Ethos discursivo em revista

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Ethos discursivo em revista
SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo
11º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo
Brasília – Universidade de Brasília – Novembro de 2013
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Ethos discursivo em revista: encenações das imagens de si de
Veja, Época, IstoÉ e CartaCapital em seus editoriais
Daiane Bertasso 1
Resumo: Analisamos os modos de encenação das imagens de si das revistas semanais de informação brasileiras, Veja, Época, IstoÉ e CartaCapital, em seus editoriais. A partir do entendimento do jornalismo como discurso, compreendemos os editoriais como cenas genéricas da
cena de enunciação do ethos discursivo das revistas. Por meio desse aporte teóricometodológico nossa análise discursiva revela que as quatro revistas constroem imagens de si de
Legítimas, Verdadeiras, Competentes, Independentes e Contemporâneas. Três delas (Veja, Época e IstoÉ) também produzem imagens de si de Criativas. Época e IstoÉ produzem imagens de
si de Plurais. IstoÉ e CartaCapital produzem imagens de si de Críticas. A Época constrói também imagens de si de Profissional, Amiga e Sensível. E a CartaCapital constrói ainda imagens
de si de Honesta, Culta e Politizada.
Palavras-chave: ethos discursivo (imagem de si); discurso jornalístico; jornalismo de revista;
editorial; revistas semanais de informação brasileiras.
1. Introdução
Compreendemos que o jornalismo é um gênero discursivo que se estabelece por
meio de um contrato de comunicação. Neste contexto, o ethos discursivo (imagem de si)
diz respeito à condição de identidade (“quem fala para quem”). Ou seja, a construção da
imagem de si está sempre ancorada em uma relação implícita com o outro (leitor, agentes do próprio campo e de outros campos sociais). A partir dessa perspectiva, nosso objetivo neste artigo é analisar os modos de encenação das imagens de si das revistas se1
Doutoranda e Bolsista Capes no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da
UFRGS. Integra o Núcleo de Pesquisa em Jornalismo – UFRGS/CNPq. Mestre em Comunicação pela
UFSM. E-mail: [email protected].
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manais de informação brasileiras, Veja, Época, IstoÉ e CartaCapital2 em seus editoriais3.
Os aspectos que caracterizam as revistas semanais de informação são: importante segmento de formação da opinião; caráter investigativo e interpretativo; pautas que
exigem planejamento e investimento de médio prazo; construção textual com razoável
flexibilidade e um tom fortemente opinativo; possibilidade de ousar na linguagem gráfica; capas que são utilizadas como pequenos outdoors; critérios de seleção específicos
para a escolha da reportagem de capa; durabilidade que vai muito além da periodicidade; possibilidade de proporcionar ao leitor certo prazer sensorial, pela textura do papel e
na percepção de cores e imagens (BENETTI; STORCH; FINATTO, 2011).
Focando nestas especificidades, nosso objeto de pesquisa é o ethos discursivo
das revistas semanais de informação brasileira construída nos editoriais. Com esta finalidade, analisamos, por meio da análise do discurso, em especial da teoria do ethos discursivo, o período do mês de março de 2012, totalizando 16 textos (quatro editoriais de
cada revista).
Organizamos este artigo a partir desta introdução, seguida dos conceitos do jornalismo como discurso e do ethos discursivo. Na terceira parte apresentamos as características do editorial como cena genérica de enunciação nas revistas. Na quarta e quinta
partes apresentamos os resultados, seguidos das considerações finais.
2. O jornalismo como discurso e a construção do ethos discursivo
O jornalismo é gênero discursivo (BENETTI, 2008) particular em que os sujeitos envolvidos necessitam reconhecer seus lugares de fala e interpretação por meio de
um contrato de comunicação, sustentado pelo entendimento de ambos sobre o que é
jornalismo (BENETTI; STORCH; FINATTO, 2011). Para ser compreendido como discurso o jornalismo deve ser considerado em uma situação de comunicação, com permis2
Os nomes estão na ordem decrescente, a partir da que possui maior média de circulação (entre janeiro e
dezembro de 2010), conforme o Instituto Verificador de Circulação (ANER, 2012): Veja (Abril) com
média de 1.089.191 exemplares semanais; Época (Editora Globo) com média de 408.110; IstoÉ (Editora
Três) com média de 338.851; e CartaCapital (Confiança) com média de 30.703.
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Parte da análise que apresentamos aqui se refere ao exercício preliminar do nosso projeto de tese que foi
qualificado em agosto deste ano. No projeto de tese analisamos além dos editoriais também as capas das
revistas, referentes a um mês de cada. Na versão final da tese vamos apresentar a análise de seis meses
das capas e dos editoriais das quatro revistas semanais de informação brasileiras, totalizando 205 textos.
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sões e restrições entre os interlocutores. Há a necessidade de uma espécie de “acordo
prévio” entre os interlocutores, ou seja, um “contrato de comunicação” (CHARAUDEAU, 2006).
Como prática discursiva, “o jornalismo é um discurso: a) dialógico; b) polifônico; c) opaco; d) ao mesmo tempo efeito e produtor de sentidos; e) elaborado segundo
condições de produção e rotinas particulares” (BENETTI, 2010, p. 107). O princípio do
dialogismo (BAKHTIN, 1981) presente em toda prática discursiva supõe a interação
entre os locutores de um discurso, expressa uma relação intersubjetiva entre os sujeitos,
ou seja, supõe a presença do outro. Isto é, ao enunciarmos, criamos uma imagem de
quem é nosso suposto interlocutor, o “outro”.
O discurso também é opaco (não-transparente) por seu caráter intersubjetivo,
pois possui diversas possibilidades de interpretação. Por isso, no discurso jornalístico o
texto objetivo é apenas uma intenção do jornalista (BENETTI, 2010). Há também o
interdiscurso, que é uma memória discursiva revelada na presença de uma ou mais formações discursivas (FOUCAULT, 1972) inter-relacionadas nos discursos.
O discurso jornalístico também se propõe polifônico (BAKHTIN, 1981), constituído por muitas vozes. Muito embora o uso de duas ou mais fontes possa produzir um
efeito de pluralidade de vozes, de que se está se relatando os dois lados (ou mais) da
questão, isso não significa que ele seja polifônico. Partindo destes princípios é que o
jornalismo é um discurso que produz sentidos sobre a realidade por meio de um contrato de comunicação.
Pela intersubjetividade do discurso jornalístico, ao produzir seus textos, os jornalistas possuem em mente uma imagem do seu leitor, o “leitor imaginário” (ORLANDI,
1999) ou “leitor imaginado” (STORCH, 2012) que está inscrito no texto. Ao mesmo
tempo, cada interlocutor busca construir uma imagem de si, o ethos discursivo, procurando a adesão do “outro” ao seu discurso.
O ethos discursivo mantém relação com a imagem prévia (ethos pré-discursivo)
que o auditório pode ter do orador ou com a ideia que o orador faz do modo como seus
interlocutores o percebem. Essas imagens prévias estão baseadas em representações
culturalmente partilhadas, em estereótipos. A posição institucional ocupada pelo orador
(enunciador) e o papel que ele assume no discurso ao construir uma imagem de si são
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inseparáveis na constituição discursiva e agem conjuntamente na manutenção ou transformação dos estereótipos.
Os princípios básicos para a compreensão do ethos discursivo são: o ethos se
constrói através do discurso, não é uma “imagem” do locutor exterior a sua fala; é um
processo interativo de influência sobre o outro; é uma noção sócio-discursiva que não
pode ser apreendido fora de uma situação de comunicação precisa, e que está integrada
numa determinada conjuntura sócio-histórica (MAINGUENEAU, 2008c).
O ethos discursivo é parte constitutiva da cena de enunciação. É por meio do
ethos que o enunciatário está convocado a um lugar, inscrito na cena de enunciação. A
cena de enunciação é composta por três cenas, “cena englobante”, “cena genérica” e
“cenografia” (MAINGUENEAU, 2008b, p. 70, grifos do autor):
A cena englobante atribui ao discurso um estatuto pragmático, ela o integra
em um tipo: publicitário, administrativo, filosófico [...]
A cena genérica é a do contrato associado a um gênero ou a um subgênero de
discurso: o editorial, o sermão, o guia turístico, a consulta médica [...]
Quanto à cenografia, ela não é imposta pelo gênero, mas construída pelo
próprio texto: um sermão pode ser enunciado por meio de uma cenografia
professoral, profética, amigável etc.
A cenografia é instaurada progressivamente pela enunciação como sua própria
cena de fala, ela é ao mesmo tempo de onde vem o discurso e aquilo que o discurso engendra, ela legitima um enunciado que deve legitimá-la. Este processo se dá por meio
dos conteúdos desenvolvidos pelo discurso. Os conteúdos permitem validar tanto o
ethos como sua cenografia que faz esses conteúdos surgirem (MAINGUENEAU,
2008b). Em uma cenografia, como em qualquer situação de comunicação, a figura do
enunciador e a figura correlativa do enunciatário são associadas a uma cronografia (um
momento) e a uma topografia (um lugar), das quais supostamente o discurso surge.
Pensar a construção do ethos discursivo no jornalismo de revista, em especial
nas revistas semanais de informação brasileiras, é interessante para problematizar algumas singularidades presentes nesta prática jornalística. Conforme Benetti (2013, p. 45),
o jornalismo de revista é um modo de conhecimento e um discurso, evidenciando o
“poder hermenêutico do jornalismo de revista: ele é um tipo bastante específico de dis-
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curso, que constrói sentidos sobre o mundo de forma lenta, reiterada, fragmentada e
emocional”.
As revistas produzem um jornalismo menos focado na informação factual e mais
voltado para ajudar o leitor a interpretar o que ocorre no seu cotidiano (SCALZO,
2004). Para Tavares (2011) as revistas constituem um tipo de jornalismo especializado
na interpretação das informações aliadas aos recursos visuais, agregando leitores, anunciantes, jornalistas e um título (uma identidade). Mesmo que pertençam a um mesmo
segmento editorial, cada revista tem uma identidade própria que faz com que o leitor se
identifique com ela e a reconheça, pelo formato, o estilo do texto, o design, as seções
fixas, as colunas (ALI, 2009).
Dentre os diversos segmentos, as revistas semanais de informação geral ocupam
um lugar diferenciado: “elas buscam tratar dos acontecimentos mais importantes da
semana, abrangendo os fatos políticos, econômicos, internacionais, científicos e culturais” (BENETTI, 2013, p. 52). A abordagem destes temas se propõe a ser mais aprofundada que nos veículos diários, por meio da reportagem, de entrevistas com especialistas
e textos de análise (SCALZO, 2004). Além da importante característica da revista semanal de informação como formadora de opinião (VILAS BOAS, 1996).
Essas características fazem com que as revistas semanais de informação estejam
mais próximas do que é considerado, tanto pelos profissionais das revistas quanto pelos
leitores, o “bom jornalismo”. Por isso, a condição de identidade do contrato de comunicação do jornalismo (“quem diz e para quem”), que se revela na relação entre o que os
interlocutores imaginam sobre si e sobre o outro, está fortemente amparada nos princípios deontológicos do jornalismo como compromisso com a verdade, divulgação de
informações de interesse público, competência na apuração das informações etc., características inerentes ao que se esperada de um jornalista (BENETTI, 2013) e ao que no
âmbito desta pesquisa pode ser compreendido como o ethos pré-discursivo.
Aqui, analisamos a construção do ethos discursivo das revistas semanais de informação por meio do discurso enunciado na cena genérica do editorial, por sua relevância ao se constituir no lugar reconhecido por revelar conteúdos da linha editorial das
publicações.
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3. O editorial como cena genérica de enunciação nas revistas
O editorial é uma importante cena genérica para a construção da imagem de si
das revistas, pois é um gênero jornalístico opinativo4 que comunica o conteúdo informativo considerado de maior importância pela linha editorial da revista, ao mesmo tempo
em que expõe o ponto de vista oficial da publicação.
Por comunicar a linha editorial das publicações o editorial possui intrínseca relação com a missão, em que está definido o objetivo da revista, o público leitor, o tipo de
conteúdo que vai abordar e de que modo, ou seja, a linha editorial (ALI, 2009). De modo mais complexo, o editorial representa articulações políticas e interesses variados, dos
diretores, dos jornalistas, dos leitores, dos anunciantes (MELO, 2003).
O editorial é um importante espaço de construção da imagem de si porque por
mais que exista diferença de estilo entre um editorial, de cunho opinativo, e as notícias e
reportagens, de cunho informativo, a opinião editorial vai repercutir na seleção e apuração de todas as informações da publicação (LISBOA, 2012). “O editorial só é possível
em decorrência de uma linha editorial, ainda que mal traçada ou instável. É (ou deveria
ser) o espaço da manifestação explícita das opiniões que guiam o jornal – o que também
pode valer para a revista de informação” (BOFF, 2013, p. 191, grifos do autor).
A importância do editorial como espaço de posicionamento da publicação permanece ao longo dos anos, por mais que ele altere as suas características, como a mudança da impessoalidade (nos jornais impressos) para a personalização (nas revistas),
por meio da assinatura dos editoriais, buscando aproximar-se do leitor, ou ainda pela
nomeação do editorial de “carta ao leitor”, “carta do editor” (BOFF, 2013) ou algo parecido. No caso das revistas semanais de informação, conhecidas por desempenharem um
jornalismo interpretativo por meio do gênero reportagem, opinião e informação se confundem. Sobre esta relação Boff (2013, p. 202) visualiza uma possível convivência:
[...] a opinião tem influência/presença significativa no texto jornalístico de
revista, especificamente no gênero da reportagem, e pode conviver perfeitamente com a interpretação. E o melhor: pode fazer isso às claras, sem receio
de prejuízos à credibilidade. Basta tornar essa relação mais transparente – e o
editorial é um ótimo ponto de partida.
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Em termos de gênero jornalístico, consideramos a classificação de Melo (2003), que diferencia os gêneros entre jornalismo informativo e jornalismo opinativo.
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Por isso a importância do editorial como uma cena genérica privilegiada para a
construção do ethos discursivo das revistas. Na sequência, apresentamos algumas características dos editoriais das revistas semanais de informação brasileiras.
O editorial de Veja é enunciado pela cartola (nome) “Carta ao Leitor” (Figura 1),
convocando o leitor à leitura e adesão das ideias por ele apresentadas. Não possui assinatura, nos permitindo inferir que seja uma estratégia discursiva para dizer ao leitor que
esta é a opinião da Veja, sem personificação. Das quatro edições analisadas, todos os
editoriais utilizavam fotografias legendadas, dos profissionais da revista e/ou dos entrevistados, ou ainda de capa (s) de edições anteriores.
Figura 1. Editorial de Veja, edição nº2260, de 14/3/2012.
O editorial de Época também recorre ao uso de fotografias (com legendas) dos
profissionais da revista e/ou entrevistados ou capa(s) de edições anteriores. A cartola
(nome) da editoria é “Da redação” (Figura 2), produzindo sentidos de conhecimento
sobre a apuração dos temas, de que tem autoridade/legitimidade para falar, apresentar
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um assunto. Os editoriais de Época possuem a assinatura (autoria) do diretor de redação
Helio Gurovitz, inclusive com a reprodução da assinatura manual, o que reforça estes
sentidos de autoridade/legitimidade.
Figura 2. Editorial da Época, edição nº 720, de 5/3/2012.
Na IstoÉ, junto à página do editorial (Figura 3), na parte superior, há uma manchete enunciando o tema principal da capa, com fotografia, legenda e página. A cartola
(nome) da editoria é “Editorial”, seguida de um título e uma fotografia, ambos alinhados
à esquerda. As fotografias são ilustrativas do tema e não possuem legenda. O editorial
possui a assinatura do diretor editorial Carlos José Marques, o que produz o efeito de
sentido de autoridade/legitimidade e de responsabilidade para enunciar.
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Figura 3. Editorial da IstoÉ, edição nº 2211, de 28/3/2012.
Na CartaCapital a cartola (nome) da editoria é “Editorial” (Figura 4), seguida da
assinatura do diretor de redação Mino Carta. O nome de Mino Carta está junto com o
nome “Editorial”, personalizando este espaço na revista e produzindo sentidos de autoridade e legitimidade para enunciar. O título de cada editorial é seguido de um subtítulo
explicativo sobre o tema enunciado. Assim como nas outras revistas semanais, CartaCapital utiliza fotografias (com legendas) dos entrevistados ou de pessoas ou objetos
que possuem relação com o tema do editorial, produzindo sentidos de objetividade e de
veracidade.
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Figura 4. Editorial da CartaCapital, edição nº 689, de 21/3/2012.
Além dessas características da cena genérica dos editoriais de Veja, Época, IstoÉ
e CartaCapital, com algumas semelhanças, como o uso de fotografias, há ainda especificidades da cenografias de cada uma das revistas, conforme descritas a seguir.
4. Encenações das imagens de si das revistas semanais de informação brasileiras em seus editoriais
Conforme nossa perspectiva teórico-metodológica os elementos que constituem
a cena de enunciação são: a cena englobante (discurso jornalístico), a cena genérica (o
editorial) e a cenografia, que é as características do modo de enunciar e as estratégias
discursivas utilizadas pelas revistas para a construção do ethos discursivo.
Depois da identificação do editorial como cena genérica de enunciação do ethos
nos voltamos para identificação dos sentidos sobre o “outro” (o leitor, os agentes de
outros campos sociais, as revistas concorrentes e os demais agentes do campo jornalístico) e os sentidos sobre si (que remetessem à própria revista, à linha editorial, aos seus
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profissionais e aos princípios e valores do jornalismo). Buscamos na reiteração destes
sentidos, ou seja, na paráfrase (ORLANDI, 2005; BENETTI, 2010) os modos do discurso das revistas enunciarem imagens de si.
Depois de identificarmos os sentidos que remetem a imagens de si das revistas
quantificamos a incidência e reiteração destes sentidos (paráfrase). Contabilizamos a
repetição dos sentidos e consideramos como relevantes os que possuem incidência de
pelo menos 25% do total dos quatro textos de cada revista (editoriais/cenas genéricas).
Apresentamos a seguir os resultados da análise a partir da sistematização das estratégias
que remetem aos núcleos de sentidos para a construção das imagens de si das revistas,
seguidos de um exemplo ilustrativo de cada revista.
Na organização das estratégias de construção do ethos, observamos que o discurso das revistas se posiciona em relação a um saber sobre:
a) o que é o “bom” e o “mau jornalismo”: presente nas autorreferências e nas
referências aos agentes do campo jornalístico, mas também em textos autorais, na primeira pessoa do singular, característico do texto opinativo;
b) o que é do interesse do leitor: presente nos textos que utilizam uma linguagem direta em relação ao leitor, como no uso dos verbos afirmativos (observe, veja, leia
etc.), no uso do pronome possessivo na primeira pessoa do plural (nosso) e na segunda
pessoa do singular (seu);
c) o que é novo e atual: nos temas que estiveram em evidência naquela semana
ou que mereceriam ter estado em evidência, também ao publicarem temas mais estendidos no tempo, mas que a revista julga merecedores de atenção, em que as revistas se
utilizam de imagens visuais criativas, expressões, metáforas etc., para conquistar a adesão do leitor;
d) fazer um trabalho rigoroso: utilizam referências a fontes confiáveis, selecionam dicas, mostram precisão e modos de mensuração, trazem dados científicos, fotografias etc.;
e) por ter estado presente, porque estava lá: na utilização de fotografias e legendas, pela personalização de diversas temáticas com exemplos reais e pela própria autorreferência ao trabalho dos repórteres das revistas que se fizeram presentes nos locais de
apuração;
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f) por ter buscado o melhor especialista: presente nas referências explícitas ao
especialista (s), ao cientista (s) e à Ciência de um modo geral;
g) expressar diversos temas: presente nas marcas discursivas de exclusividade,
no destaque para reportagens especiais, no uso de uma linguagem inteligente, com imagens visuais criativas, metáforas, no interdiscurso, na assinatura dos editoriais etc.
Um exemplo ilustrativo dos editoriais de Veja está no tom irônico e o uso de metáforas no editorial do dia 14 de março de 2012 (Figura 1 referida no item 3), que trata
dos governos do PT e suas relações com os partidos aliados, mostrando o posicionamento da revista como legítima, de quem pode dizer porque sabe. A autorreferência está
presente logo no início do texto: “Uma reportagem desta edição de VEJA mostra que
os dois governos do PT [...]”. O restante do texto está todo marcado pelo uso de metáforas e ironias (“lágrimas derramadas”, “sapos engolidos”, “rapapés feitos” etc.); por adjetivos (“folgadas”, “magnífico”, “extraordinário” etc.); advérbios (“sovinamente”,
“amargamente”); da conjunção adversativa “mas”; e do verbo ser no presente do indicativo “é”, afirmando com convicção (“é de chorar”, “isso é de chorar”).
A referência factual são as lágrimas reais da presidente na cerimônia de troca de
um ministério, juntamente com a fotografia e a legenda, produzindo sentido de objetividade e veracidade, sendo a legenda uma pergunta em tom irônico: “As lágrimas de
Dilma na despedida de Luiz Sérgio, tanto sofrimento para que mesmo?”.
O índice de real da fotografia serve de inspiração para o título que em um tom
autoritário, com o verbo no imperativo, e ao mesmo tempo criativo, enuncia: “Chore
por nós, presidente”. Esta enunciação em um tom autoritário e, de certo modo criativo,
produz sentidos de objetividade, competência, autoridade e legitimidade para enunciar.
No exemplo do editorial da Época, a competência dos profissionais da revista é
relacionada à competência de uma especialista, no editorial de 5 de março de 2012 (Figura 2 referida no item 3). Há marcas de autorreferência à equipe de editores e jornalistas que elaboraram a reportagem, produzindo o sentido de competência, dedicação, profissionalismo e apuração por parte dos profissionais que investigaram sobre o tema:
[...] Coube ao editor executivo Ivan Martins e à editora Marcela Buscato
coordenar a equipe que procurou a resposta para essa questão da forma
mais jornalística possível: por meio da reportagem.
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A conclusão a que nossa equipe chegou foi expressa de modo mais feliz pela
intelectual americana Camille Paglia na entrevista que concedeu a
ÉPOCA (leia suas respostas na página 88): “O feminismo não é honesto
com as mulheres”.
Os exemplos revelados pela reportagem da página 72 comprovam [...]
Seria impossível fazer esse tipo de cobertura inteligente e profunda sobre
um assunto tão sensível se ÉPOCA não contasse com um privilegiado time de mulheres jornalistas[...].
O comentário sobre a entrevista com a intelectual Camille Paglia, fazendo referência tanto no texto quanto na foto legendada produzem o sentido de objetividade,
além disso, outra referência que remete ao sentido de objetividade são os “exemplos que
comprovam”. Já a ênfase às mulheres jornalistas da revista produz sentidos de que elas
possuem sensibilidade, competência e inteligência para falar do tema, ou seja, legitimidade. O editorial faz referência ao “sucesso” do Blog Mulher 7x7 na versão online da
revista (correferência), produzindo sentidos de que a revista está constantemente se atualizando, de que é contemporânea. Por este destaque não só para a competência, mas
para a sensibilidade da equipe de reportagem a cenografia assume um tom amigável.
Um exemplo ilustrativo sobre a questão do rigor na escolha de um tema polêmico está no editorial da IstoÉ (Figura 3 referida no item 3), de 28 de março de 2012, que
aborda sobre a reação dos políticos (“Políticos indignados”) sobre casos de propina,
recentemente divulgados (na época), por meio de imagens televisivas. A utilização de
expressões como “ao que tudo indica”, “nessas circunstâncias”, “do contrário”, “seria”,
“não é” constroem um tom de dúvida e crítica ao enunciado “políticos indignados”, e de
que a revista está sendo sóbria e justa ao tratar o tema. A presença correferencial ao
campo jornalístico por meio da imagem divulgada pela TV Globo produz o sentido de
objetividade, de um registro real dos fatos ocorridos, de que a revista está sendo verdadeira.
No decorrer do editorial diversos questionamentos problematizam o tema e reforçam o tom duvidoso da cenografia em relação à indignação dos políticos e expõem o
posicionamento de indignação da revista (diretor editorial) com os políticos. O uso do
verbo “ser” no afirmativo “é” e “são” nos últimos trechos do editorial, além da utilização de adjetivos (“política desavergonhada”, “chantagismo barato”, “prática de fisiologismo desprezível”), juntamente com a autorreferência à reportagem da revista (“... co13
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mo revela ISTOÉ em reportagem a partir da página 46 desta edição”) explicitam o seu
posicionamento de autoridade e legitimidade.
Um exemplo de discurso que produz sentidos de “bom jornalismo” sobre si por
meio da referência ao outro (“mau jornalismo”) é o editorial de CartaCapital (Figura 4
referida no item 3), de 21 de março de 2012, que expressa o posicionamento crítico da
revista em relação ao campo jornalístico. Sob o título “A TV Cultura não é pública. Ela
é tucana”, se referindo ao espaço concedido pela TV Cultura de São Paulo para os jornais Folha de S.Paulo5, Estadão, Valor e para a revista Veja, o posicionamento da revista é explicitamente contrário, marcado pela crítica à suposta imparcialidade e isenção do
jornalismo, por meio da referência às mídias do campo:
A perfeita afinação entre a mídia nativa e o tucanato está à vista, encarnada [...];
Ocorre que a tevê pública paulista acaba de oferecer espaço não somente à
Folha, mas também ao Estadão, Valor e Veja;
Trata-se de agradar aos mais conspícuos barões da mídia [...];
Aqui, engole-se sem o mais pálido arrepio de indignação, a hipocrisia de
quem se pretende isento enquanto exprime as vontades da casa-grande.
Estes enunciados produzem efeitos de sentidos de que a CartaCapital, ao criticar
o posicionamento destes veículos, se diferencia deles e, ao mesmo tempo, nos ativa a
memória para valores basilares do jornalismo, como liberdade, independência e honestidade. E a revista atribui para si sentidos de que é crítica, honesta e independente.
No decorrer do editorial há o uso de adjetivos, metáforas e ironias: “mídia nativa”, “herdeiros da casa-grande”, “barões da mídia”, “tucanagens”, “jornalões” etc., que
produzem sentidos de autoridade e legitimidade ao enunciador. Além disso, o tempo
verbal na primeira pessoa (do singular e do plural) e marcas de autorreferência expressam a opinião e o posicionamento da revista:
[...] sou informado a respeito do nascimento de uma TV Folha;
Por enquanto, que eu saiba [...];
Do volumoso pacote não constava obviamente CartaCapital, assim como
somos excluídos do recente convite da Cultura. O que nos honra sobremaneira;
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No período de publicação do editorial apenas o jornal Folha havia lançado a TV Folha, com programação no domingo à noite.
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[...] recusaríamos para não participar de uma ação antidemocrática ao
comprometer o perfil de uma tevê pública [...];
Volta e meia, CartaCapital é apontada como revista chapa-branca...[...];
Há quem se abale até a contar os anúncios governistas nas páginas de CartaCapital [...];
Fomos boicotados [...];
Fizemos honestas e nítidas escolhas na hora eleitoral e nem por isso arrefecemos no alerta perene do espírito crítico;
Vimos em Lula [...] embora opinássemos [...]. E fomos críticos em inúmeras
situações [...].
Por todas estas estratégias discursivas o editorial assume um tom perturbador,
reforçado pela última frase, que questiona e convoca o leitor a incorporar a sua cenografia: “No mais, desta vez dirijo minha pergunta aos leitores em lugar dos meus botões:
qual é a mídia chapa-branca?”. O que produz sentidos de uma revista independente,
que enfrenta as concorrentes e as acusações de ser chamada de “chapa-branca”.
Após estas ilustrações do ethos discursivo nos editoriais das revistas, apresentamos uma síntese das estratégias discursivas e dos sentidos que perfazem o ethos discursivo de Veja, Época, IstoÉ e CartaCapital.
As estratégias discursivas da Veja são: recorrência a metáforas e ironias, ao interdiscurso; tom explicativo, didático e por vezes autoritário; autorreferências; utilização
de fotografias com legendas; referência às fontes e especialistas. Estas estratégias produzem
sentidos
de
objetividade/veracidade,
atualidade/novidade,
autorida-
de/legitimidade, competência, criatividade e imparcialidade/neutralidade. Pela incidência destes sentidos o ethos discursivo construído pela revista Veja constitui imagens de
si de Legítima, Verdadeira, Competente, Independente, Contemporânea e Criativa.
As estratégias das cenografias de Época são: em relação à temática e às imagens
visuais, por meio de um tom amigável, de aproximação com o leitor; utilização de verbos no imperativo, em tom explicativo, didático e autoritário; uso de metáforas; autorreferências e correferências; referência aos entrevistados, especialistas e fontes em geral.
Estas estratégias produzem sentidos de objetividade/veracidade, atualidade/novidade,
autoridade/legitimidade, profissionalismo/dedicação, competência, criatividade, imparcialidade/neutralidade, sensibilidade, interesse público, compromisso com o leitor, apuração/rigor, investigação e um tom amigável. A incidência destes sentidos nas cenogra-
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fias de Época constroem imagens de si de Verdadeira, Legítima, Competente, Profissional, Independente, Contemporânea, Criativa, Plural, Amiga e Sensível.
A IstoÉ apresenta estratégias discursivas como: utilização da primeira pessoa do
plural (“nossos”); recorrência aos índices de real; utilização de verbos no imperativo;
tom didático, explicativo e autoritário; utilização de fotografias e legendas; dados quantitativos; autorreferências e correferências; referências a fontes e especialistas; uso de
metáforas e ironias. Estas estratégias produzem sentidos de objetividade/veracidade,
atualidade/novidade, autoridade/legitimidade, competência, criatividade, imparcialidade/neutralidade, interesse público, apuração/rigor e crítica. A incidência destes sentidos
constrói imagens de si da IstoÉ de Verdadeira, Legítima, Contemporânea, Competente,
Criativa, Crítica, Independente e Plural.
As estratégias da CartaCapital são: tom (crítico, irônico, de indignação etc.) associado aos temas, imagens visuais, metáforas e analogias; uso da primeira pessoa do
plural (“nós”); enunciados de forma indireta, na terceira pessoa; referência a fontes e
especialistas; posicionamento crítico e, às vezes, contrário ao tema enunciado; autorreferências e correferências; presença da interdiscursividade e intertextualidade; utilização
de fotografias com legendas; crítica à suposta imparcialidade e neutralidade do jornalismo; uso da primeira pessoa do singular nos editoriais, caracterizando a opinião da
revista, reforçada pela assinatura do editorial. Estas estratégias produzem sentidos de
objetividade/veracidade, atualidade/novidade, autoridade/legitimidade, competência,
criatividade, liberdade, independência, honestidade, interesse público e crítica. A incidência destes sentidos constrói imagens de si da CartaCapital de Legítima, Verdadeira,
Crítica, Contemporânea, Independente, Competente, Honesta, Culta e Politizada.
As quatro revistas (Veja, Época, IstoÉ e CartaCapital) produzem imagens de si
de Legítimas, Verdadeiras, Competentes, Independentes e Contemporâneas. Três delas
(Veja, Época e IstoÉ) também produzem imagens de si de Criativas. Duas revistas
(Época e IstoÉ) produzem imagens de si de Plurais. A IstoÉ e a CartaCapital produzem
imagens de si de Críticas. A Época constrói também a imagem de si de Profissional,
Amiga e Sensível. E a CartaCapital constrói ainda imagens de si de Honesta, Culta e
Politizada.
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5. Considerações finais
Nossos resultados possuem semelhanças com pesquisas anteriores, como o estudo de Benetti e Hagen (2010), que analisou o ethos no discurso institucional (de sites
oficiais e entrevistas concedidas pelos profissionais) das quatro revistas semanais de
informação; e também um estudo anterior em que analisamos as capas de uma semana
das quatro revistas (BERTASSO, 2012). Tanto o estudo de Benetti e Hagen (2010) como em Bertasso (2012) obtiveram resultados com imagens de si de Independentes,
Competentes e Comprometidas com o leitor. Neste artigo as semelhanças estão, em especial, nas imagens de si de Legítimas, Verdadeiras, Competentes, Independentes e
Contemporâneas.
Portanto, a construção do ethos discursivo se constitui em um dos mais importantes posicionamentos dos interlocutores na prática discursiva. Ao produzir estratégias
discursivas e modos de enunciar, pela autorreferência ou na referência ao “outro”, cada
interlocutor constrói uma imagem de si a partir da imagem prévia que tem do outro.
Este processo revela aspectos do contrato de comunicação das revistas semanais de informação brasileiras com seus leitores, assim como reforça a imagem prévia que temos
do ethos destas revistas.
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