Diagnósticos de enfermagem em pacientes de clínica cirúrgica
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Diagnósticos de enfermagem em pacientes de clínica cirúrgica
Diagnósticos de enfermagem em pacientes de clínica cirúrgica Nursing diagnoses in clinical surgery patients Diagnósticos de enfermería en pacientes de clínica quirúrgica Elisiane Soares Novaes1 Ana Paula Vilcinski Oliva2 Maricy Morbin Torres3 1 Enfermeira. Mestranda da Universidade Estadual de Maringá. Email: [email protected] 2 Enfermeira. Drª em Enfermagem e Profª da graduação em enfermagem da Universidade Estadual de Maringá. E-mail: [email protected] 3 Enfermeira. Mestranda e Profª do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá. Email: [email protected] Resumo O uso do processo de enfermagem pode favorecer o direcionamento, a organização, o controle e a avaliação das atividades inerentes ao cuidar, possibilitando o raciocínio crítico que os enfermeiros utilizam na prática. Dentre todas as etapas do processo de enfermagem, o diagnóstico de enfermagem tem merecido destaque. Além de guia para o planejamento, seleção, e implementação dos cuidados, ele é também importante fonte para o conhecimento específico da profissão, facilitando o ensino, a pesquisa, e a emancipação do cliente no plano terapêutico. Este estudo teve por objetivo identificar a frequência dos principais diagnósticos de enfermagem em pacientes hospitalizados na clínica cirúrgica. Tratou-se de um estudo descritivo e exploratório, de abordagem quantitativa, análise documental e retrospectiva. Os resultados mostraram 55 diagnósticos identificados, entre a categoria real e de risco, com uma incidência de 265 dentro de 12 domínios. O domínio 13 (Crescimento/Desenvolvimento) foi o único não representado por nenhum diagnóstico nesta amostra. Somente quatro dos diagnósticos levantados apresentaram frequência acima de 50% nos sujeitos. Esta pesquisa favoreceu a identificação das necessidades de cuidados de doentes internados em clínica cirúrgica, contribuindo para o levantamento de intervenções específicas de enfermagem. Palavras-chave: Diagnóstico de enfermagem; Avaliação em enfermagem; Classificação. Abstract The use of the nursing process may favor the direction, organization, monitoring and evaluation of activities related to care, enabling critical thinking that nurses use in practice. Among all the steps of the nursing process, nursing diagnosis has been highlighted. Besides guide to the planning, selection, and implementation of care, it is also an important source for the specific knowledge of the profession, facilitating the teaching, research and empower the client in treatment. This study aimed to identify the frequency of the main nursing diagnoses in hospitalized patients in the clinical surgery. This was a descriptive study, a quantitative approach, documented and retrospective analysis. The results showed 55 diagnoses identified between the actual and potential categories, with an incidence of 265 in 12 domains. The 13 domain had no diagnosis identified (Growth / Development). Only four diagnoses had often raised above 50 % in the subjects. This research favored the identification of care needs of patients in clinical surgery, contributing to raising specific nursing interventions. Key words: Nursing diagnoses; Nursing assessment; Classification. Resumen El uso del proceso de enfermería puede favorecer a la dirección, organización, supervisión y evaluación de las actividades relacionadas con la atención, lo que permite el pensamiento crítico que los enfermeros utilizan en la práctica. Entre todos los pasos del proceso de enfermería, diagnóstico de enfermería se ha destacado. Además de guía para la planificación, selección y puesta en práctica de la atención, también es una fuente importante para el conocimiento específico de la profesión, facilitando la enseñanza, la investigación y la autonomía del cliente en el tratamiento. Este estudio tuvo como objetivo identificar la frecuencia de los principales diagnósticos de enfermería en pacientes hospitalizados en la clínica quirúrgica. Se realizó un estudio descriptivo y un enfoque cuantitativo, el análisis documental y retrospectivo. Los resultados mostraron 55 diagnósticos identificados entre las categorías de riesgo y real, con una incidencia de 265 en 12 campos. En el dominio 13 (Crecimiento / Desarrollo) no fue identificado ningún diagnóstico. Sólo cuatro diagnósticos habían planteado a menudo por encima de 50 % en los sujetos. Esta investigación es a favor de la identificación de las necesidades de atención de los pacientes en la cirugía clínica, lo que contribuye a aumentar las intervenciones de enfermería específicos. Palabras clave: Diagnóstico de enfermería; Evaluación en enfermería; Clasificación. Introdução Ao longo do tempo a enfermagem vem se consolidando como ciência, aprimorando seus conhecimentos, propondo novas alternativas de assistência, desenvolvendo uma metodologia própria de trabalho baseada no método cientifico, o que chamamos hoje de Processo de enfermagem(1-3). Os princípios, os conceitos e as etapas que fundamentam o Processo de Enfermagem foram formulados por diferentes autores nacionais e internacionais, frente à necessidade de melhorar a qualidade da assistência e do desenvolvimento científico da profissão(1,2). Wanda Horta(4:35) afirmou que “Processo de enfermagem é a dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas, objetivando a assistência ao ser humano”. Atualmente é referido como: [...] um modelo metodológico que nos possibilita identificar, compreender, descrever, explicar e/ou predizer as necessidades humanas de indivíduos, famílias e coletividades, em face de eventos do ciclo vital ou de problemas de saúde, reais ou potenciais, e determinar que aspectos dessas necessidades exigem uma intervenção profissional de enfermagem(2:189). O uso do Processo de Enfermagem pode favorecer o direcionamento, a organização, o controle e a avaliação das atividades inerentes ao cuidar, possibilitando o raciocínio crítico que os enfermeiros utilizam na prática(5). Além disso, este processo é um instrumento para atuação empírica do enfermeiro, e contribui para a solidificação da atuação, diferenciando-o dentro da equipe de enfermagem(1,5-7). Diante da relevância para a prática profissional, a implementação do Processo de Enfermagem no Brasil passou a ser exigida em instituições de saúde pública ou privada por meio da resolução do Conselho Federal de Enfermagem a partir de agosto de 2002(8). A resolução n.358/2009 do COFEN(9) estabelece que o processo seja organizado em cinco etapas inter-relacionadas, interdependentes, e recorrentes: coleta de dados (histórico), diagnóstico de enfermagem, planejamento, implementação e avaliação, que deverão estar embasadas em um suporte teórico. Em síntese, a resolução reforça que esse Processo é o instrumento metodológico para orientação e a documentação do cuidado profissional de enfermagem, e já a Sistematização da Assistência é o instrumento que organiza e viabiliza a operacionalização desse processo(5,10,11). Dentre todas as etapas, o diagnóstico de enfermagem (DE) tem merecido destaque. Além de guia para o planejamento, seleção, e implementação dos cuidados, ele é também importante fonte para o conhecimento específico da profissão, facilitando o ensino, a pesquisa, e a emancipação do cliente no plano terapêutico(1,2,5,7,10,12). O termo diagnóstico apresenta-se na literatura desde 1950, quando Louise McManus em Nova Iorque, se referiu à função específica da enfermeira de diagnosticar necessidades e reconhecer seus aspectos inter-relacionados, a fim de decidir sobre as ações a serem implementadas2. Entretanto, só em 1973, a etapa diagnóstica foi incluída no Processo de Enfermagem, marcando o início de uma nova era para o reconhecimento científico da profissão(2). Com o desenvolvimento de pesquisas na área do raciocínio clínico e diagnóstico, houve uma necessidade de padronização da linguagem diagnóstica. Atualmente a instituição mundialmente reconhecida e responsável por padronizar os conceitos diagnósticos é a American Nursing Diagnosis Association (NANDA)(12). A classificação vigente, denominada taxonomia II (2009-2011), da qual fazem parte 201 diagnósticos de enfermagem- DE(s), baseia-se nos padrões funcionais de saúde (PFS) e se organiza em uma estrutura multiaxial com sete eixos, 13 domínios e 47 classes(12). O reconhecimento dos DE (s) em um grupo específico de clientes possibilita o conhecimento das respostas humanas alteradas, e contribui para o alcance de uma assistência individualizada e holística(1,6,7,10,11,13-15). Vários autores tem se preocupado em identificar os diagnósticos de enfermagem em grupos, como por exemplo, de idosos hospitalizados, pacientes no período pré e pós- operatório de cirurgia cardíaca, pacientes de unidade de terapia intensiva, de clínica cirúrgica etc.; sem, entretanto, considerar de imediato, as outras fases do processo, corroborando a importância desta etapa para o raciocínio clínico(1,2,6,7,10-12,14-16). A identificação dos DE(s) mais frequentes em clínica cirúrgica permite subsidiar os enfermeiros na elaboração das intervenções eficazes e adequadas às necessidades individuais de cada paciente, bem como favorecer a previsão e provisão da carga de trabalho da equipe de enfermagem. Neste intuito, este estudo teve por objetivo identificar a frequência dos principais diagnósticos de enfermagem em clientes hospitalizados na clínica cirúrgica. Metodologia Tratou-se de um estudo descritivo e exploratório, de abordagem quantitativa, análise documental e retrospectiva. A coleta dos dados aconteceu na unidade de internação clínica cirúrgica do Hospital Universitário de Maringá (HUM), no período de abril a agosto de 2012. Fizeram parte da amostra 28 pacientes. Os critérios adotados para a inclusão no grupo foram: não estar no primeiro dia de pós-operatório e ter interesse na participação do estudo demonstrado pela assinatura do Termo de consentimento livre esclarecido, independente de sexo e faixa etária. Para coleta dos dados foram realizadas visitas em dias alternados na unidade. Todos que se enquadravam nos requisitos e aceitaram participar da pesquisa foram incluídos. O instrumento da coleta de dados foi adaptado de material desenvolvido para a disciplina Sistematização da Assistência de Enfermagem do curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá, baseado nos Padrões Funcionais de Saúde (PFS) propostos por Gordon e presentes na taxonomia II da NANDA (2009-2011)(12). Atualmente há muitos instrumentos de coletas de dados, nenhum universalmente aceito, que são baseados nas abordagens teóricas ou conceituais da enfermagem (17). Os DE(s) levantados foram interpretados a partir de características definidoras, fatores relacionados e de risco e situações iminentes de risco, identificadas nos clientes por meio de entrevista, consulta em prontuário e exame físico. A classificação dos DE(s) foi feita de acordo com a Taxonomia II da NANDA (2009-2011) (12), que atualmente descreve 201 títulos diagnósticos, divididos dentro de 47 classes que compõem 13 domínios(12). Este projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos na data de 05/08/2001 com o parecer nº 399/2011. Resultados e discussão Foram avaliados 28 pacientes, sendo 14 mulheres e 14 homens, com idade média de 49.5 anos, sendo que 50% deles encontram-se entre os 40 e 59 anos de idade. A maior parte dos indivíduos possuía apenas o ensino fundamental incompleto (57,1%), e residiam na cidade de Maringá (64,2%). Os demais dados sócio-demográficos da amostra podem ser observados na tabela abaixo. Tabela 1. Características sócio-demográficas dos pacientes internados na clínica cirúrgica do HUM. Maringá, 2012. Variáveis Categorias n % Idade 20-39 9 32,1 40-59 14 50,0 60 ou mais 5 17,8 Sexo Masculino 14 50,0 Feminino 14 50,0 Escolaridade Fundamental incompleto 16 57,1 Fundamental completo 2 7,1 Médio incompleto 2 7,1 Médio completo 3 10,7 Superior incompleto 2 7,1 Superior completo 1 3,5 Nenhuma 2 7,1 Cor Branco 19 67,8 Negro 2 7,1 Pardo 7 25,0 Amarelo Residentes em Maringá Sim 18 64,2 Não 10 35,7 As cirurgias mais prevalentes foram: a apendicectomia (21,4%), seguido de laparotomia exploradora e videocolecistectomia com (17,8%) de frequência, conforme mostra a Tabela 2. A variedade de cirurgias e patologias nesta amostra pode estar relacionada à diversidade de DE também encontrada. Tabela 2. Procedimentos cirúrgicos, segundo frequência absoluta e porcentagem, em adultos internados na clínica cirúrgica do HUM. Maringá, 2012. Procedimentos Cirúrgicos N° (%) Apendicectomia 6 (21,4) Laparotomia exploradora Videocolecistectomia Cirurgias da face (bucomaxilo) Hernioplastia Amputação MID Cirurgia Ortopédica Desbridamento em MSD Cauterização de condiloma perianal Cistostomia Exerese de tumor de face Tireoidectomia TOTAL 5 (17,8) 5 (17,8) 3 (10,7) 2 (7,1) 1 (3,6) 1 (3,6) 1 (3,6) 1 (3,6) 1 (3,6) 1 (3,6) 1 (3,6) 28 (100) Neste estudo, o paciente não foi avaliado nas primeiras 24 horas após a cirurgia, pois se trata de um momento crítico para o paciente. Período em que se busca a correção e normalização das funções fisiológicas vitais, frequentemente alteradas pela anestesia. A tabela 3 exibe o período do tratamento cirúrgico, em que os pacientes se encontravam quando foram submetidos ao exame físico durante a coleta de dados. Tabela 3. Período do tratamento cirúrgico, segundo frequência absoluta e porcentagem, dos pacientes internados na clínica cirúrgica do HUM. Maringá, 2012. Período cirúrgico Pré-operatório 2º Pós-operatório 3º Pós-operatório 4º Pós-operatório 9º Pós-operatório 10º Pós-operatório 11º Pós-operatório 12º Pós-operatório 13º Pós-operatório Nº (%) 5 (17,8) 12 (42,8) 2 (7,1) 1 (3,6) 1 (3,6) 2 (7,1) 2 (7,1) 1 (3,6) 1 (3,6) 15º Pós-operatório TOTAL 1 (3,6) 28 (100) Dentre os 201 títulos diagnósticos atualmente descritos pela NANDA(12), 55 foram identificados neste estudo (Tabela 4), o que corresponde a 27,4% desse total. Para os 28 pacientes foram documentados 265 DE(s), com uma média de 12 por paciente, variando de três a vinte e cinco. Esse resultado mostra que a diversidade de cuidados desta população é extensa e geralmente complexa. Em um estudo(10) semelhante, com clientes da unidade médicocirúrgica de um hospital escola, encontraram média de 10,6 DE por paciente, corroborando a necessidade de conhecimento científico e específico do enfermeiro, para planejar o cuidado dos pacientes assistidos(17). No presente estudo, os diagnósticos de enfermagem mais frequentes foram: risco de infecção (100%), integridade da pele/tissular prejudicada (92,8%), disposição para bem estar espiritual aumentado (75%), disfunção sexual (53,5%), padrão do sono perturbado (42,8%), disposição para enfrentamento aumentada (39,3%), deambulação prejudicada, déficit no auto cuidado para banho/ higiene, disposição para sono melhorado, dor aguda e risco de constipação com (32,1%), recuperação cirúrgica retardada (28,5%), déficit no auto cuidado para vestir-se/ arrumar-se e manutenção ineficaz da saúde (25%) e risco de integridade da pele prejudicada (21,4%). Os demais DE levantados podem ser observados na tabela abaixo. Tabela 4. Frequência dos diagnósticos de enfermagem, segundo os domínios da taxonomia II da NANDA (2009-2011), identificados em indivíduos adultos internados na clínica cirúrgica do HUM. Maringá, 2012. Domínio Categorias Diagnósticas Nº (%) Promoção da saúde Nutrição Eliminação e troca Atividade/ repouso - Manutenção ineficaz da saúde - Comportamento de busca de saúde - Controle ineficaz do regime terapêutico - Nutrição desequilibrada: > do que as necessidades corporais - Risco de função hepática prejudicada - Risco de desequilíbrio no volume de líquidos - Risco de volume de líquidos deficiente - Volume de líquidos deficientes - Risco de constipação - Eliminação urinária prejudicada - Desobstrução ineficaz das vias aéreas - Troca de gases prejudicada - Padrão do sono prejudicado - Déficit no auto cuidado para banho/ higiene - Deambulação prejudicada - Disposição para sono melhorado - Recuperação cirúrgica retardada - Perfusão tissular periférica ineficaz - Déficit no auto cuidado para vestir-se/ arrumar-se - Mobilidade física prejudicada - Mobilidade no leito prejudicada - Risco de Intolerância à atividade - Resposta disfuncional ao ventilatório - Intolerância à atividade - Padrão respiratório ineficaz - Privação do sono - Processos do pensamento perturbado - Percepção sensorial perturbada (auditiva) Percepção/ Cognição - Confusão Crônica - Comunicação verbal prejudicada Autopercepção - Risco de solidão - Interação social prejudicada Papéis e - Processos familiares interrompidos Relacionamentos - Desempenho de papel ineficaz - Disfunção sexual Sexualidade - Padrões de sexualidade ineficazes - Disposição p/ enfrentamento aumentado - Ansiedade Enfrentamento/ - Medo Tolerância ao estresse - Tristeza crônica - Enfrentamento ineficaz - Síndrome do estresse por mudança - Resiliência individual prejudicada - Disposição p/ bem estar espiritual aumentado - Risco para angústia espiritual Princípio de vida - Risco de religiosidade prejudicada - Religiosidade prejudicada 7 (25,0) 2 (7,1) 2 (7,1) 4 (14,3) 4 (14,3) 4 (14,3) 1 (3,6) 2 (7,1) 9 (32,1) 5 (17,8) 2 (7,1) 2 (7,1) 12 (42,8) 9 (32,1) 9 (32,1) 9 (32,1) 8 (28,5) 8 (28,5) 7 (25,0) 7 (25.0) 4 (14,3) 3 (10,7) 1 (3,6) 1 (3,6) 1 (3,6) 1 (3,6) 1 (3,6) 1 (3,6) 1 (3,6) 4 (14,2) 5 (17,8) 8 (28,5) 4 (14,2) 1 (3,6) 15 (53,5) 3 (10,7) 11 (39,3) 4 (14,2) 5 (17,8) 1 (3,6) 1 (3,6) 1 (3,6) 1 (3,6) 21(75,0) 5 (17,8) 4 (14,2) 2 (7,1) Segurança/ Proteção Conforto - Risco de infecção - Integridade da pele/tissular prejudicada - Risco de integridade da pele/tissular prejudicada - Risco de queda - Dor Aguda - Náusea - Conforto prejudicado - Isolamento social 28 (100) 26 (92,8) 6 (21,4) 3(10,7) 9 (32,1) 3 (10,7) 2 (7,1) 1 (3,6) Entre os títulos diagnósticos identificados com maior frequência, destacou-se o Risco de infecção, “estado no qual o indivíduo corre risco aumentado para ser invadido por organismos patogênicos”(12), presente em 100% da amostra. Estudos similares(1,7,10,13,18,19) também destacam alta frequência neste diagnóstico e apontam para os procedimentos invasivos decorrentes da hospitalização como uma das principais causas dessa ocorrência. Outros fatores também estão associados, por exemplo, a obesidade. Quatro pacientes (14,3%) eram obesas e, portanto, possuíam Nutrição alterada: mais do que as necessidades corporais. Pesquisas(1,18,20) comprovam que a espessura do tecido gorduroso tem influência direta e proporcional nas taxas de infecção. As razões para essa susceptibilidade estão relacionadas, à irrigação local do tecido adiposo, pouco vascularizado, e à maior duração dos procedimentos cirúrgicos. Ainda de acordo com a Tabela 4, observa-se que 26 pacientes (92,8%) possuíam Integridade da pele/tissular prejudicada definida como “Dano a membranas mucosas, córnea, pele ou tecidos subcutâneos”(12). Todos os pacientes foram submetidos a procedimentos invasivos, tais como: cirurgia (82,1%), administração de medicamentos, coleta de material biológico para exames e punção venosa. Entretanto, a patologia, a imobilização no leito, a diminuição de atividade motora, a falta de adequada perfusão periférica também foram responsáveis pela lesão tissular. Duas pesquisas similares(10,15) identificaram frequências acima de 60 % neste diagnóstico. A Disposição para bem estar espiritual aumentado, ou seja, “Capacidade de experimentar e integrar significado à vida por meio de uma conexão consigo mesmo, com outros [...] e/ ou com um ser maior, que pode ser aumentada”(12), foi encontrada em 75% da amostra. A maioria dos clientes demonstrava crença em um ser superior, verbalizava fé, esperança, alegria, e coragem em resposta à crença espiritual. Pacientes com este diagnóstico tem recursos potenciais para se valer quando se deparam com uma enfermidade ou uma ameaça ao seu bem-estar. Se o paciente não sabe como empenhar recursos para enfrentar problemas de saúde, o enfermeiro deve oferecer apoio para explorar as diversas opções(21). Entretanto esse DE, e mesmo todo o domínio no qual está inserido (princípio de vida) não é referido com frequência nos estudos atuais. Dentre toda a referência bibliográfica utilizada para este estudo, apenas um estudo(18) mencionou este DE, relatando que não foi identificado em pacientes de clínica médica de um hospital universitário do Rio de Janeiro. Outros pesquisadores(6,15) argumentam que a dificuldade de constatar as alterações nos padrões de crença, valores e convicções religiosas é decorrente do pouco tempo de interação com os pacientes, uma vez que, as características definidoras desses diagnósticos se expressam nos vínculos do relacionamento terapêutico. Pouco tem sido realizado em termos das necessidades espirituais(21). Encontramos então uma lacuna na assistência, se contrapondo à teoria de Wanda Horta4, que coloca a espiritualidade como uma necessidade básica do ser humano, a ser observada e cuidada pelo enfermeiro em seu planejamento de assistência. Compreende-se que na atuação profissional, ainda há escassez da visão holística que Florence Nightingale apontava, ou seja, da necessidade de enxergar o ser humano como um ser bio-psico-sócio-espiritual, que transcende o aspecto físico(2,17,22). Disposição para enfrentamento aumentado (39,3%), não foi identificado em outros estudos. Isso deve ocorrer pelo fato de estar associado à Disposição de bem estar espiritual aumentado, embora a NANDA(12), não o mencione diretamente. O Padrão de sono prejudicado, quer dizer, “interrupções da quantidade e da qualidade do sono, limitadas pelo tempo, decorrentes de fatores externos”(12), foi observado em 42,8% dos sujeitos. Considerado uma necessidade humana básica, o sono torna-se um dos fatores que influenciam a qualidade de vida do ser humano. O envelhecimento, sedentarismo, estresse, doenças, medicamentos, depressão e hábitos pessoais afetam a qualidade de sono ou o nível de repartição dos vários estágios do sono(7,13). No presente estudo, as causas mais relatadas pelos pacientes relacionadas ao padrão de sono prejudicado foram a manipulação excessiva pelos profissionais de saúde à noite, excesso de iluminação, barulho e falta de adaptação à hospitalização. No estudo referido acima(7), este diagnóstico foi encontrado em 88% dos pacientes. A Deambulação Prejudicada (32,1%) apresentou-se frequente nesta e em outras pesquisas(6,10,11,15,18). É importante observar que ela constitui-se em um dos principais fatores relacionados a outros DE(s), como Déficit no autocuidado para banho e higiene (32,1%), Déficit no autocuidado para vestir-se e arrumar-se (25%) e Risco para integridade da pele prejudicada (21,4%). Esta associação entre os DE(s) deve ser mais profundamente estudada, pois talvez seja possível identificar um perfil diagnóstico nos pacientes de clínica médica, cirúrgica e ortopédica. Um estudo(6) realizado em uma unidade médico cirúrgica, de um hospital da cidade de Londrina, identificou, em 60 pacientes, 337 DE(s) dentro de 48 enunciados diferentes. Os cinco DE(s) mais frequentes foram: Risco de Infecção (58,3%), Dor (50%), Constipação (41,6%), Intolerância à Atividade (35%) e Distúrbio do Padrão do Sono (28,3%). A amostra assemelha-se com a do presente estudo, entretanto não foi identificado entre os mais frequentes o diagnóstico Integridade Tissular Prejudicada (risco ou atual) pertencente à classe Lesão Física, o que é comum esperar no perfil de pacientes de uma clínica médico cirúrgica. O diagnóstico de Dor Aguda teve frequencia de 32,1% (Tabela 4), um pouco mais baixa do que a encontrada em estudos similares(6,10,11,15,16,18,19), entretanto mesmo em menor frequência, sempre é encontrado entre os mais prevalentes, confirmando que esse sintoma deve ser foco contínuo da atenção do enfermeiro. A capacitação profissional para o alívio da dor é importante a fim de aumentar a qualidade da assistência ministrada(18). O DE Disfunção sexual foi encontrado em 32,1% dos pacientes. O que fundamentou a formulação desse diagnóstico foram as limitações reais impostas pela doença e/ou pela terapêutica e alteração no relacionamento com a pessoa significativa. Trata-se de um diagnóstico bastante encontrado nos diversos grupos pesquisados. Diferentemente de outras pesquisas(10,13), que identificaram o DE Constipação como o mais prevalente no domínio III- classe Eliminação e Troca, o presente estudo encontrou o Risco de constipação (32,1%) como o mais frequente dessa classe. Este se refere ao “estado em que o indivíduo tem alto risco de apresentar estase do intestino grosso, resultando em eliminação pouco freqüente e/ou fezes duras e secas” (12). O maior fator de risco para ele é o hábito de evacuação irregular e as principais características definidoras são o esforço para evacuar, e as mudanças no padrão intestinal. A falta de deambulação, as patologias, o processo terapêutico, são alguns dos diversos motivos, que tornam os pacientes de clinica cirúrgica e ortopédica, mais propenso a apresentarem distúrbios na motilidade gastro-intestinal. Por meio destes resultados, percebeuse a necessidade de intervenções na prevenção de riscos durante a internação a fim de diminuir os agravos na saúde. Conclusão O DE é o foco clínico da ciência de enfermagem, e a atividade diagnóstica aproxima o enfermeiro de seus clientes, possibilitando melhor conhecimento das respostas fisio-psicosócio-espirituais. Esta pesquisa favoreceu a identificação das necessidades de cuidados de doentes internados em clínica cirúrgica, contribuindo para o levantamento de intervenções específicas de enfermagem. Os cuidados poderão ser mais abrangentes conferindo assim, maior poder clínico ao profissional enfermeiro. Também proporcionou base para o ensino do DE pertinente à área, contribuiu para o estimulo discente na iniciação científica e o aprimoramento do pensamento crítico. Os resultados encontrados neste estudo permitiram-nos concluir que 55 diagnósticos foram identificados, entre a categoria real e de risco, com uma incidência de 265 dentro de 12 domínios. O domínio que não teve nenhum diagnóstico identificado foi o domínio 13 (Crescimento/Desenvolvimento). Somente quatro dos diagnósticos levantados apresentaram frequência acima de 50% nos sujeitos. Os resultados desta pesquisa são muito similares com os de outras pesquisas realizadas em clínica médica, cirúrgica e ortopédica. Estudos como este poderão ser aplicados em diversas áreas de conhecimento e com populações mais numerosas para validação dos resultados e ajudarão a expandir o conhecimento de enfermagem mediante a vinculação entre os diagnósticos, intervenções e resultados de enfermagem. Referências 1. Galdeano LE, Rossi LA, Pezzuto TM. Diagnósticos de enfermagem de pacientes no período pré-operatório de cirurgia cardíaca. Rev. Esc. Enferm. USP. [on-line]. 2004. 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