Filmes de Suspense/Terror: Uma análise do gênero

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Filmes de Suspense/Terror: Uma análise do gênero
1
FILMES DE SUSPENSE/TERROR:
UMA ANÁLISE DO GÊNERO COM ÊNFASE NO CINEMA NACIONAL 1
Udiele Ramos Ferreira
RESUMO
Este artigo, por meio de levantamento de dados em fontes bibliográficas, faz uma reflexão
visando uma melhor compreensão da estética do gênero cinematográfico suspense/horror,
dando ênfase na sua utilização no Brasil, onde surgiu décadas após a sua origem em outros
países.
PALAVRAS-CHAVES: Cinema, Cinema Nacional, Filmes de Suspense, Filmes de Terror.
INTRODUÇÃO
No Brasil pouco é falado sobre as produções de filmes no gênero
Suspense/Terror. O presente trabalho traz uma análise do gênero com ênfase no
cinema nacional.
A
pesquisa
mostra
a
breve
história
do
gênero
cinematográfico
Suspense/Terror, suas mudanças e aspectos técnicos; passa pelo surgimento dos
filmes do gênero no cinema nacional e propõe uma reflexão dos fatores que fazem
as produções nacionais escassas.
Este trabalho visa contribuir para análise e discussão da utilização do gênero,
especialmente no Brasil, onde há pouca produção e pesquisa destinada ao assunto.
Mesmo com escassas fontes formais, a revisão bibliográfica pôde ser
realizada, baseada em livros, sites e artigos de autores que também têm como
objeto de estudo os filmes do gênero Suspense/Terror.
O Cinema de Gêneros
1
Trabalho apresentado ao curso de Comunicação Social – habilitação em Publicidade e Propaganda da
Faculdade Pitágoras de Londrina-PR, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Publicidade e
Propaganda, sob orientação da Profa. Ms. Luciana de Oliveira, defendido em dez/2008.
2
Nas décadas de 1920 e 1930, quando a indústria cinematográfica começou a
se consolidar no mercado, os estúdios sentiram a necessidade de produzir filmes a
partir de um gênero específico, cada produção tinha seus próprios códigos de
construção dramática, o que permitia ao roteirista e ao diretor aprender a manipulálos e garantir grandes sucessos de bilheteria (LEITE, 2005).
À medida que a indústria cinematográfica passou a se consolidar, cada
estúdio se especializou em um determinado gênero: drama, musical,
comédia, etc. Dessa forma, as diversas fatias do mercado começaram a ser
divididas pelos grandes estúdios. (ibidem, 2005, p.9).
O poder de manipular as imagens e posteriormente o advento do som formou
as principais características do surgimento do cinema de gêneros.
Com o advento do cinema falado, os produtores decidem fazer do som o
personagem principal do cinema. Musicais aparecem em massa e
inauguram a época de ouro do cinema americano. Mas Hollywood não vive
só de músicas. A ingenuidade das comédias românticas e as disputas de
faroestes também preenchem as telas nessa década. (TAVARES, 2005)
Com o advento do som e as grandes estrelas do cinema, a produção dos
filmes ficou mais fácil e as mensagens levadas ao receptor passaram a ser captadas
também com maior facilidade, o que acabou proporcionando uma difusão dos filmes
entre o público.
Os meios tradicionais da comunicação audiovisual (rádio, cinema, televisão)
e seus novos suportes informáticos (multimídia, internet) baseiam boa parte
do seu impacto comunicativo na força expressiva do som e suas
mensagens audiovisuais. O som ainda é um manancial inesgotável de
significados [...] Não há dúvidas de que todo o cineasta fala de seus
próprios fantasmas em seus filmes, mas nem todos esses fantasmas são
vistos na sala de projeção; cada espectador descobre um ou outros na
escuridão do cinema, mas há sempre alguns deles que são vistos por todo o
público, por todos os públicos de todas as salas. (RODRIGUEZ, 2006, p.21)
Além do público alvo, com o gênero cinematográfico, melhor ficaram a
narração dos fatos:
Um gênero geralmente inclui expectativas especificas quanto à narrativa –
cenários recorrentes, seqüências convencionais de ação (o tiroteio, a
perseguição com o carro) -, de modo que a tarefa de resolver os conflitos do
filme possa ser submetida ao gênero. (TUNNER,1997, p. 88).
A narrativa no gênero suspense/terror possui características próprias, e
através delas se pôde prender a atenção do espectador, oferecendo muitas
3
soluções possíveis para a trama, como “despistar” o espectador até o momento
apropriado para a revelação da identidade do assassino (ibidem, 1997).
O gênero é um dos fatores que determinam a escolha do público por um
filme, não só em termos de ter ou não competência para apreciá-lo, mas em termos
do tipo de filme que o telespectador deseja ver. Assim, os gêneros podem sofrer
alterações, pois no mercado cinematográfico há duas diretrizes importantes na
execução do filme: a aprovação do público ao filme e o lucro que o filme irá gerar
(ibidem, 1997).
A relação entre a indústria cinematográfica e seu público é suficientemente
complexa para que seja impossível determinar com precisão como as
mudanças na preferência do público engendram mudanças nas decisões de
produção. – ou inverso (Ibidem, 1997, p. 98).
O cinema de gêneros possui diversas ferramentas para prender a atenção do
público, mas despertar a emoção é uma das principais características:
As emoções fundem em nossas mentes com a consciência da emoção
manifestada; é como se estivéssemos vendo e observando diretamente a
própria emoção. Além disso, as idéias despertam em nós as reações
adequadas. O horror que vemos nos dá realmente arrepios, a felicidade que
presenciamos nos acalma, a dor que observamos nos provoca contrações
musculares; todas as sensações resultantes – dos músculos, das
articulações, dos tendões, da pele, das vísceras, da circulação sanguínea e
da respiração – dão o sabor de experiência viva ao reflexo emocional da
nossa mente. (XAVIER; MUNSTERBERG, 2003, p. 51).
Essas emoções são levadas ao público de acordo com o gênero produzido, o
cinema possui uma diversidade de técnicas para alcançar e proporcionar essas
emoções em um grupo específico ou em uma grande massa de espectadores.
O Gênero Suspense e Terror
Os filmes de suspense/terror deixam o espectador em estado de ansiedade e
com diversas expectativas, o que aumenta a vontade de conferir a próxima cena.
O suspense apela para a cumplicidade ou a apreensão da platéia. É saber o
que há atrás da porta (e por isso não ser surpreendido) enquanto o
protagonista, inocente, caminha em direção a ela. O suspense é trabalhar
4
os nervos, enquanto o terror, além de expor o susto e o medo, apela mais
para o visual. (ROCKENBACH, 2008).
O suspense é causado quando predomina a apreensão, o que no cinema
provoca a tensão, já que o espectador sabe o que vai acontecer e o personagem
não. O Terror surpreende tanto o personagem quanto o espectador, ficando ambos
assombrados e completamente apreensivos até o final da cena.
O gênero suspense/terror provoca um encantamento no público que está
ligado a questões culturais - como pesadelos ou o medo da morte, e biológicas - há
a liberação de adrenalina2 que provoca fortes sensações no espectador. Quanto
maior o nível de adrenalina que a cena de suspense/terror provocar no espectador,
mais medo e euforia ele irá sentir, o que aumenta o julgamento sobre o filme e sua
repercussão (MENDES, 2001).
Nos filmes de suspense/terror os elementos como a voz, expressão facial, a
música, montagem, iluminação e ambiente têm muita importância, pois, através
desse conjunto e com uma boa narrativa é possível chegar ao clímax desejado pelo
realizador. O espaço onde são narradas as cenas do filme deve ter uma atenção
especial para o gênero.
O gênero, como as demais narrativas ficcionais, apresenta uma seqüência
narrativa de ações imaginárias como se fossem reais, envolvendo
personagens em um determinado tempo e em um determinado espaço.
Entretanto, é preciso ressaltar que a construção das descrições espaciais,
nesse caso, tem um papel crucial para a sugestão do clima de mistério e
suspense. (CASTILHOS, 2008).
O espaço e a narrativa são importantes, porém não adianta possuir o espaço
e não possuir uma boa fotografia, o poder de apreensão muitas vezes vai depender
também de uma fotografia bem realizada.
A fotografia desses filmes ajuda a fazer o espectador participar do clima
sombrio e claustrofóbico, além de construir as grandes cidades, frias,
corruptas e decadentes. Ela também constrói visualmente os arquétipos e
dá vida aos personagens sempre presentes nessas narrativas. (NOVAIS,
2008).
2
A produção de adrenalina é feita por glândulas que ficam acima dos rins chamadas de supra-renais,
toda vez que somos expostos a uma grande demanda de estresse físico (exercícios árduos) ou
psíquico (medo) a adrenalina será liberada para preparar o organismo para “lutar ou fugir”. Quando
enfrentamos desafios, uma pequena variação da adrenalina chamada noradrenalina é produzida a fim
de regular nosso tônus muscular para a ação e promover nosso comportamento de impetuosidade.
Isso acontece quando estamos preparados para enfrentar a situação ameaçadora ou desafio.
(www2.uol.com.br/vyaestelar/esportes_radicais.htm).
5
Muitas fotografias cinematográficas do gênero suspense/terror são baseadas
na época do expressionismo alemão, como por exemplo, o filme “O gabinete do Dr.
Galigari”, que possui uma estética fotográfica que até hoje é utilizada nos filmes do
gênero para criar um clima de ameaça e pavor (ibidem, 2008).
A fotografia automaticamente deve possuir uma boa iluminação, assim as
cenas em frente às lentes ficam mais próximas de uma possível realidade.
Iluminação é o elemento mais importante na cinematografia. É a tarefa à
qual o fotógrafo dedica sua atenção primária. Ele estuda as características
dos negativos de forma que ele possa predizer que efeito a iluminação vai
ter ao traduzir a sua cena para a tela. Somente então ele manipula as luzes
de acordo. Os filtros são elementos que ajudam nessa tradução. Mas é a
iluminação que dá forma à realidade em frente às lentes, lhe dando
profundidade ou superficialidade, excitação ou placidez, realidade ou
artificialidade. A cinematografia tenta criar e sustentar um clima capturado
na tela. Nesse sentido, a iluminação está no cerne da cinematografia.
(MALKIEWICZ, 1992, p. 79).
Desde a realização do roteiro até a sua montagem há diversos aspectos
técnicos que são importantes para o cinema de gêneros e especialmente no gênero
do suspense/terror é necessário mais do que apenas uma câmera e um espaço, sua
produção, em grande maioria, exige recursos técnicos para um bom resultado.
A Inspiração dos Contos Fantásticos
Uma das maiores inspirações para o gênero cinematográfico suspense/terror
é o conto fantástico. O conto fantástico está no limiar entre a realidade e a fantasia,
desde o século XVIII os ingleses já tinham explorado através do romance gótico o
sobrenatural, os fatos macabros e as apavorantes imagens fantasmagóricas.
A relação entre a realidade do mundo que habitamos e conhecemos por
meio da percepção e a realidade do mundo do pensamento que mora em
nós e nos comanda. O problema da realidade daquilo que se vê – coisas
extraordinárias que talvez sejam alucinações projetadas por nossa mente;
coisas habituais que talvez ocultem sob a aparência mais banal uma
segunda natureza inquietante, misteriosa, aterradora – é a essência da
literatura fantástica. (CALVINO, 2004, p. 4).
Além do romantismo os contos também são filosóficos, como o idealismo
alemão, que tinha intenção declarada de representar a realidade do mundo interior e
subjetivo da mente, da imaginação, conferindo a ela uma dignidade equivalente ou
maior do que a do mundo da objetividade e dos sentidos. Na Alemanha, Hoffmann
6
foi um dos romancistas que trouxe essas percepções. Suas obras exploram o
mundo exterior e interior do ser humano em um grande universo sobrenatural. Em
sua obra “O Homem de Areia”, o personagem de uma pacata vila da burguesia se
depara com aparições diabólicas e assustadoras (ibidem, 2004).
O precursor Hoffmann serviu de grande influência para outros romancistas,
como o russo Gogol - com histórias de bruxarias, o francês Nodier – que apresenta
em suas obras as visões noturnas e grotescas3, e os ingleses Charles Dickens - com
o macabro e o grotesco, e os contos de Mary Shelley - que escreveu o clássico
Frankenstein, e Hebert George Wells - que trás a ficção cientifica com mistérios e
terror ao seus contos, que serviram de inspiração para os filmes “A Ilha do Dr.
Moreau”,
“O Homem Invisível” e “Guerra dos Mundos”. Os contos fantásticos
contam também com uma boa contribuição do romancista irlandês Le Fanu - todas
suas obras foram fantasmagóricas e completas de horrores (ibidem, 2004).
Os contos fantásticos têm como base o confronto entre a realidade e o mundo
interior do ser humano, como sonhos e pensamentos, ou sensações que são
geradas através do contato com o mundo externo, como os vultos e a presença do
sobrenatural, formatando um mundo fantástico, cujas histórias e características
narrativas, são fontes de inspiração para os filmes de suspense/terror.
A Inspiração das Histórias em Quadrinhos e Games
Muitas produções cinematográficas são baseadas também em quadrinhos de
sucesso, como “Sin City” e “Os 300 de Esparta” de Frank Miller, e o “O Quarteto
Fantástico” de Stan Lee e Jack Kirby.
No Brasil, como cita Naranjo (2008) há HQ4 de Suspense e Terror como as
edições de SPEKTRO, assinadas pelo cartunista Juka Galvão e sucessos das
décadas de 1970 e 1980, com destaque para “Hotel Nicano”, um hotel escondido no
interior que recebia estranhos hóspedes, todos os monstros eram canibais e
assassinos; “Chegaram os Tempos”, conto de uma garrota que recebe um demônio
e fica grávida do mesmo; “Trio Diabólico”, que foi de grande sucesso de vendas com
o aparecimento dos personagens Sinhá Preta, o Filho de Satã e o Homem do Patuá.
Apesar do sucesso, nenhuma das histórias ganhou a tela do cinema brasileiro.
3
4
Cômico caricatural, de tipo bizarro, burlesco ou fantástico, por vezes absurdo ou irreal.
HQ – Abrev.: Histórias em Quadrinhos.
7
O cineasta José Mojica Marins produziu histórias em quadrinhos, como o
“Prontuário 666” e para as crianças “O livro horripilante de Zé do Caixão”.
Os games também estão ganhando muito espaço no mundo cinematográfico,
no gênero suspense/terror já foram realizados filmes baseados em games de
sucesso, como “Silent Hill”, “Resident Evil” e “Stay Alive”.
Os games brasileiros ainda estão em fase de desenvolvimento. Os jogos
Outlive5 e FutSim6 não tiveram bons níveis de aceitação no mercado nacional, tendo
maior repercussão no cenário internacional. Dos poucos jogos nacionais existentes,
nenhum se tornou roteiro para cinema.
A Inspiração das Lendas e Mitos
Há séculos o homem vem criando arquétipos sobre a sua existência e seu
cotidiano, essa experiência ao longo da sua vida - junto com a convivência de outras
pessoas, é capaz de alcançar profundamente o inconsciente, dando possibilidades
de criar lendas e mitos.
Na maioria das mitologias há um símbolo, uma imagem arquetípica que dá
o rumo à mitologia, que por sua vez molda a vida das pessoas. A mente
inconsciente fala através de imagens arquetípicas e simbólicas, e de
padrões de pensamento humano que são a base da mitologia.
(RANDAZZO, 2007, p101).
O imaginário das pessoas já há muito tempo constrói lendas e mitos, como é
o caso dos mamíferos voadores, o morcego. Desde o século XVI há relatos de
ataque de morcegos a seres humanos que ocorreram na Europa.
A ligação só surgiu em 1765 quando o naturalista francês Louis Lecrerc de
Buffon publicou um volume de Histoire Naturelle. Ele soube de um morcego
no Novo Mundo que bebia sangue. Na obra literária de mais de mil páginas
“O Livro dos Vampiros – A enciclopédia dos Mortos-Vivos”, o autor J.
Gordon Melton conta que Lecrerc de Buffon escolheu especificamente o
nome ‘vampiro’ porque a habilidade desses mamíferos notívagos em chupar
o sangue de pessoas e animais dormentes sem acordá-los lembrava as
lendas sobre os vampiros da época. [...] O lançamento de Drácula, em
1897, concretizou definitivamente essa ligação entre o animal e o
sobrenatural, que permanece até os dias atuais (VIEIRA, 2006).
5
Outlive é um jogo brasileiro produzido pela Continuum Entertainment. O jogo é de estratégia em
tempo real, onde o jogador deve comandar tropas militares de humanos geneticamente modificados
ou tropas robóticas a fim de explorar os recursos naturais do cenário e eliminar as tropas inimigas
(www.continuum.com.br).
6
FutSim da empresa Jynx, simula o gerenciamento de clubes de futebol, com inteligência artificial,
aproximando muito os usuários do que acontece de fato no dia-a-dia dos que trabalham com esse
esporte (www.jynx.com.br/).
8
O vampiro é apenas uma de várias outras lendas, como é o caso do zumbi,
também chamado de morto-vivo. Segundo a lenda, zumbis são seres que morreram,
mas por ação de um sacerdote “vodu”, regressaram à vida e se converteram em
escravos do sacerdote. Também há as múmias, que estão entre os monstros
tradicionais utilizados para o cinema de suspense/terror. Geralmente nas tramas
elas ressuscitam em busca de vingança. A lenda diz que suas tumbas possuem
maldições terríveis. Outros monstrengos do cinema também surgem baseados em
lendas e mitos de diversos países, como experiências de laboratórios ou baseado
em casos reais como os psicopatas.
No Brasil há lendas bem diversas, como a do Boto - que é um rapaz bonito,
charmoso e envolvente que encanta as moças nos bailes, leva-as para a beira de
um rio e as engravida. Antes da madrugada, mergulha nas águas e transforma-se
em boto; a da Pisadeira - uma velha de chinelos que surge no meio da noite e pisa
sobre a barriga das pessoas, provocando falta de ar. Personificação do pesadelo,
geralmente "ataca" quando as pessoas comem demais e vão dormir com o
estômago cheio; a Mula-sem-cabeça - mulher que teve um romance com um padre
e, por isso, se transforma na noite de quinta para sexta-feira da Paixão num animal
que galopa soltando fogo pelas narinas; o Curupira, lenda que já rendeu um curta
nacional - anão cabeludo e de pés virados para trás, protetor das matas. É
considerado o responsável pelo desaparecimento de caçadores, índios e de todos
aqueles que causam danos aos animais e à vegetação.
Há também as chamadas lendas urbanas7, como a da “Loira do Banheiro” personagem que assombra os adolescentes em muitas escolas pelo país e que já
gerou diversos curta-metragem feitos pelos próprios alunos.
Cem Anos de Suspense e Terror
O responsável pela presença do sobrenatural nas salas dos cinemas é o
estúdio Universal Pictures. Fundado por Carl Lemmle em 1912, foi o pioneiro em
produzir filmes do gênero Suspense e Terror e o primeiro grande estúdio norte7
Lendas Urbanas são histórias que se originaram em histórias reais, ou então são apenas contos
inventados por mentes criativas e que se espalharam por seu próprio mérito do potencial de
inventividade. Eles tocam em pontos polêmicos ou sensacionalistas, ou ainda que apresentem algum
perigo ao qual todos estariam sujeitos, porém não conscientes, tendo a lenda urbana então um
caráter preventivo onde pode-se identificar a “moral da estória” / “moral da história” conforme o caso.
(www.lendasurbanas.com.br/)
9
americano. Na década de 1930, apesar da recessão econômica norte-americana,
os estúdios não foram atingidos pela crise.
A crise econômica de 1929 praticamente atingiu drasticamente todas as
indústrias norte-americanas, fazendo com que a produção fosse diminuída,
assim como os empregos, abrindo o que viria ser conhecido como a
depressão econômica dos anos 30. Mas nem todas as indústrias seriam
totalmente (muito) atingidas pela depressão, como foi o caso da indústria
cinematográfica de Hollywood. Num momento de crise, nada melhor do que
produtos culturais que ajudem as pessoas a esquecerem seus problemas:
homens viris, mulheres lindas, paisagens exóticas e histórias de amor e
aventura fizeram a cabeça de milhões de pessoas desempregadas e
desesperadas pela crise. (BIAGE, 2008).
O Universal Pictures investiu em personagens míticos, como múmias,
vampiros, cadáveres, conquistando lucros e fãs. Com o surgimento da TV, a
indústria cinematográfica sentiu grande impacto:
Quando a TV surgiu no cenário audiovisual, nos anos 50, o cinema sofreu
um forte processo de desestabilização. A TV não acabou com o cinema –
assim como a fotografia não acabou com a pintura e o cinema não acabou
com a fotografia – mas, a partir do surgimento de seus “sucessores”, cada
um desses meios precisou se readaptar a uma nova configuração, a um
novo território de ação (BUTCHER, 2008).
Nos anos de 1950 os filmes do gênero suspense/terror tinham uma
produção pouco onerosa, pois exploravam apenas o meio pecuniário da cor,
utilizava-se nas produções muito erotismo, mas as sensações visuais atribuídas ao
matiz, à luminosidade e a saturação não foram suficientes para fascinar o
espectador, pois essas produções começaram a enfrentar perdas no faturamento
devido à analogia das idéias anteriores.
Foi necessária uma adaptação com o surgimento da TV. Nessa mudança
surgiram produções do gênero suspense/terror para a Televisão de grande sucesso,
como “Alfred Hitchcock Apresenta8” e diversos filmes clássicos do gênero
começaram a ser exibidos na TV, gerando assim um numero maior de fãs para
apreciar as produções de suspense/terror no cinema.
8
Hitchcock foi o protagonista, entre 1955 e 1965, de uma série de TV que levava seu nome, Alfred
Hitchcock Apresenta (Alfred Hitchcock Presents), em que o mestre do suspense apresentava
pequenas histórias de mistério. A série foi produzida pela Universal e chegou a ser exibida inclusive
no Brasil, tendo recebido muitas indicações ao Emmy, o Oscar da TV, além de ter arrebatado o Globo
de Ouro de 1958, como o Melhor TV Show (ESCARRÈ, 1991).
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Nesse momento, a nostálgica produtora inglesa de filmes fantásticos
"Hammer", que entrou em atividade após a Segunda Guerra Mundial
comandada por Michael Carreras e Anthony Hinds, surgiu com a idéia de
revitalizar o gênero trazendo novamente às telas do cinema os famosos
monstros sagrados "Drácula", "Criatura de Frankenstein", "Múmia",
"Fantasma da Ópera", "Lobisomem", entre outros, os quais haviam sido
largamente filmados em preto e branco nas décadas anteriores pelo
saudoso estúdio americano "Universal". (ROSATTI, 2008).
A produtora Hammer estabeleceu parceria com os estúdios Universal e
realizou diversas refilmagens de clássicos do gênero. No início dos anos de 1970,
em conseqüência da audiência da TV, a produtora sentiu grande impacto comercial,
não conseguindo obter lucros com a realização de filmes, então a companhia
dissuadiu ao malogro devido à distribuição de seus clássicos tradicionais para a TV.
Outro motivo para o declínio da produtora foi o surgimento de outras propostas,
como o da produtora Amcus9 que mostrava a violência explícita nos filmes de terror,
fórmula de grande sucesso.
Com o despontar do terror explícito, o cinema italiano também teve seu auge
na década de 1970 a 1980, como a produção do filme Holocausto Canibal do diretor
italiano Ruggero Deodato. Houve muita polêmica sobre as cenas do filme que,
resultou na proibição de exibição em diversos paises, inclusive no Brasil.
O filme é tão forte e seus efeitos tão realistas que, na época do seu
lançamento, ele foi retirado de cartaz e o diretor Deodato teve que se
explicar às autoridades. Eles acreditavam que "Cannibal Holocaust" era um
snuff movie, ou seja, um filme onde os atores são mortos de verdade em
frente às câmeras. As cenas de assassinato são tão reais, principalmente a
impressionante seqüência de empalamento, que qualquer pessoa
facilmente impressionável acredita que as pessoas estão morrendo de
verdade. [...] Deodato foi acusado de drogar e assassinar os atores em
frente às câmeras, tendo que provar que o elenco estava vivo e bem.
(GUERRA, 2008).
A indústria cinematográfica italiana em sua fase áurea produziu filmes de
sucesso como A Máscara do Demônio (1960) de Mario Brava, A Noite dos MortosVivos (1979) de George Romero, Suspiria (1977) e Inferno (1980) de Dario Agento,
mas a indústria americana já consolidada e com o maior nível de publicidade,
conquistou o público e o mercado empresarial para a produção de seus filmes.
Os filmes de terror Italianos estão entre os mais Gore10 que existem, porém o
9
Amicus foi uma produtora cinematográfica britânica fundada em 1968 pelos americanos Milton
Subotsky e Max J. Rosenberg.
10
O cinema Gore é um subgênero de culto bem sucedido do Terror. São cenas macabras de
mutilações sangrentas.
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cinema oriental também possui alguns produtos, oferecendo muitas idéias para que
os norte-americanos realizem refilmagens das obras. O cinema japonês mostra
cenas aterrorizantes para o público, filmes com alta semelhança aos snuff movies - o
filme Men Behind the Sun (1988) com direção de Tun Fei Mou, popularmente
conhecido como “Campo 731: Bactérias” é um snuff movie, pois em uma das cenas
há dissecação de um cadáver real.
No século XX foram realizados diversos filmes de suspense para
adolescentes, como a seqüência do filme “Pânico”11. Com essa fórmula já esgotada,
surgiram outras produtoras como a “Dark Castle”,12 com o objetivo de devolver para
o público fã do gênero o prazer perdido.
Hoje o cinema conta com diversas
produtoras especializadas em um determinado segmento para a realização de
filmes. Com os filmes produzidos, alguns estúdios como Universal Pictures
controlam sua distribuição e retorno dos investimentos. O gênero suspense/terror
norte americano vive atualmente uma época de inúmeras refilmagens, não de suas
próprias produções e sim das orientais. Os estúdios de Hollywood realizam suas
versões com atores famosos e conseguem muita repercussão através da
publicidade, como por exemplo, a refilmagem do filme “O Grito” que custou U$10
milhões conseguiu arrecadar U$180 milhões (Oliveira, 2008).
O Suspense e o Terror no Cinema Nacional
Os primeiros filmes de suspense/terror nacionais surgiram na década de
1960.
Pela primeira vez, de maneira deliberada e sustentada, surge o gênero de
terror com José Mojica Marins [...] Filmes efetuados numa linguagem
convencional, mas, cujos décor, clima, trama, interpretação, vestuário e
caracterização do protagonista infundem efetivo terror e certo mal-estar,
para não dizer repugnância, objetivos do cineasta, não facilmente
encontráveis em outros espécimes da categoria. (BILHARINHO, 1997, p.
104).
Os filmes de José Mojica têm uma estética peculiar, como cenas de
necrofilia13, cobras e aranhas andando por corpos de mulheres, moças comendo
minhocas, baratas ou de homem arrancando dente a sangue frio.
11
A seqüência dos filmes Pânico foi realizada na época onde os filmes de Suspense e Terror não
estavam conseguindo mais conquistar o público. Com um roteiro simples e de fácil compreensão foi
bem aceito pelos espectadores porem, para os críticos não havia qualidade na obra. Apenas sustos
previsíveis (www.bocadoinferno.com/romepeige/artigos/trilogiapanico.html)
12
Dark Castle é um estúdio norte-americano que se especializou em produções de terror fundada em
1999.
12
Muito dos seus filmes foram realizados na base da improvisação, com atores
iniciantes e com diversas dificuldades para conclusão da obra, no começo da sua
carreira pessoas compareciam no seu estúdio para zombar das produções, outras
achavam que suas idéias eram de uma pessoa lunática, o jornalista Rubens
Lucchetti tinha a mesma impressão quando foi assistir o filme A Meia Noite Levarei
sua Alma (1963).
Fui ver o filme, inicialmente achei que estava vendo uma pessoa debi mental,
isso é um maluco qualquer que resolveu fazer no fundo de quintal uma fita
(...) Você vê que não era um filme comum, que não era um debi mental, que
eu estava adiante de uma pessoa estranha, alguma coisa totalmente
diferente do que tinha visto em cinema Americano ou Europeu. (LUCHETTI,
2000).
Ainda na década de 1960 e com dificuldades para a realização de outros
filmes cinematográficos, foram produzidas obras do gênero com formato para a TV.
Os primeiros foram “O Acordo” por Ozualdo Candeias, “A procissão dos Mortos” de
Luis Ségio Person e “Pesadelo Macabro” por José Mojica. Essas obras ficaram
conhecidas como a “Trilogia do Terror”.
Com aceitação do público, Mojica continuou produzindo filmes do gênero com
formato para a TV, como o “Estranho Mundo do Zé do Caixão”. Na época, houve
perseguição da censura, que enviava documentos oficiais do Departamento Federal
de Segurança Pública solicitando cortes de diversas cenas, pois eram consideradas
imorais. O fato se repetiu em muitos episódios para TV, e também para a maior
parte das obras de Mojica (Leyhart, 2000).
Zé do Caixão - como Mojica ficou conhecido, graças ao seu personagem
homônimo mais famoso – é um dos cineastas mais lembrados pela realização de
filmes do gênero, com total de 35 obras para o cinema e 56 para a TV14. Apesar
disso, enfrentou muita dificuldade em sua trajetória no cinema nacional.
Em 1990 vou para os Estados Unidos e minhas fitas caíram em mão de
pessoas inteligentes, que valorizavam meu trabalho, eu me senti realmente
gente, aquilo que sentia aqui, uma espécie de verme, um elemento
desprezado, perseguido, sem amparo nenhum, nos Estados Unidos aquele
respeito, as maneiras que as pessoas definiam minhas fitas, aquilo sim
trouxe uma dosagem de animo, quando eu saio do país eu me sinto um
homem realmente realizado. (MARINS, 2000).
13
Necrofilia é a excitação sexual decorrente da visão ou do contato com um cadáver. O fenômeno da
necrofilia é conhecido desde os mais remotos tempos da história humana.
14
http://www2.uol.com.br/zedocaixao/index.htm
13
Mesmo com ânimo, fazer cinema no Brasil exigiu muita força de vontade.
Mojica conseguiu após 40 anos, patrocínio para a finalização de sua trilogia, com o
filme “Encarnação do Demônio” (2008), a produção mais cara do gênero em nível
nacional. O produtor do filme, Paulo Sacramento, questionava-se por quais motivos
cineastas como Mojica, não continuaram a fazer filmes.
Não entendia como o Mojica não estava filmando. Só depois que estudei
cinema na USP e entendi o funcionamento de leis de incentivo, descobri o
motivo por que nem Mojica, nem Candeias (Ozualdo, diretor falecido em
2007) filmavam mais: foi criada uma geração de fazedores de projeto, e não
de fazedores de filmes. (SACRAMENTO, 2008).
Mesmo com as leis de incentivo audiovisuais, o projeto de “Encarnação do
Demônio” teve várias dificuldades e quase não foi realizado.
Tirar Encarnação do papel, porém, havia se tornado quixotesco pessoal do
cineasta. Da concepção original do filme até a sua produção, vários
começos falsos repetidamente abortados davam a impressão de que o
projeto estava, na falta de uma palavra melhor, amaldiçoado. (SADOVSKI,
2008, p. 29).
Finalmente quando os produtores tiraram o projeto do papel, superando os
limites financeiros, conseguiram produzir o filme com todas as características do
patamar estético do gênero. Após sua realização, o filme venceu em sete categorias
no Festival de Paulínia15: melhor filme de ficção, fotografia, montagem, edição de
som, direção de arte, trilha sonora e melhor longa, também foi vencedor no Festival
de Cinema de Sitges, na Espanha. A mostra, que acontece há 40 anos, é dedicada
aos filmes de terror e uma das mais prestigiadas do gênero16.
A retomada do gênero suspense/terror no Brasil ficou mais expressiva
com o filme Encarnação do Demônio (2008).
O diretor Roberto Santos me disse que via as pessoas saindo da Boca,
deixando o cinema marginal, mas que era para eu continuar firme, que um
dia ia encontrar gente que ia me compreender, que diria para fazer meu
cinema e que estaria comigo. Ele só não disse que ia demorar um pouco.
Uma semana depois, ele morreu. (MARINS, 2008, p. 33)
15
Festival de Cinema realizado na cidade de Paulínia/SP
http://g1.globo.com/noticias/cinema/0,,mull797370-7086,00-ze+do+caixao+vence+festival
+de+filmes+de+terror+na+espanha.html
16
14
Hoje, Mojica também produz e comanda no Canal Brasil17 o programa “O
Estranho Mundo de Zé do Caixão”, com entrevistas realizadas com artistas de uma
maneira descontraída.
Os filmes do gênero de suspense/terror nacionais são exibidos em sua
maioria em festivais e cinemas para um público diferenciado. No caso dos curtasmetragens, destacam-se obras como o curta “Amor só de Mãe” de Dennison
Ramalho, que conquistou 9 prêmios18 e “Curupira” de Fábio Mendonça e Guilherme
Ramalho que conquistou 5 prêmios19. (CURTAS, 2008).
Alem dos curtas-metragens, os diretores César Coffin Souza e Peter Baiestorf
de maneira sustentada, realizam desde 1992 produções do subgênero do terror, o
Gore. Já são mais de 107 filmes realizados.20 A produtora possui um foco para um
público específico.
Uma produtora independente do Brasil! Em atividade desde 1992, a Canibal
Filmes é pioneira de uma atitude/forma de se fazer "sinema" no Brasil!
Alucinados,
debochados,
escatológicos,
transgressores,
surreais,
experimentais e anárquicos, seus filmes são construídos de maneira
totalmente independente, undergrounds do roteiro à distribuição e fora de
todas as amarras do padrão convencional. (ACHIAMÉ, 2008).
Há diversas produções do gênero suspense/terror nacionais, porém, as obras
não são encontradas tão facilmente, e a distribuição é escassa devido o baixo
orçamento. A produção nacional, em grande maioria, sofre pelas mesmas
dificuldades, as leis de incentivo e muitas vezes a própria descrença do público
brasileiro. (DRIGO, 2008).
Mesmo com as dificuldades e descrença, o cinema brasileiro está a cada dia
mais fortalecido e diversificado. Mojica e sua obra é um exemplo dessa realidade.
17
O “Canal Brasil” é um canal brasileiro de TV a cabo, disponível pela NET e SKY. Traz, em sua
grade de programação, filmes, documentários e curta-metragens brasileiros. Ainda passa making of
de filmes e programas de entrevistas.
18
Prêmios: Favoritos do Público no Cine Esquema Novo - Festival de Cinema de Porto Alegre 2004,
Melhor Diretor no Cine Esquema Novo - Festival de Cinema de Porto Alegre 2004, Melhor Filme - Júri
Popular no Fantasia Film Festival 2003, Melhor Montagem no Festival de Gramado 2003, Melhor
Música no Festival de Gramado 2003, Melhor Fotografia no Festival TIM de Belo Horizonte 2003,
Melhor Fotografia em Curta-metragem no Prêmio ABC, Menção Honrosa para Atriz no Vitória Cine
Vídeo 2003, Favoritos do Público no Festival de Curtas de São Paulo 2003.
19
Prêmios: Melhor Curta - Jurí Oficial no Festival do Rio 2005, Melhor Direção de Arte no Mostra
Londrina de Cinema 2005, Melhor Fotografia no Mostra Londrina de Cinema 2005, Melhor Curta
Infantil no Vitória Cine Vídeo 2005, Melhor Fotografia no Festival de Atibaia Internacional do
Audiovisual 2006
20
http://canibalfilmes.bulhorgia.com.br/index1.htm
15
ANÁLISE
O gênero Suspense/Terror teve inicio praticamente junto com o próprio
cinema, pouco mais de cem anos atrás, exceto em território nacional. No cinema
brasileiro, sempre houve muitas falhas e poucas leis de incentivo para a produção
dos filmes nacionais.
Não seria diferente para o gênero suspense/terror. Iniciado por José Mojica
Marins, que passou por diversas dificuldades e muitas obras inacabadas, o
suspense/terror tupiniquim começou a ser produzido na época em que o cinema
brasileiro estava passando por diversas mudanças, como a transição do Cinema
Novo (onde os filmes tinham que ser realizados, doa o que doer) e o Cinema
Marginal (onde muitas obras foram realizadas sem preocupações estéticas ou sem
preocupações de aprovação dos críticos). Havia ainda as perseguições da censura
que fazia diversos cortes - e esses cortes continham, em muitos casos, os
elementos construtivos do gênero suspense/terror.
Mesmo com essas dificuldades, Mojica foi um dos poucos cineastas no país
que persistiu e conseguiu realizar obras de suspense/terror e que continua até hoje
na ativa. No cinema nacional muitos passam por dificuldades para conseguir tirar
seus projetos do papel, mesmo que seja de maneira subsidiada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da análise sobre os filmes de suspense/terror nacional, foi possível
verificar que, apesar de haver diversas produções do gênero no cinema nacional,
ainda há um baixo orçamento, o que ocasiona na maior parte dos casos, uma
estética descuidada, uma distribuição insuficiente e uma ausência de divulgação.
O gênero, assim como o próprio cinema nacional, é historicamente recente.
Atualmente há um grande esforço aplicado com o objetivo de conquistar o público
brasileiro. Produtores, como os do filme “Encarnação do Demônio” (2008) se
preocupam com a qualidade que o gênero suspense/terror deve ter, tendo uma
acuidade com os aspectos técnicos a fim de se obter um resultado estético
significante.
16
O público brasileiro aprecia o gênero, ele só precisa ter produtos interessantes
tanto na forma quanto no conteúdo. Estamos entrando em uma nova realidade
cinematográfica nacional, onde os estímulos são bi-laterais.
REFERÊNCIAS
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Triangulino de Cultura, 1997.
CALVINO, Ítalo. Contos Fantásticos do século XIX, o fantástico visionário e o
fantástico cotidiano, organização de ítalo Calvino. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004.
GOMES, Paulo Emílio Salles. Cinema, Trajetória no Subdesenvolvimento. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1980.
LEITE, Sidney Ferreira. Cinema Brasileiro, das origens á retomada. São Paulo:
Fundação Perseu Abramo, 2005.
MALKIEWICZ, Kris J. Cinematography: a guide for film makers and film teachers.
Nova Iorque: Simon & Schuster, 1992.
RANDAZZO, Sal. A Criação dos Mitos na Publicidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
RODRÍGUEZ, Angel. A Dimensão Sonora: da Linguagem Audiovisual. São Paulo:
Senac São Paulo, 2006.
TURNER, Graeme. Cinema como prática social. São Paulo: Summus,1997.
VIANY, Alex. Introdução ao Cinema Brasileiro. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987.
XAVIER Ismail, MUNSTERBERG Hugo. A experiência do Cinema. Rio de Janiero:
Graal, 2003.
Periódicos
BUTCHER, Pedro. Revista Cinética. São Paulo: Cinética, 2008.
SACRAMENTO, Paulo. Revista Set. São Paulo, 2008.
TAVARES, Ingrid. A história do cinema. Revista Super Interessante. São Paulo:
Abril, 2005.
Documentários
17
LUCHETTI, Rubens. Maldito. O Estranho Mundo de José Mojica Marins. Editora 34.
2000.
LEYHART, Nilcemar. O Estranho Mundo de José Mojica Marins. Editora 34. 2000.
MARINS, José Mojica. O Estranho Mundo de José Mojica Marins. Editora 34. 2000.
Internet
ANCINE. Ancine anuncia ações para ampliar freqüência nos cinemas. Disponível
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<http://www.ancine.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=11593&sid=83>
Acesso em 11 de out, 2008.
ACHIAMÉ. Robson. Canibal Filmes. Disponível em: <
http://www.canibalfilmes.bulhorgia.com.br/index1.htm> Acesso em: 16 de nov, 2008.
BIAGI, Orivaldo Leme. Universal Pictures: A “Fábrica” de monstros da década de 30.
Disponível em: <http://www.bocadoinferno.com/romepeige/artigos/universal.html>
Acesso em 08 out, 2008.
CASTILHOS, Daiana Campani de; MULLER, Liane Filomena. Ensino de Gêneros
Textuais: Uma proposta com o gênero “Contos de Terror e Mistério”. Disponível em
<http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/cd/Port/42.pdf> Acesso em 14
nov. 2008.
CAMPOS, Renato. História do Cinema Brasileiro: Os Ciclos de Produção Mais
Próximos ao Mercado. Disponível em: <http://www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/>
acessado em 09 set, 2008.
CARDOSO, Ivan. Terrir. Disponível em:
<http://www.umlobisomemnaamazonia.com.br/terrir.htm> Acesso em 07 de out,
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CURTAS, Porta. Disponível em: <www.portacurtas.com.br> Acesso em 14 de nov,
2008).
DRIGO, Rubens. Cinema no Brasil. Uma questão de público? Disponível em: <
http://www.overmundo.com.br/overblog/cinema-no-brasil-uma-questao-de-publico> Acesso em
01 nov de 2008.
GUERRA, Felipe M. Canibal Houlocaust. Disponível em:
<http://www.bocadoinferno.com/romepeige/artigos/cani.html> Acesso em 09 out,
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HINGST, Bruno. Cinema Nacional, crescimento e perspectiva. Disponível em
<http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?id=2949> Acesso em 11 de out,
2008.
18
MENDES, Erasmo Garcia. As razões do coração. Disponível em <
http://www.scielo.br> Acesso em 11 de out, 2008.
NARANJO, Marcelo. No Brasil, terror tinha nome: Spektro. Disponível em <
http://www.universohq.com/quadrinhos/museu_spektro.cfm> Acesso em 11 de out,
2008.
NOVAIS, Diogo Ribeiro. Fotográfica Negra Estética e Técnica dos film Noir.
Disponível em: <http://www.estacio.br/graduaocao/cinema/tcc/Fotografia%20Negra
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OLIVEIRA, Alysson. Imagens refletidas causam sustos em "Espelhos do Medo".
Disponível em < http://cinema.uol.com.br/ultnot/2008/10/16/ult26u27159.jhtm>
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PIANIZ, Gleber. Terror Tupiniquim. Disponível em: <http://www1.an.com.br/1999/jan/
07/0ane.htm> Acesso em 09 out, 2008.
ROCKENBACH, Fábio Luis. Qual afinal a diferença entre o terror e o suspense?.
Disponível em: < http://porfalaremcinema.wordpress.com/2008/03/11/generos-docinema-terror/> Acesso em 06 out, 2008.
ROSATTI, Renato. Hammer – A casa do Horror. Disponível em:
<http://www.bocadoinferno.com/romepeige/artigos/hammer.html> Acesso em 08 out,
2008.
SOUZA, César Coffin. Horror à Brasileira. Disponível em: <http://www.freakium.com/
edicao10_horror_br.htm> Acesso em 05 out, 2008.
VIEIRA, Larissa. Cara de Vilão, vida de mocinho. Disponível em
<http://www.morcegolivre.vet.br/abcz_rev.html> Acesso em 07 de out, 2008.
19
ANEXO
Breve Filmografia dos filmes de Suspense/Terror Nacional
A Meia-Noite Levarei sua Alma (1963) de José Mojica
Marins, inicia a trilogia em que Zé do Caixão busca pela mulher perfeita que gerará
seu filho.
Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver (1966) de José
Mojica Marins. Episódio da saga de Zé do Caixão, em que ele encontra Laura, a
mulher ideal. Mas as forças do vilarejo e uma viagem ao inferno se insurgem contra
seus objetivos.
20
O Estranho Mundo de Zé do Caixão (1968), de José
Mojica Marins. Três histórias curtas “O fabricante de Bonecas”, “Tara” (primeira
cena de necrofilia) e “Ideologia” (estrelado pelo professor Oãxciac Odez, atlter de Zé
do Caixão).
O Despertar da Besta, conhecido também como Ritual dos
Sádicos (1970) de José Mojica Marins. Médico faz experiência com LSD com um
grupo de viciados que alucina com o coveiro maldito.
21
Prata, Palomares (1971) de André Faria Jr. Loucura,
Desorganização, sujeira e primitivismo tomam um vilarejo dominado pela tortura e
repressão.
O Signo de Escorpião (1974) de Carlos Coimbra. Astrólogo
reúne, em sua ilha, doze pessoas de signos diferentes que são misteriosamente
assassinadas.
Enigma para Demônios (1975) de Carlos Hugo Christensen. Jovem vem a Brasil
para receber uma herança e é atormentada por telefonemas de espíritos.
Amadas e Violentadas (1976) de Jean Garret. O escritor policial Leandro, vitima de
um trauma infantil, luta contra sua compulsão: seduzir e assassinar mulheres.
Ninfas Diabólicas (1977) de John Dôo. O bem comportado Rodrigo dá carona a duas
garotas. Em sua casa no litoral, ele descobre que elas são muito, muito más!
Escola Penal de Meninas Violentadas (1977) de Antônio Meliande. Numa prisão de
mulheres, as detentas são torturadas por ordem da diretoria – uma freira.
22
As Filhas do Fogo (1978) de Walter Hugo Khouri. Ana, em viagem a uma cidade
colonial alemã, conhece uma jovem que lhe mostra gravações das vozes de mortos.
A Força do Sentidos (1979) de Jean Garret. Escritor busca a resposta para o
aparecimento repetido de uma cadáver, trazido todas as noites pela maré.
Aqui, Tarados (1980, episódio “O Pasteleiro”) de David Cardoso e John Dôo. Um
dos melhores representantes do gore brasileiro. Pasteleiro Chinês, durante uma
noite de sexo, revela a uma prostituta o segredo do recheio de seus acepipes.
O Segredo da Múmia (1982), de Ivan Cardoso. Filme
paradigma do “terrir”. Três mil anos depois de sua morte, a múmia Runamb é
ressuscitada.
A Hora do Medo (1986) de Francisco Cavalcanti. Traumatizado na infância, quando
testemunhou o sádico pai torturando a mãe, Albert cresceu incapaz de dissociar
sexo e morte. Adulto, torna-se o assassino de diversas amantes.
Fonte: Por Carlos Primati e Laura Cánepa, Revista SET, edição: 254.
E um pouco mais
Após 40 anos, “Zé do Caixão” concluiu a trilogia iniciada com “À Meia-Noite
Levarei Sua Alma” (1964), e “Esta Noite Encarnarei No Teu Cadáver” (1966) com o
filme “Encarnação do Demônio” (2008), a obra mais cara do gênero realizada no
Brasil e de maior divulgação na mídia. A valorização dos filmes e produções de
Marins são diferente no aspecto internacional:
23
José Mojica Marins provavelmente seja o cineasta brasileiro mais celebrado
internacionalmente, uma gritante ironia se considerar que o diretor é
praticamente um desconhecido no seu país natal. No Brasil, os filmes de Zé
do Caixão são artigos raros, produtos restritos ao consumo de um grupo
minúsculo de fãs. Nos Estados Unidos, no entanto, Coffin Joe é disputado a
tapas para as convenções de cinema fantástico, encontros de aficcionados
por filmes de terror e outras junções do gênero. A estética trash do cineasta
é alvo da admiração gringa e não são poucos os diretores americanos como
Sam Raimi, de "A Morte do Demônio", que o chamam de gênio. Que outro
cineasta tupiniquim causaria tanta celeuma? (PIENIZ, 1999).
Na década em que a cinematografia brasileira estava em transição do Cinema
Novo e surgindo o movimento Marginal, o “Udigrudi”21, foram produzidos filmes de
terror com dose de humor, gênero “terrir”, é o caso do cineasta Ivan Cardoso, que
realizou 40 filmes em Super-822, tendo destaque os filmes “O Segredo da Múmia”
(1982) e “As Sete Vampiras” (1986). A obra cinematográfica mais recente de Ivan
Cardoso é “Um Lobisomem na Amazônia23” (2005).
Além do cineasta Cardoso, o suspense e o terror contam com obras do diretor
brasileiro Petter Baiestorf, que vem realizando filmes Gore e filmou recentemente “A
Curtição do Avacalho24” (2006).
Os curtas-metragens também tem seu destaque, os diretores Fábio
Mendonça e Guilherme Ramalho que contribuíram com “O Curupira” (2004) e
Dennison Ramalho, com “Amor Só de Mãe” (2002). Além de curtas foi produzido o
longa-metragem com a premiada atriz Fernanda Torres, que viveu uma personagem
misteriosa no filme “Gêmeas” (2000) e, como exceção, o brasileiro Walter Salles
dirigiu o filme “Água Negra”, uma refilmagem do cinema oriental patrocinado pelos
norte-americanos.
A Breve Filmografia dos Gêneros de Suspense e Terror
Um dos primeiros grandes sucessos dos Gêneros foi dirigido por Thomas
Edison com "O Castelo do Demônio", (1896). Edison dirigiu também Frankenstein
(1910), primeiramente adaptado para o teatro, e depois para um grande número de
mídias, incluindo rádio, televisão e quadrinhos.
21
UdiGrudi é o cinema marginal, produções underground, do lixo, sem preocupações em sua
percussão.
22
Super-8 (ou Super 8 mm) é um filme no formato cinematográfico desenvolvido nos anos 1960 e
lançado no mercado em 1965 pela Kodak, como um aperfeiçoamento do antigo formato 8 mm,
mantendo a mesma bitola.
23
Fonte disponível em: http://diversao.uol.com.br/27bienal/artistas/ivan_cardoso.jhtm
24
Fonte disponível em: http://www.bocadoinferno.com/romepeige/artigos/avacalho.html
24
Outra grande referência dos primeiros filmes de suspense/terror na história
foi "O Gabinete do Dr. Caligari" (1919), uma das mais impactantes obras do
expressionismo alemão, dirigido por Robert Wienne e "Nosferatu" (1922), dirigido
por Friedrich Murnau, ambos viriam influenciar todo o cinema de suspense/terror
produzido em seguida, graças à atmosfera sobrenatural e a fotografia gótica. Em
1925 surge o “Fantasma da Ópera”, dirigido por Rupert Julian.
Na década de 1930 têm destaque os filmes "Drácula" de Tod Browning e
"Frankenstein" de James Whale. Outras obras que se destacam nesse período são
os clássicos "O Homem-Invisível" (1933), de James Whale, inspirado na obra de
H.G. Wells, "A Múmia" (1932) de Karl Freund, e a adaptação do livro de Oscar
Wilde, "O Retrato de Dorian Gray” (1945) de Albert Lewin.
Nos anos de 1950, o destaque fica por Christopher Lee, cuja interpretação do
conde, em “Drácula” (1958), assim como o assíduo caçador de vampiros Van
Helsing. Lee realizou inúmeros filmes, como o famoso Dr. Franskenstein em “A
Maldição de Frankenstein” (1957). Com a era das grandes oportunidades científicas
iniciada em 1953 com a descoberta da molécula de DNA, os filmes da década
passaram a ostentar também uma temática científico-dramática, com cenas de
suspense
envolvendo
criaturas
que
seriam
um
resultado
catastrófico
de
experimentos laboratoriais mal sucedidos, que tinham sua gênese em pântanos
próximos a laboratórios, bolhas assassinas, aranhas gigantes e outros monstros
resultantes da miscigenação entre seres humanos e animais.
Na virada da década de 1950 para 1960 de Roger Corman. Com “A Pequena
Loja dos Horrores” (1960).
Na década de 1960 houve diversas produções do gênero, como os clássicos
“Psicose” (1960) e “Os Pássaros” (1963), ambos de Alfred Hitchcock, outro grande
cineasta é George Romero, que em 1968 produziu “A Noite dos Mortos-Vivos”, que
rendeu várias refilmagens, inclusive o próprio diretor copiou parte de sua própria
obra. No mesmo ano, Roman Polanski faz “O Bebê de Rosemary”.
Nos anos de 1970, o filme “Encurralado” (1972), revelou para o mundo Steven
Spielberg, que três anos mais tarde apresentou “Tubarão” (1975); “O Exorcista”
(1973) dirigido por Willian Friedkin, e
“A Profecia” (1975) dirigido por Richard
Donner. Outro do período é o “O Massacre da Serra Elétrica” (1974), dirigido por
Tobe Hooper e “Halloween” (1978), de John Carpenter, influenciaram uma leva de
filmes com assassinos misteriosos e cruéis que eternizaram as telas dos anos 80. O
25
filme “A Ilha do Dr. Moreau” (1977). Peter Jackson dirigiu o filme “Carne Humana
Precisa-se” (1987). Outro do período é “O Brinquedo Assassino” (1988) de Tom
Holland.
Na década de 1990 os filmes “Silencio dos Inocentes” (1991), dirigido por
Jonathan Demme e “O Sexto Sentido” (1999) de M. N. Shayamalan, tiveram
destaque.
No século XXI foi realizado a refilmagem do clássico “A Profecia” (2006) de
John Moore e Jogos Mortais (2004) de James Wan, que ganhou várias seqüências.
Publicidade nos filmes Nacionais
O uso da Publicidade e Propaganda tem-se mostrado essencial para o
sucesso das produções cinematográficas. Como exemplo do filme de suspense “A
Profecia”:
Em muitos casos, o orçamento da publicidade é maior que o orçamento da
produção: The Omen/A Profecia, por exemplo, foi feito com US$ 3 milhões e
teve um orçamento promocional de US$ 6 milhões. Estima-se que agora a
quantia média necessária para promover um lançamento num grande
estúdio nos Estados Unidos gire em torno de US$ 8 milhões, e continue em
elevação. (TURNER, 1997, p. 18).
Hoje muitos filmes nacionais lançados não chegam ao conhecimento do
público devido à falta de divulgação, de ações promocionais e medidas que
despertem no público a vontade de prestigiar um filme.
A maioria das pessoas não conhece os filmes que acabaram de ser
lançados porque eles entram em cartaz sem divulgação, exceto, é claro, as
produções que contam com a parceria da Globo Filmes e são divulgadas na
Rede Globo de Televisão. (HINGHT, 2004).
A divulgação em uma emissora nacional de grande alcance da população
pode sair bem mais cara do que a produção de um filme, o valor estimado de 30s na
emissora Rede Globo em horário nobre é de R$ 800 mil reais25.
A verba destinada para grandes produções nacionais gira em torno de R$ 5 a
R$ 6 milhões de reais. Levando em consideração o valor cobrado para divulgação
em emissoras e a verba patrocinada para produzir o filme, fica difícil se tornar um
sucesso de bilheteria.
25
Valor cotado em 10/2008.
26
A lei do audiovisual sem dúvida foi responsável por uma melhoria técnica
nas produções. Hoje, por exemplo, os filmes têm uma qualidade sonora
muito superior à que tínhamos na década de 70. Porém, é necessário criar
novas medidas que facilitem a exibição das produções nacionais. As
grandes cadeias do cinema brasileiro são dominadas pelo cinema norteamericano. Isso não é só de agora, esses problemas sempre existiram
(ibidem).
Hoje diversos filmes contam com seu sucesso de bilheteria devido à vasta
publicidade em diversas mídias.
27
Ilustração do capítulo: A Breve Filmografia dos Gêneros de Suspense e Terror
28
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