Jornal da Casa / Casa do Brasil

Transcrição

Jornal da Casa / Casa do Brasil
# 24 – julho 2013
Boca no trombone
JMJ leva 2 milhões de pessoas ao Rio
Denver – Estados Unidos (1993), Manila –
Filipinas (1995), Paris – França (1997),
Roma – Itália (2000), Toronto – Canadá
(2002), Colônia – Alemanha (2005), Sidney –
Austrália (2008) e Madri – Espanha (2011).
A
Jornada Mundial da Juventude (JMJ),
que será realizada de 23 a 28 de julho
na cidade do Rio de Janeiro, é tida
como o "maior evento católico do mundo" e
vai levar cerca de 2 milhões de fiéis à cidade,
interessados tanto em ver o papa Francisco
ao vivo, em sua primeira viagem
internacional, quanto em participar da
peregrinação, que acontece desde os anos
1980.
As JMJ tem sua origem em grandes encontros
com os jovens celebrados pelo Papa João
Paulo II em Roma. O Encontro Internacional
da Juventude, por ocasião do Ano Santo da
Redenção aconteceu em 1984, na Praça São
Pedro, no Vaticano. Foi lá que o Papa
entregou aos jovens a Cruz que se tornaria
um dos principais símbolos da JMJ,
conhecida como a Cruz da Jornada. O ano
seguinte,
1985,
foi
declarado
Ano
Internacional da Juventude pelas Nações
Unidas. Em março houve outro encontro
internacional de jovens no Vaticano e no
mesmo ano o Papa anunciou a instituição da
Jornada Mundial da Juventude.
A primeira JMJ foi diocesana, em Roma, no
ano de 1986. Seguiram-se os encontros
mundiais: em Buenos Aires – Argentina
(1987), Santiago de Compostela – Espanha
(1989), Czestochowa – Polônia (1991),
A cruz da JMJ ficou conhecida por diversos
nomes: Cruz do Ano Santo, Cruz do Jubileu,
Cruz da JMJ, Cruz Peregrina, e muitos a
chamam de Cruz dos Jovens porque ela foi
entregue pelo Papa João Paulo II aos jovens
para que a levassem por todo o mundo, a
todos os lugares e a todo tempo. A cruz de
madeira de 3,8 metros foi construída e
colocada como símbolo da fé católica, perto
do altar principal na Basílica de São Pedro
durante o Ano Santo da Redenção (Semana
Santa de 1983 à Semana Santa de 1984).
No final daquele ano, depois de fechar a
Porta Santa, o Papa João Paulo II deu essa
cruz como um símbolo do amor de Cristo pela
humanidade. Quem a recebeu, em nome de
toda a juventude, foram os jovens do Centro
Juvenil Internacional São Lourenço, em
Roma. Estas foram as palavras do Papa
naquela ocasião: “Meus queridos jovens, na
conclusão do Ano Santo, eu confio a vocês o
sinal deste Ano Jubilar: a Cruz de Cristo!
Carreguem-na pelo mundo como um símbolo
do amor de Cristo pela humanidade, e
anunciem a todos que somente na morte e
ressurreição de Cristo podemos encontrar a
salvação e a redenção”.
Os jovens acolheram o desejo do Santo
Padre. Desde 1984, a cruz da JMJ peregrinou
pelo mundo, através da Europa, além da
Cortina de Ferro, e para locais das Américas,
Ásia, África e Austrália, estando presente em
cada celebração internacional da JMJ. Em
1994, a cruz começou um compromisso que,
desde então, se tornou uma tradição: sua
jornada anual pelas dioceses do país sede de
cada JMJ internacional, como um meio de
preparação espiritual para o grande evento.
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# 24 – julho 2013
Para o padre Geraldo Dondici Vieira, diretor
do Departamento de Teologia da PUC-Rio, o
lema desta JMJ -“Ide e fazei discípulos entre
todas as nações”- é para ser guardado no
coração, refletido e meditado. “Esse tema, de
fazer discípulos, de chamar outros discípulos
para a comunhão e o convívio com o Senhor,
é o tema mais querido do Evangelho de
Mateus. E, na verdade, só faz discípulo quem
já é discípulo, quem convive com o Senhor”,
afirmou o sacerdote.
Nos Atos Centrais, compostos por cinco
eventos principais, estarão reunidos todos os
participantes da JMJ num só lugar,
proporcionando uma incrível experiência de
unidade e diversidade. A Missa de Abertura,
que acontecerá no dia 23 de julho, na Praia
de Copacabana, será celebrada pelo
Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João
Tempesta, e será o único Ato Central sem a
presença do Santo Padre.
No dia 24 começam as catequeses, que
acontecem em 20 idiomas diferentes. Ao
todo serão 133 locais celebrando missas em
português, 50 em espanhol, 25 em inglês, 15
em italiano, 15 em francês, 8 em alemão e 5
em polonês. Também serão realizadas
missas em croata, dinamarquês, esloveno,
euregio (idioma falado em parte da Alemanha
e da Holanda), grego, húngaro, lituano,
romeno, russo, tcheco, ucraniano e árabe.
No dia 25, enfim, os peregrinos dão as boas
vindas ao papa, também na praia de
Copacabana. A cerimônia contará com uma
missa e a apresentação de diversos artistas,
entre eles a cantora Fafá de Belém que
interpretará a canção-tema do Círio de
Nazaré.
No dia 26 terá início a programação de
atividades para os romeiros em Copacabana
com a oração conjunta do terço da
misericórdia. Mais tarde, começará a
apresentação da Via Crucis, que terá 14
estações. Além de Cássia Kiss, que
interpretará a virgem Maria, está confirmada
a participação da apresentadora Ana Maria
Braga e dos atores Murilo Rosa, Eriberto Leão
e Lívia Aragão.
Já no dia 27 acontecem dois dos momentos
mais
esperados
pelos
romeiros:
a
peregrinação e a vigília, que segue
madrugada
adentro
até
missa
de
encerramento, realizada pelo papa Francisco
pela manhã do dia 28 no Campus Fidei, em
Guaratiba, na zona oeste da cidade, palco
principal do evento.
A programação da vigília começa no dia 27
pela manhã com apresentações de bandas e
DJs. Serão 13 shows com cerca de 50
atrações reunidas. Entre os destaques estão
o padre Marcelo Rossi e Luan Santana e a
participação do ator Tony Ramos. A única
forma de acessar o Campus Fidei é a pé. Os
peregrinos terão que caminhar 13
quilômetros por meio de rotas iniciadas nos
bairros de Campo Grande, Santa Cruz e
Recreio dos Bandeirantes, também na zona
oeste. A caminhada é uma tradição da
jornada.
No dia 28, a organização planeja, ainda,
realizar um flash mob gigante com os
peregrinos presentes em Guaratiba como
forma de homenagear o pontífice. Depois da
missa de encerramento, o papa irá anunciar
onde será a próxima Jornada.
Há ainda outras 400 apresentações, entre
shows, vigílias, exposições, recitais, filmes,
peças de teatro e danças realizadas durante
toda a semana em diferentes áreas do Rio de
Janeiro.
# 24 – julho 2013
Cantos com encanto
Um clássico Festival
O
44º Festival Internacional de Inverno
de Campos do Jordão (SP), conhecido
como o maior evento de música
erudita do Brasil, que acontece durante todo
o mês de julho, oferece este ano mais de 60
concertos, incluindo atrações sinfônicas, de
câmera, corais e recitais, que reúnem muitos
dos mais representativos artistas, grupos e
orquestras do Brasil e do mundo.
Na
abertura
houve
três
grandes
apresentações da Orquestra Sinfônica do
Estado de Estado de São Paulo (Osesp), duas
sob o comando de Marin Alsop, incluindo a
estreia sul-americana da obra Gejia -Imagens
Chinesas [2013], do compositor finlandês
Kalevi Aho-, e uma de Celso Antunes, regente
associado da Osesp.
Numa programação para todos os gostos,
vale destacar as participações do trompetista
norueguês Ole Edvard Antonsen, como solista
convidado da Orquestra Sinfônica Brasileira,
da violinista Jennifer Koh, da pianista
canadense Angela Hewitt e do pianista
brasileiro Gilberto Tinetti (que comemora 80
anos), com membros do Quarteto Osesp.
Na Praça de Capivari, o destaque é para o
concerto ao ar livre da Osesp, sob regência
de Frank Shipway, além de dois concertos
especiais para as crianças -o da Palavra
Cantada com a Osesp e o da Orquestra de
São José dos Campos. Na Capela do Palácio
do Governo, apresentam-se o Quarteto de
Cordas da Cidade de São Paulo e o Quinteto
Villa-Lobos, e na Igreja de Santa Terezinha, o
Coro da Osesp lança o Selo Digital da
Orquestra, com a gravação de obras de
Aylton Escobar, que completa 70 anos e será
o compositor homenageado neste Festival.
A Coordenação Artístico-Pedagógica desta
edição está a cargo de Fabio Zanon,
violonista de prestígio, regente, escritor e
professor visitante na Royal Academy of
Music. Zanon já participou do Festival como
músico e professor e, neste ano, lidera um
dos módulos do Festival que mantém seu
maior foco nas atividades de ensino.
Consolidado como o maior e mais importante
festival de música clássica da América Latina,
ele é passagem obrigatória de conceituados
artistas de todo o mundo. Ao longo de sua
história, nomes do porte de Eleazar de
Carvalho,
Magda
Tagliaferro,
Yehudi
Menuhin, Hugh Ross, Mstislav Rostropovich,
Michel Philippot, Kurt Masur, Dame Kiri Te
Kanawa, Trio Beaux Arts, Ysaÿe Quartet e Le
Poème Harmonique, entre muitos outros,
brilharam nos palcos e classes do Festival.
Além da apresentação em concertos, esses
grandes artistas também fazem parte da
programação pedagógica do Festival, dando
aulas e masterclasses a jovens músicos.
Anualmente, estudantes de música de
diferentes partes do mundo -sobretudo do
Brasil, América Latina e América do Norteescolhem o Festival de Campos do Jordão
para se aperfeiçoarem. Renomados artistas
brasileiros foram bolsistas do Festival de
Campos do Jordão em edições anteriores, e
reconhecem a sua importância no caminho
para a profissionalização de jovens músicos.
Hoje, o Festival tem público direto de
dezenas de milhares de pessoas. Por seus
palcos passam mais de 3 mil artistas, e suas
aulas são ministradas por mais de uma
centena de músicos do primeiro escalão
mundial.
# 24 – julho 2013
Ao pé da letra
João Valentão
baixa a guarda ao “Deitar na areia da praia/
Que acaba onde a vista não pode alcançar” e
entra em comunhão com sua terra.
Q
uem é João Valentão? O homem que dá
título à música de Dorival Caymmi (foto)
é Carapeba, um pescador que ele
conheceu em uma de suas temporadas de
veraneio em Itapuã, na Bahia. Carapeba (cujo
nome verdadeiro o compositor jamais
descobriu) insistiu para que fossem pescar
juntos e se irritou quando Caymmi não
compareceu ao encontro marcado. A imagem
do pescador de temperamento forte,
intimamente ligado à praia idílica e ao ofício,
teve como resultado a música mais bemacabada de um gênero que o próprio Caymmi
criou: as canções praieiras.
“João Valentão” é precisa e sem
complexidade à primeira vista. A música
começa acelerada, com rimas e melodia
bastante simples, emoldurada por variações
na harmonia. Aqui, João é brigão, impulsivo,
intimidador. Mas, “quando o sol vai
quebrando”, o ambiente que está a seu
redor, sua terra, se contrapõe à sua
intempestividade. Nesse momento, o lance
do gênio se revela. O ritmo se acalma, a
melodia flerta com o samba-canção, gênero
no qual Caymmi começava a fazer suas
incursões. Letra e música, casadas, fazem o
herói revelar suas nuances, João Valentão
O pescador de “João Valentão”, como outros
personagens que Caymmi retratou, não está
preso ao tempo, um pouco como o próprio
autor que, nascido em Salvador, em 1914, foi
ainda jovem tentar a vida no Rio de Janeiro,
em 1937. A Bahia, no entanto, continuou
presente em suas lembranças e se refletiu
em jóias de seu cancioneiro. Seus
personagens, costumes, ritmos e praias
entraram para o imaginário popular. Como diz
o pesquisador Antônio Risério no livro
“Caymmi – Uma utopia de lugar”, mais do
que uma ambientação exótica, a Bahia de
suas músicas é nostálgica. Certa vez, ao ser
indagado sobre a constância do mar em suas
composições, Caymmi se definiu como um
“curioso das melodias dolentes dos
jangadeiros e pescadores”. Com eles,
aprendeu a simplicidade melódica das
toadas. Avesso ao rebuscamento, evocou em
suas letras esse universo praiano que o
fascinou.
Críticos e admiradores concordam que a obra
de Dorival Caymmi é atemporal e
independente. Pelo conjunto dela, o Dorival
compositor não pode ser vinculado a um
movimento da música nacional; como cantor,
tem um estilo próprio, com uma voz poderosa
que o levou para as rádios menos de um ano
depois de chegar ao Rio. Ele foi um dos
primeiros a levar para o rádio e para os
shows repertórios baseados em suas
próprias músicas. Dispensou, em alguns
álbuns, o acompanhamento de orquestra,
cantando apenas com a companhia de seu
violão.
Boa-praça, reuniu um círculo de amigos que
eram, muitas vezes, rivais entre si. Seus
admiradores receberam lições importantes
para a renovação da música brasileira
ocorrida nos anos 60. A batida de seu violão,
inovadora, quase foi “corrigida” pelo pai
# 24 – julho 2013
quando ele era adolescente. Felizmente esse
atentado à originalidade fracassou, e os
dedos de Dorival interpretaram, de modo
único, algumas das mais belas tramas
harmônicas da música brasileira. Tom Jobim
destacou sua inventividade harmônica, como
o uso de sextas maiores em acordes menores
e modulações sutis raramente empregadas
antes da bossa nova.
De acordo com o levantamento feito por
Stella Caymmi, neta do compositor, na
biografia “Dorival Caymmi: O mar e o tempo”,
o músico compôs apenas 120 músicas.
Destas, 20 são inéditas ou não foram
registradas. O processo criativo de Caymmi,
capaz de gerar pouco mais de uma música
por ano de vida, entrou para o anedotário da
música brasileira: o “ritmo Dorival Caymmi”
passava a designar a boa preguiça baiana.
“João Valentão” é o exemplo mais célebre
disso. Iniciada em 1936, em uma temporada
na praia de Itapuã, só seria terminada nove
anos depois. Antes de chegar ao Rio, Caymmi
já tinha em mente a cena inicial, em que o
pescador arredio é caracterizado. Depois,
continuou a composição até o ponto em que
João se deita na praia. E, então, parou.
E nem pensa na vida
A todos João intimida
Faz coisas que até Deus duvida
Mas tem seu momento na vida...
É quando o sol vai quebrando
Lá pro fim do mundo
Pra noite chegar
É quando se ouve mais forte
O ronco das ondas na beira do mar
É quando o cansaço da lida da vida
Obriga João se sentar
É quando a morena se encolhe
Se chega pro lado querendo agradar.
Se a noite é de lua
A vontade é contar mentira
É se espreguiçar
Deitar na areia da praia
Que acaba onde a vista não pode alcançar
E assim adormece esse homem
Que nunca precisa dormir pra sonhar
Porque não há sonho mais lindo
do que sua terra
Não há.
Sem se preocupar com a passagem do
tempo, compôs outras canções, dedicou-se à
pintura e deixou a história do pescador
Carapeba na gaveta. Até que um dia, em um
bonde no Rio de Janeiro, “achou”, como
gostava de dizer, os versos finais.
Dorival Caymmi somente uma vez assinou
contrato com uma gravadora, a Odeon, em
1939. Pelo contrato, teria de lançar, em dois
anos, seis discos de sucesso, cada um com
uma faixa em cada lado. O diretor da
gravadora dizia que Caymmi tinha talento
para tanto. O baiano sabia que ser talentoso
não significava ser prolífico e tentou recusar
a proposta. Não foi ouvido, assinou o
contrato e não o cumpriu.
João Valentão
É brigão
Pra dar bofetão
Não presta atenção
Discos onde ouvir
Ary Barroso / Dorival Caymmi – Ary Caymmi
Dorival Barroso: Um interpreta o outro (1958)
Elis Regina – Samba eu canto assim (1965)
Dorival Caymmi – Som, imagem, magia (1985)
Família Caymmi – Ao vivo (1987)
Ná Ozzetti – Show (2001)
Maria Bethânia – Brasileirinho ao vivo (2004)
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Antenados
Vale a pena ver de novo
para um manicômio, onde terá que suportar
as agruras de um sistema que lentamente
devora suas presas.
Bye bye Brasil. Carlos Diegues, 1979
Salomé (Betty Faria), Lorde Cigano (José
Wilker) e Andorinha são três artistas
ambulantes que cruzam o Nordeste do Brasil
com a Caravana Rolidei, fazendo espetáculos
para camponeses, cortadores de cana, índios
etc., sempre fugindo da concorrência da
televisão. A eles se juntam o sanfoneiro Ciço
(Fabio Junior) e sua mulher Dasdô (Zaira
Zambelli), com os quais a Caravana Rolidei
atravessa a Amazônia até chegar a Brasília,
vivendo diversas aventuras pelas estradas do
país.
A idade da terra. Glauber Rocha, 1980
O filme mostra um Cristo-Pecador (Jece
Valadão), um Cristo-Negro (Antonio Pitanga),
o Cristo que é o conquistador português, Dom
Sebastião, (Tarcísio Meira) e o CristoGuerreiro de Lampião (Geraldo Del Rey). Quer
dizer, os Quatro Cavalheiros do Apocalipse
que ressuscitam o Cristo no Terceiro Mundo,
recontando o mito através dos quatro
evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João,
cuja identidade é revelada no filme quase
como se fosse um Terceiro Testamento. E o
filme assume um tom profético, realmente
bíblico e religioso.
Bicho de sete cabeças. Laís Bodanzky, 2001
Seu Wilson (Othon Bastos) e seu filho Neto
(Rodrigo
Santoro)
possuem
um
relacionamento difícil, com um vazio entre
eles aumentando cada vez mais. Seu Wilson
despreza o mundo de Neto e este não
suporta a presença do pai. A situação entre
os dois atinge seu limite e Neto é enviado
Carlota Joaquina, Princesa do Brasil. Carla
Camurati, 1994
Portugal, 1808. A corte portuguesa está sob
o cerco das tropas de Napoleão e é
pressionada pelo espírito expansionista da
coroa inglesa. Parte, então, para o Brasil e
começa a impor os códigos da monarquia aos
novos súditos. Com ares de fábula, de
maneira caricata e divertida, o filme conta a
história de Carlota Joaquina (Marieta Severo),
seu temperamento difícil, seus casos extraconjugais, sua irritação com o Brasil, a vida e
os feitos do casal real na então colônia
portuguesa.
Casa de areia. Andrucha Waddington, 2005
1910. O português Vasco (Ruy Guerra) leva
sua esposa grávida Áurea (Fernanda Torres)
e a mãe dela, Dona Maria (Fernanda
Montenegro), em busca de um sonho: viver
em
terras
prósperas,
recentemente
compradas por ele. O sonho se transforma
em pesadelo quando, após uma longa e
cansativa viagem junto a uma caravana, o
trio descobre que as terras estão em um
lugar totalmente inóspito, rodeado de areia
por todos os lados e sem nenhum indício de
civilização por perto. Áurea quer retornar ao
lugar de onde vieram, mas Vasco insiste em
ficar e constrói uma casa de madeira para
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que lá possam viver. Após serem
abandonados pelos demais integrantes da
caravana, um acidente mata Vasco e deixa
Áurea e Dona Maria completamente
sozinhas. Elas partem em busca de ajuda e
terminam por encontrar Massu (Seu Jorge),
um homem que nunca deixou o local. Massu
passa a ajudá-las, levando comida e sal para
que Áurea e Dona Maria possam sobreviver
na casa recém-construída.
Cinema, aspirinas e urubus. Marcelo Gomes,
2005
Em 1942, no meio do sertão nordestino, dois
homens vindos de mundos diferentes se
encontram. Um deles é Johann (Peter
Ketnath), alemão fugido da 2ª Guerra
Mundial, que dirige um caminhão e vende
aspirinas pelo interior do país. O outro é
Ranulpho (João Miguel), um homem simples
que sempre viveu no sertão e que, após
ganhar uma carona de Johann, passa a
trabalhar para ele como ajudante. Viajando
de povoado em povoado, a dupla exibe filmes
promocionais sobre o remédio "milagroso"
para pessoas que jamais tiveram a
oportunidade de ir ao cinema. Aos poucos
surge entre eles uma forte amizade.
Cedendo aos apelos da mãe e de Pedro,
André resolve voltar para a casa dos seus
pais, mas irá quebrar definitivamente os
alicerces da família ao se apaixonar por sua
bela irmã Ana (Simone Spoladore).
Linha de passe. Walter Salles e Daniela
Thomas, 2008
O filme conta a história de quatro irmãos que
vivem na periferia de São Paulo. Com a
ausência do pai, precisam lutar por seus
sonhos. Reginaldo (Kaique de Jesus Santos),
o mais novo, procura obstinadamente seu pai
que nunca conheceu. Dario (Vinícius de
Oliveira), prestes a completar 18 anos, sonha
com uma carreira como jogador de futebol
profissional. Dinho (José Geraldo Rodrigues),
frentista em um posto de gasolina, busca na
religião o refúgio para um passado obscuro.
Dênis (João Baldasserini), o irmão mais velho,
já é pai de um filho e ganha a vida como
motoboy. No centro desta família está Cleuza
(Sandra Corveloni), que, aos 42 anos, está
grávida do quinto filho.
Eles não usam black-tie. Leon Hirszman,
1981
Em São Paulo, em 1980, o jovem operário
Tião (Carlos Alberto Riccelli) e sua namorada
Maria (Bete Mendes) decidem casar-se ao
saber que a moça está grávida. Ao mesmo
tempo, eclode um movimento grevista que
divide a categoria metalúrgica. Preocupado
com o casamento e temendo perder o
emprego, Tião fura a greve, entrando em
conflito com o pai, Otávio (Gianfrancesco
Guarnieri), um velho militante sindical que
passou três anos na cadeia durante o regime
militar.
Madame Satã. Karim Aïnduz, 2002
Rio de Janeiro, 1932. No bairro da Lapa vive
encarcerado na prisão João Francisco (Lázaro
Ramos), artista transformista que sonha em
se tornar um grande astro dos palcos. Após
deixar o cárcere, João passa a viver com
Laurita (Marcélia Cartaxo), prostituta e sua
"esposa"; Firmina, a filha de Laurita; Tabu
(Flávio Bauraqui), seu cúmplice; Renatinho
(Fellipe Marques), sem amante e também
traidor; e ainda Amador (Emiliano Queiroz),
dono do bar Danúbio Azul. É neste ambiente
que João Francisco irá se transformar no mito
Madame Satã, nome retirado do filme
Madam Satan (1932), dirigido por Cecil B.
deMille, que João Francisco viu e adorou.
Lavoura arcaica. Luiz Fernando Carvalho,
2001
André (Selton Mello) é um filho desgarrado,
que saiu de casa devido à severa lei paterna
e o sufocamento da ternura materna. Pedro
(Leonardo Medeiros), seu irmão mais velho,
recebe de sua mãe (Juliana Carneiro da
Cunha) a missão de trazê-lo de volta ao lar.
O bandido da luz vermelha. Rogério
Sganzerla, 1968
Jorge (Paulo Villaça), um assaltante de casas
de luxo em São Paulo, apelidado pela
imprensa sensacionalista de "Bandido da Luz
Vermelha", desconcerta a polícia com seu
comportamento fora do comum. Além de usar
uma lanterna vermelha, ele possui as vítimas,
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conversa com elas e faz fugas ousadas para
depois gastar o dinheiro roubado de maneira
extravagante. O mundo de Jorge é povoado
de tipos como o detetive Cabeção (Luiz
Linhares), a prostituta Janete Jane (Helena
Ignez) e o político corrupto J. B. Silva (Pagano
Sobrinho). Com sua linguagem visual
revolucionária, o filme pode ser visto como o
ponto de transição entre a estética do
Cinema Novo e a ruptura do Cinema
Marginal. Um clássico incontornável.
O homem nu. Hugo Carvana, 1997
Sílvio Proença (Cláudio Marzo) é um
pesquisador de 45 anos, que precisa
embarcar a contragosto para São Paulo, a fim
de divulgar seu novo livro sobre folclore
brasileiro. No aeroporto, encontra um grupo
de velhos companheiros, com quem participa
de uma reunião regada de música e cerveja.
Com o embarque cancelado devido uma forte
tempestade, o grupo segue para o
apartamento de Marialva (Isabel Fillardis),
filha de um dos amigos de Proença. Seduzido
pelos encantos de Marialva, Proença passa a
noite ali mesmo, onde desperta no dia
seguinte, completamente nu, com Marialva
ao seu lado. Ainda zonzo da ressaca, Proença
vai apanhar o pão deixado na porta do
apartamento, quando uma lufada de vento
fecha a porta e deixa o pesquisador
completamente nu do lado de fora. Tem início
então uma louca fuga pela cidade, onde
Proença será perseguido por jornalistas e
curiosos para conseguir chegar em sua casa
são e salvo.
O pagador de promessas. Anselmo Duarte,
1962
Zé do Burro (Leonardo Villar) e sua mulher
Rosa (Glória Menezes) vivem em uma
pequena propriedade a 42 quilômetros de
Salvador. Um dia, o burro de estimação de Zé
é atingido por um raio e ele acaba indo a um
terreiro de candomblé, onde faz uma
promessa a Santa Bárbara para salvar o
animal. Com o restabelecimento do bicho, Zé
põe-se a cumprir a promessa e doa metade
de seu sítio, para depois começar uma
caminhada rumo a Salvador, carregando nas
costas uma imensa cruz de madeira. Mas a
via crucis de Zé ainda se torna mais
angustiante ao ver sua mulher se engraçar
com o cafetão (Geraldo Del Rey) e ao
encontrar a resistência ferrenha do padre
Olavo (Dionísio Azevedo) a negar-lhe a
entrada em sua igreja, pela razão de Zé haver
feito sua promessa em um terreiro de
macumba.
Tempos de paz. Daniel Filho, 2009
Final da 2ª Guerra Mundial. No Brasil, o
governo de Getúlio Vargas liberta presos
políticos ao mesmo tempo em que recebe
milhares de imigrantes europeus. Neste
contexto surge o embate entre o chefe da
imigração na Alfândega do Rio de Janeiro e
um ex-ator polonês, suposto seguidor de
Hitler. Enquanto Segismundo (Tony Ramos)
tem a obrigação de evitar a entrada de
qualquer ameaça comunista no país,
Clausewitz (Dan Stulbach) terá que usar
todas as técnicas de convencimento do
teatro para ficar em território brasileiro.
Começa aí uma batalha entre a realidade e o
desejo, entre a tortura e a memória de
alguém que se culpa por ter fechado os olhos
para os horrores da guerra.