Qualidade de Vida dos seniores

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Qualidade de Vida dos seniores
INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA
ESCOLA SUPERIOR DE ALTOS ESTUDOS
Joana Lopes Paiva
Qualidade de Vida dos seniores:
Estudo comparativo entre as três freguesias
do concelho de Portimão
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
Coimbra, 2008
INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA
ESCOLA SUPERIOR DE ALTOS ESTUDOS
Joana Lopes Paiva
Qualidade de Vida dos seniores:
Estudo comparativo entre as três freguesias
do concelho de Portimão
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
Apresentada ao I.S.M.T. e elaborada sob a orientação
da Profª. Doutora Clara Cruz Santos
Coimbra, 2008
Agradecimentos
Desde sempre as questões relacionadas com a população sénior me
despertaram interesse.
A minha dissertação vai incidir sobre a avaliação da qualidade de vida dos
seniores, pessoas com 65 ou mais anos que residem no concelho de Portimão,
através do qual, se pretende realizar um estudo comparativo entre as três freguesias
constituintes.
Não obstante, a realização desta investigação criou-me alguns problemas
devido à necessidade de aprofundar, com rigor, os temas desenvolvidos.
Quero deixar os meus agradecimentos a todas as pessoas que permitiram a
execução desta investigação. Na impossibilidade de as mencionar todas, não deixarei,
no entanto, de citar as que mais contribuíram para a sua realização.
Para a Professora Doutora Clara Cruz Santos, que na qualidade de
orientadora, me acompanhou de forma crítica e precisa, um agradecimento muito
especial.
À Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de
Coimbra, na pessoa da Professora Doutora Maria Cristina Canavarro, o meu muito
obrigado pela colaboração relativa ao WHOQOL-Bref.
Os meus agradecimentos vão ainda para as diversas entidades locais que
permitiram a recolha de informação. Nomeadamente, à Câmara Municipal de
Portimão, Centro de Convívio Sénior, Associação de Reformados do Pontal e Não Só,
Centro Comunitário de Alvor e Instituto da Cultura de Portimão que representam uma
parte considerável da amostra estudada, deixo o reconhecimento pelo trabalho
desenvolvido e gratificação na disponibilidade.
Também quero expressar os meus agradecimentos aos meus pais, irmã,
namorado e amigos, expressando a minha gratidão, pelo incentivo, pela compreensão,
pelo encorajamento e por estarem sempre presentes, criando as condições
necessárias para que pudesse chegar ao fim desta importante etapa da minha vida
académica.
Resumo
O presente estudo tem como principal objectivo avaliar a Qualidade de Vida dos
munícipes de Portimão. Consideramos Qualidade de Vida como “a percepção do
indivíduo da sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais
ele vive e em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações”
(WHOQOL Group, 1995). O estudo foi levado a cabo no concelho de Portimão e
pretende-se desenvolver uma análise comparativa entre as três freguesias do
Concelho de Portimão. Ser residente no concelho de Portimão, ter 65 ou mais e não
se encontrar institucionalizado constituem-se nas condições da amostra. A amostra
constituída por 155 habitantes corresponde a 2% da população total do concelho.
Assim, em Portimão foram inquiridos 120 habitantes, 18 em Alvor e 17 na Mexilhoeira
Grande.
Pretende-se também, com este estudo, perceber até que ponto os munícipes de
Portimão estão satisfeitos com os serviços da sua freguesia. Se participam e se estão
satisfeitos com o que têm à sua disposição.
Para a mensuração da Qualidade de Vida foi utilizado o Whoqol na sua versão
abreviada
(Whoqol-Bref).
Este
instrumento
foi
elaborado
pela
OMS,
mais
precisamente, pela sua equipa que trabalha com a saúde mental, entidade
responsável pelo estudo da Qualidade de Vida.
Foram avaliados os domínios físicos, psicológicos, relações sociais e meioambiente, enquanto indicadores de Qualidade de Vida. De um modo geral, a
satisfação
da
população
reinou.
Podemos
afirmar
que
em
Portimão
são
experimentados os melhores índices de qualidade de vida, seguida de Alvor e, por fim,
Mexilhoeira Grande. Verificamos, de igual modo, que a população está satisfeita com
os serviços das respectivas freguesias e que falamos de pessoas muito activas que
participam em inúmeras actividades.
A prática do Serviço Social relaciona-se com o processo de envelhecimento, na
medida em que se caracteriza por promover mudanças sociais. Muitas das vezes os
seniores têm dificuldade em aceitar as alterações subjacentes ao conjunto de perdas e
ganhos inerentes ao envelhecimento. Todo este processo de adaptação à nova etapa
da vida requer do profissional a promoção da capacitação individual por via do
empowerment, para que, eles próprios encontrem instrumentos para promoverem a
sua própria mudança.
Palavras-chave: Qualidade de Vida; Envelhecimento; Serviço Social.
Summary
The present study has as its main objective (aim) the evaluation of the quality of life
of the citizens of Portimão. Quality of life is employed in this context as “individual
perception of his position in life, within the cultural context and the system of values
according to which he lives, and in relation to his goals, expectations, patterns and
concerns” (Whoqol, Group).
This study was conducted in the council of Portimão and it comprises an analysis of
Portimao three parishs. The sample conditions are the following: to be a resident in the
council, to be 65 years or over and not to be institutionalized .The sample is constituted by
155 inhabitants, a number that represents 2% of the population of the council of Portimão.
Taking all these factors into consideration 122 inhabitants were inquired in the parish of
Portimão, 18 in the parish of Alvor and 17 in the parish of Mexilhoeira Grande.
The scope of this study it is to understand to what extent the citizens of Portimão
are satisfied -
with the services provided by the parish. If they do participate in the
initiatives developed by each parish and if they are satisfied to what is placed at their
disposal.
I have used Whoqol in its abbreviated format (Whoqol-Bref) for the measurement of
Quality of Life. This model was developed by the team that deals specifically with mental
health within the World Health Organisation (WHO).
Physical and psychological domination, social relations and the environment were
evaluated as indicators of Quality of Life. Overall, the population is satisfied with the current
position. The best index of quality of life is experienced in the parish of Portimão, followed
by Alvor and finally by Mexilhoeira Grande. It was verified in the same way that the
population is satisfied with the services provided by the respective parish and that the
people who were interviewed are active participants in various activities.
The practice of Social Services is related to the ageing process in a way that
promotes social change.
Often, the elderly find it difficult to accept the underlying changes that are inherent
to the ageing process. The adaptation to a new reality that is required of those in this
position requires the Professional carer to promote individual capability via selfempowerment. It is expected that, in this way, the elderly may find the necessary means to
promote their own change.
Key-words: Quality of life; Ageing; Social Work.
Lista de Quadros
Quadro 1
Confrontação dos estereótipos mais frequentes dirigidos aos seniores
com a realidade vivida.
Quadro 2
A evolução da atribuição de poderes e competências às autarquias
locais no âmbito social.
Quadro 3
Actividades do Centro de Envelhecimento Activo.
Quadro 4
Domínios, questões respectivas facetas do Whoqol-Bref.
Lista de Tabelas
Tabela 1
Distribuição do número de pessoas com que coabitam e número
de filhos por freguesia.
Tabela 2
Distribuição dos rendimentos mensais per capita e respectivas
fontes por freguesia.
Tabela 2a
Distribuição dos rendimentos mensais per capita e respectivas
fontes por freguesia.
Tabela 3
Distribuição da participação em actividades promovidas pela
Câmara Municipal de Portimão ou respectiva junta de freguesia
por freguesia.
Tabela 3a
Distribuição da percentagem da participação nas actividades
promovidas pela Câmara ou pelas respectivas juntas de freguesia.
Tabela 3b
Distribuição das actividades participadas por freguesia.
Tabela 3c
Distribuição do motivo da não participação nas actividades por
freguesia.
Tabela 4
Distribuição do sentimento de isolamento por freguesia.
Tabela 4a
Distribuição dos motivos do sentimento de isolamento por
freguesia.
Tabela 4b
Distribuição dos motivos por não sentir isolamento por freguesia.
Tabela 5
Distribuição da satisfação face às actividades e serviços
disponíveis em cada freguesia.
Tabela 5a
Distribuição da satisfação face às actividades e serviços
disponíveis em cada freguesia.
Tabela 5b
Distribuição da não satisfação face às actividades e serviços
disponíveis em cada freguesia.
Tabela 6
Distribuição da frequência com que se deslocam a Portimão por
freguesia.
Tabela 7
Distribuição dos serviços mais procurados pela população de cada
freguesia.
Tabela 7a
Distribuição dos serviços mais procurados pela população de cada
freguesia não referidos na tabela anterior.
Tabela 8
Distribuição do que a população opina que faça falta na sua
freguesia.
Tabela 9
Distribuição das idades dos inquiridos por freguesia.
Tabela 9a
Média das idades dos inquiridos por freguesia.
Tabela 10
Distribuição por sexo dos inquiridos por freguesia.
Tabela 11
Distribuição do grau de escolaridade dos inquiridos por freguesia.
Tabela 12
Distribuição das profissões dos inquiridos por freguesia.
Tabela 13
Distribuição do estado civil dos inquiridos por freguesia.
Tabela 14
Confrontação do estado de saúde dos inquiridos por freguesia.
Tabela 15
Distribuição do tipo de doença dos inquiridos por freguesia.
Tabela 16
Relação do tipo de doença com o tempo com que sofre da
mesma.
Tabela 17
Relação do tipo de doença com o tempo com que sofre da mesma
e regime de tratamento aplicado.
Tabela 18
Distribuição da forma de administração do questionário por
freguesia.
Tabela 19
Média ponderada dos resultados obtidos na relação dos domínios
com as freguesias.
Tabela 20
Estudo do Domínio Físico nas três freguesias do concelho de
Portimão.
Tabela 21
Estudo do Domínio Psicológico nas três freguesias do concelho de
Portimão.
Tabela 22
Estudo do Domínio das Relações Sociais nas três freguesias do
concelho de Portimão.
Tabela 23
Estudo do Domínio do Meio ambiente nas três freguesias do
concelho de Portimão.
Lista de abreviaturas
et al:
Expressão utilizada quando nos referimos a mais do que um autor.
Ibidem:
Quando nos referimos ao memo autor.
n.º:
Número
pp:
Páginas
s/p:
Sem página
s/d:
Sem data
Sumário
Introdução
1
Capítulo 1 – Portugal envelhecido
6
1.1 Evolução Demográfica
7
1.2 As repercussões da evolução demográfica e as políticas sociais em Portugal
10
Capítulo 2 – Questões ligadas ao processo de envelhecimento
21
2.1 – Um olhar sobre o envelhecimento
21
2.1.1 – Da historicidade à actualidade das perspectivas do envelhecimento
25
2.1.2 – Outras abordagens teóricas do processo de envelhecimento
31
2.2 – A integração social dos seniores
37
2.1.1 – Os seniores na sociedade contemporânea
42
2.1.2 – Da actividade profissional à reforma
52
2.1.3 – Os seniores e a família
58
2.1.4 – A institucionalização
75
Capítulo 3 – A qualidade de vida no processo de envelhecimento
80
3.1 – O conceito de Qualidade de vida
80
3.1.1 - Precisões terminológicas e perspectiva histórica do conceito Qualidade
80
de Vida
3.1.2 – Dimensões, domínios e instrumentos de medição do conceito de
88
Qualidade de Vida
3.2 – Envelhecer com qualidade de vida
3.2.1 Viver mais e melhor: envelhecer bem é possível
Capítulo 4 – A prática profissional do Assistente Social na promoção da
94
99
102
Qualidade de Vida dos seniores
4.1 – Práticas profissionais
103
4.2 – A Relação Profissional-Utente
110
4.3 – Perspectiva territorial
114
4.3.1 – Serviço Social e Poder local: Pensar Global, Agir local
117
4.3.2 – Um município ao dispor da população sénior: políticas e respostas
128
sociais locais para os seniores
Capítulo 5 – Estudo Empírico de investigação
5.1 – A presentação do objecto de estudo e do modelo de análise
138
5.2 Estratégias e procedimentos metodológicos
141
5.3 Apresentação e discussão dos resultados obtidos
145
Conclusão
176
Referências bibliográficas
190
Anexos
211
Anexo 1 – Tabelas resultantes do tratamento estatístico (spss)
212
Anexo 2 – Questionários: Whoqol-Bref e Sócio-demográfico
241
Anexo 3- Dados do INE – Censos 2001
249
Introdução
O presente trabalho é parte integrante do Mestrado em Serviço Social, da
Escola Superior de Altos Estudos (ESAE) do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT).
Com este trabalho pretende-se estudar a qualidade de vida das pessoas com 65 ou
mais anos residentes no concelho de Portimão através de um estudo comparativo
entre as três freguesias constituintes deste concelho.
Abordar as questões relativas à Qualidade de Vida (QV) dos mais envelhecidos
na nossa sociedade é indissociável do estudo aprofundado sobre a problemática do
envelhecimento demográfico como resultado do progresso socio-económico.
Portugal, tal como os demais países da Europa Ocidental, enfrenta um
processo de envelhecimento demográfico acentuado. O envelhecimento da população
é um fenómeno de grande dimensão com efeitos em todas as sociedades que tem
tendência a acentuar-se não só no topo, com o aumento dos mais velhos mas
também, na base com a redução dos mais novos. De facto observa-se uma verdadeira
inversão na pirâmide etária que, inevitavelmente, parece conduzir a um desequilíbrio
entre as gerações. Facto que encontra explicação no decréscimo da taxa de
fecundidade, por um lado e, progressivo aumento na esperança de vida, por outro.
Ambos resultantes do impacto do processo de desenvolvimento social e económico
nos modos de vida, nas expectativas e nos valores, influenciando os comportamentos
familiares.
Numa sociedade que parece pautar-se por valores lucrativos e rentáveis, as
pessoas mais velhas são votadas ao esquecimento e solidão e, muitas vezes à
exclusão e/ou discriminação. Perante a obrigatoriedade do afastamento do mercado
de trabalho e a consequente quebra na contribuição para a riqueza nacional, estes são
“postos de parte”. Receia-se que, sociedades fortemente envelhecidas, se tornem em
sociedades problemáticas, em risco de fractura de solidariedade e de aumento de
situações de exclusão entre as quais se poderá incluir o facto de se “ser velho”.
Colocam-se neste seguimento as seguintes questões – como é que a
sociedade terá condições para este aumento brusco de seniores? Que lugar ocuparão
na sociedade?
Qualidade de Vida dos Seniores
A vida societária actual está de tal forma organizada que não parece promover
a inclusão dos reformados. A partir do momento em que se entra na reforma, as
pessoas são como que banidas do sistema de reprodução social, sendo muitas vezes
vistas como os que absorvem o dinheiro dos sistemas da segurança social. O
envelhecimento não conduz necessariamente ao isolamento, solidão ou discriminação,
se existir um esforço, não só por parte da mudança de mentalidade da sociedade, mas
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
2
Qualidade de Vida dos Seniores
principal e primordialmente, da forma dos próprios encararem o seu processo
de envelhecimento.
Estamos perante um problema social que não encontra a sua origem na
pessoa individual mas antes na sociedade, estrutura social e relações sociais. Não
somos só objecto da sociedade, mas muito mais, devemos ser sujeitos participativos
de modo a assumirmos um papel activo que conduza a uma mudança societária.
O papel do Serviço Social é, neste contexto, importante através da promoção
de mudanças sociais e individuais. A sua prática surge centrada na satisfação das
necessidades humanas e no desenvolvimento do potencial das pessoas. Contudo, e
dado ao esforço dos profissionais, felizmente, há já alguns seniores que começam a
perceber que não podem viver mais como antigamente e assumem uma posição mais
activa, de maior lucidez e mais participativa. Encaram o passar dos anos como
momentos privilegiados para a sua realização pessoal e estão prontos para viver um
dos momentos mais felizes das suas vidas. Já são alguns os que começam a se
preocupar com a redefinição de novos papéis e a ocupar novos espaços, conseguindo
acreditar que são eles próprios os responsáveis pela sua vida e felicidade.
O Serviço Social surge aqui enquanto profissão cujo objectivo consiste em
provocar mudanças sociais, tanto na sociedade em geral como nas suas formas
individuais de desenvolvimento. Os profissionais intervêm em prol do bem-estar e da
realização pessoal dos seres humanos para o desenvolvimento de recursos
destinados a satisfazer as necessidades e aspirações individuais e colectivas,
promovendo a justiça social. O Serviço Social caminha no sentido de considerar os
Direitos Humanos como princípio orientador da sua prática profissional. Estes
profissionais garantem e defendem os direitos dos utentes individuais ou colectivos, ao
mesmo tempo que tentam satisfazer as suas necessidades.
Fundamentalmente, o profissional terá o papel de promover a capacitação
social, enquanto processo através do qual se pretende alcançar a autodeterminação
interactiva, a plena efectivação dos direitos humanos entendidos como padrão de
bem-estar, não só individual mas também colectivo e geral. Desenvolvendo nas
pessoas a capacidade necessária para elas mesmas promoveram a sua própria
mudança.
O Serviço Social gerontológico deverá encarar, assim, a pessoa mais velha
como “personagem principal” do seu percurso de vida, encarar cada pessoa de acordo
com a sua individualidade enquanto indivíduo inserido numa família e comunidade,
sujeito de direitos e deveres e, especificamente de promover o reforço da autonomia,
da auto-estima e da cidadania. E, para isso, deverão ser estimuladas as alianças com
os indivíduos envolvendo a comunidade local, a família e instituições para que sejam
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
3
Qualidade de Vida dos Seniores
identificados recursos e descoberta a oportunidade de utilizá-los. Em suma, o Serviço
Social na gerontologia deverá desenvolver uma compreensão da identidade
biopsicossocial de cada indivíduo.
Face a este cenário, questionámo-nos sobre a qualidade de vida do cidadão
idoso remetendo-nos para a importância de saber que condições favorecem
“envelhecer com qualidade”.
Até que ponto os mais velhos conseguem viver com qualidade de vida face à
discriminação emanada pela nossa sociedade? Quais os indicadores que traduzem e
avaliam a qualidade de vida? A reforma é bem-vinda? Reformados logo Velhos?
Perguntas como estas (decorrentes da questão inicial já enunciada) pretendem
encontrar resposta neste estudo. Nesta perspectiva, a análise das condições
objectivas de existência a partir de indicadores/factores das condições de vida das
pessoas mais velhas, traduz-se num instrumento valioso e objectivo para a
identificação de desigualdades quer dentro deste grande grupo quer entre este e a
sociedade.
Para o trabalho empírico utilizámos o World Health Organization Quality of Life
(WHOQOL) na sua versão abreviada.
O Projecto WHOQOL nasceu no seio da Organização Mundial de Saúde
(OMS), no início da década de 90, com o objectivo de debater e clarificar o conceito de
Qualidade de Vida e, posteriormente, construir um instrumento para a sua avaliação.
A investigação subjacente a este trabalho incide sobre a Qualidade de Vida da
população com 65 ou mais anos, numa escala territorial, do Concelho de Portimão
desenvolvendo uma análise comparativa dos padrões vividos nas três freguesias
constituintes do concelho (Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande). Pretende-se
desenvolver uma análise aos domínios físico, psicológico, meios ambiente e relações
sociais enquanto indicadores de medição de Qualidade de Vida, através da avaliação
da percepção dos munícipes com 65 ou mais anos, da sua posição na vida face ao
sistema envolvente e sistema de valores nos quais eles vivem (WHOQOL Group,
1994). Ambicionamos, assim, verificar se existem diferenças entre o género, as
expectativas, padrões e preocupações e analisar o grau de satisfação em relação à
realização das necessidades da população residente em cada freguesia do concelho
em estudo. Por outro lado, aspira-se estudar o impacto psicológico, social e ambiental,
sobre os munícipes da referida faixa etária das condições sociais, económicas e
políticas subjacentes à localização geográfica da sua área de residência, assim como,
avaliar as redes de suporte e relações de vizinhança e predominância de sentimentos
positivos ou negativos, auto-estima e factores associados. O estudo objectiva-se
ainda, em apurar se, as diferentes freguesias do concelho, oferecem, de igual modo,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
4
Qualidade de Vida dos Seniores
acesso a serviços, nomeadamente em áreas como a saúde, lazer, recreação e acesso
à informação.
De forma a atingir os objectivos de estudo e antecedendo a investigação
propriamente dita, importa ressalvar as questões que norteiam este trabalho. Deste
modo, as hipóteses a serem confirmadas ou refutadas após análise dos dados
resultantes da investigação, concretizam-se nas seguintes:
(i)
A população com 65 ou mais anos residente na freguesia de Portimão tem
melhor Qualidade de Vida em comparação com as restantes e, por sua vez, a
freguesia de Alvor apresenta melhores padrões de Qualidade de Vida que a
população residente na freguesia da Mexilhoeira Grande. Esta relação entre o
conceito Qualidade de Vida e as três freguesias resulta dos padrões de vida
visíveis a qualquer observador (os aspectos correlacionais presentes nas
hipóteses de trabalho encontram-se explicitados no ponto 3.2 da presente
dissertação de Mestrado).
(ii)
Pela ordem decrescente atrás referenciada, é na freguesia de Portimão que a
população pode contar com um vasto leque de bens e serviços, melhor
acessibilidade aos mesmos, sendo que é uma população muito mais activa e
participativa. Perante o isolamento geográfico e social da freguesia da
Mexilhoeira Grande, as restantes freguesias do concelho de Portimão têm
melhor acessibilidade aos serviços.
(iii)
Em relação às expectativas e padrões é a população residente na freguesia de
Portimão e Alvor que maiores índices de satisfação apresentam. Fenómenos
explicados
pelo
facto
das
actividades
relacionadas
com
o
lazer
e
entretenimento estarem associadas às zonas mais urbanas e com maior
densidade populacional, sendo destes que, se esperam uma democracia mais
participativa.
(iv)
A população mexilhoeirense é a mais envelhecida e, consequentemente a que
menor número de jovens tem, sendo igualmente a localidade mais isolada. A
relação subjacente ao envelhecimento e isolamento directamente associados à
freguesia da Mexilhoeira Grande une dois conceitos que geralmente se
associam em zonas mais rurais e do interior do país. Fenómeno que encontra
explicação no abandono da população jovem das zonas menos desenvolvidas
e, cada vez mais desertificadas, para o litoral e zonas urbanas, carregando a
esperança de uma vida melhor.
Estas
hipótese
teóricas
forneceram
à
investigação
um
fio
condutor
particularmente eficaz em que o seguimento do trabalho consistirá em testá-las
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
5
Qualidade de Vida dos Seniores
confrontando-as com os dados da observação. São estas hipóteses que
encaminham o investigador para abordar os dados mais pertinentes que, por meio de
um processo selectivo, facilitam a compreensão dos fenómenos observáveis.
Este trabalho surge como um grande desafio. A população sénior em Portimão
é já alvo de muita atenção dos seus dirigentes municipais, contudo o resultado deste
trabalho irá demonstrar a satisfação ou não das práticas levadas a cabo pela
autarquia. O estudo da população mais envelhecida não foi uma escolha casual, pelo
contrário, muito pensada e reflectida pelo que, se pretendia trabalhar este escalão
etário. Neste encadeamento, nada melhor que avaliar a sua qualidade de vida. Com
grande empenhamento e a forte colaboração da autarquia e instituições similares, o
trabalho foi ganhando importância e peso científico à medida da sua evolução.
O presente trabalho é composto por cinco capítulos. No primeiro capítulo é
realizada uma breve análise da situação demográfica vivida em Portugal, fruto do
fenómeno do envelhecimento demográfico vivido nos países desenvolvidos, assim
como, se analisam as políticas sociais face às suas repercussões. No capítulo
segundo, serão abordadas as questões relacionadas com o processo de
envelhecimento, entre elas, o estudo das abordagens teóricas pertinentes ao trabalho
desenvolvido e a integração social dos seniores. No capítulo terceiro apela-se à
compreensão da relação dos conceitos qualidade de vida e envelhecimento, onde será
desconstruído o conceito de qualidade de vida e abordadas as questões relacionadas
com envelhecer com qualidade de vida. A prática profissional do assistente social na
promoção da qualidade de vida dos seniores dá nome ao quarto capítulo, onde será
abordada a relação profissional-utente e as respectivas práticas profissionais a nível
concelhio. Por fim, no capítulo quinto é relatado o estudo empírico de investigação e a
respectiva apresentação e discussão dos resultados obtidos.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
6
Qualidade de Vida dos Seniores
1. Portugal envelhecido
Começaremos por abordar as questões relacionadas com o processo de
envelhecimento em Portugal. Neste capítulo será trabalhado o conceito de
envelhecimento demográfico, onde uma das nossas primeiras preocupações foi a de
analisar as suas repercussões na sociedade. Reflectiremos então, sobre a realidade
portuguesa face ao envelhecimento demográfico, característico em todos os países
desenvolvidos.
Portugal enfrenta um processo de envelhecimento demográfico acentuado. O
envelhecimento da população é um fenómeno de dimensão ínfima tendencialmente
durável, irreversível e com efeitos em todas as sociedades. As modificações dos
comportamentos demográficos repercutem-se, impreterivelmente nas estruturas
populacionais de forma irreversível. Os níveis de fecundidade atingidos profetizam
desequilíbrios intergeracionais acentuados e irrecuperáveis com consequências
nefastas no futuro. Esta posição não deixa, no entanto, de ter em conta o
enquadramento demográfico de declínio de fecundidade que caracteriza os sistemas
demográficos modernos, o que, invariavelmente coincide com o aumento populacional
da população com 65 e mais anos.
A definição de envelhecimento demográfico não é consensual. Pressat
(1979:s.p.) define da forma mais comum, como “o simples aumento da proporção de
idosos”, enquanto resultado da diminuição do peso dos jovens. Hugon (1971:s.p.)
define este fenómeno como “aumento contínuo da importância relativa do grupo dos
idosos, ao mesmo tempo que diminui a importância relativa da população dos jovens”.
Podemos simplificar estas definições, entendendo o fenómeno do envelhecimento
demográfico como aumento do número de idosos em relação ao crescimento da
população total de um país. Quer-se-á dizer que, deparamo-nos com este quadro
quando o número de idosos cresce a um ritmo mais acelerado quando comparados à
população jovem.
O aumento da longevidade e os aspectos a ela inerentes fazem do fenómeno
de envelhecimento uma questão actual de estudo que merece reflexões aprofundadas
sobre as suas diversas condicionantes. A conjunção destas condicionantes converge
para mudanças significativas no contexto demográfico e começa a acarretar uma série
de previsíveis consequências sociais, culturais e económicas que merecem, de facto
uma reflexão aprofundada. Veremos, então, com a ajuda de dados estatisticamente
apurados, como esta situação de faz sentir.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
7
Qualidade de Vida dos Seniores
1.1 Evolução demográfica em Portugal
Como não será demais referenciar, o envelhecimento demográfico é hoje uma
característica dos países desenvolvidos, onde se enquadra Portugal e, assiste-se a
uma tendência da sua proliferação a todas as sociedades.
A população residente em Portugal envelheceu. Os progressos da ciência, da
medicina curativa, reabilitadora e preventiva e da tecnologia tornaram os mais velhos
menos dependentes e consequentemente mais aptos. Estas são razões que
encontram fundamento no aumento da longevidade que, desta forma, corresponde a
padrões de qualidade de vida cada vez mais positivos.
Estatisticamente, o número de jovens baixou fortemente, ao passo, que as
pessoas idosas registam os ritmos de crescimento mais acentuados. Este cenário é
fruto da diminuição da taxa de fecundidade (número de filhos por mulher em idade
fértil), e, por outro lado, do aumento da esperança média de vida1. Assiste-se a uma
inversão da pirâmide de idades, transformando o topo em base, ou seja, diminuem os
números populacionais relacionados com infância e juventude que, desde sempre
predominaram, para aumentar o número de idosos, permitindo assim, à pirâmide um
redimensionamento estrutural. Podemos falar, deste modo, em dois tipos de
envelhecimento, o da base (pela diminuição da percentagem de crianças e jovens) e
do topo (pelo aumento significativo do numero de idosos) ou até mesmo em
envelhecimento duplo. Barros de Oliveira (2005) aponta que, num século, nos países
desenvolvidos, os jovens passaram de 45% para 15%, enquanto os idosos com mais
de 65 anos passaram de 5% para quase 20% ultrapassando assim os jovens. Em
2006, segundo o INE, residiam em Portugal 1 828 617 pessoas com 65 e mais anos,
enquanto que os jovens até aos 14 anos expressavam-se em 1 637 637. Se
compararmos a faixa etária dos 15 aos 24 anos tínhamos 1 265 531 habitantes
residentes. Podemos perceber que, Portugal, de facto, é um país envelhecido. Para
2050 prevê-se um agravamento da questão, em todos os países da Europa,
apontando para menos 15% de jovens e mais 25 % de idosos (Ibidem, 2005).
Segundo a OMS a esperança de vida a nível mundial era de 66 anos em 2000
e passará para 73 em 2025. Quanto a Portugal, em 1960 a população de idosos
significava cerca de 8% (destes, 33% tinham 75 ou mais anos); por 1975 andava à
volta dos 12%; em 2000, segundo o último censo, a percentagem era de 16,4% (16%
1
A esperança média de vida é aqui vista como o número médio de anos que restam para viver a um
indivíduo numa determinada idade, tomada como referência. Quando o ponto de referência é o
nascimento diz-se esperança de vida à nascença.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
8
Qualidade de Vida dos Seniores
até aos 14 anos; 14,3% entre os 15-24). Significa, em números brutos, que mais de
um milhão e meio de portugueses já estão para além dos 65 anos. Entre 2020 e 2025
os idosos podem atingir cerca de 18% da população enquanto a população jovem
andará pelos 16%; prevê-se assim que entre 2010 e 2015 a população de idosos
ultrapasse a dos jovens (com menos de 15 anos) (ibidem, 2005).
A preocupação patente reside, não na existência de pessoas idosas a mais,
mas antes na fraca representatividade de crianças. A taxa de natalidade é tão baixa,
de 10,4‰ (INE, 2005), o que significa que, por cada 1000 habitantes, nascem apenas
10,4 crianças, em Portugal. Para que se efective a renovação de gerações será
necessário que a taxa de fecundidade apresente valores de 2,1 filhos por mulher em
idade fértil, cenário que não acontece em Portugal, já que de acordo com os últimos
indicadores demográficos do INE, esta corresponde a 1,4. A diminuição da taxa de
fecundidade deve-se a variadas razões. O retardar da idade média da mulher ao
primeiro casamento e ao nascimento do primeiro filho, e o consequente reflexo no
encurtar do período de procriação, a difusão dos métodos modernos de contracepção,
a dificuldade dos jovens no acesso à habitação e ao primeiro emprego e o
consequente adiamento na saída de casa dos pais, o prolongamento da escolaridade
obrigatória, o aumento do nível de instrução e da actividade profissional da mulher, a
afirmação social e profissional do casal, a dificuldade em conciliar a vida profissional,
familiar e pessoal e as correntes migratórias são alguns dos factores normalmente
apontados para explicar a baixa de fecundidade (Carrilho e Patrício, 2002).
Um factor importante a realçar nesta abordagem demográfica, reporta-se ao
fenómeno de “envelhecer no feminino”. Passa-se a explicar, é diferente envelhecer no
feminino e no masculino. A verdade é que a longevidade é bem mais risonha para as
mulheres. Segundo dados do INE, a esperança média de vida à nascença tem vindo a
aumentar progressivamente em Portugal. Se em 1994 as mulheres podiam esperar
viver, em média, 79 anos e os homens 71 anos, prevê-se que, em 2014, os valores
ascendam a 82 e 76 anos, respectivamente, traduzindo um ganho aproximado de 3,4
anos para as mulheres e 4,1 para os homens. Embora a diferença tenha tendência a
atenuar, ainda é mais vantajoso envelhecer no feminino. A par dos factores genéticos
que determinam, muito do processo de envelhecer, é de realçar que não é igual
envelhecer no feminino ou no masculino, como igualmente existem grandes
disparidades em envelhecer sozinho ou no seio da família, solteiro, casado, viúvo ou
casado, com ou sem filhos, no meio urbano ou no meio rural, activo ou inactivo, etc.
Ao longo do presente trabalho analisaremos, então, estes contextos diferenciados.
Resultado do aumento da esperança média de vida, actualmente, fala-se já em
“4ª idade”, uma vez que a própria fatia da população idosa, além de ser cada vez
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
9
Qualidade de Vida dos Seniores
maior em número, atinge idades cada vez mais elevadas. Segundo os dados lançadas
pelo INE, é mesmo na “4ª idade” que o crescimento é vincado por um ritmo mais forte.
Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004) referem que os idosos das próximas
décadas terão, com certeza, características distintas daqueles das gerações
anteriores: níveis de instrução mais elevados, melhores condições de habitação, mais
e melhor acesso a cuidados de saúde, diferentes valores e preferências e maior
disponibilidade de recursos sociais, traduzindo-se numa melhor qualidade de vida.
Podemos, portanto, afirmar que os sexagenários de séc. XXI dispõem de maiores
probabilidades de sobrevivência, uma vez que, têm mais saúde dado os avanços da
medicina, melhores condições económicas, sociais e culturais. Nesta sequência
“ganham” anos de vida e face à tendência na estabilização deste cenário, as gerações
vindouras estarão melhor preparadas para superar algumas dificuldades com que se
possam confrontar.
Em termos demográficos podemos concluir, ainda, que a população activa
tende a envelhecer e a atenuar o seu ritmo de crescimento, à medida que as gerações
que sofreram os efeitos da queda de fecundidade atingem a idade activa. Com efeito,
a população idosa cresce mais rapidamente que a população total o que nos mostra
que o envelhecimento mais preocupante, em Portugal, é o processado pela base da
pirâmide de idades. As projecções apontam que em 2010 quase metade da população
idosa tenha idade igual ou superior a 75 anos. É este crescimento contínuo dos
“idosos mais velhos” ou a “4ª idade” que exige uma atenção redobrada, uma vez que
representa a faixa etária mais carenciada em termos de apoios generalizados devido
às incapacidades globais que lhes estão inerentes.
Este cenário tem repercussões ao nível do Estado. O Estado faz-se
representar pela implementação das políticas sociais que, em grande escala abarcam
as situações mais vulneráveis ao disfuncionamento sócio-económico, nomeadamente
no que concerne a esta população específica.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
10
Qualidade de Vida dos Seniores
1.2 As repercussões da evolução demográfica e as políticas sociais
em Portugal
Decorre ainda o discurso sobre a pertença da assistência social às políticas
sociais estatais. Se o profissional de serviço social surgiu para operacionalizar as
políticas sociais emanadas pelo Estado para dar resposta às questões sociais,
consideramos assim, a assistência social como parte integrante das políticas sociais
estatais. Rodrigues (1999) define a assistência social como política social, atribuindolhe os atributos que caracterizam as políticas sociais, entre eles: baseiam-se e
requerem uma intervenção do Estado; possuem uma vinculação jurídico-legal através
dos direitos sociais; pertencem a um grupo diversificado de áreas de investimento que
em conjunto, compõem a totalidade das condições necessárias e aceitáveis para a
garantia de condições e qualidade de vida; intervenção do Estado através de um
programa de acção centrado na leitura das necessidades e pelo desempenho de
funções mais ou menos directas de regulamentação, financiamento e promoção de
medidas e actividades; representação de interesses.
Pereira (1987) recusa a política social como acção reflexa de processos
económicos e políticos e, desta forma, define-a como:
“ (…) conjunto de relações e estratégias que, observadas em momentos e contextos
históricos específicos, decorrem do processo de mudanças sócio-económicas no sistema
capitalista e partilham das modificações ocorridas na relação entre estado e sociedade
como resultado da mediação de suas forças. Logo, a política social ao invés de ser
identificada com a simples ordenação burocrática de metas políticas ou políticoeconómicas, ou como a aplicação de meios, através de planeamento prévio, em direcção
às desigualdades sociais, ela, de facto, implica decisão (tendo em vista a estipulação de
metas supra-individuais) e processo de escolha numa estrutura de arenas reais de
poder” (Pereira, 1987:72).
Assim, Pereira (1987) faz-nos pensar nas políticas sociais não como resultado de
alguma campanha política ou como algum meio para que determinado fim seja
alcançado, mas antes como resultado das interacções estado-sociedade onde estão
implícitas as questões fulcrais de delineamento de qualquer política, tais como a
sociedade civil, planeamento e decisão. Defende-se assim a desburocratização
político-estatal.
Para Rodrigues (1999) as políticas sociais podem ser operacionalizadas segundo
um conjunto de áreas (saúde, segurança social, habitação), segundo os problemas
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
11
Qualidade de Vida dos Seniores
para que se dirigem (delinquência, desemprego, pobreza) ou ainda segundo os
grupos-alvo (dos idosos, pobres e deficientes).
Embora saibamos que a assistência social possa ser e é levada a cabo
também por instituições de cariz privado ou semi-privado todavia, são na sua grande
maioria comparticipadas pelo Estado. A privatização da assistência social constitui-se
como base para um futuro próximo do Estado que, pouco a pouco, vemos privatizado
o acesso a serviços outrora estatais.
Fazendo um retrocesso ao percurso da assistência social, nada melhor que
começar por recordar a perspectiva de Beveridge (1943) que visava “a garantia de um
rendimento que substituísse os salários quando se interromperem pelo desemprego,
por doença, ou acidente, que assegurasse a aposentadoria na velhice, que socorresse
os que perderam o sustento em virtude da morte de outrem e que atendesse a certas
despesas extraordinárias, tais como as decorrentes do nascimento, da morte e do
casamento. Antes de tudo, segurança social significa segurança de um rendimento
mínimo, mas esse rendimento deve ir associado a providências capazes de fazer
cessar tão cedo quanto possível, a interrupção dos salários.” Na ideia de Beveridge
(1943), o sistema de assistência tenderia a extinguir-se à medida que se
universalizasse o sistema de seguro social, pelo que a sua presença seria
progressivamente periférica e de carácter residual. No entanto, tal não aconteceu,
ainda que, na institucionalização dos sistemas de seguros sociais o espaço da
assistência social tenha sido limitado. Verifica-se, no entanto que, a par do
alargamento e aperfeiçoamento dos dispositivos de seguro social, os diferentes países
vão, de um modo geral, através de sistemas de mínimos sociais, manter e ampliar
sistemas de protecção assistencial de base não contributiva, com duas funções
essenciais: garantir protecção social aos cidadãos que por diferentes razões
(deficiência, invalidez, viuvez, filhos menores a cargo, etc.) se encontrem afastados do
mercado de trabalho e complementar as coberturas sociais garantidas pelo seguro
social, designadamente em situações de reforma e desemprego (Branco, 2002).
Reconhece-se, contudo, ao Estado português, uma crescente responsabilidade
e compromisso com os direitos sociais e assistência social desde da Revolução de
1974, com a cobertura dos riscos sociais e de protecção social (Rodrigues, 1999). Só
depois do 25 de Abril de 1974 se dá início ao processo de institucionalização de uma
rede de protecção social numa lógica universalista, construindo-se o seu primeiro
patamar assente na pensão social de base não contributiva, inicialmente destinada
aos idosos e deficientes beneficiários dos serviços de assistência. Até esta data, a
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
12
Qualidade de Vida dos Seniores
população trabalhadora não coberta pelo seguro social obrigatório2 ou os grupos não
inseridos no mercado de trabalho dispunham apenas da protecção da assistência
social que não se traduzia num direito objectivo, mas apenas na ajuda temporária e
precária (Branco, 2002).
Nos anos 70 e 80, Mead (1986) traz a ideia da contratualização na assistência
social, defendendo que esta comporta não só direitos mas também responsabilidades.
Por contrato, a assistência social coloca os beneficiários na posição de contratantes
que têm de aceitar trabalho, formação profissional ou outras obrigações como
contrapartida aos benefícios que recebem. Tal como acontece, actualmente com o
Rendimento Social de Inserção (RSI).
Até 1974 a existência de um regime de Bem-estar em Portugal foi bloqueado
pela “hipertrofia da regulação estatal típica de um regime autoritário que pretendia
tutelar todas as outras formas de regulação social”. Após a revolução de Abril de 1974,
quando o país começa a recuperar a normalidade democrática, a existência de um
pacto social, tal como havia ocorrido nos países do norte da Europa, com regimes de
Bem-estar mais consolidados e universais não era possível, “porque o capital foi
devastado pelas nacionalizações de 1975” e porque “nem o capital, nem o trabalho,
tinham qualquer experiência de organização autóctone” ao final de 50 anos de
autoritarismo (Santos, 2002:185).
O autor (Ibidem, 2002:186) destaca, ainda, que, “contrariamente ao que
aconteceu na Europa do pós-guerra, no imediato 25 de Abril a questão não era como
tornar compatíveis capitalismo e democracia, mas sim saber se o capitalismo deveria
ou não ser substituído pelo socialismo”. Foram necessários mais de 15 anos para que
as condições de um pacto social fossem criadas. Estas passam pela aprovação da
Constituição Política de 1976, pela retoma do “papel activo do Estado na promoção de
2
Foi Bismarck que instituiu o primeiro modelo de seguros sociais. Em 1881, o seguro obrigatório contra
acidentes de trabalho; em 1883, os seguros de doença obrigatórios, com uma contribuição de dois terços
para o empregado e um terço para o empregador; em 1889 o seguro de velhice obrigatório. Só em 1911
surge um código unificado dos vários seguros sociais. Em Portugal, o seguro social obrigatório contra
desastres no trabalho, abrangendo os riscos profissionais por conta de outrem foi publicado pelo Decreto
nº 5637 e o seguro social obrigatório na doença pelo Decreto nº 5636, bem como na invalidez, velhice e
sobrevivência (Decreto nº 5638), todos datados a 10 de Maio de 1919. No entanto a sua acção teve
escasso relevo, até ser extinto em 1923 e somente o sector dos acidentes de trabalho teve execução,
pelo facto de o respectivo seguro ser feito nas companhias de seguro privadas (Graça, 2000).
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
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Qualidade de Vida dos Seniores
estratégias de negociação e de concertação social; a revisão constitucional de 1982
que eliminou os traços revolucionários da constituição de 1976” (Ibidem, 2002:186).
Esta revisão, ao anular a irreversibilidade das nacionalizações ocorridas abriu espaço
para a privatização das indústrias e bancos que haviam sido nacionalizados logo após
25 de Abril. Um quarto e último passo que, segundo o autor, abre as condições para
um pacto social foi a integração do país à Comunidade Económica Europeia em 1986.
Santos (2002), ressalta que apesar da importância destes passos, um pacto social foi
algo que ocorreu muito lentamente. Primeiro pelo défice de organização de interesses
e segundo pelo contexto internacional de crise do Estado Providência a partir dos anos
70 do século XX.
O Estado Providência entra em crise. A crise do Estado Providência encontra
explicação no aumento abrupto das despesas com os direitos sociais, uma vez que o
Estado contraiu despesas acima dos seus recursos. Esta crise, é antes de mais
financeira do Estado, uma vez que a revolução demográfica associada ao aumento da
esperança de vida e à acrescida extensão dos direitos sociais operada em época de
expansão económica, exigia uma proporção crescente de despesas públicas nas
funções sociais, assim como, níveis crescentes de impostos e de contribuições para a
segurança social dificilmente sustentáveis (Quelhas, 2001).
A entrada de Portugal em 1986 na União Europeia traz um conjunto de
direcções específicas para os Estados-membros. Em Portugal, era esperado um
progresso na área da assistência social. Desde logo a condição de Estado-membro
obrigava o respeito e cumprimentos pelas normas emanadas comunitariamente, o que
nem sempre foi ao encontro das expectativas da sociedade civil. Consequentemente,
Portugal tem vindo a sofrer fortes influências na construção das políticas sociais. O
Estado português não cumpre a totalidade das regras comunitárias e conduziu ao que
Santos (1993:115) designou de “um défice de objectivos nacionais, o qual foi coberto
ou compensado pelo excesso de autoritarismo do Estado”.
“A relação política do Estado Providência com o cidadão através da provisão social
acontece pelo papel de regulação social do Estado assumido no período do
capitalismo organizado. Este período caracteriza-se por um desenvolvimento mais
equilibrado destes princípios, tendo permitindo ao Estado uma regulação na base de
um contrato social, consensualizado entre os agentes do contrato, e pela qual se
institui a universalidade e igualdade formal dos sujeitos, em detrimento das suas
particularidades e subjectividades (carácter abstracto dos direitos). Este modelo de
construção social do Estado Providência não se verificou do mesmo modo em todos
os países, mormente em Portugal, que se caracteriza por não definir como um Estado
Providência completo”. (Nunes, 2005:85)
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
14
Qualidade de Vida dos Seniores
A autora, Helena Nunes enaltece a ideia da contratação entre as partes (estadosociedade civil) como forte intervenção do Estado de Bem-estar, no entanto, e na
mesma linha de outros autores, não considera o Estado português como um
verdadeiro Estado Providência.
Em relação aos demais Estados-membros, Portugal é considerado um país
periférico onde o futuro do Estado Providência deverá ser reflectido não apenas a
partir do processo de globalização, mas essencialmente a partir dos factores da
desigualdade social e da exclusão cultural dos grupos que estão intensamente
afectados por estes riscos (Ibidem, 2005). Um dos argumentos de Santos (1993) é de
que Portugal é, no contexto do sistema capitalista mundial e no contexto europeu, uma
sociedade semiperiférica e que esta posição será mantida em decorrência da sua
integração na Comunidade Económica Europeia. A posição intermediária que as
sociedades semiperiféricas ocupam no sistema capitalista mundial faz com que estas
exerçam a função de intermediação e de atenuação dos conflitos entre o centro e a
periferia do sistema mundial (Santos, 1993). Assim, a adesão à União Europeia, do
ponto de vista de aproximar a assistência social em Portugal do nível de qualidade e
da garantia de direitos experimentados pelos países da Europa comunitária situados
ao norte do continente, que possuíram Estados de Bem-Estar consolidados, não se
vem efectivando.
Mesmo
assim,
Rodrigues
(2002:293)
observa
que
há
“indícios
de
progressividade” na compreensão da pobreza e na natureza das medidas necessárias
à sua superação. Tal progressividade no entanto, não avançou ainda no sentido de
que a Assistência Social assuma a forma de uma política social com a garantia de um
corpo de medidas e o direito a prestações com financiamento garantido e clara
responsabilidade estatal. Ao reconhecer os traços de progressividade presentes na
assistência social em Portugal, Rodrigues (2002) não deixa de ressaltar a
descontinuidade e a incompletude como traços mais persistentes dessa política no
país. Ressalta que a trajectória da assistência social é “pontuada pelas dificuldades de
transitar de uma prática de ajuda para uma estratégia de política social. O consenso
criado sobre a assistência social como campo de possibilidades não tem encontrado
equivalente num percurso estratégico da sua afirmação no campo da política social”
Assim, para a autora, “a europeização no campo da assistência social tem reforçado
uma concepção das políticas sociais que compensa a sua fragmentação com o reforço
da acção relativamente a problemas cruciais para a coesão social, como é o caso da
pobreza e da exclusão social” (Rodrigues, 2002: 294 e 297).
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
15
Qualidade de Vida dos Seniores
O crescimento e desenvolvimento dependerão da capacidade de cada EstadoMembro em operacionalizar os modos de inserção no sistema competitivo global e,
consequentemente a sua capacidade de salvaguarda dos interesses locais e
nacionais, na perspectiva do bem-estar social (Nunes, 2005). Cada Estado-Membro é,
então responsável pela regulação e intervenção do seu país, não se denunciando à
globalização. O Estado português é possuidor das competências específicas de
intervenção no domínio dos direitos sociais e económicos, políticos e civis. Um dos
trabalhos neste campo é uma pesquisa coordenada por Hespanha (2000)3, a qual
revelou que os factores de risco social em Portugal são bastante diversificados e
envolvem: os baixos rendimentos, o desemprego, os baixos níveis de escolaridade, a
instabilidade familiar, a habitação precária, as doenças, sobretudo a incapacidade para
o trabalho, o alcoolismo e a toxicodependência, os cuidados com dependentes, o
isolamento social, a trajectória de pobreza (Hespanha et al., 2000).
Ferrera (1999) debruça-se sobre as tendências desenhadas para a União
Europeia e apesar de cada Estado-membro ter de responder aos seus próprios
problemas com alterações específicas das suas políticas, considera que elas são
comuns e sujeitas a orientações centrais como: i) ajustamentos estruturais em
resposta à evolução sócio-demográfica (pensões, cuidados de saúde, abordagem
contratual); ii) maior direccionamento de recursos para as pessoas que deles mais
necessitam; iii) passar de uma abordagem passiva para uma abordagem activa na
gestão dos regimes relativos à incapacidade de trabalho (reabilitação, formação
profissional, inserção para se evitar a dependência em relação aos mecanismos de
apoio ao rendimento); iv) redução da tributação do trabalho.
Ditch e Oldfield (1999) registam que nos anos 80 e pelo menos até meados de
1993, nos países europeus, houve uma evolução no significado da assistência social,
tanto em despesas como em número de beneficiários, provocado pelo que designa de
“factores de pressão” (relacionados com a contratação e mudanças nos esquemas de
seguros sociais, transferindo encargos de dependência para os esquemas de
assistência social) e “factores de tracção” (ampliando os alvos e estabelecendo
objectivos mais específicos).
Em 1995 dá-se uma mudança de governação política através da qual,
Portugal conhece uma relativa expansão pelo alargamento das medidas de política
social. Ao nível da Educação dá-se o alargamento da oferta pública de ensino pré3
“O papel da Sociedade de Protecção Social. Dinâmicas Locais e Instituições Particulares num sistema
Renovado de Segurança Social” cujos resultados foram publicados em Hespanha, et al., (2000).
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
16
Qualidade de Vida dos Seniores
escolar e ao nível da Segurança Social surge um novo esquema de prestações
familiares onde se destacam o Rendimento Mínimo Garantido (RMG) como marca de
um novo direito social, a reforma da Segurança Social e novos esquemas de cálculo
das pensões. A novidade do sistema português em relação as experiências de outros
países, relativamente à implementação do RMG em 1996, segundo Hespanha (2002)
é o de ter construído uma experiência de inserção social mais alargada. Assim ela
não limita-se a promover a inserção no mercado de trabalho como na experiência de
outros países, mas “inclui diferentes medidas de combate à exclusão” (Hespenha,
2002).
Em 2000 é publicada a Lei n.º17/2000 de 8 de Agosto, fruto da reforma da
Segurança social, assente em princípios como universalidade, igualdade, equidade
social, diferenciação positiva, solidariedade, inserção social, conservação dos direitos
adquiridos, primado da responsabilidade pública, complementaridade, garantia
judiciária, unidade, eficácia, descentralização, participação e informação. O sistema de
solidariedade e de segurança social é composto pelos subsistemas de protecção
social e cidadania (visa assegurar direitos básicos, garantir a igualdade de
oportunidades, direito a mínimos vitais dos cidadãos em situação de carência
económica, prevenção e erradicação de situações de pobreza e exclusão, promover o
bem-estar e a coesão social); subsistema de protecção à família (garantir a
compensação de encargos familiares acrescidos quando ocorram eventualidades
legalmente previstas); subsistema previdencial (compensar a perda ou redução de
rendimentos de actividade profissional quando ocorram eventualidades legalmente
previstas). A protecção social hoje em Portugal efectiva-se através da Segurança
Social regulamentada pela Lei 32/2002 de 20 de Dezembro.
Dentro do universo da Segurança Social muitas alterações têm sido levadas a
cabo, fruto da globalização e dos modos de regulação social. Sujeita a várias
reformas, a Segurança social pretende deste modo responder à panóplia de
adversidades que vão surgindo aos cidadãos portugueses.
Assumindo o cenário demográfico vivido em Portugal, o nosso Governo
operacionalizou problemas em respostas ao implementar políticas sociais capazes de
minimizar as consequências dramáticas daí advindas. De referenciar a recentíssima
implementação do abono de família pré-natal como medida de incentivo à natalidade
e, do lado oposto da pirâmide de idades, contribuindo para a melhoria dos padrões de
qualidade de vida dos idosos, o recente complemento solidário para idosos e as já
conhecidas pensões de velhice.
Pelo que se pode ler no preâmbulo do Decreto-Lei n.º308-A/2007 de 5 de
Setembro, “a família constitui, no actual contexto sócio-económico, um espaço
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
17
Qualidade de Vida dos Seniores
privilegiado de realização pessoal e de reforço da solidariedade intergeracional, sendo
dever do Estado a cooperação, apoio e incentivo ao papel insubstituível que a mesma
desempenha na comunidade. Assim, tendo em linha de conta as actuais tendências
demográficas que se prevêem para as décadas vindouras e que se traduzem num
decréscimo significativo da taxa de natalidade, o XVII Governo Constitucional, no
desenvolvimento das medidas previstas no respectivo programa e no acordo da
reforma da segurança social, decidiu implementar um conjunto de medidas
especificamente direccionadas para as famílias, criando incentivos adicionais, no
sentido de controlar e contrariar essa realidade e os problemas dela resultantes. Neste
sentido, passa a ser reconhecido à mulher grávida o direito ao abono de família
durante o período pré -natal, após a 12.ª semana de gestação. Por outro lado, numa
óptica de reforço da protecção social conferida aos agregados familiares com maior
número de filhos e de incentivo à natalidade, importa discriminar positivamente as
famílias mais numerosas, através de uma majoração do abono de família para
crianças e jovens, garantindo o prolongamento da protecção reforçada, que, neste
momento, já é concedida a todas as crianças no 1.º ano de vida, durante os 2.º e 3.º
anos de vida das mesmas, de forma a garantir uma maior eficácia económica da
prestação num período em que o acréscimo de despesas é mais sensível. Deste
modo, o Governo propõe-se, através do decreto-lei n.º 308-A/2007 de 5 de Setembro,
duplicar o valor do abono de família, durante este período de vida das crianças, em
caso de nascimento do segundo titular do direito à prestação, inserido no mesmo
agregado familiar, e triplicá-lo em caso de nascimento do terceiro e seguintes”.
Transcrevendo o preâmbulo do Decreto-Lei n.º232/2005 de 29 de Dezembro,
“os indicadores de pobreza relativos a Portugal evidenciam a necessidade de
correcção das intoleráveis assimetrias de rendimento existentes entre os portugueses,
que penalizam particularmente os mais idosos, pese embora a evolução positiva
ocorrida nos últimos 10 anos. A informação disponível demonstra ainda que, entre a
população portuguesa que se encontra em situação de pobreza, é precisamente no
grupo dos mais idosos (65 anos ou mais) que se continuam a verificar as situações de
maior severidade e em que os níveis de privação decorrentes da escassez de
recursos monetários são ainda mais elevados, pelo que se impõe uma intervenção
dirigida a esta faixa etária no sentido de melhorar a situação de fragilidade social em
que se encontra. A este quadro não será alheio o facto de no grupo em causa se
concentrarem essencialmente pensionistas, cujo rendimento da pensão assume ainda
valores baixos, apesar dos esforços desenvolvidos no sentido de elevar o valor das
pensões mínimas. Por outro lado, sendo verdade que o peso do rendimento das
pensões no total do rendimento destas pessoas assume um valor significativo,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
18
Qualidade de Vida dos Seniores
constituindo assim um elemento determinante da sua situação de pobreza, é
igualmente verdade que existe um conjunto importante de outras fontes de rendimento
que pesam de forma diferenciada nos recursos monetários globais de cada idoso.
Urge, portanto, proceder a uma reconfiguração da política de mínimos sociais para
idosos, diferenciando as situações descritas, o que, para além de reforçar o princípio
de justiça social em que assenta aquela política, virá igualmente aumentar a sua
eficácia no combate à pobreza dos idosos. De facto, uma avaliação rigorosa permite
perceber que a estratégia prosseguida até aqui, assente no aumento generalizado do
valor das pensões mínimas, tratando de igual forma o que é diferente, se revela uma
estratégia financeiramente insustentável, se se continuar a assumir como objectivo um
aumento substancial de todas as pensões, ou ineficaz na capacidade de produzir
mudanças com significado na situação daqueles que delas realmente precisam e se
encontram em situação de pobreza, a manterem-se os ritmos de crescimento das
pensões dos últimos anos. Por estas razões, reitera-se a imperatividade de proceder a
uma reformulação profunda das políticas de mínimos sociais para idosos, procurando
atingir maiores níveis de eficácia na redução de desigualdades, mas também maiores
níveis de responsabilização de todos os que podem e devem contribuir para melhorar
a qualidade de vida dos idosos, designadamente as suas famílias. A criação do
complemento solidário para idosos, sendo uma medida inscrita no Programa do XVII
Governo Constitucional, prossegue os objectivos anteriormente enunciados e afigurase um passo importante na redefinição da estratégia de mínimos sociais em Portugal.
O complemento solidário para idosos traduz uma verdadeira ruptura com a anterior
política de mínimos sociais para idosos, através de uma aposta na concentração dos
recursos disponíveis nos estratos da população idosa com menores rendimentos, na
atenuação das situações de maior carência de uma forma mais célere – por efeito da
atribuição de um valor de prestação com impacto significativo no aumento do
rendimento global dos idosos – e na solidariedade familiar, enquanto forma de
expressão de uma responsabilidade colectiva e instrumento de materialização da
coesão social. A diferenciação do complemento solidário para idosos através da
consideração dos efeitos da solidariedade familiar nos recursos globais dos idosos é,
simultaneamente, justa e necessária porque trata de forma diferente o que é diferente,
permitindo
canalizar
mais
recursos
para
os
idosos
mais
necessitados,
designadamente os idosos isolados e sem apoio familiar. O complemento solidário
para idosos constitui uma prestação do subsistema de solidariedade destinada a
pensionistas com mais de 65 anos, assumindo um perfil de complemento aos
rendimentos preexistentes, sendo o seu valor definido por referência a um limiar fixado
anualmente e a sua atribuição diferenciada em função da situação concreta do
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
19
Qualidade de Vida dos Seniores
pensionista que o requer, ou seja, sujeita a rigorosa condição de recursos. Os
objectivos de justiça social prosseguidos por esta prestação, associados aos impactes
visados com a sua criação, impõem que a atribuição do complemento solidário para
idosos dependa de uma actuação pró-activa dos serviços da segurança social, bem
como de uma rigorosa e alargada avaliação dos recursos dos seus requerentes, de
forma a garantir que o esforço nacional a empreender neste domínio tenha como
destinatários aqueles que realmente mais precisam”.
A pensão de velhice traduz-se numa prestação pecuniária, paga mensalmente,
destinada a proteger os benefícios do regime geral de segurança social, quando
atingem a idade mínima legalmente presumida como adequada para a cessação do
exercício da actividade profissional. O direito à prestação é reconhecido ao
beneficiário que tenha cumprido o prazo de garantia exigido e completado 65 anos,
sem prejuízo de regimes e medidas especiais de antecipação legalmente previstas.
Sabemos que a maioria dos problemas que atingem os idosos, “são
multifactoriais e multidimensionais, tornam-se cada vez mais premente a existência de
respostas integradas, em que os serviços de saúde são fundamentais, impondo-se
também a necessidade do estabelecimento de parcerias com outras entidades da
comunidade, em particular as autarquias” (Cadete, 2001:26). O Programa de Apoio
Integrado a Idosos (PAII) criado por Despacho Conjunto, de 1 de Julho de 1994, dos
Ministros da Saúde e do Emprego e da Segurança Social é caracterizado por um
conjunto de medidas inovadoras que visam contribuir para a melhoria da qualidade de
vida das pessoas idosas, prioritariamente no domicílio e no seu meio habitual de vida,
desenvolvendo-se através de projectos de desenvolvimento central e a nível local.
Este programa pretende promover a autonomia das pessoas idosos e/ou pessoas com
dependência no seu meio habitual de vida; estabelecer medidas que visem melhorar a
mobilidade e acessibilidade a serviços; implementar respostas de apoio às famílias
que prestam cuidados a pessoas com dependência especialmente a idosos; promover
e apoiar a formação de prestadores de cuidados informais, de profissionais, familiares,
voluntários e outras pessoas da comunidade; desenvolver medidas preventivas do
isolamento e da exclusão e contribuir para a solidariedade entre as gerações, uma
sociedade para todas as idades, o desenvolvimento de respostas inovadoras e
integradas (saúde/acção social), a promoção de parcerias e a para a criação de postos
de trabalho. Este é, sem dúvida, um programa no âmbito da actuação intersectorial em
que o trabalho interparcerias tem-se revelado. As pessoas com 65 e mais anos,
famílias, vizinhos, voluntários, profissionais e comunidade geral englobam o grupo dos
destinatários deste programa. Promovido pelo Ministério do Trabalho e da
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
20
Qualidade de Vida dos Seniores
Solidariedade Social e pelo Ministério da Saúde envolve parcerias como os serviços
de saúde, Centros Distritais de Segurança Social, autarquias, misericórdias,
Instituições
particulares
de
Solidariedade
Social
(IPSS),
Organizações
Não
Governamentais (ONG´s), PT comunicações, Cruz vermelha, serviços de segurança,
bombeiros,
escolas,
voluntários
e
empresas.
Não podemos ignorar todo o esforço do Estado na implementação de medidas
de combate não só à pobreza mas a todas as adversidades com que os cidadãos se
deparam. Compete ao Estado desenhar as políticas sociais, contudo não será,
necessariamente, o mesmo a operacionalizá-las. Assiste-se a uma descentralização
da protecção social do Estado para a sociedade civil. O mesmo tem acontecido em
relação à assistência social que, gradualmente tem sido executada por IPSS e ONG´s.
São estas instituições que através da celebração de protocolos operacionalizam as
políticas emanadas pelo Estado e, na maioria das situações financiadas pelo mesmo.
A privatização será, já a curto prazo, um meio para que o Estado se
desresponsabilize das obrigações outrora totalmente estatais. A área dos idosos
constitui-se num exemplo do que aqui se conclui. Qualquer instituição que receba
idosos, seja em que regime for, internamento ou prestação de serviços, é na sua
quase totalidade de cariz semi-privado com comparticipações estatais mas de
autonomia financeira e de gestão.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
21
Qualidade de Vida dos Seniores
2. Questões ligadas ao processo de envelhecimento
Cabe agora ilustrar a amplitude de visões sobre as questões directamente
relacionadas com o processo de envelhecimento. Não existe unanimidade entre todos
os aspectos que compõem e rodeiam o processo de envelhecimento. Damo-nos conta
de uma panóplia de perspectivas de abordagens sobre o processo de envelhecer. São
várias as teorias e as vertentes científicas que o descrevem, contudo, apenas serão
abordadas as que consideramos como mais relevantes para o presente estudo
empírico.
2.1 Um olhar sobre o envelhecimento
O envelhecimento é encarado por nós como um processo contínuo, gradual
experienciado sob diferentes intensidades pelos indivíduos que, acompanhado pelo
aumento da idade cronológica não se manifesta exclusivamente no abrandamento da
autonomia funcional e capacidades física e intelectual. Sendo estes pólos, pelo
contrário, fontes de estimulação para alcançar o cume da esperança média de vida. O
envelhecimento acontece desde a concepção dos indivíduos, ainda em fase de
gestação. Ora vejamos, hoje não estamos mais envelhecidos que ontem?
Cronologicamente sim, o que não quererá dizer, por exemplo, que a nossa
concentração ou memorização estejam mais enfraquecidas.
Este processo é alvo de estudo da gerontologia que, do grego geros, gerontos
(velho) designa o estudo do processo de envelhecimento sob todos os aspectos,
nomeadamente: (i) o envelhecimento físico (perda progressiva da capacidade do corpo
para se renovar); (ii) envelhecimento psicológico (transformação dos processos sensoriais,
perceptuais,
cognitivos
e
da
vida
afectiva
do
individuo);
(iii)
envelhecimento
comportamental (modificações num determinado meio e reagrupando as aptidões, as
expectativas, as motivações, a auto-imagem, os papéis sociais, personalidade e
adaptação) e (iv) contexto social do envelhecimento (influência que o indivíduo e a
sociedade exercem um sobre o outro, onde são abordados aspectos como a saúde,
rendimento económico, trabalho, lazer, família, etc.)4. A gerontologia apelou sempre ao
princípio da multidisciplinaridade e todas as intervenções empreendidas neste domínio
4
ZAY, Nicolas (1981). Dictionaire/Manuel de gerontologie social, Les presses de L´Université Laval,
Quebec.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
22
Qualidade de Vida dos Seniores
visam sempre três objectivos globais, entre eles, valorizar a responsabilidade dos idosos
pelas suas necessidades, privilegiar as acções tendentes a melhorar as capacidades e a
autonomia do idoso e facilitar o acesso aos recursos disponíveis (Berger, 1995).
O processo de envelhecimento é objecto de estudo das mais variadas áreas
das ciências como a bioquímica, a economia, a sociologia, a psicologia, a medicina,
entre outras mais. Este é um processo de abordagem múltipla e multidisciplinar que,
através de um discurso aberto enriquece esta área do saber, a gerontologia.
Estudando as bases biológicas, psicológicas e sociais da velhice e do envelhecimento,
diferencia-se da Gerontologia Social, que estuda o impacto das condições
socioculturais e ambientais no processo de envelhecimento e na velhice, as
consequências sociais desse processo e as acções sociais que podem optimizar o
processo de envelhecimento (Paúl, 2005).
A vida humana está frequentemente dividida por etapas que, de acordo com o
processo desenvolvimental de cada indivíduo, se vai atingindo e ultrapassando cada
uma delas, até por fim, se atingir o expoente máximo do desenvolvimento, a velhice.
Envelhecimento e velhice são dois conceitos diferentes. É pertinente fazer esta
distinção. Deste modo, a velhice pode ser considerada como “a última idade da vida,
cujo início fixamos no sexagésimo ano, mas que pode ser mais ou menos avançada
ou retardada, segundo a constituição individual, o género de vida e uma série de
outras circunstâncias” (Bernard, 1994:13) citado por Fernandes, (2000:24). No
seguimento, Fernandes (2000:24) arrisca e diz que “a velhice pode ser definida como
sendo um processo “inelutável” caracterizado por um conjunto complexo de factores
fisiológicos, psicológicos e sociais específicos em cada indivíduo, podendo ser
considerada o “coroamento” das etapas da vida”. Verificamos, assim, que a velhice só
se manifesta a partir de uma determinada idade, ao passo que o envelhecimento é um
processo contínuo que inicia na gestação e culmina unicamente com a morte.
A delimitação da entrada na velhice é um campo não definido e aberto a muitas
controvérsias dado que é um fenómeno que, por um lado, ocorre a vários níveis e, por
outro, não ocorre uniformemente em todos os seres humanos.
O envelhecimento pode ser visto sob diferentes prismas. (i) o envelhecimento
dito normal que, embora apresente variações individuais decorrentes de factores
genéticos e ambientais, é razoavelmente uniforme em cada ser humano, no que se
refere ao seu início e evolução; (ii) o envelhecimento social, relativo aos papéis sociais
apropriado às expectativas da sociedade para este nível etário que conduz à
diminuição ou perda do papel que o indivíduo desempenha na família e na sociedade;
(iii) o envelhecimento psicológico, definido pela auto-regulação do indivíduo no campo
de forças, pelo tomar decisões e opções, adaptando-se ao processo de senescência e
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
23
Qualidade de Vida dos Seniores
envelhecimento que se evidencia nos indivíduos cuja idade biológica é muito superior
à idade cronológica, (iv) o envelhecimento biológico expresso pelas alterações
estruturais e funcionais que ocorrem no organismo que resulta da vulnerabilidade
crescente e de uma maior probabilidade de morrer, a que se chama senescência e,
que nem sempre é coincidente com o (v) envelhecimento cronológico medido pelo
calendário. (Ermida, 1999; Schroots e Birren, 1980 citados por Paúl, 1997). Contudo,
não podemos diferenciar estas componentes aquando da avaliação dos idosos, ou
seja, não será correcto dizer que, determinado indivíduo decorre num processo de
envelhecimento psicológico dentro dos padrões referenciados, mas que, não
acompanha a normalidade de evolução do envelhecimento tipo biológico. Não será
esta distinção pretendida. Esta distinção, só terá lucidez se abordada na sua
generalidade e servindo apenas como pontos de referência, pois volta-se a referir que
o envelhecimento ocorre heterogeneamente.
A questão central reside em saber a partir de que idade é que se tornam
evidentes os sinais de envelhecimento. Ermida (1999:45) evidencia-os a partir dos
vinte anos de idade que coincide com o terminus da fase de crescimento que, na pele
e a nível da microcirculação arterial se tornam claramente visíveis sinais de
senescência celular e tissular. As macroalterações de carácter orgânico e funcional
tornam-se perceptíveis aos quarenta anos de idade onde se inicia a
“…diminuição cognitiva, particularmente mnésica e pela claudicção de alguns sistemas
orgânicos com particular incidência nos aparelhos cardiocirculatório e neuro-sensorial.
O processo culmina pelos cinquenta anos numa crise bem evidente na mulher e mais
discreta no homem, marcando claramente a segunda grande mudança de idade e
consequentemente a entrada na terceira idade biológica. Num processo inevitável e
irreversível embora parcialmente controlável, e aqui se insere a prevenção, a
diminuição acentua-se para atingir por volta dos oitenta anos nova crise, marcada
agora já por evidente diminuição de autonomia do idoso.” (Ibidem, 1999:45).
Todo este processo de envelhecimento, de evolução constante, que por nós vai
passando, revela-se em fases do desenvolvimento do ser humano relativamente
constantes de acordo com a idade do mesmo. Este é pois um processo normal, que
certamente passa por todos os seres humanos, embora com diferentes intensidades,
podendo também existir oscilações nas idades de aparecimento.
São alguns os autores que demarcam inúmeros conceitos de idade para que o
envelhecimento seja visto como um fenómeno heterogéneo e unipessoal. LevetGautrat (1985) defende: (i) a idade cronológica, que se refere ao tempo que decorre
entre o nascimento e o momento presente, e que nos dá as indicações sobre o
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
24
Qualidade de Vida dos Seniores
período histórico que o indivíduo viveu, mas não fornece indicações precisas sobre o
estado de evolução do mesmo, ou seja, a idade cronológica mostra-se insuficiente
para o demarcar; a (ii) idade jurídica, que corresponde à necessidade social de
estabelecer normas de conduta e de determinar qual a idade em que o sujeito assume
certos direitos e deveres perante a sociedade, mas que não corresponde a uma
realidade biopsíquica; a (iii) idade física e biológica, que tem em conta o ritmo a que
cada indivíduo envelhece. Os diferentes órgãos e funções vitais não envelhecem todos
ao mesmo ritmo, daí que as diferenças intra-individuais sejam tão importantes como
as inter-individuais; a (iv) idade psico-afectiva, que reflecte a personalidade e as
emoções de uma pessoa e que não tem, à partida, limites e funções da idade
cronológica. Um grande número de pessoas idosas não se sentem velhas e não se
reconhecem como tal, são os outros que reflectem a imagem da sua velhice a partir da
sua aparência; a (v) idade social, que corresponde à sucessão de papéis que a
sociedade atribui ao sujeito e que são correspondentes às condições sócioeconómicas. Paúl (1997) enumera apenas três tipos de idades em que, qualquer uma
delas pode ser superior ou inferior à idade cronológica: a idade biológica, a idade
social e a idade psicológica.
Fernandes (2000) fez uma relação dos factores relacionados com o
envelhecimento, onde difere factores pessoais (idade, perdas e adaptação) e factores
situacionais (sócio-demográficos, sócio-económicos, ambiente e institucionalização).
Relativamente ao factor idade, a autora subdivide em quatro tipos: idade cronológica,
idade biológica, idade social e idade psicológica. Barros de Oliveira (2005) refere, que
existem ainda autores que denominam uma idade funcional e é neste sentido que
alguns países, como os Estados Unidos, aboliram a obrigatoriedade da reforma
determinada pela idade cronológica (geralmente aos 65 anos).
Pimentel (2005) remata que a forma como se envelhece e a maior ou menor
valorização que é dada a esse processo depende mais das sociedades humanas do
que da natureza. Consoante as épocas e as culturas e, consequentemente, consoante
os modos de vida e os meios científicos, médicos e tecnológicos, assim varia o modo
com envelhecemos.
O envelhecimento enquanto fenómeno universalmente aceite, não encontra
consenso nas suas definições e nenhuma delas está cientificamente comprovada e
aceite. Contudo, foi feito um afunilamento dos aspectos relacionados com o
envelhecimento que se mostram cruciais para entender o trabalho empírico
desenvolvido. Vejamos agora a forma, através da qual, os teóricos perspectivam o
envelhecimento.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
25
Qualidade de Vida dos Seniores
2.1.1
Da
historicidade
à
actualidade
das
perspectivas
do
envelhecimento
O pensamento teórico dos diversos autores não foi uniforme e consensual.
Foram várias as teorias que sofreram remodelações em prol de uma aproximação
cada vez mais verídica da realidade do que é envelhecer. Deste modo, e dada a
complexidade da matéria, seguimos a orientação de Schroots (1996) que
sistematicamente dá um panorama deste árduo percurso.
Assim, Schroots (1996) citado por Barros de Oliveira (2005), para melhor
compreender a complexidade do processo de envelhecimento distingue três períodos
históricos sobre as perspectivas teóricas do processo de envelhecimento: a) o período
clássico (dos anos 40 a 70 do século passado) com a teoria das tarefas de
desenvolvimento5 (Havighurst, 1953), teoria psicossocial do desenvolvimento da
personalidade6 (Erikson, 1950, 1982), teoria da “reprodução”7 (Birren, 1961), teoria do
“desinvestimento”8 (Cumming e Henry, 1961), teoria da personalidade, da idade e do
envelhecimento9 (Neugarten, 1968, 1996), teoria cognitiva da personalidade e do
envelhecimento10 (Thomae, 1970); b) período moderno (dos anos 70 a 90) com a
teoria do desenvolvimento e do envelhecimento11 (Baltes, 1978; Baltes e Baltes,
5
A teoria das tarefas de desenvolvimento entende o desenvolvimento como realização de sucessivas
tarefas que, se bem sucedidas, conduzem a um envelhecimento com sucesso. Composta por seis
estádios.
6
A teoria psicossocial do desenvolvimento da personalidade é descrita em oito estádios de
desenvolvimento, cada um com a sua crise própria resultante do conflito entre tendências opostas.
7
A teoria da “reprodução” pressupõe que o desenvolvimento presente de algum modo reproduz o
passado, sendo influenciado por ele. Na velhice assiste-se a uma selecção do que houve de melhor nas
fases anteriores.
8
A teoria do “desinvestimento” defende que o adulto, à medida que envelhece, vai desinvestindo ou
afastando-se dos papeis sociais que antes representava, centrando-se mais no “eu” e envolvendo-se
menos social e emocionalmente.
9
A teoria da Personalidade, da idade e do envelhecimento baseia-se em dois princípios: 1) eventos do
tempo de transição que podem ser esperados ou não e 2) tipo de personalidade que prediz e condiciona
o envelhecimento, possibilitando uma maior ou menor adaptação e satisfação com a vida.
10
A Teoria cognitiva da personalidade e do envelhecimento tenta integrar os domínios bio-cognitivo-
afectivo-social, em interacção constante entre eles, privilegiando a percepção que o sujeito tem da sua
situação e do próprio self.
11
A teoria do desenvolvimento e do envelhecimento baseia-se em seis princípios que enquadram o
desenvolvimento humano e que mais tarde deram origem a um modelo psicológico de envelhecimento
bem sucedido denominado optimização selectiva com compensações.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
26
Qualidade de Vida dos Seniores
1990), teoria dos recursos reduzidos de processamento12 (Salthouse, 1988, 1990),
teorias da personalidade e do envelhecimento segundo modelos de estádios13
(Erikson, 1982, 1986; Levinson et al., 1978), teorias da personalidade e do
envelhecimento segundo os traços14 (Costa e McCrae, 1988, 1992); e c) período
recente (iniciado nos anos 80) com a teoria da gerostrancedência (Tornstam, 1996) e
teoria gerodinâmica ou teoria da bifurcação (Schroots, 1996).
Face à diversidade teórica existente na área do envelhecimento, optamos por
incidir sobre aquelas que encontram fundamento na explicação do empirismo do
presente estudo, as teorias da personalidade e as mais recentes referidas por
Schroots (1996), a teoria da gerostrancedência e a teoria da bifurcação.
As perspectivas personológicas, sob as suas diferentes abordagens, encaram
o processo de envelhecer nos indivíduos. A personalidade aparece como um factor
crucial para se entender o processo de envelhecimento dos seres humanos. Podemos
encontrar referências à mesma no período clássico e no período moderno, já que
novas teorias vão surgindo, tendo por base o aperfeiçoamento das antecedentes.
Dentro das perspectivas personológicas do envelhecimento, estudamos a
abordagem psicométrica, que advém directamente da teoria dos testes, a abordagem
desenvolvimentista, que provém da teoria dos estádios no decurso da vida e a
abordagem sócio(cognitiva) que engloba investigações sobre a aprendizagem, o
raciocínio e o comportamento social (Fontaine, 2000).
São os postulados teóricos que nos fazem sentido de acordo com a orientação
do nosso trabalho empírico, uma vez que a qualidade de vida não é um conceito
estático, mas sim dinâmico relacionando-se com a forma como é apercebido pelos
indivíduos. Assim, a questão central consiste em saber se existem mudanças
significativas na personalidade devidas à idade ou se a personalidade se mantém mais
ou menos estável ao longa do ciclo vital.
A abordagem psicométrica é defendida por grandes teóricos como Eysenck
(1987, em Barros de Oliveira, 2005) e Costa e McCrae (1991, em Barros de Oliveira,
12
A teoria dos recursos reduzidos de processamento explica o relativo declínio cognitivo associado ao
envelhecimento, atreves da redução dos recursos como a capacidade de velocidade de processamento.
13
A teoria da personalidade e do envelhecimento segundo os modelos de estádios defendida por
Erickson incide na idade adulta e velhice, enquanto que Levinson estuda em particular a vida adulta.
14
De acordo com as teorias da personalidade e do envelhecimento segundo os traços assiste-se a uma
invariância estrutural fundamental da personalidade ou das suas disposições/traços básicos ao longo do
tempo, e mais em particular na segunda metade da vida, atendendo aos “cinco grandes” factores da
personalidade (neurocitismo, extroversão, abertura à experiência, amabilidade, conscienciosidade).
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
27
Qualidade de Vida dos Seniores
2005). Eysenck (1987) distingue entre extroversão/introversão, neuroticismo e
psicoticismo. Segundo o autor, a personalidade da pessoa é determinada
principalmente
pelo
grau
em
que
manifesta
esses
três
traços:
(i)
a
“extroversão/introversão” (E) avalia a tendência para a expansão e assertividade da
pessoa ou, inversamente, para a timidez e reserva; (ii) o traço “neuroticismo” (N) avalia
o grau em que a pessoa é ansiosa e emocionalmente instável e (iii) o de “psicoticismo”
(P) diz respeito ao carácter “frio” e anti-social do sujeito. Estes traços alteram-se à
medida que o sujeito vai envelhecendo, interagindo com o sexo. Tanto os homens
como as mulheres vão-se tornando mais introvertidos com a idade (introversão). À
medida
que
a
idade
aumenta,
as
pessoas
tornam-se
mais
equilibradas
emocionalmente (neuroticismo), contudo, qualquer que seja a idade, a mulher é
sempre mais ansiosa e emocionalmente instável. Até por volta dos setenta anos, os
homens apresentam um P mais elevado que as mulheres, a partir daí, as diferenças
anulam-se.
São várias as justificações de tais resultados por parte dos autores, no entanto,
Eysenck (1987) prefere atribui-los às mudanças fisiológicas capazes de alterar os
níveis de excitação do sistema nervoso. Pode considerar-se a personalidade como
uma estrutura integradora de tudo o que caracteriza a nossa forma de pensar, sentir e
agir às solicitações do exterior.
Pelos estudos levados a cabo por Costa e Mccrae (1991, 1992) conclui-se que,
é relativamente elevada a estabilidade da personalidade ao longo dos anos e, que em
geral, a velhice não tem efeitos sobre a personalidade que se mantém essencialmente
estável ao longo da vida, podendo dizer-se, de algum modo, a partir da infância e da
adolescência, o que será a pessoa ao longo da vida (Barros de Oliveira, 2005).
As interpretações do processo de envelhecimento estão intimamente ligadas
ao desenvolvimento, ou seja, à abordagem desenvolvimental do envelhecimento.
Através de modelos com inspirações diferentes, os teóricos procuraram identificar uma
sucessão de fases universais na evolução da personalidade, da infância até à velhice
(Fontaine, 2000). O desenvolvimento enquanto processo contínuo é representado
pelos clássicos Freud no domínio afectivo-sexual e Piaget no domínio cognitivo Barros
de Oliveira (2005). Autores que consideravam que a evolução terminava na
adolescência, daí os seus estudos se concentrarem na criança e no adolescente. No
entanto, a evolução do ser humano contínua a evoluir até ao final da vida. Jung (1976)
pode ser considerado como um dos pioneiros a dar importância a todo o percurso de
vida, defendendo que, depois da adolescência, podem ocorrer mudanças estruturais
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
28
Qualidade de Vida dos Seniores
tão importantes como na infância. Erikson (1972) e outros autores deram um avanço
na evolução de todo o arco da vida procurando modelos mais integrativos e dinâmicos.
Assim, Erikson (1972) é responsável por um dos modelos mais reconhecidos
da evolução da estrutura da personalidade ao longo da vida. Define oito estádios para
a evolução da estrutura da personalidade ao longo da vida, em que cada um se baseia
no precedente e constitui o suporte para seguinte. O conflito é o motor que permite a
passagem de estádio. O autor dedica o último estádio de desenvolvimento da
personalidade à velhice (integridade vs. desespero). Se o sujeito superou bem os
estádios anteriores, atingiu a plenitude da sua integridade que compreende a
aceitação e responsabilidade pela vida, a capacidade para defender o seu estilo de
vida, o reconhecimento da integridade dos outros e a modéstia frente ao universo.
Tudo culminando na sabedoria que leva também a aceitar as limitações e a própria
morte. Se pelo contrário, o sujeito não integrar de forma adequada os estádios de
desenvolvimento, crescerá o medo da morte e mesmo sentimentos de desespero
frente à impossibilidade de recomeçar tudo de novo. Para o idoso, trata-se de gerir a
contradição entre a integridade pessoal e o desespero entre o desejo de sentir prazer
em viver e envelhecer com dignidade e a ansiedade associada à antecipação da idade
avançada, da perda de autonomia e da morte. Este período constitui o nível mais
elevado do processo de integração da personalidade tendo em vista o pólo pessoal da
individualidade e o pólo social do relacionamento interpessoal. (Fontaine, 2000 e Barro
de Oliveira, 2005).
Calarusso (1998) citado por Barros de Oliveira (2005) concretiza em três
tarefas específicas que se impõem ao ser humano em processo de envelhecimento,
designadamente a aceitação das transformações do corpo, o reconhecimento da
finitude da vida e a perda progressiva de relações interpessoais. Manter a imagem do
corpo e a integridade física, esta tarefa torna-se na velhice a preocupação central,
uma vez que, as forças físicas vão atenuando e enfraquecendo, mesmo em casos de
uma saúde mediocremente saudável, agravando em situações de doença grave. O
sujeito pode-se sentir ainda com as mesmas potencialidades cognitivas e afectivas,
mas sem correspondência física, e estas mudanças podem ser interpretadas como
perdas, daí a necessidade do idoso aceitar este declínio físico e saber adaptar a vida a
esta realidade. Aceitar a morte dos outros, é necessário saber confrontar-se com a
morte que, com o passar dos anos, se torna mais frequente entre os entes queridos,
de modo a não cair no abismo da solidão, na depressão. Com o apoio dos familiares e
outras pessoas significativas, a pessoa pode promover mudanças no ser lar, investir
em actividades intelectuais e de lazer e, até mesmo, fazer vida com outra pessoa.
Preparar a própria morte, para além de pensar a morte na 3ª ou 2ª pessoa, mais
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
29
Qualidade de Vida dos Seniores
importante é pensar na nossa própria morte. Se o pensamento da morte estiver
presente, de forma mais ou menos recalcada ou consciente, ao longo da vida, mais se
faz à medida que se envelhece e as forças declinam, tornando-se certamente a sua
aceitação a tarefa mais desafiante para o idoso.
A abordagem (sócio)cognitiva é a teoria que procura descrever a personalidade
em função das características próprias do sujeito e do seu meio ambiente servindo-se
de conceitos derivados da psicologia cognitiva, susceptíveis de serem avaliados
(Fontaine, 2000). Tem a finalidade de compreender a forma como o indivíduo integra,
na representação que tem de si mesmo, as modificações que se produzem na sua
vida em relação com o ambiente envolvente. Bandura (1986) chama “determinismo
recíproco” à influência que o indivíduo exerce no ambiente e este sobre o indivíduo.
Dentro desta interacção entre o sujeito e o meio coloca-se o modelo de Whitbourne
(1987) que atribui à personalidade o papel de auto-identificação (quem sou eu?)
permitindo ao indivíduo uma construção unificada ao longo da vida (life span
construct), conferindo sentido ao passado, ao presente e ao futuro. Tal construção ou
“constructo” estruturam-se por duas componentes, o cenário e a história de vida. O
cenário é uma construção mental que permite ao indivíduo projectar o seu futuro
conforme as suas motivações e finalidades de acordo com a situação socio-económica
e laboral em que se encontra. O indivíduo responde à questão “como desejo que seja
a minha vida futura?”. Ao contrário, a história de vida diz respeito à descrição e à
organização mais ou menos coerentes que o indivíduo faz do seu passado. O
indivíduo extrai e reconstrói certos acontecimentos a fim de elaborar esta construção
significante da sua vida passada e elimina outros factos. O cenário e a história de vida
integram-se numa construção unificada – a identidade do indivíduo – que surge como
um processo de equilíbrio entre a estabilidade (que funciona à maneira da
“assimilação” piagetiana) e a mudança (à maneira da “acomodação”). Diante de um
acontecimento feliz ou doloroso, o sujeito entra num processo de transformação de
identidade, lendo o passado e projectando o futuro de modo diferente. Trata-se de um
modelo circular ou dialéctico onde a assimilação/acomodação se equilibram com o fim
de manterem a identidade do sujeito. Pode, no entanto, haver personalidades ou
estilos de identidade mais estáveis ou conservadoras ou mais instáveis e voltadas
para a mudança, podendo haver ainda um estilo misto onde prevaleça o equilíbrio
entre a mudança e a estabilidade. Em todo este processo dinâmico, é de realçar
também a importância da família como fonte de identidade.
Dentro das diferentes abordagens que correlacionam a personalidade com o
desenvolvimento dos indivíduos aquelas em que nos posicionamos defendem a
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
30
Qualidade de Vida dos Seniores
caracterização do sujeito, não através dos estudos psicométricos mas através das
abordagens desenvolvimentista e sócio(cognitiva) onde o nosso estudo se enquadra,
uma vez que a vertente desenvolvimental da personalidade impõe estádios que, à
partida, todos os indivíduos passam. Poderão certamente encontrar correspondência
na grande parte delas, no entanto, a homogeneidade não se verifica taxativamente no
desenvolvimento dos indivíduos, muito menos quando se fala em personalidade, onde
as diferenças são ínfimas de indivíduo para indivíduo.
Facilmente se entenderá, por seu turno, uma explicação da personalidade
individual só terá fundamento quando estudar as características individuais de cada
indivíduo e nas relações destes com o meio envolvente. Perceber que cada indivíduo
é a personagem principal do percurso da sua vida, é ele que opta que caminhos
seguir, que opções tomar, que futuro quererá atingir.
Ainda dentro da perspectiva histórica do processo de envelhecimento,
abordamos, de seguida o período mais recente.
A gerodinâmica ou teoria da bifurcação é um modelo sobre o envelhecimento
proposto por schroots (1995) referido por Paúl (2005), em que o processo de
envelhecimento é explicado pela teoria geral dos sistemas, da segunda lei da
termodinâmica e da teoria do caos de Prigogine (1979) referido por Paúl (2005) e
Alarcão (2002). Esta que prevê que as flutuações nos indivíduos possam chegar a
pontos de bifurcação em que é impossível determinar a priori qual a direcção da
mudança, se o sistema se desintegra no caos ou se passa para uma ordem superior
mais diferenciada. O ponto de bifurcação é o momento em que rompe com a margem
de flutuação, em que o idoso já não pode flutuar mais naquele equilíbrio e que, ao
atingir determinada amplitude, conduzem-no a um ponto crítico, para lá do qual ocorre
uma mudança de estado cuja direcção é, a priori, imprevisível. O envelhecimento, com
base na teoria do caos, pode ser definido como um processo de aumento de entropia
com a idade, da qual pode surgir a ordem ou a desordem. Assim, a dinâmica do
envelhecimento (gerodinâmica) trata da série finita de mudanças em direcção a uma
maior desordem e estruturas ordenadas de uma maior diferenciação (ser único).
Encontra explicação no nível psicológico dos indivíduos, ou seja, pelo processo de
optimização da auto-regulação e independência de variações ambientais (ordem), na
presença do enfraquecimento de algumas capacidades e recursos (desordem), que o
indivíduo que envelhece pode experimentar. O idoso vive num equilíbrio dinâmico
dotado de margens de funcionamento estáveis que, quando ultrapassados, deixam de
conter flutuações do sistema, originando mudanças irreversíveis das quais emerge um
novo padrão organizado.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
31
Qualidade de Vida dos Seniores
Tornstam (1989) desenvolveu o conceito de gerotranscedencia, que descreve
uma alteração “natural” da consciência na idade matura, provendo o idoso de uma
espécie de “sabedoria” e, como consequência, levando-o a uma ruptura com a visão
de mundo materialista e racional, características das sociedades contemporâneas. De
acordo com o autor, o processo de gerotranscedencia pode ser reconhecido por meio
da observação de uma série de alterações, tais como, a diminuição do interesse em
interacções sociais supérfluas, maior dedicação à “meditação”, crescente sentimento
de afinidade com o passado e com as futuras gerações, desinteresse pelas coisas
materiais, redefinição da percepção do tempo, do espaço dos objectos e redefinição
da percepção da vida e da morte e a diminuição do medo da morte. O autor faz uma
associação comparativa entre a sua teoria da gerotranscedencia e alguns aspectos do
Zen Budismo e sugere que a introspecção e inactividade das pessoas idosas podem
ser características dessa fase da vida e não necessariamente indicação de um estado
depressivo (Gomes, Lessa e Sá, 2006).
Contudo, o envelhecimento abarca questões bem mais específicas e de maior
importância para o trabalho em questão. Desta forma, em seguida, abordar-se-á o
processo de envelhecimento enquanto processo contínuo e analisar-se-á como o
desenvolvimento cognitivo evolui com a idade.
2.1. 2 Outras abordagens teóricas do processo de envelhecimento
Os seres humanos não poderão ser unicamente avaliados pelos seus padrões
personológicos ou cognitivos. O fenómeno de envelhecer encontra, igualmente,
explicação nas alterações físicas, cognitivas, biológicas, entre outras, que serão
abordadas neste ponto.
De referenciar antecipadamente que, o que se vai falar neste ponto, não será
generalizável, tal como se sucede em qualquer teoria ou abordagem que venha a ser
estudada.
Antes de mais, o envelhecimento é encarado enquanto um processo contínuo,
tal como tem sido referenciado ao longo do presente trabalho. Nesta óptica, Zimerman
(2005) refere-se ao envelhecimento enquanto um processo que pressupõe alterações
físicas, psicológicas e sociais no indivíduo encarando-as como naturais, gerais e
gradativas. De acordo com as características genéticas de cada indivíduo, as
transformações podem ser sentidas mais precoce ou tardiamente, assim como, em
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
32
Qualidade de Vida dos Seniores
diferentes intensidades. A autora faz distinção entre os aspectos físicos, psicológicos e
sociais do envelhecimento. As principais mudanças, a nível físico, do adulto jovem
para o idoso, subdividem-se, na perspectiva da autora, em modificações externas e
modificações internas. Deste modo, podemos verificar que, a pele se enruga;
aparecem manchas escuras na pele, a produção de células novas diminuiu, a pele
perde o tônus, tornando-se flácida; podem surgir verrugas, o nariz alarga-se; os olhos
ficam mais húmidos; há um aumento na quantidade de pêlos nas orelhas e no nariz;
os ombros ficam mais arredondados; as veias destacam-se sob a pele; dá-se um
encurvamento da postura devido às modificações na coluna vertebral, assim como,
uma diminuição de estatura pelo desgaste das vértebras. Ao nível das modificações
internas, os ossos endurecem; os órgãos internos atrofiam reduzindo o seu
funcionamento; o cérebro perde neurónios e atrofia-se, tornando-se menos eficiente; o
metabolismo fica mais lento; a digestão mais difícil; as insónias aumentam, assim
como a fadiga durante o dia; a visão ao perto piora devido à falta de flexibilidade do
cristalino; a perda de transparência (catarata), se não for operada, pode provocar
cegueira; as células responsáveis pela propagação dos sons no ouvido interno e pela
estimulação dos nervos auditivos degeneram-se; o endurecimento das artérias e seu
entupimento provocam arteriosclerose e o olfacto e o paladar diminuem. Sabe-se que
este processo é inevitável, contudo o facto de envelhecer não pode ser encarado com
sinónimo de doença, como também estas características físicas e biológicas não
surgem de igual modo e intensidade em todos os seres humanos. Esta é uma fase da
vida que em que se espera que todos os ser humanos a experieciem, na qual estamos
mais susceptíveis de adoecer. O segredo é aprender a viver com as limitações, aceitar
os problemas e lutar para que as dificuldades sejam diminuídas.
Socialmente, o disparo do envelhecimento social obriga a modificações
comportamentais no papel do idoso tendo em conta a sua participação na
comunidade, assim como nas suas relações interpessoais. A crise de identidade
provocada pela diminuição das obrigações sociais, as mudanças de papéis na família,
no trabalho e/ou na sociedade, a chegada da reforma, o surgimento de perdas de
ordem diversa que, podem ir da condição económica ao poder de decisão, à perda de
parentes e amigos, da independência e autonomia; a diminuição dos contactos
sociais; traduzem-se em aspectos relevantes que podem ser atenuados com uma
maior participação da família, maior abertura a novos relacionamentos e à adaptação
de novos estilos de vida.
Por último, Zimerman (2005) faz referência à importância dos aspectos
psicossociais subjacentes ao envelhecimento. Além das alterações corporais, ao
envelhecer, o ser humano, comporta uma panóplia de mudanças psicológicas, que
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
33
Qualidade de Vida dos Seniores
podem resultar em dificuldade de se adaptar a novos papéis. A falta de motivação e
dificuldade de planear o futuro, a necessidade de trabalhar as perdas orgânicas,
afectivas e sociais, a dificuldade em se adaptar às mudanças rápidas que têm reflexos
dramáticos nos mais velhos, as alterações psíquicas que exigem tratamento, a
depressão, a hipocondria; a somatização; a paranóia, o suicídio, as baixas autoimagem e auto-estima, são exemplos disso.
Das transformações aparentemente visíveis, abordaremos a parte cognitiva
que, mais subjectiva mas de igual importância.
As teorias que abordam a evolução da cognição ao longo da idade assumem
neste trabalho crucial importância. Alvo de estudo desde os primórdios das teorias do
processo de envelhecimento têm ganho novos adeptos teóricos que a têm
enriquecido. Deste modo, analisemo-la segundo autores mais recentes.
No domínio cognitivo, ao passar pela idade, assiste à manutenção ou a um
ligeiro declínio na eficiência verbal e na inteligência cristalizada do idoso e a um
significativo declínio das funções perceptivo-espaciais e da inteligência fluida. Factores
como a fadiga intelectual, a falta de interesse, atenção e concentração são, muitas
vezes, as verdadeiras causas do declínio da inteligência verificada na velhice. O idoso
tem de adaptar constantemente às diferentes situações com as quais se vai
deparando, o que ocupa toda a sua energia psíquica e o impede de dar o máximo.
Várias características individuais estão associadas ao bom desempenhos das funções
cognitivas e intelectuais, tais como, forma física, educação, estatuto económico, etc.
Os indivíduos de inteligência superior e de nível de educação elevado sofrem menos
as baixas de funções cognitivas ou só muito tardiamente as sentem (Berger, 1995).
A tendência, relativamente recente, na avaliação da inteligência dos idosos
incide na distinção de dois tipos de inteligência: a inteligência fluida, referindo-se às
capacidades básicas, como a atenção e a memória, que são mais inatas do que
aprendidas,
traduz-se
numa
inteligência
mais
abstracta,
individual
ou
não
sistematizada; e inteligência cristalizada, que se revela através de grande número de
actividades associadas à profundidade do saber e da experiência, do julgamento, da
compreensão das relações sociais e das convenções e da habilidade do
comportamento. Esta última mais concreta, sistematizada ou aculturada pela escola
ou profissão sendo no local da estética, da criatividade e dos comportamentos
inovadores que permite ao indivíduo resolver os recentes e novos problemas. A
inteligência fluida evolui até aos vinte anos de idade, ao invés a cristalizada
permanece estável, podendo evoluir ligeiramente, com o avançar da idade. Definindose mais em função da experiência e da reflexão, relaciona-se com a aculturação e
experimentação. Esta forma de inteligência permite ao indivíduo solucionar problemas
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
34
Qualidade de Vida dos Seniores
aplicando o resultado das suas experiências anteriores à situação em causa. Associase, muitas vezes, à memória, à frequência das experiências cognitivas e ao nível de
instrução e educação. O declínio da inteligência fluida começa desde a adolescência e
prossegue de maneira continua ate à morte, enquanto que a inteligência cristalizada
continua a desenvolver-se e a aumentar, embora se observe uma ligeira baixa na
velhice avançada [(Horn e Cattell (1967) citados por Barros de Oliveira (2005); Berger,
(2005) e Fontaine (2000)]. Baltes (1990) citado por Fontaine (2000) afirma que os
défices da inteligência fluida são, durante muito tempo, compensados pelos
desempenhos da inteligência cristalizada, deste modo, o idoso compensaria pela sua
experiência a sua dificuldade em responder a situações novas.
Os estudos de Salthouse (1990, 1991) referenciados em Barros de Oliveira
(2005) concluíram que algumas faculdades mentais são menos afectadas com a
idade, como são exemplo, a resolução prática de problemas e a capacidade de
interpretar a informação verbal, enquanto outras sofrem maior deteorização, como a
interpretação de informação não verbal, a capacidade de responder prontamente a
novas situações, a aquisição de novos conceitos, a capacidade de concentração e de
entender e fazer raciocínios mais abstractos.
Os diversos estudos confirmam que os idosos mantêm as competências da
inteligência cristalizada enquanto declinam na inteligência fluida. Aquando de
avaliações da inteligência dos mais velhos, impreterivelmente, teremos de ter o
cuidado de entender que as competências cognitivas não são tão usadas com nas
outras fases do desenvolvimento, assim como, a capacidade de concentração e
memorização. De qualquer forma, não podemos catalogar todos aqueles que
vivenciam o processo de envelhecimento, com défices cognitivos.
A sabedoria leva o idoso a lidar melhor com as limitações renunciando às
responsabilidades que tinha na sociedade e às exigências da mesma, sem sofrer
demasiado com as “perdas” sobretudo quando chega à reforma. “Saber envelhecer é
uma grande arte que os que rodeiam o idoso também devem favorecer, continuando a
dar-lhe importância e mantendo-o em alguns cargos” (Barro de Oliveiras, 2005:60).
Associada à inteligência surge a memória. A memória permanente adquirida
por um indivíduo é uma rede organizada de conceitos inter-ralacionados e integrados
na estrutural cerebral. É uma actividade biológica e psíquica que permite reter as
experiências vividas anteriormente. São muitos os que se queixam que a memória
lhes falha e, na realidade, esta capacidade diminui. São inúmeras as causas que aqui
podemos evidenciar, como o estado emocional, o nível cultural e instrucional, a
situação socio-económica, o stress e, principalmente causas neuronais. A memória é
muitas vezes fonte de inquietação e os esquecimentos são, na velhice, causas
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
35
Qualidade de Vida dos Seniores
importantes de stress e embaraço. Para Zimerman (2005), a memória não envelhece,
o que ocorre frequentemente é que cada vez menos ela é exigida e para mantê-la
deve-se exercitá-la. A memória está associada à aprendizagem, porque é preciso
primeiro aprender uma coisa para depois a poder recordar. A aprendizagem permite
estabelecer laços entre certos estímulos e certas respostas. Embora diferentes,
memória e aprendizagem, permanecem intimamente ligadas sendo muito difícil
estabelecer fronteiras recíprocas. Habitualmente reduz-se o funcionamento da
memória a três processos: aquisição de conhecimentos (aprendizagem), retenção dos
conhecimentos de rememorar o material armazenado e retido a fim de o poder utilizar
(Berger, 1995).
A linguagem (Barros de Oliveira, 2005) também ela relacionada com a
inteligência e cognição, é aqui referenciada embora com pouca cientificidade. Supõese que o declínio auditivo e visual, só por si, dificulta a audição e a leitura. Quanto
mais se envelhece, e ainda por mais quando a saúde decline, o idoso “corta” o
contacto com o exterior e pela não comunicação, vai perdendo dotes linguísticos.
Berger (1995), refere que, todas as investigações mais recentes parecem
mostrar que as pessoas idosas têm resultados menos bons nas tarefas de resolução
de problemas porque têm mais dificuldade em organizar e integrar os dados. A
organização do pensamento nos idosos é testemunho, às vezes, de uma maior rigidez
e prudência se comparado com os jovens. Quanto mais ambígua for a situação, maior
a dificuldade em tomar uma decisão. Os idosos têm muitas vezes dificuldade em
utilizar estratégias e técnicas novas para se desfazer de hábitos enraizados ou para
ver a situação de maneira diferente. O cérebro humano possui reservas insuspeitas e,
na presença de perdas cognitivas ou sensoriais importantes, a maior parte dos idosos
é capaz de continuar a funcionar normalmente. Contudo, utilizam diferentemente dos
jovens, a informação recolhida e pouco têm em conta as instruções à partida, podendo
por isso desperdiçar e empatar mais tempo a responder às adversidades do que os
jovens.
A criatividade é um conceito difícil de medir e de avaliar. Berger (1995),
defende a existência de consenso que, o potencial de criatividade atinge o máximo
pelos quarenta anos e declina depois dos cinquenta. Contudo, a criatividade está
ligada à motivação e, enquanto o indivíduo se sentir motivado, tem a arte de criar. Daí,
não se poder dizer que, há limite de idade para a criatividade.
Todo este trabalho reflexivo sobre o desenvolvimento cognitivo permite-nos
verificar como cada vertente cognitiva dos seres humanos é ou não influenciada pelo
avanço de idade. No entanto, cada teórico terá a sua forma de encarar o processo de
envelhecer. Uma das razões porque não se chega a um consenso e a uma
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
36
Qualidade de Vida dos Seniores
sistematização de todas as teorias, deve-se ao facto da complexidade inerente às
constantes mudanças, não só ambientais mas também sociais e políticas que, não se
podendo cometer a ingenuidade de atribuir um determinado efeito a uma só causa,
estaríamos a contrariar a noção que cada ser humano é uno. O envelhecimento é uma
realidade humana que faz parte integrante da vida e é tão natural como nascer e
morrer.
Não haverá dúvidas que a sabedoria é um sólido instrumento para se bem
envelhecer. Saber lidar com o avanço da idade sem perder laços sociais, sendo estes
motivados pelos contactos simples do dia-a-dia, estimula cognitivamente os indivíduos
que, indirectamente lhes conduz a um manuseamento da linguagem, resolução de
problemas e criatividade impedindo, desta forma, a declinação dos mesmos. A receita
para se envelhecer com qualidade, passa assim, por permanecer vivos os contactos e
laços sociais, estando deste modo, inseridos numa comunidade que é a sua que, na
qual participa e que, da qual ganha frutos.
De entre todas as abordagens aqui debatidas, cabe afunilar as referidas no
neste último ponto pois sendo as mais exactas, constroem-se nas mais convincentes
para nós. Por seu turno, abarcam questões avaliadas no World Health Organization
Quality of Life (WHOQOL), instrumento base, no presente estudo, utilizado para
avaliação da qualidade de vida. Fará, então todo o sentido, não só referir mas também
analisar todos os domínios que compõe o WHOQOL, para que, desde logo, se
justifiquem a antecedente abordagem às teorias do envelhecimento.
Para um melhor entendimento e, resumidamente, o WHOQOL traduz-se num
instrumento de recolha de informação que surgiu da necessidade da criação de um
meio instrumento que fosse capaz de avaliar a Qualidade de Vida dentro de uma
perspectiva de âmbito internacional. Os pioneiros foram um grupo de experts da OMS
que, aparece aqui como responsável por todo o processo de criação de manutenção
do WHOQOL. Com o objectivo de iniciar o projecto WHOQOL, a os experts da OMS
partiram com uma definição de qualidade vida “a percepção do indivíduo da sua
posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em
relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações” (WHOQOL
Group, 1995). No seguimento, a OMS criou um projecto que resulta num questionário
composto
por
cem
itens
(WHOQOL-100)
em
que
o
reconhecimento
da
multidimensionalidade do constructo se reflectiu na estrutura de uma avaliação da
qualidade de vida de acordo com seis domínios (WHOQOL-100): (i) o domínio físico
(que engloba as facetas dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso), (ii) o
domínio psicológico (que avalia a predominância de sentimentos positivos, o pensar, o
aprender, a memória e concentração, a auto-estima, a imagem corporal e aparência e,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
37
Qualidade de Vida dos Seniores
ainda os sentimentos negativos), (iii) o domínio de independência (que compreende as
facetas como a mobilidade, as actividades quotidianas, a dependência de medicação
ou de tratamentos e a capacidade de trabalho), (iv) o domínio das relações sociais
(este aborda a intensidade das relações pessoais, suporte (apoio) social e a actividade
sexual), (v) o domínio referente ao meio ambiente (as facetas aqui abordadas passam
pela segurança física e a protecção, o ambiente no lar, os recursos financeiros, os
cuidados de saúde, as novas informações e habilidades, a recreação e lazer, o
ambiente físico e o transporte), (vi) o domínio da espiritualidade/religião/crenças
pessoais encerra os domínios em estudo (este a avalia a incidência da espiritualidade,
da religião e crenças pessoais).
A necessidade de instrumentos curtos que demandem pouco tempo para o seu
preenchimento, mas com características psicométricas satisfatórias, fez com que o
Grupo da OMS desenvolvesse uma versão abreviada do WHOQOL-100, o WHOQOLBref. O WHOQOL-Bref consta de vinte e seis questões, assim a versão abreviada é
composta por apenas quatro dos seis domínios, entre eles, o físico, o psicológico, as
relações sociais e o meio ambiente.
O WHOQOL-Bref encontra-se, como demonstrado, relacionado com os
princípios teóricos enunciados. No entanto, a qualidade de vida também se reflecte ao
nível da integração social do idoso, nomeadamente quer na forma como a sociedade o
vê, quer ainda na forma como o idoso pensa que é visto pela sociedade. Dualidade
que lhe permite construir a sua identidade social.
2.2 A integração social dos seniores
Neste ponto serão abordados aspectos que se relacionam directamente com o
idoso, não só a representação social desta faixa etária, mas também com a sua autoimagem, assim como, o estudo de todas as condicionantes que proporcionam entraves
ou potencialidades à sua integração social.
Todos temos a noção da aparente dificuldade da tarefa de ser idoso nos dias
de hoje. Os autores já o dizem, “Ninguém quer ser velho porque não oferece nenhuma
vantagem” (Cabrillo e Cachafeiro citados por Pimentel, 2000). Porventura, ser velho
não é sinónimo de demente ou senil. De um modo geral, não será a idade cronológica,
aquela expressa nos bilhetes de identidade, que traça o perfil de cada ser humano. A
chegada à velhice é um marco na vida de cada indivíduo, alcançá-la é uma vitória e,
esta deve ser contemplada e reconhecida por todos.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
38
Qualidade de Vida dos Seniores
Pimentel (2004) faz referência à condição de ser idoso em que uma das
imagens mais comuns e difundidas, de se olhar para os idosos, é a excessiva
limitação das suas capacidades e aptidões. Esta será, então a imagem, socialmente
construída, de grosso modo, do que é um idoso. É verdade, sim, que são muitas as
alterações que vão ocorrendo ao longo de todo o processo de envelhecimento,
contudo, a velhice não é mais do que uma etapa do ciclo da vida, à qual todos aspiram
chegar. Envelhecer é antes de mais uma arte, envolta de muito conhecimento do seu
corpo e capacidade de interpretação do meio envolvente. Já que, iniciamos o nosso
processo de envelhecimento aquando do nosso nascimento, é uma arte passar por
todos os estádios de desenvolvimento e glorificar-se a velhice.
Fernandes (2001) questiona o que é ser velho nas sociedades modernas. A
velhice, como categoria social, pode-se dizer, na opinião da autora que, ficou
institucionalmente fechada nas fronteiras de um limiar de idade fixo cujo acesso é
reforçado pela detenção de uma pensão de reforma. Esta definição não tem sido
adaptada às transformações sócio-demográficas recentes e, pelo contrário tem
encontrado reforço nas pré-reformas. Ao entrar na idade da reforma, o “jovem-velho”
pertence automaticamente ao catálogo dos velhos, perde o estatuto social, perde
capacidades e dá-se uma deteorização do estado geral de saúde. Barros de Oliveira
[(2005) confrontar com Richard e Mateev-Dirkx, 2004)] aponta algumas características
que, mais frequentemente se generalizam aos idosos, entre as quais se destacam:
crise de identidade provocada por ele e pela sociedade; diminuição da auto-estima;
dificuldade de adaptação a novos papéis e lugares, bem como, a mudanças profundas
e rápidas; falta de motivação para planear o futuro; atitudes infantis ou infantilizadas,
como processo de mendigar carinhos; complexos diversos dados, por exemplo, à
diminuição da libido e do exercício da sexualidade; tendência à depressão, à
hipocondria ou somatização e mesmo tentações de suicídio; surgimento de novos
medos (como o de incomodar, de ser peso ou estorvo, de sobrecarregar os familiares,
medo da solidão, de doenças e da morte); diminuição das faculdades mentais,
sobretudo da memória; problemas a nível cognitivo (de memória, linguagem, solução
de problemas), conativo e motivacional, afectivo e personológico. É certo que, o autor
carrega demasiado nas características que, de certa forma, estão generalizadas ao
grupo, vendo-os pela homogeneidade que, na realidade é inexistente.
Mas afinal que imagem será auto-retratada pelos próprios idosos? O que diz o
seu espelho? Sabe-se que as atitudes da sociedade face aos que vivem a velhice são
muitas vezes negativas e, em parte, são os verdadeiros responsáveis pela imagem
que eles têm de si próprios, bem como das condições e das circunstâncias que
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
39
Qualidade de Vida dos Seniores
envolvem todo o processo de envelhecer. Apesar da dificuldade em definir com
exactidão a velhice, Fernandes (2000:25), defende que podemos dizer que,
“(…) a mesma não é uma doença mas sim a comprovação de que houve
suficiente saúde para a atingir. Se é bem verdade que o idoso, tal como todo o ser
humano saudável, permanece em equilíbrio como o meio, também é verdade que
os dois extremos da vida são caracterizados por serem mais sensíveis a este e
terem uma diminuição da capacidade de resistência à agressão. Trata-se,
sobretudo, da noção de que a velhice não é sinónimo de doença ou incapacidade,
mas sim de uma menor capacidade orgânica e psíquica, pelo agravamento dos
fenómenos escleróticos e atrofiadores do sistema regulador do organismo.”
(Ibidem, 2000:25).
A velhice tem, assim, de ser encarada como um processo natural e inerente ao ser
humano, vivida positivamente por cada indivíduo, cabendo à sociedade o papel de
facilitador proporcionando condições que favoreçam a melhoria das condições e
consequente qualidade de vida aos seniores. Cabe aos cidadãos promover a
igualdade de oportunidades de intervenção na sociedade pela participação e
cooperação intergeracional alcançando uma cidadania participativa e activa por parte
dos seniores. Berger (1995:65), sobre o assunto diz que:
“Os idosos são extremamente sensíveis e vulneráveis à opinião dos outros e à
atenção que estes dão aos seus feitos e aos seus gestos. Mesmo que a maior
parte considere a velhice tal como ela é, isto é, uma perda de autonomia e de
saúde, e que esta percepção lhes permita negar os preconceitos negativos e a
imagem de indigência associada ao envelhecimento, existe no entanto, um
grande número que endossa sem se questionar, as “etiquetas” que queremos
que eles usem: “velhos”, “senis”, “mimados”, etc. Acreditam nisso de tal forma
que acabam por se conformar. Identificando-se com a imagem degradante que a
sociedade lhes confere, justificam de qualquer forma a descriminação de que
são objectos. Por vezes, estes preconceitos ou mitos estão tão bem enraizados
que chegam a tornar-se numa realidade. (…) os estereótipos têm efeitos
benéficos sobre os idosos, comparando-se com eles ou repudiando-os,
melhoram a sua auto-imagem e vêm-se de forma mais positiva”. (Ibidem,
1995:65).
Por vezes, a discriminação funciona como uma lufada de ar fresco, para que, eles
mesmos, sujeitos-alvo de exclusão, tenham capacidade e força de mostrar à
sociedade em geral que, velhice e senilidade não são sinónimos. O autor acrescenta,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
40
Qualidade de Vida dos Seniores
“Os idosos que consideram a velhice como um fenómeno natural dão sentido à
vida, são mais felizes e implicam-se mais no seu meio e na sociedade,
Reconhecem em si, aspectos positivos (sistema de valores estável, sensatez,
juízo critico, etc.) e encontram no envelhecimento certas vantagens (diminuição
da responsabilidades e do trabalho, ausência de competição, abertura de
espírito, etc.). Complicam menos a vida, apreciam-na mais e temem menos a
morte. Utilizam os seus conhecimento e as sua experiências passadas para as
partilhar com os outros ou para recorrer a elas quando necessário.” (ibidem,
1995:65)
Mas afinal quem é idoso? Quem é velho? Ou o reformado? Ou o sénior? Qual
a verdadeira denominação? Mas denominação para quem? A partir de quando? Para
quê? A quem? Somos aquilo que a sociedade nos quiser chamar. É já visível a
diversidade de denominações atribuídas às pessoas que completam os 65 anos de
idade. Obviamente que, qualquer limitação a impor poderá constituir um erro pois ao
falarmos das pessoas com idade mais avançada, deveremos abordar os vários tipos
de idades, já estudado no ponto anterior.
Importa, aqui, realçar que em 1992 a Comunidade Europeia elaborou um
questionário sobre “Idades e Atitudes”. O estudo, antes de mais, objectivava-se em
alterar
o
significado
de
“terceira
idade”
pois
já
estava
desadequado
e
descontextualizado em consequência com o aumento da esperança de vida, daí surgir
a noção de “quarta idade” proposta pela França para todos aqueles que tivessem 75
ou mais anos (INE, 2000)15. As pessoas inquiridas manifestaram-se sobre a maneira
como gostariam de ser chamadas. Da diversidade de respostas que surgiram, a
designação “pessoas mais velhas”, foi a mais aceite pela maioria dos países da União
Europeia dominantemente pelos países do sul, excepcionalmente os italianos
preferem o termo “pessoa de idade”. A expressão “os mais velhos” foi rejeitada por
praticamente por todos os países, no entanto, é a expressão mais utilizada pelos
políticos e media. “Sénior” foi de longe a preferida entre os países do norte da Europa.
Barros de Oliveira (2005) faz referência aos termos mais usados, sendo que a
dominância é de origem grega ou latina. Como termos latinos refere: “velho (do latim
vétulus, dim. de vetus), ancião (do latim medieval antianus, através do provençal
ancian e do francês ancien), idoso (que tem muita idade, do latim aetas), sénior (do
15
Envelhecimento no feminino: um desafio para o novo milénio. 2005. Comissão para a Igualdade e para
os Direitos das Mulheres. Colecção Informar as Mulheres N.º22. Lisboa.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
41
Qualidade de Vida dos Seniores
latim sénior, mais velho, de sénex, donde deriva também senescência, senilidade,
senado). Podemos usar também a expressão “adulto idoso” (adultum é o tempo
supino do verbo latino adoléscere, crescer – supõe-se que o adulto já terminou a sua
fase de crescimento). Os vocábulos derivados do grego são: geronte (de gérôn-ontos,
donde deriva gerontologia) ou também presbítero (termo reservado aos sacerdotes do
Novo Testamento que eram considerados já “velhos” em sabedoria para presidir às
Igrejas locais).
No presente estudo, utilizaremos a partir daqui, o termo “sénior” para designar
as pessoas com 65 ou mais anos, idade que coincide com a reforma em Portugal e, a
partir da qual se designam de idosos. A escolha por esta denominação, prende-se
com o facto de “sénior”, traduzir-se numa expressão sem conotação negativa e pela
nossa experiência de terreno, a mais preferida pelos seniores portugueses. Contudo, a
sua origem latina não inspira grande amabilidade. Segundo a OMS, idoso é aquele
que já completou 65 anos. No entanto, e devido ao prolongamento da esperança de
vida, nos países mais desenvolvidos, graças ao desenvolvimento da medicina, da
tecnologia, dos cuidados de higiene e outros factores, em vez de 65 anos poderia
considerar-se os 70 ou 75 anos como passagem à velhice (Barros de Oliveira, 2005).
De qualquer forma, a designação ou divisão etária são características ou factores
secundários, o importante é compreendê-los e respeitá-los.
Cabe a verdadeira implementação do envelhecimento activo, definido em 2002
pela OCDE (Quaresma e Calado, 2004:7)16 como, “a capacidade das pessoas que
avançam na idade terem uma vida produtiva na sociedade e na economia. O que quer
dizer que possam determinar a forma como repartem o tempo entre as actividades de
aprendizagem, o trabalho, o lazer e os cuidados a outros.” Estamos a referir-nos
assim, a uma meta no horizonte que revela a liberdade de escolha e sentimentos de
utilidade em relação à sociedade a que pertencem. Esta será a ideia que deve reinar
nesta temática, não só encontrar aconchego na quotidianiedade da vida dos seniores
mas, deverá imperar igualmente nas mentalidades dos que os rodeiam. Vejamos
como este trabalho é desempenhado pela sociedade e seus intervenientes. Será a
sociedade um motor de integração ou exclusão? Haverá lugar para os seniores?
Podemos encontrar respostas a estas perguntas no ponto que se segue.
16
Quaresma e Calado (2004) – A Problemática do Envelhecimento e o Desenvolvimento Pessoal. Em
Revista Futurando N.º 11/12/13, Cooperativa de Ensino Superior de Desenvolvimento Social, Económico
e Tecnológico. Pp. 3-11. Lisboa.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
42
Qualidade de Vida dos Seniores
2.2.1 Os seniores na sociedade contemporânea
Cada sociedade no seu contexto e momento histórico tem dado um papel à
velhice, positiva ou negativamente, o qual depende do modelo de homem ideal que
impera em cada momento. De forma que, os seniores têm sido rejeitados e outras
vezes valorizados (Agreda, 1999).
Minois (1999) estuda as sociedades da antiguidade, onde a velhice era
relacionada com o mundo sagrado mágico. Ao sénior era atribuído o papel de dirigente
pela existência e sabedoria armazenada ao longo de todo o seu percurso. Para essas
sociedades antigas profundamente religiosas, a velhice toca o mundo sagrado. O
simples facto de atingir os 70 ou 80 anos era em si um facto tão extraordinário que
apenas se podia realizar com a ajuda e protecção dos deuses. Uma longa vida era
uma recompensa divina unicamente concedida aos mais justos. Nesta altura, o sénior
revelava sempre um sentido sobrenatural. A familiaridade com o sagrado, aliada à
experiência e à sabedoria que lhes confere a própria longevidade, explica a
importância do papel político exercido pelos seniores em todas as sociedades antigas
do Próximo Oriente. O patriarca era sempre a pessoa mais velha da família e
hierarquizavam-se como um clã. Com o Novo Testamento, os seniores continuam a
assumir um papel preponderante, uma vez que, eram considerados chefes, modelos a
seguir e, para além do respeito e veneração, detinham o poder político, religiosos e
legislativo. Actualmente a modernidade retirou-lhes o poder de transmitir a sua
sabedoria, assim, hoje ser sénior é como pertencer a uma classe inferior
completamente desenraizado do ritmo de vida pautada nas sociedades actuais.
Segundo, Meier-Ruge (1988) citado por Fernandes (2000:31), “a imagem sobre
as pessoas idosas é a de que são pessoas gastas, solitárias e pobres. Esta imagem
contrasta com a de muitos países do Terceiro Mundo onde se considera que as
pessoas idosas possuem sabedoria e “afinado julgamento”, pelo que são distinguidas
e respeitadas, como aliás o eram nas nossas sociedades antigas.” Nas sociedades
modernas como a nossa, de acordo com Valente (1993) citado por Fernandes
(2000:30), “a velhice assume uma identidade própria, onde os idosos se encontram
colectivamente identificados como um grupo etário com direito a prestações
financeiras, de certo modo como contrapartida à perda de estatuto de membro activo,
dependentes financeiramente da sociedade e representando um subcapital humano.”
Neste encaminhamento, percebe-se que, com o aumento da população sénior,
derivado ao aumento da esperança de vida, os custos e despesas sociais aumentam.
Os encargos com as despesas, nomeadamente na saúde e prestações familiares,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
43
Qualidade de Vida dos Seniores
conheceram um cenário em súbita evolução que, os seus beneficiários são já vistos
como “empecilhos” aos olhos da sociedade. Fernandes (2000:31-32) reflecte que,
“(…) as expectativas negativas que esta situação engendra, relegam o grupo
dos idosos para um grupo social problemático”. Como resultado de tais
comportamentos “envelhecer torna-se, por si só, num problema”. Corre-se “o
perigo de que as pessoas acabem por desenvolver uma atitude em que sentem
apenas os aspectos negativos da sua condição. A sociedade está a fornecer aos
idosos um “filtro negro” que lhes inibe a percepção de aspectos positivos e
assim
a
velhice
torna-se
num
período
traumatizante
e
negativo.”
(Ibidem:2000:31-32).
Bom seria que estes comportamentos destrutivos da sociedade para com os
seniores não passassem de especulações e, que desta forma, não fossem
generalizados. Mas a verdade é bem menos risonha, uma vez que, até já existem um
conjunto de comportamentos xenófobos catalogados.
De
referenciar, a
gerontofobia,
o
agismo
e
a
infantalização
como
comportamentos ou atitudes contra os quais temos de lutar. A gerontofobia
caracteriza-se por uma atitude negativa que consiste no medo irracional de tudo
quanto se relaciona com o envelhecimento e velhice. Esta fobia atinge todas as faixas
etárias pois o medo de envelhecer manifesta-se por expectativas irrealistas ou
atitudes pessimistas. Como facilmente se depreende, esta fobia predomina no sexo
feminino que repudia tudo o que tenha a ver com envelhecimento. Rugas, pele flácida,
cabelo branco, entre outros, são alvos a abater. Por seu turno, o agismo reporta-se a
todas as formas de descriminação com base na idade. Por exemplo, a doença não
acontece numa pessoa de 90 anos pela sua idade, mas sim devido a algum problema
intrínseco ao seu organismo. Outra atitude bastante utilizada e totalmente
discriminatória é a infantalização. Observa-se quando já se verificam alguns sinais de
perda de autonomia. Por exemplo, “se não vier a esta actividade zango-me”. A
intenção é boa mas o resultado deplorável. Estas atitudes, por Berger (1995)
referenciadas, impedem à sociedade olhar para o sénior como capaz, útil e com
potencial. O combate a atitudes como estas cabe não só à sociedade envolvente, mas
principalmente aos profissionais e familiares próximos.
Os valores que pautam na sociedade actual prendem-se, prioritariamente com
a produção, a rentabilidade, o consumismo e o lucro. Perante este cenário, as pessoas
reformadas não têm possibilidades de competir neste “jogo”, já que, a reforma chegalhes aos 65 anos. Martins (s.d.:126) refere, em consequência deste ritmo e modelo de
funcionamento da sociedade, “ (…) tudo isto exerce efeitos negativos sobre os
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
44
Qualidade de Vida dos Seniores
cidadãos, criando situações “stessantes”, geradoras de doenças e que de algum modo
poderão diminuir a capacidade produtiva da pessoa mais fragilizada. O idoso sem
autonomia é rapidamente excluído do trabalho, das funções de aquisição de produção,
manutenção e transmissão de conhecimento. Sendo assim, não será difícil de prever
que, nestas circunstâncias, ele tenda ao isolamento e ao isolar-se assuma cada vez
mais uma situação de dependência.” A dependência de que a autora se refere, será
certamente, a dependências dos sistemas da segurança social, uma vez que,
maioritariamente os seus rendimentos provêm unicamente dos regimes. Esta será
uma das causas para que os planos de poupança reforma tenham conhecido um
disparo de adeptos, a par dos míseros valores que as mesmas representam, sendo,
deste modo, insuficientes para se fazer face às necessidades básicas de
sobrevivência.
A reforma é, então um marco da atitude egoísta da sociedade do séc. XXI face
à população mais envelhecida. Não nos referimos à prestação pecuniária em si, nem
ao papel do nosso Governo, mas à construção social envolvente à mesma. A chegada
a esta plataforma constitui-se como um trauma em vez de libertação. Como que
automaticamente, a pessoa reformada começasse a desenvolver sentimentos de
inutilidade pelo afastamento do mercado de trabalho que, consequentemente leva a
uma diminuição do poder económico e, por variadas vezes, à dependência
relativamente aos seus familiares (na maioria filhos). De rótulo “pouco produtivos”, os
seniores são votados ao esquecimento e solidão e, consequentemente à
marginalização.
Aquele que, em tempos era o detentor de toda a sabedoria, agora, deixa de ter
lugar na sociedade, por um lado, não serve como força de produção para rentabilizar o
país e, por outro lado, não consegue acompanhar a evolução tecnológica que lhe põe
à margem do mercado de trabalho.
A imagem, socialmente predominante, do sénior é a de não reprodutor da
riqueza para o país e, em contrapartida, só gasta sendo um adepto nato do consumo.
Esta moldura não se enquadra na tela da velhice pintada pelos seniores, se
porventura, não produzem mais é porque a própria sociedade os impede disso. O
facto de estarem reformados e usufruírem de uma prestação pecuniária, não quererá
dizer que, queiram abolir por completo os laços com o mundo do trabalho. Concordase que, com rigorosidade menor, mas promovendo a sua utilidade em áreas que,
tenham ou não, a ver com a actividade profissional que desempenharam outrora.
Projectos de animação de crianças, de inter-ajuda com outros seniores que,
por algum motivo, estão mais limitados, promoção de encontros inter ou intra
geracionais, etc., são algumas actividades que poderão ser desenvolvidas pelos
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
45
Qualidade de Vida dos Seniores
seniores que, desta forma, lhes devolve a responsabilidade para com a sociedade e
sentimentos de utilidade. Actividades remuneradas ou não, o importante é a felicidade
e sentimento de pertença pelo desenvolvimento de uma ocupação. Por outro lado,
podem pensar em investir na auto-formação, são já muitas as universidades seniores
e outras entidades, públicas ou privadas, que trabalham neste sentido. Por seu turno,
acontece, algumas vezes, seniores que não estão dispostos a aprender, um caso real
passa-se a comentar: uma enfermeira, reformada há um ano, em conversa com
amigos. Estes incentivavam-na para se inscrever numa universidade sénior, ao que
responde que não estar disposta a estudar pois terá levado toda a sua vida a estudar
e a apostar em formações na área da enfermagem. Põe-se a questão: porque não ser
ela agora a ensinar?
Cabe, não só ao sénior, mas também à sociedade, promover um
envelhecimento activo, sabendo ganhar anos de vida de forma criativa e motivadora. A
forma como a sociedade considera a velhice afecta o juízo que os seniores fazem de
si mesmos. Desta forma, tendem a considerarem-se e a auto-estigmatizarem como
incapazes ou inúteis. Esta atitude generalizada socialmente pode condicionar os
seniores a viverem os aspectos positivos da velhice e da total disponibilidade do
tempo. Cabe à sociedade contribuir para a sua reintegração social, para que, desta
forma, os seniores readquiram auto-estima e auto-confiança. É certo que, nos dias de
hoje, eles representam a grande fatia da população geral e juntos, tal como Fernandes
(2000:32) refere, “constituem uma força social pelo seu número, têm mais cultura pela
sua sabedoria (…)”.
Phitaud (2004: 55) deixa um alerta “Prevenir é então permitir a todos
envelhecer sem cessar de existir.” O respeito pela idade deve imperar. Fazemos então
agora referência aos mitos e estereótipos, atrás referenciados, que representam uma
dupla acção, por um lado, dramatiza os seniores e, por outro, funcionam como um
motor de arranque para a não acomodação e reflexão sobre os mesmo, dando-lhes
força para dar a volta à questão, tornando-se em seres humanos íntegros tal foram
considerados outrora.
Mitos e estereótipos socialmente construídos
O aparecimento de conceitos e pré-conceitos que, propositadamente ou não,
foram socialmente construídos repercutiram-se gradualmente em mitos e estereótipos
que, em alguns casos, na nossa sociedade caracterizam os seniores. Berger
(1995:64) define estereótipo como “um chavão, uma opinião feita, (…) trata-se de uma
percepção automática, não adaptada à situação, segundo um padrão bem
determinado e pode ser positivo ou negativo.” O mesmo autor define mito como “uma
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
46
Qualidade de Vida dos Seniores
construção do espírito que não se baseia na realidade (…) uma representação
simbólica (…)”. Devido ao desconhecimento do processo de envelhecimento, são
inúmeros os mitos relativos aos mais velhos. Facto que se prende exclusivamente pela
idade. Manifestam-se por frases, expressões feitas ou por eufemismos. Ao que o autor
exemplifica: “Ela tem um ar jovem para a idade.”
Estas atitudes desenvolvem-se muito cedo na vida de cada cidadão e são
influenciados por factores extrínsecos como a educação, a comunicação social,
convívio, etc. Berger (1995) menciona alguns elementos susceptíveis de influenciar as
atitudes sociais relativamente aos seniores e à velhice, entre eles, a perda da
aparência física, proximidade com a morte, aumento da dependência, comportamento
geralmente mais lento e imagens (positivas ou negativas) veiculadas pelos meios de
comunicação social.
Os mitos e os estereótipos são causadores de perturbações nos seniores, uma vez
que, de algum modo, condicionam a normal evolução do processo de envelhecimento.
O cenário é tão negro, que todos temem alcançar a velhice. Desconstruí-los é nossa
função.
Como mitos podemos mencionar vários, fruto das investigações de Berger
(1995) que se baseia pelos estudos efectuados por Ebersole (1985):
1- A maioria dos seniores é senil ou doente. A senilidade, termo pejorativo, sem
ligação específica ao envelhecimento, descreve os sintomas de uma doença degenerativa
do sistema nervoso. A maior parte dos seniores não é mentalmente perturbada e apenas 4
ou 5% dos seniores com 65 ou mais anos estão institucionalizados, devido a doenças
cerebrais orgânicas. Esta proporção aumenta ligeiramente depois dos 75 anos e,
sobretudo, depois dos 85. O envelhecimento normal não afecta as faculdades mentais de
uma forma previsível.
2- A maior parte dos seniores é infeliz. Em contrapartida, estudos demonstram que
o nível de satisfação de vida dos seniores é relativamente elevado e compara-se
facilmente ao dos adultos. Estes aparentam frequentemente um alto nível de auto-estima e
estão satisfeitos com o papel familiar e social que desempenham.
3- No que se refere ao trabalho, os seniores não são tão produtivos como os
jovens. Ao contrário disto, os estudos tendem a demonstrar que os trabalhadores de idade
avançada têm uma taxa de absentismo menos elevada, têm menos acidentes e um
rendimento mais constante. Em relação à improdutividade, Pimentel (2005) refere que a
sociedade encara o idoso como incapaz de trabalhar, de ser criativo e de contribuir com
algo positivo para o desenvolvimento da sociedade. Esta imagem de improdutividade limita
o espaço de acção do idoso e agrava situações de dependência.
4- A maior parte dos seniores está doente e tem necessidade de ajuda para as
suas actividades quotidianas. Cerca de 80% dos seniores é suficientemente saudável e
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
47
Qualidade de Vida dos Seniores
autónoma para efectuar as suas actividades quotidianas sem qualquer ajuda. Este mito
sobre a dependência é um dos mais persistentes. A dependência não é, de forma alguma,
sinónimo de velhice. Pelo contrário, faz parte das diversas etapas da vida de cada um de
nós.
5- Os seniores mantêm obstinadamente os seus hábitos de vida, são
conservadores e incapazes de mudar. É verdade que as pessoas são mais estáveis
quando envelhecem, mas os seniores não recusam totalmente a mudança. Quando
surgem situações novas são capazes de se adaptar a elas, tal como as outras pessoas.
6- Todos os seniores se assemelham. Isto é falso. À medida que o ser humano
envelhece diferencia-se dos outros sob diversos aspectos (ex.: humor, personalidade,
modo de vida, filosofia pessoal, etc.).
7- A maioria dos seniores está isolada e sofre de solidão. Os estudos provam, pelo
contrário, que um grande número de seniores mantêm elos de amizade, permanece em
contacto estreito com a família e participa regularmente em actividades sociais. No
entanto, os estudos sobre a solidão e o isolamento social não são concludentes e
demonstram resultados contraditórios.
8- A assexualidade, referida por Pimentel (2005), representa-se num dos mitos
mais comuns em que o sénior perde o interesse e a capacidade para ter uma vida sexual
activa. No entanto, a actividade e o interesse sexual mantêm-se, defende a autora, assim
como a necessidade de afecto e companheirismo. É pelo facto da sociedade reprovar a
sexualidade nos mais velhos que os inibe de expressá-la livremente.
Benjamin Sanz (1996) enumera e explica um conjunto de oito estereótipos
mais frequentes.
1- Pensar ou acreditar que os seniores são uma carga económica. Fala-se
tanto das dificuldades que o Estado possa vir a ter, no futuro, para poder pagar as
pensões e manter os actuais compromissos sociais, que subconscientemente
pensamos que os seniores são os criadores do problema. O autor faz dois
comentários, se por um lado, se tem lutado para o avanço da medicina de modo a
prolongar a esperança de vida, é um contra-senso considerar a velhice como um
problema. Depois, a pensão que recebem dos regimes não é uma dádiva nem uma
esmola dado pelo Estado mas sim fruto do esforço de trabalho de toda uma vida.
Todos os meses são efectuados descontos para a segurança social para que, ao
alcançar a idade da reforma, se tenha direito à prestação social.
2- Pensar que o mundo está demasiadamente envelhecido e, portanto, o
mundo actual não tem saída. Não se pode dizer que o mundo está velho, se o grupo
etário que prevalece é o das idades compreendidas entre os 15 e 64 anos. Em 2000
representavam 67,2% da população total, ao passo que o grupo dos 65 ou mais anos
se expressava em 16,2%. Como previsão para 2010, os activos tendem a diminuir
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
48
Qualidade de Vida dos Seniores
para 65,7% enquanto que os seniores a subir para 17,6%. Embora se verifiquem
algumas alterações na pirâmide etária portuguesa, não podemos catalogar o nosso
país de “velho”.
3- Acreditar que a velhice é a sala de espera da morte. Uma pessoa que acaba
de completar 65 anos ainda tem pela frente, em média, 16 anos de for homem e 20 se
for mulher. Mas a questão não consiste nos anos que ainda podem viver, mas sim as
condições nas quais estes anos podem ser vividos, condições que, geralmente, são as
melhores. Os níveis de dependência que abarcam os seniores são na, generalidade,
relativamente baixos. Sendo que, vão tomando valores maia elevados, na medida em
que a idade aumenta.
4- Identificar a inactividade laboral dos seniores com a inactividade geral e,
inclusive, com a inutilidade. Os seniores não são inactivos e seria uma calúnia
considerá-los inúteis. Reformar-se não quer dizer deixar de estar activo, para entender
a actividade nos seniores, há que fazer algumas considerações: a) existem seniores
que se mantém no activo, aos quais se chama, activos legais ou estatísticos. O autor
refere-se a estas pessoas que, apesar de já terem completado os 65 anos continuam
a trabalhar na profissão de toda a sua vida. É um grupo relativamente pequeno, mas
existe. Existe, contudo, um segundo grupo, muito mais numeroso que o anterior, ao
qual se chama, activos encobertos. Trata-se de pessoas que, embora já reformadas,
continuam a exercer a sua profissão ou outra actividade, sem a mesma exigência e
regularidade de outrora. Um terceiro grupo aparece, sendo o mais numeroso,
provavelmente corresponderá a uns 40%, aos quais podemos chamar de activos não
remunerados, este grupo com um sem fim de obrigações com o desempenho de
papéis sociais de extraordinária importância, o autor refere-se às donas de casa,
reformadas ou casadas com um reformado e a todas aquelas pessoas mais velhas
que desempenham o papel de pai/mãe/avô/avó.
5- Há quem diga que os seniores são tradicionais e conservadores e que com a
sua presença, cada vez mais maioritária, vão impedindo a evolução e modernização
do mundo. É verdade que os seniores são menos inovadores em comparação com os
jovens, mas também é verdade que alguns são mais sensíveis aos problemas da
sociedade actual, esta é a ideia de solidariedade com os outros, ou de sacrifício e de
trabalho, ou conceito de responsabilidade. Estes são valores que não devemos
desdenhar. Não convém perder os valores que representam os nossos seniores,
valores cada vez mais estimados pela nossa sociedade.
6- A vinculação dos seniores com a deteorização física e/ou psíquica e com a
doença. É certo que a morbilidade e mortalidade variam conforme cresce a idade, mas
associar velhice com doença, é algo que a mitologia popular se precipitou em
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
49
Qualidade de Vida dos Seniores
relacionar. A deteorização tanto física como psíquica é um processo que nuns se inicia
antes e em noutros depois da velhice, como também é verdade que ataca de forma
diferente em cada indivíduo. Evidentemente existem doenças, limitações e situações
de dependência, mas estas situações só afectam uma pequena parte do colectivo dos
seniores. A situação geral é boa, pelo que é injusto identificar esta etapa da vida com
a doença e deteorização física.
7- Confundir os conceitos: pensionistas, reformados e seniores. Há que
delimitar bem os significados destas terminologias para não gerar confusões nos
conceitos. Não são sinónimos, embora à primeira vista pareçam próximos têm
conteúdos diferentes. Pensionista é toda a pessoa que recebe uma pensão, esta pode
derivar da reforma mas também pode ser de orfandade, viuvez, invalidez ou outra, por
outro lado, reformado é toda a pessoa que tenha interrompido a sua actividade
profissional pela troca de uma prestação pecuniária, o reformado pode ou não já ter
completado os 65 anos de idade (reformas antecipadas), por seu lado, o sénior define
o grupo etário que alcançou já os 65 anos. Podemos verificar que a cada terminologia
corresponde um colectivo diferente que definem situações distintas e, apenas um se
identifica na íntegra com as pessoas de idade mais avançada.
8- Acreditar que os seniores são todos iguais cujo tratamento deve ser igual
para todos e, na generalidade, deve-se identificá-los com os mesmos parâmetros ou
perfis. Os seniores correspondem a um grupo heterogéneo como qualquer outro grupo
etário. Cada indivíduo é uno e é possuidor das suas próprias características, as quais
não podemos generalizar ao seu grupo de pertença. Podemos diferenciar os perfis em
função do sexo, idade, situação económica, níveis culturais, composição da estrutura
familiar, estado de saúde, etc. Em cada um destes pontos podemos verificar a
heterogeneidade do grupo, contudo, analisaremos apenas o género e idade. Vejamos
a situação em relação ao género. Não é o mesmo envelhecer no masculino e no
feminino, as mulheres apresentam uma esperança de vida superior aos homens. Os
homens são na sua grande maioria casados, enquanto que existem muitas mulheres
solteiras e viúvas. Para as mulheres “não existe reforma real” porque quando se
reformam os trabalhos domésticos continuam e destes não há reforma. A idade é
outro padrão que importa referir, assim, é diferente uma pessoa com 80 anos de uma
com 65 anos, daí se falar já, em “quarta idade”. Ao passar a barreiras dos 80 anos,
generalizam-se situações que, há dez anos atrás eram impensáveis, entre elas,
grande número de viúvas/os, maior abandono das suas casas para lares de idosos,
menor participação social passando a ficar cada vez mais tempo em casa a ler, ver
televisão ou a ouvir rádio.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
50
Qualidade de Vida dos Seniores
De forma sintética podemos resumir os estereótipos ligados ao envelhecimento
do ser humano.
Quadro I – Confrontação dos estereótipos mais frequentes dirigidos aos seniores
com a realidade vivida.
Realidade
Estereotipo
Autor(es)
A maioria dos seniores é
A
senil ou doente o que os
ligação ao envelhecimento sendo se
Ebersole (1985)
torna dependentes.
limita a descrever os sintomas de
Sanz (1996)
senilidade
uma
não
doença
tem
qualquer
degenerativa
Berger (1995)
do
sistema nervoso.
Dependência não é sinónima de
velhice. Em qualquer idade podemos
ficar dependentes de terceiros.
Os seniores não são tão
Os trabalhadores de idade avançada
Berger (1995)
produtivos como os jovens.
são os que menores taxas de
Ebersole (1985)
absentismo apresentam, têm menos
Pimentel (2005)
acidentes de trabalho e rendimento
Sanz (1996)
mais constante.
Os seniores são uma carga
Se tanto se tem lutado para o
económica para o Estado.
avanço da medicina, é um contra-
Sanz (1996)
senso considerar a velhice num
problema. A reforma não é uma
dávida mas antes um fruto do
esforço de trabalho e de descontos
efectuados de toda uma vida.
Todos
os
assemelham.
seniores
se
Tal como noutras faixas etárias, a
Berger (1995)
heterogeneidade
Ebersole (1985)
seniores.
O
caracteriza
ser
os
humano
é
Sanz (1996)
biopsicossocial.
Assexualidade
A actividade e o interesse sexual
mantêm-se,
assim
necessidade
de
como
a
afecto
e
Pimentel (2005)
companheirismo. A sociedade ao
reprovar este comportamento inibeos de expressá-lo livremente.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
51
Qualidade de Vida dos Seniores
Como consta no quadro anterior, Busse (1992) referido por Barros de Oliveira
(2005:23) e Fernandes (2000:29) argumenta, referindo-se a Cícero, do seguinte modo:
1) “A sociedade exclui o idoso dos trabalhos importantes”, no entanto, os seniores
podem encontrar múltiplas actividades tornando-se úteis, sem terem de cessar por
completo a actividade. 2) “O envelhecimento abala a força física e reduz o valor do
indivíduo”, contudo, o declínio físico é bem menos importante que o cultivo da mente e
do carácter. 3) “O envelhecimento impede ou reduz os prazeres sensuais,
particularmente o prazer sexual”, a esta queixa, Cícero responde que, tal perda tem
algum mérito pois permite que o sénior se concentre na promoção da razão e da
virtude. 4) “A velhice traz consigo crescente ansiedade sobre a morte”. Cícero
considera “a morte uma bênção que liberta os indivíduos e as suas almas imortais das
prisões do corpo nesta terra tão imperfeita. Se a pessoa acredita que a alma é imortal,
a morte permanece uma virtude, visto que todas as coisas devem ter limitações sobre
a duração da vida”. Cícero menospreza, desta forma, as repreensões da sociedade
aos seniores. Será com esta facilidade que todos nós, seniores, idade adulta,
adolescência e crianças deveremos olhar para a velhice e para quem nela se
encontra.
Deste modo, podemos afirmar que todos estes pré-conceitos são construídos
socialmente, quer pelo desconhecimento do que é a velhice, quer pelos valores
vinculados actualmente que se dirigem a um estilo de vida onde os seniores parecem
não ter qualquer lugar. Esta dialéctica idoso vs sociedade pode assumir-se como um
entrave ao próprio desenvolvimento e confiabilidade nas potencialidades que cada um
possui. Fernandes (2000:30) remata “acreditar que se vai modificar alguma coisa no
envelhecimento dos indivíduos, sem mudar nada no tipo de sociedade em que eles
vivem, é ilógico e ilusório”. Esta é para nós, a melhor maneira de caracterizar esta
dualidade.
Se o processo produtivo aparece como um indicador fundamental na
caracterização do papel do idoso na sociedade, aprece-nos pertinente abordá-lo de
forma sintética. Debruçaremo-nos quer sobre a relação entre o idoso e o trabalho,
quer sobre a relação entre o idoso e a reforma no contexto sócio-cultural e económico
actual, onde predomina, em Portugal, uma forte crise económica traduzida em níveis
elevados de desemprego, emprego precário e relações profissionais fragilizadas.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
52
Qualidade de Vida dos Seniores
2.2.2 Da actividade profissional à reforma
A
sociedade
contemporânea,
moderna
e
consumista,
rege-se
pela
rentabilidade da produção, onde só os activos participam. Quanto mais se aspira um
elevado crescimento económico associado à produtividade maior é a “expulsão” do
homem do mercado de trabalho. O avanço constante da tecnologia dispensa o homem
do mundo da produção para dar lugar a uma máquina. A mão-de-obra humana é cada
vez menos utilizada, enquanto que, a mecanização é cada vez mais pretendida, desta
feita, aumenta o desemprego e a antecipação das reformas.
O trabalhador mais velho deixa de ser considerado como um trabalhador com
experiência e de conhecimento acrescido, com capacidade para transmitir a sabedoria
e, passa a ser visto como incapaz, lento na execução e portador de faculdades
diminuídas (Pimentel, 2005). A autora refere que, muitas vezes, existe a tendência
para atribuir aos trabalhadores com a mais idade, a culpa de muitas das dificuldades
económicas. O trabalho é desvalorizado e o trabalhador marginalizado. Este cenário
encontra explicação de causa, não só na sociedade mas também no próprio Estado
que, libertam o sénior das suas obrigações e o privam do estatuto social e económico
que resulta essencialmente do exercício de uma actividade profissional. Para
Szinovacz (2001) citado por Fonseca (2005:46) “(…) reformar-se constitui hoje um
aspecto estrutural do curso da vida humana nas sociedades industrializadas, consistindo num
acontecimento que se traduz essencialmente pelo abandono da actividade profissional, pelo
direito a receber uma pensão e, acima de tudo, pela identificação pessoal com um novo papel,
o de reformado.”
Psicologicamente a passagem para a reforma carrega em si um sentido
deteriorativo da pessoa humana. A tão esperada hora de descanso, para uns, torna-se
para outros, numa hora de desespero, em que muito ainda se quer fazer mas que a
reforma condiciona. A reforma pode, assim, ser recebida por duas visões
contraditórias, uma vez que, também não existem duas pessoas iguais. Vejamos a
perspectiva de Fonseca (2005):
“A análise da problemática da reforma sob o ponto de vista psicológico leva a
considerar que o momento da “passagem à reforma” e o processo de transiçãoadaptação que lhe está inerente poderão constituir ocasiões particularmente
sensíveis ao aparecimento de alterações no funcionamento dos indivíduos, com
inevitáveis consequências ao nível do respectivo bem-estar psicológico e social.
Para a maioria das pessoas, a “passagem à reforma” não assinala apenas o fim
da actividade profissional, é também o fim de um período longo que marcou a
vida, moldou os hábitos, definiu prioridades e condicionou desejos, podendo ser
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
53
Qualidade de Vida dos Seniores
ao mesmo tempo um momento de libertação e de renovação (viver com outro
ritmo, estabelecer novas metas, investir no lazer e na formação pessoal,
relacionar-se mais com os outros, etc.), ou um momento de sofrimento e perda
(de objectivos, de prestígio, de amigos, de capacidade financeira…) ” (Fonseca,
2005:47).
Cabe agora ao reformado reestruturar a organização da sua vida, definir novos
papéis redimensionando o seu dia-a-dia. Pimentel (2005) enaltece a ideia da
importância para o sénior manter o seu equilíbrio emocional e psíquico, pela
necessidade de se manter activo, traçar objectivos de vida e continuar a aprender e a
crescer interiormente. Por seu turno, Fonseca (2005:47) baseando-se em Prentis
(1992) aborda os “riscos” psicológicos referentes ao processo de adaptação à reforma
ao que o autor denomina por “a neura da reforma”. Para o autor, a passagem da
categoria de trabalhador para reformado, deveria se constituir numa mudança
favorável aos indivíduos, já que todo o stress que envolve qualquer profissão está
então desmantelado. No entanto, aceita um estado de espírito negativo quando o
mesmo se prende com as muitas mudanças inerentes a esta alteração de estatuto
que, nem sempre são conciliáveis entre si. Vendo bem, os benefícios resultam de
perdas, isto é, perde-se o trabalho, os hábitos, a estrita ligação com os colegas e
amigos de trabalho, mas ganha-se tempo livre, liberdade para fazer o que se gosta e
oportunidade de estabelecer novos elos de amizade. Existe então uma miscelânea de
sentimentos que só um testemunho real o conseguirá explicar na íntegra.
Saber que lugar ocupar, que papéis desempenhar, que percursos caminhar,
são interrogações que surgem, num contexto marcado pela saída cada vez mais
precoce do mercado de emprego. No entendimento de Guillemard (1980),
“A reforma marca uma etapa do percurso de vida e estigmatiza de forma
particular o envelhecimento social, pela reestruturação individual e colectiva dos
sistemas de papéis e dos laços sociais”. Ela pode marcar o início de uma
recomposição activa dos papéis sociais, ou pelo contrário, ir no sentido de um
processo de isolamento social e de desvalorização individual, voluntário ou não,
definido como “désengagement”, desinvestimento gerador de “perda do sentido
de relação com a sociedade” e, consequentemente, de exclusão social. No
primeiro caso, podemos observar diferentes estratégias de inserção na vida
social, centradas na vida familiar, no consumo (passagem de produtor na vida
activa a consumidor como reformado) ou no investimento de uma forma de
actividade criadora, socialmente reconhecida, funcionando como estruturante da
actividade do sujeito, tal como o tinha sido na actividade profissional. As
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
54
Qualidade de Vida dos Seniores
condições e hábitos de vida ao longo da existência e em especial no período a
antecedente à reforma, nomeadamente o percurso de saída, cessação da
actividade profissional, têm um papel determinante neste processo. (…) No
segundo caso, é imprescindível estar atento à necessidade de valorizar e ter
presente o valor da existência, o sentido da relação com o outro, e com a
comunidade de que se faz parte. Para que não aumente o risco de
desvalorização individual, de perda sistemática da relação consigo e com o
mundo envolvente, da entrada num caminho que conduzirá, mais tarde ou mais
cedo, à exclusão social”.17
É aqui mesmo o momento gerador de uma boa ou má adaptação à reforma. A
adaptação à reforma pode constituir-se num processo complicado de ultrapassar para
o indivíduo. Pensando bem, consiste numa passagem repentina, do ter que fazer
durante todo o dia, para não ter o que fazer todo o dia. Os condicionalismos
subjacentes ao processo de adaptação à reforma implicam um repensar dos modos e
estilos de vida. Não se pretende uma mudança radical no dia a dia dos indivíduos. A
melhor solução, para uma mais fácil adaptação, pode passar pelo desenvolvimento de
actividades similares ou não desempenhadas enquanto activos, aqui, já não deverá
importar a remuneração ou não, mas antes a ocupação gratificante e reconhecida.
Estar ocupado com, faz com que as pessoas anulem os sentimentos de inutilidade e
enalteçam o valor que têm pelo reconhecimento social dos conhecimentos que
possuem e põem à disposição de quem deseja aprender.
A actividade profissional, segundo Pimentel (2005), mais do que uma fonte de
rendimento, é uma forma de integração social e o indivíduo que entra na reforma vê o
seu lugar na sociedade mudar, sente-se deslocado, em muitos casos não sabe onde
empregar o seu tempo e energia. Outra explicação pela desorientação do reformado,
prende-se com a diminuição dos rendimentos, já que as reformas, no geral, são
inferiores aos salários auferidos anteriormente que, por sua vez, pode agravar o
processo de adaptação à entrada na reforma. Desta feita, os primeiros sinais de
privação tendo de abdicar de bens supérfulos ou bens menos essenciais, são pela
primeira vez vividos nesta altura. Em casos, extremos podemos falar em pobreza,
contudo, acha-se preferível debater este ponto noutras vertentes.
O grande desafio é reorganizar o quotidiano, descentrar a profissão e encontrar
um papel que garanta o sentido de utilidade. As alterações necessárias são
particularmente intensas nos homens que, vêem ameaçado a sustentabilidade da sua
17
Guillemard (1980) - A Problemática do Envelhecimento e o Desenvolvimento Pessoal. Em Revista
Futurando N.º 11/12/13. Cooperativa de Ensino Superior de Desenvolvimento Social, Económico e
Tecnológico. Lisboa.2004 Pp. 3-11.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
55
Qualidade de Vida dos Seniores
família, uma vez que, aos homens é atribuído o papel de chefe de família. O mesmo
não se passa com as mulheres, a ruptura apresenta-se menos dramática, uma vez
que, perdem um papel exterior à família, mas mantêm e reforçam, o de donas de casa,
a que estão acostumadas e lhes garante um certo sentido de continuidade. A
presença do marido começa a ser constante em casa e a mulher tem de saber a lidar
com isso, o marido não ajudando nas tarefas domésticas, faz o quê durante o dia? A
diferenciação de papéis, até aqui clara, começa a dissipar-se, os homens invadem a
esfera de acção da mulher, movimento a que esta resiste. Enquanto que o homem não
está disposto a perder as responsabilidades sociais que tinha, a mulher, por seu turno,
não quer perder o controlo sob as tarefas domésticas. Desta forma, mesmo que o
homem participe mais nas actividades de casa, as mudanças serão apenas
superficiais (Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2004).
A reforma não tem de ser vista como um marco negativo na vida de cada um.
Geralmente associada ao descanso para sempre, é para muitos, uma meta a atingir o
mais rapidamente possível, contudo e, chegada a altura, são muitos os que com ela
não sabem lidar. O não reequacionamento das suas vidas, inconscientemente poderá
conduzir a um isolamento que, de forma gradual e extrema, poderá fazer surgir
sentimentos de solidão. O descanso poderá se tornar eterno e quando se apercebe os
laços de amizade e, até mesmo familiares, já lá vão há muito tempo. O convívio
constitui-se, aqui, como um meio através do qual, todos poderão viver uma velhice
feliz, valores e sentimentos inerentes aos amigos e família, são como uma flor que
precisa de ser regada para florescer e não morrer. Taylor-Carter & Cook (1995) em
referência por Fonseca e Paúl (2005:47) encaram a chegada à reforma de um ponto
de vista positivo que importa aqui realçar. Os autores consideram que, na
generalidade, os indivíduos vivem a reforma como uma “bem-vista” mudança de
papel/ocupação, que comparam com acontecimentos anteriores, aos quais também se
tiveram de adaptar, como o de solteiro a casado, de estudante a trabalhador, entre
outros, através dos quais aprenderam a aceitar as perdas e os ganhos inerentes às
fases das suas vidas. Especificamente, falando da reforma, os autores, consideram
tratar-se de um período propício ao estabelecimento de relações mais estreitas com
outros, amigos, novos amigos e/ou familiares e, à realização de actividades que
promovam o bem-estar. Estamos a falar de um período que devemos encarar com
optimismo e entusiasmo. Claro que, o futuro que construiremos tem de continuar com
“desafios e oportunidades materializados em objectivos, que se procura alcançar ao
mesmo tempo que se envelhece pacificamente”. Facilmente, consegue-se entender a
mensagem dos autores, de que, unicamente o que cessa é a vida profissional,
remunerada, com horários, responsabilidades acrescidas, a nossa vida, não termina
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
56
Qualidade de Vida dos Seniores
aqui. Ao encarar a reforma como um “novo começo”, certamente que, as pessoas
sentir-se-ão encorajadas a procurar novos objectivos nas suas vidas.
Em conclusão importa ainda referir um estudo, levado a cabo por Fonseca
(2005) sobre os aspectos psicológicos da “passagem à reforma”, um estudo qualitativo
com reformados portugueses, desenvolvido para o seu trabalho de Doutoramento. O
estudo consistiu em, simplesmente, ouvir as pessoas a falarem acerca das suas
próprias experiências relativas à “passagem à reforma” e à condição de “reformados”.
O autor utilizou a técnica dos “grupos de focagem”18 dentro de uma abordagem
qualitativa. O grupo de focagem foi constituído por 20 pessoas reformadas. Esta
abordagem irá ao encontro de muito o que já foi dito neste ponto, servindo assim, de
um apanhado de consistência cientificamente comprovada. Desta forma e, em relação
às motivações para a decisão de se reformar, o autor conclui que, quando a reforma
acontece antes do tempo previsto (65 anos), esta deve-se mais a motivos de natureza
externa, de saúde (pessoais e de familiares próximos), à reforma do cônjuge,
benefícios económicos, na sequência de um despedimento ou de uma situação de
pré-reforma, do que a uma genuína opção individual. Sendo a “libertação do
cumprimento de horários” a principal motivação que leva a maioria das pessoas a
optarem pela reforma. Os sentimentos experimentados na “passagem à reforma”
podem se agrupar em positivos e negativos. Pelos testemunhos, o autor refere os
sentimentos positivos de passar à reforma significando uma libertação das exigências
e das responsabilidades inerentes à vida profissional, altura a partir do qual, a pessoa
ganha liberdade de movimentos e maior controlo sobre a vida pessoal. No extremo
negativo, há quem veja a passagem à reforma como uma ponte para a estagnação,
devido sobretudo ao sentimento de frustração provocado pelas actividades que
passam a constituir a rotina do dia-a-dia. Para estas pessoas, os sentimentos
negativos prendem-se, certamente, como receio de solidão, da falta de objectivos e de
sentido de utilidade, ou mesmo com a percepção de perda de valor da própria vida.
Em projecção às iniciativas de planeamento da “passagem à reforma” a norma é não
haver propriamente uma preparação para a reforma “acontece e pronto”, não se
fazendo qualquer esforço intencional quer em termos do envolvimento em novas
actividades quer em termos de reajustamento do dia-a-dia. Depois sim, já na condição
de reformadas, a maioria das pessoas tende a procurar envolver-se em actividades
que lhes permitam manter-se ocupadas, sentirem-se úteis ou cultivarem uma rede de
18
Os grupos de focagem consistem na realização de discussões em grupo, baseadas em tópicos que são
fornecidos pelo investigador, o qual assume sobretudo um papel de moderador ou de facilitador durante a
discussão, dando mais ênfase à interacção no seio do grupo do que à sua relação com os participantes
do referido grupo (Fonseca em Paúl e Fonseca, 2005:50).
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
57
Qualidade de Vida dos Seniores
relações sociais, tendo em vista a preservação de uma imagem positiva se si mesmas.
Desta forma, a passagem à reforma, não sendo propriamente planeada, vai sendo
pensada pelos indivíduos à medida que vêem aproximar-se o fim da vida profissional,
proporcionando uma ocasião para “passar ao acto” ideias porventura antigas mas
nunca efectivamente concretizadas pelas mais variadas razões, entre as quais, a falta
de tempo. O bem-estar físico e emocional actual surge de um conjunto de factores
subjacentes à reforma, quer esta seja desejada ou não, planeada ou não. A saúde, a
realização de actividades gratificantes, a ocupação útil do tempo, o envolvimento em
novos projectos e objectivos, a interacção positiva com familiares e amigos, tudo isto
contribui, seguramente, para facilitar o ajustamento a uma nova condição de vida e
para se alcançar um elevado índice de bem-estar. O bem-estar é tanto maior, quanto
mais as pessoas consigam atingir um equilíbrio entre a realização de actividades
individuais que lhes dão prazer e a participação em contextos sociais e familiares que
são fonte de interacção pessoal. A relação conjugal sofre algumas alterações, o autor
avalia a anterior e actual interacção conjugal. A relação conjugal ganha uma dimensão
mais permanente e a dependência mutua começa a fazer-se sentir com mais força
através de aspectos como as saídas de casa ou o apoio na doença. Mas a causa dos
problemas no casamento após a reforma, devem-se ao facto de os homens passarem
muito mais tempo em casa e as mulheres não estarem habituadas a isso. No caso dos
homens, é um pouco confuso verem-se, de repente, envolvidos com as tarefas
domesticas, com as quais pouco ou nenhuma relação tiveram durante décadas, o
caso das mulheres, por seu lado, é verem ameaçado o seu estatuto de donas de casa.
A interacção com o exterior surge como um ponto estudado, em que o autor foca a
anterior e actual interacção com contextos sociais, em que uma das principais
preocupações que as pessoas exprimem no momento da reforma consiste na
eventualidade de verem diminuídos ou mesmo pedrem os contactos sociais que a vida
profissional proporciona. As actividades actualmente desenvolvidas na vida privada e
em contextos comunitários, repartem-se numa combinação entre o aprofundamento de
interesses que já antes possuíam e a implementação de novas actividades e de
projectos que concretizam, finalmente, sonhos alimentados ao longo da vida. O
voluntariado surge como uma das actividades que mais ocupa este conjunto de
pessoas. As expectativas acerca do futuro vincam alguma despreocupação ou mesmo
indiferença, algo perfeitamente compreensível em pessoas que, vendo-se de boa
saúde e a participar em múltiplas actividades, tem dificuldade em assumir que os
problemas da velhice também irão afectá-las, mais tarde ou mais cedo. Se a imagem
que temos de nós mesmo é positiva, não sentimos tanto o peso da idade cronológica e
facilmente atiramos para fora dos nossos pensamentos os medos do futuro, mesmo
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
58
Qualidade de Vida dos Seniores
quando no nosso subconsciente germina a ideia de estarmos a caminhar
inevitavelmente em direcção ao “clube dos idosos”. O autor impõe, desde logo, uma
conclusão inevitável, não é possível definir um padrão único de funcionamento, seja
ao nível da “passagem à reforma”, seja relativamente à vivência da condição de
“reformado”. Deste modo, não podemos generalizar um indivíduo ao grupo, atribuir-lhe
características, ditas socialmente, do grupo, uma vez que, neste como em qualquer
grupo reina a heterogeneidade. Sendo assim, será incorrecto falarmos em sénior no
singular, devendo preferir o plural, não pelo facto de tomarmos todos num só grupo,
facto que acontecesse se referirmo-nos ao grupo etário dos seniores, como o sénior.
2.2.3 Os seniores e a família
A família e o casal de seniores
Os cabelos brancos são cada vez mais visíveis no nosso quotidiano. Desta
forma, em casa, também temos a oportunidade de estreitar laços com as gerações
mais antigas da nossa família que, não esquecendo, são a origem do nosso núcleo
familiar. Os seniores tendem a fortalecer os laços familiares, deste modo, a família
representa para os seniores um elemento básico que os auxilia na sua vivência e, por
outro lado, contribui para a manutenção do seu equilíbrio emocional, respondendo ao
avanço dos sinais de velhice.
Existe, hoje, um número ínfimo de diferentes abordagens que definem a
família. Gameiro (1992) citado por Alarcão (2002:39) dá uma noção de família vendo-a
como um todo, deste modo “a família é uma rede complexa de relações e emoções na
qual se passam sentimentos e comportamentos que não são passíveis de ser
pensáveis com instrumentos criados para o estudo dos indivíduos isolados. A simples
descrição dos elementos de uma família não serve para transmitir a riqueza e a
complexidade relacional desta estrutura”. Assim não se pode falar de família só pelo
facto de partilharem o mesmo sangue, família implica relações interpessoais,
características normativas próprias e construídas por e para cada núcleo familiar, com
ritmo, princípios e hábitos próprios. A família é analisada aqui enquanto sistema. Um
sistema é o “conjunto de objectos (e das) relações entre os objectos e os atributos,
(sendo que) os objectos são os componentes ou partes do sistema, os atributos são
as propriedades dos objectos e as relações dão coesão ao sistema todo, enquanto
que os objectos podem ser indivíduos humanos, os atributos pelos quais eles são
identificados são comportamentos comunicativos” (Hall e Fagen, 1993) citados por
Alarcão (2002:40). A família é vista como um sistema, na medida em que, “1) é
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
59
Qualidade de Vida dos Seniores
composta por objectos e respectivos atributos e relações, 2) contém sub-sistemas e é
contida por diversos outros sistemas, ou supra-sistemas, todos eles ligados de forma
hierarquicamente organizada e 3) possui limites ou fronteiras19 que a distinguem do
seu meio (Alarcão, 2002:40). Assumindo já, a família como sistema, Gameiro (1992)
citado por Alarcão (2002:40) passa a definir a família como um “conjunto de elementos
em interacção recíproca ao longo do tempo, através de padrões de interacção
circulares que dão origem a um contexto estável no qual os elementos se
desenvolvem e interagem com outros sistemas. A interacção com sistemas externos
possui um papel fundamental, na sobrevivência e na evolução do sistema”.
Não será, certamente correcto falar dos seniores sem abordar as suas famílias.
Afinal de contas, o casal de seniores são pais e avós, representando a origem da sua
própria família. Toda a família tem a sua própria estrutura, ao que Minuchin (1979)
citado por Alarcão (2002:53) define como uma “rede invisível de necessidades
funcionais que organiza o modo como os membros da família interagem”, por sua vez,
desenvolvem-se interacções entre os vários elementos da família que, o mesmo autor,
define como “padrões transaccionais que regulam não só as trocas afectivas,
cognitivas e comportamentais dos diferentes membros como lhes especificam papéis
particulares”.
Cada família é composta por sub-sistemas: o individual, o conjugal, o parental
e o fraternal. O sub-sistema individual é composto pelo indivíduo que para além da sua
função familiar tem papéis e funções noutros sistemas, o sub-sistema conjugal é,
obviamente composto pelo marido e mulher, por sua vez, o parental diz respeito ao
papel de pais na sua relação com os filhos (podendo ser outros, que não os pais, a
desempenharem as funções de educação e protecção inerentes a este sub-sistema) e,
o fraternal implica a relação entre irmãos. Importa, no presente estudo, realçar o subsistema conjugal, referindo-se aos casais de seniores. Contudo, é ainda necessário
distinguir o tipo de famílias existente, de modo a, facilitar a compreensão da dinâmica
familiar. As famílias podem ser emaranhadas ou desmembradas. São emaranhadas
quando se fecham em si mesmas, dominadas por movimentos centrípetos promovem
um exagerado nível de trocas e preocupações entre os elementos, podemos dizer que
têm limites rígidos com o exterior e difusos no seio da família. Pelo contrário, as
19
Metaforicamente considerados como “linhas divisórias”, os limites permitem regular a passagem de
informação entre a família e o meio, assim como entre os diversos sub-sistemas. Segundo Minuchin
(1979) os limites podem ser: claros (que delimitam o espaço e as funções de cada membro ou subsistema, permitindo, contudo a troca de influências entre os mesmos, difusos (marcados por uma enorme
permeabilidade que faz perigar a diferenciação dos sub-sistemas) e rígidos (que dificultam a comunicação
e a compreensão recíprocas) (Alarcão, 2002:56).
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
60
Qualidade de Vida dos Seniores
famílias desmembradas são as que estabelecem limites demasiado rígidos no seu
interior e difusos com o exterior, sendo dominantemente caracterizada por movimentos
centrífugos. Os membros deste tipo de famílias funcionam de forma individualista,
sendo os papéis parentais instáveis e as funções de protecção diminuídas (Alarcão,
2002:54-61).
Entender a dinâmica familiar dos seniores é uma questão de enorme
importância, na medida em que, tendem a disfarçar o seu real posicionamento face à
família. Para uma melhor compreensão do percurso dos casais de seniores, é
estritamente necessário debruçarmo-nos sobre o ciclo vital da família. Relvas (1996)
em Alarcão (2002:110) refere-se ao ciclo vital da família como uma “sequência
possível de transformações na estrutura familiar, em função do cumprimento de
tarefas bem definidas, (…) é o caminho que a família percorre desde que nasce até
que morre”. Deste modo podemos enumerar as etapas do ciclo vital da família
(Alarcão, 2002): como primeira etapa surge a formação do casal, em que o início da
nova família é marcado por duas exigências, por um lado, a reorganização das
relações com a família de origem e, por outro, a construção do sub-sistema conjugal.
Na segunda etapa, família com filhos pequenos que, se inicia com o nascimento do
primeiro filho, surge com um novo sub-sistema, o parental, onde ocorre uma
transformação de papéis voltados para a protecção e educação dos filhos. Aquando
do nascimento de um segundo filho surge o subsistema fraternal propício para a
aprendizagem das relações de rivalidade, competição e solidariedade. Na terceira
etapa, família com filhos na escola, dá-se uma tríade entre, família, escola e criança e
caracteriza-se por um período de muita abertura com o exterior. A quarta etapa,
família com filhos adolescentes, é a etapa de maior abertura ao exterior, a mais longa
e a mais difícil. É uma etapa caracterizada por uma presença trigeracional, em que as
diferentes gerações aspiram encontrar o equilíbrio relacional e funcional, assiste-se
por um lado, à independência dos filhos e, por outro, à dependência dos avós. À diáde
adulta cabe a tarefa de reconcentração na vida conjugal e profissional e aos
elementos da família a criação de condições para prestar apoio à geração mais velha.
A quinta e última etapa, família com filhos adultos, caracteriza-se pela saída dos filhos
de casa, os cuidados aos netos, são os chamados “anos acordeão”, pela saída e
entrada frequente de elementos no sistema familiar. Cabe ao sub-sistema parental e
conjugal facilitar a saída dos filhos de casa, renegociar a relação de casal
(revalorizando o casamento) e equacionar o envelhecimento próprio da geração mais
velha, conseguindo assegurar condições de apoio às gerações mais velhas. Estamos
perante a “geração sanduíche” que, tanto presta apoio aos mais novos (filhos e netos)
como aos mais velhos (avós).
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
61
Qualidade de Vida dos Seniores
Eis chegada a recta final de modificações e transformações no seio familiar,
onde, maioritariamente, o sub-sistema conjugal acaba por ficar só. Assiste-se à
chegada da reforma, o processo de envelhecimento parece que acelera e a velhice é
já uma realidade. Alarcão (2002:198) reforça e, muito acertadamente que, “Em toda
esta etapa do ciclo vital da família [quinta etapa] há uma importante tarefa a realizar: a
aprendizagem do envelhecimento e, consequentemente, a de uma nova regulação do
processo de autonomia-dependência”. Nas relações conjugais o facto mais
interessante é que no fim da vida a família volta a ter a composição inicial: o casal
sozinho. De acordo com Relvas (1996) referida por Sousa, Figueiredo e Cerqueira
(2004:33), o aspecto mais relevante é que, no fim da vida, os elementos do casal
tendem a exacerbar aspectos como a dependência e proximidade, de tal modo que
até se expressam em termos de características físicas (vão ficando mais parecido). Os
objectivos dos casais alteram-se, passando a valorizar aspectos mais expressivos,
como prestar cuidados e dar atenção. Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004) referem
existir uma reaproximação entre pais seniores e filhos adultos. Nesta fase da vida, os
filhos adultos são elementos-chave para os pais, estes sentem necessidade de apoio
dado ao excesso de tempo disponível, enquanto que os filhos vivem a pressão
profissional e têm, também eles, os seus próprios descendentes. Esta fase
caracteriza-se pela inversão de papéis, em que, desta vez, são os pais que precisam
dos cuidados dos filhos, contudo, nutre ainda o sentimento de cuidar das gerações
mais novas.
Contudo, não nos podemos restringir só ao casal de seniores, a família é muito
mais que isso. A rede de proximidade dos casais seniores é na sua grande maioria,
composta por elementos comuns à sua família. O casal de seniores não pode ser visto
como uno, embora o seja, a sua reintegração social, depende em muito do papel que
os mesmos assumirem perante a vida e comunidade, estritamente relacionados com o
alargamento da sua rede de suporte.
Cabe-nos agora analisar a família nas suas funções inerentes às interacções
próprias dos seus elementos. Definiremos o papel assumido pela família encarada
como suporte primordial dos seniores.
A família enquanto rede de suporte e espaço de interacções
A família funciona, antes de mais, como um “ (...) suporte, por excelência, da
realização afectiva do indivíduo, a família é sentida e desejada como verdadeira e
única amarra que o prende à sociedade. (…) esfera prioritária de investimento e de
dedicação individuais, com um predomínio absoluto sobre as restantes esferas de
actividade do individuo. É um modelo de valores, universo de afeição e de partilha de
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
62
Qualidade de Vida dos Seniores
normas morais onde aquele parece depositar a sua inteira confiança…” (Almeida e
Guerreiro (1993) citados por Pimentel (2005:65). Começamos com uma perspectiva
que dá à família o papel crucial e único de suporte aos restantes elementos.
Os
laços
familiares
são
cada
vez
mais
focados,
quanto
ao
seu
desmantelamento da hierarquização intocável das famílias mais antigas. O patriarca
era aquela figura forte e inquebrável que, o poder era distribuído da forma que ele bem
entendesse. Hoje, já pouco se vêem famílias pautadas por estes valores. Actualmente
vivemos numa sociedade mais voltada para o sentimentalismo, onde as manifestações
de amor e carinho surgem e manifestam-se espontaneamente. Barros (1990) reforça a
ideia de caminharmos para uma família mais integrada, comunicativa e afectiva que,
assenta na participação e responsabilização de todos os seus elementos em prol do
seu crescimento como um todo. Estamos a falar de famílias alargadas, trigeracionais,
onde inserimos as relações entre avós, filhos e netos, podendo existir, ainda, outras
pessoas significativas para os seniores, tais como, primos, irmãos ou tios.
Em análise à família enquanto espaço de interacções, Finch (1989) propõe
uma tipologia do tipo de trocas mais frequentes entre os elementos das redes de
parentesco: apoio económico, através de transferências de dinheiro (pontuais ou
sistemáticas), de apoios em espécie, de heranças e na ajuda em encontrar trabalho.
Geralmente este apoio funciona sempre no sentido de pais para filhos e constitui-se
num tipo de trocas bastante usual. A habitação, a partilha de habitação entre
diferentes gerações faz-se mais por necessidade do que por preferência. Os cuidados
pessoais que implicam cuidar de alguém que não pode bastar-se a si próprio e/ou
desempenhar as suas tarefas domésticas. Situação visível em qualquer época da
existência do ser humano. As pequenas ajudas a cuidar de crianças, é um tipo de
apoio frequente entre mãe e filha, podendo contudo, surgir a personagem da sogra,
que integram uma forte rede de solidariedade e ajuda preciosa. O apoio emocional e
moral, símbolo de confiança e conforto, baseia-se no conversar e, muito importante,
saber ouvir os conselhos dos mais velhos, de forma a, escolher o caminho certo para
as suas vidas. Apoio prestado, geralmente mais visível, em situações de crise. Esta é
uma tipologia reconhecida por qualquer pessoa que a lê, em praticamente todos os
apoios o leitor revê-se.
Estes apoios resultantes das trocas entre os agregados familiares de gerações
distintas poderão, por vezes, ser confundidos com solidariedade entre os mesmos.
Tendo consciência da importância do papel do suporte familiar e dos apoios dele
derivados, os seniores nem sempre se sentem realizados. Por vezes, podem ocorrerlhes sentimentos expressos em comentários, como fiz tanto pelos meus filhos ao longo
de toda uma vida e agora que preciso deles não me ligam e nem dão valor ao esforço
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
63
Qualidade de Vida dos Seniores
de toda uma vida. A noção do dever de solidariedade e de entreajuda varia em função
do grau de parentesco e, em especial, da proximidade afectiva que se tem em relação
a esses parentes. A gratuitidade dos actos por parte dos pais, poderá, constituir-se
mais tarde e, em caso de necessidade, uma obrigação de retribuição para os filhos. A
reciprocidade surge como uma obrigação, uma vez que, o apelo à ajuda de familiares
e amigos implica uma dádiva para com os que ajudam. Contudo, esta gratuitidade em
casos extremos, poderá levar a um controlo, um tanto ao quanto, excessivo, por parte
do auxiliador. Os familiares que cuidam dos pais ou outros parentes de mais idade,
vivem uma miscelânea de sentimentos que, circundam a obrigação, o amor e o afecto.
Os seniores quando, infelizmente, precisam de apoio na prestação de cuidados,
tendem a exigir rigor, quer nos horários quer nos próprios cuidados em si. (cf.
Pimentel, 2005:68-73).
Como em todas as idades, existem pessoas que se conformam com qualquer
coisa, tudo está bem para eles, mas inversamente, surgem os “autoritários” que
querem “mandar” nos prestadores, exemplificando insistentemente como se prestam
correctamente os cuidados. Barros de Oliveira (2005) culpabiliza os seniores, embora
não o façam por mal, quando se queixam de episódios hipocôndrios, usando esta
arma como uma forma mais ou menos inconsciente de “chamar a atenção”, de apelar
ao carinho e eventualmente de fazer chantagem ou de se “vingar” da frieza ambiental.
O conflito poderá surgir nestas ocasiões. O aconselhável será assegurar os cuidados
no domicílio dos seniores o que lhe transmite confiança e auto-estima.
Mas afinal quem é o prestador de cuidados? Como será efectuada a selecção
entre todos os elementos da família? A disposição e capacidade da família para
assumir a responsabilidade a longo prazo por familiares seniores dependem de um
conjunto de circunstâncias e motivações (Lage, 2004) referidas por Paúl e Fonseca
(2005:205). A autora define o cuidado informal como “(…) prestação de cuidados a
pessoas dependentes por parte da família, amigos, vizinhos ou outros grupos de
pessoas, que não recebem retribuição económica pela ajuda que oferecem”.
Frequentemente é o sexo feminino que, automaticamente se associa a tais funções
(cf. Brito, 2002; Lage, 2004; Lesemann e Martin, 1993; Miller e Cafasso, 1992; Wolf,
Freedman e Soldo, 1997), Lage (2004) faz ainda referência, ao facto, das esposas
serem a primeira fonte de assistência no cuidado (cf. Brody, Litvin, Albert e Hoffman,
1994; Carrero, 2002; De la Cuesta, 1995; Hashizume, 2000; INSERSO, 1995). No
entanto, não será só o género o factor determinante para se eleger um prestador de
cuidados, outros factores deverão ser reflectidos, como a idade, a disponibilidade
física, tempo disponível, a actividade profissional e, muito importante a aptidão para
desenvolver tal tarefa. Sabe-se que, dentro de uma família a prestação de cuidados
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
64
Qualidade de Vida dos Seniores
não consegue ser repartida equitativamente, existindo geralmente, um elemento que
assumirá o papel de “cuidador principal”, como Lage (2004) referida por Paúl e
Fonseca (2005:206) denomina. Quando um cuidador principal assume cuidar de
alguém, fá-lo também em função de motivações. Alguns membros das famílias tomam
a decisão de ser cuidadores porque acreditam que cuidar de um familiar é uma
responsabilidade moral, assumindo também que não querem sentir-se culpados mais
tarde (INSERSO, 1995; Wilson, 1992) referidos por Paúl e Fonseca (2005). Para
outros, cuidar do seu familiar significa um sentimento do dever cumprido, ou seja, um
acto de reciprocidade (Paquet, 1995). O reconhecimento social e familiar funcionam
também como motivações para os familiares assumirem o papel de cuidador principal
(Quaresma, 1996).
O conflito assume outras proporções quando se abordam as questões ligadas
aos custos inerentes à prestação de cuidados. Se um elemento assume já, a
prestação deste tipo de apoio, não será correcto, ser o único a suportar todas as
responsabilidades e despesas. Para clarificar esta situação, Coenen-Huther et al.
(1994) tomados por referência por Pimentel (2005:74) defende que, o tipo de normas
que estão na base da negociação, variam em função do tipo de coesão do grupo
familiar e podem respeitar vários princípios, entre eles, o princípio de “estatuto”,
baseado na norma de igualdade que determina a repartição dos esforços em iguais
proporções pelas pessoas com o mesmo estatuto dentro da família, direitos e deveres
surgem a par, independentemente dos recursos e necessidades de cada um. O
princípio de “efeito” baseado na norma de equidade em que os recursos e as
necessidades são comparadas e em que cada um se envolve de acordo com as suas
responsabilidades e de acordos com os efeitos desejados sobre o individuo que
recebe a ajuda. Por seu turno, o princípio de “contrato” resulta de uma negociação e
de um acordo entre todos os agentes envolvidos, em que as decisões conjuntas
determinam a prestação de cada um.
O apelo ao envolvimento da família e dos amigos não deve partir do
pressuposto que estes têm a obrigação de cuidar em quaisquer circunstâncias, deve
ter em consideração que existem factores de ordem emocional, material, profissional e
pessoas que dificultam esse mesmo envolvimento (Pimentel, 2004). Ajudar qualquer
pessoa dependente, seja ela sénior ou criança, não se constitui numa tarefa fácil. Não
é fácil para qualquer pessoa lidar com alguém que com o passar dos dias, meses ou
anos não evolui, não são visíveis sinais de melhoras, a autonomia é nula e a
dependência total. Esta situação leva qualquer pessoa ao desespero e a experimentar
sentimentos de inutilidade face à qualidade de vida do “doente”. Depressões são uma
constante entre os cuidadores. “Cuidar de um familiar idoso é uma experiência cada
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
65
Qualidade de Vida dos Seniores
vez mais normativa que obriga as famílias a definir e redefinir as relações, obrigações
e capacidades, podendo constituir uma experiência física e emocionalmente
stressante para indivíduos e famílias” (Pearlin e Zarit, 1993) citados por Paúl e
Fonseca (2005:209). Talvez por isso cuidar de um familiar sénior seja, segundo
Wullschlegger, Lund, Caserta e Wright (1996), um dos acontecimentos mais
perturbadores na vida dos indivíduos.
Barros de Oliveira (2005:97-101) realça que, não são só os familiares e as
instituições sociais as únicas detentoras do dever de apoiar e confortar os seniores,
partilha esta responsabilidade com os responsáveis da Nação para cumprirem
minimamente o que diz a Constituição da República Portuguesa que dedica aos
seniores o artigo 72, deste modo, nos termos do ponto 1 do referido preceito legal “As
pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condições de habitação e
convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia e evitem e superem o
isolamento ou a marginalização social. O ponto 2 designa que “A política da terceira
idade engloba medida de carácter económico, social e cultural tendentes a
proporcionar às pessoas idosas oportunidade de realização pessoal, através de uma
participação activa na vida da comunidade”. Bom era se todos estes preceitos legais
se concretizassem, o que na grande maioria das vezes não é perceptível. Desta feita
cabe à família o papel de apoio de retaguarda.
Com o aumento da esperança média de vida as famílias são chamadas a
assumirem cuidados complexos e de longa duração, com maior regularidade, o que
interfere na dinâmica e funcionamento familiar, trabalho e responsabilidades sociais
(Lage, 2004) referida em Paúl e Fonseca (2005:224). Em casos extremos, quando o
núcleo familiar não apresenta condições de sustentabilidade, não só emocional mas
também em termos de carga horária, a última alternativa será o recurso a instituições,
não necessariamente em regime de internamento. Contudo, o internamento é a
primeira associação que fazem ao ouvir falar de instituições. Pimentel (2004: 43)
refere-se à existência de uma tentativa de desculpabilização face à incapacidade de
resposta da rede de parentesco, procurando encontrar justificações que não se
prendem com a falta de vontade e com o desprendimento afectivo, mas com a
existência de condicionalismos externos, como a actividade profissional. Razões como
estas, levam os seniores a enfrentar a sua autonomia até ao limite preservando a sua
independência até mais tardiamente possível. Lage (2004) referida em Paúl e
Fonseca, 2005), perante este cenário, põe a tónica nos serviços comunitários que,
deverão intervir o mais cedo possível juntos dos prestadores de cuidados e de toda a
família, de forma a, reduzir o desgaste físico e psicológico causados pela
dependência.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
66
Qualidade de Vida dos Seniores
É, então inegável, a importância da rede familiar para os seniores, e sendo
estes a maior arma de todo o tipo de apoio, os amigos desempenham também um
papel de crucial importância em contributo para o bem-estar social, sentimento de
integração social e permanência dos contactos sociais. Os amigos são como que um
elo de ligação ao processo de socialização. Este processo não ocorre só nos mais
velhos, sendo visível em qualquer idade e etapa das nossas vidas.
O papel dos seniores neste espaço de trocas na rede familiar é tanto mais
rentável e produtiva quanto maior for a sua autonomia. A dependência de familiares,
associada ou não a conflitos, é uma realidade das pessoas com avançado declínio das
faculdades cognitivas e físicas. Não necessariamente inerentes à idade, conduzem a
um certo grau de dependências dos demais. Contudo, são muitos os seniores que
permanecem nas suas casas, com elevada autonomia funcional, não tendo, uma
dependência total dos filhos ou parentes. Nestes casos, o único tipo de dependência
existente será a emocional que, à qual qualquer um de nós é dependente.
No seio familiar os seniores podem assumir funções que despertam
sentimentos de utilidade, participando na vida dos seus netos. Esta é uma função,
geralmente, venerada pelos avós que, em muitas vezes lhes devolve a razão de viver.
Analisaremos então esta relação.
Ser avôs: alegria vs conflito
Ser avô significará uma felicidade tão profunda cujos sentimentos serão difíceis
de explicar. Ser avô, segundo Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004:39-43), “é um dos
sonhos de quase todos nesta etapa da vida, este laço é sentido como a concretização
do desejo de continuidade (sobreviver à morte), oferece a possibilidade de exercer
uma variedade de papéis e a oportunidade de interacções significativas. Na verdade,
avós e netos podem aproveitar uma relação que não é complicada por
responsabilidade, obrigações e conflitos (como, geralmente, acontece entre pais e
filhos).“ Esta nova posição familiar envolve todo um conjunto de sentimentos, não só
os direccionados de avôs para netos, como o amor, carinho, admiração, mas também
para os próprios avôs que intrinsecamente experimentam sentimentos como a
satisfação em dar continuidade à família e, por outro lado, é-lhes devolvido a
responsabilidade e utilidade na educação e cuidados para com os netos que, há muito
tempo estavam adormecidos.
Neugarten e Weinstein (1968) como referência para Sousa, Figueiredo e
Cerqueira, 2004) definiram cinco estilos de papéis desempenhados pelos avós: formal,
divertido, substitutivo, autoritário e distante. Os avós formais comportam-se de acordo
com o que lhes parece ser o seu papel de avô, mantendo bem clara a diferença em
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
67
Qualidade de Vida dos Seniores
relação ao papel parental, o qual tem implícita a total responsabilidade da criança. Nos
avós divertidos predomina uma atitude, toda ela informal e lúdica em que, ambos não
passam de colegas de brincadeira, onde a satisfação é mútua. Os avós substitutivos
tendem a assumir as responsabilidades educativas na ausência, total ou parcial, dos
pais. No extremo, encontramos os autoritários que colocam os pais dos netos numa
posição de subordinação que é aceite por ambas as partes. Esta situação poderá
encontrar explicação em ressentimentos passados e podem estar ligados à
dependência económica. Os distantes, são os avós que mantém apenas contacto com
os netos em ocasiões especiais (festas), muitas das vezes, esta situação poderá ser
vivenciadas dada a distância entre as casas de pais e avós.
A educação dos netos/filhos constitui-se num obstáculo à plena relação do subsistema parental. Os avós, muitas vezes, interferem demasiado na educação dos
netos e, nem sempre, vão ao encontro dos modelos comportamentais adoptados pelos
pais. Os netos andam na “corda bamba” e, geralmente optam por seguir os modelos
dos mais benevolentes que, normalmente, são os dos avós. Esta é uma realidade
geradora de conflito entre os pais e os pais dos pais. Barros de Oliveira (2005) falanos da alegria, por um lado e, da possível causa de conflito e preocupação, por outro
que, são os netos. Estes dão trabalho mas também novo sentido à vida, muito embora
que, muitos avós tentem hoje a envolver-se menos na educação para ficarem mais
livres e porque as crianças podem, desde cedo, ir para berçários, infantários ou para a
pré-escola, além de haver outras instituições que ocupam as crianças nos tempos
livres, na ausência dos pais. Não obstante, em geral pode considerar-se positiva, ou
até muito positiva, a interacção dos avós na educação dos netos, desde que tenham a
aptidão e não se sobreponham, contradigam ou critiquem os pais das crianças, antes
colaborarem generosamente segundo as linhas pedagógicas estabelecidas pelos pais.
O autor conclui que, de qualquer modo, a influência dos avós na educação dos netos
depende de muitos factores, como a idade, a formação e personalidade dos próprios
avós, da idade e personalidade dos filhos, da medida em que precisam da intervenção
dos pais (avós) e de outras circunstâncias. Kropf e Burnette (2003) citados por Barros
de Oliveira (2005:100) consolida todas estas ideias ao afirmar que, “a presença doa
avós é benéfica em casa e são inegáveis as vantagens de uma “educação
intergeracional”.
Os netos podem ainda funcionar como força inspiradora para a vida. Para
Thomas (1986) referido por Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004) as avós retiram
maior satisfação do seu papel do que os avôs. Para ambos trata-se de aproveitar a
oportunidade para estabelecer uma relação gratificante de carinho e afecto, mas para
as avós trata-se, ainda, de uma oportunidade de exercer novamente uma série de
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
68
Qualidade de Vida dos Seniores
competências nas quais se sentem peritas. Ser avó deverá dar a liberdade de
dispensar toda a atenção que, em tempos não pode dar aos filhos, pois os tempos
eram outros, expressão que vulgarmente todos ouvimos.
Usualmente diz-se que ao avós fazem todas as vontades aos netos e, na sua
grande maioria, diz ser maior o amor de avô que de pai. Só quem é avô poderá
confirmar e confrontar estas duas formas de amar. Estes cuidados prestados de avósnetos são sempre, salvo raras excepções, prestados na casa dos avós. Estar na sua
casa enaltece sentimento de pertença e de maior à vontade para o desempenho de
tais funções.
Podemos afirmar, desta feita, que a relação intergeracional avós-netos é
caracterizada por uma dualidade de comportamentos. Não haverá margem para
dúvida que, a maior alegria para os avós é estabelecer uma relação estreita com os
seus netos mas a contrapartida conflitual surge quando esta relação é levada
demasiado a sério, querendo os avós imperar na educação dos netos que, por
algumas vezes, passam normas educacionais contraditórias às ensinadas pelos pais.
Assim, poderemos testemunhar o conflito entre avós e pais e não entre os mesmos e
os netos. A relação conflitual, normalmente, não se assiste para com os netos/filhos.
Contrariamente, a alegria pode ser visível em qualquer relação que envolva as três
gerações. Contudo é sempre demasiado gratificante a manutenção destes laços
intergeracionais benéficos para qualquer elemento familiar.
O doce lar
Tal como era referenciado no ponto anterior a importância do lar, quando nos
referimos que, os cuidados de avós-netos são, maioritariamente, prestados na casa
dos avós, estava já implícita a relevância que os seniores dão à sua própria casa.
Segundo Zimerman (2005), se a casa têm muita importância para a maioria
das pessoas, para os seniores, esta assume um papel ainda mais relevante, uma vez
que, é dentro dela que eles vão passar a maior parte do tempo. O bem-estar
psicológico deste grupo etário está vinculado à sua satisfação em relação ao seu
ambiente residencial. A casa para os mais velhos adquire um significado psicológico
único, uma vez que há grandes laços afectivos através da memória ao seu “cantinho”,
é nela que se sentem seguros. Através do tempo, os seniores apegam-se de uma
forma muito especial à sua casa. É o seu porto seguro. Neste conjunto de sentimentos
encontramos os associados às recordações do percurso de vida, de modo que lhe
seja possível mater “vivo” o seu passado com um sentimento de continuidade e
identidade, protegendo-o contra as transformações que vão ocorrendo na sociedade.
E, ainda um sentimento de auto-estima positivo, dado que, o sénior ao manter-se na
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
69
Qualidade de Vida dos Seniores
sua casa demonstra aos outros que ainda mantém a sua autonomia e independência.
Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004) ressaltam a importância da casa na sua
dimensão integral de independência, símbolo do sentido de integridade pessoal. A
residência habitual de anos tem várias funções profundas na vida de qualquer pessoa,
em especial dos seniores por um lado, a segurança objectiva contra a adversidade do
meio ambiente e, por outro, a segurança subjectiva contra o medo. A casa é símbolo
de local de intimidade e privacidade individual e familiar, lugar de identidade, pois a
decoração, os móveis e o ambiente reflectem a individualidade de cada indivíduo. A
nossa casa é um depósito de lembranças que nos permite dar continuidade ao
passado e ao presente.
E porque, como já foi referenciado neste trabalho, os seniores vão
experimentando um certo declínio das suas capacidades de locomoção, de agilidade,
de memorização, entre outros. Para que a sua saúde não esteja mais em risco,
Zimerman (2005) enumera alguns cuidados a ter na casa onde vivem. Estas são
algumas das preocupações que se deve ter, de entre muitas, destacaremos algumas,
como cuidar a orientação solar do prédio para evitar mofo e o uso de ar condicionado,
muitas vezes prejudicial ao sistema respiratório; procurar pisos antiderrapantes em
todos os ambientes; evitar tapetes soltos e, em caso de serem usados, colar na parte
debaixo das borrachas especiais para impedir que deslize; providenciar iluminação
adequada, que permita boa visibilidade; prever iluminação de emergência para os
casos de falta de luz; evitar colocar o televisor no quarto, pois dormir com ele ligado
prejudica a qualidade do sono; utilizar corrimões em todas as escadas e, se
necessário, em circulações, etc.
O autor deixa o conselho de que, quanto maiores os cuidados, mais conforto e
segurança física e psíquica terão os seniores, promovendo assim, uma melhor
qualidade de vida e uma significativa redução das quedas e outros acidentes comuns.
Os momentos de solidão
A existência de netos, na sua relação estreita, afasta dos seniores sentimentos
como a solidão. Contudo, nem todos terão a oportunidade de saber o que é ser avô,
ou não poder estabelecer relações de proximidade com eles, por seu turno, a não
alimentação de novos contactos, a não participação activa na sociedade, entre outras
perdas, poderão mostrar o caminho para o desabrochar de sentimentos de instância
negativa.
“A solidão é uma experiência excessivamente penosa que se liga a uma
necessidade de intimidade não satisfeita, consecutiva a relações sociais sentidas
como insuficientes ou não satisfatórias” (Berger, 1995:387). Contudo, e uma vez que,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
70
Qualidade de Vida dos Seniores
falamos em famílias, estamos a abordar a solidão enquanto angústia, não só sentida
em relação ao mundo exterior, mas também e, principalmente o sentimento de solidão
em relação aos seus próprios parentes. No entanto, certamente se entende que, estes
sentimentos, por sua vez, estão mais voltados para o mundo das relações e contactos
sociais. Pitaud (2004) defende a não existência de uma definição única para a solidão.
Mas arrisca-se a dizer que, “a solidão é antes de tudo uma experiência subjectiva,
muito frequentemente apercebida como uma experiência negativa, penosa associada
a afectos negativos”.
Os sentimentos de solidão são, muitas vezes, experimentados nesta altura. Os
filhos têm uma actividade profissional activa, têm um lar, têm filhos e o tempo
disponível esgota-se a dar resposta às suas responsabilidades. Esta situação agravase quando a área de residência de ambos é distante, os filhos têm já, de dispor de
imenso tempo para visitar os pais o que reduz a assiduidades dos encontros. Contudo,
“A proximidade não é condição para a solidariedade, mas facilita grandemente os
contactos e a interacção” (Pimentel, 2005:69). O convívio entre gerações assume-se
como uma lufada de ar fresco para o dia-a-dia pacato da maioria dos avós. Kaufman e
Adams (1987) referidos por Phitaud (2004) salientam o facto dos sentimentos
associados
à
solidão
serem
mais
frequentes
nas
pessoas
mais
velhas
cronologicamente. A solidão, para este grupo etário, poderá encontrar explicação
numa maior incidência de incapacidade física, desaparecimento da rede social, maior
probabilidade de perda do cônjuge e dificuldades de mobilidade. Quanto mais as
pessoas pensarem na precariedade da sua saúde maior a diversidade de sentimentos
associados à solidão conhecerão.
Muitas vezes são confundidos os conceitos de solidão e isolamento. O que
aqui se fala é unicamente de solidão. No entanto, importa distinguir os conceitos para
elucidar melhor o leitor. Assim, o isolamento é um facto, quando alguém reside isolado
do mundo, quando as relações sociais são praticamente nulas e as hipóteses de
convívio basicamente inexistentes. Por sua vez, podemos viver numa casa cheia de
gente e nos sentirmos sós, estar ligado a um centro de convívio, onde diariamente
estão dezenas de pessoas, e sentirmo-nos sós, sentimos o verdadeiro sentido da
solidão. A solidão é um sentimento e não um facto. Para Phitaud (2004:50) “a solidão
não é mais do que uma expressão da ordem da relação”. Para Russel et al (1984) no
indivíduo, ela corresponde a uma percepção de “deficiência” da rede de relações
sociais.
A diminuição progressiva da visão, da audição, a insegurança no andar, a
doença, a incapacidade e a dependência que se vão instalando constituem-se
experiências negativas que poderão conduzir à solidão, se os seniores não tiverem
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
71
Qualidade de Vida dos Seniores
apoios familiares ou socais a que possam recorrer para suavizar estes problemas. A
auto-estima funciona, aqui, como o equilíbrio, entre o bem-estar social e a solidão. As
pessoas queixam-se de solidão quando o tipo de relações que têm é reduzido e pouco
satisfatório ou quando perdem o cônjuge, estando já a morar novamente sós. Uma
relação harmoniosa com outras pessoas, ter com quem partilhar interesses ou simples
comentários sobre o estado do tempo, substitui muitas vezes, com vantagens, as
relações de dependência pais-filhos. (Fernandes, 2000).
Victor, et al. (2000) referidos por Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004)
desenhou o modelo de relações entre recursos, acontecimentos de vida e
solidão/isolamento social. No mesmo analisa-se a influência de vários factores sóciodemográficos, de onde tira as seguintes conclusões: as pessoas que vivem sós são
mais sujeitas a solidão; solidão e isolamento são mais comuns entre os “grandes
seniores” (não se tratando de um efeito da idade, mas de factores que lhe estão
associados, tais como a deteorização da saúde); as mulheres são mais propensas a
sentir solidão e isolamento (talvez por terem mais facilidade em assumi-la); os
seniores operários sentem-se mais sós, sobretudo porque as classes mais baixas
mantêm mais contactos baseados na família, enquanto as mais altas fomentam as
amizades. Quanto aos recursos, percebe-se que as redes sociais, pessoais, mais
amplas, são mais protectoras. Paralelamente, as relações com amigos mais próximos
previnem mais a solidão do que as relações com familiares, por exemplo, a falta de
cônjuge e filhos pode levar a maior isolamento, mas as amizades íntimas podem tomar
o lugar da família. Aos acontecimentos de vida, como a viuvez, é reconhecido como
factor associado à solidão e isolamento social numa variedade de culturas e contextos.
A solidão é mais profunda nos momentos iniciais, principalmente se não é mediada
pela presença dos filhos. A reforma, migração, dependência ou outros eventos que
contenham o sentimento de perda de papéis anteriores importantes, também se
associam ao aumento dos níveis de isolamento e solidão. Invariavelmente a
institucionalização, ou andar em sistema de rotatividade pela casa dos filhos, reforçam
também os sentimentos de solidão. O baixo estado de saúde, a má condição física e
problemas de saúde mental, em especial a depressão, fortalecem a solidão e
isolamento. Mas, neste caso, a relação é mútua: a solidão causa problemas de saúde
e vice-versa. No que se refere aos rendimentos, há pouca investigação, no entanto, a
tendência à que aqueles que têm mais dinheiro sintam menos o isolamento e solidão.
A espiritualidade tem-se revelado um factor protector em relação à solidão e
isolamento social.
De referenciar que os autores interligam isolamento a solidão. Para eles, “o
isolamento social está intimamente ligado à solidão”, referindo-se “à integração de
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
72
Qualidade de Vida dos Seniores
pessoas e grupos com a comunidade e caracteriza-se pela falta de comunicação e
manutenção de contactos mínimos”. A solidão é vista, como “uma noção (sentimento)
subjectiva”, referindo-se “à percepção de privação de contactos sociais ou falta de
pessoas disponíveis ou com vontade de partilhar experiências sociais e emocionais.
Essencialmente, trata-se de um estado em que o indivíduo tem potencial e vontade
para interagir com os outros mas não o faz, isto é, há discrepância entre o desejo e a
realidade das interacções com os outros” (Ibidem, 2000:46-48). Esta distinção ou
melhor associação, é necessário para demonstrar os diferentes formas de se abordar
a solidão. No entanto fica a ideia que, será preferível abordar ambos os conceitos
separadamente.
A solidão poderá encontrar uma das suas causas na morte do cônjuge que,
nesta etapa da vida, é a figura mais próxima. As perdas constituem-se em
acontecimentos desgastantes e desmotivadores para qualquer pessoa, mas na recta
final da vida, acredita-se que, nutrem sentimentos mais dolorosos. Veremos, em
seguida, o significado destas perdas e como encaram, os seniores, a chegada da
morte.
As perdas e a ansiedade pela morte
O nascimento, a velhice e a morte são fenómenos universais, inelutáveis, mas
que são também pessoais e únicos (Berger, 1995). Embora fenómenos universais não
são vividos e/ou ultrapassados de forma igual por todos os indivíduos. “A morte
constitui-se num fenómeno físico, psicológico, social e religioso que afecta a pessoa
na sua totalidade: corpo, espírito, emoções, experiência da vida. A morte seja a nossa
ou a dos outros, é uma realidade difícil de aceitar porque nos lembra constantemente
o carácter limitado da vida. Para compreender o fenómeno da morte, é preciso ser
capaz de a considerar como uma etapa aonde cada ser humano chega com aquilo
que é e com aquilo que foi” (Ibidem, 1995:510).
A aproximação à morte vai-se tornando num tema cada vez mais pertinente e
temido, à medida que os anos vão passando. Na velhice, pensa-se qual será o meu
dia? De que forma irei morrer? Irei sofrer? São estas as interrogações que atormentam
aqueles que vêem que ela está perto. Contudo, não se pode associar, totalmente
morte a velhice. Na maioria das vezes, as pessoas mais velhas morrem de doenças
crónicas, morrer de velhice, não é tão comum, como se pensa. Contudo, deverá
“custar menos” abandonar o mundo por velhice do que por doença. Ninguém deseja
morrer em sofrimento. “Aceita-se” a morte quando já se viveu os acontecimentos mais
marcantes, por exemplo, ser pai, avó, acompanhar e participar no crescimento dos
filhos e, se possível, dos netos, ver os filhos a casar e a se formarem. Howarth (1998)
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
73
Qualidade de Vida dos Seniores
revela a preocupação dos seniores pela morte dos outros, assim, por ordem
decrescente, a morte do cônjuge, irmãos e filhos. Em relação aos filhos sentem,
injustiça pela lei da vida, quando estes são os primeiros a partir.
O próprio acontecimento em si está já envolto de imensa nostalgia. A morte
surge como um enigma a que nenhum ser humano consegue responder. Barros de
Oliveira (2005:104-110), neste encadeamento refere-se à tanatofobia, como “medo do
evento em si, medo do que acontecerá depois e ainda ao medo de “deixar de ser””.
Tudo o que o rodeia é incógnito, não existem certezas. O medo pela morte está ligado,
segundo o autor, ao tempo (quando morrerei?) ou a outras circunstâncias (como, onde
morrerei?). O autor cita Cícero (1998) “infeliz daquele que, numa existência tão longa,
não terá chegado à conclusão da que se deve desprezar a morte! Deve ela ser ou
ignorada, se elimina a alma por completo, ou até mesmo desejada, se a conduz para
algum lugar onde virá a ser eterna (…) O tempo para se viver, ainda que breve, é
suficientemente longo para se viver bem e com honra (…) Sem tal reflexão ninguém
pode estar de espírito tranquilo”. Cícero defende a imortalidade, para o autor, a vida
continua no pós-morte e as almas não conhecem a morte. Acrescenta, não valer a
pena chorar a morte dos que partem. Fácil é falar e escrever sobre estes assuntos,
difícil é passá-los. Embora acredite na vida para além da morte, sendo que, o nosso
futuro desta vez está nas nossas almas, o acontecimento da morte física é muito
doloroso para qualquer mortal. Não existe imortalidade a não ser da alma, pois a
morte física é um facto. Quem já teve a infelicidade de perder pessoas muito próximas,
compreenderá o que aqui se escreve. Agrava quando alguém que amamos, do nada,
parte à nossa frente, diante de nós, morre, a impotência passa pelo nosso corpo todo
e, nem Deus é perdoado. Não digam que não devemos chorar. Impossível!
“A tendência social e cultural para esconder a morte, as distâncias geográficas
que separam os membros da família nos momentos da morte e morrer e a prática da
tecnologia médica tornam o processo de adaptação à perda mais difícil, pois retiramna da realidade quotidiana, ao mesmo tempo que confrontam com decisões, sem
precedentes, relativas a prolongar ou terminar a vida” (Sousa, Figueiredo e Cerqueira,
2004:51). A perda associada à morte pode ser a nossa própria morte, a do cônjuge,
filho ou pai, amigo, em todos os casos são morte e exige a adaptação de mecanismos
para
ser
ultrapassada.
Segundo
Howarth
(1998),
os
seniores
assumem
comportamentos muitos diferenciados em relação à morte, afirma que, uns estão
preparados, enquanto que outros vivem o momento presente apegados à vida, sem
pensar muito a longo prazo. O autor faz referência a diversas dimensões ou
concepções sobre a morte, entre elas, a sua natureza (boa ou má morte), o grau de
controlo sobre o momento dramático da vida, modos de tornar a morte mais
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
74
Qualidade de Vida dos Seniores
significativa e problemas relacionados com o pós-morte. Por sua vez, Barros de
Oliveira (2005) refere que, independentemente do grau de tanatofobia, de acordo com
a sua maturidade psicológica, religiosidade e outras variáveis, o sénior desenvolve
diversas formas da lidar (coping) com a situação, usando também diversos
mecanismos de defesa mais ou menos frequentes e intensos, como a somatização
(hipocondria), a sublimação, a agressividade, a racionalização, a dissociação, a
negação, e ainda mecanismos mais positivos, como o humor e o altruísmo.
Estudos escasseiam neste tema. No entanto, faremos referência a Rasmussen
e Brems (1996) referidos por Barros de Oliveira, 2005), que concluíram que, a
ansiedade face à morte estava negativamente correlacionada com a idade, isto é, que
o medo da morte decresce, embora ligeiramente, com a idade e principalmente à
medida que cresce a maturidade psicossocial, em que tal maturidade ou
desenvolvimento psicossocial seria o principal factor a mitigar o medo da morte.
Kastenbaum e Eisenberg (1983) partilharam as mesmas conclusões. Depaola et al,
(2003) acrescenta que o medo de morrer é mais elevado na mulher.
Pelo senso comum, sabe-se que, não podemos generalizar as perdas à morte.
Ao longo da vida são muitas as situações de perda que se tem de enfrentar.
Infelizmente estas situações acontecem com grande frequência. Estaremos a falar de,
divórcio (perda do cônjuge), casamento dos filhos (perda física do filho), reforma
(perda da actividade profissional), diminuição das relações e contactos sociais (perda
de amigos), alteração de residência (perda do habitat natural e de todos os
sentimentos de pertença, não só ligados à casa e objectos, mas também à cidade).
Todas estas perdas exigem mecanismos de defesa e de superação. Cada qual com a
sua intensidade, tendo em conta, o grau de dependência associado à perda.
Considerando o cenário supra relatado percebermos que não é fácil a decisão
de viver numa instituição e não deve ser tomada de ânimo leve ou apenas porque os
outros assim o desejam. São inúmeras as questões inerentes a tomada de decisões
como esta. A sociedade marginaliza quem está institucionalizado. A família, por
variadas razões, pensa ser o caminho melhor e a situação mais benéfica para todos.
Sentimentos de solidão são experimentados. E, constitui-se, talvez uma das maiores
perdas. A pessoa perde tudo o que tinha, tudo o que havia construído, a sua realidade
passa a ser uma incógnita num espaço que lhe é totalmente estranho.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
75
Qualidade de Vida dos Seniores
2.2.4 A institucionalização
Até ao século XIX, o apoio de que os seniores necessitavam era garantido pela
solidariedade familiar ou pela caridade de alguns particulares ou instituições religiosas
(Pimentel, 2005). No entanto, assiste-se ao surgimento de novas formas de
organização familiar. Apesar da família ser a unidade básica de suporte, seja em que
idade for, uma série de condicionalismos como, precariedade económica, fraca saúde,
enfraquecimentos de laços familiares, isolamento e solidão podem conduzir qualquer
indivíduo e a própria família a recorrerem à institucionalização. A mais marcante, a
entrada das mulheres para o mercado de trabalho e a sua consequente afirmação. É
cada vez mais difícil nomear as diferenças entre géneros. As mulheres cumprem a
mesma carga horária que os homens na sua actividade profissional, em casa, ambos
assumem o papel de pais e, ainda surge a manutenção do lar e da rede de suporte. A
família, fruto do processo de globalização, cada vez menos, vai conseguindo manter
activos os laços entre os seus membros assegurando os cuidados necessários.
Aos seniores dependentes restam poucas alternativas. Pimentel (2005:58)
afirma que,
“A institucionalização surge normalmente, para a família ou para os idosos sem
família, como a última alternativa, quando todas as outras são inviáveis. Se é
verdade que a perda de autonomia física é um factor determinante na opção do
internamento, e que muitos dos idosos que residem nos lares são fisicamente
dependentes, o facto é que, associados a esta dependência física, surgem
outros factores que, por vezes, condicionam mais fortemente a decisão”
(Ibidem, 2005:58).
Os estudos apontam como principal motivo para o internamento, não os
problemas de saúde e a consequente dependência, mas o isolamento. É a
inexistência de uma rede de interacções que facilite a integração social e familiar do
sénior e que garanta um apoio efectivo em caso de maior necessidade que se assume
como facilitador para um internamento. A fase da vida em que o sénior entra para uma
instituição é encarada como a recta final da sua vida, sem qualquer expectativa de
retorno e esperança na manutenção da sua condição de vida (Ibidem, 2005).
Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004) fazem referência a três momentos típicos
em que se começa a desenhar o cenário da institucionalização: com a morte do
cônjuge o sobrevivo terá de se habituar a viver sozinho, sentindo algum incómodo com
a ideia, normalmente, pelo medo que algo lhe aconteça e não esteja ninguém por
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
76
Qualidade de Vida dos Seniores
perto para o acudir; após uma queda ou uma doença, os seniores começam a atribuir
barreiras arquitectónicas nas suas casas (tem muitas escadas) ou na localização
(longe dos cuidados de saúde e da família) e optam por se mudar para outro local.
Optar por este tipo de apoio formal, implica um processo um tanto ao quanto lento e
de longa duração. As autoras reforçam a ideia de que, um destes momentos costuma
anteceder a ponderação de ir para um lar. Tomar esta decisão não deve ser fácil para
ninguém, processo igualmente doloroso, quer para a família como para o sénior. O
levantamento e visitas a todos os lares são imprescindíveis. Não nos podemos
esquecer que estamos a escolher uma “casa” para um ser humano. As autoras
(Ibidem, 2004) dão primazia à participação do sénior no processo de escolha.
Sugerem quatro tipos: preferencial, estratégica, relutante e passiva. Passando a
explicar, a preferencial caracteriza-se por o próprio exercer o direito de decisão.
Ocorre perante alterações nas circunstâncias de vida, que levam o sénior a ponderar a
ida para um lar como a melhor alternativa, geralmente acontece após a morte do
cônjuge ou quando se está dependente de terceiros e sentem-se uma sobrecarga. A
participação estratégica exprime um planeamento do sénior ao longo da sua vida no
sentido de adoptar esta solução. E ocorre quando, antecipadamente, o sénior efectua
a sua pré-inscrição num lar, torna-se sócio ou inicia um processo de visitas a todos os
lares. Este tipo de participação é essencialmente assumida por solteiro, viúvos ou
quem não tenha filho, pois têm consciência da sua fraca ou inexistente rede de
suporte informal. A participação relutante na escolha de um lar expressa-se quando o
sénior discorda em ser internado num lar. Situação bastante dolorosa, uma vez que, é
forçado pela família ou por técnicos, a adoptar uma opção que não é a sua. Esta
atitude por parte dos técnicos encontra explicação em situações de extrema pobreza,
incapacidade ou doença grave ou se, porventura, se encontra só no mundo. Por sua
vez, uma participação passiva ocorre quando a escolha de um lar decorre da decisão
de outros sobre o nível e tipo de cuidado requerido pelo sénior e que este aceitou ou
seguiu sem questionar. Situação frequente em casos de demência.
Face à difícil situação que comporta a tomada de decisão e escolha de um lar,
Glover-Thomas (2000) em Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004:131) aponta quatro
factores a ter em conta por aqueles que a assumem. A enumerar, deve-se respeitar os
passados e presentes desejos e sentimentos declarados pela pessoa em causa e os
factores que consideraria na decisão; permitir e encorajar a pessoa a participar, o mais
possível, em tudo o quanto é feito por ela e a afecta; consultar outros membros da
rede social e pessoal acerca dos desejos e sentimentos que a pessoa incapacitada
teria e que significam muito para ela e, por fim, tentar que a acção a tomar seja a
menos restritiva da liberdade de acção da pessoa. A entrada num lar, numa nova
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
77
Qualidade de Vida dos Seniores
casa, constitui-se, num conjunto de perdas, por um lado e, por outro, em ganhos.
Aquando da entrada num lar de idosos20, o indivíduo confronta-se com a necessidade
de se adaptar a uma nova realidade que exige uma adaptação não só ao espaço
físico, mas também relacional e social, que se sucede a um conjunto de perdas. O
abandono do seu ambiente particular e familiar, status social, identidade e liberdade
são algumas das perdas são significativas e penosas para o indivíduo sénior.
Compreensível é o sentimento de vazio que tal processo faz desenrolar nas pessoas.
Pimentel (2005:60) refere que,
“sejam quais forem as circunstâncias que envolvem o internamento, este
representa para o idoso uma mudança significativa no seu padrão de vida e uma
ruptura com o meio com o qual se identifica e para o qual deu um contributo mais
ou menos valioso. O idoso encara, nestas circunstâncias, uma realidade
completamente nova e, por vezes, assustadora, com a qual nem sempre
consegue estabelecer uma relação equilibrada e tranquila. Se se torna difícil para
aquele que vive integrado na sua comunidade reorganizar o seu projecto de vida
face ao conjunto de novos factores que passam a interferir nas suas vivências
(biológicos, económicos, sociais, psicológicos, etc.), para o idoso institucionalizado
o processo torna-se necessariamente mais dramático” (Ibidem, 2005:60).
O espaço físico da instituição, na grande maioria, distancia-se bastante daquilo que
é/era a sua casa e as relações interpessoais são pautadas por outros princípios. O
processo de adaptação é tanto mais facilitado se a decisão for do tipo preferencial ou
estratégico.
A estrutura orgânica das instituições com valência de internamento, não
permite a individualização dos cuidados, ou seja, muitas das vezes não é respeitada a
personalidade, privacidade e individualidade de cada um. Por exemplo, o banho pode
ser um dos maiores obstáculos a ultrapassar, a intimidade é símbolo de
individualidade e é algo muito privado por qualquer pessoa, no banho ela está à
descoberta. Cada pessoa tem os seus hábitos, os seus padrões de vida, os seus
horários, os seus gostos e desgostos e, aquando da entrada num lar, todas estas
20
Um lar é um equipamento social que se destina a acolher pessoas com 65 ou mais anos de idade,
salvo excepções, que não possam continuar a manter-se na sua própria casa. Fornecem um vasto
número de serviços, para alem do alojamento, alimentação, cuidados médicos e de enfermagem, conforto
e higiene e actividades lúdicas e de lazer para ocupação dos tempos livres. Os lares objectivam-se em
atender e acolher os seniores cuja situação social, económica e/ou de saúde não permita resposta
alternativa; satisfação das necessidades dos residentes, apoio à família e desenvolvimento das
capacidades do seniores e do seu equilíbrio físico, psicológico e afectivo.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
78
Qualidade de Vida dos Seniores
característica uno e pessoais são comandadas pela direcção da instituição. É o sénior
que se tem de se adaptar à dinâmica institucional, em vez de, existir um esforço, nem
que seja mínimo, para serem respeitados e mantidos certos aspectos da
individualidade de cada um. Pimentel (20005:61) reforça que “a falta de sensibilização
dos agentes institucionais para a especificidade da experiência de cada indivíduo,
conduzindo à obrigatoriedade de viver de acordo com normas restritivas e de conviver
com outros indivíduos que mal se conhece, podem ser sentidas como mais
penalizadoras do que a ausência de condições materiais óptimas”. Assim cabe-nos
usar a palavra de Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2004:136) que enumeram princípios
a serem respeitados pela instituição, nomeadamente, dignidade, autonomia,
privacidade, direito de escolha e independência.
“A dignidade é limitada por interacções negativas entre o pessoal técnico e
auxiliar e os idosos, designadamente, desrespeito pela privacidade e
insensibilidade aos seus desejos e necessidades. A autonomia é ameaçada
quando os utentes (e seus familiares) não recebem a informação adequada e
não tem a oportunidade de fazer escolhas informadas em relação às actividades
e cuidados. A salvaguarda da privacidade em actividades íntimas (tais como
tomar banho) é indispensável à preservação do sentido de auto-respeito e
competência social. Ter em consideração a independência dos residentes
implica que os funcionários da instituição abram mão de algum risco calculado.
Isto é difícil, pois os funcionários sentem o dever de cuidar, o que pode ser
incompatível com deixar os residentes correr alguns riscos. Aqui há a tendência
para evitar o risco em vez de gerir o risco, mimando a sua independência,
privacidade e dignidade” (Ibidem, 2004:136).
Estes princípios, facilmente se percebem, enquanto básicos e universais. Talvez, um
dia, quando todas estas questões aqui levantadas, tiverem sido integradas, digeridas
e fazendo parte das orientações de qualquer instituição, esta tomada de decisão, seja
bem mais fácil e, quem sabe, seja tomada em primeiro lugar pelos próprios seniores.
Sabemos da escassez de vagas neste tipo de instituições, o número de
seniores subiu de tal forma que a realidade institucional para dar resposta a este
fenómeno, é para muitos, uma utopia. Quotidianamente, temos conhecimento das
longas listas de espera e da sobrelotação que, conduz cada vez mais ao aparecimento
de lares sem alvarás. A clandestinidade, muitas vezes, é aceite sem resignação, pois
não existem alternativas. Que serviços terá de ter um lar para que alguém se sinta
integrado, satisfeito e realizado? Poderemos enumerar vários serviços como, boa e
cuidada alimentação, colaboradores simpáticos e sensíveis aos seniores, serviços
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
79
Qualidade de Vida dos Seniores
médicos, enfermagem e fisioterapia, actividades de animação sócio-cultural (passeios,
e envolvimento em actividades lúdicas e de lazer), desporto (e condições inerentes à
sua prática, como ginásio e piscina), cabeleireiro, mini-mercado e lojas, etc. A listagem
é vasta, pois a intenção é proporcionar-lhes dentro do lar, uma realidade a mais
idêntica possível àquele que eles já tiveram. Esta situação é aqui referida, em casos
em que a liberdade é controlada e condicionada ao interior do lar. Às pessoas com um
determinado grau de autonomia funcional, dever-lhes-iam dar a oportunidade de
satisfação das suas necessidades fora do espaço físico do lar, se a pessoa assim o
entendesse. Obviamente que com uma dinâmica institucional assim, a adaptação e
integração realiza-se de formais muito mais simples e favorável ao sénior.
Será, então crucial humanizar as instituições, física e humanamente que, passa
por adaptá-las às necessidades e direitos do ser humano. Humanizar a dinâmica
institucional de acordo com as características dos que lá residem, assim como a
dinâmica relacional dos que colaboram com os residentes. Os técnicos assumem um
papel de relevante importância enquanto elo de ligação entre sénior e família
contribuindo e lutando para o não rompimento da intensidade das relações familiares
enquanto suporte emocional para o sénior. No entanto não se irá abordar demasiado a
institucionalização e todo o processo a ela inerente pois estaríamos a fugir aos
objectos do presente estudo.
Pretendeu-se com este capítulo expressar a grande heterogeneidade dos
processos relativos ao envelhecimento que passaram, no nosso trabalho de
sistematização teórica e organização do pensamento, pela compreensão do fenómeno
do envelhecimento em si mesmo (aspectos históricos, culturais e psicossociais), pela
compreensão do ser humano, sujeito singular que é o sénior e a sua relação com o
contexto social que o rodeia, pela análise das redes de suporte informais dos seniores
e, por fim pela abordagem a um outro fenómeno que ocorre na vida de muitos
seniores: a institucionalização. Não podemos ignorar a passagem à reforma como
uma fase normal, esta está munida de perdas, contudo não será certamente, esta
mudança que abalará o bem-estar físico e emocional de ninguém. A família surge,
desta feita aqui, enquanto líder da rede de suporte e, nos casos de fraqueza accionase os contactos estabelecidos por laços de amizade socialmente construídos. Por sua
vez, solidão será um alvo a abater, a proximidade à morte um facto iminente e sempre
inesperado do qual ninguém consegue fugir.
Muito embora, toda esta desconstrução teórica nos elucide para o fenómeno do
envelhecimento será necessário compreender, de igual modo, a qualidade de vida
avaliando os indicadores de medição subjacentes ao conceito.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
80
Qualidade de Vida dos Seniores
3. A qualidade de vida no processo de envelhecimento
Todo o processo de envelhecimento acarreta consigo um conjunto de
condicionantes, não só físicas, culturais e sociais mas também pessoais e individuais.
O envelhecimento é um processo unipessoal em que a sua evolução depende, em
grande parte, da forma como cada indivíduo encara a passagem para outro grupo
etário. Todo este processo foi estudado no capítulo antecedente, cabendo agora
entender em que medida a qualidade de vida o acompanha. Analisaremos as mais
variadas alternativas de envelhecer com qualidade de vida.
3.1 O conceito de Qualidade de Vida
A qualidade de vida comporta um conceito complexo. São várias as
significações associadas ao conceito que se tem repercutido com o passar dos
tempos. Vejamos as suas precisões terminológicas acompanhadas pela respectiva
perspectiva histórica. Enquanto indicador, a qualidade de vida comporta consigo um
conjunto de dimensões, domínios e instrumentos de medição.
3.1.1 Precisões terminológicas e perspectiva histórica do conceito
Qualidade de Vida
O interesse pelo estudo da Qualidade de Vida não é recente. A expressão
“qualidade de vida” tem sido empregue de forma cada vez mais frequente nas últimas
décadas. No entanto, “ (…) enquanto conceito científico pode revelar-se ambíguo a
não ser que seja objecto de uma definição precisa (Wolfensberger, 1994: 318).
Cummins, (1997) e Rapley (2003) procuraram efectuar um enquadramento
histórico do conceito, situando o seu aparecimento através de definições operacionais
de Qualidade de Vida na primeira metade do séc. XX, associadas a uma abordagem
economicista baseada em indicadores sociais.
Após o término da 2ª Guerra Mundial, “o conceito “boa vida21” foi usado para
fazer referência à conquista de bens materiais (possuir casa própria, carro, aparelhos
21
O conceito “boa vida” era utilizado para fazer referência à conquista de bens materiais: possuir casa
própria, carro, aparelhos electrónicos (televisão, rádio, máquina de lavar, etc.), ter aplicações financeiras,
uma boa reforma, poder viajar, etc.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
81
Qualidade de Vida dos Seniores
electrónicos) (…). O conceito foi alargado “(…) para medir o quanto uma sociedade se
desenvolvia
economicamente,
não
importando
se
tal
riqueza
estava
bem
distribuída(…)”.
Os indicadores económicos surgiram desta feita, como indicador de mediação
e comparação de padrões de Qualidade de Vida em diferentes realidades (Paschoal,
2000:19).
Com o passar do tempo, o conceito ampliou-se “(…) para significar, além do
crescimento económico, o desenvolvimento social (saúde, educação, moradia,
transporte, lazer, trabalho e crescimento individual) (…)” (Ibidem, 2000:19-20). A partir
da segunda metade do século XX termos como “felicidade”, “satisfação com a vida”,
“bem-estar”, “prosperidade”, “liberdade de escolha”, “realização pessoal” passam a
surgir na literatura associados ao debate sobre o significado de Qualidade de Vida,
dificultando a delimitação científica do conceito (Canavarro, Serra et al, 2006).
Cummins (1997) considera que o ponto de viragem da conceptualização de
Qualidade de Vida se associa a uma abordagem americana do conceito, de acordo
com o identificado por outros autores (Fleck, 1999a; Noll, 2000). Ideia esta, patente no
discurso do Presidente dos Estados Unidos Lyndon Jonhnson proferido em 1964 onde
referiu que: “a sociedade evoluída está preocupada não com a quantidade mas com a
qualidade; não com a quantidade de bens, produtos ou serviços que se possam
comprar ou adquirir mas com a qualidade de vida que estes proporcionam às
pessoas”. Neste contexto o termo reaparece, no entanto direccionado quer para o
bem-estar económico e material, bem como para o bem-estar psicológico e pessoal,
realçando a preocupação pelas dimensões sócio-política e psicológica.
Em 1990 com o Relatório de Desenvolvimento Humano assume-se vários
índices de desenvolvimento, dando enfoque aos aspectos menos materiais, no sentido
da preocupação com o desenvolvimento do sistema de saúde e do sistema de
cuidados de saúde face à qualidade de vida. A ligação do termo Qualidade de Vida ao
estado de saúde decorreu da clássica definição de saúde da Constituição da OMS
(1948) como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não
simplesmente como ausência de doença” e conhece o apogeu a partir de 1975. A
partir deste patamar começou-se a valorizar critérios mais alargados do que a
diminuição da mortalidade, aumento da esperança de vida ou controlo de sintomas,
dando maior importância a padrões de Qualidade de Vida que não fossem de índole
economicista.
Autores como Bullinger et al. (1993), Fleck (1999a) e Rapley (2003) alertam
para o facto do termo Qualidade de Vida assumir uma natureza mais geral, incluindo
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
82
Qualidade de Vida dos Seniores
mas não se centrando exclusivamente em aspectos relacionados com a saúde, a
percepção, emoções e comportamentos do indivíduo no seu dia-a-dia.
O Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
em 1994, exemplifica o que aqui foi dito, ao argumentar que até ao séc. XX políticos,
filósofos e académicos consideram a qualidade de vida como sendo o resultado da
capacidade humana para o pleno uso das potencialidades económicas, sociais,
culturais e políticas visando o desenvolvimento equilibrado da sociedade com respeito
pelo universalismo do direito à vida (Ribeiro, 1994b).
A Qualidade de Vida tornou-se, assim num conceito de interesse geral e de
senso comum. No entanto, o conceito está envolto de grande diversidade de opiniões
que, não só variam de acordo com o tempo e dos diferentes contextos sociais e
culturais, mas também com o ponto de vista singular de cada indivíduo.
Formulam-se, deste modo, várias definições de Qualidade de Vida focando os
mais variados pontos, desde a avaliação pessoal e global dos bens e das
características satisfatórias de vida, até ao nível da satisfação das necessidades
físicas, sociais, psicológicas, estruturais e materiais do indivíduo (Rodríguez, 1991).
Minayo et al (2000) entende que Qualidade de Vida é uma noção
eminentemente humana que mantém relação com o grau de satisfação do indivíduo
em relação à sua vida familiar, amorosa, social, ambiental e existencial, abrangendo
os conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e colectividades em
determinada época, local e situação. Os autores (Ibidem, 2000:32) dão uma
explicação do porquê da grande variabilidade de conceitos em torno da Qualidade de
Vida. “O termo abrange muitos significados, que reflectem conhecimentos,
experiências e valores de indivíduos e colectividades que a ele se reportam em
variadas épocas, espaços e histórias diferentes, sendo, portanto, uma construção
social com a marca da relatividade cultural.”
Apontam, ainda três explicações da relatividade do conceito. A primeira
direccionada para a vertente histórica, ou seja, em determinado tempo do seu
desenvolvimento económico, social e tecnológico, uma sociedade específica tem um
parâmetro de Qualidade de Vida diferente da mesma sociedade noutro momento
histórico. A segunda é culturalmente explicada, onde valores e necessidades são
construídos e hierarquizados de forma diferenciada pelos povos, revelando a sua
tradição e cultura. O terceiro aspecto, refere-se às estratificações ou classes sociais.
Os estudiosos que analisam as sociedades em que as desigualdades e
heterogeneidades são muito fortes mostram que os padrões e as concepções de bemestar são também estratificados: a ideia de Qualidade de Vida está relacionada ao
bem-estar das camadas superiores e à passagem de um limiar a outro.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
83
Qualidade de Vida dos Seniores
À procura de pontos coincidentes entre a variedade de formulações sobre
Qualidade de Vida, tentamos elucidar o estudo, fazendo referência a algumas
definições já construídas. Colman (1987) defende que a Qualidade de Vida só pode
ser descrita e medida em termos individuais, encontrando-se dependente das
experiências passadas e esperanças futuras, pelo que as prioridades e objectivos do
indivíduo têm que ser realistas, esperando-se que possam ser modificadas com o
decorrer da idade e a experiência de vida. Nesta medida, o autor assinala aspectos
importantes na Qualidade de Vida, tais como: i) ser especificada ao sujeito, ou seja,
ser descrita em termos individuais, uma vez que o que é importante para um indivíduo
pode não o ser para outro; ii) ser ampla e abarcar todas as áreas da vida; iii)
proporcionar e sugerir meios através dos quais a Qualidade de Vida possa ser
melhorada, realçando a importância do crescimento e do desenvolvimento pessoal.
Neste contexto, para melhorar a Qualidade de Vida de um indivíduo, são necessárias
quatro medidas de acção: i) avaliação e definição do problema e das prioridades do
sujeito; ii) planeamento dos cuidados, o que implica a prestação de informação e
discussão do problema com o sujeito e família; implementação de um plano de acção
pelo sujeito e técnicos de saúde. Este é um objectivo que pode ser alcançado quer
diminuindo os sintomas físicos, quer alterando o estado psicológico, ou ainda
reduzindo as expectativas do sujeitos mas, mantendo a esperança; iv) avaliação dos
resultados da intervenção e reavaliação do problema.
De acordo com Churchman (1992) e Ribeiro (1994a) a Qualidade de Vida
designa o juízo subjectivo do indivíduo sobre o grau em que estão satisfeitas as suas
necessidades nos vários domínios da vida, domínios esses que incluem o grau de
auto-realização, a saúde, a vida familiar e social, a situação de face ao trabalho, a
segurança pessoal e a habitação, entre outros.
O conceito de Qualidade de Vida consiste em três níveis: (a) avaliação total do
bem-estar, (b) domínio global (isto é, físico, psicológico, económico, espiritual e social)
e, (c) componentes de cada domínio. Se víssemos esses três níveis numa pirâmide, o
topo seria a avaliação total do bem-estar, seguida dos outros dois, sendo os
“componentes de cada domínio” a base da pirâmide (Souza e Guimarães, 1999).
De um modo geral podemos conceptualizar a Qualidade de Vida como uma
rede que inclui, fundamentalmente o bem-estar do indivíduo. O bem-estar, por sua
vez, não está única e exclusivamente associado à plena saúde ou, se preferirmos,
ausência de doença. São inúmeros os factores que favorecem ou não os padrões de
Qualidade de Vida. Podemos referir que a manutenção do bem-estar logo padrão
óptimo de Qualidade de Vida, obtêm-se a partir de um conjunto de dimensão, entre
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
84
Qualidade de Vida dos Seniores
elas, a sociabilidade, a condição física, emocional e intelectual, situação face ao
emprego/rendimentos e, em muitos dos casos, a espiritualidade.
Verifica-se que em todas as definições está patente a importância da saúde.
Todavia, e segundo a OMS, “a saúde não é o centro da qualidade de vida”, avaliar a
Qualidade de Vida é avaliar dimensões. Em 1996 a OMS considera que a Qualidade
de Vida (das pessoas idosas) pode ser medida em termos de capacidade de
manutenção do bem-estar físico, social e mental, sendo referido que este não pode
deixar de reflectir as experiências e expectativas dos indivíduos face a níveis de
autonomia no quotidiano.
Dreher (2003), sob o ponto de vista da saúde, mostra que a Qualidade de Vida
pode ser dividida em seis dimensões: física, emocional, social, profissional, intelectual
e espiritual. Entendemos que para que sejam atingidos os padrões óptimos de
Qualidade vida, as seis dimensões terão de corresponder a valores de satisfação
iguais. Quererá isto dizer que, a consistência dos níveis de Qualidade de Vida urge
pelo equilíbrio entre as seis dimensões, uma vez que, o equilíbrio na vida permite-nos
um melhor controlo sobre as adversidades e contrariedades da vida. Podemos,
consequentemente, associar bem-estar e saúde à maximização da Qualidade de Vida
de qualquer indivíduo. É portanto, um conceito amplo, que, na nossa opinião fornece
ao indivíduo os mecanismos para que o mesmo viva a vida como pretender, em que o
expoente máximo será atingido quando o mesmo, através do equilíbrio, encontre o
bem-estar em todos os aspectos e condicionantes da sua vida humana. Aproximamos,
então, Qualidade de Vida a realização pessoal.
Decorrente da análise anterior concluímos que a definição de qualidade de vida
não é consensual dando azo a conceitos multifacetados que se revelam na sua
subjectividade, complexidade e variadas dimensões. Avaliar a Qualidade de Vida de
uma pessoa implica analisar factores intrínsecos e extrínsecos.
A diversidade de definições não permite que seja possível chegar a um
conceito único e universal. Dada essa impossibilidade, para o presente trabalho
elegeu-se as directrizes do “WHOQOL GROUP”, formado pela OMS, nomeadamente
pelo sector encarregue pela Saúde Mental.
Com o objectivo de iniciar o projecto WHOQOL a OMS reuniu um conjunto de
experts em qualidade de vida com a finalidade de propor um conceito que servisse de
referência para o desenvolvimento de um instrumento capaz de avaliar e medir a
mesma. A qualidade de vida foi então definida como “ a percepção do indivíduo da sua
posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores aos quais ele vive e em
relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações” (WHOQOL
GROUP, 1995). Para se chegar a esta definição algumas características foram
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
85
Qualidade de Vida dos Seniores
consideradas como centrais. A primeira característica era a de que a Qualidade de
Vida é subjectiva. A subjectividade pode estar presente em todo o processo de
construção do conceito, assim como na mensuração dos resultados dos estudos. A
segunda característica reporta-se ao constructo multidimensional do conceito que
envolve no mínimo três dimensões: física, psicológica e social. Além destas
dimensões foram acrescentadas outras como: o nível de independência, o meioambiente e a espiritualidade/religiosidade/crenças pessoais. A terceira característica é
a de que a qualidade de vida inclui, tanto aspectos positivos, isto é, aqueles que
deveriam estar presentes para conferir boa qualidade de vida (p.ex. mobilidade) como
negativos, isto é, aqueles que deveriam estar ausentes para que uma boa qualidade
de vida fosse atingida (p.ex. dor). (Fleck, 2006).
Para a delimitação do conceito de Qualidade de Vida será necessário definir
operacionalmente
indicadores
precisos
recorrendo
aos
modelos
percorridos
historicamente numa tentativa de maior aproximação à realidade actual do que nas
sociedades contemporâneas se defende e compreende o conceito de qualidade de
vida bem como das suas dimensões constituintes.
Indicadores, modelos e tipologia de Qualidade de Vida
Comummente existem três indicadores referidos na generalidade das
definições de Qualidade de Vida, indicadores económicos, indicadores sociais e
indicadores subjectivos. Ruggeri et al (1999) explicam cada um deles.
Os indicadores económicos partem do princípio de que um incremento da
actividade económica (e dos rendimentos) se traduz num incremento de bem-estar.
Todavia, a falta de uma relação directa e causal entre a prosperidade e o bem-estar
parece indicar que estas medidas não são suficientes para descreverem a Qualidade
de Vida, pelo que haverá que recorrer a outros indicadores de tipo não monetário.
Assim, os indicadores sociais tentam completar os económicos reportando-se a
aspectos demográficos, de estratificação social, ao desemprego, à escolaridade, à
religião e à saúde. No entanto, o conjunto deste dois indicadores são em parte
inadequados, uma vez que descrevem as condições de vida que hipoteticamente
influenciam a experiência de vida, não avaliando directamente essa experiência em si
mesma. Esta crítica elucida a percepção de vida de cada indivíduo, suas expectativas
e posição perante a vida, ou seja, as pessoas podem estar insatisfeitas e infelizes não
obstante terem melhorado as suas condições sócio-económicas e vice-versa. Desta
feita Ruggeri et al (199) recorrem a Andrew e Whitey (1999) para introduzir os
indicadores subjectivos face à insuficiente explicação que os indicadores objectivos
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
86
Qualidade de Vida dos Seniores
(habitação, trabalho, rendimentos e relações interpessoais) apresentam perante a
avaliação subjectiva do bem-estar. Aqui poder-se-ão encontrar variantes como a
felicidade e satisfação relacionadas com o bem-estar.
Todavia ainda não existe consenso entre os autores sobre a conceptualização
das relações entre condições objectivas de vida e a sua percepção subjectiva, assim
como, no que respeita aos factores que influenciam esta relação. Esse complexo
conceito incorpora a saúde física, o estado psicológico, o nível de independência, os
relacionamentos sociais, as crenças pessoas e o relacionamento entre as
características proeminentes do ambiente. Isso denota que a Qualidade de Vida se
refere a uma avaliação subjectiva, a qual inclui tanto as dimensões positivas como as
negativas num contexto cultural, social e ambiental (Spilker, 1996).
Tentaremos elucidar melhor o leitor ao referenciar os principais modelos
conceptuais de Qualidade de Vida. Podemos encontrar como referência teórica:
a) Modelo de Satisfação (Baker e Intagliata, 1982) que defende que a Qualidade
de Vida é o produto de três variáveis, características pessoais, condições de
vida objectivas em vários domínios e satisfação com a vida nestes domínios.
b) Posteriormente surge o Modelo combinado Importância/Satisfação que valoriza
não só a satisfação numa área de vida como a importância de que essa área
de vida se reveste para a pessoa, pretende, desta forma, explicar por é que
pessoas que vivem em condições completamente diversas exprimem o mesmo
grau de satisfação (Becker et al., 1993).
c) O modelo de Preenchimento de Necessidades baseia-se nas ideias de Maslow
(1954) em que felicidade e satisfação estão relacionadas com as condições
sociais e ambientais requeridas para o preenchimento de necessidades
humanas básicas. Este modelo valoriza a interacção indivíduo-ambiente,
realçando o facto de o indivíduo ter necessidades, sejam elas materiais,
psicológicas (autonomia, auto-estima, realização pessoal), o ambiente fornece
a oportunidade para as satisfazer. O grau pelo qual uma pessoa pode
satisfazer as suas próprias necessidades depende da sua capacidade, da sua
habilidade ou competência afectiva, cognitiva e comportamental, da sua acção
face às solicitações postas pelos papéis sociais. Com este modelo aumentou a
compreensão teórica da associação entre bem-estar e condições ambientais e
generalizou-se as necessidades como universais e estáveis.
d) O Modelo Dinâmico (Agermeyer e Kilian, 1996) que se debruça sobre a busca
do nível de satisfação constante, apesar das mudanças ambientais. Defendem
a manutenção da satisfação constante através de actividades cognitivas e
conativas.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
87
Qualidade de Vida dos Seniores
e) O Modelo Multidimensional (Kastsching e Angermeyer, 1997) ”orientado para a
acção” é composto por dimensões psicológicas (uma vertente cognitiva (a
satisfação) e outra afectiva (o bem-estar)) e sociológicas (o funcionamento
psicossocial e as condições ambientais). O modelo prevê que qualquer
dimensão possa influenciar as outras e que qualquer relação causal seja
possível.
A Qualidade de Vida é abordada segundo três perspectivas fundamentais: a
Qualidade de Vida Geral (general quality of life), a Qualidade de Vida relacionada com
a saúde (health – related quality of life) e a Qualidade de Vida relacionada com a
doença (disease – specific quality of life) (Ribeiro, 1994a e Ruggeri et al, 1999).
A Qualidade de Vida Geral é constituída por três dimensões: a do nível de
funcionamento global, a dos recursos disponíveis para a obtenção dos seus próprios
objectivos e a do sentido de bem-estar e satisfação. Esta última dimensão inclui
numerosas áreas de vida, como por exemplo, a família, as relações sociais, o trabalho,
a situação financeira e a habitação (Lenhman, 1995). A perspectiva global é aquela
que mais directamente deriva dos estudos sobre a Qualidade de Vida das populações
em geral. Tendo em consideração dimensões e áreas de vida que não são objecto de
análise dos serviços de saúde.
A Qualidade de Vida relacionada com a saúde é limitada à influência que a
doença detém sobre a Qualidade de Vida. Nesta abordagem, estudam-se as áreas de
vida ligadas à saúde quanto aos aspectos físico, psíquico e social. Esta aproximação,
ainda que mais estreita do que a das Qualidade de Vida geral apresenta uma
perspectiva que pode ser aplicada a muitas doenças, quer orgânicas quer psíquicas. A
Qualidade de Vida especifica ligada à doença é centrada sobre o impacto que os
sintomas de uma doença e os efeitos da terapia têm sobre a Qualidade de Vida.
São muitas as divergências em volta da tipologia certa, contudo, não poder-seá dizer que alguma é a mais correcta ou que abarca todas as dimensões de avaliação
de Qualidade de Vida. No entanto, a Qualidade de Vida geral, será aquela que abarca
um maior número de dimensões e de mais fácil generalização.
Associada às múltiplas definições de Qualidade de Vida e à falta de limites
conceptuais assistiu-se a uma proliferação de instrumentos de avaliação, a maioria
dos quais com filiação americana e posterior tradução e aplicação noutras culturas.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
88
Qualidade de Vida dos Seniores
3.1.2 Dimensões, domínios e instrumentos de medição do conceito de
Qualidade de Vida
A Qualidade de Vida enquanto conceito complexo está dividida por dimensões
e domínios que facilitam a sua delimitação conceptual e operativa. Assim as
dimensões representam a posição dos indivíduos face à sua vida, sendo um reflexo
destas num dado momento temporal e espacial, enquanto que os domínios mostram
as componentes do conceito passíveis de serem avaliadas e estudadas, não sendo,
todavia, os mesmos em todas as análises.
De acordo com Dauphinee e Kuchler (1992), a Qualidade de Vida envolve
várias dimensões, das quais realçam, sobretudo, a referencial, a experiencial e a
temporal. Neste modelo a Qualidade de Vida é determinada pelas experiências
subjectivas e pelos factores objectivos destas dimensões. Assim, a dimensão
referencial situa o indivíduo no contexto familiar, no grupo social e na organização
cultural ou política. Estes factores influenciam a avaliação da Qualidade de Vida de
cada pessoa, na medida em que, invariavelmente condicionam a relação do indivíduo
com o meio envolvente. Por sua vez, na dimensão experiencial incluem-se o estado
físico definido em termos de capacidade funcional e dos sintomas (devido à doença ou
tratamento), as relações interpessoais com a família, os amigos e os técnicos de
saúde, o domínio sócio-económico que abrange a situação financeira, o meio, os
tempos livres, o rendimento no trabalho, a espiritualidade que engloba a fé religiosa, o
sentido que se dá à existência e uma série de crenças motivadas pela moral. É na
dimensão temporal que se introduz a ideia de que a Qualidade de Vida é uma junção
das experiências passadas, da situação presente e dos objectivos e expectativas para
o futuro.
Estas dimensões interagem entre si e, no seu conjunto, oferecem uma imagem
da Qualidade de Vida dos indivíduos num preciso momento.
Noutro modelo, Fallowfield (1990) avalia a Qualidade de Vida em quatro
domínios, associando a cada um deles vários itens que considera pertinentes para
uma melhor compreensão dos mesmos. Assim o i) domínio psicológico direcciona-se
para a depressão, a ansiedade, o ajustamento à doença, entre outros aspectos; ii) o
domínio social, que compreende as actividades sociais e de tempos livres,
argumentando que no caso das pessoas doentes, estas exprimirem, frequentemente,
o medo de serem abandonadas pelos amigos e familiares e daí a necessidade de um
apoio familiar estável aliado a uma capacidade de participar em actividades sociais
que determinam uma boa Qualidade de Vida, bem como qualidade das relações
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
89
Qualidade de Vida dos Seniores
sociais e sexuais. Neste caso, pode haver lugar para a ocorrência de problemas
graves, traumas emocionais, de origem física ou psicológica, ao nível das relações
sexuais, pelo que o doente e o seu companheiro necessitam de encontrar alternativas
e ajuda para explorarem novas formas de expressar o amor, ternura e carinho. Sob
pena de que, em caso de rejeição por parte do companheiro, tal produza um impacto
devastador na Qualidade de Vida do indivíduo; iii) o domínio profissional, englobando
a capacidade e a vontade de trabalhar, e a capacidade para cuidar das tarefas
domésticas, entre outras. Grande parte da gratificação pessoal de cada indivíduo
obtém-se pelo seu reconhecimento social e pelas interacções sociais produzidas no
trabalho e pelo trabalho. É necessário que a pessoa se sinta enquadrada e goste de
desempenhar o seu trabalho para que a Qualidade de Vida não seja prejudicada. As
baixas ou reformas forçadas devido à doença podem ter consequências graves na
auto-estima; iv) por fim, o domínio físico que compreende a dor, a mobilidade, o sono,
o repouso, o apetite, a satisfação sexual e a felicidade.
O modelo apresentado por Dauphinee e Kuchler (1992) está, a nosso ver, mais
relacionado com as vivências quotidianas dos indivíduos e a forma como estes a
interpretam e incorporam. Baseia-se na subjectividade dos acontecimentos e
influências sociais sendo determinada pela forma objectiva através da qual os
indivíduos sofrem influência da sua relação e posição perante as relações e vivências
sociais e interpessoais. Ao passo que o modelo defendido por Fallowfield (1990)
dirige-se a perspectivas disfuncionais encarando os factores de qualidade de vida no
sentido em que na sua ausência ou disfuncionalidade de um determinado indicador
este pode-se tornar um factor de crise. Podemos concluir que o número de dimensões
e domínios considerados na Qualidade de Vida é variável, dependendo a sua escolha
dos objectivos que se querem atingir num determinado trabalho, assim como acontece
nos instrumentos de avaliação de Qualidade de Vida.
Certamente que será longo o universo de instrumentos já construídos capazes
de medir e avaliar a qualidade de vida. Todavia, dada a impossibilidade do
conhecimento da totalidade, não será feita uma abordagem exaustiva dos
instrumentos encontrados apenas serão referenciados os que foram ponderados para
o presente estudo.
O Medical Outcomes Study 36 Item Short-Form (SF-36) foi criado com a
finalidade de ser um questionário genérico de avaliação de Qualidade de Vida
relacionada à saúde, de fácil administração e compreensão. O SF-36 tem sido
administrado com sucesso tanto à totalidade populacional referente a um dado
momento ou espaço, como em específicos grupos de população, de características
semelhantes. O SF-36 Foi derivado inicialmente de um questionário de avaliação de
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
90
Qualidade de Vida dos Seniores
saúde formado por 149 itens, desenvolvido e testado em mais de 22 mil pacientes
como parte de um estudo de avaliação de saúde, o Medical Outcomes Study (MOS)
(Ciconelli, 1997; Ware et al., 1995). É composto por 36 itens que avaliam as seguintes
dimensões: capacidade funcional (desempenho das actividades diárias, como
capacidade de cuidar de si, vestir-se, tomar banho e subir escadas); aspectos físicos
(impacto da saúde física no desempenho das actividades diárias e ou profissionais);
dor (nível de dor e o impacto no desempenho das actividades diárias e ou
profissionais); estado geral de saúde (percepção subjectiva do estado geral de saúde);
vitalidade (percepção subjectiva do estado de saúde); aspectos sociais (reflexo da
condição de saúde física nas actividades sociais); aspectos emocionais (reflexo das
condições emocionais no desempenho das actividades diárias e ou profissionais) e
saúde mental (escala de humor e bem-estar).
Inicialmente, com o intuito de formular um questionário abrangente, mas não
tão extenso, elaborou-se inicialmente um questionário com 18 itens, o qual avaliava a
capacidade física, limitação devida à doença, saúde mental e percepção da saúde.
Posteriormente dois itens foram adicionados para avaliação de aspectos sociais e dor,
sendo então criado o Short-Form-20 (SF-20). O SF-20 foi administrado a cerca de 11
mil participantes dos estudos de avaliação de saúde (MOS). Esses resultados
permitiram a análise das suas medidas psicométricas e também o desenvolvimento de
normas preliminares para detectar diferenças no estado funcional e de bem-estar entre
os pacientes com doenças crónicas e alterações psiquiátricas (Ciconelli, 1997).
Este questionário, embora preencha muitos dos requisitos pretendidos para o
nosso estudo direcciona-se, maioritariamente, para o estado de saúde e, pretende-se
um instrumento capaz de abarcar outros indicadores relacionados com a Qualidade de
Vida.
Frisch (1994) define o constructo “bem-estar subjectivo/felicidade” (subjective
well being hasppiness) por dois componentes: a) contentamento perante a vida (life
satisfaction) e, b) afectos positivos e negativos. Os correlatos do bem-estar subjectivo
decorrem em grande medida do juízo que cada um faz do seu contentamento perante
a vida. A distância percebida entre o que a pessoa tem e o que gostaria de ter,
naquelas áreas da sua vida que valoriza, determina o seu grau de contentamento
perante a vida. A avaliação subjectiva que cada um faz da realização das
necessidades, objectivos e aspirações pessoais traduz-se em contentamento perante
a vida (life satisfaction) que, por sua vez, significa qualidade de vida. O Inventário da
Qualidade de Vida (IQV) operacionaliza este modelo que contém duas escalas:
Importância e Satisfação - cobre 16 áreas (a que podemos chamar de domínios), entre
elas, saúde, auto-estima, objectivos e valores, dinheiro, trabalho, tempos livres,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
91
Qualidade de Vida dos Seniores
aprender, criatividade, serviços voluntários, amor, amigos, filhos, família, casa,
vizinhança e comunidade. A Importância refere-se à ponderação na felicidade global
de cada uma das áreas, enquanto que, a Satisfação diz respeito ao grau de realização
pessoal nessas mesmas áreas.
É, sem dúvida, um instrumento muito abrangente, no entanto, parece-nos
complicado por ter uma grande vertente subjectiva patente nos sentimentos envoltos
como indicadores de qualidade de vida. Padronizar o contentamento perante a vida e
sentimentos positivos e negativos tem um tanto ou pouco de ambiguidade não nos
parecendo correcto qualificar a qualidade de vida dos indivíduos tendo por base
somente indicadores deste tipo.
Um outro modelo de avaliação de Qualidade de Vida denomina-se de
EASYcare. Este é um sistema utilizado para proceder a uma avaliação rápida do bemestar físico, mental e social da pessoa idosa (75 anos ou mais), proporcionando uma
descrição global das suas necessidades.
Este modelo, focaliza-se na Qualidade de Vida (e não na doença),
reconhecendo o papel importante dos familiares que cuidam do idoso. Caracteriza-se
por abarcar, numa só escala, itens relativos às várias dimensões da Qualidade de Vida
e bem-estar do idoso. Tem sido desenvolvido com o intuito de ajudar os profissionais
de cuidados primários a melhorarem os apoios que podem proporcionar às pessoas
idosas. Os dados obtidos por este instrumento podem ser utilizados para avaliar
diversos problemas da população, tais como, necessidades e objectivos que
auxiliemos serviços sanitários, a gestão dos serviços, a distribuição de recursos, a
pesquisa e formulação de políticas a implementar (Sousa e Figueiredo, 2000).
Contudo este não foi o instrumento utilizado no presente trabalho. É recomendado nas
seguintes circunstâncias: contacto inicial entre a pessoa idosa e os serviços sociais de
saúde; alteração de saúde física ou mental; alteração das circunstâncias sociais; como
parte de um processo de rastreio; para monitorizar os resultados dos cuidados
prestados; como parte integrante de investigações acerca do bem-estar físico, mental
ou social da pessoa idosa e/ou como elemento da avaliação da pessoa idosa aquando
do seu encaminhamento para determinado serviço de apoio/saúde. Embora se
direccione para a população idosa, não se revela no melhor instrumento para que os
objectivos deste trabalho sejam atingidos. Em primeiro lugar, no EASYcare é
considerada população idosa as pessoas que tenham 75 ou mais anos, o que não
corresponde com a nossa amostra e depois focaliza-se muito nos técnicos que
prestam
cuidados
e
a
nossa
amostra
é
constituída
por
pessoas
não
institucionalizadas. Está recomendado o uso deste questionário no âmbito de um
processo de avaliação entre profissional e idoso, tendo, deste modo, subjacente a
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
92
Qualidade de Vida dos Seniores
existência de ligação a alguma instituição. Todavia, revela-se num óptimo instrumento
dentro dos seus propósitos, uma vez que, avalia capacidades (ser capaz de …) e não
competência (saber-fazer), isto é, pretende saber-se se o idoso é capaz de ir às
compras e não se vai às compras (Sousa e Figueiredo, 2000).
A ausência de um instrumento que avaliasse Qualidade de Vida dentro de uma
perspectiva genuinamente internacional fez com que, na década de 90, a OMS criasse
um grupo com representantes de diferentes regiões do mundo (Grupo WHOQOL –
World Health Organization Quality of Life Group). Este grupo teve inicialmente a
finalidade de trabalhar no refinamento do conceito Qualidade de Vida para, a seguir,
desenvolver um instrumento capaz de medi-la. O projecto foi desenvolvido com a
colaboração de quinze centros que trabalharam simultaneamente em diversos países
de diferentes culturas. O trabalho desenvolvido deu origem a um questionário
composto
por
cem
itens
(WHOQOL-100)
em
que
o
reconhecimento
da
multidimensionalidade do constructo reflectiu-se na estrutura de uma avaliação da
Qualidade de Vida de acordo com seis domínios (WHOQOL-100): o domínio físico
(que engloba as facetas dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso), o
domínio psicológico (que avalia a predominância de sentimentos positivos, o pensar, o
aprender, a memória e concentração, a auto-estima, a imagem corporal e aparência e,
ainda os sentimentos negativos), o domínio de independência (que compreende as
facetas como a mobilidade, as actividades quotidianas, a dependência de medicação
ou de tratamentos e a capacidade de trabalho), o domínio das relações sociais (este
aborda a intensidade das relações pessoais, suporte (apoio) social e a actividade
sexual), o domínio referente ao meio ambiente (as facetas aqui abordadas passam
pela segurança física e a protecção, o ambiente no lar, os recursos financeiros, os
cuidados de saúde, as novas informações e habilidades, a recreação e lazer, o
ambiente físico e o transporte), o domínio da espiritualidade/religião/crenças pessoais
encerra os domínios em estudo (este a avalia a incidência da espiritualidade, da
religião e crenças pessoais).
A necessidade de instrumentos curtos que demandem pouco tempo para o seu
preenchimento, mas com características psicométricas satisfatórias, fez com que o
Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolvesse uma versão abreviada do
WHOQOL-100, o WHOQOL-Bref. O WHOQOL-Bref consta de vinte e seis questões,
sendo duas questões gerais e as demais vinte e quatro representam cada uma das
vinte e quatro facetas que compõem o original, WHOQOL-100. Assim a versão
abreviada é composta por apenas quatro dos seis domínios, entre eles, o físico, o
psicológico, as relações sociais e o meio ambiente. Diferente do WHOQOL-100 em
que cada uma das vinte e quatro facetas é avaliada a partir de quatro questões, no
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
93
Qualidade de Vida dos Seniores
WHOQOL-Bref é avaliada por apenas uma questão. Os dados que deram origem à
versão abreviada foram extraídos do teste de campo de vinte centros em dezoito
países diferentes. O critério de selecção das questões foi tanto psicométrico como
conceptual. No nível conceptual, foi definido pelo Grupo de Qualidade de Vida da OMS
de que o carácter abrangente do Instrumento deveria ser preservado. Assim, cada
uma das vinte e quatro facetas que compõe o instrumento original (WHOQOL-100)
deveria ser representada por uma questão. No nível psicométrico, foi então
seleccionada a questão que mais altamente se correlacionasse com o score total,
calculado pela média de todas as facetas. Após esta etapa, os itens seleccionados
foram examinados por um painel de experts para estabelecer se representavam
conceptualmente cada domínio de onde as facetas provinham. Dos vinte e quatro itens
seleccionados, seis foram substituídos por questões que definissem melhor a faceta
correspondente. Três itens do domínio meio-ambiente foram substituídos por serem
muito correlacionados com o domínio Psicológico. Os outros três domínios foram
substituídos por explicarem melhor a faceta em questão.
A Qualidade de Vida é um conceito associado ao WHOQOL. Através das
instituições portuguesas promotoras da sua validação e tradução para português de
Portugal [OMS, Faculdades de Psicologia e Ciências da Educação (FPCE) e
Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de Coimbra] têm sido feitos vários
projectos e estudos levados a cabo por uma vasta equipa. Portugal está representado
pelos coordenadores Adriano Vaz Serra, o professor catedrático da FM e a Maria
Cristina Canavarro professora auxiliar da FPCE.
A escolha do WHOQOL-Bref para o presente trabalho fundamentou-se no facto
da sua disponibilidade em língua portuguesa e nos indicadores abrangentes que o
mesmo comporta, possibilitando a análise de dimensões diversificadas da vida do
individuo, por outro lado o questionário WHOQOL é utilizado em estudos de
investigação recentes como um instrumento para avaliar a Qualidade de Vida de
indivíduos em relação a um grande número de temas. Por estes motivos
consideramos que o WHOQOL-BREF reúne as condições que vão ao encontro dos
objectivos deste estudo. No capítulo quinto serão explicadas as dimensões inerente ao
WHOQOL-Bref, assim como a sua validação enquanto instrumento.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
94
Qualidade de Vida dos Seniores
3.2 Envelhecer com qualidade de vida
Abordaremos de seguida as questões que, a nosso ver, nos podem conduzir a
envelhecer com qualidade. Perceber os efeitos da longevidade, aceitá-la e saber viver
com ela, parece-nos os pilares fundamentais para atingir os padrões mínimos e
aceitáveis de Qualidade de Vida.
A evolução da longevidade começou sem que nós tivéssemos a verdadeira
consciência dela. Quando nos apercebemos, o avô já tinha 80 anos e o seu pai teria
tido uma vida bem mais curta que a sua. Quando paramos para pensar, estávamos já
perante um fenómeno acentuado e sem retorno à vista. De facto, a esperança média
de vida teria aumentado. Os avanços notáveis da ciência e da medicina contribuíram
em muito para esta situação. Foram encontradas soluções para doenças sem cura, os
estilos de vida alteraram-se, passou a haver um maior cuidado com a alimentação,
houve uma crescente preocupação com a imagem, entre outros avanços contribuíram
para uma longevidade cada vez mais alargada.
Podemos encarar este prolongamento da vida associado a uma maior
vitalidade dos que por ela passam. Para muitos políticos, um mal necessário, pois
serão os nossos eternos avós os maiores consumidores das receitas estatais, porém,
não serão certamente os responsáveis pela crise económica a que temos assistido em
Portugal nos últimos anos. Antes disso, numa opinião muito pessoal, o Estado deveria
olhar bem lá para baixo da pirâmide etária e descobrir medidas de incentivo à
natalidade para que se equilibrem as diferentes faixas etárias.
Envelhecer com qualidade é, então um objectivo no horizonte dos que da
velhice se aproximam. Todavia, sabemos que é o grupo dos seniores que menores
rendimentos têm. Trabalham toda uma vida e na hora do descanso vêm-se
confrontados com uma reforma que, em pouco ou nada, lhes serve para orientar o seu
governo do dia-a-dia. Assim, “a população idosa é genericamente um grupo social
onde se faz sentir, de forma gravosa, a incidência da pobreza” (Pereirinha, 2001:20).
Pereirinha et al. (1999) realizaram, neste contexto, um inquérito dirigido a um painel de
actores sócio-institucionais sobre a percepção da pobreza e exclusão social em cinco
distritos do país, em 1997, que permitiu concluir que o grupo dos idosos é
maioritariamente considerado pelos actores sociais como um dos mais atingidos pelo
fenómeno da pobreza (Pereirinha, 2001). Estes resultados devastadores para os
seniores encontram explicação nas baixas pensões que auferem. O autor (Ibidem,
2001:21) acrescenta, “níveis insuficientes de rendimento traduzem-se, naturalmente,
em condições de vida abaixo do que pode ser considerado desejável, como norma,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
95
Qualidade de Vida dos Seniores
para a população. Numa sociedade em que é através do recurso ao mercado que uma
parte significativa das necessidades fundamentais é satisfeita, o rendimento
condiciona a realização de alguns direitos fundamentais, criando situações de
privação.” Para finalizar esta reflexão, o autor deixa algumas orientações que, importa
aqui realçar, nomeadamente a necessidade de redefinição e alargamento dos direitos
fundamentais de cidadania e uma melhor e maior coordenação de políticas sectoriais
e da actuação de vários actores sociais (públicos e privados). Este trajecto conduz ao
entendimento entre cidadãos e comunidade que se dirige para a plena consagração
dos direitos22.
Pegando na ideia de Guimarães (2001), perceber que a velhice é uma
trajectória de vida, faz-nos pensar nas tendências antecipando o futuro, para que, as
políticas sociais sejam eficientemente definidas e aplicadas. Concorda-se com a
necessidade de uma diferenciação positiva até à igualdade do cumprimento dos
direitos das diferentes faixas etárias. “Urge sensibilizar os cidadãos para as
perspectivas da sua própria longevidade, alertando-os para a conveniência de
delinearem, tanto quanto possível, o seu envelhecimento, fazendo opções claras em
áreas como a protecção social complementar, a actividade pós-reforma, a adaptação
das habitações e espaços circundantes, a prática associativa e cívica e a protecção na
eventualidade de uma situação de dependência ou de incapacidade” (Ibidem,
2001:30). Certamente, terão de ser os próprios, aqueles que a velhice vive, a
reorganizar os seus padrões de vida, de acordo, não só com a sua vitalidade e
autonomia, mas também tendo em conta os seus recursos económicos.
Para que padrões óptimos de qualidade de vida sejam alcançados pelos
seniores Fontaine (2000) associa a conjunção de três condições. A primeira refere-se
à probabilidade (reduzida) de doenças e especialmente das que causam perda de
autonomia e conduzem à dependência de terceiros. Outra condição prende-se com a
manutenção de um nível elevado de funcionalidade das capacidades cognitivas e
físicas. Por ultimo, é referida a conservação da participação social e de um bem-estar
subjectivo. Por outras palavras, em primeiro lugar a saúde pois sem ela ou com falta
dela, menos esperança de vida nos aguarda. Uma vez com saúde, os indivíduos
recebem forte influência do meio envolvente, tanto quanto maior for a sua participação
e empenhamento social. Para completar esta tríade de envelhecimento óptimo, terá de
existir patentemente em cada um a preocupação da manutenção das faculdades
22
Marshall (1950) considera que a cidadania é um status adstrito à condição do pleno membro de uma
comunidade e quem o tiver goza de igualdade a nível dos direitos e deveres associados (direitos civis,
políticos e sociais).
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
96
Qualidade de Vida dos Seniores
cognitivas, tais como, inteligência, memória, linguagem, capacidade de resolução de
problemas, criatividade e pensamento. Que, por estimulação, não se reduzem.
Investigações recentes têm direccionado a sua atenção para provar que as
relações existentes entre a idade, a hereditariedade, os estilos de vida e os riscos de
doenças devem ser concebidos de forma dinâmica e não mecânica. De entre as
conclusões apuradas, Fontaine (2000:150) defende poder-se afirmas que “antes dos
65 anos os riscos são determinados sobretudo pela hereditariedade, ao passo que
após os 65 anos eles aprecem estar sobretudo ligados ao estilo de vida”.
Sendo certo que, todo e qualquer processo de crescimento, maturação e
envelhecimento é fortemente influenciado pelas forças do meio envolvente, foge da
alçada de cada indivíduo o controlo a esta inerente influência. Por seu turno, aspectos
como a cultura, o ambiente físico e espaço temporal condicionam o desenvolvimento
humano.
Porém,
não
podemos
referir
apenas
estas
influências
inquantificáveis.
Individualmente cada indivíduo foi construindo o seu projecto de vida e percurso a
seguir, baseando-se aos seus acontecimentos auto-biográficos. Fontaine (2000)
denomina-os
de
influências
não
normativas.
Alguns
destes
acontecimentos
encontram-se sob o controlo dos indivíduos, ao que os filósofos chamam de “livre
arbítrio”. Podemos enumerar o casamento, a constituição da família ou a escolha da
profissão. Todavia, nem todos os acontecimentos se encontram sob a nossa alçada e
os quais não podemos prever, caracteristicamente dolorosos, podemos enumerar, a
morte dos entes próximos, o desemprego ou a solidão.
Não será correcto afirmar que as influências não normativas serão as únicas que
comportam uma individualidade e especificidade. No entanto, são a nosso ver, de real
importância na proporção da responsabilidade individual que a caracteriza. “O
envelhecimento surge então como um processo de individualização e personalização”
(Ibidem, 2000:149).
“No entanto, envelhecer com qualidade não depende só do conjunto das medidas
de política especificas para o último período da existência, mas é também largamente
condicionado pelas políticas conducentes à garantia da qualidade ao longo de todo o
percurso de vida dos indivíduos” (Cadete, 20001:24). Ou seja, a permanência ou
evolução num dado patamar de Qualidade de Vida, depende também e, em grande
parte, do percurso antecedente à velhice. A qualificação profissional, os rendimentos,
condições habitacionais, o modo de encarar a vida, a espiritualidade, a rede se
suporte, entre outros, constituem-se em pilares fundamentais para uma maior
participação social o que contribui para uma longevidade mais alargada.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
97
Qualidade de Vida dos Seniores
A Fundação McArthur desenvolve investigações em torno de aspectos que
proporcionem uma velhice bem sucedida. Assim, chegam ao consenso de que ao
nível da cognição, o grau de escolaridade será o melhor factor enquanto impulsionador
de uma velhice bem sucedida. Factores como a expiração pulmonar, aumento da
actividade física e personalidade revelam-se noutras predições. Fazendo um
apanhado percebemos que o sucesso depende a predisposição pessoal e
autoconfiança. Por outras palavras, o alcance de uma velhice bem sucedida depende
da capacidade individual de organizar e executar acções necessárias de acordo com
as necessidades da vida diária.
“Neste contexto, envelhecer com qualidade aparece como resultado de um
processo de não ruptura da inserção dos indivíduos numa organização social capaz de
responder às suas necessidades especificas quer elas decorram das situações com
que se podem debater no seu envelhecimento normal ou no seu envelhecer com
episódios de desequilíbrio de saúde física e/ou mental” (Ibidem, 2001:25). Nesta
perspectiva, quanto maior o conhecimento sobre questões directamente relacionadas
com os destinatários, metodologia e áreas abrangentes, mais facilmente se
implementam medidas favoráveis ao melhor envelhecimento enquanto fénomeno
individual e societário.
A participação na sociedade define-se como motor de integração social e conduz
mesmo a óptimos padrões de qualidade de vida. Por um lado, são fortalecidas as
relações sociais e de amizade e por outro, o desenvolvimento e participação em
actividades de lazer produtivas que, em larga medida, conduz à satisfação pessoal
desenvolvendo em cada um maiores níveis de autoconfiança. No entanto, a
participação será fruto da análise da relação entre profissional e utente que terá lugar
no próximo capítulo.
Envelhecer com qualidade constitui-se, assim, num objectivo difuso e subjectivo,
que se constrói ao longo da vida. Difuso e subjectivo devido ao facto da sua
multidimensionalidade. Num futuro próximo, em 2025, prevê-se de acordo com a IV
Conferência da Internacional Association of Homs and Services for the Ageing, em
Junho de 2001 no Canadá que, como relata Cadete (2001:28) “as mudanças a correr
nos contextos social, político, cultural, económico, científico e tecnológico terão
impacto nas questões do envelhecimento, podendo levar a novos comportamentos e
intervenções, prevendo-se nomeadamente que:
A) As pessoas idosas dominarão o computador e a internet, o que lhes permitirá
estar em contacto directo com o mundo, mais informadas e trocar informações
com outras pessoas, onde quer que estas se encontrem.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
98
Qualidade de Vida dos Seniores
B) As pessoas idosas constituirão partidos e terão assento nos parlamentos, com
papel activo na tomada de decisões, em particular nas que lhe digam respeito.
C) O conhecimento mais avançado do genoma23 permitirá uma intervenção mais
precoce correcta, no plano da saúde, com efeitos benéficos numa longevidade
saudável.
D) A educação irá processar-se ao longo da vida e o acesso das pessoas idosas a
universidades e outras estruturas de educação será uma prática corrente.
E) As respostas de apoio poderão ser de utilização intergeracional, integrando
habitação e serviços, podendo estes serem utilizados no domicílio ou em
instituição.”
Este cenário é a optimização da modernidade que brevemente atingirá os seniores
na sua generalidade. É certo que alguns destes pontos são já visíveis, contudo, ainda
não podemos generalizá-los. Num futuro próximo estamos também confiantes da
massificação desta tecnologia.
Podemos
concluir
que
todo
e
qualquer
processo
relacionado
com
o
envelhecimento é heterogéneo, na medida em que, e partindo do pressuposto aqui
relatado, a velhice é vivida individualmente sendo cada indivíduo o verdadeiro
responsável pela sua qualidade de vida. Não podemos falar da velhice sob uma
abordagem global, como também já constatamos que não podemos abordar o sénior
enquanto pertencente a um grupo caracteristicamente homogéneo.
Alcançar o patamar de uma boa qualidade de vida na velhice é, assim, um
percurso individual, no entanto, influenciado pelo percurso de vida de cada indivíduo.
Contudo podemos deixar aqui os aspectos que poderão auxiliar qualquer indivíduo a
gozar de qualidade de vida, nomeadamente, a manutenção de boa saúde,
manutenção de estímulos aos nível cognitivos e físicos e, muito importante também, o
envolvimento social por intermédio de uma participação activa na sua comunidade.
23
O genoma é o código genético humano, é toda a informação hereditária de um organismo que está
codificada no Adn. Isto inclui tanto os genes como as sequências não-codificadoras. Em termos genéricos
é o conjunto dos genes humanos. Neste material genético está contida toda a informação para a
construção e funcionamento do organismo humano.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
99
Qualidade de Vida dos Seniores
3.2.1 Viver mais e melhor: envelhecer bem é possível
Neste ponto ficará a saber que cuidados ter para bem envelhecer. Viver mais é
hoje uma realidade, cabendo a cada um aproveitar estes anos de bónus da melhor
forma. “O desafio dos nossos dias não é aceder à imortalidade, mas conseguir a
longevidade” (Rosnay, et al., 2006:42). Será este o percurso, até à longevidade, o
caminho da curiosidade.
“Felizmente, alguns idosos começam a perceber que não podem mais viver
como antigamente e estão ficando mais activos, lúcidos e participantes; vêem que a
sua idade é um momento privilegiado para a realização pessoal e estão prontos para
viver um dos momentos mais felizes das suas vidas; já se preocupam em redefinir e
ocupar espaços e, principalmente, estão acreditando que eles próprios são os
responsáveis por sua vida e sua felicidade” (Filho e Sarmiento, 2004:44). Esta será a
consciência que todos deveriam desenvolver. Dever-se-á pensar no período da
reforma como oportunidade de realização e concretização de sonhos e desejos
vencidos pela escassez do tempo que outrora terão vivido.
Eis chegada a reforma e o consequente tempo livre. Gerir este tempo livre
consiste no maior desafio no período pós-reforma. Entendemos tempo livre como o
espaço de tempo em que as pessoas nada têm a fazer, caberá às mesmas fazer ou
não alguma coisa. Caracteriza-se pelo período de tempo do nada. Uma boa gestão e
aproveitamento do tempo livre conduzem impreterivelmente à auto-realização. Este é
um tempo de ouro, que cabe a cada indivíduo decidir o que quer fazer da sua vida
sem o acumular de outras responsabilidades que outrora havia se preocupado. A esta
“nova velhice” associa-se a vitalidade e melhores estados de saúde. Assim a “nova
velhice” não se caracteriza unicamente pelo prolongamento da vida mas também pela
maior vitalidade potencializada pelos padrões de melhoria de estilos e qualidade de
vida. Em cada fase do desenvolvimento humano, houve espaço para a construção da
nossa identidade. O tempo da educação por via do ensino, da actividade laboral, da
construção da família etc., em tempo de velhice cabe a cada um redefinir não só os
papéis sociais e familiares mas também culturais. Perante esta libertação de
obrigações taxativas seremos, nesta fase, mais que nunca adeptos da liberdade e
individualidade.
Auto-realização, ocupação, distracção, entretenimento, aprendizagem, convívio
são conceitos que incentivam a auto-estima, o bem-estar e a qualidade de vida. Estes
são os segredos para um envelhecimento não só saudável mas também activo.
Realizar uma tarefa, adquirir e partilhar conhecimentos são alguns exemplos de
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
100
Qualidade de Vida dos Seniores
realizações que favorecem sentimentos de auto-estima e integração social. Quanto
mais activa for a participação na sociedade, pelo envelhecimento activo, mais
facilmente será desenvolvido nas pessoas o sentimento de pertença à comunidade.
Não se impinge a ninguém a participação no maior número de actividades sejam elas
de que cariz forem, o segredo está no aproveitamento que se tira de cada gesto. “O
envelhecimento bem-sucedido parece ser aquele em que a pessoa, em estado
constante de experimentação, continua a inventar novas formas de viver e de estar no
mundo, a fazer escolhas e a ocupar o seu lugar na família e na comunidade” (Filho e
Sarmiento, 2004:46). Será este o cenário pretendido. Rosnay, et al. (2006:22)
reforçam a ideia ao afirmar que “(…) estar activo, intelectual e fisicamente, combate o
envelhecimento.” São dados exemplos como ler um livro, tocar piano, conduzir um
carro, navegar na Internet como actividades que permitem ao nosso cérebro se
organizar permanentemente.
Para a plena inserção social, ou melhor, sentimento de pertença existem algumas
preocupações que todos devemos ter. Sendo assim, cabe-nos enumerar alguns
elementos-chave para nos sentirmos bem connosco próprios: nunca esquecer que
temos uma identidade (somos uno), manter sempre acesa a esperança (seja em que
sentido for), ter controlo sobre a sua vida (poder de decisão), ter uma boa imagem de
si e do seu valor, ultrapassar sentimentos negativos (impotência, solidão), reavaliar o
seu papel e das pessoas mais próximas (auto-estima e pessoas significativas), alargar
a rede de suporte (e relações sociais), estabelecer um horário de vida e de actividades
quotidianas (estabelecer horários e actividades para ocupar tempos livres) e implicar a
familiar e pessoas próximas (não se afastando e promovendo o convívio) (baseado em
Mailloux-Poirier, 1995). Referirmo-nos a sentimento de pertença em relação à
sociedade abolindo o termo “inserção social” por considerarmos que ninguém é
excluído por não ter uma actividade profissional e/ou possuir reforma. A novidade é o
estatuto de sénior, socialmente atribuído, ao qual se tem de aprender a pertencer.
Segundo
Quaresma
(2001:4)
podemos
entender
qualidade
de
vida
/
envelhecimento com qualidade como o conjunto das condições favoráveis ao melhor
nível de autonomia, capacidade de desenvolvimento de um projecto nesta etapa da
vida, vida com mais anos e também com expectativas e exigências de
desenvolvimento pessoal. (…) A OMS em 1996 considerou a Qualidade de Vida das
pessoas idosas como a ser medida em termos de capacidade de manutenção do bemestar físico, social e mental, sendo referido que este não pode deixar de reflectir as
experiências e expectativas dos indivíduos face a níveis de autonomia no quotidiano.
Enaltecendo a ideia de auto-sustentabilidade em que o desenvolvimento pessoal
depende da responsabilidade de cada um, a autora realça a importância das
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
101
Qualidade de Vida dos Seniores
aspirações que se pretende atingir. Em prol da manutenção da autonomia deverão ser
estimulados todos os sentidos das pessoas enquanto seres biopsicossociais, físico,
social e mental.
Falar de qualidade de vida ao envelhecer não se prende unicamente à velhice.
Todos os dias todas as pessoas envelhecem. Esta abordagem pontual é de interesse
geral. Veremos que atitudes seguir para auto-promovermos o bem-estar e Qualidade
de Vida.
“Podemos controlar a nossa maneira de viver, a nossa alimentação, a manutenção
do nosso corpo, o nosso sono, a nossa resistência ao stress” (Rosnay, et al., 2006:42).
Analisaremos cada um dos conselhos que os autores nos deixam. Ter prazer de viver
e dar sentido à vida são os chavões da longevidade. A arte de viver é, nesta altura, o
intermediário entre a longevidade e a mortalidade. Não sobreviva, viva!
Esta é uma responsabilidade não só de cada ser humano que tem o privilégio
de viver a velhice mas também, e com grande relevância, da sociedade civil. Caberá a
cada um de nós perceber um pouco mais sobre o que é o envelhecimento e como se
processa
toda
esta
fase
do
desenvolvimento.
Pois
como
uma
maior
consciencialização, os mitos associados poderão ser fortemente atenuados. Por seu
turno, sensibilizar o governo para que as políticas sejam fortemente adequadas aos
seniores, para que novos caminhos se tracem nesta era que, cada vez mais, pertence
à classe dos seniores. Serão eles, num futuro próximo a maior massa representativa
da população.
O papel dos técnicos que rodeiam os seniores, médicos, enfermeiros, técnicos
das câmaras municipais, de juntas de freguesias, de instituições que prestam qualquer
tipo de cuidados revela-se de real importância no que se refere à igualdade de
oportunidades.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
102
Qualidade de Vida dos Seniores
4. A prática profissional do Assistente Social na promoção da
Qualidade de Vida dos seniores
Neste capítulo iremos debater as questões relacionadas com as práticas
profissionais subjacentes à intervenção do Serviço Social. O Serviço Social enquanto
profissão devidamente regulamentada, visa a mudança da sociedade, particularmente
no que diz respeito às pessoas que sofrem as consequências de quaisquer formas de
exclusão e injustiça social, devido a pobreza, desemprego, doença, violação dos
direitos humanos, etc. Os assistentes sociais trabalham na promoção de uma melhor
adaptação dos indivíduos, famílias e outros grupos ao meio social em que vivem,
auxiliando-os na solução dos seus problemas (familiares, económicos, etc.). Ideia
partilhada por Faleiros que defende “O Serviço Social actua numa correlação particular
de forças, sob a forma institucionalizada, na medição fragilização-exclusão/
fortalecimento/ inserção social, vinculada ao processo global de reproduzir-se e
representar-se dos sujeitos em suas trajectórias/estratégias” (Faleiros, 1997:49). Os
profissionais assumem, assim o papel de pilar para capacitar as pessoas para a
tomada de decisões e consciência dos/para os seus problemas.
A intervenção prática da profissão implica uma relação dual entre profissional e
utente. O profissionalismo dos técnicos que, directa ou indirectamente, trabalham com
e para os seniores, repercute-se em todas as suas linhas de acção. Ter espírito de
iniciativa, capacidade para dialogar com todo o tipo de pessoas e gosto pelo trabalho
em equipa são qualidades igualmente importantes. Fundamental é também gostar de
trabalhar com pessoas, ter um interesse real pelos seus problemas e respeito pela
autonomia e liberdade de cada um. Adiante explicamos os modos através dos quais
se desenvolve esta relação e em que medida o Assistente Social pode contribuir para
a promoção da qualidade de vida dos seniores. Tendo a consciência de que no actual
contexto de longevidade crescente, deve introduzir-se uma flexibilidade maior nos
processos de transição que têm lugar ao longo da vida entre a educação, o trabalho e
a reforma, a fim de que cada pessoa possa tomar as suas próprias decisões em
matéria de situação familiar, económica e social.
E porque, o estudo levado a cabo, tem como campo de análise o concelho de
Portimão veremos ainda, neste capítulo, como territorialmente são implantadas e
operacionalizadas as respostas sociais que respondem a todo um conjunto de
vulnerabilidades associadas à realidade do concelho.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
103
Qualidade de Vida dos Seniores
4.1 – Práticas profissionais
A prática profissional do Serviço Social institucionaliza-se como resposta de
enfrentamento à questão social. A emergência do Serviço Social tem origem no
progresso industrial e na expansão urbana que agudizam as tensões sociais em
relação ao crescimento de vulnerabilidades como a pobreza, desemprego e
degradação das condições de vida da classe trabalhadora. Perante a ameaça à ordem
e estabilidade social surge a emergência em delinear novas formas de enfrentamento
da questão social. A partir daqui, é assumida a necessidade de trabalho especializado
representado por Assistentes Sociais que focam a sua acção nos problemas e
necessidades sociais derivados do aprofundamento do capitalismo (Iamamoto, 1986).
A “questão social” é aqui entendida como o conjunto das expressões de desigualdade
social, económica e/ou cultural, que se repercutem em problemas da sociedade
capitalista enquanto resultado da dicotomia capital vs trabalho.
Estávamos em 1910, aquando da implantação da República, quando surgem
as primeiras medidas de resposta à “questão social”. Foram criados os seguros sociais
obrigatórios, as leis sobre o arrendamento urbano, acidentes e foram regulamentados
os horários de trabalho e o reconhecimento de alguns direitos (associação, greve,
ensino gratuito e neutro e direito à assistência) (Negreiros, 1999). Por esta altura, o
Serviço Social era visto como “uma forma laica de prestar assistência” (Ibidem,
1999:46). Mais tarde, em período de 2ª Guerra Mundial conhecem-se lutas contra o
aumento do custo de vida e contra os efeitos da guerra. Os Assistentes Sociais são
chamados a intervir, integrando-se nos principais serviços públicos. A par da
implementação de uma prática profissional devidamente reconhecida findam-se
actividades caritativas e filantrópicas, pelo menos, directamente associadas aos
profissionais (cenário veiculado à I República). A partir dos anos 60 assiste-se ao
movimento de reconceptualização que procura incessantemente, até aos dias de hoje,
um modelo teórico-prático unificado para o Serviço Social. Facto que tem gerado muita
controvérsia nas opiniões dos teóricos da profissão.
As questões sociais tipificam-se em Políticas Sociais e, por sua vez, o papel do
Assistente Social consiste em executá-las. O Estado levando a cabo a sua “(…)
intervenção ao nível das políticas públicas vai interferir com o mercado de trabalho
profissional de forma significativa (…)” (Negreiros, 1999:39). Neste caminho, a
intervenção do Estado na sociedade de forma a enfrentar a questão social, abre as
portas ao reconhecimento, contratação e implementação da prática profissional. O
Estado “está no cerne desse enfrentamento, pois historicamente o assistente social se
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
104
Qualidade de Vida dos Seniores
insere na sociedade como funcionário do Estado, chamado a viabilizar diferentes
políticas sociais, para actuar com questões específicas: questão agrária, habitação,
saúde, educação,” etc. (Iamamoto, 1987:52). Assim, a profissionalização do Serviço
Social tem a sua base nas modalidades através das quais o Estado enfrenta as
questões sociais, convivendo os seus profissionais as mais amplas expressões da
questão social, matéria-prima do seu trabalho.
Negreiros (1999), salienta a proliferação das políticas sociais na década de 80.
Ao nível das autarquias foi criado o Poder Local que define novas competências na
esfera social que conduz a um novo campo de intervenção e, por seu turno, foi
implementada a descentralização do Sistema de Segurança Social ao serem criados
os Centros Regionais de Segurança Social.
A realidade está em constante movimento, o tempo vai passando e a realidade
transforma-se. O mesmo acontece com as questões sociais que norteiam a nossa
prática profissional. “Daí a necessidade de uma constante adaptação à evolução das
diversas formas de sociedade e de nela intervir. Isto implica que a prática profissional
precisa ser constantemente redefinida e que o assistente social (para que essas
respostas às questões tenham um carácter transformador) tenha conhecimento da
realidade em sua totalidade, integrando suas várias dimensões: o jogo de poder entre
as classes, as lutas de classes. As condições de vida dos sectores populares, as
diversas organizações da população, o conhecimento das leis que regem os
movimentos sociais, etc.” (Buriolla, 1995:90). O profissional enfrenta problemas que,
prendem-se não só, com a busca de mecanismos de resolução de situações-problema
mas também, na interpretação dos processos que integram o económico, o politico, o
cultural e o ideológico (Monteiro, Rodrigues e Nunes, 1991). As autoras explicam aqui
a multidimensionalidade associada a cada problema social, a cada caso social. As
vulnerabilidades dos indivíduos, por vezes, são de tal dimensão que abarcam todo o
conjunto de condicionantes que poderão influenciar situações indesejáveis.
Cabe, então explicar que o Serviço Social se desenvolve em cinco contextos
diferentes24, os quais, apesar de poderem ser analisados separadamente, constituem
partes de um todo. Esses contextos são de carácter geográfico, político, sócioeconómico, cultural e espiritual:
(a) Geográfico: toda a actividade se desenvolve dentro de determinadas fronteiras:
organismo, nação, Estado, região.
24
Em Direitos Humanos e Serviço Social. Manual para Escolas e profissionais de Serviço Social. ONU.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
105
Qualidade de Vida dos Seniores
(b) Político: Cada país tem um determinado sistema político. Este define o contexto
dentro do qual a actividade se desenvolve, quer o sistema seja liberal ou repressivo,
socialista, social-democrata ou capitalista.
(c) Socio-económico: um modo de vida adequado, trabalho, saúde e serviços
médicos apropriados, educação e, se possível, acesso à segurança social e a serviços
sociais são aspirações humanas elementares. A coesão social de qualquer grupo ou
nação depende, em larga medida, de uma distribuição equitativa dos recursos
disponíveis.
(d) Cultural: os usos, crenças, aspirações e cultura dos indivíduos, das famílias, dos
grupos, das comunidades e das nações têm de ser respeitadas, embora sem prejuízo
da evolução de determinadas práticas e crenças. Doutro modo, ocorrerão actos
discriminatórios, destrutivos para a sociedade.
(e) Espiritual: nenhuma sociedade no seio da qual se desenvolve Serviço Social é
destituída de valores. É de importância central, quer para o desenvolvimento do
Serviço Social, quer para desempenho humano, que seja prestada atenção ao
espírito, valores, filosofias e ética, bem como às esperanças e ideais daqueles com
quem os profissionais de Serviço Social trabalham e, ao mesmo tempo, aos valores
dos próprios assistentes sociais.
Para Payne (2002) a construção social do Serviço Social engloba três
elementos: o profissional, o contexto e o cliente. Para isso é necessário ter em
atenção a tríade Assistente Social–cliente-contexto “(…) analisando as expectativas,
normas culturais e de conduta, assim como, as construções sociais de cada um”
(Payne, 2002:33).
A construção do Serviço Social enquanto profissão e disciplina, em Portugal,
não se mostrou num processo fácil, pelo contrário, revelou-se por controvérsia dada à
complexidade da sua prática profissional e também devido ao significado atribuído
quer pela sociedade quer pela função social que desempenha.
De acordo com o Código Deontológico dos Assistentes Sociais, “O Serviço
Social visa o maior bem-estar e desenvolvimento dos seres humanos, assim como,
promover mudanças nos que sofrem as consequências de quaisquer formas de
exclusão e injustiça social, nomeadamente por pobreza, desemprego, violação dos
Direitos Humanos, etc. (art. 47º, 4). Os Direitos Humanos podem ser definidos, em
termos gerais, como aqueles direitos que são inerentes à nossa natureza e sem os
quais não podemos viver como seres humanos.
A profissão de Assistente Social promove mudanças sociais e empowerment,
resolve problemas de relações interpessoais e incentiva a liberalização das pessoas
para atingir ou realçar o bem-estar. Utilizando teorias do comportamento humano e do
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
106
Qualidade de Vida dos Seniores
sistema social, os trabalhadores sociais intervêm nos aspectos onde as pessoas
interagem com seus ambientes. Os princípios dos direitos humanos e da justiça social
são fundamentais ao Serviço Social. (Dominelli, 2004). A prática do Serviço Social tem
estado centrada, desde o seu início, na satisfação de necessidades humanas e no
desenvolvimento do potencial e recursos humanos. Fias (1994), desenha a função
prática da profissão, ao agrupar os campos de dedicação em prol do bem-estar e da
realização pessoal dos seres humanos; ao desenvolvimento e utilização disciplinada
do conhecimento científico relativo ao comportamento das pessoas e sociedades; ao
desenvolvimento de recursos destinados a satisfazer necessidades e aspirações
individuais, colectivas, nacionais e internacionais; e à realização da justiça social.
A intervenção dos profissionais de Serviço Social consiste no esforço pelo
desenvolvimento de capacidades e competência socais, individuais e colectivas a três
níveis, cognitivo, relacional e organizativo. A nível cognitivo os profissionais
direccionam a sua linha de acção para a promoção de acesso à informação
incentivando a sua compreensão para o funcionamento da sociedade global e da
melhor forma de auto-rentabilizarem os seus próprios recursos. Ao nível relacional,
preocupam-se em facilitar o desenvolvimento das relações interpessoais e de grupo,
por intermédio da capacitação dos indivíduos em assumirem novos papéis e
estimulando novas formas de comunicação e expressão. Para finalizar, a intervenção
dos profissionais ao nível organizativo, consiste no esforço pela promoção da
interacção entre cidadãos, organizações e outras estruturas socais, accionando ou
criando novos recursos sociais desenvolvendo, deste modo, a participação e a
capacidade organizativa dos indivíduos e grupos. (Negreiros, 1999)
De um modo geral, podemos enumerar as funções destes profissionais em i)
detectar as necessidades gerais de um indivíduo, família ou grupo (elaboração de um
diagnostico social); ii) reunir informações susceptíveis de dar resposta às
necessidades dos indivíduos e grupos e aconselhar sobre direitos e obrigações; iii)
fazer atendimento aos indivíduos no âmbito de um determinado organismo ou
instituição, encaminhando-os para as diversas entidades públicas e privadas que
podem auxiliá-los na resolução dos seus problemas (autarquias, escolas, segurança,
social, IPSS´s, etc.); iv) incentivar os indivíduos, famílias e outros grupos a resolverem
os seus problemas, tanto quanto possível através dos próprios meios, promovendo
uma atitude de autonomia e participação, encorajando-os, por exemplo, a dirigirem-se
a entidades empregadoras para, eles próprios resolverem os seus problemas; v)
colaborar na definição e avaliação das políticas sociais, com base nos conhecimentos
obtidos através de estudos que efectuam junto de determinada população, para
melhor adequação entre as medidas de politica social e os direitos reconhecidos aos
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
107
Qualidade de Vida dos Seniores
cidadãos. Estas são, de um modo geral as funções levadas a cabo na prática diária de
um profissional de Serviço Social, dado que e tendo em conta o local de trabalho,
assim são delineadas as funções específicas de cada área de intervenção. Sendo que,
na maioria das vezes, o nosso trabalho está em estreita colaboração com outras
profissões, formando equipas multidisciplinares que, em muito facilita a obtenção de
resultados positivos. Assim, cada prática direcciona-se para um determinado fim e
todas elas têm uma dimensão de poder que lhes é inerente. Especificando e pegando
nas palavras de Monteiro, Rodrigues e Nunes (1991:71) “o desempenho dos
assistentes sociais configura-se numa prática social organizada por necessidades
humanas que, ao suscitarem a sua satisfação, justificam uma intervenção procurada
por um certo número de indivíduos e concretizada através da prestação de serviços.”
“O agir profissional é pratica-sócio-politica marcada pela consciência que o
assistente social tem do seu exercício, pela sua visão do mundo, que se reflecte na
estrutura das suas acções, as quais se fazem no âmbito das relações sociais (…) a
prática profissional, que é prática-social-política, tem também condições de ser praxis
de sentido transformador”. (Buriolla, 1995:88). O Serviço Social desdobra-se em
prática profissional e em prática social-política. A prática profissional sendo a
desempenhada diariamente, tem por base directrizes políticas para serem aplicadas
socialmente. Ou seja, o profissionalismo da profissão consiste na operacionalização
das políticas sociais enamadas politicamente pelo Estado. A prática é política no
social. Assim, “A concretização dessa praxis exige um comprometimento real que
possibilite uma acção crítica, consciente, participativa, reflexiva e criadora da história
que lute pela mudança das relações de poder, pela subordinação dos interesses
particulares colectivos” (Kameyana, s.d.:148). O que ressalta no todo destas
influências sobre a prática do Serviço Social, é o profissionalismo com que cada
profissional recebe as directrizes orientadoras da sua prática e as mecaniza
diariamente.
Os profissionais têm em mãos o desafio, não somente de entender e analisar
situações-problema mas, antes de mais, compreender para delinear a sua
intervenção. E para o sucesso das práticas profissionais, estas não podem ser
percepcionadas de forma desenraizada do seu contexto ou campo de intervenção.
Desta forma, o contexto da prática profissional permite-lhe alcançar a sua identidade
específica.
No contexto institucional e particular, o profissional de Serviço Social utiliza os
recursos institucionais a favor da população o que lhes exige uma reflexão colectiva de
modo a saber definir quando avançar e quando recuar, quer perante a instituição quer
perante a população. O Assistente Social precisa coadjuvar a acção dos indivíduos,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
108
Qualidade de Vida dos Seniores
fornecendo alternativas concretas específicas e eficazes para que a dinâmica do
conflito e o encaminhamento das soluções sejam favoráveis aos interesses dos
indivíduos que procuram os serviços. Contudo, e seguindo Faleiros (1997:32) na sua
grande maioria “os objectivos e objectos do Serviço Social são definidos pela
Instituição” (…) “os objectivos profissionais se definem conforme as diferentes
instituições sejam públicas (assistência, bem-estar, promoção), privadas (melhora do
relacionamento), do terceiro sector ou da como a Igreja (promoção do homem). Por
outro lado, “As demandas da população vão definindo também esta prática profissional
como pedidos de recursos, capacitação, encaminhamentos, informações, orientação,
organização” (Faleiros, 2000:32). Seguimos a tríade (profissional-contexto-cliente), de
Payne (2002), atrás referida, embora aqui seja visto o profissional inserido numa
instituição que, também por ela se vê influenciado.
Há também os que consideram o Serviço Social no papel de mediador de
conflitos, “ (…) cabendo-lhe intervir sobre as tensões, os conflitos, a violência, entre os
grupos excluídos, a sociabilidade local e a sociedade instituída” (Freynet, 1995), sem
contudo tomar posição por nenhum dos pólos do conflito. Neste sentido, Faleiros
remata, referindo que o Serviço Social faz a interligação entre os sistemas-recursos e
de poder com os sistemas-utilização, tendo como objectivo a inclusão social dos
excluídos pela sociedade desigual” (Faleiros, 1997:34). Podemos, assim, referir o
papel de facilitador que o assistente social assume como sendo um elo de ligação
entre os dois sistemas.
Uma variante importante da prática profissional que não podemos deixar de
referir nesta abordagem, prende-se com as questões ligadas ao poder. Grande parte
dos autores enquadra a sua linha de pensamento às ideias de Foucault (1977) que
encara como natural o poder presente nas interacções sociais que são negociadas
pelas partes. Se falarmos na relação profissional-utente, podemos dizer que o poder é
partilhado. Nesta dualidade o poder reparte-se pelas partes, na medida em que, o
profissional cria espaços de manuseamento ao utente enquanto este responde pela
eficaz utilização dos mesmos enquanto cidadão devidamente informado. Esta é uma
relação vantajosa para ambos os lados, onde as partes vencem fruto de um trabalho
de equipa entre quem ajuda e quem é ajudado. Mais à frente falaremos das questões
ligadas ao empowerment que, consiste no processo de capacitação do utente,
descorando, aqui, que, na balança o poder recaía para algum dos lados. Todavia, esta
não é a única forma de poder patente à nossa profissão. Os profissionais deparam-se
com um poder exercido hierarquicamente superior quer pelas chefias ou direcção de
instituições. Certo é que existe sempre alguém que, acima de nós supervisiona as
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
109
Qualidade de Vida dos Seniores
nossas acções, no entanto também este pode ser um poder partilhado se, porventura,
se estabelecer uma relação estreita entre ambas as partes.
Sabemos que a prática profissional conduz a muitos caminhos do Serviço
Social. Temos aqui falado da intervenção direccionada para o agir profissional, mas
temos igualmente de realçar a parte mais teórica desta acção. Sabemos que teoria e
prática são inseparáveis, um não faz sentido sem o outro. É a partir da prática que
novas formas de intervenção e novos projectos podem ser repensados e recriados.
Assim, “A acção profissional, como condição de possibilidade que a constitui, torna
possíveis novas produções teóricas, novos valores, novos significados, novas
direcções nas acções profissionais. Isto ocorre na medida em que os assistentes
sociais vivenciam, experimentam, fazem acontecer a prática profissional, mas também
elaboram o seu conhecimento, tornando possível e viável um processo onde a teoria e
a prática estão intimamente unidas e realizadas pelos próprios sujeitos desse
processo “ (Buriolla, 1995:90). Certamente sintetizado pelo autor, acrescenta-se a
investigação como parte da prática, na medida em que, qualquer profissional (de
investigação) diariamente ao acompanhar os seus casos sociais, desenvolve uma
prática reflexiva que vai permitir-lhe tomar a sua prática como alimento base da sua
investigação teórico-reflexiva.
O maior desafio para o Assistente Social é desenvolver a sua capacidade de
interpretar a realidade e ser capaz de construir propostas de trabalho criativas, ser
capaz de preservar e efectivar direitos tendo em conta as necessidades do momento e
promover a cidadania. “Cidadania é pertencimento, cidadania é inclusão, cidadania é
usufruto de direitos, é acesso pleno a direitos” (Martinelli, 1998:142). A associação de
profissão de bem-estar ao Serviço Social, não deixa margem para dúvidas. Embora
não haja uma uniformidade e unilinearidade das práticas, os objectivos são
coincidentes, embora com objectos e contextos de trabalho diversificados.
Em suma, o papel do Assistente Social está directamente ligado à execução
das políticas sociais. Ao nível da prática o “espaço” no trabalho é de luta, conflitos e de
acção cuja relação é dinâmica e contraditória. O trabalho do técnico consiste numa
análise das possibilidades, das oportunidades e da previsibilidade da acção que, se
resume no saber o que fazer, quando, como e porque fazer. No entanto não podemos
descurar da nossa análise a importância da relação do profissional de Serviço Social
para com os indivíduos que nos procuram nos serviços.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
110
Qualidade de Vida dos Seniores
4.2 – Relação Profissional-Utente
A base de uma relação entre quem presta e quem recebe um serviço, seja este
qual for, deve basear-se na conquista de uma crescente aproximação entre as partes.
Uma boa aliança de confiança facilita a relação, na medida em que, ambas as partes
absorvem mais rapidamente o que lhes é dito e onde uma boa abertura facilita a troca
de experiências. Cada pessoa é um ser humano diferente e terá de haver
compreensão e preocupação com as suas trajectórias e histórias de vida. Cada
pessoa tem os seus interesses, goza das suas referências, nível particular de
cidadania, índice pessoal de participação nas decisões que lhes dizem respeito, a sua
rede pessoal de suporte e de amizade, i. é., cada pessoa é biopsicossocialmente
diferente. No entanto todos envelhecemos e, ou em diferentes porções ou em
momentos distintos iremos passar por todas as situações inerentes ao processo de
envelhecer. Assim, envelhecer bem, desperta em cada indivíduo a maior ou menor
necessidade de busca de uma panóplia de afazeres no, agora seu, tempo livre.
A figura de assistente social está fortemente ligada a quem está do outro lado,
ao utente. Da totalidade dos técnicos que acompanham qualquer indivíduo, o
assistente social, segundo Martinelli (1998:140) é “ (…) um dos poucos profissionais
que pode chegar à esfera da vida privada das pessoas.” Não são muitos ou quase
nenhuns, os profissionais que se deslocam ao habitat de cada indivíduo, para que, in
foco, se avaliem e se perceba a multidimensionalidade dos seus problemas. Está aqui
subjacente uma nova tríade prática educativa-vida privada-sociedade. Prática
educativa, porque somos responsáveis pela transmissão de encorajamento às
pessoas e, deste modo, mostramos um processo educativo a seguir que os levará,
pelo menos, a um padrão de vida melhor. Vida privada por que entramos na vida das
pessoas “evadindo” a sua privacidade, partilhando connosco toda a sua história de
vida e, sociedade porque, no fundo fazemos todos parte dela. Conseguimos manter
esta relação estreita e próxima com os indivíduos que nos caracteriza enquanto
técnicos.
E porque falamos especificamente no trabalho com seniores, também aqui, o
objectivo último da actuação do Serviço Social é produzir mudanças. Por sua vez, esta
mudança terá como base a capacitação do técnico em promover o empowerment aos
seniores. Através de uma variedade de instrumento de trabalho, pretende-se que, por
eles, os seniores criem situações que promovam a sua qualidade de vida e bem-estar,
estabeleçam laços nas suas relações interpessoais que os conduza à plenitude de um
envelhecimento activo.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
111
Qualidade de Vida dos Seniores
O envelhecimento activo consiste, de acordo com a OMS, no “processo de
optimização de bem-estar físico, social e mental ao longo da vida, a fim de aumentar a
esperança de vida, a produtividade e a qualidade de vida na velhice” (Jacob, 2007). O
sentido que atribuímos à vida, depende, nos casos em que a saúde nos permite,
somente de nós. Cada um escreve as linhas condutoras da vida.
O empowerment objectiva-se em última instância na criação ou reforço pela
autonomia, auto-estima e cidadania. Pretende-se devolver aos utentes segurança,
oportunismo e confiança. O equilíbrio na relação técnico-utente, a partilha do poder, da
autonomia, da responsabilidade em delinear todo um conjunto de situações capazes
de capacitar o utente para que, ele mesmo se responsabilize pela oportunidade em
estar vivo, está na base de um processo óptimo de empowerment.
Johnson (2003:41) baseado no esquema sugerido por Mondros e Wilson
(1994) refere quatro recursos mínimos para a concretização deste processo. Em
primeiro surge a interacção “descrevendo competências para a interdependência em
intersubjectividade, entende-se a autonomia do cliente não como um exercício
introvertido de auto-suficiência mas como uma capacidade que se exercita com os
outros, em interdependência”. O tempo, por sua vez “implica o sentido de
oportunidade no percurso de vida da pessoa, grupo ou comunidade a favor da(s)
qual(is) intervimos e assim como a ideia de processo evolutivo de acção”. O valor,
enquanto recurso mínimo traz a “consciência de que na relação profissional coexistem
saberes diferentes, de igual importância e passíveis de convergência no que se refere
à satisfação dos vários interesses e posições”. Jonhnson (2003:41) introduziu o factor,
como outro recurso mínimo, ao modelo de Mondros et Wilson apresentado em 1994,
na medida em que “constitui uma coordenada que permite situar os sujeitos em dado
contexto histórico-político-social, influenciando, condicionando por vezes até, as
percepções e interacção humanas”.
“Ensaiar uma aplicação desta perspectiva ao Serviço Social gerontológico
implica encarar a pessoas idosa como força-motriz daquele processo, persona de
“valor único”, indivíduo integrante em família e comunidade, sujeitos de direitos e
deveres e com determinado perfil de necessidades e capacidades, consumidor de
bens e serviços e também cliente da serviços e equipamentos de apoio social ”
(Ibidem, 2003:41). Ao encararmos cada pessoa enquanto ser uno biopsicossocial, o
técnico assume a individualidade de cada acompanhamento face à heterogeneidade
dos seres humanos. Todavia, a comunidade civil tem uma palavra a dizer, ou melhor,
atitudes a praticar. O empowerment para qualquer pessoa implica o envolvimento da
tríade técnico-utente-comunidade. O sucesso individual é tanto maior quanto mais
reforçadas estiverem estas alianças. A instituição, na pessoa do técnico, em conjunto
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
112
Qualidade de Vida dos Seniores
com o utente, estão incumbidos de estabelecer os níveis e ritmos das intervenções,
assim como identificar e delimitar os recursos e as oportunidades de concretizá-las.
Segundo Almeida (2005:6) na relação técnico-utente deverá imperar uma
personalização da acção que, “permite que as respostas ultrapassem a sua dimensão
geral e abstracta, passem para o concreto, particular e singular, harmonizando o
subjectivo e o objectivo, o individual e o colectivo (…) equivale a encarar as diferenças
no quadro global e do colectivo, mas significa igualmente estabelecer um quadro
referencial de práticas comuns. E termina afirmando que “com a personalização ganha
o sujeito, a instituição e os profissionais”. A autora faz referência ao que preferimos
chamar de individualização processual. Esta individualização corresponde à não
generalização das situações-problemas e à homogeneidade dos indivíduos. Cada
processo ser trabalhado individualmente e assumindo que o meio através do qual um
individuo alcançou o sucesso pode não ser o mesmo para outro que, porventura até
pode ter características semelhantes.
O incentivo à participação na comunidade, deverá partir dos técnicos, embora
se respeite firmemente quem não o queira fazer. Barbalet (1989:135) reforça a ideia
admitindo que “a cidadania tem um papel na integração da sociedade porque tem uma
importância especial para a participação na vida social”. A cidadania implica “o
reconhecimento mútuo das diferenças que nos instituem, na medida em que
partilhamos o mesmo espaço social e político” (Roman, 1998:49). A “Participação é
um dos conceitos mais utilizados na prática social” e com ela pretende-se “a mudança
de atitudes e comportamentos” por parte dos indivíduos (utentes), pois só assim
conseguem “modernizar seus comportamentos, sacudir a apatia e obter recursos para
melhorar suas oportunidades de vida (...) neste sentido a participação é definida como
luta, combate, mobilização, pressão, poder, ou seja, como articulação de forças e de
estratégias em torno de interesses de classes para conquista de poderes, recursos e
reconhecimento” (Faleiros, 1982:17). A estas referências pouco resta acrescentar.
Cidadania e participação revelam-se, assim, nos ingredientes necessários para uma
favorável integração social. Quanto mais participarmos na/com sociedade civil mais
vincados serão os nossos sentimentos de pertença a ela.
“Desde o início da sua prática, os assistentes sociais consideram a participação
do cliente no processo não só como um princípio de valor, mas também como uma
estratégia de acção.” (Baptista, 1987:84). A participação é entendida como prática de
cidadania comunitária, através da qual, os assistentes sociais podem, por meio de
práticas profissionais, proporcionar condições concretas de acesso à informação, de
veiculação da suas ideias, interesses e posições, de reivindicações de aspectos de
interesse, sabendo o que deve ser reclamado e a quem (Ibidem, 1987). É mais fácil
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
113
Qualidade de Vida dos Seniores
trabalhar com pessoas participativas, na medida em que, o processo de empowerment
ocorre com maior regularidade, consistência e, claro, sucesso.
Para além do esforço para que os sujeitos sejam activos e participativos em
prol da sua autonomia e a consequente cidadania, cabe de igual modo, aos
profissionais estabelecer estratégias de intervenção em rede, já Faleiros defendia que
“É na relação de redes que se colocam as questões enfrentadas pelos próprios
sujeitos na sua perda de poder para articulá-las em estruturas e movimentos de
fortalecimento de cidadania, da identidade, da autonomia”. Sabe-se (…), que
indivíduos sozinhos não têm condições de se fortalecer” assim sendo “Trabalhar em
rede é (…) a superação do voluntarismo e do determinismo, da impotência diante da
estrutura e da omnipotência da crença de tudo poder mudar. Na intervenção de rede,
o profissional não se vê nem impotente nem omnipotente, mas como um sujeito
inserido nas relações sociais para fortalecer (…) as relações destes mesmos sujeitos
para ampliação de seu poder, saber, e de seus capitais” (Faleiros, 1997: 24-25). O
trabalho em rede implica uma responsabilização por parte dos parceiros, uma vez que,
envolve automaticamente a noção de parceria, que se traduz no princípio estratégico
de acção do Serviço Social. Em nome de uma causa comum, esta acção envolve um
conjunto de instituições que, operando em conjunto, conseguem ter um melhor e mais
aperfeiçoado conhecimento da realidade por intermédio da partilha de conhecimentos
e articulação nas medidas e estratégias de intervenção nas mais diversas áreas. Todo
este processo conjunto, facilita a obtenção de objectivos de forma mais fácil e rápida
do que, se cada profissional trabalhasse individualmente.
A nível concelhio este revela-se bastante vantajoso, a conjugação de esforços
com vista à resolução de problemas e, por outro lado, com vista a encontrar soluções
nos meios locais para chegar facilmente aos indivíduos mais desfavorecidos e com
acrescentes vulnerabilidades. Este instrumento de trabalho proporciona formas de
intervenção eficazes junto das comunidades locais. Tal como o ditado popular diz “a
união faz a força”. Deste modo, o trabalho em rede tem-se mostrado um fiel amigo do
Serviço Social. Cada vez mais, estamos inseridos em equipas multidisciplinares, onde
a partilha de estratégias de intervenção se revela fundamental face ao delineamento
de soluções perante cada situação-problema. Mesmo em trabalhos não inseridos em
qualquer rede de trabalho, o profissional terá de estabelecer contactos com outras
entidades, de forma a conhecer o percurso de vida do seu cliente.
Podemos concluir sobre a importância desta dualidade profissiona-utente,
reflectindo que, numa primeira instância, esta relação traduz-se no tendão de Aquiles
de todo o processo de recuperação face à situação vivida. Sinteticamente podemos
apontar como aspecto norteador desta relação o empowerment como principal
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
114
Qualidade de Vida dos Seniores
instrumento de trabalho do Serviço Social e muito especificamente quando de trata de
promover a qualidade de vida nos seniores. Os seniores, possuidores já de uma
história de vida tão preenchida têm, contudo, alguns sentidos e capacidades
esquecidos que precisam de estimulação. E porque o trabalho com e para os seniores
não pertence a um grupo de práticas homogéneas, tomemos como análise o caso do
concelho de Portimão.
4.3 Perspectiva Territorial
Viver em meio urbano vs viver em meio rural
Nos últimos anos a realidade sócio-espacial do país tornou-se cada vez mais
complexa. Por conseguinte, os espaços rurais e urbanos não podem ser
compreendidos separados um do outro, visto que são realidades que não existiriam de
forma isolada, na medida em que estes dois espaços interagem interrelacionam-se.
Assimetrias e/ou desigualdades existem e muitas vezes tendem a persistir, em
particular ao nível do emprego e da produção de mais-valias económicas. Se, por um
lado, poderão ser o resultado da evolução do mundo são, sem dúvida, também, o
espelho de políticas públicas que ignoraram o declínio do mundo rural e o crescimento
desmesurado, senão anárquico do “novo urbano”.
O meio urbano é facilmente reconhecido pela sua edificação continuada e pela
existência de equipamentos que procuram responder e satisfazer as necessidades de
quem lá habita, sejam elas habitacionais, recreativas, laborais, educacionais, médicas,
entre outras. Por outro lado a denominação de meio rural tem associado a si
indiscutivelmente o conceito de campo. São zonas pouco urbanizadas nas quais
predominam outro tipo de actividades tais como a silvicultura, as actividades
agropecuárias e industriais, entre outras. Mais recentemente estas áreas têm
assumido um papel importante na dinamização do turismo, no que concerne à sua
vertente rural, dando azo ao aparecimento de novas formas de turismo, como o
turismo de habitação, eco turismo e turismo rural. De igual modo, a crescente
tendência de urbanização dos espaços rurais, a reestruturação produtiva, com a
consequente relocalização de actividades económicas nesses mesmos espaços e o
aumento da mobilidade, traduziram-se num alargamento das bacias de emprego e das
respectivas áreas funcionais das cidades, ao mesmo tempo que induziram o
aparecimento de novas actividades e funções em áreas rurais.
Neste
contexto,
as
relações
urbano-rurais
assumem
características
diferenciadas consoante se tratam de territórios densamente povoados fortemente
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
115
Qualidade de Vida dos Seniores
influenciados pela densidade populacional representada pelas cidades que as
envolvem. À nossa escala local estamos perante uma área rural densamente
povoadas estruturadas por uma cidade de pequena e média dimensão (que
corresponde a uma parcela significativa do território nacional.
É certo que as separações objectivas são difíceis não havendo consenso entre
os limites e características de ambos os meios. Estas duas áreas não sendo opostas
apresentam inúmeras diferenças no nosso país. A densidade populacional é o factor
mais evidente. Nas últimas décadas este antagonismo tem vindo a acentuar-se com o
crescimento do êxodo rural. As disparidades mais objectivas passam por considerar
um meio rural cujas características se opõem às dos centros com densidades
populacionais relativamente altas, uso intensivo do solo com redes de infra-estruturas,
equipamentos e blocos de habitação, bons acessos internos e a outros centros e forte
peso da actividade económica nos sectores secundário e terciário, mas principalmente
neste, fornecendo bens e serviços com alcance pelo menos concelhio. A proximidade
aos bens e serviço é um aspecto fundamental no contributo para uma melhor
qualidade de vida. A população residente em Portimão dispõe de um leque variado de
opções e ofertas bem como melhores acessibilidades aos mesmos. Contrapondo, a
população rural da Mexilhoeira Grande tem uma maior dificuldade em aceder a esses
bens e serviços que não só estão distantes como muitas vezes inacessíveis. As
actividades económicas encontram-se, assim, centralizadas nos meios urbanos,
obrigando a um deslocamento da população rural sempre que dos mesmos
necessitam. O isolamento físico é outro factor. Enquanto nas zonas urbanas as
acessibilidades e a rede de transportes disponíveis são mais variados, nas zonas
rurais existe uma grande carência, chegando mesmo a ser inexistentes. A paisagem é
dos aspectos que mais facilmente distingue estes dois meios. O meio urbano
apresenta uma área urbana densa e consolidada, onde a poluição é imensa e o
tráfego desmedido. No meio rural predominam o verde e o castanho como cores de
fundo. A cércea das habitações é baixa e a densidade construtiva muito inferior.
Outra perspectiva sobre a separação rural-urbano assenta nas relações
interpessoais e relação com o meio que consiste na diferenciação de valores,
conforme as percepções e as representações, por exemplo, ver o rural como espaço
de negação do urbano, um domínio menorizado, explorado, desqualificado. Todavia,
noutros casos também, temos o meio rural simbolizando maior solidariedade,
proximidade pessoal e entreajuda, enquanto o urbano se associa ao anonimato, à
indiferença, ao egoísmo, ao individualismo e ao mundo da competitividade. Sob uma
perspectiva mais optimista, podemos ver o meio urbano como símbolo das
expectativas de realização social e profissional, de fácil acesso a equipamentos de
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
116
Qualidade de Vida dos Seniores
ensino, cultura, lazer, saúde, apoio a pessoas com dificuldades, etc., esquecendo a
dimensão dos espaços de exclusão (Cavaco e Moreno, 200625).
Considerando que as interligações entre os meios urbanos e rurais tenderão a
reforçar-se, é importante reconhecer e potenciar as oportunidades que daí advêm para
os
espaços
de
maior
ruralidade,
fortemente
pressionados
pelo
êxodo
e
envelhecimento populacional, a que se juntam as poucas oportunidades de emprego e
os insuficientes níveis de provisão de bens e prestação de serviços.
Estes factores são alguns dos aspectos que à primeira vista nos permitem
distinguir estas duas classes de espaço geográfico. Contudo, não são universais nem
se perpetuam no tempo nem no espaço. Uma zona rural localizada na imediação de
uma metrópole terá certamente características diferentes de uma localizada perto de
um aglomerado urbano de pequena dimensão. É tudo uma questão de escala. Sendo
assim, é necessário conhecer bem a realidade de que se pretende falar, neste caso o
concelho de Portimão, mais propriamente a zona urbana da cidade e a zona rural da
freguesia da Mexilhoeira Grande.
Apesar de não muito distantes em termos físicos estas duas realidades
apresentam diferenças significativas. A cidade de Portimão é a cidade mais importante
do Barlavento Algarvio e concentra um grande número de recursos, bens e serviços
com capacidade para servir um grande número de pessoas. A Mexilhoeira Grande não
está propriamente isolada fisicamente…está apenas distante. Esta distância (não
física) poderá ser superada caso sejam reforçados os equipamentos e infra-estruturas.
Uma vez que a população deste meio rural é maioritariamente envelhecida, partimos
do pressuposto que não conduzem, e como tal o reforço da rede de transportes e o
melhoramento da rede viária assumem condição imperial em todo este processo de
encurtamento das distâncias. O estar isolado, não tem necessariamente um
significado pejorativo, na medida em que muitas pessoas escolheram este como o seu
modo de vida. A calma e a tranquilidade muitas das vezes são factores
compensativos.
É verdade que continua a persistir a ideia de que o mundo rural se encontra
num processo estrutural de marginalização económica, social e simbólica, no entanto,
campo e cidade são complementares e mantêm um relacionamento estável num
contexto marcado pelo equilíbrio e pela harmonia de conjunto. Vejamos como na
prática dos autarcas se espelham estas diferenças ou se, porventura, não se dá por
elas.
25
Jornal de Animação da Rede portuguesa Leader + “Pessoas e Lugares”. II Série N.º41, 2006.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
117
Qualidade de Vida dos Seniores
4.3.1 Serviço Social e Poder local: Pensar Global, Agir local
O poder local é entendido como Estado local, “um poder que é Estado, embora
local” (Branco, 1995:184). Com a particularidade, realçada por Santos (1989), “as
virtualidades democráticas do poder local residem na sua proximidade à sociedade
local, na multiplicidade de mecanismos de participação, de representação e de
auscultação que torna possíveis (…)”. Daremos início à reflexão envolta de conceitos
que traduzem a forma de poder a nível concelhio em comparação com o poder central.
No entanto, Dearlove (1973) refere as duas perspectivas que têm orientado o
discurso sobre o poder local. Por um lado, consideram-no como agência da
Administração Central, e por outro, vêem-no como governo autónomo. Na primeira
situação, as autoridades locais são concebidas como estruturas administrativas cuja
principal função é a implementação das políticas decididas pelos níveis superiores do
governo. Assim, é o governo central que determina as políticas e orientações
remetendo-se o governo local à sua aplicação às particularidades locais. Na outra
perspectiva, o poder local é visto como governo autónomo enquanto instituição
representativa da democracia exercida pelos eleitores a nível local. Aqui, os cidadãos
exercem a sua influência na determinação das políticas locais. É certo que o
município, enquanto força estatal, revela-se no organismo político-estatal que maior
proximidade atinge com a população. A interpretação que se pode fazer às
perspectivas apresentadas por Dearlove (1973), em relação à nossa forma de Estado
na contemporaneidade prende-se com um misto das duas. Ou seja, é certo que o
Estado central é o desenhador das políticas sociais, (muitas poderão ser destacadas)
em que a sua aplicabilidade local, é condicionada pelas singularidades de cada
município ou freguesia. Por seu turno, que município nunca lançou um projecto de
intervenção enquanto política social local? Que tenhamos conhecimento, nenhum.
Assim, não poderemos atribuir ao Estado português, quer central quer local, qualquer
uma das perspectivas lançadas.
Freitas do Amaral (1994:418) entende como autarquias locais “pessoas
colectivas públicas de população e território, correspondentes aos agregados de
residentes em diversas circunscrições do território, e que asseguram a prossecução
dos interesses comuns resultantes da vizinhança mediante órgãos próprios,
representativos dos respectivos habitantes.” De onde se apreende que, nenhum
organismo melhor que as autarquias locais, deverá ser responsabilizada pela
promoção de actividades e de resposta às necessidades da população em nome de
uma melhor qualidade de vida dos seus munícipes. Certamente que, sujeitas a uma
tutela hierarquicamente superior (Estado central).
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
118
Qualidade de Vida dos Seniores
Branco (1995:185), encara que “O Estado local (municipal) é concebido não
como um agência do Estado central mas como uma forma própria de exercício do
poder (…)”. Esta afirmação poderá fazer todo o sentido, contudo, arriscamo-nos a
reescrevê-la “o Estado local (municipal) é concebido como uma agência do Estado
central mas como uma forma própria de exercício de poder”. Porque vivemos num
poder hierarquicamente muito forte, que do alto da pirâmide de poderes são
emanadas leis e decretos-lei a serem aplicados à generalidade dos cidadãos, não fará
sentido desconsiderar um município enquanto prolongamento dos ideais da
Administração central. Talvez um dia, quando a regionalização for uma realidade,
venhamos alterar este discurso.
De encontro às palavras ditas pelos autarcas portimonenses “Pensar Global,
Agir Local”, temos Sposati (1991b) que defendendo uma discriminação positiva tem na
base do seu pensamento as diferenças sociais, económicas e culturais que exigem
que se pense o tema da igualdade com desigualdade. O apelo que se quer aqui deixar
prende-se com (…) “uma política que vise maiores níveis de equidade social através
da conjugação de políticas universais de protecção social e acções específicas face a
grupos e necessidades concretas” (Fanfani, 1991). Não será certamente com o
afastamento do Estado da definição e implementação das políticas sociais que
melhores padrões de igualdade, equidade e justiça social serão alcançados. A
intervenção do Estado é fundamental na medida que garante a sustentabilidade
económica de qualquer política que emana.
Pensar em políticas sociais de índole estatal perspectivando heterogeneidade,
territorialidade e participação, coloca ao de cima o conceito de Estado local/municipal.
Para Branco (1995:187) “A instância municipal configura-se como uma forma de
aproximar o Estado do quotidiano da população. O território local apresenta-se como o
locus privilegiado da expressão das necessidades e aspirações, como importante sede
para uma mais apropriada integração e definição do perfil das políticas socais
públicas, com mais real oportunidade de controlo e construção democráticas das
acções e decisões de governo.” Será certo o que defende o autor. É no terreno que
tomamos conhecimento da realidade e, deverá ser, a partir desta, que comessem a
ser delineadas medidas de intervenção. Todavia, não estamos a falar de
descentralização. A descentralização da totalidade da responsabilidade social de
intervenção nos poderes locais dá azo a muita controvérsia. Não nos parece
pertinente iniciar aqui um comentário à forma ideal de Estado. Enaltece-se o consenso
num Estado interventor, porventura, concedendo uma maior autonomia não só
financeira mas, muito principalmente, interventiva. É certo que, em cada município e,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
119
Qualidade de Vida dos Seniores
pegando no de Portimão, existem áreas mais problemáticas que outras, para onde os
autarcas têm direccionando a sua intervenção.
O desafio estatal (central ou local) consiste na implementação de reformas e
políticas sociais oportunas que garantam a sustentabilidade dos sistemas de
protecção social com o intuito último de erradicar a pobreza e a exclusão social
melhorando a qualidade de vida em todas as idades. De realçar a importância em
delinear políticas que valham ao mesmo tempo pela eficiência económica e pela
segurança social, e da estrutura dos sistemas de protecção social que têm uma
cobertura mais amplificada e eficaz, e respondam às necessidades e circunstâncias da
vida de cada país, distrito, concelhos e freguesia.
O sucesso reside na tríade Estado-Sociedade civil-munícipios. Mais uma vez,
referimo-nos às designações assumidas por Branco (1995:189) em que, certamente “o
Estado preserva como suas atribuições fundamentais a administração de prestações
sociais, os programas especializados e a assistência eventual e emergencial. A
sociedade civil, através de organizações comunitárias assegura a criação e a gestão
de equipamentos e serviços sociais com base em convénios (ou não) com os serviços
estatais de segurança social. Enquanto que, “aos municípios é cometido um papel
suplementar quer no que se refere aos equipamentos, quer no tocante à prestação de
serviços e outras modalidades de acção social.” Na prática, a acção social aqui
designada enquanto função municipal desdobra-se numa panóplia de papéis e
vertentes, em que cada uma delas, toca a cada problemática. As políticas sociais
sectoriais são parte constituinte da prática em acção social. É nela onde todas as
medidas de intervenção ganham operacionalidade. No que se refere aos
equipamentos, maioritariamente privados mas sem fins lucrativos, formam parceria
com a autarquia, através da qual muitos apoios são concedidos. Nesta perspectiva
territorial, não se pode atribuir um papel tão suplementar assim ao município. O
Estado, na área social, canaliza os seus esforços para a garantia dos direitos sociais
enquanto que essa aplicabilidade faz-se localmente (pensar global, agir local). À
sociedade civil é concedida toda a responsabilidade de participação activa, não se
prendendo tanto às funções referidas por Branco (1995). Fazer uso da palavra e
mobilizações comunitárias em nome de uma acção cívica cada vez mais forte e
participativa nas decisões camarárias. O civismo activo, a participação e dinamismo da
sociedade civil, assim como a interacção entre os cidadãos e o Estado são
imprescindíveis para conseguir uma sociedade baseada em princípios como a
solidariedade, equidade, igualdade e justiça social. Esta proximidade entre sociedade
civil e poder local é, tanto mais próxima quanto maior forem as oportunidades de
participação social dos civis.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
120
Qualidade de Vida dos Seniores
Porventura, nem sempre assim o foi. Elucidaremos e recordar-nos-emos do
percurso das autarquias até se lhes fossem atribuídas funções com autonomia e poder
de decisão.
Quadro 2 – A evolução da atribuição de poderes e competências às autarquias
locais no âmbito social.
Avanços
Legislação correspondente
CRP de 1976
Atribuiu a prossecução e interesses próprios das populações
respectivas. Intervenção em matéria de políticas sociais.
Lei das Autarquias de 1977
Atribuiu como competências municipais, na área social,
(Lei
apenas da educação e o ensino.
n.º79/77
de
25
de
Outubro)
1ª
Revisão
autárquica
à
legislação
(Decreto-Lei
Consagra explicitamente a área da saúde como atribuição
genérica.
n.º100/84 de 29 de Março de
1984)
Lei n.º25/85 de 12 de Agosto
Acrescenta a protecção à infância e terceira idade.
Decreto-Lei n.º77/84 de 8 de
Prevê a celebração de acordos entre os CRSS e as câmaras
Março (n.º 5 do art. 12º)
municipais, visando a transferência de competências ao nível
da acção social.
Lei de Bases da Segurança
Depreende-se,
Social de 1984
competência de praticar acção social.
(Lei
n.º28/84
de
14
embora
não
devidamente
explícita,
a
de
Agosto)
Rendimento
Social
de
Inserção (Lei n.º13/2003 de
Torna as autarquias como parte constituinte dos Núcleos
Locais de Inserção.
21 de Maio, n.º 3 do art. 33º)
Fonte: Baseada no trabalho desenvolvido por Menezes (2002) intitulado “Serviço Social Autárquico e
Cidadania”
Ao nível da autarquia de Portimão, nos termos do n.º 1 do art. 48.º do Apêndice
n.º 72, Aviso n.º1724/97 2ª Série publicado no Diário da Republica n.º 182 de 8 de
Agosto de 1997, são competências da Acção Social:
a)
Elaborar o planeamento e programação operacional de actividade
corrente nos domínios dos assuntos sociais, promoção comunitária,
habitação e saúde;
b)
Assegurar uma intervenção municipal integrada, pluridisciplinar e
coerente junto das diversas comunidades do concelho, a fim de
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
121
Qualidade de Vida dos Seniores
potenciar os recursos existentes e de se obterem os melhores
resultados e efeitos junto das populações;
c)
Coordenar, sempre que adequado e de acordo com as directivas da
Câmara, com outras instituições particulares, públicas ou privadas,
actividades e programas de interesse e âmbito comuns;
d)
Determinar as carências habitacionais no concelho e manter
actualizado o seu inventário, em estreita cooperação com a Divisão
de Habitação;
e)
Propor a atribuição das habitações sociais disponíveis e, de um
modo geral, promover todo o apoio em matéria de habitação aos
munícipes mais carenciados ou vitimas de situações anómalas, em
colaboração com outros organismos;
f)
Preparar
e
executar
as
políticas
municipais
no
âmbito
da
conservação do parque habitacional do concelho, em estreita
colaboração com todos os serviços municipais;
g)
Elaborar
estudos
que
permitem
o
diagnóstico
social
e
o
conhecimento das carências sociais das populações e dos grupos
mais vulneráveis (primeira infância, idosos, pessoas deficientes,
reclusos e ex-reclusos, mulheres com dificuldades de inserção sócioprofissional, minorias étnicas, etc.);
h)
Promover, por todos os meios ao seu alcance e no âmbito das
competências municipais, a informação e as acções julgadas
necessárias, com vista a proporcionar aos munícipes o melhor
enquadramento e ambiente na área da saúde, higiene e acção
social;
i)
Colaborar com todas as instituições de segurança social e de saúde;
j)
Colaborar com estabelecimentos assistências, públicos e privados,
na área da acção social;
k)
Proceder, em colaboração com as entidades competentes ao
levantamento e estudo estatístico de dados com vista à elaboração
de um mapa de “saúde” e de “situação social” na área do município;
l)
Promover, quando necessário, acções de apoio social e assistência
em benefício dos munícipes;
m)
Exercer as demais funções que lhe forem cometidas, por deliberação
municipal.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
122
Qualidade de Vida dos Seniores
De destacar que, no caso particular da Câmara Municipal de Portimão, a
Divisão de Acção Social e Saúde comporta dois sectores, o sector da acção social e o
sector da saúde. Sendo que, as competências acima referidas comportam dos dois
sectores.
As competências definidas para qualquer gabinete, sector ou divisão de acção
social ficam, na maioria das vezes, muito aquém do que se faz na prática. Menezes
(2002:196) após o seu estudo desenvolvido nas autarquias da região centro, diz
poder-se afirmar “que, por um lado, o que está instituído legalmente ao não se
efectivando na prática condiciona o âmbito de acção dos profissionais e, por outro, é
um traço complexificador da apreensão da prática, visto que a não existência de
adequação entre as competências legais e reais, conduz ao aparecimento de
ambiguidades, referidas pelos assistentes sociais, no que respeita à prática
profissional”. Na realidade todo o discurso proferido em legislação é todo “pomposo” e,
por vezes de difícil compreensão. Certo é, que cada município orienta a sua acção de
acordo com a sua realidade social, dando, em grande parte, autonomia aos técnicos
para implementação de medidas de carácter interventivo. Em instituições bem
estruturadas hierarquicamente, a autonomia não é assim tão visível, uma vez que,
para além das chefias intermédias (chefes de Departamento), temos vereação e a
presidência. No entanto, um bom relacionamento inter-posições hierárquicas e uma
constante troca de opiniões, facilita, em grande parte, o delineamento de acções e sua
implementação.
No entanto, nem sempre foi assim. Até que fossem atribuídas competências a
alguma divisão camarária onde integrassem assistentes sociais, foi preciso
reconhecimento e afirmação sobre a essência da profissão, outrora desconhecida e
despercebida.
Os assistentes sociais começam a integrar serviços camarários aquando da
criação dos Serviços Municipais da Habitação (SMH). Felizmente e, pouco a pouco,
esta profissão foi vigando e alargou-se a áreas como “a acção social, educação e
ensino, planeamento e intervenção comunitária, entre outras” (Menezes, 2002:186).
Foi dado maior reconhecimento ao trabalho desenvolvido e foi ganha uma maior
consciencialização da importância do trabalho destes profissionais. O trabalho de
Técnicos Superiores de Serviço Social é hoje, uma realidade em qualquer câmara e
transformaram-se em técnicos indispensáveis para o bom funcionamento de qualquer
instituição camarária. “Podendo-se afirmar que, actualmente, para a implementação
das politicas sociais das autarquias, bem como para o desempenho de acções que
permitem o alcance do bem-estar social de toda uma comunidade, o assistente social
detém um papel fundamental e indispensável” (Ibidem, 2002:186).
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
123
Qualidade de Vida dos Seniores
Vejamos todo o trabalho levado a cabo pelos autarcas portimonenses onde se
percebe o quão é importante e significativo o trabalho dos autarcas para a qualidade
de vida dos seus munícipes.
O lema para os autarcas portimonenses faz-se representar pelo slogan “as
pessoas em primeiro lugar”. Num esforço concertado de técnicos e meios, é
desenvolvido um trabalho em diversas áreas, nomeadamente ao nível da infância,
terceira idade, deficiência, toxicodependência e saúde com o intuito de promover a
prevenção e erradicação de todas as formas de exclusão social. O trabalho promovido
estrutura-se em relações de cooperação e parceria com organizações e instituições
locais, numa intervenção pensada em função dos problemas, necessidades e recursos
existentes na comunidade local, enquadrada numa política geral de cidadania. A
missão dos intervenientes no município é essencialmente a promoção da qualidade de
vida dos munícipes, através do desenvolvimento de parcerias com a sociedade civil,
as instituições públicas e privadas, de forma a criar uma rede social integradora e
eficaz no combate à pobreza e exclusão social. Em pico de ascendência, sem dúvida,
encontramos a solicitação da participação das autarquias quando se trata de apoios
quer a IPSS´s, a associações, a particulares e a problemáticas de índole social
diversas. Assim, podemos concordar com Menezes (2002:88) quando afirma que “a
maior ou menor intervenção de cada autarquia neste domínio, esta actualmente
directamente relacionada com as políticas sociais definidas e com as correspondentes
prioridades, estabelecidas de acordo com um modelo de desenvolvimento preconizado
pelos executivos, acabando por se encontrar concelhos onde existe um papel
significativo neste âmbito, por oposição a outros, onde não é – ou não querem tornar –
perceptível o significado/importância social da acção social.” Vejamos o caso
autárquico de Portimão, a nosso ver, um caso de sucesso com uma forte
implementação de políticas e projectos sociais dando resposta às mais variadas áreas
do social.
Podemos nomear o projecto “Portimão sem Barreiras” que através da
eliminação das barreiras arquitectónicas pretende promover a acessibilidade enquanto
direito constitucionalmente reconhecido em prol da igualdade entre os portadores de
deficiência e pessoas com mobilidade reduzida (onde para além das pessoas com
deficiência se enquadram as crianças, grávidas, pessoas com carrinhos de bebé e
seniores). A promoção da acessibilidade constitui uma condição essencial para o
pleno exercício de direitos de cidadania consagrados na Constituição da República
Portuguesa, como o direito à Qualidade de Vida, à Liberdade de Expressão e
Associação, à Informação, à Dignidade Social e à capacidade Civil, bem como à
Igualdade de Oportunidades no acesso à Educação, à Saúde, à Habitação, ao Lazer e
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
124
Qualidade de Vida dos Seniores
Tempo Livre e ao Trabalho. O município de Portimão aderiu à Rede Nacional Cidades
e Vilas com Mobilidade para Todos onde o primordial objectivo é visível na adaptação
da cidade, de forma a facilitar o dia-a-dia dos que têm dificuldade de locomoção. Neste
encaminhamento pretende-se a construção de uma via, a Rota Acessível de Portimão,
que una os principais serviços do espaço público do centro administrativo onde se
concentram, designadamente, os paços do concelho, tribunais, correios e outros
edifícios utilizados por um elevado número de pessoas, através da qual, toda e
qualquer pessoa possa dirigir-se a qualquer serviço sem ser interrompido por qualquer
barreira. Far-se-á representar por uma passadeira que criará um percurso pedonal
constante de 1,2m de largura, contínuo, desobstruído e sinalizado, (também em
Braille), numa extensão de 6324m2, em cor de piso aderente e devidamente
assinalada. Com sede em Portimão podemos contar com a Cooperativa de
Reeducação a Apoio à Criança Excepcional de Portimão (CRACEP), o Centro de
Reeducação Médico-Pedagógica (CREMP) e a Associação de Deficientes Motor de
Portimão, enquanto instituições que respondem às necessidades das pessoas
portadoras de deficiência.
“Inclusão uma realidade em Portimão” constitui-se num projecto que presta
apoio à população imigrante oriunda de qualquer parte do mundo. Incentiva o
aparecimento de associações traduzindo-se numa acção de proximidade. Em
Portimão podemos contar já com o Centro de Apoio à População Emigrante de Leste e
Amigos, Associação caboverdiana do Algarve e a Associação de Guineenses e
Amigos. O aparecimento de Associações de Imigrantes é um fenómeno social recente
que acompanha o processo migratório de populações oriundas de vários países.
Visando objectivos muito específicos, estas Associações estruturam-se como
representantes das populações imigrantes e dos grupos étnicos que se vão fixando na
região, para uma integração harmoniosa na sociedade de acolhimento, procurando
atenuar o desenraizamento familiar e social a que estão sujeitos e esbater as
diferenças culturais. A multiculturalidade é já uma realidade do concelho e através
destas associações pretende-se a preservação das tradições e costumes, assim
como, a promoção da integração social por meio de uma participação activa na
sociedade.
Uma habitação traduz-se num sonho para muitas pessoas que, por
adversidades da vida, não a têm. Assim e no âmbito das políticas sociais sectoriais, a
autarquia têm em curso uma estratégia global de intervenção sobre os problemas da
habitação que visa erradicar as barracas, promover a construção de mais fogos de
habitação social e apoiar o arrendamento. Em prol da promoção de habitações dignas,
a autarquia compromete-se a proceder à demolição das 66 barracas ou edificações
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
125
Qualidade de Vida dos Seniores
similares que ainda subsistem, depois de já terem sido demolidas 33 nos últimos 2
anos. Neste processo, a câmara tem assegurado o realojamento das famílias que
outrora habitavam em condição de precariedade e, ainda combate não dando
permissão à construção deste tipo de habitações. Para as famílias que se encontram
em situação de carência habitacional, foi recentemente criada uma resposta inovadora
que consiste na atribuição de um subsídio de arrendamento que poderá atingir os 60%
do valor da renda. Esta é uma medida que assegura o mercado privado de
arrendamento, para famílias com carências económicas conjunturais, como alternativa
à habitação social contribuindo para a eliminação de situações de precariedade
habitacional. O subsídio é prestado mensalmente por um período de um ano,
renovável ate cinco anos. Actualmente esta medida abrange 52 agregados familiares.
A habitação social é já uma política social bem conhecida de todos. Antes de
referir o que é feito no município de Portimão, há a necessidade de deixar aqui o
testemunho de não concordância desta medida. Não nos referindo unicamente ao
concelho em análise mas a toda a medida que, num determinado espaço, aglomera
todos os rotulados e estigmatizados socialmente, criando, desta feita, não um bairro
social, mas um bairro mal visto aos olhos da sociedade civil de onde dificilmente se
consegue inserir alguém socialmente. Prefere-se, desta forma, o realojamento dos
agregados familiares em bairros distintos. A manutenção de condições precárias
habitacionais e exclusão social continuarão enquanto medidas como estas
permanecerem na mentalidade dos que mandam e comandam o país. Adiantando. Em
parceria com o Instituto Nacional de Habitação Urbana foram desenvolvidos nos
últimos dois anos contratos de desenvolvimento habitacional a custos controlados de
498 fogos, sendo que um número significativa foi adquirido por famílias identificadas
pelos serviços socais municipais como tendo necessidades habitacionais prementes.
Em 2008, a autarquia vai adquirir directamente 50 fogos destinados a famílias com
necessidades de habitação urgente e cujos rendimentos não lhes permite recorrer ao
crédito bancário.
A toxicodependência, enquanto um quadro de vulnerabilidades acrescidas,
encontra-se ao abrigo de instituição que lutam para que as portas se abram àqueles
que, outrora enveredaram por caminhos ambíguos onde a luz custa a brilhar. O papel
destas instituições sedeadas em Portimão (Associação Remas Portuguesa, Centro de
Atendimento Temporário, Grupo de Apoio a Toxicodependentes e Movimento de Apoio
à Problemática da SIDA) é direccionado para atenuar o sofrimento provocado pelas
circunstâncias de consumir estupefacientes, responsabilizá-los pela melhoria da sua
própria saúde física e psíquica e promover a sua reintegração social por via da
reinserção profissional.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
126
Qualidade de Vida dos Seniores
Para as crianças, que por situações que lhes transcendem, estão
institucionalizados temporariamente ou não, em Portimão podemos contar com a Casa
Nª Senhora da Conceição, com o Centro de Acolhimento Temporário – Catraia e Lar
de Crianças Bom Samaritano. A Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de
Portimão presta apoio em situação deficitárias ao bom funcionamento relacional
familiar tendo como sentido último promover o bem-estar e qualidade de vida às
crianças. Promover e valorizar a família, promover o apoio a famílias com graves
problemas de âmbito social e promover a integração da criança/jovem na comunidade,
através da resolução de problemas sociais repercutem-se no fio condutor da acção
técnica. A universalidade dos direitos da criança conduzem os autarcas a promoverem
toda e qualquer acção em prol de um sorriso que espelhe bem-estar tendo sempre por
base a prevenção de situações susceptíveis de afectar a segurança, formação e
desenvolvimento das mesmas.
Movimentos que nunca nos cansamos de louvar são os associados ao
voluntariado. Este é um trabalho que não tem preço, o carinho e dedicação que são
transmitidos são inigualáveis. Podemos nos orgulhar que em Portimão existe o Grupo
de Voluntariado dos Hospital de Portimão e a Associação de Voluntários de Portimão
que prestam apoio aos que mais precisam e quando menos se espera.
Quando se fala em qualidade de vida, segurança, prevenção, voluntariado,
etc., associamos, de imediato à saúde. Saúde como sendo o pilar para a
sustentabilidade da vida. A manutenção é assegurada pelo Centro Hospitalar do
Barlavento Algarvio, Centro de saúde de Portimão que se estende às restantes
freguesias e pelo Hospital da Misericórdia de Portimão. De forma a assegurar
especificidades da saúde podemos contar com a Associação Portuguesa de Apoio à
Vítima, Associação de Dadores de Sangue do Barlavento Algarvio, Associação
Portuguesa de Doentes de Parkinson – Delegação do Barlavento Algarvio, Associação
Oncológica do Algarve – Delegação de Portimão, Associação da Pessoa com
Esclerose Múltipla do Barlavento e Cruz Vermelha Portuguesa – Núcleo de Portimão.
Ao nível autárquico, os munícipes podem contar com o projecto “Saúde para Todos”
que apresenta como principal objectivo promover acções que contribuam para a
melhoria das condições de saúde da população idosa, carenciada e de risco do
concelho. Na prática são levados a cabo rastreios, acções de esclarecimento,
conferências temáticas e comemoração de dias associados a esta temática. Assim, no
primeiro fim-de-semana de cada vez acontece nas três freguesias do concelho
rastreios ao colesterol, tensão arterial e diabetes, gratuitos.
Para toda e qualquer vulnerabilidade, semanalmente a câmara atende a
comunidade no seu gabinete de Atendimento e Acompanhamento Social o qual se
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
127
Qualidade de Vida dos Seniores
objectiva em acompanhar situações de carência económica e/ou de outras questões
sociais problemáticas, promovendo o encaminhamento e resolução das mesmas em
conformidade com a capacidade e competências da autarquia e a resolução de
situações de emergência e que exigem resposta imediata (situações de calamidade:
intempérie, incêndios, etc.). Em complementaridade com este serviço podemos contar
com a Loja de Solidariedade Social que, para além da Linha Nacional de Emergência
Social (LNES) atende e acompanha famílias beneficiárias da medida de política social
Rendimento Social de Inserção (RSI) e Acção Social.
O concelho de Portimão, em 1999, foi um dos 40 concelhos seleccionados para
implementar o “Programa Piloto” da Rede Social. O Conselho Local de Acção Social
(CLAS) foi criado em 4 de Maio de 2000 funcionando como o centro de diálogo e
concertação de âmbito concelhio. Nesse mesmo ano, foi apresentado o PréDiagnóstico Social de Portimão. Em Outubro de 2001, procedeu-se à candidatura ao
Programa de Apoio à Implementação da Rede Social, cujo termo de aceitação foi
assinado em Julho de 2002. A Rede Social traduz-se numa medida de política social
que reconhece e incentiva a actuação das Redes de Solidariedade local no combate à
pobreza e à exclusão social e na promoção do desenvolvimento local. Nos termos da
Resolução de Conselho de Ministros n.º197/ 97 de 18 de Novembro, define-se como
um fórum de articulação e congregação de esforços que se baseia na livre adesão por
parte das autarquias e das entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos que nela
queiram participar. A Rede Social assenta no princípio da parceira e no
reconhecimento de complementaridades, organizando-se a partir de fóruns de âmbito
concelhio denominada por Conselho Local de Acção Social (CLAS). Anualmente
executa-se a reorganização do CLAS e Núcleo Executivo (NE), a actualização do
Diagnostico Social e Plano de Desenvolvimento Social.
O Desenvolvimento Social e Apoio às Instituições de Solidariedade Social e
Associações de Intervenção de âmbito social e saúde reflecte-se na celebração de
Contratos-Programa de Funcionamento e/ou Investimento e de Protocolos de
Colaboração e/ou Parceria, apoio financeiro pontual e apoio e acompanhamento
técnico e logístico na prossecução das actividades das IPSS´s e Associações.
Percebe-se todo o esforço desenvolvido, de forma a garantir a efectividade de
uma melhor qualidade de vida. Tem sido ao nível da acção social que, cada vez mais,
têm surgido apelos à intervenção autárquica. Implementação de projectos, à resolução
de casos sociais associados às problemáticas locais, apoio a IPSS´s e a outras
entidades locais, tudo isto em nome de um maior e mais eficaz desenvolvimento
regional e local (Menezes, 2002).
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
128
Qualidade de Vida dos Seniores
4.3.2 Um município ao dispor da população sénior: políticas e
respostas sociais locais para os seniores
O município de Portimão está empenhado na promoção de políticas que
permitam, qualquer indivíduo, a alcançar uma idade avançada garantindo que esta
seja mais sã, independente e digna envolta de maior segurança. A receita para a
manutenção das capacidades e melhoria da qualidade de vida à medida que a idade
avança, tem como ingredientes a promoção da saúde, dos estilos de vida saudáveis,
da reabilitação, do fomento das possibilidades de acção em todas as fases da vida,
assim como, melhorar a prevenção e atenuar as fragilidades e incapacidades alheias à
idade.
O trabalho com os seniores repercute-se em muito do esforço desenvolvido
pelos técnicos do concelho. São muitas as actividades ao dispor dos seniores, assim
como a sua diversidade e complementaridade. Para a plena concretização dos
objectivos a autarquia alia-se às instituições com serviços direccionados para os
seniores, nomeadamente, Lares, Centros de Dias, Centros de Convívio e
Associações.
A autarquia de Portimão tem como grande linha de acção a promoção da
qualidade de vida dos seniores. Aos munícipes seniores, segundo a autarquia, “devem
ser dadas as condições de existência dignas, através da satisfação das suas
necessidades básicas como o acesso a cuidados de saúde e, fundamentalmente, ao
bem-estar físico e mental” (CMP, 2007).
O Projecto de Intervenção no âmbito da Terceira Idade “Viver Sénior em
Portimão”, tem como objectivo oferecer um conjunto de actividades, dirigidas às
pessoas reformadas e seniores (a partir dos 60 anos) que visam melhorar a qualidade
de vida desta população, procurando fomentar um envelhecimento saudável. É
dinamizado todo um conjunto de práticas e actividades saudáveis, tais como,
passeios, matinés dançantes, encontros de convívio, etc. Para se poder participar em
todas estas actividades foi criado, em 2006, o “Passaporte Sénior”. A criação do
Passaporte Sénior foi uma inovação em todo o país tendo alcançado o êxito
rapidamente, os números são surpreendentes, assim como a aderência da população
às actividades levadas a cabo pela autarquia. À causa juntou-se os Cinemas Castello
Lopes de Portimão que pratica descontos na compra do bilhete a quem apresentar o
passaporte. A maioria das actividades é de carácter gratuito, sendo simbólico e
excepcionais as vezes que importam custos. A participação nas actividades está
sujeita a uma inscrição prévia, sendo que, todos os munícipes possuem a agenda
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
129
Qualidade de Vida dos Seniores
devidamente calendarizada com todas as actividades que a câmara de propõe a
realizar.
“Atendimento e Apoio Social de Proximidade” dá nome a um projecto que visa
melhorar as condições de vida de todos os munícipes residentes nas zonas periféricas
do concelho. Dirigido à população sénior em situação de isolamento e a famílias em
situação de grave carência económica, são prestados serviços, no âmbito do projecto,
como cuidados de saúde primários e curativos (medição da tensão arterial, teste dos
diabetes, injecções, pequenos curativos, marcação de consultas), acompanhamento
psicossocial
através
da
entrega
de
bens
alimentares,
apoio
psicológico,
encaminhamento para Centro de Dia ou serviços de apoio domiciliário, internamentos
em lares, etc., são alguns dos serviços assegurados. Semanalmente deslocam-se 2
técnicos (uma enfermeira e uma assistente social) à Freguesia da Mexilhoeira Grande
(à terça-feira) e às zonas periféricas de Portimão (Rasmalho, Alfarrobeiras, Ladeira do
Vau, Porto de Lagos e outros à quarta-feira).
A crescente instabilidade das relações familiares e indisponibilidade da família
para dar apoio efectivo aos idosos, particularmente aos mais dependentes, e a
despersonalização das relações sociais que, particularmente em meios urbanos e
associado a uma certa segregação habitacional (envelhecimento das zonas mais
antigas das cidades), conduz a graves situações de isolamento, carecendo de
respostas sociais no sentido de promoverem um aumento da qualidade de vida. Neste
sentido foi criado o mais recente projecto de intervenção social. O projecto “Portimão
Solidário” pretende promover um apoio aos munícipes que se encontrem em situação
de carência e isolamento, disponibilizando-se um conjunto variado, qualificado e
adequado de serviços que respondam a problemas e dificuldades concretas, de forma
gratuita. Consiste na criação de um serviço gratuito de apoio à população sénior
carenciada e/ou a pessoas portadoras de deficiência, nomeadamente a realização de
pequenos arranjos domésticos. Assim, dentro das reparações domésticas em
habitações podemos enumerar o desempeno de portas; a reparação e substituição de
torneiras, de louças sanitárias, de sifões e de acessórios de banca de cozinha;
reparação de canalizações e tubagens de água e de esgoto; pinturas e remates em
paredes e tectos; reparação de estores/persianas; entre outras reparações. Para uma
mais perfeita organização doméstica, o “Portimão Solidário” executa ligações,
afinações de televisores, vídeos/DVD’s e outros equipamentos eléctricos de uso
corrente; organiza o espaço da habitação, em especial, arrumando e mudando de
localização o mobiliário e objectos pesados, recolhendo velharias e afixando objectos
às paredes e tectos e procede à limpeza de quintais e canteiros. Todo o serviço de
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
130
Qualidade de Vida dos Seniores
mão-de-obra e deslocação é gratuito, sendo que, os seniores só terão o custo de, por
exemplo pagar a fechadura.
E porque ´”Distrair-se é uma necessidade de todo o ser humano, e aquele ou
aquela que se diverte com uma ocupação agradável com o fim de se descontrair física
e psicologicamente satisfaz esta necessidade fundamental” (Berger, 1995:267). Neste
seguimento, os seniores portimonenses portadores do Passaporte Sénior poderão
participar em actividades como: as matinés dançantes que, de Fevereiro a Junho de
cada ano civil, realiza-se uma matiné por mês, cada uma com determinado tema e em
locais diferentes (geralmente em associações recreativas) para facilmente chegarmos
a todos os munícipes. Os passeios, são outra actividade igualmente procurada. Por
ano, são aproximadamente 350 os seniores que descobrem o horizonte que a
autarquia lhes proporciona. Também não nos podemos esquecer as viagens
organizadas pelas associações locais que muito activamente programam também
actividades de lazer e recreativas para os seniores. Podemos nomear a Associação
dos Reformados do Pontal e Não Só e a Associação Cultural e Recreativa Alvorense
1º de Dezembro que uma em Portimão e outra em Alvor, respectivamente, mobilizamse e organizam não só convívio e actividades mas também passeios. Os passeios
rejuvenescem as pessoas, recordam tempos outrora vividos, experiências passadas e
aspiram viver cada vez mais. Estas lufadas de ar fresco no dia-a-dia dão um novo
sentido à vida de qualquer um. Dentro ainda do programa podemos contar com
comemorações de dias especiais, como o Dia Internacional da Pessoa Idosa (1º dia
de Outubro) que nunca é esquecido, pelo contrário, é devidamente comemorado.
O “Verão Sénior” é dirigido principalmente aos seniores institucionalizados que, em
três períodos de tempo diferentes podem ir à praia de Alvor. A Câmara de Portimão
põe à disposição o transporte, toldos e lanche, assim como pessoal que dinamiza
actividades a acompanhamento aos que a praia visitam. Enquanto instância turística,
Portimão banhada de praias revela-se num paraíso por muitos já esquecido, e com é
boa recordar e porque faz bem a brisa marítima, todos vão passear à praia.
Recentemente (11 de Dezembro 2006, dia da comemoração da elevação de
Portimão a Cidade), foi inaugurado o Centro Convívio Sénior. Outra iniciativa bastante
inovadora, uma vez que, é totalmente custeada pela autarquia. Os seniores que
quiserem usufruir da vastidão de serviços que lá encontram, não terão qualquer
encargo. Neste espaço podemos encontrar um espaço de leitura com livros, revistas e
jornais diários, um espaço para jogos (damas, xadrez, dominó, cartas, etc.), uma
cafetaria (onde um café ou um chá acompanham sempre um bom lanche) e tudo isto
acompanhado diariamente por um técnico que presta todo o tipo de apoio e
encaminhamentos necessários. No mesmo espaço físico podemos contar com o
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
131
Qualidade de Vida dos Seniores
Espaço Internet, onde estão computadores à disposição de toda a comunidade e um
técnico que promove o ensino e cursos de aprendizagem e formação. Uma novidade
para os seniores mas que em nada os assusta, tornando-se uns verdadeiros
cibernautas (óptimo para comunicarem com os familiares que residem longe).
Para os mais curiosos existem no concelhio de Portimão dois locais de
aprendizagem, a Associação Sénior e Autodidacta de Portimão e o Instituto de cultura
de Portimão. As Universidades Seniores desenvolvem um papel de grande
importância na manutenção de faculdades como a memória, inteligência, a linguagem,
a sabedoria, a resolução prática de problemas e a capacidade de interpretar a
informação verbal, a interpretação de informação não verbal, a capacidade de
responder prontamente a novas situações, a aquisição de novos conceitos, a
capacidade de concentração e de entender e fazer raciocínios mais abstractos e
criatividade.
Em nome da manutenção da actividade física, os seniores podem contar com o
programa “Exercício e Saúde”. Este, desde logo, com bastante afluência traduz-se já
numa necessidade para os seus participantes. Visa sensibilizar a população para a
importância da actividade física e da adopção de estilos de vida saudáveis, assim
como minimizar as situações de risco para a saúde e prolongar a autonomia
aumentando a funcionalidade do corpo e melhorando, desta forma, a qualidade de
vida, sobretudo dos seniores. Em 2007 foi criado um Gabinete de Avaliação,
Aconselhamento e Actividade Física na Divisão de Desporto da Câmara Municipal de
Portimão (entidade responsável pelo programa) para apurar a condição dos inscritos,
sugerir-lhes quais as práticas mais adequadas e encaminhá-los para sessões, que
podem incluir ginástica de manutenção, hidroginástica, ioga e gerontomotricidade. Os
passeios ambientais são outra iniciativa muito concorrida que consiste em verdadeiros
roteiros saudáveis que proporcionam caminhadas por trilhos de terra batida por todo o
Algarve. Como actividades lúdicas, o “Exercício e Saúde” organiza ainda, os Jogos
Seniores, o Encontro Intergerações e as Olimpíadas Sénior. E porque nunca é demais
ouvir quem sabe, são promovidos, neste âmbito, colóquios temáticos que funcionam
como debates abertos, ao longo de todo o ano.
No âmbito da requalificação de espaços públicos foram construídos circuitos de
manutenção por estações que visam proporcionar exercícios de força, flexibilidade e
equilíbrio para todas as idades, com especial atenção à população sénior. O projecto
“Vitavó” traduz-se assim num circuito geriátrico disponível em todos os jardins da
Cidade. Os aparelhos disponíveis mostram-se também de real importância para a
recuperação e beneficiação de deficiências motoras. O material geriátrico inclui
aparelhos dorsais, de pressão de pernas, de aquecimento de braços ou de
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
132
Qualidade de Vida dos Seniores
alongamentos, entre outros que servem para manter em actividade uma população
geralmente passiva e, como tal, em risco de sofrer problemas cardíacos, obesidade,
osteoporose. No entanto, só podemos encontrar estes circuitos na freguesia de
Portimão, pretendendo-se, a curto prazo, o seu alargamento para as restantes
freguesias.
Outras instituições e associações de âmbito concelhio promotoras da qualidade
de vida dos seniores
O Instituto da Cultura de Portimão funciona como uma Universidade para a
Terceira Idade, sendo esta uma resposta social que visa criar e dinamizar actividades
sociais, culturais, educacionais e de convívio, regularmente. De referir que a
actividades educativas funcionam informalmente, ou seja, sem fins de certificação e no
contexto da formação ao longo da vida. Na Universidade Sénior de Portimão o ensino
dirige-se para a aprendizagem e/ou aperfeiçoamento de línguas estrangeiras (alemão,
inglês e francês), psicologia, informática, história, geografia, fiscalidade, educação
para a saúde e arte de viver. As artes decorativas e as rendas e bordados estão
incluídas na dimensão criativa, enquanto que, a hidroginástica e educação física
(exercício e saúde) e as danças de salão exercitam o corpo e o cavaquinho e o canto
coral reluzem a veia artística A origem das UTIs está maioritariamente ligada à
mobilização dos próprios seniores, sendo eles os principais responsáveis pela
abertura deste tipo de universidades. A forte particularidade deste espaço prende-se
com os vários papéis passíveis de serem assumidos pelos seniores, assim, podem ser
alunos, professores ou dirigentes. A educação é, para Ferreira (2007) um instrumento
de promoção social enquanto estratégia de socioterapia, promovendo e estimulando a
integração social. O envelhecimento prevê-se melhor para aqueles que mantêm a
mente activa através de actividades educativas, nesta perspectiva, a educação seria
tanto uma espécie de ginástica mental, que evita a deteorização das actividades
cognitivas, quanto um instrumento para aquisição de novos conhecimentos. Assim a
educação para os seniores objectiva-se em contribuir para a redução do isolamento e
solidão, reintegrar os seniores de mais idade na sociedade, resgatando a sua
cidadania e a sua participação na produção de novos valores e favorece, ainda, a
redefinição das imagens da velhice e do envelhecimento, assim como, das relações
entre gerações.
A Associação dos Reformados do Pontal e Não Só encontra-se sedeada na
freguesia de Portimão no Bairro Pontal que dá nome à associação. Aberta diariamente
conta com a colaboração dos seus associados para a sua manutenção. Levam a cabo
actividades diárias de cariz lúdico orientados pela colaboração de uma técnica de
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
133
Qualidade de Vida dos Seniores
animação, da câmara municipal, duas vezes por semana. Neste espaço físico,
semanalmente, também podem contar com um técnico de desporto inserido no
programa “Exercício e saúde” que durante uma hora exercita os corpos dos seniores
que queiram participar. A câmara, através de protocolos, apoia esta associação
financeira e logisticamente, assim como todos os seus associados, podem participar
em todas as actividades promovidas pela câmara.
O Centro Comunitário de Alvor é uma IPSS´s com sede em Alvor, cujas
funções estão direccionadas à ocupação de tempos livres para os seniores
alvorenses. Nestas instalações podem contar com actividades lúdicas, como
exemplifica a criação de uma tuna académica pela qual fazem diversas actuações.
Como se confirma, a massa sénior é já tão significativa, no concelho de
Portimão que, se mobiliza para, os próprios organizarem todo um conjunto de
oportunidades de lazer. Estamos perante uma nova forma de envelhecimento que
“forma” novos seniores. As mentalidades são outras, o conformismo foi trocado por
actividade, a saúde ainda os sorri, ainda têm muitos anos pela frente para viver e,
agora que já não desenvolvem uma actividade profissional efectiva, é tempo de bem
viver.
Para um pleno envelhecimento activo
O lema de um envelhecimento activo “porque não basta viver mais, tem que se
viver melhor” é bastante elucidativo daquilo que se pretende construir para os
seniores. Falamos da criação de um espaço onde não só proporciona saúde e previne
doenças mas também promove o equilíbrio, a autonomia, o crescimento interior e o
consequente bem-estar e qualidade de vida.
À semelhança do que já existe em alguns países, apostamos na criação de
Centro de Envelhecimento Activo.
Trabalhar a saúde integralmente cuidando do corpo, da mente e das emoções;
tornar cada pessoa mais saudável, equilibrada e participativa criando condições, de
cada um à sua medida, realizar novos planos e projectos de vida serão os fios
condutores deste inovador projector. Através das avaliações clínicas periódicas são
identificadas as suas condições de saúde e indicadas as actividades integradas mais
apropriadas para potencializar o seu desenvolvimento físico e mental. Aposta-se num
tratamento médico específico. Este Centro consiste num espaço de bem-estar e lazer,
não se focando na aprendizagem ou aperfeiçoamento de conhecimento teóricos,
função desenvolvida pelas UTI´s.
O Centro teria de ser criado de raiz, uma vez que, não existe em Portimão
nenhum espaço físico em funcionamento que disponha das condições necessárias. No
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
134
Qualidade de Vida dos Seniores
entanto, e dado ao progresso económico vivido em Portimão, certos edifícios vão
sendo trocados por construções novas, ficando estes sem utilidade à vista, como
acontece ao edifício do antigo mercado municipal que, terá toda uma área capaz de
suportar o centro.
Tentaremos agrupar toda uma panóplia de actividades passíveis de integrarem
o Centro de Envelhecimento Activo. Onde a cada actividade designada corresponde
os seus benefícios.
Quadro 3 – Actividades do Centro de Envelhecimento Activo
Designação da actividade
Benefício da actividade para
os seniores
Biodança
Promove a saúde física e
social
Dança de Salão
através
da
Memorização (auditiva e de
passos);
Yoga
Estímulo
e
motricidade; Flexibilidade e
Actividades Físicas e Motoras
Agilidade;
Biopilates
Respiração
Circulação
e
sanguínea
(condicionamento
Caminhada Assistida
Alongamento
cardiovascular);
Integração
afectiva;
Vitalidade,
Sexualidade e Criatividade;
Comunicar
Reestruturação corporal
emoções
e
sentimentos; Compartilhar e
Saúde Mental e Emocional
Terapia Corporal
Auto-estima.
Oficina do Saber: grupos de
Actualização
estudo e discussão sobre
conhecimentos
temas
preservação da capacidade
da
actualidade
e
estímulo a projectos de vida
intelectual.
Oficina
Facilitar
da
Voz
falada:
Terapia em grupo
dos
as
interpessoais
e
relações
funcionando
como terapia individual.
Oficina do Canto; constituição
Estímulo aos sentidos da
de grupos corais
linguagem,
audição,
concentração promovendo a
intelectualidade.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
135
Qualidade de Vida dos Seniores
Integração social; cognição;
Oficina
de
Capacitação
digital: ensino de informática
actualização
do
conhecimento e promove o
encontro de gerações.
Oficina
de
desenvolvimento
Bricolage:
de
Estimula
a
criatividade
e
actividades
é
memória
e
concentração.
actividades
Através
Oficina da memória
de
exercitada
a
concentração.
O ritmo, melodia e harmonia
são
os
ingredientes
que
satisfazem as necessidades
físicas, emocionais, mentais
Saúde Mental e Emocional
Musicoterapia
e
sociais
combatendo
depressão,
a
melancolia,
angústia,
solidão
e
dificuldade de expressão.
O uso da arte na expressão
das
emoções
dificuldade
combate
de
a
expressar
emoções promovendo a autoArteterapia
expressão, combate sintomas
depressivos pelo estímulo à
imaginação e criatividade.
Recitar um poema transmite
Criação Poética
tranquilidade e serenidade.
Encontros intergeracionais.
Aperfeiçoando ou iniciação
Curso de línguas
de
línguas
estrangeiras
porque o saber nunca ocupa
lugar.
Reeducação alimentar;
Mudança e hábitos;
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
136
Qualidade de Vida dos Seniores
Orientação
Cozinha funcional
nutricional
e
dietas especiais.
Estímulo
para
funções
cognitivas como o paladar,
olfacto e tacto.
Fonte: Centro de Envelhecimento Activo do Brasil.
E porque, por variadíssimas razões, existem aquelas pessoas que preferem
ficar em casa ou mesmo por questões de saúde encontram-se privadas de sair à rua
perdendo-se na escuridão da solidão, um outro projecto em forma de desafio, será
aqui lançado.
Intitulado de “Doce Amigo”, este projecto funcionaria como uma extensão ao
Portimão Solidário. A complementaridade dos serviços prestados é a base deste
desafio. Tem como destinatários pessoas em situação de isolamento físico,
psicológico ou social em que o apoio das redes sociais e familiares de suporte revelase escasso ou inexistente. Não nos referimos, apenas aos seniores, mas a todos os
que, por alguma razão estão privados de conviver socialmente na sua vida diária.
O objectivo principal é combater a solidão. Especificamente pretende-se
dinamizar o voluntariado local (em cada freguesia); institucionalizar a modalidade do
voluntário amigo; prestar cuidados básicos de saúde; sensibilizar a população em
geral para a problemática da solidão e acompanhamento a consultas e passeios.
O método de funcionamento do “Doce Amigo” consistiria na realização de
visitas domiciliárias, em perfeita concordância, com voluntário e visitado onde, por um
determinado espaço de tempo, era prestado apoio afectivo, emocial, psicológico e
social. De acordo com o referido no ponto 2.2.3 (Os seniores e a família) do presente
trabalho, o voluntário estará incumbido de, na medida do possível, adequar a
habitação visitada às vulnerabilidades do visitado. Deste modo, prevenia-se quedas.
Em estreita relação de cooperação com o Portimão Solidário, o seu
colaborador estaria encarregue, quando necessário, dos pequenos grandes arranjos
domésticos.
Ludicamente e, de acordo com a imaginação de cada um, algumas actividades
podiam ser levadas a cabo para que as capacidades de memorização e funcionalidade
do raciocínio, pudessem ser trabalhadas e preservadas. À parte disso, pequenas
ajudas nas tarefas diárias também poderiam ser experimentadas.
Fazer companhia, dar atenção, proporcionar oportunidades de entretenimento,
uma palavra amiga, valorizar o sentido da vida são pequenas grandes ajudas que o
voluntário amigo pode proporcionar aos visitados.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
137
Qualidade de Vida dos Seniores
Para implementar este pequeno grande projecto, podia-se contar com a
colaboração das associações locais de voluntariado. Para uma boa implementação na
prática, uma certa periodicidade em formações no âmbito do voluntariado seria o eixo
fundamental, assim como, alguns conhecimento na área da prestação de pequenos
cuidados médicos, claro que, sempre orientado por um enfermeiro.
Pelo conhecimento da prática e da realidade municipal portimonense pensouse no espaço físico do Centro de Convívio Sénior de Portimão como entidade
encarregue pela dinamização do projecto.
Meu fado, meu doce amigo
Meu grande consolador
Eu quero ouvir-te rezar,
Orações à minha dor!
Só no silêncio da noite
Vibrando perturbador,
Quantas almas não consolas
Nessa toada d'amor!
Cantando p'r uma voz pura
Eu quero ouvir-te também
P'r uma voz que me recorde
A doce voz do meu bem!
Pela calada da noite
Quando o luar é dolente
Eu quero ouvir essa voz
Docemente... docemente.
Florbela Espanca
5. Estudo Empírico de investigação
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
138
Qualidade de Vida dos Seniores
5.1 A presentação do objecto de estudo e do modelo de análise
A investigação subjacente a este trabalho incide sobre a Qualidade de Vida da
população sénior residente no Concelho de Portimão desenvolvendo uma análise
comparativa dos padrões vividos nas três freguesias constituintes do concelho
(Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande). Pretende-se desenvolver uma análise aos
domínios físico, psicológico, meio ambiente e relações sociais enquanto indicadores
de Qualidade de Vida, através da avaliação da percepção dos munícipes com 65 ou
mais anos, da sua posição na vida face ao sistema envolvente e sistema de valores
nos quais eles vivem.
Objectiva-se então, nesta investigação, verificar se existem diferenças entre o
género, as expectativas, padrões e preocupações e ainda o grau de satisfação em
relação à realização das necessidades da população residente em cada freguesia do
concelho em estudo. Por outro lado, aspira-se estudar o impacto psicológico, social e
ambiental, sobre os munícipes da referida faixa etária das condições sociais,
económicas e políticas subjacentes à localização geográfica da sua área de
residência, assim como, avaliar as redes de suporte e relações de vizinhança e
predominância de sentimentos positivos ou negativos, auto-estima e factores
associados. O estudo objectiva-se ainda, por apurar se, as diferentes freguesias do
concelho, oferecem, de igual modo, acesso a serviços, nomeadamente em áreas
como a saúde, lazer, recreação e acesso à informação.
As questões que norteiam a presente investigação revêem-se nas hipóteses
teóricas que a seguir apresentamos.
a) A população com 65 ou mais anos residente na freguesia de Portimão tem
melhor Qualidade de Vida em comparação com as restantes, por sua vez, a freguesia
de Alvor apresenta melhores padrões de Qualidade de Vida que a população residente
na freguesia da Mexilhoeira Grande. Esta relação entre o conceito Qualidade de Vida
e as três freguesias resulta dos padrões de vida visíveis a qualquer observador.
b) Pela ordem decrescente referenciada, é na freguesia de Portimão que a
população pode contar com um vasto leque de bens e serviços, melhor acessibilidade
aos mesmos, sendo que é uma população muito mais activa e participativa. Dado ao
isolamento geográfico e social da freguesia da Mexilhoeira Grande, as restantes
freguesias do concelho de Portimão têm melhor acessibilidade aos serviços.
c) Em relação às expectativas e padrões é a população residente na freguesia
de Portimão e Alvor que maiores índices de satisfação apresentam, respectivamente.
Fenómenos explicados pelo facto das actividades relacionadas com o lazer e
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
139
Qualidade de Vida dos Seniores
entretenimento estarem associadas às zonas mais urbanas e com maior densidade
populacional, sendo destes que, se esperam uma democracia mais participativa.
d) A população mexilhoeirense é a mais envelhecida e, consequentemente a
que menor número de jovens tem, sendo igualmente a localidade mais isolada. A
relação subjacente ao envelhecimento e isolamento directamente associados à
freguesia da Mexilhoeira Grande une dois conceitos que geralmente se associam em
zonas mais rurais e do interior do país. Fenómeno que encontra explicação no
abandono da população jovem das zonas menos desenvolvidas e, cada vez mais
desertificadas, para o litoral e zonas urbanas, carregando a esperança de uma vida
melhor.
Estas hipóteses permitem-nos elencar um fio condutor metodológico capaz de
orientar os procedimentos de observação do objecto de estudo, no sentido da sua
confirmação ou refutação.
A amostra foi definida pelas seguintes condições: i) ter 65 ou mais anos; ii) ser
residente numa das três freguesias que constituem o concelho de Portimão e iii) não
estar institucionalizado26. A amostra é delimitada, à partida, por critérios que vão ao
encontro dos objectivos da investigação. Estes critérios delimitam de tal modo a
realidade, que todos os casos que não a obedecerem serão excluídos da amostra.
Segundo, Flick (2005:64) “é a lógica da amostragem estatística que agrupa o material
de acordo com um determinado critério (demográfico, por exemplo) (…) como é o caso
de uma amostra representativa da distribuição desses critérios na população.” Não
será feita qualquer distinção entre sexos. A amostra será escolhida aleatoriamente
com o cuidado desta se constituir num grupo representativo da população em estudo,
cujo método de selecção não é intencional.
A população com 65 ou mais anos residente no concelho de Portimão, em
2001, era de 7 752 indivíduos. Por freguesia, em Portimão residiam 6 020 indivíduos,
885 em Alvor e 847 na freguesia da Mexilhoeira Grande. Deste modo, a amostra
corresponde a 2% da população que reside no concelho de Portimão. Assim, em
Portimão foram inquiridas 120 pessoas, 18 em Alvor e 17 na Mexilhoeira Grande, o
que corresponde a uma amostra de 155 indivíduos. Daqui, espera-se uma amostra
expressiva e representativa que espelhe o vasto leque de formas e padrões de
qualidade de vida.
26
Entende-se para o presente estudo, por estar institucionalizado, os indivíduos que se encontrem em
regime de internamento em Lares ou que frequentem Centros de Dia.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
140
Qualidade de Vida dos Seniores
O concelho de Portimão fica situado no barlavento Algarvio no sul de Portugal
com uma área de 183 Km2. Está rodeado pelos concelhos de Lagos, Monchique,
Silves e Lagoa, por terra, e pelo Oceano Atlântico, por mar. É constituído pelas
freguesias de Alvor, Mexilhoeira Grande e Alvor. Em 2001, residiam no concelho de
Portimão 44 818 indivíduos o que corresponde a uma densidade populacional de
259,4 hab/km2. Dentro do concelho, verificamos que o centro urbano corresponde à
freguesia de Portimão, cujo número de habitantes ronda os 35 000, o que corresponde
a 61% do total da população. O crescimento populacional deste concelho é
relativamente recente, verificando-se uma maior incidência a partir da década de 80.
Entende-se que muito contribui o movimento de migrações internas, bem como a
fixação de cidadãos estrangeiros.
A freguesia de Alvor localiza-se entre Lagos e Portimão, confina a Oeste com a
freguesia de Odiáxere, a Norte com a da Mexilhoeira Grande e sítio de Alcalar, a
Noroeste com a de Marmelete e a Este com Portimão pelo sítio do Chão das Donas. A
Alvor estende-se ao longo de 15,1 km2. Em 2001 residiam na freguesia de Alvor 4 977
indivíduos que reflecte uma densidade populacional de 330,3 hab/km2.
A freguesia da Mexilhoeira Grande com 91,4 km2 é a mais extensa do concelho
de Portimão. Situada em pleno Barrocal é a única que não confina com o mar.
Apresenta o menor efectivo populacional com 3 598 indivíduos cuja densidade
populacional era de 39,4 hab/km2 em 2001.
A freguesia de Portimão com 75,1 km2 e com 36 243 indivíduos residentes em
2001 é a das três freguesias que maior índice de densidade populacional apresenta
com 487,2 hab/km2.
Em relação à tipologia das Áreas Urbanas, a freguesia de Portimão é uma área
predominantemente urbana (APU), a freguesia de Alvor é semi-urbana e a freguesia
de Mexilhoeira Grande é predominantemente Rural.
Esta breve caracterização demográfica e territorial do concelho e respectivas
freguesias espelha a diversidade e as diferentes singularidades características de
cada freguesia, factos importantes e relevantes para a explicação e sentido do
presente estudo.
5.2 Estratégias e procedimentos metodológicos
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
141
Qualidade de Vida dos Seniores
A análise extensiva foi uma das técnicas utilizadas no presente estudo, uma
vez que, se pretende fazer uma abordagem do conceito de Qualidade de Vida
relacionado os seus indicadores com as características da amostra em estudo.
A informação recolhida foi trabalhada de acordo com o procedimento de
pontuação do WHOQOL-Bref no SPSS.
Este estudo de pesquisa aplicada reflecte-se numa análise comparativa
desenvolvida sob uma abordagem quantitativa de objectivo exploratório.
Instrumentos de Recolha de Informação
•
WHOQOL-Bref
Os dados serão recolhidos através do WHOQOL, instrumento que surgiu da
necessidade da criação de um instrumento que fosse capaz de avaliar a Qualidade de
Vida dentro de uma perspectiva de âmbito internacional. O projecto foi desenvolvido
com a colaboração de quinze centros que trabalharam simultaneamente em diversos
países de diferentes culturas.
No seguimento, a OMS criou um projecto que resulta num questionário composto
por cem itens (WHOQOL-100) em que o reconhecimento da multidimensionalidade do
constructo se reflectiu na estrutura de uma avaliação da Qualidade de Vida de acordo
com seis domínios (WHOQOL-100): o domínio físico (que engloba as facetas dor e
desconforto, energia e fadiga, sono e repouso), o domínio psicológico (que avalia a
predominância de sentimentos positivos, o pensar, o aprender, a memória e
concentração, a auto-estima, a imagem corporal e aparência e, ainda os sentimentos
negativos), o domínio de independência (que compreende as facetas como a
mobilidade, as actividades quotidianas, a dependência de medicação ou de
tratamentos e a capacidade de trabalho), o domínio das relações sociais (este aborda
a intensidade das relações pessoais, suporte (apoio) social e a actividade sexual), o
domínio referente ao meio ambiente (as facetas aqui abordadas passam pela
segurança física e a protecção, o ambiente no lar, os recursos financeiros, os cuidados
de saúde, as novas informações e habilidades, a recreação e lazer, o ambiente físico e
o transporte), o domínio da espiritualidade/religião/crenças pessoais encerra os
domínios em estudo (este a avalia a incidência da espiritualidade, da religião e
crenças pessoais).
A necessidade de instrumentos curtos que demandem pouco tempo para o seu
preenchimento, mas com características psicométricas satisfatórias, fez com que o
Grupo de Qualidade de Vida da OMS desenvolvesse uma versão abreviada do
WHOQOL-100, o WHOQOL-Bref. O WHOQOL-Bref consta de vinte e seis questões,
sendo duas questões gerais e as demais vinte e quatro representam cada uma das
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
142
Qualidade de Vida dos Seniores
vinte e quatro facetas que compõem o original, WHOQOL-100. Assim a versão
abreviada é composta por apenas quatro dos seis domínios, entre eles, o físico, o
psicológico, as relações sociais e o meio ambiente. Diferente do WHOQOL-100 em
que cada uma das vinte e quatro facetas é avaliada a partir de quatro questões, no
WHOQOL-Bref é avaliada por apenas uma questão. Os dados que deram origem à
versão abreviada foram extraídos do teste de campo de vinte centros em dezoito
países diferentes. O critério de selecção das questões foi tanto psicométrico como
conceptual. No nível conceptual, foi definido pelo Grupo de Qualidade de Vida da OMS
de que o carácter abrangente do Instrumento deveria ser preservado. Assim, cada
uma das vinte e quatro facetas que compõe o instrumento original (WHOQOL-100)
deveria ser representada por uma questão. No nível psicométrico, foi então
seleccionada a questão que mais altamente se correlacionasse com o score total,
calculado pela média de todas as facetas. Após esta etapa, os itens seleccionados
foram examinados por um painel de experts para estabelecer se representavam
conceptualmente cada domínio de onde as facetas provinham. Dos vinte e quatro itens
seleccionados, seis foram substituídos por questões que definissem melhor a faceta
correspondente. Três itens do domínio meio-ambiente foram substituídos por serem
muito correlacionados com o domínio Psicológico. Os outros três domínios foram
substituídos por explicarem melhor a faceta em questão.
Em relação às propriedades psicométricas da versão abreviada do WHOQOL, foi
aplicado a 250 pacientes, 125 (50%) eram pacientes ambulatórios e 125 (50%)
estavam internados. Os pacientes provinham das seguintes áreas básicas: Clínica (94
pacientes), Cirurgia (72 pacientes), Ginecologia (30 pacientes) e Psiquiatria (54
pacientes). Em relação à forma de administração do questionário, 53,3% foram autoadministrados, 27,3% foram assistidos pelo entrevistador e 19% foram administrados
pelo entrevistador. A consistência interna do WHOQOL-Bref para os domínios, as
questões e cada domínio individualmente foi avaliada pelo coeficiente de fidedignidade
de Cronbach. O coeficiente mostrou valores satisfatórios quando calculado para as
questões ou para os domínios, contudo apresentou valores mais baixos aquando da
avaliação individual do domínio das Relações Sociais. Para avaliar a validade
discriminante, comparou-se o resultado médio de cada um dos quatro domínios entre
o grupo de pacientes (n=250) e de normais (n=50). Verificou-se uma tendência dos
pacientes normais apresentarem resultados superiores em cada um dos quatro
domínios. Os domínios Físico e Psicológico discriminaram de forma estatisticamente
significativa os pacientes dos normais. O domínio do Meio-ambiente apresentou teste
de significância limítrofe e o domínio das Relações Sociais não mostrou uma diferença
estatisticamente significativa entre normais e pacientes. Para avaliar a Fidedignidade
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
143
Qualidade de Vida dos Seniores
ao teste foi aplicado um reteste após duas a quatro semanas, mas desta vez,
unicamente aos 50 indivíduos normais, uma vez que, estes tendem a ter uma variação
menor da sua condição neste espaço de tempo. Ao comparar as médias entre os
resultados nos diferentes domínios entre o teste e o reteste, observou-se que não
houve diferença significativa nas médias entre os domínios. Nos coeficientes de
correlação entre o teste e o reteste, observou-se que os coeficientes apresentaram
valores elevados (acima de 0,7) e altamente significativos, demonstrando uma boa
fidedignidade teste-reteste.
Deste modo, as características psicométricas do WHOQOL-Bref preenchem os
critérios de consistência interna, validade discriminate, validade concorrente, validade
de conteúdo e confiabilidade teste-reteste, básicos numa avaliação preliminar. O
WHOQOL-Bref apresentou uma boa consistência interna, medida pelo coeficiente de
Cronbach, quer se tomem as vinte e seis questões, os quatro domínios ou cada um
dos domínios.
Para estudar a validade de critério do WHOQOL-Bref, realizou-se uma regressão
linear múltipla dos domínios em relação à faceta que avalia a “qualidade de vida
geral”. Observou-se que três dos quatro domínios fizeram parte do modelo, explicando
44% da variância. Assim, pode-se inferir que com a excepção do domínio das
Relações Sociais, os demais domínios foram importantes na definição de qualidade de
vida numa amostra de pacientes com doenças de diferentes naturezas e severidades.
Ainda quando se comparou a correlação entre os diferentes domínios entre si,
observou-se que todos os domínios apresentam coeficientes de correlação
significativos entre si, sendo que a correlação entre os domínios Físico e Psicológico
foi a mais alta.
O questionário WHOQOL é utilizado relevantemente em estudos de investigação
como um instrumento para avaliar a Qualidade de Vida de indivíduos em relação a um
grande número de temas. O WHOQOL GROUP (1995) tem por base o
desenvolvimento dos elementos que conduziram à definição de Qualidade de Vida
entendida como “a percepção do indivíduo da sua posição na vida, no contexto da
cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objectivos,
expectativas, padrões e preocupações.”
Metodologicamente, a cada questão do questionário corresponde uma escala com
cinco opções de resposta considerando-se a intensidade desta última, em que 1
corresponde à total insatisfação e 5 à completa satisfação. O questionário será levado
a cabo directamente pelo entrevistador aos entrevistados, interface, mediante total
esclarecimento face aos objectivos do estudo e com o devido consentimento dos
mesmos. Todo o procedimento metodológico e ético subjacente à aplicação do
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
144
Qualidade de Vida dos Seniores
instrumento
será
respeitado.
Serão
igualmente
respeitadas
as
normas
de
confidencialidade.
Este instrumento de recolha de informação é anónimo cujos modos de
administração serão auto-administrados, em que após a leitura das instruções, o
respondente preenche o questionário sem qualquer ajuda; ou assistido pelo
entrevistador, em que é o respondente que lê as questões e assinala as respostas
após o entrevistador ler as instruções e explicar o modo de preenchimento do mesmo;
ou administrado pelo entrevistador, em que o entrevistador lê as instruções, as
questões, a escala de resposta e assinala no questionário a resposta dada pelo
inquirido.
•
Questionário Sócio-Demográfico
Embora seja já parte constituinte do WHOQOL-Bref uma breve caracterização dos
dados pessoais da amostra, para o presente estudo torna-se insuficiente. Deste modo,
será aplicado um questionário sócio-demográfico, em que as questões abordadas
fazem todo o sentido para a construção do modelo de análise traduzindo-se em
indicadores de avaliação de modo a que sejam descontruídas as hipóteses
formuladas.
A caracterização da amostra da população será então completada por um
questionário sócio-demográfico que inclui o número de elementos no agregado e de
filhos, rendimento mensal e respectiva fonte, participação activa em actividades
promovidas pela câmara ou respectivas Juntas de Freguesia, relação face ao
isolamento, satisfação das necessidades, frequência com que vai à cidade e serviços
mais procurados e por uma pergunta aberta sobre o que está em falta na respectiva
freguesia.
Deste modo, a caracterização sócio demográfica da amostra é assegurada pelos
dois instrumentos. Ambos os questionários têm o mesmo procedimento de aplicação,
uma vez que, serão passados intercalarmente. A ordem a ser seguida será, em
primeiro lugar os Dados Pessoais constituintes do WHOQOL-Bref, em seguida o
questionário Sócio-Demográfico e por último, o WHOQOL-Bref.
O Procedimento
Perante a impossibilidade para o levantamento de informação segundo o
procedimento interface, o entrevistador solicitou a colaboração de serviços disponíveis
no concelho, em maior proximidade com a população sénior. Em Alvor, houve a
colaboração Técnica Superior de Serviço Social do Centro Comunitário de Alvor que,
facilitou o acesso aos seniores (10) que visitam a sua instituição. Para a Mexilhoeira
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
145
Qualidade de Vida dos Seniores
Grande, contamos com o apoio da TSSS pelo projecto “Proximidade e Atendimento
Social” da responsabilidade da Divisão de Acção Social e Saúde (DASS) da autarquia
de Portimão, que inquiriu 8 pessoas. As restantes foram inquiridas pelo entrevistador.
As 120 pessoas representantes da freguesia de Portimão foram da total
responsabilidade do investigador. Uma vez que, a freguesia de Portimão é a mais
representativa em termos populacionais, o investigador teve o cuidado de fazer uma
divisão entre os inquiridos, representativamente, tendo recorrido a utentes do Centro
de Convívio Sénior, da Universidade da Terceira Idade, Associação de Reformados do
Pontal e Não Só e a pessoas sem quaisquer ligações a serviços direccionados para os
seniores. Dentro deste processo as pessoas foram inquiridas aleatoriamente. O setting
da recolha de informação foi variado. Podemos referir, os espaços físicos referentes
aos locais supra-citados e ainda, cafés e jardins.
Assegurou-se desde início, o cumprimento das normas de confidencialidade no
preenchimento dos questionários, assim como, todas as regras subjacentes à sua
passagem foram devidamente respeitadas. Coube assim, ao investigador o papel de
bem informar e explicar aqueles que com ele colaboraram.
Por parte dos entrevistadores tiveram a tarefa de explicar os objectivos do
estudo e só em caso de consentimento foram passados os questionários, WHOQOLBref e Sócio-Demográfico.
5.3 Apresentação e discussão dos resultados obtidos
Antes de apresentar e discutir os dados obtidos, cabe-nos caracterizar a amostra.
Já em análise, discutiremos em primeiro lugar os resultados obtidos pelo questionário
sócio-demográfico e em seguida os dados do Whoqol-Bref. De referir que na primeira
análise estatística as tabelas referidas encontram-se no anexo 1 (p.199), na segunda
análise preferimos analisar as tabelas incorporando-as na discussão.
•
Caracterização da amostra
Antes de dar início à apresentação e discussão dados, veremos as características
da amostra estudada. Foram inquiridas 155 pessoas que preencheram os requisitos
para colaborar com este estudo, nomeadamente ter 65 ou mais anos, residir numa das
três freguesia do concelho e Portimão e não se encontrar institucionalizado.
Entendemos aqui, a situação de institucionalizado, os indivíduos que se encontrem
nos Lares ou Centro de Apoio a Idosos em regime de internamento, ou ainda, os
frequentadores de Centros de Dia. Incluímos, todavia, os utentes dos Centros de Dia,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
146
Qualidade de Vida dos Seniores
pela razão de passarem toda uma parte do dia numa instituição estando, em certa
medida, privado de alguma liberdade.
Por freguesias, foram inquiridos, 120 indivíduos em Portimão, 18 em Alvor e 17
na freguesia da Mexilhoeira Grande.
Foram inquiridos nas três freguesias, maioritariamente mulheres (ver tabela
n.º10), facto que encontra explicação na esperança média de vida ser mais risonha
para as mulheres e por existir diferenças entre envelhecer no feminino e no masculino.
Estes aspectos tiveram já oportunidade de serem estudados, sendo agora
confirmados perante os resultados obtidos pela nossa amostra.
A tabela precedente, tabela n.º9a, elucida-nos quanto à média de idades.
Assim, nas freguesias de Alvor e Mexilhoeira Grande contamos como idade média dos
inquiridos, 75 anos. Em Portimão a média desce 2 anos, ficando pelos 73.
Ao analisar os dados obtidos verifica-se que nas três freguesias predominam
os agregados familiares constituídos por dois elementos, não se podendo concluir,
casais, uma vez, que a respectiva pergunta não o especificava. No entanto, podemos
afirmar, por intermédio da observação empírica, que grande parte destes, são mesmo
casais. De realçar a predominância de pequenos agregados quanto à sua dimensão,
já que, em seguida surgem indivíduos isolados. Em Portimão verificamos 51 indivíduos
para a primeira situação e 40 para a segunda. Sendo que a partir daqui os dados
mostram-se irrelevantes dada a sua escassa representatividade. Em Alvor, não fará
sentido lançar nenhum número, visto que maioritariamente, são agregados
constituídos por dois elementos (10). A freguesia da Mexilhoeira Grande enquadra-se
no cenário vivido pelos portimonenses, uma vez que, ambas as situações, estão
representadas por valores muito próximos (9 indivíduos que coabitam com uma
pessoa e 7 individuas que vivem só).
Quanto ao número de filhos podemos referir como média para Portimão, 2
filhos por inquirido, com uma representatividade de 57 inquiridos. Em seguida, embora
ainda distante, predomina 1 filho por inquirido (34 inquiridos). Nas restantes freguesia,
o cenário mantém, embora com maior equilíbrio entre ambas as situações. Em Alvor
contamos 4 inquiridos nas situações de 1, 2 e 4 filhos. Na Mexilhoeira Grande
sobressai os inquiridos com 2 filhos (5), sendo que, em seguida 4 indivíduos tiveram
apenas um filho. Perante os resultados obtidos na tabela n.º1 (ver anexos), não se
mostra relevante referir nenhum outro aspecto, a não ser e, apenas a título de
referência, que os indivíduos sem filhos aparecem com uma representatividade
considerável nas três freguesias. Doze inquiridos em Portimão, 2 em Alvor e 3 na
Mexilhoeira.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
147
Qualidade de Vida dos Seniores
Em Portimão 54 dos inquiridos são casados e 44 são viúvos. Nas restantes
freguesias destacam-se os casados, com 13 em Alvor e 10 na Mexilhoeira Grande.
Podemos dizer nestas últimas mais de metade dos indivíduos que participaram no
estudo, são casados.
Os inquiridos foram questionados relativamente quanto aos seus rendimentos
mensais (per capita) e as respectivas fontes. Este indicador começa já a esboçar
algumas diferenças características das referidas freguesias. Em Portimão residem os
indivíduos que auferem maiores rendimentos, sendo que 42 dos 120 indivíduos
inquiridos em Portimão têm rendimentos superiores a 500€. No entanto, sabemos que
nas grandes cidades são sempre visíveis sinais de diferença entre as classes, em que,
por um lado temos os mais abonados, ou seja, com melhores condições financeiras e
opostamente encontramos os menos abonados. Assim, 34 dos inquiridos que residem
em Portimão auferem apenas rendimentos que variam entre os 200€ e 300€. Os
dados revelados na tabela n.º2, dizem-nos que em Alvor os rendimentos obtidos
ficam-se pelos 200€ e 300€. O cenário vivido na Mexilhoeira reparte-se entre os
rendimentos que variam entre os 200€ e 300€ (6 indivíduos) e os que oscilam entre os
300€ e 400€ (5 indivíduos).
Tal como descrevemos no capítulo 4 (4.2 perspectiva territorial) onde
abordamos as diferenças entre viver no meio urbano confrontando com o rural,
facilmente de depreende que é na cidade que melhores oportunidades surgem assim
como
melhores
empregos
e oportunidades
de
investimento.
Em
Portimão,
maioritariamente os rendimentos referidos são provenientes das reformas, onde
surgem, em grande escala, a pensão por velhice (54), tal como acontece nas outras
freguesias. No entanto, é de referir ainda que as pessoas cujos rendimentos são mais
elevados, em alguns casos, estes são fruto de outras fontes que não pensões da
segurança social ou caixa geral de aposentações (6). Dez inquiridos referem ter outros
rendimentos que não foram especificados.
Quando estudada a escolaridade dos inquiridos percebe-se, desde logo, que
os indivíduos mais instruídos residem em Portimão. Olhando a tabela n.º11, verificase que o grau mais elevado de escolaridade, na Mexilhoeira Grande é o actual 4º ano,
ou seja, 1º ciclo. Sete inquiridos têm o 1º ciclo, 5 sabem apenas ler e escrever não
tendo completado o 4ºano e outros 5 indivíduos não sabem ler nem escrever. Em
Alvor o cenário é ligeiramente mais risonho mas mantém-se os baixos graus de
escolaridade. A maioria ficou-se pelo 1ºciclo (11 inquiridos), no entanto encontraramse 2 pessoas que não sabem ler nem escrever e 4 que sem o 1º ciclo sabem ler e
escrever. De referir que um dos inquiridos na freguesia de Alvor possui o 2º ciclo. Em
Portimão, é bem diferente. Inquirimos 5 pessoas com estudos universitários e 16 com
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
148
Qualidade de Vida dos Seniores
o ensino secundário completo. No entanto a média situa-se, tal como nas demais
freguesias, no 1º ciclo (58 indivíduos). As baixas escolaridades, também se expressam
na população portimonense, embora, proporcionalmente menos significativas.
Mais uma vez, se explica e se confirmam melhores condições de vida na zona
urbana. As baixas escolaridades nas zonas rurais podem ser explicadas pelo
abandono e absentismo precoce das crianças à escola, por motivos de auxiliar os pais
no trabalho do campo. Quem teve a oportunidade de, não digamos sair do campo para
a cidade, mas pelo menos, de estudar na cidade, certamente que obteve melhores
graus de escolaridade.
As actividades profissionais outrora desenvolvidas são, de igual modo, alvo
de avaliação. Assim, em Portimão grande parte da população era doméstica (17
indivíduos) e 13 trabalharam na indústria conserveira. Em Alvor destaca-se como
profissão a indústria conserveira (4), doméstica (3) e comerciante (3). Na Mexilhoeira
Grande assistimos a uma distribuição significativa, como podemos verificar na tabela
n.º 12, sendo que, não será relevante evidenciar qualquer profissão. Resta-nos dizer
que caracteristicamente são profissão de baixas qualificações. As profissões referidas
são geralmente desenvolvidas por mulheres, facto que explica a predominância das
inquiridas representarem o sexo feminino.
E porque a OMS aproxima Qualidade de Vida ao estado de saúde, os
inquiridos foram questionados sobre o seu estado de saúde, tipo de doença, o tempo
de doença e o regime de tratamento.
Assim, em Portimão contamos 56 inquiridos doentes e 62 referiram não
apresentar qualquer doença. Os problemas de estômago (7), as depressões (5), a
osteoporose, os problemas renais, doenças no coração e problemas de visão, todas
estas referidas por três inquiridos, revelam-se nas doenças com maior incidência entre
os habitantes da freguesia de Portimão. Os problemas de estômago, confirma-se ao
observar a tabela n.º 16 que não ocorre num período certo de tempo, muito pelo
contrário, em 2 pessoas os problemas surgiram entre um a cinco anos. A incidência
das depressões é visível em todo o período de tempo. A osteoporose, enquanto
doença apontada como típica dos seniores, apareceu entre 5 e 10 anos atrás, ora se a
média de idades dos inquiridos é de 75 anos, esta doença tem tendência a aparecer
entre os 65 e 70 anos de idade.
Todos os inquiridos à excepção se dois (um com depressão e outro com
problemas de tiróide) são acompanhados medicamente em regime de consulta
externa.
•
Apresentação e discussão dos resultados obtidos pelo questionário
sócio-demográfico
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
149
Qualidade de Vida dos Seniores
A participação revelou-se neste estudo um fenómeno crucial. Quando falamos
em seniores, reformados, sem qualquer actividade profissional que lhe esgote o tempo
livre associamos a questão da ocupação do tempo livre. Teoricamente já abordamos
este tema que agora vimo-lo confrontado com os inquiridos. A pergunta prendia-se na
participação ou não nas actividades levadas a cabo pela Câmara Municipal e/ou Junta
de freguesia da sua área de residência. Confirmamos que os indivíduos participam
desenvolvendo, desta forma, uma cidadania activa. Dos 120 inquiridos em Portimão,
85 participam nas actividades (70,8%), sendo o projecto Viver Sénior o que mais
participantes recebe, 28 indivíduos. Se analisarmos pormenorizadamente, verificamos
que os 28 indivíduos não correspondem à totalidade das pessoas que usufruem das
actividades contempladas para quem possui o passaporte sénior. Por exemplo, vimos
que 14 pessoas frequentam também o Centro de Convívio Sénior. E ainda 10
pessoas, bastante activas aproveitam as actividades da Junta de freguesia de
Portimão, do Viver Sénior e ainda do Centro Convívio Sénior.
Do total dos inquiridos em Alvor, 83,3% dos inquiridos participam nas
actividades. Sendo que, leva vantagem as actividades integradas no Exercício e
Saúde, assim como, as levadas a cabo pelo Centro Comunitário de Alvor, com uma
representatividade de 7 indivíduos. A participação no Viver Sénior vem em seguida,
com as mesmas 4 pessoas que participam, não só, neste projecto mas também nas
actividades do Centro Comunitário de Alvor. Juntando os dados temos que, 11
inquiridos, maioria dos inquiridos, nesta freguesia frequenta as actividades levadas a
cabo pelo Centro Comunitário.
Na Mexilhoeira, surge no lugar mais elevado do pódio, as actividades da
respectiva Junta de Freguesia. Geograficamente isolada, esta vila, fecha-se um pouco
às actividades que a mesma oferece. Todavia, 4 pessoas têm e usufruem do
passaporte sénior e 76,5% da população participa nas actividades.
O balanço é bastante positivo e incentiva quem dedica o seu trabalho aos
seniores em prol do seu bem-estar. As pessoas que não participam em qualquer
actividade justificam o desconhecimento de tais actividades, por opção própria ou
ainda por falta de oportunidade. A freguesia que maior índice de participação
apresenta é a de Alvor com 83,3%, depois surge a Mexilhoeira Grande com 76,5% e,
por fim, e ao contrário do estimado inicialmente, vem Portimão com 70,8%.
Os valores associados à participação estão descritos no conjunto de tabelas
n.º3, 3ª, 3b e 3c. Podemos deduzir que a grande maioria das pessoas que
participaram neste estudo, têm uma postura activa de encarar a velhice, sendo
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
150
Qualidade de Vida dos Seniores
testemunhas de um envelhecimento activo. Pela experiência no terreno, podemos
afirmar que a assiduidade no momento do dia de abertura de inscrição, por exemplo,
nas actividades do passaporte sénior, é qualquer coisa de abrupto. Muitas das vezes
as inscrições acabam no dia de abertura, perante tal assiduidade.
Virando a moeda, os participantes foram inquiridos sobre a predominância ou
não de sentimentos de isolamento. No entanto, o conceito foi mal percebido pelos
inquiridos, tendo na sua quase totalidade respondido à justificação de sentimento de
solidão. A diferença entre os conceitos foi já desconstruída, entendendo isolamento na
sua relação com o espaço físico, isto é, isolamento geográfico, e solidão no sentido da
pessoa de sentir sozinha. De qualquer modo teremos de avaliar os dados recolhidos,
mas fica desde já, ressalvada a explicação do mau entendimento.
Só na freguesia de Portimão é que existem diferenças significativas entre quem
se sente isolado e quem não se sente isolado, 37 para 83 indivíduos, respectivamente.
Os habitantes de Alvor estão divididos, sendo que 9 pessoas estão para cada um dos
lados. Na Mexilhoeira, embora com uma representatividade superior para que não se
sente isolado, com 10 dos inquiridos para 7 se afirmam o isolamento, não se revela
tão significativa com em Portimão. As pessoas alegam, nos termos da tabela n.º4a, o
sentimento de isolamento derivado ao facto de viverem sozinhas, isto na freguesia de
Portimão. Nas restantes são apontadas questões como a falta de vontade de sair de
casa ou devido à sua própria doença ou do seu cônjuge. Não podia deixar de fazer
referência às respostas que corresponderam ao verdadeiro entendimento do conceito.
Na Mexilhoeira uma pessoa respondeu “Porque quando precisa de certas coisas tem
de ir a Portimão”, em Alvor e Portimão, uma pessoa respondeu “Porque moro longe de
tudo”.
Quando questionadas sobre o motivo de não se sentirem isoladas, o resultado
foi uma vasta lista de motivos. Podemos referir para a freguesia de Portimão,
respostas como “Convive com muitas pessoas” (8), “Passeia muito” (9), “Tem a
companhia de familiares próximos” (7) ou “Porque frequento o Centro de convívio” e
“Pessoa activa” com uma representatividade de 5 pessoas. Passando de coluna, na
tabela 4b, verificamos que para além de se considerarem pessoas activas e de
passearem muito, apontam como razão para o não isolamento a frequência nas
actividades do Centro Comunitário, entre outros motivos, todos com uma resposta
cada. Na Mexilhoeira predomina o facto de ter muitos amigos e familiares (3) ou tem a
companhia de familiares próximos (1). Por seu turno, houve quem alegasse que
embora vivesse num local isolado geograficamente é uma pessoa activa e autónoma,
ou “Sente-se bem vivendo só e longe dos serviços mas tem carro” o que combate o
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
151
Qualidade de Vida dos Seniores
isolamento. Nestas últimas referências foi novamente entendido o verdadeiro sentido
do conceito isolamento.
A tabela n.º 5 distribui a satisfação ou não com os serviços e actividades
desenvolvidas na respectiva freguesia e se os mesmos correspondem às suas
necessidades. Em pleno nas três freguesias, a satisfação é muito positiva. De referir
que na Mexilhoeira assiste-se à unanimidade, sendo que todos as pessoas
responderam afirmadamente. Em Portimão são referidas as boas oportunidades de
entretenimento (9) a par com “Porque há de tudo”, a “Proximidade dos serviços e
oportunidade de entretenimento” (5) e o facto de haver muito convívio combatendo
deste modo a solidão (5) aparecem logo de seguida. Por seu lado em Alvor, 3
inquiridos afirmam haver de tudo na sua freguesia e outros tantos referem “Tudo
óptimo”. Na Mexilhoeira, é apontada a razão que os serviços existentes revelam-se
suficientes
para
a
satisfação
das
necessidades
da
população,
com
uma
representatividade de 6 indivíduos. Duas pessoas referem ainda que “O serviço da
junta é atencioso e personalizado”.
Nesta questão não podemos deixar de referir o absentismo sendo bem
significativos nas três freguesias.
A justificação para a não satisfação dos serviços, prende-se, pontualmente em
Portimão com a sua insuficiência, no entanto são referidas situações pontuais, como é
o caso da zona da Coosofi estar abandonada, a forte aglomeração dos indivíduos de
etnia cigana nas Cardosas ou ainda, o facto que na Praia da Rocha não existir
qualquer serviço nem para os seniores nem para crianças. Na impossibilidade de
mencionar todos os itens, ficam aqui os mais flagrantes, a nosso ver. São apontadas
em Alvor razões como, pelas duas únicas pessoas que não se mostram satisfeita, a
insuficiência dos mesmos.
Para melhor compreender a existência ou não do isolamento, nas freguesias
de Alvor e Mexilhoeira e, também das áreas de habitação afastadas do centro da
cidade de Portimão, os inquiridos foram questionados sobre a frequência com que se
deslocavam a Portimão. Assim, e de acordo com a tabela n.º 6, 60 habitantes de
Portimão diariamente vão a Portimão, prendendo-se este facto, por residirem no
centro os zonas de grande proximidade com o mesmo. Todavia, 12 pessoas só se
deslocam a Portimão em casos excepcionais. Facto curioso, quando comparamos as
respostas das restantes freguesias, e indo contra a opinião inicialmente formada por
nós, são os habitantes da Mexilhoeira que com maior frequência se deslocam a
Portimão. Em Alvor, 10 pessoas referem ir à cidade em casos excepcionais.
Quanto aos serviços mais procurados nestas deslocações à cidade, em
Portimão podemos referir o hospital, comércio local, hipermercado e mercado
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
152
Qualidade de Vida dos Seniores
municipal como os que mais visitas recebem. Os habitantes de alvor procuram com
maior assiduidade o hipermercado, mercado municipal e comércio local, sendo que o
último prevalece. Na Mexilhoeira a razão apontada com maior frequência foi para
visitar família e/ou amigos (2) entanto, os indivíduos que não especificaram a razão
aprestam maior representatividade (3).
No seguimento destas questões, os inquiridos foram confrontados para opinar
sobre o que faria falta na sua freguesia. O resultado foi uma vasta lista. De qualquer
forma enumeraremos os de maior expressão. Assim, na tabela n.º8, verifica-se que os
inquiridos pedem mais policiamento nas ruas (3), a elevação das passadeiras para
peões (4), um espaço maior para os seniores (5+2), mais casas de banho públicas (4),
mais jardins e recuperar os existentes. De salientar que 22 inquiridos referiram não
faltar nada em Portimão. Em Alvor as preocupações prendem-se com o melhoramento
das calçadas e a implementação de um posto da Guarda Nacional Republicana. Três
pessoas afirmam não faltar nada na freguesia de Alvor. Na Mexilhoeira são apontadas
necessidades bem diferentes, tal como, maior de frequência dos transportes públicos
(5), uma fonte pública ou um jardim, uma ponte para peões na EN 125 em frente ao
cruzamento que dá entrada na Mexilhoeira (4), outras tantas pessoas referem, tal
como em Alvor a implementação de um posto da GNR. Três pessoas afirmam não
faltar nada na freguesia da Mexilhoeira Grande.
Quando os habitantes da Mexilhoeira pedem uma maior frequência dos
transportes públicos percebemos que, de facto, estas pessoas se sentem isoladas.
Que, por certas vezes deixam de sair de casa por não terem transporte.
A tabela n.º 18 relaciona a forma de administração dos questionários por
freguesia. Desta feita, em Portimão, 91 dos casos foi administrado pelo entrevistador,
19 questionário foram auto-administrados e 10 assistidos pelo entrevistador. Nas
restantes freguesias todos os questionários foram passados pelo entrevistador. Facto
que pode explicar as baixas qualificações e/ou existência de alguns sentimentos de
insegurança.
Não podemos deixar passar o feedback, entre as diferenças das três formas de
passar o questionário. Nas situações de auto-administração, nem todas as respostas
eram dadas, respondendo apenas ao que lhes interessavam. Nos casos dos
assistidos tudo correu normalmente. Todavia, nas situações que o entrevistador
assumiu o comando dos questionários, foram sentidos sentimentos de vergonha,
quando questionados até que ponto estavam satisfeitos com a sua vida sexual. O
entrevistador não terá insistido perante tal situação, facto que explica a questão 21 do
WHOQOL-Bref ter algum absentismo.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
153
Qualidade de Vida dos Seniores
Confrontação das hipóteses
Após esta breve análise estatística, estamos em condições de confrontar
algumas das hipóteses inicialmente formuladas.
Deste modo, as hipóteses a serem confirmadas ou refutadas concretizam-se
nas seguintes:
a) Pela ordem decrescente referenciada, é na freguesia de Portimão que a
população pode contar com um vasto leque de bens e serviços, melhor acessibilidade
aos mesmos, sendo que é uma população muito mais activa e participativa. Dado ao
isolamento geográfico e social da freguesia da Mexilhoeira Grande, as restantes
freguesias do concelho de Portimão têm melhor acessibilidade aos serviços.
b) Em relação às expectativas e padrões é a população residente na freguesia
de Portimão e Alvor que maiores índices de satisfação apresentam, respectivamente.
Fenómenos explicados pelo facto das actividades relacionadas com o lazer e
entretenimento estarem associadas às zonas mais urbanas e com maior densidade
populacional, sendo destes que, se esperam uma democracia mais participativa.
c) A população mexilhoeirense é a mais envelhecida e, consequentemente a
que menor número de jovens tem, sendo igualmente a localidade mais isolada. A
relação subjacente ao envelhecimento e isolamento directamente associados à
freguesia da Mexilhoeira Grande une dois conceitos que geralmente se associam em
zonas mais rurais e do interior do país. Fenómeno que encontra explicação no
abandono da população jovem das zonas menos desenvolvidas e, cada vez mais
desertificadas, para o litoral e zonas urbanas, carregando a esperança de uma vida
melhor.
Não podemos confirmar as duas primeiras hipóteses, visto a população da
Mexilhoeira responder em peso estar satisfeita com todos os serviços existentes na
sua freguesia. Por sua vez, em Alvor também não são apontados irregularidades nos
serviços, referindo os inquiridos a existência de qualidade nos mesmos. Em Portimão
a satisfação com os mesmos é, de igual modo, muito significativa. No entanto, as
freguesias mais isoladas geograficamente (Alvor e Mexilhoeira) sentem-se inseguras
requerendo vigilância policial. Confirma-se, neste encadeamento, o isolamento sentido
pela população da Mexilhoeira ao reclamarem maior assiduidade dos transportes
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
154
Qualidade de Vida dos Seniores
públicos.
Os
valores
apurados
estatisticamente
confirmam,
desta
feita,
a
predominância dos sentimentos de isolamento nas freguesias mais afastadas do
centro da cidade.
Quanto à participação activa das populações verificamos grande assiduidade
às actividades. Nas três freguesias verificamos uma maioria esmagadora. No entanto
o que se verifica é que cada freguesia responde mais assiduamente às actividades
levadas a cabo na sua área de residência. Isto é, na Mexilhoeira a população recorre
às actividades desenvolvidas pela Junta de Freguesia e em Alvor, recorrem às
actividades desenvolvidas no âmbito do Centro Comunitário de Alvor. A população
residente em Alvor usufrui, de igual modo, do Exercício e Saúde, fruto da colaboração
existente entre a Câmara Municipal e o Centro Comunitário que disponibiliza um
técnico que se deslocam semanalmente ao local. Não será correcto afirmar, que a
população da freguesia de Portimão é mais activa que as restante. Todas apresentam
índices significativos de participação. Neste ponto também não podemos confirmar a
primeira hipótese.
Considerando a terceira hipótese aqui referida na alínea c), teríamos de igual
modo, de refutá-la se nos baseássemos unicamente nos dados estatisticamente
estudados por nós. Não podemos dizer que a população da Mexilhoeira é mais
envelhecida que a de Alvor, uma vez que a média de idades dos inquiridos é igual, de
75 anos. No entanto podemos afirmar com convicção que Portimão é uma cidade,
pouco, mas mais jovem que as restantes populações. A população jovem, não sendo
alvo nesta investigação, impossibilita-nos de tirar conclusão dos dados estudados, no
entanto, auxiliamo-nos pelos dados estatisticamente apurados pelo INE. Assim para
os 36 243 habitantes na freguesia de Portimão, 6020 têm 65 ou mais anos. Em Alvor,
para os 4 977 habitantes, 885 são seniores. Na freguesia da Mexilhoeira com 3 598
habitantes, 847 têm idade igual ou superior a 65 anos. Perante estes dados
confirmamos que a população da freguesia da Mexilhoeira é a mais envelhecida com
23,5% de população sénior. Em Alvor correspondem 17,8% e em Portimão 16,6%.
Avaliados os pontos percentuais a diferença entre Alvor e Portimão é mínima,
destacando-se, por seu turno, a Mexilhoeira.
Vejamos agora o número de jovens. Consideramos os jovens pelas idades
compreendidas entre os 15 e os 29 anos, idades onde, a nosso ver, são tomadas
decisões como abandonar a sua terra natal. Maioritariamente será nestas idades, em
que as pessoas procuram oportunidades e melhores condições de vida. Assim, em
Portimão contamos com 7 871 jovens correspondendo a 21,7% da população total.
Em Alvor vivem 604 jovens correspondendo a 20,3% da população total. E para
confirmar a nossa hipótese, na Mexilhoeira apenas16,8% da população total é jovem.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
155
Qualidade de Vida dos Seniores
Agora sim, confirmamos que a população da freguesia da Mexilhoeira Grande é a
mais envelhecida.
Depois de confirmada a hipótese remetemos a explicação para o capítulo
anterior onde estão explicados os vários factores que diferem viver em meio urbano e
rural, assim como, algumas explicações do abandono da terra que os viu crescer.
•
Apresentação e discussão dos resultados obtidos pelo Whoqol-Bref
Analisaremos, de seguida, a qualidade de vida dos munícipes de Portimão de
acordo com os dados obtidos pelo Whoqol-Bref. Para uma mais fácil interpretação dos
resultados agrupamos no seguinte quadro as facetas que cada domínio avalia e as
questões correspondentes.
Através das tabelas seguintes analisaremos os diferentes índices de qualidade
de vida experienciados em cada uma das três freguesias constituintes do concelho de
Portimão.
Para fazer corresponder os resultados obtidos às hipóteses inicialmente
formuladas que norteiam o presente estudo, trataremos individualmente as facetas
pertinentes para confirmar ou refutar as mesmas.
Quadro 4 – Domínios, questões respectivas facetas em análise do Whoqol-Bref.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
156
Qualidade de Vida dos Seniores
Domínios
Questões
Facetas
Q3. Em que medida as suas dores (físicas) o
Dor e desconforto
impedem de fazer o que precisa de fazer?
Q4. Em que medida precisa de cuidados médicos
Dependência da medicação ou
para fazer a sua vida diária?
de tratamentos
Q10. Tem energia suficiente para a sua vida
Energia e fadiga
diária?
Q15.
Físico
Como
avaliaria
a
sua
mobilidade
Mobilidade
(capacidade para se movimentar e deslocar por si
próprio)?
Q16. Até que ponto está satisfeito com o seu
Sono e repouso
sono?
Q17. Até que ponto está satisfeito com a sua
Actividades da vida quotidiana
capacidade para desempenhar as actividades do
seu dia-a-dia?
Q18. Até que ponto está satisfeito com a sua
Capacidade para o trabalho
capacidade de trabalho?
Q5. Até que ponto gosta da sua vida?
Q6. Em que medida sente que a sua vida tem
sentido?
Q7. Até que ponto se consegue concentrar?
Psicológico
Sentimentos positivos
Espiritualidade/religião/crenças
pessoais
Pensar, aprender, memória
concentração
Q11. É capaz de aceitar a sua aparência física?
Q19. Até que ponto está satisfeito consigo
Imagem corporal e aparência
Auto-estima
próprio?
Q26. Com que frequência tem sentimentos
Sentimentos negativos
negativos, tais como, tristeza, desespero,
ansiedade ou depressão?
Q20. Até que ponto está satisfeito com as suas
Relações pessoais
relações pessoais?
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
157
Qualidade de Vida dos Seniores
Q21. Até que ponto está satisfeito com a sua vida
Relações
Sociais
Actividade sexual
sexual?
Q22. Até que ponto está satisfeito com o apoio
Suporte (apoio) social
que recebe dos seus amigos?
Q8. Em que medida se sente em segurança no
Segurança física e protecção
seu dia-a-dia?
Q9. Em que medida é saudável o seu ambiente
físico?
Q12. Tem dinheiro suficiente para satisfazer as
Ambiente físico (poluição,
ruído, trânsito, clima)
Recursos financeiros
suas necessidades?
Q13. Até que ponto tem fácil acesso às
informações necessárias para organizar a sua
Meio
ambiente
Oportunidades de adquirir
novas informações e
habilidades
vida diária?
Q14. Em que medida tem oportunidade para
realizar actividades de lazer?
Q23. Até que ponto está satisfeito com as
Participação em oportunidades
de recreação/lazer
Ambiente no lar
condições do lugar em que vive?
Q24. Até que ponto está satisfeito com acesso
que tem aos serviços de saúde?
Q25. Até que ponto está satisfeito com os
Cuidados de Saúde e sociais:
disponibilidade e qualidade
Transportes
transportes que utiliza?
Fonte: Elaborado pelo investigador baseado no Whoqol-Bref.
A presente tabela elucida de forma clara a relação entre as questões e
respectivas facetas. Assim, temos na primeira coluna os domínios analisados no
Whoqol-Bref, na segunda coluna descrevemos as vinte e seis questões que
constituem o questionário e, por fim, na terceira coluna fazemos corresponder as
facetas em análise. A cada questão que se coloca aos inquiridos permite-nos avaliar
determinada faceta. Será o conjunto destas facetas que formam os índices de
avaliação de cada domínio.
Esta tabela será o ponto de referência para as seguintes deduções estatísticas.
Cada domínio tem uma cotação mínima e uma cotação máxima. Esta cotação
refere-se à soma das respostas dadas tendo como base a escala de respostas que
varia de 1 a 5.
De referir que determinadas questões estão invertidas, ou seja, para as Q3 e
Q4 do domínio 1 (físico) e Q26 do domínio 2 (psicológico) a escala de resposta é
compatibilizada de forma inversa, em que o cinco (máximo) corresponde a 1 (mínimo),
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
158
Qualidade de Vida dos Seniores
sendo o contrário igualmente verdade. Para efeitos de contagem são retirados seis
pontos a cada resposta dada. A cada domínio corresponde uma pontuação máxima e
uma pontuação mínima e será através destes valores que quantificamos a qualidade
de vida dos munícipes de Portimão.
Vejamos.
Tabela 19 - Média dos somatórios dos resultados obtidos na relação dos domínios
com as freguesias.
O
domínio
físico
apresenta
como
cotação
máxima
de
35
pontos
correspondendo às questões Q3, Q4, Q10, Q15, Q16, Q17 e Q18. De referir que, as
Freguesias
Físico
Psicológico
.
Relações Sociais
Meio-ambiente
Total dos resultados
Portimão
Alvor
Mexilhoeira
Grande
Máximo atingível
Mínimo atingível
Média dos
somatórios
Média dos
somatórios
Média dos
somatórios
por cada domínio
por cada domínio
24,4
24,4
22,3
35
7
20,8
21,1
20,5
30
6
10,8
10,8
10,8
15
3
25,5
24,2
23,6
40
8
81,5
80,5
77,2
apresentados
questões 3 e 4 foram recodificadas, uma vez que, para estas situações a satisfação
máxima corresponderia a 1 na escala de resposta.
Para que a cotação máxima seja atingida os inquiridos têm de mostrar
completa satisfação face à questão colocada, ou seja, fazer corresponder a sua
resposta ao valor 5. Assim, fazendo corresponder todas as questões (7 para o domínio
físico) ao 5, obtêm-se um total de 35 pontos [527 + 528 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5]. Os valores
mínimos possíveis para este domínio correspondem a 7 [129 + 130 + 1 + 1 + 1+ 1 + 1].
Para tal, as respostas têm de corresponder ao nível mínimo de satisfação corresponde
a 1 na escala de resposta. Assim sendo, verifica-se que o domínio físico apresenta
igual média aritmética do somatório para as freguesias de Portimão e Alvor (24,4
27
A questão Q3 foi recodificada, assim o 1 cuja resposta corresponde a “nada” equivale à máxima
satisfação (5).
28
A questão Q4 foi, tal coma a Q3, recodificada.
29
Questão recodificada (Q3).
Questão recodificada (Q4).
30
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
159
Qualidade de Vida dos Seniores
pontos). Os inquiridos da freguesia da Mexilhoeira Grande para as facetas do domínio
físico apresentam 22,3 pontos dos 35 possíveis.
O domínio psicológico que avalia a predominância de sentimentos positivos, o
pensar, o aprender, a memória e concentração, a auto-estima, a imagem corporal e
aparência e, ainda os sentimentos negativos apresenta como valores máximos 30
pontos e 6 para os mínimos. O domínio psicológico é constituído por 6 questões,
assim, se a satisfação for plena e a todas as questões corresponderem a escala 5,
atingimos a cotação máxima de 30 pontos (5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 531). A situação oposta
corresponde a 6 pontos (1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 132). De acordo com a tabela, Alvor é a
freguesia com valores mais elevados (21,1), seguida de Portimão com 20,8 e, por fim,
com 20,5 surge a freguesia da Mexilhoeira Grande.
O domínio das relações sociais aborda a intensidade das relações pessoais,
suporte (apoio) social e a actividade sexual apresentando como valores máximos 15
pontos (5 + 5 + 5) e 3 para os mínimos (1 + 1 + 1). Este domínio é composto por 3
questões. A média dos somatórios é unânime para as três freguesias (10,8).
O domínio referente ao meio ambiente apresenta como valores compreendidos
entre os 8 (1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 + 1) e os 40 pontos (5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5).
À análise deste domínio correspondem a 8 questões. A média aritmética do somatório
apresenta valores relativamente mais semelhantes ao domínio físico. Assim, a
freguesia de Portimão expressa o valor mais elevado com 25,5 pontos. A freguesia de
Alvor apresenta 24,2 e a Mexilhoeira com 23,6 dos possíveis 40 pontos que
interpretamos como sendo valores consideráveis muito baixos de satisfação.
Pelo total dos resultados obtidos, afirmamos que os níveis de qualidade de vida
são melhores para a freguesia de Portimão, seguida da de Alvor e, por último, a
freguesia da Mexilhoeira. Tal como apontam as nossas hipóteses colocadas
inicialmente e se confirmam pelos cálculos relativos ao total dos resultados
apresentados.
De seguida analisaremos domínio a domínio. Pretendemos com esta
perspectiva perceber se existem diferenças na satisfação da população em relação a
cada domínio e em confronto com cada freguesia do concelho de Portimão. Depois
desta análise, apresentam-se as conclusões em termos de domínio, individualmente
pontuados, em termos percentuais.
Tabela 20 – Estudo do Domínio Físico nas três freguesias do concelho de Portimão.
Freguesia
31
32
Questão recodificada (Q26).
Questão recodificada (Q26).
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
160
Qualidade de Vida dos Seniores
Portimão
Q3
Q4
Q10
Q15
Q16
N
5
Coluna %
4,2%
N
0
Coluna %
o%
N
0
Coluna %
,0%
Pouco
26
21,7%
4
22,2%
4
23,5%
Nem muito nem pouco
20
16,7%
1
5,6%
5
29,4%
Muito
38
31,7%
9
50%
8
47,1%
Muitíssimo
31
25,8%
4
22,2%
0
,0%
Nada
5
4,2%
0
,0%
0
,0%
Pouco
20
16,7%
0
,0%
5
29,4%
Nem muito nem pouco
16
13,3%
0
,0%
6
35,3%
Muito
26
21,7%
11
61,1%
4
23,5%
Muitíssimo
53
44,2%
7
38,9%
2
11,8%
Nada
0
,0%
1
5,6%
0
,0%
Pouco
15
12,5%
4
22,2%
3
17,6%
Moderadamente
36
30,0%
4
22,2%
9
52,9%
Bastante
60
50,0%
6
33,3%
5
29,4%
Completamente
9
7,5%
3
16,7%
0
,0%
Muito má
2
1,7%
0
,0%
0
,0%
Má
11
9,2%
3
16,7%
2
11,8%
Nem boa nem má
28
23,5%
8
44,4%
5
29,4%
Boa
62
52,1%
4
22,2%
10
58,8%
Muito boa
16
13,4%
3
16,7%
0
,0%
Muito insatisfeito
10
8,3%
2
11,1%
1
5,9%
Insatisfeito
29
24,2%
3
16,7%
8
47,1%
23
19,2%
4
22,2%
2
11,8%
Satisfeito
49
40,8%
8
44,4%
6
35,3%
Muito satisfeito
9
7,5%
1
5,6%
0
,0%
Muito insatisfeito
2
1,7%
0
,0%
1
5,9%
Insatisfeito
14
11,7%
3
16,7%
1
5,9%
23
19,2%
6
33,3%
5
29,4%
Satisfeito
74
61,7%
8
44,4%
10
58,8%
Muito satisfeito
7
5,8%
1
5,6%
0
,0%
Muito insatisfeito
5
4,2%
1
5,6%
1
5,9%
Insatisfeito
28
23,5%
4
22,2%
2
11,8%
42
35,3%
7
38,9%
8
47,1%
Satisfeito
41
34,5%
6
33,3%
6
35,3%
Muito satisfeito
3
2,5%
0
,0%
0
,0%
insatisfeito
Nem satisfeito nem
insatisfeito
Q18
Mexilhoeira Grande
Nada
Nem satisfeito nem
Q17
Alvor
Nem satisfeito nem
insatisfeito
A Q3 avalia a dor e desconforto dos inquiridos. De um modo geral, a população
sénior do concelho de Portimão considera que as dores físicas que sentem impedem
muito de fazer o que precisam. Metade da população inquirida em Alvor expressa este
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
161
Qualidade de Vida dos Seniores
desconforto. O cenário na Mexilhoeira é idêntico estando os valores percentuais muito
próximos a Alvor com 47,1%. A freguesia de Portimão aparece como uma maior
distribuição dos resultados. No entanto, 31,7% das respostas correspondem a igual
incómodo, fazendo representar a resposta mais significativa. Apenas referir que os
extremos de resposta, o muitíssimo e o pouco surgem com valores percentuais muito
próximos, 25,9% e 21,7% respectivamente.
A necessidade de cuidados médicos diários é muito expressiva em Alvor,
sendo que, 61,1% referem precisar muito deles e 38,9% referem “muitíssimo”. O cenário
para Portimão não varia muito, embora o “muitíssimo” ultrapasse em larga medida o
“muito”, com 44,2%% e 21,7%, respectivamente. A saúde parece sorrir mais aos
habitantes da Mexilhoeira Grande, a natureza ainda traz muitos benefícios à saúde.
29,4%
dizem
precisar
pouco
dos
cuidados
médicos
diários,
35,3%
referem
mediocremente e 23,5% dos inquiridos admitem precisar muito destes diariamente. De
realçar a resposta dos inquiridos que responderam “nada” quanto à dependência da
medicação ou de tratamentos, em Alvor e na Mexilhoeira nenhum dos inquiridos referiu
tal resposta, enquanto que em Portimão expressaram-se 4,2%. Portimão aparece aqui
como a freguesia que mais precisa de cuidados médico, deduzindo ser a freguesia mais
doente.
A Q10 corresponde à faceta energia e fadiga. Aos inquiridos foi perguntado se
teriam energia suficiente para o seu dia-a-dia. Metade dos inquiridos em Portimão refere
ter bastante energia. Na Mexilhoeira, pouco mais de metade (52,9%) dos inquiridos
dizem ter energia e fadiga moderada, no entanto, 29,4% admitem ter bastante energia.
Em Alvor a distribuição está mais equilibrada, 33,3% referem ter bastante energia, 22,2%
moderada e 22,2% pouca energia para enfrentar a vida diária. Podemos concluir que a
população mais enérgica reside em Portimão, contudo e tal como já tínhamos visto atrás
não corresponde à população que desempenha uma cidadania mais activa, sendo que, é
a população de Alvor que participa com maior assiduidade na sociedade.
Em resposta à questão “Como avaliaria a sua mobilidade (capacidade para se
movimentar e deslocar por si próprio)?” os inquiridos nas freguesias de Portimão e
Mexilhoeira Grande respondem em peso ter boa mobilidade com 52,1% e 58,8%,
respectivamente. Os inquiridos em Alvor consideram medíocre a sua mobilidade com
44,4% a responder “nem boa nem má”. De referir que a resposta “muito boa” não foi
referida por nenhum dos inquiridos na Mexilhoeira, todavia, foi referida por 13,4% da
população inquirida em Portimão e por 16,7% em Alvor.
O sono e repouso são as facetas em análise na questão 16. A população
residente nas freguesias de Portimão e Alvor afirma, com 40,8% e 44,4%,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
162
Qualidade de Vida dos Seniores
respectivamente, estar satisfeitas com o seu sono. No entanto, a população da
restante freguesia está mais dividida, em que, o grosso modo, se encontra na
insatisfação (47,1%). 35,3% estão satisfeitos com o sono e consequente repouso que
dele advém. De elucidar, o facto de nesta freguesia ninguém referir que está muito
satisfeito.
Até que ponto está satisfeito com a sua capacidade para desempenhar as
actividades do seu dia-a-dia? A esta questão toda a população que constitui a amostra
para este estudo respondeu em peso estar em satisfeita com a sua capacidade de
desenvolver as suas actividades quotidianas.
Capacidade para o trabalho divide as opiniões dos inquiridos. A expressão que
maiores adeptos recebe é mesmo o meio-termo, em que se mostram não estar
satisfeitos nem insatisfeitos. No entanto surge, de igual modo em todas as freguesias,
a satisfação com as suas capacidades para trabalhar com 34,5% para Portimão,
33,3% para Alvor e 35,3% para a Mexilhoeira. A completa satisfação apenas é referida
por 3 pessoas em Portimão.
Em conclusão, a saúde parece ser mais favorável aos habitantes da
Mexilhoeira em detrimento dos habitantes de Alvor. Em Portimão reside a população
com maior energia, que mais satisfeita está com a sua capacidade de movimentar-se
e com o sono e repouso que dispõem. A disponibilidade para desempenhar as
actividades da vida quotidiana revela-se favorável para a grande maioria das amostras
que constituem as três freguesias. O trabalho não se revela num marco para os
inquiridos, não se mostram satisfeitos nem insatisfeitos, também já trabalharam uma
vida toda, eis chegada a idade do descanso e de desempenhar outras formas de
trabalhar.
Tabela 21 - Estudo do Domínio Psicológico nas três freguesias do concelho de Portimão.
Freguesia
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
163
Qualidade de Vida dos Seniores
Portimão
Q5
Q6
Q7
Q11
Q19
Mexilhoeira Grande
Nada
N
3
%
2,5%
N
1
%
5,6%
N
0
%
,0%
Pouco
8
6,7%
0
,0%
0
,0%
Nem muito nem pouco
37
30,8%
7
38,9%
9
52,9%
Muito
56
46,7%
8
44,4%
5
29,4%
Muitíssimo
16
13,3%
2
11,1%
3
17,6%
Nada
4
3,4%
1
5,6%
0
,0%
Pouco
6
5,0%
0
,0%
2
11,8%
Nem muito nem pouco
27
22,7%
4
22,2%
7
41,2%
Muito
67
56,3%
9
50,0%
6
35,3%
Muitíssimo
15
12,6%
4
22,2%
2
11,8%
Nada
1
,8%
0
,0%
0
,0%
Pouco
25
21,0%
4
22,2%
4
23,5%
Nem muito nem pouco
27
22,7%
5
27,8%
4
23,5%
Muito
57
47,9%
7
38,9%
9
52,9%
Muitíssimo
9
7,6%
2
11,1%
0
,0%
Nada
2
1,7%
0
,0%
0
,0%
Pouco
10
8,4%
1
5,6%
0
,0%
Moderadamente
37
31,1%
6
33,3%
10
58,8%
Bastante
60
50,4%
8
44,4%
5
29,4%
Completamente
10
8,4%
3
16,7%
2
11,8%
Muito insatisfeito
2
1,7%
0
,0%
0
,0%
Insatisfeito
12
10,0%
1
5,6%
1
5,9%
31
25,8%
5
27,8%
5
29,4%
Satisfeito
63
52,5%
10
55,6%
10
58,8%
Muito satisfeito
12
10,0%
2
11,1%
1
5,9%
Nunca
7
5,8%
1
5,6%
0
,0%
Poucas vezes
32
26,7%
4
22,2%
6
35,3%
Algumas vezes
48
40,0%
10
55,6%
7
41,2%
Frequentemente
27
22,5%
2
11,1%
4
23,5%
Sempre
6
5,0%
1
5,6%
0
,0%
Nem satisfeito nem
insatisfeito
Q26
Alvor
Os sentimentos positivos, de facto, residem na consciência dos inquiridos.
46,7% dos inquiridos em Portimão e 44,4% dos inquiridos em Alvor dizem gostar das
suas vidas. Embora, a maioria das pessoas residentes na Mexilhoeira refiram alguma
indiferença face à satisfação que atribuem às suas vidas, com 52,9% da população a
responder “nem muito nem pouco”. No entanto, e olhando para todos os valores,
percebemos que a frequência de sentimento positivos é superior nesta última
freguesia. Ninguém tendo respondido às duas escalas mais baixas (nada e pouco) faz
com que haja uma maior concentração dos resultados nas escalas mais positivas.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
164
Qualidade de Vida dos Seniores
Em que medida sente que a sua vida tem sentido? Esta questão surge na
continuidade da antecedente e os resultados não diferem muito. Mais de metade dos
inquiridos em Portimão afirmam que a suas vidas fazem muito sentido (56,3%). Na
Mexilhoeira continua a predominar o meio-termo (41,2%) surgindo em seguida a
atribuição de muito sentido às suas vidas com 35,3%. Em Alvor reside a maior
concentração da positividade das crenças que têm atribuído às suas vidas.
Contabilizando as duas escalas mais elevadas (muito e muitíssimo) contamos com
72,2% da população residente em Alvor.
Embora ambas as questões tenham formulação semelhante, os resultados
alteram-se na medida da concentração dos dados mais positivos. Assim, para a
primeira questão, é a população da freguesia da Mexilhoeira que apresenta os
sentimentos mais positivos, ao passo que, na segunda questão recai sobre a
população de Alvor. A espiritualidade, religião e/ou crenças pessoais são as facetas
em análise na Q6, desta feita, podemos dizer que a população de Alvor é mais ligada
às questões da igreja e respectiva espiritualidade, ao passo que a freguesia da
Mexilhoeira, por si só pensa de forma mais positiva.
Pensar, aprender, memória concentração estão em estudo na Q7. Os
habitantes de Portimão e da Mexilhoeira afirmam ter bons índices de concentração
com 47,9% e 52,8%, respectivamente. Em Alvor o cenário é um pouco diferente
verificando-se uma distribuição mais uniforme, onde as capacidades de concentração
se dividem em “pouco” com 22,2%, “nem muito nem pouco” com 27,8% e com maior
expressão, “muito” com 38,9%. Contudo, atribuímos bons níveis de concentração para
a população das três freguesias.
A opinião sobre a imagem corporal e aparência foi questionada aos inquiridos.
Os portimonenses e os alvorenses gostam bastante da imagem que o espelho lhes dá.
Por seu turno, os mexilhoeirenses confessam achar moderada a imagem reflectida no
espelho (58,8%).
A Q19 “Até que ponto está satisfeito consigo próprio?” reflecte a auto-estima
dos participantes neste estudo. É unânime nas freguesias em análise, a autosatisfação. A maioria dos inquiridos apresenta bons índices de auto-estima.
A questão que culmina o domínio psicológico avalia a predominância de
sentimentos negativos, tais como, tristeza, desespero, ansiedade ou depressão. A
expressão “algumas vezes” foi a preferida pelos inquiridos, sendo que a
correspondem, 40% em Portimão, 55,6% em Alvor e 41,2% na Mexilhoeira. De referir
que os sentimentos negativos aparecem com maior frequência entre os habitantes de
Portimão, se somarmos as respostas “frequentemente” e “sempre” temos uma
relevante percentagem de 27,5. Tal como tínhamos analisado anteriormente face aos
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
165
Qualidade de Vida dos Seniores
sentimentos positivos, confirmamos que a coerência reina na freguesia da Mexilhoeira,
onde predominam os sentimentos positivos dando pouca importância à frequência de
sentimento negativos.
Para concluir a qualidade de vida da população residente no concelho de
Portimão, em relação ao domínio psicológico, podemos afirmar que, tal como
acabamos de concluir o optimismo reina entre os habitantes da freguesia que se
encontra geograficamente mais afastada. A auto-estima e concentração apresentam
valores muito positivos e significativos para a maioria da amostra em estudo. A
freguesia da Mexilhoeira só aparece neste domínio, com índices mais baixos, quando
estuda a aparência física. De realçar a forte vertente psicológica de predomina nesta
zona rural. Certo é, porém, que a civilização comporta consigo uma maior indiferença
face às pessoas, caracteriza-se pela impessoalidade e individualidade das relações
interpessoais. A competitividade reina na civilização enquanto as boas relações de
vizinhança e amabilidade ganha nos meios rurais.
Tabela 22 – Estudo do Domínio das Relações Sociais nas três freguesias do concelho de
Portimão.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
166
Qualidade de Vida dos Seniores
Freguesia
Portimão
Q20
Q21
Q22
Alvor
Mexilhoeira Grande
Muito insatisfeito
N
1
Coluna %
0,8%
N
0
Coluna %
,0%
N
0
Coluna %
,0%
Insatisfeito
6
5,0%
0
,0%
0
,0%
Nem satisfeito
nem insatisfeito
24
20,0%
5
27,8%
5
29,4%
Satisfeito
79
65,8%
11
61,1%
11
64,7%
Muito satisfeito
10
8,3%
2
11,1%
1
5,9%
Muito insatisfeito
8
7,2%
1
5,6%
0
,0%
Insatisfeito
12
10,8%
0
,0%
1
7,7%
Nem satisfeito
nem insatisfeito
31
27,9%
7
38,9%
7
53,8%
Satisfeito
59
53,2%
10
55,6%
5
38,5%
Muito satisfeito
1
0,9%
0
,0%
0
,0%
Muito insatisfeito
1
0,8%
1
5,6%
0
,0%
Insatisfeito
7
5,8%
0
,0%
0
,0%
Nem satisfeito
nem insatisfeito
23
19,2%
7
38,9%
5
29,4%
Satisfeito
81
67,5%
8
44,4%
11
64,7%
Muito satisfeito
8
6,7%
2
11,1%
1
5,9%
Em relação ao domínio das relações sociais foram avaliadas três facetas.
Assim a questão Q20 refere-se à análise das relações pessoais. As três freguesias do
concelho de Portimão mostram-se maioritariamente satisfeitas com as relações
pessoais que estabelecem. Para Portimão 65,8%, 61,1% para Alvor e 64,7% na
Mexilhoeira Grande.
A Q21 aborda a satisfação ou não da actividade sexual. Ao contrário, do que os
inquiridos interpretaram, esta questão pergunta se estão satisfeitos com a sua vida
sexual, não importando se praticam ou não esta relação. De referir que alguns
inquiridos preferiram não responder. Em análise, verifica-se 53,2% de satisfação para
a freguesia de Portimão e 55,6% para a freguesia de Alvor. Na Mexilhoeira Grande
predomina com 53,8% a indefinição perante a satisfação da actividade sexual, não se
mostrando satisfeitos nem insatisfeitos. Podemos referir o meio rural como
condicionante da liberdade de expressão, onde o sexo é ainda um tabu.
O apoio e suporte social expressam-se satisfatoriamente nas freguesias de
Portimão e Mexilhoeira Grande com 67,5% e 64,7%, respectivamente. Em Alvor, a
indiferença apresenta valores muito aproximados à satisfação, 38,9% e 44,4%,
respectivamente.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
167
Qualidade de Vida dos Seniores
Quanto ao domínio das relações sociais podemos considerar que os inquiridos
estão satisfeitos com o tipo de relações que estabelecem. Portimão aparece na frente
quanto à satisfação das relações pessoais e suporte social, enquanto que Alvor lidera
a satisfação com a actividade sexual. Deste modo, não podemos generalizar
preferência para Portimão quanto à satisfação das relações sociais. De referir que a
freguesia de Alvor apresenta os valores mais elevados quando se referem “muito
satisfeitos” em relação às relações pessoais e apoio social. Depreendemos, no
entanto, a freguesia da Mexilhoeira como a que menores índices de satisfação
apresenta nas facetas de relações pessoais e actividade sexual. Talvez explicado pelo
facto do isolamento geográfico a que se encontra a freguesia, as relações de
vizinhança são fortificadas apresentando bons níveis de satisfação face ao apoio
recebido socialmente.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
168
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 23 – Estudo do Domínio Meio Ambiente nas três freguesias do concelho de
Portimão.
Freguesia
Portimão
Q8
Q9
Q12
Q13
Q14
Q23
N
12
%
10,0%
N
0
%
,0%
N
0
%
,0%
Pouco
19
15,8%
8
44,4%
4
23,5%
Nem muito nem pouco
42
35,0%
7
38,9%
10
58,8%
Muito
45
37,5%
3
16,7%
3
17,6%
Muitíssimo
2
1,7%
0
,0%
0
,0%
Nada
1
,8%
1
5,6%
0
,0%
Pouco
12
10,1%
4
22,2%
2
11,8%
Nem muito nem pouco
51
42,9%
9
50,0%
10
58,8%
Muito
52
43,7%
4
22,2%
5
29,4%
Muitíssimo
3
2,5%
0
,0%
0
,0%
Nada
12
10,0%
4
22,2%
1
5,9%
Pouco
34
28,3%
6
33,3%
11
64,7%
Moderadamente
63
52,5%
7
38,9%
4
23,5%
Bastante
10
8,3%
1
5,6%
1
5,9%
Completamente
1
,8%
0
,0%
0
,0%
Nada
5
4,2%
0
,0%
0
,0%
Pouco
15
12,6%
5
29,4%
5
29,4%
Moderadamente
66
55,5%
8
47,1%
10
58,8%
Bastante
31
26,1%
4
23,5%
2
11,8%
Completamente
2
1,7%
0
,0%
0
,0%
Nada
5
4,2%
0
,0%
0
,0%
Pouco
19
15,8%
2
11,1%
8
47,1%
Moderadamente
51
42,5%
7
38,9%
5
29,4%
Bastante
41
34,2%
8
44,4%
3
17,6%
Completamente
4
3,3%
1
5,6%
1
5,9%
Muito insatisfeito
1
,8%
0
,0%
1
5,9%
Insatisfeito
16
13,3%
2
11,1%
0
,0%
18
15,0%
6
33,3%
7
41,2%
Satisfeito
68
56,7%
8
44,4%
9
52,9%
Muito satisfeito
17
14,2%
2
11,1%
0
,0%
Muito insatisfeito
9
7,5%
3
17,6%
1
5,9%
Insatisfeito
46
38,3%
3
17,6%
3
17,6%
31
25,8%
6
35,3%
8
47,1%
Satisfeito
33
27,5%
5
29,4%
5
29,4%
Muito satisfeito
1
,8%
0
,0%
0
,0%
Muito insatisfeito
1
,8%
0
,0%
1
5,9%
insatisfeito
Nem satisfeito nem
insatisfeito
Q25
Mexilhoeira Grande
Nada
Nem satisfeito nem
Q24
Alvor
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
169
Qualidade de Vida dos Seniores
Insatisfeito
1
,8%
0
,0%
3
17,6%
40
33,6%
2
11,1%
8
47,1%
Satisfeito
66
55,5%
10
55,6%
3
17,6%
Muito satisfeito
11
9,2%
6
33,3%
2
11,8%
Nem satisfeito nem
insatisfeito
Por fim, cabe-nos estudar o domínio do meio ambiente enquanto indicador de
qualidade de vida.
A Q8 “Em que medida se sente em segurança no seu dia-a-dia?” pretende
avaliar a segurança física e protecção. Através da tabela verificamos que os
habitantes da freguesia de Alvor é a mais insegura referindo 44% dos inquirido sentirse pouco seguros. 58,8% da população da freguesia da Mexilhoeira Grande referem
sentir-se nem muito nem pouco seguros. O cenário para a freguesia de Portimão
divide-se, de grosso modo, pelas resposta “nem muito nem pouco” com 35% e “muito”
com 37,5%. Podemos afirmar que a população residente em Portimão é, de facto a
que maior segurança e protecção sente, ao passo que os vizinhos de Alvor, são de
longe os mais inseguros. Esta faceta confirma a necessidade da abertura de um posto
da GNR na freguesia de Alvor, tão referido pelos inquiridos. Por sua vez, os
portimonenses apelam a um policiamento mais assíduo nas ruas.
O ambiente físico (poluição, ruído, trânsito, clima) corresponde à faceta em
análise na Q9. Na freguesia de Portimão as opiniões são satisfatórias, sendo que,
42,9% referem-se mediocremente satisfeitos e 43,7% satisfeitos. Nas restantes
freguesias de Alvor e Mexilhoeira Grande, a satisfação é medíocre, com a maioria a
fazer corresponder-lhe. Alvor, é a freguesia que regista valores mais elevados nas
respostas que revelam insatisfação, com 5,6% a afirmarem estar nada satisfeitas e
22,2% pouco satisfeitas. Apuramos que, sem margem para dúvida, o ambiente físico é
mais saudável na cidade de Portimão, visto os inquiridos referirem-no em peso. A
satisfação máxima que corresponde à resposta “muitíssimo” não foi referida nas
demais freguesias, tendo sido proferida por 2,5% dos inquiridos em Portimão.
De facto, os recursos que possuímos revelam-se, na maioria das vezes,
insuficientes para fazer face às necessidades. Também não nos esquecemos que
estamos a falar de pessoas que vivem essencialmente dos rendimentos das reformas
que auferem. Caracteristicamente estas são de baixos valores. Estatisticamente
verificamos que, os portimonenses estão moderadamente satisfeitos com os seus
recursos financeiros (52,5%), em Alvor as opiniões dividem-se em pouco suficientes
para satisfazer as suas necessidades diárias (33,3%) e em moderado com 38,4%. Na
Mexilhoeira reside a população que mais insatisfeita se mostra com os recursos que
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
170
Qualidade de Vida dos Seniores
têm para sobreviver diariamente, esmagadoramente, 64,7% dos inquiridos partilham
esta opinião. Tal como já tínhamos visto anteriormente, são na Mexilhoeira que as
reformas são mais baixas, fruto de escolaridades também elas mais baixas. O 1ºciclo
completo é a escolaridade máxima entre os habitantes da Mexilhoeira. Alvor não tem
um cenário muito diferente, embora se verifiquem ligeiros aumentos. Os rendimentos
fixam-se, em média, entre os 200€ e os 300€.
Até que ponto tem fácil acesso às informações necessárias para organizar a
sua vida diária? A esta pergunta corresponde o estudo das oportunidades de adquirir
novas informações e habilidades. É unânime entre a população do concelho em
estudo, a ideia de que moderadamente o acesso às informações necessárias para
organizar a sua quotidianiedade é satisfatório.
A Q14 avalia a oportunidade para realizar actividades de lazer. 42,5% dos
inquiridos em Portimão partilham a opinião da satisfação moderada face às
oportunidades de recreação e lazer. Em Alvor a satisfação é bastante favorável, com
44,4% dos inquiridos a partilharem tal opinião. Porventura, os inquiridos da Mexilhoeira
mostram-se pouco satisfeitos com as oportunidades disponíveis (47,1%). Talvez
devido ao pouco dinamismo das actividades levadas a cabo pela respectiva junta de
freguesia e por residirem a largos quilómetros do centro da cidade de Portimão, onde
se concentram este tipo de actividades.
A satisfação face às condições do lugar em que vivem reflecte-se no seguinte
ponto de análise. Em Portimão a grande concentração das respostas residem na
satisfação face às condições do lugar onde vivem com 56,7%. As restantes respostas
estão estatisticamente muito distribuídas. Pelo contrário, nas restantes freguesias, as
respostas concentram-se em “nem satisfeito nem insatisfeito” e em “satisfeito”. Assim,
em Alvor, temos 33,3% dos inquiridos para a primeira situação e 44,4% para a
segunda. O cenário é idêntico na restante freguesia, embora com maior
expressividade dos dados, com 41,2% para a primeira situação e 52,9% para a
seguinte. Cabe-nos elucidar que, em Alvor ninguém referiu estar muito insatisfeito com
o lugar em que vive e 2 pessoas referiram estar muito satisfeitas. Em contrapartida, na
Mexilhoeira ninguém refere estar muito satisfeito com as condições de que a freguesia
dispõe e uma pessoa refere estar muito insatisfeita com as mesmas.
Quando questionados sobre o acesso aos serviços de saúde, claramente, a
população que usufrui dos serviços em Portimão admite estar insatisfeita uma
representatividade de 38,3%. Nas restantes freguesias que constituem o concelho de
Portimão, dispõe, de igual modo, a sua avaliação aos serviços. Assim quanto à
disponibilidade e qualidade dos cuidados de saúde, Alvor refere que 29,4% dos
inquiridos estão satisfeitos enquanto 35,3% consideram-nos razoáveis. Por seu turno,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
171
Qualidade de Vida dos Seniores
na Mexilhoeira, 29,4% da população inquirida diz estar satisfeita e, com maior
expressividade,
47,1%
diz
nem
estar
satisfeita
nem
insatisfeita,
revelando
razoabilidade dos serviços prestados. De referir a distribuição de infra-estruturas nas
respectivas freguesias. Em Portimão está localizado o Centro Hospital do Barlavento
Algarvio e o Centro de saúde de Portimão que conta com duas extensões, cada uma
nas freguesias de Alvor e Mexilhoeira Grande.
Como última faceta do domínio do meio ambiente, temos o estudo sobre a
satisfação pelos transportes que utilizam. A autarquia de Portimão lançou
recentemente uma linha rodoviária denominada de “Vai e Vém”. Falamos de
autocarros de pequena dimensão que percorrem, não só, toda a cidade mas também
estabelece a ligação com as demais freguesias. Iniciativa muito bem recebida pela
população que veio encurtar as distâncias e facilitar o acesso aos principais serviços
do concelho. Em Portimão a maioria dos inquiridos revela estar satisfeita com os
transportes que utilizam com uma representatividade de 55,5% de adeptos. O mesmo
se percepciona em Alvor com 55,6% de inquiridos satisfeitos. Todavia, o grosso modo,
dos inquiridos da Mexilhoeira Grande refere indiferença face à qualidade dos serviços
prestados (47,1% dos inquiridos respondem estar nem satisfeitos nem insatisfeitos).
Tal situação deve-se ao facto da fraca periodicidade com que o “vai e vém” se desloca
às zonas mais distantes e periféricas de Portimão. Tal como referimos anteriormente,
esta população pede mais assiduidade dos transportes públicos.
Em jeito de conclusão e compactando os dados advindos da análise do
domínio do meio ambiente enquanto parte integrante dos meios de avaliação da
qualidade de vida, verificamos que Portimão revela-se na freguesias mais favorável
em termos da relação da população com o meio envolvente. O grau de satisfação é
largamente superior para os habitantes da freguesia de Portimão. Alvor segue
Portimão, aparecendo no segundo lugar do pódio. Os habitantes da freguesia da
Mexilhoeira só se fazem aparecer nas facetas relativas à satisfação das condições do
lugar onde vivem e no acesso à informação para organizar a sua vida quotidiana.
Para concluir a análise das tabelas apresentamos uma síntese que refere em
termos percentuais a qualidade de vida reportada a cada domínio.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
172
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 24 – Média dos valores obtidos por cada
domínio na sua relação com as freguesias em estudo.
Freguesia
Portimão
Alvor
Mexilhoeira Grande
Média
Média
3,3
3,3
3,1
3,5
3,5
3,4
3,6
3,6
3,6
3,2
3,1
2,9
Média
Físico
Psicológico
Relações
Sociais
Meio
Ambiente
Esta tabela sintetiza o grau da percepção que os habitantes de cada freguesia
têm em relação a cada domínio. Esta análise permite-nos perceber em que domínio
cada freguesia se destaca. Entendemos que a satisfação por domínio difere quando
nos referimos a uma única freguesia. Deste modo, verificam-se oscilações passíveis
de serem estudadas. Estas verificam-se não só ao nível de cada freguesia mas
também quando comparadas com as restantes.
A qualidade de vida face ao domínio físico é mais risonho para a freguesia de
Alvor e Portimão e, mais distante, surge a freguesia da Mexilhoeira Grande (3,3; 3,3 e
3,1 respectivamente).
O domínio psicológico obedece à mesma ordem, embora a distância dos
valores seja bem menos rígida (3,5; 3,5 e 3,4 respectivamente).
O domínio das relações sociais, quando os valores são arredondados a apenas
uma casa decimal, apresenta valores profícuos às três freguesias (3,6).
Portimão comanda o domínio do meio ambiente, logo seguida de Alvor e mais
distante aparece a Mexilhoeira Grande. Em termos médios são apontados, 3,2 para
Portimão, 3,1 para Alvor e 2,9 para a Mexilhoeira Grande.
De referir que, à excepção de um parâmetro (Meio ambiente na Mexilhoeira)
todas as resposta se fixam no 3. Resultados positivos, todavia são perceptíveis as
áreas em destaque em casa freguesia.
Na totalidade dos domínios, vive-se em Portimão com melhor qualidade de
vida. Alvor surge com valores muito aproximados, não sendo muito justo, diferenciar
em larga medida, os padrões de qualidade de vida de ambas as freguesias. Os
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
173
Qualidade de Vida dos Seniores
indicadores de qualidade vida para a Mexilhoeira Grande não são tão favoráveis como
nas anteriores freguesias, sendo-lhe atribuído o terceiro e último lugar no ranking da
melhor freguesia para viver.
Confrontação das hipóteses
a)
A primeira hipóteses apontava que a população com 65 ou mais anos residente
na freguesia de Portimão tem melhor Qualidade de Vida em comparação com
as restantes. Por sua vez, a freguesia de Alvor apresenta melhores padrões de
Qualidade de Vida que a população residente na freguesia da Mexilhoeira
Grande. As variáveis em análise referem-se à confrontação da Qualidade de
Vida face a cada freguesia. De facto, a hipótese foi confirmada. Verificamos
na tabela precedente, a ordem onde são visíveis os indicadores mais
favoráveis à qualidade de vida. Os lugares do pódio são de facto, ocupados,
em primeiro lugar por Portimão, seguido de Alvor e, em terceiro lugar a
freguesia da Mexilhoeira Grande.
b)
Pela ordem decrescente atrás referenciada, é na freguesia de Portimão que a
população pode contar com um vasto leque de bens e serviços, melhor
acessibilidade aos mesmos, sendo que é uma população muito mais activa e
participativa. Perante o isolamento geográfico e social da freguesia da
Mexilhoeira Grande, as restantes freguesias do concelho de Portimão têm
melhor acessibilidade aos serviços, apresentam maior grau de satisfação face
à qualidade dos mesmos e caracterizam-se por ser uma população mais activa
e que participa mais assiduamente nas actividades de carácter lúdico-edicativo.
Para esta hipótese, foram tidas em conta três variáveis, nomeadamente, a
satisfação e acessibilidade face aos serviços disponíveis nas respectivas
freguesias e a participação da população nas actividades levadas a cabo pelas
entidades associadas em cada freguesia. De acordo com os dados recolhidos
pelo questionário sócio-demográfico, a hipótese foi refutada. Esta análise foi
exposta aquando da análise dos dados referente ao respectivo questionário.
c)
Em relação às expectativas e padrões é a população residente na freguesia de
Portimão e Alvor que maiores índices de satisfação apresentam. Fenómenos
explicados pelo facto das actividades relacionadas com o lazer e entretenimento
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
174
Qualidade de Vida dos Seniores
estarem associadas às zonas mais urbanas e com maior densidade populacional,
sendo destes que, se esperam uma democracia mais participativa. No entanto, tal
hipótese não se observou. A relação do lugar físico da realização de qualquer tipo
de actividade, não se revela num factor condicionante para a participação. Estas
variáveis foram alvo de análise no questionário sócio-demográfico onde os
resultados estatísticos foram trabalhados anteriormente.
d)
A população mexilhoeirense é a mais envelhecida e, consequentemente a que
menor número de jovens tem, sendo igualmente a localidade mais isolada. A
relação subjacente ao envelhecimento e isolamento directamente associados à
freguesia da Mexilhoeira Grande une dois conceitos que geralmente se
associam em zonas mais rurais e do interior do país. Fenómeno que encontra
explicação no abandono da população jovem das zonas menos desenvolvidas
e, cada vez mais desertificadas, para o litoral e zonas urbanas, em nome de
uma melhor qualidade de vida. A hipótese foi confirmada. Podemos consultar
os
resultados
obtidos
anteriormente,
estatisticamente
resultantes
do
questionário sócio-demográfico.
Após toda a análise dos dados estatisticamente apurados percebemos, pela
refutação de algumas hipóteses, que nem todos os fenómenos observáveis podem ser
generalizados. Associamos características às zonas rurais que, no caso da
Mexilhoeira grande não se verificam. Falamos de participação social, referendo o
papel de interacção com a sociedade, na medida em que, quanto maior for a
participação mais democracia se consegue obter. Verifica-se que, no concelho de
Portimão, quanto maior a densidade populacional menor índice de participação
apresenta.
O isolamento social e geográfico com que se confrontam as zonas rurais, não
interfere, de igual modo, na satisfação face aos serviços e actividade disponíveis em
cada
localidade.
O
isolamento
social
traduz-se
num
fenómeno
sentido
maioritariamente pelos habitantes citadinos. Talvez este sentimento derive da
impessoalidade das relações interpessoais características das grandes cidades, em
confronto com as fortes relações de vizinhança em localidades de menor dimensão.
Verificou-se, após o estudo, que os habitantes de Portimão são os que se sentem
mais isolados. Em relação à oferta e qualidade dos serviços prestados em cada
freguesia,
a
análise
é
idêntica.
A
ideia
de
que
quantidade
equivale
a
qualidade/satisfação cai por terra. Sendo que, a freguesia da Mexilhoeira Grande
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
175
Qualidade de Vida dos Seniores
responde em peso estar satisfeita com os serviços que têm aos dispor na sua
freguesia.
Todavia, se avaliarmos o índice de envelhecimento, enquanto a relação entre a
população sénior e a população jovem, definida aqui como o quociente entre o número
de pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas
entre os 15 e os 29 anos, verificamos, de facto, que a população residente na
freguesia da Mexilhoeira é a mais envelhecida. Desta vez, conseguimos confirmar o
fenómeno estereotipado que associa zonas rurais a envelhecimento.
Sendo todas estas variáveis passíveis de se constituírem indicadores de
mediação de Qualidade de Vida, mas referindo-se essencialmente à relação dos
indivíduos com o meio, não enaltecem o factor pessoal e individual do conceito.
Avaliar a qualidade de vida de qualquer indivíduo implica, de igual modo, perceber
como é que se sente em relação a si próprio. A auto-imagem e auto-estima revelam-se
fundamentais para este estudo. Assim, a informação foi recolhida por um instrumento
que se objectiva unicamente em mensurar a Qualidade de Vida, o Whoqol.
Comparativamente, entre as três freguesias, já se conhece a freguesia
apontada pelo o estudo, como a que melhor qualidade de vida apresenta (Portimão). A
análise individualizada por domínio foi, de igual modo, desenvolvida. Podemos referir
que a população de Portimão é a mais enérgica, a que mais satisfeita está com a sua
capacidade de movimentar-se, com o sono e repouso que têm e dispõem. A
predominância de sentimentos positivos reside na população de Portimão e Alvor. A
satisfação face à imagem corporal e aparência física assume igual cenário.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
176
Qualidade de Vida dos Seniores
Conclusões
Após toda a abordagem teórica que se consubstanciou nos capítulos anteriores
e que envolveu a relação entre os conceitos em estudo (envelhecimento e qualidade
de vida) ganhámos maior consistência para avaliar o processo de envelhecer com
qualidade de vida.
A abordagem sobre o processo de envelhecimento constituiu-se num desafio.
São muitos os estudiosos que se dedicam ao estudo da gerontologia e as teorias daí
advindas comportam grande complexidade teórica. Em contrapartida, a nossa
bagagem teórica face ao tema em estudo era muito difusa apesar de, ao longo do
tempo, ter sido enriquecida empiricamente pela nossa prática profissional. A relação
estreita com a empiria facilitou a selecção das teorias abordadas. Perante a proporção
de seniores face aos jovens e população activa, os primeiros constituem uma massa
populacional bastante significativa. O cenário demográfico, nacional e local, é
tendencialmente dominado pelos seniores. Não são somente os “novos velhos” que
estão a ganhar terreno, com muito mais expressividade surgem, os indivíduos que se
situam na chamada “quarta idade”. Esta é a grande novidade do novo cenário
demográfico. A tendência é atingirem proporções numéricas cada vez mais
significativas. Percebemos que o envelhecimento não se constitui num processo
uniforme e, que embora padronizadas, as etapas inerentes ao desenvolvimento
humano ocorrem diferentemente tendo em conta as características individuais de cada
ser humano.
Na prática precisam ser implementadas medidas que favoreçam as condições
para se envelhecer com dignidade. As reformas carecem de aumentos e o poder de
compra dos seniores faz-se sentir diminuído. Os casos de pobreza são, cada vez mais
uma realidade, para os seniores. As ajudas estatais revelam-se escassas perante tais
necessidades, sendo os planos poupança reforma ou afins, uma solução para, desde
jovens começarmos a planear a nossa velhice.
A reforma aparece como um marco que associada aos pré-conceitos
subjacentes à velhice estigmatizam os seniores. A sociedade tem a simples função e
dever de abolir toda e qualquer forma de discriminação não permitindo o afastamento
dos seniores das relações de socialização. Pretende-se uma cidadania participativa,
não havendo discriminação entre as idades.
O estudo da Qualidade de Vida foi, de facto, uma novidade para nós. O acesso
à informação nesta área de estudo, não se revelou uma tarefa fácil. Recentemente
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
177
Qualidade de Vida dos Seniores
conceptualizado, o universo teórico da Qualidade de Vida é escasso e pouco
problematizado. O conceito, tal como vimos abordado, teve, ao longo dos tempos
designações e significados diferentes. Umas vezes associada à saúde, outras aos
bens materiais ou recursos financeiros, a qualidade de vida foi, para este estudo,
abordada segundo os parâmetros indicados pela OMS. Preferimos quantificar a
qualidade de vida tendo por base a auto-avaliação e auto-reflexão, ou seja, a
percepção que cada indivíduo constrói do meio que o envolve. A Qualidade de Vida
para os seniores depende, como em qualquer outro escalão etário, do partido que
conseguirmos tirar da vida. As novas tecnologias são um meio de integração e
socialização que, se encontram ao dispor de todos. Cada vez mais, vimos despertar
nos seniores interesse por estas e outras iniciativas que permitem fomentar e/ou
manter as suas capacidades intelectuais e cognitivas. A Qualidade de Vida depende,
assim, do sentido que atribuímos à vida e dos instrumentos que diariamente utilizamos
para democraticamente participar na sociedade. Auto-sustentabilidade, autonomia,
desenvolvimento pessoal, bem-estar, objectivos de vida, atribuir sentido ao que
fazemos são chavões para que a qualidade de vida se efective.
O acesso ao instrumento de mensuração utilizado para este estudo, foi
prontamente disponibilizado, assim como, o esclarecimento das dúvidas que surgiram
ao longo de todo o processo de construção desta dissertação. Podemos contar com a
colaboração e disponibilidade da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade de Coimbra enquanto entidade portuguesa responsável pelo Whoqol. No
entanto, o tratamento estatístico constituiu-se, para nós, a maior dificuldade. As
indicações são escassas, deixando liberdade ao investigador na abordagem
estatística. Deveria existir, neste âmbito, uma referência para a construção e
tratamento estatístico, na medida em que, se atenuasse a provável discrepância nos
meios utilizados para mensurar os dados empiricamente recolhidos.
As políticas sociais estatais de âmbito nacional tiveram real importância neste
estudo, no entanto, preocupámo-nos especificamente com as Políticas Sociais
Sectoriais. Qualquer política social objectiva-se em fomentar o bem-estar, promovendo
uma qualidade de vida cada vez mais favorável aos seus beneficiários A perspectiva
territorial subjacente à área física em estudo, permitiu a apreensão de conhecimentos,
relacionados com as instituições públicas ou IPSS´s que trabalham diária e
directamente para e com os seniores. Toda a informação necessária para dar corpo a
esta dissertação foi disponibilizada pelos intervenientes sociais que, de forma
acolhedora, receberam e colaboraram com a presente investigação.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
178
Qualidade de Vida dos Seniores
Depois de analisadas as medidas políticas emanadas pelo poder central
depreendemos que a conjuntura sócio-política que envolve o Serviço Social pode, na
nossa opinião, dificultar a prática do mesmo. Esta afirmação assenta na observação
de que a vertente política apresenta-se tão forte e vincada nas medidas sociais que o
profissional executa que, muitas das vezes, os utentes afastam-se, quer pelo excesso
de burocracia, quer pela dificuldade de auto-financiamento do próprio aparelho do
Estado. Este processo conduz à desvalorização do papel dos que dão a cara, os
profissionais de Serviço Social. O mesmo cenário não é verificado quando nos
referirmos às acções levadas a cabo a nível concelhio. O poder local aparece como
entidade mais próxima e mais conhecedora da realidade social, produzindo respostas
sociais mais eficientes e eficazes. É, de certo, preferível o planeamento e execução de
políticas sociais, sejam elas, de âmbito nacional ou sectorial, por profissionais da área
em questão e que comportem, não só experiência prática na problemática, mas antes
disso que conheçam as características do local e dos destinatários de tais medidas.
A preocupação pelo estudo dos seniores sempre nos despertou interesse. Ao
nível do concelho de Portimão, local de residência e de trabalho do investigador, eram
já algumas as acções em curso. Daí, e não vendo necessidade de interferir no
trabalho dos técnicos foi decido avaliar não só a satisfação dos seniores face aos
serviços direccionados para eles, mas também em que medida estes contribuem para
a sua satisfação ou não com a vida. O estudo da Qualidade de Vida, aparece aqui,
como um meio de avaliar o trabalho desenvolvido quer pela autarquia e respectivas
juntas de freguesia, quer das instituições que, sem cariz de internamento ou
tratamento médico, direccionam o seu trabalho para actividades essencialmente de
cariz lúdico, entretenimento ou de aprendizagem. A função do profissional passa por
promover mudanças sociais, a resolução dos problemas no contexto das relações
humanas e pela capacidade e empenhamento das pessoas na melhoria do seu bemestar. Este é um trabalho que tem de ser feito com eles e não para eles. A missão do
assistente social é ajudar as pessoas a desenvolverem todas as suas potencialidades,
a enriquecer as suas vidas e a prevenir as disfunções, resumindo-se, desta forma, no
empowerment. É a mudança que se espera que os seniores, que por adversidades da
vida se sintam isolados ou sozinhos, atinjam. Uma cidadania activa participando nas
actividades de carácter lúdico e não só, permite a qualquer pessoa construir um
processo de envelhecimento saudável que, impreterivelmente contribuirá para
melhores padrões de qualidade de vida.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
179
Qualidade de Vida dos Seniores
Em termos de conclusão, o balanço foi positivo. Quer, quando nos referimos ao
processo de construção desta dissertação que, com maiores facilidades ou
dificuldades foi ganhando consistência pela dedicação e empenho que a constituíram,
quer quando nos referimos aos resultados práticos obtidos. Por detrás de qualquer
problemática que se investigue, existe sempre uma panóplia de variantes que, só
avaliadas ao pormenor se tornam perceptíveis. Contudo, podemos concluir que reina a
satisfação entre a população das três freguesias do concelho de Portimão, face à
percepção da sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos
quais ela vive e em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e
preocupações.
As freguesias em análise, Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande apresentam-se
caracteristicamente diferenciadas, quer em relação à localização, densidade
populacional, serviços disponíveis ou urbanização versus ruralidade. Outras
características foram descobertas pela presente investigação.
Caracterizamos as freguesias e respectiva população, tendo por base a
amostra estudada. Verificamos que os habitantes das três freguesias são
maioritariamente mulheres. De facto, a esperança média de vida é mais favorável para
o sexo feminino. Quando nos referimos à “quarta idade”, tomamos por base os
indivíduos com mais de 75 anos. Perante a nossa amostra, confirmamos o que
anteriormente foi dito face à preocupação da “quarta idade” assumir valores que
aumentam constantemente em proporção com os restantes escalões etários. Em Alvor
e Mexilhoeira Grande, as idades encontram-se no limiar da passagem da “terceira
idade” para a “quarta idade”, ambas com uma média representativa dos 75 anos.
Somente Portimão apresenta 73 anos como média de idade, no entanto dois anos,
não se revelam contabilizáveis para que sejam efectuadas diferenças entre que
freguesia se concentram as pessoas com mais idade.
A constituição dos agregados familiares traduz-se noutra característica
apurada. No entanto, a pergunta referente à análise em questão não foi bem
formulada
pelo
autor
do
questionário
sócio-demográfico.
Verificamos
que
maioritariamente os agregados são constituídos por dois elementos, mas não
podemos classificá-los como casal. A pergunta apenas apontava o número de
pessoas que coabitavam não pedindo referência ao tipo de relação ou parentesco
existente. Assim, não nos foi permitido atingir o objectivo desta questão. No entanto,
referimos a predominância de pequenos agregados, com um ou dois elementos. Estes
agregados encontram-se, na fase do ciclo vital da família, do “ninho vazio”, em que os
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
180
Qualidade de Vida dos Seniores
filhos já saíram de casa e constituíram os seus próprios agregados familiares, e
assiste-se como que a um retrocesso à etapa de casal sem filhos. Certo, é que, por
adversidades da vida, muitos dos inquiridos encontram-se isolados. Também não
podemos deduzir que passaram por todas as fases do ciclo vital, nem que ocorreram
separações, divórcios ou mortes que justificassem, hoje serem indivíduos isolados.
Estas questões não foram acidentalmente questionadas. No entanto, foram
questionadas quanto ao estado civil. Sabemos que maioritariamente, os inquiridos são
casados, sendo que os viúvos apresentam, pelo menos na freguesia de Portimão,
números significativos. Quando abordamos o número de filhos, apuramos que em
média, as famílias inquiridas têm 2 filhos. No entanto, revela-se insuficiente para que
haja renovação de gerações. Em média, as famílias portuguesas deveriam ter 2,1
filhos para que se efectivasse a renovação de gerações. De acordo com a amostra
recolhida, as famílias com apenas um filho surgem em segundo lugar. Com estes
dados, muito menos se verificam as tão desejadas atenuações face às diferenças
entre os grupos etários do topo e da base da pirâmide de idades. Incentivos à
natalidade têm surgido, como é exemplo o abono pré-natal, contudo, não se verificam
dados estatísticos que correspondem ao sucesso de tal medida. Outras medidas têm
de ser pensadas. Ao nível local, são já algumas freguesias que monetariamente
incentivam as famílias a reproduzirem-se. Talvez passe por aqui a solução para
vermos o número de jovens aumentar, todavia, a figura do Estado português tem
obrigatoriamente de estar por detrás das iniciativas concelhias, garantindo a
sustentabilidade dos poderes locais.
No início desta conclusão referimo-nos à preocupação face às situações de
pobreza visíveis entre os seniores. A pobreza resulta dos baixos rendimentos que
auferem, sendo maioritariamente oriundos das reformas. Pensão por velhice e
sobrevivência constituem-se nas principais fontes de rendimento. Caracteristicamente,
os seniores do concelho de Portimão sobrevivem com pensões de baixo valor. Em
Alvor e na Mexilhoeira a média dos rendimentos concentra-se entre os 200 e 300€.
Estes valores estão directamente associados ao baixo grau de escolaridade já que
nestas freguesias, apenas um dos inquiridos (em Alvor), tem o 2º ciclo completo.
Sendo o 1º ciclo a escolaridade máxima atingida. Quando olhamos para os
rendimentos auferidos pelos habitantes da freguesia de Portimão, encontramos maior
incidência para os rendimentos superiores a 500€. O grau de escolaridade e
profissões outrora desenvolvidas justificam o valor de reformas mais elevadas.
Embora o grosso modo do grau de escolaridade se concentre, de igual modo, no 1º
ciclo, os estudos universitários foram referidos por 5 pessoas e o ensino secundário
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
181
Qualidade de Vida dos Seniores
por 16. Nesta freguesia as profissões mais referidas foram a de doméstica e indústria
conserveira. Tais profissões estão associadas ao pelo sexo feminino. A significativa
expressividade da profissão de doméstica surge associada ao facto de que era a
figura masculina que sustentava a casa. Podemos encontrar duas explicações, uma
devido à cultura retrógrada de que o homem é que trabalha e a mulher fica em casa a
cuidar dos filhos e a governar a casa, outra por o cônjuge masculino auferir
rendimentos elevados, suficientes para trabalhar apenas um dos elementos do casal.
Nas restantes freguesias, são enaltecidas a profissão de empregada fabril para a
população de Alvor e de doméstica para a população da Mexilhoeira, no entanto,
assiste-se a uma forte distribuição entre a lista das profissões apontadas. Podemos
afirmar corresponderem todas a baixas qualificações. Denota-se a influência da área
de residência face às oportunidades de desempenho pessoal, escolar e profissional.
Os meios rurais tendem a fecharem-se neles próprios e caracteristicamente
apresentam fortes relações de vizinhança. O urbanismo, tecnologia, emprego,
educação especializada encontram-se nos grandes centros citadinos. Quanto mais
rígidos forem os limites desta população com o exterior, menores oportunidade têm
para se auto-promoverem. As áreas metropolitanas das grandes cidades, como Lisboa
ou Porto, funcionam como um escape para a agitação característica das cidades.
Estas zonas são escolhidas para habitação, turismo rural, desfrute da natureza, entre
outras actividades associadas ao repouso. Na realidade física em estudo, podemos
apontar a zona de Monte Canelas, Alcalar ou Senhora de Verde, pertencentes à
freguesia da Mexilhoeira, distantes geograficamente do centro da vila da Mexilhoeira,
como exemplos. Nestas localidades são já visíveis sinais de riqueza, quer pela
dimensão das habitações, quer pela qualidade dos carros estacionados à porta das
mesmas.
E porque, a OMS associa, em grande parte Qualidade de Vida ao estado se
saúde, veremos que conclusões podemos tirar. A diferença entre quem referiu estar
doente e quem referiu não estar doente não se traduz em diferenças significativas. Os
estados de saúde dividem-se. Os problemas de estômago e as depressões lideram
entre as doenças apontadas entre os habitantes de Portimão, em Alvor lidera a
osteoporose e, na Mexilhoeira se realça nenhuma doença, havendo uma forte
distribuição entre as doenças referidas. A lista resultante do tipo de doença é extensa
e pouco traduz sobre a qualidade de vida. Embora todas as doenças sejam
preocupantes, a distribuição é tal que não se justifica estudar. Também cada doença
difere do grau de gravidade e este não foi questionado. Das pessoas que referem
estar doentes a maioria afirma ser acompanhada por consultas externas.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
182
Qualidade de Vida dos Seniores
Depois de concluir as características populacionais do concelho de Portimão,
cabe-nos reflectir sobre a qualidade de vida e respectivos indicadores. Optamos por
concluir os dados dos dois questionários utilizados, em conjunto.
A avaliação dos domínios em análise, físico, psicológico, relações sociais e
meio ambiente, revelou-se positiva devendo, no entanto, ser do conhecimento dos
autarcas as preocupações reveladas pelos munícipes no presente estudo.
O domínio físico avaliou itens como a dor, relação com a medicação, energia,
mobilidade, sono, capacidade para desenvolver as actividades quotidianas e
capacidade para o trabalho. A energia comanda a população portimonense. Esta é de
igual modo, a par da Mexilhoeira, a que mais satisfeita está com a sua capacidade de
movimentar-se, e a par com Alvor, a signitivamente a mais contente com o sono e
repouso. No entanto, não se revela na freguesia mais participativa. A população da
Mexilhoeira é a que mais participa nas actividades levadas a cabo pelo concelho,
seguida de Alvor, e só depois surge Portimão. Todavia, a população mexilhoeirense
responde mais assiduamente às actividades da respectiva junta de freguesia em
detrimento das actividades levadas a cabo pela Câmara Municipal. Mais uma vez,
justificamos a rigidez dos limites desta população com o exterior. Em Alvor, o Centro
Comunitário leva vantagem, no entanto e através de acordos entre este e a autarquia,
os seus utentes contam com o serviço de um técnico de desporto integrado no
“Exercício e Saúde” (projecto camarário). Os participantes neste projecto não
necessitam deslocar-se a Portimão para usufruírem da actividade desportiva. Em
Portimão, as pessoas aproveitam com maior assiduidade as actividades incluídas no
Passaporte Sénior, seguido do Centro Convívio Sénior e Junta de Freguesia de
Portimão. Verifica-se uma maior diversidade de oportunidade de lazer na cidade de
Portimão, no entanto, não é motivo para as populações vizinhas se deslocarem à
cidade.
De acordo com a análise ao domínio físico do Whoqol-Bref, a população que
melhores índices de saúde apresenta é a residente na freguesia da Mexilhoeira, facto
que não coincide com os dados apurados na primeira parte do referido questionário
(ver anexo 2) que prevalece Alvor. Nesta última análise, tal como foi referido
anteriormente, não existem disparidades significativas entre os valores apresentados.
Como os valores não foram referidos anteriormente, apresentamo-los agora para que
esta disparidade de resultados dentro do mesmo questionário, seja perceptível. Assim,
apuramos, pela primeira parte do questionário, que em Alvor 55,6% dos inquiridos
respondem afirmamente à questão se actualmente têm alguma doença, enquanto que
na Mexilhoeira a percentagem corresponde a 52,9%. Portimão é a única freguesia que
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
183
Qualidade de Vida dos Seniores
as mais pessoas que afirmam não ter qualquer doença superam as que têm doença.
Por sua vez, os dados resultantes da análise ao domínio físico referentes à
necessidade de cuidados médicos diários são mais expressivos para as freguesias de
Portimão e Alvor. Na primeira, 44,2% afirmam precisar muitíssimo e na segunda,
61,1% afirmam precisar “muito”. A resposta com maior expressividade na freguesia da
Mexilhoeira é “nem pouco nem pouco” com 35,3%. Verificamos, assim que a
Mexilhoeira é a freguesia que menos precisa de cuidados médicos logo a menos
doente. Inseparavelmente os cuidados médicos só são necessários quando se está
doente. Deste modo, estão patentes diferenças nos resultados obtidos dentro de um
só questionário. Tal situação não se deveria verificar.
Podemos concluir, ao analisarmos todos os pontos, que fisicamente, a
qualidade de vida é menos favorável à população residente na freguesia da
Mexilhoeira Grande, encontrando-se do lado oposto, os habitantes de Portimão a par
dos de Alvor.
O domínio psicológico, em análise, abarcou questões como a predominância
de sentimentos positivos e negativos, auto-estima, satisfação face à aparência física,
concentração e crenças pessoais. Os sentimentos positivos predominam entre as
freguesias do concelho de Portimão. Os inquiridos referem gostar das suas vidas,
assim como lhe atribuem sentido. Portimão apresenta os valores mais positivos
seguida por Alvor. Se analisarmos a distribuição das respostas dadas entre os
inquiridos na Mexilhoeira, estes focalizam os índices mais elevados, no entanto, a
resposta com maior expressividade aparece, em ambas as situações, no meio-termo.
Os sentimentos negativos ocorrem mais frequentemente entre os habitantes de
Portimão se tomarmos como análise as referências que apontam para a maior
frequência destes. A Mexilhoeira surge do lado oposto. A correspondência face aos
sentimentos opostos confirmam-se, ou seja, a população da freguesia da Mexilhoeira
surge como a que testemunha os sentimentos mais positivos e a que com menor
frequência experiencia sentimentos negativos, tais como a tristeza, desespero,
ansiedade ou depressão.
A par destes sentimentos, foi estudada a predominância de sentimentos de
isolamento. Aquando da análise estatística, foi já referido o entendimento errado sobre
isolamento. O termo refere-se ao isolamento físico e geográfico, todavia foi entendido
por solidão enquanto sentimento de o indivíduo se sentir só, sem rede de suporte, não
sentindo apoio suficiente face às suas necessidades de socialização e individuais.
Abordando a questão de acordo com as respostas apresentadas, as opiniões dividemse na Mexilhoeira e em Alvor, ao passo que em Portimão, uma maioria significativa (83
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
184
Qualidade de Vida dos Seniores
dos 120 inquiridos) afirma a não predominância de sentimentos de isolamento. As
razões apontadas para justificar o isolamento residem, essencialmente no facto de
viverem sozinhas (má interpretação da questão), por outro lado são referidas como
justificação para o não isolamento a participação nas mais variadas actividades e
assiduidade a serviços direccionados para os seniores. Assumem-se como pessoas
activas, que muito convivem e passeiam. De referir, novamente as fortes relações de
vizinhança e parentesco na Mexilhoeira Grande, ao apontarem como razões o facto de
terem muitos amigos e familiares, sendo estes, muitas das vezes, familiares bem
próximos. O verdadeiro sentido da questão foi apreendido por duas pessoas que
vivem na freguesia da Mexilhoeira ao referirem que gostam de viver longe, são
autónomos e activos e que o carro se traduz num meio de atenuação destas
diferenças geográficas. Classificamos a predominância deste sentimento como sendo
negativo constituindo-se num entrave para uma participação activa. Para confirmar os
sentimentos de isolamento, confrontamos estes números com a frequência que se
deslocam a Portimão. Não referindo agora os portimonenses, pois vivem já no seio da
socialização, importa antes disso demonstrar que, a distancia e isolamento geográfico
não se constituem num entrave à socialização, visto a população da freguesia da
Mexilhoeira se deslocar mais frequentemente a Portimão que a população de Alvor.
A auto-estima pertence, por sua vez aos sentimentos positivos. De igual modo
nas três freguesias a maioria das respostas incidem na satisfação face à sua imagem.
Verificamos Portimão com 52,5%, Alvor com 55,6% e 58,8% na Mexilhoeira. A autoestima consubstancia-se num sentimento favorável ao bem-estar. Quanto mais
acreditarmos nas nossas capacidades mais facilmente serão atingidos os objectivos
de vida. Sendo assim, estabelecemos uma relação directa entre auto-estima e
qualidade de vida.
Após a análise dos dados obtidos, em termos exactos, a qualidade de vida,
psicologicamente, é mais favorável à freguesia de Alvor, seguida de Portimão e, por
fim, Mexilhoeira.
Para as relações sociais foram avaliadas a satisfação face às relações
pessoais, actividade sexual e rede de suporte. Neste domínio as diferenças entre os
padrões vividos nas três freguesias são quase nulas. Todavia, os habitantes de Alvor
testemunham valores inferiores aos apresentados pelas restantes freguesias que
partilham o primeiro lugar. Quanto à satisfação com as relações pessoais, os três
aglomerados de população encontram-se em conformidade referindo a sua satisfação.
Portimão e Alvor estão igualmente satisfeitos com a sua actividade sexual, por sua
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
185
Qualidade de Vida dos Seniores
vez, a indiferença comanda os que habitam na Mexilhoeira. O suporte social, muitas
vezes associado às zonas mais rurais, facto que já confirmamos aquando da análise
de alguns parâmetros, desta vez é liderado pela população portimonense, mas
imediatamente seguida da população da Mexilhoeira. Em valores exactos, as três
freguesias encontram-se no mesmo patamar de satisfação. Confirma-se não existr
grande disparidade nos números e se encontrem em quase todas as facetas
concentradas nas mesmas respostas.
O meio ambiente apresentou como facetas analisadas as direccionadas para a
satisfação face à segurança e protecção, ambiente físico, recursos financeiros,
oportunidades de adquirir novas habilidades de recreação e lazer, ambiente no lar,
cuidados de saúde e transportes. Um facto de real importância reside na insegurança
sentida pela população de Alvor. Esta resposta foi dada prontamente por 44,4% dos
inquiridos. Aliás, esta população refere fazer falta, na sua freguesia, um posto da
Guarda Nacional Republicana, assim como, melhoramentos na calçada das ruas que
se traduz, de igual modo, noutro motivo de insegurança. Alvor é uma vila piscatória
muito procurada quer pelos turistas quer pelos adeptos da diversão nocturna. A
segurança para os seniores é fundamental para que, como qualquer pessoa, possa
participar activamente na sociedade. Para garantir a segurança, também os
portimonenses apelam a um maior policiamento nas ruas, assim como à elevação das
passadeiras para peões. No entanto, esta população apresenta valores favoráveis
quanto aos sentimentos de segurança. A maioria dos inquiridos na Mexilhoeira, 58,8%
refere sentir-se nem muito nem pouco segura. Mas insistem na construção de uma
passadeira para peões na EN 125 junto à entrada principal da freguesia e, de igual
modo, na implementação de um posto da GNR.
O ambiente físico, nas suas vertentes de poluição, ruído, trânsito e clima,
revela de igual modo a pouca satisfação face à quotidianidade. A organização do
espaço e localização dos bares, de facto não é a mais favorável aos habitantes, pois
estes encontram-se inseridos na zona residencial. O barulho, com elevados decibéis,
perturba o descanso dos habitantes. Mesmo assim, metade dos inquiridos refere estar
nem muito nem pouco satisfeitos face ao ambiente físico. Mas se analisarmos os
dados referentes às questões de maior insatisfação, vimos que Alvor é a freguesia
menos satisfeita. Por seu turno, a acessibilidade ao trânsito é, um tanto ao quanto,
difícil. Caracteristicamente, as ruas são apertadas. A satisfação face ao ambiente
físico é, para aos habitantes da Mexilhoeira Grande, medíocre. Caracteristicamente
calma, esta freguesia apela ao repouso. O trânsito é parco e o barulho pouco
perturbador. Mesmo, associando, poluição, barulho, trânsito e confusão às cidades, os
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
186
Qualidade de Vida dos Seniores
habitantes de Portimão parecem pouco se importar com eles, sendo a freguesia que
mais satisfeita se mostra.
Relativamente à satisfação face às actividades disponíveis em cada freguesia,
a satisfação é plena nas três freguesias. De referir que os habitantes da Mexilhoeira
responderam todos estar satisfeitos. Todavia, prendem-se maioritariamente às
actividades
desenvolvidas
na
sua
freguesia,
sendo
pouco
significativa
a
representatividade dos que participam nas actividades da Câmara Municipal. Quanto
aos serviços em geral, referem ser suficientes para as necessidades. O
desenvolvimento implica mudança e os habitantes em zonas rurais mostram-se
resistentes à mudança, afirmando assim, estar satisfeitos com os serviços disponíveis.
As pessoas estão já habituadas a um estilo de vida e a mudança em meios rurais, na
maioria das vezes, não é bem-vinda. A população de Alvor está, praticamente toda
satisfeita com as actividades e serviços disponíveis. Usufruem, na sua área de
residência, do projecto “Exercício e Saúde” fruto de um acordo entre a autarquia e o
Centro Comunitário. Em relação aos serviços, no seu todo, a satisfação é justificada
pela existência de tudo o que se precisa, correspondendo, tal como na Mexilhoeira, às
necessidades da população. Os portimonenses partilham da opinião dos vizinhos
embora refiram também a existências de boas oportunidades de entretenimento.
Tal como já tinha sido apontado aquando da caracterização da amostra, a
satisfação face aos rendimentos auferidos é moderadamente aceite pelos habitantes
de Portimão que, por sua vez, têm melhores qualificações académicas e outrora
desempenharam actividades profissionais correspondentes a melhores renumerações.
Os habitantes de Alvor, seguem-se a Portimão, embora com visíveis diferenças. A
população da Mexilhoeira apresenta menor satisfação, concentrando as suas
respostas nos valores mais baixos, aqui 64,7% afirmam estar pouco satisfeitos. Desta
vez, verifica-se coerência entre os resultados apurados pelos dois questionários.
O acesso à informação necessária para organizar a vida diária, assim como a
oportunidade de participar em actividades de lazer, podiam revelar números mais
positivos. Para a primeira questão, a maioria dos inquiridos nas freguesias de
Portimão e Mexilhoeira referem que a satisfação face ao acesso à informação é
moderada. Alvor tem maior concentração na mesma resposta embora não
corresponda à maioria. A segunda situação é mais satisfatória para os que vivem em
Alvor, com 44,4% a afirmar estar bastante contente com as oportunidades para
desenvolver actividades de lazer. Opostamente, temos os habitantes da Mexilhoeira
com 47,1% dos inquiridos a admitir encontrarem-se pouco satisfeitos. Encontramos,
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
187
Qualidade de Vida dos Seniores
assim, em parte, outra contradição. Os habitantes da Mexilhoeira responderam em
peso estar satisfeitos com os serviços e actividades disponíveis na sua freguesia,
correspondendo estes às suas necessidades e expectativa mas revelam-se pouco
satisfeitos quanto às oportunidades para desenvolver actividades de lazer. Podemos,
porventura, encarar como uma contradição ou como falta de tempo para participar. Ou
seja, podem não questionar a realização ou periodicidade das actividades
desenvolvidas mas o facto de não participarem pode depender da sua vida pessoal,
não encontrando disponibilidade para aproveitar tais oportunidades.
Face a todas as exposições aqui deixadas e opiniões formuladas pelos
inquiridos, os indivíduos estão maioritariamente satisfeitos com as condições que cada
freguesia dispõe aos seus habitantes. Óbvio será que nada é perfeito havendo sempre
recomendações a fazer, tais como as referidas aos serviços em falta ou outros que
têm de ser melhorados. De referir que as percentagens apontam para o que temos
vindo a afirmar, os habitantes da Mexilhoeira estão mais satisfeitos com as condições
gerais disponíveis na freguesia em comparação com Alvor, com 52,9% e 44,4% de
satisfação, respectivamente. Portimão lidera o ranking.
O acesso aos cuidados de saúde e respectiva qualidade são mais
reconhecidos pelos habitantes da Mexilhoeira Grande, sendo que 47,1% afirmam não
estar contente nem descontente, assim como, 35,3% dos inquiridos em Alvor. Estas
qualificações referem-se às extensões do centro de saúde de Portimão, localizadas
em cada freguesia. Os serviços de saúde em Portimão parecem funcionar pior, visto
testemunharmos um grau de satisfação negativo, com 38,3% dos inquiridos a
afirmarem-se insatisfeitos. O centro de saúde de Portimão responde a uma proporção
maior de utentes em comparação com os restantes. Julgamos que os inquiridos se
referem unicamente ao centro de saúde, uma vez que o Hospital do Barlavento
Algarvio, embora sedeado em Portimão abarca todo o barlavento algarvio. Não temos
dados suficientes para fazermos distinção da satisfação face aos centros de saúde e
hospital.
Os transportes a nível concelhio, conheceram uma reviravolta com o início da
circulação dos transportes urbanos “Vai e Vém”. Primeiramente com o circuito restrito
a Portimão, hoje chega já às três freguesias de Portimão com a introdução de novas
linhas de percurso. A satisfação face à utilização, não só deste, mas de outros meios
de transporte, é satisfatória para os portimonenses (55,5%) e para os alvoreiros
(55,6%). Os mexilhoeirenses reclamam maior periodicidade do “vai e vém”, deixando o
testemunho de razoabilidade com 47,1% dos inquiridos a não se revelarem satisfeitos
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
188
Qualidade de Vida dos Seniores
nem insatisfeitos. Os meios de transporte são um importante instrumento de
deslocação. Quanto mais confortáveis os indivíduos se sentirem nestes serviços mais
os utilizam. Também os preços a praticar têm de corresponder às possibilidades de
cada um, este princípio não foi esquecido, existindo o passe para os seniores com
preços mais acessíveis. O grande objectivo deste transporte urbano de pequena
dimensão é atenuar as distâncias facilitando a deslocação aos serviços, combatendo o
isolamento com que se confrontam as populações mais afastadas geograficamente.
Podemos, depois destas relações entre os questionários utilizados, apurar que
os habitantes de Portimão são a população mais satisfeita com o meio ambiente. As
cidades fornecem todo um conjunto de serviços e oportunidades que jamais
encontrarão semelhante desfeche nas freguesias menos desenvolvidas. Alvor seguese a Portimão e a Mexilhoeira ocupa, mais uma vez o último lugar.
A análise de dados não foi tarefa fácil. Por vezes as diferenças não eram tão
significativas que merecessem ser referidas, ou as diferenças eram tão óbvias que os
comentários resultavam em deduções igualmente óbvias. Por outro lado, percebemos
que algumas questões não foram entendidas não atingido os objectivos propostos. A
algumas questões foram atribuídos sentidos diferentes aos pretendidos e outras
respostas não foram correspondentes à realidade por falta de entendimento.
No entanto, concluímos que os níveis de satisfação são mais baixos que os
previsíveis. Julgava-se maior satisfação face à qualidade de vida. A amostra poderia
não ter sido a mais significativa, porventura foi cuidadosamente escolhida. Em prol de
melhores condições de vida ao envelhecer, novos projectos e desafios devem ser
lançados aos intervenientes sociais. Embora os resultados pudessem ter sido mais
positivos, o trabalho dos técnicos não é posto em causa. Toda a sociedade deve-se
mobilizar para que envelhecer se efective numa fase normal do desenvolvimento
humano e devidamente respeitada. Cabe, não só à sociedade, mas em grande parte,
também à forma individual de encarar a vida, aceitar o envelhecimento e redefinir
novos padrões de vida nesta nova etapa da vida, traduzindo-se em instrumentos
necessários para envelhecer com Qualidade de Vida.
Face ao exposto propõe-se a implementação dos dois projectos lançados no
capítulo quarto. Assim, o Centro de Envelhecimento Activo corresponderia às
expectativas lançadas pelos inquiridos ao requererem um espaço maior dedicado aos
seniores. De destacar que ao referirem um espaço maior, tomam como referência o
Centro de Convívio Sénior que se constitui no único espaço sob a alçada da autarquia
onde todos os serviços são gratuitos. A implementação deste Centro complementaria
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
189
Qualidade de Vida dos Seniores
os serviços prestados no Centro de Convívio e seriam lançadas novas actividades que
proporcionasse aos seus usuários envelhecer de forma mais activa e saudável. Por
seu turno, o projecto “Doce Amigo” combateria a solidão e respondia às necessidades
básicas da população. Estas propostas não comprometem o que tem sido feito pelos
intervenientes sociais, antes disso, o objectivo é melhorar a sua intervenção
respondendo às necessidades e expectativas da população.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
190
Qualidade de Vida dos Seniores
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Qualidade de Vida dos Seniores
Anexos
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
212
Qualidade de Vida dos Seniores
Anexos 1
Tabelas resultantes do tratamento estatístico
(SPSS)
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
213
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 1 – Distribuição do número de pessoas com que
coabitam e número de filhos por freguesia.
Freguesia
0
Portimão
40
Alvor
4
Mexilhoeira
Grande
7
Nº de
1
51
10
9
pessoas com
2
15
2
1
3
7
1
0
4
4
1
0
5
1
0
0
6
2
0
0
0
12
2
3
1
34
4
4
2
57
4
5
3
11
2
3
4
3
4
2
5
3
0
0
7
0
1
0
8
0
0
0
9
0
1
0
que coabita
Nº de filhos
Tabela 2 – Distribuição dos rendimentos mensais per capita e respectivas fontes
por freguesia.
Freguesia
> 200€
Portimão
3
Alvor
2
Mexilhoeira
Grande
2
Rendimentos
200€ a 300€
34
8
6
mensais per
300€ a 400€
27
1
5
400€ a 500€
14
3
2
< 500€
42
4
2
Pensão por velhice
54
6
12
Pensão por invalidez
21
6
2
Pensão de sobrevivência
3
1
0
Pensão de velhice e
Pensão de Sobrevivência
18
2
2
Pensão de invalidez e
Pensão de Sobrevivência
3
1
1
7
1
0
10
1
0
4
0
0
capita
Fonte dos
rendimentos
Pensão de velhice e outros
Outra(s)
Sem reforma
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
214
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 2a – Distribuição dos rendimentos mensais per capita e respectivas fontes
por freguesia.
Freguesia
> 200€
Portimão
3
Alvor
2
Mexilhoeira
Grande
2
Rendimentos
200€ a 300€
34
8
6
mensais per
300€ a 400€
27
1
5
capita
400€ a 500€
14
3
2
< 500€
42
4
2
Pensão por velhice
54
6
12
Pensão por invalidez
21
6
2
Pensão de sobrevivência
3
1
0
18
2
2
3
1
1
7
1
0
10
1
0
Sem reforma
4
0
0
Outros Rendimentos
10
0
0
Outras fontes
Reforma do cônjuge
1
0
0
de rendimento
Outros rendimentos e
não
reforma do cônjuge
0
1
0
contempladas
Caixa Geral de
anteriormente
Aposentações
6
0
0
Reforma antecipada
2
0
0
Pré-reforma
1
0
0
Reforma de França
0
1
0
Rendimentos prediais
1
0
0
Pensão de velhice e
Fonte dos
Pensão de Sobrevivência
rendimentos
Pensão de invalidez e
Pensão de Sobrevivência
Pensão de velhice e outros
Outra(s)
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
215
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 3 – Distribuição da participação em actividades
promovidas pela Câmara Municipal de Portimão ou
respectiva junta de freguesia por freguesia.
Freguesia
Participação
nas
Sim
Não
actividades
Portimão
Alvor
Mexilhoeira
Grande
85
15
13
35
3
4
Tabela 3a – Distribuição da percentagem da participação nas
actividades promovidas pela Câmara ou pelas respectivas juntas de
freguesia.
Participação em actividades
Sim
Freguesias
Não
Portimão
N
85
%
70,8%
N
35
%
29,2%
Alvor
15
83,3%
3
16,7%
Mexilhoeira Grande
13
76,5%
4
23,5%
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
216
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 3b – Distribuição das actividades participadas por freguesia.
Freguesia
Portimão
Alvor
Mexilhoeira
Grande
85
15
13
28
4
4
13
0
0
0
0
6
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
2
0
4
0
0
7
0
7
0
0
0
0
0
14
0
0
0
0
0
10
0
0
Nº de pessoas que participam em
actividades
Viver Sénior
Exercício e Saúde
Actividades da Junta de
Freguesia da Mexilhoeira
Grande
Actividades da Junta de
Freguesia de Alvor
Actividades da Junta de
Freguesia de Portimão
Actividades da Associação
Discrição das
Actividades
participadas
dos Reformados do Pontal
e Não Só
Actividades do Centro
Comunitário de Alvor
Viver Sénior e actividades
da Junta de Freguesia da
Mexilhoeira Grande
Viver Sénior e actividades
do Centro Comunitário
Alvor
Exercício e saúde, Viver
sénior e actividades do
Centro Comunitário Alvor
Exercício e Saúde e Viver
Sénior
Instituto da Cultura de
Portimão e Viver Sénior
Viver Sénior e Centro de
Convívio Sénior
Viver Sénior, Junta
Freguesia Portimão,
actividades da Ass.
Reformados do Pontal e
CCS
Viver Sénior, actividades
da Junta de Freguesia de
Portimão e Centro
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
217
Qualidade de Vida dos Seniores
Convívio Sénior
Viver Sénior, actividades
da Junta de Freguesia de
2
0
0
0
0
0
5
0
0
2
0
0
1
0
0
Várias
0
0
1
Não respondeu
1
0
0
Portimão, CCS e Exercício
e Saúde
Exercício e Saúde e
Associação dos
Reformados do Pontal
Viver Sénior, Exercício e
Saúde e actividades da
Junta de Freguesia de
Portimão
Viver Sénior e actividades
da Junta de Freguesia de
Portimão
Exercício e Saúde e
Actividade Junta de
freguesia Portimão
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
218
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 3c – Distribuição do motivo da não participação nas actividades por
freguesia.
Freguesia
Portimão
Alvor
Mexilhoeira
Grande
35
3
4
Nº de pessoas que não participa nas
actividades
Desconhecimento
5
0
2
Falta de oportunidade
6
1
1
Devido à doença
2
0
0
Por opção
8
2
1
2
0
0
2
0
0
1
0
0
1
0
0
2
0
0
1
0
0
4
0
0
2
0
0
Sou viúva e não acho bem
Motivo da
não
participação
Pessoas doentes a cargo
Porque não gosto de fazer
o que os outros querem
que eu faça
nas
actividades
Mas frequento o CCS
Mas já fiz o passaporte
sénior
Nunca fui convidado para
essas actividades
Não respondeu
Frequento muitas
actividades do Instituto da
Cultura
Tabela 4 – Distribuição do sentimento de isolamento por
freguesia.
Freguesia
Sentimento
de
isolamento
Sim
Não
Portimão
Alvor
Mexilhoeira
Grande
37
9
7
83
9
10
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
219
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 4a – Distribuição dos motivos do sentimento de isolamento por freguesia.
Freguesia
Portimão
37
Alvor
9
Mexilhoeira
Grande
7
Não tem companheiro(a)
1
0
0
Porque vive sozinho(a)
11
0
1
Fica muitas vezes
sozinho(a) em casa
3
0
0
Vive sozinho(a) e derivado
à doença
0
0
1
Vive só e a família vive
longe
2
0
0
Mau ambiente em casa
1
0
0
Devido às depressões
1
0
0
Falta de vontade de sair
4
1
0
Falta companhia para
conversar e sai pouco
1
0
0
Não sai da sua área de
residência
0
1
0
Frequento o Instituto da
Cultura e faz voluntariado
no CHBA
0
0
0
1
0
0
2
0
0
Sentimentos de solidão e
tristeza
2
1
0
Falta de acompanhamento
dos filhos
2
0
0
1
1
1
Devido à minha doença
0
0
1
Doença do marido e só sai
de casa com os filhos para
ir ao médico
0
0
1
Os filhos estão fora
0
1
1
Mas melhor assim que mal
acompanhada
0
1
0
Às vezes mas quando me
sinto só saio para distrair
0
1
0
Vive só e tem familiares a
cargo
0
1
0
Porque quando precisa de
certas coisas tem de ir a
Portimão
0
0
1
1
1
0
4
0
0
Nº de pessoas que se sentem isoladas
Motivo do
sentimento
de
isolamento
Os filhos vão trabalhar e
como fica só vai para a
Associação de Reformados
do Pontal
Sou cega mas vou à Ass.
Reformados do Pontal
Devido à doença do marido
Porque moro longe de tudo
Não respondeu
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
220
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 4b – Distribuição dos motivos por não sentir isolamento por freguesia.
Freguesia
Portimão
83
Alvor
9
Mexilhoeira
Grande
10
Convive com muitas
pessoas
8
0
0
Coabita com o(s) filho(s)
e /ou neto(s)
3
0
0
Não mora só e frequenta o
CCS
1
0
0
Nº de pessoas que não sente isoladas
Motivos por
não sentir
isolamento
Passeia muito
9
1
0
Tem muitos amigos e
familiares
4
0
3
Tem liberdade em moverse e companhia
1
0
0
Gosta de comunicar
2
0
0
Porque vive com
companhia
1
0
0
A Ass. dos reformados
ajuda a distrair
1
0
0
Tem a companhia de
familiares próximos
7
0
1
Convive com família e
amigos e viaja muito
4
0
0
Pessoa activa
5
1
0
Ainda estou jovem
1
0
0
Mantém-se activo e viaja
muito
1
0
1
Pratico desporto
2
0
0
Gosto e oportunidade para
conviver
1
0
0
Convive muito no Instituto
da Cultura
2
0
0
Visito os filhos, passeio e
vou a Instituto da Cultura
1
0
0
Viajo muito
1
0
0
Tenho o marido e pratico
ginástica
1
0
0
Participo em muitas
actividades
2
0
0
Participo nas actividades
da câmara e do Inst.
Cultura
2
0
0
Frequento a Ass.
Reformados do Pontal
2
0
0
Vive com os filhos e
frequenta a Ass.
Reformados do Pontal
1
0
0
1
0
0
5
0
0
Nem na rua nem em casa
Porque frequento o Centro
de convívio
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
221
Qualidade de Vida dos Seniores
Sou extrovertido
1
0
0
Tem a visita dos filhos
0
0
1
Vive num local isolado
geograficamente mas é
activo e autónomo
0
0
2
Sente-se bem vivendo só e
longe dos serviços mas
tem carro
0
0
1
Frequenta as actividades
do Centro Comunitário de
Alvor
0
1
0
Passeia diariamente e faz
voluntariado
0
1
0
Quando se sente só sai
para a rua
0
1
0
Não sabe o que é a solidão
e não tem medos
0
1
0
Convive com familiares e
cuida dos netos
0
0
1
Passo o dia sempre
ocupado
1
1
0
Tento conviver com as
pessoas amigas
1
0
0
Saio para a rua e convive
com as pessoas e família
1
0
0
Saio para a rua e vivo
acompanhada
1
0
0
Porque tenho uma vida
familiar sólida
1
0
0
Estou muito ocupado no
Instituto da Cultura e
actividades municipais
1
0
0
Frequento Universidade
Sénior e integro todos os
movimentos
1
0
0
Vou ao Inst. da Cultura,
Desporto na piscina e
voluntariado
1
0
0
Frequento com
assiduidade o Instituto da
Cultura
1
0
0
Não respondeu
4
2
0
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
222
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 5 – Distribuição da satisfação face às actividades e
serviços disponíveis em cada freguesia.
Freguesia
Satisfação face
às actividades
e serviços
Sim
Portimão
Alvor
Mexilhoeira
Grande
95
16
17
23
2
0
Não
Tabela 5a – Distribuição da satisfação face às actividades e serviços
disponíveis em cada freguesia.
Freguesia
Portimão
Alvor
Mexilhoeira
Grande
5
0
0
3
0
1
"Porque o presidente é
porreiro"
1
0
0
Há muito convívio e
combate a solidão
5
0
0
Gosta de participar nas
actividades
3
0
0
Boas oportunidades de
entretenimento
9
0
1
Tem-se feito boas obras
3
1
0
Beneficia deles
1
0
0
Mas nunca a 100%
4
0
0
Porque há de tudo
9
3
1
Proximidade dos serviços
3
0
0
2
0
0
Melhor qualidade dos
serviços
4
0
0
Proximidade dos serviços e
oportunidade de
entretenimento
Amabilidade das pessoas
Motivo da
satisfação
face às
actividades
e serviços
Bons programas culturais
Regular
1
0
1
Novas relações de
amizade
1
0
0
Os serviços são bons mas
devia ser + direccionados
seniores
1
0
0
Mas melhorar o
estacionamento na parte
baixa da cidade
1
0
0
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
223
Qualidade de Vida dos Seniores
De carro chego bem a todo
o lado
1
0
0
São suficientes para as
necessidades
4
1
6
Porque existe a Ass. De
reformados do Pontal
2
0
0
Iniciativas como o CCS são
de louvar
1
0
0
O CCS ajuda a conviver e
comunicar
1
0
0
O serviço da junta
(Mexilhoeira) é atencioso e
personalizado
0
0
2
Os pedidos à junta (M. G.)
são sempre satisfeitos
(transportes)
0
0
1
Mas falta uma clínica de
Fisioterapia em Alvor
0
1
0
Sem dúvida
0
2
0
Tudo óptimo
1
3
0
Razoavelmente
1
1
1
Nada a dizer
1
0
1
Porque é a maneira de
conviver com as pessoas
1
0
0
Consigo realizar-me físico,
social, intelectual,
citadino...
2
0
0
Não me lembro de nada
que possam abrir ou
adquirir
1
0
0
24
4
2
1
0
0
Não respondeu
Não sabe responder
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
224
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 5b – Distribuição da não satisfação face às actividades e serviços
disponíveis em cada freguesia.
Freguesia
Portimão
Alvor
Mexilhoeira
Grande
1
0
0
Não há nada
1
0
0
Ainda falta muita coisa
1
0
0
1
0
0
3
0
0
1
0
0
3
0
0
1
0
0
1
0
0
2
0
0
1
0
0
2
2
0
1
0
0
1
0
0
1
0
0
1
0
0
1
0
0
Mau cheiro e permanência
dos ciganos nas Cardosas
Mais actividades culturais e
a preços acessíveis
Porque não
Centralização dos serviços
no centro da cidade
Deveria existir mais
Motivo da
não
satisfação
face às
actividades
e serviços
serviços para a terceira
idade
Pouco espaço ao ar livre
para entretenimento
Burocracia excessiva
Insuficientes para auxiliar
os seniores
Na Praia da Rocha não há
nada para os seniores nem
para crianças
São insuficientes
Nas Cardosas vivem
muitos ciganos
Actividades para idosos na
zona do Vale Lagar
A zona da Coosofi está
abandonada
Falta de higiene nas ruas
da coosofi
Não respondeu
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
225
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 6 – Distribuição da frequência com que se deslocam a Portimão
por freguesia.
Freguesia
Portimão
Alvor
Mexilhoeira
Grande
12
10
7
Só em casos
Frequência
excepcionais
que se
1 Vez por mês
10
1
6
deslocam a
1 Vez por semana
20
2
3
Portimão
3 Vezes por
15
1
0
Todos os dias
60
4
1
Não respondeu
3
0
0
semana
Tabela 7 – Distribuição dos serviços mais procurados pela população de
cada freguesia.
Freguesia
Segurança Social
Portimão
8
Alvor
1
Mexilhoeira
Grande
1
Hospital
17
4
6
Câmara Municipal
3
0
0
Finanças
1
0
0
Tribunal
1
0
0
Outros
52
9
5
0
0
1
0
0
0
2
0
2
Hospital e Outros
14
3
2
Câmara e outros
7
0
0
2
1
0
2
0
0
1
0
0
2
0
0
Serviços
Segurança Social e
mais
Finanças
procurados
Segurança Social,
em Portimão
Hospital e Tribunal
Segurança Social,
Hospital e Finanças
Hospital, Câmara e
Outros
Câmara e Hospital
Seg. Social, Hospital,
CMP, Finanças e
Outros
Segurança social e
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
226
Qualidade de Vida dos Seniores
outros
Segurança Social,
Câmara e Outros
Hospital e Segurança
Social
Não respondeu
1
0
0
3
0
0
4
0
0
Tabela 7a – Distribuição dos serviços mais procurados pela população de cada
freguesia não referidos na tabela anterior.
Freguesia
Comércio Local
Portimão
8
Alvor
4
Mexilhoeira
Grande
0
Hipermercado
6
0
0
Visitar família/amigos
2
1
2
Passear
6
1
0
0
1
1
Pagamentos de serviços
(ex. água. luz e/ou gás)
1
0
1
Hipermercado, Mercado
Municipal e comércio local
1
2
0
procurados
Comércio local e passear
2
1
0
não referidos
Visitar família/amigos e
comércio local
0
1
0
Cemitério e SAP
1
0
0
Mercado Municipal e
passear
1
1
0
Supermercado e
pagamentos de serviços
(água, luz e/ou gás)
1
0
0
Farmácia
2
0
0
Centro de Saúde e
Consultas de
Especialidade
2
0
0
Instituto da Cultura de
Portimão
1
0
0
Centro de Saúde, Banco,
Mercado Municipal e
Centro Comercial
2
0
0
Centro de Saúde
3
1
1
Mercado Municipal e
Cemitério
2
0
0
Centro Convívio Sénior
1
0
0
Consultas de especialidade
Outros
serviços
na tabela
anterior
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
227
Qualidade de Vida dos Seniores
Centro saúde, Correios,
comércio local e farmácia
3
0
0
Correios
1
0
0
Centro de saúde e
comércio local
2
0
0
Junta de Freguesia de
Portimão e comércio local
1
0
0
Passear e Cinema
2
0
0
Mercado Municipal
5
0
0
Cemitério
2
0
0
Banco e Advogado
1
0
0
Comércio local e Mercado
Municipal
2
0
0
Hipermercado, Mercado
Municipal e consultas de
especialidade
1
0
0
Hipermercado e Mercado
Municipal
6
0
0
Hipermercado, Passear e
Instituto da Cultura
0
0
0
Hipermercado, Instituto da
Cultura e CCS
1
0
0
Cemitério e Mercado
Municipal
1
0
0
Instituto da Cultura
1
0
0
Não especificou
2
0
3
Piscina Municipal e
supermercados
2
0
0
Correios e Banco
2
0
0
Fisioterapia
1
0
0
Nenhum
2
0
0
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
228
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 8 – Distribuição do que a população opina que faça falta na sua
freguesia.
Freguesia
Portimão
0
Alvor
1
Mexilhoeira
Grande
1
3
1
0
Maior de frequência dos
transportes públicos
0
0
5
Maior frequência de
transportes públicos e
supermercados
0
0
1
Melhor acessibilidade ao
trânsito
2
0
0
Mais lugares de
estacionamento
0
0
0
Melhor acessibilidade ao
trânsito e mais
estacionamento
0
1
0
Nada
22
3
3
Melhorar a calçada, +
policia, baixar o som dos
bares
0
1
0
Melhoramento das ruas
(calçada)
1
3
0
Uma carrinha para levar as
pessoas à natação
0
1
0
Mais comércio, mais
convívio, mais vida
0
1
0
Posto GNR, Mais
estacionamento e arranjar
calçadas
0
1
0
Melhor acesso à saúde
2
0
0
Melhoramentos nas
habitações
1
0
0
Contentores do lixo e mais
ajuda económica aos
reformados
1
0
0
Maior proximidade dos
serviços públicos
2
0
0
Elevação das passadeiras
para piões
4
0
0
Parques infantis e Mais
policiamento nas ruas
1
0
0
Mais animação e
entretenimento
2
0
0
Bancos para sentar na Av.
25 Abril
1
0
0
Teatro
1
0
0
Manutenção do SAP, Mais
Policia e acessibilidade ao
trânsito
2
0
0
Hipermercado
Mais policiamento nas ruas
O que
falta faz
na
freguesia
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
229
Qualidade de Vida dos Seniores
Jardins e ocupação de
tempos livres para crianças
1
0
0
Jardins para crianças e
Lares para idosos
2
0
0
Alargar o SAP, Melhorar
ruas e trânsito, Rapidez
consultas
2
0
0
1
0
0
5
0
0
Um serviço de apoio
domiciliário gratuito
1
0
0
Mais assistência ao nível
da habitação
1
0
0
Mais abrigo nas paragens
dos transportes públicos
1
0
0
Melhoramento das
estradas e Mais
entretenimento
1
0
0
Mais higiene nas ruas e
civismo
1
0
0
Um centro de convívio
mais perto de casa
1
0
0
Maior espaçamento entre
ruas e estacionamento
gratuito
1
0
0
1Bairro para ciganos, um
Centro de Convívio maior e
1espaço de recuperação
para idosos
Um espaço maior para os
seniores
Ilha ecológica
1
0
0
Não sabe responder
1
0
0
Mais casas de banho
públicas
4
0
0
Local único para
pagamento de serviços, +
luz e + segurança
0
0
1
Um aparelho para medir o
colesterol no CCS
1
0
0
Melhor recolha do lixo e
mais segurança
1
0
0
Uma piscina maior
1
0
0
Creches
1
0
0
Melhores médicos no
centro de saúde
1
0
0
Mais parques infantis e
mais zonas verdes
1
0
0
Centros de Dia
1
0
0
Infantários públicos, Lares
acolhimento sem-abrigo e
idosos
1
0
0
Parques infantis, creches e
melhores médicos
2
0
0
Passagens superiores com
rampa
1
0
0
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
230
Qualidade de Vida dos Seniores
Mais jardins
4
0
0
Mais jardins, parques
infantis e revistas
1
0
0
Mais jardins, parques de
lazer e espaços para
idosos
1
0
0
Museus, espectáculos e
espaços verdes
1
0
0
Infra-estruturas para
terceira idade e espaços
verdes
1
0
0
Espaços verdes, Museus,
Biblioteca maior e mais
espectáculos
1
0
0
Jardins e mais polícia
0
1
0
Mais polícia e melhorar o
estacionamento no centro
da vila
0
1
0
Uma boa sala de
espectáculos e uma piscina
com condições
1
0
0
Paragens de vai e vem da
parte lateral do mercado
novo
1
0
0
Melhorar os jardins da
cidade
2
0
0
Mais ajuda e apoio para
adultos com doenças
psíquicas
1
0
0
Um espaço maior para os
seniores com todos os
serviços
2
0
0
Passeios, higienização de
ruas e parques infantis na
Coosofi
2
0
0
Posto da GNR e ponte de
travessia peões EN125
cruzamento Mex. Grande
0
0
1
Fonte pública, jardim, posto
da GNR e ponte para
peões na EN 125
0
0
1
Posto da GNR e ponte
para peões na EN 125
0
0
1
0
0
1
Ponte para peões na EN
125 e um jardim
0
0
1
Reconstrução dos passeios
que estão cheios de
buracos
0
1
0
Um supermercado e um
jardim
0
1
0
Um supermercado no Vale
das Hortas
0
1
0
Parques infantis
1
0
0
Médicos
2
0
0
Posto da GNR e um jardim
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
231
Qualidade de Vida dos Seniores
Espaços verdes e médicos
1
0
0
Empregos
1
0
0
Nova piscina, serviços
sociais para acamados e
mais Lares de 3ªidade
1
0
0
1
0
0
1
0
0
1
0
0
1
0
0
12
0
1
Um guia credenciado nos
passeios-marchas do
Exercício e Saúde
Mais Lares e Centro Dia,
mais jardins e zonas
arborizadas
Mais clínicas de fisioterapia
e mais apoio do Estado
Não comenta
Não respondeu
Tabela 9 – Distribuição das idades dos inquiridos por
freguesia.
Freguesia
Idades
Mexilhoeira
Grande
64
Portimão
1
Alvor
0
0
65
18
1
0
66
11
0
3
67
3
1
0
68
5
0
1
69
9
0
0
70
6
1
1
71
5
0
1
72
2
2
0
73
5
1
0
74
3
3
3
75
5
1
0
76
4
1
1
77
8
3
0
78
4
3
2
79
4
0
1
80
7
0
0
81
6
0
0
82
5
0
1
83
4
0
1
84
0
1
1
85
2
0
0
86
1
0
1
87
2
0
0
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
232
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 9a – Média das idades dos inquiridos
por freguesia.
Freguesia
Idades
Portimão
73
Alvor
75
Mexilhoeira
Grande
75
Tabela 10 – Distribuição por sexo dos inquiridos por
freguesia.
Freguesia
Sexo
Portimão
Alvor
Mexilhoeira
Grande
Feminino
80
14
13
Masculino
40
4
4
Tabela 11 – Distribuição do grau de escolaridade dos inquiridos por freguesia.
Freguesia
Portimão
Alvor
Mexilhoeira
Grande
15
2
5
Sabe ler e/ou escrever
12
4
5
1º ao 4º anos
58
11
7
Grau de
5º ao 6º anos
8
1
0
Escolaridade
7º ao 9º anos
6
0
0
10º ao 12º anos
16
0
0
Estudos universitários
5
0
0
Formação pós-graduada
0
0
0
Não sabe ler nem
escrever
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
233
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 12 – Distribuição das profissões dos inquiridos por freguesia.
Freguesia
Portimão
13
Alvor
4
Mexilhoeira
Grande
1
Ama
0
0
0
Doméstica
17
3
2
Agricultor
1
1
0
Indústria de mármores
0
0
0
Agricultor e indústria de
mármores
0
0
1
Comerciante
9
3
0
Empregada de quartos
1
1
1
Modista
3
2
1
Empregada de balcão
3
1
0
Auxiliar de acção
educativa
2
0
0
Cozinheira
2
0
1
Assistente Social
1
0
0
Advogada
1
0
0
Profissional de Hotelaria
6
0
0
Indústria Hoteleira
4
0
0
Marceneiro
1
0
0
Bancário(a)
4
0
0
Pescador marítimo
1
0
0
1
0
0
Motorista de táxi
1
0
0
Costureira
1
1
0
Calista
1
0
0
Empregada de limpezas
2
0
0
Estivador de peixe
1
0
0
Auxiliar de acção médica
2
0
0
Construtor civil
1
0
0
Empregada de escritório
2
0
1
Pescador
0
1
0
Funcionário(a) Pública
4
0
0
Contabilista
1
0
0
Governanta de hotelaria
1
0
0
C.T.T.
2
0
0
Construtor de barcos
2
0
0
Escriturária
2
0
0
Chefe de vinhos
1
0
0
Carteiro
0
0
1
Doméstica em casas
particulares
0
0
1
Encarregado da
Construção Civil
0
1
0
Professor(a)
2
0
0
Empregado(a) Fabril
Profissões
Leitor de consumos (EDP)
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
234
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 13 – Distribuição do estado civil dos inquiridos por freguesia.
Freguesia
Estado civil
Solteiro(a)
Portimão
3
Alvor
0
Mexilhoeira
Grande
1
Casado(a)
54
13
10
União de facto
3
0
0
Separado(a)
4
1
0
Divorciado(a)
12
0
1
Viúvo(a)
44
4
5
Tabela 14 – Confrontação do estado de saúde dos inquiridos por freguesia.
Freguesia
Portimão
Alvor
Mexilhoeira Grande
Está doente
Sim
N
56
%
46,7
N
10
%
55,6
N
9
%
52,9
actualmente?
Não
62
51,7
8
44,4
8
47,1
Não respondeu
2
1,7
0
0
0
0
Tabela 15 – Distribuição do tipo de doença dos inquiridos por freguesia.
Freguesia
Parkinson
Portimão
1
Alvor
0
Mexilhoeira
Grande
0
Diabetes
2
0
1
Hipertensão
1
1
1
Problemas de estômago
7
0
0
Problemas de Bexiga
0
0
0
Parkinson e diabetes
1
1
0
Problemas de tiróide
0
0
1
Bronquite asmática
0
0
0
Tipos de
Reumatismo
1
0
0
doença
Bronquite asmática e
reumatismo
1
0
1
Doença de foro
neurológico
0
0
1
Osteoporose
3
2
0
Osteoporose, Diabetes e
Epilepsia
0
1
0
Má circulação do sangue
0
1
0
referidos
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
235
Qualidade de Vida dos Seniores
Tipos de
doença
referidos
Diabetes e hipertensão
2
0
0
Problemas de intestinos
2
0
0
Depressão
5
0
0
Hipertensão e Problemas
renais
1
0
0
Diabetes e Osteoporose
1
0
0
Prótese no braço
1
0
0
Problemas renais
3
0
0
Osteoporose, rinite
alérgica e artroses
1
0
0
Osteoporose e doença no
coração
3
0
0
Problemas de bexiga,
vesícula e intestinos
1
0
0
Problemas nervosos
1
1
0
Sequelas de AIT
1
0
0
Artroses
2
0
0
Doenças de coluna
1
0
0
Osteoporose, Problemas
nos intestinos e úlceras
nervosas
2
0
0
Problemas da próstata
1
0
1
Problemas de visão
3
1
0
Problemas de coração
2
1
0
Sequelas de AVC e
insuficiência renal
1
0
0
Angina de peito
1
0
0
Osteoporose e
insuficiência renal
0
1
0
Problemas de visão,
bexiga e pulmões
1
0
0
Cancro da mama e
problemas de vesícula
1
0
0
Angina pulmonar
1
0
0
Não especificou
1
0
3
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
236
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 16 – Relação do tipo de doença com o tempo com que sofre da mesma.
Tipos de
doença
referidos
Tempo que tem a doença
> /= 5 Anos
>/= 10 Anos
e < 10 anos
e < 20 anos
0
1
Parkinson
> 1 Ano
0
>/= 1 Ano
e < 5 anos
0
</= 20
Anos
0
Não
especifica
0
Diabetes
0
2
1
Hipertensão
0
0
1
0
0
0
1
1
Problemas de estômago
0
0
2
Problemas de Bexiga
0
0
1
1
3
0
0
0
0
Parkinson e diabetes
0
0
0
0
1
1
Problemas de tiróide
0
Bronquite asmática
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Reumatismo
0
0
0
0
1
0
Bronquite asmática e
reumatismo
0
0
0
1
0
1
Doença de foro
neurológico
0
1
0
0
0
0
Osteoporose
0
0
3
0
2
0
Osteoporose, Diabetes e
Epilepsia
0
0
0
0
1
0
Má circulação do sangue
0
0
0
0
1
0
Diabetes e hipertensão
0
0
1
0
0
1
Problemas de intestinos
0
0
0
0
0
2
Depressão
1
0
1
2
1
0
Hipertensão e Problemas
renais
0
0
0
1
0
0
Diabetes e Osteoporose
0
0
0
0
1
0
Prótese no braço
0
0
1
0
0
0
Problemas renais
0
1
0
0
2
0
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
237
Qualidade de Vida dos Seniores
Osteoporose, rinite
alérgica e artroses
0
0
1
0
0
0
Osteoporose e doença no
coração
0
0
1
0
1
1
Problemas de bexiga,
vesícula e intestinos
0
1
0
0
0
0
Problemas nervosos
0
1
0
0
1
0
Sequelas de AIT
0
1
0
0
0
0
Artroses
1
0
0
0
0
1
Doenças de coluna
0
1
0
0
0
0
Osteoporose, Problemas
nos intestinos e úlceras
nervosas
0
0
0
0
2
0
Problemas da próstata
1
1
0
0
0
0
Problemas de visão
0
0
0
1
0
3
Problemas de coração
0
0
1
1
0
1
Sequelas de AVC e
insuficiência renal
0
0
1
0
0
0
Angina de peito
0
0
0
0
0
0
Osteoporose e
insuficiência renal
0
0
1
0
0
0
Problemas de visão,
bexiga e pulmões
0
0
0
1
0
0
Cancro da mama e
problemas de vesícula
0
0
0
1
0
0
Angina pulmonar
0
0
0
0
0
1
Não especificou
0
2
0
0
1
1
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
238
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 17 – Relação do tipo de doença com o tempo com que sofre da mesma e regime de tratamento aplicado.
Regime de tratamento
Tipos de
doenças
referidos
Tempo com que sofre da doença
> /= 5
>/= 10
>/= 1 ano
anos e <
anos e <
</= 20
e < 5 anos
anos
10 anos
20 anos
0
0
1
0
Parkinson
Internamento
0
Consulta
Externa
1
Sem
Tratamento
0
> 1 ano
0
Diabetes
0
3
0
0
2
1
0
0
0
Hipertensão
0
3
0
0
0
1
1
1
0
Problemas de estômago
0
7
0
0
2
1
1
3
0
Problemas de Bexiga
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Parkinson e diabetes
0
2
0
0
0
0
1
1
0
Problemas de tiróide
0
0
1
0
1
0
0
0
0
Bronquite asmática
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Reumatismo
0
1
0
0
0
0
0
1
0
Bronquite asmática e
reumatismo
0
2
0
0
0
0
1
0
1
Doença de foro
neurológico
0
1
0
0
1
0
0
0
0
Osteoporose
0
5
0
0
0
3
0
2
0
Osteoporose, Diabetes e
Epilepsia
0
1
0
0
0
0
0
1
0
Má circulação do sangue
0
1
0
0
0
0
0
1
0
Diabetes e hipertensão
0
2
0
0
0
1
0
0
1
Problemas de intestinos
0
2
0
0
0
0
0
0
2
Depressão
0
4
1
1
0
1
2
1
0
Hipertensão e Problemas
renais
0
1
0
0
0
0
1
0
0
Diabetes e Osteoporose
0
1
0
0
0
0
0
1
0
Prótese no braço
0
1
0
0
0
1
0
0
0
Problemas renais
0
3
0
0
1
0
0
2
0
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
Não
especifica
0
239
Qualidade de Vida dos Seniores
Osteoporose, rinite
alérgica e artroses
0
1
0
0
0
1
0
0
0
Osteoporose e doença no
coração
0
3
0
0
0
1
0
1
1
Problemas de bexiga,
vesícula e intestinos
0
1
0
0
1
0
0
0
0
Problemas nervosos
0
1
1
0
1
0
0
1
0
Sequelas de AIT
0
1
0
0
1
0
0
0
0
Artroses
0
2
0
1
0
0
0
0
1
Doenças de coluna
0
1
0
0
1
0
0
0
0
Osteoporose, Problemas
nos intestinos e úlceras
nervosas
0
2
0
0
0
0
0
2
0
Problemas da próstata
0
2
0
1
1
0
0
0
0
Problemas de visão
0
2
2
0
0
0
1
0
3
Problemas de coração
0
3
0
0
0
1
1
0
1
Sequelas de AVC e
insuficiência renal
0
1
0
0
0
1
0
0
0
Angina de peito
0
1
0
0
0
0
0
0
0
Osteoporose e
insuficiência renal
0
1
0
0
0
1
0
0
0
Problemas de visão,
bexiga e pulmões
0
1
0
0
0
0
1
0
0
Cancro da mama e
problemas de vesícula
0
1
0
0
0
0
1
0
0
Angina pulmonar
0
1
0
0
0
0
0
0
1
Não especificou
0
2
1
0
2
0
0
1
1
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
240
Qualidade de Vida dos Seniores
Tabela 18 – Distribuição da forma de administração do questionário por
freguesia.
Freguesia
Forma de
Auto-administrado
Administração
Assistido pelo
do
entrevistador
questionário
Administrado pelo
entrevistador
Portimão
Alvor
Mexilhoeira
Grande
19
0
0
10
0
0
91
18
17
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
241
Qualidade de Vida dos Seniores
Anexos 2
Modelo do WHOQOL-Bref e
Questionário sócio-demográfico
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
242
Qualidade de Vida dos Seniores
Questionário Sócio-Demográfico
O presente questionário é parte integrante do trabalho de mestrado em Serviço Social no Instituto
Superior Miguel Torga que pretende avaliar a qualidade de vida dos idosos nas freguesias de
Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande. Divide-se em dois grupos, em que, um se refere à identificação
dos inquiridos e o outro à participação social dos mesmos nas actividades de carácter lúdico-cultural,
desenvolvidas, ou não, pelo município.
Pede-se a sua colaboração através da resposta às questões do presente questionário, realçando que
não existem respostas correctas ou erradas, elas reflectem unicamente a sua opinião. Assinale cada
resposta com uma cruz X. Em caso de dúvida, responda o mais próximo possível da realidade.
A confidencialidade das respostas é totalmente assegurada pelo investigador e os dados obtidos servirão
unicamente para os fins da investigação.
Muito obrigado pela sua participação.
1. Dados relativos à identificação do inquirido.
E
Indique o n.º pessoas que coabitam consigo
F
Indique o n.º filhos
G
Indique o rendimento mensal per capita
Inferior a € 200
Entre € 200 e €300
Entre €300 e € 400
Entre € 400 e € 500
Mais de € 500
H
Indique a(s) sua(s) fonte(s) dos rendimentos
(pode assinalar uma ou mais respostas,
dependendo da sua realidade económica, isto é,
se aufere rendimentos de mais de uma fonte)
Pensão por Velhice
Pensão por Invalidez
Pensão de Sobrevivência
Outra(s):
Se respondeu Outra(s), indique quais.
_____________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
243
Qualidade de Vida dos Seniores
2. Dados relativos à participação social do inquirido.
I
Já participou nas actividades promovidas pela Câmara Municipal de
Portimão ou pela sua Junta de Freguesia?
Sim
Não
Se sim, quais?
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
Se não, porquê?
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
J
Sente-se isolado?
Sim
Não
Se sim, porquê?
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
Se não, porquê?
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
K
Sente-se satisfeito com as actividades e serviços que existem na sua zona
de residência? Pensa que elas vão ao encontro das suas necessidades e
Sim
expectativas?
Não
Se sim, porquê?
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
Se não, porquê?
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
L
Com que frequência vai a Portimão?
Só em casos excepcionais
1 Vez por mês
1 Vez semana
3 Vezes por semana
Todos os dias
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
244
Qualidade de Vida dos Seniores
M
Quais os serviços que mais procura?
Segurança Social
Hospital
Câmara Municipal
Finanças
Tribunal
Outros
Se respondeu Outros, indique quais.
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
N. O que acha que faz falta na sua freguesia?
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
Obrigado pela sua colaboração.
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
245
Qualidade de Vida dos Seniores
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
246
Qualidade de Vida dos Seniores
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
247
Qualidade de Vida dos Seniores
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
248
Qualidade de Vida dos Seniores
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
249
Qualidade de Vida dos Seniores
Anexos 3
Dados do INE
Censos 2001
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
250
Qualidade de Vida dos Seniores
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
251
Qualidade de Vida dos Seniores
Dissertação de Mestrado em Serviço Social
252