AAFP-AAHA
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Conhece as recomendações da AAFP-AAHA para as diversas fases da vida dos felinos? A utilização deste recurso útil ajuda a assegurar que os seus doentes felinos estão a receber os melhores cuidados de saúde. A ctualmente, os gatos são a espécie de companhia mais popular nos Estados Unidos e são considerados, por muitos donos, como membros da família.1,2 Apesar disso, em geral, os gatos são objecto de menos cuidados veterinários do que os cães. Por exemplo, um estudo realizado em 2006 pela American Veterinary Medical Association permitiu concluir que os donos levam os cães ao veterinário o dobro das vezes que levam os gatos.3 As razões para esta diferença de tratamento são várias e incluem o stress e receio associado ao transporte e à visita ao veterinário, a ideia incorrecta de que os gatos cuidam de si próprios e o facto dos sinais de doença serem de detecção mais difícil nesta espécie. Os donos referem também que desconhecem os cuidados necessários, porque os veterinários não os recomendam C. A. Tony Buffington, DVM, PhD, DACVN Department of Veterinary Clinical Sciences College of Veterinary Medicine The Ohio State University Columbus, OH 43210 26 ou porque a sua necessidade ou benefícios não são bem explicados. Tendo em conta esta informação o CATalyst Council (uma iniciativa americana dedicada aos gatos), a American Association of Feline Practitioners (AAFP) e a American Animal Hospital Association (AAHA) identificaram a necessidade de dispor de recomendações para melhorar a saúde e bem-estar dos gatos. Os objectivos das recomendações da AAFP-AAHA para as diversas fases de vida dos gatos foram publicadas no número de Janeiro-Fevereiro de 2010 do Journal of the American Animal Hospital Association e são: 1.Disponibilizar recomendações de saúde óptimas ao longo das fases de vida dos animais. 2.Dar sugestões práticas para facilitar as visitas ao veterinário. 3. Promover uma comunicação mais eficaz e transmitir os benefícios associados a cuidados veterinários regulares. 4.Estimular a troca de impressões entre clientes e veterinários. FASES DE VIDA As fases de vida definidas destinam-se a permitir centrar a atenção nas alterações físicas e comportamentais que ocorrem ao longo da vida dos gatos, reconhecendo sempre que os animais e os seus sistemas corporais podem individualmente envelhe- Maio/Junho 2012 Veterinary Medicine cer com velocidades diferentes e que qualquer animal pode ter um problema que não é comum na fase de vida em que se encontra. Esta definição das fases de vida foi desenvolvida pelo Feline Advisory Bureau e adoptada pelas AAFP Senior Care Guidelines de 2008.4,5 As fases consideradas são as seguintes: • Gatinho – desde o nascimento até aos 6 meses; • Gato jovem – desde os 7 meses até aos 2 anos; • Gato adulto – desde os 3 até aos 6 anos; • Gato adulto maduro – desde os 7 até aos 10 anos; • Gato sénior – desde os 11 até aos 14 anos; • Gato idoso – com mais de 15 anos. Independentemente da idade dos gatos, a formação dos seus Flickr/Getty Images C.A. Tony Buffington, DVM, PhD, DACVN Recomendações da AAFP-AAHA donos deve abranger várias áreas, nomeadamente aspectos relativos à identificação animal, às formas de prevenir e reconhecer sinais precoces e subtis de stress, à avaliação de custos relacionados com cuidados de saúde e à inclusão de animais em planos de emergência, domésticos ou não, consequentes a acontecimentos inesperados. A VISITA DE BEM-ESTAR As recomendações começam por salientar a necessidade de envolver toda a equipa de saúde, para que esta transmita mensagens consistentes aos donos sobre a importância dos cuidados preventivos regulares prestados aos gatos ao longo da sua vida. Recomenda-se a realização de pelo menos uma consulta anual de avaliação de bem-estar, ou semestral para os animais com mais de 7 anos de idade. No entanto, para gatos de qualquer idade, as visitas semestrais são preferíveis porque as alterações do estado de saúde podem acontecer rapidamente. Além disso, tal como nos outros animais, muitas vezes os gatos doentes não revelam sinais de doença. Uma avaliação mais frequente permite realizar uma detecção precoce de doenças, nomeadamente de problemas “silenciosos”, como a obesidade e as doenças dentárias, facilitando uma intervenção precoce. Embora algumas pessoas possam ficar preocupadas com a frequência recomendada para as avaliações de bem-estar, esta frequência pode ser grosseiramente comparada com as recomendações para o homem. Tendo em consideração esperanças de vida de cerca de 12 a 14 anos para os gatos e de 75 a 80 anos para as pessoas, cada ano da vida de um gato adulto pode ser comparado a cerca de quatro a seis anos da vida de um ser humano adulto. Se esta comparação for razoável, então a recomendação de duas avaliações 28 de saúde por ano é análoga à realização de uma avaliação cada dois ou três anos num ser humano adulto, frequência que actualmente é preconizada nos Estados Unidos.6 Um outro benefício de uma avaliação semestral é a oportunidade de interagir com os donos mais frequentemente, trocando informações e opiniões sobre alterações do comportamento e atitude e sobre cuidados preventivos, o que permitirá identificar doenças mais cedo, melhorar a qualidade de vida e reduzir os custos a longo prazo relacionados com a saúde destes animais. As recomendações sugerem formas de conseguir obter uma história mais completa, incluindo a utilização de questionários abertos, a reflexão sobre os factos relatados e o uso de afirmações de empatia,7 bem como a realização de um exame físico detalhado e a construção de uma base de dados mínima. É ainda referido que a idade e a frequência de realização de exames laboratoriais dependem de diversos factores, nomeadamente o facto de a incidência de muitas doenças aumentar com a idade. São apresentadas também recomendações mais específicas relativamente à alimentação e ao controlo de peso corporal, aspectos comportamentais e ambientais para discussão, controlo de parasitas, testes para retrovírus, vacinação e cuidados dentários. Alimentação e controlo do peso corporal Aspectos básicos relativos à dieta. As necessidades alimentares de energia e de outros nutrientes variam ao longo da vida dos animais, bem como com o seu nível de actividade e estado dos órgãos sexuais. Para manter uma condição corporal adequada, é necessário conhecer a ingestão de alimentos de cada animal. Existem alimentos secos e Maio/Junho 2012 Veterinary Medicine enlatados adequados para todas as idades, e a composição referida na embalagem é o garante que esses alimentos são devidamente avaliados e são adequados. Embora o nível de hidratos de carbono nos alimentos secos tenha sido considerado como implicado na obesidade ou na diabetes, os conhecimentos actuais não suportam esta teoria. Tal como acontece com as dietas preparadas em casa, deve ser salientada a necessidade de fornecer uma alimentação equilibrada e referidos os riscos de preparar e fornecer alimentos crus. Regimes alimentares. Os gatos podem ser alimentados livremente ou podem ser escolhidos horários de refeição fixos ao longo do dia. Disponibilizar brinquedos ou colocar os alimentos em recipientes pequenos são boas forma de assegurar que os animais mantêm a realização de exercício físico e actividade mental e que não comem demais. Os donos devem promover a ingestão de água, em tigelas, bebedouros ou água corrente. Os alimentos enlatados possuem também um teor de água mais elevado. Os alimentos e a água devem ser oferecidos aos gatos em locais sossegados, especialmente quando os animais são nervosos ou medrosos. A obesidade é mais comum quando os gatos atingem a meia-idade. O enriquecimento ambiental (ver adiante) e a promoção da actividade são formas de evitar problemas associados à obesidade. Comportamento e ambiente São referidos tópicos para discussão sobre comportamento e ambiente em cada fase de vida. Em qualquer idade, os gatos têm necessidade do seguinte: • Recursos em casa – além dos alimentos, água e caixote para os dejectos, os gatos devem dispor de superfícies adequadas para arranhar, de locais para se esconder Recomendações da AAFP-AAHA e de zonas de repouso em locais altos. Quando mais gatos existirem na mesma casa, mais recursos são necessários. • Caixotes para os dejectos – a maioria dos gatos prefere caixotes grandes (cerca de 1.5 vezes o comprimento do gato, medido desde o focinho até à base da cauda), contendo um material sem odor, limpos e colocados em locais calmos e facilmente acessíveis.8 A rejeição de um caixote de dejectos pode ter diversas causas, incluindo o seu tamanho, o tipo de material absorvente usado, a limpeza do caixote, o estilo de caixote, além de factores ambientais externos não relacionados directamente com o caixote. • Enriquecimento ambiental – este aspecto é importante para todos os gatos, especialmente para aqueles que vivem dentro de casa. O tédio pode ser um factor de stress para os gatos e pode estar associado ao desenvolvimento de problemas de obesidade, enquanto a instabilidade pode levar e diversos comportamentos doentios (grupo de sinais clínicos não específicos e sinais comportamentais, que inclui combinações variáveis de vómitos, diarreia, anorexia ou diminuição da ingestão de água e alimentos, febre, letargia, sonolência, manifestações de dor e diminuição da actividade geral, do comportamento de auto-limpeza e das interacções sociais).9 A área envolvente a que os animais têm acesso pode ser aumentada com segurança usando recintos vedados ao ar livre ou actividades supervisionadas no exterior (p. ex. passear o gato à trela ou num carrinho de crianças). • Brincadeiras – as oportunidades para brincar são muito importantes e podem reflectir as preferências de caça dos gatos, que incluem pássaros e espécies pequenas (p. ex. podem ser usados brinquedos com penas, pedaços de alimentos secos, entre outros). Gatinhos. O período principal de socialização entre os gatos e o homem acontece entre as 3 e as 9 semanas de idade. Se, nesta idade, os gatinhos associarem experiências positivas à exposição às pessoas, é mais provável que em fases de vida mais tardias se desejem aproximar e deixem manipular. Os gatinhos devem ser agarrados cuidadosamente e com uma atitude positiva. Tanto quanto possível, devem ser expostos precocemente aos estímulos e agressividade entre os animais. Por outro lado, a maioria dos gatos inteiros e cerca de 10% dos gatos castrados começam a marcar o território com urina, o que coincide com a maturidade sexual. Gatos adultos e adultos maduros. Os gatos tendem a ganhar peso à medida que envelhecem porque o seu nível de actividade realizada com brincadeiras diminui. Um trabalho recente demonstrou que brincar com os gatos durante 10 a 15 O tédio pode ser um factor de stress para os gatos e pode estar associado ao desenvolvimento de comportamentos doentios. técnicas de manipulação que mais provavelmente encontrarão na sua vida futura (p. ex. crianças, cães, corte de unhas, escovagem dos dentes, passeios de automóvel). Os comportamentos desejáveis devem sempre ser recompensados. Os gatinhos não devem ser castigados, pois podem manifestar agressividade por defesa. Nesta fase, os animais gostam muito de brincar. O pico de interacção social é máximo por volta das 12 semanas de idade. Depois desta idade as brincadeiras com objectos tornam-se mais comuns. Assim, disponibilizar brinquedos é uma boa forma de deixar que os gatinhos manifestem de forma segura os seus comportamentos de predadores e, simultaneamente, evitam-se as mordeduras durante as brincadeiras. Gatos jovens. As relações entre os gatos presentes numa habitação podem ser alteradas quando os animais atingem 1 ou 2 anos de idade (idade a que os descendentes que vivem em liberdade abandonam a unidade familiar), podendo ocorrer minutos, três vezes por dia, ajuda-os a perder 1% do seu peso corporal em um mês, sem necessidade de restringir a ingestão de alimentos.10 Gatos sénior e idosos. Nos gatos sénior, as alterações comportamentais são comuns (p. ex. vocalização, alterações na utilização do caixote de dejectos) e, normalmente, indicam que existe um problema médico subjacente. Profilaxia antiparasitária O controlo de parasitas, tanto no animal como no seu meio envolvente, é importante em todas as fases da vida. Todos os gatos, incluindo aqueles que vivem dentro de casa, têm risco de ficar parasitados e devem realizar profilaxia antiparasitária.11-13 Antes de desparasitar os animais devem ser realizadas análises de fezes. Dado que nos gatinhos não ocorrem infecções pré-natais, o tratamento antiparasitário contra nemátodos pode ter início às 3 semanas de idade. O tratamento antiparasitário geral pode iniciar-se a partir das 8 a 9 semanas de idade. Veterinary MedicinE Maio/Junho 2012 29 Recomendações da AAFP-AAHA Exames para retrovírus Vacinação O estado dos gatos relativamente a retrovírus permite dispor de informação sobre o estado de doença e sobre o bem-estar. Nos EUA recomenda-se que quando são adoptados e independentemente da sua idade, todos os gatos sejam testados relativamente ao vírus da leucemia felina (FeLV) e ao vírus da imunodeficiência felina (FIV). O teste para retrovírus pode ser realizado em gatinhos com poucos dias de idade. Os animais com resultados negativos devem repetir os testes pelo menos 30 dias depois para FeLV e 60 dias depois da FIV. Os testes para FIV podem detectar anticorpos obtidos através do colostro de mães vacinadas ou infectadas, o que pode ser confundido com infecção dos gatinhos. Os gatinhos com resultados positivos para anticorpos FIV devem repetir o teste a cada 60 dias até aos 6 meses de idade, porque os testes para FIV porque quanto estão presentes anticorpos transmitidos por uma mãe infectada ou vacinada ocorrem resultados falsos positivos. Se um gatinho se tornar seronegativo, é mais provável que não esteja infectado. Os testes para retrovírus podem diagnosticar apenas uma infecção, sem doença clínica, e os gatos com infecções FeLV ou FIV podem viver durante muitos anos. Antes de serem vacinados contra FeLV ou FIV, ou de serem integrados num grupo de gatos com um estado retroviral desconhecido, os gatos devem repetir os testes para retrovírus. Os animais que vivem na mesma casa de outros gatos infectados com FeLV ou FIV devem realizar os testes anualmente, excepto se forem mantidos isolados. Os gatos doentes devem realizar os testes mesmo quando anteriormente os resultados foram negativos.14 Nos EUA, recomenda-se a vacinação de todos os gatos contra o vírus da panleucopenia, herpesvírus-1, calicivírus e vírus da raiva. As três primeiras vacinas podem ser administradas a partir das 6 semanas de idade e cada três a quatro semanas até às 16 semanas de idade. Passado um ano é realizada uma revacinação e seguem-se revacinações a cada três anos. A vacinação contra a raiva depende das regras vigentes em cada região. A vacinação contra o FeLV é recomendada nos EUA para todos os gatos, pelo facto de se desconhecer o seu estilo de vida futuro e porque os gatos que têm acesso ao exterior terão contacto com gatos com um estado viral desconhecido, com gatos infectados por FeLV ou com gatos que podem viver em locais de elevada rotatividade, como por exemplo abrigos. Recomenda-se uma revacinação anual.15 Cuidados dentários A formação dos donos sobre os cuidados de saúde oral é crucial em todas as fases da vida. Os gatos necessitam de cuidados orais, tanto realizados pelos donos como pelo veterinário, o que se deve ao facto da maioria dos donos não conhecer as doenças dentárias comuns dos gatos, os problemas dolorosos que podem originar e a forma como ameaçam a saúde e bem-estar dos animais. Deve ser salientado o valor da escovagem dentária dos gatos, particularmente com os donos dos gatinhos que são mais receptivos a esta prática. Para os clientes com gatos mais velhos, deve demonstrar-se como devem realizar a escovagem dentária dos seus animais, nomeadamente encorajando-a com interacções positivas e recompensas. Além da escovagem dentária, existem no mercado vários produtos que ajudam os cuidados dentários, nomeadamente dietas e guloseimas específicas. COMUNICAÇÕES E RECURSOS Existem recursos excelentes para facilitar o delineamento de um plano detalhado de vigilância da saúde em cada fase da vida dos gatos. Os veterinários, os outros membros da sua equipa e os donos, devem comunicar claramente, para que se promova a adesão a planos de bem-estar e para melhorar os cuidados e a qualidade de vida dos gatos.16 v REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Perrin T. The Business Of Urban Animals Survey: the facts and statistics on companion animals in Canada. Can Vet J 2009;50(1):48-52. 2. National Commission on Veterinary Economic Issues. Bayer Veterinary Care Usage Study. http://www.ncvei.org/articles/ FINAL_BAYER_VETERINARY_CARE_USAGE_STUDY.pdf. Accessed 5/14/2011. 3. Lue TW, Pantenburg DP, Crawford PM. Impact of the owner-pet and client-veterinarian bond on the care that pets receive. J Am Vet Med Assoc 2008;232:531–540. 4. Feline Advisory Board. WellCat for life veterinary handbook. Tisbury, Wiltshire, UK: Feline Advisory Bureau, 2008: 5. 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