Capítulo III - Para a História do Socialismo

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Capítulo III - Para a História do Socialismo
Para a História do Socialismo
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www.hist-socialismo.net
Tradução do russo de CN, 03.10.2009 (edição provisória)
_____________________________
História do Partido Comunista da URSS (bolchevique)
Breve curso
Sob redacção da comissão do CC do PCU(b)
Aprovado pelo CC do PCU(b)
1938
Capítulo III
Os mencheviques e os bolcheviques no período da guerra russo-nipónica
e da primeira revolução russa (1904-1907)
1. A guerra russo-nipónica. O ascenso ulterior do movimento revolucionário da
Rússia. As greves em Petersburgo. A manifestação dos operários frente ao Palácio
de Inverno de 9 de Janeiro de 1905. O fuzilamento dos manifestantes. O início da
revolução.
Em finais do século XIX, os estados imperialistas iniciaram uma luta intensa pelo domínio no
Oceano Pacífico e pela partilha da China. A Rússia tsarista também entrou nesta disputa. Em 1900,
as tropas tsaristas, ao lado das tropas japonesas, alemãs, inglesas e francesas, reprimiram com uma
crueldade inaudita a insurreição popular que deflagrara na China, cujo gume estava apontado
contra os imperialistas estrangeiros. Já antes o governo tsarista obrigara a China a entregar à
Rússia a península de Liao-tung, com a sua fortaleza de Porto Artur, e conseguira o direito de
construir caminhos-de-ferro em território chinês. Foi construída a linha férrea da China Oriental,
no Norte da Manchúria, e introduzidas tropas russas para a sua protecção. O Norte da Manchúria
ficou sob ocupação militar da Rússia tsarista. O tsarismo acercava-se da Coreia. A burguesia russa
fazia planos para a criação de uma «Rússia Amarela» na Manchúria.
Nas suas ocupações no Extremo-Oriente, o tsarismo confrontou-se com o Japão, outro predador
que se tinha rapidamente transformado num país imperialista, e que também aspirava a anexações
no continente asiático em primeiro lugar à custa da China. Tal como a Rússia tsarista, o Japão
pretendia anexar a Coreia e a Manchúria. Já nessa altura sonhava com a ocupação da ilha de
Sakhalina e do Extremo-Oriente. A Inglaterra, que temia o recrudescimento da Rússia tsarista no
Extremo-Oriente, apoiava secretamente o Japão. A guerra russo-nipónica estava iminente. O
governo russo era empurrado para ela pela grande burguesia em busca de novos mercados e pelas
camadas mais reaccionárias dos latifundiários.
Não aguardando até que o governo tsarista lhe declarasse guerra, o Japão foi o primeiro a
começá-la. Dispunha de uma boa rede de espionagem na Rússia, e esperava confrontar-se com um
adversário mal preparado. Sem declaração prévia de guerra, atacou de surpresa a fortaleza de Porto
Artur, em Janeiro de 1904, infligindo pesadas perdas à frota russa que ali se encontrava.
E assim começou a guerra russo-nipónica.
O governo tsarista contava que a guerra o ajudasse a consolidar a sua situação política, e que
travasse a revolução. Porém seus cálculos revelaram-se errados: a guerra abalou ainda mais o
tsarismo.
Mal armado e mal treinado, dirigido por generais incapazes e corruptos, o exército russo
começou a sofrer derrotas umas atrás das outras.
Com a guerra enriqueciam-se os capitalistas, os altos funcionários e os generais. O saque
florescia por todo o lado. As tropas eram mal abastecidas. Como que por troça, o exército recebia
vagões carregados de ícones quando havia falta de munições. Os soldados comentavam com
amargura: «Os japoneses lançam-nos bombas, e nós atiramos-lhes com imagens religiosas». Em
vez de evacuarem os feridos, comboios especiais partiam carregados com bens roubados pelos
generais tsaristas.
A fortaleza de Porto Artur foi primeiro sitiada, depois tomada pelos japoneses, estes infligiram a
seguir uma série de derrotas ao exército tsarista, acabando por destruí-lo perto de Mukden. O
exército tsarista de 300 mil homens sofreu nesta batalha cerca de 120 mil baixas, entre mortos,
feridos e prisioneiros.
Seguiu-se o destroçamento e afundamento, no estreito de Tsusima, da armada russa que viera
do Mar Báltico em socorro de Porto Artur sitiado. A derrota de Tsusima significou a catástrofe
total: dos 20 navios de guerra enviados pelo tsar 13 foram destruídos e afundados, quatro
capturados. A guerra estava definitivamente perdida para a Rússia tsarista.
O governo do tsar viu-se obrigado a firmar uma paz desonrosa com o Japão, que ocupou a
Coreia e conquistou Porto Artur e metade da ilha de Sakhalina à Rússia.
As massas populares não queriam aquela guerra e tinham consciência dos seus malefícios para a
Rússia. O povo pagava um preço elevado pelo atraso da Rússia tsarista.
Os bolcheviques e os mencheviques reagiram de modo diferente a esta guerra.
Os mencheviques, incluindo Trótski, caíram no defensismo, ou seja, a defesa da «pátria» do
tsar, dos latifundiários e dos capitalistas.
Ao contrário, Lénine e os bolcheviques consideravam que a derrota do governo tsarista nesta
guerra de rapina seria benéfica, uma vez que conduziria ao enfraquecimento do tsarismo e ao
recrudescimento da revolução.
As derrotas das tropas tsaristas expuseram perante as mais amplas massas do povo a podridão
do regime. O ódio contra o tsarismo crescia de dia para dia. A queda de Porto Artur foi o começo da
queda da autocracia, escreveu Lénine.
O tsar pretendia asfixiar a revolução com a guerra. Obteve o contrário. A guerra russo-nipónica
acelerou a revolução.
Na Rússia, a opressão capitalista era acentuada pelo jugo do tsarismo. Os operários sofriam não
apenas com a exploração capitalista e os trabalhos forçados, mas também com a arbitrariedade que
atingia todo o povo. Por isso, os operários conscientes procuravam encabeçar um movimento
revolucionário com todas as forças democráticas da cidade e do campo contra o tsarismo. Os
camponeses sufocavam com a falta de terra e com os numerosos resquícios da servidão feudal.
Estavam sob o jugo do latifundiário e do kulaque. Os diferentes povos da Rússia tsarista vergavamse sob o duplo jugo dos latifundiários e capitalistas tanto nacionais como russos. A crise económica
de 1900 – 1903 aumentou a miséria das massas trabalhadoras e a guerra agravou-a ainda mais. As
derrotas na guerra aumentaram o ódio das massas contra o tsarismo. A paciência do povo estava a
chegar ao fim.
Como se vê, os motivos para a revolução eram mais do que suficientes.
Em Dezembro de 1904 realizou-se em Baku uma greve operária bem organizada e de grandes
dimensões, sob a direcção do Comité Bolchevique local.
Esta greve terminou com a vitória dos operários e a conclusão do primeiro contrato colectivo de
trabalho na história do movimento operário russo na indústria petrolífera.
A greve de Baku marcou o início do ascenso revolucionário na Transcaucásia e numa série de
regiões da Rússia: «Foi o sinal para as gloriosas acções de Janeiro e Fevereiro em toda a Rússia». 1
1
«As consultas e os operários», artigo sobre o rompimento das negociações com os industriais petrolíferos,
assinado Koba, publicado no Bakinski Proletari, N.º 5, de 20 de Junho de 1908, I.V. Stáline, Obras,
Gossudárstvenoe Izdátelstvo Politítcheskoi Literaturi, Moscovo, 1946, Tomo 2, pág. 137. (N. do T.)
2
Esta greve foi como o relâmpago que precede a borrasca, em vésperas da grande tempestade
revolucionária.
A tempestade revolucionária teve início com os acontecimentos de 9 (22) de Janeiro de 1905 em
Petersburgo.
Em 3 de Janeiro de 1905 começou a greve na fábrica Putílov (hoje fábrica Kírov), a maior
unidade fabril de Petersburgo. Provocada pelo despedimento de quatro operários, a greve alastrou
rapidamente a outras fábricas e empresas de Petersburgo, transformou-se numa greve geral, e o
movimento cresceu ameaçadoramente. O governo tsarista tinha decidido esmagá-lo desde o seu
início.
Ainda em 1904, antes da greve da fábrica Putílov, a polícia tinha criado com a ajuda do
provocador padre Gapóne uma organização operária denominada União dos Operários Fabris de
São Petersburgo. Esta organização tinha secções em todos os bairros de Petersburgo. Quando a
greve começou, o padre Gapóne apresentou um plano provocatório nas reuniões da sua associação:
no dia 9 de Janeiro todos os operários deveriam juntar-se num desfile pacífico, com estandartes e
retratos do tsar, até ao Palácio de Inverno, para aí entregar uma petição sobre as suas necessidades.
Supostamente o tsar sairia ao encontro do povo, escutaria e satisfaria as suas reivindicações.
Gapóne prestou-se a ajudar a Ohranka tsarista para provocar o fuzilamento dos operários e afogar
o movimento em sangue. Mas o plano da polícia voltou-se contra o governo do tsar.
A petição foi discutida nas reuniões de operários e foram introduzidas algumas emendas e
alterações. Os bolcheviques também intervieram nestas reuniões sem se apresentarem
abertamente como tal. Sob sua influência foram incluídas na petição as exigências de liberdade de
imprensa e de expressão, liberdade de associação para os operários, a convocação da Assembleia
Constituinte para mudar o regime político da Rússia, a igualdade de todos perante a lei, a
separação da Igreja do Estado, o fim da guerra, a instauração da jornada de oito horas e a entrega
da terra aos camponeses.
Intervindo nestas reuniões, os bolcheviques demonstraram aos operários que a liberdade não se
obtinha com pedidos ao tsar, mas tinha de ser conquistada com armas na mão. Advertiram de que
haveria disparos contra os operários. Porém não conseguiram impedir a manifestação para o
Palácio de Inverno. Uma parte considerável dos operários ainda acreditava que o tsar os ajudaria.
O movimento envolveu as massas com enorme um vigor.
Na petição dos operários de Petersburgo afirmava-se:
«Nós, operários da cidade de Petersburgo, com as nossas mulheres, os nossos filhos e os nossos
velhos pais desamparados dirigimo-nos a vós, Senhor, em busca da verdade e protecção. Estamos
reduzidos à miséria, somos oprimidos, sobrecarregam-nos com trabalho para além das nossas
forças, somos ultrajados, não nos consideram pessoas (...) Temos suportado tudo, mas somos
empurrados continuamente para a voragem da miséria, da arbitrariedade e da ignorância,
sufocam-nos com o despotismo e a tirania (...) A nossa paciência chegou ao limite. Encontramo-nos
na terrível situação em que é melhor morrer do que continuar a sofrer suplícios insuportáveis (...)».
No dia 9 de Janeiro de 1905, de manhã cedo, os operários começaram a desfilar para o Palácio
de Inverno, onde o tsar estava instalado. Com os operários seguiam famílias inteiras, mulheres,
crianças e idosos, desfilavam com retratos do tsar e estandartes religiosos, entoavam cânticos
sagrados, iam desarmados. Mais de 140 mil pessoas juntaram-se nas ruas de Petersburgo.
Nicolau II recebeu-os com hostilidade. Ordenou abrir fogo contra os operários desarmados.
Nesse dia mais de mil operários foram mortos pelas tropas tsaristas e mais de dois mil ficaram
feridos. O sangue dos operários corria pelas ruas de Petersburgo.
Os bolcheviques seguiam ao lado dos operários. Muitos deles caíram mortos ou foram presos.
Logo ali, nas ruas banhadas de sangue, os bolcheviques explicaram aos operários quem eram os
responsáveis por aquele crime horrível, e como se devia combatê-los.
O dia 9 de Janeiro passou a ser chamado «domingo sangrento». Os operários tinham recebido
uma lição sangrenta. A fé dos operários no tsar acabava de ser fuzilada. Compreenderam que só
com a luta poderiam alcançar os seus direitos. Logo ao anoitecer começaram a levantar as
3
primeiras barricadas nos bairros operários. «O tsar deu-nos uma sova, pagar-lhe-emos na mesma
moeda!», diziam os operários de Petersburgo.
A notícia horrível do crime sangrento do tsar espalhou-se a todos os cantos. A revolta e a
indignação apossaram-se de toda a classe operária, de todo o país. Não houve cidade onde os
operários não tenham realizado greves de protesto contra o crime do tsar e levantando
reivindicações políticas. Os operários manifestavam-se agora nas ruas sob a palavra de ordem
«abaixo a autocracia». O número de grevistas atingiu em Janeiro os 440 mil. Num só mês,
estiveram mais operários em greve do que nos dez anos anteriores. O movimento operário atingiu
um ponto elevadíssimo.
Na Rússia tinha começado a revolução.
2. As greves políticas e as manifestações operárias. O recrudescimento do
movimento revolucionário dos camponeses. A revolta do couraçado «Potiómkine».
Após o 9 de Janeiro, a luta revolucionária dos operários adquiriu um carácter político mais
profundo. Das greves económicas e de solidariedade, os operários passaram às greves políticas, às
manifestações, e nalguns sítios à resistência armada contra as tropas tsaristas. Em Petersburgo,
Moscovo, Varsóvia, Riga, Baku e outras grandes cidades com importantes concentrações de
operários, as greves assumiram um carácter particularmente firme e organizado. Os metalúrgicos
estavam nas primeiras fileiras do proletariado em luta. Com as suas greves, os destacamentos
operários de vanguarda despertavam as camadas operárias menos conscientes e mobilizavam toda
a classe operária para a luta. A influência da social-democracia crescia rapidamente.
As manifestações do 1.º de Maio deram origem em diversos lugares a confrontos com a polícia e
o exército. Em Varsóvia houve várias centenas de mortos e feridos em resultado da dispersão a tiro
de uma manifestação. Em resposta ao fuzilamento, os operários da cidade, incitados pelo Partido
Social-Democrata Polaco, declararam uma greve geral de protesto. As greves e manifestações não
cessaram durante todo o mês de Maio. Na Rússia, mais de 200 mil operários participaram nas
greves de Maio. A greve geral estendeu-se aos operários de Baku, Lodz e Ivánovo-Vosnessensk. Era
cada vez mais frequente os operários em greve enfrentarem as tropas do tsar. Confrontos deste tipo
ocorreram numa série de cidades, tais como Odessa, Varsóvia, Riga, Lodz, etc.
A luta assumiu um carácter especialmente agudo em Lodz, o grande centro industrial da
Polónia. Os operários de Lodz montaram barricadas por toda a cidade, e durante três dias (de 22 a
24 de Junho de 1905) travaram batalhas de rua com o exército tsarista. Aqui, a greve geral foi
conjugada com a intervenção armada. Lénine considerou estas batalhas como a primeira
intervenção armada dos operários na Rússia.
Entre as greves realizadas durante o Verão destacou-se em particular a dos operários de
Ivánovo-Vosnessensk. Esta greve prolongou-se desde finais de Maio até começos de Agosto de
1905, ou seja, quase dois meses e meio. Tomaram parte nela cerca de 70 mil operários, entre os
quais muitas mulheres. Esta greve foi dirigida pelo Comité Bolchevique do Norte. Quase
diariamente, milhares de operários reuniam-se nas margens do rio Talka, nos arredores da cidade.
Nestas reuniões discutiam os seus problemas e necessidades, os bolcheviques tomavam a palavra.
Para esmagar a greve, as autoridades tsaristas ordenaram ao exército que dispersasse os operários
abrindo fogo sobre eles. Várias dezenas de operários foram mortos, centenas ficaram feridos. A
cidade de Ivánovo foi declarada em estado de sítio. Apesar disso, os operários mantiveram-se
firmes e não retomaram o trabalho. Passavam fome com as famílias mas não cediam. Só o
esgotamento extremo os obrigou a regressar ao trabalho. Esta greve endureceu os operários. Ela
constituiu um exemplo de coragem, firmeza, abnegação e de solidariedade da classe operária. Foi
uma verdadeira escola de educação política para os operários de Ivánovo-Vosnessensk.
Durante a greve, os operários de Ivánovo criaram um Soviete de Delegados, que foi
efectivamente um dos primeiros sovietes de deputados operários da Rússia.
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As greves políticas revolveram todo o país. A seguir às cidades, o campo começou a erguer-se. Os
primeiros distúrbios camponeses ocorreram na Primavera. Enormes multidões manifestavam-se
contra latifundiários, destruíam os seus domínios senhoriais, as suas destilarias e refinarias de
açúcar, incendiavam os seus palácios e dependências. Em várias localidades, os camponeses
ocupavam as terras senhoriais, cortavam grandes quantidades de madeira e exigiam que os
latifúndios fossem entregues ao povo. Os camponeses apossavam-se do trigo e de outros
aprovisionamentos e repartiram-nos pelos famintos. Os latifundiários aterrorizados fugiam para a
cidade. O governo tsarista enviou soldados e cossacos para esmagarem as revoltas camponesas. As
tropas dispararam contra os camponeses, prenderam os seus «instigadores», espancaram-nos e
torturaram-nos. Mas os camponeses continuaram a sua luta.
O movimento camponês alargou-se à Rússia Central, à região do Volga, à Transcaucásia e
particularmente à Geórgia. Os sociais-democratas penetravam em profundidade no campo. O
Comité Central do partido lançou o apelo aos camponeses «Camponeses, a vós nos dirigimos». Os
comités sociais-democratas de Tver, Sarátov, Poltáva, Chernígov, Ekaterinoslav, Tiflis e de muitas
outras províncias dirigiram proclamações aos camponeses. Nas aldeias, os sociais-democratas
convocavam reuniões, organizavam círculos de discussão e criavam comités de camponeses. No
Verão de 1905 decorreram greves de operários agrícolas em várias localidades, organizadas pelos
sociais-democratas.
Mas isto era só o início da luta no campo. O movimento camponês tinha alastrado a 85 distritos,
o que representava aproximadamente apenas um sétimo dos distritos da parte europeia da Rússia
tsarista.
O movimento operário e camponês, bem como a série de derrotas sofridas pelas tropas russas
na guerra russo-japonesa tiveram também reflexos no exército. Este baluarte do tsarismo
começava a agitar-se.
Em Junho de 1905, na esquadra do Mar Negro rebentou a revolta a bordo do couraçado
«Potiómkine». O navio estava na altura perto de Odessa, onde decorria uma greve geral operária.
Os marinheiros revoltosos eliminaram os oficiais mais odiados e rumaram a Odessa. O
«Potiómkine» estava agora do lado da revolução.
Lénine atribuiu um enorme significado a esta sublevação. Defendeu a necessidade de os
bolcheviques dirigirem este movimento e ligarem-no ao movimento dos operários, dos camponeses
e das guarnições locais.
O tsar enviou vasos de guerra contra o «Potiómkine» porém as tripulações desses navios
recusaram-se a disparar contra os seus camaradas revoltosos. Durante vários dias, a bandeira
vermelha da revolução ondulou no couraçado «Potiómkine». Mas naquela altura, em 1905, o
partido bolchevique não era o único partido que dirigia o movimento, como sucedeu mais tarde em
1917. No «Potiómkine» havia muitos mencheviques, socialistas-revolucionários e anarquistas. Por
isso, apesar de alguns sociais-democratas participarem na revolta, não havia uma direcção
adequada e suficientemente experiente. Nos momentos decisivos uma parte dos marinheiros
vacilou. Os restantes navios da esquadra do Mar Negro não se juntaram à sublevação. Sem carvão e
provisões, o couraçado revolucionário foi obrigado a retirar-se para as águas da Roménia e
entregar-se às autoridades desse país.
A revolta dos marinheiros do «Potiómkine» foi derrotada. Os revoltosos que mais tarde caíram
nas mãos do governo tsarista foram entregues aos tribunais. Uma parte foi executada, outra
condenada a trabalhos forçados. Mas o facto em si da revolta teve uma importância extraordinária.
Foi a primeira acção revolucionária de massas no exército e na marinha, a primeira vez que uma
grande unidade de tropas tsaristas se colocou do lado da revolução. Esta sublevação tornou mais
compreensível e realista para os operários, camponeses, e sobretudo para as próprias massas de
soldados e marinheiros, a ideia da união do exército e da marinha com a classe operária, com o
povo.
A passagem dos operários às greves políticas e às manifestações, o recrudescimento do
movimento camponês, os confrontos armados do povo com a polícia e o exército, e finalmente a
revolta na esquadra do Mar Negro – tudo indicava que amadureciam as condições para a
5
insurreição armada do povo. Esta circunstância obrigou a burguesia liberal a agitar-se seriamente.
Receando a revolução, e ao mesmo tempo assustando o tsar com a revolução, procurava um
arranjo com o monarca para lhe pôr um travão. Exigia pequenas reformas «para o povo», para o
«acalmar», dividir as suas forças e deste modo prevenir «os horrores da revolução». «É preciso
sacrificar terra aos camponeses, senão são eles que nos sacrificam», diziam os latifundiários
liberais. A burguesia liberal preparava-se para partilhar o poder com o tsar. «O proletariado luta, a
burguesia esgueira-se para o poder», 2 escreveu Lénine naqueles dias sobre a táctica da classe
operária e a táctica da burguesia liberal.
O governo tsarista continuava a esmagar o movimento operário e camponês com uma crueldade
furiosa, mas não podia ignorar que era impossível dominar a revolução unicamente através da
repressão. Por isso, passou também a recorrer a manobras políticas. Por um lado, com ajuda dos
seus agentes provocadores, começou a atiçar os povos da Rússia uns contra os outros, organizando
pogroms de judeus e massacres entre arménios e tártaros. Por outro lado, prometeu convocar uma
«instituição representativa», sob a forma de uma assembleia de zemstvos ou de uma Duma do
Estado, incumbindo o ministro Bulíguine 3 de redigir o respectivo projecto, o qual não devia porém
prever competências legislativas. Todas estas medidas foram tomadas para dividir as forças da
revolução e alienar as camadas moderadas do povo.
Os bolcheviques declararam boicote à Duma de Bulíguine, decidindo tudo fazer para inviabilizar
essa caricatura da representatividade popular.
Ao contrário, os mencheviques optaram por viabilizar a Duma, considerando necessário
participar nela.
3. As divergências tácticas entre os bolcheviques e os mencheviques. O III
Congresso do partido. O livro de Lénine Duas Tácticas da Social-Democracia na
Revolução Democrática. Os fundamentos tácticos do partido marxista.
A revolução pôs em movimento todas as classes da sociedade. A viragem provocada na vida
política do país fê-las sair das suas antigas posições inamovíveis e obrigou-as a reagruparem-se de
acordo com a nova situação. Cada classe e cada partido procuraram definir a sua táctica, a sua linha
de intervenção, a sua relação com as restantes classes e com o governo. Até o governo tsarista tinha
sido obrigado a definir uma nova táctica sem precedentes, prometendo a convocação de uma
«instituição representativa», a Duma de Bulíguine.
Também o Partido Social-Democrata precisava de definir a sua táctica. Assim o exigia o
recrudescimento do ascenso revolucionário. Assim o exigiam as questões práticas inadiáveis que se
colocavam ao proletariado tais como a organização da insurreição armada, o derrubamento do
governo tsarista, a formação de um governo provisório revolucionário, a participação dos sociaisdemocratas nesse governo, o relacionamento com os camponeses e com a burguesia liberal, etc..
Era necessário definir uma táctica marxista única e reflectida da social-democracia.
Todavia, devido ao oportunismo e ao divisionismo dos mencheviques, a social-democracia russa
estava nessa altura dividida em duas facções. A cisão não se tinha ainda consumado inteiramente,
formalmente estas duas facções não constituíam dois partidos diferentes, embora na prática
2
«O proletariado luta, a burguesia esgueira-se para o poder», artigo publicado no Proletari, n.º 10, 2 de
Agosto 1905, V.I. Lénine, Obras Completas, Gossudárstvenoe Izdátelstvo Politítchesckoi Literaturi, 5ª edição,
Moscovo, 1960, Tomo 11, pág. 149. (N. do T.)
3
Aleksandr Grigórievitch Bulíguine (1851-1919), nobre, grande proprietário de terras, ocupou vários postos
públicos até ser nomeado ministro dos Assuntos Internos, cargo que desempenha entre Janeiro e Outubro de 1905.
Presidiu à comissão especial que elaborou o projecto da I Duma de Estado, que, apesar de nunca ter reunido, passa
a ser conhecida com a Duma de Bulíguine. (N. do T.)
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estivessem já muito próximas disso, dispondo dos seus próprios centros de decisão e órgãos de
imprensa.
A divisão aprofundou-se depois de os mencheviques somarem às suas antigas divergências
sobre as questões de organização novas discordâncias com a maioria do partido, agora sobre as
questões da táctica.
A inexistência de um partido unido traduzira-se na ausência de uma táctica única.
Era possível encontrar uma saída para esta situação se o III Congresso do partido fosse
imediatamente convocado, se aí se definisse uma táctica única e se vinculasse a minoria a acatar e
aplicar honestamente as decisões aprovadas pela maioria. Esta foi precisamente a solução proposta
pelos bolcheviques. Porém os mencheviques não queriam sequer ouvir falar de um novo
Congresso. Considerando que seria um crime deixar o partido sem uma táctica aprovada pelo seu
órgão supremo e vinculativa para todos os seus membros, os bolcheviques decidiram tomar a
iniciativa de convocar o III Congresso.
Todas as organizações do partido, tanto as bolcheviques como as mencheviques, foram
convidadas a participar no Congresso. Contudo, os mencheviques recusaram o convite e decidiram
convocar o seu próprio congresso. Chamaram-lhe conferência devido ao reduzido número de
delegados que compareceram, mas este foi efectivamente um congresso, o congresso do partido
menchevique, cujas decisões se tornaram vinculativas para todos os seus membros.
Em Abril de 1905 reuniu-se em Londres o III Congresso do Partido Operário Social-Democrata
da Rússia. Compareceram 24 delegados em representação de 20 comités bolcheviques. Todas as
grandes organizações do partido estavam representadas.
O Congresso condenou os mencheviques, como «uma parte que se separou do partido», e
passou às questões da ordem de trabalhos relacionadas com a elaboração da táctica.
Em simultâneo reunia-se em Genebra a conferência dos mencheviques.
«Dois congressos, dois partidos», foi assim que Lénine definiu a situação.
Tanto o congresso como a conferência discutiram essencialmente as mesmas questões tácticas,
mas as decisões adoptadas foram de natureza oposta. Os dois conjuntos distintos de resoluções
aprovadas no congresso e na conferência revelaram em toda a sua profundidade as divergências
tácticas entre os bolcheviques e os mencheviques.
Eis os pontos fundamentais destas divergências:
A linha táctica do III Congresso do partido. O Congresso concluiu que apesar do carácter
democrático-burguês da revolução em curso, e apesar de naquele momento não poder ir além dos
limites possíveis do capitalismo, o proletariado era o principal interessado na sua vitória total, uma
vez que esta lhe abriria a possibilidade de se organizar, de se elevar politicamente, adquirir
experiência e hábitos de direcção política das massas trabalhadoras e de passar da revolução
burguesa à revolução socialista.
A táctica do proletariado, pressupondo a vitória total da revolução democrático-burguesa, só
poderia ser apoiada pelo campesinato, já que este não se libertaria dos latifundiários nem receberia
as terras senhoriais sem a vitória total da revolução. O campesinato constituía por isso o aliado
natural do proletariado.
A vitória total desta revolução não interessava à burguesia liberal porque esta tinha necessidade
do poder tsarista, como um chicote contra os operários e os camponeses, a quem temia mais que
qualquer outra coisa, e esforçar-se-ia para manter o tsarismo limitando de algum modo as suas
prerrogativas. Por isso, a burguesia liberal procuraria encerrar o assunto com um acordo com o
tsar na base de uma monarquia constitucional.
A revolução só venceria se fosse liderada pelo proletariado, se este, como seu líder, conseguisse
assegurar a aliança com o campesinato, se a burguesia liberal ficasse isolada, se a socialdemocracia participasse activamente na organização da insurreição popular contra o tsarismo, se
em resultado da uma insurreição vitoriosa fosse constituído um governo provisório revolucionário
capaz de extirpar as raízes da contra-revolução e convocar uma Assembleia Constituinte de todo o
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povo, e se a social-democracia não recusasse participar em condições favoráveis no governo
provisório revolucionário, de modo a levar a revolução até ao fim.
A linha táctica da conferência menchevique. Tratando-se de uma revolução burguesa só a
burguesia liberal poderia liderá-la. O proletariado deveria aproximar-se não do campesinato mas
da burguesia liberal. O importante seria que não assustasse a burguesia liberal com o seu espírito
revolucionário, e não lhe desse pretexto para romper com a revolução, já que isso significaria o
enfraquecimento desta.
Era possível que a insurreição triunfasse mas, após a vitória, a social-democracia deveria
colocar-se à margem, não fosse assustar-se a burguesia liberal. Era possível que em resultado da
insurreição se formasse um governo provisório revolucionário, mas em caso algum a socialdemocracia deveria integrá-lo, uma vez que este governo não teria uma natureza socialista e,
principalmente, porque a participação da social-democracia e o seu espírito revolucionário
poderiam assustar a burguesia liberal e comprometer a revolução.
Do ponto de vista das perspectivas da revolução, o melhor seria convocar uma qualquer
instituição representativa, por exemplo, uma assembleia de zemstvos ou uma Duma de Estado, que
pudesse ser sujeita à influência da classe operária a partir do exterior, com vista a transformá-la em
Assembleia Constituinte ou forçá-la a convocar esta assembleia.
O proletariado tem os seus interesses específicos, puramente operários, deveria ocupar-se
precisamente deles e não tentar tornar-se líder da revolução burguesa, a qual constitui uma
revolução política geral, e que por conseguinte diz respeito a todas as classes e não apenas ao
proletariado.
Estas eram em resumo as tácticas das duas facções do Partido Operário Social-Democrata da
Rússia.
Lénine faz uma análise crítica brilhante da táctica dos mencheviques e fundamenta de modo
genial a táctica dos bolcheviques no seu livro histórico Duas Tácticas da Social-Democracia na
Revolução Democrática.
Este livro foi publicado em Julho de 1905, isto é, dois meses após o III Congresso do partido. A
julgar pelo título da obra, poder-se-ia pensar que nela Lénine trata as questões tácticas apenas
relativas ao período da revolução democrático-burguesa, e que tem em vista unicamente os
mencheviques russos. Na realidade, ao criticar a táctica dos mencheviques, ele desmascara ao
mesmo tempo o oportunismo internacional, e ao fundamentar a táctica marxista no período da
revolução burguesa, definindo as diferenças entre esta e a revolução socialista, formula ao mesmo
tempo os princípios da táctica marxista no período de transição entre a revolução burguesa e a
revolução socialista.
Eis as teses tácticas fundamentais desenvolvidas por Lénine na sua obra Duas Tácticas da
Social-Democracia na Revolução Democrática.
1. A tese táctica fundamental da obra de Lénine é a de que o proletariado pode e deve ser o
líder da revolução democrático-burguesa na Rússia, o seu dirigente.
Lénine reconhecia o carácter burguês desta revolução, uma vez que, como sublinhou, ela «é
incapaz de ultrapassar imediatamente os limites de uma revolução apenas democrática». 4 No
entanto, considerava que esta não era uma revolução das camadas superiores, mas uma revolução
popular que punha em movimento todo o povo, toda a classe operária e todo o campesinato. Por
isso, classificou de traição aos interesses do proletariado as tentativas dos mencheviques de
diminuir a importância da revolução burguesa para o proletariado, de rebaixar o seu papel nela e
de afastá-lo dela.
«O marxismo» – escreveu Lénine – «ensina o proletariado não a ficar à margem da
revolução burguesa, não a ser indiferente a ela, não a entregar a sua direcção à burguesia, antes,
4
Duas Tácticas da Social-Democracia na Revolução Democrática, V.I. Lénine, Obras Escolhidas em seis
tomos, Edições «Avante!», Lisboa, 1984, Tomo I, pág. 231. (N. do T.)
8
pelo contrário, a participar nela do modo mais enérgico, a lutar do modo mais decisivo pela
democracia proletária consequente, para levar até ao fim a revolução». 5
«Não devemos esquecer» – escreveu Lénine – «que actualmente não há nem pode haver outro
meio capaz de aproximar o socialismo senão a completa liberdade política, a república
democrática». 6
Lénine previu dois desenlaces possíveis para a revolução:
a) Ou o processo termina com uma vitória decidida sobre o tsarismo, com o seu derrube e
implantação de uma república democrática;
b) Ou, se as forças não forem suficientes, o processo pode terminar com um acordo entre o tsar e
a burguesia à custa do povo, com uma qualquer constituição truncada ou, o mais provável, com
uma caricatura de tal constituição.
O proletariado está interessado no melhor desenlace, isto é, numa vitória decidida sobre o
tsarismo. Mas uma tal solução só é possível no caso de o proletariado conseguir tornar-se líder,
dirigente da revolução.
«O desenlace da revolução» – escreveu Lénine – «depende do seguinte: desempenhará a classe
operária o papel de auxiliar da burguesia, embora seja um auxiliar poderoso pela intensidade do
seu ataque contra a autocracia, mas politicamente impotente, ou assumirá o papel de dirigente
da revolução popular?». 7
Lénine considerava que o proletariado tinha todas as possibilidades de evitar ser auxiliar da
burguesia e de se tornar o dirigente da revolução democrático-burguesa. Estas possibilidades
consistiam, segundo Lénine, no seguinte:
Em primeiro lugar «o proletariado, que é, pela sua situação, a classe mais avançada e a única
consequentemente revolucionária, é por esta razão chamado a desempenhar o papel dirigente no
movimento revolucionário democrático geral da Rússia». 8
Em segundo lugar o proletariado tem o seu próprio partido político, independente da burguesia,
que lhe permite agrupar-se «como força política independente e única». 9
Em terceiro lugar o proletariado está mais interessado na vitória decidida da revolução que a
burguesia, já que «em certo sentido, a revolução burguesa é mais vantajosa para o proletariado
do que para a burguesia». 10
«É vantajoso para a burguesia» – escreveu Lénine – «apoiar-se em alguns dos restos do
passado contra o proletariado, por exemplo, na monarquia, no exército permanente, etc. É
vantajoso para a burguesia que a revolução burguesa não varra demasiado resolutamente todos
os restos do passado mas deixe de pé alguns deles, que esta revolução não seja inteiramente
consequente, não vá até ao fim, não seja decidida e implacável (…) Para a burguesia é mais
vantajoso que as transformações necessárias num sentido democrático-burguês se produzam
mais lentamente, mais gradualmente, mais prudentemente, menos decididamente, pela via de
reformas e não pela via da revolução (…) que estas transformações desenvolvam o menos
possível a actividade independente, a iniciativa e a energia revolucionárias da gente comum, isto
é, do campesinato e especialmente dos operários, pois, de outro modo, será mais fácil aos
operários “mudar a espingarda de um ombro para o outro, como dizem os franceses, isto é,
dirigir contra a própria burguesia a arma que a revolução burguesa lhes fornecer, a liberdade
que lhes der, as instituições democráticas que surgirem no terreno limpo do regime de servidão.
«Em contrapartida, é mais vantajoso para a classe operária que as transformações
necessárias no sentido democrático-burguês se produzam não pela via de reformas mas por via
5
Idem, ibidem, pág. 200. (N. do T.)
Idem, ibidem, pág. 251. (N. do T.)
7
Idem, ibidem, pág. 171. (N. do T.)
8
Idem, ibidem, pág. 218. (N. do T.)
9
Idem, ibidem, pág. 218. (N. do T.)
10
Idem, ibidem, pág. 198. (N. do T.)
6
9
revolucionária, pois a via das reformas é a via das dilações, dos adiamentos, da agonia dolorosa
e lenta das partes apodrecidas do organismo popular. Os que sofrem mais e em primeiro lugar
com esta putrefacção são o proletariado e o campesinato. A via revolucionária é a via da
operação mais rápida e menos dolorosa para o proletariado, a via da eliminação directa das
partes apodrecidas, a via do mínimo de concessões e cautelas em relação à monarquia e às suas
correspondentes instituições repelentes, ignominiosas e apodrecidas, que envenenam a atmosfera
com a sua decomposição.» 11
«Por isso» – continua Lénine – «o proletariado luta nas primeiras filas pela república e repele
com desprezo os conselhos estúpidos e indignos dele dos que lhe dizem para ter em conta a
possibilidade de afastar a burguesia.» 12
Para que a possibilidade da direcção proletária da revolução se torne realidade, para que o
proletariado se torne efectivamente o líder, o dirigente da revolução burguesa, é necessário,
segundo Lénine, pelo menos duas condições.
Em primeiro lugar é necessário que o proletariado tenha um aliado interessado na vitória
decidida sobre o tsarismo e disposto a aceitar a direcção do proletariado. Isto decorre da própria
ideia de direcção, já que um dirigente deixa de o ser se não tiver quem dirigir e um chefe deixa de o
ser se não tiver subordinados. Este aliado, segundo Lénine, era o campesinato.
Em segundo lugar é necessário que a classe que luta contra o proletariado pela direcção da
revolução, e procura tornar-se ela própria o seu dirigente único, seja afastada das funções de
direcção e isolada. Isto decorre igualmente da própria ideia de direcção, que exclui a possibilidade
de se admitirem dois dirigentes da revolução. Esta classe, segundo Lénine, era a burguesia liberal.
«Somente o proletariado» – escrevia Lénine – «pode ser um lutador consequente pela
democracia. Mas só pode lutar vitoriosamente pela democracia na condição de que a massa do
campesinato se una à sua luta revolucionária.» 13
E mais adiante:
«O campesinato inclui, ao lado dos elementos pequeno-burgueses, uma massa de elementos
semiproletários. Isto fá-lo ser também instável, obrigando o proletariado a formar um partido
rigorosamente de classe. Mas a instabilidade do campesinato é radicalmente diferente da
instabilidade da burguesia, pois neste momento o campesinato está interessado não tanto na
defesa incondicional da propriedade privada como na expropriação da terra aos latifundiários,
que é uma das principais formas desta propriedade. Sem se converter por isso em socialista, nem
deixar de ser pequeno-burguês, o campesinato é capaz de se tornar o mais perfeito e radical
partidário da revolução democrática. O campesinato tornar-se-á inevitavelmente assim desde
que o curso dos acontecimentos revolucionários, para ele esclarecedor, não se interrompa
demasiado cedo pela traição da burguesia e pela derrota do proletariado. O campesinato tornarse-á inevitavelmente, nestas condições, um baluarte da revolução e da república, já que só uma
revolução plenamente vitoriosa pode dar ao campesinato tudo em matéria de reforma agrária,
tudo o que o campesinato quer, o que sonha e de que necessita na realidade». 14
Analisando as objecções dos mencheviques, que afirmavam que a táctica dos bolcheviques
«obrigaria as classes burguesas a afastar-se da revolução, diminuindo desse modo
a sua amplitude», 15 e caracterizando-as como uma «táctica de traição à revolução», uma
«táctica de conversão do proletariado num miserável apêndice das classes burguesas», 16 Lénine
escreveu:
«Quem compreender verdadeiramente o papel do campesinato na revolução russa vitoriosa
será incapaz de dizer que a amplitude diminuirá se a burguesia se afastar. Porque na realidade a
11
Idem, ibidem, págs. 198-199. (N. do T.)
Idem, ibidem, pág. 241. (N. do T.)
13
Idem, ibidem, págs. 207-208. (N. do T.)
14
Idem, ibidem, pág. 241. (N. do T.)
15
Idem, ibidem, pág. 237. (N. do T.)
16
Idem, ibidem, pág. 238. (N. do T.)
12
10
revolução russa não começará a adquirir a sua verdadeira amplitude, não começará a adquirir a
maior amplitude revolucionária possível na época da revolução democrático-burguesa, enquanto
a burguesia não se afastar e a massa do campesinato não intervier como força revolucionária
activa ao lado do proletariado. Para ser levada consequentemente até ao fim, a nossa revolução
democrática deve apoiar-se em forças capazes de paralisar a inevitável inconsequência da
burguesia, isto é, capazes precisamente de “obrigá-la a afastar-se”». 17
Esta é a tese táctica fundamental sobre o proletariado como líder da revolução burguesa, a tese
fundamental sobre a hegemonia (papel dirigente) do proletariado na revolução burguesa,
desenvolvida por Lénine na sua obra Duas Tácticas da Social-Democracia na Revolução
Democrática.
Esta era uma nova abordagem do partido marxista das questões tácticas na revolução
democrática burguesa, que se distinguia profundamente das anteriores concepções tácticas
existentes no arsenal marxista. Até então nas revoluções burguesas, por exemplo no Ocidente, a
questão limitava-se à consideração de que o papel dirigente estava reservado à burguesia; o
proletariado, voluntária ou involuntariamente, desempenhava o papel de seu auxiliar, ao passo que
o campesinato constituía a reserva da burguesia. Os marxistas consideravam esta combinação mais
ou menos inevitável, ressalvando no entanto que o proletariado deveria defender na medida do
possível as suas reivindicações de classe e possuir o seu próprio partido político. Agora, na nova
situação histórica, segundo a orientação de Lénine a questão invertera-se de tal modo que o
proletariado se tornava a força dirigente da revolução burguesa, a burguesia era arredada da
direcção do movimento revolucionário, enquanto o campesinato se convertia em reserva do
proletariado.
A afirmação de que Plekhánov «também defendia» a hegemonia do proletariado baseia-se num
equívoco. Plekhánov exibia-se com a ideia da hegemonia do proletariado, reconhecia-a de bom
grado em palavras, é certo, mas na prática era contra a sua essência. A hegemonia do proletariado
significa que o proletariado tem o papel dirigente na revolução burguesa, aplica uma política de
aliança com o campesinato e uma política de isolamento da burguesia liberal, ora Plekhánov, como
é sabido, era contra a política de isolamento da burguesia liberal, a favor da política de
entendimento com a burguesia liberal e contra a política de aliança do proletariado com o
campesinato. Na verdade a orientação táctica de Plekhánov era a orientação menchevique que
negava a hegemonia ao proletariado.
2. A vitória da insurreição armada popular era para Lénine o principal meio para derrubar o
tsarismo e conquistar a república democrática. Contrariamente aos mencheviques considerava que
o «movimento revolucionário democrático geral já conduziu à necessidade da insurreição
armada», que «a organização do proletariado para a insurreição» já estava colocada «na ordem
do dia como uma das tarefas essenciais, primordiais e necessárias do partido», que era necessário
tomarem-se «as medidas mais enérgicas para armar o proletariado e assegurar a possibilidade
da direcção imediata da insurreição». 18
Para conduzir as massas à insurreição, transformando-a em insurreição popular, Lénine
considerou necessário lançar palavras de ordem e apelos capazes de desencadear a iniciativa
revolucionária, organizar as massas para a insurreição e para a desorganização do aparelho do
poder tsarista. Estas palavras de ordem deveriam ser, segundo considerou, as resoluções tácticas
do III Congresso do partido em defesa das quais consagrou a sua obra Duas Tácticas da SocialDemocracia na Revolução Democrática.
Essas palavras de ordem eram as seguintes:
a) Utilização das «greves políticas de massas, que podem ter grande importância no princípio e
no própria marcha da insurreição»; 19
17
Idem, ibidem, pág. 242. (N. do T.)
Idem, ibidem, pág. 218. (N. do T.)
19
Idem, ibidem, pág. 218. (N. do T.)
18
11
b) A organização do proletariado para «implantar imediatamente, pela via revolucionária, a
jornada de oito horas, assim como para concretizar outras reivindicações imediatas da classe
operária»; 20
c) «A criação imediata de comités camponeses revolucionários para a realização», por via
revolucionária «de todas as transformações democráticas», incluindo a confiscação das terras
senhoriais; 21
d) O armamento dos operários.
Aqui são particularmente interessantes dois momentos:
Em primeiro lugar a táctica da realização revolucionária da jornada de oito horas na cidade e
das transformações democráticas no campo, isto é, de um modo que não leva em conta nem as
autoridades nem a lei, que ignora os poderes constituídos e a legalidade, rompe com as leis
existentes e estabelece uma nova ordem por meios próprios e seu livre arbítrio. Este era um novo
processo táctico, cuja aplicação paralisava o aparelho de poder do tsarismo e libertava a actividade
e a iniciativa criativa das massas. Foi com base nesta táctica que surgiram os comités de greve
revolucionários nas cidades e os comités de camponeses revolucionários no campo, os primeiros
dos quais deram depois origem aos sovietes de deputados operários, e os segundos, aos sovietes de
deputados camponeses.
Em segundo lugar a utilização das greves políticas de massas e a utilização das greves políticas
gerais, que mais tarde desempenharam no decurso da revolução um papel primordial na
mobilização revolucionária das massas. Esta foi uma nova e importantíssima arma nas mãos do
proletariado, desconhecida até então na prática dos partidos marxistas, que adquiriu mais tarde o
direito de cidadania.
Lénine considerava que na sequência da vitória da insurreição popular o governo tsarista
deveria ser substituído por um governo provisório revolucionário. As tarefas deste governo
provisório revolucionário consistiam em consolidar as conquistas da revolução, neutralizar a
resistência da contra-revolução e realizar o programa mínimo do Partido Operário SocialDemocrata Russo. Lénine notou que sem a realização destes objectivos era impossível uma vitória
decisiva sobre o tsarismo. Mas para realizar estes objectivos e alcançar uma vitória decisiva sobre o
tsarismo, o governo provisório revolucionário não podia ser um governo vulgar, mas teria de ser
um governo da ditadura das classes vitoriosas, dos operários e camponeses, da ditadura
revolucionária do proletariado e do campesinato. Baseando-se na conhecida tese de Marx de que
«qualquer estrutura estatal provisória após uma revolução exige uma ditadura, e uma ditadura
enérgica», 22 Lénine chegou à conclusão de que o governo provisório revolucionário, se quiser
garantir uma vitória decisiva sobre o tsarismo, não pode ser outro que a ditadura do proletariado e
dos camponeses.
«A vitória decisiva da revolução sobre o tsarismo» – escreveu Lénine – «é a ditadura
revolucionária democrática do proletariado e do campesinato (…) Esta vitória será precisamente
uma ditadura, isto é, deverá apoiar-se inevitavelmente na força das armas, nas massas
armadas, na insurreição e não em tais ou tais instituições criadas “pela via legal”, “pacífica”. Só
pode ser uma ditadura porque a realização das transformações imediatas e absolutamente
necessárias para o proletariado e o campesinato provocará uma resistência desesperada por
parte dos latifundiários como da grande burguesia e do tsarismo. Sem ditadura será impossível
esmagar esta resistência, rechaçar as tentativas contra-revolucionárias. Mas não será,
naturalmente, uma ditadura socialista mas uma ditadura democrática. Esta ditadura não
poderá tocar (sem toda uma série de graus intermédios de desenvolvimento revolucionário) os
fundamentos do capitalismo. Poderá, no melhor dos casos, efectuar uma redistribuição radical
da propriedade da terra a favor dos camponeses, implantar uma democracia consequente e
20
Idem, ibidem, pág. 186. (N. do T.)
Idem, ibidem, pág. 233. (N. do T.)
22
«A crise e a contra-revolução», Karl Marx, 15 de Setembro de 1848, K. Marx e F. Engels, Obras, 2ª edição,
Gossudárstvenoe Izdátelstvo Politicheskoi Literaturi, Moscovo, 1956, Tomo 5, pág. 431. (N. do T.)
21
12
completa indo até à república, extirpar não só da vida do campo mas também da fábrica todos os
traços asiáticos, servis, iniciar uma melhoria séria na situação dos operários, elevar o seu nível
de vida e, finalmente, last but not least, * levar o incêndio revolucionário à Europa. Semelhante
vitória não converterá ainda, de forma alguma, a nossa revolução burguesa em socialista; a
revolução democrática não ultrapassará directamente os limites das relações económico-sociais
burguesas; mas, apesar disso, terá importância gigantesca para o desenvolvimento futuro da
Rússia e do mundo inteiro. Nada elevará tanto a energia revolucionária do proletariado
mundial, nada encurtará tão consideravelmente o caminho que conduz à sua vitória total como
esta vitória decisiva da revolução iniciada na Rússia.» 23
No que respeita ao relacionamento da social-democracia com o governo provisório
revolucionário e à admissibilidade da participação nele, Lénine defendia integralmente a
correspondente resolução do III Congresso do partido, em que se afirma:
«Em função da correlação de forças e de outros factores, que não é possível fixar com precisão
de antemão, é admissível a participação dos representantes do nosso partido no governo
provisório revolucionário com o fim de lutar implacavelmente contra todas as tentativas contrarevolucionárias e defender os interesses independentes da classe operária;
«É condição necessária para esta participação o rigoroso controlo do partido sobre os seus
representantes e a constante salvaguarda da independência da social-democracia, que tem por
aspiração realizar uma revolução socialista completa, e, portanto, é inimiga irreconciliável de
todos os partidos burgueses;
«Independentemente de ser ou não possível a participação da social-democracia no governo
provisório revolucionário, deve-se propagandear entre as mais amplas camadas do proletariado
a ideia de que é necessário que o proletariado armado, dirigido pela social-democracia, faça
constante pressão sobre o governo provisório, a fim de manter, consolidar e ampliar as
conquistas da revolução.» 24
O argumento dos mencheviques de que o governo provisório seria, ainda assim, um governo
burguês, e que não se podia admitir a participação dos sociais-democratas em semelhante governo,
sob pena de se cometer o mesmo erro que cometeu o socialista francês Millerand, que participou
no governo burguês de França, foi refutado por Lénine mostrando que os mencheviques
confundiam aqui duas coisas distintas e revelavam a sua incapacidade de abordar o problema de
uma perspectiva marxista. Em França tratava-se da participação dos socialistas num governo
burguês reaccionário num período em que não existia uma situação revolucionária no país, o que
deveria impedir os socialistas de participar em semelhante governo. Na Rússia, no entanto,
tratava-se da participação dos socialistas num governo burguês revolucionário, que lutava pela
vitória da revolução, no momento de auge da revolução, circunstância que tornava admissível e,
sob condições favoráveis, obrigatória a participação dos sociais-democratas em semelhante
governo, para dar combate à contra-revolução, não só «de baixo» e do exterior, mas também «de
cima» e do interior do governo.
3) Pugnando pela vitória da revolução burguesa e pela conquista da república democrática,
Lénine não pensava de forma alguma ficar-se pela etapa democrática e limitar a amplitude do
movimento revolucionário à conquista dos objectivos democrático-burgueses. Pelo contrário,
entendia que, na sequência da concretização dos objectivos democráticos, deveria iniciar-se logo a
luta do proletariado e das restantes massas exploradas pela revolução socialista. Lénine
considerava ser obrigação da social-democracia tomar todas as medidas para que a revolução
democrático-burguesa pudesse transformar-se em revolução socialista. E entendia que a ditadura
do proletariado e do campesinato, tendo concluído a vitória sobre tsarismo, era necessária não para
terminar com isto a revolução, mas para prolongar o mais possível o estado de revolução, eliminar
*
O último mas não o menos importante.
Duas Tácticas da Social-Democracia na Revolução Democrática, V.I. Lénine, Obras Escolhidas em seis
tomos, ed. cit., Tomo I pág. 204. (N. do T.)
24
Idem, ibidem, pág. 176. (N. do T.)
23
13
completamente os restos da contra-revolução, propagar a chama da revolução à Europa e,
permitindo durante este tempo ao proletariado educar-se politicamente e organizar-se como um
grande exército, iniciar a passagem directa para a revolução socialista.
Referindo-se à amplitude da revolução burguesa e ao carácter que o partido marxista lhe deveria
conferir, Lénine escreveu:
«O proletariado deve levar até ao fim a revolução democrática, atrelando a si a massa do
campesinato, a fim de esmagar pela força a resistência da autocracia e paralisar a instabilidade
da burguesia. O proletariado deve levar a cabo a revolução socialista, atraindo a si a massa dos
elementos semiproletários da população, a fim de quebrar pela força a resistência da burguesia e
paralisar a instabilidade do campesinato e da pequena burguesia. Tais são as tarefas do
proletariado, que os novo-iskristas conceberam de modo tão estreito em todos os seus raciocínios
e resoluções sobre a amplitude da revolução.» 25
E mais à frente:
«À cabeça de todo o povo e em particular do campesinato – pela liberdade total, pela
revolução democrática consequente, pela república! À cabeça de todos os trabalhadores e
explorados – pelo socialismo! Tal deve ser na prática a política do proletariado revolucionário,
tal é a palavra de ordem de classe que deve penetrar e determinar a solução de todas as questões
tácticas, de todos os passos práticos do partido operário durante a revolução». 26
Para que não restasse qualquer imprecisão, dois meses após a publicação do seu livro Duas
Tácticas, no artigo intitulado «A posição dos sociais-democratas sobre o movimento do
campesinato», Lénine afirmou:
«Da revolução democrática começamos agora mesmo a passar, exactamente na medida da
nossa força, a força do proletariado consciente e organizado, começamos a passar à revolução
socialista. Somos pela revolução permanente. Não ficaremos a meio caminho.» 27
Esta era uma nova orientação sobre a questão da correlação entre as revoluções burguesa e
socialista, uma nova teoria do reagrupamento de forças em torno do proletariado no final da
revolução burguesa para a passagem directa à revolução socialista – a teoria da transformação da
revolução democrático-burguesa em revolução socialista.
Ao elaborar esta nova orientação Lénine baseou-se em primeiro lugar na conhecida tese de Marx
sobre a revolução permanente, formulada nos finais dos anos 40 do século XIX na «Mensagem da
Direcção Central à Liga dos Comunistas», 28 e em segundo lugar na conhecida reflexão de Marx
sobre a necessidade de combinar o movimento revolucionário camponês com a revolução
proletária, referida numa carta a Engels de 1856 na qual se afirma: «Tudo na Alemanha dependerá
da possibilidade de apoiar a revolução proletária por uma espécie de segunda edição da guerra
camponesa.» 29 Todavia estas reflexões geniais não obtiveram desenvolvimento ulterior nas obras
de Marx e Engels, tendo os teóricos da II Internacional tomado todas as medidas para sepultá-las
no túmulo e votá-las ao esquecimento. Coube a Lénine a tarefa de trazer de novo à luz estas teses
esquecidas e recuperá-las integralmente. Mas tendo reconstituído estas teses de Marx, Lénine não
se limitou a repeti-las simplesmente, nem o podia fazer, mas desenvolveu-as e transformou-as
numa teoria coerente da revolução socialista, introduzindo um novo elemento, como elemento
obrigatório da revolução socialista – a aliança do proletariado e dos elementos semiproletários da
cidade e do campo como condição para a vitória da revolução proletária.
25
Idem, ibidem, pág. 242-243. (N. do T.)
Idem, ibidem, pág. 253. (N. do T.)
27
«A posição dos sociais-democratas sobre o movimento do campesinato», publicado no Proletari, n.º 16 14
(1) Setembro de 1905, V.I. Lénine Obras Completas, ed. cit., Moscovo, 1960, Tomo 11, pág. 222. (N. do T.)
28
«Mensagem da Direcção Central à Liga dos Comunistas», K. Marx e F. Engels, Obras Escolhidas em três
tomos, Edições «Avante!», Lisboa, 1982, Tomo I, págs. 178-188. (N. do T.)
29
«Marx a Friedrich Engels (em Manchester)», Londres, 16 de Abril de 1856», K. Marx e F. Engels, ed. cit.,
Lisboa, 1982, Tomo I, pág. 557. (N. do T.)
26
14
Esta orientação desfez em pó as posições da social-democracia da Europa ocidental, que partia
do pressuposto de que, após a revolução burguesa, as massas camponesas, incluindo as massas
pobres, deveriam obrigatoriamente afastar-se da revolução, uma vez que após a revolução
burguesa surgiria um período prolongado de intervalo, um período prolongado de «acalmia», de
50 a 100 anos senão mais no decurso do qual o proletariado seria explorado «pacificamente» e a
burguesia enriqueceria «legitimamente» enquanto não surgisse o momento de uma nova
revolução, a revolução socialista.
Esta era a nova teoria da revolução socialista, que seria realizada não pelo proletariado isolado
contra toda a burguesia, mas pelo proletariado hegemónico que tinha os seus aliados na pessoa
dos elementos semiproletários da população, na pessoa de milhões de «trabalhadores e massas
exploradas».
Segundo esta teoria, a hegemonia do proletariado na revolução burguesa, com a aliança do
proletariado e do campesinato, deveria transformar-se na hegemonia do proletariado na revolução
socialista, com a aliança do proletariado e dos restantes trabalhadores e massas exploradas,
enquanto a ditadura democrática do proletariado e do campesinato deveria preparar o terreno para
a ditadura socialista do proletariado.
Esta concepção derrubou a teoria corrente dos sociais-democratas da Europa ocidental, que
negavam as possibilidades revolucionárias das massas semiproletárias da cidade e do campo,
afirmando que «além da burguesia e do proletariado, não vemos outras forças sociais no nosso
país nas quais se possam apoiar combinações de oposição ou revolucionárias» 30 (palavras de
Plekhánov, típicas dos sociais-democratas da Europa ocidental).
Os sociais-democratas da Europa ocidental consideravam que o proletariado estaria sozinho na
revolução socialista contra toda a burguesia, sem aliados, contra todas as classes e camadas não
proletárias. Não queriam tomar em consideração o facto de que o capital não só explora os
proletários mas também as camadas semiproletárias de milhões da cidade e do campo, que são
asfixiadas pelo capitalismo e que podem tornar-se aliados do proletariado na luta pela libertação da
sociedade do jugo capitalista. Por isso concluíam que as condições para a revolução socialista não
tinham ainda amadurecido na Europa e que só se poderiam considerar maduras quando o
proletariado se tornasse a maioria da nação, a maioria da sociedade, em resultado do
desenvolvimento económico futuro da sociedade.
Esta concepção putrefacta e antiproletária dos sociais-democratas da Europa ocidental foi
derrubada de alto a baixo pela teoria leninista da revolução socialista.
Na teoria de Lénine ainda não existia a conclusão directa sobre a possibilidade da vitória do
socialismo num só país em separado. Mas já lá estavam todos ou quase todos os elementos
fundamentais necessários para se chegar mais tarde ou mais cedo a essa conclusão.
Como é sabido, Lénine só chegou a essa conclusão em 1915, isto é, passados dez anos.
São estas pois as teses tácticas fundamentais desenvolvidas por Lénine no seu livro histórico
Duas Tácticas da Social-Democracia na Revolução Democrática.
A importância histórica deste livro consiste antes de mais no facto de ter demolido
ideologicamente a concepção táctica pequeno-burguesa dos mencheviques, de ter armado a classe
operária da Rússia para o desenvolvimento subsequente da revolução democrático-burguesa, para
um novo ataque contra o tsarismo, e ter dado aos sociais-democratas russos uma perspectiva clara
sobre a necessidade de transformação da revolução burguesa em revolução socialista.
Mas a importância da obra de Lénine não se esgota nisto. A sua inestimável importância reside
no facto de ter enriquecido o marxismo com uma nova teoria da revolução e ter lançado os alicerces
da táctica revolucionária do partido bolchevique, com a ajuda da qual o proletariado do nosso país
pôde vencer o capitalismo em 1917.
30
Ver nota 11 no I Capítulo. (N do T.)
15
4. O subsequente ascenso da revolução. A greve política geral de Outubro de 1905
em toda Rússia. O recuo do tsarismo. O manifesto do tsar. O surgimento dos
sovietes de deputados operários.
No Outono de 1905, o movimento revolucionário estendeu-se a todo o país. Crescia com uma
enorme força. Em 19 de Setembro começou em Moscovo a greve dos tipógrafos, que alastrou a
Petersburgo e outras cidades. Na própria cidade de Moscovo, a greve foi apoiada pelos operários de
outras indústrias e transformou-se numa greve geral política.
No início de Outubro foi declarada a greve no caminho-de-ferro Moscovo-Kazan. Um dia depois
todo o nó ferroviário de Moscovo estava paralisado. Depressa a greve alastrou a todos os caminhosde-ferro do país. Também paralisaram os correios e telégrafo. Em várias cidades da Rússia os
operários reuniram-se aos milhares em comícios e decidiram suspender o trabalho. A greve tomava
fábrica após fábrica, empresa após empresa, cidade após cidade, região após região. Aos operários
em greve juntaram-se os empregados, os estudantes, os intelectuais – advogados, engenheiros,
médicos, etc..
A greve política de Outubro tornou-se geral, afectando praticamente todo o país, incluindo as
regiões mais distantes, envolvendo quase a totalidade dos operários, mesmo as camadas mais
atrasadas. Na greve geral participaram cerca de um milhão de operários industriais sem contar
com os ferroviários, os trabalhadores dos correios e telegrafo e de outros sectores que também
registaram um grande número de grevistas. A vida do país parou. As forças do governo ficaram
paralisadas.
A classe operária encabeçava a luta das massas populares contra a autocracia.
A palavra de ordem dos bolcheviques apelando à greve política produziu os seus resultados.
A greve geral de Outubro mostrou a força, a pujança do movimento proletário e obrigou o tsar
tremendamente assustado a publicar um manifesto em 17 de Outubro de 1905. Neste manifesto
eram prometidas ao povo «as bases inabaláveis das liberdades civis: inviolabilidade efectiva do
indivíduo, liberdade de consciência, de expressão, de reunião e de associação». Além disso, foi
prometida a convocação da Duma legislativa e o alargamento do sufrágio a todas as classes da
população.
Deste modo, a Duma consultiva de Bulíguine foi varrida pela força da revolução. A táctica
bolchevique de boicote a este órgão de fachada revelou-se justa.
E no entanto, apesar disso, o manifesto de 17 de Outubro era um logro para as massas, um ardil
do tsar, uma espécie de trégua de que precisou para adormecer os crédulos, ganhar tempo e
acumular forças para depois investir contra a revolução. O governo tsarista prometia em palavras a
liberdade, mas na prática não iria dar nada de substancial ao povo. Os operários e os camponeses
nada receberam do governo para além de promessas. Em vez da esperada ampla amnistia política,
apenas uma pequena parte dos presos políticos foi amnistiada em 21 de Outubro. Ao mesmo
tempo, procurando dividir as forças populares, o governo organizou uma série de pogroms
sangrentos contra judeus, durante os quais morreram muitos milhares de pessoas, e para reprimir
a revolução criou organizações policiais de bandidos, como a União do Povo Russo ou a Liga do
Arcanjo S. Miguel. Estas organizações, nas quais desempenhavam um papel destacado os
latifundiários, comerciantes, popes reaccionários e indivíduos marginais semicriminosos, foram
baptizadas pelo povo de «Centúria Negra». Com a colaboração da polícia, os tchernossótentsi 31
espancavam e assassinavam abertamente operários de vanguarda, intelectuais revolucionários,
estudantes, incendiavam e disparavam sobre comícios e reuniões de cidadãos. Era este para já o
aspecto dos resultados do manifesto do tsar.
Na altura circulou entre o povo uma pequena canção com as seguintes palavras:
31
Membros da Tchiórnaia Sotnia (Centúria Negra), designação comum a todos os grupos terroristas de
extrema-direita que se formaram na Rússia tsarista na sequência da revolução de 1905-1907. (N. do T.)
16
O tsar assustado
um manifesto quis editar:
Aos mortos – a liberdade,
Os vivos – aprisionar.
Os bolcheviques explicaram às massas que o manifesto de 17 de Outubro era uma cilada.
Qualificaram a conduta do governo após o manifesto como uma provocação. Apelaram aos
operários para que pegassem em armas e preparassem a insurreição armada.
Os operários começaram a criar milícias armadas ainda com mais energia. Era claro para eles
que a primeira vitória de 17 de Outubro, arrancada com a greve política geral, lhes exigia novos
esforços e a continuação da luta para o derrubamento do tsarismo.
Lénine classificou o manifesto de 17 de Outubro como um momento de um certo equilíbrio
provisório de forças, quando os operários e camponeses, tendo arrancado ao tsar o manifesto,
ainda não tinham forças suficientes para derrubar o tsarismo, mas o tsarismo já não podia
governar apenas através dos meios anteriores, e era obrigado a prometer em palavras «liberdades
civis» e uma Duma «legislativa».
Nos conturbados dias da greve política de Outubro, no calor da luta contra o tsarismo, a
criatividade revolucionária das massas operárias gerou uma poderosa nova arma – os sovietes de
deputados operários.
Os sovietes de deputados operários, que reuniam delegados de todas as fábricas e empresas,
eram uma organização política de massas da classe operária sem precedentes em todo o mundo.
Surgidos pela primeira vez em 1905, os sovietes constituíram o protótipo do Poder Soviético,
criado pelo proletariado em 1917, sob a direcção do partido bolchevique. Os sovietes constituíam
uma nova forma revolucionária da criatividade popular. Foram obra exclusiva das camadas
revolucionárias da população, quebrando todas as leis e normas do tsarismo. Foram uma
manifestação do espírito de iniciativa do povo, que se levantava para a luta contra o regime tsarista.
Os bolcheviques consideravam os sovietes como embriões do poder revolucionário, cuja força e
importância dependiam inteiramente da força e dos êxitos da insurreição.
Os mencheviques não consideravam os sovietes nem como órgãos embrionários do poder
revolucionário nem como órgãos da insurreição. Viam-nos como órgãos de autogoverno local, uma
espécie de autarquias urbanas democratizadas.
Em 13 (26) de Outubro de 1905 realizaram-se eleições para o Soviete de Deputados Operários
em todas as fábricas e empresas de Petersburgo. À noite teve lugar a primeira sessão do Soviete. A
seguir foi organizado o Soviete de Moscovo.
O Soviete de Deputados Operários de Petersburgo, enquanto órgão do maior centro industrial e
revolucionário da Rússia, a capital do império tsarista, deveria ter desempenhado um papel
decisivo na revolução de 1905. Contudo, não cumpriu a sua missão devido à má direcção dos
mencheviques. Como é sabido, Lénine não estava em Petersburgo nessa altura, encontrando-se
ainda no estrangeiro. Os mencheviques aproveitaram a sua ausência para se introduzirem no
Soviete de Petersburgo e se instalarem na sua direcção. Não surpreende que nessas condições os
mencheviques Khrustaliov, 32 Trótski, Párvus 33 e outros tivessem conseguido voltar o Soviete de
32
Piotr Alekséievitch Khrustaliov, verdadeiro nome Gueórgui Stepánovitch Nossap, (1879-1918), de origem
camponesa, foi um dos iniciadores do movimento sindical em 1905, tornando-se presidente do Soviete de
Operários Deputados de Petersburgo. Exilado em 1906, evade-se em 1907 e participa no V Congresso do POSDR,
em Londres. Abandona o partido em 1909 e afasta-se da política. Em 1914 regressa à Rússia para defender a
pátria na II Guerra Mundial. É preso no ano seguinte, sendo libertado após a revolução de Fevereiro de 1917. Ao
voltar à sua terra natal na Ucrânia, torna-se presidente de um zemstvo. Depois de Outubro, apoia os contrarevolucionários Skoropádski e Petliura e participa na perseguição das organizações comunistas clandestinas.
Capturado em 1918, é executado pelo Poder Soviético. (N. do T.)
33
Aleksandr Párvus, verdadeiro nome Israil Lazárevitch Guelfand, (1867-1924). Filho de artesãos judeus,
adere na juventude aos círculos populistas de Odessa. Com 19 anos viaja para Zurique, onde conhece figuras
17
Petersburgo contra a política da insurreição. Em vez de procurarem aproximar os soldados do
Soviete e ligá-los à luta geral, exigiram a retirada das tropas de Petersburgo. Em vez de armar os
operários e prepará-los para a insurreição, o Soviete marcou passo, manifestando-se contra a
preparação da insurreição.
Completamente diferente foi o papel desempenhado na revolução pelo Soviete de Deputados
Operários de Moscovo. Desde os primeiros dias da sua existência, conduziu uma política
revolucionária até ao fim. A sua direcção pertencia aos bolcheviques e foi graças a eles que, ao lado
do Soviete de Operários Deputados, surgiu o Soviete de Deputados Soldados. O Soviete de Moscovo
tornou-se o órgão da insurreição armada.
De Outubro a Dezembro de 1905 foram criados sovietes de deputados operários numa série de
grandes cidades e em quase todos os centros operários. Fizeram-se tentativas para organizar
sovietes de deputados soldados e marinheiros e uni-los com os sovietes de deputados operários.
Em alguns locais foram criados sovietes de deputados operários e camponeses.
A influência dos sovietes era enorme. Apesar de frequentemente surgirem de forma espontânea,
não estarem oficializados e de a sua composição ser vaga, agiam como poder. Por via
revolucionária instauraram a liberdade de imprensa e a jornada de trabalho de oito horas, e
apelaram ao povo para não pagar impostos ao governo tsarista. Em alguns casos, confiscaram
dinheiro do governo tsarista e utilizaram-no nas necessidades da revolução.
5. A insurreição armada de Dezembro e a sua derrota. O recuo da revolução. A I
Duma de Estado. O IV Congresso (unificador) do partido.
Entre Outubro e Novembro de 1905, a luta revolucionária das massas continuou a desenvolverse com uma força enorme. As greves operárias prosseguiam.
A luta dos camponeses contra os latifundiários adquiriu amplas proporções no Outono de 1905.
O movimento camponês tinha alastrado a mais de um terço dos distritos de todo o país. Nas
províncias de Sarátov, Tambov, Chernígov, Tiflis, Kutaís e nalgumas outras estavam em curso
verdadeiras revoltas camponesas. Todavia o avanço das massas camponesas era ainda insuficiente.
O movimento camponês não tinha a organização e a direcção necessárias.
A agitação aumentava também entre os soldados numa série de cidades, como Tiflis,
Vladivostok, Tachkent, Samarcanda, Kursk, Sukhumi, Varsóvia e Riga. A revolta rebentou em
Kronchtadt e entre os marinheiros da esquadra do Mar Negro, em Sebastópol (Novembro de 1905).
Mas, estando isoladas, estas sublevações foram esmagadas pelo tsarismo.
Com frequência o motivo destas revoltas no exército e na marinha era a extrema rudeza dos
oficiais, a má qualidade da comida («as revoltas dos grãos»), etc..
As massas de marinheiros e soldados revoltados não tinham ainda uma consciência clara da
necessidade de derrubar o governo tsarista e de prosseguir energicamente a luta armada. Os
soldados e marinheiros revoltosos eram ainda demasiado pacíficos e indulgentes. Não poucas vezes
cometeram o erro de libertar os oficiais acreditando em promessas e na palavra dos superiores.
A revolução estava à beira da insurreição armada. Os bolcheviques apelavam às massas para a
insurreição armada contra o tsar e os latifundiários, explicavam-lhes a sua inevitabilidade. Com
afinco, os bolcheviques preparavam a insurreição armada. Conduziram um trabalho revolucionário
destacadas do grupo Emancipação do Trabalho e se torna marxista. Depois de se doutorar em Filosofia na
Universidade de Basileia (1891), muda-se para a Alemanha onde adere ao Partido Social-Democrata (SPD). Em
1905 regressa à Rússia e integra juntamente com Trótski o comité executivo do Soviete de Operários Deputados
de Petersburgo. Condenado ao exílio em 1906, consegue evadir-se durante a viagem e chegar à Alemanha. Aí
desvia uma importante soma de dinheiro que pertencia ao SPD. Instala-se na Turquia em 1910 como comerciante
de produtos alimentares e armas, acumulando uma considerável fortuna. Após o deflagrar da I Guerra, toma o
partido da Alemanha contra a Rússia, cujo desmembramento defende em nome dos «interesses da democracia
europeia». (N. do T.)
18
entre os soldados e marinheiros, e foram criadas organizações militares do partido no Exército.
Numa série de cidades formaram-se milícias operárias de combate, cujos membros eram ensinados
a manejar armas. Foi organizada a compra de armas no estrangeiro e o seu envio clandestino para
a Rússia. Na organização do transporte de armas participaram destacados militantes do partido.
Em Novembro de 1905 Lénine regressou à Rússia. Escondendo-se dos gendarmes e
informadores do tsar, participou directamente na preparação da insurreição armada. Os seus
artigos, publicados no jornal bolchevique Novaia Jizn [«Vida Nova»], definiam as directivas do
trabalho diário do partido.
Nessa altura, o camarada Stáline desenvolvia um enorme trabalho revolucionário na
Transcaucásia. Desmascarou e fulminou os mencheviques como inimigos da revolução e da
insurreição armada. Preparou com firmeza operários para a batalha decisiva contra a autocracia.
Num comício realizado em Tiflis, no dia da proclamação do manifesto do tsar, Stáline disse aos
operários:
«Que precisamos nós para vencermos verdadeiramente? Para isso precisamos de três coisas:
em primeiro lugar armamento, em segundo lugar armamento, e em terceiro lugar cada vez mais
armamento».
Em Dezembro de 1905 reuniu-se em Tammerfors, na Finlândia, a conferência dos bolcheviques.
Apesar de formalmente os bolcheviques e os mencheviques integrarem o mesmo Partido SocialDemocrata, eles constituíam de facto dois partidos diferentes, com os seus centros de decisão
separados. Nesta conferência Lénine e Stáline encontraram-se pessoalmente pela primeira vez.
Antes tinham mantido contactos por correspondência ou através de camaradas.
Das decisões da conferência de Tammerfors devem assinalar-se duas em particular: uma sobre o
restabelecimento da unidade do partido, que estava de facto dividido em dois, e outra sobre o
boicote à chamada Duma de Vitte. 34
Dado que nesse momento a insurreição armada já começara em Moscovo, a conferência, por
recomendação de Lénine, terminou rapidamente os seus trabalhos, e os delegados regressaram aos
seus locais para participar na insurreição.
Entretanto, o governo tsarista não dormia. Também ele se preparava para o combate decisivo.
Tendo concluído a paz com o Japão, e com isso aliviado a sua difícil situação, o governo tsarista
passou à ofensiva contra os operários e camponeses. Declarou a lei marcial numa série de
províncias atingidas pela revolução camponesa, emitiu directivas cruéis como a de «não fazer
prisioneiros» e «não poupar balas», ordenou a prisão dos dirigentes do movimento revolucionário
e a dissolução dos sovietes de deputados operários.
Face a isto, os bolcheviques de Moscovo e o Soviete de Deputados Operários por eles dirigido,
que estava ligado às amplas massas operárias, decidiram iniciar de imediato a preparação da
insurreição armada. Em 5 (18) de Dezembro, o Comité de Moscovo tomou a decisão de propor ao
Soviete a declaração da greve geral política, para transformá-la no decurso da luta em insurreição.
Esta proposta foi apoiada nas reuniões operárias de massas. O Soviete de Moscovo acatou a
vontade da classe operária e por unanimidade decretou a greve geral política.
Ao iniciar a insurreição, o proletariado de Moscovo tinha a sua organização militar, composta
por cerca de mil homens, dos quais mais de metade eram bolcheviques. Existiam ainda milícias
numa série de fábricas de Moscovo. Ao todo, os sublevados dispunham de dois mil combatentes.
Os operários contavam neutralizar as tropas da guarnição, cindir uma parte e trazê-la para o seu
lado.
34
Serguei Iúlievitch Vitte (1849 -1915), conde, ministro das Finanças (1892-1903), presidente do Conselho de
Ministros do império russo 1905-1906. É-lhe atribuída a redacção do manifesto do tsar de 17 de Outubro de 1905,
no qual são prometidas várias reformas, designadamente a Duma que entra em funções ainda sob a vigência do
seu governo, sendo por isso chamada nesse período «Duma de Vitte». (N. do T.)
19
Em 7 (20) de Dezembro iniciou-se a greve política em Moscovo. Porém, não foi possível
propagar a greve a todo o país: em Petersburgo não teve o necessário apoio, e isso diminuiu logo de
início as possibilidades de êxito da insurreição. A linha ferroviária de Nicolai, hoje chamada
Outubro, permaneceu sob controlo do governo. A circulação nesta via não foi interrompida
permitindo ao governo deslocar de Petersburgo os regimentos da Guarda para esmagar a
insurreição em Moscovo.
Na própria Moscovo a guarnição estava hesitante. Os operários tinham começado a insurreição
contando em parte com o apoio da guarnição. Mas os revolucionários perderam tempo e o governo
conseguiu controlar a agitação na guarnição.
Em 9 (22) de Dezembro surgiram em Moscovo as primeiras barricadas, que depressa cobririam
toda a cidade. O governo pôs a artilharia em acção. Reuniu tropas em número várias vezes superior
às forças revolucionárias. Durante nove dias alguns milhares de operários armados travaram uma
luta heróica. Só depois de transferir tropas de Petersburgo, de Tver e da região ocidental, o
tsarismo conseguiu esmagar a insurreição. Uma parte dos órgãos de direcção da revolta foi presa
na véspera da batalha, enquanto outra parte ficou isolada. O Comité de Moscovo bolchevique foi
preso. A acção armada ficou reduzida a insurreições de alguns bairros localizados, separados entre
si. Tendo perdido o centro de direcção, não dispondo de um plano geral de combate para toda a
cidade, cada bairro limitou-se no fundamental à defensiva. Esta foi, como assinalou mais tarde
Lénine, uma das principais razões da fraqueza da insurreição de Moscovo e uma das causas da sua
derrota.
A insurreição teve um carácter particularmente tenaz e encarniçado na barricada de Krásnaia
Présnia, em Moscovo. Esta era a principal fortaleza da insurreição, o seu centro. Ali concentraramse as melhores milícias de combate dirigidas pelos bolcheviques. Contudo, Krásnaia Présnia foi
esmagada a ferro e fogo, submersa em sangue e consumida pelas labaredas dos incêndios
provocados pela artilharia. A insurreição de Moscovo fora esmagada.
Para além de Moscovo registaram-se igualmente sublevações revolucionárias noutras cidades e
regiões, como Krasnoiarsk, Motovilikha (Perm), Novorrossisk, Sórmovo, Sebastópol e Kronchtadt.
Na luta armada ergueram-se também os povos oprimidas da Rússia. Quase toda a Geórgia foi
envolvida pela insurreição. Uma grande revolta teve lugar na bacia do Donbass, na Ucrânia,
designadamente em Górlovka, Aleksándrovsk e Lugansk (Vorochilovgrado). Também na Letónia a
luta foi persistente. Na Finlândia os operários criaram a sua guarda vermelha e desencadearam a
insurreição.
Porém, à semelhança de Moscovo, todas estas revoltas foram esmagadas pelo tsarismo com uma
crueldade desumana.
Os mencheviques e os bolcheviques fizeram uma avaliação diferente da insurreição armada de
Dezembro.
O menchevique Plekhánov, após a insurreição armada, fez a seguinte recriminação ao partido:
«Não se devia ter pegado em armas». Os mencheviques argumentaram que a insurreição era
desnecessária e prejudicial, que se podia prescindir da insurreição na revolução e que se podia
alcançar o êxito não com a insurreição armada, mas através de meios pacíficos de luta.
Os bolcheviques qualificaram esta apreciação como uma traição. Consideraram que a
experiência da insurreição armada de Moscovo apenas confirmava a possibilidade de êxito da luta
armada da classe operária. À crítica de Plekanov, de que «não se devia ter pegado em armas»,
Lénine respondeu:
«Pelo contrário, o que era preciso era pegar em armas mais decidida, enérgica e
ofensivamente, o que era preciso era explicar às massas a impossibilidade de uma greve
puramente pacífica e a necessidade de uma luta armada intrépida e implacável.» 35
A insurreição de Dezembro de 1905 constituiu o ponto mais alto da revolução. Em Dezembro, a
autocracia tsarista infligiu uma derrota à insurreição. Depois desta derrota iniciou-se a viragem
35
«As lições da insurreição de Moscovo», publicado no jornal Proletari, n.º 2, de 29 de Agosto de 1906, V.I.
Lénine, Obras Escolhidas em três tomos, ed. cit., Lisboa, 1977, Tomo I, pág. 475. (N. do T.)
20
para o recuo gradual da revolução. O ascenso da revolução foi sucedido pelo seu declínio
progressivo.
O governo tsarista apressou-se a aproveitar esta derrota para acabar com a revolução. Os
verdugos e os carcereiros do tsar lançaram-se ao seu trabalho sangrento. Expedições punitivas na
Polónia, na Letónia, na Estónia, na Transcaucásia, na Sibéria cometeram atrocidades por todo o
lado.
Contudo, a revolução ainda não tinha sido esmagada. Os operários e camponeses
revolucionários recuavam lentamente batalhando. Novas camadas de operários envolveram-se na
luta. Em 1906 mais de um milhão de operários participaram em greves. Em 1907 foram 740 mil.
No primeiro semestre de 1906, o movimento camponês tinha alastrado a cerca de metade dos
distritos da Rússia tsarista e, no segundo semestre, mantinha-se numa quinta parte. No exército e
na marinha continuavam a registar-se distúrbios.
Na sua luta contra a revolução, o governo tsarista não se limitou às repressões. Depois de
alcançar os primeiros êxitos por esta via, decidiu desferir um novo golpe na revolução através da
convocação de uma nova Duma «legislativa». Contava com isso afastar os camponeses da
revolução e pôr assim um termo à revolução. Em Dezembro de 1905, o governo tsarista publicou o
decreto sobre a convocação da nova Duma dita «legislativa», diferentemente da anterior Duma
«consultiva» de Bulíguine, cujo projecto foi varrido pelo boicote dos bolcheviques. Obviamente, a
lei eleitoral tsarista era antidemocrática. O sufrágio não era universal. Mais de metade da
população não tinha direito ao voto, designadamente as mulheres e mais de dois milhões de
operários. As eleições não eram iguais. Os eleitores estavam separados em quatro «cúrias»,
designadas na altura do seguinte modo: a dos proprietários fundiários (latifundiários), a urbana
(burguesia), a dos camponeses e a dos operários. As eleições não eram directas, mas por
patamares. Na prática o voto não era secreto. A lei eleitoral garantia um enorme predomínio de um
punhado de latifundiários e capitalistas sobre os milhões de operários e camponeses.
Com a Duma, o tsar pretendia alienar as massas da revolução. Uma parte significativa do
campesinato acreditava naquela altura na possibilidade de receber terra através da Duma. Os
kadetes, os mencheviques e os socialistas-revolucionários enganavam os operários e os
camponeses, fazendo-lhes crer que seria possível alcançar o regime de que o povo necessitava sem
insurreição e sem revolução. Na sua luta contra os que enganavam o povo, os bolcheviques
declararam e seguiram a táctica de boicote à I Duma, conforme a decisão tomada na Conferência de
Tammerfors.
Em luta contra o tsarismo, os operários exigiam a unidade das forças do partido, a unificação do
partido. Os bolcheviques, munidos com a decisão da Conferência de Tammerfors sobre a unidade,
apoiaram esta reivindicação dos operários e propuseram aos mencheviques a convocação de um
Congresso de unificação do partido. Sob a pressão das massas operárias, os mencheviques foram
forçados a concordar com a unificação.
Lénine era pela unificação, mas uma unificação que não escamoteasse as divergências sobre as
questões da revolução. Os conciliadores (Bogdánov, 36 Krássine e outros), que se esforçaram por
demonstrar que não existiam divergências importantes entre os mencheviques e os bolcheviques,
causaram grande dano ao partido. Combatendo os conciliadores, Lénine exigiu que os bolcheviques
apresentassem no Congresso a sua plataforma própria, para que os operários vissem claramente
quais eram as suas posições e em que bases a unificação se processava. Os bolcheviques
elaboraram essa plataforma e submeteram-na à discussão dos membros do partido.
Em Abril de 1906 reuniu-se em Estocolmo (Suécia) o IV Congresso do POSDR, chamado o
Congresso da Unificação. Nele participaram 111 delegados com voto deliberativo, em representação
de 57 organizações locais do partido. Assistiram ainda representantes de partidos sociais36
Aleksandr Aleksándrovitch Bogdánov, verdadeiro apelido Malinóvski, (1873-1928), membro do partido
desde 1896, do CC desde 1905, é expulso em 1909. Participou na tradução russa de O Capital de K. Marx (1910).
Médico, economista e filósofo, afirma-se em 1918 como o ideólogo da Proletkultura, exercendo o cargo de
director do Instituto Científico de Transfusão de Sangue entre 1926-1928. (N. do T.)
21
democratas nacionais: três do Bund, três do Partido Social-Democrata Polaco e três da organização
social-democrata da Letónia.
Em consequência do desmantelamento das organizações bolcheviques durante e após a
insurreição de Dezembro, nem todas puderam enviar delegados ao Congresso. Para além disso,
«nos dias da liberdade» de 1905, os mencheviques tinham admitido nas suas fileiras uma massa de
intelectuais pequeno-burgueses que não tinham qualquer afinidade com o marxismo
revolucionário. Bastará referir que os mencheviques de Tiflis (onde havia poucos operários
industriais) enviaram ao Congresso tantos delegados como Petersburgo, a maior organização
proletária. Deste modo, os mencheviques estavam em maioria no Congresso de Estocolmo, embora
por uma pequena diferença.
Esta composição determinou o carácter menchevique das resoluções adoptadas relativamente a
toda uma série de questões.
A unificação realizada foi meramente formal. No fundamental, bolcheviques e mencheviques
mantiveram os seus pontos de vista, bem como as suas organizações independentes.
As principais questões discutidas no Congresso foram a questão agrária, a situação actual e as
tarefas de classe do proletariado, a atitude em relação à Duma e questões de organização.
A despeito de estarem em maioria no Congresso, os mencheviques foram obrigados a aceitar a
formulação de Lénine do primeiro parágrafo dos Estatutos sobre a filiação no partido.
Na questão agrária, Lénine defendeu a nacionalização da terra, medida que considerava ser
possível somente com a vitória da revolução e depois do derrubamento do tsarismo. Nesse caso, a
nacionalização da terra facilitaria a passagem à revolução socialista pelo proletariado em aliança
com os pobres do campo. A nacionalização da terra exigia a expropriação sem indemnização
(confiscação) de toda a terra dos latifúndios a favor dos camponeses. O programa agrário dos
bolcheviques chamava os camponeses a aderir à revolução contra o tsar e os latifundiários.
Os mencheviques tinham posições diferentes. Defendiam um programa de municipalização de
acordo com o qual as terras dos latifúndios seriam entregues não às comunidades camponesas,
nem sequer o seu usufruto, mas aos municípios (isto é, autarquias locais ou zemstvos). Os
camponeses deveriam arrendar a terra na medida das suas possibilidades.
O programa menchevique da municipalização era um programa conciliador, e portanto nocivo à
revolução. Ele não poderia mobilizar os camponeses para a luta revolucionária uma vez que não
preconizava a eliminação total da propriedade dos latifúndios. O programa menchevique
pressupunha uma saída de compromisso para a revolução. Os mencheviques não queriam levantar
os camponeses para a revolução.
Por maioria de votos o Congresso aprovou o programa menchevique.
Mas foi especialmente na discussão da resolução sobre a situação actual e sobre a Duma que os
mencheviques revelaram a sua natureza antiproletária e oportunista. O menchevique Martínov 37
interveio abertamente contra a hegemonia do proletariado na revolução.
Replicando aos mencheviques, o camarada Stáline colocou a questão cabalmente:
«Ou a hegemonia do proletariado ou a hegemonia da burguesia democrática: eis como a
questão se coloca no partido, eis no que consistem as nossas divergências». 38
No que respeita à Duma, os mencheviques exaltavam-na na sua resolução como a melhor via
para resolver as questões da revolução e libertar o povo do tsarismo. Os bolcheviques, pelo
contrário, consideravam a Duma como um débil apêndice do tsarismo, um biombo que escondia as
chagas do regime, ao qual renunciaria mal se tornasse incómodo para ele.
37
Aleksandr Samóilovitch Martínov (verdadeiro apelido Piker) (1965-1935), filho de comerciantes, estudou
direito em Petersburgo, aderindo ao movimento populista em 1884. Em 1900 torna-se social-democrata,
destacando-se como um dos ideólogos do «economismo». Menchevique desde 1903, foi membro do CC do
POSDR entre 1907 e 1912. Em 1918 afasta-se dos mencheviques, adere ao PCU(b) em 1923, trabalhando como
jornalista ligado ao Komintern até ao fim da sua vida. (N. do T.)
38
«Sobre o momento actual», discurso na 5.ª sessão do IV Congresso do POSDR, 17 (30) de Abril de 1906,
I.V. Stáline, Obras, ed. cit., Moscovo, 1946, Tomo 1, pág. 240. (N. do T.)
22
O Comité Central eleito no IV Congresso era integrado por três bolcheviques e seis
mencheviques. A redacção do órgão central foi constituída unicamente por mencheviques.
Ficou claro que a luta interna no partido iria continuar.
Após o IV Congresso, a luta entre bolcheviques e mencheviques reacendeu-se com nova força.
Nas organizações locais, formalmente unificadas, era frequente intervirem dois oradores sobre o
Congresso, um bolchevique e outro menchevique, cada um com o seu relatório. Em resultado do
debate das duas linhas, a maioria dos membros da organização colocou-se do lado dos
bolcheviques.
Cada vez mais a vida demonstrava a razão dos bolcheviques. O Comité Central menchevique
eleito no IV Congresso manifestava crescentemente o seu oportunismo e a sua total incapacidade
para dirigir a luta revolucionária das massas. No Verão e Outono de 1906, a luta revolucionária de
massas voltou a recrudescer. Em Kronstadt e em Sveaborg, os marinheiros sublevaram-se,
intensificou-se a luta dos camponeses contra os latifundiários. Enquanto isso, o CC menchevique
lançava palavras de ordem oportunistas que não eram seguidas pelas massas.
6. A dissolução da I Duma e a convocação da II Duma. O V Congresso do partido.
A Dissolução da II Duma. As causas da derrota da primeira revolução russa.
Dado que a I Duma se mostrou insuficientemente obediente, o governo tsarista dissolveu-a no
Verão de 1906. Aumentou ainda mais a repressão contra o povo, expandiu a actividade devastadora
das expedições punitivas em todo o país, e anunciou a sua intenção de convocar em breve a II
Duma. A arrogância do governo tsarista era manifesta. Deixara de temer a revolução pois esta tinha
entrado em declínio.
Perante os bolcheviques colocava-se a questão de decidir se deviam participar ou boicotar a II
Duma. Quando falavam de boicote referiam-se habitualmente a boicote activo e não à simples
abstenção passiva nas eleições. Consideravam o boicote activo como um meio revolucionário de
denúncia das tentativas do tsar de desviar o povo da via revolucionária para a via da «constituição»
tsarista, como um meio de fazer malograr tais tentativas e organizar uma nova surtida popular
contra o tsarismo.
A experiência do boicote à Duma de Bulíguine tinha mostrado que «foi a única táctica justa,
inteiramente confirmada pelos acontecimentos» 39 . Este boicote teve êxito não só porque precaveu
o povo contra o perigo da via constitucional tsarista, mas também porque fez malograr a Duma
ainda antes de ela nascer. Teve êxito porque foi conduzido numa fase de intensificação do ascenso
da revolução, e não num período de declínio revolucionário, e se apoiou neste impulso, já que só
nas condições de ascenso da revolução era possível fazer malograr a Duma.
O boicote à Duma de Vitte, isto é à I Duma, foi promovido depois da derrota da insurreição de
Dezembro, quando o tsar se tornou vencedor, isto é, quando já era possível pensar que a revolução
entrava em declínio.
«No entanto, é evidente por si» – assinalou Lénine – «que esta vitória [do tsar] não podia
ainda então ser considerada com fundamento como uma vitória decisiva. A insurreição de
Dezembro de 1905 teve a sua continuação no Verão de 1906, sob a forma de toda uma série de
revoltas militares e de greves isoladas e parciais. A palavra de ordem do boicote contra a Duma
de Vitte foi uma palavra de ordem da luta pela concentração e generalização destas
insurreições». 40
O boicote não foi capaz de inviabilizar a Duma de Vitte, embora tivesse abalado
consideravelmente a sua autoridade e enfraquecido a crença da população na Duma. Tal aconteceu,
como depois se tornou claro, porque o boicote foi promovido numa situação de refluxo, de declínio
39
«Sobre o boicote», artigo publicado em 21 de Agosto de 1906, no jornal Proletari n.º 1, V.I. Lénine, Obras
Completas, ed. cit., Moscovo, 1967, Tomo 13, pág. 340. (N. do T. )
40
«Contra o boicote», texto publicado em finais de Julho de 1907, na brochura Sobre o Boicote da III Duma,
V.I. Lénine, Obras Completas, ed. cit., Moscovo, 1967, Tomo 16, pág. 8. (N. do T.)
23
da revolução. Por isso o boicote à I Duma em 1906 não teve êxito. A este propósito, Lénine escreveu
na sua célebre brochura A Doença Infantil do «Esquerdismo» no Comunismo:
«O boicote dos bolcheviques ao “parlamento” em 1905 enriqueceu o proletariado
revolucionário com uma experiência política extraordinariamente preciosa, mostrando que na
combinação das formas legais e ilegais, parlamentares e extraparlamentares de luta, é por vezes
útil e até obrigatório saber renunciar às formas parlamentares (...) Foi já um erro, se bem que
pequeno e facilmente reparável, o boicote pelos bolcheviques à “Duma” em 1906 (…) É aplicável à
política e aos partidos – com as modificações correspondentes – o que diz respeito a pessoas.
Inteligente não é aquele que não comete erros. Não há nem pode haver tais pessoas. É inteligente
quem comete erros não muito essenciais e quem sabe corrigi-los fácil e rapidamente». 41
No que se refere à II Duma, Lénine considerou que, tendo em conta a alteração da situação e a
queda da revolução, os bolcheviques «deviam submeter a uma revisão a questão do boicote à
Duma de Estado». 42
«A história mostrou» – escreveu Lénine – «que quando a Duma é convocada, tal constitui uma
possibilidade de agitação útil dentro e em torno dela; que a táctica de aproximação ao
campesinato revolucionário contra os kadetes é possível no interior da Duma». 43
De tudo isto resultava que era preciso não só saber atacar resolutamente, atacar nas primeiras
fileiras quando existe ascenso da revolução, mas também saber recuar correctamente, recuar em
último lugar quando já não há ascenso, mudando de táctica conforme a alteração da situação,
recuar não desordenadamente mas de forma organizada, calmamente, sem pânico, aproveitando as
mais pequenas possibilidades para retirar os quadros debaixo dos golpes do inimigo, reorganizarse, acumular forças e preparar-se para um novo ataque contra o inimigo.
Os bolcheviques decidiram participar nas eleições para a II Duma.
Mas iam para a Duma não para fazer o trabalho «legislativo» orgânico, em bloco com os kadetes
como fizeram os mencheviques, mas para utilizá-la como tribuna no interesse da revolução.
Inversamente, o Comité Central menchevique apelou ao estabelecimento de acordos eleitorais
com os kadetes, oferecendo-lhes o seu apoio na Duma, vem nesta uma instituição legislativa capaz
de refrear o governo tsarista.
A maioria das organizações do partido manifestou-se contra a política do CC menchevique. Os
bolcheviques exigiram a convocação de um novo Congresso do partido.
Em Maio de 1907 reuniu-se em Londres o V Congresso do partido. Neste congresso, o POSDR já
contava com 150 mil filiados (em conjunto com as organizações sociais-democratas nacionais). No
total assistiram ao Congresso 336 delegados, dos quais 105 eram bolcheviques e 97 mencheviques.
Os restantes representavam as organizações sociais-democratas nacionais (polaca, letã e o Bund),
que tinham sido admitidas no Congresso anterior.
Trótski tentou reunir neste Congresso o seu próprio grupo centrista, isto é, um grupo
semimenchevique, mas ninguém o seguiu.
Os bolcheviques, que tinham atrás de si os polacos e os letões, dispunham de uma maioria
estável no Congresso.
Uma das principais questões debatidas no Congresso foi a questão sobre o relacionamento com
os partidos burgueses. Já no II congresso esta questão havia suscitado debates entre bolcheviques e
os mencheviques. O V congresso fez uma caracterização bolchevique de todos os partidos não
41
A Doença Infantil do «Esquerdismo» no Comunismo, publicado em Junho de 1920, em Petrogrado, V.I.
Lénine, Obras Escolhidas em três tomos, ed. cit., Lisboa, 1977, Tomo III, pág. 289. (N. do T.)
42
«Sobre o boicote», V.I. Lénine, Obras Completas, ed. cit., Moscovo, 1967, Tomo 13, pág. 339. (N. do T.)
43
Idem, ibidem, pág. 343. (N. do T.)
24
proletários – centúrias negras, outubristas, 44 kadetes e socialistas-revolucionários – e elaborou
uma táctica bolchevique em relação a estas formações.
O Congresso aprovou a política dos bolcheviques e tomou a decisão de conduzir uma luta
implacável tanto contra os partidos da centúria negra – a União do Povo Russo, os monárquicos e o
conselho da nobreza unificada – como contra a União 17 de Outubro (outubristas), o Partido
Comercial-Industrial e o Partido da Renovação Pacífica. Todos estes partidos eram manifestamente
contra-revolucionários.
No que respeita à burguesia liberal, ao partido dos kadetes, o Congresso pronunciou-se por uma
luta intransigente de desmascaramento desta formação. Era preciso desmascarar o
«democratismo» hipócrita e falso do partido dos kadetes e lutar contra as tentativas da burguesia
liberal de encabeçar o movimento do campesinato.
No que respeita aos chamados partidos populistas ou trabalhistas (socialistas populares, o
Grupo do Trabalho e os socialistas-revolucionários), o Congresso recomendou desmascarar as suas
tentativas de se disfarçarem de socialistas. Ao mesmo tempo admitiu a possibilidade de se
estabelecerem acordos pontuais com estes partidos para um ataque conjunto e simultâneo contra o
tsarismo e a burguesia kadete, porquanto nessa altura eram partidos democráticos e exprimiam os
interesses da pequena burguesia da cidade e do campo.
Ainda antes do Congresso, os mencheviques propuseram a convocação de um chamado
«congresso operário», no qual participariam sociais-democratas, socialistas-revolucionários e
anarquistas. Este «congresso operário» deveria criar ou um «partido sem partido» ou uma espécie
de «amplo» partido operário pequeno-burguês sem um programa definido. Lénine desmascarou
esta tentativa extremamente prejudicial dos mencheviques, que significava a liquidação do Partido
Operário Social-Democrata e a diluição do destacamento de vanguarda da classe operária na massa
pequeno-burguesa. O Congresso condenou severamente a proposta menchevique do «partido
operário».
Nos trabalhos do Congresso teve especial relevância a questão dos sindicatos. Os mencheviques
defendiam a «neutralidade» dos sindicatos, ou seja, manifestavam-se contra o papel dirigente do
partido no movimento sindical. O Congresso rejeitou a proposta dos mencheviques e aprovou a
resolução apresentada pelos bolcheviques. Esta resolução indicava que o partido devia conquistar a
direcção ideológica e política dos sindicatos.
O V Congresso representou uma enorme vitória dos bolcheviques no movimento operário. Mas
os bolcheviques não se encheram de presunção nem adormeceram sobre os louros. Não era isso
que Lénine ensinava. Sabiam que tinham ainda pela frente novos combates com os mencheviques.
No seu artigo «Notas de um delegado», publicado em 1907, o camarada Stáline qualificou os
resultados do Congresso da seguinte forma:
«A unificação efectiva dos operários avançados de toda a Rússia num partido único, sob a
bandeira da social-democracia revolucionária: foi este o sentido do Congresso de Londres, foi esta
a sua índole geral». 45
Neste artigo, I.V. Stáline fornece os dados sobre a composição do Congresso. Os delegados
bolcheviques representavam fundamentalmente os grandes centros industriais (Petersburgo,
Moscovo, Ural, Ivánovo-Vosnessensk e outros). Já os mencheviques estavam em representação das
regiões de pequena produção, onde predominavam os operários artesãos e semiproletários, e de
uma série de regiões puramente campesinas.
44
A União 17 de Outubro era um partido liberal de direita integrado por altos funcionários, latifundiários e
grande burguesia fundiária e industrial da Rússia. Fundado em 1905 e dissolvido em 1917, este partido, que
incluiu no seu nome o dia da publicação do Manifesto de Nicolau II (17 de Outubro de 1905), defendia as
posições constitucionalistas do tsar. (N. do T.)
45
Este artigo intitulado «O Congresso de Londres do POSDR (notas de um delegado)», não terminado devido
à prisão do autor, foi publicado no jornal Bakínski Proletari, n.os 1 e 2, em 20 de Junho e 10 de Junho de 1907, sob
o pseudónimo de Koba Ivánovitch, I.V. Stáline, Obras, ed. cit., Moscovo, 1946, Tomo 2, págs. 49-50. (N. do T.)
25
«É evidente» – assinalou o camarada Stáline fazendo o balanço do congresso – «que a táctica
dos bolcheviques é a táctica do proletariado da grande indústria, a táctica das regiões onde as
contradições de classe são particularmente nítidas e a luta de classes é mais aguda. O
bolchevismo é a táctica dos autênticos proletários. Por outro lado, não é menos evidente que a
táctica dos mencheviques é principalmente a táctica dos operários artesãos e dos semiproletários
camponeses, a táctica das regiões onde as contradições de classe não são inteiramente nítidas e a
luta de classes está camuflada. O menchevismo é a táctica dos elementos semiburgueses do
proletariado. Assim o indicam os números».
Ao dissolver a I Duma, o tsar contava obter uma II Duma mais submissa. Mas também esta não
correspondeu às suas expectativas. Por isso, o tsar decidiu dissolvê-la igualmente e convocar a III
Duma, mediante uma lei eleitoral agravada, na esperança de que ela se revelasse mais submissa.
Pouco depois do V Congresso do partido, o governo tsarista realizou o chamado golpe de estado
de 3 de Junho de 1907, decretando a dissolução da II Duma. O grupo social-democrata da Duma,
que tinha 65 deputados, foi preso e deportado para a Sibéria. Foi publicada uma nova lei eleitoral
que restringiu ainda mais o direito de voto dos operários e camponeses. O governo continuou na
ofensiva.
O ministro tsarista Stolípine 46 desencadeou uma sangrenta repressão contra os operários e os
camponeses. Milhares de operários e camponeses revolucionários foram fuzilados ou enforcados
por expedições punitivas. Nas masmorras tsaristas milhares de revolucionários foram torturados e
martirizados. Especialmente cruéis foram as perseguições movidas contra as organizações
operárias, em primeiro lugar as bolcheviques. Os sabujos do tsar procuraram Lénine que vivia
clandestinamente na Finlândia. Queriam liquidar o líder da revolução. Correndo grande perigo,
Lénine conseguiu atravessar de novo a fronteira e emigrar em Dezembro de 1907.
Tinham começado os duros anos da reacção stolipinista.
A primeira revolução russa acabou deste modo derrotada.
As causas que concorreram para este desenlace foram as seguintes:
1. Na revolução não havia ainda uma aliança sólida entre operários e camponeses contra o
tsarismo. Os camponeses levantaram-se contra os latifundiários e aliaram-se aos operários nesta
luta. Todavia não compreendiam ainda que sem o derrube do tsar era impossível derrubar os
latifundiários; não compreendiam que o tsar agia em conivência com os latifundiários, e uma parte
considerável do campesinato ainda acreditava no tsar e depositava esperanças na Duma tsarista.
Por isso, muitos camponeses não quiseram aliar-se aos operários para derrubar o tsarismo. Os
camponeses acreditavam mais no partido conciliador dos socialistas-revolucionários do que nos
verdadeiros revolucionários, os bolcheviques. Em consequência, a luta dos camponeses contra os
latifundiários não foi suficientemente organizada. Lénine escreveu:
«(…) Os camponeses agiam com demasiada dispersão, desorganizadamente e com insuficiente
agressividade, residindo nisto uma das causas principais da derrota da revolução». 47
2. A relutância de uma parte considerável dos camponeses de se juntar aos operários para o
derrubamento do tsarismo reflectiu-se também na conduta do exército, constituído
maioritariamente por filhos de camponeses vestidos de soldado. Houve revoltas e sublevações
nalgumas unidades do exército tsarista, mas a maioria dos soldados continuou a ajudar o tsar a
reprimir as greves e as revoltas operárias.
3. Também os operários não agiram com suficiente coesão. Os destacamentos de vanguarda da
classe operária desencadearam em 1905 uma luta revolucionária heróica. Mas as camadas mais
atrasadas – os operários das províncias menos industrializadas que viviam nas aldeias – reagiram
mais lentamente. A sua participação na luta revolucionária intensificou-se sobretudo em 1906, mas
nessa altura a vanguarda da classe operária já estava em grande medida enfraquecida.
46
Piotr Arkádievitch Stolípine (1862-1911), presidente do Conselho de Ministros e ministro do Interior da
Rússia tsarista entre 1906-1911. (N. do T.)
47
«Relatório sobre a revolução de 1905», escrito em alemão antes de 22 de Janeiro de 1917, V.I. Lénine, ed.
cit., Moscovo, 1973, Tomo 30, pág. 323. (N. do T.)
26
4. A classe operária foi a força de vanguarda e a principal da revolução, mas nas fileiras do seu
partido não existia ainda a necessária unidade e coesão. O POSDR, o partido da classe operária,
encontrava-se dividido em dois grupos: bolcheviques e mencheviques. Os bolcheviques seguiam
uma linha revolucionária consequente e chamavam os operários ao derrubamento do tsarismo. Os
mencheviques travavam a revolução com a sua táctica oportunista, confundiam uma parte
considerável dos operários, dividiam a classe operária. Por isso, os operários nem sempre agiram
de forma coordenada na revolução, e a classe operária, ainda sem unidade nas suas próprias
fileiras, não pôde tornar-se o verdadeiro líder da revolução.
5. A autocracia tsarista foi ajudada pelos imperialistas da Europa ocidental a reprimir a
revolução de 1905. Os capitalistas estrangeiros receavam perder os capitais que tinham investido
na Rússia e os seus imensos rendimentos. Para além disso, receavam que em caso de vitória da
revolução russa também os operários de outros países se levantassem para a revolução. Por isso os
imperialistas da Europa Ocidental ajudaram o tsar-verdugo. Os banqueiros de França concederamlhe um importante empréstimo para esmagar a revolução. O imperador da Alemanha colocou em
estado de prontidão um exército com muitos milhares de homens para uma intervenção em apoio
do tsar.
6. A paz assinada com o Japão em Setembro de 1905 constituiu uma grande ajuda para o tsar. A
derrota militar e o crescimento ameaçador da revolução obrigaram o tsar a apressar o acordo de
paz. A derrota na guerra russo-japonesa enfraqueceu o tsarismo mas a conclusão da paz fortaleceu
a sua situação.
Breves conclusões
A primeira revolução russa representa toda uma etapa histórica no desenvolvimento do nosso
país. Esta etapa histórica é constituída por dois períodos. No primeiro, a revolução em ascenso tira
partido da fraqueza do regime tsarista, que fora derrotado militarmente na Manchúria, passa da
greve geral política de Outubro à insurreição armada em Dezembro, boicota a Duma de Bulíguine e
obtém do tsar concessão atrás de concessão. No segundo período, recompondo-se após o acordo da
paz com o Japão, o tsar utiliza o pavor da burguesia liberal à revolução e as hesitações dos
camponeses para lhes apresentar como uma esmola a Duma de Vitte, passando à ofensiva contra a
classe operária e a revolução.
Nos cerca de três anos que durou a revolução (1905 a 1907), a classe operária e os camponeses
receberam uma educação política de tal modo rica que nunca a obteriam em 30 anos de evolução
pacífica normal. Em alguns anos apenas tornou-se claro aquilo que em condições normais
permaneceria obscuro durante muitas décadas.
A revolução mostrou que o tsarismo era o inimigo jurado do povo, um mal tão grande que só a
morte podia curar.
A revolução mostrou que a burguesia liberal procurava aliar-se não com o povo mas com o tsar,
que era uma força contra-revolucionária e que pactuar com ela equivalia a uma traição ao povo.
A revolução mostrou que só a classe operária podia ser o líder da revolução democráticoburguesa, que só ela era capaz de repelir a burguesia liberal kadete, libertar os camponeses da sua
influência, esmagar os latifundiários, levar até ao fim a revolução e abrir caminho para o
socialismo.
A revolução mostrou, finalmente, que o campesinato trabalhador, apesar das suas hesitações,
constitui a única força importante capaz de se aliar à classe operária.
Dentro do POSDR confrontaram-se duas linhas políticas ao longo da revolução, defendidas
pelos bolcheviques e pelos mencheviques. Os bolcheviques preconizavam o desenvolvimento da
revolução, o derrubamento do tsarismo pela via da insurreição armada, a hegemonia da classe
operária, o isolamento da burguesia kadete, a aliança com o campesinato, a formação de um
governo provisório revolucionário constituído por representantes dos operários e dos camponeses,
a condução da revolução até à vitória final. Ao invés, a linha dos mencheviques visava a interrupção
27
da revolução. Em vez do derrubamento do tsarismo através da insurreição, preconizavam a sua
reforma e «melhoramento», em vez da hegemonia do proletariado, pretendiam a hegemonia da
burguesia liberal, em vez da aliança com os camponeses, queriam a aliança com a burguesia
kadete; em vez do governo provisório revolucionário, apresentavam a Duma como o centro das
«forças revolucionárias» do país.
Foi assim que os mencheviques se atascaram no pântano do oportunismo, transformando-se
num retransmissor da influência burguesa sobre a classe operária e tornando-se, na prática, em
agentes da burguesia no seio da classe operária.
Os bolcheviques revelaram-se como única força marxista revolucionária no partido e no país.
Após o surgimento de tão graves divergências, compreende-se que o POSDR tenha ficado de
facto dividido em dois partidos, o partido bolchevique e o partido menchevique. O IV Congresso
não alterou em nada a situação existente no partido. Apenas manteve e reforçou um pouco a sua
unidade formal. O V Congresso deu um passo em frente no sentido da unificação efectiva do
partido, a qual, aliás, se realizou sob a bandeira do bolchevismo.
Fazendo o balanço do movimento revolucionário, o V Congresso do partido condenou a linha
menchevique como uma linha oportunista, e aprovou a linha bolchevique como a linha marxistarevolucionária. Com isto confirmou mais uma vez aquilo que todo o curso da primeira revolução
russa já havia confirmado.
A revolução mostrou que os bolcheviques sabem avançar quando a situação o exige, e que
aprenderam a avançar nas primeiras fileiras, levando o povo atrás de si para o assalto. Mas a
revolução mostrou para além disso que os bolcheviques também sabem recuar ordenadamente
quando a situação se torna desfavorável e a revolução entra em declínio, que tinham aprendido a
recuar correctamente, sem pânico e sem precipitação, de modo a salvaguardar os seus quadros,
acumular forças e, reorganizando-se de acordo com a nova situação, lançar-se de novo na ofensiva
contra o inimigo.
Não é possível vencer o inimigo se não se souber atacar correctamente.
Não é possível evitar a destruição face a uma derrota se não se souber recuar correctamente,
sem pânico e sem desordem.
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