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Transcrição

130 Imagens gravadas na memória 131 131
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Florianópolis|
Imagens gravadas
na memória
Fred Farah, diretor da Biruta,
lembra-se da sua primeira grande
viagem. O destino? Floripa
/ 1 / 2013
E
Mirante do
Morro da Cruz
m 1990, fim de ano, véspera de Natal. Seria a
minha “primeira grande viagem” com os meus
amigos para um lugar fora de São Paulo. Naquele ano eu havia estudado muito para passar
sem pegar recuperação no colegial (no Objetipor Fred Farah,
vo eram as famosas RV, RO etc.) e poder viajar
diretor da Biruta
com meus amigos com o consentimento dos
meus pais, pois essa era uma precondição para
a tão esperada viagem. Iríamos conhecer Florianópolis, na época
sonho de consumo de todo adolescente e jovem: mulheres bonitas,
belas praias e festa todos os dias.
Eu tinha uma banda de rock e sempre em nossos ensaios falávamos
da nossa vontade de viajar para lá. Nosso vocalista, o Júnior, havia
acabado de tirar carta, e fazia muitos meses que vinha cantando a
mãe dele para emprestar o carro para a nossa viagem. Esse assunto permeou muito nossas conversas, ensaios e encontros durante o
ano todo. Era o nosso papo predileto. Falando a verdade, foi naqueles momentos que aprendi a palavra ansiedade em sua plenitude.
Internet em 1990 não existia nem em nossas mais profundas imaginações, então fomos pesquisar em revistas, jornais e guias de turismo aonde ir, onde ficar e como chegar. Meus primos mais velhos
que já tinham ido para lá também falavam maravilhas da cidade, e
isso contribuía muito para a nossa fértil imaginação.
Seis horas da manhã de uma terça-feira foi nossa hora marcada, na
casa do Júnior, um dia ensolarado e quente de verão.
Nada melhor para o início da viagem.
Lembro até hoje do Passatão TS da mãe do Júnior, bege, com um belo
conjunto de alto-falantes tape Bosh Rio de Janeiro e roda de liga leve,
na época sonho de consumo de todo mundo. Todos nós, eu, o Júnior,
Praia Mole
Forte Santana
sob a Ponte
Hercílio Luz
o Alemão e o Johnny, munidos de nossas malas, dois violões, um bongô e cada um com
suas fitas cassetes prediletas para ouvir na
viagem.
Já na BR-116, uma das fitas velhas e coladas
com durex do alemão quebrou o som do
carro.
Viagem sem música, mas com som, pois
munidos de violões fomos tocando as mesmas canções de nosso repertório até chegar
a Floripa. Se não me engano, foram umas
quinze músicas tocadas em dois dias de
viagem, sem contar os improvisos e as cantorias do Júnior, que era nosso vocalista e
tinha o gosto mais exótico de todos, a ponto
de ficar cantando todo o repertório do cantor Benito di Paula.
Depois dessa viagem não aguentávamos
mais ouvir essas músicas, muito menos tocá-las, nem escutar o nome do cantor.
Chegando a Floripa, tudo o que havíamos
imaginado estava lá: belas praias, belas mulheres, muitos barzinhos e muitas festas.
A primeira praia a que aportamos foi a da
Joaquina, onde ficamos hospedados, não
me recordo ao certo o nome da pousada,
mas não me esquecerei do recepcionista do
local, pois o apelidamos de Bugalu, um sujeito simpático, rotundo, que estava sempre
sorrindo e sempre “descolava” uma festinha
para irmos à noite.
Claro que o Buga queria algo em troca:
aprender a tocar (no violão) duas músicas que ele ouvia incessantemente em seu
walkman. Foram dez dias ensinando-o a tocar “Sweet Child o’Mine”, do Guns and Roses, e o refrão de “Purple Haze”, do grande
guitarrista e mestre Jimi Hendrix. Ele nao
tinha jeito pra coisa, e vou dizer: por causa
disso xinguei o Jimi e o Slash por uns bons
dois meses.
Mas, voltando à praia, posso dizer utilizando o velho conhecido refrão, que a
Praia da Joaquina “foi amor à primeira
vista”, suas dunas, a areia branquinha e
aquele espetáculo de mar me
deixaram encantado.
Anos mais tarde fui entender e des-
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em Florianópolis
cobrir que a minha paixão pelo surfe (fui
aprender a surfar alguns anos depois) nasceu ali. Tenho total gratidão à “Joaca” por
isso, pois uma das coisas que eu mais tenho
prazer hoje em dia é surfar... Um alimento
para a alma e o corpo.
Como queríamos explorar mais de Floripa,
inquietos como via de regra são todos os jovens, visitamos outras praias, entre elas me
lembro muito bem de nossa aventura para
chegar à Lagoinha do Leste. E, para variar,
quem escolheu a maneira de irmos até ela
foi o Júnior, ele que sempre “decidia” todos
os roteiros, horários e locais a ser visitados,
o “típico chefinho”.
Como não poderia deixar de ser ele escolheu a alternativa mais longa e também a
mais bela. A trilha se iniciou pela Praia da
Armação, depois tivemos de atravessar um
córrego até a Praia do Matadeiro, e, por fim,
seguir uma trilha que vai pela encosta do
morro, o famoso costão à beira-mar.
Não me recordo ao certo o tempo que levamos, mas acredito que tenha sido mais de
três horas de trilha até chegar à praia – e que
praia!, de uma beleza impar –, mas o mais
engraçado foi o que aconteceu no meio do
caminho e justamente com Júnior. Em meio
à trilha tivemos a companhia dos locais em
seu ambiente: pássaros, gaviões, gaivotas,
lagartos e, para nossa surpresa, espanto e
horror do Júnior, uma cobra.
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Igerjinha
da Lagoa
O Júnior, sempre ele, que gostava de aparecer, queria ir bem à frente
de todos nós, liderando nossa expedição, e não tomava muito cuidado com os seus passos, estava mais interessado em chegar logo
sem perceber a própria beleza da trilha. Eis que de uma hora para a
outra vejo ele paralisado, com os olhos arregalados. Percebo então o
rastro de uma cobra saindo em meio à vegetação. Depois desse dia,
o Júnior não foi mais o mesmo, e creio até hoje que ele mal aproveitou e curtiu a Praia da Lagoinha, que para mim foi uma das mais
belas que já visitei.
A viagem foi maravilhosa, fomos a outras praias, curtimos muito
Floripa na medida do possível e do tamanho do bolso de cinco jovens que estavam descobrindo a vida e seus encantos.
Uma pena eu não ter fotos para ilustrar essa viagem, ainda não existiam máquinas fotográficas digitais, telefone celular, muito menos
Beira-mar
norte
com câmera embutida, e, para ser sincero, não me recordo de termos
em algum momento lembrado de levar uma câmera fotográfica.
Fazendo uma breve reflexão para explicar o motivo de não termos as
fotos, fiquei aqui com uma dúvida e uma certeza:
Será que se tivéssemos levado alguma câmera eu teria lembrado
com tanta exatidão de alguns momentos dessa viagem?!
E a certeza: por ter sido uma viagem tão marcante para mim, por
tantos motivos, alguns até explicados acima, minha mente sempre
guardou com muita emoção, exatidão e alegria todos esses detalhes da viagem, desde as fitas remendadas do Alemão até o olho
arregalado do Júnior, meu querido amigo e hoje também sócio da
Biruta Filmes.
Para quem não foi e não conhece Florianópolis, vale a pena a viagem, inclusive pretendo voltar lá com a Mari, minha esposa, e meu
filho, Amir, no ano que vem e fazer o mesmo itinerário. Muita luz a
todos vocês, meus amigos.
Praia da
Joaquina
Praia do
Jurerê
Restaurantes
Joy Joy Bistrô: restaurante de comida contemporânea com toques da culinária francesa
e espanhola. Localizado no centro histórico
de São José, tem o ambiente aconchegante
e é comandado pela chef Joyce Francisco.
Pão por Deus: ideal para quem curte comida caseira. É comandado por Margot W. Verani. O estabelecimento existe há quinze anos.
Santa Redonda: para os paulistanos que
não abrem mão de pizza mesmo quando estão viajando, é uma ótima sugestão.
Praias
Leste
Joaquina: reduto de sufistas. A praia é repleta de rochas e possui boa infraestrutura para
os turistas.
Praia Mole: ideal para quem gosta de surfe ou pratica parapente. Não recomendo a
quem tem criança, já que a praia é de tombo, ou seja, a profundidade aumenta abruptamente após alguns passos em direção
ao mar. As ondas são fortes devido ao mar
aberto.
Norte
Jurerê: imperdível para quem gosta e quer
conhecer a culinária típica da ilha.
Praia Brava: foge do padrão das ilhas calmas do norte. As ondas são fortes, há bastante repuxo e ela também é esburacada.
Para chegar até a praia protegida pos morros,
os turistas passam por um mirante que proporciona uma visão espetacular.
Praia do Forte: ideal para ir com crianças, já
que o mar é calmo e a temperatura da água
é agradável.
Sul
Açores: ondas medianas. Nela é possível
ver a ilha das 3 Irmãs e também a Moleques
do Sul. É uma boa opção para quem gosta
de trilhas.
Naufragados: o acesso à praia é feito por
trilhas. A areia é grossa e o mar aberto, o que
torna o local ideal para quem gosta
de acampar ou praticar treeking.
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