Rodrigo Portella complemento - 2-2

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Rodrigo Portella complemento - 2-2
COMUNIDADE CRISTO DE BETÂNEA:
HISTÓRIA E CONSIDERAÇÕES SOBRE UM NOVO MOVIMENTO
CATÓLICO EUROPEU
Com este título encontramos um artigo escrito por alguém, de nome Rodrigo
Portella, “Doutor em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de
Fora (Área de Concentração: Ciências Sociais da Religião)” publicado na Revista
Brasileira de História das Religiões, ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 19832859, que tem despertado a curiosidade de muita gente, inclusive a nossa. E
porquê? Porque conhecemos a referida Comunidade e muitas das afirmações
feitas por Rodrigo Portella causam estranheza e levaram ao desejo de um
aprofundamento de factos ali mencionados, em nome da sã verdade, já pelo
respeito pelos leitores, única coisa que interessa num trabalho apresentado em
público, bem como pelo respeito à referida Revista Brasileira de História das
Religiões e também pelo respeito à Comunidade Cristo de Betânea, como
instituição da Igreja Católica. Apercebemo-nos de atitudes de indignação de
pessoas que conhecem e acompanham a Comunidade, quase desde o seu
nascimento, outras da frequência das suas actividades. Foi então que consultamos
pessoas diversas, conhecedoras da mesma comunidade, essas de diversos graus de
capacidade de leitura e, em nome da clarificação da verdade, que a todos
interessa, consultamos pessoas e fontes escritas sobre a mesma Comunidade.
Decidimos então apresentar as conclusões deste trabalho, em muitos pontos
divergente do trabalho apresentado por Rodrigo Portella, mas que até oferecerá ao
próprio autor uma nova fonte de consulta.
Como o tema do trabalho é uma instituição da Igreja em Portugal, e dadas as
diferenças culturais específicas de cada país, aceitamos que tivesse havido
dificuldade de leitura de conceitos e atitudes de vida que possam ter sido
fornecidos ao autor, e até de leitura objectiva da própria Comunidade Cristo de
Betânea, no seu todo e no seu espaço próprio, tanto dentro da Igreja como das
novas Comunidades. E, se todo o conhecimento é sempre uma construção que
brota do confronto do dado recebido com a experiência acumulada do
investigador, e até de quem quer que se situe na relação de conhecimento, outro
factor que parece ter dificultado a objectividade requerida nesta abordagem feita
pelo autor do artigo sobre a Comunidade Cristo de Betânea foi a falta de confronto
desses dados recolhidos, através de entrevistas e observações presenciais de
algumas actividade da referida Comunidade, com dados escritos sobre a mesma
Comunidade, que poderia ter encontrado, pelo menos na Internet em
www.cristobetanea.net e na Revista Jesus Vivo de Julho-Agosto de 2004. Por outro
lado, ainda poderá ser fonte de erros o facto de serem pouco significativas as
actividades em que esteve presente, pois estas desenvolvem-se ao longo do ano na
Casa que esta Comunidade possui em Fátima, bem como o pequeno número de
pessoas entrevistadas, baseando-nos nas que são mencionadas no trabalho.
Estranhamos também a falta de precisão no uso de conceitos como: “grupo”,
“comunidade”, “movimento”, sendo usados pelo autor do artigo indistintamente, o
que pode dificultar a compreensão da realidade que se pretende estudar: uma
“comunidade”, neste caso a “Comunidade Cristo de Betânea”.
Usaremos as iniciais “RP” para nos referirmos a Rodrigo Portella.
Como metodologia usaremos a divisão do artigo em partes, para a inclusão de
esclarecimentos oportunos.
Antes de iniciarmos a nossa análise ao Texto de Rodrigo Portella,
apresentamos um parágrafo do livro O que é a Filosofia, de Ortega y Gasset, pgs.
87-88.
“Outra coisa vou dizer que talvez vá custar-vos estranheza, para já, mas
uma longa experiência me ensinou, e se aplica não só à filosofia, mas a todas as
ciências, a tudo o que é teórico em sentido estrito. É isto: quando alguém que não
cultivou nunca a ciência se aproxima dela, a melhor maneira de facilitar o seu
acesso e explicar-lhe o que se procura fazer ao fazer ciência, seria avisá-lo: «Não
procure o que vai escutar e se lhe propõe ir pensando o convença; não o leve a
sério, mas como um jogo em que você é convidado a cumprir as regras». O estado
de espírito que esta atitude tão pouco solene produz é a melhor disposição para
iniciar o estudo científico. A razão é muito simples: o pré-cientista entende por
«convencer-se» e por «tomar a sério» um estado de espírito tão firme, tão sólido,
tão penetrado de si mesmo como só se pode sentir perante o que nos é mais
habitual e inveterado.”
ESCREVE RP:
”O objetivo deste artigo é apresentar a história e pinçar características deste novo
movimento religioso português.”
REPONDO A VERDADE: O objectivo do trabalho é então, segundo RP,
apresentar a história da Comunidade Cristo de Betânea, como sendo um novo
movimento religioso católico português.
Primeiro: RP, não definindo termos, permite-nos concluir que identifica uma
“comunidade” com um “movimento” da Igreja Católica e também com “grupo”,
como adiante acontece. Sociologicamente, o termo “grupo” pode aplicar-se a
“comunidade”, em sentido lato. Mas, quando queremos precisar realidades sociais
ou religiosas, ou outras, estas, sendo diferentes umas das outras, ganham o seu
lugar próprio e são chamadas por designativos específicos. Na Igreja Católica
encontramos “Movimentos”, “Obras”, “Associações”, “Institutos”, “Ordens”,
“Comunidades”, e nestas temos ainda as “Históricas”, como lhes chama João
Paulo II, e as “Novas Comunidades.”
Sem dúvida que estamos perante agrupamentos de pessoas, mas também
estamos perante realidades bem diferentes, se bem que complementares, em
ordem aos seus objectivos na Igreja. No Direito Canónico da Igreja Católica, as
“Novas Comunidades” estão integradas nas “Associações de Fieis” de modo
próprio, enquanto não surgir uma nova figura que as enquadre adaptadamente.
Mas, mesmo sociologicamente, se conhecermos e compararmos a teia e a
consistência das relações presentes num “grupo” e numa “comunidade”, bem
como as respectivas projecções na sociedade, encontraremos elementos decisivos a
exigirem rigor de conceitos que designem as respectivas essencialidades. Por isso é
que a distinção se faz na Igreja católica: a nível do Direito canónico as
comunidades “históricas” regulam-se por legislação própria (Cân. 573-709) e uma
“Nova Comunidade”, à falta de legislação própria, integra-se na Igreja como uma
Associação Privada de Fieis (Cân. 298- 329), embora de forma muito própria. A
falta de prévio esclarecimento dos conceitos a usar pode gerar confusões nos
leitores.
Em segundo lugar, como RP apenas apresenta dados empíricos colhidos em
algumas entrevistas, interpretadas subjectivamente, e encaixadas em afirmações de
autores na sua maioria brasileiros, ou seja, que trabalharam os dados de uma
cultura muito própria e bem diferente da Europeia, não admira que possa
facilmente distorcer os dados que lhe foram fornecidos nas entrevistas realizadas,
como obviamente aconteceu. Daí que a História que apresenta da Comunidade
Cristo de Betânea nos levante dois problemas:
1º - A quem cabe fazer História é a um historiador, com formação e
metodologias próprias.
2ª Só se pode fazer história com certo rigor científico de Instituições ou
acontecimentos a coberto de uma distância temporal de pelo menos 50 anos. A um
sociólogo cabe-lhe fazer sociologia, o que tem a ver com a construção de fenómenos
sociológicos no tempo presente. Por consequência, seria melhor lermos o artigo em
questão como uma breve “estória” e não “História”, dada a base empíricosubjectiva do trabalho.
Estamos de acordo em que um dos métodos fundamentais da Sociologia é a
entrevista. Mas, também sabemos os perigos que acompanham as interpretações
das entrevistas. Por isso mesmo, para se obter o rigor científico que dignifique e
credibilize a sociologia, o sociólogo sabe que há outras fontes de provas,
contraprovas e provas das contraprovas, passíveis de serem usadas.
Como conhecemos esta Comunidade e a maioria de nós temos formação
académica superior universidades portuguesas, temos obrigação de velar pela
verdade e pela probidade científica.
Quanto à Bibliografia, RP deveria ter consultado obras de teólogos como o
Cardeal Suenens, por exemplo L’Esprit-Saint, soufle vital de l’Église, ou
documentos da Igreja Católica, como a “Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita
Consecrata” sobre a Vida Consagrada e a Sua Missão na Igreja e no Mundo. E
Também a obra Igreja particular, movimentos eclesiais e novas comunidades –
subsídios Doutrinais da CNBB. Também RP poderia ter consultado outras obras
sobre o tema e até um documento da Igreja Católica sobre o Ministério de Cura e
Libertação na Igreja Católica…
E, para além de ter obras de carácter devocional - assim chamadas na
Bibliografia deste trabalho de RP, a Comunidade Cristo de Betânea publicou já
obras de carácter teológico-pastoral e de carácter psico-espiritual que, se tivessem
sido consultadas, facilitariam um conhecimento mais rigoroso da espiritualidade e
carismas desta Comunidade.
A leitura de obras diversas existentes sobre “Novas Comunidades”, bem
como sobre o Renovamento Carismático Católico eram pertinentes, bem como
obras sobre a cultura Europeia e a cultura portuguesa, em particular. Mas, ao
que parece, RP não leu. Se assim tivesse acontecido, haveria mais possibilidade de
leitura objectiva de tudo o que foi visto e ouvido, e atenuaria a dificuldade de
leitura de uma instituição da Igreja Católica na Europa, por alguém que tem a
experiência do saber no enquadramento sociológico e religioso da cultura
brasileira, particularmente a experiência de Pastor Luterano.
Por outro lado, entendemos que o tempo de seis meses em Portugal (RP
afirma que esteve em Portugal entre Setembro de 2007 e Fevereiro de 2008), para
uma investigação temática de grande responsabilidade, é demasiado curto.
ESCREVE RP:
Palavras-chave: carismáticos, catolicismo português, novas sensibilidades religiosas.
ABSTRACT: Between September 2007 and February 2008 was in Portugal,
funded by CAPES doctoral training, aiming to "look" a little the new European religious
sensitivities. Found in Portugal, the Community of Christ Bethany. The aim of this paper is
to present the history and characteristics of this new clamp Portuguese religious
movement. Present here some notes of the diary of research. Free of the obligation to
constantly punctuate the story by collating literature, looking, so descriptive, visualize ideas,
perspectives and peculiarities of Portuguese religious movement.
KEYWORDS: charismatic, Portuguese Catholicism, new religious sensitivities.
ESCREVE RP:
Introdução
Apresento a seguir um pouco do desenvolvimento histórico da Comunidade Cristo de
Betânea (CCB, adiante) e suas características enquanto grupo religioso1. Chamo a atenção, no
entanto, para a dificuldade em re-constituir a história e mesmo a organização deste grupo. Não
há material didático e sistemático que proporcione uma historiografia mais detalhada, e mesmo
as fontes vivas, como a própria fundadora do movimento, têm:
Doutor em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (Área de
Concentração: Ciências Sociais da Religião)
1As informações sobre a CCB decorrem de entrevista com Hercilia Pinto; observação
participante em eventos da CCB; conversas informais com membros da CCB; consulta à
revista Jesus Vivo e a outras edições, de cunho devocional, patrocinadas pela CCB.
Dificuldade em organizar uma narrativa sistemática e mais racionalizada sobre o mesmo.
REPONDO A VERDADE: É uma Comunidade recente (cerca de duas
décadas é algo muito recente para uma Comunidade) e tanto a fundadora como os
membros da Comunidade estiveram e estão empenhados em construí-la pela
acolhida e vivência da direcção a seguir, do que pelos relatos escritos de
acontecimentos; a escrita de pormenores seria algo utópico de momento; há
escritos no computador, que a seu tempo, daí sairão. Há diversos escritos sobre
carismas e espiritualidade nas mãos dos membros da comunidade. Isto além do
que atrás foi indicado e de tudo o que sobre a Comunidade Cristo de Betânea vai
saindo de dois em dois meses na Revista Jesus Vivo, editada por esta Comunidade.
Na edição de Julho Agosto de 2004 foi publicada uma breve História desta
Comunidade. Para nós, portugueses, é um texto muito esclarecedor, e uma boa
fonte de consulta.
Não se poderá daqui concluir que (como afirma RP):
“Isto já significa algo: grupos cuja espontaneidade do Espírito Santo (ES, adiante) é
senhora, ainda resistem a uma racionalização burocrática de sua história e experiências.”
REPONDO A VERDADE: Não se trata de “resistência” a uma
racionalização. Muitos de nós são até racionais demais…como filhos desta cultura
europeia racionalista. O nosso problema não está em racionalizar mas
precisamente em desracionalizar, para podermos viver a fé que supõe uma outra
lógica bem diferente e complementar da lógica da ciência a que estamos
habituados! Trata-se apenas de optar por prioridades. E a Comunidade opta
primeiro por viver e depois escrever! Dá prioridade à consolidação do conteúdo e
não ao embrulho.
ESCREVE RP:
Os objetivos do artigo são os de visibilizar como surgem, no seio da Igreja Católica
contemporânea, novos grupos religiosos (comunidades de aliança e/ou de vida) afinados a
gradiente ligado às sensibilidades encontradas a partir da Renovação Carismática Católica
(RCC, adiante); mais, pois visa observar tal surgimento em uma sociedade em que as
sensibilidades da RCC ainda são incipientes, e em que o catolicismo ainda tem um corte mais
ligado a práticas e estruturas tradicionais, como se apresenta, de forma geral, o catolicismo na
sociedade portuguesa; perceber como se estrutura um novo movimento religioso ligado às
sensibilidades da RCC no âmbito da Igreja Católica portuguesa, pinçando suas características
que se coadunam com as da RCC e aquelas que fogem ao estilo e configurações da RCC, isto é,
apresentando-se como originais ou, mesmo de certa forma, conflitantes com as sensibilidades e
projetos religiosos da RCC; e, finalmente, descrever, através de uma inserção de pesquisa de
campo, a partir da etnologia e de uma compreensão socioantropológica, as práticas, discursos e
vivências no interior do grupo.
Então constituem o objectivo do trabalho:
1: Os objetivos do artigo são os de visibilizar como surgem, no seio da Igreja Católica
contemporânea, novos grupos religiosos (comunidades de aliança e/ou de vida) afinados a
gradiente ligado às sensibilidades encontradas a partir da Renovação Carismática Católica
(RCC, adiante)
2- Mais, pois visa observar tal surgimento em uma sociedade em que as sensibilidades da
RCC ainda são incipientes, e em que o catolicismo ainda tem um corte mais ligado a práticas e
estruturas tradicionais, como se apresenta, de forma geral, o catolicismo na sociedade
portuguesa;
3- Perceber como se estrutura um novo movimento religioso ligado às sensibilidades da
RCC no âmbito da Igreja Católica portuguesa, pinçando suas características que se coadunam
com as da RCC e aquelas que fogem ao estilo e configurações da RCC, isto é, apresentando-se
como originais ou, mesmo de certa forma, conflitantes com as sensibilidades e projetos
religiosos da RCC;
4- Finalmente, descrever, através de uma inserção de pesquisa de campo, a partir da
etnologia e de uma compreensão socioantropológica, as práticas, discursos e vivências no
interior do grupo.
5 - O presente texto pretende levar à discussão sobre a questão do lugar e do modo de
pertencimento à Igreja, em suas afinidades e tensões/conflitos, dos novos grupos religiosos
comunitários que surgem no interior do catolicismo. Como tais grupos, como a CCB, se
integram ou não à Igreja? Quais conflitos pontuam a relação entre novas comunidades católicas
e a instituição Igreja Católica? Quais são as idiossincrasias, as contribuições novas, as
continuidades, e as rupturas em relação ao modelo institucional da Igreja Católica? São
questões que o texto abre, motivando a refletir.
REPONDO A VERDADE: Será bom esclarecer:
1 - O item proposto ultrapassa a Comunidade Cristo de Betânea (Como diz
RP, para “visibilizar como surgem, no seio da Igreja Católica contemporânea,
novos grupos religiosos (comunidades de aliança e/ou de vida”). Não poderemos é
reduzir os novos grupos religiosos a comunidades de “aliança” e/ou de “vida”. Só
por si este objectivo exige um tratamento de grande âmbito.
2 - Todos sabemos que as generalizações são sempre perigosas. E, no que toca
ao Renovamento Carismático Católico em Portugal, bem como à visão da própria
Igreja em Portugal, exige alguma reparação: o Renovamento Carismático em
Portugal atinge uma grande franja de cristãos e, além desta graça dinamizadora, a
Igreja Católica em Portugal não está tão presa às estruturas tradicionais como
possa parecer a alguma visão do exterior. Ela conta com diversos movimentos bem
estruturados e bem activos, alguns de carácter internacional, com diversas
Comunidades Novas de origem estrangeira - não só brasileiras - cá inseridas, com
comunidades históricas cujo esforço de actualização traz um grande impacto,
sobretudo na camada jovem. E, acima de tudo, temos Bispos dinâmicos e bem
atentos às realidades do nosso tempo, que com a sua palavra e entusiasmo de
pastores atentos, promovem, cada qual em sua Diocese, uma grande dinamização
de Igreja através dos sectores diocesanos das diversas pastorais e do apoio às
novidades que o Espírito Santo vai trazendo à Igreja. Sentimos toda a alegria,
embora serena, de viver numa Igreja que professa uma fé adulta e responsável pela
sua tarefa evangelizadora!
3- “Como tais grupos, como a CCB, se integram Igreja?”, questiona RP. Ora,
as Novas Comunidades inserem-se na Igreja, em qualquer parte em que se
encontrem através de estatutos aprovados pela entidade eclesial: segundo o Direito
Canónico há comunidades de “Direito Diocesano” e Comunidades de “Direito
Pontifício”. Estas começam por ser de “Direito Diocesano”, até que as
conveniências de evangelização no mundo sejam melhor resolvidas pela sua
inserção na Igreja como Comunidades de “Direito Pontifício” e tal lhes seja
concedido pela Santa Sé. Tanto num caso como noutro, as “Novas Comunidades”,
à falta de uma figura jurídica própria para o seu enquadramento, inserem-se todas
como “Associações de Fiéis”, embora mantendo nessa área características
específicas. A Comunidade Cristo de Betânea não é excepção: insere-se na Igreja
como Associação de Fieis de Direito Diocesano.
ESCREVE RP:
1. O percurso até a CCB
A Comunidade Cristo de Betânea é uma Comunidade de Vida e Aliança surgida em
Portugal entre os anos 80 e 90 do século 20. Tem como fundadora e líder a Irmã Hercíloa Pinto,
senhora de uns 68 anos, ex-professora e ex-membro da Ação Católica, nomeadamente da JUC, e
ex-membro de Grupos de Oração Carismática da Renovação Carismática Católica de Portugal.
Hercília reside na cidade de Braga, que fica, por sua vez, na circunscrição eclesiástica da
Arquidiocese de Braga, norte de Portugal, circulando Hercília, em seu trabalho, entre as cidades
de Braga e de Vila Nova de Famalicão, lugar de origem de sua família, e Fátima, lugar em que a
CCB possui uma casa de encontros
REPONDO A VERDADE: Hercília foi membro da JUCF e não tem a sua
residência em Braga, mas em Telhado, Vila Nova de Famalicão. Não é só nessas
cidades que Hercília “circula”: Hercília vai onde é preciso ir no cumprimento da
sua missão, por diversos pontos de Portugal e Estrangeiro: Europa e fora da
Europa.
ESCREVE RP:
Hercília, que desde os anos 70 já era leiga consagrada num instituto secular, ligado à
Arquidiocese de Braga, iniciou sua participação em Grupos de Oração da RCC na década de 70,
portanto, logo no nascedouro da RCC. Em 1977, uma “irmã” do grupo de oração carismático a
que pertencia lhe disse que era necessário avançar a uma Comunidade de Vida, nos moldes da
primitiva comunidade cristã. A repetição da “advertência” viria no ano seguinte. Hercília, então
ligada formalmente à RCC, descreve que em vários encontros o Pe. José da Lapa, mentor e líder
do RCC português, enfatizava a necessidade de algumas pessoas formarem uma Comunidade,
transcendendo, assim, ao Grupo. Hercília conta que “nunca pensou em comunidade. Mas a
coordenadora do grupo [de oração] disse: ‘vai ter alguém que aprofunde a vivência das
primeiras comunidades e depois ajude os outros a viver’”. E Hercília se sentiu investida em tal
missão. O líder carismático, conforme Weber (1991, p. 158), pode ser legitimado por eleição,
vocação, treinamento, nascimento ou revelação.
REPONDO A VERDADE: Hercília era leiga consagrada, na diocese de
Lisboa e não de Braga. Conheceu o Renovamento Carismático em 1975, pouco
tempo após a sua chegada a Portugal pelo Senhor Padre José da Lapa,
instrumento do qual o Espírito Santo se serviu para o efeito. Frequentou o Grupo
que acabava de nascer em Braga.
ESCREVE RP:
“E Hercília sentiu um apelo interior de Deus; isso fogirá com certeza aos esquemas
teóricos de Max Weber: as obras de Deus não se encaixam em esquemas de sociólogos, outro
tipo de grupos, de carácter temporal. Para uma sociologia dos factos religiosos, com a
objectividade máxima possível e por isso bem fundamentada, caberá ao sociólogos admitirem e
e aprenderem um pouco da dinâmica sobrenatural que inspira e dinamiza a obra de Deus.”
Aqui, no caso, eleição, vocação e revelação fundem-se na narrativa. O profeta reclama
para si, mais que o sacerdote, uma vocação “pessoal”, íntima, singular, em virtude de revelação
ou carisma. E assim, de vaticínio em vaticínio, de profecia em profecia, “o Espírito Santo foi
irresistível no que tinha para nós”.
Em 1982 um seminarista, um casal e Hercília, como líder, iniciaram a vida em conjunto,
configurando, assim, as sementes do projeto exortado no seio da RCC. Nesta época o grupo
configurava-se, porém, como Comunidade de Aliança. A inspiração veio de modelos de
comunidades carismáticas francesas visitadas, como a Leão de Judá e do Cordeiro Imolado. Em
1990 a Comunidade constitui-se como Comunidade de Vida consagrada, fixando a sede na
freguesia semi-rural de Telhado (Vila Nova de Famalicão), na casa que pertencia à família de
Hercília, agora adaptada e aumentada. Ali passam a conviver comunitariamente 6 pessoas.
Porém, foi somente a partir de 1998 que a CCB conheceu aumento de vocações e a partir de
2000 que se expande para África (Cabo Verde e Moçambique), Timor-leste e Brasil.
REPONDO A VERDADE:
1- O que se passou em 1982 não foi uma vida propriamente em conjunto, mas
sim um arranque alargado de encontros com as pessoas mencionadas, e outras
mais, inclusive seminaristas diocesanos, na busca do que Deus queria de cada um.
2- Não se configuravam a uma “Comunidade de Aliança”, designação que
então não existia. Hoje é que poderemos dizer que essa etapa da caminhada rumo
à comunidade se insere no que hoje se chama “Comunidade de Aliança”.
ESCREVE RP:
A CCB tem um símbolo iconográfico próprio. Constitui-se de um círculo vermelho, sendo
mais amarelo ao centro, com as figuras entrelaçadas e estilizadas de uma cruz, um cordeiro e
uma pomba. O símbolo remete a Jesus através da cruz e do cordeiro, e ao ES pela pomba,
marcando a ligação carismática, ou pentecostal, do Grupo, ainda reforçada pelo vermelho do
fogo do ES. A CCB é, hoje, uma Comunidade de Vida e Aliança (de direito diocesano) que
congrega pessoas consagradas, com votos, vivendo em comunidade, e casais aderentes, vivendo
a espiritualidade do Grupo nos lares e em missões comuns a todos. Seu governo estrutural é
assim formado, abaixo do bispo que a supervisiona: um moderador geral (a fundadora,
Hercília) e um conselho formado pelos moderadores locais, ou seja, de cada casa ou de cada
tarefa específica (louvor, aconselhamento, evangelização, etc). A sede do Grupo é em Telhado,
freguesia semi-rural da cidade de Famalicão, distante de Braga cerca de 25 minutos em trem
parador, e pertencente à Arquidiocese de Braga.
REPONDO A VERDADE: O Símbolo da Comunidade não se insere num
círculo vermelho, mas laranja, e o Cordeiro insere-se numa Hóstia, significando a
centralidade da Comunidade em Cristo ressuscitado e vivo para nós, cristãos
católicos na Eucaristia, que a Comunidade é chamada a celebrar e adorar em
contemplação todos os dias. A pomba assinala que nos queremos deixar conduzir
pelo Espírito Santo na descoberta e uso dos carismas de cada um para a edificação
da Comunidade na união a toda a Igreja, para a edificação da mesma (1Cor 12) e
para o anúncio do Reino.
A Comunidade Cristo de Betânea é hoje uma família constituída por uma
“Comunidade de Vida”, à qual se unem, em aliança de fidelidade aos mesmos
carismas e espiritualidade, membros externos, integrando também toda uma
quantidade de amigos associados e simpatizantes.
O Governo da Comunidade exerce-se a dois níveis: cada casa tem o seu
moderador e deverá ter o seu conselho local. A nível geral o Moderador tem o seu
conselho geral, sedeado na Casa - Mãe, mantendo contactos pessoais frequentes
com os moderadores locais, o que permite apoio entre todos e a manutenção da
unidade de vida nos mesmos carismas e espiritualidade, na diversidade dos seus
membros e das culturas em que a comunidade está inserida. A comunidade é
aberta também a pessoas viúvas e solteiras idóneas, e não apenas pessoas com
especial consagração, e casais. Alguns membros poderão vir a assumir qualquer
estado de vida, mesmo sacerdotal, a que sejam chamadas por Deus, sendo por isso
aí ajudados nesse discernimento da vontade de Deus a seu respeito.
Cada casa, dentro dos carismas da Comunidade – contemplação -missão, de
acordo com os dons dos membros e as necessidades do Reino, definirá com o Bispo
da respectiva diocese o seu trabalho aí.
ESCREVE RP:
A casa mãe de Telhado é simples. Compõe-se de refeitório, cozinha, salas e vários
quartos. No andar de baixo há uma capela muito simples, sem bancos e com o santíssimo
sacramento exposto continuamente. No andar de cima se encontra um salão -capela para as
celebrações com o público, aos sábados.
REPONDO A VERDADE: A casa visitada por RP e aqui referida é a casa de
formação; tem, por isso, poucas actividades abertas para o exterior. Apenas as
necessárias para os estágios que os formando vão fazendo. Por isso, o acolhimento
e oração na referida sala é apenas nas manhãs dos terceiros sábados, e a oração do
Terço nas tardes dos Primeiros sábados. Com esse objectivo e como resposta a
diversos pedidos há uma deslocação a Braga para um encontro nas tardes dos
quartos - sábados, numa sala do Seminário de N.ª S.ª da Conceição (Seminário
“Menor”). A Comunidade assume também a Adoração Semanal na Capela da
Lapa, em Braga.
ESCREVE RP:
Há pequena horta, já que a casa, em sua área, constitui um pequeno sítio. A comunidade
tem um estatuto próprio, aprovado pelo arcebispo de Braga em 1994, e um livro de vida. Ambos
são vedados à consulta a pessoas exteriores à comunidade. Isto, certo, não parece ser legal, pois
em princípio a CCB não é uma sociedade esotérica. Porém, na prática, dificulta-se ao máximo
que pessoas não ligadas à comunidade possam ter acesso aos estatutos.
REPONDO A VERDADE: O acesso ao Estatuto não é vedado. Mas, sem a
tradição da comunidade e a vida vivida na prática, é letra morta que não interessa
a quem pretende fazer a história da comunidade, mal a conhecendo, e sendo nada
conhecido à comunidade. Mas a ele tem acesso os membros da comunidade, bem
como ao “Livro de Vida”, ainda no computador e do qual saem cópias para
formação dos membros, sempre que necessário.
ESCREVE RP:
A missão, ou o carisma da CCB, se desdobra em:
1) nova evangelização, através da venda de livros, da revista Jesus Vivo, e,
principalmente através da “compaixão”.
2) compaixão, compreendida como aconselhamento, escuta e direção de pessoas
com problemas “psíquico-espirituais”. Tal atendimento de aconselhamento é franqueado via
telefonia (nos livros, revistas e folhetos são disponibilizados telefones para aconselhamentos,
feitos pelos membros do Grupo). 3) Adoração ao santíssimo sacramento, música, louvor, cura e
libertação. Estes são, digamos, outros braços do aconselhamento, pois o tal também é concebido
em termos espirituais, no sentido de cura e libertação de problemas psíquico-espirituais por
meio da oração, adoração, imposição de mãos. Neste sentido a outra ênfase é a cognitiva, ou
seja, através de Seminários de Cura Interior e Sentido de Vida, ministrados em fins de semana,
em quatro ou cinco blocos diferentes (cada bloco em um mês diferente). Nos seminários há
aprofundamento bíblico sobre o sentido da vida, sobre os desejos do homem e de Deus, sobre o
porquê as pessoas ficam doentes, depressivas ou com sentimentos suicidas. Há, conforme
Hercília, uma explicação de como funciona a pessoa. Durante o fim de semana das palestras as
pessoas vão pedindo perdão e buscando a cura. A adoração ao santíssimo sacramento, e o
louvor, têm sido importantes como fonte de cura, segundo a fundadora. A cura, segundo
Hercília, é psicológica-espiritual, através de uma revisão de toda a vida da pessoa. O número de
pessoas que participam destes eventos varia entre 50 a 100 pessoas.
REPONDO A VERDADE: Pontos 1 e 3: O objectivo estatutário da
Comunidade é a “Nova Evangelização”. É missão da comunidade realizar o seu
objectivo através dos seus carismas: contemplação- missão. Realizar a “Nova
Evangelização” supõe, segundo o Papa João Paulo II, novo ardor, novos métodos e
novas estratégias. A contemplação abre a Comunidade a Deus e aos seus membros
e, no seu todo, ao entusiasmo por Jesus Cristo e ao acolhimento compassivo e
fraterno, no interior e no exterior da Comunidade.
2- E sendo desde cedo procurada a ajuda da Comunidade Cristo de Betânea
por gente de todas as idades, sofredoras de vários tipos de opressões familiares e
sociais, a compaixão surge como carisma e nova estratégia para o anúncio de Jesus
Cristo como único libertador, procurando-se a renovação da esperança cristã
naqueles que sofrem, por vezes sem resposta na própria medicina, dado que muitos
sofrimentos brotam da fome de Deus, mesmo inconsciente, do Deus que
dimensiona a vida e por isso as opções do quotidiano que respondem às profundas
raízes do ser humano.
A partir daí são perspectivadas as acções de evangelização: “Seminários de
Sentido da Vida e cura da memória”; Encontros de oração, com adoração. A causa
de muitas doenças é de natureza psico-espiritual; será então certo que a cura terá
de se realizar a esses níveis, mas o processo não é tão simples quanto se afigura no
texto supra!
ESCREVE RP:
2. Dimensões da CCB
O raio de ação da CCB está concentrado praticamente entre Famalicão, onde há a casa
mãe na freguesia de Telhado, e Braga. A distância entre as duas cidades é curta (25 minutos em
trem parador) e pertencem à mesma arquidiocese (Braga). Para além deste pólo central, há
outros pólos de atuação em Fátima (onde há uma casa de encontros da CCB).
Neste caso é preciso dizer que Fátima, em Portugal, traz a si representações dos mais
diversos movimentos eclesiais. Fora de Portugal, há uma casa em construção no Brasil, em
Arapiraca (Alagoas), em que está uma irmã portuguesa a atuar, além de casas (uma em cada
lugar) em Cabo Verde, Moçambique e Timor Leste (todas em construção). Nestas casas no
exterior também se oferecem os mesmos trabalhos da casa mãe em Portugal, ou seja, reuniões
regulares de louvor, cura e libertação, adoração ao santíssimo sacramento, palestras de pessoas
ou padres ligados ou simpáticos ao tipo de espiritualidade da CCB, retiros de cura e libertação,
festivais sazonais de louvor. É interessante notar que, contabilizando, há mais casas da CCB
fora de Portugal do que em solo português, onde, de fato, há apenas duas casas comunitárias.
Isto é significativo também quando se percebe, em olhar na observação participante (já que a
fundadora diz não dispor de dados estatísticos ou mesmo não se importar com números) que,
pelo menos, metade dos membros, ou talvez mais da metade, são oriundos de países lusófonos
que não Portugal. Ou seja, há bom número de timorenses e africanos, embora poucos
brasileiros, pois a informação que tenho é que só há dois brasileiros efetivamente - ou seja, no
processo de formação comunitária - no movimento, um deles estando em Portugal.
REPONDO A VERDADE: A Comunidade Cristo de Betânea, para além de
membros residentes, como já foi referido, tem membros externos que formam a
“Comunidade de Aliança.” Destes, alguns, em razão da sua proximidade,
constituem-se em fraternidades que proporcionam centros de oração e escuta
fraterna. Portanto, a preocupação da Comunidade Cristo de Betânea não consiste
apenas em abrir casas para acolher pessoas, mas sobretudo desdobrar os centros
de acolhimento e ajuda fraterna por diversos pontos do país e não só. Por isso, o
raio de acção da Comunidade Cristo de Betânea não está concentrado em
Famalicão e Braga. Aí estará o raio de acção da Casa de Formação e da
Fraternidade de Braga. O raio de acção estende-se até onde há casas, fraternidades
e centros de acolhimento fraterno. E nesta mesma lógica, a pergunta acerca do
número de membros é de difícil resposta imediata.
Quantos membros internos há na Casa de Formação, na casa e centros de
oração e acolhimento, tanto em Portugal como em Cabo Verde, Brasil e Timor e
ainda os membros dispersos por Portugal, Austrália e Moçambique?
Efectivamente que era resposta impossível de momento e, mesmo agora, só
consultando os moderadores das casas, bem como os delegados das fraternidades.
E é certo que a fundadora não se preocupa com o número dos membros da
Comunidade, mas com a sua qualidade. Muitas vezes diz que “os apóstolos eram
doze”, mas gente determinada por Jesus Cristo!
ESCREVE RP:
O Brasil, por ser terra fértil quanto ao surgimento de novos movimentos religiosos
católicos, ligados ou não à RCC, talvez seja um lugar de grande concorrência entre movimentos
eclesiais novos, explicando assim as poucas vocações específicas. Outra questão é o lugar onde
a CCB foi se instalar no Brasil, no interior de Alagoas, em Arapiraca. Normalmente o nordeste
brasileiro tem sido considerado lugar de poucas vocações religiosas, ainda que seja a região
mais católica, percentualmente, do Brasil.
REPONDO A VERDADE: Não foi nem é o critério da obtenção de vocações
que determinou nem determina a abertura de casa no Brasil, ou noutra localidade.
São as necessidades do Reino de Deus manifestadas por Bispos ou mesmo párocos.
A Comunidade está no Brasil numa das zonas mais pobres desse país, ao serviço da
Igreja Católica, servindo o aprofundamento da fé e trabalhando sobretudo na
promoção da mulher marginalizada, procurando contribuir para a sua libertação
pela inserção social activa!
ESCREVE RP:
Então, por que Arapiraca? Seria logisticamente o melhor lugar?
REPONDO A VERDADE: A Comunidade está em Arapiraca simplesmente
porque Deus o quis e o manifestou através do convite de um sacerdote brasileiro
nosso conhecido que nos apresentou o Bispo de Penedo, o qual nos aceitou, com o
desejo expresso de que daí a Comunidade Cristo de Betânea se expanda pelo
Brasil.
ESCREVE RP:
A CCB está longe de ser uma unanimidade simpática para clero e para o arcebispo de
Braga.
REPONDO A VERDADE: É normal. Não há obra na Igreja ou empresa no
mundo que seja unanimemente apreciada por todos. Nem Jesus Cristo agradou a
toda a gente e muito menos aos sacerdotes de então! Mas talvez RP tenha corrido o
risco ou ter tido o azar de ter falado com algumas pessoas não simpatizantes com
novidades na Igreja, com os carismas ou espiritualidade da Comunidade Cristo de
Betânea e que, até por desconhecimento, tenha incorrido em juízos sobre
aparências. Sociologicamente sabe-se que a resistência à mudança é uma realidade.
Sabe-se que a pessoa humana gosta da novidade, mas quando ela bate à porta nem
sempre a aceita. Também se sabe que as pessoas comuns julgam pelas aparências.
É neste quadro de valores sociológico cognitivos que tem de se analisar simpatias e
antipatias surgidas a priori em relação a tudo o que é novo e obviamente à
novidade que oferece a Comunidade Cristo de Betânea. Por outro lado, a
exortação Apostólica Pós-Sinodal “Vita Consecrata” (págs. 94-96), refere a
necessidade de complementação entre as “Novas Comunidades” e as
“Comunidades Históricas”. Mas, aqui e além, e com bastante frequência e
certamente contra a vontade de Deus, se verifica o desconhecimento e a difícil
aceitação das “Novas Comunidades” por parte das Comunidades “Históricas”. RP
cita neste trabalho a opinião do Padre Dário Pedroso, sacerdote importante na
diocese de Braga mas que nunca contactou directamente esta Comunidade e com
quem a Comunidade nunca entrou em contacto. Por isso, o referido sacerdote
poderá conhecer a Comunidade apenas pelo que pode ouvir dizer dela. E RP
atribui ao Padre Dário Pedroso alguma referência acerca da falta de simpatia do
senhor arcebispo D. Jorge Ortiga para com esta Comunidade. Pena foi não
procurar contra-prova junto da Comunidade, pois poderia ser esclarecido acerca
da ajuda que nos tem sido dada precisamente pelo Senhor Arcebispo D. Jorge
Ortiga através da sua presença, aconselhamento, promessa de oração e apoio
revelados, não apenas em visitas mas também na correspondência havida entre o
Senhor Arcebispo de Braga e esta Comunidade.
ESCREVE RP:
Geralmente, um novo movimento eclesial, para instalar-se noutro país, precisa de
referências hierárquicas. Portanto, é possível que a CCB não tivesse muitas referências a
oferecer para se instalar no Brasil.
REPONDO A VERDADE: A Comunidade basta-lhe ser em si mesma uma
referência missionária dentro da Igreja Católica e ao seu serviço, na Diocese onde
Deus a fez nascer e na Igreja Universal. Não precisou de outros créditos se não ser
conhecida aqui em Portugal, in loco, pelo Padre Manoel Henrique, Pároco de S.
Pedro, Maceió (Ponta Verde), Alagoas, Brasil, e ser por ele sugerida e apresentada
ao Senhor Bispo de Penedo, D. Valério Breda. Nestas coisas de Deus a lógica
humana falha muitas vezes. A lógica de Deus é bem outra! Deus dispensa os
créditos humanos, bem como os lobbys, que por vezes funcionam na lógica dos
empregos, cargos políticos ou progressões em carreiras, mesmo académicas!
ESCREVE RP:
Porém, Hercília é conhecida do bispo da Diocese de Penedo, em que se situa Arapiraca, e,
a partir deste conhecimento e possível amizade, foi feita a proposta e convite para a CCB se
instalar em Arapiraca, Alagoas.
REPONDO A VERDADE: Mentira! Hercília não conhecia o Bispo da Diocese
de Penedo! (Porquê apresentar num trabalho - algo que deve ser objectivo - uma
suspeição sem fundamento? “Possível amizade…”). A coordenadora da
Comunidade não conhecia o Bispo D. Valério de lado algum. Tudo se passou de
maneira bem diferente. Como foi? Um sacerdote que veio pregar em encontros
desta comunidade em Fátima, tendo-a apreciado no exercício dos seus carismas (da
Comunidade) achou que seria importante a sua presença e acção no Brasil. Fez
então um desafio à Coordenadora para irem para o Brasil. Em tempo oportuno,
foi uma equipa a Maceió, onde colaborou com o P. Manoel Henrique em alguns
serviços. De uma segunda vez, o referido sacerdote - esse sim, que conhecia e
admirava D. Valério Breda, Bispo da diocese de Penedo -, achou por bem conduzir
a equipa a Penedo, para a apresentar ao referido Bispo. Achando D. Valério Breda
que Arapiraca seria o lugar certo para o estabelecimento desta comunidade, na sua
diocese, enviou a equipa a Monsenhor Luiz Marques, do qual recebeu caloroso
acolhimento. De regresso a Portugal, a questão da oportunidade da missão no
Brasil e da aquisição aí de uma casa para a partir daí exercer a missão foi colocada
ao Senhor Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga que, tendo começado a
acompanhar este processo aquando da partida de uma equipa para decisões acerca
da aquisição de um terreno e casa, enviando-lhe a sua bênção e promessa de
oração recomendava prudência e fortaleza nos discernimentos a fazer. Após os
contactos feitos no Brasil e apresentadas decisões possíveis e a todas as partes
envolvidas no projecto, nomeadamente ao Senhor Arcebispo D. Jorge Ortiga, e
tendo sido favoráveis todos os pareceres, em Novembro de 2004 partia para
Arapiraca, Diocese de Penedo, a primeira equipa desta comunidade, com envio
missionário feito no Paço Episcopal pelo Senhor Arcebispo de Braga, D. Jorge
Ortiga, para abrir a casa que iria ser centro de oração e aprofundamento da fé, de
acolhimento e de serviços voltados sobretudo para a promoção da mulher
explorada ou marginalizada, com vista à colaboração na sua inserção social.
ESCREVE RP:
3.Revista Jesus Vivo
Além de livros, o meio midiático de evangelização mais conhecido da CCB é a revista
Jesus Vivo. O nome já é um programa, comum à RCC, ou seja, destacar um Jesus vivo e atuante
em contraste com um Jesus da Paixão e da religiosidade popular portuguesa. A revista tem
como conteúdo artigos assinados por Hercília Pinto, por um ou outro membro da CCB, por
algum convidado, ou retirados de outros meios de comunicação, muitas vezes sem menção das
fontes.
Há, no início, sempre uma mensagem de Hercília. Segue-se a isto uma colagem de várias
notícias que ocorrem na Igreja Católica, todas também sem citação das fontes.
REPONDO A VERDADE: A Revista Jesus Vivo está estruturada em secções
diversas. A menção das fontes de diversos artigos e da secção “Em Espírito de
Igreja”, na qual se apresentam notícias mais pertinentes a nível Nacional e
Internacional, encontra-se no verso da capa: “Agência Ecclesia”, agência oficial da
Igreja católica em Portugal e ainda as agências noticiosas internacionais Fides, Aci
Digital e Zenit.
ESCREVE RP:
Existe uma seção de cartas e, avante, estão os artigos propriamente ditos, sempre
ilustrados com fotos coloridas. São artigos de fácil leitura e, nas revistas a que tive acesso,
contemplam temas do carisma da CCB, assim como temas atuais e “quentes” na Igreja. Por
exemplo: “Deprimidos: como ajudar?”; “Sacrário: pólo de atração”; “Educação de crianças”;
além de artigos referentes ao aborto, família e evangelização. Há também um grande espaço
para relatar os acontecimentos relativos a CCB, as missões no exterior, a divulgação de seus
seminários e também páginas devocionais, com orações. Enfim, há uma passagem onde se
referem todas as leituras litúrgicas das missas do mês e a página de propaganda dos artigos da
CCB. Embora a tiragem seja de 3.500 exemplares, não tive acesso ao número de assinantes. O
conteúdo dos artigos reflete uma teologia tradicional, sem extremismos de qualquer parte, bem
comportada. Mas, aqui e ali, com referências próprias à linguagem e ideários carismáticos.
Parece ser uma revista dirigida para entretenimento catequizador a um público interno à Igreja
e, talvez, interno também à CCB em grande parte.
REPONDO A VERDADE: A Revista Jesus Vivo está estrutura em secções,
assinaladas ao cimo de cada página, nas quais os artigos se inserem, para que se
possa fazer uma leitura enquadrada, tanto de cada artigo como da própria revista.
A saber: “Editorial” (pág. 1); “Voz do Leitor” e ficha técnica (Pgs 2-3); “Em
Espírito de Igreja” (p.4-5); “Tema de vida” (Pág. 6); “Ontoterapia” (Pgs 8-9);
“Actualidade” (Pgs 10-12); “O Espírito Santo Hoje (Pgs 13-14); Páginas
directamente pensadas para jovens (Pgs 15-18); “Evangelização e Nova
Evangelização” (18-23); Temas sociais (Pgs 24-27); “Terceiro Milénio com Nossa
Senhora” (Pág 28); “Comunidade Cristo de Betânea”; “Ecos das Missões” (Pgs.
29-30). “Dia-a-Dia” (Citações dos textos bíblicos da liturgia eucarística para dois
meses, e não para apenas um mês, como cita o autor do artigo RP) (Pgs 31-32). No
interior da capa e da contracapa anuncia-se os artigos pertinentes para
Evangelizar, como livros, Cd’s, etc.
Na capa da Revista Jesus Vivo pode ler-se o seu objectivo: “Revista de
espiritualidade, evangelização e missão”
De acordo com os temas enunciados pelo autor, recolhidos de um dos
números que não identifica, bem como das secções já referidas, nas quais a mesma
se estrutura, não se pode concluir que a revista seja, como escreve RP, dirigida
para entretenimento catequizador a um público interno à Igreja e, talvez, interno
também à CCB em grande parte. Até porque RP afirma na pág. 90 do seu trabalho:
“Além de livros, o meio midiático de evangelização mais conhecido da CCB é a
revista Jesus Vivo.”
De facto, se a Revista serve a Evangelização, não pode ser considerada de
“entretenimento” nem “catequética”. É que a evangelização tem como objectivo o
Kerigma, ou seja, o anúncio de Jesus Cristo. A catequese tem como objectivo o
aprofundamento do conhecimento da Pessoa de Jesus Cristo, encontrada pelo
Kerigma. São duas vertentes da Missão da Igreja, complementares e, por isso,
cada termo designa uma missão. A confusão ou indistinção dos termos gerará
confusões de carismas e ministérios, em vez da sua complementaridade.
ESCREVE RP:
4. Conhecendo adeptos e “hábitos”
Os adeptos postulantes, noviços e professos da CCB usam o prenome de “frei” para os
homens e “irmã” para as mulheres.
REPONDO A VERDADE: Não existe a categoria de “adeptos” na
Comunidade, mas de “Estagiários”, “Postulantes”, “Noviços” e “Comprometidos”.
Por outro lado, há engano quanto ao uso do Hábito. A verdade é que apenas os
“Noviços” e “Comprometidos” podem optar por usar um sinal exterior da sua
adesão a Cristo na Comunidade Cristo de Betânea.
ESCREVE RP:
Hercília Pinto objetiva sua comunidade religiosa de consagrados e colaboradores,
contemplativa e de ação. Contemplativa porque homens e mulheres consagrados (e em alguns
casos mesmo casais) convivem num mesmo ambiente, as casas-conventos, numa disciplina
diária de adoração ao santíssimo sacramento, oração da Liturgia das Horas e trabalho manual. E
ativa porque de fato os membros saem às ruas, à feira ou livraria para vender os produtos da
CCB, ou para escutarem pessoas, para evangelizar através de Seminários (como os de Fátima)
ou dos sábados de louvor aberto à comunidade exterior.
REPONDO A VERDADE: Teremos de desfazer confusões: Não se poderá
dizer que Hercília “objectiva sua comunidade”, como escreve RP. Uma comunidade
que exista na Igreja Católica nunca é pertença de uma pessoa. Até porque, por
definição, a comunidade implica pessoas que colocam em comum as suas vidas e
bens, espirituais e materiais, para serviço do Reino de Deus. E, como já foi
referido, o fundador é apenas uma pessoa de quem Deus Se serve para fazer surgir
na Igreja um lugar e um instrumento de trabalho Seu. A pessoa que tem o carisma
de presidir, usando a linguagem de S. Paulo na Carta aos Romanos, capítulo 12,
versículo 8, preside à comunidade dos irmãos, para bem da ordem na comunidade:
no Direito Canónico essa pessoa designa-se por “Moderador da Comunidade”.
Portanto, não se poderá aligeirar a linguagem, para que não se traia a verdade.
A Comunidade Cristo de Betânea, sendo uma “Nova Comunidade” que
integra membros internos consagrados ou não, e ainda a comunidade externa de
“Aliança”, não se poderá chamar de comunidade religiosa de consagrados e
colaboradores. Os colaboradores da comunidade são “colaboradores” da realidade
desta Comunidade.
Também convém clarificar o apelido de Comunidade “religiosa”. Talvez não
haja coincidência de conceitos entre a área das ciências sociais e das ciências
religiosas. Dada a essência da Comunidade Cristo de Betânea, será em sentido
muito lato ou muito restrito; depende da referência em questão que se poderá
designar de comunidade “religiosa”. Religiosa porque nasce e se desenvolve, existe
e actua no seio da religião cristã - na Igreja católica. Se a comparamos com as
Comunidades Históricas da mesma Igreja Católica, então estas são Comunidades
“Religiosas”, assim consignadas no Direito Canónico da Igreja católica. Mas a
Comunidade Cristo de Betânea é simplesmente uma “Nova Comunidade.”
Convém esclarecer que nem todos os membros internos da Comunidade
Cristo de Betânea se dedicam ao trabalho manual. Como seria feita a Revista Jesus
Vivo? E como seriam escritos os livros das nossas edições? Na Comunidade Cristo
de Betânea cada um serve através dos seus dons. E os casais e outros membros da
comunidade já efectivos podem exercer actividades da sua competência fora da
comunidade.
ESCREVE RP:
Para caracterizar este sinal monástico-ativo, existe um hábito, igual para homens e
mulheres, cujo uso é facultativo, mas recomendado. A razão do hábito é que, segundo Hercília,
a sociedade de hoje precisa de “sinais chocantes”. O hábito compõe-se de túnica branca com
escapulário e capuz azuis (no caso das mulheres, véu e escapulário azuis).
REPONDO A VERDADE: Será mais preciso dizer que o hábito surge como
um dos sinais da inserção da comunidade na tradição monástica da Igreja, sendo
ele mesmo sinal da vida entregue totalmente Deus, num mundo que lhe volta as
costas. Quanto à cor dos hábitos, RP afirma que o véu das mulheres é azul; ora,
esclarece-se que o lenço (e não véu) das mulheres que optam pela especial
consagração, não é azul, mas branco.
ESCREVE RP:
Sendo que escapulário azul mais claro para os noviços, e azul mais escuro para os
membros de votos definitivos, ressaltando o compromisso maior para quem faz as promessas
finais2. O branco está a simbolizar a esperança e ressurreição, e o azul a escatologia e o céu.
Usam sandálias castanhas simbolizando os “pés na terra”.
1- Há, no ideário da CCB, uma volta às origens católicas, referenciadas em vestes e
costumes católicos de antanho. Muitas Comunidades de Vida, ligadas ou não à RCC,
prescindem de hábitos, isto é, peça do vestuário religioso com raízes e ligações com épocas
medievais. Mesmo as congregações religiosas católicas (masculinas), surgidas após o Concílio
de Trento (século 16), aboliram o hábito nos moldes medievais (como, por exemplo, os
adotados pelos beneditinos, franciscanos, dominicanos, servitas, mínimos, carmelitas, todos
surgidos no medievo). Adotavam, congregações pós-tridentinas, batinas, ainda que
diferenciadas das seculares-diocesanas por algum detalhe nas tais3. Assim, por exemplo, com
jesuítas, redentoristas, verbitas, salesianos, dentre outros. 2- Ora, voltar a usar hábitos segundo
os modelos pré-tridentinos, portanto medievais, é um fenômeno que surge em maior grandeza,
senão em exclusividade, em tempos recentes na esteira de novos movimentos eclesiais,
notadamente alguns surgidos sob o sopro da RCC. A CCB interpreta que, por ter caráter
inspiratório “monástico”, era preciso reinventar um hábito de estilo medieval, para conformar-se
à espiritualidade que reivindica. Nota-se aí uma identificação entre visual e performance
estilística com propósito de vida, em que o hábito faz o monge.
2 Os votos são os compromissos (promessas) assumidos, pelos religiosos católicos, de
pobreza, castidade e obediência, tendo, habitualmente, duas etapas: compromissos temporários,
renováveis a cada ano ou período superior de tempo; e votos (compromissos) definitivos, não
renováveis.
3 O hábito é a vestimenta talar (eclesiástica) usada pelos padres de vida regular, ou seja,
que congregam comunitariamente em determinada organização eclesiástica católica, como as
citadas no texto, convivendo em conventos ou residências. As congregações ou ordens que
abrigam o clero regular se diferenciam do clero secular por, por exemplo, seus membros
assumirem as promessas (votos) religiosas (castidade, pobreza e obediência) e por se
referenciarem em constituição interna própria, conforme o carisma e objetivos da congregação
religiosa a que pertencem. As Comunidades de Vida, por sua vez, surgidas a partir de década de
70 do século 20, têm características semelhantes às das congregações religiosas, porém sendo, em
sua maioria, associações de leigos (não clérigos) e prescindindo de vestes eclesiásticas.
Não há uma reflexão sobre a possibilidade de ser contemplativo sem ter que,
necessariamente, recorrer ao baú de vestuários da Igreja.
REPONDO A VERDADE: Em português de Portugal há uma diferença total
entre voltar às origens e inspirar-se nas origens. Para não nos afastarmos do que
somos, até mesmo como Igreja, teremos de conhecer as nossas origens e ir aí
buscar orientações fundamentais. Sociologicamente e filosoficamente sabemos que
uma coisa é a revolução: rejeição de tudo o que é do passado, para construir tudo
de novo, e outra coisa é a evolução: esta faz-se na continuidade, sem rupturas,
aproveitando do passado o que é válido e buscando a novidade conveniente. É disso
que se trata, mesmo no Concílio Vaticano II: repensar a Igreja hoje, a partir do
primeiro Pentecostes, buscando um novo Pentecostes que a rejuvenesça. Daí
arranca a teologia dos carismas. Ela está em S. Paulo. Sim, volta-se lá para buscar
o que está esquecido ou a base segura para que a Igreja seja fiel ao plano de Deus e
não ao dos homens. As Novas Comunidades, sobretudo as que se inserem na
dinâmica carismática, surgidas após o Concílio Vaticano II, vão às origens, não
para voltar para lá, pois isso a Historia não permite, mas para aproveitarem do
passado aquilo que hoje ainda é bom.
Aqui se insere a questão do hábito, ou seja, da escolha de um uniforme para
os irmãos(ãs) em estado de especial consagração. Há, de facto, uma inspiração no
hábito monástico, no qual se inserem algumas novidades. E tudo isto não apresenta
qualquer novidade, nem para europeus, nem para brasileiros. Portanto, tanto na
Europa como no Brasil há diversas “Novas Comunidades” que optam pelo uso
deste tipo de uniforme, ou sinal, como queiramos chamar-lhe.
Há a recordar o que já está dito para evitar confusões implícitas nesta
afirmação de RP: “Não há uma reflexão sobre a possibilidade de ser contemplativo
sem ter que, necessariamente, recorrer ao baú de vestuários da Igreja.” É pena o uso
do termo “Baú da Igreja”, porque a tradição da Igreja nada tem a ver com um
“baú”, pelo menos na conotação do termo “baú” em português de Portugal. E a
verdade é que a reflexão em questão existiu, estando provada pelo facto de todos os
membros, com ou sem hábito, internos e de Aliança, para o serem, assumem a
espiritualidade e carismas da comunidade. E se ela é contemplativa… todos são
chamados a sê-lo!
ESCREVE RP:
A questão que coloco, portanto, não é a do hábito em si, usá-lo ou não. Mas de identificar
uma missão com um simbolismo têxtil de eras passadas. Ou seja, de ancorar o simbólico no
passado, idealizando-o e o refazendo-o aos modernos. A opção por um estilo estético
contracultural pode ser visto como uma ruptura de contraste, de divergência, tanto em relação à
sociedade como quanto à Igreja, ou a certos modelos eclesiais. Assim, nesta opção há uma
ruptura “implicando crítica ao mundo exterior (...) a assumir uma nova identidade, divergindo
das demais pessoas pelo uso de vestimentas próprias” (GUERRIERO, 2006, p. 29). Afinal, “a
pessoa constrói-se na e pela comunicação” (MAFFESOLI, 1999, p. 310), Faz parte, assim, de
sensibilidades (pós) modernas o “vibrar por meio de imagens, gozar, nem que seja de maneira
relativa, do mundo tal como ele é: eis as grandes características de uma ética da estética”
(MAFFESOLI, 1995, p.146). “Não só a arte, o esporte, a política, se dão como espetáculo, mas
também a religião” (CARVALHO, 1999, p. 149). E, sem dúvida, o vibrar comunicacional da
imagem traz à tona o tema da militia Christi. “A estética da imagem corresponde à sua função
dinâmica, a de fazer experimentar juntos emoções e, com isso, fortalecer o corpo social que é
seu portador” (MAFFESOLI, 1999, p. 346). Comprazer-se com a aparência, ter nela uma
finalidade, um ato, fazer dela uma ontologia, leva a um paradigma estético (MAFFESOLI,
1999, p. 156).
É verdade, como diz Hercília, que o hábito “choca” este mundo. Entende-se que seja talvez uma
boa estratégia “chocar” visualmente para chamar a atenção a Jesus, ao Evangelho, à Igreja. Mas
a questão é esta: com o que se choca, a que remete este choque? Não, por exemplo, a um Jesus e
Igreja de uma Teologia Liberal ou de uma Teologia da Libertação. O efeito visual deste choque
tem endereço, e lembranças, certas: uma Igreja medieval, um dossel sagrado, uma sociedade
cristã, a cristandade medieval. O meio é a mensagem. Se tal máxima é certa, a moda medieval,
rediviva, dá sua mensagem inequívoca: bons eram os tempos de outrora, a ele voltemos. À
nossa maneira também nova, mas voltemos. Como observa Costa (2006) em sua análise de
novos grupos eclesiais, certos grupos religiosos desenvolvem a criação e a vivência de uma
heterotopia. Mas, no caso da CCB, nem tão heterotopia, mas homotopia, ou seja, o esforço por
fazer que aquele mundo construído ou reconstruído seja o único mundo possível e vivenciado
pelos seus adeptos, ao menos os internos.
REPONDO A VERDADE: Em nome da verdade, vamos reflectir um pouco:
1 - É difícil de entender a questão do hábito ou de outra realidade qualquer,
quando temos preconceitos:
2 - A Filosofia do Conhecimento adverte-nos que todo o conhecimento é uma
construção em que entram as experiências passadas.
3 - Neste caso concreto do estabelecimento da relação sujeito – investigador –
e hábito – objecto do conhecimento, como noutras relações de conhecimento,
facilmente se pode fazer projecções que orientam a análise em determinada
direcção, retirando-lhe o potencial de objectividade que deseajaríamos.
Com o que foi dito já, acerca da opção por um hábito - por razões de sinal e
de estratégia de evangelização – oferece-se a RP referências objectivamente
captáveis, não deixando margem a suposições elaboradas subjectivamente, mera
construção mental ou facilmente buscadas em autores que por sua vez já as
construíram sob as influências das suas experiências pessoais. Portanto o uso do
hábito, como escreve RP, não é para ”identificar uma missão com um simbolismo
têxtil de eras passadas” Não é para ancorar o simbólico no passado, idealizando-o e o
refazendo-o aos modernos. Não é opção por um estilo estético contracultural pode ser
visto como uma ruptura de contraste, de divergência, tanto em relação à sociedade
como quanto à Igreja, ou a certos modelos eclesiais. Nesta opção não há uma ruptura
“implicando crítica ao mundo exterior (...) a assumir uma nova identidade, divergindo
das demais pessoas pelo uso
4- Quanto à referência do choque provocado pelo hábito, também são
desnecessárias tantas especulações, sem que se caia em repetições e até em perigos
de contradições: o hábito é para quem o usa, na Comunidade Cristo de Betânea,
uma ferramenta de evangelização e, numa cultura em que tudo e particularmente
o extravagante está na moda, até nem põe problemas a uma sociologia estética.
ESCREVE RP:
Ainda há de se destacar a importância do prenome “frei” neste contexto. Certa vez,
quando despedi-me, em Telhado, de um noviço, o chamei de irmão, e ele prontamente corrigiume: “frei”. Não foi um ato furtuito. Embora também nas novas congregações surgidas a partir
da Renascença não se usasse mais a nomenclatura “frei”, mas irmão, os membros da CCB
preferem se distinguir pela alcunha medieval, diminuitivo aportuguesado do latim fratrum, ou
frater, em italiano abreviado para “fra”. Ou seja, faz-se questão de construir e demonstrar uma
identidade decididamente ligada à imagem do monge medievo, de uma Igreja e vida religiosa
utopizada no passado de suas insígneas, símbolos e linguagens. Afinal, a linguagem constrói em
muito a auto-identidade, seja verbal ou simbólica (ORLANDI, 1987; 1996).
REPONDO A VERDADE: Esclarecendo a questão do uso do designativo de
“Frei” para os irmãos: não é, como escreve RP, de “construir e demonstrar uma
identidade decididamente ligada à imagem do monge medievo, de uma Igreja e vida
religiosa utopizada no passado de suas insígneas, símbolos linguagens. Afinal, a
linguagem constrói em muito a auto-identidade, seja verbal ou simbólica (ORLANDI,
1987; 1996), como afirma o autor, evocando Orlandi. Como consequência lógica de
tudo o que está esclarecido anteriormente, usar a designação de “irmão” ou “frei”
é uma questão de opção estratégica por algo que choca. E fica aqui provada a sua
operância, pelo questionamento que colocou ao autor de artigo. Afinal, o uso do
hábito, do designativo de frei, em vez de afastar as pessoas, aproxima-as, nem que
seja para um primeiro questionamento. A partir daí vem o pretendido diálogo,
mesmo que seja pela vontade de contestar ou pela curiosidade de saber mais. É isso
mesmo que se pretende na dinâmica da “Nova Evangelização”.
ESCREVE RP:
5. A libertação: entre a narrativa carismática e a “científica”
Aqui é preciso parar para algumas observações. A primeira é o caráter cientificizante
que se dá à questão dos problemas “psíquico-espirituais” na CCB. A junção psicologiaespiritualidade aponta para um diálogo que se quer com o mundo moderno na compreensão, e
superação, de mazelas como depressão e angústia, por exemplo.
REPONDO A VERDADE: E é bem verdade. As pessoas que aparecem na
Comunidade com problemas precisam de ajuda de carácter psico-espiritual. Mas
esta comunidade deseja que todos tenham acesso a respostas que merecem e
necessitam. E se há possibilidade de as proporcionar por pessoas credenciadas
cientificamente para o fazer, por que não fazê-lo? Por que ficar no amadorismo
empirista?
ESCREVE RP:
É, também, uma forma da CCB se empoderar de um status mais científico.
REPONDO A VERDADE: Essa é apenas uma suspeição, como tantas outras
ao longo deste trabalho de RP, de pendor negativo e repetitivo. A Comunidade
Cristo de Betânea apenas quer dar o seu melhor a quem sofre. É uma questão de
respeito pelas pessoas, de compaixão fraterna, de verdade naquilo que se faz. Para
isso, a Comunidade procura luz na ciência, na tentativa de perceber o que se passa
em cada situação concreta aparece. A Comunidade não anda à procura de status.
Sendo a Comunidade formada por pessoas concretas, seriam então essas que
pretenderiam status. Mas não, o que se compreenderá com mais facilidade numa
comunidade do chamado primeiro mundo. Quem entra numa Nova Comunidade
vem para perder o status social, económico e pessoal que possa ter, pois entrega-se a
Deus para a missão, na qual tudo partilha com os irmãos. E muitos dos membros
desta comunidade tinham efectivamente um bom status social e económico. Mas,
por amor a Deus e aos irmãos, foram-no perdendo, partilhando os seus bens para
viverem com pouco, à semelhança do Mestre! Por isso, quem pensa em vir
procurar um status que não seja o de tudo partilhar fraternalmente para a missão
conjunta de anunciar Jesus Cristo, na Comunidade Cristo de Betânea ou noutra
“Nova Comunidade” europeia, defrontar-se-á com uma grande decepção, que o
fará regressar em breve tampo à sua terra. Como se depreende, passa-se ao
contrário do que é suposto na tese de RP.
ESCREVE RP:
Nesta hibridização, os problemas e soluções são abordados dentro de uma perspectiva
holística, numa explicação do que é o ser humano, do sentido da vida, da origem dos males e de
sua libertação. A perspectiva cognitiva na elaboração das questões e encaminhamento para
soluções aproxima-se dos grupos religiosos que percebem doença e cura como dependentes do
conhecimento, ou melhor, do auto-conhecimento, avizinhando-se, assim, a grupos da Nova Era
e ao conceito de auto-ajuda (AMARAL, 2000; TAVARES, 2003).
REPONDO A VERDADE: Esclarecendo a questão: talvez a conotação do
conceito de “hibridização” não tenha a mesma conotação no português falado no
Brasil e em Portugal. Aqui significa “mistura”. Ora, não se trata de qualquer
mistura, nem de qualquer novidade quando se procura uma abordagem
multidisciplinar e interdisciplinar da pessoa humana para a acolher e tentar
ajudar na busca de solução para os seus sofrimentos. Trata-se de ser consciente da
complexidade da pessoa humana em qualquer área da sua personalidade e da
inter-relação existente entre essas diversas áreas. Não é para isso que existem as
diversas ciências e as especializações? Não termos essa preocupação é que seria de
estranhar, numa era científica. O que haverá de semelhante aqui, no recurso a
pessoal científica e tecnicamente preparado para ajudar as pessoas, com as
terapias pelo auto-conhecimento ou poder da mente ou outras terapias da “Nova
Era”? Associar esta Comunidade à “Nova Era” significa ou não conhecer a “Nova
Era” ou não conhecer nem perceber nada desta Comunidade.
ESCREVE RP:
A perspectiva da revisão de vida nos lança a uma comparação com métodos da
psicanálise, aliás, já batizada carismaticamente, particularmente com o Pe. Marcelo Rossi, em
seus programas radiofónicos em que, como terapeuta, sugere uma verdadeira anamnese até o
ventre da mãe para a libertação de males e obtenção da paz. E a cura ladeada pela adoração ao
santíssimo sacramento, louvor, oração, remetem direto ao próprio coração da RCC.
Enfim, há um amálgama cristão que usa de metodologia e linguagem da psicologia e
psicanálise, sob a estrita transmutação cristã, para legitimar um propósito de evangelização e
cura numa sociedade que, pós-tradicional ou pós-moderna, assente à bricologem das linguagens
e suas inauditas criações (MAGALHÃES; PORTELLA, 2008). Neste caso é interessante a autodefinição da CCB num dos artigos de sua revista, onde é dito que a CCB procura anunciar
Cristo “no contexto da cultura pós-racionalista” (Jesus Vive, nº 108, p. 13). Ela mesmo se
mostrando, digamos assim, pós-racionalista ou pós-moderna, procura realizar sua missão.
ESCREVE RP:
A perspectiva da revisão de vida nos lança a uma comparação com métodos da
psicanálise, aliás, já batizada carismaticamente, particularmente com o Pe. Marcelo Rossi, em
seus programas radiofónicos em que, como terapeuta, sugere uma verdadeira anamnese até o
ventre da mãe para a libertação de males e obtenção da paz. E a cura ladeada pela adoração ao
santíssimo sacramento, louvor, oração, remetem direto ao próprio coração da RCC.
Enfim, há um amálgama cristão que usa de metodologia e linguagem da psicologia e
psicanálise, sob a estrita transmutação cristã, para legitimar um propósito de evangelização e
cura numa sociedade que, pós-tradicional ou pós-moderna, assente à bricologem das linguagens
e suas inauditas criações (MAGALHÃES; PORTELLA, 2008). Neste caso é interessante a autodefinição da CCB num dos artigos de sua revista, onde é dito que a CCB procura anunciar
Cristo “no contexto da cultura pós-racionalista” (Jesus Vive, nº 108, p. 13). Ela mesmo se
mostrando, digamos assim, pós-racionalista ou pós-moderna, procura realizar sua missão.
REPONDO A VERDADE: Na perspectiva da ajuda que a Comunidade
Cristo de Betânea pretende dar a quem sofre e a procura não está uma revisão de
vida, no sentido simplista do termo. È evidente que há muitas “escolas de cura” da
“Nova Era” que não usam métodos científicos. E há quem, não sendo diplomado
nas ciências da psicologia, use algumas técnicas que ajudam a pessoa a fazer uma
cura da memória pela recordação de causas de feridas do seu passado mais ou
menos remoto. Será esta uma ajuda possível, enquanto não houver possibilidade de
ajudar as pessoas com métodos e técnicas científicas. Mas a Comunidade Cristo de
Betânea, como foi dito, opta por se socorrer da ciência para melhor ajudar as
pessoas.
Enfim, para repor a verdade, no que toca à Comunidade Cristo de Betânea,
temos de dizer que, sinceramente, não se vê onde haja, como escreve RP, esse
“amálgama cristão que usa de metodologia e linguagem da psicologia e psicanálise,
sob a estrita transmutação cristã, para legitimar um propósito de evangelização e
cura numa sociedade que, pós-tradicional ou pós-moderna, assente à bricologem das
linguagens e suas inauditas criações (MAGALHÃES; PORTELLA, 2008)”. É tudo
muito claro e simples, se não quisermos complicar. A Comunidade Cristo de
Betânea usa o acolhimento fraterno, a escuta das pessoas que sofrem, a oração,
porque a fé nos diz que Cristo é o mesmo de ontem, de hoje e de sempre. E se Ele
veio para curar doentes, Ele está hoje para curar doentes. Usamos a ciência,
particularmente a psicologia, sempre que possível - ela também dom de Deus ao
homem. A Comunidade usa técnicas de “Terapia Familiar”, praticadas por
psicólogos e terapeutas, para ajudar as pessoas.
Quanto a classificar a Comunidade de “pós-racionalista” e “pós-moderna”,
filosoficamente os dois termos referem-se à mesma realidade. O que quer dizer é
que, sendo a cultura moderna caracterizada pelo racionalismo materialista –
egoísta, esvaziou o ser humano da sua essência de pessoa, transformando-o em
mero indivíduo “individualista”, com a sua sensibilidade psicológica destabilizada
e tolerante, centrada sobre a realização emocional de si próprio, ávida de
juventude, de desportos, de ritmo… (Gilles Lipovetsky, A era do vazio, pg.13):
vazio de subjectividade, vazio de Deus, vazio da comunhão com os outros
homens… Ora, é esse vazio de valores humano-cristãos que caracteriza a pósmodernidade. É que esse vazio provoca desequilíbrios e doenças de diversa
etiologia, como as doenças psico-espirituas, muitas vezes somatizadas. Ora, a
Comunidade Cristo de Betânea nem é racionalista nem pós-racionalista. É uma
“Comunidade Nova”, contemplativa e missionária, constituída por cristãos,
pessoas preenchidas por Deus e estruturadas na relação de comunhão com Deus e
com os outros, dentro e fora de si mesma, que em Igreja procura responder aos
vazios e doenças das pessoas vítimas da cultura racionalista.
ESCREVE RP:
Por isso a CCB procura anunciar Cristo “no contexto da cultura pós -racionalista”
(Jesus Vive, nº 108, p. 13)
REPONDO A VERDADE: Gralha: A Revista da Comunidade chama-se
“Jesus Vivo” e não “Jesus Vive”
ESCREVE RP:
6. O Espírito Santo não é um burocrata, mas também não é um anarquista Hercília, assim
como os irmãos, fogem de números. Não têm certeza ao certo de quantas pessoas consagradas
ou em vias de consagração integram a CCB. Mais uma demonstração do não calculismo
racionalizante, numa atitude anti-moderna, em que se experimenta o ES como a gratuidade de
Deus, sem cadernos de contabilidade.
REPONDO A VERDADE: A verdade é mais objectiva e mais agradável do
que as suposições. Foi já dito que há vários graus e formas de pertença à
Comunidade, em diversas casas, fraternidades e centros de oração, em Portugal e
no estrangeiro. E alguns membros poderão vir a consagrar-se ou não. Esta é uma
Comunidade livre, ninguém obriga ninguém. Por isso, não se poderá dizer ao
certo, e prontamente, sem qualquer possibilidade de consulta, quantas pessoas há
consagradas e em “vias de consagração”. O tempo o dirá. A Comunidade Cristo de
Betânea tem, isso sim, cadernos de contabilidade, tanto na área da administração
dos bens materiais como em relação aos registos dos candidatos e membros. Mas
não exige que os números se saibam de cor.
ESCREVE RP:
Este é o discurso oficial. Tal recusa ao cálculo racionalizante pode ser interpretado como
reação à ditadura da racionalidade, do instrumentalismo e cálculo na sociedade moderna,
visando uma revalorização do místico, do imponderável (SANTOS, 1993, p. 17). Também é
possível que, por ser um movimento pequeno ainda, prefira-se calar e olvidar números mais
exatos.
REPONDO A VERDADE: Não se trata de um discurso “oficial”, é uma
questão de critérios de vida. A Comunidade Cristo de Betânea, não tendo critérios
numéricos em relação aos seus membros, mas sim critérios de qualidade, na qual
aposta para poder servir bem na Igreja o Reino de Deus, não tem medo nem se
envergonha de supostos números baixos. Importa é vocações sólidas, pessoas que
se querem comprometer e dar. A Comunidade não é um refúgio, mas um lugar de
dádiva em serviço. Nem Jesus Cristo se preocupou com o pequeno número dos
membros da Sua Comunidade! Esses poucos foram os que se deram por Ele. A
multidão que O seguia serviu para O trair… Se Ele é o Mestre, nós devemos
apenas segui-Lo!
ESCREVE RP:
Depois de muito insistir de várias formas, foi Hercília que, “puxando pela memória”, deu
“mais ou menos” os números, meio a contra-gosto: professos definitivos seriam uns 12,
conforme Hercília, e ainda 6 noviços e cerca de 30 postulantes. Ainda haveriam outros tantos
em tempo de experiência e conhecimento. Homens e mulheres por igual percentualmente,
segundo Hercília.
REPONDO A VERDADE: Dizer que é a contra-gosto que Hercília puxa pela
memória para falar de números é, entre outros, um suposto pessoal de RP,
entendido na lógica deste trabalho, mas não na lógica da verdade dos factos, o que
fica atrás provado, com os critérios que orientam a Comunidade Cristo de
Betânea, e que não andarão longe dos critérios de qualquer “Nova Comunidade.”
ESCREVE RP:
O nível sócio-econômico parece ser o de classe média baixa ou mesmo pobre entre os
membros, no último caso principalmente entre os que vivem em comunidade de vida com votos.
REPONDO A VERDADE: Apenas houve um contacto muito restrito, em
tempo e em número de pessoas, do autor do artigo com membros da Comunidade
Cristo de Betânea, tanto em Vila Nova de Famalicão como na região do centro do
país. Por isso, o tomar o todo pela parte é perigo falacioso. Em nome da verdade, e
alertando para o que já atrás foi dito a propósito do status, temos de afirmar que,
no seu todo, sociológica, cultural e economicamente a Comunidade Cristo de
Betânea integra e é aberta a todas as pessoas, maiores de 18 anos, que revelem
capacidade para a consecução dos seus objectivos estatutários. Integra pessoas
ricas e de estatuto social elevado, bem como pessoas da classe média alta e baixa.
Pessoas ricas, e menos ricas. O que importa é que todos vivam como irmãos,
partilhando do que tem, para que nada falte à comunidade dos irmãos (Cf Act 42,
5 e sgs), e que ainda sobre para anunciar Jesus Cristo aos que O não têm, e aos que
querem um encontro mais próximo com Ele.
ESCREVE RP:
Não há um estudo formativo específico durante o tempo de preparação. Conforme
Hercília “os carismas é que vão mandar”. Quem decide sobre possíveis cursos aos adeptos é o
Conselho Geral, pois ao entrar na comunidade os membros “entregaram suas vontades à missão
do Grupo”.
REPONDO A VERDADE: O conceito de “estudo formativo” pode ser
diferente no português de Portugal e do Brasil. A todas as pessoas em formação
numa comunidade é proporcionado estudo formativo durante toda a sua vida. Mas
cremos que aqui RP usa o conceito de formativo no sentido restrito, de adquirir um
diploma em qualquer escola oficial, pois a seguir fala de cursos. Perceber de
Comunidades católicas, sobretudo no tocante à vida consagrada na Igreja Católica,
parece que se torna difícil a quem observa de fora, e talvez ainda mais difícil se
esse alguém tem algum cargo em qualquer outra Igreja, como é o caso de RP. Essa
dificuldade é admissível. Mas, damos uma achega: Alguém que opta por um estado
de vida de especial consagração, fá-lo por amor do Reino de Deus, no seguimento
de Jesus Cristo (Mt 8, 18-22). Na sua entrega, está a sua pessoa toda. A entrega
livre da sua vontade deve ser a atitude de todo o cristão que reza o Pai-nosso:
“…seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu…” e que “vive com
o pão-nosso (da comunidade) de cada dia… (Mt 6, 9-15; Lc 11, 2-4). Por isso, não
entrega a sua vontade à missão do grupo (essa entrega poderá acontecer noutros
grupos sociológicos de natureza religiosa ou política, por exemplo). Pelo contrário,
reforça conscientemente a entrega da sua vontade feita a Deus pelo baptismo, na
Igreja a que pertence, para o serviço do anúncio e estabelecimento do Reino de
Deus, vocação da própria Igreja. Significa isto uma conquista de liberdade que vai
ser usada para a ajuda fraterna, em trabalho, em exclusividade, no anúncio de
Jesus Cristo e na promoção humana, onde isso for necessário. E esta entrega
pessoal será feita através de uma instituição com cujos carismas e espiritualidade a
pessoa mais se identifica. Aí, receberá formação e preparação humana assim
direccionada e de acordo com os carismas pessoais. É simples!
ESCREVE RP:
Antes eu havia perguntado para Hercília se, por exemplo, uma pessoa que quisesse estudar
medicina poderia fazê-lo. Ela disse que não, pois a comunidade tem um carisma específico,
sendo necessário estar sob ele e não se desviar dele, e que portanto os membros também
entregam desejos deste tipo, despojando-se deles, para seguir o carisma específico da adoração,
evangelização, ausculta das pessoas e aconselhamento, louvor.
REPONDO A VERDADE: Certamente que a pergunta a Hercília havia sido
colocada no contexto da conversa anterior, pois o autor refere “antes”. Daí veio o
não, aqui referido. Mas vamos esclarecer o que está confuso: se alguém entra na
comunidade para tirar o seu Curso de medicina ou outro, a Comunidade continua
a dizer não. Porquê? Porque é uma questão de objectivos: uma comunidade não
existe para fornecer cursos às pessoas. Quando alguém decide entrar para uma
Comunidade, para uma vida missionária, casado ou noutro estado de vida, optou
por uma vida fraterna numa nova família - uma família espiritual. Fez a opção
consciente e livre de se dedicar exclusivamente à missão, com a qual se identificou.
Se a pessoa vem com o exclusivo objectivo de tirar um curso de medicina ou outro,
significa que o seu objectivo não é o da comunidade: dedicar-se exclusivamente à
missão. Então, se deseja tirar um curso de medicina ou outro, deverá primeiro
tirar o curso pretendido; depois, procurará a Comunidade para colocar os seus
talentos ao serviço de Deus na missão que Ele lhe destinar. Por isso mesmo a
Comunidade aconselha os candidatos a membros a que, antes da sua entrada na
Comunidade, realizem todos os seus sonhos académicos e profissionais; só depois
devem pensar numa entrega ao serviço de Deus nesta comunidade.
Na verdade, ninguém deve ir para esta ou outra Comunidade enganado, ou
pretendendo uma oportunidade de promoção humana ou de busca de Status. Quem
vem para esta comunidade procura apenas Deus, pondo os dons e estudos a render.
Claro está que, se para a missão específica da Comunidade for necessário que
algum membro tire algum curso adaptado, e se esse membro for capaz de o fazer,
estaremos perante outra situação. Mas não se trata de, depois de pertencer à
Comunidade, algum membro dizer: “Não, eu não vou em missão para esta ou
aquela zona, pois agora apetece-me tirar um curso de… aeronáutica!” (Quando
sabemos que não está nos horizontes desta Comunidade possuir qualquer avião ou
avioneta!). Certamente não será com a leitura de Eving Goffman, designadamente
a sua obra “Manicómios, prisões e conventos”, que o autor encontrará resposta
adequada à sua questão. É de livre vontade e com entusiasmo de vida que alguém
vai para um convento ou para uma “Comunidade de Vida” ou de “Aliança”, e com
um ideal: viver a fraternidade cristão e servir o anúncio do Evangelho. As pessoas
são livres nas suas opções.
ESCREVE RP:
Goffman (1987, p. 42), quanto a este ponto, ao analisar instituições totais, chama a
atenção para o fato de que nelas se fomenta e induz à perda da autonomia e de uma identidade
forjada em autonomia. Para Goffman (1987, p. 48), entre os religiosos pode existir um “desejo
voluntário de perder a decisão pessoal”. Esta decisão pessoal é trocada, ou doada, com a/ao
líder. Contudo, quando Hercília falou da Casa de Fátima, em que acontecem os Seminários de
Cura e Libertação, ressentiu-se de não haver na CCB pessoas internas ao Grupo mais preparadas
para o atendimento, como psicólogos e médicos.
Há, evidente, uma contradição no discurso. Não seria o incentivo ou, ao menos, a
concessão para preparação dos membros para tais funções uma ajuda ao carisma do Grupo?
REPONDO A VERDADE: Tentemos esclarecer alguma confusão de temas
que se encontra neste parágrafo:
1 - A autonomia pessoal mantém -se nesta, como em qualquer comunidade,
atenta à sua natureza e aos seus objectivos, visto que cada um aí é responsável não
apenas por si, mas por toda a comunidade, assumida comprometidamente. A
autonomia é baseada nessa responsabilidade. E quem é membro da Comunidade
Cristo de Betânea percebe isto: todos têm de assumir a comunidade e velar por ela.
Todos devem estar atentos e colaborar para a consecução dos seus objectivos
comunitários em cada dia e em cada trabalho assumido.
2 – Refere RP aqui: entre os religiosos… Parece que se está a colocar de novo
a Comunidade Cristo de Betânea entre as Comunidades Religiosas, provocando
confusões.
3 – Afirma RP: “Esta decisão pessoal é trocada com a do líder”. O líder,
chamado de Moderador nas Novas Comunidades, é o garante da comunhão
fraterna, responsável por velar pelos objectivos, carismas e espiritualidade.
Não se trata, pois, de troca de decisão pessoal entre qualquer membro e o
líder, mas de ajuda fraterna, proporcionada pelo responsável por essa tarefa, em
ordem à consecução dos objectivos que os unem.
ESCREVE RP:
4- O facto de não haver pessoas mais pessoas internas (há um psicólogo e um médico)
para maior apoio aos seminários que se realizam em Fátima não encerra qualquer contradição,
dados os princípios adoptados nesta comunidade e as pessoas que a integram. Simplesmente se
espera a oportunidade de que Deus Chame mais médicos e mais psicólogos, pois a própria
Hercília é psicóloga.
- A questão, no entanto, parece ser outra, a mesma de grupos ligados a um líder
específico: o do controle carismático. O profeta é quem dá a palavra final (ainda que em
conjunto com o Conselho, de caráter, ao que parece, mais informativo à líder).
REPONDO A VERDADE: Não conhecemos a Igreja Luterana, e por isso não
podemos afirmar que se projecta aqui alguma experiência pessoal. Talvez RP
empregue o termo “carismático”no sentido comum do termo e não no sentido
bíblico, em que a Igreja Católica fala de “renovamento carismático” (mas que até
não emprega o termo “líder carismático”). Esse termo, em Portugal, é muito
empregue para designar bons políticos. Porém, sabe-se que qualquer comunidade,
empresa, país, tem que ter um líder. Nesta Comunidade, usando o conceito em
sentido Paulino, há diversos carismas e mais que um profeta. Quanto ao Conselho
da Comunidade Cristo de Betânea, ele funciona como qualquer outro órgão desta
natureza: o termo “Conselho” significa uma estrutura de apoio a qualquer tipo de
governação, mesmo política, que funciona junto ao respectivo coordenador (poderá
chamar-lhe líder, se quiser) - e que ele convoca para a decisão de assuntos cuja
natureza está designada nos estatutos da respectiva instituição. E assim sendo,
dessa consulta sairão decisões colegiais, tomadas em conselho. É assim, que as
coisas funcionam na Comunidade Cristo de Betânea.
ESCREVE RP:
Há uma desconfiança de toda atividade acadêmica não religiosa, secular. O temor do
espaço acadêmico, como suscitador de dúvidas e questionamentos (MIRANDA, 1999, p. 49), é
uma constante em novos movimentos carismáticos.
REPONDO A VERDADE: Sinceramente incompreensível esta conclusão
tirada sobre um país europeu! Nesta comunidade o grau mínimo de instrução é o
12º ano. De entre todos, há uns com licenciatura e pós-graduações, outros com
mestrados e doutoramentos, outros em vias de obtenção de graus académicos
superiores. Os diplomas estão disponíveis para confirmação, e foi pena RP não ter
questionado objectivamente sobre este tema, pois logo se evitavam arriscadas
conjecturas. Aplicando esta afirmação de Miranda, mais uma vez o autor usa uma
visão redutora da comunidade: duplamente redutora! Redu-la a membros internos
existentes na casa que visitou, redu-la a uma base muito restrita de pessoas
entrevistadas, tentando encaixá-la em simples teorias, como se em ciência os factos
tivessem de se submeter a regras, ou”teorias”, em vez de serem estas a surgirem
dos factos verificados!
Efectivamente, a Comunidade tem diversos académicos membros internos e
de Aliança nesta Comunidade. Gente que defendeu teses em universidades, em
diversos graus académicos e que trabalhou e trabalha em serviços académicos e
noutros.
Tão grande quantidade de afirmações fortuitas, marcadamente subjectivas
ou projectivas, mesmo que não queiramos promovem em nós a desconfiança na
probidade científica deste trabalho.
Também se torna muito arriscado para uma conclusão científica fazer
convergir na unidade do mesmo conceito os termos movimentos e comunidades,
para afirmar que a tal desconfiança é uma “constante em novos movimentos
carismáticos. Que movimentos carismáticos estarão aqui em referência para RP,
não entendemos. É que, o Cardeal Suenens, primeiro delegado do Papa Paulo VI
junto da Renovação Carismática, afirma que a Renovação Carismática não é um
movimento - no sentido em que a Igreja católica define os movimentos que surgem
no seu interior - mas a “Igreja em movimento” (L. J. Cardinal Suenens, L’ Esprit
Saint, souffle vital de l’Eglise).
Os trabalhos de académicos de nível intelectual elevado são muito bem
vindos. São esses que fazem o progresso da humanidade. E Deus deu ao homem
inteligência para estudar, para investigar, para dar assim um bom contributo ao
progresso do mundo e da humanidade. Porém, não se pode confundir ciência com
empirismo, embora sendo duas formas de conhecimento. É que a ciência, mesmo a
sociológica, ou outra ciência das ditas “Ciências Humanas”, não se alimenta de
cadeias de hipóteses improvadas, afinal meras suposições que lhe negariam a sua
própria essência. As confirmações das hipóteses não podem ser feitas pela sua
submissão às “leis” pré-estabelecidas, nem apenas com afirmações buscadas em
autores mais ou menos conhecidos. As hipóteses científicas exigem provas que
verificam essas hipóteses e as libertam do subjectivismo da interpretação pessoal,
tornando-as em afirmações com nível científico, ou seja, com o maior nível de
objectividade possível, e por isso comprovado.
ESCREVE RP:
O conhecimento teórico-científico pode ser um meio de confundir ou questionar a
experiência. A desconfiança é particularmente maior em relação àquelas disciplinas mais
científicas e pouco religiosas talvez, como psicologia e medicina.
Sim, o discurso do grupo é, se posso expressar-me assim, pseudo-científico, com sua idéia
central de doenças psíquico-espirituais, juntando linguagens e conceitos, normalmente,
distintos. Há psicólogos e médicos cristãos, simpáticos ao Grupo, que prestam acessoria e
mesmo palestras nos Seminários de Fátima. Mas é preciso controlar o que nasce dentro do
Grupo e, mais, o que pode trazer para dentro do Grupo alguém a estudar algo fora dos limites
de controlo do Grupo, em ambientes diferentes e mesmo contrapostos.
REPONDO A VERDADE: Na Europa do Séc. XXI será difícil aceitar esta
conclusão, de cariz um tanto medieval. Quanto à Comunidade Cristo de Betânea, o
que atrás foi exposto bastará como prova contrária a este argumentado do
articulista.
Quanto à afirmação de um discurso pseudo-científico do grupo
(comunidade?), cremos que outra vez mais é tomada a parte pelo todo, caindo
assim em erro! Numa comunidade em que os estudos vão desde o 12º ano a
doutorados, mestres e licenciados em diversas áreas do saber, com que base pode
RP afirmar que o discurso do referido “grupo” é pseudo-científico e incapaz de
confrontar ideias que possam vir de fora? A prova está aqui à vista!
ESCREVE RP:
7. Universidade do Espírito Santo: o diploma assinado por Deus basta
A CCB, portanto, manifesta semelhante suspeita sobre estudos acadêmicos de seus
membros, embora que não os proíba. Mas só em casos especiais os permite abertamente.
Há, portanto, uma suspeita de que conhecimento acadêmico não controlado
eclesiasticamente possa ser nocivo, ao membro e ao grupo, desviando da missão precípua.
REPONDO A VERDADE: Na verdade, perante afirmações destas em relação
a qualquer situação na Europa, diríamos nós: que atraso de Vida! Na verdade, esta
redundância está respondida anteriormente. Venham todos os académicos que
queiram pôr os seus cursos ao serviço de Deus nesta comunidade! E se alguém
quiser ajudar a custear despesas académicas será bem-vindo, para que todos os
membros que necessitem de tirar determinado curso para melhor servir o Reino de
Deus nesta comunidade o possam fazer!
ESCREVE RP:
Mas é realmente paradoxal o caso da CCB, pois há uma reclamação de sua fundadora de
que poderia haver pessoas mais velhas, de melhor formação no Grupo. E a própria Hercília
enverga títulos universitários.
REPONDO A VERDADE: Teremos de manifestar o nosso espanto pela
transformação do que é lógico em paradoxo, ou seja, de um pseudo-paradoxo em
paradoxo! A questão está na lógica de que se parte e com que se trabalham factos
recolhidos.
ESCREVE RP:
A questão, portanto, não é tanto uma rejeição tácita a qualquer formação acadêmica
formal, mas um temor do que, principalmente entre jovens iniciantes, uma formação não
controlada sob a égide eclesial poderia suscitar.
REPONDO A VERDADE: Mais uma vez se faz sentir a necessidade de RP ser
“alfabetizado” no que concerne às Comunidades da Igreja Católica e muito
particularmente às “Novas Comunidades” e ainda mais particularmente às
Comunidades e “Novas Comunidades” Europeias. Poderia assim RP ter melhores
estruturas cognitivas que lhe permitissem conclusões mais objectivas acerca da
Comunidade Cristo de Betânea. Mas cremos que fica claro que quem se
compromete nesta Comunidade é para servir a Missão da Comunidade e que,
antes da sua entrada, deverá fazer os cursos que quer para que tenha mais
capacidade de servir bem. Será claro que as verbas a dispender com estudos nem
sempre são suportáveis e que terá de haver o mesmo critério para todos, em nome
da caridade e da justiça. Então, o critério definido é objectivo e já foi referido
atrás: sempre que a missão o exija, e haja pessoas com carisma necessário e
dinheiro para custear estudos, um membro irá preparar-se sempre melhor, para a
Missão.
ESCREVE RP:
Porém, é franqueado aos membros da CCB estudarem Teologia. Ora, Teologia sob às
vistas clericais e o báculo episcopal, não há de fazer tanto mal.
REPONDO A VERDADE: Ao ler esta afirmação, quem estudou História
Medieval sente-se aí transportado, até pela linguagem usada! Claro que os
membros vocacionados para o sacerdócio deverão estudar Teologia! É obrigatório,
para ser padre! Outros membros, homens ou mulheres, a podem cursar (e é pena
que não sejam todos!). Mas, não se trata de estudarem sob “vistas clericais” para
serem protegidos (embora se por isso fosse não houvesse mal, neste tempo de uma
cultura tão desorientada de Deus!), até porque as Faculdades de Teologia em
Portugal têm muitos professores não clérigos: leigos e leigas. E devemos dizer que
é com muito gosto que em qualquer lugar em que a Comunidade está implantada
esta se sente muito bem sob o báculo episcopal, pois é no báculo do Bispo de cada
Diocese que a Comunidade aí implantada se apoia! É uma opção livre, ser católico
ou não, ser membro ou não de uma comunidade da Igreja católica! Na Igreja
católica é assim: a Igreja tem estrutura diocesana. E quem está com o Bispo está
com a Igreja. Está aceite, integrado, ao serviço, em união, recebendo força da
presença e das palavras do Bispo, da confiança que ele deposita em tarefas por ele
conferidas ou aceites quando emergem da iniciativa da comunidade, dentro dos
seus carismas. Aqui, como em tudo, o diálogo e o interesse faz-se, mas a rebeldia
não interessa.
ESCREVE RP:
E a CCB pretende ter sacerdotes.
REPONDO A VERDADE: A Comunidade pretende sacerdotes para a Igreja,
e ora todos os dias por muitas vocações. Mas a questão coloca-se de outra maneira:
de entre os seus membros, a Comunidade alegra-se com a realização vocacional de
algum membro que seja chamado ao sacerdócio.
ESCREVE RP:
Já há um membro formado em Teologia, mas que ainda não ordenou-se, dado que o
Instituto é de Direito Diocesano e, portanto, o sacerdote da CCB teria que estar à disposição da
Diocese, para uma paróquia qualquer. Contudo, a CCB quer ter sacerdotes sob seu comando,
para suas missões específicas e, isto, somente pode concretizar-se após o Instituto adquirir novo
status eclesial, ou seja, de Direito Pontifício.
REPONDO A VERDADE: Há aqui alguma confusão ou ignorância nos
procedimentos, no que toca à ordenação de um sacerdote de uma “Nova
Comunidade”. Se esse membro ainda não foi ordenado é simplesmente porque
ainda não chegou a hora! Para clarificar, na base do Direito Canónico da Igreja
Católica a Comunidade Cristo de Betânea não é um Instituto mas, como todas as
“Novas Comunidades” - e já foi atrás clarificado, é uma “Associação Privada de
Fiéis”, de Direito Diocesano. Os sacerdotes das Novas Comunidades, para já são
ordenados por um bispo, dito internamente amigo da comunidade, que pode ser o
da Diocese, da Casa-Mãe ou outro. E são ordenados prioritariamente para o
serviço da Comunidade. Mas, poderão fazer serviço numa paróquia ou noutro
local, desde que a missão lhes permita a realização da sua vocação comunitária.
A maneira de dizer do autor do artigo, RP, os termos que usa reflectem uma
carga cultural de outrora, o que pode aparentar um tonus depreciativo prejudicial
a uma análise objectiva actual e pontual. A Comunidade Cristo de Betânea não
quer ter ninguém sob o seu comando. A Comunidade Cristo de Betânea, como
outra qualquer comunidade da Igreja Católica, é uma realidade socio-religiosa
constituída por pessoas maiores de 18 anos, capazes de realizar os seus objectivos
estatutários já definidos (Direito canónico, câns 1031 e 1051.) Há ainda mais
alguma confusão: não é necessário nem é projecto actual da Comunidade Cristo de
Betânea ser de “Direito Pontifício,” nem isso é necessário para a ordenação de
sacerdotes nas “Novas Comunidades”.
Além disso, um sacerdote, na Igreja católica, e por isso nesta Comunidade,
não é apenas alguém que concluiu o curso de Teologia. Exige-se, obviamente, o
explícito no Direito Canónico, nos cânones referidos atrás. Se ainda não há alguma
ordenação sacerdotal na Comunidade Cristo de Betânea é simplesmente porque
ainda não chegou a hora de Deus para que tal aconteça, o que não é nenhum
problema para quem vive da esperança!
ESCREVE RP:
Há, ainda, uma irmã e dois freis a estudarem Teologia na Universidade Católica de Braga.
REPONDO A VERDADE:
Há uma irmã que estudou Teologia e neste momento são já quatro Freis a
estudar Teologia.
ESCREVE RP:
No campo litúrgico, destaca-se, na CCB, a adoração ao santíssimo sacramento. Tal
adoração é mote contínuo e eficaz de quase todos os movimentos de cunho carismático e de
forte tendência católica, que identificam a hóstia consagrada, o Cristo real presente, como fator
distintivo entre católicos e não católicos, como meio de afirmação inequívoca de catolicidade e
como devoção máxima da Igreja. Para Sanchis (1986, p. 6) o conceito nuclear a unificar e
identificar o catolicismo está no sacramento. Para que haja força religiosa ela precisa
experimentar a objetivação, fixando-se em um objeto sagrado ou que se torna sagrado
(SANCHIS, 2003, p. 43-44), que, no caso da Igreja Católica é a eucaristia, em seu ápice de
objetivação sagrada. Assim a CCB, com sua centralidade eucarística, quer se distinguir como
um movimento inequivocamente e centralmente católico.
A CCB tem, como meio midiático, senão uma Editora enquanto tal, ao menos um selo
Editorial, e edita, através dele, suas publicações. Publicam-se livros de sua líder, folhetos,
revistas, camisetas, lembranças, CDs. O diálogo com a modernidade se dá de forma especial
através dos meios de comunicação para visibilizar sua mensagem.
Dialogoando ou sendo crítico à modernidade, fato é que o relacionamento dos novos
movimentos religiosos, mesmo os fundamentalistas ou integristas com a modernidade se dá via
modernidade, ou através de meios modernos com a modernidade (COSTA, 2006, p. 32).
REPONDO A VERDADE: Rectificando: A Comunidade Cristo de Betânea
edita livros de outros autores, e não apenas da sua moderadora.
ESCREVE RP:
Quanto à questão da sustentação financeira, a CCB depende, para sua sustentação, de
doações externas. Para isso edita revista, livros, folhetos, CDs para venda, tem sócios
simpatizantes em Portugal e no exterior, que contribuem livremente para as atividades do
Grupo, como apadrinhamento de missão no Brasil e em África ou Timor, bolsas de estudo para
estudantes de Teologia, sócio amigo, assinatura de revista, etc. Interessante é observar que
quanto à gestão econômica faz-se referência constante à Providência Divina, através da
contribuição das pessoas, para a manutenção do Grupo. Mas é realmente estranho – excetuandose de fato a intervenção dos céus – que a Comunidade se mantenha só com ofertas, vendas de
livros e sócios beneficentes. Cito o exemplo da revista Jesus Vive, publicada desde 1991. É uma
revista bimestral, com ótimo acabamento gráfico, com muitas fotos em cores e com 34 páginas.
Penso que somente a sustentação de uma revista bimestral deste porte, com tiragem de 3.500
exemplares por edição, já é bastante para esvaziar cofres dependentes tão-somente de
assinaturas e doações diversificadas para outras atividades.
A CCB também tem um selo editorial, Edições Cristo de Betânea, onde publica livros de
Ir. Hercília – a maioria - e alguns outros autores pontuais. Ora, os livros, edição e impressão,
também são custeados pela CCB. E nenhum é best-seller para justificar os gastos, geralmente
altos, editoriais. De que cofres chegam o dinheiro para o pão de cada dia, para a luz, para
impostos, gasolina… e para as publicações. Onde quero chegar? É difícil contentar-se com a
explicação de que só de contribuições vive a obra. É possível que outras fontes de renda haja,
mas omitidas e bem guardadas.
REPONDO A VERDADE: É francamente desinteressante que um trabalho
que se pretende científico integre ou se alimente de insinuações. Em ciência as
coisas são ou não são. E nada é publicado de carácter científico sem que tenha
bases objectivas. Uma coisa é uma “estória” em que se pode dar largas à fantasia
criativa, sem que com ela se atinja a honra de pessoas ou instituições, outra coisa é
jornalismo de “franco-atirador”. Mas, ciência é ciência! E um artigo para uma
revista de “História das Religiões” é coisa muito séria, para que se possa aí
escrever com ligeireza!
Para além das fontes financeiras acima referidas e para que não haja
margem a insinuações sempre desagradáveis, é bom lembrar que todos os
membros internos colocam todos os dinheiros de suas profissões ou reformas para
a mesma conta bancária! E os membros de Aliança fazem as suas partilhas tendo
como meta o dízimo. E todos nós vivemos do trabalho que realizamos no interior e
no exterior da Comunidade. E que, mesmo assim, a Comunidade conta com a
Providência Divina para a obra que realiza, pois a obra não é sua mas de Deus. A
Comunidade é mero instrumento de Deus, mera ferramenta concreta, através da
qual Deus constrói o Seu Reino. É Deus o Senhor da Comunidade! Nas
Comunidades Católicas é assim! Mesmo no Brasil, ou em qualquer parte do
mundo, muitas Comunidades vivem da providência Divina! Uma delas será a
Comunidade Canção Nova, uma grandiosa obra de evangelização!
Os membros da Comunidade Cristo de Betânea trabalham muito, são
europeus! E, depois Deus recompensa através da generosidade das pessoas que os
conhecem na Comunidade. Talvez isto soe a estranho a RP. Contudo, sendo RP
Pastor Luterano, certamente que tem obrigação de entender esta dimensão da vida
da fé cristã.
Também convém lembrar que a Comunidade Cristo de Betânea, como outras
comunidades portuguesas, em razão da Concordata com a Santa Sé, em Portugal
não paga certos impostos e outros são reduzidos (o que não acontece no Brasil).
ESCREVE RP:
8. Sal da terra e luz do mundo através da modernidade: não tão longe do secular
As atividades regulares da CCB podem ser enumeradas da seguinte forma: 1) reunião de
“louvor, cura e libertação e adoração do santíssimo sacramento”, na Casa Mãe em Telhado,
Famalicão, no terceiro sábado de cada mês, de 9h30 às 13h00; 2) barraca de artigos religiosos
na feira de Famalicão, às quartas, entre 9h00 e 15h00, onde os membros também se dispõe a
orientar e aconselhar as pessoas; 3) Adoração do santíssimo sacramento na Capela Santo
Antônio, em Famalicão, às quartas, entre 16h00 e 18h00; 4) Adoração ao santíssimo sacramento
na Capela da Lapa, em Braga, de 17h00 às 19h30, às quintas; 5) Plantão de irmãos na pequena
livraria em Braga, que praticamente só vende livros e folhetos editados pela CCB; 6)
Seminários de “louvor, cura e libertação”, celebrados na Casa em Fátima (cujo nome oficial é
Casa Paulo VI).
Neste caso, como já relatado acima, em Fátima são seminários de dois ou três dias, já que
a Casa dispõe de hospedagem.
Geralmente um padre é convidado a proferir palestra,
REPONDO A VERDADE: Recordamos que em Telhado, Diocese de Braga,
apenas existe a Casa-Mãe e a Casa de Formação de membros internos da
Comunidade Cristo de Betânea. Uma coisa é a casa da Comunidade Cristo de
Betânea em Fátima, outra é o Centro Pastoral Paulo VI do Santuário de Fátima.
Os Seminários referidos não se fazem no Centro Paulo VI, como o autor diz, mas
fazem-se na Casa “Cristo de Betânea”, da Comunidade Cristo de Betânea.
Normalmente, se há algum sacerdote para celebrar a Eucaristia, este não
profere as palestras específicas desses Seminários. Há, sim, sacerdotes que, eles
mesmos sentem a necessidade de participar nesses seminários, como qualquer
outra pessoa. Aí, sim, no momento próprio, celebram a Eucaristia para todo o
grupo em seminário.
Há padres a fazerem ensinamentos, a que talvez o autor do artigo chame
“palestra”, noutras das muitas actividades da Comunidade.
ESCREVE RP:
e Hercília e uma psicóloga ligada à CCB administram nestes encontros um curso sobre as
origens do mal psíquico-espiritual e a libertação dos mesmos. O conteúdo destes cursos pode ser
encontrado, de certa forma, nos livros de Hercília. No final destes retiros seguem-se orações de
cura interior e, não raro, fenômenos de pessoas a cair e a "manifestar o mal" até então
reprimido, mas presente; 7) “Festival Cristão de Verão”, uma vez ao ano, durante, 3 dias em
Fátima, sempre no mês de agosto, verão europeu. Danças, bandas e teatros ou bibliodramas são
apresentados.
Palestras, adoração e libertação são ministradas. É preciso que se frise que nenhuma
destas atividades é cobrada.
REPONDO A VERDADE: Há novas confusões: Não há cursos na
Comunidade Cristo de Betânea sobre o “mal”. Nos seminários de Sentido da Vida
aborda-se o problema do sofrimento. Durante os seminários fala-se de diversas
causas do sofrimento humano. Ora-se antes, durante e após cada ensinamento.
Ora-se pela manhã e à noite. Ora-se com e pelas pessoas, se o desejarem, sentadas
cada qual na sua cadeira. Como podem então cair no chão? Diz RP: “Fenômenos
de pessoas a cair e a "manifestar o mal" até então reprimido, mas presente.” Não se
percebe bem a que mal se quer referir. Todo o sofrimento é um mal, dado que o
homem não nasceu para sofrer, embora desse mal se possa retirar muito de bem.
Sim, na Comunidade aparecem pessoas muito sofredoras, cujo sofrimento é
ignorado por muitos, até pelos seus familiares. Aparecem pessoas que percorreram
seitas e adivinhos e outros lugares de oferta de cura, por ignorância e aflição.
Manifestam o seu sofrimento, sem dúvida! E, por isso é que podemos acrescentar
que o sofrimento de muita gente que procura a Comunidade resulta de opções mal
feitas e é agravado pelas buscas de libertação e cura fora do lugar certo.
Se em alguns encontros houver pessoas que caem, a Comunidade não sabe
muitas vezes a razão, mas o que sabe é que após esse tempo de repouso essas
pessoas sentem-se muito mais libertas. É então que os irmãos de serviço ajudam
essas pessoas a sentarem-se.
Quanto a inscrições nas actividades, RP erra dizendo que nenhuma destas
actividades é cobrada. Efectivamente, para a maior parte das actividades há uma
inscrição paga. Isto tanto em Portugal como fora de Portugal.
ESCREVE RP:
Quando há pernoites e refeições, somente estas são cobradas, a preços relativamente em
conta.
Quanto ao Festival Cristão de Verão, está, é claro, na esteira dos mega-eventos, sobretudo
para jovens, que os vários movimentos ligados à RCC promovem. Numa substituição, num
sucedâneo em relação aos eventos de arte e música seculares, principalmente os dirigidos a
jovens, a CCB também oferece o seu evento particular, durante 3 dias de agosto, em que se
organiza um “prenúncio do céu na terra” (Frei António), com muita alegria, bandas, ministração
de louvor e teatros bíblicos, além das palestras de evangelização, adoração e missa. Carranza
(2006, p. 75) caracteriza tais eventos mega-reliosos como “espetacularização” e
“personificação” da fé e religião. Tais eventos, com bandas, danças e teatros mostram a
capacidade de novos movimentos religiosos sacralizarem o profano (BENEDETTI, 2006, p.
132).
Nada, portanto, diferente dos movimentos congêneres da RCC. Há, neste ínterim, uma
certa padronização, em que elementos se repetem, mudando apenas o lugar em que são feitos e a
Comunidade que os promove. Para os mesmos são, também na CCB, chamados pessoas de
maior eminência no circuito carismático.
REPONDO A VERDADE: Não, António não é Frei. É simplesmente um
irmão cristão, “António”ou “Irmão António”, como irmão membro que é, sem
consagração especial.
Uma coisa é a opinião de Carranza. Outra coisa é a verdade dos factos.
Também com os Festivais de Verão a Comunidade Cristo de Betânea não pretende
espectacularização, pois se assim fosse fugiria ao seu próprio objectivo. Os
Festivais de Verão que a Comunidade promove nem sequer são só para jovens.
Dado o seu objectivo, são lugares e instrumentos de convívio, de diálogo de
gerações, de contacto mais próximo com a natureza, espaço aberto a todos, crentes
ou não, para um são convívio e valorização humana. Para aprofundamentos
temáticos não são sistematicamente escolhidas pessoas dos meios “carismáticos”
para palestras, mas sim pessoas cristãs, especialistas nas matérias que
aprofundam. E, se bem que estes Festivais tenham algo de comum com muitos
outros festivais cristãos, sobretudo a nível estrutural, se bem se observar têm
sempre algo de diferente como consequência dos carismas e espiritualidade
próprios da Comunidade Cristo de Betânea.
ESCREVE RP:
De qualquer forma não se deve deixar de destacar que na CCB música e liturgia têm de
ser festivas, “para proporcionar encontro real com Deus” (Frei Wilson). Observando a adoração
do santíssimo sacramento na CCB e os Sábados de Louvor, Cura e Libertação, percebe-se um
esforço, às vezes hercúleo, para ativar alegria nas pessoas presentes ao evento. Não posso
afirmar ao certo, mas talvez por uma questão cultural, os portugueses, mesmo alguns
carismáticos, são menos compulsivos na espontaneidade e em demonstrar emoções em público,
sendo mais contidos se comparados, por exemplo, com os brasileiros.
Não quero cair na armadilha de estereótipos de personalidades e identidades culturais, tão
plurais num mesmo país. Mas chamar a atenção para o fato de que nem sempre a assembléia,
em tais eventos, respondia aos efusivos sorrisos, gestos e ar de extrema alegria dos irmãos que a
estava a dirigir em tais atos litúrgicos. Porém, destaca-se que a CCB dá muito valor à alegria
manifesta nos eventos religiosos.
A música é importante à Comunidade. Na CCB a maior parte das músicas é nativa do
próprio Grupo, pois há uma musicista ligada à CCB, Marta Pereira, que compõe para a
Comunidade. As músicas da Comunidade são prescritas em estilo próprio, com tonalidade
oriental, ou seja, do Oriente Médio, buscando um ritmo que resgate a musicalidade dos tempos
de Jesus. Há, portanto, um padrão apontado como ideal para a música de louvor e litúrgica. Na
CCB é imposto – embora não de forma exclusivista – um padrão musical como sendo o de
identidade da Comunidade. Isto porque uma outra característica da CCB é a questão judaica e
ecumênica, que veremos adiante.
9. Ecumenismo, Judaísmo e Diálogo Interreligioso
A CCB tem como uma de suas metas voltar ao espírito da comunidade cristã primitiva,
pois lá, na comunidade cristã primitiva, ainda marcada por traços judaicos, estaria a base da fé
cristã atual. E o que mais importa a tais novos movimentos, senão voltar às origens, fontes,
bases, verdades verdadeiras, onde quer que se encontrem, na Idade Média ou no cristianismo
primitivo? A memória, no catolicismo, está vinculada a um passado que é aceito como um todo
imutável e “fora do tempo”, que pode ser assumido em qualquer momento histórico, delineando
uma auto-definição ao grupo do tipo “descendência de fé” (HERVIEU-LÉGER, 2005, p. 87).
REPONDO A VERDADE: Diz acima RP: “O que mais importa a tais novos
movimentos, senão voltar às origens, fontes, bases, verdades verdadeiras, onde quer
que se encontrem, na Idade Média ou no cristianismo primitivo?”
Recordando o que atrás foi dito: não se trata de voltar atrás para lá ficar,
mas para recordar as origens e encontrar aí as referências para o presente, libertas
dos enxertos culturais supérfluos, sofridos através dos tempos. Importa a memória
do passado, veículo do arquétipo e de referência para hoje, para que a Igreja seja a
de Jesus Cristo e não uma Igreja feita pelos homens a seu “bel prazer”, em cada
época ou circunstância. Esse passado não está “fora do tempo”, mas é intemporal,
já que ligado a Jesus Cristo…
ESCREVE RP:
Enfim, isto significa visualizar uma comunidade em que judaísmo e cristianismo ainda se
fundiam de certa forma. Assim que, nesta mimesis, a CCB quer celebrar no “espírito judaicocristão” (Frei António).
Portanto, a oração dos sábados nas casas e as celebrações incluem as Dezoito Bênçãos
Judaicas, cristianizadas e adaptadas por Hercília Pinto em um livro, como veremos adiante.
Fala-se, inclusive, em shabat para estas celebrações. Portanto, as músicas procuram imitar
o ritmo judaico e as letras, por vezes, fazem referências a personagens do Antigo Testamento.
Também aqui há uma idealização que não vai muito além da música e do “shabat” nos sábados,
pois que não há maior estudo ou mesmo vivências de práticas judaicas, ainda que transmutadas
em cristãs.
A CCB também se mostra aberta ao ecumenismo entre cristãos e ao Diálogo
Interreligioso. Segundo Hercília, importa “reconhecer que todo homem é irmão, independente
de credo”.
Aqui faço um excurso para visibilizar uma iniciativa concreta da CCB referente à sua
vocação de recuperar as raízes judaicas do cristianismo. Hercília Pinto, fundadora da
Comunidade, editou um livro, usado em tais celebrações (e em outras) chamado “Dezoito
Bênçãos: uma versão cristianizada em união com os nossos irmãos judeus” (Ed. Cristo de
Betânea, 2005). Trata-se de um livro ao mesmo tempo informativo e litúrgico. Na primeira parte
Hercília tece considerações sobre o povo judeu, o holocausto na 2º Guerra Mundial, as relações
entre judeus e cristãos, afirmando que os cristãos, em Cristo, são todos semitas, e ainda tecendo
as relações entre o Vaticano e os judeus e sobre a oração no judaísmo.
Enfim, faz considerações sobre as estreitas relações entre judaísmo e cristianismo. Na
segunda parte do livro, reproduz as tradicionais 18 bênçãos (petições) judaicas, com algumas
modificações cristianizadas, particularmente nas últimas bênçãos-petições, que são
explicitamente cristãs. As bênçãos, em ordem, são: ao Deus dos patriarcas; ao Deus todopoderoso; pedindo santificação; pedindo conhecimento; pedindo arrependimento; pedindo
perdão; ao Deus libertador; pedindo cura; pedindo boas colheitas; pedindo o regresso dos
exilados; pedindo a restauração dos conselheiros; pedindo proteção contra os heréticos; pedindo
misericórdia; pedindo a reconstrução do templo; dando graças ao salvador (Jesus); pedindo que
Deus escute a oração; que acolha o povo que presta culto; e uma ação de graças final pela paz.
As orações consistem em partes que um liturgo dirige à assembléia e outras partes (escritas em
negrito) que a assembléia responde. Umas são mais longas, outras mais curtas.
Cito, para exemplificar, uma parte de uma curta bênção (a 14), numa reinterpretação
cristã da reconstrução do Templo, ou seja, uma benção judaica contextualmente bastante
histórica, que é re-interpretada assim: “Na vossa misericórdia, fazei-nos caminhar para a
Jerusalém celeste, a cidade gloriosa. Conduze-nos para ela onde nos precedem na glória os
apóstolos, os mártires, os confessores, as virgens, e todos os santos e santas, particularmente os
nossos protetores”, ao que a comunidade responde: “bendito sejais, Senhor, na vossa glória
eternamente. Aleluia, aleluia, aleluia.”
Como se percebe, nenhuma menção à questão histórica do Templo, espiritualizando a
questão e introduzindo na oração a nuvem de testemunhas da Igreja, porém, esquecendo-se de
citar as do Antigo Testamento judeu (profetas, reis, patriarcas).
Ainda deve-se presentificar um outro exemplo quanto à abertura religiosa da CCB às
demais religiões, que se dá muito mais pelo ideal do que pela prática. Na revista Jesus Vivo, da
CCB, encontrei, nos números 104 e 106, reportagens informativas, retiradas de enciclopédias e
outras fontes “neutras”, sobre o Xintoísmo e o Xiismo islâmico. O mais surpreendente é que não
havia nenhuma refutação, orientação de diferenciação ou crítica às religiões ali expostas. Com o
rigor científico das fontes donde foram retiradas as informações, apenas apresentava-se, ao nível
de cultura geral ou curiosidade, aquelas religiões. Ora, sendo o objetivo da revista o de
evangelizar, conforme informado, talvez fosse natural algum destaque final sobre possibilidades
de diálogo ou diferenças entre cristianismo e aquelas religiões, Mas o que se fez foi uma
apresentação neutra, objetiva e, aparentemente, sem um porquê ou finalidade específica. Isto
revela, por um lado, algo raro em movimentos eclesiais renovados: um respeito pelas demais
religiões, numa exposição delas, na revista oficial do Grupo, sem pretensões subliminares. Mas
por outro lado revela uma falta de perspectiva, objetivo e método no ecumenismo e diálogo
inter-religioso que a CCB valoriza. Afinal, a militância nestas áreas exige posições e, é claro,
diálogo, o que não se vê numa despretensiosa exposição, quem sabe anúncio grátis, de uma
outra religião numa revista católica de tendência carismática
A própria falta de uma ação prática no terreno ecumênico demonstra que, assim como o
aconselhamento e a proximidade à cultura judaica, a CCB, também no campo ecumênico, vive
mais de ideais e idealizações de si do que da vivência rotineira de suas metas.
REPONDO A VERDADE: Para que se faça um ecumenismo e um diálogo
inter-religioso sadio, a Comunidade Cristo de Betânea não usa a apologética. Nos
dois números referidos a Revista Jesus Vivo tratou esses temas de uma forma
informativa, sem o objectivo de refutar, nem criticar, nem confrontar, mas apenas
de informar acerca dessas religiões. Aí está a perspectiva pretendida. Como acções
que revelam a perspectiva ecuménica da Comunidade Cristo de Betânea estão os
convites e presenças de irmãos de diferentes grupos protestantes em actividades da
Comunidade, e no diálogo que se estabelece com Pastores, em diversos momentos e
circunstâncias. Mas o ecumenismo não é a prioridade da Comunidade Cristo de
Betânea.
ESCREVE RP:
10. CCB, RCC e hierarquia católica: relações em busca de explicação
A CCB não pertence e não tem laços formais com a RCC.
REPONDO A VERDADE: Não se trata de pertença, neste caso. Não é da sua
essência que a renovação carismática seja uma instituição à qual se pertence ou
não. E, por isso, como em si mesma a renovação carismática não é uma instituição
formal, a Comunidade Cristo de Betânea não poderá ter laços formais com a RCC.
Vive uma espiritualidade carismática, colabora com grupos de oração carismática
sempre que essa colaboração lhe é pedida e tem um representante seu na
Conferência Interdiocesana dos Grupos de Oração Carismática de Portugal –
entidade coordenadora nacional dos referidos Grupos de Oração.
ESCREVE RP:
Porém, a maior parte dos membros vêem do RCC e há afinidades eletivas e fenômenos
que são muito próprios à RCC no Grupo. Como entender, então, este contra-discurso que evita
separar a Comunidade da RCC?
REPONDO A VERDADE: Temos de dizer que aqui se trata de um contradiscurso radical. Em Portugal, a Comunidade Cristo de Betânea tem pouquíssimos
membros vindos do renovamento carismático. E os que dele provém são quase
todos da Comunidade de Aliança.
ESCREVE RP:
Hercília tem uma de suas raízes na RCC e participou, enquanto nele atuava, em Grupos
de Oração. Justamente quando participava de um Grupo de Oração foi que recebeu ou acolheu o
chamado por para formar uma Comunidade de Vida aos moldes do cristianismo primitivo,
narrado em Atos dos Apóstolos (At.2). A CCB nasce, portanto, do rio da RCC, ou, no mínimo,
de alguma querela de separação com a RCC.
REPONDO A VERDADE: Lamentamos mais uma insinuação tendenciosa
de RP! Sabemos dos frequentes nascimentos de seitas, nomeadamente no Brasil;
por consequência, sabemos das tais querelas. Por cá, não é assim! Ademais, já foi
escrito atrás um pouco da génese da Comunidade Cristo de Betânea. Estranho que
aqui se refira alguma insinuação sem qualquer fundamento nem necessidade
objectiva.
ESCREVE RP:
Como vimos, há muitos aspectos carismáticos na RCC. Porém, Hercília, e também Frei
António, são enfáticos em dizerem que são movimentos distintos, RCC e CCB, não havendo
qualquer tipo de laço entre ambos.
REPONDO A VERDADE: Primeiro, deve haver aqui uma gralha, pois na
RCC só pode haver aspectos carismáticos. E melhor dito seria que RCC e CCB são
realidades distintas, porque a RCC não é um movimento no sentido próprio, já que
todos os movimentos têm um fundador, o que não acontece na RCC. E a realidade
“Comunidade Cristo de Betânea”, se é uma Comunidade, também não realiza as
características de um movimento. Ora, esta comunidade é carismática no sentido
em que toda a Igreja é carismática: procura que os carismas despertem nos seus
membros e que cada um os exerça, para a edificação da Comunidade e da Igreja, e
para o serviço do Reino de Deus, na Igreja. E, claro, uma realidade é a
Comunidade, outra a RCC! Se fossem a mesma realidade, uma estaria a mais. Sim,
são realidades distintas (voltamos a repetir: RCC apoia-se em grupos de oração
carismática; CCB é uma Comunidade de vida no seio da qual se encontram
pessoas vivendo em consagração especial a Deus. Mas há laços de “parentesco”
espiritual entre ambos).
ESCREVE RP:
Perguntada se a CCB não teria ao menos um laço afetivo com a RCC, Hercília diz que
tal laço é somente dela, mesmo assim no início. E é enfática em dizer que, dos membros da
CCB, não há quase ninguém oriundo da RCC. Quando exponho que nas reuniões do Grupo
também se manifestam fenômenos típicos da RCC, Hercília explica que “a dinâmica é
carismática”, que os dons podem se manifestar, pois o ES está presente. É uma Comunidade de
gente renovada, carismática, mas não da RCC. Hercília, ao que senti, manifesta certa “mágoa”,
enquanto pessoa que esteve no início da RCC, porque afirma que hoje se confunde renovação
com movimento, com instituição (eu diria, revela decepção pela burocratização do carisma).
Renovação é identificado, por ela, com o sopro do Espírito Santo nas pessoas, na Igreja, sem
que se precise, para isto, colocar rótulos. Segundo Hercília, há sempre dificuldade em lidar com
novidades, como a primavera da Igreja prenunciada pelo Concílio Vaticano II e que, segundo
ela se deu por meio dos Grupos de Oração Carismática.
Lamenta-se que, desde então, se tenha que encaixar as novidades em estruturas. Ao que
parece, Hercília, decepcionada com a formalização institucional do movimento carismático, e
talvez e, quem sabe, muito provavelmente, em algum litígio interno no âmbito carismático, já
que a RCC, na sua pluralidade de formas, gera tensões e cisões, decide, ela própria, constituir
um novo grupo, mais radical (pois com vida comunitária) que estaria mais em acordo com o
sopro do ES que não se deve aprisionar. Grupo que, inevitavelmente, também seria e é
institucional e de estruturas.
Notei que quando Hercília falava da questão CCB em suas possíveis conexões com a
RCC, o tom se tornava mais apaixonado, tenso e intenso. Seu esforço por explicar que a
renovação é um sopro do ES, e que não pode ser confundido com sua institucionalização, enfim,
seu, ainda que educado e sútil esforço em, digamos, “desqualificar” a RCC enquanto
identificada em suas estruturas, revelava um certo ranço, talvez de conflitos antigos na
Identidade perdida. Daí ser preciso, ainda que subtilmente, acusar os pares para justificar uma
existência destacada e que se quer mais verossímel. Afinal, “toda identidade que o grupo busca
atribuir a si próprio é construída em oposição a outro” (CALDEIRA, 2004, p. 108).
O fato é que esta negação das raízes acomete os movimentos que, se tornando
independentes da estrutura oficial da RCC, procuram resguardar sua auto-identidade numa auto-
afirmação que necessita de romper, ainda que amistosamente ou ao nível do discurso, o cordão
umbilical que não dá liberdade, como nos grupo carismático gaúcho analisado por Steil (2004).
REPONDO A VERDADE: Mais uma vez nos encontramos perante um
discurso confuso e carregado de subjectividade. A tal mágoa, a existir, traduzirá o
tal perigo de institucionalização daquilo a que o Cardeal Suenens chama apenas
uma “Vinda do Espírito” (já atrás referido), que atravessa a Igreja para a renovar.
O resultado dessa renovada efusão do Espírito na Igreja terá de traduzir-se na
preocupação com a renovação das estruturas e não com a criação de uma nova
estrutura paralela, chamada RCC. Efectivamente, e também já atrás foi dito, é da
essência de todos os Movimentos da Igreja terem um fundador. E essa
essencialidade falta à RCC. Quem foi o fundador desta? Que nome? Todos o
sabem: um Novo Pentecostes, que é uma nova efusão do Espírito Santo! A falta de
compreensão do discurso de Hercília Pinto leva RP para o facilitismo da
interpretação de acusar pares! Quais serão eles? Uma coisa é lamentar um perigo
de desvio, alertado pelo Cardeal Suenens. Outra coisa é acusar alguém. Aqui
apenas se lamenta, ou previne, um perigo, e tudo o resto dito pelo autor do artigo
não passa de interpretação subjectiva, de pendor negativista, se não mesmo
agressiva, que abunda ao longo deste trabalho escrito. É evidente que qualquer
“instituição” é diferente da outra, justamente pelas suas diferenças e não pelas
semelhanças e que elas são a razão de existir, na Igreja ou fora dela. Isto
porque…duas coisas iguais a si mesmas são apenas uma só e a mesma coisa…
Acreditamos que, sendo tão diferente a cultura brasileira da cultura
portuguesa, seja difícil ou até mesmo impossível a inculturação necessária a um
investigador em apenas uns escassos seis meses, para que possa dominar até as
correctas conotações das palavras usadas num discurso, sem qualquer
desvirtuação. Seis meses de estadia em Portugal foi realmente muito pouco tempo!
ESCREVE RP:
É necessário dizer que se ultrapassou uma etapa. A RCC é, em sua estrutura, um
movimento eclesial bastante leigo, ou seja, forjado e fomentado por leigos, e ligado a Grupos de
Oração em paróquias. Esta é a RCC clássica. Quando, porém, um grupo de pessoas oriundas da
RCC dão um passo além, ou seja, formam uma Comunidade de Vida, ou um Grupo
paraeclesiástico, se assim podemos denominar, entende-se que aquele Grupo superou um certo
nível de experiência (paroquial, leigo, tutelado) e que adquiriu um plus que os que ficam parta
atrás nos Grupos de Oração ou congêneres não alcançaram.
É, portanto, uma mudança de status eclesiástico, espiritual, segundo a auto-percepção
dos Grupos novos. É preciso se afirmar, construir identidade, num contraste com o que já não é
mais, com o passado. A construção da identidade dos novos Grupos se faz na referência
negativa às origens. Fomos, mas agora somos outra coisa. E certamente melhor…
REPONDO A VERDADE: A questão do Status anda sempre a querer
perturbar a objectividade de um trabalho que, embora se queira de natureza
sociológica, entra por um campo especial da sociologia: a religião. Na Igreja
Católica cada instituição tem o seu lugar, igualmente importante para o serviço do
Reino de Deus. Seria falta de sentido cristão cada um julgar a sua instituição
melhor que a outra, à semelhança do que acontece com instituições profanas,
seguindo modelos de concorrência próprios desta cultura materialista. Além do
mais, pertencer a uma comunidade é questão de fidelidade a uma vocação e não de
promoção, pelo menos entre nós. Para muitos, essa pertença chega a exigir uma
despromoção, dado o quanto tem de se despojar. Talvez para quem nada ou pouco
tem seja mais fácil ver a pertença a uma comunidade como uma promoção, um
maior status…
ESCREVE RP:
Mas, é claro, não é possível negar o sangue da RCC a correr nas veias destes Grupos.
Daí se forjar uma nova maneira de entender a questão carismática. Desvincular o ES da RCC e
fazer de sua atuação algo mais extenso, menos institucionalmente RCC. É preciso frisar que
fenômenos carismáticos é uma dimensão que não está ligada a um grupo específico que
reinvindica um nome próprio a destacar internamente este fenômeno. Pode ser que Hercília
também houvesse tido algum momento de discordância e tensão com a RCC no passado,
gerando separação tão categórica.
Mas me parece mais plausível explicar este desvinculamento taxativo pelo viés da
necessária auto-afirmação de um Grupo novo a se estruturar, como o adolescente que já não
respeita in totto seus pais e se envergonha deles frente aos colegas na saída do colégio. Não
deixa de ser filho, e não nega a filiação.
Mas quer seus pais ausentes de suas festinhas e rodas de amigos.
REPONDO A VERDADE: Devemos dizer que em Teoria do Conhecimento se
estuda que os quadros do conhecimento do sujeito cognoscente têm muito a ver
com as experiências passadas desse sujeito. Ora, sendo o artigo escrito por quem
tem a experiência de Pastor Luterano, poderá entender-se melhor o teor da leitura
das entrevistas feitas, da interpretação de situações descritas ou directamente
observadas pelo autor. Por esse filtro se poderá entender a insistência do autor do
artigo na leitura frequente de diversas situações em função do conceito de status,
bem como o pendor para ler conflitos onde eles nunca existiram, para fazer
insinuações, projectar desconfianças, forjar divisões e antipatias, tal como RP acaba
de o fazer, entre o surgimento da Comunidade Cristo de Betânea e a RCC.
Ademais, já foi dito e está escrito neste artigo que a Comunidade Cristo de Betânea
deve algo das suas origens ao impacto provocado em Hercília Pinto pelo desafio da
líder do grupo de oração carismática de Braga, e que foi a partir dele que a mesma
Comunidade se foi desenvolvendo. As conclusões a que chega RP são deveras
contraditórias, tanto com os factos como com tudo o que anteriormente foi escrito
pelo mesmo. E, sendo assim, entre conclusões contraditórias, a lógica diz-nos que
uma é verdadeira e a outra é falsa. A falsa é aquela em que RP fala de conflitos que
nunca existiram. Porém, sabe-se que o facto de denegrir uma instituição, causando
suspeita negativa, provoca maior impacto nos leitores. E esse também é um motivo
para venda de mais quantidade de notícias.
Em tudo há uma questão de projecto que vise o estabelecimento de uma
opção, na óptica da leitura dos acontecimentos. Pode-se construir ou destruir com
o que se diz. Procurar fazer ciência credível ou contar “estórias” que roçam o
grotesco, alimentam a imaginação e satisfazem as pessoas que são azedas por
nascença ou possuem traumas adquiridos, pode ser projecto, se bem que de
lastimar. Se se quer fazer ciência, e a sociologia é merecedora disso mesmo, então
só se tem um caminho: ler o mais objectivamente possível os acontecimentos, os
discursos e outras fontes usadas, socorrendo-se o investigador dos meios
adequados - as fontes - e construir os factos sem emitir juízos de valor. É fácil
perceber-se que, objectivamente, há distinção entre qualquer “Comunidade Nova”,
mesmo dita carismática, e grupos de oração carismática e respectivas
coordenações. Mas não há divórcio nem tensões entre a Comunidade Cristo de
Betânea e grupos ou coordenações da RCC, aos diversos níveis; pelo contrário, há
e sempre houve colaboração, sempre que necessário e possível, como também já foi
dito!
ESCREVE RP:
Importante observar que nas revistas da CCB praticamente não existem referências à RCC em
Portugal, a seus eventos, ou à TV Canção Nova. Tendo afinidades, ao menos afetivas, com a
RCC, não seria demais um ou outro anúncio da RCC na revista. Afinal, não seria, também, para
a promoção do Reino de Deus? Porém, há uma ausência, um calar gritado sobre a RCC.
REPONDO A VERDADE: A revista Jesus Vivo procura fornecer material
para informação e formação humano-cristã dos seus leitores, num contexto de
Igreja, através de material retirado do ensino do Papa e dos nossos Bispos, o que
será difícil de entender a quem tem experiência de pequenas igrejas voltadas para
si próprias, e integra ainda artigos temáticos pontuais. Nas poucas páginas que tem
– 32 - tem que inserir tudo o que precisa de comunicar. A RCC tem uma revista
própria, Pneuma. A Diocese de Lisboa tem a sua revista própria, Labat. São
revistas complementares, não há necessidade de se repetirem, a menos que
quiséssemos fazer proselitismo, o que não é costume na Igreja católica nem, por
isso mesmo, na Comunidade Cristo de Betânea. Nem isso deve acontecer. Não
interessa que vivamos na Igreja voltados para nós mesmos, e muito menos que nos
guerreemos. Interessa que vivamos voltados para Cristo e uns para os outros, em
sadia colaboração, para que todos, cada qual com os seus carismas próprios e em
complementaridade de serviços, contribuamos para a construção e não destruição,
como neste artigo RP tenta fazer, mesmo que involuntariamente, do Reino de Deus
na terra em que vivemos. Para mais, é bom saber-se que, além de dois delegados
desta Comunidade na Conferência Interdiocesana (órgão coordenador Nacional do
RCC), há ainda aí um representante da Revista Jesus Vivo. E, sempre que há
notícias de relevo, como Assembleias Nacionais da RCC, elas são noticiadas em
Jesus Vivo. Pena que o autor do artigo em questão tenha consultado tão poucas
fontes e tenha tirado tantas e tão grandes conclusões! Quanto à Comunidade
“Canção Nova”, ela por si se anuncia de forma muito mais poderosa! E também
anuncia eventos da Comunidade Cristo de Betânea, quando lhe enviamos a notícia.
Pena tanta palavra inútil, nesse artigo! Os leitores da “Revista Brasileira de
História das Religiões” e todos os leitores do artigo de RP colocado na Internet têm
direito a uma informação e formação mais saudável, mais fundamentada, mais
construtiva, mais verdadeira! É isso mesmo que nos leva a corrigir erros,
imprecisões e suspeições detectadas nesse artigo de RP!
ESCREVE RP:
Mas, interessante, quando se sai de Portugal, a RCC tem vez. Na revista nº 106 descobri
uma reportagem sobre a RCC em… Timor-Leste. E isto se explica porque um frei da CCB,
Gaspar, recém-chegado a Portugal para sua formação na Comunidade, era adepto da RCC em
Timor-Leste, gerando, assim, a entrevista e as informações.
REPONDO A VERDADE: Gaspar veio a Portugal, mas não era nenhum frei.
Apenas veio a Portugal. Não foi ele que teve a iniciativa do artigo: foi a equipa de
redacção da revista Jesus Vivo que lho pediu, justamente porque achou que
haveria interesse em que se soubesse um pouco da RCC em Timor. Como se vê, o
facto de se pedir o artigo prova o interesse da Comunidade pela RCC, ao
contrário do que RP quer provar. É mais uma contradição. Mas, afinal, o artigo
mais parece sobre a RCC e a revista Jesus Vivo do que sobre a Comunidade… É
que para falar da revista Jesus Vivo RP teria que ler todas as suas edições e afinal
leu poucos números, como diz no início do artigo. E foi pena que não tivesse lido
o número de Julho-Agosto de 2004, todo ele sobre a Comunidade Cristo de
Betânea e sua história, o que seria uma obra fundamental a consultar, na medida
em que RP diz que se propõe fazer a “História” da Comunidade Cristo de
Betânea!
ESCREVE RP:
Também Frei António informava que, nos Festivais de Verão, sempre convidam um
sacerdote com dons do ES. Eu lhe mostrei a lista que eu tinha dos últimos convidados para
pregarem nestes festivais, sendo que nenhum deles era português. Ao que o frei retorquiu ser
difícil encontrar padres portugueses com os dons do ES necessários àquelas ocasiões, sendo
convidados, portanto, padres da Irlanda, Inglaterra, Espanha. Mas será que não há padres da
RCC em Portugal que não tenham os “dons”? Ou será mais uma forma de desvincular a CCB da
RCC em Portugal, evitando toda ingerência ou possível controle, e legitimando o Grupo como
internacional e para além do “caseiro”, com a vinda de padres do exterior?
REPONDO A VERDADE: Sim, “é difícil encontrar padres portugueses com os
dons do ES necessários àquelas ocasiões!” Ou seja, com dinâmica dita carismática,
e experientes nas novas estratégias para a Nova Evangelização e em proximidade
com a espiritualidade da Comunidade Cristo de Betânea. Como se sabe, a Europa
é muito mais racionalista que outros continentes, o que, se por um lado traz
problemas, por outro resolve problemas. Em Portugal há, porém, padres com uma
sensibilidade à onda da RCC. Mas a responsável pelos contactos com os sacerdotes
para os diferentes eventos desta Comunidade, dados os seus contactos
internacionais, convida os que lhe parece que melhor se adaptam à espiritualidade,
carismas e objectivos da Comunidade Cristo de Betânea. E quando alguns
sacerdotes portugueses estão disponíveis nas datas convenientes ao programa da
Comunidade, também são contactados. E são já um grupo significativo, do qual
fazem parte os padres Carlos Macedo, José Cruz, Frei António d’Almeida,
Luciano Mendonça… Mas, como a Igreja é universal, e esta Comunidade está
espalhada pelos diferentes continentes, é com todo o gosto que a Comunidade
recebe sacerdotes de diversos países, inclusive do Brasil. Insistir em colocar a
hipótese de que “será mais uma forma de desvincular a CCB da RCC em Portugal,
evitando toda a ingerência ou possível controle, e legitimando o Grupo como
internacional e para além do “caseiro”, com a vinda de padres do exterior”, revela
apenas falta de conhecimento da realidade da RCC em Portugal e falta de
imaginação positiva para reconstruir factos científicos, ou seja, baseados em factos
reais e, por isso, verdadeiros.
ESCREVE RP:
12. CCB e Igreja Católica: tão dentro como fora?
Aliado à crítica de certos modelos de Igreja está o esforço de Hercília em fazer seu Grupo
simpático aos olhos da hierarquia católica.
REPONDO A VERDADE: Pelo menos teremos de lastimar a infantilidade
deste comentário! A hierarquia católica gosta de ver frutos, não vai em simpatias.
Isso seria primário! E uma afirmação sem provas vale menos de zero, não só pelo
que afirma, mas pelo que pode ensinuar!
ESCREVE RP:
Hercília participa dos congressos internacionais das novas comunidades eclesiais e tenta
ter intimidade com clero e episcopado.
REPONDO A VERDADE: “Hercília”, com outros membros da Comunidade,
participa em Congressos porque, como coordenadora da Comunidade, obviamente
que tem obrigação de participar neles. Aproveita o máximo para reflectir e
escrever. Além do mais, é enriquecedor para a Comunidade a troca de experiências
em que se busca mútuo complemento. Toda a equipa que participa em actividades
no exterior, bem como toda a comunidade, procura ser correcta para com o clero e
o episcopado, como é seu dever. Não se trata de intimismos mas de ocupar o seu
lugar na Igreja. Na Igreja Católica é assim!
ESCREVE RP:
Conforme ela, “sempre tivemos o apoio do arcebispo Dom Eurico, que disse, ‘vamos
caminhar, vamos avançar’”. “No princípio”, confessa, “houve suspeita normal sobre a CCB,
novo, mas a medida que vão conhecendo vão gostando”. Enfim, diz ter “simpatias de muitos
padres, não sei se antipatias de outros.
Dos senhores bispos, maravilhosos, não temos tido problema nenhum”. Mas parece que a
prática não é tão bela como o discurso oficial que, ao contrário de outros grupos que enfatizam
perseguição e incompreensão, como a IURD em Portugal (MAFRA, 2002), Hercília prefere a
via da afirmação positiva para valorizar o Grupo, ainda que haja controvérsias.
A questão é que a CCB é vista com reservas pela hierarquia eclesiástica. Não que não haja
padres e, possivelmente bispos, simpáticos ao Grupo. Mas a opinião que vem da Arquidiocese
de Braga parece não conferir com o otimismo de Hercília. Estive conversando com o Pe. Dário
Pedroso, jesuíta responsável pelos institutos de vida religiosa na Arquidiocese de Braga. O
Padre foi enfático em destacar que o Grupo não usufrui das melhores simpatias episcopais.
Disse que Dom Eurico, ex-arcebispo de Braga, deixava as “coisas correrem”, não se importava
muito, mas já na época sua relação era apenas formal com o Grupo, ainda que aprovando seus
regimentos internos. Contudo, revela que o atual arcebispo “não tolera” o movimento, e o
próprio Padre Dário, como responsável arquidiocesano pelo movimento, também parece
partilhar da mesma opinião de seu superior. Conforme afirma, falta clareza estrutural e de
objetivos e metodologias ao Grupo. Ainda anota que é um Grupo de pessoas sem preparo,
muitos “ignorantes” e quem não tem condições de “aconselhar, mas eles mesmos precisam de
aconselhamento”. Enfim, faltaria “consistência” à CCB. Além do que o padre relata que, apesar
das negativas de Hercília, a CCB é identificada, pela hierarquia eclesiástica como “mais um
grupo da RCC”.
REPONDO A VERDADE: RP consultou um sacerdote na Arquidiocese de
Braga: É um religioso - membro de uma comunidade “histórica”, que data do séc.
XVI. É responsável na Arquidiocese pelas Comunidades “Históricas”. Ora, sabe-se
de antemão que as “Novas Comunidades” aparecem como uma espécie de “perigo”
para as Comunidades “Históricas”, já com tão poucas vocações. E como são Novas,
por isso mesmo sem peso da história, não se afiguram com qualquer tipo de
importância. São coisa a desprezar, ou pelo menos a menosprezar. A Comunidade
Cristo de Betânea sente por vezes esse “desprezo”, essa ignorância, essa menosvalia a que é votada por algumas Comunidades “Históricas”, o que até se
compreende. Há sempre desconfiança do que é novo: a novidade pode encerrar
algum perigo! Por isso, as afirmações colhidas do discurso do Padre Dário,
atribuídas ao Senhor Arcebispo D. Jorge Ortiga, não batendo certo com as
referências que Hercília Pinto forneceu a RP, deveriam ter sido esclarecidas por
um bom investigador. No caso de RP ter querido averiguar a verdade (o que não
fez), e não apenas citar entrevistas, teria questionado essa discrepância e socorrer-
se de meios de contra-prova. Se tivesse procurado a Comunidade, teria sido
aconselhado a ler a já citada revista Jesus Vivo, edição de Julho/Agosto de 2004,
enviada, como todas as outras edições, ao Senhor Arcebispo D. Jorge Ortiga, bem
como a todos os outros Bispos portugueses (talvez o Padre Dário desconheça esse
facto), contendo o essencial sobre a Comunidade Cristo de Betânea. A Comunidade
teria dado a conhecer a RP a presença do Senhor Arcebispo D. Jorge e do Senhor
D. Eurico Nogueira, Arcebispo Emérito de Braga, na Festa da celebração do 10º
aniversário dos Estatutos da Comunidade. D. Jorge Ortiga presidiu à Eucaristia
na Basílica do Sameiro. RP saberia também da correspondência entre D. Jorge
Ortiga e a moderadora da Comunidade, dos seus conselhos, do seu apoio,
promessas de oração e união com a Comunidade e seus trabalhos apostólicos e, do
que já atrás foi dito, da presença do Senhor D. Jorge em acompanhamento e
discernimento da ida da Comunidade em missão para o Brasil e do envio
missionário feito pelo Arcebispo de Braga à primeira equipa que aí abriu a casa. Se
tivesse sabido de tudo isto certamente que teria feito um melhor trabalho, baseado
em factos e não em opiniões subjectivas de alguém que desconhece directamente a
Comunidade Cristo de Betânea. Por tudo isto, a Comunidade não tem razões para
admitir qualquer desconfiança e muito menos “intolerância” de que fala RP,
baseado apenas nas palavras de Padre Dário (se é que RP as bem entendeu da boca
deste sacerdote, por quem a Comunidade tem consideração).
RP ainda anota que a Comunidade é um “Grupo de pessoas sem preparo,
muitos “ignorantes” e que não tem condições de “aconselhar, mas eles mesmos
precisam de aconselhamento”. Afirmações graves, que não correspondem à
verdade! Só as pode proferir quem não conhece a Comunidade ou a pretende
denegrir ou menosprezar. Já foi dito que não faltam na Comunidade pessoas
inteligentes, com caminhada espiritual, cultas e com diversos graus académicos. O
querer designar uma “Comunidade Nova” de “Grupo” é já por si eloquente:
significa desconhecimento, confusão de termos ou certo menosprezo. E ainda mais,
para repor a verdade: o referido sacerdote, Padre Dário Pedroso, não é
responsável arquidiocesano pelo movimento (não sabemos se o autor se refere à
RCC se à Comunidade Cristo de Betânea, pois usa indiferentemente os termos
“grupo”, “comunidade” e “movimento”). Mas o Padre Dário nem é responsável
pela RCC na Diocese de Braga, nem pela Comunidade Cristo de Betânea! As
Novas Comunidades não se relacionam assim com a hierarquia. Quem é delegado
espiritual junto da Comunidade Cristo de Betânea é Monsenhor Joaquim Morais,
Reitor da Basílica do Sameiro, que RP não consultou. Pena que tenha batido a
porta errada e que apenas se tenha contentado com aquela opinião! Como poderá
alguém ter afirmado a falta clareza estrutural e de objetivos e metodologias ao
Grupo, sem nunca ter feito nenhuma visita, sem nunca ter tido nenhuma
participação em qualquer evento desta Comunidade, sem nunca ter dialogado com
qualquer dos responsáveis? As afirmações têm de ser documentadas e libertas de
toda a subjectividade, para serem credíveis! A Comunidade tem, isso sim, recebido
visitas oportunas de diversos Bispos em suas funções específicas, designadamente
quando responsáveis pela vigararia de Vila Nova de Famalicão, em cuja área a
Comunidade está situada, como é o caso de Bispos auxiliares e que foram
auxiliares da Arquidiocese de Braga, como D. Jacinto Botelho, actual Bispo da
Diocese de Lamego, D. António Santos, actual Bispo da diocese de Aveiro, D.
Antonino Dias, actual Bispo da diocese de Portalegre-Castelo Branco. E ainda a
visita do próprio Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, bem como de D. António
Carrilho, Responsável pelo Secretariado Nacional do Apostolado dos Leigos e da
Família na Conferência Episcopal Portuguesa. Na Diocese de Leiria-Fátima, onde
esta Comunidade tem uma casa de retiros, a Comunidade foi visitada e
acompanhada nos diversos encontros pelo então Bispo da Diocese, D. Serafim
Ferreira e Silva. Na Diocese de Setúbal, onde há uma fraternidade da
Comunidade, há um “Centro de Oração e Acolhimento” benzido pelo Bispo da
Diocese, D. Gilberto Canavarro. Este Centro é visitado por este Bispo que dá a
honra da sua presença em actividades e celebrações comemorativas. E como se
pode concluir uma verdade credível com base num inquérito feito apenas a uma
pessoa, mesmo que esta revelasse as melhores condições objectivas para a
realidade a estudar? Pobre ciência a sociologia, tão desrespeitada em métodos de
pesquisa que lhe garantam o nível científico a que tem direito!
Todos estes factos provam a falta de probidade em muitas afirmações feitas
neste artigo por RP. Gratuita é também a afirmação feita acerca de D. Eurico
Nogueira: ex-arcebispo de Braga, deixava as “coisas correrem”, não se importava
muito, mas já na época sua relação era apenas formal.
Para clarificar a verdade: D. Eurico não é ex-Arcebispo, mas Arcebispo Emérito
de Braga. É tudo bem diferente! D. Eurico Nogueira é pessoa inteligente, culta e
experiente, e já nessa altura conhecia bem as “Novas Comunidades”,
nomeadamente a então designada “Comunidade do Leão de Juda e do Cordeiro
Imolado”, comunidade francesa. Aliás, D. Eurico, na altura, manifestou-se
interessado numa “Nova Comunidade” na sua diocese. Acompanhou o início,
motivou com suas palavras de pastor-pai, acautelou, orientou. E tentou fazer
algumas experiências pastorais novas com a Comunidade Cristo de Betânea…Por
isso, tal relação não é meramente formal, mas bem existencial e bem em Igreja!
ESCREVE RP:
É bastante importante este contraste entre os discursos. A questão da antipatia hierárquica
parece estar no fato de certo independentismo do Grupo e em seu estilo carismático, pouco
afeito na Arquidiocese de Braga. Primeiro, há de se notar o fato de leigos, sem formação maior,
instituírem-se como aconselhadores para libertar pessoas doentes psíquico-espiritualmente.
Tradicionalmente, o aconselhamento espiritual ou de confessionário é reservado ao clero, ou a
pessoas especificamente preparadas e ligadas ao clero. Esta autonomia da CCB em congregar
pessoas e fazê-las, não pelo estudo formal necessariamente, mas pelo carisma e força do ES
aconselhadoras, dá-lhes um poder que, de certa forma, foge ao controle e autoridade
supervisional clerical. Não deixa de ser uma concorrência, interpretada, ainda, como de má
qualidade e até degeneradora da imagem correta da Igreja. E é isto que também está em jogo: a
imagem da Igreja, o jogo de definições e controle desta imagem e de seus símbolos. A CCB é
uma iniciativa leiga que pouco deve às estruturas formais da Igreja. Vem de uma leiga
consagrada que migra da RCC para uma forma de movimento carismático de Comunidade de
Vida e Aliança. É, para efeitos de análise mais sociológica, como uma Igreja paralela e pouco
controlada, ainda que, claro, dentro e obediente à mater et magistra.
REPONDO A VERDADE: Avaliar a Igreja em termos de mercado capitalista
da livre concorrência é coisa estranha a católicos, embora muito vulgar nas seitas e
grupos sectários. Já está esclarecido tudo o que se pode esclarecer para repor a
verdade nas afirmações conjecturadas e improvisadas supra-referidas. Certamente
que os membros da Comunidade Cristo de Betânea, ao tomarem conhecimento
deste artigo de RP, ficaram admirados como alguém que não os conhece e os possa
apelidar de “incompetentes, quase analfabetos, incapazes de terem opinião, de
aconselharem, e até dos mais pobres da sociedade”. E também ficarão
surpreendidos de tanto desconhecimento revelado acerca do lugar que as “Novas
Comunidades” ocupam hoje na Igreja, inclusive o desconhecimento de que a
Comunidade Cristo de Betânea foi aceite já há dois anos na “Fraternidade
Católica das Novas Comunidades”, que congrega Comunidades de “Vida” e de
“Aliança”, com condições para isso, avaliadas pelo delegado da referida
Fraternidade para a Europa do Sul, Padre François-Xavier Wallays, que visitou
em 2005 a Comunidade Cristo de Betânea em Portugal durante quase uma
semana, depois de um acompanhamento à distância durante três anos. Este teor de
investigação e artigo de RP é só possível num mundo que se alimenta de críticas
destrutivas, as que melhor vendem folhas de papel em jornais e revistas.
ESCREVE RP:
Um importante estandarte deste conflito de imagens da Igreja, do que se pode ou não, do
poder de definições, é a questão do hábito. Havia três estudantes de Teologia da CCB (dois
homens e uma mulher) que frequentam o curso teológico da Universidade Católica de Braga,
ligado à Arquidiocese, em 2007.
REPONDO A VERDADE: Mais uma rectificação: A “mulher” que vai de
hábito para o curso de Teologia não é da Comunidade Cristo de Betânea, pois a
verdade é que não há nenhuma Irmã desta Comunidade inscrita no curso de
Teologia.
ESCREVE RP:
Os três iam de hábito às aulas. Segundo o Pe. Dário, o que mais “irrita” o bispo, o que ele
não consegue entender, é porque aqueles irmãos têm que ir às aulas de hábito. Aliás, ao que
parece, a cisma episcopal com o hábito parece não se reservar à questão de seu uso nas aulas,
mas à questão mesma da CCB adotar vestes de hábito, de corte monástico.
REPONDO A VERDADE: Não acreditamos que o Arcebispo de Braga, D.
Jorge Ortiga, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, perca tempo a
reflectir como os estudantes da Comunidade Cristo de Betânea vão vestidos às
aulas! Também não acreditamos que o Senhor Arcebispo não saiba a “função”do
Hábito numa Nova Comunidade, pois são tantas, na vertente de Comunidade de
Vida, em tantos países, inclusive no Brasil, que abrem as portas ao Hábito, trocado
por formas de vestir ou fardas, bem desilegantes, por algumas comunidades
“históricas”! E se assim fosse, por que havia de ser o Padre Dário Pedroso a
transmitir o que o senhor Arcebispo nunca disse, nem aos irmãos, que com hábito
já têm falado com o Senhor Arcebispo? É muito estranho! A quem “irrita”, afinal,
o hábito, e por quê, fica por esclarecer neste trabalho de RP.
ESCREVE RP:
Interessante é que eu mesmo pude observar, indo à biblioteca da Universidade Católica,
onde funciona o curso de Teologia, que irmãs de outras congregações vão ao curso de hábito, e
alguns seminaristas usam camisa clerical. Por que uns podem e outros não? A questão, portanto,
não parece residir no hábito em si, mas no significado do mesmo: apontaria, o hábito da CCB,
para pessoas ligadas a um Grupo de pouca credibilidade na Igreja (ao menos a bracarense) e
que, por ser de pouca credibilidade, sinaliza uma imagem de Igreja que não quer ser a oficial.
REPONDO A VERDADE: A Comunidade Cristo de Betânea tem Estatuto
aprovado e festejado na Igreja com a hierarquia presente. Há visitas normais dos
Bispos à Comunidade. Como se pode daí deduzir falta de credibilidade da
Comunidade na Igreja? Não basta o Estatuto? Não basta a presença dos Bispos
para credibilizar? Valem mais as palavras de um padre de uma comunidade
“histórica”, que desconhece esta Comunidade (e que não adopta o Hábito), e as
subjectivas suposições de um entrevistador forasteiro?
ESCREVE RP:
Que freiras de congregações religiosas antigas ou de pleno reconhecimento e tradição
eclesiástica usem hábitos, não há problema. Ou mesmo franciscanos que fossem ao curso de
hábito não teriam a crítica episcopal. Afinal, seriam membros de uma Igreja, em suas
instituições religiosas, que se mostra oficial e sob a mitra e o báculo. A questão do hábito da
CCB é a questão da legitimidade da mesma diante da Igreja. Um instituto interpretado como
confuso, sem metas e formação clara, e com práticas carismáticas e concorrenciais ao clero, sem
preparação a isto, não poderia ter uma visibilidade tão significativa, como a que um hábito
produz, ainda mais no próprio coração da Arquidiocese, em seu curso de Teologia. A luta dos
símbolos e do poder que eles criam, das mentalidades que formam e dos caminhos a que levam.
REPONDO A VERDADE: É uma questão de mau gosto o pegar mais uma
vez na questão da credibilidade da Comunidade Cristo de Betânea, agora por
outro lado! RP afirma: A questão do hábito da CCB é a questão da legitimidade da
mesma diante da Igreja. Um instituto interpretado como Confuso…” Quem conhece
a História da Igreja e suspeita tanto, a propósito da Comunidade Cristo de
Betânea, já com tanta acção realizada na Igreja, com a presença de sacerdotes e
bispos, ou está de má fé ou não conhece a Comunidade ou desconhece a História da
Igreja ou das comunidades nascidas na Igreja. As Comunidades religiosas
“históricas”, que hoje gozam de grande simpatia na Igreja, inclusive a
Comunidade do Padre Dário Pedroso, quando surgiram eram comunidades
“novas”, e muitas delas, no seu arranque, foram indesejadas e até perseguidas,
com grandes dificuldades de inserção na Igreja. A este propósito, diz o Cardeal
Suenens: “O carisma do discernimento torna-se difícil de gerir e é forte a tentação
para a hierarquia de se agarrar ao mais seguro. Isso explica – sem que porém
justifique - certas desconfianças e condenações abusivas que a história regista. Não
é raro, com efeito, que na origem de movimentos espirituais, desencadeados por
ordens religiosas nascentes, houvesse tensão entre o fundador e a hierarquia. A
história da isenção dos religiosos é feita, em certa medida, de conflitos deste
género. Muitos fundadores e fundadoras foram confundidos, no início, com certos
iluminados dos seus tempos, de tipo fraticelli ou alumbrados, isto para evocar
apenas Francisco de Assis e Inácio de Loyola [Este último é o fundador da
Companhia de Jesus, à qual pertence precisamente o entrevistado, Padre Dário] …
conhecemos o calvário de Grignion de Montfort…” (Car. Suenens - in l’Esprit
Saint, souffle vital de l’Église, pg. 20-21).
Só dá tanto ênfase a tal assunto, baseado apenas na opinião de uma pessoa
que cita, quem não conhece a História da Igreja ou a história do surgimento de
diversas comunidades na Igreja, nem conhece as regras da mudança e novidade
em sociologia, já referidas: desejando a mudança, pessoas e grupos reagem à
mudança; desejando a novidade, pessoas e grupos contestam a novidade. É a lei
sociológica da resistência à mudança. Se a evocarmos, como aqui fazemos,
encontramos as explicações que procuramos, sem suspeições nem estranheza.
Quanto à confusão de RP, maior do que a que encontramos neste artigo,
nunca encontramos. Confusão de termos, de ideias, de horas, de nomes, de
lugares…
Mas o objectivo da Comunidade Cristo de Betânea é claro:
1- Vida cristã e comunitária, tendendo à perfeição da caridade, cada qual no
seu estado de vida.
2- A Nova Evangelização
Metas:
1- Ser Santo
2- Anunciar Jesus Cristo, indo particularmente “às ovelhas perdidas da casa
de Israel” através de novas estratégias.
3. Novas estratégias: Criar espaços – tempos que sirvam o encontro das
pessoas com Deus, e de comunhão entre elas. Uma destas consiste em procurar ir
ao encontro das pessoas que sofrem, das chamadas “doenças modernas”, em todas
as idades.
4. A Formação é feita em função dos objectivos, e é da responsabilidade do
Moderador da Comunidade, assim consignado nos Estatutos (Art.º 13.º). Este
associa a si, para este efeito, uma equipa de formadores. Aos residentes, uma
formação espiritual e acompanhamento são dispensados diariamente, e têm ainda
a formação ministrada frequentemente por Monsenhor Morais nas Eucaristias que
celebra com a Comunidade. Há para os membros internos e externos o acesso a
dias de deserto, retiros, seminários, fins-de-semana de formação, leituras
oportunas, cursos ministrados na Comunidade durante o ano: Música, Sagrada
Escritura, doutrina da Igreja, etc., por pessoas credenciadas nas matérias, tantos
sacerdotes como leigos (as). Claro que será aligeirar a questão o falar, como afirma
RP, de “práticas concorrenciais ao clero”, quando colaboram com a Comunidade
diversos sacerdotes e com eles a Comunidade colabora em paróquias, a começar
pelas paróquias onde a Comunidade reside, até à Sé de Braga, naquilo que é
pedido.
ESCREVE RP:
13. Ser carismático sem o sê-lo, eis a questão…
Enfim, é visível, entre membros e simpatizantes, que quase todos chegam à CCB ou via
RCC ou atraídos pelo estilo carismático que a Comunidade possui. Estive um dia na casa de
Telhado, partilhando o dia com a comunidade. Há somente uma oração em que todos da
comunidade se reúnem para o louvor em conjunto. É a oração das seis horas.
REPONDO A VERDADE: Convinha ter havido uma investigação mais
completa. Muitos simpatizantes que são externos à Comunidade são realmente
pessoas dos grupos de oração carismática. Quanto aos membros internos, uma
minoria tem essa procedência, o que é normal, pois nas suas actividades a
Comunidade abre as portas a toda a gente. A Comunidade tem pessoas que
descobriram Jesus Cristo apenas através da Comunidade. E, rectificando, quanto
aos tempos de oração (já que RP apenas apareceu às 18h na casa de Telhado): Há
cinco tempos de oração comunitária: Laudes (7.30h-8h); sintonia ao meio-dia;
Vésperas (19h); Completas (às 21.30h). Só não participam na Oração da Sintonia
os membros que estão na Faculdade.
ESCREVE RP:
Neste momento de oração, ladeado de louvores e adoração ao santíssimo sacramento,
manifesta-se o dom de línguas em alguns, e mesmo a profecia. E, em uma das reuniões de
sábado, abertas ao público (que será detalhada adiante) houve um momento em que mais da
metade da audiência ali presente orava em línguas.
Por causa dos afazeres diferenciados dos irmãos, que incluem trabalhos externos,
inclusive, só é reservado um momento, no mínimo, para o encontro de todos em oração.
REPONDO A VERDADE: Se RP só foi à Comunidade às seis horas da tarde,
terá dificuldade em fazer tais afirmações fidedignas. Na verdade, toda a oração
comunitária é para todos, e só nela não participa quem está ocupado em serviços
externos.
ESCREVE RP:
Contudo, a CCB ainda conserva outro tipo de união fraterna de oração, que é a de todos
os dias, ao meio-dia, em que cada irmão pára o que está fazendo para orar pelos outros,
recitando o Angelus. Também o almoço nem sempre pode ser partilhado pela comunidade como
um todo, dado que alguns estão em afazeres externos. Assim que o sábado, dia que, pelo
idealismo judeu-cristão, parece ser o dia chave da casa, é o dia reservado para o almoço
comunitário.
REPONDO A VERDADE: Pena não ter havido preocupação de perceber com
objectividade o sentido das situações que questionaram RP! Sendo a Comunidade
Cristo de Betânea centrada em Cristo (até o nome serve de indicador aos menos
questionantes), o dia principal para toda a Comunidade é o Domingo, em que, com
toda a Igreja, se celebra a ressurreição do Senhor Jesus. Por isso, a oração da tarde
e da noite de sábado reveste um carácter de Festa a Jesus ressuscitado, luz do
mundo, Salvador esperado por Israel (embora esperado ainda por muitos
israelitas).
ESCREVE RP:
14. De atendido a nativo, formação contínua sob o controle do líder
Geralmente as congregações religiosas surgem na Igreja com algum apelo social, a
atender alguma demanda social. O apelo social na CCB tem relação com os “doentes psíquicoespirituais”. Porém, alguns que chegam com doenças “psíquico-espirituais” e são aconselhados
ou libertados na CCB se tornam, posteriormente, membros do instituto. Como o Frei António,
hoje um dos líderes do Grupo. A CCB vai, de certa forma, ao encontro daqueles que, numa
sociedade européia, como Portugal, lhe parecem os mais necessitados de ajuda: os “doentes
psíquico-espirituais”. Não que não haja na Europa, e particularmente em Portugal, pessoas sem
abrigo, em situação de rua, ou com graves privações financeiras, ou seja, pessoas pobres
materialmente, e mesmo miseráveis. Porém, é tema comum que um dos principais problemas
desta sociedade é o abandono e a solidão, seja de idosos ou não.
Neste ponto a CCB também assume este discurso e identificação, de que os pobres a
acolher são aqueles que sofrem, de alguma forma, do que chamam de doenças psíquicoespirituais, manifestadas em solidão, depressão, melancolia, entre outras manifestações
psicológicas, que são também espiritualizadas na CCB.
Como já dissertamos, existem passos para se tornar um consagrado na CCB, como
postulantado e noviciado, ainda que esta formação não tenha sido muito clarificada quanto à sua
pedagogia e metodologias e estudos formativos específicos. E isto parece natural a um
movimento que se movimenta na espontaneidade do ES, que parece gostar do mínimo de
estruturas possíveis. De qualquer forma pode-se afirmar que há para o neófito, no início, um
tempo de experiência informal e, depois, um ou dois anos de estágio comunitário. Após um
postulantado que varia em seu tempo, mas que formalmente fica “em torno de dois anos” e,
finalmente o noviciado de um ano para os votos. É importante observar que o postulantado não
tem tempo definido, embora presumido. Pode ser de “muitos anos”, ou não. Evidencia que,
quanto à maturidade ou competência para o noviciado, a decisão passa por Hercília e seus
líderes mais próximos (Conselho Geral), a quem cabe o discernimento.
Ela mesma afirma que o tempo depende do que “se percebe [do candidato] como
dinamismo de fé, adesão a Jesus Cristo”. E quem decide sobre a maturidade deste dinamismo e
adesão? Ou o que é ou não adesão a Jesus?
REPONDO A VERDADE: Mais uma vez nos deparamos com a preferência
que o autor do trabalho dá à sua liberdade de suposições sobre o esclarecimento
objectivo das questões que se lhe deparam. Esta é mais uma dessas situações. Ou
então houve dificuldade de compreensão ou de elaboração do trabalho, o que
poderá ter induzido em erros. Mas, repomos aqui a verdade: em qualquer
comunidade, as etapas de formação têm uma duração padrão, designada
estatutariamente. Em muitas das “Novas Comunidades” o tempo de formação é
mais longo do que nas “históricas”. Na Comunidade Cristo de Betânea está tudo
bem claro. Pena que RP não tivesse percebido! São estas as etapas normais: um
ano de experiência chamado de “Estágio”; dois anos de “Postulantado”, três anos
de “Noviciado”, e não um, como RP diz acima, antes dos votos definitivos. Só que,
como a formação não é feita em rebanho, nesta Comunidade a duração de cada
etapa de formação pode não ser a mesma para todos os formandos. Não ter
percebido isso é que pode ter ajudado a confusões. Mas, parece-nos que uma
pessoa minimamente inteligente e humana e que deseje conciliar a lei com o
respeito pela pessoa, entende bem esta visão. Acerca das etapas de formação, não
se poderá dizer: “o postulantado não tem tempo definido” mas sim que,
naturalmente, essa formação “pode durar mais tempo ou não”. Isto não
surpreende quem souber fazer relações e tirar conclusões verdadeiras. De
maturidade poderá ter-se falado, mas o termo competência, em Português, soa a
aptidões técnicas.
Como discernir? Entende-se claramente que cada pessoa tem o seu ritmo, e
que esse ritmo é visível pelo próprio, pelos seus colegas de formação e, obviamente,
por toda a comunidade, incluindo o Conselho de Formação. Isso acontece porque
cada pessoa é única e, se vive em comunidade, há inter-relação de vidas! E entra
ainda o factor das diversas proveniências dos candidatos, com diferentes graus de
formação. Verifica-se assim um método fundamental: atender ao caminhar
personalizado de cada candidato, à sua evolução pessoal, no percurso das
diferentes etapas da sua caminhada. Não há aqui nada de estranho, a não ser o
tratamento com acompanhamento personalizado de cada candidato.
Quem decide? Poderemos falar de um discernimento em duas instâncias
fundamentais: um primeiro discernimento é feito entre o candidato e o
acompanhador. Mas não se trata de julgar se existe uma aptidão, como a aptidão
para conduzir um carro, ou coisa semelhante. De resto, a quem competirá fazer um
discernimento acerca da caminhada de alguém na espiritualidade e carismas da
Comunidade Cristo de Betânea se não quem vive essa espiritualidade e carismas
há muito tempo, quem já ajudou muitos nessa caminhada, quem acompanha
pessoalmente o (a) candidato (a) em questão? E essa caminhada também é
percebida pelos colegas de caminhada, pois quem vive junto conhece-se! E quem
avalia não é uma pessoa só! É assim mesmo, em muitas outras comunidades.
Então, finalmente é óbvio que a última palavra e responsabilidade caiba ao
Conselho de Formação da Comunidade.
“O que é ou não adesão a Jesus?”, pergunta RP. Esta é uma pergunta bem
simplista, reveladora de alguma ingenuidade, superada por quem conhece a Bíblia
e experimentou já viver esse tipo de adesão. Claro que se trata de um tipo de
adesão diferente da adesão a um partido político ou a um clube de futebol. A
resposta encontra-se na Bíblia. Jesus diz: “Quem não é por mim, é contra mim” (Lc
9, 5); “Quem quer seguir-me renuncie a si mesmo e siga-me. Buscai primeiro o Reino
de Deus e o resto virá por acréscimo (Mt 6, 33)”. É só experimentar! Fazer uma
experiência de colocar na vida, ou seja, de tentar encarnar estes desafios de Jesus
Cristo, para que qualquer comportamento pessoal se torne num verdadeiro
indicador objectivo da adesão a Jesus! E numa comunidade, à medida em que cada
membro vai tentando dia-a-dia viver assim, fazendo essa experiência, a
comunidade vai-se transformando num lugar de perdão e festa, de alegria e paz! E
se todos assim vivêssemos, não suspeitaríamos mal uns dos outros. Como o mundo
seria diferente, e como este artigo sobre a Comunidade Cristo de Betânea, escrito
por RP, teria bem maior nível científico!
ESCREVE RP:
Esta forma mais aberta e menos regrada institucionalmente de proceder o caminho da
formação mostra o quanto a CCB ainda é dependente personalmente de Hercília. Com todos os
membros da CCB que conversei, sempre perguntava pela formação, e a resposta era sempre
vaga e pouco objetiva, discorrendo sobre um tempo de convívio, algo de postulando, mas sem
especificações ao certo sobre tempos, formas de formação, formadores, etc.
Aliás, como também é vaga a história das origens da CCB, fruto do que o ES iria
fazendo, sem uma racionalização mais precisa de datas e eventos.
REPONDO A VERDADE: Outra vez se revela aqui ignorância acerca das
“Novas Comunidades”, pelo menos na Europa! Esta forma mais aberta de proceder
faz a diferença ente as “Novas Comunidades” e as Comunidades “históricas”, ou
qualquer instituição mundana. A Comunidade Cristo de Betânea tem regras, mas
não é legalista. Tal como nos advertia, desde a origem, D. Eurico Nogueira: A lei
não abafa a vida, mas parte dela, para a ajudar a desenvolver! Estas observações de
RP, gratuitas, são bem reveladoras de boa dose de desconhecimento da essência
das “Novas Comunidades” da Igreja Católica, pelo menos na Europa. E ainda
outra conclusão errada: “Hercília” não é quem acompanha, na prática, a
caminhada dos candidatos. E não será assim que acontece nas Comunidades
“Históricas”? Um é o(a) superior; outro(a) é o(a) mestre de noviços. Este é um dos
pontos essenciais. Pelo menos nas Comunidades Europeias!
Numa Comunidade como tal, cada qual depende dos outros, da sua presença
e colaboração interdependente, e na obediência responsável! (Saber-se-á o que isto
significa?). E todos dependem de Deus. O Coordenador é o sinal e, ao mesmo
tempo, o garante da comunhão fraterna, representando a Comunidade dentro e
fora dela. O governo da Igreja é colegial. E o das “Comunidades Novas” também o
é. Pelo menos, na Comunidade Cristo de Betânea. Na Igreja Católica não há
ditaduras nem democracias. Há discernimento segundo o Espírito Santo, feito aos
vários níveis ou instâncias, na unidade do mesmo Espírito. E o discernimento, em
última análise, cabe ao Bispo Diocesano, na sua diocese. Na Igreja católica é assim.
Claro que será difícil, a quem tem outras experiências de outras igrejas, entender
tudo isto. Mas é assim que nos sentimos felizes nesta teia de interdependências
(inexistente em formações de algumas outras igrejas).
ESCREVE RP:
15. Formação, missão, idealismo e desafios da CCB
Escuta ao telefone, ou pessoalmente, é a tarefa mais diária a que se propõe a rotina e
carisma da CCB. Perguntei a alguns irmãos sobre se recebem muitas ligações para
aconselhamento, ou se muitos os procuram. Respostas vagas tiveram. Sim e não. Às vezes. Etc.
REPONDO A VERDADE: Estranho é que, para um serviço de tanta
responsabilidade, quanto este se nos afigura (e quanto é o serviço da escuta de
pessoas em sofrimento, seja ela telefónica ou presencial e sabendo-se que na casa
visitada a maioria das pessoas está nas primeiras etapas de formação), tenha
havido inquirição a irmãos, feita aleatoriamente. Dever-se-ia saber, de antemão,
quais os responsáveis por esse serviço da escuta! Ademais, quem escuta terá de
possuir o carisma da escuta. Pena que não tenham sido inquiridas as pessoas a
quem esse serviço está conferido! Numa Comunidade, tal como acontece na
Comunidade Cristo de Betânea, não fazem todos os mesmos serviços. Estes estão
distribuídos segundo preparação e carismas necessários aos respectivos serviços.
Obviamente que ninguém corre para o telefone logo que ele toca! A ordem nos
serviços, como em tudo, é fundamental ao bom funcionamento de uma
comunidade! E este serviço de atendimento de pessoas em sofrimento, como se
poderá imaginar, exige preparação, para além do carisma necessário. Para uma
boa colheita de dados, teria sido importante que o autor do artigo começasse por
perguntar aos responsáveis presentes qual o serviço das diversas pessoas, na
Comunidade.
ESCREVE RP:
A impressão que se tem é que este carisma central na CCB fica mais num plano do
desejo, da vontade que seja assim, pois não parece que tal carisma, a que se propõe, tenha vazão
em demanda que a eles cheguem. Estive numa quarta-feira, entre 10h00 e 14h00, na barraca de
artigos religiosos da CCB que a Comunidade tem na feira de Famalicão. A feira de Famalicão
fica num grande parque aberto em que há várias tendas onde se vende de quase tudo: comida,
doces, sapatos, roupas, móveis, brinquedos, objetos diversos. Há grande circulação de pessoas
pelo lugar. Na barraca estavam dois consagrados que moram em Telhado: um senhor de uns 70
anos, com roupas civis, e uma senhora, timorense, de uns 55 anos, com o hábito. Os dois
bastante simples, sem estudos formais mais avançados. Ele um pouco surdo, e ela com um
pouco de dificuldade – cognitiva, e não linguística – em entender algumas observações minhas
em nossa conversa.
REPONDO A VERDADE: Pena que neste artigo se demonstre tanto
surrealismo crónico, e grande miopia intelectual! Mais uma vez se toma aqui o
tomar da parte pelo todo! RP apenas visitou uma Tenda numa Feira, em V. N. de
Famalicão, quando o tema é a “História” da Comunidade Cristo de Betânea!
Primeiro: É de lembrar que visitou uma Casa de Formação e que as
actividades que a Comunidade tem ligadas a essa casa são para estágio dos
candidatos.
Segundo: É de lembrar que estão publicitados pela revista Jesus Vivo e
através de outros meios, nomeadamente a Internet, diversos números de telefones e
moradas das quais as pessoas se podem socorrer, tanto em Portugal como no
estrangeiro.
Terceiro: O Senhor de uns 70 anos não é consagrado. É viúvo, com
compromisso comunitário. E há uma total falta de verdade quanto à apreciação
dos seus estudos formais: esse Senhor é médico, reformado há pouco tempo! E, por
sinal, uma pessoa muito culta! A Senhora com hábito, que é referida por RP, não é
timorense mas portuguesa, e possui um curso de Inglês! Vejam só!
Veja-se quanta conclusão superficial! No fundo, quanta inverdade (para não
chamar mentira) desnecessária, a descredibilizar este artigo! A grande
preocupação que revela o autor do trabalho quanto ao apuramento de estudos
formais, psicologicamente poderá explicar-se por alguma projecção de algo que
dificulta a sua situação na realidade concreta europeia. Um grande número da
população possui o 12 º ano - terminal do secundário!
Há, sim, uma grande confusão do autor do artigo: a confusão entre
simplicidade e ignorância. Esta confusão é que poderá revelar ignorância, pelo
menos nesta distinção destes dois conceitos ou atitudes de vida. E também é de
saber que, quando a pessoa tem real valor, aparenta facilmente muita
simplicidade! Se tem real valor, não precisa de se afirmar por qualquer atitude de
afirmação pessoal, no acto do relacionamento.
E, para reforço do referido, apresentamos o testemunho de uma das pessoas
que nesse dia esteve na Feira de Vila Nova de Famalicão:
“Sou o Irmão Jaime, de 75 anos, já atrás referido pela Irmã Dr.ª Hercília
Pinto. No dia em que Vossa Excelência declara ter-nos inquirido, a mim e a uma
Irmã consagrada (de hábito), recordo que alguém me abordou na feira de V. N. de
Famalicão, uma pessoa anónima (visto que não se identificou), no meu posto de
escuta, acolhimento e apostolado, numa pequena tenda, em que tínhamos a mais
duas cadeiras destinadas às pessoas que nos pedem encarecidamente ajuda para
suas mágoas, traumas, desgostos e indecisões quando ainda não a encontraram, ou,
pensando que sim, se sentem enganadas, frustradas e desanimadas. Esse senhor
que nos abordou não se evidenciou do vulgo. Apenas pediu alguma informação
relativa à Revista Jesus Vivo e eu lha recomendei. Assinou-a para a receber no que
se refere a todo ano de 2008, incluídos os números dos transactos meses, no que
prometi ter todo o empenho, como era meu dever, e creio bem que lhe terão
chegado à mão atempadamente. Só posteriormente vim a saber que se tratava de
um irmão na Fé, digno Pastor Metodista. Se me tivesse apercebido disso na
ocasião, qual teria sido o meu justificado regozijo na habitual confraternização
ecuménica! Por exemplo, temos tido a presença e colaboração habitual de Irmãos
Evangélicos nas nossas Festas de Verão especiais para a juventude com suas e
nossas bandas desde 2003, em diversos locais de Portugal. Sim, por mais que possa
estranhar, o Ecumenismo já vem sendo uma realidade na Europa, embora não
pareça sê-lo no Brasil.”
ESCREVE RP:
Durante as 4 horas em que lá estive, apenas algumas poucas pessoas paravam para olhar
os produtos. Uma comprou um folheto. Mas ninguém parou para conversar, ser evangelizado ou
aconselhado. Ora, conforme Frei António, a barraca na feira é um instrumento de
evangelização, pois a evangelização tem de ir aonde o povo está.
REPONDO A VERDADE: Ninguém parou, diz o autor: Obviamente que se as
pessoas da Comunidade estavam ocupadas em atender RP é muito natural que
respeitassem o diálogo que estava a acontecer. Por outro lado, há que contar com
diversas variáveis que entram num trabalho sociológico: as frequências são
diferentes por diversas circunstâncias: diferentes dias, épocas e contextos
existenciais. Podia ter-se contado com esta regra, na interpretação dos factos
presenciados. Reduzidos a um tempo de observação muito restrito: um só dia,
apenas numa quarta-feira de um ano! Não se contando com as referidas variáveis,
com que autoridade se poderá fazer uma generalização de nível científico? Para a
uma conclusão válida, seria necessária uma observação de bastantes meses!
Um trabalho de observação de uma só vez, no terreno, não tem qualquer
significada para um trabalho científico. Isto pelo menos em Portugal.
ESCREVE RP:
Contudo, a evangelização, também tão cara ao carisma da CCB, resume-se, na feira, a
expor os artigos da CCB (revista, livros, terços, camisetas) para compra, assim como os demais
comerciantes da feira expõem os seus artigos de “evangelização”.
REPONDO A VERDADE: Esta afirmação segue a lógica do simplismo
incongruente: não se distingue estratégia de evangelização com a evangelização
propriamente dita. Estamos como na questão anterior do “Hábito”! A ida a uma
feira semanal, ou a participação em Feiras de Livros ou o ter uma loja de
artesanato ou outras, são simples estratégias de evangelização. Isso não quer dizer
que aí não se fale de Jesus Cristo - evangelização. Mas, a partir de encontros
havidos desse modo, com pessoas que nem vão à Igreja, apenas fica disserto o
apetite para ulteriores conversas que acontecem nesses mesmos locais ou noutros,
postos à disposição das pessoas. E é certo que muita gente tem iniciado ou
retomado a caminhada cristã nesses lugares! Foi pena não ter havido a
preocupação de falar com algumas dessas pessoas, o que teria permitido um
trabalho de campo muito mais rico e promissor da verdade dos factos!
ESCREVE RP:
Hercília se ressente de não ter médicos, enfermeiras, psicólogos membros consagrados na
CCB, e nem estrutura maior, pois reconhece que o ideal seria que algumas pessoas fossem
acompanhadas mais regularmente, mesmo internadas. O projeto de aconselhamento e libertação
e cura de pessoas com problemas psíquico-espirituais parece ser algo que fica no horizonte do
ideal, do projeto ideal, pois não parece haver nem demanda e nem pessoal preparado. Quando
aparece algum caso mais complicado encaminha-se a pessoa - quando é problema de droga, ou
álcool, ou outro mais específico - aos órgãos oficiais da sociedade.
REPONDO A VERDADE: Efectivamente, o que pretendia dizer Hercília
Pinto é que a Comunidade não tem os técnicos necessários para responder a tanta
procura. Mas, o projecto não fica no ideal, até por quanto já foi aqui dito pelo
autor do artigo. E para que se saiba, do projecto faz parte o encaminhamento das
pessoas em determinadas situações, o que acontece em casos de busca de
recuperação do álcool ou da droga. Foi pena que tal estudo sobre a Comunidade
Cristo de Betânea se circunscrevesse ao que se passa na Casa de Formação, e
pouco mais, já que é sobretudo na Casa de Fátima que funciona o maior centro de
ajuda psico-espiritual: aí, além do atendimento personalizado e esporádico, há
Encontros e Seminários de Cura Interior regulares, sistemáticos, bem como
encontros semanais de Oração. Também em Fátima, mensalmente, funciona o
serviço Piscina de Siloé: as pessoas são atendidas ao longo do dia e em diversos
momentos por pessoas especializadas, trabalhando em interdisciplinaridade. No
mesmo dia funciona um outro serviço: Mar da Galileia, também com pessoal
científica e tecnicamente preparado para a ajuda psico-espiritual. Ao falar de
pessoal preparado, referimo-nos a psicólogos, assistentes sociais, terapeutas
familiares, pessoas especializados em técnicas de relaxamento, etc. Noutros centros
de acolhimento referidos faz-se trabalho de acolhimento, escuta, oração por e com
as pessoas. Não se faça confusões, comparando os problemas psico-espirituais com
problemas de droga, álcool ou outros! Obviamente que se alguém aparece com
problemas de droga, álcool ou outros, a Comunidade encaminha para instituições
de tratamento próprias, como já se referiu. Em Portugal até há muito boas
instituições para estes casos.
ESCREVE RP:
Então, quando se realiza, de fato, o carisma da cura psíquico-espiritual de pessoas
“doentes”? Ao que parece, nas reuniões de louvor e adoração, em Telhado, em Fátima e nas
casas nos outros países.
Nas reuniões carismáticas do Grupo, carismática à sua maneira, claro, é que as curas interiores
podem ser testemunhadas, como num caso que reatarei adiante.
REPONDO A VERDADE: Se se inquiriu irmãos aleatoriamente, teria
mesmo de se obter respostas vagas, pois só uns tantos membros é que têm o serviço
de escuta e de aconselhamento. É um serviço de muita responsabilidade, que exige
qualidades, preparação e carismas próprios. Pena RP não ter tido um método de
pesquisa que levasse a procurar saber quem faz o quê, nesta Comunidade.
ESCREVE RP:
Conversando com algumas pessoas que afluíram à uma reunião de sábado em Telhado,
contavam que saíam dali leves, aliviadas, bem-dispostas, alegres, e outros adjetivos benfazejos.
Portanto, a referência mais forte ao carisma do aconselhamento e cura se circunscreve aos atos
religiosos em si, e ao que eles produzem subjetivamente nas pessoas.
REPONDO A VERDADE: Mais um défice de trabalho de campo que induziu
em conclusão
errada: muitas pessoas vão às casas da Comunidade e centros de atendimento com
hora marcada, para serem escutadas durante o tempo necessário, por vezes horas!
Pena que não tivesse havido real investigação acerca do funcionamento deste
serviço! RP afirma que “a referência mais forte ao carisma do aconselhamento e
cura se circunscreve aos atos religiosos em si, e ao que eles produzem subjetivamente
nas pessoas.”. Nota-se muita incapacidade tanto na recolha de dados como nas
conclusões tiradas! Está mal empregue a expressão “carisma de aconselhamento”:
há mais uma vez forte confusão: confusão entre serviço de ajuda psico-espiritual e
aconselhamento. Se calhar, o autor quereria até dizer “acolhimento”em vez de
“aconselhamento”, já que o aconselhamento poderá acontecer como etapa última
de um processo de ajuda psico-espiritual. O que foi dito atrás rectifica esta
conclusão simplista, pietista e redutora! Já falamos de Seminários, Piscina de Siloé,
Mar da Galileia, etc.
ESCREVE RP:
16. À prática: um relato do ritual de cura “psíquico-espiritual”
Uma atividade regular importante da CCB, como já dito, é realizada aos terceiros
sábados de cada mês, das 9h30 às 13h00, na Casa mãe, em Telhado. Chama-se “Dia de Oração
de Louvor, Cura e Libertação”. Pude estar presente a 2 destes encontros (novembro e dezembro
de 2007).
O ambiente onde se dá os Encontros de Cura e Libertação, na casa de Telhado, é um salão
grande e retangular no andar de cima da casa. Ali tem-se um altar, um ambão, cruz, alguns
dizeres recortados e colocados nas paredes (“Jesus é o Salvador”; “Louvores a Deus”), e várias
cadeiras para os participantes. Nas duas vezes em que estive presente o número de presentes
regulava entre 35 e 50 pessoas, em média. Poucos jovens. A maioria pessoas de meia-idade ou
pessoas mais velhas. À frente da das pessoas reunidas, ao lado do altar, ficam os membros da
CCB, geralmente uns 6. O líder do local, Frei António, uma senhora que anima e dirige o
evento, e mais três ou quatro irmãos (jovens) de hábito, sendo que um toca violão e outro toca
teclado.
REPONDO A VERDADE: Com pouco trabalho de campo as conclusões mais
uma vez são precárias. É certo que, para se falar de qualquer assunto, tem que se
dominar a respectiva terminologia.
Não se poderá afirmar que uma actividade regular importante da
Comunidade Cristo de Betânea é realizada aos terceiros sábados de cada mês, das
9h30 às 13h00, na Casa Mãe, em Telhado. Esta actividade é apenas uma actividade,
um tempo de adoração mensal, aberto ao exterior. Em Telhado, na casa de
formação, as principais actividades realizadas têm a ver com a formação de
membros internos. A oração dos “Terceiros Sábados”, aberta ao exterior, serve
também o objectivo da formação, sendo ajuda ao despertar e exercício dos
carismas.
Há outro equívoco: uma coisa é um líder de um qualquer grupo. Outra coisa
é um líder de um grupo de oração, na Comunidade Cristo de Betânea. Na verdade,
aqui há apenas quem coordene a oração. António (que não é Frei), não é líder de
orações; pode parecer, pois tem um grande dom de oração. Por outro lado, e
normalmente, a equipa que anima é rotativa, variando em número de pessoas;
tanto podem ser seis como menos membros a orientar a oração.
ESCREVE RP:
A irmã Hercília, fundadora da CCB, não esteve em nenhum encontro. A reunião inicia
com uma oração e, após, com muita música, algumas de hinários da Igreja, outras (a maioria) de
produção da própria comunidade. Estas querem ter um ritmo, linguagem e estilo que se
aproxime da música religiosa israelita. Embora eu não conheça a fundo a musicalidade religiosa
israelita, tive a impressão que há uma aproximação rítmica, embora guardadas proporções. As
letras, cristãs, citam Israel, patriarcas, e outros temas do Antigo Testamento, mas sempre
cristianizados. As músicas são acompanhadas de gestos, como na RCC. Um irmão (brasileiro)
vai, na frente, ensinando os gestos com os braços e mãos.
REPONDO A VERDADE: A irmã Hercília não esteve em nenhum encontro,
porque na Comunidade Cristo de Betânea cada qual tem as suas tarefas e
responsabilidades. Nesta reunião estiveram os respectivos irmãos responsáveis.
A oração referida começa com o acolhimento às pessoas, normalmente feito
no rés-do-chão, onde lhes é proporcionada uma bebida e algo que pretendam
comer, já que algumas pessoas podem vir de longe. A reunião inicia-se com
cânticos diversos, boas-vindas e oração de louvor.
Os ritmos e andamentos musicais são adaptados ao objectivo da música, em
cada momento da oração: louvor, adoração, acção de graças. Com as letras sucede
o mesmo. No canto que introduz a oração das “Dezoito Bênçãos” é que letra e
música tem o objectivo da aproximação a Israel:
“Shema Israel, adonai….”
ESCREVE RP:
A irmã animadora se desdobra em tentar animar a assembléia a todo momento. Com um
sorriso permanente nos lábios, brada palavras de incentivo como "Alegria, estamos diante do
Senhor", "Jesus está aqui, vivo, louva, ora!", "Deus te ama, dê o seu melhor para ele, mais
alegria". Pede-se também para dançar as músicas (pois é entendido que nas liturgias judaicas as
músicas são dançadas). Porém a dança da assembléia (e dos membros) não passa de leves
movimentos giratórios no próprio lugar em que estão, lembrando, com suas mãos para cima e
bater de palmas, o Vira português. A assembléia parece não corresponder a todo entusiasmo que
os membros, da frente, esforçam-se por tentar passar.
REPONDO A VERDADE: Num trabalho sério tudo o que se diz tem de ser
fundamentado. Não se pode falar de música sem entender do assunto. RP teria, isso
sim, de procurar a responsável pela música e perguntar de que tipo de música se
tratava, qual o objectivo da opção musical em questão. Primeiro: não se tratava de
uma liturgia Judaica, nem a exortação à dança tem algo a ver com essa razão.
Trata-se de tentar orar com a pessoa toda – espírito, alma e corpo (cfr 1Ts 5, 911;16-23). Trata-se de louvar Deus: o esforço da irmã animadora da oração tem
esse objectivo e os cânticos iniciais são seleccionados para ajudar as pessoas a
fazerem festa para Deus, entregando-se a Ele com todos os problemas que
carregam. “Se andais sobrecarregados lançai para mim os vossos fardos e eu vos
aliviarei” (Mt 7, 7-11; Mc 11, 22-24;Lc 11, 19; Jo 16, 23 -24 ). Que as pessoas,
muitas delas doridas da vida, procurando ajuda para a solução de muitos
problemas, tenham já feito leves movimentos, será já uma vitória de Deus! E,
quanto a este orar com o corpo, quem conhece este tipo de oração sabe que
obviamente as pessoas não saem do seu lugar. E é isso mesmo: as pessoas vão sendo
libertas dos seus problemas, progressivamente. Isto não é novidade para quem
sabe o poder que a música, a oração e o movimento têm nas pessoas, quando bem
adaptados às situações. RP faz aqui referência ao “Vira” português (tão fora de
contexto!), talvez por salto lógico, ou por desconhecimento dos ritmos musicais. É
que, se acima o autor diz que as pessoas apenas giravam um pouco o corpo sem
saírem do lugar, isto é diametralmente oposto ao que se passa na dança portuguesa
do “Vira”! Esta é uma dança das mais movimentadas do folclore português!
ESCREVE RP:
Porém respondem razoavelmente de forma satisfatória. As pessoas que lá estão, quase
todas, são frequentadoras regulares do evento, não havendo muita renovação. A classe social
que parece imperar é a média ou média baixa.
REPONDO A VERDADE: Claro que as conclusões levadas a público, apenas
baseadas em duas presenças de campo, relativamente a todas as vezes em que se
realizam estes serviços, não podem ter consistência! A percentagem é ridícula. Por
isso, todas essas conclusões têm muito pouco significado e terão se ser lidas como
meras suposições subjectivas! Tal como na Feira, RP concluiu que as pessoas aí
responsáveis pelo serviço eram ignorantes (sendo elas na verdade um médico e
outra com curso de inglês!), também a referência à classe social das pessoas que
frequentam a Oração dos “Terceiros Sábados” pode ter pouco significado. Meros
juízos, feito com base em construções subjectivas de aparências pontuais.
Efectivamente, se a Igreja não faz acepção de pessoas, como manda a Palavra de
Deus, a Comunidade Cristo de Betânea está aberta a todo o tipo de pessoas e tem
um carinho especial pelas mais desprotegidas nos diversos aspectos. Porém, nessa
reunião de oração concreta, como em todas as actividades da Comunidade Cristo
de Betânea, participam diversos empresários: de calçado, de têxteis, etc. A
aparência das pessoas, entre nós, tem pouco a dizer sobre a conta bancária, a
instrução ou a classe social de cada um!
ESCREVE RP:
Após muita música e muita tentativa de alegria e sorrisos quase que obrigatórios, na
tentativa de se criar um clima de antecâmara do céu, lê-se e ora-se as 18 bênçãos do povo judeu,
cristianizadas.
REPONDO A VERDADE: Não será sério brincar com coisas sérias.
Quem está a ajudar os irmãos a orarem está a desempenhar um
ministério sério. Quem suporta fardos da vida tem de ser levado a sério.
A maneira como RP se refere aqui a um cenário sério de oração tem
pouco de sério. A tentativa consiste em transmitir a presença de Deus uns
aos outros, como Aquele que sempre Se torna próximo para consolar e
libertar na hora certa - a Sua hora, com a colaboração daquele que Lhe
entrega os seus fardos. A tentativa é de apelo à fé em Cristo libertador
para quem chega a essa oração sob o peso da angústia e desesperança! E
o sorriso virá na medida dessa experiência, feita com a ajuda fraterna. E
tudo isto ultrapassa o simplismo de dois dias de observação de qualquer
espectador.
ESCREVE RP:
Cada bênção é dirigida por um membro da CCB, a que, na parte em negrito do livro, a
assembléia responde. Esta forma organizada de se orar as bênções termina a partir da 14ª, em
que até a 18ª todos lêem ao mesmo tempo os textos das bênçãos, de forma rápida e numa
absoluta falta de sincronia, terminando com orações pessoais e simultâneas das pessoas e, após,
período de silêncio.
REPONDO A VERDADE: Torna-se impressionante a falta de terminologia
técnica de RP no tocante ao tema em questão: oração. Não há dirigismos na
Comunidade Cristo de Betânea, nem na sua oração. Há serviços organizados
previamente na base dos dons de cada um.
Este tipo de oração é a oração da manhã partilhada com as pessoas que vêm
para rezar com a Comunidade. Reza-se as chamadas “Dezoito Bênçãos”.
Convenciona-se uma forma de as rezar que ajude a quebrar qualquer monotonia, e
que seja acessível a que todos cantem.
A “absoluta falta de sincronia”, como diz RP, chama-se “Canto Livre”.
Há, nesta oração, como em toda a oração comunitária, na Igreja
católica, um presidente, que introduz a oração das “Dezoito Bênçãos”,
depois um cantor que introduz a primeira Bênção e a partir daí até ao
Responsório, que é feito em diálogo, todas as Bênçãos são cantadas em
canto livre. Após o Responsório, que é cantado em canto chão, ou rectotono
cada cantor canta em solo uma bênção, a que toda a Assembleia responde.
As respostas estão efectivamente em negrito ou “bold”. Isto até à Bênção 15
e não à 14, como diz o autor do artigo. Da Bênção 16 até ao fim regressa-se
ao canto chão, por toda a Assembleia, com a introdução da 16ª bênção feita
a solo, por um cantor. As orações pessoais a que o autor se refere são as
ressonâncias de alguma frase das orações cantadas, que exprimem melhor
o estado interior de cada orante. E, deste modo, a pessoa partilha-as com
toda a Assembleia, que normalmente se associa louvando Deus, dizendo:
“Ámen!”
ESCREVE RP:
Após o período silencioso, Frei António vai ao púlpito para pregar.
Antes, porém, costuma já estar meia hora ajoelhado diante do altar. Na verdade Frei
António parece estar, em todo evento, acima do que acontece. Não canta e celebra como os
outros, fica num canto e manifesta um ar de serenidade que, ao meu ver, esconde certas
patologias que, porém, sendo esta uma investigação etnográfica, e não psiquiátrica, não sintome autorizado a teorizar.
REPONDO A VERDADE: Em boa verdade, no salão não há “púlpito”, mas
sim um “ambão”, de onde se proclama a Palavra de Deus. Quanto à pessoa que faz
o ensinamento, em Portugal há diferença entre uma “pregação” e um
“ensinamento”. Sim, António é um homem de Deus e por isso de oração. E procura
preparar-se o melhor possível para ser canal de Deus ao proclamar a Palavra e ao
fazer sobre ela um aprofundamento que toque o coração das pessoas.
Mas, noutro Sábado já poderia ser outra pessoa a exercer esse ministério.
Quem o conhece, sabe que ele não está acima, mas bem dentro da oração e da
Palavra que irá proclamar e aprofundar junto dos irmãos! E como não é seu dom
cantar, mas orar e ensinar, normalmente canta mais com o coração do que com a
voz.
ESCREVE RP:
Frei António, então, após seu momento de introspecção, acompanhado algumas vezes
por falas em que dá a entender que Jesus está a falar por ele ("Meus filhos, eu vos amo e saúdo,
tenho graças para vós..."etc), toma a palavra do evangelho do dia para ler. Enfim, é de se notar
que o citado irmão, como líder daquela casa, chama para si, através destes atos simbólicos, uma
autoridade que o distinga e legitime em sua função de ensino Após ler a Bíblia, segue a
pregação (o dito irmão não é padre), muito monótona, extremamente cadenciada, sem grandes
exegeses e longa.
REPONDO A VERDADE: O termo “introspecção” tem uma conotação
própria.
É um termo técnico que em psicologia significa “voltar-se para o interior de si
mesmo para se auto-analizar”. Ora, António estava naquele momento numa
situação, diferente de qualquer introspecção. António, como qualquer pessoa que
se prepara para proclamar a Palavra de Deus e aprofundá-la o necessário possível
junto daqueles irmãos concretos, estava concentrado em Deus. Se a Palavra
proclamada nesse dia foi retirada do Evangelho, não significa que assim seja
sempre. Normalmente, nessa oração da manhã, para a Comunidade se unir a toda
a Igreja, a Palavra a proclamar é a Palavra de Laudes, a oração da manhã oficial
da Igreja Católica. Mais grave é ainda a seguinte afirmação, totalmente falsa: é de
se notar que o citado irmão, como líder daquela casa, chama para si, através destes
atos simbólicos, uma autoridade que o distinga e legitime em sua função de ensino. O
António não é o líder da casa, nem por isso mesmo chama a si qualquer tipo de
autoridade referente ao líder, que não é!!! O seu ministério do ensino é-lhe
conferido pelo dom reconhecido para esse efeito, discernido e confirmado pelos
responsáveis da formação na Comunidade com base nos efeitos de caminhada,
tendo em conta as ressonâncias de ajuda narradas por aqueles que o escutam.
Monótono, talvez para um brasileiro. Mas, a sua partilha da palavra ajuda-nos a
caminhar, não só nas sextas-feiras mas nas diversas vezes que é chamado a fazê-lo.
Que pena tanta superficialidade revelada neste trabalho, tanta distorção da
verdade pela projecção subjectiva de experiências ou ignorância, perdendo-se a
oportunidade de um bom trabalho que ilustrasse os leitores, em vez de os induzir
em erro! Efectivamente, teremos de desconfiar de qualquer trabalho feito
rapidamente e sem bases sólidas em recolha abundante de dados elaborados sobre
provas e contra-provas com o objectivo único de esclarecer a verdade.
ESCREVE RP:
A assembléia fica um tanto dispersa nesta hora, porém em silêncio. Após a pregação,
entra solenemente no salão a custódia com a hóstia consagrada, que é recebida de joelhos por
todos e às vezes com aplausos. Diante da hóstia seguem-se orações mais música de louvor. As
orações são por cura interior e exterior, de libertação, que são feitas pelos membros. Neste
momento há algumas lágrimas e a emoção parece ser maior, chegando um momento em que
muitas pessoas falam em línguas.
Finalmente cada pessoa é convidada a ir ao altar e colocar as mãos numa pequena vasilha
com água benta que lá há, benta através da oração naquele lugar, diante do santíssimo. Com a
mão molhada cada qual faz seu gesto particular, benzendo-se, colocando a mão no coração, na
cabeça, etc. Mais alguns cantos e se encerra a celebração.
A sistemática do evento não difere muito nos encontros da casa da CCB em Fátima, como
soube. Contudo, lá há mais lugar para palestras com padres ligados à RCC, geralmente vindos
de fora de Portugal, e também ocorrem mais manifestações de libertação. Quanto a tais
manifestações, embora eu não tivesse tido a oportunidade de ir a um destes encontros em
Fátima (devido ao calendário deles), pude observar o fenômeno num dos sábados em que fui a
Telhado.
REPONDO A VERDADE: Não, as pessoas não falam em línguas, no sentido
bíblico das manifestações havidas no primeiro Pentecostes. As pessoas
simplesmente sussurram orações e gemidos (para usar a linguagem de S. Paulo),
cantados mais que falados.
E também a água não era “benta”. Era água, criatura de Deus, abençoada
por Ele ao ser criada!
E que sentido terá tudo isto? Foi pena RP não ter perguntado, porque tudo o
que é feito na
Comunidade Cristo de Betânea tem valor de sinal: de estratégia para o encontro
forte da pessoa com Deus! A água é um dos muitos sinais que ao longo do ano a
Comunidade usa com esse objectivo. A água é um forte sinal bíblico que as pessoas
conhecem. Entra no baptismo como sinal do Espírito Santo, que purifica e renova.
Aparece na Bíblia ligada ao baptismo de penitência de João, à revelação de Jesus
como o Cordeiro de Deus, em relação a curas diversas. A pessoa sabe em que
sentido quer usar a água. E mais ainda: Por que é convidada a pessoa a tocar a
água?
É que o toque físico é importante neste e noutros casos para ajudar a oração
com fé. O ser humano é um todo e, por isso, o corpo pode e deve ajudar o espírito
na sua relação com Deus!
De notar ainda que leigos e sacerdotes, tanto nacionais como estrangeiros,
são convidados a vir fazer ensinamentos. O critério dos convites depende dos temas
a tratar, dos serviços a prestar, das disponibilidades e compatibilidades com as
datas e da natureza e objectivos dos eventos que a Comunidade realiza.
ESCREVE RP:
Logo após a oração das dezoito bênçãos (as últimas em que todos rezam juntos, num
frenesi de vozes descompassadas), uma moça de cerca de 25 anos (uma das mais jovens no
ambiente) simplesmente desabou no chão, num semi- desmaio. Como as cadeiras e fileiras são
próximas, apertadas, ela ficou deitada, assim como caiu, de barriga para cima, aos pés das
pessoas que estavam ao seu lado. Porém, este fato não incomodou os presentes, parecendo
natural e corriqueiro. Ninguém acudiu a moça e mesmo não ficaram a observá-la, continuando o
culto normalmente.
A moça, parecendo inconsciente, tinha a respiração ofegante.
E assim ficou, no chão, por cerca de 40 minutos. Durante a pregação de Frei António,
começou ela a ter espasmos, como quem estava engasgada ou quisesse vomitar. Mesmo assim a
pregação continuou. Após isto, os espasmos de vômito (ao que pareciam) se tornaram mais
agudos e ela começou a se contrair. Alguns da casa trouxeram, então, um saco para vômito e
depois um latão para vômito. Mas a moça no mesmo lugar. A impressão que dava a um não
nativo é que os membros estavam mais preocupados com a higiene do tapete do que com a
saúdeda moça.
REPONDO A VERDADE: É significativo RP chamar ao “Canto Livre” um
frenesi de vozes descompassadas! Efectivamente, se ninguém acudiu a moça, é por
alguma razão que ficaria bem ter sido indagada, após a referida reunião. Vai agora
a resposta: as pessoas conhecem a jovem e sabem do que ela só precisa nesse
momento: descansar, ficar tranquila, deixar que Deus trate dela.
Só por ironia, que não fica bem num trabalho sério, se poderá dizer que
alguns da casa trouxeram, então, um saco para vômito e depois um latão para vômito.
Mas a moça no mesmo lugar. A impressão que dava a um não nativo é que os
membros estavam mais preocupados com a higiene do tapete do que com a saúde da
moça. Com que direito poderá o autor fazer esta afirmação, sabendo que está
numa comunidade em que as pessoas deixaram a sua casa e os seus bens,
entregando as suas vidas a Deus para O servirem, e aos irmãos, de acordo com a
Sua vontade? Para que são estas reuniões, se não para prestação desse mesmo
serviço? Certamente que os irmãos em questão, se não fossem cristãos e não
integrassem esta afirmação no contexto de muitas outras feitas ao longo deste
artigo em questão, teriam ficado ofendidos com mais uma afirmação gratuita e de
muito mau gosto.
Naquele tipo de situações as reacções das pessoas são muito diversas.
Consoante o problema que as afecta, o seu temperamento e a sua história, assim as
reacções comportamentais variam. Mas, para levar a sério estas situações e
entendê-las, é necessário ter lido bibliografia adequada e de diversos especialistas
em questões de tipo psico-espiritual. Efectivamente, pela bibliografia apresentada
neste trabalho, concluímos que RP não consultou obras de referência sobre o tema
da cura e libertação, designadamente livros de exorcistas oficiais do Vaticano. Mas
foi pena que pelo menos não houvesse um diálogo sobre o assunto com o
responsável pela oração, naquele dia. O facto de também não haver bibliografia
referida acerca dos diferentes tipos de música e suas funções, também dificultou a
sua compreensão nesta área, resultando num franco aligeiramento do tema, notado
até na sua verbalização, nomeadamente ao referir-se à música escutada nesta
reunião de oração. Para abordar questões do foro espiritual e delas falar, é
necessária a abordagem de bibliografia séria dessa área. Tudo o que é sério merece
ser levado a sério.
Ora, no estudo que RP se propunha fazer, tudo deveria ser sério!
ESCREVE RP:
A pregação, em sua lenta cantilena, continuava, e o Frei António apenas advertiu que
aquele era um ambiente de serenidade onde o Senhor estava. Porém, quando a moça começou a
dar pinotes e urrar, abriu-se uma roda em torno dela, homens a seguraram, o irmão chegou perto
e quase todos na sala, virados para ela, começaram a orar em línguas, com seus braços
estendidos sobre ela. Após alguns minutos a menina acalmou, recobrou a consciência e sentouse novamente, abatida e cansada. E o evento continuou, com a entrada triunfal da custódia com
a hóstia, tudo seguindo normalmente.
REPONDO A VERDADE: Pena que RP insista em chamar “cantilena” a uma
partilha da Palavra de Deus, que estava a ser feita por alguém! Creio que mesmo
alguém não-crente respeitaria mais o momento e teria palavras mais sérias para
dele falar. António e toda a equipa ali presente sabe o que tem a fazer na hora
certa, consoante as reacções da pessoa em sofrimento espiritual.
Quando a jovem revelou o seu sofrimento, traduzido pelas palavras infelizes
usadas por RP (dar pinotes e urrar), a assembleia ficou calma e simplesmente orou
por ela. O que tem isso de anormal? O que prova é que a “menina acalmou”, tudo
voltando ao normal, ficando até certamente muito mais calma e serena do que
quando chegou à sala. E não levavam a Jesus pessoas que manifestavam diversos
tipos de doenças, algumas manifestadas através de alguma violência? E não é Ele
hoje o mesmo que as pessoas procuram para se libertarem de cargas emocionais ou
espirituais adquiridas pela violência de muitas situações da vida?
ESCREVE RP:
A observação da prática cúltica da CCB revela que a mesma adota procedimentos usuais
na RCC, adaptando-os conforme o estilo do instituto. A ênfase na alegria, no louvor, em que
todos devem estar alegre e louvando, é a mesma dos grupos de oração da RCC. A profecia está
presente na boca do líder, através do próprio falar de Jesus através dele.
A ênfase na cura e adoração à hóstia também estão presentes. E o transe provocado ou
não pela comunidade em efervescência emocional-orgiástica por vezes acontece, como no caso
desta moça.
Não consegui falar com ela, mas perguntei, depois, a um irmão, se ela sempre vinha e se
isto sempre ocorria. Sim, ela era assídua e tais manifestações ocorrem vezes por outra com
algumas pessoas. Segundo o irmão, são pessoas com problemas psíquico-espirirtuais que são
manifestados ali, devido ao clima de adoração e oração, e que são libertas ali. E o modo a lidar
com o caso, praticamente o ignorando até que as convulsões se tornassem impossíveis de se
ignorar, mostrou justamente a naturalização que este tipo de racionalização do caso apresenta.
REPONDO A VERDADE: Quem entende um pouco de psicologia não fala de
“transe”, pois a jovem não entrou em “transe” no sentido próprio do termo,
carregado de paganismo. A pessoa entrou em “repouso espiritual” e deu-se a seguir
como que uma “catarsis”, ou libertação, pois a fronteira entre o que se passa na
pessoa ao nível psíquico e ao nível espiritual apresenta-se muito ténue e de difícil
distinção. Mas, quase sempre é o todo da pessoa que sente a libertação. Falar de
“transes” como acontecia nas sociedades primitivas, de rituais mágicos, é
cristalizar em épocas passadas ou fixar-se em áreas dessas sociedades que ainda
existem em vários pontos do planeta, ou nos rituais de seitas, e desconhecer toda a
literatura e experiência cristã que existe no Séc. XXI!
Afinal, os dados recolhidos dos irmãos abordados por RP ofereceram-lhe
pistas para uma consulta de bibliografia que lhe permitiria adquirir
conhecimentos e vocabulário adequado e deixar para rituais de natureza pagã o
termo “transe”, assim como obteria dados informativos sobre a maneira de lidar
com o caso, evitando discursos conclusivos desadaptados sobre o tema.
Na verdade, os especialistas católicos nestes temas aconselham a proceder
exactamente como aconteceu: que o grupo à volta da pessoa continue a rezar
intensamente, deixando que a pessoa repouse e que Deus faça o Seu trabalho na
pessoa que está com problemas, até que a calma volte e que ela sinta libertação em
si mesma!
ESCREVE RP:
Para os circundantes e membros, aquela era uma manifestação natural, fruto do poder de
Deus a se manifestar, e, portanto, não haveria motivo de pânico ou pronta ajuda, pois no
momento certo o "mal" da pessoa se manifestaria e ela seria libertada. Portanto, observa-se uma
internalização e naturalização de fenômenos extáticos, de transe ou de crises agudas.
REPONDO A VERDADE: Após o que foi esclarecido acima se perceberá que
nestes casos não se trata de “fenômenos extáticos, de transe ou de crises agudas.”
ESCREVE RP:
Com seu carisma de auxílio a pessoas transtornadas psíquico-espiritualmente, a CCB
parece reivindicar, para tal exercício de carisma de aconselhamento, uma idealização de
conceitos como paz e serenidade.
É preciso não se alterar, tudo está sob controle. As faces dos membros, diante do caso
descrito, procuravam não mostrar alterações de humor.
Há, portanto, uma idealização do que seja paz e serenidade, e um esforço por agir
conforme esta idealização, no sentido de legitimar um carisma de aconselhamento que a
comunidade reivindica.
REPONDO A VERDADE: Deixemos de lado a forma aligeirada que
caracteriza o tratamento do tema sério do sofrimento da pessoa humana, neste
artigo! Com o seu carisma e serviço a pessoas transtornadas psíquicoespiritualmente, o que a Comunidade Cristo Betânea reivindica é respeito pela
pessoas e pelo trabalho sério que junto delas procura desenvolver para as ajudar.
E esse respeito tem a ver com a preparação séria de quem quer abordar esses
problemas. É isso que a Comunidade Cristo de Betânea faz: lê, participa em
cursos, seminários e congressos sobre o tema. A Comunidade não procura uma
idealização de conceitos…Não vive de idealismos, nem de sondagens apressadas:
procura, em primeiro lugar, viver o amor ao próximo, a compaixão fraterna. Ora e
procura viver e transmitir a serenidade e a paz de Deus, com as suas palavras e
presença, a quem vive despacificado e marcado pela agressividade, para a qual não
foi feito, mas que acontece, neste mundo tão letrado e tecnicista como desumano. A
pessoa humana muitas vezes não é amada e por isso mesmo traumatizada na
família, no trabalho, no desporto, enfim, no mundo das relações em que se situa
dia-a-dia, nesta cultura moderna, tecnocrata, desesperada. Transmitir serenidade,
paz e esperança às pessoas, no seu concreto, nada tem a ver com idealização de
conceitos (que por sua vez eles mesmos são idealizações da realidade…). Mas, se
for necessário idealizar algo, a coordenadora Hercília Pinto, licenciada em
Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra (de grande prestígio
na Europa!), possuindo ainda outros cursos, nomeadamente em Teologia, Ciências
Pedagógicas, pós-graduações, além e possuir experiência em trabalhos de
psicopatologia e psicologia clínica, fará uma brilhante dissertação sobre o tema
“Serenidade e paz”, o qual poderá ser muito útil a muitos investigadores,
sobretudo nas áreas humano-religiosas.
ESCREVE RP:
Outra característica na narrativa pode ser percebida no conceito que se dá aos problemas
das pessoas que precisam ser aconselhadas ou curadas. Diz-se de problemas "psíquicoespirituais". Por que não apenas "espirituais"? O ajuntamento do termo "psíquico" parece querer
denotar uma certa aura de cientificidade ao trabalho do grupo e à concepção das questões
espirituais. Seria uma forma de legitimar um aconselhamento que quer estar para além de um
marco puramente religioso tradicional.
REPONDO A VERDADE: Estamos simplesmente perante uma prova de
ingenuidade ou ignorância acerca da concepção actual da pessoa humana. Não
vamos aqui dissertar sobre acomplexidade e vulnerabilidade da pessoa humana.
Também não é preciso ser um holístico da “Nova Era”, mas basta ser um cristão
consciente e um pouco conhecedor da Sagrada Escritura para saber da concepção
semítica da pessoa humana: apesar da concepção greco-moderna dualista, a
concepção semítica acrescenta um dado fundamental: a pessoa é também espiritual
(cfr Tes 5,9. 16-23). Trata-se de uma visão tri-dimensional da pessoa humana. E,
com os dados científicos que possuímos no séc. XXI, esta visão fica reforçada. Já lá
vai há muito tempo a teoria do paralelismo dualista cartesiano: corpo-alma, sem
inter-relação.
A pessoa humana é bem mais complexa. Os neurologistas actuais,
nomeadamente o português António Damásio, comprovam a relação unidade
relacional que constitui a pessoa humana: corpo (cérebro) psíquico – espiritual. O
cérebro humano regista neurónios a que alguns neurocirurgiões chamam
neurónios da fé, ou seja, áreas nervosas cerebrais como que vocacionadas para o
sobrenatural, e nas quais, por sinal, os neurocirurgiões encontram pouco
desenvolvimento! Corpo, alma e espírito, colaborando para a essência e existência
da pessoa humana enquanto tal, não podem ser separados a não ser
metodologimente, para estudo científico de cada uma delas, em benefício de todas do todo da pessoa humana. Por isso, quando se trata de uma abordagem das
causas dos sofrimentos da pessoa humana, os sintomas físicos ou psíquicos nunca
estão desligados da área espiritual. Bem ao contrário: em larga escala, a causa dos
sofrimentos psíquicos ou físicos tem a ver com a dimensão espiritual da pessoa. É o
que temos lido e o que a Comunidade pode confirmar com a sua experiência. Por
isso nos entristece a visão pobre do ser humano, manifestada pelo autor do
trabalho, RP, na questão que coloca acerca da razão de a Comunidade não falar
apenas de problemas espirituais em vez de psico-espirituais! Para nós é mesmo
chocante! E mais: hoje temos fortes razões civilizacionais para buscar as causas da
própria doença física no entrelaçado da área psico-espiritual humana, perturbada
pela destabilização das estruturas sociais e dos valores de inspiração cristã em que
estas se apoiavam.
ESCREVE RP:
Segundo Hercília, há psicólogos que dão palestras para a CCB. A busca por legitimação
da prática do aconselhamento passa pela narrativa e conceitos da ciência, no intuito de dar um
aporte que visibilize o grupo como sério e dialógico nas perspectivas entre religião e ciência.
Legitimando assim que os leigos do Grupo cumpram uma função que no catolicismo
tradicional é aos padres reservada, o aconselhar. O libertar psíquico-espiritual poderia ter
afinidades eletivas e ser um sucedâneo da absolvição que o padre dá, libertando dos pecados.
Porém, a questão permanece, sem dúvida, mais espiritual que psíquica, pois o psíquico é
sujeitado ao espiritual, ou seja, as questões espirituais é que agem sobre o psíquico da pessoa e,
por fim, toda libertação é espiritual, de algum "mal", no prudente falar eufemístico dos
membros.
REPONDO A VERDADE: Tanta suposição e tão pouco conhecimento
científico revelado neste trabalho deixa-nos perplexos! A explicação que acima
ficou, quanto à pessoa humana, tem aqui lugar. E, sinceramente, é pena que um
trabalho venha a público com o suporte tão forte em meras suposições! Há na
psicologia a lei da pregnância das formas e recordações. As experiências mais
fortes vividas por um sujeito tendem a monopolizar as suas energias e a canalizálas em determinada direcção. Volta a surgir aqui a ânsia da legitimação, até do
aconselhamento… Por quê? Apenas por falta de reflexão ou por projecção de
experiências vividas pelo autor? Quanto ao aconselhamento, que não é o
prioritário para a Comunidade, todos os cristãos sabem que é um seu dever
consignado na Bíblia: Diz-se que uma obra de misericórdia é “dar bom conselho”
(cfr Lc 6,27-36). Um cristão católico sabe a diferença entre esta missão e a da
confissão sacramental, através da qual também o sacerdote ordenado pode e deve
dar bons concelhos ao penitente. São missões diferentes que a ninguém, entre nós,
espanta. Espantaria, sim, que os cristãos não dessem bons conselhos… Claro que
quando se entra em áreas científicas ou de especialidade, os conselhos são de outra
ordem - científica. Esses são reservados a pessoas credenciadas para o efeito. E
temos dois tipos de grupos: os psicólogos que trabalham com a Comunidade no
mesmo serviço, fazem trabalho científico credenciado pelos seus diplomas. Quanto
aos teólogos, leigos ou sacerdotes que trabalham com a Comunidade, passa-se o
mesmo. Quanto a outros colaboradores, são preparados em cursos e através de
leituras e do trabalho com os especialistas nos temas, sejam da Comunidade ou
colaboradores. Não há objectivamente qualquer colisão do serviço dos leigos com o
da hierarquia. Há, sim, complementaridade saudável e por isso desejável, da qual
sacerdotes e leigos que assim colaboram têm as melhores recordações e desejo de
continuidade! O contrário será uma visão deturpada de quem não conhece a Igreja
Católica, ou de quem, porventura, teve infelicidade de conhecer casos esporádicos
de querelas ocasionais.
ESCREVE RP:
Na expressão: O libertar psíquico-espiritual poderia ter afinidades eletivas e ser
um sucedâneo da absolvição que o padre dá, libertando dos pecados.
REPONDO A VERDADE:
Em Lucas 4, 18 e sgs, Jesus apresenta na sinagoga a Sua missão: “Curar os
doentes, libertar cativos…” E conferiu à Sua Igreja esse poder: deu as chaves a
Pedro. A Igreja Católica dispõe de sacramentos de cura e um deles é
especificamente para isso. O Papa João Paulo II fala da importância da oração
dos cristãos para obter a cura de um doente. Com isto queremos apenas desfazer
o equívoco referido na expressão supra: é que temos bem a consciência de que
quem cura os doentes, hoje tanto como outrora, é Jesus Cristo, através dos Seus
instrumentos e meios à Sua disposição. Por isso, até o padre sabe que quem
perdoa os pecados ou quem cura através dos sacramentos ou da sua oração não é
ele mesmo, mas Jesus Cristo hoje, através dele mesmo como Seu instrumento. E
todo o cristão católico sabe claramente que quando ora por uma pessoa que
sofre, por um doente que lhe pede oração, não é sucedâneo do padre. Sabe que o
faz por si mesmo, em nome do seu baptismo, e por amor fraterno. E sabe
também que o ministério do padre e o seu ministério junto do doente como leigo
se completam!
No trabalho que a Comunidade faz não há libertadores psico-espirituais. Há
pessoas preparadas nas diversas áreas, para ajudarem quem a procura em
sofrimento a ser liberto pelas achegas da ciência e o trabalho de Deus, quando
essa pessoa com Ele colabora. De contrário, não será mesmo liberta, nem curada.
Tudo o resto supra referido pelo autor do trabalho são meras suposições, sem
qualquer consistência.
ESCREVE RP:
17. Ainda sobre a missão de cura e evangelização
Frei António relatou-me um exemplo prático de evangelização do Grupo, para além dos
já referidos. Disse que no verão, alguns irmãos costumam ir às praias próximas de Telhado e
Braga (Póvoa de Varzim e Esposende) para evangelizar. Relata que a praia é um lugar
privilegiado no verão para tal tarefa, pois lá as pessoas estão de férias, relaxadas, sem as
preocupações do dia-a-dia, e que, portanto, se tornam mais abertas a ouvir o evangelho.
Porém também na praia, nas férias, é que são cometidos os “excessos” e que, portanto, é
onde as pessoas mais “precisam” ser evangelizadas. Conta que certa vez, na praia de Póvoa de
Varzim, no verão, um grupo de cerca de 15 irmãos da CCB fez uma procissão pelas ruas do
balneário. Aquilo chamou a atenção de muitos. Na procissão, é claro, nada que lembrasse às
tradicionais procissões católicas, mas havia muito canto, louvor e alegria ao som do violão,
dança, em que os irmãos chamavam as pessoas a aderirem ao percurso.
Chegando a uma praça, fizeram uma roda e chamaram as pessoas a assistirem um teatro
encenado por alguns irmãos, cujo tema, é claro, era “o filho pródigo”. Após a encenação os
irmãos se dirigiram às pessoas – que lá estavam ou ainda ficaram – para abordá-las com folhetos
e mensagens.
Números não foram quantificados, ou seja, se muitas pessoas seguiram a procissão e
viram o teatro. Apenas revelou-se que “pessoas vinham” e “muitas assistiram” o teatro.
Perguntei qual foi o resultado da iniciativa. Informou-me o frei que um casal, já idoso, muito se
interessou pela CCB e que depois se tornaram sócios, assinando a revista e até fizeram um
Retiro promovido pela CCB em Fátima.
Como se percebe, o método de evangelização in loco da CCB funde elementos
tradicionais – ainda que sob nova roupagem – e imagéticos novos, como teatro em bibliodrama.
Esta fusão de tradição (procissão), louvor com “muita alegria” e teatro e abordagem coloca a
CCB na esteira da Igreja tradicional, da RCC e do proselitismo de inspiração evangélicorevivalista.
REPONDO A VERDADE: Curioso: “Fazer um percurso na rua é coisa do
passado”, segundo RP! Mas nós consideramos de sempre! E hoje até se tiram em
Portugal cursos de animação de rua! Pois foi algo parecido o que aconteceu. E,
embora o objectivo da Comunidade não fosse directamente a animação de rua,
mas responder ao mandato de Jesus “Ide… e anunciai o Evangelho” (Mt 10-5-14),
o certo é que houve mesmo animação de rua! Quantas pessoas eram? Tantas, que
se deslocaram da praia para a rua e da rua para o largo onde foi representada a
passagem bíblica! E tanta gente que cantou e dançou! E tanta gente que fez
perguntas e muitos que ficaram com os contactos da Comunidade para continuar
conversas iniciadas!... E o mesmo foi feito noutros locais, praias ou ruas, em
Portugal e até já no Brasil, em Arapiraca. Números? A preocupação pelos números
é para quem pensa a Igreja e os discípulos de Cristo à maneira de sócios de um
clube, que valem para o clube pela quantidade! Os apóstolos, cujos nomes são
narrados na Bíblia, eram doze!... Não consta que Cristo tivesse a preocupação da
quantidade, nas sim da qualidade: esses doze, mais os setenta e dois discípulos bem
preparados, fizeram chegar até nós a fé em Cristo! E mais ainda: um evento de
evangelização na rua é uma nova estratégia de evangelização que em nada coincide
com uma procissão, se não que nas duas há pessoas em movimento e que cantam…
Mas nem músicas, nem cânticos, nem objectivos imediatos nem organização
estrutural, nem tipo de participantes têm algo de comum. Certo que poderão ser
complementares, em relação a objectivos de evangelização. Estes eventos não
colocam a Comunidade Cristo de Betânea na esteira da Igreja tradicional, da RCC e
do proselitismo de inspiração evangélico-revivalista, como afirma RP. Colocam, sim,
a Comunidade Cristo de Betânea na realização do seu objectivo: a “Nova
Evangelização”, usando novas estratégias, na linha do que esta aprende em
encontros da Associação Europeia de Coordenadores das Escolas de Evangelização
Católicas, da qual esta Comunidade faz parte. Esses eventos na rua colocam esta
Comunidade, como todas as “Novas Comunidades” que se socorrem desta e
doutras novas estratégias, a realizar o desafio do Papa João Paulo II, na Encíclica
Redemptoris Missio: pregar noutros areópagos. E revela que esta Comunidade vive
a sua união à Igreja, no esforço de busca de novas estratégias.
Toda a interpretação dada por RP no seu artigo a esta estratégia de evangelização
traduz uma fraca comparação e desconhecimento acerca das novas estratégias,
necessárias à Nova Evangelização. E, ademais, esta estratégia é muito usada, não
apenas pela Comunidade Cristo de Betânea, mas por muitas outras “Novas
Comunidades”.
ESCREVE RP:
Teatros e manifestações lúdicas para comunicar a mensagem cristã fazem parte do estilo
carismático – embora não só – de levar as pessoas a se identificarem através da arte-emoção
com uma mensagem, de se sentirem atraídas por ela. Particularmente se o tema é o “filho
pródigo”, o que já manifesta a mentalidade evangelizadora do Grupo, isto é, de que a maior
parte das pessoas que estão a gastar seus bens com divertimentos de férias na praia podem ser,
potencialmente, o filho devasso e perdulário da história bíblica. Já o fato de abordar as pessoas
após a encenação, em corpo-a-corpo, aponta para uma prática de re-evangelização típica da
RCC e que muito deve a certos protestantismos. Fazer prosélitos é um alvo do que se conforma
como evangelização.
REPONDO A VERDADE: Com que fundamento, para não dizer
atrevimento, poderá afirmar RP que, através da parábola - que nem chamamos de
“Filho Pródigo”, mas do “Pai da Misericórdia” – a Comunidade quer colocar na
mentalidade do grupo evangelizador o pensar, o comparar as pessoas que estão a
descansar na praia com o “Filho pródigo”, afirmando que a Comunidade julga as
pessoas que descansam na praia? RP insinua que a Comunidade considera que a
maior parte das pessoas que estão a gastar seus bens com divertimentos de férias na
praia podem ser, potencialmente, o filho devasso e perdulário da história bíblica.
Artifícios de um imaginário possível entre muitos férteis em projecções pessoais. Teria
sido bem melhor um trabalho de campo mais completo, abordando pessoas que até
poderiam ter estado ligadas ao núcleo da equipa evangelizadora. É que a
evangelização não é moralista. Não tem que dar recados, nem receitas a ninguém.
Cabe-lhe apenas anunciar Jesus Cristo. Se houver um encontro de alguém com
Jesus Cristo, se Este lhe tocar em algum ponto de vida a mudar, isso será outra
coisa! As pessoas que em Portugal estão nas praias estão em férias merecidas do
muito trabalho realizado ao longo do ano! A opção por partir para as praias para
aí anunciar Jesus Cristo tem a ver com uma estratégia: aproveitar a oportunidade
de as pessoas terem tempo para escutar a Sua Mensagem, pois estão em férias.
Sigamos, esclarecendo a verdade dos factos: o bíblio-drama do “Pai da
Misericórdia”, um dos muitos que a Comunidade tem encenado, foi escolhido,
como todos os outros, com objectivos estratégicos bem definidos em função da
Nova Evangelização. Assim, com a parábola do “Pai da Misericórdia” consegue-se
facilmente um arranque dos diálogos desejados que sirva de estratégia aos
evangelizadores, não para fazerem prosélitos, como RP a seu jeito afirma, mas
para falar de Jesus Cristo, pois é este o objectivo da Evangelização: o anúncio de
Jesus Cristo! É isso que na Igreja Católica os evangelizadores pretendem:
anunciar Jesus Cristo. O que foi descrito por António mostra, isso sim, a aptidão
do grupo para a “Nova Evangelização”, que coloca o acento nos diálogos entre
pessoas presentes e os evangelizadores. Seguindo a estratégia devida, os
evangelizadores são preparados e espalhados tacticamente pelo meio da multidão,
disponíveis para o questionamento oportuno. E, se alguém quiser vir a assinar a
revista Jesus Vivo (ou outra revista de evangelização), melhor ainda, pois a acção
evangelizadora não morrerá ali, mas irá continuar através da revista. É isso
mesmo que se pretende: dar uma ajuda a quem a quiser, para que os cristãos não
vivam de episódios mas da fé alimentada, para poder crescer e dar frutos…
ESCREVE RP:
18. Também o pesquisador precisa de evangelização, ou, “ai do intelecto…”
Dentro deste espectro evangelizador e curador não falta, à CCB, um tema muito em
comum na Toca: o perigo da, digamos, “inteligência autônoma” para a vida da alma.
Quanto estive conhecendo pela primeira vez a casa da CCB em Telhado, o Frei António
mostrou-me a capela interna.
Ao entrar, ajoelhou-se e ficou por longo período em silêncio diante do santíssimo exposto.
De repente começou a orar em voz alta, lembrando a Deus as “pessoas afastadas”, as que “só
usam a razão e não abrem coração ao ES”. Após novo silêncio, rezou por mim, para que não só
a inteligência e razão me dirigissem, mas também a sabedoria de Deus. E orou “quem sabe ele
busca um sentido, algo que a razão e o estudo não podem dar”.
REPONDO A VERDADE: E a oração de António está profundamente correcta. Há
algo que a oração nos dá que nenhum estudo académico nos poderá dar. Como
consequência, a oração pode iluminar ainda mais a sabedoria humana e a
inteligência do investigador!
ESCREVE RP:
Frei António, um dos líderes da CCB, ele mesmo “curado” de problemas psíquicoespirituais no Grupo, tem cerca de 50 anos e, conforme uma irmã contou-me, “é estudado”, pois
“quase conclui a faculdade de engenharia no Porto”, tendo que se afastar dos estudos por
questões médicas. O que destaco, porém, é o discurso que se afina ao da Toca referente aos
males de uma inteligência ou estudos autônomos.
REPONDO A VERDADE: António, segundo o que atrás referiu, nunca, em
algum momento, afirmou que os “estudos autónomos” e que a inteligência humana
são “males”. Pois se até ele mesmo é estudado!...
ESCREVE RP:
Há desconfiança das pessoas “letradas”, dado que, geralmente, muitas destas questionam
pela razão certas questões da religião e da Igreja.
REPONDO A VERDADE: A desconfiança não é das pessoas letradas, como
tais. Poderemos, sim, temer a vaidade e orgulho de pessoas letradas, quando,
invadidas pela vaidade de o serem, se servem dos seus diplomas como cartas de
poder sobre os menos letradas. Mas em Portugal as pessoas que têm poucos
estudos questionam muito temas da Igreja, às vezes até mais que os “letrados”. Na
Europa não há muita distinção entre “letrados” e “não letrados” pois, não havendo
um abismo cultural tão grande entre as pessoas, também não há uma diferenciação
tão grande entre níveis de instrução, como por exemplo no Brasil, um país bem
maior, em que uma pequena parcela da sociedade tem estudos secundários ou
superiores e a grande maioria da população é muito iletrada.
ESCREVE RP:
A razão autônoma, não dominada pelo ES, é uma ameaça corrosiva.
Estando ele diante de um investigador acadêmico, não pôde deixar de, devotamente, dar
seu recado a mim. Era talvez um aviso, um presságio, de que minha razão, talvez pouca atenta
ao sopro do ES, pudesse estar escrevendo estas linhas um tanto críticas ou autônomas.
REPONDO A VERDADE: Só que António tem vivido já com investigadores
académicos dentro da Comunidade e nunca viu neles uma ameaça! Muitos de nós,
nas investigações que temos tido de fazer, até pedimos a oração dos irmãos, para
que a nossa inteligência seja iluminada pela sabedoria e entendimento do Espírito
Santo e assim se possa chegar mais depressa e melhor à verdade objectiva a
investigar! E não consideramos por isso que a nossa razão e capacidade mental
perca a sua autonomia. Apenas a fé nos diz que Deus, criador da nossa razão
autónoma, a pode potenciar, no momento oportuno. E tem resultado! António, com
a sua oração, apenas quis ajudar, pedindo a luz do Espírito Santo para o
“investigador”! Era até caso de RP agradecer!
ESCREVE RP:
Mas também é de interesse apontar para a concepção que se fez, e se faz na CCB, de
pessoas regidas por razão autônoma, se fica bem assim nomear. A falta de sentido de vida. A
razão é uma forma de buscar sentido de vida, mas ela, sozinha, não chegaria ao objetivo
(COSTA, 2007). “Estudo e razão” não podem por si conferir sentido de vida. E é com isto que a
CCB se ocupa, se importa e trabalha: em curar as pessoas da falta de sentido de vida, desta,
talvez, maior doença psíquico-espiritual a escravizar as pessoas e não a deixarem vislumbrar o
verdadeiro caminho. Minha presença era interpretada como um possível caso de quem, espiando
academicamente uma comunidade religiosa, estivesse, no fundo e sem saber, a buscar raízes e
sentidos para mim. Um proselitismo devocional e psicológico? Uma concepção do ser humano
como doente ou desequilibrado pela falta de sentido. Encontrar e ter Jesus faz todo sentido, cura
e liberta.
REPONDO A VERDADE: Pela primeira vez concordamos com RP! DE
facto, “encontrar e ter Jesus faz todo sentido, cura e liberta.”! E, afinal, é isso
mesmo o objectivo da Comunidade Cristo de Betânea: ajudar as pessoas a
encontrar Jesus Cristo! Fazendo todo o esforço, dentro das suas limitações, mas
dando tudo pelos outros, em comunidade de irmãos, inserida na coração da Igreja
Católica! Pena que de vez em quando apareçam certos obstáculos no caminho,
como o Senhor RP, mas que certamente ainda dará mais força aos membros da
Comunidade para continuarem o seu caminho, ainda mais unidos, procurando a
VERDADE em tudo o que fazem!
ESCREVE RP:
Conclusão
O objetivo deste artigo foi visualizar um pouco da gênese, estrutura e práticas, assim
como conflitos e peculiaridades, de um novo movimento católico de vida e aliança em Portugal.
Através do exposto foi possível perceber algumas características salientes de um novo
movimento católico luso: a dependência de inspiração referente à RCC e, ao mesmo tempo, a
negação e recusa de relações com ela; o discursismo de fidelidade à Igreja Católica e, ao mesmo
tempo, a desconfiança hierárquica da Igreja em relação ao Grupo; o discurso cientificizante das
práticas espirituais, e a espiritualização de fenômenos psíquicos, ao mesmo tempo em que se
tem uma relação ambígua e desconfiada com a ciência acadêmica, com os estudos; o uso de
símbolos que remontam ao medievo (criação de um hábito religioso), ao mesmo tempo em que
se sustenta o discurso de inserção evangelizadora junto à modernidade; a despreocupação com
números e relatos formais, e, relacionado a isto, a dependência direta do líder carismático
fundador do movimento. Estes e outros paradoxos e características têm acompanhado boa parte
das novas comunidades de vida e aliança católicas pelo mundo inteiro, e, em relação a Portugal
o mesmo se dá, na CCB, fazendo patente que as novas sensibilidades católicas referentes a um
gradiente carismático têm muito em comum em vários cantos do mundo, para além das
diferenças culturais e distâncias geográficas.
REPONDENDO A VERDADE: Agora escrevemos nós a Conclusão deste
artigo publicado na Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano II,
n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2859.
Efectivamente, a Conclusão deveria ser esta, se o senhor RP fosse um
investigador que procura a Verdade:
“O objectivo deste artigo foi visualizar um pouco da génese, estrutura e
práticas de Uma Nova Comunidade Católica de vida e aliança em Portugal.
Através do exposto foi possível perceber algumas características salientes de
uma “Nova Comunidade” católica lusa: a inspiração referente à RCC e as boas
relações com a RCC; o discurso de fidelidade à Igreja Católica e, ao mesmo tempo,
a confiança da Igreja para com esta Comunidade; o discurso que procura auxílio
na ciência para a realização das práticas psico-espirituais e a procura de
compreensão espiritual de fenómenos psíquicos, ao mesmo tempo que procura
fazer a ponte com o mundo da ciência e do estudo; tendo como objectivo a Nova
Evangelização, utiliza o uso de símbolos, entre eles os que se inspiram no medievo
(como a criação de um hábito religioso moderno), ao mesmo tempo em que se
sustenta o discurso de inserção evangelizadora junto (Necessário à pósmodernidade) à modernidade. Nota-se a despreocupação com números e relatos
formais, o que prova a sua centralidade na qualidade dos membros e não na sua
quantidade, bem como na qualidade daquilo que faz ao serviço da Igreja e do
Reino de Deus, na busca da condução de Deus. Relacionado a isto, fica clara a sua
centralidade em Cristo, o seu esforço de viver a comunhão fraterna na
dependência de Deus, de quem o líder carismático recebeu a inspiração fundante, e
da Igreja, na qual está inserida e aprovada, e que todos os membros procuram
viver os carismas da Comunidade em união profunda com a Igreja de que são
parte e instrumento de Evangelização.
Estas e outras dimensões e características têm acompanhado boa parte das novas
comunidades de vida e aliança católicas pelo mundo inteiro, e, em relação a
Portugal o mesmo se dá, na CCB, fazendo patente que as novas sensibilidades
católicas referentes a um gradiente carismático têm muito em comum em vários
cantos do mundo, para além das diferenças culturais e distâncias geográficas.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA POR RP:
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