Qualidade de Vida dos seniores
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Qualidade de Vida dos seniores
INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA ESCOLA SUPERIOR DE ALTOS ESTUDOS Joana Lopes Paiva Qualidade de Vida dos seniores: Estudo comparativo entre as três freguesias do concelho de Portimão Dissertação de Mestrado em Serviço Social Coimbra, 2008 INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA ESCOLA SUPERIOR DE ALTOS ESTUDOS Joana Lopes Paiva Qualidade de Vida dos seniores: Estudo comparativo entre as três freguesias do concelho de Portimão Dissertação de Mestrado em Serviço Social Apresentada ao I.S.M.T. e elaborada sob a orientação da Profª. Doutora Clara Cruz Santos Coimbra, 2008 Agradecimentos Desde sempre as questões relacionadas com a população sénior me despertaram interesse. A minha dissertação vai incidir sobre a avaliação da qualidade de vida dos seniores, pessoas com 65 ou mais anos que residem no concelho de Portimão, através do qual, se pretende realizar um estudo comparativo entre as três freguesias constituintes. Não obstante, a realização desta investigação criou-me alguns problemas devido à necessidade de aprofundar, com rigor, os temas desenvolvidos. Quero deixar os meus agradecimentos a todas as pessoas que permitiram a execução desta investigação. Na impossibilidade de as mencionar todas, não deixarei, no entanto, de citar as que mais contribuíram para a sua realização. Para a Professora Doutora Clara Cruz Santos, que na qualidade de orientadora, me acompanhou de forma crítica e precisa, um agradecimento muito especial. À Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, na pessoa da Professora Doutora Maria Cristina Canavarro, o meu muito obrigado pela colaboração relativa ao WHOQOL-Bref. Os meus agradecimentos vão ainda para as diversas entidades locais que permitiram a recolha de informação. Nomeadamente, à Câmara Municipal de Portimão, Centro de Convívio Sénior, Associação de Reformados do Pontal e Não Só, Centro Comunitário de Alvor e Instituto da Cultura de Portimão que representam uma parte considerável da amostra estudada, deixo o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido e gratificação na disponibilidade. Também quero expressar os meus agradecimentos aos meus pais, irmã, namorado e amigos, expressando a minha gratidão, pelo incentivo, pela compreensão, pelo encorajamento e por estarem sempre presentes, criando as condições necessárias para que pudesse chegar ao fim desta importante etapa da minha vida académica. Resumo O presente estudo tem como principal objectivo avaliar a Qualidade de Vida dos munícipes de Portimão. Consideramos Qualidade de Vida como “a percepção do indivíduo da sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações” (WHOQOL Group, 1995). O estudo foi levado a cabo no concelho de Portimão e pretende-se desenvolver uma análise comparativa entre as três freguesias do Concelho de Portimão. Ser residente no concelho de Portimão, ter 65 ou mais e não se encontrar institucionalizado constituem-se nas condições da amostra. A amostra constituída por 155 habitantes corresponde a 2% da população total do concelho. Assim, em Portimão foram inquiridos 120 habitantes, 18 em Alvor e 17 na Mexilhoeira Grande. Pretende-se também, com este estudo, perceber até que ponto os munícipes de Portimão estão satisfeitos com os serviços da sua freguesia. Se participam e se estão satisfeitos com o que têm à sua disposição. Para a mensuração da Qualidade de Vida foi utilizado o Whoqol na sua versão abreviada (Whoqol-Bref). Este instrumento foi elaborado pela OMS, mais precisamente, pela sua equipa que trabalha com a saúde mental, entidade responsável pelo estudo da Qualidade de Vida. Foram avaliados os domínios físicos, psicológicos, relações sociais e meioambiente, enquanto indicadores de Qualidade de Vida. De um modo geral, a satisfação da população reinou. Podemos afirmar que em Portimão são experimentados os melhores índices de qualidade de vida, seguida de Alvor e, por fim, Mexilhoeira Grande. Verificamos, de igual modo, que a população está satisfeita com os serviços das respectivas freguesias e que falamos de pessoas muito activas que participam em inúmeras actividades. A prática do Serviço Social relaciona-se com o processo de envelhecimento, na medida em que se caracteriza por promover mudanças sociais. Muitas das vezes os seniores têm dificuldade em aceitar as alterações subjacentes ao conjunto de perdas e ganhos inerentes ao envelhecimento. Todo este processo de adaptação à nova etapa da vida requer do profissional a promoção da capacitação individual por via do empowerment, para que, eles próprios encontrem instrumentos para promoverem a sua própria mudança. Palavras-chave: Qualidade de Vida; Envelhecimento; Serviço Social. Summary The present study has as its main objective (aim) the evaluation of the quality of life of the citizens of Portimão. Quality of life is employed in this context as “individual perception of his position in life, within the cultural context and the system of values according to which he lives, and in relation to his goals, expectations, patterns and concerns” (Whoqol, Group). This study was conducted in the council of Portimão and it comprises an analysis of Portimao three parishs. The sample conditions are the following: to be a resident in the council, to be 65 years or over and not to be institutionalized .The sample is constituted by 155 inhabitants, a number that represents 2% of the population of the council of Portimão. Taking all these factors into consideration 122 inhabitants were inquired in the parish of Portimão, 18 in the parish of Alvor and 17 in the parish of Mexilhoeira Grande. The scope of this study it is to understand to what extent the citizens of Portimão are satisfied - with the services provided by the parish. If they do participate in the initiatives developed by each parish and if they are satisfied to what is placed at their disposal. I have used Whoqol in its abbreviated format (Whoqol-Bref) for the measurement of Quality of Life. This model was developed by the team that deals specifically with mental health within the World Health Organisation (WHO). Physical and psychological domination, social relations and the environment were evaluated as indicators of Quality of Life. Overall, the population is satisfied with the current position. The best index of quality of life is experienced in the parish of Portimão, followed by Alvor and finally by Mexilhoeira Grande. It was verified in the same way that the population is satisfied with the services provided by the respective parish and that the people who were interviewed are active participants in various activities. The practice of Social Services is related to the ageing process in a way that promotes social change. Often, the elderly find it difficult to accept the underlying changes that are inherent to the ageing process. The adaptation to a new reality that is required of those in this position requires the Professional carer to promote individual capability via selfempowerment. It is expected that, in this way, the elderly may find the necessary means to promote their own change. Key-words: Quality of life; Ageing; Social Work. Lista de Quadros Quadro 1 Confrontação dos estereótipos mais frequentes dirigidos aos seniores com a realidade vivida. Quadro 2 A evolução da atribuição de poderes e competências às autarquias locais no âmbito social. Quadro 3 Actividades do Centro de Envelhecimento Activo. Quadro 4 Domínios, questões respectivas facetas do Whoqol-Bref. Lista de Tabelas Tabela 1 Distribuição do número de pessoas com que coabitam e número de filhos por freguesia. Tabela 2 Distribuição dos rendimentos mensais per capita e respectivas fontes por freguesia. Tabela 2a Distribuição dos rendimentos mensais per capita e respectivas fontes por freguesia. Tabela 3 Distribuição da participação em actividades promovidas pela Câmara Municipal de Portimão ou respectiva junta de freguesia por freguesia. Tabela 3a Distribuição da percentagem da participação nas actividades promovidas pela Câmara ou pelas respectivas juntas de freguesia. Tabela 3b Distribuição das actividades participadas por freguesia. Tabela 3c Distribuição do motivo da não participação nas actividades por freguesia. Tabela 4 Distribuição do sentimento de isolamento por freguesia. Tabela 4a Distribuição dos motivos do sentimento de isolamento por freguesia. Tabela 4b Distribuição dos motivos por não sentir isolamento por freguesia. Tabela 5 Distribuição da satisfação face às actividades e serviços disponíveis em cada freguesia. Tabela 5a Distribuição da satisfação face às actividades e serviços disponíveis em cada freguesia. Tabela 5b Distribuição da não satisfação face às actividades e serviços disponíveis em cada freguesia. Tabela 6 Distribuição da frequência com que se deslocam a Portimão por freguesia. Tabela 7 Distribuição dos serviços mais procurados pela população de cada freguesia. Tabela 7a Distribuição dos serviços mais procurados pela população de cada freguesia não referidos na tabela anterior. Tabela 8 Distribuição do que a população opina que faça falta na sua freguesia. Tabela 9 Distribuição das idades dos inquiridos por freguesia. Tabela 9a Média das idades dos inquiridos por freguesia. Tabela 10 Distribuição por sexo dos inquiridos por freguesia. Tabela 11 Distribuição do grau de escolaridade dos inquiridos por freguesia. Tabela 12 Distribuição das profissões dos inquiridos por freguesia. Tabela 13 Distribuição do estado civil dos inquiridos por freguesia. Tabela 14 Confrontação do estado de saúde dos inquiridos por freguesia. Tabela 15 Distribuição do tipo de doença dos inquiridos por freguesia. Tabela 16 Relação do tipo de doença com o tempo com que sofre da mesma. Tabela 17 Relação do tipo de doença com o tempo com que sofre da mesma e regime de tratamento aplicado. Tabela 18 Distribuição da forma de administração do questionário por freguesia. Tabela 19 Média ponderada dos resultados obtidos na relação dos domínios com as freguesias. Tabela 20 Estudo do Domínio Físico nas três freguesias do concelho de Portimão. Tabela 21 Estudo do Domínio Psicológico nas três freguesias do concelho de Portimão. Tabela 22 Estudo do Domínio das Relações Sociais nas três freguesias do concelho de Portimão. Tabela 23 Estudo do Domínio do Meio ambiente nas três freguesias do concelho de Portimão. Lista de abreviaturas et al: Expressão utilizada quando nos referimos a mais do que um autor. Ibidem: Quando nos referimos ao memo autor. n.º: Número pp: Páginas s/p: Sem página s/d: Sem data Sumário Introdução 1 Capítulo 1 – Portugal envelhecido 6 1.1 Evolução Demográfica 7 1.2 As repercussões da evolução demográfica e as políticas sociais em Portugal 10 Capítulo 2 – Questões ligadas ao processo de envelhecimento 21 2.1 – Um olhar sobre o envelhecimento 21 2.1.1 – Da historicidade à actualidade das perspectivas do envelhecimento 25 2.1.2 – Outras abordagens teóricas do processo de envelhecimento 31 2.2 – A integração social dos seniores 37 2.1.1 – Os seniores na sociedade contemporânea 42 2.1.2 – Da actividade profissional à reforma 52 2.1.3 – Os seniores e a família 58 2.1.4 – A institucionalização 75 Capítulo 3 – A qualidade de vida no processo de envelhecimento 80 3.1 – O conceito de Qualidade de vida 80 3.1.1 - Precisões terminológicas e perspectiva histórica do conceito Qualidade 80 de Vida 3.1.2 – Dimensões, domínios e instrumentos de medição do conceito de 88 Qualidade de Vida 3.2 – Envelhecer com qualidade de vida 3.2.1 Viver mais e melhor: envelhecer bem é possível Capítulo 4 – A prática profissional do Assistente Social na promoção da 94 99 102 Qualidade de Vida dos seniores 4.1 – Práticas profissionais 103 4.2 – A Relação Profissional-Utente 110 4.3 – Perspectiva territorial 114 4.3.1 – Serviço Social e Poder local: Pensar Global, Agir local 117 4.3.2 – Um município ao dispor da população sénior: políticas e respostas 128 sociais locais para os seniores Capítulo 5 – Estudo Empírico de investigação 5.1 – A presentação do objecto de estudo e do modelo de análise 138 5.2 Estratégias e procedimentos metodológicos 141 5.3 Apresentação e discussão dos resultados obtidos 145 Conclusão 176 Referências bibliográficas 190 Anexos 211 Anexo 1 – Tabelas resultantes do tratamento estatístico (spss) 212 Anexo 2 – Questionários: Whoqol-Bref e Sócio-demográfico 241 Anexo 3- Dados do INE – Censos 2001 249 Introdução O presente trabalho é parte integrante do Mestrado em Serviço Social, da Escola Superior de Altos Estudos (ESAE) do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT). Com este trabalho pretende-se estudar a qualidade de vida das pessoas com 65 ou mais anos residentes no concelho de Portimão através de um estudo comparativo entre as três freguesias constituintes deste concelho. Abordar as questões relativas à Qualidade de Vida (QV) dos mais envelhecidos na nossa sociedade é indissociável do estudo aprofundado sobre a problemática do envelhecimento demográfico como resultado do progresso socio-económico. Portugal, tal como os demais países da Europa Ocidental, enfrenta um processo de envelhecimento demográfico acentuado. O envelhecimento da população é um fenómeno de grande dimensão com efeitos em todas as sociedades que tem tendência a acentuar-se não só no topo, com o aumento dos mais velhos mas também, na base com a redução dos mais novos. De facto observa-se uma verdadeira inversão na pirâmide etária que, inevitavelmente, parece conduzir a um desequilíbrio entre as gerações. Facto que encontra explicação no decréscimo da taxa de fecundidade, por um lado e, progressivo aumento na esperança de vida, por outro. Ambos resultantes do impacto do processo de desenvolvimento social e económico nos modos de vida, nas expectativas e nos valores, influenciando os comportamentos familiares. Numa sociedade que parece pautar-se por valores lucrativos e rentáveis, as pessoas mais velhas são votadas ao esquecimento e solidão e, muitas vezes à exclusão e/ou discriminação. Perante a obrigatoriedade do afastamento do mercado de trabalho e a consequente quebra na contribuição para a riqueza nacional, estes são “postos de parte”. Receia-se que, sociedades fortemente envelhecidas, se tornem em sociedades problemáticas, em risco de fractura de solidariedade e de aumento de situações de exclusão entre as quais se poderá incluir o facto de se “ser velho”. Colocam-se neste seguimento as seguintes questões – como é que a sociedade terá condições para este aumento brusco de seniores? Que lugar ocuparão na sociedade? Qualidade de Vida dos Seniores A vida societária actual está de tal forma organizada que não parece promover a inclusão dos reformados. A partir do momento em que se entra na reforma, as pessoas são como que banidas do sistema de reprodução social, sendo muitas vezes vistas como os que absorvem o dinheiro dos sistemas da segurança social. O envelhecimento não conduz necessariamente ao isolamento, solidão ou discriminação, se existir um esforço, não só por parte da mudança de mentalidade da sociedade, mas Dissertação de Mestrado em Serviço Social 2 Qualidade de Vida dos Seniores principal e primordialmente, da forma dos próprios encararem o seu processo de envelhecimento. Estamos perante um problema social que não encontra a sua origem na pessoa individual mas antes na sociedade, estrutura social e relações sociais. Não somos só objecto da sociedade, mas muito mais, devemos ser sujeitos participativos de modo a assumirmos um papel activo que conduza a uma mudança societária. O papel do Serviço Social é, neste contexto, importante através da promoção de mudanças sociais e individuais. A sua prática surge centrada na satisfação das necessidades humanas e no desenvolvimento do potencial das pessoas. Contudo, e dado ao esforço dos profissionais, felizmente, há já alguns seniores que começam a perceber que não podem viver mais como antigamente e assumem uma posição mais activa, de maior lucidez e mais participativa. Encaram o passar dos anos como momentos privilegiados para a sua realização pessoal e estão prontos para viver um dos momentos mais felizes das suas vidas. Já são alguns os que começam a se preocupar com a redefinição de novos papéis e a ocupar novos espaços, conseguindo acreditar que são eles próprios os responsáveis pela sua vida e felicidade. O Serviço Social surge aqui enquanto profissão cujo objectivo consiste em provocar mudanças sociais, tanto na sociedade em geral como nas suas formas individuais de desenvolvimento. Os profissionais intervêm em prol do bem-estar e da realização pessoal dos seres humanos para o desenvolvimento de recursos destinados a satisfazer as necessidades e aspirações individuais e colectivas, promovendo a justiça social. O Serviço Social caminha no sentido de considerar os Direitos Humanos como princípio orientador da sua prática profissional. Estes profissionais garantem e defendem os direitos dos utentes individuais ou colectivos, ao mesmo tempo que tentam satisfazer as suas necessidades. Fundamentalmente, o profissional terá o papel de promover a capacitação social, enquanto processo através do qual se pretende alcançar a autodeterminação interactiva, a plena efectivação dos direitos humanos entendidos como padrão de bem-estar, não só individual mas também colectivo e geral. Desenvolvendo nas pessoas a capacidade necessária para elas mesmas promoveram a sua própria mudança. O Serviço Social gerontológico deverá encarar, assim, a pessoa mais velha como “personagem principal” do seu percurso de vida, encarar cada pessoa de acordo com a sua individualidade enquanto indivíduo inserido numa família e comunidade, sujeito de direitos e deveres e, especificamente de promover o reforço da autonomia, da auto-estima e da cidadania. E, para isso, deverão ser estimuladas as alianças com os indivíduos envolvendo a comunidade local, a família e instituições para que sejam Dissertação de Mestrado em Serviço Social 3 Qualidade de Vida dos Seniores identificados recursos e descoberta a oportunidade de utilizá-los. Em suma, o Serviço Social na gerontologia deverá desenvolver uma compreensão da identidade biopsicossocial de cada indivíduo. Face a este cenário, questionámo-nos sobre a qualidade de vida do cidadão idoso remetendo-nos para a importância de saber que condições favorecem “envelhecer com qualidade”. Até que ponto os mais velhos conseguem viver com qualidade de vida face à discriminação emanada pela nossa sociedade? Quais os indicadores que traduzem e avaliam a qualidade de vida? A reforma é bem-vinda? Reformados logo Velhos? Perguntas como estas (decorrentes da questão inicial já enunciada) pretendem encontrar resposta neste estudo. Nesta perspectiva, a análise das condições objectivas de existência a partir de indicadores/factores das condições de vida das pessoas mais velhas, traduz-se num instrumento valioso e objectivo para a identificação de desigualdades quer dentro deste grande grupo quer entre este e a sociedade. Para o trabalho empírico utilizámos o World Health Organization Quality of Life (WHOQOL) na sua versão abreviada. O Projecto WHOQOL nasceu no seio da Organização Mundial de Saúde (OMS), no início da década de 90, com o objectivo de debater e clarificar o conceito de Qualidade de Vida e, posteriormente, construir um instrumento para a sua avaliação. A investigação subjacente a este trabalho incide sobre a Qualidade de Vida da população com 65 ou mais anos, numa escala territorial, do Concelho de Portimão desenvolvendo uma análise comparativa dos padrões vividos nas três freguesias constituintes do concelho (Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande). Pretende-se desenvolver uma análise aos domínios físico, psicológico, meios ambiente e relações sociais enquanto indicadores de medição de Qualidade de Vida, através da avaliação da percepção dos munícipes com 65 ou mais anos, da sua posição na vida face ao sistema envolvente e sistema de valores nos quais eles vivem (WHOQOL Group, 1994). Ambicionamos, assim, verificar se existem diferenças entre o género, as expectativas, padrões e preocupações e analisar o grau de satisfação em relação à realização das necessidades da população residente em cada freguesia do concelho em estudo. Por outro lado, aspira-se estudar o impacto psicológico, social e ambiental, sobre os munícipes da referida faixa etária das condições sociais, económicas e políticas subjacentes à localização geográfica da sua área de residência, assim como, avaliar as redes de suporte e relações de vizinhança e predominância de sentimentos positivos ou negativos, auto-estima e factores associados. O estudo objectiva-se ainda, em apurar se, as diferentes freguesias do concelho, oferecem, de igual modo, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 4 Qualidade de Vida dos Seniores acesso a serviços, nomeadamente em áreas como a saúde, lazer, recreação e acesso à informação. De forma a atingir os objectivos de estudo e antecedendo a investigação propriamente dita, importa ressalvar as questões que norteiam este trabalho. Deste modo, as hipóteses a serem confirmadas ou refutadas após análise dos dados resultantes da investigação, concretizam-se nas seguintes: (i) A população com 65 ou mais anos residente na freguesia de Portimão tem melhor Qualidade de Vida em comparação com as restantes e, por sua vez, a freguesia de Alvor apresenta melhores padrões de Qualidade de Vida que a população residente na freguesia da Mexilhoeira Grande. Esta relação entre o conceito Qualidade de Vida e as três freguesias resulta dos padrões de vida visíveis a qualquer observador (os aspectos correlacionais presentes nas hipóteses de trabalho encontram-se explicitados no ponto 3.2 da presente dissertação de Mestrado). (ii) Pela ordem decrescente atrás referenciada, é na freguesia de Portimão que a população pode contar com um vasto leque de bens e serviços, melhor acessibilidade aos mesmos, sendo que é uma população muito mais activa e participativa. Perante o isolamento geográfico e social da freguesia da Mexilhoeira Grande, as restantes freguesias do concelho de Portimão têm melhor acessibilidade aos serviços. (iii) Em relação às expectativas e padrões é a população residente na freguesia de Portimão e Alvor que maiores índices de satisfação apresentam. Fenómenos explicados pelo facto das actividades relacionadas com o lazer e entretenimento estarem associadas às zonas mais urbanas e com maior densidade populacional, sendo destes que, se esperam uma democracia mais participativa. (iv) A população mexilhoeirense é a mais envelhecida e, consequentemente a que menor número de jovens tem, sendo igualmente a localidade mais isolada. A relação subjacente ao envelhecimento e isolamento directamente associados à freguesia da Mexilhoeira Grande une dois conceitos que geralmente se associam em zonas mais rurais e do interior do país. Fenómeno que encontra explicação no abandono da população jovem das zonas menos desenvolvidas e, cada vez mais desertificadas, para o litoral e zonas urbanas, carregando a esperança de uma vida melhor. Estas hipótese teóricas forneceram à investigação um fio condutor particularmente eficaz em que o seguimento do trabalho consistirá em testá-las Dissertação de Mestrado em Serviço Social 5 Qualidade de Vida dos Seniores confrontando-as com os dados da observação. São estas hipóteses que encaminham o investigador para abordar os dados mais pertinentes que, por meio de um processo selectivo, facilitam a compreensão dos fenómenos observáveis. Este trabalho surge como um grande desafio. A população sénior em Portimão é já alvo de muita atenção dos seus dirigentes municipais, contudo o resultado deste trabalho irá demonstrar a satisfação ou não das práticas levadas a cabo pela autarquia. O estudo da população mais envelhecida não foi uma escolha casual, pelo contrário, muito pensada e reflectida pelo que, se pretendia trabalhar este escalão etário. Neste encadeamento, nada melhor que avaliar a sua qualidade de vida. Com grande empenhamento e a forte colaboração da autarquia e instituições similares, o trabalho foi ganhando importância e peso científico à medida da sua evolução. O presente trabalho é composto por cinco capítulos. No primeiro capítulo é realizada uma breve análise da situação demográfica vivida em Portugal, fruto do fenómeno do envelhecimento demográfico vivido nos países desenvolvidos, assim como, se analisam as políticas sociais face às suas repercussões. No capítulo segundo, serão abordadas as questões relacionadas com o processo de envelhecimento, entre elas, o estudo das abordagens teóricas pertinentes ao trabalho desenvolvido e a integração social dos seniores. No capítulo terceiro apela-se à compreensão da relação dos conceitos qualidade de vida e envelhecimento, onde será desconstruído o conceito de qualidade de vida e abordadas as questões relacionadas com envelhecer com qualidade de vida. A prática profissional do assistente social na promoção da qualidade de vida dos seniores dá nome ao quarto capítulo, onde será abordada a relação profissional-utente e as respectivas práticas profissionais a nível concelhio. Por fim, no capítulo quinto é relatado o estudo empírico de investigação e a respectiva apresentação e discussão dos resultados obtidos. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 6 Qualidade de Vida dos Seniores 1. Portugal envelhecido Começaremos por abordar as questões relacionadas com o processo de envelhecimento em Portugal. Neste capítulo será trabalhado o conceito de envelhecimento demográfico, onde uma das nossas primeiras preocupações foi a de analisar as suas repercussões na sociedade. Reflectiremos então, sobre a realidade portuguesa face ao envelhecimento demográfico, característico em todos os países desenvolvidos. Portugal enfrenta um processo de envelhecimento demográfico acentuado. O envelhecimento da população é um fenómeno de dimensão ínfima tendencialmente durável, irreversível e com efeitos em todas as sociedades. As modificações dos comportamentos demográficos repercutem-se, impreterivelmente nas estruturas populacionais de forma irreversível. Os níveis de fecundidade atingidos profetizam desequilíbrios intergeracionais acentuados e irrecuperáveis com consequências nefastas no futuro. Esta posição não deixa, no entanto, de ter em conta o enquadramento demográfico de declínio de fecundidade que caracteriza os sistemas demográficos modernos, o que, invariavelmente coincide com o aumento populacional da população com 65 e mais anos. A definição de envelhecimento demográfico não é consensual. Pressat (1979:s.p.) define da forma mais comum, como “o simples aumento da proporção de idosos”, enquanto resultado da diminuição do peso dos jovens. Hugon (1971:s.p.) define este fenómeno como “aumento contínuo da importância relativa do grupo dos idosos, ao mesmo tempo que diminui a importância relativa da população dos jovens”. Podemos simplificar estas definições, entendendo o fenómeno do envelhecimento demográfico como aumento do número de idosos em relação ao crescimento da população total de um país. Quer-se-á dizer que, deparamo-nos com este quadro quando o número de idosos cresce a um ritmo mais acelerado quando comparados à população jovem. O aumento da longevidade e os aspectos a ela inerentes fazem do fenómeno de envelhecimento uma questão actual de estudo que merece reflexões aprofundadas sobre as suas diversas condicionantes. A conjunção destas condicionantes converge para mudanças significativas no contexto demográfico e começa a acarretar uma série de previsíveis consequências sociais, culturais e económicas que merecem, de facto uma reflexão aprofundada. Veremos, então, com a ajuda de dados estatisticamente apurados, como esta situação de faz sentir. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 7 Qualidade de Vida dos Seniores 1.1 Evolução demográfica em Portugal Como não será demais referenciar, o envelhecimento demográfico é hoje uma característica dos países desenvolvidos, onde se enquadra Portugal e, assiste-se a uma tendência da sua proliferação a todas as sociedades. A população residente em Portugal envelheceu. Os progressos da ciência, da medicina curativa, reabilitadora e preventiva e da tecnologia tornaram os mais velhos menos dependentes e consequentemente mais aptos. Estas são razões que encontram fundamento no aumento da longevidade que, desta forma, corresponde a padrões de qualidade de vida cada vez mais positivos. Estatisticamente, o número de jovens baixou fortemente, ao passo, que as pessoas idosas registam os ritmos de crescimento mais acentuados. Este cenário é fruto da diminuição da taxa de fecundidade (número de filhos por mulher em idade fértil), e, por outro lado, do aumento da esperança média de vida1. Assiste-se a uma inversão da pirâmide de idades, transformando o topo em base, ou seja, diminuem os números populacionais relacionados com infância e juventude que, desde sempre predominaram, para aumentar o número de idosos, permitindo assim, à pirâmide um redimensionamento estrutural. Podemos falar, deste modo, em dois tipos de envelhecimento, o da base (pela diminuição da percentagem de crianças e jovens) e do topo (pelo aumento significativo do numero de idosos) ou até mesmo em envelhecimento duplo. Barros de Oliveira (2005) aponta que, num século, nos países desenvolvidos, os jovens passaram de 45% para 15%, enquanto os idosos com mais de 65 anos passaram de 5% para quase 20% ultrapassando assim os jovens. Em 2006, segundo o INE, residiam em Portugal 1 828 617 pessoas com 65 e mais anos, enquanto que os jovens até aos 14 anos expressavam-se em 1 637 637. Se compararmos a faixa etária dos 15 aos 24 anos tínhamos 1 265 531 habitantes residentes. Podemos perceber que, Portugal, de facto, é um país envelhecido. Para 2050 prevê-se um agravamento da questão, em todos os países da Europa, apontando para menos 15% de jovens e mais 25 % de idosos (Ibidem, 2005). Segundo a OMS a esperança de vida a nível mundial era de 66 anos em 2000 e passará para 73 em 2025. Quanto a Portugal, em 1960 a população de idosos significava cerca de 8% (destes, 33% tinham 75 ou mais anos); por 1975 andava à volta dos 12%; em 2000, segundo o último censo, a percentagem era de 16,4% (16% 1 A esperança média de vida é aqui vista como o número médio de anos que restam para viver a um indivíduo numa determinada idade, tomada como referência. Quando o ponto de referência é o nascimento diz-se esperança de vida à nascença. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 8 Qualidade de Vida dos Seniores até aos 14 anos; 14,3% entre os 15-24). Significa, em números brutos, que mais de um milhão e meio de portugueses já estão para além dos 65 anos. Entre 2020 e 2025 os idosos podem atingir cerca de 18% da população enquanto a população jovem andará pelos 16%; prevê-se assim que entre 2010 e 2015 a população de idosos ultrapasse a dos jovens (com menos de 15 anos) (ibidem, 2005). A preocupação patente reside, não na existência de pessoas idosas a mais, mas antes na fraca representatividade de crianças. A taxa de natalidade é tão baixa, de 10,4‰ (INE, 2005), o que significa que, por cada 1000 habitantes, nascem apenas 10,4 crianças, em Portugal. Para que se efective a renovação de gerações será necessário que a taxa de fecundidade apresente valores de 2,1 filhos por mulher em idade fértil, cenário que não acontece em Portugal, já que de acordo com os últimos indicadores demográficos do INE, esta corresponde a 1,4. A diminuição da taxa de fecundidade deve-se a variadas razões. O retardar da idade média da mulher ao primeiro casamento e ao nascimento do primeiro filho, e o consequente reflexo no encurtar do período de procriação, a difusão dos métodos modernos de contracepção, a dificuldade dos jovens no acesso à habitação e ao primeiro emprego e o consequente adiamento na saída de casa dos pais, o prolongamento da escolaridade obrigatória, o aumento do nível de instrução e da actividade profissional da mulher, a afirmação social e profissional do casal, a dificuldade em conciliar a vida profissional, familiar e pessoal e as correntes migratórias são alguns dos factores normalmente apontados para explicar a baixa de fecundidade (Carrilho e Patrício, 2002). Um factor importante a realçar nesta abordagem demográfica, reporta-se ao fenómeno de “envelhecer no feminino”. Passa-se a explicar, é diferente envelhecer no feminino e no masculino. A verdade é que a longevidade é bem mais risonha para as mulheres. Segundo dados do INE, a esperança média de vida à nascença tem vindo a aumentar progressivamente em Portugal. Se em 1994 as mulheres podiam esperar viver, em média, 79 anos e os homens 71 anos, prevê-se que, em 2014, os valores ascendam a 82 e 76 anos, respectivamente, traduzindo um ganho aproximado de 3,4 anos para as mulheres e 4,1 para os homens. Embora a diferença tenha tendência a atenuar, ainda é mais vantajoso envelhecer no feminino. A par dos factores genéticos que determinam, muito do processo de envelhecer, é de realçar que não é igual envelhecer no feminino ou no masculino, como igualmente existem grandes disparidades em envelhecer sozinho ou no seio da família, solteiro, casado, viúvo ou casado, com ou sem filhos, no meio urbano ou no meio rural, activo ou inactivo, etc. Ao longo do presente trabalho analisaremos, então, estes contextos diferenciados. Resultado do aumento da esperança média de vida, actualmente, fala-se já em “4ª idade”, uma vez que a própria fatia da população idosa, além de ser cada vez Dissertação de Mestrado em Serviço Social 9 Qualidade de Vida dos Seniores maior em número, atinge idades cada vez mais elevadas. Segundo os dados lançadas pelo INE, é mesmo na “4ª idade” que o crescimento é vincado por um ritmo mais forte. Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004) referem que os idosos das próximas décadas terão, com certeza, características distintas daqueles das gerações anteriores: níveis de instrução mais elevados, melhores condições de habitação, mais e melhor acesso a cuidados de saúde, diferentes valores e preferências e maior disponibilidade de recursos sociais, traduzindo-se numa melhor qualidade de vida. Podemos, portanto, afirmar que os sexagenários de séc. XXI dispõem de maiores probabilidades de sobrevivência, uma vez que, têm mais saúde dado os avanços da medicina, melhores condições económicas, sociais e culturais. Nesta sequência “ganham” anos de vida e face à tendência na estabilização deste cenário, as gerações vindouras estarão melhor preparadas para superar algumas dificuldades com que se possam confrontar. Em termos demográficos podemos concluir, ainda, que a população activa tende a envelhecer e a atenuar o seu ritmo de crescimento, à medida que as gerações que sofreram os efeitos da queda de fecundidade atingem a idade activa. Com efeito, a população idosa cresce mais rapidamente que a população total o que nos mostra que o envelhecimento mais preocupante, em Portugal, é o processado pela base da pirâmide de idades. As projecções apontam que em 2010 quase metade da população idosa tenha idade igual ou superior a 75 anos. É este crescimento contínuo dos “idosos mais velhos” ou a “4ª idade” que exige uma atenção redobrada, uma vez que representa a faixa etária mais carenciada em termos de apoios generalizados devido às incapacidades globais que lhes estão inerentes. Este cenário tem repercussões ao nível do Estado. O Estado faz-se representar pela implementação das políticas sociais que, em grande escala abarcam as situações mais vulneráveis ao disfuncionamento sócio-económico, nomeadamente no que concerne a esta população específica. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 10 Qualidade de Vida dos Seniores 1.2 As repercussões da evolução demográfica e as políticas sociais em Portugal Decorre ainda o discurso sobre a pertença da assistência social às políticas sociais estatais. Se o profissional de serviço social surgiu para operacionalizar as políticas sociais emanadas pelo Estado para dar resposta às questões sociais, consideramos assim, a assistência social como parte integrante das políticas sociais estatais. Rodrigues (1999) define a assistência social como política social, atribuindolhe os atributos que caracterizam as políticas sociais, entre eles: baseiam-se e requerem uma intervenção do Estado; possuem uma vinculação jurídico-legal através dos direitos sociais; pertencem a um grupo diversificado de áreas de investimento que em conjunto, compõem a totalidade das condições necessárias e aceitáveis para a garantia de condições e qualidade de vida; intervenção do Estado através de um programa de acção centrado na leitura das necessidades e pelo desempenho de funções mais ou menos directas de regulamentação, financiamento e promoção de medidas e actividades; representação de interesses. Pereira (1987) recusa a política social como acção reflexa de processos económicos e políticos e, desta forma, define-a como: “ (…) conjunto de relações e estratégias que, observadas em momentos e contextos históricos específicos, decorrem do processo de mudanças sócio-económicas no sistema capitalista e partilham das modificações ocorridas na relação entre estado e sociedade como resultado da mediação de suas forças. Logo, a política social ao invés de ser identificada com a simples ordenação burocrática de metas políticas ou políticoeconómicas, ou como a aplicação de meios, através de planeamento prévio, em direcção às desigualdades sociais, ela, de facto, implica decisão (tendo em vista a estipulação de metas supra-individuais) e processo de escolha numa estrutura de arenas reais de poder” (Pereira, 1987:72). Assim, Pereira (1987) faz-nos pensar nas políticas sociais não como resultado de alguma campanha política ou como algum meio para que determinado fim seja alcançado, mas antes como resultado das interacções estado-sociedade onde estão implícitas as questões fulcrais de delineamento de qualquer política, tais como a sociedade civil, planeamento e decisão. Defende-se assim a desburocratização político-estatal. Para Rodrigues (1999) as políticas sociais podem ser operacionalizadas segundo um conjunto de áreas (saúde, segurança social, habitação), segundo os problemas Dissertação de Mestrado em Serviço Social 11 Qualidade de Vida dos Seniores para que se dirigem (delinquência, desemprego, pobreza) ou ainda segundo os grupos-alvo (dos idosos, pobres e deficientes). Embora saibamos que a assistência social possa ser e é levada a cabo também por instituições de cariz privado ou semi-privado todavia, são na sua grande maioria comparticipadas pelo Estado. A privatização da assistência social constitui-se como base para um futuro próximo do Estado que, pouco a pouco, vemos privatizado o acesso a serviços outrora estatais. Fazendo um retrocesso ao percurso da assistência social, nada melhor que começar por recordar a perspectiva de Beveridge (1943) que visava “a garantia de um rendimento que substituísse os salários quando se interromperem pelo desemprego, por doença, ou acidente, que assegurasse a aposentadoria na velhice, que socorresse os que perderam o sustento em virtude da morte de outrem e que atendesse a certas despesas extraordinárias, tais como as decorrentes do nascimento, da morte e do casamento. Antes de tudo, segurança social significa segurança de um rendimento mínimo, mas esse rendimento deve ir associado a providências capazes de fazer cessar tão cedo quanto possível, a interrupção dos salários.” Na ideia de Beveridge (1943), o sistema de assistência tenderia a extinguir-se à medida que se universalizasse o sistema de seguro social, pelo que a sua presença seria progressivamente periférica e de carácter residual. No entanto, tal não aconteceu, ainda que, na institucionalização dos sistemas de seguros sociais o espaço da assistência social tenha sido limitado. Verifica-se, no entanto que, a par do alargamento e aperfeiçoamento dos dispositivos de seguro social, os diferentes países vão, de um modo geral, através de sistemas de mínimos sociais, manter e ampliar sistemas de protecção assistencial de base não contributiva, com duas funções essenciais: garantir protecção social aos cidadãos que por diferentes razões (deficiência, invalidez, viuvez, filhos menores a cargo, etc.) se encontrem afastados do mercado de trabalho e complementar as coberturas sociais garantidas pelo seguro social, designadamente em situações de reforma e desemprego (Branco, 2002). Reconhece-se, contudo, ao Estado português, uma crescente responsabilidade e compromisso com os direitos sociais e assistência social desde da Revolução de 1974, com a cobertura dos riscos sociais e de protecção social (Rodrigues, 1999). Só depois do 25 de Abril de 1974 se dá início ao processo de institucionalização de uma rede de protecção social numa lógica universalista, construindo-se o seu primeiro patamar assente na pensão social de base não contributiva, inicialmente destinada aos idosos e deficientes beneficiários dos serviços de assistência. Até esta data, a Dissertação de Mestrado em Serviço Social 12 Qualidade de Vida dos Seniores população trabalhadora não coberta pelo seguro social obrigatório2 ou os grupos não inseridos no mercado de trabalho dispunham apenas da protecção da assistência social que não se traduzia num direito objectivo, mas apenas na ajuda temporária e precária (Branco, 2002). Nos anos 70 e 80, Mead (1986) traz a ideia da contratualização na assistência social, defendendo que esta comporta não só direitos mas também responsabilidades. Por contrato, a assistência social coloca os beneficiários na posição de contratantes que têm de aceitar trabalho, formação profissional ou outras obrigações como contrapartida aos benefícios que recebem. Tal como acontece, actualmente com o Rendimento Social de Inserção (RSI). Até 1974 a existência de um regime de Bem-estar em Portugal foi bloqueado pela “hipertrofia da regulação estatal típica de um regime autoritário que pretendia tutelar todas as outras formas de regulação social”. Após a revolução de Abril de 1974, quando o país começa a recuperar a normalidade democrática, a existência de um pacto social, tal como havia ocorrido nos países do norte da Europa, com regimes de Bem-estar mais consolidados e universais não era possível, “porque o capital foi devastado pelas nacionalizações de 1975” e porque “nem o capital, nem o trabalho, tinham qualquer experiência de organização autóctone” ao final de 50 anos de autoritarismo (Santos, 2002:185). O autor (Ibidem, 2002:186) destaca, ainda, que, “contrariamente ao que aconteceu na Europa do pós-guerra, no imediato 25 de Abril a questão não era como tornar compatíveis capitalismo e democracia, mas sim saber se o capitalismo deveria ou não ser substituído pelo socialismo”. Foram necessários mais de 15 anos para que as condições de um pacto social fossem criadas. Estas passam pela aprovação da Constituição Política de 1976, pela retoma do “papel activo do Estado na promoção de 2 Foi Bismarck que instituiu o primeiro modelo de seguros sociais. Em 1881, o seguro obrigatório contra acidentes de trabalho; em 1883, os seguros de doença obrigatórios, com uma contribuição de dois terços para o empregado e um terço para o empregador; em 1889 o seguro de velhice obrigatório. Só em 1911 surge um código unificado dos vários seguros sociais. Em Portugal, o seguro social obrigatório contra desastres no trabalho, abrangendo os riscos profissionais por conta de outrem foi publicado pelo Decreto nº 5637 e o seguro social obrigatório na doença pelo Decreto nº 5636, bem como na invalidez, velhice e sobrevivência (Decreto nº 5638), todos datados a 10 de Maio de 1919. No entanto a sua acção teve escasso relevo, até ser extinto em 1923 e somente o sector dos acidentes de trabalho teve execução, pelo facto de o respectivo seguro ser feito nas companhias de seguro privadas (Graça, 2000). Dissertação de Mestrado em Serviço Social 13 Qualidade de Vida dos Seniores estratégias de negociação e de concertação social; a revisão constitucional de 1982 que eliminou os traços revolucionários da constituição de 1976” (Ibidem, 2002:186). Esta revisão, ao anular a irreversibilidade das nacionalizações ocorridas abriu espaço para a privatização das indústrias e bancos que haviam sido nacionalizados logo após 25 de Abril. Um quarto e último passo que, segundo o autor, abre as condições para um pacto social foi a integração do país à Comunidade Económica Europeia em 1986. Santos (2002), ressalta que apesar da importância destes passos, um pacto social foi algo que ocorreu muito lentamente. Primeiro pelo défice de organização de interesses e segundo pelo contexto internacional de crise do Estado Providência a partir dos anos 70 do século XX. O Estado Providência entra em crise. A crise do Estado Providência encontra explicação no aumento abrupto das despesas com os direitos sociais, uma vez que o Estado contraiu despesas acima dos seus recursos. Esta crise, é antes de mais financeira do Estado, uma vez que a revolução demográfica associada ao aumento da esperança de vida e à acrescida extensão dos direitos sociais operada em época de expansão económica, exigia uma proporção crescente de despesas públicas nas funções sociais, assim como, níveis crescentes de impostos e de contribuições para a segurança social dificilmente sustentáveis (Quelhas, 2001). A entrada de Portugal em 1986 na União Europeia traz um conjunto de direcções específicas para os Estados-membros. Em Portugal, era esperado um progresso na área da assistência social. Desde logo a condição de Estado-membro obrigava o respeito e cumprimentos pelas normas emanadas comunitariamente, o que nem sempre foi ao encontro das expectativas da sociedade civil. Consequentemente, Portugal tem vindo a sofrer fortes influências na construção das políticas sociais. O Estado português não cumpre a totalidade das regras comunitárias e conduziu ao que Santos (1993:115) designou de “um défice de objectivos nacionais, o qual foi coberto ou compensado pelo excesso de autoritarismo do Estado”. “A relação política do Estado Providência com o cidadão através da provisão social acontece pelo papel de regulação social do Estado assumido no período do capitalismo organizado. Este período caracteriza-se por um desenvolvimento mais equilibrado destes princípios, tendo permitindo ao Estado uma regulação na base de um contrato social, consensualizado entre os agentes do contrato, e pela qual se institui a universalidade e igualdade formal dos sujeitos, em detrimento das suas particularidades e subjectividades (carácter abstracto dos direitos). Este modelo de construção social do Estado Providência não se verificou do mesmo modo em todos os países, mormente em Portugal, que se caracteriza por não definir como um Estado Providência completo”. (Nunes, 2005:85) Dissertação de Mestrado em Serviço Social 14 Qualidade de Vida dos Seniores A autora, Helena Nunes enaltece a ideia da contratação entre as partes (estadosociedade civil) como forte intervenção do Estado de Bem-estar, no entanto, e na mesma linha de outros autores, não considera o Estado português como um verdadeiro Estado Providência. Em relação aos demais Estados-membros, Portugal é considerado um país periférico onde o futuro do Estado Providência deverá ser reflectido não apenas a partir do processo de globalização, mas essencialmente a partir dos factores da desigualdade social e da exclusão cultural dos grupos que estão intensamente afectados por estes riscos (Ibidem, 2005). Um dos argumentos de Santos (1993) é de que Portugal é, no contexto do sistema capitalista mundial e no contexto europeu, uma sociedade semiperiférica e que esta posição será mantida em decorrência da sua integração na Comunidade Económica Europeia. A posição intermediária que as sociedades semiperiféricas ocupam no sistema capitalista mundial faz com que estas exerçam a função de intermediação e de atenuação dos conflitos entre o centro e a periferia do sistema mundial (Santos, 1993). Assim, a adesão à União Europeia, do ponto de vista de aproximar a assistência social em Portugal do nível de qualidade e da garantia de direitos experimentados pelos países da Europa comunitária situados ao norte do continente, que possuíram Estados de Bem-Estar consolidados, não se vem efectivando. Mesmo assim, Rodrigues (2002:293) observa que há “indícios de progressividade” na compreensão da pobreza e na natureza das medidas necessárias à sua superação. Tal progressividade no entanto, não avançou ainda no sentido de que a Assistência Social assuma a forma de uma política social com a garantia de um corpo de medidas e o direito a prestações com financiamento garantido e clara responsabilidade estatal. Ao reconhecer os traços de progressividade presentes na assistência social em Portugal, Rodrigues (2002) não deixa de ressaltar a descontinuidade e a incompletude como traços mais persistentes dessa política no país. Ressalta que a trajectória da assistência social é “pontuada pelas dificuldades de transitar de uma prática de ajuda para uma estratégia de política social. O consenso criado sobre a assistência social como campo de possibilidades não tem encontrado equivalente num percurso estratégico da sua afirmação no campo da política social” Assim, para a autora, “a europeização no campo da assistência social tem reforçado uma concepção das políticas sociais que compensa a sua fragmentação com o reforço da acção relativamente a problemas cruciais para a coesão social, como é o caso da pobreza e da exclusão social” (Rodrigues, 2002: 294 e 297). Dissertação de Mestrado em Serviço Social 15 Qualidade de Vida dos Seniores O crescimento e desenvolvimento dependerão da capacidade de cada EstadoMembro em operacionalizar os modos de inserção no sistema competitivo global e, consequentemente a sua capacidade de salvaguarda dos interesses locais e nacionais, na perspectiva do bem-estar social (Nunes, 2005). Cada Estado-Membro é, então responsável pela regulação e intervenção do seu país, não se denunciando à globalização. O Estado português é possuidor das competências específicas de intervenção no domínio dos direitos sociais e económicos, políticos e civis. Um dos trabalhos neste campo é uma pesquisa coordenada por Hespanha (2000)3, a qual revelou que os factores de risco social em Portugal são bastante diversificados e envolvem: os baixos rendimentos, o desemprego, os baixos níveis de escolaridade, a instabilidade familiar, a habitação precária, as doenças, sobretudo a incapacidade para o trabalho, o alcoolismo e a toxicodependência, os cuidados com dependentes, o isolamento social, a trajectória de pobreza (Hespanha et al., 2000). Ferrera (1999) debruça-se sobre as tendências desenhadas para a União Europeia e apesar de cada Estado-membro ter de responder aos seus próprios problemas com alterações específicas das suas políticas, considera que elas são comuns e sujeitas a orientações centrais como: i) ajustamentos estruturais em resposta à evolução sócio-demográfica (pensões, cuidados de saúde, abordagem contratual); ii) maior direccionamento de recursos para as pessoas que deles mais necessitam; iii) passar de uma abordagem passiva para uma abordagem activa na gestão dos regimes relativos à incapacidade de trabalho (reabilitação, formação profissional, inserção para se evitar a dependência em relação aos mecanismos de apoio ao rendimento); iv) redução da tributação do trabalho. Ditch e Oldfield (1999) registam que nos anos 80 e pelo menos até meados de 1993, nos países europeus, houve uma evolução no significado da assistência social, tanto em despesas como em número de beneficiários, provocado pelo que designa de “factores de pressão” (relacionados com a contratação e mudanças nos esquemas de seguros sociais, transferindo encargos de dependência para os esquemas de assistência social) e “factores de tracção” (ampliando os alvos e estabelecendo objectivos mais específicos). Em 1995 dá-se uma mudança de governação política através da qual, Portugal conhece uma relativa expansão pelo alargamento das medidas de política social. Ao nível da Educação dá-se o alargamento da oferta pública de ensino pré3 “O papel da Sociedade de Protecção Social. Dinâmicas Locais e Instituições Particulares num sistema Renovado de Segurança Social” cujos resultados foram publicados em Hespanha, et al., (2000). Dissertação de Mestrado em Serviço Social 16 Qualidade de Vida dos Seniores escolar e ao nível da Segurança Social surge um novo esquema de prestações familiares onde se destacam o Rendimento Mínimo Garantido (RMG) como marca de um novo direito social, a reforma da Segurança Social e novos esquemas de cálculo das pensões. A novidade do sistema português em relação as experiências de outros países, relativamente à implementação do RMG em 1996, segundo Hespanha (2002) é o de ter construído uma experiência de inserção social mais alargada. Assim ela não limita-se a promover a inserção no mercado de trabalho como na experiência de outros países, mas “inclui diferentes medidas de combate à exclusão” (Hespenha, 2002). Em 2000 é publicada a Lei n.º17/2000 de 8 de Agosto, fruto da reforma da Segurança social, assente em princípios como universalidade, igualdade, equidade social, diferenciação positiva, solidariedade, inserção social, conservação dos direitos adquiridos, primado da responsabilidade pública, complementaridade, garantia judiciária, unidade, eficácia, descentralização, participação e informação. O sistema de solidariedade e de segurança social é composto pelos subsistemas de protecção social e cidadania (visa assegurar direitos básicos, garantir a igualdade de oportunidades, direito a mínimos vitais dos cidadãos em situação de carência económica, prevenção e erradicação de situações de pobreza e exclusão, promover o bem-estar e a coesão social); subsistema de protecção à família (garantir a compensação de encargos familiares acrescidos quando ocorram eventualidades legalmente previstas); subsistema previdencial (compensar a perda ou redução de rendimentos de actividade profissional quando ocorram eventualidades legalmente previstas). A protecção social hoje em Portugal efectiva-se através da Segurança Social regulamentada pela Lei 32/2002 de 20 de Dezembro. Dentro do universo da Segurança Social muitas alterações têm sido levadas a cabo, fruto da globalização e dos modos de regulação social. Sujeita a várias reformas, a Segurança social pretende deste modo responder à panóplia de adversidades que vão surgindo aos cidadãos portugueses. Assumindo o cenário demográfico vivido em Portugal, o nosso Governo operacionalizou problemas em respostas ao implementar políticas sociais capazes de minimizar as consequências dramáticas daí advindas. De referenciar a recentíssima implementação do abono de família pré-natal como medida de incentivo à natalidade e, do lado oposto da pirâmide de idades, contribuindo para a melhoria dos padrões de qualidade de vida dos idosos, o recente complemento solidário para idosos e as já conhecidas pensões de velhice. Pelo que se pode ler no preâmbulo do Decreto-Lei n.º308-A/2007 de 5 de Setembro, “a família constitui, no actual contexto sócio-económico, um espaço Dissertação de Mestrado em Serviço Social 17 Qualidade de Vida dos Seniores privilegiado de realização pessoal e de reforço da solidariedade intergeracional, sendo dever do Estado a cooperação, apoio e incentivo ao papel insubstituível que a mesma desempenha na comunidade. Assim, tendo em linha de conta as actuais tendências demográficas que se prevêem para as décadas vindouras e que se traduzem num decréscimo significativo da taxa de natalidade, o XVII Governo Constitucional, no desenvolvimento das medidas previstas no respectivo programa e no acordo da reforma da segurança social, decidiu implementar um conjunto de medidas especificamente direccionadas para as famílias, criando incentivos adicionais, no sentido de controlar e contrariar essa realidade e os problemas dela resultantes. Neste sentido, passa a ser reconhecido à mulher grávida o direito ao abono de família durante o período pré -natal, após a 12.ª semana de gestação. Por outro lado, numa óptica de reforço da protecção social conferida aos agregados familiares com maior número de filhos e de incentivo à natalidade, importa discriminar positivamente as famílias mais numerosas, através de uma majoração do abono de família para crianças e jovens, garantindo o prolongamento da protecção reforçada, que, neste momento, já é concedida a todas as crianças no 1.º ano de vida, durante os 2.º e 3.º anos de vida das mesmas, de forma a garantir uma maior eficácia económica da prestação num período em que o acréscimo de despesas é mais sensível. Deste modo, o Governo propõe-se, através do decreto-lei n.º 308-A/2007 de 5 de Setembro, duplicar o valor do abono de família, durante este período de vida das crianças, em caso de nascimento do segundo titular do direito à prestação, inserido no mesmo agregado familiar, e triplicá-lo em caso de nascimento do terceiro e seguintes”. Transcrevendo o preâmbulo do Decreto-Lei n.º232/2005 de 29 de Dezembro, “os indicadores de pobreza relativos a Portugal evidenciam a necessidade de correcção das intoleráveis assimetrias de rendimento existentes entre os portugueses, que penalizam particularmente os mais idosos, pese embora a evolução positiva ocorrida nos últimos 10 anos. A informação disponível demonstra ainda que, entre a população portuguesa que se encontra em situação de pobreza, é precisamente no grupo dos mais idosos (65 anos ou mais) que se continuam a verificar as situações de maior severidade e em que os níveis de privação decorrentes da escassez de recursos monetários são ainda mais elevados, pelo que se impõe uma intervenção dirigida a esta faixa etária no sentido de melhorar a situação de fragilidade social em que se encontra. A este quadro não será alheio o facto de no grupo em causa se concentrarem essencialmente pensionistas, cujo rendimento da pensão assume ainda valores baixos, apesar dos esforços desenvolvidos no sentido de elevar o valor das pensões mínimas. Por outro lado, sendo verdade que o peso do rendimento das pensões no total do rendimento destas pessoas assume um valor significativo, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 18 Qualidade de Vida dos Seniores constituindo assim um elemento determinante da sua situação de pobreza, é igualmente verdade que existe um conjunto importante de outras fontes de rendimento que pesam de forma diferenciada nos recursos monetários globais de cada idoso. Urge, portanto, proceder a uma reconfiguração da política de mínimos sociais para idosos, diferenciando as situações descritas, o que, para além de reforçar o princípio de justiça social em que assenta aquela política, virá igualmente aumentar a sua eficácia no combate à pobreza dos idosos. De facto, uma avaliação rigorosa permite perceber que a estratégia prosseguida até aqui, assente no aumento generalizado do valor das pensões mínimas, tratando de igual forma o que é diferente, se revela uma estratégia financeiramente insustentável, se se continuar a assumir como objectivo um aumento substancial de todas as pensões, ou ineficaz na capacidade de produzir mudanças com significado na situação daqueles que delas realmente precisam e se encontram em situação de pobreza, a manterem-se os ritmos de crescimento das pensões dos últimos anos. Por estas razões, reitera-se a imperatividade de proceder a uma reformulação profunda das políticas de mínimos sociais para idosos, procurando atingir maiores níveis de eficácia na redução de desigualdades, mas também maiores níveis de responsabilização de todos os que podem e devem contribuir para melhorar a qualidade de vida dos idosos, designadamente as suas famílias. A criação do complemento solidário para idosos, sendo uma medida inscrita no Programa do XVII Governo Constitucional, prossegue os objectivos anteriormente enunciados e afigurase um passo importante na redefinição da estratégia de mínimos sociais em Portugal. O complemento solidário para idosos traduz uma verdadeira ruptura com a anterior política de mínimos sociais para idosos, através de uma aposta na concentração dos recursos disponíveis nos estratos da população idosa com menores rendimentos, na atenuação das situações de maior carência de uma forma mais célere – por efeito da atribuição de um valor de prestação com impacto significativo no aumento do rendimento global dos idosos – e na solidariedade familiar, enquanto forma de expressão de uma responsabilidade colectiva e instrumento de materialização da coesão social. A diferenciação do complemento solidário para idosos através da consideração dos efeitos da solidariedade familiar nos recursos globais dos idosos é, simultaneamente, justa e necessária porque trata de forma diferente o que é diferente, permitindo canalizar mais recursos para os idosos mais necessitados, designadamente os idosos isolados e sem apoio familiar. O complemento solidário para idosos constitui uma prestação do subsistema de solidariedade destinada a pensionistas com mais de 65 anos, assumindo um perfil de complemento aos rendimentos preexistentes, sendo o seu valor definido por referência a um limiar fixado anualmente e a sua atribuição diferenciada em função da situação concreta do Dissertação de Mestrado em Serviço Social 19 Qualidade de Vida dos Seniores pensionista que o requer, ou seja, sujeita a rigorosa condição de recursos. Os objectivos de justiça social prosseguidos por esta prestação, associados aos impactes visados com a sua criação, impõem que a atribuição do complemento solidário para idosos dependa de uma actuação pró-activa dos serviços da segurança social, bem como de uma rigorosa e alargada avaliação dos recursos dos seus requerentes, de forma a garantir que o esforço nacional a empreender neste domínio tenha como destinatários aqueles que realmente mais precisam”. A pensão de velhice traduz-se numa prestação pecuniária, paga mensalmente, destinada a proteger os benefícios do regime geral de segurança social, quando atingem a idade mínima legalmente presumida como adequada para a cessação do exercício da actividade profissional. O direito à prestação é reconhecido ao beneficiário que tenha cumprido o prazo de garantia exigido e completado 65 anos, sem prejuízo de regimes e medidas especiais de antecipação legalmente previstas. Sabemos que a maioria dos problemas que atingem os idosos, “são multifactoriais e multidimensionais, tornam-se cada vez mais premente a existência de respostas integradas, em que os serviços de saúde são fundamentais, impondo-se também a necessidade do estabelecimento de parcerias com outras entidades da comunidade, em particular as autarquias” (Cadete, 2001:26). O Programa de Apoio Integrado a Idosos (PAII) criado por Despacho Conjunto, de 1 de Julho de 1994, dos Ministros da Saúde e do Emprego e da Segurança Social é caracterizado por um conjunto de medidas inovadoras que visam contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas idosas, prioritariamente no domicílio e no seu meio habitual de vida, desenvolvendo-se através de projectos de desenvolvimento central e a nível local. Este programa pretende promover a autonomia das pessoas idosos e/ou pessoas com dependência no seu meio habitual de vida; estabelecer medidas que visem melhorar a mobilidade e acessibilidade a serviços; implementar respostas de apoio às famílias que prestam cuidados a pessoas com dependência especialmente a idosos; promover e apoiar a formação de prestadores de cuidados informais, de profissionais, familiares, voluntários e outras pessoas da comunidade; desenvolver medidas preventivas do isolamento e da exclusão e contribuir para a solidariedade entre as gerações, uma sociedade para todas as idades, o desenvolvimento de respostas inovadoras e integradas (saúde/acção social), a promoção de parcerias e a para a criação de postos de trabalho. Este é, sem dúvida, um programa no âmbito da actuação intersectorial em que o trabalho interparcerias tem-se revelado. As pessoas com 65 e mais anos, famílias, vizinhos, voluntários, profissionais e comunidade geral englobam o grupo dos destinatários deste programa. Promovido pelo Ministério do Trabalho e da Dissertação de Mestrado em Serviço Social 20 Qualidade de Vida dos Seniores Solidariedade Social e pelo Ministério da Saúde envolve parcerias como os serviços de saúde, Centros Distritais de Segurança Social, autarquias, misericórdias, Instituições particulares de Solidariedade Social (IPSS), Organizações Não Governamentais (ONG´s), PT comunicações, Cruz vermelha, serviços de segurança, bombeiros, escolas, voluntários e empresas. Não podemos ignorar todo o esforço do Estado na implementação de medidas de combate não só à pobreza mas a todas as adversidades com que os cidadãos se deparam. Compete ao Estado desenhar as políticas sociais, contudo não será, necessariamente, o mesmo a operacionalizá-las. Assiste-se a uma descentralização da protecção social do Estado para a sociedade civil. O mesmo tem acontecido em relação à assistência social que, gradualmente tem sido executada por IPSS e ONG´s. São estas instituições que através da celebração de protocolos operacionalizam as políticas emanadas pelo Estado e, na maioria das situações financiadas pelo mesmo. A privatização será, já a curto prazo, um meio para que o Estado se desresponsabilize das obrigações outrora totalmente estatais. A área dos idosos constitui-se num exemplo do que aqui se conclui. Qualquer instituição que receba idosos, seja em que regime for, internamento ou prestação de serviços, é na sua quase totalidade de cariz semi-privado com comparticipações estatais mas de autonomia financeira e de gestão. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 21 Qualidade de Vida dos Seniores 2. Questões ligadas ao processo de envelhecimento Cabe agora ilustrar a amplitude de visões sobre as questões directamente relacionadas com o processo de envelhecimento. Não existe unanimidade entre todos os aspectos que compõem e rodeiam o processo de envelhecimento. Damo-nos conta de uma panóplia de perspectivas de abordagens sobre o processo de envelhecer. São várias as teorias e as vertentes científicas que o descrevem, contudo, apenas serão abordadas as que consideramos como mais relevantes para o presente estudo empírico. 2.1 Um olhar sobre o envelhecimento O envelhecimento é encarado por nós como um processo contínuo, gradual experienciado sob diferentes intensidades pelos indivíduos que, acompanhado pelo aumento da idade cronológica não se manifesta exclusivamente no abrandamento da autonomia funcional e capacidades física e intelectual. Sendo estes pólos, pelo contrário, fontes de estimulação para alcançar o cume da esperança média de vida. O envelhecimento acontece desde a concepção dos indivíduos, ainda em fase de gestação. Ora vejamos, hoje não estamos mais envelhecidos que ontem? Cronologicamente sim, o que não quererá dizer, por exemplo, que a nossa concentração ou memorização estejam mais enfraquecidas. Este processo é alvo de estudo da gerontologia que, do grego geros, gerontos (velho) designa o estudo do processo de envelhecimento sob todos os aspectos, nomeadamente: (i) o envelhecimento físico (perda progressiva da capacidade do corpo para se renovar); (ii) envelhecimento psicológico (transformação dos processos sensoriais, perceptuais, cognitivos e da vida afectiva do individuo); (iii) envelhecimento comportamental (modificações num determinado meio e reagrupando as aptidões, as expectativas, as motivações, a auto-imagem, os papéis sociais, personalidade e adaptação) e (iv) contexto social do envelhecimento (influência que o indivíduo e a sociedade exercem um sobre o outro, onde são abordados aspectos como a saúde, rendimento económico, trabalho, lazer, família, etc.)4. A gerontologia apelou sempre ao princípio da multidisciplinaridade e todas as intervenções empreendidas neste domínio 4 ZAY, Nicolas (1981). Dictionaire/Manuel de gerontologie social, Les presses de L´Université Laval, Quebec. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 22 Qualidade de Vida dos Seniores visam sempre três objectivos globais, entre eles, valorizar a responsabilidade dos idosos pelas suas necessidades, privilegiar as acções tendentes a melhorar as capacidades e a autonomia do idoso e facilitar o acesso aos recursos disponíveis (Berger, 1995). O processo de envelhecimento é objecto de estudo das mais variadas áreas das ciências como a bioquímica, a economia, a sociologia, a psicologia, a medicina, entre outras mais. Este é um processo de abordagem múltipla e multidisciplinar que, através de um discurso aberto enriquece esta área do saber, a gerontologia. Estudando as bases biológicas, psicológicas e sociais da velhice e do envelhecimento, diferencia-se da Gerontologia Social, que estuda o impacto das condições socioculturais e ambientais no processo de envelhecimento e na velhice, as consequências sociais desse processo e as acções sociais que podem optimizar o processo de envelhecimento (Paúl, 2005). A vida humana está frequentemente dividida por etapas que, de acordo com o processo desenvolvimental de cada indivíduo, se vai atingindo e ultrapassando cada uma delas, até por fim, se atingir o expoente máximo do desenvolvimento, a velhice. Envelhecimento e velhice são dois conceitos diferentes. É pertinente fazer esta distinção. Deste modo, a velhice pode ser considerada como “a última idade da vida, cujo início fixamos no sexagésimo ano, mas que pode ser mais ou menos avançada ou retardada, segundo a constituição individual, o género de vida e uma série de outras circunstâncias” (Bernard, 1994:13) citado por Fernandes, (2000:24). No seguimento, Fernandes (2000:24) arrisca e diz que “a velhice pode ser definida como sendo um processo “inelutável” caracterizado por um conjunto complexo de factores fisiológicos, psicológicos e sociais específicos em cada indivíduo, podendo ser considerada o “coroamento” das etapas da vida”. Verificamos, assim, que a velhice só se manifesta a partir de uma determinada idade, ao passo que o envelhecimento é um processo contínuo que inicia na gestação e culmina unicamente com a morte. A delimitação da entrada na velhice é um campo não definido e aberto a muitas controvérsias dado que é um fenómeno que, por um lado, ocorre a vários níveis e, por outro, não ocorre uniformemente em todos os seres humanos. O envelhecimento pode ser visto sob diferentes prismas. (i) o envelhecimento dito normal que, embora apresente variações individuais decorrentes de factores genéticos e ambientais, é razoavelmente uniforme em cada ser humano, no que se refere ao seu início e evolução; (ii) o envelhecimento social, relativo aos papéis sociais apropriado às expectativas da sociedade para este nível etário que conduz à diminuição ou perda do papel que o indivíduo desempenha na família e na sociedade; (iii) o envelhecimento psicológico, definido pela auto-regulação do indivíduo no campo de forças, pelo tomar decisões e opções, adaptando-se ao processo de senescência e Dissertação de Mestrado em Serviço Social 23 Qualidade de Vida dos Seniores envelhecimento que se evidencia nos indivíduos cuja idade biológica é muito superior à idade cronológica, (iv) o envelhecimento biológico expresso pelas alterações estruturais e funcionais que ocorrem no organismo que resulta da vulnerabilidade crescente e de uma maior probabilidade de morrer, a que se chama senescência e, que nem sempre é coincidente com o (v) envelhecimento cronológico medido pelo calendário. (Ermida, 1999; Schroots e Birren, 1980 citados por Paúl, 1997). Contudo, não podemos diferenciar estas componentes aquando da avaliação dos idosos, ou seja, não será correcto dizer que, determinado indivíduo decorre num processo de envelhecimento psicológico dentro dos padrões referenciados, mas que, não acompanha a normalidade de evolução do envelhecimento tipo biológico. Não será esta distinção pretendida. Esta distinção, só terá lucidez se abordada na sua generalidade e servindo apenas como pontos de referência, pois volta-se a referir que o envelhecimento ocorre heterogeneamente. A questão central reside em saber a partir de que idade é que se tornam evidentes os sinais de envelhecimento. Ermida (1999:45) evidencia-os a partir dos vinte anos de idade que coincide com o terminus da fase de crescimento que, na pele e a nível da microcirculação arterial se tornam claramente visíveis sinais de senescência celular e tissular. As macroalterações de carácter orgânico e funcional tornam-se perceptíveis aos quarenta anos de idade onde se inicia a “…diminuição cognitiva, particularmente mnésica e pela claudicção de alguns sistemas orgânicos com particular incidência nos aparelhos cardiocirculatório e neuro-sensorial. O processo culmina pelos cinquenta anos numa crise bem evidente na mulher e mais discreta no homem, marcando claramente a segunda grande mudança de idade e consequentemente a entrada na terceira idade biológica. Num processo inevitável e irreversível embora parcialmente controlável, e aqui se insere a prevenção, a diminuição acentua-se para atingir por volta dos oitenta anos nova crise, marcada agora já por evidente diminuição de autonomia do idoso.” (Ibidem, 1999:45). Todo este processo de envelhecimento, de evolução constante, que por nós vai passando, revela-se em fases do desenvolvimento do ser humano relativamente constantes de acordo com a idade do mesmo. Este é pois um processo normal, que certamente passa por todos os seres humanos, embora com diferentes intensidades, podendo também existir oscilações nas idades de aparecimento. São alguns os autores que demarcam inúmeros conceitos de idade para que o envelhecimento seja visto como um fenómeno heterogéneo e unipessoal. LevetGautrat (1985) defende: (i) a idade cronológica, que se refere ao tempo que decorre entre o nascimento e o momento presente, e que nos dá as indicações sobre o Dissertação de Mestrado em Serviço Social 24 Qualidade de Vida dos Seniores período histórico que o indivíduo viveu, mas não fornece indicações precisas sobre o estado de evolução do mesmo, ou seja, a idade cronológica mostra-se insuficiente para o demarcar; a (ii) idade jurídica, que corresponde à necessidade social de estabelecer normas de conduta e de determinar qual a idade em que o sujeito assume certos direitos e deveres perante a sociedade, mas que não corresponde a uma realidade biopsíquica; a (iii) idade física e biológica, que tem em conta o ritmo a que cada indivíduo envelhece. Os diferentes órgãos e funções vitais não envelhecem todos ao mesmo ritmo, daí que as diferenças intra-individuais sejam tão importantes como as inter-individuais; a (iv) idade psico-afectiva, que reflecte a personalidade e as emoções de uma pessoa e que não tem, à partida, limites e funções da idade cronológica. Um grande número de pessoas idosas não se sentem velhas e não se reconhecem como tal, são os outros que reflectem a imagem da sua velhice a partir da sua aparência; a (v) idade social, que corresponde à sucessão de papéis que a sociedade atribui ao sujeito e que são correspondentes às condições sócioeconómicas. Paúl (1997) enumera apenas três tipos de idades em que, qualquer uma delas pode ser superior ou inferior à idade cronológica: a idade biológica, a idade social e a idade psicológica. Fernandes (2000) fez uma relação dos factores relacionados com o envelhecimento, onde difere factores pessoais (idade, perdas e adaptação) e factores situacionais (sócio-demográficos, sócio-económicos, ambiente e institucionalização). Relativamente ao factor idade, a autora subdivide em quatro tipos: idade cronológica, idade biológica, idade social e idade psicológica. Barros de Oliveira (2005) refere, que existem ainda autores que denominam uma idade funcional e é neste sentido que alguns países, como os Estados Unidos, aboliram a obrigatoriedade da reforma determinada pela idade cronológica (geralmente aos 65 anos). Pimentel (2005) remata que a forma como se envelhece e a maior ou menor valorização que é dada a esse processo depende mais das sociedades humanas do que da natureza. Consoante as épocas e as culturas e, consequentemente, consoante os modos de vida e os meios científicos, médicos e tecnológicos, assim varia o modo com envelhecemos. O envelhecimento enquanto fenómeno universalmente aceite, não encontra consenso nas suas definições e nenhuma delas está cientificamente comprovada e aceite. Contudo, foi feito um afunilamento dos aspectos relacionados com o envelhecimento que se mostram cruciais para entender o trabalho empírico desenvolvido. Vejamos agora a forma, através da qual, os teóricos perspectivam o envelhecimento. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 25 Qualidade de Vida dos Seniores 2.1.1 Da historicidade à actualidade das perspectivas do envelhecimento O pensamento teórico dos diversos autores não foi uniforme e consensual. Foram várias as teorias que sofreram remodelações em prol de uma aproximação cada vez mais verídica da realidade do que é envelhecer. Deste modo, e dada a complexidade da matéria, seguimos a orientação de Schroots (1996) que sistematicamente dá um panorama deste árduo percurso. Assim, Schroots (1996) citado por Barros de Oliveira (2005), para melhor compreender a complexidade do processo de envelhecimento distingue três períodos históricos sobre as perspectivas teóricas do processo de envelhecimento: a) o período clássico (dos anos 40 a 70 do século passado) com a teoria das tarefas de desenvolvimento5 (Havighurst, 1953), teoria psicossocial do desenvolvimento da personalidade6 (Erikson, 1950, 1982), teoria da “reprodução”7 (Birren, 1961), teoria do “desinvestimento”8 (Cumming e Henry, 1961), teoria da personalidade, da idade e do envelhecimento9 (Neugarten, 1968, 1996), teoria cognitiva da personalidade e do envelhecimento10 (Thomae, 1970); b) período moderno (dos anos 70 a 90) com a teoria do desenvolvimento e do envelhecimento11 (Baltes, 1978; Baltes e Baltes, 5 A teoria das tarefas de desenvolvimento entende o desenvolvimento como realização de sucessivas tarefas que, se bem sucedidas, conduzem a um envelhecimento com sucesso. Composta por seis estádios. 6 A teoria psicossocial do desenvolvimento da personalidade é descrita em oito estádios de desenvolvimento, cada um com a sua crise própria resultante do conflito entre tendências opostas. 7 A teoria da “reprodução” pressupõe que o desenvolvimento presente de algum modo reproduz o passado, sendo influenciado por ele. Na velhice assiste-se a uma selecção do que houve de melhor nas fases anteriores. 8 A teoria do “desinvestimento” defende que o adulto, à medida que envelhece, vai desinvestindo ou afastando-se dos papeis sociais que antes representava, centrando-se mais no “eu” e envolvendo-se menos social e emocionalmente. 9 A teoria da Personalidade, da idade e do envelhecimento baseia-se em dois princípios: 1) eventos do tempo de transição que podem ser esperados ou não e 2) tipo de personalidade que prediz e condiciona o envelhecimento, possibilitando uma maior ou menor adaptação e satisfação com a vida. 10 A Teoria cognitiva da personalidade e do envelhecimento tenta integrar os domínios bio-cognitivo- afectivo-social, em interacção constante entre eles, privilegiando a percepção que o sujeito tem da sua situação e do próprio self. 11 A teoria do desenvolvimento e do envelhecimento baseia-se em seis princípios que enquadram o desenvolvimento humano e que mais tarde deram origem a um modelo psicológico de envelhecimento bem sucedido denominado optimização selectiva com compensações. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 26 Qualidade de Vida dos Seniores 1990), teoria dos recursos reduzidos de processamento12 (Salthouse, 1988, 1990), teorias da personalidade e do envelhecimento segundo modelos de estádios13 (Erikson, 1982, 1986; Levinson et al., 1978), teorias da personalidade e do envelhecimento segundo os traços14 (Costa e McCrae, 1988, 1992); e c) período recente (iniciado nos anos 80) com a teoria da gerostrancedência (Tornstam, 1996) e teoria gerodinâmica ou teoria da bifurcação (Schroots, 1996). Face à diversidade teórica existente na área do envelhecimento, optamos por incidir sobre aquelas que encontram fundamento na explicação do empirismo do presente estudo, as teorias da personalidade e as mais recentes referidas por Schroots (1996), a teoria da gerostrancedência e a teoria da bifurcação. As perspectivas personológicas, sob as suas diferentes abordagens, encaram o processo de envelhecer nos indivíduos. A personalidade aparece como um factor crucial para se entender o processo de envelhecimento dos seres humanos. Podemos encontrar referências à mesma no período clássico e no período moderno, já que novas teorias vão surgindo, tendo por base o aperfeiçoamento das antecedentes. Dentro das perspectivas personológicas do envelhecimento, estudamos a abordagem psicométrica, que advém directamente da teoria dos testes, a abordagem desenvolvimentista, que provém da teoria dos estádios no decurso da vida e a abordagem sócio(cognitiva) que engloba investigações sobre a aprendizagem, o raciocínio e o comportamento social (Fontaine, 2000). São os postulados teóricos que nos fazem sentido de acordo com a orientação do nosso trabalho empírico, uma vez que a qualidade de vida não é um conceito estático, mas sim dinâmico relacionando-se com a forma como é apercebido pelos indivíduos. Assim, a questão central consiste em saber se existem mudanças significativas na personalidade devidas à idade ou se a personalidade se mantém mais ou menos estável ao longa do ciclo vital. A abordagem psicométrica é defendida por grandes teóricos como Eysenck (1987, em Barros de Oliveira, 2005) e Costa e McCrae (1991, em Barros de Oliveira, 12 A teoria dos recursos reduzidos de processamento explica o relativo declínio cognitivo associado ao envelhecimento, atreves da redução dos recursos como a capacidade de velocidade de processamento. 13 A teoria da personalidade e do envelhecimento segundo os modelos de estádios defendida por Erickson incide na idade adulta e velhice, enquanto que Levinson estuda em particular a vida adulta. 14 De acordo com as teorias da personalidade e do envelhecimento segundo os traços assiste-se a uma invariância estrutural fundamental da personalidade ou das suas disposições/traços básicos ao longo do tempo, e mais em particular na segunda metade da vida, atendendo aos “cinco grandes” factores da personalidade (neurocitismo, extroversão, abertura à experiência, amabilidade, conscienciosidade). Dissertação de Mestrado em Serviço Social 27 Qualidade de Vida dos Seniores 2005). Eysenck (1987) distingue entre extroversão/introversão, neuroticismo e psicoticismo. Segundo o autor, a personalidade da pessoa é determinada principalmente pelo grau em que manifesta esses três traços: (i) a “extroversão/introversão” (E) avalia a tendência para a expansão e assertividade da pessoa ou, inversamente, para a timidez e reserva; (ii) o traço “neuroticismo” (N) avalia o grau em que a pessoa é ansiosa e emocionalmente instável e (iii) o de “psicoticismo” (P) diz respeito ao carácter “frio” e anti-social do sujeito. Estes traços alteram-se à medida que o sujeito vai envelhecendo, interagindo com o sexo. Tanto os homens como as mulheres vão-se tornando mais introvertidos com a idade (introversão). À medida que a idade aumenta, as pessoas tornam-se mais equilibradas emocionalmente (neuroticismo), contudo, qualquer que seja a idade, a mulher é sempre mais ansiosa e emocionalmente instável. Até por volta dos setenta anos, os homens apresentam um P mais elevado que as mulheres, a partir daí, as diferenças anulam-se. São várias as justificações de tais resultados por parte dos autores, no entanto, Eysenck (1987) prefere atribui-los às mudanças fisiológicas capazes de alterar os níveis de excitação do sistema nervoso. Pode considerar-se a personalidade como uma estrutura integradora de tudo o que caracteriza a nossa forma de pensar, sentir e agir às solicitações do exterior. Pelos estudos levados a cabo por Costa e Mccrae (1991, 1992) conclui-se que, é relativamente elevada a estabilidade da personalidade ao longo dos anos e, que em geral, a velhice não tem efeitos sobre a personalidade que se mantém essencialmente estável ao longo da vida, podendo dizer-se, de algum modo, a partir da infância e da adolescência, o que será a pessoa ao longo da vida (Barros de Oliveira, 2005). As interpretações do processo de envelhecimento estão intimamente ligadas ao desenvolvimento, ou seja, à abordagem desenvolvimental do envelhecimento. Através de modelos com inspirações diferentes, os teóricos procuraram identificar uma sucessão de fases universais na evolução da personalidade, da infância até à velhice (Fontaine, 2000). O desenvolvimento enquanto processo contínuo é representado pelos clássicos Freud no domínio afectivo-sexual e Piaget no domínio cognitivo Barros de Oliveira (2005). Autores que consideravam que a evolução terminava na adolescência, daí os seus estudos se concentrarem na criança e no adolescente. No entanto, a evolução do ser humano contínua a evoluir até ao final da vida. Jung (1976) pode ser considerado como um dos pioneiros a dar importância a todo o percurso de vida, defendendo que, depois da adolescência, podem ocorrer mudanças estruturais Dissertação de Mestrado em Serviço Social 28 Qualidade de Vida dos Seniores tão importantes como na infância. Erikson (1972) e outros autores deram um avanço na evolução de todo o arco da vida procurando modelos mais integrativos e dinâmicos. Assim, Erikson (1972) é responsável por um dos modelos mais reconhecidos da evolução da estrutura da personalidade ao longo da vida. Define oito estádios para a evolução da estrutura da personalidade ao longo da vida, em que cada um se baseia no precedente e constitui o suporte para seguinte. O conflito é o motor que permite a passagem de estádio. O autor dedica o último estádio de desenvolvimento da personalidade à velhice (integridade vs. desespero). Se o sujeito superou bem os estádios anteriores, atingiu a plenitude da sua integridade que compreende a aceitação e responsabilidade pela vida, a capacidade para defender o seu estilo de vida, o reconhecimento da integridade dos outros e a modéstia frente ao universo. Tudo culminando na sabedoria que leva também a aceitar as limitações e a própria morte. Se pelo contrário, o sujeito não integrar de forma adequada os estádios de desenvolvimento, crescerá o medo da morte e mesmo sentimentos de desespero frente à impossibilidade de recomeçar tudo de novo. Para o idoso, trata-se de gerir a contradição entre a integridade pessoal e o desespero entre o desejo de sentir prazer em viver e envelhecer com dignidade e a ansiedade associada à antecipação da idade avançada, da perda de autonomia e da morte. Este período constitui o nível mais elevado do processo de integração da personalidade tendo em vista o pólo pessoal da individualidade e o pólo social do relacionamento interpessoal. (Fontaine, 2000 e Barro de Oliveira, 2005). Calarusso (1998) citado por Barros de Oliveira (2005) concretiza em três tarefas específicas que se impõem ao ser humano em processo de envelhecimento, designadamente a aceitação das transformações do corpo, o reconhecimento da finitude da vida e a perda progressiva de relações interpessoais. Manter a imagem do corpo e a integridade física, esta tarefa torna-se na velhice a preocupação central, uma vez que, as forças físicas vão atenuando e enfraquecendo, mesmo em casos de uma saúde mediocremente saudável, agravando em situações de doença grave. O sujeito pode-se sentir ainda com as mesmas potencialidades cognitivas e afectivas, mas sem correspondência física, e estas mudanças podem ser interpretadas como perdas, daí a necessidade do idoso aceitar este declínio físico e saber adaptar a vida a esta realidade. Aceitar a morte dos outros, é necessário saber confrontar-se com a morte que, com o passar dos anos, se torna mais frequente entre os entes queridos, de modo a não cair no abismo da solidão, na depressão. Com o apoio dos familiares e outras pessoas significativas, a pessoa pode promover mudanças no ser lar, investir em actividades intelectuais e de lazer e, até mesmo, fazer vida com outra pessoa. Preparar a própria morte, para além de pensar a morte na 3ª ou 2ª pessoa, mais Dissertação de Mestrado em Serviço Social 29 Qualidade de Vida dos Seniores importante é pensar na nossa própria morte. Se o pensamento da morte estiver presente, de forma mais ou menos recalcada ou consciente, ao longo da vida, mais se faz à medida que se envelhece e as forças declinam, tornando-se certamente a sua aceitação a tarefa mais desafiante para o idoso. A abordagem (sócio)cognitiva é a teoria que procura descrever a personalidade em função das características próprias do sujeito e do seu meio ambiente servindo-se de conceitos derivados da psicologia cognitiva, susceptíveis de serem avaliados (Fontaine, 2000). Tem a finalidade de compreender a forma como o indivíduo integra, na representação que tem de si mesmo, as modificações que se produzem na sua vida em relação com o ambiente envolvente. Bandura (1986) chama “determinismo recíproco” à influência que o indivíduo exerce no ambiente e este sobre o indivíduo. Dentro desta interacção entre o sujeito e o meio coloca-se o modelo de Whitbourne (1987) que atribui à personalidade o papel de auto-identificação (quem sou eu?) permitindo ao indivíduo uma construção unificada ao longo da vida (life span construct), conferindo sentido ao passado, ao presente e ao futuro. Tal construção ou “constructo” estruturam-se por duas componentes, o cenário e a história de vida. O cenário é uma construção mental que permite ao indivíduo projectar o seu futuro conforme as suas motivações e finalidades de acordo com a situação socio-económica e laboral em que se encontra. O indivíduo responde à questão “como desejo que seja a minha vida futura?”. Ao contrário, a história de vida diz respeito à descrição e à organização mais ou menos coerentes que o indivíduo faz do seu passado. O indivíduo extrai e reconstrói certos acontecimentos a fim de elaborar esta construção significante da sua vida passada e elimina outros factos. O cenário e a história de vida integram-se numa construção unificada – a identidade do indivíduo – que surge como um processo de equilíbrio entre a estabilidade (que funciona à maneira da “assimilação” piagetiana) e a mudança (à maneira da “acomodação”). Diante de um acontecimento feliz ou doloroso, o sujeito entra num processo de transformação de identidade, lendo o passado e projectando o futuro de modo diferente. Trata-se de um modelo circular ou dialéctico onde a assimilação/acomodação se equilibram com o fim de manterem a identidade do sujeito. Pode, no entanto, haver personalidades ou estilos de identidade mais estáveis ou conservadoras ou mais instáveis e voltadas para a mudança, podendo haver ainda um estilo misto onde prevaleça o equilíbrio entre a mudança e a estabilidade. Em todo este processo dinâmico, é de realçar também a importância da família como fonte de identidade. Dentro das diferentes abordagens que correlacionam a personalidade com o desenvolvimento dos indivíduos aquelas em que nos posicionamos defendem a Dissertação de Mestrado em Serviço Social 30 Qualidade de Vida dos Seniores caracterização do sujeito, não através dos estudos psicométricos mas através das abordagens desenvolvimentista e sócio(cognitiva) onde o nosso estudo se enquadra, uma vez que a vertente desenvolvimental da personalidade impõe estádios que, à partida, todos os indivíduos passam. Poderão certamente encontrar correspondência na grande parte delas, no entanto, a homogeneidade não se verifica taxativamente no desenvolvimento dos indivíduos, muito menos quando se fala em personalidade, onde as diferenças são ínfimas de indivíduo para indivíduo. Facilmente se entenderá, por seu turno, uma explicação da personalidade individual só terá fundamento quando estudar as características individuais de cada indivíduo e nas relações destes com o meio envolvente. Perceber que cada indivíduo é a personagem principal do percurso da sua vida, é ele que opta que caminhos seguir, que opções tomar, que futuro quererá atingir. Ainda dentro da perspectiva histórica do processo de envelhecimento, abordamos, de seguida o período mais recente. A gerodinâmica ou teoria da bifurcação é um modelo sobre o envelhecimento proposto por schroots (1995) referido por Paúl (2005), em que o processo de envelhecimento é explicado pela teoria geral dos sistemas, da segunda lei da termodinâmica e da teoria do caos de Prigogine (1979) referido por Paúl (2005) e Alarcão (2002). Esta que prevê que as flutuações nos indivíduos possam chegar a pontos de bifurcação em que é impossível determinar a priori qual a direcção da mudança, se o sistema se desintegra no caos ou se passa para uma ordem superior mais diferenciada. O ponto de bifurcação é o momento em que rompe com a margem de flutuação, em que o idoso já não pode flutuar mais naquele equilíbrio e que, ao atingir determinada amplitude, conduzem-no a um ponto crítico, para lá do qual ocorre uma mudança de estado cuja direcção é, a priori, imprevisível. O envelhecimento, com base na teoria do caos, pode ser definido como um processo de aumento de entropia com a idade, da qual pode surgir a ordem ou a desordem. Assim, a dinâmica do envelhecimento (gerodinâmica) trata da série finita de mudanças em direcção a uma maior desordem e estruturas ordenadas de uma maior diferenciação (ser único). Encontra explicação no nível psicológico dos indivíduos, ou seja, pelo processo de optimização da auto-regulação e independência de variações ambientais (ordem), na presença do enfraquecimento de algumas capacidades e recursos (desordem), que o indivíduo que envelhece pode experimentar. O idoso vive num equilíbrio dinâmico dotado de margens de funcionamento estáveis que, quando ultrapassados, deixam de conter flutuações do sistema, originando mudanças irreversíveis das quais emerge um novo padrão organizado. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 31 Qualidade de Vida dos Seniores Tornstam (1989) desenvolveu o conceito de gerotranscedencia, que descreve uma alteração “natural” da consciência na idade matura, provendo o idoso de uma espécie de “sabedoria” e, como consequência, levando-o a uma ruptura com a visão de mundo materialista e racional, características das sociedades contemporâneas. De acordo com o autor, o processo de gerotranscedencia pode ser reconhecido por meio da observação de uma série de alterações, tais como, a diminuição do interesse em interacções sociais supérfluas, maior dedicação à “meditação”, crescente sentimento de afinidade com o passado e com as futuras gerações, desinteresse pelas coisas materiais, redefinição da percepção do tempo, do espaço dos objectos e redefinição da percepção da vida e da morte e a diminuição do medo da morte. O autor faz uma associação comparativa entre a sua teoria da gerotranscedencia e alguns aspectos do Zen Budismo e sugere que a introspecção e inactividade das pessoas idosas podem ser características dessa fase da vida e não necessariamente indicação de um estado depressivo (Gomes, Lessa e Sá, 2006). Contudo, o envelhecimento abarca questões bem mais específicas e de maior importância para o trabalho em questão. Desta forma, em seguida, abordar-se-á o processo de envelhecimento enquanto processo contínuo e analisar-se-á como o desenvolvimento cognitivo evolui com a idade. 2.1. 2 Outras abordagens teóricas do processo de envelhecimento Os seres humanos não poderão ser unicamente avaliados pelos seus padrões personológicos ou cognitivos. O fenómeno de envelhecer encontra, igualmente, explicação nas alterações físicas, cognitivas, biológicas, entre outras, que serão abordadas neste ponto. De referenciar antecipadamente que, o que se vai falar neste ponto, não será generalizável, tal como se sucede em qualquer teoria ou abordagem que venha a ser estudada. Antes de mais, o envelhecimento é encarado enquanto um processo contínuo, tal como tem sido referenciado ao longo do presente trabalho. Nesta óptica, Zimerman (2005) refere-se ao envelhecimento enquanto um processo que pressupõe alterações físicas, psicológicas e sociais no indivíduo encarando-as como naturais, gerais e gradativas. De acordo com as características genéticas de cada indivíduo, as transformações podem ser sentidas mais precoce ou tardiamente, assim como, em Dissertação de Mestrado em Serviço Social 32 Qualidade de Vida dos Seniores diferentes intensidades. A autora faz distinção entre os aspectos físicos, psicológicos e sociais do envelhecimento. As principais mudanças, a nível físico, do adulto jovem para o idoso, subdividem-se, na perspectiva da autora, em modificações externas e modificações internas. Deste modo, podemos verificar que, a pele se enruga; aparecem manchas escuras na pele, a produção de células novas diminuiu, a pele perde o tônus, tornando-se flácida; podem surgir verrugas, o nariz alarga-se; os olhos ficam mais húmidos; há um aumento na quantidade de pêlos nas orelhas e no nariz; os ombros ficam mais arredondados; as veias destacam-se sob a pele; dá-se um encurvamento da postura devido às modificações na coluna vertebral, assim como, uma diminuição de estatura pelo desgaste das vértebras. Ao nível das modificações internas, os ossos endurecem; os órgãos internos atrofiam reduzindo o seu funcionamento; o cérebro perde neurónios e atrofia-se, tornando-se menos eficiente; o metabolismo fica mais lento; a digestão mais difícil; as insónias aumentam, assim como a fadiga durante o dia; a visão ao perto piora devido à falta de flexibilidade do cristalino; a perda de transparência (catarata), se não for operada, pode provocar cegueira; as células responsáveis pela propagação dos sons no ouvido interno e pela estimulação dos nervos auditivos degeneram-se; o endurecimento das artérias e seu entupimento provocam arteriosclerose e o olfacto e o paladar diminuem. Sabe-se que este processo é inevitável, contudo o facto de envelhecer não pode ser encarado com sinónimo de doença, como também estas características físicas e biológicas não surgem de igual modo e intensidade em todos os seres humanos. Esta é uma fase da vida que em que se espera que todos os ser humanos a experieciem, na qual estamos mais susceptíveis de adoecer. O segredo é aprender a viver com as limitações, aceitar os problemas e lutar para que as dificuldades sejam diminuídas. Socialmente, o disparo do envelhecimento social obriga a modificações comportamentais no papel do idoso tendo em conta a sua participação na comunidade, assim como nas suas relações interpessoais. A crise de identidade provocada pela diminuição das obrigações sociais, as mudanças de papéis na família, no trabalho e/ou na sociedade, a chegada da reforma, o surgimento de perdas de ordem diversa que, podem ir da condição económica ao poder de decisão, à perda de parentes e amigos, da independência e autonomia; a diminuição dos contactos sociais; traduzem-se em aspectos relevantes que podem ser atenuados com uma maior participação da família, maior abertura a novos relacionamentos e à adaptação de novos estilos de vida. Por último, Zimerman (2005) faz referência à importância dos aspectos psicossociais subjacentes ao envelhecimento. Além das alterações corporais, ao envelhecer, o ser humano, comporta uma panóplia de mudanças psicológicas, que Dissertação de Mestrado em Serviço Social 33 Qualidade de Vida dos Seniores podem resultar em dificuldade de se adaptar a novos papéis. A falta de motivação e dificuldade de planear o futuro, a necessidade de trabalhar as perdas orgânicas, afectivas e sociais, a dificuldade em se adaptar às mudanças rápidas que têm reflexos dramáticos nos mais velhos, as alterações psíquicas que exigem tratamento, a depressão, a hipocondria; a somatização; a paranóia, o suicídio, as baixas autoimagem e auto-estima, são exemplos disso. Das transformações aparentemente visíveis, abordaremos a parte cognitiva que, mais subjectiva mas de igual importância. As teorias que abordam a evolução da cognição ao longo da idade assumem neste trabalho crucial importância. Alvo de estudo desde os primórdios das teorias do processo de envelhecimento têm ganho novos adeptos teóricos que a têm enriquecido. Deste modo, analisemo-la segundo autores mais recentes. No domínio cognitivo, ao passar pela idade, assiste à manutenção ou a um ligeiro declínio na eficiência verbal e na inteligência cristalizada do idoso e a um significativo declínio das funções perceptivo-espaciais e da inteligência fluida. Factores como a fadiga intelectual, a falta de interesse, atenção e concentração são, muitas vezes, as verdadeiras causas do declínio da inteligência verificada na velhice. O idoso tem de adaptar constantemente às diferentes situações com as quais se vai deparando, o que ocupa toda a sua energia psíquica e o impede de dar o máximo. Várias características individuais estão associadas ao bom desempenhos das funções cognitivas e intelectuais, tais como, forma física, educação, estatuto económico, etc. Os indivíduos de inteligência superior e de nível de educação elevado sofrem menos as baixas de funções cognitivas ou só muito tardiamente as sentem (Berger, 1995). A tendência, relativamente recente, na avaliação da inteligência dos idosos incide na distinção de dois tipos de inteligência: a inteligência fluida, referindo-se às capacidades básicas, como a atenção e a memória, que são mais inatas do que aprendidas, traduz-se numa inteligência mais abstracta, individual ou não sistematizada; e inteligência cristalizada, que se revela através de grande número de actividades associadas à profundidade do saber e da experiência, do julgamento, da compreensão das relações sociais e das convenções e da habilidade do comportamento. Esta última mais concreta, sistematizada ou aculturada pela escola ou profissão sendo no local da estética, da criatividade e dos comportamentos inovadores que permite ao indivíduo resolver os recentes e novos problemas. A inteligência fluida evolui até aos vinte anos de idade, ao invés a cristalizada permanece estável, podendo evoluir ligeiramente, com o avançar da idade. Definindose mais em função da experiência e da reflexão, relaciona-se com a aculturação e experimentação. Esta forma de inteligência permite ao indivíduo solucionar problemas Dissertação de Mestrado em Serviço Social 34 Qualidade de Vida dos Seniores aplicando o resultado das suas experiências anteriores à situação em causa. Associase, muitas vezes, à memória, à frequência das experiências cognitivas e ao nível de instrução e educação. O declínio da inteligência fluida começa desde a adolescência e prossegue de maneira continua ate à morte, enquanto que a inteligência cristalizada continua a desenvolver-se e a aumentar, embora se observe uma ligeira baixa na velhice avançada [(Horn e Cattell (1967) citados por Barros de Oliveira (2005); Berger, (2005) e Fontaine (2000)]. Baltes (1990) citado por Fontaine (2000) afirma que os défices da inteligência fluida são, durante muito tempo, compensados pelos desempenhos da inteligência cristalizada, deste modo, o idoso compensaria pela sua experiência a sua dificuldade em responder a situações novas. Os estudos de Salthouse (1990, 1991) referenciados em Barros de Oliveira (2005) concluíram que algumas faculdades mentais são menos afectadas com a idade, como são exemplo, a resolução prática de problemas e a capacidade de interpretar a informação verbal, enquanto outras sofrem maior deteorização, como a interpretação de informação não verbal, a capacidade de responder prontamente a novas situações, a aquisição de novos conceitos, a capacidade de concentração e de entender e fazer raciocínios mais abstractos. Os diversos estudos confirmam que os idosos mantêm as competências da inteligência cristalizada enquanto declinam na inteligência fluida. Aquando de avaliações da inteligência dos mais velhos, impreterivelmente, teremos de ter o cuidado de entender que as competências cognitivas não são tão usadas com nas outras fases do desenvolvimento, assim como, a capacidade de concentração e memorização. De qualquer forma, não podemos catalogar todos aqueles que vivenciam o processo de envelhecimento, com défices cognitivos. A sabedoria leva o idoso a lidar melhor com as limitações renunciando às responsabilidades que tinha na sociedade e às exigências da mesma, sem sofrer demasiado com as “perdas” sobretudo quando chega à reforma. “Saber envelhecer é uma grande arte que os que rodeiam o idoso também devem favorecer, continuando a dar-lhe importância e mantendo-o em alguns cargos” (Barro de Oliveiras, 2005:60). Associada à inteligência surge a memória. A memória permanente adquirida por um indivíduo é uma rede organizada de conceitos inter-ralacionados e integrados na estrutural cerebral. É uma actividade biológica e psíquica que permite reter as experiências vividas anteriormente. São muitos os que se queixam que a memória lhes falha e, na realidade, esta capacidade diminui. São inúmeras as causas que aqui podemos evidenciar, como o estado emocional, o nível cultural e instrucional, a situação socio-económica, o stress e, principalmente causas neuronais. A memória é muitas vezes fonte de inquietação e os esquecimentos são, na velhice, causas Dissertação de Mestrado em Serviço Social 35 Qualidade de Vida dos Seniores importantes de stress e embaraço. Para Zimerman (2005), a memória não envelhece, o que ocorre frequentemente é que cada vez menos ela é exigida e para mantê-la deve-se exercitá-la. A memória está associada à aprendizagem, porque é preciso primeiro aprender uma coisa para depois a poder recordar. A aprendizagem permite estabelecer laços entre certos estímulos e certas respostas. Embora diferentes, memória e aprendizagem, permanecem intimamente ligadas sendo muito difícil estabelecer fronteiras recíprocas. Habitualmente reduz-se o funcionamento da memória a três processos: aquisição de conhecimentos (aprendizagem), retenção dos conhecimentos de rememorar o material armazenado e retido a fim de o poder utilizar (Berger, 1995). A linguagem (Barros de Oliveira, 2005) também ela relacionada com a inteligência e cognição, é aqui referenciada embora com pouca cientificidade. Supõese que o declínio auditivo e visual, só por si, dificulta a audição e a leitura. Quanto mais se envelhece, e ainda por mais quando a saúde decline, o idoso “corta” o contacto com o exterior e pela não comunicação, vai perdendo dotes linguísticos. Berger (1995), refere que, todas as investigações mais recentes parecem mostrar que as pessoas idosas têm resultados menos bons nas tarefas de resolução de problemas porque têm mais dificuldade em organizar e integrar os dados. A organização do pensamento nos idosos é testemunho, às vezes, de uma maior rigidez e prudência se comparado com os jovens. Quanto mais ambígua for a situação, maior a dificuldade em tomar uma decisão. Os idosos têm muitas vezes dificuldade em utilizar estratégias e técnicas novas para se desfazer de hábitos enraizados ou para ver a situação de maneira diferente. O cérebro humano possui reservas insuspeitas e, na presença de perdas cognitivas ou sensoriais importantes, a maior parte dos idosos é capaz de continuar a funcionar normalmente. Contudo, utilizam diferentemente dos jovens, a informação recolhida e pouco têm em conta as instruções à partida, podendo por isso desperdiçar e empatar mais tempo a responder às adversidades do que os jovens. A criatividade é um conceito difícil de medir e de avaliar. Berger (1995), defende a existência de consenso que, o potencial de criatividade atinge o máximo pelos quarenta anos e declina depois dos cinquenta. Contudo, a criatividade está ligada à motivação e, enquanto o indivíduo se sentir motivado, tem a arte de criar. Daí, não se poder dizer que, há limite de idade para a criatividade. Todo este trabalho reflexivo sobre o desenvolvimento cognitivo permite-nos verificar como cada vertente cognitiva dos seres humanos é ou não influenciada pelo avanço de idade. No entanto, cada teórico terá a sua forma de encarar o processo de envelhecer. Uma das razões porque não se chega a um consenso e a uma Dissertação de Mestrado em Serviço Social 36 Qualidade de Vida dos Seniores sistematização de todas as teorias, deve-se ao facto da complexidade inerente às constantes mudanças, não só ambientais mas também sociais e políticas que, não se podendo cometer a ingenuidade de atribuir um determinado efeito a uma só causa, estaríamos a contrariar a noção que cada ser humano é uno. O envelhecimento é uma realidade humana que faz parte integrante da vida e é tão natural como nascer e morrer. Não haverá dúvidas que a sabedoria é um sólido instrumento para se bem envelhecer. Saber lidar com o avanço da idade sem perder laços sociais, sendo estes motivados pelos contactos simples do dia-a-dia, estimula cognitivamente os indivíduos que, indirectamente lhes conduz a um manuseamento da linguagem, resolução de problemas e criatividade impedindo, desta forma, a declinação dos mesmos. A receita para se envelhecer com qualidade, passa assim, por permanecer vivos os contactos e laços sociais, estando deste modo, inseridos numa comunidade que é a sua que, na qual participa e que, da qual ganha frutos. De entre todas as abordagens aqui debatidas, cabe afunilar as referidas no neste último ponto pois sendo as mais exactas, constroem-se nas mais convincentes para nós. Por seu turno, abarcam questões avaliadas no World Health Organization Quality of Life (WHOQOL), instrumento base, no presente estudo, utilizado para avaliação da qualidade de vida. Fará, então todo o sentido, não só referir mas também analisar todos os domínios que compõe o WHOQOL, para que, desde logo, se justifiquem a antecedente abordagem às teorias do envelhecimento. Para um melhor entendimento e, resumidamente, o WHOQOL traduz-se num instrumento de recolha de informação que surgiu da necessidade da criação de um meio instrumento que fosse capaz de avaliar a Qualidade de Vida dentro de uma perspectiva de âmbito internacional. Os pioneiros foram um grupo de experts da OMS que, aparece aqui como responsável por todo o processo de criação de manutenção do WHOQOL. Com o objectivo de iniciar o projecto WHOQOL, a os experts da OMS partiram com uma definição de qualidade vida “a percepção do indivíduo da sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações” (WHOQOL Group, 1995). No seguimento, a OMS criou um projecto que resulta num questionário composto por cem itens (WHOQOL-100) em que o reconhecimento da multidimensionalidade do constructo se reflectiu na estrutura de uma avaliação da qualidade de vida de acordo com seis domínios (WHOQOL-100): (i) o domínio físico (que engloba as facetas dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso), (ii) o domínio psicológico (que avalia a predominância de sentimentos positivos, o pensar, o aprender, a memória e concentração, a auto-estima, a imagem corporal e aparência e, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 37 Qualidade de Vida dos Seniores ainda os sentimentos negativos), (iii) o domínio de independência (que compreende as facetas como a mobilidade, as actividades quotidianas, a dependência de medicação ou de tratamentos e a capacidade de trabalho), (iv) o domínio das relações sociais (este aborda a intensidade das relações pessoais, suporte (apoio) social e a actividade sexual), (v) o domínio referente ao meio ambiente (as facetas aqui abordadas passam pela segurança física e a protecção, o ambiente no lar, os recursos financeiros, os cuidados de saúde, as novas informações e habilidades, a recreação e lazer, o ambiente físico e o transporte), (vi) o domínio da espiritualidade/religião/crenças pessoais encerra os domínios em estudo (este a avalia a incidência da espiritualidade, da religião e crenças pessoais). A necessidade de instrumentos curtos que demandem pouco tempo para o seu preenchimento, mas com características psicométricas satisfatórias, fez com que o Grupo da OMS desenvolvesse uma versão abreviada do WHOQOL-100, o WHOQOLBref. O WHOQOL-Bref consta de vinte e seis questões, assim a versão abreviada é composta por apenas quatro dos seis domínios, entre eles, o físico, o psicológico, as relações sociais e o meio ambiente. O WHOQOL-Bref encontra-se, como demonstrado, relacionado com os princípios teóricos enunciados. No entanto, a qualidade de vida também se reflecte ao nível da integração social do idoso, nomeadamente quer na forma como a sociedade o vê, quer ainda na forma como o idoso pensa que é visto pela sociedade. Dualidade que lhe permite construir a sua identidade social. 2.2 A integração social dos seniores Neste ponto serão abordados aspectos que se relacionam directamente com o idoso, não só a representação social desta faixa etária, mas também com a sua autoimagem, assim como, o estudo de todas as condicionantes que proporcionam entraves ou potencialidades à sua integração social. Todos temos a noção da aparente dificuldade da tarefa de ser idoso nos dias de hoje. Os autores já o dizem, “Ninguém quer ser velho porque não oferece nenhuma vantagem” (Cabrillo e Cachafeiro citados por Pimentel, 2000). Porventura, ser velho não é sinónimo de demente ou senil. De um modo geral, não será a idade cronológica, aquela expressa nos bilhetes de identidade, que traça o perfil de cada ser humano. A chegada à velhice é um marco na vida de cada indivíduo, alcançá-la é uma vitória e, esta deve ser contemplada e reconhecida por todos. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 38 Qualidade de Vida dos Seniores Pimentel (2004) faz referência à condição de ser idoso em que uma das imagens mais comuns e difundidas, de se olhar para os idosos, é a excessiva limitação das suas capacidades e aptidões. Esta será, então a imagem, socialmente construída, de grosso modo, do que é um idoso. É verdade, sim, que são muitas as alterações que vão ocorrendo ao longo de todo o processo de envelhecimento, contudo, a velhice não é mais do que uma etapa do ciclo da vida, à qual todos aspiram chegar. Envelhecer é antes de mais uma arte, envolta de muito conhecimento do seu corpo e capacidade de interpretação do meio envolvente. Já que, iniciamos o nosso processo de envelhecimento aquando do nosso nascimento, é uma arte passar por todos os estádios de desenvolvimento e glorificar-se a velhice. Fernandes (2001) questiona o que é ser velho nas sociedades modernas. A velhice, como categoria social, pode-se dizer, na opinião da autora que, ficou institucionalmente fechada nas fronteiras de um limiar de idade fixo cujo acesso é reforçado pela detenção de uma pensão de reforma. Esta definição não tem sido adaptada às transformações sócio-demográficas recentes e, pelo contrário tem encontrado reforço nas pré-reformas. Ao entrar na idade da reforma, o “jovem-velho” pertence automaticamente ao catálogo dos velhos, perde o estatuto social, perde capacidades e dá-se uma deteorização do estado geral de saúde. Barros de Oliveira [(2005) confrontar com Richard e Mateev-Dirkx, 2004)] aponta algumas características que, mais frequentemente se generalizam aos idosos, entre as quais se destacam: crise de identidade provocada por ele e pela sociedade; diminuição da auto-estima; dificuldade de adaptação a novos papéis e lugares, bem como, a mudanças profundas e rápidas; falta de motivação para planear o futuro; atitudes infantis ou infantilizadas, como processo de mendigar carinhos; complexos diversos dados, por exemplo, à diminuição da libido e do exercício da sexualidade; tendência à depressão, à hipocondria ou somatização e mesmo tentações de suicídio; surgimento de novos medos (como o de incomodar, de ser peso ou estorvo, de sobrecarregar os familiares, medo da solidão, de doenças e da morte); diminuição das faculdades mentais, sobretudo da memória; problemas a nível cognitivo (de memória, linguagem, solução de problemas), conativo e motivacional, afectivo e personológico. É certo que, o autor carrega demasiado nas características que, de certa forma, estão generalizadas ao grupo, vendo-os pela homogeneidade que, na realidade é inexistente. Mas afinal que imagem será auto-retratada pelos próprios idosos? O que diz o seu espelho? Sabe-se que as atitudes da sociedade face aos que vivem a velhice são muitas vezes negativas e, em parte, são os verdadeiros responsáveis pela imagem que eles têm de si próprios, bem como das condições e das circunstâncias que Dissertação de Mestrado em Serviço Social 39 Qualidade de Vida dos Seniores envolvem todo o processo de envelhecer. Apesar da dificuldade em definir com exactidão a velhice, Fernandes (2000:25), defende que podemos dizer que, “(…) a mesma não é uma doença mas sim a comprovação de que houve suficiente saúde para a atingir. Se é bem verdade que o idoso, tal como todo o ser humano saudável, permanece em equilíbrio como o meio, também é verdade que os dois extremos da vida são caracterizados por serem mais sensíveis a este e terem uma diminuição da capacidade de resistência à agressão. Trata-se, sobretudo, da noção de que a velhice não é sinónimo de doença ou incapacidade, mas sim de uma menor capacidade orgânica e psíquica, pelo agravamento dos fenómenos escleróticos e atrofiadores do sistema regulador do organismo.” (Ibidem, 2000:25). A velhice tem, assim, de ser encarada como um processo natural e inerente ao ser humano, vivida positivamente por cada indivíduo, cabendo à sociedade o papel de facilitador proporcionando condições que favoreçam a melhoria das condições e consequente qualidade de vida aos seniores. Cabe aos cidadãos promover a igualdade de oportunidades de intervenção na sociedade pela participação e cooperação intergeracional alcançando uma cidadania participativa e activa por parte dos seniores. Berger (1995:65), sobre o assunto diz que: “Os idosos são extremamente sensíveis e vulneráveis à opinião dos outros e à atenção que estes dão aos seus feitos e aos seus gestos. Mesmo que a maior parte considere a velhice tal como ela é, isto é, uma perda de autonomia e de saúde, e que esta percepção lhes permita negar os preconceitos negativos e a imagem de indigência associada ao envelhecimento, existe no entanto, um grande número que endossa sem se questionar, as “etiquetas” que queremos que eles usem: “velhos”, “senis”, “mimados”, etc. Acreditam nisso de tal forma que acabam por se conformar. Identificando-se com a imagem degradante que a sociedade lhes confere, justificam de qualquer forma a descriminação de que são objectos. Por vezes, estes preconceitos ou mitos estão tão bem enraizados que chegam a tornar-se numa realidade. (…) os estereótipos têm efeitos benéficos sobre os idosos, comparando-se com eles ou repudiando-os, melhoram a sua auto-imagem e vêm-se de forma mais positiva”. (Ibidem, 1995:65). Por vezes, a discriminação funciona como uma lufada de ar fresco, para que, eles mesmos, sujeitos-alvo de exclusão, tenham capacidade e força de mostrar à sociedade em geral que, velhice e senilidade não são sinónimos. O autor acrescenta, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 40 Qualidade de Vida dos Seniores “Os idosos que consideram a velhice como um fenómeno natural dão sentido à vida, são mais felizes e implicam-se mais no seu meio e na sociedade, Reconhecem em si, aspectos positivos (sistema de valores estável, sensatez, juízo critico, etc.) e encontram no envelhecimento certas vantagens (diminuição da responsabilidades e do trabalho, ausência de competição, abertura de espírito, etc.). Complicam menos a vida, apreciam-na mais e temem menos a morte. Utilizam os seus conhecimento e as sua experiências passadas para as partilhar com os outros ou para recorrer a elas quando necessário.” (ibidem, 1995:65) Mas afinal quem é idoso? Quem é velho? Ou o reformado? Ou o sénior? Qual a verdadeira denominação? Mas denominação para quem? A partir de quando? Para quê? A quem? Somos aquilo que a sociedade nos quiser chamar. É já visível a diversidade de denominações atribuídas às pessoas que completam os 65 anos de idade. Obviamente que, qualquer limitação a impor poderá constituir um erro pois ao falarmos das pessoas com idade mais avançada, deveremos abordar os vários tipos de idades, já estudado no ponto anterior. Importa, aqui, realçar que em 1992 a Comunidade Europeia elaborou um questionário sobre “Idades e Atitudes”. O estudo, antes de mais, objectivava-se em alterar o significado de “terceira idade” pois já estava desadequado e descontextualizado em consequência com o aumento da esperança de vida, daí surgir a noção de “quarta idade” proposta pela França para todos aqueles que tivessem 75 ou mais anos (INE, 2000)15. As pessoas inquiridas manifestaram-se sobre a maneira como gostariam de ser chamadas. Da diversidade de respostas que surgiram, a designação “pessoas mais velhas”, foi a mais aceite pela maioria dos países da União Europeia dominantemente pelos países do sul, excepcionalmente os italianos preferem o termo “pessoa de idade”. A expressão “os mais velhos” foi rejeitada por praticamente por todos os países, no entanto, é a expressão mais utilizada pelos políticos e media. “Sénior” foi de longe a preferida entre os países do norte da Europa. Barros de Oliveira (2005) faz referência aos termos mais usados, sendo que a dominância é de origem grega ou latina. Como termos latinos refere: “velho (do latim vétulus, dim. de vetus), ancião (do latim medieval antianus, através do provençal ancian e do francês ancien), idoso (que tem muita idade, do latim aetas), sénior (do 15 Envelhecimento no feminino: um desafio para o novo milénio. 2005. Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres. Colecção Informar as Mulheres N.º22. Lisboa. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 41 Qualidade de Vida dos Seniores latim sénior, mais velho, de sénex, donde deriva também senescência, senilidade, senado). Podemos usar também a expressão “adulto idoso” (adultum é o tempo supino do verbo latino adoléscere, crescer – supõe-se que o adulto já terminou a sua fase de crescimento). Os vocábulos derivados do grego são: geronte (de gérôn-ontos, donde deriva gerontologia) ou também presbítero (termo reservado aos sacerdotes do Novo Testamento que eram considerados já “velhos” em sabedoria para presidir às Igrejas locais). No presente estudo, utilizaremos a partir daqui, o termo “sénior” para designar as pessoas com 65 ou mais anos, idade que coincide com a reforma em Portugal e, a partir da qual se designam de idosos. A escolha por esta denominação, prende-se com o facto de “sénior”, traduzir-se numa expressão sem conotação negativa e pela nossa experiência de terreno, a mais preferida pelos seniores portugueses. Contudo, a sua origem latina não inspira grande amabilidade. Segundo a OMS, idoso é aquele que já completou 65 anos. No entanto, e devido ao prolongamento da esperança de vida, nos países mais desenvolvidos, graças ao desenvolvimento da medicina, da tecnologia, dos cuidados de higiene e outros factores, em vez de 65 anos poderia considerar-se os 70 ou 75 anos como passagem à velhice (Barros de Oliveira, 2005). De qualquer forma, a designação ou divisão etária são características ou factores secundários, o importante é compreendê-los e respeitá-los. Cabe a verdadeira implementação do envelhecimento activo, definido em 2002 pela OCDE (Quaresma e Calado, 2004:7)16 como, “a capacidade das pessoas que avançam na idade terem uma vida produtiva na sociedade e na economia. O que quer dizer que possam determinar a forma como repartem o tempo entre as actividades de aprendizagem, o trabalho, o lazer e os cuidados a outros.” Estamos a referir-nos assim, a uma meta no horizonte que revela a liberdade de escolha e sentimentos de utilidade em relação à sociedade a que pertencem. Esta será a ideia que deve reinar nesta temática, não só encontrar aconchego na quotidianiedade da vida dos seniores mas, deverá imperar igualmente nas mentalidades dos que os rodeiam. Vejamos como este trabalho é desempenhado pela sociedade e seus intervenientes. Será a sociedade um motor de integração ou exclusão? Haverá lugar para os seniores? Podemos encontrar respostas a estas perguntas no ponto que se segue. 16 Quaresma e Calado (2004) – A Problemática do Envelhecimento e o Desenvolvimento Pessoal. Em Revista Futurando N.º 11/12/13, Cooperativa de Ensino Superior de Desenvolvimento Social, Económico e Tecnológico. Pp. 3-11. Lisboa. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 42 Qualidade de Vida dos Seniores 2.2.1 Os seniores na sociedade contemporânea Cada sociedade no seu contexto e momento histórico tem dado um papel à velhice, positiva ou negativamente, o qual depende do modelo de homem ideal que impera em cada momento. De forma que, os seniores têm sido rejeitados e outras vezes valorizados (Agreda, 1999). Minois (1999) estuda as sociedades da antiguidade, onde a velhice era relacionada com o mundo sagrado mágico. Ao sénior era atribuído o papel de dirigente pela existência e sabedoria armazenada ao longo de todo o seu percurso. Para essas sociedades antigas profundamente religiosas, a velhice toca o mundo sagrado. O simples facto de atingir os 70 ou 80 anos era em si um facto tão extraordinário que apenas se podia realizar com a ajuda e protecção dos deuses. Uma longa vida era uma recompensa divina unicamente concedida aos mais justos. Nesta altura, o sénior revelava sempre um sentido sobrenatural. A familiaridade com o sagrado, aliada à experiência e à sabedoria que lhes confere a própria longevidade, explica a importância do papel político exercido pelos seniores em todas as sociedades antigas do Próximo Oriente. O patriarca era sempre a pessoa mais velha da família e hierarquizavam-se como um clã. Com o Novo Testamento, os seniores continuam a assumir um papel preponderante, uma vez que, eram considerados chefes, modelos a seguir e, para além do respeito e veneração, detinham o poder político, religiosos e legislativo. Actualmente a modernidade retirou-lhes o poder de transmitir a sua sabedoria, assim, hoje ser sénior é como pertencer a uma classe inferior completamente desenraizado do ritmo de vida pautada nas sociedades actuais. Segundo, Meier-Ruge (1988) citado por Fernandes (2000:31), “a imagem sobre as pessoas idosas é a de que são pessoas gastas, solitárias e pobres. Esta imagem contrasta com a de muitos países do Terceiro Mundo onde se considera que as pessoas idosas possuem sabedoria e “afinado julgamento”, pelo que são distinguidas e respeitadas, como aliás o eram nas nossas sociedades antigas.” Nas sociedades modernas como a nossa, de acordo com Valente (1993) citado por Fernandes (2000:30), “a velhice assume uma identidade própria, onde os idosos se encontram colectivamente identificados como um grupo etário com direito a prestações financeiras, de certo modo como contrapartida à perda de estatuto de membro activo, dependentes financeiramente da sociedade e representando um subcapital humano.” Neste encaminhamento, percebe-se que, com o aumento da população sénior, derivado ao aumento da esperança de vida, os custos e despesas sociais aumentam. Os encargos com as despesas, nomeadamente na saúde e prestações familiares, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 43 Qualidade de Vida dos Seniores conheceram um cenário em súbita evolução que, os seus beneficiários são já vistos como “empecilhos” aos olhos da sociedade. Fernandes (2000:31-32) reflecte que, “(…) as expectativas negativas que esta situação engendra, relegam o grupo dos idosos para um grupo social problemático”. Como resultado de tais comportamentos “envelhecer torna-se, por si só, num problema”. Corre-se “o perigo de que as pessoas acabem por desenvolver uma atitude em que sentem apenas os aspectos negativos da sua condição. A sociedade está a fornecer aos idosos um “filtro negro” que lhes inibe a percepção de aspectos positivos e assim a velhice torna-se num período traumatizante e negativo.” (Ibidem:2000:31-32). Bom seria que estes comportamentos destrutivos da sociedade para com os seniores não passassem de especulações e, que desta forma, não fossem generalizados. Mas a verdade é bem menos risonha, uma vez que, até já existem um conjunto de comportamentos xenófobos catalogados. De referenciar, a gerontofobia, o agismo e a infantalização como comportamentos ou atitudes contra os quais temos de lutar. A gerontofobia caracteriza-se por uma atitude negativa que consiste no medo irracional de tudo quanto se relaciona com o envelhecimento e velhice. Esta fobia atinge todas as faixas etárias pois o medo de envelhecer manifesta-se por expectativas irrealistas ou atitudes pessimistas. Como facilmente se depreende, esta fobia predomina no sexo feminino que repudia tudo o que tenha a ver com envelhecimento. Rugas, pele flácida, cabelo branco, entre outros, são alvos a abater. Por seu turno, o agismo reporta-se a todas as formas de descriminação com base na idade. Por exemplo, a doença não acontece numa pessoa de 90 anos pela sua idade, mas sim devido a algum problema intrínseco ao seu organismo. Outra atitude bastante utilizada e totalmente discriminatória é a infantalização. Observa-se quando já se verificam alguns sinais de perda de autonomia. Por exemplo, “se não vier a esta actividade zango-me”. A intenção é boa mas o resultado deplorável. Estas atitudes, por Berger (1995) referenciadas, impedem à sociedade olhar para o sénior como capaz, útil e com potencial. O combate a atitudes como estas cabe não só à sociedade envolvente, mas principalmente aos profissionais e familiares próximos. Os valores que pautam na sociedade actual prendem-se, prioritariamente com a produção, a rentabilidade, o consumismo e o lucro. Perante este cenário, as pessoas reformadas não têm possibilidades de competir neste “jogo”, já que, a reforma chegalhes aos 65 anos. Martins (s.d.:126) refere, em consequência deste ritmo e modelo de funcionamento da sociedade, “ (…) tudo isto exerce efeitos negativos sobre os Dissertação de Mestrado em Serviço Social 44 Qualidade de Vida dos Seniores cidadãos, criando situações “stessantes”, geradoras de doenças e que de algum modo poderão diminuir a capacidade produtiva da pessoa mais fragilizada. O idoso sem autonomia é rapidamente excluído do trabalho, das funções de aquisição de produção, manutenção e transmissão de conhecimento. Sendo assim, não será difícil de prever que, nestas circunstâncias, ele tenda ao isolamento e ao isolar-se assuma cada vez mais uma situação de dependência.” A dependência de que a autora se refere, será certamente, a dependências dos sistemas da segurança social, uma vez que, maioritariamente os seus rendimentos provêm unicamente dos regimes. Esta será uma das causas para que os planos de poupança reforma tenham conhecido um disparo de adeptos, a par dos míseros valores que as mesmas representam, sendo, deste modo, insuficientes para se fazer face às necessidades básicas de sobrevivência. A reforma é, então um marco da atitude egoísta da sociedade do séc. XXI face à população mais envelhecida. Não nos referimos à prestação pecuniária em si, nem ao papel do nosso Governo, mas à construção social envolvente à mesma. A chegada a esta plataforma constitui-se como um trauma em vez de libertação. Como que automaticamente, a pessoa reformada começasse a desenvolver sentimentos de inutilidade pelo afastamento do mercado de trabalho que, consequentemente leva a uma diminuição do poder económico e, por variadas vezes, à dependência relativamente aos seus familiares (na maioria filhos). De rótulo “pouco produtivos”, os seniores são votados ao esquecimento e solidão e, consequentemente à marginalização. Aquele que, em tempos era o detentor de toda a sabedoria, agora, deixa de ter lugar na sociedade, por um lado, não serve como força de produção para rentabilizar o país e, por outro lado, não consegue acompanhar a evolução tecnológica que lhe põe à margem do mercado de trabalho. A imagem, socialmente predominante, do sénior é a de não reprodutor da riqueza para o país e, em contrapartida, só gasta sendo um adepto nato do consumo. Esta moldura não se enquadra na tela da velhice pintada pelos seniores, se porventura, não produzem mais é porque a própria sociedade os impede disso. O facto de estarem reformados e usufruírem de uma prestação pecuniária, não quererá dizer que, queiram abolir por completo os laços com o mundo do trabalho. Concordase que, com rigorosidade menor, mas promovendo a sua utilidade em áreas que, tenham ou não, a ver com a actividade profissional que desempenharam outrora. Projectos de animação de crianças, de inter-ajuda com outros seniores que, por algum motivo, estão mais limitados, promoção de encontros inter ou intra geracionais, etc., são algumas actividades que poderão ser desenvolvidas pelos Dissertação de Mestrado em Serviço Social 45 Qualidade de Vida dos Seniores seniores que, desta forma, lhes devolve a responsabilidade para com a sociedade e sentimentos de utilidade. Actividades remuneradas ou não, o importante é a felicidade e sentimento de pertença pelo desenvolvimento de uma ocupação. Por outro lado, podem pensar em investir na auto-formação, são já muitas as universidades seniores e outras entidades, públicas ou privadas, que trabalham neste sentido. Por seu turno, acontece, algumas vezes, seniores que não estão dispostos a aprender, um caso real passa-se a comentar: uma enfermeira, reformada há um ano, em conversa com amigos. Estes incentivavam-na para se inscrever numa universidade sénior, ao que responde que não estar disposta a estudar pois terá levado toda a sua vida a estudar e a apostar em formações na área da enfermagem. Põe-se a questão: porque não ser ela agora a ensinar? Cabe, não só ao sénior, mas também à sociedade, promover um envelhecimento activo, sabendo ganhar anos de vida de forma criativa e motivadora. A forma como a sociedade considera a velhice afecta o juízo que os seniores fazem de si mesmos. Desta forma, tendem a considerarem-se e a auto-estigmatizarem como incapazes ou inúteis. Esta atitude generalizada socialmente pode condicionar os seniores a viverem os aspectos positivos da velhice e da total disponibilidade do tempo. Cabe à sociedade contribuir para a sua reintegração social, para que, desta forma, os seniores readquiram auto-estima e auto-confiança. É certo que, nos dias de hoje, eles representam a grande fatia da população geral e juntos, tal como Fernandes (2000:32) refere, “constituem uma força social pelo seu número, têm mais cultura pela sua sabedoria (…)”. Phitaud (2004: 55) deixa um alerta “Prevenir é então permitir a todos envelhecer sem cessar de existir.” O respeito pela idade deve imperar. Fazemos então agora referência aos mitos e estereótipos, atrás referenciados, que representam uma dupla acção, por um lado, dramatiza os seniores e, por outro, funcionam como um motor de arranque para a não acomodação e reflexão sobre os mesmo, dando-lhes força para dar a volta à questão, tornando-se em seres humanos íntegros tal foram considerados outrora. Mitos e estereótipos socialmente construídos O aparecimento de conceitos e pré-conceitos que, propositadamente ou não, foram socialmente construídos repercutiram-se gradualmente em mitos e estereótipos que, em alguns casos, na nossa sociedade caracterizam os seniores. Berger (1995:64) define estereótipo como “um chavão, uma opinião feita, (…) trata-se de uma percepção automática, não adaptada à situação, segundo um padrão bem determinado e pode ser positivo ou negativo.” O mesmo autor define mito como “uma Dissertação de Mestrado em Serviço Social 46 Qualidade de Vida dos Seniores construção do espírito que não se baseia na realidade (…) uma representação simbólica (…)”. Devido ao desconhecimento do processo de envelhecimento, são inúmeros os mitos relativos aos mais velhos. Facto que se prende exclusivamente pela idade. Manifestam-se por frases, expressões feitas ou por eufemismos. Ao que o autor exemplifica: “Ela tem um ar jovem para a idade.” Estas atitudes desenvolvem-se muito cedo na vida de cada cidadão e são influenciados por factores extrínsecos como a educação, a comunicação social, convívio, etc. Berger (1995) menciona alguns elementos susceptíveis de influenciar as atitudes sociais relativamente aos seniores e à velhice, entre eles, a perda da aparência física, proximidade com a morte, aumento da dependência, comportamento geralmente mais lento e imagens (positivas ou negativas) veiculadas pelos meios de comunicação social. Os mitos e os estereótipos são causadores de perturbações nos seniores, uma vez que, de algum modo, condicionam a normal evolução do processo de envelhecimento. O cenário é tão negro, que todos temem alcançar a velhice. Desconstruí-los é nossa função. Como mitos podemos mencionar vários, fruto das investigações de Berger (1995) que se baseia pelos estudos efectuados por Ebersole (1985): 1- A maioria dos seniores é senil ou doente. A senilidade, termo pejorativo, sem ligação específica ao envelhecimento, descreve os sintomas de uma doença degenerativa do sistema nervoso. A maior parte dos seniores não é mentalmente perturbada e apenas 4 ou 5% dos seniores com 65 ou mais anos estão institucionalizados, devido a doenças cerebrais orgânicas. Esta proporção aumenta ligeiramente depois dos 75 anos e, sobretudo, depois dos 85. O envelhecimento normal não afecta as faculdades mentais de uma forma previsível. 2- A maior parte dos seniores é infeliz. Em contrapartida, estudos demonstram que o nível de satisfação de vida dos seniores é relativamente elevado e compara-se facilmente ao dos adultos. Estes aparentam frequentemente um alto nível de auto-estima e estão satisfeitos com o papel familiar e social que desempenham. 3- No que se refere ao trabalho, os seniores não são tão produtivos como os jovens. Ao contrário disto, os estudos tendem a demonstrar que os trabalhadores de idade avançada têm uma taxa de absentismo menos elevada, têm menos acidentes e um rendimento mais constante. Em relação à improdutividade, Pimentel (2005) refere que a sociedade encara o idoso como incapaz de trabalhar, de ser criativo e de contribuir com algo positivo para o desenvolvimento da sociedade. Esta imagem de improdutividade limita o espaço de acção do idoso e agrava situações de dependência. 4- A maior parte dos seniores está doente e tem necessidade de ajuda para as suas actividades quotidianas. Cerca de 80% dos seniores é suficientemente saudável e Dissertação de Mestrado em Serviço Social 47 Qualidade de Vida dos Seniores autónoma para efectuar as suas actividades quotidianas sem qualquer ajuda. Este mito sobre a dependência é um dos mais persistentes. A dependência não é, de forma alguma, sinónimo de velhice. Pelo contrário, faz parte das diversas etapas da vida de cada um de nós. 5- Os seniores mantêm obstinadamente os seus hábitos de vida, são conservadores e incapazes de mudar. É verdade que as pessoas são mais estáveis quando envelhecem, mas os seniores não recusam totalmente a mudança. Quando surgem situações novas são capazes de se adaptar a elas, tal como as outras pessoas. 6- Todos os seniores se assemelham. Isto é falso. À medida que o ser humano envelhece diferencia-se dos outros sob diversos aspectos (ex.: humor, personalidade, modo de vida, filosofia pessoal, etc.). 7- A maioria dos seniores está isolada e sofre de solidão. Os estudos provam, pelo contrário, que um grande número de seniores mantêm elos de amizade, permanece em contacto estreito com a família e participa regularmente em actividades sociais. No entanto, os estudos sobre a solidão e o isolamento social não são concludentes e demonstram resultados contraditórios. 8- A assexualidade, referida por Pimentel (2005), representa-se num dos mitos mais comuns em que o sénior perde o interesse e a capacidade para ter uma vida sexual activa. No entanto, a actividade e o interesse sexual mantêm-se, defende a autora, assim como a necessidade de afecto e companheirismo. É pelo facto da sociedade reprovar a sexualidade nos mais velhos que os inibe de expressá-la livremente. Benjamin Sanz (1996) enumera e explica um conjunto de oito estereótipos mais frequentes. 1- Pensar ou acreditar que os seniores são uma carga económica. Fala-se tanto das dificuldades que o Estado possa vir a ter, no futuro, para poder pagar as pensões e manter os actuais compromissos sociais, que subconscientemente pensamos que os seniores são os criadores do problema. O autor faz dois comentários, se por um lado, se tem lutado para o avanço da medicina de modo a prolongar a esperança de vida, é um contra-senso considerar a velhice como um problema. Depois, a pensão que recebem dos regimes não é uma dádiva nem uma esmola dado pelo Estado mas sim fruto do esforço de trabalho de toda uma vida. Todos os meses são efectuados descontos para a segurança social para que, ao alcançar a idade da reforma, se tenha direito à prestação social. 2- Pensar que o mundo está demasiadamente envelhecido e, portanto, o mundo actual não tem saída. Não se pode dizer que o mundo está velho, se o grupo etário que prevalece é o das idades compreendidas entre os 15 e 64 anos. Em 2000 representavam 67,2% da população total, ao passo que o grupo dos 65 ou mais anos se expressava em 16,2%. Como previsão para 2010, os activos tendem a diminuir Dissertação de Mestrado em Serviço Social 48 Qualidade de Vida dos Seniores para 65,7% enquanto que os seniores a subir para 17,6%. Embora se verifiquem algumas alterações na pirâmide etária portuguesa, não podemos catalogar o nosso país de “velho”. 3- Acreditar que a velhice é a sala de espera da morte. Uma pessoa que acaba de completar 65 anos ainda tem pela frente, em média, 16 anos de for homem e 20 se for mulher. Mas a questão não consiste nos anos que ainda podem viver, mas sim as condições nas quais estes anos podem ser vividos, condições que, geralmente, são as melhores. Os níveis de dependência que abarcam os seniores são na, generalidade, relativamente baixos. Sendo que, vão tomando valores maia elevados, na medida em que a idade aumenta. 4- Identificar a inactividade laboral dos seniores com a inactividade geral e, inclusive, com a inutilidade. Os seniores não são inactivos e seria uma calúnia considerá-los inúteis. Reformar-se não quer dizer deixar de estar activo, para entender a actividade nos seniores, há que fazer algumas considerações: a) existem seniores que se mantém no activo, aos quais se chama, activos legais ou estatísticos. O autor refere-se a estas pessoas que, apesar de já terem completado os 65 anos continuam a trabalhar na profissão de toda a sua vida. É um grupo relativamente pequeno, mas existe. Existe, contudo, um segundo grupo, muito mais numeroso que o anterior, ao qual se chama, activos encobertos. Trata-se de pessoas que, embora já reformadas, continuam a exercer a sua profissão ou outra actividade, sem a mesma exigência e regularidade de outrora. Um terceiro grupo aparece, sendo o mais numeroso, provavelmente corresponderá a uns 40%, aos quais podemos chamar de activos não remunerados, este grupo com um sem fim de obrigações com o desempenho de papéis sociais de extraordinária importância, o autor refere-se às donas de casa, reformadas ou casadas com um reformado e a todas aquelas pessoas mais velhas que desempenham o papel de pai/mãe/avô/avó. 5- Há quem diga que os seniores são tradicionais e conservadores e que com a sua presença, cada vez mais maioritária, vão impedindo a evolução e modernização do mundo. É verdade que os seniores são menos inovadores em comparação com os jovens, mas também é verdade que alguns são mais sensíveis aos problemas da sociedade actual, esta é a ideia de solidariedade com os outros, ou de sacrifício e de trabalho, ou conceito de responsabilidade. Estes são valores que não devemos desdenhar. Não convém perder os valores que representam os nossos seniores, valores cada vez mais estimados pela nossa sociedade. 6- A vinculação dos seniores com a deteorização física e/ou psíquica e com a doença. É certo que a morbilidade e mortalidade variam conforme cresce a idade, mas associar velhice com doença, é algo que a mitologia popular se precipitou em Dissertação de Mestrado em Serviço Social 49 Qualidade de Vida dos Seniores relacionar. A deteorização tanto física como psíquica é um processo que nuns se inicia antes e em noutros depois da velhice, como também é verdade que ataca de forma diferente em cada indivíduo. Evidentemente existem doenças, limitações e situações de dependência, mas estas situações só afectam uma pequena parte do colectivo dos seniores. A situação geral é boa, pelo que é injusto identificar esta etapa da vida com a doença e deteorização física. 7- Confundir os conceitos: pensionistas, reformados e seniores. Há que delimitar bem os significados destas terminologias para não gerar confusões nos conceitos. Não são sinónimos, embora à primeira vista pareçam próximos têm conteúdos diferentes. Pensionista é toda a pessoa que recebe uma pensão, esta pode derivar da reforma mas também pode ser de orfandade, viuvez, invalidez ou outra, por outro lado, reformado é toda a pessoa que tenha interrompido a sua actividade profissional pela troca de uma prestação pecuniária, o reformado pode ou não já ter completado os 65 anos de idade (reformas antecipadas), por seu lado, o sénior define o grupo etário que alcançou já os 65 anos. Podemos verificar que a cada terminologia corresponde um colectivo diferente que definem situações distintas e, apenas um se identifica na íntegra com as pessoas de idade mais avançada. 8- Acreditar que os seniores são todos iguais cujo tratamento deve ser igual para todos e, na generalidade, deve-se identificá-los com os mesmos parâmetros ou perfis. Os seniores correspondem a um grupo heterogéneo como qualquer outro grupo etário. Cada indivíduo é uno e é possuidor das suas próprias características, as quais não podemos generalizar ao seu grupo de pertença. Podemos diferenciar os perfis em função do sexo, idade, situação económica, níveis culturais, composição da estrutura familiar, estado de saúde, etc. Em cada um destes pontos podemos verificar a heterogeneidade do grupo, contudo, analisaremos apenas o género e idade. Vejamos a situação em relação ao género. Não é o mesmo envelhecer no masculino e no feminino, as mulheres apresentam uma esperança de vida superior aos homens. Os homens são na sua grande maioria casados, enquanto que existem muitas mulheres solteiras e viúvas. Para as mulheres “não existe reforma real” porque quando se reformam os trabalhos domésticos continuam e destes não há reforma. A idade é outro padrão que importa referir, assim, é diferente uma pessoa com 80 anos de uma com 65 anos, daí se falar já, em “quarta idade”. Ao passar a barreiras dos 80 anos, generalizam-se situações que, há dez anos atrás eram impensáveis, entre elas, grande número de viúvas/os, maior abandono das suas casas para lares de idosos, menor participação social passando a ficar cada vez mais tempo em casa a ler, ver televisão ou a ouvir rádio. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 50 Qualidade de Vida dos Seniores De forma sintética podemos resumir os estereótipos ligados ao envelhecimento do ser humano. Quadro I – Confrontação dos estereótipos mais frequentes dirigidos aos seniores com a realidade vivida. Realidade Estereotipo Autor(es) A maioria dos seniores é A senil ou doente o que os ligação ao envelhecimento sendo se Ebersole (1985) torna dependentes. limita a descrever os sintomas de Sanz (1996) senilidade uma não doença tem qualquer degenerativa Berger (1995) do sistema nervoso. Dependência não é sinónima de velhice. Em qualquer idade podemos ficar dependentes de terceiros. Os seniores não são tão Os trabalhadores de idade avançada Berger (1995) produtivos como os jovens. são os que menores taxas de Ebersole (1985) absentismo apresentam, têm menos Pimentel (2005) acidentes de trabalho e rendimento Sanz (1996) mais constante. Os seniores são uma carga Se tanto se tem lutado para o económica para o Estado. avanço da medicina, é um contra- Sanz (1996) senso considerar a velhice num problema. A reforma não é uma dávida mas antes um fruto do esforço de trabalho e de descontos efectuados de toda uma vida. Todos os assemelham. seniores se Tal como noutras faixas etárias, a Berger (1995) heterogeneidade Ebersole (1985) seniores. O caracteriza ser os humano é Sanz (1996) biopsicossocial. Assexualidade A actividade e o interesse sexual mantêm-se, assim necessidade de como a afecto e Pimentel (2005) companheirismo. A sociedade ao reprovar este comportamento inibeos de expressá-lo livremente. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 51 Qualidade de Vida dos Seniores Como consta no quadro anterior, Busse (1992) referido por Barros de Oliveira (2005:23) e Fernandes (2000:29) argumenta, referindo-se a Cícero, do seguinte modo: 1) “A sociedade exclui o idoso dos trabalhos importantes”, no entanto, os seniores podem encontrar múltiplas actividades tornando-se úteis, sem terem de cessar por completo a actividade. 2) “O envelhecimento abala a força física e reduz o valor do indivíduo”, contudo, o declínio físico é bem menos importante que o cultivo da mente e do carácter. 3) “O envelhecimento impede ou reduz os prazeres sensuais, particularmente o prazer sexual”, a esta queixa, Cícero responde que, tal perda tem algum mérito pois permite que o sénior se concentre na promoção da razão e da virtude. 4) “A velhice traz consigo crescente ansiedade sobre a morte”. Cícero considera “a morte uma bênção que liberta os indivíduos e as suas almas imortais das prisões do corpo nesta terra tão imperfeita. Se a pessoa acredita que a alma é imortal, a morte permanece uma virtude, visto que todas as coisas devem ter limitações sobre a duração da vida”. Cícero menospreza, desta forma, as repreensões da sociedade aos seniores. Será com esta facilidade que todos nós, seniores, idade adulta, adolescência e crianças deveremos olhar para a velhice e para quem nela se encontra. Deste modo, podemos afirmar que todos estes pré-conceitos são construídos socialmente, quer pelo desconhecimento do que é a velhice, quer pelos valores vinculados actualmente que se dirigem a um estilo de vida onde os seniores parecem não ter qualquer lugar. Esta dialéctica idoso vs sociedade pode assumir-se como um entrave ao próprio desenvolvimento e confiabilidade nas potencialidades que cada um possui. Fernandes (2000:30) remata “acreditar que se vai modificar alguma coisa no envelhecimento dos indivíduos, sem mudar nada no tipo de sociedade em que eles vivem, é ilógico e ilusório”. Esta é para nós, a melhor maneira de caracterizar esta dualidade. Se o processo produtivo aparece como um indicador fundamental na caracterização do papel do idoso na sociedade, aprece-nos pertinente abordá-lo de forma sintética. Debruçaremo-nos quer sobre a relação entre o idoso e o trabalho, quer sobre a relação entre o idoso e a reforma no contexto sócio-cultural e económico actual, onde predomina, em Portugal, uma forte crise económica traduzida em níveis elevados de desemprego, emprego precário e relações profissionais fragilizadas. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 52 Qualidade de Vida dos Seniores 2.2.2 Da actividade profissional à reforma A sociedade contemporânea, moderna e consumista, rege-se pela rentabilidade da produção, onde só os activos participam. Quanto mais se aspira um elevado crescimento económico associado à produtividade maior é a “expulsão” do homem do mercado de trabalho. O avanço constante da tecnologia dispensa o homem do mundo da produção para dar lugar a uma máquina. A mão-de-obra humana é cada vez menos utilizada, enquanto que, a mecanização é cada vez mais pretendida, desta feita, aumenta o desemprego e a antecipação das reformas. O trabalhador mais velho deixa de ser considerado como um trabalhador com experiência e de conhecimento acrescido, com capacidade para transmitir a sabedoria e, passa a ser visto como incapaz, lento na execução e portador de faculdades diminuídas (Pimentel, 2005). A autora refere que, muitas vezes, existe a tendência para atribuir aos trabalhadores com a mais idade, a culpa de muitas das dificuldades económicas. O trabalho é desvalorizado e o trabalhador marginalizado. Este cenário encontra explicação de causa, não só na sociedade mas também no próprio Estado que, libertam o sénior das suas obrigações e o privam do estatuto social e económico que resulta essencialmente do exercício de uma actividade profissional. Para Szinovacz (2001) citado por Fonseca (2005:46) “(…) reformar-se constitui hoje um aspecto estrutural do curso da vida humana nas sociedades industrializadas, consistindo num acontecimento que se traduz essencialmente pelo abandono da actividade profissional, pelo direito a receber uma pensão e, acima de tudo, pela identificação pessoal com um novo papel, o de reformado.” Psicologicamente a passagem para a reforma carrega em si um sentido deteriorativo da pessoa humana. A tão esperada hora de descanso, para uns, torna-se para outros, numa hora de desespero, em que muito ainda se quer fazer mas que a reforma condiciona. A reforma pode, assim, ser recebida por duas visões contraditórias, uma vez que, também não existem duas pessoas iguais. Vejamos a perspectiva de Fonseca (2005): “A análise da problemática da reforma sob o ponto de vista psicológico leva a considerar que o momento da “passagem à reforma” e o processo de transiçãoadaptação que lhe está inerente poderão constituir ocasiões particularmente sensíveis ao aparecimento de alterações no funcionamento dos indivíduos, com inevitáveis consequências ao nível do respectivo bem-estar psicológico e social. Para a maioria das pessoas, a “passagem à reforma” não assinala apenas o fim da actividade profissional, é também o fim de um período longo que marcou a vida, moldou os hábitos, definiu prioridades e condicionou desejos, podendo ser Dissertação de Mestrado em Serviço Social 53 Qualidade de Vida dos Seniores ao mesmo tempo um momento de libertação e de renovação (viver com outro ritmo, estabelecer novas metas, investir no lazer e na formação pessoal, relacionar-se mais com os outros, etc.), ou um momento de sofrimento e perda (de objectivos, de prestígio, de amigos, de capacidade financeira…) ” (Fonseca, 2005:47). Cabe agora ao reformado reestruturar a organização da sua vida, definir novos papéis redimensionando o seu dia-a-dia. Pimentel (2005) enaltece a ideia da importância para o sénior manter o seu equilíbrio emocional e psíquico, pela necessidade de se manter activo, traçar objectivos de vida e continuar a aprender e a crescer interiormente. Por seu turno, Fonseca (2005:47) baseando-se em Prentis (1992) aborda os “riscos” psicológicos referentes ao processo de adaptação à reforma ao que o autor denomina por “a neura da reforma”. Para o autor, a passagem da categoria de trabalhador para reformado, deveria se constituir numa mudança favorável aos indivíduos, já que todo o stress que envolve qualquer profissão está então desmantelado. No entanto, aceita um estado de espírito negativo quando o mesmo se prende com as muitas mudanças inerentes a esta alteração de estatuto que, nem sempre são conciliáveis entre si. Vendo bem, os benefícios resultam de perdas, isto é, perde-se o trabalho, os hábitos, a estrita ligação com os colegas e amigos de trabalho, mas ganha-se tempo livre, liberdade para fazer o que se gosta e oportunidade de estabelecer novos elos de amizade. Existe então uma miscelânea de sentimentos que só um testemunho real o conseguirá explicar na íntegra. Saber que lugar ocupar, que papéis desempenhar, que percursos caminhar, são interrogações que surgem, num contexto marcado pela saída cada vez mais precoce do mercado de emprego. No entendimento de Guillemard (1980), “A reforma marca uma etapa do percurso de vida e estigmatiza de forma particular o envelhecimento social, pela reestruturação individual e colectiva dos sistemas de papéis e dos laços sociais”. Ela pode marcar o início de uma recomposição activa dos papéis sociais, ou pelo contrário, ir no sentido de um processo de isolamento social e de desvalorização individual, voluntário ou não, definido como “désengagement”, desinvestimento gerador de “perda do sentido de relação com a sociedade” e, consequentemente, de exclusão social. No primeiro caso, podemos observar diferentes estratégias de inserção na vida social, centradas na vida familiar, no consumo (passagem de produtor na vida activa a consumidor como reformado) ou no investimento de uma forma de actividade criadora, socialmente reconhecida, funcionando como estruturante da actividade do sujeito, tal como o tinha sido na actividade profissional. As Dissertação de Mestrado em Serviço Social 54 Qualidade de Vida dos Seniores condições e hábitos de vida ao longo da existência e em especial no período a antecedente à reforma, nomeadamente o percurso de saída, cessação da actividade profissional, têm um papel determinante neste processo. (…) No segundo caso, é imprescindível estar atento à necessidade de valorizar e ter presente o valor da existência, o sentido da relação com o outro, e com a comunidade de que se faz parte. Para que não aumente o risco de desvalorização individual, de perda sistemática da relação consigo e com o mundo envolvente, da entrada num caminho que conduzirá, mais tarde ou mais cedo, à exclusão social”.17 É aqui mesmo o momento gerador de uma boa ou má adaptação à reforma. A adaptação à reforma pode constituir-se num processo complicado de ultrapassar para o indivíduo. Pensando bem, consiste numa passagem repentina, do ter que fazer durante todo o dia, para não ter o que fazer todo o dia. Os condicionalismos subjacentes ao processo de adaptação à reforma implicam um repensar dos modos e estilos de vida. Não se pretende uma mudança radical no dia a dia dos indivíduos. A melhor solução, para uma mais fácil adaptação, pode passar pelo desenvolvimento de actividades similares ou não desempenhadas enquanto activos, aqui, já não deverá importar a remuneração ou não, mas antes a ocupação gratificante e reconhecida. Estar ocupado com, faz com que as pessoas anulem os sentimentos de inutilidade e enalteçam o valor que têm pelo reconhecimento social dos conhecimentos que possuem e põem à disposição de quem deseja aprender. A actividade profissional, segundo Pimentel (2005), mais do que uma fonte de rendimento, é uma forma de integração social e o indivíduo que entra na reforma vê o seu lugar na sociedade mudar, sente-se deslocado, em muitos casos não sabe onde empregar o seu tempo e energia. Outra explicação pela desorientação do reformado, prende-se com a diminuição dos rendimentos, já que as reformas, no geral, são inferiores aos salários auferidos anteriormente que, por sua vez, pode agravar o processo de adaptação à entrada na reforma. Desta feita, os primeiros sinais de privação tendo de abdicar de bens supérfulos ou bens menos essenciais, são pela primeira vez vividos nesta altura. Em casos, extremos podemos falar em pobreza, contudo, acha-se preferível debater este ponto noutras vertentes. O grande desafio é reorganizar o quotidiano, descentrar a profissão e encontrar um papel que garanta o sentido de utilidade. As alterações necessárias são particularmente intensas nos homens que, vêem ameaçado a sustentabilidade da sua 17 Guillemard (1980) - A Problemática do Envelhecimento e o Desenvolvimento Pessoal. Em Revista Futurando N.º 11/12/13. Cooperativa de Ensino Superior de Desenvolvimento Social, Económico e Tecnológico. Lisboa.2004 Pp. 3-11. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 55 Qualidade de Vida dos Seniores família, uma vez que, aos homens é atribuído o papel de chefe de família. O mesmo não se passa com as mulheres, a ruptura apresenta-se menos dramática, uma vez que, perdem um papel exterior à família, mas mantêm e reforçam, o de donas de casa, a que estão acostumadas e lhes garante um certo sentido de continuidade. A presença do marido começa a ser constante em casa e a mulher tem de saber a lidar com isso, o marido não ajudando nas tarefas domésticas, faz o quê durante o dia? A diferenciação de papéis, até aqui clara, começa a dissipar-se, os homens invadem a esfera de acção da mulher, movimento a que esta resiste. Enquanto que o homem não está disposto a perder as responsabilidades sociais que tinha, a mulher, por seu turno, não quer perder o controlo sob as tarefas domésticas. Desta forma, mesmo que o homem participe mais nas actividades de casa, as mudanças serão apenas superficiais (Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2004). A reforma não tem de ser vista como um marco negativo na vida de cada um. Geralmente associada ao descanso para sempre, é para muitos, uma meta a atingir o mais rapidamente possível, contudo e, chegada a altura, são muitos os que com ela não sabem lidar. O não reequacionamento das suas vidas, inconscientemente poderá conduzir a um isolamento que, de forma gradual e extrema, poderá fazer surgir sentimentos de solidão. O descanso poderá se tornar eterno e quando se apercebe os laços de amizade e, até mesmo familiares, já lá vão há muito tempo. O convívio constitui-se, aqui, como um meio através do qual, todos poderão viver uma velhice feliz, valores e sentimentos inerentes aos amigos e família, são como uma flor que precisa de ser regada para florescer e não morrer. Taylor-Carter & Cook (1995) em referência por Fonseca e Paúl (2005:47) encaram a chegada à reforma de um ponto de vista positivo que importa aqui realçar. Os autores consideram que, na generalidade, os indivíduos vivem a reforma como uma “bem-vista” mudança de papel/ocupação, que comparam com acontecimentos anteriores, aos quais também se tiveram de adaptar, como o de solteiro a casado, de estudante a trabalhador, entre outros, através dos quais aprenderam a aceitar as perdas e os ganhos inerentes às fases das suas vidas. Especificamente, falando da reforma, os autores, consideram tratar-se de um período propício ao estabelecimento de relações mais estreitas com outros, amigos, novos amigos e/ou familiares e, à realização de actividades que promovam o bem-estar. Estamos a falar de um período que devemos encarar com optimismo e entusiasmo. Claro que, o futuro que construiremos tem de continuar com “desafios e oportunidades materializados em objectivos, que se procura alcançar ao mesmo tempo que se envelhece pacificamente”. Facilmente, consegue-se entender a mensagem dos autores, de que, unicamente o que cessa é a vida profissional, remunerada, com horários, responsabilidades acrescidas, a nossa vida, não termina Dissertação de Mestrado em Serviço Social 56 Qualidade de Vida dos Seniores aqui. Ao encarar a reforma como um “novo começo”, certamente que, as pessoas sentir-se-ão encorajadas a procurar novos objectivos nas suas vidas. Em conclusão importa ainda referir um estudo, levado a cabo por Fonseca (2005) sobre os aspectos psicológicos da “passagem à reforma”, um estudo qualitativo com reformados portugueses, desenvolvido para o seu trabalho de Doutoramento. O estudo consistiu em, simplesmente, ouvir as pessoas a falarem acerca das suas próprias experiências relativas à “passagem à reforma” e à condição de “reformados”. O autor utilizou a técnica dos “grupos de focagem”18 dentro de uma abordagem qualitativa. O grupo de focagem foi constituído por 20 pessoas reformadas. Esta abordagem irá ao encontro de muito o que já foi dito neste ponto, servindo assim, de um apanhado de consistência cientificamente comprovada. Desta forma e, em relação às motivações para a decisão de se reformar, o autor conclui que, quando a reforma acontece antes do tempo previsto (65 anos), esta deve-se mais a motivos de natureza externa, de saúde (pessoais e de familiares próximos), à reforma do cônjuge, benefícios económicos, na sequência de um despedimento ou de uma situação de pré-reforma, do que a uma genuína opção individual. Sendo a “libertação do cumprimento de horários” a principal motivação que leva a maioria das pessoas a optarem pela reforma. Os sentimentos experimentados na “passagem à reforma” podem se agrupar em positivos e negativos. Pelos testemunhos, o autor refere os sentimentos positivos de passar à reforma significando uma libertação das exigências e das responsabilidades inerentes à vida profissional, altura a partir do qual, a pessoa ganha liberdade de movimentos e maior controlo sobre a vida pessoal. No extremo negativo, há quem veja a passagem à reforma como uma ponte para a estagnação, devido sobretudo ao sentimento de frustração provocado pelas actividades que passam a constituir a rotina do dia-a-dia. Para estas pessoas, os sentimentos negativos prendem-se, certamente, como receio de solidão, da falta de objectivos e de sentido de utilidade, ou mesmo com a percepção de perda de valor da própria vida. Em projecção às iniciativas de planeamento da “passagem à reforma” a norma é não haver propriamente uma preparação para a reforma “acontece e pronto”, não se fazendo qualquer esforço intencional quer em termos do envolvimento em novas actividades quer em termos de reajustamento do dia-a-dia. Depois sim, já na condição de reformadas, a maioria das pessoas tende a procurar envolver-se em actividades que lhes permitam manter-se ocupadas, sentirem-se úteis ou cultivarem uma rede de 18 Os grupos de focagem consistem na realização de discussões em grupo, baseadas em tópicos que são fornecidos pelo investigador, o qual assume sobretudo um papel de moderador ou de facilitador durante a discussão, dando mais ênfase à interacção no seio do grupo do que à sua relação com os participantes do referido grupo (Fonseca em Paúl e Fonseca, 2005:50). Dissertação de Mestrado em Serviço Social 57 Qualidade de Vida dos Seniores relações sociais, tendo em vista a preservação de uma imagem positiva se si mesmas. Desta forma, a passagem à reforma, não sendo propriamente planeada, vai sendo pensada pelos indivíduos à medida que vêem aproximar-se o fim da vida profissional, proporcionando uma ocasião para “passar ao acto” ideias porventura antigas mas nunca efectivamente concretizadas pelas mais variadas razões, entre as quais, a falta de tempo. O bem-estar físico e emocional actual surge de um conjunto de factores subjacentes à reforma, quer esta seja desejada ou não, planeada ou não. A saúde, a realização de actividades gratificantes, a ocupação útil do tempo, o envolvimento em novos projectos e objectivos, a interacção positiva com familiares e amigos, tudo isto contribui, seguramente, para facilitar o ajustamento a uma nova condição de vida e para se alcançar um elevado índice de bem-estar. O bem-estar é tanto maior, quanto mais as pessoas consigam atingir um equilíbrio entre a realização de actividades individuais que lhes dão prazer e a participação em contextos sociais e familiares que são fonte de interacção pessoal. A relação conjugal sofre algumas alterações, o autor avalia a anterior e actual interacção conjugal. A relação conjugal ganha uma dimensão mais permanente e a dependência mutua começa a fazer-se sentir com mais força através de aspectos como as saídas de casa ou o apoio na doença. Mas a causa dos problemas no casamento após a reforma, devem-se ao facto de os homens passarem muito mais tempo em casa e as mulheres não estarem habituadas a isso. No caso dos homens, é um pouco confuso verem-se, de repente, envolvidos com as tarefas domesticas, com as quais pouco ou nenhuma relação tiveram durante décadas, o caso das mulheres, por seu lado, é verem ameaçado o seu estatuto de donas de casa. A interacção com o exterior surge como um ponto estudado, em que o autor foca a anterior e actual interacção com contextos sociais, em que uma das principais preocupações que as pessoas exprimem no momento da reforma consiste na eventualidade de verem diminuídos ou mesmo pedrem os contactos sociais que a vida profissional proporciona. As actividades actualmente desenvolvidas na vida privada e em contextos comunitários, repartem-se numa combinação entre o aprofundamento de interesses que já antes possuíam e a implementação de novas actividades e de projectos que concretizam, finalmente, sonhos alimentados ao longo da vida. O voluntariado surge como uma das actividades que mais ocupa este conjunto de pessoas. As expectativas acerca do futuro vincam alguma despreocupação ou mesmo indiferença, algo perfeitamente compreensível em pessoas que, vendo-se de boa saúde e a participar em múltiplas actividades, tem dificuldade em assumir que os problemas da velhice também irão afectá-las, mais tarde ou mais cedo. Se a imagem que temos de nós mesmo é positiva, não sentimos tanto o peso da idade cronológica e facilmente atiramos para fora dos nossos pensamentos os medos do futuro, mesmo Dissertação de Mestrado em Serviço Social 58 Qualidade de Vida dos Seniores quando no nosso subconsciente germina a ideia de estarmos a caminhar inevitavelmente em direcção ao “clube dos idosos”. O autor impõe, desde logo, uma conclusão inevitável, não é possível definir um padrão único de funcionamento, seja ao nível da “passagem à reforma”, seja relativamente à vivência da condição de “reformado”. Deste modo, não podemos generalizar um indivíduo ao grupo, atribuir-lhe características, ditas socialmente, do grupo, uma vez que, neste como em qualquer grupo reina a heterogeneidade. Sendo assim, será incorrecto falarmos em sénior no singular, devendo preferir o plural, não pelo facto de tomarmos todos num só grupo, facto que acontecesse se referirmo-nos ao grupo etário dos seniores, como o sénior. 2.2.3 Os seniores e a família A família e o casal de seniores Os cabelos brancos são cada vez mais visíveis no nosso quotidiano. Desta forma, em casa, também temos a oportunidade de estreitar laços com as gerações mais antigas da nossa família que, não esquecendo, são a origem do nosso núcleo familiar. Os seniores tendem a fortalecer os laços familiares, deste modo, a família representa para os seniores um elemento básico que os auxilia na sua vivência e, por outro lado, contribui para a manutenção do seu equilíbrio emocional, respondendo ao avanço dos sinais de velhice. Existe, hoje, um número ínfimo de diferentes abordagens que definem a família. Gameiro (1992) citado por Alarcão (2002:39) dá uma noção de família vendo-a como um todo, deste modo “a família é uma rede complexa de relações e emoções na qual se passam sentimentos e comportamentos que não são passíveis de ser pensáveis com instrumentos criados para o estudo dos indivíduos isolados. A simples descrição dos elementos de uma família não serve para transmitir a riqueza e a complexidade relacional desta estrutura”. Assim não se pode falar de família só pelo facto de partilharem o mesmo sangue, família implica relações interpessoais, características normativas próprias e construídas por e para cada núcleo familiar, com ritmo, princípios e hábitos próprios. A família é analisada aqui enquanto sistema. Um sistema é o “conjunto de objectos (e das) relações entre os objectos e os atributos, (sendo que) os objectos são os componentes ou partes do sistema, os atributos são as propriedades dos objectos e as relações dão coesão ao sistema todo, enquanto que os objectos podem ser indivíduos humanos, os atributos pelos quais eles são identificados são comportamentos comunicativos” (Hall e Fagen, 1993) citados por Alarcão (2002:40). A família é vista como um sistema, na medida em que, “1) é Dissertação de Mestrado em Serviço Social 59 Qualidade de Vida dos Seniores composta por objectos e respectivos atributos e relações, 2) contém sub-sistemas e é contida por diversos outros sistemas, ou supra-sistemas, todos eles ligados de forma hierarquicamente organizada e 3) possui limites ou fronteiras19 que a distinguem do seu meio (Alarcão, 2002:40). Assumindo já, a família como sistema, Gameiro (1992) citado por Alarcão (2002:40) passa a definir a família como um “conjunto de elementos em interacção recíproca ao longo do tempo, através de padrões de interacção circulares que dão origem a um contexto estável no qual os elementos se desenvolvem e interagem com outros sistemas. A interacção com sistemas externos possui um papel fundamental, na sobrevivência e na evolução do sistema”. Não será, certamente correcto falar dos seniores sem abordar as suas famílias. Afinal de contas, o casal de seniores são pais e avós, representando a origem da sua própria família. Toda a família tem a sua própria estrutura, ao que Minuchin (1979) citado por Alarcão (2002:53) define como uma “rede invisível de necessidades funcionais que organiza o modo como os membros da família interagem”, por sua vez, desenvolvem-se interacções entre os vários elementos da família que, o mesmo autor, define como “padrões transaccionais que regulam não só as trocas afectivas, cognitivas e comportamentais dos diferentes membros como lhes especificam papéis particulares”. Cada família é composta por sub-sistemas: o individual, o conjugal, o parental e o fraternal. O sub-sistema individual é composto pelo indivíduo que para além da sua função familiar tem papéis e funções noutros sistemas, o sub-sistema conjugal é, obviamente composto pelo marido e mulher, por sua vez, o parental diz respeito ao papel de pais na sua relação com os filhos (podendo ser outros, que não os pais, a desempenharem as funções de educação e protecção inerentes a este sub-sistema) e, o fraternal implica a relação entre irmãos. Importa, no presente estudo, realçar o subsistema conjugal, referindo-se aos casais de seniores. Contudo, é ainda necessário distinguir o tipo de famílias existente, de modo a, facilitar a compreensão da dinâmica familiar. As famílias podem ser emaranhadas ou desmembradas. São emaranhadas quando se fecham em si mesmas, dominadas por movimentos centrípetos promovem um exagerado nível de trocas e preocupações entre os elementos, podemos dizer que têm limites rígidos com o exterior e difusos no seio da família. Pelo contrário, as 19 Metaforicamente considerados como “linhas divisórias”, os limites permitem regular a passagem de informação entre a família e o meio, assim como entre os diversos sub-sistemas. Segundo Minuchin (1979) os limites podem ser: claros (que delimitam o espaço e as funções de cada membro ou subsistema, permitindo, contudo a troca de influências entre os mesmos, difusos (marcados por uma enorme permeabilidade que faz perigar a diferenciação dos sub-sistemas) e rígidos (que dificultam a comunicação e a compreensão recíprocas) (Alarcão, 2002:56). Dissertação de Mestrado em Serviço Social 60 Qualidade de Vida dos Seniores famílias desmembradas são as que estabelecem limites demasiado rígidos no seu interior e difusos com o exterior, sendo dominantemente caracterizada por movimentos centrífugos. Os membros deste tipo de famílias funcionam de forma individualista, sendo os papéis parentais instáveis e as funções de protecção diminuídas (Alarcão, 2002:54-61). Entender a dinâmica familiar dos seniores é uma questão de enorme importância, na medida em que, tendem a disfarçar o seu real posicionamento face à família. Para uma melhor compreensão do percurso dos casais de seniores, é estritamente necessário debruçarmo-nos sobre o ciclo vital da família. Relvas (1996) em Alarcão (2002:110) refere-se ao ciclo vital da família como uma “sequência possível de transformações na estrutura familiar, em função do cumprimento de tarefas bem definidas, (…) é o caminho que a família percorre desde que nasce até que morre”. Deste modo podemos enumerar as etapas do ciclo vital da família (Alarcão, 2002): como primeira etapa surge a formação do casal, em que o início da nova família é marcado por duas exigências, por um lado, a reorganização das relações com a família de origem e, por outro, a construção do sub-sistema conjugal. Na segunda etapa, família com filhos pequenos que, se inicia com o nascimento do primeiro filho, surge com um novo sub-sistema, o parental, onde ocorre uma transformação de papéis voltados para a protecção e educação dos filhos. Aquando do nascimento de um segundo filho surge o subsistema fraternal propício para a aprendizagem das relações de rivalidade, competição e solidariedade. Na terceira etapa, família com filhos na escola, dá-se uma tríade entre, família, escola e criança e caracteriza-se por um período de muita abertura com o exterior. A quarta etapa, família com filhos adolescentes, é a etapa de maior abertura ao exterior, a mais longa e a mais difícil. É uma etapa caracterizada por uma presença trigeracional, em que as diferentes gerações aspiram encontrar o equilíbrio relacional e funcional, assiste-se por um lado, à independência dos filhos e, por outro, à dependência dos avós. À diáde adulta cabe a tarefa de reconcentração na vida conjugal e profissional e aos elementos da família a criação de condições para prestar apoio à geração mais velha. A quinta e última etapa, família com filhos adultos, caracteriza-se pela saída dos filhos de casa, os cuidados aos netos, são os chamados “anos acordeão”, pela saída e entrada frequente de elementos no sistema familiar. Cabe ao sub-sistema parental e conjugal facilitar a saída dos filhos de casa, renegociar a relação de casal (revalorizando o casamento) e equacionar o envelhecimento próprio da geração mais velha, conseguindo assegurar condições de apoio às gerações mais velhas. Estamos perante a “geração sanduíche” que, tanto presta apoio aos mais novos (filhos e netos) como aos mais velhos (avós). Dissertação de Mestrado em Serviço Social 61 Qualidade de Vida dos Seniores Eis chegada a recta final de modificações e transformações no seio familiar, onde, maioritariamente, o sub-sistema conjugal acaba por ficar só. Assiste-se à chegada da reforma, o processo de envelhecimento parece que acelera e a velhice é já uma realidade. Alarcão (2002:198) reforça e, muito acertadamente que, “Em toda esta etapa do ciclo vital da família [quinta etapa] há uma importante tarefa a realizar: a aprendizagem do envelhecimento e, consequentemente, a de uma nova regulação do processo de autonomia-dependência”. Nas relações conjugais o facto mais interessante é que no fim da vida a família volta a ter a composição inicial: o casal sozinho. De acordo com Relvas (1996) referida por Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004:33), o aspecto mais relevante é que, no fim da vida, os elementos do casal tendem a exacerbar aspectos como a dependência e proximidade, de tal modo que até se expressam em termos de características físicas (vão ficando mais parecido). Os objectivos dos casais alteram-se, passando a valorizar aspectos mais expressivos, como prestar cuidados e dar atenção. Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004) referem existir uma reaproximação entre pais seniores e filhos adultos. Nesta fase da vida, os filhos adultos são elementos-chave para os pais, estes sentem necessidade de apoio dado ao excesso de tempo disponível, enquanto que os filhos vivem a pressão profissional e têm, também eles, os seus próprios descendentes. Esta fase caracteriza-se pela inversão de papéis, em que, desta vez, são os pais que precisam dos cuidados dos filhos, contudo, nutre ainda o sentimento de cuidar das gerações mais novas. Contudo, não nos podemos restringir só ao casal de seniores, a família é muito mais que isso. A rede de proximidade dos casais seniores é na sua grande maioria, composta por elementos comuns à sua família. O casal de seniores não pode ser visto como uno, embora o seja, a sua reintegração social, depende em muito do papel que os mesmos assumirem perante a vida e comunidade, estritamente relacionados com o alargamento da sua rede de suporte. Cabe-nos agora analisar a família nas suas funções inerentes às interacções próprias dos seus elementos. Definiremos o papel assumido pela família encarada como suporte primordial dos seniores. A família enquanto rede de suporte e espaço de interacções A família funciona, antes de mais, como um “ (...) suporte, por excelência, da realização afectiva do indivíduo, a família é sentida e desejada como verdadeira e única amarra que o prende à sociedade. (…) esfera prioritária de investimento e de dedicação individuais, com um predomínio absoluto sobre as restantes esferas de actividade do individuo. É um modelo de valores, universo de afeição e de partilha de Dissertação de Mestrado em Serviço Social 62 Qualidade de Vida dos Seniores normas morais onde aquele parece depositar a sua inteira confiança…” (Almeida e Guerreiro (1993) citados por Pimentel (2005:65). Começamos com uma perspectiva que dá à família o papel crucial e único de suporte aos restantes elementos. Os laços familiares são cada vez mais focados, quanto ao seu desmantelamento da hierarquização intocável das famílias mais antigas. O patriarca era aquela figura forte e inquebrável que, o poder era distribuído da forma que ele bem entendesse. Hoje, já pouco se vêem famílias pautadas por estes valores. Actualmente vivemos numa sociedade mais voltada para o sentimentalismo, onde as manifestações de amor e carinho surgem e manifestam-se espontaneamente. Barros (1990) reforça a ideia de caminharmos para uma família mais integrada, comunicativa e afectiva que, assenta na participação e responsabilização de todos os seus elementos em prol do seu crescimento como um todo. Estamos a falar de famílias alargadas, trigeracionais, onde inserimos as relações entre avós, filhos e netos, podendo existir, ainda, outras pessoas significativas para os seniores, tais como, primos, irmãos ou tios. Em análise à família enquanto espaço de interacções, Finch (1989) propõe uma tipologia do tipo de trocas mais frequentes entre os elementos das redes de parentesco: apoio económico, através de transferências de dinheiro (pontuais ou sistemáticas), de apoios em espécie, de heranças e na ajuda em encontrar trabalho. Geralmente este apoio funciona sempre no sentido de pais para filhos e constitui-se num tipo de trocas bastante usual. A habitação, a partilha de habitação entre diferentes gerações faz-se mais por necessidade do que por preferência. Os cuidados pessoais que implicam cuidar de alguém que não pode bastar-se a si próprio e/ou desempenhar as suas tarefas domésticas. Situação visível em qualquer época da existência do ser humano. As pequenas ajudas a cuidar de crianças, é um tipo de apoio frequente entre mãe e filha, podendo contudo, surgir a personagem da sogra, que integram uma forte rede de solidariedade e ajuda preciosa. O apoio emocional e moral, símbolo de confiança e conforto, baseia-se no conversar e, muito importante, saber ouvir os conselhos dos mais velhos, de forma a, escolher o caminho certo para as suas vidas. Apoio prestado, geralmente mais visível, em situações de crise. Esta é uma tipologia reconhecida por qualquer pessoa que a lê, em praticamente todos os apoios o leitor revê-se. Estes apoios resultantes das trocas entre os agregados familiares de gerações distintas poderão, por vezes, ser confundidos com solidariedade entre os mesmos. Tendo consciência da importância do papel do suporte familiar e dos apoios dele derivados, os seniores nem sempre se sentem realizados. Por vezes, podem ocorrerlhes sentimentos expressos em comentários, como fiz tanto pelos meus filhos ao longo de toda uma vida e agora que preciso deles não me ligam e nem dão valor ao esforço Dissertação de Mestrado em Serviço Social 63 Qualidade de Vida dos Seniores de toda uma vida. A noção do dever de solidariedade e de entreajuda varia em função do grau de parentesco e, em especial, da proximidade afectiva que se tem em relação a esses parentes. A gratuitidade dos actos por parte dos pais, poderá, constituir-se mais tarde e, em caso de necessidade, uma obrigação de retribuição para os filhos. A reciprocidade surge como uma obrigação, uma vez que, o apelo à ajuda de familiares e amigos implica uma dádiva para com os que ajudam. Contudo, esta gratuitidade em casos extremos, poderá levar a um controlo, um tanto ao quanto, excessivo, por parte do auxiliador. Os familiares que cuidam dos pais ou outros parentes de mais idade, vivem uma miscelânea de sentimentos que, circundam a obrigação, o amor e o afecto. Os seniores quando, infelizmente, precisam de apoio na prestação de cuidados, tendem a exigir rigor, quer nos horários quer nos próprios cuidados em si. (cf. Pimentel, 2005:68-73). Como em todas as idades, existem pessoas que se conformam com qualquer coisa, tudo está bem para eles, mas inversamente, surgem os “autoritários” que querem “mandar” nos prestadores, exemplificando insistentemente como se prestam correctamente os cuidados. Barros de Oliveira (2005) culpabiliza os seniores, embora não o façam por mal, quando se queixam de episódios hipocôndrios, usando esta arma como uma forma mais ou menos inconsciente de “chamar a atenção”, de apelar ao carinho e eventualmente de fazer chantagem ou de se “vingar” da frieza ambiental. O conflito poderá surgir nestas ocasiões. O aconselhável será assegurar os cuidados no domicílio dos seniores o que lhe transmite confiança e auto-estima. Mas afinal quem é o prestador de cuidados? Como será efectuada a selecção entre todos os elementos da família? A disposição e capacidade da família para assumir a responsabilidade a longo prazo por familiares seniores dependem de um conjunto de circunstâncias e motivações (Lage, 2004) referidas por Paúl e Fonseca (2005:205). A autora define o cuidado informal como “(…) prestação de cuidados a pessoas dependentes por parte da família, amigos, vizinhos ou outros grupos de pessoas, que não recebem retribuição económica pela ajuda que oferecem”. Frequentemente é o sexo feminino que, automaticamente se associa a tais funções (cf. Brito, 2002; Lage, 2004; Lesemann e Martin, 1993; Miller e Cafasso, 1992; Wolf, Freedman e Soldo, 1997), Lage (2004) faz ainda referência, ao facto, das esposas serem a primeira fonte de assistência no cuidado (cf. Brody, Litvin, Albert e Hoffman, 1994; Carrero, 2002; De la Cuesta, 1995; Hashizume, 2000; INSERSO, 1995). No entanto, não será só o género o factor determinante para se eleger um prestador de cuidados, outros factores deverão ser reflectidos, como a idade, a disponibilidade física, tempo disponível, a actividade profissional e, muito importante a aptidão para desenvolver tal tarefa. Sabe-se que, dentro de uma família a prestação de cuidados Dissertação de Mestrado em Serviço Social 64 Qualidade de Vida dos Seniores não consegue ser repartida equitativamente, existindo geralmente, um elemento que assumirá o papel de “cuidador principal”, como Lage (2004) referida por Paúl e Fonseca (2005:206) denomina. Quando um cuidador principal assume cuidar de alguém, fá-lo também em função de motivações. Alguns membros das famílias tomam a decisão de ser cuidadores porque acreditam que cuidar de um familiar é uma responsabilidade moral, assumindo também que não querem sentir-se culpados mais tarde (INSERSO, 1995; Wilson, 1992) referidos por Paúl e Fonseca (2005). Para outros, cuidar do seu familiar significa um sentimento do dever cumprido, ou seja, um acto de reciprocidade (Paquet, 1995). O reconhecimento social e familiar funcionam também como motivações para os familiares assumirem o papel de cuidador principal (Quaresma, 1996). O conflito assume outras proporções quando se abordam as questões ligadas aos custos inerentes à prestação de cuidados. Se um elemento assume já, a prestação deste tipo de apoio, não será correcto, ser o único a suportar todas as responsabilidades e despesas. Para clarificar esta situação, Coenen-Huther et al. (1994) tomados por referência por Pimentel (2005:74) defende que, o tipo de normas que estão na base da negociação, variam em função do tipo de coesão do grupo familiar e podem respeitar vários princípios, entre eles, o princípio de “estatuto”, baseado na norma de igualdade que determina a repartição dos esforços em iguais proporções pelas pessoas com o mesmo estatuto dentro da família, direitos e deveres surgem a par, independentemente dos recursos e necessidades de cada um. O princípio de “efeito” baseado na norma de equidade em que os recursos e as necessidades são comparadas e em que cada um se envolve de acordo com as suas responsabilidades e de acordos com os efeitos desejados sobre o individuo que recebe a ajuda. Por seu turno, o princípio de “contrato” resulta de uma negociação e de um acordo entre todos os agentes envolvidos, em que as decisões conjuntas determinam a prestação de cada um. O apelo ao envolvimento da família e dos amigos não deve partir do pressuposto que estes têm a obrigação de cuidar em quaisquer circunstâncias, deve ter em consideração que existem factores de ordem emocional, material, profissional e pessoas que dificultam esse mesmo envolvimento (Pimentel, 2004). Ajudar qualquer pessoa dependente, seja ela sénior ou criança, não se constitui numa tarefa fácil. Não é fácil para qualquer pessoa lidar com alguém que com o passar dos dias, meses ou anos não evolui, não são visíveis sinais de melhoras, a autonomia é nula e a dependência total. Esta situação leva qualquer pessoa ao desespero e a experimentar sentimentos de inutilidade face à qualidade de vida do “doente”. Depressões são uma constante entre os cuidadores. “Cuidar de um familiar idoso é uma experiência cada Dissertação de Mestrado em Serviço Social 65 Qualidade de Vida dos Seniores vez mais normativa que obriga as famílias a definir e redefinir as relações, obrigações e capacidades, podendo constituir uma experiência física e emocionalmente stressante para indivíduos e famílias” (Pearlin e Zarit, 1993) citados por Paúl e Fonseca (2005:209). Talvez por isso cuidar de um familiar sénior seja, segundo Wullschlegger, Lund, Caserta e Wright (1996), um dos acontecimentos mais perturbadores na vida dos indivíduos. Barros de Oliveira (2005:97-101) realça que, não são só os familiares e as instituições sociais as únicas detentoras do dever de apoiar e confortar os seniores, partilha esta responsabilidade com os responsáveis da Nação para cumprirem minimamente o que diz a Constituição da República Portuguesa que dedica aos seniores o artigo 72, deste modo, nos termos do ponto 1 do referido preceito legal “As pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia e evitem e superem o isolamento ou a marginalização social. O ponto 2 designa que “A política da terceira idade engloba medida de carácter económico, social e cultural tendentes a proporcionar às pessoas idosas oportunidade de realização pessoal, através de uma participação activa na vida da comunidade”. Bom era se todos estes preceitos legais se concretizassem, o que na grande maioria das vezes não é perceptível. Desta feita cabe à família o papel de apoio de retaguarda. Com o aumento da esperança média de vida as famílias são chamadas a assumirem cuidados complexos e de longa duração, com maior regularidade, o que interfere na dinâmica e funcionamento familiar, trabalho e responsabilidades sociais (Lage, 2004) referida em Paúl e Fonseca (2005:224). Em casos extremos, quando o núcleo familiar não apresenta condições de sustentabilidade, não só emocional mas também em termos de carga horária, a última alternativa será o recurso a instituições, não necessariamente em regime de internamento. Contudo, o internamento é a primeira associação que fazem ao ouvir falar de instituições. Pimentel (2004: 43) refere-se à existência de uma tentativa de desculpabilização face à incapacidade de resposta da rede de parentesco, procurando encontrar justificações que não se prendem com a falta de vontade e com o desprendimento afectivo, mas com a existência de condicionalismos externos, como a actividade profissional. Razões como estas, levam os seniores a enfrentar a sua autonomia até ao limite preservando a sua independência até mais tardiamente possível. Lage (2004) referida em Paúl e Fonseca, 2005), perante este cenário, põe a tónica nos serviços comunitários que, deverão intervir o mais cedo possível juntos dos prestadores de cuidados e de toda a família, de forma a, reduzir o desgaste físico e psicológico causados pela dependência. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 66 Qualidade de Vida dos Seniores É, então inegável, a importância da rede familiar para os seniores, e sendo estes a maior arma de todo o tipo de apoio, os amigos desempenham também um papel de crucial importância em contributo para o bem-estar social, sentimento de integração social e permanência dos contactos sociais. Os amigos são como que um elo de ligação ao processo de socialização. Este processo não ocorre só nos mais velhos, sendo visível em qualquer idade e etapa das nossas vidas. O papel dos seniores neste espaço de trocas na rede familiar é tanto mais rentável e produtiva quanto maior for a sua autonomia. A dependência de familiares, associada ou não a conflitos, é uma realidade das pessoas com avançado declínio das faculdades cognitivas e físicas. Não necessariamente inerentes à idade, conduzem a um certo grau de dependências dos demais. Contudo, são muitos os seniores que permanecem nas suas casas, com elevada autonomia funcional, não tendo, uma dependência total dos filhos ou parentes. Nestes casos, o único tipo de dependência existente será a emocional que, à qual qualquer um de nós é dependente. No seio familiar os seniores podem assumir funções que despertam sentimentos de utilidade, participando na vida dos seus netos. Esta é uma função, geralmente, venerada pelos avós que, em muitas vezes lhes devolve a razão de viver. Analisaremos então esta relação. Ser avôs: alegria vs conflito Ser avô significará uma felicidade tão profunda cujos sentimentos serão difíceis de explicar. Ser avô, segundo Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004:39-43), “é um dos sonhos de quase todos nesta etapa da vida, este laço é sentido como a concretização do desejo de continuidade (sobreviver à morte), oferece a possibilidade de exercer uma variedade de papéis e a oportunidade de interacções significativas. Na verdade, avós e netos podem aproveitar uma relação que não é complicada por responsabilidade, obrigações e conflitos (como, geralmente, acontece entre pais e filhos).“ Esta nova posição familiar envolve todo um conjunto de sentimentos, não só os direccionados de avôs para netos, como o amor, carinho, admiração, mas também para os próprios avôs que intrinsecamente experimentam sentimentos como a satisfação em dar continuidade à família e, por outro lado, é-lhes devolvido a responsabilidade e utilidade na educação e cuidados para com os netos que, há muito tempo estavam adormecidos. Neugarten e Weinstein (1968) como referência para Sousa, Figueiredo e Cerqueira, 2004) definiram cinco estilos de papéis desempenhados pelos avós: formal, divertido, substitutivo, autoritário e distante. Os avós formais comportam-se de acordo com o que lhes parece ser o seu papel de avô, mantendo bem clara a diferença em Dissertação de Mestrado em Serviço Social 67 Qualidade de Vida dos Seniores relação ao papel parental, o qual tem implícita a total responsabilidade da criança. Nos avós divertidos predomina uma atitude, toda ela informal e lúdica em que, ambos não passam de colegas de brincadeira, onde a satisfação é mútua. Os avós substitutivos tendem a assumir as responsabilidades educativas na ausência, total ou parcial, dos pais. No extremo, encontramos os autoritários que colocam os pais dos netos numa posição de subordinação que é aceite por ambas as partes. Esta situação poderá encontrar explicação em ressentimentos passados e podem estar ligados à dependência económica. Os distantes, são os avós que mantém apenas contacto com os netos em ocasiões especiais (festas), muitas das vezes, esta situação poderá ser vivenciadas dada a distância entre as casas de pais e avós. A educação dos netos/filhos constitui-se num obstáculo à plena relação do subsistema parental. Os avós, muitas vezes, interferem demasiado na educação dos netos e, nem sempre, vão ao encontro dos modelos comportamentais adoptados pelos pais. Os netos andam na “corda bamba” e, geralmente optam por seguir os modelos dos mais benevolentes que, normalmente, são os dos avós. Esta é uma realidade geradora de conflito entre os pais e os pais dos pais. Barros de Oliveira (2005) falanos da alegria, por um lado e, da possível causa de conflito e preocupação, por outro que, são os netos. Estes dão trabalho mas também novo sentido à vida, muito embora que, muitos avós tentem hoje a envolver-se menos na educação para ficarem mais livres e porque as crianças podem, desde cedo, ir para berçários, infantários ou para a pré-escola, além de haver outras instituições que ocupam as crianças nos tempos livres, na ausência dos pais. Não obstante, em geral pode considerar-se positiva, ou até muito positiva, a interacção dos avós na educação dos netos, desde que tenham a aptidão e não se sobreponham, contradigam ou critiquem os pais das crianças, antes colaborarem generosamente segundo as linhas pedagógicas estabelecidas pelos pais. O autor conclui que, de qualquer modo, a influência dos avós na educação dos netos depende de muitos factores, como a idade, a formação e personalidade dos próprios avós, da idade e personalidade dos filhos, da medida em que precisam da intervenção dos pais (avós) e de outras circunstâncias. Kropf e Burnette (2003) citados por Barros de Oliveira (2005:100) consolida todas estas ideias ao afirmar que, “a presença doa avós é benéfica em casa e são inegáveis as vantagens de uma “educação intergeracional”. Os netos podem ainda funcionar como força inspiradora para a vida. Para Thomas (1986) referido por Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004) as avós retiram maior satisfação do seu papel do que os avôs. Para ambos trata-se de aproveitar a oportunidade para estabelecer uma relação gratificante de carinho e afecto, mas para as avós trata-se, ainda, de uma oportunidade de exercer novamente uma série de Dissertação de Mestrado em Serviço Social 68 Qualidade de Vida dos Seniores competências nas quais se sentem peritas. Ser avó deverá dar a liberdade de dispensar toda a atenção que, em tempos não pode dar aos filhos, pois os tempos eram outros, expressão que vulgarmente todos ouvimos. Usualmente diz-se que ao avós fazem todas as vontades aos netos e, na sua grande maioria, diz ser maior o amor de avô que de pai. Só quem é avô poderá confirmar e confrontar estas duas formas de amar. Estes cuidados prestados de avósnetos são sempre, salvo raras excepções, prestados na casa dos avós. Estar na sua casa enaltece sentimento de pertença e de maior à vontade para o desempenho de tais funções. Podemos afirmar, desta feita, que a relação intergeracional avós-netos é caracterizada por uma dualidade de comportamentos. Não haverá margem para dúvida que, a maior alegria para os avós é estabelecer uma relação estreita com os seus netos mas a contrapartida conflitual surge quando esta relação é levada demasiado a sério, querendo os avós imperar na educação dos netos que, por algumas vezes, passam normas educacionais contraditórias às ensinadas pelos pais. Assim, poderemos testemunhar o conflito entre avós e pais e não entre os mesmos e os netos. A relação conflitual, normalmente, não se assiste para com os netos/filhos. Contrariamente, a alegria pode ser visível em qualquer relação que envolva as três gerações. Contudo é sempre demasiado gratificante a manutenção destes laços intergeracionais benéficos para qualquer elemento familiar. O doce lar Tal como era referenciado no ponto anterior a importância do lar, quando nos referimos que, os cuidados de avós-netos são, maioritariamente, prestados na casa dos avós, estava já implícita a relevância que os seniores dão à sua própria casa. Segundo Zimerman (2005), se a casa têm muita importância para a maioria das pessoas, para os seniores, esta assume um papel ainda mais relevante, uma vez que, é dentro dela que eles vão passar a maior parte do tempo. O bem-estar psicológico deste grupo etário está vinculado à sua satisfação em relação ao seu ambiente residencial. A casa para os mais velhos adquire um significado psicológico único, uma vez que há grandes laços afectivos através da memória ao seu “cantinho”, é nela que se sentem seguros. Através do tempo, os seniores apegam-se de uma forma muito especial à sua casa. É o seu porto seguro. Neste conjunto de sentimentos encontramos os associados às recordações do percurso de vida, de modo que lhe seja possível mater “vivo” o seu passado com um sentimento de continuidade e identidade, protegendo-o contra as transformações que vão ocorrendo na sociedade. E, ainda um sentimento de auto-estima positivo, dado que, o sénior ao manter-se na Dissertação de Mestrado em Serviço Social 69 Qualidade de Vida dos Seniores sua casa demonstra aos outros que ainda mantém a sua autonomia e independência. Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004) ressaltam a importância da casa na sua dimensão integral de independência, símbolo do sentido de integridade pessoal. A residência habitual de anos tem várias funções profundas na vida de qualquer pessoa, em especial dos seniores por um lado, a segurança objectiva contra a adversidade do meio ambiente e, por outro, a segurança subjectiva contra o medo. A casa é símbolo de local de intimidade e privacidade individual e familiar, lugar de identidade, pois a decoração, os móveis e o ambiente reflectem a individualidade de cada indivíduo. A nossa casa é um depósito de lembranças que nos permite dar continuidade ao passado e ao presente. E porque, como já foi referenciado neste trabalho, os seniores vão experimentando um certo declínio das suas capacidades de locomoção, de agilidade, de memorização, entre outros. Para que a sua saúde não esteja mais em risco, Zimerman (2005) enumera alguns cuidados a ter na casa onde vivem. Estas são algumas das preocupações que se deve ter, de entre muitas, destacaremos algumas, como cuidar a orientação solar do prédio para evitar mofo e o uso de ar condicionado, muitas vezes prejudicial ao sistema respiratório; procurar pisos antiderrapantes em todos os ambientes; evitar tapetes soltos e, em caso de serem usados, colar na parte debaixo das borrachas especiais para impedir que deslize; providenciar iluminação adequada, que permita boa visibilidade; prever iluminação de emergência para os casos de falta de luz; evitar colocar o televisor no quarto, pois dormir com ele ligado prejudica a qualidade do sono; utilizar corrimões em todas as escadas e, se necessário, em circulações, etc. O autor deixa o conselho de que, quanto maiores os cuidados, mais conforto e segurança física e psíquica terão os seniores, promovendo assim, uma melhor qualidade de vida e uma significativa redução das quedas e outros acidentes comuns. Os momentos de solidão A existência de netos, na sua relação estreita, afasta dos seniores sentimentos como a solidão. Contudo, nem todos terão a oportunidade de saber o que é ser avô, ou não poder estabelecer relações de proximidade com eles, por seu turno, a não alimentação de novos contactos, a não participação activa na sociedade, entre outras perdas, poderão mostrar o caminho para o desabrochar de sentimentos de instância negativa. “A solidão é uma experiência excessivamente penosa que se liga a uma necessidade de intimidade não satisfeita, consecutiva a relações sociais sentidas como insuficientes ou não satisfatórias” (Berger, 1995:387). Contudo, e uma vez que, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 70 Qualidade de Vida dos Seniores falamos em famílias, estamos a abordar a solidão enquanto angústia, não só sentida em relação ao mundo exterior, mas também e, principalmente o sentimento de solidão em relação aos seus próprios parentes. No entanto, certamente se entende que, estes sentimentos, por sua vez, estão mais voltados para o mundo das relações e contactos sociais. Pitaud (2004) defende a não existência de uma definição única para a solidão. Mas arrisca-se a dizer que, “a solidão é antes de tudo uma experiência subjectiva, muito frequentemente apercebida como uma experiência negativa, penosa associada a afectos negativos”. Os sentimentos de solidão são, muitas vezes, experimentados nesta altura. Os filhos têm uma actividade profissional activa, têm um lar, têm filhos e o tempo disponível esgota-se a dar resposta às suas responsabilidades. Esta situação agravase quando a área de residência de ambos é distante, os filhos têm já, de dispor de imenso tempo para visitar os pais o que reduz a assiduidades dos encontros. Contudo, “A proximidade não é condição para a solidariedade, mas facilita grandemente os contactos e a interacção” (Pimentel, 2005:69). O convívio entre gerações assume-se como uma lufada de ar fresco para o dia-a-dia pacato da maioria dos avós. Kaufman e Adams (1987) referidos por Phitaud (2004) salientam o facto dos sentimentos associados à solidão serem mais frequentes nas pessoas mais velhas cronologicamente. A solidão, para este grupo etário, poderá encontrar explicação numa maior incidência de incapacidade física, desaparecimento da rede social, maior probabilidade de perda do cônjuge e dificuldades de mobilidade. Quanto mais as pessoas pensarem na precariedade da sua saúde maior a diversidade de sentimentos associados à solidão conhecerão. Muitas vezes são confundidos os conceitos de solidão e isolamento. O que aqui se fala é unicamente de solidão. No entanto, importa distinguir os conceitos para elucidar melhor o leitor. Assim, o isolamento é um facto, quando alguém reside isolado do mundo, quando as relações sociais são praticamente nulas e as hipóteses de convívio basicamente inexistentes. Por sua vez, podemos viver numa casa cheia de gente e nos sentirmos sós, estar ligado a um centro de convívio, onde diariamente estão dezenas de pessoas, e sentirmo-nos sós, sentimos o verdadeiro sentido da solidão. A solidão é um sentimento e não um facto. Para Phitaud (2004:50) “a solidão não é mais do que uma expressão da ordem da relação”. Para Russel et al (1984) no indivíduo, ela corresponde a uma percepção de “deficiência” da rede de relações sociais. A diminuição progressiva da visão, da audição, a insegurança no andar, a doença, a incapacidade e a dependência que se vão instalando constituem-se experiências negativas que poderão conduzir à solidão, se os seniores não tiverem Dissertação de Mestrado em Serviço Social 71 Qualidade de Vida dos Seniores apoios familiares ou socais a que possam recorrer para suavizar estes problemas. A auto-estima funciona, aqui, como o equilíbrio, entre o bem-estar social e a solidão. As pessoas queixam-se de solidão quando o tipo de relações que têm é reduzido e pouco satisfatório ou quando perdem o cônjuge, estando já a morar novamente sós. Uma relação harmoniosa com outras pessoas, ter com quem partilhar interesses ou simples comentários sobre o estado do tempo, substitui muitas vezes, com vantagens, as relações de dependência pais-filhos. (Fernandes, 2000). Victor, et al. (2000) referidos por Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004) desenhou o modelo de relações entre recursos, acontecimentos de vida e solidão/isolamento social. No mesmo analisa-se a influência de vários factores sóciodemográficos, de onde tira as seguintes conclusões: as pessoas que vivem sós são mais sujeitas a solidão; solidão e isolamento são mais comuns entre os “grandes seniores” (não se tratando de um efeito da idade, mas de factores que lhe estão associados, tais como a deteorização da saúde); as mulheres são mais propensas a sentir solidão e isolamento (talvez por terem mais facilidade em assumi-la); os seniores operários sentem-se mais sós, sobretudo porque as classes mais baixas mantêm mais contactos baseados na família, enquanto as mais altas fomentam as amizades. Quanto aos recursos, percebe-se que as redes sociais, pessoais, mais amplas, são mais protectoras. Paralelamente, as relações com amigos mais próximos previnem mais a solidão do que as relações com familiares, por exemplo, a falta de cônjuge e filhos pode levar a maior isolamento, mas as amizades íntimas podem tomar o lugar da família. Aos acontecimentos de vida, como a viuvez, é reconhecido como factor associado à solidão e isolamento social numa variedade de culturas e contextos. A solidão é mais profunda nos momentos iniciais, principalmente se não é mediada pela presença dos filhos. A reforma, migração, dependência ou outros eventos que contenham o sentimento de perda de papéis anteriores importantes, também se associam ao aumento dos níveis de isolamento e solidão. Invariavelmente a institucionalização, ou andar em sistema de rotatividade pela casa dos filhos, reforçam também os sentimentos de solidão. O baixo estado de saúde, a má condição física e problemas de saúde mental, em especial a depressão, fortalecem a solidão e isolamento. Mas, neste caso, a relação é mútua: a solidão causa problemas de saúde e vice-versa. No que se refere aos rendimentos, há pouca investigação, no entanto, a tendência à que aqueles que têm mais dinheiro sintam menos o isolamento e solidão. A espiritualidade tem-se revelado um factor protector em relação à solidão e isolamento social. De referenciar que os autores interligam isolamento a solidão. Para eles, “o isolamento social está intimamente ligado à solidão”, referindo-se “à integração de Dissertação de Mestrado em Serviço Social 72 Qualidade de Vida dos Seniores pessoas e grupos com a comunidade e caracteriza-se pela falta de comunicação e manutenção de contactos mínimos”. A solidão é vista, como “uma noção (sentimento) subjectiva”, referindo-se “à percepção de privação de contactos sociais ou falta de pessoas disponíveis ou com vontade de partilhar experiências sociais e emocionais. Essencialmente, trata-se de um estado em que o indivíduo tem potencial e vontade para interagir com os outros mas não o faz, isto é, há discrepância entre o desejo e a realidade das interacções com os outros” (Ibidem, 2000:46-48). Esta distinção ou melhor associação, é necessário para demonstrar os diferentes formas de se abordar a solidão. No entanto fica a ideia que, será preferível abordar ambos os conceitos separadamente. A solidão poderá encontrar uma das suas causas na morte do cônjuge que, nesta etapa da vida, é a figura mais próxima. As perdas constituem-se em acontecimentos desgastantes e desmotivadores para qualquer pessoa, mas na recta final da vida, acredita-se que, nutrem sentimentos mais dolorosos. Veremos, em seguida, o significado destas perdas e como encaram, os seniores, a chegada da morte. As perdas e a ansiedade pela morte O nascimento, a velhice e a morte são fenómenos universais, inelutáveis, mas que são também pessoais e únicos (Berger, 1995). Embora fenómenos universais não são vividos e/ou ultrapassados de forma igual por todos os indivíduos. “A morte constitui-se num fenómeno físico, psicológico, social e religioso que afecta a pessoa na sua totalidade: corpo, espírito, emoções, experiência da vida. A morte seja a nossa ou a dos outros, é uma realidade difícil de aceitar porque nos lembra constantemente o carácter limitado da vida. Para compreender o fenómeno da morte, é preciso ser capaz de a considerar como uma etapa aonde cada ser humano chega com aquilo que é e com aquilo que foi” (Ibidem, 1995:510). A aproximação à morte vai-se tornando num tema cada vez mais pertinente e temido, à medida que os anos vão passando. Na velhice, pensa-se qual será o meu dia? De que forma irei morrer? Irei sofrer? São estas as interrogações que atormentam aqueles que vêem que ela está perto. Contudo, não se pode associar, totalmente morte a velhice. Na maioria das vezes, as pessoas mais velhas morrem de doenças crónicas, morrer de velhice, não é tão comum, como se pensa. Contudo, deverá “custar menos” abandonar o mundo por velhice do que por doença. Ninguém deseja morrer em sofrimento. “Aceita-se” a morte quando já se viveu os acontecimentos mais marcantes, por exemplo, ser pai, avó, acompanhar e participar no crescimento dos filhos e, se possível, dos netos, ver os filhos a casar e a se formarem. Howarth (1998) Dissertação de Mestrado em Serviço Social 73 Qualidade de Vida dos Seniores revela a preocupação dos seniores pela morte dos outros, assim, por ordem decrescente, a morte do cônjuge, irmãos e filhos. Em relação aos filhos sentem, injustiça pela lei da vida, quando estes são os primeiros a partir. O próprio acontecimento em si está já envolto de imensa nostalgia. A morte surge como um enigma a que nenhum ser humano consegue responder. Barros de Oliveira (2005:104-110), neste encadeamento refere-se à tanatofobia, como “medo do evento em si, medo do que acontecerá depois e ainda ao medo de “deixar de ser””. Tudo o que o rodeia é incógnito, não existem certezas. O medo pela morte está ligado, segundo o autor, ao tempo (quando morrerei?) ou a outras circunstâncias (como, onde morrerei?). O autor cita Cícero (1998) “infeliz daquele que, numa existência tão longa, não terá chegado à conclusão da que se deve desprezar a morte! Deve ela ser ou ignorada, se elimina a alma por completo, ou até mesmo desejada, se a conduz para algum lugar onde virá a ser eterna (…) O tempo para se viver, ainda que breve, é suficientemente longo para se viver bem e com honra (…) Sem tal reflexão ninguém pode estar de espírito tranquilo”. Cícero defende a imortalidade, para o autor, a vida continua no pós-morte e as almas não conhecem a morte. Acrescenta, não valer a pena chorar a morte dos que partem. Fácil é falar e escrever sobre estes assuntos, difícil é passá-los. Embora acredite na vida para além da morte, sendo que, o nosso futuro desta vez está nas nossas almas, o acontecimento da morte física é muito doloroso para qualquer mortal. Não existe imortalidade a não ser da alma, pois a morte física é um facto. Quem já teve a infelicidade de perder pessoas muito próximas, compreenderá o que aqui se escreve. Agrava quando alguém que amamos, do nada, parte à nossa frente, diante de nós, morre, a impotência passa pelo nosso corpo todo e, nem Deus é perdoado. Não digam que não devemos chorar. Impossível! “A tendência social e cultural para esconder a morte, as distâncias geográficas que separam os membros da família nos momentos da morte e morrer e a prática da tecnologia médica tornam o processo de adaptação à perda mais difícil, pois retiramna da realidade quotidiana, ao mesmo tempo que confrontam com decisões, sem precedentes, relativas a prolongar ou terminar a vida” (Sousa, Figueiredo e Cerqueira, 2004:51). A perda associada à morte pode ser a nossa própria morte, a do cônjuge, filho ou pai, amigo, em todos os casos são morte e exige a adaptação de mecanismos para ser ultrapassada. Segundo Howarth (1998), os seniores assumem comportamentos muitos diferenciados em relação à morte, afirma que, uns estão preparados, enquanto que outros vivem o momento presente apegados à vida, sem pensar muito a longo prazo. O autor faz referência a diversas dimensões ou concepções sobre a morte, entre elas, a sua natureza (boa ou má morte), o grau de controlo sobre o momento dramático da vida, modos de tornar a morte mais Dissertação de Mestrado em Serviço Social 74 Qualidade de Vida dos Seniores significativa e problemas relacionados com o pós-morte. Por sua vez, Barros de Oliveira (2005) refere que, independentemente do grau de tanatofobia, de acordo com a sua maturidade psicológica, religiosidade e outras variáveis, o sénior desenvolve diversas formas da lidar (coping) com a situação, usando também diversos mecanismos de defesa mais ou menos frequentes e intensos, como a somatização (hipocondria), a sublimação, a agressividade, a racionalização, a dissociação, a negação, e ainda mecanismos mais positivos, como o humor e o altruísmo. Estudos escasseiam neste tema. No entanto, faremos referência a Rasmussen e Brems (1996) referidos por Barros de Oliveira, 2005), que concluíram que, a ansiedade face à morte estava negativamente correlacionada com a idade, isto é, que o medo da morte decresce, embora ligeiramente, com a idade e principalmente à medida que cresce a maturidade psicossocial, em que tal maturidade ou desenvolvimento psicossocial seria o principal factor a mitigar o medo da morte. Kastenbaum e Eisenberg (1983) partilharam as mesmas conclusões. Depaola et al, (2003) acrescenta que o medo de morrer é mais elevado na mulher. Pelo senso comum, sabe-se que, não podemos generalizar as perdas à morte. Ao longo da vida são muitas as situações de perda que se tem de enfrentar. Infelizmente estas situações acontecem com grande frequência. Estaremos a falar de, divórcio (perda do cônjuge), casamento dos filhos (perda física do filho), reforma (perda da actividade profissional), diminuição das relações e contactos sociais (perda de amigos), alteração de residência (perda do habitat natural e de todos os sentimentos de pertença, não só ligados à casa e objectos, mas também à cidade). Todas estas perdas exigem mecanismos de defesa e de superação. Cada qual com a sua intensidade, tendo em conta, o grau de dependência associado à perda. Considerando o cenário supra relatado percebermos que não é fácil a decisão de viver numa instituição e não deve ser tomada de ânimo leve ou apenas porque os outros assim o desejam. São inúmeras as questões inerentes a tomada de decisões como esta. A sociedade marginaliza quem está institucionalizado. A família, por variadas razões, pensa ser o caminho melhor e a situação mais benéfica para todos. Sentimentos de solidão são experimentados. E, constitui-se, talvez uma das maiores perdas. A pessoa perde tudo o que tinha, tudo o que havia construído, a sua realidade passa a ser uma incógnita num espaço que lhe é totalmente estranho. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 75 Qualidade de Vida dos Seniores 2.2.4 A institucionalização Até ao século XIX, o apoio de que os seniores necessitavam era garantido pela solidariedade familiar ou pela caridade de alguns particulares ou instituições religiosas (Pimentel, 2005). No entanto, assiste-se ao surgimento de novas formas de organização familiar. Apesar da família ser a unidade básica de suporte, seja em que idade for, uma série de condicionalismos como, precariedade económica, fraca saúde, enfraquecimentos de laços familiares, isolamento e solidão podem conduzir qualquer indivíduo e a própria família a recorrerem à institucionalização. A mais marcante, a entrada das mulheres para o mercado de trabalho e a sua consequente afirmação. É cada vez mais difícil nomear as diferenças entre géneros. As mulheres cumprem a mesma carga horária que os homens na sua actividade profissional, em casa, ambos assumem o papel de pais e, ainda surge a manutenção do lar e da rede de suporte. A família, fruto do processo de globalização, cada vez menos, vai conseguindo manter activos os laços entre os seus membros assegurando os cuidados necessários. Aos seniores dependentes restam poucas alternativas. Pimentel (2005:58) afirma que, “A institucionalização surge normalmente, para a família ou para os idosos sem família, como a última alternativa, quando todas as outras são inviáveis. Se é verdade que a perda de autonomia física é um factor determinante na opção do internamento, e que muitos dos idosos que residem nos lares são fisicamente dependentes, o facto é que, associados a esta dependência física, surgem outros factores que, por vezes, condicionam mais fortemente a decisão” (Ibidem, 2005:58). Os estudos apontam como principal motivo para o internamento, não os problemas de saúde e a consequente dependência, mas o isolamento. É a inexistência de uma rede de interacções que facilite a integração social e familiar do sénior e que garanta um apoio efectivo em caso de maior necessidade que se assume como facilitador para um internamento. A fase da vida em que o sénior entra para uma instituição é encarada como a recta final da sua vida, sem qualquer expectativa de retorno e esperança na manutenção da sua condição de vida (Ibidem, 2005). Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004) fazem referência a três momentos típicos em que se começa a desenhar o cenário da institucionalização: com a morte do cônjuge o sobrevivo terá de se habituar a viver sozinho, sentindo algum incómodo com a ideia, normalmente, pelo medo que algo lhe aconteça e não esteja ninguém por Dissertação de Mestrado em Serviço Social 76 Qualidade de Vida dos Seniores perto para o acudir; após uma queda ou uma doença, os seniores começam a atribuir barreiras arquitectónicas nas suas casas (tem muitas escadas) ou na localização (longe dos cuidados de saúde e da família) e optam por se mudar para outro local. Optar por este tipo de apoio formal, implica um processo um tanto ao quanto lento e de longa duração. As autoras reforçam a ideia de que, um destes momentos costuma anteceder a ponderação de ir para um lar. Tomar esta decisão não deve ser fácil para ninguém, processo igualmente doloroso, quer para a família como para o sénior. O levantamento e visitas a todos os lares são imprescindíveis. Não nos podemos esquecer que estamos a escolher uma “casa” para um ser humano. As autoras (Ibidem, 2004) dão primazia à participação do sénior no processo de escolha. Sugerem quatro tipos: preferencial, estratégica, relutante e passiva. Passando a explicar, a preferencial caracteriza-se por o próprio exercer o direito de decisão. Ocorre perante alterações nas circunstâncias de vida, que levam o sénior a ponderar a ida para um lar como a melhor alternativa, geralmente acontece após a morte do cônjuge ou quando se está dependente de terceiros e sentem-se uma sobrecarga. A participação estratégica exprime um planeamento do sénior ao longo da sua vida no sentido de adoptar esta solução. E ocorre quando, antecipadamente, o sénior efectua a sua pré-inscrição num lar, torna-se sócio ou inicia um processo de visitas a todos os lares. Este tipo de participação é essencialmente assumida por solteiro, viúvos ou quem não tenha filho, pois têm consciência da sua fraca ou inexistente rede de suporte informal. A participação relutante na escolha de um lar expressa-se quando o sénior discorda em ser internado num lar. Situação bastante dolorosa, uma vez que, é forçado pela família ou por técnicos, a adoptar uma opção que não é a sua. Esta atitude por parte dos técnicos encontra explicação em situações de extrema pobreza, incapacidade ou doença grave ou se, porventura, se encontra só no mundo. Por sua vez, uma participação passiva ocorre quando a escolha de um lar decorre da decisão de outros sobre o nível e tipo de cuidado requerido pelo sénior e que este aceitou ou seguiu sem questionar. Situação frequente em casos de demência. Face à difícil situação que comporta a tomada de decisão e escolha de um lar, Glover-Thomas (2000) em Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004:131) aponta quatro factores a ter em conta por aqueles que a assumem. A enumerar, deve-se respeitar os passados e presentes desejos e sentimentos declarados pela pessoa em causa e os factores que consideraria na decisão; permitir e encorajar a pessoa a participar, o mais possível, em tudo o quanto é feito por ela e a afecta; consultar outros membros da rede social e pessoal acerca dos desejos e sentimentos que a pessoa incapacitada teria e que significam muito para ela e, por fim, tentar que a acção a tomar seja a menos restritiva da liberdade de acção da pessoa. A entrada num lar, numa nova Dissertação de Mestrado em Serviço Social 77 Qualidade de Vida dos Seniores casa, constitui-se, num conjunto de perdas, por um lado e, por outro, em ganhos. Aquando da entrada num lar de idosos20, o indivíduo confronta-se com a necessidade de se adaptar a uma nova realidade que exige uma adaptação não só ao espaço físico, mas também relacional e social, que se sucede a um conjunto de perdas. O abandono do seu ambiente particular e familiar, status social, identidade e liberdade são algumas das perdas são significativas e penosas para o indivíduo sénior. Compreensível é o sentimento de vazio que tal processo faz desenrolar nas pessoas. Pimentel (2005:60) refere que, “sejam quais forem as circunstâncias que envolvem o internamento, este representa para o idoso uma mudança significativa no seu padrão de vida e uma ruptura com o meio com o qual se identifica e para o qual deu um contributo mais ou menos valioso. O idoso encara, nestas circunstâncias, uma realidade completamente nova e, por vezes, assustadora, com a qual nem sempre consegue estabelecer uma relação equilibrada e tranquila. Se se torna difícil para aquele que vive integrado na sua comunidade reorganizar o seu projecto de vida face ao conjunto de novos factores que passam a interferir nas suas vivências (biológicos, económicos, sociais, psicológicos, etc.), para o idoso institucionalizado o processo torna-se necessariamente mais dramático” (Ibidem, 2005:60). O espaço físico da instituição, na grande maioria, distancia-se bastante daquilo que é/era a sua casa e as relações interpessoais são pautadas por outros princípios. O processo de adaptação é tanto mais facilitado se a decisão for do tipo preferencial ou estratégico. A estrutura orgânica das instituições com valência de internamento, não permite a individualização dos cuidados, ou seja, muitas das vezes não é respeitada a personalidade, privacidade e individualidade de cada um. Por exemplo, o banho pode ser um dos maiores obstáculos a ultrapassar, a intimidade é símbolo de individualidade e é algo muito privado por qualquer pessoa, no banho ela está à descoberta. Cada pessoa tem os seus hábitos, os seus padrões de vida, os seus horários, os seus gostos e desgostos e, aquando da entrada num lar, todas estas 20 Um lar é um equipamento social que se destina a acolher pessoas com 65 ou mais anos de idade, salvo excepções, que não possam continuar a manter-se na sua própria casa. Fornecem um vasto número de serviços, para alem do alojamento, alimentação, cuidados médicos e de enfermagem, conforto e higiene e actividades lúdicas e de lazer para ocupação dos tempos livres. Os lares objectivam-se em atender e acolher os seniores cuja situação social, económica e/ou de saúde não permita resposta alternativa; satisfação das necessidades dos residentes, apoio à família e desenvolvimento das capacidades do seniores e do seu equilíbrio físico, psicológico e afectivo. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 78 Qualidade de Vida dos Seniores característica uno e pessoais são comandadas pela direcção da instituição. É o sénior que se tem de se adaptar à dinâmica institucional, em vez de, existir um esforço, nem que seja mínimo, para serem respeitados e mantidos certos aspectos da individualidade de cada um. Pimentel (20005:61) reforça que “a falta de sensibilização dos agentes institucionais para a especificidade da experiência de cada indivíduo, conduzindo à obrigatoriedade de viver de acordo com normas restritivas e de conviver com outros indivíduos que mal se conhece, podem ser sentidas como mais penalizadoras do que a ausência de condições materiais óptimas”. Assim cabe-nos usar a palavra de Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004:136) que enumeram princípios a serem respeitados pela instituição, nomeadamente, dignidade, autonomia, privacidade, direito de escolha e independência. “A dignidade é limitada por interacções negativas entre o pessoal técnico e auxiliar e os idosos, designadamente, desrespeito pela privacidade e insensibilidade aos seus desejos e necessidades. A autonomia é ameaçada quando os utentes (e seus familiares) não recebem a informação adequada e não tem a oportunidade de fazer escolhas informadas em relação às actividades e cuidados. A salvaguarda da privacidade em actividades íntimas (tais como tomar banho) é indispensável à preservação do sentido de auto-respeito e competência social. Ter em consideração a independência dos residentes implica que os funcionários da instituição abram mão de algum risco calculado. Isto é difícil, pois os funcionários sentem o dever de cuidar, o que pode ser incompatível com deixar os residentes correr alguns riscos. Aqui há a tendência para evitar o risco em vez de gerir o risco, mimando a sua independência, privacidade e dignidade” (Ibidem, 2004:136). Estes princípios, facilmente se percebem, enquanto básicos e universais. Talvez, um dia, quando todas estas questões aqui levantadas, tiverem sido integradas, digeridas e fazendo parte das orientações de qualquer instituição, esta tomada de decisão, seja bem mais fácil e, quem sabe, seja tomada em primeiro lugar pelos próprios seniores. Sabemos da escassez de vagas neste tipo de instituições, o número de seniores subiu de tal forma que a realidade institucional para dar resposta a este fenómeno, é para muitos, uma utopia. Quotidianamente, temos conhecimento das longas listas de espera e da sobrelotação que, conduz cada vez mais ao aparecimento de lares sem alvarás. A clandestinidade, muitas vezes, é aceite sem resignação, pois não existem alternativas. Que serviços terá de ter um lar para que alguém se sinta integrado, satisfeito e realizado? Poderemos enumerar vários serviços como, boa e cuidada alimentação, colaboradores simpáticos e sensíveis aos seniores, serviços Dissertação de Mestrado em Serviço Social 79 Qualidade de Vida dos Seniores médicos, enfermagem e fisioterapia, actividades de animação sócio-cultural (passeios, e envolvimento em actividades lúdicas e de lazer), desporto (e condições inerentes à sua prática, como ginásio e piscina), cabeleireiro, mini-mercado e lojas, etc. A listagem é vasta, pois a intenção é proporcionar-lhes dentro do lar, uma realidade a mais idêntica possível àquele que eles já tiveram. Esta situação é aqui referida, em casos em que a liberdade é controlada e condicionada ao interior do lar. Às pessoas com um determinado grau de autonomia funcional, dever-lhes-iam dar a oportunidade de satisfação das suas necessidades fora do espaço físico do lar, se a pessoa assim o entendesse. Obviamente que com uma dinâmica institucional assim, a adaptação e integração realiza-se de formais muito mais simples e favorável ao sénior. Será, então crucial humanizar as instituições, física e humanamente que, passa por adaptá-las às necessidades e direitos do ser humano. Humanizar a dinâmica institucional de acordo com as características dos que lá residem, assim como a dinâmica relacional dos que colaboram com os residentes. Os técnicos assumem um papel de relevante importância enquanto elo de ligação entre sénior e família contribuindo e lutando para o não rompimento da intensidade das relações familiares enquanto suporte emocional para o sénior. No entanto não se irá abordar demasiado a institucionalização e todo o processo a ela inerente pois estaríamos a fugir aos objectos do presente estudo. Pretendeu-se com este capítulo expressar a grande heterogeneidade dos processos relativos ao envelhecimento que passaram, no nosso trabalho de sistematização teórica e organização do pensamento, pela compreensão do fenómeno do envelhecimento em si mesmo (aspectos históricos, culturais e psicossociais), pela compreensão do ser humano, sujeito singular que é o sénior e a sua relação com o contexto social que o rodeia, pela análise das redes de suporte informais dos seniores e, por fim pela abordagem a um outro fenómeno que ocorre na vida de muitos seniores: a institucionalização. Não podemos ignorar a passagem à reforma como uma fase normal, esta está munida de perdas, contudo não será certamente, esta mudança que abalará o bem-estar físico e emocional de ninguém. A família surge, desta feita aqui, enquanto líder da rede de suporte e, nos casos de fraqueza accionase os contactos estabelecidos por laços de amizade socialmente construídos. Por sua vez, solidão será um alvo a abater, a proximidade à morte um facto iminente e sempre inesperado do qual ninguém consegue fugir. Muito embora, toda esta desconstrução teórica nos elucide para o fenómeno do envelhecimento será necessário compreender, de igual modo, a qualidade de vida avaliando os indicadores de medição subjacentes ao conceito. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 80 Qualidade de Vida dos Seniores 3. A qualidade de vida no processo de envelhecimento Todo o processo de envelhecimento acarreta consigo um conjunto de condicionantes, não só físicas, culturais e sociais mas também pessoais e individuais. O envelhecimento é um processo unipessoal em que a sua evolução depende, em grande parte, da forma como cada indivíduo encara a passagem para outro grupo etário. Todo este processo foi estudado no capítulo antecedente, cabendo agora entender em que medida a qualidade de vida o acompanha. Analisaremos as mais variadas alternativas de envelhecer com qualidade de vida. 3.1 O conceito de Qualidade de Vida A qualidade de vida comporta um conceito complexo. São várias as significações associadas ao conceito que se tem repercutido com o passar dos tempos. Vejamos as suas precisões terminológicas acompanhadas pela respectiva perspectiva histórica. Enquanto indicador, a qualidade de vida comporta consigo um conjunto de dimensões, domínios e instrumentos de medição. 3.1.1 Precisões terminológicas e perspectiva histórica do conceito Qualidade de Vida O interesse pelo estudo da Qualidade de Vida não é recente. A expressão “qualidade de vida” tem sido empregue de forma cada vez mais frequente nas últimas décadas. No entanto, “ (…) enquanto conceito científico pode revelar-se ambíguo a não ser que seja objecto de uma definição precisa (Wolfensberger, 1994: 318). Cummins, (1997) e Rapley (2003) procuraram efectuar um enquadramento histórico do conceito, situando o seu aparecimento através de definições operacionais de Qualidade de Vida na primeira metade do séc. XX, associadas a uma abordagem economicista baseada em indicadores sociais. Após o término da 2ª Guerra Mundial, “o conceito “boa vida21” foi usado para fazer referência à conquista de bens materiais (possuir casa própria, carro, aparelhos 21 O conceito “boa vida” era utilizado para fazer referência à conquista de bens materiais: possuir casa própria, carro, aparelhos electrónicos (televisão, rádio, máquina de lavar, etc.), ter aplicações financeiras, uma boa reforma, poder viajar, etc. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 81 Qualidade de Vida dos Seniores electrónicos) (…). O conceito foi alargado “(…) para medir o quanto uma sociedade se desenvolvia economicamente, não importando se tal riqueza estava bem distribuída(…)”. Os indicadores económicos surgiram desta feita, como indicador de mediação e comparação de padrões de Qualidade de Vida em diferentes realidades (Paschoal, 2000:19). Com o passar do tempo, o conceito ampliou-se “(…) para significar, além do crescimento económico, o desenvolvimento social (saúde, educação, moradia, transporte, lazer, trabalho e crescimento individual) (…)” (Ibidem, 2000:19-20). A partir da segunda metade do século XX termos como “felicidade”, “satisfação com a vida”, “bem-estar”, “prosperidade”, “liberdade de escolha”, “realização pessoal” passam a surgir na literatura associados ao debate sobre o significado de Qualidade de Vida, dificultando a delimitação científica do conceito (Canavarro, Serra et al, 2006). Cummins (1997) considera que o ponto de viragem da conceptualização de Qualidade de Vida se associa a uma abordagem americana do conceito, de acordo com o identificado por outros autores (Fleck, 1999a; Noll, 2000). Ideia esta, patente no discurso do Presidente dos Estados Unidos Lyndon Jonhnson proferido em 1964 onde referiu que: “a sociedade evoluída está preocupada não com a quantidade mas com a qualidade; não com a quantidade de bens, produtos ou serviços que se possam comprar ou adquirir mas com a qualidade de vida que estes proporcionam às pessoas”. Neste contexto o termo reaparece, no entanto direccionado quer para o bem-estar económico e material, bem como para o bem-estar psicológico e pessoal, realçando a preocupação pelas dimensões sócio-política e psicológica. Em 1990 com o Relatório de Desenvolvimento Humano assume-se vários índices de desenvolvimento, dando enfoque aos aspectos menos materiais, no sentido da preocupação com o desenvolvimento do sistema de saúde e do sistema de cuidados de saúde face à qualidade de vida. A ligação do termo Qualidade de Vida ao estado de saúde decorreu da clássica definição de saúde da Constituição da OMS (1948) como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não simplesmente como ausência de doença” e conhece o apogeu a partir de 1975. A partir deste patamar começou-se a valorizar critérios mais alargados do que a diminuição da mortalidade, aumento da esperança de vida ou controlo de sintomas, dando maior importância a padrões de Qualidade de Vida que não fossem de índole economicista. Autores como Bullinger et al. (1993), Fleck (1999a) e Rapley (2003) alertam para o facto do termo Qualidade de Vida assumir uma natureza mais geral, incluindo Dissertação de Mestrado em Serviço Social 82 Qualidade de Vida dos Seniores mas não se centrando exclusivamente em aspectos relacionados com a saúde, a percepção, emoções e comportamentos do indivíduo no seu dia-a-dia. O Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em 1994, exemplifica o que aqui foi dito, ao argumentar que até ao séc. XX políticos, filósofos e académicos consideram a qualidade de vida como sendo o resultado da capacidade humana para o pleno uso das potencialidades económicas, sociais, culturais e políticas visando o desenvolvimento equilibrado da sociedade com respeito pelo universalismo do direito à vida (Ribeiro, 1994b). A Qualidade de Vida tornou-se, assim num conceito de interesse geral e de senso comum. No entanto, o conceito está envolto de grande diversidade de opiniões que, não só variam de acordo com o tempo e dos diferentes contextos sociais e culturais, mas também com o ponto de vista singular de cada indivíduo. Formulam-se, deste modo, várias definições de Qualidade de Vida focando os mais variados pontos, desde a avaliação pessoal e global dos bens e das características satisfatórias de vida, até ao nível da satisfação das necessidades físicas, sociais, psicológicas, estruturais e materiais do indivíduo (Rodríguez, 1991). Minayo et al (2000) entende que Qualidade de Vida é uma noção eminentemente humana que mantém relação com o grau de satisfação do indivíduo em relação à sua vida familiar, amorosa, social, ambiental e existencial, abrangendo os conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e colectividades em determinada época, local e situação. Os autores (Ibidem, 2000:32) dão uma explicação do porquê da grande variabilidade de conceitos em torno da Qualidade de Vida. “O termo abrange muitos significados, que reflectem conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e colectividades que a ele se reportam em variadas épocas, espaços e histórias diferentes, sendo, portanto, uma construção social com a marca da relatividade cultural.” Apontam, ainda três explicações da relatividade do conceito. A primeira direccionada para a vertente histórica, ou seja, em determinado tempo do seu desenvolvimento económico, social e tecnológico, uma sociedade específica tem um parâmetro de Qualidade de Vida diferente da mesma sociedade noutro momento histórico. A segunda é culturalmente explicada, onde valores e necessidades são construídos e hierarquizados de forma diferenciada pelos povos, revelando a sua tradição e cultura. O terceiro aspecto, refere-se às estratificações ou classes sociais. Os estudiosos que analisam as sociedades em que as desigualdades e heterogeneidades são muito fortes mostram que os padrões e as concepções de bemestar são também estratificados: a ideia de Qualidade de Vida está relacionada ao bem-estar das camadas superiores e à passagem de um limiar a outro. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 83 Qualidade de Vida dos Seniores À procura de pontos coincidentes entre a variedade de formulações sobre Qualidade de Vida, tentamos elucidar o estudo, fazendo referência a algumas definições já construídas. Colman (1987) defende que a Qualidade de Vida só pode ser descrita e medida em termos individuais, encontrando-se dependente das experiências passadas e esperanças futuras, pelo que as prioridades e objectivos do indivíduo têm que ser realistas, esperando-se que possam ser modificadas com o decorrer da idade e a experiência de vida. Nesta medida, o autor assinala aspectos importantes na Qualidade de Vida, tais como: i) ser especificada ao sujeito, ou seja, ser descrita em termos individuais, uma vez que o que é importante para um indivíduo pode não o ser para outro; ii) ser ampla e abarcar todas as áreas da vida; iii) proporcionar e sugerir meios através dos quais a Qualidade de Vida possa ser melhorada, realçando a importância do crescimento e do desenvolvimento pessoal. Neste contexto, para melhorar a Qualidade de Vida de um indivíduo, são necessárias quatro medidas de acção: i) avaliação e definição do problema e das prioridades do sujeito; ii) planeamento dos cuidados, o que implica a prestação de informação e discussão do problema com o sujeito e família; implementação de um plano de acção pelo sujeito e técnicos de saúde. Este é um objectivo que pode ser alcançado quer diminuindo os sintomas físicos, quer alterando o estado psicológico, ou ainda reduzindo as expectativas do sujeitos mas, mantendo a esperança; iv) avaliação dos resultados da intervenção e reavaliação do problema. De acordo com Churchman (1992) e Ribeiro (1994a) a Qualidade de Vida designa o juízo subjectivo do indivíduo sobre o grau em que estão satisfeitas as suas necessidades nos vários domínios da vida, domínios esses que incluem o grau de auto-realização, a saúde, a vida familiar e social, a situação de face ao trabalho, a segurança pessoal e a habitação, entre outros. O conceito de Qualidade de Vida consiste em três níveis: (a) avaliação total do bem-estar, (b) domínio global (isto é, físico, psicológico, económico, espiritual e social) e, (c) componentes de cada domínio. Se víssemos esses três níveis numa pirâmide, o topo seria a avaliação total do bem-estar, seguida dos outros dois, sendo os “componentes de cada domínio” a base da pirâmide (Souza e Guimarães, 1999). De um modo geral podemos conceptualizar a Qualidade de Vida como uma rede que inclui, fundamentalmente o bem-estar do indivíduo. O bem-estar, por sua vez, não está única e exclusivamente associado à plena saúde ou, se preferirmos, ausência de doença. São inúmeros os factores que favorecem ou não os padrões de Qualidade de Vida. Podemos referir que a manutenção do bem-estar logo padrão óptimo de Qualidade de Vida, obtêm-se a partir de um conjunto de dimensão, entre Dissertação de Mestrado em Serviço Social 84 Qualidade de Vida dos Seniores elas, a sociabilidade, a condição física, emocional e intelectual, situação face ao emprego/rendimentos e, em muitos dos casos, a espiritualidade. Verifica-se que em todas as definições está patente a importância da saúde. Todavia, e segundo a OMS, “a saúde não é o centro da qualidade de vida”, avaliar a Qualidade de Vida é avaliar dimensões. Em 1996 a OMS considera que a Qualidade de Vida (das pessoas idosas) pode ser medida em termos de capacidade de manutenção do bem-estar físico, social e mental, sendo referido que este não pode deixar de reflectir as experiências e expectativas dos indivíduos face a níveis de autonomia no quotidiano. Dreher (2003), sob o ponto de vista da saúde, mostra que a Qualidade de Vida pode ser dividida em seis dimensões: física, emocional, social, profissional, intelectual e espiritual. Entendemos que para que sejam atingidos os padrões óptimos de Qualidade vida, as seis dimensões terão de corresponder a valores de satisfação iguais. Quererá isto dizer que, a consistência dos níveis de Qualidade de Vida urge pelo equilíbrio entre as seis dimensões, uma vez que, o equilíbrio na vida permite-nos um melhor controlo sobre as adversidades e contrariedades da vida. Podemos, consequentemente, associar bem-estar e saúde à maximização da Qualidade de Vida de qualquer indivíduo. É portanto, um conceito amplo, que, na nossa opinião fornece ao indivíduo os mecanismos para que o mesmo viva a vida como pretender, em que o expoente máximo será atingido quando o mesmo, através do equilíbrio, encontre o bem-estar em todos os aspectos e condicionantes da sua vida humana. Aproximamos, então, Qualidade de Vida a realização pessoal. Decorrente da análise anterior concluímos que a definição de qualidade de vida não é consensual dando azo a conceitos multifacetados que se revelam na sua subjectividade, complexidade e variadas dimensões. Avaliar a Qualidade de Vida de uma pessoa implica analisar factores intrínsecos e extrínsecos. A diversidade de definições não permite que seja possível chegar a um conceito único e universal. Dada essa impossibilidade, para o presente trabalho elegeu-se as directrizes do “WHOQOL GROUP”, formado pela OMS, nomeadamente pelo sector encarregue pela Saúde Mental. Com o objectivo de iniciar o projecto WHOQOL a OMS reuniu um conjunto de experts em qualidade de vida com a finalidade de propor um conceito que servisse de referência para o desenvolvimento de um instrumento capaz de avaliar e medir a mesma. A qualidade de vida foi então definida como “ a percepção do indivíduo da sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores aos quais ele vive e em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações” (WHOQOL GROUP, 1995). Para se chegar a esta definição algumas características foram Dissertação de Mestrado em Serviço Social 85 Qualidade de Vida dos Seniores consideradas como centrais. A primeira característica era a de que a Qualidade de Vida é subjectiva. A subjectividade pode estar presente em todo o processo de construção do conceito, assim como na mensuração dos resultados dos estudos. A segunda característica reporta-se ao constructo multidimensional do conceito que envolve no mínimo três dimensões: física, psicológica e social. Além destas dimensões foram acrescentadas outras como: o nível de independência, o meioambiente e a espiritualidade/religiosidade/crenças pessoais. A terceira característica é a de que a qualidade de vida inclui, tanto aspectos positivos, isto é, aqueles que deveriam estar presentes para conferir boa qualidade de vida (p.ex. mobilidade) como negativos, isto é, aqueles que deveriam estar ausentes para que uma boa qualidade de vida fosse atingida (p.ex. dor). (Fleck, 2006). Para a delimitação do conceito de Qualidade de Vida será necessário definir operacionalmente indicadores precisos recorrendo aos modelos percorridos historicamente numa tentativa de maior aproximação à realidade actual do que nas sociedades contemporâneas se defende e compreende o conceito de qualidade de vida bem como das suas dimensões constituintes. Indicadores, modelos e tipologia de Qualidade de Vida Comummente existem três indicadores referidos na generalidade das definições de Qualidade de Vida, indicadores económicos, indicadores sociais e indicadores subjectivos. Ruggeri et al (1999) explicam cada um deles. Os indicadores económicos partem do princípio de que um incremento da actividade económica (e dos rendimentos) se traduz num incremento de bem-estar. Todavia, a falta de uma relação directa e causal entre a prosperidade e o bem-estar parece indicar que estas medidas não são suficientes para descreverem a Qualidade de Vida, pelo que haverá que recorrer a outros indicadores de tipo não monetário. Assim, os indicadores sociais tentam completar os económicos reportando-se a aspectos demográficos, de estratificação social, ao desemprego, à escolaridade, à religião e à saúde. No entanto, o conjunto deste dois indicadores são em parte inadequados, uma vez que descrevem as condições de vida que hipoteticamente influenciam a experiência de vida, não avaliando directamente essa experiência em si mesma. Esta crítica elucida a percepção de vida de cada indivíduo, suas expectativas e posição perante a vida, ou seja, as pessoas podem estar insatisfeitas e infelizes não obstante terem melhorado as suas condições sócio-económicas e vice-versa. Desta feita Ruggeri et al (199) recorrem a Andrew e Whitey (1999) para introduzir os indicadores subjectivos face à insuficiente explicação que os indicadores objectivos Dissertação de Mestrado em Serviço Social 86 Qualidade de Vida dos Seniores (habitação, trabalho, rendimentos e relações interpessoais) apresentam perante a avaliação subjectiva do bem-estar. Aqui poder-se-ão encontrar variantes como a felicidade e satisfação relacionadas com o bem-estar. Todavia ainda não existe consenso entre os autores sobre a conceptualização das relações entre condições objectivas de vida e a sua percepção subjectiva, assim como, no que respeita aos factores que influenciam esta relação. Esse complexo conceito incorpora a saúde física, o estado psicológico, o nível de independência, os relacionamentos sociais, as crenças pessoas e o relacionamento entre as características proeminentes do ambiente. Isso denota que a Qualidade de Vida se refere a uma avaliação subjectiva, a qual inclui tanto as dimensões positivas como as negativas num contexto cultural, social e ambiental (Spilker, 1996). Tentaremos elucidar melhor o leitor ao referenciar os principais modelos conceptuais de Qualidade de Vida. Podemos encontrar como referência teórica: a) Modelo de Satisfação (Baker e Intagliata, 1982) que defende que a Qualidade de Vida é o produto de três variáveis, características pessoais, condições de vida objectivas em vários domínios e satisfação com a vida nestes domínios. b) Posteriormente surge o Modelo combinado Importância/Satisfação que valoriza não só a satisfação numa área de vida como a importância de que essa área de vida se reveste para a pessoa, pretende, desta forma, explicar por é que pessoas que vivem em condições completamente diversas exprimem o mesmo grau de satisfação (Becker et al., 1993). c) O modelo de Preenchimento de Necessidades baseia-se nas ideias de Maslow (1954) em que felicidade e satisfação estão relacionadas com as condições sociais e ambientais requeridas para o preenchimento de necessidades humanas básicas. Este modelo valoriza a interacção indivíduo-ambiente, realçando o facto de o indivíduo ter necessidades, sejam elas materiais, psicológicas (autonomia, auto-estima, realização pessoal), o ambiente fornece a oportunidade para as satisfazer. O grau pelo qual uma pessoa pode satisfazer as suas próprias necessidades depende da sua capacidade, da sua habilidade ou competência afectiva, cognitiva e comportamental, da sua acção face às solicitações postas pelos papéis sociais. Com este modelo aumentou a compreensão teórica da associação entre bem-estar e condições ambientais e generalizou-se as necessidades como universais e estáveis. d) O Modelo Dinâmico (Agermeyer e Kilian, 1996) que se debruça sobre a busca do nível de satisfação constante, apesar das mudanças ambientais. Defendem a manutenção da satisfação constante através de actividades cognitivas e conativas. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 87 Qualidade de Vida dos Seniores e) O Modelo Multidimensional (Kastsching e Angermeyer, 1997) ”orientado para a acção” é composto por dimensões psicológicas (uma vertente cognitiva (a satisfação) e outra afectiva (o bem-estar)) e sociológicas (o funcionamento psicossocial e as condições ambientais). O modelo prevê que qualquer dimensão possa influenciar as outras e que qualquer relação causal seja possível. A Qualidade de Vida é abordada segundo três perspectivas fundamentais: a Qualidade de Vida Geral (general quality of life), a Qualidade de Vida relacionada com a saúde (health – related quality of life) e a Qualidade de Vida relacionada com a doença (disease – specific quality of life) (Ribeiro, 1994a e Ruggeri et al, 1999). A Qualidade de Vida Geral é constituída por três dimensões: a do nível de funcionamento global, a dos recursos disponíveis para a obtenção dos seus próprios objectivos e a do sentido de bem-estar e satisfação. Esta última dimensão inclui numerosas áreas de vida, como por exemplo, a família, as relações sociais, o trabalho, a situação financeira e a habitação (Lenhman, 1995). A perspectiva global é aquela que mais directamente deriva dos estudos sobre a Qualidade de Vida das populações em geral. Tendo em consideração dimensões e áreas de vida que não são objecto de análise dos serviços de saúde. A Qualidade de Vida relacionada com a saúde é limitada à influência que a doença detém sobre a Qualidade de Vida. Nesta abordagem, estudam-se as áreas de vida ligadas à saúde quanto aos aspectos físico, psíquico e social. Esta aproximação, ainda que mais estreita do que a das Qualidade de Vida geral apresenta uma perspectiva que pode ser aplicada a muitas doenças, quer orgânicas quer psíquicas. A Qualidade de Vida especifica ligada à doença é centrada sobre o impacto que os sintomas de uma doença e os efeitos da terapia têm sobre a Qualidade de Vida. São muitas as divergências em volta da tipologia certa, contudo, não poder-seá dizer que alguma é a mais correcta ou que abarca todas as dimensões de avaliação de Qualidade de Vida. No entanto, a Qualidade de Vida geral, será aquela que abarca um maior número de dimensões e de mais fácil generalização. Associada às múltiplas definições de Qualidade de Vida e à falta de limites conceptuais assistiu-se a uma proliferação de instrumentos de avaliação, a maioria dos quais com filiação americana e posterior tradução e aplicação noutras culturas. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 88 Qualidade de Vida dos Seniores 3.1.2 Dimensões, domínios e instrumentos de medição do conceito de Qualidade de Vida A Qualidade de Vida enquanto conceito complexo está dividida por dimensões e domínios que facilitam a sua delimitação conceptual e operativa. Assim as dimensões representam a posição dos indivíduos face à sua vida, sendo um reflexo destas num dado momento temporal e espacial, enquanto que os domínios mostram as componentes do conceito passíveis de serem avaliadas e estudadas, não sendo, todavia, os mesmos em todas as análises. De acordo com Dauphinee e Kuchler (1992), a Qualidade de Vida envolve várias dimensões, das quais realçam, sobretudo, a referencial, a experiencial e a temporal. Neste modelo a Qualidade de Vida é determinada pelas experiências subjectivas e pelos factores objectivos destas dimensões. Assim, a dimensão referencial situa o indivíduo no contexto familiar, no grupo social e na organização cultural ou política. Estes factores influenciam a avaliação da Qualidade de Vida de cada pessoa, na medida em que, invariavelmente condicionam a relação do indivíduo com o meio envolvente. Por sua vez, na dimensão experiencial incluem-se o estado físico definido em termos de capacidade funcional e dos sintomas (devido à doença ou tratamento), as relações interpessoais com a família, os amigos e os técnicos de saúde, o domínio sócio-económico que abrange a situação financeira, o meio, os tempos livres, o rendimento no trabalho, a espiritualidade que engloba a fé religiosa, o sentido que se dá à existência e uma série de crenças motivadas pela moral. É na dimensão temporal que se introduz a ideia de que a Qualidade de Vida é uma junção das experiências passadas, da situação presente e dos objectivos e expectativas para o futuro. Estas dimensões interagem entre si e, no seu conjunto, oferecem uma imagem da Qualidade de Vida dos indivíduos num preciso momento. Noutro modelo, Fallowfield (1990) avalia a Qualidade de Vida em quatro domínios, associando a cada um deles vários itens que considera pertinentes para uma melhor compreensão dos mesmos. Assim o i) domínio psicológico direcciona-se para a depressão, a ansiedade, o ajustamento à doença, entre outros aspectos; ii) o domínio social, que compreende as actividades sociais e de tempos livres, argumentando que no caso das pessoas doentes, estas exprimirem, frequentemente, o medo de serem abandonadas pelos amigos e familiares e daí a necessidade de um apoio familiar estável aliado a uma capacidade de participar em actividades sociais que determinam uma boa Qualidade de Vida, bem como qualidade das relações Dissertação de Mestrado em Serviço Social 89 Qualidade de Vida dos Seniores sociais e sexuais. Neste caso, pode haver lugar para a ocorrência de problemas graves, traumas emocionais, de origem física ou psicológica, ao nível das relações sexuais, pelo que o doente e o seu companheiro necessitam de encontrar alternativas e ajuda para explorarem novas formas de expressar o amor, ternura e carinho. Sob pena de que, em caso de rejeição por parte do companheiro, tal produza um impacto devastador na Qualidade de Vida do indivíduo; iii) o domínio profissional, englobando a capacidade e a vontade de trabalhar, e a capacidade para cuidar das tarefas domésticas, entre outras. Grande parte da gratificação pessoal de cada indivíduo obtém-se pelo seu reconhecimento social e pelas interacções sociais produzidas no trabalho e pelo trabalho. É necessário que a pessoa se sinta enquadrada e goste de desempenhar o seu trabalho para que a Qualidade de Vida não seja prejudicada. As baixas ou reformas forçadas devido à doença podem ter consequências graves na auto-estima; iv) por fim, o domínio físico que compreende a dor, a mobilidade, o sono, o repouso, o apetite, a satisfação sexual e a felicidade. O modelo apresentado por Dauphinee e Kuchler (1992) está, a nosso ver, mais relacionado com as vivências quotidianas dos indivíduos e a forma como estes a interpretam e incorporam. Baseia-se na subjectividade dos acontecimentos e influências sociais sendo determinada pela forma objectiva através da qual os indivíduos sofrem influência da sua relação e posição perante as relações e vivências sociais e interpessoais. Ao passo que o modelo defendido por Fallowfield (1990) dirige-se a perspectivas disfuncionais encarando os factores de qualidade de vida no sentido em que na sua ausência ou disfuncionalidade de um determinado indicador este pode-se tornar um factor de crise. Podemos concluir que o número de dimensões e domínios considerados na Qualidade de Vida é variável, dependendo a sua escolha dos objectivos que se querem atingir num determinado trabalho, assim como acontece nos instrumentos de avaliação de Qualidade de Vida. Certamente que será longo o universo de instrumentos já construídos capazes de medir e avaliar a qualidade de vida. Todavia, dada a impossibilidade do conhecimento da totalidade, não será feita uma abordagem exaustiva dos instrumentos encontrados apenas serão referenciados os que foram ponderados para o presente estudo. O Medical Outcomes Study 36 Item Short-Form (SF-36) foi criado com a finalidade de ser um questionário genérico de avaliação de Qualidade de Vida relacionada à saúde, de fácil administração e compreensão. O SF-36 tem sido administrado com sucesso tanto à totalidade populacional referente a um dado momento ou espaço, como em específicos grupos de população, de características semelhantes. O SF-36 Foi derivado inicialmente de um questionário de avaliação de Dissertação de Mestrado em Serviço Social 90 Qualidade de Vida dos Seniores saúde formado por 149 itens, desenvolvido e testado em mais de 22 mil pacientes como parte de um estudo de avaliação de saúde, o Medical Outcomes Study (MOS) (Ciconelli, 1997; Ware et al., 1995). É composto por 36 itens que avaliam as seguintes dimensões: capacidade funcional (desempenho das actividades diárias, como capacidade de cuidar de si, vestir-se, tomar banho e subir escadas); aspectos físicos (impacto da saúde física no desempenho das actividades diárias e ou profissionais); dor (nível de dor e o impacto no desempenho das actividades diárias e ou profissionais); estado geral de saúde (percepção subjectiva do estado geral de saúde); vitalidade (percepção subjectiva do estado de saúde); aspectos sociais (reflexo da condição de saúde física nas actividades sociais); aspectos emocionais (reflexo das condições emocionais no desempenho das actividades diárias e ou profissionais) e saúde mental (escala de humor e bem-estar). Inicialmente, com o intuito de formular um questionário abrangente, mas não tão extenso, elaborou-se inicialmente um questionário com 18 itens, o qual avaliava a capacidade física, limitação devida à doença, saúde mental e percepção da saúde. Posteriormente dois itens foram adicionados para avaliação de aspectos sociais e dor, sendo então criado o Short-Form-20 (SF-20). O SF-20 foi administrado a cerca de 11 mil participantes dos estudos de avaliação de saúde (MOS). Esses resultados permitiram a análise das suas medidas psicométricas e também o desenvolvimento de normas preliminares para detectar diferenças no estado funcional e de bem-estar entre os pacientes com doenças crónicas e alterações psiquiátricas (Ciconelli, 1997). Este questionário, embora preencha muitos dos requisitos pretendidos para o nosso estudo direcciona-se, maioritariamente, para o estado de saúde e, pretende-se um instrumento capaz de abarcar outros indicadores relacionados com a Qualidade de Vida. Frisch (1994) define o constructo “bem-estar subjectivo/felicidade” (subjective well being hasppiness) por dois componentes: a) contentamento perante a vida (life satisfaction) e, b) afectos positivos e negativos. Os correlatos do bem-estar subjectivo decorrem em grande medida do juízo que cada um faz do seu contentamento perante a vida. A distância percebida entre o que a pessoa tem e o que gostaria de ter, naquelas áreas da sua vida que valoriza, determina o seu grau de contentamento perante a vida. A avaliação subjectiva que cada um faz da realização das necessidades, objectivos e aspirações pessoais traduz-se em contentamento perante a vida (life satisfaction) que, por sua vez, significa qualidade de vida. O Inventário da Qualidade de Vida (IQV) operacionaliza este modelo que contém duas escalas: Importância e Satisfação - cobre 16 áreas (a que podemos chamar de domínios), entre elas, saúde, auto-estima, objectivos e valores, dinheiro, trabalho, tempos livres, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 91 Qualidade de Vida dos Seniores aprender, criatividade, serviços voluntários, amor, amigos, filhos, família, casa, vizinhança e comunidade. A Importância refere-se à ponderação na felicidade global de cada uma das áreas, enquanto que, a Satisfação diz respeito ao grau de realização pessoal nessas mesmas áreas. É, sem dúvida, um instrumento muito abrangente, no entanto, parece-nos complicado por ter uma grande vertente subjectiva patente nos sentimentos envoltos como indicadores de qualidade de vida. Padronizar o contentamento perante a vida e sentimentos positivos e negativos tem um tanto ou pouco de ambiguidade não nos parecendo correcto qualificar a qualidade de vida dos indivíduos tendo por base somente indicadores deste tipo. Um outro modelo de avaliação de Qualidade de Vida denomina-se de EASYcare. Este é um sistema utilizado para proceder a uma avaliação rápida do bemestar físico, mental e social da pessoa idosa (75 anos ou mais), proporcionando uma descrição global das suas necessidades. Este modelo, focaliza-se na Qualidade de Vida (e não na doença), reconhecendo o papel importante dos familiares que cuidam do idoso. Caracteriza-se por abarcar, numa só escala, itens relativos às várias dimensões da Qualidade de Vida e bem-estar do idoso. Tem sido desenvolvido com o intuito de ajudar os profissionais de cuidados primários a melhorarem os apoios que podem proporcionar às pessoas idosas. Os dados obtidos por este instrumento podem ser utilizados para avaliar diversos problemas da população, tais como, necessidades e objectivos que auxiliemos serviços sanitários, a gestão dos serviços, a distribuição de recursos, a pesquisa e formulação de políticas a implementar (Sousa e Figueiredo, 2000). Contudo este não foi o instrumento utilizado no presente trabalho. É recomendado nas seguintes circunstâncias: contacto inicial entre a pessoa idosa e os serviços sociais de saúde; alteração de saúde física ou mental; alteração das circunstâncias sociais; como parte de um processo de rastreio; para monitorizar os resultados dos cuidados prestados; como parte integrante de investigações acerca do bem-estar físico, mental ou social da pessoa idosa e/ou como elemento da avaliação da pessoa idosa aquando do seu encaminhamento para determinado serviço de apoio/saúde. Embora se direccione para a população idosa, não se revela no melhor instrumento para que os objectivos deste trabalho sejam atingidos. Em primeiro lugar, no EASYcare é considerada população idosa as pessoas que tenham 75 ou mais anos, o que não corresponde com a nossa amostra e depois focaliza-se muito nos técnicos que prestam cuidados e a nossa amostra é constituída por pessoas não institucionalizadas. Está recomendado o uso deste questionário no âmbito de um processo de avaliação entre profissional e idoso, tendo, deste modo, subjacente a Dissertação de Mestrado em Serviço Social 92 Qualidade de Vida dos Seniores existência de ligação a alguma instituição. Todavia, revela-se num óptimo instrumento dentro dos seus propósitos, uma vez que, avalia capacidades (ser capaz de …) e não competência (saber-fazer), isto é, pretende saber-se se o idoso é capaz de ir às compras e não se vai às compras (Sousa e Figueiredo, 2000). A ausência de um instrumento que avaliasse Qualidade de Vida dentro de uma perspectiva genuinamente internacional fez com que, na década de 90, a OMS criasse um grupo com representantes de diferentes regiões do mundo (Grupo WHOQOL – World Health Organization Quality of Life Group). Este grupo teve inicialmente a finalidade de trabalhar no refinamento do conceito Qualidade de Vida para, a seguir, desenvolver um instrumento capaz de medi-la. O projecto foi desenvolvido com a colaboração de quinze centros que trabalharam simultaneamente em diversos países de diferentes culturas. O trabalho desenvolvido deu origem a um questionário composto por cem itens (WHOQOL-100) em que o reconhecimento da multidimensionalidade do constructo reflectiu-se na estrutura de uma avaliação da Qualidade de Vida de acordo com seis domínios (WHOQOL-100): o domínio físico (que engloba as facetas dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso), o domínio psicológico (que avalia a predominância de sentimentos positivos, o pensar, o aprender, a memória e concentração, a auto-estima, a imagem corporal e aparência e, ainda os sentimentos negativos), o domínio de independência (que compreende as facetas como a mobilidade, as actividades quotidianas, a dependência de medicação ou de tratamentos e a capacidade de trabalho), o domínio das relações sociais (este aborda a intensidade das relações pessoais, suporte (apoio) social e a actividade sexual), o domínio referente ao meio ambiente (as facetas aqui abordadas passam pela segurança física e a protecção, o ambiente no lar, os recursos financeiros, os cuidados de saúde, as novas informações e habilidades, a recreação e lazer, o ambiente físico e o transporte), o domínio da espiritualidade/religião/crenças pessoais encerra os domínios em estudo (este a avalia a incidência da espiritualidade, da religião e crenças pessoais). A necessidade de instrumentos curtos que demandem pouco tempo para o seu preenchimento, mas com características psicométricas satisfatórias, fez com que o Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolvesse uma versão abreviada do WHOQOL-100, o WHOQOL-Bref. O WHOQOL-Bref consta de vinte e seis questões, sendo duas questões gerais e as demais vinte e quatro representam cada uma das vinte e quatro facetas que compõem o original, WHOQOL-100. Assim a versão abreviada é composta por apenas quatro dos seis domínios, entre eles, o físico, o psicológico, as relações sociais e o meio ambiente. Diferente do WHOQOL-100 em que cada uma das vinte e quatro facetas é avaliada a partir de quatro questões, no Dissertação de Mestrado em Serviço Social 93 Qualidade de Vida dos Seniores WHOQOL-Bref é avaliada por apenas uma questão. Os dados que deram origem à versão abreviada foram extraídos do teste de campo de vinte centros em dezoito países diferentes. O critério de selecção das questões foi tanto psicométrico como conceptual. No nível conceptual, foi definido pelo Grupo de Qualidade de Vida da OMS de que o carácter abrangente do Instrumento deveria ser preservado. Assim, cada uma das vinte e quatro facetas que compõe o instrumento original (WHOQOL-100) deveria ser representada por uma questão. No nível psicométrico, foi então seleccionada a questão que mais altamente se correlacionasse com o score total, calculado pela média de todas as facetas. Após esta etapa, os itens seleccionados foram examinados por um painel de experts para estabelecer se representavam conceptualmente cada domínio de onde as facetas provinham. Dos vinte e quatro itens seleccionados, seis foram substituídos por questões que definissem melhor a faceta correspondente. Três itens do domínio meio-ambiente foram substituídos por serem muito correlacionados com o domínio Psicológico. Os outros três domínios foram substituídos por explicarem melhor a faceta em questão. A Qualidade de Vida é um conceito associado ao WHOQOL. Através das instituições portuguesas promotoras da sua validação e tradução para português de Portugal [OMS, Faculdades de Psicologia e Ciências da Educação (FPCE) e Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de Coimbra] têm sido feitos vários projectos e estudos levados a cabo por uma vasta equipa. Portugal está representado pelos coordenadores Adriano Vaz Serra, o professor catedrático da FM e a Maria Cristina Canavarro professora auxiliar da FPCE. A escolha do WHOQOL-Bref para o presente trabalho fundamentou-se no facto da sua disponibilidade em língua portuguesa e nos indicadores abrangentes que o mesmo comporta, possibilitando a análise de dimensões diversificadas da vida do individuo, por outro lado o questionário WHOQOL é utilizado em estudos de investigação recentes como um instrumento para avaliar a Qualidade de Vida de indivíduos em relação a um grande número de temas. Por estes motivos consideramos que o WHOQOL-BREF reúne as condições que vão ao encontro dos objectivos deste estudo. No capítulo quinto serão explicadas as dimensões inerente ao WHOQOL-Bref, assim como a sua validação enquanto instrumento. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 94 Qualidade de Vida dos Seniores 3.2 Envelhecer com qualidade de vida Abordaremos de seguida as questões que, a nosso ver, nos podem conduzir a envelhecer com qualidade. Perceber os efeitos da longevidade, aceitá-la e saber viver com ela, parece-nos os pilares fundamentais para atingir os padrões mínimos e aceitáveis de Qualidade de Vida. A evolução da longevidade começou sem que nós tivéssemos a verdadeira consciência dela. Quando nos apercebemos, o avô já tinha 80 anos e o seu pai teria tido uma vida bem mais curta que a sua. Quando paramos para pensar, estávamos já perante um fenómeno acentuado e sem retorno à vista. De facto, a esperança média de vida teria aumentado. Os avanços notáveis da ciência e da medicina contribuíram em muito para esta situação. Foram encontradas soluções para doenças sem cura, os estilos de vida alteraram-se, passou a haver um maior cuidado com a alimentação, houve uma crescente preocupação com a imagem, entre outros avanços contribuíram para uma longevidade cada vez mais alargada. Podemos encarar este prolongamento da vida associado a uma maior vitalidade dos que por ela passam. Para muitos políticos, um mal necessário, pois serão os nossos eternos avós os maiores consumidores das receitas estatais, porém, não serão certamente os responsáveis pela crise económica a que temos assistido em Portugal nos últimos anos. Antes disso, numa opinião muito pessoal, o Estado deveria olhar bem lá para baixo da pirâmide etária e descobrir medidas de incentivo à natalidade para que se equilibrem as diferentes faixas etárias. Envelhecer com qualidade é, então um objectivo no horizonte dos que da velhice se aproximam. Todavia, sabemos que é o grupo dos seniores que menores rendimentos têm. Trabalham toda uma vida e na hora do descanso vêm-se confrontados com uma reforma que, em pouco ou nada, lhes serve para orientar o seu governo do dia-a-dia. Assim, “a população idosa é genericamente um grupo social onde se faz sentir, de forma gravosa, a incidência da pobreza” (Pereirinha, 2001:20). Pereirinha et al. (1999) realizaram, neste contexto, um inquérito dirigido a um painel de actores sócio-institucionais sobre a percepção da pobreza e exclusão social em cinco distritos do país, em 1997, que permitiu concluir que o grupo dos idosos é maioritariamente considerado pelos actores sociais como um dos mais atingidos pelo fenómeno da pobreza (Pereirinha, 2001). Estes resultados devastadores para os seniores encontram explicação nas baixas pensões que auferem. O autor (Ibidem, 2001:21) acrescenta, “níveis insuficientes de rendimento traduzem-se, naturalmente, em condições de vida abaixo do que pode ser considerado desejável, como norma, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 95 Qualidade de Vida dos Seniores para a população. Numa sociedade em que é através do recurso ao mercado que uma parte significativa das necessidades fundamentais é satisfeita, o rendimento condiciona a realização de alguns direitos fundamentais, criando situações de privação.” Para finalizar esta reflexão, o autor deixa algumas orientações que, importa aqui realçar, nomeadamente a necessidade de redefinição e alargamento dos direitos fundamentais de cidadania e uma melhor e maior coordenação de políticas sectoriais e da actuação de vários actores sociais (públicos e privados). Este trajecto conduz ao entendimento entre cidadãos e comunidade que se dirige para a plena consagração dos direitos22. Pegando na ideia de Guimarães (2001), perceber que a velhice é uma trajectória de vida, faz-nos pensar nas tendências antecipando o futuro, para que, as políticas sociais sejam eficientemente definidas e aplicadas. Concorda-se com a necessidade de uma diferenciação positiva até à igualdade do cumprimento dos direitos das diferentes faixas etárias. “Urge sensibilizar os cidadãos para as perspectivas da sua própria longevidade, alertando-os para a conveniência de delinearem, tanto quanto possível, o seu envelhecimento, fazendo opções claras em áreas como a protecção social complementar, a actividade pós-reforma, a adaptação das habitações e espaços circundantes, a prática associativa e cívica e a protecção na eventualidade de uma situação de dependência ou de incapacidade” (Ibidem, 2001:30). Certamente, terão de ser os próprios, aqueles que a velhice vive, a reorganizar os seus padrões de vida, de acordo, não só com a sua vitalidade e autonomia, mas também tendo em conta os seus recursos económicos. Para que padrões óptimos de qualidade de vida sejam alcançados pelos seniores Fontaine (2000) associa a conjunção de três condições. A primeira refere-se à probabilidade (reduzida) de doenças e especialmente das que causam perda de autonomia e conduzem à dependência de terceiros. Outra condição prende-se com a manutenção de um nível elevado de funcionalidade das capacidades cognitivas e físicas. Por ultimo, é referida a conservação da participação social e de um bem-estar subjectivo. Por outras palavras, em primeiro lugar a saúde pois sem ela ou com falta dela, menos esperança de vida nos aguarda. Uma vez com saúde, os indivíduos recebem forte influência do meio envolvente, tanto quanto maior for a sua participação e empenhamento social. Para completar esta tríade de envelhecimento óptimo, terá de existir patentemente em cada um a preocupação da manutenção das faculdades 22 Marshall (1950) considera que a cidadania é um status adstrito à condição do pleno membro de uma comunidade e quem o tiver goza de igualdade a nível dos direitos e deveres associados (direitos civis, políticos e sociais). Dissertação de Mestrado em Serviço Social 96 Qualidade de Vida dos Seniores cognitivas, tais como, inteligência, memória, linguagem, capacidade de resolução de problemas, criatividade e pensamento. Que, por estimulação, não se reduzem. Investigações recentes têm direccionado a sua atenção para provar que as relações existentes entre a idade, a hereditariedade, os estilos de vida e os riscos de doenças devem ser concebidos de forma dinâmica e não mecânica. De entre as conclusões apuradas, Fontaine (2000:150) defende poder-se afirmas que “antes dos 65 anos os riscos são determinados sobretudo pela hereditariedade, ao passo que após os 65 anos eles aprecem estar sobretudo ligados ao estilo de vida”. Sendo certo que, todo e qualquer processo de crescimento, maturação e envelhecimento é fortemente influenciado pelas forças do meio envolvente, foge da alçada de cada indivíduo o controlo a esta inerente influência. Por seu turno, aspectos como a cultura, o ambiente físico e espaço temporal condicionam o desenvolvimento humano. Porém, não podemos referir apenas estas influências inquantificáveis. Individualmente cada indivíduo foi construindo o seu projecto de vida e percurso a seguir, baseando-se aos seus acontecimentos auto-biográficos. Fontaine (2000) denomina-os de influências não normativas. Alguns destes acontecimentos encontram-se sob o controlo dos indivíduos, ao que os filósofos chamam de “livre arbítrio”. Podemos enumerar o casamento, a constituição da família ou a escolha da profissão. Todavia, nem todos os acontecimentos se encontram sob a nossa alçada e os quais não podemos prever, caracteristicamente dolorosos, podemos enumerar, a morte dos entes próximos, o desemprego ou a solidão. Não será correcto afirmar que as influências não normativas serão as únicas que comportam uma individualidade e especificidade. No entanto, são a nosso ver, de real importância na proporção da responsabilidade individual que a caracteriza. “O envelhecimento surge então como um processo de individualização e personalização” (Ibidem, 2000:149). “No entanto, envelhecer com qualidade não depende só do conjunto das medidas de política especificas para o último período da existência, mas é também largamente condicionado pelas políticas conducentes à garantia da qualidade ao longo de todo o percurso de vida dos indivíduos” (Cadete, 20001:24). Ou seja, a permanência ou evolução num dado patamar de Qualidade de Vida, depende também e, em grande parte, do percurso antecedente à velhice. A qualificação profissional, os rendimentos, condições habitacionais, o modo de encarar a vida, a espiritualidade, a rede se suporte, entre outros, constituem-se em pilares fundamentais para uma maior participação social o que contribui para uma longevidade mais alargada. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 97 Qualidade de Vida dos Seniores A Fundação McArthur desenvolve investigações em torno de aspectos que proporcionem uma velhice bem sucedida. Assim, chegam ao consenso de que ao nível da cognição, o grau de escolaridade será o melhor factor enquanto impulsionador de uma velhice bem sucedida. Factores como a expiração pulmonar, aumento da actividade física e personalidade revelam-se noutras predições. Fazendo um apanhado percebemos que o sucesso depende a predisposição pessoal e autoconfiança. Por outras palavras, o alcance de uma velhice bem sucedida depende da capacidade individual de organizar e executar acções necessárias de acordo com as necessidades da vida diária. “Neste contexto, envelhecer com qualidade aparece como resultado de um processo de não ruptura da inserção dos indivíduos numa organização social capaz de responder às suas necessidades especificas quer elas decorram das situações com que se podem debater no seu envelhecimento normal ou no seu envelhecer com episódios de desequilíbrio de saúde física e/ou mental” (Ibidem, 2001:25). Nesta perspectiva, quanto maior o conhecimento sobre questões directamente relacionadas com os destinatários, metodologia e áreas abrangentes, mais facilmente se implementam medidas favoráveis ao melhor envelhecimento enquanto fénomeno individual e societário. A participação na sociedade define-se como motor de integração social e conduz mesmo a óptimos padrões de qualidade de vida. Por um lado, são fortalecidas as relações sociais e de amizade e por outro, o desenvolvimento e participação em actividades de lazer produtivas que, em larga medida, conduz à satisfação pessoal desenvolvendo em cada um maiores níveis de autoconfiança. No entanto, a participação será fruto da análise da relação entre profissional e utente que terá lugar no próximo capítulo. Envelhecer com qualidade constitui-se, assim, num objectivo difuso e subjectivo, que se constrói ao longo da vida. Difuso e subjectivo devido ao facto da sua multidimensionalidade. Num futuro próximo, em 2025, prevê-se de acordo com a IV Conferência da Internacional Association of Homs and Services for the Ageing, em Junho de 2001 no Canadá que, como relata Cadete (2001:28) “as mudanças a correr nos contextos social, político, cultural, económico, científico e tecnológico terão impacto nas questões do envelhecimento, podendo levar a novos comportamentos e intervenções, prevendo-se nomeadamente que: A) As pessoas idosas dominarão o computador e a internet, o que lhes permitirá estar em contacto directo com o mundo, mais informadas e trocar informações com outras pessoas, onde quer que estas se encontrem. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 98 Qualidade de Vida dos Seniores B) As pessoas idosas constituirão partidos e terão assento nos parlamentos, com papel activo na tomada de decisões, em particular nas que lhe digam respeito. C) O conhecimento mais avançado do genoma23 permitirá uma intervenção mais precoce correcta, no plano da saúde, com efeitos benéficos numa longevidade saudável. D) A educação irá processar-se ao longo da vida e o acesso das pessoas idosas a universidades e outras estruturas de educação será uma prática corrente. E) As respostas de apoio poderão ser de utilização intergeracional, integrando habitação e serviços, podendo estes serem utilizados no domicílio ou em instituição.” Este cenário é a optimização da modernidade que brevemente atingirá os seniores na sua generalidade. É certo que alguns destes pontos são já visíveis, contudo, ainda não podemos generalizá-los. Num futuro próximo estamos também confiantes da massificação desta tecnologia. Podemos concluir que todo e qualquer processo relacionado com o envelhecimento é heterogéneo, na medida em que, e partindo do pressuposto aqui relatado, a velhice é vivida individualmente sendo cada indivíduo o verdadeiro responsável pela sua qualidade de vida. Não podemos falar da velhice sob uma abordagem global, como também já constatamos que não podemos abordar o sénior enquanto pertencente a um grupo caracteristicamente homogéneo. Alcançar o patamar de uma boa qualidade de vida na velhice é, assim, um percurso individual, no entanto, influenciado pelo percurso de vida de cada indivíduo. Contudo podemos deixar aqui os aspectos que poderão auxiliar qualquer indivíduo a gozar de qualidade de vida, nomeadamente, a manutenção de boa saúde, manutenção de estímulos aos nível cognitivos e físicos e, muito importante também, o envolvimento social por intermédio de uma participação activa na sua comunidade. 23 O genoma é o código genético humano, é toda a informação hereditária de um organismo que está codificada no Adn. Isto inclui tanto os genes como as sequências não-codificadoras. Em termos genéricos é o conjunto dos genes humanos. Neste material genético está contida toda a informação para a construção e funcionamento do organismo humano. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 99 Qualidade de Vida dos Seniores 3.2.1 Viver mais e melhor: envelhecer bem é possível Neste ponto ficará a saber que cuidados ter para bem envelhecer. Viver mais é hoje uma realidade, cabendo a cada um aproveitar estes anos de bónus da melhor forma. “O desafio dos nossos dias não é aceder à imortalidade, mas conseguir a longevidade” (Rosnay, et al., 2006:42). Será este o percurso, até à longevidade, o caminho da curiosidade. “Felizmente, alguns idosos começam a perceber que não podem mais viver como antigamente e estão ficando mais activos, lúcidos e participantes; vêem que a sua idade é um momento privilegiado para a realização pessoal e estão prontos para viver um dos momentos mais felizes das suas vidas; já se preocupam em redefinir e ocupar espaços e, principalmente, estão acreditando que eles próprios são os responsáveis por sua vida e sua felicidade” (Filho e Sarmiento, 2004:44). Esta será a consciência que todos deveriam desenvolver. Dever-se-á pensar no período da reforma como oportunidade de realização e concretização de sonhos e desejos vencidos pela escassez do tempo que outrora terão vivido. Eis chegada a reforma e o consequente tempo livre. Gerir este tempo livre consiste no maior desafio no período pós-reforma. Entendemos tempo livre como o espaço de tempo em que as pessoas nada têm a fazer, caberá às mesmas fazer ou não alguma coisa. Caracteriza-se pelo período de tempo do nada. Uma boa gestão e aproveitamento do tempo livre conduzem impreterivelmente à auto-realização. Este é um tempo de ouro, que cabe a cada indivíduo decidir o que quer fazer da sua vida sem o acumular de outras responsabilidades que outrora havia se preocupado. A esta “nova velhice” associa-se a vitalidade e melhores estados de saúde. Assim a “nova velhice” não se caracteriza unicamente pelo prolongamento da vida mas também pela maior vitalidade potencializada pelos padrões de melhoria de estilos e qualidade de vida. Em cada fase do desenvolvimento humano, houve espaço para a construção da nossa identidade. O tempo da educação por via do ensino, da actividade laboral, da construção da família etc., em tempo de velhice cabe a cada um redefinir não só os papéis sociais e familiares mas também culturais. Perante esta libertação de obrigações taxativas seremos, nesta fase, mais que nunca adeptos da liberdade e individualidade. Auto-realização, ocupação, distracção, entretenimento, aprendizagem, convívio são conceitos que incentivam a auto-estima, o bem-estar e a qualidade de vida. Estes são os segredos para um envelhecimento não só saudável mas também activo. Realizar uma tarefa, adquirir e partilhar conhecimentos são alguns exemplos de Dissertação de Mestrado em Serviço Social 100 Qualidade de Vida dos Seniores realizações que favorecem sentimentos de auto-estima e integração social. Quanto mais activa for a participação na sociedade, pelo envelhecimento activo, mais facilmente será desenvolvido nas pessoas o sentimento de pertença à comunidade. Não se impinge a ninguém a participação no maior número de actividades sejam elas de que cariz forem, o segredo está no aproveitamento que se tira de cada gesto. “O envelhecimento bem-sucedido parece ser aquele em que a pessoa, em estado constante de experimentação, continua a inventar novas formas de viver e de estar no mundo, a fazer escolhas e a ocupar o seu lugar na família e na comunidade” (Filho e Sarmiento, 2004:46). Será este o cenário pretendido. Rosnay, et al. (2006:22) reforçam a ideia ao afirmar que “(…) estar activo, intelectual e fisicamente, combate o envelhecimento.” São dados exemplos como ler um livro, tocar piano, conduzir um carro, navegar na Internet como actividades que permitem ao nosso cérebro se organizar permanentemente. Para a plena inserção social, ou melhor, sentimento de pertença existem algumas preocupações que todos devemos ter. Sendo assim, cabe-nos enumerar alguns elementos-chave para nos sentirmos bem connosco próprios: nunca esquecer que temos uma identidade (somos uno), manter sempre acesa a esperança (seja em que sentido for), ter controlo sobre a sua vida (poder de decisão), ter uma boa imagem de si e do seu valor, ultrapassar sentimentos negativos (impotência, solidão), reavaliar o seu papel e das pessoas mais próximas (auto-estima e pessoas significativas), alargar a rede de suporte (e relações sociais), estabelecer um horário de vida e de actividades quotidianas (estabelecer horários e actividades para ocupar tempos livres) e implicar a familiar e pessoas próximas (não se afastando e promovendo o convívio) (baseado em Mailloux-Poirier, 1995). Referirmo-nos a sentimento de pertença em relação à sociedade abolindo o termo “inserção social” por considerarmos que ninguém é excluído por não ter uma actividade profissional e/ou possuir reforma. A novidade é o estatuto de sénior, socialmente atribuído, ao qual se tem de aprender a pertencer. Segundo Quaresma (2001:4) podemos entender qualidade de vida / envelhecimento com qualidade como o conjunto das condições favoráveis ao melhor nível de autonomia, capacidade de desenvolvimento de um projecto nesta etapa da vida, vida com mais anos e também com expectativas e exigências de desenvolvimento pessoal. (…) A OMS em 1996 considerou a Qualidade de Vida das pessoas idosas como a ser medida em termos de capacidade de manutenção do bemestar físico, social e mental, sendo referido que este não pode deixar de reflectir as experiências e expectativas dos indivíduos face a níveis de autonomia no quotidiano. Enaltecendo a ideia de auto-sustentabilidade em que o desenvolvimento pessoal depende da responsabilidade de cada um, a autora realça a importância das Dissertação de Mestrado em Serviço Social 101 Qualidade de Vida dos Seniores aspirações que se pretende atingir. Em prol da manutenção da autonomia deverão ser estimulados todos os sentidos das pessoas enquanto seres biopsicossociais, físico, social e mental. Falar de qualidade de vida ao envelhecer não se prende unicamente à velhice. Todos os dias todas as pessoas envelhecem. Esta abordagem pontual é de interesse geral. Veremos que atitudes seguir para auto-promovermos o bem-estar e Qualidade de Vida. “Podemos controlar a nossa maneira de viver, a nossa alimentação, a manutenção do nosso corpo, o nosso sono, a nossa resistência ao stress” (Rosnay, et al., 2006:42). Analisaremos cada um dos conselhos que os autores nos deixam. Ter prazer de viver e dar sentido à vida são os chavões da longevidade. A arte de viver é, nesta altura, o intermediário entre a longevidade e a mortalidade. Não sobreviva, viva! Esta é uma responsabilidade não só de cada ser humano que tem o privilégio de viver a velhice mas também, e com grande relevância, da sociedade civil. Caberá a cada um de nós perceber um pouco mais sobre o que é o envelhecimento e como se processa toda esta fase do desenvolvimento. Pois como uma maior consciencialização, os mitos associados poderão ser fortemente atenuados. Por seu turno, sensibilizar o governo para que as políticas sejam fortemente adequadas aos seniores, para que novos caminhos se tracem nesta era que, cada vez mais, pertence à classe dos seniores. Serão eles, num futuro próximo a maior massa representativa da população. O papel dos técnicos que rodeiam os seniores, médicos, enfermeiros, técnicos das câmaras municipais, de juntas de freguesias, de instituições que prestam qualquer tipo de cuidados revela-se de real importância no que se refere à igualdade de oportunidades. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 102 Qualidade de Vida dos Seniores 4. A prática profissional do Assistente Social na promoção da Qualidade de Vida dos seniores Neste capítulo iremos debater as questões relacionadas com as práticas profissionais subjacentes à intervenção do Serviço Social. O Serviço Social enquanto profissão devidamente regulamentada, visa a mudança da sociedade, particularmente no que diz respeito às pessoas que sofrem as consequências de quaisquer formas de exclusão e injustiça social, devido a pobreza, desemprego, doença, violação dos direitos humanos, etc. Os assistentes sociais trabalham na promoção de uma melhor adaptação dos indivíduos, famílias e outros grupos ao meio social em que vivem, auxiliando-os na solução dos seus problemas (familiares, económicos, etc.). Ideia partilhada por Faleiros que defende “O Serviço Social actua numa correlação particular de forças, sob a forma institucionalizada, na medição fragilização-exclusão/ fortalecimento/ inserção social, vinculada ao processo global de reproduzir-se e representar-se dos sujeitos em suas trajectórias/estratégias” (Faleiros, 1997:49). Os profissionais assumem, assim o papel de pilar para capacitar as pessoas para a tomada de decisões e consciência dos/para os seus problemas. A intervenção prática da profissão implica uma relação dual entre profissional e utente. O profissionalismo dos técnicos que, directa ou indirectamente, trabalham com e para os seniores, repercute-se em todas as suas linhas de acção. Ter espírito de iniciativa, capacidade para dialogar com todo o tipo de pessoas e gosto pelo trabalho em equipa são qualidades igualmente importantes. Fundamental é também gostar de trabalhar com pessoas, ter um interesse real pelos seus problemas e respeito pela autonomia e liberdade de cada um. Adiante explicamos os modos através dos quais se desenvolve esta relação e em que medida o Assistente Social pode contribuir para a promoção da qualidade de vida dos seniores. Tendo a consciência de que no actual contexto de longevidade crescente, deve introduzir-se uma flexibilidade maior nos processos de transição que têm lugar ao longo da vida entre a educação, o trabalho e a reforma, a fim de que cada pessoa possa tomar as suas próprias decisões em matéria de situação familiar, económica e social. E porque, o estudo levado a cabo, tem como campo de análise o concelho de Portimão veremos ainda, neste capítulo, como territorialmente são implantadas e operacionalizadas as respostas sociais que respondem a todo um conjunto de vulnerabilidades associadas à realidade do concelho. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 103 Qualidade de Vida dos Seniores 4.1 – Práticas profissionais A prática profissional do Serviço Social institucionaliza-se como resposta de enfrentamento à questão social. A emergência do Serviço Social tem origem no progresso industrial e na expansão urbana que agudizam as tensões sociais em relação ao crescimento de vulnerabilidades como a pobreza, desemprego e degradação das condições de vida da classe trabalhadora. Perante a ameaça à ordem e estabilidade social surge a emergência em delinear novas formas de enfrentamento da questão social. A partir daqui, é assumida a necessidade de trabalho especializado representado por Assistentes Sociais que focam a sua acção nos problemas e necessidades sociais derivados do aprofundamento do capitalismo (Iamamoto, 1986). A “questão social” é aqui entendida como o conjunto das expressões de desigualdade social, económica e/ou cultural, que se repercutem em problemas da sociedade capitalista enquanto resultado da dicotomia capital vs trabalho. Estávamos em 1910, aquando da implantação da República, quando surgem as primeiras medidas de resposta à “questão social”. Foram criados os seguros sociais obrigatórios, as leis sobre o arrendamento urbano, acidentes e foram regulamentados os horários de trabalho e o reconhecimento de alguns direitos (associação, greve, ensino gratuito e neutro e direito à assistência) (Negreiros, 1999). Por esta altura, o Serviço Social era visto como “uma forma laica de prestar assistência” (Ibidem, 1999:46). Mais tarde, em período de 2ª Guerra Mundial conhecem-se lutas contra o aumento do custo de vida e contra os efeitos da guerra. Os Assistentes Sociais são chamados a intervir, integrando-se nos principais serviços públicos. A par da implementação de uma prática profissional devidamente reconhecida findam-se actividades caritativas e filantrópicas, pelo menos, directamente associadas aos profissionais (cenário veiculado à I República). A partir dos anos 60 assiste-se ao movimento de reconceptualização que procura incessantemente, até aos dias de hoje, um modelo teórico-prático unificado para o Serviço Social. Facto que tem gerado muita controvérsia nas opiniões dos teóricos da profissão. As questões sociais tipificam-se em Políticas Sociais e, por sua vez, o papel do Assistente Social consiste em executá-las. O Estado levando a cabo a sua “(…) intervenção ao nível das políticas públicas vai interferir com o mercado de trabalho profissional de forma significativa (…)” (Negreiros, 1999:39). Neste caminho, a intervenção do Estado na sociedade de forma a enfrentar a questão social, abre as portas ao reconhecimento, contratação e implementação da prática profissional. O Estado “está no cerne desse enfrentamento, pois historicamente o assistente social se Dissertação de Mestrado em Serviço Social 104 Qualidade de Vida dos Seniores insere na sociedade como funcionário do Estado, chamado a viabilizar diferentes políticas sociais, para actuar com questões específicas: questão agrária, habitação, saúde, educação,” etc. (Iamamoto, 1987:52). Assim, a profissionalização do Serviço Social tem a sua base nas modalidades através das quais o Estado enfrenta as questões sociais, convivendo os seus profissionais as mais amplas expressões da questão social, matéria-prima do seu trabalho. Negreiros (1999), salienta a proliferação das políticas sociais na década de 80. Ao nível das autarquias foi criado o Poder Local que define novas competências na esfera social que conduz a um novo campo de intervenção e, por seu turno, foi implementada a descentralização do Sistema de Segurança Social ao serem criados os Centros Regionais de Segurança Social. A realidade está em constante movimento, o tempo vai passando e a realidade transforma-se. O mesmo acontece com as questões sociais que norteiam a nossa prática profissional. “Daí a necessidade de uma constante adaptação à evolução das diversas formas de sociedade e de nela intervir. Isto implica que a prática profissional precisa ser constantemente redefinida e que o assistente social (para que essas respostas às questões tenham um carácter transformador) tenha conhecimento da realidade em sua totalidade, integrando suas várias dimensões: o jogo de poder entre as classes, as lutas de classes. As condições de vida dos sectores populares, as diversas organizações da população, o conhecimento das leis que regem os movimentos sociais, etc.” (Buriolla, 1995:90). O profissional enfrenta problemas que, prendem-se não só, com a busca de mecanismos de resolução de situações-problema mas também, na interpretação dos processos que integram o económico, o politico, o cultural e o ideológico (Monteiro, Rodrigues e Nunes, 1991). As autoras explicam aqui a multidimensionalidade associada a cada problema social, a cada caso social. As vulnerabilidades dos indivíduos, por vezes, são de tal dimensão que abarcam todo o conjunto de condicionantes que poderão influenciar situações indesejáveis. Cabe, então explicar que o Serviço Social se desenvolve em cinco contextos diferentes24, os quais, apesar de poderem ser analisados separadamente, constituem partes de um todo. Esses contextos são de carácter geográfico, político, sócioeconómico, cultural e espiritual: (a) Geográfico: toda a actividade se desenvolve dentro de determinadas fronteiras: organismo, nação, Estado, região. 24 Em Direitos Humanos e Serviço Social. Manual para Escolas e profissionais de Serviço Social. ONU. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 105 Qualidade de Vida dos Seniores (b) Político: Cada país tem um determinado sistema político. Este define o contexto dentro do qual a actividade se desenvolve, quer o sistema seja liberal ou repressivo, socialista, social-democrata ou capitalista. (c) Socio-económico: um modo de vida adequado, trabalho, saúde e serviços médicos apropriados, educação e, se possível, acesso à segurança social e a serviços sociais são aspirações humanas elementares. A coesão social de qualquer grupo ou nação depende, em larga medida, de uma distribuição equitativa dos recursos disponíveis. (d) Cultural: os usos, crenças, aspirações e cultura dos indivíduos, das famílias, dos grupos, das comunidades e das nações têm de ser respeitadas, embora sem prejuízo da evolução de determinadas práticas e crenças. Doutro modo, ocorrerão actos discriminatórios, destrutivos para a sociedade. (e) Espiritual: nenhuma sociedade no seio da qual se desenvolve Serviço Social é destituída de valores. É de importância central, quer para o desenvolvimento do Serviço Social, quer para desempenho humano, que seja prestada atenção ao espírito, valores, filosofias e ética, bem como às esperanças e ideais daqueles com quem os profissionais de Serviço Social trabalham e, ao mesmo tempo, aos valores dos próprios assistentes sociais. Para Payne (2002) a construção social do Serviço Social engloba três elementos: o profissional, o contexto e o cliente. Para isso é necessário ter em atenção a tríade Assistente Social–cliente-contexto “(…) analisando as expectativas, normas culturais e de conduta, assim como, as construções sociais de cada um” (Payne, 2002:33). A construção do Serviço Social enquanto profissão e disciplina, em Portugal, não se mostrou num processo fácil, pelo contrário, revelou-se por controvérsia dada à complexidade da sua prática profissional e também devido ao significado atribuído quer pela sociedade quer pela função social que desempenha. De acordo com o Código Deontológico dos Assistentes Sociais, “O Serviço Social visa o maior bem-estar e desenvolvimento dos seres humanos, assim como, promover mudanças nos que sofrem as consequências de quaisquer formas de exclusão e injustiça social, nomeadamente por pobreza, desemprego, violação dos Direitos Humanos, etc. (art. 47º, 4). Os Direitos Humanos podem ser definidos, em termos gerais, como aqueles direitos que são inerentes à nossa natureza e sem os quais não podemos viver como seres humanos. A profissão de Assistente Social promove mudanças sociais e empowerment, resolve problemas de relações interpessoais e incentiva a liberalização das pessoas para atingir ou realçar o bem-estar. Utilizando teorias do comportamento humano e do Dissertação de Mestrado em Serviço Social 106 Qualidade de Vida dos Seniores sistema social, os trabalhadores sociais intervêm nos aspectos onde as pessoas interagem com seus ambientes. Os princípios dos direitos humanos e da justiça social são fundamentais ao Serviço Social. (Dominelli, 2004). A prática do Serviço Social tem estado centrada, desde o seu início, na satisfação de necessidades humanas e no desenvolvimento do potencial e recursos humanos. Fias (1994), desenha a função prática da profissão, ao agrupar os campos de dedicação em prol do bem-estar e da realização pessoal dos seres humanos; ao desenvolvimento e utilização disciplinada do conhecimento científico relativo ao comportamento das pessoas e sociedades; ao desenvolvimento de recursos destinados a satisfazer necessidades e aspirações individuais, colectivas, nacionais e internacionais; e à realização da justiça social. A intervenção dos profissionais de Serviço Social consiste no esforço pelo desenvolvimento de capacidades e competência socais, individuais e colectivas a três níveis, cognitivo, relacional e organizativo. A nível cognitivo os profissionais direccionam a sua linha de acção para a promoção de acesso à informação incentivando a sua compreensão para o funcionamento da sociedade global e da melhor forma de auto-rentabilizarem os seus próprios recursos. Ao nível relacional, preocupam-se em facilitar o desenvolvimento das relações interpessoais e de grupo, por intermédio da capacitação dos indivíduos em assumirem novos papéis e estimulando novas formas de comunicação e expressão. Para finalizar, a intervenção dos profissionais ao nível organizativo, consiste no esforço pela promoção da interacção entre cidadãos, organizações e outras estruturas socais, accionando ou criando novos recursos sociais desenvolvendo, deste modo, a participação e a capacidade organizativa dos indivíduos e grupos. (Negreiros, 1999) De um modo geral, podemos enumerar as funções destes profissionais em i) detectar as necessidades gerais de um indivíduo, família ou grupo (elaboração de um diagnostico social); ii) reunir informações susceptíveis de dar resposta às necessidades dos indivíduos e grupos e aconselhar sobre direitos e obrigações; iii) fazer atendimento aos indivíduos no âmbito de um determinado organismo ou instituição, encaminhando-os para as diversas entidades públicas e privadas que podem auxiliá-los na resolução dos seus problemas (autarquias, escolas, segurança, social, IPSS´s, etc.); iv) incentivar os indivíduos, famílias e outros grupos a resolverem os seus problemas, tanto quanto possível através dos próprios meios, promovendo uma atitude de autonomia e participação, encorajando-os, por exemplo, a dirigirem-se a entidades empregadoras para, eles próprios resolverem os seus problemas; v) colaborar na definição e avaliação das políticas sociais, com base nos conhecimentos obtidos através de estudos que efectuam junto de determinada população, para melhor adequação entre as medidas de politica social e os direitos reconhecidos aos Dissertação de Mestrado em Serviço Social 107 Qualidade de Vida dos Seniores cidadãos. Estas são, de um modo geral as funções levadas a cabo na prática diária de um profissional de Serviço Social, dado que e tendo em conta o local de trabalho, assim são delineadas as funções específicas de cada área de intervenção. Sendo que, na maioria das vezes, o nosso trabalho está em estreita colaboração com outras profissões, formando equipas multidisciplinares que, em muito facilita a obtenção de resultados positivos. Assim, cada prática direcciona-se para um determinado fim e todas elas têm uma dimensão de poder que lhes é inerente. Especificando e pegando nas palavras de Monteiro, Rodrigues e Nunes (1991:71) “o desempenho dos assistentes sociais configura-se numa prática social organizada por necessidades humanas que, ao suscitarem a sua satisfação, justificam uma intervenção procurada por um certo número de indivíduos e concretizada através da prestação de serviços.” “O agir profissional é pratica-sócio-politica marcada pela consciência que o assistente social tem do seu exercício, pela sua visão do mundo, que se reflecte na estrutura das suas acções, as quais se fazem no âmbito das relações sociais (…) a prática profissional, que é prática-social-política, tem também condições de ser praxis de sentido transformador”. (Buriolla, 1995:88). O Serviço Social desdobra-se em prática profissional e em prática social-política. A prática profissional sendo a desempenhada diariamente, tem por base directrizes políticas para serem aplicadas socialmente. Ou seja, o profissionalismo da profissão consiste na operacionalização das políticas sociais enamadas politicamente pelo Estado. A prática é política no social. Assim, “A concretização dessa praxis exige um comprometimento real que possibilite uma acção crítica, consciente, participativa, reflexiva e criadora da história que lute pela mudança das relações de poder, pela subordinação dos interesses particulares colectivos” (Kameyana, s.d.:148). O que ressalta no todo destas influências sobre a prática do Serviço Social, é o profissionalismo com que cada profissional recebe as directrizes orientadoras da sua prática e as mecaniza diariamente. Os profissionais têm em mãos o desafio, não somente de entender e analisar situações-problema mas, antes de mais, compreender para delinear a sua intervenção. E para o sucesso das práticas profissionais, estas não podem ser percepcionadas de forma desenraizada do seu contexto ou campo de intervenção. Desta forma, o contexto da prática profissional permite-lhe alcançar a sua identidade específica. No contexto institucional e particular, o profissional de Serviço Social utiliza os recursos institucionais a favor da população o que lhes exige uma reflexão colectiva de modo a saber definir quando avançar e quando recuar, quer perante a instituição quer perante a população. O Assistente Social precisa coadjuvar a acção dos indivíduos, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 108 Qualidade de Vida dos Seniores fornecendo alternativas concretas específicas e eficazes para que a dinâmica do conflito e o encaminhamento das soluções sejam favoráveis aos interesses dos indivíduos que procuram os serviços. Contudo, e seguindo Faleiros (1997:32) na sua grande maioria “os objectivos e objectos do Serviço Social são definidos pela Instituição” (…) “os objectivos profissionais se definem conforme as diferentes instituições sejam públicas (assistência, bem-estar, promoção), privadas (melhora do relacionamento), do terceiro sector ou da como a Igreja (promoção do homem). Por outro lado, “As demandas da população vão definindo também esta prática profissional como pedidos de recursos, capacitação, encaminhamentos, informações, orientação, organização” (Faleiros, 2000:32). Seguimos a tríade (profissional-contexto-cliente), de Payne (2002), atrás referida, embora aqui seja visto o profissional inserido numa instituição que, também por ela se vê influenciado. Há também os que consideram o Serviço Social no papel de mediador de conflitos, “ (…) cabendo-lhe intervir sobre as tensões, os conflitos, a violência, entre os grupos excluídos, a sociabilidade local e a sociedade instituída” (Freynet, 1995), sem contudo tomar posição por nenhum dos pólos do conflito. Neste sentido, Faleiros remata, referindo que o Serviço Social faz a interligação entre os sistemas-recursos e de poder com os sistemas-utilização, tendo como objectivo a inclusão social dos excluídos pela sociedade desigual” (Faleiros, 1997:34). Podemos, assim, referir o papel de facilitador que o assistente social assume como sendo um elo de ligação entre os dois sistemas. Uma variante importante da prática profissional que não podemos deixar de referir nesta abordagem, prende-se com as questões ligadas ao poder. Grande parte dos autores enquadra a sua linha de pensamento às ideias de Foucault (1977) que encara como natural o poder presente nas interacções sociais que são negociadas pelas partes. Se falarmos na relação profissional-utente, podemos dizer que o poder é partilhado. Nesta dualidade o poder reparte-se pelas partes, na medida em que, o profissional cria espaços de manuseamento ao utente enquanto este responde pela eficaz utilização dos mesmos enquanto cidadão devidamente informado. Esta é uma relação vantajosa para ambos os lados, onde as partes vencem fruto de um trabalho de equipa entre quem ajuda e quem é ajudado. Mais à frente falaremos das questões ligadas ao empowerment que, consiste no processo de capacitação do utente, descorando, aqui, que, na balança o poder recaía para algum dos lados. Todavia, esta não é a única forma de poder patente à nossa profissão. Os profissionais deparam-se com um poder exercido hierarquicamente superior quer pelas chefias ou direcção de instituições. Certo é que existe sempre alguém que, acima de nós supervisiona as Dissertação de Mestrado em Serviço Social 109 Qualidade de Vida dos Seniores nossas acções, no entanto também este pode ser um poder partilhado se, porventura, se estabelecer uma relação estreita entre ambas as partes. Sabemos que a prática profissional conduz a muitos caminhos do Serviço Social. Temos aqui falado da intervenção direccionada para o agir profissional, mas temos igualmente de realçar a parte mais teórica desta acção. Sabemos que teoria e prática são inseparáveis, um não faz sentido sem o outro. É a partir da prática que novas formas de intervenção e novos projectos podem ser repensados e recriados. Assim, “A acção profissional, como condição de possibilidade que a constitui, torna possíveis novas produções teóricas, novos valores, novos significados, novas direcções nas acções profissionais. Isto ocorre na medida em que os assistentes sociais vivenciam, experimentam, fazem acontecer a prática profissional, mas também elaboram o seu conhecimento, tornando possível e viável um processo onde a teoria e a prática estão intimamente unidas e realizadas pelos próprios sujeitos desse processo “ (Buriolla, 1995:90). Certamente sintetizado pelo autor, acrescenta-se a investigação como parte da prática, na medida em que, qualquer profissional (de investigação) diariamente ao acompanhar os seus casos sociais, desenvolve uma prática reflexiva que vai permitir-lhe tomar a sua prática como alimento base da sua investigação teórico-reflexiva. O maior desafio para o Assistente Social é desenvolver a sua capacidade de interpretar a realidade e ser capaz de construir propostas de trabalho criativas, ser capaz de preservar e efectivar direitos tendo em conta as necessidades do momento e promover a cidadania. “Cidadania é pertencimento, cidadania é inclusão, cidadania é usufruto de direitos, é acesso pleno a direitos” (Martinelli, 1998:142). A associação de profissão de bem-estar ao Serviço Social, não deixa margem para dúvidas. Embora não haja uma uniformidade e unilinearidade das práticas, os objectivos são coincidentes, embora com objectos e contextos de trabalho diversificados. Em suma, o papel do Assistente Social está directamente ligado à execução das políticas sociais. Ao nível da prática o “espaço” no trabalho é de luta, conflitos e de acção cuja relação é dinâmica e contraditória. O trabalho do técnico consiste numa análise das possibilidades, das oportunidades e da previsibilidade da acção que, se resume no saber o que fazer, quando, como e porque fazer. No entanto não podemos descurar da nossa análise a importância da relação do profissional de Serviço Social para com os indivíduos que nos procuram nos serviços. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 110 Qualidade de Vida dos Seniores 4.2 – Relação Profissional-Utente A base de uma relação entre quem presta e quem recebe um serviço, seja este qual for, deve basear-se na conquista de uma crescente aproximação entre as partes. Uma boa aliança de confiança facilita a relação, na medida em que, ambas as partes absorvem mais rapidamente o que lhes é dito e onde uma boa abertura facilita a troca de experiências. Cada pessoa é um ser humano diferente e terá de haver compreensão e preocupação com as suas trajectórias e histórias de vida. Cada pessoa tem os seus interesses, goza das suas referências, nível particular de cidadania, índice pessoal de participação nas decisões que lhes dizem respeito, a sua rede pessoal de suporte e de amizade, i. é., cada pessoa é biopsicossocialmente diferente. No entanto todos envelhecemos e, ou em diferentes porções ou em momentos distintos iremos passar por todas as situações inerentes ao processo de envelhecer. Assim, envelhecer bem, desperta em cada indivíduo a maior ou menor necessidade de busca de uma panóplia de afazeres no, agora seu, tempo livre. A figura de assistente social está fortemente ligada a quem está do outro lado, ao utente. Da totalidade dos técnicos que acompanham qualquer indivíduo, o assistente social, segundo Martinelli (1998:140) é “ (…) um dos poucos profissionais que pode chegar à esfera da vida privada das pessoas.” Não são muitos ou quase nenhuns, os profissionais que se deslocam ao habitat de cada indivíduo, para que, in foco, se avaliem e se perceba a multidimensionalidade dos seus problemas. Está aqui subjacente uma nova tríade prática educativa-vida privada-sociedade. Prática educativa, porque somos responsáveis pela transmissão de encorajamento às pessoas e, deste modo, mostramos um processo educativo a seguir que os levará, pelo menos, a um padrão de vida melhor. Vida privada por que entramos na vida das pessoas “evadindo” a sua privacidade, partilhando connosco toda a sua história de vida e, sociedade porque, no fundo fazemos todos parte dela. Conseguimos manter esta relação estreita e próxima com os indivíduos que nos caracteriza enquanto técnicos. E porque falamos especificamente no trabalho com seniores, também aqui, o objectivo último da actuação do Serviço Social é produzir mudanças. Por sua vez, esta mudança terá como base a capacitação do técnico em promover o empowerment aos seniores. Através de uma variedade de instrumento de trabalho, pretende-se que, por eles, os seniores criem situações que promovam a sua qualidade de vida e bem-estar, estabeleçam laços nas suas relações interpessoais que os conduza à plenitude de um envelhecimento activo. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 111 Qualidade de Vida dos Seniores O envelhecimento activo consiste, de acordo com a OMS, no “processo de optimização de bem-estar físico, social e mental ao longo da vida, a fim de aumentar a esperança de vida, a produtividade e a qualidade de vida na velhice” (Jacob, 2007). O sentido que atribuímos à vida, depende, nos casos em que a saúde nos permite, somente de nós. Cada um escreve as linhas condutoras da vida. O empowerment objectiva-se em última instância na criação ou reforço pela autonomia, auto-estima e cidadania. Pretende-se devolver aos utentes segurança, oportunismo e confiança. O equilíbrio na relação técnico-utente, a partilha do poder, da autonomia, da responsabilidade em delinear todo um conjunto de situações capazes de capacitar o utente para que, ele mesmo se responsabilize pela oportunidade em estar vivo, está na base de um processo óptimo de empowerment. Johnson (2003:41) baseado no esquema sugerido por Mondros e Wilson (1994) refere quatro recursos mínimos para a concretização deste processo. Em primeiro surge a interacção “descrevendo competências para a interdependência em intersubjectividade, entende-se a autonomia do cliente não como um exercício introvertido de auto-suficiência mas como uma capacidade que se exercita com os outros, em interdependência”. O tempo, por sua vez “implica o sentido de oportunidade no percurso de vida da pessoa, grupo ou comunidade a favor da(s) qual(is) intervimos e assim como a ideia de processo evolutivo de acção”. O valor, enquanto recurso mínimo traz a “consciência de que na relação profissional coexistem saberes diferentes, de igual importância e passíveis de convergência no que se refere à satisfação dos vários interesses e posições”. Jonhnson (2003:41) introduziu o factor, como outro recurso mínimo, ao modelo de Mondros et Wilson apresentado em 1994, na medida em que “constitui uma coordenada que permite situar os sujeitos em dado contexto histórico-político-social, influenciando, condicionando por vezes até, as percepções e interacção humanas”. “Ensaiar uma aplicação desta perspectiva ao Serviço Social gerontológico implica encarar a pessoas idosa como força-motriz daquele processo, persona de “valor único”, indivíduo integrante em família e comunidade, sujeitos de direitos e deveres e com determinado perfil de necessidades e capacidades, consumidor de bens e serviços e também cliente da serviços e equipamentos de apoio social ” (Ibidem, 2003:41). Ao encararmos cada pessoa enquanto ser uno biopsicossocial, o técnico assume a individualidade de cada acompanhamento face à heterogeneidade dos seres humanos. Todavia, a comunidade civil tem uma palavra a dizer, ou melhor, atitudes a praticar. O empowerment para qualquer pessoa implica o envolvimento da tríade técnico-utente-comunidade. O sucesso individual é tanto maior quanto mais reforçadas estiverem estas alianças. A instituição, na pessoa do técnico, em conjunto Dissertação de Mestrado em Serviço Social 112 Qualidade de Vida dos Seniores com o utente, estão incumbidos de estabelecer os níveis e ritmos das intervenções, assim como identificar e delimitar os recursos e as oportunidades de concretizá-las. Segundo Almeida (2005:6) na relação técnico-utente deverá imperar uma personalização da acção que, “permite que as respostas ultrapassem a sua dimensão geral e abstracta, passem para o concreto, particular e singular, harmonizando o subjectivo e o objectivo, o individual e o colectivo (…) equivale a encarar as diferenças no quadro global e do colectivo, mas significa igualmente estabelecer um quadro referencial de práticas comuns. E termina afirmando que “com a personalização ganha o sujeito, a instituição e os profissionais”. A autora faz referência ao que preferimos chamar de individualização processual. Esta individualização corresponde à não generalização das situações-problemas e à homogeneidade dos indivíduos. Cada processo ser trabalhado individualmente e assumindo que o meio através do qual um individuo alcançou o sucesso pode não ser o mesmo para outro que, porventura até pode ter características semelhantes. O incentivo à participação na comunidade, deverá partir dos técnicos, embora se respeite firmemente quem não o queira fazer. Barbalet (1989:135) reforça a ideia admitindo que “a cidadania tem um papel na integração da sociedade porque tem uma importância especial para a participação na vida social”. A cidadania implica “o reconhecimento mútuo das diferenças que nos instituem, na medida em que partilhamos o mesmo espaço social e político” (Roman, 1998:49). A “Participação é um dos conceitos mais utilizados na prática social” e com ela pretende-se “a mudança de atitudes e comportamentos” por parte dos indivíduos (utentes), pois só assim conseguem “modernizar seus comportamentos, sacudir a apatia e obter recursos para melhorar suas oportunidades de vida (...) neste sentido a participação é definida como luta, combate, mobilização, pressão, poder, ou seja, como articulação de forças e de estratégias em torno de interesses de classes para conquista de poderes, recursos e reconhecimento” (Faleiros, 1982:17). A estas referências pouco resta acrescentar. Cidadania e participação revelam-se, assim, nos ingredientes necessários para uma favorável integração social. Quanto mais participarmos na/com sociedade civil mais vincados serão os nossos sentimentos de pertença a ela. “Desde o início da sua prática, os assistentes sociais consideram a participação do cliente no processo não só como um princípio de valor, mas também como uma estratégia de acção.” (Baptista, 1987:84). A participação é entendida como prática de cidadania comunitária, através da qual, os assistentes sociais podem, por meio de práticas profissionais, proporcionar condições concretas de acesso à informação, de veiculação da suas ideias, interesses e posições, de reivindicações de aspectos de interesse, sabendo o que deve ser reclamado e a quem (Ibidem, 1987). É mais fácil Dissertação de Mestrado em Serviço Social 113 Qualidade de Vida dos Seniores trabalhar com pessoas participativas, na medida em que, o processo de empowerment ocorre com maior regularidade, consistência e, claro, sucesso. Para além do esforço para que os sujeitos sejam activos e participativos em prol da sua autonomia e a consequente cidadania, cabe de igual modo, aos profissionais estabelecer estratégias de intervenção em rede, já Faleiros defendia que “É na relação de redes que se colocam as questões enfrentadas pelos próprios sujeitos na sua perda de poder para articulá-las em estruturas e movimentos de fortalecimento de cidadania, da identidade, da autonomia”. Sabe-se (…), que indivíduos sozinhos não têm condições de se fortalecer” assim sendo “Trabalhar em rede é (…) a superação do voluntarismo e do determinismo, da impotência diante da estrutura e da omnipotência da crença de tudo poder mudar. Na intervenção de rede, o profissional não se vê nem impotente nem omnipotente, mas como um sujeito inserido nas relações sociais para fortalecer (…) as relações destes mesmos sujeitos para ampliação de seu poder, saber, e de seus capitais” (Faleiros, 1997: 24-25). O trabalho em rede implica uma responsabilização por parte dos parceiros, uma vez que, envolve automaticamente a noção de parceria, que se traduz no princípio estratégico de acção do Serviço Social. Em nome de uma causa comum, esta acção envolve um conjunto de instituições que, operando em conjunto, conseguem ter um melhor e mais aperfeiçoado conhecimento da realidade por intermédio da partilha de conhecimentos e articulação nas medidas e estratégias de intervenção nas mais diversas áreas. Todo este processo conjunto, facilita a obtenção de objectivos de forma mais fácil e rápida do que, se cada profissional trabalhasse individualmente. A nível concelhio este revela-se bastante vantajoso, a conjugação de esforços com vista à resolução de problemas e, por outro lado, com vista a encontrar soluções nos meios locais para chegar facilmente aos indivíduos mais desfavorecidos e com acrescentes vulnerabilidades. Este instrumento de trabalho proporciona formas de intervenção eficazes junto das comunidades locais. Tal como o ditado popular diz “a união faz a força”. Deste modo, o trabalho em rede tem-se mostrado um fiel amigo do Serviço Social. Cada vez mais, estamos inseridos em equipas multidisciplinares, onde a partilha de estratégias de intervenção se revela fundamental face ao delineamento de soluções perante cada situação-problema. Mesmo em trabalhos não inseridos em qualquer rede de trabalho, o profissional terá de estabelecer contactos com outras entidades, de forma a conhecer o percurso de vida do seu cliente. Podemos concluir sobre a importância desta dualidade profissiona-utente, reflectindo que, numa primeira instância, esta relação traduz-se no tendão de Aquiles de todo o processo de recuperação face à situação vivida. Sinteticamente podemos apontar como aspecto norteador desta relação o empowerment como principal Dissertação de Mestrado em Serviço Social 114 Qualidade de Vida dos Seniores instrumento de trabalho do Serviço Social e muito especificamente quando de trata de promover a qualidade de vida nos seniores. Os seniores, possuidores já de uma história de vida tão preenchida têm, contudo, alguns sentidos e capacidades esquecidos que precisam de estimulação. E porque o trabalho com e para os seniores não pertence a um grupo de práticas homogéneas, tomemos como análise o caso do concelho de Portimão. 4.3 Perspectiva Territorial Viver em meio urbano vs viver em meio rural Nos últimos anos a realidade sócio-espacial do país tornou-se cada vez mais complexa. Por conseguinte, os espaços rurais e urbanos não podem ser compreendidos separados um do outro, visto que são realidades que não existiriam de forma isolada, na medida em que estes dois espaços interagem interrelacionam-se. Assimetrias e/ou desigualdades existem e muitas vezes tendem a persistir, em particular ao nível do emprego e da produção de mais-valias económicas. Se, por um lado, poderão ser o resultado da evolução do mundo são, sem dúvida, também, o espelho de políticas públicas que ignoraram o declínio do mundo rural e o crescimento desmesurado, senão anárquico do “novo urbano”. O meio urbano é facilmente reconhecido pela sua edificação continuada e pela existência de equipamentos que procuram responder e satisfazer as necessidades de quem lá habita, sejam elas habitacionais, recreativas, laborais, educacionais, médicas, entre outras. Por outro lado a denominação de meio rural tem associado a si indiscutivelmente o conceito de campo. São zonas pouco urbanizadas nas quais predominam outro tipo de actividades tais como a silvicultura, as actividades agropecuárias e industriais, entre outras. Mais recentemente estas áreas têm assumido um papel importante na dinamização do turismo, no que concerne à sua vertente rural, dando azo ao aparecimento de novas formas de turismo, como o turismo de habitação, eco turismo e turismo rural. De igual modo, a crescente tendência de urbanização dos espaços rurais, a reestruturação produtiva, com a consequente relocalização de actividades económicas nesses mesmos espaços e o aumento da mobilidade, traduziram-se num alargamento das bacias de emprego e das respectivas áreas funcionais das cidades, ao mesmo tempo que induziram o aparecimento de novas actividades e funções em áreas rurais. Neste contexto, as relações urbano-rurais assumem características diferenciadas consoante se tratam de territórios densamente povoados fortemente Dissertação de Mestrado em Serviço Social 115 Qualidade de Vida dos Seniores influenciados pela densidade populacional representada pelas cidades que as envolvem. À nossa escala local estamos perante uma área rural densamente povoadas estruturadas por uma cidade de pequena e média dimensão (que corresponde a uma parcela significativa do território nacional. É certo que as separações objectivas são difíceis não havendo consenso entre os limites e características de ambos os meios. Estas duas áreas não sendo opostas apresentam inúmeras diferenças no nosso país. A densidade populacional é o factor mais evidente. Nas últimas décadas este antagonismo tem vindo a acentuar-se com o crescimento do êxodo rural. As disparidades mais objectivas passam por considerar um meio rural cujas características se opõem às dos centros com densidades populacionais relativamente altas, uso intensivo do solo com redes de infra-estruturas, equipamentos e blocos de habitação, bons acessos internos e a outros centros e forte peso da actividade económica nos sectores secundário e terciário, mas principalmente neste, fornecendo bens e serviços com alcance pelo menos concelhio. A proximidade aos bens e serviço é um aspecto fundamental no contributo para uma melhor qualidade de vida. A população residente em Portimão dispõe de um leque variado de opções e ofertas bem como melhores acessibilidades aos mesmos. Contrapondo, a população rural da Mexilhoeira Grande tem uma maior dificuldade em aceder a esses bens e serviços que não só estão distantes como muitas vezes inacessíveis. As actividades económicas encontram-se, assim, centralizadas nos meios urbanos, obrigando a um deslocamento da população rural sempre que dos mesmos necessitam. O isolamento físico é outro factor. Enquanto nas zonas urbanas as acessibilidades e a rede de transportes disponíveis são mais variados, nas zonas rurais existe uma grande carência, chegando mesmo a ser inexistentes. A paisagem é dos aspectos que mais facilmente distingue estes dois meios. O meio urbano apresenta uma área urbana densa e consolidada, onde a poluição é imensa e o tráfego desmedido. No meio rural predominam o verde e o castanho como cores de fundo. A cércea das habitações é baixa e a densidade construtiva muito inferior. Outra perspectiva sobre a separação rural-urbano assenta nas relações interpessoais e relação com o meio que consiste na diferenciação de valores, conforme as percepções e as representações, por exemplo, ver o rural como espaço de negação do urbano, um domínio menorizado, explorado, desqualificado. Todavia, noutros casos também, temos o meio rural simbolizando maior solidariedade, proximidade pessoal e entreajuda, enquanto o urbano se associa ao anonimato, à indiferença, ao egoísmo, ao individualismo e ao mundo da competitividade. Sob uma perspectiva mais optimista, podemos ver o meio urbano como símbolo das expectativas de realização social e profissional, de fácil acesso a equipamentos de Dissertação de Mestrado em Serviço Social 116 Qualidade de Vida dos Seniores ensino, cultura, lazer, saúde, apoio a pessoas com dificuldades, etc., esquecendo a dimensão dos espaços de exclusão (Cavaco e Moreno, 200625). Considerando que as interligações entre os meios urbanos e rurais tenderão a reforçar-se, é importante reconhecer e potenciar as oportunidades que daí advêm para os espaços de maior ruralidade, fortemente pressionados pelo êxodo e envelhecimento populacional, a que se juntam as poucas oportunidades de emprego e os insuficientes níveis de provisão de bens e prestação de serviços. Estes factores são alguns dos aspectos que à primeira vista nos permitem distinguir estas duas classes de espaço geográfico. Contudo, não são universais nem se perpetuam no tempo nem no espaço. Uma zona rural localizada na imediação de uma metrópole terá certamente características diferentes de uma localizada perto de um aglomerado urbano de pequena dimensão. É tudo uma questão de escala. Sendo assim, é necessário conhecer bem a realidade de que se pretende falar, neste caso o concelho de Portimão, mais propriamente a zona urbana da cidade e a zona rural da freguesia da Mexilhoeira Grande. Apesar de não muito distantes em termos físicos estas duas realidades apresentam diferenças significativas. A cidade de Portimão é a cidade mais importante do Barlavento Algarvio e concentra um grande número de recursos, bens e serviços com capacidade para servir um grande número de pessoas. A Mexilhoeira Grande não está propriamente isolada fisicamente…está apenas distante. Esta distância (não física) poderá ser superada caso sejam reforçados os equipamentos e infra-estruturas. Uma vez que a população deste meio rural é maioritariamente envelhecida, partimos do pressuposto que não conduzem, e como tal o reforço da rede de transportes e o melhoramento da rede viária assumem condição imperial em todo este processo de encurtamento das distâncias. O estar isolado, não tem necessariamente um significado pejorativo, na medida em que muitas pessoas escolheram este como o seu modo de vida. A calma e a tranquilidade muitas das vezes são factores compensativos. É verdade que continua a persistir a ideia de que o mundo rural se encontra num processo estrutural de marginalização económica, social e simbólica, no entanto, campo e cidade são complementares e mantêm um relacionamento estável num contexto marcado pelo equilíbrio e pela harmonia de conjunto. Vejamos como na prática dos autarcas se espelham estas diferenças ou se, porventura, não se dá por elas. 25 Jornal de Animação da Rede portuguesa Leader + “Pessoas e Lugares”. II Série N.º41, 2006. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 117 Qualidade de Vida dos Seniores 4.3.1 Serviço Social e Poder local: Pensar Global, Agir local O poder local é entendido como Estado local, “um poder que é Estado, embora local” (Branco, 1995:184). Com a particularidade, realçada por Santos (1989), “as virtualidades democráticas do poder local residem na sua proximidade à sociedade local, na multiplicidade de mecanismos de participação, de representação e de auscultação que torna possíveis (…)”. Daremos início à reflexão envolta de conceitos que traduzem a forma de poder a nível concelhio em comparação com o poder central. No entanto, Dearlove (1973) refere as duas perspectivas que têm orientado o discurso sobre o poder local. Por um lado, consideram-no como agência da Administração Central, e por outro, vêem-no como governo autónomo. Na primeira situação, as autoridades locais são concebidas como estruturas administrativas cuja principal função é a implementação das políticas decididas pelos níveis superiores do governo. Assim, é o governo central que determina as políticas e orientações remetendo-se o governo local à sua aplicação às particularidades locais. Na outra perspectiva, o poder local é visto como governo autónomo enquanto instituição representativa da democracia exercida pelos eleitores a nível local. Aqui, os cidadãos exercem a sua influência na determinação das políticas locais. É certo que o município, enquanto força estatal, revela-se no organismo político-estatal que maior proximidade atinge com a população. A interpretação que se pode fazer às perspectivas apresentadas por Dearlove (1973), em relação à nossa forma de Estado na contemporaneidade prende-se com um misto das duas. Ou seja, é certo que o Estado central é o desenhador das políticas sociais, (muitas poderão ser destacadas) em que a sua aplicabilidade local, é condicionada pelas singularidades de cada município ou freguesia. Por seu turno, que município nunca lançou um projecto de intervenção enquanto política social local? Que tenhamos conhecimento, nenhum. Assim, não poderemos atribuir ao Estado português, quer central quer local, qualquer uma das perspectivas lançadas. Freitas do Amaral (1994:418) entende como autarquias locais “pessoas colectivas públicas de população e território, correspondentes aos agregados de residentes em diversas circunscrições do território, e que asseguram a prossecução dos interesses comuns resultantes da vizinhança mediante órgãos próprios, representativos dos respectivos habitantes.” De onde se apreende que, nenhum organismo melhor que as autarquias locais, deverá ser responsabilizada pela promoção de actividades e de resposta às necessidades da população em nome de uma melhor qualidade de vida dos seus munícipes. Certamente que, sujeitas a uma tutela hierarquicamente superior (Estado central). Dissertação de Mestrado em Serviço Social 118 Qualidade de Vida dos Seniores Branco (1995:185), encara que “O Estado local (municipal) é concebido não como um agência do Estado central mas como uma forma própria de exercício do poder (…)”. Esta afirmação poderá fazer todo o sentido, contudo, arriscamo-nos a reescrevê-la “o Estado local (municipal) é concebido como uma agência do Estado central mas como uma forma própria de exercício de poder”. Porque vivemos num poder hierarquicamente muito forte, que do alto da pirâmide de poderes são emanadas leis e decretos-lei a serem aplicados à generalidade dos cidadãos, não fará sentido desconsiderar um município enquanto prolongamento dos ideais da Administração central. Talvez um dia, quando a regionalização for uma realidade, venhamos alterar este discurso. De encontro às palavras ditas pelos autarcas portimonenses “Pensar Global, Agir Local”, temos Sposati (1991b) que defendendo uma discriminação positiva tem na base do seu pensamento as diferenças sociais, económicas e culturais que exigem que se pense o tema da igualdade com desigualdade. O apelo que se quer aqui deixar prende-se com (…) “uma política que vise maiores níveis de equidade social através da conjugação de políticas universais de protecção social e acções específicas face a grupos e necessidades concretas” (Fanfani, 1991). Não será certamente com o afastamento do Estado da definição e implementação das políticas sociais que melhores padrões de igualdade, equidade e justiça social serão alcançados. A intervenção do Estado é fundamental na medida que garante a sustentabilidade económica de qualquer política que emana. Pensar em políticas sociais de índole estatal perspectivando heterogeneidade, territorialidade e participação, coloca ao de cima o conceito de Estado local/municipal. Para Branco (1995:187) “A instância municipal configura-se como uma forma de aproximar o Estado do quotidiano da população. O território local apresenta-se como o locus privilegiado da expressão das necessidades e aspirações, como importante sede para uma mais apropriada integração e definição do perfil das políticas socais públicas, com mais real oportunidade de controlo e construção democráticas das acções e decisões de governo.” Será certo o que defende o autor. É no terreno que tomamos conhecimento da realidade e, deverá ser, a partir desta, que comessem a ser delineadas medidas de intervenção. Todavia, não estamos a falar de descentralização. A descentralização da totalidade da responsabilidade social de intervenção nos poderes locais dá azo a muita controvérsia. Não nos parece pertinente iniciar aqui um comentário à forma ideal de Estado. Enaltece-se o consenso num Estado interventor, porventura, concedendo uma maior autonomia não só financeira mas, muito principalmente, interventiva. É certo que, em cada município e, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 119 Qualidade de Vida dos Seniores pegando no de Portimão, existem áreas mais problemáticas que outras, para onde os autarcas têm direccionando a sua intervenção. O desafio estatal (central ou local) consiste na implementação de reformas e políticas sociais oportunas que garantam a sustentabilidade dos sistemas de protecção social com o intuito último de erradicar a pobreza e a exclusão social melhorando a qualidade de vida em todas as idades. De realçar a importância em delinear políticas que valham ao mesmo tempo pela eficiência económica e pela segurança social, e da estrutura dos sistemas de protecção social que têm uma cobertura mais amplificada e eficaz, e respondam às necessidades e circunstâncias da vida de cada país, distrito, concelhos e freguesia. O sucesso reside na tríade Estado-Sociedade civil-munícipios. Mais uma vez, referimo-nos às designações assumidas por Branco (1995:189) em que, certamente “o Estado preserva como suas atribuições fundamentais a administração de prestações sociais, os programas especializados e a assistência eventual e emergencial. A sociedade civil, através de organizações comunitárias assegura a criação e a gestão de equipamentos e serviços sociais com base em convénios (ou não) com os serviços estatais de segurança social. Enquanto que, “aos municípios é cometido um papel suplementar quer no que se refere aos equipamentos, quer no tocante à prestação de serviços e outras modalidades de acção social.” Na prática, a acção social aqui designada enquanto função municipal desdobra-se numa panóplia de papéis e vertentes, em que cada uma delas, toca a cada problemática. As políticas sociais sectoriais são parte constituinte da prática em acção social. É nela onde todas as medidas de intervenção ganham operacionalidade. No que se refere aos equipamentos, maioritariamente privados mas sem fins lucrativos, formam parceria com a autarquia, através da qual muitos apoios são concedidos. Nesta perspectiva territorial, não se pode atribuir um papel tão suplementar assim ao município. O Estado, na área social, canaliza os seus esforços para a garantia dos direitos sociais enquanto que essa aplicabilidade faz-se localmente (pensar global, agir local). À sociedade civil é concedida toda a responsabilidade de participação activa, não se prendendo tanto às funções referidas por Branco (1995). Fazer uso da palavra e mobilizações comunitárias em nome de uma acção cívica cada vez mais forte e participativa nas decisões camarárias. O civismo activo, a participação e dinamismo da sociedade civil, assim como a interacção entre os cidadãos e o Estado são imprescindíveis para conseguir uma sociedade baseada em princípios como a solidariedade, equidade, igualdade e justiça social. Esta proximidade entre sociedade civil e poder local é, tanto mais próxima quanto maior forem as oportunidades de participação social dos civis. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 120 Qualidade de Vida dos Seniores Porventura, nem sempre assim o foi. Elucidaremos e recordar-nos-emos do percurso das autarquias até se lhes fossem atribuídas funções com autonomia e poder de decisão. Quadro 2 – A evolução da atribuição de poderes e competências às autarquias locais no âmbito social. Avanços Legislação correspondente CRP de 1976 Atribuiu a prossecução e interesses próprios das populações respectivas. Intervenção em matéria de políticas sociais. Lei das Autarquias de 1977 Atribuiu como competências municipais, na área social, (Lei apenas da educação e o ensino. n.º79/77 de 25 de Outubro) 1ª Revisão autárquica à legislação (Decreto-Lei Consagra explicitamente a área da saúde como atribuição genérica. n.º100/84 de 29 de Março de 1984) Lei n.º25/85 de 12 de Agosto Acrescenta a protecção à infância e terceira idade. Decreto-Lei n.º77/84 de 8 de Prevê a celebração de acordos entre os CRSS e as câmaras Março (n.º 5 do art. 12º) municipais, visando a transferência de competências ao nível da acção social. Lei de Bases da Segurança Depreende-se, Social de 1984 competência de praticar acção social. (Lei n.º28/84 de 14 embora não devidamente explícita, a de Agosto) Rendimento Social de Inserção (Lei n.º13/2003 de Torna as autarquias como parte constituinte dos Núcleos Locais de Inserção. 21 de Maio, n.º 3 do art. 33º) Fonte: Baseada no trabalho desenvolvido por Menezes (2002) intitulado “Serviço Social Autárquico e Cidadania” Ao nível da autarquia de Portimão, nos termos do n.º 1 do art. 48.º do Apêndice n.º 72, Aviso n.º1724/97 2ª Série publicado no Diário da Republica n.º 182 de 8 de Agosto de 1997, são competências da Acção Social: a) Elaborar o planeamento e programação operacional de actividade corrente nos domínios dos assuntos sociais, promoção comunitária, habitação e saúde; b) Assegurar uma intervenção municipal integrada, pluridisciplinar e coerente junto das diversas comunidades do concelho, a fim de Dissertação de Mestrado em Serviço Social 121 Qualidade de Vida dos Seniores potenciar os recursos existentes e de se obterem os melhores resultados e efeitos junto das populações; c) Coordenar, sempre que adequado e de acordo com as directivas da Câmara, com outras instituições particulares, públicas ou privadas, actividades e programas de interesse e âmbito comuns; d) Determinar as carências habitacionais no concelho e manter actualizado o seu inventário, em estreita cooperação com a Divisão de Habitação; e) Propor a atribuição das habitações sociais disponíveis e, de um modo geral, promover todo o apoio em matéria de habitação aos munícipes mais carenciados ou vitimas de situações anómalas, em colaboração com outros organismos; f) Preparar e executar as políticas municipais no âmbito da conservação do parque habitacional do concelho, em estreita colaboração com todos os serviços municipais; g) Elaborar estudos que permitem o diagnóstico social e o conhecimento das carências sociais das populações e dos grupos mais vulneráveis (primeira infância, idosos, pessoas deficientes, reclusos e ex-reclusos, mulheres com dificuldades de inserção sócioprofissional, minorias étnicas, etc.); h) Promover, por todos os meios ao seu alcance e no âmbito das competências municipais, a informação e as acções julgadas necessárias, com vista a proporcionar aos munícipes o melhor enquadramento e ambiente na área da saúde, higiene e acção social; i) Colaborar com todas as instituições de segurança social e de saúde; j) Colaborar com estabelecimentos assistências, públicos e privados, na área da acção social; k) Proceder, em colaboração com as entidades competentes ao levantamento e estudo estatístico de dados com vista à elaboração de um mapa de “saúde” e de “situação social” na área do município; l) Promover, quando necessário, acções de apoio social e assistência em benefício dos munícipes; m) Exercer as demais funções que lhe forem cometidas, por deliberação municipal. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 122 Qualidade de Vida dos Seniores De destacar que, no caso particular da Câmara Municipal de Portimão, a Divisão de Acção Social e Saúde comporta dois sectores, o sector da acção social e o sector da saúde. Sendo que, as competências acima referidas comportam dos dois sectores. As competências definidas para qualquer gabinete, sector ou divisão de acção social ficam, na maioria das vezes, muito aquém do que se faz na prática. Menezes (2002:196) após o seu estudo desenvolvido nas autarquias da região centro, diz poder-se afirmar “que, por um lado, o que está instituído legalmente ao não se efectivando na prática condiciona o âmbito de acção dos profissionais e, por outro, é um traço complexificador da apreensão da prática, visto que a não existência de adequação entre as competências legais e reais, conduz ao aparecimento de ambiguidades, referidas pelos assistentes sociais, no que respeita à prática profissional”. Na realidade todo o discurso proferido em legislação é todo “pomposo” e, por vezes de difícil compreensão. Certo é, que cada município orienta a sua acção de acordo com a sua realidade social, dando, em grande parte, autonomia aos técnicos para implementação de medidas de carácter interventivo. Em instituições bem estruturadas hierarquicamente, a autonomia não é assim tão visível, uma vez que, para além das chefias intermédias (chefes de Departamento), temos vereação e a presidência. No entanto, um bom relacionamento inter-posições hierárquicas e uma constante troca de opiniões, facilita, em grande parte, o delineamento de acções e sua implementação. No entanto, nem sempre foi assim. Até que fossem atribuídas competências a alguma divisão camarária onde integrassem assistentes sociais, foi preciso reconhecimento e afirmação sobre a essência da profissão, outrora desconhecida e despercebida. Os assistentes sociais começam a integrar serviços camarários aquando da criação dos Serviços Municipais da Habitação (SMH). Felizmente e, pouco a pouco, esta profissão foi vigando e alargou-se a áreas como “a acção social, educação e ensino, planeamento e intervenção comunitária, entre outras” (Menezes, 2002:186). Foi dado maior reconhecimento ao trabalho desenvolvido e foi ganha uma maior consciencialização da importância do trabalho destes profissionais. O trabalho de Técnicos Superiores de Serviço Social é hoje, uma realidade em qualquer câmara e transformaram-se em técnicos indispensáveis para o bom funcionamento de qualquer instituição camarária. “Podendo-se afirmar que, actualmente, para a implementação das politicas sociais das autarquias, bem como para o desempenho de acções que permitem o alcance do bem-estar social de toda uma comunidade, o assistente social detém um papel fundamental e indispensável” (Ibidem, 2002:186). Dissertação de Mestrado em Serviço Social 123 Qualidade de Vida dos Seniores Vejamos todo o trabalho levado a cabo pelos autarcas portimonenses onde se percebe o quão é importante e significativo o trabalho dos autarcas para a qualidade de vida dos seus munícipes. O lema para os autarcas portimonenses faz-se representar pelo slogan “as pessoas em primeiro lugar”. Num esforço concertado de técnicos e meios, é desenvolvido um trabalho em diversas áreas, nomeadamente ao nível da infância, terceira idade, deficiência, toxicodependência e saúde com o intuito de promover a prevenção e erradicação de todas as formas de exclusão social. O trabalho promovido estrutura-se em relações de cooperação e parceria com organizações e instituições locais, numa intervenção pensada em função dos problemas, necessidades e recursos existentes na comunidade local, enquadrada numa política geral de cidadania. A missão dos intervenientes no município é essencialmente a promoção da qualidade de vida dos munícipes, através do desenvolvimento de parcerias com a sociedade civil, as instituições públicas e privadas, de forma a criar uma rede social integradora e eficaz no combate à pobreza e exclusão social. Em pico de ascendência, sem dúvida, encontramos a solicitação da participação das autarquias quando se trata de apoios quer a IPSS´s, a associações, a particulares e a problemáticas de índole social diversas. Assim, podemos concordar com Menezes (2002:88) quando afirma que “a maior ou menor intervenção de cada autarquia neste domínio, esta actualmente directamente relacionada com as políticas sociais definidas e com as correspondentes prioridades, estabelecidas de acordo com um modelo de desenvolvimento preconizado pelos executivos, acabando por se encontrar concelhos onde existe um papel significativo neste âmbito, por oposição a outros, onde não é – ou não querem tornar – perceptível o significado/importância social da acção social.” Vejamos o caso autárquico de Portimão, a nosso ver, um caso de sucesso com uma forte implementação de políticas e projectos sociais dando resposta às mais variadas áreas do social. Podemos nomear o projecto “Portimão sem Barreiras” que através da eliminação das barreiras arquitectónicas pretende promover a acessibilidade enquanto direito constitucionalmente reconhecido em prol da igualdade entre os portadores de deficiência e pessoas com mobilidade reduzida (onde para além das pessoas com deficiência se enquadram as crianças, grávidas, pessoas com carrinhos de bebé e seniores). A promoção da acessibilidade constitui uma condição essencial para o pleno exercício de direitos de cidadania consagrados na Constituição da República Portuguesa, como o direito à Qualidade de Vida, à Liberdade de Expressão e Associação, à Informação, à Dignidade Social e à capacidade Civil, bem como à Igualdade de Oportunidades no acesso à Educação, à Saúde, à Habitação, ao Lazer e Dissertação de Mestrado em Serviço Social 124 Qualidade de Vida dos Seniores Tempo Livre e ao Trabalho. O município de Portimão aderiu à Rede Nacional Cidades e Vilas com Mobilidade para Todos onde o primordial objectivo é visível na adaptação da cidade, de forma a facilitar o dia-a-dia dos que têm dificuldade de locomoção. Neste encaminhamento pretende-se a construção de uma via, a Rota Acessível de Portimão, que una os principais serviços do espaço público do centro administrativo onde se concentram, designadamente, os paços do concelho, tribunais, correios e outros edifícios utilizados por um elevado número de pessoas, através da qual, toda e qualquer pessoa possa dirigir-se a qualquer serviço sem ser interrompido por qualquer barreira. Far-se-á representar por uma passadeira que criará um percurso pedonal constante de 1,2m de largura, contínuo, desobstruído e sinalizado, (também em Braille), numa extensão de 6324m2, em cor de piso aderente e devidamente assinalada. Com sede em Portimão podemos contar com a Cooperativa de Reeducação a Apoio à Criança Excepcional de Portimão (CRACEP), o Centro de Reeducação Médico-Pedagógica (CREMP) e a Associação de Deficientes Motor de Portimão, enquanto instituições que respondem às necessidades das pessoas portadoras de deficiência. “Inclusão uma realidade em Portimão” constitui-se num projecto que presta apoio à população imigrante oriunda de qualquer parte do mundo. Incentiva o aparecimento de associações traduzindo-se numa acção de proximidade. Em Portimão podemos contar já com o Centro de Apoio à População Emigrante de Leste e Amigos, Associação caboverdiana do Algarve e a Associação de Guineenses e Amigos. O aparecimento de Associações de Imigrantes é um fenómeno social recente que acompanha o processo migratório de populações oriundas de vários países. Visando objectivos muito específicos, estas Associações estruturam-se como representantes das populações imigrantes e dos grupos étnicos que se vão fixando na região, para uma integração harmoniosa na sociedade de acolhimento, procurando atenuar o desenraizamento familiar e social a que estão sujeitos e esbater as diferenças culturais. A multiculturalidade é já uma realidade do concelho e através destas associações pretende-se a preservação das tradições e costumes, assim como, a promoção da integração social por meio de uma participação activa na sociedade. Uma habitação traduz-se num sonho para muitas pessoas que, por adversidades da vida, não a têm. Assim e no âmbito das políticas sociais sectoriais, a autarquia têm em curso uma estratégia global de intervenção sobre os problemas da habitação que visa erradicar as barracas, promover a construção de mais fogos de habitação social e apoiar o arrendamento. Em prol da promoção de habitações dignas, a autarquia compromete-se a proceder à demolição das 66 barracas ou edificações Dissertação de Mestrado em Serviço Social 125 Qualidade de Vida dos Seniores similares que ainda subsistem, depois de já terem sido demolidas 33 nos últimos 2 anos. Neste processo, a câmara tem assegurado o realojamento das famílias que outrora habitavam em condição de precariedade e, ainda combate não dando permissão à construção deste tipo de habitações. Para as famílias que se encontram em situação de carência habitacional, foi recentemente criada uma resposta inovadora que consiste na atribuição de um subsídio de arrendamento que poderá atingir os 60% do valor da renda. Esta é uma medida que assegura o mercado privado de arrendamento, para famílias com carências económicas conjunturais, como alternativa à habitação social contribuindo para a eliminação de situações de precariedade habitacional. O subsídio é prestado mensalmente por um período de um ano, renovável ate cinco anos. Actualmente esta medida abrange 52 agregados familiares. A habitação social é já uma política social bem conhecida de todos. Antes de referir o que é feito no município de Portimão, há a necessidade de deixar aqui o testemunho de não concordância desta medida. Não nos referindo unicamente ao concelho em análise mas a toda a medida que, num determinado espaço, aglomera todos os rotulados e estigmatizados socialmente, criando, desta feita, não um bairro social, mas um bairro mal visto aos olhos da sociedade civil de onde dificilmente se consegue inserir alguém socialmente. Prefere-se, desta forma, o realojamento dos agregados familiares em bairros distintos. A manutenção de condições precárias habitacionais e exclusão social continuarão enquanto medidas como estas permanecerem na mentalidade dos que mandam e comandam o país. Adiantando. Em parceria com o Instituto Nacional de Habitação Urbana foram desenvolvidos nos últimos dois anos contratos de desenvolvimento habitacional a custos controlados de 498 fogos, sendo que um número significativa foi adquirido por famílias identificadas pelos serviços socais municipais como tendo necessidades habitacionais prementes. Em 2008, a autarquia vai adquirir directamente 50 fogos destinados a famílias com necessidades de habitação urgente e cujos rendimentos não lhes permite recorrer ao crédito bancário. A toxicodependência, enquanto um quadro de vulnerabilidades acrescidas, encontra-se ao abrigo de instituição que lutam para que as portas se abram àqueles que, outrora enveredaram por caminhos ambíguos onde a luz custa a brilhar. O papel destas instituições sedeadas em Portimão (Associação Remas Portuguesa, Centro de Atendimento Temporário, Grupo de Apoio a Toxicodependentes e Movimento de Apoio à Problemática da SIDA) é direccionado para atenuar o sofrimento provocado pelas circunstâncias de consumir estupefacientes, responsabilizá-los pela melhoria da sua própria saúde física e psíquica e promover a sua reintegração social por via da reinserção profissional. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 126 Qualidade de Vida dos Seniores Para as crianças, que por situações que lhes transcendem, estão institucionalizados temporariamente ou não, em Portimão podemos contar com a Casa Nª Senhora da Conceição, com o Centro de Acolhimento Temporário – Catraia e Lar de Crianças Bom Samaritano. A Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Portimão presta apoio em situação deficitárias ao bom funcionamento relacional familiar tendo como sentido último promover o bem-estar e qualidade de vida às crianças. Promover e valorizar a família, promover o apoio a famílias com graves problemas de âmbito social e promover a integração da criança/jovem na comunidade, através da resolução de problemas sociais repercutem-se no fio condutor da acção técnica. A universalidade dos direitos da criança conduzem os autarcas a promoverem toda e qualquer acção em prol de um sorriso que espelhe bem-estar tendo sempre por base a prevenção de situações susceptíveis de afectar a segurança, formação e desenvolvimento das mesmas. Movimentos que nunca nos cansamos de louvar são os associados ao voluntariado. Este é um trabalho que não tem preço, o carinho e dedicação que são transmitidos são inigualáveis. Podemos nos orgulhar que em Portimão existe o Grupo de Voluntariado dos Hospital de Portimão e a Associação de Voluntários de Portimão que prestam apoio aos que mais precisam e quando menos se espera. Quando se fala em qualidade de vida, segurança, prevenção, voluntariado, etc., associamos, de imediato à saúde. Saúde como sendo o pilar para a sustentabilidade da vida. A manutenção é assegurada pelo Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio, Centro de saúde de Portimão que se estende às restantes freguesias e pelo Hospital da Misericórdia de Portimão. De forma a assegurar especificidades da saúde podemos contar com a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, Associação de Dadores de Sangue do Barlavento Algarvio, Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson – Delegação do Barlavento Algarvio, Associação Oncológica do Algarve – Delegação de Portimão, Associação da Pessoa com Esclerose Múltipla do Barlavento e Cruz Vermelha Portuguesa – Núcleo de Portimão. Ao nível autárquico, os munícipes podem contar com o projecto “Saúde para Todos” que apresenta como principal objectivo promover acções que contribuam para a melhoria das condições de saúde da população idosa, carenciada e de risco do concelho. Na prática são levados a cabo rastreios, acções de esclarecimento, conferências temáticas e comemoração de dias associados a esta temática. Assim, no primeiro fim-de-semana de cada vez acontece nas três freguesias do concelho rastreios ao colesterol, tensão arterial e diabetes, gratuitos. Para toda e qualquer vulnerabilidade, semanalmente a câmara atende a comunidade no seu gabinete de Atendimento e Acompanhamento Social o qual se Dissertação de Mestrado em Serviço Social 127 Qualidade de Vida dos Seniores objectiva em acompanhar situações de carência económica e/ou de outras questões sociais problemáticas, promovendo o encaminhamento e resolução das mesmas em conformidade com a capacidade e competências da autarquia e a resolução de situações de emergência e que exigem resposta imediata (situações de calamidade: intempérie, incêndios, etc.). Em complementaridade com este serviço podemos contar com a Loja de Solidariedade Social que, para além da Linha Nacional de Emergência Social (LNES) atende e acompanha famílias beneficiárias da medida de política social Rendimento Social de Inserção (RSI) e Acção Social. O concelho de Portimão, em 1999, foi um dos 40 concelhos seleccionados para implementar o “Programa Piloto” da Rede Social. O Conselho Local de Acção Social (CLAS) foi criado em 4 de Maio de 2000 funcionando como o centro de diálogo e concertação de âmbito concelhio. Nesse mesmo ano, foi apresentado o PréDiagnóstico Social de Portimão. Em Outubro de 2001, procedeu-se à candidatura ao Programa de Apoio à Implementação da Rede Social, cujo termo de aceitação foi assinado em Julho de 2002. A Rede Social traduz-se numa medida de política social que reconhece e incentiva a actuação das Redes de Solidariedade local no combate à pobreza e à exclusão social e na promoção do desenvolvimento local. Nos termos da Resolução de Conselho de Ministros n.º197/ 97 de 18 de Novembro, define-se como um fórum de articulação e congregação de esforços que se baseia na livre adesão por parte das autarquias e das entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos que nela queiram participar. A Rede Social assenta no princípio da parceira e no reconhecimento de complementaridades, organizando-se a partir de fóruns de âmbito concelhio denominada por Conselho Local de Acção Social (CLAS). Anualmente executa-se a reorganização do CLAS e Núcleo Executivo (NE), a actualização do Diagnostico Social e Plano de Desenvolvimento Social. O Desenvolvimento Social e Apoio às Instituições de Solidariedade Social e Associações de Intervenção de âmbito social e saúde reflecte-se na celebração de Contratos-Programa de Funcionamento e/ou Investimento e de Protocolos de Colaboração e/ou Parceria, apoio financeiro pontual e apoio e acompanhamento técnico e logístico na prossecução das actividades das IPSS´s e Associações. Percebe-se todo o esforço desenvolvido, de forma a garantir a efectividade de uma melhor qualidade de vida. Tem sido ao nível da acção social que, cada vez mais, têm surgido apelos à intervenção autárquica. Implementação de projectos, à resolução de casos sociais associados às problemáticas locais, apoio a IPSS´s e a outras entidades locais, tudo isto em nome de um maior e mais eficaz desenvolvimento regional e local (Menezes, 2002). Dissertação de Mestrado em Serviço Social 128 Qualidade de Vida dos Seniores 4.3.2 Um município ao dispor da população sénior: políticas e respostas sociais locais para os seniores O município de Portimão está empenhado na promoção de políticas que permitam, qualquer indivíduo, a alcançar uma idade avançada garantindo que esta seja mais sã, independente e digna envolta de maior segurança. A receita para a manutenção das capacidades e melhoria da qualidade de vida à medida que a idade avança, tem como ingredientes a promoção da saúde, dos estilos de vida saudáveis, da reabilitação, do fomento das possibilidades de acção em todas as fases da vida, assim como, melhorar a prevenção e atenuar as fragilidades e incapacidades alheias à idade. O trabalho com os seniores repercute-se em muito do esforço desenvolvido pelos técnicos do concelho. São muitas as actividades ao dispor dos seniores, assim como a sua diversidade e complementaridade. Para a plena concretização dos objectivos a autarquia alia-se às instituições com serviços direccionados para os seniores, nomeadamente, Lares, Centros de Dias, Centros de Convívio e Associações. A autarquia de Portimão tem como grande linha de acção a promoção da qualidade de vida dos seniores. Aos munícipes seniores, segundo a autarquia, “devem ser dadas as condições de existência dignas, através da satisfação das suas necessidades básicas como o acesso a cuidados de saúde e, fundamentalmente, ao bem-estar físico e mental” (CMP, 2007). O Projecto de Intervenção no âmbito da Terceira Idade “Viver Sénior em Portimão”, tem como objectivo oferecer um conjunto de actividades, dirigidas às pessoas reformadas e seniores (a partir dos 60 anos) que visam melhorar a qualidade de vida desta população, procurando fomentar um envelhecimento saudável. É dinamizado todo um conjunto de práticas e actividades saudáveis, tais como, passeios, matinés dançantes, encontros de convívio, etc. Para se poder participar em todas estas actividades foi criado, em 2006, o “Passaporte Sénior”. A criação do Passaporte Sénior foi uma inovação em todo o país tendo alcançado o êxito rapidamente, os números são surpreendentes, assim como a aderência da população às actividades levadas a cabo pela autarquia. À causa juntou-se os Cinemas Castello Lopes de Portimão que pratica descontos na compra do bilhete a quem apresentar o passaporte. A maioria das actividades é de carácter gratuito, sendo simbólico e excepcionais as vezes que importam custos. A participação nas actividades está sujeita a uma inscrição prévia, sendo que, todos os munícipes possuem a agenda Dissertação de Mestrado em Serviço Social 129 Qualidade de Vida dos Seniores devidamente calendarizada com todas as actividades que a câmara de propõe a realizar. “Atendimento e Apoio Social de Proximidade” dá nome a um projecto que visa melhorar as condições de vida de todos os munícipes residentes nas zonas periféricas do concelho. Dirigido à população sénior em situação de isolamento e a famílias em situação de grave carência económica, são prestados serviços, no âmbito do projecto, como cuidados de saúde primários e curativos (medição da tensão arterial, teste dos diabetes, injecções, pequenos curativos, marcação de consultas), acompanhamento psicossocial através da entrega de bens alimentares, apoio psicológico, encaminhamento para Centro de Dia ou serviços de apoio domiciliário, internamentos em lares, etc., são alguns dos serviços assegurados. Semanalmente deslocam-se 2 técnicos (uma enfermeira e uma assistente social) à Freguesia da Mexilhoeira Grande (à terça-feira) e às zonas periféricas de Portimão (Rasmalho, Alfarrobeiras, Ladeira do Vau, Porto de Lagos e outros à quarta-feira). A crescente instabilidade das relações familiares e indisponibilidade da família para dar apoio efectivo aos idosos, particularmente aos mais dependentes, e a despersonalização das relações sociais que, particularmente em meios urbanos e associado a uma certa segregação habitacional (envelhecimento das zonas mais antigas das cidades), conduz a graves situações de isolamento, carecendo de respostas sociais no sentido de promoverem um aumento da qualidade de vida. Neste sentido foi criado o mais recente projecto de intervenção social. O projecto “Portimão Solidário” pretende promover um apoio aos munícipes que se encontrem em situação de carência e isolamento, disponibilizando-se um conjunto variado, qualificado e adequado de serviços que respondam a problemas e dificuldades concretas, de forma gratuita. Consiste na criação de um serviço gratuito de apoio à população sénior carenciada e/ou a pessoas portadoras de deficiência, nomeadamente a realização de pequenos arranjos domésticos. Assim, dentro das reparações domésticas em habitações podemos enumerar o desempeno de portas; a reparação e substituição de torneiras, de louças sanitárias, de sifões e de acessórios de banca de cozinha; reparação de canalizações e tubagens de água e de esgoto; pinturas e remates em paredes e tectos; reparação de estores/persianas; entre outras reparações. Para uma mais perfeita organização doméstica, o “Portimão Solidário” executa ligações, afinações de televisores, vídeos/DVD’s e outros equipamentos eléctricos de uso corrente; organiza o espaço da habitação, em especial, arrumando e mudando de localização o mobiliário e objectos pesados, recolhendo velharias e afixando objectos às paredes e tectos e procede à limpeza de quintais e canteiros. Todo o serviço de Dissertação de Mestrado em Serviço Social 130 Qualidade de Vida dos Seniores mão-de-obra e deslocação é gratuito, sendo que, os seniores só terão o custo de, por exemplo pagar a fechadura. E porque ´”Distrair-se é uma necessidade de todo o ser humano, e aquele ou aquela que se diverte com uma ocupação agradável com o fim de se descontrair física e psicologicamente satisfaz esta necessidade fundamental” (Berger, 1995:267). Neste seguimento, os seniores portimonenses portadores do Passaporte Sénior poderão participar em actividades como: as matinés dançantes que, de Fevereiro a Junho de cada ano civil, realiza-se uma matiné por mês, cada uma com determinado tema e em locais diferentes (geralmente em associações recreativas) para facilmente chegarmos a todos os munícipes. Os passeios, são outra actividade igualmente procurada. Por ano, são aproximadamente 350 os seniores que descobrem o horizonte que a autarquia lhes proporciona. Também não nos podemos esquecer as viagens organizadas pelas associações locais que muito activamente programam também actividades de lazer e recreativas para os seniores. Podemos nomear a Associação dos Reformados do Pontal e Não Só e a Associação Cultural e Recreativa Alvorense 1º de Dezembro que uma em Portimão e outra em Alvor, respectivamente, mobilizamse e organizam não só convívio e actividades mas também passeios. Os passeios rejuvenescem as pessoas, recordam tempos outrora vividos, experiências passadas e aspiram viver cada vez mais. Estas lufadas de ar fresco no dia-a-dia dão um novo sentido à vida de qualquer um. Dentro ainda do programa podemos contar com comemorações de dias especiais, como o Dia Internacional da Pessoa Idosa (1º dia de Outubro) que nunca é esquecido, pelo contrário, é devidamente comemorado. O “Verão Sénior” é dirigido principalmente aos seniores institucionalizados que, em três períodos de tempo diferentes podem ir à praia de Alvor. A Câmara de Portimão põe à disposição o transporte, toldos e lanche, assim como pessoal que dinamiza actividades a acompanhamento aos que a praia visitam. Enquanto instância turística, Portimão banhada de praias revela-se num paraíso por muitos já esquecido, e com é boa recordar e porque faz bem a brisa marítima, todos vão passear à praia. Recentemente (11 de Dezembro 2006, dia da comemoração da elevação de Portimão a Cidade), foi inaugurado o Centro Convívio Sénior. Outra iniciativa bastante inovadora, uma vez que, é totalmente custeada pela autarquia. Os seniores que quiserem usufruir da vastidão de serviços que lá encontram, não terão qualquer encargo. Neste espaço podemos encontrar um espaço de leitura com livros, revistas e jornais diários, um espaço para jogos (damas, xadrez, dominó, cartas, etc.), uma cafetaria (onde um café ou um chá acompanham sempre um bom lanche) e tudo isto acompanhado diariamente por um técnico que presta todo o tipo de apoio e encaminhamentos necessários. No mesmo espaço físico podemos contar com o Dissertação de Mestrado em Serviço Social 131 Qualidade de Vida dos Seniores Espaço Internet, onde estão computadores à disposição de toda a comunidade e um técnico que promove o ensino e cursos de aprendizagem e formação. Uma novidade para os seniores mas que em nada os assusta, tornando-se uns verdadeiros cibernautas (óptimo para comunicarem com os familiares que residem longe). Para os mais curiosos existem no concelhio de Portimão dois locais de aprendizagem, a Associação Sénior e Autodidacta de Portimão e o Instituto de cultura de Portimão. As Universidades Seniores desenvolvem um papel de grande importância na manutenção de faculdades como a memória, inteligência, a linguagem, a sabedoria, a resolução prática de problemas e a capacidade de interpretar a informação verbal, a interpretação de informação não verbal, a capacidade de responder prontamente a novas situações, a aquisição de novos conceitos, a capacidade de concentração e de entender e fazer raciocínios mais abstractos e criatividade. Em nome da manutenção da actividade física, os seniores podem contar com o programa “Exercício e Saúde”. Este, desde logo, com bastante afluência traduz-se já numa necessidade para os seus participantes. Visa sensibilizar a população para a importância da actividade física e da adopção de estilos de vida saudáveis, assim como minimizar as situações de risco para a saúde e prolongar a autonomia aumentando a funcionalidade do corpo e melhorando, desta forma, a qualidade de vida, sobretudo dos seniores. Em 2007 foi criado um Gabinete de Avaliação, Aconselhamento e Actividade Física na Divisão de Desporto da Câmara Municipal de Portimão (entidade responsável pelo programa) para apurar a condição dos inscritos, sugerir-lhes quais as práticas mais adequadas e encaminhá-los para sessões, que podem incluir ginástica de manutenção, hidroginástica, ioga e gerontomotricidade. Os passeios ambientais são outra iniciativa muito concorrida que consiste em verdadeiros roteiros saudáveis que proporcionam caminhadas por trilhos de terra batida por todo o Algarve. Como actividades lúdicas, o “Exercício e Saúde” organiza ainda, os Jogos Seniores, o Encontro Intergerações e as Olimpíadas Sénior. E porque nunca é demais ouvir quem sabe, são promovidos, neste âmbito, colóquios temáticos que funcionam como debates abertos, ao longo de todo o ano. No âmbito da requalificação de espaços públicos foram construídos circuitos de manutenção por estações que visam proporcionar exercícios de força, flexibilidade e equilíbrio para todas as idades, com especial atenção à população sénior. O projecto “Vitavó” traduz-se assim num circuito geriátrico disponível em todos os jardins da Cidade. Os aparelhos disponíveis mostram-se também de real importância para a recuperação e beneficiação de deficiências motoras. O material geriátrico inclui aparelhos dorsais, de pressão de pernas, de aquecimento de braços ou de Dissertação de Mestrado em Serviço Social 132 Qualidade de Vida dos Seniores alongamentos, entre outros que servem para manter em actividade uma população geralmente passiva e, como tal, em risco de sofrer problemas cardíacos, obesidade, osteoporose. No entanto, só podemos encontrar estes circuitos na freguesia de Portimão, pretendendo-se, a curto prazo, o seu alargamento para as restantes freguesias. Outras instituições e associações de âmbito concelhio promotoras da qualidade de vida dos seniores O Instituto da Cultura de Portimão funciona como uma Universidade para a Terceira Idade, sendo esta uma resposta social que visa criar e dinamizar actividades sociais, culturais, educacionais e de convívio, regularmente. De referir que a actividades educativas funcionam informalmente, ou seja, sem fins de certificação e no contexto da formação ao longo da vida. Na Universidade Sénior de Portimão o ensino dirige-se para a aprendizagem e/ou aperfeiçoamento de línguas estrangeiras (alemão, inglês e francês), psicologia, informática, história, geografia, fiscalidade, educação para a saúde e arte de viver. As artes decorativas e as rendas e bordados estão incluídas na dimensão criativa, enquanto que, a hidroginástica e educação física (exercício e saúde) e as danças de salão exercitam o corpo e o cavaquinho e o canto coral reluzem a veia artística A origem das UTIs está maioritariamente ligada à mobilização dos próprios seniores, sendo eles os principais responsáveis pela abertura deste tipo de universidades. A forte particularidade deste espaço prende-se com os vários papéis passíveis de serem assumidos pelos seniores, assim, podem ser alunos, professores ou dirigentes. A educação é, para Ferreira (2007) um instrumento de promoção social enquanto estratégia de socioterapia, promovendo e estimulando a integração social. O envelhecimento prevê-se melhor para aqueles que mantêm a mente activa através de actividades educativas, nesta perspectiva, a educação seria tanto uma espécie de ginástica mental, que evita a deteorização das actividades cognitivas, quanto um instrumento para aquisição de novos conhecimentos. Assim a educação para os seniores objectiva-se em contribuir para a redução do isolamento e solidão, reintegrar os seniores de mais idade na sociedade, resgatando a sua cidadania e a sua participação na produção de novos valores e favorece, ainda, a redefinição das imagens da velhice e do envelhecimento, assim como, das relações entre gerações. A Associação dos Reformados do Pontal e Não Só encontra-se sedeada na freguesia de Portimão no Bairro Pontal que dá nome à associação. Aberta diariamente conta com a colaboração dos seus associados para a sua manutenção. Levam a cabo actividades diárias de cariz lúdico orientados pela colaboração de uma técnica de Dissertação de Mestrado em Serviço Social 133 Qualidade de Vida dos Seniores animação, da câmara municipal, duas vezes por semana. Neste espaço físico, semanalmente, também podem contar com um técnico de desporto inserido no programa “Exercício e saúde” que durante uma hora exercita os corpos dos seniores que queiram participar. A câmara, através de protocolos, apoia esta associação financeira e logisticamente, assim como todos os seus associados, podem participar em todas as actividades promovidas pela câmara. O Centro Comunitário de Alvor é uma IPSS´s com sede em Alvor, cujas funções estão direccionadas à ocupação de tempos livres para os seniores alvorenses. Nestas instalações podem contar com actividades lúdicas, como exemplifica a criação de uma tuna académica pela qual fazem diversas actuações. Como se confirma, a massa sénior é já tão significativa, no concelho de Portimão que, se mobiliza para, os próprios organizarem todo um conjunto de oportunidades de lazer. Estamos perante uma nova forma de envelhecimento que “forma” novos seniores. As mentalidades são outras, o conformismo foi trocado por actividade, a saúde ainda os sorri, ainda têm muitos anos pela frente para viver e, agora que já não desenvolvem uma actividade profissional efectiva, é tempo de bem viver. Para um pleno envelhecimento activo O lema de um envelhecimento activo “porque não basta viver mais, tem que se viver melhor” é bastante elucidativo daquilo que se pretende construir para os seniores. Falamos da criação de um espaço onde não só proporciona saúde e previne doenças mas também promove o equilíbrio, a autonomia, o crescimento interior e o consequente bem-estar e qualidade de vida. À semelhança do que já existe em alguns países, apostamos na criação de Centro de Envelhecimento Activo. Trabalhar a saúde integralmente cuidando do corpo, da mente e das emoções; tornar cada pessoa mais saudável, equilibrada e participativa criando condições, de cada um à sua medida, realizar novos planos e projectos de vida serão os fios condutores deste inovador projector. Através das avaliações clínicas periódicas são identificadas as suas condições de saúde e indicadas as actividades integradas mais apropriadas para potencializar o seu desenvolvimento físico e mental. Aposta-se num tratamento médico específico. Este Centro consiste num espaço de bem-estar e lazer, não se focando na aprendizagem ou aperfeiçoamento de conhecimento teóricos, função desenvolvida pelas UTI´s. O Centro teria de ser criado de raiz, uma vez que, não existe em Portimão nenhum espaço físico em funcionamento que disponha das condições necessárias. No Dissertação de Mestrado em Serviço Social 134 Qualidade de Vida dos Seniores entanto, e dado ao progresso económico vivido em Portimão, certos edifícios vão sendo trocados por construções novas, ficando estes sem utilidade à vista, como acontece ao edifício do antigo mercado municipal que, terá toda uma área capaz de suportar o centro. Tentaremos agrupar toda uma panóplia de actividades passíveis de integrarem o Centro de Envelhecimento Activo. Onde a cada actividade designada corresponde os seus benefícios. Quadro 3 – Actividades do Centro de Envelhecimento Activo Designação da actividade Benefício da actividade para os seniores Biodança Promove a saúde física e social Dança de Salão através da Memorização (auditiva e de passos); Yoga Estímulo e motricidade; Flexibilidade e Actividades Físicas e Motoras Agilidade; Biopilates Respiração Circulação e sanguínea (condicionamento Caminhada Assistida Alongamento cardiovascular); Integração afectiva; Vitalidade, Sexualidade e Criatividade; Comunicar Reestruturação corporal emoções e sentimentos; Compartilhar e Saúde Mental e Emocional Terapia Corporal Auto-estima. Oficina do Saber: grupos de Actualização estudo e discussão sobre conhecimentos temas preservação da capacidade da actualidade e estímulo a projectos de vida intelectual. Oficina Facilitar da Voz falada: Terapia em grupo dos as interpessoais e relações funcionando como terapia individual. Oficina do Canto; constituição Estímulo aos sentidos da de grupos corais linguagem, audição, concentração promovendo a intelectualidade. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 135 Qualidade de Vida dos Seniores Integração social; cognição; Oficina de Capacitação digital: ensino de informática actualização do conhecimento e promove o encontro de gerações. Oficina de desenvolvimento Bricolage: de Estimula a criatividade e actividades é memória e concentração. actividades Através Oficina da memória de exercitada a concentração. O ritmo, melodia e harmonia são os ingredientes que satisfazem as necessidades físicas, emocionais, mentais Saúde Mental e Emocional Musicoterapia e sociais combatendo depressão, a melancolia, angústia, solidão e dificuldade de expressão. O uso da arte na expressão das emoções dificuldade combate de a expressar emoções promovendo a autoArteterapia expressão, combate sintomas depressivos pelo estímulo à imaginação e criatividade. Recitar um poema transmite Criação Poética tranquilidade e serenidade. Encontros intergeracionais. Aperfeiçoando ou iniciação Curso de línguas de línguas estrangeiras porque o saber nunca ocupa lugar. Reeducação alimentar; Mudança e hábitos; Dissertação de Mestrado em Serviço Social 136 Qualidade de Vida dos Seniores Orientação Cozinha funcional nutricional e dietas especiais. Estímulo para funções cognitivas como o paladar, olfacto e tacto. Fonte: Centro de Envelhecimento Activo do Brasil. E porque, por variadíssimas razões, existem aquelas pessoas que preferem ficar em casa ou mesmo por questões de saúde encontram-se privadas de sair à rua perdendo-se na escuridão da solidão, um outro projecto em forma de desafio, será aqui lançado. Intitulado de “Doce Amigo”, este projecto funcionaria como uma extensão ao Portimão Solidário. A complementaridade dos serviços prestados é a base deste desafio. Tem como destinatários pessoas em situação de isolamento físico, psicológico ou social em que o apoio das redes sociais e familiares de suporte revelase escasso ou inexistente. Não nos referimos, apenas aos seniores, mas a todos os que, por alguma razão estão privados de conviver socialmente na sua vida diária. O objectivo principal é combater a solidão. Especificamente pretende-se dinamizar o voluntariado local (em cada freguesia); institucionalizar a modalidade do voluntário amigo; prestar cuidados básicos de saúde; sensibilizar a população em geral para a problemática da solidão e acompanhamento a consultas e passeios. O método de funcionamento do “Doce Amigo” consistiria na realização de visitas domiciliárias, em perfeita concordância, com voluntário e visitado onde, por um determinado espaço de tempo, era prestado apoio afectivo, emocial, psicológico e social. De acordo com o referido no ponto 2.2.3 (Os seniores e a família) do presente trabalho, o voluntário estará incumbido de, na medida do possível, adequar a habitação visitada às vulnerabilidades do visitado. Deste modo, prevenia-se quedas. Em estreita relação de cooperação com o Portimão Solidário, o seu colaborador estaria encarregue, quando necessário, dos pequenos grandes arranjos domésticos. Ludicamente e, de acordo com a imaginação de cada um, algumas actividades podiam ser levadas a cabo para que as capacidades de memorização e funcionalidade do raciocínio, pudessem ser trabalhadas e preservadas. À parte disso, pequenas ajudas nas tarefas diárias também poderiam ser experimentadas. Fazer companhia, dar atenção, proporcionar oportunidades de entretenimento, uma palavra amiga, valorizar o sentido da vida são pequenas grandes ajudas que o voluntário amigo pode proporcionar aos visitados. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 137 Qualidade de Vida dos Seniores Para implementar este pequeno grande projecto, podia-se contar com a colaboração das associações locais de voluntariado. Para uma boa implementação na prática, uma certa periodicidade em formações no âmbito do voluntariado seria o eixo fundamental, assim como, alguns conhecimento na área da prestação de pequenos cuidados médicos, claro que, sempre orientado por um enfermeiro. Pelo conhecimento da prática e da realidade municipal portimonense pensouse no espaço físico do Centro de Convívio Sénior de Portimão como entidade encarregue pela dinamização do projecto. Meu fado, meu doce amigo Meu grande consolador Eu quero ouvir-te rezar, Orações à minha dor! Só no silêncio da noite Vibrando perturbador, Quantas almas não consolas Nessa toada d'amor! Cantando p'r uma voz pura Eu quero ouvir-te também P'r uma voz que me recorde A doce voz do meu bem! Pela calada da noite Quando o luar é dolente Eu quero ouvir essa voz Docemente... docemente. Florbela Espanca 5. Estudo Empírico de investigação Dissertação de Mestrado em Serviço Social 138 Qualidade de Vida dos Seniores 5.1 A presentação do objecto de estudo e do modelo de análise A investigação subjacente a este trabalho incide sobre a Qualidade de Vida da população sénior residente no Concelho de Portimão desenvolvendo uma análise comparativa dos padrões vividos nas três freguesias constituintes do concelho (Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande). Pretende-se desenvolver uma análise aos domínios físico, psicológico, meio ambiente e relações sociais enquanto indicadores de Qualidade de Vida, através da avaliação da percepção dos munícipes com 65 ou mais anos, da sua posição na vida face ao sistema envolvente e sistema de valores nos quais eles vivem. Objectiva-se então, nesta investigação, verificar se existem diferenças entre o género, as expectativas, padrões e preocupações e ainda o grau de satisfação em relação à realização das necessidades da população residente em cada freguesia do concelho em estudo. Por outro lado, aspira-se estudar o impacto psicológico, social e ambiental, sobre os munícipes da referida faixa etária das condições sociais, económicas e políticas subjacentes à localização geográfica da sua área de residência, assim como, avaliar as redes de suporte e relações de vizinhança e predominância de sentimentos positivos ou negativos, auto-estima e factores associados. O estudo objectiva-se ainda, por apurar se, as diferentes freguesias do concelho, oferecem, de igual modo, acesso a serviços, nomeadamente em áreas como a saúde, lazer, recreação e acesso à informação. As questões que norteiam a presente investigação revêem-se nas hipóteses teóricas que a seguir apresentamos. a) A população com 65 ou mais anos residente na freguesia de Portimão tem melhor Qualidade de Vida em comparação com as restantes, por sua vez, a freguesia de Alvor apresenta melhores padrões de Qualidade de Vida que a população residente na freguesia da Mexilhoeira Grande. Esta relação entre o conceito Qualidade de Vida e as três freguesias resulta dos padrões de vida visíveis a qualquer observador. b) Pela ordem decrescente referenciada, é na freguesia de Portimão que a população pode contar com um vasto leque de bens e serviços, melhor acessibilidade aos mesmos, sendo que é uma população muito mais activa e participativa. Dado ao isolamento geográfico e social da freguesia da Mexilhoeira Grande, as restantes freguesias do concelho de Portimão têm melhor acessibilidade aos serviços. c) Em relação às expectativas e padrões é a população residente na freguesia de Portimão e Alvor que maiores índices de satisfação apresentam, respectivamente. Fenómenos explicados pelo facto das actividades relacionadas com o lazer e Dissertação de Mestrado em Serviço Social 139 Qualidade de Vida dos Seniores entretenimento estarem associadas às zonas mais urbanas e com maior densidade populacional, sendo destes que, se esperam uma democracia mais participativa. d) A população mexilhoeirense é a mais envelhecida e, consequentemente a que menor número de jovens tem, sendo igualmente a localidade mais isolada. A relação subjacente ao envelhecimento e isolamento directamente associados à freguesia da Mexilhoeira Grande une dois conceitos que geralmente se associam em zonas mais rurais e do interior do país. Fenómeno que encontra explicação no abandono da população jovem das zonas menos desenvolvidas e, cada vez mais desertificadas, para o litoral e zonas urbanas, carregando a esperança de uma vida melhor. Estas hipóteses permitem-nos elencar um fio condutor metodológico capaz de orientar os procedimentos de observação do objecto de estudo, no sentido da sua confirmação ou refutação. A amostra foi definida pelas seguintes condições: i) ter 65 ou mais anos; ii) ser residente numa das três freguesias que constituem o concelho de Portimão e iii) não estar institucionalizado26. A amostra é delimitada, à partida, por critérios que vão ao encontro dos objectivos da investigação. Estes critérios delimitam de tal modo a realidade, que todos os casos que não a obedecerem serão excluídos da amostra. Segundo, Flick (2005:64) “é a lógica da amostragem estatística que agrupa o material de acordo com um determinado critério (demográfico, por exemplo) (…) como é o caso de uma amostra representativa da distribuição desses critérios na população.” Não será feita qualquer distinção entre sexos. A amostra será escolhida aleatoriamente com o cuidado desta se constituir num grupo representativo da população em estudo, cujo método de selecção não é intencional. A população com 65 ou mais anos residente no concelho de Portimão, em 2001, era de 7 752 indivíduos. Por freguesia, em Portimão residiam 6 020 indivíduos, 885 em Alvor e 847 na freguesia da Mexilhoeira Grande. Deste modo, a amostra corresponde a 2% da população que reside no concelho de Portimão. Assim, em Portimão foram inquiridas 120 pessoas, 18 em Alvor e 17 na Mexilhoeira Grande, o que corresponde a uma amostra de 155 indivíduos. Daqui, espera-se uma amostra expressiva e representativa que espelhe o vasto leque de formas e padrões de qualidade de vida. 26 Entende-se para o presente estudo, por estar institucionalizado, os indivíduos que se encontrem em regime de internamento em Lares ou que frequentem Centros de Dia. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 140 Qualidade de Vida dos Seniores O concelho de Portimão fica situado no barlavento Algarvio no sul de Portugal com uma área de 183 Km2. Está rodeado pelos concelhos de Lagos, Monchique, Silves e Lagoa, por terra, e pelo Oceano Atlântico, por mar. É constituído pelas freguesias de Alvor, Mexilhoeira Grande e Alvor. Em 2001, residiam no concelho de Portimão 44 818 indivíduos o que corresponde a uma densidade populacional de 259,4 hab/km2. Dentro do concelho, verificamos que o centro urbano corresponde à freguesia de Portimão, cujo número de habitantes ronda os 35 000, o que corresponde a 61% do total da população. O crescimento populacional deste concelho é relativamente recente, verificando-se uma maior incidência a partir da década de 80. Entende-se que muito contribui o movimento de migrações internas, bem como a fixação de cidadãos estrangeiros. A freguesia de Alvor localiza-se entre Lagos e Portimão, confina a Oeste com a freguesia de Odiáxere, a Norte com a da Mexilhoeira Grande e sítio de Alcalar, a Noroeste com a de Marmelete e a Este com Portimão pelo sítio do Chão das Donas. A Alvor estende-se ao longo de 15,1 km2. Em 2001 residiam na freguesia de Alvor 4 977 indivíduos que reflecte uma densidade populacional de 330,3 hab/km2. A freguesia da Mexilhoeira Grande com 91,4 km2 é a mais extensa do concelho de Portimão. Situada em pleno Barrocal é a única que não confina com o mar. Apresenta o menor efectivo populacional com 3 598 indivíduos cuja densidade populacional era de 39,4 hab/km2 em 2001. A freguesia de Portimão com 75,1 km2 e com 36 243 indivíduos residentes em 2001 é a das três freguesias que maior índice de densidade populacional apresenta com 487,2 hab/km2. Em relação à tipologia das Áreas Urbanas, a freguesia de Portimão é uma área predominantemente urbana (APU), a freguesia de Alvor é semi-urbana e a freguesia de Mexilhoeira Grande é predominantemente Rural. Esta breve caracterização demográfica e territorial do concelho e respectivas freguesias espelha a diversidade e as diferentes singularidades características de cada freguesia, factos importantes e relevantes para a explicação e sentido do presente estudo. 5.2 Estratégias e procedimentos metodológicos Dissertação de Mestrado em Serviço Social 141 Qualidade de Vida dos Seniores A análise extensiva foi uma das técnicas utilizadas no presente estudo, uma vez que, se pretende fazer uma abordagem do conceito de Qualidade de Vida relacionado os seus indicadores com as características da amostra em estudo. A informação recolhida foi trabalhada de acordo com o procedimento de pontuação do WHOQOL-Bref no SPSS. Este estudo de pesquisa aplicada reflecte-se numa análise comparativa desenvolvida sob uma abordagem quantitativa de objectivo exploratório. Instrumentos de Recolha de Informação • WHOQOL-Bref Os dados serão recolhidos através do WHOQOL, instrumento que surgiu da necessidade da criação de um instrumento que fosse capaz de avaliar a Qualidade de Vida dentro de uma perspectiva de âmbito internacional. O projecto foi desenvolvido com a colaboração de quinze centros que trabalharam simultaneamente em diversos países de diferentes culturas. No seguimento, a OMS criou um projecto que resulta num questionário composto por cem itens (WHOQOL-100) em que o reconhecimento da multidimensionalidade do constructo se reflectiu na estrutura de uma avaliação da Qualidade de Vida de acordo com seis domínios (WHOQOL-100): o domínio físico (que engloba as facetas dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso), o domínio psicológico (que avalia a predominância de sentimentos positivos, o pensar, o aprender, a memória e concentração, a auto-estima, a imagem corporal e aparência e, ainda os sentimentos negativos), o domínio de independência (que compreende as facetas como a mobilidade, as actividades quotidianas, a dependência de medicação ou de tratamentos e a capacidade de trabalho), o domínio das relações sociais (este aborda a intensidade das relações pessoais, suporte (apoio) social e a actividade sexual), o domínio referente ao meio ambiente (as facetas aqui abordadas passam pela segurança física e a protecção, o ambiente no lar, os recursos financeiros, os cuidados de saúde, as novas informações e habilidades, a recreação e lazer, o ambiente físico e o transporte), o domínio da espiritualidade/religião/crenças pessoais encerra os domínios em estudo (este a avalia a incidência da espiritualidade, da religião e crenças pessoais). A necessidade de instrumentos curtos que demandem pouco tempo para o seu preenchimento, mas com características psicométricas satisfatórias, fez com que o Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolvesse uma versão abreviada do WHOQOL-100, o WHOQOL-Bref. O WHOQOL-Bref consta de vinte e seis questões, sendo duas questões gerais e as demais vinte e quatro representam cada uma das Dissertação de Mestrado em Serviço Social 142 Qualidade de Vida dos Seniores vinte e quatro facetas que compõem o original, WHOQOL-100. Assim a versão abreviada é composta por apenas quatro dos seis domínios, entre eles, o físico, o psicológico, as relações sociais e o meio ambiente. Diferente do WHOQOL-100 em que cada uma das vinte e quatro facetas é avaliada a partir de quatro questões, no WHOQOL-Bref é avaliada por apenas uma questão. Os dados que deram origem à versão abreviada foram extraídos do teste de campo de vinte centros em dezoito países diferentes. O critério de selecção das questões foi tanto psicométrico como conceptual. No nível conceptual, foi definido pelo Grupo de Qualidade de Vida da OMS de que o carácter abrangente do Instrumento deveria ser preservado. Assim, cada uma das vinte e quatro facetas que compõe o instrumento original (WHOQOL-100) deveria ser representada por uma questão. No nível psicométrico, foi então seleccionada a questão que mais altamente se correlacionasse com o score total, calculado pela média de todas as facetas. Após esta etapa, os itens seleccionados foram examinados por um painel de experts para estabelecer se representavam conceptualmente cada domínio de onde as facetas provinham. Dos vinte e quatro itens seleccionados, seis foram substituídos por questões que definissem melhor a faceta correspondente. Três itens do domínio meio-ambiente foram substituídos por serem muito correlacionados com o domínio Psicológico. Os outros três domínios foram substituídos por explicarem melhor a faceta em questão. Em relação às propriedades psicométricas da versão abreviada do WHOQOL, foi aplicado a 250 pacientes, 125 (50%) eram pacientes ambulatórios e 125 (50%) estavam internados. Os pacientes provinham das seguintes áreas básicas: Clínica (94 pacientes), Cirurgia (72 pacientes), Ginecologia (30 pacientes) e Psiquiatria (54 pacientes). Em relação à forma de administração do questionário, 53,3% foram autoadministrados, 27,3% foram assistidos pelo entrevistador e 19% foram administrados pelo entrevistador. A consistência interna do WHOQOL-Bref para os domínios, as questões e cada domínio individualmente foi avaliada pelo coeficiente de fidedignidade de Cronbach. O coeficiente mostrou valores satisfatórios quando calculado para as questões ou para os domínios, contudo apresentou valores mais baixos aquando da avaliação individual do domínio das Relações Sociais. Para avaliar a validade discriminante, comparou-se o resultado médio de cada um dos quatro domínios entre o grupo de pacientes (n=250) e de normais (n=50). Verificou-se uma tendência dos pacientes normais apresentarem resultados superiores em cada um dos quatro domínios. Os domínios Físico e Psicológico discriminaram de forma estatisticamente significativa os pacientes dos normais. O domínio do Meio-ambiente apresentou teste de significância limítrofe e o domínio das Relações Sociais não mostrou uma diferença estatisticamente significativa entre normais e pacientes. Para avaliar a Fidedignidade Dissertação de Mestrado em Serviço Social 143 Qualidade de Vida dos Seniores ao teste foi aplicado um reteste após duas a quatro semanas, mas desta vez, unicamente aos 50 indivíduos normais, uma vez que, estes tendem a ter uma variação menor da sua condição neste espaço de tempo. Ao comparar as médias entre os resultados nos diferentes domínios entre o teste e o reteste, observou-se que não houve diferença significativa nas médias entre os domínios. Nos coeficientes de correlação entre o teste e o reteste, observou-se que os coeficientes apresentaram valores elevados (acima de 0,7) e altamente significativos, demonstrando uma boa fidedignidade teste-reteste. Deste modo, as características psicométricas do WHOQOL-Bref preenchem os critérios de consistência interna, validade discriminate, validade concorrente, validade de conteúdo e confiabilidade teste-reteste, básicos numa avaliação preliminar. O WHOQOL-Bref apresentou uma boa consistência interna, medida pelo coeficiente de Cronbach, quer se tomem as vinte e seis questões, os quatro domínios ou cada um dos domínios. Para estudar a validade de critério do WHOQOL-Bref, realizou-se uma regressão linear múltipla dos domínios em relação à faceta que avalia a “qualidade de vida geral”. Observou-se que três dos quatro domínios fizeram parte do modelo, explicando 44% da variância. Assim, pode-se inferir que com a excepção do domínio das Relações Sociais, os demais domínios foram importantes na definição de qualidade de vida numa amostra de pacientes com doenças de diferentes naturezas e severidades. Ainda quando se comparou a correlação entre os diferentes domínios entre si, observou-se que todos os domínios apresentam coeficientes de correlação significativos entre si, sendo que a correlação entre os domínios Físico e Psicológico foi a mais alta. O questionário WHOQOL é utilizado relevantemente em estudos de investigação como um instrumento para avaliar a Qualidade de Vida de indivíduos em relação a um grande número de temas. O WHOQOL GROUP (1995) tem por base o desenvolvimento dos elementos que conduziram à definição de Qualidade de Vida entendida como “a percepção do indivíduo da sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações.” Metodologicamente, a cada questão do questionário corresponde uma escala com cinco opções de resposta considerando-se a intensidade desta última, em que 1 corresponde à total insatisfação e 5 à completa satisfação. O questionário será levado a cabo directamente pelo entrevistador aos entrevistados, interface, mediante total esclarecimento face aos objectivos do estudo e com o devido consentimento dos mesmos. Todo o procedimento metodológico e ético subjacente à aplicação do Dissertação de Mestrado em Serviço Social 144 Qualidade de Vida dos Seniores instrumento será respeitado. Serão igualmente respeitadas as normas de confidencialidade. Este instrumento de recolha de informação é anónimo cujos modos de administração serão auto-administrados, em que após a leitura das instruções, o respondente preenche o questionário sem qualquer ajuda; ou assistido pelo entrevistador, em que é o respondente que lê as questões e assinala as respostas após o entrevistador ler as instruções e explicar o modo de preenchimento do mesmo; ou administrado pelo entrevistador, em que o entrevistador lê as instruções, as questões, a escala de resposta e assinala no questionário a resposta dada pelo inquirido. • Questionário Sócio-Demográfico Embora seja já parte constituinte do WHOQOL-Bref uma breve caracterização dos dados pessoais da amostra, para o presente estudo torna-se insuficiente. Deste modo, será aplicado um questionário sócio-demográfico, em que as questões abordadas fazem todo o sentido para a construção do modelo de análise traduzindo-se em indicadores de avaliação de modo a que sejam descontruídas as hipóteses formuladas. A caracterização da amostra da população será então completada por um questionário sócio-demográfico que inclui o número de elementos no agregado e de filhos, rendimento mensal e respectiva fonte, participação activa em actividades promovidas pela câmara ou respectivas Juntas de Freguesia, relação face ao isolamento, satisfação das necessidades, frequência com que vai à cidade e serviços mais procurados e por uma pergunta aberta sobre o que está em falta na respectiva freguesia. Deste modo, a caracterização sócio demográfica da amostra é assegurada pelos dois instrumentos. Ambos os questionários têm o mesmo procedimento de aplicação, uma vez que, serão passados intercalarmente. A ordem a ser seguida será, em primeiro lugar os Dados Pessoais constituintes do WHOQOL-Bref, em seguida o questionário Sócio-Demográfico e por último, o WHOQOL-Bref. O Procedimento Perante a impossibilidade para o levantamento de informação segundo o procedimento interface, o entrevistador solicitou a colaboração de serviços disponíveis no concelho, em maior proximidade com a população sénior. Em Alvor, houve a colaboração Técnica Superior de Serviço Social do Centro Comunitário de Alvor que, facilitou o acesso aos seniores (10) que visitam a sua instituição. Para a Mexilhoeira Dissertação de Mestrado em Serviço Social 145 Qualidade de Vida dos Seniores Grande, contamos com o apoio da TSSS pelo projecto “Proximidade e Atendimento Social” da responsabilidade da Divisão de Acção Social e Saúde (DASS) da autarquia de Portimão, que inquiriu 8 pessoas. As restantes foram inquiridas pelo entrevistador. As 120 pessoas representantes da freguesia de Portimão foram da total responsabilidade do investigador. Uma vez que, a freguesia de Portimão é a mais representativa em termos populacionais, o investigador teve o cuidado de fazer uma divisão entre os inquiridos, representativamente, tendo recorrido a utentes do Centro de Convívio Sénior, da Universidade da Terceira Idade, Associação de Reformados do Pontal e Não Só e a pessoas sem quaisquer ligações a serviços direccionados para os seniores. Dentro deste processo as pessoas foram inquiridas aleatoriamente. O setting da recolha de informação foi variado. Podemos referir, os espaços físicos referentes aos locais supra-citados e ainda, cafés e jardins. Assegurou-se desde início, o cumprimento das normas de confidencialidade no preenchimento dos questionários, assim como, todas as regras subjacentes à sua passagem foram devidamente respeitadas. Coube assim, ao investigador o papel de bem informar e explicar aqueles que com ele colaboraram. Por parte dos entrevistadores tiveram a tarefa de explicar os objectivos do estudo e só em caso de consentimento foram passados os questionários, WHOQOLBref e Sócio-Demográfico. 5.3 Apresentação e discussão dos resultados obtidos Antes de apresentar e discutir os dados obtidos, cabe-nos caracterizar a amostra. Já em análise, discutiremos em primeiro lugar os resultados obtidos pelo questionário sócio-demográfico e em seguida os dados do Whoqol-Bref. De referir que na primeira análise estatística as tabelas referidas encontram-se no anexo 1 (p.199), na segunda análise preferimos analisar as tabelas incorporando-as na discussão. • Caracterização da amostra Antes de dar início à apresentação e discussão dados, veremos as características da amostra estudada. Foram inquiridas 155 pessoas que preencheram os requisitos para colaborar com este estudo, nomeadamente ter 65 ou mais anos, residir numa das três freguesia do concelho e Portimão e não se encontrar institucionalizado. Entendemos aqui, a situação de institucionalizado, os indivíduos que se encontrem nos Lares ou Centro de Apoio a Idosos em regime de internamento, ou ainda, os frequentadores de Centros de Dia. Incluímos, todavia, os utentes dos Centros de Dia, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 146 Qualidade de Vida dos Seniores pela razão de passarem toda uma parte do dia numa instituição estando, em certa medida, privado de alguma liberdade. Por freguesias, foram inquiridos, 120 indivíduos em Portimão, 18 em Alvor e 17 na freguesia da Mexilhoeira Grande. Foram inquiridos nas três freguesias, maioritariamente mulheres (ver tabela n.º10), facto que encontra explicação na esperança média de vida ser mais risonha para as mulheres e por existir diferenças entre envelhecer no feminino e no masculino. Estes aspectos tiveram já oportunidade de serem estudados, sendo agora confirmados perante os resultados obtidos pela nossa amostra. A tabela precedente, tabela n.º9a, elucida-nos quanto à média de idades. Assim, nas freguesias de Alvor e Mexilhoeira Grande contamos como idade média dos inquiridos, 75 anos. Em Portimão a média desce 2 anos, ficando pelos 73. Ao analisar os dados obtidos verifica-se que nas três freguesias predominam os agregados familiares constituídos por dois elementos, não se podendo concluir, casais, uma vez, que a respectiva pergunta não o especificava. No entanto, podemos afirmar, por intermédio da observação empírica, que grande parte destes, são mesmo casais. De realçar a predominância de pequenos agregados quanto à sua dimensão, já que, em seguida surgem indivíduos isolados. Em Portimão verificamos 51 indivíduos para a primeira situação e 40 para a segunda. Sendo que a partir daqui os dados mostram-se irrelevantes dada a sua escassa representatividade. Em Alvor, não fará sentido lançar nenhum número, visto que maioritariamente, são agregados constituídos por dois elementos (10). A freguesia da Mexilhoeira Grande enquadra-se no cenário vivido pelos portimonenses, uma vez que, ambas as situações, estão representadas por valores muito próximos (9 indivíduos que coabitam com uma pessoa e 7 individuas que vivem só). Quanto ao número de filhos podemos referir como média para Portimão, 2 filhos por inquirido, com uma representatividade de 57 inquiridos. Em seguida, embora ainda distante, predomina 1 filho por inquirido (34 inquiridos). Nas restantes freguesia, o cenário mantém, embora com maior equilíbrio entre ambas as situações. Em Alvor contamos 4 inquiridos nas situações de 1, 2 e 4 filhos. Na Mexilhoeira Grande sobressai os inquiridos com 2 filhos (5), sendo que, em seguida 4 indivíduos tiveram apenas um filho. Perante os resultados obtidos na tabela n.º1 (ver anexos), não se mostra relevante referir nenhum outro aspecto, a não ser e, apenas a título de referência, que os indivíduos sem filhos aparecem com uma representatividade considerável nas três freguesias. Doze inquiridos em Portimão, 2 em Alvor e 3 na Mexilhoeira. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 147 Qualidade de Vida dos Seniores Em Portimão 54 dos inquiridos são casados e 44 são viúvos. Nas restantes freguesias destacam-se os casados, com 13 em Alvor e 10 na Mexilhoeira Grande. Podemos dizer nestas últimas mais de metade dos indivíduos que participaram no estudo, são casados. Os inquiridos foram questionados relativamente quanto aos seus rendimentos mensais (per capita) e as respectivas fontes. Este indicador começa já a esboçar algumas diferenças características das referidas freguesias. Em Portimão residem os indivíduos que auferem maiores rendimentos, sendo que 42 dos 120 indivíduos inquiridos em Portimão têm rendimentos superiores a 500€. No entanto, sabemos que nas grandes cidades são sempre visíveis sinais de diferença entre as classes, em que, por um lado temos os mais abonados, ou seja, com melhores condições financeiras e opostamente encontramos os menos abonados. Assim, 34 dos inquiridos que residem em Portimão auferem apenas rendimentos que variam entre os 200€ e 300€. Os dados revelados na tabela n.º2, dizem-nos que em Alvor os rendimentos obtidos ficam-se pelos 200€ e 300€. O cenário vivido na Mexilhoeira reparte-se entre os rendimentos que variam entre os 200€ e 300€ (6 indivíduos) e os que oscilam entre os 300€ e 400€ (5 indivíduos). Tal como descrevemos no capítulo 4 (4.2 perspectiva territorial) onde abordamos as diferenças entre viver no meio urbano confrontando com o rural, facilmente de depreende que é na cidade que melhores oportunidades surgem assim como melhores empregos e oportunidades de investimento. Em Portimão, maioritariamente os rendimentos referidos são provenientes das reformas, onde surgem, em grande escala, a pensão por velhice (54), tal como acontece nas outras freguesias. No entanto, é de referir ainda que as pessoas cujos rendimentos são mais elevados, em alguns casos, estes são fruto de outras fontes que não pensões da segurança social ou caixa geral de aposentações (6). Dez inquiridos referem ter outros rendimentos que não foram especificados. Quando estudada a escolaridade dos inquiridos percebe-se, desde logo, que os indivíduos mais instruídos residem em Portimão. Olhando a tabela n.º11, verificase que o grau mais elevado de escolaridade, na Mexilhoeira Grande é o actual 4º ano, ou seja, 1º ciclo. Sete inquiridos têm o 1º ciclo, 5 sabem apenas ler e escrever não tendo completado o 4ºano e outros 5 indivíduos não sabem ler nem escrever. Em Alvor o cenário é ligeiramente mais risonho mas mantém-se os baixos graus de escolaridade. A maioria ficou-se pelo 1ºciclo (11 inquiridos), no entanto encontraramse 2 pessoas que não sabem ler nem escrever e 4 que sem o 1º ciclo sabem ler e escrever. De referir que um dos inquiridos na freguesia de Alvor possui o 2º ciclo. Em Portimão, é bem diferente. Inquirimos 5 pessoas com estudos universitários e 16 com Dissertação de Mestrado em Serviço Social 148 Qualidade de Vida dos Seniores o ensino secundário completo. No entanto a média situa-se, tal como nas demais freguesias, no 1º ciclo (58 indivíduos). As baixas escolaridades, também se expressam na população portimonense, embora, proporcionalmente menos significativas. Mais uma vez, se explica e se confirmam melhores condições de vida na zona urbana. As baixas escolaridades nas zonas rurais podem ser explicadas pelo abandono e absentismo precoce das crianças à escola, por motivos de auxiliar os pais no trabalho do campo. Quem teve a oportunidade de, não digamos sair do campo para a cidade, mas pelo menos, de estudar na cidade, certamente que obteve melhores graus de escolaridade. As actividades profissionais outrora desenvolvidas são, de igual modo, alvo de avaliação. Assim, em Portimão grande parte da população era doméstica (17 indivíduos) e 13 trabalharam na indústria conserveira. Em Alvor destaca-se como profissão a indústria conserveira (4), doméstica (3) e comerciante (3). Na Mexilhoeira Grande assistimos a uma distribuição significativa, como podemos verificar na tabela n.º 12, sendo que, não será relevante evidenciar qualquer profissão. Resta-nos dizer que caracteristicamente são profissão de baixas qualificações. As profissões referidas são geralmente desenvolvidas por mulheres, facto que explica a predominância das inquiridas representarem o sexo feminino. E porque a OMS aproxima Qualidade de Vida ao estado de saúde, os inquiridos foram questionados sobre o seu estado de saúde, tipo de doença, o tempo de doença e o regime de tratamento. Assim, em Portimão contamos 56 inquiridos doentes e 62 referiram não apresentar qualquer doença. Os problemas de estômago (7), as depressões (5), a osteoporose, os problemas renais, doenças no coração e problemas de visão, todas estas referidas por três inquiridos, revelam-se nas doenças com maior incidência entre os habitantes da freguesia de Portimão. Os problemas de estômago, confirma-se ao observar a tabela n.º 16 que não ocorre num período certo de tempo, muito pelo contrário, em 2 pessoas os problemas surgiram entre um a cinco anos. A incidência das depressões é visível em todo o período de tempo. A osteoporose, enquanto doença apontada como típica dos seniores, apareceu entre 5 e 10 anos atrás, ora se a média de idades dos inquiridos é de 75 anos, esta doença tem tendência a aparecer entre os 65 e 70 anos de idade. Todos os inquiridos à excepção se dois (um com depressão e outro com problemas de tiróide) são acompanhados medicamente em regime de consulta externa. • Apresentação e discussão dos resultados obtidos pelo questionário sócio-demográfico Dissertação de Mestrado em Serviço Social 149 Qualidade de Vida dos Seniores A participação revelou-se neste estudo um fenómeno crucial. Quando falamos em seniores, reformados, sem qualquer actividade profissional que lhe esgote o tempo livre associamos a questão da ocupação do tempo livre. Teoricamente já abordamos este tema que agora vimo-lo confrontado com os inquiridos. A pergunta prendia-se na participação ou não nas actividades levadas a cabo pela Câmara Municipal e/ou Junta de freguesia da sua área de residência. Confirmamos que os indivíduos participam desenvolvendo, desta forma, uma cidadania activa. Dos 120 inquiridos em Portimão, 85 participam nas actividades (70,8%), sendo o projecto Viver Sénior o que mais participantes recebe, 28 indivíduos. Se analisarmos pormenorizadamente, verificamos que os 28 indivíduos não correspondem à totalidade das pessoas que usufruem das actividades contempladas para quem possui o passaporte sénior. Por exemplo, vimos que 14 pessoas frequentam também o Centro de Convívio Sénior. E ainda 10 pessoas, bastante activas aproveitam as actividades da Junta de freguesia de Portimão, do Viver Sénior e ainda do Centro Convívio Sénior. Do total dos inquiridos em Alvor, 83,3% dos inquiridos participam nas actividades. Sendo que, leva vantagem as actividades integradas no Exercício e Saúde, assim como, as levadas a cabo pelo Centro Comunitário de Alvor, com uma representatividade de 7 indivíduos. A participação no Viver Sénior vem em seguida, com as mesmas 4 pessoas que participam, não só, neste projecto mas também nas actividades do Centro Comunitário de Alvor. Juntando os dados temos que, 11 inquiridos, maioria dos inquiridos, nesta freguesia frequenta as actividades levadas a cabo pelo Centro Comunitário. Na Mexilhoeira, surge no lugar mais elevado do pódio, as actividades da respectiva Junta de Freguesia. Geograficamente isolada, esta vila, fecha-se um pouco às actividades que a mesma oferece. Todavia, 4 pessoas têm e usufruem do passaporte sénior e 76,5% da população participa nas actividades. O balanço é bastante positivo e incentiva quem dedica o seu trabalho aos seniores em prol do seu bem-estar. As pessoas que não participam em qualquer actividade justificam o desconhecimento de tais actividades, por opção própria ou ainda por falta de oportunidade. A freguesia que maior índice de participação apresenta é a de Alvor com 83,3%, depois surge a Mexilhoeira Grande com 76,5% e, por fim, e ao contrário do estimado inicialmente, vem Portimão com 70,8%. Os valores associados à participação estão descritos no conjunto de tabelas n.º3, 3ª, 3b e 3c. Podemos deduzir que a grande maioria das pessoas que participaram neste estudo, têm uma postura activa de encarar a velhice, sendo Dissertação de Mestrado em Serviço Social 150 Qualidade de Vida dos Seniores testemunhas de um envelhecimento activo. Pela experiência no terreno, podemos afirmar que a assiduidade no momento do dia de abertura de inscrição, por exemplo, nas actividades do passaporte sénior, é qualquer coisa de abrupto. Muitas das vezes as inscrições acabam no dia de abertura, perante tal assiduidade. Virando a moeda, os participantes foram inquiridos sobre a predominância ou não de sentimentos de isolamento. No entanto, o conceito foi mal percebido pelos inquiridos, tendo na sua quase totalidade respondido à justificação de sentimento de solidão. A diferença entre os conceitos foi já desconstruída, entendendo isolamento na sua relação com o espaço físico, isto é, isolamento geográfico, e solidão no sentido da pessoa de sentir sozinha. De qualquer modo teremos de avaliar os dados recolhidos, mas fica desde já, ressalvada a explicação do mau entendimento. Só na freguesia de Portimão é que existem diferenças significativas entre quem se sente isolado e quem não se sente isolado, 37 para 83 indivíduos, respectivamente. Os habitantes de Alvor estão divididos, sendo que 9 pessoas estão para cada um dos lados. Na Mexilhoeira, embora com uma representatividade superior para que não se sente isolado, com 10 dos inquiridos para 7 se afirmam o isolamento, não se revela tão significativa com em Portimão. As pessoas alegam, nos termos da tabela n.º4a, o sentimento de isolamento derivado ao facto de viverem sozinhas, isto na freguesia de Portimão. Nas restantes são apontadas questões como a falta de vontade de sair de casa ou devido à sua própria doença ou do seu cônjuge. Não podia deixar de fazer referência às respostas que corresponderam ao verdadeiro entendimento do conceito. Na Mexilhoeira uma pessoa respondeu “Porque quando precisa de certas coisas tem de ir a Portimão”, em Alvor e Portimão, uma pessoa respondeu “Porque moro longe de tudo”. Quando questionadas sobre o motivo de não se sentirem isoladas, o resultado foi uma vasta lista de motivos. Podemos referir para a freguesia de Portimão, respostas como “Convive com muitas pessoas” (8), “Passeia muito” (9), “Tem a companhia de familiares próximos” (7) ou “Porque frequento o Centro de convívio” e “Pessoa activa” com uma representatividade de 5 pessoas. Passando de coluna, na tabela 4b, verificamos que para além de se considerarem pessoas activas e de passearem muito, apontam como razão para o não isolamento a frequência nas actividades do Centro Comunitário, entre outros motivos, todos com uma resposta cada. Na Mexilhoeira predomina o facto de ter muitos amigos e familiares (3) ou tem a companhia de familiares próximos (1). Por seu turno, houve quem alegasse que embora vivesse num local isolado geograficamente é uma pessoa activa e autónoma, ou “Sente-se bem vivendo só e longe dos serviços mas tem carro” o que combate o Dissertação de Mestrado em Serviço Social 151 Qualidade de Vida dos Seniores isolamento. Nestas últimas referências foi novamente entendido o verdadeiro sentido do conceito isolamento. A tabela n.º 5 distribui a satisfação ou não com os serviços e actividades desenvolvidas na respectiva freguesia e se os mesmos correspondem às suas necessidades. Em pleno nas três freguesias, a satisfação é muito positiva. De referir que na Mexilhoeira assiste-se à unanimidade, sendo que todos as pessoas responderam afirmadamente. Em Portimão são referidas as boas oportunidades de entretenimento (9) a par com “Porque há de tudo”, a “Proximidade dos serviços e oportunidade de entretenimento” (5) e o facto de haver muito convívio combatendo deste modo a solidão (5) aparecem logo de seguida. Por seu lado em Alvor, 3 inquiridos afirmam haver de tudo na sua freguesia e outros tantos referem “Tudo óptimo”. Na Mexilhoeira, é apontada a razão que os serviços existentes revelam-se suficientes para a satisfação das necessidades da população, com uma representatividade de 6 indivíduos. Duas pessoas referem ainda que “O serviço da junta é atencioso e personalizado”. Nesta questão não podemos deixar de referir o absentismo sendo bem significativos nas três freguesias. A justificação para a não satisfação dos serviços, prende-se, pontualmente em Portimão com a sua insuficiência, no entanto são referidas situações pontuais, como é o caso da zona da Coosofi estar abandonada, a forte aglomeração dos indivíduos de etnia cigana nas Cardosas ou ainda, o facto que na Praia da Rocha não existir qualquer serviço nem para os seniores nem para crianças. Na impossibilidade de mencionar todos os itens, ficam aqui os mais flagrantes, a nosso ver. São apontadas em Alvor razões como, pelas duas únicas pessoas que não se mostram satisfeita, a insuficiência dos mesmos. Para melhor compreender a existência ou não do isolamento, nas freguesias de Alvor e Mexilhoeira e, também das áreas de habitação afastadas do centro da cidade de Portimão, os inquiridos foram questionados sobre a frequência com que se deslocavam a Portimão. Assim, e de acordo com a tabela n.º 6, 60 habitantes de Portimão diariamente vão a Portimão, prendendo-se este facto, por residirem no centro os zonas de grande proximidade com o mesmo. Todavia, 12 pessoas só se deslocam a Portimão em casos excepcionais. Facto curioso, quando comparamos as respostas das restantes freguesias, e indo contra a opinião inicialmente formada por nós, são os habitantes da Mexilhoeira que com maior frequência se deslocam a Portimão. Em Alvor, 10 pessoas referem ir à cidade em casos excepcionais. Quanto aos serviços mais procurados nestas deslocações à cidade, em Portimão podemos referir o hospital, comércio local, hipermercado e mercado Dissertação de Mestrado em Serviço Social 152 Qualidade de Vida dos Seniores municipal como os que mais visitas recebem. Os habitantes de alvor procuram com maior assiduidade o hipermercado, mercado municipal e comércio local, sendo que o último prevalece. Na Mexilhoeira a razão apontada com maior frequência foi para visitar família e/ou amigos (2) entanto, os indivíduos que não especificaram a razão aprestam maior representatividade (3). No seguimento destas questões, os inquiridos foram confrontados para opinar sobre o que faria falta na sua freguesia. O resultado foi uma vasta lista. De qualquer forma enumeraremos os de maior expressão. Assim, na tabela n.º8, verifica-se que os inquiridos pedem mais policiamento nas ruas (3), a elevação das passadeiras para peões (4), um espaço maior para os seniores (5+2), mais casas de banho públicas (4), mais jardins e recuperar os existentes. De salientar que 22 inquiridos referiram não faltar nada em Portimão. Em Alvor as preocupações prendem-se com o melhoramento das calçadas e a implementação de um posto da Guarda Nacional Republicana. Três pessoas afirmam não faltar nada na freguesia de Alvor. Na Mexilhoeira são apontadas necessidades bem diferentes, tal como, maior de frequência dos transportes públicos (5), uma fonte pública ou um jardim, uma ponte para peões na EN 125 em frente ao cruzamento que dá entrada na Mexilhoeira (4), outras tantas pessoas referem, tal como em Alvor a implementação de um posto da GNR. Três pessoas afirmam não faltar nada na freguesia da Mexilhoeira Grande. Quando os habitantes da Mexilhoeira pedem uma maior frequência dos transportes públicos percebemos que, de facto, estas pessoas se sentem isoladas. Que, por certas vezes deixam de sair de casa por não terem transporte. A tabela n.º 18 relaciona a forma de administração dos questionários por freguesia. Desta feita, em Portimão, 91 dos casos foi administrado pelo entrevistador, 19 questionário foram auto-administrados e 10 assistidos pelo entrevistador. Nas restantes freguesias todos os questionários foram passados pelo entrevistador. Facto que pode explicar as baixas qualificações e/ou existência de alguns sentimentos de insegurança. Não podemos deixar passar o feedback, entre as diferenças das três formas de passar o questionário. Nas situações de auto-administração, nem todas as respostas eram dadas, respondendo apenas ao que lhes interessavam. Nos casos dos assistidos tudo correu normalmente. Todavia, nas situações que o entrevistador assumiu o comando dos questionários, foram sentidos sentimentos de vergonha, quando questionados até que ponto estavam satisfeitos com a sua vida sexual. O entrevistador não terá insistido perante tal situação, facto que explica a questão 21 do WHOQOL-Bref ter algum absentismo. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 153 Qualidade de Vida dos Seniores Confrontação das hipóteses Após esta breve análise estatística, estamos em condições de confrontar algumas das hipóteses inicialmente formuladas. Deste modo, as hipóteses a serem confirmadas ou refutadas concretizam-se nas seguintes: a) Pela ordem decrescente referenciada, é na freguesia de Portimão que a população pode contar com um vasto leque de bens e serviços, melhor acessibilidade aos mesmos, sendo que é uma população muito mais activa e participativa. Dado ao isolamento geográfico e social da freguesia da Mexilhoeira Grande, as restantes freguesias do concelho de Portimão têm melhor acessibilidade aos serviços. b) Em relação às expectativas e padrões é a população residente na freguesia de Portimão e Alvor que maiores índices de satisfação apresentam, respectivamente. Fenómenos explicados pelo facto das actividades relacionadas com o lazer e entretenimento estarem associadas às zonas mais urbanas e com maior densidade populacional, sendo destes que, se esperam uma democracia mais participativa. c) A população mexilhoeirense é a mais envelhecida e, consequentemente a que menor número de jovens tem, sendo igualmente a localidade mais isolada. A relação subjacente ao envelhecimento e isolamento directamente associados à freguesia da Mexilhoeira Grande une dois conceitos que geralmente se associam em zonas mais rurais e do interior do país. Fenómeno que encontra explicação no abandono da população jovem das zonas menos desenvolvidas e, cada vez mais desertificadas, para o litoral e zonas urbanas, carregando a esperança de uma vida melhor. Não podemos confirmar as duas primeiras hipóteses, visto a população da Mexilhoeira responder em peso estar satisfeita com todos os serviços existentes na sua freguesia. Por sua vez, em Alvor também não são apontados irregularidades nos serviços, referindo os inquiridos a existência de qualidade nos mesmos. Em Portimão a satisfação com os mesmos é, de igual modo, muito significativa. No entanto, as freguesias mais isoladas geograficamente (Alvor e Mexilhoeira) sentem-se inseguras requerendo vigilância policial. Confirma-se, neste encadeamento, o isolamento sentido pela população da Mexilhoeira ao reclamarem maior assiduidade dos transportes Dissertação de Mestrado em Serviço Social 154 Qualidade de Vida dos Seniores públicos. Os valores apurados estatisticamente confirmam, desta feita, a predominância dos sentimentos de isolamento nas freguesias mais afastadas do centro da cidade. Quanto à participação activa das populações verificamos grande assiduidade às actividades. Nas três freguesias verificamos uma maioria esmagadora. No entanto o que se verifica é que cada freguesia responde mais assiduamente às actividades levadas a cabo na sua área de residência. Isto é, na Mexilhoeira a população recorre às actividades desenvolvidas pela Junta de Freguesia e em Alvor, recorrem às actividades desenvolvidas no âmbito do Centro Comunitário de Alvor. A população residente em Alvor usufrui, de igual modo, do Exercício e Saúde, fruto da colaboração existente entre a Câmara Municipal e o Centro Comunitário que disponibiliza um técnico que se deslocam semanalmente ao local. Não será correcto afirmar, que a população da freguesia de Portimão é mais activa que as restante. Todas apresentam índices significativos de participação. Neste ponto também não podemos confirmar a primeira hipótese. Considerando a terceira hipótese aqui referida na alínea c), teríamos de igual modo, de refutá-la se nos baseássemos unicamente nos dados estatisticamente estudados por nós. Não podemos dizer que a população da Mexilhoeira é mais envelhecida que a de Alvor, uma vez que a média de idades dos inquiridos é igual, de 75 anos. No entanto podemos afirmar com convicção que Portimão é uma cidade, pouco, mas mais jovem que as restantes populações. A população jovem, não sendo alvo nesta investigação, impossibilita-nos de tirar conclusão dos dados estudados, no entanto, auxiliamo-nos pelos dados estatisticamente apurados pelo INE. Assim para os 36 243 habitantes na freguesia de Portimão, 6020 têm 65 ou mais anos. Em Alvor, para os 4 977 habitantes, 885 são seniores. Na freguesia da Mexilhoeira com 3 598 habitantes, 847 têm idade igual ou superior a 65 anos. Perante estes dados confirmamos que a população da freguesia da Mexilhoeira é a mais envelhecida com 23,5% de população sénior. Em Alvor correspondem 17,8% e em Portimão 16,6%. Avaliados os pontos percentuais a diferença entre Alvor e Portimão é mínima, destacando-se, por seu turno, a Mexilhoeira. Vejamos agora o número de jovens. Consideramos os jovens pelas idades compreendidas entre os 15 e os 29 anos, idades onde, a nosso ver, são tomadas decisões como abandonar a sua terra natal. Maioritariamente será nestas idades, em que as pessoas procuram oportunidades e melhores condições de vida. Assim, em Portimão contamos com 7 871 jovens correspondendo a 21,7% da população total. Em Alvor vivem 604 jovens correspondendo a 20,3% da população total. E para confirmar a nossa hipótese, na Mexilhoeira apenas16,8% da população total é jovem. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 155 Qualidade de Vida dos Seniores Agora sim, confirmamos que a população da freguesia da Mexilhoeira Grande é a mais envelhecida. Depois de confirmada a hipótese remetemos a explicação para o capítulo anterior onde estão explicados os vários factores que diferem viver em meio urbano e rural, assim como, algumas explicações do abandono da terra que os viu crescer. • Apresentação e discussão dos resultados obtidos pelo Whoqol-Bref Analisaremos, de seguida, a qualidade de vida dos munícipes de Portimão de acordo com os dados obtidos pelo Whoqol-Bref. Para uma mais fácil interpretação dos resultados agrupamos no seguinte quadro as facetas que cada domínio avalia e as questões correspondentes. Através das tabelas seguintes analisaremos os diferentes índices de qualidade de vida experienciados em cada uma das três freguesias constituintes do concelho de Portimão. Para fazer corresponder os resultados obtidos às hipóteses inicialmente formuladas que norteiam o presente estudo, trataremos individualmente as facetas pertinentes para confirmar ou refutar as mesmas. Quadro 4 – Domínios, questões respectivas facetas em análise do Whoqol-Bref. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 156 Qualidade de Vida dos Seniores Domínios Questões Facetas Q3. Em que medida as suas dores (físicas) o Dor e desconforto impedem de fazer o que precisa de fazer? Q4. Em que medida precisa de cuidados médicos Dependência da medicação ou para fazer a sua vida diária? de tratamentos Q10. Tem energia suficiente para a sua vida Energia e fadiga diária? Q15. Físico Como avaliaria a sua mobilidade Mobilidade (capacidade para se movimentar e deslocar por si próprio)? Q16. Até que ponto está satisfeito com o seu Sono e repouso sono? Q17. Até que ponto está satisfeito com a sua Actividades da vida quotidiana capacidade para desempenhar as actividades do seu dia-a-dia? Q18. Até que ponto está satisfeito com a sua Capacidade para o trabalho capacidade de trabalho? Q5. Até que ponto gosta da sua vida? Q6. Em que medida sente que a sua vida tem sentido? Q7. Até que ponto se consegue concentrar? Psicológico Sentimentos positivos Espiritualidade/religião/crenças pessoais Pensar, aprender, memória concentração Q11. É capaz de aceitar a sua aparência física? Q19. Até que ponto está satisfeito consigo Imagem corporal e aparência Auto-estima próprio? Q26. Com que frequência tem sentimentos Sentimentos negativos negativos, tais como, tristeza, desespero, ansiedade ou depressão? Q20. Até que ponto está satisfeito com as suas Relações pessoais relações pessoais? Dissertação de Mestrado em Serviço Social 157 Qualidade de Vida dos Seniores Q21. Até que ponto está satisfeito com a sua vida Relações Sociais Actividade sexual sexual? Q22. Até que ponto está satisfeito com o apoio Suporte (apoio) social que recebe dos seus amigos? Q8. Em que medida se sente em segurança no Segurança física e protecção seu dia-a-dia? Q9. Em que medida é saudável o seu ambiente físico? Q12. Tem dinheiro suficiente para satisfazer as Ambiente físico (poluição, ruído, trânsito, clima) Recursos financeiros suas necessidades? Q13. Até que ponto tem fácil acesso às informações necessárias para organizar a sua Meio ambiente Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades vida diária? Q14. Em que medida tem oportunidade para realizar actividades de lazer? Q23. Até que ponto está satisfeito com as Participação em oportunidades de recreação/lazer Ambiente no lar condições do lugar em que vive? Q24. Até que ponto está satisfeito com acesso que tem aos serviços de saúde? Q25. Até que ponto está satisfeito com os Cuidados de Saúde e sociais: disponibilidade e qualidade Transportes transportes que utiliza? Fonte: Elaborado pelo investigador baseado no Whoqol-Bref. A presente tabela elucida de forma clara a relação entre as questões e respectivas facetas. Assim, temos na primeira coluna os domínios analisados no Whoqol-Bref, na segunda coluna descrevemos as vinte e seis questões que constituem o questionário e, por fim, na terceira coluna fazemos corresponder as facetas em análise. A cada questão que se coloca aos inquiridos permite-nos avaliar determinada faceta. Será o conjunto destas facetas que formam os índices de avaliação de cada domínio. Esta tabela será o ponto de referência para as seguintes deduções estatísticas. Cada domínio tem uma cotação mínima e uma cotação máxima. Esta cotação refere-se à soma das respostas dadas tendo como base a escala de respostas que varia de 1 a 5. De referir que determinadas questões estão invertidas, ou seja, para as Q3 e Q4 do domínio 1 (físico) e Q26 do domínio 2 (psicológico) a escala de resposta é compatibilizada de forma inversa, em que o cinco (máximo) corresponde a 1 (mínimo), Dissertação de Mestrado em Serviço Social 158 Qualidade de Vida dos Seniores sendo o contrário igualmente verdade. Para efeitos de contagem são retirados seis pontos a cada resposta dada. A cada domínio corresponde uma pontuação máxima e uma pontuação mínima e será através destes valores que quantificamos a qualidade de vida dos munícipes de Portimão. Vejamos. Tabela 19 - Média dos somatórios dos resultados obtidos na relação dos domínios com as freguesias. O domínio físico apresenta como cotação máxima de 35 pontos correspondendo às questões Q3, Q4, Q10, Q15, Q16, Q17 e Q18. De referir que, as Freguesias Físico Psicológico . Relações Sociais Meio-ambiente Total dos resultados Portimão Alvor Mexilhoeira Grande Máximo atingível Mínimo atingível Média dos somatórios Média dos somatórios Média dos somatórios por cada domínio por cada domínio 24,4 24,4 22,3 35 7 20,8 21,1 20,5 30 6 10,8 10,8 10,8 15 3 25,5 24,2 23,6 40 8 81,5 80,5 77,2 apresentados questões 3 e 4 foram recodificadas, uma vez que, para estas situações a satisfação máxima corresponderia a 1 na escala de resposta. Para que a cotação máxima seja atingida os inquiridos têm de mostrar completa satisfação face à questão colocada, ou seja, fazer corresponder a sua resposta ao valor 5. Assim, fazendo corresponder todas as questões (7 para o domínio físico) ao 5, obtêm-se um total de 35 pontos [527 + 528 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5]. Os valores mínimos possíveis para este domínio correspondem a 7 [129 + 130 + 1 + 1 + 1+ 1 + 1]. Para tal, as respostas têm de corresponder ao nível mínimo de satisfação corresponde a 1 na escala de resposta. Assim sendo, verifica-se que o domínio físico apresenta igual média aritmética do somatório para as freguesias de Portimão e Alvor (24,4 27 A questão Q3 foi recodificada, assim o 1 cuja resposta corresponde a “nada” equivale à máxima satisfação (5). 28 A questão Q4 foi, tal coma a Q3, recodificada. 29 Questão recodificada (Q3). Questão recodificada (Q4). 30 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 159 Qualidade de Vida dos Seniores pontos). Os inquiridos da freguesia da Mexilhoeira Grande para as facetas do domínio físico apresentam 22,3 pontos dos 35 possíveis. O domínio psicológico que avalia a predominância de sentimentos positivos, o pensar, o aprender, a memória e concentração, a auto-estima, a imagem corporal e aparência e, ainda os sentimentos negativos apresenta como valores máximos 30 pontos e 6 para os mínimos. O domínio psicológico é constituído por 6 questões, assim, se a satisfação for plena e a todas as questões corresponderem a escala 5, atingimos a cotação máxima de 30 pontos (5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 531). A situação oposta corresponde a 6 pontos (1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 132). De acordo com a tabela, Alvor é a freguesia com valores mais elevados (21,1), seguida de Portimão com 20,8 e, por fim, com 20,5 surge a freguesia da Mexilhoeira Grande. O domínio das relações sociais aborda a intensidade das relações pessoais, suporte (apoio) social e a actividade sexual apresentando como valores máximos 15 pontos (5 + 5 + 5) e 3 para os mínimos (1 + 1 + 1). Este domínio é composto por 3 questões. A média dos somatórios é unânime para as três freguesias (10,8). O domínio referente ao meio ambiente apresenta como valores compreendidos entre os 8 (1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1) e os 40 pontos (5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5). À análise deste domínio correspondem a 8 questões. A média aritmética do somatório apresenta valores relativamente mais semelhantes ao domínio físico. Assim, a freguesia de Portimão expressa o valor mais elevado com 25,5 pontos. A freguesia de Alvor apresenta 24,2 e a Mexilhoeira com 23,6 dos possíveis 40 pontos que interpretamos como sendo valores consideráveis muito baixos de satisfação. Pelo total dos resultados obtidos, afirmamos que os níveis de qualidade de vida são melhores para a freguesia de Portimão, seguida da de Alvor e, por último, a freguesia da Mexilhoeira. Tal como apontam as nossas hipóteses colocadas inicialmente e se confirmam pelos cálculos relativos ao total dos resultados apresentados. De seguida analisaremos domínio a domínio. Pretendemos com esta perspectiva perceber se existem diferenças na satisfação da população em relação a cada domínio e em confronto com cada freguesia do concelho de Portimão. Depois desta análise, apresentam-se as conclusões em termos de domínio, individualmente pontuados, em termos percentuais. Tabela 20 – Estudo do Domínio Físico nas três freguesias do concelho de Portimão. Freguesia 31 32 Questão recodificada (Q26). Questão recodificada (Q26). Dissertação de Mestrado em Serviço Social 160 Qualidade de Vida dos Seniores Portimão Q3 Q4 Q10 Q15 Q16 N 5 Coluna % 4,2% N 0 Coluna % o% N 0 Coluna % ,0% Pouco 26 21,7% 4 22,2% 4 23,5% Nem muito nem pouco 20 16,7% 1 5,6% 5 29,4% Muito 38 31,7% 9 50% 8 47,1% Muitíssimo 31 25,8% 4 22,2% 0 ,0% Nada 5 4,2% 0 ,0% 0 ,0% Pouco 20 16,7% 0 ,0% 5 29,4% Nem muito nem pouco 16 13,3% 0 ,0% 6 35,3% Muito 26 21,7% 11 61,1% 4 23,5% Muitíssimo 53 44,2% 7 38,9% 2 11,8% Nada 0 ,0% 1 5,6% 0 ,0% Pouco 15 12,5% 4 22,2% 3 17,6% Moderadamente 36 30,0% 4 22,2% 9 52,9% Bastante 60 50,0% 6 33,3% 5 29,4% Completamente 9 7,5% 3 16,7% 0 ,0% Muito má 2 1,7% 0 ,0% 0 ,0% Má 11 9,2% 3 16,7% 2 11,8% Nem boa nem má 28 23,5% 8 44,4% 5 29,4% Boa 62 52,1% 4 22,2% 10 58,8% Muito boa 16 13,4% 3 16,7% 0 ,0% Muito insatisfeito 10 8,3% 2 11,1% 1 5,9% Insatisfeito 29 24,2% 3 16,7% 8 47,1% 23 19,2% 4 22,2% 2 11,8% Satisfeito 49 40,8% 8 44,4% 6 35,3% Muito satisfeito 9 7,5% 1 5,6% 0 ,0% Muito insatisfeito 2 1,7% 0 ,0% 1 5,9% Insatisfeito 14 11,7% 3 16,7% 1 5,9% 23 19,2% 6 33,3% 5 29,4% Satisfeito 74 61,7% 8 44,4% 10 58,8% Muito satisfeito 7 5,8% 1 5,6% 0 ,0% Muito insatisfeito 5 4,2% 1 5,6% 1 5,9% Insatisfeito 28 23,5% 4 22,2% 2 11,8% 42 35,3% 7 38,9% 8 47,1% Satisfeito 41 34,5% 6 33,3% 6 35,3% Muito satisfeito 3 2,5% 0 ,0% 0 ,0% insatisfeito Nem satisfeito nem insatisfeito Q18 Mexilhoeira Grande Nada Nem satisfeito nem Q17 Alvor Nem satisfeito nem insatisfeito A Q3 avalia a dor e desconforto dos inquiridos. De um modo geral, a população sénior do concelho de Portimão considera que as dores físicas que sentem impedem muito de fazer o que precisam. Metade da população inquirida em Alvor expressa este Dissertação de Mestrado em Serviço Social 161 Qualidade de Vida dos Seniores desconforto. O cenário na Mexilhoeira é idêntico estando os valores percentuais muito próximos a Alvor com 47,1%. A freguesia de Portimão aparece como uma maior distribuição dos resultados. No entanto, 31,7% das respostas correspondem a igual incómodo, fazendo representar a resposta mais significativa. Apenas referir que os extremos de resposta, o muitíssimo e o pouco surgem com valores percentuais muito próximos, 25,9% e 21,7% respectivamente. A necessidade de cuidados médicos diários é muito expressiva em Alvor, sendo que, 61,1% referem precisar muito deles e 38,9% referem “muitíssimo”. O cenário para Portimão não varia muito, embora o “muitíssimo” ultrapasse em larga medida o “muito”, com 44,2%% e 21,7%, respectivamente. A saúde parece sorrir mais aos habitantes da Mexilhoeira Grande, a natureza ainda traz muitos benefícios à saúde. 29,4% dizem precisar pouco dos cuidados médicos diários, 35,3% referem mediocremente e 23,5% dos inquiridos admitem precisar muito destes diariamente. De realçar a resposta dos inquiridos que responderam “nada” quanto à dependência da medicação ou de tratamentos, em Alvor e na Mexilhoeira nenhum dos inquiridos referiu tal resposta, enquanto que em Portimão expressaram-se 4,2%. Portimão aparece aqui como a freguesia que mais precisa de cuidados médico, deduzindo ser a freguesia mais doente. A Q10 corresponde à faceta energia e fadiga. Aos inquiridos foi perguntado se teriam energia suficiente para o seu dia-a-dia. Metade dos inquiridos em Portimão refere ter bastante energia. Na Mexilhoeira, pouco mais de metade (52,9%) dos inquiridos dizem ter energia e fadiga moderada, no entanto, 29,4% admitem ter bastante energia. Em Alvor a distribuição está mais equilibrada, 33,3% referem ter bastante energia, 22,2% moderada e 22,2% pouca energia para enfrentar a vida diária. Podemos concluir que a população mais enérgica reside em Portimão, contudo e tal como já tínhamos visto atrás não corresponde à população que desempenha uma cidadania mais activa, sendo que, é a população de Alvor que participa com maior assiduidade na sociedade. Em resposta à questão “Como avaliaria a sua mobilidade (capacidade para se movimentar e deslocar por si próprio)?” os inquiridos nas freguesias de Portimão e Mexilhoeira Grande respondem em peso ter boa mobilidade com 52,1% e 58,8%, respectivamente. Os inquiridos em Alvor consideram medíocre a sua mobilidade com 44,4% a responder “nem boa nem má”. De referir que a resposta “muito boa” não foi referida por nenhum dos inquiridos na Mexilhoeira, todavia, foi referida por 13,4% da população inquirida em Portimão e por 16,7% em Alvor. O sono e repouso são as facetas em análise na questão 16. A população residente nas freguesias de Portimão e Alvor afirma, com 40,8% e 44,4%, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 162 Qualidade de Vida dos Seniores respectivamente, estar satisfeitas com o seu sono. No entanto, a população da restante freguesia está mais dividida, em que, o grosso modo, se encontra na insatisfação (47,1%). 35,3% estão satisfeitos com o sono e consequente repouso que dele advém. De elucidar, o facto de nesta freguesia ninguém referir que está muito satisfeito. Até que ponto está satisfeito com a sua capacidade para desempenhar as actividades do seu dia-a-dia? A esta questão toda a população que constitui a amostra para este estudo respondeu em peso estar em satisfeita com a sua capacidade de desenvolver as suas actividades quotidianas. Capacidade para o trabalho divide as opiniões dos inquiridos. A expressão que maiores adeptos recebe é mesmo o meio-termo, em que se mostram não estar satisfeitos nem insatisfeitos. No entanto surge, de igual modo em todas as freguesias, a satisfação com as suas capacidades para trabalhar com 34,5% para Portimão, 33,3% para Alvor e 35,3% para a Mexilhoeira. A completa satisfação apenas é referida por 3 pessoas em Portimão. Em conclusão, a saúde parece ser mais favorável aos habitantes da Mexilhoeira em detrimento dos habitantes de Alvor. Em Portimão reside a população com maior energia, que mais satisfeita está com a sua capacidade de movimentar-se e com o sono e repouso que dispõem. A disponibilidade para desempenhar as actividades da vida quotidiana revela-se favorável para a grande maioria das amostras que constituem as três freguesias. O trabalho não se revela num marco para os inquiridos, não se mostram satisfeitos nem insatisfeitos, também já trabalharam uma vida toda, eis chegada a idade do descanso e de desempenhar outras formas de trabalhar. Tabela 21 - Estudo do Domínio Psicológico nas três freguesias do concelho de Portimão. Freguesia Dissertação de Mestrado em Serviço Social 163 Qualidade de Vida dos Seniores Portimão Q5 Q6 Q7 Q11 Q19 Mexilhoeira Grande Nada N 3 % 2,5% N 1 % 5,6% N 0 % ,0% Pouco 8 6,7% 0 ,0% 0 ,0% Nem muito nem pouco 37 30,8% 7 38,9% 9 52,9% Muito 56 46,7% 8 44,4% 5 29,4% Muitíssimo 16 13,3% 2 11,1% 3 17,6% Nada 4 3,4% 1 5,6% 0 ,0% Pouco 6 5,0% 0 ,0% 2 11,8% Nem muito nem pouco 27 22,7% 4 22,2% 7 41,2% Muito 67 56,3% 9 50,0% 6 35,3% Muitíssimo 15 12,6% 4 22,2% 2 11,8% Nada 1 ,8% 0 ,0% 0 ,0% Pouco 25 21,0% 4 22,2% 4 23,5% Nem muito nem pouco 27 22,7% 5 27,8% 4 23,5% Muito 57 47,9% 7 38,9% 9 52,9% Muitíssimo 9 7,6% 2 11,1% 0 ,0% Nada 2 1,7% 0 ,0% 0 ,0% Pouco 10 8,4% 1 5,6% 0 ,0% Moderadamente 37 31,1% 6 33,3% 10 58,8% Bastante 60 50,4% 8 44,4% 5 29,4% Completamente 10 8,4% 3 16,7% 2 11,8% Muito insatisfeito 2 1,7% 0 ,0% 0 ,0% Insatisfeito 12 10,0% 1 5,6% 1 5,9% 31 25,8% 5 27,8% 5 29,4% Satisfeito 63 52,5% 10 55,6% 10 58,8% Muito satisfeito 12 10,0% 2 11,1% 1 5,9% Nunca 7 5,8% 1 5,6% 0 ,0% Poucas vezes 32 26,7% 4 22,2% 6 35,3% Algumas vezes 48 40,0% 10 55,6% 7 41,2% Frequentemente 27 22,5% 2 11,1% 4 23,5% Sempre 6 5,0% 1 5,6% 0 ,0% Nem satisfeito nem insatisfeito Q26 Alvor Os sentimentos positivos, de facto, residem na consciência dos inquiridos. 46,7% dos inquiridos em Portimão e 44,4% dos inquiridos em Alvor dizem gostar das suas vidas. Embora, a maioria das pessoas residentes na Mexilhoeira refiram alguma indiferença face à satisfação que atribuem às suas vidas, com 52,9% da população a responder “nem muito nem pouco”. No entanto, e olhando para todos os valores, percebemos que a frequência de sentimento positivos é superior nesta última freguesia. Ninguém tendo respondido às duas escalas mais baixas (nada e pouco) faz com que haja uma maior concentração dos resultados nas escalas mais positivas. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 164 Qualidade de Vida dos Seniores Em que medida sente que a sua vida tem sentido? Esta questão surge na continuidade da antecedente e os resultados não diferem muito. Mais de metade dos inquiridos em Portimão afirmam que a suas vidas fazem muito sentido (56,3%). Na Mexilhoeira continua a predominar o meio-termo (41,2%) surgindo em seguida a atribuição de muito sentido às suas vidas com 35,3%. Em Alvor reside a maior concentração da positividade das crenças que têm atribuído às suas vidas. Contabilizando as duas escalas mais elevadas (muito e muitíssimo) contamos com 72,2% da população residente em Alvor. Embora ambas as questões tenham formulação semelhante, os resultados alteram-se na medida da concentração dos dados mais positivos. Assim, para a primeira questão, é a população da freguesia da Mexilhoeira que apresenta os sentimentos mais positivos, ao passo que, na segunda questão recai sobre a população de Alvor. A espiritualidade, religião e/ou crenças pessoais são as facetas em análise na Q6, desta feita, podemos dizer que a população de Alvor é mais ligada às questões da igreja e respectiva espiritualidade, ao passo que a freguesia da Mexilhoeira, por si só pensa de forma mais positiva. Pensar, aprender, memória concentração estão em estudo na Q7. Os habitantes de Portimão e da Mexilhoeira afirmam ter bons índices de concentração com 47,9% e 52,8%, respectivamente. Em Alvor o cenário é um pouco diferente verificando-se uma distribuição mais uniforme, onde as capacidades de concentração se dividem em “pouco” com 22,2%, “nem muito nem pouco” com 27,8% e com maior expressão, “muito” com 38,9%. Contudo, atribuímos bons níveis de concentração para a população das três freguesias. A opinião sobre a imagem corporal e aparência foi questionada aos inquiridos. Os portimonenses e os alvorenses gostam bastante da imagem que o espelho lhes dá. Por seu turno, os mexilhoeirenses confessam achar moderada a imagem reflectida no espelho (58,8%). A Q19 “Até que ponto está satisfeito consigo próprio?” reflecte a auto-estima dos participantes neste estudo. É unânime nas freguesias em análise, a autosatisfação. A maioria dos inquiridos apresenta bons índices de auto-estima. A questão que culmina o domínio psicológico avalia a predominância de sentimentos negativos, tais como, tristeza, desespero, ansiedade ou depressão. A expressão “algumas vezes” foi a preferida pelos inquiridos, sendo que a correspondem, 40% em Portimão, 55,6% em Alvor e 41,2% na Mexilhoeira. De referir que os sentimentos negativos aparecem com maior frequência entre os habitantes de Portimão, se somarmos as respostas “frequentemente” e “sempre” temos uma relevante percentagem de 27,5. Tal como tínhamos analisado anteriormente face aos Dissertação de Mestrado em Serviço Social 165 Qualidade de Vida dos Seniores sentimentos positivos, confirmamos que a coerência reina na freguesia da Mexilhoeira, onde predominam os sentimentos positivos dando pouca importância à frequência de sentimento negativos. Para concluir a qualidade de vida da população residente no concelho de Portimão, em relação ao domínio psicológico, podemos afirmar que, tal como acabamos de concluir o optimismo reina entre os habitantes da freguesia que se encontra geograficamente mais afastada. A auto-estima e concentração apresentam valores muito positivos e significativos para a maioria da amostra em estudo. A freguesia da Mexilhoeira só aparece neste domínio, com índices mais baixos, quando estuda a aparência física. De realçar a forte vertente psicológica de predomina nesta zona rural. Certo é, porém, que a civilização comporta consigo uma maior indiferença face às pessoas, caracteriza-se pela impessoalidade e individualidade das relações interpessoais. A competitividade reina na civilização enquanto as boas relações de vizinhança e amabilidade ganha nos meios rurais. Tabela 22 – Estudo do Domínio das Relações Sociais nas três freguesias do concelho de Portimão. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 166 Qualidade de Vida dos Seniores Freguesia Portimão Q20 Q21 Q22 Alvor Mexilhoeira Grande Muito insatisfeito N 1 Coluna % 0,8% N 0 Coluna % ,0% N 0 Coluna % ,0% Insatisfeito 6 5,0% 0 ,0% 0 ,0% Nem satisfeito nem insatisfeito 24 20,0% 5 27,8% 5 29,4% Satisfeito 79 65,8% 11 61,1% 11 64,7% Muito satisfeito 10 8,3% 2 11,1% 1 5,9% Muito insatisfeito 8 7,2% 1 5,6% 0 ,0% Insatisfeito 12 10,8% 0 ,0% 1 7,7% Nem satisfeito nem insatisfeito 31 27,9% 7 38,9% 7 53,8% Satisfeito 59 53,2% 10 55,6% 5 38,5% Muito satisfeito 1 0,9% 0 ,0% 0 ,0% Muito insatisfeito 1 0,8% 1 5,6% 0 ,0% Insatisfeito 7 5,8% 0 ,0% 0 ,0% Nem satisfeito nem insatisfeito 23 19,2% 7 38,9% 5 29,4% Satisfeito 81 67,5% 8 44,4% 11 64,7% Muito satisfeito 8 6,7% 2 11,1% 1 5,9% Em relação ao domínio das relações sociais foram avaliadas três facetas. Assim a questão Q20 refere-se à análise das relações pessoais. As três freguesias do concelho de Portimão mostram-se maioritariamente satisfeitas com as relações pessoais que estabelecem. Para Portimão 65,8%, 61,1% para Alvor e 64,7% na Mexilhoeira Grande. A Q21 aborda a satisfação ou não da actividade sexual. Ao contrário, do que os inquiridos interpretaram, esta questão pergunta se estão satisfeitos com a sua vida sexual, não importando se praticam ou não esta relação. De referir que alguns inquiridos preferiram não responder. Em análise, verifica-se 53,2% de satisfação para a freguesia de Portimão e 55,6% para a freguesia de Alvor. Na Mexilhoeira Grande predomina com 53,8% a indefinição perante a satisfação da actividade sexual, não se mostrando satisfeitos nem insatisfeitos. Podemos referir o meio rural como condicionante da liberdade de expressão, onde o sexo é ainda um tabu. O apoio e suporte social expressam-se satisfatoriamente nas freguesias de Portimão e Mexilhoeira Grande com 67,5% e 64,7%, respectivamente. Em Alvor, a indiferença apresenta valores muito aproximados à satisfação, 38,9% e 44,4%, respectivamente. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 167 Qualidade de Vida dos Seniores Quanto ao domínio das relações sociais podemos considerar que os inquiridos estão satisfeitos com o tipo de relações que estabelecem. Portimão aparece na frente quanto à satisfação das relações pessoais e suporte social, enquanto que Alvor lidera a satisfação com a actividade sexual. Deste modo, não podemos generalizar preferência para Portimão quanto à satisfação das relações sociais. De referir que a freguesia de Alvor apresenta os valores mais elevados quando se referem “muito satisfeitos” em relação às relações pessoais e apoio social. Depreendemos, no entanto, a freguesia da Mexilhoeira como a que menores índices de satisfação apresenta nas facetas de relações pessoais e actividade sexual. Talvez explicado pelo facto do isolamento geográfico a que se encontra a freguesia, as relações de vizinhança são fortificadas apresentando bons níveis de satisfação face ao apoio recebido socialmente. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 168 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 23 – Estudo do Domínio Meio Ambiente nas três freguesias do concelho de Portimão. Freguesia Portimão Q8 Q9 Q12 Q13 Q14 Q23 N 12 % 10,0% N 0 % ,0% N 0 % ,0% Pouco 19 15,8% 8 44,4% 4 23,5% Nem muito nem pouco 42 35,0% 7 38,9% 10 58,8% Muito 45 37,5% 3 16,7% 3 17,6% Muitíssimo 2 1,7% 0 ,0% 0 ,0% Nada 1 ,8% 1 5,6% 0 ,0% Pouco 12 10,1% 4 22,2% 2 11,8% Nem muito nem pouco 51 42,9% 9 50,0% 10 58,8% Muito 52 43,7% 4 22,2% 5 29,4% Muitíssimo 3 2,5% 0 ,0% 0 ,0% Nada 12 10,0% 4 22,2% 1 5,9% Pouco 34 28,3% 6 33,3% 11 64,7% Moderadamente 63 52,5% 7 38,9% 4 23,5% Bastante 10 8,3% 1 5,6% 1 5,9% Completamente 1 ,8% 0 ,0% 0 ,0% Nada 5 4,2% 0 ,0% 0 ,0% Pouco 15 12,6% 5 29,4% 5 29,4% Moderadamente 66 55,5% 8 47,1% 10 58,8% Bastante 31 26,1% 4 23,5% 2 11,8% Completamente 2 1,7% 0 ,0% 0 ,0% Nada 5 4,2% 0 ,0% 0 ,0% Pouco 19 15,8% 2 11,1% 8 47,1% Moderadamente 51 42,5% 7 38,9% 5 29,4% Bastante 41 34,2% 8 44,4% 3 17,6% Completamente 4 3,3% 1 5,6% 1 5,9% Muito insatisfeito 1 ,8% 0 ,0% 1 5,9% Insatisfeito 16 13,3% 2 11,1% 0 ,0% 18 15,0% 6 33,3% 7 41,2% Satisfeito 68 56,7% 8 44,4% 9 52,9% Muito satisfeito 17 14,2% 2 11,1% 0 ,0% Muito insatisfeito 9 7,5% 3 17,6% 1 5,9% Insatisfeito 46 38,3% 3 17,6% 3 17,6% 31 25,8% 6 35,3% 8 47,1% Satisfeito 33 27,5% 5 29,4% 5 29,4% Muito satisfeito 1 ,8% 0 ,0% 0 ,0% Muito insatisfeito 1 ,8% 0 ,0% 1 5,9% insatisfeito Nem satisfeito nem insatisfeito Q25 Mexilhoeira Grande Nada Nem satisfeito nem Q24 Alvor Dissertação de Mestrado em Serviço Social 169 Qualidade de Vida dos Seniores Insatisfeito 1 ,8% 0 ,0% 3 17,6% 40 33,6% 2 11,1% 8 47,1% Satisfeito 66 55,5% 10 55,6% 3 17,6% Muito satisfeito 11 9,2% 6 33,3% 2 11,8% Nem satisfeito nem insatisfeito Por fim, cabe-nos estudar o domínio do meio ambiente enquanto indicador de qualidade de vida. A Q8 “Em que medida se sente em segurança no seu dia-a-dia?” pretende avaliar a segurança física e protecção. Através da tabela verificamos que os habitantes da freguesia de Alvor é a mais insegura referindo 44% dos inquirido sentirse pouco seguros. 58,8% da população da freguesia da Mexilhoeira Grande referem sentir-se nem muito nem pouco seguros. O cenário para a freguesia de Portimão divide-se, de grosso modo, pelas resposta “nem muito nem pouco” com 35% e “muito” com 37,5%. Podemos afirmar que a população residente em Portimão é, de facto a que maior segurança e protecção sente, ao passo que os vizinhos de Alvor, são de longe os mais inseguros. Esta faceta confirma a necessidade da abertura de um posto da GNR na freguesia de Alvor, tão referido pelos inquiridos. Por sua vez, os portimonenses apelam a um policiamento mais assíduo nas ruas. O ambiente físico (poluição, ruído, trânsito, clima) corresponde à faceta em análise na Q9. Na freguesia de Portimão as opiniões são satisfatórias, sendo que, 42,9% referem-se mediocremente satisfeitos e 43,7% satisfeitos. Nas restantes freguesias de Alvor e Mexilhoeira Grande, a satisfação é medíocre, com a maioria a fazer corresponder-lhe. Alvor, é a freguesia que regista valores mais elevados nas respostas que revelam insatisfação, com 5,6% a afirmarem estar nada satisfeitas e 22,2% pouco satisfeitas. Apuramos que, sem margem para dúvida, o ambiente físico é mais saudável na cidade de Portimão, visto os inquiridos referirem-no em peso. A satisfação máxima que corresponde à resposta “muitíssimo” não foi referida nas demais freguesias, tendo sido proferida por 2,5% dos inquiridos em Portimão. De facto, os recursos que possuímos revelam-se, na maioria das vezes, insuficientes para fazer face às necessidades. Também não nos esquecemos que estamos a falar de pessoas que vivem essencialmente dos rendimentos das reformas que auferem. Caracteristicamente estas são de baixos valores. Estatisticamente verificamos que, os portimonenses estão moderadamente satisfeitos com os seus recursos financeiros (52,5%), em Alvor as opiniões dividem-se em pouco suficientes para satisfazer as suas necessidades diárias (33,3%) e em moderado com 38,4%. Na Mexilhoeira reside a população que mais insatisfeita se mostra com os recursos que Dissertação de Mestrado em Serviço Social 170 Qualidade de Vida dos Seniores têm para sobreviver diariamente, esmagadoramente, 64,7% dos inquiridos partilham esta opinião. Tal como já tínhamos visto anteriormente, são na Mexilhoeira que as reformas são mais baixas, fruto de escolaridades também elas mais baixas. O 1ºciclo completo é a escolaridade máxima entre os habitantes da Mexilhoeira. Alvor não tem um cenário muito diferente, embora se verifiquem ligeiros aumentos. Os rendimentos fixam-se, em média, entre os 200€ e os 300€. Até que ponto tem fácil acesso às informações necessárias para organizar a sua vida diária? A esta pergunta corresponde o estudo das oportunidades de adquirir novas informações e habilidades. É unânime entre a população do concelho em estudo, a ideia de que moderadamente o acesso às informações necessárias para organizar a sua quotidianiedade é satisfatório. A Q14 avalia a oportunidade para realizar actividades de lazer. 42,5% dos inquiridos em Portimão partilham a opinião da satisfação moderada face às oportunidades de recreação e lazer. Em Alvor a satisfação é bastante favorável, com 44,4% dos inquiridos a partilharem tal opinião. Porventura, os inquiridos da Mexilhoeira mostram-se pouco satisfeitos com as oportunidades disponíveis (47,1%). Talvez devido ao pouco dinamismo das actividades levadas a cabo pela respectiva junta de freguesia e por residirem a largos quilómetros do centro da cidade de Portimão, onde se concentram este tipo de actividades. A satisfação face às condições do lugar em que vivem reflecte-se no seguinte ponto de análise. Em Portimão a grande concentração das respostas residem na satisfação face às condições do lugar onde vivem com 56,7%. As restantes respostas estão estatisticamente muito distribuídas. Pelo contrário, nas restantes freguesias, as respostas concentram-se em “nem satisfeito nem insatisfeito” e em “satisfeito”. Assim, em Alvor, temos 33,3% dos inquiridos para a primeira situação e 44,4% para a segunda. O cenário é idêntico na restante freguesia, embora com maior expressividade dos dados, com 41,2% para a primeira situação e 52,9% para a seguinte. Cabe-nos elucidar que, em Alvor ninguém referiu estar muito insatisfeito com o lugar em que vive e 2 pessoas referiram estar muito satisfeitas. Em contrapartida, na Mexilhoeira ninguém refere estar muito satisfeito com as condições de que a freguesia dispõe e uma pessoa refere estar muito insatisfeita com as mesmas. Quando questionados sobre o acesso aos serviços de saúde, claramente, a população que usufrui dos serviços em Portimão admite estar insatisfeita uma representatividade de 38,3%. Nas restantes freguesias que constituem o concelho de Portimão, dispõe, de igual modo, a sua avaliação aos serviços. Assim quanto à disponibilidade e qualidade dos cuidados de saúde, Alvor refere que 29,4% dos inquiridos estão satisfeitos enquanto 35,3% consideram-nos razoáveis. Por seu turno, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 171 Qualidade de Vida dos Seniores na Mexilhoeira, 29,4% da população inquirida diz estar satisfeita e, com maior expressividade, 47,1% diz nem estar satisfeita nem insatisfeita, revelando razoabilidade dos serviços prestados. De referir a distribuição de infra-estruturas nas respectivas freguesias. Em Portimão está localizado o Centro Hospital do Barlavento Algarvio e o Centro de saúde de Portimão que conta com duas extensões, cada uma nas freguesias de Alvor e Mexilhoeira Grande. Como última faceta do domínio do meio ambiente, temos o estudo sobre a satisfação pelos transportes que utilizam. A autarquia de Portimão lançou recentemente uma linha rodoviária denominada de “Vai e Vém”. Falamos de autocarros de pequena dimensão que percorrem, não só, toda a cidade mas também estabelece a ligação com as demais freguesias. Iniciativa muito bem recebida pela população que veio encurtar as distâncias e facilitar o acesso aos principais serviços do concelho. Em Portimão a maioria dos inquiridos revela estar satisfeita com os transportes que utilizam com uma representatividade de 55,5% de adeptos. O mesmo se percepciona em Alvor com 55,6% de inquiridos satisfeitos. Todavia, o grosso modo, dos inquiridos da Mexilhoeira Grande refere indiferença face à qualidade dos serviços prestados (47,1% dos inquiridos respondem estar nem satisfeitos nem insatisfeitos). Tal situação deve-se ao facto da fraca periodicidade com que o “vai e vém” se desloca às zonas mais distantes e periféricas de Portimão. Tal como referimos anteriormente, esta população pede mais assiduidade dos transportes públicos. Em jeito de conclusão e compactando os dados advindos da análise do domínio do meio ambiente enquanto parte integrante dos meios de avaliação da qualidade de vida, verificamos que Portimão revela-se na freguesias mais favorável em termos da relação da população com o meio envolvente. O grau de satisfação é largamente superior para os habitantes da freguesia de Portimão. Alvor segue Portimão, aparecendo no segundo lugar do pódio. Os habitantes da freguesia da Mexilhoeira só se fazem aparecer nas facetas relativas à satisfação das condições do lugar onde vivem e no acesso à informação para organizar a sua vida quotidiana. Para concluir a análise das tabelas apresentamos uma síntese que refere em termos percentuais a qualidade de vida reportada a cada domínio. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 172 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 24 – Média dos valores obtidos por cada domínio na sua relação com as freguesias em estudo. Freguesia Portimão Alvor Mexilhoeira Grande Média Média 3,3 3,3 3,1 3,5 3,5 3,4 3,6 3,6 3,6 3,2 3,1 2,9 Média Físico Psicológico Relações Sociais Meio Ambiente Esta tabela sintetiza o grau da percepção que os habitantes de cada freguesia têm em relação a cada domínio. Esta análise permite-nos perceber em que domínio cada freguesia se destaca. Entendemos que a satisfação por domínio difere quando nos referimos a uma única freguesia. Deste modo, verificam-se oscilações passíveis de serem estudadas. Estas verificam-se não só ao nível de cada freguesia mas também quando comparadas com as restantes. A qualidade de vida face ao domínio físico é mais risonho para a freguesia de Alvor e Portimão e, mais distante, surge a freguesia da Mexilhoeira Grande (3,3; 3,3 e 3,1 respectivamente). O domínio psicológico obedece à mesma ordem, embora a distância dos valores seja bem menos rígida (3,5; 3,5 e 3,4 respectivamente). O domínio das relações sociais, quando os valores são arredondados a apenas uma casa decimal, apresenta valores profícuos às três freguesias (3,6). Portimão comanda o domínio do meio ambiente, logo seguida de Alvor e mais distante aparece a Mexilhoeira Grande. Em termos médios são apontados, 3,2 para Portimão, 3,1 para Alvor e 2,9 para a Mexilhoeira Grande. De referir que, à excepção de um parâmetro (Meio ambiente na Mexilhoeira) todas as resposta se fixam no 3. Resultados positivos, todavia são perceptíveis as áreas em destaque em casa freguesia. Na totalidade dos domínios, vive-se em Portimão com melhor qualidade de vida. Alvor surge com valores muito aproximados, não sendo muito justo, diferenciar em larga medida, os padrões de qualidade de vida de ambas as freguesias. Os Dissertação de Mestrado em Serviço Social 173 Qualidade de Vida dos Seniores indicadores de qualidade vida para a Mexilhoeira Grande não são tão favoráveis como nas anteriores freguesias, sendo-lhe atribuído o terceiro e último lugar no ranking da melhor freguesia para viver. Confrontação das hipóteses a) A primeira hipóteses apontava que a população com 65 ou mais anos residente na freguesia de Portimão tem melhor Qualidade de Vida em comparação com as restantes. Por sua vez, a freguesia de Alvor apresenta melhores padrões de Qualidade de Vida que a população residente na freguesia da Mexilhoeira Grande. As variáveis em análise referem-se à confrontação da Qualidade de Vida face a cada freguesia. De facto, a hipótese foi confirmada. Verificamos na tabela precedente, a ordem onde são visíveis os indicadores mais favoráveis à qualidade de vida. Os lugares do pódio são de facto, ocupados, em primeiro lugar por Portimão, seguido de Alvor e, em terceiro lugar a freguesia da Mexilhoeira Grande. b) Pela ordem decrescente atrás referenciada, é na freguesia de Portimão que a população pode contar com um vasto leque de bens e serviços, melhor acessibilidade aos mesmos, sendo que é uma população muito mais activa e participativa. Perante o isolamento geográfico e social da freguesia da Mexilhoeira Grande, as restantes freguesias do concelho de Portimão têm melhor acessibilidade aos serviços, apresentam maior grau de satisfação face à qualidade dos mesmos e caracterizam-se por ser uma população mais activa e que participa mais assiduamente nas actividades de carácter lúdico-edicativo. Para esta hipótese, foram tidas em conta três variáveis, nomeadamente, a satisfação e acessibilidade face aos serviços disponíveis nas respectivas freguesias e a participação da população nas actividades levadas a cabo pelas entidades associadas em cada freguesia. De acordo com os dados recolhidos pelo questionário sócio-demográfico, a hipótese foi refutada. Esta análise foi exposta aquando da análise dos dados referente ao respectivo questionário. c) Em relação às expectativas e padrões é a população residente na freguesia de Portimão e Alvor que maiores índices de satisfação apresentam. Fenómenos explicados pelo facto das actividades relacionadas com o lazer e entretenimento Dissertação de Mestrado em Serviço Social 174 Qualidade de Vida dos Seniores estarem associadas às zonas mais urbanas e com maior densidade populacional, sendo destes que, se esperam uma democracia mais participativa. No entanto, tal hipótese não se observou. A relação do lugar físico da realização de qualquer tipo de actividade, não se revela num factor condicionante para a participação. Estas variáveis foram alvo de análise no questionário sócio-demográfico onde os resultados estatísticos foram trabalhados anteriormente. d) A população mexilhoeirense é a mais envelhecida e, consequentemente a que menor número de jovens tem, sendo igualmente a localidade mais isolada. A relação subjacente ao envelhecimento e isolamento directamente associados à freguesia da Mexilhoeira Grande une dois conceitos que geralmente se associam em zonas mais rurais e do interior do país. Fenómeno que encontra explicação no abandono da população jovem das zonas menos desenvolvidas e, cada vez mais desertificadas, para o litoral e zonas urbanas, em nome de uma melhor qualidade de vida. A hipótese foi confirmada. Podemos consultar os resultados obtidos anteriormente, estatisticamente resultantes do questionário sócio-demográfico. Após toda a análise dos dados estatisticamente apurados percebemos, pela refutação de algumas hipóteses, que nem todos os fenómenos observáveis podem ser generalizados. Associamos características às zonas rurais que, no caso da Mexilhoeira grande não se verificam. Falamos de participação social, referendo o papel de interacção com a sociedade, na medida em que, quanto maior for a participação mais democracia se consegue obter. Verifica-se que, no concelho de Portimão, quanto maior a densidade populacional menor índice de participação apresenta. O isolamento social e geográfico com que se confrontam as zonas rurais, não interfere, de igual modo, na satisfação face aos serviços e actividade disponíveis em cada localidade. O isolamento social traduz-se num fenómeno sentido maioritariamente pelos habitantes citadinos. Talvez este sentimento derive da impessoalidade das relações interpessoais características das grandes cidades, em confronto com as fortes relações de vizinhança em localidades de menor dimensão. Verificou-se, após o estudo, que os habitantes de Portimão são os que se sentem mais isolados. Em relação à oferta e qualidade dos serviços prestados em cada freguesia, a análise é idêntica. A ideia de que quantidade equivale a qualidade/satisfação cai por terra. Sendo que, a freguesia da Mexilhoeira Grande Dissertação de Mestrado em Serviço Social 175 Qualidade de Vida dos Seniores responde em peso estar satisfeita com os serviços que têm aos dispor na sua freguesia. Todavia, se avaliarmos o índice de envelhecimento, enquanto a relação entre a população sénior e a população jovem, definida aqui como o quociente entre o número de pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 29 anos, verificamos, de facto, que a população residente na freguesia da Mexilhoeira é a mais envelhecida. Desta vez, conseguimos confirmar o fenómeno estereotipado que associa zonas rurais a envelhecimento. Sendo todas estas variáveis passíveis de se constituírem indicadores de mediação de Qualidade de Vida, mas referindo-se essencialmente à relação dos indivíduos com o meio, não enaltecem o factor pessoal e individual do conceito. Avaliar a qualidade de vida de qualquer indivíduo implica, de igual modo, perceber como é que se sente em relação a si próprio. A auto-imagem e auto-estima revelam-se fundamentais para este estudo. Assim, a informação foi recolhida por um instrumento que se objectiva unicamente em mensurar a Qualidade de Vida, o Whoqol. Comparativamente, entre as três freguesias, já se conhece a freguesia apontada pelo o estudo, como a que melhor qualidade de vida apresenta (Portimão). A análise individualizada por domínio foi, de igual modo, desenvolvida. Podemos referir que a população de Portimão é a mais enérgica, a que mais satisfeita está com a sua capacidade de movimentar-se, com o sono e repouso que têm e dispõem. A predominância de sentimentos positivos reside na população de Portimão e Alvor. A satisfação face à imagem corporal e aparência física assume igual cenário. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 176 Qualidade de Vida dos Seniores Conclusões Após toda a abordagem teórica que se consubstanciou nos capítulos anteriores e que envolveu a relação entre os conceitos em estudo (envelhecimento e qualidade de vida) ganhámos maior consistência para avaliar o processo de envelhecer com qualidade de vida. A abordagem sobre o processo de envelhecimento constituiu-se num desafio. São muitos os estudiosos que se dedicam ao estudo da gerontologia e as teorias daí advindas comportam grande complexidade teórica. Em contrapartida, a nossa bagagem teórica face ao tema em estudo era muito difusa apesar de, ao longo do tempo, ter sido enriquecida empiricamente pela nossa prática profissional. A relação estreita com a empiria facilitou a selecção das teorias abordadas. Perante a proporção de seniores face aos jovens e população activa, os primeiros constituem uma massa populacional bastante significativa. O cenário demográfico, nacional e local, é tendencialmente dominado pelos seniores. Não são somente os “novos velhos” que estão a ganhar terreno, com muito mais expressividade surgem, os indivíduos que se situam na chamada “quarta idade”. Esta é a grande novidade do novo cenário demográfico. A tendência é atingirem proporções numéricas cada vez mais significativas. Percebemos que o envelhecimento não se constitui num processo uniforme e, que embora padronizadas, as etapas inerentes ao desenvolvimento humano ocorrem diferentemente tendo em conta as características individuais de cada ser humano. Na prática precisam ser implementadas medidas que favoreçam as condições para se envelhecer com dignidade. As reformas carecem de aumentos e o poder de compra dos seniores faz-se sentir diminuído. Os casos de pobreza são, cada vez mais uma realidade, para os seniores. As ajudas estatais revelam-se escassas perante tais necessidades, sendo os planos poupança reforma ou afins, uma solução para, desde jovens começarmos a planear a nossa velhice. A reforma aparece como um marco que associada aos pré-conceitos subjacentes à velhice estigmatizam os seniores. A sociedade tem a simples função e dever de abolir toda e qualquer forma de discriminação não permitindo o afastamento dos seniores das relações de socialização. Pretende-se uma cidadania participativa, não havendo discriminação entre as idades. O estudo da Qualidade de Vida foi, de facto, uma novidade para nós. O acesso à informação nesta área de estudo, não se revelou uma tarefa fácil. Recentemente Dissertação de Mestrado em Serviço Social 177 Qualidade de Vida dos Seniores conceptualizado, o universo teórico da Qualidade de Vida é escasso e pouco problematizado. O conceito, tal como vimos abordado, teve, ao longo dos tempos designações e significados diferentes. Umas vezes associada à saúde, outras aos bens materiais ou recursos financeiros, a qualidade de vida foi, para este estudo, abordada segundo os parâmetros indicados pela OMS. Preferimos quantificar a qualidade de vida tendo por base a auto-avaliação e auto-reflexão, ou seja, a percepção que cada indivíduo constrói do meio que o envolve. A Qualidade de Vida para os seniores depende, como em qualquer outro escalão etário, do partido que conseguirmos tirar da vida. As novas tecnologias são um meio de integração e socialização que, se encontram ao dispor de todos. Cada vez mais, vimos despertar nos seniores interesse por estas e outras iniciativas que permitem fomentar e/ou manter as suas capacidades intelectuais e cognitivas. A Qualidade de Vida depende, assim, do sentido que atribuímos à vida e dos instrumentos que diariamente utilizamos para democraticamente participar na sociedade. Auto-sustentabilidade, autonomia, desenvolvimento pessoal, bem-estar, objectivos de vida, atribuir sentido ao que fazemos são chavões para que a qualidade de vida se efective. O acesso ao instrumento de mensuração utilizado para este estudo, foi prontamente disponibilizado, assim como, o esclarecimento das dúvidas que surgiram ao longo de todo o processo de construção desta dissertação. Podemos contar com a colaboração e disponibilidade da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra enquanto entidade portuguesa responsável pelo Whoqol. No entanto, o tratamento estatístico constituiu-se, para nós, a maior dificuldade. As indicações são escassas, deixando liberdade ao investigador na abordagem estatística. Deveria existir, neste âmbito, uma referência para a construção e tratamento estatístico, na medida em que, se atenuasse a provável discrepância nos meios utilizados para mensurar os dados empiricamente recolhidos. As políticas sociais estatais de âmbito nacional tiveram real importância neste estudo, no entanto, preocupámo-nos especificamente com as Políticas Sociais Sectoriais. Qualquer política social objectiva-se em fomentar o bem-estar, promovendo uma qualidade de vida cada vez mais favorável aos seus beneficiários A perspectiva territorial subjacente à área física em estudo, permitiu a apreensão de conhecimentos, relacionados com as instituições públicas ou IPSS´s que trabalham diária e directamente para e com os seniores. Toda a informação necessária para dar corpo a esta dissertação foi disponibilizada pelos intervenientes sociais que, de forma acolhedora, receberam e colaboraram com a presente investigação. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 178 Qualidade de Vida dos Seniores Depois de analisadas as medidas políticas emanadas pelo poder central depreendemos que a conjuntura sócio-política que envolve o Serviço Social pode, na nossa opinião, dificultar a prática do mesmo. Esta afirmação assenta na observação de que a vertente política apresenta-se tão forte e vincada nas medidas sociais que o profissional executa que, muitas das vezes, os utentes afastam-se, quer pelo excesso de burocracia, quer pela dificuldade de auto-financiamento do próprio aparelho do Estado. Este processo conduz à desvalorização do papel dos que dão a cara, os profissionais de Serviço Social. O mesmo cenário não é verificado quando nos referirmos às acções levadas a cabo a nível concelhio. O poder local aparece como entidade mais próxima e mais conhecedora da realidade social, produzindo respostas sociais mais eficientes e eficazes. É, de certo, preferível o planeamento e execução de políticas sociais, sejam elas, de âmbito nacional ou sectorial, por profissionais da área em questão e que comportem, não só experiência prática na problemática, mas antes disso que conheçam as características do local e dos destinatários de tais medidas. A preocupação pelo estudo dos seniores sempre nos despertou interesse. Ao nível do concelho de Portimão, local de residência e de trabalho do investigador, eram já algumas as acções em curso. Daí, e não vendo necessidade de interferir no trabalho dos técnicos foi decido avaliar não só a satisfação dos seniores face aos serviços direccionados para eles, mas também em que medida estes contribuem para a sua satisfação ou não com a vida. O estudo da Qualidade de Vida, aparece aqui, como um meio de avaliar o trabalho desenvolvido quer pela autarquia e respectivas juntas de freguesia, quer das instituições que, sem cariz de internamento ou tratamento médico, direccionam o seu trabalho para actividades essencialmente de cariz lúdico, entretenimento ou de aprendizagem. A função do profissional passa por promover mudanças sociais, a resolução dos problemas no contexto das relações humanas e pela capacidade e empenhamento das pessoas na melhoria do seu bemestar. Este é um trabalho que tem de ser feito com eles e não para eles. A missão do assistente social é ajudar as pessoas a desenvolverem todas as suas potencialidades, a enriquecer as suas vidas e a prevenir as disfunções, resumindo-se, desta forma, no empowerment. É a mudança que se espera que os seniores, que por adversidades da vida se sintam isolados ou sozinhos, atinjam. Uma cidadania activa participando nas actividades de carácter lúdico e não só, permite a qualquer pessoa construir um processo de envelhecimento saudável que, impreterivelmente contribuirá para melhores padrões de qualidade de vida. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 179 Qualidade de Vida dos Seniores Em termos de conclusão, o balanço foi positivo. Quer, quando nos referimos ao processo de construção desta dissertação que, com maiores facilidades ou dificuldades foi ganhando consistência pela dedicação e empenho que a constituíram, quer quando nos referimos aos resultados práticos obtidos. Por detrás de qualquer problemática que se investigue, existe sempre uma panóplia de variantes que, só avaliadas ao pormenor se tornam perceptíveis. Contudo, podemos concluir que reina a satisfação entre a população das três freguesias do concelho de Portimão, face à percepção da sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ela vive e em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações. As freguesias em análise, Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande apresentam-se caracteristicamente diferenciadas, quer em relação à localização, densidade populacional, serviços disponíveis ou urbanização versus ruralidade. Outras características foram descobertas pela presente investigação. Caracterizamos as freguesias e respectiva população, tendo por base a amostra estudada. Verificamos que os habitantes das três freguesias são maioritariamente mulheres. De facto, a esperança média de vida é mais favorável para o sexo feminino. Quando nos referimos à “quarta idade”, tomamos por base os indivíduos com mais de 75 anos. Perante a nossa amostra, confirmamos o que anteriormente foi dito face à preocupação da “quarta idade” assumir valores que aumentam constantemente em proporção com os restantes escalões etários. Em Alvor e Mexilhoeira Grande, as idades encontram-se no limiar da passagem da “terceira idade” para a “quarta idade”, ambas com uma média representativa dos 75 anos. Somente Portimão apresenta 73 anos como média de idade, no entanto dois anos, não se revelam contabilizáveis para que sejam efectuadas diferenças entre que freguesia se concentram as pessoas com mais idade. A constituição dos agregados familiares traduz-se noutra característica apurada. No entanto, a pergunta referente à análise em questão não foi bem formulada pelo autor do questionário sócio-demográfico. Verificamos que maioritariamente os agregados são constituídos por dois elementos, mas não podemos classificá-los como casal. A pergunta apenas apontava o número de pessoas que coabitavam não pedindo referência ao tipo de relação ou parentesco existente. Assim, não nos foi permitido atingir o objectivo desta questão. No entanto, referimos a predominância de pequenos agregados, com um ou dois elementos. Estes agregados encontram-se, na fase do ciclo vital da família, do “ninho vazio”, em que os Dissertação de Mestrado em Serviço Social 180 Qualidade de Vida dos Seniores filhos já saíram de casa e constituíram os seus próprios agregados familiares, e assiste-se como que a um retrocesso à etapa de casal sem filhos. Certo, é que, por adversidades da vida, muitos dos inquiridos encontram-se isolados. Também não podemos deduzir que passaram por todas as fases do ciclo vital, nem que ocorreram separações, divórcios ou mortes que justificassem, hoje serem indivíduos isolados. Estas questões não foram acidentalmente questionadas. No entanto, foram questionadas quanto ao estado civil. Sabemos que maioritariamente, os inquiridos são casados, sendo que os viúvos apresentam, pelo menos na freguesia de Portimão, números significativos. Quando abordamos o número de filhos, apuramos que em média, as famílias inquiridas têm 2 filhos. No entanto, revela-se insuficiente para que haja renovação de gerações. Em média, as famílias portuguesas deveriam ter 2,1 filhos para que se efectivasse a renovação de gerações. De acordo com a amostra recolhida, as famílias com apenas um filho surgem em segundo lugar. Com estes dados, muito menos se verificam as tão desejadas atenuações face às diferenças entre os grupos etários do topo e da base da pirâmide de idades. Incentivos à natalidade têm surgido, como é exemplo o abono pré-natal, contudo, não se verificam dados estatísticos que correspondem ao sucesso de tal medida. Outras medidas têm de ser pensadas. Ao nível local, são já algumas freguesias que monetariamente incentivam as famílias a reproduzirem-se. Talvez passe por aqui a solução para vermos o número de jovens aumentar, todavia, a figura do Estado português tem obrigatoriamente de estar por detrás das iniciativas concelhias, garantindo a sustentabilidade dos poderes locais. No início desta conclusão referimo-nos à preocupação face às situações de pobreza visíveis entre os seniores. A pobreza resulta dos baixos rendimentos que auferem, sendo maioritariamente oriundos das reformas. Pensão por velhice e sobrevivência constituem-se nas principais fontes de rendimento. Caracteristicamente, os seniores do concelho de Portimão sobrevivem com pensões de baixo valor. Em Alvor e na Mexilhoeira a média dos rendimentos concentra-se entre os 200 e 300€. Estes valores estão directamente associados ao baixo grau de escolaridade já que nestas freguesias, apenas um dos inquiridos (em Alvor), tem o 2º ciclo completo. Sendo o 1º ciclo a escolaridade máxima atingida. Quando olhamos para os rendimentos auferidos pelos habitantes da freguesia de Portimão, encontramos maior incidência para os rendimentos superiores a 500€. O grau de escolaridade e profissões outrora desenvolvidas justificam o valor de reformas mais elevadas. Embora o grosso modo do grau de escolaridade se concentre, de igual modo, no 1º ciclo, os estudos universitários foram referidos por 5 pessoas e o ensino secundário Dissertação de Mestrado em Serviço Social 181 Qualidade de Vida dos Seniores por 16. Nesta freguesia as profissões mais referidas foram a de doméstica e indústria conserveira. Tais profissões estão associadas ao pelo sexo feminino. A significativa expressividade da profissão de doméstica surge associada ao facto de que era a figura masculina que sustentava a casa. Podemos encontrar duas explicações, uma devido à cultura retrógrada de que o homem é que trabalha e a mulher fica em casa a cuidar dos filhos e a governar a casa, outra por o cônjuge masculino auferir rendimentos elevados, suficientes para trabalhar apenas um dos elementos do casal. Nas restantes freguesias, são enaltecidas a profissão de empregada fabril para a população de Alvor e de doméstica para a população da Mexilhoeira, no entanto, assiste-se a uma forte distribuição entre a lista das profissões apontadas. Podemos afirmar corresponderem todas a baixas qualificações. Denota-se a influência da área de residência face às oportunidades de desempenho pessoal, escolar e profissional. Os meios rurais tendem a fecharem-se neles próprios e caracteristicamente apresentam fortes relações de vizinhança. O urbanismo, tecnologia, emprego, educação especializada encontram-se nos grandes centros citadinos. Quanto mais rígidos forem os limites desta população com o exterior, menores oportunidade têm para se auto-promoverem. As áreas metropolitanas das grandes cidades, como Lisboa ou Porto, funcionam como um escape para a agitação característica das cidades. Estas zonas são escolhidas para habitação, turismo rural, desfrute da natureza, entre outras actividades associadas ao repouso. Na realidade física em estudo, podemos apontar a zona de Monte Canelas, Alcalar ou Senhora de Verde, pertencentes à freguesia da Mexilhoeira, distantes geograficamente do centro da vila da Mexilhoeira, como exemplos. Nestas localidades são já visíveis sinais de riqueza, quer pela dimensão das habitações, quer pela qualidade dos carros estacionados à porta das mesmas. E porque, a OMS associa, em grande parte Qualidade de Vida ao estado se saúde, veremos que conclusões podemos tirar. A diferença entre quem referiu estar doente e quem referiu não estar doente não se traduz em diferenças significativas. Os estados de saúde dividem-se. Os problemas de estômago e as depressões lideram entre as doenças apontadas entre os habitantes de Portimão, em Alvor lidera a osteoporose e, na Mexilhoeira se realça nenhuma doença, havendo uma forte distribuição entre as doenças referidas. A lista resultante do tipo de doença é extensa e pouco traduz sobre a qualidade de vida. Embora todas as doenças sejam preocupantes, a distribuição é tal que não se justifica estudar. Também cada doença difere do grau de gravidade e este não foi questionado. Das pessoas que referem estar doentes a maioria afirma ser acompanhada por consultas externas. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 182 Qualidade de Vida dos Seniores Depois de concluir as características populacionais do concelho de Portimão, cabe-nos reflectir sobre a qualidade de vida e respectivos indicadores. Optamos por concluir os dados dos dois questionários utilizados, em conjunto. A avaliação dos domínios em análise, físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente, revelou-se positiva devendo, no entanto, ser do conhecimento dos autarcas as preocupações reveladas pelos munícipes no presente estudo. O domínio físico avaliou itens como a dor, relação com a medicação, energia, mobilidade, sono, capacidade para desenvolver as actividades quotidianas e capacidade para o trabalho. A energia comanda a população portimonense. Esta é de igual modo, a par da Mexilhoeira, a que mais satisfeita está com a sua capacidade de movimentar-se, e a par com Alvor, a signitivamente a mais contente com o sono e repouso. No entanto, não se revela na freguesia mais participativa. A população da Mexilhoeira é a que mais participa nas actividades levadas a cabo pelo concelho, seguida de Alvor, e só depois surge Portimão. Todavia, a população mexilhoeirense responde mais assiduamente às actividades da respectiva junta de freguesia em detrimento das actividades levadas a cabo pela Câmara Municipal. Mais uma vez, justificamos a rigidez dos limites desta população com o exterior. Em Alvor, o Centro Comunitário leva vantagem, no entanto e através de acordos entre este e a autarquia, os seus utentes contam com o serviço de um técnico de desporto integrado no “Exercício e Saúde” (projecto camarário). Os participantes neste projecto não necessitam deslocar-se a Portimão para usufruírem da actividade desportiva. Em Portimão, as pessoas aproveitam com maior assiduidade as actividades incluídas no Passaporte Sénior, seguido do Centro Convívio Sénior e Junta de Freguesia de Portimão. Verifica-se uma maior diversidade de oportunidade de lazer na cidade de Portimão, no entanto, não é motivo para as populações vizinhas se deslocarem à cidade. De acordo com a análise ao domínio físico do Whoqol-Bref, a população que melhores índices de saúde apresenta é a residente na freguesia da Mexilhoeira, facto que não coincide com os dados apurados na primeira parte do referido questionário (ver anexo 2) que prevalece Alvor. Nesta última análise, tal como foi referido anteriormente, não existem disparidades significativas entre os valores apresentados. Como os valores não foram referidos anteriormente, apresentamo-los agora para que esta disparidade de resultados dentro do mesmo questionário, seja perceptível. Assim, apuramos, pela primeira parte do questionário, que em Alvor 55,6% dos inquiridos respondem afirmamente à questão se actualmente têm alguma doença, enquanto que na Mexilhoeira a percentagem corresponde a 52,9%. Portimão é a única freguesia que Dissertação de Mestrado em Serviço Social 183 Qualidade de Vida dos Seniores as mais pessoas que afirmam não ter qualquer doença superam as que têm doença. Por sua vez, os dados resultantes da análise ao domínio físico referentes à necessidade de cuidados médicos diários são mais expressivos para as freguesias de Portimão e Alvor. Na primeira, 44,2% afirmam precisar muitíssimo e na segunda, 61,1% afirmam precisar “muito”. A resposta com maior expressividade na freguesia da Mexilhoeira é “nem pouco nem pouco” com 35,3%. Verificamos, assim que a Mexilhoeira é a freguesia que menos precisa de cuidados médicos logo a menos doente. Inseparavelmente os cuidados médicos só são necessários quando se está doente. Deste modo, estão patentes diferenças nos resultados obtidos dentro de um só questionário. Tal situação não se deveria verificar. Podemos concluir, ao analisarmos todos os pontos, que fisicamente, a qualidade de vida é menos favorável à população residente na freguesia da Mexilhoeira Grande, encontrando-se do lado oposto, os habitantes de Portimão a par dos de Alvor. O domínio psicológico, em análise, abarcou questões como a predominância de sentimentos positivos e negativos, auto-estima, satisfação face à aparência física, concentração e crenças pessoais. Os sentimentos positivos predominam entre as freguesias do concelho de Portimão. Os inquiridos referem gostar das suas vidas, assim como lhe atribuem sentido. Portimão apresenta os valores mais positivos seguida por Alvor. Se analisarmos a distribuição das respostas dadas entre os inquiridos na Mexilhoeira, estes focalizam os índices mais elevados, no entanto, a resposta com maior expressividade aparece, em ambas as situações, no meio-termo. Os sentimentos negativos ocorrem mais frequentemente entre os habitantes de Portimão se tomarmos como análise as referências que apontam para a maior frequência destes. A Mexilhoeira surge do lado oposto. A correspondência face aos sentimentos opostos confirmam-se, ou seja, a população da freguesia da Mexilhoeira surge como a que testemunha os sentimentos mais positivos e a que com menor frequência experiencia sentimentos negativos, tais como a tristeza, desespero, ansiedade ou depressão. A par destes sentimentos, foi estudada a predominância de sentimentos de isolamento. Aquando da análise estatística, foi já referido o entendimento errado sobre isolamento. O termo refere-se ao isolamento físico e geográfico, todavia foi entendido por solidão enquanto sentimento de o indivíduo se sentir só, sem rede de suporte, não sentindo apoio suficiente face às suas necessidades de socialização e individuais. Abordando a questão de acordo com as respostas apresentadas, as opiniões dividemse na Mexilhoeira e em Alvor, ao passo que em Portimão, uma maioria significativa (83 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 184 Qualidade de Vida dos Seniores dos 120 inquiridos) afirma a não predominância de sentimentos de isolamento. As razões apontadas para justificar o isolamento residem, essencialmente no facto de viverem sozinhas (má interpretação da questão), por outro lado são referidas como justificação para o não isolamento a participação nas mais variadas actividades e assiduidade a serviços direccionados para os seniores. Assumem-se como pessoas activas, que muito convivem e passeiam. De referir, novamente as fortes relações de vizinhança e parentesco na Mexilhoeira Grande, ao apontarem como razões o facto de terem muitos amigos e familiares, sendo estes, muitas das vezes, familiares bem próximos. O verdadeiro sentido da questão foi apreendido por duas pessoas que vivem na freguesia da Mexilhoeira ao referirem que gostam de viver longe, são autónomos e activos e que o carro se traduz num meio de atenuação destas diferenças geográficas. Classificamos a predominância deste sentimento como sendo negativo constituindo-se num entrave para uma participação activa. Para confirmar os sentimentos de isolamento, confrontamos estes números com a frequência que se deslocam a Portimão. Não referindo agora os portimonenses, pois vivem já no seio da socialização, importa antes disso demonstrar que, a distancia e isolamento geográfico não se constituem num entrave à socialização, visto a população da freguesia da Mexilhoeira se deslocar mais frequentemente a Portimão que a população de Alvor. A auto-estima pertence, por sua vez aos sentimentos positivos. De igual modo nas três freguesias a maioria das respostas incidem na satisfação face à sua imagem. Verificamos Portimão com 52,5%, Alvor com 55,6% e 58,8% na Mexilhoeira. A autoestima consubstancia-se num sentimento favorável ao bem-estar. Quanto mais acreditarmos nas nossas capacidades mais facilmente serão atingidos os objectivos de vida. Sendo assim, estabelecemos uma relação directa entre auto-estima e qualidade de vida. Após a análise dos dados obtidos, em termos exactos, a qualidade de vida, psicologicamente, é mais favorável à freguesia de Alvor, seguida de Portimão e, por fim, Mexilhoeira. Para as relações sociais foram avaliadas a satisfação face às relações pessoais, actividade sexual e rede de suporte. Neste domínio as diferenças entre os padrões vividos nas três freguesias são quase nulas. Todavia, os habitantes de Alvor testemunham valores inferiores aos apresentados pelas restantes freguesias que partilham o primeiro lugar. Quanto à satisfação com as relações pessoais, os três aglomerados de população encontram-se em conformidade referindo a sua satisfação. Portimão e Alvor estão igualmente satisfeitos com a sua actividade sexual, por sua Dissertação de Mestrado em Serviço Social 185 Qualidade de Vida dos Seniores vez, a indiferença comanda os que habitam na Mexilhoeira. O suporte social, muitas vezes associado às zonas mais rurais, facto que já confirmamos aquando da análise de alguns parâmetros, desta vez é liderado pela população portimonense, mas imediatamente seguida da população da Mexilhoeira. Em valores exactos, as três freguesias encontram-se no mesmo patamar de satisfação. Confirma-se não existr grande disparidade nos números e se encontrem em quase todas as facetas concentradas nas mesmas respostas. O meio ambiente apresentou como facetas analisadas as direccionadas para a satisfação face à segurança e protecção, ambiente físico, recursos financeiros, oportunidades de adquirir novas habilidades de recreação e lazer, ambiente no lar, cuidados de saúde e transportes. Um facto de real importância reside na insegurança sentida pela população de Alvor. Esta resposta foi dada prontamente por 44,4% dos inquiridos. Aliás, esta população refere fazer falta, na sua freguesia, um posto da Guarda Nacional Republicana, assim como, melhoramentos na calçada das ruas que se traduz, de igual modo, noutro motivo de insegurança. Alvor é uma vila piscatória muito procurada quer pelos turistas quer pelos adeptos da diversão nocturna. A segurança para os seniores é fundamental para que, como qualquer pessoa, possa participar activamente na sociedade. Para garantir a segurança, também os portimonenses apelam a um maior policiamento nas ruas, assim como à elevação das passadeiras para peões. No entanto, esta população apresenta valores favoráveis quanto aos sentimentos de segurança. A maioria dos inquiridos na Mexilhoeira, 58,8% refere sentir-se nem muito nem pouco segura. Mas insistem na construção de uma passadeira para peões na EN 125 junto à entrada principal da freguesia e, de igual modo, na implementação de um posto da GNR. O ambiente físico, nas suas vertentes de poluição, ruído, trânsito e clima, revela de igual modo a pouca satisfação face à quotidianidade. A organização do espaço e localização dos bares, de facto não é a mais favorável aos habitantes, pois estes encontram-se inseridos na zona residencial. O barulho, com elevados decibéis, perturba o descanso dos habitantes. Mesmo assim, metade dos inquiridos refere estar nem muito nem pouco satisfeitos face ao ambiente físico. Mas se analisarmos os dados referentes às questões de maior insatisfação, vimos que Alvor é a freguesia menos satisfeita. Por seu turno, a acessibilidade ao trânsito é, um tanto ao quanto, difícil. Caracteristicamente, as ruas são apertadas. A satisfação face ao ambiente físico é, para aos habitantes da Mexilhoeira Grande, medíocre. Caracteristicamente calma, esta freguesia apela ao repouso. O trânsito é parco e o barulho pouco perturbador. Mesmo, associando, poluição, barulho, trânsito e confusão às cidades, os Dissertação de Mestrado em Serviço Social 186 Qualidade de Vida dos Seniores habitantes de Portimão parecem pouco se importar com eles, sendo a freguesia que mais satisfeita se mostra. Relativamente à satisfação face às actividades disponíveis em cada freguesia, a satisfação é plena nas três freguesias. De referir que os habitantes da Mexilhoeira responderam todos estar satisfeitos. Todavia, prendem-se maioritariamente às actividades desenvolvidas na sua freguesia, sendo pouco significativa a representatividade dos que participam nas actividades da Câmara Municipal. Quanto aos serviços em geral, referem ser suficientes para as necessidades. O desenvolvimento implica mudança e os habitantes em zonas rurais mostram-se resistentes à mudança, afirmando assim, estar satisfeitos com os serviços disponíveis. As pessoas estão já habituadas a um estilo de vida e a mudança em meios rurais, na maioria das vezes, não é bem-vinda. A população de Alvor está, praticamente toda satisfeita com as actividades e serviços disponíveis. Usufruem, na sua área de residência, do projecto “Exercício e Saúde” fruto de um acordo entre a autarquia e o Centro Comunitário. Em relação aos serviços, no seu todo, a satisfação é justificada pela existência de tudo o que se precisa, correspondendo, tal como na Mexilhoeira, às necessidades da população. Os portimonenses partilham da opinião dos vizinhos embora refiram também a existências de boas oportunidades de entretenimento. Tal como já tinha sido apontado aquando da caracterização da amostra, a satisfação face aos rendimentos auferidos é moderadamente aceite pelos habitantes de Portimão que, por sua vez, têm melhores qualificações académicas e outrora desempenharam actividades profissionais correspondentes a melhores renumerações. Os habitantes de Alvor, seguem-se a Portimão, embora com visíveis diferenças. A população da Mexilhoeira apresenta menor satisfação, concentrando as suas respostas nos valores mais baixos, aqui 64,7% afirmam estar pouco satisfeitos. Desta vez, verifica-se coerência entre os resultados apurados pelos dois questionários. O acesso à informação necessária para organizar a vida diária, assim como a oportunidade de participar em actividades de lazer, podiam revelar números mais positivos. Para a primeira questão, a maioria dos inquiridos nas freguesias de Portimão e Mexilhoeira referem que a satisfação face ao acesso à informação é moderada. Alvor tem maior concentração na mesma resposta embora não corresponda à maioria. A segunda situação é mais satisfatória para os que vivem em Alvor, com 44,4% a afirmar estar bastante contente com as oportunidades para desenvolver actividades de lazer. Opostamente, temos os habitantes da Mexilhoeira com 47,1% dos inquiridos a admitir encontrarem-se pouco satisfeitos. Encontramos, Dissertação de Mestrado em Serviço Social 187 Qualidade de Vida dos Seniores assim, em parte, outra contradição. Os habitantes da Mexilhoeira responderam em peso estar satisfeitos com os serviços e actividades disponíveis na sua freguesia, correspondendo estes às suas necessidades e expectativa mas revelam-se pouco satisfeitos quanto às oportunidades para desenvolver actividades de lazer. Podemos, porventura, encarar como uma contradição ou como falta de tempo para participar. Ou seja, podem não questionar a realização ou periodicidade das actividades desenvolvidas mas o facto de não participarem pode depender da sua vida pessoal, não encontrando disponibilidade para aproveitar tais oportunidades. Face a todas as exposições aqui deixadas e opiniões formuladas pelos inquiridos, os indivíduos estão maioritariamente satisfeitos com as condições que cada freguesia dispõe aos seus habitantes. Óbvio será que nada é perfeito havendo sempre recomendações a fazer, tais como as referidas aos serviços em falta ou outros que têm de ser melhorados. De referir que as percentagens apontam para o que temos vindo a afirmar, os habitantes da Mexilhoeira estão mais satisfeitos com as condições gerais disponíveis na freguesia em comparação com Alvor, com 52,9% e 44,4% de satisfação, respectivamente. Portimão lidera o ranking. O acesso aos cuidados de saúde e respectiva qualidade são mais reconhecidos pelos habitantes da Mexilhoeira Grande, sendo que 47,1% afirmam não estar contente nem descontente, assim como, 35,3% dos inquiridos em Alvor. Estas qualificações referem-se às extensões do centro de saúde de Portimão, localizadas em cada freguesia. Os serviços de saúde em Portimão parecem funcionar pior, visto testemunharmos um grau de satisfação negativo, com 38,3% dos inquiridos a afirmarem-se insatisfeitos. O centro de saúde de Portimão responde a uma proporção maior de utentes em comparação com os restantes. Julgamos que os inquiridos se referem unicamente ao centro de saúde, uma vez que o Hospital do Barlavento Algarvio, embora sedeado em Portimão abarca todo o barlavento algarvio. Não temos dados suficientes para fazermos distinção da satisfação face aos centros de saúde e hospital. Os transportes a nível concelhio, conheceram uma reviravolta com o início da circulação dos transportes urbanos “Vai e Vém”. Primeiramente com o circuito restrito a Portimão, hoje chega já às três freguesias de Portimão com a introdução de novas linhas de percurso. A satisfação face à utilização, não só deste, mas de outros meios de transporte, é satisfatória para os portimonenses (55,5%) e para os alvoreiros (55,6%). Os mexilhoeirenses reclamam maior periodicidade do “vai e vém”, deixando o testemunho de razoabilidade com 47,1% dos inquiridos a não se revelarem satisfeitos Dissertação de Mestrado em Serviço Social 188 Qualidade de Vida dos Seniores nem insatisfeitos. Os meios de transporte são um importante instrumento de deslocação. Quanto mais confortáveis os indivíduos se sentirem nestes serviços mais os utilizam. Também os preços a praticar têm de corresponder às possibilidades de cada um, este princípio não foi esquecido, existindo o passe para os seniores com preços mais acessíveis. O grande objectivo deste transporte urbano de pequena dimensão é atenuar as distâncias facilitando a deslocação aos serviços, combatendo o isolamento com que se confrontam as populações mais afastadas geograficamente. Podemos, depois destas relações entre os questionários utilizados, apurar que os habitantes de Portimão são a população mais satisfeita com o meio ambiente. As cidades fornecem todo um conjunto de serviços e oportunidades que jamais encontrarão semelhante desfeche nas freguesias menos desenvolvidas. Alvor seguese a Portimão e a Mexilhoeira ocupa, mais uma vez o último lugar. A análise de dados não foi tarefa fácil. Por vezes as diferenças não eram tão significativas que merecessem ser referidas, ou as diferenças eram tão óbvias que os comentários resultavam em deduções igualmente óbvias. Por outro lado, percebemos que algumas questões não foram entendidas não atingido os objectivos propostos. A algumas questões foram atribuídos sentidos diferentes aos pretendidos e outras respostas não foram correspondentes à realidade por falta de entendimento. No entanto, concluímos que os níveis de satisfação são mais baixos que os previsíveis. Julgava-se maior satisfação face à qualidade de vida. A amostra poderia não ter sido a mais significativa, porventura foi cuidadosamente escolhida. Em prol de melhores condições de vida ao envelhecer, novos projectos e desafios devem ser lançados aos intervenientes sociais. Embora os resultados pudessem ter sido mais positivos, o trabalho dos técnicos não é posto em causa. Toda a sociedade deve-se mobilizar para que envelhecer se efective numa fase normal do desenvolvimento humano e devidamente respeitada. Cabe, não só à sociedade, mas em grande parte, também à forma individual de encarar a vida, aceitar o envelhecimento e redefinir novos padrões de vida nesta nova etapa da vida, traduzindo-se em instrumentos necessários para envelhecer com Qualidade de Vida. Face ao exposto propõe-se a implementação dos dois projectos lançados no capítulo quarto. Assim, o Centro de Envelhecimento Activo corresponderia às expectativas lançadas pelos inquiridos ao requererem um espaço maior dedicado aos seniores. De destacar que ao referirem um espaço maior, tomam como referência o Centro de Convívio Sénior que se constitui no único espaço sob a alçada da autarquia onde todos os serviços são gratuitos. A implementação deste Centro complementaria Dissertação de Mestrado em Serviço Social 189 Qualidade de Vida dos Seniores os serviços prestados no Centro de Convívio e seriam lançadas novas actividades que proporcionasse aos seus usuários envelhecer de forma mais activa e saudável. Por seu turno, o projecto “Doce Amigo” combateria a solidão e respondia às necessidades básicas da população. Estas propostas não comprometem o que tem sido feito pelos intervenientes sociais, antes disso, o objectivo é melhorar a sua intervenção respondendo às necessidades e expectativas da população. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 190 Qualidade de Vida dos Seniores Referências bibliográficas Adams, R., Dominelli, L. e Payne, M. (2002). Critical Practice in Social Work. Consultant editor:Jo Campling. 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Freguesia 0 Portimão 40 Alvor 4 Mexilhoeira Grande 7 Nº de 1 51 10 9 pessoas com 2 15 2 1 3 7 1 0 4 4 1 0 5 1 0 0 6 2 0 0 0 12 2 3 1 34 4 4 2 57 4 5 3 11 2 3 4 3 4 2 5 3 0 0 7 0 1 0 8 0 0 0 9 0 1 0 que coabita Nº de filhos Tabela 2 – Distribuição dos rendimentos mensais per capita e respectivas fontes por freguesia. Freguesia > 200€ Portimão 3 Alvor 2 Mexilhoeira Grande 2 Rendimentos 200€ a 300€ 34 8 6 mensais per 300€ a 400€ 27 1 5 400€ a 500€ 14 3 2 < 500€ 42 4 2 Pensão por velhice 54 6 12 Pensão por invalidez 21 6 2 Pensão de sobrevivência 3 1 0 Pensão de velhice e Pensão de Sobrevivência 18 2 2 Pensão de invalidez e Pensão de Sobrevivência 3 1 1 7 1 0 10 1 0 4 0 0 capita Fonte dos rendimentos Pensão de velhice e outros Outra(s) Sem reforma Dissertação de Mestrado em Serviço Social 214 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 2a – Distribuição dos rendimentos mensais per capita e respectivas fontes por freguesia. Freguesia > 200€ Portimão 3 Alvor 2 Mexilhoeira Grande 2 Rendimentos 200€ a 300€ 34 8 6 mensais per 300€ a 400€ 27 1 5 capita 400€ a 500€ 14 3 2 < 500€ 42 4 2 Pensão por velhice 54 6 12 Pensão por invalidez 21 6 2 Pensão de sobrevivência 3 1 0 18 2 2 3 1 1 7 1 0 10 1 0 Sem reforma 4 0 0 Outros Rendimentos 10 0 0 Outras fontes Reforma do cônjuge 1 0 0 de rendimento Outros rendimentos e não reforma do cônjuge 0 1 0 contempladas Caixa Geral de anteriormente Aposentações 6 0 0 Reforma antecipada 2 0 0 Pré-reforma 1 0 0 Reforma de França 0 1 0 Rendimentos prediais 1 0 0 Pensão de velhice e Fonte dos Pensão de Sobrevivência rendimentos Pensão de invalidez e Pensão de Sobrevivência Pensão de velhice e outros Outra(s) Dissertação de Mestrado em Serviço Social 215 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 3 – Distribuição da participação em actividades promovidas pela Câmara Municipal de Portimão ou respectiva junta de freguesia por freguesia. Freguesia Participação nas Sim Não actividades Portimão Alvor Mexilhoeira Grande 85 15 13 35 3 4 Tabela 3a – Distribuição da percentagem da participação nas actividades promovidas pela Câmara ou pelas respectivas juntas de freguesia. Participação em actividades Sim Freguesias Não Portimão N 85 % 70,8% N 35 % 29,2% Alvor 15 83,3% 3 16,7% Mexilhoeira Grande 13 76,5% 4 23,5% Dissertação de Mestrado em Serviço Social 216 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 3b – Distribuição das actividades participadas por freguesia. Freguesia Portimão Alvor Mexilhoeira Grande 85 15 13 28 4 4 13 0 0 0 0 6 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 4 0 0 7 0 7 0 0 0 0 0 14 0 0 0 0 0 10 0 0 Nº de pessoas que participam em actividades Viver Sénior Exercício e Saúde Actividades da Junta de Freguesia da Mexilhoeira Grande Actividades da Junta de Freguesia de Alvor Actividades da Junta de Freguesia de Portimão Actividades da Associação Discrição das Actividades participadas dos Reformados do Pontal e Não Só Actividades do Centro Comunitário de Alvor Viver Sénior e actividades da Junta de Freguesia da Mexilhoeira Grande Viver Sénior e actividades do Centro Comunitário Alvor Exercício e saúde, Viver sénior e actividades do Centro Comunitário Alvor Exercício e Saúde e Viver Sénior Instituto da Cultura de Portimão e Viver Sénior Viver Sénior e Centro de Convívio Sénior Viver Sénior, Junta Freguesia Portimão, actividades da Ass. Reformados do Pontal e CCS Viver Sénior, actividades da Junta de Freguesia de Portimão e Centro Dissertação de Mestrado em Serviço Social 217 Qualidade de Vida dos Seniores Convívio Sénior Viver Sénior, actividades da Junta de Freguesia de 2 0 0 0 0 0 5 0 0 2 0 0 1 0 0 Várias 0 0 1 Não respondeu 1 0 0 Portimão, CCS e Exercício e Saúde Exercício e Saúde e Associação dos Reformados do Pontal Viver Sénior, Exercício e Saúde e actividades da Junta de Freguesia de Portimão Viver Sénior e actividades da Junta de Freguesia de Portimão Exercício e Saúde e Actividade Junta de freguesia Portimão Dissertação de Mestrado em Serviço Social 218 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 3c – Distribuição do motivo da não participação nas actividades por freguesia. Freguesia Portimão Alvor Mexilhoeira Grande 35 3 4 Nº de pessoas que não participa nas actividades Desconhecimento 5 0 2 Falta de oportunidade 6 1 1 Devido à doença 2 0 0 Por opção 8 2 1 2 0 0 2 0 0 1 0 0 1 0 0 2 0 0 1 0 0 4 0 0 2 0 0 Sou viúva e não acho bem Motivo da não participação Pessoas doentes a cargo Porque não gosto de fazer o que os outros querem que eu faça nas actividades Mas frequento o CCS Mas já fiz o passaporte sénior Nunca fui convidado para essas actividades Não respondeu Frequento muitas actividades do Instituto da Cultura Tabela 4 – Distribuição do sentimento de isolamento por freguesia. Freguesia Sentimento de isolamento Sim Não Portimão Alvor Mexilhoeira Grande 37 9 7 83 9 10 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 219 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 4a – Distribuição dos motivos do sentimento de isolamento por freguesia. Freguesia Portimão 37 Alvor 9 Mexilhoeira Grande 7 Não tem companheiro(a) 1 0 0 Porque vive sozinho(a) 11 0 1 Fica muitas vezes sozinho(a) em casa 3 0 0 Vive sozinho(a) e derivado à doença 0 0 1 Vive só e a família vive longe 2 0 0 Mau ambiente em casa 1 0 0 Devido às depressões 1 0 0 Falta de vontade de sair 4 1 0 Falta companhia para conversar e sai pouco 1 0 0 Não sai da sua área de residência 0 1 0 Frequento o Instituto da Cultura e faz voluntariado no CHBA 0 0 0 1 0 0 2 0 0 Sentimentos de solidão e tristeza 2 1 0 Falta de acompanhamento dos filhos 2 0 0 1 1 1 Devido à minha doença 0 0 1 Doença do marido e só sai de casa com os filhos para ir ao médico 0 0 1 Os filhos estão fora 0 1 1 Mas melhor assim que mal acompanhada 0 1 0 Às vezes mas quando me sinto só saio para distrair 0 1 0 Vive só e tem familiares a cargo 0 1 0 Porque quando precisa de certas coisas tem de ir a Portimão 0 0 1 1 1 0 4 0 0 Nº de pessoas que se sentem isoladas Motivo do sentimento de isolamento Os filhos vão trabalhar e como fica só vai para a Associação de Reformados do Pontal Sou cega mas vou à Ass. Reformados do Pontal Devido à doença do marido Porque moro longe de tudo Não respondeu Dissertação de Mestrado em Serviço Social 220 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 4b – Distribuição dos motivos por não sentir isolamento por freguesia. Freguesia Portimão 83 Alvor 9 Mexilhoeira Grande 10 Convive com muitas pessoas 8 0 0 Coabita com o(s) filho(s) e /ou neto(s) 3 0 0 Não mora só e frequenta o CCS 1 0 0 Nº de pessoas que não sente isoladas Motivos por não sentir isolamento Passeia muito 9 1 0 Tem muitos amigos e familiares 4 0 3 Tem liberdade em moverse e companhia 1 0 0 Gosta de comunicar 2 0 0 Porque vive com companhia 1 0 0 A Ass. dos reformados ajuda a distrair 1 0 0 Tem a companhia de familiares próximos 7 0 1 Convive com família e amigos e viaja muito 4 0 0 Pessoa activa 5 1 0 Ainda estou jovem 1 0 0 Mantém-se activo e viaja muito 1 0 1 Pratico desporto 2 0 0 Gosto e oportunidade para conviver 1 0 0 Convive muito no Instituto da Cultura 2 0 0 Visito os filhos, passeio e vou a Instituto da Cultura 1 0 0 Viajo muito 1 0 0 Tenho o marido e pratico ginástica 1 0 0 Participo em muitas actividades 2 0 0 Participo nas actividades da câmara e do Inst. Cultura 2 0 0 Frequento a Ass. Reformados do Pontal 2 0 0 Vive com os filhos e frequenta a Ass. Reformados do Pontal 1 0 0 1 0 0 5 0 0 Nem na rua nem em casa Porque frequento o Centro de convívio Dissertação de Mestrado em Serviço Social 221 Qualidade de Vida dos Seniores Sou extrovertido 1 0 0 Tem a visita dos filhos 0 0 1 Vive num local isolado geograficamente mas é activo e autónomo 0 0 2 Sente-se bem vivendo só e longe dos serviços mas tem carro 0 0 1 Frequenta as actividades do Centro Comunitário de Alvor 0 1 0 Passeia diariamente e faz voluntariado 0 1 0 Quando se sente só sai para a rua 0 1 0 Não sabe o que é a solidão e não tem medos 0 1 0 Convive com familiares e cuida dos netos 0 0 1 Passo o dia sempre ocupado 1 1 0 Tento conviver com as pessoas amigas 1 0 0 Saio para a rua e convive com as pessoas e família 1 0 0 Saio para a rua e vivo acompanhada 1 0 0 Porque tenho uma vida familiar sólida 1 0 0 Estou muito ocupado no Instituto da Cultura e actividades municipais 1 0 0 Frequento Universidade Sénior e integro todos os movimentos 1 0 0 Vou ao Inst. da Cultura, Desporto na piscina e voluntariado 1 0 0 Frequento com assiduidade o Instituto da Cultura 1 0 0 Não respondeu 4 2 0 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 222 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 5 – Distribuição da satisfação face às actividades e serviços disponíveis em cada freguesia. Freguesia Satisfação face às actividades e serviços Sim Portimão Alvor Mexilhoeira Grande 95 16 17 23 2 0 Não Tabela 5a – Distribuição da satisfação face às actividades e serviços disponíveis em cada freguesia. Freguesia Portimão Alvor Mexilhoeira Grande 5 0 0 3 0 1 "Porque o presidente é porreiro" 1 0 0 Há muito convívio e combate a solidão 5 0 0 Gosta de participar nas actividades 3 0 0 Boas oportunidades de entretenimento 9 0 1 Tem-se feito boas obras 3 1 0 Beneficia deles 1 0 0 Mas nunca a 100% 4 0 0 Porque há de tudo 9 3 1 Proximidade dos serviços 3 0 0 2 0 0 Melhor qualidade dos serviços 4 0 0 Proximidade dos serviços e oportunidade de entretenimento Amabilidade das pessoas Motivo da satisfação face às actividades e serviços Bons programas culturais Regular 1 0 1 Novas relações de amizade 1 0 0 Os serviços são bons mas devia ser + direccionados seniores 1 0 0 Mas melhorar o estacionamento na parte baixa da cidade 1 0 0 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 223 Qualidade de Vida dos Seniores De carro chego bem a todo o lado 1 0 0 São suficientes para as necessidades 4 1 6 Porque existe a Ass. De reformados do Pontal 2 0 0 Iniciativas como o CCS são de louvar 1 0 0 O CCS ajuda a conviver e comunicar 1 0 0 O serviço da junta (Mexilhoeira) é atencioso e personalizado 0 0 2 Os pedidos à junta (M. G.) são sempre satisfeitos (transportes) 0 0 1 Mas falta uma clínica de Fisioterapia em Alvor 0 1 0 Sem dúvida 0 2 0 Tudo óptimo 1 3 0 Razoavelmente 1 1 1 Nada a dizer 1 0 1 Porque é a maneira de conviver com as pessoas 1 0 0 Consigo realizar-me físico, social, intelectual, citadino... 2 0 0 Não me lembro de nada que possam abrir ou adquirir 1 0 0 24 4 2 1 0 0 Não respondeu Não sabe responder Dissertação de Mestrado em Serviço Social 224 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 5b – Distribuição da não satisfação face às actividades e serviços disponíveis em cada freguesia. Freguesia Portimão Alvor Mexilhoeira Grande 1 0 0 Não há nada 1 0 0 Ainda falta muita coisa 1 0 0 1 0 0 3 0 0 1 0 0 3 0 0 1 0 0 1 0 0 2 0 0 1 0 0 2 2 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 Mau cheiro e permanência dos ciganos nas Cardosas Mais actividades culturais e a preços acessíveis Porque não Centralização dos serviços no centro da cidade Deveria existir mais Motivo da não satisfação face às actividades e serviços serviços para a terceira idade Pouco espaço ao ar livre para entretenimento Burocracia excessiva Insuficientes para auxiliar os seniores Na Praia da Rocha não há nada para os seniores nem para crianças São insuficientes Nas Cardosas vivem muitos ciganos Actividades para idosos na zona do Vale Lagar A zona da Coosofi está abandonada Falta de higiene nas ruas da coosofi Não respondeu Dissertação de Mestrado em Serviço Social 225 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 6 – Distribuição da frequência com que se deslocam a Portimão por freguesia. Freguesia Portimão Alvor Mexilhoeira Grande 12 10 7 Só em casos Frequência excepcionais que se 1 Vez por mês 10 1 6 deslocam a 1 Vez por semana 20 2 3 Portimão 3 Vezes por 15 1 0 Todos os dias 60 4 1 Não respondeu 3 0 0 semana Tabela 7 – Distribuição dos serviços mais procurados pela população de cada freguesia. Freguesia Segurança Social Portimão 8 Alvor 1 Mexilhoeira Grande 1 Hospital 17 4 6 Câmara Municipal 3 0 0 Finanças 1 0 0 Tribunal 1 0 0 Outros 52 9 5 0 0 1 0 0 0 2 0 2 Hospital e Outros 14 3 2 Câmara e outros 7 0 0 2 1 0 2 0 0 1 0 0 2 0 0 Serviços Segurança Social e mais Finanças procurados Segurança Social, em Portimão Hospital e Tribunal Segurança Social, Hospital e Finanças Hospital, Câmara e Outros Câmara e Hospital Seg. Social, Hospital, CMP, Finanças e Outros Segurança social e Dissertação de Mestrado em Serviço Social 226 Qualidade de Vida dos Seniores outros Segurança Social, Câmara e Outros Hospital e Segurança Social Não respondeu 1 0 0 3 0 0 4 0 0 Tabela 7a – Distribuição dos serviços mais procurados pela população de cada freguesia não referidos na tabela anterior. Freguesia Comércio Local Portimão 8 Alvor 4 Mexilhoeira Grande 0 Hipermercado 6 0 0 Visitar família/amigos 2 1 2 Passear 6 1 0 0 1 1 Pagamentos de serviços (ex. água. luz e/ou gás) 1 0 1 Hipermercado, Mercado Municipal e comércio local 1 2 0 procurados Comércio local e passear 2 1 0 não referidos Visitar família/amigos e comércio local 0 1 0 Cemitério e SAP 1 0 0 Mercado Municipal e passear 1 1 0 Supermercado e pagamentos de serviços (água, luz e/ou gás) 1 0 0 Farmácia 2 0 0 Centro de Saúde e Consultas de Especialidade 2 0 0 Instituto da Cultura de Portimão 1 0 0 Centro de Saúde, Banco, Mercado Municipal e Centro Comercial 2 0 0 Centro de Saúde 3 1 1 Mercado Municipal e Cemitério 2 0 0 Centro Convívio Sénior 1 0 0 Consultas de especialidade Outros serviços na tabela anterior Dissertação de Mestrado em Serviço Social 227 Qualidade de Vida dos Seniores Centro saúde, Correios, comércio local e farmácia 3 0 0 Correios 1 0 0 Centro de saúde e comércio local 2 0 0 Junta de Freguesia de Portimão e comércio local 1 0 0 Passear e Cinema 2 0 0 Mercado Municipal 5 0 0 Cemitério 2 0 0 Banco e Advogado 1 0 0 Comércio local e Mercado Municipal 2 0 0 Hipermercado, Mercado Municipal e consultas de especialidade 1 0 0 Hipermercado e Mercado Municipal 6 0 0 Hipermercado, Passear e Instituto da Cultura 0 0 0 Hipermercado, Instituto da Cultura e CCS 1 0 0 Cemitério e Mercado Municipal 1 0 0 Instituto da Cultura 1 0 0 Não especificou 2 0 3 Piscina Municipal e supermercados 2 0 0 Correios e Banco 2 0 0 Fisioterapia 1 0 0 Nenhum 2 0 0 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 228 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 8 – Distribuição do que a população opina que faça falta na sua freguesia. Freguesia Portimão 0 Alvor 1 Mexilhoeira Grande 1 3 1 0 Maior de frequência dos transportes públicos 0 0 5 Maior frequência de transportes públicos e supermercados 0 0 1 Melhor acessibilidade ao trânsito 2 0 0 Mais lugares de estacionamento 0 0 0 Melhor acessibilidade ao trânsito e mais estacionamento 0 1 0 Nada 22 3 3 Melhorar a calçada, + policia, baixar o som dos bares 0 1 0 Melhoramento das ruas (calçada) 1 3 0 Uma carrinha para levar as pessoas à natação 0 1 0 Mais comércio, mais convívio, mais vida 0 1 0 Posto GNR, Mais estacionamento e arranjar calçadas 0 1 0 Melhor acesso à saúde 2 0 0 Melhoramentos nas habitações 1 0 0 Contentores do lixo e mais ajuda económica aos reformados 1 0 0 Maior proximidade dos serviços públicos 2 0 0 Elevação das passadeiras para piões 4 0 0 Parques infantis e Mais policiamento nas ruas 1 0 0 Mais animação e entretenimento 2 0 0 Bancos para sentar na Av. 25 Abril 1 0 0 Teatro 1 0 0 Manutenção do SAP, Mais Policia e acessibilidade ao trânsito 2 0 0 Hipermercado Mais policiamento nas ruas O que falta faz na freguesia Dissertação de Mestrado em Serviço Social 229 Qualidade de Vida dos Seniores Jardins e ocupação de tempos livres para crianças 1 0 0 Jardins para crianças e Lares para idosos 2 0 0 Alargar o SAP, Melhorar ruas e trânsito, Rapidez consultas 2 0 0 1 0 0 5 0 0 Um serviço de apoio domiciliário gratuito 1 0 0 Mais assistência ao nível da habitação 1 0 0 Mais abrigo nas paragens dos transportes públicos 1 0 0 Melhoramento das estradas e Mais entretenimento 1 0 0 Mais higiene nas ruas e civismo 1 0 0 Um centro de convívio mais perto de casa 1 0 0 Maior espaçamento entre ruas e estacionamento gratuito 1 0 0 1Bairro para ciganos, um Centro de Convívio maior e 1espaço de recuperação para idosos Um espaço maior para os seniores Ilha ecológica 1 0 0 Não sabe responder 1 0 0 Mais casas de banho públicas 4 0 0 Local único para pagamento de serviços, + luz e + segurança 0 0 1 Um aparelho para medir o colesterol no CCS 1 0 0 Melhor recolha do lixo e mais segurança 1 0 0 Uma piscina maior 1 0 0 Creches 1 0 0 Melhores médicos no centro de saúde 1 0 0 Mais parques infantis e mais zonas verdes 1 0 0 Centros de Dia 1 0 0 Infantários públicos, Lares acolhimento sem-abrigo e idosos 1 0 0 Parques infantis, creches e melhores médicos 2 0 0 Passagens superiores com rampa 1 0 0 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 230 Qualidade de Vida dos Seniores Mais jardins 4 0 0 Mais jardins, parques infantis e revistas 1 0 0 Mais jardins, parques de lazer e espaços para idosos 1 0 0 Museus, espectáculos e espaços verdes 1 0 0 Infra-estruturas para terceira idade e espaços verdes 1 0 0 Espaços verdes, Museus, Biblioteca maior e mais espectáculos 1 0 0 Jardins e mais polícia 0 1 0 Mais polícia e melhorar o estacionamento no centro da vila 0 1 0 Uma boa sala de espectáculos e uma piscina com condições 1 0 0 Paragens de vai e vem da parte lateral do mercado novo 1 0 0 Melhorar os jardins da cidade 2 0 0 Mais ajuda e apoio para adultos com doenças psíquicas 1 0 0 Um espaço maior para os seniores com todos os serviços 2 0 0 Passeios, higienização de ruas e parques infantis na Coosofi 2 0 0 Posto da GNR e ponte de travessia peões EN125 cruzamento Mex. Grande 0 0 1 Fonte pública, jardim, posto da GNR e ponte para peões na EN 125 0 0 1 Posto da GNR e ponte para peões na EN 125 0 0 1 0 0 1 Ponte para peões na EN 125 e um jardim 0 0 1 Reconstrução dos passeios que estão cheios de buracos 0 1 0 Um supermercado e um jardim 0 1 0 Um supermercado no Vale das Hortas 0 1 0 Parques infantis 1 0 0 Médicos 2 0 0 Posto da GNR e um jardim Dissertação de Mestrado em Serviço Social 231 Qualidade de Vida dos Seniores Espaços verdes e médicos 1 0 0 Empregos 1 0 0 Nova piscina, serviços sociais para acamados e mais Lares de 3ªidade 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 12 0 1 Um guia credenciado nos passeios-marchas do Exercício e Saúde Mais Lares e Centro Dia, mais jardins e zonas arborizadas Mais clínicas de fisioterapia e mais apoio do Estado Não comenta Não respondeu Tabela 9 – Distribuição das idades dos inquiridos por freguesia. Freguesia Idades Mexilhoeira Grande 64 Portimão 1 Alvor 0 0 65 18 1 0 66 11 0 3 67 3 1 0 68 5 0 1 69 9 0 0 70 6 1 1 71 5 0 1 72 2 2 0 73 5 1 0 74 3 3 3 75 5 1 0 76 4 1 1 77 8 3 0 78 4 3 2 79 4 0 1 80 7 0 0 81 6 0 0 82 5 0 1 83 4 0 1 84 0 1 1 85 2 0 0 86 1 0 1 87 2 0 0 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 232 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 9a – Média das idades dos inquiridos por freguesia. Freguesia Idades Portimão 73 Alvor 75 Mexilhoeira Grande 75 Tabela 10 – Distribuição por sexo dos inquiridos por freguesia. Freguesia Sexo Portimão Alvor Mexilhoeira Grande Feminino 80 14 13 Masculino 40 4 4 Tabela 11 – Distribuição do grau de escolaridade dos inquiridos por freguesia. Freguesia Portimão Alvor Mexilhoeira Grande 15 2 5 Sabe ler e/ou escrever 12 4 5 1º ao 4º anos 58 11 7 Grau de 5º ao 6º anos 8 1 0 Escolaridade 7º ao 9º anos 6 0 0 10º ao 12º anos 16 0 0 Estudos universitários 5 0 0 Formação pós-graduada 0 0 0 Não sabe ler nem escrever Dissertação de Mestrado em Serviço Social 233 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 12 – Distribuição das profissões dos inquiridos por freguesia. Freguesia Portimão 13 Alvor 4 Mexilhoeira Grande 1 Ama 0 0 0 Doméstica 17 3 2 Agricultor 1 1 0 Indústria de mármores 0 0 0 Agricultor e indústria de mármores 0 0 1 Comerciante 9 3 0 Empregada de quartos 1 1 1 Modista 3 2 1 Empregada de balcão 3 1 0 Auxiliar de acção educativa 2 0 0 Cozinheira 2 0 1 Assistente Social 1 0 0 Advogada 1 0 0 Profissional de Hotelaria 6 0 0 Indústria Hoteleira 4 0 0 Marceneiro 1 0 0 Bancário(a) 4 0 0 Pescador marítimo 1 0 0 1 0 0 Motorista de táxi 1 0 0 Costureira 1 1 0 Calista 1 0 0 Empregada de limpezas 2 0 0 Estivador de peixe 1 0 0 Auxiliar de acção médica 2 0 0 Construtor civil 1 0 0 Empregada de escritório 2 0 1 Pescador 0 1 0 Funcionário(a) Pública 4 0 0 Contabilista 1 0 0 Governanta de hotelaria 1 0 0 C.T.T. 2 0 0 Construtor de barcos 2 0 0 Escriturária 2 0 0 Chefe de vinhos 1 0 0 Carteiro 0 0 1 Doméstica em casas particulares 0 0 1 Encarregado da Construção Civil 0 1 0 Professor(a) 2 0 0 Empregado(a) Fabril Profissões Leitor de consumos (EDP) Dissertação de Mestrado em Serviço Social 234 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 13 – Distribuição do estado civil dos inquiridos por freguesia. Freguesia Estado civil Solteiro(a) Portimão 3 Alvor 0 Mexilhoeira Grande 1 Casado(a) 54 13 10 União de facto 3 0 0 Separado(a) 4 1 0 Divorciado(a) 12 0 1 Viúvo(a) 44 4 5 Tabela 14 – Confrontação do estado de saúde dos inquiridos por freguesia. Freguesia Portimão Alvor Mexilhoeira Grande Está doente Sim N 56 % 46,7 N 10 % 55,6 N 9 % 52,9 actualmente? Não 62 51,7 8 44,4 8 47,1 Não respondeu 2 1,7 0 0 0 0 Tabela 15 – Distribuição do tipo de doença dos inquiridos por freguesia. Freguesia Parkinson Portimão 1 Alvor 0 Mexilhoeira Grande 0 Diabetes 2 0 1 Hipertensão 1 1 1 Problemas de estômago 7 0 0 Problemas de Bexiga 0 0 0 Parkinson e diabetes 1 1 0 Problemas de tiróide 0 0 1 Bronquite asmática 0 0 0 Tipos de Reumatismo 1 0 0 doença Bronquite asmática e reumatismo 1 0 1 Doença de foro neurológico 0 0 1 Osteoporose 3 2 0 Osteoporose, Diabetes e Epilepsia 0 1 0 Má circulação do sangue 0 1 0 referidos Dissertação de Mestrado em Serviço Social 235 Qualidade de Vida dos Seniores Tipos de doença referidos Diabetes e hipertensão 2 0 0 Problemas de intestinos 2 0 0 Depressão 5 0 0 Hipertensão e Problemas renais 1 0 0 Diabetes e Osteoporose 1 0 0 Prótese no braço 1 0 0 Problemas renais 3 0 0 Osteoporose, rinite alérgica e artroses 1 0 0 Osteoporose e doença no coração 3 0 0 Problemas de bexiga, vesícula e intestinos 1 0 0 Problemas nervosos 1 1 0 Sequelas de AIT 1 0 0 Artroses 2 0 0 Doenças de coluna 1 0 0 Osteoporose, Problemas nos intestinos e úlceras nervosas 2 0 0 Problemas da próstata 1 0 1 Problemas de visão 3 1 0 Problemas de coração 2 1 0 Sequelas de AVC e insuficiência renal 1 0 0 Angina de peito 1 0 0 Osteoporose e insuficiência renal 0 1 0 Problemas de visão, bexiga e pulmões 1 0 0 Cancro da mama e problemas de vesícula 1 0 0 Angina pulmonar 1 0 0 Não especificou 1 0 3 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 236 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 16 – Relação do tipo de doença com o tempo com que sofre da mesma. Tipos de doença referidos Tempo que tem a doença > /= 5 Anos >/= 10 Anos e < 10 anos e < 20 anos 0 1 Parkinson > 1 Ano 0 >/= 1 Ano e < 5 anos 0 </= 20 Anos 0 Não especifica 0 Diabetes 0 2 1 Hipertensão 0 0 1 0 0 0 1 1 Problemas de estômago 0 0 2 Problemas de Bexiga 0 0 1 1 3 0 0 0 0 Parkinson e diabetes 0 0 0 0 1 1 Problemas de tiróide 0 Bronquite asmática 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Reumatismo 0 0 0 0 1 0 Bronquite asmática e reumatismo 0 0 0 1 0 1 Doença de foro neurológico 0 1 0 0 0 0 Osteoporose 0 0 3 0 2 0 Osteoporose, Diabetes e Epilepsia 0 0 0 0 1 0 Má circulação do sangue 0 0 0 0 1 0 Diabetes e hipertensão 0 0 1 0 0 1 Problemas de intestinos 0 0 0 0 0 2 Depressão 1 0 1 2 1 0 Hipertensão e Problemas renais 0 0 0 1 0 0 Diabetes e Osteoporose 0 0 0 0 1 0 Prótese no braço 0 0 1 0 0 0 Problemas renais 0 1 0 0 2 0 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 237 Qualidade de Vida dos Seniores Osteoporose, rinite alérgica e artroses 0 0 1 0 0 0 Osteoporose e doença no coração 0 0 1 0 1 1 Problemas de bexiga, vesícula e intestinos 0 1 0 0 0 0 Problemas nervosos 0 1 0 0 1 0 Sequelas de AIT 0 1 0 0 0 0 Artroses 1 0 0 0 0 1 Doenças de coluna 0 1 0 0 0 0 Osteoporose, Problemas nos intestinos e úlceras nervosas 0 0 0 0 2 0 Problemas da próstata 1 1 0 0 0 0 Problemas de visão 0 0 0 1 0 3 Problemas de coração 0 0 1 1 0 1 Sequelas de AVC e insuficiência renal 0 0 1 0 0 0 Angina de peito 0 0 0 0 0 0 Osteoporose e insuficiência renal 0 0 1 0 0 0 Problemas de visão, bexiga e pulmões 0 0 0 1 0 0 Cancro da mama e problemas de vesícula 0 0 0 1 0 0 Angina pulmonar 0 0 0 0 0 1 Não especificou 0 2 0 0 1 1 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 238 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 17 – Relação do tipo de doença com o tempo com que sofre da mesma e regime de tratamento aplicado. Regime de tratamento Tipos de doenças referidos Tempo com que sofre da doença > /= 5 >/= 10 >/= 1 ano anos e < anos e < </= 20 e < 5 anos anos 10 anos 20 anos 0 0 1 0 Parkinson Internamento 0 Consulta Externa 1 Sem Tratamento 0 > 1 ano 0 Diabetes 0 3 0 0 2 1 0 0 0 Hipertensão 0 3 0 0 0 1 1 1 0 Problemas de estômago 0 7 0 0 2 1 1 3 0 Problemas de Bexiga 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Parkinson e diabetes 0 2 0 0 0 0 1 1 0 Problemas de tiróide 0 0 1 0 1 0 0 0 0 Bronquite asmática 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Reumatismo 0 1 0 0 0 0 0 1 0 Bronquite asmática e reumatismo 0 2 0 0 0 0 1 0 1 Doença de foro neurológico 0 1 0 0 1 0 0 0 0 Osteoporose 0 5 0 0 0 3 0 2 0 Osteoporose, Diabetes e Epilepsia 0 1 0 0 0 0 0 1 0 Má circulação do sangue 0 1 0 0 0 0 0 1 0 Diabetes e hipertensão 0 2 0 0 0 1 0 0 1 Problemas de intestinos 0 2 0 0 0 0 0 0 2 Depressão 0 4 1 1 0 1 2 1 0 Hipertensão e Problemas renais 0 1 0 0 0 0 1 0 0 Diabetes e Osteoporose 0 1 0 0 0 0 0 1 0 Prótese no braço 0 1 0 0 0 1 0 0 0 Problemas renais 0 3 0 0 1 0 0 2 0 Dissertação de Mestrado em Serviço Social Não especifica 0 239 Qualidade de Vida dos Seniores Osteoporose, rinite alérgica e artroses 0 1 0 0 0 1 0 0 0 Osteoporose e doença no coração 0 3 0 0 0 1 0 1 1 Problemas de bexiga, vesícula e intestinos 0 1 0 0 1 0 0 0 0 Problemas nervosos 0 1 1 0 1 0 0 1 0 Sequelas de AIT 0 1 0 0 1 0 0 0 0 Artroses 0 2 0 1 0 0 0 0 1 Doenças de coluna 0 1 0 0 1 0 0 0 0 Osteoporose, Problemas nos intestinos e úlceras nervosas 0 2 0 0 0 0 0 2 0 Problemas da próstata 0 2 0 1 1 0 0 0 0 Problemas de visão 0 2 2 0 0 0 1 0 3 Problemas de coração 0 3 0 0 0 1 1 0 1 Sequelas de AVC e insuficiência renal 0 1 0 0 0 1 0 0 0 Angina de peito 0 1 0 0 0 0 0 0 0 Osteoporose e insuficiência renal 0 1 0 0 0 1 0 0 0 Problemas de visão, bexiga e pulmões 0 1 0 0 0 0 1 0 0 Cancro da mama e problemas de vesícula 0 1 0 0 0 0 1 0 0 Angina pulmonar 0 1 0 0 0 0 0 0 1 Não especificou 0 2 1 0 2 0 0 1 1 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 240 Qualidade de Vida dos Seniores Tabela 18 – Distribuição da forma de administração do questionário por freguesia. Freguesia Forma de Auto-administrado Administração Assistido pelo do entrevistador questionário Administrado pelo entrevistador Portimão Alvor Mexilhoeira Grande 19 0 0 10 0 0 91 18 17 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 241 Qualidade de Vida dos Seniores Anexos 2 Modelo do WHOQOL-Bref e Questionário sócio-demográfico Dissertação de Mestrado em Serviço Social 242 Qualidade de Vida dos Seniores Questionário Sócio-Demográfico O presente questionário é parte integrante do trabalho de mestrado em Serviço Social no Instituto Superior Miguel Torga que pretende avaliar a qualidade de vida dos idosos nas freguesias de Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande. Divide-se em dois grupos, em que, um se refere à identificação dos inquiridos e o outro à participação social dos mesmos nas actividades de carácter lúdico-cultural, desenvolvidas, ou não, pelo município. Pede-se a sua colaboração através da resposta às questões do presente questionário, realçando que não existem respostas correctas ou erradas, elas reflectem unicamente a sua opinião. Assinale cada resposta com uma cruz X. Em caso de dúvida, responda o mais próximo possível da realidade. A confidencialidade das respostas é totalmente assegurada pelo investigador e os dados obtidos servirão unicamente para os fins da investigação. Muito obrigado pela sua participação. 1. Dados relativos à identificação do inquirido. E Indique o n.º pessoas que coabitam consigo F Indique o n.º filhos G Indique o rendimento mensal per capita Inferior a € 200 Entre € 200 e €300 Entre €300 e € 400 Entre € 400 e € 500 Mais de € 500 H Indique a(s) sua(s) fonte(s) dos rendimentos (pode assinalar uma ou mais respostas, dependendo da sua realidade económica, isto é, se aufere rendimentos de mais de uma fonte) Pensão por Velhice Pensão por Invalidez Pensão de Sobrevivência Outra(s): Se respondeu Outra(s), indique quais. _____________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________ Dissertação de Mestrado em Serviço Social 243 Qualidade de Vida dos Seniores 2. Dados relativos à participação social do inquirido. I Já participou nas actividades promovidas pela Câmara Municipal de Portimão ou pela sua Junta de Freguesia? Sim Não Se sim, quais? __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ Se não, porquê? __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ J Sente-se isolado? Sim Não Se sim, porquê? __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ Se não, porquê? __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ K Sente-se satisfeito com as actividades e serviços que existem na sua zona de residência? Pensa que elas vão ao encontro das suas necessidades e Sim expectativas? Não Se sim, porquê? __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ Se não, porquê? __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ L Com que frequência vai a Portimão? Só em casos excepcionais 1 Vez por mês 1 Vez semana 3 Vezes por semana Todos os dias Dissertação de Mestrado em Serviço Social 244 Qualidade de Vida dos Seniores M Quais os serviços que mais procura? Segurança Social Hospital Câmara Municipal Finanças Tribunal Outros Se respondeu Outros, indique quais. __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ N. O que acha que faz falta na sua freguesia? __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ Obrigado pela sua colaboração. Dissertação de Mestrado em Serviço Social 245 Qualidade de Vida dos Seniores Dissertação de Mestrado em Serviço Social 246 Qualidade de Vida dos Seniores Dissertação de Mestrado em Serviço Social 247 Qualidade de Vida dos Seniores Dissertação de Mestrado em Serviço Social 248 Qualidade de Vida dos Seniores Dissertação de Mestrado em Serviço Social 249 Qualidade de Vida dos Seniores Anexos 3 Dados do INE Censos 2001 Dissertação de Mestrado em Serviço Social 250 Qualidade de Vida dos Seniores Dissertação de Mestrado em Serviço Social 251 Qualidade de Vida dos Seniores Dissertação de Mestrado em Serviço Social 252