texto nubea rodrigues xavier para anais do 1º congresso
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As meninas na literatura latino-americana: uma leitura sobre gênero Nubea Rodrigues Xavier1 Eixo temático: Educação, gênero, sexualidade e laicidade Categoria: Comunicação Oral Resumo: O artigo refere-se a um recorte da pesquisa de doutorado do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação/FAED, da Universidade Federal da Grande Dourados/UFGD sob a orientação da profª Dra. Magda Sarat. Tem como objetivo analisar a escrita de autoras da América Latina que discorram sobre suas memórias infantis sob a perspectiva de formação familiar e instrução informal, averiguando quais elementos demarca a categoria gênero, a partir da produção dessas autoras. Como procedimentos metodológicos, se pautará num estudo sociocultural acerca do campo literário, obtendo os vestígios de uma infância, em que a criança será colocada como personagem principal, buscando definir como foi sendo elaborada essa infância em meio às normas, regras e formalizações de direitos e deveres de uma sociedade. Como embasamento teórico, serão utilizadas as obras de Faria Filho (2004), Sarmento e Gouvea (2008) para compreender as infâncias existentes. E para a análise de comportamentos e a formação social, se apoiará nos estudos sociais de Bourdieu (2002) e Elias (1994a; 1994b), objetivando compreender como o afastamento e distinção entre adulto e infantil foi sendo elaborada em ambiente familiar, num processo de longa duração. A pesquisa buscará compreender as características de uma escritura feminina a partir da formação dos comportamentos infantis ocorridos em países como Brasil, Argentina e Uruguai em início do século XX. Como resultados esperados, almeja-se obter as aproximações e distanciamentos entre as infâncias dos três países analisados, por meio das transformações sociais e culturais, obtidas na formação do indivíduo, compreendendo como os dispositivos de individualização, habitus social e dominação masculina, foram utilizados na formação dessas crianças. Palavras-chave: Infância. Gênero. Literatura. Introdução Neste artigo, realizaremos um estudo sobre a escrita de três autoras latino-americanas, Cecília Meireles do Brasil, Norah Lange da Argentina e a uruguaia Juana Ibarbourou, com suas obras memorialísticas produzidas em início do século XX, com o objetivo de compreender como a criança deste período histórico-social foi sendo elaborada e formatada, a partir de 1 Aluna regular de doutorado do programa de Pós-graduação em Educação/FAED/UFGD e pesquisadora do Grupo de Pesquisa Educação e Processo Civilizador/GPEPC. Professora efetiva da Rede Estadual de Ensino/SED/MS. 2 características peculiares como, também, díspares em relação à composição de maneiras e comportamentos descritos a elas. Para isso, buscaremos como elementos de análise, os comportamentos infantis e sua formação a partir de seu convívio familiar e de instrução informal, nos propondo a compreender como ocorreu o processo de civilização dos costumes, pulsões e hábitos infantis, através da diferenciação entre meninos e meninas. Para a análise de gênero acerca da escrita feminina, nos pautaremos em Foucault (1992), e, no âmbito sociológico, Bourdieu (1998) e Elias (1994a; 1994b) com o intuito de compreender como a formação da mulher, foi sendo disposta, a partir das maneiras, hábitos e comportamentos numa relação de jogo de poder e de uma definição feita pelo próprio homem que, conforme escreve Colling (2014, p. 38), “[...] constroem a mulher como o Outro, a partir deles mesmos”. Para se pensar em gênero, numa perspectiva da sociologia, Norbert Elias não elaborou nada específico nessa área, mas nos propiciou caminhos para que compreendêssemos as relações de poder que podem ser compreendidas a partir dessa perspectiva, já Bourdieu (2002), também não retrata, especificamente, sobre a questão de gênero, entretanto, apresenta em sua obra, A dominação masculina uma reflexão sobre a uma perspectiva simbólica apresentada pela dominação do homem. Para Bourdieu (2002), a dominação masculina é posta como uma oposição entre homens e mulheres, como uma composição binária, de forma que as qualidades positivas são determinadas aos homens e, as negativas, às mulheres, tal formação, são instituídas pela própria família, escola, igreja, Estado entre outros. Foucault (1979), por sua vez, compreende a mulher é elaborada a partir de um discurso masculino que foi culturalmente e historicamente produzido ao longo do tempo, de maneira que tal produção, propiciam à mulher, uma atuação secundária, menor ou de invisibilidade no processo histórico-social: A mulher, como o homem, é algo produzido e não pode indagar ao fundo de si para resgatar sua essência. Não existe a 3 verdadeira mulher, pois “verdadeira” e “mulher” são conceitos criados, portanto, aparências, superfícies, produções. Sob os conceitos, não há nada que possa ser chamado mulher, somente relações de poder e hierarquia socialmente construídas (COLLING, 2014, p. 27). Para Elias (1998), as particularidades da cada criança e a sua existência concreta foram constituídas na sociedade, de forma que os distanciamentos existentes entre o adulto e a criança, nos diferentes períodos de vida, tenha sido algo necessário e fruto das relações sociais. Buscaremos compreender como a formação da criança a partir de uma escritura feminina foi elaborando uma identidade própria, como o olhar de mulher vai tomando consciência social, como o habitus social2 interfere nas relações de gênero e como as lutas das relações de poder são perpassadas nestas obras literárias. Metodologia Para a análise literária das obras, iniciaremos com a obra de Cecília Meireles, Olhinhos de Gato, obra memorialística, publicada em 1940 constituída de treze capítulos, em que a menina é a própria autora que vai desvendando o mundo curioso de uma criança sensível e inventiva. Seus personagens são compostos pelas pessoas próximas que faziam parte desse convívio. Observamos um tempo psicológico em que a autoramenina compõe sua infância através de um mundo imaginário mesclado com o sentindo real. A menina, órfã de pais, fora criada pela avó e recebia a educação informal, seja pela própria avó, pelas tias, por sua cuidadora, pela cozinheira seu convívio se fazia de ambientes, quase que, unicamente, feminino. 2 De acordo com Bourdieu, o conceito de habitus refere-se a uma interiorização de estruturas objetivas dos indivíduos nas suas condições sociais que se impõem como estratégias ou respostas para a resolução de problemas existentes em seu contexto social. Campo seria uma ferramenta de pesquisa capaz de superar os limites entre a análise externa e interna das estruturas que escapam à ação dos homens. O indivíduo desenvolve estratégias coletivas e individuais sobre as mais variadas situações, de acordo com a sua compreensão sobre formas de vivência, julgamentos políticos, estéticos ou morais. Para Bourdieu, os atores sociais são inseridos em determinados campos sociais, como a cultura, a economia, política, artes, entre outros, dos quais os seus habitus os posicionam na sociedade (BOURDIEU, 1983, p. 184-210). 4 Quando há referência aos meninos, são eles que fazem as travessuras de “meninos, caçadores de borboletas e passarinhos, amarradores de caudas de libélulas e rabos de gato, quebradores de vidraças e apedrejadores de frutas” (MEIRELES, 1983, p. 103). As vozes femininas aparecem com um valor de magia ou de fantasia, não como algo com peso maior, a menina Cecília ouvia as vozes das inúmeras mulheres, mas daquelas vozes das estórias (folclóricas) e das cantigas (populares). Para Foucault (1992), a palavra pode ser o meio de dominação e submissão, em que traz o discurso do inconsciente através da consciência, neste caso, contido na escritura, sendo um reflexo da cultura e das relações de poder, de forma que o papel desempenhado pelos sujeitos é aquele que estará embasado numa ideologia, como podemos observar na definição feita pela crítica literária, a respeito da autora e sua obra, a colocando, exclusivamente, numa posição de inferioridade e subjugação, ao definir que a alma feminina é composta, somente, de afazeres ou objetos do contexto doméstico. A autora argentina, Norah Lange, publica em 1937 a obra Cuadernos de infância, obra pautada no imaginário norueguês e seu contexto feminino, demonstrando seu cotidiano em torno das inúmeras mulheres de seu convívio: suas irmãs, sua mãe, suas professoras e companheiras de sua infância. A autora compõe sua obra, colocando sua família como centro da trama literária, busca compreender a si mesma e sua relação com os familiares; ultrapassa o estereótipo tradicional de uma infância feliz e parte para uma apresentação de um contexto que perpassa sentimentos e situações adversas como a morte, medo, dúvidas, dificuldades e angústias de uma criança. Em um dos trechos da obra, temos uma situação apresentada como natural naquele dado momento histórico de transvestir as meninas em meninos, conforme relata a autora, em um dos seus últimos capítulos, em que sua mãe a fantasiava, de menino e, ela intempestivamente, gritava: “No quiero ser varón” (LANGE, 2005, p. 86). Situação na qual percebemos uma hierarquização do masculino sobre o feminino, ela era vista pela família como àquela com menos características 5 femininas, por ser uma menina que refletia sobre os acontecimentos, não gostava das mesmas brincadeiras das irmãs e que tinhas preferências diferentes às das demais: “Desde muy pequena me gustaba mirar com mucho detenimiento a la gente” (LANGE, 2005, p. 24). Assim, sua família e os adultos que a cercavam a viam como diferente, “no és bonita, pero tiene tan lindo pelo! Parece um varon” (LANGE, 2005, p. 42) a definia dentro de um estereotipo feminino do qual, em que esta não se adequava: Inscrita nas coisas, a ordem masculina se inscreve também nos corpos através de injunções tácitas, implícitas nas rotinas da divisão do trabalho ou dos rituais coletivos ou privados... As regularidades da ordem física e da ordem social impõem e inculcam as medidas que excluem as mulheres das tarefas mais nobres, assinalando-lhes a postura correta do corpo, enfim, em geral tirando partido, no sentido dos pressupostos fundamentais, das diferenças biológicas que parecem assim estar à base das diferenças sociais (BOURDIEU, 2002, p. 34). Podemos dizer que sua obra é permeada de nuances entre as curiosidades, imaginário, sentimentos infantis e a sua relação com o contexto adulto. Sob a perspectiva de gênero, há um embate travado entre o adulto masculino e feminino dispostos pela escrita da autora, sua convivência num espaço, estreitamente de mulheres, demonstram como a imposição e dominação masculina estava explícita nos comportamentos e atitudes das mulheres descritas na obra. Sobre a autora uruguaia, Juana Ibarbourou, temos um relato de uma menina sensível, sonhadora, imaginativa que em meio ao espaço adulto, transpassa sua inventidade de menina, em meio a um cotidiano com carga expressiva religiosa, de contrastes étnico-raciais e de um contexto feminino que a formou enquanto mulher: Sólo Feliciana, mi negra aya, y yo, sabíamos que los ruidos de la noche, dentro de las casas, pertenecen a seres infinitamente pequeños e invisibles que son nuestros servidores mientras no tengamos manchas de maldad en el corazón. Ahora, desde este balcón de siete lustros en que está suspendida mi vida de mujer, contemplo, en el prodigio de este nocturno atrás, plácidos, crédulos, puros. Y vuelvo a recordar las cosas tan amadas, los duendes de mi hogar de Cerro Largo, cuando aun 6 no sabía leer y era muy sabia: el del-hervor-de-la-leche, el del amasijo, los de la costura, la mermelade de membrillos, el pan fresco, la ropa limpia, los dulces del Brasil, las agujas de crochet, los zapatos lustrados, la rueda de la máquina de coser (IBARBOUROU, 1944, p. 127). A obra Chico Carlo, refere-se às memórias de sua infância, delimita o lugar em que viveu, com detalhes ricos sobre as cores, os espaços, cheiros de uma infância feliz. Relata o convívio de uma menina junto às mulheres de um ambiente de tarefas cotidianas, com estímulos para a magia e curiosidade, propiciada por sua mãe, avó e babá negra que potencialmente, alimentou sua imaginação, com suas fábulas de duendes e histórias encantadas. O enredo desta obra é composto das pequenas coisas sem muita importância, como paredes, sons, lugares, além de seu cotidiano e seus animais. Elaboramos assim que o campo literário aja como um espaço de forças que interfere sobre as pessoas que estão em seu interior, sendo de uma maneira diferenciada conforme a posição que este ocupa em seu meio social, o que poderia implicar em certa concorrência. Para Bourdieu (1998), o jogo das linguagens é que suplanta o campo literário, bem como, o simbólico que permite os espaços expressivos que possibilitam com que a obra, quando realizada as duas histórias do qual ela é produto, possam também, as superar (BOURDIEU, 1998, p. 69-70). Resultados e discussão Em Cecília Meireles, na obra Olhinhos de Gato vai nos mostrando que todo o contexto, as pessoas do convívio, as cantigas, as brincadeiras, tudo demonstrava um envolvimento, exclusivamente, feminino. Temos uma descrição de uma formação de menina em meio às histórias contadas por mulheres, por elementos de um contexto doméstico, vinculados às tarefas rotineiras, vinculadas, somente, ao ambiente feminino: Na história das mulheres a dimensão da linguagem, dos discursos, passa a ser a ferramenta de análise importante, agora não mais como meio de representação da realidade. A linguagem não é só vocabulário, mas discurso que numa 7 relação de saber e poder determina verdades e nos subjetiva. Para Foucault, nada há por trás das cortinas. As verdades não estão escondidas, no interior, como se fosse uma cebola ou repolho que vai descascando (COLLING, 2014, p. 36). Ao analisar as três obras literárias nós temos nítida essa percepção acerca da formação da criança em meio à sua família, os locais e ambientes destacados nas memórias das autoras, deixam claro, quais eram os espaços que essas meninas circulavam, sempre junta de outras mulheres, recebiam sua educação por meio de regras, normas, direcionamentos de comportamentos e adequação delas ao meio adulto. As meninas autoras demonstram o quanto o ambiente familiar para a formação da criança se fazia em meio aos afazeres domésticos, aos espaços secundários, ou restritos à maioria das mulheres. Nos Cuadernos de infância, de Norah Lange, percebemos a limitação a alguns espaços: Três janelas dão sobre minha meninice. A primeira corresponde ao escritório de meu pai. Nas poucas vezes em que entramos nesse aposente, sentimo-nos algo intimidadas diante dos móveis severos, de couro frio escorregadio, e das paredes cobertas de planos e mapas de diferentes países. Pressentíamos que ali só se entrava para conversar de coisas sérias ou quando era necessário despedir algum peão, algum servente (LANGE, 2005, p. 19). As regras e direcionamentos aos comportamentos das autoras aparecem com cuidados com a postura, com a escolha das brincadeiras direcionadas às meninas, com os locais da casa em que podiam circular, roupas coerentes, maneiras de se comportar conforme as instruções das familiares de seus convívios. Na obra de Norah Lange, há uma diferenciação de tratamento ao irmão e às demais meninas da casa, de forma que o menino tinha distinção como à mãe e as amas em relação aos seus cuidados. Definimos uma diferenciação entre as escritas das três obras, contudo, aproximações ao que se refere à percepção feminina de contextualizar suas infâncias, contendo nelas uma rigidez à formação da menina em relação ao menino; diferenças entre a instrução tanto formal quanto informal e, os espaços 8 e pessoas destinados à convivência dessas meninas, em que há, repetidamente, a convivência maior em meio às mulheres do que homens. Verificamos que as meninas personagens estavam sempre juntas dos adultos, não havia uma particularidade ou separação para elas, havia regras e normas para modelação de seus comportamentos, sobretudo, quando estavam nos momentos de instrução com preceptoras, familiares ou em ambiente escolar, observamos indícios de que a cobrança acerca de adequação de posturas, emoções e comportamentos eram realizadas com uma maior rigidez e austeridade quando comparadas a outras situações cotidianas. Temos assim, uma mostra de que o processo de separação entre adultos e crianças nestas obras, e a formalização de regras e normas tem maior ênfase, no contexto de instrução pela escola. As crianças personagens apesar da imposição das regras impostas pelos adultos tinham suas maneiras de se impor ou contrapor a essas normas, elas também, transgrediam os modelos determinados e hierarquizados pelos adultos. Não podemos dizer que as crianças agiam totalmente submissas e manipuláveis, há mostras de suas inquietações, embates, tensões nas suas relações como as chantagens emocionais, manipulações e estratégias diversas. Assim, consideramos que as crianças aceitavam facilmente as determinações dos adultos, elas, também, reagiam e se impunham, de acordo com a história da infância, a criança foi sendo adaptada na sociedade por meio do seu processo de aprendizado junto aos adultos, tanto de maneira informal, neste caso, pelo seu convívio familiar, como formalmente, pela escola. Avançando na análise sociológica, podemos dizer que, para Elias (1994b, p. 27), toda criança ao nascer pode ser muito diferente, mas será na sociedade que esta criança se modificará e se tornará mais complexa. Vivemos numa rede de relações, em que as pessoas interagem continuamente, de maneira que a criança não poderia ficar de fora dessa interdependência, participando, produzindo socialmente e culturalmente, seja 9 pelas suas relações familiares ou sociais, já que ela necessita da adaptação do adulto, para inserir-se na sociedade. Acreditamos que tanto adulto quanto a criança intervenham em seu meio. O adulto, por sua vez, desempenhando um controle muito mais intenso sobre a criança, do que propriamente, o inverso. A coibição e a modelação do adulto interferirão nos instintos e emoções naturais das crianças, imprimindo nelas, a marca social e cultural de um determinado período, grupo e contexto. Para Elias (1994b, p. 168-169) o processo de autocontrole do comportamento social e individual, avança de acordo com a civilização, percebendo assim a distância que vai surgindo entre o adulto e a criança, em períodos de vida diferentes, de maneira que, as crianças vão aprendendo, tais mudanças, através das regras e proibições, existentes nas suas relações sociais. As três obras analisadas são compreendidas a partir da citação do qual Bourdieu (2002) faz da obra Passeio ao Farol da romancista Virginia Woolf, ao que concerne à maneira de como as mulheres veem os homens. Bourdieu (2002, p. 31) considera que há uma análise diferente da visão que o homem projeta à mulher, em que esta, a aceita e incorpora, manifestando-a na maneira de se ver como mulher e de como sua visão feminina se dispõe como contraponto da visão masculina, de forma que a mulher vai aceitando tal determinação a partir de sua lucidez, atitude esta que se impõe como um jogo de confirmação ou não dessas expectativas ou desejos sociais impostos aos homens e que se tornam de fato desejo por poder. Inferimos, assim, que a atuação dessas escritoras em seu contexto social-histórico em que suas memórias literárias nos demonstraram que as mulheres situadas no âmbito da reprodução masculina, se impregnaram pelo caráter da voluntariedade, típico do papel das mulheres na visão androcêntrica (BOURDIEU, 2002, p. 112), mas que estas, enquanto autoras utilizaram adequadamente estratégias de reprodução do capital simbólico e social masculino. 10 Nessa formação das meninas, temos uma construção de um habitus social masculino, que se constitui de uma oposição entre homens e mulheres, dos quais, o gênero feminino é apresentado, numa versão de submissão ao masculino. As infâncias das meninas autoras perpassam por uma ludicidade que se compõe de elementos que apequenam, diminuem e formalizam a mulher como ‘o outro’ ser que tende a ser mais frágil, fútil, dependente, sendo que o masculino é aquele que se contradiz a tudo isso e, se impõe, numa relação de saber e poder. 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