CANTATAS E TONOS PARA O DIVINO (1638-1747)
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CANTATAS E TONOS PARA O DIVINO (1638-1747)
CANTATAS E TONOS PARA O DIVINO (1638-1747) A música sacra nas festividades dos mosteiros espanhóis do Barroco “As cantatas que hoje em dia se ouvem nas igrejas são, relativamente à forma, as mesmas que ressoam nos cenários. Todas são compostas por minuetes, recitações, árias, allegros, e no último por aquilo a que chamam Grave; mas disso muito pouco, para não prejudicar. Não deveria ser a composição apropriada para infundir gravidade, devoção e modéstia? [...] Quem ouve no órgão o mesmo minuete que ouviu numa festa, o que mais pode fazer, salvo lembrar-se da senhora com quem dançou na noite anterior?” Assim se queixava o padre Feijoo, em 1726, sobre a irrupção nas igrejas e mosteiros de um género originalmente profano como a cantata. O mesmo sucedeu durante o século XVII com os tonos, inicialmente humanos ou profanos e posteriormente divinos. Tanto nas cantatas como nos tonos, as melodias não se diferenciavam, o único que mudava era o texto. Imediatamente proliferaram cantatas ao Santíssimo, ao Natal e a outras festividades litúrgicas. As cantatas foram adotadas rapidamente pela ordem de S. Jerónimo, como testemunham as 117 obras conservadas nos mosteiros de Guadalupe e de El Escorial. Não é de estranhar esta situação, dada a estreita relação da ordem com a coroa, reflexo dos costumes mundanos. Em El Escorial a Corte passava dois ou três meses por ano nas denominadas “Jornadas”. Durante esses meses o contacto entre os músicos do Rei e os monges era muito direto, com recitais nas próprias celas. O presente concerto pretende mostrar como os tonos ou as cantatas foram amplamente adotados pelas instituições religiosas, em geral, e pela ordem de S. Jerónimo, em particular, durante a Espanha dos séculos XVII e XVIII. A introdução destes géneros no âmbito do divino significou certamente uma lufada de ar fresco numa liturgia tradicionalmente dominada pelo cantochão e pelos modelos mais austeros de polifonia. CANTATAS E TONOS PARA O DIVINO (1638-1747) A música sacra nas festividades dos mosteiros espanhóis do Barroco Francisco Correa de Arauxo (1584-1654) Tiento Juan Hidalgo (1614-1685) Cuatro tonos al Santísimo Sacramento “Aves que al sol despetais” “Amor sin zegar” “Flores qu al alba” “Ay, corazón amante” Bartolomé de Selma y Salaverde (1638) Fantasía para bajo Sebastián Durón (1660-1716) Cantada al Santísimo y de Pasión Recitação: “Ay de mi” Ária:”Consiga, afligido” Recitação:”Mas, Ay que aunque el dolor” Tomás de Torrejón y Velasco (1644-1728) “Luceros: volad, corred” Francisco Correa de Arauxo Tiento Sebastián Durón Tono al Santísimo:”¡Fuego,agua!” Gaspar Sanz (1640-1710) Folías – Jácaras Sebastián Durón Solo de Navidad: “Vaya pues rompiendo el aire” Antonio Literes (1673-1747) Cantada al Santísimo Recitação:”Alienta humano desvelo” Ária:”Logre, logre tu ser” Recitação:”Cielos, como es capaz” Ária:”Ay como asciende el pecho más fiel” Recitação:”Felice aquel que llega” Minuete:”Amele dulce afecto” Recitação:”Mas ay del pecho humano” Grave:”Cielos, planetas,estrellas” Camerata Iberia Erika Escribá-Astaburuaga, soprano Jordi Comellas, viola de arco Juan Carlos de Mulder, arquialaúde e viola de cinco ordens Ignasi Jordà, órgão positivo Erika Escribá-Astaburuaga Estudou canto no Conservatório Superior de Valência, cidade onde nasceu. Aperfeiçoa a sua formação com Ernesto Palacio, Ileana Cotrubas e é selecionada pela Accademia Santa Cecilia di Roma sob a direção de Renata Scotto. Obtém uma bolsa de l´Academie Musicale de Villecroze, onde frequenta cursos com Dalton Baldwin e Lorraine Nubar, bem como uma especialização em ópera barroca sob a direção de Christophe Rousset. Vencedora de concursos internacionais em Espanha e França, debutou na ópera com o papel de Manon de Jules Massenet. Em 2009, é Norina no Teatro Real de Madrid na ópera Don Pasquale de Donizetti. O seu repertório abrange desde a música antiga até aos compositores contemporâneos com predileção pela melodia francesa, os lieder, a canção espanhola, o repertório barroco, a zarzuela barroca e a ópera francesa e italiana. Em 2009, interpreta árias de Mozart sob a direção de Christophe Rousset e realiza uma tournée de concertos com Les Talens Lyriques cantando as Leçons de Ténèbres de Marc-Antoine Charpentier na Chapelle Royale de Versailles, no Festival Bilbau Ars Sacrum, na Semana de Música Religiosa de Cuenca e no Wigmore Hall de Londres. Em 2011, o seu trabalho leva-a a interpretar novamente o papel de Norina de Don Pasquale. Junto de Orhan Memed interpreta árias de ópera italiana em Paris e canta como solista convidada em Valência e Peníscola. No Festival “Juliol Musical al Monestir Valldigna 2011” canta Les chemins de l’amour, recital de música espanhola e melodia francesa acompanhada pelo pianista Carlos Apellániz. Com o grupo Capella de Ministrers interpreta a Tomás Luis de Victoria e com Les Talens Lyrique, sob a direção de Christophe Rousset, é solista nas Histoires Sacrées de Giacomo Carissimi e Charpentier no Festival Oude Muziek Utrech 2011. Erika Escribá-Astaburuaga realizou diversas gravações com grupos como Collegium Instrumentale, a Orquesta la Dispersione, a Jovem Orquestra Nacional de Espanha, sob a direção de Manuel Galduf, e com Capella de Ministrers. Foi precisamente com Capella que gravou recentemente “Canticus Nativitatis Domini”, em comemoração do IV centenário da morte de Tomás Luis de Victoria. Jordi Comellas Nasce em Manresa, mas muda-se cedo para Mataró onde se inicia na música pela mão de Lluís Carbó. Estuda viola da gamba nos Conservatórios de Madrid e Barcelona com Pere Ros. Amplia os seus estudos em Roma com Paolo Pandolfo e tem aulas com Guido Balestracci, Wieland Kuijken e com Vittorio Ghielmi, entre outros. Foi membro do trio Unda Maris, galardoado na Mostra Nacional de Música de Câmara de 1989. Membro habitual de Capella de Ministrers, trabalha em dueto com o alaudista alemão Andreas Martin. Colaborou com músicos e grupos como Magdalena Kozená, Ottavio Dantone, Fabio Biondi, Jaap Schröder, Paul Leenhouts, Lorenz Duftschmid, Federico Maria Sardelli, La Folía, Camerata Iberia e Orphenica Lyra, entre outros. Deu concertos na Europa, América e África em espaços e festivais importantes. Participou na gravação de inúmeros discos compactos, alguns deles premiados com os galardões mais conceituados (Diapason D’Or, Choc du Monde de la Musique, 5 estrelas Goldberg ou FF de Télérama). Exerce a docência como professor de viola da gamba do CIM “Padre Antonio Soler” de San Lorenzo de El Escorial. Paralelamente à sua atividade concertista e pedagógica, Jordi Comellas escreveu artigos e deu conferências sobre música Antiga e viola da gamba. É membro fundador do grupo Hippocampus, com o qual gravou pela primeira vez a integral de sonatas a trio para violino, viola da gamba e contínuo de Johann Philipp Krieger para a discográfica Arsis, com a qual editou também pela primeira vez as Sonatas Prussianas para viola da gamba de Carl Friedrich Abel (4 estrelas Ritmo). Juan Carlos De Mulder Nasce em Lima e estuda nos conservatórios de Madrid, La Haia e Toulouse. Trabalhou como continuo em produções de ópera barroca e oratório sob a direção de Ph.Herrewege, J.C. Malgoire, Nigel Rogers, Jordi Savall e Eduardo López Banzo, entre outros. Na área da música de câmara colaborou com Albicastro Ensemble, Hesperion XX, La Romanesca-Orphenica Lyra. Atualmente, colabora com grupos como Speculum, Al Ayre Español, La Folía, Músicos del Buen Retiro, Trulla de Voces ou com Capella de Ministrers. Compôs música para a Companhia Nacional de Teatro Clássico (El Misántropo de Molière, La Vida es Sueño de Calderón e Una Noche con los Clásicos com Adolfo Marsillach) e deu recitais de poesia e música com Carlos Hipólito, Arturo Querejeta, M. Jesús Valdés, Adolfo Marsillach e Amparo Rivelles. Atualmente, combina o seu trabalho em diversos grupos de câmara com a Direção do grupo Camerata Iberia, com o qual gravou Songs and Dances from the Spanish Renaissance (M A recordings), Música en torno al teatro de Calderón (Jubal), Barroco del Perú (Alma records) e La Spagna (Verso). Como solista de viola de arco gravou El Maestro-Luys Milán (RTVE), Fantasías y Diferencias (Fonti musicali) e Diego Pisador (Verso). Deu aulas nas universidades de Salamanca, Valência e México DF. Foi professor de instrumentos antigos de corda pulsada no Real Conservatório Superior de Música de Madrid, entre 2004 e 2008. Atualmente, é professor convidado na Academia de Música Antiga da Universidade de Salamanca. Ignasi Jordà Cravista e organista nascido em Alcoi (Alicante). Inicia os seus estudos musicais em Valência, com oito anos de idade, interessando-se posteriormente pela interpretação da música antiga em teclados históricos. Recebe uma bolsa de estudos da Generalitat Valenciana por três ocasiões, e assiste às aulas de Jan Willem Jansen no Conservatoire de Toulouse e, após obter o diploma de conclusão dos estudos, estuda com Pierre Hantaï em Paris. Deu recitais em festivais de música antiga como “El Sonido Vivo”, de Castela e Leão, Juventudes Musicais, de Menorca, Nits de la Mediterràmia, de Altea, Festival de Música Antiga, de Santiago de Compostela, Festival de órgão “José de Sesma”, em Zaragoza e no Festival de Música Sacra, de Valência. Colabora com prestigiosos grupos como “Capella de Ministrers”, “Musica Ficta”, “Ensemble L´Amoroso”, “Musica Reservata de Barcelona”, “Turiae Camerata”, “La Dispersione”, “Collegium Instrumentale”, “Ministriles de Marsias”, “Orquestra de Cadaqués”. Gravou mais de trinta cds, a maioria com o grupo “Capella de Ministrers”, para selos discográficos como Cantus, Enchiriadis, Auvidis, CDM ou La mà de Guido, alguns deles premiados com galardões como “10 de Répertoire” ou “5 estrellas Goldberg”. Foi professor de clave e contínuo do curso de verão “Camino de Santiago: Cánticos, Cantigas y Cantos” nas suas sete edições e do “Festival Internacional de Música Antiga de Solsona” e correpetidor da aula de canto do “Curso internacional de Música Antigua de Daroca”. É atualmente o responsável pela cátedra de clavicórdio no Conservatório Superior “Salvador Seguí” de Castellón, é DEA pela Universidade de Valência e está a preparar uma Tese Doutoral sobre os recursos interpretativos no clavicórdio.
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