O penis bifurcado 23 mar.o 2004.p65

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9 788588 319608
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O PÊNIS
BIFURCADO
DE SATÃ
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O pênis bifurcado de Satã
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MAURÍCIO ÁLVAREZ
O PÊNIS
BIFURCADO
DE SATÃ
ARTE, IMAGEM E CINEMA
Ensaio sobre o 11 de Setembro
Copyright © 2004 José Maurício Saldanha Álvarez
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Capa
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Presentation
L’histoire est une science des actions et des
représentations de l’humanité, qui doit se pratiquer à
partir de traces et d’archives de qui est arrivé. Elle
est de nos jours exposée à un double défi, d’une
part approcher de plus en plus du présent, pour aider
à la compréhension de l’actualité, ce qui l’oblige à
élargir ses méthodologies, d’autre part, dans le sillage
de l’épistémologie herméneutique, incorporer l’acte
même du discours et le contenu du récit dans la
connaissance de l’événement. Relever ces deux défis
peut certes fragiliser la discipline mais aussi l’inciter
à une connaissance plus complète et plus riche
(comprendre et non seulement expliquer) des faits.
Les travaux de José Maurício Saldanha Álvarez
illustrent bien cette dernière option.
En s’attachant à comprendre l’attentat du 11
septembre 2001 à New York, ils se donnent comme
objectif de saisir comment un événement exceptionnel
peut aussi devenir paradigmatique, en nous obligeant
à une pratique herméneutique de l’histoire la plus
immédiate. L’attentat new yorkais constitue en effet
une sorte d’événement prototypique de la nouvelle
ère de la communication planétaire. Concentré d’une
violence inouïe, la destruction par voie aérienne des
deux tours est aussi un prodigieux événement
médiatique puisqu’il a été filmé et vu en instantané
dans le monde entier. Pour la première fois à cette
échelle, l’histoire produit son propre document,
répondant ainsi d’ailleurs à la finalité même des
terroristes qui était d’obtenir un effet médiatique de
sidération des esprits autant que de destruction de
bâtiments symboliques et de leurs populations.
L’historien se trouve donc devant un événement
communicationnel, non plus seulement par accident,
mais par essence. Cette consistance symbolique de
l’attentat, visionné en boucle sur les chaînes de
télévision, produit de surplus une réponse politique
elle-même hautement structurée par le mythe. La
violence ainsi médiatisée nourrit en retour une
stratégie de contre-attaque où le langage mythique
(affrontement manichéen des forces du mal contre
les forces du bien) devient, au même plan que la
réponse judiciaire ou géopolitique, l’événement
majeur. Ainsi le terrorisme du 11 septembre vient
valider, par sa nature même, la nouvelle démarche
épistémo-logique qui place les structures mythiques
au coeur de l’intelligence de l’histoire, au même titre
que les structures matérielles ou institutionnelles. Les
travaux de José Maurício Saldanha Álvarez, qui
prennent en compte ce couplage du médiatique et
du mythique, sont non seulement éclairants sur
l’événement bouleversant lui-même, qui inaugure
sans doute une ère nouvelle de l’histoire mondiale,
mais permettent d’expérimenter une pratique
épistémologique novatrice de l’histoire qui
va devoir de plus en plus intégrer l’image et le texte
(la télévision et le mythe) qui accompagnent ou
motivent les événements, dans l’intelligence même
de ces événements. Parions sur les promesses à venir
d’un tel enrichissement du travail de l’historien de
demain.
Jean-Jacques Wunenburger
Apresentação
A história é uma ciência das ações e das representações da humanidade, que se deve praticar a
partir de traços e de arquivos do que aconteceu. Em
nossos dias, essa ciência está exposta a um duplo
desafio: de um lado, aproximar-se, mais e mais, do
presente para ajudar à compreensão da atualidade, o
que obriga a ampliar suas metodologias; de outro lado,
na esteira da epistemologia heurística, incorporar, no
conhecimento do fato, o ato mesmo do discurso e o
conteúdo da narrativa. Relevar esses dois desafios
pode, com certeza, tornar frágil a disciplina, mas, também, incitá-la a um conhecimento mais completo e
mais rico (compreender e não apenas explicar) dos
acontecimentos.
Os trabalhos de José Maurício Saldanha Álvarez
ilustram bem a última opção. Esforçando-se por compreender o atentado de 11 de setembro de 2001, em
Nova York, dão-se como objetivo apreender como
um acontecimento excepcional pode também tornarse paradigmático, obrigando-nos a uma prática mais
imediata da hermenêutica da história. Com efeito, o
atentado novaiorquino constitui uma espécie de fato
prototípico da nova era da comunicação planetária.
Concentrando uma inaudita violência, a destruição
por via aérea das duas torres é, ainda, um prodigioso
evento mediático, pois que foi filmado e visto instantaneamente no mundo inteiro. Pela primeira vez, nessa
escala, a história produz seu próprio documento, aliás, correspondendo assim à própria finalidade dos
terroristas, que era a de obter um efeito mediático de
sideração dos espíritos tanto quanto de destruição de
prédios simbólicos e de suas populações. Portanto, o
historiador encontra-se diante de um evento
comunicacional, não mais apenas por acidente, mas
por essência. Essa consistência simbólica do atentado, assistida em cadeia pelos vários canais de televisão, produz, além do mais, uma resposta política, em
si mesma altamente estruturada pelo mito. Em retorno, a violência, assim meaditizada, alimenta uma estratégia de contra-ataque, em que a linguagem mítica
(afrontamento maniqueísta das forças do mal contra
as forças do bem) se torna, no mesmo plano que a
resposta judiciária ou geopolítica, o acontecimento
maior. Dessa forma, o terrorismo de 11 de setembro
vem validar, por sua própria natureza, a nova diligência epistemológica, que coloca as estruturas míticas
no coração da inteligência da história, no mesmo nível que as estruturas materiais ou institucionais. Os
trabalhos de José Maurício Saldanha Álvarez, que
levam em conta esse recorte do mediático e do mítico,
são, não somente esclarecedores a respeito do evento, em si mesmo estarrecedor, na medida em que inaugura, sem dúvida, uma nova era da história moderna,
como também permitem experimentar uma prática
epistemológica inovadora da história, que vai, cada
vez mais, ter que integrar a imagem e o texto (a televisão e o mito), que acompanham ou motivam os
acontecimentos, na inteligência mesma desses acontecimentos.
Apostemos nas promessas vindouras de um tal
enriquecimento do trabalho do historiador de amanhã.
*Tradução de Latuf Isaias Mucci
Prof. Dr. Latuf Isaias Mucci
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J’ai conçu por mon crime une juste terreur;
J’ai pris la vie en haine, et ma flamme en horreur;
Je voulais en mourant prender soin de ma gloire.”
“Eu concebi para meu crime um justo terror
Eu levei a vida em cólera e minha chama em horror
Eu desejava ao morrer cuidar de minha glória.”
(tradução livre)
Phèdre, Racine
Sumário
Prólogo ................................................................. 13
Capítulo 1 - A morte dos mitos ............................... 24
Capítulo 2 - O lugar da História ............................. 39
Capítulo 3 - Reconstruir e representar ................... 54
Capítulo 4 - Estética das imagens do Cinema
e o ataque ....................................................... 69
Capitulo 5 - A cartografia mental: imago mundi ... 83
Referências .......................................................... 93
12
Prólogo
Era uma vez a manhã do dia 11 de setembro de
2001. Eu terminara de ler um livro que me causou
um forte impacto. Ele relatava a destruição provocada por um inesperado ataque holandês à cidade
de Antuérpia no dia 5 de abril de 1585. A tática empregada pelos insurgentes batavos para golpear os
ocupantes espanhóis foi simples e efetiva: abarrotaram de pólvora e fragmentos de ferro uma inocente
nave mercantil que não despertaria suspeitas da vigilância. Acenderam mechas de fogo na carga mortífera e deixaram a embarcação vogar em chamas
até o cais da cidade, onde tropas espanholas embarcavam para frente de batalha. Ao explodir, a nau
mercante, transformada em artefato mortal, causou
o maior número de vítimas então conhecido e resultante de uma única ação humana. O público daquele
tempo, informado do ocorrido, ficou chocado com a
amplitude da destruição e da mortandade produzidas. Após este episódio, conhecido como o “inferno
ardente de Antuérpia”, os ocupantes espanhóis se
deram conta de que teriam que enfrentar um corajoso antagonista, dotado de têmpera empedernida.
Ao cair daquela noite de setembro, eu releria este
trágico capítulo. Recordei-me de Guy Debord, que
afirmou que somente a História poderia desmistificar
a fraude do espetáculo. A tragédia remota ocorrida
no século XVI, durante a cruenta guerra de inde13