AMIGO 35.qxd
Transcrição
AMIGO 35.qxd
Amigo Ouvinte Ano XI • Nº 35 • NOVEMBRO DE 2003 I N F O R M AT I V O D A S O C I E D A D E D O S A M I G O S O U V I N T E S D A R Á D I O M E C Rádio MEC tem novo diretor Professor e geógrafo, com mestrado em Relações Internacionais, e formado em Economia e Administração, Orlando José Ferreira Guilhon é, desde 27 de outubro, o novo diretor da Rádio MEC – fato duplamente auspicioso porque, em primeiro lugar, significa a volta do tradicional cargo de direção ao organograma da Emissora e, também, porque tal currículo acena com a esperança de que nossa octogenária emissora volte a ter, na direção, alguém potencialmente a altura do desafio que é reerguê-la. Membro fundador do PT, Orlando Guilhon exerceu atividade sindical por muitos anos, tendo sido presidente do Sinrad-RJ por dois mandatos, de 1989 a 1995. Velho conhecido da Emissora, ele atuou como dirigente sindical, ao lado dos trabalhadores da Rádio e da TVE, na luta por melhores salários e condições de trabalho. Participou, também, do histórico I Encontro de Funcionários da Rádio MEC, e conhece, assim, os principais problemas da Casa – que continuam praticamente os mesmos. Além do magistério, que exerceu em colégios como o São Vicente de Paulo e o Andrews, Guilhon trabalhou no Mobral, na Funarte, na Tribuna da Imprensa e na TV Globo. Foi também Coordenador do Comitê pela Democratização da Comunicação e um dos coordenadores do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, tendo ajudado a elaborar e a negociar, junto ao Congresso Nacional, vários projetos de Lei, como os que regulamentam o Conselho de Comunicação Social, a TV a Cabo, e a Radiodifusão Comunitária. Os Amigos Ouvintes desejam-lhe uma gestão feliz e produtiva. Foto Thiago Regotto ÁGUA da educação não se mistura com o óleo do proselitismo. O professor Edgard Roquette-Pinto – primeiro entre nós a perceber o potencial educativo do rádio – sabia disso muito bem. Sabia que a catequese, a evangelização, a publicidade,a propaganda político-partidária e todos os outros proselitismos são filhos bastardos da retórica – esse ramo caído da árvore da filosofia. E ele também sabia que a voz educativa não se mistura com a voz doutrinária. Por isso, quando doou a Rádio Sociedade ao Governo, em 1936, fêz questão de sacramentar a doação ao Ministério da Educação, e não ao antigo Departamento de Imprensa e Propaganda – que também queria ficar com o canal. Tal compromisso, assumido através de ato jurídico perfeito, foi honrado até 1995, quando, no governo de Fernando Henrique Cardoso, decidiu-se retirar a Rádio MEC daquele Ministério e colocá-la sob a tutela da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, consumando, assim, o que o professor Roquette-Pinto tanto quis evitar. É provável que, por conta desta operação administrativa, a SECON – atual responsável pela Radiobrás e por toda a publicidade governamental – tenha se tornado a única agência de comunicação oficial, em todo o planeta, a possuir em seu âmbito duas emissoras educativas. Talvez por não ser do ramo, isto é, por não possuir experiência alguma nesse tipo de radiodifusão, a Secretaria de Comunicação resolveu terceirizar a administração da Rádio MEC (e também da TVE, pois, desde os governos militares, as duas emissoras subsistem numa espécie de xifopagia administrativa, na qual, diga-se, a rádio sempre levou a pior). Para efetivar essa terceirização, a SECON precisou extinguir a Fundação Roquette-Pinto, que até então administrava as duas emissoras, entregando-as, em 1998, à ACERP–Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto – uma associação que, por sua vez, também não possuía experiência no ramo educativo (nem em qualquer outro, pois foi criada precipuamente para esse fim). Tudo isso, feitas as contas, só agravou o estado em que se encontravam as duas emissoras. A Rádio MEC, no entanto, ficou duplamente prejudicada, porque, além de tudo, continuou sendo vítima de um injustificável preconceito tecnológico que dura até hoje, e se reflete na atenção prioritária que sempre foi dada à TVE pela antiga FUNTEVÊ, depois pela FRP e, nos últimos anos, pela ACERP. Tal preconceito, que nasceu com o advento da televisão, embora injustificável – basta pensar nos ouvintes potenciais que são os 8 milhões de brasileiros com deficiência visual –, transformou o rádio no despossuído da mídia eletrônica. Ora, nenhum veículo de comunicação reflete melhor a preocupação social de um governo do que o radiofônico, e é bem provável que o descaso para com o rádio seja exatamente proporcional ao descaso para com a imensa camada de brasileiros despossuídos. Com a chegada do partido dos excluídos ao poder, o que os Amigos Ouvintes esperam é que esta situação de exclusão em que vive a radiofonia tupiniquim, especialmente a educativa-cultural, seja finalmente corrigida. Seria auspicioso e extremamente simbólico que, no ano em que se comemora o 80º aniversário da radiodifusão brasileira, a Rádio MEC recebesse a devida atenção dos seus reponsáveis diretos, para que ela possa voltar a fazer, efetivamente, parte da expressão cultural da cidade e do país. A IMPRESSO Editorial Também neste número Alto-falante Cartas Ouvinte Permanente A OS merece SOS? BBC x Gov. Inglês 2 2 3 4 5 Ganhamos e não levamos? 5 A Rádio do meu tempo, entrevista com Paulo Santos 80 Anos O parceiro de Roquette 6 8 10 Prata da Casa, 11 15 Coluna do Conselheiro 15 Programações 16 entrevista com Lauro Gomes Ruídos da Sintonia Pública Desenhado por Pedro Franco, o plástico comemorativo, acima, está sendo distribuído aos sócios junto com o jornal. Os demais interessados devem dirigir-se à SOARMEC. Alto-Falante O BOA-PRAÇA e super-competente Paulo Neto, que estava na Rádio desde 1988 e era o “coringa” da MEC FM, transferiu-se para a Receita Federal. Pois é... A ACERP realizou em junho, no CCBB,um seminário sobre a TV Pública, com a participação de especialistas da Inglaterra, dos EUA e da Alemanha.. Fica faltando fazer um outro sobre radiofonia pública, não é? PESQUISA realizada na Rádio MEC e na TVE, indica que os funcionarios estão desmotivados e que a maioria deles deseja modificar o modelo de Organização Social. ADRIANA RIBEIRO, formada em comunicação pela UFRJ, e THIAGO PEREIRA REGOTTO, concluindo o curso de comunicação da FACHA, são os novos produtores executivos da SOARMEC. A ALER – Associação Latino Americana de Educação Radiofônica e a AMARC – Associação Mundial de Rádios Comunitárias mapearam as principais estações dedicadas à cidadania e à cultura regional. São citadas, no Brasil, as rádios Pioneira, de Terezina, e Favela, de Belo Horizonte. Também a Rádio Bomba, México; as Escolas Radiofônicas, Equador; e a La Tribu, Argentina. A TV GLOBO fêz acordo com 300 comunitárias para levar ao ar o áudio de “Zorra Total”, “Xuxa” e outros programas. Ora, o objetivo das comunitárias não é, justamente, focalizar assuntos e manifestações artísticas locais? NESTE NÚMERO não estamos anunciando os discos da SOARMEC e da Rádio MEC. O selo da Rádio coroou uma série de 8 CDs com o belo disco do pianista João Carlos Assis Brasil tocando Villa0Lobos. 17 ENTIDADES ligadas à música organizaram o Fórum da Música do Rio de Janeiro, que se reúne toda quinta-feira, para estudar, debater e propor soluções para os problemas da área. Informações: 2532-1219. [email protected] APÓS A TV Justiça – no ar desde agosto – o Supremo Tribunal anuncia o lançamento da Rádio Justiça, em dezembro, com transmissão de sessões e debates sobre os julgamentos mais importantes, e notícias dos Tribunais dos estados. A UNESCO e a OCDE confirmaram que a escola brasileira não sabe ensinar a ler. Ficamos em 37º lugar num grupo de 41 países, à frente apenas da Macedônia, Albânia, Indonésia e Peru. INAUGURADA finalmente, no dia 9 de setembro, a sede própria da Academia Brasileira de Música, na Rua da Lapa, 120, 12º andar. O PROJETO de lei de Jandira Feghali que obriga TVs a veicular programas regionais, exige também que as rádios transmitam uma quota de músicas e noticiários nacionais. Aprovado na Câmara Federal o texto segue para o Senado. A ABERT é contra a quota obrigatória. A REGIONALIZAÇÃO da programação das Radios Educativas apoia-se em pesquisa realizada pelo Instituto Televox, cujo resultado revelou que 80% dos ouvintes do Mato Grosso do Sul aceitariam uma rádio com programação regional. ESTUDO PUBLICADO no Journal of Personalilty and Social Psychology, mostra que letras violentas, independentemente do estilo musical, estimulam pensamentos e atitudes hostis. Tal pesquisa comprova o que se sabe há séculos, pois para que servem os hinos e cânticos guerreiros ? Cartas Ao Senhor Luiz Carlos Saroldi, Diretor-Presidente da Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC Prezado Senhor, Incumbiu-me o Presidente Luiz Inácio da Silva de confirmar o recebimento de sua carta de 06/11/2002 e de informar do encaminhamento aos setores competentes para análise e providências cabíveis. O presidente pedelhe ainda para continuar participando cada vez mais da construção do país com que todos sonhamos. Atenciosamente, Claudio Soares Rocha Diretor da Diretoria de Documentação Histórica "(...) a Rádio MEC-AM tem-nos sido de difícil sintonia. A interferência de outras emissoras é constante, o que atrapalha, desagrada e aborrece ouvintes como nós. A MEC-FM vez por outra incorre no fenômeno." Gary Bom-Ali, Flamengo 2 NA MISSA de ano de nosso colaborador Fábio Pimentel, a quem a SoarMEC tanto deve, a família distribuiu esta curiosa imagem de Cristo, que pedimos licença para publicar, bem como a Oração que há no verso e diz: “Bendito sejais, Mestre comunicador, fonte de toda a ciência, porque iluminastes a inteligIencia dos homens para descobrirem novas técnicas de comunicação para a veiculação mais veloz da cultura, da ciência e do progresso em geral. Jesus, abri o nosso coração e dai-nos inteligência para sabermos usar esse meios para o bem e o progresso da humanidade.” Amém. A AERT – Associação de Emissoras de Rádio e Televisão está inaugurando, em breve, na Rua da Constituição, 72, Centro, o primeiro museu do rádio da cidade. COM O OBJETIVO de discutir a programação e fazer com que o ouvinte seja valorizado, está sendo criada, em Fortaleza, a Associação dos Ouvintes de Rádio do Brasil. Contatos com Francisco Djacyr (85)2936748. Ami go Ouvinte é uma publicação da SOARMEC Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC. www.soarmec.com.br/amigoouvinte [email protected] De Utilidade Pública Municipal (Lei nº 2464) e Estadual (Lei nº 3048) CGC 40405847/0001-70 Praça da República l4l-A Sala 201 CEP 20211-350 Tel: 2221-7447 R: 2207 e 2210 [email protected] EDITOR-RESPONSÁVEL: Renato Rocha JORNALISTA-RESPONSÁVEL: Francisco Teixeira PRESIDENTE DE HONRA: Beatriz Roquette-Pinto DIRETORIA: PRESIDENTE: Luis Carlos Saroldi VICE-PRESIDENTE: Regina Salles TESOUREIRA: Leonete Marback ATIVID. CULTURAIS: Francisco Teixeira COMUNICAÇÃO: José Renato Monteiro PATRIMÔNIO: Reinaldo Ramalho SECRETÁRIO: Renato Rocha CONSELHO FISCAL: Sérgio Cabral, Norma Tapajós e Otto A. de Castro COLABORADORES: SECRETÁRIA: Renata Mello PRODUÇÃO: Adriana Ribeiro Thiago Regotto COORDENADOR DE VENDAS: Paulo Garcia CONSULTOR JURÍDICO: Letácio Jansen CONTADOR: Manoel Mescouto DIAGRAMAÇÃO: Adriana Ribeiro COORDENAÇÃO GRÁFICA: J. C. Mello ENTRE PARA A SOARMEC Receba este Jornal, esteja em nossos eventos, conheça melhor a sua Rádio, freqüente nossa Biblioteca, mantenha-se informado a respeito do Rádio Educativo-cultural Tel. 2221.7447 R-2207 e 2210 "(...)No rádio, a maior amplitude de onda é AM vai até a Ionosfera e...volta (com perdas, é claro). Na MEC-AM parece que só as perdas retornam... Estamos no bairro do Flamengo que, ao que parece, não é "zona de sombra" – amigos da Barra e de Jacarépaguá se desgrenham para conseguir uma bela sintonia das duas rádios, e... nem sempre... Atualmente, a MEC-AM só ganha em qualidade da sofrível e valente Rádio Nacional. Já que "soltamos o verbo", que tal o governo soltar a verba para o esforço que precisa ser feito para que o som da MECs seja compatível com suas programações: sempre no sentido de agradar o ouvinte, dando-lhe o maior prazer audível possível. Será isso impossível?" Leda Machado, Flamengo Resposta: A Radiobrás recebeu verba para reformar a antena da Rádio Nacional, em Itaóca – na qual a MECAM pega "carona" - e os transmissores das duas estações, o que significa que a transmissão de ambas deve melhorar bastante. Vamos aguardar. Quanto à MEC-FM, tanto a antena quanto o transmissor estão em bom estado. O que costuma interferir na transmissão são as rádios piratas situadas perto do ouvinte. Gostaria de saber por que não tenho mais recebido o jornal da SOARMEC. O último que recebi foi em março e o ONDAS CURTAS, que iria informar aos sócios detalhes sobre os novos lançamentos de cds e outros, também não foi enviado.O repertório da rádio MEC está parado? Estou sentindo a falta de informações. Aguardo notícias. Sylvia Ribeiro Coutinho- por e-mail. Resposta: A Amiga Ouvinte tem toda razão em cobrar notícias e realizações. Gostaríamos de manter nossos sócios bem mais informados do que estamos conseguindo. As despesas com gráficas e correios não param de subir, e nossa mensalidade, de 6 reais, continua a mesma, entra ano e sai ano. Mesmo assim, quase metade de nossos associados estão inadimplentes. Estamos investindo em nosso site, mas muitos de nossos associados não usam esse veículo. Assim, resta-nos um jornal que sai como pode, como agora. Quanto ao Ondas Curtas, decidimos suspendê-lo, por falta de recursos, não de notícias. Pode não parecer, mas estamos fazendo o possível. Continue conosco. Novidades no site da SoarMEC O Ouvinte Permanente Oasis? Não, obrigado por Carlos Acselrad Desculpem nossa falha 3K=IA invariavelmente, o pessoal que tem acesso à palavra em programas da emissora (geralmente músicos, artistas em geral, jornalistas e profissionais liberais) referem-se a ela como "a nossa rádio MEC", que é "um oásis". Único lugar em que se pode ouvir "coisa boa". Estão certos: a rádio é nossa, não apenas para significar atitude afetuosa para com um velho amigo – é nossa pois é pública, sustentada pelos impostos que pagamos (embora os descaminhos burocráticos). Estão certos: é um oásis, embora meio inglório – é fácil ser oásis quando o deserto é essa alegre alternância de evangélicos, pseudosertanejos e música de elevador. Ainda assim, a responsabilidade de ser oásis é grande. Como explicar, portanto, certas peculiaridades que ocorrem exclusivamente aqui ? Em nenhuma das pequenas estações que se acotovelam em nosso dial veremos interrompida alguma obra-prima do “Só Pra Contrariar” ou de “Hermano &Hermógenes” por defeito técnico no CD ou no equipamento. Já aqui, acontecem as mais inesperadas alquimias: o barroco se transmuta em dodecafônico, ou então é o mais romântico Schubert que é subitamente acometido por uma tosse seca que desemboca numa espécie de mal de Alzheimer – compassos se repetem desordenadamente, a convulsão é iminente ... Paciência, amigo ouvinte; após alguns segundos (ou pouco mais), a emissão será interrompida de vez, seguida daquele "acabamos de ouvir" e vamos em frente. Há similares: anunciou-se uma rara gravação do Quarteto Oficial da Escola de Música tocando um dos quartetos de Mozart, um monumento do classicismo, dividido em 4 movimentos. Os adoradores põem-se de pé degustando o que virá enquanto pensam em conjunto com todos por Thiago Regotto - webmaster os outros da mesma legião – “Eis a nossa rádio! Vale a pena esperar!” O entusiasmo, porém, dura pouco: terminados apenas o primeiro e segundo movimentos, entra o tal "acabamos de ouvir" e vamos em frente. Ora, direis, não chateia! Melhor metade de um quarteto do que nada. Esta é a filosofia do oásis: desculpemo-nos com Schubert e Mozart, rabo entre as pernas e agradeçamos a Allah. Ah, como era bão Mesmo se vivo fosse, Alfredo Souto de Almeida não faria mais seu "Bastidores" – cujo título se bastava : um programa sobre teatro. Salvo se desse espaço a pedras angulares da nova dramaturgia nacional como, digamos, "Por falta de roupa nova passei o ferro na velha". Era a crítica que tinha amplo espaço na rádio. E não só a teatral: havia Shatovski ("Falando de cinema"); Ayres de Andrade, sobre música; e Pascoal Longo ("Clube da Critica"), onde se promovia o debate da atualidade cultural do país. O calibre da literatura falada era mantido por coisas como Paulo Autran lendo Drummond, Cecília, Bandeira... Qualquer programa de Maurício Quadrio – o "Bazar", por exemplo – era densamemte temático, com grande carga de informação no texto e uma incrível riqueza de ilustração fonográfica. A ausência da crítica na rádio MEC, hoje, lembra o episódio do apagão e suas consequentes ruas escuras e lâmpadas econômicas: foi-se a pouca energia mas as iluminações nunca voltaram a ser as mesmas. Foi-se a censura dos anos de chumbo mas o que restou foi a acomodação com a penúria artística, a conformação com a indigência cultural. Impossível não comparar aqueles títulos citados com o que nos é dado consumir hoje – "Escalas", "Harmonia", "Impressões sonoras", culminando com o malandríssimo "Seis séculos de música" e o admirável "Manhã MEC-FM", mais genérico que remédio de Apoio Cultural página da SOARMEC na internet (www.soarmec.com.br) está, finalmente, sendo revitalizada. Após mudanças em sua forma – agora mais leve e mais prática – e atualização de seu conteúdo, estaremos incluindo fotos e vídeos das dependências da Rádio MEC, consultas online do acervo da Biblioteca, alguns trechos de faixas dos CDs da SOARMEC Discos, uma central de notícias atualizada periodicamente e muitas outras novidades que serão implementadas gradualmente. Além de informações sobre o passado e o presente da Rádio MEC, o novo site será um ponto de referência para todos aqueles que têm interesse pelo Rádio, principalmente o Educativo-Cultural. Faça uma visita e confira. A farmácia de manipulação. Leia-se "vale tudo", ou melhor, "som na caixa e olhe lá": afinal, estamos num oásis musical... quer mais? Muitos anos de vida Assim como o Natal, os aniversários dão ensejo a perdões, reconciliações e complacências. Outro fora o caráter deste espaço, também aqui seria hora de indulto: estão se completando os oitenta anos desde a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, precursora da Rádio MEC. A prevalecer a filosofia do oásis – o já acima comentado "regozijemo-nos: podia ser pior" – caberia aqui o elogio, a tolerância e o estímulo. Seria hora de mencionar o bom nível dos textos do "Rádioescuta" e do "Sarau", a competência da locução na sua maioria (especialmente a feminina) e o sincero entusiasmo que transpira do "Roda de choro" , do "Sala de música" e do "Momento de jazz" (embora reparos agora inoportunos). Pois bem: sopradas as velas, então como é que é, é big, é big, é hora... É hora de esclarecer aos complacentes e conformados, aos satisfeitos com o oásis, que estamos galopando de volta rumo a oitenta anos atrás. É hora de exigir competência na produção, investimento na técnica e cuidado com nossos ouvidos. Parabéns merecemos nós que ainda não desistimos. Reprodução da primeira página do novo site da SOARMEC. ROSINHA H á 10 anos Rosinha de Valença, uma das melhores violonistas populares que já tivemos, sofreu duas paradas cardíacas. Ela sobreviveu, mas não pode falar, andar, ou fazer qualquer movimento coordenado. Nesses últimos anos ela vem sendo tratada por sua irmã , Maria das Graças (Gracinha). Este ano um fato agravou ainda mais as condições de tratamento de Rosinha: a UNIMED teria cancelado seu plano de saúde. Por isso, mais do que nunca Rosinha e sua irmã precisam de ajuda. Quem quiser ajudar pode entrar em contato pelo telefone (0xx24) 24526309. Qualquer ajuda é bem vinda! Reflexão, e informação sobre a música A Revista da Academia Brasileira de Música Faça sua assinatura anual (R$20,00) Telefax (21) 2205 3879 • www.abmusica.org.br • [email protected] 3 A OS merece SOS? “Só a democracia participativa pode Quem tem um dicionário, aí? salvar a democracia representativa” A expressão ‘sociedade civil’ é muito Boaventura S.Santos CONSCIÊNCIA cada vez maior da noção de cidadania responsável é um acontecimento recente, no mundo. Entre nós, ainda o é mais, pois coincide com o processo de redemocratização do país, e começa, oficialmente, com a entrada em vigor da Constituição de 1988 – que completou 15 anos no dia 5 de outubro. Ao instituir o regime de democracia participativa, e reconhecer a importância da sociedade civil como setor decisivo para o funcionamento da nação, a Carta de 1988 deu início a um processo inédito no país. No entanto, apesar de regulamentada pela Constituição, ainda não foram tomadas providências oficiais de peso para facilitar a participação da sociedade civil nos diversos setores públicos. Mesmo assim, cada vez mais brasileiros estão fundando e participando de ONGs, de associações de moradores, ou de amigos, ou de pais e mestres, e tantos outros movimentos da chamada “sociedade civil” – a última pesquisa aponta 2500 entidades cadastradas, em todo o país. Não existe pesquisa correspondente no Brasil, mas, na Europa, os movimentos sociais organizados (ONGs, associações, etc) são considerados duas vezes mais confiáveis do que os governos dos países a que pertencem. Isso explica porque muitas ONGs e associações passaram a receber recursos de instituições estrangeiras, que, antes, eram destinados aos órgãos governamentais. A perda desses recursos foi a gota d’água para os governantes – que já não viam com bons olhos a capacidade das ONGs de sensibilizar a opinião pública. A reação inicial foi a de cooptá-las ou, quando não o conseguiam, combatê-las, através da mídia paga. Mas, de uns tempos para cá, surgiu um novo método de resistência, que consiste na incorporação das bandeiras, do vocabulário, e até do modus operandi que pareciam pertencer, unicamente, aos movimentos sociais organizados. E esse parece ser o caso das chamadas OSs, ou “Organizações Sociais”. Para tentar entender melhor a coisa, precisamos entender melhor o que significa a expressão “sociedade civil”. A imprecisa – não está no Huaiss, nem no Aurélio. Em princípio, quer significar o conjunto dos representantes da cidadania que se reunem para defender interêsses humanitários, muitas vezes apoiando os governos, mas nunca fazendo parte dele. Nos últimos anos, no entanto, a expressão “sociedade civil” passou por uma verdadeira terraplanagem semântica, para permitir o advento da chamada Organização Social – um híbrido criado pelo neoliberalismo e que parece ter vindo para confundir e enfraquecer tanto o Estado quanto a Sociedade Civil. A primeira OS, como sabemos, foi criada para gerir a TVE e a Rádio MEC. Mas, antes de falarmos dela, pedimos licença, para transcrever as palavras.do filósofo Paulo Arantes. O auxílio luxuoso do filósofo “A fórmula mágica ‘organização social’ designa um curioso espécime de zoologia fantástica gerencial, algo como uma ONG clonada nas incubadeiras do Estado (…) Segundo a nomenclatura oficial, “organizações sociais” resultam da transformação dos serviços públicos em entidades públicas de direito privado que celebram com o Estado um contrato de gestão, cujas atividades são controladas de forma mista pelo Estado (financiamento parcial pelo orçamento público, poder de veto e cooptação nos Conselhos de Administração) e pelo Mercado (cobrança de serviços prestados pela mão invisível da concorréncia entre as entidades). A essa metamorfose, e correspondente simbiose entre poder e dinheiro, deu-se o nome de ‘publicização’(…) O ativista social de uma ONG realmente afinada com suas origens históricas sabe, por experiência própria, que, no outro campo, a coalizão dos dominantes globais, quando não busca descaradamente a cooptação pura e simples, se encarniça na destruição sistemática de todo e qualquer coletivo que se organize na defesa de direitos ou na promoção da ‘cidadania ativa’, na desqualificação e desautorização de “espaços públicos” efetivos de representação e negociação.(…) Portanto, ‘sociedade civil’ desmantelada em seu próprio nome…” O exemplo mais próximo O exemplo mais próximo é o da ACERP–Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto, a “organização social” que administra a Rádio MEC (e também a TVE), desde 1998. Entronizada como novidade administrativa que substituiria a Fundação Roquette-Pinto, ela, até agora, não conseguiu estar a altura da modernidade que pretende representar. Imposta autoritariamente pelo governo anterior, cronicamente chapa-branca e protagonista de um dos mais graves episódios censóreos dos últimos anos, a ACERP é uma prova de que o poder oficial ainda acredita pouco nas intenções do associativismo, e ainda tem pouco respeito pelo trabalho voluntário. A herança O novo governo está herdando, assim, uma Associação que, há mai s de 4 anos, não cumpre as metas para que foi criada; uma Associação que não tem um único sócio cadastrado; que se diz de comunicação mas nunca foi transparente; que se diz educativa mas acabou por acabar com o setor educativo da Rádio MEC; que ostenta o nome de Roquette-Pinto, mas não se pautou pelo ideário do mestre; e cujo Conselho Administrativo, além de estar longe de representar a Sociedade Civil (não há representantes de pais ou de universidades, por exemplo), não é independente (e a independência de poderes é condição sine qua nom para a democracia, estamos lembrados?). Já que a nova direção “vem trabalhando intensamente para assegurar a maior credibilidade da ACERP” – conforme diz Yacira Peixoto (ver Coluna do Conselheiro), não seria hora – no momento em que se esgota o 2º contrato de gestão da citada Associação –, de fazermos um balanço transparente do resultado desses 5 anos da primeira OS do país? Os funcionários, confome pesquisa do SINRAD, já deram sua opinião (ver Alto-falante). Renato Rocha Nota: Os trechos transcritos pertencem ao ensaio de Paulo Eduardo Arantes, Esquerda e direita no espelho das ONGS. Os interessados no texto integral podem solicitar cópia à SOARMEC. Nota de desaparecimento SOCIEDADE dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC cumpre o doloroso dever de comunicar a seus sócios, colaboradores e demais interessados na conservação do precioso acervo gravado da emissora, o desaparecimento, em 27 de maio, passado, de um aparelho CEDAR NS-1000, nº de fábrica DNF-102233, importado, por U$ 7.125 (sete mil, cento e vinte e cinco dólares), diretamente dos EUA. O infortunado aparelho era a espinha dorsal do equipamento SONIC SOLUTIONS, de úlltima geração, adquirido pela SOARMEC com recursos oriundos do Senado Federal e repassados pelo MinC. Sem ele, o estúdio não pode funcionar. O larápio que subtraiu o aparelho, perpetrou, além do crime de furto, um verdadeiro atentado cultural, pois, como se sabe, o estúdio está destinado, prioritariamente, ao benefício e remasterização das preciosas fitas do Acervo da Emissora. O furto foi comunicado, imediatamente, à Polícia Federal e à ACERP. A primeira, nada fez atè agora, e a segunda, criou uma comissão de investigação, mas, embora ainda não exista um comunicado oficial a respeito, sabe-se que nada se conseguiu de concreto. A lenta burocracia da implantação e inauguração desse estúdio – que se arrasta há quase 2 anos – é um exemplo perfeito de como opera a tal ‘máquina de não-fazer’ a que se refere o teórico Dromi. Outro tivesse sido o ritmo, e já teríamos treinado vários técnicos nos segredos do Sonic Solutions, beneficiando dezenas de fitas do acervo da Emissora. A SOARMEC saberá superar mais este revés – que nem sequer foi a maior perda material nem o maior crime de lesa-cultura que sofremos. Se conseguirmos os recursos, poderemos adquirir um novo CEDAR NS-1000, mas onde há, para vender, a gravação original do último concerto público de Carolina Cardoso de Menezes, em companhia de 9 outros de nossos melhores pianistas, realizado na Sala Cecília Meireles, em junho de 2000, e que desapareceu inexplicavelmente? A Nós sabemos, por experiência própria, o que a educação pode significar. Durante nossas vidas, vimos uma geração de crianças que foram armadas com educação erguerem uma nação. E a educação foi a fundação que nos permitiu participar de eventos históricos em nossos países: a libertação do povo do colonialismo e do apartheid. Nelson Mandela e Graça Machel 4 Ganhamos, mas não levamos ? OMO NOTICIADO, a SOARMEC foi distinguida, em 2002, com o Prêmio Estácio de Sá,, mas até agora o Governo do Estado ainda não deu sinal de que pretende efetivar a entrega das premiações aos contemplados com o Estácio de Sá e Golfinho de Ouro – os dois mais tradicionais prémios culturais do Estado. E tudo indica que, este ano, não haverá novas premiações, pois o mandato dos conselheiros expirou e ainda não foram indicados os novos membros. Por parte do governo, o silêncio em torno do assunto é absoluto, mas a grande imprensa já começa a levantar a voz, como mostram os artigos abaixo. C Panorama Político Teresa Cruvinel Há mais de 20 anos, o Conselho Estadual de Cultura do rio indica à Secretaria de Cultura os vencedores do Prêmio Golfinho de Ouro em diversas áreas (literatura, música, cinema, etc.). O prêmio geralmente é outorgado em dezembro e pago em março. O do ano passado concedido no governo Benedita, ainda não foi pago pelo governo Rosinha. A secretária Helena Severo alega falta de empenho. (O Globo 19/08) CRUZ O triste fim da cultura estadual Artur Xexéu O rompimento de um cabo de aço que fez com que cedesse parte do palco do Teatro Municipal, na manhã de quartafeira, derrubando o coro que ensaiava e ferindo três cantoras, não foi só um acidente. Foi um símbolo (...) porque revela que todo o equipamento cultural X ACUSAÇÃO, feita pela BBC, de que Tony Blair teria “tornado mais sexy” um dossiê sobre armas de destruição em massa para justificar a guerra contra o Iraque, somada à trágica morte do cientista David Kelly, assessor governamental, além de abalarem seriamente a credibilidade do premiê, afetaram a própria imagem da rede de rádio e TV estatal. Segundo pesquisa, 35% dos ingleses disseram que sua opinião em relação à BBC piorou, e 55% disseram que não mudou. A história tem mostrado que, invariavelmente, sempre que qualquer governo do Reino Unido começa a querer intimidar a rede pública de rádio e TV, acaba perdendo popularidade. No entanto, dessa vez, a coisa parece ser mais grave. Executivos da BBC estão empenhados em impedir que este episódio resulte em uma campanha para reformar a emissora, o que poderia abalar ainda mais a sua reputação e limitar sua lendária independência. A do estado está fatigado. É até bobagem falar disso quando se sabe que a governadora Rosângela Matheus comanda uma política de educação que precisa contratar dez mil professores, mas só contrata mil, comanda uma política de meio ambiente que trabalha pelo corte de verbas, comanda uma política de saúde que promove filas fajutas para transplantes e não consegue manter hospitais que atendam com decência à população. Num quadro destes, reclamar da política cultural é até perverso. Mas eu BB BLAIR A estrutura da BBC Canais e funcionários São 26 mil profissionais, distribuídos em 8 canais de rádio e 8 de TV. Todos os canais são gratuitos e sem propaganda. As veiculações em rádio e internet abrangem 43 línguas. Orçamento anual A receita global da rede é de 2,66 bilhões de libras - valor equivalente a R$12,5 bilhões (é isso tudo mesmo, não há erro de digitação) Fontes de renda A taxa paga por quem tem televisão a cores – 116 libras por ano – representa 2,5 bilhões de libras. Os restantes 100 milhões de libras vêm das atividades comerciais, incluindo TV por assinatura (como a BBC World), TVs especializadas (tem até TV food) e serviços online. reclamo. (...) Em julho, a Secretaria anunciou, com pompa e circunstância, o início do projeto Encontros com o Cinema, que levaria, uma vez por mês, filmes brasileiros a cidades do interior e promoveria encontros entre cineastas e a platéia. A tal abertura se deu no dia 19 de julho com "Deus é brasileiro" em Volta Redonda. A segunda sessão seria "Desmundo", em Barra Mansa, no dia 23 de agosto. Não aconteceu por falta de verba. Se o estado não tem verba para passar filmes ao ar livre em cidades do interior, é difícil acreditar que ele pagará os premiados com o Golfinho de Ouro e o Estácio de Sá, divulgados no fim do ano passado. Cada artista premiado com o Golfinho e cada instituição agraciada com o Estácio ganhariam R$ 50 mil, quantia estipulada na gestão do exgovernador Garotinho. Da lista dos que estão levando calote do governo fazem parte o artista plástico Rubem Grilo, a cineasta Tetê Moraes e a cravista Rosana Lanzelotte. Como se vê, o rompimento do cabo de aço do palco do Teatro Municipal significa muito mais do que a simples fadiga do equipamento. Ele é o retrato do desinteresse da governadora Rosângela Matheus pelas coisas da cultura do Estado. (O Globo 23/08) VOZ FEMININA É MELHOR SPECIALISTAS que participaram do Congresso Internacional de Ciências Fonéticas, que reuniu representantes de cinqüenta e um países, em Barcelona, concluíram que a voz feminina tem mais capacidade de transmissão de sons que a masculina. Ao falar, mulher usa freqüências mais altas que o homem, e isso faz com que sua voz se misture menos com os ruídos de fundo. Não é por acaso, portanto, que as vozes das mensagens ouvidas em grandes espaços, como shoppings, aeroportos e serviços de tele-atendimento, sejam quase sempre femininas. Durante as sessões de trabalho do encontro, que começou em 3 de agosto e terminou dia 9, também foram estudadas as características acústicas dos distintos grupos sociais e, também, como, através da voz, é possível identificar a idade de uma pessoa, o sexo e a região em que vive. Os problemas de fala nos idosos e nas crianças são outras questões que foram tratadas no Congresso. E 5 A rádio do meu tempo Como você entrou para a Rádio MEC? PS – Bom, a vontade já era muito grande, desde garoto, porque a Rádio MEC permitia um tipo de programação que as outras não tinham: músicas mais selecionadas, repertório erudito, coisas assim. Eu tentei e acabei conseguindo, através do Sr. René Cavé e do Sr. Fernando Tude de Souza, que eram os dois diretores da Rádio – um artístico e outro geral. Em que ano, isso? PS – Faz tempo, acho que em 45. Você foi recebido por eles? PS – Fui recebido primeiro pelo René, que era o responsável pela programação da Rádio; depois ele passou a noticia ao Tude da minha vontade de trabalhar lá, de fazer alguma coisa lá: locução, narração, redação especializada, coisas assim. E eu comecei assim. Entrevista realizada na Casa São Luiz, por Renato Rocha e Adriana Ribeiro, em 29/08/03, para ser lida ao som de um disco de jazz. Sugerimos Duke Ellington, um dos preferidos do pioneiro da divulgação do jazz no Brasil. Mas, antes, leia a apresentação que Eleazar de Carvalho escreveu, nos anos 60, para o lendário locutor da Rádio MEC Paulo Santos por Eleazar de Car valho . participações ao vivo, de músicos brasileiros, que eu convidei, e nós conseguimos chegar aonde queríamos. “O timbre e a cor de sua voz; sua impecável dicção; seu instinto musical; o perfeito conhecimento que demonstra possuir das obras que interpreta; tudo isso, aliado a um apurado bom-gosto e a uma elegante simplicidade, justifica o titulo que Paulo Santos possui, de ser o NARRADOR BRASILEIRO. Todas essas qualidades tenho constado durante a execução das obras que Paulo Santos tem narrado sob a minha regência. Estão em uníssono comigo, Leonard Bernstein, Igor Markevitch, Hans Swarowsky, Aaron Copland, Arthur Fiedler e muitos outros com quem Paulo Santos tem colaborado. Na sua bagagem de interprete figuram gravações de “Pedro e o Lobo”, de Prokofieff; “Young Person’s Guide To The Orchestra”, de Benjamin Britten; e “O Carnaval dos Animais”, de Saint-Saens. Paulo Santos é detentor, duas vezes, do Disco de Ouro, do troféu Obelisco, do “Prêmio Chagas Freitas”; do “Prêmio Roquette Pinto”; da medalha do cinqüentenário do Teatro Municipal; do Golden Award, da American Society of Disc-Jockey. Com todas essas qualidades e distinções, Paulo Santos não necessita de apresentação. Este registro representa, apenas, a minha homenagem ao homem de cultura eclética e a quem muito já deve a comunidade cultural brasileira”. Que músicos brasileiros você levou para o programa? PS - Quase todos os brasileiros tinham esse dote, digamos assim, de improvisação. Porque, antes de irem para o jazz, eles já improvisavam na musica popular, no samba e coisas assim. Tinha muita gente, na época, inclusive alguns que ficaram com o nome marcado como o Dick Farney, No programa, ele teve a liberdade de fazer o que ele gostava de fazer, sem restrição nenhuma – coisa que ele não tinha conseguido nunca em outra emissora. Os discos eram seus ? PS – Eram sempre meus. Não tinha música de jazz, naquela época – nenhuma rádio tinha. O que eles tinham era musica popular norte-americana, música de dança, ou qualquer coisa assim, mas não jazz. O jazz sempre foi uma especialidade que eu usufrui, desde o inicio até o final da minha carreira na Rádio. Foi pedido algum teste, antes? PS – Não, eu fui direto. Apenas me apresentei diante ao microfone, pra que eles ouvissem meu tipo de voz, maneira de ser. Mas não foi um teste, propriamente. Você foi sonoplasta da Rádio? PS – Fui, sim. Naquela época, a Rádio já fazia programa de rádio-teatro. Então, eu entrei com efeito de colocação de músicas ao texto que iria ser representado. Só música e ruídos especialíssimos. “Em Tempo de Jazz” começou quando? PS – Não tenho certeza, acho que em 46. 6 Acervo P. Santos Você começou fazendo o quê? PS – Comecei fazendo programas normais, que já vinham prontos, pra gente botar no ar. Alguns tinham textos, eu lia o texto; outros não tinham nada, tinha só o nome da música e o intérprete, mais nada. Qual o 1º programa que você produziu? PS - Olha é um pouco difícil dizer, mas o que ficou mais marcado foi o programa de jazz – Em Tempo de Jazz – que queriam que eu chamasse de Jazzmania, mas eu não quis. E foi crescendo, crescendo, até que eu recebi convites de outras rádios para fazer aquele programa, tirar dali e passar pra lá. Mas eu não concordei, porque eu comecei na Rádio MEC, então tinha que ficar ali. Foto Adriana Ribeiro Acervo Rádio MEC Paulo Santos 1º Aniversário do Em Tempo de Jazz. Esquerda para a direita, sentados: Altamir Ferreira, José Vasconcelos e Waldir (Os Cariocas). Em pé: (?), o ator Milton Carneiro, Mario Brasini(ator, dramaturgo e inventor do ponto eletrônico), Alfredo Souto de Almeida, Badeco, Severino Filho, o jovem Paulo Santos, Afonso Soares(radialista), (?), Ismael Neto, (?) Como era o formato do programa naquela época? Era só com discos? PS – Era só com discos, porque não tinha meio nenhum de fazer transmissão externa, coisas assim nesse sentido, então era só disco. E o grande problema, na época, aqui no Rio, e no Brasil inteiro, é que jazz era uma coisa muito rara, muito difícil. Então, havia música norteamericana. Mas música dançante, comercial, coisa assim, e isso não cabia no que eu queria. Então, foi um pouquinho difícil começar assim. Mas, a medida que a coisa pegou, e foi rapidamente, apareceram as Então, voltando ao jazz: o programa começou em 45 e foi até quando? PS – Olha, enquanto eu estive na Rádio MEC, eu estive no ar. É verdade que quem te substituía, nas férias, era o Edino Krieger? PS - Era, sim. Mas o Edino entendia de jazz? PS - Entendia, sim. E gostava de jazz. No início da coisa, o programa não era pré-gravado, depois é que começou a gravar. E aí, não precisou mais que o Edino participasse, porque eu gravava e deixava pronto pra ir ao ar. Acervo Rádio MEC Fale dos recitais no cinema Rex. Que época foi? PS – Final dos anos 40: 49, 50, por aí. Começava às 10 horas da manhã e ia até meio-dia, aos domingos. Podia ser musica clássica ou semi-erudita; mas a gente comentava e combinava antes, com quem ia ser apresentado, uma entrevista, num possível intervalo, para que a transmissão fosse feita dali. Como é que era a pauta, o temário desses cursos? PS – A idéia principal foi a de lançar esse negócio, auxiliando aqueles que estavam trabalhando no setor radiofônico. E muita gente, já profissional de Rádio, passou a ir a Rádio MEC, querendo participar dessa coisa, e falava sempre comigo , porque era a principal voz. Você era a voz padrão da Rádio: as pessoas ouviam a sua voz pra falar mais ou menos parecido com você? PS – É verdade, mas eu achava que não era necessário. Cada um tinha o seu jeito de ser, mas acontecia muito isso. Iam lá, me visitar, pra ver como eu fazia a coisa. Você tinha ou chegou a preparar um dicionário fonético, com nomes de músicos e músicas? PS – Eu tinha, porque eu fiz, não porque existisse. Então, coisas assim, especiais, eu escrevia o nome, tal qual era escrito, e, depois, a pronúncia correta do nome, como era conhecido mundialmente. E o Nelson Tolipan? PS - Ele começou comigo. Queria que revisasse tudo que ele escrevia. E continuamos assim, amigos. Você fez algum trabalho no INCE, narração de filmes, essas coisas? PS – Eu fiz algumas coisas, sim, mas principalmente atuando; não escrevendo. Mas produzindo e narrando. Quais os grandes diretores da Rádio, a seu ver ? PS – Tem muitos, mas o Fernando Tude de Souza foi quem deu a partida para que o resto prosseguisse. E as transmissões na TV Globo, como eram realizadas? PS – Nada de especial. Antes da transmissão, nós contactávamos com os solistas, com as pessoas que iam se apresentar, para que, no intervalo, nós pudéssemos conversar a respeito, embora muito rapidamente, para aquilo não ser só apenas musica erudita jogada no ar. É verdade que o nome “Rádio MEC” foi você quem propôs? PS - Fui eu que propus, sim. Porque Ministério da Educação e Cultura complicava muito na época, porque antes era só Ministério da Educação. Então: eme-é-cê: MEC, Ministério da Educação e Cultura – quando se passou a chamar assim. Aí eu passei a adotar essas 3 letras como se fosse um prefixo, digamos assim, daquilo que a gente ia apresentar. Segundo o locutor Décio Luiz, foi você quem acariocou a empostação da Rádio MEC, que era apaulistado: Rrrrrádio Minissstério. Você dava cursos dentro da Rádio. Lauro Gomes e o Guilherme de Souza contam que estudaram com você. PS – Não só eles: muitos outros fizeram cursos lá, com a gente. Eles queriam aprender a maneira de dizer a coisa pra que todos entendessem e que não fosse sofisticado. Você tem essas apostilas ainda guardadas ? PS – Muita coisa se perdeu, não sei nem como. A lenda é que você entrava no Teatro Municipal e entrevistava todos os artistas e personalidades. Quantas línguas você fala, Paulo? PS – Eu falo várias: inglês, principalmente, mas espanhol e italiano, também. Paulo, o teu nome está intimamente ligado à OSN. Onde a OSN ia, você acompanhava? PS - Acompanhava. Toda vez que fosse necessário. Não só como solista narrador, mas também como coadjuvante da direção daquele setor. Quais foram? PS – Bem, eu fiz muita coisa, de vários autores, nesse sistema botar a voz falada, declamada, como você quiser chamar isso – mas não cantada – com a música. Foto J.C. Mello Tinha mesmo um microfone da rádio pendurado no palco do Teatro Municipal? PS – Tinha aquele negócio pendurado, sim, para a transmissão do que estava acontecendo no palco. O meu era um microfone portátil, e eu, dali, comentava a coisa toda, antes de ir ao ar, enchendo o tempo. Muita gente dizia “enchendo lingüiça”, mas não é verdade. Apenas para que o publico tomasse conhecimento daquilo que ia ser apresentado, daquele momento em diante – fosse ópera, fosse orquestra sinfônica, fosse o que quer que seja. Acervo Noemi Flores Que outros programas você fêz? PS - Ah, muita coisa. Eu produzi um programa chamado Cine Música, que era feito a partir de musicas usadas em cinema. Eu ia comentando, um a um, aquele filme que estava sendo exibido. Além disso, um programa de ópera. E eu, inclusive, criei oficialmente essa coisa lá na Rádio Ministério da Educação, que era a transmissão de uma ópera completa – que não existia no rádio, naquela época. Ocasionou uma série de problemas no inicio, mas, depois, pegou de tal modo que não saiu mais do ar; Com o LP Pedro e o Lobo, você foi o pioneiro no Brasil da narração com música. Você tem um especial carinho por essa obra do Prokofieff, não é mesmo? PS – Tenho, porque acho a obra muito boa, musicalmente e como idéia de narração conjugada com a música, e, segundo porque nós precisávamos ter um caminho novo dentro dessa estrutura musical. E foi assim que nós começamos, com Pedro e o Lobo. E depois vieram as outras. Acervo P. Santos Era ao vivo e passou a ser gravado, por que? PS – Passou a ser, para não haver falhas do operador, em relação aquilo que a gente estava apresentando. De maneira que passou a ser gravado. O programa fazia sucesso: então, a gente, com os pedidos recebidos, repetia aquele programa tal qual foi ao ar. Você trabalhou em outra rádio ? PS – Trabalhei na Rádio Jornal do Brasil, ao mesmo tempo que na Rádio MEC. E, de passagem, na Rádio Clube do Brasil. Na Rádio JB, eu não era só locutor, porque o locutor apenas apresentava a música, e eu não: comentava o que estava acontecendo. E fiquei lá bastante tempo. Aliás, o nome JB quem botou fui eu. Você também pôs o nome na JB! PS – E pegou, né? No alto, com Noemi Flores, entrevistando Fernando Sabino; no centro, apertando a mâo do maestro e compositor Aaron Copland . Acima, na TV Globo, com o maestro Nelson Nilo Hack e a Orquestra Juvenil do Teatro Municipal O perfil do profissional de rádio era ume depois da TV virou outro? PS – Infelizmente, virou. Mas não tem nada uma coisa a ver com a outra. Porque a televisão você vê, então, não adianta você comentar uma coisa à sua maneira e você ver outra. Já o rádio, não: você fazia aquilo pro ouvinte ver mentalmente. 7 8 80 anos depoimentos Os colaboradores que não apareceram nessa página que nos desculp “80 anos de prazer, informação e serviços prestados aos ouvintes, através desse instrumento insuperável de comunicação que é o rádio. 80 + 80, para alegria do Brasil futuro” Alfredo Brito “Nestes 80 anos a nossa Rádio tem resistido bravamente para continuar fiel aos princípios de Roquette-Pinto e dotar o ouvinte brasileiro de uma programação diferenciada e rica. Por muitos anos tive o privilégio de conviver com excelentes colegas e contribuir modestamente para difundir o nosso folclore e a música brasileira. São muitas as saudades, ainda maiores os desejos que a Rádio continue seu destino.” HaroldoCosta “É uma alegria ver a rádio cumprir esta data. Desde 1962 sou funcionário da casa e nesses 41 anos lutei junto a outros funcionários para manter as orquestras e coros da época de ouro da MEC. Hoje estamos trabalhando com a difusão de música clássica. Uma execução em rádio às vezes equivale a 10 concertos, em matéria de audiência. Eu poderia ter me aposentado, mas não quero, pois amo este trabalho.” Fernando Neiva Regina Firmino e Sueli Ribeiro Arnaldo Estrella Gláucia Almeida Nelson Tolipan Maurílio Floriano Osvaldo Diniz Ilma e Moisés Antunes Dinah Silveira de Queiroz Paulo Márcio Oscar Santiago Roberto Monteiro Geir Campos Paulo Fernando Périlo Galvão André Luís César Guerra-Peixe Andréa Brum Jairo Ribeiro, Lenir Siqueira, Braz Limonge, B (Quinteto de Sôp Há quase Sidney Pereira Marina Lorenzo Fernadez “Sendo a primeira das nossas estações, continua sendo a preferida de toda a gente que busca o que não é comum em nosso país: uma programação cultural de qualidade. Parabéns à Rádio MEC e a todos os seus funcionarios, ouvintes e amigos, po esses 80 anos extraordinários” Prof. José Oiticica Aloysio Alencar Pinto Marlos Nobre “A Rádio MEC para mim representa cultura e desenvolvimento. Sem ela eu não saberia viver, pois a primeira coisa que faço ao acordar é ligar na MEC.” Fernanda Motta Alceu Bocchino Carlos Borges Fernando Segismundo Elizabeth Glielmo Roberto Saturnino Braga “A Rádio MEC vem se mantendo por oito décadas como referencial importante para o ouvinte de música clássica no Rio de Janeiro. Seu papel na difusão da música de concerto é inestimável.” Carlito André Arraes Paulo César Foto1(1924): Os sócios da Rádio Sociedade - de pé: Dulcídio, Francisc Souza, Angelo da Costa Lima, funcionário dos telégrafos. Sentados: C Secretaria da Rádio Sociedade, com o Estúdio ao fundo, em seu segun Tchecoslováquia (Foto 3) Ronaldo Miranda “Nesses 80 anos com a Rádio MEC, temos orgulho de nosso rádio e sabemos que com ela o Brasil ficou melhor.” Nilton de Queiróz Daniela Lapidus Sérgio Cabral “Esta seria a oportunidade de uma grande comemoração. que gerasse debates, seminários, estudos e publicações que pensassem melhor o rádio. Onde ele falhou? Onde deu certo? Até onde podemos ir tendo os recursos atuais? Mas isso não quer dizer que o rádio só deva ser falado quando faz aniversário em data redonda, de 10 em 10 anos, que é quando os jornais, as televisões e o próprio rádio abrem espaço para o rádio. Esse espaço deveria ser permanente, e acho que a SOARMEC está aí, esperando contribuições, esperando oportunidades de trocas maiores, e de trocar influências e colaboração. Por que não?” Luiz Carlos Saroldi 8 Violeta Kunder e Nani Devos Reinaldo Ramalho Alberto Ponce D. João Evangelista Manuel da Conceição Da esquerda p/direita: O pavilhão da Tchecoslováquia, construido pa com as válvulas osciladoras e moduladoras tipo Marconi, e o recepto no Museu Histórico Nacional. Laerte Afonso Paulo Autran Fábio Pimentel 88 colaboradores Paulo Roberto 80 + 20 p e m . S e t i v é s s e m o s e s p a ç o , s e r i a m 8 0 0 , c o m o o s k i l o c i c l o s d a R á d i o. Penha Barcellos Sérvio Tulio Marco Aurélio Felicíssimo Fernanda Montenegro Décio Luiz, Zito Baptista Filho e Hamilton Reis Bruno Gianessi e José Botelho pro da Rádio MEC) Edino Krieger Nelson Antônio Lélia Regina Leonete Marback Macieira Célio Reis Eugen Ranewski Vera Oliveira Alma Cunha de Miranda Francisco Mignone Patrícia Borges Mirtes Oliveira Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles Edneide Santana e 80 anos Maria Muniz Ana Maria Souza Abigail Moura Cici Espineli Weber Duarte Há 80-10 anos... Luiz Albuquerque Zézuca PAULO ROBERTO – cujo centenário de nascimento registramos aqui – tem muitos paralelos com Roquette-Pinto. Ambos eram médicos, radialistas e educadores, e sempre se guiaram pelo sentido social dessas profissões. Por absoluta falta de espaço, não falaremos da grande contribuição que deu como médico, e só citaremos algumas de suas mais famosas criações radiofônicas. Inventor de gêneros, apresentador de programas extremamente bem redigidos, com voz inconfundível e excelente dicção, ele foi o introdutor do “timming” no rádio brasileiro, com o programa “Nada além de dois minutos”; valorizou a responsabilidade social nos memoráveis “Honra ao mérito” e “Obrigado, doutor” - programa em que harmonizou, com maestria, suas atividades de médico e radialista. Incansável divulgador de nossa cultura, realizou o maior trabalho de incentivo das Bandas de Música de todo o país, através da sempre lembrada “Lira de Xopotó”. Apesar de tudo, foi demitido da Rádio Nacional, pelo AI-1, em 1964. Está nessa página dos 80 anos, porque ingressou na Rádio MEC em 67, onde produziu e apresentou programas para Projeto Minerva, até seu falecimento, em 1973. Foi o inventor da expressão “Amigos Ouvintes”, que, em homenagem, a SOARMEC usa em sua razão social. Gustavo Coutinho Alan Lima e Ieda Oliveira co Lafayete, Roquette-Pinto, Demócrito Lartigan Seabra, Mario de arlos Guinle, Henrique Morize, Luiz Betim Paes Leme. Foto 2(1924): ndo endereço ( o lº foi a Academia de Ciência), no Pavilhão da Ribamar Mendes William Ferraz Jaqueline Benites Há dez anos, a SOARMEC, em parceria com a SARCA – Sociedade dos Amigos da Rua da Carioca, comemorou em grande estilo os 70 anos do Rádio Brasileiro, com uma festa matinal e direito a banda de música e comes & bebes na Rua da Carioca,45, em frente ao sobrado onde funcionou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Na ocasião, foi ali colocada a placa que, 10 anos depois, nosso diretor de patrimônio se encarregou de limpar (fotos). Thelmo de Avelar Jota Carlos Adelzon Alves ra exposição do centenário da independência; a sala de transmissão or e transmissor Pekan, que pertenceram à Emissora e estão atualmente Fotos Adriana Ribeiro, Thiago Regotto e acervo Iris Bianchi e Oriano de Almeida Alcimar Ferreira 9 Henrique Morize, o parceiro de Roquette HOMEM que ciceroneou Einstein e foi um dos primeiros a comprovar, no Brasil, a veracidade de sua teoria da relatividade, foi um dos maiores cientistas de seu tempo, representou o Brasil em inúmeros congressos científicos, destacou-se em diversoa campos do conhecimento, notadamente na Astronomia, Física e Meteorologia. Nascido na França, em 1860, veio para o Brasil em 1875 e naturalizou-se brasileiro, em 1884, já formado em engenheiro industrial. Ingressou no Observatório Imperial como “aluno astônomo” e foi nomeado 3º astrônomo, em 1885. Em 1896, foi tornou-se professor da Escola Politécnica e, dois anos depois, doutorou-se em Engenharia Civil e em Ciência Físicas e Matemáticas. Foi o pioneiro da aplicação medicinal dos raios-X, no Brasil. Também realizou pesquisas no campo da sismologia e inaugurou o estudo das variações elétricas da atmosfera do Rio de Janeiro. Como meteorologista, foi responsável pelo projeto e organização da primeira rede de estações meteorológicas no Brasil (1910), que deu origem ao Departamento Nacional de Meteorologia. Foi também o grande introdutor da física experimental no Brasil, além de experimentos com a O transmissão e recepção de telegrafia sem fio. Sucessor de Luis Cruls na direção do Observatório Nacional, em 1909, presidiu-o até 1929. Foi Morize quem promoveu a instalação do Observatório em São Cristóvão. Foi também um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Ciência, que presidiu até o ano de 1926, quando recebeu o título de presidente honorário. Em 1923, Roquette-Pinto, um de seus mais notáveis discípulos, procurou-o, em seu gabinete no Observatório, para que assumisse a liderança de um grande movimento civilizador, que seria a “radiotelefonia educativa”. Morize concordou e, juntos, os dois pioneiros conseguiram revogar as velhas leis que proibiam a prática da radiotelegrafia no Brasil. Estava aberto o caminho para a fundação, em 20 de abril de 1923, da primeira estação radiofônica brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, da qual Henrique Morize foi diretor até 1929. Faleceu em 19 de março de 1930. Em seu pronunciamento fúnebre, RoquettePinto afirmou que “o povo humilde de minha terra não esquecerá jamais o que ele foi pela sua educação”. Duas perdas Foto Clara Zuñiga Jornalista, crítico, musicólogo e um dos mais importantes pesquisadores e historiadores da música, Ary começou a escrever no jornal “O Globo”, em 1943, na seção Um pouco de jazz, em colaboração com Sílvio Túlio Cardoso. Nas rádios Tupi e Tamoio, ele redigiu o programa Swing Cocktail. Foi cronista de jazz da revista A Cigarra e, nos três anos seguintes, escreveu críticas de rádio na revista O Cruzeiro. De 1957 a 1963, foi crítico de música popular no O Jornal, função que também exerceu no Jornal do Commércio (1961-67), O Globo(196770), Querida (1969-71), O Cruzeiro (1972) e Grande Hotel (1975). Em meados da década de 1960, devido à sua atuação como crítico musical em diversas publicações de prestígio, passou a realizar conferências sobre música popular brasileira e foi um dos principais organizadores do Clube de Jazz e Bossa Nova. Foi integrante do júri de muitos dos festivais da canção que aconteceram na década de 60, tendo participado da organização do Festival Internacional da Canção - FIC. Na rádio MEC produziu programas sobre a história da MPB. Foi 10 Ary Vasconcelos Maurício Quadrio também produtor de discos para a gravadora Odeon e para o Museu da Imagem e do Som – MIS. Para este órgão, do qual chegou a ser funcionário entre 1965 e 70, produziu elepês de Carmem Miranda, Noel Rosa e Ataulfo Alves. Ainda no MIS, foi quem sugeriu ao primeiro diretor da instituição Ricardo Cravo Albin, a fundação do Conselho Superior de MPB, com 40 cadeiras, cujos nomes foram escolhidos por ele, Almirante e o próprio R. C. Albin. O Conselho – base dos outros que logo depois foram criados para outras áreas – teve a seu cargo apontar e votar os melhores do ano, aos quais eram conferidos os prêmios Golfinho de Ouro e Estácio de Sá. É autor de importantes livros como: Panorama da música popular brasileira; Raízes da música popular brasileira; Panorama da música brasileira na Belleépoque; Carinhoso etc.- História e inventário do choro; A nova música da República Velha. Em 1982, o Conselho de Educação e Cultura do Estado do Rio de Janeiro escolheu seu nome para o prêmio Estácio de Sá. Em 1994, recebeu da União Brasileira de Escritores o título de personalidade do ano. A partir de 1998, foi um dos diretores culturais da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Era também colecionador de livros e leitor inveterado. Para a Rádio MEC, produziu programas sobre história da música, na década de 60, além da inestimável e gratuita contribuição que sempre deu, como consultor, aos inúmeros produtores da Casa. A SOARMEC também muito lhe deve. Além de sócio fundador, Ary Vasconcelos foi, também, diretorpresidente e, por duas vezes, vicepresidente de nossa Sociedade. Uma vida dedicada à cultura. Musicólogo, pesquisador, colecionador e radialista, ele foi um de nossos maiores produtores culturais. Como produtor de discos, passou por quase todas as gravadoras, sendo responsável por preciosidades como “Meio Século de Carnaval Carioca”, “Cem anos de Carnaval”, e a edição das obras completas de Beethoven e Mozart, em caixas de 50 e 60 discos, respectivamente. Foi, ainda, um dos principais idealizadores do Museu da Imagem e do Som, tendo contribuído bastante para sua existência. No rádio, foi, por muitos anos, produtor da Rádio MEC e diretor de programação da Rádio JB e da GLOBO. Por causa de seu carregado sotaque italiano, não botava a boca no microfone, mas se ocupava de todos os outros detalhes da produção, inclusive a redação, que era muito esperta, como o prova o texto ao lado, escrito para o 2º número do Amigo Ouvinte , em 1993. O AR... Assim começava o script do meu primeiro programa e algumas centenas que vieram depois, em 40 anos de colaboração com a Rádio MEC. Era a época de ouro da emissora, quando a gente brigava por uns pontinhos no IBOPE. Não conseguíamos o ibopão da Rádio Nacional ou da Tupy – o Maracanã dos auditórios – mas era o suficiente para não cairmos no caldeirão das “outras”. Nesses anos, houve todo tipo de mudanças: a gangorra dos diretores, alguns ótimos, outros menos, mas quem segurava o barco era René Cave, então “chefe de broadcasting”. Ele dava vida e movimentação à emissora, deixando, ao mesmo tempo, liberdade total de ação aos produtores. Nessa época, os anos 50 e 60, a Rádio MEC tinha um serviço de externas tão N eficiente quanto as demais emissoras. As temporadas líricas do Teatro Municipal eram o ponto alto das externas. Uma temporada podia incluir até quarenta óperas – uma parte delas só com artistas internacionais e os melhores da nossa safra. Até as duas grandes adversárias, Maria Callas e Renata Tebaldi, apresentavam-se na mesma temporada. Nos intervalos, os artistas eram entrevistados por gente competente – em geral era Paulo Santos quem se encarregava disso. Fora das temporadas, a Rádio levava ao ar, aos domingos, uma ópera completa, em discos, programa pilotado por Galvão Peixoto, um médico de cultura incomum. Lembrar, nesta nota, tantos companheiros e amigos, daria para preencher uma lista telefônica; mas alguns deles representam todos os demais: Tude, René, Alfredo Souto de Almeida – que agüentou minha indisciplina de estreante – Zito Baptista Filho, Edna Savaget, Heitor Salles, Ayres de Andrade, Wilma Luchesi, e “tutti quanti”. Em Janeiro de 1991, saí do ar. Prata da Casa Lauro Gomes Como e quando você começou a Rádio? Lauro Gomes – Em janeiro de 1974. Fui convidado pelo Reginaldo Magalhães, que era o diretor-artístico, no tempo do Brigadeiro Tróia. Ele não era ligado a música, mas sabia que eu estudei canto, que ia a todos os concertos e tal. E era para substituir o supervisor de gravação e programação. Estava tudo atrasado em termos de gravação e a primeira coisa que eu vi era que precisava organizar aquilo. Nós tínhamos uma equipe de produtores que era uma coisa: Alceo Bocchino, Aída Bocchino, Sérgio Nepomuceno, Alberto Shatovisch, Hebe de Matos, Noemi Flores, Marina Moura Peixoto, Belmira Frazão, etc, etc... Na música popular tínhamos o Paulo Tapajós, a Helena Teodoro, o Haroldo Costa, o Ricardo Cravo Albin – que está até hoje conosco. Walmir Ayala também trabalhava na AM. Então, era uma equipe gigantesca de produtores e, fora isso, tínhamos uma Orquestra Sinfônica funcionando, além de uma Orquestra de Câmara, um Coral, um Quarteto Vocal, o 1º Conjunto de Música Antiga do Brasil, Quarteto de Cordas, o Trio da Rádio, além de vários duos. Então, era uma rádio padrão – do mesmo nível da RAI italiana, da Rádio e Televisão Francesa, da BBC ou da Deutsche Welle. Fale dos produtores da época. LG – Tinha a Priscila Rocha Pereira, que fazia Música e Músicos do Brasil. Outros produtores eram o Sérgio Nepomuceno, que fazia Maestros e Regentes; o Maestro Bocchino, que fazia programa sobre Sinfonia; Aída Bocchino, que fazia Arte do Canto e também Canto Lírico. Sem esquecer o Zito Baptista, que é uma instituição e está até hoje com a gente, e a Belmira Frazão, que fazia A História do Ballet e o Classe ‘A’ – só com grandes concertos. E também tinha a Marina Moura Peixoto, que fazia Quarteto – sobre quartetos de cordas –, e Jackeline Lawrence, com Música e Teatro. Não podemos esquecer da Edna Savaget e da Helena Teodoro, grande defensora do movimento negro e da música negra; como Haroldo Costa, que fazia música popular brasileira e também música sul-americana e do Caribe. Essa Rádio fervilhava. E tínhamos os nossos solistas: a Leda Coelho de Freitas, que ganhou o prêmio Canção Francesa; a Creusa de Pennaforte, que cantou na Ópera de Paris durante anos. E ainda os pianistas Oriano de Almeida, Miguel Proença e Larry Foutain, este também preparador das solistas. Eram funcionários? LG – Funcionários contratados: eram solistas da Rádio MEC. Tínhamos a Silvia Baugartner que era especialista em música alemã; a Eliane Sampaio, que está aí até hoje, e a Maria de Lurdes Cruz Lopes. Esses eram os recitalistas da Rádio. E isso sem falar nos que vinham aqui para gravar aquela série maravilhosa que é o Música e Músicos do Brasil, e toda a música brasileira que foi gravada pelos nossos corpos estáveis. Eu me lembro de muitos que atuaram e que atuam até hoje: o celista Iberê Gomes Grosso; o fagotista Noel Devos; o José Botelho, clarinetista, que formaram toda uma nova geração. Se existe, hoje, uma escola de oboé, de fagote, de clarineta, deve-se a esses grandes nomes que vieram para o Brasil, contratados, ficaram na orquestra e se dedicaram ao ensino, formando uma escola. A Rádio foi uma grande escola. Fale dos locutores da época. LG – Não vou lembrar de todos, mas, para mim, uma das maiores e mais competentes vozes do rádio foi Maravilha Rodrigues. Era emocionante a agilidade de gravação dela. Porque, na época, tudo era gravado e montado, e ela gravava quilos de programas, e era tudo de primeira, e tudo de enfiada. Ela não parava, não errava. Ela, Guilherme de Souza, que está conosco até hoje; e o José Assis, que se aposentou; e também o Willian Mendonça, que já faleceu. O Sérgio Chapellin... a primeira experiência dele foi aqui, depois é que ele ficou famoso. E aí voltou pro Minerva. Mas ele começou aqui, como Fernanda Montenegro. Quero falar também da Anita Taranto – ela dava classe ao programa, para apresentar coisas de alta categoria, porque ela tinha uma imponência vocal muito bonita. E tinha também a Maria Helena Raposo, que lia as críticas, as crônicas, e apresentou muitas óperas. Ela também era uma grande cantora. Linda Alves era outra locutora que tinha a voz muito bonita, também. E o Paulo Santos? LG – Paulo Santos era hors concours, porque ele era a voz padrão da Rádio MEC. Sei que estou fazendo injustiça a muitos outros, com o meu esquecimento, mas o que eu quero afirmar é que eu fico assombrado. Naquele tempo, em que a gente tinha funcionando dentro desse prédio a Embrafilme, como é que se ajeitava todo aquele contingente aqui dentro? E eu fico bobo, porque a gente, hoje, para gravar, é uma dificuldade. E o Karabtchevsky? LG – O Karabtchevsky também fazia muito programa, aqui. Eram sobre aspectos orquestrais – ele comentava a obra sinfônica que ia ser tocada. Na época, muita gente trabalhava no Projeto Minerva, mas não participava muito dentro da Rádio. Era o caso do Karabtchevsky e dos locutores que só gravavam pro Minerva, como o Chapelain e o Cid Moreira. E os seus professores aqui dentro? LG – Como disse, entrei pra escrever um programa, e acabei supervisor de gravação e de programação. Eu tinha noção de pronúncia, porque estudei canto durante 10 anos. Então, eu sabia regras e ajudava a corrigir os locutores nas gravações, e, qualquer dúvida, nós tínhamos o Paulo Santos, que dava cursos. Eram cursos maravilhosos, e ele fazia apostilhas com regras de pronúncia em russo, em francês em inglês, espanhol e alemão. Você ainda tem essas apostilhas? LG –Tenho.Todo ano ele fazia esse curso. E muitos produtores participavam. Mas eu comecei fazendo programas pra encher os buracos na grade. Se num horário faltava um programa, eu fazia. Atendendo aos Ouvintes, por exemplo, não tinha quem fizesse, então eu fazia. Além de preencher as horas vagas com planilhas musicais – escolhendo as obras, pra não haver repetição e nem choque. Depois, criei uma série, Os Mestres, para um amigo que trabalhou aqui. A série abordava os mestres da música francesa, inglesa, alemã, italiana e espanhola. Cada dia da semana era dedicado a um país. Mas ele foi embora pra Paris, e a série acabou caindo na minha mão. E o MEC Especial ? LG – Foi o Paulo Santos quem fez os primeiros – que eram sobre raridades musicais. Ele fez 3 ou 4 programas e, aí, mudou a direção da Rádio. E já tinha essa série MEC Especial, que era uma coisa que a direção da Rádio queria que continuasse. Então, propuseram que cada produtor fizesse um, por semana. Eu fiz o primeiro, sobre Carlos Gomes, interpretado pelos maiores cantores do mundo: Caruso, Bidu Saião e por aí vai. E esse programa fez um sucesso incrível. Em seguida, outros dois produtores apresentaram programas. Prefiro não citar nomes, mas foi um fracasso. Aí, me Foto Clara Zuñiga Entrevista realizada em maio de 2002 - transcrição Renata Mello pediram que fizesse o 4º programa, e eu fiz um, correndo, focalizando a Cláudia Muzio – eu tenho amigos colecionadores, e corri atrás, e foi um sucesso. Aí, eu fiquei com a responsabilidade do programa e comecei a fazer com raridades incríveis, e começou a sair crítica elogiando. O diretor já era Heitor Salles, que me chamou ao gabinete, dizendo que “em Brasília tinha recebido críticas favoráveis ao programa e tal...”, e ele arranjou outras pessoas pra cuidar da programação. Eu parei de fazer tudo o que fazia e passei a ser só produtor. Nessa época, eu trabalhava também na TVE, no projeto Escadaria do Teatro Municipal, e também na Funarte. Aí, quando houve a coligação da Rádio com a TV, eu optei por ficar na TV – a nossa era a única equipe erudita brasileira na televisão: eu, Aylton Escobar e a Cecília Coelho –, mas o Heitor disse que não abria mão da minha presença, porque ia ser fundada a FM e quem ia tomar conta era eu. Foi em 82. E eu tive que fazer a programação toda da FM, e escrever os programas. E éramos só 3 na equipe: eu, Virginia Portas e Marlene Barton. Antes da FM, fale da OSN, ok? LG – Bom, eu já não peguei o Mignone, que foi o início. Peguei o fim da primeira fase do Bocchino, depois toda a fase do Marlos Nobre e a volta do Bocchino – que foi quando acabou. Mas o mais atuante foi o Bocchino – o regente principal da OSN. Mas também havia muitas gravações de compositores que vinham aqui, gravavam, como Radamés Gnattali. O Guerra-Peixe – um monstro sagrado da música – sentava lá nas fileiras de trás, bem apagadinho, tocando violino; Iberê Gomes Grosso, aquele virtuose do violoncelo; o Botelho, na clarineta; o Devos, no fagote, o Eugene Ranevisk; a esposa dele, a Violeta Kundert, que era do conjunto Música Antiga – o mais antigo do Brasil. Quando eu saí da chefia da FM e voltei a ser produtor, fui nomeado chefe musical e, então, eu programava os concertos, para a sala Cecília Meirelles, da Orquestra de Câmara com o Coro e do Conjunto Música Antiga. (continua na página seguinte) 11 Foto Adriana Ribeiro (continuação da página anterior) Já não havia mais Orquestra? LG – Não. Tinha a Orquestra de Câmara, com o maestro Nelson Nilo Hack, que ficou na Rádio, com alguns remanescentes. O Conjunto de Música Antiga foi desfeito porque todo mundo estava aposentado, e acabou-se um conjunto que atuou durante 40 anos dentro dessa Rádio – e até hoje eu não entendo o mecanismo que levou a essa derrocada toda, sabe? Eu sei que havia problemas. Tinha músico que tocava tuba e já estava idoso e não podia mais tocar – não tinha mais fôlego –, e não se podia botar outro no lugar, porque era funcionário público e não havia dinheiro pra se contratar músicos de fora. Era um milagre como a Orquestra funcionava, porque tinha que vir gente de fora pra cobrir os buracos, e não tinha mais concursos para que se colocassem outros nos lugares. Então, o que eu sei é que jogaram a orquestra lá para a UFF. Com isso, os nossos recitalistas deixaram de gravar e passaram a produzir. Leda Coelho de Freitas, por exemplo, passou a fazer O Cravo e o Piano e Música de Câmara; Silvia Baugartener fazia o Lied . Elas apresentavam o programa? LG – Locutores liam. O Roberto Strutt, que era da orquestra, também passou a ser produtor, fazia o Pequeno Concerto . E os outros produtores? LG – Eram muitos. A Helena Teodoro fazia Origens; o Haroldo Costa fazia Estampas Brasileiras; o Alfredo Canté fazia a Volta ao Mundo; o Walmir Ayala, fazia o Painel de Arte; o Edgard Duarte, fazia A Revista do Livro; e … Quem era Edgard Duarte? LG – Era um escritor, como Mauricio Salles, também. E ainda tinha Ricardo 12 Cravo Albin, com “Os Discos de Hoje”, Alberto Shatovski, com “Cinema”, sem esquecer o Geraldo Guedes, que trabalhou muitos anos e já faleceu. E também do Arthur da Távola e do Marlos Nobre que também trabalham até hoje. E quero lembrar do Fernando Neiva, que passou a ser produtor, depois que eu estava na FM, e da Lilian Zaremba, que entrou junto comigo, na mesma época que a Rosette Waisman. E tinha também o Oswaldo Jardim, o Dom João Evangelista, o Antônio Nobre, o Antônio Hernandes e a esposa, a Nancy Hernandes. E tinha também a Diana Cristina Damasceno, a Gulnara Bocchino, que trabalhou muito, aqui. Era tanta gente que é difícil não esquecer. Tem que falar do Nelson Tolipan, que trabalha há muitos anos; do Maurício Quadrio, que era importantíssimo. Uma vez aconteceu um fato muito gozado. Eu era supervisor de gravação, e chega a Maravilha Rodrigues, muito aflita por causa da apresentação da opereta La Perichole, que se passa no Peru, e o Mauricio Quadrio tinha escrito: “O Peru de Offenbach é muito parisiense”, e ela, aflita: “Como é que eu faço?” Eu disse para ela dizer que “a música do Offenbach é muito mais parisiense do que peruana”. Foi a saída, porque são coisas que acontecem, né? – ainda mais o Mauricio Quadrio, italiano de origem. Tinha muita coisa gozada... Uma vez dona Belmira Frazão também chegou muito chateada porque, na época da ditadura, foi acusada de difundir música comunista no programa Música de Ballet, só porque ela botava as músicas dos russos na Rádio. Não podia nem Prokofieff, nem Tchaikovski – uma coisa absurda. E ela era irmã de um grande embaixador do Brasil, não tinha nada de esquerda. A pobre da Helena Teodoro também era atormentada porque defendia o negro, então era tida também como de esquerda. Noemi Flores, também. Aconteceu alguma coisa? LG – Não me lembro especificamente, mas houve muita coisa com a Helena. Você trabalhou com o Viotti? LG – Não, quando eu entrei ele já tinha saído. Existiam mais de 200 óperas montadas com a voz do Sérgio Viotti. Então, cada semana eu escolhia uma ópera diferente, já montada, e botava no ar. Inclusive, quando eu fazia as programações de ópera, o Zito não estava trabalhando na Rádio MEC – ele estava no Instituto do Açúcar e do Álcool, e não podia acumular. Aí, eu insisti muito para o Heitor Salles trazer o Zito de volta, e conseguimos que ele voltasse, ganhando um pro labore para o trabalho de modernizar e apresentar gravações recentes – porque há muito tempo a Rádio não fazia isso. Também consegui fazer muitas externas naquela época. Hoje, não fazemos mais – não temos meios materiais pra fazer – mas gravei muitas óperas no Municipal. O momento sublime foi a Yerma, do VillaLobos – a única vez que foi levada no Brasil, e nós conseguimos gravar. coros, os trios e quartetos e quintetos e, além disso, há toda a série de solistas. Jacques Klein, por exemplo: temos 3 ou 4 concertos dele, no Municipal. Vocês tem essa fita? LG – Essa gravação sumiu, mas existe em CD, tirado da transmissão da Rádio MEC. Eu gravei, por exemplo, Eliane Coelho, quando veio aqui a primeira vez. A primeira vez que se montou a Flauta Mágica, com artistas brasileiros. Nós gravamos também a Viúva Alegre, com Paulo Fortes, Ruth Staerke e com a Eliane Coelho. Muitas coisas nós conseguíamos fazer, como gravar a ultima vez que Madalena Tagliaferro se apresentou em público. Eu consegui também a última entrevista da Mindinha, e a última entrevista com o nosso inesquecível Francisco Mignone, 19 dias antes da morte dele. Ele deu um depoimento lindo, e fizemos uma série. Mas é propriedade da Rádio? LG – Sim, concerto nosso, com nossa Orquestra, produzido por nós. Nós temos muita coisa aí, internacional, com artistas brasileiros, de suma importância. Essas entrevistas existem ainda? LG – Tudo que foi feito na minha época ´tá guardadinho no acervo. E os que vieram depois de mim sempre me chamavam, antes de apagar qualquer fita. Porque eu proibia. Tudo que era brasileiro – podia ser artista brasileiro tocando Beethoven, não me importava, mas nada podia ser apagado. Então, esses depoimentos estão todos lá. A última entrevista do Guerra-Peixe; a Bidu Saião – eu fiz cinco horas de programas com a Bidu Saião. Quem foi que mandou transcrever as fitas rolos para cassete? LG – Não me lembro. Inclusive essa série que eu falei – MEC Especial – eram gravações raríssimas. Muitas se perderam e muitas eram em fitas-rolo, de uma hora. Agora, só existe a cópia em cassete. Como isso aconteceu eu não sei. Naquela época, a gente nem tinha fita pra gravar os novos programas. Então, me chamavam para saber se se podia apagar tal ou qual programa. Quando era uma coisa comum, com gravações que existem aos milhares – obras de Beethoven, de Mozart, etc. – com essas orquestras mais famosas, então, essas, eu dizia: “Podem apagar.” Mas se era coisa ao vivo e com brasileiros, de jeito nenhum. Eu consegui salvar muita coisa e muita gente tomou essa consciência, depois de mim. Por isso é que é importantíssimo o trabalho que a SOARMEC começou a fazer, de lançar em CDs a nossa memória musical. São gravações de 40 anos atrás que estão aí, em fita, o que é um milagre, porque não há uma preservação dessas fitas, não há uma recopiagem. Já salvei muita coisa em DAT, mas precisava se recuperar urgentemente todo esse acervo. Porque nós temos, além dessas coisas maravilhosas gravadas pelas nossas orquestras, os E a FM, como começou? LG – Ela começou no inicio de 1985, e essa primeira grade quem elaborou fomos eu e a Virginia Portas, que era uma espécie de secretária, como Marlene Barton. A Rádio funcionava de 8 da manhã até meia-noite. Começava com a presença clássica, a Sinfonia, que era produzida pela Rosete; depois vinha Sala de Concerto; Panorama Coral, que era produção da Gulnara Bocchino; depois Classe A; depois vinha Som Maior, com Oswaldo Jardim; No Mundo dos Discos, com Sérgio Nepomuceno; depois Arthur da Távola, com Robert Schuman; depois Nova Dimensão, um programa meu; Arte do Canto, da Aída Bocchino; Cravo e o Piano, da Leda Coelho de Freitas; Audição Especial, que era da Rádio Cultura de SP; Paz de Espírito, com Dom Evangelista Enou; e as Cantatas de Bach, do Zito Baptista Filho. Que critério você usou para a grade? LG – O critério era fazer horários estanques dentro do mesmo dia. Cada produtor tinha seu horário semanal. Por exemplo, o jazz, a música norte-americana e a música de cinema, eram programas da AM, que eram reprisados na FM. A Ópera Completa, que era da AM, aos domingos, na FM era aos sábados. Quando foi chegando o fim do ano, o Heitor Salles me disse que queria que a Rádio começasse a funcionar às 6 da manhã e que fosse até às 2 da madrugada. Então, inventei um programa que era Bom dia com Música, feito por 4 produtores, meia hora cada um. Gravei 800 programas com o Willian Mendonça e Maravilha Rodrigues. Fazíamos módulos de meia-hora, e a gente ia variando todo dia. Essa série, mandaram para Brasília, e era importante que ficasse na Rádio, como memória da época. Eu deixei a FM funcionando das 6 às 2 da manhã. Depois veio a Gulnara Bocchino; depois fui chamado de novo, fiquei um ano e, depois, virei diretor musical. E hoje? LG – Hoje em dia, sou produtor de vários programas: Concerto MEC, ao meio-dia; Música e Músicos do Brasil, que é o segundo programa mais antigo da rádio, depois do Ópera Completa; e produzo o Sala de Concerto e também os Sons do Brasil, que é um programa novo, só de ritmos brasileiros. (continua na pág 14) Nova (?) ferramenta de educação por Regina Salles ara marcar os 80 anos de radiodifusão no Brasil, a Escola de Comunicação da USP e o SENAC de São Paulo estão promovendo um extenso e consistente evento, que começou em junho e deve durar até o final do ano. Além de uma série de oficinas e palestras-debates – cuja proposta é pensar o rádio sob o ponto de vista da realidade brasileira e de suas conseqüências para a nossa sociedade –, está previsto o lançamento de um livro, a montagem de uma peça teatral e, ainda, uma grande exposição sobre o tema. Leia, a seguir, o relato de Adriana Ribeiro, que esteve em São Paulo e assistiu a uma palestra do evento. P Radiodramaturgia para o século XXI entro da programação do evento “Rádio: sintonia do futuro”, o dramaturgo e radialista Chico de Assis realizou uma palestra, seguida de oficina, nos dias 11 e 12 de agosto, tematizando o futuro da dramaturgia no rádio. Chico, que atuou como diretor artístico e de programação com destaque para seus trabalhos na Rádio Tupi-SP e na Jovem Pan - chamou a atenção dos presentes para a existência de um público carente por este gênero radiofônico, e afirmou que quem sair na frente, e voltar a produzir radiodramaturgia, ganha esta audiência - que não é pequena. Mesmo com toda esta visão otimista, um pouco de saudosismo é inevitável quando se fala do rádio no Brasil. Chico não fugiu à regra quando lembrou que, ao entrar na Tupi Difusora, a rádio tinha 4 orquestras — a grande orquestra Tupi era simplesmente a orquestra Estadual —, além de 6 conjuntos de regional e um elenco de aproximadamente 100 a 120 D vozes dramáticas, sem contar os profissionais de jornalismo e de esporte, o que dava à rádio, nas palavras dele, “uma estrutura transatlântica”. Essa estrutura mudou bruscamente, e as rádios sofreram drástica redução de seus quadros. Chico de Assis ressaltou ainda que essa redução não corresponde à realidade do rádio: “o rádio é, em qualquer lugar do mundo, mídia vital, seja comercial, seja cultural, seja educacional. Por dois motivos principais: custo e alcance”. Na oficina que ministrou, o dramaturgo mostrou técnicas de uso de microfone e impostação para conseguir o efeito de “voz de pensamento”, entre outros, e desenvolveu com os alunos textos para rádio-dramas. Interessados em saber mais sobre os outros eventos do projeto podem entrar em contato com o Centro de Comunicação e Artes do SENAC-SP, pelo telefone (0xx11) 38662500 ou pelo e-mail [email protected]. Trechos da palestra de Chico de Assis “É claro que a dramaturgia tem lugar. Qualquer pessoa que entenda de rádio sabe disso. Só não sabe quem está acomodado numa situação de mídia, de programação, mas quem sair na frente ganha o jogo. Como e porque: se você consultar os institutos de pesquisa, você vai ver que há uma tendência de que o público assista um programa desse tipo, no rádio. (...) Tem gente que não entendeu uma coisa básica no rádio. Quando passa uma novela no rádio, a heroína não tem a cara “padrão globo”, ela tem a cara que cada ouvinte imagina que ela tem. Assim, todos os outros personagens. O rádio é interativo por definição. As pessoas constróem, de acordo com seus arquétipos, a imagem da voz que ouvem. Então o poder dramático desse personagem que está dentro de você é outro. (...)O rádio elegeu centenas e centenas de políticos: a televisão não elegeu nenhum. Nem o Sílvio Santos. (...) A emoção no rádio é diferente e, se explorada com meios modernos, ela terá uma resposta. Que coisa fazer? Se você tem a oportunidade de produzir, do ponto de vista educativo, um programa do tipo “conheça a literatura brasileira” via rádiodramaturgia, ele é barato, bonito, agradável e muito bom. Se o teu apelo não é educativo, você pode fazer o que quiser. Qual é a melhor forma hoje em dia? Pedaços pequenos pela programação. Como a faixa de quadrinhos que se tem no jornal. Em cinco ou seis minutos você passa quatro faixas de seqüências de histórias, no estilo quadrinhos, sonoras. É fácil de comercializar, porque entra em rotativa em vários horários, etc. Em seguida a isso, você tem a peça de rádio, que tem que ter um pulso maior - ou semanal, ou quinzenal, ou mensal. Se o projeto é muito grande - vamos supor que vamos fazer as grandes peças de Shakespeare -, então a gente vai fazer uma por mês. (...) Não tem por onde não recomeçar a agir no sentido de reabrir o rádio para a dramaturgia, para que se pudesse inclusive despertar no público de rádio a vontade de assistir teatro, de assistir cinema, de ler. Tudo isso deveria começar nas rádios que tem por obrigação a mídia cultural e a educativa: as rádios públicas e as comunitárias”. artigo abaixo, publicado no JB de 16 de abril de 2003, cita o rádio como uma “nova ferramenta de alfabetização” e informa que a ONG Escola do Rádio, utilizando este veículo, atingiu 212 municípios da Paraíba. A notícia é alvissareira, mas é preciso lembrar que a “nova ferramenta de educação”, está fazendo 80 anos - pois o início do rádio no Brasil se confunde com a criação da radiodifusão educativa. De fato, quando o professor Roquette-Pinto criou, com um grupo de cientistas, a Rádio Sociedade, já existia o objetivo de se usar o veículo para educar e transmitir cultura. Em sua trajetória, o rádio tem sido utilizado, com mais ou menos intensidade, na educação formal e informal. A primeira radioescola, propriamente dita, entrou no ar em 1933, no então Distrito Federal, combinando radioaulas com material impresso – que era distribuído pelos Correios –, e chegou a contar com 20.400 alunos inscritos, um número significativo para a época. Em 1936, quando Roquette-Pinto doou a Rádio Sociedade ao Ministério da Educação e Saúde, foi criado o Sistema de Radiodifusão Educativa (SRE) com o objetivo de promover a irradiação de programas de caráter educativo. Na década de 50, o SRE possibilitou a criação do Colégio no Ar, que transmitia cursos de Literatura e Língua Inglesa e Francesa, além de aulas de Português,Geografia, História Natural, Física e Química, produzidas e transmitidas ao vivo por renomados professores dessas disciplinas. O precursor da radiodifusão educativa na região sul, foi o Colégio no Ar transmitido pela Fundação Padre Landell de Moura, do Rio Grande do Sul. No Nordeste, o Movimento de Educação de Base (MEB) O desenvolvido pela Igreja Católica, merece ser citado como uma das experiências na área de educação não formal via rádio. O MEB chegou a alfabetizar quase meio milhão de camponeses, através de 5 mil grupos locais. No regime militar, com o Decreto 236, de 1967, que instituía um horário obrigatório para a transmissão de programação educativa em todas as emissoras, foi criado o Projeto Minerva, que viabilizou a produção e veiculação em todo o Brasil dos cursos Supletivos de 1º e 2º Graus, nas décadas de 70 e 80. Apesar das dificuldades de uma produção centralizada, que não levava em consideração as diferenças regionais, o Projeto Minerva foi, durante muito tempo, a única opção de curso supletivo no interior do país. O rádio já demonstrou o seu potencial como meio auxiliar na difusão da educação e cultura, e é lastimável que esses projetos não tenham tido continuidade. As características do rádio, tais como o baixo custo de produção e veiculação, a facilidade de manuseio, permitindo que as pessoas aprendam sem sair de casa ou do local de trabalho, o tornam o veículo por excelência para promover educação a distância das comunidades menos favorecidas, em especial, no interior do país, onde uma ampla parcela da população não tem acesso à escola, nem a informações básicas para que se tornem cidadãos ativos e participantes. A radiodifusão brasileira conta com uma rede 3 mil emissoras, transmitindo em AM, FM e ondas curtas, atingindo todo o país. Desse total apenas 3%, ou seja, cerca de 90, são emissoras educativas que, no entanto, em sua maioria, não cumprem o seu papel na difusão de educação e cultura. Por que não utilizar essas emissoras para formação de uma rede de programas de educação a distância via rádio? Rádio ajuda a alfabetizar O rádio como ferramenta de alfabetização é a novidade que será apresentada até o início do mês de junho para o Ministério da Educação. O projeto elaborado pela Fundação Getulio Vargas, pelo Instituto Paulo Freire e pela ONG Escola do rádio foi adotado em 2002 nos 212 municípios da Paraíba, atingiu 80 mil pessoas e registrou um índice de evasão de 7,9%. Bem menor que a média nacional que gira em torno de 50%. O método foi desenvolvido durante cinco anos e passou por três experiências-piloto em pequenas comunidades da Amazônia antes de ser adotado na Paraíba. Além de 42 programas de rádio durante cinco meses, o projeto utiliza material didático específico para que os alunos acompanhem as aulas, um programa semanal de TV e professores que uma vez por semana auxiliam no progresso dos alfabetizandos. A vantagem de se utilizar esse método é justamente evitar altos índices de evasão dos alunos – diz o diretor da Escola do Rádio, Eduardo Giraldez. Ele explica que muitos analfabetos que trabalham nas zonas rurais desistem dos cursos de alfabetização por que não conseguem conciliar o trabalho com os estudos. O mesmo ocorre com donas de casa não conseguem se afastar todos os dias dos afazeres domésticos para participarem de aulas comuns. O rádio resolve esse problema. O aluno pode acompanhar as lições em casa – ressalta Giraldez. Por André Noblat (JB, 16/04903) Não sou rica, mas não tenho inveja de ninguém. Só de quem sabe ler. Maria das Graças da Silva, que sabe escrever apenas o primeiro nome, na Folha de São Paulo 13 Prata da Casa (continuação da pag 12) Fale dos diretores que você conheceu, e também de um cargo importantíssimo que foi sumindo: o de Diretor Artístico. Você entrou no tempo do Tróia. E o diretor artístico, quem era? LG – Reginaldo Magalhães. O Comandante Tróia, a gente nunca tinha muito acesso, porque a direção da Rádio sempre foi muito fechada aos produtores, em geral. Então, eu tratava diretamente com o Reginaldo, com quem eu trocava idéias. Uma característica nossa, logo quando eu entrei, foi reduzir os textos, que eram muito literários – às vezes um programa de meia hora tinha 6 a 8 páginas, sabe? E depois do Tróia? LG - Foi o José Candido de Carvalho, que a gente só via entrar e sair. Não tive o mínimo contacto com ele: se eu disse uma ou duas vezes "boa tarde", foi muito. E não lembro o nome do diretor-artístico. E o diretor-artístico do Heitor ? LG – Fui eu. Quais as realizações do Heitor? LG – Conseguiu material, fitas – que era uma dificuldade. Condições de estúdio para gravar. Realmente, foi uma época em que a gente pode respirar um pouco mais. Porque ele arranjava – com influência do pai, talvez, com Brasília. Tanto que ele ficou muitos anos e era muito querido pelos funcionários. Fez uma tabela para locutores, para produtores, e regularizou essa situação, que era muito indefinida, com cargos e comissões. Ele interferiu na programação? LG - Eu posso contar uma conversa que ele teve comigo e disse: "Lauro eu não entendo nada de música erudita. Gosto, sim, em raros momentos, então eu não vou me meter naquilo que eu não entendo, deixo por tua conta." Então ele era um sujeito que deixava a gente trabalhar: não se metia. Ele queria que o negócio funcionasse e funcionasse bem, e no que ele podia melhorar as condições – por exemplo, as externas que eu pedia – ele melhorava. Ele arranjava carro pra levar, pagava lanche para os funcionários ficar até 2 horas da manhã gravando no Municipal. E ele não fechava a porta do gabinete. Apesar de ser uma coisa distante – não era como a da nossa última diretora, a Regina Salles, que era uma companheira nossa e então a gente entrava à vontade. Ele comprou algum equipamento? LG - Não posso precisar, porque era muita coisa miúda, mas comprou, sim. Me lembro que vieram microfones E também fitas, porque antes a gente não tinha condição de trabalho, sabe? E essa condição de não poder apagar as fitas –, ele sabia da importância da nossa cultura, disso ele tinha consciência. Dos diretores que eu conheci, ele foi o que mais se bateu pela Rádio. As outras direções, eu vou te dizer. Luiz Brunini ficou meses aqui. Também aquele negócio de 'bom dia' e 'boa tarde'. Acho que não chegou a influenciar na programação. Depois tivemos o Luiz Paulo Porto, que ficou ano e meio. Esse já foi mais ativo, mas não tive muito contato, porque eu não tinha nada a ver com a programação, na época. senhora. Deve ter sido muito inoperante, porque não me lembro. E, depois, veio a Márcia de Souza Queiroz, que era nossa companheira, e que ficou pouco tempo, também. E foi um tempo bom, porque, como colega e como amiga, a gente tinha muita liberdade de trabalho e foi uma época muito boa de se trabalhar – porque não havia conflito. Aí, depois, voltou de novo o Heitor Salles, ficou mais 1 ano e foi substituído pelo Paulo Henrique Cardoso, que quis popularizar a Rádio, que não gostava muito da música erudita, mas que não teve muito o que fazer na FM – ele mexeu mais na AM. Na época, ele queria popularizar, botar funk, botar coisas de rádio comercial. Houve um certo mal-estar, mas ele não era inacessível. E o diretor- artístico dele? LG -Acho que já era a Gulnara Bocchino. Realmente, não me lembro. Porque o Paulo Santos também foi diretor artístico um tempo imenso e, aliás, muito bom diretor artístico, porque o Paulo entendia muito de música erudita. Coninuando, Depois tivemos a Thais de Almeida Dias, que também ficou um ano e meses, mas mexeu muito na programação. Ela era uma educadora e dava uma ênfase maior ao ensino. O ensino era uma coisa à parte, na Rádio, mas a gente não pode esquecer dos educadores que aqui trabalharam e que lutaram muito, também. Depois do Heitor veio o Saens. LG – Ele veio com um rádio mais liberal, com uma política mais do PT, que pela primeira vez entrou aqui na Rádio, mas que também não influenciou muito na FM, que era o meu setor. Ele deu mais força para o jornalismo, que, aliás, essa força tinha vindo até de antes, mas ele enfatizou mais o jornalismo. E depois, então, veio a Regina Salles, que foi uma batalhadora e fez um trabalho magnífico. Por ela ter vindo da produção da Rádio, como educadora, ela revolucionou, porque ela discutia a Rádio com a gente, fazia reuniões, as portas estavam abertas, todas as sugestões eram estudadas, todos os projetos eram discutidos. Essa tentativa de recuperação da memória da Rádio, que há anos eu me batia por isso. Porque todo esse projeto nasceu da minha descoberta dos irmãos Gnattali tocando Nazareth. Mas não havia verba, e, depois, com esse negócio de TV junto é que a Rádio foi preterida mesmo. Então, a Regina Salles foi a primeira, sabe, que movimentou. E não vamos esquecer que ela foi eleita pelos funcionários. Foi uma época muito boa para a emissora, e conseguimos, junto com a SOARMEC, criar toda esse arquivo sonoro com a série Repertório Rádio MEC que, infelizmente, está parada. Desde que acabou a estrutura E depois da Thais? LG - Heitor Sales. Ele voltou e nós implantamos a FM. João Henrique ficou com a AM, e eu fiquei responsável pela FM. Então fizemos duas programações estanques e começou a vida independente de cada uma emissora. Claro que, até hoje, passam programas da AM na FM, mas é o mínimo. Então, depois dessa gestão do Heitor Salles, que foi seguir a vida dele como político, tivemos, o Eduardo Fajardo, que é um companheiro nosso, mas que foi negócio de dois meses. Depois a dona Maria Angélica Borges, que ficou aqui também alguns meses, e juro que não lembro nem do rosto dessa Esse rodízio de diretores já demonstra o descaso para com a Rádio. LG - Porque, politicamente, a direção deixou de ser um cargo desejável. Então, as pessoas que vinham aqui, vinham tapar buracos: não para trabalhar pela Rádio. da Rádio MEC oficial e passamos a ser ACERP, não conseguimos um apoio substancial do Governo, para realizações. Houve tempo em que o produtor do programa tinha um assistente de produção; e tinha, se precisasse, um repórter, um sonoplasta e até um cast de rádio-teatro, inteiro. Fale disso. LG – Pois é, a gente tinha uma infraestrutura para realizar isso tudo. Mas, a partir da derrocada total da nossa Orquestra, dos nossos corpos estáveis – e aí foi junto a nossa Orquestra de Câmara, o Trio, o Quarteto de Cordas, e o rádioteatro, também. Agora, a ACERP funciona com muita deficiência, porque não tem dinheiro. Então, por exemplo, todos os meus programas, eu realizo sozinho – com os técnicos da Rádio, claro, não é? Mas não tenho assistente de direção, não tenho uma equipe que trabalhe junto comigo. Tem o nosso gerente de produção, o Paulinho Neto, tem o nosso chefe, que é produtor também, o Sérvio Túlio, que comanda essa parte, mas a infraestrutura a gente não tem – cada um produz o seu, porque, infelizmente, a gente está muito sem material humano e também sem material técnico. As nossas maquinas enguiçam, não tem mão-deobra pra retorno, pra reforma dessas maquinas, ou computadores suficientes. A maioria dos produtores, como eu, tem computador em casa e já traz tudo pronto. Porque se a gente fosse contar com o que tem aqui, não daria. Há alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar para concluir? LG – Eu tenho uma grande esperança – falo em futuro, porque meu tempo aqui está terminando. Eu já estou aposentado, voltei, fui contratado pela ACERP, para continuar essa batalha, estamos batalhando até hoje, e o meu grande sonho é que a ACERP consiga transformar essa rádio numa coisa viável para voltar a ser a emissora oficial do País. Eu gostaria que voltasse a Orquestra, que nós tivéssemos um novo Trio da Rádio Mec, um novo Quarteto, um novo Coral, uma nova Orquestra de Câmara, um novo Quinteto, um novo conjunto de música antiga, um regional da Rádio MEC, pra tocar o regional brasileiro autêntico, e todos os solistas virem aqui tocar, gravar aqui – que era o que era feito antigamente –, que se voltasse àquele tempo antigo. “Meu diário de Lya”, livro de Élvia Bezerra, é uma biografia memorialista de Lya Cavalcante. Fundadora da Sociedade Protetora dos Animais, jornalista e tradutora, Lya trabalhou como locutora na BBC, durante a 2ª Guerra Mundial (foto) e também na Rádio MEC, como cronista. Sua biógrafa conta em seu livro a história dessa brasileira, que privou da amizade de notáveis como Guimarães Rosa, Villa-Lobos e Carlos Drummond de Andrade, e nos relata episódios desses e de outros importantes personagens brasileiros do século XX. “Meu diário de Lya” foi lançado pela editora Topbooks , e tem 268 páginas. Visite a Biblioteca Tude de Souza, que funciona de 2ª a 6ª , de 12 às 15 horas. Acesse nosso site e confira a relação de títulos de nosso acervo. Lá você encontrará também “Tempo, Vida e Poesia”, registro das conversas de CDA com Lya Cavalcanti, que foram transformadas em programas transmitidos pela Rádio MEC. 14 Ruídos da sintonia pública por Adriana Ribeiro O 11° ANDAR do edifício da Av. Erasmo Braga, 118, jaz um busto de RoquettePinto. Quem não for bom fisionomista ou não tiver atentado para a pequena indicação que há no térreo, dificilmente vai adivinhar a identidade do homenageado. Apesar de a Rádio que leva o nome do patrono da radiodifusão ficar naquele andar, há tempos que, por lá, Roquette-Pinto é só um busto sem identificação. Emissora do Estado do Rio de Janeiro, a Rádio Roquette-Pinto dispõe de duas concessões: uma de AM e outra de FM. Esta, ultimamente conhecida por 94 FM, está em pleno funcionamento, e, segundo seu presidente, ocupa o 7° lugar na audiência, com uma programação 90% musical, de pagode, funk (seis horas diárias, hip-hop e samba `veja grade abaixo. Enquanto isso, a AM, com sinal fraco e cheio de ruídos, promove um espetáculo de entra e sai do ar ` segundo o baile das trocas governamentais ` e, certamente, não tem público que a conheça, nem por seu nome, nem por sua freqüência no dial. Atualmente, sua programação vem repetindo a programação da FM, ou N transmitindo samba e MPB, sem locução. Pode-se dizer que a atual programação da FM tem alguns acertos: estar em sintonia com o gosto popular é um deles. Não há nada de errado em ser popular, desde que se tenha em mente, por exemplo, um bordão como o do atual Ministro da Cultura, Gilberto Gil – “O povo sabe o que quer, mas o povo também quer o que não sabe”. No entanto, a diretoria da Rádio nada promove de novo: nem informação, nem campanhas educativas, e sequer usa as de outras organizações ` que são distribuídas gratuitamente. Cabem aqui algumas perguntas. Por que não se fazem parcerias com a UERJ, que tem laboratórios de rádio, cursos de línguas e de pedagogia? Por que não há parcerias com as próprias Secretarias do Governo, que poderiam promover campanhas de saúde, de educação, de ecologia e de divulgação científica, entre outras? Para que existir uma rádio pública se sua programação é igual a tantas rádios comerciais? A atual Governadora e seu esposo, radialista de profissão e de coração, segundo nos parece, poderiam dar mais atenção a esse veículo de comunicação tão popular e eficaz. Os ouvintes de rádio agradeceriam. HORÁRIO 00:00h às 02:00h PROGRAMA Madrugada 94 02:00h às 05:00h 05:00h às 07:00h 07:00h às 10:00h Forró em dose Dupla Nossa raíz Show do Mário Belisário Braga Jr Cássio Rocha 10:00h às 14:00h 14:00h às 17:00h Clube do Samba 94 Samba Show Gláucia Araújo André Ricardo 17:00h às 18:00h Furacão 2000 Rômulo Costa 18:00h às19:00h Castelo das Pedras Geiso Turques 20:00h às 21:00h 21:00h às 22:00h Glamourosa Pipo’s Verônica Costa 22:00h às 23:00h 23:00h às 00:00h Sucesso dos Bailes Nossa raíz Hamilton Batata Zeno Bandeira Adágio Músicas e Instrumentos Ltda. APRESENTADOR Zeno Bandeira Mário Belisário Washington Dj NÚMEROS DA CAO Tabulação feita por Renata Mello, com base nos relatórios semanais da Central de Atendimento ao Ouvinte, de 18/03/2003 a 31/09/2003. Total de ligações: 2980 em 196 dias, numa média de 15,2 ligações por dia MEC AM Total de ligações • Para o Caderno Manhã • Para o Cia. do Samba • Reclamações sobre a transmissão • Informações e Sugestões • Elogios • Críticas • Reserva Ao Vivo ent. Amigos • Participaram de promoções • Demanda de Grade Programação • Participação em Escutar e Pensar • Reserva para A Fina Flor Total de ligações • Participaram das promoções • Informações e sugestões • Reservas Sala de Concerto • Atendendo aos Ouvintes • Reclamações sobre a transmissão • Pedidos de grade • Elogios • Críticas 1905 237 450 787 259 11 38 66 57 Coluna do Conselheiro Esperamos que na reunião do CONSAD, no dia 5 de setembro, marcada para ser realizada no auditório da Rádio MEC, seja noticiado, também, a data prevista para o repasse dos recursos orçamentários do governo Lula, para a ACERP. Yacira Peixoto Uma gestão em andamento Nota da Redação: ATUAL direção da ACERP-OS vem trabalhado intensamente para assegurar a maior credibilidade e a valorização da nossa Organização Social, já tendo implantado diversas iniciativas nesse sentido. No dia 8 de agosto, em continuidade a esse projeto, divulgou diretrizes de trabalho e as ações planejadas, que envolvem toda a equipe da empresa. Os trabalhadores da casa compareceram, maciçamente, ao estúdio 3, diante da convocação da presidente Beth Carmona , que deu, na ocasião, conhecimento detalhado sobre o projeto de TV Pública, tão focalizado e anunciado pelo Ministro Gushiken, no dia de sua posse, neste mesmo auditório. Fomos informados pela Conselheira que, na citada reunião de 7 de setembro, foi decidido que: 1) o organograma da Rádio volta a ter o cargo de Diretoria, em lugar de Gerência, assim como na TV; 2) deverá haver mudança no Estatudo da Acerp, para que ele se adapte ao novo Código Civil; 3 )entre 30 a 60 dias deverá acontecer outra reunião e, também, que tais reuniões deverão ocorrer 4 vezes a cada ano. Além disso, o Conselho tomou conhecimento das providências tomadas pela ACERP com relação ao furto do aparelho comprado pela SOARMEC(veja matéria na página 4). A MÚSICA CURSO DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA Toque um instrumento! Participe de conjuntos! Crie sua música! Cante! Os melhores professores de música popular brasileira estão no CBM. CURSOS BÁSICOS Gerente Pça. Tiradentes, 9 sl 308 - Centro - RJ Tel/Fax: 2220-0846 Carlos: tel 2521 3311 Jandira S. Lopes 1075 71 17 08 259 80 20 583 06 08 13 10 Central de Atendimento ao Ouvinte - CAO Tel: 2252-8413 Teoria. Ritmo e som. Harmonia. Arranjo. Percepção musical. Partituras, Métodos e Álbuns em geral Conserta-se instrumentos musicais Vendas em Consignação MEC FM Informações e inscrições: Tel/fax (021) 240 6131 / 2405481 e-mail: [email protected] 15 Ópera Completa por Zito Baptista Filho MEC FM Domingos, 17 hs 02 - PURCELL: DIDO E ENEIAS MOZART: O RAPTO DO SERRALHO 09 - TCHAIKOVSKY : IOLANTA 16 - MASSENET: WERTHER 23 - CHARPENTIER: LOUISE 30 - MONTEVERDI: ORFEU DEZEMBRO PROGRAMAÇÃO NOVEMBRO 07- GLUCK: ALCESTE 14 - PUCCINI: MADAMA BUTTERFLY 21 - MOZART: A FLAUTA MÁGICA 28 - VERDI: AÍDA
Documentos relacionados
AMIGO 34.qxd
SOARMEC obteve, assim, mais um incontestável reconhecimento dos serviços prestados à cultura brasileira e ao rádio educativo-cultural. Veja fac-simile da notificação, ao lado.
Leia maisO décimo sétimo CD
PRESIDENTE DE HONRA: Beatriz Roquette-Pinto DIRETORIA: PRESIDENTE: Hidelbrando de Araújo Góes VICE-PRESIDENTE: Regina Salles TESOUREIRO: Roberto Cartaxo Rios ATIVID. CULTURAIS: Allan Lima COMUNICAÇ...
Leia maisAMIGO 33.qxd
escrita aos interessados em conferir a história administrativa dos Amigos Ouvintes – livros de atas das Assembléias e do Conselho Fiscal, cópias da Prestação de Contas, e vários exemplares encadern...
Leia mais