Filmes de Suspense/Terror: Uma análise do gênero
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Filmes de Suspense/Terror: Uma análise do gênero
1 FILMES DE SUSPENSE/TERROR: UMA ANÁLISE DO GÊNERO COM ÊNFASE NO CINEMA NACIONAL 1 Udiele Ramos Ferreira RESUMO Este artigo, por meio de levantamento de dados em fontes bibliográficas, faz uma reflexão visando uma melhor compreensão da estética do gênero cinematográfico suspense/horror, dando ênfase na sua utilização no Brasil, onde surgiu décadas após a sua origem em outros países. PALAVRAS-CHAVES: Cinema, Cinema Nacional, Filmes de Suspense, Filmes de Terror. INTRODUÇÃO No Brasil pouco é falado sobre as produções de filmes no gênero Suspense/Terror. O presente trabalho traz uma análise do gênero com ênfase no cinema nacional. A pesquisa mostra a breve história do gênero cinematográfico Suspense/Terror, suas mudanças e aspectos técnicos; passa pelo surgimento dos filmes do gênero no cinema nacional e propõe uma reflexão dos fatores que fazem as produções nacionais escassas. Este trabalho visa contribuir para análise e discussão da utilização do gênero, especialmente no Brasil, onde há pouca produção e pesquisa destinada ao assunto. Mesmo com escassas fontes formais, a revisão bibliográfica pôde ser realizada, baseada em livros, sites e artigos de autores que também têm como objeto de estudo os filmes do gênero Suspense/Terror. O Cinema de Gêneros 1 Trabalho apresentado ao curso de Comunicação Social – habilitação em Publicidade e Propaganda da Faculdade Pitágoras de Londrina-PR, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Publicidade e Propaganda, sob orientação da Profa. Ms. Luciana de Oliveira, defendido em dez/2008. 2 Nas décadas de 1920 e 1930, quando a indústria cinematográfica começou a se consolidar no mercado, os estúdios sentiram a necessidade de produzir filmes a partir de um gênero específico, cada produção tinha seus próprios códigos de construção dramática, o que permitia ao roteirista e ao diretor aprender a manipulálos e garantir grandes sucessos de bilheteria (LEITE, 2005). À medida que a indústria cinematográfica passou a se consolidar, cada estúdio se especializou em um determinado gênero: drama, musical, comédia, etc. Dessa forma, as diversas fatias do mercado começaram a ser divididas pelos grandes estúdios. (ibidem, 2005, p.9). O poder de manipular as imagens e posteriormente o advento do som formou as principais características do surgimento do cinema de gêneros. Com o advento do cinema falado, os produtores decidem fazer do som o personagem principal do cinema. Musicais aparecem em massa e inauguram a época de ouro do cinema americano. Mas Hollywood não vive só de músicas. A ingenuidade das comédias românticas e as disputas de faroestes também preenchem as telas nessa década. (TAVARES, 2005) Com o advento do som e as grandes estrelas do cinema, a produção dos filmes ficou mais fácil e as mensagens levadas ao receptor passaram a ser captadas também com maior facilidade, o que acabou proporcionando uma difusão dos filmes entre o público. Os meios tradicionais da comunicação audiovisual (rádio, cinema, televisão) e seus novos suportes informáticos (multimídia, internet) baseiam boa parte do seu impacto comunicativo na força expressiva do som e suas mensagens audiovisuais. O som ainda é um manancial inesgotável de significados [...] Não há dúvidas de que todo o cineasta fala de seus próprios fantasmas em seus filmes, mas nem todos esses fantasmas são vistos na sala de projeção; cada espectador descobre um ou outros na escuridão do cinema, mas há sempre alguns deles que são vistos por todo o público, por todos os públicos de todas as salas. (RODRIGUEZ, 2006, p.21) Além do público alvo, com o gênero cinematográfico, melhor ficaram a narração dos fatos: Um gênero geralmente inclui expectativas especificas quanto à narrativa – cenários recorrentes, seqüências convencionais de ação (o tiroteio, a perseguição com o carro) -, de modo que a tarefa de resolver os conflitos do filme possa ser submetida ao gênero. (TUNNER,1997, p. 88). A narrativa no gênero suspense/terror possui características próprias, e através delas se pôde prender a atenção do espectador, oferecendo muitas 3 soluções possíveis para a trama, como “despistar” o espectador até o momento apropriado para a revelação da identidade do assassino (ibidem, 1997). O gênero é um dos fatores que determinam a escolha do público por um filme, não só em termos de ter ou não competência para apreciá-lo, mas em termos do tipo de filme que o telespectador deseja ver. Assim, os gêneros podem sofrer alterações, pois no mercado cinematográfico há duas diretrizes importantes na execução do filme: a aprovação do público ao filme e o lucro que o filme irá gerar (ibidem, 1997). A relação entre a indústria cinematográfica e seu público é suficientemente complexa para que seja impossível determinar com precisão como as mudanças na preferência do público engendram mudanças nas decisões de produção. – ou inverso (Ibidem, 1997, p. 98). O cinema de gêneros possui diversas ferramentas para prender a atenção do público, mas despertar a emoção é uma das principais características: As emoções fundem em nossas mentes com a consciência da emoção manifestada; é como se estivéssemos vendo e observando diretamente a própria emoção. Além disso, as idéias despertam em nós as reações adequadas. O horror que vemos nos dá realmente arrepios, a felicidade que presenciamos nos acalma, a dor que observamos nos provoca contrações musculares; todas as sensações resultantes – dos músculos, das articulações, dos tendões, da pele, das vísceras, da circulação sanguínea e da respiração – dão o sabor de experiência viva ao reflexo emocional da nossa mente. (XAVIER; MUNSTERBERG, 2003, p. 51). Essas emoções são levadas ao público de acordo com o gênero produzido, o cinema possui uma diversidade de técnicas para alcançar e proporcionar essas emoções em um grupo específico ou em uma grande massa de espectadores. O Gênero Suspense e Terror Os filmes de suspense/terror deixam o espectador em estado de ansiedade e com diversas expectativas, o que aumenta a vontade de conferir a próxima cena. O suspense apela para a cumplicidade ou a apreensão da platéia. É saber o que há atrás da porta (e por isso não ser surpreendido) enquanto o protagonista, inocente, caminha em direção a ela. O suspense é trabalhar 4 os nervos, enquanto o terror, além de expor o susto e o medo, apela mais para o visual. (ROCKENBACH, 2008). O suspense é causado quando predomina a apreensão, o que no cinema provoca a tensão, já que o espectador sabe o que vai acontecer e o personagem não. O Terror surpreende tanto o personagem quanto o espectador, ficando ambos assombrados e completamente apreensivos até o final da cena. O gênero suspense/terror provoca um encantamento no público que está ligado a questões culturais - como pesadelos ou o medo da morte, e biológicas - há a liberação de adrenalina2 que provoca fortes sensações no espectador. Quanto maior o nível de adrenalina que a cena de suspense/terror provocar no espectador, mais medo e euforia ele irá sentir, o que aumenta o julgamento sobre o filme e sua repercussão (MENDES, 2001). Nos filmes de suspense/terror os elementos como a voz, expressão facial, a música, montagem, iluminação e ambiente têm muita importância, pois, através desse conjunto e com uma boa narrativa é possível chegar ao clímax desejado pelo realizador. O espaço onde são narradas as cenas do filme deve ter uma atenção especial para o gênero. O gênero, como as demais narrativas ficcionais, apresenta uma seqüência narrativa de ações imaginárias como se fossem reais, envolvendo personagens em um determinado tempo e em um determinado espaço. Entretanto, é preciso ressaltar que a construção das descrições espaciais, nesse caso, tem um papel crucial para a sugestão do clima de mistério e suspense. (CASTILHOS, 2008). O espaço e a narrativa são importantes, porém não adianta possuir o espaço e não possuir uma boa fotografia, o poder de apreensão muitas vezes vai depender também de uma fotografia bem realizada. A fotografia desses filmes ajuda a fazer o espectador participar do clima sombrio e claustrofóbico, além de construir as grandes cidades, frias, corruptas e decadentes. Ela também constrói visualmente os arquétipos e dá vida aos personagens sempre presentes nessas narrativas. (NOVAIS, 2008). 2 A produção de adrenalina é feita por glândulas que ficam acima dos rins chamadas de supra-renais, toda vez que somos expostos a uma grande demanda de estresse físico (exercícios árduos) ou psíquico (medo) a adrenalina será liberada para preparar o organismo para “lutar ou fugir”. Quando enfrentamos desafios, uma pequena variação da adrenalina chamada noradrenalina é produzida a fim de regular nosso tônus muscular para a ação e promover nosso comportamento de impetuosidade. Isso acontece quando estamos preparados para enfrentar a situação ameaçadora ou desafio. (www2.uol.com.br/vyaestelar/esportes_radicais.htm). 5 Muitas fotografias cinematográficas do gênero suspense/terror são baseadas na época do expressionismo alemão, como por exemplo, o filme “O gabinete do Dr. Galigari”, que possui uma estética fotográfica que até hoje é utilizada nos filmes do gênero para criar um clima de ameaça e pavor (ibidem, 2008). A fotografia automaticamente deve possuir uma boa iluminação, assim as cenas em frente às lentes ficam mais próximas de uma possível realidade. Iluminação é o elemento mais importante na cinematografia. É a tarefa à qual o fotógrafo dedica sua atenção primária. Ele estuda as características dos negativos de forma que ele possa predizer que efeito a iluminação vai ter ao traduzir a sua cena para a tela. Somente então ele manipula as luzes de acordo. Os filtros são elementos que ajudam nessa tradução. Mas é a iluminação que dá forma à realidade em frente às lentes, lhe dando profundidade ou superficialidade, excitação ou placidez, realidade ou artificialidade. A cinematografia tenta criar e sustentar um clima capturado na tela. Nesse sentido, a iluminação está no cerne da cinematografia. (MALKIEWICZ, 1992, p. 79). Desde a realização do roteiro até a sua montagem há diversos aspectos técnicos que são importantes para o cinema de gêneros e especialmente no gênero do suspense/terror é necessário mais do que apenas uma câmera e um espaço, sua produção, em grande maioria, exige recursos técnicos para um bom resultado. A Inspiração dos Contos Fantásticos Uma das maiores inspirações para o gênero cinematográfico suspense/terror é o conto fantástico. O conto fantástico está no limiar entre a realidade e a fantasia, desde o século XVIII os ingleses já tinham explorado através do romance gótico o sobrenatural, os fatos macabros e as apavorantes imagens fantasmagóricas. A relação entre a realidade do mundo que habitamos e conhecemos por meio da percepção e a realidade do mundo do pensamento que mora em nós e nos comanda. O problema da realidade daquilo que se vê – coisas extraordinárias que talvez sejam alucinações projetadas por nossa mente; coisas habituais que talvez ocultem sob a aparência mais banal uma segunda natureza inquietante, misteriosa, aterradora – é a essência da literatura fantástica. (CALVINO, 2004, p. 4). Além do romantismo os contos também são filosóficos, como o idealismo alemão, que tinha intenção declarada de representar a realidade do mundo interior e subjetivo da mente, da imaginação, conferindo a ela uma dignidade equivalente ou maior do que a do mundo da objetividade e dos sentidos. Na Alemanha, Hoffmann 6 foi um dos romancistas que trouxe essas percepções. Suas obras exploram o mundo exterior e interior do ser humano em um grande universo sobrenatural. Em sua obra “O Homem de Areia”, o personagem de uma pacata vila da burguesia se depara com aparições diabólicas e assustadoras (ibidem, 2004). O precursor Hoffmann serviu de grande influência para outros romancistas, como o russo Gogol - com histórias de bruxarias, o francês Nodier – que apresenta em suas obras as visões noturnas e grotescas3, e os ingleses Charles Dickens - com o macabro e o grotesco, e os contos de Mary Shelley - que escreveu o clássico Frankenstein, e Hebert George Wells - que trás a ficção cientifica com mistérios e terror ao seus contos, que serviram de inspiração para os filmes “A Ilha do Dr. Moreau”, “O Homem Invisível” e “Guerra dos Mundos”. Os contos fantásticos contam também com uma boa contribuição do romancista irlandês Le Fanu - todas suas obras foram fantasmagóricas e completas de horrores (ibidem, 2004). Os contos fantásticos têm como base o confronto entre a realidade e o mundo interior do ser humano, como sonhos e pensamentos, ou sensações que são geradas através do contato com o mundo externo, como os vultos e a presença do sobrenatural, formatando um mundo fantástico, cujas histórias e características narrativas, são fontes de inspiração para os filmes de suspense/terror. A Inspiração das Histórias em Quadrinhos e Games Muitas produções cinematográficas são baseadas também em quadrinhos de sucesso, como “Sin City” e “Os 300 de Esparta” de Frank Miller, e o “O Quarteto Fantástico” de Stan Lee e Jack Kirby. No Brasil, como cita Naranjo (2008) há HQ4 de Suspense e Terror como as edições de SPEKTRO, assinadas pelo cartunista Juka Galvão e sucessos das décadas de 1970 e 1980, com destaque para “Hotel Nicano”, um hotel escondido no interior que recebia estranhos hóspedes, todos os monstros eram canibais e assassinos; “Chegaram os Tempos”, conto de uma garrota que recebe um demônio e fica grávida do mesmo; “Trio Diabólico”, que foi de grande sucesso de vendas com o aparecimento dos personagens Sinhá Preta, o Filho de Satã e o Homem do Patuá. Apesar do sucesso, nenhuma das histórias ganhou a tela do cinema brasileiro. 3 4 Cômico caricatural, de tipo bizarro, burlesco ou fantástico, por vezes absurdo ou irreal. HQ – Abrev.: Histórias em Quadrinhos. 7 O cineasta José Mojica Marins produziu histórias em quadrinhos, como o “Prontuário 666” e para as crianças “O livro horripilante de Zé do Caixão”. Os games também estão ganhando muito espaço no mundo cinematográfico, no gênero suspense/terror já foram realizados filmes baseados em games de sucesso, como “Silent Hill”, “Resident Evil” e “Stay Alive”. Os games brasileiros ainda estão em fase de desenvolvimento. Os jogos Outlive5 e FutSim6 não tiveram bons níveis de aceitação no mercado nacional, tendo maior repercussão no cenário internacional. Dos poucos jogos nacionais existentes, nenhum se tornou roteiro para cinema. A Inspiração das Lendas e Mitos Há séculos o homem vem criando arquétipos sobre a sua existência e seu cotidiano, essa experiência ao longo da sua vida - junto com a convivência de outras pessoas, é capaz de alcançar profundamente o inconsciente, dando possibilidades de criar lendas e mitos. Na maioria das mitologias há um símbolo, uma imagem arquetípica que dá o rumo à mitologia, que por sua vez molda a vida das pessoas. A mente inconsciente fala através de imagens arquetípicas e simbólicas, e de padrões de pensamento humano que são a base da mitologia. (RANDAZZO, 2007, p101). O imaginário das pessoas já há muito tempo constrói lendas e mitos, como é o caso dos mamíferos voadores, o morcego. Desde o século XVI há relatos de ataque de morcegos a seres humanos que ocorreram na Europa. A ligação só surgiu em 1765 quando o naturalista francês Louis Lecrerc de Buffon publicou um volume de Histoire Naturelle. Ele soube de um morcego no Novo Mundo que bebia sangue. Na obra literária de mais de mil páginas “O Livro dos Vampiros – A enciclopédia dos Mortos-Vivos”, o autor J. Gordon Melton conta que Lecrerc de Buffon escolheu especificamente o nome ‘vampiro’ porque a habilidade desses mamíferos notívagos em chupar o sangue de pessoas e animais dormentes sem acordá-los lembrava as lendas sobre os vampiros da época. [...] O lançamento de Drácula, em 1897, concretizou definitivamente essa ligação entre o animal e o sobrenatural, que permanece até os dias atuais (VIEIRA, 2006). 5 Outlive é um jogo brasileiro produzido pela Continuum Entertainment. O jogo é de estratégia em tempo real, onde o jogador deve comandar tropas militares de humanos geneticamente modificados ou tropas robóticas a fim de explorar os recursos naturais do cenário e eliminar as tropas inimigas (www.continuum.com.br). 6 FutSim da empresa Jynx, simula o gerenciamento de clubes de futebol, com inteligência artificial, aproximando muito os usuários do que acontece de fato no dia-a-dia dos que trabalham com esse esporte (www.jynx.com.br/). 8 O vampiro é apenas uma de várias outras lendas, como é o caso do zumbi, também chamado de morto-vivo. Segundo a lenda, zumbis são seres que morreram, mas por ação de um sacerdote “vodu”, regressaram à vida e se converteram em escravos do sacerdote. Também há as múmias, que estão entre os monstros tradicionais utilizados para o cinema de suspense/terror. Geralmente nas tramas elas ressuscitam em busca de vingança. A lenda diz que suas tumbas possuem maldições terríveis. Outros monstrengos do cinema também surgem baseados em lendas e mitos de diversos países, como experiências de laboratórios ou baseado em casos reais como os psicopatas. No Brasil há lendas bem diversas, como a do Boto - que é um rapaz bonito, charmoso e envolvente que encanta as moças nos bailes, leva-as para a beira de um rio e as engravida. Antes da madrugada, mergulha nas águas e transforma-se em boto; a da Pisadeira - uma velha de chinelos que surge no meio da noite e pisa sobre a barriga das pessoas, provocando falta de ar. Personificação do pesadelo, geralmente "ataca" quando as pessoas comem demais e vão dormir com o estômago cheio; a Mula-sem-cabeça - mulher que teve um romance com um padre e, por isso, se transforma na noite de quinta para sexta-feira da Paixão num animal que galopa soltando fogo pelas narinas; o Curupira, lenda que já rendeu um curta nacional - anão cabeludo e de pés virados para trás, protetor das matas. É considerado o responsável pelo desaparecimento de caçadores, índios e de todos aqueles que causam danos aos animais e à vegetação. Há também as chamadas lendas urbanas7, como a da “Loira do Banheiro” personagem que assombra os adolescentes em muitas escolas pelo país e que já gerou diversos curta-metragem feitos pelos próprios alunos. Cem Anos de Suspense e Terror O responsável pela presença do sobrenatural nas salas dos cinemas é o estúdio Universal Pictures. Fundado por Carl Lemmle em 1912, foi o pioneiro em produzir filmes do gênero Suspense e Terror e o primeiro grande estúdio norte7 Lendas Urbanas são histórias que se originaram em histórias reais, ou então são apenas contos inventados por mentes criativas e que se espalharam por seu próprio mérito do potencial de inventividade. Eles tocam em pontos polêmicos ou sensacionalistas, ou ainda que apresentem algum perigo ao qual todos estariam sujeitos, porém não conscientes, tendo a lenda urbana então um caráter preventivo onde pode-se identificar a “moral da estória” / “moral da história” conforme o caso. (www.lendasurbanas.com.br/) 9 americano. Na década de 1930, apesar da recessão econômica norte-americana, os estúdios não foram atingidos pela crise. A crise econômica de 1929 praticamente atingiu drasticamente todas as indústrias norte-americanas, fazendo com que a produção fosse diminuída, assim como os empregos, abrindo o que viria ser conhecido como a depressão econômica dos anos 30. Mas nem todas as indústrias seriam totalmente (muito) atingidas pela depressão, como foi o caso da indústria cinematográfica de Hollywood. Num momento de crise, nada melhor do que produtos culturais que ajudem as pessoas a esquecerem seus problemas: homens viris, mulheres lindas, paisagens exóticas e histórias de amor e aventura fizeram a cabeça de milhões de pessoas desempregadas e desesperadas pela crise. (BIAGE, 2008). O Universal Pictures investiu em personagens míticos, como múmias, vampiros, cadáveres, conquistando lucros e fãs. Com o surgimento da TV, a indústria cinematográfica sentiu grande impacto: Quando a TV surgiu no cenário audiovisual, nos anos 50, o cinema sofreu um forte processo de desestabilização. A TV não acabou com o cinema – assim como a fotografia não acabou com a pintura e o cinema não acabou com a fotografia – mas, a partir do surgimento de seus “sucessores”, cada um desses meios precisou se readaptar a uma nova configuração, a um novo território de ação (BUTCHER, 2008). Nos anos de 1950 os filmes do gênero suspense/terror tinham uma produção pouco onerosa, pois exploravam apenas o meio pecuniário da cor, utilizava-se nas produções muito erotismo, mas as sensações visuais atribuídas ao matiz, à luminosidade e a saturação não foram suficientes para fascinar o espectador, pois essas produções começaram a enfrentar perdas no faturamento devido à analogia das idéias anteriores. Foi necessária uma adaptação com o surgimento da TV. Nessa mudança surgiram produções do gênero suspense/terror para a Televisão de grande sucesso, como “Alfred Hitchcock Apresenta8” e diversos filmes clássicos do gênero começaram a ser exibidos na TV, gerando assim um numero maior de fãs para apreciar as produções de suspense/terror no cinema. 8 Hitchcock foi o protagonista, entre 1955 e 1965, de uma série de TV que levava seu nome, Alfred Hitchcock Apresenta (Alfred Hitchcock Presents), em que o mestre do suspense apresentava pequenas histórias de mistério. A série foi produzida pela Universal e chegou a ser exibida inclusive no Brasil, tendo recebido muitas indicações ao Emmy, o Oscar da TV, além de ter arrebatado o Globo de Ouro de 1958, como o Melhor TV Show (ESCARRÈ, 1991). 10 Nesse momento, a nostálgica produtora inglesa de filmes fantásticos "Hammer", que entrou em atividade após a Segunda Guerra Mundial comandada por Michael Carreras e Anthony Hinds, surgiu com a idéia de revitalizar o gênero trazendo novamente às telas do cinema os famosos monstros sagrados "Drácula", "Criatura de Frankenstein", "Múmia", "Fantasma da Ópera", "Lobisomem", entre outros, os quais haviam sido largamente filmados em preto e branco nas décadas anteriores pelo saudoso estúdio americano "Universal". (ROSATTI, 2008). A produtora Hammer estabeleceu parceria com os estúdios Universal e realizou diversas refilmagens de clássicos do gênero. No início dos anos de 1970, em conseqüência da audiência da TV, a produtora sentiu grande impacto comercial, não conseguindo obter lucros com a realização de filmes, então a companhia dissuadiu ao malogro devido à distribuição de seus clássicos tradicionais para a TV. Outro motivo para o declínio da produtora foi o surgimento de outras propostas, como o da produtora Amcus9 que mostrava a violência explícita nos filmes de terror, fórmula de grande sucesso. Com o despontar do terror explícito, o cinema italiano também teve seu auge na década de 1970 a 1980, como a produção do filme Holocausto Canibal do diretor italiano Ruggero Deodato. Houve muita polêmica sobre as cenas do filme que, resultou na proibição de exibição em diversos paises, inclusive no Brasil. O filme é tão forte e seus efeitos tão realistas que, na época do seu lançamento, ele foi retirado de cartaz e o diretor Deodato teve que se explicar às autoridades. Eles acreditavam que "Cannibal Holocaust" era um snuff movie, ou seja, um filme onde os atores são mortos de verdade em frente às câmeras. As cenas de assassinato são tão reais, principalmente a impressionante seqüência de empalamento, que qualquer pessoa facilmente impressionável acredita que as pessoas estão morrendo de verdade. [...] Deodato foi acusado de drogar e assassinar os atores em frente às câmeras, tendo que provar que o elenco estava vivo e bem. (GUERRA, 2008). A indústria cinematográfica italiana em sua fase áurea produziu filmes de sucesso como A Máscara do Demônio (1960) de Mario Brava, A Noite dos MortosVivos (1979) de George Romero, Suspiria (1977) e Inferno (1980) de Dario Agento, mas a indústria americana já consolidada e com o maior nível de publicidade, conquistou o público e o mercado empresarial para a produção de seus filmes. Os filmes de terror Italianos estão entre os mais Gore10 que existem, porém o 9 Amicus foi uma produtora cinematográfica britânica fundada em 1968 pelos americanos Milton Subotsky e Max J. Rosenberg. 10 O cinema Gore é um subgênero de culto bem sucedido do Terror. São cenas macabras de mutilações sangrentas. 11 cinema oriental também possui alguns produtos, oferecendo muitas idéias para que os norte-americanos realizem refilmagens das obras. O cinema japonês mostra cenas aterrorizantes para o público, filmes com alta semelhança aos snuff movies - o filme Men Behind the Sun (1988) com direção de Tun Fei Mou, popularmente conhecido como “Campo 731: Bactérias” é um snuff movie, pois em uma das cenas há dissecação de um cadáver real. No século XX foram realizados diversos filmes de suspense para adolescentes, como a seqüência do filme “Pânico”11. Com essa fórmula já esgotada, surgiram outras produtoras como a “Dark Castle”,12 com o objetivo de devolver para o público fã do gênero o prazer perdido. Hoje o cinema conta com diversas produtoras especializadas em um determinado segmento para a realização de filmes. Com os filmes produzidos, alguns estúdios como Universal Pictures controlam sua distribuição e retorno dos investimentos. O gênero suspense/terror norte americano vive atualmente uma época de inúmeras refilmagens, não de suas próprias produções e sim das orientais. Os estúdios de Hollywood realizam suas versões com atores famosos e conseguem muita repercussão através da publicidade, como por exemplo, a refilmagem do filme “O Grito” que custou U$10 milhões conseguiu arrecadar U$180 milhões (Oliveira, 2008). O Suspense e o Terror no Cinema Nacional Os primeiros filmes de suspense/terror nacionais surgiram na década de 1960. Pela primeira vez, de maneira deliberada e sustentada, surge o gênero de terror com José Mojica Marins [...] Filmes efetuados numa linguagem convencional, mas, cujos décor, clima, trama, interpretação, vestuário e caracterização do protagonista infundem efetivo terror e certo mal-estar, para não dizer repugnância, objetivos do cineasta, não facilmente encontráveis em outros espécimes da categoria. (BILHARINHO, 1997, p. 104). Os filmes de José Mojica têm uma estética peculiar, como cenas de necrofilia13, cobras e aranhas andando por corpos de mulheres, moças comendo minhocas, baratas ou de homem arrancando dente a sangue frio. 11 A seqüência dos filmes Pânico foi realizada na época onde os filmes de Suspense e Terror não estavam conseguindo mais conquistar o público. Com um roteiro simples e de fácil compreensão foi bem aceito pelos espectadores porem, para os críticos não havia qualidade na obra. Apenas sustos previsíveis (www.bocadoinferno.com/romepeige/artigos/trilogiapanico.html) 12 Dark Castle é um estúdio norte-americano que se especializou em produções de terror fundada em 1999. 12 Muito dos seus filmes foram realizados na base da improvisação, com atores iniciantes e com diversas dificuldades para conclusão da obra, no começo da sua carreira pessoas compareciam no seu estúdio para zombar das produções, outras achavam que suas idéias eram de uma pessoa lunática, o jornalista Rubens Lucchetti tinha a mesma impressão quando foi assistir o filme A Meia Noite Levarei sua Alma (1963). Fui ver o filme, inicialmente achei que estava vendo uma pessoa debi mental, isso é um maluco qualquer que resolveu fazer no fundo de quintal uma fita (...) Você vê que não era um filme comum, que não era um debi mental, que eu estava adiante de uma pessoa estranha, alguma coisa totalmente diferente do que tinha visto em cinema Americano ou Europeu. (LUCHETTI, 2000). Ainda na década de 1960 e com dificuldades para a realização de outros filmes cinematográficos, foram produzidas obras do gênero com formato para a TV. Os primeiros foram “O Acordo” por Ozualdo Candeias, “A procissão dos Mortos” de Luis Ségio Person e “Pesadelo Macabro” por José Mojica. Essas obras ficaram conhecidas como a “Trilogia do Terror”. Com aceitação do público, Mojica continuou produzindo filmes do gênero com formato para a TV, como o “Estranho Mundo do Zé do Caixão”. Na época, houve perseguição da censura, que enviava documentos oficiais do Departamento Federal de Segurança Pública solicitando cortes de diversas cenas, pois eram consideradas imorais. O fato se repetiu em muitos episódios para TV, e também para a maior parte das obras de Mojica (Leyhart, 2000). Zé do Caixão - como Mojica ficou conhecido, graças ao seu personagem homônimo mais famoso – é um dos cineastas mais lembrados pela realização de filmes do gênero, com total de 35 obras para o cinema e 56 para a TV14. Apesar disso, enfrentou muita dificuldade em sua trajetória no cinema nacional. Em 1990 vou para os Estados Unidos e minhas fitas caíram em mão de pessoas inteligentes, que valorizavam meu trabalho, eu me senti realmente gente, aquilo que sentia aqui, uma espécie de verme, um elemento desprezado, perseguido, sem amparo nenhum, nos Estados Unidos aquele respeito, as maneiras que as pessoas definiam minhas fitas, aquilo sim trouxe uma dosagem de animo, quando eu saio do país eu me sinto um homem realmente realizado. (MARINS, 2000). 13 Necrofilia é a excitação sexual decorrente da visão ou do contato com um cadáver. O fenômeno da necrofilia é conhecido desde os mais remotos tempos da história humana. 14 http://www2.uol.com.br/zedocaixao/index.htm 13 Mesmo com ânimo, fazer cinema no Brasil exigiu muita força de vontade. Mojica conseguiu após 40 anos, patrocínio para a finalização de sua trilogia, com o filme “Encarnação do Demônio” (2008), a produção mais cara do gênero em nível nacional. O produtor do filme, Paulo Sacramento, questionava-se por quais motivos cineastas como Mojica, não continuaram a fazer filmes. Não entendia como o Mojica não estava filmando. Só depois que estudei cinema na USP e entendi o funcionamento de leis de incentivo, descobri o motivo por que nem Mojica, nem Candeias (Ozualdo, diretor falecido em 2007) filmavam mais: foi criada uma geração de fazedores de projeto, e não de fazedores de filmes. (SACRAMENTO, 2008). Mesmo com as leis de incentivo audiovisuais, o projeto de “Encarnação do Demônio” teve várias dificuldades e quase não foi realizado. Tirar Encarnação do papel, porém, havia se tornado quixotesco pessoal do cineasta. Da concepção original do filme até a sua produção, vários começos falsos repetidamente abortados davam a impressão de que o projeto estava, na falta de uma palavra melhor, amaldiçoado. (SADOVSKI, 2008, p. 29). Finalmente quando os produtores tiraram o projeto do papel, superando os limites financeiros, conseguiram produzir o filme com todas as características do patamar estético do gênero. Após sua realização, o filme venceu em sete categorias no Festival de Paulínia15: melhor filme de ficção, fotografia, montagem, edição de som, direção de arte, trilha sonora e melhor longa, também foi vencedor no Festival de Cinema de Sitges, na Espanha. A mostra, que acontece há 40 anos, é dedicada aos filmes de terror e uma das mais prestigiadas do gênero16. A retomada do gênero suspense/terror no Brasil ficou mais expressiva com o filme Encarnação do Demônio (2008). O diretor Roberto Santos me disse que via as pessoas saindo da Boca, deixando o cinema marginal, mas que era para eu continuar firme, que um dia ia encontrar gente que ia me compreender, que diria para fazer meu cinema e que estaria comigo. Ele só não disse que ia demorar um pouco. Uma semana depois, ele morreu. (MARINS, 2008, p. 33) 15 Festival de Cinema realizado na cidade de Paulínia/SP http://g1.globo.com/noticias/cinema/0,,mull797370-7086,00-ze+do+caixao+vence+festival +de+filmes+de+terror+na+espanha.html 16 14 Hoje, Mojica também produz e comanda no Canal Brasil17 o programa “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, com entrevistas realizadas com artistas de uma maneira descontraída. Os filmes do gênero de suspense/terror nacionais são exibidos em sua maioria em festivais e cinemas para um público diferenciado. No caso dos curtasmetragens, destacam-se obras como o curta “Amor só de Mãe” de Dennison Ramalho, que conquistou 9 prêmios18 e “Curupira” de Fábio Mendonça e Guilherme Ramalho que conquistou 5 prêmios19. (CURTAS, 2008). Alem dos curtas-metragens, os diretores César Coffin Souza e Peter Baiestorf de maneira sustentada, realizam desde 1992 produções do subgênero do terror, o Gore. Já são mais de 107 filmes realizados.20 A produtora possui um foco para um público específico. Uma produtora independente do Brasil! Em atividade desde 1992, a Canibal Filmes é pioneira de uma atitude/forma de se fazer "sinema" no Brasil! Alucinados, debochados, escatológicos, transgressores, surreais, experimentais e anárquicos, seus filmes são construídos de maneira totalmente independente, undergrounds do roteiro à distribuição e fora de todas as amarras do padrão convencional. (ACHIAMÉ, 2008). Há diversas produções do gênero suspense/terror nacionais, porém, as obras não são encontradas tão facilmente, e a distribuição é escassa devido o baixo orçamento. A produção nacional, em grande maioria, sofre pelas mesmas dificuldades, as leis de incentivo e muitas vezes a própria descrença do público brasileiro. (DRIGO, 2008). Mesmo com as dificuldades e descrença, o cinema brasileiro está a cada dia mais fortalecido e diversificado. Mojica e sua obra é um exemplo dessa realidade. 17 O “Canal Brasil” é um canal brasileiro de TV a cabo, disponível pela NET e SKY. Traz, em sua grade de programação, filmes, documentários e curta-metragens brasileiros. Ainda passa making of de filmes e programas de entrevistas. 18 Prêmios: Favoritos do Público no Cine Esquema Novo - Festival de Cinema de Porto Alegre 2004, Melhor Diretor no Cine Esquema Novo - Festival de Cinema de Porto Alegre 2004, Melhor Filme - Júri Popular no Fantasia Film Festival 2003, Melhor Montagem no Festival de Gramado 2003, Melhor Música no Festival de Gramado 2003, Melhor Fotografia no Festival TIM de Belo Horizonte 2003, Melhor Fotografia em Curta-metragem no Prêmio ABC, Menção Honrosa para Atriz no Vitória Cine Vídeo 2003, Favoritos do Público no Festival de Curtas de São Paulo 2003. 19 Prêmios: Melhor Curta - Jurí Oficial no Festival do Rio 2005, Melhor Direção de Arte no Mostra Londrina de Cinema 2005, Melhor Fotografia no Mostra Londrina de Cinema 2005, Melhor Curta Infantil no Vitória Cine Vídeo 2005, Melhor Fotografia no Festival de Atibaia Internacional do Audiovisual 2006 20 http://canibalfilmes.bulhorgia.com.br/index1.htm 15 ANÁLISE O gênero Suspense/Terror teve inicio praticamente junto com o próprio cinema, pouco mais de cem anos atrás, exceto em território nacional. No cinema brasileiro, sempre houve muitas falhas e poucas leis de incentivo para a produção dos filmes nacionais. Não seria diferente para o gênero suspense/terror. Iniciado por José Mojica Marins, que passou por diversas dificuldades e muitas obras inacabadas, o suspense/terror tupiniquim começou a ser produzido na época em que o cinema brasileiro estava passando por diversas mudanças, como a transição do Cinema Novo (onde os filmes tinham que ser realizados, doa o que doer) e o Cinema Marginal (onde muitas obras foram realizadas sem preocupações estéticas ou sem preocupações de aprovação dos críticos). Havia ainda as perseguições da censura que fazia diversos cortes - e esses cortes continham, em muitos casos, os elementos construtivos do gênero suspense/terror. Mesmo com essas dificuldades, Mojica foi um dos poucos cineastas no país que persistiu e conseguiu realizar obras de suspense/terror e que continua até hoje na ativa. No cinema nacional muitos passam por dificuldades para conseguir tirar seus projetos do papel, mesmo que seja de maneira subsidiada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da análise sobre os filmes de suspense/terror nacional, foi possível verificar que, apesar de haver diversas produções do gênero no cinema nacional, ainda há um baixo orçamento, o que ocasiona na maior parte dos casos, uma estética descuidada, uma distribuição insuficiente e uma ausência de divulgação. O gênero, assim como o próprio cinema nacional, é historicamente recente. Atualmente há um grande esforço aplicado com o objetivo de conquistar o público brasileiro. Produtores, como os do filme “Encarnação do Demônio” (2008) se preocupam com a qualidade que o gênero suspense/terror deve ter, tendo uma acuidade com os aspectos técnicos a fim de se obter um resultado estético significante. 16 O público brasileiro aprecia o gênero, ele só precisa ter produtos interessantes tanto na forma quanto no conteúdo. Estamos entrando em uma nova realidade cinematográfica nacional, onde os estímulos são bi-laterais. REFERÊNCIAS BILHARINHO, Guido. Cem Anos de Cinema Brasileiro. Uberaba: Instituto Triangulino de Cultura, 1997. CALVINO, Ítalo. Contos Fantásticos do século XIX, o fantástico visionário e o fantástico cotidiano, organização de ítalo Calvino. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. GOMES, Paulo Emílio Salles. Cinema, Trajetória no Subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. LEITE, Sidney Ferreira. Cinema Brasileiro, das origens á retomada. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005. MALKIEWICZ, Kris J. Cinematography: a guide for film makers and film teachers. Nova Iorque: Simon & Schuster, 1992. RANDAZZO, Sal. A Criação dos Mitos na Publicidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. RODRÍGUEZ, Angel. A Dimensão Sonora: da Linguagem Audiovisual. São Paulo: Senac São Paulo, 2006. TURNER, Graeme. Cinema como prática social. São Paulo: Summus,1997. VIANY, Alex. Introdução ao Cinema Brasileiro. 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Episódio da saga de Zé do Caixão, em que ele encontra Laura, a mulher ideal. Mas as forças do vilarejo e uma viagem ao inferno se insurgem contra seus objetivos. 20 O Estranho Mundo de Zé do Caixão (1968), de José Mojica Marins. Três histórias curtas “O fabricante de Bonecas”, “Tara” (primeira cena de necrofilia) e “Ideologia” (estrelado pelo professor Oãxciac Odez, atlter de Zé do Caixão). O Despertar da Besta, conhecido também como Ritual dos Sádicos (1970) de José Mojica Marins. Médico faz experiência com LSD com um grupo de viciados que alucina com o coveiro maldito. 21 Prata, Palomares (1971) de André Faria Jr. Loucura, Desorganização, sujeira e primitivismo tomam um vilarejo dominado pela tortura e repressão. O Signo de Escorpião (1974) de Carlos Coimbra. Astrólogo reúne, em sua ilha, doze pessoas de signos diferentes que são misteriosamente assassinadas. Enigma para Demônios (1975) de Carlos Hugo Christensen. Jovem vem a Brasil para receber uma herança e é atormentada por telefonemas de espíritos. Amadas e Violentadas (1976) de Jean Garret. O escritor policial Leandro, vitima de um trauma infantil, luta contra sua compulsão: seduzir e assassinar mulheres. Ninfas Diabólicas (1977) de John Dôo. O bem comportado Rodrigo dá carona a duas garotas. Em sua casa no litoral, ele descobre que elas são muito, muito más! Escola Penal de Meninas Violentadas (1977) de Antônio Meliande. Numa prisão de mulheres, as detentas são torturadas por ordem da diretoria – uma freira. 22 As Filhas do Fogo (1978) de Walter Hugo Khouri. Ana, em viagem a uma cidade colonial alemã, conhece uma jovem que lhe mostra gravações das vozes de mortos. A Força do Sentidos (1979) de Jean Garret. Escritor busca a resposta para o aparecimento repetido de uma cadáver, trazido todas as noites pela maré. Aqui, Tarados (1980, episódio “O Pasteleiro”) de David Cardoso e John Dôo. Um dos melhores representantes do gore brasileiro. Pasteleiro Chinês, durante uma noite de sexo, revela a uma prostituta o segredo do recheio de seus acepipes. O Segredo da Múmia (1982), de Ivan Cardoso. Filme paradigma do “terrir”. Três mil anos depois de sua morte, a múmia Runamb é ressuscitada. A Hora do Medo (1986) de Francisco Cavalcanti. Traumatizado na infância, quando testemunhou o sádico pai torturando a mãe, Albert cresceu incapaz de dissociar sexo e morte. Adulto, torna-se o assassino de diversas amantes. Fonte: Por Carlos Primati e Laura Cánepa, Revista SET, edição: 254. E um pouco mais Após 40 anos, “Zé do Caixão” concluiu a trilogia iniciada com “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1964), e “Esta Noite Encarnarei No Teu Cadáver” (1966) com o filme “Encarnação do Demônio” (2008), a obra mais cara do gênero realizada no Brasil e de maior divulgação na mídia. A valorização dos filmes e produções de Marins são diferente no aspecto internacional: 23 José Mojica Marins provavelmente seja o cineasta brasileiro mais celebrado internacionalmente, uma gritante ironia se considerar que o diretor é praticamente um desconhecido no seu país natal. No Brasil, os filmes de Zé do Caixão são artigos raros, produtos restritos ao consumo de um grupo minúsculo de fãs. Nos Estados Unidos, no entanto, Coffin Joe é disputado a tapas para as convenções de cinema fantástico, encontros de aficcionados por filmes de terror e outras junções do gênero. A estética trash do cineasta é alvo da admiração gringa e não são poucos os diretores americanos como Sam Raimi, de "A Morte do Demônio", que o chamam de gênio. Que outro cineasta tupiniquim causaria tanta celeuma? (PIENIZ, 1999). Na década em que a cinematografia brasileira estava em transição do Cinema Novo e surgindo o movimento Marginal, o “Udigrudi”21, foram produzidos filmes de terror com dose de humor, gênero “terrir”, é o caso do cineasta Ivan Cardoso, que realizou 40 filmes em Super-822, tendo destaque os filmes “O Segredo da Múmia” (1982) e “As Sete Vampiras” (1986). A obra cinematográfica mais recente de Ivan Cardoso é “Um Lobisomem na Amazônia23” (2005). Além do cineasta Cardoso, o suspense e o terror contam com obras do diretor brasileiro Petter Baiestorf, que vem realizando filmes Gore e filmou recentemente “A Curtição do Avacalho24” (2006). Os curtas-metragens também tem seu destaque, os diretores Fábio Mendonça e Guilherme Ramalho que contribuíram com “O Curupira” (2004) e Dennison Ramalho, com “Amor Só de Mãe” (2002). Além de curtas foi produzido o longa-metragem com a premiada atriz Fernanda Torres, que viveu uma personagem misteriosa no filme “Gêmeas” (2000) e, como exceção, o brasileiro Walter Salles dirigiu o filme “Água Negra”, uma refilmagem do cinema oriental patrocinado pelos norte-americanos. A Breve Filmografia dos Gêneros de Suspense e Terror Um dos primeiros grandes sucessos dos Gêneros foi dirigido por Thomas Edison com "O Castelo do Demônio", (1896). Edison dirigiu também Frankenstein (1910), primeiramente adaptado para o teatro, e depois para um grande número de mídias, incluindo rádio, televisão e quadrinhos. 21 UdiGrudi é o cinema marginal, produções underground, do lixo, sem preocupações em sua percussão. 22 Super-8 (ou Super 8 mm) é um filme no formato cinematográfico desenvolvido nos anos 1960 e lançado no mercado em 1965 pela Kodak, como um aperfeiçoamento do antigo formato 8 mm, mantendo a mesma bitola. 23 Fonte disponível em: http://diversao.uol.com.br/27bienal/artistas/ivan_cardoso.jhtm 24 Fonte disponível em: http://www.bocadoinferno.com/romepeige/artigos/avacalho.html 24 Outra grande referência dos primeiros filmes de suspense/terror na história foi "O Gabinete do Dr. Caligari" (1919), uma das mais impactantes obras do expressionismo alemão, dirigido por Robert Wienne e "Nosferatu" (1922), dirigido por Friedrich Murnau, ambos viriam influenciar todo o cinema de suspense/terror produzido em seguida, graças à atmosfera sobrenatural e a fotografia gótica. Em 1925 surge o “Fantasma da Ópera”, dirigido por Rupert Julian. Na década de 1930 têm destaque os filmes "Drácula" de Tod Browning e "Frankenstein" de James Whale. Outras obras que se destacam nesse período são os clássicos "O Homem-Invisível" (1933), de James Whale, inspirado na obra de H.G. Wells, "A Múmia" (1932) de Karl Freund, e a adaptação do livro de Oscar Wilde, "O Retrato de Dorian Gray” (1945) de Albert Lewin. Nos anos de 1950, o destaque fica por Christopher Lee, cuja interpretação do conde, em “Drácula” (1958), assim como o assíduo caçador de vampiros Van Helsing. Lee realizou inúmeros filmes, como o famoso Dr. Franskenstein em “A Maldição de Frankenstein” (1957). Com a era das grandes oportunidades científicas iniciada em 1953 com a descoberta da molécula de DNA, os filmes da década passaram a ostentar também uma temática científico-dramática, com cenas de suspense envolvendo criaturas que seriam um resultado catastrófico de experimentos laboratoriais mal sucedidos, que tinham sua gênese em pântanos próximos a laboratórios, bolhas assassinas, aranhas gigantes e outros monstros resultantes da miscigenação entre seres humanos e animais. Na virada da década de 1950 para 1960 de Roger Corman. Com “A Pequena Loja dos Horrores” (1960). Na década de 1960 houve diversas produções do gênero, como os clássicos “Psicose” (1960) e “Os Pássaros” (1963), ambos de Alfred Hitchcock, outro grande cineasta é George Romero, que em 1968 produziu “A Noite dos Mortos-Vivos”, que rendeu várias refilmagens, inclusive o próprio diretor copiou parte de sua própria obra. No mesmo ano, Roman Polanski faz “O Bebê de Rosemary”. Nos anos de 1970, o filme “Encurralado” (1972), revelou para o mundo Steven Spielberg, que três anos mais tarde apresentou “Tubarão” (1975); “O Exorcista” (1973) dirigido por Willian Friedkin, e “A Profecia” (1975) dirigido por Richard Donner. Outro do período é o “O Massacre da Serra Elétrica” (1974), dirigido por Tobe Hooper e “Halloween” (1978), de John Carpenter, influenciaram uma leva de filmes com assassinos misteriosos e cruéis que eternizaram as telas dos anos 80. O 25 filme “A Ilha do Dr. Moreau” (1977). Peter Jackson dirigiu o filme “Carne Humana Precisa-se” (1987). Outro do período é “O Brinquedo Assassino” (1988) de Tom Holland. Na década de 1990 os filmes “Silencio dos Inocentes” (1991), dirigido por Jonathan Demme e “O Sexto Sentido” (1999) de M. N. Shayamalan, tiveram destaque. No século XXI foi realizado a refilmagem do clássico “A Profecia” (2006) de John Moore e Jogos Mortais (2004) de James Wan, que ganhou várias seqüências. Publicidade nos filmes Nacionais O uso da Publicidade e Propaganda tem-se mostrado essencial para o sucesso das produções cinematográficas. Como exemplo do filme de suspense “A Profecia”: Em muitos casos, o orçamento da publicidade é maior que o orçamento da produção: The Omen/A Profecia, por exemplo, foi feito com US$ 3 milhões e teve um orçamento promocional de US$ 6 milhões. Estima-se que agora a quantia média necessária para promover um lançamento num grande estúdio nos Estados Unidos gire em torno de US$ 8 milhões, e continue em elevação. (TURNER, 1997, p. 18). Hoje muitos filmes nacionais lançados não chegam ao conhecimento do público devido à falta de divulgação, de ações promocionais e medidas que despertem no público a vontade de prestigiar um filme. A maioria das pessoas não conhece os filmes que acabaram de ser lançados porque eles entram em cartaz sem divulgação, exceto, é claro, as produções que contam com a parceria da Globo Filmes e são divulgadas na Rede Globo de Televisão. (HINGHT, 2004). A divulgação em uma emissora nacional de grande alcance da população pode sair bem mais cara do que a produção de um filme, o valor estimado de 30s na emissora Rede Globo em horário nobre é de R$ 800 mil reais25. A verba destinada para grandes produções nacionais gira em torno de R$ 5 a R$ 6 milhões de reais. Levando em consideração o valor cobrado para divulgação em emissoras e a verba patrocinada para produzir o filme, fica difícil se tornar um sucesso de bilheteria. 25 Valor cotado em 10/2008. 26 A lei do audiovisual sem dúvida foi responsável por uma melhoria técnica nas produções. Hoje, por exemplo, os filmes têm uma qualidade sonora muito superior à que tínhamos na década de 70. Porém, é necessário criar novas medidas que facilitem a exibição das produções nacionais. As grandes cadeias do cinema brasileiro são dominadas pelo cinema norteamericano. Isso não é só de agora, esses problemas sempre existiram (ibidem). Hoje diversos filmes contam com seu sucesso de bilheteria devido à vasta publicidade em diversas mídias. 27 Ilustração do capítulo: A Breve Filmografia dos Gêneros de Suspense e Terror 28 29 30 31 32 33 34 35 36