Experimentalismo em 28 contos

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Experimentalismo em 28 contos
Caderno3 | 3
DIÁRIO DO NORDESTE
FORTALEZA, CEARÁ - SÁBADO, 11 DE JULHO DE 2015
LEITURA
Experimentalismo É...
em 28 contos
NENO CAVALCANTE
[email protected]
Estãonemvendo
C O escritor
cearense Potyguara
Alencar: estreia
literária vem com selo
de editora campinense
Em sua estreia literária,
o antropólogo e escritor
de teatro Potyguara
Alencar vai do sertão
cearense ao Egito
FÁBIO MARQUES
Repórter
D
e saída, uma leitura travada. A fluidez da escrita nos contos de Potyguara Alencar é algo
que se adquire ao longo de uma
centena e meia de páginas, e
inúmeras, e bem vindas, ida e
vindas. Autor de textos para o
teatro e pesquisador em antropologia, o cearense de Itapajé
faz sua estreia na literatura com
o livro de contos “O conto modal – impostura, maquinação e
vício”, da 11 Editora.
A obra reúne 28 contos que,
mais que fragmentos de pequenas histórias, traçam uma só viagem, experimental e intensa,
em torno da escrita e da linguagem literária.
Potyguara é doutorando em
antropologia social pela Universidade de Brasília (UnB) e atualmente reside no Cairo, capital
do Egito, onde desenvolve pesquisa. É autor de montagens teatrais do Coletivo Soul, grupo de
teatro sediado em Fortaleza, para o qual assinou o texto de
“Rãmlet Soul”, espetáculo inaugural do coletivo – e vencedor
do Prêmio Funarte – e “Nossa
Cidade – uma peça para Acam-
pamentos”, de 2012. As experiências do sertão de Itapajé e
do litoral cearense, da Capital
Federal e da atual residência no
continente africano são parte
da inspiração para a escrita dos
contos, tomadas como ponto de
partida para uma trabalho ficcional que está mais à luz da
poesia que da prosa.
O antropólogo explora desde
questões ligadas aos agrupamentos indígenas e pescadores
até os movimentos sociais em
atuação no Cairo. Para o escritor, essas referências funcionam como ponto de partida para uma potência criativa que vai
além do que pode ser estudado
ou verificável.
“O conto não é a suposição
da existência do meu lugar originante, mas o disfarce e o melhoramento dessa origem com muitas outras terras”, elucida o autor sobre o exercício da literatura, no texto de apresentação do
livro.
Modais
Potyguara rompe a linearidade da narrativa, seguindo ritmo e lógica próprias. Na definição proposta pela obra, uma
estética modal. “O conto modal é uma tentativa da ‘escrita
zerada’ e de caça ao olhar:
feitos para que as voltas formalistas do texto protestem para
serem prevalecentes sobre o
próprio belo visual da história”, propõe o autor.
Sob o comando do artista, a
escrita segue quase que inde-
LIVRO
O conto modal – impostura
maquinação vicio
PotyguaraAlencar
11EDITORA
2015,152páginas
R$40
pendente de reflexões racionais, descolada de fórmulas
dramáticas ou textuais, e imprimindo, por uma sucessão
de imagens, cenas, ideias e
sensações.
Impostura, maquinação e vício são alguns dos pilares para
a escrita, conforme justifica o
autor. A impostura trata da
inobservância do potencial leitor, figura que passa ao largo
de suas preocupações – em
oposição a uma lógica da literatura de consumo, formatada
para arrebanhar o maior número de leitores possíveis; a
maquinação, o empenho em
tramar novos contornos e composições aos textos; e o vício,
o da escrita. Os textos reunidos no livro foram divididos
em “modais”, grupos de afinidade temática.
Em “Primitivo, de toda igreja”, por exemplo, são recortados causos movidos pela religiosidade, seja aquela das
crenças do catolicismo popular, no sertão cearense – com
“ó, Luzia, eu recorro a vós para que protejais meus olhos” –,
seja nos dogmas massacrantes
da comunidade católica em
Ciudad Juarez, no México.
Casos
Fazem parte dos modais, ainda, “Eid, Deposante”, “Almakera e a água do descontruimento”, “Caças do mar” e “Mosqueiro de um ano-novo do
amor”. Alguns dos textos partem de causos incomuns – como a morte, por “mal das carnes”, de 1.500 pessoas de uma
mesma vila egípcia; o hábito
de uma camareira que entornava o conteúdo de preservativos no motel em que trabalhava; ou uma almejada legislação que daria direitos aos maridos, no Egito, manterem relações com suas esposas depois
de mortas, sem que por isso
fossem acusados de necrofilia.
Embora alguns estejam registrados nas páginas do noticiário, em “O conto modal”
ganham, à luz da escrita de
Potyguara, contornos para
além do pitoresco. “O fantástico é muito ontogênico”, epigrafa o autor.
INSTRUMENTAL
A tradição das cordas
O
tambura é um ilustre
desconhecido em terras
brasileiras. Na Croácia,
ao contrário, o instrumento – de quatro de cordas
metálicas – é um dos mais tradicionais da música popular. Esta
noite, ele estará no centro das
atenções, dedilhado pelos mais
de 20 instrumentistas que formam o núcleo da Orquestra de
Tamburas Batorek, originária
da pequena cidade de Osijel, de
apenas 100 mil habitantes, no
norte da Croácia.
O grupo vem pela primeira
vez à América Latina, com concerto às 20 horas, no anfiteatro
do Centro Dragão do Mar. A
apresentação é gratuita e antecipa a programação do Festival
Internacional de Orquestras Jovens Eurochestries, que começa
Orquestra de Tamburas Batorek, da Croácia: após apresentação em Fortaleza,
grupo segue para festival em Sobral, que começa nesta segunda (13)
na segunda-feira, em Sobral.
“É uma orquestra experimental que utiliza o tambura, instrumento tradicional na Croácia, e
apresenta um repertório ecléti-
co”, detalha Marco Toledo, do
curso de Música da UFC no
Campus de Sobral e presidente
do festival na America Latina.
Estão no repertório desde
músicas para orquestra de compositores da Croácia até músicas menos ortodoxas, como temas de filmes. “Parece que prepararam até música brasileira”,
antecipa Toledo.
O grupo é vinculado a uma
escola de música croata Batorek, fundada em 1993, e que
reúne cerca de 135 estudantes
com idade entre 15 e 23 anos.
Para a orquestra são selecionados os 27 melhores estudantes
da escola. Além do tambura, o
grupo de cordas tem também o
violão entre seus instrumentos.
A Orquestra Batorek já se
apresentou em países como Espanha, Itália, Áustria, França e
Canadá.
C Mais informações:
Concerto com a Orquestra de
Tamburas Batorek. Hoje, às 20h, no
Anfiteatro do CDMAC (R. Dragão do
Mar, 81, Praia de Iracema). Gratuito.
Contato: (85) 3488.8600
Apenas 42 por cento das
cidades brasileiras
possuem Defensorias
Públicas, e boa parte delas
funcionando em condições
precaríssimas, Deus sabe
como. Autoridade pública
(governadores, prefeitos,
parlamentares) não
recorre aos defensores. Os
advogados caríssimos que
contrata, a conta é sempre
paga por todos nós
consumidores/
contribuintes. Os
defensores são quase
sempre abnegados,
prontos a servir. Muitos
ganhariam bem mais,
alguns poderiam construir
um bom patrimônio
Direito privado.
Só conversa
Morte ou vida
Desconheço governante
vivo que não prometa na
campanha eleitoral, entre
tantas outras coisas,
aumentar o número de
defensores e não apenas isso,
proporcionar a eles
condições adequadas para
desenvolverem o trabalho.
Estima-se que no Brasil
ocorram 200 mil mortes ao
ano por conta do tabagismo.
Os que param de fumar, em
apenas um ano têm o risco
de contrair doença cardíaca
reduzido à metade. Em 16
anos, o risco será o mesmo
de qualquer outro.
Leitorado
Dando alguns nomes aos
bois, o cantor Sidney Magal
disse que existem muitos
“colegas” desafinados.
Magal garantiu que eles
ficam parecendo normais
por obra e graça do
computador. Quer dizer,
aquilo não é real. (Ubirajara
Antônio - Itaoca)
Deus do Céu!
Estamos sempre ouvindo
falar em fraudes nos exames
vestibulares e agora no
Enem, espécie de máfia
infiltrada no ensino. Ora, o
que dizer do pai que compra
para o filho o ingresso
fraudulento na
universidade? O que esperar
do filho o pai ou a mãe que
age de maneira desonesta e
antipedagógica?
Besteira muita
1 - "Ah, você é do Rio?
Com esse chiado forçado, só
se for do rio Cocó” 2 - “Não vá
agora, puxe uma cadeira e
sente-se no chão.” 3 - Atrás
de um grande homem, há
sempre uma grande
mulher.” 4 - “Sente-se. Esta é
a mesa da diretoria!”
‘‘
Deusnãotem
medode
novidades”
PAPAFRANCISCO
Dianteda resistênciados retrógrados às
adequaçõesaosdias atuais queprecisa e
pretendefazerem direção aos velhos
dogmasdaIgreja
Sobremesa
O professor de oratória comentou com um amigo que a
própria esposa havia se matriculado em curso que ele iria
começar a ministrar. O amigo quis saber qual o tema do
curso e ele respondeu: “A arte de discutir”.
Passava certa vez o dia no sítio de um amigo de posses e,
encantado com o lugar, comentei com o caseiro: “Nossa,
deve ser muito bom possuir recanto tão agradável como
este” O homem argumentou com notável sabedoria: “Melhor
é a minha situação” – disse ele -, “pois não tenho nenhuma
despesa e ainda sou remunerado para viver aqui”.
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