CARTA ABERTA A UM CATÓLICO

Transcrição

CARTA ABERTA A UM CATÓLICO
CARTA
ABERTA
A
UM
CATÓLICO
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ESTIMADO LEITOR:
A pedido de numerosos ouvintes do programa dominical «A Hora Baptista», resolvemos
publicar em forma de livro esta Carta Aberta que, em parte, foi transmitida através da rádio.
O nosso propósito não é dirigir os teus pensamentos e sentimentos; contudo devemos
dizer: Se leres esta Carta Aberta com o critério preconcebido de que a temos escrito guiados
por um espírito de polémica ou com o objectivo de atacar a Igreja Católica, agradecemos
que a não leias, porque não servirá de bênção para ti.
Somos os primeiros a reconhecer que o conteúdo da Carta é polémico, mas Deus sabe
que não o escrevemos movidos por um espírito polémico ou contencioso.
São os motivos seguintes que nos movem a publicá-la:
1. Promover a glória de Deus por meio da obediência à Sua Palavra.
2. Situar as questões religiosas no mesmo plano em que o Senhor as colocou.
3. Ajudar o leitor a encontrar o caminho da Salvação.
Não somos pregadores de uma Igreja, mas de uma mensagem divina – o Evangelho – que
oferece a salvação a todos os homens. Não nos interessa que mudes de religião ou de igreja.
O importante é que não sejas condenado ao Inferno. Que aceites o perdão, a paz, a salvação
que Deus te oferece, gratuitamente, por intermédio de Jesus Cristo.
O Diabo está deveras interessado em que não entendas esta Carta Aberta e que nos
cansemos a sustentar algo apenas polémico. Mas o que a ti e a mim nos deve interessar,
acima de tudo, é a nossa salvação. Eu, pela graça de Deus, posso dizer que sou salvo e que
me espera a glória eterna. Podes tu dizer o mesmo? Se de coração o podes afirmar, somos
irmãos. Caso contrário, pretendo apenas ajudar-te; a isso me impele o Espírito Santo. Não
me move outro interesse.
Domingo Fernandez
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CARTA DE UM CATÓLICO
Ultimamente recebemos uma carta do seguinte teor:
Senhor Fernandez. Sou católico por convicção, pois desde criança fui educado no Catolicismo, e
estou convencido ser a única religião verdadeira, fora da qual não há salvação possível.
Por acaso, sou um ouvinte de «A Hora Baptista», pois tenho um companheiro evangélico que
sempre sintoniza essa emissão. Não nego que os senhores ensinem coisas boas; mas quando
combatem alguns dos ensinos da minha Igreja, é porque não os conhecem bem.
Tenho lido também alguns folhetos da sua religião, pois não sou fanático e gosto de examinar
tudo e reter o que é bom.
Como creio sinceramente que os senhores estão enganados e que não seguem o caminho certo,
envio-lhe este folheto intitulado: «Sobre Esta Pedra», a fim de que, lendo-o, possa verficar o erro em
que labora.
Espero que dentro em breve o senhor tenha de dizer aos microfones de «A Hora Baptista» que tem
andado errado e que a Igreja Católica Apostólica Romana é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo.
No desejo de vê-lo convertido à Santa Madre Igreja, despeço-me do senhor. Atentamente,
Ambrósio Linares
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RESPOSTA À CARTA
Amigo Linares:
Creio que foi Deus quem pôs no seu coração escrever-me, e expressar-me, num grande rasgo, os
seus pontos de vista em questões de tanta transcendência, como são, sem duvida, a verdadeira
religião, a salvação da alma, a missão que Nosso Senhor Jesus Cristo entregou a Pedro, e a Igreja do
Senhor.
O senhor diz-me – com uma franqueza que muito aprecio por tudo quanto vale e significa – o que
pensa da religião que professo. Pois bem, não me negará, por certo, o direito de expor-lhe o que
penso e creio relativamente aos aspectos mencionados na sua carta. Eu sei que não me escreveu com o
propósito de ofender-me e peço-lhe que veja na minha resposta o mesmo bom sentimento que percebo
na sua carta. O facto do senhor ser um homem de mentalidade aberta ao livre-exame, diz-me que háde analisar, sem que o perturbe o fanatismo, as razões e ensinos que surgirão na minha resposta. Nos
casos em que tenha de dizer algo relacionado directa ou indirectamente com a prática e o ensino da
sua Igreja, não deve levá-lo a pensar que o faço com intenção de combatê-lo, senão com o desejo de
colocar as coisas no mesmo ponto em que as puseram os apóstolos do Senhor Jesus Cristo.
O senhor deseja converter-me à Igreja Romana; felicito-o por esse seu zelo. Pela minha parte, não
pretendo que o senhor se converta à Igreja Evangélica.
O amigo Linares julga-se cristão; eu também. O senhor busca a salvação da sua alma; eu
suspirava ardentemente pela mesma coisa, até que, pela graça de Deus, a encontrei. O senhor aspira
entrar no Reino de Deus; eu igualmente. Pois bem, se nos chamamos cristãos e sustentamos as
mesmas aspirações, por que não estamos de acordo? A que se deve a nossa divergência de opção?
Tem de relacionar-se com um dos três seguintes aspectos: 1) Que o senhor e eu, ou os dois,
não estamos a fazer as coisas do ponto de vista religioso, tal como nos ensina o Mestre no Evangelho.
2) Que o senhor e eu, ou os dois, não estamos a interpretar correctamente o que deve constituir o
fundamento da nossa fé e esperança: a Palavra de Deus. 3) Que o senhor e eu, ou ambos, estamos a
seguir doutrinas de homens que, como disse o Senhor Jesus, invalidam de facto os ensinamentos que o
nosso Pai celestial nos revela nas Sagradas Escrituras.
O senhor afirma que nós desconhecemos os ensinos da sua Igreja e que estamos errados. E eu
penso o mesmo de si. Uma coisa resulta evidente: um dos dois, ou ambos, estamos errados nalguma
coisa. Mas Deus tem-nos dado a faculdade de analisar, raciocinar e discernir; vamos, pois, fazer uso
desta maravilhosa faculdade que Ele nos concedeu. E, sem permitir que o preconceito ofusque o nosso
entendimento, entreguemo-nos à tarefa de deslindar os limites entre a verdade e o erro.
Domingo Fernandez
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ALGUNS
ESTÃO
ERRADOS
O frade agostinho George H. Tavard, de Nova Iorque, publicou um livro intitulado «The
Catholic Approach to Protestantism», obra que visa promover uma maior aproximação, ou pelo menos
uma melhor compreensão, entre católicos e evangélicos. Entre muitas coisas, o autor diz: «O meu
vizinho é protestante e vivemos em mundos distintos. O conhecimento que temos um do outro é
parcial e ainda falso, depreciativo, senão hostil. Como nos poderemos entender e conhecer? Segundo
os livros que eu leio acerca dele, os seus antepassados religiosos foram cismáticos, herejes, apóstatas e
sacrílegos. De acordo com os livros que ele lê a meu respeito, os meus antepassados religiosos foram
corruptos, supersticiosos, idólatras e homicidas. Se ele chegasse a ler as obras que eu leio acerca dele,
considerá-las-ia cheias de falsidade e mentiras. E se eu lesse as que ele lê a meu respeito, considerálas-ia cheias de exageros e erros».
Dizia-me há dias um fervoroso católico: «Estou acostumado a ouvir dizer dos evangélicos, que
são pessoas de vida libertina e dissoluta, e que permanecem fora da Igreja Romana porque não querem
obedecer ao Papa nem sujeitar-se aos mandamentos de Deus. Mas, confesso que, observando a vida
que vós levais, a fé e o gozo que sentis no profundo da alma, e a doutrina que pregais, cheguei à
conclusão de que sois precisamente o contrário do que me têm feito acreditar».
Declarou-me um médico, há algum tempo: «Tenho as minhas filhas num colégio de freiras, e
estas têm-lhe insinuado um conceito tão horrível a vosso respeito, que nem sequer consentem que eu
sintonize o vosso progama de rádio».
O «Diário de La Frontera», de Cúcuta, Colômbia, na sua edição de 19 de Maio de 1955,
publicou esta notícia: «Por ordem do chefe da Polícia foi, ontem, detido o Senhor António Navarro,
agente da Sociedade Bíblica, quando se dedicava à distribuição de folhetos protestantes. Ao detido
foram apreendidas as seguintes publicações: duas Bíblias, dois Novos Testamentos, doze pacotes de
Evangelhos e dois exemplares dos Actos dos Apóstolos. Tendo em consideração as disposições
governamentais que proibem propagar doutrinas que não estejam de acordo com a Igreja Católica, o
senhor Navarro ficou detido.»
Analise o amigo Linares a questão: O mencionado agente da Sociedade Bíblica foi detido por
distribuir livros e folhetos protestantes. Mas todos os livros e folhetos que lhe apreenderam eram
Bíblias, Novos Testamentos e Evangelhos. É, porventura, a Bíblia um livro protestante? O senhor
Navarro foi encarcerado por propagar doutrinas que, segundo afirmam as autoridades católicas de
Colômbia, não estão de acordo com o Catolicismo. Como tudo o que o senhor Navarro propagava era
o Evangelho, perguntamos: Será que a Igreja Católica não está de acordo com o Evangelho?
Estamos perante um facto lamentável, fundamentado na ignorância. Porque isso de afirmar que os
Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e João são folhetos protestantes, não revela outra coisa a
não ser crassa ignorância.
Encontrando-me nos dias de guerra civil espanhola nas fileiras do Exército Nacionalista, um tenente
católico romano ordenou que eu formasse nas fileiras para assistir ao culto da Igreja oficial. Quando
lhe supliquei que me permitisse não tomar parte no culto, por eu ser evangélico, lançou mão da pistola,
decidido a dar-me «quatro tiros». Por que assumiu este oficial atitude tão violenta? Entre outras
razões, por julgar que o facto de eu não pertencer à Igreja Romana não passava de um ateu, sem fé, sem
temor de Deus e inimigo de todo o bem. Aquele homem não podia conceber que existisse um cristão
fora da Igreja a que ele pertencia.
E, com a franqueza com que lhe tenho exposto estes factos, também reconheço, amigo Linares, que
entre os membros das nossas igrejas alguns há que necessitam de muita instrução. Por exemplo: A um
evangélico ouvi eu dizer que a única diferença entre a Igreja Romana e as Igrejas Evangélicas está,
apenas, em que os senhores crêem nos santos e nós não. Ora isto, dito sem outros esclarecimentos, não
é correcto. Nós fazemos distinção entre as palavras «santo» e «imagem». Chamamos santos, de
acordo com os ensinos do Evangelho, às pessoas vivas que se têm arrependido dos seus pecados,
recebido Jesus como Salvador e Senhor, experimentando o novo nascimento de que nos fala o
Evangelho, e que vivem uma vida de fé e obediência, de acordo com a vontade de Deus. Mas não
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temos imagens nas nossas casas de culto porque sabemos que a Sagrada Escritura proibe e condena
tanto o fazer imagens como o prostrar-se perante elas.
Apesar da ignorância, que ainda subsiste, as relações entre católicos e evangélicos vão entrando em alguns países- no caminho do entendimento e da tolerância. O director do «Semanário Católico»
disse há alguns meses, num dos seus editoriais, que a Igreja Romana tem seguido tácticas
contraproducentes na sua atitude para com os evangélicos. E acrescentou: «É já hora de
estabelecermos pontes, as pontes da caridade. Antes de julgarmos os nossos adversários, será preciso
julgarmo-nos a nós próprios.»
Quando o Papa Pio XII se encontrava à beira da morte, foi chamado ao Vaticano o médico
protestante suíço, Dr. Paul Niehans, o qual conseguiu restaurar a saúde ao Papa. Este facto, até certo
ponto assombroso, manifesta duas coisas: Primeira, que não existe má vontade da parte dos chamados
protestantes para com o Papa, pois até um médico protestante fez tudo quanto estava ao seu alcance,
conseguindo prolongar a vida do mesmo. Segundo, que nem o Papa nem as altas individualidades do
Vaticano formam dos evangélicos um conceito tão mau como expressam alguns por aí.
E, jã que falámos do Papa, passemos a considerar o aspecto que o senhor pretende ao enviar-nos o
folheto «Sobre Esta Pedra...», que lemos cuidadosamente.
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O APÓSTOLO
PEDRO
FOI PAPA?
A resposta que a verdade conceda a esta interrogação parece ser, para a sua Igreja, amigo Linares,
questão de vida ou de morte. Para a Igreja a que pertenço não tem tais implicações. A Igreja de Jesus
permanece de pé, com ou sem Pedro.
I - Em primeiro lugar, talvez o senhor fique surpreendido se lhe disser que Pedro não pertenceu à
Igreja Romana. Pelo contrário, a História oferece-nos dados fidedignos que provam à evidência a
verdade da minha afirmação. Vejamos:
1) O apóstolo Paulo escreveu a Epístola aos Gálatas cerca do ano 57 da era actual. No capítulo dois
da mesma, fala de uma viagem que fez a Jerusalém. Os comentadores e historiadores da Igreja
Romana estão de acordo que a viagem em apreço se realizou no ano 50. Pois bem, naquela ocasião,
segundo Gálatas 2:9, reunidos Tiago, Pedro, João e Paulo concordaram que este pregasse aos Gentios,
e Tiago, Pedro e João aos Judeus. Portanto, no ano 50 da nossa era, os apóstolos acordaram em que
Roma, como campo missionário, ficasse sob a jurisdição de Paulo e não de Pedro.
2) Com o propósito de instruí-los e fortalecê-los na fé, Paulo escreveu, em 58 d.C., a Epístola aos
Romanos, onde diz que se dirige a eles por haver sido nomeado apóstolo dos Gentios (11:13), e que
não costumava edificar sobre fundamento alheio (15:20). Ora se Pedro houvesse sido pastor, bispo ou
papa da Igreja de Roma, Paulo nunca teria reclamado autoridade apostólica para instruir os membros
da mencionada Igreja.
Mas há mais: no último capítulo da Epístola, Paulo saúda, pelos nomes, vinte e sete pessoas;
Pedro, porém, não aparece entre as citadas pessoas. Ora se Pedro fosse membro da Igreja Romana,
pode o senhor conceber, amigo Linares, que Paulo, ao citar os nomes de vinte e sete membros daquela
Igreja, omitisse o seu companheiro de apostolado e suposto guia espiritual da referida Igreja?
Responda a esta pergunta, mas sem que os conceitos preestabelecidos se interponham entre a verdade e
o seu sentido sentido comum. No ano 58 da era actual Pedro não era membro da Igreja de Roma.
3) Paulo chegou a Roma como prisioneiro por volta do ano 61, e dali escreveu cinco Epístolas, nas
quais menciona muitos amigos e colaboradores, mas de Pedro nenhuma alusão faz. E o historiador S.
Lucas, companheiro de Paulo, tão-pouco refere Pedro quando descreve a chegada de Paulo a Roma e as
actividades que desenvolveu nos anos que permaneceu prisioneiro numa casa alugada naquela cidade.
Tendo em conta a forte personalidade, que sem dúvida Pedro possuía, não é possível conceber - ante o
silèncio que a este respeito guardam Paulo e Lucas - a sua presença em Roma durante os anos 61 a 63
d.C.
4) Paulo afirma aos Gálatas: 'Porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado
da circuncisão Esse operou também em mim com eficácia para com os gentios» (2:8). Estas palavras,
escritas por um apóstolo inspirado pelo Espírito Santo, ensinam-nos claramente que Cristo determinara
que Pedro fosse apóstolo dos judeus, e Paulo apóstolo dos gentios. Portanto, os que querem colocar
Pedro como pastor, bispo ou papa da Igreja de Roma, chocam com o disposto pelo próprio Senhor
Jesus.
Tenho demonstrado, amigo Linares, com evidência de boa lei, que Pedro não foi membro da Igreja
de Roma. Todavia, não deve pensar que os evangélicos têm algum interesse em colocar Pedro num
plano inferior ao que o Senhor lhe concedeu. Nós consideramos Pedro como um dos nossos irmãos na
fé, como um santo, como um mestre inspirado por Deus para ensinar-nos, através dos seus sermões e
epístolas; e estamos convencidos de que se Pedro vivesse hoje, neste mundo, seria membro de uma
Igreja Evangélica semelhante àquelas que ele conheceu nos dias do seu apostolado entre os judeus.
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II - Nós reconhecemos que Pedro ocupou entre os apóstolos uma posição saliente, tal como se
percebe pelos aspectos seguintes: a) Teve o privilégio, juntamente com Tiago e João, de Jesus lhe
mostrar, através de uma visão, a glória do Seu segundo advento; b) Por seu natural carácter impetuoso,
falou em nome dos seus companheiros ao formular a célebre declaração: 'Tu és o Cristo, o Filho de
Deus vivo»; c) Foi ele que abriu as portas do Pacto da Graça, primeiro aos Judeus no Dia de
Pentecostes, e depois aos Gentios na casa de Cornélio, em Cesareia. Era a isto que o Senhor Se referia,
pelo menos em parte, quando lhe disse: «E Eu te darei as chaves do Reino dos Céus...»; d) No ano
57, Paulo dá testemunho que Tiago, Pedro e João eram as colunas, isto é, os homens mais relevantes da
Igreja-mãe, a Igreja em Jerusalém.
III - Pois bem, dos privilégios que temos mencionado, conferidos pelo Senhor a Pedro, até à sua
nomeação como Papa, há um abismo muito grande. Se Jesus converteu Pedro em Chefe dos apóstolos
e Cabeça da Sua Igreja, deveriam sabê-lo a Igreja, os apóstolos e o próprio Pedro.
(1) Pedro não admitiu que tivesse sido nomeado Papa, porque nunca actuou como Papa nem
para si reclamou tal autoridade; pelo contrário, no capítulo cinco da sua Primeira Epístola, chama a
Jesus Cristo Príncipe dos pastores; e considera-se como um presbítero entre os presbíteros.
(2) Os apóstolos nunca deram conta de que Pedro fosse seu Chefe ou Papa da Igreja.
Pedro obedecia a ordens, da mesma maneira como os demais apóstolos. No livro dos Actos dos
Apóstolos capítulo 8:14, Lucas diz que Pedro e João obedeceram a um acordo dos outros apóstolos,
para orientarem o avivamento que Samaria estava a desfrutar sob o ministério abençoado do
evangelista Filipe.
Na Epístola aos Gálatas, capítulo 2:9, Paulo declara que Tiago, Pedro e João eram considerados
como as colunas, quer dizer, os mais notáveis. E em II Coríntios 11:5, afirma, com certa ironia:
«Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos». Nos quatro Evangelhos, o
nome de Pedro aparece em primeiro lugar; porém, no livro dos Actos dos Apóstolos e nas Epístolas
Paulinas verificamos que, após a conversão de Tiago, o irmão do Senhor, este passa a ocupar o lugar de
honra.
Paulo trata Pedro em pé de igualdade, segundo o relato que nos oferece a admoestação que lhe
dirigiu em Antioquia. Ao falar daquele incidente, diz Pedro em Gálatas 2:11, 12, 14: «E, chegando
Pedro a Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Porque, antes que alguns tivessem
chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se
apartou deles, tememdo os que eram da circuncisão. Mas, quando vi que não andavam bem e
direitamente conforme a verdade do Evangleho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu,
vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?».
E o amigo Linares deve saber que Paulo escreveu estas coisas alguns anos antes da morte de
Pedro, de modo que este devia estar inteirado do que Paulo dizia a seu respeito, pois sabemos que
Pedro lia as Epístolas daquele (II Pedro 3:15, 16). O apóstolo dos Gentios considerava Pedro como um
dos mais importantes apóstolos, mas não como Papa. Portanto, se Pedro era Papa, que classe de Papa
era então, que não actuava como chefe, nem fazia valer a sua autoridade?
3) As igrejas apostólicas nunca viram que Pedro fosse Papa. Em honra da verdade temos de
reconhecer haver sido Paulo e não Pedro que, por inspiração divina, assentou as normas ou bases pelas
quais, até ao dia de hoje, as igrejas de Cristo são guiadas.
Aos Efésios 4:11, Paulo oferece-nos uma lista dos oficiais que o Senhor Jesus constituiu para o
crescimento e desenvolvimento da Sua Igreja, e diz: «E Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros
para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores». E o Papa? Paulo ignorava
por completo que Jesus Cristo tivesse constituído um Papa sobre Sua Igreja. O apóstolo menciona os
oficiais da Igreja pela ordem seguinte: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores ou mestres.
Pois bem, o amigo Linares concebe que Paulo omitisse em todas as suas Epístolas o cargo de oficial
supremo da Igreja, sabendo que Pedro havia sido nomeado Papa? Não posso admiti-lo!
Se Jesus colocasse um Papa sobre a Igreja, Paulo sabê-lo-ia; e, neste caso, ao dar a relação dos
oficiais que o Senhor nomeou para o desenvolvimento da Igreja, teria começado: «E ele mesmo deu
um para Papa...». Porém, repetimos: Paulo nada tinha a dizer quanto ao papado de Pedro, porque
desconhecia por completo a sua existência.
Cerca do ano 50, efectuou-se na Igreja-mãe de Jerusalém a primeira assembleia deliberativa de
igrejas cristãs.
-Quem presidiu àquela assembleia?
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-Tiago, o irmão do Senhor.
-Quem decidiu a questão posta em debate?
-Toda a assembleia: «Os apóstolos, os anciãos e os irmãos» (Act. 15:1-29).
-Quem disse a última palavra?
-Tiago, que actuava na qualidade de presidente.
Pedro estava presente e expôs a sua opinião, como fizeram outros; mas não actuou como Papa.
4) Já verificámos que Jesus não instituiu uma autoridade papal sobre a Sua Igreja. E como viam
este problema aqueles que não eram cristãos? Lucas, em Actos 24:5, diz que os inconversos ou
inimigos do Cristianismo consideravam Paulo - por suas actividades - chefe dos cristãos.
As evidências que temos apresentado, amigo Linares, conduzem às seguintes conclusões: 1) Pedro
nunca actuou como Papa nem para si reclamou autoridade papal. 2) Os apóstolos jamais consideraram
Pedro como superior hierárquico, mas como igual a eles. 3) Nunca pelo Senhor foi dito às igrejas
apostólicas que Ele tivesse nomeado um Papa; nem as igrejas alguma vez viram Pedro actuar nessa
qualidade. 4) A opinião popular entre os não cristãos situava Paulo como chefe dos seguidores do
Nazareno (Act. 24:5). A questão da primazia de Pedro surgiu na mente de alguns, muitos anos depois
da morte do apóstolo.
IV - Todavia, apesar das conclusões a que temos chegado, sei que o amigo Linares me dirá não
haver tocado no ponto, o único ponto sobre o qual fazem repousar o edifício do papado e da Igreja
Romana: Refiro-me às palavras de Cristo, quando disse: «Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a
Minha Igreja». Vamos procurar analisar e expor o sentido desta assertiva, de modo a que não haja
lugar para dúvidas.
Diz-nos Mateus, no capítulo 16:13-19 que, encontrando-se Jesus e Seus discípulos na região de
Cesareia de Filipe, inquiriu-lhes:
«Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?»
E eles responderam: «Uns João Baptista, outros Elias, e outros Jeremias ou um dos profetas».
Perguntou-lhes Ele: «E vós, quem dizeis que eu sou?»
E Simão Pedro disse: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo.»
Declarou-lhe Jesus: «Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não to revelou a carne e o
sangue, mas meu Pai, que está nos Céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela».
1) Na interpretação que dão a este texto, os mestres da sua Igreja, senhor Linares, fundamentam os
seguintes ensinamentos: 1) Dizem que a Igreja Romana está edificada sobre Pedro. b) Afirmam que
Jesus nomeou Pedro como chefe supremo da Igreja, quer dizer, Papa. c) Declaram que Pedro, como
fundamento e cabeça da Igreja, foi investido de infalibilidade para decidir em questões de moral e de
doutrina; e de «poder supremo» para legislar, julgar, absolver e condenar. De modo que, segundo estes
ensinos, o Papa pode abrir ou fechar, admitir ou rejeitar; assim como impor mandamentos, obrigações e
preceitos com o correspondente castigo para os transgressores.
Não lhe parece que lançam demasiado peso sobre a única Escritura, acerca da qual muitos «pais» e
«doutores» da Igreja têm dado uma interpretação muito distinta daquela que actualmente prevalece na
Igreja Romana?!
2) Quem é o fundamento ou pedra angular da Igreja: Cristo ou Pedro? Respondo sem vacilar e
plenamente convencido de que expresso a verdade, que a Igreja está edificada sobre o Senhor da Igreja,
e não sobre a fragilidade de um homem mortal. E são muitos os católicos que pensam como eu.
Poderíamos admitir que a Igreja estivesse alicerçada sobre Pedro se, em geral, os ensinos de Jesus
Cristo, do próprio Pedro e dos outros apóstolos corroborassem tal conceito ou interpretação. Mas
encontramos, como mais adiante veremos, que os apóstolos foram unânimes em concordar e afirmar
que o fundamento da Igreja é Jesus Cristo e não Pedro.
Por outro lado defrontamo-nos com as palavras: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja», que não requerem, necessariamente, a interpretação que hoje lhes dá a Igreja Romana.
Temos de notar a distinção gramatical entre o pronome «tu» e o adjectivo demonstrativo «esta». Se
Jesus tivesse o propósito de converter Pedro em fundamento da Sua Igreja, ter-lhe-ia dito: «Tu és
Pedro, e sobre ti edificarei a minha Igreja». Porém, o Senhor não disse sobre ti, mas sobre esta pedra.
E o adjectivo «esta» não se refere a Pedro, mas à confissão que Pedro acabava de fazer, quando disse:
«Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo».
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3) Se Jesus Cristo tivesse constituído Pedro como fundamento ou cabeça da Igreja, com poder
supremo de legislar e julgar, admitir e rejeitar, absolver e condenar, não crê o amigo Linares que a
primeira pessoa a inteirar-se de tal coisa seria o próprio Pedro? Pois bem, já temos visto que, tanto a
História dos Apóstolos como os outros escritos apostólicos revelam-nos, sem dar lugar a dúvidas, que
Pedro jamais actuou como papa, legislador ou juiz supremo, nem para si reclamou tais atribuições.
Longe de admitir que Jesus Cristo o tivesse colocado como fundamento da Sua Igreja, o próprio
Pedro ensinou que o fundamento da mesma é Cristo. Em Actos, capítulo 4:11, vemos que estando
Pedro perante o supremo tribunal da sua nação, pronunciou as seguintes palavras: «Ele (Jesus), é a
pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina».
E na sua Primeira Epístola, capítulo 2:4-6, diz o seguinte: «E, chegando-vos para Ele - pedra viva,
reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa. Vós também, como pedras
vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis
a Deus por Jesus Cristo. Pelo que também na Escritura se contém. Eis que ponho em Sião a pedra
principal da esquina, eleita e preciosa: e quem nela crer não será confundido».
Salomão edificou o Templo de Jerusalém com pedras escolhidas. E Pedro, no citado texto,
concebe a Igreja como um grande templo edificado com pedras vivas, ou seja como homens e mulheres
convertidos a Cristo, regenerados e santificados pelo Espírito Santo. O apóstolo considera-se como
uma pedra no grande conjunto, e declara que a pedra angular ou fundamental da Igreja é Cristo.
Defrontamos aqui, amigo Linares, com a seguinte contradição: O frade Daniel Juárez, a páginas 59
do seu livro «A Religião», afirma ser Pedro o fundamento sobre o qual assenta o edifício (...), que é a
Igreja». Mas Pedro assevera o contrário quando diz que o fundamento da Igreja é Cristo. Em qual dos
dois vamos acreditar? É forçoso repetirmos aqui, que alguns «querem ser mais papistas que o Papa».
Sim, porque do todos os modos pretendem converter Pedro no que ele não foi nem quereria ser.
De que maneira o apóstolo entendeu as palavras do Senhor, quando lhe disse: «Tu és Pedro e
sobre esta pedra edificarei a minha Igreja»? Pedro não entendeu que a expressão «sobre esta pedra»
quisesse dizer: sobre ti, Pedro; mas sobre a confissão de fé que ele, Pedro, acabara de formular: «Tu és
o Cristo, o Filho de Deus vivo». Pedro declara que a Igreja levanta-se sobre Cristo; e este ensino do
apóstolo decide a questão de uma vez para sempre.
4) Os ensinos de Paulo estão em perfeito acordo com os de Pedro. Na Primeira Epístola aos
Coríntios, capítulo 3:11, lemos: «Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está
posto, o qual é Jesus Cristo». Explicando estas palavras do apóstolo, afirmam Bover e Cantera,
intérpretes católicos, em nota marginal: «A imagem metafórica de FUNDAMENTO (...) aplica-se
aqui a Jesus Cristo, exclusivamente». E numa das edições da Bíblia traduzida pelo bispo Torres
Amat, aparece uma nota, correspondente ao citado versículo, que diz: «Cristo é o único fundamento
(...) da Igreja».
Na Carta aos Efésios, 2:20, Paulo declara estar a Igreja edificada «sobre o fundamento dos
apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina». E à margem deste
verseto aparece uma nota de Bover e Cantera, que reza assim: «Cristo é a pedra angular e
fundamental da Igreja».
O amigo Linares pode ver a contradição em que incorrem os mestres da sua Igreja? Ao buscarem
apoio para a suprema autoridade unipessoal que têm dado à Igreja Romana, lançam mão das palavras:
«Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja»; e alegam que estas palavras determinam
estar a Igreja edificada sobre Pedro. Mas quando se defrontam com os ensinos posteriores de Pedro e
Paulo, esclarecendo que a pedra fundamental da Igreja é Cristo, dizem então o contrário do que
afirmam ao explicar o texto de Mateus 16:18.
5) Se as ditas palavras tivessem tornado Pedro o Chefe dos apóstolos e da Igreja, os seus
companheiros certamente o teriam compreendido, porque todos ouviram a resposta do Senhor.
Entenderam os apóstolos, na ocasião, que Pedro havia sido constituído fundamento e cabeça da Igreja?
Não entenderam tal coisa; e posso prová-lo, apelando para o testemunho dos próprios apóstolos.
Vejamos:
Mateus diz-nos, no capítulo 20:20-28 do seu Evangelho, que a mãe de Tiago e João se aproximou
de Jesus desejando para seus filhos os dois primeiros lugares no Reino. Esta petição aborreceu os
outros dez, mas Cristo removeu a dificuldade ao dizer: «Todo aquele que quiser entre vós fazer-se
grande seja vosso serviçal. E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja vosso servo». Os
discípulos, porém, não entenderam a repreensão; e quando o Senhor instituiu a Ceia comemorativa,
anunciando que havia chegado a hora de Se submeter ao sacrifício, suscitou-se entre os apóstolos uma
contenda sobre qual deles seria o maior. Ao vê-los irritados por questões tão indignas, disse-lhes o
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Senhor: «Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem
autoridade sobre eles. Não será assim entre vós, mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande
seja vosso serviçal»(Mat. 20:25, 26).
Estas contendas e as respostas dadas pelo divino Mestre, revelam-nos duas coisas: Primeira, que
não se havia decidido nada sobre o domínio. Se os apóstolos estivessem inteirados de que Jesus
nomeara Pedro como chefe, nesse caso não sustentariam um debate para concluir qual deles seria o
maior. E, em segundo lugar, se o Senhor tivesse o propósito de nomear Pedro como Papa, tê-lo-ia dito
no momento em que enfrentava a referida situação. Sim, teria afirmado: não discutam mais sobre este
assunto; não sabem que Eu constituí Pedro como fundamento e cabeça da Igreja? Porém, longe de
afirmar tal coisa, Cristo disse que na Sua Igreja não haveria reis nem papas, como ocorre no governo
das nações. O Mestre declarou que os Seus seguidores são todos iguais; são todos irmãos; têm todos
um só chefe - o próprio Senhor Jesus. E um só Pai: Deus.
6) A palavra «Papa» significa «Pai». Ora, o Senhor diz-nos em Mateus 23:9 que a ninguém sobre
a Terra devemos chamar Pai, «porque um só é o vosso Pai, o qual está nos Céus». E não podemos
conceber que Jesus tenha nomeado um Papa, isto é, um «Pai», e depois nos diga que a ninguém sobre a
Terra devemos chamar Pai!
7) Já vimos, senhor Linares, como os apóstolos interpretam as palavras «Tu és Pedro e sobre esta
pedra edificarei a Minha Igreja». E agora perguntamos: Como interpretam os chamados «pais» e
«doutores» da Igreja as referidas palavras?
O doutor Lannoy, professor da Sorbona, examinou os escritos e ditos de setenta e oito dos mais
famosos «pais» da Igreja, e apurou o seguinte resultado: Dezassete afirmam que as palavras «sobre
esta pedra» dizem respeito a Pedro; quarenta e cinco, entendem que «sobre esta pedra» significa sobre
a confissão feita por Pedro, ao dizer: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo»; e dezasseis opinam
que a expressão «sobre esta pedra» refere-se a Cristo mesmo.
Para mim, estes três grupos reduzem-se a dois, pois os que asseveram que as palavras em causa se
referem a Cristo, e os que sustentam aludirem à confissão feita por Pedro, no fundo concordam que a
expressão «sobre esta pedra» quer dizer a pessoa e natureza de Cristo. Assim, dos 78 «pais» da Igreja,
verificamos que somente 17 admitem ser Pedro o fundamento; os restantes declaram que as palavras
em análise significam «sobre Cristo, único fundamento da Igreja».
S. João Crisóstomo, considerado «doutor» da Igreja, afirma numa das suas Homilias, ao explicar
as palavras de Mateus 16:18, o seguinte: «Sobre esta rocha edificarei a minha Igreja, isto é, sobre a
pedra da sua confissão».
E Santo Agostinho disse, no seu Sernão número 13: «Tu és Pedro, e sobre esta rocha que tu tens
confessado, esta rocha que tu tens reconhecido, ao dizer: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo,
edificarei a minha Igreja. Sobre mim próprio, que sou Filho de Deus, edificá-la-ei e não sobre ti,
Pedro».
O bispo católico Strossmayer, menciona as palavras de Santo Agostinho no seu famoso discurso
pronunciado perante o Concílio Vaticano I, em 1780, e acrescenta: «O que Santo Agostinho ensina
sobre este célebre texto, era a opinião de todo o mundo cristão nos seus dias».
O arcebispo Kenrick, já referido, asseverou no citado discurso: «O fundamento natural e primário
da Igreja é Cristo, quer consideremos a Sua pessoa ou a fé na Sua natureza divina». Estamos
plenamente de acordo com Kenrick, Strossmayer, Santo Agostinho e Crisóstomo, quanto ao assunto
em tela, e lamentamos que haja actualmente na Igreja Romana quem esteja em aberta contradição com
a maioria dos «pais» da mencionada Igreja.
V - E agora, amigo Linares, passemos das Sagradas Escrituras à História. O bispo Strossmayer
disse, perante o Concílio Vaticano I: «Não me sendo possível encontrar nenhum vestígio do Papa
nos tempos apostólicos, disse para mim mesmo: talvez possa descobrir o que procuro nos anais da
Igreja. E procurei o Papa nos quatro primeiros séculos, mas não consegui encontrá-lo.»
O facto de um bispo de Igreja Romana e membro do Concílio Vaticano ter declarado ante o
mesmo que jamais conseguira encontrar vestígios históricos da existência de um Papa nos primeiros
quatrocentos anos da Igreja é, de per si, uma confissão tão eloquente que dispensa qualquer
comentário.
1) Nos tempos apostólicos o oficial ou ministro de mais elevada catergoria na Igreja era o
presbítero, a quem também se dava o nome de ancião, bispo ou pastor pois os termos «ancião»,
«bispo» e «presbítero» significavam, então, a mesma coisa. Porém, no decorrer dos anos, os
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presbíteros das primeiras igrejas das grandes cidades, fizeram-se chamar bispos metropolitanos, aos
quais se atribuía uma certa hegemonia sobre os presbíteros ou bispos de uma região ou província.
Pelos fins do quarto século as igrejas e os bispos do Cristianismo passaram a estar sob a jurisdição, em
grande parte, de cinco centros: Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Roma e Constantinopla, cujos bispos,
por sua vez, se chamavam «patriarcas» de igual autoridade entre si, tendo cada um pleno domínio da
sua própria província.
2) O nome honorífico de «Papa» tem a sua origem nas religiões pagãs. O sacerdote Emílio
Moreno, a páginas 626 da sua «História das Religiões», afirma que os chefes religiosos do druísmo
escandinavo, dos antigos peruanos e das religiões da Índia tinham o nome de Papa.
Por outro lado sabemos que os imperadores da Roma pagã eram os sumo-pontífices da religião
oficial. Quando Constantino se converteu do Paganismo ao Cristianismo, constituiu-se, de facto, em
sumo-pontífice da Religião Cristã. Este acontecimento histórico, funesto para o Cristianismo, marcou
o fim de uma época gloriosa e o início de um período de decadência que, para as igrejas unidas ao
Estado, ainda não terminou. Até então as comunidades cristãs haviam permanecido fiéis ao Evangelho:
Olhavam o Céu, de onde lhes vinha o socorro; e eram pastoreadas por homens chamados pelo Senhor.
Mas, a partir de Constantino, os pastores eram colocados nas igrejas pelo Imperador e governadores; e,
nestas condições, os bispos caíram numa mistificação religiosa, cujo culto tem tanto de pagão como de
cristão.
3) O Concílio de Niceia, celebrado no ano 325, foi convocado e presidido, não pelo Papa - que
ainda não existia - , mas pelo Imperador, que já havia perfilhado o título de «Bispo dos bispos», o que
equivale a dizer, Chefe Supremo da Igreja.
E ante tal evento, perguntamos: Se existia naqueles dias um Papa, onde estava e o que fazia? Sim,
onde estava enquanto Constantino se proclamava chefe dos cristãos e, nessa qualidade, convidava e
presidia a Concílios?
4) Como então se perfilhava uma atitude de franca rivalidade e desejo de supremacia entre os
bispos patriarcais, o cânon sexto do Concílio de Niceia determinava igualdade hierárquica de todos os
«patriarcas». De maneira que os bispos orientais não estavam em nada subordinados ao de Roma, nem
este àqueles.
5) Ao dividir-se o Império, no ano 395, em Oriental e Ocidental, com as capitais Constantinopola
e Roma, respectivamente, os patriarcas de Antioquia, Jerusalém e Alexandria foram paulatinamente
aceitando a supremacia do patriarca de Constantinopola. E, desde então, entabulou-se a luta entre os
bispos de Constantinopola e de Roma.
Ao reunir-se o Concílio de Calcedónia, no ano 451, Leão, bispo de Roma, argumentou, por meio
dos seus representantes que, sendo Roma a sede do Imperador, deveria conceder-se ao bispo de Roma a
supremacia sobre todas as igrejas. O Concílio, porém, longe de aceitar tais pretensões de Leão,
decretou, segundo o artigo 28 do Cânon, a igualdade hierárquica dos bispos de Constantinopola e
Roma.
6) Finalmente, o patriarca de Constantinopola, João o Jejuador, apoiado pelo Imperador Maurício
e pelos patriarcas de Antioquia e de Alexandria, assumiu o título de «Bispo Universal». Gregório, ao
tempo bispo de Roma, ao conhecer o facto protestou violentamente, dizendo ser intolerável que um
homen se considerasse bispo universal. Eis o que sobre o assunto escreveu Bernardo Llorca,
historiador católico: «Gregório protestou contra semelhante pretensão e (...) escreveu ao Imperador.
Nas suas cartas rejeita semelhante título, por ser contrário aos cânones e ao costume da Igreja, por
significar uma injúria à Igreja Universal e por ser símbolo de altivez e soberba. Por esta razão,
Gregório insiste na sua carta ao Imperador e chama a sua atenção para a humildade de Cristo e do seu
Evangelho» (pág. 676).
Vamos transcrever alguns parágrafos das cartas de protesto escritas por Gregório ao patriarca de
Alexandria:
«Nenhum dos meus antecessores tolerou jamais o uso de um título tão profano; porque quando
um patriarca se qualifica de universal, o título de patriarca é retirado dos demais (...) Portanto nunca
deveis atrever-vos a receber cartas com o título do Bispo Universal.»
Escrevendo ao patriarca de Antioquia diz-lhe que o referido título é «profano, supersticioso,
orgulhoso e inventado pelo primeiro apóstata».
E ao imperador escreve: «S. Pedro não é chamado apóstolo universal (...) Toda a Igreja cai do
seu lugar quando aparecer aquele que se chame Universal (...) Longe de corações cristãos seja
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aquele nome de blasfémia (...) Eu afirmo, com toda a confiança, que quem quer que a si mesmo se
chame ou deseje ser Sacerdote Universal, neste seu orgulho precede o Anticristo.»
O bispo de Alexandria, na sua resposta a Gregório, dá-lhe o título de Bispo Universal. E Gregório
responde-lhe, dizendo: «Te hei dito que não deves escrever semelhante coisa, nem a mim nem a
pessoa alguma (...), contudo, no princípio da tua carta, dirigida à mesma pessoa que to proíbe, tens
colocado aquele título arrogante, qualificando-me de Bispo Universal. Tu és meu irmão (...) e suplicote que não tornes a dar-me esse nome blasfemo» («Razones Sincilas», pág. 225).
Strossmayer, bispo católico, disse o seguinte: «Quanto ao título de Bispo Universal, que os Papas
arrogaram para si mais tarde, Gregório I, crendo que os seus sucessores nunca pensariam adornar-se
com ele, escreveu as seguintes palavras: «Nenhum dos meus antecessores consentiu em usar este
título profano e blasfemo, porque quando um patriarca atribui a si nome de universal, o carácter desse
patriarca sofre descrédito. Longe esteja, pois, dos cristãos, o desejo de um título que provoca
descrédito a seus irmãos.»
A sua Igreja, amigo Linares, considera Gregório I como Papa. O título de Papa equivale ao de
Bispo Universal; não obstante o senhor já viu que o próprio Gregório afirma que quem se atreva a
chamar-se ou a considerar-se Bispo Universal, é um Anticristo.
Gregório faleceu no ano 604, e nessa data, de acordo com os seus escritos e o concenso geral da
História, as igrejas cristãs não tinham nenhum Papa. Este começou a surgir depois da morte de
Gregório. E, justo é reconhecé-lo, a obra gigantesca levada a efeito em muitos sentidos por Gregório,
revestiu de prestígio o Bispo de Roma, e este abonou o terreno para que os seus sucessores, lançando
mão de escritos e documentos espúrios, entre eles «As Falsas Decretais» atribuídas a Isidoro de
Sevilha, se levantassem como chefes unipessoais do Cristianismo e até dos estados ou países que
professavam a Religião Cristã.
VI - Chegamos, pois, às seguintes conclusões: 1) O apóstolo Pedro entendeu e, divinamente
inspirado, ensinou que a Igreja está edificada sobre Jesus Cristo, a Pedra Angular estabelecida pelo
próprio Deus. 2) De perfeita harmonia com os ensinos de Pedro temos os do apóstolo Paulo, que nas
suas Epístolas afirma ser Cristo a Pedra Fundamental da Igreja, e que ninguém pode pôr outro
fundamento. 3) Os apóstolos nunca se aperceberam de que o Mestre houvesse nomeado um Papa. 4)
Cristo nunca disse que tinha designado Pedro como fundamento e cabeça da Igreja. 5) Quando Jesus,
no sentido regligioso, declarou que a ninguém devemos chamar «Pai», que significa «Papa»,
automaticamente ensinou que não devia haver nenhum Papa na Igreja. 6) Os comentadores da Igreja
Romana, ao explicarem os ensinos de Paulo e de Pedro acerca da pedra fundamental, afirmam que
Jesus Cristo é o único Fundamento da Igreja. E se Cristo é o Fundamento, então laboram em erro os
que ensinam estar a Igreja edificada sobre Pedro. 7) A grande maioria dos chamados «pais» da Igreja,
entenderam as palavras «sobre esta pedra...» como tendo referência à pessoa e natureza do Filho de
Deus, e não a Pedro. 8) Nos dias dos apóstolos não existia nenhum Papa. O bispo católico
Strossmayer afirma que não há vestígios do papado nos primeiros quatrocentros anos do Cristianismo.
9) A História mostra-nos como através dos séculos se formou a ideia da hegemonia ou superioridade
dos bispos patriarcais de Constantinopola e Roma - as duas capitais do dividido Império. 10) Nos fins
do sexto século, o bispo de Roma afirmou que nem ele nem algum outro se havia chamado Bispo
Universal, por ser este título contrário aos cânones do Cristianismo e entranhar uma blasfémia na sua
doutrina. A indignação de Gregório I contra o que significa o título em causa, foi tão grande que
qualificou de Anticristo qualquer que aspirasse a ser chamado Bispo Universal.
Como pode ver, amigo Linares, este assunto é tão claro como a luz do dia. E permita-me que lhe
diga, que a tese defendida pelo autor do folheto «Sobre Esta Pedra«, cai pela base sob os anátemas de
Gregório I, a quem o senhor chama Papa.
13
3
A
NOSSA
RELIGIÃO
O amigo Linares diz que reconhece ter a nossa religião algumas coisas boas. Gostaria que me
respondesse a esta pergunta: Qual é e no que consiste a nossa religião? Formulo esta pergunta, por me
constar que alguns escritores da sua Igreja afirmam que nós praticamos uma religião cuja origem se
deve aos grandes Reformadores religiosos do século XVI, o que não é verdade; e não é - pelo menos no
que respeita aos Baptistas e algumas outras confissões evangélicas.
Como exemplo, vamos referir-nos a um caso concreto: O frade jesuíta Eduardo Ospina apresenta
Lutero, Zuínglio, Calvino e Henrique VIII como fundadores do que ele chama «O Protestantismo».
Relativamente a Henrique VIII podemos dizer, em abono da verdade, que jamais for evangélico,
porque nunca deixou de ser aquilo que sempre fora desde o princípio. Rompeu as suas relações com o
Papa, porque este, para não causar desgosto ao Imperador Carlos V, recusou-se a ceder à petição
daquele. Henrique VIII, todavia, não procedu impulsionado por convicções religiosas, mas por
reprovadas paixões carnais. Do ponto de vista religioso Henrique VIII foi, após o seu rompimento com
o Papa, o mesmo que havia sido antes.
O mesmo não se pode dizer de Lutero, Zuínglio e Calvino, os quais, na qualidade de frades e
sacerdotes da Igreja Romana, ousaram l evantar a voz contra o que eles julgavam digno de condenação
na sua própria Igreja. E que tais protestos tinham razão de ser, reconhecem até os escritores e
historiadores católicos. Diz o frade Eduardo Ospina, a páginas cinco do seu folheto «O
Protestantismo», o seguinte: «No século XVI o espírito do paganismo havia invadido a Europa (...) e,
por isso, a vida de muitos católicos estava corrompida. E, com a corrupção de costumes, cresceu a
ignorância religiosa».
Afirma um piedoso historiador cristão: «A corrupção nas esferas eclesiásticas era espantosa. Na
cadeira papal sentavam-se monstros como Alexandre VI, pai de Lucrécia Bórgia. Alexandre, no dia da
sua coroação, nomeou seu filho César, um jovem de costumes ferozes e dissolutos, arcebispo de
Valência e ao mesmo tempo bispo de Pamplona. As orgias que ocorriam no Vaticano igualavam as de
Calígula, e os crimes que se cometiam rivalizavam com os de Nero».
Tal estado de coisas, porém, começou muito antes de a família Bórgia se tornar célebre pela vida
licenciosa que levava. Dias Carmona, historiador católico, a páginas 126 da «História da Igreja
Católica», declara: «Desde o início destas lutas, e como resultado das mesmas, uma facção apoderouse de Roma, e tanto esta como o papado, foram, a partir daquela época, presa de poderes tirânicos por
espaço de um século. Esta facção era de Adalberto, marquês de Toscana, mas os seus verdadeiros
chefes eram... três mulheres-famosas por sua beleza e desordenados costumes: Teodora a maior,
parente e concubina de Adalberto, e suas duas filhas Teodora e Marozia, esta última casada com Guido
de Toscana. Mais tarde, Alberico, filho de Marozia, e por último os condes de Túsculum e Crescencio,
filho da segunda Marozia, todos eles pertencentes à mesma família...fizeram eleger e depor Papas, a
seu bel-prazer, alguns dos quais foram assassinados... O domínio de Marozia continuou em Roma sem
qualquer obstáculo, até ao ponto de chegar a eleger Papa, seu filho, João XI».
Por isto se pode ver, amigo Linares, qual deveria ser o estado da Igreja Romana, depois de cem
anos sob o domínio ditatorial de mulheres ambiciosas, de licencioso comportamento e instintos
criminosos.
Após o domínio das Marozias, não nos surpreende ver surgir a época dos Bórgias, e que o Papa
Leão X haja sido nomeado arcebispo de Aix aos cinco anos de idade, antes de haver aprendido a ler o
Catecismo.
Perante um tal estado de coisas diz um historiador eclesiástico: «As pessoas piedosas que ainda
restavam, perguntavam a si mesmas se instituição tão mundana poderia ser a verdadeira Igreja fundada
por Jesus Cristo».
«Quem me dera» - disse o abade de Clairvaus - «ver antes de morer, a Igreja tal como foi nos
seus primeiros dias»! E Tomás Linacer, erudito eclesiástico, pouco antes da sua morte, lendo o Novo
Testamento, ficou tão surpreendido com o seu conteúdo, que declarou: «Ou isto não é o Evangelho
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de Cristo, ou nós não somos cristãos»! E o historiador católico Diaz Carmona afirma que «os vícios
predominantes daquela época eram a imoralidade do clero e a simonia» - o comércio ilícito das coisas
religiosas e espirituais (pág. 131).
Todo o católico piedoso clamava por uma reforma que abrangesse o comportamento, o sistema de
culto e os costumes ou normas que se haviam introduzido. Contra tal estado de coisas levantaram a
voz, entre muitos, Lutero, o monge; Zuínglio, o sacerdote, e Calvino que, graças às boas relações
eclesiásticas que seu pai mantinha, fora nomeado aos doze anos, capelão de uma paróquia rural, sem ao
menos ter cursado estudos sacerdotais.
Ao levantar a voz contra a imoralidade, a corrupção, a ignorância e a simonia que então
imperavam, Calvino, Zuínglio e Lutero não se propunham outra coisa que não fosse dar um passo de
aproximação ao sistema de culto apostólico e lançar fora da sua Igreja os grandes males e pecados a
que nos temos referido. Mas, um tão louvável e são propósito chocou com a obstinação dos
respectivos superiores hierárquicos que acabaram por lançá-los fora da Igreja e submetê-los a uma
desapiedada perseguição. Foi este o motivo que colocou aqueles homens à frente de movimentos
reformadores que produziram a grande cisão religiosa do século XVI.
Nenhum dos sobreditos reformadores se arvorou em criador de um novo sistema religioso. O que
eles pretenderam foi organizar igrejas de acordo com as normas evangélicas e apostólicas; e se o não
conseguiram plenamente, isso deveu-se ao facto de não terem logrado emancipar-se por completo das
tradições que haviam herdado.
Portanto, nós não somos zuinglianos, luteranos ou calvinistas; somos cristãos. Admiramos aqueles
homens que deram ou arriscaram a vida para se manterem fiéis aos ditames das suas consciências, mas
não os seguimos nem nos responsabilizamos pelos actos que cometeram. Se algo de bom existe nos
seus ensinos, estamos dispostos a aceitá-lo, da mesma forma que aceitaríamos qualquer doutrina
evangélica que nos desse o Papa João XXIII ou outro. Nada mais.
O amigo Linares sabe que pertenço à denominação baptista. Pois bem, talvez fique surpreendido
se lhe disser que não há propriamente nenhuma religião baptista. O nome baptista, que hoje nos
distingue de outras confissões evangélicas, foi-nos dado pelos nossos perseguidores e detractores. Nós
não possuímos outra religião além da de Cristo e Seus apóstolos. Nem sequer temos um credo formado
pelos homens. O credo e a magna carta que possuímos é todo o Novo Testamento de Nosso Senhor
Jesus Cristo, sem acréscimos, nem interpretações de concílios.
E, acerca daqueles que, como nós, aderiram através dos séculos aos ensinos de Cristo e dos
apóstolos, afirmou o cardeal Hosius, representante do Papa no Concílio de Trento, o seguinte: «Se a
religião verdadeira pode ser julgada pela presteza e intrepidez do adepto de qualquer seita em sofrer por
sua causa, então nenhuma seita pode ser mais verdadeira do que os ana-baptistas. Nos últimos mil e
duzentos anos (e isto disse Hosius no século XVI), hão sido os mais perseguidos e castigados; e, ao
mesmo tempo, os que com maior fidelidade, paz e gozo têm suportado a perseguição e o sofrimento, e
que sem vacilar se têm oferecido para sofrer os castigos mais cruéis». (Cartas de Hosius, Opud Opera,
112-113).
Não edificamos a nossa fé sobre cronologias, nem espiritualmente nos alimentamos de
genealogias; o que nos interessa é a nossa conexão doutrinal, experimental e espiritual com Jesus Cristo
e, mediante Ele, com o Pai. Ao fazermo-nos cristãos convertemo-nos a Cristo e ao Seu Evangelho.
Depois de convertidos, procuramos que as igrejas da nossa denominação sejam verdadeiras
democracias ao serviço do Senmhor, como o foram as igrejas apostólicas.
Todavia, apesar do nosso maior interesse não estar firmado nas cronologias e genealogias
religiosas, não deixa de ser interessante verificarmos o que um cardeal da Igreja Romana disse, no
século XVI, dos mil e duzentos anos da história dos baptistas. De acordo com este depoimento
histórico do cardeal Hosius, as igrejas ana-baptistas tomaram o lugar das igrejas apostólicas, quando
muitas destas, terminadas as perseguições, abriram as portas à política, ao secularismo, à idolatria e ao
paganismo. As igrejas cristãs dos três primeiros séculos foram igrejas perseguidas. Mas quando
muitas delas entraram em aliança com a política e o Estado, surgiram as igrejas anabaptistas que
arvoraram o estandarte do testemunho cristão tornando-se alvo da perseguição que contra eles
moveram, a um tempo, a Igreja e o Estado.
Permita-me dizer-lhe, amigo Linares, que nasci num lar onde não era conhecida outra religião
além da Católica Romana. Meus pais fizeram com que me baptizassem na Igreja, poucos dias depois
de ter visto, pela primeira vez, a luz deste mundo. Levaram-me à confirmação, quando cheguei ao uso
da razão. Preocupavam-se em ensinar-me tudo o que sabiam em matéria de religião: o Catecismo e as
principais orações da Igreja Romana. No lar dos meus pais rezava-se diariamente o terço e toda a
família tomava parte nele. Além disso, ia à missa, confessava-me e comungava, segundo me ordenava
o sacerdote.
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Assim pratiquei, rotineiramente, até aos 19 anos de idade, a religião que me ensinaram. Mas ao
atingir aquela idade, a Divina Providência fez com que a minha consciência fosse despertada para a
realidade de que era - apesar da minha religiosidade - um pecador destituído da glória de Deus. Ao
aperceber-me da minha situação de perdido, e à beira da morte e do Inferno, lancei mão de tudo quanto
sabia: rezar, jejuar, confessar-me e levar velas à igreja para alumiar os «santos»; todavia, nada disso me
trouxe paz à consciência nem luz ao entendimento. Permaneci assim por espaço de seis meses,
abismado em profunda agonia espiritual. Anelava encontrar um caminho que me conduzisse à paz com
Deus. Ao verificar que nem jejuns, nem rezas, nem as demais coisas que praticava me davam o
resultado tão ansiosamente desejado, optei por colocar de lado tudo isso, e, levantando os olhos ao Céu,
disse: «Meu Deus! Se é verdade que existes, rogo-Te que tenhas misericórdia de mim e me
libertes desta agonia em que me encontro».
Após uns vinte dias de haver dirigido a Deus a minha ardente súplica, acercou-se do lugar onde eu
trabalhava um jovem que me ofereceu o Novo Testamento. Desconhecia o título do livro e nenhum
interesse despertou em mim. Então um amigo estudante interveio e esclareceu-me que o Novo
Testamento encerrava os ensinos de Jesus Cristo e dos Seus apóstolos. Ao saber isso, comprei um
exemplar e entreguei-me à sua leitura. Pareceu-me um livro maravilhoso desde o princípio; mas
confesso, amigo Linares, não assimilava nada do que lia, e acabei por colocar o Novo Testamento de
lado.
Todavia, o problema da minha consciência e o temor do Inferno mais se agravavam, e um dia
disse: «Tenho um livro que fala de Deus, de Jesus Cristo e dos apóstolos; se nele não achar a solução
para o meu problema, devo perder a esperança de encontrá-la por qualquer outro meio. E voltei, com
renovado brio, à leitura do Evangelho. A graça divina que me estava a guiar iluminou então a minha
mente, pois ainda não acabara de ler o primeiro dos quatro Evangelhos, quando comecei a vis-lumbrar
a grande verdade de que Jesus morrera pelos meus pecados e de que, pela virtude do Seu sacrifício,
Deus oferecia-me o perdão, a reconciliação e a vida eterna. Ao descobrir tão maravilhoso plano,
apeguei-me a Cristo com todas as minhas forças e, imediatamente, senti que a minha alma era inundada
por um gozo inefável e glorioso: o gozo do perdão e da reconciliação com Deus. Havia descoberto o
caminho da salvação; tinha encontrado o meu Salvador; experimentava uma maravilhosa iluminação no
entendimento; estava livre dos meus pecados e percebia, agora, que as portas do Céu se abriam para
mim. Tudo isto me encheu de paz e de uma alegria tão grande, que não trocaria por todos os prazeres
deste mundo.
Desde então desapareceram as dúvidas, a ansiedade e o temor. No momento em que aceitei Cristo
como meu Salvador, coloquei-me ao abrigo do decreto de amnistia que Deus nos oferece pelo
Evangelho. Sou salvo, salvo pela graça e virtude do sacrifício de Seu Filho. São decorridas mais de
três décadas desde aquela inolvidável experiência, mas a alegria da salvação e a doce comunhão com
meu Pai celestial permanecerão até que chegue aos Céus, onde o gozo será maior e a felicidade
completa e perfeita!
Talvez na sua mente surja, amigo Linares, o desejo de perguntar se eu não sabia, pelo estudo do
Catecismo, que Cristo morrera pelos meus pecados. Tinha ouvido falar de tal coisa, mas antes de
conhecer o Evangelho, Cristo era, para mim, um «santo» entre os outros «santos» da Igreja Católica; e
não era exactamente o «santo» da minha devoção. O aspecto salvador de Nosso Senhor Jesus Cristo
permanecia oculto para mim, no meio do ritual e da confusão de ensinos que encerra o plano
doutrinário da Igreja a que pertencia.
Não quero que passe desapercebido ao senhor, o seguinte aspecto: Encontrei o caminho da
salvação por meio do Evangelho e não através de uma Igreja. E quando descobri que Jesus tinha
consumado a minha salvação no Calvário, automaticamente, sem que ninguém mo ensinasse,
compreendi que Ele era o único Mediador entre Deus e os homens, e que não carecia de nenhum outro.
Terminou a minha dependência dos «santos», desde que me entreguei ao Senhor Jesus.
Deus tirou-me das trevas para a luz, da morte para a vida, e do caminho da perdição para o da vida
eterna, mediante o Evangelho. Quando me converti não conhecia nenhum cristão evangélico nem
qualquer Igreja Evangélica; portanto, no meu caso, ninguém poderá dizer que fui persuadido ou
enganado. Clamei a Deus e a resposta do Céu veio na forma de um Novo Testamento. Pela sua leitura
encontrei a salvação em Cristo. Depois tive conhecimento que outros desfrutavam da mesma
experiência de salvação e que existiam Igrejas Evangélicas.
Comecei a frequentar uma Igreja Baptista. Ao perceber que o seu sistema de culto, de ensino e de
governo estavam de acordo com os princípios e normas estabelecidas pelos apóstolos e entregues às
igrejas que fundaram e dirigiram, tornei-me membro dela.
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4
QUAL É A
VERDADEIRA
IGREJA DE JESUS
CRISTO?
Fica esclarecido, amigo Linares, que não somos seguidores dos grandes Reformadores do século
XVI, e, portanto, não somos protestantes. Somos cristãos evangélicos. Não nos temos convertido a
uma seita, mas a Jesus Cristo e ao Seu Evangelho. Cristo é o nosso Mestre, Guia, Exemplo e Senhor; é
Ele que nos une pelos laços do amor, da experiência e do ideal.
A nossa tarefa no mundo não é a de protestar, mas pregar o Evangelho a toda a criatura. E, se às
vezes protestamos contra alguma coisa, fazemo-lo, como os senhores, porque cremos que no trabalho
de pregador está incluído o condenar o pecado e tratar de libertar o homem das cadeias do erro, da
superstição, da idolatria, da ignorãncia e da perdição.
I - Nós somos cristãos apostólicos; e não vemos inconveniente algum em nos chamarmos cristãos
católicos e apostólicos. Alguns são «apostólicos» de nome; mas o senhor acha que nós o somos na
doutrina, pois a nossa pregação baseia-se nos ensinos apostólicos. A palavra «católico» quer dizer
«universal», e nós pregamos o Evangelho universal, que converte quem o recebe em filho de Deus, e
em irmão de todos os homens da mesma fé.
A nossa grande característica histórica é a fidelidade à doutrina de Jesus Cristo e Seus apóstolos.
Por querer manter-nos fiéis a estes ensinos e não nos submetermos às tradições humanas, que pugnam
abertamente contra o Evangelho de Cristo, os baptistas e outros evangélicos têm sofrido vitupérios,
perseguições e martírios no decorrer dos séculos.
II - O senhor (como católico) e eu (como cristão evangélico) concordamos em muitos aspectos
doutrinários, que podemos qualificar de fundamentais; mas estamos em franco desacordo noutros. Por
exemplo: Estamos de acordo no que concerne à criação, à inspiração das Escrituras, à Trindade de
pessoas no seio da Divindade, à conceição virginal de Maria, à morte vicária de Cristo, à Sua
ressurreição e regresso ao Céu, de onde há-de voltar para julgar todos os homens, na ressurreição dos
mortos e na realidade do Céu para os remidos e do Inferno para os réprobos. Por outras palavras: Nós
estamos de acordo a respeito do chamado «Credo Apostólico», pois embora saibamos não ter sido
escrito pelos apóstolos, reconhecemos que os seus postulados em geral estão em conformidade com o
Evangelho.
Se os senhores se tivessem sujeitado ao Evangelho e aos artigos da fé contidos no «Credo
Apostólico», não existiria o abismo que hoje nos separa. Mas naqueles séculos passados de
obscurantismo, quando as Marozias e os Bórgias dirigiam, em proveito próprio, a Igreja Romana, esta
quase esqueceu por completo o Evangelho de Cristo e abriu, por outro lado, as portas a toda a sorte de
erro, superstição, idolatria e doutrinas antievangélicas. Tal estado de coisas culminou com o chamado
«Credo de Pio IV», discutido e aprovado pelo Concílio de Trento, em 1563, sobre o qual se
fundamenta, actualmente, a teologia e o culto da Igreja Romana.
O Credo em causa é romano, mas não apostólico nem cristão. Nenhum dos seus doze artigos está
de acordo com o Evangelho de Cristo. O «Credo de Pio IV» converteu a Igreja Romana naquilo que o
seu próprio nome indica: uma Igreja Romana que está muito longe de ser, tanto no sistema de culto
como na doutrina, semelhante Às igrejas fundadas pelos apóstolos, e das quais nos fala o Novo
Testamento.
1) Se o amigo Linares retrocedesse ao tempo dos apóstolos, jamais veria coisa semelhante a essa
que o senhor chama «Santa Igreja Romana, Mãe e Senhora de todas as Igrejas». O conceito de uma
Igreja Romana com uma jerarquia absolutista, que dita decretos e impõe normas às outras Igrejas, é
totalmente contrária ao espírito e à letra da doutrina de Jesus e dos apóstolos.
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Um dos aspectos dos ensinos neotestamentários contempla o futuro, quando todos os remidos
constituirão uma Igreja, que será chamada a «Esposa do Cordeiro». Na actual dispensação ou idade da
Igreja, os apóstolos não organizaram uma Igreja, uma organização hierárquica com a responsabilidade
de «controlar» todos os cristãos do mundo, mas igrejas. O apóstolo Paulo fala-nos de «as igrejas dos
gentios» (Rom. 16:4), «as igrejas da Galácia» (Gál. 1:2), «as igrejas da Judeia» (Gál. 1:22), «as
igrejas de Deus» (I Tes. 2:14).
Cerca do ano 96 da era actual, o Senhor Jesus Cristo dirigiu sete cartas a sete igrejas; e nenhuma
delas foi endereçada à Igreja Romana. O facto do próprio Salvador Se ter dirigido, nos fins do século I,
«às igrejas» e não à Igreja revela-nos claramente que não era do Seu propósito, na presente
Dispensação, agrupar os cristãos numa organização estatal ou mundial, com uma chefia que se
proclamasse «Mãe e Senhora» de todos os filhos de Deus.
2) Se o amigo Linares pudesse ter vivido no primeiro século do Cristianismo, nunca encontraria
nas igrejas apostólicas esse corpo de ministros chamados sacerdotes.
O cerne do culto judaico apoiava-se na seguinte trilogia: altar, sacerdote e sacrifício; mas tanto os
sacerdotes como os sacrifícios daquele tempo eram sombras e figuras de Cristo na Sua condição de
vítima e sacerdote. Quando Jesus Se sacrificou por nós na Cruz e entrou na presença do Pai para
interceder por todos os que recorrem a Deus por Seu intermédio, terminou todo o ritual do Velho
Testamento.
A Regligião Cristã, tal como a entenderam e ensinaram os apóstolos, não reconhece senão um
altar, um único sacrifício e apenas um sacerdote. O altar do Cristianismo é o Calvário, a vítima que dá
a sua vida pelo pecador é Cristo, o Cordeiro de Deus, e o sacerdote que penetra até ao Propiciatório
para impetrar o perdáo e a salvação dos seus representados é o bendito Filho de Deus. Referindo-se a
este único Sacerdote, que com um só sacrifício obeve eterna redenção para todos os que por Ele se
chegam a Deus, diz o autor da Epístola aos Hebreus: «Portanto, pode também salvar perfeitamente os
que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Porque nos convinha tal Sumo
Sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os Céus;
que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por
seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-Se a Si
mesmo. Porque a Lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que
veio depois da Lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre» (Hebreus 7:25-28).
Esta epístola ensina-nos que Cristo é o Ùnico Sacerdote da Igreja, e que o Seu sacrifício,
consumado no Calvário, não carece de ser repetido. As primitivas igrejas cristãs não tinham sacerdotes,
altares ou sacrifícios pelos pecados. Os pregadores dos primeiros séculos não sacrificavam a Cristo,
mas pregavam o Cristo que Se havia sacrificado.
3) Se o amigo Linares estivesse na época dos apóstolos, não encontraria nas igrejas esse ritul a
que chamam «missa». O culto cristão dos primeiros séculos consistia apenas no canto de hinos,
orações, leitura das Sagradas Escrituras, pregação e celebração da Ceia do Senhor.
O frade Bernardo Llorca, na sua «História da Igreja Católica», pergunta: «Em que consistia
exactamente o culto cristão dos primeiros séculos?» E responde: «O modelo de culto foi sempre a
última Ceia do Senhor (…) a que, segundo o livro dos Actos dos Apóstolos, foi chamada, durante
algum tempo, a fracção ou partir do pão» (pág. 267).
De facto, lemos em Actos 2:42, que os cristãos «perseveravam na doutrina dos apóstolos (…), no
partir do pão, e nas orações». (Veja-se Act. 20:7). Paulo escreveu a sua Primeira Epístola aos Coríntios
cerca do ano 57, e ao referir-se ao acto de partir o pão, chama-lhe «a Ceia do Senhor» (11:20). E como
o amigo Linares poderá examinar, a Ceia do Senhor é uma coisa bem distinta da «missa» da Igreja
Romana. A missa é simplesmente uma perversão da Ceia do Senhor.
A Ceia do Senhor compõe-se de dois elementos: pão e vinho. Nela devem participar, de acordo
com os ensinos do Evangelho, todos os membros da Igreja. Nas igrejas cristãs que se regem pela
doutrina dos apóstolos, todos os membros participam do pão e do vinho; porque o receber uma só
espécie não seria participar da Ceia do Senhor, segundo a maneira como Ele a instituiu. Contudo, o
amigo Linares vai à sua Igreja, assiste ao acto da «missa» e não participa nem do pão nem do vinho; o
que nos demonstra ser a «missa» uma coisa e a »Ceia do Senhor» outra bem diferente. Já temos visto
que o frade Bernardo Llorca afirma que nos primeiros séculos a Ceia do Senhor constituía o centro do
culto cristão. Pois bem, por que motivo na sua Igreja não celbram a Ceia do Senhor?
A Ceia do Senhor é um acto comemorativo, como o era a Páscoa. A Ceia tem a finalidade de
comemorar am orte do Senhor Jesus. O pão simboliza o corpo do nosso Redentor e o vinho representa
o Seu sangue derramado na Cruz pelos nossos pecados.
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Talvez o senhor observe que Jesus disse, ao referir-Se ao pão: «isto é o meu Corpo». E com
respeito ao vinho: «isto é o meu Sangue». Mas também o Senhor Jesus afirmou «Eu sou a Porta»; «Eu
sou o Caminho»; «Eu sou a Vida». Paulo, em I Coríntios 10:4, fala de uma rocha que existia nas
imediações do monte Sinai, e assevera que aquela «pedra era Cristo». José, ao interpretar os sonhos de
Faraó, dizia-lhe que as sete vacas eram sete anos (Gén. 41:26). Se o amigo Ambrósio Linares e eu nos
acercarmos da estátua que se ergue no parque X, e eu lhe perguntar: Quem é este? – o senhor dir-me-á:
É fulano. E ao dizer assim não mente. Pois bem, nem aquela estátua é F., nem as sete vacas são sete
anos, nem a pedra de Horeb é Cristo. Mas quando declaramos que a estátua é a de F., que a pedra é
Cristo e que as sete vacas são sete anos, o que na realidade queremos dizer á que a estátua representa
F., que as sete vacas representam sete anos, que a pedra de Horeb represea Cristo, como O
representam, igualmente, as suas funções, a Porta, o Caminho e a Vida. E neste sentido é que se deve
entender as palavras: «Isto é o meu Corpo» e »Isto é o meu Sangue». O pão representa o corpo de
Cristo que foi trespassado pelos cravos; o vinho representa o Seu sangue derramado na Cruz. Ambas as
coisas constituem a Ceia do Senhor, cuja finalidade é a de comemorar a morte do nosso bendito
Salvador. Para os apóstolos o pão continuava a ser pão; e o vinho permanecia vinho. Quando Jesus, nas
bodas de Caná, transformou a água em vinho, os que dele beberam notaram que não sabia a água mas a
vinho, e do melhor. Se o senhor provar o vinho usado pelo sacerdote na «missa», verificará que tem o
sabor de vinho, mesmo depois da «transubstanciação». E para que o amigo veja que não se opera
qualquer mudança, cito-lhe o caso de um bispo equatoriano que se envenenou com o vinho da «missa».
O que lhe causou o envenenamento, o vinho ou o sangue de Cristo?
Diz Llorca, o mencionado historiador católico, que o vocábulo «missa» aparece pela primeira vez
nos fins do IV século, nos escritos de Santo Ambrósio (pág. 878). Ambrósio, porém, não atribuía à
palavra «missa» o significado que actualmente tem. Declara Llorca que, naquele tempo, os que não
eram membros da Igreja participavam do culto até ao momento do «partir do pão», e depois retiravamse (pág. 268). Quando Ambrósio despedia os catecúmentos, dizia: «Missa»; e por esta palavra eles
entendiam: «despedida». Era com este sentido que Ambrósio usava o termo «missa».
O primeiro a apresentar formalmente a teoria que haveria de conduzir ao dogma da
«transubstanciação» foi Pascácio Radberto, numa obra intitulada: «Sacramento do Corpo e do Sangue
de Jesus Cristo», publicada no ano 831. Antes desta data já alguns haviam sugerido a doutrina, «mas
um grand número de teólogos», à cabeça dos quais se encontrava Ratramno, combateram-na
vigorosamente. Todavia, aquela geração de teólogos desapareceu, e veio o século das Marozias e,
depois dele, o IV Concílio de Latrão, celebrado em 1215, que aprovou oficialmente o dogma da
transubstanciação, sobre o qual assenta o que é hoje a «missa» da Igreja Romana.
4) Se e amigo Linares tivesse vivido nos primórdios do Cristianismo, certamente não veria
imagens de qualquer espécie nos templos cristãos. Isto reconhecem até os escritores da Igreja Católica
Romana. Na página 196 do livro «A Fé de Nossos Pais», da autoria do cardeal Gibbons, aparece a
seguinte declaração: «A proibição das imagens durou algum tempo na Igreja de Jesus Cristo». E
Diaz Carmona afirma, a páginas 48 da sua «História da Igreja Católica», que entre as disposições do
Concílio de Ilíberis, celebrado no IV século, aparece uma «que proibia pinturas nas igrejas». Perante
esta PROIBIÇÃO, que prevaleceu nas Igrejas de Jesus Cristo por mais de seiscentos anos, ocorre-nos
perguntar: «Quem procede contra vontade de Deus: os que proíbem as imagens ou os que agora as
levantam e aprovam?».
5) Se o senhor vivesse nos primórdios da era actual, tão-pouco observaria nos templos cristãos o
chamado «Confessionário». Naqueles tempos não havia sacerdotes com a pretensão de perdoar os
pecados cometidos contra Deus. Os homens confessavam-nos directamente a Deus, com muito melhor
resultado do que aquele que obtêm ao fazê-lo a um ser humano.
Nas igrejas estabelecidas pelos apóstolos desconhecia-se a doutrina do «Purgatório», não se falava
de «indulgências», nem os fiéis dirigiam as suas orações a Maria e aos santos, pois aqueles igrejas não
se conheciam outro Mediador entre Deus e os homens além de Jesus Cristo Homem.
Naqueles tempos o casamento era recomendado aos presbíteros. E o culto celebrava-se na língua
do povo, a fim de todos poderem entender o que dizia o ministro.
III – Portanto, se a Igreja Romana voltasse ao que eram as igrejas cristãs nos dias dos apóstolos,
que restaria dela? Sim, o que ficaria, se mudassem os sistemas de governo e o corpo sacerdotal; e se em
vez de «missa» voltassem à Ceia do Senhor, segundo a maneira como Jesus a instituiu; e se
desaparecesse a doutrina do Purgatório, as indulgências, a legião de mediadores – que nenhuma função
desempenham – e as orações aos santos? Isto e muito mais teria de deaparecer para que a Igreja
Romana pudesse ser chamada, em verdade, uma Igreja Cristã Apostólica.
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Ante esta conclusão, talvez o amigo Linares me pergunte: - «E se da minha Igreja desaparecesse
tudo quanto o senhor sugere e indica, que restaria dela? Dir-lhe-ei: - «Ficaria uma Igreja com um Cristo
vivo, real, poderoso e omnipresente, que derramaria a virtude da Sua graça em todos os corações. Então
não conheceríeis vós mais do que o Cristo verdadeiro. Ficaria uma Igreja democrática, como eram as
igrejas evangélicas dos primeiros séculos, que se governaria a si própria e tomaria as suas decisões pela
maioria de votos. Ficaria o Evangelho, a Palavra de Deus, como seu poder vivificador, como fonte de
verdade, manancial de vida e farol orientador.
Ficaria o sistema de culto estabelecido pelos apóstolos, com o seu canto congregacional, a leitura
da Bíblia, a pregação dos sermões baseados na Cruz de Cristo e expostos por homens chamados por
Deus; ficaria, igualmente, o modo simples de orar, com as expressões que o coração sente, e não com
orações escritas por outros como fazem agora.
Restaria a Ceia do Senhor, com o seu importante simbolismo, que nos aproxima do altar do
Calvário e nos faz recordar que Cristo foi cravado sobre a Cruz e que nela derramou o Seu precioso
sangue para nos limpar a consciência e a alma de toda a culpa, de toda a mancha e temor. Todos os
membros da Igreja participariam do pão e do vinho, tal como nos dias dos apóstolos, e então ficaria a
graça de Deus distribuindo arrependimento, perdão dos pecados, justificação e vida eterna.
IV – Que a Igreja Romana está divorciada das normas evangélicas que caracterizavam as igrejas
dos primeiros séculos, parece reconhecê-lo até o Papa Pio XII, que vê a necessidade de uma reforma a
fundo. Com efeito, a 3 de Dezembro de 1950, «El Mundo» publicava uma informação com o seguinte
título: «A Igreja Católica será reformada». A informação em causa procedia de Roma, via Madrid, e
dizia: «numa interessante crónica, o correspondente do ‘ABC’ de Roma, Julán Cortés, anuncia que o
próximo Congresso Internacional que se prepara no Palácio Extraterritorial da Chancelaria Apostólica,
assentará as bases de uma enorme empresa reformadora». E, se prentendem reformar a Igreja, é porque
percebem a necessidade de o fazer.
V – Pels exposto, o amigo Linares perceberá que as igrejas apostólicas em nada se comparavam
com o que é, nos nossos dias, a Igreja Romana, ou para dizer correctamente: a actual igreja Romana
não é, sequer, a sombra do que foram as igrejas que tiveram por fundadores os apóstolos, que também
foram seus orientadores e mestres. Entre estas e aquela há um grande abismo.
Deste modo, qual é hodiernamente a verdadeira Igreja de Cristo? Eu creio que a Igreja a que
pertenç á uma Igreja Cristã, fundada e regida de acordo com os ensinos apostólicos, cuja missão é levar
a cabo a tarefa que o Senhor Jesus encomendou à sua Igreja. E se assim o não cresse, buscaria outra
igreja que estivesse de acordo com o que o Novo Testamento diz que foram as Igrejas Apostólicas. No
caso de não encontrar tal Igreja, justo seria que eu próprio procurasse organizar uma, segundo as
normas neotestamentárias.
Não afirmo que as Igrejas Baptistas sejam as únicas verdadeiramente cristãs que existem.
Reconheço haverem Igrejas de outras denominações, que também são cristãs.
As quatro características seguintes ajudar-nos-ão a indentificar a verdadeira Igreja ou igrejas de
Cristo.
1) Os membros da Igreja de Cristo devem ser pessoas convertidas, regeneradas e santificadas
pelo Espírito Santo. Toda a verdadeira Igreja é, em si, do ponto de vista local, corpo de Cristo
e templo do Espírito Santo. Mas os não regenerados pelo Espírito Santo não estão aptos para
tão elevada função.
2) A Igreja de Cristo é aquela que tem Cristo como Fundamento e Cabeça. Ele é o Senhor da
Igreja; e esta deve em tudo glorificá-Lo.
3) A Igreja de Cristo deve permanecer fiel aos ensinos do Novo Testamento. Quando uma Igreja
abre as suas portas às tradições dos homens, às teorias dos «sábios» e aos decretos dos
Concílios, já deixou de ser a Igreja de Cristo.
4) Se contemplarmos a Igreja do ponto de vista das almas regeneradas, e não do da organização,
diremos que a Igreja de Cristo tem membros em todas as Igrejas Evangélicas. Mas nem todos
os membros das Igrejas Evangélistas chegarão a fazer parte daquela Igreja que será chamada a
«Esposa do Cordeiro». E digo Igrejas Evangélicas, porque a doutrina de Cristo é o
Evangelho; e a Igreja que não seja evangélica não é, nem pode ser, a Igreja de Jesus. O que
importa, neste caso, não é o nome, mas a doutrina sobre que se funda, os ensinos que prega e a
experiência e vida dos seus membros.
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5
ONDE E COMO
DEVEMOS
ENCONTRAR
A SALVAÇÃO?
I – O amigo Linares afirma «que fora da Igreja romana não há salvação possível». Ora isso faz-me
lembrar o que há anos me disse um farmacêutico católico: - «O senhor não pode ir para o Céu, porque
as Chaves do Reino de Deus estão na posse da Igreja Romana; e aquele que não for membro desta
Igreja, não poderá salvar-se». – Pois bem, amigo – respondi -, já pertenci à Igreja Romana até à idade
de 19 anos. Sentindo a ardente necessidade de escapar ao Inferno, procurei a salvação por todos os
meios que a Igreja Romana me ensinou e não a pude encontrar. Decepcionado e aflito, deixei de lado as
práticas da citada igreja e clamei directamente a Deus. Em resposta às minhas súplicas, a Divina
Providência colocou nas minhas mãos o Evangelho de Cristo, e nele e por ele encontrei o Plano da
Salvação. Pela fé refugiei-me neste Plano, confessei ao Pai celestial todos os meus pecados e aceitei
Jesus Cristo como meu Salvador pessoal. Desde então fiquei livre dos pecados; Deus perdoou-me, e o
sangue de Cristo limpou a minha consciencia e alma. Então abriram-se-me as portas do Céu e recebi o
direito de me tornar filho de Dues, pela regeneração. E vivo contiado e seguro de que no dia da minha
partida, deste mundo, encontrarei abertas as portas do Reino de Deus.»
II — Pense por um instante, amigo Linares, nas implicações das seguintes perguntas: Que seria
da pobre humanidade se Deus tivesse colocado as chaves do Reino dos Céus literalmente nas mãos de
um homerm ou da alta hierarquia de um Igreja que, no seu afã de acabar com os cristãos evangélicos,
teve a coragem de estabelecer o chamado tribunal da «Santa Inquisição»? Que seria do Reino de Deus
se a alta hierarquia de uma Igreja tivesse a faculdade de abrir e fechar as portas a quem se lhe
opusesse? Em tal caso, o Céu estaria cheio de idólatras, criminosos e beberrões, enquanto que muitos
santos teriam de ir parar ao Inferno.
Todavia, não há a temer que tal coisa suceda, pois o próprio Salvador declarou, na Sua última
revelação aos homens, ter Ele mesmo as chaves do Céu, e que quando abre ninguém pode fechar, e
quando fecha jamais alguém poderá abrir (Apoc. 3:7). Diz o Senhor: «EU sou a Porta...» (Joâo 10:9).
«EU sou o Caminho, e a Verdade e a Vida. Ninguem vem ao Pai senão por Mim» (João 14:6).
Já la vai a tempo que os teólogos católicos ensinavam não haver salvação fora da Igreja Romana.
Actualmente nem os próprios católicos acreditam nisso. 0 teólogo jesuíta Nicolás Buil afirma, no seu
livro «0 Credo», que os cristãos que estão de boa fé na lgreja Evangélica também se salvam. «Porque a
formosa verdade que se depreende dos ensinos de Cristo» — disse Buil — «é que quem se salva,
salva-se mediante a graça de Deus e por sua livre cooperação com ela». (págs. 381, 383 e 395). E
como é óbvio que todos os evangélicos estão de boa fé no Evangelho, a conclusão a que nos conduz o
citado teólogo é que todos os evangélicos de boa fé vão para o Céu. Esta conclusão desvirtua a
afirmação de que «fora da Igreja Romana não há salvação». E se nos agarrarmos aos factos e aos
frutos, estes parecem pôr a descoberto que a realidade contraria aquela afirmação.
Quando o amigo Linares assevera que fora da Igreja Romana não há salvação possivel, parece
manifestar o critério de que a salvação do pecador depende da filiação deste à mencionada Igreja; e
nisto está o senhor radicalmente enganado. A Igreja não pode salvar ninguém; a salvação não vem da
lgreja, mas de Cristo. 0 amigo jamais me ouviu dizer que é necessário ser membro da lgreja Baptista
para se alcançar a salvação.
Os apóstolos não pregavam a Igreja, mas Cristo crucificado. Em Actos dos Apóstolos 4:12, Pedro
afirma que «fora do Cristo não há salvação. Pois não tem sido dado aos homens outro nome
debaixo do céu, pelo qual possamos ser salvos» (Versão do bispo Torres Amat). E João declara:
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«Aquele que tem Cristo tem a vida» (I João 5:12). S. Paulo aos Colossenses 2:10, diz «Que em
Cristo estamos perfeitos». Portanto, não é questão do pertencer a Igreja, mas a Cristo. Podemos
pertencer a todas as igrejas do mundo, mas só Cristo não está em nós, não somos cristãos, nem somos
salvos.
A verdadeira Igreja do Jesus Cristo não é um agrupamento dos que aspiram a salvação, mas sim
dos que já são salvos. Não nos tornamos membros da Igreja com o propósito do nos salvarmos, mas
porque Cristo já nos salvou. 0 que não possui a certeza da sua salvação, tão-pouco deve fazer-se
membro de uma Igreja Cristã. E isto que o Evangelho nos ensina; mas os crentes da lgreja Romana
parece que se fazem seus membros com o objectivo do alcançarem a salvação através dos ritos e
ensinos da referida Igreja. E aqui estamos peranto um dos erros capitais do Romanismo.
III — 0 seu falso conceito de que a lgreja pode salvar, é uma consequência lógica do sistema
sacramental que predomina na Igreja Romana. Os membros da sua lgreja, amigo Linares, estão a
salvar-se desde que nascem até que exalam o último suspiro, e finalmente partem deste mundo sem
saber se se dirigem ao Céu ou ao Inferno. Não poderá contradizer-me de que Ihe estou a afirmar a triste
realidade.
Eu sei que o senhor sinceramente busca a salvação da sua alma, mas por meio do sistema do
ensino e prática da sua Igreja jamais chegará a adquirir a bendita certeza da salvação. Esta certeza só
Cristo nos pode dar quando directamente vamos a ele, e não através de mediadores ou de sacramentos.
Na sua Igreja ninguém sabe o que lhe espera, nem mesmo o Papa, a quem os senhores chamam «Santo
Padre». E a evidência daquilo que lhe afirma temo-la no facto de que a sua Igreja continua a dizer
missas e a rogar pelo eterno descanso dos Papas que morreram há centenas de anos. Se não têm a
certeza de que os Papas vão para o Céu, que esperança podem ter os membros da sua Igreja?
Quão distinta á a situação espiritual e a esperança dos cristãos evangélicos! Nós já passámos pela
experiência da conversão e do novo nascimento; a nossa fé descansa sobre o sólido fundamento da
Palavra de Deus; sentimos, como afirma Paulo em romanos 8:16, que o Espírito de Deus dá
testemunho ao nosso espírito dizendo que somos filhos de Deus; e o gozo, a esperança e a paz que
sentimos nos nossos corações são como o selo da divina aprovação à nossa fé. Desta maneira
encontramos uma bendita e gloriosa harmonia entre o que o Evangelho diz e o que o nosso coração
sente. Mas esta mudança de vida, esta fé, este gozo, esta esperança de glória e esta segurança não se
podem alcaçar através dos «sacramentos da Igreja». Esses «sacramentos», que constituem o âmago da
sua religião e o fundamento da sua fé, não são evangélicos; não têm virtude para transformar a vida,
nem para conceder gozo, paz e certeza de salvação aos que procuram aproximar-se de Deus por seu
intermédio. É que todo o sistema sacramental deriva de uma falsa base, como o senhor mesmo poderá
verificar pela exposição seguinte:
1) O senhor, como bom católico, foi baptizado sendo ainda criança. Os ensinos da sua Igreja
dizem que o baptismo limpou-o de todos os pecados que rpecederam esse acto e ordenança,
que o fez nascer de novo, que o converteu num cristão e filho de Deus. De modo que, quando
o senhor atingiu o uso da razão, já era cristão; e dizem-lhe que tudo quanto o amigo necessita
fazer nof uturo é apenas manter a sua condição de cristão.
2) Ao atingir o uso da razão, foi confirmado. A Confirmação é, por assim dizer, como um selo
que credita a sua condição de cristão.
3) Em seguida á Confirmação supõe-se que o senhor tenha entrado na participação das
actividades da sua Igreja. Como passo inicial recomendaram-lhe a conveniência de que, entre
os mais de 4000 «santos» da sua Igreja, elegesse um «como seu protector especial», para que,
mediante a intercessão do mesmo, o senhor pudesse vir a ser um membro zeloso da sua Igreja.
(Padre Smith, pág. 146). Também o senhor ter-se-á encontrado perante a alternativa de
seleccionar umas das múltiplas advocacias sob o que se adora Maria e Jesus Cristo. No que se
refere a Cristo, poderá escolher entre o Cristo das Angústias, o Coração de Jesus, Jesus
22
Sacramentado, o menino Jesus, Jesus do Horto, o Cristo Pobre, Jesus do Grande Poder, Jesus
Nazareno, etc.
4) É de supor que o senhor assistirá à «missa» todos os domingos, que orará pelos ‘infiéis’, que
contribuirá liberalmente para obras de caridade e para o sustento da Igreja; porque lhe
ensinaram que as suas obras e esmolas são aceites por Deus como uma espécie de pagamento
ou recompensa pelo perdão dos pecados. Uma das orações da sua Igreja diz: «Ofereço minha
vida, obras e trabalho em satisfação de todos os meus pecados».
5) De vez em quando o senhor Linares confessará os seus pecados a um sacerdote, que lhos
«perdoará», dizendo: «Eu te absolvo». E ao ver-se livre de todos os pecados, aproximar-se-á
do altar da Comunhão para receber a Eucaristia, e por ela participar do corpo, alma e
divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
6) Como a sua Igreja tem entesourado os méritos de Jesus Cristo, de Maria e dos «santos», abrelhe as portas desse tesouro, a fim de que possa receber indulgências de variado alcance. Por
exemplo: se as contas do seu rosário estão benzidas, o senhor ganha cem dias de indulgência
por cada Pai-Nosso e Ave-Maria que sejam acompanhados dos «cinco mistérios»; se rezar o
«rosário» numa igreja aonde esteja exposto o Santíssimo Sacramento, beneficiará de uma
indulgência plenária. Se percorrer as catorze Estações de Via Crucis, rezando as
correspondentes orações, ganhará sete anos de indulgência por cada estação; e se as percorrer
todas alcançará uma indulgência plenária. Também se pode adquirir indulgência plenária por
se visitar a cidade de Roma no chamado «Ano Santo». E podem ganhar-se indulgências por
outros múltiplos processos.
7) E, para assegurar de um modo mais eficaz a sua salvação, a Igreja oferece-lhe o Escapulário
da Virgem do Carmo. Se o senhor conservar esse Escapulário até ao dia da sua morte, é-lhe
garantido que não irá para o Inferno, pois o «Escapulário é âncora de salvação eterna,
aliança de paz e pacto sempiterno.»
Uma vez que conserve o dito Escapulátio até ao dia da sua morte, não precisa de se
afligir, ainda que o mandem para o Purgatório, porque o papa João XXII disse que a Virgem
Maria desce todos os sábados ao purgatório para ver se há ali alguém que tenha o referido
Escapulário; e se houver, leva-o para o Céu.
Mas se não gostar do Escapulário do Carmo, a Igreja faculta-lhe o da «Santíssima
Trindade, o da Paixão, o das Sete Dores e o da Imaculada Conceição». Todavia, o Escapulário
da Virem do Carmo é mais eficiente que o da Santíssima Trindade. E para maior segurança a
Igreja recomenda que adquira os cinco.
A Igreja põe também à sua disposição o Cordão de S. Francisco com todas as
«indulgências da Terra Santa, das igrejas de Roma, Assis e de outras cidades». Se o amigo
possuir este cordão, «seis vezes em cada ano, ganhará uma absolvição geral que o deixará
compeltamente limpo de todo o pecado e o restaurará ao estado de inocência e em
consequência do baptismo».
8) Vamos supor que se aproxima do senhor Linares a hora de partir deste mundo. Perante tal
transe, o sacerdote da sua Igreja aplicar-lheá o «Sacramento da Extrema Unção», por meio do
qual lhe perdoa todos os pecados.
Tal é, em síntese, o caminho da salvação que a Igreja Romana oferece aos seus membros.
Pois bem, quero perguntar-lhe se depois do baptismo que o tornou cristão, da Confirmação,
das ofertas e esmolas, das obras de caridade, da participação da Eucaristia, da assistência ao
«santo sacrifício da missa», das absolivções do sacerdote, das indulgências adquiridas, das
virtudes do Cordão de S. Francisco, do seguro de salvação eterna que representa o Escapulário
da Virgem do Carmo e da «Exrema unção», - o senhor tem a certeza da sua salvação? Este
assunto, amigo Linares, é tão sério que nele está envolvido o seu eterno porvir. Não pense
agora defender o sistema sacramental da sua igreja; seja sincero com a sua própria
consciência, ponha a mão sobre o seu coração e responda à pergunta: o senhor está certo de
que as portas do Céu estão abertas para si? Se a resposta for ajustada aos seus sentimentos
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espirituais, sei que me dirá não ter a certeza de coisa alguma. A verdade é que o senhor está
carcomido pela dúvida e temor, e este temor e dúvida estão justificados, pois o amigo não é
convertido, não nasceu de novo, não desfruta a paz de Deus. Todo o andaime da sua fé e vida
religiosa ergue-se sobre um falso fundamento, sobre uma base que não está apoiada nos
ensinos de Jesus Cristo, como poderá ver pelos seguintes aspectos:
a)
Não é verdade que o Baptismo tenha virtude para apagar o pecado original, para
regenerar a alma e converter o homem num cristão e filho de Deus. Se o amigo Linares se
julga cristão pelo facto de haver sido baptizado, o seu cristianismo está alicerçado numa
base totalmente falsa. Estude o Evangelho e verificará que o Baptismo segue o
arrependimento, a fé em Cristo e a regeneração operada pelo Único que pode fazer isto, o
Espírito Santo (João 3:6; Tito 3:5). O valor do Baptismo é mais simbólico que real. O
Baptismo, para que possa chamar-se como tal, tem de ser administrado por imersão; a
imersão simboliza a morte para o pecado e a ressurreição para uma nova vida, a vida
própria da alma regenerada.
b) Não é verdade que os santos possam ouvir as suas orações e interceder por si ante o trono
de Deus. O único que logra ouvi-las é Deus, que possui o atributo da Omnipresença. Os
santos são criaturas e não podem estar no Céu e na Terra ao mesmo tempo. O Evangelho
ensina-nos que Cristo é o único Mediador entre Deus e os homens, e também que só Ele
pode interceder por nós perante o trono da graça de Deus.
c) Não é certo que os sacerdotes possam perdoar os pecados que o amigo comete contra
Deus. Os sacerdotes perdoam, sim, mas os pecados que outros tenham praticado contra
eles, exactamente como nós podemos perdoar-nos de forma recíproca. O senhor pode
expor os seus pecados a um padre, e este dizer-lhe: «Eu te absolvo». Todavia, no foro
íntimo da sua consciência sabe que esses pecados não foram perdoados por Deus. E, por
isso, não pode ter a certeza da salvação enquanto depender do perdão que lhe ofereça o
sacerdote. Que diferença seria se, em vez de recorrer a um homem, se dirigisse a Deus por
meio de Jesus Cristo! Sentir-se-ia livre dos seus pecados e limpo das suas culpas, como
nós, os que temos Cristo no coração e praticamos a Religião Cristã segundo os ensinos do
Evangelho.
IV – Esse maravilhoso tesouro de indulgências que a sua Igreja tão liberalmente distribui, é uma
verdadeira fraude religiosa. Se tais indulgências tivessem a aprovação divina e se possuíssem alguma
eficácia, cada indulgência plenária asseguraria a salvação de quem a ganha. Mas não sucede assim; o
senhor poderá ganhar mil indulgências plenárias e apesar de tudo não ter a certeza de ir para o Céu. As
indulgências constituem um grande engano, e é difícil ao senhor ganhar a sua própria consciência
fazendo-a sentir-se livre do pecado, quando este realmente pesa sobre ela.
V – Não é verdade que o senhor possa oferecer a Deus «a sua vida, obras e trabalhos em
satisfação por seus pecados». O Senhor jamais aceitará as suas obras e esforços como recompensa ou
preço pelo perdão dos seus pecados. Deus oferece-lhe o perdão, e fá-lo em virtude da vida, obras e
sacrifício do Seu próprio Filho. O amigo Linares, como bom católico, pensa constantemente nos
méritos das suas esmolas, jejuns, rezas e boas obras; mas o Evangelho ensina-nos que por meio de
rezas, jejuns, esmolas e boas obras inguém poderá alcançar a salvação. Procure de uma vez entender
esta verdade: Cristo morreu na cruz para o salvar; e morreu, porque Sua morte é a única maneira de ohe
abrir as portas do perdão e da vida eterna. Não deve olhar para os seus próprio méritos, caro amigo;
volte os seus olhos para o Calvário e contemple ali o seu Fiador sofrendo o castigo que o amigo
merecia! É ali onde encontrará o perdão, a justificação, a reconciliação e a certeza da vida eterna.
VI – O amigo Linares anseia encontrar a salvação? Quer ter a certeza de ir para o Céu? Se este é
deveras o seu desejo, não se agarre desse modo ao falso andaime religioso que lhe têm apontado;
analise com imparcialidade os passos bíblicos que a seguir citamos, tirados da Bíblia católica, traduzida
por Nácar Colunga:
1) Segundo Marcos 16:15, 16, o Senhor Jesus, pouco antes de ascender ao Céu, disse aos Seus
discípulos: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for baptizado
será salvo, mas o que não crer será condendao».
À luz deste important texto, perguntamos:
- Por que meios nos podemos salvar?
- Pelo Evangelho, pois Jesus afirma que se salvará o que crer.
24
-
Em que temos de crer para nos salvarmos?
No Evangelho. Cristo diz que quem crer no Evangelho será salvo.
Obedecendo à ordem do Mestre, os apóstolos e todos os discípulos pregaram o Evangelho e
as almas salvaram-se aos milhares, as quais depois foram baptizadas. Em torno deste aspecto deve o
amigo Linares ter presente que o Evangelho pregado pelos apóstolos não ordenava o baptismo das
crianças, não falava de sacerdotes com a faculdade de perdoar pecados, nem mencionava a palavra
«missa», ou a questão das indulgências, e tão-pouco ordenava que os homens usassem escapulários.
Mas há uma coisa certa e real acerca deste Evangelho: Sem escapulãrios, indulgências, missas,
confessionários, baptismo de crianças – salvavam-se, verdadeiramente, todos os que criam de coração.
1) O carcereiro de Filipos perguntou ao apóstolo Paulo: «Que devo fazer para ser salvo?» E
Paulo respondeu: «Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo tu e a tua casa» (Act. 16:30,
31). O carcereiro creu naquela mesma hora, e foi salvo bem como a sua família. O Evangelho
não diz que para sermos salvos temos de ser baptizados, confirmados, ganhar indulgências,
cumprir os mandamentos e cingir-nos com o Cordão de S. Francisco. Não; o Evangelho ensina
que temos de crer no que ele diz, no que está escrito; e o Evangelho declara que Cristo
morreu por nossos pecados. Por isso Paulo disse ao carcereiro: «Crê no Senhor Jesus Cristo e
serás salvo». Ele creu e foi salvo no momento em que creu, pois o Evangelho apresenta-nos
uma salvação que já foi consumada na cruz.
2) No Evangelho segundo João 3:16, lê-se: «Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu
o Seu Filho unigénito, para que todo aquele que n’ele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna». E, em João 5:24, Jesus diz: «Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a
Minha Palavra, e crê n’Aquele que Me enviou, tem a vida eterna e não entrará em
condenação, mas passou da morte para a vida». E com isto se harmoniza o que paulo escreve
aos Efésios 2:8, 9: «Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de
Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie». E na Epístola os Romanos 3:28,
encontramos as seguintes palavras: «Concluímos que o homem é justificado pela fé sem as
obras da lei».
Estes textos da Escritura ensinam que, se aceitarmos Cristo como Salvador, somos,
salvos, temos a vida eterna; têmo-la desde que cremos, pois o Senhor declara que quem ouve a
Sua Palavra e crê n’Aquele que O enviou, passou da morte para a vida. O amigo Linares não
crê no que Jesus diz? Se cresse como eu, experimentaria a mudança que expressam as
palavras: passou da morte para a vida; e então teria a certeza da sua salvação; porque
verdadeiramente seria salvo.
VII – A salvação obtém-se mediante a fé; não existe outra maneira de a alcançarmos. Analise os
seguintes factos:
1) A Sagrada Escritura afirma que o amigo Linares também é um pecador destituído da glória de
Deus (Rom. 3:23). E o senhor não pode salvar-se a si próprio.
2) Deus teve piedade de si e enviou o Seu Filho ao mundo para que fosse o seu Salvador.
3) O eterno Filho de Deus fez-se responsável pelas suas transgressões e pecados. Converteu-Se
em seu Fiador e, por esse motivo, Deus lançou sobre Ele os pecados que você cometeu.
4) Ao carregar com as suas transgressões, Cristo sofreu todo o castigo que o senhor merecia;
tudo quanto a Lei divina tinha contra si caiu sobre o seu Fiador.
5) E agora, em virtude da morte de Jesus, Deus oferece-lhe o perdão, a reconciliação e a vida
eterna. Tudo quanto o senhor necessita fazer é aceitar, pela fé, essas bênçáos; não há outro
caminho. Compreende? Espero que sim! Acreditá-lo-á? Se crer, assim como eu, não terá
dúvidads quanto à sua salvação, pois ficará com a certeza dela, como todos os que nos temos
convertido ao Senhor Jesus Cristo.
Percebe agora, amigo Linares, a diferença existente entre os ensinos da Igreja Romana e a doutrina
do Evangelho? Na Igreja Romana salvam-se desde que nascem até que morrem; e tudo parece
indicar que morrem sem salvação. Nós, os que recorremos directamente a Cristo, somos salvos
desde o dia em que cremos; temos evidências concretas de que somos salvos e estamos certos da
nossa salvação. O senhor pode ter a mesma experiência e certeza se deixar de lado todos os meios
ineficazes em que se apoia e recorrer directamente a Jesus Cristo. Fá-lo-á? Rogo-lhe, no Nome de
Deus, que o faça!
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6
SACERDOTES
CONVERTIDOS
A CRISTO
A maioria dos membros da Igreja Evangélica procedem da Igreja Romana; todavia, o que mais
chama a nossa atenção é o crescente aumento de sacerdotes que se têm convertido a Cristo nos últimos
anos. Se tivéssemos uma lista completa, verificaríamos ser considerável o seu número. Mencionaremos
aqui o nome de alguns que ultimamente se converteram em Espanha e na América. Na Espanha, entre
outros, Jacinto Téran, Carrillo de Albornoz e Luís Padrosa. Carrillo de Albornoz era, quando se
converteu, Secretário-Geral de todas as Congregações Marianas do mundo. E Padrosa era Directorfundador do Instituto Loyola de Barcelona, Vice-presidente da comissão Internacional de Psicólogos e
Psiquiatras Católicos e um dos mais distintos conferencistas da Igreja Católica em Espanha.
Na Colômbia, o Dr. Samuel Ruiz, sacerdote e o frade Florêncio Barrena. No Panamá, o padre
Rafael Moreno Guillén, que for a secretário de Câmara do Arcebispo de Tegucipalga. No Peru, os
frades Dr. Tomás Courrett e Walter Manuel Montano, filho de Germán Guillén Montano, ex-reitor da
Universidade de Cochambamba, na Bolívia. Na Argentina, o franciscano Luís Nieto. Na Bolívia, os
sacerdtoes José M. Rico (líder das Juventudes Católicas) e José Donet, Oblato de Maria Imaculada. E
nos Estados Unidos, José Zacchello.
Que motivos tiveram esses sacerdotes para abandonar o sistema sacramental da Igreja Romana e
abraçar o Evangelho? Escutemos as suas declarações:
Jacinto Téran, diz o seguinte: «Durante os longos anos em que, na qualidade de sacerdote e
missionário, percorri quase toda a Espanha assistindo a muitos católicos no transe da morte, recebendo
as confidências e lamentos das almas, tendo absolvido até um proscrito junto ao cadafalso, e visto e
ouvido muitas coisas… cheguei finalmente à conclusão que os católicos vivem e morrem
sobressaltados acerca da sua sorte futura; e o que é para estranhar, é que isto suceda aos mais
piedosos. Se alguns dos que a Igreja Romana chama santos, e como tal os canoniza, não
experimentaram esta ansiedade pela sua sorte futura, é pela simples razão de que tinham mais de
evangélicos do que católicos. Por outro lado, após as minhas relações com os evangélicos, pude notar
que estão firmes e vivem e morrem na certeza absoluta da sua salvação, fruto da vida que levam
completamente confiada e tranquila, alegre e sem temor algum da morte.
«Mas, não será isto uma farsa?» - perguntava a mim mesmo. Não, não é uma farsa; é antes a
palpitante realidade experimentada. Essa mesma paz, tranquilidade, gozo e absoluta segurança da
salvação sentia-a eu no fundo da alma quando me converti, e sinto-a ainda, razão porque a vida me é
doce, no meio das suas amarguras. A razão é tão clara e óbvia, que qualquer a perceberá. O
Catolicismo ensina que entraremos no Céu, se o merecermos, por meio das boas obras. Admitindo a
Redenção de Cristo, releva-a, porém, para um plano secundário. O que mais inculca e recomenda são
as boas obras, mas de maneira que o povo perceba que elas são o principal motivo da salvação.
Ninguém poderá desmentir-me, porque eu próprio o tenho ensinado, praticado e vivido. A graça que se
diz comunicada pelos sacramentos é antes uma conquista e não uma dádiva, no sentido católico, posto
que se exige uma soma de condições pessoais a que parece estar condicionada a graça salvadora.
Daqui resulta, inevitavelmente, que a consciência sempre nos acusa da imperfeição do nosso modo
de agir e da abundância das nossas misérias, persuadindo-nos também da insuficiência das nossas
obras, ainda as mais santas, no sentido de nos salvarmos por elas. É natural, portanto, a falta de
segurança. É natural que mais temam aqueles que mais intuição tenham destas coisas e os que mais
anseiam pela salvação. É natural que no leito de morte, nos umbrais da eternidade, à beira do sepulcro,
esses temores sejam equivalentes a um martírio. Parece estranho que a Igreja Romana não tenha
observado este fenómeno e, sobretudo, que não procure tratá-lo e aplicar-lhe o remédio eficaz, que
seria colocar os seus fiéis sobre a Rocha dos Séculos, Cristo. Os missionários e os padres católicos
sabem que digo a verdade. Nem ainda a vida monástica livra deste temor.
«Sucede assim aos cristãos evangélicos, na sua vida e na morte? Não; a experiência de todos os
dias confirma-o. E por que motivo? Porque os evangélicos, para sua salvação, partem de princípios
26
muito mais sólidos e consistentes que as obras humanas. Eles começam por reconhecer a grande
verdade existente, desde o Calvário, de que a Redenção foi consumada e está completa,
independementemente dos méritos ou das obras dos homens. Isto émais claro que a água… Possuindo
esta verdade fundamental os evangélicos, no momento do seu arrependimento e quando aceitam com fé
sincera a salvação consumada por Jesus Cristo, são salvos; a ele se entregam e para Ele vivem…. Os
católicos, e sobretudo o clero que tanto mal tem dito contra os evangélicos, ficariam assombrados se
observassem de perto a vida e a morte que estes têm no Senhor. É porque estamos seguros da nossa
salvação eterna, por Cristo Jesus que morreu para salvar-nos». («Do Claustro ao Evangelho», págs. 15,
16).
O ex-sacerdote Luís Nieto, ao falar da transformação que nele se operou após a sua conversão ao
Evangelho, declara:
«Fazia grandes progressos na doutrina evangélica, e podia apreciar como atrás ficava e quão inútil
era a árida e complicada Teologia Católica comparada com as simples verdades do Evangelho…
Apesar de tudo, continuava a sentir terríveis lutas interiores, sobrevindo-me a dúvida a cada passo, e o
receio de que pudesse vir a ser enganado pela ilusão ou pelo Inimigo. Desta maneira continuei
suportando esta luta interior durante alguns meses. Mas, quando sentia estas lutas e tentações, pedia ao
Senhor que me iluminasse e me revelasse a verdade, ao mesmo tempo que me esforçava por acreditar
nas verdades do Evangelho, as quais má tinham convencido a minhamente.
«E o Senhor não Se fez esperar. Um dia, ajoelhado, lia a Palavra de Deus no capítulo 2 da Epístola
os Efésios; quando cheguei ao versículo 8 que diz: «Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e
isto não vem de vós; é dom de Deus», senti como se raios luminosos, ao descerem sobre a minha
alma, me fizessem perceber a nulidade de tantos esforços da minha parte para conseguir a justificação
perante Deus. Vi também, e ao mesmo tempo, a Obra de jesus realizada em meu lugar no Calvário; e
assim, despojado das minhas obras, aproximei-me do Senhor com lágrimas de arrependimento, pediLhe perdão de todos os meus pecados e aceitei-O como meu único e suficiente Salvador. Naqueles
momentos senti, outroassim, que se afugentavam da minha alma espessas e obscuras nuvens – que
outra coisa não eram senão ansiedade, falta de paz e temor, devido a encontrar-me possuído pela
incerteza da minha salvação eterna, e que durante toda a minha vida me deprimiram e angustiaram –
para sempre, para dar lugar à paz, á certeza do perdão, à segurança da minha salvação e ao gozo
inexplicável que inundam o meu coração.
«Tinha nascido de novo e sentia-me outro homem. Agora, como então, sempre que recordo a
misericórdia de Deus para comigo, as lágrimas brotam dos meus olhos, como testemunho da minha
sensível gratidão e imenso gozo. Abismo insondável de amor e de graça divina»! («A verdade», págs.
121-123).
O ex-padre Dr. Samuel Ruiz, ao falar das lutas e dúvidas que o conduziram á salvação, afirma:
«Em plena juventude consagrei ao Senhor aminha vida e renunciei não só às vaidades do mundo mas
ao prazer legítimo de possuir o meu próprio lar… A minha acção sacerdotal concentrou-se
especialmente no terreno social, no qual me havia especializado. Num esforço heróico para assegurar a
minha salvação, recorri o ascetismo e às boas obras. Reseolvi acalmar as angústias da minha alma.
Fechava os olhos e repetia mecanicamente o conselho do meu director espiritual, que dizia ter de
continuar a luta interior toda a vida, dando-me por satisfeito que à hora da minha morte me encontrasse
em graça perante Deus através dos sacramentos da Igreja. Era isto mesmo o que eu tinha de ensinar
todos os dias aos fiéis católicos.
«Todavia, no fim do ano de 1950, uma nova intranquilidade começou a apoderar-se
progressivamente do meu espírito. Meditava nos terríveis crimes que diariamente os meus olhos viam e
na grande desintergração moral do país, que nominalmente professava a religião Católica Romana
através da sua organização jerárquica e do esplendor da sua liturgia. Mas uma religião cujo mecanismo
e santificação não opera, uma religião que não transforma a alma terá na realidade o direito de afirmarse única religião verdadeira? Além disso, na minha consciência começara já a escutar as palavras de
Jesus: «nisto todos conhecerão que sois Meus discípulos, se vos amardes uns aos outros» (João 13:35).
«Nos fins de 1951 fui aos Estados Unidos. Um dia, ao caminhar pelas ruas de Nova Iorque,
encontrei-me com um missionário evangélico. Era um bom servo de Deus. Fizemo-nos amigos.
Convidou-me a visitar um ex-frade e, para o não contraria, acompanhei-o. Cheguei ao escritório do Dr.
Walter Montano com uma certa curiosidade, mas também com repugnância interna…. Sustentámos um
diálogo que se prolongou por algumas horas. Aquela estrana entrevista deixou-me profundamente
impressionado; contudo, não me decidi a imitar Montano. Apesar dos desenganos, vivia fortemente
atado à Igreja Romana por vínculs que me pareciam indestrutíveis. A minha conversão não foi
repentina como a de Saulo de Tarso. O Senhor conduziu-me lentamente, passo a passo… Dentro dos
históricos muros do seminário diocesano da Santa Fé de Antioquia foi onde se travou a batalha
decisiva. Havia sido chamado pelo bispo para ali realizar os exercícios espirituais, que constam de oito
27
dias de silêncio, meditação e oração. Com a mais sincera generosidade voltei a prometer que, mesmo a
custo dos maiores sacrifícios, serviria a Deus na Sua Igreja até à morte, e tracei, inclusive, belos planos
de apostolado futuro. Quis obrigar a minha natureza a seguir-me, mas a minha vontade não obedeceu.
A confiança absoluta que até ali depositara na Igreja Romana, tinha desaparecido.
«Entre a Sexta-Feira Santa e o Domingo de Páscoa de 1953, um fenómeno estranho, independente
da minha vontade, operou misteriosamente na minha alma. Através das Sagradas Escrituras começou a
revelar-se perante mim, com uma clareza antes desconhecida, a Plano da salvação em Cristo, com
algumas diferenças essenciais aos ensinos que recebera por intermédio da igreja Romana. A nossa
salvação alcançou-a Cristo somente com o preço do Seu sangue. A vida eterna obtém-se, não por um
pecador chamar um sacerdote no último momento e, com medo do Inferno, lhe perdir a absolvição,
mas pela fé. Uma fé que é mais do que um mero assentimento da interligência; é antes uma aceitação
pessoal da salvação e uma entrega total e confiada nas mãos do Senhor. Sentia que uma luz iluminava o
meu espírito, e, à medida que lia e comparava certos textos paralelos do Novo Testamento, via
desmoronar-se o Romanismo, e ficar perante mim, apenas, a sólida estrutura do Evangelho. Fascinado
perante tão maravilhoso descobrimento, estudei horas seguidas que me pareceram segundos. Quando já
se fizera tarde, e fechara a Bíblia abismado nas consolações do Senhor, notei que algo de transcendente
acontecera em mim. Era o renascimento espiritual, que antes não pudera entender. Pela obra
maravilhosa do Espírito Santo sentia-me possuído de uma nova natureza. Desded então tudo mudou
para mim. O velho homem ficou para trás.» («O Mensageiro Bíblico», Nov. 1953).
E o ex-sacerdote José Zacchello, declara: «Nasci em Veneza, Itália, a 22 de Março de 1917. Fui
ordenado sacerdote no dia 22 de outubro de 1939. Num domingo de Fevereiro de 1944, quando
casualmente sintonizava um programa religioso, a minha teologia foi sacudida pelo seguinte texto:
«Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo…» Não era convertido, e a minha mente encontrava-se
cheia de dúvidas no tocante à religião romana. Comecei a preocupar-me mais com os ensinos da Bíblia
do que com os dogmas do Papa. As pessoas pobres pagavam-me 5 a 30 dólares por 20 minutos de
missa, porque lhes prometia libertar as almas dos familiares das chamas do Purgatório. Mas cada vez
que olhava para o grande crucifixo sobre o altar, parecia que Cristo me repreendia: «Tu estás a roubar
gente pobre e trabalhadora por meio de falsas promessas. Tu ensinas contrariamente à Minha
doutrina…» Onde as minhas dúvidas verdadeiramente me atormentavam era dentro do confessionário.
As pessoas vinham a mim, ajoelhavam-se e confessavam-me os seus pecados. E eu, com um sinal da
cruz, dizia-lhes que tinha o poder de lhes perdoar os pecados. Eu, um pobre pecador, um homem, a
tomar o lugar de Deus, o direito de Deus!… E esse voz terrível penetrava-me e dizia-me: «Tu estás a
roubar ao Senhor a Sua glória. Se os pecadores querem obter o perdão dos seus pecados é a Deus que
têm de recorrer e não a ti. É a lei divina que eles têm iolado. A Deus, pois, devem fazer confissão; a
Deus unicamente devem orar e pedir perdão. Nenhum homem pode perdoar pecados.
«Não permaneci na Igreja Romana, porque não podia servir a dois senhores: ao Papa e a Cristo.
Não podia crer em dois modos de ensino contraditórios: a Tradição e a Bíblia. Escolhi Jesus e a Bíblia.
Deixei o Sacerdócio Romano e a Religião Romana em 1944, e agora prego o Evangelho de Cristo.»
(Do folheto escrito por Zacchello).
O ex-padre Luís Padrosa, en 31 de janeiro de 1951, dirigiu-se ao Padre Provincial dos Jesuítas de
Barcelona, e disse-lhe:
«Sinto na minha alma ter de causar-lhe um grande desgosto, pois o senhor não merece senão afecto
e profunda gratidão. Mas por vezes há circunstâncias que nos obrigam a fazer até aquilo que não
queremos. E esta é uma delas.
Desde que estudei Teologia, senti a desilusão da Fé Católica. As provas não me eram
convincentes. Os professores certamente julgavam que me faltava talento ou afeição à Teologia. Mas a
verdade era que cada vez me encontrava mais decepcionado. Os nossos argumentos estão cheios de
sofismas e o Dogma Católico muito divorciado do Evangelho de Jesus Cristo. Tenho estudado e lido
muito e com verdadeira paixão pela Verdade. E quanto mais avanço, mais alheio vejo o Catolicismo da
Religião Cristã. Tenho discutido muito com todos os que dizem conhecer a fundo a Teologia Católica,
e não só não me têm convencido, mas antes ajudado a afastar-me cada vez mais das nossas afirmações
dogmáticas… Devo ser sincero diante de Deus com a minha consciência, por isso não posso continuar
a representar uma comédia, fingindo e pregando o que não creio… Quero seguir o Evangelho na sua
pureza, e o que os apóstolos ensinaram, sem acréscimos posteriores. Vejo que a Igreja Romana está
dissociada da Palavra de Deus. A Santa Madre Igreja colocada em primeiro plano, ocupando o lugar
que só pertence às Sagradas Escrituras; e o Sacerdócio Romano usurpando o lugar que unicamente
pertence a Jesus Cristo».
Na página 16 do livro: «Porque Deixei o Catolicismo?», Luís Pedrosa escreve:
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«Depois de 43 anos de vida sinceramente católica, 15 de profunda formação eclesiástica, 10 de
sacerdote pregador de grandes multidões e de públicos especializados, e 23 de vida religiosa na
companhia de Jesus, cheguei à convicção de que a Igreja Romana não é a verdadeira Igreja de jesus
Cristo. E não é, porque está cheia de sofismas. Não pode ser a Igreja de Cristo a que não estiver
apoiada única e exclusivamente na Verdade.
«A Igreja Católica está desviada da verdade cristã; e, o que é pior, não tem possibilidade de voltar
à pureza da fé em Jesus Cristo. Um coração sincero e que deveras pretende conseguir a salvação, ante a
convicção desta verdade, deve dar um novo rumo à sua vida. Assim o fiz eu e, imediatamente, entrou
no meu coração uma paz desconhecida. Treze anos de intenso estudo de apologética têm-me levado a
uma convicção inquebrantável. Conheço os argumentos de ambas as partes. Tenho-os analisado; e, ao
fazê-lo, uns têm-se desfeito nas minhas mãos como areia movediça; robusteceram-se outros como
rocha firme, capaz de sustentar o formidável edifício da fé».
Estes testemunhos, amigo Linares, são tão claros, tão sinceros, espontâneos e eloquentes, que
dispensam comentários. Se o senhor busca verdadeiramente a salvação eterna da sua alma, estou
convencido de que há-de encontrar o caminho, como encontraram estes sacerdotes, e muitos outros que
ontem diziam missa e hoje pregam o Evangelho de Cristo.
O senhor esperava a minha conversão à Igreja Romana. Eu espero agora a sua conversão a Jesus
Cristo, pois sabe já que a salvação não pode obter-se através dos sacramentos da Igreja, senão mediante
as feridas que Nosso Senhor sofreu na Cruz. E depois de haver experimentado a conversão a Cristo, o
senhor mesmo procurará edificar a sua fé, e esperança sobre a rocha firme da Palavra de Deus. Para
servir a Jesus, dum modo que lhe seja agradável, o amigo procurará uma igreja que se ajuste às normas
que regiam as igrejas cristãs nos dias dos apóstolos.
29
7
ALGUNS
ESCLARECIMENTOS
1) Os apologistas da igreja Romana costumam apresentar, como evidência contra as
denominações ou confissões evangélicas, a divisão das mesmas e a unidade católica. Não
negamos que haja divisões entre os cristãos evangélicos, mas este aspecto requer alguns
esclarecimentos:
Primeiro. Os mencionados apologistas agrupam sob o termo «Protestante» todas as organizações
que invocam nos seus ensinos as Sagradas Escrituras. Tal agrupamento, porém, não é correcto. Por
exemplo: Não é justo colocar os Baptistas ao lado dos Mórmones, pois não temos absolutamente nada
em comum. Numa justa apresentação do problema, necessário seria fazer-se a tríplice ou quádrupla
divisão seguinte:
a) Igrejas ou organizações notoriamente evangélicas.
b) Congregações que a Igreja Romana integra. Podemos citar por seus nomes mais de
sessenta congregações. Por exemplo: Dominicanos, Capuchinhos, Jesuítas, Carmelitas,
Franciscanos, etc.
c) Igrejas e organizações protestantes. Se é que existem igrejas que se consideram
protestantes, nós, Baptistas, não o somos.
d) Grupos que, pela sua doutrina, não podem chamar-se nem católicos nem evangélicos.
Entre esses estão as «Testemunhas de Jeová», os «Adventistas do Sétimo Dia», os
«Sabatistas», a «Ciência Cristã», e outros.
Segundo. Os apologistas católicos afirmam que nós, os baptistas, estamos divididos em 18 grupos,
o que é possível que seja assim. Mas há que esclarecer o seguinte: os baptistas, na presente
Dispensação, não concebem uma organização eclesiástica do tipo da Igreja Romana. Não usam o
termo: Igreja Baptista, mas igrejas baptistas. No que se refere à organização, para nós o básico é a
igreja local. Cada igreja baptista é uma entidade democrática e autónoma, que não reconhece outra
autoridade senão a de Cristo. A nossa divisão é de organização e não de doutrina.
Assim, como o alvo de nos ajudarmos mutuamente e levarmos por diante a tarefa que o Senhor nos
impôs, as igrejas baptistas estão agrupadas em Convenções regionais ou nacionais. E todas as
Convenções estão agrupadas ao que chamamos «Aliança Baptista Mundial».
Poderia citar o nome de mais de 60 congregações que, de certa forma, estão agrupadas sob o termo
«Igreja Católica Romana». Pois bem, se disser que a Igreja Católica está dividida em mais de 60 seitas,
os seus apologistas dirão não ser verdade. Tão-pouco é verdade estarem os baptistas divididos em 18
seitas. Estaremos agrupados em 18 Convenções, mas todos estamos unidos pela experiência da
conversão, na doutrina, no Salvador, no Pai celestial, e à Aliança Baptista Mundial.
2) Os apologistas da Igreja Romana, a favor do sistema hierárquico da sua Igreja, apresentam a
evidência que se depreende da seguinte questão: «As divisões que existem no campo evangélico» dizem eles - «não revelam a necessidade de uma autoridade eclesiástica que imponha o seu domínio, a
fim de que não haja senão uma igreja?» Respondemos a esta interrogação com uma outra: Em virtude
dos homens terem feito mau uso do livre arbítrio que o Criador lhes concedeu, não seria melhor que
Deus tivesse negado ao homem tal direito? Não creio have un único católico no mundo que se atreva a
resonder a esta pergunta de modo afirmativo, pois entre todos os dons conferidos por Deus ao ser
humano, nenhum é mais prezado que o da liberdade.
Deus sabia que alguns fariam mau uso do livre arbítrio; mas ante a alternativa de deixar o homem
ao nível das bestas, convertê-lo num autómato ou fazê-lo um ser livre, optou pela última. E eu dou
graças a Deus por me haver concedido o livre arbítrio. Os defensores da Igreja romana, porém,
argumentavam da seguinte maneira: Posto que alguns interpretam mal a Bíblia, o melhor é privar os
homens da liberdade de interpretar a Escritura por si mesmos. Demonstrado que a liberdade religiosa
conduz à divisão, o melhor será privar os homens dessa mesma liberdade. Que haja um papa que nos
interprete a Bíblia Sagrada, que nos diga o que temos de crer e não permita que cada um tenha o seu
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critério. A isto respondemos: Pretender privar o homem do bem da liberdade religiosa, pelo facto de
alguns fazerem mau uso dela, é proceder contra a vontade de Deus. O Criador respeita o livre arbítrio
do homem: por que se empenha a Igreja Romana en quebrar esse direito? Pode ser que a liberdade seja
um mal para alguns. Para mim é um bem; e o que pretender privar-me deste bendito benefício, deste
dom dos Céus, é o pior de todos os déspotas.
3) «Quer o senhor convencer-se – dizem os apologistas da igreja Romana – da falsidade do
Protestantismo? Peça a interpretação dum versículo a diferentes pastores protestantes, e verá como a
resposta é completamente distinta uma da outra». Este argumento carece da razão que parece ter à
primeira vista. Eu poderia usar o mesmo argumento acerca da Igreja Romana, e dizer: «Quer o senhor
convencer-se da falsidade do Romanismo? Tome meia dúzia de versões de Bíblias anotadas por
diferentes autores católicos; procure nessas versões as notas marginais correspondentes a um mesmo
versículo, e verá como as explicações são completamente diferentes». Todavia, nós não lançamos mão
deste argumento contra a igreja Romana. O facto de que seis homens diferem na interpretação dum
versículo não significa, necessariamente, que a religião dos tais seja falsa. Por outro lado, é necessário
esclarecer que não é verdade estarem os pastores evangélicos em desacordo em cada versículo da
Bíblia. Poderíamos citar centenas de versículos básicos do Evangelho e pedir a outros tantos pastores
evangélicos quenos explicassem tais versículos, com a certeza de que todos haveriam de concordar nas
suas explicacões.
4) O Evangelho ensina que a salvação é um dom de Deus, de que nos podemos apropriar
mediante a fé. Mas os apologistas da Igreja Romana afirmam que as «boas obras» entram de imediato
no plano da salvação.
-
Não diz a Sagrada Escritura que o Senhor «pagará a cada um segundo as suas obras»?
Di-lo, efectivamente. Mas a Palavra de Deus nunca menciona as boas obras em relação à
salvação, mas ao juízo. Deus não toma em conta as boas obras no que se refere á nossa
salvação.
- Quer isto dizer que não devemos praticar boas obras?
- De modo algum. Não devemos pretender salvar-nos pelas obras, porque pelas obras
nenhuma carne se justificará. Mas todo aquele que tem crido em Cristo e recebido a
bênção da salvação deve fazer boas obras, porque é para isso que Jesus nos salva. As boas
obras são o fruto da fé salvadora; dessa forma quem não pratica boas acções, não
demonstra a evid~encia de ser salvo. A fé manifesta-se pelas obras.
Deus salva-nos pela graça, mas recompensar-nos-á segundo as obras. E quanto aos réprobos, estes
receberão a paga que as suas más obras merecerem.
Hoje é o dia da graça, o dia quando Deus oferece ao amigo Linares a salvação da sua alma. Mas
virá o dia do juízo, o dia grande e terrível quando o Senhor dará a cada um conforme as suas obras.
Damos por finda esta Carta Aberta, citando as palavras de S. Paulo a Tito: «Porque a graça de
Deus se há manifestado, tazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à
impiendade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente.
Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor
Jesus Cristo; o Qual Se deu a si mesmo por nós poara nos remir de toda a iniquidade, e purificar para Si
um povo Seu especial, zeloso de boas obras» (Tito 2:11-14).
31
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APÊNDICE
-
ABSTINÊNCIA
A Igreja de Roma proíbe aos seus fiéis o uso de carnes em determinados dias da semana e
do calendário católico. Vide, porém, o ensino da Bíblia em Gén. 9:3, 4; Mat. 15:17, 18;
Luc. 10:8; Rom. 14:17; I Cor. 10:25, 26; Col. 2:16, 17; I Tim. 4:1-5.
-
BÍBLIA SAGRADA (APÓCRIFOS)
A Bíblia Sagrada é autoridade suficiente em matéria de fé (Sal. 119:105, 130; Is. 8:20;
Mat. 22:29; Luc. 24:27; João 5:39; 8:31, 32; 12:47-50; 17:17; Act. 17:11; Rom. 15:4; I
Cor. 4:6; Gál. 1:8, 9; II Tim. 3:15-17; II Ped. 1:19-21; Apoc. 22:18).
A Tradição não tem o mesmo valor das Escrituras (Mat. 15:3, 6-9; Gál. 1:8; Col. 2:8).
Os livros apócrifos não podem ser considerados canónicos pelas seguintes razões:
1) Cessou o espírito profético em Israel após o ministério de Ageu, Zacarias e
Malaquias (últimos profetas do Antigo Testamento canónico). Durante 400 anos
houve silêncio da parte de Deus.
2) Jamais os judeus admitiram os apócrifos no cânone sagrado do Velho Testamento. À
Igreja Cristã (que herdou as Escrituras dos Israelitas) não assiste o direito de alterar,
em coisa alguma, esse santo legado.
3) Cristo e os Apóstolos nunca mencionaram os livros apócrifos nem se referiram aos
mesmos.
4) A Igreja Cristã dos primeiros séculos nunca atribuiu canonicidade aos apócrifos.
Apesar deles serem lidos em algumas igrejas, jamais lhes foi reconhecida autoridade
divina para fixar dogmas.
5) Nos livros pretensamente deuterocanónicos há erros históricos, geográficos,
contradições, ficção e lendas, não se coadunando o seu ensino com as doutrinas
bíblicas.
6) Em nenhum lugar dos apócrifos se reivindica autoridade e inspiração divinas, nem se
harmonizam no conjunto honogéneo formado pelos 6 livros das Sagradas Escrituras.
Os livros apócrifos – fruto e obra da tradição humana – devem ser completamente
rejeitados por aqueles que pregam a Palavra de Deus ( Deut. 4:12; 12:32; Prov. 30:5, 6;
Apoc. 22:18, 19).
-
CELIBATO CLERICAL
O matrimónio é necessário (Gén. 2:18; Mat. 19:5, 6; Heb. 13:4; I Tim. 4:1-3).
Todos os homens são livres para casar, inclusive os ministros cristãos. Pedro era casado
(Mat. 8:14), bem como os restantes apóstolos, com a possível excepção de Paulo (I Cor.
9:5; I Tim. 3:1-4, 12; Tito 1:5-9).
Na Velha Dispensação, os sacerdotes israelitas eram casados (Êx. 28:1; Lev. 21:7, 13, 14;
Núm. 18:1, 7-9; Ezeq. 44:22; Luc. 1:5-13).
-
CONFISSÃO AURICULAR
Os pecados cometidos contra Deus devem ser confessados directamente a Ele (Sal. 32:5;
51:1, 3, 4-12; 130:1-4; Is. 43:25; Dan. 9:4, 20; Mat. 6:6, 9, 12; Luc. 5:20, 21; 7:47-49;
18:13, 14; Act. 8:22; 10:42, 43; I João 1:8, 9).
Concernente às ofensas recíprocas entre seres humanos, estes podem e devem perdoar-se
(Mat. 6:12, 14, 15; 18:21, 22; Ef. 4:32; Col. 3:13; Tiago 5:16).
-
IMAGENS
Deus proíbe o fabrico de imagens destinadas a culto, bem como a veneração das mesmas.
(Êx. 20:4, 5; 23:24; Lev. 26:1; Deut. 4:23; 5:8-9; 27:15; II Reis 21:7; Sal. 97:7; 115:1-8;
135:15-18; Is. 2:18-20; 31:7; 40:18-20; 41:29; 44:10, 18, 19; 46:5-7; Jer. 10:3-5, 14, 15;
51:17; Miq. 5:13; Hab. 2:18, 19; João 4:21-24; Act. 17:29, 30; Rom. 1:23; I Cor. 10:14; I
João 5:21).
32
-
PAPA
Segundo o Catolicismo Romano, o Papa é: a) a Cabeça da Igreja na Terra e no Purgatório;
b) o sucessor de Pedro; c) o Vigário de Cristo; sendo d) infalível na qualidade de Mestre.
Veja-se a refutação destas teorias na Palavra de Deus.
a) Ef. 1:22, 23; 5:23; Col. 1:18.
b) Pedro não é a «pedra angular» da Igreja (Deut. 32:3), 4; Sal. 18:31; I Cor. 3:11; 10:4;
Ef. 2:20; 4:11; Act. 4:11; Rom. 9:33; I Ped. 2:4-8), nem o principal dos Apóstolos
(Mat. 20:25-28; Luc. 9:46-48; 22:24-26; Act. 8:14; Gál. 2:8-11, 14; I Ped. 5:1).
c) João 14:16, 17, 26; 15:26; 16:7, 13, 14
d) Mat. 16:22, 23; Gál. 2:9-16.
-
PURGATÓRIO
Céu e Inferno são os destinos finais do homem (Dan. 12:2; Mat. 7:13, 14; 25:34, 41, 46;
João 5:29.
Não há qualquer lugar intermédio de purificação (Luc. 23:42, 43; João 5:28, 29; II Cor.
6:2; Heb. 9:27), nem o denominado «limbo infantil» destinado às crianças que morrem
sem baptismo (Sal. 8:2; Mat. 18:3; 19:13-15).
Os verdadeiros cristãos estão já purificados, não havendo, portanto, qualquer purificação
depois da morte para eles (João 5:24; Act. 3:19; Rom. 8:1; Heb. 8:12; 10:18; I João 1:7).
Os crentes, ao morrerem, vão directamente para o céu (II Cor. 5:1, 8; Fil. 1:21, 23; Apoc.
14:13).
-
SACERDÓCIO
O Romanismo não possui um ministério bíblico. Na Igreja de Cristo não há sacerdotes,
nem a escala hierárquica do sacerdócio católico (I Cor. 12:28; Ef. 4:11, 12; I Tim. 3:2-4;
Tito 1:5; Heb. 4:14-16).
O Novo Testamento menciona apenas pastores (bispos, anciãos, presbíteros) e diáconos
em função nas igrejas locais (Act. 6:3-6; 14:23; 20:17, 28; I Tim. 3:8-10; Tito 1:5-7; Heb.
13:17; I Ped. 5:1-4), e, ainda, evanglistas, apóstolos, profetas e doutores (I cor. 12:28; Ef.
4:11), os quais não constituem qualquer hierarquia.
Em Cristo, todos os crentes são considerados sacerdotes (I Pedro 2:5, 9; Apoc. 1:6; 5:10)
se bem que esse sacerdócio esteja associado aos cristãos individuais; tem-se em vista
meramente a sua capacidade de corporação: «um sacerdócio santo» (I Ped. 2:5). O
Cristianismo é espiritualmente um sacerdócio, mas não tem ministério sacerdotal.
-
SACRAMENTOS
As Escrituras mencionam duas ordenanças: Baptismo (Mat. 28:19; Marc. 16:15, 16; Act.
2:41, 42; 8:36-38; Rom. 6:3, 4) e Ceia do Senhor ou «partir do pão» (Mat. 26:26-29;
Act. 2:42; 20:7; I Cor. 11:20, 23-26), que são meramente símbolos de graças já recebidas.
1) BAPTISMO
O baptismo não apaga pecados nem imprime carácter. É simples figura da morte
(espiritual) do crente e da sua ressurreição com Cristo (Rom. 6:3-11). Somos
regenerados pelo Espírito Santo e pela Palavra de Deus (João 3:3-8; 15:3; Ef. 5:26;
Tito 3:5-7; I Ped. 1:23). Só os que crêem em Jesus devem ser baptizados (Marc.
16:16; Acto. 2:38; 8:36-38). As crianças não precisam de ser baptizadas (Mat. 19:1315). A aspersão, como forma do baptismo, era ignorada na Igreja Primitiva. O
vocábulo grego «baptizo« significa imersão, mergulho (Marc. 1:9, 10; João 3:23;
Act. 8:36-39; Rom. 6:3-5).
2) CEIA DO SENHOR
A Ceia do Senhor não é sacramento, pois não confere graça especial. Tem apenas
carácter de ordenança. É símbolo de realidades espirituais e memorial da morte
expiatória de Cristo (Luc. 22:19; I Cor. 11:24-26). O «dogma» da transubstanciação é
alheio às Sagradas Escrituras. «Isto é o Meu corpo» e «isto é o Meu sangue» (Mat.
26:26-28) são expressões figurativas, como as constantes dos textos bíblicos de Mar.
14:24, 25; João 6:35, 63; 10:9; 14:6; 15:1; I Cor. 10:4, etc.
Os fiéis devem participar do pão e do vinho (Mat. 26:27; Marc. 14:23; I Cor. 11:2528).
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A palavra «Missa», que não se encontra na Bíblia, aparece pela primeira vez nos fins
do IV século nos escritos de Ambrósio. Nas Igrejas cristãs não há altares, sacerdotes
ou sacrifícios. O sacrifício de Jesus foi único, e não poderá repetir-se (Rom. 6:9-10;
Heb. 7:26, 27; 9:25-28; 10:10-14, 18; I Ped. 3:18).
Se na «Missa» está Cristo com o Seu sangue, o «sacrifício» não é evidentemente
incruento; e se o é, não tem qualquer valor, porque «sem derramamento de sangue
hão há remissão» de pecados (Heb. 9:22). É impossível demonstrar, pela Palavra de
Deus, que a «Missa» serve de meio para obter graças em benefício dos fiéis vivos e
defuntos, ou que pode ajudar as almas a sair de um pretenso Purgatório.
-
SALVAÇÃO
Somos salvos graciosamente, pela fé em Cristo, sem méritos ou obras (Luc. 17:10; João
3:16; 5:24; 6:28, 29; Act. 10:43; 16:30, 31; Rom. 3:10-28; 4:1-5; 5:1-9; 8:1; 10:13; Gál.
2:16; 3:11; Ef. 2:8, 9; Tito 3:5).
As boas obras são o fruto ou a evidência natural de fé e salvação (Ef. 2:10; Tiago 2:17,
26).
O crente tem, em vida, a certeza da salvação (Luc. 23:43; João 3:15, 16, 18, 36; 5:24;
10:27-29; Rom. 8:33-39; I João 5:13).
-
SANTOS
A Bíblia Sagrada ensina que «santo» é o nome atribuído indistintamente a todos os
cristãos (Rom. 1:7; I Cor. 1:2; 16:1; II Cor. 1:1; Ef. 1:1; Col. 1:1).
Devemos honrar os homens bons que foram para o Céu, mas recusar-nos a prestar-lhes
culto.
O culto da adoração ou simples veneração deverá ser prestado exclusivamente ao Criador
(Mat. 4:10; Act. 10:25, 26; 14:12-15; Rom. 1:25; Apoc. 19:10, 20; 22:8, 9).
A oração deve ser dirigida apenas a Deus (Jer. 29:12; Dan. 9:3; Mat. 6:6-9; Luc. 11:1, 2;
João 14:13, 14; 15:16; 16:23, 24; Fil. 4:6; Tiago 1:5).
Jesus Cristo é o único Mediador entre Deus e os homens (João 14:6, 13, 16; Act. 10:25,
26, 43; Rom. 5:1, 2; Ef. 2:13, 18; I Tim. 2:5; Heb. 4:14-16; 7:25; 9:15; 12:24; I João 2:1).
-
VIRGEM MARIA
Os cristãos evangélicos não vão além dos registos escriturísticos acerca da Maria, que é a
«mãe de Nosso Senhor» e «bendita entre as mulheres». Maria é modelo de maternidade a
ser tido para sempre em piedoso apreço. Ela era uma israelita piedosa e santa, cujo
exemplo de temor a Deus, humildade e fé deve ser seguido por todos os cristãos.
1) IMACULADA CONCEIÇÃO
A opinião de ter sido Maria preservada imune de toda a culpa original foi
transformada em dogma pela Igreja Romana, no século XIX.
Leiam-se os seguintes textos das Escrituras: Luc. 1:30, 46, 47; 2:22; Rom. 3:23; 5:12;
11:32.
2) PERPÉTUA VIRGINDADE DE MARIA
a) Maria era casada, não tendo feito voto de perpétua castidade (Mat. 1:18, 25).
Concebeu do Espírito Santo antes de se ajuntar (coabitar) com José, o que
significa que depois coabitaram. A expressão «até que» indica ser uma situação
temporária. José conheceu-a após o nascimento de Jesus (Mat. 13:24, 25).
b) O matrimónio foi santificado por Deus. Para uma israelita era ignomínia não ter
filhos (Gén. 30:23; Luc. 1:24, 25).
c) Jesus foi o primogénito de Maria, isto é, o primeiro. O apóstolo Mateus
escreveu o seu Evangelho muito tempo depois da morte de Cristo. Se Maria
houvesse tido um só filho, o Evangelista empregaria o termo unigénito.
d) Cristo, como homem, tinha irmãos (não primos ou parentes) e irmãs (Mat. 12:46,
47; 13:55, 56; Marc. 3:31, 32; 6:2, 3; Luc. 8:19, 20; João 2:12; 7:3-5; Act. 1:14;
Gál. 1:19).
3) MÃE DE DEUS
A Divindade é eterna (João 1:1-3, 18; 3:35). Maria é uma criatura (Luc. 1:38, 46-49).
Ela foi simplesmente a mãe do Homem-Jesus (João 2:3-5), enquanto Deus, apenas
tinha Pai (Mat. 11:25-28; Luc. 24:49).
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4) CO-REDENTORA
Segundo a doutrina católica, Maria teve parte na obra da Redenção. O facto, porém, é
que só Cristo é o Redentor ou Salvador (Mat. 18:11; Act. 4:12; Ef. 1:7; I Tim. 1:15;
2:6; I Ped. 1:18, 19).
O Senhor Jesus é o único Advogado e Mediador (I tim. 2:5; I João 2:1).
5) ASSUNÇÃO
O dogma da assunção de Maria ao Céu, em corpo e alma, é muito recente, pois data
do ano de 1950. A Bíblia nada diz sobre o assunto.
6) CULTO QUE LHE É PRESTADO
Mat. 12:46-50; Luc. 1:46, 47; 2:48, 49.
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SÍNTESE HISTÓRICA, POR ORDEM CRONOLÓGICA, DA
ORIGEM DOS DOGMAS E INOVAÇÕES DA IGREJA
CATÓLICA
ANO 310 DEPOIS DE CRISTO – Começa a vida monástica por António, de Alexandria, no Egipto,
mas esses primeiros monges procuravam no trabalho comum que faziam o seu próprio sustento.
ANO 370 – Principia o uso dos altares e veias. O culto dos santos é introduzido por Basílio de Cesaria
e Gregório de Nazianzo. Também apareceu pela primeira vez o emprego do incenso e tiríbulo na igreja,
devido à influência dos prosélitos vindos do paganismo.
ANO 400 – Paulino de Noia, ordena que se reze pelos defuntos, e ensina o sinal da cruz feito no ar.
ANO 590 – Gregório I, o Grande, inventa o purgatório.
ANO 607 – O imperador Focas dá ao bispo de Roma o direito da primazia universal sobre a
Cristandade, depois do 2º Concílio de Constantinopla.
ANO 609 – O culto à virgem Maria é obra de Bonifácio IV. E a invocação dos santos e anjos é posta
como lei da igreja.
ANO 670 – Começa a falar-se em latim à missa, língua morta para o povo, pelo Papa Vitélio.
ANO 758 – Origina-se a confissão auricular pelas ordens religiosas do Oriente.
ANO 787 – No segundo Concílio de Niceia, convocado a instâncias da imperatriz Irene, foi
estabelecido o culto às imagens, a adoração da cruz e das relíquias dos santos.
ANO 795 – O incenso é posto por lei nas cerimónias da igreja por Leáo III.
ANO 803 – Foi criada a festa da Assunção da Virgem pelo Concílio de Maguncia.
ANO 818 – Aparece pela primeira vez nos escritos de Pascácio Radberto a doutrina da
transubstanciação e a missa.
ANO 884 – O papa Adriano III aconselha a canonização dos «santos».
ANO 998 – Estabelece-se a festa aos mortos, «dia de finados», por Odilon.
ANO 1000 – A confissão auricular generaliza-se, e os ministros da igreja arrogam para si o célebre
«Ego Te Absolvo». A missa começa a chamar-se sacrifício. Organizam-se as peregrinações – romarias.
ANO 1003 – O papa João XIV aprova a festa das almas «fiéis defuntos» que Odilon instituíra
primeiro.
ANO 1059 – Nicolau II cria o colégio dos cardeais «conclave».
ANO 1074 – O papa Gregório VII, aliás, Hildebrando, decreta obrigatório o celibato dos padres.
ANO 1076 – É declarada a infalibilidade da igreja pelo mesmo papa.
ANO 1090 – Pedro, o Ermitão, inventa o rosário.
ANO 1095 – Urbano II cria as indulgências plenárias.
ANO 1125 – Aparece pela primeira vez nos cânones de Leão, a ideia da imaculada conceição de
Maria, porém São Bernardo de Clairvaux refutou tal ideia.
ANO 1164 – Pedro Lombardo enumera sete «sacramentos».
ANO 1200 – O Concílio de Latrão impõe a transubstanciação e a confissão auricular.
ANO 1227 – Enta a campainha na missa por ordem de Gregório IX.
ANO 1229 – O Concílio de Toulouse estabelece a Inquisição, que é confirmada em 1232 por Gregório
X, e logo entregue aos dominicanos. Este mesmo concílio proíbe ao povo a leitura da Sagrada
Escritura.
ANO 1264 – Urbano IV determina pela primeira vez a festa do corpo de Ceus (corpus crysti).
ANO 1300 – Bonifácio VIII estabelece os jubileus.
ANO 1311 – Inicia-se a primeira procissão do Santíssimo Sacramento.
ANO 1317 – João XXII ordena a reza «Ave-Maria».
ANO 1360 – Começa a hóstia a ser levada em procissão.
ANO 1414 – O Concílio de Constança definiu que a comunhão ao povo deve ser somente a hóstia,
sendo o cálice reservado ao padre. Os concílios de Pisa, Constança e Basileia declaram a autoridade do
Concílio superior à do papa.
ANO 1438 – O Concílio de Florença abre a porta ao Purgatório, que Gregório, o Grande, inventara.
ANO 1563 – O concílio de Trento definiu que a tradição é tão valiosa como a própria Palavra de Deus,
e aceitou os livros apócrifos como canónicos.
ANO 1854 – Pio IX proclama o dogma da imaculada conceição de Maria.
ANO 1870 – O Concílio do Vaticano declara a infalibilidade do papa.
ANO 1950 – Criado o dogma da assunção de Maria ao Céu, em corpo e alma.
Que outras inovações introduzirá ainda a Igreja Católica Romana?
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