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SENSIBILIDADE
Pessoas com crença religiosa sólida resistem mais a sofrimentos. Rezar também aumenta
o poder da mente e pode ajudar a prolongar o tempo de vida com mais saúde e disposição
MARIA TEREZA/EM/D.A PRESS - 27/3/07
FÉ É ARMA
CONTRA A DOR
Participação semanal de forma regular de fiéis em cultos religiosos é positiva e recomendável
Londres – As pessoas que têm
crenças religiosas podem resistir
mais à dor? O poder de uma mente que crê pode ser suficiente para
aliviar o sofrimento ou torná-lo
mais leve? A resposta é afirmativa,
de acordo com uma equipe de
cientistas da Universidade de
Oxford, no Reino Unido, que chegaram a esta conclusão ao realizar
exames de imagens cerebrais em
uma série de indivíduos que foram submetidos a choques elétricos, depois de observar imagens religiosas. O trabalho contou com
dois grupos: um de católicos praticantes e outro de ateus e agnósticos. O experimento consistiu em
mostrar a eles uma pintura da Virgem Maria do artista italiano Bartolo de Sassoferrato e o retrato de
A dama com arminho, de Leonardo da Vinci. Depois de admirar
uma das imagens durante meio
minuto, os participantes recebiam
descargas elétricas por 12 segundos e deviam qualificar o nível de
dor que sentiam. Os católicos e os
agnósticos registraram níveis similares de dor depois de ver a pintura de Da Vinci, mas os primeiros
experimentaram 12% a menos de
dor depois que observaram a imagem da Virgem Maria. Quando fo-
ram comparados os escaneamentos cerebrais dos dois grupos, ficou
comprovado que, quando os crentes viam a Virgem, ativava-se em
seus cérebros uma área denominada córtex pré-frontal ventrolateral direito, que suprime as reações a situações que são ameaçadoras e está relacionada com a regulação da dor e a valorização dos
estímulos emocionais. “Esta área
se encarrega de dar um significado neutro ou positivo a uma experiência nociva, o que nos ajuda a
enfrentá-la melhor, e ajuda as pessoas a interpretar a dor e a torná-la
menos temida”, segundo a doutora Katja Wiech, uma das autoras
do trabalho britânico. Os pesquisadores descartam que o “efeito
analgésico” se deva a uma religião
em particular e acreditam que ele
também possa ser alcançado mediante a meditação e outras estratégias psicológicas.
LONGEVIDADE A religião não só
parece aliviar a dor, como também
poderia prolongar a vida. É o que
conclui outra pesquisa da Universidade Yeshiva, de Nova York. Os
resultados mostraram que participar semanalmente de cultos religiosos pode reduzir o risco de mor-
te em 20%, em comparação com as
pessoas que não seguem a prática.
“Esse efeito talvez esteja relacionado com a sensação de comunidade
ou de respaldo presente nos cultos
religiosos, ou talvez as pessoas fiquem menos deprimidas quando
participam deles”, afirma o professor de psicologia da instituição
Eliezer Schnall. Os participantes da
pesquisa vêm de outro grande estudo denominado “Iniciativa de
saúde das mulheres”, que inclui
quase 95 mil norte-americanos,
com idades entre 50 e 79 anos, no
começo do estudo.
Quando os cientistas analisaram os dados relacionando à
saúde física com idade, etnia,
renda, educação, respaldo social,
eventos vitais importantes e a
satisfação com a vida, descobriram que a participação semanal
em cultos religiosos era responsável por uma grande redução
do risco de morrer. O doutor Schnall não afirma que a receita para viver mais anos consista em
participar de serviços religiosos
de forma regular, mas considera
que suas descobertas são interessantes e convidam a realizar
mais pesquisas para desvendar o
mecanismo desse fenômeno.