Opressivo e cinzento? Não, crescer no comunismo foi a

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Opressivo e cinzento? Não, crescer no comunismo foi a
Opressivo e cinzento? Não, crescer no comunismo foi a época mais feliz de minha vida
Seg, 03 de Dezembro de 2012 02:27
A autora do artigo, Zsuzsanna Clark, como estudante de Ensino Primário na Hungria socialista
Zsuzsanna Clark
Hungria - Diário Liberdade - [Zsuzsanna Clark, tradução do Diário Liberdade] Quando as
pessoas me perguntam como era crescer atrás da Cortina de Ferro, na Hungria nos anos
setenta e oitenta, a maioria espera escutar contos sobre polícia secreta, as filas nas padarias e
outras declarações desagradáveis sobre a vida em um Estado de partido único.
Eles ficam sempre desapontados quando explico que a realidade era muito diferente, e a
Hungria comunista, longe de ser o inferno na terra, era, na verdade, um ótimo local para viver.
Os comunistas proporcionavam a todos com trabalho garantido, boa educação e atendimento
médico gratuito.
Mas talvez o melhor de tudo fosse a sensação primordial da camaradagem, o espírito que falta
em minha adotada Grã-Bretanha e, de igual forma, a cada vez que volto à Hungria atual.
Eu nasci em uma família de classe trabalhadora em Esztergom, uma cidade no norte da
Hungria, em 1968. Minha mãe, Juliana, veio do este do país, a parte mais pobre. Nascida em
1939, teve uma infância dura. Deixou a escola aos 11 anos e foi diretamente trabalhar nos
campos. Ela recorda ter tido que se levantar às 4 da manhã para caminhar cinco quilômetros e
comprar um pão. De menina, ela tinha tanta fome que com frequência esperavam junto à
galinha até que pusesse um ovo. Então abria-o e engoliam, crua, a gema e a clara.
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Foi o descontentamento com aquelas condições dos primeiros anos do comunismo, que
conduziu à revolta húngara de 1956.
Os distúrbios fizeram com que as lideranças comunistas compreendessem que só poderiam
consolidar suas posições tornando as nossas vidas mais toleráveis. O estalinismo acabou e o
'comunismo goulash' -um tipo original de comunismo liberal- chegou.
Janos Kadar, o novo líder do país, transformou a Hungria na barraca mais feliz do Leste da
Europa. Tínhamos provavelmente mais liberdades que em qualquer outro país comunista.
Uma das melhores coisas foi a maneira como as oportunidades de lazer e férias se abriram a
todos. Antes da Segunda Guerra Mundial, as férias estavam reservadas para as classes altas e
médias. Nos imediatos anos da pós-guerra também, a maioria dos húngaros estava
trabalhando muito duro para reconstruir o país, as férias ficavam fora de questão.
Porém, nos anos sessenta, como em muitos outros aspectos da vida, as coisas mudaram para
melhor. No final da década, quase todo mundo podia se dar ao luxo de viajar, graças à rede de
subsídios a sindicatos, empresas e cooperativas de centros de férias.
Meus pais trabalhavam em Dorog, uma cidade próxima, por Hungaroton, uma companhia
discográfica de propriedade estatal, de modo que ficamos no acampamento de férias da fábrica
no lago Balaton, 'o mar húngaro'. O acampamento era similar à espécie de colônias de férias
na moda na Grã-Bretanha da época, a única diferença era que os hóspedes tinham que fazer
seu próprio entretenimento às noites. Nom havia campos de férias tipo Butlins Redcoats.
Algumas das minhas primeiras lembranças da vida no lar são os animais que meus pais
mantinham no quintal. A cria de animais era algo que a maioria da gente fazia, bem como o
cultivo de hortaliças. Fora de Budapeste e as grandes cidades, nós éramos uma nação de
"Tom e Barbara Goods". (nota: referência à série da BBC dos anos 70 'The Good Life',
protagonizada por uma família auto-suficiente)
Meus pais tinham por volta de 50 frangos, porcos, coelhos, patos, pombos e gansos.
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Mantivemos os animais não só para alimentar a nossa família, como também para vender a
carne a nossos amigos. Utilizaram-se as penas de ganso para travesseiros e edredões.
O governo entendeu o valor da educação e da cultura. Antes da chegada do comunismo, as
oportunidades para os filhos dos camponeses e da classe operária urbana, como eu, para
ascender na escala educativa eram limitadas. Tudo isso mudou após a guerra.
O sistema educativo na Huntria era similar ao existente no Reino Unido na época. A Educação
Secundária era dividida por níveis: Elementar, Secundário Especializado e Formação
Profissional. As principais diferenças eram que estávamos no Ensino Básico até os 14 anos e
nom até os 11.
Havia também ensino noturno, para crianças e para pessoas adultas. Os meus pais, que
tinham abandonado a escola de novos, iam a aulas de Matemática, História e Literatura
Húngara e Gramática.
Eu adorava os ir à escola e principalmente fazer parte dos Pioneiros - um movimento comum a
todos os países comunistas.
Muitos em Ocidente achavam que era uma burda tentativa de doutrinar a juventude com a
ideologia comunista, mas sendo pioneiros ensinaram-nos habilidades valiosas para a vida, tais
como a cultura da amizade e a importância de trabalharmos para o benefício da comunidade.
"Juntos um para o outro" era nosso lema, e assim foi como se nos encorajava a pensar.
Como pioneiro, se obtinha bons resultados em teus estudos, no trabalho comunal ou em
competições escolarres, podia ser premiado com uma viagem a um acampamento de verão.
Eu ia todos os anos, porque participava em quase todas as atividades da escola: competições,
ginástica, atletismo, coro, fotografia, literatura e biblioteca.
Em nossa última noite no acampamento de Pioneiros, cantávamos canções ao redor da
fogueira, como o Hino Pioneiro: 'Mint a mokus fenn a fan, az uttoro oly vidam' ("Somos tão
felizes como um esquilo em uma árvore"), e outras canções tradicionais. Nossos sentimentos
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sempre foram misturados: tristeza ante a perspetiva de irmos embora, mas contentes ante a
ideia de vermos nossas famílias.
Hoje em dia, inclusive os que não se consideram comunistas olham para atrás com saudade
para seus dias de pioneiros.
As escolas húngaras não seguiam as chamadas ideias "progressistas" sobre a educação
dominantes na altura em Ocidente. Os padrões acadêmicos eram extremamente altos e a
disciplina era estrita.
Minha professora favorita ensinou-nos que sem o domínio da gramática húngara iriamos
carecer de confiança para articular os nossos pensamentos e sentimentos. Só podíamos dar
um erro se queríamos atingir a nota mais alta.
Diferentemente do Reino Unido, tínhamos exames orais em todas as matérias. Em Literatura,
por exemplo, tínhamos que memorizar e recitar diferentes textos e depois a/o estudante teria
que responder perguntas colocadas oralmente pola professora.
Sempre que tínhamos uma celebração nacional, eu era das que pediam para recitar um poema
ou verso em frente de toda a escola. A Cultura era considerada extremamente importante pelo
governo. Os comunistas não queriam restringir as coisas boas da vida para as classes altas e
médias - o melhor da música, a literatura e a dança eram para o desfrute de todos.
Isto significava subsídios generosos para as instituições, incluindo orquestras, óperas, teatros e
cinemas. Os preços dos ingressos eram subsidiados pelo Estado, daí que as visitas à ópera e
ao teatro fossem acessíveis.
Abriram-se "Casas da Cultura" em cada vila e cidade, também provinciais, para que a classe
trabalhadora, como meus pais, pudessem ter fácil acesso às artes cênicas, bem como aos
melhores intérpretes.
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Fonte: Diário
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