Velha. 26 Usaram-se motores a gasóleo, e penso que também a gasolina. Pelo que me foi dito, este tipo de motor de combustão pareceu-me bem mais comum que os motores elétricos. 27 Francisco Maduro Dias afirma que em 1956 o curso de água movia 42 moinhos, muitos deles de azenha, outros de rodízio (“Diário Insular”, 2009). Já Isabel Silva avança que “… contavam-se, em meados do séc. XX, cerca de 45…” (SILVA, 2012, p. 54). Nesta lista apresentamos a localização de 43 moinhos. [215] linha25. Passados 19 meses (o tempo que João Vitória se demorou por lá), terá sido a vez de cortar a água da levada em São João de Deus. Alberto Machado, com o seu moinho perto do da Sra. Isabelinha, diz-nos que: “quando deixou de correr… foi para todos”. Embora não saibam precisar a data, parece-nos correto que tal terá ocorrido por volta de 1958, altura em que a água da levada, junto à Casa de Saúde de São Rafael, terá sido desviada de volta ao seu leito de ribeira primitivo… mas a levada ainda corria na Vinha Brava. OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 216 [216] Ribeira dos Moinhos – troço primitivo Levada artificial (aqueduto) da Ribeira dos Moinhos Delimitação da bacia hidrográfica da baixa de Angra DA NASCE-ÁGUA À MARINA DE ANGRA 1 - Moinho arrendado a Ti António André (*) 2 - Moinho arrendado a José Negrinho (*) A - Pias 3 - Moinho arrendado a António Ferreira (*) 4 - Moinho arrendado a João Pé d’Alho (*) 5 - Moinho arrendado a Júlio Pintado (*) 6 - Moinho do António Gregório Martins de Castro (“Cabeça”) 7 - Moinho do António Gonçalves Silva (“Bicha Fria”) 8 - Moinho do Aníbal Alberto Ferreira Toste 9 e 10 - Moinhos do Francisco Medeiros 11 - Moinho do Ti João da Roda (“Murrão”) 12 - Moinho do Ti Manuel da Roda 13 - Moinho do Henrique Sozinho 14 e B - Moinho (**) que mais tarde foi convertido na fábrica de pregos e fundição de ferro “A Preserverança”, conhecida também por Engenho dos Pregos 15 - Moinho do António Negrinho 16 - Moinho de Alberto Machado dos Santos (“Cebolinho”) 17 - Moinho do Chico Lagarto [Ferreira das Bananas (*)] 18 - Moinho da Sra. Isabelinha [José Tomás (*)] 19 - Moinho do Ti António Patrício 20 - Moinho do Mestre António Graciosa, depois adquirido por Joaquim Flores [José da Cunha (*)] C - Pias 21 - Moinho do Graciosa (**) 22 - Moinho de José Augusto. Mais tarde do filho Gilberto e depois da família Simões que já não usou a água como força motriz. Ardeu em 1965. [Guilherme Martins de Castro (*)] 23 - Moinho da D. Mariazinha (?). De proprietários da Vila Nova 24 - Moinho desaparecido em inícios da década de 60, quando foi aberta a Rua Beato João Baptista Machado 25 - Moinho de João Dutra (*) 26 - Moinho do Besugo (**) 27 - Moinho do Besugo (*) 28 - Moinho de Guilherme Dutra 29 - Moinho do Besugo (*) 30 - Moinho do Ramalho (*) 31 - Moinho de (?). Atualmente propriedade municipal D - Alcaçarias 32 - Moinho do “Bravo dos Biscoitos” (**) 33 - Moinho do “Vieira da Agualva” (**) 34 - Moinho de (?) E - Fábrica de Tabaco Âncora 35 - Moinho associado à fábrica de tabaco (?) 36 - Moinho da Viúva, de Maria José da Silva Saúde 37 - Moinho da Balança, de Francisco Coelho Maduro Dias 38 e 39 - Moinhos do Alfredo Cabeça (por último da viúva Maria da Conceição Martins) 40 - Moinho do Guilherme Martins de Castro 41 - Moinho de João Fernandes de Miranda, operado por João Vitória 42 - Moinho de (?) 43 - Moagem Terceirense F - Serra-de-água (*) - nome retirado de: (**) - existência do moinho retirada de: SILVA, 2012 - Plantas de Localização SILVA, 2012 OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 217 RIBEIRA DOS MOINHOS, A RIBEIRA QUE A BAIXA DE ANGRA NUNCA VIU Ficamos a saber como funcionava, mas não a sua localização. No entanto, de acordo com o Inquérito Industrial de 1881 uma fábrica instalada em 1879, com a denominação de “Insulana” produzia papel para o mercado regional. Existia ainda em 1885, tendo por sócio maioritário José Augusto da Silva Sampaio: “Instalada no lugar da Pateira em Angra, produzia esmagadoramente papel de embrulho, tendo no entanto realizado ensaios para a produção de papel de escrever…” (SOUSA, 2000, pp. 135 e 137). Como a informação disponível, apesar de reduzida, não choca uma com a outra, pensamos tratar-se da mesma fábrica que mudou de dono após a morte de António Gil, sendo provável que estivesse a funcionar nalgum imóvel que depois veio a ser um dos moinhos que identificamos na fotografia anexa, no lugar da Pateira. Não foi possível precisar todos os que estariam a funcionar quando foi sendo cortada a água da levada. EPÍLOGO Não tive hipóteses de falar com outros protagonistas desta história, nem ainda a oportunidade de voltar a falar segunda vez com esses informadores. Também fica coxa a pesquisa bibliográfica nos acórdãos da Câmara, pela mesma falta de tempo. Opto por cumprir os timings “sugeridos” para entrega deste apontamento sobre a Ribeira dos Moinhos de Angra, pois caso contrário correria o tão habitual risco de me dispersar por outras áreas… o que acabou acontecendo um pouco neste trabalho mas de forma controlada. Um agradecimento ao Zé Maria dos Montanheiros, que não cessa em resgatar às garras do Tempo fragmentos da nossa história, que vão desaparecendo entre matagal e ruínas, nos locais recônditos desta ilha, ou que vão sendo paulatinamente destruídos. Com esta obra extraordinária a vários níveis, surgiu o “Pisão” a “Rua Ribeira dos Moinhos” e a “Canada do Moinho”. Quando tudo mais desaparece, da vista e da memória dos homens, fica ainda a toponímia. [217] dar uma fábrica de papel. Veio a Lisboa, visitou as diversas fábricas do paíz, fez aquisição de operários práticos e regressou à ilha muito satisfeito com o êxito assegurado da sua empresa. Ia-se-lhe adiantando no entanto, uma lesão no coração. Não esmoreceu, porém. A Fábrica fundou-se e vinte e cinco dias antes de falecer teve o prazer de ler um jornal impresso em excelente papel da sua fábrica, a primeira que funcionava nos Açores.” (Jornal “O Angrense” nº 1997, pp. 2-3, de 9 de agosto de 1883). OS_ Paulo Barcelos_01z_Layout 1 11/27/12 7:51 PM Page 218 Moinho de Guilherme Martins de Castro. [218] BIBLIOGRAFIA: ANDRADE, Adelino Paim Lima – A minha geração foi a última no tempo. 2012. FRUTUOSO, Gaspar – Saudades da Terra (Livro VI) – Instituto Cultural de Ponta Delgada, 2005. ANDRADE, Jerónimo Emiliano de (Pe.) – Topographia ou Descripção Physica, Politica, Civil, Ecclesiastica, e Historica da ilha Terceira dos Açores – Parte Primeira, 1843. GREGÓRIO, Rute Dias – Terra e fortuna: os primórdios da humanização da ilha Terceira (1450?-1550). Centro de História de Além-Mar, 2007. BRAZ, Henrique – Ruas da Cidade (notas para a toponímia da cidade de Angra, da ilha Terceira) e outros escritos – Instituto Histórico da Ilha Terceira, 1985. 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