Folha da sala - Teatro Maria Matos

Transcrição

Folha da sala - Teatro Maria Matos
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26 outubro ↣ 29 novembro 2013
TEATRO ★ 26 outubro
sábado ↣ 16h às 02h
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mala
voadora
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Mundo
Perfeito /
Tiago Rodrigues
MARIA MATOS TEATRO MUNICIPAL
MARATONA
10 ANOS 10 HORAS
Tanto a mala voadora como o Mundo Perfeito estão em casa no Teatro Maria Matos e, por isso, decidiram fazer o que se faz quando se quer uma festa na nossa casa: convidar amigos. Durante 10
horas, o palco do Teatro Maria Matos é sucessivamente ocupado por mais de 50 artistas — do teatro, da dança, da música, da performance e das artes visuais — que, em Portugal ou no estrangeiro,
têm sido próximos da mala voadora, ou do Mundo
Perfeito, ou de ambos, ao longo dos últimos dez
anos. Cada um faz aquilo que mais gosta de fazer.
As suas prendas de aniversário são peças curtas,
fragmentos de peças, leituras, instalações, performances e micro-concertos, preparados especialmente para este evento. Na rua, uma roulotte servirá comida e bebida para aconchegar os estômagos
nos intervalos que pontuam a maratona. O dia acaba entre amigos e em festa.
sala principal ● duração: 10h ● M/12
um projeto Create to Connect com o apoio
do Programa Cultura da União Europeia
convidados da maratona 10 anos 10 horas
Mundo Perfeito
→ Alex Cassal (Brasil) – Colaborou com
o Mundo Perfeito como criador e ator
em Estúdios 2 (2009) e Mundo Maravilha
(2012) e como autor em Hotel Lutécia
(2010).
→ Alexandre Talhinhas – Colaborou
com o Mundo Perfeito como músico em
Urgências 2007, Se uma janela se
abrisse (2010), Tristeza e alegria na
vida das girafas (2011) e Três dedos
abaixo do joelho (2012).
→ Ana Borralho & João Galante – Colaboraram com o Mundo Perfeito como atores
em Hotel Lutécia (2010).
→ Bruno Canas – Responsável pelo registo
vídeo dos espetáculos do Mundo Perfeito, figurante no espetáculo O que se
leva desta vida (2009), realizou e montou
os vídeos usados em Urgências 2007 e Se
uma janela se abrisse (2010).
→ Carla Galvão – Colaborou com o Mundo
Perfeito como atriz em Tristeza e alegria
na vida das girafas (2011).
→ Carla Maciel – Colaborou com o Mundo
Perfeito como atriz em Hotel Lutécia
(2010) e na criação The Jew (2011).
→ Companhia Maior – Colaborou com o
Mundo Perfeito como atores em Bela
Adormecida (2010).
→ Dinarte Branco – Colaborou com o
Mundo Perfeito como ator em Urgências
(2004).
→ Felipe Rocha (Brasil) – Colaborou com
o Mundo Perfeito como criador e ator
em Estúdios 2 (2009) e Mundo Maravilha
(2012).
→ Filipe Homem Fonseca – Colaborou com
o Mundo Perfeito como autor em Urgências (2004), Azul a cores (2006), Urgências
2006 e A Festa (2008).
→ Gonçalo Alegria – Impulsionou a criação
do Mundo Perfeito.
→ Gonçalo Waddington – Colaborou com
o Mundo Perfeito como criador e ator
em O que se leva desta vida (2009) e The
Jew (2011) e como ator nos espetáculos
Hotel Lutécia (2010) e Três dedos abaixo
do joelho (2012).
→ Iolanda Laranjeiro – Colaborou com o
Mundo Perfeito como atriz em Urgências
2006.
→ Isabel Abreu – Colaborou com o Mundo
Perfeito como atriz em Hotel Lutécia
(2010) e Três dedos abaixo do joelho (2012).
→ Jacinto Lucas Pires – Colaborou com
o Mundo Perfeito como autor de Hotel
Lutécia (2010).
→ Jerónimo Rocha - Atualmente a colaborar com o Mundo Perfeito como designer.
→ José Luís Peixoto - Colaborou com o
Mundo Perfeito como autor de Urgências
2007.
→ Kuno Bakker (Holanda) – Colaborou com
o Mundo Perfeito como criador e ator em
The Jew (2011).
→ Leo Preston (Noruega) – Colaborou com
o Mundo Perfeito como criador e ator em
Long Distance Hotel (2010 e 2011).
→ Luís Mestre – Colaborou com o Mundo
Perfeito como ator em Urgências 2006 e
Urgências 2007.
→ Manja Topper (Holanda) – Colaborou
com o Mundo Perfeito como criadora e
atriz em The Jew (2011).
→ Margarida Cardeal – Colaborou com
o Mundo Perfeito como atriz em Azul a
cores (2006) e Urgências 2006.
→ Michel Blois (Brasil) – Colaborou com o
Mundo Perfeito como criador e ator em
Estúdios 2 (2009).
→ Miguel Borges – Colaborou com o Mundo
Perfeito como ator em Tristeza e alegria
na vida das girafas (2011).
→ Nelson Guerreiro – Colaborou com o
Mundo Perfeito como ator em Urgências
2006 e A Festa (2008).
→ Renato Linhares (Brasil) – Colaborou
com o Mundo Perfeito como criador e
ator em Mundo Maravilha (2012).
→ Stella Rabello (Brasil) – Colaborou com
o Mundo Perfeito como criadora e atriz
em Mundo Maravilha (2012).
→ Thomas Walgrave (Bélgica) – Colaborou
com o Mundo Perfeito como desenhador
de luz e cenógrafo em vários espetáculos, dos quais se destacam Duas Metades
(2007), Urgências 2006, Urgências 2007, A
Festa (2008) e Bela Adormecida (2010).
mala voadora Mundo Perfeito
→ Bernardo de Almeida – Colaborou com
o Mundo Perfeito como ator em Se uma
janela se abrisse (2010). Colaborou com
a mala voadora como ator em Huis Clos
(2009), 3D (2010), overdrama (2011) e
revelação (2012).
→ Cláudia Gaiolas – Colaborou como
criadora e atriz em vários espetáculos do
Mundo Perfeito, dos quais se destacam
Duas Metades (2007), Urgências 2006,
Urgências 2007, Estúdios 2 (2009), Se uma
janela se abrisse (2010) e Mundo Maravilha
(2012). Colaborou com a mala voadora
como atriz em projeto de execução (2006),
teatro-postal (2006), desempacotando
a minha biblioteca (2007) e overdrama
(2011), e como assistente de encenação
em casa & jardim (2012).
→ Flávia Gusmão – Colaborou com o Mundo Perfeito como atriz em Hotel Lutécia
(2010). Colaborou com a mala voadora
como atriz em single (2010) e overdrama
(2011).
→ Paula Diogo – Colaborou com o Mundo
Perfeito, como atriz em Se uma janela se
abrisse (2010) e como criadora e atriz nos
espetáculos Estúdios 2 (2009) e Mundo
Maravilha (2012). Colaborou com a mala
voadora como atriz em casa & jardim
(2012) e na banda sonora de memorabilia
(2011).
→ Pedro Gil – Colaborou com o Mundo
Perfeito como ator em Tristeza e alegria
na vida das girafas (2011). Colaborou com
a mala voadora como ator em Os Justos
(2004), single (2010), overdrama (2011) e
na conceção de O decisivo na política…
(2008).
→ Rui Horta – Parceiro regular do Mundo
Perfeito desde 2005. Parceiro regular da
mala voadora desde 2005.
→ Tónan Quito – Colaborou como criador
e ator em vários espetáculos do Mundo
Perfeito, dos quais se destacam Duas
Metades (2007), Urgências 2006, Urgências
2007, A Festa (2008), Se uma janela se
abrisse (2010) e Entrelinhas (2013). Colaborou com a mala voadora como ator
em desempacotando a minha biblioteca
(2007).
mala voadora
→ Alex Kelly (Reino Unido) – Cofundador da
companhia britânica Third Angel, com a
qual a mala voadora tem trabalhado em
cocriação, designadamente nos espetáculos Story Map (2009), what i heard about
the world (2009) e Paraíso 2 (2014).
→ Amaya González Reyes (Espanha) –
Desenvolve tese de doutoramento sobre
o trabalho da mala voadora. Colaborou
com a companhia nos espetáculos 3D
(2010), memorabilia (2011) e dead end
(2012).
→ Ana Brandão – Colaborou com a mala
voadora como atriz em o duplo (2009) e
na banda sonora de memorabilia (2011).
→ Anabela Almeida – Membro da mala voadora, participa como atriz nos seus espetáculos desde a fundação e é responsável pelo Serviço Educativo da companhia.
→ Bruno Huca – Participou como ator
em chinoiserie (2009), single (2010) e 3D
(2010). Colaborou na conceção de real/
show (2009).
→ Carlos António – Colaborou com a mala
voadora como ator em overdrama (2011)
e A Sala Branca (2013).
→ Chris Thorpe (Reino Unido) – Colabora
regularmente com a mala voadora na
qualidade de dramaturgo. É cocriador
de what I heard about the world (2010) e
escreveu overdrama (2011), casa & jardim
(2012) e dead end (2012).
→ Deborah Krystall & Jenny LaRue, Norma
Swan, Nyma Charles, Samantha Rox,
Vitor Hugo - Deborah Krystall atuou
em desempacotando a minha biblioteca
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(2007) e colaborou ainda com a mala
voadora em Paraíso 1 (2013).
Isaque Pinheiro – Colaborou com a mala
voadora em hard (I + II) (2006) e overdrama (2011).
Joana Bárcia – Colaborou com a mala voadora como atriz em casa & jardim (2012),
dead end (2012) e Wilde (2013) e na banda
sonora de memorabilia (2011).
José Júpiter – Tem desenvolvido trabalho fotográfico a partir dos espetáculos
da mala voadora.
Lucy Ellison (Reino Unido) – Colabora
em Paraíso 2 (2014).
Marta Furtado – codiretora e programadora de Artes Performativas da Galeria
Zé dos Bois, da qual a mala voadora é
associada.
Miguel Loureiro – Dirigiu, na mala voadora, Nicarágua Prologue (2004) e Spitx
(2009).
Miguel Pereira – Colaborou com a mala
voadora (apoio coreográfico) em Os
Justos (2004), projeto de execução (2006),
hard (I+II) (2006) e foi cocriador de Wilde
(2013).
Mónica Garnel – Colaborou com a mala
voadora como atriz em casa e jardim
(2012) e dead end (2012) e na banda sonora de memorabilia (2011).
Rachael Walton (Reino Unido) – Cofundador da companhia britânica Third
Angel, com a qual a mala voadora tem
trabalhado em cocriação, designadamente em Story Map (2009), what i heard
about the world (2009) e Paraíso 2 (2014).
Rui Lima + Sérgio Martins – Colaboram regularmente com a mala voadora,
responsáveis pela banda sonora ou
sonoplastia de chinoiserie (2009), o duplo
(2009), single (2010), memorabilia (2011),
casa & jardim (2012), dead end (2012), nas
quais participaram também como intérpretes, A Sala Branca (2013) e Paraíso 1
(2014).
Sílvia Filipe – Colaborou com a mala
voadora como atriz em Huis Clos (2009),
overdrama (2011) e casa & jardim (2012) e
na banda sonora de memorabilia (2011).
Tânia Alves – Colaborou com a mala
voadora como atriz em overdrama (2011),
casa & jardim (2012) e A Sala Branca
(2013) e na banda sonora de memorabilia
(2011).
Tiago Barbosa – Colaborou com a mala
voadora como ator em Wilde (2013).
Tiago Cadete – Colaborou com a mala
voadora em o duplo (2009) e memorabilia
(2011).
Vitor Hugo Pontes – Colaborou com a
mala voadora (apoio coreográfico) em
A Sala Branca (2013).
Preçários e bilheteira
Maratona 10 Anos 10 Horas
entrada livre mediante levantamento prévio de bilhete no
próprio dia a partir das 15h, sujeita à lotação da sala no
momento de entrada para o espetáculo
cada Espetáculo
12€ / com desconto 6€
Programa paralelo
foyer
entrada livre
sala principal com bancada
entrada livre (sujeita à lotação da sala) mediante levantamento prévio de bilhete no próprio dia a partir das 15h
mmcafé
entrada livre, sujeita à lotação da sala
Passe especial para todos os espetáculos 28€ / 14€
Disponível até 26 outubro na bilheteira física do Teatro
Maria Matos.
Sujeito à lotação da sala em cada sessão de espetáculo.
Aconselha-se reserva para o espetáculo pretendido para
portadores do Passe.
Não abrangido pelo cartão Maria & Luiz.
Descontos disponíveis
preço único 5€
menores de 30 anos
desconto 50%
portadores do cartão Maria & Luiz, estudantes, maiores
de 65 anos, pessoas com deficiência e acompanhante,
desempregados, profissionais do espetáculo, funcionários
da CML e empresas municipais (extensível a acompanhante)
desconto 30%
grupos de dez ou mais pessoas (com reserva e levantamento
antecipado)
Reservas
Levantamento prévio obrigatório até 30 minutos antes do
espetáculo.
Bilheteira
terça a domingo das 15h às 20h
em dias de espetáculo das 15h até 30 minutos após o início
do mesmo
218 438 801 • [email protected]
bilheteira online: www.teatromariamatos.pt
outubro
╓── mala voadora & mundo perfeito
║
║
Maratona 10 anos 10 horas
║
║ 1 teatro ↣ 16h às 02h
║
╙ Æ sáb 26 ▶ p. 02
╓── TIAGO RODRIGUES/MUNDO PERFEITO
║
║ Tristeza e alegria na vida
║
║
das girafas
║
1
║
teatro ↣ 21h30
║
╙ Æ qua 30 ▶ p.36
╓── MALA VOADORA: Overdrama
║
║ 1 teatro ↣ 21h30
║
╙ Æ qui 31 ▶ p.38
novembro 2013
╓── MALA VOADORA: Overdrama
║
║ 1 teatro ↣ 21h30
║
╙ Æ sex 01 ▶ p.38
╓── TIAGO RODRIGUES/MUNDO PERFEITO
║
║ Tristeza e alegria na vida
║
║
das girafas
║
║ 1 teatro ↣ 21h30
║
╙ Æ sáb 02 ▶ p.36
╓── TIAGO RODRIGUES/MUNDO PERFEITO
║
║
Se uma janela se abrisse
║
║ 1 teatro ↣ 21h30
║
╙ Æ qui 07 ▶ p. 40
╓── MALA VOADORA + THIRD ANGEL
║
║
What I heard about the world
║
║ 1 teatro ↣ 21h30
║
╙ Æ sex 08 e sáb 09 ▶ p.42
╓── MALA VOADORA / MUNDO PERFEITO
║
║ 1 conversa com 10 convidados
║
║ 1 programa paralelo ↣ 18h30
║
╙ Æ dom 10 ▶ p.54
╓── MALA VOADORA: Os Justos
║
║ 1 teatro ↣ 21h30
║
╙ Æ qui 14 ▶ p.44
╓── TIAGO RODRIGUES/MUNDO PERFEITO
║
║ Três dedos abaixo do joelho
║
║ 1 teatro ↣ 21h30
║
╙ Æ sex 15 e sáb 16 ▶ p.44
╓── TIAGO RODRIGUES/MUNDO PERFEITO
║
║
2 livros e 1 filme em construção
║
║ 1 programa paralelo ↣ 18h30
║
╙ Æ dom 17 ▶ p.55
╓── TIAGO RODRIGUES/MUNDO PERFEITO
║
║
By Heart
║
║ 1 teatro ↣ 21h30
║
╙ Æ qua 20 a sáb 23 ▶ p.48
╓── MALA VOADORA + ASSOCIATION
║
║
ARSÈNE + SIMON RUMMEL
║
║
Paraíso 1
║
║ 1 teatro ↣ 21h30
║
╙ Æ ter 26 a sex 29 ▶ p.52
╓── MALA VOADORA
║
║
2 livros e 1 apresentação
║
║ 1 programa paralelo ↣ 18h30
║
╙ Æ sex 29 ▶ p.57
mala voadora e
Mundo Perfeito
Mark Deputter, diretor artístico do
Teatro Maria Matos
Foi com poucos dias de diferença que Tiago Rodrigues
do Mundo Perfeito e Jorge Andrade da mala voadora
propuseram a organização de um ciclo de programação dedicado ao 10.º aniversário das suas respetivas
companhias. Em si, um décimo aniversário não é particularmente impressionante, nem suficiente para uma
retrospetiva, mas era uma ótima ocasião para pôr de
pé um programa que permitisse um olhar mais completo sobre duas companhias que fazem parte da onda
de inovação que atravessa o teatro português.
Embora a mala voadora e o Mundo Perfeito sejam
muito diferentes, têm mais em comum do que o seu
aniversário. Surgem num contexto teatral radicalmente diferente do das gerações anteriores. No fim dos
anos 80, os Encontros Acarte começam a introduzir artistas estrangeiros em Lisboa, iniciando uma internacionalização que alcança a sua velocidade de cruzeiro
na segunda metade dos anos 90, com a presença de
propostas internacionais não só nas programações
dos maiores palcos da cidade, mas também em espaços alternativos, festivais, laboratórios artísticos e residências. Informados por uma grande diversidade de
propostas artísticas estrangeiras, os criadores portugueses da primeira década do segundo milénio são naturalmente internacionais: inscrevem-se nas tendências europeias, colaboram com toda a naturalidade
com colegas estrangeiros e apresentam o seu trabalho
cada vez mais em palcos fora do país.
Outra característica que a mala voadora e o Mundo
Perfeito partilham com a maior parte dos colegas da
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sua geração é a extrema flexibilidade. Sem espaço próprio e com financiamentos pequenos e irregulares, trocam a relativa segurança do ensemble por uma existência freelance, que permite adaptar os elencos às
necessidades de cada projeto e facilita as colaborações artísticas em todos os níveis. Ao mesmo tempo,
utilizam esta agilidade para negociar parcerias pontuais com os teatros de acolhimento e os festivais, respondendo a encomendas ou propondo coproduções. É
uma existência no fio da navalha, mas que permite a
realização de projetos com uma dimensão muito além
do que seria possível apenas com os financiamentos
governamentais.
O teatro do Mundo Perfeito e da mala voadora
inscreve-se na tradição do teatro pós-dramático, que
dispensa a narrativa dramática linear e as personagens
tradicionais para dar mais ênfase à própria situação
teatral. O seu teatro não é caracterizado pela representação de uma realidade ficcional, mas procura estabelecer uma relação imediata com o público. Em Três
dedos abaixo do joelho, os atores Gonçalo Waddington e
Isabel Abreu não representam quaisquer personagens,
mas são simplesmente “portadores” do texto, que partilham com o público um conjunto de anotações e comentários da censura salazarista. Na escrita do texto,
Tiago Rodrigues não está interessado na criação de um
enredo dramático, mas sim na confrontação direta do
público com os mecanismos da censura. A opção radical pela utilização de ready-mades (o texto reproduz exclusivamente comentários originais dos censores) dá à
peça uma carga irónica e política imediata.
Mas mesmo quando o material é ficcional, como
em overdrama da mala voadora, a narrativa dramática
é reduzida a um esqueleto, uma espécie de gerador
de situações teatrais. Não envolve as personagens
num enredo credível, mas sobrepõe um número de
posições retóricas; assim, a peça situa-se na periferia
das alegorias medievais, apesar de a encomenda ao
5
mala voadora/Mundo Perfeito
↙
dramaturgo Chris Thorpe ter solicitado uma peça inspirada no drama burguês.
Os atores de Se uma janela se abrisse, de Tiago
Rodrigues, limitam-se a emprestar a sua voz a uma série de imagens televisivas, invadindo a “realidade” do
Telejornal com a “poesia” do teatro. Apesar de o dispositivo ser elementar, permite algo delicioso que só o
teatro consegue de maneira tão radical: oferecer várias leituras paralelas ao mesmo tempo. No primeiro
nível, o espectador reconhece o Telejornal e talvez as
próprias notícias originais; ao mesmo tempo, presencia a subversão das notícias pela introdução de textos
alternativos; ao terceiro nível, é testemunha da ação
teatral, executada pelos atores que estão sentados à
sua frente, dando vida às imagens pirateadas através
da sua interpretação.
Numa das primeiras criações da mala voadora,
Os Justos, Jorge Andrade joga o enredo da conspiração
em dois planos: o do grupo de terroristas que projetam um atentado — a ficção de Albert Camus — e o do
grupo de jovens atores que preparam uma peça de
teatro — a realidade da mala voadora tornada ficção. A
duplicação dos níveis de leitura dá às questões éticas
que são levantadas na peça uma inesperada atualidade e relevância, para além da situação pré-revolucionária ficcional da peça.
Em Tristeza e alegria na vida das girafas, o espectador experiencia o mundo através dos olhos de uma
menina de nove anos. Tal como em Calvin and Hobbes,
um boneco de peluche pode ser tão real como o pai ou
um agente da polícia e toda a peça baseia-se na oportunidade de dissecar as vicissitudes da nossa sociedade com a inteligência (inocente?) de uma criança. Como
ilustram estes exemplos, a multiplicação de pontos de
vista e níveis de leitura é uma estratégia recorrente no
trabalho das duas companhias.
O percurso de ambas é marcado por uma evolução notável da sua relação com a dramaturgia. São raros
6
os exemplos em que a mala voadora ou o Mundo Perfeito
pegam num texto existente para fazer uma peça de teatro. Nos primeiros anos das suas existências, experimentam com processos (semi)coletivos — relativamente recorrentes no teatro contemporâneo português
— nos quais os atores e colaboradores artísticos vão
criando conteúdos e colagens de textos. Nestes processos, a “escrita” do texto coincide de tal forma com a
criação da peça que o texto final não sobrevive sozinho
e deixa de fazer sentido fora do contexto da peça para a
qual foi elaborado. Numa fase mais recente, no entanto,
ambas as companhias vão dando cada vez mais ênfase e
autonomia à escrita dramatúrgica, na mala voadora
através de uma colaboração intensa com o dramaturgo
inglês Chris Thorpe, no Mundo Perfeito pela mão do
próprio Tiago Rodrigues, no duplo papel de encenador e
escritor.
É notável que a autonomização da escrita não
leve a uma separação da encenação, mas assuma a forma de uma relação dialética. Chris Thorpe responde a
encomendas precisas e trabalha em estreita colaboração com Jorge Andrade; Tiago Rodrigues escreve textos para projetos concretos que quer realizar como
encenador. Já sabem onde a peça será apresentada,
conhecem os atores que vão interpretar as suas personagens e, durante o período dos ensaios, adaptam e
reescrevem o texto para responder às necessidades
da encenação. Às vezes, as cenas vão sendo escritas à
medida que os ensaios avançam. Na realidade, não fazem mais do que seguir os passos de ilustres exemplos
como Gil Vicente, Shakespeare, Molière ou Brecht, mas
a reaproximação entre a dramaturgia e o teatro que
estão a ensaiar não deixa de configurar uma evolução
muito prometedora no contexto da criação teatral
contemporânea.
Se os anos 90 pertenciam à Nova Dança Portuguesa, os anos 2000 pertencem ao Novo Teatro Português.
Uma nova geração de criadores veio para ficar: Tónan
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mala voadora
↙
Quito, Pedro Gil, Patrícia Portela, André e. Teodósio,
Pedro Penim, Rui Catalão, Jacinto Lucas Pires, Gonçalo
Waddington, Marco Martins, Ana Borralho & João Galante, Gonçalo Amorim, Martim Pedroso, Bruno Bravo,
Jorge Andrade, Tiago Rodrigues… Num contexto difícil
e de poucos recursos, demonstram resiliência e inventividade, criando uma oferta diversa e alcançando uma
qualidade artística que está a conquistar públicos em
todo o país e a abrir portas de teatros e festivais estrangeiros. O programa que comemora os dez anos da
mala voadora e do Mundo Perfeito é uma oportunidade
única para conhecer duas das mais importantes companhias deste teatro português em ebulição.
o fenómeno
da cena
Tiago Bartolomeu Costa, crítico
Dez anos não contam a história toda e, sobretudo, não
são senão um modo de olhar para a realidade e perceber que ainda são muitas as portas de entrada que estão por abrir. Ao longo de dez anos, e dos seus 28 espetáculos, a mala voadora, dirigida pelo encenador e ator
Jorge Andrade e o cenógrafo José Capela, desde sempre acompanhados pela atriz Anabela Almeida, foi-se
instituindo como um dos exemplos mais claros de um
desejo de teatro amplamente sustentado na experimentação dentro de códigos formais.
Esta baliza, que durante anos foi sendo testada
na sua capacidade de reconstrução permanente, permitiu que, na sua imensa diversidade e feliz irregularidade, o conjunto do trabalho se instituísse como um
caso sério no modo como as companhias que herdaram o cruzamento disciplinar que fez as décadas de
1980 e 1990 souberam transformar um desejo de intervenção num programa de ação que já não se prende
com o imediatismo, mas, pelo contrário, não teme a
beleza do erro. Ou seja, aquilo a que o encenador e ator
Miguel Loureiro, colaborador desde o início da companhia, definiu como “o fenómeno da cena”.
Espetáculos como what I heard about the world1
(Teatro Maria Matos2, 2010), overdrama (Culturgest,
2011) e Os Justos (Teatro da Garagem, 2004) são, por
isso, hipóteses diferentes de entrada num universo
1. Exceto quando indicado todas as encenações são assinadas por
Jorge Andrade
2. É dado como referência o local de estreia, mesmo que, em alguns casos,
se trate de uma antestreia na sequência de uma residência artística.
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mala voadora
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que, com o tempo, esclareceu que não pretendia criar
um modo de agir distinto, mas, pelo contrário, propor
reformulações e olhares diferentes sobre o próprio
ato teatral.
O entendimento que se possa ter sobre o modo
como o trabalho da mala voadora evoluiu não é alheio
às condições e ao contexto no qual esse desenvolvimento ocorreu. Com o tempo podemos observar que
as ruturas protagonizadas pela geração imediatamente anterior, aquela que era herdeira direta dos fundadores do teatro independente no pré e pós revolução
de 1974, haviam justificado a alteração substancial dos
modos de criação e produção. Na mesma ordem de fatores concorrem aspetos de ordem estrutural como
sejam o surgimento de novos equipamentos culturais,
nomeadamente em Lisboa, e o estabelecimento de
programas de apoio financeiro por parte do Estado no
início da década de 2000, que facilitaram a produção e
proliferação de discursos, bem como a sua acessibilidade a públicos diversos (quando não mesmo a construção de novos públicos).
Nesse sentido, e olhando retrospetivamente
para o percurso de dez anos da mala voadora, percebemos que a sua evolução deve também ser entendida
enquanto parte contribuinte para uma paisagem que
partia da hierarquia teatral já instituída para conceber
uma abordagem ao ato performático mais ampla, no
qual a imagem e o discurso alternavam no modo de se
instituírem como ação ou consequência.
Se é hoje mais predominante a presença do texto
ou, de certa forma, se o exercício de remontagem do
texto através da encenação se diluiu para permitir que
seja a palavra o motor de condução da ação, tal deve-se
a uma alteração na base dos próprios projetos. Mesmo
que exista, como existiu no início, um texto, esse parte
agora de um desejo de implicação com o que os envolve
e não simplesmente de convocação desse contexto. Assim, se nos espetáculos iniciais — Trilogia Strindberg
10
(encenação Rogério de Carvalho, Coimbra 2003 — Capital Nacional da Cultura, Zoo Story (encenação João Mota,
Teatro da Comuna, 2004), Nicarágua Prologue (encenação Miguel Loureiro, Sala B, Citemor, 2004) — havia um
desejo de pensar a forma como a palavra podia produzir, através do modo como o ator a ressentia, um desejo de intervenção no espectador, a partir de Os Justos
é na encenação, ou seja, no filtro que dá a ver, que o
teatro da mala voadora se constituiu, em si mesmo,
como prática performativa. Ou seja, passa a ser, ele
mesmo, sujeito e objeto de trabalho.
Distinguido com uma menção honrosa do prémio Madalena Azeredo Perdigão, então atribuído pela
Fundação Calouste Gulbenkian, Os Justos, concebido
a partir do texto de Albert Camus, transformava o palco num imenso laboratório onde era solicitado aos
atores que fossem protagonistas diretos de confrontos éticos e, nesse sentido, que estabelecessem um
paralelo entre o grupo de terroristas que procurava
atentar contra o Grão-Duque, e as suas próprias experiências enquanto atores na construção de um espetáculo. Ou seja, e desde logo, as intenções da mala
voadora abandonavam uma ideia de teatro como o primado da materialização de uma ética — do texto, longe portanto de um teatro de reivindicação — para abraçarem um desejo de materialização de uma estética
do discurso.
Anos mais tarde, quando se deu um regresso ao
texto, agora escritos propositadamente para a companhia, a experiência dos primeiros anos tornava-se
evidente na segurança como enfrentavam a rarefação
dos diálogos e a pulverização de situações. Textos
como os que Chris Thorpe assinou, overdrama e dead
end (Guimarães 2012 — Capital Europeia da Cultura),
sugerem já uma construção teatral muito mais atenta
ao potencial especulativo do teatro e à sugestão como
motor de ação, mais do que uma afirmação do palco
como território de finitude.
11
mala voadora
↙
Mas, para isso, foi preciso que a companhia atravessasse um período no qual os espetáculos se constituíam
como espaço de encontro entre os objetos e os atores.
what I heard about the world é, de certo modo, o fecho
de um ciclo de espetáculos que admitiam o ocasional
como forma de diálogo e a exposição descarnada do artifício como método de intervenção.
A relação entre a ficção e a realidade, na base de
muitos dos espetáculos, permitia que as histórias recolhidas ao longo do processo (em colaboração com o
coletivo inglês Third Angel) se transformassem em
material narrativo através da confiança que o dispositivo dramatúrgico demonstrava. E, nesse sentido, quando comparado, por exemplo, com real/show (Citemor,
2009), no qual os bibelots eram os indutores de uma
narrativa que ambicionava ser-nos comum, what I heard
about the world instituiu-se como momento-chave de
um percurso que, afinal, especulamos, desejou sempre
a reinvenção, mais do que a construção.
Ao longo dos anos, percebe-se agora, a companhia foi, intencional ou ocasionalmente, constituindo
um corpo criativo que se ia respondendo, quando não
mesmo propondo um discurso rizomático. Ou seja, os
espetáculos constituir-se-iam, na sua profusão de temas, discursos, modos de agir e de se dar a ver, como
vasos comunicantes de uma ambição de territorialização do teatro. O lugar do discurso seria, afinal, o modo
como a companhia reagia à sua própria voz.
Há jogos de espelhos entre os espetáculos que
admitem, em retrospetiva, identificar ao longo dos anos
um esforço de permanente reconstrução do seu próprio discurso. Por vezes, esses espelhos não são intencionais. E, na maioria dos casos, não o foram. Mas permitem levantar a hipótese de que, de espetáculo para
espetáculo, o desejo de inscrição de um discurso num
contexto — ou de discursos vários num contexto sem
fronteiras — se fez através de uma revisitação de coordenadas e de referências que poderiam ser partilhadas
12
por diferentes espetáculos. Em Spitx (encenação Miguel
Loureiro, Teatro Maria Matos, 2009), por exemplo, procedia-se a uma releitura de O decisivo na política não é
o pensamento individual, mas sim a arte de pensar a cabeça dos outros, disse Brecht. (Auditório de Serralves,
2008), sugerindo que a ficcionalização dos discursos
políticos permitia a libertação de uma carga ideológica, porque nominal, desses mesmos discursos. O que
antes era um discurso de afronta e de exigência transformava-se, agora, numa desmontagem ácida e paródica da retórica política. E se a intervenção política nunca foi uma preocupação para a mala voadora, o modo
como o teatro (ou o discurso teatral) pode ser lido
como reflexão sobre a política, no sentido do discurso
público (ou do que é público) então a possibilidade
criada pela indistinção entre discursos e ideologias
permitia a convivência da esfera pública (o efeito) e privada (a intenção), ao mesmo tempo que, sustentado
pela espetacularização do discurso — ou seja, a exploração do seu potencial dramático — reagia à efemeridade desses mesmos discursos.
Por isso, é interessante verificar que houve sempre, no decorrer dos anos, uma tentativa de olhar para
o que fica da realidade, a sua herança, e perceber, ou
inventar, modos de a organizar, sugerindo narrativas
fossem elas paralelas, complementares ou contrastantes para uma realidade que, assumidamente, não
pode ser materializada no palco por força do princípio
de ficcionalização a que são sujeitos todos os elementos postos em cena.
Podemos olhar para chinoserie (Teatro Maria Matos, 2009) e observar como já em teatro-postal (Teatro
do Campo Alegre, 2006) ou philatélie (Negócio, 2005)
era claro que uma das linhas principais do trabalho da
companhia era o de permitir — ou desejar — que a pequena história projetada sobre e pelos objetos se
transformasse numa narrativa federadora. De certo
modo, também memorabilia (Teatro Maria Matos, 2011)
13
mala voadora
↙
obedecia ao mesmo princípio de storytelling, mas
aqui, os factos, criados a partir de notícias de jornal,
implicavam uma capacidade de reconhecimento por
parte do espectador que as louças, os postais e os selos dos espetáculos anteriores não exigiam. Os objetos, que não abandonavam a sua função utilitária, ganhavam presença, ou corporalidade, pelo modo como
se transformavam em protagonistas das suas próprias
histórias.
A chave para compreender este desejo de diálogo
entre a ficção e a realidade foi fixado nesse objeto ensaístico, e por isso mesmo estranho e indefinido, intitulado desempacotando a minha biblioteca (O Estado do
Mundo/Fundação Calouste Gulbenkian, 2007), criado a
partir de um texto de Walter Benjamin e no qual as personagens dos livros conviviam com a sua própria imagem e as consequências da sua existência. O modo como
eram traçadas as linhas de ação no início do espetáculo,
através da leitura do ensaio de Benjamin, permitiam que
a encenação experimentasse formas de o abordar diferenciando a caracterização das personagens através
dos diferentes modos de uso dos objetos em cena. O
que daí resultava eram hipóteses de entendimento do
palco como território de ação, onde atores, discursos,
objetos e tipologias de uso eram manipulados com vista
à constituição de processos de existência.
De certa maneira é isso que tem estado presente
no percurso da companhia, e através de espetáculos
muito diferentes como projecto de execução (Negócio,
2006), o duplo (Temps d’Images/CCB, 2009), 3D (Negócio,
2011), Wilde (com Miguel Pereira, Culturgest, 2013) e A
Sala Branca (Negócio, 2013). Nos diferentes casos, o
modo como as personagens se iam dando conta da sua
materialidade, fosse através da reação provocada nas
outras personagens ou na estranheza que ambicionavam criar, intencionalmente, no espectador, tinha
como base uma reflexão sobre o potencial dramático
da verosimilhança.
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A experimentação em torno das relações entre a ficção
e a realidade tinha já sido elemento de base de espetáculos anteriores. Nomeadamente hard I + II (CaPA, 2006),
mas foi com what I heard about the world que a companhia conseguiu estabelecer um princípio de ação e
consequência dentro dos limites possíveis da ficção
que nos espetáculos seguintes se viria a expressar, por
exemplo, com as impressões em tamanho XXL que constituem os cenários de overdrama e casa & jardim (CCB,
2012). Estas, em si mesmas, são evoluções narrativas e
dramatúrgicas das projeções em vídeo usadas em projeto de execução e o duplo. Mas mesmo que em overdrama o primado fundamental seja o do cruzamento de
diferentes narrativas, feitas com apontamentos claramente desejantes de verosimilhança e realidade, o
modo de exposição do artifício não é diferente do
exercício de construção, e crença, a que eram sujeitos
os atores de Os Justos ou, de certo modo, os três atores de Huis Clos (Negócio, 2009) e as oito atrizes de
casa & jardim.
Houve sempre no trabalho da mala voadora uma
inten­cional pesquisa sobre o ponto mais fraco de
um espetáculo. Podia ser a relação conflituosa entre
um objeto e um ator (o duplo), entre uma encenação
e um texto (single, Citemor, 2010) ou entre um discurso e um contexto (revelação, Cine-Teatro São Pedro,
Alcanena, 2012). Mas se olharmos para as diferenças
entre Os Justos, what I heard about the world e overdrama, percebemos que os une a maravilhosa hipótese de
questionar a verdade como a única ficção passível de
completar esse fenómeno da cena que é, precisamente, a impossibilidade de afirmar uma verdade como absoluta. A efemeridade do teatro passa por aí. E é por
isso que dez anos não contam a história toda.
15
Mundo Perfeito
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Imaginação
ao poder
Thomas Walgrave, diretor artístico do
alkantara festival
A minha opinião é a seguinte: se há alguma coisa
na nossa época que possa ser útil, é a violência.
Nós sabemos o que esperar dos nossos príncipes.
Tudo o que eles nos concederam foi-lhes arrancado
pela necessidade. E mesmo essas concessões
foram-nos atiradas como uma esmola mendigada
e um miserável brinquedo de criança.
Estas foram as primeiras palavras — de uma carta de
Georg Büchner aos seus pais em 1833 — que ouvi o Tiago
Rodrigues dizer em palco. Foi no verão de 1997, quando
Jorge Silva Melo convidou os tg STAN a vir ao Centro
Cultural de Belém apresentar uma série de espetáculos e realizar um workshop de duas semanas com cerca
de 25 jovens artistas de teatro portugueses. Tudo e todos eram jovens nessa época: o CCB existia há cerca de
cinco anos, os tg STAN há pouco mais de oito, o Jorge
ainda nem sequer tinha cinquenta. O Tiago, com 21
anos (a mesma idade de Büchner quando escreveu a
carta em causa), era o mais jovem de todos nós. Ainda
estava no Conservatório (Escola Superior de Teatro e
Cinema), provavelmente não tinha a bagagem técnica
de alguns dos seus colegas mais velhos, mas entrou naquele palco da Blackbox e pronunciou as palavras de
Büchner com uma tal clareza, autenticidade e inteligência que não havia como ignorá-lo. Seria o início de
um longo romance com os tg STAN. O Tiago cocriaria
cerca de sete espetáculos com a companhia flamenga
(além de participações pontuais em várias outras peças), mas essa é toda uma outra história.
16
Outra vez julho, agora em 2006. O Tiago Rodrigues
convidou-me para colaborar em Urgências 2006, a segunda edição de um projeto no Teatro Maria Matos,
cujo ponto de partida era uma série de peças curtas
de uma dúzia de dramaturgos portugueses e um grupo de atores perante uma pergunta: o que é que tens
de urgente para me dizer?
O Mundo Perfeito tinha sido fundado três anos
antes e Urgências era a primeira cristalização da forma de uma companhia que, nos anos que se seguiram,
assumiria um lugar crucial no panorama do teatro
português e internacional. Centrado no ator/encenador/escritor Tiago Rodrigues e na produtora/fotógrafa/financeira/e-muitas-outras-coisas Magda Bizarro, o
Mundo Perfeito gera trabalho muito diverso mas sempre inovador, que concilia o contemporâneo com o
acessível, a densidade com o humor. A um ritmo vertiginoso (30 produções em 10 anos!), o Mundo Perfeito
desenvolve projetos que começam, muitas vezes, pela
escrita de um novo texto. O resultado é um repertório
espantoso, guiado pela urgência de espoletar o debate de uma série de questões prementes.
A sucessão de produções do Mundo Perfeito também pode ser lida como um processo de aprendizagem,
refletindo uma curiosidade insaciável e uma crença
profunda no mote humanista do homo universalis, a
imagem do artista que adquire um conhecimento geral
sobre o mundo ao invés de optar pela especialização.
Um one-man-ensemble. No entanto, o Mundo Perfeito é tudo menos um empreendimento solitário. A
companhia manifesta-se explicitamente como uma casa
aberta, em busca constante de companheiros para a
sua autoproclamada “batalha contra as forças do mal”
que assume a forma de uma série de colaborações com
uma impressionante lista de artistas portugueses e internacionais: com os libaneses Rabih Mroué e Tony Chakar em Yesterday’s Man (2007); com João Canijo, o congolês Faustin Linyekula, a companhia norte-americana
17
Mundo Perfeito
↙
Nature Theater of Oklahoma e o croata Sergej Pristas,
apenas para destacar alguns do colaboradores das várias edições de Estúdios (2008 a 2010); com, entre outros, Tim Etchells, Alex Cassal, Miguel Castro Caldas,
José Luís Peixoto, José Maria Vieira Mendes e Jacinto
Lucas Pires, em Hotel Lutécia (2010); com companhias
como os tg STAN em Berenice (2005), a Companhia Maior
em Bela Adormecida (2010), os holandeses Dood Paard
em The Jew (2011) e os brasileiros Foguetes Maravilha
em Mundo Maravilha (2012).
Além disso, esta casa aberta contou com uma série de hóspedes regulares. Ao longo dos anos, ganhou
forma um grupo de atores que passaram a pertencer
de facto à companhia, ainda que mantivessem a liberdade de realizar outros projetos fora do Mundo Perfeito.
O ensemble descomprometido, formado por Cláudia
Gaiolas, Tónan Quito, Paula Diogo, Gonçalo Waddington,
entre outros, é fundamental porque, essencialmente, o
Mundo Perfeito faz teatro vivo: espetáculos que estão
ancorados a 200 por cento no aqui-e-agora, longe das
convenções de ensaiar (no sentido francês da palavra,
répéter — repetir) e reproduzir, completamente empenhados no encontro singular entre estes atores e este
público, neste espaço, nesta noite. Isto implica a grande responsabilidade (e liberdade) de os atores reinventarem o espetáculo em cada noite.
É, acima de tudo, uma forma muito generosa de
fazer teatro, que tira o máximo proveito do singular poder deste meio de comunicação e que dá origem a espetáculos particularmente acessíveis, sem nunca se
tornarem paternalistas ou populistas.
Teatro vivo. Há outra maneira através da qual o
Mundo Perfeito entrelaça o palco e a vida. Convida
Pedro Passos Coelho, João Adelino Faria, Marcelo
Rebelo de Sousa ou Alberto João Jardim diretamente
para o palco. Desenha um mapa de Beirute nas paredes do teatro. Os cheiros e os barulhos da cozinha de O
que se leva desta vida são mais fortes do que os de uma
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cozinha da vida real. Para seu grande espanto, personagens e situações reencontram-se a si próprias numa
sala de teatro, mais reais que reais, hiperreais. Nos espetáculos do Mundo Perfeito, a distância metafórica
entre palco e realidade parece, à primeira vista, ser
quase nenhuma. Este é o movimento oposto ao que
acontece tradicionalmente no teatro de repertório:
um grego antigo, um Shakespeare, Ibsen ou Molière é
encenado para demonstrar a universalidade da condição humana, através do tempo e do espaço. Com o
Mundo Perfeito não é um Creonte que nos coloca frente a um espelho da corrupção e cegueira do poder; é
antes um Pedro Passos Coelho, que tira os sapatos e
come um croissant, que se torna Creonte. Situações do
jornal diário são elevadas a um patamar universal. É um
modo de fazer teatro talvez próximo a alguém como o
húngaro Béla Pínter, que usa temas muito locais e datados para contar histórias absolutamente universais.
Aqui, a ficção cumpre um papel central. O que o
Mundo Perfeito faz é tudo menos teatro documental.
Pelo contrário, arrasta a realidade para o palco duma
maneira descaradamente manipulada e ficcionada,
com uma fortíssima qualidade de «e se…», na qual a
imaginação tem toda a liberdade. Existe algo extremamente subversivo neste poder da imaginação, em reivindicar o direito de voltar a sonhar uma realidade inteiramente nova, ainda que esta tenha os mesmos
ingredientes da antiga. É algo muito próximo da quase
infantil e provocadora ingenuidade dos Dadaístas (basta olharmos para o nome da companhia), de um Kurt
Schwitters que afirmaria: exigimos a abolição imediata
de todos os abusos em todo o mundo (no manifesto An
alle Bühnen der Welt).
Falando do mundo: surpreendentemente, o Mundo Perfeito, com os seus espetáculos partindo de temas muito específicos e locais, é, de longe, a companhia de teatro portuguesa com mais ampla visibilidade
internacional. Isto diz muito acerca da necessidade de
19
autenticidade e identidade no teatro, tal como também diz muito sobre o mal-entendido do chamado
Euro teatro universal. Mas a prosperidade da vida internacional do Mundo Perfeito é também um sinal claro do singular modo de operar desta estrutura: é uma
entidade orgânica, muito distante do funcionamento
quase marcial da companhia de teatro convencional,
com os seus generais artísticos, as suas brigadas de
administradores, escritórios de produção e especialistas em comunicação, as suas tropas de atores e técnicos. No Mundo Perfeito, a mesa da cozinha e a cabina
técnica, a casa de banho e o camarim estão intimamente ligados. Eles não precisam de muitas reuniões
para organizar as coisas. O Tiago comparou o funcionamento do Mundo Perfeito a “um pequeno comércio
local, a mercearia da esquina, onde a tónica é o humano, o autêntico e o honesto, onde sabemos de onde
vêm os produtos e para onde vão”. Mas também lhes
podemos chamar uma companhia de guerrilha, altamente manobrável, viajando com pouca carga, diminuindo ao mínimo a distância entre as fileiras. Uma estrutura completamente alinhada com as necessidades
do projeto artístico.
Dez anos de Mundo Perfeito. É um armazém cheio
de cenários. Uma estante com guiões de textos, as falas sublinhadas a caneta fluorescente. Um percurso
feito de desafios, percorrido à velocidade de uma
montanha russa, guiado pela fome de descobrir novos
territórios, de ultrapassar limitações. E ainda há um
mundo inteiro lá fora, à espera de perfeição.
↖
Mundo Perfeito
20
mala voadora 10 anos
2013
Paraíso 1
mala voadora + Association Arsène + Simon Rummel
coprodução: mala voadora, Association Arsène (França),
Maria Matos Teatro Municipal, Théâtre des Bernardines
(França), O Espaço do Tempo, tanzhaus nrw (Alemanha) e
Marseille-Provence 2013 — Capital Europeia da Cultura
estreia: La Gare Franche, Marselha (França)
A Sala Branca
mala voadora + Teatro Oficina
texto: Don DeLillo
direção: Jorge Andrade
coprodução: Teatro Oficina
estreia: Negócio/ZDB, Lisboa
Título e Escritura
mala voadora + Teatro Oficina
texto: Will Eno
direção: Marcos Barbosa
coprodução: Teatro Oficina
estreia: Fábrica ASA, Guimarães
imagem p. 24: Casa & Jardim © José Carlos Duarte
Wilde
mala voadora + Miguel Pereira
texto: Oscar Wilde
coprodução: Culturgest e Teatro Viriato
estreia: Culturgest, Lisboa
2012
dead end
direção: Jorge Andrade
texto: Chris Thorpe
coprodução: Guimarães 2012 — Capital Nacional da Cultura
estreia: Fábrica ASA, Guimarães
revelação
a partir de textos de: Dostoiévski e Nechayev
direção: Jorge Andrade
coprodução: Artemrede
estreia: Cine-Teatro São Pedro, Alcanena
25
mala voadora
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casa & jardim
direção: Jorge Andrade
texto: Chris Thorpe
coprodução: Centro Cultural de Belém (CCB), Théâtre
National de Bretagne (França) e O Espaço do Tempo
estreia: CCB, Lisboa
2011
memorabilia
direção: Jorge Andrade
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
overdrama
texto: Chris Thorpe
direção: Jorge Andrade
coprodução: Culturgest
estreia: Culturgest, Lisboa
2010
3D
direção: Jorge Andrade
coprodução: Zé dos Bois (ZDB) e O Espaço do Tempo
estreia: Negócio/ZDB, Lisboa
what I heard about the world
(incl. performance duracional Story Map)
mala voadora + Third Angel
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal, Sheffield
Theatres (Reino Unido), Pazz Festival, Oldenburg (Alemanha)
estreia: The Crucible, Sheffield (Reino Unido)
single
direção: Jorge Andrade
coprodução: Citemor
estreia: Citemor, Montemor-o-Velho
2009
Spitx
direção: Miguel Loureiro
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
26
o duplo
direção: Jorge Andrade
coprodução: Festival Temps d’Images/CCB
estreia: CCB, Lisboa
Huis Clos
direção: Jorge Andrade
coprodução: Zé dos Bois
estreia: Negócio/ZDB, Lisboa
real/show
direção: Jorge Andrade
coprodução: Citemor
estreia: Citemor, Montemor-o-Velho
chinoiserie
texto: Miguel Rocha
direção: Jorge Andrade
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal, Citemor e O
Espaço do Tempo
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
2008
O decisivo na política não é o pensamento individual,
mas sim a arte de pensar a cabeça dos outros (disse
Brecht).
direção: Jorge Andrade
coprodução: Serralves — Mugatxoan, Citemor e ZDB
estreia: Auditório de Serralves, Porto
2007
hard III
direção: Jorge Andrade
coprodução: Festival Y
estreia: Festival Y, Fundão
desempacotando a minha biblioteca
textos: Walter Benjamin e Miguel Rocha
direção: Jorge Andrade
coprodução: Fundação Calouste Gulbenkian — O Estado do
Mundo e ZDB
estreia: Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
27
mala voadora
↙
2006
teatro-postal
direção: Jorge Andrade
coprodução: Teatro do Campo Alegre — Serviço Educativo
estreia: Teatro do Campo Alegre, Porto
hard (I + II)
direção: Jorge Andrade
coprodução: Devir CAPa e Teatro da Garagem
estreia: CAPa, Faro
2003
Trilogia Strindberg
texto: August Strindberg
encenação: Rogério de Carvalho (Credores) e Jorge Andrade
(Pária; A Mais Forte)
coprodução: Actores Produtores Associados, Coimbra 2003 —
Capital Nacional da Cultura e Casa das Artes de Famalicão
estreia: Museu dos Transportes, Coimbra (Credores) e Casa
das Artes de Famalicão (Trilogia)
projeto de execução
direção: Jorge Andrade
coprodução: ZDB
estreia: Negócio/ZDB, Lisboa
2005
philatélie
texto: Miguel Rocha
direção: Jorge Andrade
coprodução: Fundação Calouste Gulbenkian — Programa
Gulbenkian Criatividade e Criação Artística
estreia: Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
2004
Os Justos
texto: Albert Camus
direção: Jorge Andrade
apoio: Teatro da Garagem
estreia: Teatro da Garagem, Lisboa
Nicarágua Prologue
texto: Bernard-Marie Koltès
encenação: Miguel Loureiro
coprodução: Citemor e Casa d’Os Dias da Água
estreia: Citemor, Montemor-o-Velho
Zoo Story
texto: Edward Albee
encenação: João Mota
apoio: Comuna Teatro de Pesquisa
estreia: Comuna Teatro de Pesquisa, Lisboa
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Mundo Perfeito 10 anos
2013
By heart
texto e encenação: Tiago Rodrigues
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal e O Espaço do Tempo
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
Peça Romântica para um teatro fechado
Mundo Perfeito + Cia. Provisória
texto e encenação: Tiago Rodrigues
coprodução: No_Lugar (Brasil)
estreia: Teatro Ipanema, Rio de Janeiro (Brasil)
Entrelinhas
texto: Tiago Rodrigues
encenação: Tiago Rodrigues e Tónan Quito
estreia: São Luiz Teatro Municipal, Lisboa
2012
imagem p.30: Yesterday's Man © Magda Bizarro
Mundo Maravilha (Estúdios 5)
cocriação: Alex Cassal, André Calado, Cláudia Gaiolas, Felipe
Rocha, Magda Bizarro, Paula Diogo, Renato Linhares, Stella
Rabello e Tiago Rodrigues
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal, BIT —
Teatergarasjen (Noruega), Guimarães 2012 — Capital Europeia
da Cultura e O Espaço do Tempo
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
Três dedos abaixo do joelho
texto e encenação: Tiago Rodrigues
coprodução: alkantara festival, Teatro Nacional D. Maria II,
Kunstenfestivaldesarts (Bélgica), De Internationale Keuze
van de Rotterdamse Schouwburg (Holanda) e Stage Helsinki
Theatre Festival (Finlândia)
estreia: Teatro Nacional D. Maria II (alkantara festival),
Lisboa
31
Mundo Perfeito
↙
2011
Tristeza e alegria na vida das girafas
Mundo Perfeito + AnaPereira.PedroGil
texto e encenação: Tiago Rodrigues
coprodução: Culturgest e TAGV estreia: Culturgest, Lisboa
The Jew (Estúdios 4)
cocriação: Gillis Biesheuvel, Gonçalo Waddington,
Kuno Bakker, Manja Topper, Tiago Rodrigues e os técnicos
André Calado, Julian Maiwald, René Rood
coprodução: Dood Paard, Mundo Perfeito e Maria Matos
Teatro Municipal
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
Long Distance Hotel (Revisited)
cocriação: Gilles Polet, Goran Sergej Pristas, Judith
Davis, Leo Preston, Tiago Rodrigues e Tónan Quito
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
2010
Bela Adormecida
Mundo Perfeito e Companhia Maior
texto e encenação: Tiago Rodrigues
coprodução: CCB
estreia: CCB, Lisboa
Hotel Lutécia
textos: Tim Etchells, Alex Cassal, Miguel Castro Caldas,
José Maria Vieira Mendes, Tiago Rodrigues, Jacinto Lucas
Pires e Nature Theater of Oklahoma
encenação: Tiago Rodrigues
encomenda: Maria Matos Teatro Municipal
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Fachada do Hotel
Lutécia, Lisboa
Influências: WTF? & O Arco da Histeria
WTF? de Cátia Pinheiro, José Nunes e Rogério Nuno Costa
estreia: Negócio/ZDB, Lisboa
O Arco da Histeria de John Romão e Nillo Galego
estreia: Negócio/ZDB, Lisboa
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Long Distance Hotel (Estúdios 3)
cocriação: Gilles Polet, Goran Sergej Pristas, Judith
Davis, Leo Preston, Tiago Rodrigues e Tónan Quito
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
Se uma janela se abrisse
texto e encenação: Tiago Rodrigues
coprodução: alkantara festival e Teatro Nacional D. Maria II
estreia: Teatro Nacional D.Maria II, alkantara festival,
Lisboa
2009
O que se leva desta vida
de: Gonçalo Waddington e Tiago Rodrigues
coprodução: São Luiz Teatro Municipal
estreia: São Luiz Teatro Municipal, Lisboa
SEMPRE / PEDRO PROCURA INÊS / BOBBY SANDS VAI MORRER
THATCHER ASSASSINA! (ESTÚDIOS 2)
3 espetáculos em 3 semanas
cocriação: Alex Cassal, Cláudia Gaiolas, Felipe Rocha,
Magda Bizarro, Michel Blois, Paula Diogo, Thiare Maia
e Tiago Rodrigues
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
Cartões de visita (Estúdios 2)
solos de: Alex Cassal, Claúdia Gaiolas, Felipe Rocha,
Michel Blois, Paula Diogo, Thiare Maia e Tiago Rodrigues
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal
estreia: Piscina do Areeiro, Maria Matos Teatro Municipal,
Lisboa
2008
A Festa (Estúdios 1)
texto: Filipe Homem Fonseca, Nelson Guerreiro e Tiago
Rodrigues
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal, Festival de
Almada, alkantara festival, DEVIR/CAPa e Casa das Artes
de Vila Nova de Famalicão
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
33
Mundo Perfeito
↙
2007
Yesterday’s Man
cocriação: Rabih Mroué, Tiago Rodrigues e Tony Chakar
coprodução: alkantara e Mundo Perfeito
estreia: La Mercê, Girona (Espanha)
A partir de amanhã
texto: Tiago Rodrigues
encenação e interpretação: Cláudia Gaiolas
estreia: mmcafé, Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
Urgências 2007
peças curtas de: Inês Meneses, Joaquim Horta, José Luís
Peixoto, José Maria Vieira Mendes, Mickael de Oliveira e Rui
Cardoso Martins
encenação: Tiago Rodrigues
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal e Produções
Fictícias
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
Duas Metades
textos: Patrícia Portela (Babbot) e Tiago Rodrigues
(Coro dos Amantes)
cocriação: Cláudia Gaiolas, Magda Bizarro, Tiago Rodrigues,
Thomas Walgrave e Tónan Quito
estreia: Culturgest, Lisboa
2005
Berenice
Mundo Perfeito + tg STAN
texto: Jean Racine criação e interpretação: Cathy Naden, Carly Wys, Frank
Vercruyssen e Tiago Rodrigues
coprodução: Culturgest
estreia: Casa d’Os Dias da Água, Lisboa
2004
Urgências 2004
peças curtas de: Filipe Homem Fonseca, Luís Filipe Borges,
Nuno Artur Silva, Nuno Costa Santos, Pedro Mexia, Susana
Romana e Tiago Rodrigues
encenação: Tiago Rodrigues
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal e Produções
Fictícias
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
Vagabundos de nós
texto: de Daniel Sampaio
encenação: de Luís Osório
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
2003
2006
Urgências 2006
peças curtas de: Filipe Homem Fonseca, João Quadros, Luís
Filipe Borges, Nelson Guerreiro, Nuno Artur Silva, Nuno
Costa Santos, Patrícia Portela, Pedro Mexia, Pedro Rosa
Mendes, Susana Romana, Tiago Rodrigues
encenação: Tiago Rodrigues
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal e Produções
Fictícias
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
Stand-up Tragedy
texto: Luís Filipe Borges, Nuno Costa Santos e Tiago
Rodrigues
encenação: Tiago Rodrigues
estreia: Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa
Azul a cores
texto: Filipe Homem Fonseca
cocriação e interpretação: Margarida Cardeal e Tiago
Rodrigues
estreia: Teatro da Trindade, Lisboa
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Mundo Perfeito
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TEATRO ★ 30 outubro e 2 novembro
quarta e sábado ↣ 21h30
Tristeza e alegria
na vida das girafas
sala principal com bancada
duração: 2h ● M/16
A morte do urso de peluche
A menina tem de fazer um trabalho para a escola sobre
girafas, mas a televisão lá de casa tem uma espécie de
avaria, quer dizer, desde que o pai ficou desempregado
não há como pagar o canal dos documentários. O que
acontece a partir daí é hilariante, cruel, comovente e
sábio. É uma peça de teatro que está em digressão
pelo país, chamada Tristeza e alegria na vida das girafas, de Tiago Rodrigues, com atores cujos nomes e fotos não aparecem nas páginas cor-de-rosa e que são
muito, muito bons.
O mundo visto pela lógica implacável de uma criança não tem diplomacia nem condescendência. Não é
uma visão povoada por flores e borboletas, é muito
pragmática e absorve sucessivas aprendizagens sem o
tempero que no futuro se traduzirá em conceitos morais. Uma coisa é ou não é, não há assim-assim nem o
desconto das subtilezas. Por isso, quando a menina vai
à procura de dinheiro para pagar o canal por cabo atravessa uma realidade que lhe mata a infância e o delicioso urso de peluche.
Há muitas razões que me levam a gostar de ir ao
teatro e lamento não poder ir com mais frequência. Ir
ao cinema é mais prático, porque o mesmo filme pode
ser visto em diferentes salas e com horários variados.
Mas o teatro, como o bailado ou o circo, tem a força da
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presença física, do risco, do improviso, tem variáveis
que o cinema reduz com a repetição das filmagens e
respetiva montagem.
Longe do glamour das passadeiras vermelhas de
Cannes ou Hollywood, a vida dos artistas e de todos os
que estão envolvidos nestas artes é de uma instabilidade que exige enorme entrega e persistência.
Ontem, no dia a seguir à festa dos 70 anos de carreira de Eunice Muñoz, ficou definido no Orçamento do
Estado o aumento do IVA para os espetáculos, numa
percentagem intermédia de 13 por cento.
Não estou de acordo, mas não vou deixar de ir ao
cinema, ao teatro, ao bailado, ao circo, não vou deixar
de comprar livros nem de visitar museus e exposições
porque o preço vai subir. Desertar da cultura seria uma
desistência do que me faz aprender mais e mais sobre
a vida e o mundo, sobre o passado e o presente, sobre
a capacidade humana para se transcender.
A realidade mata a infância e o ursinho da menina das girafas, e essa viragem não faz dela melhor nem
pior, apenas menos crédula e mais informada. Mais
crescida.
Ana Sousa Dias, jornalista
novembro 2011
Escolhido pela revista Time Out Lisboa como um dos
melhores espetáculos de 2011
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mala voadora
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TEATRO ★ 31 outubro e 1 novembro
quinta e sexta ↣ 21h30
overdrama
sala principal com bancada
duração: 1h40 ● M/12
Este espetáculo é provavelmente a coisa mais parecida com uma peça que escrevo há já algum tempo. As
minhas conversas iniciais com o Jorge foram sobre torcer as convenções das peças “bem feitas” até ao ponto
de tornar essas convenções ridículas ou irreconhecíveis através da repetição e do exagero.
Com o processo de escrita e desenvolvimento, o
texto tornou-se uma coisa diferente. Fiquei interessado em criar uma peça que parecesse relativamente
“normal” — uma série de diálogos entre um grupo de
pessoas todas a atravessar mais ou menos o mesmo
período e acontecimentos na mesma cidade —, mas
que dispensasse alguns dos seus mecanismos de formas inesperadas. Os meandros da intriga, por exemplo, ou o subtexto a fervilhar nas conversas, podem de
vez em quando surgir de forma óbvia e nua, sem nenhum dos artifícios que seriam normalmente usados
por um escritor para pedir ao público que suspenda a
consciência do teatro à sua volta ou dos atores por detrás das personagens em palco.
Enquanto escrevia o texto pensava sobre a
nature­za cíclica dos movimentos de protesto. Pensava
em particular em como é possível enganarmo-nos a
nós próprios achando que cada ciclo de protesto não
se parece com nada do que aconteceu antes — que
desta vez os seres humanos envolvidos vão finalmente
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conseguir reimaginar radicalmente a sociedade em que
participam.
A ânsia de protestar, particularmente em sociedades
mais “democráticas”, torna-se parte da estrutura social
em vez de atacá-la — um meio de controlar o fluxo de
energia através de sistemas altamente globalizados que
assegura a satisfação de uma necessidade social ao
mesmo tempo que protege a integridade do próprio sistema. Esta ânsia é talvez mais fácil de canalizar em sociedades que já não têm a capacidade de se reconfigurar
através de revoluções — sociedades que desenvolveram
a flexibilidade de absorver a energia do protesto, normalmente dando a um número suficiente de pessoas a
quantidade suficiente daquilo que elas querem de modo
a que a imaginação de uma alternativa seja esmagada
pela inércia do consenso.
Tive a sorte em vários momentos durante o processo de ver o elenco a trabalhar e de fazer parte do seu
mundo à medida que desenvolviam um ponto de vista
partilhado sobre o texto que escrevi. Deixaram generosamente que alterasse e desenvolvesse partes do texto
durante os ensaios, produzindo um espetáculo que
dava sempre a sensação de estar vivo e aberto à mudança e às ideias e interpretações de todos os implicados.
Estou verdadeiramente grato por ter sido convidado a
trabalhar com este excelente grupo de pessoas.
Chris Thorpe, dramaturgo
julho 2011
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Mundo Perfeito
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TEATRO ★ 7 novembro
quinta ↣ 21h30
Se uma janela
se abrisse
sala principal com bancada
duração: 75 min ● M/12
A primeira vez
Nunca o silêncio me tinha pesado tanto. Nunca tinha
sido para mim tão incómodo estar no meio de câmaras
de televisão, as mesmas com que eu convivo e trabalho
há décadas. Nunca ninguém me tinha pedido para estar
tanto tempo calado, no lugar onde ganho a vida a falar.
Nunca tinha sentido tanta solidão na cadeira onde já me
acompanharam mais de um milhão de espectadores.
Foi tudo isto que aconteceu quando o Tiago
Rodrigues e o seu Mundo Perfeito me pediram para ser
eu próprio, numa ficção. Os momentos que gravámos
para a peça Se uma janela se abrisse foram intensos e
inéditos para mim. Foi-me pedido que estivesse sentado na minha cadeira, onde apresento o Telejornal, sem
falar durante mais de uma hora de gravação. O burburinho, os gritos e o stress habituais no estúdio foram
substituídos por um silêncio incómodo apenas quebrado pela voz do Tiago no meu ouvido. Contava-me histórias, só a mim. Fazia-me viver sensações de personagens
que o Tiago tinha criado, mas às quais apenas os meus
olhos, rosto ou transpiração podiam responder. Não
podia falar. Senti pena, alegria, medo, tristeza, sonhei
e… acordei com muita lucidez. Tudo ao mesmo tempo.
Nunca as câmaras, que eu considerava velhas
amigas, me pareceram tão ameaçadoras. Subiam e
desciam como que para me denunciar. Não deixavam
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escapar nada, ávidas de saber o que até aqui nunca
tinham conseguido.
Quando finalmente vi a minha gravação integrada na
peça, tudo fez sentido. Mas aquele não era eu. Era a
minha cabeça, o meu tronco, mas eram ambos estranhos e novos para mim. A minha boca abria, mas o som
que saía dela não era a minha voz. Os atores falavam
para aquele rosto igual ao meu, mas não falavam comigo. Eram todos cúmplices, menos eu, que sentado na
plateia me sentia cada vez mais um forasteiro ou um
simples espectador de mim próprio. Vi a peça de fora,
mas como se vivesse em dois mundos paralelos, o real
e o que estava dentro do palco. Tive uma sensação única de prazer estranho. Era eu próprio não sendo nada
daquilo que tinha sido até então. Olhava para mim sem
me reconhecer, ou talvez me tenha conhecido um pouco melhor… como nunca me tinha conhecido. Tudo na
peça andava ao contrário, mas tudo fazia agora mais
sentido do que nunca.
João Adelino Faria, jornalista
setembro 2013
Nomeado para o Prémio Autores SPA/RTP para Melhor
Espetáculo de Teatro 2010
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mala voadora
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TEATRO ★ 8 e 9 novembro
sexta e sábado ↣ 21h30
what I heard
about the world
sala principal com bancada
duração: 70 min ● M/12
Se é estrangeiro e se gaba que sabe falar português,
quando na verdade não sabe, o pior que pode fazer é
comprar bilhete para este espetáculo, com várias partes faladas em português sem tradução. Faz tudo parte
de um humor muito próprio resultante de uma curiosa
colaboração entre a companhia Third Angel, de Sheffield,
a portuguesa mala voadora e o dramaturgo inglês Chris
Thorpe. O objetivo deste espetáculo intercultural —
parte teatro, parte investigação — é contar algumas das
histórias em “segunda mão” que usamos para criar uma
imagem dos países que nunca visitámos. Ouvimos falar
de uma linha telefónica francesa para confissões religiosas; uma estação de rádio israelita que emite silêncio; um jardim zoológico em Gaza onde os burros são
pintados para parecerem zebras. Por vezes torna-se difícil saber se as histórias são verdadeiras, mas isso não
tem importância nenhuma. Fiel aos factos ou não, é uma
demonstração do melhor e do pior do comportamento
humano, ora hilariante ora comovente.
Laura Barnett
crítica ao espetáculo what I heard about the world
12 agosto 2012 in The Telegraph
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mala voadora
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TEATRO ★ 14 novembro
quinta ↣ 21h30
Os Justos
sala principal com bancada
duração: 70 min ● M/12
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Mundo Perfeito
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TEATRO ★ 15 e 16 novembro
sexta e sábado ↣ 21h30
Três dedos abaixo
do joelho
sala principal com bancada
duração: 75 min ● M/12
O perigo das fronteiras invisíveis
Como medida para o comprimento mínimo de uma
saia, três dedos abaixo do joelho parece uma indicação
relativamente arbitrária, mas também clara. Desenha-se uma linha horizontal na perna da atriz: acima não,
abaixo sim. Outras linhas se traçaram nos textos que
passaram pela Comissão de Exame e Classificação de
Espectáculos: um círculo à volta das palavras “a sua
nudez”, um risco por baixo da frase “O porco! Não existe!” aplicada a Deus, uma constelação de X ao longo de
um sketch sobre a “liberdade de pressão”.
Uma linha muito clara separa também o texto de
um relatório da Comissão e o texto de uma peça de
teatro. O que este espetáculo faz não é tanto diluir
essa fronteira — e ela esteve lá, no trabalho de montagem, copy-paste, que fez o Tiago Rodrigues — mas, mais
precisamente, torná-la invisível. Um censor escreveu
que “Não deve ser percetível ao público qualquer corte”, o Tiago Rodrigues segue essa instrução: pega na
frase, apaga-lhe as aspas (e com elas autor, data, contexto), cola-a a outras. Não deixa de haver um lado “informativo” ou “documental” em relação ao que foi a
censura de teatro em Portugal, mas ao tratar o material escrito pelo Padre Teodoro da mesma maneira que
o Othello — encenando os relatórios dos censores, intercalando-os com obras de teatro mais ou menos
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famosas —, este espetáculo usa sobretudo os mecanismos que pode haver num palco para melhor tornar
visível a violência da operação da censura e da sua burocracia, para dar dela uma imagem.
E se às vezes, enquanto público, damos por nós
sem saber muito bem distinguir entre a maneira de
pensar dos censores (no regime fascista) e a nossa (ou
a da nossa época) — porque compreendemos, porque
reconhecemos, porque nos rimos — é que atravessar
uma fronteira contém sempre uma promessa e um perigo. Este espetáculo corre o risco de dar golpes (três
dedos) abaixo da cintura para tentar pensar o teatro,
por confiar no seu poder.
Joana Frazão, tradutora
maio 2012
Vencedor do Prémio Autores SPA/RTP para Melhor
Espetáculo de Teatro de 2012
Vencedor do Globo de Ouro para Melhor Espetáculo de
Teatro de 2012
Escolhido pelo jornal Público como um dos melhores
espetáculos de 2012
Nomeação para Prémio Autores SPA/RTP para Melhor Texto
Português Representado
Nomeação para Globo de Ouro para Melhor Atriz de Teatro
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Mundo Perfeito
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TEATRO ★ nova criação
20 a 23 novembro
quarta a sábado ↣ 21h30
BY HEART
sala principal com bancada
duração: 60 min ● M/12
Uma multidão olha para um elefante no topo de uma
montanha gelada. O elefante é o maior animal que anda
à superfície da Terra. No entanto, este deverá ser cerca
de 100 vezes maior do que um elefante normal. Esta foi
a imagem que Tiago Rodrigues escolheu para ilustrar o
dossier da sua obra By heart, uns meses antes de a estrear.
Perante a estranheza, os espectadores irão
questionar-se. Que faz um elefante em cima de uma
montanha gelada? Como lá chegou? Ou ainda: mas este
elefante tem uma escala incomensurável, a esta distância apenas deveria ser um ponto no horizonte. Como
é isto possível?
Perante o fenómeno, as opiniões divergem, cada
um terá algo para contar, cada um terá uma memória
do que testemunhou, em que todos são confrontados
com a estranheza. Cada um irá guardar a sua versão
individual do acontecimento.
Face ao que nos espanta e comove, iremos contar a outros aquilo que sentimos e nesta transmissão
acrescentaremos a nossa própria emoção e alteraremos alguns detalhes. A memória é camaleónica e adota
a cor do transmissor. Estamos perante dois fenómenos: a perceção e a transmissão. Na brecha entre os
dois, surge a possibilidade da poética.
George Steiner diz que “quando uma linguagem
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morre, morre igualmente uma forma de olhar o mundo”.
Diz-nos também que estamos no fim da era dos livros.
Quando Tiago Rodrigues junta dez espectadores e lhes
pede para aprenderem de cor (by heart) um soneto de
Shakespeare, pede-lhes que aprendam “com o coração”, oferece a possibilidade da poética aliada à experiência da poesia. Cumpre, indelevelmente o papel de
bibliotecário do efémero. Se cada um decorar aquele
soneto, ele sobreviverá para sempre de uma forma viral. E por isso o papel simbólico dos livros nesta obra.
Formalmente este é o espetáculo mais simples que
Tiago Rodrigues até hoje criou. Conceptualmente é,
provavelmente, a sua obra mais complexa.
Voltando à fotomontagem do elefante e da multidão, há algo mais que nos surpreende. Cores saturadas,
película ectachrome dos anos 50 e roupa antiquadas, os
seus corpos estão paradoxalmente descontraídos numa
ambiência quase bucólica de contemplação, pessoas
de várias gerações unidas na experiência do olhar, traduzindo o lado arcaico e profundamente civilizacional
que os livros convocam. Não sei se era este o público
que o encenador imaginou, mas foi certamente próximo daquele que encontrou nas apresentações try out
desta obra: uma amostra de pessoas da comunidade,
um público particularmente heterogéneo, a quem foi
pedido que aprendesse um poema de Shakespeare, no
palco, face aos outros espectadores, algo que seria um
enorme desafio, até para um/uma experiente ator/
atriz. “Quando em meu mudo e doce pensamento / chamo à lembrança as coisas que passaram...” Nesse momento, o público transgride diversos rituais da convenção teatral e assume de uma forma militante o papel de
guardião das palavras e das ideias. A deslocação do lugar do espectador para o lugar do ator/encenador, sem
que seja sequer beliscado o delicado lugar do teatro
enquanto espaço de memória, acontece sem que nos
questionemos perante esta mudança. A partilha é agora entre espectadores e o ator/encenador assume um
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Mundo Perfeito
↙
papel de mediador. By heart questiona o lugar do espectador e responsabiliza-o perante a experiência teatral.
A viagem temporal que atravessa o espetáculo é, pois, a
da responsabilização. A mesma viagem que a avó de
Tiago decide empreender quando se obstina em memorizar um livro inteiro antes da inevitável cegueira que se
avizinha (situação na peça, mas também na vida real).
Este ato de obstinação é o contrato que, em cada
noite, o teatro celebra entre os atores e os espectadores. O contrato da memória, essa fronteira última da
live art, que o poder tanto detesta, pois não se pode
vender, comprar, medir ou taxar, e que transfere para
cada espectador a responsabilização de algo que foi
relevante mas efémero.
Rui Horta, coreógrafo
setmbro 2013
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mala voadora
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TEATRO ★ nova criação
26 a 29 novembro
terça a sexta ↣ 21h30
PARAÍSO 1
sala principal com bancada
duração: 80 min ● M/12
Paraíso 1 é uma colaboração entre a companhia de teatro mala voadora, de Lisboa, a transdisciplinar Association Arsène, de Paris, e o músico Simon Rummel, de
Colónia. A missão desta equipa será descrever o paraíso. Descrever uma paisagem. Em inglês, que é a sua língua comum. Mas também nas suas três línguas de origem — português, francês e alemão — cada uma com a
sua musicalidade. E cantam. Paraíso 1 é um musical a
três vozes em que se descreve uma paisagem. E em
que se dança, como é comum nos musicais.
A descrição de uma obra de arte (do tipo literário
que os gregos designaram como Ekphrasis) é uma representação de uma representação. Um tema propício
a considerações semióticas. A nós, interessou-nos a
“representação de uma representação” pelo hiato que
se abre entre as duas, a preencher pelo artifício.
Inventar esta paisagem, ou o paraíso, é inventar o modo
de os descrever. Como se fez nos manuais do pitoresco
do século XVIII. É preciso saber como compor o idílio
da paisagem (“As obras da natureza parecem-nos tão
mais agradáveis quanto mais se assemelham às da
arte”, disse Joseph Addison). Quando surge a arte, surge o conflito.
Tornou-se comum achar que a arte deve comprometer-se com a política e adotá-la como tema. Para nós,
a sua dimensão política privilegiada continua a ser a sua
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própria definição ou, mais concretamente, a forma.
Este é o primeiro espetáculo de um ciclo que a mala
voadora vai desenvolver em torno do paraíso — um
móbil otimista — um sítio suficientemente vago para
que tenhamos de recorrer a modos artificiosos de o
enunciar.
mala voadora
setembro 2013
programa paralelo
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10 novembro ● domingo ↣ 18h30
17 novembro ● domingo ↣ 18h30
MALA VOADORA
E MUNDO PERFEITO
1 conversa com 10 convidados
mundo perfeito
2 livros e 1 filme
em construção
mmcafé
sala principal com bancada
10 anos, 10 convidados, 10 perguntas. Fugindo aos
suspeitos do costume do mundo do teatro, o Mundo
Perfeito e a mala voadora convidam 10 espectadores
para os interpelar sobre o seu percurso.
Ana Maria Simões
professora de História e de Teatro
Ângelo Rocha
gerente do Miosótis, supermercado biológico
Bernardo Vaz de Castro
investigador na área da comunicação
Carlos Vaz Marques
jornalista e diretor da revista Granta
Daniel Sampaio
psiquiatra e professor universitário
Maria João Guardão
jornalista e realizadora
Mário Caetano
investigador na área da
deteção remota por satélite
Nuno Coelho
designer de comunicação
Pedro Delfim
analista informático
Stella Horta
estudante do ensino secundário
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Lançamento dos livros Os ingredientes do Mundo Perfeito e Peças de Tiago Rodrigues — Vol. 1, seguido de
exibição de filme em construção de Tiago Guedes.
Um filme, dois livros, uma exposição fotográfica. Celebrar uma década de trabalho na criação de espetáculos de teatro produz, inevitavelmente, uma onda de
choque que dá origem a outros projetos artísticos.
Isto é ainda mais verdade no caso de uma estrutura
com um culto da colaboração tão profundo e um ritmo
de produção tão intenso como o Mundo Perfeito. Se
alguns desses projetos vivem na órbita do corpo de
trabalho da companhia, outros assumem-se como astros com luz própria.
No programa paralelo dedicado ao Mundo Perfeito, teremos a oportunidade de, num só dia, assistir a
um filme ainda em construção, ao lançamento em conjunto de dois livros e de visitar uma exposição fotográfica que estará patente ao longo de um mês.
O realizador Tiago Guedes mostra uma versão
prévia e em construção do filme que está criar a partir
da primeira peça de teatro escrita por Tiago Rodrigues,
Coro dos Amantes, e que é protagonizado por Isabel
Abreu e Gonçalo Waddington. Já o livro Os Ingredientes
do Mundo Perfeito conta com texto da autoria de Rui
Catalão, design gráfico de Tiago Gandra e fotografias
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programa paralelo
↙
de Magda Bizarro. É um mergulho no universo criativo
do Mundo Perfeito e examina uma década de trabalho
(porque a vida não examinada não merece ser vivida).
Catalão parte das palavras de diversos colaboradores
da companhia e Gandra perde-se no labirinto do arquivo fotográfico que Bizarro acumulou nos últimos
10 anos.
Peças de Tiago Rodrigues — Vol. 1 é uma edição da
responsabilidade do Centro de Dramaturgia Contemporânea do Teatro Académico de Gil Vicente, do qual Tiago
Rodrigues é Dramaturgo Residente. Este primeiro volume de peças inclui os textos Coro dos Amantes, Tristeza
e alegria na vida das girafas e Três dedos abaixo do joelho.
A apresentação do livro será feita por Francisco Frazão,
programador de teatro da Culturgest, e pelo diretor do
TAGV, Fernando Matos Oliveira.
EXPOSIÇÃO de fotografia
30 outubro a 29 novembro
Magda Bizarro
O desconcerto do mundo
Ao longo de todo programa estará patente no foyer do
Teatro a exposição fotográfica O desconcerto do mundo. Magda Bizarro revela 10 trabalhos inéditos numa
visita guiada pelo olhar de uma testemunha privilegiada e protagonista dos bastidores de uma década
de atividade desta companhia.
terça a sexta: 18h às 02h
sábado e domingo: 15h às 02h ● foyer
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29 novembro ● sexta ↣ 18h30
mala voadora
2 livros e 1 apresentação
mmcafé
Lançamento dos livros 3 peças de Chris Thorpe para
a mala voadora e modos de não fazer nada, seguido
da apresentação A mala voadora anuncia a sua programação para os próximos 10 anos.
Depois de termos colaborado em what I heard about
the world, começámos a convidar o Chris Thorpe para
escrever textos para a mala voadora. Primeiro, pedimos-lhe um texto sobre a revolução utilizando para
isso os recursos narrativos do drama burguês — overdrama. Depois, pedimos-lhe um texto em torno do
anunciado “fim da história” e da sua não consumação.
Propusemos-lhe escrever casa & jardim a partir da estrutura de House & Garden de Alan Ayckbourn: duas peças para serem representadas em simultâneo pelos
mesmos atores que, assim, circulam entre dois cenários e dois públicos. O terceiro convite foi para escrever a partir de histórias recolhidas na zona de Guimarães utilizando a estrutura característica do melodrama. Desta vez, o Chris propôs-nos um texto — dead end
— sem o formato de uma peça: uma série de narrativas,
sem personagens, abertas a que inventássemos uma
estrutura para elas. São estas três peças que estamos
agora a publicar, ao mesmo tempo que continuamos a
trabalhar com o Chris, a apreciá-lo enormemente e a
ter nele um belo amigo.
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José Capela, arquiteto, iniciou-se no Teatro Universitário do Porto (TUP), onde foi ator, designer gráfico e figurinista. Em 2003, fundou a mala voadora com Jorge
Andrade e tem sido sobretudo nesta companhia que
tem desenvolvido o seu trabalho como cenógrafo. Concebeu cenários para espetáculos de Jorge Andrade, e
também de Rogério de Carvalho, João Mota, Miguel
Loureiro e Álvaro Correia.
A mala voadora publica agora um catálogo com
essas cenografias. Sem a pretensão de produzir uma
antologia, esta pequena publicação tem o formato de
um manual — uma lista de modos de fazer cenários,
desde “não fazer nada” até à utilização de maquetas,
telões ou décors como os das telenovelas.
Finalmente, cumpridos 10 anos de atividade,
Jorge Andrade e José Capela anunciam, detalhadamente, os espetáculos que a mala voadora vai apresentar
nos próximos 10 anos.
↖
programa paralelo
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mala voadora
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Fichas artísticas
OVERDRAMA
direção: Jorge Andrade
texto: Chris Thorpe
tradução: Francisco Frazão
com: Anabela Almeida, Carlos António, Cláudia Gaiolas, Flávia
Gusmão, Jorge Andrade, Márcia Breia, Marco Paiva, Miguel Fragata,
Pedro Gil, Sílvia Filipe, Tânia Alves, Wagner Borges, entre outros
figurantes: Jessica Almeida, Rita Figueiredo, Filipe Baptista e
Pedro Baptista
cenografia: José Capela, com fotografias de Bruno Simão
figurinos: Rita Lopes Alves
luz: Daniel Worm d’Assumpção
com assistência de: Eduardo Abdala
imagem de divulgação: Isaque Pinheiro
produção: Manuel Poças e João Lemos
assistência de produção: Francisca Rodrigues
consultoria para a gestão e a programação: Vânia Rodrigues
coprodução: Culturgest
apoio: Cine-Teatro do Montijo, Fundação Calouste Gulbenkian, NG5
imagem: © Bruno Simão
PARAÍSO 1
de e com: Jorge Andrade, Odile Darbelley e Simon Rummel
colaboração e cenografia: José Capela e Michel Jacquelin
colaboração dramatúrgica: Anabela Almeida, Carlos António,
David Cabecinha
banda sonora: Rui Lima e Sérgio Martins
apoio coreográfico: Fernando Santos
produção: João Lemos
assistência de produção: Francisca Rodrigues
consultoria para a gestão e a programação: Vânia Rodrigues
coprodução: Association Arsène (França), mala voadora, Maria Matos
Teatro Municipal, Théâtre des Bernardines (França), O Espaço do
Tempo, tanzhaus nrw (Alemanha) e Marseille-Provence 2013 — Capital
Europeia da Cultura (França)
financiado por: Institut Français, Conseil Régional PACA e EHESS
Paris (Labex)
Projeto financiado com o apoio da Comissão Europeia.
imagem: © António MV
WHAT I HEARD ABOUT THE WORLD
de e com: Alexander Kelly, Chris Thorpe e Jorge Andrade
colaboração: José Capela e Rachel Walton
luz: João d’Almeida
com assistência de: Eduardo Abdala
produção: Manuel Poças e João Lemos
assistência de produção: Francisca Rodrigues
consultoria para a gestão e a programação: Vânia Rodrigues
coprodução: Maria Matos Teatro Municipal, Sheffield Theatres e Pazz
Festival
apoio: LuxFrágil
imagem: © José Carlos Duarte
OS JUSTOS
texto: Albert Camus
tradução e adaptação: elenco original
direção: Jorge Andrade
com: Anabela Almeida, John Romão, Miguel Fragata, Pedro Gil e
Wagner Borges colaboração coreográfica: Miguel Pereira
som: Sérgio Delgado
cartaz e apoio dramatúrgico: Suzana Vaz
produção: João Lemos
assistência de produção: Francisca Rodrigues
consultoria para a gestão e a programação: Vânia Rodrigues
financiado por: Ministério da Cultura/Instituto das Artes (2004)
apoio: Fundação Calouste Gulbenkian, Câmara Municipal de Lisboa e
Teatro da Garagem
imagem: © Susana Paiva
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Mundo Perfeito
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Fichas artísticas
TRISTEZA E ALEGRIA NA VIDA DAS GIRAFAS
texto e encenação: Tiago Rodrigues
intérpretes: Carla Galvão, Miguel Borges, Pedro Gil e Tónan Quito
participação especial: Beatriz Bizarro Rodrigues
conceito de cenário e figurinos: Magda Bizarro e Tiago Rodrigues
luz e apoio técnico: André Calado
música e sonoplastia: Alexandre Talhinhas
figurino urso: Sandra Neves
imagem do cartaz: Afonso Cruz
produção: Ana Pereira, Rita Mendes e Magda Bizarro
produção: Mundo Perfeito & AnaPereira.PedroGil
residência artística para a criação: O Espaço do Tempo
coprodução: Mundo Perfeito, AnaPereira.PedroGil, Culturgest e TAGV
imagem: © Magda Bizarro SE UMA JANELA SE ABRISSE
texto e encenação: Tiago Rodrigues
interpretação: Paula Diogo, Cláudia Gaiolas, Tónan Quito, Tiago
Rodrigues e Alexandre Talhinhas
colaboração especial: João Adelino Faria
vídeo: Bruno Canas e Tiago Rodrigues
sonoplastia e banda sonora: Alexandre Talhinhas
cenário, figurinos e luzes: Magda Bizarro e Tiago Rodrigues
direção de produção e fotografia de cena: Magda Bizarro
assistência de produção na criação: Mariana Sampaio
assistência de produção: Rita Mendes
apoio técnico: André Calado
produção: Mundo Perfeito
apoio: Direção de Informação da RTP
coprodução: alkantara festival e Teatro Nacional D. Maria II.
agradecimentos: João Adelino Faria, José Alberto Carvalho, Marina
Ramos, Luís Marinho, Fátima Fernandes, Luís Filipe Silveira,
Iolanda Laranjeiro, Patrícia Azevedo, Catarina Dantas, Thiare Maia,
Michel Blois, Flávia Gusmão, Nuno Gil, Judith Davis, Gilles Pollet,
Arlete Rodrigues, Ana Maria Bizarro e a todas as pessoas presentes
no vídeo do espetáculo.
imagem: © Magda Bizarro 62
TRÊS DEDOS ABAIXO DO JOELHO
encenação: Tiago Rodrigues
texto: Tiago Rodrigues, a partir de relatórios de diversos
censores do SNI
interpretação: Isabel Abreu e Gonçalo Waddington
pesquisa e apoio dramatúrgico: Joana Frazão
vídeo: Tiago Guedes e Rita Barbosa (Take it Easy) sobre
o arquivo da RTP
conceito de figurinos: Magda Bizarro e Tiago Rodrigues,
a partir do espólio do TNDMII
cenário: Magda Bizarro, Rita Barbosa e Tiago Rodrigues
desenho de luz e direção técnica: André Calado
música: Márcia Santos (O gosto do poder) e Alexandre Talhinhas
(Drum’n’Bass)
direção de produção e fotografia de cena: Magda Bizarro
assistência de produção: Rita Mendes
legendagem: Magda Bizarro e Rita Mendes
produção: Mundo Perfeito
coprodução: alkantara festival e Teatro Nacional D. Maria II,
Kunstenfestivaldesarts (Bélgica), De Internationale Keuze van
de Rotterdamse Schouwburg (Holanda) e Stage Helsinki Theatre
Festival (Finlândia)
projeto coproduzido pelo NXTSTP, com o apoio do Programa Cultura
da União Europeia.
apoios: RTP, Take it Easy, Arquivo Nacional da Torre do Tombo/DGARQ
agradecimentos: Paulo Tremoceiro, trabalhadores da Torre do Tombo,
Diogo Infante, Fernando Matos de Oliveira, Rui Pina Coelho,
Mickael Oliveira
Figurinos gentilmente cedidos pelo Teatro Nacional D. Maria II.
Documentação gentilmente cedida pela Biblioteca do Teatro Nacional
D. Maria II. Imagens de arquivo gentilmente cedidas pelo Arquivo
da RTP.
imagem: © Magda Bizarro BY HEART
texto, encenação e interpretação: Tiago Rodrigues
texto com fragmentos e citações de: William Shakespeare,
Ray Bradbury, George Steiner, Oliver Sacks, Joseph Brodsky,
entre outros
cenário, adereços e figurino: Magda Bizarro
apoio técnico: André Calado
direção de produção e fotografia de cena: Magda Bizarro
assistência de produção: Rita Mendes
residência artística: O Espaço do Tempo
produção: Mundo Perfeito
coprodução: O Espaço do Tempo, Maria Matos Teatro Municipal
Espetáculo criado com a cumplicidade da equipa d’ O Espaço do Tempo
imagem: © Westwood & Strides
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DANÇA ★ 5 a 7 dezembro
quinta a sábado ↣ 21h30
coprodução mm
CLÁUDIA DIAS
Nem tudo o que fazemos tem
de ser dito, nem tudo o que
dizemos tem de
ser feito
Em Nem tudo o que fazemos tem de ser dito, nem
tudo o que dizemos tem de ser feito assumo
a centralidade que o texto foi ganhando nos meus
últimos trabalhos mas liberto-me da autoria da
escrita. Livre da escrita posso dedicar-me então
à inscrição […] para que o que é dito e escrito não
se dilua, impune, num etéreo e efémero espaço
mas que ecoe publicamente e sejamos todos
responsabilizados pelo que vinculamos. Para que
haja memória. E talvez seja esta a característica
mais distintiva desta peça, relativamente
a anteriores, a consciência de que o Teatro
é também espaço de inscrição.
TEATRO ★ 13 a 15 dezembro
sexta e sábado ↣ 21h30
domingo ↣ 18h30
coprodução mm
DE WARME WINKEL (Amesterdão)
We Are Your Friends
O coletivo De Warme Winkel é a nova companhia
fetiche do teatro holandês. Os seus espetáculos
esgotam invariavelmente, a imprensa usa palavras
como “surpreendente”, “cheio de humor”, e
“maravilhoso” e a companhia está pelo terceiro
ano consecutivo representada na lista das dez
melhores encenações do ano.
Depois de trazer para o palco as contradições do
sistema financeiro em San Francisco, os holandeses
De Warme Winkel voltam a falar-nos da crise no
Velho Continente e tentam descobrir o prazo de
validade da Europa que conhecemos.
sala principal com bancada ● 14€ / 7€
em inglês
Cláudia Dias
sala principal com bancada
12€ / 6€
a seguir...
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A Maratona 10 Anos 10 Horas é um projeto Create to Connect com
o apoio do Programa Cultura da União Europeia
apoios Maratona
Desde 2009, a mala voadora é uma estrutura financiada por DGArtes/
Presidência do Conselho de Ministros/Secretaria de Estado da Cultura
e associada da Associação da Galeria Zé dos Bois
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alkantara e associada a O Espaço do Tempo.
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