avaliação das técnicas de nucleação para restauração

Transcrição

avaliação das técnicas de nucleação para restauração
CENTRO PAULA SOUZA
FACULDADE DE TECNOLOGIA DE JAHU
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM MEIO AMBIENTE E
RECURSOS HÍDRICOS
IDAIANA APARECIDA DA SILVA
AVALIAÇÃO DAS TÉCNICAS DE NUCLEAÇÃO PARA
RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DAS MATAS CILIARES DO
CÓRREGO SANTO ANTÔNIO
JAÚ
1º Semestre/2011
IDAIANA APARECIDA DA SILVA
AVALIAÇÃO DAS TÉCNICAS DE NUCLEAÇÃO PARA
RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DAS MATAS CILIARES DO
CÓRREGO SANTO ANTÔNIO
Monografia apresentada à Faculdade de
Tecnologia
requisitos
de
para
Jahu,
como
obtenção
do
parte
título
dos
de
Tecnólogo em Meio Ambiente e Recursos
Hídricos.
Orientadora: Prof ª. MSc. Marina Carboni.
JAÚ
1º Semetre/2011
Este trabalho é dedicado a todas as
pessoas que estiveram presentes na
minha vida e a todos que contribuem
efetivamente
para
a
utilização
dos
recursos naturais de forma sustentável.
Agradecimentos
Agradeço a Jesus que tem sido minha luz.
Ao meu filho Christian Stopa pela compreensão, por suportar minha ausência e pelo
amor incondicional.
Aos meus pais Maria e Josias Silva por me permitirem sonhar e por servirem como
verdadeiros alicerces nessa caminhada.
Aos meus irmãos Sandra Silva e Carmélio Silva que mesmo separados pela
distância torcem pelo meu sucesso e também pelos conselhos e proteção.
Ao meu irmão Caromélio Silva, “esse é o cara”, que me serve como espelho no
aprendizado da vida, pelos cuidados a mim dispensados e por ser a peça
fundamental para minha existência.
A Danilo Gozzo, meu companheiro e conselheiro.....que paciência...., pelo apoio,
segurança e compreensão nos meus momentos de insanidade;
A Família Desajácomo por me receber com grande hospitalidade e por permitir meu
acesso sem restrições à área avaliada.
A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA) - Coordenadoria de
Biodiversidade e Recursos Naturais (CBRN/Bauru), representado por Mariela
Cerqueira Julião pelo apoio e material cedido.
Ao Prof. Dr. Vinicius Castro Souza pelo auxilio na identificação das espécies.
A Bruna Romero pela disposição em repassar seu conhecimento sempre que
solicitei.
A Cristina Almeida e Joefson Nascimento, companheiros de todas as horas durante
este período.
E finalmente, a minha professora e orientadora Marina Carboni pelas visitas á
campo, pela serenidade e por servir como norte para a consolidação deste trabalho.
RESUMO
As técnicas de nucleação tornam-se uma ação vital para a recuperação de áreas
degradadas, pois objetivam reconstituir um ambiente o mais próximo possível da sua
condição original. Este estudo tem por objetivo avaliar a capacidade nucleadora
destas técnicas para a restauração ecológica de um trecho da Mata Ciliar do
Córrego Santo Antônio. O projeto de restauração da mata ciliar foi implantado em
agosto de 2010 ao redor de uma nascente na Fazenda Santo Antônio no município
de Jaú – SP. A propriedade está inserida em uma paisagem cuja matriz é a cultura
da cana de açúcar e outras culturas. Foram utilizadas 4 técnicas de nucleação
sendo: Cinco transposição de solo, três poleiros artificial, quinze núcleos de
Anderson, e nove transposição de galharia. As avaliações para monitoramento da
restauração foram realizadas mensalmente no período de fevereiro a maio de 2011.
Os dados coletados foram baseados nos Indicadores para Monitoramento de
Nucleação elaborado no âmbito do Projeto Mata Ciliar. Entre os regenerantes
naturais foram encontradas 17 famílias e 29 espécies diferentes sendo Solanum
mauritianum Scop. e Gnaphalium spathulatum Burm. f. as espécies mais
abundantes na regeneração natural dos núcleos avaliados. Mesmo os núcleos
sofrendo interferências como o plantio de espécies exóticas pelo proprietário, tendo
passado por longo período de estiagem e ter sofrido aplicação de herbicidas, as
funções ecológicas da área avaliada estão sendo restituídas como o retorno da
microfauna e mesofauna, a utilização dos poleiros pela avifauna e o estabelecimento
de indivíduos regenerantes nos núcleos. As técnicas nucleadoras deverão ainda ser
testadas em períodos mais longos de avaliação para que esses resultados
contribuam para uma melhor eficiência na restauração ecológica de áreas
degradadas.
Palavras–chave: Restauração, Matas Ciliares, Áreas degradadas, Técnicas de
Nucleação.
ABSTRACT
The techniques of nucleation become a vital action for the recovery of degraded
areas; it aims to reconstruct an environment as close as possible to its original
condition. This study aims to evaluate the nucleating capacity of these techniques to
ecological restoration of a portion of the riparian forest of the San Antonio Creek. The
restoration project of the riparian forest was established in august 2010 around a
spring on the farm in the municipality of Santo Antônio Jau - SP. The property is
placed in a landscape whose matrix is the culture of sugar cane and other crops. We
used four techniques being nucleation: Five transposition of soil, three artificial
perches, fifteen cores Anderson, implementation and nine branches. Assessments to
monitor the restoration were carried out monthly from february to may 2011. The data
collected were based on Indicators for Monitoring Nucleation prepared under the
Riparian Forest Project. Between the natural regenerating found 17 families and 29
different species and Solanum mauritianum Scop. And Gnaphalium spathulatum
Burm. f. the most abundant species in natural regeneration of nuclei evaluated. Even
nuclei suffering interference as the planting of exotic species by the owner, having
gone through long dry season and have been applying herbicides, the ecological
functions of the evaluated area are slowly being restored as the return of microfauna
and mesofauna, the use of perches by birds and the establishment of regenerating
individuals in the nuclei. Nucleator’s techniques should also be tested over longer
periods of assessment for these results contribute to a better efficiency in ecological
restoration of degraded areas.
Keywords: Restoration, Ripain Forests, Degraded areas, Nucleation techniques.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Transposição de solo ............................................................................22
FIGURA 2 - Poleiros artificiais secos ........................................................................24
FIGURA 3 - Estrutura das mudas em núcleos de Anderson .....................................25
FIGURA 4 - Transposição de galharia ......................................................................26
FIGURA 5 - Mapa com ortofoto da Microbacia do Córrego Santo Antônio, localização
da área estudada na microbacia do Córrego Santo Antônio (círculo em azul). ........28
FIGURA 6 - Localização da Bacia Hidrográfica Tietê-Jacaré (UGRHI 13), no Estado
de São Paulo (círculo em azul). ................................................................................29
FIGURA 7 - Localização da área estudada (círculo vermelho) e da Floresta
Estacional Semidecidual e Floresta Paludosa (seta amarela). .................................30
FIGURA 8 - Croqui da área com a localização dos núcleos implantados .................31
FIGURA 9 - Distância da área avaliada (círculo azul) em relação ao local de
recolhimento do material para a transposição de solo (círculo amarelo). .................33
FIGURA 10 - Técnica de transposição de solo na Fazenda Santo Antônio, fotografia
tirada em 14 de agosto de 2010................................................................................39
FIGURA 11 - Poleiro seco com fixação de quatro bases no solo, fotografia tirada em
14 de agosto de 2010................................................................................................40
FIGURA 12 - Núcleos de Anderson na Fazenda Santo Antônio (círculo em amarelo
"pioneiras", círculo em vermelho "não pioneiras"), fotografia tirada em 14 de agosto
de 2010. ....................................................................................................................41
FIGURA 13 - Leira da galharia em decomposição, fotografia tirada em 14 de agosto
de 2010. ....................................................................................................................42
FIGURA 14 - Quantidade de regenerantes encontrados nas amostras fevereiro à
maio de 2011.............................................................................................................45
FIGURA 15 - Núcleo de transposição de solo afetado pela palhada residual da
manutenção, fotografia tirada em 04 de maio de 2011. ............................................46
FIGURA 16 - Quantidade de regenerantes encontrados nos poleiros ......................47
FIGURA 17 - Penas encontradas na área dos poleiros, fotografia tirada em 16 de
abril de 2011..............................................................................................................49
FIGURA 18 - Fezes de aves na base dos poleiros, fotografia tirada em 16 de abril de
2011. .........................................................................................................................49
FIGURA 19 - Quantidade de regenerantes encontrados nas amostras fevereiro à
maio de 2011.............................................................................................................50
FIGURA 20 - Indício de formigueiro na área dos núcleos de Anderson, fotografia
tirada em 26 de março de 2011.................................................................................51
FIGURA 21 - Mortalidade das mudas plantadas nos núcleos de Anderson. O eixo X
representa os núcleos de Anderson numerados de 1 a 15 na área de estudo. ........52
FIGURA 22 - Aplicação de herbicida glifosato entre os núcleos, fotografia tirada em
04 de maio de 2011...................................................................................................52
FIGURA 23 - Grande concentração de formigueiros na área dos núcleos de
Anderson, fotografia tirada em 04 de maio de 2011..................................................53
FIGURA 24 - Cobertura de copa das mudas plantadas nos núcleos, fotografia tirada
em 04 de maio de 2011.............................................................................................54
FIGURA 25 - Cobertura de Copa das mudas plantadas em núcleos de Anderson...54
FIGURA 26 - Volume de ocupação da galharia nas amostras de fevereiro à maio de
2011 ..........................................................................................................................57
FIGURA 27 - Velocidade que a matéria orgânica se decompõe ao longo dos meses
de coleta....................................................................................................................57
FIGURA 28 - Fungos encontrados nas leiras da galharia, fotografia tirada em 04 de
maio de 2011.............................................................................................................58
FIGURA 29 - Regenerantes encontrados na técnica de transposição de galharia ...59
LISTA DE QUADRO
QUADRO 1 - Mudas plantadas nos Núcleos de Anderson, suas respectivas famílias
e grupos sucessionais. P = Pioneira, NP = Não Pioneira. Classificação baseada em
APG II (SOUZA; LORENZI, 2008).............................................................................34
QUADRO 2 - Regenerantes encontrados na técnica de transposição de solo durante
as amostragens de fevereiro a maio de 2011. Identificadas conforme APG II
(SOUZA; LORENZI, 2008). .......................................................................................45
QUADRO 3 - Regenerantes encontrados nos poleiros artificiais secos durante as
amostragens de fevereiro a maio de 2011. Identificadas conforme APG II (SOUZA;
LORENZI, 2008)........................................................................................................47
QUADRO 4 - Diversidade de sementes encontradas durante as amostras..............48
QUADRO 5 - Regenerantes encontrados nos núcleos de Anderson durante as
amostragens de fevereiro a maio de 2011. Identificadas conforme APG II (SOUZA;
LORENZI, 2008)........................................................................................................55
QUADRO 6 - Regenerantes encontrados na transposição de galharia durante as
amostragens de fevereiro a maio de 2011. Identificadas conforme APG II (SOUZA;
LORENZI, 2008)........................................................................................................59
SUMÁRIO
RESUMO.....................................................................................................................4
ABSTRACT.................................................................................................................5
1 - INTRODUÇÃO .....................................................................................................10
2 - OBJETIVOS.........................................................................................................12
2.1- Objetivo geral .................................................................................................12
2.2 - Objetivos específicos.....................................................................................12
3 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................13
3.1 - Matas Ciliares................................................................................................13
3.2 - Vegetação da Região de Jaú/SP...................................................................14
3.3 - Restaurações Ecológicas ..............................................................................15
3.4 - Nucleação......................................................................................................16
3.5 - Regeneração Natural.....................................................................................17
3.6 - Dispersão de Sementes ................................................................................19
3.7 - Técnicas de Nucleação .................................................................................20
3.7.1 - Transposição de Solo .................................................................................21
3.7.2 - Poleiros Artificiais Secos ............................................................................23
3.7.3 - Núcleos de Anderson .................................................................................24
3.7.4 - Transposição de Galharia...........................................................................25
4 - MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................................27
4.1 - Descrição da área de estudo.........................................................................27
4.2 - Implantação das técnicas nucleadoras de restauração .................................30
4.2.1 - Transposição de Solo .................................................................................32
4.2.2 - Poleiro Artificial...........................................................................................33
4.2.3 - Núcleos de Anderson .................................................................................34
4.2.4 - Transposição de Galharia...........................................................................37
4.3 - Avaliação das técnicas de nucleação ............................................................37
4.3.1 - Regeneração Natural..................................................................................38
4.3.2 - Transposição de Solo .................................................................................38
4.3.3 - Poleiros Artificiais Secos ............................................................................40
4.3.4 - Núcleos de Anderson .................................................................................41
4.3.5 -Transposição de Galharia............................................................................42
5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO...........................................................................43
5.1 - Transposição de Solo ....................................................................................43
5.2 - Poleiros Artificiais Secos ...............................................................................46
5.3 - Núcleos de Anderson ....................................................................................50
5.4 - Transposição de Galharia..............................................................................56
6 - CONCLUSÃO ......................................................................................................61
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................63
ANEXOS ...................................................................................................................68
10
1 - INTRODUÇÃO
O atual desenvolvimento agrário começa se mostrar necessário para a
conciliação das áreas produtivas com áreas de preservação provocando uma
sinergia entre estas paisagens drasticamente fragmentadas. Com isto, a restauração
de áreas degradadas, principalmente no sentido de aumentar a conectividade entre
fragmentos florestais, torna-se uma ação essencial para a manutenção da qualidade
de vida no nosso planeta (REIS et al., 2006).
Os autores ainda citam, que as técnicas de restauração através da nucleação,
representam uma oportunidade de incorporar os princípios-chave da metáfora do
“fluxo da natureza” à prática da restauração ecológica. Baseando-se no modelo do
Paradigma
Contemporâneo,
esta
técnica
representa
um
“espaço
para
o
imprevisível”, gerando fenômenos eventuais e aleatórios e permitindo maiores
aberturas para a variedade de fluxos, próprios dos sistemas naturais (REIS et al.,
2006).
No Brasil a restauração ambiental por nucleação é recente, os primeiros
experimentos tiveram início em áreas piloto “Unidades Demonstrativas” (UDs). As
UDs foram montadas em Floresta Estacional Semidecidual (Capão Bonito-SP),
Cerrado (Santa Rita do Passa Quatro-SP) e Restinga (Florianópolis-SC). Onde
resultou num custo 34% mais barato do que os modelos tradicionais (BECHARA,
2006).
Em 2005 no Estado de São Paulo, iniciou – se o Projeto de Recuperação de
Matas Ciliares (PRMC), desenvolvido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente,
com doação de US$ 7,75 milhões do Global Environment Facility (GEF),
implementada pelo Banco Mundial. Este projeto teve como apoio a regulamentação
legislativa das resoluções: RESOLUÇÃO SMA-42 e RESOLUÇÃO SMA-71 (que
altera Resolução SMA-42 de 26-09-2007 e institui o Projeto Estratégico Mata Ciliar)
(SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO AMBIENTAL/SECRETARIA DO MEIO
AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO – SIGAM/SMA, 2011).
No Estado de São Paulo, as áreas em recuperação estão em propriedades
privadas de pequeno e médio porte, onde os proprietários, de forma voluntária,
aderem ao projeto onde, as atividades de recuperação nas áreas degradadas são
11
realizadas por ONGs, associações de produtores rurais ou cooperativas locais
(SIGAM/SMA, 2011).
No município de Jaú em janeiro de 2008 consolidou – se a implantação do
Projeto de Recuperação de Matas Ciliares (PRMC) na Fazenda Santo Antônio dos
Ipês e, em abril de 2009, em área experimental com as técnicas de nucleação,
situada na Fazenda Flórida e executada pelo Instituto Pró-Terra, em parceria com a
Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (INSTITUTO PRÓ-TERRA,
2011; SIGAM/SMA, 2011).
E ainda, no município de Jaú em agosto de 2010, na Fazenda Santo Antônio
de propriedade da família Desajácomo iniciou-se a recuperação da mata ciliar em
conformidade com o Projeto de Recuperação de Matas Ciliares e, execução do
Instituto Pró-Terra, área que foi avaliada ao decorrer deste trabalho.
O estudo destas áreas constitui - se em uma ação de longo prazo, com a qual
se quer adquirir e disseminar conhecimentos sobre as diferentes metodologias de
nucleação e os resultados alcançados por elas, com o objetivo de reverter o
desflorestamento e promover a integração das áreas naturais com as cultiváveis, e a
área degradada com suas vizinhanças, com isso, possibilitarem o resgate das
conectividades ecológicas e funcionais da área (SIGAM/SMA, 2011).
12
2 - OBJETIVOS
2.1- Objetivo geral
As técnicas nucleadoras de restauração são uma metodologia nova com
eficácia a ser testada, portanto, este trabalho tem como objetivo avaliar a
capacidade nucleadora das técnicas de transposição de solo, poleiros artificiais,
grupos de Anderson e transposição de galharia para o processo de restauração de
matas ciliares na nascente do Córrego do Santo Antônio através do método de
monitoramento proposto pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
2.2 - Objetivos específicos
•
Contribuir através do estudo para melhorar as técnicas de nucleação;
•
Quantificar a regeneração natural nos núcleos avaliados;
•
Estudar a densidade de regenerantes nos diferentes núcleos;
•
Valorizar e disseminar a iniciativa desses proprietários, mostrando a
viabilidade e os resultados da restauração florestal em terras privadas
indicando os benefícios dessas ações;
13
3 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 - Matas Ciliares
Todos os tipos de vegetação arbórea vinculada à margem dos rios ou cursos
d’água, com drenagem bem definida ou mesmo difusa, pode-se expressar como
mata ciliar, independente de sua composição florística, área ou região de ocorrência
(MARTINS, 2001; RODRIGUES, 2000).
A vegetação ciliar recebe influência do clima, da topografia, pela sua
formação florestal ou local onde esta inserida, pois reflete as características
hidrológicas, hidrográficas, climáticas, geológicas e geomorfológicas, que são
atuantes como definidores de paisagem e condições ecológicas do local, portanto, é
encontrado uma grande heterogeneidade fisionômica, florística e estrutural nessa
área (RODRIGUES, 2000).
Vários são os termos utilizados para descrever esta vegetação ou para
associação desta, quanto à fisionomia ou paisagem regional. Assim, esta disponível
na literatura uma rica nomenclatura para estas áreas, como: Florestas ripárias,
florestas ribeirinhas, matas ciliares, matas de galeria, florestas ripícolas e florestas
beiradeiras. Estes termos são os fundamentais e mais encontrados para definir este
tipo de formação ao longo dos cursos d’água (MARTINS, 2001).
A vegetação ciliar é diretamente afetada durante o encharcamento do solo,
que é influenciado pela oscilação do lençol freático e pelo regime de cheias dos rios,
isso faz com que se definam as espécies ocorrentes em condições mais úmidas e as
que são encontradas apenas em áreas mais secas. No entanto, em alguns trabalhos
nota-se que há a atuação de outros fatores na composição vegetacional das matas
ciliares, que o encharcamento do solo e as alterações edáficas na faixa ciliar não
são os mais importantes e únicos fatores definidores da dinâmica e características
das florestas ciliares. O transporte de serrapilheira, a fertilidade do solo e a
dispersão de sementes são influenciadas pelo regime de inundação, alterando a
intensidade à medida que se afasta da margem do curso d’água (RODRIGUES &
SHEPHERD, 2000).
14
A elevação do nível do rio faz com que o banco de sementes e a serrapilheira
sejam soterrados ou removidos, influenciando na germinação e no recrutamento de
indivíduos da faixa ciliar e na dinâmica desta formação. O volume de água
transportado e a duração do processo são importantes na definição da mortalidade,
na seleção das espécies e estabelecimento dos indivíduos nessa faixa, em função
disto, as espécies de crescimento rápido, podem ser favorecidas. Tem que se
considerar necessário à ocorrência de inundação na faixa ciliar, pois é um
instrumento natural de perturbação da vegetação que favorece os grupos iniciais da
sucessão (RODRIGUES & SHEPHERD, 2000).
As matas ciliares são protegidas legalmente pelo Código Florestal Lei n.º
4.771/1965, onde, no art. 1º, § 2, inc.II são incluídas na categoria de áreas de
preservação permanente.
“área de preservação permanente: área protegida nos termos dos
arts. 2o e 3o desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a
função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações
humanas” (BRASIL, 1965).
E pela Resolução Conama 303/2002 MMA art. 3º, inc. II que institui a largura
mínima da faixa ciliar, ao qual a recuperação da área estudada foi baseada:
“ao redor de nascente ou olho d`água, ainda que intermitente, com raio
mínimo de cinqüenta metros de tal forma que proteja, em cada caso, a
bacia hidrográfica contribuinte” (CONAMA, 2002).
3.2 - Vegetação da Região de Jaú/SP
Segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (1992), o
Cerrado e a Mata Atlântica são as vegetações predominantes na região de Jaú. A
Mata Atlântica, ou conforme IBGE (1992), Floresta Estacional Semidicidual é a
vegetação predominante da área de estudo, Microbacia Hidrográfica do Córrego
Santo Antônio. No entanto, outros tipos vegetacionais também ocorrem na mesma
15
Microbacia, tais como Floresta Paludosa e Florestas Ribeirinhas, associadas as
formações Atlânticas.
As Floresta Estacionais Semideciduais caracterizam-se pela estacionalidade
climática dupla, sendo uma tropical com chuvas de verão intensas e logo após
estiagem acentuada e outra subtropical sem período seco, mas com a chamada
seca fisiológica provocada pelo frio do inverno , com temperaturas médias inferiores
a 15° C. Tendo nesta vegetação a porcentagem de 20 a 5 0% de árvores que
perdem as folhas (caducifólias) no conjunto florestal e não individualmente (IBGE,
1992).
3.3 - Restaurações Ecológicas
“é a ciência prática e, arte de assistir e manejar a recuperação da
integridade ecológica dos ecossistemas, incluindo um nível mínimo de
biodiversidade e de variabilidade na estrutura e no funcionamento dos
processos ecológicos, considerando – se seus valores ecológicos,
econômicos e sociais” (ENGEL & PARROTTA, 2003 p.6).
Conforme (ENGEL & PARROTTA, 2003; SER, 2004), a restauração ecológica
é uma ação a longo prazo que tem como meta a deliberação e a viabilidade
ecológica do ecossistema, ou seja, o ecossistema reparado terá recursos bióticos
para se desenvolver sem subsídios ou assistência. Logo, a comunidade restabelece
sua funcionalidade e estrutura se mantendo sozinho e retornando o mais próximo
possível das condições naturais.
As faixas normais de variação de estresse ambiental e perturbação irão
mostrar resiliência, interagindo com ecossistemas próximos por meio de interações
culturais e fluxos bióticos e abióticos (ENGEL & PARROTTA, 2003).
Qualquer trabalho a longo prazo que tem como meta reconstituir um
ecossistema auto-sustentável, sólido e resiliente, equilibrando integralmente os
processos naturais e sua estrutura o mais próximo possível das comunidades
naturais, será um trabalho de restauração ecológica. Para que as áreas degradadas
se
convertam
em
floresta,
melhorando
com
eficácia
a
conservação
da
16
biodiversidade, as metas da restauração devem ser priorizadas, embora inserindo
por vezes opções mais caras e difíceis de implantar em grandes dimensões (ENGEL
& PARROTTA, 2003).
3.4 - Nucleação
A nucleação é compreendida como a capacidade de proporcionar uma
expressiva melhora nas condições ambientais no sentido de resgatar a
funcionalidade local e atrair a diversidade e, com isso, permitir uma ampliação na
probabilidade de ocupação por outras espécies na área degradada (YARRANTON &
MORRISON, 1974).
A nucleação representa uma técnica básica para as atividades antrópicas que
se propõe contribuir para a restauração de comunidades se tornando um princípio
sucessional na colonização das áreas que estão se reconstituindo. Para
proporcionar uma maior diversidade e para que ocorra uma estabilização o mais
breve possível e com a mínima entrada artificial de taxas energéticas, em áreas
degradadas, as técnicas de nucleação são avaliadas para que sejam colocadas em
prática da melhor forma nestes locais (REIS et al., 2003).
Quando inserida em áreas degradadas a nucleação, abrangem elementos
biológicos ou abióticos, capazes de proporcionar fluxos de energia novos como
emergências para uma maior eficácia e dispersão da energia introduzida nas áreas
degradadas. Os métodos de nucleação representam focos de energia com
potencialidades de integração de paisagens fragmentadas, com geração de efeitos
regionais (em locais a restaurar) e efeitos de contexto (em áreas desvinculadas pela
fragmentação). Para que seja mais efetivo o método de nucleação na paisagem e
promova a conexão é indispensável que os fluxos energéticos e biológicos
aconteçam nos dois sentidos sendo, fragmentos-área em restauração e área
restaurada-paisagem. Os fluxos biológicos provocados pelos métodos de nucleação
tendem a ser dinâmicos no espaço e no tempo acontecendo nos dois sentidos,
facilitando o processo nucleador, e permitindo a conectividade do local e contexto a
restaurar (REIS; TRES, 2009).
17
Quando a legislação for mais clara, eficaz sobre o assunto e ampliar a
formação de recursos humanos sobre o princípio da sucessão dos ecossistemas, a
nucleação se tornará a técnica mais aplicada para a restauração de áreas
degradadas (REIS ET AL, 2003).
3.5 - Regeneração Natural
Conforme (MARTINS, 2001), as formações florestais se tornam capazes de
se recuperarem de distúrbios naturais ou antrópicos através da regeneração natural.
Quando uma floresta ciliar sofre um distúrbio, como desmatamento, incêndio
ou até mesmo de forma natural com as clareiras, à colonização da área acontece
através da sucessão secundária, que conduz a vegetação com uma série de
estágios sucessionais que possui como característica grupos de plantas que se
estabelecem ao longo do tempo, mudando a ecologia local até aproximar-se de um
estágio estável e estruturado.
A auto-manutenção e sustentabilidade de um ecossistema em condição
estável pressupõe que as espécies dominantes se regenerem naturalmente e se
mantenham nessa condição a longo prazo. Em ecossistemas extremamente
degradados não ocorrerá esta condição, pois, a sucessão secundária e a
colonização por espécies arbóreas serão dificultadas e impedidas, num tempo
compatível com as necessidades do ser humano, por limitações físicas ou bióticas
(ENGEL & PARROTTA, 2003).
Existem algumas barreiras que dificultam a regeneração natural, atuando em
uma ou mais fases do ciclo vital da planta e podendo incluir um dos seguintes
fatores (NESPSTAD et al.,1990; PARROTTA, 1993; BORGES & ENGEL, 1993;
MIRITI, 1998 apud ENGEL & PARROTTA, 2003):
•
Ausência ou baixa disponibilidade de propágulos (sementes, estoques
radiculares): acontece pela falta de propágulos nas regiões adjacentes,
18
falta de dispersores, devastação do banco de sementes ou raízes do
solo;
•
Falhas no recrutamento de plântulas em áreas abertas: competição por
gramíneas, falta de ambiente favorável para se estabelecer as mudas,
ampliação na predação de sementes, em áreas abertas a herbívora de
plântulas;
•
Fatores adicionais de estresse: pastoreio, excessos ao explorar as
áreas em regeneração e o fogo;
•
Falhas
no
estabelecimento
de
interações
essenciais
para
a
manutenção da integridade: falta de dispersores, polinizadores e
simbiontes (rizobactérias e micorrizas).
Martins (2001), entretanto, diz que alguns fatores são primordiais para a
sucessão secundária acontecer como, a proximidade de remanescentes florestais e
a fontes de sementes, o banco de sementes do solo, a rebrota de espécies
arbustivo-arbóreas e a duração e intensidade do distúrbio, pois, cada área terá uma
dinâmica sucessional específica. Em áreas onde o banco de sementes do solo não
foi perdido, existe fonte de sementes próximas e a degradação não foi intensa, a
regeneração natural torna-se suficiente para a restauração da área. Há de se ter a
preocupação de isolar a área, não praticar qualquer atividade agrícola e eliminar o
fator de degradação.
A ocorrência de gramíneas exóticas e espécies invasoras inibem a
regeneração das espécies arbóreas, mesmo chegando através da dispersão ou
estando presentes no banco de sementes. Nesse caso, tem que se intervir de modo
a controlar as populações invasoras agressivas e estimular a regeneração natural da
área degradada. Normalmente, a restauração da mata ciliar através da regeneração
natural é um processo lento, porém de baixo custo. Se necessário à formação da
floresta ciliar em curto tempo utiliza-se então de técnicas que acelerem a sucessão
(MARTINS, 2001).
19
3.6 - Dispersão de Sementes
A dispersão de sementes é um processo onde as sementes são levadas de
perto da planta-mãe para locais próximos ou distantes (podendo variar de
centímetros a quilômetros) onde, os níveis de competição e predação são menores
(HOWE, 1986).
O predador executa o papel de dispersor ao transportar e perder um fruto ou
semente (REIS; KAGEYAMA, 2003). Em florestas a forma mais ocorrente da
dispersão de sementes é através de animais (zoocoria) onde grande parte destas
espécies vegetais (60 a 90%) são adaptadas ao transporte de propágulos. Neste
processo os animais são generalistas, ou seja, espécies que possuem frutos
zoocóricos atraem animais com características diferentes como: espécies, tipos,
tamanhos, habitats (MORELLATO & FILHO, 1992).
Animais que possuem como comportamento transportar e plantar as
sementes em novos locais é um auxílio na restauração de áreas degradadas de
fundamental importância e efetivamente mais barato (REIS; KAGEYAMA, 2003).
Segundo (REIS, 1995), a tendência dos animais dispersores é se estabelecer
em locais onde exista disponibilidade de alimentos durante o ano todo. Com isso, as
plantas bagueiras (plantas que atraem grande número de animais quando em
frutificação), têm papel de extrema importância na manutenção do equilíbrio
dinâmico na restauração de áreas degradadas e também das florestas.
Estes níveis de interação entre bagueiras e animais devem ser aproveitados
no sentido de ampliação na probabilidade de chegada de sementes vindas de áreas
adjacentes (REIS et al., 1999).
Os animais que procuram as bagueiras geralmente buscam predar animais
que se concentram nela durante alimentação ou apenas para se alimentar de seus
frutos (consumidores primários). As bagueiras ainda servem como indicador de algo
do comportamento de possível influência de distribuição de sementes dos animais
frugívoros ou apenas como fonte de alimento. As bagueiras de cada região podem
ser levantadas de forma simples através de questionamento de moradores antigos
de uma comunidade. Deve-se ressaltar que em áreas em recuperação, a utilização
de bagueiras pode aumentar com rapidez o número de espécies, se tornando uma
20
estratégia da resiliência e recuperação ambiental, pois quanto maior a capacidade
de atração, nutrição e condições de reprodução de uma comunidade, mais rápida
será a restauração. Há ainda, um desconhecimento das reais potencialidades de
plantas que atuem como gatilhos em processos de restauração, pois, tudo ainda, é
muito teórico, tem-se a necessidade de avaliação e monitoramento dos projetos de
restauração, visando o fornecimento de subsídios e aprimoramento de modelos de
implantação florestais (REIS; KAGEYAMA, 2003).
3.7 - Técnicas de Nucleação
Espíndola et al., (2006), diz que a recuperação de áreas degradadas através
da nucleação se caracteriza pela introdução de várias técnicas nucleadoras que
quando juntas, produzem uma diversidade de fluxos naturais na área degradada.
Estas técnicas possuem diferentes particularidades e efeitos funcionais, resgatando
as condições dos sistemas naturais de forma complexa e mantendo os processoschave.
Segundo Bechara, (2006) são formados microhabitats nos diferentes núcleos,
possibilitando a vinda de várias espécies com diferentes formas de vida, que se
irradiam por toda a área durante o processo de aceleração sucessional.
Os autores propõem que as técnicas não ultrapassem 5% da área restaurada
para que exerçam sua funcionalidade e o que sobrou receberá influência dos
núcleos, se sujeitando a sucessão secundária e as condições naturais do ambiente,
tendo como consequência uma série de variáveis características da paisagem onde
está inserida a área a restaurar. Devem ser construídos módulos destinados a
implantação das seguintes técnicas: transposições de solo, poleiros artificiais
(secos), grupos de Anderson e transposições de galharia sendo a parcela maior da
área destinada à regeneração natural que será facilitada e desencadeada por estas
técnicas (ESPÍNDOLA et al., 2006).
Cada uma das técnicas, de acordo com as funções desempenhadas por elas,
deverá adotar o critério de distribuição espacial, ordem cronológica diferente ou
21
gradiente temporal distinto, levando em consideração as condições biológicas e
físicas ou o grau de deficiência destes elementos na área (ESPÍNDOLA et al., 2006).
3.7.1 - Transposição de Solo
Segundo (REIS; VIEIRA, 2009), uma área com solo degradado, necessita
ações antrópicas na recomposição da vegetação natural, devido à falta de sementes
no banco e a pouca possibilidade da chegada de propágulos através da dispersão.
Ainda, segundo (REIS; VIEIRA, 2009), a transposição de solo é uma técnica
de nucleação, que visa a restauração do solo, auxiliando no desenvolvimento da
micro, meso e macro fauna/flora que são compostas por sementes, propágulos,
microorganismos, fungos, bactérias, minhocas, algas, etc., formando núcleos em
áreas degradadas. Uma forma visual de avaliação da nucleação em áreas
degradadas é através da formação de pequenos núcleos revegetados (banco de
sementes) conforme (Figura 1).
Conforme Bechara, (2006) a técnica faz com que chegue e irradie propágulos
da biota do solo recebendo influência da capacidade de dispersão do organismo. A
colonização do solo pode se instituir através de organismos transpostos e assim,
ocorre o fornecimento de alimento aos consumidores. Para se manter na
comunidade as espécies da biota deverão suportar as variações climáticas e
sazonais, portanto, a transposição é capaz de nuclear uma sucessão inicial da biota
do solo quando os microorganismos sensíveis a mudanças severas de temperatura
e que são os responsáveis pela colonização dos primeiros estágios sucessionais
edáficos. Para os macroorganismos mais sensíveis as condições de temperatura e
umidade, o desafio será promover a sua própria manutenção.
Os fluxos dos organismos facilitam a restauração de todas as formas de vida
e de propágulos, englobando a paisagem do entorno e a área degradada.
O
restabelecimento da conectividade é essencial ao nível genético destas áreas, com
os fragmentos vizinhos.
Recomenda-se que sejam utilizados solos com diferentes níveis sucessionais
para que haja uma imensa variação no micro, meso e macroorganismos do
22
ecossistema a ser restituído, unindo a área a ser restaurada a fragmentos próximos
(REIS et al., 2003).
A transposição de solo se revelou ter rápido efeito e alto potencial de
restabelecimento das interações planta-animal possibilitando a inserção de todas as
formas de vida como arvoretas pioneiras e espécies herbáceo-arbustivas,
ocasionando a atração da fauna disseminadora de sementes se tornando uma
estratégia importante a ser explorada nas atividades de restauração (BECHARA,
2006).
FIGURA 1 - Transposição de solo
Fonte: REIS, et. al, (2003)
23
3.7.2 - Poleiros Artificiais Secos
Os animais considerados mais eficientes no transporte e dispersão de
sementes entre fragmentos de vegetação são as aves e os morcegos. Estes animais
vêm dos fragmentos próximos de forma esporádica pousam no poleiro, deixando
sementes que, depois de adaptadas crescem ou não nas áreas ciliares. Os poleiros
podem ser montados com formas e funções diferentes, fazendo com que
principalmente as aves e morcegos, ampliem seus comportamentos distintos como
animais dispersores (TRES et al., 2011).
A atração destes animais é uma das formas mais efetivas para a chegada de
sementes e assim, acelerar o processo sucessional. Através da regurgitação,
defecação ou derrubada de frutos e sementes em árvores remanescentes, tornamse núcleos de regeneração, com grande diversidade na sucessão secundária inicial
(REIS et al., 2003).
Ainda, conforme os autores Reis & Tres (2009), para a conectividade das
unidades da paisagem, os poleiros representam a melhor estratégia, ganhando
espaço nos trabalhos de restauração, mostrando sua grande capacidade nucleadora
e exercendo seu papel como trampolim ecológico.
A conectividade se dá em várias direções e é gerada á partir dos fluxos
ecológicos com a implantação estrutural do poleiro seco (imita galhos secos de
plantas) ou a do poleiro vivo (árvores vivas) (Figura 2). São depositadas sementes
nas áreas degradadas através de uma diversidade de espécies atraídas pelos
poleiros, formando um núcleo alogênico e tornando o ambiente propício para
conectar a área degradada a fragmentos próximos. As estruturas biológicas do
ambiente sofrem modificações através desses núcleos, representando focos de
concentração de propágulos e atraindo vários consumidores a área, atuando como
facilitadores na constituição de uma nova cadeia trófica nas áreas a serem
colonizadas. Entretanto, passarão a ser fonte de alimentos para dispersores
secundários, os núcleos formados, facilitando a direção dos fluxos ecológicos,
restituindo nova diversidade a paisagem. Numa matriz não-habitat, quando
dispersos potencializam a permeabilidade da matriz, favorecendo os fluxos
ecológicos (REIS; TRES, 2009).
24
FIGURA 2 - Poleiros artificiais secos
Fonte: REIS et al., (2006)
3.7.3 - Núcleos de Anderson
É uma técnica de plantio de árvores em grupos de Anderson (ANDERSON,
1953 apud TRES; REIS, 2009) que tem como prioridade espécies chave regional e a
qualidade do material genético utilizado na introdução, com isso, visa-se incrementar
a diversidade regional da área a ser restaurada.
O plantio de mudas através da introdução de espécies, se torna a forma mais
eficaz para incrementar o processo da nucleação. Esta técnica se torna importante
no sentido de escolher as espécies a fim de formar pequenos núcleos com grande
capacidade de nucleação. São formados núcleos adensados com 3, 5 ou 13 mudas,
com 0,5 metros de espaçamento, de forma homogênea ou heterogênea (Figura 3).
As mudas centrais são beneficiadas no desenvolvimento em altura e as laterais no
crescimento das ramificações, se comportando o grupo como um só indivíduo.
(ESPÍNDOLA et al., 2006).
25
Os fluxos ecológicos são direcionados a uma condição específica formando
populações naturais com espécies altamente funcionais. Nas áreas em formação, os
núcleos deverão representar uma notável variabilidade genética, formando uma
população mínima viável. Quando o núcleo se irradiar, inicia – se a troca de material
genético entre as populações formadas e as populações de fragmentos próximos á
area, garantindo no futuro, que a progênie nucleie a paisagem, constituindo uma
dinâmica local de fluxos ecológicos (TRES; REIS, 2009).
Recomenda-se que as mudas recebam cuidados como a adubação e a
capina até formarem um núcleo sombreado propiciando o crescimento de espécies
mais esciófitas (ESPÍNDOLA et al., 2006).
Pioneira
Não pioneira
FIGURA 3 - Estrutura das mudas em núcleos de Anderson
Fonte: Adaptado Instituto Pró-Terra, (2011)
3.7.4 - Transposição de Galharia
Em locais onde grandes áreas de solo são retiradas (áreas de empréstimo e
bota-fora), o principal motivo da degradação ambiental está na falta total de
nutrientes no solo, por isso, devem ser utilizadas fontes de matéria orgânica da
região, de preferência os que possuem nutrientes imobilizados, exemplo disso são
26
os restos de exploração florestal, onde esse material ao invés de ser queimado pode
ser enleirado de forma a criar núcleos de biodiversidade para o processo
sucessional secundário da área em recuperação (REIS et al., 2003).
Conforme (REIS; TRES 2009), para a formação de um ambiente seguro para
a fauna surge uma estratégia eficaz para a ampliação da permanência e frequência
de visitantes (roedores, répteis, anfíbios, etc), a técnica de transposição de galharia
(acúmulo de galhos, tocos, resíduos, florestais ou amontoados de pedras) em áreas
em recuperação (Figura 4).
Devido a formação do microclima apropriado estes núcleos atuam como
refúgios artificiais para a fauna (ESPÍNDOLA et al., 2006).
Espera – se que através destes visitantes sejam facilitadas a chegada de
sementes dos fragmentos próximos, cooperando para a conectividade local e a
sucessão alóctone. São formados um micro-habitat diversificado para uma variação
florística e faunística, nas áreas degradadas, se estendendo e irradiando para as
áreas próximas (REIS; TRES, 2009).
FIGURA 4 - Transposição de galharia
Fonte: REIS et al., (2003)
27
4 - MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 - Descrição da área de estudo
A área de estudo possui 0,3 hectares e está localizada na Fazenda Santo
Antônio no município de Jaú – SP, de propriedade da Família Desajácomo, com
coordenadas UTM 762928m L e 7534680m S, pertencente à microbacia do Córrego
Santo Antonio (Figura 5), e Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos 13
(UGRI – 13) da Bacia Tietê - Jacaré (Figura 6).
Nesta propriedade estão localizadas as principais nascentes do Córrego
Santo Antônio, que é hoje um dos maiores mananciais de abastecimento da cidade
de Jaú. O projeto de restauração foi desenvolvido ao redor de uma nascente (Figura
7) que abastece um reservatório de água utilizado pela família para a criação de
peixes, além de fornecer água para as culturas agrícolas e para a criação de animais
da propriedade. A propriedade de 140,4 ha está inserida em uma matriz
vegetacional com predominância do cultivo de cana de açúcar, no entanto a
propriedade possui diferentes culturas como: café, eucaliptos, milho, arroz e ainda a
criação de gado e suínos.
O solo predominante do município de Jaú é o latossolo roxo, com textura
argilosa e muito profunda (PREFEITURA MUNICIPAL DE JAÚ, 2011) e o clima
conforme a classificação de KOPPEN é do tipo Cwa, mesotérmico ou clima tropical
de altitude onde, o verão úmido e inverno seco. Nos meses de verão (outubro a
março) as precipitações apresentam índice em torno de 1.428 mm, e no inverno
(período seco) vai de abril a setembro. (VENIZIANI, 1997).
Nas proximidades da área em restauração ocorre um fragmento de Floresta
Estacional Semidecidual e Floresta Paludosa de aproximadamente 15 ha de
vegetação bem preservada e que atua como principal fonte de propágulos para a
restauração (Figura 7).
28
FIGURA 5 - Mapa com ortofoto da Microbacia do Córrego Santo Antônio, localização da
área estudada na microbacia do Córrego Santo Antônio (círculo em azul).
Fonte: SIGAM, (2011)
29
FIGURA 6 - Localização da Bacia Hidrográfica Tietê-Jacaré (UGRHI 13), no Estado de São
Paulo (círculo em azul).
Fonte: SIGAM, (2011)
30
FIGURA 7 - Localização da área estudada (círculo vermelho) e da Floresta Estacional
Semidecidual e Floresta Paludosa (seta amarela).
Fonte: Google Earth, (2011).
4.2 - Implantação das técnicas nucleadoras de restauração
A implantação das técnicas nucleadoras foi realizada de 10 à 14 de agosto de
2010 e contou com o apoio de 5 trabalhadores rurais, funcionários do Instituto PróTerra. O preparo da área teve início com a construção de cerca de arame farpado ao
redor da nascente, pois o entorno é utilizado como pastagem. Para a restauração da
mata ciliar desta nascente o PRMC definiu a utilização de 4 técnicas de nucleação
sendo: Cinco transposição de solo, três poleiros artificiais secos, quinze núcleos de
Anderson, e nove transposição de galharia demonstradas no croqui abaixo (Figura
8).
31
Núcleos de Anderson
Transposição de Solo
Poleiro
Transposição de Galharia
Represa
FIGURA 8 - Croqui da área com a localização dos núcleos implantados
Fonte: A autora
32
4.2.1 - Transposição de Solo
O uso de banco de propágulos para recuperação de áreas degradadas é uma
prática bastante utilizada para recuperação de áreas minerais (ZANETI, 2008). Para
transposição de solo alóctone neste trabalho, foram retiradas 05 amostras com
cerca de 1m² de camada superficial do solo (horizonte orgânico do solo) e
serrapilheira, com profundidade de 10 cm. O solo foi coletado em área alóctone
pouco preservada, com indícios de entrada de gado e algumas clareiras no interior
de
uma
mata
seca
(Floresta
Estacional
Semidecidual),
localizada
a
aproximadamente 2,5 Km de distância da área de implantação (Figura 9), na mesma
microbacia com coordenadas UTM (762643m L e 7533331m S). O material foi
coletado em sacos plásticos de 10 Kg, transportado e depositado nos núcleos que já
estavam previamente limpos de gramíneas competidoras e preparados com
aberturas de 1,0m x 1,0m para recebimento deste material.
33
FIGURA 9 - Distância da área avaliada (círculo azul) em relação ao local de recolhimento do
material para a transposição de solo (círculo amarelo).
Fonte: Google Earth, (2011).
4.2.2 - Poleiro Artificial
Para a confecção dos 3 poleiros foram cortados 12 varas de bambus, do tipo
médio, da mesma propriedade, com comprimento de 5 metros de altura cada. Os
bambus foram fixados no solo em formato de um quadrado tomando o cuidado de
preservar os galhos secos dos mesmos. A área de 4,5 m de diâmetro que recebeu
os poleiros foi limpa através de capina manual.
34
4.2.3 - Núcleos de Anderson
Na área restaurada foram plantadas 195 mudas, sendo 135 pioneiras e 60
não pioneiras.
Estas mudas foram distribuídas e divididas em 15 núcleos com 12 m² cada.
Os núcleos continham 13 mudas, sendo 9 pioneiras e 4 não pioneiras e
espaçamento de 1,0m x 1,0m entre mudas. As mudas de espécies nativas regionais
foram provenientes do Núcleo de Produção de Mudas – CATI Pederneiras - SSA,
conforme quadro 1.
QUADRO 1 - Mudas plantadas nos Núcleos de Anderson, suas respectivas famílias e
grupos sucessionais. P = Pioneira, NP = Não Pioneira. Classificação baseada em APG II
(SOUZA; LORENZI, 2008).
Nome
Nome
Família
Grupo
Vulgar
Científico
Sucessional
(P) – (NP)
Algodoeiro
Heliocarpus americanus L.
Heliconiaceae
P
Amendoim bravo
Pterogyne nitens Tul.
Fabaceae
NP
Angico vermelho
Parapiptadenia rigida (Benth.)
Fabaceae
P
Myrtaceae
NP
Brenan
Araçá amarelo
Psidium coriaceum Mart. ex O.
Berg
Araçá rosa
Psidium cattleianum Sabine
Myrtaceae
P
Araribá Rosa
Centrolobium tomentosum
Fabaceae
P
Lithraea molleoides (Vell.) Engl.
Anacardiaceae
P
Schinus terebinthifolius Raddi
Anacardiaceae
P
Bauhinia forficata Link.
Fabaceae
P
Peltophorum dubium (Spreng.)
Fabaceae
P
Guillemin ex Benth.
Aroeira brava
(branca)
Aroeira pimenteira
Bauínia
Canafístula
Taub.
35
continuação
Candeia
Gochnatia polymorpha
Asteraceae
P
Myrsinaceae
P
(Less.) Cabrera
Capororoca
Rapanea ferruginea (Ruiz &
Pav.) Mez
Ceboleiro/Cebolão
Phytolacca dioica L.
Phytolaccaceae
P
Cedro rosa
Cedrela fissilis Vell.
Meliaceae
NP
Eugenia involucrata DC.
Myrtaceae
NP
Cordia sellowiana Cham.
Boraginaceae
P
Sterculia chicha A. St.-Hil. ex
Malvaceae
P
Cereja-do-riogrande
Chá-de-bugre
Chichá do Cerrado
Turpin
Covantã
Cupania vernalis Cambess.
Sapindaceae
P
Dedaleiro
Lafoensia pacari A. St.-Hil.
Lythraceae
NP
Embaúva
Cecropia pachystachya Trécul
Urticaceae
P
Erythrina verna Vell.
Fabaceae
P
Mimosa bimucronata (DC.)
Fabaceae
P
Fabaceae
P
Ficus guaranitica Chodat
Moraceae
P
Genipa americana L.
Rubiaceae
NP
Myrcia tomentosa (Aubl.) DC.
Myrtaceae
NP
Calophyllum brasiliense
Clusiaceae
NP
Eritrina
Espinho de maricá
Kuntze
Farinha-seca
Albizia niopoides (Spruce ex
Benth.) Burkart
Figueira branca
Genipapo
Goiaba-brava
Guanandi
Cambess.
Guaiuvira
Patagonula americana L.
Boraginaceae
P
Guarantã
Esenbeckia leiocarpa Engl.
Rutaceae
NP
36
continuação
Ingá-ferradura
Ipê rosa
Inga sessilis (Vell.) Mart.
Fabaceae
NP
Tabebuia heptaphylla (Vell.)
Bignoniaceae
P
Toledo
Jequitibá rosa
Cariniana legalis (Mart.) Kuntze
Lecythidaceae
NP
Leiteiro
Peschiera fuchsiaefolia (A. DC.)
Apocynaceae
P
Lafoensia glyptocarpa Koehne
Lythraceae
P
Guazuma ulmifolia Lam.
Malvaceae
P
Paineira rosa
Chorisia speciosa A. St.-Hil.
Malvaceae
NP
Pau-cigarra
Senna multijuga (Rich.) H.S.
Fabaceae
P
Gallesia gorazema (Vell.) Moq.
Phytolaccaceae
P
Caesalpinia ferrea Mart.
Fabaceae
P
Pau formiga
Triplaris brasiliana Cham.
Polygonaceae
P
Pau-marfim
Balfourodendron riedelianum
Rutaceae
P
Trema micrantha (L.) Blume
Cannabaceae
P
Citharexylum myrianthum Cham.
Verbenaceae
P
Tapirira guianensis Aubl.
Anacardiaceae
P
Rhamnidium elaeocarpum
Rhamnaceae
NP
Colubrina glandulosa Perkins
Rhamnaceae
P
Chlorophora tinctoria (L.)
Moraceae
P
Euphorbiaceae
P
Miers
Mirindiba-rosa
Mutambo
Irwin & Barneby
Pau d’alho
Pau ferro
(Engl.) Engl.
Pau pólvora
Pau-viola
Peito-de-pomba
Saguaraji-amarelo
Reissek
Saguaraji vermelho
Taiúva
Gaudich.
Tamanqueiro
Alchornea glandulosa Endl. &
Poeppig
37
continuação
Tamboril
orelha
de
Enterolobium contortisiliquum
Fabaceae
P
negro
(Vell.) Morong
Tapiá
Crateva tapia L.
Brassicaceae
P
Dictyoloma vandellianum
Rutaceae
P
Tingui preto
A.H.L. Juss.
Fonte: Adaptado SMA, 2011; EMPRAPA, 2011; TRÓPICOS, 2011.
Em todas as covas foram feitas adubação de base com fertilizante N:P:K
6:30:6 com 200 gramas/cova e, nos núcleos foram adicionados o hidrogel durante o
plantio.
4.2.4 - Transposição de Galharia
Para a implantação dos núcleos com transposição de galharia foram
utilizados galhos secos, doados pela Prefeitura do Município de Jahu, oriundos da
poda da arborização urbana, com restrições a espécies invasoras.
O material foi transportado por caminhão carroceria da Prefeitura Municipal de
Jaú e foi depositado em 9 núcleos em formato de cubo.
4.3 - Avaliação das técnicas de nucleação
Após a implantação do projeto de restauração iniciou-se as avaliações da
restauração, objeto deste trabalho. Para a avaliação das técnicas foram realizadas
mensalmente no período de fevereiro a maio coletas de dados baseados nos
Indicadores para Monitoramento de Nucleação elaborado no âmbito do Projeto de
Recuperação de Matas Ciliares (PRMC), da Secretaria de Estado de Meio Ambiente
38
do Governo do Estado de São Paulo pela consultora Deisy Tres em parceria com
técnicos colaboradores do projeto.
As coletas de dados em campo foram realizadas nas seguintes datas:
•
12 de Fevereiro de 2011;
•
26 de Março de 2011
•
16 de Abril de 2011;
•
04 de Maio de 2011.
4.3.1 - Regeneração Natural
Para avaliação da regeneração natural foram amostradas e identificadas
todas as plantas encontradas dentro dos núcleos com altura > 10 cm em todas as
técnicas de nucleação. Os regenerantes foram quantificados e coletados para
posterior identificação com auxilio de literatura, consulta ao herbário HESA da
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” e consulta a especialista. As
espécies identificadas foram classificadas conforme suas formas de vida.
4.3.2 - Transposição de Solo
Na técnica de nucleação por transposição de solo (Figura 10) os núcleos
foram identificados com plaquetas de plástico numeradas e foram avaliados os
seguintes indicadores, conforme planilha em anexo 1:
•
Número de espécies regenerantes: quantidade de espécies regenerantes
encontrados durante a coleta;
•
Nome da espécie regenerante: identificação dos regenerantes.
•
Forma de vida: descrição dos hábitos de vida dos indivíduos divididos em:
herbáceo = espécies vegetais com caule não lenhoso; arbustivo/arbóreo =
39
espécies vegetais com caule lenhoso acima de 1,5m e trepadeiras =
indivíduos terrícolas, lenhosos ou herbáceos, cujo crescimento em altura
depende da sustentação mecânica fornecida por outras plantas (Udulutsh et
al. 2004);
•
Indício de fauna: descrição dos sinais ou marcas presentes na área que
indiquem a presença de fauna, tais como: pegadas, penas, sementes
zoocóricas, fezes, tocas, insetos e outros;
•
Espécies invasoras (%): avaliação da porcentagem de cobertura das espécies
exóticas invasoras (gramíneas exóticas e outras), encontrados nos núcleos
utilizando 4 níveis de infestação sendo: 1) 0 – 25%, 2) 26 – 50%, 3) 51 – 75%,
4) 76 – 100%.
FIGURA 10 - Técnica de transposição de solo na Fazenda Santo Antônio, fotografia tirada
em 14 de agosto de 2010.
Fonte: A autora
40
4.3.3 - Poleiros Artificiais Secos
Nesta técnica (Figura 11) foram avaliados os mesmos indicadores
apresentados na técnica anterior (transposição de solo), além dos seguintes
parâmetros:
•
Riqueza de sementes: quantidade de sementes de espécies diferentes
encontradas na área dos poleiros;
•
Densidade de sementes: número de sementes encontradas na área dos
poleiros;
FIGURA 11 - Poleiro seco com fixação de quatro bases no solo, fotografia tirada em 14 de
agosto de 2010.
Fonte: A autora
41
4.3.4 - Núcleos de Anderson
Nos núcleos de Anderson (Figura 12) foram avaliados indicadores
apresentados na técnica “transposição de solo”, além dos seguintes parâmetros:
•
Levantamento das espécies plantadas no núcleo: anotação dos nomes das
mudas vindas do viveiro;
•
Cobertura de Copa: foi avaliada, com o auxílio de uma trena a projeção
horizontal (sombreamento) da copa das mudas na superfície do solo no
núcleo, onde é controlada a qualidade, quantidade e distribuição da luz,
sendo que, a rapidez da cobertura é essencial para controlar o mato
competição e a interceptação da água das chuvas nas copas, com isso,
auxiliar na estabilização do solo (SMA, 2011).
FIGURA 12 - Núcleos de Anderson na Fazenda Santo Antônio (círculo em amarelo
"pioneiras", círculo em vermelho "não pioneiras"), fotografia tirada em 14 de agosto de 2010.
Fonte: A autora
42
4.3.5 -Transposição de Galharia
Nos núcleos de transposição de galharia (Figura 13) foram avaliados
indicadores apresentados na técnica “transposição de solo”, além dos seguintes
parâmetros:
•
Volume ocupado pela galharia: foram aferidos o volume da figura geométrica
(formato de cubo), aproximada e formada pela distribuição dos galhos,
utilizando a fórmula V = comp. x larg. X altura.
•
Taxa de decomposição da matéria orgânica da galharia (volume/meses):
Através desta ao longo dos meses de amostra (fevereiro, março e abril), foi
avaliado a velocidade de decomposição da galharia.
FIGURA 13 - Leira da galharia em decomposição, fotografia tirada em 14 de agosto de
2010.
Fonte: A autora
43
5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante avaliação da restauração nos núcleos foram encontrados 421
regenerantes de 17 famílias, com as respectivas formas de vida: 1 Trepadeira
(Malvaceae),
4
Solanaceae)
e
Euphorbiaceae,
Arbustiva/Arbórea
12
Herbácea
Malvaceae,
(Bignoniaceae,
(Amaranthaceae,
Melastomataceae,
Fabaceae,
Myrtaceae
Asteraceae,
Onagraceae,
e
Fabaceae,
Plantaginaceae,
Poaceae, Rubiaceae e Solanaceae) e uma família não determinada (ND).
A técnica de nucleação que se mostrou a melhor facilitadora para o
estabelecimento de regenerantes foi os núcleos de Anderson, com 290
regenerantes.
Apenas 65 indivíduos de espécies Arbustivo/Arbóreas foram encontradas nas
avaliações de regeneração natural na área de todos os núcleos, o que pode ser
atribuído à alguns fatores como:
•
baixa eficiência ou inexistência de banco de sementes do solo;
•
dificuldade de germinação da semente e estabelecimento da plântula devido
à mato competição por braquiária;
•
alto nível de predação de sementes;
•
escassez de dispersores de sementes.
5.1 - Transposição de Solo
Seis meses após a implantação da técnica, conforme figura 14, foram
encontrados na 1ª amostra, 19 regenerantes, considerando que os núcleos não
foram irrigados, estes receberam influência das condições físicas do ambiente, como
a luz e umidade do solo, devido às chuvas intensas nesse período, que favoreceu o
recrutamento e estabelecimento das espécies (quadro 2). Já na 2ª e 3ª amostra o
desempenho foi parecido, com evolução na quantidade de regenerantes em relação
à 1ª amostra onde, 27 regenerantes foram encontrados, mas nesse período ocorreu
44
a manutenção na área e os núcleos de transposição foram afetados pela palhada
residual da manutenção.
Das espécies encontradas na regeneração natural, apenas 03 eram espécies
de forma de vida arbustivo/arbóreos, que posteriormente servirão de poleiro, e
sombrearão a área para que os processos de sucessão secundária ocorram. No
entanto, mesmo com a grande quantidade de espécies herbáceas regenerantes,
estas não se apresentam como gramíneas invasoras e não trarão conseqüências
negativas para os regenerantes arbustivo/arbóreos que conseguirem se estabelecer
na área.
Em relação às espécies invasoras (gramíneas exóticas como braquiária e
colonião) a porcentagem de infestação se manteve baixa (0 a 25%) no núcleo,
porém, como citado anteriormente na 4ª amostragem percebeu – se que a palhada
residual
deixada
durante
as
manutenções
(figura
15),
influenciou
no
desenvolvimento das espécies do núcleo de forma negativa, impedindo a
germinação e ocasionando o abafamento dos regenerantes já estabelecidos. A
quantidade de regenerantes sofreu um decréscimo (de 27 para 14 sobreviventes),
deixando clara a ocorrência do fato citado acima. Quanto aos indícios de fauna
foram avistadas abelhas, formigas, moscas, penas e fezes o que indica que o núcleo
com transposição de solo atraiu a fauna disseminadora e o retorno da microfauna e
mesofauna, para a recomposição da biota.
45
Transposição de Solo
Regenerantes
27
27
19
14
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Meses
FIGURA 14 - Quantidade de regenerantes encontrados nas amostras fevereiro à maio de
2011.
QUADRO 2 - Regenerantes encontrados na técnica de transposição de solo durante as
amostragens de fevereiro a maio de 2011. Identificadas conforme APG II (SOUZA;
LORENZI, 2008).
Transposição de Solo
Quantidade Família
Nome científico
Forma de vida
2
Asteraceae
Elephantopus mollis Kunth
Herbácea
1
Asteraceae
Erechtites sp
Herbácea
1
Asteraceae
Gamochaeta americana (Mill.) Wedd.
Herbácea
2
Asteraceae
Gnaphalium spathulatum Burm. f.
Herbácea
1
Bignoniaceae Jacaranda mimosifolia D. Don
Arbustiva/Arbórea
2
Fabaceae
Crotalaria sp
Herbácea
1
Malvaceae
Sida linifolia Cav
Herbácea
46
continuação
2
Myrtaceae
Psidium guajava L.
Arbustiva/Arbórea
1
Solanaceae
Solanum americanum Mill.
Herbácea
1
Solanaceae
Solanum mauritianum Scop.
Arbustiva/Arbórea
FIGURA 15 - Núcleo de transposição de solo afetado pela palhada residual da manutenção,
fotografia tirada em 04 de maio de 2011.
Fonte: A autora
5.2 - Poleiros Artificiais Secos
Conforme figura 16, na amostragem feita em fevereiro de 2011 não foram
encontrados espécies regenerantes nos poleiros na 1ª coleta e, a baixa quantidade
de espécies regenerantes se manteve durante as coleta seguinte, porém, a coleta
mais relevante em relação a este dado aconteceu nos meses de abril e maio, onde
foram encontradas 23 espécies regenerantes sendo 20 herbáceas e apenas 01
47
(Psidium guajava L.) e 02 (Solanum mauritianum Scop) arbustivo/arbóreas (quadro
3).
Poleiros Artificiais Secos
23
Regenerantes
21
4
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Meses
FIGURA 16 - Quantidade de regenerantes encontrados nos poleiros
QUADRO 3 - Regenerantes encontrados nos poleiros artificiais secos durante as
amostragens de fevereiro a maio de 2011. Identificadas conforme APG II (SOUZA;
LORENZI, 2008).
Poleiros Artificiais
Quantidade Família
Nome científico
Forma de vida
4
Asteraceae
Emilia fosbergii Nicolson
Herbácea
2
Asteraceae
Gamochaeta americana (Mill.) Wedd.
Herbácea
5
Asteraceae
Gnaphalium spathulatum Burm. f.
Herbácea
2
Myrtaceae
Psidium guajava L.
Arbustiva/Arbórea
em excesso Plantaginaceae Bacopa salzmannii Wettst. ex Edwall
Herbácea
em excesso Poaceae
Brachiaria radicans Napper
Herbácea
4
Rubiaceae
Richardia brasiliensis Gomes
Herbácea
3
Solanaceae
Solanum americanum Mill.
Herbácea
1
Solanaceae
Solanum mauritianum Scop.
Arbustiva/Arbórea
48
Durante a coleta de dados não foi avaliada a quantidade de avifauna que
freqüentou os poleiros, no entanto, foram avistados pássaros pousando nos mesmos
o que permitiu a chegada de 5 tipos de sementes não identificadas, que aqui
chamamos de semente 01, 02, 03, 04 e 05 (quadro 4), mostrando a efetividade na
utilização dos poleiros por estes dispersores entre fragmentos e ajudando no
aceleramento do processo sucessional da área. Além dos pássaros, também foram
visualizadas formigas, aranha d’água, penas (Figura 17), pegadas e fezes de aves
(Figura 18), o que indica a recolonização desses núcleos. Devido à ocorrência das
manutenções a porcentagem de espécies invasoras se manteve entre 0 e 25%.
QUADRO 4 - Diversidade de sementes encontradas durante as amostras
Riqueza de Sementes
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Semente 01
76
7
0
0
Semente 02
1
3
0
0
Semente 03
14
0
0
0
Semente 04
0
3
0
0
Semente 05
0
0
3
0
Foram instalados 5 poleiros na área, destes, 2 quebraram pela ação do vento,
e foram cortados pelo proprietário no primeiro mês de implantação, com isso, a
distribuição dos poleiros na área foi afetada. Outro fator que justifica a baixa
densidade de regenerantes na área dos poleiros foi à localização do poleiro 2, que
encontra – se em cima de nascentes intermitentes que voltaram a aflorar na área
após o cercamento e retirada do gado. Os regenerantes não conseguiram se
estabelecer devido ao encharcamento do solo embaixo do poleiro. O melhor
desempenho de regenerantes foi encontrado no poleiro 3 que estava bem próximo
ao fragmento vegetacional remanescente, responsável pelo estabelecimento de 3
espécies arbóreo/arbustivo.
49
FIGURA 17 - Penas encontradas na área dos poleiros, fotografia tirada em 16 de abril de
2011.
Fonte: A autora
FIGURA 18 - Fezes de aves na base dos poleiros, fotografia tirada em 16 de abril de 2011.
Fonte: A autora
50
5.3 - Núcleos de Anderson
Como mostrado na figura 19, logo na 1ª coleta foram encontrados 122
regenerantes de 13 espécies, nos núcleos de Anderson. Na 2ª coleta os núcleos
tinham passado por manutenção que provavelmente eliminou junto com as
gramíneas invasoras alguns regenerantes, e ocorreu um pequeno decréscimo da
quantidade de regenerantes encontrados (de 122 caiu para 97). Já na 3ª coleta o
número de indivíduos voltou a subir (159 regenerantes) e, na 4ª coleta, realizada em
maio de 2011 foram encontrados 282 regenerantes, um importante progresso no
estabelecimento destes indivíduos.
Das 17 famílias encontradas em todos os
núcleos, 13 ocorreram nos núcleos (quadro 5) e ainda, foram visualizadas formigas
(Figura 20), fezes, penas.
Núcleos de Anderson
Regenerantes
282
159
122
97
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Meses
FIGURA 19 - Quantidade de regenerantes encontrados nas amostras fevereiro à maio de
2011.
51
FIGURA 20 - Indício de formigueiro na área dos núcleos de Anderson, fotografia tirada em
26 de março de 2011.
Fonte: A autora
Conforme figura 21, notou – se uma alta mortalidade de mudas plantadas nos
núcleos 05, 08, 09,10 e 11. O encharcamento provocado por nascentes
intermitentes que afloram em diversos pontos da área foi o principal causador dessa
mortalidade, pois, as mudas não suportaram o excesso de água. Outros fatores que
podem ter influenciado na mortalidade dos indivíduos foi à interferência com
herbicida glifosato aplicada pelo proprietário (Figura 22) entre os núcleos e a
presença de vários formigueiros de saúvas (formigas cortadeiras) (Figura 23).
52
6
M o rtalid ad e
5
4
Fevereiro
3
Março
2
Abril
Maio
1
0
A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7 A8 A9 A10 A11 A12 A13 A14 A15
Núcleos de Anderson
FIGURA 21 - Mortalidade das mudas plantadas nos núcleos de Anderson. O eixo X
representa os núcleos de Anderson numerados de 1 a 15 na área de estudo.
FIGURA 22 - Aplicação de herbicida glifosato entre os núcleos, fotografia tirada em 04 de
maio de 2011.
Fonte: A autora
53
FIGURA 23 - Grande concentração de formigueiros na área dos núcleos de Anderson,
fotografia tirada em 04 de maio de 2011.
Fonte: A autora
Durante todos os meses de amostragem foram avaliadas a cobertura de copa
de todas as mudas plantadas nos núcleos de Anderson (Figura 24) onde, a trena foi
esticada de forma aleatória a cada coleta, com isso, em algumas amostragens foram
coletados dados de espécies com arquitetura de copa mais aberta e em outro mês
as espécies amostradas não tinham a mesma arquitetura de copa, o que pode ter
influenciado nos resultados de março e abril, no entanto, fica evidente o aumento da
biomassa dos indivíduos plantados ao longo das amostragens e consequentemente
do sombreamento desde a primeira avaliação (6,52%) até a última (23,36%) (Figura
25).
54
FIGURA 24 - Cobertura de copa das mudas plantadas nos núcleos, fotografia tirada em 04
de maio de 2011.
Fonte: A autora
Núcleos de Anderson
Cobertura de Copa (%)
23,36%
10,72%
6,82%
6,52%
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Meses
FIGURA 25 - Cobertura de Copa das mudas plantadas em núcleos de Anderson
55
QUADRO 5 - Regenerantes encontrados nos núcleos de Anderson durante as amostragens
de fevereiro a maio de 2011. Identificadas conforme APG II (SOUZA; LORENZI, 2008).
Núcleos de Anderson
Quantidade Família
Nome científico
Forma de vida
1
Amaranthaceae
Alternanthera ficoidea (L.) P. Beauv
Herbácea
6
Asteraceae
Ageratum conyzoides L
Herbácea
1
Asteraceae
Conyza bonariensis (L.) Cronquist
Herbácea
1
Asteraceae
Emilia fosbergii Nicolson
Herbácea
11
Asteraceae
Erechtites sp
Herbácea
8
Asteraceae
Erigeron bonariensis L.
Herbácea
18
Asteraceae
Gamochaeta americana (Mill.) Wedd.
Herbácea
56
Asteraceae
Herbácea
1
Asteraceae
Gnaphalium spathulatum Burm. f.
Orthopappus angustifolius (Sw.)
Gleason
3
Asteraceae
Sida cordata (Burm. f.) Borss. Waalk.
Herbácea
4
Bignoniaceae
Jacaranda mimosifolia D. Don
Arbustiva/Arbórea
1
Bignoniaceae
Tabebuia sp
Arbustiva/Arbórea
4
Euphorbiaceae
Ricinus communis L.
Herbácea
2
Fabaceae
Cassia polyphylla Jacq.
Herbácea
5
Fabaceae
Crotalaria sp
Herbácea
1
Fabaceae
Morfo spp 1
Arbustiva/Arbórea
1
Fabaceae
Arbustiva/Arbórea
2
Malvaceae
Sweetia sp
Malvastrum coromandelianum (L.)
Garcke
2
Malvaceae
Sida linifolia Cav
Herbácea
5
Malvaceae
Sida rhombifolia L.
Herbácea
2
Melastomataceae Rhynchanthera cordata DC.
Herbácea
2
Myrtaceae
Eugenia uniflora L.
Arbustiva/Arbórea
14
Myrtaceae
Psidium guajava L.
Arbustiva/Arbórea
1
Onagraceae
Ludwigia nervosa (Poir.) H. Hara
Herbácea
Bacopa salzmannii Wettst. ex Edwall
Herbácea
em excesso Plantaginaceae
Herbácea
Herbácea
69
Plantaginaceae
Scoparia dulcis L.
Herbácea
2
Poaceae
Brachiaria radicans Napper
Herbácea
31
Rubiaceae
Borreria verticillata (L.) G. Mey.
Herbácea
11
Solanaceae
Solanum americanum Mill.
Herbácea
25
Solanaceae
Solanum mauritianum Scop.
Arbustiva/Arbórea
56
5.4 - Transposição de Galharia
Ao longo dos meses a tendência é que estes núcleos se decomponham e
forneçam matéria orgânica ao solo, favorecendo a germinação e crescimentos das
espécies e, conforme figura 26 ao longo dos meses amostrados percebeu – se
alterações quanto ao volume ocupado pela galharia devido à variação (aumento das
medidas) durante as coletas. Este fato ocorreu porque houve a recomposição dos
núcleos de galharia, (acréscimo de mais galhos) durante as manutenções, ocorridas
neste período.
Mesmo com esta recomposição, foi notável a decomposição da matéria
orgânica em relação à 1ª e 4ª coleta (Figura 27), mostrando a efetividade nos
resultados como, por exemplo, a atração da fauna para a área e inibição de
gramíneas invasoras.
Outro aspecto importante durante as coletas foram os fungos encontrados em
todas as leiras de galharia (Figura 28), pois estes são essenciais na decomposição
da matéria orgânica. As leiras já estão servindo como fonte de alimento aos
decompositores. Em todas as leiras foram observados também, cupins que auxiliam
na decomposição da madeira.
Em alguns núcleos da galharia encharcados pelo afloramento do lençol
freático, foram encontrados girinos e aranha d’água, mostrando a eficiência da
técnica na formação de um microclima apropriado para a sobrevivência destes.
Outros indícios de fauna encontrados foram: formigas, abelhas, fezes, cascas de
besouro, pássaros e penas, evidenciando o resgate das funções ecológicas.
57
Transposição de Galharia
Volume de ocupação (m³)
30
25
Fevereiro
20
Março
15
Abril
10
Maio
5
0
G1
G2 G3
G4
G5 G6
G7
G8 G9
FIGURA 26 - Volume de ocupação da galharia nas amostras de fevereiro à maio de 2011
m³/tempo
Taxa de decomposição da matéria orgânica nos
núcleos ao longo dos meses de coleta
7
6
5
4
3
2
1
0
Fevereiro
Março
Abril
Maio
G1
G2
G3
G4
G5
G6
G7
G8
G9
Transposição de Galharia
FIGURA 27 - Velocidade que a matéria orgânica se decompõe ao longo dos meses de
coleta
58
FIGURA 28 - Fungos encontrados nas leiras da galharia, fotografia tirada em 04 de maio de
2011.
Fonte: A autora
Em relação aos indivíduos regenerantes na galharia (Figura 29), já na 1ª
coleta foi significativa a quantidade de regenerantes encontrados (65), na 2ª coleta a
quantidade de indivíduos encontrados dobrou (129). Nas coletas seguintes (abril e
maio), ocorreu um decréscimo para 93 indivíduos regenerantes. Alguns destes
núcleos de transposição estavam em áreas encharcadas e também foi feito
interferência de herbicida glifosato na borda dos núcleos (pelo proprietário), o que
pode ter contribuído para a mortalidade destes regenerantes.
Como observado no quadro 6, a galharia mostrou – se eficaz no
estabelecimento de 97 indivíduos regenerantes onde, 86 eram espécies herbáceas,
01 trepadeira e somente 10 eram de forma de vida arbustivo/arbóreo.
59
Transposição de Galharia
Regenerantes
129
93
95
Abril
Maio
65
Fevereiro
Março
Meses
FIGURA 29 - Regenerantes encontrados na técnica de transposição de galharia
QUADRO 6 - Regenerantes encontrados na transposição de galharia durante as
amostragens de fevereiro a maio de 2011. Identificadas conforme APG II (SOUZA;
LORENZI, 2008).
Transposição de Galharia
Quantidade Família
Nome científico
Forma de vida
5
Amaranthaceae
Alternanthera ficoidea (L.) P. Beauv
Herbácea
4
Asteraceae
Ageratum conyzoides L
Herbácea
16
Asteraceae
Erigeron bonariensis L.
Herbácea
8
Asteraceae
Gnaphalium spathulatum Burm. f.
Herbácea
1
Asteraceae
Sida cordata (Burm. f.) Borss. Waalk.
Herbácea
1
Asteraceae
Sonchus oleraceus L.
Herbácea
7
Fabaceae
Crotalaria sp
Herbácea
1
Malvaceae
Sida cordata (Burm. f.) Borss. Waalk.
Trepadeira
60
continuação
8
Melastomataceae Rhynchanthera cordata DC.
Herbácea
1
ND
Morfo spp 2
Herbácea
2
em
excesso
Onagraceae
Ludwigia nervosa (Poir.) H. Hara
Herbácea
Plantaginaceae
Bacopa salzmannii Wettst. ex Edwall
Herbácea
10
Plantaginaceae
Scoparia dulcis L.
Herbácea
8
Rubiaceae
Borreria verticillata (L.) G. Mey.
Herbácea
14
Solanaceae
Solanum americanum Mill.
Herbácea
10
Solanaceae
Solanum mauritianum Scop.
Arbustiva/Arbórea
61
6 - CONCLUSÃO
Este trabalho pode verificar que a retirada do fator de degradação trouxe bons
resultados para a regeneração da área com o retorno do afloramento de nascentes
antes soterradas pelo pisoteio do gado. Com isso o volume e a qualidade da água
na propriedade aumentaram (ressurgimento de nascentes intermitentes ao longo da
área em restauração) trazendo benefícios para a biodiversidade da microbacia e
para a população abastecida por essas águas.
Apesar da proximidade a uma fonte de propágulos preservada (fragmento
remanescente de Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Paludosa), verificouse uma baixa densidade de espécies regenerantes arbóreo/arbustivo nos núcleos.
Esse resultado pode estar sendo influenciado negativamente pela área em
restauração estar adjacente a uma matriz canavieira, porém os resultados durante
os meses avaliados vêm sofrendo uma progressiva melhora em relação ao
recrutamento dos indivíduos regenerantes.
As técnicas utilizadas visam potencializar o resgate da funcionalidade
ecológica da área degradada, e isto vem ocorrendo na área em questão, como por
exemplo, nos poleiros artificiais, pois, foram observadas diversas sementes e fezes
de pássaros nesta técnica, portanto, fica evidente a utilização da avifauna pelos
mesmos e a eficácia das técnicas utilizadas na área em questão.
Quanto à transposição de solo, mesmo o material tendo sido coletado no dia
em que foi implantado e em área alóctone, este local estava pouco preservado e a
técnica não obteve bons resultados, outro fato que poderia ter contribuído para um
melhor desenvolvimento desta técnica é a irrigação durante os meses de
manutenção e isto não ocorreu.
O núcleo de Anderson foi à técnica que obteve o melhor desempenho em
campo, em relação aos indivíduos regenerantes, pois grande parte das espécies
arbóreo/arbustivo estavam concentradas nestes núcleos, estes futuramente também
contribuirão de forma significativa para a conectividade entre os núcleos e o
fragmento.
Na transposição de galharia, mesmo com a recomposição das leiras, foram
encontrados fungos, que possibilitaram uma significativa decomposição da matéria
62
orgânica com isso, as leiras já estão servindo como fonte de alimento aos
decompositores, ainda nas leiras, houve a formação de um microclima favorável
para a sobrevivência da micro e mesofauna. Em alguns núcleos da galharia
encharcados pelo afloramento do lençol freático, mostrando o resgate das funções
ecológicas.
Diante dos resultados obtidos neste trabalho, para que as técnicas de
restauração ecológica sejam ainda mais eficazes, é necessário se ter os seguintes
cuidados:
•
Deve – se trabalhar em conjunto com o projeto a conscientização através de
educação ambiental com os proprietários, estes serão grandes “aliados”, para
que as áreas em recuperação obtenham resultados ainda melhores durante o
processo de restauração;
•
Os bambus coletados para a confecção dos poleiros deverão ser de menor
diâmetro, pois os utilizados na área em questão eram de maior diâmetro, e
isto fez com que estes se quebrassem durante os ventos, outra
recomendação é que a ponta dos mesmos sejam amarradas para que se
torne uma estrutura mais sólida e retardem a quebra precoce;
•
Se a técnica de transposição de solo não for implantada em períodos
chuvosos, recomenda - se a irrigação destes núcleos nos primeiros meses;
•
O controle químico deverá ser evitado e feito em último caso, quando forem
esgotadas todas as alternativas para controle de alguma perturbação;
Estas técnicas deverão ainda ser monitoradas em períodos mais longos de
avaliação com isso, poderá se ter resultados mais efetivos e estes contribuam para
uma melhor eficiência na restauração ecológica de áreas degradadas.
63
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2006. 249p. Tese (Doutorado em Recursos Florestais) – Escola Superior de
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65
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Florestais) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São
Paulo, Piracicaba.
68
ANEXOS
Anexo 1: Planilha de Avaliação da Nucleação por Transposição de Solo
69
Anexo 2: Planilha de Avaliação do Poleiro
70
Anexo 3: Planilha de Avaliação da Nucleação por Grupos de Anderson
71
Anexo 4: Planilha de Avaliação da Nucleação por Galharia

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