PLANO DE TRABALHO - BOLSISTA DE PÓS
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PLANO DE TRABALHO - BOLSISTA DE PÓS
PLANO DE TRABALHO - BOLSISTA DE PÓS-DOUTORADO SÊNIOR CNPqSEGUNDO ANO DIVERSIDADE, ENDEMISMO E ANÁLISE BIOGEOGRÁFICA DE SILURIFORMES EM SISTEMAS HÍDRICOS POUCO EXPLORADOS NO EXTREMO SUL DA BAHIA (OSTEICHTHYES: OSTARIOPHYSI) PROJETO BIOBAHIA PLANO DE TRABALHO PARA O SEGUNDO ANO Bolsista: Luisa Maria Soares Porto Coordenadora de Pós-doutorado: Rosana Mazzoni Agosto/Setembro 2007 Introdução Este Plano de Trabalho destina-se a apresentar a proposta de atividades para o segundo ano de execução do projeto “Diversidade, endemismo e análise biogeográfica de Siluriformes em sistemas hídricos pouco explorados no Extremo Sul da Bahia (Osteichthyes: Ostariophysi)”. Trata-se de bolsa concedida pelo CNPq para Projeto Pós-Doutorado Sênior – PDS, com número 154.358/2006-1 e vigência de 01/10/2006 a 30/09/2007, realizado com apoio da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob a supervisão da Dra. Rosana Mazzoni. O projeto (BioBahia) busca investigar os sistemas hídricos, de pequeno e grande porte, que desembocam no extremo sul baiano e verificar a possibilidade de métodos de avaliação de endemicidade como indicadores de áreas de conservação da biodiversidade. Proposta para o Segundo Ano As bases da proposta para o segundo ano do projeto são as já foram apresentadas no projeto original aprovado pelo CNPq. Assim sendo, este plano limita-se a detalhar e discutir melhor as atividades inicialmente previstas para o segundo ano. Ao definir-se uma metodologia para uma avaliação biogeográfica é fundamental tornar explícito seu objeto e objetivo (Araújo, 1998). A inconsistência das múltiplas definições de biodiversidade (Noss, 1990) e a indefinição sobre as medidas necessárias para a sua conservação (De Long, 1996), tornam estas definições prévias imprescindíveis. Por esta razão é aqui detalhado, com base na experiência adquirida no primeiro ano (ver Relatório Técnico), como serão atingidos os objetivos propostos no projeto original e quais os enfoques metodológicos para cada um deles. Os objetivos apresentados originalmente podem ser subdivididos em quatro metas que serão a base para o cronograma deste segundo ano da pesquisa: (1) Estabelecer padrões de distribuição geográfica das espécies de Siluriformes nas bacias do Extremo Sul da Bahia utilizando o método PAE (2) Avaliação das possibilidades deste método como indicador de áreas de conservação da biodiversidade. (3) Estabelecer proposições de conexões pretéritas entre as bacias e possíveis origens da ictiofauna regional. (4) Investigar o papel dos divisores de água no possível isolamento da ictiofauna para as drenagens litorâneas na área de estudo. Padrões de distribuição geográfica Sabemos que as espécies não se distribuem aleatoriamente, diversos fatores históricos e ambientais determinam estes limites de distribuições. A busca dos fatores determinantes da distribuição é de grande importância, pois permitem a construção de modelos preditivos. Dispomos atualmente de uma ampla gama de métodos para estabelecimento dos padrões de distribuição. Nenhum destes métodos por si só poderá nos dar todas as respostas que a complexidade multidimensional da construção da biodiversidade demanda. As áreas geográficas são sistemas abertos e têm histórias múltiplas e complicadas, de modo que não há como explicar de uma maneira simples os padrões biogeográficos (Funk, 2004). Os métodos históricos são os que permitem elucidar as conexões pretéritas entre as áreas e desta forma nos dar uma explicação da existência dos padrões de distribuição de uma determinada área. Mas muitas vezes o que nos interessa são estes padrões em si e não suas explicações. Os métodos históricos não levam em conta a ecologia das espécies (Cerqueira, 1995) que tem grande importância na identificação dos padrões de distribuição regionais. No caso específico das espécies de água doce, elas estão sujeitas as variações muito significativas por fenômenos recentes que não podem ser determinados por padrões históricos. Na região de estudo, por exemplo, o forte desmatamento ocorrido e a destruição quase completa da mata ciliar nos últimos 30 a 50 anos têm uma influência na distribuição da fauna de água doce, com possibilidades inclusive ter provocado extinções locais. Tal influência só poderá ser detectada por métodos que considerem os diversos valores ecológicos envolvidos. O objetivo inicial estabelecido no projeto de determinar a distribuição geográfica na área de estudo para Siluriformes poderá ser ampliado em vista dos dados obtidos na sua primeira fase. A ictiofauna da área de estudo está dividida em dois conjuntos principais, caracterizadas por similaridade de características ecológicas e da história evolutiva: a ictiofauna marinha e a ictiofauna de água doce. Assim propomos ampliar o objetivo inicial para o estabelecimento da distribuição geográfica da ictiofauna de água doce. Já em 1938, George Myers, propôs uma classificação ecológica para os peixes de água doce baseados em sua tolerância intrínseca à água salgada. Esta classificação se revela bastante oportuna para o estabelecimento de padrões geográficos em regiões costeiras. O grupo primário são aqueles intolerantes à água salgada, os secundários são os tolerantes a água salgada, mas que preferem água doce e finalmente os periféricos são aqueles capazes de realizar osmoregulação e de mudar de um ambiente para outro. A restrição à água doce assume ancestralidade de determinados grupos, como os Ostariophysi, a distribuições continentais. Peixes com origem presumível em águas continentais vêm a ser bons indicadores de conexões pretéritas entre bacias hidrográficas. De forma geral os passos que serão realizados neste segundo ano de projeto para atingir o objetivo aqui determinado serão: • Confirmação dos dados históricos no que se referem à existência de espécies não coletadas pelo Projeto BioBahia com visitas a museus para examinar estes exemplares (ver Relatório Técnico). • Comparação mais detalhada de todas as espécies não identificadas, para sua descrição quando possível ou pelo menos para o estabelecimento de diferenças morfológicas entre elas. • Construção de um quadro o mais completo possível com as espécies da área de estudo, classificando-as pelos grupos reconhecidos regionalmente. • Discussão crítica dos diversos índices e métodos a serem utilizados para definição da distribuição geográfica. • Construção dos mapas de distribuição geográfica para cada um dos grupos de peixes de água doce. Métodos indicadores de áreas de conservação A definição de áreas para conservação da biodiversidade é hoje uma preocupação global como forma de minimizar os grandes impactos ambientais produzidos pela economia moderna. Estas definições acontecem em vários níveis de escala. Pretende-se investigar a possibilidade do uso de algum destes métodos na investigação de áreas recomendáveis para preservação dentro da área de estudo do projeto. Dispomos de um arsenal metodológico bastante rico para estas avaliações. Será conveniente o uso de outras metodologias em conjunto com o método PAE, proposto inicialmente, até mesmo como recurso para uma avaliação das possibilidades entre estes métodos. Por outro lado, deve ficar claro que os objetos destas avaliações serão os peixes de água doce. De forma geral os passos a serem realizados neste segundo ano de projeto para atingir o objetivo aqui determinado são: • Identificação, avaliação crítica e comparação entre os métodos passíveis de utilização. • Definição de pelo menos um método mais para ser aplicado em conjunto com o PAE, sobre diversas configurações de dados da área. • Aplicação dos métodos definidos e análise críticas de seus resultados. Origens da ictiofauna regional O estabelecimento das conexões pretéritas entre as bacias e sua ligação com as origens da ictiofauna regional é basicamente influenciada por características históricas. Avaliações de cunho biogeográfico histórico são profundamente dependentes de informações de sistemática em associação com dados de geologia, geografia, paleontologia. Zunino (2005) propõe a “filogenia de áreas de distribuição” para reconstrução de hipóteses de cunho geográfico e/ou filogenético através de três critérios: (1) Análise comparada de homologias geográficas entre áreas (relações espaciais, estratigráficas, litológicas, etc.), conduzindo à hipótese de história geográfica; (2) A análise comparada das supostas homologias biológicas (sinapomorfias) conduzindo à hipótese de história filogenética dos organismos; e (3) A análise comparada das supostas homologias biogeográficas (proximidade no espaço físico e, se for o caso, ecológico) conduzindo à hipótese de história filogenética das áreas de distribuição. Zunino (op. cit.) afirma que as três hipóteses se referem a um sistema único e são totalmente independentes. O nível de confiabilidade entre elas é o mesmo, dependendo unicamente da qualidade dos dados e da metodologia como são processadas. As diferentes hipóteses podem ser comparadas e contrastadas entre si, produzindo por fim um conjunto correspondente a um sistema em termos de espaço, tempo e forma. Santos & Amorim (2007) defendem a sistemática como o fundamento necessário para a biogeografia histórica e afirmam que a ausência de informação biogeográfica primária confiável – táxons históricos – cria sérios obstáculos para a biogeografia histórica. Isto é verdadeiro, apenas no que concerne ao critério (2) de Zunino (op. cit.). A grande carência de filogenia das espécies torna-se um fator limitante para este tipo de análise. Em áreas menores, como a presente área de estudo, estas carências tornam-se ainda mais críticas, pois seria necessária uma quantidade razoável de filogenias a nível específico para permitir a formação de padrões confiáveis que explicassem a origem das espécies na região. No entanto é possível uma série de inferências e hipóteses a partir de um levantamento das informações disponíveis (Cerqueira, 1995). Este processo poderá envolver regiões vizinhas da área de estudo para um adequado estabelecimento das hipóteses. Caso este envolvimento se mostre necessário, ele será baseado em informações históricas, reforçadas por visita às coleções depositárias de tais materiais. De forma geral os passos a serem realizados neste segundo ano de projeto para atingir o objetivo aqui determinado são: • Identificação dos trabalhos de filogenia e biogeografia das diversas espécies presentes na área de estudo. • Identificação dos trabalhos de geomorfologia da área de estudo. • Elaboração de hipótese de conexões pretéritas entre as bacias a partir dos dados levantados. Divisores de água O estudo do papel dos divisores de água no isolamento da ictiofauna regional, um dos objetivos do projeto, tem como principal finalidade estabelecer definições adequadas de regiões eco-geográficas. Estas áreas em conjunto com a divisão de áreas em quadrículas são duas bases de organização dos dados obtidos para aplicação dos diversos métodos de análise biogeográfica. Um entendimento adequado do papel dos divisores de água entre as bacias pode permitir um melhor entendimento da distribuição das espécies em cada uma delas. De forma geral os passos que serão realizados neste segundo ano de projeto para atingir o objetivo aqui determinado são: • Identificação dos divisores de água entre as bacias, com a delimitação das áreas de maior importância de cada um deles. • Exame dos dados da ictiofauna nos contrafortes de cada uma destas regiões para investigar o seu efeito como barreira de separação entre as bacias. Breves anotações Métodos biogeográficos - Cronologia sobre a evolução das idéias e métodos em biogeografia é apresentada em Crisci et al. (2000, 2003), introduzindo conceitos básicos acerca de trinta diferentes premissas sobre o tema. Posadas et al. (2006) apresentam nove aproximações históricas biogeográficas, que sumarizam a evolução das idéias trabalhadas em Crisci et al. (op.cit), a saber: (1) Centros de origem e dispersão (Matthew, 1915); (2) Biogeografia filogenética (Brundin, 1966); (3) Áreas ancestrais (Bremer,1992); (4) Pan-biogeografia (Craw et al., 1999); (5) Biogeografia cladística (Rosen, 1978; Nelson & Platnick, 1981); (6) Análise parcimoniosa de endemicidade (PAE) (Rosen, 1988; Craw, 1988; Morrone, 1994); (7) Método baseado em evento (Ronquist, 1997; Siddall & Kluge, 1997 e Grant & Kluge, 2003); (8) Filogeografia (Avise et al. 1987; Avise, 2000); e (9) Biogeografia Experimental (Haydon et. al, 1994). Posadas et al. (op. cit.) discutem ainda a necessidade de se organizar nova estrutura conceitual para solução de algumas questões críticas da atual biogeografia histórica através dos seguintes temas: (a) A oposição entre biogeografia histórica e biogeografia ecológica; (b) a inclusão do tempo na análise histórica da biogeografia; (c) o papel do biogeógrafo na conservação da biodiversidade e (d) a definição dos métodos biogeográficos. Posteriormente à contribuição de Posadas et al. (op. cit.) diversos novos métodos foram sendo desenvolvidos tais como o Método fenético de agrupamento usando índices da similaridade combinados com o UPGMA (Murguía e Viliasefior, 2003); o Método SIGCOT “significant co-occurrence of taxa” (Mast e Nyffeler, 2003); o Método NDM (eNDeMism) (Szumik et al., 2002; Szumik e Goloboff, 2004); o Método Prabclus (PRresence–ABsence CLUStering) (Hausdorf & Hennig, 2003; Hennig, 2006); e ainda o Método PACT “Phylogenetic Analysis for Comparing Trees”(Wojcicki & Brooks, 2004). Método PAE (Parsimony Analysis of Endemism) – Este método proposto por Rosen (1988) é utilizado na delimitação de áreas de endemismo baseando-se no compartilhamento de taxa, de acordo com a solução mais parcimoniosa. As espécies de ampla distribuição não podem contribuir para o reconhecimento de áreas de endemismo (Platnick & Nelson, 1978; Rosen, 1988), sendo desejável reduzir sua influência. Isto pode ser feito pela exclusão dos taxa presentes em todas as áreas (Rosen, 1988) ou pela pesagem da distribuição dos dados com o intuito de reduzir o impacto dos taxa de ampla distribuição dentro da análise (Linder, 2001). As áreas com distribuição compartilhada das espécies são assumidas como indicativos de história biológica unicamente compartilhada. Crisci et al. (2003) distinguem três variantes que ela chamou de PAE baseado em localidades (Rosen, 1988); PAE baseado em área de endemismo (Craw, 1988), e PAE baseado em quadrículas (Morrone, 1994). É importante observar que o método proposto por Morrone (1994) tem um objetivo diferente dos outros dois. As variações de Rosen e Craw têm a finalidade de elucidar a história das áreas, enquanto a de Morrone identifica as áreas de endemismo com base na presença de taxas. Assim sendo mesmo que a metodologia do PAE seja análoga à sistemática cladística ela não está relacionada com esta, pois assume que suas bases e objetivos são distintos. As críticas direcionadas ao PAE de que ele ignora as relações filogenéticas entre as espécies, considerando somente sua distribuição aplicam-se unicamente as variantes de Rosen e Craw que pretendem com o PAE elucidar a história das áreas. Críticas ao PAE também questionam a maneira como são construídas as premissas: A parcimônia é realmente um critério apropriado para reconstrução filogenética, mas ele pode não ser adequado para um campo com princípios e metas completamente diferente do originalmente proposto (Morrone, 1994; Linder, 2001). Método de otimização (eNDeMismo) – Hausdorf (2002) propôs restringir o termo “área do endemismo” para as áreas não sobrepostas causadas por vicariância, usando o termo “elementos bióticos” para os casos onde há uma sobreposição. Para o NDM, método proposto por Szumik et al (2002) e aperfeiçoado por Szumik e Goloboff (2004), as áreas de endemismo não são baseadas na noção tradicional de vicariância. O fator causal que produz um dado padrão de distribuição pode, mas não necessita ser, histórico ou vicariante; mais importante, o fator causal não precisa ter afetado a totalidade da biota, tanto que grupos diferentes (com exigências ecológicas diferentes, por exemplo) podem ter diferentes padrões de sobreposição-distribucional. Um taxon endêmico é restrito a uma região e não é encontrado em nenhuma outra parte. A distribuição de um taxon é determinada por fatores históricos e atuais. Qualquer que sejam os fatores, se eles afetarem (ou tiverem afetado) os diferentes grupos taxonômicos de modo similar, existirá congruência nos padrões de endemicidade nos grupos diferentes. Assim, áreas que têm muitos grupos diferentes que são encontrados lá e em nenhuma outra parte podem ser definidas como áreas de endemismo. Tal situação iria claro, indicar que os processos de especiação nos grupos diferentes foram causados por fatores comuns, mas o conhecimento dos fatores não é uma condição prévia para identificar a existência da área de endemismo propriamente dita. Esta noção de área de endemismo tem várias implicações sobre os fatores a serem considerados quando da proposição de um método de identificação formal, particularmente com respeito aos limites da área, a distribuição ampla ou restrita das espécies e o uso de grades. Idealmente, os limites da área de endemismo seriam invioláveis; nenhuma de suas espécies seria encontrada fora da área. Adicionalmente, sob condições ideais, todas as espécies deveriam ser encontradas em todas as partes da área de endemismo. O NDM localiza as áreas de endemismo baseando-se em grupos de taxa com área de distribuição congruente. Utiliza a presença e ausência de taxa (em quadrículas ou regiões eco-geográficas) no estudo de uma área como uma maneira de representar a amplitude da distribuição dos respectivos taxa em estudo. Grupos de quadrículas (ou regiões eco-geográficas) são selecionados para maximizar o número de taxa cuja amplitude de distribuição é limitada dentro da área mapeada. A metodologia NDM permite sobreposição das áreas, em situações onde a composição das espécies em duas áreas comparativas excede certo grau de diferença (Moline & Linder, 2006). Método Prabclus (PRresence–ABsence CLUStering) – Geralmente a vicariância não pode ser observada diretamente, porque este processo se realiza em longos períodos geológicos. Conseqüentemente, é importante derivar predições sobre os padrões observados para o modelo de vicariância. De acordo com o padrão de vicariância (Croizat et al., 1974; Rosen, 1976, 1978; Platnick & Nelson, 1978; Nelson & Platnick, 1981; Wiley, 1988; Humphries & Parenti, 1999), uma biota ancestral é fragmentada pelo aparecimento de uma barreira. A barreira interrompe o fluxo gênico entre as populações separadas por ela, este evento de vicariância resulta em uma especiação alopátrica de muitas das espécies formalmente constituídas na antiga biota. Neste sentido, duas novas biotas se originam separadas pela barreira. Por repetição do processo descrito, aparecem áreas de endemismo com distintas biotas, isto é com várias espécies restritas a uma área individual. Na média, o conjunto de espécies, originadas na mesma área de endemismo será mais similar entre si do que o conjunto das espécies, que se originaram em outras áreas de endemismo. Assim sendo, o modelo vicariante predetermina uma congruência não aleatória entre as espécies do grupo (Morrone, 1994; Hausdorf, 2002). Foi desenvolvido um teste sobre esta predição (Hausdorf & Hennig, 2003; Hennig & Hausdorf, 2004). As espécies originadas em uma área de endemismo formam um elemento biótico, um grupo de espécies que são mais similares entre si do que os de outros grupos(Hausdorf, 2002). Se a especiação resulta de eventos de vicariância, as espécies proximamente relacionadas se originam em diferentes áreas de endemismo e, então, pertencem a elementos bióticos diferentes. O Método Prabclus, formulado por Hausdorf e Hennig (2003) procura os grupos de taxa mais similares entre si do que com outros grupos de taxa. Está baseado no cálculo das distâncias multidimensionais de Jaccard ou Kulczynski. As áreas encontradas são chamadas de elementos bióticos (“biotic elements”) e são definidas pelo conjunto de espécies em cada grupo. A sobreposição de áreas é permitida (Hausdorf & Hennig, 2003; Hennig, 2006). Conexões entre as bacias - O Leste do Brasil é uma região com reconhecido endemismo para peixes de água doce na América do Sul (Menezes, 1972; Weitzman et al. , 1988; Bizerril, 1994; Costa, 1996; Buckup, 1996; Menezes, 1996; Rosa et. al., 2003; Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro, 2007). Na área de estudo foram reconhecidas espécies habitantes de rios costeiros de Mata Atlântica, como Mimagoniates microlepis e Scleromystax prionotos. Menezes (1996), baseando-se nos padrões de distribuição de espécies de Characiformes, reconheceu acentuado endemismo para a região das drenagens costeiras do Rio de Janeiro ao sul da Bahia, denominando a área geográfica de região costeira norte. Três espécies capturadas no Extremo Sul da Bahia ocorrem em bacias costeiras entre o rio Paraíba do Sul e o sul da Bahia: Otothyris travassosi, Parauchenipterus striatulus e Crenicichla lacustris, e se encaixam na definição proposta por Menezes (op. cit.). Filogenias ou hipóteses de monofiletismo devem ser a base para o estudo de padrões de distribuição histórica (Santos & Amorim, 2007). Contudo, para a grande maioria dos peixes da região Neotropical são desconhecidas as relações filogenéticas a nível genérico e específico (Weitzman & Weitzman, 1982; Vari & Weitzman, 1990; Vari & Malabarba, 1998). Espécies da região Sul 800 700 Exemplares 600 500 400 Sul 300 200 100 As As tya O tya nax re n oc ax cf. h -c ri G eo Prom f.la vu la ph im is cu ris ag e - ni str Hy u llo lo is Te ph Ch s- b de ticu e tra s a r lla s s g o ob Po raca sil -sp no ry ec id ien . p t co ili ium si O eru n-b a -v -s s to s ifa iv p. th -cf s ipa H yr is .-c cia ra Im ypo -trah alc tus Cy p st v e Tr p ar o as u ic N ho fini mu so s ho e ch s- s- si m op a r m sp y l a in 1 O Ho cte ec x-g ut M ligo pli rusosto ilb us im s as -p m e r ag arc - m r a in ti on us al de a e ia -a ab ns Sc te cu ar is le s- ti ic ro m R mic ros us ys h a ro tr i t l s E a x m ep Do Au leo -p r dia- is Pa rm str tris ion sp o . ra a uc M ita to loh- pis tos h e icr r - er o n n o m o is H ipt gla ac s- s Ph al L yph eru nis- ula p. lo e e s- p tu ce p ss st a t s o a Pr ro s rin obr riat xo oc -c u s yc ulu a o hi u co n s lo d G du ima p el -sp ym s- c an Ho Cl n vim ula di pl er a ria otus bo tus yt C s- - c id hr r g a e in e a r a s SyLe pLe p us- nic r ie p po m or or un ich inu br in inu ita la s an u s s e - sp - - n Aschu ste bah iatu . Le pid s-minda ien s po ora ar ch sis rin s- mo n e u s vir r a ri - c gu tu on la s ir o tus st ris 0 Espécies Figura 10 – Curva de abundância de espécies na região sul da área de estudo. Coletas no Mucuri, Peruípe e Itanhém. Os sistemas de drenagem no Extremo Sul da Bahia compartilham um grande número de espécies, sugerindo que o tempo de isolamento das respectivas bacias hidrográficas é um fenômeno relativamente recente. Foi feita análise preliminar das Bacias do Extremo Sul em três regiões. Sul - coletas no Mucuri, Peruípe e Itanhém (Figura 10). Central - coletas no Jucuruçu, Cumuruxatiba, Cahy e Corumbau (Figura 11). Norte - coletas no Caraíva, Frades, Buranhém, João de Tiba, Santo Antônio e Mucuri (Figura 12). Apesar de ter sido observada uma grande homogeneidade entre os diversos índices calculados para estas áreas (como foi visto anteriormente) pode-se observar pela curva de abundancia das sub-regiões que existe uma variação entre as espécies predominantes. Esta aparente contradição precisa ser mais bem investigada do ponto de vista biogeográfico. Preliminarmente observa-se uma relação de endemismo entre a região do norte do Espírito Santo e o Extremo Sul da Bahia. É possível supor que esta região apresente uma evolução conjunta, o que poderia ser sustentado pela presença de espécies com distribuição comum a estas áreas. Espécies com distribuição restrita às drenagens costeiras entre o norte do Espírito Santo e o Extremo Sul da Bahia incluem: Oligosarcus acutirostris reportado em Menezes (1987); Rachoviscus graciliceps em Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro (2006a); Mimagoniates sylvicola em Menezes & Weitzman (1990) e Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro (2006b); Aspidoras virgulatus em Britto (2007); Pseudauchenipterus affinis em Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro (2007); Simpsonichthys myersi em Costa (2003); e ainda Phalloceros sp. B reportado em Lucinda & Reis (2005). As ty an Ch ax c As H ara f.riv ty e m c id u l a n ig iu a r Tr i ic ho P ax- ram m-s s m G y aro cf.l us p. eo c to ac -s ph ter c in u s p. u c t Sc Pag u s -p lu s ris le o s- b r a -s p r o ec r de . m ili a s n ys a - ili sis Hy ta x reti ens p -p cu is Pi ost rion lata m om o P e l u to G oec lo de s- s s Tr y m ili lla p1 ic n o a - -s ho t viv p m us- ip . y c a O to R cte ar a ra Ho th h rus po p yr am Hy lias is-tr di s p2 ph - m a v a-s a p O e lig H ss alab sso . os y p ob ar si ar os ry icu c u to co s s - m na us sp Le Sy po Le cut - sp m N rin po iro 3 br e u rin st a o s u r is O nc h plec - co s- s re u o p e p . o s s Cy ch r -ma tomland P ph om rm in i Tr ar o i o a ic a u ho ch H cha s- ni r at e m e y p ra lot us n yc i os x - ic Tr te pte to gi us ic ho T rus ru s mu lbe m ric -ita -s s- rti yt h c tri sp er om a m at 2 us y b ul - je ct iru us qu eru s s it i s - u nh s p on 1 ha e Exemplares ya n G Ot Ch axe o o a cf ph thy rac .riv ag ris id ul i a Pa us- -tra um ris I m r o b r a va s - sp S p toc s so . 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H O en gl aras- rac aric p o l t Pa ple igo ron nis- virgiliceus ra ryt sar ich ca ula ps uc hr cu th hy tu he inu s- ys en s ni s- ac -l e sis pt un ut pt er it iro os A u s a e st O C re wa -str nia ri s en o L o ia tu tro ch ep s-t tul s r a u L p o or j a s Sy Mi ep om mis inu si c u m o m a r s ni s-s a br g inu -p lo p an on s ar tic . ch ia -ba alle us us tes hi lu -m -s en s ar ylv sis m ico or la at us As t Exemplares Espécies da região Central 1200 1000 800 600 Central 400 200 0 Espécies Figura 11 – Curva de abundância de espécies na região central da área de estudo. Coletas no Jucuruçu, Cumuruxatiba, Cahy e Corumbau. Espécies da região Norte 600 500 400 300 Norte 200 100 0 Espécies Figura 12 – Curva de abundância de espécies na região norte da área de estudo. Coletas no Caraíva, Frades, Buranhém, João de Tiba, Santo Antônio e Jequitinhonha. Durante o segundo ano de trabalho, pretende-se aprofundar os estudos acerca dos padrões de endemismo em diferentes escalas para a diversidade da ictiofauna no Extremo Sul da Bahia, e associar a diversidade da ictiofauna a aspectos hidrológicos e fisiográficos regionais. Após o exame de material histórico referente à área de estudo e as áreas vizinhas, pretende-se delinear um panorama da ictiofauna na região costeira norte para inferir possíveis associações ictiofaunísticas da área de estudo (o Extremo Sul da Bahia) com as áreas vizinhas. Estas podem ser reconhecidas preliminarmente do ponto de vista do endemismo regional observado. Identificam-se regiões de endemismo entre (a) o Sul e o Extremo Sul da Bahia; (b) o alto Rio São Francisco e o Extremo Sul da Bahia; e (c) o Rio Paraíba do Sul e Extremo Sul da Bahia. (a) Sul e Extremo Sul da Bahia - Observa-se alto grau de diferenciação de fauna entre as drenagens do Extremo Sul da Bahia, (ao sul do rio Jequitinhonha), e as drenagens do Sul da Bahia (entre rio Jequitinhonha e rio de Contas). Espécies endêmicas das drenagens do Sul da Bahia são exemplificadas por Trichomycterus bahianus, Pareiorhaphis bahianus, Gymnotus bahianus e Geophagus itapicuruensis, as quais não foram encontradas na área de estudo, ao sul do rio Jequitinhonha. Tal diferenciação sugere uma avaliação em biogeografia histórica para investigar a possível presença de alguma barreira biogeográfica eficiente para peixes de água doce entre tais áreas. (b) alto Rio São Francisco e o Extremo Sul da Bahia - A ictiofauna no alto São Francisco, Minas Gerais e nas drenagens litorâneas do norte do Espírito Santo e do sul da Bahia guarda semelhanças entre si. Astyanax lacustris, Astyanax rivularis, Imparfinis minutus e Pimelodella vittata foram identificadas pelos nomes de espécies na drenagem do rio das Velhas, e podem ser consideradas co-específicas das populações do Alto São Francisco, Minas Gerais, pela semelhança morfológica observada. Outras espécies com distribuição comum ao alto Rio São Francisco e drenagens litorâneas do norte do Espírito Santo e sul da Bahia são Cyphocharax gilbert segundo Vari (1992) e Glanidium albescens segundo Sarmento-Soares e Martins Pinheiro (2007). Apesar das semelhanças observadas, a Serra do Espinhaço aparentemente funciona como uma barreira biogeográfica eficiente para peixes de água doce, pois uma parcela da ictiofauna é diferenciada nos dois sistemas hídricos. A exemplo temos Prochilodus vimboides, presente regionalmente nos rios costeiros entre o Extremo Sul da Bahia e o rio Jucuruçu, e Prochilodus costatus, no alto São Francisco. (c) Rio Paraíba do Sul e Extremo Sul da Bahia - Costa (1996) reconhece afinidades biogeográficas entre os rios costeiros do Leste e o rio Paraíba do Sul, reconhecendo distribuição parapátrica de espécies em uma região e na outra para peixes anuais Simpsonichthys, exemplificado pelas espécies irmãs S. whitei, no Paraíba do Sul, e S. myersi, no norte do Espírito Santo e Extremo Sul da Bahia. Distribuição parapátrica de espécies relacionadas entre si para estas duas áreas é corroborada pelos Siluriformes Ituglanis parahybae, no Paraíba do Sul e Ituglanis cahyensis, no rio Cahy, Extremo Sul da Bahia, e ainda Microglanis parahybae, no Paraíba do Sul e Microglanis pataxo, no Extremo Sul da Bahia. Os padrões de distribuição destas espécies sugerem evento de especiação alopátrica, resultando na diferenciação de espécies possivelmente irmãs, intimamente relacionadas entre si, como sugere a semelhança morfológica observada. Infelizmente não existem filogenias disponíveis para Ituglanis ou para Microglanis, e o conhecimento sistemático sobre estes grupos não pode ser utilizado para testar padrões sob a ótica da biogeografia cladística. Dentre os grupos de espécies identificados para a região de estudo, existem filogenias disponíveis para Scleromystax e Aspidoras, que compõem a tribo Aspidoradini (Britto, 2003); para Sympsonichthys em Costa (2003); para Phalloceros em Lucinda & Reis (2005) e para Parotocinclus em Gauger & Buckup (2005). A partir das filogenias disponíveis será investigada a relação entre a ictiofauna no Extremo Sul da Bahia com a de outras regiões, do ponto de vista da biogeografia histórica. Cronograma ATIVIDADES Padrões de distribuição geográfica 2007 2008 OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Métodos indicadores de áreas de conservação X X X Avaliação e comparação entre os métodos Aplicação do PAE Aplicação dos outros métodos Comparação e análise dos resultados X X X Avalição dos dados históricos Identificação e descriçãode novas espécies. Classificação das espécies da área de estudo Definição e cálculo dos índices Mapas de distribuição geográfica Origens da ictiofauna regional Identificação dos trabalhos de filogenia Identificação dos trabalhos de geomorfologia Hipótese de conexões pretéritas entre as bacias Divisores de água Principais divisores de água entre as bacias Ictiofauna nos contrafortes destas regiões Definição das regiões eco-geograficas Publicações Bacia dos Rios dos Descobrimento Bacia do Itanhém Bacias do Frades e Caraíva Bacia do Buranhém Bacias do Santo Antônio e João de Tiba Relatório Final Bacias do Extremo Sul da Bahia X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X AGO SET X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Referências bibliográficas Araújo, M.B. 1998. Avaliação da biodiversidade em conservação. Silva Lusitana 6: 19-40 Avise, J.C. 2000. Phylogeography: The History and Formation of Species. 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