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Universidade Federal de Santa Catarina
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social
Núcleo de Pesquisa Arte, Cultura e Sociedade na América Latina e Caribe - MUSA
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
RELATÓRIO FINAL
DO PROJETO PÓS DOUTORADO CNPQ
Modalidade Bolsa: Pós-Doutorado Júnior – PDJ
Bolsista: Rita de Cácia Oenning da Silva
Endereço: Servidão do Cravo Branco, 259, Campeche, Florianópolis/SC, 88063-522
Endereço eletrônico: [email protected]
CPF: 632.460.239-72
Processo: 162725/2011-6
Período inicial: 01/2012 a 11/2012
Prorrogação: 12/2012 a 11/2013
Instituição: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS)
Supervisor: Prof. Dr. Rafael José de Menezes Bastos (PPGAS/UFSC)
Projeto: Duplos e múltiplos: Crianças e Performances Musicais dos Ameríndios do
Vale do Javari nas cidades.
Janeiro de 2014
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RITA DE CÁCIA OENNING DA SILVA
SOBRE JABUTIS, JAGUARES E AVATARES:
Performances, narrativas e produção fílmica de e sobre crianças
ameríndias nas cidades.
Relatório de Estágio Pós Doutoral, modalidade
Recém Doutor submetido ao Programa de Pós
Graduação
em
Antropologia
Social
da
Universidade Federal de Santa Catarina para
obtenção do grau de Pós Doutora. Sob a
supervisão do Prof. Dr. Rafael José de Menezes
Bastos.
Florianópolis, Janeiro de 2014.
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Oenning da Silva, Rita de Cácia. Sobre Jabutis, Jaguares, e Avatares:
Performance e narrativas de e sobre crianças ameríndias nas cidades. Relatório
Final de Estágio Pós-Doutoral. Florianópolis: Universidade Federal de Santa
Catarina: Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, 2014.
Resumo
O presente Relatório Sobre Jabutis, Jaguares e Avatares: Performances e
narrativas de e sobre crianças ameríndias nas cidades, apresenta os resultados do
desenvolvimento do projeto Duplos e múltiplos: Crianças e Performances Musicais
dos Ameríndios do Vale do Javari nas Cidades com bolsa concedida pelo CNPq para
Projeto Pós-Doutorado Júnior – PDJ, Processo número 162725/2011-6, vigência de
11/01/2012 a 30/11/2013. O projeto foi realizado na UFSC, junto ao grupo do Núcleo
de Pesquisa “Arte, Cultura e Sociedade na América Latina e Caribe” – MUSA – com
uma parte na Universidade da Califórnia Los Angeles – UCLA com o professor
Antony Seeger– sob a supervisão geral do Professor Doutor Rafael José de Menezes
Bastos.
O relatório contém Apresentação, Resumo e objetivos do Projeto de pesquisa,
Descrição das atividades realizadas e Resultados da Pesquisa nos dois anos do pós
doutoramento.
Palavras chave: etnologia indígena, antropologia da arte, narrativas e performances,
crianças indígenas, noroeste amazônico, produção da pessoa.
Florianópolis, Janeiro de 2014.
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
01
Apresentação do projeto, com Resumo e Objetivos da pesquisa
02
1. INTRODUÇÃO
03
2. ATIVIDADES REALIZADAS E RESULTADOS DA PESQUISA
10
2.1. Realização de pesquisa teórica, sonoro-vídeo-bibliográfica
10
2.1.1 Introdução à pesquisa teórica
10
2.1.2 O lugar e a presença da criança na literatura do Noroeste Amazônico 11
2.1.3 Pesquisa áudio-videográfica
28
2.2. Realização de pesquisa etnográfica e videográfica de performances
de ameríndio
35
2.3. Produzir material audiovisual dessas performances
45
2.3.1. Filmes gravados em Itacoatiara Mirim – SGC
47
2.3.2. Filmes gravados no Bairro Tiago Montavo – SGC
48
2.3.3.Filmes gravados em Tabocal de Uneiuxi – Santa Isabel do Rio Negro 48
2.4. Escrever artigo etnográfico relacionado ao tópico específico
do projeto de pesquisa e publicações
49
2.4.1.Artigos escritos encaminhados para publicação e DVDs produzidos 50
2.4.2. Artigos, livros e DVDs sendo produzidos
53
2.5. Cooperar e participar do Núcleo MUSA
2.5.1. Participação de apresentações de projetos de pesquisa e palestras
dos membros do MUSA
2.5.2. Apresentação do Projeto Duplos e Multiplos e dos resultados
da pesquisa de Pós-Doc no MUSA
54
55
56
2.6. Participar de seminários ministrados pelo Professor Anthony Seeger
na UCLA entre os meses de janeiro e março de 2012
2.6.1. Aulas de Archiving ministrada por Anthony Seeger
2.6.2. Colóquios na UCLA
2.6.3. Participação da 46th Annual Meeting of SEMSCHC
2.6.4. Pesquisa na Biblioteca da UCLA
57
57
57
58
58
2.7. Realizar entrevistas com pesquisadores reconhecidos na área de
etnomusicologia e etnologia
2.7.1 Entrevista com Anthony Seeger
2.7.2 Entrevista com Steven Feld
58
59
59
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2.7.3 Entrevista com Suzanne Oakdale
2.7.4 Entrevista com Amanda Minks
2.7.5 Entrevista com Deise Lucy Montardo
2.7.6 Entrevista com Acácio Tadeu Piedade
2.7.7 Entrevista com Júlia Mello Piedade
2.7.8 Entrevista com Judith Seeger e filhas
2.7.9 Entrevista com Rafael José de Menezes Bastos
60
61
62
62
62
63
63
2.8. Fazer contatos e estabelecer diálogos com pesquisadores da
antropologia da música e da performance
63
2.9. Participar de seminários, conferências, congressos da área temática
2.9.1. Como ouvinte
2.9.2. Apresentando trabalhos
66
66
69
2.10. Atividade docente
71
2.11 Atividades Realizadas não previstas no projeto
2.11.1. Manter o site do MUSA
2.11.2. Participação da Banca de defesa
2.11.3. Participação de aulas no PPGAS UFSC
2.11.4. Coordenação do projeto A saúde de crianças em áreas rurais
no Estado do Amazonas
73
73
73
73
2.12 Dificuldades Encontradas
79
3. AVALIAÇÃO
70
4. BIBLIOGRAFIA
81
74
ANEXOS
OBS: Todos os anexos estão com link para acesso online. Em anexo:
1- Artigo: Performance Narrativa, literatura oral e subjetivação
entre crianças pequenas.
2- Artigo: Cuidando de crianças: Uma introdução para a pesquisa das práticas
amazonenses
3 – Artigo: A produção de Pessoas e os sistemas de saúde no Amazonas.
4 – Artigo: Quem conta um conto aumenta muito mais que um ponto
5 - Capa Encarte do DVD Crianças Amazônicas. Narrativas e
performances de (e sobre) crianças indígenas e caboclas do Amazonas.
6 - Entrevista: Revisitando o Brasil e o campo entre os Kisêdjê (Suyás): Conversa
com Anthony Seeger.
7 - Entrevista: Sons e Sentidos: Entrevista com Steven Feld
8- Entrevista: Tornando-se outro: Entrevista com Suzanne Oakdale
9 - Cartaz da mostra de filmes feita no Instituto Socioambiental (ISA Rio Negro)
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APRESENTAÇÃO
O presente relatório Sobre Jabutis, Jaguares e Avatares: Performance e
narrativas de e sobre crianças ameríndias nas cidades, apresenta os resultados do
desenvolvimento do projeto Duplos e múltiplos: Crianças e Performances Musicais
dos Ameríndios do Vale do Javari nas Cidades com bolsa concedida pelo CNPq
Projeto Pós-Doutorado Júnior. O projeto foi realizado na UFSC, junto ao grupo do
Núcleo de Pesquisa “Arte, Cultura e Sociedade na América Latina e Caribe” – MUSA
– com uma parte na Universidade da Califórnia Los Angeles – UCLA com o
professor Antony Seeger– sob a supervisão geral do Professor Doutor Rafael José de
Menezes Bastos.
O projeto Duplos e múltiplos visou contribuir para o debate da área Arte,
Cosmologia e Filosofia nas Terras Baixas da América do Sul, com ênfase na
Amazônia. O objetivo desse projeto foi colocar a pesquisadora em contato com uma
nova área de pesquisa, a etnologia brasileira, realizando pesquisa de campo para
produzir material etnográfico e videográfico sobre essa pesquisa. Para tanto, o projeto
de pesquisa propôs o estudo de performances entre crianças indígenas que vivem na
cidade, onde se pretendeu observar como essas performances refletem e produzem a
socialidade ameríndia nas cidades, buscando o entendimento de aspectos sóciocosmológicos e políticos manifestos nessas.
A pesquisa propôs como viés analítico cruzamentos entre as teorias
antropológicas da pessoa, do ritual, do corpo e da performance, onde
os eixos
complementares são centrais: 1) a antropologia da arte para uma reflexão sobre a
artisticidade dos povos indígenas; 2) os estudos de performance, que tem possibilitado
uma análise intertextual do rito e das manifestações estéticas com seus enquadres
variados; 3) a antropologia audiovisual compartilhada, onde o uso da mídia digital
serve não apenas para o registro dos eventos, mas especialmente como meio de
salientar a reflexividade das performances, acessando assim as performances em si,
mas também o ponto de vista dos performers sobre essas. Tendo crianças indígenas
como foco da pesquisa, pretendeu-se pensar o lugar da criança e o modo como essas
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se posicionam no contexto das performances encontradas no campo, contribuindo
para uma etnologia de indígenas nas cidades e seus processos de transformação.
Objetivamente a pesquisa propôs:
1) Produzir artigo com os dados etnográficos encontradas nas cidades.
2) Produzir material videográfico
que abordem e incluam as performances
encontradas em campo.
3) Produzir uma série de entrevistas e filmes dessas, quando possível, que
enriqueçam o conhecimento e o debate/pesquisa sobre etnomusicologia e
performance, entrevistando importantes referências da área. Os entrevistados
foram Anthony Seeger, Steven Feld, Suzanne Oakdale, Amanda Minks,
Acácio Piedade, Júlia Mello Piedade, Deise Lucy Montardo, Rafael José de
Menezes Bastos.
4) Contribuir para uma abordagem da artisticidade, procurando entender como as
performances e seus enquadres (ou gêneros) constroem relações.
5) Pensar o lugar da criança e o modo como essas se posicionam no contexto das
performances encontradas no campo. (ver projeto).
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INTRODUÇÃO
A formação antropológica oferece múltiplos caminhos, podendo um
antropólogo se especializar em diversas áreas ou escolher uma área específica para
perseguir durante sua formação e atuação. Os caminhos que tracei durante minha
formação tanto no mestrado quanto no doutorado estiveram bastante relacionados
com uma antropologia na cidade, pensando os agrupamentos urbanos e as relações e
subjetividades estabelecidas nesse ambiente. Trabalhando com classes populares com
pouco acesso aos recursos do estado (populações que se autodenominam “da
periferia”) foquei nos modos de organização social, parentesco, mobilidade social,
modos de expressão locais e especialmente na subjetividade que brota naquele meio.
As pesquisas buscavam entender como crianças se situam e são situadas nesses
contextos e como estão relacionando-se com os múltiplos universos culturais e sociais
aos quais têm acesso.
Realizando uma antropologia que ouve e observa crianças em diferentes
contextos e universos culturais (que hoje vem sendo chamada de antropologia da
criança), primeiro em Florianópolis (mestrado em Antropologia Social no
PPGAS/UFSC – 1996-1998) estudei crianças consideradas “de rua” e minha
observação permitiu entender os fortes laços que essas mantem com suas famílias
extensas. Entre a casa e a rua, um universo específico de parentesco e de redes sociais
permite que essas crianças circulem entre mundos distintos, de modo pouco
observado em contextos com mais recurso financeiro. A rua é um lócus importante na
formação da subjetividade do grupo (e não apenas das crianças) e nela as relações se
desenrolam tanto quando na casa. A marginalização da rua pela sociedade nacional,
por outro lado, cria a falsa ideia de poucos laços familiares. A circulação de crianças,
como sugere o trabalho de Cláudia Fonseca (1995) sobre as classes populares de
Porto Alegre, uma estratégia usada pelas famílias para a sobrevivência e continuidade
do grupo, apresentou-se como uma importante dinâmica entre os grupos estudados em
Florianópolis. A dissertação “A porta entreaberta” (Silva 1998) mostrou então os
caminhos e as estratégias dessas famílias e dessas crianças para poder viver num
universo urbano, com baixíssimos recursos financeiros – recursos sociais que
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possibilitam essa circulação das crianças são fundamentais para a continuidade do
grupo e representam uma ampliação de laços de parentesco, e não o contrário, uma
quebra deles.
Para realizar a pesquisa de campo no doutorado (PPGAS/UFSC - 2003-2008)
escolhi um grupo de crianças também de classes populares em Recife (PE) que
tinham em comum o gosto e um contato com diferentes tipos de manifestações
artísticas populares. Nesse meio foi possível perceber que a conexão das crianças com
a arte permite a essas uma série de ferramentas para a expressão, mas mais que tudo
para a constituição de si enquanto sujeitos sociais. Em Superar no Movimento (2008)
mostro como essas crianças, criativas e capazes de inventar cultura, abriam aos seus
pais e familiares outras perspectivas sobre trabalho e sobre a vida cotidiana,
colocando-os em rituais não comuns nas suas próprias infâncias. Os estudos de
performances foram nesse sentido fundamentais para essa análise. No entanto, minha
aproximação das populações urbanas me tornaram ciente que a divisão entre urbano e
rural não são tão claramente definidas pelos grupos. A antropologia urbana me
oferecia ferramentas para entender essas subjetividades, mas embora vivendo nas
cidades, uma gama impressionante de aspectos remetiam à vida e à experiência rural,
mediada por parentes, especialmente tios e avós, por amigos, e mesmo pelo acesso a
bens provenientes dessa área. Portanto, essa foi uma divisão que aprendi a relativizar
no trabalho de campo com essas crianças. Chamei de “socialidade estética da
periferia” o modo como essas crianças e seus pares se organizavam em relação à
cultura Recifense. Corpos e mentes são construídos pela dança, pelas narrativas, pelo
andar nas ruas; uma estética que está intimamente conectada com uma ética e com a
construção desse sujeito social.
Atuando como antropóloga e como professora universitária fiz uma
aproximação tímida com a etnologia indígena trabalhando com crianças indígenas em
dois contextos: 1) Em 2007 na Colômbia, numa comunidade Saliba, grupo falante da
língua Saliba que tem sido pouco estudado. Eles fizeram contato com um ONG que
eu prestava assessoria e fizemos diversos filmes curtas na língua sáliba. 2) Em 2009
trabalhei com crianças guaranis no Paraguai, promovendo um curso de produção
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audiovisual. Em ambos os casos realizamos filmes sobre o contexto onde viviam,
captando narrativas das mesmas, e promovendo uma antropologia visual
compartilhada,
onde
a
câmera
e
o
ponto
de
vista
do
filme
são
negociados/compartilhados com as crianças e os seus cuidadores. Esses dois contatos
despertaram em mim interesse enorme em poder aprofundar meus estudos nessa área
antropológica: a antropologia sobre e com os povos indígenas. A aproximação com a
etnologia, uma área importante na antropologia mundial e uma das referências na
antropologia brasileira, foi inevitável.
O desenvolvimento do projeto de Pós doutoramento Duplos e múltiplos:
Crianças e Performances Musicais dos Ameríndios do Vale do Javari nas Cidades, o
qual de agora em diante chamarei simplesmente Duplos e Múltiplos, foi uma
oportunidade única de me aproximar de crianças indígenas brasileiras. Foi também
uma oportunidade de ir a campo em família, envolvendo meu marido e minha filha de
pouco mais de 2 anos no processo da pesquisa, o que certamente criou uma dinâmica
diferenciada com a população alvo. A presença de ambos em campo trouxe
facilidades para criar vínculos com as pessoas, especialmente com as crianças, ao
mesmo tempo em que dificultou minha permanência por muito tempo em campo. Foi
necessário estabelecer horários específicos para realizar a pesquisa, negociando entre
os horários das crianças pesquisadas e os horários que uma criança de dois anos exige,
como descanso nas tardes, etc.
Embora no projeto do pós-doutorado tenha proposto estudar crianças no Vale
do Javari, a pesquisa de campo foi realizada no noroeste amazônico, abrangendo
especialmente crianças e cuidadores dos grupos étnicos Baniwa, Curipaco, Nadëb,
Tariano, Tucano. O contato com crianças num contexto mais urbanizado no Noroeste
Amazônico (São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro) foi bastante
produtivo, colocando a pesquisadora em contato com uma diversidade de modos de
vida onde as crianças estão inseridas, ampliando o conhecimento sobre a etnologia
amazônica. Pesquisa de campo e a revisão bibliográfica sobre o tema foram dois eixos
desse aprofundamento na área etnológica brasileira.
A mudança do lócus da pesquisa de campo, abandonando a ideia de ir para o
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Vale do Javari, se deu por orientação de pesquisadores da área, especialmente por
Pedro Cesarino, conhecedor da situação sanitária da região. A região do Vale do
Javari vem sendo assolada nos últimos anos por uma grande epidemia de malária,
hepatite e tuberculose. Como a proposta da pesquisa era ir a campo com a família,
conforme descrito no projeto, fui orientada a proceder a pesquisa noutra área do país,
preservando a saúde de minha filha de apenas dois anos de idade. Hepatite, Malária,
tuberculose e outras doenças tropicais têm levado rapidamente à óbito crianças e
adultos pela escassez de recursos médicos que o Vale do Javari sofre há anos. Essas
orientações, de cunho bastante prático, levaram a pesquisar crianças do Noroeste
Amazônico, mais especificamente na região de São Gabriel da Cachoeira e em Santa
Isabel do Rio Negro.
O Noroeste amazônico constitui-se num campo extremamente rico para uma
pesquisa de indígenas na cidades, pois São Gabriel da Cachoeira é a cidade mais
indígena do Brasil e oferece um universo multilíngue muito complexo. São Gabriel da
Cachoeira, município situado no extremo noroeste do Estado do Amazonas, na
microrregião da Bacia do Rio Negro, tem limítrofes ao norte com a Colômbia e a
Venezuela, ao sul e ao leste com o município de Santa Isabel do Rio Negro e ao sul
com Japurá. Boa parte do seu território é abrangido pelo Parque Nacional do Pico da
Neblina, além das terras indígenas Alto Rio Negro; Médio Rio Negro I, II e III e Rio
Téa.
Além de ser considerado ponto estratégico pelo país por causa da sua
localização, com uma forte presença militar na cidade, são reconhecidas na região
como línguas oficiais além do português, três idiomas indígenas tradicionais falados
pela maioria dos habitantes, a saber Nheengatu, Tucano e Baniwa1. Segundo Cristiane
Lasmar, pesquisadora da cidade de São Gabriel da Cachoeira, esse é o núcleo
populacional mais expressivo do alto Rio Negro, com 15 mil habitantes2, sendo 80%
indígenas. Portanto, a pesquisa sonoro-vídeo-bibliográfica se focou em particular na
produção sobre a região, sem no entanto fechar-se nela.
1
Lei Municipal 145, de 22 de novembro de 2002.
Toda região do município de SGC corresponde a área de 109.184,896 km2, com população de
39.097 habitantes (Dados do IBGE, 2012).
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O Município de São Gabriel da Cachoeira é habitado tradicionalmente por 27
etnias (22 presentes no Brasil) que falam idiomas pertencentes a três famílias
linguísticas, o Aruak, Macu e Tucano e que se articulam numa complexa rede de
trocas. Embora essas etnias têm características particulares, compartilham ou tem
como eixo de ligação mitos, aspectos da cultura material, da cosmovisão e da
organização social. Partilham por exemplo, o mito da origem e trajetória comum da
Cobra Ancestral, que segundo eles concebeu todos estes povos; Também partilham os
rituais de oferecimento (dabucuri) e cerimônias com os “cantos dos velhos”, cantos
que são semelhantes em toda a área. Por esse mito as hierarquias entre esses grupos
são explicados e estabelecidos, inclusive a relação desses com o homem branco. Esse
mito estabelece também o vínculo com os lugares onde cada um desses povos foi
gerado dentro da área. Os rituais são espaços de troca e de interação entre diferentes
grupos e são também um momento de reconexão da vida cotidiana com a
ancestralidade.
Estudar crianças indígenas nas cidades não teve como proposta separar os
campos do conhecimento: a antropologia urbana e a antropologia dos povos
indígenas. Ao contrário, buscou entender como estas duas área antropológicas estão
se comunicando e como as crianças e seus familiares estão fazendo conexões entre
diferentes universos culturais. Muitos grupos indígenas vivem nas cidades e nessa
caso essa divisão é artificial. Uma etnologia que descreve comunidades como blocos
isolados parecem desprezar os fluxos que existem entre diferentes mundos e seus
processos de transformação.
Trabalhos sobre indígenas na cidade (Lasmar, 2005; Andrello, 2006; Cesarino,
2008; Santos, 2008, Albuquerque, 2011) apontam a importância de entender os
processos de transformação e as permanências que envolvem esse vínculo com o
modo de vida dos brancos. Alguns desses trabalhos destacam as mudanças evidentes
nos modos de vida, mas vários deles apontam para uma reinvindicação da identidade
indígena com mais ênfase. A ida para as cidades tem sido motivada pelo acesso aos
sistemas de saúde e o escolar, e essas são estratégias para manter o próprio grupo. No
noroeste amazônico essa relação entre comunidades e vilas nas cidades vem sendo
feita há séculos. (Andrello, 2006; Wright,1981). Lá estão também seus parentes.
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Estudar crianças indígenas nas cidades é reconhecer que na cidade ou nas
pequenas comunidades, a antropologia se faz na dobra, no confronto, no encontro, no
desgaste, no embate – mas também reconhecer capacidades de adaptação, de
planejamento do grupo e de transformação, sem deixar de pertencer a um grupo
(Lasmar, 2008).
Durante o desenvolvimento do projeto Duplos e Múltiplos, nesses quase dois
anos de pesquisa e de contatos com a etnologia brasileira, busquei entender a
dinâmica da vida de crianças provenientes de agrupamentos indígenas do noroeste
amazônico3 ouvindo e vendo suas performances e narrativas, e através delas perceber
como essas revelam um imaginário sobre o mundo que lhes cerca. Observar, ouvir
crianças, conversar com elas sobre temas variados tem sido um exercício interessante
no fazer antropológico. Dois aspectos pareceram importantes de pesquisar:
1) tentar entender que lugar as crianças ocupam na sociedade em que vivem –
como a infância e a criança são vistas pelo seu grupo.
2) tentar entender como essas crianças se posicionam dentro da sociedade em
que vivem – como argumentam, narram e se constroem como sujeitos nessas
comunidades. Como essas performances e narrativas são usadas na produção do
sujeitos e da suas subjetividades, não somente revelando aspectos da vida das crianças
e de suas sociedade, mas constituindo essas dentro do grupo em que vivem foi um dos
eixos da pesquisa.
Durante a pesquisa, o encontro com uma diversidade de crianças e seus
familiares foi possível, já que a pesquisa se deu em várias comunidades. No primeiro
ano estive em contato com crianças de dois no município de São Gabriel da
Cachoeira, um deles no Bairro Tiago Montavo, e o outro na comunidade indígena de
Itacoatiara Mirim. No segundo ano a pesquisa se estendeu a Santa Isabel do Rio
Negro, município vizinho de São Gabriel da Cachoeira.
No bairro Tiago Montavo, São Gabriel da Cachoeira, estive com crianças e
com uma família Tariano/tucano provenientes da região Bacia do Rio Uaupés, da
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Mas não necessariamente vivendo aldeados – embora o que é uma aldeia é também algo bastante variável,
especialmente no Rio Negro.
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cidade de Iauareté. As crianças já tinham nascido na cidade de São Gabriel e eram
todas parentes próximas entre si – primos e irmãos da família Araújo. Já em
Itacoatiara Mirim estive com um número maior de crianças, mas o predominante do
grupo era Baniwa/Curipaco, de famílias provenientes do rio Aiari, da Bacia do Rio
Içana. Algumas das crianças tinham nascido nesse local, mas muitas delas tinham
migrado junto com a família. A comunidade tem sua própria escola, já que situa-se
numa região mais isolada da parte urbana do município. Trabalhei com as crianças da
escola, o que incluía uma diversidade de etnias – Curipaco, tucano, Baniwa, tapuia.
No segundo ano esse contato na pesquisa de campo se estendeu para um
agrupamento um pouco mais isolado, mas ainda em constante contato com a vida nas
pequena cidade de Santa Isabel do Rio Negro. Estive especialmente na comunidade
Tabocal de Uneiuxi, situada no Rio Uneiuxi, num grupo predominantemente Nadëb,
do tronco-linguístico Macu. Esse contato se deu por intermédio de uma pesquisa que
fui convidada a participar, que visava entender os modos de cuidados de crianças
pequenas nas comunidades de Santa Isabel do Rio Negro. Através desse projeto de
pesquisa “A saúde de crianças rurais no Estado de Amazonas”, descrito no item
“Atividades não Previstas” desse relatório, tive acesso também à saberes locais sobre
cuidados de crianças de Lábrea (Rio Purus) e Atalaia do Norte (Vale do Javari).
Embora a pesquisa não tenha sido feita no Vale do Javari como tinha sido proposto no
projeto de pesquisa devido as péssimas condições sanitárias do Vale para levar uma
criança pequena a campo (nesse caso minha filha, como tinha sido minha proposta),
coordenar a pesquisa sobre saúde e cuidados de crianças ribeirinhas do Estado do
Amazonas permitiu conhecer um pouco da realidade de crianças naquele Vale.
Descrevo a seguir com mais detalhes as Atividades realizadas e os Dados
obtidos na pesquisa.
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2. ATIVIDADES REALIZADAS E RESULTADOS DA PESQUISA
Para cumprir os objetivos do projeto, foram realizadas diversas ações e
atividades, que serão descritas a seguir, todas previstas conforme se apresentam
enumeradas e em negrito. Com essas atividades os resultados da pesquisa foram se
delineando, os quais vou relatar no decorrer desse relatório.
2.1. Realização de pesquisa teórica, sonoro-vídeo-bibliográfica da produção
recente em antropologia da arte e da etnologia indígena da região estudada; também
aquela que pensa o lugar da crianças em diferentes sociedades.
2.1.1 Introdução à pesquisa Teórica
A pesquisa teórica, sonoro-vídeo-bibliográfica da produção em etnologia
indígena levou em conta trabalhos antropológicos que enfocam a presença das
crianças em temas que envolvam arte, narrativas, produção da pessoa, performances,
ritos, produções fílmicas sobre a região amazônica, especialmente do noroeste.
Procurei vislumbrar como crianças indígenas vêm sendo abordadas em trabalhos
etnográficos sobre povos indígenas, ainda que essas não sejam o foco central dessas
produções; também pesquisar como o tema arte e artisticidade vem sendo
desenvolvido nos últimos anos naquela região e se há um investimento para entender
e registrar os modos de vida das crianças indígenas nas cidades. Uma crescente
produção vêm dando atenção ao ponto de vista das crianças, e a arte é dos caminhos
para essa abordagem juntamente com temas como educação, jogos, história, noção de
pessoa, religião, mitos e ritos, entre outros.
Grande parte da pesquisa teórica foi feita no Brasil, em bibliotecas como a da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Federal do
Amazonas (UFAM), mas também na biblioteca da UCLA, Los Angeles, Califórnia
(USA), onde a pesquisadora realizou parte do projeto, e na biblioteca da Universidade
do Novo México, NM, onde desde 2005 tenho estabelecido vínculos com
pesquisadores daquela instituição. O acesso online à artigos trabalhos acadêmicos e
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de produções audiovisuais possibilitou investigar o tema em revistas e bancos de
dados de filmes e de teses bibliotecas nacionais e internacionais. O acesso online de
acervos fílmicos, como o do Núcleo de Antropologia Visual da UFAM
(http://www.navi.ufam.edu.br/index.php/acervo) facilitaram a pesquisa de filmes
sobre a região do noroeste amazônico. O banco de teses do Centro de Estudos
Ameríndios (CESTA/Unicamp) que tem link na Biblioteca Digital da UNICAMP, do
Museu Nacional e outros mais, facilitaram a pesquisa de teses e dissertações mais
recentes.
Do mesmo modo contatos com pesquisadores que estudam etnologia na
Amazônia foi fundamental para ampliar a possibilidade dessa revisão. Além dessa
revisão que seguirá aqui, textos produzidos durante o desenvolvimento do projeto de
pesquisa e anexados nesse relatório, mostram esse contato com bibliografia
pesquisada, especialmente aquele que envolve a produção da pessoa e aquele que
envolve narrativas e performances. Os textos introdutórios das entrevistas, também
em anexo expõem outra parte da revisão no campo da etnomusicologia e da etnologia.
Citarei aqui mais que tudo alguns pontos considerados importantes para a
pesquisa etnográfica feita nesses dois anos. Embora tenha buscado também a
produção sonoro-áudio-bibliográfica sobre crianças e arte no Brasil, um olhar mais
minucioso foi dado à produção que ajuda a entender as dinâmicas dos povos onde a
pesquisa etnográfica foi realizada, ou seja, o noroeste amazônico.
2.1.2 O lugar e a presença da criança na literatura do Noroeste Amazônico
A presença das crianças na literatura referente ao noroeste brasileiro, embora
não diretamente enfocando o ponto de vista dessas como tem sugerido a antropologia
da criança, se apresenta especialmente em temas como guerra, nascimento, vida
cotidiana, redes de troca, rituais (especialmente os de nascimento, nominação e de
passagem ao mundo adulto), brincadeiras e educação. Elas, as crianças, estão
presentes nem sempre de modo direto, mas são citadas com certa frequência nos
trabalhos de alguns pesquisadores, como o de Robin Wright e de Flora Cabalzar.
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Já num dos primeiros registros sobre os grupos indígenas do noroeste, o livro
“Dois anos entre os indígenas”, que se refere à longa viagem pelo Rio Negro e seus
afluentes feita pelo etnologista e explorador alemão Theodor Koch-Grunberg,
aparecem relatos sobre as crianças e o modo como essas são vistas e cuidadas em
algumas das comunidades, entre as várias populações visitadas. Koch-Grunberg já
escreve sobre ritos e técnicas corporais que referem-se à produção da pessoa naquele
contexto, muito embora não use esse termo. Em vários pontos da sua obra podemos
ver fotos e ler a descrição que o viajante faz de situações que envolvem ritos,
evitações ou aparatos indígenas próprios para as crianças.
Normalmente carregadas junto às mães, as crianças pequenas são amamentadas
até aproximadamente 2 anos. O autor descreve objetos fabricados especialmente para
bebês, como um pequeno suporte feito de palha que oferece segurança aos que ainda
não caminham enquanto seus pais trabalham. Segundo Koch-Grunberg, o nascimento
de uma criança é tratado de modo especial, e envolve vários atores, especialmente os
pais e parentes de ambas as partes, mas também pajés e rezadores. Benzimentos,
prescrições e evitações mostram como a chegada de uma criança na vida de um casal
muda a condição do sujeito no grupo. Viajando por um dos afluentes do Rio Negro
ele cita:
Dois dos meus Umaua, casados mas não tendo filhos, não queriam comer do
veado assado, mostrando explicitamente sua forte repugnância, enquanto o
terceiro, que já tinha um filhinho, comia com bom apetite. (Koch-Grunberg,
2005: 312)
Koch-Grunberg descreve o parto, que nos mostra como era rodeado de
cuidados. As observações feitas em campo por Theodor Koch-Grunberg vão ser
depois consideradas por inúmeros pesquisas naquele contexto e vão servir de base
para uma antropologia da região.
O parto realiza-se na maloca ou numa barraca afastada, ou mesmo na
mata, com auxilio e presença de todas as mulheres casadas que tem o rosto
pintado solenemente de vermelho. Quem corta o cordão umbilical e a mãe do
esposo. Ela usa tiririca, um capim cortante. O cordão umbilical e as páreas
enterram-se logo, imediatamente. Se há gêmeos, o segundo-nato é morto e
enterrado ali mesmo, imediatamente depois do nascimento. Se os gêmeos são
de sexos diferentes, matam a menina. Poucas horas depois de um nascimento
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em Namocolfba, o pajé foi para perto da parturiente, que tinha sido isolada
numa repartição feita de lascas de paxiúba e folhas de bananeira, e levou
consigo todos os apetrechos da pajelança, chocalho, cristais de quartzo etc.,
colocados num balaio. Lá ele realizou as recitações de defesa, num monótono
murmúrio, estando presentes somente a parturiente, seu marido, e os pais
dele. A conclusão do resguardo, que sempre se realiza na repartição onde
reside o jovem casal, e que durara cinco dias, era acompanhada por usos
iguais aos do rio Tiquié. Antes de levarem o recém nascido para o primeiro
banho, esvaziaram a casa inteira. Também nós tínhamos que levar toda a
nossa bagagem para fora. Somente no dia seguinte foi que um parente
próximo - pelo costume, e o irmão do marido - trouxe peixinhos cozidos para
a refeição, e com isto estava terminado o tempo de jejum. Oito dias depois do
nascimento, os pais preparam uma festa de bebida, em honra do seu recémnascido, e nela se reúne toda a parentela. Nesta ocasião, o avô (o pai do pai)
dá o nome à criança. Os meninos quase sempre recebem dois nomes, e as
meninas somente um. (Koch-Grunberg, 2005: 312,313)
São esses rituais de nascimento e nominação que foram observados ainda por
outros pesquisadores do noroeste que servirão de base para uma reflexão sobre os
sistemas de organização, parentesco e sobre o xamanismo local. Os Tucanos (ver Jean
Jackson, Hugh-Jones) são os que mais foram estudados nesse sentido, mas também
existem muitas pesquisas sobre os Baniwa.
No artigo “Nomes Secretos e Riqueza Visível: nominação no noroeste
Amazônico,” Hugh-Jones (2002) fala que o processo de nominação acompanha os
processos de desenvolvimento, de modo que uma pessoa adquire nomes no início da
vida e deve despir-se deles no fim. O autor descreve o nascimento de um Makuna
(tucano) e sobre esses dados desenvolve inúmeras reflexões importantes.
Uma mulher, normalmente, dá à luz nas roças de mandioca em torno
da casa; ela é, em geral, assistida por sua sogra ou outra mulher
experiente que se torna a “madrinha” (masolio) da criança. Não há
homens presentes. O bebê é pintado com tinta preta (wee) e banhado
no rio; a mãe, então, retorna à casa onde o rosto e o corpo do recémnascido são ungidos com pintura vermelha (günanya). Antes de sua
entrada, os homens removem de dentro dela todos os bens
domésticos — itens rituais, armas, bancos, potes e outros aparatos de
cozinha etc. — e eles mesmos saem da casa. Um xamã faz então a
fumigação desta com cera de abelha incandescente, um ato que
marca a separação entre os vivos e o mundo dos espíritos (ver S.
Hugh-Jones 1979:186-189). Os pais e a criança ficam então de três a
dez dias reclusos juntos, em um compartimento no interior da casa.
Durante esse período, as atividades e a dieta de ambos ficam restritas
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para evitar males à criança; em particular, o pai deve abster-se do
trabalho. O fim da reclusão, com seus alimentos e outras restrições, é
marcado pelo banho no rio dos pais e da criança, tendo a água sido
antes tornada segura através da fumaça (de lenha, tabaco ou cera de
abelha) soprada por um xamã, ou um homem ou uma mulher mais
velhos. Antes do banho, a mãe e o bebê têm a pele pintada com uma
tintura preta (wee), todos os bens domésticos são mais uma vez
removidos, os moradores saem e a casa é novamente fumigada com
cera incandescente. Uma vez de volta a esta, o bebê é novamente
ungido com pintura vermelha. Agora é considerado completamente
humano e seus pais podem retomar gradualmente sua dieta e as
atividades normais.” (Hugh-Jones, 2002: 52)
Segundo o autor (Hugh-Jones, 2002), os grupos tucano mais centrais e ao
norte, como os Desana, Cubeo e Tucano, adiam a nominação até que os ossos da
criança estejam duros e ela comece a andar e falar, considerando que os nomes são
muito “pesados” e potentes para serem portados por bebês pequenos. Ainda segundo
o autor, os que vivem na região do Pirá-Paraná e nas redondezas conferem nomes às
suas crianças logo após o nascimento; neste caso, a justificativa é que a nominação
“transforma e modifica a alma” (üsü wasoase) da criança, dando-lhe força e vitalidade
e aumentando suas chances de sobrevivência. E o autor segue sua reflexão sobre o
tema da chegada de um novo membro e o significado que tem isso em termos da
relação com espíritos de ancestrais. Segundo suas observações:
Como a mãe dá à luz na roça, o xamã (kumu), idealmente o parente
agnático do pai da criança, submete-se a um processo paralelo, sentando-se
em um banco durante horas a fio enquanto sopra encantamentos sobre a
pintura vermelha e/ou a cera de abelha (basere, wanore). Em seus
pensamentos, ele viaja para a casa de origem do grupo ou casa de
transformação (masa yuhiri wii), onde ele localiza a criança em forma de
espírito. Consultando os ancestrais (hee büküra), ele também escolhe um
nome e um papel ritual para a criança e adivinha seu destino e os perigos que
lhe podem ocorrer na vida. Ele, então, acompanha e protege a criança-espírito
(üsü) e o nome, enquanto juntos eles se movem gradualmente do mundo
espiritual imaterial dos ancestrais para assumir forma material aqui e agora, o
bebê como carne e sangue, o nome como pintura vermelha (para meninas) ou
cera de abelha (para meninos) aplicadas em seu corpo. O nome é o hee üsü
ma, “o caminho da alma ou elo com os ancestrais” e enquanto o xamã sopra,
o seu sopro confere vida, um processo de transformação que começa durante
o trabalho de parto, mas que só é concluído no final do período de reclusão.
A partir deste breve relato, emerge um padrão de nascimento duplo, que é ao
mesmo tempo material e espiritual, que acontece tanto na roça como no rio,
que vem tanto da mãe quanto do xamã, e que é reduplicado nas sequências
paralelas do banho, que estruturam o período de reclusão. (Hugh-Jones,
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2002:53)
É notório no trabalho de Hugh-Jones que temáticas do corpo, pessoa e
substância compõem linhas fundamentais da análise do autor quando fala dos tucanos.
O corpo do bebê é formado por substâncias fornecidas por
ambos os pais: o sêmen paterno se torna osso e o sangue materno se
converte em carne e sangue. Como uma entidade viva, o bebê
também tem um coração, pulmões e respiração — todos eles üsü. A
linha de sêmen que passa do pai para a criança e a relativa
durabilidade dos ossos em relação à carne são importantes idiomas
de patrilinearidade tucano. Os instrumentos sagra- dos mostrados aos
rapazes na iniciação são, simultaneamente, os ancestrais do clã e os
ossos do único ancestral do grupo que adota os iniciandos como
filhos (ver S. Hugh-Jones 1977). Sob forma simbólica, esses ritos
também envolvem a transmissão de sêmen dos mais velhos para os
mais novos (ver S. Hugh-Jones 2001). A vitalidade da criança, üsü,
contrapõe-se ao seu nome e espírito — üsü aqui como “alma-nome”,
que está sob os cuidados do xamã e não provém do pai, mas da
coletividade de ancestrais e, em particular, de um “avô” recentemente
falecido. A contribuição de ossos do pai é relativamente durável, o
nome do ancestral indiscutivelmente também. Comparando os nomes
às flautas sagradas, aos ornamentos plumários e a outros bens, um
xamã makuna afirma: “eles são como o sol — não apodrecem” (ver,
também, C. Hugh-Jones 1979:134-135). É apenas no final da
reclusão, quando o corpo e o espírito da criança, alma-corpo e almanome, estão completamente unidos que ela é considerada
completamente humana, um momento marcado tanto pelo banho
conjunto dos pais com a criança, como pela queima de mais cera de
abelha e por uma nova remoção dos bens domésticos. (Hugh-Jones,
2002:53)
Tomando como referência a classificação de E. Viveiros de Castro dos
sistemas de nominação ameríndios enquanto continuum do pólo “exonímico” ao pólo
“endonímico”, Hugh-Jones (2002) faz uma comparação entre os sistemas de
nominação Tucano, Jê e Bororo (2002:46). O autor diz que o sistema tucano combina
endonímia e elementos de exonímia a partir de grupos patrilineares que dependem de
seus afins para a reprodução, o que o distingue desses outros sistemas (2002:63).
Hugh Jones cita uma seção de um mito que forma a base de grande
parte do xamanismo envolvendo o parto tucano e que segundo ele, esclarece o padrão
de duplo nascimento. Sugere que se a origem material dos bebês está nas mulheres,
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sua origem espiritual está no rio, assim como todos os Tucano afirmam uma origem
aquática única a partir dos ancestrais saídos da Cobra d’Água. Diz o mito
Depois que a mãe de Warimi foi morta pelas onças, ele escapa para o
rio, sob a forma de espírito. Ali ele brinca com um grupo de crianças que
tramam agarrá-lo. Enterram uma menina na margem arenosa do rio, urinam
sobre sua pélvis e se afastam. Enquanto Warimi brinca com as borboletas
atraídas pela urina, ela bate suas pernas e lhe dá à luz, encarnado em uma
criança (ver S. Hugh-Jones 1979:277).
Numa das passagens da tese de Geraldo Andrello ele diz que quando uma
pessoa morre, o corpo se desfaz na terra, volta para a terra, ye’pâ. E o autor segue
Mas a alma se decompõe, pois uma parte dela, que já nasceu junto
com o corpo se dirige para dia-wapîra wi’i, e outra parte, aquela associada
ao nome pessoal volta para a casa de transformação à qual o nome da
pessoa que morreu está associado. E assim, é como uma essência que
retorna à sua fonte de origem, podendo ser realocada em outras crianças
que venham a receber o mesmo nome. A reciclagem dos nomes é feita em
geral em gerações alternadas, de maneira que há uma tendência de que um
filho primogênito receba o nome do avô paterno. (Andrello,
2006:242,243)
Um texto fundamental para a temática da produção da pessoa entre os
ameríndios é o artigo de 1979, “A construção da pessoa nas sociedades indígenas” de
Anthony Seeger, Roberto da Matta e Eduardo Viveiros de Castro. O artigo já citado
no projeto de pesquisa, e valeu ser reconsiderado aqui pela sua importância. Esse foi
um dos tópicos tratados na entrevista que fiz com Anthony Seeger, um dos autores,
descrito nesse relatório.
Segundo o próprio autor, imbuídos de levar adiante um movimento que se fazia
na antropologia brasileira no final dos anos 70, o artigo tornou-se uma referência.
Espelhando-se em Mauss, Dumont e em etnografias dos povos da América do Sul,
inclusive várias do Noroeste, o artigo mostra como a noção da pessoa e de
corporalidade são bases para entender as dinâmicas sociais e a organização social dos
povos indígenas nas Terras Baixas da América do Sul.
O tema é um marco importante para a antropologia brasileira. Aponta para a
preocupação dos povos aqui residentes privilegiarem uma reflexão sobre a
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corporalidade na elaboração de suas cosmologias. “Este privilégio da corporalidade se
encontra dentro de uma preocupação mais ampla: a definição e produção da pessoa
pela sociedade” (1979:03).
Diversas etnografias da Amazônia mostram como as práticas corporais são
fundamentais e são diversas para construir uma pessoa – são os cuidados que se deve
ter para produzir e criar gente, na relação com os demais membros de uma sociedade.
Tais práticas corporais envolvem teorias de concepção, teoria de doenças, papel dos
fluidos corporais no simbolismo geral da sociedade, proibições alimentares,
ornamentação corporal, entre outras. Para Seeger, Da Matta e Viveiros de Castro,
(1979:03) a fabricação, decoração, transformação e destruição dos corpos são temas
em torno dos quais giram as mitologias, a vida cerimonial e a organização social.
“Uma fisiologia dos fluidos corporais – sangue, sêmen – e dos processos de
comunicação do corpo com o mundo (alimentação, sexualidade, fala e demais
sentidos) parece subjazer às variações consideráveis que existem entre as sociedades
sul-americanas, sob outros aspectos”. (1979:11). Os autores citam pesquisas
etnográficas sobre essa população
A produção física de indivíduos se insere num contexto voltado a
produção social de pessoas, isto é, membros de uma sociedade específica.
O corpo, tal como nós ocidentais o definimos, não é o único objeto (e
instrumento) de incidência da sociedade sobre os indivíduos: os
complexos de nominação, os grupos e identidades cerimoniais, as teorias
sobre a alma, associam-se na construção do ser humano tal como
entendido pelos diferentes grupos tribais. Ele, o corpo afirmado ou
negado, pintado e perfurado, resguardado ou devorado, tende sempre a
ocupar uma posição central na visão que as sociedades indígenas têm da
natureza do ser humano. (Seeger, Da Matta, Viveiros de Castro, 1979:03,
04).
Em grande parte das populações que tive acesso durante a pesquisa neste
projeto as crianças são tidas como um iniciante que precisa (assim como qualquer
membro do grupo que se inicia em algo) de um controle ainda maior e um
investimento constante para se situar e se educar para esse mundo prático e
sobrenatural (ver Pereira, 2013; Souza, Deslandes e Garnelo, 2011).
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“Fechar o
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corpo”, um termo que surgiu nas conversas com os familiares das crianças em
pesquisa de campo, envolve rituais diversos – é uma das principais práticas no
cuidado das crianças quando doentes ou para a prevenção da doença. Mostra como
essas devem ser, desde o nascimento, alvo de técnicas preventivas e de cura.
Viveiros de Castro (1986) lembra que entre os Araweté, quando uma criança
nasce ela está aberta às ações e substâncias paternas, especialmente as da mãe,
penetram em seu corpo. "Ainda bem pequenas (de "cabelo novo", como dizem), as
crianças são frequentemente submetidas a uma operação xamanística, a pedido dos
pais: o "fechamento do corpo" ou "tapagem". Seu objetivo é permitir que os pais
retomem paulatinamente suas atividades, e evitar que a criança tenha "dor na carne".
A simbólica e evidente: “a criança está aberta, as ações e substâncias paternas
penetram em seu corpo."(1986:447).
A dissertação "Criando Gente no Alto Rio Negro: um olhar Waikhana” de
Rosilene Fonseca Pereira (2013), recentemente defendida no PPGAS da UFAM, trata
de modo particular do tema entre seus familiares residentes no Rio Negro. A autora,
uma antropóloga descendente do grupo que aborda na sua dissertação, mostra como
entre seus familiares um bebê é cuidado da gestação ao nascimento. Diz a autora que
o nascimento "é entendido como a passagem de um mundo bom para um mundo sujo
e cheio de doenças. Por isso prepara-se o local com o bharceyé (conjunto de
benzimentos, narrativas sagradas) para protegê-las. Durante todo o ciclo da gestação
vão sendo compartilhados conhecimentos tanto do pai quanto da mãe e dos avós”.
(Pereira, 2013: 49).
O bhaeceyê é considerado uma ação de proteção extremamente importante,
que acompanha os waikhana desde a criação (narrativas de criação dos waikhana), o
nascimento, o processo de formação de nirhinonrriré (pessoa desde o nascimento até
14 anos) para adulto, alianças matrimoniais, deslocamento na mata, nos novos rios,
igarapés e para outros lugares distantes de nossos contextos, abertura de novos sítios,
construção de moradia, meios de transporte, confecção de utensílios domésticos
(...).(Pereira, 2013:49)
A ausência desses cuidados pode gerar a perda da criança, já que “Se não
houver bharceyé logo que o bebê nasce, os hiorkiê-marsawirirhê ficam bravos, fazem
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barulho, a terra treme, e os whaimarsãwirriré, os seres da água aparecem e querem
levar o bebê”. (Pereira, 2013:55).
O trabalho de Rosilene Fonseca é o único da região que toma o tema infância
como foco, muito embora ela não trabalhe diretamente com as crianças e seus pontos
de vista e sim com a memória dos seus pais e parentes sobre suas infâncias. No
entanto, o trabalho da autora mostra como o tema é rico e cheio de possibilidades de
descobertas. Trata-se de uma excelente etnografia sobre a vida das crianças na região
do Rio Negro.
Na dinâmica cotidiana dos grupos do Rio Negro há um indicação que toda
criança fala pelo menos duas línguas, a do pai e a da mãe. Segundo Flora Cabalzar,
falando dos tuyuca, a criança terá mais intimidade com a língua da mãe no início de
sua socialização, fato que garante, justamente, a persistência do multilinguíssimo
característico desta região.
Na socialização da criança, entretanto, deve-se levá-la a, progressivamente,
abandonar a língua da mãe pela do pai (Gómez-Imbert, 1996: 443), uma vez
que compreenda que há mais de uma subcomunidade linguística no seu
campo social. Mahecha (2004: 235-6) enfatiza a importância da competência
cultural tanto na língua do pai como na da mãe, mais valorizadas
respectivamente pelos parentes agnáticos e afins. O domínio da língua seria
um indicador concreto dos conhecimentos que a pessoa tem de sua Gente. O
emprego correto das diversas formas retóricas valorizadas em diversos
contextos seria a condição básica para poder afirmar que se tem um
pensamento completo. Também seria igualmente importante dominar um
vocabulário básico em outras línguas faladas nas regiões por onde a pessoa
circula (idem: 235-6).(Cabalzar, 2012: 14)
Estudando os hupd’äh da região do Rio Negro, Renato Athias diz os modos de
passagem do conhecimento entre esses não se difere dos demais grupos da região,
salvo detalhes específicos. O autor refere-se aos clãs (famílias) como fundamentais na
transmissão do conhecimento. A importância da família se mostra nos cuidados que
os pais e as mães têm com as crianças Hupd'äh. “Após o nascimento os recém
nascidos permanecem sempre com a mãe, e conforme vão crescendo começam a
aprender a falar a língua corrente, por volta dos quatro a cinco anos de idade.”(Athias,
2010:08). O autor diz ainda que é na vida prática, na atividade diária que os
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ensinamentos são passados, mas também pelos mitos narrados especialmente pela
noite na casa comunal, quando o silencio é maior. Mas ainda se ensina pelos rituais,
como o do dabucuri. “Entre os Hupd'äh, as festas, os rituais de iniciação são os
momentos centrais para falar nos saberes tradicionais, no entanto, todos os momentos
podem ser aproveitados para a transmissão, como no banhos matinais, caçadas,
pescarias, na selva e nos locais de trabalho”(Athias, 2010:05). A oralidade parece ser
uma maneira especial para repassar seus conhecimentos.
Entre os Hupd'äh são transmitidos e assimilados, os mitos, as histórias, as
tecnologias de caça, as fórmulas terapêuticas e de proteção - a hierarquia
dos clãs –, todos estes conhecimentos são repassados pela oralidade tanto
pelos pais aos filhos, avôs aos netos. As narrativas mitológicas e as
histórias, as fórmulas terapêuticas e de proteção e a hierarquia dos clãs
acontecem durante as festas de Dabucuri, ou também os conhecimentos
podem ser repassados durante a noite, segundo os Hupd'äh é o momento
em que todos estão acomodados, sem barulhos que lhes incomode e
principalmente pela mente estar descansada, facilitando a memorização
dos extensos conteúdos relativos à trajetória percorrida pelos seus
ancestrais.(Athias, 2010: 06).
O autor diz ainda que quando questionados sobre como adquiriram
conhecimento sobre suas atividades econômicas, os Hupd'äh, recorrem sempre as
narrativas da passagem de K'eg-teh neste mundo. “São episódios incríveis e de
transmissão de conteúdos metereológicos para realizar alguma iniciativa. E faz parte
daquele repertório das histórias dos Hipãh-teh, de um conjunto de exemplos que se
encaixam no saber-fazer hup. Por exemplo, sobre os locais de caça e as técnicas de
caça, a armação das armadilhas de caça, que conhecem, afirmam que foi K'eg-teh que
deixou para a humanidade (incluindo todos nós).” (Athias, 2010:08).
Segundo o autor as histórias míticas são fontes de conhecimentos dos
Hupd'äh, e as ações de personagens míticos são justificativas dos seus
comportamentos. “É nesse sentido que fazem questão de transmitir essas histórias aos
filhos, pela importância que tem no contexto vivido por eles. São essas histórias que
norteiam as suas atividades”. (Athias, 2010:08)
Os Hupd'äh, (assim como os demais povos da região do Rio Uaupés e Tiquié)
são compreendidos por outros povos da região através das histórias mitológicas que
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os enquadram dentro de uma categorização própria dessa região. “Nos mitos podem
se apreender as principais referências geográficas, históricas e cosmológica é daí que
surge todo o conjunto de conhecimento (hipãh) desse povo. (Athias, 2010:05)
Robin Wrigth fala algo similar sobre o mito entre os Baniwas. O mito Kunai,
segundo Wright (1981) um dos grandes ciclos na história do cosmos na concepção
Baniwa, conta a vida do filho de Iaperikuli e Amaru, a primeira mulher. Infinitamente
rico em simbolismo, de uma importância central na cultura Baniwa, explicando pelo
menos quatro grandes questões sobre a natureza do mundo: como a ordem e os modos
de vida dos antepassados são reproduzidos para todas as gerações futuras; como as
crianças devem ser instruídas sobre a natureza do mundo; como as doenças e o
infortúnio entraram no mundo; e qual a natureza da relação entre seres humanos,
espíritos e animais, que é a herança do mundo primordial.”(1981:75)
A tese de Flora Cabalzar “Até Manaus, até Bogotá. Os Tuyuka vestem seus
nomes como ornamentos: geração e transformação de conhecimentos a partir do alto
rio Tiquié (noroeste Amazônico)” descreve as práticas e modos de conhecimento
altorionegrinos, a partir do alto rio Tiquié (afluente do rio Uaupés na Terra Indígena
Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira, Amazonas), analisando
percepções acerca dos processos de geração e transformação dos saberes considerados
de maior valor (niromakañe). O objetivo d tese consiste em descrever como
conhecedores (masirã) são percebidos a partir de atualizações de aspectos da agnação
ou das vitalidades transmitidas por linhas paternas. Agnação que se realiza sob novas
formas nos movimentos de abertura ao exterior - nos abrandamentos nas práticas de
proteção, na nominação, na circulação de sabres e sua eficácia na composição de
almas, corpos, pensamentos. A autora está entrando no debate importante sobre a
organização social da região iniciada por Hugh-Jones em relação ao trabalho de
Viveiros de Castro, já citado acima. Não vou me ater com mais detalhes a esse debate
aqui por não ser o foco central dessa revisão. No entanto, afirmo ser um importante
embate da etnologia do noroeste.
Flora Cabalzar sugere que com a mudança do modo de vida dos tuyucas, eles
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tem ajustado seus rituais de nominação, para evitar determinados problemas que essa
mudança trouxe a eles.
Dentre tantas mudanças que os índios citam ao falar destes
seus saberes ou cultura (entre “saberes maiores que ainda temos e
aquilo que já perdemos”), uma segunda motivação deste capítulo é a
ideia corrente entre alguns conhecedores, de que os benzedores de
hoje, em comum acordo com as famílias, pais das crianças, têm
preferido não mais fazer o benzimento da alma-nome da criança
recém-nascida impregnando-a com intenção-pensamento de ser e
tornar-se grande conhecedor (como baya ou dançador, baseg¡ ou
benzedor, yuam¡ ou entoador cerimonial (também wederige hig¡);
báseg¡ ou protetor de doenças da Casa em Festa). Desse modo, dizem
evitar os grandes riscos que se corre quando se possui saberes
maiores sem, entretanto, dar seguimento ao conjunto de restrições
associadas à sua produção, manutenção e incrementação. Agências
nesse sentido, de reajustes na composição das almas, pensamentos,
nomes, corpos, são aqui entendidas como reajustes cosmopolíticos no
âmbito da hierarquia e fabricação do corpo (Cabalzar, 2012:91).
Outro autor que escreveu longamente sobre a história da região focando
especialmente os Baniwa do Rio Ayari e sua história de contato foi Robin Wright.
Escreveu Cosmos, self and history in Baniwa religion: for those unborn (University
of Texas Press, 1998); organizador, com Neil L. Whitehead, In darkness and secrecy.
The anthropology of assault sorcery in Amazonia (Duke University Press, 2004) e
organizador da obra: Transformando os deuses (vol. I, 1999 e vol. II, 2004, Editora
Unicamp). Talvez sua obra mais conhecida é História indígena e do indigenismo no
alto Rio Negro (Campinas: Mercado de Letras / S. Paulo: Instituto Socioambiental –
ISA, 2005, 319 pp), mas também publicou vários artigos sobre religiões e histórias
indígena.
Na obra “Aos que Vão Nascer: uma Etnografia Religiosa dos Índios Baniwa”
(2005) Wright diz que os pajés são hekwapinai, as “crianças do universo” que
“brincam” no universo. O autor diz ainda que são as crianças que começam mais cedo
na sua formação de pajés aquelas que adquirem mais conhecimento sobre a arte da
cura.
Poucos pajés atingem este nível; os que conseguem,
“frequentemente, começaram sua aprendizagem quando pequenos
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(crianças de cinco ou seis anos), porque demonstraram ter qualidades
que os predispunham a começar a aprender. Grande parte das suas
vidas, então, é dedicada a uma aprendizagem relativamente contínua
de tal modo que, quando chegam à faixa etária adulta, o seu
conhecimento ultrapassa muito o de seus companheiros que
começaram a sua instrução mais tarde.(Wright, 2005: 123)
Outro tema frequente onde as crianças aparecem na bibliografia do noroeste
amazônico é nas guerras. Robin Wright trata do rapto das crianças e diz que as
crianças e as mulheres eram pegas como troféus. Os macus eram grupos capturados
pelos Baniwas.
O ato de comer um inimigo morto era na verdade parte de
uma lógica mais inclusiva de “retribuição” ou “trocar” (koada)
relações sócio-políticas definidas entre grupos distantes e
potencialmente hostis. As práticas de rapto de crianças (mairowa),
pegar ossos como troféus, o contrato de chefes guerreiros de fazer
guerra com sibs não guerreiros, bem como a ingestão da carne de um
inimigo morto, estão relacionadas à noção de guerra como uma
forma de simbolicamente estruturar a hostilidade, a qual serve de
motor para a reprodução social. Os povos “Maku”, caçadores e
coletores, que viviam nas fronteiras do território Aruaque, estavam
justamente entre aqueles que os Baniwa e Curipaco aprisionaram,
mas que poderiam eventualmente ser incorporados na estrutura
hierárquica dos sibs dessas sociedades (isto é, eles não seriam
necessariamente comidos a não ser por motivos de
vingança).”(Wright, 1981: 52)
Conta Wright da natureza dos padrões da guerra Baniwa, onde a captura das
crianças seguia a lógica da predação familiarizante.
As narrativas recolhidas por Journet (1994) e por mim (1991)
indicam que a guerra (uwi) tinha dois objetivos principais: (1) vingarse da morte de um parente com a morte de um inimigo, de acordo
com uma lógica de troca ou 'retorno' (koada), em que o fim do
conflito se dava com o extermínio total, ou quase-total, do inimigo
(ipuunda) mesmo se corresse o risco de ser exterminado no processo;
e (2) substituir os mortos com a captura de crianças e/ou mulheres,
permitindo não só a recuperação das perdas mas também a futura
reprodução do grupo - de novo, mesmo que isso levasse à
perpetuação de relações hostis. A guerra Baniwa constitui então um
sistema de relações, e não um 'acidente' da sociedade, no qual os
inimigos representavam uma fonte de progênie. A busca de vingança,
ou 'retorno', era um meio de os grupos inimigos se trocarem,
substituírem seus mortos e se perpetuarem no tempo. Nesse sistema,
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a importância das relações de aliança por casamento era totalmente
secundária.(2005:181)
A criança aparece como protagonista em várias situações: elas caçam, pescam
e realizam tarefas domésticas por conta própria. Vivem dinâmicas cotidianas onde
estão entre pares, o que lhes reserva bastante espaço para o protagonismo. Quando
capturadas, ou ainda quando levadas por missionários para serem catequisadas, elas
procuravam fugir e voltar para seus grupos de origem, indo mato adentro. Mas foi nos
mitos, mas que tudo, que vi que crianças tem grande poder protagônico. Os ancestrais
criadores das gentes do Rio Negro são crianças que vieram com poderes especiais.
Entre os Baniwas, por exemplo:
Kuwai é um ser extraordinário cujo corpo consiste de todos os
elementos do mundo e cujos zumbidos e cantos produziram todas as
espécies animais. O seu nascimento coloca em movimento um
processo rápido de crescimento em que o mundo em miniatura e
caótico de Iaperikuli se abre até o tamanho do mundo na vida real
com as florestas e rios habitados por seres humanos e as várias
espécies de animais da floresta, pássaros e peixes. Kuwai ensina à
humanidade os primeiros ritos de iniciação; mas, no fim desses
rituais, Iaperikuli mata Kuwai, empurrando-o dentro de um enorme
fogaréu, um "inferno" que queima a terra, e o mundo se reduz de
novo ao seu tamanho em miniatura. Das cinzas de Kuwai nascem os
materiais vegetais com os quais Iaperikuli fez as primeiras flautas e
trombetas sagradas que seriam tocadas nos ritos de iniciação e
cerimônias sagradas de hoje. Amaru e as mulheres, então, roubaram
estes instrumentos do Iaperikuli, provocando uma longa caçada em
que o mundo se abre pela segunda vez enquanto as mulheres, fugindo
do Iaperikuli, tocam os instrumentos pelo mundo inteiro.
Eventualmente, os homens recuperam os instrumentos e com eles,
Iaperikuli
procura
os
primeiros
antepassados
da
humanidade.(Wright,2005:75)
Falando sobre a mitagem4 Baniwa, Robin Wright (sd:10) diz que “a base dos
cânticos kalidzamai cantados nos ritos de iniciação masculinos e femininos
(denominados Kuwaipan, Casa de Kuwai) é o mito de Kuwai, o filho de Nhiaperikuli
4
Segundo o autor o termo “mitagem” (“mythscape”) “refere-se à paisagem (“landscape”) regional com uma
coleção de sítios/lugares que estão todos relacionados com as tradições de criação. Uma noção similar a esta
“mitagem” seria o “Tempo de Sonho” (“Dreamtime”) dos aborígenes australianos, já que, por exemplo, os baniwa
mantêm uma relação viva com seus sítios sagrados pedindo a proteção de suas deidades que, segundo acreditam,
habitam todos estes lugares”.(Wright, sd:01).
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e Amaru (para versões completas, ver Wright, 2011; para uma versão Dzauinai, ver
Hill, 2009)”. Segundo o autor “Como um todo, os cânticos consistem de dezesseis
conjuntos, cantados com interlúdios em que os cantadores sopram fumaça de tabaco
em vasilhas de pimenta.
Em essência, os cânticos recontam uma série de cinco viagens feitas pelos
homens para recuperar as flautas e instrumentos sagrados de Kuwai, os quais as
mulheres haviam roubado de Nhiaperikuli. As mulheres, Amarunai (ou
Inamanai), levam os instrumentos mundo afora, parando em inúmeros lugares
onde tocam a música de Kuwai. Quando fizeram isso, o mundo “se abriu”
ganhando seu tamanho atual, com corredeiras, montes, rios, cidades e fins de
mundo (ou “pontas do céu”). Nhiaperikuli e os homens perseguem
(“napiinetaka”) as mulheres e Kuwai, seguindo-os até o fim do mundo, onde
abandonam as mulheres e a música de Kuwai e trazem de volta (“nadietawa”) os
cânticos para o centro do mundo no Hipana, um córrego no Alto Aiary, lugar da
criação de Kuwai e sítio da emergência dos ancestrais da humanidade. Como um
ancião afirma de forma concisa: “Kuwai deu início ao mundo, isto é, o mundo de
hoje e todos os lugares nele começaram com as viagens e a música de Kuwai”.
(Wright, sd: 11)
O mito se assemelha ao do Jurupari, presente em diversas etnias do noroeste
amazônico, e revela o poder dessa criança na ordem do mundo dos homens e sua
relação com a flauta e seu canto. Altamente abordados na literatura, Jurupari, por
exemplo, torna-se um líder indígena ainda criança. Jurupari, através do sopro e da
música, organiza e ordena os povos da região – ele é pessoa e flauta. Por outro lado,
no ritual de iniciação dos meninos (não somente deles mas também de adultos não
iniciados) onde se usam as flautas sagradas, são as crianças (meninos e meninas) e as
mulheres que são proibidas de verem as flautas. Se por um lado há interdição visual
das flautas, devem ouvir essas sendo tocadas, participando do ritual. São somente
neófitos do sexo masculino os iniciados no ritual onde essas flautas são tocadas, e ver
pela primeira vez a flauta no ritual de iniciação implica num castigo corporal aos
meninos5. A passagem por esse ritual é o modo como se faz um menino tornar-se
adulto.
Outro mito interessante que cita as crianças e o seu protagonismo foi coletado
por Acácio Piedade (1998). Trata-se do “Wãti - sobre como os antigos mataram os
espíritos do mato”
5
Em relação às mulheres a literatura aponta o estupro coletivo e/ou morte social como castigo.
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Antigamente havia espíritos do mato que faziam muito mal, os Wãti.
Eles roubavam crianças e mulheres das malocas. Faziam isto quando os
homens e mulheres saiam para trabalhar, e na maloca ficavam só velhos e
crianças. Ou então à noite, quando eles entravam sorrateiramente e levavam
bebês, crianças ou mulheres, colocando-os num aturá. Todo mundo sabia que
eles existiam, e que faziam muito mal. Às vezes acontecia, quando uma
criança ia brincar sozinha no mato, Wãti pegava e levava. Certo dia, homens
e mulheres de uma maloca saíram para trabalhar, e ficaram na maloca apenas
uma velha e as crianças. Foram todos tomar banho no porto e já voltaram
para a maloca. A velha disse: “tomem cuidado, não saiam, fechem bem as
portas”. Mas já havia um Wãti lá dentro. “Já estou aqui”, disse, e cantou e
dançou, e avançou na velha. As crianças, muito assustadas, se esconderam
num girau bem no alto da maloca. De lá elas viram o espírito do mato
fazendo muito mal à velha, machucando-a muito. Por fim, a velha morreu. O
espírito do mato pegou um ralador de mandioca e dançou com ele. Os
meninos maiores, mais valentes, desceram e jogaram maniqüera fervendo no
Wãti. Mas o espírito sorriu e disse: “hum... assim está quentinho, gostoso,
joguem mais!” As crianças correram para o girau, apavoradas. O Wãti pegou
a velha morta e a colocou no aturá para levar embora. Pôs o aturá nas costas,
virou-se e foi andando. Mas os meninos corajosos, puxavam o aturá com um
pau com gancho na ponta. O Wãti estranhou que não conseguia sair do lugar,
então baixou o aturá e virou-se. Nada. Pôs o aturá de novo nas costas e foi
andando. Mas novamente não conseguia andar, pois os meninos puxavam o
aturá com o pau. Wãti baixou o aturá e virou-se e olhou muito bravo. Nada.
Pela terceira vez, colocou o aturá nas costas e foi andando. Desta vez ele foi
embora, porque os meninos deixaram ele ir. Tiveram a ideia de segui-lo e
descobrir o esconderijo dos Wãti. (Piedade, 1997: 181)
Na questão da arte, as narrativas de mitos e as conexões com o uso de flautas
sagradas despertaram especial atenção tanto a literatura aponta, quanto no trabalho de
campo. Um complexo ritual envolvendo o uso de flautas sagradas conectado a
mitologia -- que incluem a iniciação, os ancestrais, a guerra e os ciclos sazonais é
característico da região -- envolvem diversas etnias. Uma vasta produção acadêmica
tem sido feita sobre a região, e atualmente os indígenas tem registrado sua cultura e
pensamentos sobre ela na forma escrita.
Os trabalhos de Acácio Tadeu Piedade (1997), Jonathan Hill (vários), Robin
Wright e Deise Lucy Montardo (2010, 2012) tratam a questão da música entre as
etnias da região do noroeste, abordando o tema das flautas sagradas. Burst of Breath:
Indigenous Ritual Wind Instruments in Lowland South America, editado por Jonathan
Hill e Jean-Pierre Chaumeil e publicado recentemente (2011), reúne pesquisas
importantes sobre o tema. Os artigos dos organizadores, de Acácio Tadeu Piedade,
Rafael José de Menezes Bastos, Maria Ignez Mello, Robin Wright, entre outros,
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discutem aspectos do uso das flautas sagradas nas Terras Baixas das Américas do Sul
(TBAS). Na maioria dos trabalhos que abordam as flautas sagradas foram estudados
especialmente sob o ponto de vista dos que as executam, os homens.
O trabalho de Maria Ignez Mello (1999, 2005) aborda o modo como as
mulheres Waujá se relacionam com essas flautas. A autora busca compreender a
ligação entre a música vocal do iamurikuma (ritual feminino) e a instrumental das
flautas kawoká (ritual masculino), já que as mulheres afirmavam que “música de
iamurikuma é música de flauta”. À partir dessa investigação, defende que a questão
colocada por esses rituais musicais não diz respeito nem à dominação masculina, nem
à inversão de papéis sexuais, e nem à hierarquia sexual. Os rituais e a vida cotidiana
são esferas inseparáveis para os Waujá; há um entrelaçamento dos poderes criativos
masculinos e femininos, não havendo antagonismo ou dominação. Essa questão é
muito pouco esclarecida em muitos contextos – inclusive no noroeste. O debate de
gênero se aproxima daquele campo com o trabalho de Cristiane Lasmar (2005),
estudando as relações de casamento na cidade de São Gabriel do Rio Negro. Deise
Lucy Montardo recentemente discutiu o processo de retorno dos Baniwa de
Itacoatiara Mirim, São Gabriel da Cachoeira, (o mesmo grupo que pesquisei) a
Camarão, local de onde migraram há mais de 30 anos com o objetivo de desenterrar
flautas e trompetes kowai. A autora também destaca que a proibição da mulheres
verem as flautas não impede, necessariamente, que essas tenham acesso à parte
importante do universo das flautas sagradas. Poderíamos dizer o mesmo para as
crianças, e parece interessante conhecer o ponto de vista dessas sobre essa temática.
Um aspectos que pareceu interessante nos trabalhos da região amazônica é como os
rituais são centrais. Nesse sentido a musica, especialmente aquela que produzida pelos
aerofones, constituem um eixo importante para esses povos, e está intrinsicamente
conectada nos mitos e na vida ritual da região. Nesse sentido podemos dizer, como
sugere Rafael de Menezes Bastos, que “é possível falar de uma generalidade do papel
da música na cadeia intersemiótica do ritual nas terras baixas da América do Sul
apontando para um lugar semântico que encompassa os nexos de integração,
intermediação, desencadeamento e similares, sintetizáveis pelo nexo geral de
tradução”(Bastos, 2007:296). Bastos aponta ainda outra característica da musica das
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terras baixas da América do Sul, que é a sequencialidade, nesse caso citando vários
trabalhos, inclusive o de Acácio Piedade sobre um grupo no noroeste amazônico.
“Tudo leva a crer, então, que peças isoladas de música não parecem
fazer muito sentido na região. Essa seqüencialidade no plano
intercancional — cujo tipo de organização evoca a da suíte ocidental
(Fuller 2007) — foi primeiramente descrita por mim, de forma
sistemática, entre os Tupi-gua- rani kamayurá do Alto Xingu (Menezes
Bastos 1990, 1994, 1996a, 2004a, 2004b; Menezes Bastos e Piedade
1999). Posteriormente, ela foi estudada entre os Aruaque kulina do
Acre (Silva 1997), os Tucano yepamasa (Piedade 1997), os Aruaque
xinguano wauja (Piedade 2004; Mello 1999, 2005), os Tupiguaraniguaranisdosuledocentro-oestebrasileiros (Montardo2002), os
Caribe arara do Pará (Coelho 2003) e — sim, exatamente, sim — entre
os “índios misturados” Kalankó de Alagoas (Herbetta 2006)”(Bastos,
2007:298).
As mudanças no modo de vida dos moradores do noroeste amazônico,
considerando seus processos de transformação dos modos de vida nos centros mais
urbanizados, são tratados em dois trabalhos importantes sobre a presença indígena nas
cidades. Cidade do Índio (2006), de Geraldo Andrello, trata das transformações e
cotidianos de Iaueretê, uma vila do município de SGC. De volta ao Lago do Leite
(2005), de Cristiane Lasmar, estuda as relações de gênero na cidade de São Gabriel da
Cachoeira e aponta para as continuidades e descontinuidades da vida dos índios
morando na cidade. Ambos livro serviram de referência para a pesquisa etnográfica
feita entre crianças em São Gabriel da Cachoeira. A ideia de transformação é
fundamental na cosmologia e nos mitos dos povos do noroeste e as mudanças nos
modos de vida nas cidades seguem essa mesma lógica apresentada nos mitos.
O trabalho de Rosilene Waikhon (2013), estudante do PPGAS da Universidade
Federal do Amazonas e também indígena do Povo Pira-Tapuia da região, tomou como
foco central da pesquisa esse grupo, fazendo uma reflexão sobre a experiência da
infância e os significados dela para seus pais e parentes mais velhos.
A autora entrevista os próprios pais, observando mudanças e permanências
apontadas por esses nas suas infâncias e pretende ainda fazer um comparativo com
narrativas e modo de viver das crianças da sua etnia. O tema infância aparece também
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de modo bastante complexo no debate sobre infanticídio. Os trabalhos antropológicos
tratam de não criminalizar nem de afirmar existir na atualidade essa prática entre os
grupos da região na atualidade, evitando o preconceito com que o tema vem sendo
tratado pela mídia e por setores religiosos atuantes.
2.1.3. Pesquisa Audio-videográfica
A temática dos mitos e a busca de práticas que envolvem, entre outras coisas, a
presença dos rituais de iniciação no noroeste amazônico foi abordado em dois
trabalhos videográficos. Esses mostram duas comunidades indígenas, uma em São
Gabriel da Cachoeira, da etnia Baniwa e a outra em Iauaretê, da etnia Tariana, tem
reagido ao processo histórico de evangelização/catequização e proibição de rituais
tradicionais. Os filmes, descritos à seguir, registram a busca de bens materiais e
simbólicos perdidos e ou roubados pela sistemática catequização que sofreram
aqueles povos.
Iauaretê, Cachoeira das onças6 trata do processo de reconhecimento da região
de Iauaretê como “bem cultural de caráter imaterial”. Os índios Tariano, após décadas
de catequese missionária, mostram seus conhecimentos, abordando o relato mítico
ilustrado nas pedras de uma cachoeira, a reconstrução de uma grande maloca, e a
tentativa de reaver objetos há anos guardados em um museu de Manaus. O filme, feito
em parceria com Vídeo nas Aldeias e com o IPHAN7, reúne narrativas de lideranças
indígenas do alto Rio Negro sobre os significados e ensinamentos contidos na região,
revelando seu esforço e luta para fortalecer e legitimar as tradições indígenas. Esse
movimento do povo tariana de Iuauretê foi abordado por diversas vezes nas narrativas
de uma das família com quem estive em contato na pesquisa de campo.
Descobrindo a importância de sua própria cultura dentro do mundo
6
O documentário Iauaretê, Cachoeira das Onças, dirigido por Vincent Carelli, foi feito em parceira com o
IPHAN, orgão responsável por registrar o local como patrimônio cultural imaterial.
7
Publicação de livros de autoria indígena e registro de patrimônio cultural imaterial (Cachoeira de Iauaretê, no
livro dos lugares sagrados do IPHAN / MinC e Sistema Agrícola do Rio Negro, no livro dos saberes e fazeres do
IPHAN / MinC).
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contemporâneo, os próprios indígenas estão gravando suas músicas e realizando seus
filmes. O filme Podaali foi produzido por lideranças da etnia Baniwa da comunidade
de Itacoatiara Mirim, São Gabriel da Cachoeira, migrantes há aproximadamente 30
anos do Rio Içana/Ayari. O filme foi apoiado pelo ISA (Instituto Sócio Ambiental –
Projeto Rio Negro) e pela Universidade Federal do Amazonas. O filme trata do
esforço feito pela comunidade em revitalizar práticas culturais Baniwa para viver
como “índio” em maloca e fazendo rituais tradicionais. O documentário mostra a
construção da maloca tradicional em São Gabriel da Cachoeira e a expedição a
Camarão, comunidade de origem dos Baniwa, onde ouvem as flautas sagradas depois
de trinta anos. O filme mostra os projetos de revitalização cultural, e um dos objetivos
que ainda mantém a comunidade é o desenterro das flautas e trompetes kowai,
trazendo essas para a cidade. Segundo a pesquisadora Deise Lucy Montardo, estes
instrumentos são os canais de trocas nos planos vertical entre estes e os ancestrais e
no horizontal, entre estes e seus os parentes, e o mundo dos brancos. O objetivo desse
filme se assemelha ao Ritual das flautas, de Delvair Montagner e Regina Müller
(34min./1996 - Brasil/DF), que registra os Asurini, do rio Xingu, Pará, que quase
dizimados
nos
anos
70
do
século
passado,
aos
poucos
se
recuperam
demograficamente e mantêm sua vida ritual e artística, manifestando, assim, o desejo
de se afirmar como grupo étnico.
O filme Saltos amazônicos, feito por Liana Amin e Igor Amin (7min. 30seg).
Brasil/MG 2011), mostra como as crianças se divertem dando saltos de um barco à
margem do rio Negro, uma brincadeira lúdica da Amazônia. Aproveita da brincadeira
das crianças para realizar um filme poético, cuja mensagem é essa: a imagem de
crianças divertindo-se no Rio Negro.
O filme feito por Renato Athias Fragmentos de um diário de campo
(07min/2005 - Brasil/PE) mostra Messias, um velho homem Hupd’äh do Igarapé
Pombo (do rio Umari), na região do médio Rio Tiquié, fazendo pu´úk, um pó
derivado da planta coca, comum ao uso daquele povo. Embora o roteiro do filme se
centre nesse feitio, inicia falando que o velho Messias dedica seus cuidadso às
crianças enquanto os demais membros da aldeia vão em busca de alimentos na
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floresta. Os Hupd’äh fazem parte da família linguística macu no Brasil, juntamente
com outros povos como os dâw, macu-hupd’äh e macu-iuhupdes.
Na literatura
etnográfica, linguística e pelos regionais, são chamados por vários nomes como macu,
Nadëb, nadöbö, anodöub, makunadöbö, guariba, guariua-tapuio, cabori, cabari,
xiriwai, xuriwai, kuyawi, camã e nadëp. Assim como grande parte dos falantes do
tronco Macu são conhecidos por um certo isolamento (Possobon, 1993; SilverwoodCope, 1990) e sua história é marcada por relações complexas com os demais povos do
Rio Negro,
considerados como escravos em relatos etnográficos. Caçadores
exemplares, estabeleceram tradicionalmente relações de trabalho especialmente com
os Baniwa e os tucanos, tratando de trabalhar somente quando precisavam.
Silverwood-Cope (1972), aponta os Maku Orientais como “índios da floresta” e são
classificados como coletores-caçadores.
O centésimo Dâw (doc., 15,01 min, Brasil/Goiás, 2011) dirigido por Orlando
Lemos também trata do povo de um povo Maku. Com roteiro premiado pelo Edital de
Curtas da AGEPEL, faz uma importante recuperação da música, dos contos e da
história desse povo da floresta, os Dâw, que em contato com o mundo branco e com o
sedentarismo se vê quase em extinção. Estudado preferencialmente por missionários,
os Dâw são pouco conhecidos na literatura. Os estudos de Peter SILVERWOOD-COPE
(1980,
1990), de Jorge Pozzobon (1993, 1999), a tese de Renato Athias (1995) e o que
Theodor Koch-Grunberg descreveu na sua passagem pela região entre 1903-1905,
constituem a produção mais consistente sobre esse grupo denominado macu no
noroeste amazônico. O grupo autodenominado Dâw se diz descendente dos Nadëb.
O filme inicia com uma senhora, Dona Maria Dâw, dizendo que já pode cantar.
Depois vem a voz de um homem que conta a história da dramática redução dos Dâw.
Conta esse senhor que os Curupiras comeram os Dâw no Igarapé Weni. Uma canoa
cheia de Dâw fora atacada e somente dois voltaram. Segundo esse senhor os Dâw
eram comidos por onças e por Curupiras. Aparece na tela uma mensagem que conta
um pouco da história do povo e dá o título ao filme. “Em 1984 o pastor Valteir
Martins reúne 64 Dâw no sitio Waruá, situado na margem direita do Rio Negro. 20
anos depois os Dâw aguardam a chegada do 100o um habitante simbólico da
recuperação do grupo”. Nasce na roça a menina Sandra, que ao nascer cai dos braços
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da mãe e sofre traumatismo craniano e fica tetraplégica.
Em meio a imagens da comunidade, a voz de Dona Maria ecoa cantando um
canto que fala da preguiça dos homens – canta ela que esses não caçam mais, não
pescam, e vivem comendo frango, alimento dos brancos. A música revela a tensão de
gênero. O filme mostra na sequência a volta de alguns Dâw a sua terra, próxima ao
Rio Marié. Na terra dos seus avós, narram a trajetória do seu povo. Agora é a voz de
Dona Deulinda quem canta. Um homem conta que os Dâw vieram lá do Wiç.
“Devoradores dos Dâw eram perigosos, brigavam muito. Os Dâw pensavam que eram
Ianomâmis, mas eu acho que eram Nadëb”. Embora não trate das crianças e do modo
como são cuidadas, o que é visível no filme é a preocupação com a extinção daquele
grupo, o que implica nos cuidados para nascerem novos membros. Hoje os Dâw são
mais de 120 e na visita que fiz ao grupo, as crianças são alegres e muito interessadas
em filmes. Assistimos com elas vários filmes e tivemos momentos bem interessantes
de contação de histórias que elas iniciaram. Essas não farão parte da descrição da
pesquisa que fiz na área por decisão tomada entre nós e as lideranças do povoado.
O CD Cantos das Mulheres Hupd´äh e Dâw apresenta músicas cantadas pelas
mulheres do tronco linguístico macu. O CD foi gravado pela pesquisadora Geórgia
Silva, que trabalhou com os Hupd´äh e seus sistemas de saúde. Silva (2011) escreve
um relatório sobre o seu trabalho “Gêneros musicais entre as mulheres indígenas da
família linguística Maku, Alto Rio Negro, Amazonas, Brasil. Embora tive acesso a
uma das músicas pelas mãos da própria pesquisadora, este CD foi distribuído
unicamente entre os grupos indígenas8.
Vale ainda destacar que um dos primeiros filmes produzidos no Amazonas, foi
feita em 1921 por Silvino Santos, um fotógrafo que acompanhou a expedição de
Theodor Koch-Grunberg. Trata-se do filme No país das Amazonas, o primeiro
documentário de longa-metragem sobre a região, que leva à Europa o retrato da
grande floresta Amazônia. Mostra os trabalhos e atividades desenvolvidas na selva e
no rio, e é considerado um épico ou filme de aventuras de uma rara beleza e interesse
histórico e documental. O filme serviu para representar os estados do Norte do Brasil
8
Ver SILVA, 2011.
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na exposição que teve lugar no Rio de Janeiro, comemorativa do Centenário da
Independência, tendo posteriormente sido exibido em Paris Cinema Pathé do
Boulevard des Italiens, em Paris e noutras capitais europeias. 1921 filmou No Paiz
das Amazonas é considerado um filme de rara beleza fotográfica. O lançamento
comercial no Rio de Janeiro foi em 2 de abril de 1923 no cinema Palais. O cineasta
havia feito dois outros filmes que sumiram. Em 1924/25 realizou No Rasto do EIDorado, outro documentário cinematográfica mas agora da Expedição Alexander
Hamilton Rice, explorador, geógrafo norte americano, graduado pela Harvard
University. O filme apresenta aspectos do Rio Negro e do Rio Branco, as grandes
cachoeiras do Rio Branco, tribos de índios e mostra ainda diversos costumes das
tribos Macus - Chirianes - Maiongons - e Xirixanes e dos índios brancos que habitam
as serras do Parimá" (Folha do Norte, Belém do Pará, 12.09.1926 in Cinemateca
Brasileira – ficha catalográfica do filme).
Nesta mesma linha de documentações antiga, podemos citar a importante obra
do Theodor Koch-Grunberg (1872-1924) gravados entre 1911-1913. O CD
Walzenaufnahmen aus Brasilien 1911-1913 (Gravações em cilindros do Brasil) torna
acessível, pela primeira vez de forma mais abrangente, as gravações feitas por KochGrunberg durante sua terceira viagem à América do Sul, empreendida de 1911 a
1913, indo do norte do Brasil ao sul da Venezuela. Trata-se de um importante projeto
do Arquivo Fonográfico de Berlim e esse é o terceiro CD da série “Documentos
sonoros históricos”. Nessa viagem, Koch-Grunberg utilizou o então recém-lançado
fonógrafo de Edison, para registrar em cilindro músicas de povos indígenas por ele
visitados, e gravou, em 1911, 49 cilindros com músicas cantadas e tocadas por
membros das etnias Makuxi, Taurepang e Yekuana-Maiongong (da família linguística
Karib) e Wapixana (família Aruak). Outros 36 cilindros foram gravados em 1913,
contendo cantos e peças de música com flauta dos Baniwa (família Aruak) e dos
Tucano e Desana (família Tucano), além de cantos venezuelanos. (2009). O autor, na
sua pioneira gravação de peças ameríndias divide as mesmas pelas categorias: cantos
de dança, cantos de trabalho, cantos de cura e peças instrumentais. Sabe-se que KochGrunberg usou em suas expedições tecnologias inovadoras para a época,
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fotografando, gravando sons e filmando, o que constitui um importante registro sobre
a região9.
Inspirados no trabalho que Theodor Koch-Grunberg (1872-1924) realizou nas
comunidades do Alto Rio Negro e na região do Monte Roraima o projeto A música
das Cachoeiras, coordenado por Agenor Vasconcelos (Cauxi Produtora Cultural) faz
um registro etnográfico audiovisual onde a música é central nas gravações. São quase
quatro horas de 80 faixas musicais de grupos indígenas das etnias Baniwa, Wapixana,
Makuxi e Taurepang, O nome é uma referência às correntezas da bacia do Alto rio
Negro. A diversidade musical das comunidades indígenas do norte do Amazonas e do
Estado de Roraima foi reunida nessa coletânea. Um importante filme feito sobre a
região é WAR OF THE GODS (66 minutes Colour), dirigido por Brian Moser com o
auxilio direto dos antropólogos Peter Silverwood-Cope, Stephen and Christine HughJones. O filme retrata a guerra entre Protestantes e Católicos para impor sua religião
aos índios tradicionais Maku and Barasana, povos residentes da Região do Valpés, na
Floresta da Colômbia. O filme contem uma série de informações e detalhes sobre a
cosmologia, a vida social e a divisão sexual do trabalho entre os dos índios da
Amazônia. Mostra os dois grupos que vivem nas florestas: 1) os Maku, que vivem
especialmente da caça e coleta, e os sedentários Barasana, que vivem especialmente
da agricultura. O filme contrasta esses dois modos de vida e dois sistemas de crença,
apresentados pelos antropólogos que viveram e trabalharam com os dois grupos com
o de missionários e católicos da região. Está incluído ainda no filme em voz over a
fala de um xamã Maku, e cenas da maloca Barasana, da casa comunal, o centro da
vida social e doméstica do grupo.
No filme Filhos da Terra, da Série “Índios no Brasil, Vídeo nas Aldeias, 2000
/ 18min, Fernando Baniwa, uma liderança da região do Rio Negro mostra como os
índios se relacionam com os seus territórios ancestrais. Tanto ele quanto os demais
entrevistados do filme mostram que o uso sustentável dos recursos da natureza é um
9
A análise das músicas e instrumentos musicais coletadas por Theodor Koch-Grunberg foram feitas
pelo musicólogo Erich Moritz von Hornbostel (1977-1935). Esse publicou publicado estudos
detalhados do material recolhido no Rio Orinoco no volume 3 de Vom Roroima zum Orinoco.
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conceito milenar das populações indígenas. Agora, ingressando na economia de
mercado, muitos povos desenvolvem experiências de desenvolvimento sustentável
com a exploração não predatória dos recursos da floresta, inspirada na filosofia dos
seus antepassados. A cestaria Baniwa é um importante saber desse grupo e suas
grafias
tem
significados
muito
importantes
para
o
grupo.
A série de dez programas educativos “Índios no Brasil” produzida pelo Vídeo nas
Aldeias, propôs renovar o curriculum escolar sobre a temática. É apresentada pelo
líder indígena Ailton Krenak, e mostra como vivem e o que pensam os índios de nove
povos do território nacional.
Finalmente, a produção sonoro-vídeo-bibliográfica sobre o noroeste amazônico,
especialmente a bibliográfica é bastante vasta, e oferece um material riquíssimo para
a etnologia brasileira. Nessa revisão, fiz apenas uma passagem rápida pelos trabalhos,
mas a oportunidade de acessar parte desse material já produziu em mim ainda mais
curiosidade e desejo de prosseguir pesquisando a área. Abaixo vou descrever o
material que pude produzir enquanto em contato com povos daquela região.
2.2. Realização de pesquisa etnográfica e videográfico de performances de
ameríndios
Como foi apontado no item anterior, a pesquisa etnográfica e videográfica foi
realizada em São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro– Amazonas, e de
modo específico se deu em três lócus distintos, com diferentes grupos étnicos. Foram
eles:
a) Com crianças da comunidade indígena Itacoatiara-Mirim, localizada a 30 minutos
do centrinho urbano do município de São Gabriel da Cachoeira (22 km desde a sede
do Município) onde vivem 22 famílias indígenas, predominantemente da etnia
Baniwa. Embora a maioria das crianças são da etnia Baniwa, do tronco linguístico
Aruak e falantes da língua Baniwa do Rio Içana, residem ainda naquela comunidade
crianças da etnia tucano, tapuia, Wanano, Cubeo, tuyuca, Barasana, Siriano e
Curipaco. Durante a estada com as crianças de Itacoatiara-Mirim, através do
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intermédio de Moisés da Silva, estive em constante contato com o Sr. Luiz Laureno
Baniwa, Mestre da Maloca “Casa do Conhecimento” e com seus familiares (sua
esposa Dona Luzia Inácia da Silva (Piratapuia), seus filhos e netos). Ainda contei com
o apoio e a presença da família de Mário Felício Joaquim (pajé da comunidade e
cunhado do Sr. Luiz) e sua família.
Jesuína Galdêncio Batista, professora da
comunidade no ano letivo 2012, também Baniwa mas falante da língua nheengatu,
auxiliou com o trabalho com as crianças. Todas as pessoas daquela comunidade
falavam português como língua geral, e era nessa língua que a escola funcionava,
conectando assim os diferentes grupos linguísticos lá residentes. A comunidade de
Itacoatiara-Mirim tem se tornado conhecida pelo projeto “Casa do Conhecimento”,
feito em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA – Rio Negro) e a busca de
recursos de alguns membros para a recuperação de rituais que são considerados
fundamentais na cosmovisão das etnias que lá vivem, especialmente dos Baniwa. O
Podaali (que significa troca de oferendas em Baniwa, também amplamente conhecido
naquela região como dabucuri) é um ritual de compartilhamento e sociabilização do
Povo Baniwa da região do Alto Rio Negro que vem sendo reativado na comunidade.
O ritual, além de ser um momento de troca de alimento, é importante pois nele dança
e música tanto expressam quanto criam a vida comunitária.
A pesquisa em Itacoatiara me colocou em contato com aspectos cotidianos da
comunidade, permitiu interagir com as crianças tocando pequenas flautas e dançando
no ritual que fizeram naquele período. Na maior parte do tempo em que estive com as
crianças, produzimos juntas filmes sobre histórias que elas inventaram e interpretaram
para as câmeras. Três histórias foram inventadas pelas crianças e filmadas, e estão
descritas abaixo. Todas elas continham animais como agentes. As crianças também
fizeram uma filmagem mostrando a comunidade para a câmera. Elas sugeriram tal
filmagem e elas mesmas filmaram com uma das câmeras levadas à campo todo o
tmepo, tornando a própria produção videográfica um material a ser analisado. A
“videografia partilhada”, possibilitou a coprodução entre a pesquisadora e as crianças.
O convívio de minha própria família, que esteve em campo comigo, também deve ser
levado em conta na pesquisa, uma vez que essa presença altera, evidentemente, a
relação com as pessoas da comunidade e a pesquisadora.
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Ao final da pesquisa, na despedida do primeiro estágio em campo um dabucuri
foi organizado pelos moradores da Maloca Casa do Conhecimento. Nessa ocasião
agradeceram e ofertaram comida para mim, minha família e para as crianças e
professores da escola. Nesse dabucuri, Sr. Luiz, Dona Luzia, Sr. Mário e a irmã mais
nova do Sr. Luiz realizaram diversas performances, cantando e dançando para os
visitantes. Dona Luzia distribuía o caxiri enquanto descansava da dança. As crianças
prepararam e apresentaram uma dança, tocando flautas transversais muito curtas feitas
de bambu. O aerofone continha apenas um furo numa das extremidades e eram
tocadas horizontalmente, seguradas com a mão direita,. Elas mesmas prepararam
todos os ornamentos e a flauta, auxiliadas pelos pais e professores, o que foi uma
surpresa para nós, inclusive a apresentação, fato que impossibilitou acompanhar tal
produção. Na performance os meninos tocavam as flautas e as meninas os
acompanhavam na dança, formando pares. Alguns deles estavam pintados e usavam
na cabeça uma coroa, estilo tiara, feita de fibra natural trançada. As meninas usavam
biquínis e uma saia também feita de fibra. Os meninos usavam a bermudas e estavam
sem camisa. A coreografia consistia num movimento constante em forma ziguezague, marcando dois passos cada um. Ao mesmo tempo faziam uma coreogria oval
ao redor das oferendas deitadas em cestos tradicionais Baniwas e Macus (ofertavam
pupunha e banana coletada nas roças ao redor da maloca). Os meninos iniciaram a
dança sozinhos e depois de duas voltas as meninas entraram e engajaram-se aos
meninos, formando pares de mais ou menos mesma idade. A dança prosseguiu ainda
por vários minutos, com os professores (Gesuína Galdêncio Batista, Marinéia Lizardo
e professor Euclides) que haviam preparado a turma torcendo para que a performance
fosse boa. Depois que acabaram, foram aplaudidos de pé e mostraram-se muito
contentes de terem participado. No inicio vários deles mostravam-se envergonhados
de participar de modo tão ativo no evento. Mas essa vergonha parece ter sido
superada quando a performance deles iniciou e ainda mais quando terminou. Depois
deles, foi o momento em que os adultosda Maloca ofertaram sua performance. O
homens tocavam grandes flautas verticais (sopradas pela extremidade superior)
b) O segundo grupo foi com crianças e familiares da etnia Tariana/tukano, residente
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em Tiago Montavo, um dos bairros novos da Cidade de SGC que recebe muitos
migrantes indígenas. Os tariana, embora originários da Bacia de Uaupés
tradicionalmente habitados pelos Tucano, são de família linguística Aruak, como os
Baniwas e os Barés. O grupo que trabalhei migrou de Iauaretê e vive na cidade de São
Gabriel há aproximadamente 14 anos em busca de melhores condições de estudo.
Essa é uma das razões mais comuns da mobilidade de indígenas para a cidade, e não é
recente. Embora as crianças com quem trabalhei já tenham nascido em São Gabriel da
Cachoeira, mantém uma conexão constante com a região de Iaueretê, marcada pela
presença de Sr. Fernando e Dona Bernadete (avós maternos das crianças) e com o
universo mítico familiar muito presente nas narrativas desses. Andrey, (08 anos),
Andréia (07) e Adriene (05) (filhos de Izonéia Araújo) e Máyra (04 anos) (filha de
Hildete Araújo e prima dos demais), foram as crianças do grupo tariana com quem
convivi em Tiago Montavo. Interessante que embora os pais das crianças fossem baré
e um militar nordestino, todas família se apresentava como tariana.
Entre esse grupo observei o modo como narrativas das gerações anteriores são
utilizadas e transformadas pelas crianças. Foi possível perceber um intenso convivio
das crianças com os pais e os avós, especialmente na roça. Esse mantem o hábito de
contar histórias pela noite, o que foi comprovado no repertório das narrativas das
crianças. Ouvi ainda muitas narrativas dos avós sobre como era a vida dos tariana e
dos tucanos em Iauaretê, como eram os rituais de iniciação (do Sr. Fernando), como
Sr. Fernando tornou-se um respeitado benzedor em São Gabriel da Cachoeira. Das
crianças, ouvi narrativas sobre seu dia-a-dia, suas idas nas roças, suas dinâmicas
escolares, e histórias. Elas contaram ainda mitos para a câmera e inventaram suas
próprias histórias, mesclando saberes do mato e da cidade. Curupiras, Jabutis, Bichos
preguiças, onças, cobras eram focos das suas histórias, mas também Avarates, Belas e
feras, personagens televisivos e da literatura compunham seu arsenal de personagens.
Pude também gravar algumas histórias criadas pelas crianças, histórias essas que
envolviam seres mitológicos dos tariana mesclados com seres do mundo virtual
moderno, como os avatares. Com essas crianças, fui várias vezes para a roça e elas
nos mostraram suas técnicas de pesca, os frutos que coletam, os diversos manejos de
alimentos, o fazer farinha, etc.
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No convívio com essa família, pude filmar algumas histórias contadas pelos
avós sobre os tariana de modo geral, seus mitos e ritos, sobre a prática de benzimento
no grupo e a importância dessa para o nascimento de uma criança tariana, sobre a
dimensão cosmológica e prática de ser e nascer tariana.
A família em questão, embora não fale mais tariana e tenham adotado a língua
tucano há muito tempo (como grande parte dessa etnia), se reconhecem como tariana
e tem parentesco direto e forte conexão com o grupo de Iauaretê que fiz o filme
Iauaretê, Cachoeira das Onças, onde registram o processo de reconhecimento da
região como “bem cultural de caráter imaterial”.
A pesquisa de campo gerou um material para reflexão sobre aspectos sóciocosmológicos, mitológicos e rituais da região, bem como sobre o modo como crianças
e seus familiares vem elaborando suas vidas na cidade de SGC. Ambos os grupos tem
uma relação com rituais onde a música e a dança são fundamentais meios de
expressar e de recriar a vida comunitária.
3) A oportunidade de pesquisa num terceiro grupo surgiu enquanto estive em
São Gabriel da Cachoeira no inicio do ano 2013 para mostrar os filmes feitos em
2012. O contato e a oportunidade de trabalhar com o grupo multiétnico,
majoritariamente Nadëb (grupo de fala macu) da Comunidade de Tabocal de Uneiuxi
do Município de Santa Isabel do Rio Negro se deu por causa do desenvolvimento de
um projeto maior, que visava pesquisar sobre cuidado de crianças pequenas em três
municípios do estado do Amazonas, o qual vou descrever com mais detalhes minha
participação posteriormente neste relatório.
Durante minha estada na comunidade foi possível perceber a forte conexão
que esse grupo tem com a roça, com a mata, e com os rios. Duas mulheres da
comunidade e várias crianças e adolescentes falaram da sua prática diária de plantio e
colheita, dos jogos, das brincadeiras, do cotidiano. As crianças mostraram desde como
alimentam-se no cotidiano, na produção da roça e na coleta dos frutos comuns da sua
dieta (ingá, açaí, etc.), da coleta no mato e do manejo de animais para o alimento.
Falaram sobre esses alimentos e apresentaram técnicas de preparação dos mesmos.
Também mostraram a importância do Dabucuri, dança com o mesmo nome do ritual
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de oferenda tradicional entre os povos do noroeste amazônico. Num longo diálogo
com essas, foram mostrando como aprendem a dançar e cantar e como alguns entre
eles se tornam especialistas no canto, por exemplo. Notei que naquela região o
puxador da dança e do canto sempre é um personagem importante, com mais
conhecimento. As crianças dançaram o dabucuri e permitiram que filmássemos. Esse
momento foi muito especial pois foi onde pude perceber como um especialista vai se
destacando no grupo – quem canta, quem dança, etc. Também mostraram suas
brincadeiras no rio e o perfeito manejo que tem desde pequenas das canoas. O banho
no rio não é só um momento de higienização pessoal; trata-se de um momento de
jogos, brincadeiras, e de intenso convívio entre eles.
A comunidade de Tabocal tem uma mulher como governadora, aspecto
bastante incomum naquela região. Essa no entanto, era da etnia tucano, grupo
tradicionalmente conhecido por estabelecer com os macu uma relação hierárquica.
Essa governadora fora designada pelo próprio grupo como governadora. Dona
Lurdes, a governadora, e Dona Marlene, Nadëb, nos receberam e nos acompanharam
durante parte do dia da filmagem com as crianças, mostrando especialmente a roça e o
manejo de alguns alimentos. A presença de minha família em campo foi bastante
interessante, já que as crianças gostavam de interagir com minha filha e achavam
engraçado o seu jeito de falar, de andar, de querer aprender suas técnicas. Embora
tenha sido um passagem bastante rápida na comunidade, ficando apenas dois dias,
esse contato foi intenso e muito produtivo. As crianças gostaram muito de contar
histórias, e de aparecer frente à câmera. Dois filmes foram possíveis desse contato
com o grupo – um deles de uma narrativa mítica contada por uma menina de 10 anos
de idade e o outro das crianças e das duas mulheres mostrando a vida comunitária.
Esse último filme contem ainda as crianças dançando o dabucuri e cantando.
Peixes, jabutis, antas, jaguares, bichos preguiça, sucuris, Curupiras, peixes são
personagens que aparecem com muita frequência nas narrativas das crianças dos três
locais onde pesquisei, revelando a presença desses nos seus imaginários e em diversos
casos, essas diferentes espécies estão ainda presentes nos seus cotidianos.
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Participando da vida comunitária e familiar, crianças ouvem e contam
histórias míticas. Segundo Robin Wright (1981) a narração de mitos é “uma forma de
performance artística e um diálogo entre contador e ouvinte; a arte é drama e através
dela, os tempos sagrados são criados e recriados.” (1981: 459). Pela informação
fornecida por alguns adultos em campo, essas histórias míticas contadas pelas
crianças podem ser pedaços de mitos mais longos que somente especialistas ou velhos
contam na sua totalidade, ou partes que elas puderam gravar rapidamente, mas isso
não quer dizer que não consideram crianças capazes de contar os mitos.
Narrar o mundo mítico também é narrar o mundo vivido. Como vimos na
revisão bibliográfica sobre o noroeste amazônico, essa é uma forma muito usual de
transmissão de saberes sobre comportamento, relação com lugares, modos de plantio,
passagem de fórmulas morais, etc. Esse dado se apresentou muito fortemente em
campo também. A narrativa mítica tem seu próprio estilo em diferentes contextos e no
noroeste, constituindo-se num importante modo de transmissão de conhecimento, tem
lugar no cotidiano do grupo. As crianças aprendem esse gênero desde muito cedo,
mas também aprendem a inventar suas próprias narrativas em diferentes gêneros. Em
quase todos os contextos em que estive, eram as crianças pequenas (3, 4, 5 anos) as
mais ousadas nas suas invenções narrativas. Misturavam seres e coisas de diferentes
mundos, fazendo-os se comunicarem, conviverem, entrarem em conflito, resolverem
esses conflitos. As crianças com aproximadamente 10 anos já estavam sempre mais
aptas a contarem os contos clássicos da sua comunidade. Nesses contos, mitos, e
historias contadas por ambos os grupos animais assumem funções bastante humanas,
revelando o perspectivismo amazônico.
Embora algumas crianças vivam em bairros bastante urbanizados, uma das
questões fundamentais no contexto de todas as crianças que estive em contato foi a
forte relação mantida com as roças. Todas elas, sem exceção, frequentavam roças com
pais e com os avós. As únicas crianças que conheci que não frequentavam as roças
eram aquelas que o sistema PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil)
proibia e culpabilizava a prática de levar crianças para as roças. Essas não foram
crianças que estive em contato permanente. Como a produção obtida no manejo das
roças segue sendo um dos principais recursos alimentares dessas famílias, os pais
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achavam fundamental elas aprenderem a plantar e colher e mesmo a entender o
universo cultural-mítico que envolve essa relação com as plantas e os animais, e
especialmente com a terra. Junto com a roça estão ainda a caça, a pesca e a coleta de
frutos nas matas próximas. Embora algumas famílias também dependam de bolsa
família (um importante recurso para famílias mais urbanizadas para adquirir
suplementos como sal, açúcar, roupas, sapatos), a relação com diversos alimentos,
animais e artefatos próprios do uso na roça estão muito presentes no seu dia a dia e as
crianças aprendem desde muito cedo a lidar com esses saberes. São gradativamente
introduzidas nessas tarefas e uma criança de 5, 6 anos pode perfeitamente pescar,
conseguir na mata próxima recursos para sua própria alimentação.
As crianças participam com frequência de atividades de plantio, colheita,
pesca artesanal, e muitas delas reconhecem de modo bastante apurado uma
diversidade de bichos, árvores e outros seres viventes naquele meio, alguns desse nem
sempre visíveis para mim, como espíritos, protetores das matas, etc. Assim, a relação
com os animais e com uma diversidade impressionante de frutos fazem parte da vida
cotidiana dessas crianças e de seus familiares.
Uma das criticas que se ouve sobre as crianças que vivem próximas das
cidades é que essas perdem a cultura familiar por estarem em contato com a televisão,
com escolas, com novos modos de vida. Embora isso possa ser em parte verdade
porque o convívio com esses aparatos modernos podem mudar a vida das crianças, o
que parece também verdadeiro é que a implantação das escolas dentro das
comunidades com ensino em português e com professores que não conhecem a língua
e a cultura da região, tem levado um saber bancário para a vida dessas crianças,
mesmo nas comunidades mais afastadas. Alguns profissionais desprezam por
completo os saberes locais, os conhecimentos dos velhos, negando as dinâmicas de
passagem de conhecimento criados pela própria comunidade. Mas de qualquer modo,
o que percebi nas comunidades em que fui, foi uma constante comunicação entre os
saberes familiares e os introduzidos pela escola. Também a forte presença das
famílias na vida das crianças garantia esse diálogo. É preciso sempre perceber as
resistências que contextos como esses geram, como eles são agregados nas dinâmicas
locais e como a própria comunidade elabora esses aspectos.
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As crianças, convivendo com diferentes realidades, precisavam dominar um
arsenal bastante grande de aspectos que são vistos como do mundo urbano,
frequentando aulas, assistindo tv, participando das narrativas locais, vivendo relações
entre pares mais descontinuadas que aquelas crianças que vivem em ambientes menos
urbanos. As crianças mesclam esses universos e muitos outros, e isso se faz expressão
nas suas falas, nas narrativas, no modo de moverem-se.
No segundo ano da pesquisa, um retorno a campo possibilitou revisitar dados
obtidos no primeiro ano. As visitas aos grupos se deu em março de 2013, sendo
importante momento para fazer também um retorno às comunidades das filmagens
obtidas no ano anterior. Duas mostras dos filmes foram feitas: uma na Maloca do
Conhecimento e a outra no Clube do Instituto Sociambiental (ISA) Rio Negro.
A primeira mostra, na Maloca do Conhecimento, Itacoatiara Mirim, contou
com a presença das crianças que participaram das filmagens no ano anterior, mas
também de outros membros da comunidade, especialmente os professores e os
membros da família do Sr. Luiz, Mestre da Maloca e do Sr. Mário, um dos
protagonistas de um dos filmes. Improvisamos um lençol como tela e usamos um
projetor que a comunidade tem. Os filmes foram aplaudidos com alegria pelos
participantes e depois da mostra fizemos um debate para ouvir sugestões de mudanças
dos mesmos. Esse foi ainda um momento importante da pesquisa, revelando o gosto
das crianças e dos adultos em verem-se na tela improvisada que montamos na
Maloca. Os filmes foram aprovados e a sua publicação na internet e a posterior
produção de um DVD profissional autorizada. Cópias provisórias do DVDs foram
deixadas na comunidade para que pudessem assistir novamente em outros momentos.
A Casa do Conhecimento tem sua própria câmera filmadora e eles também estão
produzindo filmes, e aproximando-se desse tecnologia.
Depois da mostra dos filmes na Maloca, dois jovens Baniwa que no ano
anterior não tinham filmado a história contada por eles, fizeram questão de fazê-lo,
para que sua narrativa sobre como os Baniwa conseguiram o fogo fizesse parte do
DVD finalizado. Esse é o filme “Fogo” e trata-se de uma história contada pelos mais
velhos e presente nos livros de narrativas indígenas da região.
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A mostra naquela comunidade revelou o gosto das crianças pela imagem, ao
mesmo tempo revelou a possibilidade da reflexividade dessas pelos seus corealizadores. Senhor Mário, o pajé da comunidade estava muito feliz por se ver como
um dos personagens principais do documentário “Gente Grava pelo Coração”. Depois
de assistir o filme disse que ficou ainda mais entusiasmado para aprender sobre como
curar as pessoas. Disse querer se tornar um pajé ainda mais eficiente, para poder
contribuir com a sua comunidade e com o crescimento da cultura Baniwa. Embora o
filme revelasse uma questão importante para os Baniwa, que gravam sua cultura e seu
modo de vida pelo coração, a filmadora, contraditoriamente pode levar um saber e
uma presença da sua cultura em outros meios, gravando o que eles falam sobre gravar
no coração. Disse que agora mesmo que a cultura Baniwa não morre mais – está
também gravada na forma de filme.
A segunda mostra de filmes se deu na Sede do Instituto Socioambiental (ISA),
no dia 09 de abril de 2013, e foi promovida numa parceira do ISA Rio Negro, Foirn,
MUSA/PPGAS/UFSC e Shine a Light. Embora não tenham aparecido muitas pessoas,
foi um momento onde a família Tariano pode assistir os filmes produzidos pelas
crianças daquela família. Foi um momento de grande emoção para Andrey (07) , um
dos narradores do filme “Curupira”. Ele esteve todo o tempo empenhado em aprender
como filmar, mas especialmente gostou de se ver como narrador. Seus familiares
aplaudiram sua performance, o que o fez muito feliz. A menina Mayra, de 4 anos,
também ficou entusiasmada em ver-se como narradora de uma longa história e como
haviam poucas pessoas presentes, eles pediram para repetir os filmes e assistimos
duas vezes cada um deles.
Segue abaixo a descrição da produção audiovisual dessas etapas em campo.
2.3. Produzir material audiovisual dessas performances
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Durante o período da pesquisa etnográfica, diversas narrativas e performances
foram filmadas, assim como cenas cotidianas que revelam o saber-fazer, onde
crianças estão engajadas ativamente. Tanto no primeiro, quanto no segundo ano, o uso
da mídia digital foi importantíssimo para captar um ponto de vista das crianças, suas
falas sobre o mundo onde vivem, e especialmente para captar suas performances e
narrativas, seja de mitos que fazem parte da cosmologia local quanto de histórias que
essa criaram à partir do acesso a narrativas orais da comunidades ou da vida televisiva
e da literatura presente em suas vidas cotidianas.
Embora vivam ainda a vida
comunitária bastante intensa, as crianças acessam de modo bastante frequente a mídia
televisiva, o que certamente lhes dá material para produzirem imaginários outros
sobre o mundo que não somente aqueles narrados nas suas casas pelos mais velhos.
Na etnia tariana filmei as crianças pescando, indo para a roça, ajudando no
fabrico da farinha de mandioca, interagindo com seus familiares, com minha família
(que esteve em campo comigo). Filmei ainda elas ouvindo as narrativas dos avós, bem
como elas mesmas contando histórias que inventaram ou que a elas foram contadas.
Com essa família Tariana, além das histórias criadas pelas crianças, foi
filmado uma narrativa feita por Dona Bernadete (A Preguiça, avó do mundo) e
também uma longa reflexão da família sobre o que significa ser tariana na cidade de
SGC e a prática do benzimento no nascimento de um tariana.
Em Itacoatiara Mirim as crianças inventaram histórias que embora tenham
sido criadas coletivamente naquele momento da pesquisa, remetem ao universo mítico
da região e enfatizam a ideia de transformação – animais são gente e tem relações
entre si de afetos e inimizade. Entre as histórias que as crianças inventaram, duas
destaco aqui por ajudarem a pensar a mitologia e a criação do mundo. Foi filmado um
ritual Podaali (Dabucuri) na “Casa do Conhecimento” onde as crianças de Itacoatiara,
devidamente pintadas e vestidas para o evento, estão dançando e tocando pequenas
flautas. Essa dança, juntamente com filmagem da reflexão de alguns membros da
comunidade sobre o evento, compõem um documentário sobre a importância do ritual
da música e da dança para os Baniwa do noroeste amazônico.
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No segundo ano do projeto, foram realizados filmes com crianças e moradores
de Tabocal de Uneiuxi, Santa Isabel do Rio Negro. Os filmes foram feitos por mim
feito em colaboração com Shine a Light, Bernard Van Leer Foundation, e
pesquisadores do PPGAS/UFAM, e fizeram parte da pesquisa "A saúde de crianças
em áreas rurais do Estado de Amazonas".
Esse projeto foi possível graças ao primeiro ano de atividades com as crianças
indígenas em São Gabriel da Cachoeira. Foi um desafio entender como crianças
pequenas — indígenas, caboclas, ou ribeirinhas — são cuidadas e se cuidam naqueles
municípios, e como acessam sistemas formais de saúde no Estado de Amazonas. O
objetivo do projeto foi entender e documentar os modos tradicionais de cuidado de
crianças pequenas no Estado, e pensar os desafios e as fortalezas de sistemas de saúde
no Estado para propor políticas públicas. Embora tivesse também preocupação com o
cuidado de crianças, performances, narrativas e a agência de crianças vivendo entre o
mundo tradicional de rios e matos, e a vida nas pequenas cidades do Amazonas foram
alvo dos registros. Como nos demais filmes, trabalhei em parceira com Kurt Shaw.
Sem o esforço em conjunto esses filmes não seriam possíveis. Rosilene Fonseca,
moradora de Santa Isabel e antropóloga formada pela UFAM participou do dia das
filmagens. As crianças participaram ativamente da filmagem, mostrando suas
brincadeiras, seus conhecimentos sobre comida, higiene, dança, música, sobre
cuidados de si e as estratégias da comunidade para formar e cuidar dos seus filhos. As
narrativas e performances apresentadas nesses filmes revelam e produzem um saber
único sobre o universo natural e cultural onde vivem.
Os filmes que resultaram da pesquisa estão citados abaixo e estão sendo
divulgados no Blog http://inventar-se.blogspot.com/. A edição foi feita por mim e por
Kurt Shaw, que também foi o animador dos filmes em vários casos com desenhos
produzidos pelas crianças durante o período em que estive em campo.
2.3.1. Filmes gravados em Itacoatiara Mirim - SGC
1) Como o jabuti comeu a onça: Trata-se de uma história inventada por
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crianças de aproximadamente 8 anos da comunidade de Itacoatiara Mirim.
Além da história ter sido narrada por um dos garotos, foi representada pelo
grupo e desenhos foram feitos para criar um filme ficção animado.
Animação,
3’02,
Itacoatiara
Mirim,
AM,
2012.
http://www.youtube.com/watch?v=WoLQv-yHzhA
2) O Peixe, a Anta, e os Jabutis: História inventada pelas crianças de 04 a 08
anos de Itacoatiara Mirim, que remete ao universo relacional entre diferentes
animais-gente do ambiente natural da comunidade. Como o primeiro filme,
esse foi narrado por uma das crianças, interpretado para a câmera e desenhos
dos personagens ajudam a construir o filme de animação. Narrativa
animada,
5’53,
Itacoatiara,
AM,
2012.
http://www.youtube.com/watch?v=O3Z4AXd14XE
3) Fogo: Um mito sobre o modo como os Baniwa conseguiram o fogo, narrado
pelos netos do Seu Luiz Laureano da Silva, articulador da Casa do
Conhecimento da comunidade de Itacoatiara Mirim. Narrativa animada,
2’17,
Itacoatiara
Mirin,
SGC,
AM,
2013.
http://www.youtube.com/watch?v=5dHMQ_6-8RE
4) Gente grava pelo coração – Um ritual dos Baniwa com a participação das
crianças dançando e tocando flautas. Doc, 15 min, Iatacoatiara, AM, 2012.
Online http://www.youtube.com/watch?v=_7NO3p89dxc
2.3.2. Filmes gravados no Bairro Tiago Montavo - SGC
5) Os Zelos da Preguiça: filme onde Dona Bernadete Araújo conta aos seus
netos uma história que ouvia de seu pai em Iaueretê. Parte do universo
mítico regional, descreve a relação entre pessoas e animais da floresta
amazônica. A narrativa de Dona Bernadete foi editada e animada com
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desenhos feitos por seus netos. Narrativa animada, 3’30, São Gabriel da
Cachoeira, AM, 2012. http://www.youtube.com/watch?v=zKg5kvjTILs
6) O fantástico encontro da Bela com o lobisomem e o Avatar: Trata-se de
uma história que Mayra, uma menina da etnia tariana de 4 anos de idade
inventa à partir da junção de histórias ouvidas ou assistidas na teve. Editada
e animada aproveitando desenhos produzidos pela narradora e por seus
primos. Narrativa animada, 7’06, São Gabriel da Cachoeira, AM, 2012.
http://www.youtube.com/watch?v=YH-Q3ms-N_8
7) Curupira: Justiceiro do Amazonas: narrativa de Andrey, tariana de 07
anos, sobre o Curupira, protetor da Floresta, e o ataque que esse faz a
caçadores que matam mais que podem comer. A história foi animada por
Kurt
Shaw.
Animação,
2’59,
SGC,
AM,
2012.
http://www.youtube.com/watch?v=r898J_Dl3P0
2.3.3. Filmes gravados em Tabocal de Uneiuxi – Santa Isabel do Rio Negro
8) Escrito na Areia: Leidiana dos Santos Miranda, uma menina de 10 anos da
comunidade indígena Tabocal do Uneiuxi, Santa Isabel do Rio Negro, narra
a saga de um Jabuti enterrado na lama por uma anta. Em busca do inimigo,
persegue a única pista deixada por esse: sua merda. Passados nove anos, o
Jabuti vinga-se da Anta. Animação das fotos dos desenhos das crianças da
comunidade. Narrativa animada, 4 min, Tabocal de Uniuexi, Santa Isabel,
AM, 2013. http://www.youtube.com/watch?v=qPcCKVfvRbk
9) Cuidando da Gente: Feito em Tabocal do Uneiuxi, Médio Rio Negro,
Amazonas, o filme apresenta crianças da comunidade falando sobre comida,
saúde, banho e cuidados de si. Mostra ainda os cuidados com a roça e a
dança típica da região dançada no Dabucuri. Em grande parte Nadëb, mas
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também Tucano, Tariano, e Ianomâmi mostram a relação entre alimentos,
saúde, e sazonalidade, e nos oferecem pistas para pensar como no
quotidiano das crianças oposições fáceis entre trabalhar e brincar, estudar e
jogar não são percebidos do mesmo modo naquela comunidade. No interior
de Amazonas --- como em muitas sociedades tradicionais -- esta divisão não
existe. O filme mostra como o cuidado de crianças é uma atividade
integrada na vida familiar e comunitária e que o aprendizado infantil em
Tabocal vai muito além daquele oferecido nos bancos escolares.
Documentário, 14 minutos, Tabocal de Uniuexi, SIRN, AM, 2013. Online
http://www.youtube.com/watch?v=szONJY-4zuo
2.4. Escrever artigo etnográfico relacionado ao tópico específico do projeto de
pesquisa e publicações
Durante esses dois anos, alguns textos foram produzidos, com o intuito de
fazer uma reflexão sobre performances, narrativas e produção de sujeitos,
especialmente aqueles que se referem a produção e (auto produção) das crianças.
As entrevistas feitas com pesquisadores da área de etnologia/etnomusicologia
exigiu leitura e aprofundamento nos tópicos de cada pesquisador entrevistado.
Portanto, alguns textos introdutórios das entrevistas também fazem parte dessa
produção.
2.4.1. Artigos escritos encaminhados para publicação e DVDs produzidos
1) Performance Narrativa, literatura oral e subjetivação entre crianças pequenas: O
caso do lobo mau (que casou) com a vovozinha. Personagens da literatura infantil
clássica tem suas trajetórias e ações delineadas e conhecidas. Quando se fala de um
personagem normalmente se sabe qual sua ação e sua destinação. Nas narrativas de
crianças pequenas, no entanto, tais personagens são subjetivados de tal modo que
passam a conviver num mundo de possibilidades outras que dão desfechos inusitados
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à suas vidas, sendo absolvidos ou absolvendo-se de um fim único. Narrativas feitas
por crianças pequenas de um bairro de periferia do Rio de Janeiro da história clássica
“Chapeuzinho Vermelho” feita frente à câmera videográfica, trazem interessantes
reflexões sobre: 1) como eventos narrados e eventos narrativos se relacionam para
essas; 2) como o evento narrativo expressa a própria subjetivação do narrador e sua
capacidade de fazer interagir mundos em diferentes níveis, contextualizando e
recontextualizando histórias, incluindo a sua própria; e 3) finalmente, como a
experiência narrativa é um aspecto fundamental para a expressão e constituição de
sujeitos em qualquer fase da vida. Artigo aceito para publicação na ILHA – Revista
de Antropologia – Programa de Pós Graduação em Antropologia Social –
Universidade Federal de Santa Catarina – Campus Universitário – 88040-900
Florianópolis, SC, Brasil, 2014. Edição Especial Arte e Socialidades. Anexo no link
http://www.shinealight.org/Portuguese/anexoscnpq2013/Lobomauevovozinha.pdf
2) Cuidando de crianças: Uma introdução para a pesquisa das práticas
amazonenses: O artigo introduz o livro Cuidados de Crianças Ribeirinhas,
destacando a importância da pesquisa com crianças indígenas. Está publicado online
in: Cuidados de Crianças Ribeirinhas. Florianópolis e Manaus: Shine a Light e
UFAM, 2013. Anexo no Link http://linhadebaseamazonas.wordpress.com/2013/10/03/cuidadosde-criancas-ribeirinhas/
3) A produção de Pessoas e os sistemas de saúde no Amazonas. Capítulo 1 do livro
Cuidados de Crianças Ribeirinhas, o artigo mostra como a produção da pessoa é
um tema fundamental quando se estuda cuidado de crianças no Amazonas. Faz uma
revisão bibliográfica sobre a etnologia amazônica e o tema da produção da pessoa
naquele contexto, mostrando como o descaso total da sociedade nacional sobre os
modos de produção de gente e pode gerar conflitos intransponíveis. Também aponta a
importância de um diálogo entre agentes de saúde pública e os ribeirinhos para poder
criar dinâmicas apropriadas que auxiliem as comunidades afastadas no cuidado da
saúde das crianças pequenas. In: Cuidado de Crianças Ribeirinhas. Florianópolis e
Manaus:
Shine
a
Light
e
UFAM,
2013.
Anexo
no
link
http://www.adrmarketplace.com/Cidade/criancasamazonas.pdf
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4) Quem conta um conto aumenta muito mais que um ponto. O artigo analisa
narrativas de crianças pequenas e os saberes que essas expressam sobre o meio
cultural do qual fazem parte. Suas performances revelam como entendem e
dinamizam as relações com seus pares, incluindo as relações de gênero, bem como
com outros seres, imaginários ou não. Através dessas narrativas estão testando
possibilidades (de seres, de interação, de linguagens) abrindo um leque para uma
estética de si. Apoiada na experiência da produção fílmica com crianças, chamo
atenção para a capacidade transformativa e criativa presente nas performances
narrativas de crianças pequenas e pontuo aspectos filosóficos do seu pensamento.
Essas, narrando frente à câmera e à platéia, fazem-se sujeitos: produzem a si mesmas
e o mundo. O artigo foi aceito para publicação na Perspectiva: Revista do Centro de
Educação da UFSC, 2014. Edição Especial "Mídia, gênero e infância" sobre ISSN
print 0102-5473, ISSN 2175-795X Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Anexo no
link http://www.shinealight.org/Portuguese/anexoscnpq2013/generoecriancasdois.pdf
5) Revisitando o Brasil e o campo entre os Kisêdjê (Suyás): Conversa com Anthony
Seeger. Entrevistar Anthony Seeger foi um grande desafio. Muito se sabe dele no
Brasil e sua importância para a enologia brasileira é grande. Escrever sobre o autor
introduzindo a entrevista foi apontar essa profundidade com que o autor lidou e lida
com a pesquisa e com as relações que estabeleceu nesses anos de contato com o
Brasil. Em análise para publicação pela Revista MANA: Programa de Pós-Graduação
em Antropologia Social - PPGAS-Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio
de
Janeiro
–
UFRJ.
Anexo
no
link
http://www.shinealight.org/Portuguese/anexoscnpq2013/manaSeeger.pdf
6) Sons e Sentidos: Entrevista com Steven Feld. O texto introdutório sobre Feld
destaca sua capacidade de pensar e inovar na antropologia dos sentidos, dando
especial atenção ao som. O autor critica o uso da expressão musica quando se faz
pesquisa com povos indígenas. Em análise para publicação na Revista de
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Antropologia
da
USP.
USP,
São
Paulo.
Anexo
no
link
http://www.shinealight.org/Portuguese/anexoscnpq2013/StevenFeldentrevista-usp.pdf
7) Tornando-se Outro: Entrevista com Suzanne Oakdale. A introdução à entrevista
feita com Suzanne Oakdale foi mais um texto elaborado na série entrevistas. Suzanne
é uma autora pouco conhecida no Brasil, mas seu trabalho tem um destaque
importante na formação do self e nas narrativas, dois tópicos fundamentais para a
pesquisa que fiz no noroeste amazônico. A entrevista foi aceita para publicação na
Revista Horizontes Antropológicos, Revista de Antropologia do PPGAS UFGRS,
Porto
Alegre,
2014.
edição
ainda
a
definir.
Anexo
no
link
http://www.shinealight.org/Portuguese/anexoscnpq2013/Suzanneentrevista.pdf
9) Crianças Amazônicas. Narrativas e performances de (e sobre) crianças indígenas
e caboclas do Amazonas. DVD com a produção audiovisual das performances e
narrativas das crianças feita em pesquisa de campo. O material está em formato de
DVD e foi encaminhando para reprodução em série para distribuição. Possui um
encarte explicativo do projeto. Ver em anexo o encarte do DVD com descrição dos
filmes no link http://www.shinealight.org/Portuguese/anexoscnpq2013/DVDBooklet.pdf
2.4.2 Artigos, livros e DVDs sendo produzidos
O primeiro ano do projeto foi dedicado especialmente à realização das entrevistas,
revisão bibliográfica, pesquisa de campo e trabalho com material audiovisual. Foi um
período de intenso trabalho, sem no entanto ter sido tempo suficiente para efetivar as
devidas publicações que uma pesquisa assim gera. No segundo ano foi possível a
finalização de alguns artigos e o envio dos mesmos para publicação, como indicado
anteriormente. No entanto, a produção desses dois anos de entrevistas e pesquisa em
campo geraram material que ainda será finalizado e possivelmente encaminhando
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para publicação. A seguir refiro-me a artigos e entrevistas que estão sendo editados
para serem enviados para publicação. Cito ainda o material audiovisual produzido nas
entrevistas com os pesquisadores, que permitirá uma produção audiovisual em
formato dvd e que será, com as devidas permissões, publicada on-line.
01) Sobre Jabutis, Avatares e flautas: Performances e narrativas de crianças
indígenas do Noroeste Amazônico - o artigo apresenta uma reflexão sobre
performances (narrativa, dança e canto) de crianças indígenas e familiares que vivem
na cidade de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro/Noroeste
Amazônico. As crianças indígenas, de etnias variadas mas especialmente Baniwa,
Nadëb e tariana apresentam em suas narrativas e performances um interessante
caminho para pensar o mito e a tradição e o ato de criação dos mesmos. Com
criatividade, elas tanto se apoiam nas narrativas e conhecimentos míticas apresentados
por seus familiares para suas performances, quanto recriam esse mundo no seu
imaginário, mesclando com o cotidiano na cidade e na roça.
O artigo foi apresentado em dois eventos, e por isso deve sofrer modificações
para que seja finalizado. A apresentação do mesmo no evento Jornadas
Antropológicas gerou novas reflexões que devem ser incluídas na versão final.
02) Ouvir/Ver/Sentir: Entrevista com Deise Lucy Montardo” – em formato de vídeo e
artigo – em português.
03)Sons que ensinam: Entrevista com Amanda Minks” - em formato de artigo – em
inglês.
04)A Festa da Jaguatirica: Entrevista com Rafael de Menezes Bastos - em formato
de vídeo e artigo – em português.
05) Um musicologia indígena: Entrevista com Acácio Tadeu Piedade – em formato
de vídeo e artigo – em português.
Florianópolis, Janeiro de 2014.
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06) Uma menina em campo: Entrevista com Julia Mello Piedade - em formato de
vídeo e artigo – em português.
07) A família antropológica: Segunda parte da entrevista com Anthony Seeger, junto
com as entrevistas de suas duas filhas e sua esposa, a pesquisadora Judith Seeger. em
formato de artigo – em português.
O8)Os sons dos desafios do campo: Livro da coletânea das entrevistas – por
orientação do supervisor desse pós-doutoramento, as entrevistas feitas com os
pesquisadores comporão um livro, a ser encaminhado para publicação.
09)Cuidados de Crianças Ribeirinhas: publicação do livro já escrito e publicado
apenas online descrito nesse relatório. Será reeditado e encaminhado para publicação.
2.5. Cooperar e participar do MUSA com temas relacionados à pesquisa e
apresentar seminários sobre o projeto em desenvolvimento
Durante esses dois anos estive presente em várias reuniões e encontros
promovidos pelo MUSA, participando ativamente dos debates. Cito alguns desses
encontros:
2.5.1. Participação de apresentações de projetos de pesquisa e palestras dos
membros do MUSA
Samanta Fioravante Oliveira (Graduanda em Antropologia - UFSC)- apresentação do
Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso - A farra sem boi em Ganchos/SC
América Larrain (doutoranda UFSC) - apresentação do Projeto de Tese: “Formas e
Cores” do Artesanato Indígena na Colômbia - O Sombrero Vueltiao Zenú.
Florianópolis, Janeiro de 2014.
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Izomar Lacerda – (doutorando PPGAS/UFSC) – apresentação do Projeto de Tese Guerra, Sopro e Musicalidades Ashaninka: uma etnografia na Terra Indígena Kampa
do Rio Amônia, na Amazônia do Alto Juruá.
Letícia Grala Dias (mestranda do PPGAS/UFSC) - apresentação do Projeto de
Mestrado: Benzeduras e Benzedeiras da Barra da Lagoa – Florianópolis, SC.
Janaina Moscal – (doutoranda do PPGAS/UFSC) - Apresentação do projeto de
Pesquisa de doutorado: Música e Movimento Social. Em 30/10/2012.
Izomar Lacerda - (doutorando PPGAS/UFSC) - Apresentação preliminar dos dados
de Campo de Guerra, Sopro e Musicalidades Ashaninka.
Eduardo Ferraro (mestrando PPGAS/UFSC) - Apresentação do projeto de pesquisa de
mestrado "Transformações no gauchismo através da música". Em 20/09/2013.
Blanca Cecilia Gómez Lozano (Mestranda em antropologia) - apresentação do projeto
de pesquisa da aluno do mestrado “Do Hato ao Palco: A música popular llanera na
construção de identidades e territorialidades nos Llanos Orientales colombianos” de.
04/10/2013.
Primeiro encontro em MUSA E MUSICS (UDESC), visando criar espaços de debate
e interação dos dois núcloes de pesquisa. Nov. 2013.
Palestras assistidas no MUSA:
Sonia Lourenço: Palestra Patrimônio cultural e saberes tradicionais quilombolas de
Chapada dos Guimarães. Maio de 2013.
Allan de Paula Oliveira – Palestra Um lugar chamado Brasil. Capital: Asunção. Em
14/06/2013.
Florianópolis, Janeiro de 2014.
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Lançamento oficial do Livro: A Festa da Jaguatirica: uma interpretação Críticointerpretativa no COMPASSO ABERTO - Escola Livre de Música, na Av. Rio
Branco, 223, Centro de Florianópolis/SC. Editado pela EDUFSC, o livro inaugura a
Série Brasil Plural do Instituto Brasil Plural, tendo como base a tese de doutorado do
Professor Rafael José de Menezes Bastos defendida em 1990 na USP sob a orientação
da professora Lux Vidal. Esta é uma obra pioneira e fundamental da etnomusicologia,
apresentando de forma inovadora uma extensa e intensa descrição analítica – tendo
como ponto central a música - do ritual do Yawari dos índios Kamayurá do Alto
Xingu. 19/10/2013.
2.5.2. Apresentação do Projeto Duplos e Multiplos e dos resultados da pesquisa
de Pós-Doc no MUSA
a) Apresentação do Projeto de Pesquisa deste pós-doutoramento ao grupo do MUSA
no dia 18/05/2012, onde pude partilhar e ouvir comentários e sugestões para o
mesmo.
b) Um segundo momento de reflexão sobre este projeto junto aos integrantes do
MUSA contando ainda com a participação de alunos e professores do PPGAS UFSC,
foi no 1o. Ciclo de Palestras do PPGAS/UFSC. Neste evento proferi a palestra “Entre
Jaguares e Avatares: performances de crianças indígenas na cidade de São Gabriel –
Rio Negro” no dia 17 de outubro de 2012, apresentando uma reflexão preliminar dos
dados obtidos em campo.
c) Mostra dos filmes da pesquisa de campo em São Gabriel da Cachoeira e Santa
Isabel/ Rio Negro/AM. Sala do MUSA/PPGAS/UFSC. Foi um importante momento
de partilhamento de parte do resultado da pesquisa com os membros do MUSA. Dia
06/09/2013.
2.6. Participar de seminários ministrados pelo Professor Anthony Seeger na
Florianópolis, Janeiro de 2014.
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UCLA entre os meses de janeiro e março de 2012
Na Universidade da Califórnia de Los Angeles (UCLA), sob a orientação do professor
Anthony Seeger, participei das seguintes atividades:
2.6.1. Aulas de Archiving ministrada por Anthony Seeger – embora essa disciplina
não fosse proposta no projeto, foi um meio de interagir e conhecer melhor o professor
Anthony Seeger e seus alunos na UCLA. Durante as aulas, ministradas sempre com
muito bom humor e organização, pude conhecer mais de perto os esforços de
Anthony Seeger para revitalizar arquivos de mídia (som, imagem especialmente),
formando uma verdadeira rede de arquivamento sobre música e imagem no mundo.
Faz um importante trabalho na UCLA e no Smithsonian Institute, renovando o
interesse de muitas pessoas para o tema. Empenhado no tema há alguns anos, o autor
tem um proposta interessante de pensar o arquivamento. Sua perspectiva é de que os
arquivos não são importantes por causa do passado, como se propõe comumente, mas
por causa do presente e do futuro. Trabalhando com arquivos, Seeger percebeu o
quanto as pessoas mudavam suas vidas quando podiam acessar determinados filmes
ou músicas (familiares ou não), e passou a defender a importância de arquivos se
tornarem mais acessíveis e valorizados.
2.6.2. Colóquios na UCLA: participei da série de Colóquios organizados pelo
departamento de Etnomusicologia da UCLA, onde Seeger foi o conferencista. A
“Série de Colóquios Nazir Ali Jairazbhoy” apresenta uma variedade de leituras
focando em pesquisas e temas importantes no campo da etnomusicologia.
a) "'Are you related to...?' Growing up in the Seeger Family -- Music, Politics, and
Repression 1900-1958" no dia - 25 janeiro de 2012.
b) "Why Study the Súya Indians of Brazil?: Anthropology, Music, and
Ethnomusicology" em Feb.22.2012 - 01:00 p.m. - 03:00 p.m.
Florianópolis, Janeiro de 2014.
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c) "What is it all for? Applying Scholarship Outside the Classroom: Indigenous
Rights, Archiving, Folkways Records, and Professional Organizations"
Wed. Mar. 7.2012 01:00 p.m. - 03:00 p.m.
2.6.3. Participação da 46th Annual Meeting of SEMSCHC - Society for
Ethnomusicology, Southern Califórnia and Hawaii Chapter, realizado no 25 de
fevereiro de 2012, na Loyola Marymount University, Los Angeles, CA a convite de
Anthony Seeger.
2.6.4. Pesquisa na Biblioteca da UCLA – durante minha estada em Los Angeles,
aproveitei para realizar pesquisa no arquivo público online JStor. Além de obter
textos importantes sobre os pesquisadores que entrevistei, tive acesso a artigos de
interesse do meu projeto em especial.
2.7. Realizar entrevistas com pesquisadores reconhecidos na área de
etnomusicologia, produzindo, se possível, material audiovisual destas.
Um dos objetivos do projeto de Pós-Doutorado foi entrevistar alguns
antropólogos que trabalham com música e/ou com indígenas das terras baixas da
América do Sul. Os entrevistados até o momento são Steven Feld, Anthony Seeger,
Amanda Minks, Suzanne Oakdale, Deise Lucy Montardo. Os pesquisadores Rafael
José de Manezes Bastos e Acácio Piedade, ambos integrantes do MUSA, ainda serão
entrevistados. Detalho abaixo aspectos das entrevistas feitas:
2.7.1. Entrevista com Anthony Seeger – Como a pesquisa de Seeger e seus escritos
são bem conhecidos no Brasil, a entrevista focou em alguns aspectos teóricos, mas
também pessoais da sua pesquisa com os Kisêdjê (Suyás). Como minha pesquisa
envolve crianças, algumas das perguntas se voltaram para o fato que sua obra tem
uma grande sensibilidade para temas como que envolvam a vida e a socialização das
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crianças, como os rituais de iniciação, a construção da pessoa, relações entre
gerações, entre outros. Estive muito interessada também no fato que Seeger fez seu
campo com a família (mulher e filhas) e em como esse aspecto modificou ou
influenciou sua pesquisa, tema que foi bem produtivo. Seeger, embora tenha ido a
campo com a família, não romantiza essa presença em campo, mas assume como elas
abriram portas para determinados temas, ao mesmo tempo em que complicaram sua
própria pesquisa, exigindo dividir seu tempo entre ser pesquisador e ser pai.
Também abordei temas que Seeger desenvolve mais recentemente no prefácio
da segunda edição do seu livro Why Suyás Sing, 200410, como a distinção entre
Antropologia da Música e Antropologia Musical, ou o fato que Seeger diz que no
livro Nature and Society está discutindo mais aspectos da estrutura e mudanças da
sociedade suyá, e no livro Why Suyás Sing está apontando muito mais para as
performances e os rituais, enfatizando o processo. Também o tema sobre arquivos e
sua relação com John Blaking (que como eu estudou crianças) aparecem na entrevista.
A entrevista com Seeger foi editada, gerando material audiovisual (online no Blog) e
foi transcrita, editada e enviada para editores da Revista Mana, MN, Rio de Janeiro,
em processo de avaliação pelos editores da Revista.
2.7.2. Entrevista com Steven Feld (UNM - fevereiro de 2012): Tive dois encontros
com o pesquisador Steven Feld que foram muito produtivos. Nesses encontros o tema
central foi a antropologia do som e da imagem e os desdobramentos teóricos que o
autor desenvolveu nos últimos anos. Sua pesquisa entre os kaluli, um povo que vive
em Bosavi (New Guinea), relaciona diferentes tipos de som a expressões dos
sentimentos no cotidiano e em rituais. No livro Som e Sentimento, precocemente o
autor trabalha com a antropologia do som, radicalizando uma crítica à
etnomusicologia. O autor fala também sobre a presença das crianças na sua pesquisa e
como isso o influenciou. Explica como a coletânea Bosovi: Rainforest Music from
Papua New Guinea (3-CD anthology and booklet), released on Smithsonian Folkways
Recording, registra sons entre os kaluli em diferentes momentos da vida: Disco a)
10
Revised paperback edition of Why Suyá Sing: A Musical Anthropology of an Amazonian People. A paperback
with a CD published by the University of Illinois Press, 2004.
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Guitar Bands of the 1990s. Disco b) Sounds and songs of Everyday life; Disc c)
Sounds and Songs of Ritual and Ceremony) e expressa a vida e a cosmologia Kaluli.
Mais recentemente Feld vem analisando o world music e desenvolvendo pesquisas
que envolvem multimídia variadas (som, fotografia, vídeo) e texto. Feld concebe (e
realiza) CDs e DVDs, - traduzidos por sons e imagens – que diz serem importantes
argumentos numa pesquisa. Defende que é preciso também ouvir e ver e não somente
escrever sobre o que se pesquisa. Alguns dos seus trabalhos mais atuais seguem essa
perspectiva: focam nesse argumento estético e se relacionam com o que Feld chama
de uma “acoustics epistemology” ou “Acoustemology”.
A entrevista com Feld foi transcrita, traduzida, editada e enviada para
publicação na Revista de Antropologia da USP – aguarda-se parecer dos editores da
Revista. Feld não sentiu-se confortável com a filmagem da entrevista; assim, não
haverá edição de material audiovisual.
2.7.3. Entrevista com Suzanne Oakdale – março de 2012 – Albuquerque/NM
Suzanne Oakdale é uma antropóloga formada pela Universidade de Chicago,
que foi orientada por Terence Turner. Suzanne estuda os kayabi, povo tupi guarani
residente no Xingu, e sua relação com a sociedade nacional. Escreveu a tese “The
Power of Experience: Agency and Identity in Kayabi Healing and Political Process in
the Xingu Indigenous Park”. Suzanne falou sobre como chegou até os kayabi, dos
contatos e negociações anteriores mediadas por Eduardo Viveiros de Castro, das
dificuldades e facilidades do campo. Embora Suzanne assuma que não tem formação
para estudar a música entre os caiabis, os cânticos guerreiros são dados importantes
na sua análise sobre a constituição de pessoa e a autobiografia entre os líderes ou
xamãs caiabis, tema central da sua pesquisa. Entre os temas da entrevista estava o fato
que a antropologia brasileira é considerada uma das mais produtivas nas últimas
décadas e como os kayabi trazem perspectivas importantes para pensar a produção
antropológica atual e a relação com sociedade nacional. Falou ainda do modo como
em campo esteve relacionada com crianças e como essas auxiliaram sua pesquisa. Por
último Suzanne contou da sua participação no Editorial Board da Tipití: Journal of
the Society for the Anthropology of Lowland South America, da importância da
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Revista e especialmente da “Society for the Anthropology of Lowland South
America” - SALSA - para as pesquisas na área de etnologia.
Como a entrevista de Feld, a entrevista de Suzanne foi transcrita, traduzida e
editada e foi aceita para publicação em 2014 pela Revista Horizontes Antropológicos,
PPGAS, Porto Alegre. Suzanne também não sentiu-se confortável com a filmagem da
entrevista, logo não há material audiovisual.
2.7.4. Entrevista com Amanda Minks – Oklahoma – 28 março de 2012: Amanda
Minks
é
formada
na
Columbia
University
em
Etnomusicologia
(2006),
especializando-se na relação entre música e linguagem, socialização e política nas
Américas. É professora no Honors College (University of Oklahoma), afiliada com os
Departamento de Antropologia, Native American Studies, Gender e Women’s
Studies, e Musicologia. Música e antropóloga, Minks pesquisou práticas expressivas
das crianças Miskitu (Corn Island, Costa Caribenha de Nicaragua), abordando estética
e política das brincadeiras e canções Miskitu. Como Amanda Minks é uma autora
pouco conhecida no Brasil, a entrevista se centrou na formação da autora, nos autores
que mais a influenciaram, no seu principal trabalho (pesquisa entre crianças Miskitu),
e no modo como entende as pesquisas de antropologia que envolvam música.
A entrevista com Amanda Minks sofreu pequenos edições no conteúdo e está
transcrita em inglês. Será enviada para revista internacional a ser indicada pela
professora Minks.
2.7.5. Entrevista com Deise Lucy Montardo: realizada em agosto de 2012 em
Manaus. Deise Lucy Montardo é pesquisadora associada ao MUSA e vem
contribuindo para a pesquisa na área de antropologia da música. Possui graduação em
Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (1989), mestrado em
História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1995) e
doutorado em Ciência Social (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo
(2002). Atualmente é professora da Universidade Federal do Amazonas e membro da
comissão editorial das revistas Antropologia em Primeira Mão, Espaço ameríndio e
Tellus. Trabalha com música indígena, etnomusicologia, música, etnologia guarani e
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xamanismo. Na entrevista, Deise descreveu sua trajetória como pesquisadora, sua
relação com os guaranis na pesquisa de doutorado, sua presença no MUSA e aspectos
importantes da produção desse Núcleo, sua ida para a Amazônia e como isso
modificou sua pesquisa. Sua entrevista revela aspectos importantes da vida, da arte da
luta do povo guarani. O material audiovisual da entrevista precisa ser editada. Foi
também transcrita mas ainda precisa ser editada para envio para publicação em forma
de artigo.
2.7.6. Entrevista com Acácio Piedade – realizada em junho de 2013, na casa do
pesquisador, em Florianópolis. Acácio é professor da UDESC – Universidade do
Estado de Santa Catarina. Sua pesquisa estende-se desde o noroeste amazônico, lócus
onde faço pesquisa de campo nesse projeto, e depois ao Xingu, onde pesquisa os
Waujá. A entrevista foi filmada e está sendo editado o material audiovisual. Foi
também transcrita mas ainda precisa ser editada para envio para publicação em forma
de artigo.
2.7.7. Entrevista com Júlia Mello Piedade – realizada em julho de 2013 em
Florianópolis, a entrevista aborda a participação da entrevista aos nove anos de idade
na pesquisa de campo de seus pais, Acácio Piedade e Maria Ignez Mello entre os
Waujá, no Xingu. A entrevista foi transcrita e precisa ser editada e feito uma
introdução.
2.7.8. Entrevista com a família de Anthony Seeger, Judith Seeger , Margareth e
Léia Seeger– realizada via internet, a entrevista com a esposa de Anthony Seeger,
Judith Seeger, e com suas filhas, Margareth e Iléia pretendem complementar a
primeira parte da entrevista feita com o autor sobre a presença de sua família em
trabalho de Campo.
2.7.9. Entrevista com Rafael José de Menezes Bastos – A entrevista com o
professor Rafael foi feita no
em outubro de 2013. Foi uma longa entrevista,
importante não somente para a etnologia indígena preocupada com a música, mas
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para entender a história da arte no Brasil. O autor fala de inúmeros temas, partindo da
sua formação em família, na universidade, da sua aproximação precoce com a música
e com a arte, da ditadura no Brasil, dos seus mais influentes professores, da sua estada
em campo, da sua relação com os Kamayurá, no Xingu, sobre a antropologia da
música no Brasil, entre outros. A entrevista está sendo transcrita e a parte audiovisual
editada para constar no site do MUSA.
2.8. Fazer contatos e estabelecer diálogos com pesquisadores da antropologia da
música e da performance, buscando uma reflexão sobre o lugar das crianças nas
pesquisas
A ampliação da minha atuação como antropóloga na área de etnologia, um dos
objetivos desse projeto de pós-doutoramento, permitiu uma série de novos contatos e
vínculos com diferentes pesquisadores. Dos Estados Unidos cito especialmente os
professores entrevistados (Suzanne Oakdale, Steven Feld, Amanda Minks, Anthony
Seeger) mas também Jonathan Hill e Robin Wright, pesquisadores com quem venho
mantendo contato para debate sobre a área da etnologia no noroeste amazônico. No
Brasil, cito os pesquisadores associados do Musa, especialmente Rafael de Menezes
Bastos, Kaio Domingues Hoffman, Izomar Lacerda, Maria Eugênia Dominguez,
Acácio Piedade, Deise Lucy Montardo, Alexandre Herbetta, Sonia Regina Lourenço,
autores que tem contribuído para uma antropologia da arte e da artisticidade das terras
baixas da américa do sul. Reativei contato com os pesquisadores Aristóteles Barcelos
Neto, Ângela Sacchi, Nádia Heusi, entre outros, todos colegas do PPGAS/UFSC que
trabalham com povos indígenas no Brasil. Em Manaus, estive com pesquisadores do
NEAI – Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (PPGAS/ UFAM).
Durante o primeiro ano do projeto estabeleci contato com pesquisadores
ligados a região do Vale do Javari (Elena Welper, Pedro Cesarino, Barbara Arisi) e do
Noroeste Amazônico (Jonathan Hill, Robin Wright, Acácio Piedade, Deise Lucy
Montardo, Renato Athias, Geórgia Silva) e também com pesquisadores do Instituto
Socioambiental (ISA - Rio Negro). Conversas com Geórgia Silva, Geraldo Andrello,
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Pedro Cesarino, Flora Cabalzar e Aloisio Cabalzar foram fundamentais para realizar a
pesquisa em São Gabriel da Cachoeira. Em São Gabriel encontrei com diversos
pesquisadores e visitantes como Nicanor Rebolledo (professor visitante Nepi/UFSC),
Pillar Miguez (Pós Doutoranda do PPGAS/UFSC), Clarice Cohn (professora da
Universidade Federal de São Carlos/SP), Pieter van der Veld (agrônomo, assessor do
programa ISA Rio Negro), Renato Martinelli, que estavam de passagem pela região
na mesma época. Também mantive diálogo com o pessoal da FUNAI atuante na
Região do Rio Negro, especialmente Fernanda Nunes.
O encontro e a troca de ideias com pesquisadores indígenas, como Hildete
Araújo, Gilmara Andrade, Rosilene Waikhon, Moisés da Silva, e as pesquisadoras e
agentes indígenas do Setor de Mulheres da Federação das Organizações Indígenas do
Rio Negro (FOIRN) e da Casa de Artesanato Warirô, permitiram uma inserção nos
grupos para a pesquisa de campo. Em SP, por ocasião da Reunião da ABA, estive
com Danilo Paiva, que trabalha com o Hupd’äh, grupo Maku da região e conheci uma
das
referencias
nos
estudos
de
performance:
Richard
Schechner
um dos grandes pensadores e realizadores de performance Studies dos Estados
Unidos, professor da New York University.
Durante minha estada na Ucla, fiz contatos com pesquisadores daquela
instituição, mas especialmente entrei em contato com uma gama de apresentações e
produções na 46th Annual Meeting of SEMSCHC - Society for Ethnomusicology,
Southern Califórnia and Hawaii Chapter, realizado no 25 de fevereiro de 2012, na
Loyola Marymount University, Los Angeles, CA. Anthony Seeger me apresentou a
vários pesquisadores e professores de etnomusicologia nesse evento.
Durante o ano de 2013 a troca com pesquisadores da região amazônica foi
intensa. O contato com pesquisadores do ISA, como Renato Martilnelli, se estendeu
enquanto estive em campo em março/abril de 2013. Tambem do ISA conheci o
trabalho do pesquisador Adeilson Lopez, que trabalha com os Baniwas no Rio Içana e
Laise Diniz, do setor de educação daquela instituição.
Na Foirn – Federação das Organizações Indigenas do Rio Negro - foi possível
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um diálogo com inúmeros dos seus membros: Rosane Cruz, do setor de mulheres,
Almerinda Ramos de Lima, Diretora Presidente da Foirn, André Fernando Baniwa,
um importante atuante na região do Rio Negro, Braulina Aurora Baniwa. Em abril de
2013 participei do Encontro das Mulheres na FOIRN, onde conversei com várias
mulheres e famílias. Foi possível entender o enorme esforço dessas mulheres para
participarem do evento, vindo de muito longe. O evento foi muito interessante e
entrevistei algumas famílias sobre a vinda dessas ao evento.
No projeto “Saúde de crianças das áreas ruais do Estado do Amazonas”, um
leque de relações se estabeleceram tanto com pesquisadores da etnologia no
amazonas, quanto com pesquisadores e lideranças comunitárias locais.
Coordenando o projeto de pesquisa sobre saúde no amazonas estive em
intenso contato com os seguintes pesquisadores:Deise Lucy Montardo – professora da
UFAM, Presidente da ABET, que coordenou parte do projeto; Inara Nascimento –
professora da UFAM, campus Benjamim Constant; Rosilene Fonseca – antropóloga,
mestre pela UFAM e participante da Foirn; Georgia Silva – trabalhou com os Hupda
do Rio Negro.
Estive ainda em constante diálogo sobre cuidado de crienças com: Marcos
Pelegrini: professor da UFRR, um importante referencia na antropologia da saúde dos
povos indígenas no Brasil. Tem extenso trabalho com os ianomâmis de Roraima.
Luiza Garnello – pesquisadora da Fio Cruz – AM, uma das mais conceituadas
pesquisadoras e médica que atua no Rio Negro.
Maximiliano Ponte - pesquisador da Fio Cruz – AM, também médico que atua
na área do Rio Negro.
Renato Athias – professor da UFPE, que tem trabalhado há anos com os povos
macu do Rio Negro– AM.
Tereza Menezes – professora da UFAM, trabalha com populações da região
do Rio Purus, Lábrea. pesquisadora do projeto Nova Cartografia.
Maria Helena Ortolon – diretora do Museo de Antropologia da UFAM.
Andrey Moreira Cardoso – médico, especialista em Saúde da Família pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2003) e Doutor Saúde Pública (2010),
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ambos pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz. Integra o
Grupo de Pesquisa Saúde, Epidemiologia e Antropologia dos Povos Indígenas FIOCRUZ, atuando na linha de pesquisa Epidemiologia e Saúde de Populações
Indígenas.
Esses contatos, e outros que por ventura não citei aqui, certamente auxiliaram
a entender as dinâmicas de organizaçãoo social e política no noroeste amazônico e
região, bem como a acessar saberes e produções sobre ela.
2.9. Participar de seminários, conferências, congressos da área temática
2.9.1. Como ouvinte:
Participação de Colóquios de Etnomusicologia da UCLA “Série de Colóquios Nazir
Ali Jairazbhoy” focando em pesquisas e temas importantes no campo da
etnomusicologia. Nessa caso, como descrito anteriormente, todos foram proferidos
por Anthony Seeger.
a) "'Are you related to...?' Growing up in the Seeger Family -- Music, Politics, and
Repression 1900-1958" no dia - 25 janeiro de 2012.
b) "Why Study the Súya Indians of Brazil?: Anthropology, Music, and
Ethnomusicology" em Feb.22.2012 - 01:00 p.m. - 03:00 p.m.
c) "What is it all for? Applying Scholarship Outside the Classroom: Indigenous
Rights, Archiving, Folkways Records, and Professional Organizations"
Wed. Mar. 7.2012 01:00 p.m. - 03:00 pm.
Participação da 46th Annual Meeting of SEMSCHC - Society for Ethnomusicology,
Southern Califórnia and Hawaii Chapter, 25 de fevereiro de 2012, na Loyola
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Marymount University, Los Angeles, CA.
II Encontro de Performance da UFSC – organizado pelo Instituto Nacional de
Pesquisa Brasil Plural – 11, 12, 13 de abril de 2012.
28a. Reunião da ABA – realizada de 02 a 05 de julho de 2012, na PUC-SP, SP.
Seminário Universidade e Educação Indígena: Desafios para a Inclusão de qualidade
e construção de um espaço intercultural de produção e troca de saberes
Organização: ProfªAntonella M. I. Tassinari, Profª Edviges M. Ioris, Prof. José Nilton
de AlmeidaApoio: MEC/PROEXT: Programa de extensão: Promoção da Igualdade
Étnico
Racial
no
Ensino
Superior,
PROCAD-Casadinho(UFGO-UFSC-
UFRGS),Participação Conjunta: INCT Inclusão/SC/ Hotel Bica dÁgua. 10 e 11 de
dezembro de 2012. O seminário abordou iniciativas de inclusão indígena no Ensino
Superior (ações afirmativas, licenciaturas indígenas e pós-graduação), a partir de
depoimentos de várias universidades brasileiras e do caso do México, buscando
soluções institucionais.
Colóquio Arte e Sociabilidade: pesquisa, colaborações e fronteiras. Organizado pelo
IBP Instituto Nacional de Pesquisa - Brasil Plural – Manaus/ AM entre 21 e 22 de
agosto de 2012.
O encontro é uma atividade promovida pelo INCT Instituto Brasil Plural que
prevê a pesquisa antropológica e a comparação de distintos universos no Sul e no
Norte do Brasil e suas fronteiras. Cito duas conferencias que assisti- Jonathan Hill
(Illinois University) dia 21 /08 - 9:30 horas- Musicalizing the Other: Ethnomusicology
in the Age of Globalization
- Rafael J. de Menezes Bastos (UFSC) 22/08 - 19:00 horas -Música nas Sociedades
Indígenas das Terras Baixas da América do Sul: Reflexões sobre Deslocamentos e
Mudanças de Rumo na Etnomusicologia.
Florianópolis, Janeiro de 2014.
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1o. Ciclo de Palestras do PPGAS/UFSC – outubro/novembro de 2012, Florianópolis,
SC.
Colóquio Reflexões sobre Pesquisa Antropológica e Políticas Públicas no INCT
Brasil Plural. Pesquisadores do Instituto Brasil Plural reuniram-se em Florianópolis,
de 18 a 20 de novembro, e realizaram apresentações e debates sobre os trabalhos
realizados nas redes do IBP. A maioria deles tem mostrado uma constante tensão
entre as práticas culturais e as políticas públicas em diversos segmentos sociais, como
a questão indígena, saúde, migrações, direitos humanos e o reconhecimento de
saberes locais, que foram tema de quatro mesas redondas. A finalidade do colóquio
foi realizar um balanço das pesquisas realizadas pelo IBP que tenham contribuído
para subsidiar as políticas públicas, debater as controvérsias e estimular novas ideias.
Embora não tenha apresentado trabalho no evento, os resultados da pesquisa
“Cuidados de Crianças Ribeirinhas” foi apresentado por Deise Lucy Montardo,
contribuindo para o debate. O evento foi intenso e de grande proveito para pensar a
atuação das redes do IBP e seus vínculos com as políticas públicas, um tema
fundamental para a atuação dos pesquisadores desse instituto. Foi um importante
momento de troca e de aprendizado. Também de abertura para trabalhos coletivos
sobre o tema da etnologia indígena. Nesse evento estive em diálogo com o pessoal do
NEPI - Núcleo de Estudos de Populações Indígenas, da UFSC, especialmente com
Antonella Maria Imperatriz Tassinari.
2.9.2. Apresentando trabalhos:
28a. Reunião da ABA – realizada de 02 a 05 de julho de 2012, na PUC-SP, SP.
Artigo apresentado: “O caso do lobo mau (que casou) com a vovozinha: Narrativas,
literatura oral e subjetivação entre crianças pequenas” no Grupo de Trabalho
"Narrativas em performance: experiência, subjetivação e etnografia".
Participação como palestrante do Colóquio Arte e Sociabilidade: pesquisa,
Florianópolis, Janeiro de 2014.
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colaborações e fronteiras. Organizado pelo IBP Instituto Nacional de Pesquisa - Brasil
Plural – Manaus/ AM entre 21 e 22 de agosto de 2012.
Artigo apresentado: “Socialidade Estética e subjetivação entre crianças de periferia a
arte de inventar (-se)”.
1o. Ciclo de Palestras do PPGAS/UFSC – 17 de outubro de 2012, Florianópolis, SC,
proferindo a palestra “Entre jaguares e Avatares: performances de crianças indígenas
na Cidade de São Gabriel da Cachoeira- Rio Negro – Amazonas”.
Mostra dos Filmes do projeto em São Gabriel da Cachoeira, Abril de 2013.
1) Maloca Casa do Conhecimento, São Gabriel da Cachoeira, AM.
2) ISA Rio Negro. Sede do ISA, São Gabriel da Cachoeira, AM. Ver cartaz em
anexo no link http://www.shinealight.org/Portuguese/anexoscnpq2013/cartazmostraisa.pdf
Organização do Evento: Primeiro e Segundo Encontro de pesquisadores do Projeto
Saúde de Criança de áreas rurais do Amazonas”, Manaus, AM. Março e agosto de
2013.
Apresentação do trabalho “Narrativas, produção de si e gênero na produção
midiática/fílmica com crianças” no Evento Fazendo Gênero 10 – Desafios Atuais e
Feminismo, – 16 a 20 de Setembro de 2013, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis. GT Questões de Gênero e Infância nas Produções Midiáticas de, para e
com Crianças), organizado por Gilka Girardello (Universidade Federal de Santa
Catarina) e Juliane di Paula Q. Odinino (UDESC e Faculdade Municipal de Palhoça).
Participação das Jornadas Antropológicas do Discentes do PPGAS-UFSC 2013
“Antropologias em Trânsito: formações entre o campo e a escrita” de 8 a 11 de
outubro de 2013, Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC).
Participei ativamente das Jornadas Antropológicas 2013 com as seguintes atividades:
Florianópolis, Janeiro de 2014.
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1) Coordenando o Ateliê de Pesquisa (2) - Arte, Imagens, Música e Performance, que
aconteceu nos dias 09, 10 e 11 de outubro de 2013
2) Apresentando resultados da pesquisa relatada nesse projeto com o texto Entre
Jaguares e Avatares: Divagações sobre Performances e narrativas de crianças
indígenas na cidade. dia 09/10/2013 na Sessão 1 –
Produção inventiva e
Performances.
3) Debatendo os textos apresentados no terceiro dia do evento na Sessão 3: Produção
inventiva e Performances. Dia: 11/10/2013. Os textos debatidos foram os seguintes:
Onadekom: uma etnografia da produção musical na conjuntura social e política da
Palestina / Rafael Gustavo de Oliveira (PPGAS/UFPR)
O rufar do tambor: dançando no ritmo das toadas e no “dois pra lá e dois pra cá” com
o Boi Garantido / Socorro de Souza Batalha (PPGAS/UFAM)
“Pelas cordas da viola”: pensando a relação viola e violeiro no fandango caiçara /
Patrícia Martins (PPGAS/UFSC)
Beber ou degustar: eis a questão / Kamila Guimarães Schneider (Ciências Sociais /
Unioeste).
4) Participando da Sessão Áudio Visual do evento como curadora da mostra A vida
como Obra de Arte, em Homenagem a Maria Ignez Mello (in Memoriam). Música,
compositora, pesquisadora associada do Núcleo de Estudos Arte, Cultura e Sociedade
na América Latina e Caribe (MUSA/PPGAS/UFSC) e professora do Departamento
de Música da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Maria Ignez Mello
faleceu em 2008, deixando uma obra importante para a antropologia da música e do
gênero estudando os Waujá no Xingu.
Estudando a música Waujá Maria Ignez Mello (Mig) aborda o ritual de iamurikuma
relacionando-o com o tema das flautas proibidas às mulheres, e trás o debate das
relações de gênero para a etnologia. Discute assim os vários nexos deste ritual com a
cosmologia, as relações de gênero, a ética, o poder, a estética, a musicalidade e a
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política, destacando questões como a necessidade de controle do desejo, a quebra da
reciprocidade e o papel fundamental dos sentimentos de ciúme e inveja na socialidade
Waujá. Sua tese Recebeu em 2006 Menção Honrosa no Concurso Brasileiro
ANPOCS de Obras Científicas e Teses Universitárias em Ciências Sociais,
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais - ANPOCS.
Duas obra de importantes pesquisadores são dedicas a ela: Burst of Breath,
organizado por Jonathan D. Hill e Jean-Pierre Chaumeil (Nebraska, 2011) e A Festa
da Jaguatirica, de Rafael de Menezes Bastos (UFSC, 2013).
2.10. Atividade docente
Na Universidade de Oklahoma (USA), à convite de Amanda Minks,
professora do Honors College afiliada com aos Departamentos de Antropologia,
Native American Studies, Gênero e Women’s Studies e Musicologia, ministrei em
parceria com Kurt Shaw duas aulas sobre pesquisa com crianças e uso de mídia
digital.
Contribuindo com as atividades docentes do PPGAS/UFSC, ministrei no mês
de novembro de 2012 duas aulas da disciplina “Antropologia da Arte” (2012/02 e 04
créditos) e mais uma em dezembro de 2012. Todas as aulas que ministrei foram sobre
temáticas trabalhadas por pesquisadores que entrevistei durante o primeiro ano de
pós-doutoramento.
A disciplina foi oferecida e coordenada pelos professores Maria Eugênia
Dominguez e Rafael José de Menezes Bastos, ambos integrantes do MUSA, aos
alunos de Mestrado e Doutorado do programa de Pós-Graduação em Antropologia
Social da UFSC. A disciplina tem como ementa temática importante à pesquisa
proposta nesse projeto: A construção da arte como objeto de estudo antropológico:
etnoestética, etnomusicologia e outros subcampos da área. Arte como código
sociocultural: principais tendências teórico-metodológicas. Arte e artisticidade. Artes
populares, eruditas, folclóricas e indígenas. Etnografias clássicas, modernas e recentes
sobre a arte.
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As aulas ministradas por mim estão relacionadas abaixo:
Dia 21/11/2012 – 13 a. aula do curso
Seeger, A. 2004. Why Suyás Sing: A Musical Anthropology of an Amazonian People,
2nd ed. Cambridge: Cambridge University Press.
Menezes Bastos, Rafael José de. 2007. “Música nas Sociedades Indígenas das Terras
Baixas da América do Sul: Estado da Arte.” Mana, v.13, p. 293 - 316, 2007.
Dia 28/11/2012, 14a. aula do curso
Menezes Bastos, Rafael José de. 1999. A Musicológica Kamayurá: Para Uma
Antropologia da Comunicação no Alto Xingu, 2ª. ed. Florianópolis: Editora da UFSC
(trechos).
Feld, Steven. 1982. Sound and Sentiment: Birds, Weeping, Poetics, and Song in
Kaluli Expression, 2nd ed. Philadelphia: Pennsylvania University Press (trechos).
Dia 05/12/2012 – 15a. aula do curso
Montardo, Deise L. Oliveira. 2009. Através do Mbaraka: Música, Dança e
Xamanismo Guarani. São Paulo: Edusp, pp. 189-203.
Hill, Jonathan & Chaumeil, Jean-Pierre. Burst of Breath. Indigenous Ritual Wind
Instruments in Lowland South America. Lincoln: University of Nebraska Press, 2011.
“Overture”, pp. 1-46.
2.11. Atividades Realizadas não previstas no projeto
2.11.1.Durante o ano de 2012, tendo em vista a ida a campo de um dos integrantes do
MUSA, fiquei com a responsabilidade de manter o site do Núcleo, cujo link é
http://www.musa.ufsc.br/index.php. Até o presente momento auxilio na alimentação
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do site.
2.11.2. Participação da Banca de defesa da mestranda Rosilene Fonseca Pereira,
PPGAS/ UFAM/ Manaus. Título da Dissertação: Criando gente no Alto Rio
Negro: um olhar Waikhana. Data da defesa: 20/03/2013.
2.11.3. Participação de aulas no PPGAS UFSC: A participação como ouvinte de
algumas aulas de duas disciplinas do Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social-UFSC que abordavam etnologia indígena foram
importantes para ampliar a compreensão do vasto e complexo debate
bibliográfico desenvolvido por pesquisadores das terras baixas da américa do
sul.
1) Tópicos Especiais em Antropologia: Antropologia da mistura e
transformação. ANT 510025 (D) (2 créd.) ministrada pelo Prof.: José
Antônio Kelly Luciani.Ementa: Uma das dificuldades mais persistentes da
antropologia tem sido desenvolver teorias satisfatórias respeito à chamada
mudança social ou cultural. Esta disciplina se debruça sobre a temática da
transformação e da mistura, sendo esta última inevitavelmente ligada à
questão da mudança. Abordaremos então a questão da mistura e
transformação desde duas perspectivas: a primeira corresponde a teorias ou
formas nativas de mistura e transformação. Aqui leremos etnografias de
diversas regiões do mundo (Amazônia, Melanésia, Andes, Meso-América).
A segunda parte visa explorar algumas teorias antropológicas da
transformação social ou cultural. Assim serão analisadas e contrastadas
abordagens teóricas de autores como Lévi-Strauss, Sahlins, Wagner,
Clastres, Deleuze, refletindo sobre seu encaixe com as etnografias a serem
lidas. Mesmo que as leituras etnográfcas correspondam a várias regiões
etnográficas e que as leituras teóricas são de caráter geral, a preocupação
principal é a temática da mudança cultural nas Terras Baixas Sul
Americanas – o curso terá uma ênfase nesta região etnográfica.
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3)Etnologia Indígena ANT3161, ministrada pelo professor Rafael José de
Menezes Bastos.Ementa: A etnologia das Terras Baixas da América do Sul,
suas principais temáticas e posturas teórico-metodológicas. Esboço histórico e
situação atual. A constituição da cosmologia como seu domínio globalizador.
Etnografias Gê, Alto Xingu, Alto Rio Negro, Tupi, Guiana, Pano e outras.
Perspectivas comparativas. Os índios, o Brasil e o sistema mundial. Dessa
disciplina, por motivos particulares, pude participar apenas de alguns poucos
encontros.
2.11.4. Coordenação do projeto “A saúde de crianças em áreas rurais no Estado
do Amazonas. Embora não tenha sido planejado, esse projeto foi de grande
aprendizado e auxilio para o objetivo desse empreendimento de pósdoutoramento: colocou a pesquisadora em contato com um enorme leque de
conhecimento sobre a vida de crianças amazônicas e com inúmeros
pesquisadores da área. Por esse motive, me atenho a descrever com mais
detalhe essa atividade e como ela se colocou como uma possibilidade.
Com o primeiro ano de pesquisa junto a crianças indígenas e seus familiares em
São Gabriel da Cachoeira, recebi um convite que foi bastante proveitoso para seguir
dando prosseguimento ao aprofundamento na etnologia indígena: o de montar uma
equipe de pesquisa para realizar o projeto de pesquisa sobre saúde e cuidados de
crianças ribeirinhas. Constatei colegas Deise Lucy Montardo, Antropóloga professora
da UFAM, Kurt Shaw, pesquisador da ONG Shine a Light, e Geórgia Silva,
pesquisadora do Saúde Sem Fronteiras, para saber de seus interesses em auxiliar na
formação da equipe e participação na pesquisa. Montamos uma equipe de 3
pesquisadores de área para três diferentes municípios, uma pesquisadora de Arquivos,
5 assessores, dois realizadores de vídeos e mais auxiliares de pesquisa em cada região,
que foram selecionados pelos pesquisadores de área.
O convite veio do diretor da Fundação Bernard Van Leer, Leonardo Yanez,
que vem investindo em projetos que auxiliem crianças ribeirinhas no acesso à saúde
no Estado do Amazonas. O foco da pesquisa foi a observação de como crianças são
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cuidadas e como elas mesmas se cuidam em três municípios do estado – Santa Isabel
do Rio Negro (Rio Negro), Atalaia do Norte (Vale do Javari) e Lábrea (Rio Purus). A
pesquisa objetivou conhecer a realidade para pensar dinâmicas de acesso de crianças
do interior de amazonas ao sistema de saúde pública. A oportunidade pareceu
interessante por possibilitar uma ampliação da pesquisa iniciada no primeiro ano.
Como era uma pesquisa multifocal, contatei pesquisadores do Programa de Pósgraduação da Universidade Federal do Amazonas e formamos uma equipe onde
grande parte dos pesquisadores já realizavam pesquisa em áreas importantes em três
municípios do Estado do Amazonas. Além de coordenar a pesquisa, organizando o
grupo, contatando assessores de pesquisa com conhecimento avançado nas áreas da
pesquisa, participei de parte da pesquisa em campo, filmando e conversando com as
famílias e com as crianças de Santa Isabel do Rio Negro.
A escolha dos municípios foi feita seguindo os desafios apresentados naquelas
comunidades como: distância geográfica, lócus de doenças endêmicas, conflitos
culturais evidentes, dificuldades que tais grupos sofrem para o acesso ao sistema de
saúde e extrema pobreza. Esses locais para a realização da pesquisa foram
selecionados com o objetivo de mostrar alguns dos desafios na atenção à saúde em
Amazonas, e não como um meio representativo de todas as áreas rurais no estado.
Portanto, uma série de dados foram possíveis de serem captados pelos pesquisadores e
pelos coordenadores. Como mencionei acima, minha presença em campo foi na
comunidade indígena Tabocal de Uneiuxi, do município de Santa Isabel do Rio
Negro, ainda no noroeste amazônico, ampliando ainda mais esse contato com
narrativas e performances de crianças. Também pude entender como cuidam
diariamente das crianças. Foram as crianças mesmas quem mostraram onde e como
estão produzindo saúde: na dança, nas atividades cotidianas, na caça, na coleta de
frutos, na agricultura, nos banhos nos rios, nas festas e ritos que o grupo ainda
preserva, e não apenas no atendimento médico ou xamânico.
O projeto foi inscrito na Plataforma Brasil (Sistema Nacional de Ética em
Pesquisa – SISNEP) do Ministério da Saúde, e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). O projeto recebeu
parecer positivo, destacando a importância da pesquisa para a região.
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O pesquisador de área em Santa Isabel do Rio Negro foi Rosilene Fonseca
Pereira, mestre em antropologia pela UFAM e indígena do povo Waikhana, moradora
de Santa Isabel. Rosilene defendeu dissertação sobre cuidado de crianças em 2013,
pesquisando a história da sua própria etnia, discutindo noções êmicas.
Em Lábrea, o pesquisador foi Willas Costa Dias, doutorando da UFAM e integrante
do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia.
Em Atalaia do Norte, a pesquisadora foi Inara Nascimento Tavares, mestre em
antropologia social, pesquisadora da região e, no período da pesquisa, professora da
UFAM no campus Benjamin Constant.
Cada um desses pesquisadores tinha um assessor que o auxiliou na produção
do texto final, lendo e sugerindo mudanças. O Pesquisador de Lábrea contou com o
auxílio constante de Thereza Menezes, professora da UFAM que coordena pesquisas
na região. A pesquisadora de Atalaia do Norte contou com o auxilio de Maria Helena
Ortolon, professora da UFAM, pesquisadora de etnologia do Vale do Javari; já a
pesquisadora de Santa Isabel do Rio Negro contou com a leitura do texto por Renato
Athias, professor da Universidade Federal de Pernambuco que trabalha na região do
Rio Negro com antropologia da saúde há várias décadas.
Além disso, cada pesquisador de área contratou um auxiliar de pesquisa local
(um agente de saúde, líder local ou pesquisador local) para auxiliar no processo. A
escolha desses auxiliares de pesquisa foi feita pelo próprio pesquisador e variou muito
de local para local, mas grande parte dos auxiliares também foram pessoas que ou
vivem nas comunidades, ou tem vínculo longo com as mesmas.
Compor a equipe de trabalho de campo utilizando recursos humanos locais,
inclusive indígenas, caboclos, foi uma opção ética e tecnicamente oportuna da
pesquisa. Atores locais facilitam o acesso aos universos e aos saberes locais, e são
eles mesmos fontes de informação importantes. Viabilizam melhores resultados em
menos tempo, investindo localmente. Por outro lado, participar de um
empreendimento como esse, pensamos, oportuniza aos mesmos uma reflexão sobre
suas práticas e a de terceiros, fazendo da própria pesquisa uma oportunidade de
valorização e de transformação dos seus saberes.
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O projeto foi coordenado por mim, antropóloga e Pós-doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de
Santa Catarina em conjunto com Kurt Shaw, filósofo, mentor e diretor executivo de
Shine a Light e Deise Lucy Oliveira Montardo, antropóloga, professora do Programa
de Pós Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas e
Pesquisadora do INCT Instituto Brasil Plural. Esta equipe formou o grupo de
pesquisadores e coordenou as atividades de pesquisa, realizou encontros e debates e
submeteu o projeto para análise pelo comitê de ética da UFAM. O gerenciamento
financeiro do projeto foi feito pelos membros da Shine a Light, já que coube a esta a
responsabilidade formal do projeto.
Durante a realização da pesquisa, foram feitos dois encontros da equipe em
Manaus: um preparatório, realizado em março de 2013 e outro de apresentação e
debate dos dados coletados, em julho de 2013. Sediados no Programa de Pós
Graduação da Universidade Federal do Amazonas, esses encontros foram essenciais
para preparar o grupo para a pesquisa e depois para compartilhar os resultados e
estabelecer a linha de base.
O projeto teve dois assessores gerais, que acompanharam a pesquisa e
sugeriram modificações, debateram os dados e fizeram a leitura do relatório final
“Cuidados de Crianças Ribeirinhas”, auxiliando na definição da linha de base. Ambos
assessores têm extensa experiência” em pesquisa e implantação de projetos em saúde
em área amazônica. Maximiliano Loiola Ponte de Souza, médico, psiquiatra, doutor
em Ciências pela FioCruz e atualmente pesquisador do Instituto Leônidas e Maria
Deane, da Fiocruz, que tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em
Ciências Sociais em Saúde, atuando principalmente nos temas saúde indígena,
antropologia da saúde e saúde mental. Maximiliano participou do debate do projeto
no primeiro encontro organizativo feito pela equipe em Manaus (em março de 2013) e
sugeriu modificações importantes para a pesquisa.
O assessor Geral Marcos Antônio Pellegrini, também médico formado pela
Universidade Federal de São Paulo (1986), mestrado (1998) e doutorado (2008) em
Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina, tem vasta
experiência profissional na área de planejamento e organização de serviços de saúde
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entre povos indígenas. É professor do Instituto de Antropologia, do Programa de PósGraduação em Ciências da Saúde e do Programa de Pós-Graduação Sociedade e
Fronteiras da Universidade Federal de Roraima. Tem pesquisa na área de
Antropologia da Saúde, Etnologia e Saúde Indígena, o que auxiliou enormemente no
debate dos relatórios finais dos pesquisadores e cruzamento dos dados coletados pelos
pesquisadores (segundo encontro feito em Manaus em julho de 2013).
A pesquisa foi registrada num longo relatório: “Cuidado de Crianças
Ribeirinhas”, disposto em forma de livro, e que está disponível online
no link
http://www.adrmarketplace.com/Cidade/criancasamazonas.pdf. Além de escrever a
introdução do documento e o primeiro capítulo, em parceria com Kurt Shaw
organizamos o livro, fizemos o cruzamento dos dados e escrevemos as propostas da
linha de base. Também produzimos em conjunto os filmes que fizeram parte do
trabalho, sendo que me envolvi muito mais com os produzidos em Santa Isabel do Rio
Negro, onde pude também realizar a captação das imagens e acessar as performances
das crianças da comunidade de Tabocal de Uneiuxi.
d) Uma outra atividade não programada pelo projeto de pesquisa foi a
participação do Evento “Encontro das Mulheres da FOIRN”. Nesse evento pude
acompanhar a atuação de lideres indígenas mulheres e o debate que elas vem fazendo
sobre gênero naquele meio. Durante o evento entrevistei mulheres e homens
participantes, para tentar entender como as crianças participam da organização
política daquela área e como homens e mulheres pensam a política de gênero da
região. O material audiovisual desse evento ainda está por ser editado.
2.12 Dificuldades Encontradas
A maior dificuldade encontrada durante o desenvolvimento do projeto foi a
necessidade da mudança do lócus da pesquisa de campo. Tal dificuldade, no entanto,
embora tenha alterado certos aspectos esperados na pesquisa, não impossibilitou bons
resultados.
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3. AVALIAÇÃO
Um dos objetivos desse projeto foi colocar a pesquisadora em contato com uma
nova área de pesquisa, a saber, a etnologia indígena brasileira, estudando crianças
indígenas e suas performances nas cidades. Também objetivava produzir
conhecimento e material sobre o tema. O esforço empreendido nesses meses de
atividades abriram um leque espantoso de conhecimento na área referida. Isso se deu
por diversos motivos:
1) por participar das atividades do Núcleo MUSA, sob a coordenação do
Professor Rafael de Meneses Bastos e Maria Eugênia Dominguez. Os
integrantes do Núcleo ofereceram durante esse período, ampla acolhida e
sólido debate na área referida;
2) por ter entrado em contato com uma bibliografia sobre etnologia no Brasil,
especialmente a produzida sobre a área do Vale do Javari (onde iria realizar
a pesquisa de campo) e com aquela que se refere ao Noroeste Amazônico,
onde a pesquisa foi realizada.
3) Por poder contatar tantos novos pesquisadores e especialistas na área da
etnologia indígena.
4) Em São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro, realizando
pesquisa bibliográfica, etnográfica e videográfica sobre e naquela região,
pude entender e interagir com a produção sobre etnologia brasileira de modo
bastante intenso, e ainda fazer contato com pesquisadores e com diferentes
etnias.
5) As entrevistas realizadas, igualmente, permitiram a valorização e o acesso a
informações importantes sobre o tema de cada um dos entrevistados, todos
etnólogos ligados ao tema performances/narrativas e/ou a antropologia da
música.
6) Por ter me desafiado a algo inédito para mim: ir a campo levando minha
própria família, o que me acrescentou reflexões sobre a infância que ainda
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estou elaborando e que em algum momento deve merecer atenção em forma
de um artigo.
7) O contato com as crianças e seus familiares, que me permitiram acessar seus
saberes, suas formas de estar junto, sua criatividade e que me forneceram
dados muito interessantes para pensar a arte e a artisticidade nas
comunidades indígenas nas Terras baixas da América do Sul.
Deste modo, a oportunidade de realizar esse estágio de pós-doutoramento
foi fundamental para complementar minha formação como pesquisadora, abrindo o
acesso a esse impressionante leque de saberes que a etnologia vem construindo desde
sua constituição como área do conhecimento. Graças a esse estágio, sinto que minha
formação antropológica está muito mais completa. Espero que o saber produzido
nesses dois anos seja de valor também para os povos indígenas da região do Rio
Negro e que o material produzido seja útil a outros pesquisadores. Espero que sirva
ainda de estimulo a outros pesquisadores que queiram trabalhar com crianças. Elas
nos ensinam muito, e a pesquisa de campo com elas é desafiadora, mas mais que tudo,
prazerosa, cheia de risos e encantamentos. A criatividade com que elas vivem seus dia
a dia e contam suas histórias é impressionante. Merece darmos olhos e ouvidos a elas,
para vermos e ouvirmos como produzem cultura e pesquisarmos para que serve essa
produção. O sentido da existência e da capacidade humana parece estar ai.
3.
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A onça e o jaguar, de Herbert Bröld (37 min./1993 - Suiça).Sobre Theodor KochGrünberg. É uma viagem pelo Rio Negro que refaz os caminhos de Theodor
Koch-Grünberg pela Amazônia.
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Bahsariwii-Panti-Maloca, de Andrea Bitencourt Prado (31 min./2005 Brasil/AM).O vídeo trata da documentação da montagem de uma maquete de
maloca tradicional dos povos do alto rio negro, adicionada de entrevista que
entremeiam a montagem com informações sobre a metodologia da construção de
malocas reais, além do contexto mitológico que envolve toda a construção e a
própria existência destas edificações. O vídeo faz referencia também ao processo
de proteção do Patrimônio cultural imaterial brasileiro após a criação do decreto
3551/2000. Conta com a presença especial do Kumu Gabriel gentil Tukano.
Baniwa – uma história de plantas e curas, de Stella Oswaldo Cruz Penido (72
min./2005 - Brasil/RJ). As práticas tradicionais de cura estão no cerne da cultura
Baniwa, povo indígena do Alto Rio Negro, Amazonas. O documentário busca o
sentido de permanência dessas práticas no atual contexto do contato.
Casimiro, de Erlan Souza e Fernanda Bizarria (30 min./2009 Brasil/AM).Documentário sobre as missões salesianas do Alto Rio Negro, no
Amazonas, e sua relação com o processo de colonização dos indígenas
brasileiros. Em meio ao cenário, desponta a figura do padre Casimiro, uma vida
dedicada a cultura indígena.Cenas do cotidiano na vida dos Hupd’äh,
protagonizadas por Messias, chefe do clã Pinoahtenre, da aldeia do IgarapéPombo, rio Umari. Os Hupd’äh vivem na região interfluvial dos rios Uaupés,
Tiquié e Papuri no Alto Rio Negro, Amazonas.
Hianhekhetti movimento indígena Baniwa, de Stella Oswaldo Cruz Penido
(21min./2011 – Brasil). Em Tunui Cachoeira, rio Içana, lideranças avaliam 20
anos de luta dos povos Baniwa e Coripaco. O que conquistaram e o que a
reflexão sobre estas conquistas traz de positivo para suas vidas. O momento atual
exige uma nova reflexão para a retomada do movimento indígena rionegrino. Em
março de 2011 a Assembçéia Geral Baniwa e Couipaco debate as políticas
públicas para a saúde e a educação e projetam uma nova estratégia política para o
futuro do movimento.
Mosaico de São Gabriel da Cachoeira, de Cristian Pio Ávila e Eddie Jr.
(28min./2007 - Brasil/AM). O filme retrata através do prisma do patrimônio
imaterial. As diversas tensões e discursos relacionados ao tema em São Gabriel
da Cachoeira, no Alto Rio Negro, no Amazonas.
Meninos nus, de Delvair Montagner (08min./1996 - Brasil/DF). Um dia na vida das
crianças Marubo do rio Ituí, Amazonas, última esperança de um povo em perigo,
narrado poeticamente por Helena Barcelos.
Nadëb: voz de um povo Maku, de Ricardo Romcy Pereira (10min./2004 Brasil/AM)
O encontro dos sabores no Rio Negro, de Aurélio Michiles e Elaine Cesar
(24min./2008 - Brasil/SP). Documentário sobre a expedição gastronômica
realizada neste importante rio amazônico, aonde o estudioso da alimentação Toni
Massarés reflete sobre as iguarias que saboreia nesta reveladora viagem culinária.
Florianópolis, Janeiro de 2014.
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Remições do Rio Negro, de Fernanda Bizarria e Erlan Souza(90min./2009 Brasil/AM). Documentário sobre as missões salesianas do Alto Rio Negro, no
Amazonas, e sua relação com o processo de colonização dos indígenas
brasileiros.
Florianópolis, 21 de janeiro de 2014.
Rita de Cácia Oenning da Silva.
Pesquisadora MUSA/PPGAS/UFSC
Florianópolis, Janeiro de 2014.
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