Contribuições da Antropologia à Economia e História Econômica
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Contribuições da Antropologia à Economia e História Econômica
Contribuições da Antropologia à Economia e História Econômica Este trabalho traz algumas contribuições da Antropologia, em especial do ramo conhecido como Antropologia Econômica, para a análise do funcionamento da vida econômica e material tanto das sociedades ocidentais como outras passadas e presentes. Os estudos antropológicos podem ser uma boa alternativa para o conhecimento dos sistemas sociais das sociedades não-ocidentais bem como a relação entre estas e a sociedade ocidental e suas implicações históricas. Além disso, elementos tradicionais estiveram, estão presentes e modificando as modernas sociedades industriais que são o principal objeto das pesquisas em economia. O estudo antropológico combinado com o estudo histórico visa entender a história econômica como uma realidade movente e não apenas como um conjunto de imagens, motivo pelo qual o objeto tem primazia ao método e não tentamos captar os eventos através de conceitos fixos, mas através da duração em si. Começamos com a análise dos trabalhos de Malinowski, Mauss, Polanyi, Sahlins e alguns de seus colaboradores e comentadores. Nos trabalhos etnográficos e etnológicos procuramos apreender os elementos econômicos e suas relações com os aspectos culturais e sociais. Já nos trabalhos de teoria antropológica buscamos apreender os métodos de uma ciência ainda recente e de intenso caráter empírico que parece, ao contrário da economia, não estar tão infestada de dogmas. Portanto, trata-se de uma tentativa de quebrar a “barreira” artificial criada entre as ciências sociais, ou seja a tendência a seguir métodos diferentes e determinados para cada ciência. Foi efetuado um levantamento bibliográfico juntamente com a leitura das obras mais relevantes para a apreciação do caráter econômico, através de pesquisas antropológicas, bem como de comentários em relação a essa bibliografia, sempre analisando as possíveis contribuições para o entendimento da história econômica. O resultado é um conjunto de conhecimentos e métodos que pode levar ao aumento da abrangência epistemológica da economia e da história econômica e, com isso, a possibilidade de abrir novos campos de estudo, métodos e diálogos entre as ciências, as artes e a filosofia. Os trabalhos de Malinowski, em especial Os Argonautas do Pacífico Ocidental, podem ser considerados pioneiros na descrição etnográfica de uma sociedade primitiva e serviram de base para a elaboração das teorias de Marcel Mauss e Karl Polanyi. Marcel Mauss utilizando dados etnográficos, dentre eles os de Malinowski, foi um dos primeiros a elaborar princípios teóricos na Antropologia, destacando-se “Ensaio sobre a dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas” no qual são elaboradas as primeiras teorias antropológicas que depois dariam origem aos trabalhos de Lévi-Strauss, Louis Dumont e Marshall Sahlins. Foi Lévi-Strauss o discípulo que levou a teoria da dádiva de Marcel Mauss a um nível mais formal que resultou no seu principio da reciprocidade, uma abordagem estrutural que se baseia na simetria entre as trocas que podem ser de três tipos: troca de bens, mulheres e palavras. Louis Dumont estudando por mais de trinta anos a sociedade de castas indiana e a ideologia européia desenvolveu trabalhos sobre individualismo e hierarquia. Karl Polanyi é o maior exemplo de trabalho interdisciplinar, juntando conceitos econômicos, antropológicos e históricos. Além de desenvolver conceitos teóricos como os de redistribuição (uma reciprocidade entre um estado e um chefe), reciprocidade (troca simétrica entre os indivíduos), domesticidade (organização que tem por base a casa, família e a distribuição por um patriarca ou uma matriarca) e troca de mercado que caracterizam diferentes estágios da história econômica. Marshall Sahlins seu discípulo foi o criador de conceitos como demanda seletiva através do qual estuda as relações de troca entre o sistema mundo e os povos colonizados discutindo quais foram as escolhas de troca e se isso gerou destruição da cultura da sociedade colonizada. Um grande trabalho de síntese foi realizado por Marcos Lanna que criou o conceito de reciprocidade hierárquica ou seja um conceito que engloba assimetria em todas as trocas oriunda da hierarquia existente que pode ser de um chefe político, econômico ou apenas da pessoa que inicia o processo de troca. Seu trabalho empírico numa cidade do nordeste revelou relações de reciprocidade e a hierarquia existente em relações de patronagem e apadrinhamento, típicas no nordeste do Brasil. Esses conceitos tem grande utilidade quando se tenta evitar uma visão etnocêntrica, evolucionista ou difusionista da história. E permite a utilização de conceitos específicos para sociedades diferentes da sociedade de mercado. Bibliografia MAUSS, Marcel, Ensaio Sobre a Dádiva, in: Sociologia e Antropologia, EPU/EDUSP, 1974. POLANYI, Karl, A Grande Transformação, Ed. Campus, Rio de Janeiro, 2000 (1944). POLANYI, Karl, ARENSBERG, Conrad, PEARSON, Harry, Trade and Market in the Early Empires, The Free Press, New York, 1957. GUDEMAN, Stephen, The Anthropology of Economy, Blackwell Publishers, Malden, Massachusetts, 2001. LANNA, Marcos, Repensando a Troca Trobriandesa, in: Revista de Antropologia, São Paulo, USP, 1992, v. 35, p. 129-148. SAHLINS, Marshall, A Primeira Sociedade de Afluência, in: CARVALHO, E. (Organizador), Antropologia Econômica, Ed. Ciências Humanas, 1978. SAHLINS, Marshall, Cosmologias do Capitalismo: o setor transpacífico do sistema mundial, in: Religião e Sociedade, Vol. 16, no. 1-2, novembro de 1992.
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