atualização - Revista Urologia Essencial
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atualização - Revista Urologia Essencial
IA LO G a U RtO r ane em p o PUB LICA ÇÃO TRIM EST c on RAL OC DA S IEDA RA DE B w w w. urolo SILE giaco IRA ntem RO DE U poran LOG ea.or IA V.19 N.4 OUTUBR O DEZEMB RO 2010 g.br 5 editorial Mais um ano de Urologia Contemporânea Ronaldo Damião IA UROLOG ÓRIO SULT DE CON Uretrites VISTA TO DE PON al: tomia radic Prostatec laparoscopica ou aberta Eloísio Alexsandro da Silva TÉCNICAS AS CIRÚRGIC Correção atura da curv usando peniana ípios os princ os geométric DAD SCIPLINI MULTIDI terapia Fisio mento no trata tinência da incon esforço de a urinária tatectomi pós-pros al radic E ATUALIZ AÇÃO sexual Disfunção masculina IMAGEM IA LOG EM URO Tumor ureteral 6 atualização Disfunção sexual masculina Mario Luiz da Silva Paranhos 20 multidisciplinaridade Fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia radical Maria Helena Rezende Rodrigues 32 urologia de consultório Uretrites Sylvio Quadros Mercês Júnior 38 Técnicas Cirúrgicas Correção da curvatura peniana usando os princípios geométricos Paulo H. Egydio 44 Uro-Resumos Brasil Silva Neto Imprecisões na determinação do estágio clínico no câncer de próstata localizado Estratificação de risco prognóstico em câncer de bexiga pT2N0 após cistectomia radical Estudo prospectivo aberto do uso de Solifenacina no tratamento da bexiga neurogênica em crianças Padronização objetiva das curvas de urofluxometria em crianças com incontinência diurna e noturna Tiago Elias Rosito 50 ponto de vista Prostatectomia radical: aberta ou laparoscopica Antonio A. Alcaraz 㤵 Rodrigo Serapião Mendes 52 㜵 Pielografia IMAGEM EM UROLOGIA Sinal de Bergman Tumor ureteral ㈵ Sinal do Prendedor de Guardanapo Valdemar Ortiz 㔀 U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 3 editorial Mais um ano de Urologia Contemporânea C O GI A U ROmLpor anea ÇÃO TRIM EST RAL OC DA S c on t PUB LICA OGIA UROL TÓRIO NSUL DE CO Uretrite PONT s VISTA O DE ical: tomia rad a Prostatec laparoscopic ou aberta IEDA e ww RA DE B log w. u r o S TÉCNICA GICAS CIRÚR Correção a tur da curva ndo usa peniana pios os princí s ico geométr SILE iacon IRA RO DE U temp oran LOG ea.or MULTI IA V.19 N.4 BR OUTU O DEZE MBRO 2010 g.br DISCIPL INIDAD pia Fisiotera to en no tratam ência tin da incon esforço de ria ná ia uri tatectom pós-pros ical rad E ATUA LIZAÇ ÃO sexual Disfunçãolina mascu EM IMAG OGIA OL EM UR Tumor ureteral hegamos ao fim de nosso primeiro ano como editores da revista Urologia Contemporânea e queremos agradecer a todos pelas inúmeras mensagens elogiosas e de apoio. Também gostaríamos de dizer que este sucesso deve-se principalmente à participação dos associados, enviando sugestões sobre temas de interesse, o que muito nos orientou para pensar e fazer uma revista realmente voltada para a prática urológica. Uma revista que assumiu o compromisso de ajudar ao urologista, arrimo de família, que está atarefado, trabalhando demasiado para ter algum balanço financeiro positivo e que ainda tem de investir em atualização para oferecer o melhor para seu paciente. Este perfil de urologista reflete a maioria dos associados, que pagam anuidade e assim doam seu registro como patrimônio da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Do ponto de vista de investimento, a Urologia Contemporânea é atrativa, pois tem relação custo-benefício favorável. Não existe custo para a versão on-line da Urologia Contemporânea, visto que é administrada inteiramente dentro da sede nacional no Rio de Janeiro, contando com manutenção e servidor próprio. O que por si só justifica o acesso gratuito e ilimitado aos artigos publicados. Até o momento do fechamento desta edição, o custo total da revista Urologia Contemporânea atende por apenas 13% do total gasto pelo núcleo de publicações, correspondendo ao menor custo dentre as publicações oficiais da SBU em 2010. Finalmente, gostaríamos de enfatizar o fato de a maior parte das sugestões de temas que recebemos durante o ano foram relacionadas à área da Medicina Sexual, reforçando o importante papel do urologista no manejo das disfunções sexuais, caracterizando uma parte significativa do atendimento urológico. Atualmente é inquestionável o papel da sexualidade na qualidade de vida e a abordagem deste assunto se tornou essencial em programas assistenciais de saúde integral masculina. Neste número o assunto disfunção erétil e curvatura peniana foram abordados de forma didática e prática. Desejamos a todos um Feliz Natal e um ano novo cheio de realizações e sucessos pessoais e profissionais. Ronaldo Damião Editor Chefe Eloísio Alexsandro da Silva Editor Associado U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 5 Atualização Mario Luiz da www.urologiacontemporanea.org.br Silva Paranhos Assistente Dr. da Divisão de Urologia HC-FMUSP Coordenador de Urologia do Hospital Regional Sul Presidente da Central de Eventos – SBU Disfunção sexual masculina Introdução A função sexual normal nos homens envolve a libido, o início e a manutenção da ereção peniana, o orgasmo, a ejaculação e um período refratário.1 A ereção peniana é um evento neurovascular, iniciado por meios psicossomáticos e envolve mecanismos regulatórios e a integridade do aparelho erétil. O processo da ereção peniana se faz por fases, desde sua flacidez, passando pelas fases de ereção e culminando com a fase de detumescência (Tabela 1).2 Anatomia do pênis O pênis é formado por três cilindros, com o tecido formando lacunas; dois laterais chamados corpos cavernosos e um disposto ventralmente aos outros dois, chamado corpo esponjoso. Este último continua além dos corpos cavernosos e forma a glande, sendo atravessado longitudinalmente pela uretra. Os corpos cavernosos têm comunicação entre si e, por isso, respondem a estímulos como uma única unidade. Envolvendo os corpos cavernosos temos a túnica albugínea e externamente a ela UROLOGI A 6 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 temos a fáscia de Buck, com menor elasticidade, sendo importante na contenção dos corpos durante a ereção. Mecanismo fisiológico da ereção A ereção é um evento neurovascular controlado pelo tônus do músculo liso. No estado de flacidez o músculo liso das artérias cavernosas, das arteríolas helicinais e das trabéculas, está tonicamente contraído, limitando o fluxo sangüíneo para os corpos cavernosos. Quando o músculo liso relaxa, sob efeito de neurotransmissores liberados pela ação de estímulos de origem central ou atividade erótica, a resistência ao fluxo sangüíneo cai ao mínimo, permitindo assim uma vasodilatação das arteríolas e uma expansão dos sinusóides para receber maior fluxo sangüíneo.3,4 Isso causa um aumento de pressão nos corpos cavernosos, levando a uma compressão do plexo venular abaixo da túnica albugínea com redução do fluxo venoso (Figura 2). Neurotransmissores e farmacologia da ereção A contração dos músculos lisos das artérias cavernosas, arteríolas e trabéculas Atualização Disfunção sexual masculina Mario Luiz da Silva Paranhos Tabela 1 Fases do processo de ereção Fase de Flacidez O fluxo de sangue no sistema é mínimo Fase de Latência Há um aumento de fluxo na artéria pudenda. Já existe um alongamento peniano. Fase de Tumescencia Há uma elevação na pressão intacavernosa, e existe um alongamento com pulsação peniana. Fase de Ereção Plena A pressão intracavernosa esta no seu limite e o sistema venoso está totalmente compressivo. Fase de Ereção Rígida É o resultado de contração do músculo isquiocavernososo e com a pressão no limite, causando uma ereção rígida. Não há fluxo sangüíneo. Fase de Detumescencia Após a ejaculação e cessação do estimulo erótico, resulta na contração do músculo liso ao redor dos sinusóides e arteríolas. Diminui o fluxo sanguíneo e o pênis retorna a seu estado flácido. figura 1 figura 2 Corte esquemático do pênis Mecanismo de ereção peniana Em (A) as arteríolas e sinusóides estão contraídos. Em (B) os músculos das paredes dos sinusóides relaxam, aumentando o fluxo sangüíneo e há compressão das veias emissárias, reduzindo a saída de sangue do corpo cavernoso. depende de um aumento da concentração do cálcio intracelular, que participa da fosforilação da miosina. Na ocorrência desse aumento há contração muscular; por outro lado quando diminui a concentração de cálcio há o relaxamento. U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 7 Atualização Disfunção sexual masculina Mario Luiz da Silva Paranhos figura 3 Após os estímulos eróticos é sintetizado óxido nitroso nas células endoteliais. Sua difusão na célula do músculo liso vascular causa aumento dos níveis de GMPc pela guanilato ciclase. Essa ativação causa a queda dos níveis de cálcio, havendo assim um relaxamento muscular, favorecendo o enchimento de sangue do corpo cavernoso com a conseqüente ereção. ESTÍMULO ERÔGENO GTP CÉLULAS ENDOTELIAIS NERVO NO ESTUMULA A GUANILAT CICLASE cGMP (MENSAGEIRO 2º) C HIDROLISA LU ÁLCIO LAR PDE 5 RELAXAMENTO DO MÚSCULO LISO EREÇÃO Esses aumentos são controlados por substâncias, como a adenosina 3’ 5’ monofosfato cíclico (AMPc) e a guanosina 3’ 5’ monofosfato cíclico (GMPc), produzidos na célula, que promovem a saída de cálcio e a inibição da fosforilação, dessa forma causando o relaxamento do músculo. O principal neurotransmissor para a ereção peniana é o oxido nítrico (NO), liberado pelas terminações nervosas que atingem os tecidos locais. O oxido nítrico ativa a guanilato ciclase, que vai agir sobre o GMPc, levando à formação de guanosina monofosfato intracelular, que é um potente mensageiro para o relaxamento da musculatura lisa. UROLOGI A 8 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 DIMIN O UI A I NT R CE A ereção ocorre quando um estímulo erótico, recebido por qualquer um dos cinco sentidos, é processado no hipotálamo e determina a liberação de NO pelas vias nervosas e por células endoteliais das arteríolas do pênis. A flacidez ocorre com a degradação da GMPc e AMPc por fosfodiasterases específicas tipo 5. Existem onze tipos delas e no pênis há maior concentração do tipo 5 (GMP específica). Sua inibição leva a uma preservação da GMPc, e que promove uma facilitação da ereção peniana (Figura 3). As drogas orais que agem sobre a disfunção erétil (Sildenafil, Tadalafiul, Vardenafil e Lodenafila) Atualização Disfunção sexual masculina Mario Luiz da Silva Paranhos inibem a PDE5. Quando não há estímulo erótico, não há liberação do óxido nitrico e, portanto, não há ereção. Etiopatogenia A disfunção erétil (DE) tem etiologia multifatorial e vários fatores de risco. Acredita-se que cerca de 45% dos homens tenham algum grau de disfunção erétil e que cerca de 5% tenham disfunção erétil completa. Por isso, os problemas relacionados à DE têm grande importância em saúde pública, principalmente pelo grande efeito sobre a qualidade de vida dos atingidos pelo problema.5-7 Atualmente acredita-se que disfunções orgânicas associadas com as psicogênicas representam as causas de DE. Como fatores orgânicos destacam-se afecções neurogênicas, hormonais, arteriais ou relacionadas a drogas.8-10 1. Fatores de risco para Disfunção Erétil a) Diabetes mellitus: Esta é uma das doenças que mais freqüentemente está associada com a DE. Nos homens acometidos pela diabetes a incidência de disfunção sexual é cerca de três vezes maior em comparação aos não-diabéticos. Geralmente os pacientes diabéticos apresentam o início da disfunção erétil cerca de 5 a 10 anos após o diagnóstico da doença. A fisiopatologia da disfunção erétil no diabético associa-se a fatores múltiplos, que incluem alterações vasculares, neurológicas e hormonais. A longo prazo o diabetes leva a lesões em grandes e pequenos vasos e mesmo que a glicemia seja controlada, essas complicações podem afetar de forma definitiva a função sexual (Tabela IV). b)Alterações hormonais: O hipogonadismo causado por tumores hipotalâmicos ou hipofisários, terapia anti-androgênica ou orquiectomia podem suprimir o interesse sexual e as ereções noturnas. Em geral essas alterações estão mais relacionadas à libido do que propriamente a DE . c) Hipertensão arterial e doenças cardiovasculares: A relação entre doença vascular e disfunção erétil está bem estabelecida. A disfunção endotelial é a condição presente em comum nas duas patologias. Estudos recentes demonstraram que infarto e doenças do miocárdio estão relacionados com disfunção erétil em maior percentual do que na população normal. Esses índices pioram quando se associam a homens fumantes. Foi demonstrada disfunção erétil total em cerca de 15% dos pacientes com hipertensão arterial sistêmica, estando associada com a duração e a severidade da doença.11,12 Doenças arteriais, desde as mais centrais, sobre as ilíacas internas, até as dos ramos periféricos penianos, geralmente estão associadas à DE.13,14 Sabemos atualmente que nesses casos a DE é mais uma das manifestações da doença vascular (Tabela 2).15,16 d) Doenças crônicas e neurogênicas: A etiologia das disfunções eréteis neurogênicas podem ser secundárias à interrupção dos nervos sensoriais que trazem informações do cérebro e contribuem para ereções relacionadas ao arco reflexo ou então à interrupção de nervos autonômicos, que mediam a dilatação arterial e o relaxamento do músculo liso.14 Homens com traumas raquimedulares têm maior propensão à DE, normalmente junto com alterações de ejaculação.17,18 Esses pacientes freqüentemente são jovens e podem ter comprometimento severo da sua vida sexual e reprodutiva. O grau da lesão espinhal e o seu nível anatômico determinam o grau da função remanescente peniana.19 A insuficiência renal crônica é outra patologia que afeta a sexualidade, causando DE em 40 a 60% dos pacientes.20-22 Nesses casos o risco U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 9 Disfunção sexual masculina Atualização Mario Luiz da Silva Paranhos Tabela 2 Doença coronariana e disfunção erétil Risco Clínico Variável Doenças isquêmicas do coração Disfunção erétil Colesterol aumentado 1 : 2.0 1 : 1,32 Hipertensão 1 : 1,5 1 : 1,52 Hábito de fumar 1 : 1,1 1 : 1,17 Diabetes 1 : 1,5 1 : 1,83 de DE aumenta com a idade, com a presença de diabetes e com o uso de enzimas conversoras de angiotensina. Muitos dos efeitos causados pela uremia podem contribuir para DE, incluindo distúrbios do eixo hipotalâmico, hiperprolactinemia, doença ateromatosa e até fatores psicológicos. Doenças hepáticas crônicas freqüentemente estão associadas com DE, provavelmente por apresentarem alterações do eixo hipotálamo-hipofisário. Verificou-se que os pacientes com cirrose hepática alcoólica apresentam cerca de três vezes mais DE que os portadores de doenças hepáticas não-alcoólicas. Existe ainda o agravante que nos alcoólatras o álcool também age deleteriamente sobre a produção de hormônios e sobre os testículos. e)Fumo: Uma meta-análise da literatura dos últimos vinte anos identificou a prevalência do hábito de fumar entre os atingidos por DE, sendo que mais de 40% dos homens com DE severa eram fumantes. Verificou-se ainda que esse índice aumenta com o tempo do hábito do fumo.23-25 Os autores ainda demonstraram que nos ex-fumantes o risco de DE é inversamente proporcional ao número de anos que o individuo abandonou o hábito. f)Medicamentos: Vários medicamentos têm sido associados com a DE. Mais de 25% dos pacientes seguidos em clínica geral tiveram diagnóstico de DE induzida por drogas (Tabela 3). Os mais comuns desses medicamentos são os anti-hipertensivos, sendo a DE citada em até 40% dos pacientes.26 Eles podem atuar centralmente ou perifericamente sobre o sistema nervoso autônomo, fazendo cair a pressão a Tabela 3 Medicamentos associados com a disfunção erétil Anti hipertensivos Beta bloqueadores não seletivos / Diuréticos tiazídicos Cardíacos Antilipidêmicos / Digoxina Psicotrópicos Inibidores seletivos da Serotonina / Lítio Hormônios Antiandrógenos / Estrógenos / Progesterona Antagonistas H2 Cimetidina / Ranitidina Miscelânea Álcool / Anfetaminas / Cocaína UROLOGI A 10 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 Atualização Disfunção sexual masculina Mario Luiz da Silva Paranhos níveis abaixo dos requeridos para a manutenção da rigidez peniana.27 Drogas com efeito anti-androgênico também podem causar DE, incluindo os medicamentos usados no controle do câncer de próstata metastático, estrógenos e a espirolactona.26 Os efeitos da deficiência androgênica na atividade sexual são variáveis, desde alterações leves até perda total da função sexual. g)Alterações Psicológicas: A DE de causa psicogênica tem alta incidência, é freqüente em jovens e geralmente está associada com os outros fatores de risco.28,29 Na maioria das vezes relaciona-se também com alterações da libido e da ejaculação.30 Relacionamento conjugal conturbado é uma causa significativa na DE do homem casado. Ademais, está bem demonstrada a associação entre a DE e a depressão, observando-se melhora desta última com tratamento da DE. Diagnóstico As alterações sexuais são freqüentemente negligenciadas na prática clínica sendo recomendável que seja dada atenção especial em uma consulta médica ao diagnóstico das alterações orgânicas existentes e dos fatores de risco relacionados com a DE. Ademais, especial ênfase deverá ser dada ao uso de medicamentos que, como visto anteriormente, constituem importante fator para DE. Um exame físico cuidadoso deverá ser efetuado (Tabela 4). Na maioria dos casos o exame físico não mostra a causa específica da DE, embora se tenha indícios precisos para o caminho a se percorrer para o diagnóstico. Os exames laboratoriais devem incluir exames de urina, sangue com estudo da bioquímica e de alguns hormônios como testosterona, prolactina, TSH e hormônios tireoidianos. Tabela 4 Anamnese e exame físico durante consulta médica por disfunção erétil ANAMNESE EXAME FÍSICO Anatomia Traumas / Fimose / Doença de Peyronie Histórico de priapismo / Cirurgias/radiações Doenças neurológicas Traumas / Espinha bífida / Neuropatias / Doenças do SNC Desordens metabólicas Diabetes / Alcoolismo / Doença renal ou hepática / Obesidade Cirurgias Próstata / Bexiga / Uretra / Cólons/reto / Pênis Cirurgias vasculares Doenças cardiovasculares Cardíacas / Vasculares periféricas / Tabagismo Pressão arterial, pulsos periféricos / Palpação da tireóide Neurológico (tônus de esfíncteres, sensibilidade, reflexos) / Exame retal Testículos / Caracteres sexuais secundários (ginecomastia, pêlos) U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 11 Atualização Disfunção sexual masculina Mario Luiz da Silva Paranhos Tratamento No caso da DE, o melhor entendimento dos mecanismos moleculares e celulares envolvidos propiciou o aparecimento de drogas com maior ação neste campo. Como início do planejamento do tratamento da disfunção erétil, temos de estimular possíveis mudanças no estilo de vida do paciente. Pela associação da DE com doenças coronárias e vasculares periféricas, exercícios regulares, instituição de uma dieta saudável e parada de uso de álcool e fumo, melhoram os resultados do tratamento da DE.31 Os fatores psicológicos envolvidos devem ser enfatizados, encaminhando-se para tratamento psicológico não somente o paciente, mas também sua parceira sexual. Quando apresentar concomitantemente sintomas de hipogonadismo, como diminuição da libido, perda de massa corporal, diminuição da densidade óssea, alterações na distribuição pilosa do corpo e aumento de gordura visceral, o uso de terapia hormonal androgênica deverá ser lembrado. figura 4 Droga vasoativa injetada diretamente no corpo cavernoso UROLOGI A 12 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 A evolução no tratamento da DE teve grande impulso com a descoberta de medicamentos orais efetivos, na década de 1990. A eficácia clínica e a segurança dos medicamentos orais para a DE foram avaliados e demonstrados em muitos estudos clínicos, com até 80% de benefícios em DE de várias etiologias. Atualmente existem no mercado quatro drogas orais para tratamento da DE. O citrato de sildenafil (Viagra®), o vardenafil (Levitra®), o tadalafil (Cialis®) e a lodenafil (Helleva®). Todas têm um mecanismo de ação semelhantes, diferindo em seu tempo de inicio de ação, tempo máximo de ação e apresentam reações colaterais muito semelhantes, de pouca relevância. Todas as drogas são seguras para uso em pacientes com alterações cardiovasculares, porém todas têm contra-indicação em paciente com uso de nitratos, pelo risco de hipotensão severa. Falha do tratamento da DE por drogas orais Os medicamentos inibidores da PDE5 não são eficazes em todos os pacientes com DE. As falhas podem ocorrer por uma série de fatores ou modificações, como anormalidades hormonais associadas, interação com outras drogas ou alimentos, doses insuficientes e deficiência de estímulos sexuais. Injeção intracavernosa de drogas vasoativas: O grande passo para o diagnóstico e tratamento da disfunção erétil foi dado na década de 1980 com a injeção intracavernosa de drogas vasoativas.32 O ponto de partida ocorreu quando o médico francês, Ronald Virag, em 1982, injetou o cloridrato de papaverina nos corpos cavernosos para uma melhor avaliação das artérias penianas e provocou, acidentalmente, uma ereção (figura 4). Desde então, diversas drogas têm sido estudadas para uso intracavernoso, sendo as principais: prostaglandina E1, fentolamina, papaverina, clorpromazina e suas combinações entre si. Atualização Disfunção sexual masculina Mario Luiz da Silva Paranhos Indicações de implantes penianos Tabela III Vantagens e desvantagens dos tipos de próteses penianas Pacientes com DE de cauPrótese Maleável Prótese Inflável sa orgânica, nos quais as Baixo custo Dissimuláveis outras modalidades de trataFacilidade de Implante Alta taxa de êxito mento foram insatisfatórias, Mecânica simples Difícil implante contra-indicadas ou não aceiRigidez adequada Boa aceitação da parceira tas pelo paciente, são candiAlta taxa de êxito Diversidade de tamanho datos eventuais à colocação Difícil de ocultar Alto custo de próteses penianas. Limita endoscopia uretral Mecânica exposta a falhas Em pacientes que apresenSatisfação adequada Auto inflação tam diabetes mellitus ou que tenham feito prostatectomia levam o pênis ao estado de ereção com aumenradical existe grande chance de falha no uso to da pressão nos cilindros colocados internade medicamentos orais. Cerca de 25 a 30% dos mente aos corpos cavernosos. pacientes que apresentam DE não respondem O tratamento com prótese inflável, que sura drogas orais, 10 a 15% não conseguem seguir giu na década de 1970, teve grande populario tratamento com drogas injetáveis nos corpos zação por promover ereções mais próximas da cavernosos, sendo nestes casos a colocação de natural e uma melhor aparência com o pênis prótese peniana um tratamento comprovadaflácido. Sua difusão de uso levou também a mente eficiente e com alto índice de satisfação melhorias nos tipos de próteses, dando uma do paciente e de sua parceira. maior vida útil e maior confiabilidade ao proEm geral, o implante de prótese peniana alduto. Hoje, estas peças têm boa qualidade cança altos índices de satisfação, tanto do patécnica, trazendo bons resultados funcionais e ciente quanto da parceira, e também é bastante muita segurança quanto ao tempo útil de funconfiável e de fácil utilização. Uma outra vantacionamento. gem é que o implante representa uma solução a Os tipos de próteses infláveis podem ser longo prazo dos problemas de DE, não havendo utilizadas em pacientes portadores da Doença mais necessidade do uso de comprimidos ou inde Peyronie ou fibrose peniana. Nos casos em jeções, levando a longo prazo uma economia em que existe grande dificuldade para se estarelação aos outros métodos. As características fundamentais de uma boa belecer espaço no corpo cavernoso, a prótese prótese são: dar rigidez ao pênis o suficiente para semi-rígida será a melhor indicação. a penetração, conforto no uso, segurança quanto Em pacientes que tenham problemas rea reações locais, discrição durante a vida cotidialacionados à colocação do reservatório nas na do paciente e ter vida útil duradoura. próteses de três volumes, como nos casos de pacientes irradiados, transplantados e com Tipos de próteses penianas grande fibrose no local da cirurgia abdominal, Atualmente, temos disponíveis no mercado podemos optar pelo uso da prótese inflável de dois tipos de próteses, as maleáveis ou semidois volumes. Estas não apresentam a eficácia -rígidas e as infláveis. As maleáveis garantem a da prótese de três volumes no que diz respeito rigidez devido à dureza do material. As infláveis à rigidez e ao estado de flacidez. U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 13 Atualização Disfunção sexual masculina Mario Luiz da Silva Paranhos Complicações 1 Complicações Intra-operatórias A grande maioria das complicações intra-operatórias ocorre no momento da dilatação dos corpos cavernosos para a colocação dos cilindros, podendo até inviabilizar a finalização da cirurgia de colocação. 2 Perfuração Uretral A perfuração uretral ocorre mais freqüentemente próximo ao meato, durante dilatações mais difíceis, nos corpos cavernosos mais fibrosados. É necessária a interrupção da cirurgia e nova intervenção deve ser feita após algumas semanas, com cicatrização local. Quando não é reconhecido o acidente, haverá infecção local mais facilmente, levando à retirada da prótese. 3 Ajustes Inadequados de Tamanho Esta é uma das complicações causadas pela deficiente ou inadequada dilatação dos corpos cavernosos. A utilização de próteses em corpos cavernosos com diferenças de tamanho maior que 1 cm pode deixar a glande com má posição, “caída”, chamada SST (o nariz do avião supersônico) e refere-se à hipermobilidade da glande após o implante da prótese, o que pode causar dificuldades durante o relacionamento sexual. Para a resolução do problema podemos usar pontos de fios inabsorvíveis na base da glande, fixando-a aos corpos cavernosos (Figura 5 e 6). figura 5 A. Deformidade SST. B. Correção com procedimento de acoplamento UROLOGI A 14 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 Pode haver dificuldade para fechamento dos corpos cavernosos em casos de fibroses acentuadas, sendo solucionado o problema com uso de cilindros mais finos. Caso necessário poderá também ser utilizado material de síntese, como telas sintéticas dando uma cobertura. Lembrar que na presença de corpo estranho, existe maior chance de haver infecção local. Nos casos de pênis curvos causados por placas da doença de Peyronie, estas poderão ser fraturadas ou incisadas. Também existe a possibilidade de perfuração dos cilindros de próteses infláveis por agulhas ou instrumentais, sendo diagnosticada no momento da insuflação para teste da ereção. Caso exista, deverá ser trocado o cilindro. Procedimento idêntico será tomado quando da avaria em outros componentes das próteses. 4 Complicações Pós-operatórias Imediatas e Tardias Em levantamentos recentes da literatura, verifica-se uma taxa de cerca de 8% de casos de infecções, sendo a maioria até os três meses após o implante. Nos casos de re-implantes a taxa de infecção é mais alta, ao redor de 11%. Em diabéticos a taxa de infecção é de cerca de figura 6 Pontos na glande e corpos cavernosos para fixação Atualização Disfunção sexual masculina Mario Luiz da Silva Paranhos Tabela IV Complicações pós operatórias de colocação de próteses penianas por tipo (Minervine e cols. 25) Tipo de complicação Próteses implantadas, n(%) Falência mecânica, n(%) Prótese Maleável 372 (77,2%) 2 (0,5%) Prótese Inflável 110 (22,8%) 19 (26,7%) 19 (5,1%) 19 (5,1%) 18 (20%) 7 (3,3%) Infecções, n(%) Erosões, n(%) 10% e em pacientes com história de trauma pélvico com ruptura de uretra, de 21%. Nos casos de próteses que tenham tratamento com antibióticos, as taxas de infecção têm diminuído, o mesmo acontecendo com os casos de recolocação imediata. Esses procedimentos baixaram os índices em mais de 60%. Em estudo com mais de 500 implantes, a cirurgia para remoção dos mesmos foi de 10% dos casos, mas 25% deles tiveram a recolocação da prótese. O risco de infecção nas próteses infláveis é maior, e as taxas de extrusão são similares entre os modelos de implantes. A possibilidade de haver problemas de extrusão em próteses maleáveis chega a 8%. O hematoma do escroto parece ocorrer mais freqüentemente após o implante penoscrotal que através de incisão infrapúbica. O sangue coleta ao redor da bomba e freqüentemente disseca a canalização do reservatório no canal inguinal. Os hematomas quase sempre resultam de sangramento corporal em vez da dissecação escrotal. A exceção a essa regra é o acompanhamento de operações de revisão. Esses hematomas ocorrem em conseqüência de sangramento das superfícies do corte da cápsula formada ao redor dos componentes. Esse crescimento de tecido fibroso é acompanhado por nova vascularidade e a hemóstase acurada é difícil. Os hematomas escrotais podem ser tratados de forma conservadora. A maior parte deles será absorvida com pequena conseqüência, Total 482 21 (4,4%) 37 (7,7%) 26 (5,4%) com exceção de um atraso no treinamento do paciente a respeito de como usar a prótese. Raramente o hematoma estimulará a cápsula ficar mais espessa, tornando difícil a manipulação da bomba ou a adesão da bomba às estruturas adjacentes. Se a drenagem for observada, o escroto deve ser explorado e o hematoma evacuado. Nessas re-operações, a bomba é movida para um novo local e retirado do espaço da coleção anterior do coágulo de sangue, usando estruturas absorvíveis. O local do velho hematoma é drenado por 24 horas. A complicação do hematoma após a implantação da prótese pode ser significativamente diminuída inflando-se parcialmente os cilindros por 24 horas e usando-se um pequeno dreno fechado pelo mesmo período. Observa-se que alguns casos drenarão mais de 100 mL nos primeiras 24 horas, apesar de cuidadosa homeostase e inflação parcial. Em uma série de mais de 1000 implantes, diminuímos a ocorrência da taxa de hematomas de 3 % a 0,7 % (P<0,005) com essas manobras. Não houve aumento significativo na taxa de infecção usando esse curto período de drenagem. Tanto a drenagem como a inflação parcial são necessárias, desde que cada manobra separadamente não resultou em uma diminuição significativa na taxa de formação de hematoma. Em algumas complicações causadas ainda durante a cirurgia somente irá ser verificada no pós operatório, como dobras, perfurações ou alterações nos cilindros (figura 7). U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 15 Atualização Disfunção sexual masculina Mario Luiz da Silva Paranhos fluxo sanguíneo local, predispondo à necrose, erosão e exRessonância magnética mostrando uma dobra em cilindro trusão do cilindro. Existem rede prótese inflável, que apresentava mal funcionamento latos de migração e erosão de próteses e reservatórios, para intestinos, cólons e bexiga. 5 Necrose Peniana Esta importante e desastrosa complicação felizmente é bastante rara, sendo causada por alterações importantes na vascularização local, associada com patologias pré-existentes como diabetes, doenças vasculares crônicas, dissecção extensa de tecidos e uso de bandagens compressivas. A amputação é a solução, sendo feita na glande ou na parte distal do pênis. Uma queixa não muito comum, porém muito 6 Problemas Mecânicos das Próteses importante, é a presença de dor no pós-opera Desde o início da década de 1980, o número tório. É mais comum no implante das próteses de problemas mecânicos relacionados às prótesemi-rígidas. Pode persistir por várias semanas ses infláveis está decrescendo de forma acene necessitar do uso de analgésicos. tuada, estando atualmente em cerca de 5% nos Erosões e migrações são complicações últimos cinco anos. passíveis de serem encontradas, sendo mais Normalmente essas alterações levam à trocomuns em pacientes com alterações neuroca da parte afetada. Caso ocorra após cerca de sensoriais; que usam cateterismo intermiten4 a 5 anos de implante é comum a troca de toda te; após radioterapia e também em casos com a prótese, para reduzir maus funcionamentos. acompanhamento de estenose de uretra. Rupturas de cilindros e aneurismas ocorrem raTambém é possível esta ocorrência estar ramente, e geralmente estão associados a darelacionada à prótese semi-rígida mais longa nos ao serem colocados ou ao ter fechamento que a ideal. A população com lesões medudos corpos cavernosos. Os vazamentos de fluilares que receberam próteses maleáveis são do nas conexões continuam a ser os principais particularmente suscetíveis a erosões. Em reproblemas nos implantes de próteses infláveis. visão da literatura encontrou-se uma taxa de Diagnóstico é feito facilmente pelo exame físico 11% nesses casos, sendo significativamente e por meio de exames de imagens. maior que a taxa de 1% encontrada na popuPróteses maleáveis são associadas com lação geral. menor número de problemas, sendo que os Nos casos de tamanho inadequado de próprincipais são ligados à quebra de material e teses, o fator precipitante é a diminuição do deslocamento do cilindro. A fratura da prótese figura 7 UROLOGI A 16 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 Atualização Disfunção sexual masculina Mario Luiz da Silva Paranhos pode levar a danos no corpo cavernoso e ser verificada por exames radiográficos. A perda de fixação na posição de ereção pode ser sinal de problemas, nas próteses com eixo metálico. Apesar da eficácia, das altas taxas de satisfação pessoal pelo implante e dos baixos índices de complicações, este procedimento pode levar a grandes prejuízos. As infecções, re-operações por mau funcionamento e a impossibilidade de reproduzir uma ereção natural, especialmente pela ausência de tumescência da glande, são os mais comuns. Referências 1. Masters, WH, Johnson, VE. Human sexual response. Boston : Little, Brown and Company; 1966. 2. Kaplan HS. Disorders of sexual desire and other new concepts and techniques in sex therapy. New York: Brunner/Mazel, 1979. tic vascular disease: the development of an animal model. J Urol. 1992 Jun;147(6):1675-81. 19. Wabrek AJ, Burchell RC. Male sexual dysfunction associated with coronary heart disease. Arch Sex Behav. 1980 Feb;9(1):69-75. 3. Lizza EF, Rosen RC. Definition and classification of erectile dysfunc- 20. 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U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 17 multidisciplinaridade www.urologiacontemporanea.org.br Maria Helena Rezende Rodrigues Fisioterapeuta, pós-graduada em Uroginecologia Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos – CBES/SP Fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia radical: revisão da literatura Resumo A incontinência urinária pós-prostatectomia radical é uma complicação comum, de longa duração e compromete significativamente a qualidade de vida do homem. A recuperação espontânea do controle urinário normal, após a cirurgia, pode levar de um a dois anos. Nesse contexto, a fisioterapia destaca-se como um recurso que pode acelerar o processo de recuperação, e, em muitos casos, garantir a continência urinária. A partir de uma revisão bibliográfica, verificam-se, na literatura, estudos com fisioterapia pós-prostatectomia radical, nos quais foram investigados os resultados de estudos de reeducação do assoalho pélvico com cinesioterapia, biofeedback e eletroestimulação. A partir dessa revisão, pode-se concluir que a reeducação do assoalho pélvico deveria ser considerada UROLOGI A 20 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 como primeira opção na redução da incontinência urinária. Além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes, é um tratamento de baixo custo, não invasivo e com raros efeitos colaterais ou complicações em comparação com o tratamento farmacológico e cirúrgico. Introdução Atualmente, a Sociedade Internacional de Continência (ICS) define como incontinência urinária (IU) toda e qualquer perda involuntária de urina.1 A incontinência urinária de esforço (IUE) é determinada pela perda da urina durante o aumento da pressão intra-abdominal, na ausência de contração do detrusor.2 Esse tipo de incontinência é uma complicação comum em homens que se submeteram a uma prostatectomia radical (PR), visto que a função do esfíncter distal fica alterada. 2-4 multidisciplinaridade Fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia radical Maria Helena Rezende Rodrigues Nesse tipo de cirurgia, retiram-se o esfíncter uretral proximal, o ápice prostático, o verumontanum assim como parte do esfíncter distal, ficando apenas o seu segmento remanescente como responsável pela continência. Isso provoca o encurtamento funcional da uretra, fator fundamental no desenvolvimento da incontinência urinária.5 Além do encurtamento do esfíncter, muitos fatores de risco têm sido descritos como causadores do aumento da possibilidade de incontinência após a prostatectomia radical: prévia ressecção transuretral da próstata, retirada dos feixes vásculo-nervosos, imobilização esfincteriana, isquemia e atrofia uretrais, idade avançada do paciente, estágio patológico do tumor, a técnica cirúrgica e a habilidade do cirurgião.4,5 De acordo com um estudo feito, recentemente, pelo sistema de saúde americano Medicare, foi demonstrado que entre setecentos e cinqüenta e sete pacientes submetidos à prostatectomia radical, cerca de 50% desses indivíduos apresentaram incontinência urinária. Porém, a incidência de qualquer nível de incontinência pós-prostatectomia radical varia muito. Logo após a retirada da sonda, a incidência é de 91%, de acordo com alguns estudos. Vários autores relatam que 95% desses pacientes ficam continentes após um ano de cirurgia e outros afirmam que a porcentagem de continentes não atinge 40%, passado um ano de efetuada a retirada do tumor.5,6 A recuperação espontânea do controle urinário pode levar de um a dois anos, após a cirurgia.4 Durante esse período, a IU afeta significativamente a qualidade de vida do homem em todos os seus aspectos – físico, psicológico, social, doméstico, ocupacional, e sexual. Devido à IU o paciente muda de comportamento para conter a perda urinária, modifica o vestuário, os hábitos de dormir, a ingestão de líquidos, a alimentação. Essas modificações, nas atividades de vida diária, acabam por gerar isolamento social, sexual, afastamentos das atividades de lazer e trabalho.5,7,8 Logo, considera-se a IU pós-prostatectomia como um sério problema de saúde pública, gerando gastos excessivos com medicamentos, fraldas geriátricas, absorventes e principalmente com internações hospitalares e cirurgias.4,6,7 Dentre os tratamentos que visam a restabelecer a função dos músculos esfincterianos destaca-se a fisioterapia com recursos de exercícios com ou sem biofeedback e eletro-estimulação.4,9 Atualmente, a fisioterapia é considerada como tratamento de primeira linha, já que é um tratamento não invasivo, de baixo custo, tendo como resultado o alívio dos sintomas, a diminuição do grau e do tempo de duração da incontinência nos pacientes prostatectomizados.4,7,9,10 Geralmente, a efetividade do tratamento conservador tem sido largamente investigada.11 Mas, a específica eficácia da abordagem fisioterapêutica, só pode ser avaliada através de estudos randomizados e controlados, uma vez que os sintomas da incontinência tendem a melhorar com o tempo, mesmo sem intervenção.6,12 Diante desses fatos, este estudo tornou-se de extrema relevância por ser a fisioterapia uma opção de tratamento valiosa na assistência a pacientes, que se submeteram à prostatectomia radical e que apresentam incontinência urinária, devido a uma insuficiência do esfíncter distal da uretra.6,7 Objetivo Verificar a efetividade das técnicas fisioterapêuticas no tratamento da incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia. U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 21 multidisciplinaridade Fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia radical Maria Helena Rezende Rodrigues Métodos Trata-se de uma revisão da literatura nas bases de dados MedLine, PubMed Cochrane library, PEDro foram incluídos experimentos randomizados, revisões sistemáticas de estudos controlados e aleatórios publicados nas línguas Inglesa, Espanhola e Portuguesa, realizadas no período de 1991 a 2009, sobre os efeitos da intervenção fisioterapêutica na IU por incompetência esfincteriana. Nesta pesquisa, foram selecionados nove experimentos, considerando a fisioterapia para homens incontinentes após a prostatectomia radical. Todos os estudos foram controlados e aleatórios MacDonald et al (2007), Kahihara (2003), Wille et al (2003), Parekh et al (2003), Floratos et al (2002), Franke et al (2000 VanKampen et al (2000), Moore et al (1999) e Mathewson-Chapman (1997).4,8,9,10,13-17 A qualidade metodológica desses estudos, foi baseada na escala de qualidade PEDro de revisões sistemáticas de experimentos randomizados e controlados de fisioterapia para incontinência após prostatectomia, variando entre 3 a 7 numa escala de 10 pontos, exceto o estudo de Kahihara (2003). Tratamento Fisioterapêutico O tratamento conservador da IUE pós-prostatectomia radical é definido como qualquer estratégia de tratamento que não envolva intervenção cirúrgica. Esse tipo de tratamento inclui a cinesioterapia, o biofeedback e a eletro-estimulação.12 Como foi dito anteriormente, a ocorrência de incontinência, principalmente no período pós-ope- Tabela 1 Cronograma do processo de encaminhamento e diagnostico fisioterapeutico Encaminhamento para intervenção fisioterapêutica Especialista Diagnóstico médico (urodinâmica) Indicação diagnóstica Indicação dos dados Clínico Geral Diagnóstico médico (?) (SEM urodinâmica) Indicação diagnóstica Indicação dos dados Fisioterapia Processo de diagnóstico História coletada Exame físico * exame geral * exame local Dados relevantes de: Auto-relato subjetivo: * questionários * diários (diário de micção) Testes funcionais (padtest) Modificado de Bergmans B.2 UROLOGI A 22 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 Observação Fisioterapia / diagnóstico Inventário do problema de saúde: * natureza * severidade * fatores de obstrução multidisciplinaridade Fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia radical Maria Helena Rezende Rodrigues ratório recente, é de difícil aceitação para os pacientes e existem evidências de que pacientes incontinentes parecem beneficiar-se de suporte.6,8 Avaliação Fisioterapêutica Com base no diagnóstico médico, realiza-se a avaliação fisioterapêutica, tendo como finalidade avaliar, analisar e estudar a natureza e o grau da incontinência urinária. Portanto, é necessária uma anamnese sistemática a fim de estabelecer e registrar: a severidade do problema de saúde, a natureza da patologia de base e os fatores que possam interferir na melhora do paciente.18,19 Existe uma grande variedade de formas de quantificar-se, objetivamente, a incontinência urinária. Geralmente, é baseada no número de Figura 1 Os MAP são constituídos de duas camadas musculares, o diafragma pélvico (localização cranial) e o diafragma urogenital (localização caudal). (Kari Bo)6 absorventes em que de 0 a 1 absorvente é considerado como continente. Há inclusive diversos pad testes que são usados para medir de forma exata a incontinência, podendo ser de 20, 40, 60 minutos e de 24 e 48 horas. Outras medidas constam de diário miccional para contar os episódios de perdas urinárias, avaliação da força do assoalho pélvico através do teste digital, escala visual analógica, questionários de qualidade de vida para incontinência – Tabela 1.6 Treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) Diferentes tipos de intervenções são utilizados pelo fisioterapeuta na IUE pós-PR, assim sendo, o TMAP envolve qualquer método de treinamento dos músculos do assoalho pélvico, incluindo exercícios, biofeedback, estimulação elétrica ou a combinação desses recursos.12,18 Exercícios da musculatura do assoalho pélvico (EMSP) Os exercícios do assoalho pélvico (EMSP) podem ser considerados como tratamento de primeira opção da IUE, por reforçar a função de suporte dos órgãos pélvicos, aumentar força e motricidade voluntária esfincteriana, desenvolver o reflexo de contração perineal aos esforços e conseqüentemente aumentar a pressão uretral.2,18 Através da avaliação dos músculos do assoalho pélvico. Figura 1 – determina-se a intensidade da contração do períneo. De uma maneira geral é recomendado de oito a doze contrações máximas, mantendo cada contração durante seis a oito segundos, três vezes ao dia.1,18 Van Kanpen et al recomendam 30 contrações rápidas dos MAP três vezes ao dia, podendo ser executadas em qualquer das três posições: supina, sentado ou em pé.4 U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 23 multidisciplinaridade Fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia radical Maria Helena Rezende Rodrigues Tabela 2 Erros comuns ao tentar contrair os músculos do assoalho pélvico – (Kari Bo)6 Erro Observar Contração dos músculos Retroversão pélvica ou abdominais ao invés dos MAP contração do abdomen. Contração dos músculos adutores Contração dos músculos do quadril ao invés dos MAP adutores da coxa. Contração dos músculos Contração das nádegas. glúteos ao invés dos MAP Entrar em apnéia Prender a respiração. Inspiração forçada Inspiração profunda sempre acompanhada de contração dos músculos abdominais, e tentativa errônea de "levantar" o assoalho pélvico na inspiração. Manobra de Valsalva Pressão dos MAP para baixo. O períneo pode ser visto sendo pressionado na direção caudal. No caso de pro lapso este pode ser protruido. Antes de iniciar um programa de TMAP é essencial ter certeza de que o paciente seja capaz de executar uma contração correta dos músculos do períneo – Tabela 2. Todavia, é necessário enfatizar não apenas a contração correta dos músculos perineais, mas também o relaxamento adequado dos mesmos a fim de que ocorra uma melhora eficaz.2,6,7,18 Os objetivos do treinamento de força são: mudar a morfologia dos músculos, Figura 2 – aumentando a área da seção transversa; melhorar as estruturas neurológicas pelo aumento do número de motoneurônios e sua freqüência de excitação; e, melhorar o “tônus” ou firmeza dos mesmos. Figura 2 – Na incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia radical, deve ser elaborado UROLOGI A 24 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 um programa de treinamento periódico intensivo e de longa duração, constando de exercícios de contração rápida e de contração longa, com estratégia de sobrecarga.4 Sempre que ativamos qualquer músculo do corpo, mudanças fisiológicas ocorrem na musculatura ativada (Tabela 3).6 O treinamento para aumentar a força muscular requer duas estratégias gerais de carga: 1 Treinamentos de cargas moderadas a intensas são necessárias para recrutar o limite máximo das unidades motoras de contração rápida para força, mas isto implica em contrações em velocidade moderada a lenta. 2 Incorporar desempenho de cargas leve a moderada a uma velocidade de explosão e levantamento. Figura 3 – O paciente é solicitado a contrair o máximo possível os MAP, multidisciplinaridade Fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia radical Maria Helena Rezende Rodrigues tentar segurar a contração, e então acrescentar três a quatro contrações rápidas no topo do período de sustentação.6 MacDonald et al (2007) realizou uma revisão sistemática, sobre a eficácia do TMAP para melhorar incontinência urinária pós-prostatectomia radical, em onze estudos randomizados com mil e vinte e oito homens, num período de três a doze meses. Em um estudo com trezentos homens, aqueles que foram tratados com TMAP ficaram continentes mais rapidamente após um, três e seis meses que os homens que não receberam nenhum tratamento.9 Figura 2 Os MAP são músculos voluntários estriados esqueléticos e, portanto se adaptam ao treinamento de força da mesma maneira que os outros músculos. (Kari Bo)6 Tabela 3 Adaptação das Fibras Musculares com Treinamento de Resistência – (Kari Bo)6 Variáveis Resposta adaptacional do músculo Miofibrila conteúdo protéico da fibra muscular Densidade capilar Densidade do volume mitocondrial Mioglobina Succinato desidrogenase Maiato desidrogenase Citrato sintase 3 hidroxiacil-CoA desidrogenase Creatina fosfoquinase Miokinase Fosfofrutoquinase Lactato desidrogenase ATP armazenado PC armazenado Glicogênio armanezado ? Triglicerides armazenado Composição de miosina na cadeia pesada Devagar a rápido ATP, trifosfato de adenosina, PC, fosforocreatina U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 25 multidisciplinaridade Fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia radical Maria Helena Rezende Rodrigues Figura 3 Progressão da Contração dos MAP – (Kari Bo)6 1º Estágio: contração máxima dos MAP. 2º Manutenção da contração. 3º Contração máxima com três contrações de fibras fasicas. Kahihara (2003) verificou a eficácia da cinesioterapia para redução da incontinência urinária por incompetência esfincteriana, em homens, com idade entre cinqüenta e três e setenta e três anos. A intervenção foi iniciada dois meses após a retirada do tumor. O tratamento constou de 40 minutos de cinesioterapia, uma vez por semana na clínica, durante doze semanas. E mais exercícios domiciliares, constando de três séries de trinta contrações ao dia. A cinesioterapia reduziu a incontinência urinária e proporcionou melhora na qualidade de vida, nesse grupo de pacientes. 10 Segundo estudo randomizado e controlado, realizado por Van Kampen et al (2000), uma diferença significativa na incontinência após a prostatectomia radical, foi encontrada, entre o grupo experimental e o grupo controle. Nessa pesquisa, os exercícios do assoalho pélvico foram iniciados, imediatamente, após a retirada da sonda. E, os pacientes foram tratados, uma vez por semana, enquanto persistisse qualquer grau de incontinência, durante o período de um ano. 4 UROLOGI A 26 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 Exercícios com biofeedback (BFB) Biofeedback é uma técnica que usa equipamentos eletrônicos para mostrar ao paciente informações sobre a contração e o relaxamento dos MAP em forma de sinais visuais e /ou auditivos, permitindo ao mesmo um autocontrole desses músculos.18,20 Figura 4 – Através do registro de um eletrodo intra-retal o paciente pode ver em um monitor em que proporção consegue contrair ou relaxar adequadamente os MAP.2,18 O BFB é indicado como uma estratégia importante para acelerar e restaurar a consciência insuficiente ou ausente dos MAP em pacientes que não conseguem contrair ou relaxar voluntariamente esses músculos, ou ainda apresentam uma contração fraca na avaliação inicial.2,18,20 MacDonald (2007), em uma revisão sistemática de quatro estudos aleatórios concluiu que os homens os quais fizeram TMAP com biofeedback ficaram continentes antes dos que não tiveram nenhum treinamento, durante um a dois meses, após a cirurgia de prostatectomia radical. Entretanto, o aumento desses benefícios, após três a quatro meses, em cinco estudos pesquisados, não foi significativo. Nesses estu- multidisciplinaridade Fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia radical Maria Helena Rezende Rodrigues Figura 4 Equipamento de biofeedback para incontinência urinária – (Berghmans B)2 dos, o TMAP com biofeedback foi comparados às instruções verbais e escritas.9 De acordo com pesquisa controlada e randomizada de Parekh et al (2003), em trinta e oito homens, divididos em dois grupos, ficando dezenove em cada grupo. O grupo experimental foi tratado, antes e após a cirurgia, uma a três vezes por semana, durante três meses, com TMAP e BFB, dependendo da necessidade do paciente e explicação detalhada dos exercícios. Já o grupo controle não recebeu nenhuma instrução formal do TMAP. Em doze semanas, houve uma diferença significa- tiva na recuperação da continência entre os grupos experimental e controle. Foi também possível observar significativa diferença na redução da incontinência, a médio prazo, entre os dois grupos.17 Em estudo controlado e aleatório, realizado por Van Kampen et al (2000) participaram cento e dois homens, ficando cinqüenta no grupo experimental e cinqüenta e dois no grupo controle. O tratamento experimental consistiu de 30 minutos de TMAP mais BFB uma vez por semana até ficarem continentes além dos exercícios domiciliares, durante um ano. E o grupo controle fez 30 minutos de Eletro Estimulação placebo uma vez por semana, até quando durou a incontinência, também num período de um ano. Houve uma diferença significativa entre os dois grupos na duração e grau da incontinência em um, seis e doze meses, após a prostatectomia radical.4 Franke et al (2000) não encontraram diferença significativa entre os grupos experimental e controle. Os pacientes iniciaram o tratamento, na sexta semana do período pós-operatório, com exercícios e biofeedback e realizaram cinco sessões. Nesse estudo, existe um considerável índice de desistência.16 Em mais três estudos, controlados e randomizados, feitos por Floratos et al (2002), Mathewson-Chapman (1997) e Wille et al (2003) não comprovaram um efeito adicional ao acréscimo do biofeedback aos exercícios ou apenas às instruções verbais.13-15 Eletroestimulação (EE) Na IUE pós-prostatectomia radical EE. Figura 5 – envolve qualquer tipo de estimulação que utiliza eletrodo retal ou transcutaneo. Figura 6 – O objetivo da EE na IUE pós-prostatectomia radical é melhorar a função dos MAP2,6,18 e despertar a consciência perineal.3,4 Todavia, alguns clínicos consideram a U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 27 multidisciplinaridade Fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia radical Maria Helena Rezende Rodrigues Figura 5 Aparelhos de consultório e domiciliares para estimulação elétrica – (Berghmans B)2 contração voluntaria dos MAP feita simultaneamente com o estimulo elétrico, um meio eficaz de fortalecer o assoalho pélvico.2,6,18 Sendo assim, é utilizada uma sonda retal com uma corrente de tensão nula alternada ou bifásica, uma freqüência de 50Hz a 60Hz e uma largura de pulso de 0, 2 a 0, 5 ms. A intensidade é ajustada de acordo com a tolerância máxima do paciente.4 MacDonald (2007) observou, em apenas um estudo randomizado, que a eletro-estimulação, no primeiro e segundo mês era mais eficaz que exercícios isolados, mas não havia diferença significativa entre os grupos, após o terceiro mês de tratamento.9 Segundo dois estudos, controlados e randomizados, realizados por Moore et al (1999) e Wille et al (2003) não ficou provado nenhum efeito adicional, ao acrescentar estimulação elétrica aos exercícios, ou apenas, às instruções verbais.8,13 Custos do Tratamento Não foi fornecida nenhuma informação sobre o custo total da intervenção fisioterapêutica. Porém, um estudo feito por Wille et UROLOGI A 28 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 al (2003) fornece detalhes sobre os custos de aparelhos portáteis de biofeedback e eletroestimulação.13 E, em outro estudo, Van Kampen et al (2000), o número de sessões de fisioterapia foi calculado, em média, de oito no grupo experimental e de dezesseis no grupo controle. Portanto, os autores concluíram que o custo do tratamento foi baixo.4,13 Discussão Incontinência urinária é um problema comum após a prostatectomia radical, assim sendo, todos os pacientes com prejuízo da qualidade de vida devem ser avaliados e tratados, reservando-se os procedimentos mais agressivos para depois do primeiro e segundo ano do pós-operatório.4,10 Segundo Sengler e Grosse (2002), justifica-se um atendimento educativo e informativo, com o objetivo de tentar desaparecer o mais rápido possível a incontinência. Pois a recuperação espontânea é freqüentemente muito longa no homem.3,10 Nessa pesquisa, três estudos feitos por MacDonald (2007), Van Kampen (2000) e multidisciplinaridade Fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia radical Maria Helena Rezende Rodrigues Figura 6 Eletrodos vaginal, retal e transcutâneos Kahihara (2003) descrevem os benefícios evidentes na recuperação da incontinência com TMAP.4,9,10 Entretanto, em um estudo feito por Moore et al (1999), um paciente reclamou de dor retal ao contrair os músculos do assoalho pélvico e interrompeu o tratamento.8 Mas, nenhum outro autor descreve efeitos adversos dos exercícios perineais no tratamento da IUE após a prostatectomia radical. Três experimentos mostraram que o TMAP com biofeedback é significativamente mais eficaz, após a prostatectomia radical, do que nenhum tratamento ou tratamento placebo, no período pós-operatório, imediatamente depois da retirada da sonda, MacDonald et al (2007), Parekh et al (2003) e Van Kampen(2000).4,9,17 Análise de um possível efeito adicional do biofeedback ou estimulação elétrica ao TMAP sozinho ou informação apenas não demonstrou vantagem no tratamento de homens que se submeteram a uma prostatectomia radical: cinco estudos não encontraram um efeito positivo o de Wille (2003), de Floratos (2002), de Franke (2000), de Moore et al (1999) e o estudo de Mathewson-Chapman (1997).8,13-16 É importante considerar várias limitações nos diferentes estudos. A variedade de formas usadas para quantificar a incontinência urinária, sendo a mais usada o pad teste descrito nos estudos de Wille et al(2003), de Kahihara (2003) e de Floratos et al ((2002). Na maioria dos estudos de zero a um absorvente em 24 horas de uso é considerado como continente. A severidade da incontinência foi objetivamente medida pela ICS através do pad teste de 1 hora ou durante 24 horas. Essas medidas foram utilizadas respectivamente nos estudos de Floratos et al (2002), Van Kampen et al (2000) e de Moore et al (1999). Alguns estudos descreveram um número limitado de tratamentos. Não se sabe se efeitos positivos poderiam ser encontrados, caso os pacientes fossem tratados com mais frequência.4,8,10,13,14 Conclusão A reeducação do assoalho pélvico deveria ser considerada como primeira opção na redução da incontinência urinária. Além de diminuir o grau e a duração da incontinência, melhora a qualidade de vida dos pacientes. É um tratamento de baixo custo, não invasivo e com raros efeitos colaterais ou complicações em comparação aos tratamentos farmacológicos e cirúrgicos. Um programa adequado de reeducação do assoalho pélvico deveria ser oferecido para todo paciente com incontinência urinária, logo após a cirurgia o mais cedo possível, quando o índice de incontinência é maior e o tratamento é mais eficaz, por acelerar a recuperação do paciente, que pode durar até doze meses, depois da intervenção cirúrgica. Em três estudos, ficou comprovado que os exercícios dos MSP reduzem o grau e a duração IU por insuficiência esfincteriana pós-PR. Após a PR, existe comprovação de três estudos que o TMAP com biofeedback é significantemente mais eficaz do que informação ou tratamento placebo, no período pós-operatório, imediatamente depois da retirada da sonda. Cinco estudos concluíram que existem U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 29 multidisciplinaridade Fisioterapia no tratamento da incontinência urinária de esforço pós-prostatectomia radical Maria Helena Rezende Rodrigues benefícios limitados ou nenhum benefício na orientação do TMAP, acrescentando o biofeedback ou a eletroestimulação. Em apenas um dos experimentos, os pacientes do grupo controle não foram informados sobre o TMAP. O conhecimento sobre o efeito da fisioterapia na incontinência urinária permanece limitado. Pesquisas futuras são necessárias para determinarem quando e qual modalidade terapêutica trará maior benefício para os homens. Referências 1. International Continence Society. Committee on Standardization of Terminology. The standardization of teminology of urinària de pacientes prostatectomizados. Fisioter. Bras. 2003 Jul-Ago; 4(4):265-270. lower urinary tract function. In: Ostergard DR, Ben: AE. Uro- 11.Ceresoli A, Zanetti G, Trinchieri A, Seveso M, Del Nero gynecology and urodynamics: theory and practice. 3. ed. Bal- A, Meligrana C, et al. [Stress urinary incontinence after timore: Williams & Wilkins; 1991. p. 545-62. perineal radical prostatectomy]. Arch Ital Urol Androl. 2. Berghmans LCM, Bernards ATM, Bluyssen AMWL, Grupping- 1995 Jun;67(3):207-10. -Morel MHM, Hemdriks HJM, de Jong-von Ierland MJEA, et 12.Hunter KF, Glazener CM, Moore KN. Conservative manage- al. Clinical practice guidelines for the physical therapy in pa- ment for postprostatectomy urinary incontinence. Cochrane tients with stress urinary incontinence. Urodinamica urogi- Database Syst Rev. 2007 Apr 18;(2):CD001843. 13.Wille S, Sobottka A, Heidenreich A, Hofmann R. Pelvic floor necol. 2003 6(1):1-14. 3. Sengler J, Grosse D. Reeducação perineal. São Paulo: Mano- exercises, electrical stimulation and biofeedback after radical prostatectomy: results of a prospective randomized trial. le; 2002. 4. Van Kampen M, De Weerdt W, Van Poppel H, De Ridder D, J Urol. 2003 Aug;170(2 Pt 1):490-3. Feys H, Baert L. Effect of pelvic-floor re-education on dura- 14. Floratos DL, Sonke GS, Rapidou CA, Alivizatos GJ, Delivelio- tion and degree of incontinence after radical prostatectomy: tis C, Constantinides CA, et al. Biofeedback vs verbal feed- a randomised controlled trial. Lancet. 2000 8;355(9198):98- back as learning tools for pelvic muscle exercises in the ear- 102. ly management of urinary incontinence after radical prosta- 5. Wroclawski E, Rios L. Incontinência urinária pós-prostatec- tectomy. BJU Int. 2002 May;89(7):714-9. tomia. In: D’Ancona CLA, Netto Jr NR. Aplicações clínicas 15. Mathewson-Chapman M. Pelvic muscle exercise/biofeedba- da urodinâmica. 3. ed. São Paulo: Atheneu; 2001, p. 203-210. ck for urinary incontinence after prostatectomy: an educa- 6. Bo K, Bergumans B, Morkved S, Van Kampen M. Evidence-based physical therapy for the pelvic floor. London: Else- tion program. J Cancer Educ. 1997 Winter;12(4):218-23. 16.Franke JJ, Gilbert WB, Grier J, Koch MO, Shyr Y, Smith JA Jr. Early post-prostatectomy pelvic floor biofeedback. J Urol. vier; 2007. 7. Hulme AJ. Beyond Kegels. Missoula, Montana: Phoenix Pu- 2000 Jan;163(1):191-3. 17. Parekh AR, Feng MI, Kirages D, Bremner H, Kaswick J, Abo- blishing Co.; 1997. 8. Moore KN, Griffiths D, Hughton A. Urinary incontinence after radical prostatectomy: a randomized controlled trial comparing pelvic muscle exercises with or without electrical sti- seif S. The role of pelvic floor exercises on post-prostatectomy incontinence. J Urol. 2003 Jul;170(1):130-3 18. Berghmans B. El papel del fisioterapeuta pélvico. Actas Urol Esp. 2006;30(2):110-12. mulation. BJU Int. 1999 Jan;83(1):57-65. 9. MacDonald R, Fink HA, Huckabay C, Monga M, Wilt TJ. Pel- 19. Peyromaure M, Ravery V, Boccon-Gibod L. The management vic floor muscle training to improve urinary incontinence af- of stress urinary incontinence after radical prostatectomy. ter radical prostatectomy: a systematic review of effective10. K akihara CT. Cinesioterapia na redução da incontinência UROLOGI A 30 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO BJU Int. 2002 Jul;90(2):155-61. 20. Wilson JWL. Biofeedback shows promise for postradical pros- ness. BJU Int. 2007 Jul;100(1):76-81. 2010 tatectomy urinary incontinence. J Urol. 1996;156(suppl 8):S16. UROLOGIA DE CONSULTÓRIO www.urologiacontemporanea.org.br Sylvio Quadros Mercês Júnior Ex-chefe do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis da Sociedade Brasileira de Urologia Uretrites E ntendemos por URETRITE qualquer processo inflamatório e/ ou infeccioso que acometa a mucosa uretral, nos seus diversos segmentos anatômicos. A classificação proposta em 1993, por Dr. Italvar Rios, nos parece a que melhor abarca o assunto: 1.Uretrites Gonocócicas 2.Uretrites Chlamydianas 3.Uretrites por germes conhecidos 4.Uretrites por germes desconhecidos Acrescentamos a esses itens as Uretrites MISTAS, quando ocorrem associações de microrganismos patogênicos levando a quadro clinico pertinente. Apesar do relativo descaso com que as uretrites são vistas, necessário se faz um diagnóstico etiológico preciso para que se possa evitar tratamentos com drogas múltiplas, o que costuma acontecer nas chamadas “abordagens sindrômicas”. Além do mais, situações de sub-tratamento ou antibioticoterapia inadequada podem levar a complicações, que vão desde “cronificação” do processo inflamatório até infertilidade, passando pelas estenoses uretrais. UROLOGI A 32 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 Via de regra, os pacientes chegam ao consultório do urologista já “manipulados”, seja em face à automedicação, seja pela “orientação” do balconista da farmácia. A anamnese é muito importante. Deve-se investigar a história sexual com vistas ao período de incubação, variável consoante o tipo de uretrite. Porém, de maior relevância é o exame laboratorial adequado, o que permite, na maioria das vezes, um diagnóstico diferencial significativo. Para tal, não há a necessidade de maiores sofisticações – um técnico de laboratório treinado para fazer um exame direto “a fresco” e para utilizar um corante de Gram no fluxo uretral é mais do que suficiente para que possamos estabelecer uma terapêutica precisa. Entretanto, quando não dispomos desse armamentário simples, facilmente exequível e de baixo custo, devemos optar pela abordagem sindrômica, cujos detalhes serão explicitados adiante. Uretrite Gonocócica Definição Processo infeccioso e inflamatório da uretra causada pelo gonococo. Portanto, UROLOGIA DE CONSULTÓRIO Uretrites Sylvio Quadros Mercês Júnior Figura 1 Uretrite Gonocócica Tratamento Ceftriaxona 500 mg. VO em dose única Tianfenicol granulado – 2,5 gr. VO em dose única. Repetir a posologia com 24 horas Azitromicina – 2,0 gr., VO em dose única Uretrite Chlamydiana trata-se de uma doença transmitida exclusivamente pelo intercurso sexual. Quadro clínico Cerca de 2 a 3 dias após relação sexual contaminante, o indivíduo passa a apresentar prurido e desconforto uretrais, seguidos de uma secreção espessa, odorífica, abundante e tipicamente purulenta. Apesar desse período de incubação poder variar de 12 horas a 3 meses, mais frequentemente ele obedece à regra de ser um período de tempo curto. Laboratório Gram da secreção uretral – Presença de diplococos Gram-negativos intracelulares, reniformes. (A presença de diplococos extracelulares não caracteriza diagnóstico de gonococcia) Cultura de Thayer-Martin – É um exame bastante específico para gonococo, mas que somente deve ser solicitado quando o paciente não responde adequadamente ao tratamento inicial, com perpetuação dos sinais e sintomas clínicos. PCR – Método dispendioso e sem resultado imediato Definição Processo infeccioso e inflamatório da uretra causado pela Chlamydia tracomatis. Quadro clínico O período de incubação tende a ser mais prolongado que o da uretrite gonocócica, em geral variando de 1 a 2 semanas. O desconforto uretral é pouco significativo. A secreção que se evade pelo meato, quase sempre ínfima e de aspecto mucóide, se torna mais evidente no período matutino. Laboratório Não se consegue fazer diagnóstico de Chlamydia tracomatis à análise da secreção. Como esse microrganismo tem um comportamento biológico exclusivamente intracelular, são os seguintes os métodos de escolha para a sua detecção: Figura 2 Uretrite Chlamydiana U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 33 UROLOGIA DE CONSULTÓRIO Uretrites Sylvio Quadros Mercês Júnior Imunofluorescência direta para Chlamydia tracomatis: Realizada no esfregaço da mucosa do meato uretral, até a fossa navicular. (É considerado o método “padrão ouro”) Elisa – Método realizado através de análise sérica, inespecífico no que se refere à localização da Chlamydia. PCR e LCR – Excelente especificidade e acurácia, porém tem ainda custo muito elevado e demora na obtenção dos resultados Observação Se o esfregaço da secreção uretral de um paciente sintomático tiver acima de 5 PMN/ campo, ausência de DGN intracelular aos pares, ou se houver mais de 20 leucócitos no sedimento do primeiro jato miccional, estaria indicado o tratamento para uretrite não gonocócica. Tratamento Azitromicina 2 gr., VO em dose única Doxiciclina 100 mg. a cada 12 horas VO por 15 dias Cloridrato de tetraciclina 500 mg., a cada 6 horas, VO por 10 dias Uretrites por germes conhecidos Definição Processos inflamatórios e infecciosos nos quais, após afastada a presença de Gonococo ou de Chlamydia tracomatis, se identifica por exames específicos um ou mais dos seguintes microrganismos: Trichomonas vaginalis Ureaplasma urealyticum Mycoplasma hominis Staphylococcus SP Candida albicans Quadro clínico Muito semelhante ao que ocorre na uretrite chlamydiana. O período de incubação se estende normalmente por cerca de 1 a 2 semanas e o fluxo, escasso, costuma cursar sem UROLOGI A 34 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 sintomas urentes. Por outro lado, pode haver discreto desconforto uretral crônico na ausência de secreção, o que suscitaria investigação laboratorial adequada. Laboratório Trichomonas vaginalis – exame direto “a fresco” da secreção uretral Ureaplasma urealyticum – Cultura específica Mycoplasma hominis – Cultura específica Staphylococcus SP – Cultura da secreção uretral Candida albicans – Exame micológico direto (Tinta da China) Tratamento Trichomonas vaginalis: Tinidazol 150 mg., VO a cada 12 horas por 5 dias Secnidazol 2 gr., VO em dose única ao deitar Ornidazol 1,5 gr., VO em dose única ao deitar Nimorazol 250 mg., VO a cada 12 horas por 5 dias Ureaplasma urealyticum e Mycoplasma hominis: Azitromicina 2 gr, VO em dose única Doxiciclina 100 mg. VO a cada 12 horas por 14 dias Stalphylococcus SP: Fenoxibenzil penicilina (Pen-ve-oral) 500.000 U.I. VO de 6 em 6 horas, por 10 dias Candida albicans: Fluconazol 15 mg. VO em dose única Itraconazol 150 mg. VO em dose única Abordagem sindrômica A Organização Mundial da Saúde recomenda que, naqueles casos em que o diagnóstico laboratorial é impraticável no sentido de tornar factível uma firmeza diagnóstica precisa, deve-se proceder à abordagem sindrômica, que significa associar-se dois fármacos que possam tratar simultaneamente o Gonococo e a Chlamydia tracomatis, UROLOGIA DE CONSULTÓRIO Uretrites Sylvio Quadros Mercês Júnior microrganismos responsáveis pela quase totalidade dos casos em que processos inflamatórios e infecciosos da mucosa uretral determinam os sintomas e sinais referidos pelos pacientes. Assim, as seguintes associações medica mentosas podem ser feitas com essa finalidade: • Ceftriaxona + Azitromicina • Ceftriaxona + Doxiciclina ou • TIANFENICOL 5,0 gr.(DU)........................... ........................................500 mg. 2x/d > 14 d. Uretrite por germes desconhecidos Definição Processos inflamatórios da uretra, nos quais, mesmo sintomáticos, não se consegue – após investigação laboratorial – a identificação de qualquer agente etiológico. Tipos Uretrite mecânica Uretrite herpética Uretrite associada a condiloma intra-uretral Uretrite associada a neoplasia de uretra Uretrite puramente psicogênica Quadro clínico Mecânica – Quase invariavelmente sintomas importantes e persistentes de ardência, sobretudo no segmento pendular da uretra, secundários à ordenha compulsiva. Podem cursar com ínfimo fluxo mucóide em decorrência da expressão das glândulas de Littré. Herpética – Sintomas urentes inexplicáveis e persistentes. O diagnóstico diferencial é feito quando se consegue associar tal sintomatologia com episódios de herpes genital. Nesses casos há uma resposta clinica satisfatória ao teste terapêutico com antivirais específicos para o vírus do herpes (aciclovir, valaciclovir e famciclovir) Condiloma uretral e neoplasia intra-uretral – Classicamente a história clinica é de obstrução, representada pelo afilamento ou bifurcação do jato miccional. Por vezes o quadro obstrutivo pode se manifestar de forma abrupta. O diagnóstico requer uretroscopia. Nos casos de condiloma, o tratamento pode variar de acordo com a localização do fator obstrutivo, dando-se preferência à meatotomia e eletrocauterização nas lesões distais, enquanto que nas proximais, fulguração endoscópica com probe utilizado para tratamento de válvula da uretra posterior. Psicogênica – Trata-se de diagnóstico de exclusão quando, depois de esgotadas todas as investigações diagnósticas e além de não se conseguir identificar qualquer agente etiológico, o paciente continuar referindo queixas de incômodo ou ardência na uretra a despeito da ausência de secreção. São situações freqüentes, cabendo ao urologista, de maneira estratégica e com uma boa dose de esclarecimento, encaminhar o paciente a um tratamento psicológico adequado. Considerações finais É fundamental que sejam relevados os seguintes aspectos quando nos propomos a tratar corretamente as uretrites: •80% das mulheres contaminadas estão assintomáticas, daí a necessidade do aconselhamento e da investigação da(s) parceira (s) sexual (is); •Os homens também podem estar assintomáticos em cerca de 5% das gonococcias e em torno de 40% das uretrites não gonocócicas; •Deve-se, sempre que possível, reavaliar os pacientes 48 horas após a instituição da terapêutica e com 7 e 14 dias a seguir. Exames laboratoriais de controle farão o U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 35 UROLOGIA DE CONSULTÓRIO Uretrites Sylvio Quadros Mercês Júnior discernimento apropriado entre a cura clinica e laboratorial propriamente dita; •Entre 40 e 60 dias o paciente deverá fazer sorologia para sífilis (VDRL) e com 180 dias investigação de anti-HIV sérico pelo método de ELISA. Tais cuidados podem contribuir sobremaneira, não apenas para a efetivação de uma abordagem eficaz dos pacientes com uretrite, mas também para que se possa evitar a disseminação dessa doença que na maioria das vezes é transmitida pelo intercurso sexual. UROLOGI A 36 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 Leituras recomendadas 1. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST/AIDS. Manual de controle das doenças sexualmente transmissíveis. Brasília, DF: O Ministério; 2006. 2. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST/AIDS. Prevalência e frequência relativas de doenças sexualmente transmissíveis em populações selecionadas de seis capitais brasileiras. Brasília, DF: O Ministério; 2005. 3. Morse AS, Moreland AA, Holmes KK. Atlas de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids. São Paulo: Artes Médicas; 1997. 4. Rios C, Mercês Jr Q, Rios Filho C. DST na prática diária; 2002. Técnicas Cirúrgicas www.urologiacontemporanea.org.br Paulo H. Egydio Doutorado em Urologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP Correção da curvatura peniana usando os princípios geométricos Introdução A doença de Peyronie está invariavelmente associada ao encurtamento peniano. A correção cirúrgica tem como objetivo além de restaurar a funcionalidade do pênis, recuperar o máximo possível da condição peniana anterior à doença. Os pacientes com curvatura peniana associada ou não à disfunção erétil, não responsivo ao tratamento clínico, mantendo um pênis não funcional, ou seja, inadequado para o ato sexual requerem tratamento cirúrgico. A curvatura peniana e a função erétil são avaliadas anteriormente à cirurgia através da história médica e ereção induzida com 10 mcg de alprostadil associada à ultra-sonografia com Doppler. Diferentes tipos de incisões de relaxamento na túnica albugínea têm sido descritos para cada tipo de curvatura peniana, associadas ou não à constrição, sem uma abordagem padrão e medição adequada. O princípio da incisão geometricamente determinada na túnica se baseia em produzir um defeito de tama- UROLOGI A 38 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 nho, forma e local determinado, baseado na deformidade peniana em ereção máxima. Com este conhecido defeito na túnica albugínea, as medidas são aplicadas ao enxerto para cobri-lo. A técnica aplica uma incisão de relaxamento na túnica que deverá ser feita de forma circunferencial incompleta, bifurcada nas extremidades como um tripé – 120 graus, assemelhando-se ao logotipo da Mercedes-Benz. A geometria aplicada ao pênis ereto tem o propósito de determinar com precisão a localização e o tamanho da incisão na túnica adaptada a cada paciente. Seleção do Paciente Somente pacientes com pênis não funcional, ou seja, penetração difícil ou impossível não responsivos a tratamento clínico, doença estável há pelo menos 3 a 6 meses, devem ser considerados para tratamento cirúrgico. A avaliação da perda de tamanho do pênis deve ser feita no pré-operatório e baseada no ponto de vista do pacien- Técnicas Cirúrgicas Correção da curvatura peniana usando os princípios geométricos Paulo H. Egydio te. Pacientes que recusam Figura 1 maior perda de tamanho do Dissecção do feixe neurovascular pênis, além da associada à através de duas incisões para-uretrais na fáscia de Buck, dissecando-se o feixe doença, devem ser consiao redor da circunferência do pênis. derados para tratamento cirúrgico com enxertos. A função erétil deve ser avaliada de forma objetiva pelo médico com ereção induzida e ultra-som com Doppler para definição de reconstrução com enxertos com ou sem implante concomitante de prótese peniana. Pacientes com função erétil inadequada, dificuldade de ter ou manter ereção até ejacular, associado a ereção fármaco-induzido com ultra-som Doppler e evidências de insuficiência arterial ou disA largura do defeito a ser criado na túnica função veno-oclusiva devem ser considerados albugínea deve ser o equivalente da diferenpara reconstrução com enxertos e implante ça das medidas entre o lado longo e curto do concomitante de prótese peniana. pênis, correspondendo à diferença das disTécnica cirúrgica de incisão única tâncias entre quaisquer duas linhas circunfe1-6 geometricamente determinada renciais perpendiculares ao eixo peniano nos O pênis é desenluvado após circuncisão. seguimentos retos do pênis, ou melhor, fora Duas incisões para-uretrais na fáscia de Buck da área de curvatura. A diferença (W) entre os na área de curvatura são utilizadas para dispontos d-e e d’-e’ corresponde ao tamanho da secção do feixe neurovascular. A dissecção largura do defeito em cada lado da uretra nos é realizada até que os lados se encontrem ao casos de curvatura dorsal (Fig.3). longo da circunferência do pênis (Fig.1). Na linha circunferencial a partir do ponto Ereção máxima é induzida e mantida para P, o comprimento W/4 correspondente à disdemarcar duas linhas tangenciais ao eixo do tância do local onde se encontra a linha g, os pênis desenhadas nas áreas retas proximal e pontos F e F’ são determinados para marcar o distal (a-a’ e b-b’). Um ponto (P) é criado no início da bifurcação, que se estende a ambos local de intersecção, a partir do qual uma linha os lados da linha g, em um comprimento de circunferencial é desenhada na bissetriz do W/2, gerando assim um ângulo de 120 graus, ângulo formado pelo encontro das duas linhas como o logotipo da Mercedes-Benz, no local tangentes (Fig. 2). das bifurcações (Fig. 4). U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 39 Técnicas Cirúrgicas Correção da curvatura peniana usando os princípios geométricos Paulo H. Egydio Figura 2 O ponto de máxima curvatura (P) é determinado pela intersecção das linhas a-a’ e b-b’ tangentes ao eixo peniano. Uma linha circunferencial é desenhada no ponto P na bissetriz do ângulo. Figura 3 W é equivalente a distância d-e (distância entre dois pontos ao longo do lado longo do pênis) menos d’-e’ (a distância equivalente ao lado curto do pênis), medidos fora da área de curvatura ( = 90 graus). UROLOGI A 40 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 O defeito resultante será mais simples e estável como um tripé. O comprimento do defeito (L) será equivalente à distância entre as duas incisões para-uretrais no caso de curvatura dorsal, ou melhor, entre as duas extremidades da incisão bifurcada para qualquer tipo de curvatura. A bifurcação como um tripé em um ângulo de 120 graus pode corrigir até mesmo a constrição do pênis na área de curvatura. O comprimento (L) deve ser medido fora da área de constrição (Fig.5). A incisão de relaxamento precisa ser baseada na deformidade peniana e não apenas nas características da placa e/ou do tamanho do enxerto disponível. O defeito na túnica albugínea é produzido pela expansão, ao invés da substituição, produzindo um defeito de tamanho, forma e local determinado pela deformidade peniana, e, portanto, individualizada para cada caso. Essa técnica aplica uma incisão única de relaxamento de forma circunferencial incompleta bifurcada nas extremidades, por meio da aplicação precisa dos princípios geométricos, para determinar o local exato Técnicas Cirúrgicas Correção da curvatura peniana usando os princípios geométricos Paulo H. Egydio da incisão na túnica ou placa, de modo que o lado mais curto do pênis possa ser alongado O ponto de partida da bifurcação para igualar-se ao lado mais longo, criandode 120 graus no final das linhas circunferênciais é estabelecido -se um defeito simples na túnica, tornando traçando um comprimento W/4 mais fácil a determinação do tamanho e sutupara trás a partir da interseção ra do enxerto. com a linha g. No caso de placas calcificadas, a camada longitudinal externa da túnica pode ser preservada, e a camada circular interna calcificada poderá ser ressecada no local da incisão transversa (Fig. 6). Em casos associados à disfunção erétil que requerem implante de prótese peniana, a correção cirúrgica geométrica é realizada com implante concomitante da prótese peniana, visando não somente restabelecer a função do pênis, mas também recuperar o máximo possível de tamanho e diâmetro do pênis anterior à doença de Peyronie. Figura 5 O tamanho da prótese será compatível com o tamanho Bifurcações das incisões transversais e correspondentes defeitos na túnica albugínea do lado longo do pênis uma nos casos de curvatura dorsal e dorso-lateral (A), vez que o lado curto será curvatura ventral e ventro-lateral (B), e curvatura alongado, compatível com o lateral (C). W: largura do defeito. L: comprimento tamanho do lado longo. do defeito, medidos com o pênis em ereção máxima. Os defeitos na túnica F e F’: pontos de partida da bifurcação das incisões albugínea foram cobertos transversais, produzindo um ângulo de 120 graus. com enxertos de pericárdio bovino com tamanhos 1 a 2 mm mais largos e mais longos do que os defeitos, porque este tamanho extra é incluído no procedimento de sutura. Isto é válido para os enxertos que não retraem como é o caso do pericárdio bovino. Para os demais enxertos conhecidos por serem susceptíveis à retração, como a derme, um percentual deve ser acrescentado às dimensões do Figura 4 U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 41 Técnicas Cirúrgicas Correção da curvatura peniana usando os princípios geométricos Paulo H. Egydio panhamento foi de 45,2 ± 27,1 meses (6-96 meses). Preservação da camada longitudinal externa da túnica albugínea e excisão da área de calcificação Pacientes reconstruídos na camada circular interna. com enxerto que não receEsta abordagem permite manter os mesmos princípios beram implantes de prótese de correção geométrica determinada, mesmo no caso peniana, foram submetidos de calcificação da túnica. à ereção induzida com prostaglandina com retificação do pênis em 87%, curvatura residual de até 15 graus em 7% e até 30 graus em 6%, mantendo o pênis funcional na vigência de adequada rigidez peniana, obtida com ou sem auxílio de inibidores da fosfodiesterase tipo 5.5 Uma segunda cirurgia com implante de prótese peniana foi realizada em 15% dos casos quando o acompanhamento pós-operatório demonstrou a deteenxerto para compensar a retração. Durante o rioração da função erétil. O estado de ereção no procedimento de sutura é importante manter pré-operatório foi preservado na maioria dos a túnica e o enxerto esticados como esperado casos, em que a avaliação pré-operatória realiem ereção, para uma distribuição adequada zada por ultra-sonografia com Doppler mostrou do enxerto. A sutura do enxerto na túnica alvelocidade de pico sistólica acima de 40 cm/s e bugínea é feita de forma contínua com fios de velocidade diastólica final inferior a 3 cm/s. poliglecaprone ou polidioxanone 4.0. Casos de reconstrução com enxertos e 311 pacientes foram submetidos ao proceconcomitante implante de próteses penianas dimento de reconstrução peniana aplicandomaleáveis mostraram retificação do pênis, en-se os princípios geométricos e enxerto sem o quanto casos com próteses penianas infláveis implante de prótese peniana concomitante. As para evitar recidiva de curvatura é fundamendeformidades penianas foram distribuídas da tal manter a prótese inflada nas primeiras 2 a seguinte forma: 46% dorsal (143/311), 30% dor3 semanas. A sensibilidade do pênis foi satisso-lateral (93/311), 12,5% lateral (39/311), 6% fatoriamente mantida, preservando o orgasmo. ventral (19/311) e 5,5% ventro-lateral (17/311). Mesmo os pacientes que tiveram deterioraA média do ângulo de curvatura peniana foi de ção da rigidez peniana e foram submetidos a 75 ± 15,7 (45-120 graus). Pacientes com doença um segundo procedimento cirúrgico para o imde Peyronie associados à constrição do pênis plante da prótese peniana recuperaram a capa(15%), a técnica permitiu a correção da curvacidade de penetração, permitindo recuperação tura e da constrição. O tempo médio de acomda auto-estima. Figura 6 UROLOGI A 42 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 Técnicas Cirúrgicas Correção da curvatura peniana usando os princípios geométricos Paulo H. Egydio A técnica de incisão única geometricamente determinada permite a padronização de um procedimento que pode ser reprodutível em estudos multicêntricos, levando a uma melhor compreensão das vantagens e desvantagens de diferentes tipos de enxertos. A avaliação pré-operatória do tamanho, grau de curvatura e função erétil do pênis é fundamental para a seleção adequada do procedimento cirúrgico. Deve ser enfatizado que mesmo os pacientes com um pênis maior do que 13 cm podem não aceitar a redução de tamanho imposta pela doença e procedimento cirúrgico. Esses pacientes são candidatos a procedimento cirúrgico com utilização de enxertos. Esta técnica é eficaz para corrigir todos os tipos de deformidade peniana, independente das características da placa. A inovação das técnicas de engenharia de tecidos, contribuem para o desenvolvimento de melhores enxertos, com expectativa de desenvolvimento de enxerto ideal para a túnica albugínea. Cuidados pós-operatórios Os paciente são mantidos com cefadroxila por 8 dias e ciprofloxacina por 14 dias. Curativo com atadura ligeiramente compressivo, mantendo o pênis esticado como esperado em ereção. Reabilitação pós-operatória com tração através da glande (6 a 10 vezes ao dia) por pelo menos 5 minutos/vez nos primeiros 3 meses, associado a uso de inibidores de fosfodiesterase tipo 5 a partir de 5 a 7 dias de pós-operatório no primeiro mês é recomendado para permitir cicatrização mantendo o pênis retificado. Nos casos de concomitante implante de prótese peniana inflável é recomendado manter a prótese 50% inflada nas primeiras 2 a 3 semanas, objetivando manter o pênis retificado na fase de cicatrização. Assim que o paciente aprender a manusear a prótese inflável é orientado manter parte do dia inflada, em dias alternados, nos primeiros 2 meses. Nos casos de concomitante implante de prótese maleável não é necessário a reabilitação pós-operatória. Referências 1. Egydio PH, Lucon AM, Arap S. Treatment of Peyronie’s disease by incomplete circumferential incision of the tunica albuginea and plaque with bovine pericardium graft. Urology. 2002 Apr; 59(4):570-4. 2. Egydio PH, Lucon AM, Arap S. A single relaxing incision to correct different types of penile curvature: surgical technique based on geometrical principles. BJU Int. 2004 Nov; 94(7):1147-57. 3. Egydio PH. Surgical straightening with tunica incision and grafting technique – single relaxing incision based on geometrical principles. In: Levine LA, editor. Peyronie’s Disease textbook: A Guide to clinical management. Totowa: Humana press, 2007: 227-39. 4. Egydio PH. Surgical treatment of Peyronie’s disease: choosing the best approach to improve patient satisfaction. Asian J Androl. 2008 Jan; 10(1):158-66. 5. Egydio PH, Sansalone S. Peyronie’s reconstruction for maximum length and girth gain: geometrical principles. Adv Urol. 2008:205739. 6. Egydio PH, Austoni E. Geometric plaque surgery. In: Austoni E, editor. Atlas of reconstructive penile surgery. Pisa: Pacini Editore; 2010: 335-45. U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 43 Uro-Resumos www.urologiacontemporanea.org.br Brasil Silva Neto Professor Adjunto do Departamento de Cirurgia – Faculdade de Medicina – UFRGS Serviço de Urologia – Hospital de Clínicas de Porto Alegre Tiago Elias Rosito Doutor em Urologia Serviço de Urologia – Hospital de Clínicas de Porto Alegre Imprecisões na determinação do estágio clínico no câncer de próstata localizado Reese AC Sadetsky N Carroll PR Cooperberg MR Cancer. 2010 Nov 22. [Epub ahead of print] Introdução• Dados recentes sugerem que o estágio T clínico não está independentemente associado com recidiva bioquímica do câncer de próstata localizado após a prostatectomia radical. Uma explicação para esta falta de poder preditivo pode ser a aplicação inadequada dos critérios de estadiamento. Métodos: Dados de pacientes no banco de dados do Cancer of the Prostate Strategic Urologic Research Endeavor (CaPSure) com câncer de próstata localizado (T1T2 clínico) foram analisados. O estágio correto foi determinado pelos achados do toque retal e da ecografia transretal e foi comparado com o estágio clínico que foi relatado diretamente pelo médico assistente. Os achados destes dois metódos e os resultados das biópsias foram avaliados para determinar fatores UROLOGI A 44 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 influenciando erros no estadiamento. A habilidade do estadiamento correto de predizer recidiva bioquímica após a prostatectomia radical foi avaliado utilizando análise multivariada. Resultados: Estadiamento clínico foi determinado incorretamente em 1370 de 3875 homens (35,4%). Os erros mais comumente resultaram em subestadiamento do que o oposto (55,1% vs. 44,9% ; p< ,001). Pacientes com lesões na ecografia transretal foram mais frequentemente estadiados erroneamente quando comparados com os que apresentavam alterações ao toque retal (65,8% vs 38,2%; p< ,001). Lateralidade da biópsia fortemente influenciou a determinação do estadiamento. Mesmo após a correção dos erros de estadiamento, não houve associação observada entre estágio clínico e recidiva bioquímica após prostatectomia radical. Conclusões• Erros na aplicação de critérios para o estadiamento clínico são comuns. Os achados da ecografia transretal são frequentemente ignorados e os médicos Uro-Resumos Brasil Silva Neto Tiago Elias Rosito incorretamente incorporam os resultados da biópsia ao determinar o estágio clínico. Todavia, erros no estadiamento parecem não influenciar na inconsistência do estágio clínico em predizer desfechos no câncer de próstata. Estes achados desafiam ainda mais a utilidade do sistema de estadiamento baseado no toque retal e/ou ecografia transretal para determinação de risco no câncer de próstata localizado Comentário• O estágio T nos tumores de próstata confinados ao órgão (T1-T2) não aparecem como fator de risco independente para recidiva da neoplasia em diversos estudos recentes publicados na literatura. A avaliação de fatores prognósticos mais robustos na análise multivariada pode anular a contribuição do estágio T como fator prognóstico independente. Outras possíveis causas seriam a pouca sensibilidade do modelo de estadiamento atual para predizer a recidiva do tumor ou a interpretação e aplicação incorreta da classificação atual. O estudo consistiu comparação entre o estadiamento clínico determinado pelo médico assistente e o estágio T atribuído, considerando os achados do toque retal e da ultrassonografia transretal, em 3875 pacientes com câncer de próstata incluídos no banco de dados do CaPSURE. Considerando as informações do toque retal e ultrassonografia como padrão-ouro, observou-se que, aproximadamente, um terço dos pacientes form estadiados de maneira incorreta, sendo que 55% destes foram subestadiados, a maioria deles por desconsideração das informações obtidas pela ultrassonografia transretal e achados da biópsia. A lateralidade nos achados da biópsia foi o fator mais importante na análise multivariada. O interessante deste estudo é que apesar da correção feita no estadiamento considerando, principalmente, as nformações obtidas pela ecografia transretal e posterior biópsia de próstata, não houve incremento no poder do estádio clínico T como fator de risco independente para predizer recidiva bioquímica no câncer de próstata, o que instiga questionamentos mais profundos sobre o sistema de estadiamento atual. Estratificação de risco prognóstico em câncer de bexiga pT2N0 após cistectomia radical Sonpavde G Khan MM Svatek RS Lee R Novara GTilki D Lerner SP Amiel GE Skinner E Karakiewicz PI Bastian PJ Kassouf W Fritsche HM Izawa JI Ficarra V Dinney CP Lotan Y Fradet Y Shariat SF. BJU Int. 2010 Nov 19. [Epub ahead of print] Abstract: Tipo de estudo – Tratamento (Coorte individual) – Nível de evidência – 2b Objetivo• Estratificar o risco do carcinoma urotelial de bexiga pT2N0 após cistectomia radical baseado em fatores patológicos com o objetivo de facilitar o desenvolvimento de estudos sobre terapia adjuvante em pacientes de alto risco. Pacientes e métodos: O estudo utilizou dados de 707 pacientes com carcinoma urotelial de bexiga pT2N0 U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 45 Uro-Resumos Brasil Silva Neto Tiago Elias Rosito que foram submetidos à cistectomia radical e não receberam quimioterapia perioperatória. O efeito do estágio T patológico residual na cistectomia, idade, grau, invasão linfovascular e o número de linfonodos removidos na sobrevida livre de doença foi avaliado utilizando análise de regressão de Cox. Um modelo prognóstico foi obtido com variáveis significativas. Resultados• O seguimento mediano foi de 60,9 meses. Na análise multivariada, doença residual na cistectomia (pT2a: HR 1,74, P= 0,03; para pT2b: HR 3,075, P<0,001; ambos comparados com estágio <pT2), alto grau (HR 2,127, P=0,09) e invasão linfovascular (HR 2,234, P<0,001) foram associados com sobrevida livre de doença (c = 0,70). Três grupos de risco foram determinados baseados em variáveis balanceadas com sobrevida livre de doença em 5 anos de 95% (IC 95% 87 – 98), 86% (IC 95% 81 – 90) e 62% (IC 95% 54 – 69) no baixo risco, risco intermediário e alto risco, respectivamente (c= 0,68). A limitação principal do estudo é o caráter retrospectivo e multicêntrico do estudo. Conclusões• Um modelo de risco prognóstico para pacientes pT2N0 submetidos a cistectomia radical com linfadenectomia apropriada foi construído baseado no estágio patológico residual na cistectomia, grau e invasão linfovascular. Estes dados necessitam validação e podem auxiliar na seleção de pacientes com carcinoma urotelial de bexiga de alto risco pT2N0 para inclusão em estudos clínicos. UROLOGI A 46 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 Comentários• Este estudo multicêntrico avaliou 707 pacientes submetidos à cistectomia radical, com doença musculo-invasiva restrita ao orgão. A partir da análise conjunta de possíveis fatores de piora do prognóstico (sobrevida livre de doença e sobrevida global), foi criado um modelo de acesso de risco, pontuando proporcionalmente os fatores de risco significativos na análise multivariada. Como em estudos anteriores, grau histológico, doença musculo-invasiva e invasão linfovascular foram identificados como fatores de risco para recidiva. Surpreende nos dados apresentados, o excessivo numero de tumores <pT2 no anátomo-patológico definitivo, o que pode ter influenciado na construção do modelo de estratificação de risco. Apesar dos interessantes achados do estudo, os dados provem de análise retrospectiva, sem uniformização do procedimento cirúrgico, p ex.linfadenectomia, e da análise anátomopatológica. Por outro lado, é indispensável que se criem modelos de acesso de risco como o apresentado neste estudo, para otimizar a tomada de decisões sobre quimioterapia adjuvante em pacientes pT2N0. Nesta edição comentamos alguns trabalhos apresentados no suplemento anual dedicado a Urologia pediátrica no Journal of Urology (volume 184 número 4, parte 2, outubro de 2010). Trabalhos apresentados no encontro anual de sessão de urologia da Academia Americana de Pediatria Uro-Resumos Brasil Silva Neto Tiago Elias Rosito Punção transuretral de ureterocele – Quais fatores predizem os resultados Di Renzo D Ellsworth PI Caldamone AA Chiesa PL J Urol. 2010 Oct;184(4 Suppl):1620-4 Objetivo• Nós avaliamos quais fatores clínicos influenciam os resultados da punção transuretral de ureterocele. Materiais e Métodos• Um total de 45 pacientes (47 ureteroceles) foram submetidos a incisão primária transuretral entre 1994 e 2008 em duas instituições. Idade e modo de apresentação, estado do trato superior, local da ureterocele, refluxo vesicoureteral pré-operatório e função do polo superior correspondente foram analisados para identificar que fatores influenciaram a necessidade de uma cirurgia secundaria. Resultados• Punção transuretral foi o único tratamento em 24 de 45 pacientes (53%) enquanto 21 (47%) necessitaram nova cirurgia. Após punção transuretral cirurgia secundária foi necessária em 56% pacientes com apresentação prénatal VS 27% daqueles com apresentação pós-natal (p=0,165), em 18% daqueles com sistema simples VS 58% com sistema duplo (p=0,036), em 30% com intravesical VS 63% com ureterocele ectópica (p=0,039) e em 61% VS 37% das unidades com e sem refluxo vesicoureteral (p=0,148). Teste exato de Fisher revelou distribuição inconsistente de fatores prognósticos negativos, incluindo sistemas duplos, ureterocele ectópica e refluxo na apresentação, em pré natal VS pós natal e assintomáticos VS sintomáticos. Conclusão• Características do polo superior e local da ureterocele influenciam o resultado da punção primária transuretral como um procedimento definitivo. Após a punção a necessidade de uma segunda cirurgia é menos provável em sistemas simples e intravesicais. Comentários• O uso de métodos minimamente invasivos como a punção transuretral de ureterocele é considerado o padrão ouro atualmente, no entanto, o tratamento apropriado de crianças com ureterocele permanece incerto. Isso devido as inúmeras variáveis associadas e a dificuldade de comparar pacientes. Este estudo demonstra a experiência de um grande centro com seus pacientes. Como todo estudo desenvolvido em série de casos a dificuldade de generalização é inerente. Não se pode basear o tratamento neste único estudo, no entanto, levanta algumas características que podem ser observadas na decisão terapêutica e principalmente no seguimento dos pacientes tratados por punção. Estudo prospectivo aberto do uso de Solifenacina no tratamento da bexiga neurogênica em crianças Bolduc S Moore K Nadeau G Lebel S Lamontagne P Hamel M J Urol. 2010 Oct;184(4 Suppl):1668-73. Objetivo• Nós avaliamos o efeito da solifenacina para tratamento de bexiga neurogênica em crianças refratárias ao tratamento com oxibutinina e tolterodina. U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 47 Uro-Resumos Brasil Silva Neto Tiago Elias Rosito Materiais e Métodos• Foi oferecido a oportunidade de entrar em um estudo prospectivo aberto usando doses ajustadas de 1,25 a 10 mg de solferacina para crianças com incontinência refratária a tratamento clinico tradicional. Critérios de inclusão foram ausência de anomalias neurológicas corrigíveis na ressonância Magnética, falha dos sintomas em melhorar com intensivo tratamento comportamental e médico (oxibutinina/tolterodina) ou severos efeitos adversos a estes agentes. Seguimento consistiu de diário miccional, medida de resíduo miccional, urocultura, ultrasom e urodinâmica. Objetivo primário foi eficácia para continência e o secundário tolerabilidade e segurança. Resultados• Entraram no estudo 42 meninas e 30 meninos. Dos 27 com bexiga neurogênica, 11 em cateterismo intermitente, e 45 com bexiga completaram um mínimo de 3 meses de seguimento. Pacientes permaneceram em uso de solifenacina por um período médio de 15,6 meses. Média de idade ao iniciar o estudo foi de 9 anos. A média e desvio padrão da capacidade aumentaram de 146 +_ 64 para 311 +- 123ml e contrações não inibidas diminuíram de 70 +- 29 para 20 +- 19 cm H2O (p< 0.01). Continência melhorou em todos os pacientes, 24 ficaram secos, 42 melhoraram significantemente e 6 moderadamente. 50 pacientes não tiveram efeitos colaterais, 15 tiveram leves e 3 moderados. Um total de 4 pacientes abandonaram o protocolo por efeitos adversos, e 4 apresentaram resíduo pos miccional significativo (>20ml). UROLOGI A 48 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 Conclusão• Em crianças com bexiga neurogênica intolerantes ao uso de oxibutinina e tolterodina a solifenacina é uma alternativa para melhorar os sintomas. Tolerabilidade foi aceitável e o regime de ajuste de dose aparentemente seguro. Comentários• A prevalência de incontinência urinária em crianças com e sem doença neurológica associada é enorme. Estas variam desde a bexiga francamente neurogênica até a cada vez mais conhecida disfunção miccional. A utilização de tratamento clinico, em nosso meio preferencialmente com a oxibutinina é essencial. Sabemos da taxa elevada de efeitos colaterais destes medicamentos em crianças, principalmente a piora da constipação intestinal que já é normalmente associada aos quadros de incontinência. O estudo nos mostra resultados animadores, apresenta delineamento melhor que a média dos estudos em urologia pediátrica mas peca na falte de comparação com os medicamentos de uso padrão, assim como a falta de cegamento. A Solifelacina, por sua vez, parece ter um papel importante e uma segurança aceitável em crianças que deve ser confirmada em estudos subseqüentes. Padronização objetiva das curvas de urofluxometria em crianças com incontinência diurna e noturna Kanematsu A Johnin K Yoshimura K Okubo K, Aoki K Watanabe M Yoshino K Tanaka S Tanikaze S Ogawa O J Urol. 2010 Oct;184(4 Suppl):1674-9 Uro-Resumos Brasil Silva Neto Tiago Elias Rosito Objetivo• Curva de interpretação da urofluxometria em crianças é padronizada de maneira incompleta. Propomos uma nova padronização. Materiais e método• Curvas de urofluxometria foram obtidas em 100 crianças apresentando incontinência diurna ou enurese. Cada curva foi comparada com uma curva padrão gerada de um nomograma publicado e um novo padrão foi então formulado. Staccato e micção intermitente foram definidos utilizando critérios da International Children Continence Society. As curvas remanescentes foram divididas pelo desvio do fluxo máximo dos valores medianos do nomograma padrão, incluindo padrão em torre (maior que 130%), Normal (70-130%) e platô (menos de 70%). A correlação entre os sintomas apresentados e estes padrões ou outros achados da urofluxometria foram avaliados. Seis urologistas pediátricos também padronizaram as curvas subjetivamente. Resultados• Todas as curvas podem ser classificadas como 1 do padrão definido usando este método. O padrão de distribuição das curvas representou o espectro de apresentações dos sintomas com mais torre, interrompido e stacatto em crianças com incontiniencia diurna comparada com as com enurese primária monosintomática. Volume urinado ajustado para idade também foi menor para este último grupo mas resíduo pós-miccional, fluxo máximo e médio não se correlacionarm com sintomas. Padronização subjetiva mostrou marcadas diferenças interobservador. Quando a padronização aplicada pelo novo método foi utilizada como referência, sensibilidade do observador para padrões anormais foi inversamente correlacionada com especificidade. Conclusão• Urofluxometria com análise subjetiva é propensa a vieses pessoais. O método proposto apresenta um padrão objetivo que complementam os da International Children continence Society e com os achados clínicos. Comentários• O estudo apresenta um método de interpretação de urofluxometria de forma objetiva por um programa de computador. Isto é interessante já que só existem opiniões de especialistas em relação a alterações de padrão miccional em crianças. O ponto contra do estudo que a técnica é de difícil entendimento e reprodução. Os próprios autores no comentário editorial reconhecem a dificuldade e estão produzindo um software com este fim. A padronização de métodos objetivos de procedimentos pouco invasivos como a urofluxometria viria a enriquecer nosso armamento na avaliação de queixas como a disfunção miccional e a enurese noturna onde raramente o estudo urodinâmico completo tem indicação. Errata: Na Revista Urologia Contemporânea v.18 – n. 3 – Julho/Setembro/2010, artigo URO-RESUMOS, folhas 49 a 55, onde se lê: Emanuel Burck dos Santos. Leia-se: Gustavo Schroeder U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 49 ponto de vista www.urologiacontemporanea.org.br Antonio A. Alcaraz Rodrigo Serapião Mendes Departamento de Urologia, Hospital Clinico Provincial, Universidade de Barcelona, Espanha Prostatectomia radical: aberta ou laparoscopica O s procedimentos minimamente invasivos têm causado uma verdadeira revolução em todas as especialidades cirúrgicas. A urologia, através dos procedimentos endoscópicos para tratamento de litíases e as ressecções transuretrais, continua sendo pioneira neste seguimento, prova irrefutável desta tendência é o fato de que, na atualidade, a videolaparoscopia tem se convertido em procedimento padrão na maioria das patologias cirúrgicas renais. As vantagens deste método se traduzem em ampliação da imagem, menor quantidade de sangramento, retorno precoce às atividades diárias, estética e, o mais importante, resultados terapêuticos competitivos com a cirurgia aberta. No entanto, quando analisamos sua utilização na prostatectomia radical (PR) devemos levar em conta uma importante dificuldade técnica para o seu aprendizado. A PR é o tratamento padrão para pacientes com câncer de próstata localiza- UROLOGI A 50 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 do e com expectativa de vida maior que 10 anos, perfil de paciente que vem aumentando em todo o mundo devido ao diagnóstico precoce.1 Além disso, muitos serviços defendem sua utilização na doença localmente avançada como parte do tratamento em casos selecionados.2 A prostatectomia radical convencional (PRC) tem seus resultados bem estabelecidos na literatura e, portanto é a técnica utilizada como parâmetro. Clayman, em 1992, descreveu pela primeira vez a prostatectomia radical laparoscópica (PRL).3 A técnica se difundiu extensamente em todo o mundo com dados iniciais animadores, porém após quase duas décadas essa abordagem não conseguiu demonstrar sua superioridade quando comparada com a PRC. Alguns defensores da laparoscopia apresentam resultados com vantagens em relação ao tempo de internamento hospitalar e retirada de cateter,4 entretanto está claro que estes parâmetros são subjetivos, podendo estar relaciona- ponto de vista Prostatectomia radical: aberta ou laparoscopica Antonio A. Alcaraz Rodrigo Serapião Mendes com a PRL,8 que tende a diminuir gradativados com as rotinas de cada serviço.5 A enorme mente restringindo sua realização aos centros curva de aprendizado parece ser o ponto mais 6 onde a curva de aprendizado já foi superada débil e o principal alvo das críticas à PRL. Não há duvidas que a competição saudável e que ainda não dispunham de robô. A PRAR com a PRL motivou os por sua vez, deverá ser cirurgiões abertos a realizada em grande Os resultados consistentes, melhorar sua técnica, quan tidade em poucos somados a uma curva de aprendizado Por outro lado, as descentros referenciados aceitável e o baixo custo, fazem com vantagens da laparose seus resultados comque a cirurgia convencional siga, ainda, copia tradicional deram parados com a cirurgia como o procedimento de referência. margem ao desenvolviconvencional em tramento, cada dia mais balhos randomizados e acelerado, da prostatec prospectivos. tomia radical assistida por robô (PRAR). Os resultados consistentes, somados a uma A grande precisão e variedade de movicurva de aprendizado aceitável e o baixo cusmentos associados à ergonomia, certamento, fazem com que a cirurgia convencional siga, te contribuem para a diminuição da curva de ainda, como o procedimento de referência. aprendizado da (PRAR) quando comparado com a PRL. Talvez isto justifique a posição de Referências alguns cirurgiões de abandonar a laparoscopia 1. Schröder FH, Carter HB, Wolters T, van den Bergh RC, Gosselaar C, Bangtradicional e serem adeptos, hoje, da robótica ma CH, et al. Early detection of prostate cancer in 2007. Part 1: PSA and na realização da prostatectomia radical. Em PSA kinetics. Eur Urol. 2008 Mar;53(3):468-77. alguns serviços europeus e americanos esta 2. Gontero P, Marchioro G, Pisani R, Zaramella S, Sogni F, Kocjancic E, et al. Is radical prostatectomy feasible in all cases of locally advanced nonabordagem vem ocupando o espaço da PRC. -bone metastatic prostate cancer? Results of a single-institution study. Os resultados da PRAR ainda não estabeleEur Urol. 2007 Apr;51(4):922-9; discussion 929-30. cidos na literatura, aliado ao alto custo deste 3. Schuessler WW, Kavoussi LR, Clayman RV, Vancaillie TH. Laparoscopic radical prostatectomy: initial case report. J Urol. 1992 147: 246A. tipo de procedimento são fatores limitantes 4. Guazzoni G, Cestari A, Naspro R, Riva M, Centemero A, Zanoni M, et al. para disseminação dessa técnica Intra- and peri-operative outcomes comparing radical retropubic and laEm recente artigo de revisão comparando os paroscopic radical prostatectomy: results from a prospective, randomised, single-surgeon study. Eur Urol. 2006 Jul;50(1):98-104. resultados das três abordagens se confirma uma 5. Wirth MP, Hakenberg OW. Surgery and marketing: comparing different menor taxa de transfusão, decorrente de menor methods of radical prostatectomy. Eur Urol. 2009 May;55(5):1031-3. perda sanguínea a favor das técnicas laparos6. Vickers AJ, Savage CJ, Hruza M, Tuerk I, Koenig P, Martínez-Piñeiro L, et al. The surgical learning curve for laparoscopic radical prostatectomy: cópicas, porém os autores concluem que ainda a retrospective cohort study. Lancet Oncol. 2009 May;10(5):475-80. não existem dados que confirmem a superiori7. Ficarra V, Novara G, Artibani W, Cestari A, Galfano A, Graedade de uma técnica sobre outra nos resultados fen M, et al. Retropubic, laparoscopic, and robot-assisted radical prostatectomy: a systematic review and cumulative analyoncológicos e funcionais, além de que dispomos sis of comparative studies. Eur Urol. 2009 May;55(5):1037-63. de poucos trabalhos que realmente sejam capa8. Finkelstein J, Eckersberger E, Sadri H, Taneja SS, Lepor H, Djavan B. zes de comparar adequadamente as técnicas.7 Open Versus Laparoscopic Versus Robot-Assisted Laparoscopic Prostatectomy: The European and US Experience. Rev Urol. 2010 WinNo panorama atual parece que a cirurgia roter;12(1):35-43. bótica tem clara vantagem quando comparada U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 51 IMAGEM EM UROLOGIA www.urologiacontemporanea.org.br Valdemar Ortiz Prof. Titular de Urologia da UNIFESP Tumor ureteral Sinal de Bergman Sinal radiológico observado na urografia excretora e na pielografia caracterizado por uma dilatação do ureter logo abaixo de uma falha de enchimento. É um sinal encontrado nos tumores uroteliais de baixo grau e não musculo invasivo. Nos cálculos ureterais o ureter encontra-se de calibre normal abaixo da obstrução. Sinal do Prendedor de Guardanapo Sinal radiológico observado na urografia excretora e na pielografia caracterizado por um segmento estenosado do ureter com irregularidade de sua luz. É sinal encontrado em tumores uroteliais de alto grau e musculo invasivos. Tumor ureteral | Sinais radiológicos Urografia Excretora Sinal de Bergman Sinal do Prendedor de Guardanapo UROLOGI A 52 V.19 N.4 C O NT EMPO R Â NEA OUTUBRO DEZEMBRO 2010 IMAGEM EM UROLOGIA Tumor ureteral Valdemar Ortiz Tumor ureteral | Sinais radiológicos Pielografia Sinal de Bergman Sinal do Prendedor de Guardanapo Tumor ureteral | Sinais radiológicos Sinal de Bergman Sinal do Prendedor de Guardanapo U R O L O G I A V.19 N.4 C O N TE M P O R Â N E A OUTUBRO DEZEMBRO 2010 53