Pensamento do Dia Pensamento do Dia
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Pensamento do Dia Pensamento do Dia
Pensamento do Dia Economistas analisam a Economia, o Brasil e o mundo, mundo, na mídia diária 22 05 2009 ----------------------------------------------------------------------------------------------Folha de S.Paulo 22 05 2009 Para economistas, Estado deve reduzir custeio Na crise, governo deve concentrar despesas em investimentos, afirmam palestrantes do Fórum Nacional DA SUCURSAL DO RIO Encerrada ontem no Rio, a 21ª edição do Fórum Nacional gerou pelo menos um consenso: o país deve conter, nestes tempos de crise, o crescimento dos gastos de custeio da máquina pública, a fim de liberar mais recursos para investimentos e reforçar seu caixa para poder manter as políticas anticíclicas adotadas até agora com relativo sucesso pelo governo. Entre os presentes aos debates, compartilharam de tal opinião os economistas Raul Velloso, Affonso Celso Pastore e João Paulo dos Reis Velloso -que preside o Inae (Instituto Nacional de Altos Estudos), responsável pelo fórum. "O problema é que o investimento público está desaparecendo e ele é indispensável neste momento para fomentar a economia", avalia Reis Velloso. Em 1987, um ano antes de a Constituição "cidadã" de 1988 criar uma série de vinculações orçamentárias, 16% da despesa pública total era destinada aos investimentos. Esse percentual caiu para 3% nos primeiros anos do governo Lula e só se recuperou para a faixa atual de 5% a 6% graças ao aumento "excepcional" da arrecadação nos últimos dois anos, segundo Raul Velloso. Especializado em finanças públicas, o economista diz que 85% das despesas da União são referentes a pagamento a pessoas. Nesse bolo estão a folha de pagamento, os programas sociais e o INSS -que responde, sozinho, por 21% do total. Isso, diz, "engessa" o Orçamento e impede a expansão das atuais políticas anticíclicas levadas adiante pelo governo -como as desonerações fiscais promovidas para estimular setores importantes da economia. "Como a receita não vai subir por causa da crise, temos de conter gastos de custeio", concorda Reis Velloso. Para o economista Affonso Celso Pastore, o governo acertou ao adotar políticas de estímulo à economia e só teve fôlego para tal graças a medidas questionadas por muitos no passado. Citou a "desdolarização" da dívida pública e o acúmulo de reservas cambiais. "Muitos diziam: "Não vale a pena fazer isso porque é muito caro". Mas foram medidas importantes e que agora permitem a adoção de políticas anticíclicas", afirmou. O presidente do Ipea, Marcio Pochmann, disse ainda que o ajuste promovido possibilitou o reajuste real do salário mínimo e a expansão do número de beneficiários do programa Bolsa Família. Ambos, diz, geraram uma massa adicional de consumo, que também contribuiu para conter o desaquecimento da economia provocado pela crise. Bolsa Família Ontem, no último dia do fórum, os programas sociais do governo foram debatidos. O ex-secretário de Planejamento da Presidência da República Roberto Cavalcanti de Albuquerque analisou como positiva a transferência pública de renda por meio da Previdência Social e do Bolsa Família. No entanto, em sua avaliação, a inserção dos mais pobres na economia só será assegurada "através da ocupação". Para ele, é necessário superar as desvantagens enfrentadas pelas camadas mais populares, principalmente no que se refere à escolaridade. Cláudio de Moura Castro, ex-chefe da área social do Banco Interamericano de Desenvolvimento, ressaltou, em sua palestra, que, além da escolarização maior, é necessário oferecer também uma educação de qualidade à população. Segundo ele, os estudos sociais devem analisar esse aspecto para avaliar melhor o motivo das desvantagens enfrentadas pelos mais pobres. --------------------------------------------Folha de S.Paulo 22 05 2009 LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS Entendendo a dinâmica do real A alta do real é difícil de ser controlada; o BC pode apenas modular a valorização via compras da moeda americana NA ÚLTIMA quarta, o Banco Central comprou mais de US$ 1 bilhão para evitar uma valorização significativa do real. No momento seguinte à realização do leilão, nossa moeda retomou o caminho de alta, flertando com a cotação de R$ 2,00. Apenas uma piora nos mercados internacionais na parte final do dia -e que continuou ontem- evitou que essa fronteira simbólica fosse cruzada. Mas, se o otimismo permanecer, será uma questão de tempo para que o mercado teste novamente o Banco Central. Com o expressivo fortalecimento do real -quase 10% neste mês-, volta ao debate a questão da taxa de câmbio no Brasil. Como sempre, as questões econômicas acabam por radicalizar as posições dos analistas. De um lado, estão os que defendem uma intervenção agressiva do BC para anular esse movimento e culpam os juros elevados por tudo o que está acontecendo. De outro, estão os que dizem que em um regime de metas de inflação a taxa de câmbio deve variar livremente seguindo as forças de mercado. Não vou entrar no mérito dessas duas posições. Quero apenas dividir com o leitor da Folha meu entendimento sobre as forças que estão atuando no câmbio neste momento. Acredito que vivemos uma dinâmica nova, criada principalmente pelo otimismo com que os mercados internacionais veem hoje a economia brasileira. Passar pela crise em condições satisfatórias foi fundamental para consolidar essa avaliação. Credenciado por isso, o real mudou de qualidade e passou a fazer parte de um seleto grupo de moedas emergentes. Essa cesta flutua em função da força ou da fraqueza da moeda americana nos mercados, medida principalmente em relação ao euro e ao iene japonês. Em setembro, quando a falência do Lehman Brothers colocou o sistema financeiro mundial à beira do precipício, houve corrida ao dólar. Naquele momento de pânico, ele foi visto como moeda refúgio dos capitais financeiros e como proteção de patrimônio em geral. O resultado foi uma desvalorização generalizada da maioria das moedas, principalmente as dos emergentes. O real foi apanhado por essa tormenta e perdeu quase 40% de seu valor. O mesmo ocorreu com o won coreano, o peso mexicano, a lira turca e outras moedas emergentes. Mesmo o euro e a libra inglesa perderam valor. Em meados de março, com a volta de certa dose de confiança em relação à recuperação da economia mundial, esse movimento começou a ser revertido. Os dólares acumulados nos dias de pânico estão sendo reciclados, provocando uma mudança na sua valorização dos últimos meses. A contrapartida desse movimento é o fortalecimento das demais moedas, principalmente algumas ligadas às economias que se portaram bem na crise, como o real. Nossa moeda está sendo procurada de maneira intensa por investidores ansiosos em diversificar seus investimentos. Uma nova onda de entrada de capitais está ocorrendo e, se não acontecer uma reversão das expectativas em relação à economia mundial, deve continuar. Esse movimento é difícil de ser controlado sem uma coordenação entre bancos centrais, pois não é localizado apenas no Brasil. O BC pode apenas modular a valorização via compras da moeda americana no mercado, pela colocação dos chamados "swaps" cambiais reversos e por uma redução mais agressiva da taxa de juros Selic. Tentar administrar o valor do real sem levar em consideração essa nova dinâmica pode custar muito caro. LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso). ------------------------------------O Estado de S.Paulo 22 05 2009 Consequências do 'paternalismo libertário' Dionísio Dias Carneiro* Dadas as perspectivas de uma recessão mundial prolongada, os governos buscam estratégias para sustentar os gastos de consumo e a oferta de crédito. Quanto mais aumenta a capacidade ociosa, mais sentido faz o uso de medidas de estímulo, de modo a quebrar o círculo vicioso da depressão. Nos programas em andamento, o conteúdo dos gastos públicos e os efeitos das renúncias fiscais têm atraído maior atenção do que o tamanho das despesas supostamente anticíclicas. Mas os estímulos econômicos são sempre uma mistura de incentivos genéricos e induções a ações específicas. Os estudos experimentais que renderam ao psicólogo Daniel Kahneman, da Universidade de Princeton, o Prêmio Nobel de Economia em 2002, mostraram a fragilidade empírica do homo economicus dos modelos de escolha racional e permitiram maior entendimento do papel que preconceitos, o acaso e a heurística desempenham nas escolhas individuais. Num livro recente, Nudge, dois professores da Universidade de Chicago, Richard Thaler e Cass Sunstein, a partir da constatação de que as escolhas individuais, na prática, dependem de fatores usualmente desprezados pelos economistas, argumentam que políticas públicas devem fazer uso do que denominam "paternalismo libertário", uma doutrina que valoriza a liberdade de escolha dos indivíduos, mas considera o papel do que denominam "arquitetura da escolha" no comportamento dos agentes. Exemplos dessa arquitetura: a ordem em que os objetos são exibidos nas prateleiras, a facilidade com que os indivíduos possam escolher "racionalmente" sua dieta e a força da inércia na escolha de planos de aposentadoria. Importantes assessores de Obama, como Rahm Emanuel e Peter Orszag, têm sido apontados como adeptos do paternalismo libertário. Isso ajuda a entender a importância prática do pragmatismo de base empírica, que ora substituiu o "conservadorismo piedoso" do grupo Bush II. O novo grupo pretende usar o Estado para dar uma "cutucada" (minha tradução livre para nudge) nos agentes, mas mantém o respeito pela liberdade da escolha individual, o que tem incomodado a esquerda Democrata. Uma implicação prática dessa postura é a preferência por cortes de impostos direcionados, em vez de medidas para só aumentar a renda disponível das famílias. Países latinos sempre valorizaram a discricionariedade dos estímulos, a exemplo do aumento do subsídio para a compra da casa própria, que o governo brasileiro instituiu em seu plano habitacional. Na China, o governo combina medidas como a generalização do programa de apoio à velhice e à garantia da assistência médica, que abre espaço para as famílias pouparem menos, se tiverem confiança na sustentação do programa. Em outros, medidas protecionistas predominam apesar do discurso pelo livre comércio. Nos EUA, o governo reluta em receber de volta prematuramente o dinheiro do Tarp, porque prefere manter controle sobre os bancos. O fato é que esta crise tem feito o pêndulo tender valorizar o dirigismo, dada a lentidão com que os gastos e as quedas de juros agem sobre as decisões de famílias e empresários. Não se sabe até que ponto essa tendência vai gerar um mundo pior após a recessão, mas as consequências das atuais escolhas dos governos terão impacto diverso no bem-estar futuro das nações. Para países que ainda têm muitas pessoas fora da economia moderna e da proteção social, não escolher corretamente medidas de estímulos que produzam maior crescimento no futuro significa agravar os conflitos sociais ao final do ciclo. Um exemplo é o excesso de gastos irreversíveis, mudanças tributárias ao sabor de lobbies ou a submissão a conflitos do calendário político. Em países ricos, a correção de situações insustentáveis, como a falta de acesso de um contingente da população ao atendimento médico-hospitalar adequado, diminuirá a incerteza das famílias quanto ao futuro. Isso ajuda a sustentar o consumo presente, mesmo que possa resultar numa arquitetura de escolha diferente daquela utilizada no passado. Para países mais pobres, como o Brasil, o abuso das "cutucadas" tende a piorar a qualidade dos estímulos. Como nunca fomos "libertários", o excesso de paternalismo incentivará escolhas individuais que podem agravar os desequilíbrios futuros. Na prática, devemos nos preparar para um novo ciclo de endividamento público e menor crescimento no final deste ciclo. *Dionísio Dias Carneiro, economista, é diretor da Galanto Consultoria e do IEPE/CdG Correção - No artigo de 20/5, Ruy M. Altenfelder Silva é presidente da Academia Paulista de Letras Jurídicas, e não da Academia Paulista de Letras ---------------------------------------------------Folha de S.Paulo 22 05 2009 ENTREVISTA - NOURIEL ROUBINI (“Dr. Apocalipse”) Crise global vai continuar mesmo depois da recessão Para economista, movimento atual de recuperação das Bolsas não é sustentável DENYSE GODOY DA REPORTAGEM LOCAL Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Nouriel Roubini à Folha ontem, após participar de seminário promovido pela Serasa Experian em São Paulo. FOLHA - O senhor está sorrindo hoje! É difícil vê-lo assim nas fotos, nas imagens da televisão... Isso contribui para a sua fama de "Doutor Apocalispe"? NOURIEL ROUBINI - [Fica sério] A crise econômica é um assunto tão grave que, quando estou falando a respeito, simplesmente acho que sorrir não é apropriado. As pessoas me chamam de "Doutor Apocalipse" porque fui o primeiro a prever o atual desastre, mas prefiro ser chamado de "Doutor Realista". Não vejo, à nossa frente, uma depressão ou uma longa recessão, como muitos apontam. Creio que vamos sair desta crise no ano que vem. Ainda estou preocupado, no entanto, com determinados aspectos econômicos de curto prazo. FOLHA - Alguns analistas afirmam já detectar aqui e ali sinais de recuperação da economia americana. Quais indicadores realmente apontam o começo de um restabelecimento e quais não devem ser interpretados assim? ROUBINI - Os índices mais importantes a acompanhar são os relativos a consumo, investimento das empresas, produção industrial e mercado imobiliário. Eles continuam caindo. Só que estão recuando menos do que o observado no ano passado -se apresentassem o mesmo ritmo de queda dos últimos meses de 2008, não estaríamos em uma recessão, mas em uma depressão profunda. Isso não significa uma luz verde, mas uma luz amarela, na minha opinião. Não se pode tomá-los como indicativos de retomada. FOLHA - Então, em que ponto da crise nos encontramos agora? ROUBINI - Eu havia afirmado que a recessão dos EUA duraria 24 meses. Como começou em dezembro de 2007, deve terminar em dezembro de 2009. Transcorridos 17 meses, já passamos de dois terços do caminho, portanto, em termos de recessão. Entretanto, não chegamos nem perto do fim da crise bancária ou de crédito -esta deve levar mais dois ou três anos para passar. FOLHA - O senhor quer dizer que não se deve comemorar o fato de já ser possível avistar o final do período de contração? ROUBINI - Sim. No caso de economias avançadas como os EUA, a Europa e o Japão, o cenário para os próximos dois anos é de crescimento abaixo do potencial. O potencial americano é de um avanço de 2,75% a 3% ao ano, mas ficará abaixo de 1% em 2010, o que é medíocre. Apesar de não estar mais em uma recessão, tecnicamente falando, o sentimento no país será o de estar porque o desemprego seguirá subindo por ao menos um ano e meio. Assim aconteceu nas últimas duas retrações, em 1991 e 2001, e tende a se repetir. FOLHA - Quais são as perspectivas para o Brasil? ROUBINI - O Brasil deve no máximo apresentar crescimento zero neste ano; o mais provável é que tenha uma pequena retração do PIB [Produto Interno Bruto], entre 0 e 1% negativo. Após fortes quedas no último trimestre de 2008 e no primeiro deste, o desempenho fica positivo no segundo, pelas nossas previsões. A sorte do Brasil é possuir um mercado doméstico robusto a ser explorado. Já as exportações dependem mais da recuperação do preço das commodities, que dependem da retomada da China. Com uma agressiva política de governo, a China realmente tem reagido nos últimos meses. FOLHA - Os seus críticos argumentam que o senhor previu essa crise diversas vezes nos últimos anos, por isso acertou. ROUBINI - Ouvi essa história de que até mesmo um relógio parado está certo duas vezes por dia. Mas essas críticas são tolas e injustas, pois não fiz previsões genéricas sobre a crise, basta ler com atenção tudo o que escrevi. Fui bastante específico, dei detalhes sobre os problemas financeiros, quando e como seriam os seus desenvolvimentos. Por exemplo, falei, um ano e meio atrás, que dois grandes bancos de investimento dos EUA iriam à lona em dois anos. Adivinhe. Levou sete meses apenas para o colapso do Lehman Brothers e do Bear Stearns. Pode-se dizer na verdade que eu fui até muito otimista quando falei de prazos. FOLHA - Onde o senhor tem investido o seu próprio dinheiro? ROUBINI - Nos últimos três anos, deixei na poupança ou em títulos de depósito interbancário, bem longe do mercado financeiro. Aí me falam: "Você ganhou quase zero". Bem, é melhor ganhar zero do que perder 50%, não é? Continuo fora do mercado financeiro porque ainda vejo riscos de recuos macroeconômicos e no lucro das empresas, além de turbulências no setor financeiro. É claro que vai chegar o tempo de recuperação do preço dos ativos financeiros em nível global. Porém, só vejo isso ocorrendo daqui a um ano ou até um ano e meio. Não acredito que a escalada recente das Bolsas seja sustentável, porque o movimento está indo além do que os dados sobre a economia permitem. Por esse motivo, pode haver uma correção. FOLHA - Como tem sido a vida de economista-celebridade? O que mudou na sua rotina? ROUBINI - Não acho que eu seja uma celebridade porque não tenho vida de celebridade. Trabalho 12 horas por dia, sete dias por semana, e gasto 80% do meu tempo viajando pelo mundo. Se eu fosse celebridade, não estaria passando a vida a conversar com jornalistas e outros pesquisadores -eu estaria pegando uma praia no Rio de Janeiro [risos]. É muito trabalhoso fazer análise porque requer que visitemos o mundo inteiro para falar com pessoas, empresários, investidores, autoridades. Não tenho uma bola de cristal. FOLHA - Circula uma piada segundo a qual os únicos que estão lucrando com a atual crise são os advogados, por causa das falências de empresas, e os economistas, que nunca deram tantas palestras. Entendo que o seu trabalho seja desgastante; no entanto, é uma oportunidade de ganhar dinheiro e fazer o seu nome no planeta todo. ROUBINI - O momento é bastante complexo e interessante para os economistas. Aconteceram mais coisas no último ano e meio do que nos 70 anteriores. Só acho que não se pode dizer que alguém está tirando vantagem da pior crise financeira desde a Grande Depressão. Há enormes custos humanos, sociais, fiscais. É muito sério. Eu e os outros economistas estamos engajados em ajudar o mundo a entender o que aconteceu e a buscar uma solução. ----------------------------------------Valor Econômico 22 05 2009 Os testes de estresse: início do fim da crise? Armando Castelar Pinheiro O anúncio inicial, em fevereiro passado, foi um desastre de comunicação. Não muito diferente do que acontecia no Brasil com os planos da segunda metade dos anos 1980, o Plano de Estabilização Financeira (PEF), com o qual o governo Obama quer acabar com a crise dos bancos americanos, continha um excesso de rótulos novos e pouco detalhe. O mercado reagiu mal, suspeitando que o plano ia fracassar como os anteriores. Em contraste, os resultados dos testes de estresse, um dos três pilares do PEF, foi um sucesso de comunicação, dos vazamentos que antecederam à divulgação oficial aos números em si, que foram suficientemente punitivos para mostrar que os testes tinham sido feitos a sério, mas não tão ruins que sugerissem a incapacidade de algum dos grandes bancos sobreviver sem ser estatizado. Isso fez dos testes o ponto alto de três meses de uma campanha de comunicação por autoridades e bancos para convencer a opinião pública de que a situação do sistema financeiro estava sob controle e que o pior na economia ficou para trás. O quanto de substância há nessa mensagem? Em economia, as expectativas desempenham um papel chave, de forma que o sucesso em convencer empresas e consumidores de que as coisas estão melhorando pode ter, por si só, um efeito positivo sobre o nível de atividade e o emprego. O mercado financeiro, por exemplo, comprou essa ideia, como mostra a forte alta da bolsa e, em especial, das ações dos bancos, desde que o Citibank informou, no início de março, que voltara a apresentar lucro. A alta nas bolsas, por sua vez, facilita o trabalho dos bancos em captar recursos e faz com que as famílias recuperem parte da riqueza perdida no último ano e meio, tornando-as mais dispostas a consumir. Porém, as expectativas também são mais voláteis que os fundamentos e elas não vão continuar melhorando se os indicadores não confirmarem a melhoria do quadro econômico. As bolsas, por exemplo, podem não continuar subindo se as empresas não lucrarem mais e apresentarem boas perspectivas de expansão. Nesse sentido, as atenções devem continuar voltadas para os indicadores de solvência dos bancos e de nível de atividade, na expectativa de que eles confirmem a visão mais otimista sobre a situação global que começa a prevalecer. Os testes feitos pelo governo americano mostraram que dez dos dezenove maiores bancos do país precisam levantar mais capital - US$ 75 bilhões ao todo - para serem capazes de enfrentar um quadro de estresse econômico em 200910. Ao todo, essas dezenove instituições teriam perdas com empréstimos e investimentos em títulos de US$ 535 bilhões nesse período, dos quais US$ 363 bilhões seriam cobertas pelo lucro pré-provisões. As estimativas de perdas superam as do FMI (US$ 321 bilhões), mas as de lucro também (US$ 210 bilhões), de forma que a diferença, que teria de ser coberta com capital próprio, não é tão grande. Há dois riscos principais envolvidos nessas estimativas. Primeiro, o cenário de estresse macroeconômico que as sustenta não é muito pior que as projeções medianas de mercado, de forma que não é claro se os bancos conseguiriam superar um quadro econômico realmente adverso. Vale notar que o FMI projeta as perdas dos bancos utilizando um cenário mais provável, e não de estresse, como feito pelo governo americano. Segundo, que os bancos não consigam ser tão lucrativos como supõem os testes, mesmo em um cenário base. No primeiro trimestre de 2009 os bancos em geral apresentaram resultados muito bons, mas parcialmente baseados em uma combinação de eventos extraordinários (por exemplo, venda de ativos), um volume especialmente alto de renegociações de hipotecas e forte capacidade de formação de preços nas atividades de intermediação no mercado de capitais. Mesmo com os juros básicos no patamar atual, o que reduz o custo de captação dos bancos, há dúvidas sobre sua capacidade de manter esse bom desempenho. O governo americano não quer correr riscos e deve começar em breve a implantar o terceiro pilar do PEF, com a compra de ativos podres das carteiras dos bancos. Em junho, a FDIC, a seguradora de depósitos bancários nos EUA, fará um leilão piloto de compra de US$ 1 bilhão desses papéis. Grande parte da mudança de sentimento em relação à crise se deve à percepção de que o nível de atividade teria parado de cair, ou pelo menos estaria caindo mais lentamente, conforme se completa o ciclo de redução dos estoques e as políticas fiscal e monetária expansionistas começam a dar resultado. Em particular, há grande expectativa de que o pacote de estímulo fiscal adotado pelo governo chinês e a forte expansão do crédito no país coloquem o PIB da China outra vez em forte expansão, ajudando as demais economias asiáticas e os preços das commodities a se recuperarem. Naturalmente, ao parar de cair, o nível de atividade pode simplesmente estagnar, de forma que a desaceleração da queda não se traduz necessariamente em recuperação. Mais fundamentalmente, o ajuste da economia ainda está incompleto em pelo menos um aspecto. Nas últimas décadas o crescimento mundial se calcou numa distribuição desequilibrada da produção e da demanda, com países como os EUA, Reino Unido e Espanha consumindo mais do que produziam, enquanto outros, como China e Alemanha, faziam o oposto. Os superávits gerados por estes eram reciclados pelo sistema financeiro e emprestados a famílias e empresas no primeiro grupo de países para permitir que gastassem mais do que ganhavam. Nos países que consumiam além dos seus meios, as famílias precisam se ajustar à perda de riqueza sofrida e reduzir sua alavancagem financeira, o que significa consumir menos. As instituições financeiras também precisam reduzir seus balanços, o que limitará a oferta de crédito. No segundo grupo, por outro lado, é preciso estimular a demanda doméstica, mas esses não parecem ter nem o desejo nem o conhecimento para fazer isso. Como quem sabe consumir não pode fazê-lo, e quem pode não quer ou não sabe como, a solvência dos bancos pode não garantir sozinha a volta do crescimento acelerado. Armando Castelar Pinheiro, analista da Gávea Investimentos e professor do IE - UFRJ. Escreve mensalmente às sextas- feiras. ----------------------------------------------Valor Econômico 22 05 2009 O governo permitiu que os banqueiros "negociassem" os resultados de seus testes de estresse O capitalismo de compadres dos EUA Sin-ming Shaw Nenhum dos homens da equipe de Obama viu qualquer dificuldade em aceitar a lógica absurda dos banqueiros Por vinte anos, os americanos têm denunciado o "capitalismo de compadres" dos países do Terceiro Mundo, especialmente na Ásia. Exatamente no momento em que aquelas regiões começaram a aprimorar sua governança pública e corporativa, porém - Hong Kong testemunhou há pouco a decisão inovadora de um tribunal contra um magnata das telecomunicações que é o filho do mais rico e poderoso homem da província - o capitalismo de compadres está deitando raízes nos Estados Unidos, país que o mundo há muito considerava representar uma referência das condições iguais para todos nos negócios. Os recentemente concluídos "testes de estresse" dos bancos dos EUA são apenas o mais recente indício de que os compadres capitalistas tomaram a capital Washington. Não surpreende que os mercados acionários tenham gostado dos resultados dos testes de estresse que o secretário de Estado Timothy Geithner administrou para os bancos dos EUA, pois o resultado geral já havia sido vazado semanas antes. De fato, a maioria dos investidores profissionais descartou os testes, considerando-os desonestos, mesmo enquanto seus investimentos se beneficiavam de um mercado ascendente. Até o "The Wall Street Journal", geralmente o mais estridente chefe de torcidas dos mercados financeiros, desacreditou abertamente da integridade dos testes. O governo havia permitido aos banqueiros "negociar" os resultados, como um estudante que presta um exame final e em seguida negocia sua nota. Os testes pretensamente revelariam as verdadeiras condições de bancos sobrecarregados com ativos tóxicos não-auditados nos empréstimos habitacionais e nos derivativos financeiros. O argumento para os testes parecia incontestável. Era mesmo? Como qualquer banqueiro experiente sabe, um banco bem administrado deveria se submeter a "testes de estresse" regularmente, como uma questão de boa manutenção doméstica. A crise financeira deveria ter imposto o acionamento de um teste de estresse para manter o alto escalão executivo atualizado diariamente. Porque, então, o governo dos EUA precisou conduzir um exercício financeiro que os próprios banqueiros deveriam ter feito melhor e mais rápido? A verdade é que os testes não foram projetados para encontrar respostas. Os caciques de Wall Street, assim como a administração Obama, já conheciam a verdade. Eles sabiam que se as verdadeiras condições em muitos bancos de grande porte fossem divulgadas ao público, muitos teriam sido imediatamente declaradas falidas, necessitando de recuperação judicial com a ajuda do governo para sustar um tsunami de corridas a bancos. O governo Obama, porém, não quis ser rotulado de "socialista" por nacionalizar bancos, por mais temporário que fosse o processo, apesar de especialistas como o ex-presidente do Federal Reserve Paul Volcker terem recomendado exatamente isto. Ademais, nacionalizar bancos teria exigido rejeitar os caciques de Wall Street e seus conselhos de administração por terem administrado as suas firmas de forma extremamente incompetente. Os titãs de Wall Street, porém, convenceram Obama e sua equipe de que sua administração continuada é essencial para tirar o mundo da sua crise. Eles conseguiram se retratar como vítimas de um incêndio incontrolável, em vez de cúmplices de incêndio premeditado. Geithner e Larry Summers, principal assessor financeiro de Obama, compartilham a cultura de Wall Street como protegidos de Robert Rubin, o exsecretário do Tesouro, que passou a atuar como diretor e consultor sênior no Citigroup. Nenhum destes homens viu qualquer dificuldade em aceitar a lógica absurda dos banqueiros. Os testes de estresse pretendiam sinalizar ao público que não existia nenhuma ameaça imediata de falência de bancos. Esta mensagem, esperava-se, estabilizaria o mercado de forma que os preços dos ativos "tóxicos" aumentaria até um nível em que os banqueiros se sentiriam à vontade para vendê-los. Afinal, os banqueiros do alto escalão vinham alegando que estes ativos tiveram seus "preços distorcidos" e que a fixação dos seus preços a níveis de mercado penalizaria os bancos desnecessariamente. Por enquanto, Geithner parece ter logrado êxito nos seus "testes", na medida em que o mercado acionário realmente mais do que se estabilizou, sendo que preços de ações de bancos como Citigroup e Bank of America quadruplicaram em relação às suas cotações mais baixas. A temida implosão de Wall Street parece ter sido evitada. Ninguém jamais acreditou seriamente, porém, que os EUA permitiriam que o Citigroup e o Bank of America, para citar apenas dois, quebrassem. Na verdade, o mercado acionário atingiu o fundo do poço no começo do ano. Os mercados embutiram nos preços das ações a crença de que o governo dos EUA não permitiria que nenhum outro banco fosse à bancarrota. O que o mundo queria era uma imagem fiel de quanto os bancos valiam e avaliações "marcadas a mercado" para orientar os investidores sobre quanto de capital novo necessitariam. O mundo também queria ver os EUA retornarem à via principal, no fortalecimento da ética e integridade empresarial - tão em falta sob a administração anterior. Considerando que os contribuintes já haviam aplicado enormes somas no socorro a bancos quebrados, com a perspectiva de mais por vir, era imperativo ter um processo transparente que revelasse como o dinheiro estava sendo usado. Consideráveis recursos públicos de socorro teriam sido desviados para bancos estrangeiros, Goldman Sachs e gratificações a funcionários, para finalidades não relacionadas com a proteção do interesse público. Nada disto foi revelado ou desmascarado pelos testes de Geithner. Pelo contrário, os servidores públicos parecem estar em conluio com Wall Street para arquitetar uma aura artificial de rentabilidade. Além disso, o valor dos ativos tóxicos continua nebuloso como sempre. Princípios contábeis outrora sacrossantos foram modificados por ordem de Wall Street com o propósito de permitir que os bancos informem essencialmente o que quiserem. E agora, os resultados dos testes de estresse negociados foram divulgados para "provar" que os bancos são muito mais robustos. Chamar isso de "esquema Ponzi" seria hostil demais. Mas poucos profissionais financeiros foram enganados. Enquanto isso, os caciques de Wall Street e seus conselhos diretores nada têm a temer do governo. Pelo contrário, agora eles são os sócios do governo numa parceria feita para administrar este programa desonesto. Assim como a gripe suína, o capitalismo de compadres migrou dos países corruptos do Terceiro Mundo para a América, que já foi a cidadela da sólida governança pública e privada. Surpreende que a China seja vista como um modelo cada vez mais mais confiável para grande parte do mundo, ao passo que os EUA agora são vistos como um símbolo da hipocrisia e das duas medidas? Sin-ming Shaw foi presidente fundador de um fundo de hedge e de um fundo de "private equity" na Ásia, foi professor convidado nas universidades de Columbia, Harvard, Princeton e Oxford e continua atuando como investidor ativo. Ele mantém um blog em sinmingshaw.blogspot.com. © Project Syndicate/Europe´s World, 2009. www.project-syndicate.org ---------------------------------------------------------OUTRAS NOTÍCIAS O Estado de S.Paulo 21 05 2009 O Fed e a retomada econômica A ata da reunião de abril do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), divulgada anteontem, forneceu sinais ambíguos sobre o estado da economia dos Estados Unidos e provocou uma queda nos mercados mundiais. Os economistas do Fed notaram que as perspectivas de longo prazo melhoraram um pouco, mas a retomada será mais lenta do que o previsto e o desemprego tende a crescer. A estimativa sobre a marcha da economia neste ano passou do intervalo de crescimento de 0,5% e queda de -1,3% para o de queda de -1,3% a -2%. O desemprego, previsto em janeiro entre 8,5% e 8,8%, foi recalculado entre 9,2% e 9,6% - e um dos membros do Fomc chegou a prever uma taxa de 10%. A economia deverá se recuperar em 2010 e 2011, conforme a avaliação do Fomc, mas em ritmo mais lento. Tensões no mercado de crédito, dificuldades de realocação de mão de obra, consumo contido das famílias, menores estímulos fiscais e baixa demanda de exportações tenderão a frear o ritmo econômico no médio prazo, segundo a Ata do Fomc. Houve, nas últimas semanas, inegáveis sinais positivos, sobretudo os originários do mercado. Nos últimos 30 dias, até quarta-feira, o índice Dow Jones se valorizou 6,79% e o Nasdaq, 4,96%. Os dois indicadores caíram fortemente ontem. Foi significativa a revelação do secretário do Tesouro, Timothy Geithner, de que os bancos que há pouco foram submetidos ao teste de stress já levantaram US$ 56 bilhões de um total de US$ 75 bilhões de que necessitam em capital novo. Alguns já planejam devolver ao governo os recursos recebidos no ano passado. O programa de socorro Tarp (Programa de Alívio de Ativos Problemáticos) previu desembolsos de US$ 700 bilhões, dos quais ainda estão disponíveis US$ 123,7 bilhões, disse Geithner. Segundo o Wall Street Journal, entre os bancos que tratam da devolução dos recursos ao governo estão Goldman Sachs, J.P. Morgan, Capital One Financial, U.S. Bancorp e Morgan Stanley. A Ata do Fed confirma que a fase mais aguda da crise da economia norteamericana passou, mas que o governo ainda terá de mobilizar vultosos recursos para comprar ativos hipotecários e títulos do Tesouro em poder das instituições em dificuldades. "Alguns membros (do Fed) notaram que um maior aumento no montante total das compras poderá ser necessário, em algum momento, para estimular um ritmo mais rápido de recuperação", diz a ata. O Estado de S.Paulo - 22/05/2009 Vale refaz plano e corta investimento em US$ 5,2 bi A Vale reduziu em US$ 5,2 bilhões sua projeção de investimentos para 2009. A decisão, aprovada ontem pelo conselho de administração da companhia, foi motivada por três fatores: redução de custos, desvalorização do real e alongamento dos cronogramas de alguns projetos. A cifra supera o valor de todos os projetos de expansão do setor de papel e celulose para os próximos quatro anos, que soma cerca de US$ 4,5 bilhões, segundo estimativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em comunicado divulgado ontem ao mercado, a Vale informou que o novo orçamento para 2009 é de US$ 9,035 bilhões, 36,5% inferior aos US$ 14,235 bilhões projetados inicialmente. A possibilidade de revisão dos investimentos foi sinalizada durante a divulgação do balanço do primeiro trimestre da companhia, em virtude das mudanças no cenário econômico desde o estouro da crise financeira mundial. Em outubro de 2008, quando a companhia bateu o martelo e divulgou seu plano de investimento, o ambiente ainda não refletia uma desaceleração tão forte da economia mundial. O cenário piorou nos meses seguintes, obrigando a companhia a adotar uma série de medidas, como a demissão de 1,3 mil funcionários e a suspensão de atividades em algumas minas, com a concessão de férias coletivas aos trabalhadores. Por outro lado, naquela época, os custos estavam inflados por conta do ritmo acelerado de investimentos dos últimos anos. A companhia diz que a revisão dos investimentos não significa que os projetos deixarão de ser tocados. Em alguns casos, a redução de gastos foi obtida com a queda no custo de insumos e matérias-primas nos últimos meses. Em outros, há o impacto da desvalorização cambial, que reduz o valor em dólar de encomendas de bens e serviços que são pagas em reais. Mas há também a postergação de investimentos em projetos que não têm mercado consumidor neste momento. Nesse caso, se enquadram principalmente as operações em níquel, que tiveram redução de 18,2% nos investimentos previstos em 2009, para US$ 1,381 bilhão. No texto divulgado ontem, a empresa diz que os projetos de níquel Onça Puma, Goro, Totem e Salobo - com investimento total de US$ 7,9 bilhões - têm sua conclusão "sujeita às condições de mercado". O corte mais significativo, porém, recaiu sobre os projetos do segmento de minerais ferrosos, especialmente nas minas de Carajás e Serra Sul, ambas no Pará. A previsão era gastar com ferrosos US$ 4,554 bilhões este ano, volume reduzido para US$ 2,853 bilhões. Só o projeto Serra Sul teve seu orçamento encolhido de US$ 675 milhões para US$ 233 milhões. Maior investimento individual da companhia atualmente, com o orçamento total de US$ 11,297 bilhões, tem início de operações previsto para o primeiro semestre de 2013. A expansão da mina de Carajás para 130 milhões de toneladas de capacidade também sofreu corte expressivo, de US$ 798 milhões para US$ 455 milhões. A empresa projeta uma nova usina de britagem e ampliação da estrutura logística para 2011. O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, lamentou a redução de investimentos, mas reconheceu que a empresa tem de se ajustar ao cenário atual. "Ela está se adaptando à nova realidade de demanda internacional", afirmou. Em abril, a companhia já havia anunciado uma redução de US$ 600 milhões em seus investimentos em logística programados até 2013, que caíram de US$ 12 bilhões para US$ 11,4 bilhões. -----------------------------------------O Estado de S.Paulo 22 05 2009 ''Investimentos no Brasil vão superar US$ 10 bilhões'' Robert Wilson: presidente do Conselho do BG Group; O BG é um dos principais parceiros da Petrobrás na exploração de petróleo na camada pré-sal, com 25% do Campo de Tupi Daniela Milanese, LONDRES Não há limites para os investimentos do BG Group no Brasil, afirma o presidente do Conselho de Administração da empresa britânica, Robert Wilson. "Nós próximos anos, vamos investir muitos bilhões de dólares no Brasil." Segundo ele, o valor pode superar rapidamente os US$ 10 bilhões. Desde que chegou ao País, em 1997, a companhia já fez aportes superiores a US$ 2 bilhões. Depois de entrar no gasoduto Brasil-Bolívia, o grupo BG comprou a Comgás, em 1999, e licenças para a exploração de petróleo, em 2000. Hoje, é um dos principais parceiros da Petrobrás na cobiçada área do pré-sal, com 25% do Campo de Tupi, além de participações em Guará e Iara. As reservas se tornaram um pilar importante para a estratégia de crescimento do BG no mundo. O grupo considera o pré-sal brasileiro como uma das descobertas mais importantes feitas neste século. Agora, a empresa aguarda as novas regras para o setor que estão sendo definidas pelo governo. Wilson espera que o marco regulatório mantenha a atratividade para novos investimentos, mas mostra dúvidas sobre a necessidade de uma nova estatal para administrar as reservas de petróleo. Após receber o título de "Personalidade do Ano" da Câmara de Comércio Brasileira em Londres, na noite de quarta-feira, ele concedeu a entrevista exclusiva à Agência Estado. O governo brasileiro está criando um novo marco regulatório para o setor de petróleo. Qual é a sua expectativa? Não vou tentar adivinhar como será a nova política. Eu entendo que ela só será aplicada para as novas licenças e não para as já existentes. Acho que isso é muito importante. Eu ficaria muito desapontado se os termos das novas licenças forem tão desfavoráveis de forma que fiquemos incapazes de continuar a nos candidatar. Mas não estou pessimista. Em que caso as novas regras podem não ser favoráveis? Estou otimista de que os termos vão permanecer atrativos o suficiente. Fala-se na criação de uma nova estatal para administrar as reservas do pré-sal. O sr. acredita que esse seria um bom modelo? Obviamente é uma decisão política. Se é necessário? Eu não sei. Acho que a Petrobrás é uma empresa muito boa. Ficaríamos muito satisfeitos de continuar trabalhando com a Petrobrás. Vamos ver como as novas regras virão. Uma nova estatal não seria necessária então? Eu não sei. Há fortes rumores de que haverá uma estatal 100% do governo. Existe alguma possibilidade de o BG Group decidir não investir mais no Brasil após o novo modelo para o setor de petróleo? Não espero isso. E, certamente, tenho esperança de que não. Consideramos o Brasil uma parte muito importante da nossa estratégia e ficaríamos muito desapontados se os novos termos das próximas licenças forem tão desfavoráveis a ponto de não podermos justificar os investimentos. Quanto o BG Group está disposto a investir no Brasil? Nós próximos anos, vamos investir muitos bilhões de dólares no Brasil. Eu não sei quanto, mas é provável que o valor suba bem acima de US$ 10 bilhões rapidamente. Se vejo algum limite para o montante de recursos a serem aplicados? Não, ainda não. Já investimos mais de US$ 2 bilhões na Comgás e na exploração de petróleo nos últimos anos. Qual é o preço do petróleo que viabiliza os investimentos no pré-sal? É difícil neste momento julgar quais serão os custos de capital e de operação em águas profundas. Mas acho que estamos razoavelmente confortáveis com o nível de preço atual. Ao redor de US$ 60,00? Sim. E abaixo desse valor? Depende dos custos, mas se tudo der certo pode ser economicamente viável a operação com preço abaixo de US$ 50. ------------------------------------------O Estado de S.Paulo 22 05 2009 Bancos competem para devolver ajuda primeiro Louise Story* e Eric Dash*, THE NEW YORK TIMES Tudo começou em 13 de outubro, em meio ao pânico, com um ultimato de Washington. Agora, os maiores bancos do país estão vendo uma oportunidade de encerrar a era dos planos de resgate financeiro. Depois de tantas más notícias, isso pode parecer quase impossível. Mas, tendo reconquistado uma base financeira, e também um pouco da velha arrogância, os grandes bancos estão com pressa de devolver os bilhões de dólares para os contribuintes. Muitos insistem que o farão isso até o fim do ano. Em Washington ou em Wall Street, são poucos os que acreditam numa recuperação tão rápida. Para muitos, os bancos dependeriam do governo por anos e ainda precisariam de ajuda para resolver problemas com hipotecas de alto risco e outros ativos que levaram à crise financeira. Mas, agora que as grandes instituições bancárias parecem ter se estabilizado, as autoridades tentam determinar como e quando elas poderão devolver a ajuda recebida - e se essa medida poderá deixá-las vulneráveis a outra crise no caso de a economia piorar. De acordo com executivos dos bancos e uma autoridade do governo federal, duas semanas depois dos resultados dos testes de estresse, vários bancos, entre eles o Bank of New York Mellon, Goldman Sachs, JP Morgan, Chase, Morgan Stanley, State Street e US Bancorp, iniciaram discussões formais com os reguladores para devolver sua parte do empréstimo de US$700 bilhões. Na terça-feira surgiram novos detalhes, como rumores de que as autoridades não permitiriam que um grande banco fosse o primeiro a se retirar do programa sozinho, para evitar que use o fato para se exibir. De outro lado, em oito de junho o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) espera identificar um grupo pronto para se retirar do programa, segundo um funcionário. Ao Departamento do Tesouro cabe decidir sobre o momento oportuno. Muitos americanos, irritados com os multibilionários planos de ajuda, salários e bônus pagos pelo setor financeiro, poderão receber bem a notícia da devolução antes do esperado. Mas isso comporta riscos. Embora, no momento, muitos grandes bancos conseguiram estancar as perdas astronômicas, o setor ainda enfrenta desafios enormes. Novos problemas estão à vista no setor imobiliário comercial e de cartões de crédito. Ao permitir que os bancos restituam sua parte no empréstimo, o governo renunciará a um certo poder sobre as instituições que estavam no centro da crise financeira. Os bancos, por outro lado, estão ansiosos para se libertar da vigilância intensificada do governo, incluindo as restrições às bonificações pagas aos executivos. "Se um determinado banco devolver o dinheiro e em outubro precisar novamente, isso vai ser assustador", disse Douglas J. Elliott, membro da Brookings Institution e ex-diretor no JP Morgan Chase. Para alguns observadores, os bancos podem estar pressionando o governo para autorizar os reembolsos. "Há uma tensão pública maior entre eles", disse Andrew Goldberg, chairman da área de treinamento financeiro e corporativo da Burson-Marsteller. "É um diálogo entre duas jurisdições diferentes que operam com perspectivas diferentes - bancos e governo - e se cruzam na zona que chamamos Tarp". Essa tensão reflete também as velhas rivalidades de Wall Street. O Goldman Sachs, por exemplo, há muito tempo é visto como o banco que, provavelmente, será o primeiro a devolver o dinheiro. Mas os concorrentes dizem que uma decisão nesse sentido pode ser vista como favoritismo, diante dos elos do Goldman com importantes autoridades federais, como o chefe do Federal Reserve Bank de Nova York, William C. Dudley, que já trabalhou no banco. Enquanto vários bancos de menor porte devolveram sua parte, nenhum grande banco retornou o empréstimo. Até agora, o Citigroup é o único que fez do governo um acionista a longo prazo. Ao decidir quais bancos poderão devolver o dinheiro, o governo vai traçar, potencialmente, uma linha entre vitoriosos e fracassados. Um ponto de desacordo é se os bancos que fizerem a restituição poderiam continuar usando o programa do governo que garante suas dívidas. Alguns talvez não consigam operar sem isso. As autoridades disseram recentemente que, antes de as empresas terem permissão para devolver o dinheiro, precisam provar que têm capacidade de emitir dívida sem necessidade do programa. De acordo com uma fonte, a ideia é deixar que os bancos usem o programa de garantia de dívidas até outubro. Um outro problema é o investimento dos contribuintes nos bancos. O governo tem garantias que lhe dão o direito de comprar ações dos bancos, e tem que decidir como será feito pagamento para eles terem essas garantias de volta. Bancos mais fortes como o Goldman defendem um preço alto, e os com menos caixa querem cancelar as garantias pagando um preço menor. Fortes ou fracos, muitos grandes bancos querem restituir o dinheiro antes do fim do ano, de maneira a pagar bonificações para seus executivos tão logo possam. *Os autores são jornalistas ---------------------------------------------O Globo 22 05 2009 Lula dará bônus para acelerar obras do PAC O governo enviou à Câmara dos Deputados, em regime de urgência constitucional, projeto de lei que cria um bônus anual e especial para servidores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). A medida alcançará 2.947 servidores ativos do quadro de pessoal do Dnit e terá um impacto financeiro de R$ 55,9 milhões no Orçamento de 2010. Para ganhar a gratificação, o funcionário terá de cumprir as metas estabelecidas para o órgão, especialmente as relacionadas ao andamento de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O PAC é o grande projeto de obras usado pelo governo para impulsionar a pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) em 2010, chamada de “mãe do PAC” pelo presidente Lula. O artigo 3º do projeto deixa clara a intenção de premiar os responsáveis por agilizar obras, inclusive as do PAC. O texto define que o “conjunto de metas cujo cumprimento será avaliado para fins de concessão do bônus são as fixadas para o Dnit, para o período compreendido entre 1º de janeiro de 2009 e 30 de abril de 2010”. O bônus especial de desempenho institucional será pago só uma vez, em junho de 2010. O pagamento poderá ter antecipações, condicionadas à disponibilidade orçamentária nos exercícios de 2009 e 2010. Se houver antecipação do pagamento de parte do bônus, o impacto este ano seria de R$ 19,5 milhões. Segundo assessores do governo, no Ministério do Planejamento se discute a criação de bônus para todo o funcionalismo. Nesse caso, haveria contratos de gestão. No Dnit, as metas serão estabelecidas pelo órgão. Pelo projeto, o bônus anual poderá ter três valores: R$ 48,9 mil para cargos de nível superior; R$ 20,8 mil (nível intermediário); e R$ 6,4 mil (nível auxiliar). Poderão receber o bônus servidores ativos, titulares dos cargos que integram as carreiras de infraestrutura de transportes, suporte à infraestrutura de transportes, analista administrativo e técnico administrativo, e o plano especial de cargos. Pagamento do bônus está previsto para junho de 2010 Os ministros Dilma Rousseff, Paulo Bernardo (Planejamento) e Alfredo Nascimento (Transportes) estabelecerão as metas específicas que integrarão compromisso de desempenho e que resultarão no pagamento do bônus. Segundo integrantes do Palácio do Planalto, o projeto foi discutido pela área econômica, com o Ministério dos Transportes e a Casa Civil. A proposta recebeu o aval do presidente Lula há uma semana, antes da viagem ao exterior, e foi enviado à Câmara dia 19. A exposição de motivos é assinada pelo ministro Paulo Bernardo. O projeto diz que o bônus será uma “retribuição pecuniária eventual a ser pago exclusivamente no mês de junho de 2010”. Caso os servidores recebam valores antecipados e as metas não forem cumpridas, o dinheiro deverá ser resolvido. Será fixado um “índice global” a ser atingido no cumprimento das metas. As metas serão mensuradas a cada quatro meses. O ministro dos Transportes disse que o pagamento do bônus é fruto de um acordo salarial com os servidores do Dnit. Apesar de frisar que estava em viagem e que não tinha detalhes da proposta, Nascimento disse que o bônus teria sido acertado com os servidores após uma paralisação da categoria. ----------------------------------------------Folha de S.Paulo - 22/05/2009 Petrobras faz negócios com firma que deu carro a petista Alvo da CPI dos Correios após a revelação de que havia presenteado o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, com um carro Land Rover, a empresa GDK, de Salvador (BA), foi contratada 19 vezes pela Petrobras após o término daquelas investigações, num total de R$ 584 milhões. Os contratos foram fechados entre 2007 e 2009. Para o mais alto, de R$ 199 milhões em novembro de 2007, a Petrobras dispensou a licitação. A estatal é agora alvo de uma CPI específica, criada pela oposição na semana passada no Senado. O carro de Silvio Pereira, avaliado em R$ 73,5 mil, foi doado em 2004 pelo dono da GDK, mas o fato só foi tornado público em 2005, no auge do escândalo do mensalão. Na época do presente, a GDK mantinha R$ 512 milhões em contratos com a Petrobras. O maior era a reforma da plataforma de exploração de petróleo P34, no Espírito Santo. Em seu relatório final, a comissão do Congresso considerou a doação um "caso exemplar de tráfico de influência". O relatório da CPI descreveu as investigações realizadas pelo TCU (Tribunal de Contas da União) sobre obras tocadas pela GDK para a Petrobras. Técnicos do tribunal detectaram irregularidades em contrato firmado entre a Petrobras Netherlands, subsidiária da estatal na Holanda, e a GDK, para a adaptação de uma planta da plataforma P-34, no campo de Jubarte (ES). O contrato, assinado em 2004 por US$ 88 milhões (hoje, R$ 176 milhões), poderia, segundo auditores do tribunal, ter sido firmado por um valor 35% mais baixo, ou US$ 64,8 milhões (R$ 129,6 milhões). Há indícios, segundo relatório do TCU, de irregularidades de US$ 23 milhões (cerca de R$ 46 milhões). O processo ainda não foi concluído. O relatório aponta supostos erros na formulação do orçamento, falhas na execução do contrato, inclusão indevida de tributos, deficiências na fiscalização, pagamentos antecipados, divergência entre valores orçados e contratados. O relatório da CPI dos Correios também avaliou as práticas de gerenciamento e fiscalização do contrato. O documento descreveu que, das 28 pessoas envolvidas nessa atividade, 71% eram terceirizadas. A própria GDK fornecia seis pessoas para esse trabalho; outros 14 vinham de outra contratada. A CPI afirmou ter recebido a notícia com "espanto". "A GDK está fornecendo três secretárias para os dois gerentes setoriais (gerente e fiscal do contrato), auxiliares administrativos e arquivistas. O elevado nível de terceirização nas atividades de acompanhamento, fiscalização e de liberação de recursos desse contrato causa espanto, principalmente quanto ao fornecimento de mão-de-obra pela GDK, inclusive no caso das secretárias dos gerentes e do fiscal do contrato, por cujas mãos passa toda a documentação do contrato." Dos 19 contratos da GDK com a Petrobras após o mensalão, 3 foram feitos com a dispensa ou a declaração de inexegibilidade de licitação, 11 por convites e 5 por tomadas de preços. São obras de manutenção de dutos, perfuração de poços e construção e reparos de instalações industriais. Ao dispensar a licitação no caso do projeto de R$ 199 milhões, a Petrobras invocou o decreto 2.745, baixado em 1998 pelo então presidente, Fernando Henrique Cardoso. O decreto tem sido atacado pelo TCU, mas a Petrobras recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal) e já obteve, até agora, 11 decisões favoráveis à aplicação do decreto. ---------------------------------------------- Dólar furado - Miriam Leitão - O Globo - 22/05/2009 O dólar cai porque está entrando mais dinheiro de investidores externos, as empresas brasileiras voltaram a captar no exterior, as commodities estão subindo. Os motivos são muitos e mostram que os sinais se inverteram. Depois de meses de fluxo cambial negativo, o fluxo ficou positivo. Qual o risco? Que o movimento fique exagerado se todos acreditarem que o susto passou. Foi por isso que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fez o alerta ontem contra o excesso de euforia. Da mesma forma que o pânico, a euforia produz movimentos de manada que podem exagerar uma tendência. Isso aumenta muito a volatilidade e ela pode deflagrar um novo momento de crise. Mas alguns dos motivos de queda do dólar são melhoras sólidas. E não são apenas brasileiras. Veja o gráfico abaixo. De 17 de março até ontem, a conta já registra que o dólar caiu 10% frente ao real, 15,6% frente ao rand sul-africano e 4,7% diante do peso chileno. O que há de comum entre Brasil, África do Sul e Chile é que os três países são exportadores de commodities e elas voltaram a se valorizar. O índice CRB, que mede o valor das commodities, subiu 12% nesse período. O economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho, acha que o dólar se desvaloriza em função da diminuição da aversão ao risco mundial, porque isso traz os investidores, que fugiram do país desde o fim do ano passado, quando a crise se agravou após a quebra do banco americano Lehman Brothers. Isso significa um forte ingresso de moeda americana por meio da Conta de Capitais (investimentos em bolsa, investimentos estrangeiros diretos e títulos do Tesouro brasileiro), dos Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACC), que estão se normalizando para as empresas exportadoras, e também pelo anúncio de captação de recursos por parte de empresas brasileiras no exterior. — Com essa inversão de cenário começa a acontecer, também, um forte viés especulativo a favor do real. Ou seja, na medida em que os investidores olham para frente e veem um cenário de entrada de dólares, há uma tendência de venda da moeda americana — explicou Carvalho. Foi contra isso que o presidente do BC alertou ontem, o exagero da tendência provocada por movimentos especulativos. Mesmo assim, diante do contexto de crise, Carvalho não acha muito provável que o dólar caia para a casa de R$ 1,80. O mais provável, segundo ele, é ficar oscilando entre R$ 2 e R$ 2,10, mesmo que ele chegue a romper a barreira dos R$ 2. O problema é que a crise não acabou, apenas melhorou de expectativa. Para Sérgio Vale, da MB Associados, outro fator que influencia é o fato de que o Brasil não fez um afrouxamento muito grande da política fiscal e, ao mesmo tempo, ainda pode utilizar muito a política monetária para enfrentar a crise. Isso tem dois efeitos positivos sobre os investidores: primeiro, que as contas públicas estão menos desajustadas que em outros países e, segundo, que juros altos significam alta rentabilidade nos investimentos em títulos públicos. — Se as políticas são sólidas e os juros são elevados, nada mais natural do que esse investidor vir para cá — explicou Vale. Um cenário mais otimista na recuperação econômica mundial também sustenta a alta das commodities. Afinal, se a recuperação acontecer mais rapidamente, o consumo de matéria-prima será maior e os preços tendem a subir mais. André Sacconato, da Tendências Consultoria, também acha que um dos grandes motivos da alta do dólar é que o Brasil tem juros altíssimos, no mar de juros baixos no mundo. Ele também explica que o país sofreu menos com a crise na comparação com outros emergentes, como Rússia, México e Índia, abrindo espaço para a vinda de investidores estrangeiros. Além disso, os chineses estão tentando diminuir sua exposição a títulos americanos e dólar. Isso ajudou o Brasil de dois modos: primeiro, porque valorizou os produtos que o Brasil exporta e, segundo, porque aumentou a demanda por esses produtos. Por enquanto, o BC compra dólares e recompõe suas reservas. Os exportadores que sofreram com o dólar baixo, e depois se encrencaram no mercado futuro pela alta abrupta da moeda, agora olham preocupados para a queda, com o temor de que isso reduza sua rentabilidade. O dólar pode não ter o valor que já teve, mas ainda é a moeda para a qual todos olham. ---------------------------------------Folha de S.Paulo 22 05 2009 Fusão Perdigão-Sadia deve ser "congelada" Indicação foi dada pelo presidente do Cade, Arthur Badin, caso seja preciso reverter operação no futuro JULIANNA SOFIA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Arthur Badin, disse ontem que a preocupação atual com o processo de criação da Brasil Foods é garantir as condições para que a operação possa ser revertida no futuro, caso o tribunal administrativo decida pelo veto -parcial ou integral- no julgamento do negócio. As declarações de Badin indicam que o Cade deverá negociar com a PerdigãoSadia um acordo para "congelar" a operação, o chamado Apro (Acordo de Preservação da Reversibilidade da Operação). A expectativa é que a fusão seja analisada até o final do ano. "O Cade se preocupa, no primeiro momento, com a reversibilidade da operação, não só dos ativos, máquinas, como da mão de obra", disse Badin, informando que a fusão ainda não foi notificada oficialmente pelas empresas ao Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência. Depois do anúncio da operação, há um prazo de 15 dias úteis para a notificação aos órgãos antitruste. Hoje, representantes da Sadia e da Perdigão apresentarão, informalmente, aos conselheiros do Cade o modelo da operação. De acordo com relatório da corretora Santander, as maiores concentrações resultantes da fusão ocorrem no mercado de massas prontas (quase 90%) e no segmento de pizzas semiprontas (70%). Os executivos da nova empresa ainda deverão se reunir com representantes da SDE (Secretaria de Direito Econômico) e da Seae (Secretaria de Acompanhamento Econômico), que realizarão a instrução conjunta do processo de fusão. Sintonia Em sintonia com as afirmações de Badin, a diretora do DPDE (Departamento de Proteção e Defesa Econômica), Ana Paula Martinez, declarou que a lei permite aos órgãos antitruste "adotar medida cautelar ou realizar o Apro, caso em uma análise preliminar da operação se verifique que há risco para determinado mercado". O DPDE é um órgão da SDE. A diferença entre uma medida cautelar e um acordo é que, no primeiro caso, trata-se de um ato unilateral do governo. No acordo, as condições são negociadas entre as empresas e o Cade. O presidente do Cade disse ainda que a fusão Sadia-Perdigão é muito complexa, não podendo ser reduzida à soma da participação de mercado das duas empresas. Ele rebateu, porém, a avaliação de especialistas em defesa da concorrência de que a análise desse caso seria o maior desafio da história do Cade. "Não vejo nenhuma especificidade que torne essa operação especial. Vamos analisar com a mesma tranquilidade, independência e imparcialidade de outros processos." O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral, disse ontem que, do ponto de vista das exportações brasileiras, a fusão Perdigão-Sadia traz ganhos de eficiência para a nova empresa. "Principalmente neste momento de abertura do mercado internacional, uma fusão como essa cria eficiência em termos de marketing e redistribuição", declarou o secretário. Badin acrescentou que as empresas, provavelmente, terão de notificar a fusão também às autoridades de defesa da concorrência internacionais, entre elas as da União Europeia, devido ao caráter internacional da nova empresa. ----------------------------------------