Rodrigo Portella complemento - 2-2
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Rodrigo Portella complemento - 2-2
COMUNIDADE CRISTO DE BETÂNEA: HISTÓRIA E CONSIDERAÇÕES SOBRE UM NOVO MOVIMENTO CATÓLICO EUROPEU Com este título encontramos um artigo escrito por alguém, de nome Rodrigo Portella, “Doutor em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (Área de Concentração: Ciências Sociais da Religião)” publicado na Revista Brasileira de História das Religiões, ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 19832859, que tem despertado a curiosidade de muita gente, inclusive a nossa. E porquê? Porque conhecemos a referida Comunidade e muitas das afirmações feitas por Rodrigo Portella causam estranheza e levaram ao desejo de um aprofundamento de factos ali mencionados, em nome da sã verdade, já pelo respeito pelos leitores, única coisa que interessa num trabalho apresentado em público, bem como pelo respeito à referida Revista Brasileira de História das Religiões e também pelo respeito à Comunidade Cristo de Betânea, como instituição da Igreja Católica. Apercebemo-nos de atitudes de indignação de pessoas que conhecem e acompanham a Comunidade, quase desde o seu nascimento, outras da frequência das suas actividades. Foi então que consultamos pessoas diversas, conhecedoras da mesma comunidade, essas de diversos graus de capacidade de leitura e, em nome da clarificação da verdade, que a todos interessa, consultamos pessoas e fontes escritas sobre a mesma Comunidade. Decidimos então apresentar as conclusões deste trabalho, em muitos pontos divergente do trabalho apresentado por Rodrigo Portella, mas que até oferecerá ao próprio autor uma nova fonte de consulta. Como o tema do trabalho é uma instituição da Igreja em Portugal, e dadas as diferenças culturais específicas de cada país, aceitamos que tivesse havido dificuldade de leitura de conceitos e atitudes de vida que possam ter sido fornecidos ao autor, e até de leitura objectiva da própria Comunidade Cristo de Betânea, no seu todo e no seu espaço próprio, tanto dentro da Igreja como das novas Comunidades. E, se todo o conhecimento é sempre uma construção que brota do confronto do dado recebido com a experiência acumulada do investigador, e até de quem quer que se situe na relação de conhecimento, outro factor que parece ter dificultado a objectividade requerida nesta abordagem feita pelo autor do artigo sobre a Comunidade Cristo de Betânea foi a falta de confronto desses dados recolhidos, através de entrevistas e observações presenciais de algumas actividade da referida Comunidade, com dados escritos sobre a mesma Comunidade, que poderia ter encontrado, pelo menos na Internet em www.cristobetanea.net e na Revista Jesus Vivo de Julho-Agosto de 2004. Por outro lado, ainda poderá ser fonte de erros o facto de serem pouco significativas as actividades em que esteve presente, pois estas desenvolvem-se ao longo do ano na Casa que esta Comunidade possui em Fátima, bem como o pequeno número de pessoas entrevistadas, baseando-nos nas que são mencionadas no trabalho. Estranhamos também a falta de precisão no uso de conceitos como: “grupo”, “comunidade”, “movimento”, sendo usados pelo autor do artigo indistintamente, o que pode dificultar a compreensão da realidade que se pretende estudar: uma “comunidade”, neste caso a “Comunidade Cristo de Betânea”. Usaremos as iniciais “RP” para nos referirmos a Rodrigo Portella. Como metodologia usaremos a divisão do artigo em partes, para a inclusão de esclarecimentos oportunos. Antes de iniciarmos a nossa análise ao Texto de Rodrigo Portella, apresentamos um parágrafo do livro O que é a Filosofia, de Ortega y Gasset, pgs. 87-88. “Outra coisa vou dizer que talvez vá custar-vos estranheza, para já, mas uma longa experiência me ensinou, e se aplica não só à filosofia, mas a todas as ciências, a tudo o que é teórico em sentido estrito. É isto: quando alguém que não cultivou nunca a ciência se aproxima dela, a melhor maneira de facilitar o seu acesso e explicar-lhe o que se procura fazer ao fazer ciência, seria avisá-lo: «Não procure o que vai escutar e se lhe propõe ir pensando o convença; não o leve a sério, mas como um jogo em que você é convidado a cumprir as regras». O estado de espírito que esta atitude tão pouco solene produz é a melhor disposição para iniciar o estudo científico. A razão é muito simples: o pré-cientista entende por «convencer-se» e por «tomar a sério» um estado de espírito tão firme, tão sólido, tão penetrado de si mesmo como só se pode sentir perante o que nos é mais habitual e inveterado.” ESCREVE RP: ”O objetivo deste artigo é apresentar a história e pinçar características deste novo movimento religioso português.” REPONDO A VERDADE: O objectivo do trabalho é então, segundo RP, apresentar a história da Comunidade Cristo de Betânea, como sendo um novo movimento religioso católico português. Primeiro: RP, não definindo termos, permite-nos concluir que identifica uma “comunidade” com um “movimento” da Igreja Católica e também com “grupo”, como adiante acontece. Sociologicamente, o termo “grupo” pode aplicar-se a “comunidade”, em sentido lato. Mas, quando queremos precisar realidades sociais ou religiosas, ou outras, estas, sendo diferentes umas das outras, ganham o seu lugar próprio e são chamadas por designativos específicos. Na Igreja Católica encontramos “Movimentos”, “Obras”, “Associações”, “Institutos”, “Ordens”, “Comunidades”, e nestas temos ainda as “Históricas”, como lhes chama João Paulo II, e as “Novas Comunidades.” Sem dúvida que estamos perante agrupamentos de pessoas, mas também estamos perante realidades bem diferentes, se bem que complementares, em ordem aos seus objectivos na Igreja. No Direito Canónico da Igreja Católica, as “Novas Comunidades” estão integradas nas “Associações de Fieis” de modo próprio, enquanto não surgir uma nova figura que as enquadre adaptadamente. Mas, mesmo sociologicamente, se conhecermos e compararmos a teia e a consistência das relações presentes num “grupo” e numa “comunidade”, bem como as respectivas projecções na sociedade, encontraremos elementos decisivos a exigirem rigor de conceitos que designem as respectivas essencialidades. Por isso é que a distinção se faz na Igreja católica: a nível do Direito canónico as comunidades “históricas” regulam-se por legislação própria (Cân. 573-709) e uma “Nova Comunidade”, à falta de legislação própria, integra-se na Igreja como uma Associação Privada de Fieis (Cân. 298- 329), embora de forma muito própria. A falta de prévio esclarecimento dos conceitos a usar pode gerar confusões nos leitores. Em segundo lugar, como RP apenas apresenta dados empíricos colhidos em algumas entrevistas, interpretadas subjectivamente, e encaixadas em afirmações de autores na sua maioria brasileiros, ou seja, que trabalharam os dados de uma cultura muito própria e bem diferente da Europeia, não admira que possa facilmente distorcer os dados que lhe foram fornecidos nas entrevistas realizadas, como obviamente aconteceu. Daí que a História que apresenta da Comunidade Cristo de Betânea nos levante dois problemas: 1º - A quem cabe fazer História é a um historiador, com formação e metodologias próprias. 2ª Só se pode fazer história com certo rigor científico de Instituições ou acontecimentos a coberto de uma distância temporal de pelo menos 50 anos. A um sociólogo cabe-lhe fazer sociologia, o que tem a ver com a construção de fenómenos sociológicos no tempo presente. Por consequência, seria melhor lermos o artigo em questão como uma breve “estória” e não “História”, dada a base empíricosubjectiva do trabalho. Estamos de acordo em que um dos métodos fundamentais da Sociologia é a entrevista. Mas, também sabemos os perigos que acompanham as interpretações das entrevistas. Por isso mesmo, para se obter o rigor científico que dignifique e credibilize a sociologia, o sociólogo sabe que há outras fontes de provas, contraprovas e provas das contraprovas, passíveis de serem usadas. Como conhecemos esta Comunidade e a maioria de nós temos formação académica superior universidades portuguesas, temos obrigação de velar pela verdade e pela probidade científica. Quanto à Bibliografia, RP deveria ter consultado obras de teólogos como o Cardeal Suenens, por exemplo L’Esprit-Saint, soufle vital de l’Église, ou documentos da Igreja Católica, como a “Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita Consecrata” sobre a Vida Consagrada e a Sua Missão na Igreja e no Mundo. E Também a obra Igreja particular, movimentos eclesiais e novas comunidades – subsídios Doutrinais da CNBB. Também RP poderia ter consultado outras obras sobre o tema e até um documento da Igreja Católica sobre o Ministério de Cura e Libertação na Igreja Católica… E, para além de ter obras de carácter devocional - assim chamadas na Bibliografia deste trabalho de RP, a Comunidade Cristo de Betânea publicou já obras de carácter teológico-pastoral e de carácter psico-espiritual que, se tivessem sido consultadas, facilitariam um conhecimento mais rigoroso da espiritualidade e carismas desta Comunidade. A leitura de obras diversas existentes sobre “Novas Comunidades”, bem como sobre o Renovamento Carismático Católico eram pertinentes, bem como obras sobre a cultura Europeia e a cultura portuguesa, em particular. Mas, ao que parece, RP não leu. Se assim tivesse acontecido, haveria mais possibilidade de leitura objectiva de tudo o que foi visto e ouvido, e atenuaria a dificuldade de leitura de uma instituição da Igreja Católica na Europa, por alguém que tem a experiência do saber no enquadramento sociológico e religioso da cultura brasileira, particularmente a experiência de Pastor Luterano. Por outro lado, entendemos que o tempo de seis meses em Portugal (RP afirma que esteve em Portugal entre Setembro de 2007 e Fevereiro de 2008), para uma investigação temática de grande responsabilidade, é demasiado curto. ESCREVE RP: Palavras-chave: carismáticos, catolicismo português, novas sensibilidades religiosas. ABSTRACT: Between September 2007 and February 2008 was in Portugal, funded by CAPES doctoral training, aiming to "look" a little the new European religious sensitivities. Found in Portugal, the Community of Christ Bethany. The aim of this paper is to present the history and characteristics of this new clamp Portuguese religious movement. Present here some notes of the diary of research. Free of the obligation to constantly punctuate the story by collating literature, looking, so descriptive, visualize ideas, perspectives and peculiarities of Portuguese religious movement. KEYWORDS: charismatic, Portuguese Catholicism, new religious sensitivities. ESCREVE RP: Introdução Apresento a seguir um pouco do desenvolvimento histórico da Comunidade Cristo de Betânea (CCB, adiante) e suas características enquanto grupo religioso1. Chamo a atenção, no entanto, para a dificuldade em re-constituir a história e mesmo a organização deste grupo. Não há material didático e sistemático que proporcione uma historiografia mais detalhada, e mesmo as fontes vivas, como a própria fundadora do movimento, têm: Doutor em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (Área de Concentração: Ciências Sociais da Religião) 1As informações sobre a CCB decorrem de entrevista com Hercilia Pinto; observação participante em eventos da CCB; conversas informais com membros da CCB; consulta à revista Jesus Vivo e a outras edições, de cunho devocional, patrocinadas pela CCB. Dificuldade em organizar uma narrativa sistemática e mais racionalizada sobre o mesmo. REPONDO A VERDADE: É uma Comunidade recente (cerca de duas décadas é algo muito recente para uma Comunidade) e tanto a fundadora como os membros da Comunidade estiveram e estão empenhados em construí-la pela acolhida e vivência da direcção a seguir, do que pelos relatos escritos de acontecimentos; a escrita de pormenores seria algo utópico de momento; há escritos no computador, que a seu tempo, daí sairão. Há diversos escritos sobre carismas e espiritualidade nas mãos dos membros da comunidade. Isto além do que atrás foi indicado e de tudo o que sobre a Comunidade Cristo de Betânea vai saindo de dois em dois meses na Revista Jesus Vivo, editada por esta Comunidade. Na edição de Julho Agosto de 2004 foi publicada uma breve História desta Comunidade. Para nós, portugueses, é um texto muito esclarecedor, e uma boa fonte de consulta. Não se poderá daqui concluir que (como afirma RP): “Isto já significa algo: grupos cuja espontaneidade do Espírito Santo (ES, adiante) é senhora, ainda resistem a uma racionalização burocrática de sua história e experiências.” REPONDO A VERDADE: Não se trata de “resistência” a uma racionalização. Muitos de nós são até racionais demais…como filhos desta cultura europeia racionalista. O nosso problema não está em racionalizar mas precisamente em desracionalizar, para podermos viver a fé que supõe uma outra lógica bem diferente e complementar da lógica da ciência a que estamos habituados! Trata-se apenas de optar por prioridades. E a Comunidade opta primeiro por viver e depois escrever! Dá prioridade à consolidação do conteúdo e não ao embrulho. ESCREVE RP: Os objetivos do artigo são os de visibilizar como surgem, no seio da Igreja Católica contemporânea, novos grupos religiosos (comunidades de aliança e/ou de vida) afinados a gradiente ligado às sensibilidades encontradas a partir da Renovação Carismática Católica (RCC, adiante); mais, pois visa observar tal surgimento em uma sociedade em que as sensibilidades da RCC ainda são incipientes, e em que o catolicismo ainda tem um corte mais ligado a práticas e estruturas tradicionais, como se apresenta, de forma geral, o catolicismo na sociedade portuguesa; perceber como se estrutura um novo movimento religioso ligado às sensibilidades da RCC no âmbito da Igreja Católica portuguesa, pinçando suas características que se coadunam com as da RCC e aquelas que fogem ao estilo e configurações da RCC, isto é, apresentando-se como originais ou, mesmo de certa forma, conflitantes com as sensibilidades e projetos religiosos da RCC; e, finalmente, descrever, através de uma inserção de pesquisa de campo, a partir da etnologia e de uma compreensão socioantropológica, as práticas, discursos e vivências no interior do grupo. Então constituem o objectivo do trabalho: 1: Os objetivos do artigo são os de visibilizar como surgem, no seio da Igreja Católica contemporânea, novos grupos religiosos (comunidades de aliança e/ou de vida) afinados a gradiente ligado às sensibilidades encontradas a partir da Renovação Carismática Católica (RCC, adiante) 2- Mais, pois visa observar tal surgimento em uma sociedade em que as sensibilidades da RCC ainda são incipientes, e em que o catolicismo ainda tem um corte mais ligado a práticas e estruturas tradicionais, como se apresenta, de forma geral, o catolicismo na sociedade portuguesa; 3- Perceber como se estrutura um novo movimento religioso ligado às sensibilidades da RCC no âmbito da Igreja Católica portuguesa, pinçando suas características que se coadunam com as da RCC e aquelas que fogem ao estilo e configurações da RCC, isto é, apresentando-se como originais ou, mesmo de certa forma, conflitantes com as sensibilidades e projetos religiosos da RCC; 4- Finalmente, descrever, através de uma inserção de pesquisa de campo, a partir da etnologia e de uma compreensão socioantropológica, as práticas, discursos e vivências no interior do grupo. 5 - O presente texto pretende levar à discussão sobre a questão do lugar e do modo de pertencimento à Igreja, em suas afinidades e tensões/conflitos, dos novos grupos religiosos comunitários que surgem no interior do catolicismo. Como tais grupos, como a CCB, se integram ou não à Igreja? Quais conflitos pontuam a relação entre novas comunidades católicas e a instituição Igreja Católica? Quais são as idiossincrasias, as contribuições novas, as continuidades, e as rupturas em relação ao modelo institucional da Igreja Católica? São questões que o texto abre, motivando a refletir. REPONDO A VERDADE: Será bom esclarecer: 1 - O item proposto ultrapassa a Comunidade Cristo de Betânea (Como diz RP, para “visibilizar como surgem, no seio da Igreja Católica contemporânea, novos grupos religiosos (comunidades de aliança e/ou de vida”). Não poderemos é reduzir os novos grupos religiosos a comunidades de “aliança” e/ou de “vida”. Só por si este objectivo exige um tratamento de grande âmbito. 2 - Todos sabemos que as generalizações são sempre perigosas. E, no que toca ao Renovamento Carismático Católico em Portugal, bem como à visão da própria Igreja em Portugal, exige alguma reparação: o Renovamento Carismático em Portugal atinge uma grande franja de cristãos e, além desta graça dinamizadora, a Igreja Católica em Portugal não está tão presa às estruturas tradicionais como possa parecer a alguma visão do exterior. Ela conta com diversos movimentos bem estruturados e bem activos, alguns de carácter internacional, com diversas Comunidades Novas de origem estrangeira - não só brasileiras - cá inseridas, com comunidades históricas cujo esforço de actualização traz um grande impacto, sobretudo na camada jovem. E, acima de tudo, temos Bispos dinâmicos e bem atentos às realidades do nosso tempo, que com a sua palavra e entusiasmo de pastores atentos, promovem, cada qual em sua Diocese, uma grande dinamização de Igreja através dos sectores diocesanos das diversas pastorais e do apoio às novidades que o Espírito Santo vai trazendo à Igreja. Sentimos toda a alegria, embora serena, de viver numa Igreja que professa uma fé adulta e responsável pela sua tarefa evangelizadora! 3- “Como tais grupos, como a CCB, se integram Igreja?”, questiona RP. Ora, as Novas Comunidades inserem-se na Igreja, em qualquer parte em que se encontrem através de estatutos aprovados pela entidade eclesial: segundo o Direito Canónico há comunidades de “Direito Diocesano” e Comunidades de “Direito Pontifício”. Estas começam por ser de “Direito Diocesano”, até que as conveniências de evangelização no mundo sejam melhor resolvidas pela sua inserção na Igreja como Comunidades de “Direito Pontifício” e tal lhes seja concedido pela Santa Sé. Tanto num caso como noutro, as “Novas Comunidades”, à falta de uma figura jurídica própria para o seu enquadramento, inserem-se todas como “Associações de Fiéis”, embora mantendo nessa área características específicas. A Comunidade Cristo de Betânea não é excepção: insere-se na Igreja como Associação de Fieis de Direito Diocesano. ESCREVE RP: 1. O percurso até a CCB A Comunidade Cristo de Betânea é uma Comunidade de Vida e Aliança surgida em Portugal entre os anos 80 e 90 do século 20. Tem como fundadora e líder a Irmã Hercíloa Pinto, senhora de uns 68 anos, ex-professora e ex-membro da Ação Católica, nomeadamente da JUC, e ex-membro de Grupos de Oração Carismática da Renovação Carismática Católica de Portugal. Hercília reside na cidade de Braga, que fica, por sua vez, na circunscrição eclesiástica da Arquidiocese de Braga, norte de Portugal, circulando Hercília, em seu trabalho, entre as cidades de Braga e de Vila Nova de Famalicão, lugar de origem de sua família, e Fátima, lugar em que a CCB possui uma casa de encontros REPONDO A VERDADE: Hercília foi membro da JUCF e não tem a sua residência em Braga, mas em Telhado, Vila Nova de Famalicão. Não é só nessas cidades que Hercília “circula”: Hercília vai onde é preciso ir no cumprimento da sua missão, por diversos pontos de Portugal e Estrangeiro: Europa e fora da Europa. ESCREVE RP: Hercília, que desde os anos 70 já era leiga consagrada num instituto secular, ligado à Arquidiocese de Braga, iniciou sua participação em Grupos de Oração da RCC na década de 70, portanto, logo no nascedouro da RCC. Em 1977, uma “irmã” do grupo de oração carismático a que pertencia lhe disse que era necessário avançar a uma Comunidade de Vida, nos moldes da primitiva comunidade cristã. A repetição da “advertência” viria no ano seguinte. Hercília, então ligada formalmente à RCC, descreve que em vários encontros o Pe. José da Lapa, mentor e líder do RCC português, enfatizava a necessidade de algumas pessoas formarem uma Comunidade, transcendendo, assim, ao Grupo. Hercília conta que “nunca pensou em comunidade. Mas a coordenadora do grupo [de oração] disse: ‘vai ter alguém que aprofunde a vivência das primeiras comunidades e depois ajude os outros a viver’”. E Hercília se sentiu investida em tal missão. O líder carismático, conforme Weber (1991, p. 158), pode ser legitimado por eleição, vocação, treinamento, nascimento ou revelação. REPONDO A VERDADE: Hercília era leiga consagrada, na diocese de Lisboa e não de Braga. Conheceu o Renovamento Carismático em 1975, pouco tempo após a sua chegada a Portugal pelo Senhor Padre José da Lapa, instrumento do qual o Espírito Santo se serviu para o efeito. Frequentou o Grupo que acabava de nascer em Braga. ESCREVE RP: “E Hercília sentiu um apelo interior de Deus; isso fogirá com certeza aos esquemas teóricos de Max Weber: as obras de Deus não se encaixam em esquemas de sociólogos, outro tipo de grupos, de carácter temporal. Para uma sociologia dos factos religiosos, com a objectividade máxima possível e por isso bem fundamentada, caberá ao sociólogos admitirem e e aprenderem um pouco da dinâmica sobrenatural que inspira e dinamiza a obra de Deus.” Aqui, no caso, eleição, vocação e revelação fundem-se na narrativa. O profeta reclama para si, mais que o sacerdote, uma vocação “pessoal”, íntima, singular, em virtude de revelação ou carisma. E assim, de vaticínio em vaticínio, de profecia em profecia, “o Espírito Santo foi irresistível no que tinha para nós”. Em 1982 um seminarista, um casal e Hercília, como líder, iniciaram a vida em conjunto, configurando, assim, as sementes do projeto exortado no seio da RCC. Nesta época o grupo configurava-se, porém, como Comunidade de Aliança. A inspiração veio de modelos de comunidades carismáticas francesas visitadas, como a Leão de Judá e do Cordeiro Imolado. Em 1990 a Comunidade constitui-se como Comunidade de Vida consagrada, fixando a sede na freguesia semi-rural de Telhado (Vila Nova de Famalicão), na casa que pertencia à família de Hercília, agora adaptada e aumentada. Ali passam a conviver comunitariamente 6 pessoas. Porém, foi somente a partir de 1998 que a CCB conheceu aumento de vocações e a partir de 2000 que se expande para África (Cabo Verde e Moçambique), Timor-leste e Brasil. REPONDO A VERDADE: 1- O que se passou em 1982 não foi uma vida propriamente em conjunto, mas sim um arranque alargado de encontros com as pessoas mencionadas, e outras mais, inclusive seminaristas diocesanos, na busca do que Deus queria de cada um. 2- Não se configuravam a uma “Comunidade de Aliança”, designação que então não existia. Hoje é que poderemos dizer que essa etapa da caminhada rumo à comunidade se insere no que hoje se chama “Comunidade de Aliança”. ESCREVE RP: A CCB tem um símbolo iconográfico próprio. Constitui-se de um círculo vermelho, sendo mais amarelo ao centro, com as figuras entrelaçadas e estilizadas de uma cruz, um cordeiro e uma pomba. O símbolo remete a Jesus através da cruz e do cordeiro, e ao ES pela pomba, marcando a ligação carismática, ou pentecostal, do Grupo, ainda reforçada pelo vermelho do fogo do ES. A CCB é, hoje, uma Comunidade de Vida e Aliança (de direito diocesano) que congrega pessoas consagradas, com votos, vivendo em comunidade, e casais aderentes, vivendo a espiritualidade do Grupo nos lares e em missões comuns a todos. Seu governo estrutural é assim formado, abaixo do bispo que a supervisiona: um moderador geral (a fundadora, Hercília) e um conselho formado pelos moderadores locais, ou seja, de cada casa ou de cada tarefa específica (louvor, aconselhamento, evangelização, etc). A sede do Grupo é em Telhado, freguesia semi-rural da cidade de Famalicão, distante de Braga cerca de 25 minutos em trem parador, e pertencente à Arquidiocese de Braga. REPONDO A VERDADE: O Símbolo da Comunidade não se insere num círculo vermelho, mas laranja, e o Cordeiro insere-se numa Hóstia, significando a centralidade da Comunidade em Cristo ressuscitado e vivo para nós, cristãos católicos na Eucaristia, que a Comunidade é chamada a celebrar e adorar em contemplação todos os dias. A pomba assinala que nos queremos deixar conduzir pelo Espírito Santo na descoberta e uso dos carismas de cada um para a edificação da Comunidade na união a toda a Igreja, para a edificação da mesma (1Cor 12) e para o anúncio do Reino. A Comunidade Cristo de Betânea é hoje uma família constituída por uma “Comunidade de Vida”, à qual se unem, em aliança de fidelidade aos mesmos carismas e espiritualidade, membros externos, integrando também toda uma quantidade de amigos associados e simpatizantes. O Governo da Comunidade exerce-se a dois níveis: cada casa tem o seu moderador e deverá ter o seu conselho local. A nível geral o Moderador tem o seu conselho geral, sedeado na Casa - Mãe, mantendo contactos pessoais frequentes com os moderadores locais, o que permite apoio entre todos e a manutenção da unidade de vida nos mesmos carismas e espiritualidade, na diversidade dos seus membros e das culturas em que a comunidade está inserida. A comunidade é aberta também a pessoas viúvas e solteiras idóneas, e não apenas pessoas com especial consagração, e casais. Alguns membros poderão vir a assumir qualquer estado de vida, mesmo sacerdotal, a que sejam chamadas por Deus, sendo por isso aí ajudados nesse discernimento da vontade de Deus a seu respeito. Cada casa, dentro dos carismas da Comunidade – contemplação -missão, de acordo com os dons dos membros e as necessidades do Reino, definirá com o Bispo da respectiva diocese o seu trabalho aí. ESCREVE RP: A casa mãe de Telhado é simples. Compõe-se de refeitório, cozinha, salas e vários quartos. No andar de baixo há uma capela muito simples, sem bancos e com o santíssimo sacramento exposto continuamente. No andar de cima se encontra um salão -capela para as celebrações com o público, aos sábados. REPONDO A VERDADE: A casa visitada por RP e aqui referida é a casa de formação; tem, por isso, poucas actividades abertas para o exterior. Apenas as necessárias para os estágios que os formando vão fazendo. Por isso, o acolhimento e oração na referida sala é apenas nas manhãs dos terceiros sábados, e a oração do Terço nas tardes dos Primeiros sábados. Com esse objectivo e como resposta a diversos pedidos há uma deslocação a Braga para um encontro nas tardes dos quartos - sábados, numa sala do Seminário de N.ª S.ª da Conceição (Seminário “Menor”). A Comunidade assume também a Adoração Semanal na Capela da Lapa, em Braga. ESCREVE RP: Há pequena horta, já que a casa, em sua área, constitui um pequeno sítio. A comunidade tem um estatuto próprio, aprovado pelo arcebispo de Braga em 1994, e um livro de vida. Ambos são vedados à consulta a pessoas exteriores à comunidade. Isto, certo, não parece ser legal, pois em princípio a CCB não é uma sociedade esotérica. Porém, na prática, dificulta-se ao máximo que pessoas não ligadas à comunidade possam ter acesso aos estatutos. REPONDO A VERDADE: O acesso ao Estatuto não é vedado. Mas, sem a tradição da comunidade e a vida vivida na prática, é letra morta que não interessa a quem pretende fazer a história da comunidade, mal a conhecendo, e sendo nada conhecido à comunidade. Mas a ele tem acesso os membros da comunidade, bem como ao “Livro de Vida”, ainda no computador e do qual saem cópias para formação dos membros, sempre que necessário. ESCREVE RP: A missão, ou o carisma da CCB, se desdobra em: 1) nova evangelização, através da venda de livros, da revista Jesus Vivo, e, principalmente através da “compaixão”. 2) compaixão, compreendida como aconselhamento, escuta e direção de pessoas com problemas “psíquico-espirituais”. Tal atendimento de aconselhamento é franqueado via telefonia (nos livros, revistas e folhetos são disponibilizados telefones para aconselhamentos, feitos pelos membros do Grupo). 3) Adoração ao santíssimo sacramento, música, louvor, cura e libertação. Estes são, digamos, outros braços do aconselhamento, pois o tal também é concebido em termos espirituais, no sentido de cura e libertação de problemas psíquico-espirituais por meio da oração, adoração, imposição de mãos. Neste sentido a outra ênfase é a cognitiva, ou seja, através de Seminários de Cura Interior e Sentido de Vida, ministrados em fins de semana, em quatro ou cinco blocos diferentes (cada bloco em um mês diferente). Nos seminários há aprofundamento bíblico sobre o sentido da vida, sobre os desejos do homem e de Deus, sobre o porquê as pessoas ficam doentes, depressivas ou com sentimentos suicidas. Há, conforme Hercília, uma explicação de como funciona a pessoa. Durante o fim de semana das palestras as pessoas vão pedindo perdão e buscando a cura. A adoração ao santíssimo sacramento, e o louvor, têm sido importantes como fonte de cura, segundo a fundadora. A cura, segundo Hercília, é psicológica-espiritual, através de uma revisão de toda a vida da pessoa. O número de pessoas que participam destes eventos varia entre 50 a 100 pessoas. REPONDO A VERDADE: Pontos 1 e 3: O objectivo estatutário da Comunidade é a “Nova Evangelização”. É missão da comunidade realizar o seu objectivo através dos seus carismas: contemplação- missão. Realizar a “Nova Evangelização” supõe, segundo o Papa João Paulo II, novo ardor, novos métodos e novas estratégias. A contemplação abre a Comunidade a Deus e aos seus membros e, no seu todo, ao entusiasmo por Jesus Cristo e ao acolhimento compassivo e fraterno, no interior e no exterior da Comunidade. 2- E sendo desde cedo procurada a ajuda da Comunidade Cristo de Betânea por gente de todas as idades, sofredoras de vários tipos de opressões familiares e sociais, a compaixão surge como carisma e nova estratégia para o anúncio de Jesus Cristo como único libertador, procurando-se a renovação da esperança cristã naqueles que sofrem, por vezes sem resposta na própria medicina, dado que muitos sofrimentos brotam da fome de Deus, mesmo inconsciente, do Deus que dimensiona a vida e por isso as opções do quotidiano que respondem às profundas raízes do ser humano. A partir daí são perspectivadas as acções de evangelização: “Seminários de Sentido da Vida e cura da memória”; Encontros de oração, com adoração. A causa de muitas doenças é de natureza psico-espiritual; será então certo que a cura terá de se realizar a esses níveis, mas o processo não é tão simples quanto se afigura no texto supra! ESCREVE RP: 2. Dimensões da CCB O raio de ação da CCB está concentrado praticamente entre Famalicão, onde há a casa mãe na freguesia de Telhado, e Braga. A distância entre as duas cidades é curta (25 minutos em trem parador) e pertencem à mesma arquidiocese (Braga). Para além deste pólo central, há outros pólos de atuação em Fátima (onde há uma casa de encontros da CCB). Neste caso é preciso dizer que Fátima, em Portugal, traz a si representações dos mais diversos movimentos eclesiais. Fora de Portugal, há uma casa em construção no Brasil, em Arapiraca (Alagoas), em que está uma irmã portuguesa a atuar, além de casas (uma em cada lugar) em Cabo Verde, Moçambique e Timor Leste (todas em construção). Nestas casas no exterior também se oferecem os mesmos trabalhos da casa mãe em Portugal, ou seja, reuniões regulares de louvor, cura e libertação, adoração ao santíssimo sacramento, palestras de pessoas ou padres ligados ou simpáticos ao tipo de espiritualidade da CCB, retiros de cura e libertação, festivais sazonais de louvor. É interessante notar que, contabilizando, há mais casas da CCB fora de Portugal do que em solo português, onde, de fato, há apenas duas casas comunitárias. Isto é significativo também quando se percebe, em olhar na observação participante (já que a fundadora diz não dispor de dados estatísticos ou mesmo não se importar com números) que, pelo menos, metade dos membros, ou talvez mais da metade, são oriundos de países lusófonos que não Portugal. Ou seja, há bom número de timorenses e africanos, embora poucos brasileiros, pois a informação que tenho é que só há dois brasileiros efetivamente - ou seja, no processo de formação comunitária - no movimento, um deles estando em Portugal. REPONDO A VERDADE: A Comunidade Cristo de Betânea, para além de membros residentes, como já foi referido, tem membros externos que formam a “Comunidade de Aliança.” Destes, alguns, em razão da sua proximidade, constituem-se em fraternidades que proporcionam centros de oração e escuta fraterna. Portanto, a preocupação da Comunidade Cristo de Betânea não consiste apenas em abrir casas para acolher pessoas, mas sobretudo desdobrar os centros de acolhimento e ajuda fraterna por diversos pontos do país e não só. Por isso, o raio de acção da Comunidade Cristo de Betânea não está concentrado em Famalicão e Braga. Aí estará o raio de acção da Casa de Formação e da Fraternidade de Braga. O raio de acção estende-se até onde há casas, fraternidades e centros de acolhimento fraterno. E nesta mesma lógica, a pergunta acerca do número de membros é de difícil resposta imediata. Quantos membros internos há na Casa de Formação, na casa e centros de oração e acolhimento, tanto em Portugal como em Cabo Verde, Brasil e Timor e ainda os membros dispersos por Portugal, Austrália e Moçambique? Efectivamente que era resposta impossível de momento e, mesmo agora, só consultando os moderadores das casas, bem como os delegados das fraternidades. E é certo que a fundadora não se preocupa com o número dos membros da Comunidade, mas com a sua qualidade. Muitas vezes diz que “os apóstolos eram doze”, mas gente determinada por Jesus Cristo! ESCREVE RP: O Brasil, por ser terra fértil quanto ao surgimento de novos movimentos religiosos católicos, ligados ou não à RCC, talvez seja um lugar de grande concorrência entre movimentos eclesiais novos, explicando assim as poucas vocações específicas. Outra questão é o lugar onde a CCB foi se instalar no Brasil, no interior de Alagoas, em Arapiraca. Normalmente o nordeste brasileiro tem sido considerado lugar de poucas vocações religiosas, ainda que seja a região mais católica, percentualmente, do Brasil. REPONDO A VERDADE: Não foi nem é o critério da obtenção de vocações que determinou nem determina a abertura de casa no Brasil, ou noutra localidade. São as necessidades do Reino de Deus manifestadas por Bispos ou mesmo párocos. A Comunidade está no Brasil numa das zonas mais pobres desse país, ao serviço da Igreja Católica, servindo o aprofundamento da fé e trabalhando sobretudo na promoção da mulher marginalizada, procurando contribuir para a sua libertação pela inserção social activa! ESCREVE RP: Então, por que Arapiraca? Seria logisticamente o melhor lugar? REPONDO A VERDADE: A Comunidade está em Arapiraca simplesmente porque Deus o quis e o manifestou através do convite de um sacerdote brasileiro nosso conhecido que nos apresentou o Bispo de Penedo, o qual nos aceitou, com o desejo expresso de que daí a Comunidade Cristo de Betânea se expanda pelo Brasil. ESCREVE RP: A CCB está longe de ser uma unanimidade simpática para clero e para o arcebispo de Braga. REPONDO A VERDADE: É normal. Não há obra na Igreja ou empresa no mundo que seja unanimemente apreciada por todos. Nem Jesus Cristo agradou a toda a gente e muito menos aos sacerdotes de então! Mas talvez RP tenha corrido o risco ou ter tido o azar de ter falado com algumas pessoas não simpatizantes com novidades na Igreja, com os carismas ou espiritualidade da Comunidade Cristo de Betânea e que, até por desconhecimento, tenha incorrido em juízos sobre aparências. Sociologicamente sabe-se que a resistência à mudança é uma realidade. Sabe-se que a pessoa humana gosta da novidade, mas quando ela bate à porta nem sempre a aceita. Também se sabe que as pessoas comuns julgam pelas aparências. É neste quadro de valores sociológico cognitivos que tem de se analisar simpatias e antipatias surgidas a priori em relação a tudo o que é novo e obviamente à novidade que oferece a Comunidade Cristo de Betânea. Por outro lado, a exortação Apostólica Pós-Sinodal “Vita Consecrata” (págs. 94-96), refere a necessidade de complementação entre as “Novas Comunidades” e as “Comunidades Históricas”. Mas, aqui e além, e com bastante frequência e certamente contra a vontade de Deus, se verifica o desconhecimento e a difícil aceitação das “Novas Comunidades” por parte das Comunidades “Históricas”. RP cita neste trabalho a opinião do Padre Dário Pedroso, sacerdote importante na diocese de Braga mas que nunca contactou directamente esta Comunidade e com quem a Comunidade nunca entrou em contacto. Por isso, o referido sacerdote poderá conhecer a Comunidade apenas pelo que pode ouvir dizer dela. E RP atribui ao Padre Dário Pedroso alguma referência acerca da falta de simpatia do senhor arcebispo D. Jorge Ortiga para com esta Comunidade. Pena foi não procurar contra-prova junto da Comunidade, pois poderia ser esclarecido acerca da ajuda que nos tem sido dada precisamente pelo Senhor Arcebispo D. Jorge Ortiga através da sua presença, aconselhamento, promessa de oração e apoio revelados, não apenas em visitas mas também na correspondência havida entre o Senhor Arcebispo de Braga e esta Comunidade. ESCREVE RP: Geralmente, um novo movimento eclesial, para instalar-se noutro país, precisa de referências hierárquicas. Portanto, é possível que a CCB não tivesse muitas referências a oferecer para se instalar no Brasil. REPONDO A VERDADE: A Comunidade basta-lhe ser em si mesma uma referência missionária dentro da Igreja Católica e ao seu serviço, na Diocese onde Deus a fez nascer e na Igreja Universal. Não precisou de outros créditos se não ser conhecida aqui em Portugal, in loco, pelo Padre Manoel Henrique, Pároco de S. Pedro, Maceió (Ponta Verde), Alagoas, Brasil, e ser por ele sugerida e apresentada ao Senhor Bispo de Penedo, D. Valério Breda. Nestas coisas de Deus a lógica humana falha muitas vezes. A lógica de Deus é bem outra! Deus dispensa os créditos humanos, bem como os lobbys, que por vezes funcionam na lógica dos empregos, cargos políticos ou progressões em carreiras, mesmo académicas! ESCREVE RP: Porém, Hercília é conhecida do bispo da Diocese de Penedo, em que se situa Arapiraca, e, a partir deste conhecimento e possível amizade, foi feita a proposta e convite para a CCB se instalar em Arapiraca, Alagoas. REPONDO A VERDADE: Mentira! Hercília não conhecia o Bispo da Diocese de Penedo! (Porquê apresentar num trabalho - algo que deve ser objectivo - uma suspeição sem fundamento? “Possível amizade…”). A coordenadora da Comunidade não conhecia o Bispo D. Valério de lado algum. Tudo se passou de maneira bem diferente. Como foi? Um sacerdote que veio pregar em encontros desta comunidade em Fátima, tendo-a apreciado no exercício dos seus carismas (da Comunidade) achou que seria importante a sua presença e acção no Brasil. Fez então um desafio à Coordenadora para irem para o Brasil. Em tempo oportuno, foi uma equipa a Maceió, onde colaborou com o P. Manoel Henrique em alguns serviços. De uma segunda vez, o referido sacerdote - esse sim, que conhecia e admirava D. Valério Breda, Bispo da diocese de Penedo -, achou por bem conduzir a equipa a Penedo, para a apresentar ao referido Bispo. Achando D. Valério Breda que Arapiraca seria o lugar certo para o estabelecimento desta comunidade, na sua diocese, enviou a equipa a Monsenhor Luiz Marques, do qual recebeu caloroso acolhimento. De regresso a Portugal, a questão da oportunidade da missão no Brasil e da aquisição aí de uma casa para a partir daí exercer a missão foi colocada ao Senhor Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga que, tendo começado a acompanhar este processo aquando da partida de uma equipa para decisões acerca da aquisição de um terreno e casa, enviando-lhe a sua bênção e promessa de oração recomendava prudência e fortaleza nos discernimentos a fazer. Após os contactos feitos no Brasil e apresentadas decisões possíveis e a todas as partes envolvidas no projecto, nomeadamente ao Senhor Arcebispo D. Jorge Ortiga, e tendo sido favoráveis todos os pareceres, em Novembro de 2004 partia para Arapiraca, Diocese de Penedo, a primeira equipa desta comunidade, com envio missionário feito no Paço Episcopal pelo Senhor Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, para abrir a casa que iria ser centro de oração e aprofundamento da fé, de acolhimento e de serviços voltados sobretudo para a promoção da mulher explorada ou marginalizada, com vista à colaboração na sua inserção social. ESCREVE RP: 3.Revista Jesus Vivo Além de livros, o meio midiático de evangelização mais conhecido da CCB é a revista Jesus Vivo. O nome já é um programa, comum à RCC, ou seja, destacar um Jesus vivo e atuante em contraste com um Jesus da Paixão e da religiosidade popular portuguesa. A revista tem como conteúdo artigos assinados por Hercília Pinto, por um ou outro membro da CCB, por algum convidado, ou retirados de outros meios de comunicação, muitas vezes sem menção das fontes. Há, no início, sempre uma mensagem de Hercília. Segue-se a isto uma colagem de várias notícias que ocorrem na Igreja Católica, todas também sem citação das fontes. REPONDO A VERDADE: A Revista Jesus Vivo está estruturada em secções diversas. A menção das fontes de diversos artigos e da secção “Em Espírito de Igreja”, na qual se apresentam notícias mais pertinentes a nível Nacional e Internacional, encontra-se no verso da capa: “Agência Ecclesia”, agência oficial da Igreja católica em Portugal e ainda as agências noticiosas internacionais Fides, Aci Digital e Zenit. ESCREVE RP: Existe uma seção de cartas e, avante, estão os artigos propriamente ditos, sempre ilustrados com fotos coloridas. São artigos de fácil leitura e, nas revistas a que tive acesso, contemplam temas do carisma da CCB, assim como temas atuais e “quentes” na Igreja. Por exemplo: “Deprimidos: como ajudar?”; “Sacrário: pólo de atração”; “Educação de crianças”; além de artigos referentes ao aborto, família e evangelização. Há também um grande espaço para relatar os acontecimentos relativos a CCB, as missões no exterior, a divulgação de seus seminários e também páginas devocionais, com orações. Enfim, há uma passagem onde se referem todas as leituras litúrgicas das missas do mês e a página de propaganda dos artigos da CCB. Embora a tiragem seja de 3.500 exemplares, não tive acesso ao número de assinantes. O conteúdo dos artigos reflete uma teologia tradicional, sem extremismos de qualquer parte, bem comportada. Mas, aqui e ali, com referências próprias à linguagem e ideários carismáticos. Parece ser uma revista dirigida para entretenimento catequizador a um público interno à Igreja e, talvez, interno também à CCB em grande parte. REPONDO A VERDADE: A Revista Jesus Vivo está estrutura em secções, assinaladas ao cimo de cada página, nas quais os artigos se inserem, para que se possa fazer uma leitura enquadrada, tanto de cada artigo como da própria revista. A saber: “Editorial” (pág. 1); “Voz do Leitor” e ficha técnica (Pgs 2-3); “Em Espírito de Igreja” (p.4-5); “Tema de vida” (Pág. 6); “Ontoterapia” (Pgs 8-9); “Actualidade” (Pgs 10-12); “O Espírito Santo Hoje (Pgs 13-14); Páginas directamente pensadas para jovens (Pgs 15-18); “Evangelização e Nova Evangelização” (18-23); Temas sociais (Pgs 24-27); “Terceiro Milénio com Nossa Senhora” (Pág 28); “Comunidade Cristo de Betânea”; “Ecos das Missões” (Pgs. 29-30). “Dia-a-Dia” (Citações dos textos bíblicos da liturgia eucarística para dois meses, e não para apenas um mês, como cita o autor do artigo RP) (Pgs 31-32). No interior da capa e da contracapa anuncia-se os artigos pertinentes para Evangelizar, como livros, Cd’s, etc. Na capa da Revista Jesus Vivo pode ler-se o seu objectivo: “Revista de espiritualidade, evangelização e missão” De acordo com os temas enunciados pelo autor, recolhidos de um dos números que não identifica, bem como das secções já referidas, nas quais a mesma se estrutura, não se pode concluir que a revista seja, como escreve RP, dirigida para entretenimento catequizador a um público interno à Igreja e, talvez, interno também à CCB em grande parte. Até porque RP afirma na pág. 90 do seu trabalho: “Além de livros, o meio midiático de evangelização mais conhecido da CCB é a revista Jesus Vivo.” De facto, se a Revista serve a Evangelização, não pode ser considerada de “entretenimento” nem “catequética”. É que a evangelização tem como objectivo o Kerigma, ou seja, o anúncio de Jesus Cristo. A catequese tem como objectivo o aprofundamento do conhecimento da Pessoa de Jesus Cristo, encontrada pelo Kerigma. São duas vertentes da Missão da Igreja, complementares e, por isso, cada termo designa uma missão. A confusão ou indistinção dos termos gerará confusões de carismas e ministérios, em vez da sua complementaridade. ESCREVE RP: 4. Conhecendo adeptos e “hábitos” Os adeptos postulantes, noviços e professos da CCB usam o prenome de “frei” para os homens e “irmã” para as mulheres. REPONDO A VERDADE: Não existe a categoria de “adeptos” na Comunidade, mas de “Estagiários”, “Postulantes”, “Noviços” e “Comprometidos”. Por outro lado, há engano quanto ao uso do Hábito. A verdade é que apenas os “Noviços” e “Comprometidos” podem optar por usar um sinal exterior da sua adesão a Cristo na Comunidade Cristo de Betânea. ESCREVE RP: Hercília Pinto objetiva sua comunidade religiosa de consagrados e colaboradores, contemplativa e de ação. Contemplativa porque homens e mulheres consagrados (e em alguns casos mesmo casais) convivem num mesmo ambiente, as casas-conventos, numa disciplina diária de adoração ao santíssimo sacramento, oração da Liturgia das Horas e trabalho manual. E ativa porque de fato os membros saem às ruas, à feira ou livraria para vender os produtos da CCB, ou para escutarem pessoas, para evangelizar através de Seminários (como os de Fátima) ou dos sábados de louvor aberto à comunidade exterior. REPONDO A VERDADE: Teremos de desfazer confusões: Não se poderá dizer que Hercília “objectiva sua comunidade”, como escreve RP. Uma comunidade que exista na Igreja Católica nunca é pertença de uma pessoa. Até porque, por definição, a comunidade implica pessoas que colocam em comum as suas vidas e bens, espirituais e materiais, para serviço do Reino de Deus. E, como já foi referido, o fundador é apenas uma pessoa de quem Deus Se serve para fazer surgir na Igreja um lugar e um instrumento de trabalho Seu. A pessoa que tem o carisma de presidir, usando a linguagem de S. Paulo na Carta aos Romanos, capítulo 12, versículo 8, preside à comunidade dos irmãos, para bem da ordem na comunidade: no Direito Canónico essa pessoa designa-se por “Moderador da Comunidade”. Portanto, não se poderá aligeirar a linguagem, para que não se traia a verdade. A Comunidade Cristo de Betânea, sendo uma “Nova Comunidade” que integra membros internos consagrados ou não, e ainda a comunidade externa de “Aliança”, não se poderá chamar de comunidade religiosa de consagrados e colaboradores. Os colaboradores da comunidade são “colaboradores” da realidade desta Comunidade. Também convém clarificar o apelido de Comunidade “religiosa”. Talvez não haja coincidência de conceitos entre a área das ciências sociais e das ciências religiosas. Dada a essência da Comunidade Cristo de Betânea, será em sentido muito lato ou muito restrito; depende da referência em questão que se poderá designar de comunidade “religiosa”. Religiosa porque nasce e se desenvolve, existe e actua no seio da religião cristã - na Igreja católica. Se a comparamos com as Comunidades Históricas da mesma Igreja Católica, então estas são Comunidades “Religiosas”, assim consignadas no Direito Canónico da Igreja católica. Mas a Comunidade Cristo de Betânea é simplesmente uma “Nova Comunidade.” Convém esclarecer que nem todos os membros internos da Comunidade Cristo de Betânea se dedicam ao trabalho manual. Como seria feita a Revista Jesus Vivo? E como seriam escritos os livros das nossas edições? Na Comunidade Cristo de Betânea cada um serve através dos seus dons. E os casais e outros membros da comunidade já efectivos podem exercer actividades da sua competência fora da comunidade. ESCREVE RP: Para caracterizar este sinal monástico-ativo, existe um hábito, igual para homens e mulheres, cujo uso é facultativo, mas recomendado. A razão do hábito é que, segundo Hercília, a sociedade de hoje precisa de “sinais chocantes”. O hábito compõe-se de túnica branca com escapulário e capuz azuis (no caso das mulheres, véu e escapulário azuis). REPONDO A VERDADE: Será mais preciso dizer que o hábito surge como um dos sinais da inserção da comunidade na tradição monástica da Igreja, sendo ele mesmo sinal da vida entregue totalmente Deus, num mundo que lhe volta as costas. Quanto à cor dos hábitos, RP afirma que o véu das mulheres é azul; ora, esclarece-se que o lenço (e não véu) das mulheres que optam pela especial consagração, não é azul, mas branco. ESCREVE RP: Sendo que escapulário azul mais claro para os noviços, e azul mais escuro para os membros de votos definitivos, ressaltando o compromisso maior para quem faz as promessas finais2. O branco está a simbolizar a esperança e ressurreição, e o azul a escatologia e o céu. Usam sandálias castanhas simbolizando os “pés na terra”. 1- Há, no ideário da CCB, uma volta às origens católicas, referenciadas em vestes e costumes católicos de antanho. Muitas Comunidades de Vida, ligadas ou não à RCC, prescindem de hábitos, isto é, peça do vestuário religioso com raízes e ligações com épocas medievais. Mesmo as congregações religiosas católicas (masculinas), surgidas após o Concílio de Trento (século 16), aboliram o hábito nos moldes medievais (como, por exemplo, os adotados pelos beneditinos, franciscanos, dominicanos, servitas, mínimos, carmelitas, todos surgidos no medievo). Adotavam, congregações pós-tridentinas, batinas, ainda que diferenciadas das seculares-diocesanas por algum detalhe nas tais3. Assim, por exemplo, com jesuítas, redentoristas, verbitas, salesianos, dentre outros. 2- Ora, voltar a usar hábitos segundo os modelos pré-tridentinos, portanto medievais, é um fenômeno que surge em maior grandeza, senão em exclusividade, em tempos recentes na esteira de novos movimentos eclesiais, notadamente alguns surgidos sob o sopro da RCC. A CCB interpreta que, por ter caráter inspiratório “monástico”, era preciso reinventar um hábito de estilo medieval, para conformar-se à espiritualidade que reivindica. Nota-se aí uma identificação entre visual e performance estilística com propósito de vida, em que o hábito faz o monge. 2 Os votos são os compromissos (promessas) assumidos, pelos religiosos católicos, de pobreza, castidade e obediência, tendo, habitualmente, duas etapas: compromissos temporários, renováveis a cada ano ou período superior de tempo; e votos (compromissos) definitivos, não renováveis. 3 O hábito é a vestimenta talar (eclesiástica) usada pelos padres de vida regular, ou seja, que congregam comunitariamente em determinada organização eclesiástica católica, como as citadas no texto, convivendo em conventos ou residências. As congregações ou ordens que abrigam o clero regular se diferenciam do clero secular por, por exemplo, seus membros assumirem as promessas (votos) religiosas (castidade, pobreza e obediência) e por se referenciarem em constituição interna própria, conforme o carisma e objetivos da congregação religiosa a que pertencem. As Comunidades de Vida, por sua vez, surgidas a partir de década de 70 do século 20, têm características semelhantes às das congregações religiosas, porém sendo, em sua maioria, associações de leigos (não clérigos) e prescindindo de vestes eclesiásticas. Não há uma reflexão sobre a possibilidade de ser contemplativo sem ter que, necessariamente, recorrer ao baú de vestuários da Igreja. REPONDO A VERDADE: Em português de Portugal há uma diferença total entre voltar às origens e inspirar-se nas origens. Para não nos afastarmos do que somos, até mesmo como Igreja, teremos de conhecer as nossas origens e ir aí buscar orientações fundamentais. Sociologicamente e filosoficamente sabemos que uma coisa é a revolução: rejeição de tudo o que é do passado, para construir tudo de novo, e outra coisa é a evolução: esta faz-se na continuidade, sem rupturas, aproveitando do passado o que é válido e buscando a novidade conveniente. É disso que se trata, mesmo no Concílio Vaticano II: repensar a Igreja hoje, a partir do primeiro Pentecostes, buscando um novo Pentecostes que a rejuvenesça. Daí arranca a teologia dos carismas. Ela está em S. Paulo. Sim, volta-se lá para buscar o que está esquecido ou a base segura para que a Igreja seja fiel ao plano de Deus e não ao dos homens. As Novas Comunidades, sobretudo as que se inserem na dinâmica carismática, surgidas após o Concílio Vaticano II, vão às origens, não para voltar para lá, pois isso a Historia não permite, mas para aproveitarem do passado aquilo que hoje ainda é bom. Aqui se insere a questão do hábito, ou seja, da escolha de um uniforme para os irmãos(ãs) em estado de especial consagração. Há, de facto, uma inspiração no hábito monástico, no qual se inserem algumas novidades. E tudo isto não apresenta qualquer novidade, nem para europeus, nem para brasileiros. Portanto, tanto na Europa como no Brasil há diversas “Novas Comunidades” que optam pelo uso deste tipo de uniforme, ou sinal, como queiramos chamar-lhe. Há a recordar o que já está dito para evitar confusões implícitas nesta afirmação de RP: “Não há uma reflexão sobre a possibilidade de ser contemplativo sem ter que, necessariamente, recorrer ao baú de vestuários da Igreja.” É pena o uso do termo “Baú da Igreja”, porque a tradição da Igreja nada tem a ver com um “baú”, pelo menos na conotação do termo “baú” em português de Portugal. E a verdade é que a reflexão em questão existiu, estando provada pelo facto de todos os membros, com ou sem hábito, internos e de Aliança, para o serem, assumem a espiritualidade e carismas da comunidade. E se ela é contemplativa… todos são chamados a sê-lo! ESCREVE RP: A questão que coloco, portanto, não é a do hábito em si, usá-lo ou não. Mas de identificar uma missão com um simbolismo têxtil de eras passadas. Ou seja, de ancorar o simbólico no passado, idealizando-o e o refazendo-o aos modernos. A opção por um estilo estético contracultural pode ser visto como uma ruptura de contraste, de divergência, tanto em relação à sociedade como quanto à Igreja, ou a certos modelos eclesiais. Assim, nesta opção há uma ruptura “implicando crítica ao mundo exterior (...) a assumir uma nova identidade, divergindo das demais pessoas pelo uso de vestimentas próprias” (GUERRIERO, 2006, p. 29). Afinal, “a pessoa constrói-se na e pela comunicação” (MAFFESOLI, 1999, p. 310), Faz parte, assim, de sensibilidades (pós) modernas o “vibrar por meio de imagens, gozar, nem que seja de maneira relativa, do mundo tal como ele é: eis as grandes características de uma ética da estética” (MAFFESOLI, 1995, p.146). “Não só a arte, o esporte, a política, se dão como espetáculo, mas também a religião” (CARVALHO, 1999, p. 149). E, sem dúvida, o vibrar comunicacional da imagem traz à tona o tema da militia Christi. “A estética da imagem corresponde à sua função dinâmica, a de fazer experimentar juntos emoções e, com isso, fortalecer o corpo social que é seu portador” (MAFFESOLI, 1999, p. 346). Comprazer-se com a aparência, ter nela uma finalidade, um ato, fazer dela uma ontologia, leva a um paradigma estético (MAFFESOLI, 1999, p. 156). É verdade, como diz Hercília, que o hábito “choca” este mundo. Entende-se que seja talvez uma boa estratégia “chocar” visualmente para chamar a atenção a Jesus, ao Evangelho, à Igreja. Mas a questão é esta: com o que se choca, a que remete este choque? Não, por exemplo, a um Jesus e Igreja de uma Teologia Liberal ou de uma Teologia da Libertação. O efeito visual deste choque tem endereço, e lembranças, certas: uma Igreja medieval, um dossel sagrado, uma sociedade cristã, a cristandade medieval. O meio é a mensagem. Se tal máxima é certa, a moda medieval, rediviva, dá sua mensagem inequívoca: bons eram os tempos de outrora, a ele voltemos. À nossa maneira também nova, mas voltemos. Como observa Costa (2006) em sua análise de novos grupos eclesiais, certos grupos religiosos desenvolvem a criação e a vivência de uma heterotopia. Mas, no caso da CCB, nem tão heterotopia, mas homotopia, ou seja, o esforço por fazer que aquele mundo construído ou reconstruído seja o único mundo possível e vivenciado pelos seus adeptos, ao menos os internos. REPONDO A VERDADE: Em nome da verdade, vamos reflectir um pouco: 1 - É difícil de entender a questão do hábito ou de outra realidade qualquer, quando temos preconceitos: 2 - A Filosofia do Conhecimento adverte-nos que todo o conhecimento é uma construção em que entram as experiências passadas. 3 - Neste caso concreto do estabelecimento da relação sujeito – investigador – e hábito – objecto do conhecimento, como noutras relações de conhecimento, facilmente se pode fazer projecções que orientam a análise em determinada direcção, retirando-lhe o potencial de objectividade que deseajaríamos. Com o que foi dito já, acerca da opção por um hábito - por razões de sinal e de estratégia de evangelização – oferece-se a RP referências objectivamente captáveis, não deixando margem a suposições elaboradas subjectivamente, mera construção mental ou facilmente buscadas em autores que por sua vez já as construíram sob as influências das suas experiências pessoais. Portanto o uso do hábito, como escreve RP, não é para ”identificar uma missão com um simbolismo têxtil de eras passadas” Não é para ancorar o simbólico no passado, idealizando-o e o refazendo-o aos modernos. Não é opção por um estilo estético contracultural pode ser visto como uma ruptura de contraste, de divergência, tanto em relação à sociedade como quanto à Igreja, ou a certos modelos eclesiais. Nesta opção não há uma ruptura “implicando crítica ao mundo exterior (...) a assumir uma nova identidade, divergindo das demais pessoas pelo uso 4- Quanto à referência do choque provocado pelo hábito, também são desnecessárias tantas especulações, sem que se caia em repetições e até em perigos de contradições: o hábito é para quem o usa, na Comunidade Cristo de Betânea, uma ferramenta de evangelização e, numa cultura em que tudo e particularmente o extravagante está na moda, até nem põe problemas a uma sociologia estética. ESCREVE RP: Ainda há de se destacar a importância do prenome “frei” neste contexto. Certa vez, quando despedi-me, em Telhado, de um noviço, o chamei de irmão, e ele prontamente corrigiume: “frei”. Não foi um ato furtuito. Embora também nas novas congregações surgidas a partir da Renascença não se usasse mais a nomenclatura “frei”, mas irmão, os membros da CCB preferem se distinguir pela alcunha medieval, diminuitivo aportuguesado do latim fratrum, ou frater, em italiano abreviado para “fra”. Ou seja, faz-se questão de construir e demonstrar uma identidade decididamente ligada à imagem do monge medievo, de uma Igreja e vida religiosa utopizada no passado de suas insígneas, símbolos e linguagens. Afinal, a linguagem constrói em muito a auto-identidade, seja verbal ou simbólica (ORLANDI, 1987; 1996). REPONDO A VERDADE: Esclarecendo a questão do uso do designativo de “Frei” para os irmãos: não é, como escreve RP, de “construir e demonstrar uma identidade decididamente ligada à imagem do monge medievo, de uma Igreja e vida religiosa utopizada no passado de suas insígneas, símbolos linguagens. Afinal, a linguagem constrói em muito a auto-identidade, seja verbal ou simbólica (ORLANDI, 1987; 1996), como afirma o autor, evocando Orlandi. Como consequência lógica de tudo o que está esclarecido anteriormente, usar a designação de “irmão” ou “frei” é uma questão de opção estratégica por algo que choca. E fica aqui provada a sua operância, pelo questionamento que colocou ao autor de artigo. Afinal, o uso do hábito, do designativo de frei, em vez de afastar as pessoas, aproxima-as, nem que seja para um primeiro questionamento. A partir daí vem o pretendido diálogo, mesmo que seja pela vontade de contestar ou pela curiosidade de saber mais. É isso mesmo que se pretende na dinâmica da “Nova Evangelização”. ESCREVE RP: 5. A libertação: entre a narrativa carismática e a “científica” Aqui é preciso parar para algumas observações. A primeira é o caráter cientificizante que se dá à questão dos problemas “psíquico-espirituais” na CCB. A junção psicologiaespiritualidade aponta para um diálogo que se quer com o mundo moderno na compreensão, e superação, de mazelas como depressão e angústia, por exemplo. REPONDO A VERDADE: E é bem verdade. As pessoas que aparecem na Comunidade com problemas precisam de ajuda de carácter psico-espiritual. Mas esta comunidade deseja que todos tenham acesso a respostas que merecem e necessitam. E se há possibilidade de as proporcionar por pessoas credenciadas cientificamente para o fazer, por que não fazê-lo? Por que ficar no amadorismo empirista? ESCREVE RP: É, também, uma forma da CCB se empoderar de um status mais científico. REPONDO A VERDADE: Essa é apenas uma suspeição, como tantas outras ao longo deste trabalho de RP, de pendor negativo e repetitivo. A Comunidade Cristo de Betânea apenas quer dar o seu melhor a quem sofre. É uma questão de respeito pelas pessoas, de compaixão fraterna, de verdade naquilo que se faz. Para isso, a Comunidade procura luz na ciência, na tentativa de perceber o que se passa em cada situação concreta aparece. A Comunidade não anda à procura de status. Sendo a Comunidade formada por pessoas concretas, seriam então essas que pretenderiam status. Mas não, o que se compreenderá com mais facilidade numa comunidade do chamado primeiro mundo. Quem entra numa Nova Comunidade vem para perder o status social, económico e pessoal que possa ter, pois entrega-se a Deus para a missão, na qual tudo partilha com os irmãos. E muitos dos membros desta comunidade tinham efectivamente um bom status social e económico. Mas, por amor a Deus e aos irmãos, foram-no perdendo, partilhando os seus bens para viverem com pouco, à semelhança do Mestre! Por isso, quem pensa em vir procurar um status que não seja o de tudo partilhar fraternalmente para a missão conjunta de anunciar Jesus Cristo, na Comunidade Cristo de Betânea ou noutra “Nova Comunidade” europeia, defrontar-se-á com uma grande decepção, que o fará regressar em breve tampo à sua terra. Como se depreende, passa-se ao contrário do que é suposto na tese de RP. ESCREVE RP: Nesta hibridização, os problemas e soluções são abordados dentro de uma perspectiva holística, numa explicação do que é o ser humano, do sentido da vida, da origem dos males e de sua libertação. A perspectiva cognitiva na elaboração das questões e encaminhamento para soluções aproxima-se dos grupos religiosos que percebem doença e cura como dependentes do conhecimento, ou melhor, do auto-conhecimento, avizinhando-se, assim, a grupos da Nova Era e ao conceito de auto-ajuda (AMARAL, 2000; TAVARES, 2003). REPONDO A VERDADE: Esclarecendo a questão: talvez a conotação do conceito de “hibridização” não tenha a mesma conotação no português falado no Brasil e em Portugal. Aqui significa “mistura”. Ora, não se trata de qualquer mistura, nem de qualquer novidade quando se procura uma abordagem multidisciplinar e interdisciplinar da pessoa humana para a acolher e tentar ajudar na busca de solução para os seus sofrimentos. Trata-se de ser consciente da complexidade da pessoa humana em qualquer área da sua personalidade e da inter-relação existente entre essas diversas áreas. Não é para isso que existem as diversas ciências e as especializações? Não termos essa preocupação é que seria de estranhar, numa era científica. O que haverá de semelhante aqui, no recurso a pessoal científica e tecnicamente preparado para ajudar as pessoas, com as terapias pelo auto-conhecimento ou poder da mente ou outras terapias da “Nova Era”? Associar esta Comunidade à “Nova Era” significa ou não conhecer a “Nova Era” ou não conhecer nem perceber nada desta Comunidade. ESCREVE RP: A perspectiva da revisão de vida nos lança a uma comparação com métodos da psicanálise, aliás, já batizada carismaticamente, particularmente com o Pe. Marcelo Rossi, em seus programas radiofónicos em que, como terapeuta, sugere uma verdadeira anamnese até o ventre da mãe para a libertação de males e obtenção da paz. E a cura ladeada pela adoração ao santíssimo sacramento, louvor, oração, remetem direto ao próprio coração da RCC. Enfim, há um amálgama cristão que usa de metodologia e linguagem da psicologia e psicanálise, sob a estrita transmutação cristã, para legitimar um propósito de evangelização e cura numa sociedade que, pós-tradicional ou pós-moderna, assente à bricologem das linguagens e suas inauditas criações (MAGALHÃES; PORTELLA, 2008). Neste caso é interessante a autodefinição da CCB num dos artigos de sua revista, onde é dito que a CCB procura anunciar Cristo “no contexto da cultura pós-racionalista” (Jesus Vive, nº 108, p. 13). Ela mesmo se mostrando, digamos assim, pós-racionalista ou pós-moderna, procura realizar sua missão. ESCREVE RP: A perspectiva da revisão de vida nos lança a uma comparação com métodos da psicanálise, aliás, já batizada carismaticamente, particularmente com o Pe. Marcelo Rossi, em seus programas radiofónicos em que, como terapeuta, sugere uma verdadeira anamnese até o ventre da mãe para a libertação de males e obtenção da paz. E a cura ladeada pela adoração ao santíssimo sacramento, louvor, oração, remetem direto ao próprio coração da RCC. Enfim, há um amálgama cristão que usa de metodologia e linguagem da psicologia e psicanálise, sob a estrita transmutação cristã, para legitimar um propósito de evangelização e cura numa sociedade que, pós-tradicional ou pós-moderna, assente à bricologem das linguagens e suas inauditas criações (MAGALHÃES; PORTELLA, 2008). Neste caso é interessante a autodefinição da CCB num dos artigos de sua revista, onde é dito que a CCB procura anunciar Cristo “no contexto da cultura pós-racionalista” (Jesus Vive, nº 108, p. 13). Ela mesmo se mostrando, digamos assim, pós-racionalista ou pós-moderna, procura realizar sua missão. REPONDO A VERDADE: Na perspectiva da ajuda que a Comunidade Cristo de Betânea pretende dar a quem sofre e a procura não está uma revisão de vida, no sentido simplista do termo. È evidente que há muitas “escolas de cura” da “Nova Era” que não usam métodos científicos. E há quem, não sendo diplomado nas ciências da psicologia, use algumas técnicas que ajudam a pessoa a fazer uma cura da memória pela recordação de causas de feridas do seu passado mais ou menos remoto. Será esta uma ajuda possível, enquanto não houver possibilidade de ajudar as pessoas com métodos e técnicas científicas. Mas a Comunidade Cristo de Betânea, como foi dito, opta por se socorrer da ciência para melhor ajudar as pessoas. Enfim, para repor a verdade, no que toca à Comunidade Cristo de Betânea, temos de dizer que, sinceramente, não se vê onde haja, como escreve RP, esse “amálgama cristão que usa de metodologia e linguagem da psicologia e psicanálise, sob a estrita transmutação cristã, para legitimar um propósito de evangelização e cura numa sociedade que, pós-tradicional ou pós-moderna, assente à bricologem das linguagens e suas inauditas criações (MAGALHÃES; PORTELLA, 2008)”. É tudo muito claro e simples, se não quisermos complicar. A Comunidade Cristo de Betânea usa o acolhimento fraterno, a escuta das pessoas que sofrem, a oração, porque a fé nos diz que Cristo é o mesmo de ontem, de hoje e de sempre. E se Ele veio para curar doentes, Ele está hoje para curar doentes. Usamos a ciência, particularmente a psicologia, sempre que possível - ela também dom de Deus ao homem. A Comunidade usa técnicas de “Terapia Familiar”, praticadas por psicólogos e terapeutas, para ajudar as pessoas. Quanto a classificar a Comunidade de “pós-racionalista” e “pós-moderna”, filosoficamente os dois termos referem-se à mesma realidade. O que quer dizer é que, sendo a cultura moderna caracterizada pelo racionalismo materialista – egoísta, esvaziou o ser humano da sua essência de pessoa, transformando-o em mero indivíduo “individualista”, com a sua sensibilidade psicológica destabilizada e tolerante, centrada sobre a realização emocional de si próprio, ávida de juventude, de desportos, de ritmo… (Gilles Lipovetsky, A era do vazio, pg.13): vazio de subjectividade, vazio de Deus, vazio da comunhão com os outros homens… Ora, é esse vazio de valores humano-cristãos que caracteriza a pósmodernidade. É que esse vazio provoca desequilíbrios e doenças de diversa etiologia, como as doenças psico-espirituas, muitas vezes somatizadas. Ora, a Comunidade Cristo de Betânea nem é racionalista nem pós-racionalista. É uma “Comunidade Nova”, contemplativa e missionária, constituída por cristãos, pessoas preenchidas por Deus e estruturadas na relação de comunhão com Deus e com os outros, dentro e fora de si mesma, que em Igreja procura responder aos vazios e doenças das pessoas vítimas da cultura racionalista. ESCREVE RP: Por isso a CCB procura anunciar Cristo “no contexto da cultura pós -racionalista” (Jesus Vive, nº 108, p. 13) REPONDO A VERDADE: Gralha: A Revista da Comunidade chama-se “Jesus Vivo” e não “Jesus Vive” ESCREVE RP: 6. O Espírito Santo não é um burocrata, mas também não é um anarquista Hercília, assim como os irmãos, fogem de números. Não têm certeza ao certo de quantas pessoas consagradas ou em vias de consagração integram a CCB. Mais uma demonstração do não calculismo racionalizante, numa atitude anti-moderna, em que se experimenta o ES como a gratuidade de Deus, sem cadernos de contabilidade. REPONDO A VERDADE: A verdade é mais objectiva e mais agradável do que as suposições. Foi já dito que há vários graus e formas de pertença à Comunidade, em diversas casas, fraternidades e centros de oração, em Portugal e no estrangeiro. E alguns membros poderão vir a consagrar-se ou não. Esta é uma Comunidade livre, ninguém obriga ninguém. Por isso, não se poderá dizer ao certo, e prontamente, sem qualquer possibilidade de consulta, quantas pessoas há consagradas e em “vias de consagração”. O tempo o dirá. A Comunidade Cristo de Betânea tem, isso sim, cadernos de contabilidade, tanto na área da administração dos bens materiais como em relação aos registos dos candidatos e membros. Mas não exige que os números se saibam de cor. ESCREVE RP: Este é o discurso oficial. Tal recusa ao cálculo racionalizante pode ser interpretado como reação à ditadura da racionalidade, do instrumentalismo e cálculo na sociedade moderna, visando uma revalorização do místico, do imponderável (SANTOS, 1993, p. 17). Também é possível que, por ser um movimento pequeno ainda, prefira-se calar e olvidar números mais exatos. REPONDO A VERDADE: Não se trata de um discurso “oficial”, é uma questão de critérios de vida. A Comunidade Cristo de Betânea, não tendo critérios numéricos em relação aos seus membros, mas sim critérios de qualidade, na qual aposta para poder servir bem na Igreja o Reino de Deus, não tem medo nem se envergonha de supostos números baixos. Importa é vocações sólidas, pessoas que se querem comprometer e dar. A Comunidade não é um refúgio, mas um lugar de dádiva em serviço. Nem Jesus Cristo se preocupou com o pequeno número dos membros da Sua Comunidade! Esses poucos foram os que se deram por Ele. A multidão que O seguia serviu para O trair… Se Ele é o Mestre, nós devemos apenas segui-Lo! ESCREVE RP: Depois de muito insistir de várias formas, foi Hercília que, “puxando pela memória”, deu “mais ou menos” os números, meio a contra-gosto: professos definitivos seriam uns 12, conforme Hercília, e ainda 6 noviços e cerca de 30 postulantes. Ainda haveriam outros tantos em tempo de experiência e conhecimento. Homens e mulheres por igual percentualmente, segundo Hercília. REPONDO A VERDADE: Dizer que é a contra-gosto que Hercília puxa pela memória para falar de números é, entre outros, um suposto pessoal de RP, entendido na lógica deste trabalho, mas não na lógica da verdade dos factos, o que fica atrás provado, com os critérios que orientam a Comunidade Cristo de Betânea, e que não andarão longe dos critérios de qualquer “Nova Comunidade.” ESCREVE RP: O nível sócio-econômico parece ser o de classe média baixa ou mesmo pobre entre os membros, no último caso principalmente entre os que vivem em comunidade de vida com votos. REPONDO A VERDADE: Apenas houve um contacto muito restrito, em tempo e em número de pessoas, do autor do artigo com membros da Comunidade Cristo de Betânea, tanto em Vila Nova de Famalicão como na região do centro do país. Por isso, o tomar o todo pela parte é perigo falacioso. Em nome da verdade, e alertando para o que já atrás foi dito a propósito do status, temos de afirmar que, no seu todo, sociológica, cultural e economicamente a Comunidade Cristo de Betânea integra e é aberta a todas as pessoas, maiores de 18 anos, que revelem capacidade para a consecução dos seus objectivos estatutários. Integra pessoas ricas e de estatuto social elevado, bem como pessoas da classe média alta e baixa. Pessoas ricas, e menos ricas. O que importa é que todos vivam como irmãos, partilhando do que tem, para que nada falte à comunidade dos irmãos (Cf Act 42, 5 e sgs), e que ainda sobre para anunciar Jesus Cristo aos que O não têm, e aos que querem um encontro mais próximo com Ele. ESCREVE RP: Não há um estudo formativo específico durante o tempo de preparação. Conforme Hercília “os carismas é que vão mandar”. Quem decide sobre possíveis cursos aos adeptos é o Conselho Geral, pois ao entrar na comunidade os membros “entregaram suas vontades à missão do Grupo”. REPONDO A VERDADE: O conceito de “estudo formativo” pode ser diferente no português de Portugal e do Brasil. A todas as pessoas em formação numa comunidade é proporcionado estudo formativo durante toda a sua vida. Mas cremos que aqui RP usa o conceito de formativo no sentido restrito, de adquirir um diploma em qualquer escola oficial, pois a seguir fala de cursos. Perceber de Comunidades católicas, sobretudo no tocante à vida consagrada na Igreja Católica, parece que se torna difícil a quem observa de fora, e talvez ainda mais difícil se esse alguém tem algum cargo em qualquer outra Igreja, como é o caso de RP. Essa dificuldade é admissível. Mas, damos uma achega: Alguém que opta por um estado de vida de especial consagração, fá-lo por amor do Reino de Deus, no seguimento de Jesus Cristo (Mt 8, 18-22). Na sua entrega, está a sua pessoa toda. A entrega livre da sua vontade deve ser a atitude de todo o cristão que reza o Pai-nosso: “…seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu…” e que “vive com o pão-nosso (da comunidade) de cada dia… (Mt 6, 9-15; Lc 11, 2-4). Por isso, não entrega a sua vontade à missão do grupo (essa entrega poderá acontecer noutros grupos sociológicos de natureza religiosa ou política, por exemplo). Pelo contrário, reforça conscientemente a entrega da sua vontade feita a Deus pelo baptismo, na Igreja a que pertence, para o serviço do anúncio e estabelecimento do Reino de Deus, vocação da própria Igreja. Significa isto uma conquista de liberdade que vai ser usada para a ajuda fraterna, em trabalho, em exclusividade, no anúncio de Jesus Cristo e na promoção humana, onde isso for necessário. E esta entrega pessoal será feita através de uma instituição com cujos carismas e espiritualidade a pessoa mais se identifica. Aí, receberá formação e preparação humana assim direccionada e de acordo com os carismas pessoais. É simples! ESCREVE RP: Antes eu havia perguntado para Hercília se, por exemplo, uma pessoa que quisesse estudar medicina poderia fazê-lo. Ela disse que não, pois a comunidade tem um carisma específico, sendo necessário estar sob ele e não se desviar dele, e que portanto os membros também entregam desejos deste tipo, despojando-se deles, para seguir o carisma específico da adoração, evangelização, ausculta das pessoas e aconselhamento, louvor. REPONDO A VERDADE: Certamente que a pergunta a Hercília havia sido colocada no contexto da conversa anterior, pois o autor refere “antes”. Daí veio o não, aqui referido. Mas vamos esclarecer o que está confuso: se alguém entra na comunidade para tirar o seu Curso de medicina ou outro, a Comunidade continua a dizer não. Porquê? Porque é uma questão de objectivos: uma comunidade não existe para fornecer cursos às pessoas. Quando alguém decide entrar para uma Comunidade, para uma vida missionária, casado ou noutro estado de vida, optou por uma vida fraterna numa nova família - uma família espiritual. Fez a opção consciente e livre de se dedicar exclusivamente à missão, com a qual se identificou. Se a pessoa vem com o exclusivo objectivo de tirar um curso de medicina ou outro, significa que o seu objectivo não é o da comunidade: dedicar-se exclusivamente à missão. Então, se deseja tirar um curso de medicina ou outro, deverá primeiro tirar o curso pretendido; depois, procurará a Comunidade para colocar os seus talentos ao serviço de Deus na missão que Ele lhe destinar. Por isso mesmo a Comunidade aconselha os candidatos a membros a que, antes da sua entrada na Comunidade, realizem todos os seus sonhos académicos e profissionais; só depois devem pensar numa entrega ao serviço de Deus nesta comunidade. Na verdade, ninguém deve ir para esta ou outra Comunidade enganado, ou pretendendo uma oportunidade de promoção humana ou de busca de Status. Quem vem para esta comunidade procura apenas Deus, pondo os dons e estudos a render. Claro está que, se para a missão específica da Comunidade for necessário que algum membro tire algum curso adaptado, e se esse membro for capaz de o fazer, estaremos perante outra situação. Mas não se trata de, depois de pertencer à Comunidade, algum membro dizer: “Não, eu não vou em missão para esta ou aquela zona, pois agora apetece-me tirar um curso de… aeronáutica!” (Quando sabemos que não está nos horizontes desta Comunidade possuir qualquer avião ou avioneta!). Certamente não será com a leitura de Eving Goffman, designadamente a sua obra “Manicómios, prisões e conventos”, que o autor encontrará resposta adequada à sua questão. É de livre vontade e com entusiasmo de vida que alguém vai para um convento ou para uma “Comunidade de Vida” ou de “Aliança”, e com um ideal: viver a fraternidade cristão e servir o anúncio do Evangelho. As pessoas são livres nas suas opções. ESCREVE RP: Goffman (1987, p. 42), quanto a este ponto, ao analisar instituições totais, chama a atenção para o fato de que nelas se fomenta e induz à perda da autonomia e de uma identidade forjada em autonomia. Para Goffman (1987, p. 48), entre os religiosos pode existir um “desejo voluntário de perder a decisão pessoal”. Esta decisão pessoal é trocada, ou doada, com a/ao líder. Contudo, quando Hercília falou da Casa de Fátima, em que acontecem os Seminários de Cura e Libertação, ressentiu-se de não haver na CCB pessoas internas ao Grupo mais preparadas para o atendimento, como psicólogos e médicos. Há, evidente, uma contradição no discurso. Não seria o incentivo ou, ao menos, a concessão para preparação dos membros para tais funções uma ajuda ao carisma do Grupo? REPONDO A VERDADE: Tentemos esclarecer alguma confusão de temas que se encontra neste parágrafo: 1 - A autonomia pessoal mantém -se nesta, como em qualquer comunidade, atenta à sua natureza e aos seus objectivos, visto que cada um aí é responsável não apenas por si, mas por toda a comunidade, assumida comprometidamente. A autonomia é baseada nessa responsabilidade. E quem é membro da Comunidade Cristo de Betânea percebe isto: todos têm de assumir a comunidade e velar por ela. Todos devem estar atentos e colaborar para a consecução dos seus objectivos comunitários em cada dia e em cada trabalho assumido. 2 – Refere RP aqui: entre os religiosos… Parece que se está a colocar de novo a Comunidade Cristo de Betânea entre as Comunidades Religiosas, provocando confusões. 3 – Afirma RP: “Esta decisão pessoal é trocada com a do líder”. O líder, chamado de Moderador nas Novas Comunidades, é o garante da comunhão fraterna, responsável por velar pelos objectivos, carismas e espiritualidade. Não se trata, pois, de troca de decisão pessoal entre qualquer membro e o líder, mas de ajuda fraterna, proporcionada pelo responsável por essa tarefa, em ordem à consecução dos objectivos que os unem. ESCREVE RP: 4- O facto de não haver pessoas mais pessoas internas (há um psicólogo e um médico) para maior apoio aos seminários que se realizam em Fátima não encerra qualquer contradição, dados os princípios adoptados nesta comunidade e as pessoas que a integram. Simplesmente se espera a oportunidade de que Deus Chame mais médicos e mais psicólogos, pois a própria Hercília é psicóloga. - A questão, no entanto, parece ser outra, a mesma de grupos ligados a um líder específico: o do controle carismático. O profeta é quem dá a palavra final (ainda que em conjunto com o Conselho, de caráter, ao que parece, mais informativo à líder). REPONDO A VERDADE: Não conhecemos a Igreja Luterana, e por isso não podemos afirmar que se projecta aqui alguma experiência pessoal. Talvez RP empregue o termo “carismático”no sentido comum do termo e não no sentido bíblico, em que a Igreja Católica fala de “renovamento carismático” (mas que até não emprega o termo “líder carismático”). Esse termo, em Portugal, é muito empregue para designar bons políticos. Porém, sabe-se que qualquer comunidade, empresa, país, tem que ter um líder. Nesta Comunidade, usando o conceito em sentido Paulino, há diversos carismas e mais que um profeta. Quanto ao Conselho da Comunidade Cristo de Betânea, ele funciona como qualquer outro órgão desta natureza: o termo “Conselho” significa uma estrutura de apoio a qualquer tipo de governação, mesmo política, que funciona junto ao respectivo coordenador (poderá chamar-lhe líder, se quiser) - e que ele convoca para a decisão de assuntos cuja natureza está designada nos estatutos da respectiva instituição. E assim sendo, dessa consulta sairão decisões colegiais, tomadas em conselho. É assim, que as coisas funcionam na Comunidade Cristo de Betânea. ESCREVE RP: Há uma desconfiança de toda atividade acadêmica não religiosa, secular. O temor do espaço acadêmico, como suscitador de dúvidas e questionamentos (MIRANDA, 1999, p. 49), é uma constante em novos movimentos carismáticos. REPONDO A VERDADE: Sinceramente incompreensível esta conclusão tirada sobre um país europeu! Nesta comunidade o grau mínimo de instrução é o 12º ano. De entre todos, há uns com licenciatura e pós-graduações, outros com mestrados e doutoramentos, outros em vias de obtenção de graus académicos superiores. Os diplomas estão disponíveis para confirmação, e foi pena RP não ter questionado objectivamente sobre este tema, pois logo se evitavam arriscadas conjecturas. Aplicando esta afirmação de Miranda, mais uma vez o autor usa uma visão redutora da comunidade: duplamente redutora! Redu-la a membros internos existentes na casa que visitou, redu-la a uma base muito restrita de pessoas entrevistadas, tentando encaixá-la em simples teorias, como se em ciência os factos tivessem de se submeter a regras, ou”teorias”, em vez de serem estas a surgirem dos factos verificados! Efectivamente, a Comunidade tem diversos académicos membros internos e de Aliança nesta Comunidade. Gente que defendeu teses em universidades, em diversos graus académicos e que trabalhou e trabalha em serviços académicos e noutros. Tão grande quantidade de afirmações fortuitas, marcadamente subjectivas ou projectivas, mesmo que não queiramos promovem em nós a desconfiança na probidade científica deste trabalho. Também se torna muito arriscado para uma conclusão científica fazer convergir na unidade do mesmo conceito os termos movimentos e comunidades, para afirmar que a tal desconfiança é uma “constante em novos movimentos carismáticos. Que movimentos carismáticos estarão aqui em referência para RP, não entendemos. É que, o Cardeal Suenens, primeiro delegado do Papa Paulo VI junto da Renovação Carismática, afirma que a Renovação Carismática não é um movimento - no sentido em que a Igreja católica define os movimentos que surgem no seu interior - mas a “Igreja em movimento” (L. J. Cardinal Suenens, L’ Esprit Saint, souffle vital de l’Eglise). Os trabalhos de académicos de nível intelectual elevado são muito bem vindos. São esses que fazem o progresso da humanidade. E Deus deu ao homem inteligência para estudar, para investigar, para dar assim um bom contributo ao progresso do mundo e da humanidade. Porém, não se pode confundir ciência com empirismo, embora sendo duas formas de conhecimento. É que a ciência, mesmo a sociológica, ou outra ciência das ditas “Ciências Humanas”, não se alimenta de cadeias de hipóteses improvadas, afinal meras suposições que lhe negariam a sua própria essência. As confirmações das hipóteses não podem ser feitas pela sua submissão às “leis” pré-estabelecidas, nem apenas com afirmações buscadas em autores mais ou menos conhecidos. As hipóteses científicas exigem provas que verificam essas hipóteses e as libertam do subjectivismo da interpretação pessoal, tornando-as em afirmações com nível científico, ou seja, com o maior nível de objectividade possível, e por isso comprovado. ESCREVE RP: O conhecimento teórico-científico pode ser um meio de confundir ou questionar a experiência. A desconfiança é particularmente maior em relação àquelas disciplinas mais científicas e pouco religiosas talvez, como psicologia e medicina. Sim, o discurso do grupo é, se posso expressar-me assim, pseudo-científico, com sua idéia central de doenças psíquico-espirituais, juntando linguagens e conceitos, normalmente, distintos. Há psicólogos e médicos cristãos, simpáticos ao Grupo, que prestam acessoria e mesmo palestras nos Seminários de Fátima. Mas é preciso controlar o que nasce dentro do Grupo e, mais, o que pode trazer para dentro do Grupo alguém a estudar algo fora dos limites de controlo do Grupo, em ambientes diferentes e mesmo contrapostos. REPONDO A VERDADE: Na Europa do Séc. XXI será difícil aceitar esta conclusão, de cariz um tanto medieval. Quanto à Comunidade Cristo de Betânea, o que atrás foi exposto bastará como prova contrária a este argumentado do articulista. Quanto à afirmação de um discurso pseudo-científico do grupo (comunidade?), cremos que outra vez mais é tomada a parte pelo todo, caindo assim em erro! Numa comunidade em que os estudos vão desde o 12º ano a doutorados, mestres e licenciados em diversas áreas do saber, com que base pode RP afirmar que o discurso do referido “grupo” é pseudo-científico e incapaz de confrontar ideias que possam vir de fora? A prova está aqui à vista! ESCREVE RP: 7. Universidade do Espírito Santo: o diploma assinado por Deus basta A CCB, portanto, manifesta semelhante suspeita sobre estudos acadêmicos de seus membros, embora que não os proíba. Mas só em casos especiais os permite abertamente. Há, portanto, uma suspeita de que conhecimento acadêmico não controlado eclesiasticamente possa ser nocivo, ao membro e ao grupo, desviando da missão precípua. REPONDO A VERDADE: Na verdade, perante afirmações destas em relação a qualquer situação na Europa, diríamos nós: que atraso de Vida! Na verdade, esta redundância está respondida anteriormente. Venham todos os académicos que queiram pôr os seus cursos ao serviço de Deus nesta comunidade! E se alguém quiser ajudar a custear despesas académicas será bem-vindo, para que todos os membros que necessitem de tirar determinado curso para melhor servir o Reino de Deus nesta comunidade o possam fazer! ESCREVE RP: Mas é realmente paradoxal o caso da CCB, pois há uma reclamação de sua fundadora de que poderia haver pessoas mais velhas, de melhor formação no Grupo. E a própria Hercília enverga títulos universitários. REPONDO A VERDADE: Teremos de manifestar o nosso espanto pela transformação do que é lógico em paradoxo, ou seja, de um pseudo-paradoxo em paradoxo! A questão está na lógica de que se parte e com que se trabalham factos recolhidos. ESCREVE RP: A questão, portanto, não é tanto uma rejeição tácita a qualquer formação acadêmica formal, mas um temor do que, principalmente entre jovens iniciantes, uma formação não controlada sob a égide eclesial poderia suscitar. REPONDO A VERDADE: Mais uma vez se faz sentir a necessidade de RP ser “alfabetizado” no que concerne às Comunidades da Igreja Católica e muito particularmente às “Novas Comunidades” e ainda mais particularmente às Comunidades e “Novas Comunidades” Europeias. Poderia assim RP ter melhores estruturas cognitivas que lhe permitissem conclusões mais objectivas acerca da Comunidade Cristo de Betânea. Mas cremos que fica claro que quem se compromete nesta Comunidade é para servir a Missão da Comunidade e que, antes da sua entrada, deverá fazer os cursos que quer para que tenha mais capacidade de servir bem. Será claro que as verbas a dispender com estudos nem sempre são suportáveis e que terá de haver o mesmo critério para todos, em nome da caridade e da justiça. Então, o critério definido é objectivo e já foi referido atrás: sempre que a missão o exija, e haja pessoas com carisma necessário e dinheiro para custear estudos, um membro irá preparar-se sempre melhor, para a Missão. ESCREVE RP: Porém, é franqueado aos membros da CCB estudarem Teologia. Ora, Teologia sob às vistas clericais e o báculo episcopal, não há de fazer tanto mal. REPONDO A VERDADE: Ao ler esta afirmação, quem estudou História Medieval sente-se aí transportado, até pela linguagem usada! Claro que os membros vocacionados para o sacerdócio deverão estudar Teologia! É obrigatório, para ser padre! Outros membros, homens ou mulheres, a podem cursar (e é pena que não sejam todos!). Mas, não se trata de estudarem sob “vistas clericais” para serem protegidos (embora se por isso fosse não houvesse mal, neste tempo de uma cultura tão desorientada de Deus!), até porque as Faculdades de Teologia em Portugal têm muitos professores não clérigos: leigos e leigas. E devemos dizer que é com muito gosto que em qualquer lugar em que a Comunidade está implantada esta se sente muito bem sob o báculo episcopal, pois é no báculo do Bispo de cada Diocese que a Comunidade aí implantada se apoia! É uma opção livre, ser católico ou não, ser membro ou não de uma comunidade da Igreja católica! Na Igreja católica é assim: a Igreja tem estrutura diocesana. E quem está com o Bispo está com a Igreja. Está aceite, integrado, ao serviço, em união, recebendo força da presença e das palavras do Bispo, da confiança que ele deposita em tarefas por ele conferidas ou aceites quando emergem da iniciativa da comunidade, dentro dos seus carismas. Aqui, como em tudo, o diálogo e o interesse faz-se, mas a rebeldia não interessa. ESCREVE RP: E a CCB pretende ter sacerdotes. REPONDO A VERDADE: A Comunidade pretende sacerdotes para a Igreja, e ora todos os dias por muitas vocações. Mas a questão coloca-se de outra maneira: de entre os seus membros, a Comunidade alegra-se com a realização vocacional de algum membro que seja chamado ao sacerdócio. ESCREVE RP: Já há um membro formado em Teologia, mas que ainda não ordenou-se, dado que o Instituto é de Direito Diocesano e, portanto, o sacerdote da CCB teria que estar à disposição da Diocese, para uma paróquia qualquer. Contudo, a CCB quer ter sacerdotes sob seu comando, para suas missões específicas e, isto, somente pode concretizar-se após o Instituto adquirir novo status eclesial, ou seja, de Direito Pontifício. REPONDO A VERDADE: Há aqui alguma confusão ou ignorância nos procedimentos, no que toca à ordenação de um sacerdote de uma “Nova Comunidade”. Se esse membro ainda não foi ordenado é simplesmente porque ainda não chegou a hora! Para clarificar, na base do Direito Canónico da Igreja Católica a Comunidade Cristo de Betânea não é um Instituto mas, como todas as “Novas Comunidades” - e já foi atrás clarificado, é uma “Associação Privada de Fiéis”, de Direito Diocesano. Os sacerdotes das Novas Comunidades, para já são ordenados por um bispo, dito internamente amigo da comunidade, que pode ser o da Diocese, da Casa-Mãe ou outro. E são ordenados prioritariamente para o serviço da Comunidade. Mas, poderão fazer serviço numa paróquia ou noutro local, desde que a missão lhes permita a realização da sua vocação comunitária. A maneira de dizer do autor do artigo, RP, os termos que usa reflectem uma carga cultural de outrora, o que pode aparentar um tonus depreciativo prejudicial a uma análise objectiva actual e pontual. A Comunidade Cristo de Betânea não quer ter ninguém sob o seu comando. A Comunidade Cristo de Betânea, como outra qualquer comunidade da Igreja Católica, é uma realidade socio-religiosa constituída por pessoas maiores de 18 anos, capazes de realizar os seus objectivos estatutários já definidos (Direito canónico, câns 1031 e 1051.) Há ainda mais alguma confusão: não é necessário nem é projecto actual da Comunidade Cristo de Betânea ser de “Direito Pontifício,” nem isso é necessário para a ordenação de sacerdotes nas “Novas Comunidades”. Além disso, um sacerdote, na Igreja católica, e por isso nesta Comunidade, não é apenas alguém que concluiu o curso de Teologia. Exige-se, obviamente, o explícito no Direito Canónico, nos cânones referidos atrás. Se ainda não há alguma ordenação sacerdotal na Comunidade Cristo de Betânea é simplesmente porque ainda não chegou a hora de Deus para que tal aconteça, o que não é nenhum problema para quem vive da esperança! ESCREVE RP: Há, ainda, uma irmã e dois freis a estudarem Teologia na Universidade Católica de Braga. REPONDO A VERDADE: Há uma irmã que estudou Teologia e neste momento são já quatro Freis a estudar Teologia. ESCREVE RP: No campo litúrgico, destaca-se, na CCB, a adoração ao santíssimo sacramento. Tal adoração é mote contínuo e eficaz de quase todos os movimentos de cunho carismático e de forte tendência católica, que identificam a hóstia consagrada, o Cristo real presente, como fator distintivo entre católicos e não católicos, como meio de afirmação inequívoca de catolicidade e como devoção máxima da Igreja. Para Sanchis (1986, p. 6) o conceito nuclear a unificar e identificar o catolicismo está no sacramento. Para que haja força religiosa ela precisa experimentar a objetivação, fixando-se em um objeto sagrado ou que se torna sagrado (SANCHIS, 2003, p. 43-44), que, no caso da Igreja Católica é a eucaristia, em seu ápice de objetivação sagrada. Assim a CCB, com sua centralidade eucarística, quer se distinguir como um movimento inequivocamente e centralmente católico. A CCB tem, como meio midiático, senão uma Editora enquanto tal, ao menos um selo Editorial, e edita, através dele, suas publicações. Publicam-se livros de sua líder, folhetos, revistas, camisetas, lembranças, CDs. O diálogo com a modernidade se dá de forma especial através dos meios de comunicação para visibilizar sua mensagem. Dialogoando ou sendo crítico à modernidade, fato é que o relacionamento dos novos movimentos religiosos, mesmo os fundamentalistas ou integristas com a modernidade se dá via modernidade, ou através de meios modernos com a modernidade (COSTA, 2006, p. 32). REPONDO A VERDADE: Rectificando: A Comunidade Cristo de Betânea edita livros de outros autores, e não apenas da sua moderadora. ESCREVE RP: Quanto à questão da sustentação financeira, a CCB depende, para sua sustentação, de doações externas. Para isso edita revista, livros, folhetos, CDs para venda, tem sócios simpatizantes em Portugal e no exterior, que contribuem livremente para as atividades do Grupo, como apadrinhamento de missão no Brasil e em África ou Timor, bolsas de estudo para estudantes de Teologia, sócio amigo, assinatura de revista, etc. Interessante é observar que quanto à gestão econômica faz-se referência constante à Providência Divina, através da contribuição das pessoas, para a manutenção do Grupo. Mas é realmente estranho – excetuandose de fato a intervenção dos céus – que a Comunidade se mantenha só com ofertas, vendas de livros e sócios beneficentes. Cito o exemplo da revista Jesus Vive, publicada desde 1991. É uma revista bimestral, com ótimo acabamento gráfico, com muitas fotos em cores e com 34 páginas. Penso que somente a sustentação de uma revista bimestral deste porte, com tiragem de 3.500 exemplares por edição, já é bastante para esvaziar cofres dependentes tão-somente de assinaturas e doações diversificadas para outras atividades. A CCB também tem um selo editorial, Edições Cristo de Betânea, onde publica livros de Ir. Hercília – a maioria - e alguns outros autores pontuais. Ora, os livros, edição e impressão, também são custeados pela CCB. E nenhum é best-seller para justificar os gastos, geralmente altos, editoriais. De que cofres chegam o dinheiro para o pão de cada dia, para a luz, para impostos, gasolina… e para as publicações. Onde quero chegar? É difícil contentar-se com a explicação de que só de contribuições vive a obra. É possível que outras fontes de renda haja, mas omitidas e bem guardadas. REPONDO A VERDADE: É francamente desinteressante que um trabalho que se pretende científico integre ou se alimente de insinuações. Em ciência as coisas são ou não são. E nada é publicado de carácter científico sem que tenha bases objectivas. Uma coisa é uma “estória” em que se pode dar largas à fantasia criativa, sem que com ela se atinja a honra de pessoas ou instituições, outra coisa é jornalismo de “franco-atirador”. Mas, ciência é ciência! E um artigo para uma revista de “História das Religiões” é coisa muito séria, para que se possa aí escrever com ligeireza! Para além das fontes financeiras acima referidas e para que não haja margem a insinuações sempre desagradáveis, é bom lembrar que todos os membros internos colocam todos os dinheiros de suas profissões ou reformas para a mesma conta bancária! E os membros de Aliança fazem as suas partilhas tendo como meta o dízimo. E todos nós vivemos do trabalho que realizamos no interior e no exterior da Comunidade. E que, mesmo assim, a Comunidade conta com a Providência Divina para a obra que realiza, pois a obra não é sua mas de Deus. A Comunidade é mero instrumento de Deus, mera ferramenta concreta, através da qual Deus constrói o Seu Reino. É Deus o Senhor da Comunidade! Nas Comunidades Católicas é assim! Mesmo no Brasil, ou em qualquer parte do mundo, muitas Comunidades vivem da providência Divina! Uma delas será a Comunidade Canção Nova, uma grandiosa obra de evangelização! Os membros da Comunidade Cristo de Betânea trabalham muito, são europeus! E, depois Deus recompensa através da generosidade das pessoas que os conhecem na Comunidade. Talvez isto soe a estranho a RP. Contudo, sendo RP Pastor Luterano, certamente que tem obrigação de entender esta dimensão da vida da fé cristã. Também convém lembrar que a Comunidade Cristo de Betânea, como outras comunidades portuguesas, em razão da Concordata com a Santa Sé, em Portugal não paga certos impostos e outros são reduzidos (o que não acontece no Brasil). ESCREVE RP: 8. Sal da terra e luz do mundo através da modernidade: não tão longe do secular As atividades regulares da CCB podem ser enumeradas da seguinte forma: 1) reunião de “louvor, cura e libertação e adoração do santíssimo sacramento”, na Casa Mãe em Telhado, Famalicão, no terceiro sábado de cada mês, de 9h30 às 13h00; 2) barraca de artigos religiosos na feira de Famalicão, às quartas, entre 9h00 e 15h00, onde os membros também se dispõe a orientar e aconselhar as pessoas; 3) Adoração do santíssimo sacramento na Capela Santo Antônio, em Famalicão, às quartas, entre 16h00 e 18h00; 4) Adoração ao santíssimo sacramento na Capela da Lapa, em Braga, de 17h00 às 19h30, às quintas; 5) Plantão de irmãos na pequena livraria em Braga, que praticamente só vende livros e folhetos editados pela CCB; 6) Seminários de “louvor, cura e libertação”, celebrados na Casa em Fátima (cujo nome oficial é Casa Paulo VI). Neste caso, como já relatado acima, em Fátima são seminários de dois ou três dias, já que a Casa dispõe de hospedagem. Geralmente um padre é convidado a proferir palestra, REPONDO A VERDADE: Recordamos que em Telhado, Diocese de Braga, apenas existe a Casa-Mãe e a Casa de Formação de membros internos da Comunidade Cristo de Betânea. Uma coisa é a casa da Comunidade Cristo de Betânea em Fátima, outra é o Centro Pastoral Paulo VI do Santuário de Fátima. Os Seminários referidos não se fazem no Centro Paulo VI, como o autor diz, mas fazem-se na Casa “Cristo de Betânea”, da Comunidade Cristo de Betânea. Normalmente, se há algum sacerdote para celebrar a Eucaristia, este não profere as palestras específicas desses Seminários. Há, sim, sacerdotes que, eles mesmos sentem a necessidade de participar nesses seminários, como qualquer outra pessoa. Aí, sim, no momento próprio, celebram a Eucaristia para todo o grupo em seminário. Há padres a fazerem ensinamentos, a que talvez o autor do artigo chame “palestra”, noutras das muitas actividades da Comunidade. ESCREVE RP: e Hercília e uma psicóloga ligada à CCB administram nestes encontros um curso sobre as origens do mal psíquico-espiritual e a libertação dos mesmos. O conteúdo destes cursos pode ser encontrado, de certa forma, nos livros de Hercília. No final destes retiros seguem-se orações de cura interior e, não raro, fenômenos de pessoas a cair e a "manifestar o mal" até então reprimido, mas presente; 7) “Festival Cristão de Verão”, uma vez ao ano, durante, 3 dias em Fátima, sempre no mês de agosto, verão europeu. Danças, bandas e teatros ou bibliodramas são apresentados. Palestras, adoração e libertação são ministradas. É preciso que se frise que nenhuma destas atividades é cobrada. REPONDO A VERDADE: Há novas confusões: Não há cursos na Comunidade Cristo de Betânea sobre o “mal”. Nos seminários de Sentido da Vida aborda-se o problema do sofrimento. Durante os seminários fala-se de diversas causas do sofrimento humano. Ora-se antes, durante e após cada ensinamento. Ora-se pela manhã e à noite. Ora-se com e pelas pessoas, se o desejarem, sentadas cada qual na sua cadeira. Como podem então cair no chão? Diz RP: “Fenômenos de pessoas a cair e a "manifestar o mal" até então reprimido, mas presente.” Não se percebe bem a que mal se quer referir. Todo o sofrimento é um mal, dado que o homem não nasceu para sofrer, embora desse mal se possa retirar muito de bem. Sim, na Comunidade aparecem pessoas muito sofredoras, cujo sofrimento é ignorado por muitos, até pelos seus familiares. Aparecem pessoas que percorreram seitas e adivinhos e outros lugares de oferta de cura, por ignorância e aflição. Manifestam o seu sofrimento, sem dúvida! E, por isso é que podemos acrescentar que o sofrimento de muita gente que procura a Comunidade resulta de opções mal feitas e é agravado pelas buscas de libertação e cura fora do lugar certo. Se em alguns encontros houver pessoas que caem, a Comunidade não sabe muitas vezes a razão, mas o que sabe é que após esse tempo de repouso essas pessoas sentem-se muito mais libertas. É então que os irmãos de serviço ajudam essas pessoas a sentarem-se. Quanto a inscrições nas actividades, RP erra dizendo que nenhuma destas actividades é cobrada. Efectivamente, para a maior parte das actividades há uma inscrição paga. Isto tanto em Portugal como fora de Portugal. ESCREVE RP: Quando há pernoites e refeições, somente estas são cobradas, a preços relativamente em conta. Quanto ao Festival Cristão de Verão, está, é claro, na esteira dos mega-eventos, sobretudo para jovens, que os vários movimentos ligados à RCC promovem. Numa substituição, num sucedâneo em relação aos eventos de arte e música seculares, principalmente os dirigidos a jovens, a CCB também oferece o seu evento particular, durante 3 dias de agosto, em que se organiza um “prenúncio do céu na terra” (Frei António), com muita alegria, bandas, ministração de louvor e teatros bíblicos, além das palestras de evangelização, adoração e missa. Carranza (2006, p. 75) caracteriza tais eventos mega-reliosos como “espetacularização” e “personificação” da fé e religião. Tais eventos, com bandas, danças e teatros mostram a capacidade de novos movimentos religiosos sacralizarem o profano (BENEDETTI, 2006, p. 132). Nada, portanto, diferente dos movimentos congêneres da RCC. Há, neste ínterim, uma certa padronização, em que elementos se repetem, mudando apenas o lugar em que são feitos e a Comunidade que os promove. Para os mesmos são, também na CCB, chamados pessoas de maior eminência no circuito carismático. REPONDO A VERDADE: Não, António não é Frei. É simplesmente um irmão cristão, “António”ou “Irmão António”, como irmão membro que é, sem consagração especial. Uma coisa é a opinião de Carranza. Outra coisa é a verdade dos factos. Também com os Festivais de Verão a Comunidade Cristo de Betânea não pretende espectacularização, pois se assim fosse fugiria ao seu próprio objectivo. Os Festivais de Verão que a Comunidade promove nem sequer são só para jovens. Dado o seu objectivo, são lugares e instrumentos de convívio, de diálogo de gerações, de contacto mais próximo com a natureza, espaço aberto a todos, crentes ou não, para um são convívio e valorização humana. Para aprofundamentos temáticos não são sistematicamente escolhidas pessoas dos meios “carismáticos” para palestras, mas sim pessoas cristãs, especialistas nas matérias que aprofundam. E, se bem que estes Festivais tenham algo de comum com muitos outros festivais cristãos, sobretudo a nível estrutural, se bem se observar têm sempre algo de diferente como consequência dos carismas e espiritualidade próprios da Comunidade Cristo de Betânea. ESCREVE RP: De qualquer forma não se deve deixar de destacar que na CCB música e liturgia têm de ser festivas, “para proporcionar encontro real com Deus” (Frei Wilson). Observando a adoração do santíssimo sacramento na CCB e os Sábados de Louvor, Cura e Libertação, percebe-se um esforço, às vezes hercúleo, para ativar alegria nas pessoas presentes ao evento. Não posso afirmar ao certo, mas talvez por uma questão cultural, os portugueses, mesmo alguns carismáticos, são menos compulsivos na espontaneidade e em demonstrar emoções em público, sendo mais contidos se comparados, por exemplo, com os brasileiros. Não quero cair na armadilha de estereótipos de personalidades e identidades culturais, tão plurais num mesmo país. Mas chamar a atenção para o fato de que nem sempre a assembléia, em tais eventos, respondia aos efusivos sorrisos, gestos e ar de extrema alegria dos irmãos que a estava a dirigir em tais atos litúrgicos. Porém, destaca-se que a CCB dá muito valor à alegria manifesta nos eventos religiosos. A música é importante à Comunidade. Na CCB a maior parte das músicas é nativa do próprio Grupo, pois há uma musicista ligada à CCB, Marta Pereira, que compõe para a Comunidade. As músicas da Comunidade são prescritas em estilo próprio, com tonalidade oriental, ou seja, do Oriente Médio, buscando um ritmo que resgate a musicalidade dos tempos de Jesus. Há, portanto, um padrão apontado como ideal para a música de louvor e litúrgica. Na CCB é imposto – embora não de forma exclusivista – um padrão musical como sendo o de identidade da Comunidade. Isto porque uma outra característica da CCB é a questão judaica e ecumênica, que veremos adiante. 9. Ecumenismo, Judaísmo e Diálogo Interreligioso A CCB tem como uma de suas metas voltar ao espírito da comunidade cristã primitiva, pois lá, na comunidade cristã primitiva, ainda marcada por traços judaicos, estaria a base da fé cristã atual. E o que mais importa a tais novos movimentos, senão voltar às origens, fontes, bases, verdades verdadeiras, onde quer que se encontrem, na Idade Média ou no cristianismo primitivo? A memória, no catolicismo, está vinculada a um passado que é aceito como um todo imutável e “fora do tempo”, que pode ser assumido em qualquer momento histórico, delineando uma auto-definição ao grupo do tipo “descendência de fé” (HERVIEU-LÉGER, 2005, p. 87). REPONDO A VERDADE: Diz acima RP: “O que mais importa a tais novos movimentos, senão voltar às origens, fontes, bases, verdades verdadeiras, onde quer que se encontrem, na Idade Média ou no cristianismo primitivo?” Recordando o que atrás foi dito: não se trata de voltar atrás para lá ficar, mas para recordar as origens e encontrar aí as referências para o presente, libertas dos enxertos culturais supérfluos, sofridos através dos tempos. Importa a memória do passado, veículo do arquétipo e de referência para hoje, para que a Igreja seja a de Jesus Cristo e não uma Igreja feita pelos homens a seu “bel prazer”, em cada época ou circunstância. Esse passado não está “fora do tempo”, mas é intemporal, já que ligado a Jesus Cristo… ESCREVE RP: Enfim, isto significa visualizar uma comunidade em que judaísmo e cristianismo ainda se fundiam de certa forma. Assim que, nesta mimesis, a CCB quer celebrar no “espírito judaicocristão” (Frei António). Portanto, a oração dos sábados nas casas e as celebrações incluem as Dezoito Bênçãos Judaicas, cristianizadas e adaptadas por Hercília Pinto em um livro, como veremos adiante. Fala-se, inclusive, em shabat para estas celebrações. Portanto, as músicas procuram imitar o ritmo judaico e as letras, por vezes, fazem referências a personagens do Antigo Testamento. Também aqui há uma idealização que não vai muito além da música e do “shabat” nos sábados, pois que não há maior estudo ou mesmo vivências de práticas judaicas, ainda que transmutadas em cristãs. A CCB também se mostra aberta ao ecumenismo entre cristãos e ao Diálogo Interreligioso. Segundo Hercília, importa “reconhecer que todo homem é irmão, independente de credo”. Aqui faço um excurso para visibilizar uma iniciativa concreta da CCB referente à sua vocação de recuperar as raízes judaicas do cristianismo. Hercília Pinto, fundadora da Comunidade, editou um livro, usado em tais celebrações (e em outras) chamado “Dezoito Bênçãos: uma versão cristianizada em união com os nossos irmãos judeus” (Ed. Cristo de Betânea, 2005). Trata-se de um livro ao mesmo tempo informativo e litúrgico. Na primeira parte Hercília tece considerações sobre o povo judeu, o holocausto na 2º Guerra Mundial, as relações entre judeus e cristãos, afirmando que os cristãos, em Cristo, são todos semitas, e ainda tecendo as relações entre o Vaticano e os judeus e sobre a oração no judaísmo. Enfim, faz considerações sobre as estreitas relações entre judaísmo e cristianismo. Na segunda parte do livro, reproduz as tradicionais 18 bênçãos (petições) judaicas, com algumas modificações cristianizadas, particularmente nas últimas bênçãos-petições, que são explicitamente cristãs. As bênçãos, em ordem, são: ao Deus dos patriarcas; ao Deus todopoderoso; pedindo santificação; pedindo conhecimento; pedindo arrependimento; pedindo perdão; ao Deus libertador; pedindo cura; pedindo boas colheitas; pedindo o regresso dos exilados; pedindo a restauração dos conselheiros; pedindo proteção contra os heréticos; pedindo misericórdia; pedindo a reconstrução do templo; dando graças ao salvador (Jesus); pedindo que Deus escute a oração; que acolha o povo que presta culto; e uma ação de graças final pela paz. As orações consistem em partes que um liturgo dirige à assembléia e outras partes (escritas em negrito) que a assembléia responde. Umas são mais longas, outras mais curtas. Cito, para exemplificar, uma parte de uma curta bênção (a 14), numa reinterpretação cristã da reconstrução do Templo, ou seja, uma benção judaica contextualmente bastante histórica, que é re-interpretada assim: “Na vossa misericórdia, fazei-nos caminhar para a Jerusalém celeste, a cidade gloriosa. Conduze-nos para ela onde nos precedem na glória os apóstolos, os mártires, os confessores, as virgens, e todos os santos e santas, particularmente os nossos protetores”, ao que a comunidade responde: “bendito sejais, Senhor, na vossa glória eternamente. Aleluia, aleluia, aleluia.” Como se percebe, nenhuma menção à questão histórica do Templo, espiritualizando a questão e introduzindo na oração a nuvem de testemunhas da Igreja, porém, esquecendo-se de citar as do Antigo Testamento judeu (profetas, reis, patriarcas). Ainda deve-se presentificar um outro exemplo quanto à abertura religiosa da CCB às demais religiões, que se dá muito mais pelo ideal do que pela prática. Na revista Jesus Vivo, da CCB, encontrei, nos números 104 e 106, reportagens informativas, retiradas de enciclopédias e outras fontes “neutras”, sobre o Xintoísmo e o Xiismo islâmico. O mais surpreendente é que não havia nenhuma refutação, orientação de diferenciação ou crítica às religiões ali expostas. Com o rigor científico das fontes donde foram retiradas as informações, apenas apresentava-se, ao nível de cultura geral ou curiosidade, aquelas religiões. Ora, sendo o objetivo da revista o de evangelizar, conforme informado, talvez fosse natural algum destaque final sobre possibilidades de diálogo ou diferenças entre cristianismo e aquelas religiões, Mas o que se fez foi uma apresentação neutra, objetiva e, aparentemente, sem um porquê ou finalidade específica. Isto revela, por um lado, algo raro em movimentos eclesiais renovados: um respeito pelas demais religiões, numa exposição delas, na revista oficial do Grupo, sem pretensões subliminares. Mas por outro lado revela uma falta de perspectiva, objetivo e método no ecumenismo e diálogo inter-religioso que a CCB valoriza. Afinal, a militância nestas áreas exige posições e, é claro, diálogo, o que não se vê numa despretensiosa exposição, quem sabe anúncio grátis, de uma outra religião numa revista católica de tendência carismática A própria falta de uma ação prática no terreno ecumênico demonstra que, assim como o aconselhamento e a proximidade à cultura judaica, a CCB, também no campo ecumênico, vive mais de ideais e idealizações de si do que da vivência rotineira de suas metas. REPONDO A VERDADE: Para que se faça um ecumenismo e um diálogo inter-religioso sadio, a Comunidade Cristo de Betânea não usa a apologética. Nos dois números referidos a Revista Jesus Vivo tratou esses temas de uma forma informativa, sem o objectivo de refutar, nem criticar, nem confrontar, mas apenas de informar acerca dessas religiões. Aí está a perspectiva pretendida. Como acções que revelam a perspectiva ecuménica da Comunidade Cristo de Betânea estão os convites e presenças de irmãos de diferentes grupos protestantes em actividades da Comunidade, e no diálogo que se estabelece com Pastores, em diversos momentos e circunstâncias. Mas o ecumenismo não é a prioridade da Comunidade Cristo de Betânea. ESCREVE RP: 10. CCB, RCC e hierarquia católica: relações em busca de explicação A CCB não pertence e não tem laços formais com a RCC. REPONDO A VERDADE: Não se trata de pertença, neste caso. Não é da sua essência que a renovação carismática seja uma instituição à qual se pertence ou não. E, por isso, como em si mesma a renovação carismática não é uma instituição formal, a Comunidade Cristo de Betânea não poderá ter laços formais com a RCC. Vive uma espiritualidade carismática, colabora com grupos de oração carismática sempre que essa colaboração lhe é pedida e tem um representante seu na Conferência Interdiocesana dos Grupos de Oração Carismática de Portugal – entidade coordenadora nacional dos referidos Grupos de Oração. ESCREVE RP: Porém, a maior parte dos membros vêem do RCC e há afinidades eletivas e fenômenos que são muito próprios à RCC no Grupo. Como entender, então, este contra-discurso que evita separar a Comunidade da RCC? REPONDO A VERDADE: Temos de dizer que aqui se trata de um contradiscurso radical. Em Portugal, a Comunidade Cristo de Betânea tem pouquíssimos membros vindos do renovamento carismático. E os que dele provém são quase todos da Comunidade de Aliança. ESCREVE RP: Hercília tem uma de suas raízes na RCC e participou, enquanto nele atuava, em Grupos de Oração. Justamente quando participava de um Grupo de Oração foi que recebeu ou acolheu o chamado por para formar uma Comunidade de Vida aos moldes do cristianismo primitivo, narrado em Atos dos Apóstolos (At.2). A CCB nasce, portanto, do rio da RCC, ou, no mínimo, de alguma querela de separação com a RCC. REPONDO A VERDADE: Lamentamos mais uma insinuação tendenciosa de RP! Sabemos dos frequentes nascimentos de seitas, nomeadamente no Brasil; por consequência, sabemos das tais querelas. Por cá, não é assim! Ademais, já foi escrito atrás um pouco da génese da Comunidade Cristo de Betânea. Estranho que aqui se refira alguma insinuação sem qualquer fundamento nem necessidade objectiva. ESCREVE RP: Como vimos, há muitos aspectos carismáticos na RCC. Porém, Hercília, e também Frei António, são enfáticos em dizerem que são movimentos distintos, RCC e CCB, não havendo qualquer tipo de laço entre ambos. REPONDO A VERDADE: Primeiro, deve haver aqui uma gralha, pois na RCC só pode haver aspectos carismáticos. E melhor dito seria que RCC e CCB são realidades distintas, porque a RCC não é um movimento no sentido próprio, já que todos os movimentos têm um fundador, o que não acontece na RCC. E a realidade “Comunidade Cristo de Betânea”, se é uma Comunidade, também não realiza as características de um movimento. Ora, esta comunidade é carismática no sentido em que toda a Igreja é carismática: procura que os carismas despertem nos seus membros e que cada um os exerça, para a edificação da Comunidade e da Igreja, e para o serviço do Reino de Deus, na Igreja. E, claro, uma realidade é a Comunidade, outra a RCC! Se fossem a mesma realidade, uma estaria a mais. Sim, são realidades distintas (voltamos a repetir: RCC apoia-se em grupos de oração carismática; CCB é uma Comunidade de vida no seio da qual se encontram pessoas vivendo em consagração especial a Deus. Mas há laços de “parentesco” espiritual entre ambos). ESCREVE RP: Perguntada se a CCB não teria ao menos um laço afetivo com a RCC, Hercília diz que tal laço é somente dela, mesmo assim no início. E é enfática em dizer que, dos membros da CCB, não há quase ninguém oriundo da RCC. Quando exponho que nas reuniões do Grupo também se manifestam fenômenos típicos da RCC, Hercília explica que “a dinâmica é carismática”, que os dons podem se manifestar, pois o ES está presente. É uma Comunidade de gente renovada, carismática, mas não da RCC. Hercília, ao que senti, manifesta certa “mágoa”, enquanto pessoa que esteve no início da RCC, porque afirma que hoje se confunde renovação com movimento, com instituição (eu diria, revela decepção pela burocratização do carisma). Renovação é identificado, por ela, com o sopro do Espírito Santo nas pessoas, na Igreja, sem que se precise, para isto, colocar rótulos. Segundo Hercília, há sempre dificuldade em lidar com novidades, como a primavera da Igreja prenunciada pelo Concílio Vaticano II e que, segundo ela se deu por meio dos Grupos de Oração Carismática. Lamenta-se que, desde então, se tenha que encaixar as novidades em estruturas. Ao que parece, Hercília, decepcionada com a formalização institucional do movimento carismático, e talvez e, quem sabe, muito provavelmente, em algum litígio interno no âmbito carismático, já que a RCC, na sua pluralidade de formas, gera tensões e cisões, decide, ela própria, constituir um novo grupo, mais radical (pois com vida comunitária) que estaria mais em acordo com o sopro do ES que não se deve aprisionar. Grupo que, inevitavelmente, também seria e é institucional e de estruturas. Notei que quando Hercília falava da questão CCB em suas possíveis conexões com a RCC, o tom se tornava mais apaixonado, tenso e intenso. Seu esforço por explicar que a renovação é um sopro do ES, e que não pode ser confundido com sua institucionalização, enfim, seu, ainda que educado e sútil esforço em, digamos, “desqualificar” a RCC enquanto identificada em suas estruturas, revelava um certo ranço, talvez de conflitos antigos na Identidade perdida. Daí ser preciso, ainda que subtilmente, acusar os pares para justificar uma existência destacada e que se quer mais verossímel. Afinal, “toda identidade que o grupo busca atribuir a si próprio é construída em oposição a outro” (CALDEIRA, 2004, p. 108). O fato é que esta negação das raízes acomete os movimentos que, se tornando independentes da estrutura oficial da RCC, procuram resguardar sua auto-identidade numa auto- afirmação que necessita de romper, ainda que amistosamente ou ao nível do discurso, o cordão umbilical que não dá liberdade, como nos grupo carismático gaúcho analisado por Steil (2004). REPONDO A VERDADE: Mais uma vez nos encontramos perante um discurso confuso e carregado de subjectividade. A tal mágoa, a existir, traduzirá o tal perigo de institucionalização daquilo a que o Cardeal Suenens chama apenas uma “Vinda do Espírito” (já atrás referido), que atravessa a Igreja para a renovar. O resultado dessa renovada efusão do Espírito na Igreja terá de traduzir-se na preocupação com a renovação das estruturas e não com a criação de uma nova estrutura paralela, chamada RCC. Efectivamente, e também já atrás foi dito, é da essência de todos os Movimentos da Igreja terem um fundador. E essa essencialidade falta à RCC. Quem foi o fundador desta? Que nome? Todos o sabem: um Novo Pentecostes, que é uma nova efusão do Espírito Santo! A falta de compreensão do discurso de Hercília Pinto leva RP para o facilitismo da interpretação de acusar pares! Quais serão eles? Uma coisa é lamentar um perigo de desvio, alertado pelo Cardeal Suenens. Outra coisa é acusar alguém. Aqui apenas se lamenta, ou previne, um perigo, e tudo o resto dito pelo autor do artigo não passa de interpretação subjectiva, de pendor negativista, se não mesmo agressiva, que abunda ao longo deste trabalho escrito. É evidente que qualquer “instituição” é diferente da outra, justamente pelas suas diferenças e não pelas semelhanças e que elas são a razão de existir, na Igreja ou fora dela. Isto porque…duas coisas iguais a si mesmas são apenas uma só e a mesma coisa… Acreditamos que, sendo tão diferente a cultura brasileira da cultura portuguesa, seja difícil ou até mesmo impossível a inculturação necessária a um investigador em apenas uns escassos seis meses, para que possa dominar até as correctas conotações das palavras usadas num discurso, sem qualquer desvirtuação. Seis meses de estadia em Portugal foi realmente muito pouco tempo! ESCREVE RP: É necessário dizer que se ultrapassou uma etapa. A RCC é, em sua estrutura, um movimento eclesial bastante leigo, ou seja, forjado e fomentado por leigos, e ligado a Grupos de Oração em paróquias. Esta é a RCC clássica. Quando, porém, um grupo de pessoas oriundas da RCC dão um passo além, ou seja, formam uma Comunidade de Vida, ou um Grupo paraeclesiástico, se assim podemos denominar, entende-se que aquele Grupo superou um certo nível de experiência (paroquial, leigo, tutelado) e que adquiriu um plus que os que ficam parta atrás nos Grupos de Oração ou congêneres não alcançaram. É, portanto, uma mudança de status eclesiástico, espiritual, segundo a auto-percepção dos Grupos novos. É preciso se afirmar, construir identidade, num contraste com o que já não é mais, com o passado. A construção da identidade dos novos Grupos se faz na referência negativa às origens. Fomos, mas agora somos outra coisa. E certamente melhor… REPONDO A VERDADE: A questão do Status anda sempre a querer perturbar a objectividade de um trabalho que, embora se queira de natureza sociológica, entra por um campo especial da sociologia: a religião. Na Igreja Católica cada instituição tem o seu lugar, igualmente importante para o serviço do Reino de Deus. Seria falta de sentido cristão cada um julgar a sua instituição melhor que a outra, à semelhança do que acontece com instituições profanas, seguindo modelos de concorrência próprios desta cultura materialista. Além do mais, pertencer a uma comunidade é questão de fidelidade a uma vocação e não de promoção, pelo menos entre nós. Para muitos, essa pertença chega a exigir uma despromoção, dado o quanto tem de se despojar. Talvez para quem nada ou pouco tem seja mais fácil ver a pertença a uma comunidade como uma promoção, um maior status… ESCREVE RP: Mas, é claro, não é possível negar o sangue da RCC a correr nas veias destes Grupos. Daí se forjar uma nova maneira de entender a questão carismática. Desvincular o ES da RCC e fazer de sua atuação algo mais extenso, menos institucionalmente RCC. É preciso frisar que fenômenos carismáticos é uma dimensão que não está ligada a um grupo específico que reinvindica um nome próprio a destacar internamente este fenômeno. Pode ser que Hercília também houvesse tido algum momento de discordância e tensão com a RCC no passado, gerando separação tão categórica. Mas me parece mais plausível explicar este desvinculamento taxativo pelo viés da necessária auto-afirmação de um Grupo novo a se estruturar, como o adolescente que já não respeita in totto seus pais e se envergonha deles frente aos colegas na saída do colégio. Não deixa de ser filho, e não nega a filiação. Mas quer seus pais ausentes de suas festinhas e rodas de amigos. REPONDO A VERDADE: Devemos dizer que em Teoria do Conhecimento se estuda que os quadros do conhecimento do sujeito cognoscente têm muito a ver com as experiências passadas desse sujeito. Ora, sendo o artigo escrito por quem tem a experiência de Pastor Luterano, poderá entender-se melhor o teor da leitura das entrevistas feitas, da interpretação de situações descritas ou directamente observadas pelo autor. Por esse filtro se poderá entender a insistência do autor do artigo na leitura frequente de diversas situações em função do conceito de status, bem como o pendor para ler conflitos onde eles nunca existiram, para fazer insinuações, projectar desconfianças, forjar divisões e antipatias, tal como RP acaba de o fazer, entre o surgimento da Comunidade Cristo de Betânea e a RCC. Ademais, já foi dito e está escrito neste artigo que a Comunidade Cristo de Betânea deve algo das suas origens ao impacto provocado em Hercília Pinto pelo desafio da líder do grupo de oração carismática de Braga, e que foi a partir dele que a mesma Comunidade se foi desenvolvendo. As conclusões a que chega RP são deveras contraditórias, tanto com os factos como com tudo o que anteriormente foi escrito pelo mesmo. E, sendo assim, entre conclusões contraditórias, a lógica diz-nos que uma é verdadeira e a outra é falsa. A falsa é aquela em que RP fala de conflitos que nunca existiram. Porém, sabe-se que o facto de denegrir uma instituição, causando suspeita negativa, provoca maior impacto nos leitores. E esse também é um motivo para venda de mais quantidade de notícias. Em tudo há uma questão de projecto que vise o estabelecimento de uma opção, na óptica da leitura dos acontecimentos. Pode-se construir ou destruir com o que se diz. Procurar fazer ciência credível ou contar “estórias” que roçam o grotesco, alimentam a imaginação e satisfazem as pessoas que são azedas por nascença ou possuem traumas adquiridos, pode ser projecto, se bem que de lastimar. Se se quer fazer ciência, e a sociologia é merecedora disso mesmo, então só se tem um caminho: ler o mais objectivamente possível os acontecimentos, os discursos e outras fontes usadas, socorrendo-se o investigador dos meios adequados - as fontes - e construir os factos sem emitir juízos de valor. É fácil perceber-se que, objectivamente, há distinção entre qualquer “Comunidade Nova”, mesmo dita carismática, e grupos de oração carismática e respectivas coordenações. Mas não há divórcio nem tensões entre a Comunidade Cristo de Betânea e grupos ou coordenações da RCC, aos diversos níveis; pelo contrário, há e sempre houve colaboração, sempre que necessário e possível, como também já foi dito! ESCREVE RP: Importante observar que nas revistas da CCB praticamente não existem referências à RCC em Portugal, a seus eventos, ou à TV Canção Nova. Tendo afinidades, ao menos afetivas, com a RCC, não seria demais um ou outro anúncio da RCC na revista. Afinal, não seria, também, para a promoção do Reino de Deus? Porém, há uma ausência, um calar gritado sobre a RCC. REPONDO A VERDADE: A revista Jesus Vivo procura fornecer material para informação e formação humano-cristã dos seus leitores, num contexto de Igreja, através de material retirado do ensino do Papa e dos nossos Bispos, o que será difícil de entender a quem tem experiência de pequenas igrejas voltadas para si próprias, e integra ainda artigos temáticos pontuais. Nas poucas páginas que tem – 32 - tem que inserir tudo o que precisa de comunicar. A RCC tem uma revista própria, Pneuma. A Diocese de Lisboa tem a sua revista própria, Labat. São revistas complementares, não há necessidade de se repetirem, a menos que quiséssemos fazer proselitismo, o que não é costume na Igreja católica nem, por isso mesmo, na Comunidade Cristo de Betânea. Nem isso deve acontecer. Não interessa que vivamos na Igreja voltados para nós mesmos, e muito menos que nos guerreemos. Interessa que vivamos voltados para Cristo e uns para os outros, em sadia colaboração, para que todos, cada qual com os seus carismas próprios e em complementaridade de serviços, contribuamos para a construção e não destruição, como neste artigo RP tenta fazer, mesmo que involuntariamente, do Reino de Deus na terra em que vivemos. Para mais, é bom saber-se que, além de dois delegados desta Comunidade na Conferência Interdiocesana (órgão coordenador Nacional do RCC), há ainda aí um representante da Revista Jesus Vivo. E, sempre que há notícias de relevo, como Assembleias Nacionais da RCC, elas são noticiadas em Jesus Vivo. Pena que o autor do artigo em questão tenha consultado tão poucas fontes e tenha tirado tantas e tão grandes conclusões! Quanto à Comunidade “Canção Nova”, ela por si se anuncia de forma muito mais poderosa! E também anuncia eventos da Comunidade Cristo de Betânea, quando lhe enviamos a notícia. Pena tanta palavra inútil, nesse artigo! Os leitores da “Revista Brasileira de História das Religiões” e todos os leitores do artigo de RP colocado na Internet têm direito a uma informação e formação mais saudável, mais fundamentada, mais construtiva, mais verdadeira! É isso mesmo que nos leva a corrigir erros, imprecisões e suspeições detectadas nesse artigo de RP! ESCREVE RP: Mas, interessante, quando se sai de Portugal, a RCC tem vez. Na revista nº 106 descobri uma reportagem sobre a RCC em… Timor-Leste. E isto se explica porque um frei da CCB, Gaspar, recém-chegado a Portugal para sua formação na Comunidade, era adepto da RCC em Timor-Leste, gerando, assim, a entrevista e as informações. REPONDO A VERDADE: Gaspar veio a Portugal, mas não era nenhum frei. Apenas veio a Portugal. Não foi ele que teve a iniciativa do artigo: foi a equipa de redacção da revista Jesus Vivo que lho pediu, justamente porque achou que haveria interesse em que se soubesse um pouco da RCC em Timor. Como se vê, o facto de se pedir o artigo prova o interesse da Comunidade pela RCC, ao contrário do que RP quer provar. É mais uma contradição. Mas, afinal, o artigo mais parece sobre a RCC e a revista Jesus Vivo do que sobre a Comunidade… É que para falar da revista Jesus Vivo RP teria que ler todas as suas edições e afinal leu poucos números, como diz no início do artigo. E foi pena que não tivesse lido o número de Julho-Agosto de 2004, todo ele sobre a Comunidade Cristo de Betânea e sua história, o que seria uma obra fundamental a consultar, na medida em que RP diz que se propõe fazer a “História” da Comunidade Cristo de Betânea! ESCREVE RP: Também Frei António informava que, nos Festivais de Verão, sempre convidam um sacerdote com dons do ES. Eu lhe mostrei a lista que eu tinha dos últimos convidados para pregarem nestes festivais, sendo que nenhum deles era português. Ao que o frei retorquiu ser difícil encontrar padres portugueses com os dons do ES necessários àquelas ocasiões, sendo convidados, portanto, padres da Irlanda, Inglaterra, Espanha. Mas será que não há padres da RCC em Portugal que não tenham os “dons”? Ou será mais uma forma de desvincular a CCB da RCC em Portugal, evitando toda ingerência ou possível controle, e legitimando o Grupo como internacional e para além do “caseiro”, com a vinda de padres do exterior? REPONDO A VERDADE: Sim, “é difícil encontrar padres portugueses com os dons do ES necessários àquelas ocasiões!” Ou seja, com dinâmica dita carismática, e experientes nas novas estratégias para a Nova Evangelização e em proximidade com a espiritualidade da Comunidade Cristo de Betânea. Como se sabe, a Europa é muito mais racionalista que outros continentes, o que, se por um lado traz problemas, por outro resolve problemas. Em Portugal há, porém, padres com uma sensibilidade à onda da RCC. Mas a responsável pelos contactos com os sacerdotes para os diferentes eventos desta Comunidade, dados os seus contactos internacionais, convida os que lhe parece que melhor se adaptam à espiritualidade, carismas e objectivos da Comunidade Cristo de Betânea. E quando alguns sacerdotes portugueses estão disponíveis nas datas convenientes ao programa da Comunidade, também são contactados. E são já um grupo significativo, do qual fazem parte os padres Carlos Macedo, José Cruz, Frei António d’Almeida, Luciano Mendonça… Mas, como a Igreja é universal, e esta Comunidade está espalhada pelos diferentes continentes, é com todo o gosto que a Comunidade recebe sacerdotes de diversos países, inclusive do Brasil. Insistir em colocar a hipótese de que “será mais uma forma de desvincular a CCB da RCC em Portugal, evitando toda a ingerência ou possível controle, e legitimando o Grupo como internacional e para além do “caseiro”, com a vinda de padres do exterior”, revela apenas falta de conhecimento da realidade da RCC em Portugal e falta de imaginação positiva para reconstruir factos científicos, ou seja, baseados em factos reais e, por isso, verdadeiros. ESCREVE RP: 12. CCB e Igreja Católica: tão dentro como fora? Aliado à crítica de certos modelos de Igreja está o esforço de Hercília em fazer seu Grupo simpático aos olhos da hierarquia católica. REPONDO A VERDADE: Pelo menos teremos de lastimar a infantilidade deste comentário! A hierarquia católica gosta de ver frutos, não vai em simpatias. Isso seria primário! E uma afirmação sem provas vale menos de zero, não só pelo que afirma, mas pelo que pode ensinuar! ESCREVE RP: Hercília participa dos congressos internacionais das novas comunidades eclesiais e tenta ter intimidade com clero e episcopado. REPONDO A VERDADE: “Hercília”, com outros membros da Comunidade, participa em Congressos porque, como coordenadora da Comunidade, obviamente que tem obrigação de participar neles. Aproveita o máximo para reflectir e escrever. Além do mais, é enriquecedor para a Comunidade a troca de experiências em que se busca mútuo complemento. Toda a equipa que participa em actividades no exterior, bem como toda a comunidade, procura ser correcta para com o clero e o episcopado, como é seu dever. Não se trata de intimismos mas de ocupar o seu lugar na Igreja. Na Igreja Católica é assim! ESCREVE RP: Conforme ela, “sempre tivemos o apoio do arcebispo Dom Eurico, que disse, ‘vamos caminhar, vamos avançar’”. “No princípio”, confessa, “houve suspeita normal sobre a CCB, novo, mas a medida que vão conhecendo vão gostando”. Enfim, diz ter “simpatias de muitos padres, não sei se antipatias de outros. Dos senhores bispos, maravilhosos, não temos tido problema nenhum”. Mas parece que a prática não é tão bela como o discurso oficial que, ao contrário de outros grupos que enfatizam perseguição e incompreensão, como a IURD em Portugal (MAFRA, 2002), Hercília prefere a via da afirmação positiva para valorizar o Grupo, ainda que haja controvérsias. A questão é que a CCB é vista com reservas pela hierarquia eclesiástica. Não que não haja padres e, possivelmente bispos, simpáticos ao Grupo. Mas a opinião que vem da Arquidiocese de Braga parece não conferir com o otimismo de Hercília. Estive conversando com o Pe. Dário Pedroso, jesuíta responsável pelos institutos de vida religiosa na Arquidiocese de Braga. O Padre foi enfático em destacar que o Grupo não usufrui das melhores simpatias episcopais. Disse que Dom Eurico, ex-arcebispo de Braga, deixava as “coisas correrem”, não se importava muito, mas já na época sua relação era apenas formal com o Grupo, ainda que aprovando seus regimentos internos. Contudo, revela que o atual arcebispo “não tolera” o movimento, e o próprio Padre Dário, como responsável arquidiocesano pelo movimento, também parece partilhar da mesma opinião de seu superior. Conforme afirma, falta clareza estrutural e de objetivos e metodologias ao Grupo. Ainda anota que é um Grupo de pessoas sem preparo, muitos “ignorantes” e quem não tem condições de “aconselhar, mas eles mesmos precisam de aconselhamento”. Enfim, faltaria “consistência” à CCB. Além do que o padre relata que, apesar das negativas de Hercília, a CCB é identificada, pela hierarquia eclesiástica como “mais um grupo da RCC”. REPONDO A VERDADE: RP consultou um sacerdote na Arquidiocese de Braga: É um religioso - membro de uma comunidade “histórica”, que data do séc. XVI. É responsável na Arquidiocese pelas Comunidades “Históricas”. Ora, sabe-se de antemão que as “Novas Comunidades” aparecem como uma espécie de “perigo” para as Comunidades “Históricas”, já com tão poucas vocações. E como são Novas, por isso mesmo sem peso da história, não se afiguram com qualquer tipo de importância. São coisa a desprezar, ou pelo menos a menosprezar. A Comunidade Cristo de Betânea sente por vezes esse “desprezo”, essa ignorância, essa menosvalia a que é votada por algumas Comunidades “Históricas”, o que até se compreende. Há sempre desconfiança do que é novo: a novidade pode encerrar algum perigo! Por isso, as afirmações colhidas do discurso do Padre Dário, atribuídas ao Senhor Arcebispo D. Jorge Ortiga, não batendo certo com as referências que Hercília Pinto forneceu a RP, deveriam ter sido esclarecidas por um bom investigador. No caso de RP ter querido averiguar a verdade (o que não fez), e não apenas citar entrevistas, teria questionado essa discrepância e socorrer- se de meios de contra-prova. Se tivesse procurado a Comunidade, teria sido aconselhado a ler a já citada revista Jesus Vivo, edição de Julho/Agosto de 2004, enviada, como todas as outras edições, ao Senhor Arcebispo D. Jorge Ortiga, bem como a todos os outros Bispos portugueses (talvez o Padre Dário desconheça esse facto), contendo o essencial sobre a Comunidade Cristo de Betânea. A Comunidade teria dado a conhecer a RP a presença do Senhor Arcebispo D. Jorge e do Senhor D. Eurico Nogueira, Arcebispo Emérito de Braga, na Festa da celebração do 10º aniversário dos Estatutos da Comunidade. D. Jorge Ortiga presidiu à Eucaristia na Basílica do Sameiro. RP saberia também da correspondência entre D. Jorge Ortiga e a moderadora da Comunidade, dos seus conselhos, do seu apoio, promessas de oração e união com a Comunidade e seus trabalhos apostólicos e, do que já atrás foi dito, da presença do Senhor D. Jorge em acompanhamento e discernimento da ida da Comunidade em missão para o Brasil e do envio missionário feito pelo Arcebispo de Braga à primeira equipa que aí abriu a casa. Se tivesse sabido de tudo isto certamente que teria feito um melhor trabalho, baseado em factos e não em opiniões subjectivas de alguém que desconhece directamente a Comunidade Cristo de Betânea. Por tudo isto, a Comunidade não tem razões para admitir qualquer desconfiança e muito menos “intolerância” de que fala RP, baseado apenas nas palavras de Padre Dário (se é que RP as bem entendeu da boca deste sacerdote, por quem a Comunidade tem consideração). RP ainda anota que a Comunidade é um “Grupo de pessoas sem preparo, muitos “ignorantes” e que não tem condições de “aconselhar, mas eles mesmos precisam de aconselhamento”. Afirmações graves, que não correspondem à verdade! Só as pode proferir quem não conhece a Comunidade ou a pretende denegrir ou menosprezar. Já foi dito que não faltam na Comunidade pessoas inteligentes, com caminhada espiritual, cultas e com diversos graus académicos. O querer designar uma “Comunidade Nova” de “Grupo” é já por si eloquente: significa desconhecimento, confusão de termos ou certo menosprezo. E ainda mais, para repor a verdade: o referido sacerdote, Padre Dário Pedroso, não é responsável arquidiocesano pelo movimento (não sabemos se o autor se refere à RCC se à Comunidade Cristo de Betânea, pois usa indiferentemente os termos “grupo”, “comunidade” e “movimento”). Mas o Padre Dário nem é responsável pela RCC na Diocese de Braga, nem pela Comunidade Cristo de Betânea! As Novas Comunidades não se relacionam assim com a hierarquia. Quem é delegado espiritual junto da Comunidade Cristo de Betânea é Monsenhor Joaquim Morais, Reitor da Basílica do Sameiro, que RP não consultou. Pena que tenha batido a porta errada e que apenas se tenha contentado com aquela opinião! Como poderá alguém ter afirmado a falta clareza estrutural e de objetivos e metodologias ao Grupo, sem nunca ter feito nenhuma visita, sem nunca ter tido nenhuma participação em qualquer evento desta Comunidade, sem nunca ter dialogado com qualquer dos responsáveis? As afirmações têm de ser documentadas e libertas de toda a subjectividade, para serem credíveis! A Comunidade tem, isso sim, recebido visitas oportunas de diversos Bispos em suas funções específicas, designadamente quando responsáveis pela vigararia de Vila Nova de Famalicão, em cuja área a Comunidade está situada, como é o caso de Bispos auxiliares e que foram auxiliares da Arquidiocese de Braga, como D. Jacinto Botelho, actual Bispo da Diocese de Lamego, D. António Santos, actual Bispo da diocese de Aveiro, D. Antonino Dias, actual Bispo da diocese de Portalegre-Castelo Branco. E ainda a visita do próprio Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, bem como de D. António Carrilho, Responsável pelo Secretariado Nacional do Apostolado dos Leigos e da Família na Conferência Episcopal Portuguesa. Na Diocese de Leiria-Fátima, onde esta Comunidade tem uma casa de retiros, a Comunidade foi visitada e acompanhada nos diversos encontros pelo então Bispo da Diocese, D. Serafim Ferreira e Silva. Na Diocese de Setúbal, onde há uma fraternidade da Comunidade, há um “Centro de Oração e Acolhimento” benzido pelo Bispo da Diocese, D. Gilberto Canavarro. Este Centro é visitado por este Bispo que dá a honra da sua presença em actividades e celebrações comemorativas. E como se pode concluir uma verdade credível com base num inquérito feito apenas a uma pessoa, mesmo que esta revelasse as melhores condições objectivas para a realidade a estudar? Pobre ciência a sociologia, tão desrespeitada em métodos de pesquisa que lhe garantam o nível científico a que tem direito! Todos estes factos provam a falta de probidade em muitas afirmações feitas neste artigo por RP. Gratuita é também a afirmação feita acerca de D. Eurico Nogueira: ex-arcebispo de Braga, deixava as “coisas correrem”, não se importava muito, mas já na época sua relação era apenas formal. Para clarificar a verdade: D. Eurico não é ex-Arcebispo, mas Arcebispo Emérito de Braga. É tudo bem diferente! D. Eurico Nogueira é pessoa inteligente, culta e experiente, e já nessa altura conhecia bem as “Novas Comunidades”, nomeadamente a então designada “Comunidade do Leão de Juda e do Cordeiro Imolado”, comunidade francesa. Aliás, D. Eurico, na altura, manifestou-se interessado numa “Nova Comunidade” na sua diocese. Acompanhou o início, motivou com suas palavras de pastor-pai, acautelou, orientou. E tentou fazer algumas experiências pastorais novas com a Comunidade Cristo de Betânea…Por isso, tal relação não é meramente formal, mas bem existencial e bem em Igreja! ESCREVE RP: É bastante importante este contraste entre os discursos. A questão da antipatia hierárquica parece estar no fato de certo independentismo do Grupo e em seu estilo carismático, pouco afeito na Arquidiocese de Braga. Primeiro, há de se notar o fato de leigos, sem formação maior, instituírem-se como aconselhadores para libertar pessoas doentes psíquico-espiritualmente. Tradicionalmente, o aconselhamento espiritual ou de confessionário é reservado ao clero, ou a pessoas especificamente preparadas e ligadas ao clero. Esta autonomia da CCB em congregar pessoas e fazê-las, não pelo estudo formal necessariamente, mas pelo carisma e força do ES aconselhadoras, dá-lhes um poder que, de certa forma, foge ao controle e autoridade supervisional clerical. Não deixa de ser uma concorrência, interpretada, ainda, como de má qualidade e até degeneradora da imagem correta da Igreja. E é isto que também está em jogo: a imagem da Igreja, o jogo de definições e controle desta imagem e de seus símbolos. A CCB é uma iniciativa leiga que pouco deve às estruturas formais da Igreja. Vem de uma leiga consagrada que migra da RCC para uma forma de movimento carismático de Comunidade de Vida e Aliança. É, para efeitos de análise mais sociológica, como uma Igreja paralela e pouco controlada, ainda que, claro, dentro e obediente à mater et magistra. REPONDO A VERDADE: Avaliar a Igreja em termos de mercado capitalista da livre concorrência é coisa estranha a católicos, embora muito vulgar nas seitas e grupos sectários. Já está esclarecido tudo o que se pode esclarecer para repor a verdade nas afirmações conjecturadas e improvisadas supra-referidas. Certamente que os membros da Comunidade Cristo de Betânea, ao tomarem conhecimento deste artigo de RP, ficaram admirados como alguém que não os conhece e os possa apelidar de “incompetentes, quase analfabetos, incapazes de terem opinião, de aconselharem, e até dos mais pobres da sociedade”. E também ficarão surpreendidos de tanto desconhecimento revelado acerca do lugar que as “Novas Comunidades” ocupam hoje na Igreja, inclusive o desconhecimento de que a Comunidade Cristo de Betânea foi aceite já há dois anos na “Fraternidade Católica das Novas Comunidades”, que congrega Comunidades de “Vida” e de “Aliança”, com condições para isso, avaliadas pelo delegado da referida Fraternidade para a Europa do Sul, Padre François-Xavier Wallays, que visitou em 2005 a Comunidade Cristo de Betânea em Portugal durante quase uma semana, depois de um acompanhamento à distância durante três anos. Este teor de investigação e artigo de RP é só possível num mundo que se alimenta de críticas destrutivas, as que melhor vendem folhas de papel em jornais e revistas. ESCREVE RP: Um importante estandarte deste conflito de imagens da Igreja, do que se pode ou não, do poder de definições, é a questão do hábito. Havia três estudantes de Teologia da CCB (dois homens e uma mulher) que frequentam o curso teológico da Universidade Católica de Braga, ligado à Arquidiocese, em 2007. REPONDO A VERDADE: Mais uma rectificação: A “mulher” que vai de hábito para o curso de Teologia não é da Comunidade Cristo de Betânea, pois a verdade é que não há nenhuma Irmã desta Comunidade inscrita no curso de Teologia. ESCREVE RP: Os três iam de hábito às aulas. Segundo o Pe. Dário, o que mais “irrita” o bispo, o que ele não consegue entender, é porque aqueles irmãos têm que ir às aulas de hábito. Aliás, ao que parece, a cisma episcopal com o hábito parece não se reservar à questão de seu uso nas aulas, mas à questão mesma da CCB adotar vestes de hábito, de corte monástico. REPONDO A VERDADE: Não acreditamos que o Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, perca tempo a reflectir como os estudantes da Comunidade Cristo de Betânea vão vestidos às aulas! Também não acreditamos que o Senhor Arcebispo não saiba a “função”do Hábito numa Nova Comunidade, pois são tantas, na vertente de Comunidade de Vida, em tantos países, inclusive no Brasil, que abrem as portas ao Hábito, trocado por formas de vestir ou fardas, bem desilegantes, por algumas comunidades “históricas”! E se assim fosse, por que havia de ser o Padre Dário Pedroso a transmitir o que o senhor Arcebispo nunca disse, nem aos irmãos, que com hábito já têm falado com o Senhor Arcebispo? É muito estranho! A quem “irrita”, afinal, o hábito, e por quê, fica por esclarecer neste trabalho de RP. ESCREVE RP: Interessante é que eu mesmo pude observar, indo à biblioteca da Universidade Católica, onde funciona o curso de Teologia, que irmãs de outras congregações vão ao curso de hábito, e alguns seminaristas usam camisa clerical. Por que uns podem e outros não? A questão, portanto, não parece residir no hábito em si, mas no significado do mesmo: apontaria, o hábito da CCB, para pessoas ligadas a um Grupo de pouca credibilidade na Igreja (ao menos a bracarense) e que, por ser de pouca credibilidade, sinaliza uma imagem de Igreja que não quer ser a oficial. REPONDO A VERDADE: A Comunidade Cristo de Betânea tem Estatuto aprovado e festejado na Igreja com a hierarquia presente. Há visitas normais dos Bispos à Comunidade. Como se pode daí deduzir falta de credibilidade da Comunidade na Igreja? Não basta o Estatuto? Não basta a presença dos Bispos para credibilizar? Valem mais as palavras de um padre de uma comunidade “histórica”, que desconhece esta Comunidade (e que não adopta o Hábito), e as subjectivas suposições de um entrevistador forasteiro? ESCREVE RP: Que freiras de congregações religiosas antigas ou de pleno reconhecimento e tradição eclesiástica usem hábitos, não há problema. Ou mesmo franciscanos que fossem ao curso de hábito não teriam a crítica episcopal. Afinal, seriam membros de uma Igreja, em suas instituições religiosas, que se mostra oficial e sob a mitra e o báculo. A questão do hábito da CCB é a questão da legitimidade da mesma diante da Igreja. Um instituto interpretado como confuso, sem metas e formação clara, e com práticas carismáticas e concorrenciais ao clero, sem preparação a isto, não poderia ter uma visibilidade tão significativa, como a que um hábito produz, ainda mais no próprio coração da Arquidiocese, em seu curso de Teologia. A luta dos símbolos e do poder que eles criam, das mentalidades que formam e dos caminhos a que levam. REPONDO A VERDADE: É uma questão de mau gosto o pegar mais uma vez na questão da credibilidade da Comunidade Cristo de Betânea, agora por outro lado! RP afirma: A questão do hábito da CCB é a questão da legitimidade da mesma diante da Igreja. Um instituto interpretado como Confuso…” Quem conhece a História da Igreja e suspeita tanto, a propósito da Comunidade Cristo de Betânea, já com tanta acção realizada na Igreja, com a presença de sacerdotes e bispos, ou está de má fé ou não conhece a Comunidade ou desconhece a História da Igreja ou das comunidades nascidas na Igreja. As Comunidades religiosas “históricas”, que hoje gozam de grande simpatia na Igreja, inclusive a Comunidade do Padre Dário Pedroso, quando surgiram eram comunidades “novas”, e muitas delas, no seu arranque, foram indesejadas e até perseguidas, com grandes dificuldades de inserção na Igreja. A este propósito, diz o Cardeal Suenens: “O carisma do discernimento torna-se difícil de gerir e é forte a tentação para a hierarquia de se agarrar ao mais seguro. Isso explica – sem que porém justifique - certas desconfianças e condenações abusivas que a história regista. Não é raro, com efeito, que na origem de movimentos espirituais, desencadeados por ordens religiosas nascentes, houvesse tensão entre o fundador e a hierarquia. A história da isenção dos religiosos é feita, em certa medida, de conflitos deste género. Muitos fundadores e fundadoras foram confundidos, no início, com certos iluminados dos seus tempos, de tipo fraticelli ou alumbrados, isto para evocar apenas Francisco de Assis e Inácio de Loyola [Este último é o fundador da Companhia de Jesus, à qual pertence precisamente o entrevistado, Padre Dário] … conhecemos o calvário de Grignion de Montfort…” (Car. Suenens - in l’Esprit Saint, souffle vital de l’Église, pg. 20-21). Só dá tanto ênfase a tal assunto, baseado apenas na opinião de uma pessoa que cita, quem não conhece a História da Igreja ou a história do surgimento de diversas comunidades na Igreja, nem conhece as regras da mudança e novidade em sociologia, já referidas: desejando a mudança, pessoas e grupos reagem à mudança; desejando a novidade, pessoas e grupos contestam a novidade. É a lei sociológica da resistência à mudança. Se a evocarmos, como aqui fazemos, encontramos as explicações que procuramos, sem suspeições nem estranheza. Quanto à confusão de RP, maior do que a que encontramos neste artigo, nunca encontramos. Confusão de termos, de ideias, de horas, de nomes, de lugares… Mas o objectivo da Comunidade Cristo de Betânea é claro: 1- Vida cristã e comunitária, tendendo à perfeição da caridade, cada qual no seu estado de vida. 2- A Nova Evangelização Metas: 1- Ser Santo 2- Anunciar Jesus Cristo, indo particularmente “às ovelhas perdidas da casa de Israel” através de novas estratégias. 3. Novas estratégias: Criar espaços – tempos que sirvam o encontro das pessoas com Deus, e de comunhão entre elas. Uma destas consiste em procurar ir ao encontro das pessoas que sofrem, das chamadas “doenças modernas”, em todas as idades. 4. A Formação é feita em função dos objectivos, e é da responsabilidade do Moderador da Comunidade, assim consignado nos Estatutos (Art.º 13.º). Este associa a si, para este efeito, uma equipa de formadores. Aos residentes, uma formação espiritual e acompanhamento são dispensados diariamente, e têm ainda a formação ministrada frequentemente por Monsenhor Morais nas Eucaristias que celebra com a Comunidade. Há para os membros internos e externos o acesso a dias de deserto, retiros, seminários, fins-de-semana de formação, leituras oportunas, cursos ministrados na Comunidade durante o ano: Música, Sagrada Escritura, doutrina da Igreja, etc., por pessoas credenciadas nas matérias, tantos sacerdotes como leigos (as). Claro que será aligeirar a questão o falar, como afirma RP, de “práticas concorrenciais ao clero”, quando colaboram com a Comunidade diversos sacerdotes e com eles a Comunidade colabora em paróquias, a começar pelas paróquias onde a Comunidade reside, até à Sé de Braga, naquilo que é pedido. ESCREVE RP: 13. Ser carismático sem o sê-lo, eis a questão… Enfim, é visível, entre membros e simpatizantes, que quase todos chegam à CCB ou via RCC ou atraídos pelo estilo carismático que a Comunidade possui. Estive um dia na casa de Telhado, partilhando o dia com a comunidade. Há somente uma oração em que todos da comunidade se reúnem para o louvor em conjunto. É a oração das seis horas. REPONDO A VERDADE: Convinha ter havido uma investigação mais completa. Muitos simpatizantes que são externos à Comunidade são realmente pessoas dos grupos de oração carismática. Quanto aos membros internos, uma minoria tem essa procedência, o que é normal, pois nas suas actividades a Comunidade abre as portas a toda a gente. A Comunidade tem pessoas que descobriram Jesus Cristo apenas através da Comunidade. E, rectificando, quanto aos tempos de oração (já que RP apenas apareceu às 18h na casa de Telhado): Há cinco tempos de oração comunitária: Laudes (7.30h-8h); sintonia ao meio-dia; Vésperas (19h); Completas (às 21.30h). Só não participam na Oração da Sintonia os membros que estão na Faculdade. ESCREVE RP: Neste momento de oração, ladeado de louvores e adoração ao santíssimo sacramento, manifesta-se o dom de línguas em alguns, e mesmo a profecia. E, em uma das reuniões de sábado, abertas ao público (que será detalhada adiante) houve um momento em que mais da metade da audiência ali presente orava em línguas. Por causa dos afazeres diferenciados dos irmãos, que incluem trabalhos externos, inclusive, só é reservado um momento, no mínimo, para o encontro de todos em oração. REPONDO A VERDADE: Se RP só foi à Comunidade às seis horas da tarde, terá dificuldade em fazer tais afirmações fidedignas. Na verdade, toda a oração comunitária é para todos, e só nela não participa quem está ocupado em serviços externos. ESCREVE RP: Contudo, a CCB ainda conserva outro tipo de união fraterna de oração, que é a de todos os dias, ao meio-dia, em que cada irmão pára o que está fazendo para orar pelos outros, recitando o Angelus. Também o almoço nem sempre pode ser partilhado pela comunidade como um todo, dado que alguns estão em afazeres externos. Assim que o sábado, dia que, pelo idealismo judeu-cristão, parece ser o dia chave da casa, é o dia reservado para o almoço comunitário. REPONDO A VERDADE: Pena não ter havido preocupação de perceber com objectividade o sentido das situações que questionaram RP! Sendo a Comunidade Cristo de Betânea centrada em Cristo (até o nome serve de indicador aos menos questionantes), o dia principal para toda a Comunidade é o Domingo, em que, com toda a Igreja, se celebra a ressurreição do Senhor Jesus. Por isso, a oração da tarde e da noite de sábado reveste um carácter de Festa a Jesus ressuscitado, luz do mundo, Salvador esperado por Israel (embora esperado ainda por muitos israelitas). ESCREVE RP: 14. De atendido a nativo, formação contínua sob o controle do líder Geralmente as congregações religiosas surgem na Igreja com algum apelo social, a atender alguma demanda social. O apelo social na CCB tem relação com os “doentes psíquicoespirituais”. Porém, alguns que chegam com doenças “psíquico-espirituais” e são aconselhados ou libertados na CCB se tornam, posteriormente, membros do instituto. Como o Frei António, hoje um dos líderes do Grupo. A CCB vai, de certa forma, ao encontro daqueles que, numa sociedade européia, como Portugal, lhe parecem os mais necessitados de ajuda: os “doentes psíquico-espirituais”. Não que não haja na Europa, e particularmente em Portugal, pessoas sem abrigo, em situação de rua, ou com graves privações financeiras, ou seja, pessoas pobres materialmente, e mesmo miseráveis. Porém, é tema comum que um dos principais problemas desta sociedade é o abandono e a solidão, seja de idosos ou não. Neste ponto a CCB também assume este discurso e identificação, de que os pobres a acolher são aqueles que sofrem, de alguma forma, do que chamam de doenças psíquicoespirituais, manifestadas em solidão, depressão, melancolia, entre outras manifestações psicológicas, que são também espiritualizadas na CCB. Como já dissertamos, existem passos para se tornar um consagrado na CCB, como postulantado e noviciado, ainda que esta formação não tenha sido muito clarificada quanto à sua pedagogia e metodologias e estudos formativos específicos. E isto parece natural a um movimento que se movimenta na espontaneidade do ES, que parece gostar do mínimo de estruturas possíveis. De qualquer forma pode-se afirmar que há para o neófito, no início, um tempo de experiência informal e, depois, um ou dois anos de estágio comunitário. Após um postulantado que varia em seu tempo, mas que formalmente fica “em torno de dois anos” e, finalmente o noviciado de um ano para os votos. É importante observar que o postulantado não tem tempo definido, embora presumido. Pode ser de “muitos anos”, ou não. Evidencia que, quanto à maturidade ou competência para o noviciado, a decisão passa por Hercília e seus líderes mais próximos (Conselho Geral), a quem cabe o discernimento. Ela mesma afirma que o tempo depende do que “se percebe [do candidato] como dinamismo de fé, adesão a Jesus Cristo”. E quem decide sobre a maturidade deste dinamismo e adesão? Ou o que é ou não adesão a Jesus? REPONDO A VERDADE: Mais uma vez nos deparamos com a preferência que o autor do trabalho dá à sua liberdade de suposições sobre o esclarecimento objectivo das questões que se lhe deparam. Esta é mais uma dessas situações. Ou então houve dificuldade de compreensão ou de elaboração do trabalho, o que poderá ter induzido em erros. Mas, repomos aqui a verdade: em qualquer comunidade, as etapas de formação têm uma duração padrão, designada estatutariamente. Em muitas das “Novas Comunidades” o tempo de formação é mais longo do que nas “históricas”. Na Comunidade Cristo de Betânea está tudo bem claro. Pena que RP não tivesse percebido! São estas as etapas normais: um ano de experiência chamado de “Estágio”; dois anos de “Postulantado”, três anos de “Noviciado”, e não um, como RP diz acima, antes dos votos definitivos. Só que, como a formação não é feita em rebanho, nesta Comunidade a duração de cada etapa de formação pode não ser a mesma para todos os formandos. Não ter percebido isso é que pode ter ajudado a confusões. Mas, parece-nos que uma pessoa minimamente inteligente e humana e que deseje conciliar a lei com o respeito pela pessoa, entende bem esta visão. Acerca das etapas de formação, não se poderá dizer: “o postulantado não tem tempo definido” mas sim que, naturalmente, essa formação “pode durar mais tempo ou não”. Isto não surpreende quem souber fazer relações e tirar conclusões verdadeiras. De maturidade poderá ter-se falado, mas o termo competência, em Português, soa a aptidões técnicas. Como discernir? Entende-se claramente que cada pessoa tem o seu ritmo, e que esse ritmo é visível pelo próprio, pelos seus colegas de formação e, obviamente, por toda a comunidade, incluindo o Conselho de Formação. Isso acontece porque cada pessoa é única e, se vive em comunidade, há inter-relação de vidas! E entra ainda o factor das diversas proveniências dos candidatos, com diferentes graus de formação. Verifica-se assim um método fundamental: atender ao caminhar personalizado de cada candidato, à sua evolução pessoal, no percurso das diferentes etapas da sua caminhada. Não há aqui nada de estranho, a não ser o tratamento com acompanhamento personalizado de cada candidato. Quem decide? Poderemos falar de um discernimento em duas instâncias fundamentais: um primeiro discernimento é feito entre o candidato e o acompanhador. Mas não se trata de julgar se existe uma aptidão, como a aptidão para conduzir um carro, ou coisa semelhante. De resto, a quem competirá fazer um discernimento acerca da caminhada de alguém na espiritualidade e carismas da Comunidade Cristo de Betânea se não quem vive essa espiritualidade e carismas há muito tempo, quem já ajudou muitos nessa caminhada, quem acompanha pessoalmente o (a) candidato (a) em questão? E essa caminhada também é percebida pelos colegas de caminhada, pois quem vive junto conhece-se! E quem avalia não é uma pessoa só! É assim mesmo, em muitas outras comunidades. Então, finalmente é óbvio que a última palavra e responsabilidade caiba ao Conselho de Formação da Comunidade. “O que é ou não adesão a Jesus?”, pergunta RP. Esta é uma pergunta bem simplista, reveladora de alguma ingenuidade, superada por quem conhece a Bíblia e experimentou já viver esse tipo de adesão. Claro que se trata de um tipo de adesão diferente da adesão a um partido político ou a um clube de futebol. A resposta encontra-se na Bíblia. Jesus diz: “Quem não é por mim, é contra mim” (Lc 9, 5); “Quem quer seguir-me renuncie a si mesmo e siga-me. Buscai primeiro o Reino de Deus e o resto virá por acréscimo (Mt 6, 33)”. É só experimentar! Fazer uma experiência de colocar na vida, ou seja, de tentar encarnar estes desafios de Jesus Cristo, para que qualquer comportamento pessoal se torne num verdadeiro indicador objectivo da adesão a Jesus! E numa comunidade, à medida em que cada membro vai tentando dia-a-dia viver assim, fazendo essa experiência, a comunidade vai-se transformando num lugar de perdão e festa, de alegria e paz! E se todos assim vivêssemos, não suspeitaríamos mal uns dos outros. Como o mundo seria diferente, e como este artigo sobre a Comunidade Cristo de Betânea, escrito por RP, teria bem maior nível científico! ESCREVE RP: Esta forma mais aberta e menos regrada institucionalmente de proceder o caminho da formação mostra o quanto a CCB ainda é dependente personalmente de Hercília. Com todos os membros da CCB que conversei, sempre perguntava pela formação, e a resposta era sempre vaga e pouco objetiva, discorrendo sobre um tempo de convívio, algo de postulando, mas sem especificações ao certo sobre tempos, formas de formação, formadores, etc. Aliás, como também é vaga a história das origens da CCB, fruto do que o ES iria fazendo, sem uma racionalização mais precisa de datas e eventos. REPONDO A VERDADE: Outra vez se revela aqui ignorância acerca das “Novas Comunidades”, pelo menos na Europa! Esta forma mais aberta de proceder faz a diferença ente as “Novas Comunidades” e as Comunidades “históricas”, ou qualquer instituição mundana. A Comunidade Cristo de Betânea tem regras, mas não é legalista. Tal como nos advertia, desde a origem, D. Eurico Nogueira: A lei não abafa a vida, mas parte dela, para a ajudar a desenvolver! Estas observações de RP, gratuitas, são bem reveladoras de boa dose de desconhecimento da essência das “Novas Comunidades” da Igreja Católica, pelo menos na Europa. E ainda outra conclusão errada: “Hercília” não é quem acompanha, na prática, a caminhada dos candidatos. E não será assim que acontece nas Comunidades “Históricas”? Um é o(a) superior; outro(a) é o(a) mestre de noviços. Este é um dos pontos essenciais. Pelo menos nas Comunidades Europeias! Numa Comunidade como tal, cada qual depende dos outros, da sua presença e colaboração interdependente, e na obediência responsável! (Saber-se-á o que isto significa?). E todos dependem de Deus. O Coordenador é o sinal e, ao mesmo tempo, o garante da comunhão fraterna, representando a Comunidade dentro e fora dela. O governo da Igreja é colegial. E o das “Comunidades Novas” também o é. Pelo menos, na Comunidade Cristo de Betânea. Na Igreja Católica não há ditaduras nem democracias. Há discernimento segundo o Espírito Santo, feito aos vários níveis ou instâncias, na unidade do mesmo Espírito. E o discernimento, em última análise, cabe ao Bispo Diocesano, na sua diocese. Na Igreja católica é assim. Claro que será difícil, a quem tem outras experiências de outras igrejas, entender tudo isto. Mas é assim que nos sentimos felizes nesta teia de interdependências (inexistente em formações de algumas outras igrejas). ESCREVE RP: 15. Formação, missão, idealismo e desafios da CCB Escuta ao telefone, ou pessoalmente, é a tarefa mais diária a que se propõe a rotina e carisma da CCB. Perguntei a alguns irmãos sobre se recebem muitas ligações para aconselhamento, ou se muitos os procuram. Respostas vagas tiveram. Sim e não. Às vezes. Etc. REPONDO A VERDADE: Estranho é que, para um serviço de tanta responsabilidade, quanto este se nos afigura (e quanto é o serviço da escuta de pessoas em sofrimento, seja ela telefónica ou presencial e sabendo-se que na casa visitada a maioria das pessoas está nas primeiras etapas de formação), tenha havido inquirição a irmãos, feita aleatoriamente. Dever-se-ia saber, de antemão, quais os responsáveis por esse serviço da escuta! Ademais, quem escuta terá de possuir o carisma da escuta. Pena que não tenham sido inquiridas as pessoas a quem esse serviço está conferido! Numa Comunidade, tal como acontece na Comunidade Cristo de Betânea, não fazem todos os mesmos serviços. Estes estão distribuídos segundo preparação e carismas necessários aos respectivos serviços. Obviamente que ninguém corre para o telefone logo que ele toca! A ordem nos serviços, como em tudo, é fundamental ao bom funcionamento de uma comunidade! E este serviço de atendimento de pessoas em sofrimento, como se poderá imaginar, exige preparação, para além do carisma necessário. Para uma boa colheita de dados, teria sido importante que o autor do artigo começasse por perguntar aos responsáveis presentes qual o serviço das diversas pessoas, na Comunidade. ESCREVE RP: A impressão que se tem é que este carisma central na CCB fica mais num plano do desejo, da vontade que seja assim, pois não parece que tal carisma, a que se propõe, tenha vazão em demanda que a eles cheguem. Estive numa quarta-feira, entre 10h00 e 14h00, na barraca de artigos religiosos da CCB que a Comunidade tem na feira de Famalicão. A feira de Famalicão fica num grande parque aberto em que há várias tendas onde se vende de quase tudo: comida, doces, sapatos, roupas, móveis, brinquedos, objetos diversos. Há grande circulação de pessoas pelo lugar. Na barraca estavam dois consagrados que moram em Telhado: um senhor de uns 70 anos, com roupas civis, e uma senhora, timorense, de uns 55 anos, com o hábito. Os dois bastante simples, sem estudos formais mais avançados. Ele um pouco surdo, e ela com um pouco de dificuldade – cognitiva, e não linguística – em entender algumas observações minhas em nossa conversa. REPONDO A VERDADE: Pena que neste artigo se demonstre tanto surrealismo crónico, e grande miopia intelectual! Mais uma vez se toma aqui o tomar da parte pelo todo! RP apenas visitou uma Tenda numa Feira, em V. N. de Famalicão, quando o tema é a “História” da Comunidade Cristo de Betânea! Primeiro: É de lembrar que visitou uma Casa de Formação e que as actividades que a Comunidade tem ligadas a essa casa são para estágio dos candidatos. Segundo: É de lembrar que estão publicitados pela revista Jesus Vivo e através de outros meios, nomeadamente a Internet, diversos números de telefones e moradas das quais as pessoas se podem socorrer, tanto em Portugal como no estrangeiro. Terceiro: O Senhor de uns 70 anos não é consagrado. É viúvo, com compromisso comunitário. E há uma total falta de verdade quanto à apreciação dos seus estudos formais: esse Senhor é médico, reformado há pouco tempo! E, por sinal, uma pessoa muito culta! A Senhora com hábito, que é referida por RP, não é timorense mas portuguesa, e possui um curso de Inglês! Vejam só! Veja-se quanta conclusão superficial! No fundo, quanta inverdade (para não chamar mentira) desnecessária, a descredibilizar este artigo! A grande preocupação que revela o autor do trabalho quanto ao apuramento de estudos formais, psicologicamente poderá explicar-se por alguma projecção de algo que dificulta a sua situação na realidade concreta europeia. Um grande número da população possui o 12 º ano - terminal do secundário! Há, sim, uma grande confusão do autor do artigo: a confusão entre simplicidade e ignorância. Esta confusão é que poderá revelar ignorância, pelo menos nesta distinção destes dois conceitos ou atitudes de vida. E também é de saber que, quando a pessoa tem real valor, aparenta facilmente muita simplicidade! Se tem real valor, não precisa de se afirmar por qualquer atitude de afirmação pessoal, no acto do relacionamento. E, para reforço do referido, apresentamos o testemunho de uma das pessoas que nesse dia esteve na Feira de Vila Nova de Famalicão: “Sou o Irmão Jaime, de 75 anos, já atrás referido pela Irmã Dr.ª Hercília Pinto. No dia em que Vossa Excelência declara ter-nos inquirido, a mim e a uma Irmã consagrada (de hábito), recordo que alguém me abordou na feira de V. N. de Famalicão, uma pessoa anónima (visto que não se identificou), no meu posto de escuta, acolhimento e apostolado, numa pequena tenda, em que tínhamos a mais duas cadeiras destinadas às pessoas que nos pedem encarecidamente ajuda para suas mágoas, traumas, desgostos e indecisões quando ainda não a encontraram, ou, pensando que sim, se sentem enganadas, frustradas e desanimadas. Esse senhor que nos abordou não se evidenciou do vulgo. Apenas pediu alguma informação relativa à Revista Jesus Vivo e eu lha recomendei. Assinou-a para a receber no que se refere a todo ano de 2008, incluídos os números dos transactos meses, no que prometi ter todo o empenho, como era meu dever, e creio bem que lhe terão chegado à mão atempadamente. Só posteriormente vim a saber que se tratava de um irmão na Fé, digno Pastor Metodista. Se me tivesse apercebido disso na ocasião, qual teria sido o meu justificado regozijo na habitual confraternização ecuménica! Por exemplo, temos tido a presença e colaboração habitual de Irmãos Evangélicos nas nossas Festas de Verão especiais para a juventude com suas e nossas bandas desde 2003, em diversos locais de Portugal. Sim, por mais que possa estranhar, o Ecumenismo já vem sendo uma realidade na Europa, embora não pareça sê-lo no Brasil.” ESCREVE RP: Durante as 4 horas em que lá estive, apenas algumas poucas pessoas paravam para olhar os produtos. Uma comprou um folheto. Mas ninguém parou para conversar, ser evangelizado ou aconselhado. Ora, conforme Frei António, a barraca na feira é um instrumento de evangelização, pois a evangelização tem de ir aonde o povo está. REPONDO A VERDADE: Ninguém parou, diz o autor: Obviamente que se as pessoas da Comunidade estavam ocupadas em atender RP é muito natural que respeitassem o diálogo que estava a acontecer. Por outro lado, há que contar com diversas variáveis que entram num trabalho sociológico: as frequências são diferentes por diversas circunstâncias: diferentes dias, épocas e contextos existenciais. Podia ter-se contado com esta regra, na interpretação dos factos presenciados. Reduzidos a um tempo de observação muito restrito: um só dia, apenas numa quarta-feira de um ano! Não se contando com as referidas variáveis, com que autoridade se poderá fazer uma generalização de nível científico? Para a uma conclusão válida, seria necessária uma observação de bastantes meses! Um trabalho de observação de uma só vez, no terreno, não tem qualquer significada para um trabalho científico. Isto pelo menos em Portugal. ESCREVE RP: Contudo, a evangelização, também tão cara ao carisma da CCB, resume-se, na feira, a expor os artigos da CCB (revista, livros, terços, camisetas) para compra, assim como os demais comerciantes da feira expõem os seus artigos de “evangelização”. REPONDO A VERDADE: Esta afirmação segue a lógica do simplismo incongruente: não se distingue estratégia de evangelização com a evangelização propriamente dita. Estamos como na questão anterior do “Hábito”! A ida a uma feira semanal, ou a participação em Feiras de Livros ou o ter uma loja de artesanato ou outras, são simples estratégias de evangelização. Isso não quer dizer que aí não se fale de Jesus Cristo - evangelização. Mas, a partir de encontros havidos desse modo, com pessoas que nem vão à Igreja, apenas fica disserto o apetite para ulteriores conversas que acontecem nesses mesmos locais ou noutros, postos à disposição das pessoas. E é certo que muita gente tem iniciado ou retomado a caminhada cristã nesses lugares! Foi pena não ter havido a preocupação de falar com algumas dessas pessoas, o que teria permitido um trabalho de campo muito mais rico e promissor da verdade dos factos! ESCREVE RP: Hercília se ressente de não ter médicos, enfermeiras, psicólogos membros consagrados na CCB, e nem estrutura maior, pois reconhece que o ideal seria que algumas pessoas fossem acompanhadas mais regularmente, mesmo internadas. O projeto de aconselhamento e libertação e cura de pessoas com problemas psíquico-espirituais parece ser algo que fica no horizonte do ideal, do projeto ideal, pois não parece haver nem demanda e nem pessoal preparado. Quando aparece algum caso mais complicado encaminha-se a pessoa - quando é problema de droga, ou álcool, ou outro mais específico - aos órgãos oficiais da sociedade. REPONDO A VERDADE: Efectivamente, o que pretendia dizer Hercília Pinto é que a Comunidade não tem os técnicos necessários para responder a tanta procura. Mas, o projecto não fica no ideal, até por quanto já foi aqui dito pelo autor do artigo. E para que se saiba, do projecto faz parte o encaminhamento das pessoas em determinadas situações, o que acontece em casos de busca de recuperação do álcool ou da droga. Foi pena que tal estudo sobre a Comunidade Cristo de Betânea se circunscrevesse ao que se passa na Casa de Formação, e pouco mais, já que é sobretudo na Casa de Fátima que funciona o maior centro de ajuda psico-espiritual: aí, além do atendimento personalizado e esporádico, há Encontros e Seminários de Cura Interior regulares, sistemáticos, bem como encontros semanais de Oração. Também em Fátima, mensalmente, funciona o serviço Piscina de Siloé: as pessoas são atendidas ao longo do dia e em diversos momentos por pessoas especializadas, trabalhando em interdisciplinaridade. No mesmo dia funciona um outro serviço: Mar da Galileia, também com pessoal científica e tecnicamente preparado para a ajuda psico-espiritual. Ao falar de pessoal preparado, referimo-nos a psicólogos, assistentes sociais, terapeutas familiares, pessoas especializados em técnicas de relaxamento, etc. Noutros centros de acolhimento referidos faz-se trabalho de acolhimento, escuta, oração por e com as pessoas. Não se faça confusões, comparando os problemas psico-espirituais com problemas de droga, álcool ou outros! Obviamente que se alguém aparece com problemas de droga, álcool ou outros, a Comunidade encaminha para instituições de tratamento próprias, como já se referiu. Em Portugal até há muito boas instituições para estes casos. ESCREVE RP: Então, quando se realiza, de fato, o carisma da cura psíquico-espiritual de pessoas “doentes”? Ao que parece, nas reuniões de louvor e adoração, em Telhado, em Fátima e nas casas nos outros países. Nas reuniões carismáticas do Grupo, carismática à sua maneira, claro, é que as curas interiores podem ser testemunhadas, como num caso que reatarei adiante. REPONDO A VERDADE: Se se inquiriu irmãos aleatoriamente, teria mesmo de se obter respostas vagas, pois só uns tantos membros é que têm o serviço de escuta e de aconselhamento. É um serviço de muita responsabilidade, que exige qualidades, preparação e carismas próprios. Pena RP não ter tido um método de pesquisa que levasse a procurar saber quem faz o quê, nesta Comunidade. ESCREVE RP: Conversando com algumas pessoas que afluíram à uma reunião de sábado em Telhado, contavam que saíam dali leves, aliviadas, bem-dispostas, alegres, e outros adjetivos benfazejos. Portanto, a referência mais forte ao carisma do aconselhamento e cura se circunscreve aos atos religiosos em si, e ao que eles produzem subjetivamente nas pessoas. REPONDO A VERDADE: Mais um défice de trabalho de campo que induziu em conclusão errada: muitas pessoas vão às casas da Comunidade e centros de atendimento com hora marcada, para serem escutadas durante o tempo necessário, por vezes horas! Pena que não tivesse havido real investigação acerca do funcionamento deste serviço! RP afirma que “a referência mais forte ao carisma do aconselhamento e cura se circunscreve aos atos religiosos em si, e ao que eles produzem subjetivamente nas pessoas.”. Nota-se muita incapacidade tanto na recolha de dados como nas conclusões tiradas! Está mal empregue a expressão “carisma de aconselhamento”: há mais uma vez forte confusão: confusão entre serviço de ajuda psico-espiritual e aconselhamento. Se calhar, o autor quereria até dizer “acolhimento”em vez de “aconselhamento”, já que o aconselhamento poderá acontecer como etapa última de um processo de ajuda psico-espiritual. O que foi dito atrás rectifica esta conclusão simplista, pietista e redutora! Já falamos de Seminários, Piscina de Siloé, Mar da Galileia, etc. ESCREVE RP: 16. À prática: um relato do ritual de cura “psíquico-espiritual” Uma atividade regular importante da CCB, como já dito, é realizada aos terceiros sábados de cada mês, das 9h30 às 13h00, na Casa mãe, em Telhado. Chama-se “Dia de Oração de Louvor, Cura e Libertação”. Pude estar presente a 2 destes encontros (novembro e dezembro de 2007). O ambiente onde se dá os Encontros de Cura e Libertação, na casa de Telhado, é um salão grande e retangular no andar de cima da casa. Ali tem-se um altar, um ambão, cruz, alguns dizeres recortados e colocados nas paredes (“Jesus é o Salvador”; “Louvores a Deus”), e várias cadeiras para os participantes. Nas duas vezes em que estive presente o número de presentes regulava entre 35 e 50 pessoas, em média. Poucos jovens. A maioria pessoas de meia-idade ou pessoas mais velhas. À frente da das pessoas reunidas, ao lado do altar, ficam os membros da CCB, geralmente uns 6. O líder do local, Frei António, uma senhora que anima e dirige o evento, e mais três ou quatro irmãos (jovens) de hábito, sendo que um toca violão e outro toca teclado. REPONDO A VERDADE: Com pouco trabalho de campo as conclusões mais uma vez são precárias. É certo que, para se falar de qualquer assunto, tem que se dominar a respectiva terminologia. Não se poderá afirmar que uma actividade regular importante da Comunidade Cristo de Betânea é realizada aos terceiros sábados de cada mês, das 9h30 às 13h00, na Casa Mãe, em Telhado. Esta actividade é apenas uma actividade, um tempo de adoração mensal, aberto ao exterior. Em Telhado, na casa de formação, as principais actividades realizadas têm a ver com a formação de membros internos. A oração dos “Terceiros Sábados”, aberta ao exterior, serve também o objectivo da formação, sendo ajuda ao despertar e exercício dos carismas. Há outro equívoco: uma coisa é um líder de um qualquer grupo. Outra coisa é um líder de um grupo de oração, na Comunidade Cristo de Betânea. Na verdade, aqui há apenas quem coordene a oração. António (que não é Frei), não é líder de orações; pode parecer, pois tem um grande dom de oração. Por outro lado, e normalmente, a equipa que anima é rotativa, variando em número de pessoas; tanto podem ser seis como menos membros a orientar a oração. ESCREVE RP: A irmã Hercília, fundadora da CCB, não esteve em nenhum encontro. A reunião inicia com uma oração e, após, com muita música, algumas de hinários da Igreja, outras (a maioria) de produção da própria comunidade. Estas querem ter um ritmo, linguagem e estilo que se aproxime da música religiosa israelita. Embora eu não conheça a fundo a musicalidade religiosa israelita, tive a impressão que há uma aproximação rítmica, embora guardadas proporções. As letras, cristãs, citam Israel, patriarcas, e outros temas do Antigo Testamento, mas sempre cristianizados. As músicas são acompanhadas de gestos, como na RCC. Um irmão (brasileiro) vai, na frente, ensinando os gestos com os braços e mãos. REPONDO A VERDADE: A irmã Hercília não esteve em nenhum encontro, porque na Comunidade Cristo de Betânea cada qual tem as suas tarefas e responsabilidades. Nesta reunião estiveram os respectivos irmãos responsáveis. A oração referida começa com o acolhimento às pessoas, normalmente feito no rés-do-chão, onde lhes é proporcionada uma bebida e algo que pretendam comer, já que algumas pessoas podem vir de longe. A reunião inicia-se com cânticos diversos, boas-vindas e oração de louvor. Os ritmos e andamentos musicais são adaptados ao objectivo da música, em cada momento da oração: louvor, adoração, acção de graças. Com as letras sucede o mesmo. No canto que introduz a oração das “Dezoito Bênçãos” é que letra e música tem o objectivo da aproximação a Israel: “Shema Israel, adonai….” ESCREVE RP: A irmã animadora se desdobra em tentar animar a assembléia a todo momento. Com um sorriso permanente nos lábios, brada palavras de incentivo como "Alegria, estamos diante do Senhor", "Jesus está aqui, vivo, louva, ora!", "Deus te ama, dê o seu melhor para ele, mais alegria". Pede-se também para dançar as músicas (pois é entendido que nas liturgias judaicas as músicas são dançadas). Porém a dança da assembléia (e dos membros) não passa de leves movimentos giratórios no próprio lugar em que estão, lembrando, com suas mãos para cima e bater de palmas, o Vira português. A assembléia parece não corresponder a todo entusiasmo que os membros, da frente, esforçam-se por tentar passar. REPONDO A VERDADE: Num trabalho sério tudo o que se diz tem de ser fundamentado. Não se pode falar de música sem entender do assunto. RP teria, isso sim, de procurar a responsável pela música e perguntar de que tipo de música se tratava, qual o objectivo da opção musical em questão. Primeiro: não se tratava de uma liturgia Judaica, nem a exortação à dança tem algo a ver com essa razão. Trata-se de tentar orar com a pessoa toda – espírito, alma e corpo (cfr 1Ts 5, 911;16-23). Trata-se de louvar Deus: o esforço da irmã animadora da oração tem esse objectivo e os cânticos iniciais são seleccionados para ajudar as pessoas a fazerem festa para Deus, entregando-se a Ele com todos os problemas que carregam. “Se andais sobrecarregados lançai para mim os vossos fardos e eu vos aliviarei” (Mt 7, 7-11; Mc 11, 22-24;Lc 11, 19; Jo 16, 23 -24 ). Que as pessoas, muitas delas doridas da vida, procurando ajuda para a solução de muitos problemas, tenham já feito leves movimentos, será já uma vitória de Deus! E, quanto a este orar com o corpo, quem conhece este tipo de oração sabe que obviamente as pessoas não saem do seu lugar. E é isso mesmo: as pessoas vão sendo libertas dos seus problemas, progressivamente. Isto não é novidade para quem sabe o poder que a música, a oração e o movimento têm nas pessoas, quando bem adaptados às situações. RP faz aqui referência ao “Vira” português (tão fora de contexto!), talvez por salto lógico, ou por desconhecimento dos ritmos musicais. É que, se acima o autor diz que as pessoas apenas giravam um pouco o corpo sem saírem do lugar, isto é diametralmente oposto ao que se passa na dança portuguesa do “Vira”! Esta é uma dança das mais movimentadas do folclore português! ESCREVE RP: Porém respondem razoavelmente de forma satisfatória. As pessoas que lá estão, quase todas, são frequentadoras regulares do evento, não havendo muita renovação. A classe social que parece imperar é a média ou média baixa. REPONDO A VERDADE: Claro que as conclusões levadas a público, apenas baseadas em duas presenças de campo, relativamente a todas as vezes em que se realizam estes serviços, não podem ter consistência! A percentagem é ridícula. Por isso, todas essas conclusões têm muito pouco significado e terão se ser lidas como meras suposições subjectivas! Tal como na Feira, RP concluiu que as pessoas aí responsáveis pelo serviço eram ignorantes (sendo elas na verdade um médico e outra com curso de inglês!), também a referência à classe social das pessoas que frequentam a Oração dos “Terceiros Sábados” pode ter pouco significado. Meros juízos, feito com base em construções subjectivas de aparências pontuais. Efectivamente, se a Igreja não faz acepção de pessoas, como manda a Palavra de Deus, a Comunidade Cristo de Betânea está aberta a todo o tipo de pessoas e tem um carinho especial pelas mais desprotegidas nos diversos aspectos. Porém, nessa reunião de oração concreta, como em todas as actividades da Comunidade Cristo de Betânea, participam diversos empresários: de calçado, de têxteis, etc. A aparência das pessoas, entre nós, tem pouco a dizer sobre a conta bancária, a instrução ou a classe social de cada um! ESCREVE RP: Após muita música e muita tentativa de alegria e sorrisos quase que obrigatórios, na tentativa de se criar um clima de antecâmara do céu, lê-se e ora-se as 18 bênçãos do povo judeu, cristianizadas. REPONDO A VERDADE: Não será sério brincar com coisas sérias. Quem está a ajudar os irmãos a orarem está a desempenhar um ministério sério. Quem suporta fardos da vida tem de ser levado a sério. A maneira como RP se refere aqui a um cenário sério de oração tem pouco de sério. A tentativa consiste em transmitir a presença de Deus uns aos outros, como Aquele que sempre Se torna próximo para consolar e libertar na hora certa - a Sua hora, com a colaboração daquele que Lhe entrega os seus fardos. A tentativa é de apelo à fé em Cristo libertador para quem chega a essa oração sob o peso da angústia e desesperança! E o sorriso virá na medida dessa experiência, feita com a ajuda fraterna. E tudo isto ultrapassa o simplismo de dois dias de observação de qualquer espectador. ESCREVE RP: Cada bênção é dirigida por um membro da CCB, a que, na parte em negrito do livro, a assembléia responde. Esta forma organizada de se orar as bênções termina a partir da 14ª, em que até a 18ª todos lêem ao mesmo tempo os textos das bênçãos, de forma rápida e numa absoluta falta de sincronia, terminando com orações pessoais e simultâneas das pessoas e, após, período de silêncio. REPONDO A VERDADE: Torna-se impressionante a falta de terminologia técnica de RP no tocante ao tema em questão: oração. Não há dirigismos na Comunidade Cristo de Betânea, nem na sua oração. Há serviços organizados previamente na base dos dons de cada um. Este tipo de oração é a oração da manhã partilhada com as pessoas que vêm para rezar com a Comunidade. Reza-se as chamadas “Dezoito Bênçãos”. Convenciona-se uma forma de as rezar que ajude a quebrar qualquer monotonia, e que seja acessível a que todos cantem. A “absoluta falta de sincronia”, como diz RP, chama-se “Canto Livre”. Há, nesta oração, como em toda a oração comunitária, na Igreja católica, um presidente, que introduz a oração das “Dezoito Bênçãos”, depois um cantor que introduz a primeira Bênção e a partir daí até ao Responsório, que é feito em diálogo, todas as Bênçãos são cantadas em canto livre. Após o Responsório, que é cantado em canto chão, ou rectotono cada cantor canta em solo uma bênção, a que toda a Assembleia responde. As respostas estão efectivamente em negrito ou “bold”. Isto até à Bênção 15 e não à 14, como diz o autor do artigo. Da Bênção 16 até ao fim regressa-se ao canto chão, por toda a Assembleia, com a introdução da 16ª bênção feita a solo, por um cantor. As orações pessoais a que o autor se refere são as ressonâncias de alguma frase das orações cantadas, que exprimem melhor o estado interior de cada orante. E, deste modo, a pessoa partilha-as com toda a Assembleia, que normalmente se associa louvando Deus, dizendo: “Ámen!” ESCREVE RP: Após o período silencioso, Frei António vai ao púlpito para pregar. Antes, porém, costuma já estar meia hora ajoelhado diante do altar. Na verdade Frei António parece estar, em todo evento, acima do que acontece. Não canta e celebra como os outros, fica num canto e manifesta um ar de serenidade que, ao meu ver, esconde certas patologias que, porém, sendo esta uma investigação etnográfica, e não psiquiátrica, não sintome autorizado a teorizar. REPONDO A VERDADE: Em boa verdade, no salão não há “púlpito”, mas sim um “ambão”, de onde se proclama a Palavra de Deus. Quanto à pessoa que faz o ensinamento, em Portugal há diferença entre uma “pregação” e um “ensinamento”. Sim, António é um homem de Deus e por isso de oração. E procura preparar-se o melhor possível para ser canal de Deus ao proclamar a Palavra e ao fazer sobre ela um aprofundamento que toque o coração das pessoas. Mas, noutro Sábado já poderia ser outra pessoa a exercer esse ministério. Quem o conhece, sabe que ele não está acima, mas bem dentro da oração e da Palavra que irá proclamar e aprofundar junto dos irmãos! E como não é seu dom cantar, mas orar e ensinar, normalmente canta mais com o coração do que com a voz. ESCREVE RP: Frei António, então, após seu momento de introspecção, acompanhado algumas vezes por falas em que dá a entender que Jesus está a falar por ele ("Meus filhos, eu vos amo e saúdo, tenho graças para vós..."etc), toma a palavra do evangelho do dia para ler. Enfim, é de se notar que o citado irmão, como líder daquela casa, chama para si, através destes atos simbólicos, uma autoridade que o distinga e legitime em sua função de ensino Após ler a Bíblia, segue a pregação (o dito irmão não é padre), muito monótona, extremamente cadenciada, sem grandes exegeses e longa. REPONDO A VERDADE: O termo “introspecção” tem uma conotação própria. É um termo técnico que em psicologia significa “voltar-se para o interior de si mesmo para se auto-analizar”. Ora, António estava naquele momento numa situação, diferente de qualquer introspecção. António, como qualquer pessoa que se prepara para proclamar a Palavra de Deus e aprofundá-la o necessário possível junto daqueles irmãos concretos, estava concentrado em Deus. Se a Palavra proclamada nesse dia foi retirada do Evangelho, não significa que assim seja sempre. Normalmente, nessa oração da manhã, para a Comunidade se unir a toda a Igreja, a Palavra a proclamar é a Palavra de Laudes, a oração da manhã oficial da Igreja Católica. Mais grave é ainda a seguinte afirmação, totalmente falsa: é de se notar que o citado irmão, como líder daquela casa, chama para si, através destes atos simbólicos, uma autoridade que o distinga e legitime em sua função de ensino. O António não é o líder da casa, nem por isso mesmo chama a si qualquer tipo de autoridade referente ao líder, que não é!!! O seu ministério do ensino é-lhe conferido pelo dom reconhecido para esse efeito, discernido e confirmado pelos responsáveis da formação na Comunidade com base nos efeitos de caminhada, tendo em conta as ressonâncias de ajuda narradas por aqueles que o escutam. Monótono, talvez para um brasileiro. Mas, a sua partilha da palavra ajuda-nos a caminhar, não só nas sextas-feiras mas nas diversas vezes que é chamado a fazê-lo. Que pena tanta superficialidade revelada neste trabalho, tanta distorção da verdade pela projecção subjectiva de experiências ou ignorância, perdendo-se a oportunidade de um bom trabalho que ilustrasse os leitores, em vez de os induzir em erro! Efectivamente, teremos de desconfiar de qualquer trabalho feito rapidamente e sem bases sólidas em recolha abundante de dados elaborados sobre provas e contra-provas com o objectivo único de esclarecer a verdade. ESCREVE RP: A assembléia fica um tanto dispersa nesta hora, porém em silêncio. Após a pregação, entra solenemente no salão a custódia com a hóstia consagrada, que é recebida de joelhos por todos e às vezes com aplausos. Diante da hóstia seguem-se orações mais música de louvor. As orações são por cura interior e exterior, de libertação, que são feitas pelos membros. Neste momento há algumas lágrimas e a emoção parece ser maior, chegando um momento em que muitas pessoas falam em línguas. Finalmente cada pessoa é convidada a ir ao altar e colocar as mãos numa pequena vasilha com água benta que lá há, benta através da oração naquele lugar, diante do santíssimo. Com a mão molhada cada qual faz seu gesto particular, benzendo-se, colocando a mão no coração, na cabeça, etc. Mais alguns cantos e se encerra a celebração. A sistemática do evento não difere muito nos encontros da casa da CCB em Fátima, como soube. Contudo, lá há mais lugar para palestras com padres ligados à RCC, geralmente vindos de fora de Portugal, e também ocorrem mais manifestações de libertação. Quanto a tais manifestações, embora eu não tivesse tido a oportunidade de ir a um destes encontros em Fátima (devido ao calendário deles), pude observar o fenômeno num dos sábados em que fui a Telhado. REPONDO A VERDADE: Não, as pessoas não falam em línguas, no sentido bíblico das manifestações havidas no primeiro Pentecostes. As pessoas simplesmente sussurram orações e gemidos (para usar a linguagem de S. Paulo), cantados mais que falados. E também a água não era “benta”. Era água, criatura de Deus, abençoada por Ele ao ser criada! E que sentido terá tudo isto? Foi pena RP não ter perguntado, porque tudo o que é feito na Comunidade Cristo de Betânea tem valor de sinal: de estratégia para o encontro forte da pessoa com Deus! A água é um dos muitos sinais que ao longo do ano a Comunidade usa com esse objectivo. A água é um forte sinal bíblico que as pessoas conhecem. Entra no baptismo como sinal do Espírito Santo, que purifica e renova. Aparece na Bíblia ligada ao baptismo de penitência de João, à revelação de Jesus como o Cordeiro de Deus, em relação a curas diversas. A pessoa sabe em que sentido quer usar a água. E mais ainda: Por que é convidada a pessoa a tocar a água? É que o toque físico é importante neste e noutros casos para ajudar a oração com fé. O ser humano é um todo e, por isso, o corpo pode e deve ajudar o espírito na sua relação com Deus! De notar ainda que leigos e sacerdotes, tanto nacionais como estrangeiros, são convidados a vir fazer ensinamentos. O critério dos convites depende dos temas a tratar, dos serviços a prestar, das disponibilidades e compatibilidades com as datas e da natureza e objectivos dos eventos que a Comunidade realiza. ESCREVE RP: Logo após a oração das dezoito bênçãos (as últimas em que todos rezam juntos, num frenesi de vozes descompassadas), uma moça de cerca de 25 anos (uma das mais jovens no ambiente) simplesmente desabou no chão, num semi- desmaio. Como as cadeiras e fileiras são próximas, apertadas, ela ficou deitada, assim como caiu, de barriga para cima, aos pés das pessoas que estavam ao seu lado. Porém, este fato não incomodou os presentes, parecendo natural e corriqueiro. Ninguém acudiu a moça e mesmo não ficaram a observá-la, continuando o culto normalmente. A moça, parecendo inconsciente, tinha a respiração ofegante. E assim ficou, no chão, por cerca de 40 minutos. Durante a pregação de Frei António, começou ela a ter espasmos, como quem estava engasgada ou quisesse vomitar. Mesmo assim a pregação continuou. Após isto, os espasmos de vômito (ao que pareciam) se tornaram mais agudos e ela começou a se contrair. Alguns da casa trouxeram, então, um saco para vômito e depois um latão para vômito. Mas a moça no mesmo lugar. A impressão que dava a um não nativo é que os membros estavam mais preocupados com a higiene do tapete do que com a saúdeda moça. REPONDO A VERDADE: É significativo RP chamar ao “Canto Livre” um frenesi de vozes descompassadas! Efectivamente, se ninguém acudiu a moça, é por alguma razão que ficaria bem ter sido indagada, após a referida reunião. Vai agora a resposta: as pessoas conhecem a jovem e sabem do que ela só precisa nesse momento: descansar, ficar tranquila, deixar que Deus trate dela. Só por ironia, que não fica bem num trabalho sério, se poderá dizer que alguns da casa trouxeram, então, um saco para vômito e depois um latão para vômito. Mas a moça no mesmo lugar. A impressão que dava a um não nativo é que os membros estavam mais preocupados com a higiene do tapete do que com a saúde da moça. Com que direito poderá o autor fazer esta afirmação, sabendo que está numa comunidade em que as pessoas deixaram a sua casa e os seus bens, entregando as suas vidas a Deus para O servirem, e aos irmãos, de acordo com a Sua vontade? Para que são estas reuniões, se não para prestação desse mesmo serviço? Certamente que os irmãos em questão, se não fossem cristãos e não integrassem esta afirmação no contexto de muitas outras feitas ao longo deste artigo em questão, teriam ficado ofendidos com mais uma afirmação gratuita e de muito mau gosto. Naquele tipo de situações as reacções das pessoas são muito diversas. Consoante o problema que as afecta, o seu temperamento e a sua história, assim as reacções comportamentais variam. Mas, para levar a sério estas situações e entendê-las, é necessário ter lido bibliografia adequada e de diversos especialistas em questões de tipo psico-espiritual. Efectivamente, pela bibliografia apresentada neste trabalho, concluímos que RP não consultou obras de referência sobre o tema da cura e libertação, designadamente livros de exorcistas oficiais do Vaticano. Mas foi pena que pelo menos não houvesse um diálogo sobre o assunto com o responsável pela oração, naquele dia. O facto de também não haver bibliografia referida acerca dos diferentes tipos de música e suas funções, também dificultou a sua compreensão nesta área, resultando num franco aligeiramento do tema, notado até na sua verbalização, nomeadamente ao referir-se à música escutada nesta reunião de oração. Para abordar questões do foro espiritual e delas falar, é necessária a abordagem de bibliografia séria dessa área. Tudo o que é sério merece ser levado a sério. Ora, no estudo que RP se propunha fazer, tudo deveria ser sério! ESCREVE RP: A pregação, em sua lenta cantilena, continuava, e o Frei António apenas advertiu que aquele era um ambiente de serenidade onde o Senhor estava. Porém, quando a moça começou a dar pinotes e urrar, abriu-se uma roda em torno dela, homens a seguraram, o irmão chegou perto e quase todos na sala, virados para ela, começaram a orar em línguas, com seus braços estendidos sobre ela. Após alguns minutos a menina acalmou, recobrou a consciência e sentouse novamente, abatida e cansada. E o evento continuou, com a entrada triunfal da custódia com a hóstia, tudo seguindo normalmente. REPONDO A VERDADE: Pena que RP insista em chamar “cantilena” a uma partilha da Palavra de Deus, que estava a ser feita por alguém! Creio que mesmo alguém não-crente respeitaria mais o momento e teria palavras mais sérias para dele falar. António e toda a equipa ali presente sabe o que tem a fazer na hora certa, consoante as reacções da pessoa em sofrimento espiritual. Quando a jovem revelou o seu sofrimento, traduzido pelas palavras infelizes usadas por RP (dar pinotes e urrar), a assembleia ficou calma e simplesmente orou por ela. O que tem isso de anormal? O que prova é que a “menina acalmou”, tudo voltando ao normal, ficando até certamente muito mais calma e serena do que quando chegou à sala. E não levavam a Jesus pessoas que manifestavam diversos tipos de doenças, algumas manifestadas através de alguma violência? E não é Ele hoje o mesmo que as pessoas procuram para se libertarem de cargas emocionais ou espirituais adquiridas pela violência de muitas situações da vida? ESCREVE RP: A observação da prática cúltica da CCB revela que a mesma adota procedimentos usuais na RCC, adaptando-os conforme o estilo do instituto. A ênfase na alegria, no louvor, em que todos devem estar alegre e louvando, é a mesma dos grupos de oração da RCC. A profecia está presente na boca do líder, através do próprio falar de Jesus através dele. A ênfase na cura e adoração à hóstia também estão presentes. E o transe provocado ou não pela comunidade em efervescência emocional-orgiástica por vezes acontece, como no caso desta moça. Não consegui falar com ela, mas perguntei, depois, a um irmão, se ela sempre vinha e se isto sempre ocorria. Sim, ela era assídua e tais manifestações ocorrem vezes por outra com algumas pessoas. Segundo o irmão, são pessoas com problemas psíquico-espirirtuais que são manifestados ali, devido ao clima de adoração e oração, e que são libertas ali. E o modo a lidar com o caso, praticamente o ignorando até que as convulsões se tornassem impossíveis de se ignorar, mostrou justamente a naturalização que este tipo de racionalização do caso apresenta. REPONDO A VERDADE: Quem entende um pouco de psicologia não fala de “transe”, pois a jovem não entrou em “transe” no sentido próprio do termo, carregado de paganismo. A pessoa entrou em “repouso espiritual” e deu-se a seguir como que uma “catarsis”, ou libertação, pois a fronteira entre o que se passa na pessoa ao nível psíquico e ao nível espiritual apresenta-se muito ténue e de difícil distinção. Mas, quase sempre é o todo da pessoa que sente a libertação. Falar de “transes” como acontecia nas sociedades primitivas, de rituais mágicos, é cristalizar em épocas passadas ou fixar-se em áreas dessas sociedades que ainda existem em vários pontos do planeta, ou nos rituais de seitas, e desconhecer toda a literatura e experiência cristã que existe no Séc. XXI! Afinal, os dados recolhidos dos irmãos abordados por RP ofereceram-lhe pistas para uma consulta de bibliografia que lhe permitiria adquirir conhecimentos e vocabulário adequado e deixar para rituais de natureza pagã o termo “transe”, assim como obteria dados informativos sobre a maneira de lidar com o caso, evitando discursos conclusivos desadaptados sobre o tema. Na verdade, os especialistas católicos nestes temas aconselham a proceder exactamente como aconteceu: que o grupo à volta da pessoa continue a rezar intensamente, deixando que a pessoa repouse e que Deus faça o Seu trabalho na pessoa que está com problemas, até que a calma volte e que ela sinta libertação em si mesma! ESCREVE RP: Para os circundantes e membros, aquela era uma manifestação natural, fruto do poder de Deus a se manifestar, e, portanto, não haveria motivo de pânico ou pronta ajuda, pois no momento certo o "mal" da pessoa se manifestaria e ela seria libertada. Portanto, observa-se uma internalização e naturalização de fenômenos extáticos, de transe ou de crises agudas. REPONDO A VERDADE: Após o que foi esclarecido acima se perceberá que nestes casos não se trata de “fenômenos extáticos, de transe ou de crises agudas.” ESCREVE RP: Com seu carisma de auxílio a pessoas transtornadas psíquico-espiritualmente, a CCB parece reivindicar, para tal exercício de carisma de aconselhamento, uma idealização de conceitos como paz e serenidade. É preciso não se alterar, tudo está sob controle. As faces dos membros, diante do caso descrito, procuravam não mostrar alterações de humor. Há, portanto, uma idealização do que seja paz e serenidade, e um esforço por agir conforme esta idealização, no sentido de legitimar um carisma de aconselhamento que a comunidade reivindica. REPONDO A VERDADE: Deixemos de lado a forma aligeirada que caracteriza o tratamento do tema sério do sofrimento da pessoa humana, neste artigo! Com o seu carisma e serviço a pessoas transtornadas psíquicoespiritualmente, o que a Comunidade Cristo Betânea reivindica é respeito pela pessoas e pelo trabalho sério que junto delas procura desenvolver para as ajudar. E esse respeito tem a ver com a preparação séria de quem quer abordar esses problemas. É isso que a Comunidade Cristo de Betânea faz: lê, participa em cursos, seminários e congressos sobre o tema. A Comunidade não procura uma idealização de conceitos…Não vive de idealismos, nem de sondagens apressadas: procura, em primeiro lugar, viver o amor ao próximo, a compaixão fraterna. Ora e procura viver e transmitir a serenidade e a paz de Deus, com as suas palavras e presença, a quem vive despacificado e marcado pela agressividade, para a qual não foi feito, mas que acontece, neste mundo tão letrado e tecnicista como desumano. A pessoa humana muitas vezes não é amada e por isso mesmo traumatizada na família, no trabalho, no desporto, enfim, no mundo das relações em que se situa dia-a-dia, nesta cultura moderna, tecnocrata, desesperada. Transmitir serenidade, paz e esperança às pessoas, no seu concreto, nada tem a ver com idealização de conceitos (que por sua vez eles mesmos são idealizações da realidade…). Mas, se for necessário idealizar algo, a coordenadora Hercília Pinto, licenciada em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra (de grande prestígio na Europa!), possuindo ainda outros cursos, nomeadamente em Teologia, Ciências Pedagógicas, pós-graduações, além e possuir experiência em trabalhos de psicopatologia e psicologia clínica, fará uma brilhante dissertação sobre o tema “Serenidade e paz”, o qual poderá ser muito útil a muitos investigadores, sobretudo nas áreas humano-religiosas. ESCREVE RP: Outra característica na narrativa pode ser percebida no conceito que se dá aos problemas das pessoas que precisam ser aconselhadas ou curadas. Diz-se de problemas "psíquicoespirituais". Por que não apenas "espirituais"? O ajuntamento do termo "psíquico" parece querer denotar uma certa aura de cientificidade ao trabalho do grupo e à concepção das questões espirituais. Seria uma forma de legitimar um aconselhamento que quer estar para além de um marco puramente religioso tradicional. REPONDO A VERDADE: Estamos simplesmente perante uma prova de ingenuidade ou ignorância acerca da concepção actual da pessoa humana. Não vamos aqui dissertar sobre acomplexidade e vulnerabilidade da pessoa humana. Também não é preciso ser um holístico da “Nova Era”, mas basta ser um cristão consciente e um pouco conhecedor da Sagrada Escritura para saber da concepção semítica da pessoa humana: apesar da concepção greco-moderna dualista, a concepção semítica acrescenta um dado fundamental: a pessoa é também espiritual (cfr Tes 5,9. 16-23). Trata-se de uma visão tri-dimensional da pessoa humana. E, com os dados científicos que possuímos no séc. XXI, esta visão fica reforçada. Já lá vai há muito tempo a teoria do paralelismo dualista cartesiano: corpo-alma, sem inter-relação. A pessoa humana é bem mais complexa. Os neurologistas actuais, nomeadamente o português António Damásio, comprovam a relação unidade relacional que constitui a pessoa humana: corpo (cérebro) psíquico – espiritual. O cérebro humano regista neurónios a que alguns neurocirurgiões chamam neurónios da fé, ou seja, áreas nervosas cerebrais como que vocacionadas para o sobrenatural, e nas quais, por sinal, os neurocirurgiões encontram pouco desenvolvimento! Corpo, alma e espírito, colaborando para a essência e existência da pessoa humana enquanto tal, não podem ser separados a não ser metodologimente, para estudo científico de cada uma delas, em benefício de todas do todo da pessoa humana. Por isso, quando se trata de uma abordagem das causas dos sofrimentos da pessoa humana, os sintomas físicos ou psíquicos nunca estão desligados da área espiritual. Bem ao contrário: em larga escala, a causa dos sofrimentos psíquicos ou físicos tem a ver com a dimensão espiritual da pessoa. É o que temos lido e o que a Comunidade pode confirmar com a sua experiência. Por isso nos entristece a visão pobre do ser humano, manifestada pelo autor do trabalho, RP, na questão que coloca acerca da razão de a Comunidade não falar apenas de problemas espirituais em vez de psico-espirituais! Para nós é mesmo chocante! E mais: hoje temos fortes razões civilizacionais para buscar as causas da própria doença física no entrelaçado da área psico-espiritual humana, perturbada pela destabilização das estruturas sociais e dos valores de inspiração cristã em que estas se apoiavam. ESCREVE RP: Segundo Hercília, há psicólogos que dão palestras para a CCB. A busca por legitimação da prática do aconselhamento passa pela narrativa e conceitos da ciência, no intuito de dar um aporte que visibilize o grupo como sério e dialógico nas perspectivas entre religião e ciência. Legitimando assim que os leigos do Grupo cumpram uma função que no catolicismo tradicional é aos padres reservada, o aconselhar. O libertar psíquico-espiritual poderia ter afinidades eletivas e ser um sucedâneo da absolvição que o padre dá, libertando dos pecados. Porém, a questão permanece, sem dúvida, mais espiritual que psíquica, pois o psíquico é sujeitado ao espiritual, ou seja, as questões espirituais é que agem sobre o psíquico da pessoa e, por fim, toda libertação é espiritual, de algum "mal", no prudente falar eufemístico dos membros. REPONDO A VERDADE: Tanta suposição e tão pouco conhecimento científico revelado neste trabalho deixa-nos perplexos! A explicação que acima ficou, quanto à pessoa humana, tem aqui lugar. E, sinceramente, é pena que um trabalho venha a público com o suporte tão forte em meras suposições! Há na psicologia a lei da pregnância das formas e recordações. As experiências mais fortes vividas por um sujeito tendem a monopolizar as suas energias e a canalizálas em determinada direcção. Volta a surgir aqui a ânsia da legitimação, até do aconselhamento… Por quê? Apenas por falta de reflexão ou por projecção de experiências vividas pelo autor? Quanto ao aconselhamento, que não é o prioritário para a Comunidade, todos os cristãos sabem que é um seu dever consignado na Bíblia: Diz-se que uma obra de misericórdia é “dar bom conselho” (cfr Lc 6,27-36). Um cristão católico sabe a diferença entre esta missão e a da confissão sacramental, através da qual também o sacerdote ordenado pode e deve dar bons concelhos ao penitente. São missões diferentes que a ninguém, entre nós, espanta. Espantaria, sim, que os cristãos não dessem bons conselhos… Claro que quando se entra em áreas científicas ou de especialidade, os conselhos são de outra ordem - científica. Esses são reservados a pessoas credenciadas para o efeito. E temos dois tipos de grupos: os psicólogos que trabalham com a Comunidade no mesmo serviço, fazem trabalho científico credenciado pelos seus diplomas. Quanto aos teólogos, leigos ou sacerdotes que trabalham com a Comunidade, passa-se o mesmo. Quanto a outros colaboradores, são preparados em cursos e através de leituras e do trabalho com os especialistas nos temas, sejam da Comunidade ou colaboradores. Não há objectivamente qualquer colisão do serviço dos leigos com o da hierarquia. Há, sim, complementaridade saudável e por isso desejável, da qual sacerdotes e leigos que assim colaboram têm as melhores recordações e desejo de continuidade! O contrário será uma visão deturpada de quem não conhece a Igreja Católica, ou de quem, porventura, teve infelicidade de conhecer casos esporádicos de querelas ocasionais. ESCREVE RP: Na expressão: O libertar psíquico-espiritual poderia ter afinidades eletivas e ser um sucedâneo da absolvição que o padre dá, libertando dos pecados. REPONDO A VERDADE: Em Lucas 4, 18 e sgs, Jesus apresenta na sinagoga a Sua missão: “Curar os doentes, libertar cativos…” E conferiu à Sua Igreja esse poder: deu as chaves a Pedro. A Igreja Católica dispõe de sacramentos de cura e um deles é especificamente para isso. O Papa João Paulo II fala da importância da oração dos cristãos para obter a cura de um doente. Com isto queremos apenas desfazer o equívoco referido na expressão supra: é que temos bem a consciência de que quem cura os doentes, hoje tanto como outrora, é Jesus Cristo, através dos Seus instrumentos e meios à Sua disposição. Por isso, até o padre sabe que quem perdoa os pecados ou quem cura através dos sacramentos ou da sua oração não é ele mesmo, mas Jesus Cristo hoje, através dele mesmo como Seu instrumento. E todo o cristão católico sabe claramente que quando ora por uma pessoa que sofre, por um doente que lhe pede oração, não é sucedâneo do padre. Sabe que o faz por si mesmo, em nome do seu baptismo, e por amor fraterno. E sabe também que o ministério do padre e o seu ministério junto do doente como leigo se completam! No trabalho que a Comunidade faz não há libertadores psico-espirituais. Há pessoas preparadas nas diversas áreas, para ajudarem quem a procura em sofrimento a ser liberto pelas achegas da ciência e o trabalho de Deus, quando essa pessoa com Ele colabora. De contrário, não será mesmo liberta, nem curada. Tudo o resto supra referido pelo autor do trabalho são meras suposições, sem qualquer consistência. ESCREVE RP: 17. Ainda sobre a missão de cura e evangelização Frei António relatou-me um exemplo prático de evangelização do Grupo, para além dos já referidos. Disse que no verão, alguns irmãos costumam ir às praias próximas de Telhado e Braga (Póvoa de Varzim e Esposende) para evangelizar. Relata que a praia é um lugar privilegiado no verão para tal tarefa, pois lá as pessoas estão de férias, relaxadas, sem as preocupações do dia-a-dia, e que, portanto, se tornam mais abertas a ouvir o evangelho. Porém também na praia, nas férias, é que são cometidos os “excessos” e que, portanto, é onde as pessoas mais “precisam” ser evangelizadas. Conta que certa vez, na praia de Póvoa de Varzim, no verão, um grupo de cerca de 15 irmãos da CCB fez uma procissão pelas ruas do balneário. Aquilo chamou a atenção de muitos. Na procissão, é claro, nada que lembrasse às tradicionais procissões católicas, mas havia muito canto, louvor e alegria ao som do violão, dança, em que os irmãos chamavam as pessoas a aderirem ao percurso. Chegando a uma praça, fizeram uma roda e chamaram as pessoas a assistirem um teatro encenado por alguns irmãos, cujo tema, é claro, era “o filho pródigo”. Após a encenação os irmãos se dirigiram às pessoas – que lá estavam ou ainda ficaram – para abordá-las com folhetos e mensagens. Números não foram quantificados, ou seja, se muitas pessoas seguiram a procissão e viram o teatro. Apenas revelou-se que “pessoas vinham” e “muitas assistiram” o teatro. Perguntei qual foi o resultado da iniciativa. Informou-me o frei que um casal, já idoso, muito se interessou pela CCB e que depois se tornaram sócios, assinando a revista e até fizeram um Retiro promovido pela CCB em Fátima. Como se percebe, o método de evangelização in loco da CCB funde elementos tradicionais – ainda que sob nova roupagem – e imagéticos novos, como teatro em bibliodrama. Esta fusão de tradição (procissão), louvor com “muita alegria” e teatro e abordagem coloca a CCB na esteira da Igreja tradicional, da RCC e do proselitismo de inspiração evangélicorevivalista. REPONDO A VERDADE: Curioso: “Fazer um percurso na rua é coisa do passado”, segundo RP! Mas nós consideramos de sempre! E hoje até se tiram em Portugal cursos de animação de rua! Pois foi algo parecido o que aconteceu. E, embora o objectivo da Comunidade não fosse directamente a animação de rua, mas responder ao mandato de Jesus “Ide… e anunciai o Evangelho” (Mt 10-5-14), o certo é que houve mesmo animação de rua! Quantas pessoas eram? Tantas, que se deslocaram da praia para a rua e da rua para o largo onde foi representada a passagem bíblica! E tanta gente que cantou e dançou! E tanta gente que fez perguntas e muitos que ficaram com os contactos da Comunidade para continuar conversas iniciadas!... E o mesmo foi feito noutros locais, praias ou ruas, em Portugal e até já no Brasil, em Arapiraca. Números? A preocupação pelos números é para quem pensa a Igreja e os discípulos de Cristo à maneira de sócios de um clube, que valem para o clube pela quantidade! Os apóstolos, cujos nomes são narrados na Bíblia, eram doze!... Não consta que Cristo tivesse a preocupação da quantidade, nas sim da qualidade: esses doze, mais os setenta e dois discípulos bem preparados, fizeram chegar até nós a fé em Cristo! E mais ainda: um evento de evangelização na rua é uma nova estratégia de evangelização que em nada coincide com uma procissão, se não que nas duas há pessoas em movimento e que cantam… Mas nem músicas, nem cânticos, nem objectivos imediatos nem organização estrutural, nem tipo de participantes têm algo de comum. Certo que poderão ser complementares, em relação a objectivos de evangelização. Estes eventos não colocam a Comunidade Cristo de Betânea na esteira da Igreja tradicional, da RCC e do proselitismo de inspiração evangélico-revivalista, como afirma RP. Colocam, sim, a Comunidade Cristo de Betânea na realização do seu objectivo: a “Nova Evangelização”, usando novas estratégias, na linha do que esta aprende em encontros da Associação Europeia de Coordenadores das Escolas de Evangelização Católicas, da qual esta Comunidade faz parte. Esses eventos na rua colocam esta Comunidade, como todas as “Novas Comunidades” que se socorrem desta e doutras novas estratégias, a realizar o desafio do Papa João Paulo II, na Encíclica Redemptoris Missio: pregar noutros areópagos. E revela que esta Comunidade vive a sua união à Igreja, no esforço de busca de novas estratégias. Toda a interpretação dada por RP no seu artigo a esta estratégia de evangelização traduz uma fraca comparação e desconhecimento acerca das novas estratégias, necessárias à Nova Evangelização. E, ademais, esta estratégia é muito usada, não apenas pela Comunidade Cristo de Betânea, mas por muitas outras “Novas Comunidades”. ESCREVE RP: Teatros e manifestações lúdicas para comunicar a mensagem cristã fazem parte do estilo carismático – embora não só – de levar as pessoas a se identificarem através da arte-emoção com uma mensagem, de se sentirem atraídas por ela. Particularmente se o tema é o “filho pródigo”, o que já manifesta a mentalidade evangelizadora do Grupo, isto é, de que a maior parte das pessoas que estão a gastar seus bens com divertimentos de férias na praia podem ser, potencialmente, o filho devasso e perdulário da história bíblica. Já o fato de abordar as pessoas após a encenação, em corpo-a-corpo, aponta para uma prática de re-evangelização típica da RCC e que muito deve a certos protestantismos. Fazer prosélitos é um alvo do que se conforma como evangelização. REPONDO A VERDADE: Com que fundamento, para não dizer atrevimento, poderá afirmar RP que, através da parábola - que nem chamamos de “Filho Pródigo”, mas do “Pai da Misericórdia” – a Comunidade quer colocar na mentalidade do grupo evangelizador o pensar, o comparar as pessoas que estão a descansar na praia com o “Filho pródigo”, afirmando que a Comunidade julga as pessoas que descansam na praia? RP insinua que a Comunidade considera que a maior parte das pessoas que estão a gastar seus bens com divertimentos de férias na praia podem ser, potencialmente, o filho devasso e perdulário da história bíblica. Artifícios de um imaginário possível entre muitos férteis em projecções pessoais. Teria sido bem melhor um trabalho de campo mais completo, abordando pessoas que até poderiam ter estado ligadas ao núcleo da equipa evangelizadora. É que a evangelização não é moralista. Não tem que dar recados, nem receitas a ninguém. Cabe-lhe apenas anunciar Jesus Cristo. Se houver um encontro de alguém com Jesus Cristo, se Este lhe tocar em algum ponto de vida a mudar, isso será outra coisa! As pessoas que em Portugal estão nas praias estão em férias merecidas do muito trabalho realizado ao longo do ano! A opção por partir para as praias para aí anunciar Jesus Cristo tem a ver com uma estratégia: aproveitar a oportunidade de as pessoas terem tempo para escutar a Sua Mensagem, pois estão em férias. Sigamos, esclarecendo a verdade dos factos: o bíblio-drama do “Pai da Misericórdia”, um dos muitos que a Comunidade tem encenado, foi escolhido, como todos os outros, com objectivos estratégicos bem definidos em função da Nova Evangelização. Assim, com a parábola do “Pai da Misericórdia” consegue-se facilmente um arranque dos diálogos desejados que sirva de estratégia aos evangelizadores, não para fazerem prosélitos, como RP a seu jeito afirma, mas para falar de Jesus Cristo, pois é este o objectivo da Evangelização: o anúncio de Jesus Cristo! É isso que na Igreja Católica os evangelizadores pretendem: anunciar Jesus Cristo. O que foi descrito por António mostra, isso sim, a aptidão do grupo para a “Nova Evangelização”, que coloca o acento nos diálogos entre pessoas presentes e os evangelizadores. Seguindo a estratégia devida, os evangelizadores são preparados e espalhados tacticamente pelo meio da multidão, disponíveis para o questionamento oportuno. E, se alguém quiser vir a assinar a revista Jesus Vivo (ou outra revista de evangelização), melhor ainda, pois a acção evangelizadora não morrerá ali, mas irá continuar através da revista. É isso mesmo que se pretende: dar uma ajuda a quem a quiser, para que os cristãos não vivam de episódios mas da fé alimentada, para poder crescer e dar frutos… ESCREVE RP: 18. Também o pesquisador precisa de evangelização, ou, “ai do intelecto…” Dentro deste espectro evangelizador e curador não falta, à CCB, um tema muito em comum na Toca: o perigo da, digamos, “inteligência autônoma” para a vida da alma. Quanto estive conhecendo pela primeira vez a casa da CCB em Telhado, o Frei António mostrou-me a capela interna. Ao entrar, ajoelhou-se e ficou por longo período em silêncio diante do santíssimo exposto. De repente começou a orar em voz alta, lembrando a Deus as “pessoas afastadas”, as que “só usam a razão e não abrem coração ao ES”. Após novo silêncio, rezou por mim, para que não só a inteligência e razão me dirigissem, mas também a sabedoria de Deus. E orou “quem sabe ele busca um sentido, algo que a razão e o estudo não podem dar”. REPONDO A VERDADE: E a oração de António está profundamente correcta. Há algo que a oração nos dá que nenhum estudo académico nos poderá dar. Como consequência, a oração pode iluminar ainda mais a sabedoria humana e a inteligência do investigador! ESCREVE RP: Frei António, um dos líderes da CCB, ele mesmo “curado” de problemas psíquicoespirituais no Grupo, tem cerca de 50 anos e, conforme uma irmã contou-me, “é estudado”, pois “quase conclui a faculdade de engenharia no Porto”, tendo que se afastar dos estudos por questões médicas. O que destaco, porém, é o discurso que se afina ao da Toca referente aos males de uma inteligência ou estudos autônomos. REPONDO A VERDADE: António, segundo o que atrás referiu, nunca, em algum momento, afirmou que os “estudos autónomos” e que a inteligência humana são “males”. Pois se até ele mesmo é estudado!... ESCREVE RP: Há desconfiança das pessoas “letradas”, dado que, geralmente, muitas destas questionam pela razão certas questões da religião e da Igreja. REPONDO A VERDADE: A desconfiança não é das pessoas letradas, como tais. Poderemos, sim, temer a vaidade e orgulho de pessoas letradas, quando, invadidas pela vaidade de o serem, se servem dos seus diplomas como cartas de poder sobre os menos letradas. Mas em Portugal as pessoas que têm poucos estudos questionam muito temas da Igreja, às vezes até mais que os “letrados”. Na Europa não há muita distinção entre “letrados” e “não letrados” pois, não havendo um abismo cultural tão grande entre as pessoas, também não há uma diferenciação tão grande entre níveis de instrução, como por exemplo no Brasil, um país bem maior, em que uma pequena parcela da sociedade tem estudos secundários ou superiores e a grande maioria da população é muito iletrada. ESCREVE RP: A razão autônoma, não dominada pelo ES, é uma ameaça corrosiva. Estando ele diante de um investigador acadêmico, não pôde deixar de, devotamente, dar seu recado a mim. Era talvez um aviso, um presságio, de que minha razão, talvez pouca atenta ao sopro do ES, pudesse estar escrevendo estas linhas um tanto críticas ou autônomas. REPONDO A VERDADE: Só que António tem vivido já com investigadores académicos dentro da Comunidade e nunca viu neles uma ameaça! Muitos de nós, nas investigações que temos tido de fazer, até pedimos a oração dos irmãos, para que a nossa inteligência seja iluminada pela sabedoria e entendimento do Espírito Santo e assim se possa chegar mais depressa e melhor à verdade objectiva a investigar! E não consideramos por isso que a nossa razão e capacidade mental perca a sua autonomia. Apenas a fé nos diz que Deus, criador da nossa razão autónoma, a pode potenciar, no momento oportuno. E tem resultado! António, com a sua oração, apenas quis ajudar, pedindo a luz do Espírito Santo para o “investigador”! Era até caso de RP agradecer! ESCREVE RP: Mas também é de interesse apontar para a concepção que se fez, e se faz na CCB, de pessoas regidas por razão autônoma, se fica bem assim nomear. A falta de sentido de vida. A razão é uma forma de buscar sentido de vida, mas ela, sozinha, não chegaria ao objetivo (COSTA, 2007). “Estudo e razão” não podem por si conferir sentido de vida. E é com isto que a CCB se ocupa, se importa e trabalha: em curar as pessoas da falta de sentido de vida, desta, talvez, maior doença psíquico-espiritual a escravizar as pessoas e não a deixarem vislumbrar o verdadeiro caminho. Minha presença era interpretada como um possível caso de quem, espiando academicamente uma comunidade religiosa, estivesse, no fundo e sem saber, a buscar raízes e sentidos para mim. Um proselitismo devocional e psicológico? Uma concepção do ser humano como doente ou desequilibrado pela falta de sentido. Encontrar e ter Jesus faz todo sentido, cura e liberta. REPONDO A VERDADE: Pela primeira vez concordamos com RP! DE facto, “encontrar e ter Jesus faz todo sentido, cura e liberta.”! E, afinal, é isso mesmo o objectivo da Comunidade Cristo de Betânea: ajudar as pessoas a encontrar Jesus Cristo! Fazendo todo o esforço, dentro das suas limitações, mas dando tudo pelos outros, em comunidade de irmãos, inserida na coração da Igreja Católica! Pena que de vez em quando apareçam certos obstáculos no caminho, como o Senhor RP, mas que certamente ainda dará mais força aos membros da Comunidade para continuarem o seu caminho, ainda mais unidos, procurando a VERDADE em tudo o que fazem! ESCREVE RP: Conclusão O objetivo deste artigo foi visualizar um pouco da gênese, estrutura e práticas, assim como conflitos e peculiaridades, de um novo movimento católico de vida e aliança em Portugal. Através do exposto foi possível perceber algumas características salientes de um novo movimento católico luso: a dependência de inspiração referente à RCC e, ao mesmo tempo, a negação e recusa de relações com ela; o discursismo de fidelidade à Igreja Católica e, ao mesmo tempo, a desconfiança hierárquica da Igreja em relação ao Grupo; o discurso cientificizante das práticas espirituais, e a espiritualização de fenômenos psíquicos, ao mesmo tempo em que se tem uma relação ambígua e desconfiada com a ciência acadêmica, com os estudos; o uso de símbolos que remontam ao medievo (criação de um hábito religioso), ao mesmo tempo em que se sustenta o discurso de inserção evangelizadora junto à modernidade; a despreocupação com números e relatos formais, e, relacionado a isto, a dependência direta do líder carismático fundador do movimento. Estes e outros paradoxos e características têm acompanhado boa parte das novas comunidades de vida e aliança católicas pelo mundo inteiro, e, em relação a Portugal o mesmo se dá, na CCB, fazendo patente que as novas sensibilidades católicas referentes a um gradiente carismático têm muito em comum em vários cantos do mundo, para além das diferenças culturais e distâncias geográficas. REPONDENDO A VERDADE: Agora escrevemos nós a Conclusão deste artigo publicado na Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2859. Efectivamente, a Conclusão deveria ser esta, se o senhor RP fosse um investigador que procura a Verdade: “O objectivo deste artigo foi visualizar um pouco da génese, estrutura e práticas de Uma Nova Comunidade Católica de vida e aliança em Portugal. Através do exposto foi possível perceber algumas características salientes de uma “Nova Comunidade” católica lusa: a inspiração referente à RCC e as boas relações com a RCC; o discurso de fidelidade à Igreja Católica e, ao mesmo tempo, a confiança da Igreja para com esta Comunidade; o discurso que procura auxílio na ciência para a realização das práticas psico-espirituais e a procura de compreensão espiritual de fenómenos psíquicos, ao mesmo tempo que procura fazer a ponte com o mundo da ciência e do estudo; tendo como objectivo a Nova Evangelização, utiliza o uso de símbolos, entre eles os que se inspiram no medievo (como a criação de um hábito religioso moderno), ao mesmo tempo em que se sustenta o discurso de inserção evangelizadora junto (Necessário à pósmodernidade) à modernidade. Nota-se a despreocupação com números e relatos formais, o que prova a sua centralidade na qualidade dos membros e não na sua quantidade, bem como na qualidade daquilo que faz ao serviço da Igreja e do Reino de Deus, na busca da condução de Deus. Relacionado a isto, fica clara a sua centralidade em Cristo, o seu esforço de viver a comunhão fraterna na dependência de Deus, de quem o líder carismático recebeu a inspiração fundante, e da Igreja, na qual está inserida e aprovada, e que todos os membros procuram viver os carismas da Comunidade em união profunda com a Igreja de que são parte e instrumento de Evangelização. Estas e outras dimensões e características têm acompanhado boa parte das novas comunidades de vida e aliança católicas pelo mundo inteiro, e, em relação a Portugal o mesmo se dá, na CCB, fazendo patente que as novas sensibilidades católicas referentes a um gradiente carismático têm muito em comum em vários cantos do mundo, para além das diferenças culturais e distâncias geográficas. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA POR RP: Referências AMARAL, Leila. Carnaval da alma. Comunidade e essência na Nova Era. Petrópolis: Vozes, 2000. BENEDETTI, Luiz Roberto. Religião: trânsito ou indiferenciação? In: TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata (org.). As religiões no Brasil. Continuidades e rupturas. Petrópolis: Vozes, 2006. p. 123-134. BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1978. CALDEIRA, Rodrigo Coppe. Domínios diferenciados e refluxos identitários: o pensamento católico “antimoderno” no Brasil. In: Horizonte. Belo Horizonte, v. 2, n. 4, 1/2004. p. 97-111. 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