Sobre a Roda de Conversa – Andrea
Transcrição
Sobre a Roda de Conversa – Andrea
SOBRE A INVENÇÃO DA RODA Andréa Siste1 Vasculhando meus arquivos internos, estava em busca de um tema para meu artigo. Havia muito para falar, pois estes meus dois anos (incompletos) de experiência pedagógica na área de educação infantil estão recheados de histórias, e aí pensei no momento em que todas estas histórias têm um começo: nas rodas de conversa. Estar com as crianças pequenas nas rodas (até fisicamente falando), me parecia um mistério, algo que só um professor com anos de experiência freinetiana poderia conseguir. Superei esta fase mais rápido do que esperava, e com o tempo comecei a dedicar-me à exploração deste, que julgo ser um instrumento de suma importância hoje, no meu dia-a-dia. Estar na roda passou a ser necessário (nunca obrigatório) e hoje, na Turma das Borboletas precisamos dela para nortear nossos dias de trabalho. As rodas assumem papéis distintos, dependendo do momento em que acontecem. A roda inicial é nosso primeiro contato coletivo, pois até sua configuração nos permite olharmos uns para os outros, sempre. E este primeiro olhar é fundamental, pois define o espírito do dia que começa. Dentre várias outras coisas, é nesse momento que nos damos conta dos ausentes, que por serem importantes são sempre detectados. Contamos e recontamos, até chegarmos ao 20. É neste momento que nos situamos no tempo e no espaço, trabalhando o calendário e estruturando a programação do dia. Também há momento de dividirmos e compartilharmos nossas experiências particulares. Isto é trazer a vida para a escola. Cada pequena história vem cheia de idéias, porque são espelho da noção de mundo que cada um tem. As crianças falam de si e de tudo que é seu, expressando-se de forma um pouco tímida no começo. Nada que doses de acolhida e de estímulo não modifiquem e aí as histórias vão ficando mais ricas, vão sendo cada vez mais fiéis às idéias de seus autores. A roda inicial nos permite ainda estabelecermos juntos nossos limites, erguermos juntos nossas margens, para que possamos saber (quase) sempre como ir, e até onde podemos ir. Ao estruturarmos nossa manhã de intenso trabalho, tentamos conjugar todas as necessidades do grupo, e sem dúvida realizamos nosso plano diário, de acordo com nossos projetos. Aliás, estes últimos têm seu berço quase sempre nos momentos de roda, pois são fruto de nossos infindáveis diálogos, de nossas constantes hipotetizações acerca do que está a nossa volta. Temo pecar pelo exagero, mas creio que a vida ativa do grupo nasce na roda. Com as Borboletas é assim. Em particular, a roda inicial funciona quase sempre simultaneamente como termômetro e bússola. E a prática mostra que tudo o que é fundamental para que trabalhemos bem se faz cultivando o dia-a-dia também na roda: espírito de cooperação, livre expressão, o prazer de fazer, do realizar, a conquista da autonomia... E aí, outro momento importantíssimo é a roda final. É a hora do balanço, da avaliação dos nossos trabalhos, das auto-avaliações. De compartilharmos conquistas ou fracassos, de observarmos nossas relações e de nos pré-programarmos para o próximo dia. É também mais um momento para registrarmos aspectos variados da nossa vida em grupo. Espero ter convencido os caríssimos leitores de que a invenção da roda realmente trouxe avanços sem fim para a humanidade. 1 Professora do Infantil manhã, 1999. Rua Santa Maria Rosselo, 118. Campinas, SP. 13087-421 (19) 32562648