Nem Sempre é domingo em Orlando

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Nem Sempre é domingo em Orlando
• • • turista na sua cidade
Nem sempre é domingo em
ORLANDO
O cotidiano e o lazer do brasileiro Claudemir Oliveira, especialista
em formação de profissionais para o mundo Disney, na cidade
símbolo do entretenimento profissional
Michel Gorski
Divulgação/Walt Diney World
oa parte dos 60 milhões de visitantes que aportam
todo ano em Orlando, tanto americanos como estrangeiros, ao retornar diz que esteve na Disney.
Não fala em Orlando ou na Flórida, e os estrangeiros esquecem até de citar os Estados
Unidos. Isso é que é destino turístico!
Mas como será o cotidiano e o lazer dos 230 mil habitantes
que compõem a população permanente de Orlando, cidade onde
diversão e turismo estão 24 horas no ar? Será como fazer figuração no filme O Show de Truman, em que o personagem de Jim
Carrey descobre que sua vida não passa de um programa de TV?
Pessoas de várias partes do mundo integram as sofisticadas
engrenagens das operações de entretenimento Disney, capitaneadas por quatro megaparques temáticos e cerca de 30 mil
quartos de hotéis. Entre elas, o brasileiro Claudemir Oliveira.
Natural de Arapiraca, sertão de Alagoas, ele é um especialista na
transmissão dos conceitos e valores Disney, no famoso curso
Traditions da Disney University, porta de entrada obrigatória
para quem será integrado ao seleto corpo de colaboradores do
grupo. Antes de atender ao convite para trabalhar em Orlando,
há sete anos, Oliveira foi responsável pela implantação da divisão Parks & Resorts da Disney no Brasil, em 1995.
Em sua atividade principal no mundo Disney, o jornalista
de formação trabalha criando estratégias de treinamento internacional para a indústria do turismo.“Falo para cerca de 30 mil
pessoas por ano, geralmente agentes de viagens, em treinamentos e palestras voltados para quem vende o portfólio de produtos Disney”, diz Oliveira. “Do Brasil, 80% dos visitantes
chegam intermediados por agências que nos representam, mas
estamos trabalhando na divulgação da alternativa Disneyland
Paris, especialmente agora que o gargalo do sistema é o transporte aéreo”, acrescenta.
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Divulgação/Walt Diney World
Divulgação/Visit Florida
Divulgação/Sea World
Divulgação/Walt Diney World
Divulgação/Visit Florida
Oliveira indica atrações como os cruzeiros para
a ilha particular da Disney; o centro de Orlando;
o parque aquático SeaWord e o espetáculo
La Nouba, do Cirque du Soleil
Um universo diferente da vida de Oliveira surge quando ele responde à pergunta:“O que mais você faz em Orlando?”. Além de passear, há muita dedicação às atividades
preferidas: estudar e orientar pessoas. Atualmente concluindo o doutorado em psicologia na Barry University,
Oliveira criou o Seeds of Dreams Institute, instituto no
qual trabalha com o que ele chama de Psicologia Positiva,
focada no desenvolvimento da qualidade de vida pessoal e
profissional. Recentemente fez o roteiro de um premiado
curta-metragem, Once Not Far From Home, e ainda se aplica com obstinação a conhecer a personalidade de Walt
Disney. “Faço o que gosto, funciona como um oxigênio e
saio do mundo do turismo”, explica.
Para Oliveira, morar em Orlando é muito bom. “Só se
vê gente feliz”, afirma ele, que é casado com uma paulistana e já opina como psicólogo:“Fico preocupado com os
estrangeiros, em especial com os brasileiros, que vivem
nos Estados Unidos. Eles exercem atividades que não fariam em seus países, sem aproveitar para se dedicar a uma
formação diferenciada, no mínimo de aprendizado da língua inglesa, que lhes permitiria retornar ao país de origem
em outro patamar de vida. Sou de família pobre e acredito
que o estudo abre caminhos. Isso é fazer a América”.
O encontro para uma conversa aconteceu em Celebration, uma faceta do sonho Disney de mundo totalmente planejado, no qual se misturam realidade e ficção.A
pequena cidade-modelo instalada no complexo conecta
aspectos de arquitetura e urbanismo ao mundo do entretenimento. Em Downtown Celebration há restaurantes, um cinema, uma igrejinha, o hotel e ícones que indicam que você está no centro da cidade. A atração,
segundo Oliveira, representa bem a idéia do que é uma
cidade planejada, conceito surgido com a idéia da Comunidade Epcot (Experimental Prototytpe Community of
Tomorrow), um dos projetos inovadores da Disney quando de sua instalação em Orlando, nos anos 1970.
Foi num restaurante de Celebration, modelo exemplar
do criticado new urbanism para subúrbios de cidades americanas, com casas em estilos colonial americano, vitoriano
e clássico, que Oliveira pôde discorrer sobre a vida de um
brasileiro no pântano que mais deu certo no mundo. Entre suas muitas ocupações, trabalha num roteiro de estudo
de todos os locais em que Walt Disney se inspirou (em
breve visitará o Parque Tivoli, na Dinamarca). Também
precisa, e gosta, de visitar os parques concorrentes da
Flórida, todos de muita qualidade e que criam atrações
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especializadas para se diferenciarem. Ele cita como exemplo o
parque da Universal, com montanhas-russas radicais, e o SeaWorld, com imbatíveis shows de animais marinhos.
Orlando recebe muitas convenções e eventos de grande
porte, o que fortalece o turismo de negócios na região. Outro
grupo de visitantes que se destaca na paisagem da “cidade dos
sonhos” e seus sistemas de entretenimento são os deficientes,
vistos participando de atividades em toda parte.A qualidade dos
equipamentos adaptados a esses viajantes é levada aos limites
possíveis de inserção, comprovando que diversão em Orlando é
um direito de todos.
Fotos: divulgação/Visit Florida
• • • turista na sua cidade
Com 2 mil quilômetros de costa, o estado da Flórida oferece diversas
praias paradisíacas, muitas bastante próximas da capital do entretenimento
Um residente passeando em Orlando
omo morador de
Orlando e
da Flórida, Claudemir Oliveira destaca seus passeios
pela região com
ofertas de atrações
menos expostas aos
milhões de visiA primeira escola dos EUA está em St. Augustine, tantes e reconhece:
a 160 km de Orlando
“Não tem muito
como fugir do turista”. Mas no cinema e no teatro eles
não são encontrados. Afinal, os investimentos em atividades noturnas da Disney e da Universal acabaram
deixando downtown Orlando mais para o público local.
Para Oliveira, a primeira obrigação de todos é ver o
Cirque du Soleil, com o espetáculo La Nouba em endereço permanente na área central da Disney. “Foi uma
grande sacada do Michael Eisner, quando era o CEO do
complexo, convidar o Cirque du Soleil para ser âncora.
Mesmo pagando caro para ter um espetáculo fixo e exclusivo, há muita sinergia com a Pleasure Island, outra
atração, e com o centro da Disney. A cada três horas, despeja 2 mil pessoas, ávidas para consumir, nos restaurantes,
bares e lojas das áreas noturnas da Disney.”
Sobre o que e onde comer na cidade em que quase
tudo é franquia, Oliveira afirma que com dinheiro se
come bem,“até um rodízio brasileiro no Texas of Brazil”.
Mas os visitantes, de maneira geral, não estão em busca
de prazeres gastronômicos, mas em se alimentar para repor as energias e acordar no dia seguinte para visitar um
C
novo parque. Para os brasileiros, na International Drive –
a principal avenida de Orlando, com 22 quilômetros de
extensão –, há dois restaurantes para abrandar a saudade:
o Camila’s e o Vitorio’s, onde se come feijão com arroz,
carne acebolada, a “nossa” maionese, arroz-doce e pudim.
Na mesma quadra, tem padaria com pãozinho fresco e
lojas com produtos brasileiros.
A família Oliveira gosta de ir aos shoppings Millenia
Mall e Florida Mall, mas se alguém quiser encontrar brasileiros é só ir ao Premium Outlet, com suas ofertas especiais. Outro espaço para um ótimo passeio é o Winter Park,
bairro onde fica o Museu Morse, com uma incrível coleção de cristais art nouveau Tiffany, lugar mais calmo e com
boas lojas e restaurantes. Aos residentes os parques temáticos sempre promovem descontos e passaportes especiais.
Segundo Claudemir, a Flórida oferece inúmeros passeios, com facilidades de acesso. Sempre que pode, toma
outros rumos. A primeira dica, pouco conhecida, é Saint
Augustine, a 160 quilômetros de Orlando, tida como a
cidade mais antiga do país, a primeira que os europeus
construíram na América do Norte.
Outros passeios são as ótimas praias que há nos dois lados da Flórida e a possibilidade de sair de Porto Canaveral,
a 80 quilômetros de Orlando, em cruzeiros marítimos, especialmente os oferecidos pela Disney, “que em vez de
combater a concorrência também entrou no ramo”. Conforme a disponibilidade e com as facilidades de funcionário do grupo, Oliveira seleciona viagens de três a seis dias,
que podem chegar às Bahamas. Mas sua preferência atual é
navegar para Castaway Cay, uma paradisíaca ilha privada da
Disney, nas Bahamas, com atividades programadas como
passeios por trilhas, de bicicleta e esportes náuticos.
Michel Gorski é arquiteto e editor do site Arquiteturismo (www.arquiteturismo.com.br)
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