Mondo Bacana :: Pnin, de Vladimir Nabokov

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Nabokov
Postado por
Jan 05
2015
Fabricio Muller | Tags:
Pnin, de Vladimir
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Jorge Luis Borges escreveu o seguinte: "Toda a boa literatura é uma forma de alegria, e
nenhum autor me deu tantas alegrias quanto Chesterton". Acho que o "meu
Chesterton" é Vladimir Nabokov. Não sei se outro escritor me diverte tanto. Seus livros
são sempre surpreendentes.
"Fogo pálido", por exemplo, começa com um poema de umas trinta páginas, e as
quase duzentas seguintes são notas (muitas deles delirantes) sobre este poema. Em
"Desespero", o narrador acha que encontrou um duplo (alguém exatamente igual a
ele), mas o restante do mundo discorda: é um exemplo espetacular da técnica de Nabokov de
criar narradores pouco confiáveis. Como o pedófilo Humbert Humbert, o narrador de
"Lolita", que tenta o tempo todo mostrar que não é assim tão mau.
"Lolita" é o livro mais conhecido de Nabokov, e é tão impressionante que as
pessoas achavam (erradamente) que o escritor - que era casado e tinha uma vida regrada e
discreta - também era pedófilo.
"Ada ou ardor", possivelmente o meu Nabokov preferido, é um romance delirante de
mais de seiscentas páginas sobre a paixão tórrida de um casal de primos que na verdade é um
casal de irmãos. A história, para se ter uma ideia, não se passa na Terra, mas na
"Antiterra", um planeta irmão. As obsessões e temas de Nabokov estão todos lá: a
vida dos emigrados russos na Europa ou na América do Norte devido à Revolução Comunista
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de 1917 (caso do próprio Nabokov); o amor pelo xadrez; o estudo da zoologia e da botânica (o
escritor era um reconhecido entomologista); os jogos de palavras; o gosto pelo escabroso; as
situações cômicas; as expressões em russo - sempre com função narrativa. Mesmo nos livros
de Nabokov que gostei menos, como "Gargalhada na escuridão" (que o próprio
escritor achava o seu pior) ou "A verdadeira vida de Sebastian Knight", não tive um
momento de tédio.
Recentemente terminei de ler "Pnin", a história de um professor russo emigrado,
Timofey Pnin, que dava aulas numa universidade americana - como o próprio Nabokov, aliás.
O personagem que escreve o livro não tem seu nome citado e é outro professor russo
emigrado - e que além disso gostava de colecionar borboletas. Seria o próprio Nabokov?
Ao final do livro, ficamos meio sem saber o que achar de Timofey Pnin: afinal de contas, o
narrador debocha o tempo todo de seu personagem; e não ajuda nada os episódios contados
serem tão distantes no tempo, com muito pouco ligando uns aos outros. Timofey Pnin é uma
personalidade complexa: ao mesmo tempo em que alunos e professores riem dele por seu
formalismo e falta de adaptação ao mundo universitário americano, ele é honesto e bastante
dedicado ao trabalho. Normalmente se diz que "Pnin" é um retrato da falta de
adaptação dos russos emigrados ao Novo Mundo. Faz sentido. O livro é engraçado e triste ao
mesmo tempo: enquanto em muitos trechos se tem vontade de rir alto, à medida em que se
caminha para o final um travo amargo vai crescendo durante a leitura. E a última cena, com
Timofey Pnin indo embora da universidade após ter sido despedido, mas sem aparentar grande
tristeza, é uma mostra destes dois lados da moeda.
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