Viagem à Costa Rica

Transcrição

Viagem à Costa Rica
foto-aventura
T E X TO E F O TO S : M AU R Í C I O M ATO S
Viagem à Costa Rica
Quando compramos um carro novo damos um passeio maior e dizemos que
fomos fazer a “rodagem”. Ora, então quando se compra uma câmara nova fazse o quê? Viaja-se até outro continente para fazer a rodagem do novo equipamento? Foi isso que fez o nosso viajante de eleição, Maurício Matos, que partiu
rumo à Costa Rica para experimentar a sua nova Leica.
Leica M9 . 1/64” . ISO 160
Latitude: 10,471495º N
Longitude: 84,758823º W
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foto-aventura
T E X TO E F O TO S : M AU R Í C I O M ATO S
Leica M9 . 0,5” . ISO 160
Latitude: 9,624416º N
Longitude: 85,09717º W
“E
sta foi a minha segunda visita à Costa Rica mas, na prática,
foi a primeira vez que vi o país com olhos de ver. Na primeira ocasião em que lá estive a estadia foi muito breve e
não tive muito tempo para perceber como eram as coisas. Estes 10
dias que lá passei, e nos quais percorri 2200 km de carro, deixaramme com uma ideia muito mais concreta em relação ao país e às pessoas.
Para começar, tive bastante sorte com o tempo. Arrisquei ir numa
época em que muitas vezes chove, algumas dessas vezes uma chuva
torrencial, como ficou provado poucos dias depois de eu voltar, quando aconteceu uma tempestade que até pontes levou. No entanto, e no
período em que eu lá estive, o tempo esteve geralmente bom e só tive
chuva no final da minha viagem, quando já não me atrapalhou
muito.
Apesar disto, e para quem estiver a pensar visitar, nada como ir em
dezembro, janeiro ou fevereiro, quando o tempo bom é garantido. A
parte má é que é época alta e os preços sobem consideravelmente. E
por falar em preços, a Costa Rica não é um desses países baratos onde
se pode passar muito tempo com pouco dinheiro, pelo menos para
quem quiser ficar em hotéis bons ou com um mínimo de qualidade.
Também os restaurantes não são propriamente baratos, pelo menos
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nos locais mais turísticos, que foi onde eu andei. O preço da gasolina
é igualmente alto. Não tão alto como em Portugal mas não fica tão
longe assim.
Sendo a Costa Rica um país pequeno, funciona um pouco como
Portugal. É possível, num dia, atravessar o país de um lado ao outro. É
possível acordar numa qualquer praia do Oceano Atlântico e ir ver o
pôr do sol numa praia do Oceano Pacífico. O estado das estradas é, em
alguns locais, miserável… muito especialmente na Península de
Nicoya. Além disso, e devido ao perfil dessas estradas, as distâncias
enganam um pouco. Mesmo aquelas estradas que são boas, têm um
perfil sinuoso, devido à geografia do país. E visto que quase não existem estradas com duas faixas em cada sentido, é mesmo muito complicado ultrapassar, em especial nas zonas onde existem as grandes
plantações de bananas, que são altamente frequentadas pelos
camiões que as transportam.
Apesar disto, é muito simples conduzir na Costa Rica, embora aconselhe a utilização de um GPS para encontrar facilmente os locais a
visitar. No meu caso utilizei um mapa para aparelhos Garmin e funcionou na perfeição. Relativamente a documentos, a Carta de
Condução portuguesa é tudo o que é preciso, juntamente com o passaporte… e sei isso por experiência própria porque fui mandado parar
Leica M9 . 1/1000” . ISO 160
Latitude: 9,808084º N
Longitude: 84,90311º W
pela polícia mais do que uma vez.
Em relação à beleza natural do país, penso que é visível nas fotos
que tirei, embora eu me tenha concentrado especialmente nas praias,
que foi onde passei a maioria do tempo. E as praias são muitas, divididas pela costa do Atlântico e do Pacífico. Daquilo que visitei, gostei
mais do lado do Pacífico.
E além das praias, existem os vulcões. São vários mas a jóia da
coroa é o Vulcão Arenal. Desta vez, e ao contrário do que aconteceu
na minha primeira visita, consegui vê-lo e fotografá-lo, embora apenas por uns minutos. É preciso, de facto, ter alguma sorte para ter
uma visão perfeita de todo o cone do vulcão. Já os vulcões Poás e
Irazú, nada! Apenas nevoeiro. Acontece. Existem ainda os diversos
parques nacionais, com inúmeros quilómetros quadrados de floresta
tropical, onde se pode observar um enorme número de espécies de
fauna e flora.
Leica: “Fotografar menos, mas
melhor”
Poucas semanas antes desta minha viagem, tomei uma decisão
drástica e arriscada em relação ao meu equipamento. Resolvi trocar
as minhas DSLR por um par de Leicas. Foi uma mudança radical que
envolvia muito mais do que uma simples troca de máquinas e objetivas.
Representava uma mudança completa na forma de fotografar.
Agora, algumas semanas passadas, posso dizer com toda a certeza
que a adaptação foi boa. A viagem foi um sucesso e estou muito
satisfeito com as fotos que trouxe comigo. Como sempre digo, qualquer câmara é uma solução de compromisso: não há nenhuma que
seja perfeita. Houve momentos em que senti a falta das minhas
Canon, fosse pela focagem automática, fosse por ser à prova de
chuva. No entanto, foram muito mais os momentos em que agradeci
o facto da Leica ser uma câmara pequena, compacta… um prazer de
usar.
Vou começar por referir os aspetos mais chatos na utilização das
Leica em fotografia de viagem. Afinal de contas, o tipo de fotografia
que mais faço e que mais prazer me dá. Em primeiro lugar, e aquilo
que mais me incomoda na Leica, é a sujidade no sensor, coisa à qual
já não estava habituado há uns anos. As M9 e M8 não têm qualquer
sistema de limpeza de sensor, comum hoje em dia em qualquer
DSLR… e no meu tipo de fotografia, que usa essencialmente aberturas
pequenas, qualquer partícula de pó se torna visível. Esperemos que
esta questão possa ser resolvida em futuras versões da máquina.
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Leica M9 . 1/180” . ISO 160
Latitude: 9,624478º N
Longitude: 85,15075º W
O LCD da máquina é simplesmente ridículo. É
ria se fosse uma 1D, mais 3 ou 4 objetivas L.
inadmissível que uma máquina de quase 6000
A qualidade é também visível. Em relação ao corpo
euros tenha um LCD tão fraco. A mim não me faz
das Leica, é aquela sensação de estar a fotografar com
grande diferença porque não sou muito de avaliar
uma obra de arte. Construção primorosa, sem falhas.
as fotos pelo LCD. Mas para quem tem o hábito de o
Simplesmente nada a apontar (tirando o LCD, do qual já
fazer, é uma tragédia. Simplesmente o elo fraco da
falei). Uma peça que, simplesmente pelo seu estilo,
Leica M9 (e da M8 também).
aumenta o prazer de fotografar. O facto de estar a fotoOutro problema que surge quando se fotografa
grafar com uma máquina diferente também dá um
com uma ‘rangefinder’ é a utilização de filtros, em
certo prazer. Sim, para mim é tão importante o prazer
especial filtros polarizadores, que eu tanto uso. Ao
que tenho a usar uma máquina como a qualidade das
olhar pelo visor de uma Leica, não se tem o feedimagens que esta produz.
back do filtro, visto que não se está a olhar através
Já em relação às objetivas Zeiss, que são a minha
Leica M9
da objetiva como numa DSLR. Assim sendo não se
escolha devido ao preço absurdo das Leica, a qualidade
Leica M8
consegue perceber qual o efeito que o filtro está a
que já esperava tendo em conta o que conhecia delas.
ter na imagem.
Ótima
construção, nítidas, compactas.
Objetivas:
Existem basicamente duas soluções para isso.
A respeito das fotos que saem da M9, do melhor que
Zeiss 21mm f/2.8 Biogon T* ZM
Uma, a minha preferida, é usar filtros que tenham
já vi. Fotos nítidas, ricas em cores, com muito menos
Zeiss 28mm f/2.8 Biogon T* ZM
marcas, caso dos Heliopan, e ter um na lente e um
necessidade de edição, mesmo fotografando em RAW,
Zeiss 50mm f/1.5 C Sonnar T* ZM
na mão. Rodar o da mão e olhar através dele e,
coisa que sempre faço. Fotos que podem ser impressas
Zeiss 85mm f/4 Tele-Tessar T* ZM
quando o efeito for o desejado, ver a marca e colocar
em tamanho enorme, mantendo a qualidade.
Site http://www.mauriciomatos.com
o filtro que está na lente na mesma posição. Sim, é
O facto de ser obrigado a lidar com a focagem
chato… nada prático. A outra solução é simplesmenmanual faz-me fotografar menos, mas melhor. Esta é a
te ir rodando e ir tirando diferentes fotos até obter a
sensação com que fiquei. Tiro menos fotos mas aproveidesejada.
to mais das que tiro. Faz-me também fotografar de forma diferente,
O facto da máquina também não ser resistente a chuva ou pó limioptar por coisas diferentes, e também me impede de tirar certas
ta um pouco as condições em que podemos fotografar, especialmente fotos. Mas é algo que eu já sabia quando fiz esta opção. No entanto,
tendo em conta o custo e o medo que temos de danificar a câmara de
não são as fotos que não se tiram que importam… o que realmente
alguma forma. De certeza que não fotografava com a Leica em alguimporta são aquelas que se tiram e a qualidade com que ficam.
mas das condições que cheguei a fotografar com a 1D Mark IV.
Em conclusão, as Leicas M9 e M8 não são máquinas perfeitas.
Em relação a coisas menos positivas, estamos conversados. E os
Nenhuma é. Tem os seus problemas, as suas falhas, mas é provavelaspetos que mais me agradaram? Bem… em primeiro lugar a razão
mente a máquina com a qual tive mais prazer em fotografar até hoje.
principal pela qual eu fiz a troca. Equipamento mais leve, mais comNão vou dizer que vão ser as minhas máquinas no longo prazo, porpacto, mais “user friendly”.
que hoje em dia o mundo da fotografia muda quase de um dia para o
E, após estes 10 dias na Costa Rica, posso dizer que de facto é um
outro. Não se sabe o que aí vem.
prazer fotografar com estas câmaras. Um pequeno saco é suficiente
Mas, atualmente, não há nenhuma outra máquina que eu preferispara levar um corpo com uma objetiva e duas ou três objetivas mais.
se ter. É tão simples como isso.” !
Z
Algo que não pesa e não incomoda da mesma forma que incomoda-
Na mala
de viagem...
Leica M9 . 1/750” . ISO 160
Latitude: 9,6518º N
Longitude: 85,1736º W
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