UTILIZAÇÃO DO MATERIAL MANUPULATIVO BARRAS DE

Transcrição

UTILIZAÇÃO DO MATERIAL MANUPULATIVO BARRAS DE
UTILIZAÇÃO
DO
MATERIAL
MANUPULATIVO
BARRAS
DE
CUISENAIRE ADAPTADO COMO MEDIADOR DA APRENDIZAGEM DO
ALUNO CEGO
Marianna Florentina Lima Alves de Oliveira Drummond 1
Prof. Dr. Milton Rosa2
Indicação do eixo temático: Educação Especial e Inclusão Escolar
Indicação da categoria: Pôster
Resumo:
Existe a necessidade do desenvolvimento de propostas pedagógicas que
sejam elaboradas com base na utilização do material manipulativo das barras
de Cuisenaire, que possam ser adaptadas para o ensino e a aprendizagem de
conteúdos matemáticos para alunos cegos. Assim, estas atividades podem ser
desenvolvidas a partir da utilização desse material por meio de sua relação
com situações-problemas cotidianas vivenciadas por esses alunos, pois tem
como objetivo aproximar o ambiente de aprendizagem com o seu dia-a-dia.
Esse projeto será fundamentado teoricamente de acordo com os estudos de
Vygotsky com relação à teoria da mediação. O participante desse estudo é um
aluno de sete anos, com cegueira congênita, que está vivenciando as suas
primeiras experiências escolares. Esse participante será acompanhado pela
professora-pesquisadora em parceria com a professora da classe, que
conjuntamente utilizarão as atividades curriculares de matemática elaboradas
para possibilitar a apropriação de conceitos como número, quantidade, ordem,
capacidade, soma e subtração. Os procedimentos metodológicos deste projeto
de pesquisa estão fundamentados no estudo de caso e na observação
participante, ambos de natureza qualitativa. O diário de campo da professorapesquisadora, as entrevistas semiestrutradas e as atividades elaboradas com o
material manipulativo barras de Cuisenaire serão os instrumentos utilizados
para a coleta de dados deste estudo. Ao final da condução deste projeto, será
elaborado como produto educacional um caderno de sugestões, que também
poderá ser impresso em Braille, pois tem como objetivo auxiliar os professores
no processo educacional de alunos cegos.
Palavras-chave: Educação Matemática; Alunos Deficientes Visuais, Barras de
Cuisenaire.
1
2
Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Educação Matemática-UFOP
Orientador
2
Introdução
Um novo paradigma educacional vem sendo construído no Brasil. Esse
paradigma está relacionado com a concepção de uma escola aberta, que tem
por objetivo acolher as diferenças e a pluralidade cultural da população
brasileira. Esse é um paradigma que vem sendo consolidado pela mídia, pelas
organizações sociais e por políticas públicas, pois tem “levado a busca de uma
necessária transformação da escola e das alternativas pedagógicas com o
objetivo de promover uma educação para todos nas escolas regulares”
(FERNANDES e HEALY, 2007, p. 59). Assim, em ressonância com esse
(...) novo paradigma educativo, a escola deve ser definida como
uma instituição social que tem por obrigação atender todas as
crianças, sem exceção. A escola deve ser aberta, pluralista,
democrática e de qualidade. Portanto, deve manter as suas
portas abertas às pessoas com necessidades educativas
especiais (GOFFREDO, 1999, p. 31).
Dessa maneira, nas últimas décadas, tem-se tornado frequente o debate
sobre um sistema educacional inclusivo, que abranja as esferas política,
cultural, social e pedagógica, para que se possa manifestar em prol do direito
de todos os alunos a uma educação de qualidade. Sob esta perspectiva
inclusiva, os alunos com deficiência visual têm dificuldades para desempenhar
as atividades curriculares nas quais a visão é essencial para a sua realização.
Nesse sentido, os alunos cegos são limitados na realização dessas tarefas de
acordo com a amplitude e a variedade de suas experiências escolares. Então,
a adoção de medidas educacionais inclusivas é necessária para que esses
alunos possam superar essas limitações (AGRAWAL, 2004).
Os conceitos matemáticos podem ser difíceis para os alunos
entenderem em virtude de sua natureza abstrata. Nesse sentido, é importante
que os professores tenham como foco facilitar o entendimento de conceitos
matemáticos ao invés de preparar os alunos para praticar e decorar
procedimentos de rotina (NCTM, 2000). A utilização de materiais manipulativos
nas salas de aula de matemática apoia essa abordagem que possibilita que os
alunos compreendam os conteúdos matemáticos permitindo-os descobrirem e
aplicarem os conceitos propostos em sala de aula (CLEMENTS e BATTISTA,
3
1990). Os materiais manipulativos são objetos concretos que podem ser
fisicamente manipulados pelos alunos para demonstrar ou modelar conceitos
matemáticos abstratos. Esses materiais incluem os Tangrams, os cubos, o
material dourados e as barras de Cuisenaire.
A utilização contínua dos materiais manipulativos tem um efeito positivo
no desempenho dos alunos, pois permitem a utilização de objetos concretos
para observar, modelar e internalizar conceitos matemáticos (MILLER e
O’NEIL, 2004). Esses materiais auxiliam os alunos a construírem os próprios
modelos cognitivos para as ideias e os processos matemáticos por meio do
oferecimento de uma linguagem comum para que possam comunicar esses
modelos para os professores e demais alunos.
Metodologia
Este estudo utilizará a metodologia de pesquisa qualitativa, que tem por
objetivo qualificar e atribuir qualidades quando se investiga questões subjetivas
(JAVARONI, SANTOS e BORBA, 2011) Assim, a resposta para a questão de
investigação será obtida a partir da coleta de dados descritivos e do contato
direto e interativo da professora-pesquisadora com as informações que têm
relação com a problemática desse estudo. Nesse sentido, a pesquisa
qualitativa tem como
(...) foco entender e interpretar dados e discursos, mesmo
quando envolve grupos de participantes, (...) [Esse tipo de
pesquisa]
depende
da
relação
[entre]
observador-
observado (...). Essa metodologia por excelência repousa
sobre a interpretação e várias técnicas de análise de
discurso (D’AMBROSIO, 2006, p. 10).
Dessa maneira, quando se está elaborando ou executando uma
pesquisa em educação matemática, busca-se entender as relações que
acontecem com o objeto do estudo, que está ancorado em uma perspectiva
teórica que sustenta a maneira de concepção do mundo em que se vive. Então,
a pesquisa pode ser descrita como uma
4
(...) trajetória circular em torno do que se deseja
compreender,
exclusivamente
não
com
se
preocupando
seus
princípios,
única
e
leis
e
generalizações, mas sim focando nos elementos que se
constituem significativos para o pesquisador (JAVARONI
et al., 2011, p. 198).
Nesse direcionamento, o processo metodológico qualitativo constitui-se
por meio de ações da observação com as quais os “pesquisador[es] também
se baseia[m] em hipóteses, possu[em] intencionalidade na participação do
grupo” (FIORENTINI e LORENZATO, 2006, p. 109). Assim, diante dessa
perspectiva, a abordagem qualitativa é o tipo de pesquisa que melhor responde
às inovações intrínsecas ao desenvolvimento curricular, pois depende da
observação das reações e do comportamento dos indivíduos. Então, os
pesquisadores e os pesquisados desenvolvem uma relação íntima. De acordo
com essa abordagem, as entrevistas são fundamentais na condução de
pesquisas e investigações e a observação de reações dos respondentes são
facilitadas pelos seus registros (D’AMBROSIO, 2006). Então, a técnica
qualitativa permite aos pesquisadores e investigadores liberdade e flexibilidade
para que possam focalizar de uma maneira ampla e holística os temas que
estão relacionados com a problemática a ser estudada (BOGDAN e BIKLEN,
1992).
Resultados e discussão
As barras de Cuisenaire são materiais manipulativos versáteis utilizados
para ensinar conteúdos matemáticos diversificados como as quatro operações
básicas, as frações, as áreas e os volumes de figuras geométricas, raízes
quadradas, a lineares e quadráticas e sistemas de equações. Essas barras
(réglettes em francês) foram denominadas Cuisenaire por causa de seu
inventor Georges Cuisenaire (1891-1976), um professor belga, que inventou
essas réguas coloridas de madeira para ensinar aritmética para os seus
alunos. Cuisenaire também publicou, em 1952, o livro intitulado Les Nombres
5
en Couleurs sobre a utilização desse material. A figura 01 mostra as barras de
Cuisenaire.
Figura 01: Barras de Cuisinaire
Fonte: Arquivo pessoal da professora-pesquisadora
As barras de Cuisenaire podem ser utilizadas para auxiliar as crianças
aprenderem muitos conceitos matemáticos como os numéricos e as medidas
(CHARLES, HOLDEN e BRUMMETT, 1989). Por exemplo, os resultados do
estudo conduzido por Marsh e Cooke (1996) mostraram que a utilização das
barras de Cuisenaire contribuiu para que os alunos do terceiro ano do ensino
fundamental pudessem identificar as operações matemáticas necessárias para
a resolução dos problemas propostos em sala de aula.
A utilização de materiais manipulativos para representar as ideias
matemáticas é recomendada pelo National Council of Teachers of Mathematics
(NCTM, 2000), pois possibilita o emprego de objetos concretos, físicos e
observáveis, como por exemplo, as barras de Cuisenaire, para ensinar
conceitos matemáticos abstratos tornando-os visíveis, táteis e com significado
(JESSICA, 1995). De acordo com esse contexto, é importante considerar a
educação social de crianças com deficiências e o seu potencial de
aprendizado, pois propõe que essas crianças sejam estudadas sob uma
perspectiva qualitativa e não como uma variação quantitativa das crianças sem
deficiências (VYGOTSKY, 1989 apud HEALY e FERNANDES, 2011).
Como o presente estudo é voltado o ensino de matemática para um
aluno cego, as cores não têm influência para a percepção dos números
relacionados com as barras do material manipulativo Cuisenaire. Então, esse
material deve ser adaptado às necessidades educacionais desse participante.
Nesse contexto, os materiais adaptados devem ser simples, resistentes,
duráveis, de fácil manuseio, bem como agradáveis ao tato, para que possam
6
favorecer a visualização dos conteúdos ensinados por meio desse sentido (SÁ,
2011), pois visa facilitar a leitura tátil desses materiais pelos alunos com
deficiências visuais.
Dessa maneira, os códigos relacionados com a textura empregada
nesses materiais podem ser utilizados para simbolizar as cores para alunos
cegos ou com baixa visão. Então, os materiais manipulativos adaptados são
recursos pedagógicos importantes para que os professores possam preparar e
elaborar as atividades curriculares. Contudo, Sá (2011) afirma que a produção
e a adaptação desses materiais devem a) aproximar-se do modelo original, b)
ser atraentes e agradáveis ao tato, c) ser pertinentes em relação aos
conteúdos a serem estudados, d) ser adequados à faixa etária dos alunos, e)
observar as suas dimensões e tamanho, f) evitar o excesso de detalhes ou o
exagero de formas e contornos e g) utilizar traços e formas simples para
facilitar a percepção e a compreensão parcial e global do objeto representado.
Nesse sentido, é importante que os professores escolham os materiais
manipulativos adequados em relação à qualidade, textura, durabilidade e
consistência, para que os alunos com deficiências visuais e cegos sejam
beneficiados pelo seu manuseio em sala de aula (SÁ, 2011). Dessa maneira,
torna-se necessária uma adaptação do material manipulativo das barras de
Cuisenaire,
sem
perder,
contudo,
a
intencionalidade
existente
na
correspondência entre os números representados por essas barras e as suas
respectivas cores.
As adaptações realizadas nas barras de Cuisinaire foram realizadas pela
professora-pesquisadora e seu orientador após conversas realizadas com o
Professor Arthur Powell em um congresso de Educação Matemática realizado
em Juiz de Fora em 2014 e também com o professor que acompanha o
participante desse estudo. Assim, após o professor Arthur Powell comentar
sobre a utilização das texturas para a adaptação das barras de Cuisenaire, a
professora-pesquisadora e o seu professor orientador determinaram a
correspondência entre as cores e os números que essas barras representam
(GATTEGNO, 2011). Assim, para adaptar as barras de Cuisenaire às
necessidades do participante desse estudo, as cores serão substituídas por
7
texturas, com a preocupação de que não se despreze as correspondências
existentes entre as cores de mesma nuance, que serão representadas no
material adaptado de Cuisenaire com texturas iguais.
Ao final da realização dessa pesquisa, espera-se que se possa obter
uma descrição detalhada da maneira como os processos de aprendizagem dos
conteúdos matemáticos são desenvolvidos por um aluno cego de sete anos
que está cursando o ensino regular de uma escola pública estadual do interior
de Minas Gerais com o auxílio do material manipulativo barras de Cuisenaire.
Nesse direcionamento, espera-se também que essa investigação mostre quais
são as contribuições da utilização de materiais manipulativos como a barras de
Cuisenaire para o desenvolvimento do processo de numeracia desse aluno.
Dessa maneira, é esperada a verificação de como é desencadeada a
apropriação dos conceitos iniciais de conteúdos matemáticos por um aluno
com deficiência visual congênita.
Assim, essa verificação poderá contribuir com o desenvolvimento da
numeracia deste aluno, pois poderá possibilitar a verificação das contribuições
desse material manipulativo como mediador do processo de apropriação dos
conhecimentos matemáticos de uma maneira dinâmica e criativa. Finalizando,
espera-se que o produto educacional que se originará da realização desse
projeto possa contribuir para auxiliar os professores no desenvolvimento de sua
prática docente com os alunos com deficiências visuais.
Referências
AGRAWAL, S. Teaching mathematics to blind students through programmed learning
strategies. Delhi, India: Abhijeet, 2004.
CHARLES, W.; HOLDEN, L.; BRUMMETT, M. R. Linking mathematics with
manipulative. Sunnyvale, CA: Creative Publications, 1989.
CLEMENTS, D. H.; BATTISTA, M. T. Research into practice: constructivist learning
and teaching. Arithmetic Teacher, v. P. 38: 34-35, 1990.
FERNANDES, S. H. A. A. Das Experiências Sensoriais aos conhecimentos
matemáticos: Uma análise das práticas associadas ao ensino e aprendizagem de alunos
8
cegos e com visão subnormal numa escola inclusiva. Tese de Doutorado, Pontifícia
Universidade Católica, São Paulo, SP, Brasil., 2008
FIORENTINI, D; LORENZATO,S. Investigação em Educação Matemática: percursos
teóricos e metodológicos. Campinas: Autores Associados, 2006.( Coleção de Formação
de professores)
HEALY, L.; FERNANDES, S.H.A.A.Relações entre atividades sensoriais e artefatos
culturais na apropriação de práticas matemáticas de um aprendiz cego. Educar em
Revista (Impresso), v. Esp., p. 227-244., São Paulo, SP, 2011
GATTEGNO, C. Mathematics textbook 1.Qualitative arithmetic – the study of numbers
from 1 to 20. New York, NY: Educational Solutions Worldwide Inc., 2011.
GOFFREDO, V. L. F. S. Educação: direito de todos os brasileiros. Salto para o futuro:
educação especial. Tendências atuais. Brasília, DF: SEED/MEC, 1999.
JAVARONI, S. L.; SANTOS, S. C.; BORBA, M. C. Tecnologias digitais na produção e
análise de dados qualitativos. Educação Matemática Pesquisa, v.13, n. 1, p. 197-218,
2011.
JESSICA D. Using the cuisenaire rods: a text guide for teachers. Fishguard, England:
Cuisenaire Company of America, Inc., 1995.
MILLER, J.; O’NEIL, M. Beginning Algebra. New York, NY: The McGraw- Hill
Companies, Inc., 2004.
MARSH, L. G.; COOKE, N. L. The effects of using manipulatives in teaching math:
problem-solving to students with learning disabilities. Research and Practice, v. 11, n.
1, p. 58-65, 1996.
NCTM. Principles and standards for school mathematics. Reston, VA: National
Council of Teachers of Mathematics, 2000.
SÁ, E. D. Atendimento educacional especializado para alunos cegos e com baixa visão.
São Paulo, SP: Atendimento Educacional Especializado – AEE, 2011. Disponível em
<http://elaineaee.blogspot.com.br/2011/11/atendimento-educacionalespecializado_05.html>. Acesso em 10 de Março de 2015.

Documentos relacionados