Se o Líbano perecer?

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Se o Líbano perecer?
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Se o Líbano perecer?
Se imolarem o Líbano, haverão de se arrepender. Os que alvejam com suas metralhadores o Líbano com a
intenção de destruí-lo, tiveram por acaso um momento de lucidez para fazerem a si mesmos a seguinte
pergunta:
Se o Líbano perecer, a quem beneficiará sacrificá-lo? Restaram-lhes, por acaso, lampejos de razão quando
cravaram os seus punhais na carne do Líbano mártir, enchendo suas taças com seu sangue inocente, para
indagar sobre o seguinte:
Se deceparem os cedros do Líbano, onde irão buscar uma sombra amiga?
Se queimarem os seus trigais onde irão se alimentar? Se secarem as suas fontes, onde irão desalterar a sua
sede?
Se o sol do Líbano se eclipsar, e as suas estrelas se apagarem, como irão enxergar?
Se a sua atmosfera se envenenar e ele se asfixiar, como irão respirar?
Sabemos que cada crime traz no seu cometimento a sua pretensa justificação de ordem moral, social ou
hereditária, exceto o crime de “matar” o Líbano. Pois este é o único crime que anarquistas, mercenários ou
loucos podem cometer Barbara e injustificadamente.
Não se pode justificar a sádica matança de pássaros e borboletas.
(...)
O Líbano nos deu tanto bem estar e segurança e nós o deixamos em pânico.
Ele nos abriga e nós o deixamos perdido num vendaval de ódio.
Ele nos batizou com a água do amor e nós o jogamos no poço da amargura.
Ele nos ensinou a cantar os Salmos e nós o brindamos com o pipoquear das metralhadoras.
Ele nos presenteou a Poesia, a rosa e o jasmim e nós o obsequiamos com cargas de dinamite.
Ele semeou os nossos caminhos com uvas, figos e cerejas, e nós semeamos as suas verdes com pedras,
pregos e fogueiras de pneumáticos.
O mar de Beirut , coitado, é muito invejado pelo azul de suas águas. O azul é a cor da liberdade.
Por isso, o céu é azul, azul é o Oceano, azul é a Poesia, azul é o caminho da esperança.
É por isso que o mar de Beirute paga um tributo muito caro– o mesmo fato acontece em Biblos, Junieh,
Sidon, Tiro e no Aozai – pelo azul celeste de suas águas.
As gaivotas do mar, as ondas e os peixes pagam a mesma taxa exorbitante que pagam, unicamente como
tributo por sua liberdade.
Será que isto significa que a liberdade na sua essência é completamente trágica?
Em outras palavras, será que a liberdade e a tragédia são ramos da mesma arvore?
O fato é que o que sucede ao Líbano hoje, não lhe advém do desfrutar de sua liberdade, mas do excesso de
liberdade nele reinante.
Todos vos como eu próprio, necessitamos do Líbano, pois se o Líbano não existisse, como um diadema de
esmeraldas cingindo a cabeça do Oriente, precisaríamos criá-lo.
Pois o Líbano é a reserva espiritual que nos restou, é a nossa ultima reserva ouro, que precisamos guardar
avaramente para os momentos de penúria..
Pois eu vos alerto – se este patrimônio for destruído, muito ireis chorar e ireis vos arrepender.
Nizar Kabbani (traduzido do árabe)
( O autor foi um grande poeta sírio. Escreveu esse artigo durante a época da guerra do Líbano (1975-1990).
Ele faleceu em Londres , depois do fim daquela guerra).
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