Estudo de Oferta e Demanda de Produtos Florestais - Ideflor-bio

Transcrição

Estudo de Oferta e Demanda de Produtos Florestais - Ideflor-bio
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA – UFRA
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS – ISARH
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO FLORESTAL DO PARÁ - IDEFLOR
CARACTERIZAÇÃO DO MERCADO DE PRODUTOS FLORESTAIS MADEIREIROS E
NÃO-MADEIREIROS DA REGIÃO MAMURU-ARAPIUNS
RELATÓRIO FINAL
Antônio Cordeiro de Santana (Coordenador)
Ismael Matos da Silva
Cyntia Meireles de Oliveira
Rubens Cardoso da Silva
Gisalda Carvalho Filgueiras
Andréia Damasceno Costa
Thaís Ferreira de Souza
Alfredo Kingo Oyama Homma
BEÉM – PARÁ
2008
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 4
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................................................... 8
MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................................................... 17
METODOS QUANTITATIVOS .............................................................................................................. 18
ANÁLISE QUANTITATIVA DO MERCADO ........................................................................................... 18
MÉTODO QUANTITATIVO DE ANÁLISE FATORIAL ............................................................................. 20
ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................................................... 25
ANÁLISE AGREGADA DO MERCADO DE PRODUTOS MADEIREIROS ................................................. 25
MERCADO AGREGADO DE PRODUTOS NÃO-MADEIREIROS ............................................................. 38
Conceito de produtos não-madeireiros ........................................................................................ 38
Mercado de produtos não-madeireiros ........................................................................................ 40
ANÁLISE DO MERCADO DE PRODUTOS MADEIREIROS POR MUNICÍPIO .......................................... 47
Mercado de madeira de Itaituba .................................................................................................. 47
Mercado de móveis de Itaituba .................................................................................................... 48
Mercado de madeira de Santarém ............................................................................................... 52
Mercado de móveis de Santarém ................................................................................................. 53
Mercado de madeira de Juruti ...................................................................................................... 54
Mercado de móveis de Juruti ........................................................................................................ 54
Mercado de móveis de Aveiro ...................................................................................................... 55
MERCADO DE PRODUTOS NÃO-MADEIREIROS POR MUNICÍPIO...................................................... 57
Mercado de ecobijoux de Itaituba ................................................................................................ 57
Mercado de artesanato de cerâmica de Itaituba .......................................................................... 59
Mercado de ecobijoux de Santarém. ............................................................................................ 60
Artesanato de madeira da oficina cabocla de Santarém .............................................................. 66
Mercado de óleos essenciais – FLONA do Tapajós ....................................................................... 69
Mercado de óleo de copaíba......................................................................................................... 72
Mercado de peixe ornamental de Itaituba ................................................................................... 74
Mercado de produtos da farmacopéia de Juruti .......................................................................... 79
Mercado de artesanato de Juruti .................................................................................................. 84
Mercado de ecobijoux e artesanato de Aveiro ............................................................................. 85
ANÁLISE DOS RESULTADOS DO MERCADO ....................................................................................... 87
RESULTADOS DA ANÁLISE FATORIAL ................................................................................................ 90
ANÁLISE DO ÍNDICE SISTÊMICO DE DESEMPENHO COMPETITIVO - ISDC....................................... 102
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................................... 106
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 112
APÊDICE 1 – RELATO DAS ENTREVISTAS SOBRE A INSTITUCIONALIDADE .......................................... 115
APÊDICE 2 – CICLO DE EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE PAU-ROSA ................................................................ 119
APÊDICE 3 – OUTROS PRODUTOS EXTRATIVOS ENCONTRADOS NA REGIÃO DA PESQUISA .............. 129
INTRODUÇÃO
A dimensão da economia da madeira no Estado do Pará tem alto peso para o
desenvolvimento. Em 2007, gerou um consumo de US$ 4.48 bilhões, criando 12.590
empregos diretos e exportando US$ 991.76 milhões, o que representou 11,28% do total
exportado. Em relação apenas às exportações de madeira, o Estado do Pará participou com
29,70% do total do Brasil, assumindo a segunda posição no ranking. Além disso, respondeu
por 75% da madeira extraída de floresta nativa do país (DECEX, 2008).
Por seu turno, a indústria moveleira do Estado do Pará, apesar da disponibilidade de
matéria-prima é bastante incipiente e sua participação nas exportações de produtos
madeireiros foi de apenas 0,27%. Ao considerar apenas as exportações brasileiras de móveis,
a participação do Pará foi de apenas 0,8%, em 2007 (DECEX, 2008).
Os produtos não-madeireiros que constam nas estatísticas de exportação são o
palmito de açaí, a castanha-do-pará, os óleos essenciais, as sementes, as gomas, as cascas,
as folhas e os peixes ornamentais, porém em magnitudes pequenas. Em 2007, o valor
exportado destes produtos somou apenas US$ 27.35 milhões. Os demais produtos nãomadeireiros não constam nas estatísticas oficiais.
Os municípios da região Mamuru-Arapiuns: Itaituba, Aveiro, Santarém e Juruti,
destinam parte da produção madeireira para o mercado internacional, sendo a
intermediação feita por empresas-matriz instaladas em Belém ou por meio de outras
empresas também da Região Metropolitana de Belém. Em função disso, não foram
encontradas as estatísticas de exportação destes municípios. Quanto aos produtos nãomadeireiros, a oferta se destina principalmente ao mercado local. Apenas uma parte irrisória
é destinada ao mercado internacional. Como a transação também é feita por intermediários,
não se dispõem das informações.
A análise do mercado de produtos madeireiros e não-madeireiros, geralmente
apresenta uma abordagem parcial, com ênfase nos segmentos que utilizam a madeira e
produtos não-madeireiros como insumo principal. São os casos dos segmentos de celulose e
papel, das empresas madeireiras de produtos serrados, laminados e artefatos; do segmento
de móveis; das indústrias de higiene e limpeza que utilizam óleos e produtos da floresta; da
indústria de cosméticos e de fármacos que utilizam essências e princípios ativos das plantas
para fabricarem produtos de alto valor agregado.
5
No entanto, o setor florestal madeireiro e não-madeireiro e os demais produtos que
configuram a economia da natureza, possuem dinâmica própria, determinada pela oferta de
madeira em tora e de produtos não-madeireiros e pela produtividade total do ecossistema
das áreas de floresta. Mesmo que cada produto defina uma cadeia produtiva específica e os
diversos níveis de mercado entre sua extração e o consumidor final, as condições que
definem a sua dinâmica de desenvolvimento estão centradas no marco regulatório legal
para a gestão das áreas de florestas públicas, em regime de concessão.
Neste contexto, o mercado dos produtos madeireiros e não-madeireiros da área de
estudo está fortemente dependente da eficiência operacional das ações a serem
desenvolvidas pelo arranjo institucional que responde pela regulação dos planos de manejo
sustentáveis. O arranjo institucional local terá condições estruturais para coordenar as
atividades de exploração, processamento e distribuição dos produtos madeireiros e nãomadeireiros da área Mamuru-Arapiuns? Quais os impactos sobre o mercado de produtos
madeireiros resultantes da implantação do marco regulatório em relação à competitividade
sistêmica das cadeias produtivas? Qual o tipo de organização empresarial deve ser
implantado para alavancar a trajetória de desenvolvimento local e sustentável, a partir dos
planos de manejo e das áreas de florestas públicas?
Para responder estas perguntas, a hipótese é que o marco regulatório define a
competitividade sistêmica, mas sua implantação gerou grande choque de eficiência na
cadeia produtiva, em função da exigência da exploração sustentável dos recursos naturais.
Diante disso, os mercados estão operando com alto grau de incerteza e custo de transação,
dada a assimetria no fluxo de informação e o oportunismo dos agentes.
Nesta perspectiva, o estudo de mercado da região do Mamuru-Arapiuns adotou uma
metodologia, fundamentada na cadeia produtiva e nos mercados que se definem nas
transações de oferta e demanda entre os extratores e as indústrias processadoras, e entre
estas e as empresas que distribuem os produtos, que resultam do desdobramento da
madeira ou do beneficiamento e fabricação de artesanatos para as empresas que fazem a
sua distribuição para os diversos mercados: local, regional, nacional e internacional. Em cada
mercado, existe um custo de transação gerado por informação assimétrica e
comportamento oportunista dos agentes. Estas atitudes se desenvolvem em função do
comportamento das ações do arranjo institucional que regula as cadeias produtivas, daí a
6
necessidade de compreender a dinâmica do mercado como uma organização regulada por
diversas forças além da simples operacionalidade das leis de oferta e demanda.
A metodologia adotada envolveu a aplicação de formulários específicos junto aos
empresários do segmento madeireiro, contemplando todas as serrarias instaladas próximas
à área de pesquisa dos municípios de Itaituba, Aveiro, Santarém e Juruti. O formulário
também foi aplicado às movelarias dos municípios de Itaituba e Santarém em amostra
representativa, e a todas as empresas instaladas em Aveiro e Juruti.
No segmento de produtos não-madeireiro, por outro lado, aplicou-se o formulário
em todas as organizações produtoras de artesanato, óleo e captura de peixes ornamentais.
Este formulário foi acompanhado de uma entrevista em profundidade para esclarecer ou
pormenorizar outras questões vinculadas aos mercados destes produtos. Fez-se entrevista
em profundidade nas principais instituições governamentais e não-governamentais ligadas
direta e indiretamente ao tema. No comércio, fez-se entrevista para obter informações
sobre a origem e destino dos produtos e dos preços praticados.
O tratamento dos dados foi feito utilizando-se o software SPSS, com a finalidade de
fazer o processamento dos dados e construir as tabelas de freqüência, informações
quantitativas e preços de produtos ofertados, assim como o destino da produção e questões
inerentes ao mercado dos produtos. Os modelos econométricos especificados para o estudo
de mercado e para a construção de indicadores de desempenho competitivo foram
estimados por meio dos softwares Eviews e SPSS.
O objetivo geral do trabalho foi analisar o mercado (oferta e demanda) de produtos
florestais da região Mamuru-Arapiuns, localizada entre os municípios de Itaituba, Aveiro,
Santarém e Juruti, Estado do Pará. Vale ressaltar que a pesquisa foi um pouco além e
contemplou outros produtos não-madeireiros encontrados na região da pesquisa, como mel,
penas de aves e peixes ornamentais.
Os objetivos específicos foram os seguintes:
a) Dimensionar o mercado, caracterizando a demanda de produtos florestais
madeireiros e não-madeireiros nas sedes dos municípios de Itaituba, Aveiro,
Santarém e Juruti;
b) Caracterizar os elos da cadeia de comercialização dos principais produtos florestais
com base nos preços e quantidades de produtos transacionados, assim como o grau
de adicionamento de valor ao longo da cadeia;
7
c) Identificar as variáveis que influenciam na inserção dos produtos madeireiros e nãomadeireiros no mercado;
d) Caracterizar a infra-estrutura utilizada nos canais de escoamento dos produtos
florestais da região de Mamuru-Arapiuns;
e) Desenhar o cenário atual e futuro para a produção oriunda das concessões florestais
na região Mamuru-Arapiuns.
O trabalho foi estruturado em quatro seções. A primeira foi reservada à
apresentação do marco teórico, relacionado à análise de mercado, uma vez que, neste caso,
necessitou-se ir além dos conceitos tradicionais, traduzidos nas leis de oferta e demanda e
incorporou-se o conceito de Cadeia Produtiva e da Nova Economia Institucional. Esta
concepção respaldou a proposição dos modelos econométricos utilizados para a estimação
empírica das equações de demanda e oferta, assim como identificar os fatores que
influenciam o desempenho competitivo das empresas de madeira da região MamuruArapiuns. A segunda seção apresentou a análise geral dos mercados de produtos
madeireiros e não-madeireiros, agregando todos os municípios, com base nos resultados da
pesquisa de campo. A terceira seção analisou os mercados por município, visando explorar
peculiaridades e dinâmicas que a análise agregada não capta. Em seguida, apresentou-se a
análise empírica do mercado de produtos madeireiros, definindo a natureza da demanda e
oferta com base nas elasticidades. Construiu-se, também, um índice sistêmico de
desempenho competitivo das empresas entrevistadas. A última seção apresentou as
considerações finais do relatório.
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para fundamentar a análise de mercado dos produtos madeireiros e não-madeireiros
serão adicionados nos postulados da teoria neoclássica, hegemônica neste campo de
análise, os conhecimentos da Nova Economia Institucional. Pensa-se no mercado
funcionando como uma instituição regulada por governos, blocos econômicos e
organizações globais, regionais e locais. Neste aspecto, lança-se mão do conceito de custo de
transação proposto por Coase (1991; 1960), que deixa de considerar a empresa apenas
como uma função de produção e passa a conceituá-la como uma estrutura de governança.
Neste aspecto, Williamsom (1985) amplia a análise dos custos de transação para contemplar
as relações que se realizam na integração entre os agentes de uma cadeia produtiva. A
análise leva em conta os custos de funcionamento do sistema econômico, foca a análise na
especificidade dos recursos e nos aspectos comparativos das instituições, além de
contemplar a coordenação vertical ou hierárquica das cadeias de valores dos produtos. Por
fim, o autor argumenta que as instituições são criadas, primordialmente, para que os
direitos de propriedade sejam respeitados. Com efeito, na medida em que o arranjo
institucional dá margem ao desenvolvimento de comportamentos oportunistas, os custos de
transação tornam-se mais elevados do ponto de vista coletivo. Em função disso, surge a
necessidade da criação de uma institucionalidade que, na linguagem de Costa e Andrade
(2007, p. 10), são os “nexus objetivos que articulam organizações e visões de mundo,
estruturas organizacionais e posturas individuais nessa mediação”.
Neste aspecto, o estudo aborda, além da função de produção, outros dois níveis de
análise:
a) O ambiente institucional, formado por regras formais, constituição, leis e
procedimentos de controle e coerção do comportamento individual com vistas a
atender aos objetivos que vão além da própria perspectiva dos agentes de uma
dada instituição (WILLIAMSOM, 1985; NORTH, 1990);
b) A estrutura de governança, onde ocorre a gestão de contrato com intenção de
manter a ordem, eliminar conflitos e gerar ganhos coletivos.
No âmbito das cadeias produtivas de produtos madeireiros e não-madeireiros da
Amazônia, a abordagem de mercado, necessariamente, deve considerar a influência do
arranjo institucional, uma vez que as organizações que realizam a produção e a distribuição
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dos produtos são reguladas
regulada por um arranjo de instituições
ições governamentais, nãonão
governamentais e representações
esentações da sociedade organizada.
organizada
O conceito de cadeia produtiva foi adotado porque permite fazer uma análise
sistêmica das relações que ocorrem tanto no nível micro quanto no nível mesoanalítico do
sistema produtivo.. As conexões entre
en
os elos da cadeia produtiva são caracterizados por
transações comerciais com fornecedores e clientes, que, por sua vez, definem as forças de
mercado. Nestas relações
ções comerciais existem custos de transação, em função da ação
institucional, portanto a cada transação de compra e venda de produto, definem-se
definem pontos
da oferta e da demanda dos produtos madeira em tora,
tora, madeira desdobrada e produtos
não-madeireiros.
madeireiros. Com efeito, todos os pontos positivos e negativos da ação institucional
serão levados em conta pelos agentes, segundo o grau de informação que cada um dispõe. A
ilustração da cadeia produtiva e dos níveis de mercado é apresentada na Figura 1.
Governança da cadeia produtiva
Mercado
1
Matéria-prima
Indústria
Distribuição
•Plano de manejo
próprio;
•Manejo de áreas
comunitárias;
•Áreas sem manejo;
•Outras empresas
•Serrarias (madeira serrada,
laminado e artefatos);
•Movelarias;
•Cooperativas;
•Associações
•Traders;
Traders;
•Estâncias;
Estâncias;
•Lojas
Lojas especializadas;
•Mercado
Mercado varejista;
•Intermediários
Intermediários
Mercado
2
Figura 1. Ilustração dos elos da cadeia produtiva de produtos madeireiros e não-madeireiros.
não
O mercado de produtos madeireiros e não-madeireiros
não madeireiros origina duas cadeias
produtivas de escopo macro, uma vez que cada uma delas se desdobra em outras
subcadeias. Todas as cadeias iniciam com a existência de uma matéria-prima
matéria
de base
extrativa, juntamente com a rede de instituições,, empresas correlatas e prestadoras de
serviços que formam o entorno da cadeia e definem
defin
a estrutura de governança, a qual
10
coordena o fluxo das transações que se processam nos mercados 1 e 2 da Figura 1 (PORTER,
1999).
O conceito de cadeia produtiva, conforme foi cunhado nos idos de 1967 por Goldberg
(SANTANA, 2002), apresenta uma lógica para o fluxo de produto a partir da matéria-prima
(primeiro elo da cadeia) e, na seqüência, o produto vai sofrendo transformação, agregando
valor e serviços por ocasião do beneficiamento e processamento industrial (segundo elo da
cadeia), depois passa pela padronização, embalagem, reprocessamento e distribuição
(terceiro elo da cadeia) até chegar ao consumidor final (Figura 1). Esta é a lógica de
funcionamento das cadeias produtivas de commodities e/ou produtos do extrativismo, em
que o fluxo produtivo e de informação da cadeia foram elaborados com base na matriz de
insumo-produto (SANTANA, 1994; 2002; 2005).
Entre a produção de matéria-prima (primeiro elo da cadeia) e o processamento
industrial (segundo elo da cadeia), tem-se o primeiro nível de mercado para a madeira em
tora e produtos não-madeireiros. Este mercado funciona com as transações dos produtos
que se realizam entre os extratores, que operam em regime de concorrência pura, e as
serrarias e fábricas, que operam em concorrência imperfeita (oligopsônio ou monopsônio1).
Como não há uma coordenação eficiente para regular essas transações, os extratores levam
desvantagens na negociação. Na seqüência da cadeia, há outro mercado em que são
realizadas operações comerciais entre as indústrias e o segmento distribuidor dos produtos
para os mercados. Neste nível de mercado, as empresas operam em regime de concorrência
imperfeita, porém com poder de negociação diferente. Assim, as serraria que exportam
madeira beneficiada, tomam o preço dado pelas traders que comercializam o produto no
mercado internacional. O mesmo ocorre com as cooperativas e associações que produzem
óleos, ecobijoux2, peixes ornamentais, artefatos diversos e negociam com grandes empresas
ou com lojas que atuam no varejo e compram grandes quantidades do produto. Por último,
tem-se um terceiro nível de mercado que se concretiza com a venda dos produtos das
distribuidoras de varejo diretamente para os consumidores. Neste caso, os consumidores
1
Monopsônio se refere as ações de uma só empresa ou organização na compra de produtos de diversos
vendedores; oligopsônio é a ação de poucas empresas operando na compra do produto. Geralmente, estas
empresas têm poder de fixar o preço do produto em nível abaixo do preço que vigoraria em situação de
mercado em concorrência perfeita.
2
Ecobijoux diz respeito aos produtos fabricados exclusivamente com gemas orgânicas e demais produtos
naturais. Quando estes produtos naturais são combinados com produtos minerais e/ou sintéticos, chamamse de ecojóias.
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operam com as regras de um mercado em concorrência pura, sem poder de influenciar o
preço e a quantidade demandada dos produtos transacionados.
Nestes dois mercados, há um problema de mensuração nas transações comerciais
entre empresas e fornecedores e/ou clientes, de acordo com a Nova Economia Institucional.
Este problema se configura na racionalidade limitada de informação e conhecimento e pelo
oportunismo dos agentes (BAUMOL ET al., 1982; WILLIAMSOM, 1985; 1999; 2002). No caso
das cadeias de produtos madeireiros e não-madeireiros, a assimetria de informação e a ação
individualista dos agentes constituem a maior dificuldade de coordenação das cadeias e de
funcionalidade do mercado. Isto se reproduz por igual nas relações dos agentes com as
instituições governamentais, as representações da iniciativa privada e da sociedade
organizada. Há, pois, um ambiente de desconfiança na funcionalidade do arranjo
institucional.
A representação gráfica das transações de mercado é ilustrada na Figura 2. Em
condições de concorrência pura, o preço (Pe) reflete o equilíbrio do mercado (ponto A),
considerado o preço “justo” tanto para compradores quanto para vendedores, ou seja, o
preço que prevaleceu porque é grande o número de vendedores e de compradores, todos
insignificantes em relação ao poder de influência nos preços de equilíbrio do mercado.
Preço
Pv
Oferta
A
Pe
B
Pc
Demanda
0
Qi
Qe
Quantidade/t
Figura 2. Ilustração da formação de preço nos mercados, envolvendo monopsônio na
compra e concorrência pura na venda.
Por outro lado, na presença de um monopsônio, em que uma empresa compra o
produto de diversos fornecedores atomizados, o equilíbrio seria estabelecido no ponto B.
Como há assimetria de informação, o preço de compra do produto (Pc) situa-se abaixo do
preço de concorrência com plena informação (TIROLE, 2001). A diferença entre Pe e Pc é o
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custo do mercado ou custo de transação. Quando a empresa vende para um mercado
consumidor também atomizado, consegue o Pv, acima do preço de concorrência pura.
Portanto, no mercado de produtos madeireiros da área de estudo, a estrutura de mercado
imperfeito é dominante na formação dos preços. Por isso, a análise será conduzida tendo em
vista esse comportamento de mercado. Para os produtos não-madeireiros, em que a
produção é comercializada diretamente para os consumidores, a formação dos preços é
dada pelas interações entre oferta e demanda. Porém, quando a venda é feita para as lojas
especializadas e/ou para agentes intermediários, há assimetria de informação e os custos de
transação conduzem a uma situação de concorrência imperfeita.
No mercado 1 (Figura 1), o segmento de processamento possui mais informação do
que o segmento fornecedor de matéria-prima. Cada empresa que possui plano de manejo3,
portanto, conhece o custo de produção dos extrativistas e demais fornecedores de madeira
em tora e demais produtos. Além disso, o fornecedor enxerga a atitude da empresa como a
única possibilidade de realizar a transação, uma vez que o preço de mercado da madeira é
tomado como um parâmetro, pois não tem poder para alterar este preço ao tomar qualquer
decisão venda/compra de produto. Como são desorganizados e, em grande parte, atuam na
informalidade, não têm poder de barganha para influenciar o preço. Em função disso, o
preço da madeira e demais produtos é fixado em nível próximo ao custo de produção. Ou
seja, muito abaixo do preço (ponto B, figura 2) que vigoraria se a transação ocorresse em um
mercado com plena informação (ponto A, figura 2). Este tipo de atitude força os
fornecedores a venderem uma maior quantidade de produto para gerar um nível de renda
mínima que lhe assegure a reprodução. Isto se traduz em aumento no esforço de extração e,
por conseguinte, gera um maior impacto sobre os estoques dos recursos naturais. Para
atenuar o efeito desta ação, a regulação deve gerar informação e conhecimento sobre a
atividade, estabelecer regras e coordená-las para implantar tecnologias de utilização
sustentável dos recursos e contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
No mercado 2 (Figura 1), também há um desequilíbrio de informação, cuja
concentração está no segmento distribuidor. As traders que comercializam o produto para o
3
Manejo florestal sustentável - segundo o Decreto no 1.282, de 19/10/1995 – é definido como a administração
de uma floresta para a obtenção de benefícios econômicos e sociais, respeitando-se os mecanismos de
sustentação do ecossistema. Portanto, o manejo sustentável deve ser economicamente viável,
ecologicamente correto e socialmente justo.
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mercado internacional, têm informação sobre o custo de produção dos empresários e sobre
o funcionamento do mercado local. Com efeito, determinam-se preços próximos ao nível do
custo de produção das commodities (madeira serrada, laminada, compensado). Este preço é
fixado em nível abaixo dos preços que o produto alcançaria no mercado em concorrência
perfeita. Por outro lado, na venda direta ao consumidor conseguem impor um preço (Pv)
mais alto do que os que seriam praticados no mercado em concorrência perfeita (Pe).
Por fim, a análise faz referência ao problema da extração dos recursos naturais, em
que a funcionalidade da estrutura de governança está sendo questionada. A base da
regulação está no fato de que boa parte dos recursos madeireiros e não-madeireiros é de
uso comum, pois os recursos são extraídos de áreas cujos direitos de propriedades não são
reconhecidos ou não existem de fato. Neste caso, segundo a lógica traçada por Hardin
(1968) e revisado por Crowe (1969), conhecida como “a tragédia dos comuns”, a utilização
de recursos de uso comum, quando há um mercado e cada agente resolve maximizar sua
utilidade, conduz a exaustão dos recursos.
Na Figura 3, XT representa o máximo de biomassa do recurso que uma dada área
pode suportar e Xc é o limite crítico do estoque de recurso natural, abaixo do qual a taxa de
crescimento pode ser negativa e o recurso tende para a exaustão. Assim, a produção do
recurso é efetivamente limitada por Xc e XT (RANDALL, 1981; TIETENBERG, 1988). A taxa
absoluta de crescimento do recurso é máxima quando o estoque de recurso atinge o ponto
Xm., que reflete o rendimento máximo sustentável do recurso e coincide com a taxa máxima
de crescimento absoluta. A relativa taxa de crescimento (dX/dt) é máxima quando a
biomassa atinge Xg e é zero quando atinge Xm e negativa a partir deste ponto.
O ponto XT é o equilíbrio natural do estoque do recurso natural e reflete o tamanho
da população que sobrevive infinitamente sem a influência de agentes externos. A
exploração racional do recurso deve ocorrer entre os limites Xg e Xh, que assegura um
rendimento sustentável para o estoque dos recursos naturais. Portanto, a regulação do uso
dos recursos naturais deve assegurar que a taxa de extração não comprometa a capacidade
de regeneração do estoque de recursos. Em caso de a demanda pelo recurso aumentar mais
rápido do que a oferta, mediante a extração, deve-se implantar produções domesticadas do
recurso para suprir o mercado.
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Taxa de crescimento
absoluta dos recursos
Y2*
Y = dx/dt
Sobre-exploração
Ym
Rendimento máximo
sustentável
Y1
Xc
Xg
Xm
Xh
XT
X Biomassa
do recurso
Figura 3. Taxa de variação de uma população pesqueira e nível sustentável de capturas em
função do estoque de biomassa.
Na área de estudo, a taxa de extração superou a capacidade de reposição dos
estoques de madeira de espécies como o mogno, de essência como o pau-rosa, de frutos
como a castanha-do-pará, e está acontecendo com peixes ornamentais e com a copaíba.
Para evitar esta tragédia anunciada, deve-se proceder com a regularização desta área de
fronteira, planejar o manejo para a extração sustentável dos recursos e investir em
conhecimento científico e tecnológico, com vistas à domesticação de espécies e a produção
racional, conforme Homma (2004; 2008), sem esquecer-se de investir fortemente para
formar capital humano e capital social4, indispensáveis no processo de organização da
produção e operacionalização das aglomerações produtivas locais, no que tange ao trabalho
coletivo.
Portanto, as cadeias de produtos madeireiros e não-madeireiros são definidas a
partir da extração da madeira em tora. A clareza de informação e o grau de oportunismo dos
agentes que são incorporados nas transações comerciais estão diretamente conectados à
4
Capital humano diz respeito ao grau de cultura e de habilidade das pessoas, que se mensuram pelos anos de
escolaridade, experiência acumulada e a capacidade de aprendizado contínuo da sociedade. O capital
humano apresenta uma relação direta com o crescimento econômico. Capital social se refere a atitudes de
confiança que se estabelece em combinação com condutas de reciprocidade e cooperação. A confiança entre
as pessoas permite a criação e participação ativa de grupos horizontais, formada por pares que são
importantes para o funcionamento eficiente das instituições. Portanto, capital social é o nível de organização
dos agentes e de sua capacidade de reconhecer, criar e aplicar conhecimentos.
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certificação de origem destes produtos. A eficiência da coordenação destas cadeias tem
como condição necessária e suficiente a regulação da exploração dos recursos naturais nas
áreas de florestas públicas. Deduz-se, então, que o plano de manejo sustentável seja
abrangente de tal forma que contemple os produtos não-madeireiros e a capacidade efetiva
e potencial para seqüestrar carbono.
A exploração dos recursos naturais a partir dos planos de manejo das áreas de
concessão florestais pode ser feita por dois tipos de empresas: uma capitalista e outra social,
no que tange ao objetivo econômico do retorno ao capital investido. Na empresa capitalista,
o objetivo é maximizar o lucro com o manejo e extração de madeira em tora. Por sua vez, a
empresa social não visa obter lucro, apenas recuperar o valor do capital investido, deixando
o excedente para a reprodução social das comunidades que exploram os recursos nãomadeireiros e/ou expansão da atividade. Este tipo de empresa pode ser revelado no caso em
que uma madeireira implanta o plano de manejo para a exploração dos produtos
madeireiros e não-madeireiros, assim como a capacidade potencial para seqüestrar carbono
da área, faz a agregação econômica e ambiental aos produtos e com o incremento do
faturamento beneficia as famílias do entorno da área manejada, contribuindo para eliminar
a pobreza das comunidades rurais da Amazônia.
Outra forma de empresa social pode ser desenvolvida nas áreas de exploração de
florestas públicas por comunidades de pequenos produtores rurais. Neste caso, os
investimentos feitos devem buscar apenas o retorno do capital investido, ficando o
excedente para propagar a iniciativa para outros locais, obter a escala de produção ajustada
aos mercados, por meio da organização coletiva de um conjunto de micro e pequenas
empresas e/ou unidades de produção conectadas em rede.
Esta proposição faz uma interface com a idéia de Mahammad Yunus (2008), prêmio
Nobel da paz em 2006 e criador do Grameen Bank de Bangladesh, quando afirma que o
empresário pode atuar investindo na empresa maximizadora de lucro e nas empresas
sociais, em que o investidor apenas recupera o capital investido. Na constatação de Yunus
(2008) isto é melhor do que filantropia, porque os investidores terão o dinheiro de volta
para apoiar novas iniciativas. Além disso, as empresas sociais contribuem para disseminar
iniciativas inovadoras de ajudar as pessoas a solucionar problemas sociais, mediante a
combinação de objetivos aparentemente contraditórios, que são a maximização de lucro e a
maximização dos benefícios sociais. Aliás, a empresa que consegue otimizar estes objetivos,
16
pode, além da agregação dos valores econômicos e ambientais, incorporar o valor social e
receber um prêmio de preço, que é pago pelo consumidor.
Nas áreas de florestas públicas destinadas ao programa de concessões na região
Mamuru-Arapiuns, além da exploração dos produtos madeireiros, não-madeireiros, da
incorporação da capacidade de seqüestrar carbono da área, ainda deve-se considerar as
atividades agropecuárias conduzidas pelas comunidades rurais. Neste caso, a otimização da
exploração, combinando os objetivos econômicos, sociais e ambientais, torna-se mais
complexos, porém, a pluriatividade per si agrega condições desejáveis de sustentabilidade.
Estes desafios teóricos e metodológicos devem ser enfrentados pelo arranjo
instituições que responde pela regulação, planejamento, implantação de ações, fomento e
coordenação nos âmbitos micro, meso e macroanalíticos que a questão requer.
17
MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo sobre o mercado de produtos madeireiros e não-madeireiros foi
definida em edital pelo IDEFLOR e abrange os municípios de Itaituba, Aveiro, Santarém e
Juruti. Estes municípios definem os limites da região Mamuru-Arapiuns de interesse do
IDEFLOR para a exploração de florestas públicas sob regime de concessão. Estes municípios
funcionam como canais para escoamento da produção madeireira e não-madeireira da área,
assim como fontes de pressão sobre a exploração dos recursos naturais.
O material empregado na pesquisa envolveu a aplicação de formulários específicos
junto aos empresários do segmento madeireiro, contemplando todas as serrarias instaladas
próximas à área de pesquisa dos municípios de Itaituba, Aveiro, Santarém e Juruti. O
formulário também foi aplicado às moveleiras dos municípios de Itaituba e Santarém em
amostra representativa, e a todas as empresas instaladas em Aveiro e Juruti.
No segmento de produtos não-madeireiros, por outro lado, aplicou-se o formulário
em todas as organizações produtoras de artesanato, óleo e pesca de peixes ornamentais.
Este formulário foi acompanhado de uma entrevista em profundidade para esclarecer ou
pormenorizar outras questões vinculadas aos mercados destes produtos. Fez-se entrevista
em profundidade nas principais instituições governamentais e não-governamentais ligadas
direta e indiretamente ao tema. No comércio, fez-se entrevista para obter informações
sobre a origem e destino dos produtos e dos preços praticados no mercado local.
O método contemplou dois padrões de análise: qualitativo e quantitativo. A análise
qualitativa foi estruturada a partir da organização das informações obtidas da pesquisa de
campo em tabelas de frequência, gráficos e esquemas ilustrativos das cadeias produtivas de
produtos madeireiros e não-madeireiros. A análise quantitativa, por sua vez, utilizou
métodos econométricos para a estimação das funções de demanda e oferta a partir de
dados secundários e da técnica da análise fatorial para o estudo das forças que definem a
organização empresarial e sua dinâmica competitiva.
O tratamento dos dados foi feito utilizando-se o software SPSS, com a finalidade de
fazer o processamento dos dados e construir as tabelas de freqüência, informações
quantitativas e preços de produtos ofertados, assim como o destino da produção e questões
inerentes ao mercado dos produtos. Utilizou-se o software Eviews para estimar as equações
de demanda e oferta de madeira em tora, bem como a análise fatorial dos dados.
18
METODOS QUANTITATIVOS
ANÁLISE QUANTITATIVA DO MERCADO
A equação de demanda de madeira em tora foi especificada em função do preço da
madeira em tora e da taxa de desmatamento. Espera-se uma relação inversa entre preço e
quantidade demandada, em função da lei da demanda, pois à medida que os preços da
madeira em tora sofrem um aumento, a tendência é as empresas demandarem menos do
produto, ceteris paribus. Com relação à variável taxa de desmatamento, espera-se uma
correlação positiva, pois quando a taxa de desmatamento aumenta, naturalmente, a
demanda por madeira em tora tende a aumentar, com base na expectativa de que uma
maior disponibilidade do produto será ofertada nas regiões do desmatamento. A taxa de
desmatamento também influencia no deslocamento da oferta do produto, pois aumenta a
oferta de madeira oriunda destas áreas desmatadas. Portanto, tanto na oferta quanto na
demanda, espera-se um sinal positivo para o coeficiente associado a esta variável.
A oferta de madeira em tora, realizada tanto pelas empresas com planos de manejo
quanto por extrativistas de áreas legais e de produtores rurais. Espera-se uma relação
positiva entre a quantidade de madeira em tora e o preço e, uma relação negativa em
relação à variável ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, pois aumenta
o custo do produto.
O modelo de mercado foi estruturado por um sistema formado com as duas
equações estruturais de demanda e oferta, cujas variáveis endógenas são determinadas por
um conjunto de variáveis instrumentais, com equações na forma reduzida. As equações são
superidentificadas pelos critérios de ordem e de posto.
O sistema de equações foi especificado na forma de painel de dados, combina
informações longitudinais (cross-section) e de séries temporais, agregando as vantagens de
ampliar o número de observações, dado que o período das séries temporais de interesse da
pesquisa é curto, aumentar a eficiência das estimativas e reduzir problemas de
multicolinearidade. Os dados se referem aos municípios da área pesquisada, no período de
2000 a 2006, portanto não se trata de amostra aleatória. Por esta razão, o modelo de efeito
fixo foi adotado. A estrutura do modelo é a seguinte:
Demanda : ln MADit = ad + δ di + βd 1 ln PREÇOit + βd 2TDESMATit + εdit
19
Oferta : ln MADit = ao + δ oi + βo1 ln PREÇOit + βo 2TDESMATit + βo 3TDESMATit −1 + β o 4 ln ICMSit + εoit
Instrumentos : TDESMAT , TDESMAT (−1), ln ICMS , ln PBPC, ln NMAT , ln NEMP, ln VPEX
ε it ~ IIDN (0, σ ε2 );
i = 1,..., N ;
t = 1,..., T .
em que:
Variáveis endógenas
MADit
Quantidade de madeira em tora (demandada e ofertada) nos municípios i (i = Aveiro,
Itaituba, Juruti e Santarém), no período t (t = 2000,..., 2006), medido em m3;
PREÇOit
Preço da madeira em tora em R$/m3 por município i, no período t;
Variáveis exógenas e instrumentais
TDESMATit
Taxa de desmatamento em % por município i, no período t;
TDESMATit-1
Taxa de desmatamento em % por município i, no período t-1;
ICMSit
Imposto sobre a comercialização da madeira em tora em R$ por município i, no
período t;
NMATit
Número de pessoas matriculadas no município i, no período t;
NEMPit
Número de empregos no município i, no período t;
PBPCit
Produto interno bruto per capita do município i, no período t;
VPEXit
Valor bruto da produção do extrativismo vegetal em R$ do município i, no período
t;
Parâmetros
a
É o valor do intercepto geral da equação, mantido igual para todos os cross-section;
βj
Parâmetros que medem o efeito das variáveis exógenas sobre as variáveis endógenas
das equações de demanda e oferta;
δ
Parâmetro que representa o efeito longitudinal que é fixo no tempo;
εit
Termo de erro aleatório, com distribuição independente e normal dos erros.
O modelo foi estimado pelo método de mínimos quadrados em dois estágios usando
estimativa da variância residual cross-section no Eviews 6 (2007). Uma análise detalhada
sobre a especificação e estimação de modelos de painel de dados, envolvendo efeitos fixos,
efeitos aleatórios e modelos dinâmicos podem ser encontrados em Greene (1997), Baltagi
(1998; 2001) e Wooldridge (2002; 2003). A escolha do modelo de efeito fixo deve-se ao fato
de os dados não serem gerados a partir de amostra aleatória, além da confirmação obtida
pelo teste de Hausman (1978), conforme Wooldridge (2002).
20
O modelo é um painel de dados equilibrados com efeitos fixos, inclusive mantendo o
mesmo intercepto, com sete observações (2000 a 2006) e quatro municípios (especificação
dos coeficientes cross-section) perfazendo um total de 28 observações. As diferenças entre
os municípios ou unidades de sessão-cruzada podem ser captadas no termo de intercepto,
sendo que tais diferenças são mantidas constantes no tempo.
A fonte dos dados foi o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2008),
onde se obteve as informações de produção de madeira em tora, preço, número de
empregos, número de matrículas, PIB per capita e valor da produção do extrativismo; o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE (2008) forneceu a taxa de desmatamento e
a Secretaria de Estado da Fazenda do Estado do Pará - SEFA-PA (2008) forneceu o valor do
ICMS.
MÉTODO QUANTITATIVO DE ANÁLISE FATORIAL
A análise fatorial, de modo geral, é utilizada para analisar a estrutura das interrelações (correlações) entre um grande número de variáveis, definindo um conjunto de
dimensões latentes comuns que facilitam a compreensão da estrutura da nuvem de dados,
chamadas de fatores. Com o emprego dessa técnica, inicialmente pode-se identificar as
dimensões isoladas da estrutura dos dados e então determinar o grau em que cada variável
é explicada por cada dimensão ou fator. Depois dessa etapa, a análise fatorial pode ser
empregada para reduzir a massa de dados (SANTANA, 2007a; SANTANA, 2008a).
Um modelo geral de análise fatorial pode ser apresentado na forma matricial como
em Dillon e Goldstein (1984):
X =α F +ε
(1)
Em que:
X = é o p-dimensional vetor transposto das variáveis observáveis, denotado por X = (x1, x2,
..., xp)’;
F = é o q-dimensional vetor transposto de variáveis não-observáveis ou variáveis latentes
chamadas de fatores comuns, denotado por, F = (f1, f2, ..., fq)’, sendo que q < p;
ε = é o p-dimensional vetor transposto de variáveis aleatórias ou fatores únicos, ε = (e1, e2,
..., ep)’;
α = é a matriz (p,q) de constantes desconhecidas, chamadas de cargas fatoriais.
21
No modelo de análise fatorial pressupõe-se que os fatores específicos são ortogonais
entre si e com todos os fatores comuns. Normalmente, E(ε) = E(F) = 0 e Cov (ε, F) = 0.
A estrutura inicial utilizada para determinar a matriz de cargas fatoriais, em geral,
pode não fornecer um padrão significativo de cargas das variáveis, por isso não é definitiva.
A confirmação ou não dessa estrutura inicial pode ser feita por meio de vários métodos de
rotação dos fatores (DILLON; GOLDSTEIN, 1984; JOHNSON; WICHERN, 1992). Nesta pesquisa,
utilizou-se o método varimax de rotação ortogonal dos fatores. O método varimax é um
processo em que os eixos de referência dos fatores são rotacionados em torno da origem
até que alguma outra posição seja alcançada. O objetivo é redistribuir a variância dos
primeiros fatores para os demais e atingir um padrão fatorial mais simples e teoricamente
mais significativo (HAIR et al., 2005; SANTANA, 2005; SANTANA, 2007b).
A escolha dos fatores foi realizada por meio da técnica de raiz latente. Esta técnica
parte do princípio de que qualquer fator individual deve explicar a variância de pelo menos
uma variável para que seja mantido para interpretação. Cada variável contribui com um
valor 1 do autovalor total. Com efeito, apenas os fatores que têm raízes latentes ou
autovalores maiores que 1 são considerados significantes e os demais fatores com
autovalores menores do que 1 são considerados insignificantes e descartados (HAIR et al.,
2005; MINGOTI, 2005; SANTANA, 2008a). A matriz de cargas fatoriais, que mede a
correlação entre os fatores comuns e as variáveis observáveis, é determinada por meio da
matriz de correlação, conforme Dillon e Goldstein (1984).
Para a definição do Índice Sistêmico de Desempenho Competitivo - ISDC, conforme
Santana (2007b), estimou-se a matriz de escores fatoriais após a rotação ortogonal da
estrutura fatorial inicial. O escore fatorial, por definição, situa cada observação no espaço
dos fatores comuns. Para cada fator fj, o i-ésimo escore fatorial extraído é definido por Fij,
expresso da forma descrita em Dillon e Golsdtein (1984):
F = b x +b x
ij
1
i1
2
i2
+ ... + b p xip ;
i = 1, 2, ..., n; j = 1, 2, ..., p.
Em que:
bi são os coeficientes de regressão estimados para os n escores fatoriais comuns;
xij são as n observações das p variáveis observáveis.
(2)
22
A variável Fij não é observável, mas pode ser estimada por meio das técnicas de
análise fatorial, utilizando-se a matriz de observações do vetor x de variáveis observáveis.
Em notação matricial, a equação 2, torna-se:
F
( n ,q )
=
x b
( n, p )
(3)
( p ,q )
Na equação 3, F é a matriz da regressão estimada a partir dos n escores fatoriais e
que podem ser afetados tanto pela magnitude quanto pelas unidades de medida das
variáveis x. Para contornar este tipo de problema, substitui-se a variável x pela variável
padronizada w, dada pela razão entre o desvio em torno da média e o desvio padrão de x,
como a seguir:
w
ij
=
( xi − x )
s
x
Com esses valores, modifica-se a equação 3 para gerar a equação 4.
F
( n ,q )
= w( n, p ) β
(4)
( p,q )
Na equação 4, a matriz de pesos beta - β, com q colunas e p coeficientes de regressão
padronizados, substitui b, dado que as variáveis estão padronizadas em ambos os lados da
equação. Pré-multiplicando ambos os lados da equação 4 pelo valor (1/n)w’, em que n é o
número de observações e w’ é a matriz transposta de w, obtém-se:
1
1
= w'( p ,n ) w( n , p ) β
=
w
'
( p ,n ) F ( n ,q )
( p,q )
n
n
R
( p, p)
β
( p,q )
(5)
A matriz (1/k)w’w se constitui na matriz de variáveis inter-correlacionadas ou matriz
de correlação entre as observações da matriz x, designada por R. A matriz (1/k)w’F
representa a correlação entre os escores fatoriais e os próprios fatores, denotada por Λ.
Reescrevendo a equação 5, tem-se que:
Λ
( p ,q )
= R( p , p ) β
( p ,q )
(6)
Se a matriz R for não-singular, pode-se pré-multiplicar ambos os lados da equação 6
pela inversa de R, obtendo-se:
−1
β =R Λ
(7)
Substituindo o vetor β na equação 4, obtém-se o escore fatorial associado a cada
observação, como a seguir:
23
F
−1
( n ,q )
= w( n, p ) R( p , p ) Λ( p ,q )
(8)
O ISDC, conforme Santana (2007a,b; 2008a) foi definido como uma combinação
linear desses escores fatoriais e a proporção da variância explicada por cada fator em
relação à variância comum. A expressão matemática é dada por:


 λj



ISDCi = ∑
FP
ij
j =1  ∑ λ j

 j

q
(9)
Em que λ é a variância explicada por cada fator e Σλ é a soma total da variância explicada
pelo conjunto de fatores comuns. O escore fatorial foi padronizado (FP) para se obter
valores positivos dos escores originais e permitir a hierarquização das empresas, uma vez
que os valores do ISDC estão situados entre zero e um. A fórmula matemática é a seguinte:
 F i − F min 

=
FPi 

−
 F max F min 
Em que Fmin e Fmax são os valores máximo e mínimo observados para os escores
fatoriais associados às empresas de madeira e móveis.
Para facilitar a interpretação dos resultados, foram estabelecidos os seguintes
intervalos de valores do ISDC, agrupando as empresas conforme seu grau de desempenho
competitivo: valores do ISDC igual ou superior a 0,70 são considerados altos; valores
situados entre 0,40 e 0,69 são intermediários; valores inferiores a 0,40 são considerados
baixos.
As variáveis incluídas na análise foram: quantidade de madeira em tora utilizada por
cada empresa, em m3; receita bruta total obtida com a venda de produtos de madeira, em
R$; número de empregos formais das empresas; mão-de-obra qualificada das empresas;
indicador de capacidade instalada das empresas; preço da madeira em tora; preço da
madeira beneficiada (preço médio dos produtos); logística de transporte e comercialização;
indicador de educação (nível de escolaridade e treinamento); índice de inovação tecnológica
e de gestão empregado pelas empresas (inovação tecnológica); e indicador de ações
coletivas das organizações locais em que as empresas estão vinculadas (cooperação).
Nota-se que essas 11 variáveis constituem um número considerado grande em
relação ao tamanho da amostra, que conta com apenas 54 empresas, em uma razão de
cinco observações para cada variável. A priori, isto estaria no limite do recomendado que
24
seria a utilização de pelo menos cinco observações para cada variável. Diante deste
problema, foram feitos testes para aferir a adequação do método à amostra de dados. Os
dois principais testes aplicados foram: teste de esfericidade de Bartlett, que avalia a
significância geral da matriz de correlação, ou seja, testa a hipótese nula de que a matriz de
correlação é uma matriz identidade; teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) se baseia no
princípio de que a inversa da matriz de correlação se aproxima da matriz diagonal, para
tanto compara as correlações entre as variáveis observáveis. Valores deste teste abaixo de
0,50 são inaceitáveis (HAIR et al., 2005).
25
ANÁLISE DOS RESULTADOS
ANÁLISE AGREGADA DO MERCADO DE PRODUTOS MADEIREIROS
A madeira gera dois produtos principais a partir da extração da floresta em pé: a
madeira em tora, envolvendo bitolas diferentes, mas ainda com predominância da bitola de
6 m lineares de comprimento e a lenha para consumo das padarias, consumo doméstico nas
fazendas e/ou para a produção de carvão. O carvão se destina ao abastecimento de
churrascarias, restaurantes e consumo doméstico, sendo a maior parte destinada ao
abastecimento das empresas de ferro gusa ou simplesmente guseiras. Nesta pesquisa, foram
entrevistadas apenas as empresas que trabalham com o desdobramento da madeira:
serrarias, estâncias e movelarias.
Algumas empresas estão verticalizadas, pois a maior parte da madeira que utiliza tem
origem em planos de manejo próprio. Nas entrevistas, obteve-se: 76,9% da madeira das
serrarias legalizadas, estâncias e movelarias são oriundas de plano de manejo próprio; 9,6%
compram de produtores locais (do próprio município) com ou sem plano de manejo; 5,8%
compram o produto semi-elaborado de empresas (movelarias) e; 7,7% de áreas de manejo
comunitário ou de área de reserva (Tabela 1). Por estas respostas, as empresas entrevistadas
utilizam mais de 20% da matéria-prima de origem ilegal. Se forem consideradas apenas as
movelarias, 90% da madeira utilizada são obtidas de forma ilegal e os 10% são adquiridos de
estâncias. A razão é que a quase totalidade das movelarias opera na informalidade. Em
função dos produtos que fabricam, ao comprar madeira legalizada não conseguem vendê-lo,
pois o custo de produção torna-se muito elevado, por falta de tecnologia, máquinas,
equipamentos apropriados e design moderno para atingir um nicho de mercado de
consumidores de alta renda.
Tabela 1. Origem da madeira utilizada na produção das empresas entrevistadas, 2008.
Itens
Produção própria
Compra de produtores locais (com/sem manejo)
Compra de empresas o produto semi-elaborado
Área de manejo comunitário/reserva
Total
Freqüência
40
5
3
4
52
Porcentual
76,9
9,6
5,8
7,7
100,0
Fonte: Pesquisa de campo.
O mercado de madeira em tora e dos produtos gerados a partir de seu
desdobramento (madeira serrada, laminada, painéis, móveis e artefatos) está sendo
26
regulado pelo Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais Renováveis e Meio Ambiente IBAMA e Secretaria de Meio Ambiente - SEMA no Estado do Pará. Assim, a comercialização
de madeira é permitida se oriunda de um plano de manejo aprovado, extração autorizada e
fiscalização de sua distribuição ao longo de todos os elos da cadeia. Isto significa que a
madeira em tora é o elemento básico da regulação do mercado dos produtos madeireiros, o
que está de acordo com o conceito de cadeia produtiva, cujo fundamento está na existência
de uma matéria-prima de amplo mercado.
Na Amazônia, nunca houve “regulação de fato” da exploração, processamento e
comercialização da madeira. Diversos autores contam a história da exploração madeireira
em sinergia com as atividades de pecuária e agricultura, configurando a depredação das
espécies florestais de maior valor comercial, assim como da biodiversidade do bioma
amazônico ainda quase todo desconhecido (HOMMA, 1988; SANTANA, 2002). Neste
aspecto, o arranjo institucional, conforme Costa e Andrade (2007), não conseguem
solucionar o problema complexo que é o uso sustentável dos sistemas produtivos da
Amazônia.
A regulação se justifica per se, porque elimina o comportamento informal e “ilegal”
da maioria dos agentes, que enviesam as leis do mercado e desfavorecerem a utilização de
tecnologias apropriadas, o investimento em ciência e tecnologia, a formação de capital
humano e capital social e a preservação do capital florestal madeireiro e não-madeireiro.
Como a maioria das empresas da área de estudo opera de forma ilegal, obtendo
mais-valia da expropriação do trabalho e da natureza, a coordenação da atividade
madeireira torna-se um processo conflituoso. O desdobramento desta questão está levando
às consequências esperadas (porém indesejadas), que são o ataque ao patrimônio público e
privado e até o atentado contra a vida. Apesar disto, a sociedade organizada concorda que a
regulação da atividade florestal é uma condição necessária e suficiente para a exploração
sustentável dos recursos naturais. Além disso, as instituições estão dispostas a enfrentar o
problema de todas as formas para, ao final, se chegar a um mercado com maior
disponibilidade de informação e conhecimento, com critérios claros para a exploração dos
recursos florestais madeireiros e não-madeireiros.
Entretanto, um ponto de fricção está ocorrendo entre os madeireiros que querem
seguir as regras postas, que é a dificuldade operacional encontrada no que tange à
viabilização de seus planos de manejo. A burocracia, em função de problemas estruturais
27
das instituições reguladoras, diante da massa de projetos apresentados e da dimensão e
dispersão das áreas territorializadas no espaço amazônico, não estão conseguindo dar
respostas em tempo hábil para o empresário. Há casos em que entre o protocolamento dos
projetos e a liberação, tem-se uma demora de até três anos. Em outras situações, o tempo
ultrapassou os três anos. Diante disso, as empresas passam a operar com grande capacidade
ociosa e/ou trabalha com madeira de origem ilegal.
As causas da demora na aprovação dos planos de manejo e outras questões
relevantes sobre a ação das instituições que atuam na região estão descritas no Box 1
(Apêndice 1).
Sabe-se, pela mídia, que o número de projetos com erros é grande. Porém, o
feedback sobre como solucionar o problema não é dado. Diante destes fatos, alguns
empresários vêem seu empreendimento indo à falência. Por conseguinte, analisam a
capacidade de fiscalização das instituições e resolvem arriscar, dando continuidade, porém
de forma ilegal, à atividade, para não fechar as portas da empresa. Então, com relativa
freqüência, os fiscais do IBAMA apreendem madeira oriunda de áreas não legalizadas. A
mudança das ações do IBAMA para a SEMA, no que tange à regularização dos planos de
manejo, dificultou o processo, porque a SEMA está sediada em Belém, portanto, não está
presente nas áreas de maior demanda dos planos de manejo. Com isto, o custo de transação
aumentou sobremaneira. Além disso, não há uma rede institucional operando, pois as
SEMMA dos municípios não têm poder de decisão, e o IBAMA passou apenas a fiscalizar as
atividades. Este arranjo institucional envolvendo o IBAMA, SEMA, IDEFLOR e SEMMA,
articulados com o INCRA e ITERPA está criando um clima de desconfiança sobre as ações da
institucionalidade por não conseguirem solucionar os problemas do setor florestal
madeireiro e não-madeireiro da região estudada.
A questão da regulação institucional do setor madeireiro passou a ser mais efetiva no
que se refere à apreensão de madeira ilegal, mediante a ampliação da atividade de
fiscalização. Todavia, em função da deficiência de pessoal para proceder com a fiscalização e
com os leilões para venda da madeira apreendida, esta continua sendo acumulada e
aumentando volume de madeira estocada, que continua se estragando em função das
condições inadequadas de armazenamento. O reflexo disso aparece nos pátios do IBAMA
(fotos superiores da Figura 4) e da CDP (fotos inferiores da Figura 4), onde grande volume de
madeira apreendida está sendo deteriorado. Especificamente, a madeira beneficiada que se
28
encontra na CDP, é um reflexo da crise financeira mundial, que gerou cancelamento de
negócios e renegociação de contratos. Também existe madeira apreendida por
irregularidade na documentação.
Figura 4. Madeira em tora e beneficiada apreendidas pelo IBAMA no município de Itaituba e/ou
acumulada na área da CDP, por causa da suspensão de contrato, 2008.
A deficiência de pessoal nos órgãos responsáveis pela regulação da cadeia produtiva
de madeira está atrapalhando, sobretudo as empresas que estão operando de forma legal,
pois existem diversos relatos de problemas com o cumprimento de contrato de exportação
por conta da demora na liberação da carga.
Assim, a regulação do mercado exige que as instituições resolvam o problema de
pessoal técnico e façam funcionar uma institucionalidade com eficiência. Quanto mais
demorar a concertação do problema, maior será o impacto sobre a economia local no que
tange ao aumento do desemprego e diminuição do mercado e, consequentemente, da
arrecadação de impostos.
Em função do quadro apresentado, a análise do mercado de produtos oriundo das
glebas da região Mamuru-Arapiuns ficou prejudicada, pois indicar a origem da madeira
procedente dessas áreas seria como assinar uma confissão de operação ilegal. Assim, 96,2%
informaram que a madeira tem origem no município, sem indicar se localizado na área de
estudo. Pesquisa paralela e depoimento de empresários, fora do questionário, dão conta
que ocorre extração de madeira da área de forma ilegal. O caso mais eminente é a madeira
29
que sai por Juruti, é legalizada no Estado do Amazonas e depois retorna ao Pará. Portanto,
apenas 3,8% da madeira processada nas empresas entrevistadas têm origem na região do
Mamuru-Arapiuns. Este fato pode ser justificado pela abundância de árvores existentes nas
áreas de floresta dos municípios pesquisados.
Em Juruti também há um grande estoque de madeira nobre oriundas das áreas do
Projeto Juruti/ALCOA (fotos superiores da Figura 5). A madeira tem origem em áreas
manejadas, mas os comunitários não reconhecem a legalidade do processo de destinação
dessas áreas. Os comunitários de Juruti Velha embargaram a saída da madeira, extraída de
projeto de manejo, apreendendo a balsa. A madeira está sendo estragada em função das
condições inadequadas de armazenamento (Figura 5).
Figura 5. Madeira apreendida em Juruti Velha pelos comunitários e madeira extraída do Projeto
Juruti/ALCOA, 2008.
A madeira extraída do Projeto Juruti/ALCOA é armazenada em condições também
inadequadas, em uma área chamada de “bota-fora”. Os comunitários e os empresários
entrevistados não entendem porque não se viabiliza a utilização da referida madeira antes
de se estragar (fotos inferiores da Figura 5).
A oferta de madeira em tora é formada pelo conjunto de espécies encontradas nas
serrarias e/ou movelarias e estâncias entrevistadas nos municípios da pesquisa. Na Tabela 2,
constam apenas as espécies com maior freqüência e para as quais foram fornecidas as
30
informações de preço e custo de transporte. Outras espécies foram encontradas, porém não
foram reveladas as informações de quantidade e preço. Portanto, as empresas entrevistadas
estão trabalhando com 27 espécies de madeira, de valor comercial. Isto mostra a
diversificação e riqueza das áreas de florestas da região Mamuru-Arapiuns (Tabela 2).
Entre as espécies utilizadas na produção de madeira estão a andiroba e a copaíba.
Estas árvores são extraídas simplesmente pela necessidade de lucro imediato e/ou pelo não
interesse dos madeireiros em realizar a exploração de produtos não-madeireiros. Neste
caso, é possível mostrar que a preservação destas árvores para a extração de óleo geraria
um fluxo de renda equivalente ao obtido pela produção de madeira.
Tabela 2. Principais espécies encontradas nas serrarias, estâncias e movelarias, preço médio
e custo de extração e transporte, 2008.
Nome da Espécie
01. Amapá
02. Andiroba
03. Angelim pedra
04. Cedro
05. Cedrorana
06. Copaíba
07. Cumaru preto
08. Cupiuba
09. Currupixá
10. Fava tapete
11. Freijó
12. Garapa
13. Goiabão
14. Guarupá
15. Ipê roxo
16. Itauba
17. Jarana
18. Jatobá
19. Louro
20. Marupá
21. Massaranduba
22. Mata Menino
23. Mogno
24. Muiracatiara
25. Sucupira amarela
26. Tatajuba
27. Tauari
Valor da produção
Quantidade
3
(m )
12
508
362
406
9
3.000
10.057
22
25
11
79
140
5
23
685
160
10
56
72
321
319
12
5
610
5
10
600
Preço Médio
3
(R$/m )
600,0
354,2
573,3
532,5
691,2
462,5
560,4
170,0
187,0
310,0
606,9
275,0
308,9
870,0
544,4
900,0
170,0
636,5
600,0
391,3
559,0
400,0
1.100,0
574,7
750,0
235,0
334,2
17.524
-
Valor Bruto
(R$)
7.200,00
179.916,67
207.546,67
216.213,91
6.220,59
1.387.500,00
5.635.691,38
3.740,00
4.675,00
3.410,00
47.941,71
38.500,00
1.544,44
20.011,10
372.944,44
144.000,00
1.700,00
35.644,44
43.200,00
125.591,25
178.317,78
4.800,00
5.500,00
350.592,13
3.750,00
2.350,00
200.500,00
Custo Médio
3
(R$/m )
75,00
59,00
71,00
61,00
60,00
50,00
115,00
100,00
35,00
40,00
50,00
110,00
60,00
96,70
85,00
225,00
100,00
100,00
85,00
50,00
120,00
70,00
450,00
66,10
100,00
50,00
50,00
9.229.001,51
-
Fonte: Pesquisa de campo.
Tomando-se o preço médio da madeira de R$ 507,30/m3 no pátio da empresa e o
custo médio de transporte é de R$ 97,60/m3, tem-se que no transporte da madeira dos
31
planos de manejo até a fábrica gastam-se 19,24% do preço da madeira em tora. O custo
total médio da extração e transporte de madeira foi estimado em R$ 221,80/m3 (sem os
juros sobre capital e a remuneração do empresário). Portanto, a receita líquida média de
madeira em tora da área estudada é de R$ 285,50/m3. Esta seria a estimativa da receita
líquida que a empresa capitalista tem como objetivo maximizá-la.
A conta, geralmente utilizada para efeito de decisão sobre a extração madeireira é a
seguinte: admitindo que cada hectare explorado em regime de manejo produza 2,5 m3 de
madeira em tora por ano (dois cortes em ciclo de 20 anos e 25 m3/corte), tem-se um valor
da produção de R$ 1.268,25/ha/ano. A pecuária extensiva (sistema de cria-recria e engorda)
da região pesquisada produz 0,8 UA/ha e gera uma receita bruta de R$ 900,00/ha/ano.
Portanto, a exploração manejada gera uma receita equivalente a 40,92% superior ao valor
da pecuária extensiva. Se incluir no manejo sustentável, o aproveitamento de resíduo da
madeira e a extração de produtos não-madeireiros, a exploração florestal torna-se uma
alternativa à pecuária, sem computar o custo ambiental que a pecuária de corte produz.
Por outro lado, fazendo a mesma análise com base na receita líquida, tem-se que o
sistema de cria-recria e engorda da pecuária no Pará situa-se em torno de R$ 150,00 por
hectare, quase cinco vezes menor do que a exploração de madeira em tora. Portanto, no elo
de produção de madeira, a atividade apresenta viabilidade econômica superior à pecuária
extensiva no sistema de cria-recria e engorda.
Com relação à quantidade de madeira em tora declarada, de 17.524 m3
(considerando apenas as cinco espécies de maior importância para a empresa), isto
representa 14,3% dos 123.150 m3 informados no Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE (2008), para o ano de 2007. O valor da produção da madeira em tora
utilizada nas empresas entrevistadas foi de R$ 9.229,00 mil em 2007 e representou 56,3% do
valor apresentado pelo IBGE para os municípios estudados. Este resultado indica que a
madeira processada nas empresas tem um valor comercial superior, isto por conta do efeito
da certificação dos projetos de manejo.
Não obstante estes resultados, atualmente, as empresas estão atuando com grande
capacidade ociosa. Com base nos resultados da Tabela 3, tem-se que 55,8% das empresas
estão operando com mais de 36% de capacidade ociosa e 23,1% com mais de 50%. Por outro
lado, apenas 19,2% estão operando com até 10% da capacidade operacional da empresa
ociosa.
32
Quais as razões que estão conduzindo às empresas operarem com grande capacidade
ociosa? Muitas respostas foram dadas, porém a maior concentração está na escassez de
madeira certificada, ou seja, oriunda de planos de manejo, para 68% dos entrevistados
(Tabela 4). A segunda mais importante razão, que está intimamente ligada à primeira, foi a
ação ineficiente do IBAMA/SEMA/MMA – Ministério do Meio Ambiente, por não
viabilizarem a aprovação dos planos de manejo apresentados pelas empresas e o maior
esforço dado à fiscalização da extração e comércio de madeira de origem ilegal.
Tabela 3. Nível de capacidade ociosa que a empresa está trabalhando, 2008.
Intervalos
De 0 - 5%
De 6 - 10%
De 11 - 20%
De 21 - 35%
De 36 - 50%
Mais de 50%
Total
Freqüência
4
6
4
9
17
12
52
Porcentagem
7,7
11,5
7,7
17,3
32,7
23,1
100,0
Fonte: Pesquisa de campo.
A terceira justificativa mais importante foi a falta de capital de giro para as empresas
financiarem estoques e a comercialização da produção. O alto custo de produção e os
impostos também foram apontados como responsáveis por inibir a atividade da empresa.
Das serrarias e moveleiras entrevistadas, poucas apresentaram estoques de madeira
em tora no pátio, exceto em Juruti, onde uma madeireira estava com grande estoque.
Algumas empresas não deixaram fotografar a parte interna. A Figura 6 contempla ilustrações
da situação encontrada nas empresas madeireiras e movelarias da área de estudo.
Tabela 4. Razões da grande capacidade ociosa das empresas entrevistadas, 2008.
Razões
Alto custo de produção
Escassez de matéria-prima
Baixo poder aquisitivo do consumidor
Elevada concorrência de empresas informais
Falta de capital de giro
Ação deficiente do IBAMA/SEMA/MMA
Impostos elevados
Outra razão
Total
Fonte: Pesquisa de campo.
Madeireira
9
34
5
3
22
21
8
11
50
Percentual
18,0
68,0
10,0
6,0
44,0
42,0
16,0
22,0
100,0
33
Figura 6. Ilustração de duas serrarias (parte superior) e duas movelarias (parte inferior),
2008.
Os principais produtos gerados a partir do desdobramento da madeira, que
compreendem a formação da oferta dos produtos transacionados no mercado 2 são
apresentados na Tabela 5.
As informações disponibilizadas na Tabela 5 indicam que as serrarias dominam o
mercado, pois madeira serrada e madeira plainada representam 94,61% do valor da
produção. Estes produtos, na quase totalidade, se destinam ao mercado nacional e
internacional.
Analisando-se comparativamente as informações das Tabelas 2 e 5, observa-se que
os dados sobre as espécies utilizadas não refletem a realidade dos produtos. Ora, se para
cada m3 de madeira serrada exige-se pelo menos 3,0 m3 de madeira em tora e, em muitos
casos, o coeficiente de transformação é de 3:1, conclui-se que grande parte da produção de
madeira serrada deve ser ilegal. Estes resultados estão de acordo com as informações
obtidas junto ao IBAMA de Santarém e depoimento de outras instituições, organizações de
produtores e de empresários.
34
Tabela 5. Principais produtos das empresas madeireiras entrevistadas, quantidade, preço e
valor da produção, 2008.
Nome do produto
Unidade Quantidade
Madeira serrada
Madeira em tora
Cumaru
Esquadrias
Madeira plainada
Copaíba
Madeira
Deck
Cama
Móveis de escritório
Porta
Ripão
Tábuas
Mesa jantar
Pernamanca
Piso
Esteio
Cadeiras
Armário cozinha
Móveis em geral
Madeira para móveis
Guarda roupa
Cômoda
Vigas
Janela
Móveis cozinha
Caixilhos
Caixas
Quadrado para forro
Piso engenheirado
Bancos
S4S
Ripão telha
Perfis
Lambril
Armário banheiro
Estante
Móveis reformados
Mesa
Mesa centro
Rack
Casa pré-moldada
Berço
Balcão
Valor da produção
Fonte: Pesquisa de campo.
3
m
3
m
3
m
uma
3
m
3
m
3
m
3
m
uma
um
uma
um
3
m
uma
uma
2
m
um
um
um
um
3
m
um
uma
3
m
uma
um
um
um
um
2
m
um
uma
um
um
3
m
um
uma
um
uma
uma
um
uma
um
um
-
330.868
26.000
10.000
5.481
3.756
3.000
2.000
680
673
439
320
310
290
250
210
190
180
168
166
152
150
118
104
100
90
78
60
50
50
40
35
30
20
15
10
8
7
7
5
5
5
4
3
2
-
Preço Médio
(R$)
Valor Bruto
(R$)
614,90
250,00
19,00
203,40
1.538,80
17,00
200,00
782,90
395,50
629,10
115,50
49,60
557,30
466,00
116,70
1.400,00
32,20
173,50
1.442,30
10.600,00
40,00
1.230,80
361,30
375,00
86,70
2.400,00
27,50
80,00
60,00
1.300,00
150,00
26,00
55,00
1.500,00
1.500,00
450,00
1.122,20
160,00
261,10
120,00
500,00
75.000,00
500,00
950,00
-
203.450.733,20
6.500.000,00
190.000,00
1.114.835,40
5.779.732,80
51.000,00
400.000,00
532.372,00
266.171,50
276.174,90
36.960,00
15.376,00
161.617,00
116.500,00
24.507,00
266.000,00
5.796,00
29.148,00
239.421,80
1.611.200,00
6.000,00
145.234,40
37.575,20
37.500,00
7.803,00
187.200,00
1.650,00
4.000,00
3.000,00
52.000,00
5.250,00
780,00
1.100,00
22.500,00
15.000,00
3.600,00
7.855,40
1.120,00
1.305,50
600,00
2.500,00
300.000,00
1.500,00
1.900,00
221.914.519,10
Porcentagem
91,68
2,929
0,086
0,502
2,604
0,023
0,180
0,240
0,120
0,124
0,017
0,007
0,073
0,052
0,011
0,120
0,003
0,013
0,108
0,726
0,003
0,065
0,017
0,017
0,004
0,084
0,001
0,002
0,001
0,023
0,002
0,000
0,000
0,010
0,007
0,002
0,004
0,001
0,001
0,000
0,001
0,135
0,001
0,001
100,00
35
Com relação à oferta de madeira em tora, o número de espécies comerciais utilizadas
no processamento industrial, juntamente com a revelação de que tais produtos existem em
abundância nas florestas desta última fronteira de mata densa, não se tem problema com a
oferta de matéria-prima para atender à demanda dos mercados, da forma como está sendo
explorada. Porém, com os planos de manejo que limitam a extração de madeira a 25
m3/ha/ano, pode-se ter escassez de oferta e, como consequência, o aumento no preço
internacional do produto. Aliás, isto já vem ocorrendo desde 2002, quando a ação do IBAMA
passou a ser mais efetiva na região estudada.
O problema foi revelado pelos entrevistados quando perguntados sobre a
disponibilidade de se obter madeira em tora de plano de manejo da região. Apenas 9,6% dos
entrevistados responderam que existe madeira certificada em abundância. Os 90,4%
restantes responderam que têm dificuldade de encontrar o produto (28,8%), que a madeira
está escassa (28,8%) e que está muito difícil (32,7%) abastecer a indústria nas condições
atuais (Tabela 6).
Tabela 6. Situação da disponibilidade de madeira em tora dos planos de manejo na região,
2008.
Situação do estoque
Abundante
Dificuldade de encontrar
Escasso
Muito difícil
Total
Freqüência
5
15
15
17
52
Porcentual
9,60
28,85
28,85
32,70
100,0
Fonte: Pesquisa de campo.
O grau de agregação de valor aos produtos das serrarias e das estâncias ainda é
baixo, para todas as empresas entrevistadas. Portanto, a oferta destes produtos é inelástica
a preço. Isto significa que a forma de ampliação do faturamento das empresas no mercado
interno se dá por meio de incrementos de preço e/ou por aumento da demanda puxado
pelo incremento de renda do consumidor. No lado do mercado internacional, o faturamento
tem relação direta com a desvalorização do câmbio e/ou com aumento dos preços. No
momento, em função da crise, a perspectiva do mercado apresenta grande incerteza. Sendo
assim, o caminho seguro é agregar valor aos produtos ao longo de toda cadeia. A
certificação é um fator de agregação de valor, pois o prêmio de preço entre a madeira
certificada e a madeira de origem ilegal atinge mais de 100% para algumas espécies.
36
Os móveis e artefatos produzidos a partir da madeira também são rústicos,
elaborados a partir da madeira densa, fugindo do padrão tecnológico e design demandado
pelo mercado nacional e internacional (Figura 7).
A terceira foto da Figura 7, por sua vez, combina madeira com estofado, design
moderno e cores ajustadas à tendência do mercado consumidor de renda média e alta.
Portanto, esta empresa apresenta potencial para competir no mercado internacional.
Figura 7. Móveis de madeira densa com design rústico e móveis com design moderno,
combinando madeira densa, estofado e vidro.
Com relação ao destino da produção, tem-se que, no último lustro, 54% dos produtos
foram comercializados no mercado regional e 46% fora da região, sendo 14% no mercado
nacional e 22% no mercado internacional (Tabela 7).
Tabela 7. Pessoal ocupado, faturamento e destino das vendas de produtos madeireiros,
2002/2010.
Mercados de destino da produção (%)
Anos
2002
2006
2007
2010
Pessoal Faturamento
Ocupado médio (R$/ano)
2410
1721
1394
1214
789.242,11
628.822,00
364.260,53
630.945,28
Venda
Município
Venda
Estado
Venda
Região
Venda
Brasil
Venda
Exterior
Total
33,3
31,6
30,6
25,6
19,5
17,0
17,3
19,7
6,7
6,8
11,0
12,5
13,4
16,9
14,4
34,7
31,3
28,4
29,3
100,0
100,0
100,0
100,0
Fonte: Pesquisa de campo.
Observou-se uma tendência decrescente da participação das vendas para o mercado
internacional, caído de 34,7% em 2002 para 28,4% em 2007. Isto se deve ao efeito da
estrutura de governança implantada para coordenar a cadeia produtiva de madeira. A
exigência de plano de manejo e o aumento da fiscalização do IBAMA, juntamente com a
incerteza na liberação da extração de madeira dos planos de manejo aprovados em prazo
hábil, bem como a demora na liberação das cargas, contribuiu para elevar o custo de
transação e o risco da quebra de contratos. Em função disso, a madeira certificada se tornou
37
escassa. No caso específico dos móveis, o Brasil perdeu parcela do mercado internacional
para a China, que conseguiu ampliar sua participação no mercado com produtos de maior
valor agregado, preços competitivos e com design moderno. Os móveis se destinam
praticamente ao mercado local e do Estado, em função do estilo tecnológico, qualidade do
acabamento e design dos produtos (SANTANA, 2008).
Os dados de faturamento e de ocupação de mão-de-obra revelaram um
desaquecimento do setor, sendo marcante a queda entre 2002 e 2007. Isto implicou em
redução de 53,85% no faturamento e de 42,17% no emprego. Portanto, o efeito da
regulação da atividade madeireira foi significativo para a economia local. Assumindo que a
maior parte das serrarias entrevistadas opera na legalidade, é necessário que a regulação do
setor pelo governo torne-se efetiva. Aliás, esta é uma expectativa revelada nos resultados
estimados para 2010, em que se espera gerar um maior faturamento e recuperar a parcela
do mercado internacional, que foi perdida ao longo deste período. Estes impactos negativos
se devem, fundamentalmente, a uma ação ineficiente do manejo institucional ligado a este
segmento da economia da Amazônia. Cabe ressaltar, entretanto, que a parcela do mercado
conquistada até então foi, em grande parte, à custa da utilização de mão-de-obra informal,
acesso a incentivos fiscais e crédito subsidiado, destruição da floresta e da biodiversidade. A
implantação efetiva de um marco regulatório, talvez possa recuperar grande parte deste
passivo.
As vendas para o mercado nacional tiveram comportamento inverso ao do mercado
internacional, em função do aumento do poder aquisitivo da população brasileira no
período. Como o Brasil, neste período apresentou firme taxa de crescimento da economia,
parte da oferta de madeira foi destinada ao mercado nacional, uma vez que o crescimento
do PIB é a principal variável definidora da demanda de madeira no Brasil, conforme Santana
(2002).
A inserção das empresas no mercado nacional e internacional indica que há demanda
para os produtos, uma vez que o mercado é amplo. A insatisfação dos empresários e os fatos
relatados como causa da dificuldade de acesso à matéria-prima, para que passem a operar
em plena capacidade é porque a demanda é superior à oferta destes produtos. Uma
demanda maior do que a oferta, como tende a prevalecer neste mercado, gera como
resultado um incremento do preço dos produtos. Com isto, viabiliza-se o custo do plano de
manejo.
38
MERCADO AGREGADO DE PRODUTOS NÃO-MADEIREIROS
Conceito de produtos não-madeireiros
Historicamente, a madeira nem sempre foi o produto principal da economia florestal
da Amazônia. A literatura registra que as drogas, a borracha, a castanha e o palmito
representaram durante longo tempo o interesse pela exploração dos recursos florestais, pois
o domínio da madeira no mercado internacional é relativamente recente (SANTOS, 1989;
HOMMA, 2004; BRITO, 2005).
Neste trabalho, considera-se produto não-madeireiro – PNM todos aqueles que
crescem e são colhidos em áreas de florestas, exceto madeira em tora, e não resultam da
atividade agropecuária e da aqüicultura. Neste caso, são considerados também os produtos
obtidos de plantas semidomesticadas em plantios ou sistemas agroflorestais, assim como os
peixes ornamentais e outros produtos da fauna silvestre. Este é um conceito em construção,
portanto não apresenta uma precisão científica.
Existem produtos não-madeireiros da Amazônia que têm expressiva representação
no mercado internacional, e alguns estão reproduzindo os resultados da “doença holandesa”
(dutch disease). Este termo se refere ao fato de um determinado local, região ou país ser
detentor de riquezas naturais que podem contribuir para o crescimento da econonia. O
recurso torna-se o produto principal da economia local e, às vezes, como foram os casos do
café no Brasil e da borracha na Amazônia, da economia mundial. Por falta de investimentos
em C,T&I, a pressão de demanda conduz a sua exaustão ou a substituição por produtos
sintéticos com maior escala de produção e menor custo. Neste aspecto, dutch disease é um
termo econômico que tenta explicar a aparente relação entre a exploração de recursos
naturais em substituição aos produtos sintéticos como são os casos do açaí e castanha-dopará, conforme destaque em estudos da FAO (2008) e Santana et al. (2008). O sentido aqui
empregado deste termo diz respeito à descoberta desses recursos naturais pelos
consumidores globais, que estão exercendo uma grande pressão na demanda e, por
conseguinte, exigindo a regulação de sua exploração, capitaneado por interesses de órgãos
governamentais e internacionais para investir na atividade.
Na região de estudo, pelo menos o pau-rosa já se apresentou como um produto que
causou o fenômeno da “doença holandesa”, cujo resultado foi sua exaustão, de acordo com
a profecia de Hardin (1968), pois não havia regulação para evitar a “tragédia dos comuns”
39
evidenciada (o ciclo do pau rosa foi apresentado no Box 2, Apêndice 2). Porém, cresce o
interesse por produtos naturais com princípios ativos de potencial para combater problemas
de saúde, correlacionados ao consumo de produtos industrializados (sintéticos). Entre eles, a
região de estudo apresenta óleos (copaíba, andiroba, pequi e cumaru), açaí (antocianina) e
castanha-do-pará, entre os produtos ligados à saúde. Este aspecto é de fundamental
importância porque a exploração sustentável destes recursos pode obter apoio de
instituições internacionais que contribuam para que o Estado do Pará opere um amplo
programa de governança para a extração e agregação de valor aos produtos da floresta e da
fauna amazônica, de modo a proporcionar condições sustentáveis de sobrevivência e
aumento da qualidade de vida das populações de baixa renda das comunidades rurais e
urbanas, vinculadas às cadeias produtivas destes produtos.
Apesar disto, somente agora houve uma retomada de interesse da ciência e dos
governos na direção dos PNM. Isto tem ocorrido, particularmente, devido aos estudos que
mostram que além do potencial de ampliação de produtos obtidos, a atividade pode
proporcionar maior engajamento de pessoas, que passam a ter na atividade um importante
componente de subsistência. Há indicações de que a geração de emprego em florestas onde
se trabalha com a obtenção de PNM é de 5 a 15 vezes maior do que no processo da simples
exploração madeireira (BRITO, 2005).
Por outro lado, o sucesso na exploração dos PNM somente será garantido se forem
muito bem conhecidas suas disponibilidades e seus potenciais de sustentabilidade. Além
disso, deve-se ter uma boa informação sobre o mercado consumidor. Devem ainda ser
estimuladas ações que induzam ao processamento parcial ou total dos produtos próximo às
fontes dos recursos florestais, o que poderá aumentar as receitas dos produtores em termos
de comercialização. Necessário também se faz a prospecção de novos nichos de mercado
que os produtos podem preencher. Outro aspecto importante é a identificação da escala
apropriada para processamento dos recursos e os níveis de qualidade requeridos para os
produtos e de especialização dos empreendimentos. Em geral, na produção em escala
doméstica, o processamento limita-se à secagem e à embalagem dos produtos.
Na escala de produção comunitária, as operações podem incluir o processamento de
produtos medicinais, óleos vegetais, sabões, corantes e taninos. Em centros mais complexos
podem ser incluídos o processamento da goma-resina, ceras e óleos vegetais. Todas as
atividades devem ser iniciadas em escala piloto, no sentido de serem testados o processo, as
40
qualidades do produto e as preferências do mercado. A definição por sistemas que
apresentem flexibilidade para o processamento de diferentes produtos poderá reduzir os
custos individuais dos produtos. Iniciativas do tipo foram identificadas nos municípios de
Itaituba e de Santarém, cujas análises serão desenvolvidas depois.
Mercado de produtos não-madeireiros
Os produtos não-madeireiros, embora tenham um mercado que está em franca
expansão - com alguns produtos distribuídos nos mercados de diversos países dos cinco
continentes como são os casos dos produtos gerados a partir do açaí, castanha-do-pará,
pau-rosa, óleo de copaíba - na região de estudo, tanto a oferta como a demanda são
pequenas. O mesmo ocorre com as ecobijoux e ecojóias produzidas com sementes, fibras,
penas e outros artesanatos fabricados com os produtos da floresta e da fauna. Os peixes
ornamentais, que sofrem maior pressão sobre os estoques naturais, também estão sendo
exportados para diversos mercados internacionais. Há, entretanto, um grande potencial
para a expansão da oferta destes produtos antes mesmo de a extração igualar a capacidade
de regeneração dos estoques naturais. Por outro lado, não se tem noção sobre a dimensão
do estoque dos recursos naturais com potencial de mercado da área de estudo. Para isto,
necessita-se desenvolver pesquisa para identificar os estoques, mapear sua área de
ocorrência, valorar o capital e promover sua utilização de forma racional e sustentável.
A regulação da extração destes produtos deve ser considerada no momento da
concessão das áreas e dos planos de manejo de exploração de reservas e FLONAS, pois como
o mercado por produtos não-madeireiros está crescendo, e em função da demanda de
grandes empresas, os preços devem aumentar a pressão sobre a matéria-prima. Isto pode
desencadear rapidamente o processo para uma superexploração dos recursos e a sua
conseqüente exaustão em curto espaço de tempo.
Os produtos extrativos, tanto madeireiros quanto não-madeireiros, apresentam
comportamento sazonal e a oferta, de modo geral, vincula-se a um processo de
esgotamento dos recursos naturais, em função do uso comum que, geralmente, leva a uma
extração maior do que a capacidade natural de reposição dos estoques. A exploração
extrativa também está associada a uma organização rudimentar da produção, com escala
inadequada, baixos níveis tecnológicos e de informação, e baixa produtividade do trabalho.
Neste ponto, é fundamental a identificação de nichos de mercado e alternativas de
41
comercialização, visando ajustar o volume da produção às condições de demanda do
mercado. Um passo importante nesta direção diz respeito à organização das comunidades
para fazer a coleta de forma racional dos produtos e iniciar seu processo de industrialização,
visando à integração com grandes empresas inseridas no mercado internacional.
Na medida em que a demanda aumenta, em função da capacidade limitada da
oferta, gera-se desequilíbrio no mercado de produtos, cujas conseqüências se refletem no
aumento de preços. Este, por sua vez, estimula a pressão sobre a extração dos recursos, que
se não regulada, rapidamente conduz ao esgotamento dos recursos. As alternativas para
enfrentar o problema estão no investimento em conhecimento científico e tecnológico,
formação de capital humano e capital social, visando à domesticação das espécies e
implantação de cultivos visando equilibrar o mercado e, ao mesmo tempo, diversificar a
oferta dos produtos para aumentar a sustentabilidade da produção e a comercialização
desses produtos (HOMMA, 2008).
No caso da região estudada, o pau-rosa, a castanha-do-pará, o palmito e o cipó-titica
são casos de superexploração. Os produtos como óleos (copaíba, andiroba e piquiá) estão
sendo extraídos no limite da capacidade produtiva das áreas identificadas como de maior
densidade, e outros produtos como cascas, sementes, folhas, estão sendo explorados bem
abaixo da capacidade produtiva da floresta. Por conseguinte, na região estudada há uma
grande concentração de produtos não-madeireiros, envolvendo produtos da fauna (mel de
abelha, penas de aves e peixes ornamentais) e da flora (sementes, óleos, folhas, cascas,
raízes, gomas e látex). No Box 3, Apêndice 3, apresenta-se uma lista de produtos nãomadeireiros. Isto facilita a ampliação da escala de produção de um leque de produtos
diferentes, que articulados em rede com outras organizações no Pará, deve continuar
atendendo, de forma sustentável, a expansão do mercado nacional e internacional sem
produzir a exaustão dos recursos. Naturalmente, necessita-se de uma governança com
nódulos eficientes de coordenação da cadeia de valor destes produtos. Necessita-se,
portanto, de uma ampliação do volume, qualidade e padronização dos produtos, nos
diversos territórios.
Na Figura 8 consta uma amostra de alguns tipos de óleos, leite de sucuuba, mel,
casca de árvores e semente de cumaru extraídos da região estudada.
42
Figura 8. Óleos de andiroba, copaíba, cumaru e piquiá, leite de súcuba, mel, cascas de
árvores com princípios ativos medicinais, e sementes de cumaru, comercializadas no
mercado de Santarém, 2008.
Observa-se que os óleos não apresentam padrão de qualidade. A embalagem e
rotulagem dos produtos não estão adequadas para a comercialização em mercados onde o
consumidor é mais exigente em qualidade. Uma parte destes produtos é comercializada no
mercado local e o restante se destina aos demais mercados: estadual, regional, nacional e
internacional.
Na região estudada, os principais produtos não-madeireiros comercializados estão na
Tabela 8. Nesta tabela constam peixes ornamentais, óleos, cascas, sementes e artesanatos
diversos. Estes produtos definem três cadeias produtivas: a cadeia de óleos e essências, a
cadeias de sementes e gemas e a cadeia de peixes ornamentais. De modo geral, os produtos
apresentam baixo valor agregado, em função de diversos aspectos de deficiência na
estrutura produtiva e de comercialização. Os peixes representam a maior parcela do valor da
produção, em função da quantidade capturada e da demanda de mercado ser
substancialmente maior. Na seqüência aparecem os óleos, seguido dos produtos do
artesanato.
43
Tabela 8. Produtos não-madeireiros, quantidade e preços, 2008.
Nome
Acará disco
Acari
Acari arábica
Acari cara chata
Acari onça
Acari tigre de bola
Acari titanic
Bola Branca
Dicrossus (piabas)
Touro
Apistograma
Barbatimão
Sandálias
Tornozeleiras
Anéis
Bolsa
Brincos
Cintos
Colares
Copaíba
Pulseiras
Andiroba
Óleo de piquiá
Sacaca
Unha de gato
Sabonete
Santo Domingo (Massagem)
Vela
Verônica
Mel
Outros
Valor total
Unidade
um
um
um
um
um
um
um
uma
uma
um
um
um
par
uma
um
uma
um
um
um
l
uma
l
l
sc
sc
um
uma
uma
l
-
Quantidade
1.000
52.500
4.000
3.000
6.500
4.500
20.000
12.000
5.000
20.000
5.000
10
14
120
200
40
265
40
63
60
140
520
80
65
10
60
90
20
30
15
170
-
Preço médio
2,50
1,00
1,20
1,20
1,30
1,50
5,00
4,00
0,80
2,00
2,00
1,00
18,00
2,00
3,00
60,00
5,00
18,00
15,00
25,00
4,00
25,00
25,00
1,00
1,00
2,00
8,00
2,00
1,00
10,00
5,00
-
Valor (R$)
2.500,00
52.500,00
4.800,00
3.600,00
8.450,00
6.750,00
100.000,00
48.000,00
4.000,00
40.000,00
10.000,00
10,00
252,00
240,00
600,00
2.400,00
1.325,00
720,00
945,00
1.500,00
560,00
13.000,00
2.000,00
65,00
10,00
120,00
720,00
40,00
30,00
150,00
850,00
306.137,00
Fonte: Pesquisa de campo.
A maioria dos produtos não-madeireiros da região é comercializada no mercado local
e no Estado, pois em 2007, as vendas para esses mercados totalizaram 57,8%. As vendas
para o Brasil totalizaram 10% e para o mercado internacional 32,2% (Tabela 9). Os produtos
destinados aos mercados do Estado e internacional apresentaram tendência crescente, o
que sinaliza para um incremento na demanda pelos produtos. Para 2010, as expectativas
visam orientar as vendas para fora do mercado municipal, com o objetivo de abastecer aos
mercados mais amplos e deixar a dependência da comercialização, sobretudo dos
artesanatos, aos poucos turistas que visitam a cidade.
44
Com relação às vendas para o mercado internacional, os peixes e os óleos são os
produtos exportados de forma mais freqüentes, em função do volume produzido e da
demanda de grandes empresas e/ou de intermediários à procura destes produtos.
Tabela 9. Destino das vendas dos produtos não-madeireiros, 2008.
Mercados de destino da produção (%)
Anos
Pessoal
Ocupado
Faturamento
Médio (R$)
2.002
2.006
2.007
2.010
36
65
59
560
33.333,33
24.326,00
13.528,57
41.275,00
Vendas
Municípios
Vendas
Estado
Vendas
Região
Vendas
Brasil
Vendas
Exterior
Total
24,8
34,6
21,9
-
34,1
30,2
35,9
49,8
14,6
-
6,8
11,0
10,0
13,8
19,7
24,2
32,2
36,4
100,0
100,0
100,0
100,0
Fonte: Pesquisa de campo.
No caso dos produtos fabricados a partir de sementes, a tecnologia empregada é
rudimentar e o volume produzido é pequeno, com poucas possibilidades de comercialização
para mercados mais amplos. O exemplo é que muitos pedidos são ignorados por simples
incapacidade de atendimento. Neste ponto, falta espírito empreendedor e avançar no
campo da organização da produção em rede, visando conectar toda a produção de
ecobijoux, ecojóias e outros artesanatos do Estado do Pará, para desenvolver um plano de
marketing de venda destes produtos. A demanda nacional e internacional por este tipo de
produto é grande e crescente, inserida tanto no canal estabelecido pelo “mercado justo”,
quanto de mercado amplo de PNM.
A oferta dos produtos não-madeireiros está nos países em desenvolvimento.
Segundo a FAO (2008), portanto, a Amazônia e, particularmente, o Estado do Pará concentra
grande parte dos produtos com potencial de comercialização no mercado internacional
(pau-rosa, castanha, açaí, cupuaçu, cumarina, copaíba, peixes, ecobijoux e ecojóias). Apesar
da pressão dos produtos sintéticos que possuem uma oferta regular, os PNM são
potencialmente explorados nos países em desenvolvimento com mão-de-obra barata e
abundante.
Embora o comércio internacional dos PNM seja relativamente conhecido, o mesmo
não ocorre com a cadeia de produção e comercialização de produtos negociáveis no
mercado doméstico. A viabilidade econômica do extrativismo depende, em alguma medida,
da capacidade de concorrência com outros meios de produção. Segundo Anderson (2005), a
perda de competitividade do extrativismo frente às outras formas de produção deve-se em
45
parte à dispersão dos recursos naturais e da população envolvida nesta atividade. A
dispersão reduz a produtividade da terra e da mão-de-obra e a sazonalidade aumenta a
capacidade ociosa e produz descontinuidade no fluxo de produção e comercialização.
No caso dos produtos não-madeireiros, a regulação das áreas de extração está em
processo. Apenas as comunidades da FLONA Tapajós têm uma regulação do IBAMA, embora
de baixa efetividade.
Sobre os planos de manejo, necessita-se avançar mais, pois é necessário valorar os
produtos não-madeireiros da floresta e da fauna, nas áreas autorizadas para a exploração
sustentável de madeira. Os planos de manejo, quando muito, evoluem até o aproveitamento
dos resíduos gerados com a extração madeireira, aproveitando pequenas toras para
artefatos e móveis, galhos, tocos e raízes para a fabricação de carvão. É necessário
contemplar outros produtos como frutas, folhas, cascas, óleos, etc.
A origem da matéria-prima utilizada na fabricação de produtos não-madeireiros da
região pesquisada que provém de produção própria representa a menor parcela de 25%. A
maior parte é oriunda de produtores locais de áreas manejadas ou não (41,7%) e outra
parcela de 33,3% vem das áreas de reserva (Tabela 10).
Tabela 10. Origem da matéria-prima para os produtos não-madeireiros, 2008.
Itens
Produção própria
Compra de produtores locais (com/sem manejo)
Área de reserva
Total
Não-madeireiro
3
5
4
12
Porcentual
25,0
41,7
33,3
100,0
Fonte: Pesquisa de campo.
Com relação ao artesanato feito a partir de restos de árvores e troncos, reproduzindo
animais e aspectos da cultura regional, tem-se uma menor participação no mercado.
Observa-se, pelas características dos produtos, que eles reproduzem a cultura local, com os
principais animais da fauna sendo representados (Figura 9).
O artesanato de madeira produzido em Juruti é mais rústico, embora com os mesmos
traços artesanais. Os produtos de Santarém combinam peças de madeira com produtos
fabricados de cipó e de palhas de palmeiras da região. Este fato além de diversificar a
produção acompanha uma linha comercial mais atrativa, porque apresenta elementos de
persuasão para atrair os consumidores e estimular a aquisição dos produtos.
46
Figura 9. Artesanato de Juruti (fotos superiores) e de Santarém (fotos inferiores), 2008.
47
ANÁLISE DO MERCADO DE PRODUTOS MADEIREIROS POR MUNICÍPIO
Mercado de madeira de Itaituba
De acordo com o IBAMA, 60% ou mais da madeira em Itaituba ou é clandestina ou
burlou o sistema. Há várias formas de burlar o sistema, principalmente, os planos de manejo
aprovados que são usados como “pano de fundo” para a extração clandestina da madeira
(Figura 10).
Figura 10. Madeira serrada no pátio da CDP, toras e caminhão apreendidos pelo IBAMA de
Itaituba.
Há uma grande demora para se concretizar a culpabilidade do dano. Muitas vezes
quando se constata a culpa, a madeira até já foi exportada. Os empresários embutem 5% no
valor de suas vendas, sendo esse o custo da multa. As madeiras priorizadas são, sobretudo,
as nobres, tipo exportação. No caso do ipê, o m3 pode chegar a US$ 2,000.00 no exterior.
Grande parte da madeira de Itaituba sai serrada bruta para Belém, onde é repassada para as
grandes empresas exportadoras.
As perdas são grandes, o coeficiente de transformação nas empresas pesquisadas
mostra que são necessários 3,0 m3 de madeira em tora para gerar 1,0 m3 de madeira
serrada. O ideal, conforme o IBAMA é que cada 1,66 m3 gere 1,0 m3 de madeira serrada.
Porém, a tecnologia utilizada não permite este rendimento.
Segundo a Secretaria de Estado da Fazenda - SEFA, quase 100% da madeira no
município é exportada, por isso não gera imposto, pois a Lei Kandir isenta o produto de
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços - ICMS.
A crise mundial também tem afetado demasiadamente o setor. A madeireira
Tiberwizi já “amarga” o efeito de contratos desfeitos. Atualmente está com 100 m3 de
48
madeira serrada no porto de Santarém devido a um contrato desfeito e mais 250 m3 de
estoque forçado na empresa.
Esta informação foi corroborada pela Companhia de Docas do Pará - CDP, ao destacar
que no ano de 2008, considerando até o mês de outubro, foram 15.000 toneladas
exportadas de madeira serrada. Em 2007, mesmo período, foram 116.554 toneladas
exportadas e, em 2006 foram 79.874 toneladas. Quanto à tarifa portuária (o preço da tarifa
portuária é de R$ 2,73/t), em 2007, foram gerados de taxa R$ 419.758,74; em 2006, R$
310.851,51; e em 2008 R$ 390.400,00 (deste valor, deve-se considerar que cerca de R$
100.000,00 é o pagamento pelo armazenamento da madeira no porto que atualmente está
sem comprador). A crise fez a exportação diminuir em quase 80% desde o mês de agosto.
A CDP coloca como prazo oito dias para que o empresário deixe sua madeira na
companhia, passando isso, inicia a cobrança de taxa pelo armazenamento. A taxa é alta para
evitar que o pátio da instituição vire depósito. Isto atualmente tem acontecido com muita
freqüência, em virtude, da crise que faz quebrar contratos. Por isso, pode-se observar o
pátio da CDP cheio de madeira serrada, algumas já até mesmo depreciando devido às
intempéries a que estão expostas (Figura 10).
O destino dessas madeiras é a Europa, Ásia e América do Norte, cujo envio é feito,
principalmente, pelas traders Robco (instalada no município de Breves) e Tradelink (em
Belém). Atualmente somente se tem exportado o ipê, madeira utilizada na fabricação de
deck para piscina.
Mercado de móveis de Itaituba
O setor moveleiro de Itaituba é constituído de micro empresas que já atuam há mais
de três anos na atividade e empregam, em média, sete funcionários, incluindo mão-de-obra
familiar. A estrutura das empresas, modo geral, restringe-se a um barracão com máquinas e
equipamentos básicos como serras e plainadeiras já obsoletas, e bancadas rústicas. A
demanda é basicamente local, cerca de 95% se dá no próprio município, e a principal forma
de trabalho é por encomenda, o que dificulta a ampliação da escala e o tamanho das
empresas, visto ser muito difícil planejar qualquer tipo de expansão, balizando-se em
demandas pontuais. Mesmo assim, tudo o que se produz fora das encomendas é vendido. A
Figura 11 ilustra a estrutura das empresas moveleiras de Itaituba.
49
Figura 11. Equipamentos das movelarias de Itaituba: plaina, serra e ambiente interno da
empresa.
Em termos de inovação tecnológica e de gestão, nota-se completa ausência.
Nenhuma empresa investiu em ciência, tecnologia e inovação (C,T&I) de produto, processo
e/ou gestão (SANTANA, 2008)
As espécies empregadas na fabricação de móveis são adquiridas de laminadoras e
estâncias em Itaituba, ou em Miritituba, na maioria das vezes sem nota fiscal, pois para se
expedir a nota é necessário adquirir no mínimo três metros cúbicos de madeira legal. As
espécies mais empregadas são: cedro (Cedrela fissilis), angelim pedra (Hymenolobíum
excelsum), muiracatiara (Astronium lecointei); freijó (Cordia goeldiana) e marupá (Simarouba
amara). As quantidades adquiridas de madeira para produção de móveis varia entre um e
sete metros cúbicos por mês (Tabela 11). O custo de transporte da matéria-prima adquirida
em Itaituba é de R$ 30,00, entretanto se esta for comprada em Miritituba, o custo sobe para
R$ 150,00.
Tabela 11. Principais espécies, quantidades e preços de madeiras empregadas na fabricação
de moveis em Itaituba – PA.
Espécie de Madeira
Angelim pedra (Hymenolobíum excelsum)
Cedro (Cedrela fissilis)
Freijó (Cordia goeldiana)
Marupá (Simarouba amara)
Muiracatiara (Astronium lecointei)
Fonte: Pesquisa de campo.
Quantidade adquirida
m3/mês
1,0
1,0 a 7,0
1,0
1,0
1,0
Preço (R$/m3)
400
600
600
550
400
Os móveis produzidos em quase todas as empresas do município são rústicos, com
estilo retilíneo com acabamento à base de verniz. Alegou-se que a falta de crédito para
aquisição de novas máquinas e o baixo nível de renda das famílias, contribui para a produção
de produtos com design ultrapassado e menos sofisticados. Estes dois fatores associados à
50
escassez de matéria-prima e alto custo de produção fazem com que as empresas operem
com uma capacidade ociosa acima de 50%.
Por outro lado, a movelaria da “A Mão Cooperadora”, de uma Organização nãoGovernamental - ONG vinculada a uma instituição religiosa, sediada em Itaituba desde a
década de 1980, é uma referência em estilo e design moderno de móveis. Seus produtos são
direcionados ao nicho de mercado de classe de renda alta. A Figura 12 contrasta o padrão de
qualidade móvel produzido na média das empresas de Itaituba com aqueles produzidos na
ONG.
Figura 12. Móveis com padrão tecnológico das movelarias de Itaituba e da movelaria da
ONG A Mão Cooperadora.
A diferença de preço é considerável, chega ao patamar de 154,5% para guarda-roupa,
por exemplo. Os preços médios praticados no mercado de Itaituba são apresentados na
Tabela 12.
As quantidades produzidas de cada produto variam muito em função da
disponibilidade de matéria-prima e demanda de mercado. Assim em determinado período
do ano surgem mais pedidos de portas e camas, por exemplo. Então, a produção se
concentra nestes dois produtos, até que surja uma nova demanda, e o processo de produção
é então reajustado para atender este fim. Para alguns entrevistados, este é o maior
problema do setor, pois é muito difícil fazer um planejamento com base em uma demanda
incerta, tanto em produto quanto em quantidade. Por conta disso, o setor não se moderniza
porque ninguém quer assumir riscos de novos investimentos que não sabe se vai poder
pagar.
51
Tabela 12. Tipo de produto e preço médio praticado no mercado moveleiro de Itaituba – PA.
Tipo de Produto
Porta
Armário
Guarda-roupa
Estante
Rack
Balcão
Fonte: Pesquisa de Campo.
R$/unid.
130,00
750,00
1.100,00
700,00
500,00
950,00
Outro aspecto fundamental é a escassez de matéria-prima de qualidade. As
movelarias trabalham com o aproveitamento de madeira, ou seja, o refugo das laminadoras.
Foi ressaltada a dificuldade de transporte da madeira devido às fiscalizações do IBAMA.
Apesar de observarem que é uma vantagem estar perto da matéria-prima, as ações do
IBAMA restringem sua utilização. Algumas vezes, a madeira vem de área de manejo,
entretanto, sem nota fiscal, já que o preço da nota é maior do que o preço do próprio
produto. Por exemplo, um metro cúbico de cedro (Cedrela odorata) é R$ 700,00,
proveniente de área de manejo. Se for expedida nota fiscal para este mesmo produto, a
madeira passa a ter o valor de R$ 1.500,00/m3.
Um moveleiro relatou que há dificuldades na região para desenvolver os
empreendimentos, em virtude da falta de qualificação técnica da mão-de-obra e dos
empresários. Faltam cursos técnicos profissionalizantes para os profissionais deste segmento
produtivo. O desperdício de madeira é grande, pois apenas 70% da madeira serrada é
transformada em móvel, que ocorre em virtude da falta de qualificação e de tecnologia, o
que tem um impacto negativo direto sobre o meio ambiente.
Outra questão apontada foi que produzir com qualidade é considerada uma grande
dificuldade, pois não há ferramentas adequadas. Apesar disso, não têm dificuldade para
vender a produção para os consumidores de baixa renda locais.
As instituições do governo que poderiam ser agentes-chave neste processo deixam a
desejar em suas ações. Segundo os entrevistados, o SEBRAE iniciou uma série de
treinamentos com o fim de estruturar o pólo moveleiro de Santarém, Altamira e Itaituba, os
cursos perduraram por cerca de três anos e para alguns entrevistados contribuíam de forma
significativa para a gestão do negócio e a concepção empresarial da atividade, mas faltou
continuidade e afinidade com ações empreendidas por outras instituições, como a de
52
microcrédito para renovação do parque tecnológico. Atualmente, os empresários locais
sabem calcular custos e tomar decisões com menos risco, mas não conseguem acompanhar
as tendências do mercado e se limitam a vender a produção somente no mercado local,
embora almejem alçar vôos mais altos. Acrescente-se a isso, a iniciativa, no ano de 2000, da
criação do pólo moveleiro de novo progresso que teve conseqüência desastrosa no mercado
de Itaituba, por conta do movimento migratório de empresas e de mão-de-obra, que foram
em busca de novas oportunidades.
As empresas de Itaituba assumem sua parcela de culpa no processo, quando
admitem não haver união no grupo. Existe uma cooperativa (Coopermóveis), mas as
negociações ocorrem de forma isolada, não foi criado um sentimento de coletividade, de
busca de melhorias para o setor como um todo, embora a cooperativa exista de direito, de
fato cada empresa decide seu negócio e toma decisão conforme o que é melhor para si. Ou
seja, as empresas atuam de forma individual nas suas relações com fornecedores e com
clientes e não coletivamente como deveria ser.
Mercado de madeira de Santarém
Em Santarém, restaram médias e grandes madeireiras que destinam sua produção ao
mercado internacional dos seguintes países: China, Holanda, Estados Unidos, Alemanha,
Bélgica, Japão e Itália, na forma de madeira serrada e plainada. As principais espécies de
madeira comercializadas são: muiracatiara, freijó, cedrorana, cumaru, ipê e cedro. A madeira
em tora destas espécies é adquirida a um preço médio de R$350/m3 de produtores
extrativistas do entorno da FLONA e do município de Alenquer.
As empresas extraem 80% da madeira em tora de área própria é ofertada por
pequenas e médias empresas em Santarém, onde cerca de 80% são oriundas de área própria
de plano de manejo e de área autorizada pelo IBAMA e 20% são adquiridos de produtores
locais com ou sem manejo.
Estas empresas fazem o desdobramento da madeira (madeira serrada e madeira
laminada), secam em estufa ou ao ar livre, imunizam e fazem o alisamento (madeira
plainada). O nível tecnológico destas empresas é o mais avançado e moderno da região
pesquisada. A Figura 13 ilustra a madeira em tora e o processo de desdobramento da
madeira realizado em uma serraria de Santarém.
53
Figura 13. Madeira em tora e processo de desdobramento da madeira em Santarém.
Mercado de móveis de Santarém
As estâncias e movelarias de Santarém enfrentam dificuldade para adquirir madeira
serrada de origem de planos de manejo, em função do preço elevado. Cerca de 70% dos
moveleiros compram madeira da Estância Tapajoara e as principais espécies trabalhadas
são: cumaru, freijó, muiracatiara, e agora a marupá, como uma nova alternativa de matériaprima, por ser madeira branca e mais barata, que as serrarias desperdiçam. A madeira é boa
de trabalhar e apresenta boa qualidade e durabilidade.
As 52 movelarias de Santarém (formais e informais) estão ligadas à Associação dos
Moveleiros e ocupam cerca de mil pessoas. Estas empresas são especializadas na fabricação
de camas, armários, cômodas, cadeiras e em serviços de reparos de móveis (Figura 14).
Figura 14. Móveis de madeira densa: armário e cadeiras, produzidos nas movelarias de
Santarém.
Segundo Santana (2008), estes produtos se destinam ao mercado local, principalmente
para as populações de média e baixa renda. Os móveis são rústicos e de baixo padrão de
qualidade, portanto, sem possibilidade de venda no mercado internacional.
54
Mercado de madeira de Juruti
Em Juruti existe apenas a serraria IMAPIN. A empresa possui um projeto de manejo
que está sob análise desde o ano 2000. Já adotaram todas as providências solicitadas pelo
INCRA e o ITERPA, mesmo assim não conseguem a aprovação. Até 2006, o IBAMA era o
responsável por esta ação, atualmente é a Secretaria de Meio Ambiente - SEMA. Alega que o
IBAMA expedia autorização para o colono fazer desmatamento em até três hectares, o que
possibilitava a aquisição de até 60 m³ de madeira em tora com garantia de procedência
legal. Após passar para a SEMA, em 2007, localizada em Belém, ficou difícil, pois a Secretaria
Municipal de Meio Ambiente - SEMMA não tem autorização para emitir essa documentação
e, com isso, o colono ficou impedido de vender. Mas o colono tem que desmatar para poder
produzir e se sustentar. Este fato talvez explique o porquê das movelarias comprarem
madeira sem certificação. Acredita que a maior dificuldade seja a falta de legalização das
terras e a desorganização das inúmeras comunidades rurais e que o Projeto Juruti (ALCOA)
trará impactos negativos para a população urbana.
Mercado de móveis de Juruti
Antes de 2007, em Juruti existiam sete movelarias informais. Atualmente existe um
número maior, porém quase todas operam na informalidade. A madeira comprada na
comunidade é muito mais barata que a comprada na serraria. Por exemplo: o preço do
angelim é R$ 400,00/m³ (na comunidade) e R$ 900,00/m³ (na serraria). A Prefeitura cria
dificuldades para o licenciamento. A empresa de Juruti Velha, que tem projeto de manejo,
vende a madeira para fora do município. Para beneficiar a madeira junto à serraria paga-se
R$ 200,00/hora e isso torna o produto muito caro não possibilitando a venda de uma cama
para o mercado local. Alegam que têm que abrir a madeira e isso esquenta o motor
forçando-os a parar para esfriar, o que diminui a produtividade. Reforçam que estão na
dependência de uma única serraria que vende mais caro, pois não há competição; dessa
feita, acreditam que a “concessão da floresta” para os colonos ajudaria na resolução dessa
questão. Acreditam que a ALCOA ajuda, pois vai forçar a legalização. Atestam que toda
madeira trabalhada vem da região, principalmente da gleba Curumucuri. Reconhecem que
ao trabalharem com madeira retirada com motosserra incorrem em perdas durante o
beneficiamento, principalmente porque seus instrumentos de trabalho (na maioria) não são
os mais modernos, prejudicando a obtenção eficiente de peças e cortes específicos.
55
Os principais produtos madeireiros utilizados por serrarias, estâncias e movelarias
estão apresentados na Tabela 13.
O cotejamento das informações obtidas permite inferir que são essas as principais
espécies trabalhadas, tanto para extração de madeira como não-madeira. Não obstante,
convém notar que angelim, cedro, cumaru, ipê, itauba, muiracatiara e pau amarelo foram as
espécies mais citadas pelos entrevistados:
Tabela 13. As cinco principais espécies madeireiras utilizadas pelas empresas de Juruti, 2008.
Nome popular
Nome científico
Acapu
Vouacapoua americana Aubl.
Amarelão/garapa
Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Macbr.
Andiroba
Carapa guianensis Aubl.
Angelim
Dinizia excelsa Ducke
Angelim pedra
Hymenolobium heterocarpum Ducke
Angelim rajado
Pithecellobium incuriale (Vell.) Benth.
Angelim vermelho
Dinizia excelsa Ducke
Cedro
Cedrela odorata L.
Cedro vermelho
Copaíba
Copaifera guianensis Desf.
Cumaru
Dipterix odorata (Aubl.) Willd.
Cupiuba
Goupia glabra Aubl.
Freijó
Cordia goeldiana Huber
Ipê
Tabebuia sp.
Itauba
Mezilaurus itauba (Meisn.) Taub. ex Mez
Marupá
Jacaranda copaia (Aubl.) D.Don
Muiracatiara
Astronium lecointei Ducke
Pau amarelo
Piquiá
Caryocar villosum (Aubl.) Pers.
Quaruba
Vochysia paraensis Ducke
Sucupira
Diplotropis purpurea (Rich.) Amshoff
Tatajuba
Bagassa guianensis Aubl
Tauari
Couratari oblongifolia Ducke & R.Knuth
Tauari vermelho
Couratari sp.
Taxi
Tachigali paniculata Aubl.
Fonte: Pesquisa de campo.
Mercado de móveis de Aveiro
Em Aveiro foram entrevistadas três movelarias, sendo duas na sede do município e
uma na Vila Fordlândia. Na realidade, trata-se de marcenarias de “fundo de quintal”, que
trabalham por encomenda dos clientes do mercado local. A madeira utilizada pelas
marcenarias da sede do município é oriunda do “beiradão”, fornecida pelos agricultores ou
colonos da região, por ocasião da derrubada da mata para o plantio das culturas. Estes
56
colonos são das regiões de Santa Cruz, Cupari, Apacé e Daniel, que exploram projetos de
assentamentos ainda não homologados pelo INCRA. A movelaria de Fordlândia, além de
madeiras compradas dos colonos, adquire madeiras de uma serraria do km 85 da
Transamazônica.
As empresas enfrentam dificuldades de mercado, pelo baixo poder aquisitivo dos
consumidores, assim como pela falta de capital de giro para movimentar o negócio e
trabalhar com madeira legalizada, uma vez que os projetos de manejo ficam distantes e o
custo de extração e de transporte oneram o preço da madeira e, por consequência, o
produto final.
As espécies de madeira utilizadas com maior frequência nas movelarias de Aveiro
são: cedro, muiracatiara, angelim, cupiuba, marupá. A movelaria de Fordlândia, além dessas
espécies, utiliza a andiroba. Os principais produtos fabricados por essas movelarias são:
guarda-roupas, mesas, cadeiras, rack, portas, janelas, caixilhos e cama.
Os coeficientes técnicos revelados pelas movelarias foram, em média, os seguintes:
• 1,0 m3 de madeira em tora = 10 portas;
• 1,0 m3 de madeira em tora = 20 jogos de caixilhos;
• 1,0 m3 de madeira em tora = 15 janelas;
• 1,0 m3 de madeira em tora = 8 guarda-roupas;
• 1,0 m3 de madeira em tora = 100 cadeiras;
• 1,0 m3 de madeira em tora = 20 camas.
As serrarias de Aveiro fecharam em março de 2008, em função da ação do IBAMA e
da SEMA, uma vez que estavam utilizando madeira de áreas não autorizadas. Uma das
madeireiras protocolou na SEMA, a solicitação para um novo projeto de manejo para
exploração de madeira na 5ª vicinal da comunidade Nova Esperança. Apesar de Aveiro
abrigar a reserva extrativista Tapajós-Arapiuns, até o momento, não se extrai madeira deste
local.
57
MERCADO DE PRODUTOS NÃO-MADEIREIROS POR MUNICÍPIO
Mercado de ecobijoux de Itaituba
A utilização de sementes de espécies nativas para produção de ecobijoux no
Município de Itaituba se dá de forma artesanal e em micro escala, praticada por mulheres
artesãs e populações tradicionais indígenas. O processo de produção é manual,
empregando-se mão-de-obra familiar e, inicia-se com a coleta das sementes nas áreas de
florestas da reserva extrativista (Resex), da floresta nacional do Tapajós, terras indígenas da
tribo Munduruku, e outras localidades interioranas. O tempo de coleta pode durar de duas
horas a três dias, dependendo do tipo de semente, época do ano e proximidade com áreas
de mata. Posteriormente, as sementes são esterilizadas por meio de fervura e em seguida,
desidratadas. Após a secagem, as sementes são perfuradas e lixadas, para depois serem
utilizadas na fabricação de cordões, pulseiras, brincos e anéis. O processo é tradicional e a
tecnologia de produção é repassada dos pais para os filhos e netos.
O padrão tecnológico usado na fabricação de ecobijoux é baixo. Normalmente,
fervem-se as sementes e os põe para secar ao sol para depois, com uma furadeira de broca
adaptada fazer os furos nas sementes. Também, utiliza-se soda cáustica para limpar a
semente e, em alguns casos, houve relatos de que o produto causou náuseas para as
pessoas no momento de sua aplicação nas sementes.
As perdas no processo de fabricação das ecobijoux são altas, em torno de 50%. O
processo de perfuração das sementes é manual e a forma de armazenamento é inadequada.
As sementes e peças prontas são guardadas em vasilhas plásticas no interior da residência,
local considerado inadequado, pois não há controle de umidade e de agentes
contaminantes. Não se tem controle até mesmo dos animais domésticos. A organização
coletiva na produção necessita que máquinas apropriadas para aumentar a eficiência do
processo, aumentar a produtividade da mão-de-obra e estimular a ação coletiva tanto no
processo interno de fabricação quanto na estruturação de um arranjo produtivo no local.
As principais espécies utilizadas são: açaí (Euterpe oleracea), buriti (Maritia flexuosa),
cajá (Spondias mombin), tucumã (Astrocaryum aculeatum), inajá (Maximiliana maripa),
bacaba (Oenocarpus bacaba), flamboyant (Delonix regia), milagre, molongó preto, molongó
preto com vermelho, olho de boi, olho de bode, patauá e tucum; penas, coquinhos e
espinhos de árvores. As sementes de patoá são adquiridas de extrativistas locais ao preço de
58
R$ 20,00 o cacho com cerca de mil sementes, em média. Foi revelado na pesquisa que esses
produtos existem em abundância na floresta. Só coletam o necessário para o trabalho de
rotina, pois não pensam produzir em escala comercial. Há demanda, porém, falta
capacidade empreendedora para o atendimento da demanda.
A comercialização das ecobijoux ocorre de duas formas distintas, a primeira é feita
pelos povos indígenas, principalmente a tribo Munduruku situada na Praia do Índio,
destacando-se as aldeias Sauré, Aldeia Nova, Manoné e São Luis do Tapajós, em que a maior
parte das vendas é feita diretamente aos turistas e soldados do exército que servem em uma
base próxima à Praia do Índio (Figura 15). A outra forma de comercialização ocorre em uma
loja da associação de mulheres artesãs próxima à orla de Itaituba.
Figura 15. Exposição de ecobijoux confeccionadas pelos indígenas da Praia do Índio e na orla
de Itaituba, 2008.
Não há estratégia para comercializar os produtos em outros locais, o que poderia ser
remediado com o apoio das instituições e o fomento à organização dos artesãos.
A Associação de Artesãos em Itaituba não se mostra ativa no sentido de traçar
objetivos e estratégias coletivas, visando à comercialização dos produtos. Atualmente, a
única vantagem do associado é vender o produto no ponto de vendas da associação,
localizado na parte central da cidade.
Na Praia do Índio, a atividade ocupa cerca de 40 indígenas das aldeias, sendo que
deste total, 15 são mulheres que trabalham diretamente na produção de ecobijoux. Os
homens e crianças produzem peças de cerâmica. A receita média mensal com a venda de
ecobijoux é de R$ 600,00/mês e a de artesanato em cerâmica, arcos e flechas R$
1.000,00/mês. Tanto nas aldeias quanto na loja das artesãs, os preços das peças são
similares.
59
Em função da característica extrativa e artesanal de produção, não há controle de
custos sobre a matéria-prima coletada na floresta e da mão-de-obra ocupada no processo
produtivo, o que dificulta até mesmo, saber se a atividade é lucrativa.
Os artesãos reclamam da falta de apoio das instituições no que concerne à falta de
cursos que os ensinem a gerir com mais eficiência a atividade, o que inibe a produção em
escala e a elaboração de um produto final com qualidade. Neste particular, o SEBRAE, ONG e
órgãos governamentais podem contribuir para superar os problemas apontados pela
comunidade e para a formação de capital humano, oferecendo cursos de treinamento e
aperfeiçoamento sobre os aspectos de gestão empresarial e planos de negócios, assim como
fortalecer os laços de cooperação no trabalho conjunto, produção e comercialização dos
produtos.
Na tribo dos mundurukus, observou-se um embrião de ações de empreendedorismo,
pois foi criada uma marca que consta de uma etiqueta colocada em cada produto. Nesta
etiqueta, conta-se um pouco da história das comunidades. Este é um princípio importante
para a conexão da comunidade a uma rede de mercado justo, que pode inserir tais produtos
no mercado internacional. Porém, a comunidade necessita se preparar para atender ao
incremento de demanda.
Mercado de artesanato de cerâmica de Itaituba
O artesanato de Itaituba é fabricado com sementes, fibras, cascas, madeira e
cerâmica. Similarmente ao que acontece na produção de ecobijoux, a cerâmica tem maior
destaque na praia do índio. O trabalho com cerâmica gera renda no valor de R$ 1.000,00 a
R$ 1.200,00/mês. A atividade é desenvolvida em oficina localizada no próprio local de venda,
sendo feita por seis pessoas. Na concepção de Everaldo - índio Munduruku que coordena o
projeto intitulado “Centro de Artesanato Korap Mug Um” - o índio precisa ser independente,
como seus antepassados. Essa visão conflita com as políticas paternalistas da Fundação
Nacional do Índio – FUNAI, posto que a proposta do projeto é que o índio seja um
empreendedor (Figura 16).
As principais dificuldades apontadas foram com relação ao transporte para escoar a
produção e para transportar tijolos na época da cheia. No caso da argila, compram tijolo cru
das olarias ao preço de R$ 0,20 por unidade. São necessários 300 tijolos a cada cheia (cada
tijolo cru pode gerar uma peça grande ao preço de até R$ 30,00 ou 50 peças pequenas de
60
argila ao preço de R$ 1,00). Da olaria até a praia do índio paga-se R$ 50,00 de frete para o
transporte dos 300 tijolos.
Figura 16. Produtos de artesanato fabricados com cerâmica, palha e sementes na praia do
índio em Itaituba.
No município de Itaituba, a atividade mineral, conforme a SEMMA, é intensa e se
constitui, principalmente, de micro empresas mineradoras. Em 2007, em Cuiucuiu, foram
extraídas 150 toneladas de ouro. Esta é a maior mina já descoberta no Tapajós. Assim,
algumas das concessões previstas já estão sofrendo pressão para a exploração de minério. É
o caso de grupos de interesse que demandam a atividade na Floresta Nacional - FLONA
Cripuri. Mesma questão está ocorrendo na FLONA de Jamanchi que possui 200.000 ha
somente de mata e o resto já foi toda garimpada. Entretanto, até o momento a atividade de
mineração tem ficado em segundo plano nas discussões de concessão das FLONAS.
Mercado de ecobijoux de Santarém.
O mercado de ecobijoux no município de Santarém apresenta características
similares ao de Itaituba, com baixo nível de organização, emprego de técnicas rudimentares
e artesanais de produção, concentrada nas populações tradicionais indígenas e ribeirinhas.
Na localidade de Alter-do-Chão, concentra-se parte significativa da produção de
ecobijoux e outros artesanatos produzidos nos municípios e em comunidades de outros
municípios próximos. O público-alvo é o turista que freqüenta o local. Outra parte é
comercializada em lojas no centro comercial e na orla de Santarém por ambulantes e
hippies, que vendem para turistas e a população em geral que circula na orla. A Tabela 14
mostra os principais produtos comercializados e os respectivos preços.
61
Tabela 14. Tipo de produto e preço pago pelos consumidores de ecobijoux em Alter-do-Chão
e Centro de Santarém, 2008.
Produto
Brincos com sementes
Brincos de madeira
Cinto de casca de coco e açaí
Colar pequeno
Colar médio
Colar grande (diversas voltas)
Porta caneta de ouriço de castanha do Pará
Imã de geladeira (caroço de inajá e uxi)
Porta jóia de ouriço de castanha do Pará
Chaveiro do fruto da castanha do Pará
Anel de caroço de tucumã
Cesta de palha de tucumã
Bolsa de palha de buriti
Fonte: Pesquisa de campo.
Preço em R$
4,00 – 6,00
7,00
12,00
7,00
18,00
35,00
12,00
4,00
15,00
5,00
1,50
30,00 – 50,00
30,00 – 50,00
Deve-se ressaltar que, segundo informações de comerciantes do centro comercial de
Santarém, embora a matéria-prima exista no local e em abundância, as peças que vende em
sua loja são compradas em Pacuti, no interior do Ceará e no Rio de janeiro. Isto ocorre em
função do acabamento e qualidade superior dos produtos, pois como se diz, os produtos
locais são de fato artesanais e muito rústicos. Como o mercado é segmentado, com
consumidores jovens, a inclusão da cultura nos produtos locais deve ser combinada com arte
e design moderno, para alcançar diversos nichos de mercado. Portanto, esses nanonegócios
precisam ganhar contornos de produção competitiva. Para isto, há necessidade de
treinamento e capacitação destes empresários.
As principais sementes utilizadas na confecção de ecobijoux são: morototó
(Dydimopanax morototoni), tucumã (Astrocaryum aculeatum), inajá (Maximiliana maripa),
açaí (Euterpe oleracea), maraí (paxiuba, uxi (Eudopleura uchi), tento vermelho (Ormosia
spp), coco curuá , saboneteira (Sapondis saponaria), olho de boi, lágrima, além de ouriço da
castanha-do-pará (Bertholletia excelsa), coco (Cocos nucifera) e arte em madeira (tronco e
galhos de árvores). As Figuras 17 e 18 mostram os produtos comercializados em Alter-doChão e na comunidade de Jamaraquara, na FLONA do Tapajós.
62
Figura 17. Produtos comercializados pelas artesãs de Alter-do-Chão.
Figura 18. Produtos comercializados pelas artesãs de Jamaraquara.
As espécies utilizadas pelas artesãs da comunidade de Jamaraquara são: Envira
(Xylopia nítida), jutaí (Dialium guianenses), tento amarelo da mata, tento amarelo do igapó,
caracaxiá e piraputi. A Tabela 15 contém as principais espécies de sementes utilizadas na
produção de ecobijoux na FLONA do Tapajós em Belterra, assim como as quantidades e os
preços praticados no mercado local de Santarém.
As sementes assinaladas com (*) indicam que são as sementes coletadas diretamente
na FLONA e por conta disso, as artesãs não sabem atribuir preço de custo, uma vez que não
há despesas de aquisição de sementes, mas quando indagadas sobre o custo de
oportunidade do tempo investido na coleta, afirmaram que consideram o preço de uma
diária, ou seja, R$ 15,00. Considerando que a coleta envolve mão-de-obra de toda a família,
ou do casal chefe da família, e que o tempo de coleta é muito variável, podendo abranger
mais de um dia dependendo do tipo de semente e seu grau de uso na confecção das peças.
Pode-se estimar um custo de coleta para duas pessoas trabalhando três dias de R$ 90,00. Na
63
produção de colares, a base de cálculo de custo é feita da seguinte forma: o preço da diária é
de R$ 15,00, assim se um cordão de tamanho médio é vendido por R$ 15,00, a artesã sabe
que precisa produzir pelo menos dois cordões por dia, no mínimo. De igual sorte é feito o
cálculo para brincos que são vendidos por R$ 5,00 a unidade, assim são necessários, no
mínimo, produzir três brincos para empatar o custo de oportunidade da mão-de-obra. Cabe
ressaltar que a produção não é diária, as artesãs produzem as peças, nas horas vagas dos
afazeres domésticos, não há uma hora certa, específica dispensada à produção de ecobijoux.
Tabela 15. Tipo, quantidade e preço de sementes utilizadas na confecção de ecobijoux na
FLONA do Tapajós, Belterra – PA.
Tipo de Semente
Envira (Rollinia exsucca)
Saboneteira (Sapondis saponaria)
Jutaí (Dialium guianenses)
Paxiuba
Tento Amarelo do Igapó
Tento Amarelo da Mata
Açaí (Euterpe oleracea)
Caracaxiá
Pirapichi
Lágrima
Tento Vermelho (Ormosia spp)
Fonte: Pesquisa de campo.
Preço
(R$/unid.)
*
10,00
*
*
*
*
*
*
*
5,00
*
Quantidade
(unid.)
1500 smts
0,5 kg
3,0 kg
5 kg
5 kg
1 kg
1 kg
3 kg
5 kg
100 g
-
Com relação às sementes que são adquiridas em Santarém, a semente de lágrima é
comprada por R$ 5,00 cada 100 gramas e a de saboneteira por R$ 10,00/kg. O custo de
transporte não é considerado, tendo em vista que as próprias artesãs se deslocam a
Santarém, dentro de sua rotina, pois não o fazem especificamente para adquirir semente.
Em geral, realizam as compras de que necessitam e aproveitam a ocasião para comprar as
sementes. A Figura 19 mostra o canal de comercialização do mercado de sementes de
Santarém.
O estoque de matéria-prima na FLONA foi considerado abundante, pois é só entrar
na mata e coletar as sementes necessárias para confecção das ecobijoux. De acordo com as
mulheres entrevistadas de Jamaraquara, a receita bruta do negócio é estimada em R$
3.500,00/ano. A logística de transporte utilizada pelas artesãs é a fluvial/rodoviário.
64
Produtos: sementes, brincos, colares, pulseiras, anéis, porta caneta, imã, outros
Comunidades
Tradicionais da
RESEX e
FLONA do
Tapajós, aldeias
indígenas locais.
Transportam de
barco ao porto
de Santarém
Mercadão 2000
Lojas de bijuterias e artesanato de
Santarém e Alter do Chão
Turista
Consumidor
Local
Figura 19. Canal de comercialização de ecobijoux em Santarém, 2008.
As artesãs de Alter-do-Chão e de Jamaraquara afirmaram que se houvesse mais
incentivo para o setor seria possível melhorar significativamente a qualidade do produto e
permitir a produção em escala. Prova disso, que em Jamaraquara com a introdução de
energia elétrica foi possível que as artesãs inovassem tecnologicamente com a adaptação de
uma furadeira de uso na construção civil, para perfurar as sementes, serviço que antes era
manual, com isso, a produtividade do trabalho foi consideravelmente ampliada e as perdas
de sementes diminuíram sensivelmente quando comparada com o processo manual de
Itaituba, por exemplo, caindo de 50% para 10% (Figura 20).
Figura 20. Adaptação de furadeira para perfurar sementes utilizadas na produção de
ecobijoux.
65
Além do incentivo a novos investimentos por meio de microcrédito, outro ponto
importante para a atividade é a introdução de cursos nas áreas de gestão de negócios,
vendas, tecnologia de produto e de processo, marketing, coleta, transporte e
armazenamento de sementes. Neste campo, o SEBRAE tem promovido ações junto às
artesãs da FLONA, que realizam curso na área de produção de ecobijoux, mas há uma lacuna
a ser preenchida no que concerne à gestão do negócio, principalmente custos de produção.
Com relação às artesãs de Alter-do-Chão, em tempos pretéritos houve a oferta de cursos
promovidos pela ONG Conselho Nacional de Seringueiros – CNS, mas hoje não há mais
cursos nem treinamento em qualquer área de produção. Para contornar estes e outros
problemas os microempresários de Alter-do-Chão estão organizando uma cooperativa que
agregará artesanato, moda praia, gastronomia e outros, com o fim de aumentarem a
participação no mercado, ampliar o volume de vendas e margem de lucro, além de se
fortalecerem contra atitudes oportunistas de guias turísticos, que parecem ter convênio com
empresas específicas, não permitindo a circulação dos turistas em todas as lojas de Alter-doChão, além de denegrirem os produtos dos artesãos locais.
A determinação do coeficiente de transformação dos produtos das artesãs que
produzem ecobijoux, não é tarefa simples tendo em vista a multiplicidade de produtos que
podem ser obtidos. Todavia, com um quilo de semente de morototó, por exemplo, é possível
produzir cinco colares grandes. Quando se utiliza mais de um tipo de semente, por exemplo,
um quilo de morototó, um de saboneteira e 100 g de semente de lágrima, produzem-se até
12 colares grandes.
A associação comunitária Apruci-Pesque (em Santarém) tem destaque na
comercialização de artesanato em fibra de tucumã. São cerca de 56 famílias envolvidas com
a atividade (de três comunidades), que se dedicam à confecção do artesanato. Os pigmentos
utilizados são todos naturais, sendo eles a cor preta do jenipapo (Genipa amaricana), o
amarelo açafrão (Crocus sativus), o verde da língua de vaca (Elephantapus scaber), o
vermelho do cragiru (Arribidea Chica) e o roxo do capiranga. No ano de 2008, a associação
comercializou seus produtos para a Venezuela e os Estados Unidos, com o apoio do SEBRAE,
gerando renda líquida de R$ 5.600,00. Ano passado (2007), a comercialização foi feita para o
Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Belém.
66
O artesanato produzido nesta comunidade é ilustrado na Figura 21. Esta comunidade
conseguiu penetrar nos mercados nacional e internacional, portanto, deve ser tomada como
exemplo para conectar as demais comunidades da região, visando produzir um conjunto
diversificado de produtos para a venda em escala nestes mercados.
Figura 21. Artesanato de Santarém produzido por artesãs da associação Apruci-Pesque.
Artesanato de madeira da oficina cabocla de Santarém
Em Santarém, o Programa Florestas e Comunidades Oficinas Caboclas é composto
por seis comunidades ribeirinhas do Tapajós: Nova Vista, Nuquini, Surucuá, Pini, Prainnha e
Itapainuna, que fabricam móveis artesanais e peças artísticas para decoração a partir da
madeira morta caída na floresta e aproveitada. Os objetivos do Programa são:
•
Desenvolver um sistema de manejo integrado dos recursos florestais através do
gerenciamento de florestas e de desenvolvimento de alternativas sustentáveis
de agricultura e de utilização dos recursos da floresta;
•
Servir como modelo para comunidades de outras localidades da Amazônia
interessadas em gerenciar seus recursos florestais de forma sustentável.
As árvores mortas, em sua maioria, são encontradas caídas no chão da floresta e,
então, feita a seleção aquelas que oferecem boas condições para o uso no artesanato.
Depois as árvores são aparadas e levadas para a oficina. Esse procedimento de utilização de
madeira já morta é pioneiro na região. As madeiras preferidas são: Ipê roxo, sucupira
amarela, macacauba, cumaru preto, cumaru branco e, às vezes, o jacarandá.
Um dos principais entraves desse segmento diz respeito à retirada de madeira morta
da floresta e o transporte até a comunidade, visto que a floresta é fechada e a distância do
local até o barco e daí até o galpão da oficina é grande. Porém, alguns artesãos estão com o
67
propósito de iniciarem a extração de árvores, por meio de técnicas de manejo florestal de
impacto reduzido, que ainda está em processo de estudo de sua viabilização na área.
O padrão tecnológico utilizado pelos artesãos é baixo. As ferramentas utilizadas são
triviais o martelo, serra, terçado, serrotes e pregos para a fabricação dos móveis artesanais.
Os móveis são trabalhados com base nos animais da fauna regional, sempre vinculados ao
folclore local, em face do maior conhecimento dos povos locais e dos turistas.
Os produtos mais vendidos são os bancos em forma de animais como boto, jacaré e
preguiça, mesas de centro e cadeiras (Figura 22).
Figura 22. Mesa, bancos e cadeiras com a forma de animais da região de Santarém.
A oferta destes produtos é realizada o ano todo. A produção do artesanato é
verticalizada, uma vez que os artesãos realizam todas as etapas do canal de distribuição do
produto: coletam a madeira (matéria-prima principal), fabricam as peças e comercializam os
produtos na loja da cooperativa para os consumidores locais, regionais, nacionais e
internacionais (turistas).
Os artesãos da Cooperativa Oficinas Caboclas estão motivados para a organização
das comunidades e conquistas dos objetivos como: ampliação do mercado para seus
produtos por maio da inserção em novos mercados, principalmente o mercado
internacional, participação em feiras, melhoras a diversificação dos produtos e aumentar o
valor agregado dos produtos, ampliar a escala de produção. Pretendem fazer parceria com o
SEBRAE para a obterem capacitação sobre comércio internacional e sobre os meios
necessários para exportar seus produtos.
No que diz respeito à comercialização, uma grande rede varejista de São Paulo era
responsável por 80% do mercado de destino dos produtos da Cooperativa, mais o contrato
para o fornecimento do artesanato não foi renovado para o ano de 2008, causando um
68
grande transtorno aos artesãos que viram sua renda diminuir consideravelmente. As razões
da não renovação do contrato não foram reveladas.
Atualmente a principal dificuldade da Cooperativa é comercializar a produção, pois as
vendas estão restritas ao mercado local, com venda eventual para o mercado nacional,
viabilizada por turistas que visitam a região. Este problema está causando desmotivação aos
associados. Atualmente a venda concentra-se no mês de julho, em função da festa do boi de
Parintins e em setembro da festa do boto de Santarém. Nestas dadas, o fluxo de turistas que
transitam por Santarém é grande e a venda aumenta.
No que se refere à assistência técnica para a Cooperativa Oficinas Caboclas, o SEBRAE
tem atuado na capacitação dos cooperados ministrando os seguintes cursos: gestão
ambiental, tecnologia de produção, manejo florestal e segurança do trabalho. Atualmente, a
demanda de treinamento é na área de comércio exterior, exportação e secagem de madeira,
visando à inserção no mercado internacional para aumentar o volume de produção e de
vendas.
O principal elemento definidor da demanda por artesanato caboclo, independente da
origem, é o fato de serem produtos ecologicamente corretos e produzidos por comunidades
pobres da Amazônia. A oferta do produto depende do estoque de árvores caídas. Como a
distância aumenta cada vez mais para encontrar este produto e as dificuldades aumentam
para a coleta e transporte, é necessário trabalhar com áreas manejadas para a extração de
madeira, visando atender ao objetivo de inserção no mercado internacional.
69
Mercado de óleos essenciais – FLONA do Tapajós
As comunidades de São Domingos, Nazaré e Pedreira, localizadas na FLONA do
Tapajós em Belterra, exploram óleos essenciais de andiroba (Carapa guianensis), copaíba
(Copaifera multijuga) e piquiá (Caryocar villosum). Na atividade, trabalham cerca de 40
pessoas, em sua maioria mulheres.
As comunidades, por meio do Pró-manejo (Funbio), obtiveram crédito para a
construção de uma unidade de beneficiamento de óleo, localizada em São Domingos, mas
que não está funcionando, pois as máquinas e equipamentos ainda não foram adquiridos. A
conclusão da usina é de suma importância para as comunidades, pois permitirá atender
demandas em escala e com produtos de melhor qualidade. Ressalte-se que em 2006, a
demanda foi de mil litros de óleo de andiroba para o mercado Francês, mas as comunidades
não puderam atender. O maior volume já exportado para França foi de 60 litros a R$ 30,00
cada litro.
Com relação à comercialização de óleo para o mercado internacional, constatou-se
que apenas a Cooperativa Mista da Floresta Nacional do Tapajós - COOMFLONA, no
município de Santarém, tem comercializado óleo para a França.
O entrave principal na exportação diz respeito à necessidade de apresentar o
certificado de origem do produto, que é dado pelos planos de manejo. Entretanto, os planos
de manejo são apresentados sem proposta para a extração dos produtos não-madeireiros.
Desta forma, não há como a empresa pagar a elaboração de cada produto separadamente.
Este é um fundamento concreto para que o plano de manejo envolva o inventário tanto dos
produtos madeireiros quanto dos não-madeireiros. É, pois, uma forma de inclusão social de
baixo custo, mediante a exploração racional de todos os recursos da floresta.
Portanto, trata-se de uma indústria com objetivos múltiplos. Para atender o objetivo
da extração madeireira, a empresa busca a maximização do lucro e para o objetivo da
extração dos produtos não-madeireiros a empresa busca apenas obter o retorno do capital
investido, ou seja, o excedente gerado será distribuído para as famílias das comunidades
locais.
Ressalta-se, ainda, que existe uma empresa em Santarém que vende os produtos da
FLONA e está cadastrada na tradenet, uma rede on-line de exportadores e, a cada momento,
aparecem compradores interessados em cipós, raízes, cascas e até mesmo serragem, porém,
70
sem a origem do produto dada pelos planos de manejo não é possível exportar. Estas
dificuldades para atender a demanda, acabam levando ao descrédito da empresa pelos
clientes. Como os produtos são oriundos das comunidades da Floresta Nacional - FLONA,
nem mesmo amostras para o exterior estão podendo ser enviadas. Em decorrência, a
empresa tem se dedicado somente à comercialização da semente do cumaru (Dipteryx
odorate) e óleos de copaíba e andiroba, sendo esses enviados, principalmente, para São
Paulo.
O processo de produção do óleo de andiroba e piquiá é artesanal e inicia com a
coleta das sementes e frutos. Nesta etapa, utiliza-se a mão-de-obra de homens e mulheres,
que transportam e acondicionam a matéria-prima na usina de beneficiamento;
posteriormente, as sementes e frutos são catados para separar aqueles inadequados ao
processo de produção de óleo; em seguida realiza a lavagem, serviço feito exclusivamente
pelas mulheres. Ressalte-se que 30 mulheres, em um dia de coleta, conseguem catar e
transportar de 1.000 a 1.500 kg de semente de andiroba. Após a lavagem, as sementes são
cozidas em fogão à lenha, para uma quantidade de 1.000 a 1.500 kg durante um dia de
cozimento. Depois passa um período de descanso de 20 dias, quando as sementes são
quebradas para se retirar a massa. Esta massa é colocada em uma bica para o óleo drenar e
escorrer. Então é coado e armazenado em tambores de 50 litros (Figura 22).
Figura 23. Armazenamento de óleo de andiroba em tambores de 50 litros e vasilha de um
litro para o consumo em casa.
A safra da andiroba vai de março a julho, quando se inicia o período de coleta dos
frutos e o trabalho com a produção de óleo se estende até agosto/setembro, o que gera
trabalho por sete meses na comunidade. A Figura 23 ilustra o processo de produção do óleo
de andiroba em São Domingos.
71
Observa-se que a sazonalidade é marcante na produção do óleo de andiroba. Isto
exige estratégia para se coletar o máximo de sementes, beneficiá-las e fazer o
armazenamento, visando reduzir perdas e ampliar a escala de produção.
300 a 500 litros
de óleo
2000 kg de sementes
Coleta de
semente e
fruto na
floresta
Seleção e lavagem
da matéria-prima
Cozimento e
descanso por 20
dias
Quebra da
semente e
retirada da
massa
Obtenção do
óleo de
andiroba.
O processo ocupa cerca de 40 pessoas por um período de aproximadamente sete meses, rende cerca de 300 a 500 litros
de andiroba/ano com uma receita bruta de R$ 9.000,00 a 15.000,00. Há elevado potencial para expansão da produção
em virtude da abundância de matéria-prima. O rendimento médio é de 1,5 litro de andiroba para cada 10 kg de semente.
Figura 24. Processo de extração do óleo de andiroba (Carapa guianenses) na comunidade de
São Domingos – FLONA do Tapajós.
O rendimento médio de óleo de andiroba (com boa quantidade de massa na
semente) é de 1,5 litros de óleo para cada 10 kg de semente. As perdas são consideráveis,
em média, para cada 2.000 kg se sementes perdem-se 50%, pois muitas sementes quando
coletadas já não servem para a produção de óleo, ou por não serem saudáveis ou por haver
pequenas quantidades de massa em seu interior.
O óleo de piquiá, por outro lado, apresenta rendimento maior que o da andiroba,
pois para cada 10 kg de fruto, obtêm-se cinco litros de óleo. A Tabela 16 mostra a
quantidade de óleo e demais produtos elaborados na FLONA do Tapajós.
72
Tabela 16. Tipo de produto, quantidade e preço dos óleos essenciais e demais produtos
elaborados na comunidade de São Domingos, na FLONA do Tapajós – PA.
Produto
Quantidade
Preço (R$/unid)
Óleo de andiroba
300 litros/ano
30,00/litro
Óleo de copaíba
40 litros/ano
30,00/litro
Óleo de piquiá
80 litros/ano
30,00/litro
Sabonetes de andiroba
60 und./mês
2,00/unid.
Vela de andiroba
20 und./mês
2,00/unid.
100/ano
18,00/unid.
Santo domingo (composto medicinal)
Receita Bruta Total
Receita Bruta por Associado
16.320,00
741,82
Fonte: Pesquisa de campo.
Mercado de óleo de copaíba
A extração do óleo de copaíba é feita diretamente da árvore na floresta. Os
extrativistas selecionam as árvores maduras e boas para produção. Estas são perfuradas e o
óleo escorre para o recipiente em que é armazenado. Uma árvore de copaíba pode produzir
até cinco litros de óleo por perfuração a cada cinco anos. Porém a média situa-se entre um a
três litros/árvore. É importante a identificação e mapeamento das áreas de ocorrência das
copaibeiras para que se produza o manejo, extraindo-se a árvore de baixa produtividade
para a produção de madeira em tora e as de maior produtividade destinadas à extração de
óleo e para o fornecimento de material genético para a implantação de sistemas de cultivos
racionais.
Com relação ao óleo de cumaru, embora exista em abundância na FLONA, a
comunidade não faz sua exploração, pois não sabem como proceder à extração do óleo a
partir do fruto. De acordo com os entrevistados, as comunidades já se dispuseram a pagar
para uma pessoa de Santarém que domina a técnica, mas que se recusou a ensiná-los. Para
fabricarem o composto medicinal Santo Domingo, utilizado para massagem, a comunidade
compra o óleo de cumaru a R$ 30,00/litro no Mercadão 2000 em Santarém.
As comunidades receberam treinamento do SEBRAE em qualidade, gestão
empresarial, comercialização e manejo florestal, mas ainda não praticam os conhecimentos
adquiridos, pois não fazem controle de custos de coleta e processamento do óleo. Quando
73
perguntados sobre o custo de um litro de óleo de andiroba, por exemplo, não souberam
responder. O SEBRAE poderia contribuir ainda ofertando um curso de extração de óleo de
cumaru e assim, ampliar o leque de produtos da comunidade, além de eliminar o custo de
adquirir esta matéria-prima para elaboração de seus produtos no mercado.
O nível de escolaridade predominante na comunidade de São Domingo é de 1a a 4a
série do ensino fundamental, somente um dos 22 associados possui ensino médio completo.
Quanto ao incentivo financeiro, as comunidades receberam apoio do Pró-manejo
(com recursos do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade - FUNBIO) para montar a unidade
de produção de óleos de sementes nativas, mas que ainda não funciona em virtude de
faltarem algumas máquinas e equipamentos.
Na tentativa de impulsionar a comercialização de óleos em Itaituba, foi citado pelo
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itaituba – STTR, que o município (juntamente com
mais 5 municípios do entorno) foi contemplado este ano pelo programa territorial do
Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA com uma usina de óleo para processamento
de babaçu (Orbignya phalerato), andiroba, copaíba, cumaru, patauá e bacaba (Oenocarpus
bacaba). Cerca de 3.000 famílias serão beneficiadas só em Itaituba, sendo o valor do projeto
da ordem de R$ 90.000,00. Paralelamente, também está previsto para executar no ano de
2009, uma usina de óleo financiada pelo Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social DED, em parceria com o Instituto de Pesquisas na Amazônia - IPAM e a Secretaria de
Mineração e Meio Ambiente de Itaituba - SEMMA.
Este tipo de iniciativa deveria ser disseminado na região para estruturar a rede de
empresários de produtos não-madeireiros na forma de Arranjo Produtivo Local – APL.
74
Mercado de peixe ornamental de Itaituba
A pesca de peixe ornamental praticada em Itaituba compreende uma vasta extensão
dos rios Tapajós, Amazonas, Xingu e seus afluentes. Abrange os municípios de Jacareacanga,
Itaituba, Aveiro (localidade de Cassuepã), Belterra, Santarém e Altamira. Em Itaituba, a
principal colônia de pescadores é a do Pimental, localizada 30 km da cidade. De acordo com
um pescador de Pimental, no município e regiões do entorno, cerca de 140 pescadores
praticam a pesca ornamental, sendo que cada pescador, em média, captura por ano cerca de
8.000 peixes. A principal espécie capturada é o acari.
A Tabela 17 mostra as principais espécies capturadas, seus respectivos preços em
nível de pescador e das empresas intermediárias, que funcionam como atacadistas, pois
compram em escala para revenderem nos mercados de Altamira, Santarém e Belém, e a
margem de preços.
Tabela 17. Espécies capturadas de peixes ornamentais no Município de Itaituba – PA.
Preço Recebido pelo
Pescador R$
Acari tigre bola
0,25
Acari aba branca
0,25
Acari cara chata
0,25
Apistograma
0,30
Dicrossus (piabas)
0,30
Acari onça
1,00
Acari arábia
2,00
Acari titanic
5,00
Acará disco
2,50
Fonte: Pesquisa de campo.
Espécie
Preço na Empresa
Atacadista R$
1,20
1,20
1,20
1,50
1,50
4,00
7,50
15,00
8,00
Diferença
Percentual
380
380
380
500
500
75,00
73,30
66,67
68,75
Note-se que os preços recebidos pelos produtores são consideravelmente baixos em
relação aos preços de revenda pelas empresas intermediárias, em função da informação
assimétrica e do oportunismo dos agentes. Este fato tem implicações importantes sobre o
nível de estoque natural de peixes, pois, se os pescadores das espécies mais comuns de acari
resolvessem estabelecer uma estratégia para capturar uma quantidade capaz de gerar uma
renda de R$ 1.000,00 por mês, precisariam capturar 4.000 peixes neste período.
Considerando-se um número médio de 140 pescadores, isto representaria uma captura
75
mensal de 560.000 peixes, ou anual de 6.720.000, o que representa seis vezes mais que os
níveis atuais.
A Figura 24 ilustra os peixes da espécie acari, mais capturados pelos pescadores de
Itaituba, em função da demanda dos mercados nacional e internacional.
Figura 25. Peixes ornamentais: acari aba branca, acari cara chata e acari onça, capturados
pelos pescadores de Itaituba.
Desta forma fica mais claro entender o nível de preço pago pelas empresas
intermediárias, que indiretamente forçam os produtores a buscarem peixes cada vez mais
longe, para manterem uma renda mínima que lhes seja favorável. Está é uma evidência clara
da aplicação do referencial teórico, já que o poder de fixar preços das empresas
compradoras é exercido de forma preocupante, pois a margem estabelecida é muito alta.
Por outro lado, com aumento nos níveis de preços pagos aos pescadores, o que já
está ocorrendo com alguns peixes que estão se tornando escassos e a demanda é alta, o
efeito pode ser devastador para as espécies capturadas, pois como se trata de um “recurso
de uso comum”, uma vez que a pesca é livre. Assim, de acordo com a “tragédia dos
comuns”, o livre acesso e a expectativa de elevado benefícios, atrairá outros pescadores, a
taxa de extração aumenta e, em conseqüência, o lucro benefício máximo da pesca
ornamental tende a diminuir rapidamente, em função da redução dos estoques.
Em se tratando de um recurso renovável, mas com possibilidade real de ser
esgotado, deve-se estabelecer uma estratégia para fazer regulação da atividade, visando
planejar a pesca, de modo a adequar às taxas de captura sem perder de vista a importância
social e econômica para as comunidades que dependem da renda gerada nesta atividade.
Por ano são capturados, em média, 1.120.000 peixes ornamentais, em sua maioria do
gênero acari, sendo que deste total, aproximadamente 80% são comercializados a R$ 0,25.
Na exportação, estes peixes atingem o preço de até R$ 100,00. Este fato reforça a idéia da
organização dos produtores para se conectarem em uma rede de mercado justo e reduzir
76
este diferencial de preço que fica com os intermediários da comercialização. A receita bruta
anual dos pescadores seria de R$ 224.000,00/ano. Computando-se as outras espécies que
compõem os 20% de maior cotação de preço no mercado, negociados ao preço médio de R$
1,50, obtém-se uma receita total de R$ 380.000,00/ano. A soma destas receitas é de R$
560.000,00/ano, gerando uma renda receita mensal por pescador de aproximadamente R$
330,00. Embora seja um valor baixo para padrões urbanos, para populações tradicionais e
ribeirinhas, pode significar uma alternativa de renda imprescindível para o sustento da
família, até porque se forem excluídas as fontes de renda obtidas com produtos da floresta e
da pesca, grande parte das famílias das comunidades irão sobreviver à custa dos programas
sociais do governo federal.
Do lado dos empresários de peixes ornamentais, percebe-se que o negócio é
promissor. Devido a isso, não há interesse, na maioria das vezes, em capacitações e
tecnologias. Foi ressaltado por um dos entrevistados que, de acordo com a normativa 13 do
IBAMA, são 180 espécies de peixes ornamentais no país. Entretanto, pesquisadores
japoneses desenvolvendo estudos no Tapajós, identificaram mais de 200 espécies.
Há uma grande carência em pesquisas nessa área. Segundo um empresário, a
Alemanha é um dos países que mais investiu em termos de pesquisa, porém, ressentem-se
da falta de informações quanto à multiplicação de espécies em cativeiro.
Segundo relatos obtidos na colônia de pescadores de Itaituba, o reconhecimento da
categoria de pescadores artesanais por parte da Delegacia Regional de Trabalho - DRT
poderia contribuir para reduzir a pressão sobre os estoques pesqueiros, uma vez que seria
criada a classe, que passaria a ter direito ao seguro durante o período de defeso. Por conta
do entrave entre a Secretaria de Estado de Aqüicultura e Pesca, que deseja a criação da
categoria, e a DRT que não apóia a idéia, parte significativa dos pescadores não receberão o
benefício este ano, o que provavelmente os levará a violar o defeso e continuar pescando.
O canal de comercialização da pesca ornamental em Itaituba é constituído de três
agentes principais: os pescadores, as empresas compradoras locais, em número de quatro;
as empresas compradoras de Santarém, Altamira e Belém e os consumidores do próprio
Estado, das Regiões Nordeste e Estados Unidos, Japão, Coréia e países da Europa e África. A
Figura 25 ilustra o canal de comercialização do peixe ornamental de Itaituba.
Os agentes intermediários locais são constituídos de quatro empresas que compram
de pescadores locais, principalmente peixes da espécie acari, além de piabas, acará disco e
77
apistograma. Segundo um empresário de Itaituba, cuja empresa opera devidamente
legalizada há nove anos no ramo, os principais mercados compradores no Estado são:
Belém, Santarém e Altamira, onde totaliza cerca de 90% das vendas. Em 2002, as vendas no
Estado representavam 60% e 30% para os demais estados da região, o faturamento neste
ano foi de R$ 70.000,00, caindo substancialmente em 2007 para R$ 45.000,00, sendo o
principal motivo a escassez de matéria-prima, pois para haver captura em escala faz-se
necessário percorrer várias regiões de pesca, além do que certas espécies são específicas de
uma única área. Cabe ressaltar que mesmo com as dificuldades apresentadas, o faturamento
médio mensal da empresa foi 11 vezes superior ao dos pescadores artesanais, com uma
margem de lucro sobre os custos totais de 15 a 20%.
PM = 90%
PM = 8%
PM = 1,0%
Pescadores
Ornamentais.
R$ 0,25
a
R$ 5,00
Empresas de
Itaituba.
R$ 1,20
a
R$ 8,00
Empresas de
Santarém,
Altamira e
Belém
US$ 5,00
a
US$ 100,00
Rio de Janeiro
Goiânia
Nordeste
Norte
EUA
Europa
Ásia
África
PM = 1,0%
Figura 26. Canal de comercialização da pesca ornamental de Itaituba e participação de
mercado (PM) das empresas locais.
As empresas de Itaituba reivindicam ações concretas das instituições governamentais
e das entidades de classe para com a pesca ornamental, visto que os poucos esforços
empreendidos são desarticulados e pontuais. Programas de capacitação profissional e
treinamento técnico, programas de acesso a informação sobre produção, tecnologia e
mercado, linhas de crédito, dentre outras são demandas locais tanto dos pescadores quanto
das empresas. Enfatizou-se, por exemplo, que esta era a primeira vez que uma universidade
estudava o segmento de pesca. Há um sentimento de abandono e isolamento generalizado.
Uma empresa local informou que pagou uma consultoria da França e outra de Manaus, para
a identificação e catalogação das espécies ornamentais que ocorrem em sua área de
78
atuação. Há, portanto um grande espaço potencial para as instituições de ensino e pesquisa,
e o governo por meio da Secretaria de Aqüicultura e Pesca, CEPNOR, SEBRAE, UFRA, dentre
outros, realizarem estudos e desenvolverem ações com foco no desenvolvimento da pesca
ornamental, principalmente quanto à sua regulação.
Os agentes exportadores de Santarém, Altamira e Belém compram os peixes das
empresas de Itaituba e vendem para estados das regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste
e, países da Europa, Ásia (Japão e Coréia), África e EUA, a um preço que pode variar de US$
5,00, para as espécies mais comuns, até US$ 100,00 para o tipo Titanic e acará disco.
O negócio com o mercado externo acontece por código de barras. Cada código
identifica o peixe solicitado e em qual região está. Os peixes são mandados para Manaus e
Fortaleza para em seguida serem exportados. O custo do frete para Belém de 100 peixes é
de R$ 300,00.
De acordo com a SEMMA, na feira agropecuária do município no ano passado, as
lojas de aquário já estavam comercializando o peixe sem passar pela fiscalização. Já para o
empresário, as atividades ficaram muito reduzidas nos últimos dois anos, principalmente em
virtude das ações do IBAMA, o que tem prejudicado a classe que trabalha em situação
regular. Para um entrevistado, que tem tradição na família a cerca de 10 anos na
comercialização de peixes ornamentais, há um desentendimento em relação à legislação por
parte do IBAMA. Foi destacado pelo empresário que desde março tem uma portaria (o
IBAMA diz), que ainda não chegou a Itaituba, proibindo a captura do “pão-de-cada-dia”.
Assim, o órgão que não dispõe da portaria, aconselha o empresário a ligar para Santarém e
Belém para se informar, mas quando liga ninguém sabe dessa portaria.
A demanda internacional de peixe é espacialmente definida, na Ásia países como
Japão e Coréia preferem os acaris; os peixes de pele destinam-se aos mercados da Europa,
enquanto que EUA e África preferem os peixes de escama. De acordo com os entrevistados,
a demanda tem diminuído e os pedidos são irregulares. Isto se deve, em parte, à exportação
de fêmeas para o mercado asiático, principalmente Japão, que desenvolveu tecnologia de
reprodução, procriando as espécies em cativeiro e deixaram de comprar no Brasil. Outra
parte diz respeito às vendas para outros países com maior exigência. Ressalte-se, neste
aspecto, a ausência de instituições do governo na regulação da atividade produtiva e na
comercialização, destacando-se que não é a primeira vez que o Estado perde mercado por
79
não exercer controle sobre a saída de matéria-prima de origem animal e vegetal, como
ocorreu com a borracha em tempos pretéritos.
Considerando-se que inovação de produto para este setor significa a descoberta de
uma espécie, o aquecimento da demanda interna e de exportação depende, em muito da
liberação do IBAMA para a comercialização de outras espécies, como por exemplo, certos
tipos de arraias que têm potencial econômico.
Além disso, é importante a alocação de recursos nas instituições de ensino e pesquisa
com o objetivo de desenvolverem técnicas de reprodução em cativeiro, sobretudo das mais
exploradas comercialmente como o acari, que já apresenta sinais de escassez, tornando
assim possível a criação de espécies ornamentais, em criatórios específicos.
Mercado de produtos da farmacopéia de Juruti
Os comerciantes que trabalham com produtos medicinais fazem a compra da
matéria-prima nas comunidades e/ou fazem encomendas para intermediários, pois não há
um fluxo contínuo de oferta destes produtos das comunidades para o mercado local. A
maioria dos produtos tem oferta e demanda irregular e/ou instável. Do lado da oferta, esses
produtos são coletados de acordo com a sazonalidade das plantas silvestres, portanto a
oferta sofre a mesma flutuação que a natureza impõe. No lado da demanda, como a maioria
desses produtos se destina ao mercado local, a procura dos consumidores é esporádica,
fluindo de acordo com suas necessidades de cura. Geralmente, o público atendido é
formado pelas pessoas que não conseguem adquirir produtos farmacêuticos, em função do
preço, portanto de baixa renda. A demanda formada por pessoas de alto conhecimento e
elevada renda, que buscam produtos naturais é insignificante ou não identificada no
mercado local.
Estes produtos são perecíveis e a forma de embalagem não permite longo tempo de
prateleira. Os comerciantes não dispõem de conhecimento das técnicas de beneficiamento e
armazenamento dos produtos como (leite de sucuuba, leite de Amapá e leite do mururé,
cascas de árvores, folhas, raízes, etc.). A margem média obtida na comercialização destes
produtos foi estimada em 30% do preço pago pelo consumidor.
Há também iniciativas de comercialização de produtos com embalagens mais
apropriadas para produtos como mel e óleos na forma de sache no mercado de Santarém,
que são postos à venda em uma única loja.
80
Em geral, segundo relatos dos comerciantes, o mercado de produtos não-madeireiros
da região está sendo ameaçado pela derrubada ilegal da floresta e pela facilidade de
aquisição de medicamentos alopáticos químicos. Evidenciaram a falta de tecnologias
adaptadas para o manejo adequado das espécies, como exemplos citaram a maneira correta
de perfurar a copaibeira e de fazer os corte para extração dos diferentes “leites” (amapá,
sucuuba, etc.).
Os produtos não-madeireiros (cascas, óleos, mel, leites, raízes, sementes),
comercializados no Mercadão 2000 de Santarém são oriundos da área Mamuru-Arapiuns. As
cascas, em sua totalidade, vêm da área do Mamuru e a maioria dos óleos e castanhas vem
de colônias localizadas próximas a Santarém, principalmente da região do Arapiuns (Tabela
18).
Tabela 18. Principais produtos da farmacopéia comercializados no mercado de Santarém,
2008.
Local de
origem
Ceará
2,00
30 sc
Medicinal
Mercado
local
1 sc/ faz em média
200 sacos
Casca preciosa
(pressão alta)
Aniba canelilla
(Kunth) Mez.
Cumaru
(semente)Dipteryx
odorata Willd.
Pau rosa Amiba
rosaeodora Ducke
Barbatimão
Stryphnodendron
barbatimam Mart.
Verônica Dalbergia
subcymosa
Aroeira Astronium
urundeuva (Fr.All)Eng
l.
Sacaca Croton
cajucara
Carapanauba
Aspidosperma
crapanauba
Catuaba
Mamuru
1,00
40 sc
Medicinal
Mercado
local
1 sc/ faz em média
200 sacos
Mamuru
1,00
30 sc
Medicinal
Mercado
local
1 sc/ faz em média
200 sacos
Tapajós
2,00
20 sc
Medicinal
Mamuru
2,00
30 sc
Medicinal
Mercado
local
Mercado
local
1 sc/ faz em média
200 sacos
1 sc/ faz em média
200 sacos
Mamuru
2,00
20 sc
Medicinal
Ceará
2,00
25 sc
Medicinal
Mercado
local
Mercado
local
1 sc/ faz em média
200 sacos
1 sc/ faz em média
200 sacos
Mamuru
2,00
10 sc
Medicinal
Mamuru
2,00
20 sc
Medicinal
Mercado
local
Mercado
local
1 sc/ faz em média
200 sacos
1 sc/ faz em média
200 sacos
Mamuru
2,00
30 sc
Afrodisíaco
Marapuama
Mamuru
2,00
20 sc
Afrodisíaco
Nó-de-cachorro
Mamuru
2,00
20 sc
Afrodisíaco
Jacareuba (diabetes e
colesterol)
Calophyllum
brasiliensis
Mamuru
2,00
30 sc
Medicinal
Mercado
local
Mercado
local
Mercado
local
Mercado
nacional
1 sc/ faz em média
200 sacos
1 sc/ faz em média
200 sacos
1 sc/ faz em média
200 sacos
1 sc/ faz em média
200 sacos
Nome comercial
Canela mamelada
Preço
Quantidade
Uso
Cinnamomum
zeylanicum Breyn
Destino
Fator de conversão
81
Quina
Mamuru
2,00
15 sc
Medicinal
Óleo de cumaru
Colônia de
Santarém
2,00
(70ml)
2l
Medicinal
Mel de abelha
Colônia
10 l
Medicinal
Óleo de amapá
(pulmão)
Castanha-do-pará
Bertholletia excelsa
Óleo de gergelim
Arapiuns
10,00
(100 ml)
15,00 /l
1l
Medicinal
Colônia
3,00
15 sc
Alimento
Colônia
2,00
(70ml)
2l
Medicinal
Óleo de piquiá
Mamuru
2,00
ml)
3l
Medicinal
Mercado
local
Óleo de mamona
Colônia
15,00 /l
3l
Tirar resto
de parto
Mercado
local
Óleo de andiroba
Carapa guianensis
Aubl
Óleo de copaíba
Copaifera guianensis
Cametá
2,00/70ml
7l
Medicina
Mercado
local
Cametá
2,00
ml
7l
Medicinal
Mercado
local
Leite de sucuuba
Himatanthus
sucuuba
Banha de carneiro
Arapiuns
12,00
6l
Medicinal
Mercado
local
Arapiuns
5,00
2 kg
Medicinal
Mercado
local
(70
/70
Mercado
local
Mercado
local
Mercado
local
Mercado
local
Mercado
local
Mercado
local
1 saca/ faz em
média 200 sacos
Compra 30 l
Cada l faz 33
vidrinhos
Já compra em litro
1 saca faz 200 sacos
de 700 g
Compra 30 l
Cada l faz 33
vidrinhos
Compra 30 l
Cada l faz 33
vidrinhos
Compra 30 l
Cada l faz 33
vidrinhos
Compra 50 l
Cada litro faz 33
vidrinho
Compra 50 l
Cada litro faz 33
vidrinho
Compra de litro
1 kg de banha faz 5
litros diluído
Fonte: Pesquisa de campo.
Pelo que se observa a partir dos dados da Tabela 18, a cultura popular se encarregou
de indicar a finalidade dos produtos na cura das doenças e enfermidades das pessoas. No
entanto, as doses são na base da experiência, pois não se sabe cientificamente o poder de
cura de cada princípio ativo destes produtos. Também, em função do processo de
beneficiamento rudimentar e o grau de impureza e/ou de perda de validade pelo tempo de
exposição para venda, qual o real poder de cura desses produtos e em que dosagens devem
ser ministradas para surtir efeito.
Os fornecedores das cascas são pequenos extratores das áreas do Mamuru, que têm
na extração das cascas, uma oportunidade de aumento da renda. A freqüência com que
esses extratores vão à Santarém é semanal, pois precisam comprar mantimentos, e produtos
de higiene básica, porém a oferta de cascas ocorre a cada dois meses, pois a demanda por
estes produtos é pequena. Neste caso, o impacto sobre o estoque dos recursos naturais é
menor do que sua capacidade de regeneração.
Por outro lado, este é um mercado invisível, pois não há informação nas estatísticas
oficiais sobre o comportamento da oferta e demanda da maioria destes produtos. Também
82
as áreas de concentração destes produtos ainda não foram identificadas e mapeadas, para
efeito de planejamento estratégico da extração sustentável. Assim, corre-se o risco de tais
áreas serem desmatadas para a produção de madeira em tora (os planos de manejo não
focam a questão), para a pecuária ou produção agrícola em geral pelos próprios pequenos
produtores.
Com relação aos produtos não-madeireiros utilizados na farmacopéia de Juruti, todos
extraídos da área de estudo Mamuru-Arapiuns e são comercializados de forma similar à
Santarém. Podem ser destacados os seguintes:
a) Produtos principais comercializados – mel de abelha, óleo de copaíba (Copaifera
guianensis Desf.) e óleo de andiroba (Carapa guianensis Aubl.);
b) Para combater inflamação – unha de gato, uxi amarelo, saratudo, óleo de curuá,
seiva de jutaí, copaíba, anani, cajuaçu (Anacardium spruceanum Benth. ex Engl.), óleo
de cumaru (Dipterix odorata (Aubl.) Willd.), leite de sucuuba;
c) Para o fígado – carapanauba, sacaca, espinheira santa e preciosa;
d) Banhos e defumações – envira taia;
e) Combate ao colesterol – ipê roxo (Tabebuia sp.), sacaca;
f) Estimulante – xixuá, marapuama, leite do amapá;
g) Combate à diabete – miraruíra;
h) Artesanato e utensílios domésticos – Cipó titica (Heteropsis flexuosa), Tucumã
(Astrocaryum aculeatum), Buruti (Mauritia flexuosa), Arumã (Ischinosiphon obliquus)
e Jacitara (Desmoncus polyacanthus Mart.);
i) Breu branco (para calafeto de embarcação).
A Tabela 19 reúne as principais espécies exploradas pela população tradicional e
preços pagos, no município de Juruti, com fins medicamentosos. O maior volume dos
produtos é comercializado dentro do próprio município de Juruti, quer diretamente ou por
encomenda. Daí, o comerciante não conhece a destinação final, mas supõe que em alguns
casos os produtos vão ser revendidos.
Pelas informações da Tabela 19, nota-se que a margem de comercialização total
média é de 36,53%, indicando que de cada R$ 100,00 reais gastos pelo consumidor na
aquisição destes produtos, 36,53% ficam com os agentes da comercialização e 63,47% com
83
os pequenos produtores extratores. Isto revela que o mercado destes produtos opera em
regime de concorrência perfeita.
Tabela 19. Preço e margem de comercialização dos principais produtos utilizados na farmacopéia e
no artesanato em Juruti, 2008.
Produto
Andiroba
Copaíba
Mel de abelha
Óleo de curuá
Óleo de cumaru
Leite de sucuuba
Leite de amapá
CASCA* – carapanauba, evirataia,
jatobá, preciosa, sacaca, sucuuba
e uxi amarelo
Semente de cumaru
Semente de jucá
Semente de tento
Abano/tucumã**
Paneiro/ambé
Peneira/arumã
Vassoura/titica
Tipiti/bacaba
Tipiti/jacitara
Unidade Preço pago ao
produtor (R$)
l
l
l
l
l
l
l
sc
kg
“
“
um
“
“
“
“
“
Preço de venda
(R$)
10,00
15,00
12,00
35,00
40,00
10,00
5,00
30,00
3,00
1,50
2,50
1,00 (P); 1,50
(M); 2,00 (G)
8,00
8,00
2,50
10,00
18,00
15,00
20,00
18,00
45,00
50,00
15,00
8,00
1,50
7,00
3,50
5,00
1,50 (P); 2,50
(M); 3,50 (G)
10,00
10,00
3,50
15,00
25,00
Margem de
comercialização
(%)
33,33
25,00
33,33
22,22
20,00
33,33
37,50
83,33
57,14
57,14
50,00
38,73
20,00
20,00
28,57
33,33
28,00
Fonte: Pesquisa de campo.
* saca de 30 kg, na compra, e pacotes de 100 g, na venda (60% de perda).
** (P) pequeno; (M) médio e (G) grande (calculou-se a média das margens).
O desvio padrão da margem de comercialização foi de 16,89%, considerado alto, pois
a sazonalidade e a perecibilidade destes produtos fazem com que os preços variem
bastante. Na época da safra tais preços caem e na entressafra aumentam muito. As cascas,
embora o mercado seja de concorrência pura, as perdas são muito grandes, daí o diferencial
da margem, pois para se proteger do risco e pelo custo de beneficiamento e embalagem,
tornam o produto majorado para o consumidor.
84
Mercado de artesanato de Juruti
O artesanatos/utensílios são produtos derivados do “tessume”5 correm o risco de
desaparecer, posto que não há renovação do pessoal que os produzem e esse conhecimento
pode se perder. Há ocorrência de intermediação entre os produtores e os comerciantes
locais. O cipó titica (Heteropsis flexuosa) é uma das matérias-primas que sofrem com o
avanço do processo de desmatamento uma vez que sua ocorrência está associada à
presença de árvores de grande porte (que são cobiçadas pela exploração madeireira), as
quais, por ocasião da derrubada, levam junto o “pé” do cipó. Na fase adulta, o caule fica
grosso e lenhoso o que torna a fibra altamente resistente e durável, conferindo-lhe às
características indispensáveis para o seu uso na fabricação de móveis, artefatos e objetos
artesanais
O tucumã (Astrocaryum aculeatum), palmeira de até 20 m de altura, além da
produção de um fruto de grande valor nutritivo, sua madeira serve para a produção de
brincos; anel do caroço; óleo culinário de suas sementes; fibras retiradas das folhas secas
que servem para a confecção de redes e cordas e, que quando maceradas, tornam-se mais
resistentes, sendo utilizadas no artesanato.
O buriti (Mauritia flexuosa) que já se encontra na lista vermelha de espécies em
extinção da IUCN (International Union for Conservation of Nature and Natural Resources),
vem sofrendo com a depredação das matas ciliares, particularmente daqueles cursos
d’águas que circundam a sede municipal e algumas comunidades. Suas fibras são utilizadas
na confecção de paneiros.
A bacaba (Oenocarpus bacaba Mart.) além do consumo do vinho de seus frutos,
fornece as folhas para a cobertura das moradias e a estirpe muitas vezes é utilizada como
esteio, viga e serve ainda como cabo em algumas ferramentas.
O Arumã possui quatro espécies: (i) de folha branca (Ischinosiphon obliquus); (ii) de
folha vermelha (Ischinosiphon arouma); canela de jacamim (Ischinosiphon gracilis) e arumã
d’água (Ischinosiphon polyphyla), das quais se extrai as fibras que servem para o artesanato
(peneiras e outros).
5
Denominação genérica para o processamento das fibras vegetais na produção de peneiras, tipitis, paneiros,
abanos, etc.
85
A Jacitara (Desmoncus polyacanthus Mart.) tem suas fibras utilizadas na fabricação de
tipiti, que é um instrumento usado para espremer a mandioca ralada a fim de que sirva para
fazer a farinha.
A Figura 20 ilustra o artesanato fabricado em Juruti, tanto de madeira (ilustração do
jabuti) quanto de cipó, fibra e palha ou “tessume”.
Figura 27. Artesanato produzido em Juruti de cipó, fibras, palha e madeira, 2008.
Mercado de ecobijoux e artesanato de Aveiro
A produção de ecobijoux e artesanato de Aveiro são realizados nas comunidades de
Pinhel e Escrivão na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. Estas comunidades são
representadas pela Associação Intercomunitária Yaná-Caeté. Esta é uma condição necessária
para que a reserva seja criada, uma vez que consta no Estatuto da Resex, a atividade
econômica que as famílias podem explorar na reserva, além de ser um canal de
comunicação que representa juridicamente as reivindicações dessas comunidades junto às
demais instituições governamentais.
86
O artesanato de Escrivão é fabricado
fabricado de madeira, talas, cipós. Os principais produtos
são: bancos, produtos do “tessume” (vassoura, cestinhos).
A fabricação de ecobijoux na comunidade Pinhel é feita com a utilização de produtos
da floresta, como sementes, fibras, palhas e cocos. Os principais
principais produtos são colares,
pulseiras, aneis, tornezeleiras e brincos. Esta produção ocorre de forma esporádica, por
grupo de seis pessoas que fabricam as peças para comercializarem por ocasião de algum
evento, pois não há mercado local para tais produtos.
Naa Casa do Artesão em Pinhel, fabricam-se
fabricam se também artesanato. Os principais
produtos são: sandálias, chapéus,
chap us, cintos, colheres de pau para cozinha e bolsas. Usam
bambu, palhas e fibras. A Figura 21
2 contém ilustração da Casa do Artesanato e dos produtos.
Figura 28. Casa do artesanato e produtos fabricados pela comunidade de Pinhel em Aveiro,
2008.
87
ANÁLISE DOS RESULTADOS DO MERCADO
Os resultados do modelo de painel de dados com efeitos fixos foram apresentados na
Tabela 20. Os sinais dos parâmetros estão de acordo com o teoricamente esperado e se
apresentaram estatisticamente diferentes de zero a 1%. O preço apresenta sinal negativo,
indicando uma relação inversa com a quantidade demandada e a taxa de desmatamento
apresentou um sinal positivo, mostrando que aumentos na taxa de desmatamento
produziram incrementos na demanda de madeira em tora da região do Mamuru-Arapiuns.
Tabela 20. Resultados da estimação da equação de demanda de madeira em tora da região
Mamuru-Arapiuns, 2008.
Variável dependente: LOG(MAD)
Instrument list: C TDESMAT TDESMAT(-1) LOG(ICMS) LOG(PBPC) LOG(NMAT) LOG(NEMP) LOG(VPEX) LOG(VPPC)
White period standard errors & covariance (d.f. corrected)
Variável
Coeficiente
Desvio padrão
Estatística - t
Probabilidade
C
LOG(Preço)
TDESMAT
Fixed Effects (Cross)
Aveiro - C
Itaituba - C
Juruti - C
Santarém - C
11.3196
-0.22056
0.57620
2.60E-05
6.52E-06
3.37E-08
434672.9
-33818.00
171016.4
0.0000
0.0000
0.0000
-2.35E-07
-2.35E-07
-2.35E-07
-2.35E-07
Cross-section fixed (dummy variables)
R-quadrado
R-quadrado ajustado
Desvio P. da regressão
Estatística - F
Probabilidade (Estat. - F)
Instrument rank
0.758946
0.691986
0.213621
22.70349
0.000047
9.000000
Média da variável dependente
Desvio padrão da variável dependente
Soma de quadrados dos resíduos
Estatística Durbin-Watson
Segundo estágio SSR
11.05302
0.384910
0.821412
2.360002
0.461412
Os resultados da Tabela 20 mostraram que 75,89% das variações na quantidade
demandada de madeira em tora foram explicadas diretamente por variações simultâneas no
preço e na taxa de desmatamento e indiretamente pelas variáveis instrumentais. A
estatística F apresentou-se diferente de zero a 1%, atestando a adequação do modelo de
efeitos fixos ao fenômeno estudado. A estatística de Durbin-Watson indicou ausência de
autocorrelação serial de primeira ordem nos resíduos.
As estimativas dos parâmetros foram interpretadas como elasticidade, uma vez que a
equação foi especificada nos logaritmos. A elasticidade-preço da demanda de madeira em
88
tora, igual a – 0,220, indica que as quantidades demandadas tendem a cair 2,2% em resposta
a cada aumento de 10% nos preços do produto, ceteris paribus. Este resultado revela que a
demanda é inelástica a preço. Este fato caracteriza a demanda pelo produto como instável
em curto prazo, pois quaisquer variações nas quantidades demandadas produzem grandes
variações nos preços. Como o mercado de madeira está fortemente atrelado ao consumo no
mercado nacional e/ou internacional, pequenas alterações na demanda destes mercados
induzem grandes variações nos preços no mercado local e causam variações na renda do
segmento de madeira e móveis.
A elasticidade-cruzada da demanda de madeira com relação à taxa de
desmatamento, igual a 0,576, mostra que a cada incremento de 10% na taxa de
desmatamento da região Mamuru-Arapiuns, tende a produzir aumento na demanda de
madeira em tora de 5,76%, ceteris paribus. Como é inelástica a preço, mudanças na
demanda, provocada por aumento na taxa de desmatamento, tendem a gerar grandes
volatilidades na renda do extrativismo florestal, favorecendo-os em curto prazo e
estimulando a expansão da atividade no local.
A estabilização da demanda de madeira em tora na região estudada depende da
eficiência do marco regulatório, comandado pelo arranjo institucional (INCRA, ITERPA,
IBAMA, SEMMA, IDEFLOR, SEMMA) no que tange à regularização fundiária, concessão de
áreas de florestas públicas e ao controle do desmatamento e fiscalização da comercialização
do produto.
Os resultados obtidos para a equação de oferta também se apresentaram coerentes
com o esperado, pois os preços apresentaram correlação positiva, assim como as taxas de
desmatamento contemporâneas e defasadas de um período. A variável ICMS apresentou
sinal negativo, indicando que aumento na carga tributária tende a reduzir a oferta dos
produtos florestais da região estudada (Tabela 21).
Os resultados da Tabela 21 mostraram que 99,69% das variações na quantidade
ofertadas de madeira em tora foram explicadas diretamente por variações simultâneas no
preço, na taxa de desmatamento (presente e passada) e no ICMS, e indiretamente pelas
variáveis instrumentais. A estatística F apresentou-se diferente de zero a 1%, atestando a
adequação do modelo de efeitos fixos ao fenômeno estudado. A estatística de DurbinWatson indicou ausência de autocorrelação serial de primeira ordem nos resíduos.
89
As estimativas dos parâmetros da oferta foram interpretadas como elasticidade, uma
vez que a equação foi especificada nos logaritmos. A elasticidade-preço da oferta de madeira
em tora, igual a 0,792, indica que as quantidades ofertadas tendem a aumentar 7,92% em
resposta a cada incremento de 10% nos preços do produto, ceteris paribus. Este resultado
revela que a oferta é inelástica a preço. Isto torna a oferta de madeira instável em curto
prazo, pois quaisquer variações nas quantidades ofertadas produzem variações mais que
proporcionais nos preços.
Tabela 21. Resultados da estimação da equação de oferta de madeira em tora da região
Mamuru-Arapiuns, 2008.
Variável dependente: LOG(MAD)
Instrument list: C TDESMAT TDESMAT(-1) LOG(ICMS) LOG(PBPC) LOG(NMAT) LOG(NEMP) LOG(VPEX)
White period standard errors & covariance (d.f. corrected)
Variável
Coeficiente
Desvio padrão
Estatística - t
Probabilidade
C
LOG(Preço)
TDESMAT
TDESMAT(-1)
LOG(ICMS)
18.5347
0.79171
0.47620
0.24440
-0.65223
0.000660
3.40E-05
1.75E-08
1.34E-07
4.55E-05
28075.33
23295.72
271973.6
18302.75
-14340.84
0.0000
0.0000
0.0000
0.0000
0.0000
Efeitos Fixos (Cruzado)
3.38E-08
Aveiro - C
3.38E-08
Itaituba - C
3.38E-08
Juruti - C
3.38E-08
Santarém - C
Cross-section fixed (dummy variables)
R-quadrado
R-quadrado ajustado
Desvio P. da regressão
Estatística - F
Probabilidade (Estat. - F)
Instrument rank
0.996913
0.995562
0.025642
738.0587
0.000000
9,000000
Média da variável dependente
Desvio padrão da variável dependente
Soma de quadrados dos resíduos
Estatística Durbin-Watson
Segundo estágio SSR
11.05302
0.384910
0.010520
3.066219
0.010520
A elasticidade-cruzada da demanda de madeira com relação à taxa de
desmatamento, igual a 0,476 em tempo contemporâneo e 0,244 em um período passado,
mostra que a cada incremento de 10% na taxa de desmatamento da região MamuruArapiuns, tende a produzir aumento na oferta de madeira em tora, respectivamente, de
4,76% imediatamente e 2,44% no período seguinte, ceteris paribus. Estes resultados
mostram que em curto prazo, a taxa de desmatamento produz um deslocamento na oferta
de 7,2%, mediante impacto no presente e no futuro próximo. Como a oferta é menos
inelástica do que a demanda, este deslocamento de oferta tende a beneficiar mais aos
90
consumidores de madeira em tora, portanto as serrarias, do que aos extrativistas e
produtores rurais.
Com relação ao ICMS, a elasticidade foi de – 0,652, indicando que aumentos na carga
tributária na comercialização dos produtos da madeira tende a reduzir a oferta de madeira
legalizada em tora em 6,52%. Ou seja, o ICMS pode contribuir significativamente para a
extração e comercialização de madeira ilegal.
Estes resultados respaldam as análises qualitativas apresentadas anteriormente,
dando conta da complexidade de fatores que afetam o mercado de produtos madeireiros,
estritamente vinculado à atuação do arranjo institucional que opera ao longo da cadeia
produtiva.
RESULTADOS DA ANÁLISE FATORIAL
A adequação da análise fatorial foi determinada pelos testes Bartlett e KMO. O teste
de Bartlett avaliou a significância geral da matriz de correlação e apresentou um valor de
108,04, indicando que as correlações, em geral, são significantes ao nível de 1% de
probabilidade, ou seja, a matriz de correlação não é diagonal. O teste KMO, da ordem de
0,647 indicou que as variáveis estão correlacionadas e o modelo fatorial apresentou um
nível bom de adequação aos dados. Estes resultados respaldam o emprego da análise
fatorial para a extração de fatores e a estimação dos escores fatoriais.
A matriz de correlação R, como descrito na metodologia, foi transformada por meio
de um modelo fatorial para gerar a matriz de cargas fatoriais. As cargas das variáveis
associadas aos fatores são interpretadas como identificadoras da estrutura latente das
variáveis, que refletem as forças competitivas das empresas de madeira e móveis. O
primeiro passo dessa tarefa reside em selecionar o número de componentes a serem
mantidos para a estimação dos escores fatoriais.
A Tabela 22 contém os resultados da solução inicial e rotacionada para os nove
fatores possíveis e seu relativo poder explanatório expresso pelos autovalores. Aplicando o
critério da raiz latente, conforme Dillon e Goldstein (1984), três componentes foram
mantidas ou extraídas. Observa-se que os três fatores explicam 68,94% da variância total da
nuvem de dados, o que é satisfatório pelo critério da porcentagem da variância.
Na Tabela 22, as três primeiras colunas são os resultados da variância total, variância
relativa e variância acumulada das 11 componentes. As três últimas colunas contêm a
91
variância total, variância relativa e variância acumulada para os quatro fatores extraídos. O
fator 1 explicou 24,047% da variância total, o fator 2 explicou 17,18%, o fator 3 explicou
14,435% e o fator 4 13,275%. No acumulado, os quatro fatores explicaram 68,94% da
variância total da nuvem de dados.
Tabela 22. Resultados dos autovalores para a extração de fatores componentes e variância
total explicada pelos fatores.
Autovalores (λ) e variâncias iniciais
Variância
% of
Variância
Total
Variância acumulada %
1
3,094
28,131
28,131
2
1,780
16,182
44,313
3
1,448
13,167
57,480
4
1,260
11,458
68,937
5
0,780
7,093
76,031
6
0,699
6,357
82,388
7
0,582
5,292
87,680
8
0,505
4,591
92,271
9
0,413
3,752
96,024
10
0,248
2,252
98,275
11
0,190
1,725
100,000
Fonte: Pesquisa de campo.
Componente
Variâncias após rotação
Variância
% da
Variância
Total
Variância acumulada %
2,645
24,047
24,047
1,890
17,180
41,227
1,588
14,435
55,662
1,460
13,275
68,937
Na Tabela 23, a quinta coluna fornece a estatística, detalhando o grau em que cada
variável é “explicada” pelas três componentes, denominada de comunalidade. Das duas
últimas linhas, a primeira é a soma da coluna de cargas fatoriais ao quadrado (autovalores) e
indica a importância relativa de cada fator na explicação da variância associada ao conjunto
de variáveis analisadas. A soma de cada fator corresponde aos resultados da coluna quatro
da Tabela 23. O número 7,583 representa a soma total de cargas fatoriais ao quadrado e
indica a parcela total de variância extraída pela solução fatorial rotacionada, igual a 68,937%.
A parcela total da variância explicada pela solução fatorial (7,583) pode ser
comparada com a variação total do conjunto de variáveis que é representada pelo traço da
matriz fatorial. O traço é a variância total a ser explicada, obtida pela soma dos autovalores
do conjunto de variáveis (soma da primeira coluna da Tabela 22), que é igual a 11,0, dado
que cada variável tem um autovalor possível igual a 1,0. A soma total dos porcentuais de
traço extraído para a solução fatorial serve como índice para determinar o grau de
adequação da solução fatorial em relação ao que todas as variáveis representam. O índice
para esta solução mostra que 68,937% da variância total são representados pela informação
contida na matriz fatorial da solução em termos dos quatro fatores. O índice é considerado
92
intermediário, e as variáveis estão, como esperado, estreitamente relacionadas umas com as
outras.
Tabela 23. Matriz de cargas fatoriais (α) após a rotação ortogonal pelo método Varimax.
Variáveis
Preço madeira beneficiada
Preço madeira em tora
Quantidade de madeira em tora
Número de empregos
Receita bruta total
Logística de transporte
Educação
Mão-de-obra qualificada
Inovação tecnológica
Cooperação
Capacidade instalada da empresa
Soma de quadrado do autovalor
Porcentual do traço (%)
Fonte: Pesquisa de campo.
Fatores
Comunalidade
F1
F2
F3
F4
0,097
0,038
0,652
0,789
0,587
0,355
-0,043
0,613
-0,080
0,007
0,855
0,887
0,830
-0,262
0,303
0,336
0,018
0,272
0,109
0,069
-0,222
-0,003
-0,123
0,269
-0,364
0,366
0,294
0,670
-0,061
-0,095
0,765
0,313
0,050
0,062
0,059
-0,092
-0,078
-0,255
0,239
0,739
0,529
-0,029
0,686
0,138
0,816
0,766
0,636
0,854
0,609
0,633
0,625
0,676
0,597
0,619
0,754
2,645
24,047
1,890
17,180
1,588
14,435
1,460
13,275
7,583
68,937
A soma em linha de cargas fatoriais ao quadrado gera a comunalidade, última coluna
da Tabela 23. Estes números mostram a magnitude da variância em uma variável que é
explicada pelos quatro fatores tomados juntos. O tamanho da comunalidade é um índice útil
para avaliar o quanto de variância em uma dada variável é explicado pela solução fatorial.
Comunalidades grandes indicam que uma grande parcela da variância em uma variável foi
extraída pela solução fatorial. Uma comunalidade pequena, inferior a 0,50, mostra que uma
boa parte da variância contida em uma variável não é explicada pelos fatores.
Sempre que uma solução fatorial satisfatória é obtida, é importante atribuir um
significado a ela. O processo envolve substantiva interpretação do padrão das cargas
fatoriais para as variáveis, incluindo seus sinais, como esforço para nomear cada fator. Em
geral, todas as cargas fatoriais significantes foram utilizadas no processo de interpretação,
porém, as variáveis com maior carga influenciaram mais na seleção de nomes ou rótulo para
representar os fatores.
A seleção das variáveis significativas que devem fazer parte de um fator é eleita com
base na magnitude da carga fatorial (Tabela 23). Assim, as variáveis significativas podem ser
eleitas, olhando-se da esquerda para a direita ao longo de cada linha e selecionando-se as
93
cargas de maior valor. Adotando este processo, o fator 1 tem cinco cargas significativas e os
fatores 2, 3 e 4 têm duas cargas significativas cada um.
O primeiro fator contemplou as seguintes variáveis: quantidade de madeira em tora,
número de emprego, receita bruta, mão-de-obra qualificada e capacidade instalada da
empresa, ambas com sinais positivos e valores de intermediários para altos, demonstrando
que todas variam juntas, estando coerente com as forças definidoras da estrutura de
organização empresarial interna. Assim, uma maior quantidade produzida está associada a
uma maior receita, maior número de empregados, mão-de-obra qualificada e a capacidade
instalada da empresa, ceteris paribus. Para que a posição competitiva dessas empresas
aumente, de acordo com os determinantes do fator 1, as estratégias devem ser ajustadas
pata atenuar as ameaças das empresas rivais, de produtos substitutos, de novos entrantes
no mercado e do aporte regulador da atividade. As variáveis vinculadas ao fator 1, em geral,
estão fortemente atreladas às empresas de maior porte, com maior capacidade de exercer
poder de mercado e conquistar maior parcela de mercado. Este fator pode ser chamado de
dimensão capacidade empresarial, uma vez que os fatores influenciados por essas variáveis
dizem respeito à obtenção de economias de escala e barreira à entrada, eficiência e
produtividade da mão-de-obra (volume de produção, número de empregos, poder de
mercado, qualidade da mão-de-obra) que se enquadram nas dimensões estrutura e
desempenho do modelo Estrutura-Conduta-Desempenho - ECD ou modelo tradicional, nas
dimensões micro do modelo sistêmico e na força rivalidade e ameaça de entrantes do
modelo de Porter (SANTANA, 2007a,b).
As empresas madeireiras e moveleiras dos municípios da área Mamuru-Arapiuns,
quanto ao tempo de funcionamento, apresentam a seguinte distribuição: 13% estão
operando há menos de um ano; 13% entre um e dois anos; 15% entre dois e cinco e 59%
estão em funcionamento há mais de cinco anos (Figura 1). As 18 empresas madeireiras, duas
estâncias e 12 moveleiras estão operando há mais de cinco anos. Isto significa que esta
aglomeração empresarial, espacialmente concentrada nos municípios de Santarém e
Itaituba apresenta alto grau de enraizamento, pois 21 (39%) destas empresas estão
operando nestes municípios há mais de 10 anos.
Com relação ao porte das empresas, tem-se que: 39 (72%) empresas são
microempresas, pois empregam até 19 pessoas; 14 (26%) empresas são de pequeno porte
porque empregam entre 20 e 99 pessoas e uma (2%) de médio porte (Figura 22). Entre as
94
empresas de pequeno e médio porte estão 13 madeireiras, uma moveleira e uma estância.
As microempresas são constituídas de cinco madeireiras, quatro estâncias e 30 movelarias.
7; 13%
1; 2%
Até 19 pessoas
14; 26%
7; 13%
Menos de um ano
De 20 a 99 pessoas
De 1 a 2 anos
De 100 a 499
pessoas
De 2 a 5 anos
Mais de 5 anos
32; 59%
8; 15%
39; 72%
Figura 29. Tempo de funcionamento da empresa na área de estudo e porte da empresa com
base no número de empregos, 2008.
Ainda com relação à capacidade empresarial, tem-se que as empresas madeireiras,
ao longo de 2008, processaram, em média, 928 m3 de madeira em tora, com 52
empregados, gerando um valor médio de R$ 860,00 mil. As movelarias, por sua vez,
processaram o equivalente a 258 m3 de madeira em tora, com sete empregados em média,
gerando um valor médio de R$ 89,50 mil. Por fim, as estâncias beneficiaram ou
comercializaram o equivalente a 81,2 m3 de madeira em tora, com 23 empregados e uma
receita bruta de R$ 175,00 mil em 2008. Estas variáveis constituem grande peso na
dimensão capacidade empresarial, indicando que em horizonte de longo prazo, com a
adequação da estrutura de governança, um maior porcentual da capacidade instalada das
empresas passe a ser utilizada.
A qualidade da mão-de-obra dessas empresas, dentro de suas limitações, foi
assegurada mediante a participação de funcionários em diversos cursos não sistemáticos, ao
longo dos últimos cinco anos. A Tabela 24 contém o leque de áreas de interesse e a
frequência das empresas que proporcionaram a realização de treinamento para alguns de
seus funcionários.
Observa-se que as áreas de maior interesse das empresas são: segurança e medicina
do trabalho, com freqüência de 37% das empresas; qualidade e produtividade dos produtos
e do trabalho, com 35,2% das empresas; operação de máquinas e equipamentos, com
31,5%; manejo florestal com 24,1% e gestão ambiental com 16,7%; e tecnologia de produção
com 18,5%. Todas estas áreas estão vinculadas à obtenção de maior eficiência no processo
95
produtivo, conferindo, ao final, maior capacidade para as empresas manterem e/ou
ampliarem suas parcelas de mercado, segundo suas capacidades instaladas.
Tabela 24. Áreas de interesse das empresas para atualização e treinamento dos
funcionários, 2008.
Áreas de realização de treinamento
Frequência
Porcentual
Qualidade e produtividade
Gestão do meio ambiente
Tecnologia de produção
Operação de máquinas e equipamentos
Manejo Florestal
Gestão Empresarial
Vendas / marketing
Desenvolvimento e design de produtos
Segurança e medicina do Trabalho
Georeferenciamento da área de manejo
Informática e computação
Exportação e comércio exterior
Línguas estrangeiras
Não realiza treinamento
19
9
10
17
13
9
5
6
20
4
4
6
2
22
35,2
16,7
18,5
31,5
24,1
16,7
9,3
11,1
37,0
7,4
7,4
11,1
3,7
40,7
Fonte: Pesquisa de campo.
Por outro lado, é significativo o número de 22 (40,7%) empresas que não realizaram
nenhum treinamento no último lustro. Este aspecto contribui negativamente para a
dinâmica da dimensão capacidade empresarial, revelada como o principal fator explicativo
do desempenho competitivos das empresas. Portanto, a sustentabilidade destas empresas
exige a inclusão de estratégias de qualificação da mão-de-obra para todas as empresas da
aglomeração empresarial dos municípios da área de estudo.
No segundo fator, foram incluídas as variáveis: preço da madeira em tora e preço
dos produtos da madeira. Estas variáveis estão relacionadas às empresas de diversos
tamanhos, evidenciando a capacidade de criar vantagem competitiva por meio do foco no
preço dos produtos. Estas variáveis definem a dimensão mercado. Esta dimensão de
conduta está ligada às estratégias estabelecidas para definir a concorrência via preços da
matéria-prima e dos produtos, contemplada nas forças competitivas do modelo tradicional,
denominada conduta e na rivalidade das empresas que concorrem em preço no modelo das
cinco forças de Porter (SANTANA, 2008a).
As informações da Tabela 25 indicam o peso das principais variáveis utilizadas pelas
empresas pesquisadas para definirem suas estratégias competitivas. Nota-se que para 81,5%
das empresas, um preço competitivo é a principal força para vencer a concorrência
96
empresarial e se manter no mercado. Em seguida surgem a qualidade do produto (72,2%), o
preço da matéria-prima (55,6%) e o prazo de entrega do produto (51,9%). Estas e as demais
variáveis definem o foco das estratégias concorrenciais das empresas de produtos
madeireiros da região Mamuru-Arapiuns. Portanto, a concorrência é baseada no preço que,
diga-se de passagem, não é uma estratégia competitiva sustentável em longo prazo, pois as
empresas que pautam suas estratégias em inovação tecnológica e de gestão, diferenciação
de produto, informação e conhecimento, rapidamente eliminam as estratégias tradicionais
focadas em custo e preço. Portanto, a orientação para a sustentabilidade da aglomeração
empresarial de madeira e móveis deve ser considerada na formulação de suas estratégias
competitivas.
Tabela 25. Fatores observados pelas empresas para orientar suas estratégias competitivas
vinculadas ao mercado, 2008.
Fatores
Preço competitivo do produto
Preço da matéria-prima e insumo
Qualidade e origem do produto
Prazo de entrega do produto
Disponibilidade do produto para entrega
Canal de comercialização adequado
Produto certificado (área de manejo)
Frequência
Porcentagem
44
30
39
28
17
14
16
81,5
55,6
72,2
51,9
31,5
25,9
10,7
Fonte: Pesquisa de campo.
O terceiro fator contempla as variáveis: logística de transporte e inovação
tecnológica. Estas duas variáveis estão diretamente relacionadas à competitividade
sistêmica das empresas, uma vez que a logística de transporte (modais de transportes,
infraestrutura portuária, condições de armazenamento, custos de transporte e regulação da
comercialização) e o desenvolvimento e utilização de inovações tecnológicas no produto, em
todo processo produtivo e na gestão contribuem para criar estratégias competitivas
sustentáveis para as empresas. Esta dimensão pode ser entendida como o embrião da
dinâmica competitiva das empresas de madeira e móveis da área de estudo (SANTANA,
2002; 2007; 2008; SANTANA et al., 2008; SANTANA, 2008b).
O transporte da matéria-prima até o pátio das empresas e dos produtos até os
mercado é estruturada em três alternativas: a rodoviária, utilizada por 24 (44,4%) empresas,
que consiste no transporte das toras de madeira e/ou do produto beneficiado em
caminhões. Estas operações, geralmente se resumem ao mercado local. O modal
97
fluvial/marítimo, utilizado por 10 (18,5%) empresas, consiste no transporte de madeira em
tora até o pátio da empresa e do produto beneficiado até o porto em balsas. A partir deste
ponto, os navios conduzem o produto para o mercado internacional pelo mar. O modal
fluvial/rodoviário, que combina o transporte do produto por caminhões e/ou balsas, é
utilizado por 20 (37%) empresas.
A logística de transporte e comercialização da madeira em tora e dos produtos
fabricados pelas empresas madeireiras influencia diretamente na competitividade das
empresas, sobretudo porque as estratégias competitivas são construídas com base nos
fatores tradicionais como recursos naturais, crédito subsidiado, mão-de-obra barata e
logística de transporte. As variáveis que definem a dinâmica desta logística estão na Tabela
26. Observa-se que o custo da matéria-prima tem o maior peso na logística para 34 (63%)
empresas, seguido do custo da mão-de-obra para 32 (59,3%) empresas.
Tabela 26. Fatores que influenciam a logística de transporte e comercialização da matériaprima e produtos das empresas de madeira e móveis, 2008.
Fatores que influenciam no preço
Custo de matéria-prima
Custo de mão-de-obra
Despesas administrativas e impostos
Despesas portuárias
Custo de transporte
Custo da comunicação
Fonte: Pesquisa de campo.
Frequência
34
32
26
22
22
16
Porcentagem
63,0
59,3
48,2
40,7
40,7
29,6
As despesas administrativas e o pagamento de impostos representam o maior peso
para 26 (48,2%) empresas. Na sequência aparecem as despesas portuárias e o custo de
transporte para 22 (40,7%) empresas e, por último, o custo da informação para 16 (29,6%)
empresas. Nas entrevistas, foram reveladas que estas variáveis oneram o custo do produto
final, o que reduz a competitividade dos produtos no mercado nacional e/ou internacional.
Em alguns casos, o peso dessas variáveis é considerado proibitivo, o que leva o empresário,
dada a escala e o padrão tecnológico, a adquirir madeira sem a certificação de origem,
contratar mão-de-obra informal e não dispor de informação sobre o mercado. Este aspecto
deve ser levado em consideração na definição das ações de apoio à organização desse
aglomerado de empresas madeireiras da região Mamuru-Arapiuns.
98
Com relação à introdução de inovação tecnológica no produto, processo produtivo e
nas técnicas de gestão empresarial, tem-se um desequilíbrio em favor da não utilização de
inovação nos últimos cinco anos (Tabela 27).
Tabela 27. Aspectos de inovações tecnológicas utilizadas pelas empresas madeireiras da
região Mamuru-Arapiuns, 2008.
Introdução de inovações
Produto novo para a sua empresa, mas já existe no mercado?
Produto novo para o mercado nacional?
Produto novo para o mercado internacional?
Processos tecnológicos novos para a sua empresa, mas já existentes no
setor?
Processos tecnológicos novos para o setor de atuação?
Implantação de técnicas avançadas de gestão (manejo)?
Implantação de significativas mudanças na estrutura organizacional?
Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização?
Implantação de novos métodos e gerenciamento, visando a atender
normas de certificação (ISO 9000, ISO 14001, etc.)
Máquinas e equipamentos modernos
Sim
29
6
11
Decisão
%
Não
55,8
23
11,5
46
21,2
41
%
44,2
88,5
78,8
16
6
13
19
20
30,8
11,5
25,0
36,5
38,5
36
45
39
33
32
69,2
86,5
75,0
63,5
61,5
9
17,3
43
82,7
7
13,5
45
86,5
Fonte: Pesquisa de campo.
Com relação ao produto, obteve-se que 29 (55,8%) das 52 empresas que
responderam a esta questão fizeram a introdução de um novo produto para sua empresa,
mesmo que já exista no mercado local, nacional ou internacional. Com relação a produto
novo para o mercado nacional, apenas seis empresas informaram positivamente. Para o
mercado internacional, 11 empresas introduziram produto novo, geralmente, produtos
fabricados a partir de novas espécies de madeira.
As inovações no processo produtivo, com relação a tecnologias novas para as
empresas, obtiveram-se respostas afirmativas de 16 empresas. Estas inovações se devem à
implantação de planos de manejo florestal, que antes não eram praticados pela maioria das
empresas da região estudada. Com relação a processo novo para o setor, têm-se algumas
iniciativas no aproveitamento de resíduos das sobras na empresa, vinculando moveleiras e
comunidades, e avanço na produção de painéis de madeira, que antes não se praticava na
região, por envolver a utilização de máquinas e equipamentos modernos e maior
conhecimento técnico. Estas iniciativas promovem a diferenciação e a agregação de valor
aos produtos, fatores necessários para manter a dinâmica competitiva das empresas em
longo prazo.
99
No campo da inovação de gestão, um número relativamente maior de empresas está
utilizando técnicas avançadas de gestão (13; 25%), mudança na estrutura organizacional do
ambiente interno (19; 36,5%), mudanças nas práticas e conceitos de comercialização (20;
38,5%) e mudanças para atender aos requisitos das normas para a certificação de produtos
(9; 17,3%).
Embora seja uma parcela significativamente menor de empresas que está
introduzindo inovações tecnológicas (no produto e no processo produtivo) e de gestão, tal
iniciativa revelada nos municípios com maior concentração de empresas (Itaituba e
Santarém) deve ser levada em consideração no desenho das ações de apoio ao
desenvolvimento competitivo desse segmento empresarial.
Os coeficientes técnicos de transformação, relacionados às máquinas e
equipamentos modernos para o desdobramento, acabamento e fabricação de novos
produtos, que é um indicativo do padrão tecnológico das empresas, revelaram que 16
(88,9%) serrarias necessitam pelo menos 2,5 m3 de madeira em tora para cada m3 de
madeira desdobrada ou beneficiada e apenas duas (11,1%) citaram o coeficiente 1,66 m3
apenas como referência do ideal sugerido pelo IBAMA. Na realidade, algumas empresas, em
função das máquinas e equipamentos em uso, necessitam de mais que 3,0 m3 para gerar um
m3 de madeira beneficiada tipo exportação. As movelarias, por sua vez, conseguem um
maior aproveitamento da madeira, com 23 (69,7%) aproveitam 80% e 10 (30,3%) aproveitam
mais de 80%, pois trabalham a partir da madeira serrada para fabricar seus produtos.
Observa-se, portanto, que o desperdício a partir da madeira em tora que chega às serrarias
da região Mamuru-Arapiuns é de pelo menos 40%.
O quarto fator foi composto pelas variáveis educação (número de anos de
escolaridade da mão-de-obra e dos empresários, treinamentos realizados em diversas áreas
de interesse da empresa) e cooperação (participação dos empresários em organizações,
trabalho cooperativo, ação coletiva para enfrentar problemas e conquistar oportunidades).
Este fator contempla a formação de capital humano e a construção de capital social,
portanto representa a dimensão desenvolvimento local para as empresas de madeira e
móveis dos municípios pesquisados (SANTANA, 2008b).
Um dos fundamentos do processo de desenvolvimento local e sustentável está na
disponibilidade e formação de capital humano. O capital humano envolve o conhecimento
tácito e codificado em posse da sociedade local, bem como seu grau de habilidade,
100
traduzido nos anos de escolaridade e na destreza para solucionar problemas tradicionais e
novos que se apresentam no curso do desenvolvimento local. Referências sobre o capital
humano pode ser encontrada em Santana (2008b) e Santana et al. (2008).
Na Tabela 28 está a distribuição do número de empregados de acordo com o nível de
escolaridade. Foram encontrados 26 (1,7%) trabalhadores sem escolaridade ou analfabetos
e 495 (32,6%) com ensino fundamental incompleto, que podem ser enquadrados como
analfabetos informais. Este é um porcentual significativo e que limita consideravelmente o
enraizamento de iniciativas de desenvolvimento local e sustentável. Portanto, este problema
deve ser removido como condição prioritária das ações institucionais para o local.
Tabela 28. Nível de escolaridade dos trabalhadores nas empresas madeireiras entrevistadas
na região Mamuru-Arapiuns, 2008.
Escolaridade (Situação atual)
Sem escolaridade (analfabeto)
Ensino fundamental incompleto
Ensino fundamental completo
Ensino médio incompleto
Ensino médio completo
Ensino superior incompleto
Ensino superior completo
Ensino de pós-graduação completo
Total
Frequência
Porcentual
26
495
242
475
220
35
26
1
1.520
1,7
32,6
15,9
31,3
14,5
2,3
1,7
0,1
100,0
Fonte: Pesquisa de campo.
Por outro lado, o contingente de trabalhadores que completaram o ensino superior
e/ou ainda está cursando representa apenas 4% do total. Isto significa que investimentos em
educação constituem a prioridade das estratégias de política para o desenvolvimento local
desse aglomerado empresarial, pois o mercado exige mão-de-obra qualificada em toda
cadeia produtiva. Nos planos de manejo, utilização tecnológica no ambiente interno das
empresas, logística de produção e distribuição, informação de mercado e gestão da cadeia
produtiva, exigem-se mão-de-obra com maior nível de escolaridade e de instrução em áreas
técnicas.
Com relação à participação efetiva em organizações sociais como cooperativas,
apenas 18,5% das empresas responderam afirmativamente. Portanto, 81,5% das empresas
não participam efetivamente de organização social. Esta é uma informação preocupante
quando se pensa em desenvolvimento local e sustentável, uma vez que a ação
101
individualizada predomina nas estratégias empresariais para conviver no ambiente
competitivo em que operam.
Um fato ainda mais revelador diz respeito às informações da Tabela 29, que indicam
o grau de importância dada pelos agentes entrevistados sobre o reconhecimento das ações
coletivas e foram desenvolvidas no âmbito das organizações, com o fito de solucionar
problemas, identificar alternativas de políticas e conquistar objetivos e metas traçadas em
conjunto.
Tabela 29. Indicador da percepção dos agentes com relação à importância das organizações
sociais para o desenvolvimento local, 2008.
Tipo de Contribuição
Auxílio na definição de objetivos comuns para o setor
Estímulo na percepção de visões de futuro para a ação estratégica
Disponibilidade de informação sobre matérias-primas,
equipamento, assistência técnica, consultoria, etc.
Identificação de fontes e formas de financiamento
Promoção de ações cooperativas
Apresentação de reivindicações comuns
Criação de fóruns e ambientes para discussão
Promoção de ações dirigidas a capacitação tecnológica de
empresas
Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa
local
Organização de eventos técnicos e comerciais
Qualificação
Índice *
0
19
20
%
43,2
44,4
1
7
6
%
15,9
13,3
2
11
13
%
25,0
28,9
3
7
6
%
15,9
13,3
20
22
19
20
20
45,5
50,0
43,2
45,5
46,5
7
4
8
3
5
15,9
9,1
18,2
6,8
11,6
9
8
7
11
8
20,5
18,2
15,9
25,0
18,6
8
10
10
10
10
18,2
22,7
22,7
22,7
23,3
0,332
0,345
0,361
0,373
0,360
25
56,8
4
9,1
5
11,4
10
22,7
0,311
20
22
46,5
51,2
6
3
14,0
7,0
7
9
16,3
20,9
10
9
23,3
20,9
0,356
0,335
0,332
0,318
Fonte: Pesquisa de campo.
Observação: 0 - nulo; 1 - baixo; 2 – médio; 3 – alto. Índice = 0 x nulo + 0,3 x baixo + 0,6 x médio + alto.
O índice que mede o grau de reconhecimento das empresas quanto à ação coletiva
para atuar na solução de questões nos níveis micro e mesoanalíticos, situa-se inferior a 0,4,
portanto, considerado baixo. Com efeito, o maior peso recai, em quase todas as questões,
na resposta nula, ou seja, os efeitos das ações coletivas não são perceptíveis pelos agentes
entrevistados. Com base neste resultado, pode-se afirmar que a construção de capital social
deve iniciar do zero. Como a formação de capital social é um dos pilares do desenvolvimento
endógeno, pois dele depende toda a dinâmica operacional da estrutura de governança,
principal problema identificado no mercado de produtos madeireiros da região MamuruArapiuns, as ações de política para apoiar o desenvolvimento deste aglomerado de empresas
devem ser priorizados.
102
ANÁLISE DO ÍNDICE SISTÊMICO DE DESEMPENHO COMPETITIVO - ISDC
Os resultados da Tabela 30 permitem posicionar individualmente as empresas com
respeito às fragilidades e pontos fortes, inclusive com a magnitude do impacto, segundo a
dimensão fatorial. O ISDC revelou que existem três (5,56%) empresas com alto desempenho
competitivo sistêmico (duas de Santarém e uma de Itaituba), 33 empresas com desempenho
intermediário (61,11%) e 18 empresas com baixo desempenho competitivo sistêmico
(33,33%). Duas empresas apresentaram significativo domínio nos três primeiros fatores e a
outra empresa apresentou relativa eficiência na dimensão desenvolvimento local. A
empresa de maior desempenho lidera as dimensões capacidade empresarial e mercado. Este
fato revela que a empresa exerce um efeito demonstração no que se refere à inserção no
mercado, capacidade de atendimento às demandas dos vários níveis de mercados e
qualificação de mão-de-obra. Porém, com relação às forças que induzem o desenvolvimento
local, a empresa mostra-se completamente isolada. Com efeito, apresenta grande
dificuldade para implantar o manejo de baixo impacto e, por sua vez, a cadeia de custódia
dos produtos que fabrica e comercializa.
Por outro lado, a terceira empresa apresentou forte relação com o desenvolvimento
local. Com este resultado, pode-se desenvolver estratégia para que a liderança destas
empresas se torne sustentável para o desenvolvimento local. A expectativa é que tais
empresas adéquem suas ações para equilibrar os efeitos das forças que determinam o
desenvolvimento local e sustentável. Portanto, o aparato regulatório deve operar nesta
direção, orientando os instrumentos de ação para alterar o quadro atual.
No que se refere às empresas que se enquadram no ISDC intermediário, foram
identificadas 15 madeireiras (seis em Itaituba, oito em Santarém e uma em Juruti), 16
movelarias (sete em Itaituba, oito em Santarém e uma em Juruti) e duas estâncias (uma em
Itaituba e uma em Santarém). Neste grupo de empresas, as deficiências são mais comuns e
profundos com relação aos fatores 1 e 3, pois metade delas apresentaram sinais negativos
para esses fatores. Em seguida vem a deficiência no fator 2 (Tabela 9). Observa-se que tais
empresas estão com problemas na capacidade empresarial, mercado e competitividade
sistêmica. Em geral, tem-se que 13 empresas apresentam alta deficiência em dois fatores e
cinco em três fatores. Estas deficiências são contrabalançadas pelo bom desempenho nos
demais fatores, o que lhes assegura a posição de centralidade. Um grupo de 15 empresas
103
apresentou sinal negativo apenas para um dos fatores, porém o desempenho positivo obtido
nos demais fatores foi relativamente pequeno.
Tabela 30. Valores dos escores fatoriais originais e padronizados e o índice de desempenho
competitivo.
Empresa
Fatores
ISDC
F1
F2
F3
F4
Madeireira ST6
3,0819
2,1682
1,6990
-2,4356
0,791
Madeireira IT3
1,6206
1,6295
1,5303
-0,7538
0,708
Madeireira ST11
0,9388
0,8822
1,3224
1,5254
0,700
Madeireira ST8
1,2057
-0,0294
2,0916
1,0045
0,679
Estância ST2
1,2861
0,7050
0,2458
0,9898
0,648
Madeireira ST10
0,6998
0,6404
0,3209
0,6059
0,585
Madeireira ST1
1,0975
1,6638
-0,6685
-1,1633
0,557
Movelaria ST9
0,1948
0,4268
0,7918
0,6079
0,552
Madeireira IT4
1,2013
0,0706
0,7866
-0,8254
0,550
Madeireira ST2
0,5968
-0,2922
0,3722
0,9177
0,538
Madeireira ST4
0,8486
-0,9311
0,6621
0,8083
0,529
Madeireira ST5
0,6768
-0,8351
0,8002
0,7706
0,525
Movelaria IT1
-0,6210
0,5761
0,7384
1,1636
0,517
Movelaria ST6
-0,6567
1,1931
0,1380
0,8791
0,512
Movelaria ST10
-0,2270
-1,0243
0,8263
2,0475
0,498
Madeireira IT1
0,7144
0,4965
-1,1032
0,1560
0,498
Madeireira IT7
-0,4952
0,4645
0,7451
0,5543
0,495
Madeireira JU1
0,6068
-1,3095
0,0986
1,4012
0,490
Movelaria IT3
-0,6172
0,9040
-0,0145
0,7066
0,485
Movelaria IT8
-0,5055
0,8515
-0,7520
1,2814
0,484
Madeireira ST3
0,8117
-1,3158
-0,3321
1,1159
0,475
Estância IT1
0,2017
0,0474
-1,1562
1,2181
0,474
Movelaria ST7
2,3560
-2,1257
-0,8668
-0,2541
0,470
Movelaria IT4
-0,2854
-0,0911
-0,0493
0,7786
0,455
Movelaria ST5
-0,5955
0,5397
-1,1985
1,6163
0,454
Movelaria ST4
-1,2833
1,0998
0,6090
0,3365
0,453
Movelaria IT6
-0,4432
1,0323
-0,5885
-0,0451
0,449
Movelaria ST11
-0,3613
0,5768
-0,5883
0,3317
0,446
Madeireira ST9
0,5253
-0,5056
-0,8322
0,3136
0,443
Movelaria IT2
-1,0369
1,4855
0,2554
-0,5417
0,442
Madeireira IT2
-0,0371
0,4512
0,5591
-1,5991
0,430
Movelaria IT7
-0,8585
0,2336
0,4641
0,2451
0,427
Madeireira IT5
2,4300
-1,1568
-2,8350
-0,8567
0,422
Movelaria ST12
-0,4517
0,4815
-1,3414
0,7501
0,419
Madeireira IT6
1,2538
-0,7683
-2,1761
0,0608
0,418
Movelaria JU1
-0,8950
1,1897
-0,5181
-0,3763
0,411
Movelaria IT5
-0,4348
0,8268
-1,3355
-0,3297
0,394
Movelaria ST3
-1,0436
0,5678
-0,6308
-0,0825
0,371
104
Estância ST1
-0,9535
0,2836
-0,4572
-0,0930
0,369
Movelaria AV2
-0,5021
-1,1307
0,5889
-0,1472
0,366
Movelaria ST8
-0,9809
-0,8156
1,1114
-0,2248
0,364
Movelaria IT10
-0,8894
0,0713
0,5423
-1,0995
0,361
Movelaria AV1
-0,6566
-1,1647
0,5005
0,0707
0,357
Estância ST3
-0,8950
-0,8322
0,8725
-0,5600
0,346
Movelaria JU4
-0,7980
0,7156
-0,9794
-0,9836
0,346
Movelaria ST2
-0,1546
-1,7851
1,0923
-0,9055
0,345
Movelaria IT9
-0,3430
-0,0938
-1,4366
-0,3782
0,342
Estância JU1
-0,7114
-0,1158
-0,7747
-1,0580
0,310
Movelaria JU5
-0,7689
0,0377
-0,9369
-1,0875
0,306
Movelaria ST1
-0,6701
-1,3592
1,1671
-1,6126
0,301
Movelaria JU2
-0,6567
-0,7462
-0,3268
-1,0262
0,299
Movelaria AV2
-0,9212
-2,1637
1,0676
-0,3049
0,286
Movelaria JU3
-0,8704
-0,8616
0,4821
-1,8146
0,276
Movelaria JU6
-0,7280
-0,8587
-0,5826
-1,6982
0,247
Fonte: Pesquisa de campo.
Em função disso, tais empresas apresentam grande dificuldade de evoluir para uma
posição de alto desempenho, uma vez que as deficiências em algum fator são, geralmente,
mascaradas pelos resultados positivos obtidos em outro fator, criando uma situação de
acomodação ou de inércia competitiva.
Adicionalmente, este conjunto de 33 (61,11%) empresas constituiu o grupo
denominado de “meio de campo”, considerado a pior posição estratégica de design ou de
inovação tecnológica, dado que as empresas não conseguem dar o salto para atender às
exigências do ambiente competitivo em qualidade, diversificação e diferenciação de
produtos (SANTANA, 2007a,b). Tais empresas apresentam comportamento defensivo e se
ancoram na utilização dos fatores básicos da competitividade. Portanto, tais empresas
podem perder parcela de mercado em longo prazo.
Outro conjunto de 18 (33,33%) empresas apresentou baixo desempenho
competitivo. Nesta faixa do ISDC têm-se 15 movelarias (três em Aveiro, três em Itaituba,
quatro em Santarém e cinco em Juruti) e três estâncias (duas em Santarém e uma em Juruti).
Entre as empresas, quatro apresentaram deficiências nos quatro fatores, 12 em três fatores
e duas em dois fatores. Todas as empresas apresentaram deficiência na dimensão
capacidade empresarial e 17 (94,44%) empresas apresentaram deficiência na dimensão
desenvolvimento local. A terceira maior deficiência para 12 (66,67%) empresas ocorreu na
dimensão mercado. Por outro lado, as empresas apresentaram menor deficiência na
105
dimensão dinâmica competitiva, pelo fato da grande diversificação e diferenciados de
produtos fabricados a partir de diversas espécies de madeira.
Estas empresas podem ser enquadradas na categoria de empresas seguidoras.
Apresentam, geralmente, escala inadequada de produção e se valem intensivamente do uso
de mão-de-obra não-qualificada, baixa qualidade do produto, tecnologia rudimentar e baixa
capacidade de gestão empresarial e ação individualizada na produção e comercialização de
produtos.
Por fim, em termos de política, os resultados do ISDC permitem orientar o aumento
no grau de desempenho competitivo, exigindo-se a superação das deficiências observadas
em cada fator, segundo a empresa. No caso de incentivos fiscais ou de recursos
constitucionais como ocorre na Amazônia, poder-se-ia diferenciar os encargos como
contrapartida da correção de rumos das variáveis relacionadas aos fatores em que se
mostrou ineficiente.
Constitui, portanto, um passo fundamental para orientar as estratégias empresariais
no nível microeconômico de análise, bem como as ações de política pública que se definem
no nível mesoeconômico, com vistas a regular a extração dos recursos naturais e coordenar
as cadeias produtivas.
O conjunto de 28 empresas com ISDC abaixo da média (0,452) está retardando a
construção de vantagens competitivas sustentáveis e aumentando a ameaça de entrada de
novos concorrentes no mercado. Este fato exige atenção para que este grupo de empresas
não comprometa as oportunidades das empresas que estão evoluindo mediante criação de
vantagens competitivas.
106
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As informações da pesquisa revelaram que, atualmente, o principal problema
enfrentado pelas empresas de produtos madeiros e não-madeireiros da região do MamuruArapiuns, diz respeito à estrutura de governança instalada para operar na cadeia produtiva
destes produtos.
A base do mercado dos produtos madeireiros e não-madeireiros da região estudada
está na extração de madeira em tora e de outros produtos do estoque de recursos naturais.
Esta extração, por longa data ocorreu sem regulação efetiva. A decisão de orientar o
planejamento estratégico da exploração florestal madeireira, mediante plano de manejo
sustentável, como marco de certificação da origem legal da madeira, assim como fiscalizar a
comercialização dos produtos gerados com o seu desdobramento, está causando conflitos
de diversas ordens.
Um conflito básico observado está na falta de estrutura das instituições para
recepcionar os planos de manejo protocolados pelas empresas, bem como analisarem sua
consistência e viabilidade, visitar in loco e autorizar a liberação da exploração. A demora na
execução desta tarefa, pelas informações levantadas, ultrapassa três anos em alguns dos
casos. Isto certamente decreta o fechamento das empresas, como foi evidenciado na região
da pesquisa. Percebendo esta deficiência das instituições, alguns empresários, ao invés de
fecharem as portas da empresa, arriscam continuar processando madeira extraída de
“planos de manejo” não aprovados e liberados, adquirindo madeira de áreas sem manejo
e/ou comprando madeira de intermediários, também sem origem legal.
Neste processo, quando a fiscalização do IBAMA apreende a madeira ainda em
trânsito para a serraria ou saindo da serraria para o porto, com destino à exportação, causase um grande impacto e o conflito torna-se evidente para toda sociedade. Então, cria-se uma
espécie de caos na tentativa de cada um passar a sua verdade ou de autoafirmação para
continuar o processo. Nestes termos, a solução vislumbrada para este problema, centra-se
na reestruturação institucional para exercer o comando da regulação da cadeia produtiva de
produtos madeireiros e não-madeireiros. Esta regulação inicia com o direito legal de
propriedade da terra.
107
O segundo ponto que o estudo revelou é a necessidade de se viabilizar a concessão
das florestas públicas, atrelado a um processo de fiscalização eficiente para incrementar a
oferta de produtos madeireiros e não-madeireiros. Neste ponto, deve-se exigir que seja feito
um inventário completo de todos os produtos madeireiros e não-madeireiros, para fins de
atendimento aos objetivos ecológicos, econômicos e sociais, tendo em vista a otimização
dos investimentos realizados. Na exploração de madeira em tora o objetivo e obter lucro e
extração dos produtos não-madeireiros a finalidade é assegurar apenas o retorno do capital
investido, com o excedente indo para o conjunto dos povos da floresta. Isto necessita de
investimento em pesquisa científica para o desenvolvimento em conhecimento, tecnologia e
inovação, formação de capital humano e, sobretudo, a construção de capital social.
Portanto, o problema detectado que está limitando a expansão do mercado de
produtos madeireiros e não-madeireiros localiza-se do lado da oferta. Sem a regulação da
exploração sustentável das áreas de floresta, a oferta deve continuar diminuindo e, por sua
vez, os empresários perdendo parcela de mercado e competitividade. Em decorrência, o
desemprego deve aumentar, bem como a renda das empresas e a arrecadação dos
municípios deve cair e a economia rural encolher, sobretudo neste momento da crise
financeira mundial cujos reflexos já atingiram o segmento madeireiro com negócios
cancelados e outros adiados.
A competitividade sistêmica das cadeias produtivas de produtos madeireiros e nãomadeireiros depende diretamente da regulação da exploração dos recursos naturais, no
âmbito dos planos de manejo das áreas de concessão de florestas públicas. Com a
implantação do marco regulatório, pode-se aumentar a eficiência da governança das
cadeias, uma vez que diminuem a assimetria de informação e a ação oportunista dos
agentes, dado que se institui o direito de propriedade e a certificação de origem dos
produtos.
Na base da regulação da exploração sustentável dos recursos naturais, está o
investimento em ciência, tecnologia e inovação – C, T & I, formação de capital humano e
construção de capital social. Com a expansão do mercado, exige-se escala de produção e
qualidade dos produtos, então a organização dos produtores para inserção em uma rede de
negócios para a comercialização dos produtos é uma condição necessária, assim como o
manejo de espécies madeireiras e o plantio racional com espécies da flora regional.
108
Na construção de capital social, é importante que os investimentos viabilizem a
aquisição de máquinas, equipamentos e de infra-estrutura coletivas para o adicionamento
de valor aos produtos. Isto é de fundamental importância para a transformação de
“indivíduos produtivos locais” em aglomerações produtivas locais, considerando as
organizações em torno do artesanato e produtos da farmacopéia, as movelarias e artefatos e
as empresas madeireiras.
Nesta perspectiva de desenvolvimento endógeno e sustentável, a integração
hierárquica pode criar os nós dinâmicos da rede de produtos da natureza, oriundos do
Estado do Pará, e criar uma escala competitiva para inserir os produtos no mercado nacional
e/ou internacional.
Com relação à análise quantitativa do mercado, tem-se que a demanda e a oferta de
madeira em tora são inelásticas a preços, características relacionadas às flutuações na
produção de madeira e instabilidade na receita bruta do segmento florestal madeireiro da
região Mamuru-Arapiuns. Isto significa que pequenas variações na quantidade produzem
mudanças mais que proporcionais nos preços e, por sua vez, instabilidades na receita bruta
do segmento florestal.
A oferta é menos inelástica do que a demanda de madeira em tora. Isto significa que
redução na oferta causada pela diminuição da taxa de desmatamento, produz um impacto
maior sobre a receita bruta dos consumidores (serrarias, movelarias e estâncias) do que
sobre a renda dos extratores. O contrário ocorre com o aumento nas taxas de
desmatamento, pois o maior efeito distributivo será na renda dos produtores, ceteris
paribus. A empresa verticalizada, que exerce simultaneamente o papel de produtor e
consumidor, amortece os impactos das flutuações da oferta e da demanda.
A variável taxa de desmatamento produz deslocamento tanto na demanda quanto na
oferta de madeira em tora, sendo que o efeito sobre a oferta é dinâmico, uma vez que um
incremento na taxa de desmatamento produz um impacto contemporâneo mais forte sobre
a oferta e um efeito menor no ano seguinte.
A variável ICMS produz efeitos negativos sobre a oferta de madeira certificada,
portanto a majoração da carga tributária, pelo aumento do custo, reduz a oferta. Por sua
vez, pode estimular o aumento da extração e comercialização de madeira sem origem legal.
Estas variáveis estão sob a ação direta do arranjo institucional que regulam a
produção e comercialização dos produtos madeireiros na região estudada, bem como os
109
direitos de propriedade ou de extração em área legal. Portanto, este resultado empírico
pode contribuir para que sejam desenvolvidas estratégias visando aumentar a estabilidade
da oferta e demanda de produtos madeireiros.
A análise fatorial permitiu extrair quatro fatores para representar a dinâmica da
variabilidade da nuvem de dados utilizados pelas empresas madeireiras da região MamuruArapiuns para criar estratégias competitivas e manter suas parcelas de mercado. Estes
fatores configuram as seguintes dimensões, por ordem de importância para o desempenho
competitivo empresarial: capacidade empresarial, mercado, dinâmica competitiva e
desenvolvimento local.
Os fatores revelaram que a aglomeração de empresas madeireiras, concentrada nos
municípios de Itaituba e Santarém, está operando com grandes deficiências em máquinas e
equipamentos, na introdução de inovações tecnológicas, educação da mão-de-obra e
organização social. Estes fatores são fundamentais no processo de desenvolvimento local e
sustentável, portanto, devem ser enfrentados prioritariamente para que a governança da
cadeia produtiva funcione. Estes fatores se definem no nível mesoanalítico, onde são
definidas as ações institucionais.
Com relação ao índice sistêmico de desempenho competitivo, os resultados
revelaram três empresas com alto desempenho competitivo, com liderança absoluta nas
dimensões capacidade empresarial e mercado. Outro conjunto de 33 empresas está
operando com ISDC intermediário, sendo que a maioria revelou deficiências em duas ou
mais das quatro dimensões. A posição de centralidade torna mais complexa a ação
contributiva do arranjo institucional para desenvolver estratégias que produzam o impulso
capaz de conduzir tais empresas para um patamar de alto desempenho competitivo.
O grupo de 18 empresas com baixo desempenho competitivo revelou graves
deficiências em todas as dimensões fatoriais. O maior problema está na dimensão fatorial
capacidade empresarial, pois existe limitação quanto ao tamanho do negócio, qualificação
de mão-de-obra, receita bruta, ou seja, a capacidade de gestão empresarial e a
produtividade do trabalho são limitantes para a sua sobrevivência no mercado. A segunda e
mais generalizada deficiência ocorre na dimensão fatorial desenvolvimento local (educação
e capacidade organizacional), considerado o ponto de maior apoio ao desenvolvimento
coletivo das aglomerações de micro e pequenas empresas, uma vez que se referem à
formação de capital humano e construção de capital social.
110
Em termos de política, os resultados do ISDC permitem orientar a criação de
estratégias sustentáveis para o aumento no grau de desempenho competitivo tanto para
grupos de empresas quanto para cada empresa, uma vez que os pontos fracos e os pontos
fortes foram revelados. Portanto, os instrumentos de políticas regulatórias e de incentivos
fiscais e/ou de recursos constitucionais, podem ser diferenciados na aplicação, exigindo-se
como contrapartida a correção de rumos com relação às deficiências nos fatores analisados.
Adicionalmente, os resultados mostram direcionamentos para a operação
institucional de forma individual e/ou em articulação com as empresas e representações
organizacionais para apoiar a transformação desta aglomeração empresarial em arranjo
produtivo local, considerando a integração hierárquica entre os elos de produção e
processamento industrial das cadeias produtivas de madeira e móveis.
A deficiência tecnológica no processo produtivo é flagrante tanto no elo de extração
florestal quanto no processamento industrial. Os planos de manejo não consideram a
dinâmica potencial dos recursos naturais das áreas de florestas em sua plenitude – produtos
madeireiros e não-madeireiros, capacidade de seqüestrar carbono, pois apenas algumas
espécies são aproveitadas por falta de conhecimento e os recursos não-madeireiros são
completamente ignorados. Mesmo na extração seletiva da madeira, o desperdício é grande,
pois os resíduos da madeira não são aproveitados. No segmento industrial, em função do
baixo padrão tecnológico, aproveitam-se no máximo 60% de cada tora de madeira, sendo
que a grande maioria aproveita apenas 33%. Este grau de aproveitamento é similar ao dos
produtos não-madeireiros, pois pelo menos 60% das sementes coletadas são desperdiçadas
por falta de tecnologia e conhecimento (máquinas, equipamentos, beneficiamento e
armazenamento). Portanto, a estruturação da cadeia produtiva de madeira e móveis
necessita de investimento em conhecimento, informação, tecnologia e inovação para
superar o gargalo da competitividade ancorada em fatores básicos.
Outro desafio a ser enfrentado diz respeito à superação da baixa qualificação da
mão-de-obra e dos empresários em design, utilização de máquinas modernas, entendimento
sobre as técnicas de manejo e gestão ambiental, conhecimento e controle de fluxo de caixa,
legislação ambiental e do comércio exterior, marketing de produtos. Nota-se que um
porcentual significativo dos funcionários das empresas entrevistadas é composto por
analfabetos informais, pois ainda não concluíram o primeiro grau e menos de 2% tem curso
superior.
111
Adicionalmente, as empresas madeireiras e não-madeireiras apresentam um
insignificante nível de organização social. A quase totalidade das ações realizadas na
produção, venda de produto e aquisição de insumos, investimento em treinamento de mãode-obra, aquisição de tecnologia e conhecimento, é feita de forma individualizada, assim
como as relações entre as organizações sociais e as instituições governamentais não
demonstram seus efeitos na percepção dos entrevistados. Portanto, alcançar o patamar das
ações coletivas, fruto da formação do capital social é uma tarefa longa que se tem a
percorrer e sem ela não se forma a base para o desenvolvimento local e sustentável.
A integração e dinâmica das cadeias produtivas dependem fortemente da superação
do déficit tecnológico, do gargalo da educação e da organização social. A tecnologia pode ser
superada com maior facilidade, porém a formação de capital humano e capital social
necessitam de investimento contínuo por longo período de tempo. Mas é uma tarefa a ser
enfrentada, pois representa a condição de suficiência para a dinâmica do processo de
desenvolvimento local e sustentável.
112
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115
APÊDICE 1 – RELATO DAS ENTREVISTAS SOBRE A INSTITUCIONALIDADE
Box 1. Depoimentos sobre a atuação institucional no setor madeireiro da região de estudo.
MUNICÍPIO DE ITAITUBA
As empresas madeireiras estão enfrentando grande dificuldade devido às ações do Instituto
Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis e Meio Ambiente - IBAMA na região. Eles citam que o
órgão tem agido no sentido de reprimir a atividade. Conforme relato de um dos madeireiros, “o
IBAMA devia andar ao lado dos madeireiros e não atrás deles”. Um funcionário do IBAMA
apresentou-se insatisfeito com as ações do órgão na região, pois, na sua visão o IBAMA deveria
atuar fortemente na educação e orientação das boas práticas do manejo e da utilização racional dos
recursos florestais e não focar suas ações na fiscalização repressora, coagindo empresários e
instalando um clima de revolta.
Essa mesma questão foi apontada pela Secretaria de Mineração e Meio Ambiente de
Itaituba – SEMMA de Itaituba, que se perguntou por que o governo ao invés de coibir de forma
repressiva a atividade madeireira na região, não incentiva, instrui e capacita o empresariado local?
Esta situação fez com que os empresários ficassem receosos em prestar informações para
esta pesquisa, temendo mais problemas. Mesmo justificando que a pesquisa pode ajudar a
compreender a situação e contribuir para reorientar a política florestal para a região, bem como
mostrar a importância reconhecida do setor para a geração de emprego, renda e divisas para o
Estado do Pará, no momento do início da conversa, houve muita dificuldade em obter informações
quantitativas, sobretudo no que se refere a preço e faturamento. Houve, inclusive, um gerente de
uma madeireira, SMH exportadora, que indignado com a situação mandou a Universidade Federal
Rural da Amazônia - UFRA conversar com o governo para ajudá-los e não “ficar gastando o tempo
deles dando informações para uma pesquisa que não leva a nada”.
Muitos madeireiros têm argumentado sobre a demora na liberação de projetos de manejo
fora das Florestas Nacionais - FLONAS. Acreditam que após o processo de licitação nada mais será
aprovado fora delas.
A visão dos madeireiros é de que a Secretaria de Meio Ambiente – SEMA e o IBAMA não
estão preparados para ser o executor de lei. Por isso a morosidade de aprovação dos planos de
manejo. Em média, duram três anos para a SEMA/IBAMA emitir um parecer. Isso pode ocorrer, pois,
segundo a SEMMA, as leis ambientais são recentes, e muitas vezes entram em choque.
A empresa Gerlach, por exemplo, esperou três anos para a aprovação de um projeto de
manejo de 480 hectares, o qual foi liberado em dezembro de 2007. Em função do período das
chuvas, a empresa esperou até julho de 2008 para começar a extração da madeira. Em setembro, o
IBAMA identificou, que no entorno do plano, estava havendo extração ilegal de madeira. Em função
disso, o projeto foi embargado. A empresa atribuiu o crime ambiental aos assentados do Plano de
Desenvolvimento Sustentável – PDS de Divinópolis. Anteriormente, a empresa já havia feito um
boletim de ocorrência, avisando sobre a invasão. Entretanto, o Instituto Nacional de Colonização e
reforma Agrária - INCRA deu posse, mas não legalizou os assentados. Em decorrência disso, o nível
de confiança da empresa para com a instituição caiu a zero e, com isto sua visão de futuro tornou-se
incerta. Como a madeira em tora deve ser oriunda dos planos de manejo, o embargo os tirou da
atividade, por isso avisaram aos empregados das demissões. Ficaram 1.000 m3 de madeira em tora
no chão no plano de manejo e a infra-estrutura montada para os empregados.
Outra questão pontuada foi a dificuldade de alinhar a lei à realidade amazônica, fato citado
tanto pelos órgãos vinculados ao setor quanto pelos madeireiros, ou seja, as leis são construídas em
Brasília sem o conhecimento devido da realidade. “É difícil fazer uma lei se você não tem
conhecimento da realidade”. Isso pode ser percebido, pois, segundo a SEMMA foi uma empresa
116
contratada de Brasília quem fez o inventário e o plano para as concessões florestais.
Ainda, sublinhou-se a falta de participação dos grupos de interesse para o Zoneamento
Econômico-Ecológico - ZEE da região, que está em fase final, próximo de virar lei e poucas pessoas
que serão afetadas pelo ZEE, participaram efetivamente do delineamento da proposta.
Segundo um madeireiro, “quando as questões ambientais começaram a ser discutidas na
região em 2001, ninguém acreditava que ia chegar ao impasse que está hoje”. Ou seja, pouca gente
participou das audiências públicas para encaminhar a lei para Brasília. Agora com as FLONAS “não
vai ser do jeito que o governo está pensando, pois deve ser de acordo com os critérios impostos
pelas multinacionais”.
Com as atuais discussões de manejo de impacto reduzido, somente aqueles que atentaram
para essa perspectiva terão maiores chances de concorrer. O fato é que muitos projetistas têm
esquecido este detalhe, o que acaba por prejudicar o empresário que contrata o serviço destes
profissionais. O madeireiro não tem interesse em produtos não-madeireiros e aproveitamento do
resíduo de madeira que fica na floresta (galhos e árvores sem valor comercial), assim como o
resíduo que sobra do desdobramento da madeira em tora, devendo isso ser destinado às
comunidades do entorno da FLONA. Das madeireiras entrevistadas em Itaituba, somente a
madeireira Tiberwizi se preocupou em desenvolver projetos de marchetaria, tijolos ecológicos, tacos
de assoalho e compostagem com serragem em parceria com a SEMMA para as comunidades. Outra
questão levantada foi o interesse em identificar novos mercados compradores (como a China) para
madeira tipo short (madeira curta plainada nos dois lados), como forma de diminuir as perdas.
Neste ponto, nota-se que não há integração e informação entre as serrarias e as movelarias, pois
estas têm dificuldade de acessar matéria-prima, exatamente madeira curta.
Em relação ao conjunto de glebas Mamuru-Arapiuns, foi informado pelo IBAMA que no ano
de 2006, uma cooperativa de plantadores de soja de Mato Grosso, invadiu a área dividindo-a em
lotes de 2.500 ha. Em decorrência, os madeireiros de Itaituba, que tinham esse conjunto de glebas
como uma reserva para o futuro, entraram em conflito com os produtores. O IBAMA agiu no sentido
de apreender os tratores e retirar a cooperativa da área. Atualmente, a área está congelada, mas há
informações de que na Gleba de Nova Olinda II está havendo extração ilegal de madeira que é
escoada por Parintins através de balsas. Outra apreensão feita pelo IBAMA foi na empresa CAM
Braga, por uma exploração na PARNA Amazônia, um pouco abaixo da Gleba Mamuru. Entretanto,
apesar dessas situações, o IBAMA avalia que a exploração de madeira no conjunto de glebas ainda
não é grande. Ela acontece mais no entorno, ou seja, no Parque Nacional da Amazônia.
Na visão do sindicato dos trabalhadores rurais de Itaituba, houve casos em que quando o
trabalhador denunciava que o madeireiro estava extraindo madeira do parque, o IBAMA dava a
informação precisa ao madeireiro de quem era o denunciante. Essa informação foi corroborada
mais tarde pelo Instituto de Pesquisas na Amazônia - IPAM, ao informar que, no município de
Trairão, o presidente do sindicato protocolou uma denúncia no IBAMA sobre a exploração
madeireira na FLONA e, assim que chegou ao município alguém (do IBAMA) já tinha repassado a
informação para os madeireiros. Na avaliação da presidente do sindicato, atualmente este tipo de
comportamento não acontece mais em função de uma sindicância aberta no IBAMA para apurar o
fato. Outra questão importante diz respeito ao uso indevido de nomes de agricultores nas
aprovações dos planos de manejo. “Alguns madeireiros iam à comunidade, pegavam o número de
documento e assinatura do agricultor, usando como justificativa algum benefício”. Como os
agricultores, em sua maioria apenas assinam o nome, mas não sabem ler, o golpe ficava fácil.
Quando os agricultores percebiam, aparecia um documento dizendo que o agricultor tinha vendido
todas as suas árvores. Isso ocorreu na comunidade Jagarão, município de Aveiro, no ano de 2004.
Apesar destes conflitos, na maior parte dos casos, os agricultores têm uma relação
contratual “amigável” com o madeireiro. Apesar da sensibilização do sindicato no sentido de não
incentivá-los a comercializar madeira de forma clandestina, como a infraestrutura nas comunidades
117
é precária e os madeireiros se comprometem a melhorá-la, o que favorece a relação. Ademais, a
visão do produtor é que “ele é o dono da terra e, como tal, pode fazer o que quer com ela”. Assim,
se consolida o contrato de trocas de toras por pontes e estradas vicinais e, ao final fica o “nós
agradecemos ao madeireiro”. Na prática, se o Estado não conseguir suprir essa carência, o setor
privado vai utilizar isso como instrumento de troca.
Outra questão apresentada, na forma de denúncia, foi que existem vários PDS fantasmas,
criados por um acordo entre os madeireiros e a superintendência do INCRA em Santarém, no ano de
2007, o que culminou com a saída do superintendente Pedro Aquino Santana. A denúncia partiu do
ministério público e agora a Federação dos Trabalhadores na Agricultura - FETAGRI, o Fórum da BR163 e o IPAM fiscalizam esses PDS.
O IPAM destacou que as ações do IBAMA continuam muito aquém do esperado. Para o
instituto, os planos de manejo não são de impacto reduzido (modelo sustentável de exploração
florestal), o reflorestamento é pouquíssimo (só ocorre em propriedades de pequenos agricultores
de projetos alternativos) e há uma invasão significativa das Unidades de Conservação - UD. Para o
instituto, 60% da matéria-prima são dessas unidades. Igual porcentual foi atribuído pelo IBAMA.
MUNICÍPIO DE JURUTI
O Sindicato de Trabalhadores Rurais de Juruti – STTR, juntamente com a Associação de
Mulheres Trabalhadoras do Baixo Amazonas – AMT-BAM, mostram-se apreensivo porque o recurso
mais óbvio de que dispõem seus associados não se encontra legalmente “disponível” e corre-se o
risco de que grandes áreas de terra sejam apropriadas por outros agentes econômicos, alheios à
realidade local, visto que não se conta com uma institucionalidade forte capaz de somar esforços e
reivindicar a realização de avaliações que resultem em um zoneamento mínimo indicativo de quais
áreas poderiam ser legalizadas visando seu melhor uso socioeconômico.
Certamente, um trabalho dessa natureza viria favorecer o reassentamento de pessoas em
ambientes melhores em termos de aptidão edafoclimática e de acesso a vias de transporte,
mercado, eletrificação rural e água para irrigação, dentre outros aspectos, e ajudaria na alocação
prioritária e polarizadora dos serviços públicos melhorando a saúde, alargando as oportunidades de
educação, reduzindo a barreira digital e concorrendo para que a população pobre do meio rural
vencesse alguns obstáculos tradicionais ao desenvolvimento.
Assim é que pensam os representantes do escritório municipal da EMATER e da Diretoria do
Departamento de Controle Ambiental da SEMMA. Para eles há a necessidade de uma nova
concertação no ambiente organizacional que propicie a emergência de uma institucionalidade
engajada com as questões de ordenamento do desenvolvimento municipal a fim de se aproveitar ao
máximo as externalidades positivas decorrentes do Projeto Juruti e, ao mesmo tempo, minimizar
àquelas negativas, sobretudo as que decorrem do aumento populacional. Isso corrigiria o déficit de
iniciativas locais, o surgimento de conflitos graves e com problemas de reconciliação entre
comunitários e a população migrante e, começaria a criar condições para forjar um sentimento de
bem comum que ajuda no processo de desenvolvimento e de domínio no espaço municipal. O fato
emblemático na contramão dessa questão foi a retenção, pela população de Juruti Velho, das balsas
que transportavam a madeira da área de manejo de uma empresa licenciada pela SEMA, mas que os
comunitários não reconheciam, posto que, são da área e não têm permissão para fazer a
exploração.
A institucionalidade vigente tem dificuldade para estabelecer uma forma de parceria de
gestão que reparta atribuições e aproveite as oportunidades conjunturais, mesmo reconhecendo os
projetos decorrentes da Agenda Positiva firmada entre a Prefeitura Municipal e a Alcoa.
Empresários e produtores rurais não entendem porque a madeira retirada pela Alcoa apodrece nas
áreas dos chamados “bota fora”, mas não é liberada para ser utilizada pela população local.
Moradores da gleba curumucuri permanecem ansiosos pelas ações de regularização fundiária sem
118
as quais não poderão ter acesso aos financiamentos especiais. E assim, a polarização entre
problema e oportunidade só faz crescer a necessidade de se construir um projeto de sociedade, mas
que requer uma nova institucionalidade.
Por isso, para viabilizar esse novo ambiente institucional, é necessário criar instrumentos de
concertação capazes de reduzir o “vazio social”, apagar as experiências negativas e evitar que
grupos de pressão ligados a interesses econômicos ou institucionais se imponham e dificultem a
expressão do interesse coletivo. É preciso criar um ambiente amigável que respeite a vida diária da
população tradicional e promova sua inclusão em redes sociais mais amplas possibilitando-lhe a
inserção no mercado.
119
APÊDICE 2 – CICLO DE EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE PAU-ROSA
Box 2. Extrativismo do óleo essencial de pau-rosa na Amazônia (texto elaborado especialmente
para este relatório por Alfredo Kingo Oyama Homma, pesquisador da Embrapa)
A produção do óleo essencial de pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke) apesar de estar baseado na
extração de um recurso natural renovável, a natureza de sua extração, com o corte da planta-matriz, tem
conduzido a uma atividade não-sustentável. Isso acontece, também, em razão do descompasso entre a taxa
de extração e a taxa natural de regeneração. Os primórdios da utilização do óleo essencial de pau-rosa até a
década de 1960 foram para a indústria de sabonetes e de perfumaria, como fixadora de perfumes. As
Perfumarias Phebo Ltda., fundada em 1932, em Belém, Pará, que fabricava o conhecido sabonete Phebo e
cerca de duzentos tipos de perfumes tinha como componente básico a utilização do óleo essencial de paurosa. A escassez do produto fez com que seu uso ficasse restrito para a perfumaria fina, por exemplo, como
componente do Chanel nº 5, criado na década de 1920, pela estilista Gabrielle Chanel.
No início da extração do óleo essencial de pau-rosa na Amazônia, esta concentrou-se na fronteira
com os Estados do Amazonas e Pará, estendendo-se para as regiões de Itacoatiara e Maués. Até a década de
1970 a extração de pau-rosa expandiu-se para as regiões de Parintins, Santarém e nos rios Tapajós, Madeira,
Aripuanã, Negro e Solimões, chegando até Iquitos, no Peru (GUENTHER, 1972).
Uma idéia do esgotamento pode ser estimada, considerando que, de 1937 a 2002, foram exportadas
quase 13 mil toneladas de óleo essencial de pau-rosa. Sabe-se que 18 a 20t de madeira são necessárias para
produzir um tambor de óleo (180kg) e que uma árvore de porte adequado pesa, em média, 1,75t. O diâmetro
a altura do peito (DAP) das árvores extraídas variava de 30 a 60 cm. As estimativas de rendimento variam de
0,7% a 1,1% de óleo essencial do peso da madeira em tora de pau-rosa. Isso indica que é necessário uma
tonelada de tora para produzir 10 kg de óleo essencial de pau-rosa. Estimando a distribuição média de uma
árvore para cada cinco hectares e que, no mínimo, 825 mil árvores foram abatidas, pode-se concluir que mais
de 4 milhões de hectares de matas foram explorados. Mitja e Lescure (1996) em levantamento realizado no
município de Presidente Figueiredo, Estado do Amazonas, estimaram em 4kg de essência de linalol por
hectare de floresta.
Segundo Benchimol (1988), a redução na intensidade de extração com o aparecimento do substituto
sintético tem permitido a regeneração parcial da espécie, aproximando-se da taxa de manejo florestal.
Enquanto nas décadas de 1940 e 1950, abatiam-se, em média, 20.000 árvores/ano, na década de 1980 caia
para 6.000 árvores/ano. Para Carvalho (1983), conforme levantamento realizado na Floresta Nacional do
Tapajós, em área de grande ocorrência de árvores de pau-rosa, até o fim dos anos 1960, a regeneração tinha
proporcionado árvores com até 20 m de altura e um diâmetro máximo de 15 cm, com uma densidade de 3,87
árvores/5 ha. Esta é uma indicação de que os extratores de pau-rosa estão abatendo árvores de pequeno
porte nas antigas áreas de extração. Quando a extração do óleo essencial de pau-rosa foi iniciada na Amazônia
brasileira, em 1926, a Guiana Francesa ainda dominava o mercado mundial do produto. Dada a extração
indiscriminada, naquela colônia francesa, em 1932, apenas três destilarias estavam em operação e a extração
era reduzida, o que levou à sua extinção e à expansão da produção amazônica. Naquela colônia francesa, a
extração de pau-rosa iniciou-se antes da I Guerra Mundial, quando grandes quantidades de toras eram
embarcadas para destilação na Alemanha, França e Inglaterra. Com a escassez de transporte marítimo por
ocasião da I Guerra Mundial, partiu-se para a destilação no próprio local de extração. Dessa forma, 50
destilarias do interior chegaram a exportar, por ano, mais de 86 toneladas de óleo essencial de pau-rosa.
Nos Estados do Amazonas e Pará, nas décadas de 1930 e 1940, mais de 40 usinas foram implantadas
para processamento desse óleo essencial. Na década de 1950, havia cerca de 50 destilarias, a maioria no
Estado do Amazonas, variando a produção de 100 t até 600 t anuais, dependendo da flutuação dos preços
mundiais (KISSIN, 1952).
Em 1969, conforme levantamento realizado pela antiga Superintendência do Desenvolvimento da
Amazônia - Sudam, havia 53 usinas de destilação em funcionamento, sendo três no Pará e 50 no Amazonas
(Terezo et al, 1971). Em decorrência do esgotamento das áreas mais acessíveis e das baixas cotações do
produto, com a expansão do produto sintético, em 1971, esse total reduziu-se para 24 usinas, sendo nove no
Pará e 15 no Amazonas. Em 1980, segundo dados do Censo Industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - FIBGE, esse número caiu para quatro estabelecimentos apenas no Estado do Amazonas. Em 1988,
seis usinas de destilação encontravam-se em funcionamento (BENCHIMOL, 1988).
O ciclo de extração, exportação e de preço do óleo essencial de pau-rosa
Analisaram-se sete períodos distintos, relacionando a extração, exportação e preços. As
120
transformações e as medidas políticas ocorridas foram levadas em consideração para possibilitar o
entendimento dos fenômenos. Dessa forma, os esforços com vistas a domesticação do pau-rosa e a expansão
dos substitutos sintéticos constituem argumentos importantes na explicação do processo extrativo de paurosa.
Os dados utilizados na análise estão nas Tabelas 1 e 2. Os dados sobre extração, a partir de 1975,
deixaram de ser coletados pelo IBGE. O estudo a partir daquele ano baseia-se nos dados de exportação.
A década de 1920
A extração de óleo essencial de pau-rosa para fins industriais na Amazônia começou em 1926 com o
esgotamento das reservas na Guiana Francesa, com a instalação da primeira usina em Juruti Velho, na
localidade de Taparapú, Pará. No primeiro ano de funcionamento exportou quase 16 t de óleo essencial de
pau-rosa. O beneficiamento de pau-rosa foi a primeira agroindústria flora-química que foi implantada no
Amazônia (BENCHIMOL, 1988).
O ambiente econômico era marcado pela escassez de alternativas econômicas que se seguiu à queda
da economia da borracha. A domesticação da seringueira no sudeste asiático, que passou a dominar o
mercado mundial da borracha, sugeria que plantios racionais do pau-rosa poderia alcançar sucesso
semelhante. A despeito disso, a existência de estoques naturais funcionava como uma barreira para qualquer
esforço nesse sentido e a extração indiscriminada de pau-rosa levou a ocupar a terceira posição na pauta de
exportações da Região Norte. Sua extração, às vezes, alcançava níveis superiores aos que o mercado podia
absorver. Em 1927, de 200 t extraídas, 80 t ficaram estocadas.
A grande competição entre extratores levava à queda dos preços e à descontinuidade da produção
nos dois anos seguintes, 1928 e 1929 (Guenther, 1972). Essas circunstâncias justificavam a adoção de medidas
protecionistas. A preocupação com o esgotamento levou os extratores do Estado do Amazonas a tomar
medidas no sentido de organizar e proteger essa indústria nascente. Supostamente, o potencial existente era
grande para a época, apesar do desconhecimento de sua dimensão exata
A década de 1930
Em 9 de abril de 1932, o Governo do Estado do Amazonas promulgou o Decreto 1.455, que estipulava
a quantidade de óleo a ser produzida anualmente e a obrigatoriedade do replantio pelas destilarias, por
árvore de pau-rosa abatida. Praticamente, todos os extratores subscreveram esta obrigação com prazo de
validade de cinco anos e com a intenção de renovar por outros cinco anos.
Uma cooperativa foi criada em 1932, no Estado do Amazonas, após superadas as dificuldades iniciais,
resultando no Consórcio dos Extratores de Essências Vegetais. Em 1935, idêntica medida foi adotada pelo
Estado do Pará. Essa organização passou a ocupar, com o tempo, destacada influência, se não monopolista,
nos Estados do Amazonas e Pará. Atuando em estrita cooperação com o Governo, o Consórcio estabelecia,
para cada ano, a quantidade máxima a ser exportada e a correspondente quantidade a ser extraída e
estabelecia as cotas para cada membro.
Essa forma de controle de extração identificava a proteção para os membros do Consórcio que
exploravam um recurso de propriedade comum transformando-se em propriedade privada. O Consórcio
atuava também como estabilizador de produção e de qualidade, promovia vendas e incentivava as
exportações. Era uma organização de nove membros no Estado do Amazonas e seis no Pará (Kissin, 1952).
Como resultado da obrigatoriedade do replantio, cerca de 28 mil árvores chegaram a ser plantadas, no
período 1933 a 1943, utilizando-se mudas obtidas por regeneração natural. Esse Consórcio continuou sua
existência até 1944, quando a emergente demanda de borracha vegetal pelos Estados Unidos e países Aliados
atraiu toda a mão-de-obra disponível à extração do látex, relegando a extração de pau-rosa para o segundo
plano (TEREZO et al, 1971).
A década de 1940
No período que antecedeu a II Guerra Mundial, o Governo estabeleceu uma série de medidas, como
a de limitar a extração em torno de 100 t anuais de óleo de pau-rosa e fixar as exportações em,
aproximadamente, 80 t, com o objetivo de manter a demanda e o preço em alta.
A despeito dessas recomendações, a extração média anual da década de 1940 foi de 256.600 kg e
uma exportação média anual de 188 mil quilos. Os preços médios de exportação apresentaram-se irregulares,
bem como as quantidades extraídas e as exportações.
O comércio sofreu muito na época da II Guerra Mundial, decorrente da paralisação dos negócios com
121
a Europa, causando irregularidades nas quantidades extraídas e exportadas, a despeito da valorização da
essência de pau-rosa. A entrada do Japão na Guerra, em 1941, provocou a paralisação da extração de linalol
de árvores de “ho-oil” (Cinnamomum camphora Sieb. var. linaloolifera Fujita), um sucedâneo extraído das
florestas em Taiwan, desde 1920, provocando grandes conflitos com as populações rurais (Guenther, 1972).
Esta árvore é encontrada, também, no Japão e na China. Com isto, o preço alcançou, em pouco tempo, para a
moeda da época, CR$ 100,00 o quilograma e chegou para CR$ 200,00, assegurando lucros extraordinários
para os extratores arregimentados nos Consórcios do Pará e Amazonas.
Surgindo protestos e pedidos de todos os lados, o Governo Federal retirou daquelas duas
organizações o direito de arbítrio exclusivo na extração e produção de essência de pau-rosa. Aos interventores
dos Estados do Amazonas e Pará cabiam autorizar ou negar a instalação de novas usinas e fixar a cota de
exportação de cada produtor (BASTOS, 1943).
Por causa das condições caóticas advindas da II Guerra Mundial, no Estado do Amazonas, os
extratores reuniram-se numa organização denominada Conferência dos Produtores de Óleo de Pau-Rosa, que
foi amparada por legislação estadual (Lei 152, de 27/12/1947) e reconhecida como órgão de consulta do
Governo Estadual. A Conferência tinha como órgão executivo uma comissão permanente e atuava, sobretudo,
fixando, semestralmente, o preço mínimo para o produto, com o intuito de firmar a situação dos exportadores
em face dos compradores e representando os interesses comuns da indústria em relação ao poder público
federal e estadual. A Lei que amparou os produtores de pau-rosa reconheceu a necessidade de seu plantio,
prescrevendo certas medidas para prevenir contra gradual extinção das árvores de pau-rosa. Dessa forma, o
Governo, em colaboração com a Conferência, estabeleceu que uma árvore deveria ser plantada para cada 20
kg de óleo vendido. O replantio seria feito sob a supervisão de uma entidade governamental, verificando-se o
exato cumprimento da Lei (KISSIN, 1952; TEREZO et al, 1971).
Em 1947 foram extraídas 193 t de óleo de pau-rosa e as exportações absorveram parte do estoque do
ano anterior, destinando-se metade para a Europa e metade para os Estados Unidos. Contudo, em 1948, o
comércio sofreu, novamente, ficando, praticamente, paralisado, por causa da restrição extrema das compras
inglesas, provocada pela escassez de divisas naquele país, e pela suspensão quase completa dos negócios com
os Estados Unidos, em conseqüência da retração desse mercado na ocasião (KISSIN, 1952).
A década de 1950
As quantidades extraídas e exportadas de óleo essencial de pau-rosa atingiram o máximo durante a
década de 1950, com média anual de 408.200 kg, e as quantidades exportadas, com média anual de 297 t. Em
1955, o ciclo da extração atingiu o seu máximo, com 599 t, e, em 1951, registrou-se o maior volume
exportado, 444 t.
As cotações apresentavam tendência crescente até 1954, para então, decrescer até o final da década.
Em 1951, a produção foi muito estimulada pela aplicação do regime de compensação de câmbio ao comércio
de óleo de pau-rosa. Neste ano, a maior parte do óleo exportado pelo Estado do Amazonas foi vendido ao
preço mínimo de US$ 1.388/tambor FOB. Isso permitiu lucros satisfatórios nas vendas feitas com câmbio
vinculado. Em 1951, os embarques nos Estados do Amazonas e Pará alcançaram quantidade recorde, sendo
interessante notar que mais de 100 t foram vendidas para a Inglaterra.
Até a década de 1950, a extração de pau-rosa foi crescente, assemelhando-se à da atual fase de
extração madeireira, na incorporação de novas áreas de extração. Provavelmente, as reservas mais acessíveis
e produtivas foram extraídas. Os insucessos nas tentativas de domesticação, dos incipientes resultados das
pesquisas efetuadas nas décadas de 1930 e 1940, e as incertezas no surgimento do substituto sintético, foram
as razões da manutenção do processo extrativo.
A década de 1960
Durante a década de 1960, a quantidade anual média extraída foi de 259.600 kg e as exportações
anuais médias de 196.926 kg, semelhantes às da década de 1940. O setor começava a evidenciar sinais de
esgotamento dos estoques de matérias-primas mais acessíveis, decorrente da intensidade da extração. As
cotações para o período foram relativamente baixas, uma vez que a escassez do produto natural não levou a
uma tendência crescente dos preços, cujo vácuo foi ocupado pelo similar sintético.
A manifestação do esgotamento, que se evidenciava pela alta taxa de abate de árvores, que
consumia 20.000 árvores/ano, ensejou o início do desenvolvimento de pesquisas com vistas à domesticação
do pau-rosa e na descoberta de outros sucedâneos naturais que contenham linalol.
Deve-se destacar as pesquisas realizadas durante a década de sessenta pelo Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia - INPA conseguindo desenvolver, com sucesso, métodos de propagação do pau-rosa,
122
tanto por semente como, vegetativamente, por estacas, bem como o aproveitamento integral de outras
partes do pau-rosa, além do tronco, para a extração da essência. Contudo, ressalte-se a vulnerabilidade da
planta a pragas e doenças em plantios artificiais. Desse modo, as pesquisas têm-se empenhado em efetuar
triagens de plantas de crescimento rápido e resistência a pragas e doenças e que contenham alto teor de
linalol (VIEIRA NETO, 1972; ARAÚJO, 1967 e 1971).
A década de 1970
O processo de domesticação prosseguiu na década de 1970, através dos esforços da antiga Sudam
que vinha atuando na região de Santarém (PA), onde se faziam experimentos de povoamentos homogêneos
em solos anteriormente explorados com pau-rosa. Ainda no Pará, o Museu Paraense Emílio Goeldi
desenvolvia pesquisa para encontrar sucedâneos naturais para o pau-rosa e outras essências. Um exemplo
desse substituto natural, que foi pesquisado durante a década de 1970 foi o Croton cajuçara Benth.,
conhecido vulgarmente por “sacaca”, sem sucesso prático. É árvore de porte pequeno, que contém linalol em
menor proporção que o pau-rosa; seu ciclo vegetativo permite que com cinco anos já tenha condições de
aproveitamento industrial (Saueressing, 1987; Pedroso, 1984). Alguns colonos nipo-brasileiros de Tomé-Açu
chegaram a efetuar plantios experimentais de pau-rosa na década de 1970, cujas árvores existentes
testemunham as oportunidades perdidas.
É interessante mencionar que existem dezenas de plantas vulgares que produzem linalol (bergamota,
limão, jasmim, etc.). O grande problema da extração a partir dessas plantas para a utilização na perfumaria
fina refere-se a transferência de odores de frutas, teor de gordura, as vezes serem irritantes para as vias
respiratórias e a pele e não terem o “bouquet” indispensável. Nesse aspecto, o óleo essencial de pau-rosa é
ímpar nesse sentido.
No campo de substitutos sintéticos, o êxito da síntese química nos laboratórios americanos, no final
da década de 1950, permitiu a produção dos seus componentes básicos do linalol e do acetato de linalila
(Gottlieb, 1957). Essa produção industrial, que passou a oferecer ao mercado mundial o substituto do óleo de
pau-rosa a preços bastante reduzidos, trouxe profundas modificações na década de setenta na extração do
produto natural. Como o linalol e o acetato de linalila são sintetizados a partir de subprodutos petroquímicos,
o impacto da quadruplicação dos preços do petróleo, nos fins de 1973, gerou a paralisação das unidades
produtoras, daí ocorrendo uma brusca demanda mundial do produto natural, que causou elevação
especulativa do preço do óleo essencial de pau-rosa, em princípios de 1974, para US$ 5.148,00/tambor.
Em 1974, como conseqüência das altas cotações do produto, houve grandes esforços de extração
sobre os estoques remanescentes. Contudo, as cotações, já no segundo trimestre de 1974, registravam queda
para US$ 2.775,00/tambor e, meses depois, para menos de US$ 1.189,00/tambor, com a reativação das
unidades de produção sintética nos Estados Unidos e na Alemanha Ocidental, que passaram a oferecer linalol
a preços massificados de US$ 595,00 a US$ 714,00/tambor (BENCHIMOL, 1977).
A introdução da motosserra na Amazônia, a partir de 1971, e a abertura de estradas permitiram o
acesso a novas áreas até então inacessíveis e a elevação da produtividade da mão-de-obra. Em termos reais, o
preço atingido em 1974 foi o maior desde a década de 1950. Essa euforia especulativa gerou, em função da
elasticidade-preço da oferta, uma produção de mais de 500 t de óleo de essência de pau-rosa, equivalente a
quase 3.000 tambores, que não puderam ser escoados por falta de mercado.
Já no ano seguinte, o setor experimentava súbita queda de 46,23% nas cotações, que recaiu também
sobre todos os óleos essenciais no mundo. Com isto, desencadeou-se a pior crise no comércio de óleo
essencial de pau-rosa, piorada pela acumulação de um estoque de 2.500 tambores, que foram exaurindo,
financeiramente, os exportadores-beneficiadores, que foram tragados pela alta dos juros e pela correção
monetária do penhor mercantil. As pressões do setor terminaram por sensibilizar o Banco do Brasil, que
resolveu acudir o setor em julho de 1976, com empréstimos a juro zero e opção de compra após decorridos
doze meses (Benchimol, 1977). Desse modo, essa queda na demanda desestabilizou o setor de extração de
pau-rosa, cuja recuperação tornou-se praticamente difícil, pois o óleo essencial de pau-rosa, em virtude dos
altos custos de sua extração, da expansão do substituto sintético e do esgotamento de suas reservas
conhecidas, ficou restrito ao uso por parte da perfumaria fina, com a perda de todo o mercado saboneteiro.
As importações brasileira de linalol e de acetato de linalila sintéticos são provenientes da Alemanha
Ocidental, Suíça, Estados Unidos, Espanha, França, Japão, Holanda, México e Itália. As importações brasileiras
de linalol mais que sextuplicou e de acetato de linalila mais que triplicou nestes últimos 30 anos. O maior
atrativo está nos seus preços bem inferiores aos do produto natural, além de estáveis e livres de variação da
extração características dos produtos naturais. A exceção ocorreu em 1974 quando houve um aumento
abrupto em relação a 1973, de 88,15% e 85,00%, para linalol e acetato de linalila sintéticos, respectivamente,
123
com crise do petróleo (Tabela 2). A estabilidade nos preços está condizente com a teoria de substituição de
recursos naturais. Essas razões são fatores importantes que permitem seu uso em sabões, detergentes e em
outras aplicações industriais de uso popular.
A demanda mundial, que girava em torno de 1.500 tambores anuais, caiu para menos de 300
tambores. A quantidade média anual exportada, na década de 1970, caiu para 170.111 quilogramas. Assim,
em 1976, os estoques em poder do Banco do Brasil, excedendo 2.000 tambores, atravessaram os cinco anos
de crise estrutural, pois os contratos assinados incluíam cláusula de paralisação da atividade extratora
(BENCHIMOL, 1977).
Após a grande queda nas cotações em 1975, as exportações reduziram-se ao nível mais baixo desde
1943, o que contribuiu para a elevação dos preços. Houve crescimento nas quantidades exportadas no
qüinqüênio 1976/80, notadamente dos estoques acumulados.
O que se verificou, em 1975 e nos anos seguintes, ilustra as proporções da crise de mercado para um
recurso natural em face do esgotamento das reservas mais acessíveis e da retração da demanda, frente à
existência de um substituto sintético, o qual tem, ao contrário, mostrado estabilidade nos preços. Com essa
competição, os preços do óleo de essência de pau-rosa apresentaram tendência irregular, além da perda do
mercado para o substituto sintético, uma vez que não ocorreu o processo de domesticação. Dessa forma, a
partir de 1975, o setor de extração entra numa aguda crise conjuntural com a retração da demanda
simultânea à redução das atividades de extração.
A década de 1980
A quantidade média anual exportada, no período 1980-85, caiu para 103.331 quilogramas,
prevalecendo à tendência decrescente desde a década de 1960. Apesar de as cotações mostrarem-se
relativamente elevadas, os preços reais, com exceção do de 1983, mostraram-se semelhantes aos das décadas
anteriores.
O volume exportado, em 1980, o maior desde 1975, fez com que caísse a cotação do produto e se
reduzissem às exportações nos dois anos seguintes. Essa redução nas exportações contribuiu para o aumento
das cotações e, conseqüentemente, para o aumento nas exportações, no biênio 1983/84, para, novamente,
cair na fase descendente de exportação/cotação. Nos anos seguintes até 1982, esses preços mantiveram-se
irregulares, para voltar, a subir, abruptamente, em 1983, e cair, bruscamente, nos anos seguintes. O súbito
aumento na demanda e no preço do óleo essencial de pau-rosa em 1983 por parte das perfumarias francesas
e americanas, decorreu ao incêndio da fábrica de linalol de Givaudan, na Suíça, com a perda de estoques do
linalol e acetato de linalila existentes. A instabilidade do mercado, decorrente da concorrência do substituto
sintético, constitui uma das causas. Em 1986, apesar de manter a cotação similar à do ano anterior, as
exportações reduziram-se 47,61%.
A exaustão das reservas mais acessíveis exige penetração de 10 km a 20 km das margens dos rios
para o interior da mata, o que, além de penoso, aumenta, consideravelmente, o custo da extração. O corte
das toras de pau-rosa e o seu transporte até ás margens dos rios navegáveis exige extremo sacrifício do
homem-extrator que transporta as “achas” de pau-rosa (1 metro de comprimento) nas costas, ou puxados por
um cipó ou corda. Por isso poucos são os caboclos que se desafiam à extração madeira no interior da selva,
preferem extrair madeira nas várzeas ou próximos delas. Assim, mesmo com preços favoráveis, que atingiram
US$ 4.757,71 a US$ 5.154,18, por tambor, em 1988, o setor de extração não consegue produzir mais que 800
tambores.
Deste modo, a partir da década de 1980, o óleo natural de pau-rosa não é mais usado na industria
saboneteira (que representou o grosso de demanda) e sim apenas na indústria de perfumaria. O óleo natural
de pau-rosa vale hoje mais pela sua fragrância e odor (nota madeira) do que pelo seus 85% de linalol contido,
a despeito do sintético possuir 100% de linalol. Com a escassez do óleo essencial de pau-rosa, não se utiliza o
óleo natural para extrair linalol nele contido como fixador, mas é utilizado pelas suas qualidades de odor e
fragrância. Ocorre também que as grandes empresas de perfumaria que manipulam as fórmulas dos bouquets
(mix de essências) misturam o sintético com o produto natural geralmente na base de 70% sintético e 30%
natural (Benchimol, 1988; 2003). Esse fato caracteriza a complementaridade que o produto natural passou a
ter e a formação de mercado distinto, destinando-se o produto natural exclusivamente à perfumaria fina.
Por outro lado, a diferença de localização entre as áreas de maior intensidade de expansão da
fronteira agrícola, bem como o processo de povoamento com as áreas de ocorrência de pau-rosa, permitiu
que a redução das reservas disponíveis decrescesse mais do que a própria extração.
Apesar da característica aleatória da descoberta de novas reservas de pau-rosa, desde que a
diferença entre o preço e o custo de extração fosse correspondente ao custo da descoberta do recurso, a
124
preferência era para permanecer na extração. Dessa forma, pode-se evidenciar que, com uma súbita melhoria
nas cotações, os extratores remanescentes procuram aproveitar as circunstâncias do mercado, tentando
descobrir novas reservas ou adentrar para áreas mais distante das margens dos rios.
A extração do recurso natural, mesmo quando o preço do produto supera o custo de extração,
dificilmente levará a extinção integral do recurso. O final da extração econômica do recurso antecederá o da
sua extinção, mediante a dificuldade da localização e da rarefação, por serem áreas de difícil acesso, distantes,
e pela perda da economia de escala. O esgotamento total do recurso extrativo, ou de coleta ou aniquilamento,
raramente será observado com a extração econômica.
A década de 1990 e o novo milênio
Durante as décadas de 1980 e 1990 os preços mantiveram tendência crescente, atingindo o máximo
em 1998, com US$ 7.986,00/tambor. O alto preço do óleo de pau-rosa e do seu esgotamento passam a ser
enfatizados em diversos programas governamentais com vistas ao seu plantio racional. Novas técnicas,
visando a extrair o óleo de pau-rosa das folhas e galhos, sem derrubar as árvores passam a ser enfatizados nas
pesquisas conduzidas pelo Inpa e a Universidade Estadual de Campinas - Unicamp (MARTINS, 2003).
A partir da década de 1990, a essência do pau-rosa e a sua presença em perfumes finos passa a ser
questionada quanto ao aspecto ético da forma como é extraída. As grandes empresas de perfumarias
passaram a se especializar em atender à crescente demanda do consumidor natural. Multinacionais francesas
como a Yves Rocher, Biotherm, Clarins e Ushua, a The Body Shop (inglesa) e as americanas Rose Brier e
Mahogany passaram a dedicar a venda de cosméticos com base natural (ESTUDO..., 2003; ROSEWOOD...,
2003). Muitas dessas empresas tiveram o seu sucesso associado com a defesa da proteção ambiental e dos
animais, direitos humanos e parcerias com comunidades carentes e da não utilização de animais nos seus
testes de laboratório e de buscar uma qualidade natural e terapêutica dos cosméticos, recorrendo-se a
insumos naturais renováveis e conservando-se os recursos naturais. O sentido do mercado global é associado
para os produtos até então com mercados exclusivamente locais. Na onda ecológica cresceu também o
mercado de plantas medicinais e aromáticas, onde no Mercado do Ver-o-Peso, em Belém, Pará, ganhou força
entre as barracas de cheiro e, à frente delas, as de mandingueiras, constituindo em sucesso de programas de
televisão (BEZERRA, 2003).
O processo de esgotamento dos estoques de pau-rosa fez com que o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama editasse a Portaria 01/98, em 18 de agosto de 1998,
regulamentando a exploração, industrialização e comercialização do pau-rosa, no Estado do Amazonas (Brasil,
1998). Esta Portaria estabeleceu o abate árvores com DAP superior a 20cm e o plantio de 4 árvores por metro
cúbico de matéria-prima em 1998, de 8 árvores a partir de 1999 e, a partir de maio de 2000, as empresas que
industrializam pau-rosa deverão ter implantados plantios equivalentes ao consumo anual. Atualmente,
estima-se que existem cerca de 42 mil mudas de pau-rosa plantadas no Estado do Amazonas. A tendência
crescente do valor do produto exportado foi acompanhado pelo declínio da quantidade extraída (FERREIRA,
2002).
No Brasil a incorporação da proteção ambiental na indústria de cosméticos é perceptível em grandes
empresas e, também das pequenas indústrias comunitárias. Em 1993 quando foi fundada a Associação de
Silves pela Preservação Ambiental -ASPAC, no município de Silves, Estado do Amazonas, antiga região
extratora de óleo de essência de pau-rosa, fizeram com que em 1999 fosse criada a Associação Vida Verde da
Amazônia -AVIVE com o objetivo de elaborar uma proposta de um projeto comunitário para o
desenvolvimento de uma linha de produtos naturais aromatizados com os óleos essenciais regionais. Com a
colaboração de instituições de pesquisa, do Fundo Mundial para a Vida Selvagem e do Governo da Áustria
implantaram uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável - RDS através do Edital 04 do Fundo Nacional do
Meio Ambiente - FNMA, em 2001. Utilizando equipamentos de rappel para a coleta de sementes, folhas,
galhos e cascas de árvores, além de outros equipamentos para a destilação e o preparo de óleos (capacidade
de 20 litros), passaram a plantar espécies nativas aromáticas, ao mesmo tempo que desenvolviam novas
linhas de produtos e de embalagens (BELEZA..., 2003; PAU ..., 2003).
Em 1993, a Amazônia Legal contava com 10 usinas em funcionamento, gerando 1,5 emprego por
cada tambor de essência beneficiado. Apesar do rigor da legislação trabalhista, são poucas as reclamações na
justiça, denotando um desinteresse dos filhos dos antigos extratores no trabalho com o pau-rosa. Uma
tradicional firma de extração, a Francisco Ianuzzi, sediada em Parintins, no inicio da década de 1990, produzia
150 a 200 tambores/ano (IANUZZI, 1993).
Em 2003, a despeito da grande procura de óleo essencial de pau-rosa, existiam apenas sete
destilarias em funcionamento no Estado do Amazonas. A extração é efetuada em terras públicas do Estado do
125
Amazonas, sobretudo na bacia dos rios Jatapu e Nhamundá e, do alto rio Trombetas, no Estado do Pará
(MOTA, 2003). Há melhoria do processo tecnológico, com a utilização de equipamentos de extração
madeireira usados para o transporte de toras, mediante arraste com abertura de estradas, permitindo
distanciar das margens dos rios. A extração de óleo essencial de pau-rosa se enquadra na categoria de
produtos invisíveis, uma vez que não existe a coleta de dados de extração, ocorrendo apenas o controle na
exportação. A discrepância entre os dados de produção/exportação levantados através do MDIC, DOF, SDS e
as estimativas de produtores, chega a mais de 100% (PINAGÉ, Graciema Rangel, informação pessoal, 2009).
A busca de substitutos culmina com o êxito da domesticação da pimenta longa (Piper hispidinervum
C.DC), identificado pelos pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi e da domesticação e dos tratos
culturais efetuados pelos pesquisadores da Embrapa Acre e da Embrapa Amazônia Oriental. Os plantios
comerciais já estão sendo desenvolvidos no Estado do Acre e, no Estado do Pará, foi realizado em caráter
experimental, não atraindo produtores, decorrente da competição com outras alternativas econômicas
(WORKSHOP ..., 2001; MAIA et al, 2002). No período de 27 e 28/06 de 2000, foi realizado em Manaus a I
Reunião Temática sobre Conservação e Utilização de Populações de Pau-rosa, patrocinado pela Embrapa
Amazônia Ocidental e Inpa.
A busca de substituto para o pau-rosa está sendo feito em grande escala na China, na Província de
Xiamen, de grandes plantios de Cinnamomum camphora, com o domínio da cultura de tecidos e da
propagação vegetativa, visando um mercado atual de 30.000 toneladas de linalol. Somente uma empresa de
perfumaria a Xiamen Peony Fragrancy & Chemicals Co. Ltd, pretende expandir seus plantios para 20.000
hectares de Cinnamomum camphora (INDÚSTRIA...., 2003; CINAMMOMUM ..., 2003).
Quanto as quantidades importadas de linalol e acetato de linalila, durante as décadas de 1980 e
1990, tem sido crescentes, com valor máximo de importação em 1998, com US$ 2.954.811, o que mostra o
mercado potencial para o plantio racional de pau-rosa. Os preços de linalol tem mantido constante, com
pequenos acréscimos, não acontecendo o mesmo com o acetato de linalila.
Considerações Finais
A análise dos preços de exportação, no período 1937/2002, mostra uma característica irregular. Para
um produto que vem apresentando o esgotamento das áreas mais acessíveis, seria esperada tendência
crescente nos preços, para haver uma compensação intertemporal, conforme o Princípio de Hotelling. Esses
preços, inclusive, no período 1942/74, têm mostrado tendência decrescente. Os preços começam, realmente,
a mostrar uma tendência crescente somente a partir da segunda metade da década de 1980. Essa tendência
aproxima-se do enunciado por Pindick (1978), de que os preços de recursos naturais tenham a forma de U,
isto é, decrescentes para então subir.
A despeito da tendência decrescente verificada após a década de 1950, considerando o gradativo
esgotamento das reservas acessíveis e a conseqüente desativação das usinas de destilação, houve sensível
esforço de extração em 1974, com o aumento das cotações, a extração de óleo essencial de pau-rosa atingiu a
marca de 500t.
Razões de imperfeição do mercado, do aparecimento do substituto sintético e da expansão de
cultivos de Cinnamomum camphora, especialmente na China, fizeram com que ocupasse o vácuo do
esgotamento da essência de pau-rosa. A dependência da extração de pau-rosa de estoques de árvores
existentes na natureza limita a sua expansão, a geração de renda e emprego para a Amazônia. Melhoria do
mercado pode levar a intensificar o esforço de extração e exploração, obtendo um aumento temporário na
quantidade extraída. Isto indica que os recursos extrativos vegetais não são extraídos até sua exaustão e
termina por levar ao abandono da atividade extrativa, pelo surgimento de outras alternativas econômicas e do
desequilíbrio quanto à capacidade de regeneração da espécie vegetal.
No caso da extração do pau-rosa, a incerteza na demanda do produto parece que sempre esteve
presente. Pode-se conjecturar que essa incerteza manifestava-se pelo receio da perda de mercado com a
entrada de outro produto natural, com a competitividade com os próprios extratores e, posteriormente, com
o aparecimento dos sintéticos. Dessa forma, o desempenho dos extratores de pau-rosa com vistas em
intensificar a extração no presente é coerente com a aversão ao risco quanto à demanda futura (WEINSTEIN e
ZECKHAUSER, 1975).
No final da década de cinqüenta, a tecnologia da síntese química do linalol e do acetato de linalila
trouxe nova incerteza quanto à desvalorização da essência natural, que passa a substituir o produto natural,
levando a grande queda de preços na década de 1970. Esse aspecto confirma o caráter preditivo da tendência
de preço em situação de incerteza na data do aparecimento do substituto (Dasgupta e Stiglitz, 1981).
Acrescenta-se, ainda, o fato de a aversão ao risco dos extratores levar à intensificação da extração do recurso
126
no presente (Heal, 1975). Desse modo, se não tivesse aproveitado por completo a essência de pau-rosa, com o
aparecimento do substituto industrial, a região teria perdido em termos de receitas de exportação acumulada,
no último meio século, cerca de 70 milhões de dólares. A descoberta do substituto sintético do óleo essencial
de pau-rosa teve efeito positivo em evitar a sua destruição em maior escala.
O interesse pelo plantio domesticado em caráter empresarial ficou restrito às experiências realizadas
nas décadas de trinta e quarenta, dado o receio do desaparecimento dessa atividade bastante promissora na
época. Esses plantios foram realizados com a finalidade de cumprir uma legislação, porém não tiveram
resultados animadores. A carência de informações de pesquisa relacionadas com o cultivo da espécie
dificultava as ações tendentes à domesticação do pau-rosa.
A síntese do linalol, antes que se processasse a domesticação, desestimulou, também, as iniciativas
com vistas em efetuar plantios racionais. A precariedade dos conhecimentos tecnológicos para efetivar
grandes plantios homogêneos de pau-rosa e o longo tempo necessário para atingir a idade adulta
aumentavam as dificuldades em relação à matéria-prima.
Nesse sentido, a domesticação e a expansão de plantios de pau-rosa, frente à existência de um
substituto industrial, revelam-se bastante difíceis. Essa possibilidade só se tornará viável, se a pesquisa
alcançar considerável aumento na produtividade e, assim, possibilitar a produção da essência natural a custos
inferiores aos do similar industrial, com o crescimento dos custos industriais do produto sintético ou a
tendência da volta aos produtos naturais, tornando o óleo de pau-rosa insumo indispensável.
Há, ainda, o risco da existência de sucedâneos naturais que contenham linalol ou não, com maiores
chances de domesticação a curto prazo e vantagens comparativas referentes à precocidade para seu
aproveitamento industrial.
Dado o caráter da seletividade e da aleatoriedade da espécie, a extração da essência de pau-rosa
desenvolveu-se como se fosse um bem comum. Enquanto os estoques de pau-rosa eram relativamente
abundantes, provavelmente havia externalidades positivas, que não eram diluídas com o aumento do número
de extratores. Porém, à medida que esses estoques foram escasseando, o número de extratores passou a ser
crítico, manifestando-se na externalidade de congestão e fazendo com que se reduzisse o número de
destilarias.
As atividades de exploração para a descoberta de novos estoques atuam, concomitantemente, com
as da extração. Não se dispõe de um inventário florestal ou de informações sistematizadas sobre a ocorrência
de pau-rosa em nível de planejamento governamental. Essa deficiência de maiores pesquisas sobre
inventários de recursos naturais deve implicar maiores custos para os extratores e do aproveitamento
irracional das reservas existentes.
Á medida que as reservas mais acessíveis vão escasseando, a extração tende a se afastar das margens
dos rios e das estradas e seguir em direção às cabeceiras dos rios. Naturalmente, isto impõe custos adicionais
que aumentam em razão da inexistência de esforços de exploração sistematizados. A permanência no setor
vai depender dos estoques em extração e da expectativa de descoberta de novas áreas, diante da incerteza na
dimensão dos estoques, bem como das flutuações favoráveis das cotações do produto.
Os recursos extrativos, à medida que vão diminuindo, podem perder utilidade. A retração na
demanda que acompanha o esgotamento conduz à queda nos preços, inviabilizando a extração dos estoques
remanescentes e desestimulando o esforço de exploração. Isto faz com que esses recursos sejam substituídos
por outras alternativas econômicas, apressando seu desaparecimento, ou que os extratores abandonem essa
atividade. Os produtos que não necessitam de industrialização ou beneficiamento podem ter um ciclo de
extração mais longo pela independência com a escala da planta industrial mínima e acompanhar a idéia da
escassez e de preços crescentes, dado o crescimento da demanda.
Existe um grande potencial de mercado para pau-rosa que pode ser estimado pela quantidade
máxima já exportada em 1951, de 444 toneladas, que se comparada com a exportação em 2002, de menos de
23 toneladas, indica que poderia multiplicar por vinte vezes, indicando que existe um potencial de corte anual
de aproximadamente 30 mil árvores. O valor das exportações superiores a 6 milhões de dólares e o preço do
óleo essencial atingindo quase US$ 8.000/tambor (180kg) indica as possibilidades do seu plantio como
importante fonte de geração de renda e emprego em bases mais sustentáveis. Adiciona-se o valor da
importação de substitutos sintéticos que atinge quase três milhões de dólares.
Agradecimentos especiais
Ao economista Otto Vergara Filho (19 -1999), pesquisador da Embrapa Solos e ao Prof. Samuel Isaac
Benchimol (13/06/1923-05/07/2002), maior conhecedor da economia do pau-rosa e símbolo da inteligência
amazônica, ambos falecidos, os sinceros agradecimentos do autor pela colaboração prestada.
127
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129
APÊDICE 3 – OUTROS PRODUTOS EXTRATIVOS ENCONTRADOS NA REGIÃO DA PESQUISA
Box 3. Produtos extrativos não-madeireiros da região Mamuru-Arapiuns (texto elaborado
especialmente para este relatório por Alfredo Kingo Oyama Homma, pesquisador da Embrapa)
Muitos dos produtos mencionados abaixo fazem parte da medicina popular e outros são
comercializados para venda em laboratórios farmacêuticos. As menções a curas e terapias têm apenas cunho
informativo, coletadas na literatura, que fazem parte do mercado da angústia, decorrente da pobreza da
população, falta de assistência médica e da não-disponibilidade de medicamentos (PRADAL,1979). Isso
constitui uma clara indicação da necessidade de maiores investimentos nas plantas utilizadas pelas
populações tradicionais, a identificação de seus princípios ativos e sua verticalização
Seringueira (Hevea brasiliensis M. Ang.)
Produto extrativo mais importante durante o século XIX, nas primeiras duas décadas do século XX e
no curto período da II Guerra Mundial. O povoado de Boim, situado na margem esquerda do rio Tapajós foi o
local onde Henry Alexander Wickham efetuou a coleta das 70 mil sementes em 1876, causa do declínio três
décadas depois
A região do Tapajós, em Fordlândia, em 1927, que foi implantado o primeiro plantio em larga escala
da seringueira no Brasil. A descoberta da presença do mal—das folhas fez com que desenvolvesse novo
plantio, em 1934, em Belterra. A infra-estrutura e as seringueiras plantas tanto em Fordlândia como em
Belterra foram adquiridas pelo governo brasileiro em 1945. Muitas dessas áreas de seringueiras plantadas
ocorreu da vegetação secundária transformando em caso inédito de plantio domesticado voltando ao estádio
primitivo.
A seringueira é uma árvore de médio porte que pode atingir 20 metros de altura, que são
encontradas, em média de 0,6 árvore/hectare com DAP > 30cm. Trata de árvore de maior relevância
econômica, para obtenção do látex, exsudado através da sangria do fuste. O látex coletado em um recipiente
é coagulado pelo processo de defumação, existindo diversos processos. De uma árvore pode-se obter em
média 3 kg de látex, durante a safra (OLIVEIRA et al., 1993).
Cumaru (Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.
O principal valor da semente de cumaru se deve à presença em alta concentração de cumarina. As
sementes de cumaru, devido às suas propriedades aromáticas, são vastamente utilizadas nas indústrias de
perfumaria e cosméticos. Adicionalmente são empregadas à indústria de tabaco para dar aroma ao fumo
A cumarina tem valor clínico por ser precursor de medicamentos anticoagulantes como a warfarina e
tem aplicações na indústria alimentícia, substituindo a baunilha. As sementes também são usadas também na
fabricação de colares ornamentais e artesanato em geral. Tecnologias mais modernas podem assegurar o
aumento do rendimento e, provavelmente, resultar em melhor qualidade da cumarina. Pela sua importância
as pesquisas com a sua domesticação já deveriam estar mais avançadas. O Instituto Agronômico do Norte e a
sua sucessora chegaram a efetuar alguns ensaios com esta planta e a distribuição de mudas, existindo um
pequeno plantio abandonado nas dependências da Embrapa Amazônia Oriental.
O cumaru é uma árvore de grande porte que pode atingir cerca de 30m de altura, razão da sua
derrubada para madeira. A média de árvores, considerando DAP > 30cm é de 0,2/hectare. Esta espécie é de
uso muito freqüente pelos ribeirinhos da Flona do Tapajós, devido ao alto valor comercial de suas sementes
no município de Santarém. Além do seu emprego industrial como aromatizante para tabaco, chocolate e
bebidas, possui também propriedades terapêuticas. O óleo obtido das sementes ajuda a curar úlceras bucais,
nevralgias, coqueluches, dores fortes de cabeça e das articulações, tuberculose e adenopatia (OLIVEIRA et al.,
1993)
De cada árvore de cumaru são coletadas, de uma única vez, de 300 a 350 quilos de sementes. Esta
espécie inicia a formação de botões florais e flores de setembro a fevereiro, e a maturação de frutos e
dispersão acontece de maio a julho. Em geral as árvores iniciam a frutificação aos sete anos de idade, e com
aproximadamente dez anos a produção de sementes é generalizada. Na abertura das sementes de casca lisa e
dura exige a habilidade de descobrir o ponto de ruptura, caso contrário, não se consegue abrir somente com o
uso da força
130
Copaíba (Copaifera multijuga Hayne)
O óleo apresenta uma grande heterogeneidade de cores, sendo necessário efetuar pesquisas visando
a sua qualificação e, futuramente, selecionar as plantas adequadas para a sua efetiva domesticação.
A copaíba é uma árvore de grande porte que pode atingir até 30 metros de altura, estando sua
ocorrência em torno de 0,2 árvore/hectare, com DAP> 30cm. As populações ribeirinhas utilizam devido ao
óleo extraído do seu tronco com freqüência de forma predatória largamente empregado para fins medicinais
como anti-séptico das vias urinárias, contra blenorragia, leucorréia, doenças sifilíticas, tosses e bronquites,
diarréia, urticária e doenças da pele. O óleo é obtido do fuste com auxílio de trado, inserindo a uma altura
aproximadamente de um metro acima do solo. A média de óleo exudado de cada árvore é eqüivalente a 80
litros. Os extrativistas do Estado do Acre são os mais evoluídos no processo de extração, manejo e
comercialização do óleo de Copaíba
Amapá-doce (Brosimum parinarioides Ducke)
O amapá-doce é uma árvore com tronco volumoso podendo atingir cerca de 30 metros de altura,
com densidade de 0,30 árvore/hectare com DAP > 30 cm. Da árvore se extrai principalmente o leite que é
muito empregado pelos ribeirinhos na medicina caseira. O leite abundante que escorre da casca do fuste ao
ser cortado é utilizado como valioso remédio contra fraqueza, em geral a tuberculose e doenças intestinais.
De uma árvore adulta pode-se obter em média 15 litros de leite vegetal (OLIVEIRA et al., 1993)
Freitas e Fernandes (2006) comentam que os moradores afirmam que para conservar o leite do
Amapá-doce deve-se fervê-lo com água e depois coado, ou, então, deve ser ingerido puro ou misturado com
leite condensado. De acordo com os informantes, “não se pode consumir o leite do amapá-doce quando a
árvore ainda estiver dando fruto, pois é venenoso”. Como o leite de maçaranduba há necessidade de avaliar a
conservação do leite do amapá-doce através do estudo de suas características após extração, com avaliações
físico-químicas, enzimáticas e microbiológicas que proporcionem uma melhor condição para otimizar o
processo de conservação do produto;
Fava-barbatimão (Stryphnodendron pulcherrimum (Wild.) Hoch
É uma árvore de pequeno porte, com densidade de 0,3 árvore/hectare com DAP > 30 cm. A árvore
possui pouca folhagem e na maioria das vezes com fuste tortuoso. Apresenta casca rugosa que serve tanto
para produzir tinta de escrever e também tem uso na medicina caseira. É empregada pelos ribeirinhos como
anti-diarréico, hemostático, hemorragias uterinas, afecções escorbísticas e hérnias. De uma árvore pode-se
obter em média 12 kg de casca, sem comprometimento a uma coleta contínua (OLIVEIRA et al., 1993).
Jatobá (Hymenaea courbaril L.)
O jutaí-açu ou jatobá é uma árvore bastante desenvolvida podendo atingir 30 ou 40 metros de altura
com quase 2 metros de diâmetro. Sua ocorrência varia em média de 0,6 árvore/hectare, com DAP> 45cm. Do
jatobá são aproveitadas todas as partes (resina, casca, raízes, polpa dos frutos e seiva), seu principal uso é
medicinal, sendo utilizadas contra afecções pulmonares de modo geral, dores e cólicas estomacais, como
vermífugo e anti-diarréico, antioxidante, diurético, expectorante, hepatoprotetor e estimulante e energético.
A seiva do jatobá apresenta as mesmas propriedades que o chá elaborado a partir da casca, que além de
fortalecedor do sistema imunológico, é estimulante e utilizado pelos indígenas para melhorar o desempenho
sexual.
A principal importância desta espécie para os ribeirinhos está na sua resina que após a retirada do
fuste é dessecada e, em forma cristalina, é utilizada na indústria de vernizes e calafetagem de barcos no
município de Santarém
A produção média anual de resina por árvore varia de 8,3 a 18,2 litros/árvore, chegando a atingir em
alguns casos, cerca de 52 litros
Maçaranduba (Manilkara huberi (Ducke) Stand
Os viajantes antigos da Amazônia comentam o uso do leite de maçaranduba misturado com o café.
A maçaranduba é uma árvore de fuste cilíndrico, de grande porte que pode atingir 50 metros de
altura. Sua freqüência, considerando árvores com DAP > 30 cm é de 2,2 árvores/hectare. Os ribeirinhos
costumam utilizar esta espécie para obtenção de látex que é exudado através de sangria do fuste que após
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dessecado ao sol resulta na balata, num produto plástico, material que difere da borracha por ser duro
(OLIVEIRA et al., 1993)
A produção por árvore, a intervalos de dois anos, é de aproximadamente 1 kg a cada sangria/ano.
Esta produção pode ser aumentada desde que seja derrubada a árvore para o aproveitamento total do seu
fuste na extração do látex
Mururé (Brosimopsis acutifolia)
O mururé caracteriza-se por ser uma árvore de médio porte atingindo 15 a 20 metros de altura, com
ocorrência de 0,9 árvore/hectare com DAP > 30cm
Da árvore, através do fuste, os ribeirinhos extraem principalmente o leite que “in natura”, mistura-se
com chás para tratamento de reumatismos, dores musculares ou ósseas. Sua ação depurativa deve-se ao
alcalóide muserina. A produção por árvores a intervalos de seis meses é de cerca de seis litros
Pau-d’arco-roxo (Tabebuia impetiginosa (Mart.) Standley
O pau-d’arco-roxo é uma árvore que pode atingir até 25 metros de altura com fuste normalmente
reto. Sua distribuição, considerando árvores com DAP > 30 cm é de 0,3 árvore/hectare. Da árvore extraída a
casca que é muito empregada pelos ribeirinhos no tratamento contra as inflamações da mucosa bucal, úlceras
da garganta, estomatite e angina, feridas e úlceras (OLIVEIRA et al., 1993)
De uma árvore dependendo do seu porte, pode-se obter em média 35 kg de casca, sem
comprometimento, a uma coleta contínua
Piquiá (Caryocar villosum (Aubl.)
As árvores de piquiazeiro foram muito utilizadas na construção naval, o mesmo ocorrendo com
bacurizeiros (Platonia insignis) no Nordeste Paraense e na ilha de Marajó. Atualmente há um interesse muito
grande pela sua fruta, o que levando os agricultores nipo-brasileiros de Tomé-Açu a desenvolverem técnicas
de enxertia e a produção de mudas visando a difusão dessa cultura.
O piquiá é uma árvore de grande porte que pode atingir cerca de 35 metros de altura, cuja ocorrência
é de 0,2 árvore/hectare com DAP >45cm. Esta espécie possui grande aceitação pelos ribeirinhos devido ao
amplo uso de seus frutos quer para alimento como também, para o fabrico de óleo, principalmente para fins
medicinais (inflamações, baques traumáticos, etc.) (OLIVEIRA et al., 1993)
A obtenção do óleo é semelhante ao processo utilizado para a andiroba. O rendimento de óleo a nível
artesanal é de 3% a 5% do peso do fruto. As árvores de piquiá tem a sua inflorescência de agosto a abril e os
frutos maduros de abril a maio. A disseminação de sementes ocorre de abril a maio
Preciosa (Aniba canellila H.B.K.- Mez)
A preciosa é uma árvore de médio porte que pode atingir de 20 a 25 metros de altura, com
ocorrência de 0,2 árvore/hectare. Os ribeirinhos utilizam as folhas e principalmente a casca para uso medicinal
popular contra artritismo, esgotamento nervoso, excitante e aromático. Foi observado o emprego de chá da
casca de preciosa em substituição ao café matinal. De uma árvore, dependendo de seu porte, pode-se obter
em média 10 kg de casca, sem comprometimento, a uma coleta contínua (OLIVEIRA et al., 1993).
Quinarana (Geissospermum sericeum Benth.)
A quinarana é uma árvore pequena ou mediana que ocorre com incidência de 1,30 árvore/hectare
com DAP > 30 cm. A casca é o principal produto extraído da árvore de quinarana pelos ribeirinhos que as
utilizam como febrífugo, tônico digestivo, tratamento do estômago e vesícula. De uma árvore dependendo do
seu porte, pode-se obter em média de 10kg de casca, sem comprometimento a uma coleta contínua
(OLIVEIRA et al., 1993)
Sucuba (Hymatanthus sucuba Spruce)
A sucuba é uma árvore latescente de porte médio que pode atingir de 20 a 30 metros de altura, cuja
ocorrência com DAP > 30 cm eqüivale a 1,0 árvore/hectare, podendo obter em média onze litros de leite
vegetal. Da árvore se extrai principalmente o leite que escorre da casca do fuste ao ser cortado é muito
empregado na medicina popular como antitumoral, antifúngica, vermífuga e anti-anêmica. Segundo a
farmacopéia popular, a casca da sucuba, por exemplo, só devem ser empregadas bem secas, senão “fazem
132
mal” (FREITAS & FERNANDES, 2006).
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