CURSO “O SURREALISMO / DÁDÁ

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CURSO “O SURREALISMO / DÁDÁ
POESIA E ARTES PLÁSTICAS
CURSO “O SURREALISMO / DÁDÁ-ZEN” –
(2º e 3º Anos)
Ano-Lectivo de 2015/2016
Professor Pintor Eurico Gonçalves
. 1ª Sessão (teórica) – 15 de Abril
Com projecção de imagens.
I - ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO SURREALISMO.
A Pintura Fantástica e Visionária de Jerónimo Bosch (1450-1516) e de Arcimboldo (1527 1593).
O Palácio Ideal De Facteur Cheval (1836-1924). A Arquitectura orgânica de Gaudi.
A Poética do Maravilhoso na Pintura Simbolista de Henri Rousséau e Gauguin, séc. XIX, e no Surrealismo
onírico de Chirico, Chagall e Miró. A Poesia Simbolista de Baudelaire (1821-1867), Mallarmé (1842-1898),
Verlaine (1844-1896), Rimbaud (1854-1891), Lautréamont (1846-1870), Alfred Jarry (1873-1907) e dos
portugueses Cesário Verde (1855-1886), Camilo Pessanha (1887-1927) e Teixeira de Pascoaes (1877-1952).
Cubismo / Expressionismo de Picasso e Arte Negra Africana.
1907: «Les Demoiselles d' Avignon».
Orfismo de Delaunay e sua influência na pintura de Amadeo de Souza- Cardoso, que cedo descobriu a
vocação abstracta do Cubismo, como autor de Composições Abstractas-Geométricas, de raiz cubista, datadas
de 1912-1913.
1910: primeira aguarela abstracta lírica de Kandinsky, autor do livro «O Espiritual na Arte».
Composições cubo-futuristas de Severini, Boccioni, Santa-Rita Pintor e Amadeo de Souza-Cardoso.
Pioneiros do Modernismo em Portugal: artistas e poetas da Revista Orpheu, 1915 - Amadeo de
Souza-Cardoso, Santa-Rita Pintor, Almada Negreiros, Fernando Pessoa, Mário Sá Carneiro, Raul Leal.
Manifesto Anti-Dantas, 1915, de Almada Negreiros, cuja Arte de Atitude, precursora da Performance,
chocou e escandalizou a burguesia da época.
Influência do Futurismo na Poesia de Fernando Pessoa / Álvaro de Campos e nos Poemas Manucure e
Indícios de Oiro de Mário de Sá Carneiro.
Composições cubo-futuristas ou proto-dadaístas de Santa Rita Pintor, tradutor dos Manifestos Futuristas
de Marinetti, e de Amadeo de Souza-Cardoso, autor de notáveis pinturas-colagens de 1915-1917, que só
viriam a ser redescobertas, 30 anos mais tarde, pelos Surrealistas Portugueses.
O Futurismo adere à Guerra de 1914-1918, enquanto o Dadaímo a contesta, questionando todos os valores
instituídos de Arte, Civilização e Progresso, que desembocaram nessa Guerra absurda.
Dadaísmo Internacional - Arte de Atitude, de contestação e de provocação: Manifestos Dádá de Tristan
Tzara; Marcel Duchamp eleva o Ready-Made à categoria de obra de arte; Picabia parodia a mecânica e o
objecto utilitário; a exploração do acaso e a livre associação de imagens inspiram as colagens, feitas com
detritos, assinadas por Kurt Schwitters e Max Ernst; obras de Arp. Man Ray e de outros acentuam a atitude
vitalista dádá de Anti-Arte Museu; dádá está na origem do maior movimento poético do séc. XX:
O Surrealismo.
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. 2a Sessão (teórica) – 22 de Abril
Com projecção de imagens.
II - SURREALISMO INTERNACIONAL E SURREALISMO / ABJECCIONISMO PORTUGUÊS.
Primeiro e Segundo Manifestos de André Breton, 1923 / 1930
Psicanálise e Surrealismo. Automatismo Psíquico, revelador do real funcionamento do pensamento.
Interpretação dos sonhos. Dados imediatos do Inconsciente. Imagem paranóica.
Exploração do Acaso: Cadavre-exquis; desenho colectivo e pintura colectiva (A POESIA DEVE SER FEITA
POR TODOS, NÃO APENAS POR UM - LAUTRÉAMONT).
Colagem: livre associação de imagens. Metamorfose e Metáfora.
Montagem objectual. Objecto surrealista desviado da sua função habitual.
Objecto de funcionamento simbólico.
Frottage e Decalcomania: o poder sugestivo da textura.
Ocultação /Desocultação: intervenção sobre a imagem fotográfica. Aspectos ilustrados com a pintura
metafísica de Çhirico, Magritte e Delvaux; o espaço onírico de Chagall e Tanguy; a visão paranóica de Dali; o
automatismo psíquico de Masson, Michaux e Cesariny; a pintura sinalética de Miró, Klee e Kandinsky; as
colagens, frottages e decalcomanias de Max Ernst; as ocultações de Fernando de Azevedo; a irreverência
dádá nos objectos metamorfoseados de Cruzeiro Seixas, cujos desenhos e colagens exaltam a imagética
delirante e obsessiva da sensualidade de esculturais corpos juvenis, em cenários de abismo e vertigem;
sensualidade e erotismo nos objectos, nas grafitagens e na pintura abstracta-lírica de Vespeira; o cadavreexquis pintado por António Domingues, António Pedro, Fernando de Azevedo, Moniz Pereira e Vespeira; e os
cadavres-exquis gráficos de Cruzeiro Seixas, Mário Henrique Leiria, Carlos Calvet, Gonçalo Duarte, Raul
Perez e Mário Botas.
III - SURREALISMO EM PORTUGAL, numa perspectiva histórica.
Júlio / Saúl Dias - pintor-poeta da revista Presença. Surrealista desde os anos 20, com inicial influência de
Chagall, realiza a sua 1a exposição individual em 1930. O seu expressionismo lírico e transfigurado
aproximou-se do expressionismo visionário e psicopatológico de Mário Eloy (1900-1950).
Nos anos 30, a primeira exposição, em Lisboa, de pintura abstracta lírica de Vieira da Silva e Arpad Szenes foi
uma referência para os surrealistas portugueses.
António Pedro e António Dacosta expõem em 1940 obras surrealistas de raiz expressionista que reflectem a
tensão dramática da Guerra Civil de Espanha e da II Guerra Mundial (1939-45), à margem da Exposição do
Mundo Português, que documenta oito séculos de História (1140-1940), segundo a óptica do Estado Novo de
Salazar / António Ferro.
1942 - Aurora Hiante, óleo surrealista de Cândido Costa Pinto, com influência de Dali. Outras obras do
mesmo autor homenageiam Jerónimo Bosch e, em 1945, abeiram-se do Surrealismo abstracto.
A experiência dâdá-abjeccionista, anarquizante, de jovens estudantes da Escola António Arroio, no Café
Hermínius, em Lisboa, desde 1942-1944: Cesariny, Cruzeiro Seixas, Vespeira, Azevedo, António Domingues
e outros, que viriam a formar grupos e anti-grupos de curta duração, no imediato pós-guerra, em
1947/49/50/52. Antecedidos de brevíssima passagem pelo Neo-Realismo, de que imediatamente se
demarcaram, os Surrealistas Portugueses propuseram uma visão mais alargada e transformadora do homem e
do mundo, liberta das amarras e limitações da chamada Arte de Compromisso Social que, todavia, atinge o
seu expoente máximo nos Murais mexicanos de Orosco, Rivera e Siqueiros, e na Guernica de Picasso,
obra-prima expressionista-cubista, referência primordial na História da Arte Moderna
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Surrealismo / Abjeccionismo em Português que, em época negra de má memória (anos 40-50), tenta responder
à seguinte pergunta: «QUE PODE FAZER UM HOMEM DESESPERADO, QUANDO O AR É UM VÓMITO E NÓS
SERES ABJECTOS?» - Pedro Oom.
O Abjeccionismo Português, moralmente assumido na vida e na obra de Luís Pacheco. «O ÊXITO E O
FRACASSO SÃO UMA E A MESMA CADEIA»; na vida e na obra de Mário Cesariny: «VIVER AO NÍVEL DAS
PERISCAS DOS OUTROS»; na vida e na obra de António José Forte: «ESTOU FARTO DE FAZER TRICOT COM AS
MINHAS PRÓPRIAS TRIPAS»; e na vida e na obra de João Rodrigues: «TRATO A LOUCURA POR TU. CONVIVO
COM ELA TODOS OS DIAS, EM MINHA CASA».
A Despintura-Poesia de Mário Cesariny está cheia de fantasmas, seres incorpóreos e celestes que,
repentinamente, emergem da treva, brancos de tanto empalidecerem. «NA ARTE DE INVENTAR
PERSONAGENS» o fantasma é o que nos fita com maior persistência e espanto. Ser fantasma é coisa
esquisita. «VEJO-O DE OLHOS MAREJADOS DE LÁGRIMAS ».
. 3a Sessão (teórica) – 29 de Abril
Com projecção de imagens. I V- DÁDÁ-ZEN PINTURA-ESCRITA
Afinidades entre a atitude vitalista Dádá e o espírito Zen. A Inocência Primordial e o Grau Zero do
Conhecimento. O Cheio Opressor e o Vazio Libertador.
Ocidente / Oriente. Enquanto no Ocidente, as actividades espontâneas desenvolvidas por dadaístas e
surrealistas, interpretadas pela Psicanálise contribuem para libertar o homem de recalcamentos, despertando
nele a vontade de se realizar de acordo com a sua própria natureza, no Oriente, o Budismo Zen ocupa-se do
nascimento pleno do homem, liberto de mitos e tabus que o impedem de crescer e agir. Nascer plenamente é
despertar do meio sono em que vive o homem comum. Do ready-made de Marcel Duchamp à arte do deixar
acontecer de Arp., André Masson, Michaux e Cesariny, que não sabem de antemão o que pintam,
aproximando-se, por essa via, do espírito Zen, designadamente através da exploração dos dados imprevisíveis
do acaso. «O ACASO É O MEU DEUS» - Cruzeiro Seixas; «SÓ SE É INTEIRAMENTE LIVRE PERANTE O ACASO» Novalis.
O Satori ou a súbita iluminação espiritual Zen tem algo a ver com: «O PONTO DO ESPÍRITO SURREALISTA
ONDE O ALTO E O BAIXO, O INTERIOR E O EXTERIOR, O SONHO E A ACÇÃO, O REAL E O IMAGINÁRIO, DEIXAM
DE SER PERCEBIDOS CONTRADITORIAMENTE» - André Breton.
O espírito surrealista tende a aproximar-se do espírito Zen, na síntese ou união dos contrários.
O mondo (perguntas e respostas ao acaso) e o humor Zen contribuem para despertar no espírito a apreensão
imediata e total da vida, tal como o cadavre- exquis e o automatismo psíquico puro surrealista.
Tal como Dâdá, o Zen é o facto vivo, que só tem sentido enquanto acontece; dispensa a explicação e qualquer
juízo de valor.
«SEMPRE FIZ O QUE QUIS E O MÍNIMO POSSÍVEL» - Marcel Duchamp: «SENTIR A ALMA, SEM A EXPLICAR,
SEM VOCABULÁRIO, E REPRESENTAR ESTA SENSAÇÃO É, SEGUNDO CREIO O QUE ME TEM CONDUZIDO À
MONOCROMIA. A ARTE É A BOA SAÚDE!» - Yves Klein - «O MÉTODO QUE CONSISTE EM NÃO SEGUIR
NENHUM MÉTODO É O MÉTODO POR EXCELÊNCIA» - conceito metafísico do Taoísmo, que não está longe da
afirmação do dadaísta Tristan Tzara: «A AUSÊNCIA DE SISTEMA É AINDA UM SISTEMA, MAS O MAIS
SIMPÁTICO».
O Desregramento dos sentidos, preconizado por Rimbaud, toca profundamente a Poesia e a Despintura de
Mário Cesariny, que foi quem, entre nós, levou mais longe a prática do automatismo psíquico, tendo sido um
dos primeiros pintores informalistas, no âmbito do Surrealismo Abstracto, desde os anos 40, ao mesmo tempo
que Wols e Michaux.
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«FOI A DESPINTURA QUE ME AJUDOU A DESREGRAR E A DESMEMBRAR A LINGUAGEM QUE A PARTIR DAÍ,
PRATIQUEI- NOS MEUS VERSOS» - Mário Cesariny.
Nos anos 60 / 70, Eurico realizou Despinturas, Descolagens e Desdobragens, chamando a atenção para a
importância do prefixo Des: segundo Zen, é pela negação do sinal que se cria um novo sinal.
O automatismo psíquico surrealista está na origem da pintura gestual caligráfica, de inspiração Zen, de André
Masson, Michaux, Degottex e Eurico.
A arte de expressão directa, segundo Zen, não admite qualquer correcção ou retoque. É uma arte sem artifício.
«NADA TEU EXGERA OU EXCLUI. SÊ TODO EM CADA COISA. PÕE QUANTO ÉS NO MÍNIMO QUE FAZES»
- Ricardo Reis «É COM OS OLHOS VENDADOS QUE O GRANDE ATIRADOR ALVEJA» - António Maria Lisboa.
«ESTOU VIVO E ESCREVO SOL» - António Ramos Rosa.
. 4ª Sessão (prática) – 6 de Maio
EXPERIMENTAÇÃO DE TÉCNICAS MUITO UTILIZADAS PELOS SURREALISTAS
TÉCNICAS QUE ESTIMULAM A CRIATIVIDADE CADAVRE-EXQUIS verbal, gráfico e pictórico
- Exploração do Acaso
- Livre associação de imagens
- Desenvolvimento do Pensamento Divergente, ilógico e subjectivo complementar do Pensamento
Convergente, lógico e objectivo.
DESENHO COLECTIVO / PINTURA COLECTIVA
. 5ª Sessão (prática) – 13 de Maio
FROTTAGE E DECALCOMANIA nas obras de Max Ernst e Óscar Dominguez
- O poder sugestivo da textura, obtida por fricção
- O poder sugestivo da mancha informal e cromática, obtida por compressão
Leonardo da Vinci aconselhava os seus discípulos a olhar a textura de uma porta velha para
estimular a capacidade visionária.
6a Sessão (prática) – 20 de Maio
COLAGEM / METAFÓRICA – Livre associação de imagens fora do seu contexto habitual
- Poemas Visuais e Poemas-Objectos de André Breton e de Cesariny
- A Palavra e a Imagem
As Palavras em Liberdade de Mallarmé
. 7a Sessão (prática) – 27 de Maio
MONTAGENS OBJECTUAIS OU OBJECTOS SURREALISTAS de Cruzeiro Seixas e Vespeira
- Objectos deslocados da sua função habitual
- Objectos de funcionamento simbólico de Salvador Dali
- Aproveitamento de detritos da sociedade de consumo
- As máquinas lúdicas de Tinguely
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. 8a Sessão (prática) – 3 de Junho
OCULTAÇÃO / DESOCULTAÇÃO de Fernando de Azevedo
- Intervenção sobre imagens fotográficas e outras.
. 9a Sessão (prática) – 17 de Junho
AUTOMATISMO PSÍQUICO SURREALISTA na origem da despintura de Cesariny e da pintura gestual
caligráfica de Eurico, de inspiração Zen
- Aquamotos e caligrafias. A mancha informal e o signo gestual
- O poder sugestivo do borrão
- Desenhar a tinta sobre papel humedecido
- Pintar directamente a pincel sobre diferentes suportes
O FAZER REVELA O SER
. 10a Sessão (prática) – 24 de Junho
- MONTAGEM DE UMA EXPOSIÇÃO DE TRABALHOS PRÁTICOS REALIZADOS PELOS ALUNOS.
- TROCA DE IDEIAS E APRECIAÇÃO DAS OBRAS EXPOSTAS, FOCANDO ASPECTOS ESPECÍFICOS DA
EXPRESSÃO PLÁSTICA E DA CRIATIVIDADE, NO ÂMBITO DO SURREALISMO.
- AVALIAÇÃO FINAL DO CURSO.
Duração: 20 horas: 10 sessões (teóricas/práticas) de 2,00 horas.
Horário: sexta-feira das 18:30 – 20,30 horas
O curso inicia a 15 Abril de 2016
Número de vagas: Mínimo de 20 alunos.
. Inscrições e informações na Secretaria da Sociedade Nacional de Belas Artes, ou através do telef.
nº 213138510, no horário de expediente: das 10,00 às 12,00 e das 14,00 às 19,00 horas, de 2ª a 6ª
feira. e no site da S.N.B.A, em http://www.snba.pt/
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