Tape e Scandurra – est

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Tape e Scandurra – est
Tape e Scandurra – est
est pode ser o anoitecer às margens do Danúbio, em Budapeste. Ou pode ser a
direção para os bairros boêmios de Paris e Roma. Na velha Inglaterra, era a
realização de desejos, e, no antigo latim, era a própria afirmação do ser. est é o
nome do álbum de estreia da dupla Tape e Scandurra, que sai em CD, versão
digital, cassete e vinil pelo 180 Selo Fonográfico — um acrônimo que une de forma
coesa os nomes de Edgard Scandurra e Silvia Tape, e inconscientemente remete a
imagens em diferentes idiomas.
O embrião deste trabalho surgiu em 2009, quando Scandurra fez uma série de
gravações lo-fi, só com a ajuda do GarageBand, em casa ou no sossego da Praia
de Itamambuca. “Eram temas para um possível disco instrumental”, o guitarrista
fundador do Ira! declara. Virou algo maior. E foi no Petit Trout, antigo bistrô de
Edgard Scandurra, cujo andar de cima se desdobrava em bar e um dos laboratórios
da nova cena independente paulistana, que ele encontrou a parceria ideal para
esse trabalho — precisamente num show em que a voz singela e afinada de Silvia
Tape encontrava a verborragia de Fausto Fawcett. “[Ela tem] um timbre que não é
parecido em nada com a fórmula das cantoras brasileiras. E não tem tanta ligação
com a MPB quanto tem pelo post-punk”, ele explica.
Silvia Tape foi baixista da banda garageira Happy Cow, em Piracicaba, em meados
dos anos 90. Hoje, além de ser a guitarrista na nova formação das Mercenárias,
Silvia tem uma carreira solo e lançou um EP com produção de Pipo Pegoraro e
participação de Júpiter Maçã. Ela é responsável pela grande maioria das letras de
est.
Nas dez faixas do primeiro trabalho da dupla, cordas acústicas e eletrificadas de
Edgard Scandurra se desdobram ao longo do vocal de Silvia Tape. Desde “A Sua
Intuição”, abrindo o álbum numa atmosfera tensa, suscitando o trip-hop do
Portishead, até “Meu Lamento”, faixa de encerramento levada pelo violão e uma
vibe neofolk.
Em várias faixas, Tape e Scandurra não estão sozinhos. Curumin toca uma das
baterias mais nervosas do álbum em “Asas Irreais”, junto a um riff de guitarra que
voa, levando “alma ao céu, corpo ao mar”. Silvia se baseou em Ismália, de
Alphonsus de Guimarães, para fazer a letra dela. A bateria de Curumin aparece
também em “Hoje o Tempo” quase como um espectro, se distanciando da voz e da
guitarra na frente, levando um samba-canção obtuso para todo o universo. est
ainda conta com outro baterista — Carlinhos Mazzoni, da banda Culto ao Rim, e
que também acompanha a carreira solo de Silvia Tape — em “Meu Lamento” e “Eu
Acho que Posso Esperar”, faixa quase sussurrada e frágil, que, segundo Scandurra,
remete a The Durutti Column. O tecladista André Lima completa o time. Ele também
participou da produção junto com Michel Kuaker e a dupla. est foi gravado no Wah
Wah Studio, em São Paulo. Foi lá que o álbum extrapolou a hermética ideia inicial,
de estética lo-fi, e ganhou timbres mais burilados.
Faixas como “Num Instante Qualquer”, um cowpunk na voz de Scandurra, que
perpetra o mais longo solo de guitarra da carreira, e a balada despojada de
adereços que é “Bolhas de Sabão” mostram como est consegue apontar outras
direções. “A simplicidade é a cara deste trabalho”, Scandurra declara. No entanto, o
que é mais singular é o clima que perpassa pelas faixas. Algo que a foto tirada na
fria Serra do Rastro, em Santa Catarina, presente na capa do álbum, criada por
Laura Wrona, Daniel Scandurra e Rosa Laura, soube captar. “Concha”, que traz
violões e guitarras em prol do sonho, premonitória de um encontro, e a viajante “Rio
Rastro” é puro hypnagogic pop feito por estas paragens. Entre camadas de cordas
e vocais singelos, as músicas de est se revelam aos poucos, a cada audição, como
insights geniais que surgem no período fugaz entre a vigília e o repouso.
est é um álbum para ser ouvido muitas e muitas vezes.
José Julio do Espirito Santo
Banda:
Edgard Scandurra – guitarra e vozes
Silvia Tape – vozes
André Lima – teclados
Lucinha Turnbull – violão
Thadeu Meneghini – baixo
Carlos Mazzoni - bateria
Shows:
Diletto Produções :: Livia Salles
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