Shavuót
Transcrição
Shavuót
Shavuót A festa da entrega da Torá “Sete semanas completas serão.” Vaicrá 23:15 Shavuót • Espera e preparação Shavuót significa “semanas” e se refere às sete semanas que, diariamente, contamos de Pêssach até a entrega da Torá no Monte Sinai. A festa é conhecida também por Zmán Matán Toratênu, ou “O Tempo de Entrega de Nossa Torá”. Este chag marca um novo momento agrícola em Israel: o início da colheita do trigo, por isso é chamado também de Chag haCatsír (Festa da Colheita). Como no mesmo período eram levados os primeiros frutos ao Templo, como oferta de agradecimento por eles, a data é conhecida ainda por Chag haBicurím (Festa das Primícias). A contagem de sete semanas é conhecida como Sefirát haÔmer, já que no final do primeiro dia de Pêssach, quando começava a contagem, levava-se ao Templo a medida de um ômer (3,64 litros de trigo). Em nossa era moderna e não agrícola, repleta de correrias e identificada com a obsessão por fazer render o tempo, a ocasião nos desafia a observar como esperamos. Em “Esperando Godot”, a primeira peça de teatro escrita pelo dramaturgo irlandês Samuel Beckett, o autor afirma que tudo é espera, e que sempre esperamos por algo. De fato, a vida nos impõe múltiplas esperas, como a espera por crescer, por nos graduar, por alcançar uma posição social, econômica ou profissional, por amar, saber, ter ou ser. A contagem do ômer reflete sobre como esperamos. Se o fazemos “queimando” o tempo intermediário até chegarmos à meta, se desviando nossa atenção com outros focos, se de forma desesperada, ou se a perspectiva da meta renova nossa vontade e nossa capacidade de alcançá-la. Passamos quarenta e nove dias nos preparando para receber a Torá, refletindo sobre como tornar-nos pessoas melhores e preparadas para receber os ensinamentos. Finalmente, quando se inicia Shavuót, aprendemos como terminar o ciclo esperado, como estar completos na data desejada. Em geral, ao atingirmos nossas metas, ao invés de vivenciá-las, iniciamos os preparativos para uma nova conquista. Shavuót nos mostra que é fundamental viver e aceitar cada nova conquista alcançada. Ticún Lêil Shavuót Manter-se acordado durante toda a primeira noite de Shavuót estudando textos judaicos é uma pratica antiga chamada de Ticún Lêil Shavuót. Uma lenda conta que passar a madrugada estudando a Torá nos permite melhorar a experiência vivida pelos judeus ao pé do Monte Sinai porque, ao contrário da situação de nossos antepassados, que possuíam as pálpebras pesadas, nós estamos prontos para receber a Torá. Em nosso tempo, em uma renovação encabeçada principalmente por comunidades liberais, a tradição do Ticún Lêil Shavuót entende o estudo da Torá como uma virada de diálogo cultural entre judaísmo e atualidade. Fazendo o diálogo entre a Torá e o mundo em que vivemos, a recebendo em nossas vidas e não a deixamos na memória do passado. Só podemos recebê-la em nossas vidas se ela dialogar com nossa realidade. O Ticún de Shavuót busca sua releitura permitindo novas descobertas e encontrando novos espaços do judaísmo em nossos cotidianos. Laticínios O homem requer uma determinada porção de nutrientes para sobreviver, por isso sua dieta deve ser variada. Curiosamente, o leite materno, apesar de tão simples, é o mais completo alimento para uma criança durante seus primeiros anos de vida. A tradição judaica diz que a Torá é para os judeus como o leite materno é para um bebê, pois no texto sagrado se encontra todo o sustento que a alma do homem precisa para a sua vitalidade e crescimento espiritual. Por isso, para nos lembrarmos dessa relação, é costume em Shavuót consumir alimentos derivados de leite. Em outra metáfora, a entrega da Torá é relacionada também ao início da vida do povo judeu, uma vez que um povo só inicia sua trajetória a partir do momento que possui um projeto de vida. Neste caso, o projeto é a Torá, e o povo é como um recém-nascido que inicia a sua vida a partir da relação de alimentação com sua mãe. SHAVUÓT A ALEGRIA DA TROCA RECEBER DAR Receber a satisfação pessoal do “dar” ou do “doar” Dar um espaço dentro de nós para receber o que vem do outro (nada pode entrar sem que eu permita, inclusive sentimentos bons ou ruins) Receber a reação da outra pessoa (gostou, ignorou, usou) Dar a nossa reação a quem nos deu algo (“gostei”, “me surpreendi”) O ATO DE DAR É RECEBER A terra nos dá primícias Recebemos Dar e receber faz o chag ser significativo Chag haBicurím A terra recebe Damos à terra os cuidados necessários Zmán Matán Toratênu Zmán Matán Toratênu significa “Tempo de entrega da Torá”, não do recebimento, pois temos que estar dispostos a abrir um espaço em nós para receber a Torá. Ao abrirmos esse espaço podemos recebê-la constantemente. Em Shavuót, lembramos a primeira vez que abrimos esse espaço. Meguilát Ruth Tradicionalmente, lemos a Meguilát Ruth em Shavuót. Ruth é o arquétipo da pessoa que se doou ao judaísmo, aceitando a Torá assim como os judeus a aceitaram no Monte Sinai. “O teu povo será o meu povo e o teu Deus, o meu Deus.” Ruth, 1:16-17 “E tomou o Eterno Deus o homem, e o colocou no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo.” Bereshit 2:15 No meio de uma metrópole como São Paulo, encontrar significado em um chag agrícola pode ser muito difícil. Porém, é através dele que podemos refletir como a natureza é fundamental e que não está a nosso serviço, mas, sim, em constante troca com o homem. Estudos mostram que para cada R$ 1 investido no plantio e manutenção das áreas verdes na cidade de São Paulo, a Prefeitura deixa de gastar, no mínimo, R$ 5. Além disso, a má distribuição do verde está diretamente relacionada a contrastes socioambientais, ou seja, quanto menos área verde, maior a desigualdade social. A CIP acha fundamental conciliar o judaísmo e a vida moderna local. Festas agrícolas são celebradas ao longo do ano e Shavuót é mais uma comemoração que fortalece esse vínculo. A ONG Floresta Urbana, criada em 2008, possui como principal objetivo integrar homem e natureza em grandes cidades. Dirigida por pessoas de formação multidisciplinar, tem em seu quadro profissionais de diversas áreas, como: arquitetura e urbanismo, sociologia, paisagismo, comunicação, pedagogia, artes plásticas, entre outros. Mais informações no site: www.floresta-urbana.org