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ANO 1 PESQUISA, DEBATE, OPINIÃO, IDEIAS. EDIÇÃO 01 2016 GESTÃO EM SAÚDE BASEADA EM EVIDÊNCIAS REPORTAGEM Crise na saúde: Rio de Janeiro ENTREVISTA CADERNO CIENTÍFICO Dr. Paul Rothman CEO da Johns Hopkins Medicine • Pay for the quality em operadoras de saúde • Gerenciamento de compras hospitalar • Perfil dos gerentes na atenção básica • Cadeia de suprimento e demanda em UANH The RBGS (Revista Brasileira de Gestão em Saúde - Brazilian Journal of Healthcare Management) aims to help find and bring solutions to the chronic and emerging problems affecting the health sector, in the context of performance of hospitals, clinics, health insurance providers, government agencies of the three administrative levels (county, state and federation) , health professionals and the general public. PRESENTATION The entire chain of suppliers, consultants and other professionals interested in developing relations or dealings with the health sector, both public and private, at the level of organizations or individual practices, will find in the Brazilian Journal of Healthcare Management the ideal space: for updates on most relevant topics and to disseminate their products, services, skills and knowledge. One of the journal features is to provide the opportunity to approach the academic activity with the practical reality of health management, enabling support decision-making based on evidence. Academic, training or research centers can count on a special volume chartered for the publication of scientific articles related to health management. The Brazilian Journal of Healthcare Management rises to become a permanent forum for discussions to all interested in improving the systems and health services, with initiatives to promote access, improve quality and increase the security and stability of the institutions and professional involved. Dr. Marcelo F. Tiburi Editor SAÚDE Índice SEÇÕES 39 Global Health O SISTEMA DE SAÚDE DA ALEMANHA Iniciamos, nesta seção, uma análise dos sistemas de saúde dos países do mundo. Saiba como funciona o sistema de saúde da Alemanha. 10 Reportagem Acompanhe nesta reportagem especial: um panorama da crise na saúde do Rio de janeiro 05 Entrevista Conheça o Dr. Paul Rothman: médico, reumatologista, imunologista molecular e CEO da Johns Hopkins Medicine (Baltimore, MD, EUA). Caderno científico 15 Opinião I 37 Opinião II 38 Projetos para a saúde no Congresso Nacional Tempos de governança clínica Agenda 45 Cultura, bem estar e qualidade de vida 46 A fábula de Django Reinhardt O que cabe dentro de um olhar? Ano 1 | Edição 1 - 2016 603 SAÚDE Expediente RBGS - REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE Pesquisa, Debate, Opinião, Ideias Gestão em Saúde Baseada em Evidências EDITOR Marcelo F. Tiburi [email protected] PROJETO GRÁFICO E DESIGN UP design www.updesign.com.br SITE rbgs.info ANÚNCIOS [email protected] telefone: (51) 9962.7735 Unique editorial pattern in the Brazilian scene. ADVERTISING Targeted content to administrative decision-makers. Wide audience and with differentiated purchasing power. Advertise in the BRAZILIAN JOURNAL OF HEALTHCARE MANAGEMENT and INCREASE YOUR DOING BUSINESS OPPORTUNITIES IN THE BRAZILIAN HEALTHCARE SECTOR 4 International ad translated into Portuguese language (optional). Free access for reading and download, which achieves significant number of readers. Access to the academic community and opinion leaders. Ano 1 | Edição 1 - 2016 www.rbgs.info [email protected] Editorial É com satisfação que anunciamos a Revista Brasileira de Gestão em Saúde (RBGS), uma publicação com padrão editorial único e inovador no mercado brasileiro, apresentando conteúdos direcionados aos gestores e a todos os profissionais envolvidos com a gestão e os problemas da saúde, de diferentes níveis e de diversas funções. A meta é contribuir para encontrar e trazer soluções aos problemas crônicos e emergentes que afetam o setor da saúde, no âmbito da atuação de hospitais, clínicas, operadoras de planos de saúde, órgãos governamentais das três esferas administrativas (município, estado e federação), profissionais e público em geral. Toda a cadeia de fornecedores, consultorias e demais profissionais interessados em desenvolver relações ou negócios com o setor da saúde, tanto público como privado, ao nível de organizações ou práticas individuais, encontrarão na Revista Brasileira de Gestão em Saúde o espaço ideal para atualização sobre os temas mais relevantes e para divulgação de seus produtos, serviços, habilidades e conhecimentos. Uma das características da revista é propiciar a oportunidade de aproximar a atividade acadêmica com a realidade prática da gestão em saúde, permitindo fundamentar a tomada de decisão com base em evidências. Centros acadêmicos, de formação ou de pesquisa podem contar com um caderno especial encartado para a publicação de artigos científicos relacionados à gestão em saúde. Nessa primeira edição, tivemos a oportunidade de entrevistar o Dr. Paul Rothman, CEO da Johns Hopkins Medicine, que compartilha conosco sua visão sobre importantes tópicos de gestão em saúde. Nas diversas seções da revista, opiniões qualificadas sobre gestão e política em saúde, além de cultura e variedades. Iniciamos, também, uma série especial sobre os sistemas de saúde mundiais, destacando o sistema de saúde alemão. No encarte científico, o leitor pode encontrar artigos abrangentes sobre temas como pay-for-quality em planos de saúde, perfil de gerentes na atenção básica, processo de compra hospitalar e gerenciamento da cadeia de suprimentos e de demanda em unidades de alimentação e nutrição hospitalares. A Revista Brasileira Gestão em Saúde nasce para se tornar um fórum permanente de discussão a todos os interessados em agir para melhorar os sistemas e os serviços de saúde, com iniciativas para promover o acesso, melhorar a qualidade, aumentar a segurança, e buscar a eficiência e a estabilidade financeira das instituições e dos profissionais envolvidos. Recomendamos a leitura, e convidamos os leitores a qualificar ainda mais a revista, enviando seus comentários através do site rbgs.info sobre os assuntos publicados. Dr. Marcelo F. Tiburi Editor SAÚDE Entrevista “Meu trabalho é remover qualquer barreira para o sucesso.” Dr. Paul Rothman CEO da Johns Hopkins Medicine O sistema de saúde Johns Hopkins engloba seis hospitais, liderados pelo principal e emblemático Hospital Johns Hopkins (Baltimore, Maryland – EUA), um dos principais hospitais do mundo, cujas especialidades são frequentemente incluídas em rankings entre as líderes nos Estados Unidos. O próprio Johns Hopkins alcançou a posição número 1 entre os hospitais americanos por 22 anos, incluindo 21 anos em sequência. Em 2012, o Dr. Paul B. Rothman tornou-se o 14o Reitor da Escola de Medicina e o segundo CEO da Johns Hopkins Medicine. Ele também foi, recentemente, presidente da Association of American Physicians (2014–15). Acompanhe, nesta entrevista concedida ao nosso editor, a visão do Dr. Rothman sobre aspectos do modelo Johns Hopkins, seu papel como CEO/reitor, prioridades institucionais, custos e qualidade na assistência à saúde, desafios, planejamento estratégico e expansão, entre outros temas. Como reitor e CEO da Johns Hopkins Medicine (JHM), o Sr. supervisiona tanto a Faculdade de Medicina quanto o Sistema de Saúde John Hopkins. Como é lidar com tantas atribuições? É muito difícil, no entanto, também é muito recompensador. Eu tenho o privilégio de trabalhar com 42.000 médicos, cientistas, enfermeiros e uma equipe que produz inovação, cuida muito bem de nossos pacientes e ensina os próximos líderes na assistência à saúde. Graças a essas pessoas dedicadas, desbravamos a pesquisa, o ensino e a assistência ao paciente. Meu trabalho é remover qualquer barreira para o sucesso, garantindo que nós “expandimos os limites da descoberta, transformamos a assistência à saúde, avançamos na educação médica e criamos esperança para a humanidade”, assim como dito em nossa declaração de visão. O Sr. também é reumatologista e imunologista molecular, com pesquisa focada no sistema imunitário molecular. Como um cientista e clínico se torna um executivo da assistência médica? Foi uma transição natural para mim. Como médico, trato uma pessoa por vez. Como pesquisador, busco avançar o entendimento de como o sistema imunitário luta contra as doenças. Agora, como reitor e CEO, eu aplico a experiência de ambos os campos para apoiar e guiar nossa faculdade e equipe na luta contra alguns dos mais atormentadores problemas na assistência médica. Qual a velocidade que trilhamos o caminho da descoberta biomédica até o tratamento? Como entregar uma medicina inovadora e desenvolver tecnologias que salvam vidas, enquanto fornecemos o melhor valor para nossos pacientes? Como não apenas tratar a doença, mas também ajudar uma população inteira na prevenção? Nos meus dias como pesquisador e médico, eu conti- nuamente procuro respostas. A diferença é que o escopo das perguntas segue ampliando. JHM busca estabelecer o padrão de excelência na assistência clínica. Uma das suas prioridades institucionais é ser líder na provisão e ensino da assistência voltada para o paciente e a família. Por que isso é importante? Quando as pessoas procuram atendimento médico, estão ansiosas por diagnósticos e tratamentos. É importante que sejamos sensíveis com suas preocupações, e tenhamos tempo para entender seus objetivos e os fatores que influenciam sua saúde. Estamos trabalhando para elevar a excelência do serviço e a cultura na JHM. Queremos que todas as experiências do paciente sejam constantemente positivas em todos os estágios de sua passagem pelo sistema, incluindo cada um dos nossos seis hospitais, os consultórios de nossos médicos, nossos ambulatórios e nossos fornecedores de atendimento domiciliar. Deixar os pacientes (e seus familiares) mais envolvidos no seu próprio cuidado também melhora a segurança e a adesão ao tratamento. Pode dar exemplos do trabalho feito para melhorar a assistência voltada ao paciente e a família? Este ano, implementamos um novo treinamento: Linguagem do Cuidado, que ensina a nossos funcionários importantes habilidades de comunicação com o paciente para uso no trabalho diário. Criamos uma nova ferramenta de atendimento ao cliente, para sermos mais transparentes sobre Ano 1 | Edição 1 - 2016 5 SAÚDE “Deixar os pacientes (e seus familiares) mais envolvidos no seu próprio cuidado também melhora a segurança e a adesão ao tratamento.” nosso desempenho na qualidade e segurança, com dados relevantes sobre a experiência do paciente, taxas de infecção, higiene das mãos, readmissão hospitalar e outros importantes fatores. Também focamos em formas úteis de proporcionar ao paciente transições tranquilas, tanto na internação como na alta, e no domicílio. Alguns dos progressos incluem fornecer aos pacientes tablets com informações sobre o que esperar do hospital, incluindo a preparação para vários procedimentos cirúrgicos ou hospitalizações, e apoio à transição do hospital para casa, com entrega de prescrições de alta e um programa de trabalho social comunitário, administrado pelo nosso Grupo de Atendimento Domiciliar. O programa auxilia na volta para casa, com transporte, comida e outros aspectos que poderiam afetar a habilidade do paciente em cuidar de si mesmo. Por que centros acadêmicos de medicina são prestadores de assistência de custo alto? Podemos citar: 1) Custos de espera. Não podemos simplesmente empregar cirurgiões para transplante cardíaco às terças e quartas-feiras. Temos de oferecer um alto nível de assistência complexa sete dias por semana, 24 horas por dia, a custos enormes que um hospital da comunidade não tem. Isso representa cerca de 60 por cento do maior custo da medicina acadêmica contra a medicina de comunidade; 2) Cerca de um quarto do custo adicionado vem do fato de que subsidiamos nossas missões de ensino e pesquisa a partir da receita financeira clínica; 3) Ensinar enquanto oferecemos atendimento nos obriga, por definição, a ser um pouco menos eficientes. E gastar tempo na pesquisa tira tempo para cuidar diretamente dos pacientes; 4) Nós cuidamos dos pacientes mais doentes e complexos. Estes custos mais elevados representam um desafio pois os EUA estão focados em minimizar o custo da assistência à saúde, e por boas razões. Mas a tendência de cortar custos pode afastar os pacientes que realmente precisam de nossa atenção especializada. As atuais restritivas redes de planos de saúde têm o potencial de levar os pacientes para longe dos hospitais mais bem equipados. Além disso, novos sistemas que fazem o paciente pagar mais para receber tratamento em um centro médico acadêmico de prestígio vão impactar em suas escolhas. Estas medidas podem levar os doentes a hospitais menos qualificados para atendimento. E 6 Ano 1 | Edição 1 - 2016 margens diminuídas podem desafiar nossa capacidade de continuar a inovar e educar, em um momento já abalado de financiamento federal para a pesquisa. Como ser bem-sucedido nesse ambiente e adicionar valor ao sistema de assistência médica? Temos que nos adaptar, especialmente aqui em Maryland, onde uma revisão do sistema Medicare está mudando a forma como os hospitais são pagos. Para prosperar em um ambiente de assistência à saúde em mudança, precisamos: 1. Crescer estrategicamente. É matemática simples. Se as margens encolhem, então precisamos de uma área de cobertura maior para atrair mais pacientes. 2. Inovar. Precisamos encontrar formas de liderar na saúde. Afinal, enquanto prestamos muita assistência especializada, uma parcela significativa de nossos pacientes é admitida na Emergência. 3. Assegurar que diversificamos nossas fontes de receita e locais de assistência (internacional, ambulatorial, seguro, etc.). 4. Para melhorar o valor, precisamos aumentar a qualidade e ao mesmo tempo reduzir custos, ao proporcionar cuidados de forma mais eficiente. Estes são os traços largos, e estamos fazendo progressos tangíveis e significativos com nosso Plano Estratégico, que orienta as decisões sobre a melhor forma de avançar nosso legado de inovação e excelência na assistência ao paciente, pesquisa e inovação. Em vez de sentar e esperar para ver as coisas acontecerem, estamos encontrando maneiras de contornar a curva de custos na área da saúde e, ao mesmo tempo, garantir maior enfoque na educação, pesquisa, qualidade e prevenção. O desafio de diminuir custos na assistência pode ameaçar os volumes de atendimento e reduzir as margens financeiras. Como atrair mais pacientes neste cenário, e ainda minimizar custos? Primeiramente, estamos comprometidos em prestar cuidados compassivos e individualizados aos pacientes. Buscamos continuamente representar seus melhores interesses e de suas famílias para mantê-los seguros, fornecer o mais alto nível de cuidado e prestar o melhor serviço. Oferecer a melhor assistência é a coisa certa a fazer, e também garante que as pessoas continuem a buscar nossos serviços. Investimos também em novas instalações de tratamento ambulatorial para complementar a nossa grande rede de cuidados primários. É nossa a responsabilidade de fornecer o cuidado certo, na hora certa, no lugar certo e pelo preço justo. Nos esforçamos para melhorar a eficiência, eliminando desperdícios e formalizando protocolos em todo o sistema. O trabalho que fazemos para garantir a segurança, melhorar a comunicação e evitar erros médicos se traduz em menor tempo de internação e menos readmissões. Finalmente, todos os dias procuramos traduzir as últimas pesquisas científicas em terapias inovadoras, que ajudem nossos atuais e futuros pacientes a obter os melhores resultados de saúde possíveis. Haverá sempre demanda por tratamentos de ponta. Como é a sua relação com as seguradoras? Trabalhamos juntamente com a liderança e membros da equipe de várias seguradoras que enviam pacientes para o Johns Hopkins. Eles são parceiros valiosos no cuidado dos nossos pacientes. Como envolver o paciente no processo de melhora? Melhorar a comunicação é a chave para o melhor cuidado e experiência do paciente. É importante para os pacientes e seus familiares que os tratemos polidamente; ouçamos suas preocupações e perguntas; e expliquemos claramente os planos de tratamento e alta. Para promover uma melhor comunicação entre pacientes e as equipes de atendimento, temos os Conselhos Consultivos para Pacientes e Família em cada hospital, compostos de antigos e atuais pacientes e seus familiares, junto com membros da equipe Johns Hopkins. Pacientes e familiares podem oferecer perspectivas únicas e feedback valioso sobre o padrão de atendimento que recebem. Os pacientes conselheiros fornecem insights que representam uma população diversificada de pacientes. O Conselho reúne-se mensalmente para identificar as necessidades e preocupações do paciente, trazer feedback sobre os atuais sistemas em nossos hospitais e gerar novas ideias para melhorar o padrão de atendimento. Atua como catalisador e advoga para impulsionar o cuidado centrado no paciente. Até o momento, os nossos Conselhos forneceram feedback para melhorar desde cadeiras em nossas salas de espera ao design do novo departamento de emergência no Hospital Johns Hopkins e no processo de identificar pacientes. Também estamos testando um programa em que a unidade de terapia intensiva cirúrgica fornece aos pacientes e seus familiares um tablet que lhes permite enviar perguntas à equipe médica e dar detalhes sobre suas metas de cuidado. O aplicativo inclui um menu de envolvimento da família, onde os entes queridos podem selecionar atividades de cuidados em que desejam ajudar, como escovar os dentes ou lavar o cabelo de seu familiar. Quanto ao seu Plano Estratégico de 5 anos, quais as prioridades e como alcançá-las? Lançado em 2013, o Plano Estratégico de cinco anos é uma planta para o futuro da JHM, orientando as decisões e as estratégias de negócios para a empresa inteira. Inclui seis áreas críticas de foco: Pessoas: Atrair, engajar, reter e desenvolver as melhores pessoas do mundo. Descoberta biomédica: Ser o modelo exemplar para pesquisa biomédica, ao avançar e integrar a descoberta, inovação, aplicação e disseminação. Assistência centrada no paciente e na família: Ser líder na segurança, ciência, ensino e provisão da atenção voltada para o paciente e a família. SAÚDE Educação: Liderar o mundo no ensino e treinamento de médicos e cientistas biomédicos. Integração: Tornar-se o modelo com base acadêmica de um sistema integrado e sustentável de assistência à saúde. Desempenho: Criar o sucesso financeiro sustentável e implementar a melhoria contínua do desempenho. Nós delineamos objetivos mensuráveis dentro de cada categoria. A execução do Plano Estratégico envolve todas as organizações dentro da instituição, e todos tem um papel e participação no seu sucesso. Eu trabalho juntamente com Ronald R. Peterson, presidente do Hospital Johns Hopkins e Sistema de Saúde, e vice-presidente executivo da JHM, para fornecer direções aos líderes organizacionais que supervisionam cada prioridade estratégica. Os líderes encontram-se mensalmente para revisar o progresso das prioridades. Como esse Plano Estratégico serviria de modelo para o setor de assistência médica? Ele orienta nossos 42.000 funcionários através de um complexo e rapidamente mutável panorama de assistência à saúde, mostrando onde investir tempo e recursos para entregar a medicina prometida aqui em Baltimore e mundialmente. Nossas áreas de foco dão a todos os funcionários o poder de moldar nosso futuro e avançar o legado de inovação e excelência no cuidado ao paciente, pesquisa e educação. Conte-nos sobre a prioridade estratégica para um sistema de provisão de assistência médica integrada. Como integrar e ser um modelo de assistência integrada e financiável com base acadêmica? Nosso sistema consiste em uma diversa rede de hospitais, centros ambulatoriais e prestadores de assistência domiciliar. Devemos garantir que todos esses grupos trabalhem juntos perfeitamente e aderindo aos mesmos altos padrões. Estar preparado para competir no ambiente de assistência médica e cumprir nossa missão tríplice depende grandemente de nossos esforços para desenvolver um sistema integrado de provisão de assistência financiável que beneficie nossos pacientes, operações e instituição. A prioridade de integração procura desenvolver novos e viáveis modelos de assistência para melhorar nossos sistemas, tanto da perspectiva clínica quanto administrativa. Para melhor nos posicionar e alcançar estes objetivos, buscamos trabalhar mais efetivamente em conjunto para impulsionar o crescimento previdente e a assistência voltada para o paciente e a família, e assegurar que estamos entregando a assistência certa no lugar certo e pelo preço justo. Aqui estão só dois exemplos de como nos movemos para criar um sistema de assistência à saúde verdadeiramente integrado: 1. Estabelecemos a Comunidade de Parceiros da Saúde John Hopkins em 2012, com uma subvenção federal de 20 milhões de dólares, para enfrentar os desafios de saúde de uma comunidade urbana pobre que não raro depende de onerosas visitas à Emergência. A comunidade é focada em duas populações: pacientes com alta do Hospital Johns Hopkins e Centro Médico Bayview, e a população carente de alto risco em torno destes hospitais. Com o programa, tentamos prevenir pacientes de serem negligenciados ao fornecer uma abordagem integrada pelas equipes de assistência, que incluem: educadores de saúde, orientadores de transição de enfermagem, médicos, especialistas em farmácia clínica, especialistas em comportamento de saúde, e trabalhadores de saúde comunitários, entre outros. As equipes ajudam os pacientes a ter o cuidado que precisam, seja em casa, no centro comunitário da saúde, em uma clínica de reabilitação, no hospital, ou saindo do hospital. Integrar assistência também significa que cada membro da equipe tenha um melhor entendimento do paciente para que possa personalizar o cuidado que ele precisa. O cuidado melhorou e estamos trabalhando para garantir a sustentabilidade do programa. 2. Conforme nosso sistema de assistência médica se torna mais complexo, esforços maiores são necessários para garantir que pacientes e equipes tenham maior acesso a informação mais completa. Para isso, lançamos um novo sistema de registro eletrônico integrado, chamado Epic, que cria um registro abrangente de cada paciente, visível pelas equipes de assistência e que dá suporte e unifica a documentação, reduzindo a necessidade de múltiplos sistemas. Ele também incorpora agendamentos e registros, documentação clínica e prescrição eletrônica, e melhora a conexão médica na Johns Hopkins. Ao dar aos prestadores uma visão completa do registro do paciente, a equipe de assistência pode tomar decisões melhores e mais coordenadas, o que leva a resultados mais positivos. Johns Hopkins é um líder global em segurança do paciente e qualidade. Quais suas iniciativas nesta área? Em escala global, trabalhamos com prestadores líderes de saúde, governos e instituições educacionais, em iniciativas de alto impacto para aumentar o padrão da assistência médica. As colaborações são feitas para alavancar nossa expertise em medicina, enfermagem, saúde pública, pesquisa e administração em saúde, adaptando esse conhecimento às necessidades locais e culturas, de forma que avance a assistência médica na região. Há anos, implementamos um check-list de cinco passos e um programa de mudança de cultura nas unidades de terapia intensiva que reduziu drasticamente o número de infecções em cateter venoso central. O programa agora está em curso em vários países, e acredita-se ter salvo centenas de vidas e milhões de dólares em assistência médica. Desde 2007, colaboramos com o Ministério da Saúde de Trinidad e Tobago, universidades locais e organizações para transformar a assistência médica deles através de colaboração educacional, pesquisa, programas clínicos e de especialidades, e treinamento gerencial. Ano passado, nosso Instituto Armstrong para Segurança do Paciente e Qualidade entrou em colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS) para adaptar instrumentos ao programa de parcerias africanas da OMS para a Segurança do Paciente. Em 2013, iniciamos uma inédita joint venture chamada Johns Hopkins Aramco Healthcare, que estabelece um novo provedor de assistência médica de alta qualidade para funcionários, dependentes e pensionistas da Saudi Aramco. E neste ano, assinamos uma colaboração estratégica com a companhia seguradora bermudense Argus, totalmente focada na saúde populacional. Quando descobrimos novas abordagens que funcionam, queremos disseminá-las. Com ajuda do nosso Instituto Armstrong para Segurança editora Publicações técnicas e cientifícas na área da saúde. Avaliação Nutricional em Pediatria Atendimento Clínico em Nutrição Esportiva Atendimento Nutricional em Estética Publique os seus projetos técnicos ou científicos com a editora iPGS Entre em contato número: Ano 1 | pelo Edição 1 - 2016 (51) 3062.9322 07 Compromisso com o Conhecimento O iPGS é uma empresa de consultoria, assessoria, treinamento e formação voltada para a área da saúde. Proporcionamos formação complementar e continuada com excelência e qualidade aos profissionais que atuam ou desejam atuar na assistência ou na gestão da saúde, nas diversas especialidades. Oferecemos estratégias para a solução de problemas crônicos e emergentes que afetam o setor, no âmbito da atuação de hospitais, clínicas, operadoras de planos de saúde, esfera pública (município, estado e federação), profissionais da saúde e público em geral. 18.000 mAIS DE ALUNOS QUALIFICADOS PELO ipgs mais de 40 cursos em todo o Brasil Professores especializados Cursos com certificação Aulas Presenciais e Aulas EAD Chat online com professores acesse o qrcode Siga-nos acesse o site e confira os nossos cursos: +55 51 3062.9322 www.ipgs.com.br fb.com/ipgs.ensino SAÚDE do Paciente e Qualidade, estamos traduzindo nossas soluções de forma que possam ser implantadas em larga escala no estado, no país e globalmente. No mundo, a atenção primária está sob controle governamental. Como uma organização privada aborda a atenção primária, traz benefícios aos pacientes e também se beneficia disso? Nossa missão de melhorar a saúde estabelecendo o padrão de excelência na educação médica, pesquisa e assistência não é somente local, é global. Na Índia, por exemplo, há uma lacuna crítica entre a demanda e o acesso aos serviços de saúde. Em 2012, assinamos um acordo de afiliação entre Johns Hopkins Medicine Internacional (JHI) e HCL Avitas, que assumiu a responsabilidade de reduzir a restrição de acesso construindo clínicas de atenção primária, um conceito relativamente novo na Índia. O objetivo é lançar mais de 500 clínicas pelo país. Para apoiar e expedir a missão, JHI co-desenvolve programas de educação/treinamento e apóia operacionalmente as clínicas. Sabemos que para Johns Hopkins, a educação é alta prioridade. Vocês trabalham no desenvolvimento de uma nova geração de líderes na gestão da saúde? Liderar a educação e treinamento de médicos, cientistas biomédicos e profissionais da área da saúde no mundo é uma de nossas prioridades. A este respeito, a Universidade Johns Hopkins (JHU) é um grande parceiro. JHU é uma instituição de ensino com escolas de saúde pública e de enfermagem no topo do ranking e uma excepcional escola de negócios. A Escola de Saúde Pública Bloomberg Johns Hopkins oferece uma gama de programas que treinam os líderes de gestão em saúde de amanhã. Programas oferecidos em Baltimore incluem um Mestrado em Administração de Saúde (MHA), um programa profissional de dois anos que inclui uma residência administrativa de 11 meses, e um Doutorado em Saúde Pública. Bloomberg também oferece um mestrado “Oferecer a melhor assistência garante que as pessoas continuem a buscar nossos serviços.” conjunto de Saúde Pública e Administração de Empresas com a Johns Hopkins Carey Business School, também em Baltimore. Muitos alunos destes e de outros programas seguem para posições de alto nível no setor privado e público nos EUA e no exterior. Eles administram hospitais e dirigem programas federais norte-americanos e organizações não governamentais. Também prestam serviços em posições de alto nível de saúde pública locais e estaduais. Há várias iniciativas internacionais da JHM, incluindo relações globais e colaborações. Qual o objetivo dos esforços internacionais e como fornecer cuidado integrado para pacientes internacionais? Quando pacientes estrangeiros vêm até nós para tratamento, nosso objetivo é tornar a experiência mais fácil para os pacientes e suas famílias, ao cuidar deles antes, durante e após suas visitas médicas. A pedido dos pacientes, trabalhamos com a equipe de atendimento local para estabelecer o plano de tratamento e garantir uma transição tranquila entre seu país e a Johns Hopkins. Enquanto pacientes internacionais estão sob nosso cuidado, coordenamos nossas entidades para manter a continuidade. Como condições complexas e raras sempre precisam de expertise especializada, que exige dos pacientes viagens frequentes, nós também trabalhamos com afiliados ao redor do mundo para aumentar as opções de cuidados locais. Trabalhamos diretamente com médicos de hospitais afiliados para entender o caso e fornecer a continuidade da assistência. Levamos o que aprendemos aqui sobre qualidade de assistência ao paciente, pesquisa, ensino e treinamento, atuação hospitalar e segurança para entregar assistência médica avançada através de colaborações sustentáveis de alto impacto. Chamamos isso de assistência à saúde colaborativa global. E sobre o Brasil? O Brasil é uma das maiores economias na América Latina e tem uma classe média em ascensão que quer atendimento médico avançado. JHI e o Hospital Moinhos de Vento (HMV) assinaram um acordo de afiliação por 10 anos, em 2013. Sob este acordo, JHI e HMV estão engajados nas oportunidades de compartilhar conhecimento para o staff executivo e clínico nas áreas de enfermagem, qualidade e segurança, pesquisa e programas clínicos. Também fornecemos aos médicos do HMV a oportunidade de solicitar segundas opiniões médicas e indicar casos complexos para a Johns Hopkins quando necessário. HMV e JHI criaram uma mesa de referência virtual no HMV, sob um programa chamado Double Medical Care. Com ele, os pacientes brasileiros têm acesso a um extenso número de especialidades da Johns Hopkins. Ano 1 | Edição 1 - 2016 09 SAÚDE Reportagem 10 Ano 1 | Edição 1 - 2016 SAÚDE A cidade do Rio de janeiro tem mais de 6.300.000 habitantes, em um estado com população de quase 16 milhões e meio de pessoas (dados do IBGE). Durante longo tempo, o Rio de Janeiro foi muito penalizado pela crise na segurança, um aspecto que nunca comprometeu por completo a imagem da cidade maravilhosa, mas sem dúvida a impede de atingir a plenitude de sua capacidade como cidade turística mundial. Embora o problema da segurança não tenha sido superado, talvez um pouco atenuado, apesar de diversas iniciativas mais ou menos bem-sucedidas, neste momento a atenção é dividida com outros temas relevantes. Além dos grandes eventos esportivos, os holofotes estão direcionados também para a crise na saúde, tanto no setor público como no suplementar. Há muitas ilustrações representativas. Frequentemente, circulam na imprensa mundial imagens com lixo flutuante de toda espécie (garrafas, sacos plásticos, animais mortos, móveis, eletrodomésticos, etc.), a representação típica do cuidado que a própria população e as autori- dades tem com a baía de Guanabara. Enquanto isso, nos hospitais públicos, os dramas das pessoas doentes que buscam atendimento, inclusive com premente risco de morrer, são exacerbados pelo desespero e impotência, e transformados, não raro, em conformismo e resignação. O significado vai além das tragédias individuais e coletivas. O Rio de janeiro é um dos retratos do Brasil-exportação. Mas não só isso. Alguns elementos, icônicos ou mesmo caricaturais, são também o retrato do Brasil real, presentes em diferente escala na maioria dos municípios brasileiros, de todos os portes. Na saúde, além dos problemas crônicos enfrentados por todas as capitais e grandes cidades, como superlotação, dificuldade de acesso e financiamento para o setor, o Rio de Janeiro ainda sofre as consequências de uma profunda crise financeira no estado, que afeta o atendimento da rede pública e tem repercussões diretas nos trabalhadores da saúde, culminando em salários atrasados, emergências fechadas, falta de materiais e medicamentos. No plano federal, a deterioração que acontece no INCA (Instituto Nacional do Câncer) é de magnitude semelhante. A crise na rede estadual de saúde se caracteriza por uma dívida bilionária e repasses financeiros atrasados ou insuficientes para garantir o atendimento de significativa parcela da população. A situação é atribuída a diversos fatores, como a redução na arrecadação, os reflexos da crise nacional, as expectativas irrealísticas com o pré-sal e também aos problemas da Petrobras (como queda do preço do petróleo no mercado internacional e corrupção), que tem muitas operações centralizadas no estado. Outro importante fator considerado é a Olimpíada. Não obstante proporcionar vantagens inequívocas ao estado e à cidade do Rio de Janeiro, e mesmo considerando que muito do dinheiro investido venha da iniciativa privada, os Jogos também sugam vultuosos recursos públicos para a sua realização, que poderiam ser canalizados para áreas seguramente mais prioritárias. Além disso, deficiências de gestão não podem ser descartadas. A consequencia é a falta de recursos para cumprir com Ano 1 | Edição 1 - 2016 11 Compromisso com o Conhecimento Pós graduação P ó s - G r a d ua çã o inovação BEM ESTAR MOTIVAÇÃO ATUALIZAÇÃO PIONEIRISMO c U R S O S EXELÈNCIA QUALIDADEFOCO C E S S O ENSINO LIFICAÇÃO saúde sQUUA i P G S RESULTADO Endereço: Rua Dr Freire Alemão, 225 Bairro Mont’ Serrat| Porto Alegre-RS Tel: (51) 3062-9322 Site: www.ipgs.com.br Siga-nos: 12 Ano 1 | Edição 1 - 2015 ........................................... Instituto de Pesquisas Ensino e Gestão em Saúde Cursos de Pós-graduação Presencial Fisiculturismo e Fitness: estratégias para hipertrofia e definição muscular MBA em Gestão de Negócios em Alimentação: ênfase em liderança, empreendedorismo e inovação Nutrição Clínica em Patologia Fisioterapia Esportiva Nutrição Clínica e Esportiva Nutrição em Pediatria: da Concepção à Adolescência SAÚDE todas as obrigações. Pacientes oncológicos, de hemodiálise, trauma e até de consultas gerais estão entre os mais afetados. As reclamações da população são a tônica, pela falta ou precariedade dos atendimentos. Em meio a tudo, a epidemia de dengue no estado (e aumento também nos casos de chikungunya e zika), com todos os comemorativos sociais, assistenciais e econômicos que decorrem, continua a preocupar a população e a comunidade internacional, ainda mais com a proximidade dos Jogos Olímpicos. A estratégia implementada para combater o mosquito, concentrada em esforços de eliminação mecânica dos criadouros, embora importante, tem se mostrado ineficiente. Quanto a poluição na baía de Guanabara, tem razão quem afirma ser o problema compartilhado com as cidades da região metropolitana, que lá jogam seus esgotos. Entretanto, aproximadamente 40% da população do estado está na cidade do Rio de Janeiro, contemplativa das águas poluídas da baía. O governo estadual já anunciou que não vai atingir a meta de despoluição inicialmente proposta, pela qual é responsável. As necessárias obras de saneamento estão atrasadas. É óbvio que isso traz consequências sobre a saúde da população. A crise na economia estadual não é exclusividade do Rio de Janeiro (vide exemplos do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais). Porém, em dezembro passado, o governador Luiz Fernando Pezão decretou situação de emergência, o que facilita a obtenção de ajuda do governo federal. E para aliviar a situação do estado, os hospitais da rede estadual Rocha Faria (Campo Grande) e Albert Schweitzer (Realengo), passaram para o controle da Prefeitura do Rio de Janeiro. O custo das duas unidades hospitalares localizadas na zona oeste, de R$ 500 milhões/ano, passaram a ser arcados pela administração municipal. Os componentes e os fatores cumulativos que conduziram à atual crise da saúde pública no estado do Rio de Janeiro são vários. Pinçamos alguns, para servir como referência e catalisar o debate. Para muitos, amadorismo, má-gestão, arrogância, despreparo e crença em soluções mágicas estão entre os fatores subjacentes da crise, que está presente na administração da imensa maioria dos municípios brasileiros, e não é uma peculiaridade do Rio de Janeiro. A lista de aspectos e adjetivos negativos é longa. Quais as estratégias para mudar o panorama? Como melhorar a alocação dos insuficientes recursos? Procurados para falar livremente sobre os problemas que afetam a saúde do Rio de Janeiro, os secretários da saúde, dr. Luiz Antonio de Souza Teixeira Jr. (estadual) e Dr. Daniel Soranz (municipal), através das respectivas assessorias de imprensa, preferiram o silêncio. Similar ao encontrado com as assessorias de imprensa do governador e do prefeito do Rio. Lastimável, pois os assuntos são de extrema importância, e assim deixamos de conhecer a visão aprofundada e os esforços dos governantes, secretários e equipes para solucionar o quadro geral, assim como os resultados das ações atuais e as reais perspectivas a curto e médio prazo. A solução precisa vir de todas as partes. Do poder público (todas as esferas), iniciativa privada, população, pesquisadores, acadêmicos, trabalhadores. Todos podem contribuir com ações ou sugestões para melhoria. Apenas reclamar (como fazem, principalmente, as autoridades), não tem funcionado. Parece faltar uma coordenação de iniciativas e esforços, para alinhar diferentes boas vontades com o melhor de todas as capacidades. De onde poderá vir essa coordenação? Na outra parte do espectro, como não poderia deixar de ser, a saúde suplementar também sofre os efeitos da crise. Com significado muito além de simbólico em relação a situação do país e da área da saúde, a Unimed-Rio, uma das 351 cooperativas médicas que compõe o sistema Unimed Brasil, com mais de 1 milhão de beneficiários e em torno de 5600 médicos cooperados, mergulhou em uma crise sem precedentes em sua história. Apesar dos números expressivos, que incluem o faturamento anual superior a 4 bilhões de reais e a geração de mais de 4000 empregos diretos, e do longo período de bons resultados financeiros e crescimento, nos últimos anos o histórico positivo sofreu reversão, causando desconfiança e insatisfação crescente entre os cooperados, que ao final são os que pagam a conta. Entre vários elementos da crise, são citados os patrocínios esportivos que chamavam a atenção pela longevidade e vultuosidade dos valores e a aquisição (2013), da carteira de 160 mil vidas da Golden Cross (a grande maioria situada fora da área de atuação geográfica da Unimed-Rio). O que a princípio parecia um bom negócio, mais tarde mostrou efeito contrário, pelo aumento no índice de sinistralidade e reclamações da operadora, que a posicionou entre as líderes desse atributo negativo perante a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). O endividamento e os prejuízos em 2014/2015 foram altos e houve atrasos a fornecedores. Em março do ano passado, a ANS determinou o que para muitos é uma espécie de intervenção, a direção fiscal na operadora. Entretanto, para outros, a palavra intervenção não é a mais apropriada. A própria ANS, em nota, deixa claro que o diretor fiscal não tem poder Ano 1 | Edição 1 - 2015 13 SAÚDE de gestão na empresa, portanto não se trata de uma intervenção da agência reguladora, mas de um monitoramento. Segundo a ANS, A direção fiscal é um acompanhamento presencial feito por agente nomeado pela agência na operadora quando são constatadas anormalidades econômico-financeiras graves. Ao longo do regime, são elaborados relatórios reportando dados da empresa, analisando medidas de saneamento e avaliando os dados contábeis e econômico-financeiros. Por força da legislação, é obrigatória a manutenção do sigilo sobre as informações levantadas no curso do regime especial. Diferentemente dos representantes do setor público, os diretores da principal operadora de saúde privada do estado não se omitiram de falar sobre diversos assuntos, como a intervenção da ANS, o impacto da crise financeira do país e do estado do Rio de Janeiro sobre os compradores de plano de saúde e sobre a Unimed-Rio, as perspectivas e oportunidades do mercado de saúde suplementar no Rio de Janeiro, e as estratégias administrativas implementadas para enfrentar e superar as dificuldades existentes a curto e médio prazo e os resultados até agora. Para o diretor de mercado da Unimed-Rio, Dr. Eduardo Augusto Bordallo, o mercado de saúde suplementar no Rio de Janeiro já vive como um mercado de troca há alguns anos. “Não 14 Ano 1 | Edição 1 - 2016 há cliente novo”, diz ele. “Com a crise econômica, há duas consequências que acabam afetando todas as operadoras, e não só a Unimed-Rio: a inadimplência e a movimentação negativa. Neste caso, as empresas não encerram seus contratos com os planos de saúde, mas demitem mais do que contratam e causam uma queda no número de clientes”. Outra questão importante, aponta Bordallo, é a regulação do reajuste dos contratos Pessoa Física (PF) pela ANS, o que tem feito a maioria das operadoras abandonar este segmento. “A Unimed-Rio, por sua filosofia de gerar trabalho para o médico, continua atuando no mercado PF, mas é fundamental que estímulos sejam pensados pelo órgão regulador. É preciso criar incentivos para as operadoras e, principalmente, para o consumidor. Hoje em dia, dependendo da faixa etária, é quase impossível manter um plano individual. A sociedade critica os valores cobrados pelos planos de saúde, mas a conta precisa fechar. É neste sentido que precisam ser pensados os incentivos”. Segundo o presidente da Unimed-Rio, Dr. Celso Corrêa de Barros, o mercado de saúde REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE RBGS Caderno científico Julho de 2016 Pagamento por Qualidade na Visão de Tomadores de Decisão Administrativa em Planos de Saúde do Sul do Brasil Marcelo F. Tiburi Gerenciamento de Recursos Materiais no Processo de Compra Hospitalar em uma Instituição Localizada em Fortaleza (Ceará, Brasil). Antonio Carlos Bernardino, Claudia Lobo Ferreira Balthazar, Francisco Eron Mendes Moreira, Jailma Silva De Araujo, Rafaella Pessoa Moreira, Simony Lima Bezerra Perfil dos Gerentes de Saúde na Atenção Básica Déborah Cristina Souza Duarte, Patricia Moita Garcia Kawakame Gerenciamento das Cadeias de Suprimento e de Demanda para Frutas e Hortaliças em Unidades de Alimentação e Nutrição Hospitalares Aline Petter Schneider, Simone Morelo Dal Bosco, Marcelo F. Tiburi Ano 1 | Edição 1 - 2016 Ano 1 | Edição 1 - RBGS 2015 15 15 ARTIGO ORIGINAL REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE Pagamento por Qualidade na Visão de Tomadores de Decisão Administrativa em Planos de Saúde do Sul do Brasil Marcelo F. Tiburia Resumo Contexto: Pagamento por qualidade (PFQ) é uma estratégia usada na assistência à saúde cada vez mais popular em vários países, tanto nos setores público e privado. No Brasil, este é um assunto emergente. Métodos: Foi realizada uma pesquisa com gestores responsáveis por decisões administrativas em planos de saúde que operam no sul do Brasil sobre o interesse em oferecer remuneração com base no desempenho e se médicos mudariam padrões de prática se receberam incentivos financeiros. Uma escala de Likert foi usada para medir a concordância com declarações relacionadas com PFQ. Dados demográficos dos planos foram coletados simultaneamente. Resultados: 29 gestores participaram do estudo, 12 (41,4%) médicos e 17 (58,6%) não-médicos. Quanto a disposição de oferecer valor diferenciado por desempenho de qualidade, a concordância global foi 55,2% (n=16). Quanto a Médicos mudariam padrões de prática se receberam incentivos financeiros, a taxa de concordância global foi maior: 75,9% (n=22). Sobre oferecer incentivo financeiro por desempenho de qualidade, de 12 executivos médicos, cinco (41,7%) concordaram e de 17 executivos não-médicos, 11 (64,7%) concordaram. Sobre mudar padrões de prática médica associada com incentivos financeiros, de 12 executivos médicos, 8 (66,7%) concordaram e de 17 executivos não-médicos, 14 (82,3%) concordaram. Conclusão: esta abordagem inicial de PFQ mostrou que pouco mais da metade dos entrevistados estavam interessados em oferecer remuneração baseada no desempenho, predominantemente executivos não-médicos. Para a maioria, médicos mudariam padrões de prática se receberam incentivos financeiros. Há oportunidade para investigar novos insights e encontrar a melhor maneira para planos de saúde no Brasil lançar e aplicar PFQ de forma eficaz. Palavras-chave: Pagamento por Qualidade; Planos de Saúde; Tomada de Decisão Administrativa Abstract Background: Pay-for-quality (PFQ) is a strategy used in the healthcare context that is becoming increasingly popular, both in private and public sectors. In emerging countries, like Brazil, this is a brand new subject. Methods: We performed a survey with key administrative decision-managers of health plans operating in Southern Brazil regarding their interest in offering performance-based remuneration and to whether physicians would change their practice standards if they received financial incentives. A five-level Likert item was used to measure agreement with PFQ-related statements. Demographic data of health plans were collected concurrently. Results: 29 health plans key executives participate in the study, 12 (41.4%) physicians and 17 (58.6%) non-physicians. Regarding to offer differentiated-value incentive for quality performance, overall agreement was 55.2% (n=16). Regarding Physicians would change their practice standards if they received financial incentives, the rate of overall agreement was larger: 75.9% (n=22). About offering value incentive for quality performance, of 12 medical executives, five (41.7%) agreed and of 17 non-physician executives, 11 (64.7%) agreed. As for changing physicians practice standards associated with financial incentives, of 12 medical executives, 8 (66.7%) agreed, and of 17 non-physician executives, 14 (82.3%) agreed. Conclusion: this initial approach to PFQ showed that slightly more than half health plans managers were interested in offering performance-based remuneration, most of them non-physicians executives. The majority of interviewed think providers would change their practice standards if they received financial incentives. There is an opportunity for research aiming new insights regarding PFQ and to find the best way for Brazilian health plans to launch and effectively apply it. Key words: pay for quality; health plans; administrative decision-making ª Mestre em Gastroenterologia (UFRGS). Doutor em Cirurgia (UFRGS). Fellow in Surgical Oncology and Endocrinology (Johns Hopikins Medical School. Baltimore, MD, EUA). Especialista em Gestão em Saúde (UFRGS). Diretor do IPGS - Instituto de Pesquisas, Ensino e Gestão em Saúde. Diretor Clínico do Hospital Unimed Porto Alegre (RS). tiburi@ ipgs.com.br Introdução O ato de oferecer incentivos financeiros à prestadores, freqüentemente médicos e hospitais, para alcançar metas de qualidade pré-definidas, denominado bonificação ou pagamento por qualidade (Pay for quality – PFQ - ou pay-for-performance - PFP), está se tornando um assunto de intenso interesse e debate na assistência à saúde.1-3 A necessidade de conter os custos crescentes e medir o desempenho clínico, os persistentes problemas de qualidade (muitas vezes desconhecida) na prática clínica, que incluem as falhas em seguir padrões de práticas baseadas em evidências, além da conscientização sobre problemas de segurança dos pacientes, são alguns dos fatores que conduzem o desenvolvimento e a adoção de mecanismos com a intenção de melhorar a qualidade da assistência a saúde.4-9 Programas de PFQ estão em curso em diversos países, como os EUA,1012 Reino Unido,13-15 Espanha,16 Austrália,17-18 e Canadá,19 tanto no setor público como no privado. Planos de saúde, em particular, estão 16 Ano Ano1 1 | Edição 1 - 2016 2015 conduzindo as iniciativas de PFQ, em uma tentativa de mudar suas abordagens para gerenciar custos e utilização.1,20,21 Apesar do interesse e otimismo, há poucos dados publicados sobre a efetividade dos programas de PFQ na assistência a saúde.21,22 Não obstante, as percepções e atitudes de médicos, executivos e empregadores sobre programas financeiros para incentivo da qualidade tem sido motivo de investigação.3,20,23-25 Embora PFQ seja uma tendência crescente de abrangência mundial, a situação em países emergentes é amplamente desconhecida. Neste artigo, descrevemos a visão de tomadores de decisões administrativas em planos de saúde que atuam no sul do Brasil. Métodos A pesquisa com gestores principais responsáveis pela tomada de decisões administrativas em planos de saúde que concordaram em participar do RBGS ARTIGO ORIGINAL REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE estudo foi feita na área metropolitana de Porto Alegre e região nordeste do estado do Rio Grande do Sul. A lista de planos de saúde, definidos como organizações que servem de intermediários para empregadores ou consumidores na aquisição de serviços de saúde, foi obtida de hospitais, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e do conhecimento do próprio autor. Gestores (diretores médicos ou administrativos) foram identificados em cada uma dessas organizações. De planos nacionais com múltiplos diretores, o diretor regional foi convidado a participar. Planos de saúde específicos de odontologia, planos cujos gestores não aceitaram participar do estudo, e planos nacionais sem um escritório regional foram excluídos. Uma escala de Likert de cinco pontos foi usada para verificar a concordância dos participantes com duas afirmações referentes a PFQ: “Nosso plano está disposto a oferecer valores diferenciados de re-embolso por desempenho de qualidade” e “Médicos mudariam seu padrão de prática se recebessem incentivos financeiros”. Dados demográficos dos planos de saúde foram coletados na mesma ocasião. Os participantes foram assegurados que sua identidade, respostas e comentários individuais, bem como informações específicas sobre a companhia permaneceriam confidenciais. Resultados Dentre 40 operadoras de planos de saúde identificadas, 29 (72,5%) aceitaram participar do estudo, através de seus gestores principais. O número mínimo de beneficiários nestes planos de saúde foi de 267, e o máximo de 390.000 (total: 1.609.572; média: 61.906). Dos gestores entrevistados, 12 (41,4%) eram médicos e 17 (58,6%) não médicos. Dentre os médicos, oito (66,6%) afirmaram ter formação em administração. Dentre os gestores não médicos, vários tipos de formação profissional foram identificadas: nove administradores de empresas, três enfermeiras, três bacharéis em ciências contábeis, e dois bacharéis em direito. Em relação à afirmativa “Nosso plano está disposto a oferecer valores diferenciados de re-embolso por desempenho de qualidade”, a porcentagem de concordância entre os participantes foi de 59 % (n=17), enquanto que a neutralidade foi de 27 % (n=8) e a discordância 14 % (n=4). No que se refere à afirmativa “Médicos mudariam seu padrão de prática se recebessem incentivos financeiros”, a porcentagem de concordância foi maior: 77% dos participantes (n=22) concordaram com a afirmativa, 20% (n=6) manifestaram neutralidade e houve discordância em apenas 3% dos casos (n=1). Do total de 12 gestores médicos, cinco (42 %) concordaram com a afirmativa “nosso plano estaria disposto a oferecer valores diferenciados de re-embolso por desempenho de qualidade, enquanto que quatro (33 %) foram neutros e três (25 %) discordaram. Do total de 17 gestores nãomédicos, 11 (65 %) concordaram com aquela afirmativa, enquanto que quatro (23 %) foram neutros e dois (12 %) discordaram. Do total de 12 gestores médicos, oito (66,6%) concordaram com a afirmativa “médicos mudariam o padrão de prática se recebessem incentivos financeiros”, três (25%) manifestaram neutralidade e apenas um (8,4%) discordância. Do total de 17 gestores não médicos, 14 (82,4%) concordaram, três (17,6%) foram neutros e nenhum discordou. No momento da entrevista, nenhum dos planos de saúde participantes do estudo tinha um programa ativo de PFQ em curso, nem um programa piloto a ser implementado. Discussão A remuneração com base na qualidade é uma tendência crescente, que busca melhorar o sistema de saúde através da relação compradorprestador.26 Nos últimos anos, estratégias de PFQ tem atraído considerável interesse. O principal atributo é uma mudança no reembolso a um prestador clínico (médico individual, grupo clínico, ou hospital) em resposta direta à mudança em uma ou mais medidas de desempenho.17 Neste sentido, é importante reconhecer as percepções dos tomadores de decisões administrativas porque, a medida que os países melhoram seu status econômico, maior proporção dos gastos em saúde é canalizada de forma a permitir maior envolvimento dos compradores de planos de saúde em promover a qualidade da provisão dos serviços.26 Não dispomos, entretanto, de informações sobre como tomadores de decisão administrativas de planos de saúde que atuam em países emergentes vêem a questão de PFQ. Neste estudo, pouco mais da metade dos entrevistados concordou com a afirmativa de oferecer valores diferenciados de re-embolso por desempenho de qualidade, embora tenham declarado desconhecer a forma ideal para assim proceder. Alguns preferiram manifestar neutralidade quanto a este quesito, apesar de, pessoalmente, terem posição favorável a referida modalidade de pagamento. Por razões de política da organização, não poderiam, naquele momento, declarar oficialmente suas opiniões. É interessante notar que, de 29 planos de saúde cobrindo um total de beneficiários de mais de um milhão e seiscentos mil beneficiários, nenhum tinha um programa de PFQ, nem mesmo um piloto para implementação. Isto está em contraste com o que acontece em outros Tabela 1. Respostas dos gestores dos planos de saúde às afirmativas referentes a PFQ. 1. Nosso plano de saúde está disposto a oferecer incentivos de valor diferenciado por desempenho de qualidade concordância % (n) Neutralidade % (n) Discordância % (n) Total n Geral 55.2 (16) 31 (9) 13.8 (4) 29 GM* 41.7 (5) 41.7. (5) 16.6 (2) 12 GNM** 64.7 (11) 23.5 (4) 11.8 (2) 17 Geral 75.9 (22) 20.7 (6) 3.4 (1) 29 GM* 66.7 (8) 25 (3) 8.3 (1) 12 GNM** 82.3 (14) 17.7 (3) 0 (0) 17 * Gestores médicos ** Gestores não-médicos Ano 1 | Edição 1 - 2016 Ano 1 | Edição 1 - RBGS 2015 17 17 ARTIGO ORIGINAL países, onde uma grande variedade de programas de PFQ estão em vários estágios de implementação em hospitais e grupos clínicos. Em um estudo com 252 Organizações de Manutenção de Saúde (health maintenance organizations - HMOs), metade dos HMOs possuiam programas de PFQ nos contratos com prestadores: em torno de 90% para médicos e 38% para hospitais.21 PFQ tornou-se popular por que outras abordagens para otimizar a qualidade da atenção à saúde não parecem garantir padrões mínimos, e os esforços tradicionais para melhoria de desempenho são lentos em reformar os sistemas de assistência.17,27 No entanto, apesar do entusiasmo, existem críticas a abordagem de PFQ. Dentre elas, que os resultados são baseados na assistência relatada nos registros médicos, mas não necessariamente na assistência prestada: uma crítica comum a programas de PFQ é que o seu principal efeito é promover melhor registro da assistência do que melhor assistência.14 Contudo, para proporcionar boa assistência, é necessário tanto prover a assistência como registrar o processo e desfechos, em termos dos indicadores usados.28 Além das queixas inerentes a potenciais fragilidades ou consequências não intencionais dos programas de PFQ, há a queixa referente a adição de complexidade administrativa, algo em que os planos de saúde não estão particularmente interessados. Exemplo representativo diz respeito a freqüência com que o incentivo financeiro é pago. Pagamentos anuais são mais comuns, mas essa infrequência levanta a questão se os provedores apreciarão a conexão entre seu desempenho e o incentivo financeiro associado. Embora pagamentos mais freqüentes adicionem complexidade administrativa ao programa de incentivo, é preciso verificar se os custos associados são superados pelo ganho em comprometimento do prestador com o programa e no impacto global sobre a qualidade da assistência prestada.20 Há, também, pouca padronização entre os planos para mensurar a melhoria de qualidade, e os incentivos de pagamento são modestos. Não obstante, os esforços atuais proporcionam a fundação sobre a qual construir. O apoio de expressivos planos de saúde e compradores públicos e privados, incentivos financeiros suficientes adequadamente alinhados, e melhorias na mensuração da qualidade podem ajudar a disseminar a aceitação de PFQ e, por fim, melhorar a qualidade na assistência a saúde.1,16 Independente do contexto, a aquisição baseada na qualidade depende criticamente do relato, monitoramento, e provisão de informação útil aos consumidores da assistência a saúde. Em muitos países de baixa e média renda, a ausência de informação disponível é a principal restrição para medir desempenho, um componente crítico na aquisição de serviços baseada na qualidade.26 Em relação a questão sobre mudança de prática e incentivos financeiros, encontramos que mais de ¾ dos entrevistados concordam com a afirmação de que os médicos mudariam suas práticas se recebessem incentivos financeiros. Incentivos financeiros tem maior probabilidade de influenciar efetivamente o comportamento profissional quando metas de desempenho e recompensas são alinhados aos valores daquele que vai ser recompensado.29 De fato, as percepções da relevância clínica das metas de qualidade podem ser mais importantes para o sucesso do programa de PFQ do que o tamanho do incentivo financeiro associado.2 Freqüentemente, planos de saúde e fontes pagadoras são vistas como adversários do médico no terreno de melhoria da qualidade. Muitos médicos sentem-se insatisfeitos, sobrecarregados por exigências burocráticas impostas pelos pagadores. Motivação profissional, isoladamente, pode não ser suficiente para melhorar a qualidade da assistência, especialmente quando médicos precisam fazer investimentos financeiros na sua prática, por exemplo, empregando mais funcionários 18 Ano Ano1 1 | Edição 1 - 2016 2015 REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE para obter ganhos em qualidade.28 Melhoria sustentada na qualidade da assistência, que envolve outros prestadores de assistência a saúde, requer a combinação de outros fatores, incluindo metas claras, bom trabalho em equipe, e liderança efetiva.30 Alguns estudos sugerem que incentivos financeiros podem mudar o comportamento profissional.28,31 No entanto, um interessante achado do presente estudo é que relativamente poucos gestores médicos concordaram com PFQ (42%). É possível que, para alguns médicos, incentivos de qualidade possam ser vistos como afronta à noção tradicional de responsabilidade clínica e profissionalismo. Desta perspectiva, os incentivos financeiros e o sistema de mensuração são uma forma de supervisão externa do desempenho médico que, em essência, substitui o que outrora era a confiança pública no compromisso profissional com a qualidade.2 No Reino Unido, por exemplo, a introdução do programa de PFQ tem sido associada com uma tendência geral em direção ao monitoramento mais ativo do desempenho dos profissionais da saúde, em vez de, simplesmente, depositar confiança implícita.32 À luz dessas preocupações, sugere-se cultivar e reforçar as noções tradicionais de confiança no prestador de assistência a saúde.2 Para alguns, por outro lado, pagar médicos para alcançar metas de desempenho fixadas pode produzir pouco ganho em qualidade pelo dinheiro gasto e irá recompensar, amplamente, aqueles com melhor desempenho já no ponto de partida.22 Para superar as barreiras, é necessário debater aspectos conceituais no delineamento e implementação de programas de PFQ, bem como avaliar tais programas. Além da mudança de comportamento por parte dos prestadores, é necessária uma mudança de visão e comportamento por parte de fontes pagadoras. Um programa de PFQ bem sucedido requer seleção de critérios apropriados de desempenho, levantamento preciso do impacto financeiro, desenvolvimento de meios de comunicação efetivos entre o plano de saúde e médicos, e gradual implementação do plano.33 Além disso, são fundamentais a confiabilidade da abordagem de mensuração e a integridade dos dados.2 Mudar para programas de compensação de PFQ permite aos planos de saúde e médicos equilibrar incentivos econômicos e resultados operacionais. Isso encoraja o melhor desempenho e beneficia prestadores, pagadores, e pacientes. Em particular, gestores de planos de saúde precisam de resultados para verificar o impacto de PFQ no negócio da saúde, se os programas se traduzem em menores gastos, devido a melhorias na qualidade da assistência aos pacientes, e superam os custos dos programas, que incluem os incentivos e atividades administrativas relacionadas.2 Na avaliação, é preciso acesso a dados clínicos e administrativos detalhados, o que deve ser planejado no delineamento e implementação do programa. PFQ é um conceito novo que está sendo utilizado no panorama de atenção a saúde. Essa é uma abordagem inicial ao tema de PFQ nesta parte do mundo. Não há, de acordo com nosso conhecimento, estudo publicado sobre PFQ no Brasil. Apesar das limitações, o estudo proporciona elementos para cogitar a possibilidade de iniciar tais programas no cenário brasileiro. Há a oportunidade para iniciativas de pesquisa visando produzir novos insights e informação sobre esse tema, e estabelecer a infra-estrutura para aprender o que funciona ou não em programas de PFQ. Quão efetivo é PFQ, quais os fatores determinantes para seu sucesso, tamanho e estrutura dos incentivos financeiros, relevância clínica das metas de qualidade, sustentabilidade a longo prazo, efeitos adversos não planejados, e formas de PFQ aplicáveis no cenário brasileiro são questões que podem e devem ser abordadas em outros estudos. Referências 1. Strunk BC, Hurley RE. Paying for quality: health plans try carrots instead of sticks. Issue Brief Cent Stud Health Syst Change. 2004;(82):1-4. 2. Young GJ, White B, Burgess JF Jr, Berlowitz D, Meterko M, Guldin MR, Bokhour BG. Conceptual issues in the design and implementation of pay-for-quality programs. Am J Med Qual. 2005;20(3):144-50. 3. 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Estudo descritivo, quantitativo, visando conhecimentos sobre mecanismos técnicos que auxiliam a logística da aquisição de material médico-hospitalar e de insumos, identificando a participação e contribuições de 17 profissionais, através da aplicação de questionário com 12 perguntas. Resultados: Dos entrevistados, 30% relataram saber da existência das comissões de licitação e de padronização de materiais e insumos; 18,75% reconheceram a participação efetiva dos profissionais da assistência nas comissões; 31% referiram que o setor de compras e as licitações interferem parcialmente na qualidade dos produtos adquiridos; 35,29% reconheceram como atuante a comissão de padronização; 17,65% identificou a participação dos profissionais da assistência nas comissões técnicas; 76,47% tinham conhecimento de local para armazenamento exclusivo do material médico-hospitalar e que não existia local apropriado de divulgação dos processos de compras dos itens adquiridos, de maneira transparente. Conclusão: Os profissionais do hospital avaliado reconhecem a importância de ter maior participação nos processos de compras, com o objetivo de melhorar a qualidade da assistência. O Parecer Técnico, a Padronização dos materiais médico-hospitalares e a Especificação bem elaborada do produto são fundamentais para a compra com qualidade, com benefício ao paciente. Existe interação e participação compartilhada entre a área assistencial e a administrativa nos processos de compras. A Publicização e Transparência precisa ser melhor trabalhada pela alta gestão. Os achados podem contribuir para a melhoria dos processos de compra hospitalar e gerenciamento de recursos materiais. Palavras Chaves: Gestores; Material médico-hospitalar; Comissão de licitação. Abstract Context: In hospitals, management of materials has great relevance and has become a necessity, regardless of the size or type of organizations. Methods:Descriptive quantitative study, seeking knowledge of technical mechanisms that help the logistics of purchasing healthcare and input material, identifying the participation and contributions of 17 professionals through a questionnaire with 12 questions. Results: Of the respondents, 30% reported knowing of the existence of commissions bidding and standardization of materials and supplies; 18.75% recognized the effective participation of professional assistance in committees; 31% reported that the purchasing department and bids interfere partially on the quality of the products purchased; 35.29% recognized as active the standardization committee; 17.65% identified the participation of professional assistance in the technical committees; 76.47% had local knowledge for the exclusive storage of medical and hospital supplies and that there was an appropriate place to disseminate the purchasing process of purchased items in a transparent manner. Conclusion: The rated hospital professionals recognize the importance of having greater involvement in the purchasing process, with the aim of improving the quality of care. The Technical Opinion, Standardization of medical materials and the elaborated specification of the product are critical for purchase with quality and to benefit the patient. There is interaction and shared participation between administrative and assistance areas in the purchasing process. Publicization and Transparency needs to be better worked out by top management. The findings may contribute to the improvement of hospital purchasing processes and management of material resources. Key Words: Managers; Medical-hospital material; Bidding committee. a Economista no Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará. Especialização em Gestão em Saúde. b Enfermeira da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Especialização em Gestão em Saúde. c Médico. Diretor Executivo do Hospital Distrital Gonzaga Mota-Messejana (Fortaleza-CE). Especialização em Oft almologia. Especialização em Medicina do Tráfego. Especialização em Gestão em Saúde. [email protected] d e f Fisioterapeuta. Agente Comunitária de Saúde - Prefeitura Municipal de Fortaleza (CE). Especialização em Gestão em Saúde. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta II da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. Enfermeira da Unidade Municipal de Pronto Atendimento (Baturité-CE). Especialista em Saúde Pública e da Família. Especialização em Gestão em Saúde. Introdução As atividades voltadas para administrar o fluxo de materiais e de informações relacionadas com esse fluxo ao longo da cadeia de suprimento constituem o que genericamente se denomina logística.1 No caso das organizações hospitalares, os materiais têm grande relevância, de modo que a sua administração se tornou uma necessidade, independentemente do seu porte ou tipo. Na prática diária da assistência, é frequente ocorrer o “improviso” para a execução de determinado procedimento médico, ocasionando muitas vezes o uso de insumos em maior quantidade que o necessário, 20 Ano Ano1 1 | Edição 1 - 2016 2015 de forma mais onerosa ou menos eficaz, com maiores riscos à saúde dos pacientes e maiores prejuízos financeiros para as instituições, públicas ou privadas. Por isso, gestores de hospitais estão compelidos a praticar uma administração profissional, capaz de cumprir com eficiência, eficácia, efetividade e principalmente, com economia, a missão das entidades que gerenciam, dentro da legalidade.2 Há, no entanto, a preocupação se gestores e demais funcionários dos hospitais públicos adotam, nos processos de compras, rotinas RBGS ARTIGO ORIGINAL REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE e normas de segurança na assistência aos pacientes. É importante verificar como funciona o processo de aquisição de insumos e material médico-hospitalar em unidades hospitalares públicas da rede SUS, para entender como é tratado o problema da aquisição indevida ou inadequada, e ainda como o abastecimento e desabastecimento influencia na baixa da qualidade da assistência aos pacientes. Neste estudo, buscamos o conhecimento de vários mecanismos técnicos que auxiliam a logística da aquisição de material médicohospitalar e de insumos, e sobre a participação dos profissionais da saúde e as suas contribuições nos processos de gerenciamento de recursos materiais no Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) da Universidade Federal do Ceará, integrante do Sistema Único de Saúde (SUS), na cidade de Fortaleza (CE). Métodos Estudo descritivo, de abordagem quantitativa, com aplicação de um questionário contendo 12 perguntas, com respostas de múltiplas escolhas (fechado). Os dados foram coletados no período de 01 a 31 de julho de 2015, após a aprovação do Comitê de ética em pesquisa do HUWC. Antes de aplicar o questionário, o objetivo da pesquisa foi explicado aos participantes. De 17 profissionais entrevistados, cinco foram escolhidos nominalmente por serem os responsáveis diretos pelos processos de compras do hospital (um gestor hospitalar, um administrador de empresas e três analistas administrativos) e os demais 12 de maneira aleatória, distribuídos nos vários setores que têm correlação na aquisição e no consumo de materiais e insumos: Enfermagem, Farmácia, Almoxarifado e Suprimentos. Resultados Dos entrevistados, 88% são do sexo feminino, com idade média de 42 anos; todos com nível superior: gestor hospitalar (01), enfermeira (09), fisioterapeuta (01), administrador de empresas (01) e farmacêutico (05), cujas ocupações funcionais são: três analistas administrativos (sendo um administrador de empresas, um enfermeiro e um fisioterapeuta); três exercendo cargos de chefia de unidade hospitalar (um gestor hospitalar, chefe do setor de compras; um enfermeiro, chefe do almoxarifado; um farmacêutico, chefe da farmácia central) e três com cargos de coordenação de serviços (coordenador da Enfermagem; coordenador do Núcleo Hospitalar de Vigilância Epidemiológica e coordenador do Centro Cirúrgico, todos enfermeiros). Os demais entrevistados (quatro enfermeiros e quatro farmacêuticos), são plantonistas nas escalas dos seus setores. Os resultados estão descritos nas tabelas abaixo: Tabela 1. Indique um ou mais itens abaixo que você conhece ou já ouviu falar, atuando setorialmente ou em conjunto com a Alta Administração nos processos de COMPRA de materiais e insumos hospitalares, no HUWC. RESPOSTAS n (%) a) Comissão de Licitação. 12 (30) b) Comissão de Recebimento de Compras. 5 (13) c) Comissão Permanente de Licitação e Compras. 6 (15) d) Comissão ou Sistema de Controle de Estoques. e) Comissão Permanente de Padronização de Materiais e Insumos. RESPOSTAS n (%) a) Descritivo padronizado do material a ser adquirido. 14 (29) b) Pareceres emitidos pelas Comissões técnicas existentes. 13 (27) c) Descentralização das decisões emanadas da Alta Administração. 6 (13) d) Participação dos pacientes e/ou dos seus acompanhantes na construção dos processos de compras. 0 (0) e) Participação dos profissionais que trabalham diretamente na assistência na construção dos processos de compras. 15 (31) Tabela 3. Indique um item abaixo que você entende como mais correto para a assertiva: “Atualmente os profissionais que trabalham diretamente na assistência, os que usam no dia a dia o material médico-hospitalar, participam de alguma forma no processo de COMPRAS, no HUWC.” RESPOSTAS n (%) a) Participam totalmente, através das Comissões técnicas. b) Participam parcialmente, através de sugestões informais à Alta Gestão. c) Não participam. 3 (18,75) 10 (62,50) 3 (18,75) d) Não tenho como responder, pois desconheço. 0 (0) e) Entendo que não é necessária a participação desses profissionais. 0 (0) Tabela 4. Indique um item abaixo que melhor responda ao quesito: “O setor de compras e a Licitação têm interferência na QUALIDADE do material médico-hospitalar, adquirido pelo HUWC?” RESPOSTAS n (%) a) Interferem Totalmente. 4 (25) b) Interferem Parcialmente. 5 (31,25) c) Não Interferem. 4 (25) d) O material é adquirido, sempre pelo “MENOR PREÇO”. e) Não tenho como responder, pois desconheço. 3 (18,75) 0 (0) Tabela 5. Indique um item abaixo que você entende como mais correto para a assertiva: “O Parecer técnico e a padronização do material é uma forma de melhorar a QUALIDADE do material médico-hospitalar”. RESPOSTAS n (%) a) Concordo Totalmente. 13 (76,47) b) Concordo Parcialmente. 4 (23,53) c) Indiferente. 0 (0) d) Discordo. 0 (0) e) Não tenho como responder, pois desconheço. 0 (0) Tabela 6. Indique um item abaixo como mais correto para a assertiva: “A Especificação (descritivo) do material médicohospitalar feita pelo HUWC é suficiente para aquisição de material médico de QUALIDADE”. 5 (13) 12 (30) Tabela 2. Indique um ou mais itens abaixo que você entende importantes para realizar uma BOA COMPRA de material médicohospitalar, que atenda as demandas por qualidade, eficácia e Ano 1 | Edição 1 - 2016 eficiência, no HUWC. RESPOSTAS n (%) a) Concordo Totalmente. 0 (0) b) Concordo Parcialmente. 12 (75) c) Indiferente. 0 (0) d) Discordo. 4 (25) e) Não tenho como responder, pois desconheço. Ano 1 0 (0) | Edição 1 - RBGS 2015 21 21 ARTIGO ORIGINAL REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE Tabela 7. Indique um item abaixo como mais correto para a assertiva: “O HUWC tem uma Comissão de Padronização de material médico-hospitalar atuante”. RESPOSTAS n (%) a) Concordo Totalmente. 1 (5,88) b) Concordo Parcialmente. 5 (29,41) c) Indiferente. e) Não tenho como responder, pois desconheço. 6 (35,30) a) Concordo Totalmente. 5 (29,41) b) Concordo Parcialmente. Tabela 8. Indique um item abaixo como mais correto para a assertiva: “A QUALIDADE do material médico-hospitalar, utilizado pelos profissionais do HUWC, tem influência no tratamento do paciente”. RESPOSTAS n (%) 15 (88,24) b) Concordo Parcialmente. 2 (11,76) c) Indiferente. 0 (0) d) Discordo. 0 (0) e) Não tenho como responder, pois desconheço. 0 (0) Tabela 9. Indique um item abaixo como mais correto para a assertiva: “No HUWC, existe INTERAÇÃO entre as áreas assistencial (fim) e administrativa (meio) na definição das compras do material médico-hospitalar”. RESPOSTAS n (%) a) Concordo Totalmente. 2 (11,76) b) Concordo Parcialmente. 12 (70,6) c) Indiferente. 0 (0) d) Discordo. 2 (11,76) e) Não tenho como responder, pois desconheço. 1 (5,88) Tabela 10. Indique um item abaixo que você entende como mais correto para a assertiva: “Atualmente os profissionais que trabalham diretamente na assistência, os que usam no dia a dia o material médico-hospitalar, participam de alguma forma do processo de QUALIDADE desse material adquirido pelo HUWC”. RESPOSTAS n (%) a) Concordo Totalmente. 3 (17,65) b) Concordo Parcialmente. 8 (47,06) c) Indiferente. 4 (23,53) d) Discordo. 2 (11,76) e) Não tenho como responder, pois desconheço. 0 (0) Tabela 11. Você conhece a existência de algum setor no HUWC, tipo Almoxarifado, de uso exclusivo para o ARMAZENAMENTO do material médico-hospitalar? RESPOSTAS n (%) a) Conheço um setor, exclusivo para essa finalidade. 13 (76,47) b) Conheço um setor, mas não é exclusivo para essa finalidade. 3 (17,65) c) Desconheço a existência desse setor. 1 (5,88) d) Não tenho como responder, pois não sei o que significa “Almoxarifado”. 0 (0) e) Entendo que não é necessário um setor, exclusivo para essa finalidade 0 (0) 22 Ano Ano1 1 | Edição 1 - 2016 2015 RESPOSTAS n (%) 0 (0) d) Discordo. a) Concordo Totalmente. Tabela 12. Indique um item abaixo como mais correto para a assertiva: “A Alta Gestão do HUWC disponibiliza para PUBLICIZAÇÃO, num local apropriado e de fácil acesso para todos os funcionários, os processos de compras e os itens adquiridos, principalmente os médico-hospitalares, de maneira TRANSPARENTE”. c) Indiferente. 0 (0) 4 (23,53) 0 (0) d) Discordo. 7 (41,18) e) Não tenho como responder, pois desconheço. 6 (35,29) Discussão Pelos dados apresentados na Tabela 1, apenas 30%, menos de um terço dos entrevistados, relataram possuir conhecimento da existência das Comissões de Licitação e de Padronização de Materiais e Insumos. A Licitação objetiva selecionar a proposta mais vantajosa, de relação custo benefício, maior qualidade/menor preço. Destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.3 A pré-qualificação é uma modalidade para realizar a verificação da conformidade dos produtos possíveis de licitar com o contrato de registro sanitário para refinar a especificação do edital da licitação. Esta estratégia vem sendo utilizada por hospitais no Brasil em sua rotina de trabalho. O processo inclui a obtenção de uma série de informações técnicas e sanitárias e a realização de testes funcionais em amostras de diversas marcas e modelos, antes da decisão de compra. Durante a elaboração dos editais, então, torna-se crítico o conhecimento aprofundado das características técnicas dos produtos e das finalidades a que se destinam. A especificação dos critérios técnicos orienta as fases de classificação, julgamento e seleção dos produtos a serem adquiridos. O conhecimento prévio dos produtos específicos por meio da pré-qualificação, em teste funcional realizado por usuários determinados, pode permitir ajustar a definição dos critérios técnicos destes produtos às necessidades do programa de assistência a que se destinam, destacando os mais adequados para a aquisição e uso específico.4 A Tabela 1 mostra ainda que 15% dos participantes relataram conhecimento da Comissão permanente de Licitação e Compras; 13% apontaram conhecimento sobre a Comissão ou Sistema de Controle de Estoques e 12% relataram conhecer a Comissão de Recebimento de Compras. Com estes dados percebe-se que uma pequena minoria dos entrevistados possui conhecimento da existência de uma ou mais importantes Comissões, indicando-nos a ausência de interesse da alta gestão do hospital no sentido de patrocinar fluxos de informação ou de transparência, que estimulem o conhecimento qualificado e a participação dos funcionários nas importantes etapas dos processos de compras. De acordo com a Tabela 2, poucos entrevistados, somente 13%, entenderam como importante a questão da descentralização das decisões emanadas da alta administração, quanto aos resultados finalísticos de uma compra com eficiência, eficácia e qualidade. A centralização enfatiza as relações escalares, isto é, a cadeia de comando. A organização é desenhada dentro da premissa de que o RBGS ARTIGO ORIGINAL indivíduo no topo possui a mais alta autoridade. A centralização de compras ocorre geralmente em pequenas empresas, onde os gerentes ou proprietários decidem centralizar não somente as decisões sobre compras e sim todos os processos decisórios que envolvam de forma direta ou indiretamente o capital da empresa.5 De acordo com a Tabela 3, poucos entrevistados (18,75%) reconhecem a participação efetiva dos profissionais da assistência nas Comissões Técnicas, dados coincidentes com outra pequena quantidade dos entrevistados (18,75%), que entendem que os profissionais não participam de nenhuma forma dos processos de compras. Sobressaise a grande maioria dos participantes (62%), que entendem que os profissionais têm uma participação apenas parcial nas compras e este fato é traduzido ainda em pequenas sugestões informais à alta administração. Conforme a Tabela 4, registramos duas opiniões antagônicas, na mesma percentagem de um quarto dos participantes (25%), uns que entendem que o Setor de Compras e as Licitações tem importância na qualidade dos produtos adquiridos, outros que não há importância. Outro dado que chama a atenção foi o da ambiência gerada por quase um terço dos entrevistados (31%), entendendo que o Setor de Compras e as Licitações interferem parcialmente na qualidade dos produtos adquiridos. Quanto ao quesito “Menor Preço” influenciando na qualidade do material médico-hospitalar adquirido, apenas 19% entenderam que esse fator pode influenciar negativamente. A Tabela 5 mostra que 76% dos participantes reconhecem que o Parecer Técnico e a Padronização dos materiais compõem um conjunto de práticas, que podem garantir a qualidade do material médicohospitalar. O restante (24%) concordou que estes instrumentos têm participação somente parcial. O Parecer Técnico é o instrumento imprescindível de avaliação dos produtos, sustentado em bases confiáveis e legais, emitido por pessoal especializado, de preferência usando como referências pareceres, artigos científicos ou leis que justifiquem as opiniões e orientações emanadas, devendo servir de suporte nas decisões da alta gestão nos processos de compras. A padronização é um método para estender a utilização de um material ao maior número possível de aplicações, ela visa reduzir as variedades, através da unificação de dados de materiais que são semelhantes. As vantagens da padronização são: favorece a diminuição do número de itens em estoque, simplifica o trabalho de estocagem, permite a obtenção de melhores preços, reduz o trabalho de compras, diminui os custos de estocagem, permite a aquisição dos materiais com maior rapidez e possibilita a economia com consertos e substituições de peças. A padronização não é um procedimento que pode ser feito isoladamente, deve-se compor um comitê de padronização com a participação do corpo clínico, do administrador de materiais e da enfermagem, tendo-se por base as rotinas e técnicas do serviço de enfermagem, conhecimentos dos materiais, sabendo-se quais são semelhantes e quais podem ser substituídos, além das qualidades farmacológicas e técnicas, a facilidade de compra, o custo, a armazenagem entre outros. Realizada desse modo, a padronização, facilitará a verificação mensal da média de consumo, o planejamento e reposição e a manutenção da qualidade dos materiais utilizados.6 Na Tabela 6, 75% dos entrevistados concordam parcialmente e 25 % discordam que a Especificação (descritivo) do material médicohospitalar feita pelo hospital não está contribuindo suficientemente para a aquisição de produtos com qualidade, o que leva a perceber que esse instrumento não está sendo capaz de atender as necessidades impostas pelas constantes mudanças no complexo processo de compras. A especificação técnica dos materiais consiste na descrição detalhada Ano 1 | Edição 1 - 2016 REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE das características do material, pois representa com precisão aquilo que se deseja adquirir. Além disso, a especificação técnica representa um meio de comunicação entre a área técnica e administrativa.7 Nas instituições públicas o processo de compra de materiais não é uma atividade simples; sendo a especificação dos produtos instrumento de fundamental importância, imprescindível na elaboração do edital de compra, e quanto mais detalhada, mais facilitará o relacionamento do Setor de compras com os fornecedores, garantindo-se aquisições com qualidade.6 Na Tabela 7, pouco mais de um terço dos entrevistados (35,29%) reconheceram que a Comissão de Padronização de materiais e insumos do hospital está realizando suas funções de forma atuante. As vantagens da padronização são o favorecimento da diminuição do número de itens em estoque, simplificando o trabalho de estocagem, permitindo a obtenção de melhores preços, reduzindo o trabalho de compras, diminuindo os custos de estocagem, permitindo a aquisição dos materiais com maior rapidez e ainda possibilitando a economia 8 com consertos e substituições de peças. Na Tabela 8, a totalidade dos entrevistados (11,76% Parcialmente e 88,24% Totalmente) entende que a qualidade do material tem reflexos positivos na assistência prestada diretamente aos pacientes. A assistência de qualidade aos pacientes faz parte da “Segurança do Paciente”. Partindo deste princípio faz-se necessário minimizar os riscos potenciais de eventos adversos que venham a surgir em determinado momento, sendo fundamental que os materiais utilizados sejam de qualidade, proporcionando resultados finalísticos que satisfaçam os interesses dos profissionais e as necessidades dos pacientes, até mesmo porque quando um evento adverso ocorre no ambiente hospitalar, a organização sofre consideravelmente todas as consequências, sociais, jurídicas e econômicas. A mais grave é a perda da vida humana.9 Na Tabela 9, a grande maioria dos entrevistados (82,36%: 11,76% Totalmente e 70,60% Parcialmente) reconhece que no hospital existe interação entre as áreas assistencial (fim) e administrativa (meio) na definição das compras. Apenas 17,64% não avalizam a existência dessa importante prática de gestão. Uma análise crítico-propositiva procura identificar possibilidades e limites da gestão participativa, reconhecendo avanços e desafios das experiências existentes e analisando também possíveis formas de incentivo ou superação dos mesmos, no aprimoramento dessas propostas e experiências. Esse tipo de análise parte do pressuposto de que os mecanismos de gestão participativa são complementares aos mecanismos da democracia representativa, implicando num novo tipo de relação entre Estado e sociedade que requer uma cultura política baseada em princípios e valores democráticos.10 Na Tabela 10, apenas 17,65% dos entrevistados identificou a participação dos profissionais da assistência, através das Comissões técnicas, contribuindo na qualidade do material adquirido. A maioria entende (47,06%), que os profissionais que estão ligados diretamente à assistência só participam parcialmente nesse processo, através de pequenas sugestões informais à alta administração. Para 23,53% dos entrevistados, os profissionais não participam de forma nenhuma quanto a qualidade dos produtos. Os profissionais que trabalham diretamente no cuidado do paciente devem participar de forma compartilhada dos vários processos de compra, colocando-se na condição de importantes colaboradores da alta gestão. A introdução de novas tecnologias, novos materiais e equipamentos na prática assistencial, exige dos profissionais de saúde o conhecimento e avaliação dos materiais e equipamentos disponíveis no mercado, para assegurar opções que contribuam na manutenção/ Ano 1 | Edição 1 - RBGS 2015 23 23 ARTIGO ORIGINAL elevação da qualidade da assistência.6 Na Tabela 11, a grande maioria dos participantes (76,47%) têm conhecimento de um local para o armazenamento exclusivo do material médico-hospitalar. Ainda, 17,65% conhecem um local de guarda de material, embora não exclusivo para esta finalidade; uma pequena minoria (5,88%) desconhece totalmente a existência desse setor. Armazenar ou estocar materiais é dispor de forma racional e técnica cada produto em seus depósitos específicos. O material deve ser acondicionado em estantes, armários, estrados, prateleiras, gavetas ou em pilhas seguindo normas técnicas para evitar riscos de queda, achatamento, deterioração, perda e outros. Deve-se guardar o material observando a facilidade de visualização para o pessoal, evitar riscos de contaminação (poeira, umidade, luz), facilidade de realização de inventários, reposição e utilização.6 Na Tabela 12, a grande maioria dos entrevistados, 76,47%, informou que a alta gestão do hospital não disponibiliza para publicização, em local apropriado e de fácil acesso para todos os funcionários, os processos de compras e os itens adquiridos, principalmente os médico-hospitalares, de maneira transparente (41,18% discordaram da existência dessa prática e 35,29% alegaram desconhecimento total sobre o assunto). Dos entrevistados, 23,53% registram parcialmente a existência do referido processo. A atuação transparente do Poder Público exige a publicação, ainda que meramente interna, de toda forma de manifestação administrativa, constituindo esse princípio requisito de eficácia dos atos administrativos. A publicidade está intimamente relacionada ao controle da administração.11 REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE de Recursos Materiais em Enfermagem, pág. 3, 8 e 10. Faculdade de Enfermagem. Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). http://www.ufjf.br/admenf/files/2009/08/ GERENCIAMENTO-DE-RECURSOS-MATERIAIS-EM-ENFERMAGEMI2.pdf 7. GRECO, Rosângela Maria; DEUS, Raquel Líquer. Disciplina Administração em Enfermagem I. Gerenciamento de Recursos Materiais em Enfermagem, pág. 9. Faculdade de Enfermagem. Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). http://www.ufjf.br/admenf/ files/2013/05/Aula-Gerenciamento-de-Recursos-Materiais-em-Enfermagem.pdf 8. PATERNO, Dario. Administração de materiais no hospital: compras, almox. e farmácia. São Paulo: Centro São Camilo de Desenvolvimento em Administração da Saúde; 1990. 9. CAPUCHO, Helaine Carneiro; BBRANQUINHO, Susana; REIS Lílian Vannucci dos. Cartilha Gerenciamento de Riscos e Segurança do Paciente, pág 8. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, 2010. 10. MARINHO, Roberto Alves da Silva. Desafios da Democracia Participativa: Padrões de Relação Estado e Sociedade no Brasil (Artigo). http://portal.mte.gov.br/data 11. ROSA, Márcio Fernando Elias. Direito Administrativo. 5ª. ed., pág. 86. Editora Saraiva, São Paulo, 2003. Conclusão De acordo com o grupo pesquisado, o Parecer Técnico, a Padronização dos materiais médico-hospitalares, juntamente com uma Especificação bem elaborada do produto, são requisitos fundamentais para a compra com qualidade, em benefício da assistência ao paciente. Ficou evidenciado que existe interação e participação compartilhada entre a área assistencial e a administrativa nos processos de compras. Quanto ao princípio da publicidade, nos quesitos Publicização e Transparência, os entrevistados reconheceram que esse princípio precisa ser melhor trabalhado pela alta gestão. Quanto à contribuição da pesquisa, entendemos que os dados levantados e discutidos ampliam as opções para formatar novas compreensões de questões como: “A importância do gestor público no suprimento hospitalar”; “A falta do conhecimento de mecanismos eficazes de compra”; “A prática salutar do princípio da Publicidade dos processos de compra” e “A participação dos profissionais da área assistencial na gestão de compras com qualidade, em benefício dos pacientes”. Podemos aplicar esses conhecimentos e contribuir, quando do exercício de atividades como gestores em saúde, para a melhoria dos processos de compra hospitalar e gerenciamento de recursos materiais. Referências 1. 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Gerenciamento 24 Ano Ano1 1 | Edição 1 - 2016 2015 RBGS ARTIGO ORIGINAL REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE Perfil dos Gerentes de Saúde na Atenção Básica Déborah Cristina Souza Duarte,a Patricia Moita Garcia Kawakameb Resumo Contexto: O processo de organização dos serviços de saúde é determinado pela ação gerencial, que contribui para a consolidação das políticas de saúde, de forma articulada e integrativa. Métodos: Estudo descritivo com o objetivo de caracterizar o perfil dos gerentes de saúde na atenção básica. Os dados foram coletados utilizando um questionário aplicado a 30 gerentes de saúde na atenção básica. Resultados: O perfil dos gerentes de saúde na atenção básica se caracteriza na sua maioria por mulheres entre 31 a 50 anos, predominantemente católicas, enfermeiras, com renda de 1 a 5 salários mínimos, a maioria com 1 filho, sendo que mais da metade não possui curso de especialização em gestão em saúde, com tempo de formação de 0 a 10 anos e o tempo de atuação como gerente de 1 a 5 anos. A maioria se sente qualificada para exercer a função, associando tal fato a formação e experiência. Foi constatado que os principais fatores dificultadores do processo de trabalho destes gerentes são a falta de materiais e de recursos humanos. Uma série de sugestões para a melhoria dos fatores dificultadores foi apresentada. Conclusão: O estudo mostrou o panorama atual sobre o perfil do profissional que exerce a função de gerente em unidades de saúde de distritos em Campo Grande (MS). As sugestões dos gerentes para a melhoria das dificuldades poderão contribuir para o planejamento das ações, e é necessário inserir estes profissionais em cursos para especialização em gestão da saúde. Palavras-chave: Gestor de saúde, Gestão em saúde; Atenção primária. Abstract Context: The process of organization of health services is determined by management action, which contributes to the consolidation of health policies, a coherent and integrative way. Methods: A descriptive study aimed to identify the profile of health managers in primary care. Data were collected using a questionnaire applied to 30 health managers in primary care. Results: The profile of health managers in primary care is characterized mostly by women between 31 and 50 years, predominantly Catholic, nurses, earning 1-5 minimum wages, most with one child, and more than half with no healthcare management specialization. Time since graduation was 0-10 years and the time of work as manager 1-5 years. Most feel qualified to perform the function, associating this fact to training and experience. It was found that the main factors hindering the working process of these managers is the lack of material and human resources. A number of suggestions for improvement of the complicating factors was presented. Conclusion: The study showed the current situation on the professional profile of health managers in primary care from Campo Grande (MS). Suggestions from managers to improve difficulties can contribute to the planning of actions, and these professional must enter courses for specialization in healthcare management. Key words: Health Manager, Health Management; Primary care. a Enfermeira, graduada pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul- UFMS – Rua Dr. Meirelles, 2000 – Coronel Antonino – Campo Grande – MS – CEP: 79011-060 – e mail: [email protected] b Enfermeira, doutora pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP), professora adjunta do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. Introdução A atenção básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde, com o objetivo de desenvolver uma atenção integral, com impacto na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. 1 Gerenciar é uma função administrativa da maior importância, relacionada com a estrutura e os processos de tomada de decisões em um sistema. 2 A organização dos serviços de saúde é determinado pela ação gerencial, consolidando as políticas de saúde e incorporando um caráter articulador e integrativo. 3 Gerenciar é estar com as pessoas. O processo acontece na interação chefia-equipe, em que o gerente atua como mediador, estimulando e compartilhando a participação do pessoal nos processos decisórios, dividindo o poder e status, desta forma gerando o comprometimento da equipe. 4 Os gerentes em uma organização têm o papel de dimensionar recursos, desenvolver estratégias, resolver problemas, efetuar diagnósticos de situações e afirmar o desempenho de uma ou mais pessoas. 3 O gestor, enquanto líder, deve saber trabalhar com a equipe de maneira Ano 1 | Edição 1 - 2016 que desenvolva habilidades e conhecimentos em grupo, buscando sinergia e desenvolvimento contínuo da mesma. 5 Com excelência na prática de gestão é possível proporcionar melhorias nas práticas assistenciais e na resolutividade dos serviços, fortalecendo os princípios do SUS. 6 Diante da importância de um profissional bem capacitado e preparado para exercer a tarefa de gerente em saúde na atenção básica e pelo interesse em investigar quais profissionais estão sendo contratados para essa função, este estudo teve como objetivos caracterizar o perfil dos gerentes de saúde na atenção básica e compreender os fatores dificultadores dos seus processos de trabalho. Métodos A pesquisa foi realizada nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF), pertencentes aos Distritos de Saúde Sul e Norte do Município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, na região Centro-Oeste do Brasil, com uma amostra composta por 30 gerentes de saúde atuantes em UBS e UBSF. Os dados foram coletados após a autorização Institucional da Secretaria Municipal de Saúde Pública e do Comitê de Ética da Universidade Ano 1 | Edição 1 - RBGS 2015 25 25 ARTIGO ORIGINAL REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE Federal do Mato Grosso do Sul para a realização da pesquisa (parecer favorável n°784.679), e da assinatura do Termo de Consentimento Livre e esclarecido pelos sujeitos da pesquisa. A coleta de dados foi realizada pela aplicação de um questionário previamente elaborado aos gerentes de saúde em suas respectivas Unidades de Saúde, no período de 10 de setembro a 10 de outubro do ano de 2014. Após a coleta de dados, os mesmos foram tabulados no programa Microsoft Excel®, apresentados em tabelas e gráficos e foram realizadas análises estatísticas descritivas. Resultados Caracterização do perfil dos gerentes de saúde na atenção básica Dados sócio-demográficos. Quanto a idade dos participantes, houve o predomínio das faixas etárias de 31 a 40 anos (n 8, 26,7%) e de 41 a 50 anos (n 8, 26,7%) dos gerentes. A faixa etária menos prevalente foi a de 61 anos e mais, com apenas três (10%) dos gerentes. Cinco (16,6%) gerentes se encontram na faixa etária de 21 a 30 anos e 6 (20%) gerentes entre 51 e 60 anos. A religião Católica foi predominante, representando 15 (50%) dos participantes, seguida pela evangélica com sete (23,3%). Seis (20%) eram de outra religião e dois (6,7%) não souberam definir. A renda familiar predominante foi de um a cinco salários mínimos para 13 (43,3%) dos entrevistados, de seis a 10 salários mínimos para 11 (36,6%) e mais de 11 salários mínimos para seis (20%). Quanto ao número de filhos, 12 (40%) dos gerentes de saúde possuem um filho, oito (26,7%) possuem dois filhos, seis (20%) não possuem filhos e apenas quatro (13,3%) possuem três ou mais filhos. Tabela 1 – Distribuição dos gerentes de acordo com o variável sexo. Sexo Distribuição N % Feminino 23 76,6 Masculino 7 23,3 Na Tabela 1, observa-se que a maioria dos gerentes de saúde desta amostra é de mulheres. Tabela 2 – Caracterização dos gerentes de saúde de acordo com o ensino superior. Ensino Superior Distribuição N % Sim 25 83.3 Não 5 16,6 Os dados da Tabela 2 mostram que um em cada seis gerentes não possuem nível superior. Tabela 3 – Caracterização dos gerentes de saúde de acordo com especialização em Gestão em Saúde. Especialização em Gestão em Saúde Sim Não Distribuição Outros cursos na área de Gestão Distribuição N % Sim 13 46,6 Não 17 53,3 A Tabela 4 mostra que a maioria dos entrevistados não possui outros cursos na área da gestão. Tabela 5 – Cursos de graduação dos gerentes de saúde. Curso de Graduação Distribuição N % Enfermagem 12 48,0 Serviço Social 9 36,0 Fisioterapia 1 4,0 Nutrição 1 4,0 Pedagogia 1 4,0 Administração 1 4,0 Não possuem 5 16,6 Total 30 100 Quanto a formação acadêmica dos gerentes de saúde, a Tabela 5 evidencia que 12 (48%) são Enfermeiros, seguidos por nove (36%) formados em Serviço Social, um (4%) em Fisioterapia, um (4%) em Nutrição, 1(4%) em Pedagogia (4%) e um (4%) em Administração. Em relação ao tempo de formado, 13 (43,3%) declaram ter de 0 a 10 anos, cinco (16,6%) de 11 a 20 anos, seis (20%) 21 a 30 anos, um (3,3%) 31 a 40 anos de formação e cinco (16,6%) não possuem graduação. Em relação ao tempo de atuação como gerente em saúde, a maioria está atuando no cargo em um período de um a cinco anos, correspondendo a 14 (46,6%) gerentes, oito (26,6%) deles atuam a menos de um ano, quatro (13,3%) atuam de seis a dez anos e quatro (13,3%) dos gerentes atuam de 11 a 20 anos. Qualificação para exercer a função no julgamento dos gerentes de saúde Tabela 6 – Descrição referente a sentir-se qualificado para exercer a sua função de gerentes em saúde e os respectivos motivos. Distribuição N % Sim 29 96,6 Não 1 3,4 Sente-se qualificado Motivos por se sentir qualificados Formação 12 41,3 Experiência 6 20,6 N % Formação e experiência 10 34,4 14 46,6 Não respondeu 1 3,4 53,3 Motivos por não se sentir qualificado 16 De acordo com a Tabela 3, mais da metade da amostra não é especialista em Gestão em Saúde. 26 Tabela 4 – Caracterização dos gerentes de acordo com outros cursos em gestão. Ano Ano1 1 | Edição 1 - 2016 2015 Sobrecarga de serviço (enfermeira) 1 3,4 Não responderam 29 96,6 Total 30 100 RBGS ARTIGO ORIGINAL REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE Sobre a qualificação para exercer a função (Tabela 6), 29 (96,6%) afirmaram que se sentem qualificados e apenas um (3,4%) dos gerentes não se sente qualificado. Questionado o motivo pelo qual os gerentes de saúde acreditam estar qualificados para a função, 12 (41,3%) associam à formação adequada, seis (20,6%) associam à experiência e 10 (34,4) associam a formação e experiência. Sobre o motivo de não se sentir qualificado, um (3,4%) gerente associou sua resposta à sobrecarga de serviço. Fatores dificultadores e respectivas sugestões para melhoria na atuação como gerente em saúde. Gráfico 1 – Fatores que dificultam a atuação do gerente em saúde. Falta de compromisso do médico Falta de um carro a disposição da unidade Discussão Conhecimento referente a gestão ineficaz Baixa remuneração Equipe sem perfil Números de atendimentos da odontologia reduzidos Falta de medicamentos Relação interpessoal Problemas na manutenção Regulação de vagas ineficaz Questões políticas Estrutura fisica inadequada Não há dificuldades Falta de recursos humanos Falta de materiais 0 2 4 6 8 10 12 14 16 O Gráfico 1 mostra as dificuldades encontradas pelos gerentes em saúde para exercer sua função. Para 15 (50%) dos gerentes, a falta de materiais é a maior dificuldade, seguidos por 13 (43,3%) gerentes que responderam ser sua maior dificuldade a falta de recursos humanos, quatro (13,3%) gerentes apontaram a estrutura física inadequada, três (10%) apontaram as questões políticas, três (10%) a regulação de vagas ineficaz, dois (6,6%) problemas na manutenção, dois (6,6%) relação interpessoal, dois (6,6%) falta de medicamentos, um (3,3%) gerente apontou os números reduzidos de atendimento da odontologia, um (3,3%) equipe sem perfil, um (3,3%) baixa remuneração, um (3,3%) demora na resolução de problemas, um (3,3%) conhecimento referente a gestão ineficaz, um (3,3%) falta de carro a disposição da unidade, um (3,3%) falta de compromisso do médico. Os achados ainda mostram que quatro (13,3%) dos gerentes afirmaram não existir dificuldades. Gráfico 2 – Sugestões dos gerentes em saúde para melhoria das dificuldades. Melhor administração dos recursos financeiros da saúde pública Valorização da atenção básica Aumentar número de consultas odontológicas Humanização dos médicos Autonomia na compra de materiais Melhora no sistema de regulação de vagas Salários maiores para equipe de Enfermagem e administração Organização do serviço de manutenção Cursos de qualificação/ ed. permanente SESAU ter um olhar específico para cada unidade Reforma da estrutura física Maior recursos humanos Maior recursos materiais 0 Ano 1 | Edição 1 - 2016 Diante dos fatores que dificultam a atuação do gerente em saúde, solicitamos sugestões para a melhoria dos mesmos. O Gráfico 2 apresenta as principais sugestões: mais recursos materiais e humanos, correspondendo ambas a 33% das repostas, seguidas pela reforma da estrutura física com 14,8% respostas, a Secretaria Municipal de Saúde Pública (SESAU) ter um olhar especifico para cada unidade corresponde a 14,8% das sugestões, cursos de qualificação/educação permanente com 14,8%, organização do serviço da manutenção 7,4%, salários maiores para a equipe 7,4%, melhora no sistema de regulação de vagas 7,4%, autonomia na compra de materiais 3,7%, humanização dos médicos 3,7%, aumentar o número de consultas odontológicas 3,7%, valorização da atenção básica 3,7% e melhora na administração dos recursos financeiros 3,7%. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 A maioria dos gerentes encontra-se entre as idades de 31 a 50 anos, caracterizando o gerente de saúde com um perfil de adulto jovem, em uma faixa etária economicamente ativa. Este dado contrasta com uma pesquisa em que o predomínio etário foi de 21 a 30 anos, para gerentes de serviços de Atenção Primária a Saúde na região Norte do Paraná. 7 Quanto a religião, os dados se assemelham aos da população geral, apresentados no Censo 2010 8 do IBGE. Em relação a renda, os achados corroboram um estudo em que 40% dos gestores em saúde possuem remuneração mensal de 1 a 5 salários mínimos e 40% recebe de 3 a 5 salários mínimos, perfazendo um índice de 80% dos gestores que recebem de 1 a 5 salários mínimos.7 Em se tratando de uma amostra composta na sua maioria por mulheres, é significativo que 20% da amostra não possui filhos e 40 % possui apenas um filho. De acordo com o Censo do IBGE 2010, podemos relacionar essa informação com a queda nas taxas de fecundidade familiar e com a postergação da fecundidade feminina, em que muitos casais optam por se estabelecer no mercado de trabalho antes de decidir ter filhos. 8 A predominância do sexo feminino, também observada em outra pesquisa que caracterizou o perfil de gestores, evidencia que as mulheres estão cada vez mais conquistando espaço na área da gestão em saúde. 7 O fato de uma parte dos gerentes não possuir nível superior demonstra que, embora seja um cargo de grande importância, não existe a exigência por parte da Secretaria Municipal de Saúde Pública que o profissional tenha cursado uma graduação. Isso aponta uma fragilidade referente a este profissional no SUS, pois o gestor em saúde deve possuir excelência na prática de gestão para que possa proporcionar melhorias nas práticas assistenciais e na resolutividade dos serviços, fortalecendo os princípios do SUS. 6 Em outro estudo, 3 (3,3%) dos gerentes entrevistados também não possuíam nível superior.7 Além disso, o fato de mais da metade dos gerentes não ser especialista em gestão em saúde traz preocupação, pois a atuação do gestor tem relação direta com sua formação acadêmica, com o nível de conhecimento técnico-gerencial obtido em cursos na área de gestão em saúde e com a experiência adquirida 9 em gerência de serviços. Em outro estudo foi mostrado que apenas 25% dos 9 gerentes entrevistados possuíam especialização em gestão em saúde. De acordo com Decreto 5.707/2006 a Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal (PNDP) há a necessidade do incremento de atividades formativas, em nível de especialização latu sensu. É de responsabilidade dos órgãos setoriais (Ministérios) o desenvolvimento de qualificações, buscando modernizar os métodos de aprendizagem e desenvolvimento de pessoal, voltando essas atividades aos seus servidores.10 Os dados apontam outra fragilidade na formação destes gestores, pois mesmo que não possuíssem um curso de especialização, esperava-se que todos tivessem pelo menos um curso de gestão pontual para aprimorar suas competências e habilidades, mas a maioria da amostra estudada não possui. Vale ressaltar que a gestão do SUS necessita de gestores com competência para agir sobre determinadas situações, habilidades para desenvolver ações e experiência, o que certamente é obtido por meio de cursos e capacitações. 9 10 Ano 1 | Edição 1 - RBGS 2015 27 27 ARTIGO ORIGINAL Notamos que a maioria dos gerentes de saúde são enfermeiros, embora outros profissionais também ocupem estes cargos. A gerência de serviços de saúde tem sido, historicamente, uma prática realizada por enfermeiros, os quais têm utilizado para isso o seu aprendizado em organizar e sistematizar rotinas, legitimando a hierarquia e a disciplina presentes nas instituições públicas.11 O mercado profissional espera que o enfermeiro tenha capacidade para trabalhar com conflitos, negociar, dialogar, enfrentar problemas, propor e alcançar mudanças, com estratégias que o aproximem da equipe. Espera-se, do enfermeiro, a capacidade para gerenciar. 12 Entretanto, nem todos possuem essa aptidão. Felizmente, a mesma pode ser ensinada e adquirida. O número de anos desde a formatura predominante foi de profissionais que se formaram a um tempo inferior a 10 anos (43,3%). Ao comparar este dado com a idade dos gerentes, notamos que mesmo que as faixas etárias predominantes não caracterizem uma amostra tão jovem (de 31 a 40 anos e de 41 a 50 anos), o tempo de formado não é muito longo, evidenciando que alguns gerentes concluíram sua graduação tardiamente. Em estudo que avaliou o tempo de atuação na gerência da unidade de saúde, o tempo que prevaleceu foi inferior a um ano. No presente estudo, o tempo que prevaleceu foi de 1 a 5 anos. 7 Sobre a questão de se sentir qualificado para exercer a função de gerente de saúde, tanto a formação adequada quanto a experiência aparecem como fatores que influenciaram nas respostas dos gerentes, fazendo com que estes profissionais se sintam mais qualificados. Para a qualidade da atenção à saúde é necessária a formação de pessoal específico, com âmbito em tecnologias que os qualifique para prestar ações de atenção coletiva e individual. 2 Embora nem todos os gerentes pertencentes à amostra deste estudo tenham graduação e especialização em gestão em saúde, apenas um dos gerentes se sente desqualificado para exercer sua função. Sobre o motivo de não se sentir qualificado, uma das gerentes referiu a sobrecarga de trabalho, pois além das atividades gerenciais que fazem parte da sua função, a mesma tem que desenvolver atividades assistências de enfermeira, pela falta do profissional em uma das equipes. O estudo “O trabalho gerencial do enfermeiro na rede básica de saúde” destaca que, no conjunto de atividades do enfermeiro gerente, 64% são de assistência à saúde nos programas do Ministério da Saúde e 46% de planejamento, avaliação dos serviços, supervisão e assessoria técnica nas unidades de saúde, o que representa as atividades gerenciais. 13 Muitas vezes, a necessidade de articular atividades distintas no trabalho do gerente gera conflitos, pois além do conjunto de atividades que os gerentes desenvolvem em um dia de trabalho de caráter gerencial, grande parte dos serviços desenvolvidos são simultaneamente atividades gerenciais e assistenciais.13 Ao se verificar os fatores dificultadores e as respectivas sugestões para melhoria da atuação como gerente de saúde, identificou-se a deficiência de recursos materiais, insumos e equipamentos, além da falta de plano de cargos e salários, pouca ou nenhuma autonomia financeira para compra de materiais e demanda reprimida de especialidades, assim como em outro estudo realizado com gerentes enfermeiros 13. Observamos que os fatores dificultadores levantados não são isolados, e sim dimensões expressivas que requerem da administração um plano de trabalho para melhoria, uma vez que esses fatores podem interferir diretamente no atendimento do usuário, replicando em má resolutividade de seus problemas. As sugestões mencionadas pelos gerentes em saúde parecem coerentes para amenizar os fatores dificultadores levantados, evidenciando que a participação destes profissionais é muito importante na construção do Plano Anual de Saúde das Secretarias Municipais de Saúde Pública, pois os mesmos conseguem verificar as reais necessidades das Unidades de Saúde na Atenção Básica. REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE - MS, fornecendo subsídios para elaboração de metas referentes a futuras contratações, de profissionais formalmente mais qualificados e talvez mais adequados as características do cargo. As sugestões que emergiram dos gerentes para a melhoria das dificuldades podem contribuir para o planejamento de ações mais autênticas, a serem alcançadas pelas Secretarias Municipais de Saúde Pública, pois foram identificadas por profissionais inseridos nas unidades e que vivenciam a real situação da Saúde Pública em nosso país. De acordo com o perfil dos gerentes caracterizados neste estudo, notamos expressamente a necessidade do ensino contínuo em gestão em saúde, como qualificações e cursos que devem ser oferecidos a estes profissionais. Além de incentivar a inserção deste profissional em cursos de graduação e pósgraduação lato sensu, para a especialização em gestão em saúde. Referências De acordo com o perfil dos gerentes caracterizados neste estudo, notamos expressamente a necessidade do ensino contínuo em gestão em saúde, como qualificações e cursos que devem ser oferecidos a estes profissionais. Além de incentivar a inserção deste profissional em cursos de graduação e pósgraduação lato sensu, para a especialização em gestão em saúde. 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. PNAB - Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Princípios e Diretrizes para a NOB/RH-SUS.Brasília:Ministério da Saúde, 2002. 3. FERNANDES, M. C. et al. Análise da atuação do enfermeiro na gerência de unidades básicas de saúde. Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, 2010 v. 63, n. 1. 4. WILLIG, M. H., LENARDT, M. H. A prática gerencial do enfermeiro no processo de cuidar. Cogitare Enfermagem. Curitiba, 2002.v. 7, n. 1.p. 23-9. 5. ANDRADE, A. Contratação de servidores temporários em caso de excepcional interesse público. Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. Minas Gerais, 2009. v. 72, n 3. 6. ANDRÉ, A. M., CIAMPONE, M. H. T.,SANTELLE, O. Tendências de gerenciamento de unidades de saúde e de pessoas. Revista Saúde Pública. São Paulo, 2013. V. 47, N. 1. 7. OHIRA, R. H. F. Caracterização dos gerentes e práticas gerenciais na atenção primaria á saúde em municípios de pequeno porte da região Norte do Paraná. 2012. Dissertação ( Pós-Graduação stricto sensu em Saúde Coletiva) – Universidade Estadual de Londrina, 2012. 8. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Censo Demográfico 2010 – Características da população e dos domicílios. Rio de Janeiro: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2011. 9. COSTA, M. B. S., SALAZAR, P. E. L., Gestão das mudanças no Sistema de Saúde Pública. Revista de Enfermagem UERJ. Rio de Janeiro, 2007. V. 15, n 4. p.487-94. 10. DEMARCO, D. J., VIEIRA, A., Programa de Formação em administração pública (PNAP). Um balanço da implementação pela escola de administração da UFRGS. 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Conclusão Acreditamos que o presente estudo proporcionou um panorama geral sobre o perfil do profissional que vem exercendo a importante função de gerente nas unidades de saúde dos distritos Sul e Norte do Município de Campo Grande 28 Ano Ano1 1 | Edição 1 - 2016 2015 RBGS ARTIGO DE REVISÃO REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE Gerenciamento das Cadeias de Suprimento e de Demanda para Frutas e Hortaliças em Unidades de Alimentação e Nutrição Hospitalares Aline Petter Schneidera , Simone Morelo Dal Boscob , Marcelo F. Tiburic Resumo Hospitais são importantes receptores de produtos, e representam um dos elos finais da cadeia produtiva agroalimentar. Entretanto, não existem estratégias bem estabelecidas de produção e distribuição de frutas e hortaliças para esse segmento, que apresenta ao mercado a necessidade de fornecimento especializado, para atender princípios básicos de nutrição e dietética. Além da pouca racionalização estratégica, do ponto de vista produtivo ou logístico, e de diferenciação desses produtos, há escassez de fornecedores que atendam a demanda da clientela hospitalar. Neste artigo, abordamos o arcabouço conceitual sobre cadeia de suprimento, cadeia de demanda, cadeia produtiva agroalimentar, gerenciamento de cadeia de suprimento e de demanda, tendo como modelo o suprimento de frutas e hortaliças às Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) hospitalares, em uma visão de elo final da cadeia produtiva, no contexto de geração de valor. Palavras-chave: Cadeia de Suprimentos; Cadeia de Demanda; Frutas e Hortaliças; Unidades de Alimentação e Nutrição. Abstract Hospitals are important recipients of products, and represent one of the final links in the agri-food production chain. However, there are no well-established strategies of production and supply of fresh produce for this sector, which present to the market a need for specialist provision in order to meet basic principles of nutrition and dietetics. Besides the little strategic rationalization, from the production and logistical point of view, and fresh produce differentiation, there are few suppliers meeting the demand of the hospital clientele. We discuss the conceptual framework of supply chain, demand chain, agri-food production chain, supply and demand chain management, modeled on the fresh produce supply to hospital Food and Nutrition Units (institutional foodservice), in a vision of final link in the production chain, in the context of value creation. Key words: Supply Chain; Demand Chain; Fresh Fruits and Vegetables; Hospital Institutional Foodservice. a Professora Adjunta do Departamento de Nutrição da UFRGS. Mestre em agronegócios (UFRGS). Doutora em Ciências da Saúde (PUC-RS). Sócia-fundadora do IPGS – Instituto de Pesquisas, Ensino e Gestão em Saúde. [email protected] b Professora adjunta do departamento de Nutrição, Coordenadora do Curso de Nutrição, e Docente das Disciplinas de Gestão em Unidade de Alimentação e Nutrição da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre UFCSPA , Doutora em Ciências da Saúde . [email protected] c Mestre em Gastroenterologia (UFRGS). Doutor em Cirurgia (UFRGS). Fellow in Surgical Oncology and Endocrinology (Johns Hopikins Medical School. Baltimore, MD, EUA). Especialista em Gestão em Saúde (UFRGS). Diretor do IPGS – Instituto de Pesquisas, Ensino e Gestão em Saúde. Diretor Clínico do Hospital Unimed Porto Alegre (RS). Introdução A saúde tem como um dos seus fatores determinantes a alimentação, que depende da qualidade sanitária e do teor nutricional dos alimentos. Os alimentos estão classificados em reguladores, energéticos e construtores. Os reguladores são encontrados principalmente nas frutas e hortaliças e na água. Frutas e hortaliças são essenciais na dieta humana por serem excelentes fontes de vitaminas, sais minerais e fibras, que não são encontrados em quantidades necessárias em outros alimentos. Quando a ingestão alimentar diária recomendada não é devidamente suprida, podem ocorrer deficiências nutricionais, havendo necessidade de suplementação através de produtos industrializados adicionados com esses nutrientes. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de frutas e hortaliças. Quantidade, porém, nem sempre está associada com qualidade. Em todo o país, a distribuição dos produtos ocorre quase sempre através de centrais, onde o conflito quantidade versus qualidade é particularmente evidente. Assim também é para os hospitais, principalmente os localizados em capitais e grandes cidades, em que o fornecimento de frutas e hortaliças ocorre (geralmente, mas nem sempre) a partir de distribuidores provenientes de grandes centrais de abastecimento e distribuição, que recebem seus produtos dos mais diversos produtores. O segmento hospitalar é um importante setor de recepção de produtos, e representa um dos elos finais da cadeia produtiva agroalimentar. Entretanto, não existem estratégias bem estabelecidas de produção e Ano 1 | Edição 1 - 2016 distribuição de frutas e hortaliças para esse segmento, que apresenta ao mercado a necessidade de fornecimento especializado. Hospitais são cada vez mais exigentes quanto a questões de qualidade, e necessitam fornecedores que apresentem maior número de requisitos para atender princípios básicos de nutrição e dietética. Além da pouca racionalização estratégica, do ponto de vista produtivo ou logístico, e de diferenciação de frutas e hortaliças, para atender a demanda quanto aos padrões de qualidade almejados pelas instituições, há escassez de fornecedores que atendam aos requisitos da clientela hospitalar. Neste artigo, abordamos o arcabouço conceitual sobre cadeia de suprimento, cadeia de demanda, cadeia produtiva agroalimentar, gerenciamento de cadeia de suprimento e de demanda, tendo como modelo o suprimento de frutas e hortaliças às Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) hospitalares, em uma visão de elo final da cadeia produtiva, no contexto de geração de valor. Cadeia de suprimentos Toda empresa é uma reunião de atividades executadas para projetar, produzir, comercializar e entregar seus produtos. Materiais e informações fluem dentro da empresa e desta para seus clientes e fornecedores, que por sua vez processam as informações e materiais recebidos e os repassam para seus respectivos fornecedores e clientes, desenhando os contornos de uma rede complexa de valor onde cada Ano 1 | Edição 1 - RBGS 2015 29 29 ARTIGO DE REVISÃO elo representa as atividades executadas pelas empresas.1, 2 A cadeia de suprimentos pode ser definida como uma rede de empresas que obtém matérias-primas, as processa em produtos e os distribui aos consumidores finais.3, 4 É um sistema de organizações, pessoas, atividades, informação e recursos envolvidos em mover um produto ou serviço do fornecedor ao cliente.4 Na cadeia de suprimentos há uma série de relações entre cliente e fornecedor e um conjunto entrelaçado de conexões que formam uma cadeia de fornecimento contínua e integrada, idealmente para proporcionar um alto nível de satisfação ao cliente.5 A cadeia de suprimentos é dividida em três níveis: rede total, rede imediata e rede interna. A rede total abrange todas as redes imediatas de um setor ou indústria. A rede imediata abrange fornecedores e clientes imediatos de uma determinada empresa até a rede interna, os fornecedores e clientes internos da empresa, ou seja, seus departamentos e a interação de materiais e informações que ocorre entre eles.1 Na esfera mais ampla da cadeia, ou seja, a rede total, as cadeias são redes organizacionais formadas para reduzir incertezas e riscos, organizando atividades econômicas através da coordenação e cooperação entre empresas.6 Isto é uma vantagem da organização interfirmas, entretanto, muitas transações na cadeia de suprimentos ocorrem entre companhias que buscam maximizar rendimentos na sua esfera, com pouco conhecimento ou interesse nos demais participantes da cadeia. Empresas que operam e esperam sobreviver em mercados extremamente competitivos buscam baixar diferentes custos operacionais nas suas cadeias de suprimento.7 Para enfrentar as incertezas do mercado, algumas empresas aumentam seus níveis de estoque para não necessitar parar a produção na ocorrência de eventualidades. Essa atitude, porém, gera custos e desperdício de recursos, que são repassados aos clientes diretos, refletindo negativamente em toda a cadeia. Há outros perigos, como falta de informações entre empresas e problemas operacionais e estratégicos.3 A solução para o enfrentamento destas dificuldades encontra-se no eficiente Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. Cadeia agroalimentar A cadeia agroalimentar é uma sequência de operações que transformam uma commodity agrícola em um produto pronto para o consumidor final. O processo de coordenação do sistema está focado principalmente nos aspectos distributivos do produto. Seus elos vão da matéria-prima, passando pela agricultura, indústria, distribuição (atacado e varejo) até o consumidor final. Entre os elos da cadeia ocorrem transações típicas de compra e venda. 8 A abordagem de cadeia agroalimentar ocorre no terreno da complexidade econômica do produto agroalimentar, ou seja, na heterogeneidade das condições de produção, circulação e consumo. A cadeia reporta-se a ligação entre agentes e operações que contribuem para a formação e transferência do produto até seu estado final de utilização, e aos mecanismos de ajustamento do fluxo dos produtos e dos fatores de produção.9 Produtos frescos (como vegetais, frutas, flores, frutos do mar) caracteristicamente tem validade aleatória no período pós coleta. O risco de deterioração/apodrecimento cria incertezas para a efetiva demanda e suprimento desses produtos. Como resultado, tanto fornecedores e varejistas envolvidos na cadeia de suprimentos podem sofrer perdas substanciais, especialmente no ambiente dos “big markets sales”, uma condição de mercado no qual fornecedor e varejista estão afastados um do outro. Neste ambiente, deterioração de quantidade e 30 Ano Ano1 1 | Edição 1 - 2016 2015 REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE qualidade e os custos de transporte do produto da origem ao mercadoalvo de venda são aspectos que não podem ser ignorados na cadeia de suprimento. Como frutas e hortaliças são altamente perecíveis, quanto mais tempo de transporte durante longas distâncias, mais deterioração dos produtos. Isso resulta em maior perda e menor suprimento ao mercado-alvo, trazendo grande impacto na demanda.10 O uso de tecnologias na seleção, produção e acondicionamento dos gêneros alimentícios é outro fator a ser considerado. Melhoria na qualidade dos alimentos pode ser obtida por mudanças estratégicas na cadeia agroalimentar. Foco em soluções técnicas, como sensores sem fio e sistemas de comunicação para supervisão remota de qualidade, sensores de gás para detectar etileno como indicador de amadurecimento indesejado e componentes voláteis para indicar infecções fúngicas.11 Cadeia de demanda É definida como um complexo entrelaçamento de processos de negócios e atividades que ajudam as empresas a entender, gerenciar e, fundamentalmente, criar a demanda do consumidor.12 A cadeia de demanda é a parte da cadeia de valor que dirige a demanda.13 É o micro mecanismo ao nível da empresa que equaliza suprimento e demanda no macro nível do mercado.14 Empresas tendem a evoluir para visão centrada no cliente. Por isso, a importância do design do produto em gerar demanda é cada vez maior. No contexto de maior oferta (e consequentemente, competição) por uma demanda de mercado limitada, o design de produto tem papel em proporcionar características atrativas para gerar demanda. O design do produto afeta não apenas a geração de demanda mas também processos de fabricação, seleção de materiais, tecnologias e cronograma de produção, custos, qualidade, quantidade, transporte, tempo de espera e regulações, ou seja toda a cadeia de suprimento associada. O sucesso da cadeia de suprimento depende do design do produto e das capacidades da cadeia. O design do produto completo dirige a estrutura da cadeia de suprimentos.15 Assim como o design do produto pode gerar demanda, a demanda influencia o design do produto. O atributo fundamental de uma cadeia de suprimentos dirigida pela demanda é, sem surpresa, que o movimento dos materiais (ou o reabastecimento) são diretamente desencadeados pela demanda. Sem colaboração interfuncional entre marketing e gerenciamento da cadeia de suprimentos, empresas não podem responder otimamente e prontamente as exigências dos clientes.13 Gerenciamento da cadeia de suprimentos O gerenciamento da cadeia de suprimentos (GCS) é uma metodologia para alinhar atividades de produção de forma sincronizada, visando reduzir custos, minimizar ciclos e maximizar o valor percebido pelo cliente final.6 Considera o fluxo de matéria-prima, produtos e informação, do ponto de origem ao ponto de consumo, pelos clientes finais em uma cadeia de suprimentos, e requer o efetivo uso de ativos e informação que tem profundas implicações para além do fluxo de bens, serviços ou capital e satisfação do cliente.16, 17 Inicialmente, o GCS ocorreu no contexto de gerenciamento e redução de estoque, para reduzir custos aos participantes da cadeia. O conceito evoluiu, passando pela otimização dos sistemas de transporte, visão sistêmica da empresa, incluindo fornecedores e canais de distribuição, e amplo uso de alianças estratégicas, com eficiente resposta ao consumidor.6 Alguns requisitos incluem: a) gerenciamento dos estoques; b) controle de custos; c) longevidade das relações entre membros da cadeia; d) RBGS ARTIGO DE REVISÃO compartilhamento de informações; e) parceria entre membros, como no desenvolvimento de produtos; f) compatibilidade entre filosofias de negócio dos participantes; g) redução de fornecedores diretos entre os membros para facilitar a integração cliente-fornecedor; h) existência de empresa líder que alavanca a cadeia; i) compartilhamento dos riscos e recompensas; e j) velocidade nas transações e operações.18 São fundamentais para estabelecer o gerenciamento da cadeia: conectividade entre os membros, alinhamento dos sistemas de suporte inter-organizacionais e compartilhamento de recursos, informações e expertises.19 A coordenação estratégica sistemática das funções e táticas dos negócios busca melhorar o desempenho das empresas individualmente a longo prazo e a cadeia de suprimentos como um todo.20 A estratégia da cadeia de suprimentos requer visão total de seus elos, que atuam em conjunto para criar satisfação ao ponto de entrega do produto ou serviço ao cliente final. Os custos devem diminuir na cadeia, ao eliminar despesas, movimentações e manuseio desnecessários. O foco é direcionado à eficiência. A cadeia de suprimentos deve ser responsiva ao cliente.21 O GCS integra todas as atividades e tem foco na satisfação do cliente (tanto interno como externo). Indo ao usuário final na cadeia de suprimentos ou de volta até o fornecedor primário, GCS melhora a capacidade de servir aos clientes.5 Adequar demanda com fornecimento pelo mais eficiente uso de recursos requer capacidade de distribuição, estoque e trabalho. Aspectos para otimizar a cadeia de suprimentos incluem contatos com fornecedores; busca estratégica para estabelecer equilíbrio entre menor custo de material e transporte, servir os mercados e maximizar a eficiência de distribuição (localização, análise de rotas veiculares, e otimização de logística). Necessita coordenação e colaboração com parceiros, que podem ser fornecedores, intermediários, prestadores de serviços terceirizados, e clientes. O gerenciamento de oferta e demanda dentro e entre empresas expressa a necessidade de integrar processos do negócio, do fornecedor na origem ao usuário final.14, 20, 22, 23 O GCS na saúde tem considerável implicações para diminuir os custos da assistência e manter cuidados ao paciente de alta qualidade. Essa área requer mais monitoramento pelos usuários finais.24 Gerenciamento da Cadeia de Demanda (GCD) É o gerenciamento das relações entre fornecedores e clientes para entregar o melhor valor ao cliente no menor custo para a cadeia de demanda como um todo. É similar ao GCS, mas com especial atenção aos clientes. O GCS abrange todos os processos necessários para satisfazer demanda, mas não ajuda a empresa a descobrir o que o cliente percebe como valor, e como essa percepção pelo cliente pode ser traduzida em propostas de valor ao cliente. A eficiência do GCS por si só não aumenta o valor e a satisfação do cliente. Para ter sucesso, a empresa necessita foco na cadeia de suprimento, mas também na cadeia de demanda, que abrange todos os processos necessários para entender, criar e estimular demanda pelo cliente e é manejada no GCD. É definida como o alinhamento da criação de demanda e processos de atendimento a demanda.25 A GCD pode alavancar os pontos fortes do marketing e GCS, e enfrentar os desafios da criação de valor para o cliente no mercado de hoje. A cadeia de demanda inicia com clientes, em seguida, afunila por varejistas, distribuidores e outros parceiros de negócios que ajudam a vender produtos e serviços da empresa.26 GCD procura preencher a lacuna entre a gestão de relacionamento com clientes e gestão da cadeia de suprimento. Os processos de Ano 1 | Edição 1 - 2016 REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE fornecimento são administrados para entregar o melhor valor de acordo com a demanda dos clientes. DCM cria ativos estratégicos para uma empresa em termos de criação de valor, pois capacita implementar e integrar estratégias de marketing e GCS que melhoram o desempenho geral.13 GCD pode ser vista como uma extensão da GCS, devido a incorporação da perspectiva do mercado em seu conceito. Uma rede de fornecimento dirigida pela demanda é um método de GCS que envolve construir cadeias de suprimento em resposta a sinais de demanda.27 Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) UANs são importantes setores na organização estrutural e funcional das empresas onde estão estabelecidos. Nas instituições hospitalares, o fornecimento de alimentos tem importante posição estratégica, independentemente do tipo de clientes: funcionários, visitantes, ou, mais importante, pacientes internados, que muitas vezes necessitam dietas especializadas. Apesar dos últimos constituírem a principal população e a razão de ser dessas organizações, não significa que os demais usuários dos serviços de produção de alimentos devam ser desatendidos ou que a eles seja oferecido produtos de qualidade inferior. Nas atribuições de uma UAN hospitalar, é prioridade fornecer alimentação adequada e segura, que atenda exigências higiênicosanitárias preconizadas. O fornecimento de frutas e hortaliças para os hospitais deve atender essas exigências. As UANs devem preparar e produzir alimentação equilibradamente calculada e segura. A boa alimentação exige alimentos íntegros, limpos e de proveniência segura, visando a melhora da saúde dos doentes. Nos hospitais, não cabe ao paciente escolher a sua alimentação. O hospital tem seu cardápio e julga atender perfeitamente a necessidade dos pacientes; a alimentação é servida no horário considerado ideal (pelo menos para o serviço de nutrição); apresentada adequadamente (pelo menos do ponto de vista econômico) e em quantidade padronizada de acordo com uma média que o próprio hospital estabelece e define.28 Para a alimentação humana, especialmente em situações em que medidas dietoterápicas são necessárias para tratar pacientes com doenças específicas, muitas vezes associadas a baixa do sistema imunológico, é necessário que as frutas e hortaliças destinados a essas refeições sejam submetidos a rigoroso controle de qualidade, para assegurar condições higiênico-sanitários desde a produção até o consumo final. A qualidade sanitária depende do controle exercido sobre perigos químicos, físicos e biológicos, que permeiam todas as etapas da cadeia alimentar, incluindo o padrão de apresentação, integridade, forma, sanidade, isenção de resíduos e pesticidas, e controle quanto ao uso de agrotóxicos, entre outros. Tudo isso gera demandas específicas por parte das UANs hospitalares, que devem ser adequadamente manejadas. Suprimento de frutas e hortaliças para UANs hospitalares Obter produtos externos envolve planejamento de recursos, negociação, encomendas, transporte, armazenamento e manipulação, que incluem a responsabilidade de coordenar cronogramas, continuidade de fornecimento e estoques com fornecedores. A produção e fornecimento aos canais de distribuição se baseia em previsões passadas. Mudanças no processo de fluxo de produção leva a tempos de ciclo mais curtos, significando mais capacidade de resposta e eficiência em satisfazer a demanda do cliente. Já a distribuição física diz respeito ao movimento do produto ou serviço até o cliente, que é o destino final de um canal de comercialização. Competência logística é fundamental para criar e manter Ano 1 | Edição 1 - RBGS 2015 31 31 ARTIGO DE REVISÃO vantagem competitiva. Medir desempenho de logística é cada vez mais importante, pois a diferença entre operações lucrativas ou não torna-se mais estreita. 23 Clientes e fornecedores devem estar integrados no processo de desenvolvimento dos produtos para reduzir o tempo de chegada ao mercado. Conforme o ciclo de vida do produto encurta, eles devem ser desenvolvidos e lançados com cronogramas mais curtos para assegurar competitividade. 29 O processo atual de fornecimento de frutas e hortaliças para UANs e o gerenciamento da cadeia de suprimentos apresenta deficiências. Fornecedores atendem diferentes clientes (restaurantes, supermercados, clínicas e hospitais), cada um com necessidades e exigências distintas, o que não permite customizar produtos pela diversidade de requisitos. Há problemas de transporte inadequado (sem controle de tempo e temperatura) e o armazenamento não segue padrões determinados. Há rotinas de higienização e limpeza de área física, caminhões, caixas, estrados e câmaras frias. Porém, as rotinas não são registradas e não há padronização formal, pois variam de fornecedor para fornecedor. 30 Frequentemente, algumas organizações, avaliam formalmente seus fornecedores, de acordo com critérios cuidadosamente definidos, sistema definido como avaliação de fornecedores. De maneira ideal, a medida do desempenho do fornecedor deve ser um processo contínuo, através do qual é apresentado feedback às gerências de ambas as partes, assegurando que oportunidades de melhoria sejam reconhecidas e executadas. 31 Os pré-requisitos para aquisição de gêneros tem extrema importância no serviço de nutrição. Se a matéria-prima não atender especificações rigorosas, compromete-se a qualidade como objetivo da UAN. Deve-se adquirir gêneros somente de fornecedores que obedeçam normas e determinações oficiais e que recebam inspeção dos órgãos competentes. 32 É importante também realizar visitas periódicas às instalações do fornecedor para verificar a manutenção do padrão de qualidade. 32 Porém, poucos hospitais realizam visitas técnicas antes de iniciar com um novo fornecedor, e a maioria dos fornecedores desconhece a proveniência dos produtos e se há alguma certificação. 30 Ao fazer a seleção e estabelecer critérios para reduzir a base de fornecedores, a organização deve buscar aqueles capazes de aceitar o conceito de co-produção. O comprador sofisticado procura o fornecedor que possa garantir, consistentemente, padrões da qualidade predeterminados. Como o cliente possivelmente não fará mais a inspeção de recebimento, a necessidade de garantia total da qualidade pelo fornecedor é imperativa. 31 Em um estudo, a maioria dos hospitais devolvia mercadorias para os fornecedores quando as mesmas não apresentavam padrões determinados. O destino dos produtos devolvidos foi o fornecimento a outro cliente (41,2%), podendo ser outro hospital. 1/4 dos fornecedores devolviam a mercadoria para o produtor. Os dados demonstram inadequação entre os elos da cadeia de suprimentos. Aproximadamente a metade dos hospitais considerou possível pagar valor maior por frutas e hortaliças produzidos ou selecionados para o setor hospitalar. Os demais foram neutros ou não concordaram em pagar a mais. 30 Segurança e qualidade de frutas e hortaliças A segurança das cadeias de suprimentos tornou-se importante nos últimos anos. Como resultado, estão sujeitas a regulações locais e globais. Inocuidade, ou sanidade do alimento, é um fator de qualidade relativo à 32 Ano Ano1 1 | Edição 1 - 2016 2015 REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE segurança alimentar, atestado por meio de Certificação.33 Os hospitais consideram que os frutas e hortaliças sejam isentos de resíduos químicos e que existam controles na utilização de agrotóxicos. No entanto, a maior parte dos hospitais não realiza análises microbiológicas para averiguar a ausência de microorganismos patogênicos e substâncias tóxicas.30 Frutas e vegetais podem sofrer invasão microbiana em vários estágios de seu desenvolvimento ou após a colheita. O manuseio mecânico produz danos ao tecido vegetal, permitindo entrada de microorganismos. Evidentemente, frutas e vegetais com casca dura são mais resistentes à invasão microbiana, exceto se sofreram esmagamento. O pH das frutas é relativamente baixo, restringindo a multiplicação bacteriana, mas não a de fungos. Por sua vez, verduras apresentam pH superior, sendo mais susceptíveis à contaminação bacteriana, principalmente dos gêneros Pseudomonas, Xanthomonas, Escherichia coli, Clostridium e Bacilus.32 Dois importantes parâmetros são frequentemente negligenciados no monitoramento de alimentos perecíveis, como frutas e vegetais, durante transporte: mofo e a influência da aceleração ou vibração na qualidade do produto. É necessário abordar estes tópicos no contexto de logística inteligente. A importância prática é demonstrada examinando rotas de transporte e participação de mercado. A viabilidade de um sistema para detectar mofo através de sensores para gases produzidos e meios de cultura miniaturizados são novos esforços que podem reduzir perdas nas cadeias logísticas de diversos produtos.34 A validade de frutas e vegetais é muito influenciada por condições ambientais. Temperatura elevada resulta em perda acelerada de qualidade e redução da validade, não visível até ser tarde para ajustar logística à vida útil na cadeia de suprimentos. Um estudo com amoras mostrou que temperaturas nas prateleiras variam significantemente e 57% das frutas ao chegar no empacotamento não tem validade restante suficiente para longas rotas. A perda não é fisicamente visível. Alguns seriam enviados em rotas mais longas que necessário, criando perda evitável. Com simples mensurações de temperatura, muito desperdício pode ser evitado, usando a estratégia primeiro a expirar, primeiro a sair. Predição de validade não deve ser baseada em um único fator de qualidade pois esses atributos podem variar.35 Considerável parcela de perda perecível evitável na cadeia de suprimento alimentar é causada por inadequados manuseio e processo de resfriamento. Foco em tecnologias para monitorar alterações na validade do produto (definida como o tempo restante até a qualidade de um alimento cair abaixo um limite aceitável), e planejamento de sucessivos processos logísticos para revelar e prevenir perdas invisíveis ou latentes na qualidade do produto, especialmente seguindo a estratégia primeiro a expirar, primeiro a sair para otimizar adequação entre validade restante e duração esperada de transporte.11 Quanto aos agrotóxicos, sob o prisma da segurança alimentar, é desejável que nenhuma amostra apresente resíduos acima do limite máximo de tolerância. A questão principal está nas amostras com resíduos de defensivos não autorizados. Quando o agrotóxico não está registrado para determinada cultura, não tem o limite de tolerância atribuído. Isso impede a classificação da quantidade observada na análise, se inferior ou superior a algum parâmetro estabelecido.33 No método APPCC (Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle), o controle de fornecedores, através da análise sensorial, teste físicoquímico, análise microbiológica e visitas periódicas aos fornecedores para verificação da matéria-prima consumida é importante para assegurar a qualidade do processo alimentar.36 Segundo a Portaria V.S. 6/99, no anexo único (Regulamento Técnico sobre Parâmetros e Critérios para o Controle Higiênico-Sanitário RBGS ARTIGO DE REVISÃO em Estabelecimentos de Alimentos): “É importante a avaliação das condições operacionais dos estabelecimentos fornecedores de matérias-primas, produtos semi-elaborados ou prontos, através de visita técnica, como subsidio para a qualificação e triagem dos fornecedores.” Higiene dos produtos e disponibilidade em atender pedidos fora da programação podem ser utilizadas como critérios de competitividade, pois são fatores principais adotados pelos hospitais para escolha do fornecedor.30 Sobre o recebimento de mercadorias, a Portaria V.S. 6/99 refere que o material entregue pelo fornecedor deve ser avaliado qualitativa e quantitativamente, segundo critérios pré-definidos para cada produto. Passos indispensáveis: - observar data de validade e fabricação; - fazer avaliação sensorial (características organolépticas, cor, gosto, odor, aroma, aparência, textura, sabor, e cinestesia).37 - observar condições das embalagens: limpas, íntegras e seguir as particularidades de cada alimento. Alimentos não devem estar em contato direto com papel inadequado (reciclado, jornais, revistas e similares), papelão ou plástico reciclado; - observar condições do entregador: uniforme adequado e limpo, avental, sapato fechado, proteção para cabelo ou mãos (rede, gorro, luvas) quando necessário; - conferir rotulagem: constar nome e composição do produto, lote, data de fabricação e validade, número de registro no órgão oficial, CGC, endereço do fabricante e distribuidor, condições de armazenamento e peso; - observar o certificado de vistoria do veículo de transporte; - realizar controle microbiológico e físico-químico quando necessário, através de laboratório próprio ou terceirizado; - medir temperaturas, que devem estar adequadas e registradas no recebimento. Muitas vezes, o recebimento dos produtos é feito pelo estoquista que, em geral, não possui formação na área da alimentação. Por outro lado, a compra é realizada na maior parte das vezes pela nutricionista. Fornecedores, por sua vez, referem que é realizada diferenciação de produtos (seleção) para atendimento aos hospitais.30 Considerações finais Revisamos importantes conceitos referentes ao fluxo de produtos entre os diversos elos que compõe uma cadeia de suprimentos e de demanda, tomando como exemplo o suprimento de frutas e hortaliças para UANs hospitalares. Podemos fazer uso deste arcabouço conceitual para aprimorar diversos processos, como gestão de fluxo de produção e competência logística, de forma a trazer vantagens a todos os membros das cadeias, desde o produtor ao consumidor final. Outros p rocessos-chave na cadeia de suprimentos incluem: gestão de relacionamento com clientes, que trata da relação entre a organização e seus clientes e serviço ao cliente, que é fonte de informação para o cliente, como cronogramas e disponibilidade dos produtos através de interfaces com operações de produção e distribuição. Organizações bem-sucedidas constroem relações determinando metas mútuas de satisfação para a organização e clientes.29 Com toda informação relevante acessível, cada empresa na cadeia de suprimentos tem capacidade de contribuir para otimizar a cadeia inteira, pela produção e distribuição melhor planejadas, com redução de custos e produtos finais mais atrativos, levando a melhores vendas e melhores resultados globais para as empresas envolvidas. Muitas indústrias obtém matéria-prima de pequenos agricultores. Cadeias de abastecimento mais rastreáveis são motivadas pelo Ano 1 | Edição 1 - 2016 REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO EM SAÚDE interesse em segurança alimentar e sustentabilidade ambiental, e pelo desejo de melhorar a produtividade e a qualidade das colheitas.38 Para hospitais, além dos fatores citados, uma solução para os problemas de demanda mostrados pode ser a busca de fornecedores especializados, ou interessados em se especializar no fornecimento específico ao setor hospitalar, na ausência dos primeiros. O gerenciamento da cadeia de suprimentos pode ajudar a criar uma vantagem competitiva e aumentar a lucratividade na cadeia, pelo controle de despesas, melhoria do serviço ao cliente e redução de estoques.39 O desenvolvimento de produtos e os processos de comercialização devem ser coordenados com a gestão de relacionamento com o cliente, para as identificar necessidades do mesmo; selecionar materiais e fornecedores e integrar produção no melhor fluxo para determinada combinação de produto e mercados.29 Com maior coordenação na cadeia de fornecimento para os hospitais, tanto os fornecedores como os compradores seriam beneficiados. Além de construir uma eficiente cadeia de suprimentos, otimizar a cadeia pela aplicação de processos e instrumentos para obter a operação ideal de produção, transporte e distribuição, com estocagem apropriada, minimiza custos operacionais. A otimização da cadeia de suprimentos exige refinamentos em vários estágios do ciclo de vida do produto, incluindo adaptações para diferentes classes de produtos (novos, obsoletos ou sazonais). Deve também levar em consideração riscos e restrições inesperadas que afetam a eficiência da cadeia de suprimento, como picos repentinos nos custos de combustível, escassez, desastres naturais e instabilidade política. Usando previsão de demanda, um plano é criado para fabricar e distribuir produtos para satisfazer demanda no menor custo (ou maior lucratividade).10, 40 Existem diversas abordagens para melhorar o desempenho da cadeia de suprimentos, como modelos de cadeias centralizadas e decentralizadas de produtos frescos com fornecimento e demanda que auferem quantidade encomendada e tempo de transporte ideais. Para melhorar ganhos, com base nos riscos tomados por cada participante na cadeia, pode-se coordenar o suprimento e demanda (encomendas) e controlar do tempo de transporte (mais curto), com análise dos fatores de deterioração. A possibilidade de cooperação é maior para produtos frescos mais perecíveis com deterioração de qualidade mais rápida.10 A otimização da cadeia de suprimento destaca elementos críticos desta estratégia para obter vantagem competitiva, como a rede de distribuição existente e o ambiente de negócio.41 Por outro lado, vimos que o GCS por si só não é suficiente para gerar valor na perspectiva do cliente final. Para tornar cadeias de demanda mais rápidas e melhores, é preciso conectar cadeias de suprimento à demanda. O desafio de melhorar a conexão entre demanda e fornecimento tem destaque nos últimos anos, e surgem conceitos como cadeias de suprimento dirigidas pela demanda ou pelo cliente. Técnicas de otimização para operar políticas de redução de custos de distribuição e controle de qualidade na entrega dos ítens finais (frutas e hortaliças) à multiplas locações (hospitais) para suprir a demanda, com controle de tempo de transporte traz significante economia em custos de retenção de estoques, tanto para as unidades de produção e locais de venda.7 Cadeia de demanda forte sem cadeia de suprimento adequada pode resultar em uma base de custo elevado, com entrega do produto lenta e ineficiente, enquanto a cadeia de abastecimento sem cadeia de demanda traz resultados econômicos negativos. GCD é um novo modelo de negócio que visa criar valor no mercado combinando os pontos fortes complementares do marketing e competências da cadeia de suprimento.13 Em muitas empresas, entretanto, o gerenciamento dos processos Ano 1 | Edição 1 - RBGS 2015 33 33 ARTIGO DE REVISÃO frequentemente reflete considerações de eficiência (custo) em vez de efetividade (valor). Gerenciar processos que iniciam no cliente e vinculam o produto ao conceito de valor requer definir valor, gerar métricas apropriadas, identificar processos fundamentais, mapear e avaliar desempenho desses processos e identificar áreas para ação a curto e longo prazo. Essa abordagem se torna útil pois conecta o cliente aos processos da cadeia, que é avaliada em termos de sua capacidade de servir efetivamente aos clientes.2 Referências 1. Slack N. Vantagem competitiva em manufatura: atingindo competitividade nas operações industriais. São Paulo: Atlas, 1993. 2. Melnyk SA, Christensen RT. Value-driven process management: using value to improve processes. Hosp Mater Manage Q. 2000;22(1):59-67. 3. Lee HL, Billington C. Managing Supply Chain Inventory: Pitfalls and Opportunities. Sloan Management Review, v. 33, n. 3, 1992. 4. Nagurney, A. Supply Chain Network Economics: Dynamics of Prices, Flows, and Profits. Cheltenham UK: Edward Elgar. ISBN 1-84542-916-8. 2006. 5. Knechtges JP, Watts CA. 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Two underestimated threats in food transportation: mould and acceleration. Philos Trans A Math Phys Eng Sci. 2014;372(2017):20130312. 35. do Nascimento Nunes MC, Nicometo M, Emond JP, Melis RB, Uysal I. Improvement in fresh fruit and vegetable logistics quality: berry logistics field studies. Philos Trans A Math Phys Eng Sci. 2014;372(2017):20130307. 36. Arruda GA. Método APPCC – Opinião. Disponível em: <http:// www.nutrinews.com. br/serviços/opinião/appcc;html.>. 37. Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT). Norma Técnica NBR 12806: Análise sensorial de alimentos e bebidas. 02/1993. 8p. 38.Wilson TP, Clarke WR. (1998) "Food safety and traceability in the agricultural supply chain: using the Internet to deliver traceability", Supply Chain Management: An International Journal, Vol. 3 Iss: 3, pp.127 – 133. 39. Bataglia AJ, Gene R. Working on the supply chain. Chief executive. n. 66, p. 42-45, April 1991. 40. Scalise D. Building an efficient supply chain. Mater Manag Health Care. 2005 Jul;14(7):27-34. 41. Schlegel GL. Supply chain optimization: a practitioner's perspective on the next logistics breakthrough.Hosp Mater Manage Q. 2000;22(1):10-4. RBGS SAÚDE suplementar vive seu momento mais delicado, e é necessária uma reflexão profunda sobre suas bases. “É urgente o diálogo entre os integrantes do sistema para debater e aprovar um novo modelo para a saúde privada, sob o risco da falência do que temos hoje.” E acrescenta: “A situação é insustentável a longo prazo e não valoriza nenhuma das partes. As operadoras enfrentam enorme dificuldade para ter resultados positivos, em um setor em que a margem já é historicamente pequena. O cliente se sente insatisfeito com as entregas que recebe pelo valor que paga. O médico é mal remunerado. Os prestadores acabam atuando com uma visão focada em custo, e não em saúde. E o órgão regulador tenta criar mecanismos para desenvolver um mercado completamente desvirtuado, o que acaba gerando outras inconsistências. Ou seja, a conta não fecha para ninguém e a tendência é só piorar.” Para Barros está claro, há algum tempo, que uma revisão estrutural é obrigatória. “Existem diversos caminhos, todos pautados pela lógica da prevenção e promoção de saúde e envolvendo mudanças de postura de todos os participantes, inclusive do consumidor.” Um dos grandes fantasmas para todas as operadoras de planos de saúde é o crescimento do custo assistencial. Segundo o diretor médico da Unimed-Rio, Dr. Abdu Kexfe, a Unimed-Rio conseguiu reduzir esse custo com um conjunto de medidas de controle. “Para uma operadora, cerca de 80% de suas despesas está relacionada ao custo médico, ou seja, a utilização de clientes em consultórios, hospitais, clínicas e laboratórios. E esse custo é variável, já que depende de um comportamento adequado do consumidor, da prática de uma medicina segura e consciente por parte do médico e do uso racional de exames e internações. Implementamos uma série de ações para gerenciar melhor o custo médico, e conseguimos resultados bastante positivos, com novas negociações com nossos parceiros”. Como exemplo, Kexfe cita a economia com órteses, próteses e materiais especiais de cerca de R$ 80 milhões de um ano para o outro, apenas redefinindo regras do processo, sem deixar de garantir a qualidade para o cliente. Para o diretor financeiro da Unimed-Rio, Dr. Luís Fernando Soares Moraes, a Unimed-Rio vive hoje um momento de recuperação econômico-financeira. “Tivemos o ano de 2014 muito difícil, com resultado negativo significativo, e um 2015 de grande esforço para reverter a situação. Estamos conseguindo. Nossos indicadores mostram melhoria em praticamente todas as áreas, mas ainda há muito a ser feito para virar o jogo. Estamos comprometidos com isso. Temos consciência da nossa responsabilidade. Temos 5.500 médicos conosco, muitos com boa parte de sua remuneração proveniente da cooperativa. São 4 mil colaboradores, que nos emprestam seus talentos diariamente, e cerca de 1 milhão de pessoas que confiam o cuidado de suas vidas à Unimed-Rio. Somos uma empresa diferente, uma cooperativa, cujo objetivo é valorizar o médico e oferecer uma medicina de qualidade, diferenciada”. As estratégias para superar as dificuldades existentes? Segundo Moraes, não existe segredo nem mágica para melhorar. “Temos que ser eficientes e gerar mais resultado, sem deixar de gerar valor para clientes e médicos. Temos um programa de saneamento entregue à ANS, que sinaliza nossas estratégias de médio prazo”. Segundo Bordallo, ter um plano de saúde ainda é uma das três prioridades da população, o que as faz tentar manter o plano como um aspecto de segurança em momentos de crise, como esse. “No ano passado, a despeito do cenário adverso, fomos extremamente felizes em nossa estratégia comercial, focada em pequenas e médias empresas. Conseguimos multiplicar nosso volume de vendas por 10 para este segmento. Isso contrabalançou a movimentação negativa e permitiu que seguíssemos com uma carteira com mais de 1 milhão de clientes. Em médio prazo, a perspectiva é de uma melhoria lenta e gradual no mercado, de acordo com a evolução do cenário externo.” O diretor administrativo da Unimed-Rio, Dr. Paulo Cesar Geraldes, afirma que o dever de casa está completo. Em relação as medidas administrativas implementadas para enfrentar a crise da Unimed-Rio, Geraldes aponta que, de 2014 para 2015, a melhoria operacional foi de cerca de 90%. “Revisamos toda nossa estrutura funcional, tornando a empresa mais ágil e dinâmica. Reduzimos custos administrativos, com foco em processos eficientes, utilizando e aprimorando de forma mais eficaz as ferramentas da tecnologia de informação.” A lei estabelece o prazo máximo de 365 dias para cada direção fiscal ou técnica. Desde abril de 2015, a Unimed-Rio encontra-se sob direção Ano 1 | Edição 1 - 2016 35 SAÚDE fiscal da ANS. Em março deste ano, o prazo do regime especial foi renovado. Da mesma forma que uma operadora pode passar por mais de um regime especial sequencialmente, o regime especial também pode levar menos que os 365 dias. Isso depende do monitoramento contínuo pela ANS, e das respostas apresentadas pelas empresas para fazer frente aos problemas. Outras medidas podem ser tomadas se a ANS considerar necessário. Cerca de 30% das operadoras recuperam-se e voltam a funcionar normalmente após o regime de direção fiscal. A recuperação depende da capacidade da empresa em apresentar e executar medidas que solucionem seus problemas. É sempre bom lembrar que a ANS decretou liqui- dação extrajudicial da Unimed Paulistana em fevereiro deste ano, depois de quatro intervenções. A medida encerrou o processo de retirada definitiva da empresa do mercado de planos de saúde. A operadora tinha 744 mil clientes. O presidente Celso de Barros vê um lado positivo: “toda crise traz oportunidades e estamos sabendo lidar com isso.” E segue: “O próprio processo de Direção Fiscal da ANS está sendo tratado como um mecanismo de revermos políticas de gestão de custos e práticas contábeis, de forma a desenvolver nosso modelo de gestão. Ao contrário de outras operadoras, a Unimed-Rio não tem grupos internacionais ou investidores para estimular expansões ou absorver prejuízos. Nos orgulhamos de que tudo que construímos foi a partir da nossa capacidade empreendedora e de geração de resultado, assim como estamos superando uma dificuldade financeira graças a gestão compromissada e à força da marca. Estamos nos recuperando e quero tranquilizar nossos clientes e médicos em relação a isso. Repensamos nossa estratégia de marketing, encerramos os grandes patrocínios de marketing esportivo e direcionamos nossos investimentos para incentivar novas vendas e estimular comportamentos saudáveis. Agora, precisamos nos debruçar para salvar o sistema de saúde suplementar, que está enfrentando um problema ainda maior, estrutural.” Diante do exposto, podemos ter esperança na recuperação da Unimed-Rio, apesar dos caminhos pedregosos. Mas o impacto da falência da Unimed Paulistana foi traumático. Um novo baque em uma cooperativa médica que opera planos de saúde das dimensões da Unimed-Rio seria catastrófico, inclusive para todo o sistema Unimed nacional. Enquanto isso, algumas movimentações no tabuleiro da saúde no Rio de Janeiro podem ser impactantes, em um futuro próximo. Na saúde pública, as eleições municipais em outubro, os desdobramentos da crise financeira nacional e estadual, e a exacerbação das dificuldades encontradas pelo sucateamento progressivo de instituições como o INCA certamente são alguns deles. No sistema suplementar, o projeto de expansão do Hospital Sírio Libanês no Rio de Janeiro e o possível ingresso de redes hospitalares internacionais no mercado brasileiro, que devem incluir o Rio em seu horizonte, merecem ser citados. E a capacidade de recuperação da Unimed- Rio, que se concretizada, será exemplo para outras operadoras. Já sobre o sistema público, as incógnitas persistem. Remoções clínicas, psiquiátricas e assistência à eventos 36 Telefone para contato: (51)9791.2443 Porto Alegre - RS Ano 1 | Edição 1 - 2016 [email protected] SAÚDE Opinião Projetos para a saúde no Congresso Nacional C omo economista, com mais de 40 anos de experiência na vida pública (ex-vereador e prefeito, duas vezes Secretário da Fazenda do Paraná e no 7º mandato como Deputado Federal), tenho testemunhado muito de perto o drama da Saúde no Brasil. No início dos anos 80 eu era prefeito de Cambé, Norte do Paraná, um dos 13 municípios do Estado pioneiros no processo de descentralização de Saúde. Cito esse exemplo para lembrar que naquele período o Governo Federal começou a transferir responsabilidades para os Estados e Municípios, culminando depois no nascimento do SUS – Sistema Único de Saúde. Desde então, esse processo de transferência de responsabilidades tem aumentado, mas os repasses para Estados e Municípios têm diminuído. Há anos defendo no Congresso Nacional a formulação de um novo Pacto Federativo. No capítulo da Saúde, a prioridade será a criação de um novo modelo, com a clara definição de responsabilidades entre a União, Estados e Municípios. O sistema de Saúde cresceu muito nos últimos anos, mas de forma desordenada. É chegada a hora de uma profunda reestruturação para melhorar a qualidade e aumentar a resolutividade do Sistema. Como Deputado Federal, elaborei alguns projetos que tratam especificamente da Saúde. O Projeto de Lei 5.312/05 propõe a criação do Fundo Nacional de Financiamento da Saúde (Funprosus), de natureza contábil, visando permitir que os hospitais conveniados ao SUS possam utilizar os recursos que destinam para o pagamento de tributos e contribuições à um Fundo, cujo objetivo principal será o de prestar ações e serviços de Saúde. Na prática, seria o pagamento dos tributos atuais e quitação de dívidas antigas por meio da prestação de serviços. O Funprosus seria operacionalizado em um modelo parecido com o Prouni – Progama Universidade para Todos – que isenta as universidades participantes de quatro tributos: Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS). O Funprosus também prevê, para as instituições parceiras, o parcelamento dos seus débitos. Já o Projeto de Lei 6.866/10 propõe a isenção de impostos federais (como IPI) cobrado sobre mercadorias industrializadas, estrangeiras e nacionais, sobre medicamentos, equipamentos hospitalares e outros produtos. O objetivo desta lei é diminuir o preço desses produtos, para que tenham peso menor no orçamento familiar. A campanha “Sem imposto tem remédio”, liderada pela Abrafarma e Interfarma coletou 2,6 milhões de assinaturas para pressionar o Congresso a reduzir os tributos sobre medicamentos. Outro projeto de minha autoria com relevância para o setor da Saúde é o que proíbe a publicidade infantil. O Projeto de Lei 5921/01, visa impedir que as crianças sejam transformadas, pela insistência da publicidade, em promotoras de venda e consumidoras de tudo o que a indús- tria de alimento comercializa. A falta da regulamentação da publicidade para crianças é um dos fatores do aumento crescente da obesidade infantil, com graves conseqüências para a saúde deste público. Muito mais o Governo precisa fazer para recuperar a Saúde no Brasil, mas a aprovação dessas leis já seria uma importante contribuição para o setor. Luiz Carlos Hauly Deputado Federal (PSDB-PR) [email protected] CURSOS DE ATUALIZAÇÃO APERFEIÇOAMENTO COMO ESCREVER (E PUBLICAR) UM ARTIGO CIENTÍFICO Presencial e EAD Outubro de 2016 MELHORIA DE DESEMPENHO NAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DA SAÚDE Presencial e EAD Novembro de 2016 ACESSE http://www.ipgs.com.br/cursos/atualizacao-profissionais-saude ou http://www.ipgs.com.br/fale-conosco http://www.ipgs.com.br/cursos/interesse 37 Ano 1 | Edição 1 - 2016 http://www.ipgs.com.br/trabalhe-conosco/representante SAÚDE Opinião Tempos de Governança Clínica H ouve tempo em que a medicina gozava da presunção de qualidade técnica. A qualidade da medicina oferecida aos pacientes era considera boa a priori, era atribuída com base no prestígio e na fama do facultativo. Veio outro tempo em que a presunção de qualidade deslocou-se para o prestígio e fama da instituição em que a medicina era praticada. Continuava-se presumindo a qualidade. A disseminação da Gestão pela Qualidade –TQM, nas décadas de 1970 e 1980, populariza as chamadas “ferramentas da qualidade”. Siglas como PDCA e MASP adquirem significado conhecido. Métodos de análise de causa-efeito passam a ser aplicadas. Gestão por processos incorpora-se ao gerenciamento de empresas e organizações de todos os setores da economia. A medicina, no entanto, seguia refratária a tais ferramentas de gerenciamento. Nos anos 1990 os custos da atenção à saúde chegam a patamares nunca imaginados e obrigam a adoção de análises de custo-efetividade dos métodos diagnósticos e terapêuticos. Nota-se, então, uma reorientação da prática médica na direção do abandono definitivo da medicina centrada no talento e prestígio pessoal, ou institucional, e sua substituição pela adoção de padrões coletivos de qualidade da atenção médica. A medicina, até então refratária a métodos de gerenciamento de qualidade, acaba subjugada pelo poder econômico das fontes financiadoras da assistência, pública e privada. A exigência dos compradores de serviços obriga à racionalização do uso de recursos, à contensão de custos e a oferta de garantias de qualidade do produto oferecido. Métricas de processos acabam sendo aceitas e amplamente adotadas, como a que mede o tempo porta-balão, usado para avaliar a operação de serviços que atendem acidentes vasculares cardíacos. É no final da década que surge o termo governança clínica, adotado no Reino Unido, que traz as ferramentas de qualidade da década de 1950 para dentro do setor saúde. O termo não é original. Representa a adoção do conceito de governança corporativa, tão em voga no ambiente corporativo e organizacional. Persistia, no entanto, uma certa presunção de qualidade. Temos, no exemplo do tempo porta-balão, uma garantida objetividade de mensuração do processo. Mas, e quanto ao resultado final deste processo? Podemos inferir que aplicando um processo mais qualificado teremos um resultado qualificado. Podemos, mas temos que admitir que ainda persiste, na inferência, um grau desconfortável de presunção de qualidade. A epidemiologia trouxe o desenvolvimento de alguns indicadores que sintetizam o conjunto de processos assistenciais. A taxa de pneumonia associada à ventilação mecânica, para citar um exemplo, oferece uma avaliação consistente do complexo e intrincado conjunto de processos que convergem para um paciente em UTI. Quem trabalha no gerenciamento da assistência deve tomar decisões com base em fatos e dados. O acompanhamento de um indicador índice, como a mencionada taxa de pneumonia associada à ventilação mecânica, confere ao gestor e ao financiador condições de saber que produto está oferecendo à sociedade e ao mercado, no caso do gestor, e qual a qualidade do produto que está comprando, no caso do financiador. É o fim da presunção de qualidade. A governança clínica e suas variantes vieram para consolidar o gerenciamento num dos mais refratários campos da atividade humana: a atividade médica na sua dimensão assistencial. Luís César Souto de Moura Médico. Doutor em Administração Marketing & Ciências do Consumo [email protected] As melhores salas para o seu evento você encontra aqui. hotelmarpalace.com.br Tel.: (21) 2132-1504 38 Ano 1 | Edição 1 - 2016 SAÚDE Global Health O Sistema de Saúde da Alemanha Dr. med. Gustavo Sturtz Chefe do Serviço de Cirurgia Plastica e Cirurgia da Mão do Hospital Luterano de Giessen Universidade Justus-Liebig (JLU) de Giessen, Alemanha Doutor em Medicina pela Universidade Técnica de Munique (TUM), Alemanha A s bases do sistema de saúde alemão surgiram na idade medieval, quando trabalhadores se organizavam em sindicatos e todos os membros pagavam uma taxa para um caixa comum, cuja arrecadação se destinava a ajudar membros na doença ou em situações difíceis. Com a industrialização e a política social no final do século 19, surgiu o conjunto de leis sociais de Bismarck. Em 1883, foi introduzido o seguro saúde para trabalhadores da indústria, comércio e artesãos, seguido pelo seguro contra acidentes de trabalho e incapacitação profissional (1884). Na época, os segurados tinham direito a assistência médica gratuita e medicamentos, além de um seguro em caso de morte. Em 1927 foi instituído o seguro desemprego e em 1995 foi instituído o seguro obrigatório contra invalidez (quinto seguro obrigatório, depois do seguro aposentadoria). O sistema de saúde da Alemanha é desmembrado em três setores: a medicina ambulatorial, o setor hospitalar e a medicina de reabilitação (ambulatorial e hospitalar). Sua estrutura de assistência é baseada em quatro princípios básicos: Obrigatoriedade: todo cidadão é obrigatoriamente registrado no seguro de saúde estatal (GKV) até uma determinada faixa salarial. A partir de um valor salarial mínimo pode-se escolher entre um seguro privado (PKV) ou permanecer no seguro estatal. Financiamento do sistema: O financiamento do sistema de saúde ocorre pelo pagamento mensal por parte dos segurados bem como dos empregadores. O sistema estatal também é financiado pela arrecadação de impostos. Solidariedade: todos os segurados dividem o risco da perda do emprego ou redução salarial CONHECIMENTO E QUALIFICAÇÃO ONDE VOCÊ ESTIVER! Cursos rápidos comCursos osde Pós-graduação melhores Semipresencial profissionais da área da saúde Cursos de Pós-graduação EAD -Suplementação Nutricional na Prática Clínica -Fitoterapia -Nutrição Clínica e Estética -Nutrição e Alimentação Escolar -Gestão de Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) acesse o site e confira os nossos cursos: +55 51 3062.9322 -Comportamento Alimentar Siga-nos w w w. i p g s. c o m . b r Ano 1 | Edição 1 - 2016 39 fb.com/ipgs.ensino SAÚDE Global Health em caso de doença. Todo segurado dispõe do mesmo direito ao atendimento, independente da sua faixa salarial ou valor mensal pago. A mensalidade se orienta apenas no valor do salário. Desta maneira os que ganham mais pagam mais, bem como os saudáveis pagam pelos doentes. O pagamento do seguro se baseia em uma percentualidade do ganho mensal até um limite superior de valor, estabelecendo-se um valor máximo de pagamento, mesmo tendo-se salário mais elevado. Administração descentralizada: O estado define as regras do atendimento de saúde, porém o sistema é administrado em sedes regionais, que coordenam o pagamento dos serviços hospitalares e ambulatoriais. As sedes regionais são administradas em conjunto com representantes dos médicos, dentistas, psicólogos e segurados e são coordenadas por uma sede nacional. Ao contrário de outros países como a Suécia ou Inglaterra, o estado alemão não oferece diretamente assistência de saúde. SEGURO DE SAÚDE PRIVADO (PKV PRIVATE KRANKENVERSICHERUNG): Ao contrário do Seguro Governamental, no seguro privado não há obrigatoriedade por parte da empresa seguradora de admitir os segurados, que podem ser negados em decorrência de doenças prévias ou idade avançada. Em comparação com o seguro estatal, em que as mensalidades são calculadas pelo ganho mensal do segurado, no seguro privado as mesmas são calculadas com base no risco individual do segurado (idade ou doenças preexistentes) na assinatura do contrato. A troca do sistema público pelo privado é permitida para segurados com renda familiar anual superior a 54900 euros. O retorno do segurado ao sistema publico após a migração para o sistema privado não é permitido. O seguro privado possibilita a escolha livre de médico e hos- pital além de espera mais curta para realização de consultas médicas. ASSISTÊNCIA AMBULATORIAL A maioria dos médicos e dentistas possuem uma concessão estatal para a assistência médica dos segurados. Em caso de doença, os segurados estatais consultam um médico generalista (clínico geral ou pediatra). O médico generalista faz o encaminhamento ao médico especialista ou para internação hospitalar, dependendo da complexidade do caso. Além do consultório individual, existem associações de consultórios e centros de assistência médica multidisciplinares, onde também profissionais de outras áreas como psicoterapeutas e fisioterapeutas atuam. Estes centros podem receber permissão para realizar procedimentos, como cirurgias ambulatoriais ou cateterismos cardíacos, geralmente realizados em ambiente hospitalar. Também são catalogados como assistência ambulatorial os procedimentos ambulatoriais realizados em hospitais ou clinicas psiquiátricas. ASSISTÊNCIA HOSPITALAR A maioria dos hospitais da Alemanha recebem pacientes do seguro governamental (GKV) e de seguradoras privadas (PKV). Os hospitais maiores são geralmente administrados pelo poder público (estadual ou municipal). Associações beneficentes ou confessionais, como a Cruz Vermelha ou Igrejas (Católica ou Protestante) e empresas de capital privado também possuem ou administram hospitais. Também existem hospitais menores que somente atendem seguros privados ou que oferecem apenas algumas especialidades (p.ex. Ortopedia). MEDICINA DE REABILITAÇÃO A medicina de reabilitação é exercida em regime ambulatorial ou hospitalar. São reco- mendados a pacientes após uma doença severa ou intervenção cirúrgica de grande porte, para o reestabelecimento da autonomia e da recuperação da força muscular, através de fisioterapia intensiva, ajuda psicológica ou recuperação nutricional. Neste grupo se incluem clinicas psiquiátricas e de reabilitação de drogados. O sistema de seguro saúde da Alemanha, com seu duplo modelo, é um dos melhores se comparado a outros países, com taxa de aprovação de 82% (bom, excelente) pela população em uma pesquisa do Instituto Allensbach. Referências: 1. Busse R, Blümel M, Ognyanova D. Das Deutsche Gesundheitssystem. Akteure, Daten, Analyse. Berlin:Medizinische Wissenschaftliche Verlagsgeselschaft; 2013. 2. Koch K, Schürmann C, Sawicki P. Das deutsche Gesundheitswesen im internationalen Vergleich:Die Perspektive der Patienten (The German Health Care System in International Comparison—A Patient Perspective). Dtsch Arztebl Int 2010; 107(24): 427–34. 3. Busse R: Disease management programs in Germany’s statutory health insurance system. Health Aff 2004; 23:56-67. 4. Bundesministerium für Gesundheit: Ratgeber zur gesetzlichen Krankenversicherung. 11 Edição - Julho 2015. THE GERMAN HEALTH SYSTEM The basis of the German health system emerged in medieval age where workers were organized in trade unions, and all the members paid a fee to a common box whose collection was intended to help members in sickness or in difficult situations. With industrialization and social policy in the late 19th century, came the set of social laws of Certas escolhas definem a saúde da sua empresa. E também as dos seus funcionários. Com a solidez de quem atua no mercado corporativo há mais de 36 anos, a Sulmed oferece um novo modelo de gestão de saúde para a sua empresa, com soluções que garantem satisfação e preço justo. Tudo sob medida para o seu negócio. Por isso, na hora de escolher o melhor plano de saúde para a sua empresa, não deixe de avaliar um dos nossos. 40 Ano 1 | Edição 1 - 2016 Plantão de vendas: (51) 3220.1000 Acesse sulmed.com.br ou consulte seu corretor. SAÚDE Bismarck. In 1883, the health insurance was introduced for workers in industry, commerce and artisans, followed by insurance against industrial accidents and occupational disability (1884). At the time, policyholders were entitled to free medicines and medical care, and a safe in the event of death. In 1927, it was set up unemployment insurance and in 1995 was instituted compulsory insurance against disability (fifth compulsory insurance after retirement insurance). Germany’s health care system is broken down into three sectors: outpatient medicine, the hospital sector and rehabilitation medicine (outpatient and inpatient). His assistance structure is based on four basic principles: Mandatory: every citizen is compulsorily registered in the state health insurance (GKV) to a certain salary range. From a minimum wage rate can choose between a private insurance (PKV) or stay in state insurance. System Financing: The financing of the health system is the monthly payment for the insured and employers. The state system is also funded by tax revenues. Solidarity: all insured share the risk of job loss or salary reduction in case of illness. Every insured person has the same right to care, regardless of their salary range or paid monthly. The monthly fee is oriented only on the salary amount. In this way those who earn more pay more, as well as the healthy pay for the sick. The insurance payment is based on a percentage of the monthly gain up to an upper limit value, establishing a maximum payment amount, even taking up higher salary. Decentralized Administration: The state sets the rules of health care, but the system is administered in regional offices that coordinate the payment of hospital and outpatient services. The regional headquarters are administered in conjunction with representatives of doctors, dentists, psychologists and insured and are coordinated by a national headquarters. Unlike other countries such as Sweden or England, the German state does not provide health care directly. practice, there are offices of associations and multidisciplinary medical centers, where also professionals from other areas such as psychotherapists and physiotherapists work. These centers may be allowed to perform procedures such as outpatient surgery or cardiac catheterization, usually performed in a hospital setting. Outpatient procedures performed in hospitals or psychiatric clinics also are categorized as outpatient care. PRIVATE HEALTH INSURANCE (PKV PRIVATE KRANKENVERSICHERUNG) Unlike the Government Insurance, in the private insurance there is no obligation on the part of the insurer to admit the insured, who may be denied due to previous illnesses or old age. Compared with the state insurance, where the fees are calculated monthly by the insured gain, in the private insurance they are calculated based on the individual risk of the insured (age or preexisting conditions) upon signing the contract. The exchange of the public by the private system is allowed to policyholders with an annual household income greater than 54,900 euros. The return of the insured to the public system after migration to the private system is not allowed. Private insurance allows both doctor and hospital choice and a shorter wait for medical consultations. HOSPITAL CARE Most German hospitals receive patients from the government insurance (GKV) and from the private insurance (PKV). Larger hospitals are usually administered by the government (state or municipal). Charities or denominational associations such as the Red Cross or churches (Catholic or Protestant), as well as private equity firms also have or administer hospitals. There are also smaller hospitals that serve only private insurance or offer only some specialties (eg., orthopedics). AMBULATORY CARE Most doctors and dentists have a state grant for the medical care of the insured. In case of illness, state policyholders consult a GP (general practitioner or pediatrician). The general practitioner makes the referral to the specialist or hospital, depending on the complexity of the case. In addition to individual REHABILITATION MEDICINE Rehabilitation medicine is performed in outpatient or inpatient basis. They are recommended to patients after a severe illness or major surgery, for the reestablishment of autonomy and muscle strength recovery through intensive physical therapy, psychological help or nutritional recovery. This group includes psychiatric and drug rehabilitation clinics. The health insurance system in Germany with its dual model, is one of the best compared to other countries, with a pass rate of 82% (good, excellent) by the population in a survey by the Allensbach Institute. Ano 1 | Edição 1 - 2016 41 SAÚDE Interview Dr. Paul Rothman CEO da Johns Hopkins Medicine As dean/CEO of Johns Hopkins Medicine, you oversee both the School of Medicine and the Johns Hopkins Health System. What is it like to deal with so many demanding tasks? It is demanding, but it is also immensely rewarding. I have the privilege of working with 42,000 physicians, scientists, nurses and staff who drive innovation, take great care of our patients, and educate the next leaders in health care. Thanks to these dedicated people, we are trailblazers in medical research, education and patient care. My job is to remove any barriers to their success, ensuring that we “push the boundaries of discovery, transform health care, advance medical education and create hope for humanity,” just as it says in our vision statement. You are also a rheumatologist and molecular immunologist, with research focused on immune system molecules. How does a scientist and clinician become a health care executive? It was a natural transition for me. As a clinician, I treated one person at a time. As a researcher, I sought to advance understanding of how the immune system fights disease. Now, as dean of the school of medicine and CEO of Johns Hopkins Medicine, I apply experience from both of those realms to support and guide our faculty and staff as we wrestle with some of the most vexing problems in health care. How do we speed the path from biomedical discovery to treatment? How do we deliver cutting-edge medicine and develop lifesaving technologies while providing the best value for patients? How do we not only treat disease but help entire populations prevent it? In my days as a researcher and clinician, I continuously sought answers. The difference is that the scope of the questions keeps getting broader. Johns Hopkins Medicine seeks to set the standard of excellence in clinical care. One of your institutional priorities is to be the national leader in the provision and teaching of patient- and family-centered care. Why is that so important? When people seek medical care, they are likely to be anxious about their diagnoses and treatment. It is important that we be sensitive to their concerns and take the time to understand their goals and the factors influencing their health. We are working to elevate service excellence and a culture of caring across JHM. We want all patients’ experiences to be consistently positive at every stage of their visit across the system, including at each of our six hospitals, in our physicians’ offices, in our ambulatory settings and with our home care providers. Getting patients--and their loved ones--more involved in their own care also improves safety and adherence to the treatment regimen. Can you give some examples of the work you are doing to enhance patient- and family-centered care? This year, we implemented a new Language of Caring training that educates our employees in important patient communication skills that they can use in their daily work. We created a new consumer-facing tool to be more transparent about our performance on quality and safety. The site provides relevant data for our inpa- 42 Ano 1 | Edição 1 - 2016 tient hospitals on patient experience, infection rates, hand hygiene, hospital readmissions and other key measures. We are also focusing on helpful ways to provide patients with smooth transitions into and out of the hospital and to home care. Some of our progress in this area includes: Providing patients with tablet computers that have information on what to expect at the hospital—including preparing for various surgical procedures or hospitalization. Supporting the transition from the hospital to home with bedside delivery of discharge prescriptions and a free community social work program managed by our Home Care Group. The program assists discharged patients with housing, transportation, food and other issues that could potentially affect their ability to manage on their own. tion of our inpatients are admitted through the emergency room. 3. Ensure that we diversify our revenue streams and care venues (international, ambulatory, insurance, online courses, etc.). 4. To improve value, we need to increase quality while reducing costs by providing care more efficiently. These are the broad strokes, and we are making tangible, significant progress with our five-year Strategic Plan, which specifically guides our decisions on how best to advance our legacy of innovation and excellence in patient care, research and innovation. Instead of sitting on the sidelines and waiting to see how reform plays out, we are finding ways to bend the cost curve in health care while at the same time ensuring a greater focus on education, research, quality and prevention. Why are academic medical centers (AMCs) highcost providers of health care? A University Health System Consortium research study found that the reasons for higher costs among AMCs include: Standby costs: We can’t just employ cardiac transplant surgeons on Tuesdays and Wednesdays. We have to be able to deliver a high level of complex care seven days a week, 24 hours a day—a huge cost that a community hospital does not have. This round-the-clock care accounts for about 60 percent of the increased cost of academic medicine versus community medicine. About one-quarter of the added cost comes from the fact that we cross-subsidize our education and research missions from clinical revenues. Teaching while we provide care requires us, by definition, to be a little less efficient. And spending time on research takes away time from caring directly for patients. We take care of the sickest, most complex patients. These higher costs pose a challenge because this country is focused on minimizing the cost of health care, and for good reason. But this trend to cut costs could drive away patients who truly need our specialized care. Today’s restricted insurance networks have the potential to take patients away from the hospitals that are best equipped to care for them. In addition, new payment schemes that make patients pay more out of pocket to receive treatment at a prestigious academic medical center will impact whether patients choose us. These measures could lead to patients going to less qualified hospitals for care. And decreased clinical margins then could challenge our ability to continue to innovate and educate at a time of already shaky federal funding for research. The challenge of minimizing costs in health care can threaten clinical volumes and decrease clinical margins. How do you attract more patients in this scenario while still driving down costs? First and foremost, we are committed to delivering compassionate and individualized care to our patients each and every day. We continuously strive to represent the best interests of our patients and their families to keep them safe, deliver the highest level of care and provide the best service. Providing the best care is the right thing to do and also ensures that people continue to seek out our services. We are also investing in new outpatient facilities to complement our large primary care network. The onus is on us to provide the right care at the right time at the right place and at the right cost. We are striving to improve efficiency by weeding out wasteful procedures and formalizing protocols across the entire Johns Hopkins Medicine system. The work we are doing to ensure safety, enhance communication and prevent medical errors will translate into shorter hospital stays and fewer readmissions. Finally, every day we seek to translate the latest scientific research into breakthrough therapies that help our existing and future patients receive the best health outcomes possible. There will always be a demand for cutting-edge treatments. How do you succeed in a changing health care environment and add value to the health care system? We have to adapt, especially here in Maryland, where an overhaul of the Medicare waiver system is changing how hospitals in the state are reimbursed. To ensure that we thrive in a changing health care environment, we need to: 1. Grow strategically. It’s simple math. If the margins shrink, then we need a bigger footprint to attract more patients. 2. Innovate. We need to find ways to lead in population health. After all, while we deliver a great deal of specialty care, a significant por- How is your relationship with insurers? We work closely with leadership and staff members from the various insurers who send patients to Johns Hopkins. They are valued partners in the care of our patients. How can you get the patient involved in the healing process? Improving communication is the key to great patient care and experience. What is important to patients and their families is that we treat them courteously; hear their concerns and questions; and explain treatment and discharge plans clearly. To promote better communication between patients and their care teams, we have Patient and Family Advisory Councils at each hospital. The advisory councils are made up of past and present patients and family members, along with Johns Hopkins staff members. Patients and their families can offer unique perspectives and valuable feedback regarding the standard of care they receive. Patient advisers provide insights that represent a diverse patient population. The advisory council meets monthly to identify patient needs and concerns, provide feedback on current systems at our hospitals, SAÚDE generate new ideas to improve the standard of care, and act as catalysts and advocates to propel patient-centered care. To date, our Patient and Family Advisory Councils have provided feedback to improve everything from chairs in our waiting areas to the design of the new adult emergency room department at The Johns Hopkins Hospital to the process for identifying patients. We are also piloting a program where our surgical intensive care unit gives patients and their families a tablet that allows them to send questions to their medical team and provide details about their care goals. The app also includes a family involvement menu, where loved ones can select from daily care activities they wish to assist the clinical staff with, such as brushing teeth or washing their family member’s hair. Regarding your five-year Strategic Plan, what are your priorities and how will you achieve them? Launched in 2013, the five-year Strategic Plan serves as a blueprint for the future of Johns Hopkins Medicine, guiding decisions and business strategies for the entire enterprise. The plan includes six critical areas of focus: People: Attract, engage, retain and develop the world’s best people. Biomedical discovery: Become the exemplary model for biomedical research by advancing and integrating discovery, innovation, translation and dissemination. Patient- and family-centered care: Be the national leader in the safety, science, teaching and provision of patient- and family-centered care. Education: Lead the world in the education and training of physicians and biomedical scientists. Integration: Become the model for an academically based, integrated health care delivery and financing system. Performance: Create sustainable financial success and implement continuous performance improvement. We have outlined measurable goals within each of these six categories. Execution of the Strategic Plan involves all organizations within the institution, and everyone has a role and a stake in its success. I work closely with Ronald R. Peterson, president of The Johns Hopkins Hospital and Health System and executive vice president of Johns Hopkins Medicine, to provide direction to organizational leaders who oversee each strategic priority. The leaders meet monthly to review the progress of the priorities. How would your Strategic Plan serve as a model for the health care sector? The Johns Hopkins Medicine five-year Strategic Plan guides our 42,000 employees through a complex and rapidly changing health care landscape, showing us where to invest time and resources to deliver the promise of medicine here in Baltimore and globally. Our six areas of focus—people, biomedical discovery, patient- and family-centered care, education, integration and performance—give every one of our employees the power to shape our future and advance our legacy of innovation and excellence in patient care, research and education. Please, tell us about your strategic priority for an integrated health care delivery system. How do you integrate and become a model for an academically based, integrated health care delivery and financing system model? Our system consists of a diverse network of hospitals, outpatient centers, and home care providers. We must ensure that all these groups are working together seamlessly and adhering to the same high standards. Being prepared to compete in today’s health care environment and fulfill our tripartite mission depends greatly on our efforts to develop a more integrated delivery and financing system that benefits our patients, operations and institution. Our integration priority looks at developing new and viable models of care to enhance our delivery systems, both from a clinical and administrative perspective. To better position us to achieve these objectives, we are looking at how to most effectively work together to drive thoughtful growth and patientand family-centered care, and to ensure we are delivering the right care at the right place and at the right cost. Here are just two examples of how we are moving forward to create a truly integrated health care delivery system: 1) We established the Johns Hopkins Community Health Partnership in 2012, which was funded by a $20 million federal grant, to tackle the unique health challenges of an urban, impoverished community that often relies on costly visits to the Emergency Department. The community health partnership is focused on two populations—patients discharged from The Johns Hopkins Hospital and Johns Hopkins Bayview Medical Center, and the underserved, high-risk East Baltimore population in seven ZIP codes around the two hospitals. Through this program, we try to prevent patients from falling METAS INTERNACIONAIS DE SEGURANÇA DO PACIENTE META 1 META 2 META 3 Identificar os pacientes corretamente Melhorar a efetividade da comunicação entre profissionais da assistência Melhorar a segurança das medicações de alta vigilância META 4 META 5 META 6 Assegurar cirurgias com local de intervenção correto, procedimento correto e paciente correto Reduzir o risco de infecções associadas aos cuidados de saúde Reduzir o risco de lesões ao paciente decorrentes de quedas Ano 1 | Edição 1 - 2016 43 SAÚDE through the cracks by providing an integrated approach from health care teams that include nurse educators, nurse transition guides, physicians, case managers, clinical pharmacy specialists, health behavior specialists and community health workers, among others. These teams help patients get the care they need, whether that’s at home, at a community health center, in a rehabilitation facility, in the hospital, or leaving the hospital. Integrating care also means that each member of the team will have a better understanding of each patient and can personalize the care to his or her needs. The care of these patients has improved, and we are working hard to ensure the sustainability of the program. 2) As the Johns Hopkins Medicine health care delivery system becomes more complex, stronger efforts are needed to ensure that both patients and care teams have greater access to more complete information. To that end, we have been rolling out a new integrated electronic medical record system called Epic across our institution. Epic creates a comprehensive record for every patient, viewable by each member of the patient’s health care team and supports unified documentation throughout Hopkins, which reduces the need for multiple systems. Epic also incorporates scheduling and registration, clinical documentation, computerized provider order entry, ePrescribing, Charge Capture, and improves the critical connection to affiliate and referring physicians across Johns Hopkins Medicine. By giving providers both inside and outside Johns Hopkins a complete view of a patient’s record, the entire care team can make better and more coordinated decisions that can help improve and lead to positive health outcomes. Johns Hopkins Medicine is a global leader in patient safety and quality. What are your initiatives in this area? Around the world, we work hand in hand with leading health providers, governments and educational institutions on high-impact ventures. These collaborations are designed to leverage Johns Hopkins’ extensive expertise in 44 Ano 1 | Edição 1 - 2016 medicine, nursing, public health, medical education, research and health care administration while tailoring this knowledge to local needs and culture in a way that advances health care in the region. Several years ago, Johns Hopkins Medicine implemented a five-step checklist coupled with a program of culture change in intensive care units that dramatically reduced the number of central line-associated bloodstream infections. This program is now in place across the United States and in Puerto Rico, Spain, the United Kingdom and Abu Dhabi in the United Arab Emirates, and is believed to have saved thousands of lives and millions of health care dollars. Since 2007, Johns Hopkins Medicine has collaborated with Trinidad and Tobago’s Ministry of Health, local universities and organizations to transform their health care sector through educational collaboration, research, specialty and clinical programs, and management training. Last year, the Johns Hopkins Armstrong Institute for Patient Safety and Quality entered into a collaboration with the World Health Organization (WHO) to adapt these critical tools for the WHO’s African Partnerships for Patient Safety program. In 2013, Johns Hopkins Medicine embarked on a first-of-its-kind health care joint venture with Saudi Aramco. Called Johns Hopkins Aramco Healthcare, the joint venture establishes a new health care provider for Saudi Aramco, focusing on providing high-quality health care services to Saudi Aramco’s employees, dependents and annuitants that make up their eligible medical recipients. And earlier this year, Bermudian insurance company The Argus Group and Johns Hopkins Medicine International signed a strategic collaboration fully focused on population health. When we find new approaches that work, we want to spread them beyond JHM. With the help of our Armstrong Institute for Patient Safety and Quality, we are translating our patient safety and quality solutions so that they can be implemented on a large scale at the state, national and global levels. Across the world, primary care is under government control. How can a private organization approach primary care, bring benefits to the patients and also benefit from it? Johns Hopkins Medicine’s mission to improve health by setting the standard of excellence in medical education, research and clinical care is not just local but global too. In India, for example, there is a critical gap between demand for and access to health care services. In September 2012, an affiliation agreement was signed between Johns Hopkins Medicine International (JHI) and HCL Avitas. Under this agreement and with the assistance of JHI, HCL Avitas has taken on the responsibility to help reduce the access constraints by building primary care clinics, a relatively new concept in India. Their goal is to launch more than 500 clinics across the nation. To support and expedite their mission, JHI is co-developing education/training programs and assisting with operational support for the clinics. We also know that for Johns Hopkins Medicine, education is a huge priority. Are you working also in the development of the next generation of leaders in health care management? Leading the world in educating and training physicians, biomedical scientists and health care professionals is one of Johns Hopkins Medicine’s priorities. In that regard, the Johns Hopkins University (JHU) is a great partner. JHU is an outstanding higher education institution with top-ranked schools of public health and nursing and an exceptional business school. In relation to health care management, the Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health offers a range of programs that train tomorrow’s health care management leaders. Degree programs offered at the school’s main campus in Baltimore include a Master of Health Administration (M.H.A.), a two-year professional program that includes an 11-month administrative residency, and a Doctor of Public Health (Dr.P.H.), a parttime health care management and leadership program. The school of public health also offers SAÚDE a joint Master of Public Health and Master of Business Administration degree with the Johns Hopkins Carey Business School, also in Baltimore. Many alumni from these and other programs, including the Master of Public Health, go on to high-level positions in the private and public sector in the U.S. and abroad. They run hospitals and head federal U.S. programs and nongovernmental organizations. They also serve in high-level local and state public health positions. There are several international initiatives from Johns Hopkins Medicine, including global relationships and collaborations. What is the goal of your international efforts and how do you provide integrated care for international patients? When international patients come to us for treatment, our goal is to make the experience easier for our patients and their families by taking care of them before, during and after their medical visits. At patients’ request, we work with their local care team to establish a treatment plan and ensure smooth transitions between their home country and Johns Hopkins Medicine. While international patients are in our care, we coordinate care between our entities to maintain continuity. While complex or rare conditions will always need subspecialized expertise, which often requires patients to travel, we also work with affiliates around the world to increase local options for care. For referrals from affiliated hospitals, we work directly with affiliate physicians to understand the case and provide continuity of care. We bring what we’ve learned here about quality patient care, research, training and education, hospital operations, and safety to advance health care delivery through sustainable, high-impact collaborations. We call this global collaborative health care. How about Brazil? Brazil is one of the top economies in Latin America and has a growing middle class that wants advanced medical care. Johns Hopkins Medicine International (JHI) and Hospital Moinhos de Vento (HMV) signed a 10-year affiliation agreement in August 2013. Under this agreement, JHI and HMV are engaging in knowledge transfer opportunities for executive and clinical hospital staff members in the areas of: Nursing development, Quality and safety, Research, and Clinical program development We also provide HMV physicians with the opportunity to request medical second opinions and to refer complex patient cases to Johns Hopkins Medicine when needed. HMV and JHI created a virtual referral desk at HMV under a program called Double Medical Care. With this program, Brazilian patients have access to Johns Hopkins experts for an extended number of specialties and the most advanced patient care. Cursos rápidos Agenda março 2017 Porto Alegre - rs Congresso Brasileiro de Governança Clínica Atendendo as expectativas do mercado, oferecemos cursos de curta duração com o objetivo de atualizar o conhecimento dos profissionais de sáude. com os melhores profissionais Cursos de Atualização Presencial (8horas) da área da -Nutrição Aplicada ao Fisiculturismo saúde -Estratégias Nutricionais para Hipertrofia Muscular -Fisiologia e Bioquímica: do emagrecimento a hipertrofia -Eletrocardiograma para Enfermagem Cursos de Atualização EAD -Nutrição Esportiva Aplicada ao Treinamento Físico Funcional -Nutrição e Alimentação Escolar: avaliação, conduta e educação nutricional -Interpretação de Testes em Nutrigenômica pelo Nutricionista Siga-nos acesse o site e confira todos os cursos: www.ipgs.com.br +55 51 3062.9322 Ano 1 | Edição 1 - 2016 45 SAÚDE Cultura, bem-estar e qualidade de vida A fábula de Django Reinhardt D ifícil definir aquilo que nos leva a superarmos grandes adversidades ao longo da vida. Entretanto, são momentos assim que tornam possíveis nossas maiores conquistas. Quando se trata da história de um artista, isso pode significar a possibilidade de legados culturais que mudaram a sensibilidade humana e que jamais se desvelariam no tempo, não fosse por tal enfrentamento. A trajetória do guitarrista Django Reinhardt traz esse símbolo e tem em si uma metáfora de superação humana como poucas em nossa cultura. Cigano belga, Django era nômade e já aos dezoito anos era multiinstrumentista e seguia em caravanas com sua comunidade. Para seu sustento, sua família vendia flores de acetato, e em seu trailler guardava material inflamável usado para a manufatura dos produtos, algo que acabou por provocar um incêndio que se espalhou sobre a caravana e levou o guitarrista a ter boa parte de seu corpo queimada e comprometida pelo acidente. Médicos sugeriram a amputação de sua mão, algo que Django refutou em absoluto. Diziam que jamais recuperaria os movimentos e que não voltaria a praticar sua música. No entanto, ao longo do processo de repouso no hospital, seu irmão levou a ele um violão acústico a partir do qual ele passou a redescobrir sua música. Aos poucos, recuperou o movimento de dois dos dedos da mão esquerda - os restantes permaneceram atrofiados - e soube desenvolver um método próprio em que combinava movimentos diagonais ao uso de arpejos de acordes em suas improvisações, algo que surpreendentemente acabou por criar uma das técnicas mais velozes, melódicas e virtuosas da história da guitarra. Músicos estadunidenses recebiam suas gravações e acreditavam que deviam ser adulteradas devido à incrível velocidade de suas frases musicais. Radicou-se musicalmente na França e criou junto ao violinista Staphane Grapelli o lendário Hot Quintet of Jazz 46 Ano 1 | Edição 1 - 2016 que encantou platéias internacionais, até que o maestro Duke Ellington o levou para os EUA para solar em sua orquestra. Revolucionou o jazz tocado por guitarra, realizou gravações lendárias fundindo jazz, música cigana e música clássica, imprimindo um estilo inconfundível, virtuoso e absolutamente complexo. Django Reinhardt tornou-se o primeiro musicista europeu a influenciar o jazz, gênero que tem seu berço e tradição primordial nos Estados Unidos. Mais que isso, inventou um estilo próprio seguido por diversas gerações de guitarristas e que se populariza a cada dia, ainda que de forma pouco notória no Brasil todo ano milhares de pessoas vão a Samois (cidade francesa onde viveu até sua morte) para assistir ao festival anual criado em sua homenagem. Sua maneira de tocar é motivo de admiração e pesquisa por apreciadores de música do mundo todo. Jamais teríamos sua belíssima obra se sua força pessoal e resiliência não superassem a dor gerada pelo grave acidente. Há uma frase atribuída a William Shakespeare que diz que um desejo reprimido é um desejo fraco o suficiente para ser reprimido. Talvez a expressão de Django fosse de fato forte demais para ser bloqueada por um acidente. Talvez sua arte estivesse acima de qualquer tragédia. Ou quem sabe sua vida e obra nos atinja qual fábula urbana, nos revelando a potência de nós mesmos. Quiçá um exemplo para toda e qualquer vida que se pensa comum até que se descubra muito mais forte e extraordinária do que poder-se-ia supor antes do enfrentamento de um grande transtorno. Ouçamos a música de Django Reinhardt, não como quem somente se admira pela beleza do vôo alto de um pássaro que reaprendeu a voar, mas também como quem se debruça sobre o abismo da existência e escuta o sopro melódico de nossas próprias possibilidades. Fernando Chuí é músico, desenhista, escritor e doutor em educação pela FEUSP. SAÚDE NORMAS PARA PUBLICAÇÃO – Caderno científico A Revista Brasileira de Gestão em Saúde é destinada a publicação de artigos que proporcionem informações relevantes para a discussão, melhoria e fundamentação da tomada de decisões na gestão da saúde, através da pesquisa e análise crítica. Veja os tipos de artigos aceitos para publicação no caderno científico: Artigos originais, sobre pesquisas envolvendo diversos aspectos da gestão em saúde, acompanhadas dos resultados, discussão a respeito dos achados e conclusões; artigos de revisão, relativos ao que já foi publicado na literatura específica sobre temas de gestão em saúde, acompanhados das considerações críticas do autor; e artigos de atualização, em que são apresentadas novas contribuições para a gestão em saúde, em termos de proposições teóricas ou metodologias práticas. Relatos ou séries de casos são bem-vindos e serão aceitos na circunstância em que descrevam uma intervenção que contribua com melhorias na gestão da saúde, ou apresentem uma situação ou problema para o qual não há, ainda, solução adequada ou definitiva. Resenhas sobre livros, artigos, teses e monografias sobre o tema da gestão em saúde também serão considerados para publicação. Envio do artigo. O trabalho deve ser submetido via e-mail para [email protected], aos cuidados do Dr. Marcelo F. Tiburi. Ao submeter um artigo, o(s) autor(es) automaticamente concordam com a cessão dos direitos autorais, em caso de publicação. Quando houver mais de um autor, o autor principal assume que os demais leram o artigo e que há concordância quanto a publicação e com as suas normas. Preparo do manuscrito. O artigo deve ser inédito, digitado em processador de texto Microsoft Word ou similar (fonte Times New Roman 12), e não ser submetido concomitantemente para publicação em outros periódicos. Artigos originais devem trazer, estruturados, o resumo em português e o abstract em inglês (contexto, métodos, resultados, e conclusão), ambos com até 250 palavras. Para outros tipos de artigos, não é necessário que o resumo e o abstract sejam estruturados. Em situações especiais, serão aceitos artigos em inglês ou espanhol, desde que enviados por serviços situados no exterior e mediante anuência do conselho editorial. Para a escolha dos descritores ou palavras-chave, em número mínimo de dois e máximo de quatro, recomenda-se o uso do DeCS (Descritores em Ciências da Saúde – http://decs.bvs.br). O corpo do texto, com até 4000 palavras nos artigos originais, deve conter a Introdução (com breve revisão bibliográfica, justificativa e objetivo do estudo), os Métodos, os Resultados, a Discussão e as Conclusões. Nos artigos de revisão e atualização (entre 3000 e 5000 palavras), deve haver a introdução, a seção dos métodos (sucintamente descritos), os diversos tópicos que o autor deseja apresentar, e as considerações finais. No relato de caso (até 1200 palavras), deve haver a introdução, a descrição do problema ou situação, a intervenção realizada (se for o caso), o(s) resultado(s) e a conclusão. Resenhas (até 600 palavras) devem citar o nome do trabalho analisado, os autores, formato (livro, artigo, etc.), dados da edição (data, local, editora, etc.) e os comentários, de forma concisa e objetiva. As referências bibliográficas devem ser numeradas conforme a ordem de aparecimento no texto, imediatamente após sinais como ponto, vírgula e ponto e vírgula, em sobrescrito. As referências devem ser apresentadas ao final do texto, conforme exemplos abaixo. Até três autores, todos devem ser citados. Em trabalhos com mais de três autores, é facultativa a citação de todos ou o uso da expressão ‘et al’ ou ‘e outros’. Exemplos: Chalmers I, Dickersin K, Chalmers TC. Getting to grips with Archie Cochrane's agenda. BMJ 1992;305:786-7. Kremers HM, Bidaut-Russell M, Scott CG, et al. Preventive medical services among patients with rheumatoid arthritis. J Rheumatol 2003;30(9):1940-7. Instituições financiadoras do estudo, se existentes (públicas ou privadas), devem ser citadas ao final do artigo, com o respectivo número do processo, se houver. Conflitos de interesse devem ser declarados. Símbolos e abreviações, se utilizados, devem ser explicados. Critérios de autoria. Serão considerados autores aqueles que tiveram significativa participação na elaboração do estudo e do artigo, como: concepção e planejamento, interpretação dos achados, redação e revisão final. Não são considerados autores os indivíduos que não cumpram os pré-requisitos citados, como, por exemplo, pessoas que prestaram suporte técnico ou material, digitadores, coletores de dados sem outras atribuições na pesquisa e chefes de departamento ou diretores que não tenham participação direta no estudo realizado. Indivíduos que tiveram alguma participação no estudo, mas que não preenchem os critérios de autoria, podem receber uma menção de agradecimento ao final do texto, especificando sua contribuição. O autor deve certificar-se que estas pessoas concordam em ter o seu nome mencionado. Lista para conferência: Título, em português e em inglês; Informações sobre o(s) autor(es): nome, instituição e titulação (para o autor principal, deve constar o endereço de correspondência completo e o e-mail); Resumo e abstract; Corpo do texto, contendo gráficos, tabelas e figuras, quando for o caso; e Referências bibliográficas. Aceitação e publicação. Os trabalhos encaminhados para publicação serão avaliados e os autores receberão o parecer sobre a aceitação ou recusa do artigo, bem como serão notificados sobre a necessidade de alterações e re-submissão. Os artigos aceitos poderão ter discretas alterações de estilo, para adequação ao padrão editorial da revista. A correta apresentação gramatical e de digitação é de total responsabilidade dos autores.