O Redator d`A Arca Perdida

Transcrição

O Redator d`A Arca Perdida
Marcus Vinicius Garrett Chiado
O Redator d’A Arca Perdida
São Paulo
2010
Edição do Autor
Capa: Phil Heeks
Diagramação: Marco A. Matsunaga ([email protected])
Revisão: Ana Bracht
Impressão: Edição por Demanda
O uso de imagens neste livro é puramente ilustrativo e não tem, em absoluto, o intuito de
infringir os respectivos direitos autorais. Além disto, ele não é comercializado, mas distribuído
gratuitamente.
C532r
Chiado, Marcus Vinicius Garrett.
O redator d’a arca perdida / Marcus Vinicius Garrett Chiado –
São Paulo, 2010.
338 p. : il. ; 14,8 x 21 cm.
ISBN 978-85-910970-0-5
1. Jornalismo, editoração, imprensa documentária e educativa
I. Título.
CDD-070
À minha mãe,
quem me ensinou que amar e ser
amado nunca é em demasia.
Ao meu pai,
quem me ensinou o
valor da honestidade.
Ao meu padrinho,
quem me revelou
o dom da generosidade.
À minha esposa,
quem me mostrou que
a alma pode ser gêmea.
À minha filha,
quem me lembrou que amar e ser
amado nunca é em demasia.
“O verdadeiro sinal de inteligência não é o conhecimento,
mas, antes, a imaginação.”
Albert Einstein
Prefácio
De 2002 a 2004, época em que estive desempregado e estudando para um concurso público, deram-me a oportunidade de fazer uma
das coisas de que mais gosto, porém, em nível profissional: escrever.
Naquele período de dois anos, fiz parte da equipe de redatores de um
site especializado em Entretenimento, “A ARCA”; gentilmente convidado
pelos amigos Thiago Cardim, o “El Cid”, e Paulo Martini, o “Fanboy”, a
integrar o grupo de “Arqueiros”.
Uma vez lá, tive a chance de escrever sobre filmes, séries de tevê,
desenhos animados, quadrinhos, livros e games, e pude entrevistar algumas personalidades. Certas pautas eram requisitadas por eles, outras,
eram sugeridas por mim. No fim, a diversão prevalecia e eu conseguia
relaxar em meio à maratona de estudos.
Acabei passando no concurso. A Arca, infelizmente, acabou fechando em 2009. O convite trouxe frutos, pois consegui escrever para
outros sites (Aumanack, Burburinho, RetrôTV), bem como, em uma
oportunidade cedida pelo amigo Gustavo Klein, tive um artigo pulicado
no jornal A Tribuna de Santos.
Neste livro procurei, a fim de que não fossem perdidos, reunir a
maioria de meus textos publicados; não todos, uma vez que o site inexiste e vários se perderam. Precisei recorrer aos meus arquivos de segurança e penso ter recuperado setenta porcento. Reproduzi, também,
artigos veiculados em outros lugares, bem como incluí dois textos inéditos: uma crônica humorística e o relato de minha viagem à Califórnia
em que – quase – visitei E.T. O Extraterrestre.
Saliento que o material se apresenta sem retoques, atualizações
ou correções, ou seja, encontra-se do exato jeito em que foi ao ar originalmente no início dos anos 2000. Olhando para alguns dos textos, com
a cabeça de hoje, não posso deixar de achá-los pitorescos, exagerados e
até infantis, mas os mesmos também são um retrato daquele tempo; um
retrato de meu “eu” de quase dez anos atrás.
Espero que gostem da viagem no tempo!
Sumário
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05
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Star Trek Vs. Star Wars..............................................................................................................11
Além da Imaginação................................................................................................................17
Admirável Mundo Novo.........................................................................................................23
Vampiros no cinema: uma trajetória de sangue............................................................27
Camelot 3000: o derradeiro retorno do Rei Arthur. .....................................................39
E.T. – O Extraterrestre: Parte II A continuação não filmada........................................45
Os Heróis não têm Idade........................................................................................................55
1983 – 2003: A comemoração dos vinte anos do videogame no Brasil. ..............61
Roger Corman: o Rei dos Filmes B......................................................................................67
Tradução para Legendagem e Dublagem.......................................................................73
KRULL: o clássico cult de1983 completa 20 anos!. .......................................................79
Danger Mouse: o maior agente secreto do mundo!....................................................85
Galáctica. .....................................................................................................................................91
John Matuszak: cruisin’ with the tooz................................................................................97
Hellboy. ........................................................................................................................................99
Tron..............................................................................................................................................101
Entrevista com Guilherme Briggs Transformers, O Filme.........................................107
Os heróis dos anos oitenta estão de volta! ...................................................................115
Séries de TERROR: 44 anos de história. ...........................................................................119
Memórias do Atari O Natal de 1983!................................................................................129
Peter Pan....................................................................................................................................133
Alien Abduction: Incident in Lake County.....................................................................137
Entrevista: diretor Dean Alioto...........................................................................................141
Dark Star: o primeiro clássico de John Carpenter.......................................................145
Os Filmes que o Mundo Esqueceu. ..................................................................................149
Inimigo Meu: parábola da década de oitentas obre amizade e tolerância........157
Ren & Stimpy Happy, Happy, Joy, Joy!.............................................................................165
Transformers: The War Within.............................................................................................169
“Do Over”: De volta aos Anos Oitenta!............................................................................173
Os Anos Setenta Voltaram! São os Funky Cops!...........................................................175
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TCR. ..............................................................................................................................................179
Night Walker: O Andarilho da Noite.................................................................................187
Por onde andam estes sujeitos? Parte I. .........................................................................191
Por onde andam estes sujeitos? Parte II.........................................................................197
Animes Famosos.....................................................................................................................203
Kung Fu: Uma Lenda da TV. ................................................................................................209
Os Mestres da Trilha Sonora Parte I..................................................................................229
Os Mestres da Trilha Sonora Parte II.................................................................................235
Os microcomputadores da Atari.......................................................................................239
Ulrich Jon Roth, o Deus da Guitarra ................................................................................245
Zona Morta: o remake de um clássico. ...........................................................................249
Star Wars – Episódio 2: Ataque dos Clones....................................................................255
Cowboy Bebop: animê de ficção científica com pinta de coisa antiga...............259
Navio Fantasma: é tão previsível que chega mesmo a assustar!...........................263
Monty Python. .........................................................................................................................267
Stefan Karl Steffanson, o Robbie Rotten de LazyTown. ............................................275
Zathura: Sessão da Tarde do século XXI!. .......................................................................279
Gigantes do Ringue: A Nova Geração..............................................................................283
Jogos de Tabuleiro: eles ainda seduzem!.......................................................................285
Especial fim de ano: Filmes do Garrettimus..................................................................291
Algumas referências literárias vistas em The Matrix. .................................................297
Monty Python e o Cálice Sagrado. ...................................................................................303
RetrôTV: o maior site brasileiro de séries e desenhos antigos................................307
S.W.A.T.: clássica série policial dos anos setenta fez história...................................311
Video games clássicos e filmes dos anos oitenta: uma bela mistura!..................315
Uma tarde no Proctologista. Pequena crônica de grande incômodo.................325
O dia em que – quase – visitei E.T. O Extra-Terrestre (30 anos atrasado!)...........329
Star Trek Vs. Star Wars
É verdade e todos estão cansados de saber: existe uma rivalidade, às vezes clara, às vezes dissimulada, que se apodera tanto dos fãs de Star Wars quanto dos fãs de Star Trek.
Certas pessoas tendem a gostar de Luke Skywalker; outras,
a admirar o Capitão Kirk. Mas, será mesmo que os universos de ambas as produções são tão distintos assim? Haverá
muitas diferenças entre o Império de Darth Vader e a Federação Unida de Planetas?
Viaje conosco através deste artigo e descubra quais são as
diferenças essenciais entre as duas franquias mais queridas
do universo cinematográfico.
Guerra Nas Estrelas:
O Mito do Herói
e Fantasia
A produção de George Lucas,
Guerra nas Estrelas, foi concebida para
ser contada na forma de épico, de lenda,
como um flash do passado que se perde
conforme a passagem das eras. A clássica
narração de abertura - “há muito tempo,
numa galáxia muito distante” - dá o tom
das aventuras de Luke Sywalker e de sua
trupe de heróis intergalácticos, os quais,
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O Redator d’A Arca Perdida
mitos que são, despertam uma fagulha no inconsciente humano; arquétipo do qual, segundo Jung, toda pessoa – seja de qualquer cultura e época – dispõe e compartilha com os demais.
Star Wars trata do passado. É algo que já aconteceu, portanto,
não tem um caráter revelador, não preconiza o futuro, e justamente
por isso carrega o caráter de mito. Os mitos, segundo o escritor Joseph Campbell, são vitais para que as civilizações aprendam com as
sombras do passado e, por conseguinte, preparem um futuro melhor
ao desenvolver seu Ethos. Campbell, aliás, foi estudado por Lucas,
que leu exaustivamente a obra O Herói De Mil Faces antes de criar
seu universo fantástico.
Em Guerra nas Estrelas existe um Império Galáctico; poderoso, militarizado, mecanizado e tecnológico. Há, também, mundos
diversos que fervilham de seres magníficos e díspares. Existe, sim, a
Força; o conhecimento ancestral sobre as forças da natureza: a única
voz que nos une e que é responsável pelo mover das águas dos oceanos, pelo calor do Sol, pela criação da vida; por tudo. O contraponto
criado entre a tecnologia e esse “conhecimento interior” – a Força - é,
talvez, o maior responsável pelo caráter mítico de Star Wars.
A figura do Jedi, ser que, em meio ao belicismo e a toda a
tecnologia daquele tempo, vale-se ainda dessa Força - e do conhecimento ancestral - para colocar ordem no Universo é o retrato da
busca interior inerente à maioria das culturas orientais da Terra. E o
Cavaleiro Jedi é o espelho do Mito do Herói de Jung: o suposto homem comum que se descobre especial e que, auxiliado por um sábio,
soma algo a si – isto é, adquire algo – reúne comandados, enfrenta
dificuldades e regressa vitorioso, cheio de glórias.
O trajeto de Luke Skywalker ilustra esse mito, pois se percebe
naquele herói as fases descritas por Campbell em seu livro: Partida,
Iniciação, Retorno e Fim da Jornada (as duas últimas etapas somente
acontecem na terceira parte da trilogia). Ele é filho de Anakin Skywaler, um dos Jedis mais poderosos de que se tem notícia, e da Princesa
Amidala. Aqui cabe uma alegoria para com as divindades da Antiguidade Clássica: como um herói Grego, Luke nasceu do relacionamento de um Deus ou Semi-Deus (Anakin / Darth Vader) com uma mortal
(Amidala) e, como tal ser escolhido, adquiriu poder, enfrentou mons-
Star Trek Vs. Star Wars:
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tros e regressou à sua terra. Como se
vê, Guerra nas Estrelas dispõe de uma
iconografia totalmente voltada ao
mito, à lenda, na qual o enredo foi embasado. Antigos ciclos se completam
e novos principiam: do caos surge a
ordem, do Mal surge o Bem (Anakin
“nasceu” do Bem, ao passo que Luke,
do Mal, mas virou-se ao Bem, e assim
por diante). O maniqueísmo, é verdade, é notoriamente partícipe da saga
de Lucas.
Em Guerra nas Estrelas há outro fator interessante: apesar de todo
o militarismo e de toda a tecnologia,
inexiste a preocupação em explicar
esse paradigma; o espectador nem se
dá conta de como a Estrela da Morte
funciona, de qual combustível o caça
Asa-X utiliza, de como um sabre-deluz “acende” ou de como as naves dão
o salto ao hiperespaço. Esse rigor científico não é a temática da saga,
mas mero detalhe sobre o qual o mito de Lucas é desenhado e construído. De fato, essa peculiaridade leva muitos a apontarem Star Wars
como uma série de Fantasia, não de Ficção Científica.
Jornada nas Estrelas: o brilhantismo
da mente humana e a tecnologia
O universo de Jornada nas Estrelas, apesar de igualmente
dispor de um caráter mítico – ainda que diminuto, é essencialmente
voltado ao brilhantismo da mente humana, a vencer os próprios obstáculos. A série trata de como o Homem sobrepujou a dita adolescência tecnológica – por meio da qual esteve à beira do holocausto
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O Redator d’A Arca Perdida
nuclear – através de seu intelecto; de seu poder de raciocínio que
transcende a si próprio desde o aparecimento do Homo sapiens. À
exceção das tradições vulcanas de Spock, não há praticamente nada
parecido com a Força de Lucas, e isso é fato.
O Homem venceu a fome, o
preconceito e as guerras, e lançouse numa nova etapa de sua evolução: a conquista do espaço. Star
Trek, diferentemente de Star Wars,
é uma Utopia que tenta preconizar
o futuro; mostrar, positivamente,
como serão as coisas a partir do Século XXIII. Roddenberry não se preocupou em transformar o paradigma
da série num formato de lenda ou
de mito, mas procurou mostrar um
possível futuro no qual a tecnologia e o belicismo servem à paz, e no
qual diversas raças interplanetárias
procuram conviver em harmonia,
apesar das diferenças sócio-culturais e raciais. Do caos vem a ordem,
assim como no mundo de Luke, mas como vislumbre do que está por
vir – e não como sombra do passado.
Contrariamente a Star Wars, a ciência “manda” em Jornada
nas Estrelas. Todas as facetas da tecnologia procuram ser explicadas,
pois há o rigor científico que quase inexiste, por exemplo, no Império
Galáctico. A Enterprise necessita dos Cristais de Dilítio para funcionar
e somente poderá acelerar até Dobra 8, os teletransportes têm um
raio de ação fixo e movem as partículas – orgânicas ou não - do ponto
A ao ponto B num dado intervalo de tempo. A tecnologia em Jornada
nas Estrelas procura ser moldada por uma possível realidade da física
e da matemática. Essa é outra das diferenças essenciais entre os dois
universos.
Apesar dos pesares, há elementos míticos em Jornada. O Capitão Kirk, por exemplo, é o típico herói grego, o Argonauta, embora essa característica não seja tão clara quanto é com Skywalker.
Star Trek Vs. Star Wars:
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O capitão da Enterprise, assim como Ulisses, Rei Arthur e Luke, é o
escolhido; por causa de sua ousadia inata, de sua curiosidade humana e de sua inteligência expecional, ele é levado, numa posição
ímpar, a representar a Humanidade num universo cheio de mistérios
a desvendar. O Mito do Herói, em Kirk, também existe, embora não
tão obviamente.
GUERRA OU JORNADA? KIRK OU LUKE?
Ambos. Ambas as produções, ao contrário do que se pensa,
chegam ao mesmo ponto; têm a mesma mensagem, apesar de todas
as diferenças aqui ressaltadas. Elas crêem no indivíduo e na força de
expansão de nossos próprios limites. Se chegamos a essa etapa da
evolução, é devido à nossa fome por descobrir o desconhecido, por
vencer nossos obstáculos, por transcender nossa visão do dia a dia,
por mostrar como somos dignos de nossa existência nesse universo
e pela ânsia de ser herói. Porque é isso que somos, heróis de nossa
própria história, cada qual em sua busca pessoal.
Assista, caro leitor d´A ARCA, a essas duas grandes franquias e
retire o melhor que existe em cada uma. Mas, lembre-se, que a maior jornada de todas está dentro de cada um, no universo que habita em nós.
Além da Imaginação
”Há uma quinta dimensão além daquelas conhecidas pelo
Homem. É uma dimensão tão vasta quanto o espaço e tão
desprovida de tempo quanto o infinito. É o espaço intermediário entre a luz e a sombra, entre a ciência e a superstição. E se encontra entre o abismo dos temores do Homem e
o cume de seus conhecimentos. É a dimensão da fantasia.
Uma região... Além da Imaginação”.
Poucas séries de tevê foram tão longe quanto Além da Imaginação. Produzida numa época ímpar da história ocidental, os tumultuados anos cinqüenta e sessenta, o seriado
atingiu em cheio o âmago das pessoas e fez aflorar nelas o
medo mais ancestral do Homem: o do desconhecido. Guerra atômica iminente, avistamentos de OVNIS e o medo de
uma invasão alienígena, a perseguição aos comunistas, a
corrida espacial; isso tudo mexia com o imaginário do espectador, que era diariamente bombardeado por diversos
questionamentos existenciais e que, por conseguinte, não sabia de qual lado viria a destruição final
tão alardeada.
Rod Serling, o mítico criador da série, soube explorar esses pavores diversos, transformando-os em pioneiras histórias que
compuseram os episódios dessa que se
transformou numa das produções mais
vistas e copiadas de todos os tempos: A
Zona do Crepúsculo – ou, conforme conhecida no Brasil, Além da Imaginação.
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O Redator d’A Arca Perdida
SERLING, O CRIADOR DE ALÉM DA IMAGINAÇÃO
O imaginativo Rodman Edward
Serling, filho de um comerciante do
ramo de carnes, nasceu em 1924 na cidade de Syracuse (Nova Iorque), mas foi
criado em Binghamton. Apesar do desinteresse inicial por livros, Serling e o irmão mais velho, Robert, apaixonaram-se
por filmes e por revistas de ficção científica, tais como a Astounding Stories.
Serling depois de completar o
colegial, alistou-se no exército e acabou
por engajar-se na Segunda Guerra Mundial. Ferido por um estilhaço de granada,
o futuro criador da série foi dispensado
em 1946, quando entrou na universidade Antioch College, em Ohio,
para estudar Educação Física. Logo se desinteressou pelo curso e mudou para o de Letras, no qual cursou Idiomas e Literatura.
O amor pela escrita começou a aflorar e, subitamente, Serling viu-se trabalhando em uma estação de rádio local, para a qual
escrevia, dirigia e atuava num programa semanal. Ainda na faculdade, escreveu tanto que também chegou a produzir scripts para tevê,
dentre os quais, de forma inédita, finalmente conseguiu vender “Grady Everett for the People” para a NBC; material que foi usado na série
Stars Over Hollywood – entre 1950 e 1951.
Em 1948 casou-se com Carolyn Kramer e, após ter se formado
na faculdade, mudaram-se para Cincinnati. Lá passou a escrever para
uma rádio, a WLW, época em que viu diversos de seus roteiros televisivos serem rejeitados. O reconhecimento veio somente em 1955,
quando Serling vendeu Patterns, um roteiro usado no programa Kraft
Television Theatre. O episódio foi um sucesso de crítica, ao passo que o
primeiro Emmy da carreira de Rod foi ganho. Passou, então, a escrever
roteiros para a MGM e para o famoso programa da CBS: Playhouse 90.
Produziu, por exemplo, o episódio-piloto dessa série, Forbidden Area,
e o premiado Requiem for a Heavyweight – ganhador do Emmy.
Além da Imaginação
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Em 1957 deixou Playhouse 90 para se dedicar a uma nova série, Além da Imaginação, que seria concebida, escrita e apresentada
por ele.
HORROR ANCESTRAL
As temáticas dos episódios de Além da Imaginação têm a ver
com os medos ancestrais do Homem, principalmente com o medo
do desconhecido. Pessoas comuns, do dia a dia, são surpreendidas
por situações inusitadas e, ao sofrerem algum tipo de alteração em
seu paradigma humano, mudam; quer seja para melhor ou para pior.
Quase que constantemente a humanidade existente em nós é colocada em cheque; nossas certezas e nossa aparente segurança são
rapidamente contestadas e, por conseguinte, vão por água abaixo. A
máxima Shakespeareana, por meio da qual supostamente existem
mais coisas entre o Céu e a Terra do que a vã Filosofia, sempre permeia as tramas do seriado. Quase nada está, como entendia Serling,
realmente sob nosso controle.
Uma das fórmulas de Além da Imaginação reside no fato de
se colocar o ser humano, qualquer pessoa comum, à frente de si próprio como se esse se olhasse no espelho e visse o pior que existe em
nós, embora o melhor estivesse bem ali na esquina. Como resultado,
Serling nos conduz ao seguinte questionamento: será que, apesar de
alienígenas, de monstros e de toda a sorte de esquisitices sobre-humanas, o temor verdadeiro não se encontra em nós mesmos, quando ficamos frente a frente com nossos próprios limites, imperfeições,
maldades e moralismos?
O criador da série, gênio que foi, colocava o Homo sapiens
numa posição incômoda e mostrava que há mais no mundo do que
se pode ver com olhos humanos.
A marca registrada da série, além da abertura antológica e da
apresentação feita pelo próprio criador, são os finais surpreendentes.
Se você, caro leitor, achou o final de O Sexto Sentido diferente, saiba
que cada episódio de Além da Imaginação procura dar uma guinada
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O Redator d’A Arca Perdida
de 180 graus na mente do espectador. O fã já sabe, de antemão, que
não deve tentar adivinhar nada previamente, tampouco seguir uma
linha de raciocínio lógica (não se trata de Jornada nas Estrelas!).
OS EPISÓDIOS
A série foi inaugurada em 1959 com o episódio Where is Everybody (Onde Estão Todos) no qual a solidão, um de nossos temores, é
discutida. Um homem se descobre só numa cidade e não se lembra
de como foi parar lá. Desesperado, faz de tudo para achar alguém.
O final, surpreendente, é de estremecer e mostra que não estamos
tão preparados assim para enfrentar o desconhecido. O enredo foi
escrito por Serling.
Os episódios são apresentados em branco e preto, mas com
bela fotografia e iluminação, e têm duração aproximada de 25 minutos. A partir da quarta temporada, porém, passaram a dispor de
cinqüenta minutos. A trilha sonora, composta por magos como Jerry
Goldsmith, Bernard Herrmann e Marius Constant, cai como uma luva.
Gosto particularmente dos dois temas intitulados como Jazz Theme,
os quais podem ser ouvidos em diversos momentos.
Há pequenas obras de arte no seriado que, indiscutivelmente,
influenciaram os futuros (atuais) escritores do gênero. São episódios
cujas realizações brindam o espectador com belas atuações, fotografia e direção. A Beleza Está Nos Olhos De Quem Vê (The Eye Of The
Beholder), por exemplo, é um espetáculo visual de sombras e de sugestão no qual se mostra uma distopia similar à que pode ser lida em
Admirável Mundo Novo, obra do britânico Aldous Huxley. O Monstro
Da Rua Maple (The Monsters Are Due on Maple Street) revela que
nosso maior inimigo somos nós mesmos, e que, para se dominar um
planeta, não são necessárias naves imensas com a de The Independence Day. A coisa é bem mais sutil e está sob nossos narizes.
A ficção científica reina absoluta nos enredos, cheios de robôs, de discos voadores e de viagens no tempo, mas também podemos constatar temáticas como o velho oeste americano, as guerras
Além da Imaginação
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mundiais e até mesmo a imortalidade. As histórias, cinqüenta por
cento pelo menos, foram escritas pelo próprio Serling, cuja mente
brilhante fervilhava de idéias. Noutros casos, adaptavam-se obras de
escritores conhecidos como Richard Matheson e Charles Beaumont.
Alguns atores, hoje famosos, começaram a despontar em
Além da Imaginação. Nomes como: William Shatner, Robert Redford,
Burt Reynolds, Dennis Hopper, Roddy McDowall, dentre outros.
CANCELAMENTO E CONTINUAÇÕES
Após 156 episódios, que foram ao ar de 1959 a 1964 e perfizeram 5 temporadas, a série foi cancelada. Haja idéias para tamanha
quantidade de material! A produção recebeu diversos prêmios, tais
como os tão falados Emmy e Hugo. Influenciou inúmeros diretores
da atualidade, Steven Spielberg que o diga, e incentivou muita gente a escrever para a tevê. Além disso, criou uma estética que é seguida até hoje, basta ver, por exemplo, programas como Amazing
Stories, Creepshow, Tales from the Crypt, Nightmares, Quarto Escuro
e Night Visions.
Em 1970, Serling apareceu com outro programa mais ou menos similar ao original: Night Gallery (Galeria do Terror), para o qual
escreveu e apresentou. Infelizmente, as rédeas do programa foram
tomadas das mãos de Rod que, descontente, passou a não mais atuar
no show.
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O Redator d’A Arca Perdida
Em 1983 a Warner, Steven Spielberg e John Landis produziram No Limite Da Realidade (Twilight Zone: The Movie), um longametragem dividido em quatro partes, cada qual como se fosse um
episódio da série. Tributo ao trabalho de Serling, cada parte foi dirigida por um diretor diferente: Landis, Spielberg, Joe Dante e George
Miller. Infelizmente, a película não foi muito bem aceita pelos críticos,
que se aproveitaram de um acidente, ocorrido durante as filmagens e
que vitimou o ator Vic Morrow, para o desmerecimento do trabalho.
Em 1985 a CBS resolveu produzir uma nova série Além da Imaginação (chegou a passar no Brasil), colorida e mais dinâmica, que
esteve sob a tutela de um criativo autor de ficção científica, Harlan
Ellison, e teve as participações de nomes como Wes Craven, William
Friedkin e Joe Dante. Alguns episódios clássicos foram refeitos e outros, novos, produzidos. Trata-se de uma sombra da original.
Em 2002 uma nova série foi novamente produzida. Apresentada por Forest Whitaker e com gente como Jonathan Frakes (William
Riker de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração) na direção, a nova
produção foi cancelada ainda na primeira temporada. Com enredos
fracos e até mesmo bobos, de Além da Imaginação a série recebeu
somente o nome.
Infelizmente, amigos leitores d´A ARCA, nos dias atuais aquele medo que povoava o imaginário das pessoas nos anos sessenta
não mais existe. Hoje não há mais a Guerra Fria, a corrida espacial
estagnou-se e o holocausto nuclear não é uma realidade. Será que
o material de trabalho, farto àquela época, não existe mais? Ou será
que a falta do criador é a culpada?
Serling faleceu no dia 28 de junho de 1975, aos 50 anos de
idade. Fumante inveterado e workaholic assumido, ele chegava a
virar madrugadas escrevendo, pois temia que sua criatividade se
esvaísse. Rod deixou a todos com aquele gostinho de quero mais e
tornou-se uma lenda da televisão mundial. Ele ensinou para nós que
muita criatividade e um pouco de efeitos visuais foram suficientes
para gerar uma lenda. A tevê nunca mais foi a mesma após Além da
Imaginação.
Admirável Mundo Novo
Tolha a vontade do Homem, de modo a fazê-lo conformista.
Impeça o impulso animal que em nós habita. Condicione-o, o Homo
sapiens, a sobrepujar a raiva, o medo e a curiosidade. Trace um novo
lema mundial: Comunidade, Identidade, Estabilidade. De fato, a sociedade perfeita... Será?
Admirável Mundo Novo, obra do inglês Aldous Huxley cujo
título menciona uma estrofe de Shakespeare, foi admiravelmente escrita em 1932. Uma distopia por meio da qual nos é apresentada a
imagem da sociedade “perfeita”. Fome, guerras, doenças; os grandes
males da humanidade desfeitos, destruídos, destroçados e vencidos.
O mundo num futuro aparentemente distante, ditado por uma gigantesca corporação. Conceitos como a família, a religião e o casamento são meros fantasmas do passado, motivo de escárnio.
O mundo admirável é povoado por seres subdivididos em
castas de homens e de mulheres previamente fabricados. Hordas de
pessoas concebidas artificialmente e geneticamente alteradas mediante funções pré-estabelecidas, as quais serão praticadas na vida
adulta. Batalhões de gêmeos, de gentes semelhantemente dotadas
de idéias iguais, gostos iguais, físico igual, vontade igual; tudo igual.
Os ensinamentos hipnopédicos – realizados no sono – durante anos
moldam a vontade e o ímpeto da nova Humanidade. A educação e o
ensino ficam a cargo exclusivo do Estado, num mundo no qual o Eu
inexiste, inibido e massacrado em detrimento da sociedade.
Mulheres pneumáticas se relacionam com machos - igualmente - poligâmicos numa nova Terra em que o ato sexual serve única e exclusivamente ao prazer. A idéia de gravidez é algo asqueroso,
nojento, hediondo; relegado aos animais. O prazer, aliás, tem diversas
faces, como o Cinema Sensível (onde se sente tudo o que aparece
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O Redator d’A Arca Perdida
na tela) e a Música Sintética. O velho espírito humano, contudo, leva
as pessoas ao consumo do soma, um tipo de droga ministrado nas
ocasiões de infelicidade. Infelicidade? Como essa existiria num mundo no qual tudo é moldado aos indivíduos de modo que nada lhes
falte, que nada lhes seja subtraído e que nenhuma decepção possa abalá-los? Onde estaria o Mal-Estar na Civilização, proferido tão
curiosamente por Freud?
Bernard, um dos personagens principais, é um indivíduo tão
comum quanto o esperado, apesar do fato de não ser adepto do
soma. Ainda que pertença a uma determinada casta privilegiada da
sociedade, a incomum baixa estatura de Bernard é motivo de chacota
e de desconfiança. Insatisfeito com a própria condição, ele viaja para
uma região proscrita do globo a fim de visitar uma área habitada por
selvagens. Os selvagens são a última fagulha do que resta da Humanidade antiga, pois não são geridos pelos moldes do Mundo Novo.
A partir desse ponto, Admirável Mundo Novo vira de pontacabeça... Curioso? Pois o leia!
Os grandes feitos da Humanidade foram propelidos, principalmente, pelas dificuldades e pelas amarguras da existência. A beleza de um Rembrandt, a suavidade de um Chopin e a ida à Lua, por
exemplo, só foram possíveis por causa da fome do ser humano pela
conquista, pelo merecimento. A genialidade humana nunca esteve
ligada ao comum, mas ao excepcional e ao extraordinário. A obra em
questão nos mostra uma Humanidade pasteurizada, inócua, feliz e
conformada com a própria estagnação.
Creio nisto: a genialidade, outrossim, independe de fatores
únicos e exclusivamente genéticos, mas é fruto não somente de um
ser intelectualmente e fisicamente privilegiado, como também do
momento histórico propício, de experiências vivenciadas ao longo
da existência e dos impulsos corajosos (e irracionais!). Essa – a perfeição genética - é uma das bobagens do mundo atual, por meio da
qual parece unânime a opinião de que o futuro do planeta estará nas
mãos desses super-homens genéticos.
Afinal de contas, não há genes para o espírito humano...
Admirável Mundo Novo
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Vampiros no cinema:
uma trajetória de sangue
Eles precisam de doses regulares de sangue, preferencialmente humano, para sobreviver. Sem ele, podem voltar à
condição de mortos. Os mais velhos enfrentam os mais novos num ritual de competição para a sobrevivência. Quanto mais idade, aliás, mais poder lhes é conferido. Alho, crucifixo, água benta, a luz do Sol e estacas são os pesadelos
dessas criaturas da noite.
Trata-se dos Vampiros, uma lenda que data dos tempos bíblicos de Caim e que se popularizou na época Vitoriana pelas mãos do escritor irlandês Bram Stoker, autor de Drácula. Devido ao sucesso dos livros de Anne Rice, o vampirismo
ganhou nova força no Século XX, fator também auxiliado
pela profusão dos jogos de RPG vampirísticos – Vampire:
The Masquerade – acontecida há algumas décadas.
O cinema, é claro, foi uma das mídias mais afetadas pelo fenômeno e produziu mais de uma centena de filmes. Acompanhe este especial sobre o vampirismo cinematográfico
e, portanto, prepare-se para se arrepiar com as produções
mais importantes do gênero.
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O Redator d’A Arca Perdida
NOSFERATU: CLÁSSICO DO CINEMA MUDO
Nosferatu, o Vampiro (Nosferatu, Eine Symphonie
Des Grauens) foi um dos primeiros filmes a tratar do tema. Lançado
em 1922, época do cinema mudo, foi dirigido por F. W. Murnau, um
dos três maiores diretores alemães dos anos vinte - ao lado de Fritz
Lang e de Ernst Lubitsch.
O enredo é uma adaptação não autorizada do livro de Stoker, dotado de
certas modificações para
que os direitos autorais
não fossem pagos. Ao invés de Drácula (que quer
dizer demônio em Romeno), há o Conde Orlock;
vampiro que se muda
de sua terra natal para
Bremen a fim de conquistar novas vítimas. No lugar de Jonathan Harker há Thomas Hutter, ao passo que no papel
original de Mina está Ellen.
Inovadora para a época, a produção trouxe o caráter expressionista no abuso das sombras, no uso da iluminação, nos ângulos e
nos movimentos rápidos de câmera. A retratação do vampiro é um
pouco diferente da literária, especialmente no que diz respeito aos
enormes dentes frontais de “rato”, ao tamanho descomunal dos dedos e à aparência frágil do vilão. Uma das cenas mais impressionantes mostra o Conde, a bordo de um barco, a levantar-se subitamente
de forma a erguer-se completamente ereto, como se flutuasse.
Curiosidade: Florence Stoker, viúva do escritor, fez um tremendo esforço à ocasião para coibir as exibições de Nosferatu, por julgá-lo
como uma mera imitação da obra original. Uma ação contra os produtores do filme foi movida, e a película, apreendida. Passado um tempo, Nosferatu foi, então, relançado como uma versão oficial do livro e,
por conseguinte, teve os nomes dos personagens corrigidos.
Vampiros no cinema: uma trajetória de sangue
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Em 1979 produziu-se uma refilmagem dirigida por Werner
Herzog e estrelada por Klaus Kinski no papel do Conde. Diferentemente da primeira, a de Herzog explorou um Drácula que expôs sua
fragilidade e solidão, humanizando-o.
DRÁCULA: BELA LUGOSI NA VERSÃO DE 1931
Drácula, filme estrelado pelo húngaro Bela Lugosi
em 1931, foi outro dos marcos do gênero terror. Baseada
no livro homônimo de Stoker
e salpicada com algumas diferenças relacionadas aos
personagens, a produção da
Universal – autorizada pela
viúva do escritor - criou um
arquétipo visual para o vampiro, o qual foi bastante imitado nas produções subseqüentes. Interessante: o ator
previamente escolhido para
o papel foi Lon Chaney, que
faleceu antes de poder interpretá-lo.
A capa de ópera, os
trejeitos, os olhares, o sotaque, a atuação teatral repleta
de gestos, as caras e as bocas
de Lugosi compuseram um Drácula muito peculiar que, mesmo diferindo do livro, afetou o imaginário dos espectadores. A direção do
lendário Tod Browning foi essencial para a retratação do castelo do
Conde, bem como da criação da atmosfera sombria com a qual estamos acostumados.
30
O Redator d’A Arca Perdida
Apesar do ritmo lento, dos diálogos em demasia (muitos desgostam do filme por causa disso) e dos efeitos especiais simplórios,
a película se tornou um clássico do vampirismo cinematográfico e
passou a ser tomada como modelo.
HORROR OF DRACULA: CHRISTOPHER LEE
EM PRODUÇÃO DA HAMMER
Em 1958 a lendária produtora Hammer,
responsável por diversos
filmes de terror dos anos
cinqüenta, sessenta e setenta, lançou uma versão
em Technicolor de Drácula, a qual foi estrelada por
Christopher Lee: Drácula,
o Vampiro da Noite (Horror
of Dracula). Lee, sob a direção de Terence Fisher, especialista no gênero, criou um
vampiro assustador e sanguinolento, deveras diferente do antecessor
“teatral” vivido por Lugosi. Tendo o fantástico Peter Cushing (intérprete de Van Helsing) como contraponto, o personagem de Lee é tomado
por muitos como a mais perfeita encarnação do vampiro no cinema.
Terence Fisher impingiu muitos detalhes ao visual da película;
tudo muito colorido e chamativo para fazer valer o uso das cores;
algo novo. A trilha sonora também ajudou a compor os momentos
dramáticos do filme. Impossível deixar de citar a ênfase dada ao erotismo na forma de ataques aos pescoços de mulheres trajadas de camisolas pequenas e provocantes.
O papel do conde vampiro, de fato, veio a influenciar a vida
de Lee, tendo esse interpretado o personagem em diversas produções que sucederam ao filme original.
Vampiros no cinema: uma trajetória de sangue
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A DANÇA DOS VAMPIROS:
CLÁSSICO DO HUMOR DE TERROR
Em 1967 foi produzido nos Estados Unidos um dos filmes mais
cultuados de todos os tempos, o famoso A Dança dos Vampiros (The
Fearless Vampire Killers). Dirigido por Roman Polanski, ganhador do
Oscar de melhor diretor pelo recente O Pianista, ele foi um dos pioneiros a misturar os gêneros horror e humor de maneira formidável.
A trama é sobre o professor Abronsius (Jack MacGowran) e
seu assistente atrapalhado, Alfred (Polanski em pessoa), pesquisadores de morcegos que viajam à Romênia para procurar por vampiros.
O assistente se apaixona pela filha do dono da pensão em que se
hospedam, Sarah (a bela Sharon Tate), mas essa é, por sua vez, perseguida por um conde misterioso, Von Krolock (Ferdy Mayne), morador
de um castelo sombrio.
Polanski criou um misto de sabores, ora de humor, ora de suspense, ora de terror. Diz a lenda que a atriz Sharon Tate, intérprete de
Sarah, foi descoberta durante as filmagens da série A Família Buscapé
(The Beverly Hillbillies) e que, de tanta insistência, ganhou o papel da
rival, Jill St. John, e o coração do diretor.
SCARS OF DRACULA: VAMPIRISMO NOS ANOS 70
Em Conde Drácula (Scars of Dracula), de 1971, última produção da Hammer a respeito do tema, Christopher Lee novamente
retorna ao papel que o consagrou. O enredo, que nada tem a ver
com a obra de Stoker, mostra Paul Carson (Christopher Matthews):
um fugitivo desavisado que passa a noite no castelo do Conde e é,
obviamente, morto. O irmão de Paul, Simon (Dennis Waterman), juntamente de sua namorada inicia a busca ao desaparecido e acaba às
portas da residência do vampiro.
Repleta de sangue e extremamente violenta, a película dirigida por Roy Ward Baker ficou aquém dos demais trabalhos do estúdio.
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O Redator d’A Arca Perdida
Ao assistir ao filme, o espectador se pergunta se era mesmo necessária outra produção a respeito do tema; um tanto quanto desgastado
por tantas repetições.
DRACULA: DIRETO DA BROADWAY
Em 1979, o cultuado diretor John Badham, de “Embalos de Sábado à Noite”, realizou uma versão diferente, baseada em uma peça
teatral da Broadway estrelada por Frank Langella havia dois anos.
Ausente de dentes pontiagudos, mas com muita classe e distinção (graças à excelente performance de Langella, que recebeu indicação ao prêmio Tony Awards), este Dracula desfaz a dura carranca
de Christopher Lee, transformando o personagem em uma criatura
refinada, complexa e envolvente.
A bela fotografia,
que não chega a ser totalmente em branco-e-preto,
é um dos fortes da película, que também teve a atuação do veterano Donald
Pleasance.
É minha versão favorita do Conde.
THE HUNGER: A FOME DE VIVER DOS ANOS 80
O diretor de Top Gun e irmão de Ridley, Tony Scott, dirigiu
esse que também se tornou um cult, mas dos anos oitenta: Fome de
Viver (The Hunger) - de 1983. Cenas de lesbianismo entre Catherine
Deneuve e Susan Sarandon, muito sangue, bem como a presença de
David Bowie, o rock star, não salvam um roteiro cheio de furos e de
questionamentos não saciados.
Vampiros no cinema: uma trajetória de sangue
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Miriam (Catherine Deneuve), uma vampira egípcia milenar,
e seu “marido”, John (David Bowie), vivem em harmonia na cidade
de Nova Iorque. Ela, como toda criatura da noite, sobrevive do sangue de suas vítimas, que são transformadas em companheiros ou em
companheiras até que se enjoe deles. A transformação, aliás, dá-lhes
uma vida eterna por meio da qual não envelhecem. Quando Miriam
abandona John à própria sorte, o vampiro começa a perecer muito
rapidamente e, desesperado, procura a ajuda de uma pesquisadora
especializada na doença do envelhecimento precoce, a Dra. Sarah
Roberts (Susan Sarandon). A ironia do destino leva Sarah aos braços
de Miriam.
A direção de arte é muito interessante na medida em que cria
um ambiente por meio do qual o espectador não sabe se o que vê é
sonho ou realidade. O uso de tecidos, cortinas, lençóis e que tais dá
um caráter surreal ao filme; como algo que foi esquecido pelo tempo.
Outro ponto forte é a música, fator sempre presente do início ao fim.
Bauhaus, Ravel, Schubert e Delibes, por exemplo, ajudam a compor a
atmosfera sinistra de Fome de Viver.
A HORA DO ESPANTO:
WELCOME TO
FRIGHT NIGHT...
Em 1985 foi produzido outro
dos filmes que mesclaram horror e
humor, o ótimo A Hora do Espanto (Fright Night), escrito e dirigido
por Tom Holland (de Os Heróis Não
Têm Idade, Brinquedo Assassino e
Amazing Stories). Charlie Brewster
(William Ragsdale), típico adolescente americano viciado em filmes
de terror, descobre que o vizinho
recém-chegado, Mr. Dandrige (Chris
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O Redator d’A Arca Perdida
Sarandon), é um vampiro e, portanto, tenta detê-lo com a ajuda dos
amigos. O jovem recorre, então, a um apresentador de um programa
de tevê cujo papel principal é o de caçador de vampiros a la Van Helsing: Peter Vincent (o falecido Roddy McDowall).
Assim como em A Dança dos Vampiros, A Hora do Espanto
é uma produção na qual o espectador experimenta diversas sensações, tais como medo, arrepios, sustos e risadas; e tudo isso em apenas 106 minutos. A grande atuação dos atores, Sarandon como o sedutor vampiro e McDowall como o suposto caçador, é o forte. Ambos
estiveram muito bem nos respectivos papéis, apesar de Sarandon
pender um pouco para o lado canastrão da coisa - devido ao caráter
humorístico da película.
Há cenas antológicas como a invasão do vampiro na casa do
personagem principal, e a transformação de “Evil” Ed (Stephen Geoffreys), amigo de Charlie, em lobo. O negócio esquenta ainda mais
quando a namorada do jovem é possuída por Mr. Dandrige. Além
desses detalhes, o filme traz os principais elementos do vampirismo:
alhos, crucifixos, o medo da luz do sol, sangue e sedução.
Direção competente, iluminação sombria, trilha sonora fantástica (produzida pelo Tangerine Dream) e boas atuações fazem de
Fright Night um dos clássicos filmes dos anos oitenta. Em 1989 teve
uma continuação que não chegam aos pés do original.
OS GAROTOS PERDIDOS: VAMPIRISMO JOVEM
A década de oitenta ficou mesmo marcada no mercado cinematográfico pela enorme quantidade de filmes infantis e adolescentes que gerou. Os Garotos Perdidos (The Lost Boys), de 1987, é
um dos exemplos desse tipo de produção que trouxe a imagem de
vampiros jovens, descolados e aventureiros, os quais perambulavam
por aí em motocicletas envenenadas à procura de sangue.
O enredo mostra Lucy Emmerson (Diane Wiest) e seus filhos,
Sam (Corey Haim) e Michael (Jason Patric), família que se muda para
Vampiros no cinema: uma trajetória de sangue
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uma cidadezinha do litoral Californiano. O mais velho acaba
envolvido com uma gangue de
jovens motoqueiros que provam ser mais do que aparentam, ao passo que o mais novo
faz amizade com dois supostos
caçadores-mirins de vampiros.
Com trilha sonora de
rock – o destaque especial
vai para a clássica People are
Strange - o filme ousou ao mostrar vampiros modernizados e jovens,
e ao fazê-los gostar de coisas igualmente atuais. Muita ação, aventura
e até humor compõem uma das películas mais vistas pelos adolescentes daquele período.
DRÁCULA DE BRAM STOKER:
A MELHOR ADAPTAÇÃO
Talvez a mais espetacular adaptação do livro de Stoker, embora dotada de certas diferenças, Drácula (Dracula) foi excepcionalmente realizado em 1992. Com nomes de peso como Gary Oldman
(no papel do vampiro), Anthony Hopkins (como Van Helsing), Keanu
Reeves (como Jonathan Harker), Winona Ryder (como Mina), e sob
a batuta de Francis Ford Coppola, a produção teve direção de arte e
fotografia espetaculares, tanto que ganhou três Oscar.
Diferentemente das versões anteriores do vampiro, o filme de
Coppola é iniciado com uma retrospectiva, narrada em romeno, da
vida do Drácula real, ou melhor, de Vlad Dracul: comandante tirânico
que empalava seus inimigos enquanto almoçava à beira das estacas.
A interpretação feita por Gary Oldman foi realmente única e díspar
das anteriores, a qual revelou ao público um vampiro completamente movido pelo amor à amada que perdeu enquanto mortal.
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O Redator d’A Arca Perdida
A película tem boas quantidades de sexo e de violência, basta
que lembremo-nos da cena em que Harker é seduzido pelas “noivas”
de Drácula (Monica Belucci, de Matrix Reloaded, é uma delas).
ENTREVISTA COM O VAMPIRO:
ANNE RICE NA TELA
Adaptação do mais famoso livro da escritora Anne Rice, Entrevista Com O Vampiro (Interview with the Vampire: The Vampire
Chronicles) é uma produção de 1994 que foi dirigida por Neil Jordan (de Traídos pelo Desejo). A história traz a entrevista do vampiro
Louis de Pointe du Lac (Brad Pitt), dada ao jornalista Daniel Malloy
(Christian Slater no papel que seria do falecido River Phoenix). Contada em flashback, trata-se da vida de Louis e do relacionamento
desse com seu vampiro criador, Lestat (Tom Cruise). O espectador
toma conhecimento, também, da existência da vampira-criança
Claudia (Kirsten Dunst).
É uma versão quase fiel da obra, a qual adicionou novas características ao mundo vampiresco, tais como a transformação de uma
mera criança em criatura da noite. Há, também, o clima homossexual
entre os personagens principais, fato que apimenta ainda mais a trama. Diz a lenda que Anne Rice não gostou, inicialmente, da escolha
do ator Tom Cruise para o papel de Lestat. Depois de assistir ao filme,
contudo, aprovou-o.
Em 2002 foi produzida a adaptação de outra obra da escritora, A Rainha dos Condenados (Queen of the Damned), a qual retoma
a história de Lestat (Stuart Townsend) nos dias atuais. Apesar do fraco
desempenho, teve certa repercussão na mídia. Foi o ultimo trabalho
da atriz e cantora Aaliyah, morta num acidente de helicóptero.
Vampiros no cinema: uma trajetória de sangue
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BLADE: A TECNOLOGIA AO ALCANCE DE TODOS
Esta produção de 1998, inspirada numa série de quadrinhos
da Marvel, transformou os vampiros em seres tecnológicos da era da
Internet, dotados de armas mirabolantes e de corpos atléticos. Os
vampiros modernos, verdade, deixaram de ser criaturas obscuras em
cuja sugestão e sutileza repousavam suas armas.
Blade (Wesley Snipes) é um meio-vampiro, batizado de The
Day Walker (“o que anda de dia”), cuja missão é exterminar a raça das
trevas da face da Terra. Sua mãe foi
mordida durante a gravidez, mas
não desenvolveu o vampirismo de
forma total. A criança nasceu com
características mútuas, cresceu e se
decidiu por vingar-se. Blade é auxiliado por Abraham Whistler (Kris
Kristofferson), um especialista em
armas que o criou desde pequeno.
O filme, dirigido pelo britânico Stephen Norrington (o mesmo de
A Liga Extraordinária), contém muita ação e violência - tudo no melhor
estilo Hollywoodiano - e inaugurou
um novo paradigma vampiresco: o
dos vampiros tecnológicos.
VAMPIROS DE JOHN CARPENTER:
CAÇADORES PROFISSIONAIS
Eis uma produção interessante e inovadora: em Vampiros
(John Carpenter’s Vampires), as criaturas da noite são perseguidas
por caçadores de vampiros liderados por Jack Crow (James Woods):
grupo de pessoas armadas até os dentes e que se assemelha bastante com os caça-fantasmas – por causa das traquitanas tecnológicas e do modus operandi. Juntos devem capturar e matar um ser
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O Redator d’A Arca Perdida
poderosíssimo, Valek, o qual pretende se apoderar de um artefato
bíblico capaz de fazer com que os vampiros andem à luz do dia: a
Cruz Negra.
Com ação, aventura e explosões, Vampiros inovou à época
devido ao estilo profissional de se caçar e de matar aquelas criaturas.
John Carpenter é, de fato, um mestre em filmes de terror e de ficção
cientifica, e, portanto, a película não decepciona.
DRÁCULA 2000: DEZENAS DE CITAÇÕES
E NADA ORIGINAL
Esta produção de 2000, dirigida por Patrick Lussier (de Pânico
II e de Pânico III) e estrelada por Gerard Butler (no papel de Drácula), não dispõe de muitas inovações, mas somente de inúmeras citações aos filmes antecessores e ao livro de Stoker. A única novidade
é a origem de Drácula: ele seria, de forma inédita, ninguém menos
que Judas Escariotes, o personagem bíblico. Apesar de bons efeitos
visuais e da trilha sonora interessante, as fracas atuações do elenco
fazem o filme fracassar.
A bola da vez é Underworld (2003), película recém-dirigida
pelo estreante Len Wiseman em cujo enredo os vampiros e os lobisomens, ambos criaturas milenares, encontram-se numa batalha de
vida e morte. É, parece que o tema, propagado pelo meio cinematográfico desde o início do Século XX, está longe de acabar. Quando o
espectador pensa já ter visto de tudo em termos vampirísticos, surge
um novo filme com diversas novidades. Só podemos especular sobre
o que virá daqui para frente! Até Drácula está curioso para saber!
Camelot 3000:
o derradeiro retorno do Rei Arthur
“Consolai-vos. Ficai seguros de que voltarei quando a terra da
Bretanha precisar de mim”. Essas foram as últimas palavras proferidas
por um governante sábio e deveras justo; um dos homens mais honrados que viveram, supostamente, sobre a face da Terra: o mítico Rei
Arthur.
Digo supostamente porque a existência dele - e de seus cavaleiros da Távola Redonda - não pôde ser comprovada pelos historiadores, tampouco pelos
cientistas. Através dos séculos, os feitos daquele rei
e de sua poderosa espada,
Excalibur, sofreram diversas intervenções realizadas
por autores distintos, nas
quais adicionou-se e alterou-se muito.
Nem todas as pessoas sabem, mas a lenda de
Arthur não é genuinamente inglesa, apesar de ter
surgido, como se acredita,
pelas mãos de um monge
galês no Século IX. A história do rei passou de mão
em mão, de narrativa em
narrativa, até que atingiu a
forma com a qual tornouse conhecida, ocasião em
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O Redator d’A Arca Perdida
que, traduzida para o francês, recebeu o famoso caráter cavalheiresco
de Chrétien de Troyes, um poeta do Século XII. Depois dele, a transformação definitiva da história de Arthur, em obra literária, aconteceu
pelas mãos do britânico Sir Thomas Mallory, no Século XV, cujo compêndio das diversas narrativas e lendas previamente contadas foram
organizadas sistematicamente e, então, imortalizadas por meio da
obra La Mort d’Arthur.
Uma das últimas mudanças de que se tem notícia aconteceu
em 1982 e foi realizada pelo roteirista Mike W. Barr e pelo lendário
desenhista Brian Bolland: a mini-série em quadrinhos Camelot 3000
- lançada pela DC Comics.
O FUTURO NAS MÃOS DO PASSADO
No ano 3000 de Nosso Senhor a Terra é invadida
por alienígenas de Chiron, o
décimo planeta do sistema
solar. Naquele futuro distante, a superpopulação e a falta de recursos naturais levaram o Homem a abandonar
os projetos espaciais, bem
como a diminuir a criação
de armas, pois os esforços
precisaram ser direcionados
ao abastecimento do povo,
que morria de fome e de
doenças. Sem naves e sem
armas, seríamos facilmente
dominados.
Na Inglaterra, país
totalmente tomado, o jovem
Thomas Prentice Jr. foge,
com os pais, de um ataque
Camelot 3000: o derradeiro retorno do Rei Arthur
41
alienígena até que, após a explosão de seu carro, vai parar às portas
de um abrigo militar localizado no Monte Glastonbury, o provável
local onde Camelot existiu. Tateando no escuro, após entrar no complexo, Tom é perseguido por alguns extraterrestres caverna adentro.
Durante a fuga, o garoto bate violentamente com o rosto numa superfície e cai, ao que lê sobre ela ao se levantar: “aqui jaz o célebre Rei
Arthur, rei do passado e do futuro”. Thomas ignora aquela bobagem,
mas não por muito tempo.
A SALVAÇÃO DA TERRA - HISTÓRIA SE REPETE
Arthur, então, de forma inesperada levanta-se de seu caixão
e, atordoado pelo sono de séculos, dá início a uma das maiores aventuras já criadas em quadrinhos.
Ele viria a descobrir, dentro em breve, a existência dos invasores e que se tornaria a última esperança da Terra – as forças de defesa
do planeta haviam sido sobrepujadas. Nada seria fácil, por conseguinte, para o antigo rei. Precisaria acordar Merlin, que jazia preso em
Stonehenge, recuperar Excalibur das mãos da Dama do Lago e novamente reunir seus comandados, os cavaleiros da Távola Redonda.
Haveria mais, além disso, uma vez que outros personagens
– especialmente os inimigos - também estariam de volta. Durante
a leitura, que não dá lugar para obviedades, muitas surpresas são
paulatinamente mostradas para os leitores. Os cavaleiros de Arthur,
por exemplo, realmente regressam, mas reencarnados em corpos de
pessoas do Século XXX . O fato de Sir Tristão reviver numa mulher é
soberbo se levarmos em conta sua paixão imortal pela bela Isolda.
Preparem-se: a mini-série está repleta de sutilezas que podem ser
melhor apreciadas por conhecedores da obra.
Arthur e sua trupe, auxiliado ainda pelo jovem Tom (cujo sobrenome assemelha-se demais com a palavra aprendiz - em inglês),
precisariam combater os alienígenas, tecnologicamente superiores,
e, além disso, teriam que enfrentar políticos ardilosos de uma Terra
em que a magia não encontra mais espaço e na qual o cavalheirismo
saiu de moda há séculos. O maior pesadelo, contudo, viria na forma
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O Redator d’A Arca Perdida
de antigos medos e de fantasmas do passado, como o triângulo amoroso de Arthur, Guinevere e Lancelot, que voltariam para atormentar
a cabeça do velho rei. O ciclo da primeira existência dos heróis, quer
seja de glórias, de esplendor ou de desgraça, se completaria mais
uma vez em Camelot e na Távola Redonda, novamente erigidos.
O leitor não sentirá a falta de nada: há muita ação, violência,
intrigas, revelações, incertezas, complôs, traições, humor, surpresas
e sensualidade. Morgana, por exemplo, sempre aparece vestida em
trajes mínimos, quase que de calcinha e de sutiã; muito provocadora
em todos os sentidos.
A arte de Bolland é espetacular e a sensação de movimento
conseguida pelo desenhista impressiona. A visão futurista da Terra,
outro detalhe interessante, é um tanto quanto retrô, fato que dá um
sabor diferente à publicação. De fato, Camelot 3000 se parece muito
com um daqueles filmes de ficção científica da década de setenta.
Mike Barr, o roteirista, tomou o cuidado de não requerer conhecimento prévio a respeito das lendas Arthurianas para a plena compreensão da história, mas se esse existir, o indivíduo se deliciará ainda
mais com os quadrinhos.
Infelizmente, leitores, não posso lhes contar muito mais, porque Camelot 3000 está repleta de surpresas e de mistérios que precisam ser desvendados. E isso somente poderá ser feito por vocês.
VANGUARDA EM 1982
Lançada originalmente nos E.U.A. em 1982, a série é um produto dotado de certa vanguarda, uma vez que conseguiu mesclar
universos tão distintos de modo a muito entreter o leitor. É realmente
estranho - e surreal - ver Arthur a brandir Excalibur em meio a raios
laser e a naves espaciais. Porém, a força do argumento e o fabuloso tratamento do roteiro – que está cheio de vais-e-vens e a todo
momento evoca acontecimentos do passado – fazem da história um
espetáculo obrigatório aos amantes do gênero.
O diferencial está em fatos ímpares que quase não permeavam o mundo dos quadrinhos convencionais do início dos anos
Camelot 3000: o derradeiro retorno do Rei Arthur
43
oitenta: a ousadia ao se
tocar em temas como
o homossexualismo, a
nudez e a violência explícita. Esse particular
costumava pertencer
aos quadrinhos de terror antigos e a, posteriormente, passou a
aparecer em Batman e
em Watchmen na mesma década.
Curiosidade: Camelot 3000 foi uma das primeiras revistas a
ignorar o selo do Comics Code Authority, um órgão que regulava a
censura das histórias em quadrinhos da época.
OS AUTORES
O britânico Brian Bolland iniciou a carreira em sua terra natal,
na revista 2000 A.D. Lá o artista ilustrou a série Judge Dredd, também
inglesa. Nos Estados Unidos desenhou capas de diversas revistas da DC
e trabalhou em publicações como Batman: Piada Mortal, um clássico.
Mike W. Barr, por sua vez, não teve diversos trabalhos publicados após Camelot 3000. Escreveu especiais de Batman e alguns trabalhos da série Jornada nas Estrelas em quadrinhos.
NO BRASIL
Em nosso país a série foi publicada, inicialmente, na forma
de adendos de revistas de super-heróis publicadas pela Editora Abril
nos anos de 1984 e 1985, tais como Batman e Superamigos. Em 1988
foi lançada no formato de mini-série e teve quatro edições de aproximadamente 80 páginas em cada.
Um fato interessante: na primeira publicação, algumas cenas
de nudez e de homossexualismo foram removidas dos quadrinhos,
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O Redator d’A Arca Perdida
que foram editados por causa da censura. Na edição da mini-série, a
de 1988, tais cenas foram mantidas e não houve a restrição.
Infelizmente, leitores, Camelot 3000 somente pode ser encontrada em sebos atualmente, já que desde 1988 não foi mais publicada. Nos Estados Unidos, porém, recentemente foi relançada no
formato TP (Trade Paperback) e pode ser comprada com certa facilidade via Internet ou encomendada em lojas do ramo.
E.T. – O Extraterrestre: Parte II
A continuação não filmada...
E.T. – A magia de 1982
Fato: E.T. é um dos
poucos filmes a ter permanecido recordista de bilheteria durante longo tempo.
A história do extraterrestre
perdido no planeta Terra e
de suas aventuras ao lado
dos amigos humanos encantou o mundo nos idos
de 1982. Assim como o alienígena apaixonou-se pela
Terra, os humanos apaixonaram-se pela bizarra criação do artista italiano Carlo
Rambaldi.
Steven Spielberg,
diretor da obra-prima,
cansou-se – certamente –
de tanto ter escutado as
mesmas perguntas proferidas incansáveis vezes: “- sr.
Spielberg, quando produzirá a continuação de E.T.?” ou
“- Elliott visitará o planeta dele?”. Esses questionamentos, de fato, têm
povoado as mentes dos inúmeros fãs daquele simpático humanóide
até os dias de hoje.
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O Redator d’A Arca Perdida
E.T. – Parte II?
O próprio Spielberg pensou sobre essa seqüência, tanto que
um roteiro foi escrito. Apesar das eventuais pressões Hollywoodianas
e da tentação de um novo recorde de bilheteria, essa segunda parte
nunca chegou a ser filmada. Os motivos parecem óbvios: Alata Zerka,
o planeta-natal do simpático alienígena, exigiria enormes quantias
monetárias a fim de ser reproduzido nas telas, além de muita criatividade dos magos dos efeitos especiais ser requisitada. Se nos dias de
hoje a criação do referido planeta é algo trabalhoso, que dizer dessa
tarefa em meados dos anos oitenta? O outro motivo tem a ver com
a inalteração do sentimento gerado pelo filme original, por meio do
qual E.T. - na mente de Spielberg - deve manter-se intocado, imaculado.
E.T.: The Book of the Green Planet
A continuação da história aconteceu – eventualmente – em
1985, porém, para o “desagrado” dos fãs, deu-se apenas no mundo
literário. William Kotzwinkle, notável ganhador dos prêmios National
Magazine for Fiction e World Fantasy, escreveu a tão esperada continuação a partir das idéias de Spielberg. O resultado é o livro “E.T.: The
Book of the Green Planet”, publicado no Brasil pela Record, editora
Carioca.
E.T. no Planeta Verde, conforme o título brasileiro, narra a continuação da aventura iniciada na Terra, através da qual E.T. partiu de
nosso planeta em direção ao Cosmo e retornou à origem. Alata Zerka,
o planeta de duas luas e repleto de vida vegetal, não nega o próprio
nome; assim como a Terra foi batizada de Planeta Azul - devido à profusão oceânica - o lar do alienígena é chamado como tal por causa do
verde abundante. Lá a vida vegetal é inteligente e sensível, mesmo
porque o planeta é um centro botânico universal. Ao contrário da natureza Terrestre, a vida vegetal Alatiana atingiu níveis inimagináveis
de complexidade, de interação e de beleza.
E.T. – O Extraterrestre: Parte II
47
O Cosmólogo
Ouve-se constantemente a afirmação através da qual as pessoas tomam E.T. por uma criança alienígena. Nas primeiras páginas
do livro constatamos o contrário: a criatura é um perito em Cosmologia (estudo do Cosmo) e um Dr. Botânico de Primeira Classe, motivo
pelo qual integra naves espaciais de pesquisa intergaláctica. Ele é um
ser deveras respeitado, tamanhas descobertas e inovações proporcionou.
A raça de E.T. é uma das mais antigas do universo e a contagem da vida daqueles seres se realiza em Eras, não em anos ou em
séculos. Diferentemente dos humanos, seres como o E.T. (*) guardam
a sabedoria não somente nos cérebros, mas nos corações; o coração
não serve apenas ao intuito de manter a vida, mas também de armazenar sabedoria acumulada através do tempo.
Os alienígenas do Planeta Verde têm uma curiosa capacidade
de relação com o meio-ambiente: sentem e interagem não somente
em âmbito físico, mas em modos mais sutis como o pensamento e
como a vibração corpórea (“aura”). Essa capacidade sobre-humana
aumenta proporcionalmente à razão do tempo de vida.
E.T., aliás, não é a única criatura inteligente do planeta!
Alata Zerka:
o jardim botânico do Universo
O planeta em questão repousa nos confins do universo, segundo os padrões humanos. Existe uma cena antológica do filme
em que as crianças - Elliott, Michael e Gertie – questionaram com
E.T. sobre a localização do planeta dele. É fácil perceber o porque
da resposta a essa questão não ter sido dada: Alata Zerka se localiza
noutra galáxia, muito distante, atingida comumente através da passagem de um Continuum ao outro da existência. Viagens ao planeta
de E.T. são realizadas através de Portões Dimensionais espalhados
48
O Redator d’A Arca Perdida
pelo espaço, pois são a única maneira das grandes distâncias serem
galgadas. Como isso poderia ter sido explicado às crianças? O simpático alienígena só sabia dizer El-li-ott...
No Planeta Verde são reunidas todas as espécies existentes
no Cosmo. As plantas são estudadas e cultivadas com muito carinho,
respeito e apreciação. Porém, isso não é tudo! Os cientistas botânicos
dirigem complicados estudos genético-energéticos, bem como alteram o mundo vegetal e criam novas formas de vida. Há toda sorte
de vida verde no planeta: árvores saltitantes, plantas voadoras, raízes
musicais, flores calmantes, plantas gigantes protetoras (como os nossos cães de guarda); há de tudo! Nas sábias palavras de E.T.: “- Uma
flor é a geometria do universo”.
Habitam o planeta tipos curiosos. Além da raça de E.T., há os
Microtécnicos. São pequeninas criaturas – de no máximo trinta centímetros - dotadas de centenas de dedos capazes da execução das
mais difíceis operações (eis o motivo do nome lhes dado). As peles
deles são esbranquiçadas – quase transparentes – e possuem cabeças grandes quando comparadas aos corpos. Por causa da habilidade
inata, os Microtécnicos trabalham nos reparos de equipamentos e especialmente nas manutenções das grandes naves espaciais. Eles são
orgulhosos, exigentes e têm uma curiosa obsessão por limpeza e por
organização. Interessante, pois já vi tipos assim na Terra!
Os Igigi Gyrum Hadahadeba são outra forma de vida inteligente. Conforme a descrição do próprio livro: “... que significa seiscentas vértebras na espinha. Mas todo mundo no planeta as chamava
simplesmente de Gomamoles, pois um de seus modos de caminhar
era arrastar-se como uma substância grudenta e mole, com a base em
formato de tripé. Pareciam mais uma pilha de meias moles cinzentas.
Eram muito velozes, muito ágeis, muito estúpidas e adoráveis”. No
decorrer da leitura, contudo, o leitor perceberá um certo mistério peculiar a essas criaturas, pois são mais do que aparentam ser.
Os Donos da Mente, assim como são chamados, são as formas
de vida “supremas”. Apesar da semelhança para com E.T., a forma fluida dos corpos dessas criaturas é algo notório. São, conforme o livro
nos mostra: “... mente pura numa membrana fina, que altera a forma
de acordo com a necessidade. Conheciam a fundo as ciências supremas, eram criaturas de enorme paciência e poder”.
E.T. – O Extraterrestre: Parte II
49
A evolução natural da raça de E.T. leva os seres a transformarem-se após certo estágio da vida, chamado de “O Segundo Estágio
do Crescimento”. No tal estágio, a “estatura mental” provoca a transformação do corpo físico, por meio da qual o ser cresce, torna-se esbelto
e elegante. O pai (**) de E.T. é um dos exemplos desse ser pleno.
A arquitetura do planeta parece bem diversificada. De fato,
há dois tipos básicos de construções. Num dos tipos as moradias são
construídas a partir da própria forma orgânico-vegetal disponível.
Nesses casos as residências são como cabaças gigantes mobiliadas
de igual forma e iluminadas por criaturas batizadas de Lumens (tipo
de lesma brilhante presa ao teto ou transportada aos aposentos); a
casa do pai de E.T. exemplifica essa espécie de morada. Na outra forma elas são similares às da Terra – “artificiais” – com grandes prédios
e construções brilhantes. Crystellum, a grande capital do planeta, é o
exemplo. O fator mais interessante é a inexistência de conflito entre
os dois tipos, porque tudo parece se encaixar numa perfeita simbiose, de alguma forma.
El-li-ott e os Terráqueos
Há milhões de quilômetros do Planeta Verde os amigos Terráqueos de E.T. estão um pouco mudados... Mas nem todos!
Elliott crescera e encontra-se cursando o Ginásio. Os interesses do garoto foram ligeiramente modificados: só pensa em jogar fliperama, em computadores e, em especial, na bela garota Julie, por
quem está secretamente apaixonado.
Michael, o irmão mais velho, está prestes a integrar um time
universitário de futebol – americano – e se prepara para “fazer bonito” no teste.
Gertie... Bem, Gertie não mudou nada!
Mary, a mãe ainda solitária, procura desesperadamente por
um “pai” para as crianças, por um marido para ela. Fantasia com qualquer homem que veja à frente, dotado de um mínimo de simpatia:
imagina-se com os pretendentes no sofá do lar a assistir televisão na
companhia dela.
50
O Redator d’A Arca Perdida
E.T. volta para casa
A história começa, realmente, a partir do ponto de encerramento do filme. Logo de início, o leitor acompanha a perseguição da
nave alienígena por caças da força aérea norte-americana. Tudo em
vão, é claro!
E.T., cabisbaixo, foi até a ala de botânica da nave e ficou a contemplar o Gerânio (***) lhe dado por Gertie. Em meio aos pensamentos
do alienígena, nem desconfia do futuro que lhe é reservado: o rebaixamento. O doutor em botânica foi sumariamente rebaixado de seu posto, pois, afinal, perdeu-se na Terra e atrasou a missão daquela equipe
de vôo da qual faz parte. Foi confinado aos próprios aposentos.
Por meio do processo de auto-hipnose, E.T. dormiu por um
longo período até findas todas as missões programadas da nave espacial. Ao retornar a Alata Zerka, o alienígena nutriu esperanças de ser
reconhecido pela aventura vivida no Planeta Azul – daria palestras e
cursos sobre a cultura, sobre o idioma e sobre os costumes da Terra –
contudo, acabou “entregue” ao antigo lar: uma área agrícola, espécie
de fazenda, utilizada pelos aprendizes de botânica e dirigida por Botanicus, antigo mestre e professor de E.T. Ele... De volta à estaca zero!
Botanicus é uma criatura extremamente evoluída e desenvolvida mentalmente, e exerce profunda influência sobre o mundo
vegetal. Encontra-se no segundo estágio de crescimento (explicado
anteriormente) e também possui a famigerada “luz” nos dedos. As
tais luzes, a exemplo de E.T. (detentor de apenas uma), têm a ver com
o grau de sabedoria e de conhecimento de determinado ser, e também com o fato desse ter concluído algum grande feito no decorrer
da própria existência. Botanicus, o grande mestre, tem 10 luzes: uma
para cada dedo das mãos.
Reencontro com amigos
Na fazenda, E.T. se reencontrou com o antigo amigo, um Gomamole. O veloz amigo atrapalhado esteve muito saudoso do botânico e
E.T. – O Extraterrestre: Parte II
51
festejou ao reencontrá-lo. E.T. se reencontrou, também, com o próprio
pai, de quem é deveras admirador e a quem ama muito.
Há muito humor no livro, verdade! As revelações de E.T. aos
conterrâneos são estarrecedoras, pois o leitor não sabe se são verdadeiras ou se são gozação. Ele, por exemplo, diz que as crianças são os
governantes da Terra, pois são extremamente sábias e sensíveis. Diz,
também, que o Halloween é uma das grandes festas do Planeta Azul
e que as balas são o principal alimento da Humanidade. Ele, de forma
curiosa, afirmou ter ficado num compartimento especial chamado
de armário. Quanta honra!
Outra coisa engraçada é o emprego de palavras Terrestres no
dia-a-dia do Planeta Verde. E.T. vive dizendo: “ai”, “seja bom”, “dar o fora”
e coisas do tipo. Apesar de ninguém compreendê-lo, essas expressões
são usadas em demasia. Quantas saudades de Elliott e dos amigos!
Fazendo contato
A saudade foi o combustível de E.T., pois a partir do regresso
ao Planeta Verde tentou o contato telepático com Elliott. O alienígena
passou a produzir réplicas telepáticas de si próprio, enviadas à Terra
por meio do poder mental dele. Infelizmente, tais réplicas têm curto
período de vida e, portanto, precisam atingir o “alvo” muito rapidamente a fim de que sejam percebidas. Elas – e isso é outro agravante
– são muito pequenas e medem poucos centímetros de altura.
Num curto espaço de tempo, E.T. constatou algo terrível:
Elliott não recebia as mensagens telepáticas. O que estaria havendo?
Ora a réplica era jogada longe, chutada por um estranho despercebido, ora caía em lugar inapropriado e era esquecida. Pudera! Elliott,
enamorado que estava, só tinha olhos para Julie.
E.T. compreendeu a situação, ela era simples e drástica: Elliott
virava adulto. O alienígena conhecia os adultos da Terra e sabia que
lhes falta sabedoria. Na visão dele, as crianças perdem a sensibilidade
ao tornarem-se grandes. Elliott precisa de ajuda!
52
O Redator d’A Arca Perdida
O ladrão de naves
Após uma conversa com o amigo Gomamole, E.T. começou
a arquitetar um plano para “tomar emprestada” uma espaçonave de
Lucidullum (cidade próxima à fazenda) para ir à Terra. Por sorte, E.T.
se reencontrou com um Microtécnico do qual é amigo e lhe revelou
a intenção. Mícron, o pequeno Microtécnico, também estivera saudoso de um planeta visitado por ele há tempos e do qual guarda um
instrumento musical, e muita saudade. Os três estavam certos do que
devia ser feito... Cada qual visitaria um planeta diferente com o auxílio do outro e Gomamole os acompanharia.
E.T. arriscou-se e pediu ajuda para algumas criaturas proscritas; esquecidos seres viventes no subterrâneo do planeta. São
antigos comandantes de naves espaciais e possuidores de enorme
conhecimento de navegação, mas também têm um sentimento esquecido há eras: a ganância pelo poder. Occulta, Electrum e Sinistro,
seres dotados de corpos metálicos (os senhores do escuro), integrariam a tripulação!
Infelizmente, após muita confusão o seqüestro da nave falhou
e foram todos pegos. E.T. fora novamente rebaixado e seus novos
amigos devolvidos ao mundo da escuridão. Ele ficou profundamente
envergonhado por causa da tentativa de roubo e por ter envolvido
os amigos no processo. Roubo, no Planeta Verde, era um mal não praticado há eras...
O segredo de Botanicus
De volta à fazenda, E.T. sentia-se envergonhado e desanimado, mesmo porque nem as réplicas enviadas à Terra surtiam efeito.
Num bate-papo com o antigo mestre, lhe foi falado acerca da impossibilidade de roubo de uma nave espacial daquelas, mas também lhe
foi revelado o fato de o Jardim de Botanicus possuir diversos segredos escondidos. O pequeno alienígena teria as respostas das quais
necessitava bem ali... Elliott, afinal, seria revisto pelo amigo?
E.T. – O Extraterrestre: Parte II
53
O Desfecho
Seria péssimo de minha parte lhes revelar mais desse livro.
Ele deve ser lido, pois, num mínimo, é garantia de excelente diversão.
Ademais, é uma forma dos fãs matarem as curiosidades sobre a continuação dos eventos principiados no filme. O Planeta Verde é exuberante, mágico e curioso, assim como as criaturas que lá habitam o
são. O livro é, além de um fascinante tratado de Exobiologia (****), um
conto repleto de humor, de emoção, de alegria e de sensibilidade.
O amor puro e verdadeiro, a beleza da infância, a capacidade
da fé e a noção de que, embora sejamos milhões de seres, cada um
de nós é único e especial, são detalhes muito presentes à obra.
A conclusão de “E.T. no Planeta Verde” é surpreendente e, ainda assim, deixa uma enorme janela para as imaginações dos leitores.
Num final lindo, a maior mensagem presente no livro: o bem universal mais importante de todos é o AMOR.
(*) Em nenhum momento do livro foi especificado o “nome” da raça.
(**) E.T. parece ser hermafrodita, pois não há referência à existência da mãe.
(***) Planta dada ao E.T. por Gertie ao término do filme.
(****) Ciência que estuda possíveis formas de vida extraterrestres.
Os Heróis não têm Idade
Aproveitei o lançamento do DVD de Os Heróis não têm
Idade, um de meus filmes de infância favoritos, e escrevi
este artigo nostálgico a respeito do mesmo. Espero que se
divirtam tanto quanto foi bacana escrevê-lo.
A TRAMA
Em San Antonio, Texas,
David Osborne (Henry Thomas),
um imaginativo garoto de onze
anos de idade, acabou de perder
a mãe. Como única companhia,
já que o triste e atarefado pai
(Dabney Coleman) não lhe dá
a devida atenção, há um espião
e amigo imaginário, Jack Flack
(interpretado também por Dabney Coleman), que acaba por
dar conselhos ao menino.
Davey adora jogar videogame e brincar de espionagem, e tem como parceira a
menina Kim Gardener (Christina
Nigra). Em um dia fatídico, ambos vão ao edifício da empresa
56
O Redator d’A Arca Perdida
de eletrônica Textronics, a pedido do amigo nerd, Morris (William
Forsythe), e o menino finge cumprir uma missão secreta. Durante a
brincadeira, contudo, David vê-se cara-a-cara com assassinos reais
quando um estranho homem, baleado, entrega-lhe um cartucho - de
Atari - do jogo “Cloak & Dagger”, nome que dá título ao filme, e lhe
pede que o leve e o mantenha em segurança. Tal cartucho especial,
na verdade, contém o blueprint (a planta) de um novo avião espião
americano, ultra-secreto. O objeto poderia ser levado para fora dos
E.U.A. se caísse em mãos erradas, e o segredo, revelado.
A
partir
daquele momento, o jovem inicia,
“auxiliado”
por
Jack Flack, uma
corrida para escapar dos bandidos, que raptam a
pequena Kim e o
perseguem implacavelmente por
diversos pontos
da cidade de San Antonio. O “passeio” de barco no rio, aliás, é uma das
melhores partes. Davey até tenta convencer o pai acerca da situação
em que está, porém, é desacreditado por ele, justamente por viver no
mundo da Lua. As duas crianças passam, então, por muitos perigos.
Davey precisará fazer uma escolha super importante para o
próprio futuro. Uma escolha nada fácil...
E não comentarei mais nada para não estragar as surpresas!
O IMAGINÁRIO DOS ANOS 80
Filmes em que crianças imaginativas e especiais definem a
trama eram comuns nos anos oitenta. E.T., O Extraterrestre (E.T., The
Extraterrestrial, 1982), D.A.R.Y.L. (1985), Viagem ao Mundo dos Sonhos
Os Heróis não têm Idade
57
(Explorers, 1985), O Vôo do Navegador (Flight of the Navigator, 1986),
Conta Comigo (Stand by Me, 1986); os exemplos são diversos. Em “Os
Heróis não têm Idade”, rodado em 1983 e lançado em 1984, a tônica do
enredo tem a ver com o rito de passagem da infância para a vida mais
adulta, isto é, com o processo de abandono dos heróis, imaginários ou
de brinquedo, das histórias mirabolantes de piratas e conquistadores
do espaço, dos videogames e seus beep-beeps (na época do filme, os
videogames eram vistos como um produto genuinamente infantil.
Bem diferente do que acontece hoje. Eis o porquê desta observação), e
com a perda da inocência, da ingenuidade; tudo em prol da aquisição
de novas responsabilidades, do amadurecimento.
Davey, conforme orientações do pai, precisa abandonar tais
criancices, pois essas,
assim como o falecimento da mãe, seriam
os reais motivos das supostas “alucinações” do
jovem. O menino, aliás,
foi muito bem interpretado por Henry Thomas,
que atuou, em 1982,
no clássico de Steven
Spielberg: “E.T.”. Henry
pode não ter sido um
Haley Joel Osment (de
O Sexto Sentido e A.I. - Inteligência Artificial), mas a todos encantava
com seu jeitinho meigo de atuar. A cena, por exemplo, em que David
se vê na necessidade de abandonar Jack Flack, de esquecê-lo, chega
a comover bastante, graças à atuação emotiva de Thomas. Em termos de desempenho, aliás, o show ficou a cargo de
Dabney Coleman (Jogos de Guerra, Os Muppets conquistam Nova
York, Como Eliminar seu Chefe), a quem foi entregue o duplo papel
de pai e de amigo imaginário. Ator nem sempre devidamente aproveitado, Coleman brilhou ao dar vida às doidices de Jack Flack, quer
seja ao fornecer conselhos amalucados ao garoto ou ao salvar a sua
pele, quer seja ao sofrer com ele. Como pai, entretanto, foi firme, preocupado e amigo quando preciso. Realmente, os dois personagens
ficaram bem distintos, apesar da aparência praticamente idêntica de
58
O Redator d’A Arca Perdida
ambos. Nota dez a esse ator que atualmente tem 73 anos de idade.
Não podem ficar de fora dos comentários as excelentes atuações de
John McIntire e Jeanette Nolan, intérpretes do casal de idosos que
“ajudam” Davey, ambos já falecidos. O filme teve roteiro de Tom Holland (A Hora do Espanto), direção do australiano Richard Franklin (Psicose 2, FX/2), que soube dosar
bem a ação, o suspense e a emoção, e trilha sonora do também australiano Brian May (Mad Max, Mad Max 2), falecido em 1997. A maior surpresa da película, é claro, está reservada para a
cena final, que acontece nos últimos segundos do filme. É quando,
sejamos crianças ou adultos, torna-se difícil segurar as lágrimas que
escorrem pelo rosto. CAMPEÃO DA SESSÃO DA TARDE “Os Heróis não têm Idade” foi um dos campeões da Sessão
da Tarde, porém, faz tempo que não é exibido em tevê aberta. Vale
a pena, portanto, adquirir o recém-lançado DVD americano (Região
1), dotado de imagem restaurada e no formato Widescreen. Infelizmente, o disco não dispõe de legendas nem mesmo em Inglês, além
de não apresentar extras. Talvez por isso ele custe tão pouco: aproximadamente R$ 45,00 nas melhores importadoras do ramo. Ainda
assim, eu o recomendo! Mas atenção: seu aparelho de DVD precisa
estar desbloqueado para que o disco funcione. Os Heróis não têm Idade
59
CURIOSIDADES • “Cloak & Dagger”, o título original, não tem uma tradução exata em Português. O termo dá nome aos filmes de
espionagem. É como o nosso “Capa e Espada”, usado para nomear os filmes de espadachins e castelos medievais. “Cloak
and Dagger”, portanto, significaria, ao pé da letra, “Manto (ou
Capa) e Punhal”. • O filme foi co-patrocinado pela Atari, tanto que o logotipo e o nome daquela empresa podem ser vistos quase
sempre. O videogame utilizado por Davey é um Atari 5200,
console lançado em 1982, mas que nunca chegou ao Brasil.
Caixas de outro videogame, hoje clássico, o ColecoVision,
também aparecem. • O game “Cloak & Dagger” existe, sim, mas para arcade
(fliperama), não para os videogames domésticos. A fim de que
as cenas fossem filmadas, o criador do jogo, Russell B. Dawe,
jogou-o em um arcade ligado, por meio de uma engenhoca, à
televisão do quarto do garoto. • Diversos pontos turísticos da cidade de San Antonio
foram aproveitados pelo diretor, tais como o Museu do Alamo
e o River Walk, onde foi realizada a cena do passeio de barco
em que Davey foge dos bandidos. Essa atração, aliás, funciona
até hoje na cidade. • William Forsythe, que fez o amigo nerd do garoto, interpretou Al Capone na nova versão da série “Os Intocáveis”, a
de 1993. • “Cloak and Dagger” também é uma linha de quadrinhos da Marvel Comics, mas que não tem nada a ver com o filme. Por aqui, os heróis são conhecidos como Manto e Adaga. • Henry Thomas, hoje com 33 anos de idade, está casado
pela segunda vez, com a atriz alemã Marie Zielcke, e tem uma
filha. Voltou à ativa e tem participado de diversas produções.
Hoje atua em uma minissérie baseada no livro Desespero, de
Stephen King. 60
O Redator d’A Arca Perdida
• Pode-se dizer que o filme foi o pioneiro ao retratar espiões
mirins, fato que ficou comum dos anos noventa para cá. As aventuras de Davey aconteceram bem antes e foram bem mais reais que
as retratadas nos filmes da série Pequenos Espiões. • Há uma produção de 1964 cujo nome também é “Cloak
and Dagger”, que ficou conhecida no Brasil como O Grande Segredo. Foi estrelada por Gary Cooper”.
1983 – 2003: A comemoração dos
vinte anos do videogame no Brasil
A criançada de hoje em dia, acostumada às partidas de
Playstation 2 e de Game Cube, nem se dá conta de que neste ano o mercado de videogame no Brasil está aniversariando. Porém, quem estiver na casa dos trinta – como eu – se
lembrará do agitado ano de 1983, época em que os jogos
chegaram ao país, há vinte anos.
A grande novidade apareceu por aqui com quase sete anos
de atraso em relação ao mercado que a inventou, o norteamericano, e também por causa disso a evolução do videogame no Brasil aconteceu de maneira bem pitoresca. Apesar das extintas lojas Mappin e Mesbla terem importado um
grande lote de aparelhos em 1981, o videogame genuinamente produzido no país somente surgiu dois anos após.
E no ano de 1983...
Odyssey: O Pioneiro
A responsável pelo debute foi a Philips, que lançou o Odyssey
em maio daquele ano. Através de forte campanha publicitária – até
mesmo um programa de videoclipes foi patrocinado pela empresa
– com propagandas na tevê e em revistas especializadas, a empresa
atingiu um bom número de vendas do console. O Odyssey, criado na
62
O Redator d’A Arca Perdida
Europa, não foi bem aceito pelo
consumidor norte-americano,
mas aqui deslanchou devido
ao marketing e também por ter
sido o pioneiro. Jogos ótimos
como “Didi na Mina Encantada”,
“Come-Come” e “Senhor das Trevas” garantiram a boa aceitação
do aparelho, que teve 60 títulos
lançados.
Infelizmente, dois motivos levaram o Odyssey ao ostracismo. O primeiro teve a ver com
uma besteira cometida pelo fabricante: a Philips, passado um
tempo do lançamento, declarou
que o videogame só funcionaria
em televisores da própria marca;
obviamente, num plano para a
venda conjugada de ambos os
aparelhos. O outro fator teve a
ver com o lançamento do Atari
2600, principal concorrente.
A Reserva de Mercado
É preciso explicar a Reserva de Mercado antes de prosseguir,
pois ela foi o outro determinante responsável pela ímpar história do
videogame no Brasil. No início dos anos oitenta criou-se uma lei por
meio da qual proibiram-se as importações de aparelhos eletrônicos
computadorizados (microcomputadores e videogames). Ao mesmo
tempo em que houve a proibição, incentivou-se a fabricação nacional
de tais aparelhos, que supostamente estariam “protegidos” pela lei.
1983 – 2003: A comemoração dos vinte anos do videogame no Brasil
63
No fundo, criou-se uma saudável “pirataria legalizada” através
da qual algumas empresas nacionais lançaram “clones” de videogames norte-americanos. Esse processo de clonagem industrial é conhecido como engenharia reversa, pois se aprende a fabricar determinado aparelho a partir da desmontagem e do estudo do produto
original. Uma curiosidade: alguns clones, inclusive, trouxeram melhorias em relação aos “verdadeiros”. O fator que não pode passar despercebido ao leitor: as empresas nacionais responsáveis pelos clones
nunca pagaram um tostão sequer de royalties e de direitos autorais
aos respectivos fabricantes; e isso graças à Reserva de Mercado.
Atari:
O rei dos videogames, o mais popular
No final de maio, logo após a novidade da Philips, a primeira
empresa a ter lançado outro videogame foi a Sayfi Computadores,
que depois teve o nome alterado para Milmar (a conhecida fabricante de calculadoras). A Sayfi fabricou o primeiro clone do sistema Atari
2600: o Dactari. Curiosidade: o nome do produto foi posteriormente
mudado para Dactar e foram produzidos quatro modelos diferentes,
incluindo-se o famoso Dactar Maleta 007. O Dactar, a propósito, é
parecidíssimo com o Atari e não trouxe
nenhuma modificação significativa.
A Dynacom, que já fabricava cartuchos clones, seguiu a Sayfi e lançou
um similar do Atari 2600: o Dynavision.
O aparelho, criado com design totalmente único, saiu da fábrica dotado de uma
série de melhorias, como plugs frontais
para conexões de joysticks e com o silenciador de ruído de tevê.
O Atari 2600 somente apareceu
oficialmente no Brasil entre agosto e setembro de 1983 e tornou-se a “febre” de
64
O Redator d’A Arca Perdida
consumo do Natal. O
aparelho foi produzido
pela Polyvox, extinta
empresa do grupo Gradiente. O Atari oficial
vinha acompanhado
do cartucho “Missile
Command” e podia ser
adquirido por módicos
200 mil cruzeiros em qualquer loja de departamentos ou videoclube.
Infelizmente, a Polyvox lançou poucos títulos – somente os oficiais
Atari – e, portanto, não teve a vendagem de cartuchos esperada, ao
passo que os concorrentes, como a Dynacom, venderam bem mais
jogos. Enquanto a empresa possuía apenas os direitos sobre os jogos da Atari, as fabricantes de cartuchos clones duplicavam os cartuchos da Activision, da Parker Bros., da Imagic, da Coleco e de outras
softhouses. Curiosidade: a Polyvox lançou três modelos diferentes de
Atari e encerrou as atividades no final dos anos oitenta. Ao contrário
das concorrentes, a empresa pagava royalties à Atari americana, fato
que encareceu os produtos da marca no Brasil.
Demais empresas também lançaram
os respectivos clones de
Atari, como a CCE e a Dismac, contudo, o console
favorito dos fãs, ainda
hoje, é o Dynavision.
O Atari 2600 foi
o sistema responsável
pela popularização do
videogame no mundo.
Se hoje há o X-Box, o
Playstation 2 e o Game Cube, dê graças ao Atari por isso! Jogos como
River Raid, Enduro, Decathlon, H.E.R.O. e tantos outros permanecerão
nas nossas memórias para sempre.
1983 – 2003: A comemoração dos vinte anos do videogame no Brasil
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Intellivision: Jogos Esportivos
Outra empresa nacional não quis ficar para trás no mundo dos
videojogos. Trata-se da extinta Digiplay, empresa coligada à Sharp,
que adquiriu os direitos de um forte concorrente da Atari nos E.U.A.:
o Intellivision. A Digiplay lançou o videogame no segundo semestre
de 1983 e embora o aparelho fosse superior ao comercializado pela
Polyvox, não fez o sucesso desejado. Lançado com a máxima “a inteligência na televisão”, o console trouxe controles esquisitos (discos
direcionais) e muitos jogos esportivos; o forte do sistema, inclusive.
Infelizmente, talvez devido ao alto preço, o Intellivision ficou relegado a uma pequena elite endinheirada. Jogos como “Desafio Estelar”,
“Burgertime” e “Shark Shark” eram mania naquela época!
Em 1984 a Digiplay lançou o Intellivision II: igual ao primeiro,
mas com design bem menor e na cor branca. Nada de mais! Também
não foi sucesso de vendas.
SpliceVision: O Coleco nacional
O ColecoVision, coqueluche
nos E.U.A. em 1982, também teve
uma versão brasileira: o SpliceVision.
Lançado em 1983 por uma empresa
do ramo de telefonia, a Splice, o clone nacional do Coleco mostrou-se mal
feito em termos de acabamento: feio,
desengonçado e ordinário. Apesar disso, a parte eletrônica do aparelho foi
bem feita e só não fez sucesso devido
ao elevado preço de venda; chegou a
custar cinco vezes o valor de qualquer
clone de Atari.
O Coleco foi superior aos concorrentes, pois tinha capacidades
gráficas e sonoras muito melhores.
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O Redator d’A Arca Perdida
A especialidade do ColecoVision foram as conversões dos jogos de
Fliperama. A Splice, por conseguinte, procurou atingir o nicho de
mercado em que os adultos, já trabalhadores, demandavam jogos
melhores. Infelizmente, o videogame foi menos vendido do que o Intellivision. Outro agravante: a Splice lançou poucos títulos de jogos e
o proprietário do console precisou se virar com os cartuchos originais
da Coleco, extremamente caros à época.
O que veio depois?
Após o marco inicial de 83, uma imensa gama de videogames
chegou ao Brasil. Tivemos o Master System, o NES (Nintendinho), o
Megadrive, o Super NES, o Neo-Geo e tantos outros. Todavia, devemos comemorar o aniversário dos videogames e nos lembrar dos
primeiros aparelhos que fizeram as alegrias das crianças no início dos
anos oitenta.
Há 20 anos...
Parece ontem... Mas há 20 anos, no Natal de 1983, ganhei
meu Atari 2600 da Polyvox. Sinto-me sortudo por ter acompanhado
o nascimento do videogame no Brasil, por ter participado, de certo
modo, de tudo aquilo. Lembro-me das coisas como se fosse hoje e
sinto muitas saudades daquela época mágica na qual só pensava em
voltar do colégio para jogar River Raid e Enduro.
Parabéns ao videogame nacional! Parabéns às pessoas que fizeram essa história! Parabéns aos idealizadores dos clones nacionais,
engenhosamente feitos! E parabéns aos criativos programadores dos
jogos de outrora, que fizeram muitas crianças felizes ao movimentar
naves “quadradas” e de uma cor só pela tela, mas que, em contrapartida, sempre imaginaram tremendos combates espaciais em galáxias
distantes.
E isso, há 20 anos...
Eduardo Luccas, 31 anos, especialista na história dos videogames, colaborou com
esse artigo.
Roger Corman: o Rei dos Filmes B
É impossível não associar nomes como Roger Corman e Ed
Wood do estilo B de filmes, aqueles feitos com baixíssimos
orçamentos e cujas temáticas geralmente têm a ver com
ficção científica ou terror, mas que, apesar dos efeitos especiais rústicos, esbanjam criatividade e irreverência.
A partir de agora, caro leitor d´A ARCA, você saberá mais
a respeito do mítico Roger Corman: roteirista, produtor, diretor e ator que moldou a cara dos Filmes B, e que lançou
atores e diretores – hoje famosos – ao estrelato, deixando
sua marca para a eternidade na história do cinema.
O ENGENHEIRO
QUE VIROU FILME
Roger William Corman nasceu em
05/04/1926 em Detroit, Estados Unidos, e
estudou Engenharia, apesar de sua notória paixão por filmes. Porém, não tardou a
se infiltrar num estúdio cinematográfico,
pois passou a trabalhar como boy nos escritórios da 20th Century Fox. Esforçou-se,
dedicou-se e logo se viu no papel de analista de roteiros – escrevia, também, os seus
em segredo, é claro.
68
O Redator d’A Arca Perdida
Entre 1953 e 1954, finalmente, Corman conseguiu vender
um de seus trabalhos feitos sob tanto suor: o roteiro do filme policial
Highway Dragnet, o qual também foi co-produzido por ele. Começava, então, uma carreira promissora no mundo do cinema.
OS PRIMEIROS TRABALHOS & A FICÇÃO
CIENTÍFICA
Ainda em 1954,
Corman produziu seu
primeiro trabalho que
pode ser considerado como um filme
B: Monster From The
Ocean Floor. O enredo é sobre uma turista
americana em visita ao
México, que se depara
com um monstro - de
um olho só - saído do
mar. Ela conta a respeito da criatura às autoridades, mas é desacreditada. Apesar do baixíssimo orçamento, de
11 mil dólares, e dos efeitos visuais simplórios, a película, que faturou
10 vezes o custo de produção, agradou ao público devido às boas
atuações e ao roteiro bem-feito.
Após um ano, em 1955, a primeira atuação como diretor
surgiu através do filme Five Guns West, western produzido pela
American Releasing Corporation – companhia futuramente rebatizada de AIP. Corman também foi o produtor da película.
Em 1956 dirigiu seu primeiro filme de ficção científica, o lendário The Day The World Ended, o qual é cultuado pelos fãs até os
dias de hoje. Dotado de um enredo um tanto quanto assustador, no
qual sobreviventes do pós-guerra nuclear são ameaçados por uma
Roger Corman: o Rei dos Filmes B
69
criatura mutante, essa produção de baixo custo agradou ao espectador pelas atuações – especialmente a da atriz Lori Nelson – ainda que
o enredo fosse algo exageradamente irreal.
É fato que os temas de Ficção Científica – com pitadas de horror – inspiraram grande parte dos trabalhos de Corman na década de
cinqüenta, ocasião em que ele produziu diversos filmes baratos, tais
como The Beast With A Million Eyes (1956), It Conquered The World
(1956), Not Of This Earth (1957), Attack Of The Crab Monsters (1957),
War Of The Satellites (1958) e demais.
O TERROR PURO & EDGAR ALLAN POE
A década de sessenta, por sua vez, foi a época em que Roger
Corman “descobriu” os trabalhos do lendário escritor americano Edgar Allan Poe, autor de pérolas como O Gato Preto, O Corvo, O Poço e
o Pêndulo e A Queda da Casa de Usher.
The Fall Of The House of Usher (1960), por exemplo, é uma
bela adaptação da obra do escritor, talvez a melhor de todas. Com
Vincent Price no elenco e com roteiro adaptado pelo escritor Richard
Matheson (que nessa época também contribuiu com material para a
série Além da Imaginação), esse filme tornou-se uma das obras-primas do diretor, uma vez que se aproxima demais do clima mórbido
do livro.
The Little Shop Of Horrors, também de 1960, é outro dos
clássicos. Com um quê humorístico e estrelado pelo ótimo Jonathan
Haze, esse filme de baixo orçamento – custou apenas 27 mil dólares
– encantou o público com a história de uma planta carnívora criada
como um animal de estimação numa floricultura, mas que se alimenta de carne humana. Jack Nicholson, em início de carreira, é uma das
atrações. Curiosidade: em 1986 a película foi refilmada por Frank Oz e
teve Rick Moranis no papel principal.
Filmes baseados no trabalho de Poe permearam aquela década. Corman filmou também: Pit And The Pendulum (1961 – com
70
O Redator d’A Arca Perdida
Vincent Price e John Kerr), Tales Of Terror (1962 – com Vincent Price e
Peter Lorre), The Raven (1963 – com Boris Karloff, Peter Lorre, Vincent
Price e Jack Nicholson) e The Tomb Of Ligeia (1965 – com Vincent
Price e Elizabeth Shepherd). Diversas produções do gênero terror,
verdade, foram feitas por ele nos anos sessenta: Dementia 13 (1963
– dirigida pelo iniciante Francis Ford Coppola), X: The Man With the
X-Ray Eyes (1963 – com Ray Milland), The Masque Of The Red Death
(1964 – com Vincent Price e Hazel Court, e com roteiro de Charles
Beaumont), dentre outras.
PARADA EM 1971
Em 1971 Corman decidiu parar de dirigir e, por conseguinte,
concentrar-se apenas em produzir e em distribuir filmes através da
New World, companhia criada pelo próprio. A idéia de Corman era
simples: por meio de filmes de baixo orçamento arrecadaria dinheiro
suficiente para gerar e distribuir filmes de arte. A coisa funcionou e,
de fato, títulos como Lágrimas e Suspiros (1972), de Ingmar Bergman,
e Amarcord (1974), de Fellini, foram distribuídos nos Estados Unidos
por sua produtora. Curiosidade: após a New World, ele lançou mão de
outra empreitada, a Concorde Films, que geraria diversas produções
no estilo daquelas que marcaram o início da carreira de Corman.
Somente voltou a dirigir em 1990, quando fez Frankenstein,
O Monstro Das Trevas. Infelizmente, foi seu derradeiro trabalho nessa
função.
UM MARCO DO CINEMA
Roger Corman merece verdadeiramente o destaque que tem.
Visionário, soube explorar as oportunidades que lhe foram ofertadas.
Soube, também, criar filmes extremamente baratos e, ainda assim,
Roger Corman: o Rei dos Filmes B
71
interessantes. Teve a humildade de, por exemplo, aproveitar cenários
de outras produções para baratear os custos das suas – essa prática,
como se sabe, já aconteceu com diversos filmes e séries, tais como
Jornada nas Estrelas e Além da Imaginação – e não foi arrogante, ou
seja, não desejou o sucesso somente para si. Deu oportunidades para
diversos astros e diretores iniciantes, agora consagrados pela crítica:
William Shatner, Peter Bogdanovich, Jack Nicholson, Francis Ford Coppola, Jonathan Demme, Jonathan Kaplan, Joe Dante, Allan Arkush,
James Cameron, Ron Howard, Martin Scorsese; os nomes são diversos. Curiosidade: essas pessoas, agradecidas pelas oportunidades,
acabaram por presentear o mentor com pequenos papéis e pontas
em seus filmes. Corman participou como convidado das produções
O Poderoso Chefão (Parte II), O Silêncio dos Inocentes, Filadélfia e de
muitas outras ao longo dos anos.
Atualmente continua a produção de filmes, de telefilmes e de séries
de tevê. Até o presente momento, o
currículo de Corman dispõe de quase
350 filmes como produtor e de algumas
dezenas como diretor. Poucas pessoas
do meio gozam desses números. Nos
anos oitenta, por exemplo, ele produziu
um dos filmes mais vistos na Sessão da
Tarde: Mercenários das Galáxias (Battle
Beyond The Stars), que também teve a
atuação de James Cameron, estreante,
na direção de arte, e composições do
mago James Horner. Vejam como o homem está escondido em tudo quanto
é filme!
É, se Roger Corman não existisse, o cinema certamente não
seria o mesmo!
Tradução para
Legendagem e Dublagem
Você já xingou ao ler determinada legenda na qual traduziram silício como silicone? Já? Já pensou na mãe do tradutor na vez em que certa legenda apareceu pequenininha,
ao passo que o personagem falou um caminhão de coisas?
É mesmo? E nas ocasiões em que, na dublagem, o fulano
mexe os lábios e o sincronismo da fala está totalmente diferente? Hein?
Pois bem, antes de xingar o próximo tradutor, caro leitor
d´A ARCA, leia este especial e descubra essa difícil arte de
traduzir filmes para legendagem e dublagem. A coisa não é
fácil e requer muita, mas muita dedicação e conhecimento.
Pare de reclamar, por conseguinte, e veja o porquê desse
trabalho requerer tanto dos profissionais do ramo.
TRABALHO ESPECIALIZADO
O trabalho de tradutor sempre foi algo difícil. Difícil, trabalhoso e em cuja dedicação está o ponto principal. A tradução de filmes, uma das especializações da profissão, requer, além do pleno
conhecimento de ambos os idiomas (origem e destino), bagagens
cultural, cinematográfica e televisiva prévias. Não raro acontece do
profissional precisar adaptar uma piada, uma situação ímpar e até
mesmo uma expressão para que haja sentido em determinada cena.
Trata-se de uma atividade freelance e solitária, na qual homem e
74
O Redator d’A Arca Perdida
máquina – videocassete, microcomputador, fones de ouvido – devem
se integrar corretamente, madrugada adentro, a fim de que no fim
das contas não haja a L.E.R. (famosa Lesões de Esforço Repetitivo).
A TRADUÇÃO PARA LEGENDAGEM
A chave da tradução para legendagem é a síntese. Exato. O tradutor precisa saber sintetizar, acima de tudo, para poder proporcionar
legendas de qualidade ao espectador, ao mesmo tempo em que esse
precisa “levantar os olhos” da legenda para também ver as imagens. Se
houver informação demais, a pessoa não tem tempo de ver o quanto
gostaria, apenas de ler. Se houver informação de menos, o espectador
pode não compreender corretamente um diálogo importante do filme. E isso porque existe um limite de caracteres imposto pelos softwares profissionais de legendagem, quase como um padrão.
De fato, espectadores xingando tradutores é algo muito comum. As pessoas geralmente acham que, se elas traduzissem aquele
filme, colocariam “bem mais coisa” no diálogo entre o mocinho e a
mocinha, não é? Então, leitor, saiba que os tais softwares, como o Systimes, permitem a inserção de apenas trinta caracteres (contando-se
espaços e pontos) dispostos em míseras duas linhas de texto. Será
mesmo que aquele diálogo do mocinho e da mocinha aceitaria bem
mais palavras do que você leu?
O primeiro passo do tradutor é assistir à produção (quer seja
filme, seriado, desenho ou documentário), de cabo a rabo, e marcar –
no script fornecido pelo estúdio – as possíveis divisões das legendas,
baseando-se nas pausas das falas dos personagens e tendo em mente
a limitação dos caracteres. Em alguns casos - a grande minoria - inexiste o script, fato que mostra uma dificuldade extra para o profissional,
porque precisa se valer do próprio ouvido a fim de compreender os
diálogos. Uma vez divididas as prováveis legendas, o tradutor, então,
vai para o computador e começa a tradução propriamente dita. A coisa, óbvio, não é tão simples, uma vez que se deve levar em conta a
ambientação da produção que será traduzida: é um filme de época?
Tradução para Legendagem e Dublagem
75
É um filme regional? É um filme no qual se usa gírias de mais? A tradução precisa ser baseada na linguagem original da obra, a qual, em muitos dos casos, pode não ser nada simples – desde complexos diálogos
Shakespeareanos até gírias australianas “intraduzíveis” ao Português.
Já viram o tamanho da bomba? Calma, porque tem mais! O
tradutor precisa se concentrar nos diálogos, respeitar o tempo no
qual as falas são originalmente proferidas e sempre ter em mente
a necessidade de sintetizar o quê de mais importante houver ali:
o relevante. É impossível, para um tradutor de legendas, colocar o
conteúdo total de uma fala grande numa legenda, pois, conforme
explicamos no início, o público precisa ter tempo – ainda – de assistir ao filme. Quanto à síntese, isso cabe ao feeling de cada pessoa;
não pode ser ensinado. É necessário conhecer gírias, estar atualizado
com as inúmeras expressões idiomáticas, evitar falsos cognatos (silicon não é silício, actually não é atualmente, coroner não é coronel, e
por aí vai) e conhecer o universo da chamada cultura pop: seriados,
filmes, quadrinhos, música, etc. etc.
Feita a tradução, o profissional – quando iniciante – importa
as legendas para o software que citamos, começando a marcar o tempo de entrada e o tempo de saída de cada legenda. Imaginem, caros
leitores, um filme de uma hora e meia de duração, a quantidade de
legendas que proporciona! Nessa etapa, o tradutor pode ter a “agradável” surpresa de constatar que aquele diálogo, lindo e perfeito, não
“encaixa” numa determinada fala. Esse probleminha de última hora
pode acontecer porque os programas calculam automaticamente
a quantidade de caracteres e sabem, de antemão, quando uma fala
não cabe em um determinado espaço de tempo da legenda. Um sinal vermelho, irritante, aparece na tela do monitor e indica que aquela “preciosidade” criada pelo tradutor precisa ser refeita, diminuída
até que “encaixe”. Ainda acha que traduzir é fácil, caro leitor?
Com o passar do tempo e com muita experiência, o profissional descarta o uso do software, como apoio, e passa a saber, já
no momento da tradução, se determinada fala “cabe” numa legenda.
Esse mecanismo, verdade, se torna algo automático na cabeça do
tradutor!
76
das:
O Redator d’A Arca Perdida
Constatem os possíveis problemas da tradução para legen-
• Se um linguajar diferente for utilizado, a obra fica descaracterizada. Imaginem Romeu ao dizer: “- Ô, Julieta, chega mais porque
quero dar um cheiro no teu cangote, pitchuka”. Sem comentários.
• Se a divisão das legendas for desrespeitada, os diálogos
“atropelam” uns aos outros e a coisa toda fica sem sentido.
• Se o tradutor colocar informação de mais na legenda, o espectador passa o filme todo a ler e não vê nada.
• Se o tradutor omitir detalhes de um diálogo, a película –
conforme o andamento – fica sem sentido.
• Se palavras forem mal traduzidas, toda graça de uma cena
vai por água abaixo.
Um último detalhe interessante sobre a legendagem: ao contrário do que devem estar pensando, leitores, não é o tradutor quem
insere e cronometra cada legenda de um filme, mas outro profissional:
o marcador. Em São Paulo, principalmente, é essa pessoa a responsável por importar o texto - entregue pelo tradutor - para o software de
legendagem e, por conseguinte, fazer a marcação (eis o porquê do
nome) de cada uma das milhares de legendas de uma película.
Outra coisa interessante, isso muita gente desconhece, é que
os tradutores, na maioria dos casos, não batizam os filmes no Brasil.
É verdade, não sabia? Os tradutores, sim, dão duas ou três sugestões
de títulos para uma determinada produção, mas quase sempre é o
pessoal de marketing dos estúdios quem “inventa” os nomes. Parem,
portanto, de xingar os tradutores por causa de títulos esdrúxulos!
Curiosidade: filmes eróticos e pornográficos também são traduzidos e legendados! Sabia? Acredite se quiser...
A fim de fechar este tema, saibam, leitores, que, mesmo com
todos esses detalhes e mandamentos na cabeça do tradutor, os estúdios geralmente dão um prazo de 3 a 5 dias corridos para que um filme seja todo traduzido, digitado e entregue. É totalmente comum e
normal o fato de tradutores passarem madrugadas a fazer o serviço.
Tradução para Legendagem e Dublagem
77
A TRADUÇÃO PARA DUBLAGEM
Tudo o que foi dito a respeito do linguajar, da preocupação
para com o tempo (timing) e das adaptações também vale para a
tradução da dublagem. A diferença básica entre as duas modalidades de trabalho reside em dois fatores: na dublagem, o profissional
precisa traduzir todo o conteúdo de uma fala, ou seja, a síntese não
é mais o objetivo da tradução – afinal, o espectador enxerga o filme
durante praticamente 100% do tempo. Além de se traduzir todos os
diálogos de uma produção, a tradução visa à concatenação labial entre a fala traduzida e o ator ou a atriz em questão. Isso é óbvio, porque
de outra forma poderia haver silêncio quando alguém fala ou voz
quando o lábio está cerrado. Todos sabemos a raiva que dá quando a
gente constata dublagens mal feitas. Essa preocupação é constante,
contudo, não é obrigatória em todo o filme, mas especialmente nas
seqüências em que os atores e atrizes ficam ON, ou seja, com os respectivos rostos – e lábios – voltados explicitamente para a câmera.
O tradutor de dublagem, também de posse do script, não
marca as falas (como no processo de legendagem), mas anota possíveis expressões – reações – dos personagens, como riso, suspiro, grito, grunhido, etc. A marcação serve para que o diretor de dublagem,
e eis uma grande diferença entre os dois tipos de tradução, possa
orientar e coordenar os dubladores em estúdio. A diferença essencial
está no número de pessoas envolvidas nos dois processos. Na legendagem, apenas o tradutor e o marcador se envolvem com o trabalho,
ao passo que na dublagem, uma equipe de pessoas se faz necessária:
há o tradutor, o diretor, os dubladores e os técnicos. É por isso, pessoal, que o processo de dublagem é mais caro!
Outro ponto necessário ao tradutor é o preparo de um documento por meio do qual fornece breves explicações acerca da
pronúncia correta dos nomes dos personagens, assim como proporciona resumos de possíveis peculiaridades de cada um. Exemplos:
Joe fala com sotaque Texano, Charles tem um problema de dicção e,
portanto, “come” o erre, Susan é gaga, etc. É claro que o diretor de dublagem, por si só, é perfeitamente capaz de discernir esses detalhes
sozinho, mas o espelho, como é chamado o documento feito pelo
tradutor, quebra um galho danado e lhe adianta o serviço.
78
O Redator d’A Arca Perdida
QUERO SER TRADUTOR, COMO FAÇO?
Calma! Após ler tudo isso, ainda quer mesmo entrar nessa?
Claro que sim, não é? É uma profissão bela, muito rica e de extrema
criatividade. Existem cursos especializados nesse tipo de tradução,
mas se faz necessário ao “candidato” o conhecimento prévio do inglês
(preferencialmente em nível avançado). É preciso conhecer, também,
filmes, seriados, livros, etc., tudo que citei no início. Conforme as palavras da professora Ercília Hough, uma profissional que trabalha com
isso há mais de vinte anos: “É imprescindível, para ser um bom tradutor para legendas e textos para dublagem, ter, pelo menos, formação
universitária, de preferência nas áreas de Letras ou de Tradução, boa
cultura geral, gostar de ler e não ter preguiça de fazer pesquisas, ter
domínio do idioma estrangeiro da tradução, assim como da Língua
Portuguesa, ter boa redação e saber digitar bem, com rapidez. Como
normalmente é um trabalho diretamente ligado à televisão por assinatura e a cabo, o tradutor tem de cumprir rigorosamente os prazos,
ser organizado e pontual na entrega dos trabalhos agendados”.
É, a professora Ercília ministra um excelente curso realizado
na XXI Century Traduções, em São Paulo. Você poderá obter mais detalhes acerca dele neste endereço:
Mas prepare-se para muitas horas de prática, algumas noites
em claro e bastante trabalho. No final, o trabalho, se bem feito, tornase uma obra de arte que excede ao simples termo tradução; é mesmo
uma versão brasileira. E cuidado com a L.E.R., hein?
KRULL: o clássico cult de
1983 completa 20 anos!
Ele foi tachado de mera mistura dos universos de Guerra
nas Estrelas, de O Senhor dos Anéis e da lenda do Rei
Arthur. Para alguns, é uma colcha de retalhos repleta de citações e de situações destas obras, porém, Krull é um filme
bacana, bem feito e tem vida própria; é mais do que alguns
insistem em dizer.
Os clichês, verdade seja dita, dão ao filme a cara de
Frankenstein, contudo, é por causa do mito do herói que as
coisas são assim. O mito do suposto homem comum que se
descobre especial e que, auxiliado por um sábio, soma algo
a si – isto é, adquire algo – reúne comandados, enfrenta dificuldades e regressa vitorioso, cheio de glórias.
E tudo isso em um mundo que não é a Terra...
“Um mundo a anos-luz da
sua imaginação...”
Estamos num tempo e espaço indeterminados, no mundo
de Krull. Um belíssimo planeta habitado por humanóides que jazem
numa escala evolutiva similar à Idade Média da Terra. Castelos, reis e
cavaleiros preenchem as paisagens de lá.
80
O Redator d’A Arca Perdida
O cotidiano de
Krull é abalado quando a
Fortaleza Negra, enorme
nave espacial semelhante
a uma montanha, chega
ao planeta e pousa. A tal
fortaleza é, na verdade, o
domínio da Besta, um conquistador poderosíssimo,
e do respectivo exército:
os Slayers (“Assassinos” em
Português). A Besta – as
semelhanças para com o
Sauron de Tolkien são inevitáveis – domina planetas
e escraviza as formas de
vida nativas. O exército dos
invasores, diferentemente
do povo local, é tecnologicamente superior – tem
armas de raio laser, escala
superfícies facilmente e locomove-se bem na água.
Os dois reis mais importantes do planeta resolvem, então,
juntar forças a fim de enfrentar o inimigo. Para tanto, decidem unir
em matrimônio os filhos: o príncipe Colwyn (interpretado pelo – um
tanto quanto – canastrão Ken Marshal) e a princesa Lyssa (interpretada pela bonitinha Lysette Anthony). Porém, na noite da cerimônia, a
qual mais se parece com um rito druida, o exército de Slayers chega
ao castelo, mata ambos os reis e todos os soldados, fere Colwyn e
rapta a bela Lyssa. De fato, a Besta deseja, além de conquistar o mundo, desposar a noiva de nosso herói e torná-la a rainha de Krull.
Na manhã seguinte ao ataque, Colwyn desperta ao lado de
Ynyr, o “velho” (interpretado por Freddie Jones num papel que poderia ter sido melhor explorado), a cuidar-lhe de um ferimento. Ele chora
por causa da morte do pai e pelo rapto da prometida, e está disposto
a largar tudo, a entregar o reino; tamanho o desespero. Ynyr insiste
KRULL: o clássico cult de 1983 completa 20 anos!
81
com o jovem que se tornou rei – muito a contragosto – e afirma que
o mundo de Krull precisa ser salvo da Besta. Colwyn toma ciência da
única arma capaz de deter o inimigo, o mítico Gládio (espécie de hirashuriken gigante e dotado de 5 lâminas), a qual somente pode ser
empunhada pelo “escolhido”. O artefato, infelizmente, está num local
de difícil acesso: numa caverna em um alto pico e submersa na lava.
Segundo a predição de Ynyr: se Colwyn for mesmo o escolhido, irá
até lá e voltará com o Gládio. Se não o for, sequer retornará.
A partir desse ponto o mito do herói começa a tomar forma.
A ciranda de personagens, aos poucos, é apresentada ao espectador:
Ergo, o mago atrapalhado com coração puro e alma de criança (magistralmente interpretado pelo inglês David Battley), Rell (Bernard
Bresslaw com o rosto todo maquiado), o misterioso e honrado ciclope capaz de prever a data da própria morte, Torquil (Alun Armstrong)
com seu bando de ladrões e de saqueadores os quais, na verdade,
têm boa índole e são corajosos (Liam Neeson, em início de carreira,
está no meio deles!), dentre outras criaturas ímpares que apóiam o
herói na perigosa jornada.
Uma série de aventuras e alguns sobes-e-desces direcionam
Colwyn à Fortaleza Negra, bem como ao conflito final contra a Besta.
O Gládio, em todo esplendor, é finalmente mostrado!
O charme de Krull
A fotografia de Krull
é deslumbrante e realmente
digna das comparações com
a obra de Tolkien. Longas tomadas de Colwyn a escalar
montanhas e a cavalgar por
verdes planícies são levadas
ao extremo, excelentemente exploradas (a Globo, que
ódio, cortou muitas dessas
82
O Redator d’A Arca Perdida
cenas ao exibir o filme na Sessão da Tarde, durante os anos oitenta).
Tem-se a impressão de que, realmente, as locações – na Grã-Bretanha
e na Itália – foram escolhidas a dedo. Cada paisagem foi meticulosamente estudada, catalogada e utilizada no momento oportuno das
filmagens. Aqui cabe um comentário: embora os cenários criados em
estúdio tenham sido esmerados e muito bem produzidos (perfeitos
até demais!), percebe-se com facilidade as transições entre as tomadas externas e as internas, especialmente se o filme for visto em DVD.
É uma pena, portanto, que as cenas rodadas em estúdio tenham ficado um tanto quanto artificiais.
A trilha sonora, composta por James Horner (de Jornada nas
Estrelas II e III, Willow e Titanic), é outro espetáculo. Se Krull goza de
certo charme e da posição de cult, também é devido ao trabalho do
compositor. Horner explorou temas medievais e, para tanto, valeu-se
do uso exacerbado de cordas e de metais bem acentuados. Há, por
outro lado, trechos a la Guerra nas Estrelas, pois, afinal, trata-se de
uma produção de Ficção Científica e Fantasia. É uma pena, mas o CD
(duplo) dessa trilha foi lançado apenas nos E.U.A., em versão limitada
e exclusiva, algo totalmente aquém dos bolsos tupiniquins.
Os efeitos especiais, embora há 20 anos defasados, foram bem
feitinhos e não fazem feio. O destaque vai para uma das seqüências
finais em que a trupe cavalga as éguas de fogo, capazes de “perfazer
mil léguas num dia”. É emocionante vê-los cavalgar sobre o ar, e constatar as chamas “brotarem” das patas das éguas. Os efeitos produzidos
para o Gládio, é óbvio, também são muito bacanas. Krull é o exemplo
de filme em que os efeitos servem ao enredo e não o contrário, como
em muitas produções atuais.
Capa e espada espacial?
Algumas pessoas acham Krull um filme estranho, pois nele
mistura-se aventura espacial à aventura tradicional. É mesmo esquisito, até surreal, ver cavaleiros a brandir espadas em meio a raios laser disparados para todos os lados. Porém, uma vez que a pessoa se
KRULL: o clássico cult de 1983 completa 20 anos!
83
acostuma com o clima diferente, ela passa mesmo a gostar da idéia
que, guardadas as proporções, foi inovadora à época. O diretor Peter
Yates, também britânico, imprimiu ao filme boas doses de aventura,
de entretenimento, de humor, de magia e de sentimento.
Assistir ao Krull é uma experiência emocionante, especialmente se visto em DVD. Deixe-se levar pelo ritmo do enredo e pelos
“capítulos” da história, que são apresentados paulatinamente. Acompanhe alguns dos personagens carismáticos, principalmente “Ergo, o
Magnífico” e “Rell, o Ciclope”, por bandas que bem poderiam representar a Terra-média. Lute contra os Slayers, cavalgue com os heróis
e sinta o vento a bater em seu rosto. Sinta o poder do Gládio em suas
mãos. Participe dessa aventura sublime e ingênua, e sinta novamente aquele gostinho de Sessão da Tarde de quando éramos crianças
nos anos oitenta. Difícil? Basta tentar!
Difícil mesmo será voltar à Terra após tanta aventura...
Curiosidades
• Foram produzidos jogos eletrônicos baseados no filme.
Há um jogo para Arcade (fliperama) e outro para o Atari 2600,
ambos lançados em 1983.
• Ken Marshal, o ator principal, nunca chegou a ver sua
carreira decolar, tendo apenas participado de telefilmes e de
poucos longas após o sucesso de Krull.
• Existe uma arma fictícia cuja idéia foi retirada do Gládio
e que foi usada na série “Xena, A Princesa Guerreira”. Como se vê,
Krull “fez escola”.
• Robbie Coltrane, intérprete de um dos “ladrões” que auxiliam Colwyn, recentemente atuou como o gigante Hagrid nos
filmes da série Harry Potter.
• Lysette Anthony, a princesa Lyssa, foi atriz principal de
diversos clipes do cantor Bryan Adams, tais como “Run to You” e
“Heaven”.
Danger Mouse:
o maior agente secreto do mundo!
Quem viveu nos anos de 1982 e de 1983 se lembrará, muito
provavelmente, das peripécias de um agente secreto incomum e de seu atrapalhado ajudante. Trata-se das aventuras de Danger Mouse, produção inglesa que foi exibida
pela Tevê Record naquela época, por volta das seis ou sete
da tarde, e que mostrou o valente herói a enfrentar o asqueroso – literalmente – arquiinimigo.
Relembre – ou conheça – o “maior agente secreto do mundo” através deste especial d´A ARCA e, portanto, prepare-se
para enfrentar o rato detetive que deixou o famoso James
Bond no chinelo, ou melhor, na ratoeira.
UM AGENTE SECRETO BEM DIFERENTE
O rato detetive Danger Mouse (não se sabe o nome real do
sujeito) mora confortavelmente num red pillar box – aquelas caixas
de correio inglesas cujo formato se parece com um poste vermelho
(aparecem sempre em episódios de Mr. Bean), localizada estrategicamente numa esquina em Mayfair, Londres. O espaço da residência
é dividido com o fiel companheiro – e escudeiro – Penaforte (Wilbraham Keith Benedict), um hamster atrapalhado, adorável e que
sempre se mete em enrascadas.
86
O Redator d’A Arca Perdida
Nem tudo são flores, pois Danger Mouse trabalha para uma
organização secreta e tem como chefe o Coronel K, um leão-marinho
mandão e exigente, cuja imagem projetada no videofone da casa denuncia a próxima missão que está por vir. O arquiinimigo do herói britânico é o Barão Silas Costa Verde, um sapo poderoso, astuto, inteligente e cheio de idéias más para dominar o mundo, e cujo capanga é um
corvo italiano mal-humorado: Estilete. Costa Verde, além de dispor de
idéias mirabolantes, produz diversos aparatos e máquinas malucas, especialmente criadas para o deleite de sua mascote, o bichinho Nero.
Bem, não somente o Barão tem máquinas formidáveis:
Danger Mouse em pessoa possui
um carro super equipado – Speed Racer que se cuide! O veículo Mark III voa, submerge, suga
como um aspirador, escala paredes e montanhas, salta e tem até
um videofone embutido. O carro, necessário dizer, é uma das
coisas mais legais do desenho.
Juntos, herói e auxiliar
procuram, a todo custo, deter o
maléfico sapo inescrupuloso.
A SÉRIE
Danger Mouse foi criado por Brian Cosgrove e por Mark Hall,
diretores e produtores cuja parceria gerou uma porção de produções
inglesas nos anos setenta, oitenta e noventa, e dispôs dos comediantes e roteiristas Mike Harding e Brian Trueman, que escreviam os episódios. O programa, uma clara alusão à série britânica Dangerman (estrelada por Patrick McGoohan nos anos sessenta) e ao agente secreto
mais famoso do Cinema, James Bond, teve 89 episódios e foi produzida de 1981 a 1992; marco histórico para uma série de animação.
Danger Mouse: o maior agente secreto do mundo!
87
Os produtores inovaram o tema ao misturar cenas reais ao
acetato “comum” do desenho. Fotografias de diversas locações e de
construções de Londres – e do mundo – foram usadas para ilustrar
os cenários pelos quais passavam o agente secreto e seu ajudante,
dando a cara de colagem ao que aparece na tela da tevê. Imagino
a diversão disso para pessoas que conhecessem os locais em questão, uma vez que imaginariam ter visto determinado prédio, ponte
ou casa conhecidos. É claro que, para os padrões atuais, a animação é
deveras simples; mas esse fator, de forma alguma, denigre a qualidade dos enredos e das piadas.
Curiosamente, Danger Mouse demorou a ser exibido nos Estados Unidos; estreou na tevê yankee somente em junho de 1984,
três anos após o lançamento feito na pátria original. Infelizmente, o
sucesso no mercado norte-americano não foi o mesmo; lá o desenho
teve apenas uma aceitação mediana. Acreditem, caros leitores d´A
ARCA: esse desenho é uma das produções britânicas mais exportadas da história da tevê.
TUDO BEM, MAS É PARA CRIANÇA OU NÃO?
Essa é realmente uma produção especial, repleta de situações
inusitadas e com muito divertimento, além de inúmeras referências
ao cinema, à tevê e à literatura, que somente acabam compreendidas por espectadores mais velhos. As citações são diversas: Alien - O
Oitavo Passageiro, Dr. Who, Caçadores da Arca Perdida, 007 e demais.
Outra peculiaridade marcante é o surrealismo que permeia os episódios, muitos dos quais totalmente nonsense. Há um capítulo, por
exemplo, no qual Costa Verde passa a controlar todas as máquinas de
lavar de Londres, usando-as para seus fins nefastos. Hilário e esquisito! As esquisitices dos enredos, aliás, fazem com que o programa se
pareça com viagens ao inconsciente de um louco.
Há alguns títulos pitorescos dados a alguns episódios: Close
Encounters of The Absurd Kind (Contatos Imediatos do Absurdo Grau
- sátira ao filme de Spielberg), The Good, The Bad and The Motionless
88
O Redator d’A Arca Perdida
(O Bom, O Mau e O Imóvel - sátira ao título do filme de Sergio
Leone); as gozações são infindáveis, verdade. Gosto de pensar
acerca de Danger Mouse como
se esse fosse uma mistura de
Monty Python, Além da Imaginação, James Bond e os cartoons
da Warner. A comparação menos
direta, entretanto, tem a ver com
produções como Os Simpsons e
Futurama; desenhos criados, em
tese, para crianças, mas que têm
um pé na cabeça dos adultos. E
isso fazia parte de Danger Mouse bem antes de Homer e de Bart aparecerem na telinha.
AS VOZES BRASILEIRAS
A dublagem ficou a cargo da Herbert Richers, no Rio de Janeiro, e foi dirigida por Mário Monjardim, um dos ícones da profissão.
Além de dirigir, Mário dublou o Coronel K, assim como personagens
ocasionais. Danger Mouse foi dublado por uma lenda, o falecido Nelson Batista, que também emprestou a voz para Jerry Lewis – na redublagem dos filmes do comediante feita nos anos oitenta – e recentemente para o ator Ed O´Neal, o Al Bundy da série Um Amor De Família.
Penaforte teve a voz do também lendário Orlando Drummond (o Seu
Peru da Escolinha do Professor Raimundo, além das vozes do Alf e do
Scooby Doo). O capanga de Costa Verde, Estilete, teve a voz de Ionei
Silva (o Mestre Dos Magos de A Caverna Do Dragão). Infelizmente,
até o fechamento deste artigo não fomos capazes de descobrir o dublador do Barão Costa Verde, mas prosseguimos com a busca.
Danger Mouse: o maior agente secreto do mundo!
89
O que dizer da dublagem? Espetacular. A interpretação do
herói, por exemplo, ficou melhor que a original, com timing e humor
impressionantes. A dublagem brasileira, especialmente a realizada
nos anos setenta e oitenta, quase sempre foi um trabalho artístico de
primeira. Nota dez!
QUER ASSISTIR?
Danger Mouse foi bastante exibido na década de oitenta. Inicialmente transmitido pela Record no início da década, foi reprisado
posteriormente pela Manchete, lá pelos idos de 1985 e 1986. Nos anos
noventa, três fitas de vídeo seladas do desenho – com dublagem original – foram lançadas sob o selo Video Network, do Rio de Janeiro, as
quais somente podem ser encontradas, hoje em dia, em sebos.
Infelizmente, desde aquela época não se vêm mais as aventuras do agente secreto na televisão. Esse desenho deixou saudade;
saudade de uma época em que a tevê gozava de programas originais
e criativos, e em que bundas na telinha eram a exceção, não a regra.
Galáctica
Sabe-se que uma das maiores sagas espaciais de todos os
tempos, Guerra nas Estrelas, tem influenciado muita gente por décadas. As produções a esse respeito – e há altos e
baixos – são diversas, tanto no meio televisivo quanto no
cinematográfico.
Galáctica: Astronave de Combate é exatamente isso, um
caso bem sucedido de produção baseada no visual de Star
Wars, e na qual, ao invés da Força e do Império Galáctico,
existe o drama de um povo em busca à sua terra prometida. Descubra qual o destino de Starbuck, de Apollo e do
Comandante Adama neste especial d´A ARCA, concebido
para vocês, caros leitores.
OS CILÔNIOS E AS
BATTLESTARS
Numa época que se
parece com o futuro, uma colônia de humanos, composta por 12 tribos (planetas), é
atacada – após uma traição
oriunda de um suposto acordo de paz – e dizimada por
uma raça de seres metálicos
conhecidos como Cilônios
92
O Redator d’A Arca Perdida
(Cylons em inglês), contra os quais guerreiam há milênios. Essas criaturas, comandadas pelo Líder Imperioso, criaram um exército poderoso de robôs (os Centuriões), de naves e de bases espaciais, e atacaram
os seguintes mundos humanos: Aeriana, Aquaria, Canceria, Caprica,
Gemoni, Leo, Libra, Piscon, Sagitara, Scorpio, Taura e Virgon – coincidência ou não, trata-se dos nomes dos signos do zodíaco. Há um fato
importante: muitos tomam os Cilônios como uma genuína raça de
robôs (de seres mecanizados), mas esses, originalmente, eram seres
orgânicos como nós, porém descendentes dos répteis. Realmente,
tão escravos da tecnologia ficaram que precisaram mudar para sobreviver. Julgam-se os zeladores do Universo e pulverizam completamente qualquer raça se a integridade da vida, segundo parâmetros
próprios, for ameaçada.
Os humanos não se rendem facilmente, mas são quase que
totalmente pulverizados pelos inimigos – superiores numericamente. Seis gigantescas naves de batalha, conhecidas como Battlestars,
enfrentam os Cilônios num ataque espetacular, contudo, cinco dessas fortalezas são destruídas no evento: Atlantia, Acropolis, Columbia, Pacifica e Triton. Uma delas, por sorte – ou por causa do destino
maior a ser cumprido – sobrevive.
A série em questão é justamente sobre as aventuras da tripulação da Galáctica, ora a enfrentar os Cilônios, ora a procurar sobreviver em meio a tantas dificuldades, mas sempre em busca do objetivo
comum.
A TERRA PROMETIDA E ALEGORIA JUDAICA
Os poucos humanos sobreviventes e destituídos de seus lares,
a bordo da Galáctica e de algumas velhas naves de carga adaptadas
para o transporte, seguem, então, numa frota espacial em busca à
terra prometida, a qual permeia mitos e lendas daquele povo. Durante a viagem, enfrentarão a falta de recursos como comida, remédios
e higiene.
Galáctica
93
A tal colônia
perdida, o espectador
vem a saber, é a Terra;
sim, o nosso planeta.
A Terra seria o décimo
terceiro planeta colonizado pela Humanidade
original – cujo planeta natal é Kobol – que
previamente habitou
outros mundos antes
de espalhar a vida pelo
planeta azul. Assim como crêem alguns ufólogos e estudiosos reais,
os terráqueos, em Galáctica, também têm sua origem extraterrestre.
Assim sendo, representantes das 12 colônias destruídas seguem, protegidos pela Battlestar, ao encontro de seu destino distante no espaço sideral, quase como numa alegoria à viagem das 12 tribos judaicas à terra prometida de Israel após a saída do Egito – outra
coincidência?
A nave é comandada pelo sábio Comandante Adama (o falecido
Lorne Greene numa interpretação fantástica) e
dispõe de figuras ímpares
na tripulação, como o fanfarrão Tenente Starbuck
(Dirk Benedict), o Capitão
Apollo (Richard Hatch)
e a bela Athena (Maren
Jensen). Do lado dos malvados temos um humano
que traiu a própria espécie em favor dos Cilônios, Conde Baltar, interpretado pelo ótimo John Colicos. Apollo, importante ressaltar, é um
dos filhos de Adama.
94
O Redator d’A Arca Perdida
Os episódios, apesar de focados essencialmente nas dificuldades enfrentadas pelo grupo, têm um pouco de tudo: drama, ação,
humor, fantasia, amor e ficção científica, claro. Alguns dos capítulos,
apesar da temática principal, mostram tripulantes da Galáctica em
missões de salvamento noutros planetas ou lugares, como no episódio The Young Lords - no qual Starbuck auxilia um grupo de crianças
em busca ao pai.
GLEN A. LARSON & A CRIAÇÃO DA SÉRIE
Galáctica foi desenvolvida pelo mago criador Glen A. Larson,
autor de muitas das séries de sucesso dos anos oitenta, tais como
Magnun (1980), Duro na Queda (1981), A Super Máquina (1982), Automan (1983), Manimal (1983) e tantas outras saudosas produções
televisivas daquela época. Ela foi lançada em 1978 com o piloto - de
três horas de duração - Saga of a Star World - e exibida pela ABC até
1979. Depois, esse primeiro episódio foi editado, compactado e lançado como um longa-metragem cinematográfico no mesmo ano.
Larson, além de roteirista, atuou como produtor executivo.
Detalhe interessante: John Dykstra, produtor dos efeitos especiais de Star Wars, desempenhou também o mesmo papel em Galáctica. Outro dos nomes de peso foi o produtor Don Bellisario, famoso por trabalhar em programas como Magnum, Águia de Fogo e
Contratempos. Quanta gente importante, não?
É claro que a febre de Guerra nas Estrelas, iniciada em 1977,
foi motivação clara para a criação de Galáctica, cuja estética visual, de
fato, seguiu a mesma linha da saga de Luccas: combates espaciais, lasers, saltos ao hiper-espaço, naves as mais diversas,
alienígenas, dentre outras
facetas manjadas pelos
fãs do gênero. Os efeitos
visuais, aliás, foram bem
desenvolvidos, levando-se
em conta aquele período.
Galáctica
95
As seqüências de decolagem e de pouso dos caças Viper são antológicas, além, é claro, dos combates espaciais contra os caças Cilônios.
Infelizmente, devido ao orçamento apertado (um milhão de dólares
por episódio), muitas dessas cenas foram reaproveitadas à exaustão,
dando aquele gostinho de “eu já vi isso na semana passada”. Em 1979,
a produção ganhou um Emmy pelo design dos uniformes, realmente
muito bacanas. A trilha sonora, a cargo de Stu Phillips, apesar de não
ser tão original assim – John Williams que o diga – fica facilmente
gravada na cabeça do espectador.
Em 1978, produziu-se outro longa-metragem, o segundo,
intitulado como Mission Galactica: The Cylon Attack, no qual outra
Battlestar supostamente destruída, a Pegasus, aparece para auxiliar a
Galáctica num momento crítico. Infelizmente, a série gozou de apenas uma temporada com 24 episódios, sendo cancelada em 1979.
No Brasil, o seriado foi exibido no final dos anos setenta e no
início dos anos oitenta pela Globo, nas tardes de domingo, e foi dublada nos estúdios da Herbert Richers. Posteriormente, mas ainda
no início daquela década, foi transmitida pela Record aos sábados à
noite. Por fim, nos anos noventa foi reprisada pela extinta Manchete,
também com a dublagem original, nas tardes dos dias de semana.
Uma das opções aos que queiram ver o seriado: foi recentemente
lançada nos E.U.A. uma caixa especial em DVD que contém todos os
episódios - restaurados digitalmente.
GALÁCTICA 1980 & REVIVALS
Em 1980, a aventura espacial foi trazida de volta por meio de
uma nova produção na qual Larson atuou apenas como produtor
executivo, não como roteirista, Galáctica 1980. O enredo mostra, afinal, o encontro da Galáctica com a terra prometida, ou seja, retrata a
tão sonhada chegada ao nosso planeta.
Contrariamente à crença dos personagens, a Terra da década de
oitenta é tecnologicamente atrasada e, justamente por isso, seria impossível esperar da humanidade terrestre a ajuda necessária para deter
os Cilônios. E pior: esses seguiram a nave e desejam invadir o planeta.
96
O Redator d’A Arca Perdida
Com episódios fracos, enredos confusos, e destituído de alguns personagens originais – Adama foi um dos poucos a ficar – o
seriado teve apenas 10 capítulos e foi logo cancelado.
Durante os anos noventa, o intérprete de Apollo, Richard Hatch, encabeçou um projeto para trazer de volta à tevê a série original
e chegou a escrever cinco livros a respeito. Em 1999, produziu um
trailer através do qual pretendeu mostrar ao pessoal da Universal
como seria a nova Galáctica, The Second Coming, com efeitos especiais atualizados e enredo mais denso. O projeto não emplacou, apesar dos esforços do ator e de muitos colaboradores.
Neste ano, 2003, após diversos ensaios e especulações, a produção foi novamente revivida, mas pelas mãos de Ronald Moore,
roteirista de 27 episódios de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração
e produtor executivo de Deep Space Nine. Moore escreveu o argumento e Michael Rymer (de A Rainha dos Condenados) dirigiu essa
minissérie que prometeu novamente trazer as aventuras de Adama
(Edward James Olmos) e Apollo (Jamie Bamber), mas para o público
adulto que assistiu aos episódios originais quando criança. Essa produção, supostamente “séria”, é inédita no Brasil e estreará no dia oito
de dezembro nos E.U.A. A verdade? Os fãs estão temerosos, pois, pelo
que consta, inúmeras alterações à série original foram feitas - como a
transformação do personagem Starbuck em mulher.
O que mais dizer sobre Galáctica? Era uma série deliciosa de
se ver, especialmente quando éramos crianças ou pré-adolescentes.
Apesar do caráter mítico, representado pela busca à terra prometida
(nada mais é que a nossa própria busca interior), é óbvio, os enredos
são simplórios, os personagens se mostram pouco desenvolvidos, e
as tramas, comuns; mas, como em toda produção de Glen A. Larson,
os mocinhos, carismáticos em demasia, carregam todo o mérito. É
uma série muito bacana e que deixa saudades; saudades daquela
época em que as produções televisivas eram ingênuas, e de quando
torcíamos para que nossos heróis galácticos abatessem os Cilônios
“daquele dia” - a fim de que, depois, tomássemos banho, jantássemos
e fôssemos dormir. E quem sabe sonhar que fosse o Apollo.
Que saudade!
John Matuszak:
cruisin’ with the tooz
John Matuszak. John Matuszak. John Matuszak? Quem é John
Matuszak? O americano comum, de meia idade, é capaz de se lembrar deste nome. O brasileiro comum, todavia, nem imagina quem
tenha sido este, um dos maiores nomes do futebol americano.
No que diz respeito a nós, fãs de cinema, ele foi o intérprete
de Sloth em Os Goonies, talvez um dos personagens mais queridos
da década de oitenta.
Cruisin’ with the Tooz (Passeando com o Tooz), obra autobiográfica (editora Franklin Watts, 1987) escrita em parceria com o jornalista Steve Delsohn,
traz ao leitor, especialmente ao fã de
futebol americano,
histórias pessoais
do autor (Tooz é o
apelido que ganhou
por causa da sonoridade do sobrenome
polonês), memórias
e curiosidades, além
de um lado sombrio
daquele esporte tão
famoso nos EUA.
Lembranças de Matuszak em pessoa, jogador de defesa por
quase vinte anos, agraciado com duas vitórias no famoso Super
Bowl, e uma lenda da equipe Oakland Raiders. O uso constante de
analgésicos durante as partidas, a fim de conter a dor freqüente, a
camaradagem especial entre os jogadores, curiosidades acerca do
98
O Redator d’A Arca Perdida
esporte e das regras do mesmo, casos engraçados vividos dentro
e fora do campo, festanças com mulheres e drogas, depoimentos
sobre técnicos (como o famoso John Madden) e amigos de profissão (Ken Stabler, Fred Biletnikoff, Phil Villapiano, Ted Hendricks, Joe
Namath), e outras particularidades são reveladas.
Aos cinéfilos, especialmente, reservou-se o capítulo final:
Tooz Goes to Hollywood. As páginas do epílogo contam, rapidamente, a trajetória de Matuszak no cinema, carreira pela qual nutriu igual
simpatia ao interpretar personagens em filmes como North Dallas
Forty, Caveman (ao lado de Ringo Starr), Ice Pirates e o já citado Os
Goonies. De Sloth, por exemplo, ele conta curiosidades interessantes,
tais como o tempo que levava para ser maquiado como o deformado
irmão dos Fratelli (cinco horas ininterruptas), e faz comentários elogiosos sobre Richard Donner (diretor da película) e Steven Spielberg
(produtor e criador da história).
Infelizmente, permaneceu o sentimento de tristeza, de querer
saber o “fim” da história, já que Matuszak faleceu aos 38 anos de idade,
dois após o lançamento do livro, vítima de parada cardíaca. Segundo
as más línguas, Tooz judiou em demasia do próprio corpo ao consumir,
com frequência ou esporadicamente, analgésicos (novocaína), bebidas
alcoólicas, drogas (cocaína), pílulas para dormir e, fã de levantamento
de peso e de musculação, alguns esteróides. Um acidente bobo em
que lesionou a coluna, responsável pela contrariada aposentadoria do
atleta em 1982, parece não ter sido o suficiente para que “sossegasse”.
O livro foi escrito em linguagem informal e divertida, uma leitura leve, quase como uma conversa entre Matuszak e o leitor em que
confidências são reveladas. Os brasileiros
que conhecerem bem o futebol americano certamente aproveitarão mais a obra,
claro. Há, também várias páginas cheias
de fotos da vida e da carreira do homem,
que media 2,03 metros e pesava 140 quilos. Matuszak parece ter sido daquele
tipo de pessoa bacana, amiga e direta;
da espécie que se leva para casa para um
bate-papo divertido entre amigos. Era o
oposto de sua imagem ameaçadora: um
gigante gentil. “Sloth quer chocolate!”.
Hellboy
Demônios como personagens principais não são novidade.
No século XVII, o inglês John Milton concebeu sua obra-prima, Paraíso
Perdido, na qual deu voz ao Lúcifer decaído e humilhado por um Deus
vingativo, malvado. Johann Goethe igualmente flertou com o tridente. Mas não apenas na literatura vivem os belzebus e suas inversões de
valores morais. Uma curiosa criação underground do cartunista Mike
Mignola, lançada em 1993 pela Dark Horse Comics, é o exemplo recente e notório desse tipo de anti-herói cultuado por muitos.
Hellboy, que literalmente significa Garoto-do-Inferno, surgiu
na etapa final da Segunda Guerra Mundial, quando os nazistas recorreram ao ocultismo a fim de tentar reverter o quadro de derrota iminente. Além de deterem os melhores cientistas da época, os alemães
também dispuseram dos mais fantásticos bruxos e satanistas. Durante
o ritual mais bizarro, batizado como Ragna Rok, uma criança de pele
vermelha e de longa cauda materializou-se remotamente à frente de
uma equipe especial de paranormais britânicos em uma velha igreja
da Bretanha. Ironia do destino? A experiência alemã teria fracassado?
O menino, por
não ter aonde ir, cresceu
sob a tutela do professor Trevor Bruttenholm
(um dos que presenciaram o aparecimento do
diabinho), o idealizador
do Bureau de Pesquisa
e Defesa Paranormal;
uma entidade secreta
responsável pela vigilância dos seres do além
e por observar coisas
100
O Redator d’A Arca Perdida
estranhas que repousem entre o Céu e a Terra, tais como vampiros,
bruxas, maldições, aparições, espectros, criaturas lendárias e gigantes mitológicos. Hellboy, de fato, tornou-se o mais importante e experiente agente da organização, depois de renegar a si mesmo. Arrancou, com as mãos cruas, os próprios chifres pontiagudos, e, com
o coração, a natureza maculada. Ao lado do Homem resolveu ficar,
tamanho afeto e grande dedicação recebidos de seu mentor.
O ex-chifrudo, verdade seja dita, somente consegue bom desempenho em suas missões por que tem força sobre-humana, além
de uma poderosa pistola (a “Samaritana”), do enorme braço - direito
e misterioso - feito de pedra, de amuletos e de relicários diversos, e
do péssimo hábito de blasfemar. Além do arsenal, o vermelhão vive
acompanhado dos colegas Abe Sapien, o alienígena encontrado misteriosamente dentro de uma cápsula, e Liz Sherman, a médium que
põe o fogo ao seu serviço.
Os leitores mais velhos costumam adorar o personagem, uma
vez que os enredos são “adultos” e bem interessantes, como a historieta em que Hellboy enfrenta o Vârcolac, uma espécie de vampiro gigante da Romênia que, de tão grande, é capaz de sugar a Lua,
o que seria o real motivo dos eclipses. História, mitologia, teologia,
mistérios, humor e muita ironia são os outros temas observados nas
páginas da revista, que no Brasil vem sendo editada pela Mythos Editora; a mesma da revista Mad. Mas atenção, o real propósito de nosso
anti-herói e daquela mãozorra de pedra, bem como a identidade do
bruxo que o trouxe do Inferno, são o que de mais interessante há
para se descobrir. É claro que o Burburinho não fará a grande revelação a vocês, caros leitores. Descobrir é muito mais divertido. E aí?
Terão a coragem de ficar cara-a-cara com o capeta?
Tron
Quem estiver com 30 ou 35 anos, possuirá lembranças de
como foi a infância da eletrônica digital no início dos anos
oitenta: os primeiros computadores, vídeo games e máquinas de fliperama. Tudo, absolutamente tudo tinha aquele
frescor característico, o gostinho da originalidade somente
experimentado por quem teve a sorte de viver – criança ou
adolescente – naquele período da história.
Tron, o primeiro filme a usar computação gráfica de forma
intensa, foi lançado pela Disney justamente naquela época, em 1982, quando a criançada lotava os fliperamas para
jogar Zaxxon, Centipede, Defender e Donkey Kong.
O enredo traz Kevin Flynn (Jeff Bridges em início de carreira), astuto programador de computadores e criador de
diversos jogos eletrônicos, tais como o Space Paranoid.
Infelizmente, o tapete de Flynn foi puxado por um programador mais velho e influente, Ed Dillinger (David Warner);
executivo que sabotou o trabalho do primeiro, apossou-se
dos jogos, apagou possíveis pistas de acusação e mexeu
os pauzinhos para que o jovem fosse demitido da megacorporação ENCOM.
MCP: O BIG BROTHER COMPUTACIONAL?
Dillinger, então, tornou-se famoso na empresa e muito poderoso também. A ENCOM, aliás, detinha um supersistema de computação controlado pelo software MCP, o Master Control Program, uma
102
O Redator d’A Arca Perdida
espécie de “ditador digital” repleto de dados sobre as mais variadas
informações, bem como um gerenciador de cada software inserido
no sistema. Em certa noite, porém, o programador descobre que está
sendo manipulado pelo MCP – desejoso de mais poder – e que esse
também pretende conquistar o mundo real, mas por meio da influência eletrônica e das redes de computadores.
Flynn, que após a demissão abriu um Arcade (fliperama), não
admitiu o infortúnio que lhe aconteceu. O desejo por vingança era
incontrolável e somente pensava sobre possíveis maneiras de invadir
o sistema da ENCOM, pois pretendia desmascarar aquele mau-caráter
e provar a própria inocência. Ao receber a visita dos amigos - ex-companheiros de empresa - Alan Bradley (Bruce Boxleitner) e Lora (Cindy
Morgan), contou-lhes a respeito de seu novo plano de ação e foi encorajado por eles a prosseguir, uma vez que ambos estavam descontentes com a nova política de vigilância extrema de Dillinger e do MCP.
UM MUNDO DIGITAL EM 1982
Auxiliado por eles, Flynn entra no complexo da ENCOM e tem
acesso a um dos terminais do computador. Após alguns minutos de
trabalho, o programador acaba distraído pela misteriosa voz do MCP
e, quando menos espera, é digitalizado (por meio de um projeto experimental) e sugado para dentro do supercomputador da empresa.
A cena em questão é formidável!
A partir desse ponto, tudo muda no filme. Flynn “cai” num
novo mundo, que é esplêndido e fala por si, tanto que não há quaisquer explicações sobre o porque das coisas se apresentarem daquela
forma. Luzes, cores, raios, movimento e ação por toda parte. Flynn
descobre-se num lugar que, embora velho conhecido do programador, mostra-se algo novo e ímpar. Humanos “virtuais” caminham por
microchips, interagem com impulsos elétricos, vestem-se de luzes e
dirigem veículos tridimensionais.
Preso e detido, ele conhece dois sujeitos, ou melhor, programas: RAM (interpretado por Dan Shor) e Tron (interpretado por Bruce
Tron
103
Boxleitner). O último foi programado pelo amigo de Flynn, Alan, que
teve seu programa detido por Dillinger. Sark (representado por David
Warner), o assecla maior do tirano, também passa a conhecer o intruso e a tentar liquidá-lo.
Apesar da beleza exótica do local, nem tudo são flores: o MCP
controla o ambiente com bits, ops, com mãos de ferro. Os desafetos
do ditador são postos em violentos vídeo games no Game Grid. E
não poderia ser diferente com Flynn. O humano é preso e colocado
para digladiar contra outros detentos. A antológica cena da corrida
de motos, as Light Cycles, de tão formidável entrou para os anais do
cinema.
Juntos, os três acabam por escapar e principiam a derrocada
do MCP, depois de muitos eventos e ação fantástica.
O PIONEIRO DA COMPUTAÇÃO GRÁFICA
Tron apresentou o primeiro mundo digital já retratado. Antes,
tal mundo só poderia ser imaginado como uma das obras de Júlio Verne. O filme, portanto, criou
um paradigma para esse tipo
de produção, copiado exaustivamente até os dias atuais
(basta assistir a produções
como Automan, Passageiro
do Futuro e que tais). Atualmente, apesar de aparentar
um óbvio visual levemente
antiquado e recheado com
sonoplastia a la Pac-Man, o
plano virtual lá retratado impressiona o espectador mais chato e exigente. Na época, tal feito da
Disney foi realizado por computadores do tipo Cray 1/S da empresa
Triple I: máquinas que ocupariam a sala de uma residência, imaginem.
E isso não é tudo! Em muitas das cenas, atores reais contracenaram
104
O Redator d’A Arca Perdida
no mundo digital com objetos igualmente digitais, num processo em
que se misturou as duas fontes de imagem de forma convincente. É
espetacular!
Syd Mead, conhecido designer de produções como Blade
Runner e Yamato 2520, foi o responsável por criar boa parte do visual
do filme, assim como alguns dos veículos: os tanques, as Light Cycles,
o CPU e o cruzador de Sark, por exemplo.
Talvez fosse mesmo mais fácil atingir o imaginário do espectador em 1982, pelo menos no que tange à informática. No início dos
anos oitenta, os computadores – e tudo o que os envolvia – eram
misteriosos às pessoas, uma vez que a máquina, diferentemente do
que houve de uns tempos para cá, não fazia parte do dia a dia de
todos nós. Atualmente, talvez, a molecada não se impressione tanto
com o enredo da película como nós nos impressionamos à primeira
vista. Os jovens sabem bem o que um computador é ou não capaz de
fazer. Para a molecada de hoje, viciada em jogos 3D e em Internet, as
ações de Flynn e de Tron podem parecer ingênuas demais, e o mundo digital, mal renderizado.
A trilha sonora, composta por Wendy Carlos (de O Iluminado
e de Laranja Mecânica), foi fator determinante para tornar ainda mais
real a concepção do lugar governado por MCP. Temas interpretados
com sintetizadores e orquestra deram vida aos temidos veículos que
perseguem Flynn – os Tanques e os Reconhecedores - e sua trupe
pelos quatro cantos do computador. Durante muito tempo a trilha
esteve indisponível em CD, uma vez que as fitas master originais
degradaram-se sobremaneira devido à passagem do tempo. Por ocasião do vigésimo aniversário do filme, elas foram recuperadas e o CD
pôde ser lançado.
O PRECURSOR DE MATRIX?
Tron, por outro lado, não é algo “cerebral” como Matrix. Não
há quase questionamentos existenciais, porque o forte da produção
está na imagem e na ação. O pouco que há, mistério proposital ou
mero detalhe casual, é o curioso fato dos atores representarem a si
Tron
105
mesmos tanto na vida real
quanto na digital (Alan Bradley e Tron têm o mesmo
rosto. Dillinger e Sark, idem).
Esse detalhe nos remete a
uma ligação para com o clássico Mágico de Oz. Foi proposital?
Outro detalhe: existe
a crença por meio da qual
os programas acreditam em
“algo maior”, no Usuário,
como se esse fosse uma divindade e pudesse libertar a
todos. A destituição do MCP
soa quase como uma profecia dentre os escravizados
por ele. Uma pena que esses
detalhes tenham sido muito
mal explorados e, portanto, meramente citados. As demais deficiências da película, complementemos a informação, têm a ver com um
roteiro deveras confuso, com personagens fracamente desenvolvidas e com diálogos vazios demais.
Eu recomendo a vocês, leitores, o filme Tron. Recomendo-o pela
audácia de seus criadores, pelo caráter de novidade que teve à época e
para que sintam o que os computadores eram capazes de executar na
dita infância do setor, há 20 anos. Tron, apesar de certos desagrados, é
um clássico dos anos oitenta e também diversão garantida!
CURIOSIDADES DE TRON
• Bruce Boxleitner, intérprete de Allan Bradley e de Tron,
atuou como Capitão John J. Sheridan na série de tevê Babylon 5,
sucesso da década de noventa.
106
O Redator d’A Arca Perdida
• Steven Lisberger, escritor e diretor de Tron, dirigiu menos de dez filmes em sua carreira.
• Os tipos de efeitos criados para o filme, no computador
Cray, foram batizados de SynthaVision.
• Todas as filmagens “reais”, as que retrataram os humanos
no suposto interior do computador, foram captadas em branco e
preto, e posteriormente colorizadas por um processo conhecido
como Rotoscopia.
• Durante a realização de Tron, jogos de fliperama baseados
em alguns sketches de pré-produção foram lançados. Isso deixou
alguns deles ligeiramente diferentes da versão final do filme.
• Na época foram lançados, também, jogos baseados no
filme para alguns vídeo games, como o Atari e o Intellivision. Tron:
Deadly Discs, Tron: Maze-A-Tron, Tron: Solar Sailer e Adventures
of Tron foram alguns dos títulos disponíveis na ocasião.
• O computador Cray era capaz de processar 1 frame a
cada 11 minutos. São necessários 24 frames para compor 1 segundo de animação. Cada seqüência do filme chegava a tomar
meses de processamento de uma máquina.
• Peter O´Toole desistiu dos papéis de Dillinger e Sark ao
descobrir que atuaria em frente a um fundo preto.
• Tron custou 17 milhões de dólares e faturou apenas 33
milhões. E.T., por exemplo, faturou 701 milhões e custou apenas
dez. Pode-se dizer, portanto, que o filme foi um fracasso de bilheteria.
• Na baia de trabalho de Kevin Flynn há um adesivo no
qual está escrito: Gort - Klaatu Barada Nikto. Esse texto é uma clara alusão ao filme O Dia Em Que A Terra Parou, clássico da ficção
científica.
• Steven Lisberger revelou que o nome da película foi retirada da palavra Electronic.
• Apesar do fracasso inicial nas bilheterias, os jogos de fliperama e de vídeo games baseados no filme fizeram o tremendo
sucesso, e faturaram mais do que o próprio.
Entrevista com Guilherme Briggs
Transformers, O Filme
Confira a entrevista exclusiva concedida para o Aumanack.
Ele tem sido um dos dubladores mais atuantes do cenário
brasileiro há pelo menos dez anos. É talentoso, divertido,
humilde e extremamente bom no que faz. Estamos falando de Guilherme Briggs, a voz de personagens tão distintos
quanto Freakazoid e Optimus Prime. Sim, Guilherme dublou
o líder dos Autobots em quatro oportunidades, inclusive no
novo filme dos Transformers que estreará nesta sexta-feira,
dia 20, em circuito nacional. O Aumanack bateu um papo
bem legal com Guilherme, focado exatamente na película
dos robôs que se transformam. Além de dublar, ele dirigiu
a dublagem no estúdio Delarte, no Rio de Janeiro. Com vocês, o Líder Optimus, Guilherme Briggs.
Aumanack: Guilherme, você é a pessoa que mais dublou o Líder
Optimus, tendo interpretado o personagem em quatro oportunidades diferentes. Antes de dublá-lo, conte para a gente que
tipo de ligação tinha com os personagens. Você era fã? Assistiu
ao desenho à época? Qual, em sua opinião, era o “tchan” dos
Transformers?
Guilherme Briggs: Transformers faz parte daquele imaginário dos anos
oitenta que tanto nos fascinou. Era a época do início dos vídeo-jogos
e do auge dos jogos de tabuleiro como Detetive, Banco Imobiliário e
War, dos bonecos do Falcon, da revista MAD, do Pica-Pau, dos Trapalhões na TV. No cinema tínhamos Indiana Jones, Guerra nas Estrelas,
108
O Redator d’A Arca Perdida
Goonies, Karate Kid, De Volta para o Futuro, Caça Fantasmas. Nas lojas
de brinquedos, além dos próprios bonecos de Transformers (que só
ficaram com seus passados e origens conhecidas quando lançaram
os quadrinhos no Brasil), vendiam o Genius, Merlin, Vitrolinha Phillips,
Ferrorama, Playmobil... Enfim, uma época mágica e inesquecível. O
líder Optimus fazia parte do grande panteão de heróis míticos de minha infância, juntamente com o Speed Racer, com os personagens de
Patrulha Estelar, Kirk, Spock e McCoy (de Jornada nas Estrelas) e os heróis Marvel e DC. Por isso, quando falo do Optimus ou de Transformers,
sempre vem uma onda de nostalgia, de finais de tarde de brincadeiras, de lanchinhos preparados pelas nossas mães e avós, de revistas
em quadrinhos espalhadas pela cama. Faz parte de um inconsciente
emotivo muito forte. Uma coisa que eu sempre percebi em Transformers foi uma espécie de influência Arthuriana nos personagens. Optimus é visivelmente o Rei Arthur, que carrega em si próprio uma espécie de Escalibur (Matriz da Liderança) e inspira a todos, que o servem
por vontade própria, com
profundo carinho e reverência, como a um grande pai protetor e sábio.
Como sempre fui apreciador de arquétipos, de
mitologia em geral, vi em
Transformers várias influências muito interessantes e inteligentes, além
do fato de ser o desejo de
todo menino ter um carro
que se transforma em seu
melhor amigo de metal...
AM: Conte-nos em quais séries dublou o Líder e, caso se lembre, as
facilidades e dificuldades de cada série. Qual seu Prime favorito?
GB: O meu favorito de dublar foi o Optimus do filme de cinema. Foi
extremamente emocionante poder ver a materialização de um sonho de criança em película, na tela grande, sentir a interação dos
Entrevista com Guilherme Briggs – Transformers, O Filme
109
Autobots com os humanos em um filme, com um realismo e estilo
fantásticos, assombrosos. O Optimus Primal, de Beast Machines, vem
depois, pois foi o que aprofundou mais a psique do personagem, mas
mesmo assim, não tanto quanto deveria, acho que ficou devendo
muito, infelizmente. Eu achei que os Optimus em Robots in Disguise
e Armada poderiam ter sido mais complexos, mais explorados, ficaram fracos em minha opinião. O melhor Líder é sem dúvida o da G1,
que eu não fiz, que foi maravilhosamente bem dublado pelo grande
Celso Vasconcelos e depois pelo saudoso Darci Pedrosa, não há o que
se discutir, clássico dos clássicos.
AM: Sabemos que conheceu o dublador original do Optimus da
G1, o Afonso Celso de Vasconcellos, atualmente aposentado.
Como aconteceu isso? O que sentiu?
GB: Eu conheci o Celso durante uma convenção de fãs de Transformers chamada TRANSCON, nós fomos chamados para palestrar. Foi
muito bom poder entrar em contato com quem realmente curtia
e conhecia a série, ouvir suas opiniões, responder suas questões e
dúvidas, exibir um making of da dublagem de Robots in Disguise,
divertindo todos com minhas palhaçadas e loucuras. O Celso é uma
pessoa muito madura, na dele, tranqüilo, muito vivido e experiente.
Gostei muito de absorver essa experiência dele e escutar seus “causos” da época em que ele dublava. Transformers acabou tendo uma
conexão emocional ainda mais forte, pois foi justamente nesta convenção que eu conheci pessoalmente a minha querida esposa Fran.
Antes, nós nos correspondíamos pela Internet, éramos amigos apenas e combinamos de nos encontrar durante a minha palestra. Foi
amor à primeira vista... ^__^
AM: Como se envolveu na direção e na dublagem do filme dos
Transformers? Como o trabalho “caiu na sua mão”?
GB: O meu chefe, Sergio De la Riva, diretor da Delart, empresa de dublagem que eu trabalho como diretor de dublagem e dublador me
chamou em sua sala e me entregou o material do filme, para meu total
espanto e alegria. Falou algo do tipo: “Esse filme que vou te dar é a sua
cara”, me deixando completamente sem voz... Meu Deus, Transformers,
110
O Redator d’A Arca Perdida
o filme de cinema?? Só sei que quando cheguei em casa, comecei a
imediatamente assistir, ler, relembrar e pesquisar absolutamente tudo
que eu tinha da série. Li o script original no mesmo dia, assim como o
filme, que estava cheio de travas de segurança e telas escuras, para evitar a pirataria. Foi uma emoção parecida quando vi, pela primeira vez,
o Episódio I de Star Wars, pois iria traduzir para cinema. Um impacto
fulminante, você até escuta o coração batendo forte pelo pescoço!
AM: Os fãs têm sempre o desejo de ver as vozes originais do desenho animado clássico, a G1, nas produções mais recentes. Como
foi o processo de escalação dos dubladores? É verdade que você
conseguiu dois dubladores clássicos? Conte tudo para a gente!
GB: Quando eu recebi os testes de voz para os Autobots e Decepticons nem pestanejei, já fui convocando o José Santacruz para o Megatron e o José Santana para o Starscream. Uma coisa que eu achei
muito legal da parte dos produtores americanos e da equipe do
Michael Bay, foi que eles enviaram vários formulários com questões
sobre os dubladores convocados. Além de requisitarem biografias
anexas, para que pudessem comprovar a experiência de trabalhos
posteriores dos dubladores brasileiros, a produção do filme de Transformers fez questão de saber se eu estava escalando algum ator que
já tivesse dublado algum personagem clássico dos desenhos animados. Eles fizeram questão até de saber o motivo de ter e/ou não ter
chamado tal dublador. Por exemplo, no Ironhide, eu tive que explicar
que não pude chamar o dublador clássico do personagem pois já era
infelizmente falecido (no caso, o saudoso André Luiz). José Santana e
José Santacruz ficaram muito felizes em encarnar após muitos anos
seus personagens, ao mesmo tempo em que ficaram impressionados
com a mudança estética e com os efeitos especiais modernos, que
são realmente assustadores.
AM: Há algum “causo” engraçado da dublagem do filme que você
queira comentar?
GB: Olha, tem vários, pois dublar o filme de Transformers foi uma verdadeira delícia. Foi cansativo, exaustivo, tivemos um tempo curto, tivemos que dobrar períodos, começando 8 da manhã e indo até quase
2 da manhã, no último dia, mas... Valeu a pena! Parece que todos os
Entrevista com Guilherme Briggs – Transformers, O Filme
111
dubladores estavam inspiradíssimos,
tivemos uma iluminação grupal, ficaram todos excelentes, estavam todos
alegres, empenhados e com muita
vontade de fazer um trabalho com
qualidade, para a minha total alegria.
Eu curti demais com meu querido
amigo Sérgio Cantú fazendo o Sam
Witwicky. Era muito divertido soltar
uns cacos e ver como ficava gravado
depois. Por exemplo, o Optimus soltando sonoros palavrões quando encontrava Megatron ou o Sam falando
barbaridades eróticas pra Mikaela,
essas besteiras que aliviam e relaxam
a gente, depois de um dia puxado de gravação. Eu mesmo imitei o Sílvio Santos no Optimus, chamei o Jazz de Roque (“Ma-ma-ma Roque,
vem pra cá, vem pra cá, meu colega Autobot...) e o meu maravilhoso e
talentoso amigo Mauro Ramos gravou uma versão onde o pai do Sam
falava, por exemplo, que o quintal estava em petição de miséria, que
tinha até mosquito da Dengue. Eu morri de rir quando processamos
digitalmente a minha voz e a voz do Sérgio Cantú e deixamos elas com
timbres femininos através de filtros especiais. O engraçado foi que eu
fiquei com a voz igualzinha a de uma senhora dubladora colega nossa,
a Geisa Porto (que dubla a Izma de A Nova Escola do Imperador e a
Nova Onda do Kronk, da Disney) e o Sérgio ficou com voz de... garota
gostosa!!!! Dá pra acreditar nisso? O próprio Serginho falou “Humm, eu
ficava comigo mesmo com essa voz, heim?” (risos).
AM: Lá vai uma pergunta capciosa: quando a gente fala de desenhos dos anos 80, sempre títulos como “He-Man”, “Thundercats”
e “A Caverna do Dragão” são automaticamente lembrados. Na
sua opinião, por que “Transformers” acaba sendo deixado para
quarto ou quinto lugar na escala de “lembranças”?
GB: Eu realmente não sei, pois tenho na memória os Transformers na
mesma intensidade que os outros desenhos. Tá, é claro: menos Ursinhos Carinhosos, ninguém merece essa tortura. Eles eu deixo para o
112
O Redator d’A Arca Perdida
Ironhide exterminar para sempre, pois o meu amigo precisa praticar
a mira com seus canhões cybertronianos, sabe?
AM:Você acha que o filme vai agradar aos fãs hardcore da G1,
ainda que os robôs tenham ganho design diferente do desenho
animado?
GB: Olha, pelo que eu soube, o Michael Bay tinha encomendado vários testes de animação, inclusive com o design antigo, aqueles corpos dos Transformers mais caixotão mesmo e o resultado não funcionou, acabou ficando parecido com os robôs de Power Rangers,
não passa tanta veracidade como deveria. Eu acho que os detalhes
clássicos foram mantidos, para termos a identificação imediata, com
o acréscimo de características únicas (e polêmicas) como foi o caso
da boca do Líder Optimus, que aparece no filme. O modo-batalha
de Prime seria justamente com aquela proteção bucal fechando. Depois de ter trabalhado na dublagem e ter assistido inúmeras vezes,
eu gostei muito e me acostumei com o design novo e acredito que
os fãs irão sentir a mesma coisa.
AM: Mudando um pouco o foco, que outros personagens você
dublou/dubla e qual seu favorito de todos os tempos?
GB: Além do querido Optimus, eu já fiz entre outros o Buzz Lightyear
(Toy Story), Kronk (A Nova Onda do Imperador), Moisés (O Príncipe do Egito),
Túlio (O Caminho para El Dorado), Grinch (Jim Carrey), Superman (Liga da Justiça), o Daggett (Castores Pirados), Samurai Jack, Freakazoid, Capitão Murphy
de Sealab 2021 (Laboratório Submarino)
e os atores Denzel Washington, Brendan Fraser e Julian McMahon, o Doutor
Christian Troy de Estética (Nip/Tuck). O
meu personagem favorito de todos os
tempos sempre será o meu castorzinho
espevitado DAGGETT, de Castores Pirados. Ele é o meu xodó absoluto.
Entrevista com Guilherme Briggs – Transformers, O Filme
113
AM: Você teve a chance de colocar alguns termos clássicos da G1,
como frases e nomes da dublagem brasileira, no filme? Conte
como foi.
GB: Sim, coloquei, por exemplo, alguns Autobots falando “Líder Optimus”. Todos os nomes como Cybertron, Autobots e Decepticons tiveram a exata pronúncia da primeira dublagem clássica: cibertrôn,
autobôts e decepticôns. A frase “Autobots, transformar e rodar”, infelizmente, não foi acrescentada dessa maneira por questões de marketing, acredito. Fomos orientados a colocar “Autobots, transformar
e avançar!” – talvez somente com um momento apenas falando “RODAR!” – mas isso não altera ou diminui o impacto, eu garanto a vocês.
Marcus Garrett e David Nery foram muito importantes, me ajudaram
muito em todo o processo. Fizeram pesquisa, deram sugestões, participaram ativamente da dublagem, o que sou profundamente grato.
Afinal, ter dois amigos, pessoas que gosto, lado a lado, dando a maior
força, fez toda a diferença, envolveu o filme com uma aura muito boa,
mágica. Que venha logo o segundo filme!! ^__^
Os heróis dos anos
oitenta estão de volta!
He-Man, Líder Optimus e Lion-O. Esses nomes eram freqüentemente ditos e ouvidos pelas crianças há 16 ou 17 anos atrás, contudo – e para nossa surpresa -, tais personagens estão novamente
aparecendo. É... os anos oitenta, outrora desfeitos nos meandros do
tempo, agora voltam com força total!
Os infantes dos anos oitenta nunca imaginariam algo como
a Internet ou como os jogos dos videogames atuais. Playstation 2?
Game Cube? X-Box? Que nada! Aquelas crianças contentavam-se
com o bom e velho Atari, e o mais “próximo” que chegavam da Internet, naquela época, era brincando de acessar o - agora jurássico
- “Videotexto”, a partir de seus computadores Apple II e MSX, ambos
de 8 bits.
Os meninos e meninas dos “80´s” não estavam “mal acostumados” como está a geração de hoje, que faz praticamente tudo a um
toque de celular ou a um clique do mouse. Existia uma certa magia
no ar, uma promessa de
felicidade, e, em meio a
essa meninice deliciosa
e, por que não, “ingênua”, havia heróis maravilhosos!
“Justiça, Verdade, Honra e Lealdade”.
Essa era, tipicamente,
a mensagem que os
heróis dos anos oitenta levavam às crianças.
116
O Redator d’A Arca Perdida
O lema dos Thundercats ilustra, de forma bem clara, o conteúdo
positivo presente aos desenhos animados “oitentianos”, através dos
quais valorizava-se sobremaneira a prática de se fazer o bem e a
necessidade de se ajudar o próximo. Séries televisivas como “A Super Máquina” são exemplo notório do herói que, de maneira totalmente altruísta e despretensiosa, auxilia o semelhante. Quem não
se lembra de Michael Knight e de seu poderoso carro computadorizado, o Kitt?
Hoje, em 2002, constatamos: Stanley Kubrick errou feio em
sua predição do futuro, por meio do filme “2001: Uma Odisséia no
Espaço”; mas, de qualquer maneira, o futuro está aqui, com todas as
coisas boas e ruins inerentes a ele. Pois é, em meio a tanta tecnologia
e rapidez de informação, não é que os heróis do passado estão voltando? É sim!
Os Transformers
estão de volta nos quadrinhos, nos brinquedos e
em novo desenho animado. Os Thundercats encontram-se novamente aparecendo nos quadrinhos
e há promessa de nova
série animada. He-Man,
quem diria, também está
de volta em nova linha
de brinquedos e também
terá novo desenho. Até os
“Comandos em Ação” têm
suas novas coleções de bonecos e de veículos! Tudo
isso é só o exemplo do que
está ainda por vir... dá-lhe
anos oitenta!
O que estaria acontecendo? Será que a criatividade dos criadores / mentores de outrora acabou, havendo a necessidade da repetição, da “reinvenção da roda”? Será que os heróis atuais não bastam
Os heróis dos anos oitenta estão de volta!
117
às crianças, pois essas anseiam por mais? Ou será que, repetidamente, trata-se apenas da questão do “dinheiro fácil”?
A resposta pode ser complicada, mesmo porque é possível
tratar-se de um misto de cada um dos motivos citados. Os pais e
mães de hoje são as crianças daquela época; esse fato, tão somente,
seria o suficiente para as empresas trazerem novamente à tona os heróis “oitentistas”. Qual pai da atualidade não gostaria de ver seu filho
assistindo aos episódios de “Transformers”? É a curtição conjunta de
pai e de filho! Por outro lado, minha opinião pessoal diz: realmente,
nossas crianças anseiam por algo mais, por algo que traga a elas a
mensagem de um futuro melhor, de uma existência mais alegre; a tal
promessa de felicidade citada no início deste texto. Em meio a tanta
tecnologia pós-moderna, a “verdade ancestral” se faz necessária.
Por mais acurada que se apresente a tecnologia atual, nos
proporcionando heróis criados por computação gráfica e em três
dimensões, estrelando enredos cheios de ação alucinante e de imagens fabulosas, inexiste a figura do herói nato, do herói verdadeiro e
despretensioso. Há a impressão de que os heróis de hoje só praticam
o bem “porque é legal” ou porque “é politicamente correto”; são atos
voláteis de benfeitoria. É notório: existe total preocupação, por parte dos produtores dos desenhos animados e das séries de TV atuais,
com o visual e com a forma, em detrimento do conteúdo. Esses heróis de hoje são, em grande parte, “ocos”, “vazios”; é triste.
118
O Redator d’A Arca Perdida
Essas são minhas opiniões pessoais acerca do assunto em
questão, minhas próprias impressões; não viso, por conseguinte, a
ser o dono da verdade. Os heróis “oitentistas” eram plenos: fortes,
poderosos, fabulosos; mas, ao mesmo tempo, bondosos, caridosos
e até paternos. As mensagens positivas daqueles heróis de outrora
ficavam ribombando nas cabecinhas das crianças, e, muitas delas
– assim como eu - cresceram admirando aqueles mágicos personagens. No meu entender, esse anseio emergente em nossas crianças
foi descoberto e eis aí o motivo de tal retorno.
Seja qual for a razão principal, alegra-me muito essa volta dos
meus heróis da infância. Espero que minha suspeita acerca do anseio
infantil citado anteriormente se confirme, que nossas crianças percebam haver muito mais importância nos atos dos heróis do que em
seus músculos e em suas belas naves, e que os “pequeninos” possam
se espelhar nas atitudes daqueles antigos personagens os quais impingiram a nós a felicidade e criaram os sonhos infantis vividos naqueles formidáveis dias. Dias, para mim, tão distantes e tão especiais;
distantes como a eternidade e próximos como nunca estiveram. Nossas crianças de hoje necessitam dos nossos heróis de ontem!
Séries de TERROR:
44 anos de história
Caros leitores d´A ARCA, as festividades do Halloween estão
chegando e, embora algumas pessoas não a aceitem, essa
moda importada já pegou no Brasil. Em comemoração à
novidade, preparamos para vocês um especial sobre as séries de tevê de terror, desde as mais antigas às mais atuais.
Prepare-se, portanto, para relembrar as produções mais
importantes do gênero; da clássica Além da Imaginação à
atual Buffy. Mas cuidado, porque, se não prestar atenção,
não ganhará nenhum docinho!
ALÉM DA IMAGINAÇÃO
clássico de Rod Serling (1959)
Além da Imaginação (The Twilight Zone) foi ao ar em 1959
pela CBS. A série, que gozou de 5 temporadas, trouxe histórias fantásticas de ficção científica, de fantasia
e de horror - espalhadas em episódios
de 25 minutos de duração. Embora o
assunto favorito de seu criador, Rod
Serling, fosse a ficção, alguns episódios do gênero terror chegaram a ser
produzidos. Acreditem em mim, leitores, Além da Imaginação dava (e ainda
dá) muito medo.
120
O Redator d’A Arca Perdida
THRILLER – série apresentada
por Boris Karloff (1960)
Thriller foi uma série de tevê produzida entre 1960 e 1962, e
teve Boris Karloff, o astro dos filmes de terror, como apresentador.
Assim como aconteceu com Além da Imaginação, a série de Karloff
não era – pelo menos, inicialmente –
dedicada com exclusividade ao gênero terror. Com o passar dos episódios,
contudo, a coisa mudou de figura e a
produção passou a conter histórias arrepiantes, muitas das quais baseadas
em obras de escritores como Robert
Bloch (autor de Psicose) e Charlotte
Armstrong (autora de O Insuspeito e
de A Teia de Chocolate). Karloff chegou mesmo a atuar em alguns dos episódios, fato que deu um charme extra
para o seriado que pode ser considerado como um dos pioneiros do gênero.
OUTER LIMITS – QUINTA DIMENSÃO (1963)
Outer Limits ficou conhecida no Brasil sob o título de Quinta
Dimensão e foi uma série muito parecida com Além da Imaginação,
tanto no formato quanto no conteúdo. Ainda hoje as comparações
são inevitáveis e chegam a ser motivo de briga entre os fãs; uns
acham que a primeira copiou a segunda, e outros, vice-versa. O fato
de ambas serem contemporâneas ateia mais fogo à discussão.
O seriado, criado por Leslie Stevens, foi produzido de 1963 a
1965 e, embora não especializado no gênero horror, trouxe histórias
igualmente desconcertantes.
Séries de TERROR: 44 anos de história
121
A FAMÍLIA ADDAMS & OS MONSTROS (1964)
As séries em questão não são exatamente de terror, mas ambas usam do gênero como forma e conteúdo. A primeira, The Addams
Family, mostra uma família de pessoas um tanto quanto diferentes e
ricas, lideradas pelo patrono Gómez e pela esposa, Mortícia. Compõem a família: Tropeço (o mordomo), Feioso (o filho), Wandinha (a
filha), Tio Chico (o tio das crianças), Vovó Addams, o Primo It (um bicho feito de cabelo) e Coisa (a esquisita mão decepada). Os episódios
são muito engraçados e tratam do dia a dia da família em questão,
sempre mostrando amor entre eles e compreensão, e procurando levar bons costumes aos lares dos espectadores.
Já Os Monstros, produção contemporânea da primeira, trouxe um aspecto visual muito parecido com os Addams, mas com o
conteúdo dos enredos tendendo à crítica e com um humor bem mais
ácido e sarcástico. O líder Monstro é Herman; tipo muito parecido
com o Frankenstein retratado por Boris Karloff e pai de família que
trabalha na funerária Gateman Goodbury & Graves. Ao lado dele
está a esposa, Lily Drácula, uma dona-de-casa inteligente e vampira. O filho do casal é Eddy (Edward Wolfgang Monstro), menino
parecido com um lobisomem cuja maior dificuldade é fazer
amigos no colégio. Para completar a trupe há o Vovô, um Conde Drácula atrapalhado que também é mágico e cientista, e
Marylin, a sobrinha de Lily cuja aparência, de forma inédita,
é normal. Ao contrário de A Família Addams, os membros da
família Monstro precisam trabalhar para sobreviver, pois são
de classe média.
GALERIA DO TERROR
Mais Rod Serling (1973)
Em 1970 Rod Serling, criador de Além da Imaginação, lançou
uma nova série totalmente voltada ao terror: Galeria do Terror (Night
Gallery). Produzida durante aquele ano, a série dispôs de 45 episódios
122
O Redator d’A Arca Perdida
de 50 minutos cada e trouxe histórias horripilantes, apresentadas por
Serling em pessoa, cujo ponto de partida eram quadros de um museu: eis o porquê do título original em Inglês.
Muitos episódios foram
escritos por Serling, mas alguns
foram escritos por autores famosos como Robert Bloch e
Richard Matheson. A série, de
fato, é muito boa, mas não consegue se igualar, em originalidade, à antecessora. Talvez seja
esse o motivo do cancelamento
prematuro, fato que aconteceu
logo depois de seu criador ter
sido convidado a deixar a produção por causa de desentendimentos.
KOLCHAK: DEMÔNIOS DA NOITE
O precursor de Arquivo-X? (1974)
Essa série, criada em
1974 e produzida até 1975, tratava do sobrenatural de uma
maneira diferente, pois mostrava as aventuras de um jornalista, Carl Kolchak (Darren
McGavin), a investigar casos
estranhos de paranormalidade
para um jornal de Chicago. O
homem enfrentava vampiros,
lobisomens, zumbis e toda a
sorte de esquisitices, mas, no fim das contas, o editor-chefe, Tony
Vincenzo (Simon Oakland), acabava por não publicar nenhuma das
Séries de TERROR: 44 anos de história
123
histórias por achá-las sobrenaturais demais; fruto da imaginação do
repórter. Será mesmo que eram reais ou pura imaginação?
Essa fórmula de um investigador do estranho em busca da
verdade foi, anos depois, novamente usada na série Arquivo-X, como
todos bem sabem. Infelizmente, o seriado teve apenas 20 episódios
de 60 minutos cada.
QUARTO ESCURO
Apresentada por James Coburn (1980)
Darkroom foi uma produção de terror da ABC que também seguiu o estilo preconizado por Além da Imaginação. Apresentada pelo
ator James Coburn, cada episódio de 60 minutos da série traz duas ou
três histórias diferentes. Ela também chegou a passar no Brasil - no início dos anos oitenta - e dispôs de autores como Robert Bloch e Jeffrey
Bloom (criador de Nightmares), além de participações de atores como
Helen Hunt (de Twister) e Brian Dennehy (de Cocoon). Infelizmente,
produziram-se apenas 7 episódios. Alguns deles denigrem a imagem
de Quarto Escuro, relegando-a a mera imitação de Galeria do Terror.
O CARONA – THE HITCHHIKER (1983)
Seriado produzido de 1983 a 1989 e que teve 85 episódios
feitos. Os enredos tratavam do espírito humano e de onde as ambições das pessoas as levariam: à ruína. Apesar de não se tratar de
uma produção exclusiva de terror, muitos episódios versaram sobre
o tema. Participaram da série os atores Zach Galligan (de Gremlins),
Bill Paxton (de Twister), Klaus Kinsi (de Nosferatu), C. Thomas Howell
(de A Morte Pede Carona), dentre outros.
124
O Redator d’A Arca Perdida
SEXTA-FEIRA 13, A SÉRIE (1987)
Cadê o Jason?
Para início de conversa, não tem nada a ver com Jason
Voorhees. Sexta-Feira 13, A Série é uma produção da Paramount que foi apresentada de 1987 a 1990, teve 72 episódios
e mostrou as aventuras de Ryan Dallion (John D. LeMay) e Micki
Foster (Louise Robey), herdeiros de uma loja de antiguidades. Detalhe: não se tratava de uma loja comum, pois as peças que lá estavam
pertenceram ao tio da garota (e primo do garoto), o falecido Lewis
Vendredi (R.G. Armstrong), um antiquário que, secretamente, fez um
pacto com o demônio. A missão dos garotos, auxiliados por Johnny
Ventura (ex-sócio do tio - interpretado por Steve Monarque) era encontrar as peças amaldiçoadas que foram vendidas e recuperá-las.
FREDDY´S NIGHTMARES (1988)
A HORA DO PESADELO
Nessa produção de 1988, apresentada por ninguém menos
que Freddy Kruger em pessoa, cada episódio traz a história de um
morador(a) da famosa Rua Elm e tem a ver com os sonhos dessas
pessoas. Duas temporadas, totalizando o número de 44 episódios,
foram produzidas e compuseram essa que se mostrou uma série fraquíssima em termos de originalidade.
CONTOS DA CRIPTA (1989) – Delicioso!
Série baseada nos quadrinhos homônimos editados pela EC
Comics – Tales From The Crypt – na qual diversas histórias são apresentadas ao espectador pelo Crypt Keeper (Guardião da Cripta), uma
espécie de caveira empoeirada e repleta de teias de aranha. Teve como
Séries de TERROR: 44 anos de história
125
produtores executivos Richard Donner (de Os Goonies) e Robert Zemeckis (de De Volta Para o Futuro), e foi produzida de 1989 a 1996,
totalizando 93 episódios.
Dispôs de muita gente famosa por trás das câmeras,
tais como Tom Holland (de
A Hora Do Espanto), John
Frankenheimer (de Ronin)
e até mesmo Michael J. Fox.
Como não se lembrar da
clássica abertura?
EERIE, INDIANA (1991)
Esquisitices a la anos oitenta
Eis uma série da NBC voltada para o público pré-adolescente e que é a cara das produções dos anos oitenta, tais como
Os Goonies, Gremlins, Viagem
Ao Mundo Dos Sonhos e que
tais. Com toques de Joe Dante, de Tom Holland e de outros
magos daquela época, o enredo
mostra as aventuras de Marshall
Teller (Omri Katz) e do amigo, Simon (Justin Shenkarow), que se mudam para a cidade de Eerie (sinônimo de esquisito; algo que dá medo) em Indiana. Lá, numa cidade cujo
número de habitantes é de 16.661, eles descobrem que fenômenos
sobrenaturais - e muito horror – acontecem diariamente. Marshall, de
fato, afirma: Eerie é o centro de toda a esquisitice do Universo.
O detalhe é que ninguém na cidade acredita nos meninos, ridicularizando-os sumariamente. Infelizmente, a série teve somente 19
episódios produzidos, mas ainda é adorada por muitos fãs do gênero.
126
O Redator d’A Arca Perdida
GÓTICO AMERICANO (1995)
Família macabra!
American Gothic não é uma série de horror, mas um drama
de suspense com pitadas sutis de terror e de sobrenatural. O enredo
acontece na cidade de Trinity, localizada na Carolina do Sul. Lá as pessoas não são o que realmente aparentam, e são guiadas pelas mãos
de ferro do xerife Lucas Buck (Gary Cole), o “demônio em pessoa”. A
trama envolve o filho do xerife, Caleb (Lucas Black), fruto de um estupro de Cole a uma mulher que alguns tomavam como santa. Caleb,
em segredo, foi criado por outra família, teve outro pai e somente ficou ciente do verdadeiro aos 10 anos de idade; época em que a série
se desenrola.
Ele é protegido e adorado por uma prima jornalista cujos pais
podem ter sido assassinados por Cole, Gail Emory (Paige Turco). O
garoto – aí entra o sobrenatural – também é guiado e protegido pelo
espírito da falecida irmã, Merlyn (Sarah Paulson).
O seriado teve 22 episódios de uma hora de duração cada.
Curiosidade: American Gothic é o nome de um quadro famoso, que
foi pintado por Grant Wood numa época importante da história norte-americana.
GOOSEBUMPS (1995) – Terror infantil
Série de tevê baseada em contos infantis de terror, escritos
por R. L. Stine. Dispôs de 74 episódios, produzidos de 1995 a 1998,
e ganhou diversos prêmios tanto pelas atuações quanto pela direção. Excelente diversão infantil que apareceu numa época anterior
ao mago Harry Potter. Curiosidade: Goose Bumps significa aquela
sensação que sentimos na pele quando nos arrepiamos de medo (ou
de frio).
Séries de TERROR: 44 anos de história
127
POLTERGEIST: O LEGADO (1996)
Caça-fantasmas sérios?
Trata-se de uma série sobre uma sociedade secreta, “O Legado”, cuja missão é acumular sabedoria, conhecimento e artefatos –
através dos séculos – que auxiliem seus membros a combater o mal
desse mundo. O enredo se passa em San Francisco, numa casa parecida com um castelo medieval na qual a equipe de combatentes é
liderada pelo Dr. Derek Rayne (Derek de Lint). Completam o time: a
psiquiatra Rachel Corrigan (Helen Shaver), o padre Philip C. (Patrick
Fitzgerald), o ex-fuzileiro naval Nick Boyle (Martin Cummins) e o clarividente Alex Moreau (Robbi Chong).
Produzido de 1996 a 1999, o seriado mostra cenas violentas
de terror e de sexualidade em seus 22 episódios.
BUFFY, A CAÇA-VAMPIROS (1997)
Vampirismo adolescente
A caçadora de vampiros mais famosa apareceu em 1997,
quando a série de tevê foi adaptada do filme homônimo. Ela é a “escolhida”, a responsável por livrar o planeta dos maléficos bebedores
de sangue. Buffy Summers (Sarah Michelle Gellar) e sua mãe se mudam para uma nova casa, no subúrbio da Califórnia, e lá ela se encontra com um bibliotecário
(Rupert Giles) que reconhece o poder especial
da garota.
Ela e sua gangue,
formada pelos amigos
Xander Harris (Nicholas
Brendon), Willow Rosenberg (Alyson Hannigan) e
Cordelia Chase (Charisma
128
O Redator d’A Arca Perdida
Carpenter), combatem as manifestações demoníacas e os vampiros
do lugar. Voltado para adolescentes, o programa agradou tanto ao
público que já virou cult. Foi cancelado em 2003 e dispõe de 144 episódios de aproximadamente 45 minutos cada.
ANGEL (1999) – Um vampiro dotado de alma
Angel é uma série spin-off de Buffy, e mostra as aventuras de
Angelus (David Boreanaz) - que teve um relacionamento amoroso
com a caçadora - um vampiro de alma humana que busca a redenção
por atos cruéis cometidos em seu passado europeu. Auxiliado por
amigos, ele enfrenta os demônios e outros vampiros, a fim de ganhar
novamente a humanidade perdida. Também voltado para o público
jovem, não fez tanto sucesso quanto a série original.
Caros leitores d´A ARCA, espero que tenham gostado deste
artigo. Há, é verdade, mais séries de terror do que as selecionadas,
mas procurei relatar as mais importantes e relevantes para o público
brasileiro.
E lembrem-se, dia 31 está chegando... Trick or Treat?
Memórias do Atari
O Natal de 1983!
Convidaram-me - muito honrosamente - a escrever acerca de
um certo tempo, a nossa meninice, que há muito se foi; os distantes
anos oitenta os quais nunca estiveram tão próximos, bem como tão
vivos em nossos corações.
Tenho a pretensão de discorrer sobre uma época em que as
coisas eram mágicas: os beijos de nossas mães à hora de dormir, as
gostosas tardes de “Sessão da Tarde”, as brincadeiras com os amigos
do colégio; preciosas gotas de ouro nos oceanos de nossas existências. Definitivamente, uma época em que o céu era mais azul, os doces
eram mais saborosos e a tênue ingenuidade enchia nossos corações.
O Atari 2600 fez parte desse universo mágico, outrora desfeito nos meandros do tempo, contudo, esquecido jamais...
O ano era o de 1983; mês de novembro, talvez. “Devorava” as
revistas especializadas em videogames e microcomputadores, como
as saudosas “Micro & Video”, “Video Magia” e “Micro Sistemas”, dentre
outras jóias daquele tempo. Era uma época deliciosa! Ficava maravilhado com os jogos de um certo Atari 2600 quando lia sobre ele nas
já citadas publicações. As imagens dos jogos se mostravam muito
bonitas e, em comparação ao videogame que eu possuía, um Odyssey, achava-os – aparentemente - muito mais bacanas.
Foi-me prometido um Atari 2600 no Natal de 1983. Tinha dez
anos de idade à época, mas lembro-me de tudo e espero partilhar
minha alegria daquele Natal mágico com todos os leitores desse texto escrito muito carinhosamente.
Havia uma locadora de videogames próxima à minha casa,
na Aclimação (em São Paulo), situada à Av. Lins de Vasconcelos, no
bairro do Jardim da Glória, cujo nome era “Wargames” (em referência
130
O Redator d’A Arca Perdida
àquele filme homônimo). Era uma locadora muito bacana e enorme
- um menino de 10 anos de idade era, de fato, facilmente impressionado pelo tamanho. Lá eu vi, pela primeira vez, um Atari “ao vivo”.
Permitam-me corrigir-me, pois, na verdade, era um Dynavision e não
um Atari. Fiquei apaixonado pela beleza do aparelho, especialmente
pelo design dos controles, contudo, nunca o vira ligado; sempre permanecia desligado, estando apenas à mostra. Passei a desejar muito
meu Atari e as propagandas da TV só me deixavam mais ansioso. O
slogan da Atari não saía de meus pensamentos: “Atari da Atari”.
Um de meus irmãos mais velhos (irmãos por parte de pai, na
verdade), o Maurício, conhecia o Atari, visto que um de seus tios trouxera um dos Estados Unidos. Permanentemente me pegava extasiado ao prestar atenção às explicações de meu irmão sobre os jogos do
Atari, sobre como esses eram coloridos e bonitos. Já não agüentava
mais esperar pelo Natal...
Até que enfim chegara o dia de comprar meu tão desejado
Atari. Não acreditava mais em Papai Noel, portanto, tive o prazer
de acompanhar a compra do meu aparelho. Lá fomos eu, meu pai
e meu falecido padrinho e tio, de quem me encontro deveras saudoso. Primeiramente compramos o aparelho, adquirido no já extinto Mappin Praça Ramos, o qual outrora fora uma imponente loja de
departamentos. A loja estava cheia naquele Natal, lembro-me muito bem disso. Compramos o aparelho e, infelizmente, não encontrei
muitos dos jogos pelos quais procurava, porque apenas cartuchos da
Polyvox estavam sendo comercializados lá. Esqueci-me de dizer: meu
irmão compilara uma listinha de jogos a serem comprados, porém,
no Mappin só havia cartuchos originais da Polyvox, conforme citado
anteriormente. Fiquei triste por não ter encontrado jogos como River
Raid e Seaquest, mesmo nunca os tendo visto ou jogado. Lembrome de ter comprado, no Mappin, cerca de 3 cartuchos da Polyvox e
Space Invaders estava no meio deles!
Contente e ao mesmo tempo “desanimado”, parti pela rua Conselheiro Crispiniano em busca dos cartuchos pelos quais procurava, pois
ainda tinha esperança de achá-los! Lembro-me de ter entrado em duas
lojas e de não ter encontrado nada. Porém, ao ter entrado na também
extinta Fotóptica (tenho quase certeza de que foi lá) encontrei quase
Memórias do Atari – O Natal de 1983!
131
todos os cartuchos pelos quais procurava: River Raid, Seaquest, Enduro,
Pitfall!; todos fabricados pela saudosa marca “Canal 3” (as caixas desses cartuchos eram muito bonitas, vistosas e coloridas - cada uma
de uma cor diferente!). Fiquei muito contente, contente mesmo, pois
teríamos muitos cartuchos com os quais nos divertir no Natal! Voltamos para casa, entretanto, só pude abrir os presentes na véspera do
Natal, à meia-noite, conforme o costume da minha família.
Passei este dia ansioso; andava pra lá e pra cá, o tempo não
passava... As horas se estendiam... E eu não via a hora de chegar a
meia-noite! Imaginava como seriam os jogos e tomava como base
os jogos do Odyssey, o videogame que possuía desde maio daquele
mesmo ano...
Enfim chegou a meia-noite! Após os cumprimentos, eu e meu
irmão corremos e abrimos o Atari! Foi a maior festa! Lembro-me do
Maurício ter ligado o Atari no quarto do meu padrinho, numa TV de
20 polegadas! Ligamos o videogame e imediatamente começamos a
brincar! Lembro-me de ter ficado maravilhado com a qualidade dos
jogos! Os primeiros jogos vistos – e jogados! - foram Missile Command (vinha com o Atari) e River Raid! Jogamos um pouco e depois
dormimos. O formidável mesmo começou a acontecer a partir do dia
25: ligamos o Atari no meu próprio quarto e passamos horas e horas
jogando...! Lembro-me de meu irmão ter dormido em casa durante
uma semana inteira (ele morava com a mãe) somente para ficarmos
jogando. Ele anotava todos os recordes num bloquinho; era imbatível... Eu o invejava por jogar tão bem. Na época eu tinha 10 anos, ao
passo que ele tinha 18. Maurício era muito mais habilidoso do que eu
(apesar do fato de ele ter previamente jogado Atari na casa do tio).
Foi um período mágico! As horas não passavam! Jogávamos
Atari, eu e ele, durante todo o dia. O dia inteiro a apostar com ele a
fim de ver quem faria os maiores recordes (obviamente, era ele quem
os fazia!). Realmente, o Natal de 1983 foi mágico!
Durante o finalzinho de 83 e por todo o ano de 1984, aluguei
cartuchos de Atari na já citada “Wargames”. Lembro-me muito bem
de que, para se escolher os jogos havia uma espécie de fichário preso
à parede, no qual dezenas de “fichinhas” coloridas que continham os
nomes dos jogos pairavam imóveis até serem “alegremente” escolhi-
132
O Redator d’A Arca Perdida
das por alguma criança. Eram um barato aquelas fichinhas! Essa mesma locadora também locava fitas de vídeo (no auge das fitas piratas):
lembro-me de, a cada visita lá feita, ter cobiçado um pôster imenso
do primeiro filme “Mad Max”. Às sextas-feiras, após a volta do colégio,
eu e meu pai caminhávamos até a Wargames e visávamos a alugar
jogos de Atari! Era uma alegria só! Os cartuchos alugados vinham
acondicionados em pequenas caixinhas plásticas pretas, muito bonitinhas e cheirosas (o cheiro do plástico era muito gostoso; nalgumas vezes pareço ainda conseguir sentir aquele cheiro!). Eu passava
o final de semana na jogatina de Atari e me divertia muito...! Às vezes
meus amigos do colégio visitavam-me em casa para jogarem comigo
e fazíamos verdadeiros campeonatos (anotávamos os recordes nos
tais bloquinhos!).
Era um tempo deliciosamente gostoso e mágico... Busco palavras para descrevê-lo; ou melhor, a sensação não pode ser descrita
com palavras, apenas sentida...
Poucas coisas me fazem sentir novamente a mágica daqueles
tempos, reviver aquele menino de 10 anos de idade; entre elas posso
citar: o sorriso de minha esposa, os abraços de meus sobrinhos, os episódios de Transformers, a revista MAD e permanecer em meu “quarto
de coleção”, acompanhado de todos os meus aparelhos e de meus
brinquedos antigos.
Hoje em dia, infelizmente, aquela mágica se foi ou pelo menos grande parte dela. Alguns entes queridos já não estão mais comigo e a saudade é muita. Saudade, também, de ser criança... Aquela
criança de 10 anos de idade que via o mundo com outros olhos...
Caro leitor, a saudade é uma benção divina, certamente, pois
é algo que podemos carregar conosco para sempre, é algo que eternamente ficará em nossas memórias e em nossos corações. É devido
a isso a inexistência de máquinas do tempo, pois não nos é permitido voltar a algo já vivido... Nos é permitido viver, sim, uma vez cada
instante... Graças a Deus existe a saudade e existem as lembranças...
Lembranças de um homem de 29 anos que, freqüentemente, gostaria de voltar a ser um menino de 10... E por quê não!?
Peter Pan
O enredo e os personagens são velhos conhecidos de nossos
pais e avós, e até mesmo de nós. O menino que não quer crescer, o
pirata desfalcado da mão direita, os Garotos Perdidos, Wendy. A ilha,
povoada de criaturas ímpares, tais como sereias, fadas e selvagens;
conhecida de todos como a Terra-do-Nunca. A obra Peter Pan, escrita
por James Barrie no início do século XX, dispõe de diversas versões
em desenho animado, em quadrinhos e em filme, portanto, comecei
a lê-la com vaga idéia do que encontraria nas respectivas páginas. As
peripécias de Pan, devo dizer, surpreenderam-me. Ao invés de história-da-carochinha, encontrei um texto alegórico sobre a difícil arte de
crescer, de renovar-se e de viver a deliciosa aventura da vida.
Wendy é a filha mais
velha dos Darling, família mediana de Londres cujo pai procura vencer na vida. A menina
tem por irmãos João e Miguel,
e uma cadela, Naná, como
babá. Certa noite, povoada de
“sonhos” de um menino um
tanto quanto diferente e especial, Wendy é convidada por
ele a deixar o confortável lar e
enveredar-se pelo Céu, a voar,
em direção à Terra-do-Nunca,
uma ilha especial, comumente visitada, em sonhos, por
crianças. Ela e os irmãos mais
novos, ensinados a voar por
Peter (“basta que pensem em
coisas boas”), chegam àquele
134
O Redator d’A Arca Perdida
local distante e descobrem um universo de seres magníficos, formidáveis. Wendy passa, então, a ser a “mãe” dos Garotos Perdidos, um
bando de sete meninos chefiados por Peter e que moram em uma
casa subterrânea na floresta.
O contraponto de Pan é um pirata, o temível James Gancho,
distinto cavalheiro inglês de tez morena, de olhos azuis e obcecado
por boa educação, que comanda uma trupe a bordo do temido e
sombrio navio Jolly Roger. Gancho perdeu uma parte do braço direito em uma luta de espadas contra Peter. O braço, devorado por
um crocodilo gigante, e um gancho afiado no lugar da mão; fato que
metaforicamente ajudou a remover - “mecanicamente” - o pouco de
humanidade do coração do lobo do mar. Gancho nutre, em uma visão imediatista, um ódio irracional em relação ao menino, contudo,
a natureza de tal sentimento é, na verdade, de caráter intelectual: ele
não consegue compreender, por mais que se esforce, o sorriso soturno e o olhar maroto de seu desafeto. Juntos, Wendy, Pan, Sininho e
os Garotos Perdidos passam por muitas aventuras e desventuras até
a conclusão do livro.
O texto, embora simples, está impregnado de simbologia e de
imagística. Ora é teatral (música e dança), ora é minuciosamente descritivo, ora é metalinguístico (o faz-de-conta sob e sobre o faz-de-conta), ora requer participação do leitor (“se você acredita, bata palmas”)
e ora revela um caráter sexual edipiano centrado na personagem de
Wendy. Alegorias à parte, o lado brilhante de Peter Pan tem a ver com
a “interiorização” da Terra-do-Nunca - e dos respectivos habitantes no difícil dilema da vida adulta e do abandono das verdades incontestáveis, deliciosas, da infância. Prefiro não crer na opinião costumeira
por meio da qual Pan é o “garoto bonzinho que existe em cada um de
nós”, aquele que nos faz sorrir e, por conseguinte, ver o lado “bom” da
vida. Isto simplificaria em demasia o trabalho de Barrie, sinceramente.
Afinal, as crianças são “alegres, inocentes e desalmadas”.
Freqüentemente somos, sim, Peter Pan, mas também somos
o Capitão Gancho, a fada Sininho, as sereias misteriosas, os índios,
João e Miguel, e todas as particularidades da ilha fantástica; encarnamos o arquétipo da Terra-do-Nunca. A luta constante lá existente é o
embate do Homem, em maior ou em menor grau, o “combate” para
Peter Pan
135
que sejamos indivíduos únicos e sentientes, e que se caracteriza pelo
equilíbrio entre o real, o irreal e o surreal, caso exista realmente tal
simplificada definição psicológica. É óbvio, também, que Barrie impregnou sua obra com a fé. Vê-se a fé em toda a parte. É ela, aliás, que
provoca no leitor a vontade de acreditar na natureza, por exemplo,
dos Garotos Perdidos; de modo que os meninos não sejam apenas
“crianças que cairam dos carrinhos de bebê em Kensington Park”.
Você tem fé? Mesmo? Então saberá que a Terra-do-Nunca
existe. Ela surge quando nos encontramos naquele estágio de sono
leve, logo antes do despertar, em que estamos sonados em condição
de sonhar, mas alertas para que não se perca a hora do trabalho. No
“lusco fusco” do fim da madrugada e do começo da manhã está ele à
nossa espera: o jovem Peter Pan, que nunca envelhece e que jamais
cresce. Mas é preciso acreditar. Você tem fé?
Alien Abduction:
Incident in Lake County
Uma das primeiras idéias de Steven Spielberg sobre alienígenas, reza a lenda, acabou virando o filme Poltergeist. O conceito
original, porém, era mostrar uma família suburbana ameaçada por
alienígenas malvados que queriam adentrar sua residência e abduzilos. A idéia do filme de Terror foi alterada e o diretor produziu Poltergeist ao invés, e ganhamos E.T., o filme de alienígena, como uma
fábula moderna.
De fato, o tema abdução extraterrestre não é novo
no Cinema, há diversos filmes do gênero; alguns bons,
outros medianos. Um filme,
porém, chamou-me a atenção enquanto navegava pelas
águas turvas do Cinemageddon: Alien Abduction – Incident in Lake County.
Acabei de assistir ao vídeo. Trata-se de uma produção televisiva de 1998 nos moldes de A Bruxa de Blair (e agora, também, similar à Cloverfield) e realizada com orçamento baixíssimo. O único
diferencial em relação ao da bruxa é que, além de tê-lo precedido
em um ano, realmente fiquei assustado ao ver Alien Abduction. O
filme, que faz as vezes de um documentário em que uma câmera/
fita de vídeo é encontrada por um policial dias depois de uma família
ter sido aterrorizada por aliens em sua casa isolada, surpreendeu-me
positivamente.
138
O Redator d’A Arca Perdida
No enredo, após
um aparente blecaute
na noite do Dia de Ação
de Graças, os irmãos
Matthew, Tommy, Brian
e Kurt, por farra e até
mesmo por curiosidade,
vão investigar o motivo
da escuridão: estranhas
explosões em um pequeno transformador
de energia elétrica à
beira da floresta, o que em tese teria gerado o apagão. Como a família McPherson mora em um local afastado no estado de Montana,
há matas, bosques e casas muito distantes umas das outras naquele
condado, Lake County. Detalhe crucial: um dos irmãos, que deseja
ser diretor de vídeo clipes, não larga a filmadora de vídeo por nada,
filma tudo com sua handy cam.
Em meio às explosões estranhas do transformador, localizado
no alto de um poste, o video maker descobre algo na mata à esquerda, algo que parecia ser um OVNI atrás de umas árvores, aterrissado. Momentos depois, descobrem que há “ocupantes” perambulando perto do objeto, seres que parecem molestar algumas vacas da
propriedade vizinha. A partir daí os irmãos acabam avistados pelas
criaturas… Meus amigos, é ver para crer – e se divertir bastante. E até
sentir uns calafrios! Qual seria o destino dos membros da família na
casa próxima, que também incluía esposas e namoradas?
É incrível o que um
bom diretor, no caso o premiado Dean Alioto (que até
faz uma ponta), pode fazer
com pouca grana, com luz
e, principalmente, com a
ausência dela. E sempre,
como ensinou nosso mestre Hitchcock há algumas
décadas, utilizando mais
Alien Abduction: Incident in Lake County
139
sugestão e menos exposição. A fita é apresentada como algo genuíno, que realmente teria acontecido, e essa “aura” de mistério, regada
com depoimentos de “especialistas” que assistiram à mesma previamente, deixa o filme ainda mais saboroso. E saiu antes do filme da
bruxa! Quando de seu lançamento, em 1998, causou até furor no
meio Ufológico.
Infelizmente, Alien Abduction não foi lançado em VHS ou DVD.
Para uma experiência mais legal, apague as luzes e assista
sozinho!
Aliás, os diretores de A Bruxa de Blair e de Cloverfield deviam
ter visto este filme antes de realizarem os seus… Iam chorar como
crianças quando percebessem como Alien Abduction é muito melhor e custou bem menos dólares.
Entrevista: diretor Dean Alioto
Gostei tanto de Alien Abduction que fui atrás do diretor
Dean Alioto. Procurei aqui, procurei ali e encontrei o contato do homem. Arrisquei… e consegui esta entrevista muito bacana que, generosamente, o diretor me concedeu via
e-mail. Muito gente fina! Com vocês, as palavras de Dean
Alioto, que também dirigiu mais recentemente os filmes
Crashing Eden e L.A. Dicks.
Garrettimus: Dean, posso chamá-lo de Dean? Como acabou envolvido no projeto de Alien Abduction: Incident in Lake County?
Dean Alioto: Claro, todo mundo me chama de Dean! Bem, deixe-me
ver se consigo resumir. Em 1987 li o livro “Comunhão” de Whitley
Strieber (*), que me deixou profundamente assustado, mexeu comigo. À época eu já era fã dos filmes de alienígenas de Steven Spielberg
(Contatos Imediatos do Terceiro Grau e E.T.), porém, como cineasta,
desejei saber como seria uma abdução real, para valer, se alguém
conseguisse filmá-la com uma câmera doméstica, uma handy cam.
Só dispunha de 6.500 dólares para fazer um filme, portanto, usar câmeras de vídeo caseiras era a opção ideal – e barata – para produzi-lo.
Chamei-o de “UFO Abduction” e, antes mesmo que o filme pudesse
ser lançado, a empresa de distribuição pegou fogo, foi abaixo. De maneira inédita, alguém conseguiu salvar uma cópia, antes do incêndio,
e publicou o material para a comunidade Ufológica. Surpreendentemente, respeitados experts do fenômeno UFO aceitaram o vídeo
como verdadeiro até que a FOX TV, por meio da série “Encounters”,
fez uma matéria sobre mim e sobre meu filme de disco voador. Dois
anos depois, o roteirista principal de uma série de TV policial na qual
142
O Redator d’A Arca Perdida
trabalhava me prometeu que conseguiria um acordo para que meu
filme fosse refeito, desta vez para a tevê especificamente, com o pessoal da Dick Clark Productions. Um ano à frente, em Vancouver, estávamos gravando com o pessoal de efeitos especiais de “Arquivo X”.
Um sonho que se tornou real para mim! Foi o primeiro filme para TV
Digital da história, bem como o primeiro filme televisivo filmado em
apenas uma semana. Sinto-me lisonjeado por ter feito esse projeto e
por ter, através dos anos, recebido e-mails de fãs, como o seu justamente, elogiando o trabalho.
Garrettimus: A naturalidade dos atores, que parecem realmente
assustados, impressiona. Como conseguiu aquelas performances?
DA: Eu batia neles, durante os ensaios, com tacos de Beisebol, sabe,
para manter o clima, deixá-los assustados, ha ha ha. Na verdade, como
o filme foi feito sempre em tomadas de 20 minutos, e não com horas
ou dias de intervalo, eles conseguiram se “manter” nos personagens
mais facilmente, ou seja, puderam manter o nível de interpretação
naturalmente. Entre as tomadas, eu lhes dizia que seus entes queridos nunca mais os veriam! No fundo, tínhamos um excelente elenco
que fez um trabalho fantástico.
Garrettimus: É verdade que a filmagem original tinha duas horas
de duração? Por que teve que diminuir o filme afinal?
DA: A Dick Clark Productions tomou o filme de mim e de meu parceiro, Paul Chitlik, depois que o novo chefão da emissora UPN (United
Paramount Network) viu
uma edição crua do filme
e não compreendeu o feeling do projeto, não achou
grande coisa, não gostou
do resultado. A versão
americana acabou tendo,
a contragosto, apenas uma
hora; o filme foi encurtado
na marra pelos caras. Acabou que o presidente da
Entrevista: diretor Dean Alioto
143
UPN ficou tão envergonhado ao saber que Alien Abduction foi um
sucesso de audiência, após a exibição, que jurou nunca mais exibi-lo
na grade da emissora – só de raiva. A versão estrangeira, por outro
lado, tem duas horas de duração – incluindo comerciais. (N.E.: foi esta
a que vi!).
Garrettimus: Voltando aos atores, como você gerenciou a continuidade do filme? Os atores não sabiam aquelas falas de antemão, certo? Ao menos, não parece!
DA: Bem, na verdade sabiam, sim, tudo estava decorado. Quando fizemos o primeiro ensaio, descobrimos que nosso roteiro de 90 páginas se transformou em meros 45 minutos na tela por que os diálogos
acabavam saindo muito rápido devido ao “nervosismo” do enredo.
Então, Paul e eu escrevemos mais 90 páginas de diálogos em menos
de uma semana para que os atores memorizassem antes de filmarmos. Fiz também com que os atores improvisassem em algumas cenas do ensaio e aproveitei as melhores partes, usando o material no
novo roteiro.
Garrettimus: Particularmente, gostei muito das cenas que envolvem o disco voador aterrissado. É possível até ver “coisas” se mexendo no andar de cima, no caso, atrás de escotilhas. Como foi o
efeito do disco voador? Era uma maquete em escala?
DA: É, o set do disco voador tinha dois andares! Como observou,
tínhamos pessoas vestidas de aliens no “segundo andar” da nave. O
diretor de arte de Arquivo X, Clyde Klotz, criou a nave com base em
meus designs iniciais.
Garrettimus: Você não pensa em lançar o filme em DVD?
DA: Acho que, quando tiver um pouco mais de “bala na agulha” em
Hollywood, talvez eu possa convencê-los a lançar meu filme. Por enquanto ele é uma jóia perdida, um cult que as distribuidoras ainda
não descobriram.
144
O Redator d’A Arca Perdida
Garrettimus: Você teve algum problema com a comunidade Ufológica, os chamados Ufófenas (pessoas que acreditam em tudo
que se fala sobre OVNIs), quando descobriram que o filme não
era real, ou seja, que era uma farsa, um hoax?
DA: Não foi algo direcionado a mim. Sei que se sentiram um pouco
traídos pelo filme, afinal, foi apresentado como uma filmagem real de
abdução alienígena. Não achei legal que, após a conclusão do projeto, adicionou-se na versão americana uma entrevista do Ufólogo
Stanton Friedman por meio da qual pareceu que o especialista validava a veracidade do material. Isso não foi nada legal.
Garrettimus: Já teve a oportunidade de ver algum filme brasileiro,
especialmente algum de Terror? Quem sabe um do Zé do Caixão?
DA: Gostaria de dizer que sim, mas me dê alguns nomes e vou tentar
alugá-los!
Garrettimus: Bem, é um prazer imenso ter sua entrevista no meu
blog. Ganhou um novo fã! Obrigado mesmo!
DA: Muito obrigado pela entrevista, pelas perguntas legais, continue
olhando o céu (**)! Paz, Dean.
(*) O livro “Comunhão”, de Whitley Strieber, virou um filme independente (“Estranhos Visitantes”) estrelado por Christopher Walken. Aliás, muito bom!
(**) Aqui Dean fez referência ao clássico da FC e Terror, “The Thing from Outer Space”.
Dark Star: o primeiro clássico
de John Carpenter
É incrível como o baixo orçamento pode ser, quase sempre,
sinônimo de criatividade. Sam Raimi, célebre diretor de Homem-Aranha e de Homem-Aranha 2, é prova absolutamente viva desta máxima, afinal, inaugurou a batuta com seu ótimo A Morte do Demônio,
tradução errônea do título original Evil Dead. Outro dos notórios diretores criativos, John Carpenter, fez seu primeiro longa-metragem
ainda na época da faculdade, Dark Star.
Dark Star (sem título
oficial em português), foi
co-escrito por Carpenter e
por Dan´O Bannon, que futuramente daria ao mundo
do cinema os roteiros de
Alien: O Oitavo Passageiro,
Força Sinistra, Vingador do
Futuro e A Volta dos Mortos Vivos, e criaria séries de
TV como Trovão Azul, um
marco dos anos oitenta.
No enredo, os tripulantes
da nave espacial Dark Star (Estrela Escura), tenente Doolittle (Brian
Narelle), Boiler (Cal Kuniholm), Talby (Dre Pahich), sargento Pinback
(O´Bannon em pessoa) e o falecido Comandante Powell (Joe Saunders), perambulam pelo cosmo, há vinte anos, numa missão especial:
destruir planetas instáveis; ameaças, de alguma forma, à colonização
espacial da metade do século XXI.
146
O Redator d’A Arca Perdida
Detalhe: misturam-se, todo o tempo, ficção-científica, suspense e, principalmente, humor. Mostra-se o dia-a-dia dos tripulantes e como estes começam a perder o juízo após tanto tempo no
espaço: a saudade de casa, a solidão, os medos e as frustrações que
afloram, e até mesmo o puro nonsense (apertam-se os botões dos
painéis alucinadamente). Imagine, caro leitor, um longa-metragem
em que uma bola de praia “maquiada” atua como alienígena, em que
o comandante morto - e congelado em zero grau absoluto - ainda
passa instruções aos subordinados, em que bombas termonucleares
têm consciência própria, além de outras surpresinhas. Porém, o ápice
da coisa acontece, bem ao término da película, com uma discussão
existencial - de fenomenologia - entre homem e máquina. Hilário?
Cerebral? Nonsense? Você decide.
Calma! Não faça mau juízo desta pérola B de 1974, pois o filme
foi dirigido e produzido com muita criatividade, apesar do ritmo um
tanto arrastado em algumas partes. Os efeitos especiais são até bemfeitinhos se levada em conta a falta absoluta de dinheiro. E pode-se,
ainda, apreciá-la como o primeiro grande trabalho de John Carpenter,
que anos depois dirigiria produções deliciosas como Starman, Fuga
de Nova York, Eles Vivem, O Enigma de Outro Mundo e Aventureiros
do Bairro Proibido. Na verdade, o projeto ficaria perdido, no esquecimento, não fosse descoberto por um produtor de Hollywood, Jack
Harris, que, impressionado, pediu à equipe que adicionasse quinze
minutos ao filme para que fosse lançado oficialmente nos cinemas,
fato que ocorreu um ano depois.
Dark Star: o primeiro clássico de John Carpenter
147
Dark Star saiu, após longos anos em que esteve apenas disponível em VHS e em sessões esquecidas de TV, em DVD: uma edição
caprichada em widescreen, restaurada (apesar de manchas e riscos
oriundos da película original, judiada pelo tempo) e com som - pasmem! - Dolby Digital 5.1. Há, na verdade, duas versões no disco: a
original e a especial, feita a pedido do tal produtor. Como extras há
apenas o trailer de cinema e as biografias/filmografias de poucos
membros da parte técnica. Infelizmente, inexistem legendas em português ou mesmo em inglês. O preço, bem acessível, convida o colecionador ou o amante de DVDs a adquiri-lo por módicos 9,99 dólares
na loja Amazon. Uma pechincha para um filme que foi indicado aos
prêmios Hugo e Nebula em 1976.
Os Filmes que o Mundo Esqueceu
Eles fizeram parte da infância de muita gente que, hoje,
deve estar na casa de seus trinta e tantos anos. Eram exibidos com certa frequência na Record, em sessões como a lendária Poltrona R, e aguçavam a imaginação da molecada
em fins dos anos setenta e início dos oitenta. Refiro-me aos
filmes “esquecidos”, vencidos pelo tempo e pela tecnologia.
Produções, guardadas as devidas proporções, recheadas
de criatividade, apesar dos efeitos especiais simplórios.
Acompanhe, caro leitor do Aumanack, a primeira parte
deste especial sobre os filmes esquecidos, os Filmes que a
Terra Esqueceu.
A Terra que o Mundo Esqueceu
Título original: The Land that Time Forgot.
Ano de lançamento: (1975).
Disponível em DVD: SIM (importado - R1).
Produção britânico-americana baseada no livro de Edgar Rice
Burroughs, o autor de Tarzan, The Land that Time Forgot é um dos
primeiros “filmes de dinossauro” do Cinema. O comandante de um
submarino alemão (John McEnery), durante a Primeira Guerra Mundial, afunda um navio de suprimentos inglês, mas acaba por receber os únicos sobreviventes do mesmo a bordo, como o expert em
150
O Redator d’A Arca Perdida
submarinos Bowen Tyler
(Doug McClure). Perdidos
nos mares gelados do Sul,
terminam às margens de
uma ilha misteriosa, Caprona, conforme supostamente identificada pelo capitão
germânico. Lá se envolvem
com dinossauros vivos, das
mais variadas épocas préHistóricas, além de ficarem
cara-a-cara com homens
das cavernas. Muita ação e um final interessante garantem boa diversão ao espectador, apesar dos efeitos visuais simplórios e dos dinossauros de borracha.
Atenção: na seqüência em que o Pterodátilo captura Ahm, o
nativo amigo da tripulação, pode-se notar os cabos de aço que sustentam a criatura. A Terra que o Mundo Esqueceu foi exibido à exaustão pela Record e é um dos poucos filmes nos quais o final não é nada
feliz, mas possivelmente verdadeiro.
No Mundo de 2020
Título original: Soylent Green.
Ano de lançamento: (1973).
Disponível em DVD: SIM (importado - R1).
Charlton Heston, após participar de O Planeta dos Macacos,
em 1968, fez uma série de filmes de Ficção Científica nos anos setenta. No Mundo de 2020 é um dos exemplos notórios a esse respeito.
Heston interpreta o politicamente incorreto detetive Thorn, de Nova
York, que investiga o estranho assassinato de um “figurão”. No futuro
distópico retratado na película, no qual a Terra encontra-se em um
Os Filmes que o Mundo Esqueceu
151
estado lastimável devido às mazelas do efeito estufa, da superpopulação, da poluição e da falta de comida, Thorn descobre que o morto
era do alto escalão da Soylent Corporation, empresa que fabrica um
tipo de alimento nutritivo para a população faminta, a bolacha Soylent Green, cuja matéria prima seria o plâncton dos mares.
As investigações do detetive
o levam a descobrir algo aterrador e
desumano a respeito daquela comida. O
final, nada feliz, mostra que não estamos,
hoje, tão distantes do que se vê no filme.
Atenção: a seqüência em que o personagem de Heston mostra um raríssimo
pedaço de carne bovina ao companheiro de quarto, Sol Roth (Edward G. Robinson), e este chora como uma criança, é
desconsertante.
A Casa da Noite Eterna
Título original: The Legend of Hell House.
Ano de lançamento: 1973.
Disponível em DVD: SIM (importado - R1).
Um cientista (Clive Revill), sua esposa (Gayle Hunnicutt), uma
jovem médium (Pamela Franklin) e um paranormal (Roddy McDowall), instigados por um milionário excêntrico, aceitam o desafio
de adentrar a famosa e assombrada Mansão Belasco, na Inglaterra,
para provar a existência de vida após a morte. Hell House (Casa do
Inferno), conforme batizada, pertenceu a um indivíduo perturbado,
Emeric Belasco, desaparecido misteriosamente nos anos vinte e conhecido por suas atrocidades e abusos contra familiares e serviçais.
Sustos, gritos, arrepios e boas atuações culminam em um final que
ainda divide a opinião dos apreciadores do gênero.
152
O Redator d’A Arca Perdida
Baseado em um livro de Richard
Matheson, o filme The Legend of Hell
House mete mesmo medo, pois, ausente de cenas desnecessariamente
sanguinolentas e explícitas ao extremo,
propicia ao espectador a mais forte das
sensações humanas: o uso da imaginação. Roddy McDowall, que anos depois
interpretou o caçador de vampiros em
A Hora do Espanto, está excelente no
papel de Benjamin Fischer, paranormal
e único sobrevivente da primeira expedição à referida casa, ocorrida em 1953.
Cena marcante: o ataque à esposa do
cientista, Ann Barrett, por parte de um
gato preto possuído.
Fuga do Século XXIII
Título original: Logan’s Run.
Ano de lançamento: 1976.
Disponível em DVD: SIM (importado - R1).
Em um futuro distópico e pós-apocalíptico, a Humanidade
vive organizada em cidades fechadas, autosustendadas e em formato
de domo. O governo sacia todas as necessidades básicas do Homem,
tais como alimentação, prazer, higiene, educação; nada, portanto,
lhe falta. O único senão: as pessoas, a fim de que se evite a superpopulação, somente podem viver até os 30 anos de idade, quando
participam de um evento público conhecido como “Carrosel” e nele
são mortas crendo que, de alguma forma, serão “renovadas”. Logan 5
(Michael York) é um Sandman, agente responsável por perseguir Runners, pessoas que atingiram a idade limite, não aceitaram o regime
Os Filmes que o Mundo Esqueceu
153
imposto e procuraram fugir, de algum modo, para um local mítico conhecido como Santuário. Logan se vê face-a-face com o destino que
a todos assola e decide-se, também, por fugir.
Logan’s Run, que também gerou uma série de tevê, é mais um
dos longa-metragens inspirados na obra de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, em que se criticam os caminhos caóticos trilhados
pela Humanidade. O cenário, os efeitos visuais, a trilha; tudo é bem
caprichado, mas tornaram-se simplórios em demasia para o exigente
público atual. Cena marcante: Logan 5 e Jennifer 6 (Jenny Agutter),
ao escaparem da cidade, chegam inadvertidamente ao que um dia
foi o memorial de Abrahan Lincoln, ao que se perguntam quem seria
aquele homem com aparência estranha, isto é, idoso.
É Proibido Procriar
Título original: Z. P. G.
Ano de lançamento: 1972.
Disponível em DVD: NÃO.
A Terra está envolta em uma
bruma, há falta de oxigênio, os efeitos
da devastação ao planeta são notórios,
a comida é sintética. Nada se compara,
contudo, à medida extrema adotada
pelo governo: um édito por meio do
qual tornou-se proibido procriar, ter filhos; afinal, o mundo foi assolado pela
superpopulação. Os casais, portanto,
passaram a ir às lojas de bebês, onde
adquiriam seus filhos em forma de
robô. Russ McNeil (Oliver Reed) e a esposa, Carol (Geraldine Chaplin), são os
curadores de um museu especial - da
154
O Redator d’A Arca Perdida
fauna e da flora terrestres - e decidem-se por ter um filho real, dispostos a enfrentar a pena de morte aplicada aos contraventores. O casal
passa, então, a esconder a criança dos vizinhos e a fugir das autoridades, quando descobertos.
Zero Population Growth era exibido constantemente no final
dos anos setenta e no início dos oitenta, e é uma atração interessante
para os fãs de Oliver Reed e de Geraldine Chaplin. Sim, os efeitos são
simplórios e o enredo acaba por não entreter de forma convincente
o espectador. A produção ainda não foi lançada em DVD nem mesmo
no exterior.
Geração Proteus
Título original: Demon Seed.
Ano de lançamento: 1977.
Disponível em DVD: NÃO.
Filme baseado no fraco livro do escritor Dean Koontz, Demon
Seed, sobre o Dr. Alex Harris (Fritz Weaver) e o supercomputador que criou.
Proteus IV (voz de Robert Vaughn) não
é uma máquina comum, afinal, tem
sua consciência paulatinamente em
expansão até que deseja reproduzirse, quando aprisiona a esposa de seu
criador, a bela Susan (Julie Christie,
ganhadora do Oscar em 1966), intencionando estuprá-la.
Geração Proteus é de uma
época em que não se sabia ao certo o
que os computadores podiam ou não
executar, e talvez fizesse mais sentido
Os Filmes que o Mundo Esqueceu
155
naquele período histórico. A película até tem seus bons momentos
e chega a assustar em alguns outros, mas o final acaba por chatear a
maioria dos espectadores.
Acabou a primeira parte deste artigo, caro leitor. Por favor, pedimos que espere pela segunda, recheada de filmes esquecidos dos
anos setenta e oitenta!
Inimigo Meu:
parábola da década de oitenta
sobre amizade e tolerância
Certos filmes são capazes de marcar nossas vidas para
sempre, por mais que sejam mal vistos pelos críticos ou tenham fracassado nas bilheterias. Inimigo Meu, produção
de 1985, é o típico exemplo a esse respeito.
O filme, dirigido pelo alemão Wolfgang Petersen, o mesmo do clássico A História Sem Fim (1984), do fantástico
Das Boot (1981) e do moderno Mar Em Fúria (2000), traz
a parábola, em formato cinematográfico, dos inimigos diferentes que são forçados à convivência mútua em virtude
das circunstâncias. O tema não é algo novo, basta que nos
lembremos dum clássico dos anos sessenta, Inferno no Pacífico, estrelado por Lee Marvin e Toshiro Mifune.
O enredo, baseado no livro de Barry Longyear, se passa no
Século XXIII, ocasião em que a Terra está em guerra contra
o planeta Dracôn, pois ambas as raças desejam possuir e
explorar sistemas estelares em comum. Negociações diplomáticas falharam e o combate espacial, a la Guerra nas
Estrelas, tornou-se inevitável. Apesar de tudo, ambos os
planetas dispunham de evoluções tecnológicas similares,
fato que nivelou a batalha e, por conseguinte, não propiciou vantagem explícita a nenhum dos combatentes.
158
O Redator d’A Arca Perdida
A Primeira Parte
No início do filme, uma estação espacial da Terra é atacada
pela esquadrilha de naves inimigas. Dezenas de pilotos são enviados ao combate, e um deles, Willis Davidge (interpretado por Dennis
Quaid), depois de presenciar a destruição da nave de uma companheira, persegue o piloto opositor e responsável pelo disparo, o Drac
Jeriba Shigan (interpretado pelo ganhador do Oscar de Ator Coadjuvante, Louis Gossett Jr.)
A ira cega de Davidge, movida pela vingança, leva sua nave
a uma órbita muito próxima do desolado planeta Fyrine IV, um território inóspito e inexplorado, em perseguição ao piloto inimigo. Finalmente, ao atingir a nave Drac com um disparo laser, essa se choca
contra a da Terra após a ejeção de um casulo-de-fuga alienígena. O
terráqueo, então, perde o controle e ambos caem no planeta, devido
à poderosa atração gravitacional emanada por aquele mundo.
Após a queda da nave, Davidge presencia a morte do jovem
amigo co-piloto e, mais enfurecido do que nunca, parte em busca
ao casulo caído a alguns quilômetros de
distância dali. O humano nunca viu um
Drac cara a cara, mas
está louco para assassinar o oponente. Ao
cair da noite ele chega aos destroços e as
emoções começam a
aflorar.
A Segunda Parte
Davidge e Jeriba finalmente se encontram, e, inicialmente,
cada qual procura matar o inimigo. Após alguma ação, o Drac faz o
terráqueo prisioneiro e chega até mesmo a, contrariado, alimentá-lo
Inimigo Meu
159
com um tipo nojento de lesma. Durante a noite, porém, uma chuva
de meteoritos faz com que cada um corra para uma direção – Jeriba
liberta Davidge a contragosto por insistência do humano – mas o fato
também os faz pensar sobre a única forma de sobrevivência naquele
planeta extinto: o auxílio mútuo. É óbvio que a esperança nunca morre e, devido a ela, ambos sempre esperam, apesar da coexistência, por
um possível resgate. O alienígena hermafrodita, cuja evolução aconteceu a partir dos répteis, foi apelidado de Jerry pelo terráqueo.
Ambos, então, passam a cooperar entre si e constroem um
abrigo contra os tais meteoritos, notadamente uma das maiores
ameaças do lugar. Aos poucos, como era de se esperar, os rivais passam a tomar conhecimento, cada qual, dos costumes e da vida um do
outro. Jerry chega a salvar o humano numa oportunidade e, através
do dia a dia, ambos se descobrem maiores do que a própria guerra.
Davidge passa a aprender a língua Drac, que lhe é ensinada muito
honrosamente por meio da leitura do Tallmman (um livro religioso
de Dracôn). Desnecessário citar a grande amizade formada paulatinamente à base de confiança e companheirismo.
Por outro lado, o irrequieto terráqueo, cansado de esperar
pelo improvável resgate, decide-se por sair pelo planeta a fim de
procurar por supostas naves que povoam seus sonhos à noite. Problemas, contudo, estavam para acontecer, uma vez que o inverno
rigoroso daquele hemisfério estava prestes a chegar.
A Terceira Parte
Jerry é, conforme dissemos, hermafrodita, e para a surpresa
do amigo, estava grávido há algum tempo. Infelizmente, devido a um
tombo que levou numa fuga e também por causa do frio intenso, algo
deu errado durante a gestação. Por estar à beira da morte, resolveu
dizer ao humano – recém chegado de sua busca - que algo corria mal.
O Drac implorou ao amigo para que levasse o futuro filho, Zammis,
a um tipo de conselho de anciões, em Dracôn, onde a linhagem de
Jeriba (os descendentes da criança, que remontam a inúmeras gerações) deveria ser recitada. Esse procedimento, além de fazer parte
160
O Redator d’A Arca Perdida
da cultura dos alienígenas, era honroso e necessário. O terráqueo, de fato,
precisou prometer ao amigo para que
ele morresse em paz. Mas isso não era
tudo, porque Davidge precisaria abrir o
corpo de Jerry, depois de morto, para
remover o bebê, que corria risco de
perder a vida.
Após a retirada da criança, o
humano tornou-se o único pai, embora chamado de tio, que Zammis conheceu. Davidge contou histórias para
o menino sobre o pai, sobre a cultura
Drac e sobre outros humanos que vinham ao planeta de vez em quando, mineiros que escravizavam os
alienígenas ao bel prazer e que foram descobertos pelo terráqueo
durante a busca pelas tais naves vistas em sonhos. Apesar de todos
os avisos e alertas, Zammis tornou-se curioso a fim de conhecer outros da espécie e, portanto, partiu em direção ao local proscrito. Ao
chegar lá, foi pego pelo líder dos mineiros, Stubbs (interpretado por
Brion James, de Blade Runner), e escravizado.
Davidge logo percebe o sumiço do menino e rapidamente
corre em direção à nave dos mineiros para salvá-lo. Ao chegar lá, o
humano mata o irmão de Stubbs numa tentativa de resgate, mas é
baleado e largado à própria sorte. Milagrosamente, o corpo quase
morto do terráqueo foi encontrado, tempos depois, por uma expedição militar e levado de volta à estação espacial.
A fim de cumprir o prometido, Davidge, já curado, ignorou ordens de superiores e partiu para o resgate do garoto. Nesse momento o espectador tem conhecimento de que o humano permaneceu
naquele planeta por três anos.
A conclusão, muito bonita, leva qualquer coração mole às lágrimas. O mais comovente, após o reencontro dos dois, foi a inclusão
do nome Willis Davidge na linha de Jeriba; honra descomunal pra os
Dracs.
Inimigo Meu
161
Produção Turbulenta
A produção de Inimigo Meu foi extremamente complicada. O
diretor original do projeto, o britânico Richard Loncraine (de Ricardo III
– a versão com Ian McKellen), abandonou a película no início das filmagens, mas com algumas cenas previamente rodadas. Então, Wolfgang Petersen foi chamado, pois era sempre
lembrado – e ainda é - por causa de
Das Boot, uma obra-prima do gênero
de Guerra. Todas as cenas rodadas, incluindo-se nelas algumas seqüências
do alienígena, foram dispensadas e
precisaram ser refeitas por Petersen.
O orçamento de Inimigo Meu, somente por causa desse “detalhe”, excedeu bastante o previsto.
Beleza Visual
Apesar dos pesares, o designer de produção do filme, Rolf
Zehetbauer (o mesmo de A História Sem Fim), criou cenários esplêndidos para o planeta Fyrine IV; a maioria deles, de forma inédita, construídos sobre palcos de shows de rock na Alemanha, no West German
Studios. A retratação do mundo em que os protagonistas vivem é, de
fato, espetacular. Apenas um detalhe que não passa despercebido se
o filme for visto em DVD: nas cenas em que a nave de Davidge cai no
planeta, percebe-se facilmente o uso de maquetes plásticas ao invés
de efeitos visuais movidos inteiramente a computação gráfica. Esse
detalhe não acontece, porém, durante as cenas de batalha espacial
contidas no início.
O único dedo da Industrial Light & Magic em Inimigo Meu
teve a ver com a constante chuva de meteoros e com a chamada
Matte, técnica de pintura que deixa as paisagens e os cenários ainda
mais realistas. As locações, situadas nas Ilhas Canárias, também não
162
O Redator d’A Arca Perdida
deixaram a desejar; ficou tudo muito bonito e bem feito. A fotografia,
formidável, esteve a cargo do cinematógrafo Tony Imi, especialista
em capturar detalhes e em produzir visuais acurados.
A concepção dos Dracs foi realizada pelo designer Chris
Wallas, criador dos efeitos “melequentos” de A Mosca (de David Cronenberg) e também diretor da seqüência: A Mosca II. Apesar da aparência humanóide do alienígena, isto é, a semelhança para conosco,
o visual dos Dracs não acabou artificial e nem desapontou. A maquiagem aplicada ao rosto de Louis Gossett Jr., fato impressionante, não o
atrapalhou nas retratações das mais diversas emoções exigidas pelo
personagem Jerry, embora apenas a boca e os olhos do ator estivessem “de fora”. Outro detalhe interessante é a respiração dos alienígenas, que pode ser percebida como um bombear numa pele localizada à altura das orelhas de um ser humano.
A excelente atuação de Louis Gossett Jr., aliás, foi digna de
outro Oscar. É impressionante como deu vida ao Drac e tornou-o
convincente. Imaginem, caros leitores, um ator fazer tudo isso, mas
somente dispondo da boca e dos olhos, porque o “resto” era coberto
pela maquiagem. Dennis Quaid, por outro lado, não esteve em uma
das melhores performances da carreira e, convenhamos, não acompanhou o trabalho de Gossett Jr. Quaid se deu muito bem, sim, nas
cenas de ação e de luta, contudo, nas seqüências emotivas percebese que o ator se perdeu um bocado.
Mensagem de amizade e de amor
Inimigo Meu, apesar das críticas negativas sofridas no exterior, é um filme de uma mensagem muito bela e comovente. Quando
Jerry e Davidge se “aceitam” como verdadeiramente são, eles superam as diferenças sócio-culturais entre as espécies e, conforme citei
no início deste artigo, tornam-se maiores do que qualquer guerra
possa ser. A cena em que o humano pretende começar a aprender a
língua Drac, comove o espectador, pois ele ganha de Jerry, seu mestre, uma versão do Tallmann, o livro sagrado de Dracôn. Davidge, por
sua vez, afirma a também existência do Tallmann Terrestre (nossa
Inimigo Meu
163
bíblia, por exemplo), ao passo que o alienígena concorda com ele e
cita a “verdade universal” por trás de todas as coisas. Os Dracs, importante ressaltar, têm a filosofia parecida com a Oriental, ou seja, estão
mais ligados à mente do que ao corpo.
Há muitas cenas bonitas e de bom gosto, que não estão imbuídas de pieguice. Uma delas acontece quando o alienígena pede
ao humano que lhe conte sobre os pais, sobre quem eram e o que
faziam. Depois, Jerry recita ao terráqueo, como uma retribuição pela
honra, toda a linhagem de Jeriba; processo que acontece na forma
de uma canção emotiva (na língua Drac, é claro). Essa cantoria novamente pode ser ouvida no final do filme, quando Davidge e Zammis,
em Dracôn, passam por uma cerimônia religiosa na qual o nome do
humano é adicionado à linhagem do alienígena.
O DVD nacional
A versão nacional em DVD está espetacular – em Widescreen Anamórfico – e possui a dublagem original da época, na qual o
falecido Orlando Prado (voz da Lula Lelé e segunda voz do Salsicha)
dublou o humano Davidge, e o lendário Rodney Gomes (voz de Cameron em Curtindo A Vida Adoidado) dublou Jerry. Nota dez para a
dublagem, espetacular.
Quanto aos extras, uma pena que não haja tantos: há o trailer
de cinema e algumas cenas estendidas. Somente isso.
Mas o DVD vale a pena, especialmente pela qualidade da
transcrição do filme. A imagem está simplesmente fantástica. Infelizmente, Inimigo Meu está esgotado na maioria das lojas do ramo
no Brasil.
Caro leitor d´A Arca, recomendo a você este título. Embora
incompreendido, assim como Krull, Zardoz e tantos outros, Inimigo
Meu é um dos filmes de ficção científica marcantes da década de oitenta e deve ser visto, principalmente, pelos fãs que gostem de bastante diálogo e de reflexão após o término dos créditos finais.
Ren & Stimpy
Happy, Happy, Joy, Joy!
Os Simpsons é a produção comumente associada ao binônimo
“desenhos que agradam aos adultos e às crianças”. Porém, Homer, Bart
e Lisa não foram os únicos personagens a terem iniciado esse processo.
No início dos anos 90 estreou um desenho animado que mudou a cara
dos cartoons para sempre e que, conforme a criação de Matt Groening,
também foi o pioneiro dos temas mais adultos e controversos.
“The Ren & Stimpy
Show” foi ao ar pela primeira
vez em 1991, encomendado pela Nickelodeon, e tem
mostrado as aventuras dum
raquítico cão Chihuahua,
Ren, e do amigo, Stimpy, um
gato gordo e desajeitado. Os
argumentos narram o dia-adia dos dois, ora em busca de
comida, ora tentando levar
vantagem sobre alguém ou
sobre alguma situação. Ren
Höek (*), comumente chamado apenas de Ren, é o espertinho da dupla. Magricela,
egoísta, pragmático e interesseiro, ele não dá folga ao amigo felino.
Stimpy (Stimpson J. Cat), por sua vez, é bondoso, além de sonhador e
de atrapalhado. Ambos são a antítese mútua.
Os personagens, criados por John Kricfalusi (canadense radicado nos Estados Unidos), deram origem à escatologia televisiva tão
popular nas produções atuais, como nos casos de “A Vaca e o Frango”
166
O Redator d’A Arca Perdida
e de “South Park”. Vômitos, escarros, “gases”, melecas, verrugas, babas,
feridas, veias pulando e toda a sorte de sacrilégios compõem o cotidiano de Ren e de Stimpy. E isso não é tudo! Toda essa beleza pode
ser observada em close e nos mínimos detalhes. Leitor, não fique
aterrorizado ante a esse fato, pois um dos méritos do desenho é justamente tornar esses exageros em coisas engraçadas, colocando-os
em momentos certos (ou incertos!) e condizentes com as narrativas.
É a arte do absurdo! É como se, por exemplo, Salvador Dalí estivesse
por trás da tela da tevê.
Um dos exemplos dessa escatologia repousa numa cena em
que uma escoteira oferece bolachas caseiras para Ren. O cão (que
mais se parece com um rato!), muito a contragosto, aceita a oferta
e come as bolachas, mas “devolve” tudo no saquinho e o entrega de
volta à menininha. A finesse dessa seqüência me fez rir por trinta minutos ininterruptos.
Esse tipo de humor
negro, ausente às
produções similares
da época, acabou
virando marca registrada da maioria dos
desenhos exibidos
atualmente pelo Cartoon Network. Todavia, a escatologia não
é a única marca registrada da criação de John K. (assim apelidado carinhosamente pelos
fãs). As críticas embutidas nos episódios da série são outro ponto
forte; elas funcionam quando o espectador presta um pouco mais
de atenção ao enredo ou quando tem um pouco mais de percepção
das coisas. Foi isso, aliás, o que caracterizou Ren & Stimpy como não
apenas mais um desenho animado qualquer.
Há, por exemplo, um episódio em que Stimpy quer comprar
todos os produtos anunciados por aqueles famosos programas de
tevê do tipo “ligue para 011 140*”. Noutro, Stimpy acaba dentro do
próprio umbigo e lá encontra um mundo plástico-musical (clara alusão às drogas e aos anos 70). Numa das histórias mais cômicas de
Ren & Stimpy
167
todas, Ren, ao brincar com um daqueles conjuntos de química infantis, acaba sofrendo uma mutação através da qual o próprio corpo
dividiu-se em dois: no Ren “malvado” e no Ren “apático”. Outro detalhe importante que passa despercebido para a maioria dos telespectadores é o homossexualismo dissimulado existente entre os personagens principais. Está chocado? Assista aos episódios e tire suas
próprias conclusões!
Devido ao paradigma um tanto quanto fora do comum, Ren
& Stimpy era, muitas vezes, proibido de ser visto, pois nenhum pai
“são” permitiria a um filho assistir a tudo aquilo, ainda que o público
alvo fossem, em tese, as crianças. De fato, os executivos da Nickelodeon viviam editando os episódios da primeira temporada - já prontos - porque muitas das piadas originalmente criadas, segundo eles,
eram “fortes” de mais. Esse fato culminou com desentendimentos
homéricos entre as partes e com a demissão de Bob Camp, o braço
direito de Krickfalusi, que além de criador era dono do estúdio no
qual o desenho foi inicialmente feito: Spumco. A Nickelodeon tanto
fez que conseguiu demitir John K. em 1992, tendo criado o próprio
estúdio para prover a continuidade dos desenhos e tendo colocado
Bob Camp – foi “recontratado” – a cargo de tudo. Apesar desse fato,
a série foi adorada e cultuada por muitos que perceberam a “genialidade” da coisa. Os fãs mais árduos, contudo, insistem: Ren & Stimpy,
sem John K, nunca mais foi o mesmo.
Outro fator marcante são as vozes. As interpretações são hilárias. John K. em pessoa dublou Ren durante a primeira e a segunda
temporadas. A interpretação dada, conforme conta, foi inspirada por
falas dos atores Peter Lorre, Burl Ives e Kirk Douglas, embora alguns
fãs encontrem sotaque mexicano no personagem. Felizmente, após
a demissão do criador, Billy West – o dublador de Stimpy – assumiu os
dois papéis. Billy fez a voz de Stimpy durante toda a série (a voz dele
também pode ser ouvida em “Futurama”, desenho no qual dublou o
personagem Fry) e se deu muito bem. A voz de Ren, ainda bem, não
foi entregue a qualquer um.
A dublagem brasileira, a propósito, é um show à parte. Apesar da imensa dificuldade de se dublar os personagens principais
(por causa das vozes extremamente caricatas e das onomatopéias),
168
O Redator d’A Arca Perdida
os dubladores fizeram um
trabalho excepcional. O
desenho foi dublado na
Audionews, no Rio de Janeiro. Ren foi dublado por
Marco Ribeiro, que, dentre
outros trabalhos, dublou o
Dylan (da série “Barrados
no Baile”) e o Rafael (do desenho “Tartarugas Ninjas”).
Stimpy foi dublado por Marco Antonio, que já dublou o
ator George Clooney e o personagem Patolino. Márcio Seixas, a bela
voz do Batman (do desenho animado homônimo), fez as locuções.
Parabéns à essa equipe! Parabéns também ao dublador Manolo Rey
(a voz de Will Smith na série “O Maluco no Pedaço”), responsável pela
tradução e pela versão brasileira.
Aqui cabe uma curiosidade: os amantes do blues certamente
encontrarão um atrativo a mais em Ren & Stimpy, pois a série está
recheada de temas bluesísticos. Os próprios temas de abertura e de
encerramento são exemplos formidáveis. A trilha sonora é muito
boa! Há, também, muitos temas eruditos, tais como “Clair de Lune”
(de Debussy).
Infelizmente, após mais de 40 episódios a série foi cancelada
em 1995. Mas é muito fácil reconhecer a influência do desenho nas
produções atuais (conforme citei anteriormente). Se Ren & Stimpy
não existisse, dificilmente teríamos os tão adorados Cartoon Cartoons; não da forma como se apresentam hoje.
O desenho está sendo exibido diariamente pelo canal Nickelodeon, às 14:30, e também pelo canal Locomotion à meia-noite.
Se seu pai “deixar”, assista aos episódios de Ren & Stimpy. Mas
prepare o fôlego para boas e intermináveis risadas!
(*) John K. escolheu esse nome por acaso, pois era o nome do zelador do prédio em que
morava na época.
Transformers: The War Within
O despertar da guerra
Uma das coisas que mais têm despertado a curiosidade dos
Transfãs – os fãs de Transformers – por todos esses longos anos nos
é revelada na mais nova publicação da editora norte-americana
Dreamwave: o primeiro encontro histórico entre o líder Autobot,
Optimus, e seu arquiinimigo Megatron. Esse encontro, de fato, já foi
ensaiado num episódio do desenho animado, “War Dawn”, contudo,
não passou de uma leve brisa.
“The War Within” (“A Guerra Interior”), a novidade da Dreamwave, é uma mini-série escrita por Simon Furman e desenhada por Don
Figueroa. Furman goza da posição de “lenda” dentre os transfãs, justamente por ter prolongado a vida dos antigos quadrinhos dos robôs no
início dos anos noventa. O escritor inglês escreveu diversos argumentos fabulosos por meio dos quais tornou-se realidade uma obra-prima,
dentre outras, como “The Matrix Quest”. Don Figueroa, por sua vez, tem
atuado em revivals de outras séries, como no caso de Thundercats. O
traço do artista é de fino trato, realmente impressionante.
170
O Redator d’A Arca Perdida
Diferentemente do líder Autobot com o qual estamos acostumados, o Optimus dessa nova série é um personagem introspectivo, incrédulo e calado, mesmo porque, de início, nem sonha com a
liderança vindoura: é apenas um arquivista; insere e processa dados
em computadores duma seção de Iacon (a principal cidade Autobot)
batizada de “cofres”. Na visão de Optimus, a guerra civil de Cybertron
é totalmente insensata. Qual o motivo de tanta destruição? O domínio de um “simples” planeta? Por que não entregar logo Cybertron a
Megatron, se ele o quer tanto?
O Argumento
A edição primeira de “The War Within” principia com a morte
do vigente líder Autobot: Sentinel. Apenas o braço destroçado do Líder Sentinel nos é mostrado; tudo num único quadrinho. Na seqüência seguinte há um bate-papo “acalorado” entre Bluestreak e o futuro
Líder Optimus. Bluestreak comete um desabafo, diz ao robô arquivista
o quão rápido a guerra civil começou; num breve momento tudo esteve muito bem, para noutro momento surgirem os Decepticons e a
guerra civil acontecer de forma tão avassaladora. O personagem menciona, ainda, o fato do militarismo não condizer com a natureza dos
pacíficos Autobots. Ele acusa Optimus de somente se importar com o
trabalho de arquivista e de somente olhar para o próprio interior.
Dos cofres o leitor é levado a uma batalha violenta na qual
Ironhide, Kup e Wheeljack são comandados por Grimlock. A resistência Autobot aos invasores Decepticons assume diversas faces diferentes. Grimlock é tão poderoso quanto a representação do mesmo
- feita no desenho animado - mas não é estúpido quanto a versão
animada nos faz crer. É um peso-pesado mesmo! Em meio à batalha,
Grimlock afirma estar terminantemente cansado das palavras “retirada” e “render-se”. Na predição dele, a era dos líderes pensadores terminara; doravante teria início a era dos líderes guerreiros.
Optimus é chamado à Câmara dos Antigos (ou dos Anciões)
na qual lhe foi revelada a seguinte informação: ele é o escolhido.
Optimus devia tornar-se o novo líder dos Autobots; o novo Prime.
Transformers: The War Within
171
Assustado, revela ao Conselho o temor acerca da escolha feita. Ele
não devia liderar. Gravitas, um dos anciões, então lhe revela: a escolha fora feita pela Fonte. Optimus questiona com o ancião, perguntando-lhe se aquilo – a tal Fonte - se tratava da Matriz e logo
mostrou sua descrença num artefato lendário que supostamente
existia.
Noutro ponto de Cybertron, Grimlock reuniu alguns dos
Autobots a fim de lhes falar. Na conversa revela a pretensão de combater a escolha do novo líder, caso esse se mostrasse ineficaz. Nas
palavras do gigante guerreiro, se o Conselho errasse na escolha, tomariam o poder à força bruta.
Como parte do desfecho dessa primeira edição, Optimus recebe a Matriz Autobot numa cerimônia na qual estiveram presentes
alguns membros do Conselho. Durante a entrega da Matriz, o ancião
profere sábias palavras: “Nesses momentos de escuridão, mais do
que nunca precisamos de um líder forte para nos guiar em direção à
iluminação. Somente um líder genuíno, poderá conter a força da Matriz. Isso é o sinal da verdade e da sabedoria”. O corpo do robô arquivista recebe a Matriz com perfeição e sofre as costumeiras alterações
oriundas da força do artefato. Líder Optimus surge grande e forte!
Em meio ao ritual de passagem da Matriz, alguns Decepticons
invadem o recinto e fazem algum estrago. O ancião pede a todos
proteção ao novo líder, ao que Grimlock retruca: “É, não se importem mesmo conosco, somos pobres mortais”. Na verdade, nenhuma
ação se faz necessária, pois Optimus abate os Decepticons facilmente.
Grimlock titubeia durante o combate; deseja ver se esse novo líder é
mesmo durão. O Líder Optimus, com um dos inimigos em mãos, lhe
pede explicações sobre o ataque sofrido. O robô, à beira da morte, lhe
revela que as sementes da destruição foram plantadas sobre os pés
dos Autobots e que todos estão perdidos.
O gancho final do número um tem duas partes. Na primeira,
Optimus revela aos recém-comandados o fato de não achar justo lutar por algo em que não se acredite, pois o preço a ser pago é muito
alto. Afirma aos comandados que Cybertron é um planeta condenado e ordena a imediata retirada de todos, a total evacuação. Na segunda, como último quadrinho, vemos Megatron chamar, de modo
imaginário, Optimus para a “briga”.
172
O Redator d’A Arca Perdida
Curiosidades
• Há certas curiosidades inseridas nessa primeira edição.
Bem nas primeiras páginas há um cenário em Cybertron no qual se
pode ver, em meio à paisagem, a palavra “Transformers” escrita em
Katakana; um alfabeto Japonês. Nesse mesmo cenário há, meio
escondido, o símbolo dos Maximals (uma das facções presentes à
série “Beast Wars”).
Fiquem atentos para essas pequenas charadas!
Sonho antigo
Um dos sonhos de todo transfã é ver os Transformers dotados dos respectivos corpos Cybertronianos. No desenho animado
e nos quadrinhos, os corpos dos robôs foram alterados por Teletran
1, o computador da nave Autobot conhecida como “Arca”, a fim de
que proporcionassem esconderijo às identidades dos robôs quando
transformados em veículos. As formas Cybertronianas dos Autobots
e dos Decepticons nunca nos foram reveladas... até AGORA!
Em “The War Within” experimentamos as formas originais dos
Transformers. Nesse primeiro número são possíveis as visualizações
de personagens como: Trailbreaker, Bumblebee, Jazz, Bluestreak,
Hound, Kup, dentre outros. É simplesmente emocionante ver um sonho realizado após mais de 15 anos de espera, mesmo porque os
corpos originais dos Transformers são muito mais bonitos!
Só há um porém: os Decepticons principais não são mostrados nas respectivas formas robôs. Numa seqüência, entretanto, podese ver os Seekers (como naves) e noutra aparece Shockwave. Só! Nada
mais! Ficou o gostinho de “quero mais” para os fãs dos bad guys...
Daqui pra frente – e para ver os Decepticons – precisaremos
aguardar pela edição de número dois. Será dura essa espera!
Do Over:
De volta aos Anos Oitenta!
Algumas
pessoas
entristeceram-se por causa
do cancelamento prematuro da série “That ´80s Show”
(aquela dos mesmos criadores da bacana That ´70s...).
Contrariamente ao que sinto,
os anos oitenta não trazem
recordações tão boas assim
para algumas pessoas, pelo
que parece. Apesar desse
fato, a Paramount pôs no ar a
mais nova série sobre nostalgia oitentista: “Do Over”.
Joel Larsen, interpretado pelo novato Penn
Badgley, é um looser de primeira. O solteirão e vendedor
frustrado de 34 anos, ao ter sofrido um acidente, foi transportado ao
passado. Na manhã seguinte, vê-se novamente no ano de 1980 e na
época do colegial, de maneira totalmente inexplicável. Aquele homem de 34 anos, agora no corpo de um moleque de 14! Nem tudo,
afinal, era desastroso: Joel reencontrou alguns amigos da época do
colégio, como Natasha e Josh. O último, por sinal, sabe a respeito do
segredo do amigo e vive lhe pedindo para “predizer” o futuro.
Esse processo de regressão ao passado é, de fato, bem ilustrado na abertura do seriado. A capa de um vinil do DEVO, a miniatura do robô R2-D2 (de Guerra nas Estrelas); tudo conspira a favor dos
anos oitenta!
174
O Redator d’A Arca Perdida
Assim como o título nos sugere (Do Over quer, literalmente,
dizer: faça novamente), Joel tem todas as chances de “corrigir” as besteiras feitas originalmente no passado, afinal, não é sempre que essa
segunda chance aparece às pessoas. Salvar o casamento dos pais (interpretados pela bela Gigi Rice – de “The John Larroquette Show” – e
por Michael Milhoan – de diversos episódios de “3rd Rock From the
Sun”) e tentar enriquecer facilmente por meio da aquisição de ações
da obscura empresa Intel, são exemplos das presepadas aprontadas
por Joel e por sua turma. Aliás, o estreante Penn Badgley está muito
bem no papel, porque tem carisma e sabe atuar (será que vemos o
novo Michael J. Fox?). Uma das sacadas engraçadas da série é justamente o fato do personagem principal, às vezes, se esquecer de estar
no passado e abrir demais a boca. Ele se mete em cada enrascada!
Gostosa mesmo é a inserção do telespectador no longínquo
mundo dos anos oitenta! Há um episódio, por exemplo, no qual Joel
está na fila – do cinema – para a estréia do filme “O Império ContraAtaca”. É demais! É nostalgia pura! Há, por outro lado, alguns erros
históricos, é claro, (como uma menção ao ColecoVision, o videogame
que só foi lançado em 82) porém não são motivo para desagrado,
nem mesmo dos puristas.
Apesar da série ainda estar decolando, há rumores acerca do
cancelamento prematuro da mesma. Os boatos são, por enquanto,
só boatos. Seria uma pena a perda dessa série logo na primeira temporada. Corram, portanto, enquanto ainda é tempo de vê-la, pois não
é sempre que a chance de se voltar ao passado aparece!
A série está sendo exibida pelo Canal Sony (tevê por assinatura) nas terças às 21:30 horas.
E você, amigo... Que faria se no dia de amanhã abrisse os olhos
e constatasse o mesmo que constatou o Joel? Que faria se estivesse
de volta ao ano de 1980????
Os Anos Setenta Voltaram!
São os Funky Cops!
É, amigos, nem só de “That 70´s Show” sobrevive a onda
de nostalgia dos tormentosos e coloridos anos setenta.
“Funky Cops”, o novo desenho produzido pela francesa Antefilms, nos traz as aventuras de dois policiais durões (nos
moldes deles!), Ace e Dick, a dirigirem o “bravo” Pontiac Firebird V-8 pelas ruas de São Francisco em perseguição aos
mais diversos bandidos.
Starsky & Hutch?
Que nada! No lugar dos violentos policiais da série homônima (no Brasil batizada de “Justiça em Dobro”), temos Ace e Dick. O
primeiro - o “brother” - é
o negro Blackpower: “descolado”, cheio de ginga, o
preferido das mulheres;
mas, em contrapartida, o
mais “pé no chão” dos dois.
Ace foi membro do grupo
“Starlight Seven” (clara
alusão ao Jacksons Five),
tamanha a paixão nutrida
pela música. Infelizmente,
teve de deixar a banda e
acabou como tira.
176
O Redator d’A Arca Perdida
Dick Kowalski, o “branquela” com costeletas de Elvis, é o despirocado da dupla. É também muito imaturo e só pensa nas perseguições automobilísticas nas quais dirige, como alucinado, o veloz
Firebird. De fato, ao volante Dick se parece com a criança que acabou
de ganhar uma bicicleta nova. Apesar do jeitão meio cowboy, meio
rockabilly, o visual de Dick se inspirou em Dirty Harry; interpretado
magistralmente por Clint Eastwood.
Os Embalos de Sábado À Noite
Em meio aos enredos simplórios vividos nos saudosos anos
setenta, os dois tiras perseguem caras malvados pela cidade, “a
mando” do chefe: Capitão Dobbs. Mafiosos, gângsteres, traficantes,
contrabandistas, ninguém
escapa dos terríveis Funky
Cops! Muita ação e perseguições automobilísticas
encontram-se lado-a-lado
com a atividade favorita
dos tiras: discoteca! Na
noite de São Francisco,
Ace e Dick se divertem nas
Discos; dançam muito enquanto paqueram as garotas. É só curtição!
Bee Gees & Iggy Pop
Alguns “convidados” fazem parte dos episódios da série. Bee
Gees, Starsky & Hutch, Clint Eastwood e até Hannibal Lecter são alguns
dos célebres participantes, embora tidos os nomes devidamente trocados... É muito gozado ver as formas caricatas dadas àqueles atores e
artistas! Uma sacada muito boa dos produtores de Funky Cops!
Os Anos Setenta Voltaram! São os Funky Cops!
177
A Estética de Funky Cops
O desenho animado foi feito de forma a combinar animação
tradicional à animação 3D. De fato, essa combinação foi tão bem feita
que dificilmente o telespectador se dá conta disso. Cenários e carros
em 3D, se misturam aos personagens “impressos” em 2D.
O Pontiac Firebird é um show à parte. O veículo foi totalmente criado e animado em 3D, e as seqüências de perseguição são de
“dar água na boca”. O Firebird voa – literalmente – pelas ruas de São
Francisco, nos “sobes e desces” tão bem conhecidos do público por
meio de produções Hollywoodianas como “Bullit” (estrelado por Steve McQueen).
Outro show à parte são as seqüências de dança realizadas nas
discotecas. Os movimentos em 3D de Ace e de Dick são perfeitos. É
de se espantar o realismo conseguido pelos animadores franceses! O
pessoal está de parabéns!
Tudo em Funky Cops é muito colorido e realmente “cheira” aos
anos setenta. Eu, infelizmente, pouco me lembro dos Seventies, mesmo
porque nasci em 1973. Porém, ao assistir Funky Cops posso imaginar
o “appeal” daquela época tão distante. Além do colorido exacerbado,
nossos heróis vivem ao som das músicas Funk, Soul e Disco. Se você,
leitor, tiver 35 anos, certamente vai curtir de montão esse desenho!
A curtição pela curtição!
Pô, BIXO, não tá bom?
Você, leitor, não espere nada de Funky Cops. Tanto melhor se
fizer isso, pois, dessa forma, o desenho lhe agradará muito. A produção é cool por causa de sua estética, de sua forma. Dificilmente agradará alguém pelo conteúdo, pois essa não foi a intenção dos criadores. Como dito anteriormente, as histórias são bobinhas e os enredos
totalmente infantis.
178
O Redator d’A Arca Perdida
Sente-se confortavelmente na sua velha poltrona da sala,
abra aquela lata de Coca-Cola “gelada até a alma” (ops, tá bem, de
cerveja), ligue a TV e curta as aventuras de Ace e de Dick. Transportese para os longínquos anos setenta e deixe-se envolver pelo clima,
pelas músicas, pelas cores e pela ação. Ria das piadinhas bobas e das
situações inusitadas! Isso basta! Ah! A dublagem está bem bacana,
embora não tenha sido realizada no Rio de Janeiro. Só lhes faço um
comentário: ficaria ainda mais legal se os tradutores tivessem inserido mais expressões brasileiras da época.
Funky Cops é agradável, justamente pela estética diferir dos
demais desenhos animados atuais, nos quais tudo é “certinho”, perfeitinho e politicamente correto. Vamos curtir aqueles que foram bons
momentos, certamente, sem nos dar conta do resto!
Ops, cadê a chave do Firebird?
Funky Cops é exibido pela Fox Kids no bloco Insônia.
TCR
Difícil conhecer alguém que nunca tenha brincado com
um Autorama. O
sucesso da Estrela
popularizou-se no
Brasil nas décadas de
setenta e de oitenta, e
dispôs até mesmo de garotos
propaganda como o Ayrton Senna.
Só há um senão: o brinquedo perdia um pouco da graça
quando a gente se dava conta de que era impossível ultrapassar o carro adversário. Sim, ultrapassar no sentido pleno do verbo, pois é claro que passávamos à frente do outro,
contudo, tratava-se de uma falsa sensação.
O TCR, brinquedo lançado pela Troll no início dos anos
oitenta, chegou para matar a cobra e mostrar o pau: os
carrinhos, finalmente, podiam mesmo ultrapassar uns aos
outros, e com direito a fechadas e tudo o mais!
Entrevistamos, com exclusividade pr´A Arca, o maior
especialista brasileiro em TCR, o engenheiro Eduardo Marcovecchio, que nos contou tudo a respeito do brinquedo
que competiu com o sucesso da Estrela.
180
O Redator d’A Arca Perdida
A Arca: Olá, Eduardo, tudo bem? Para começar, quando e como o
TCR chegou ao Brasil? Eduardo Marcovecchio: Existem algumas teorias e dúvidas a respeito
disso, ainda é um assunto nebuloso. Mas o que se sabe é que a Ideal
Toy lançou o TCR (Total Control Racing) originalmente nos EUA em
1977. Em algum momento entre aquele ano e 1980, a Trol licenciou o
brinquedo junto ao fabricante e passou a fabricá-lo aqui no Brasil.
A Arca: Qual era o público do TCR à época? Era um brinquedo
muito caro?
EM: Ele foi direcionado ao público infantil, pré-adolescente. Não era encarado como um hobby, um brinquedo adulto. Era um brinquedo mesmo, para crianças. Pelo que me lembro, era um brinquedo caro. Hoje em
dia ele deveria custar quase o que um autorama da Estrela custa.
A Arca: Naquela época, o TCR realmente “ameaçou” o reinado do
Autorama no país?
EM: Acho que por um curto período de tempo, sim. Tanto aqui como
nos EUA, o TCR foi um furacão, apareceu como algo revolucionário,
que acabaria com o autorama. Mas o tempo passou e o rumo da história foi outro. Ele acabou nunca sendo visto como um hobby, como um
motivo para organização de competições, de clubes e coisas assim.
Ele acabou sendo visto apenas como um brinquedo para crianças.
A Arca: Houve muitas propagandas do brinquedo? Como foi o
marketing da Troll?
EM: Eu me lembro apenas das propagandas de tevê. Acho que existiram propagandas em revistas em quadrinhos infantis também. Lembro-me bem da campanha da tevê, pois aconteceu comigo uma coisa
engraçada: eu era pequeno na época, devia ter uns 7 ou 8 anos, e a
propaganda do TCR Rallye mostrava um carro na pista, em close, batendo naqueles famosos barris que serviam como obstáculo. Na cena
seguinte, um novo close no carro o mostrava todo quebrado em sua
parte frontal. Quando eu vi aquilo, pensei o seguinte: “Esse brinquedo
TCR
181
é muito legal, mas quebra fácil. Eu não quero
isso”. Só depois de alguns
anos é que entendi que
aquilo era apenas uma
propaganda, que os carros não se quebravam de
verdade. Acabei pedindo
meu TCR de presente só
com 12 anos, em 1986,
por causa disso.
A Arca: Há quantas versões do TCR? Há muitas pistas?
EM: O TCR era dividido em séries. Cada série tinha um tema diferente.
Existiram as séries Grand Prix, Rallye, Auto-Estrada e Super Kart. A série
Grand Prix, a primeira, foi relançada pouco tempo depois com novo
layout de caixa e com carros diferentes. Em seguida foram lançadas
as outras três séries: Rallye, Auto-Estrada e Super Kart, provavelmente nessa ordem. Cada série teve três tipos diferentes de circuitos, com
exceção da Super Kart, que aparentemente teve apenas duas. Foram,
ao todo, umas 14 versões diferentes (eu ainda não consegui chegar a
uma conclusão sobre o número final). Perto da metade da década de
80, a Trol lançou o TCR Série II, mantendo as séries e pistas originais,
mas utilizando um novo tipo de chassis para os carros, conhecido nos
E.U.A. como MK III.
A Arca: O TCR quebrava muito? Conte para os leitores d´A Arca
sobre a manutenção das peças. Eu, por exemplo, tive uns dois
TCR, e lembro-me que sempre um dos carrinhos corria mais do
que o outro. Isso tirava um pouco da graça do brinquedo.
EM: Com certeza, isso era um problema muito sério do TCR. Sempre
um carro corria mais do que o outro e os carros só conseguiam atingir pleno rendimento se estivessem muito bem limpos, lubrificados.
Ele sempre foi muito mais sensível a isso tudo do que autoramas convencionais, que são mecanicamente bem mais simples. Uma coisa que
pouca gente sabe é que nos EUA foi criada uma solução para o proble-
182
O Redator d’A Arca Perdida
ma de um carro correr mais do que o outro. Essa solução era uma pista
terminal, especial, chamada de “Speed Equalizer”, que tinha um botão
deslizante capaz de regular a velocidade dos carros. O próprio Jam Car
foi outro jeito de tornar as corridas mais equilibradas, dando mais ênfase à habilidade do piloto do que ao rendimento do carro em si.
A Arca: O que era, afinal, o tal Jam Car?
EM: O Jam Car (também chamado de carro trapalhão) é um terceiro carro que anda sozinho na pista com o objetivo de atrapalhar os
outros dois. Ele anda a uma velocidade mais baixa e pode ser colocado para andar na contra-mão, inclusive. Ele não mudava de pista,
entretanto, a Ideal Toy lançou nos EUA o Super Jam Car, que tinha a
habilidade adicional de ficar mudando periodicamente, tornando-o
ainda mais perigoso e “chato” para os competidores!
A Arca: Você, como engenheiro eletrônico que é, fez uma série de
melhorias no TCR. Poderia, por favor, comentar um pouco sobre
isso? Qual o motivo que o levou a fazê-las? As idéias partiram de
você ou copiou-as de alguém?
EM: Na verdade, tenho
uma série de coisas em
mente, mas consegui
colocar poucas em prática até hoje. O objetivo
sempre é tornar o TCR
mais atraente, mais interessante e divertido. Eu
tenho algumas peças de
coleção, que ficam guardadas, mas a maior parte do que tenho é para
brincar e usar mesmo.
As idéias vão desde meios de melhorar a performance dos carros até
meios de se fazer, em casa, cópias de carenagens em resina. A maioria
das idéias é inspirada em conversas que tenho com americanos com
os quais mantenho contato, uns colecionadores de autoramas HO de
TCR
183
pino. Eu só adaptei algumas das sugestões para o TCR, apenas isso.
Na lista de discussão TCR Brasil, que eu criei no ano passado, existem
diversas pessoas que estão empenhadas em colocar em prática esses
projetos. Muita coisa boa deve aparecer por aí em breve!
A Arca: Quando se decidiu por criar o primeiro website nacional
sobre o tema? O que há nele? Poderia contar detalhes para os
nossos leitores?
EM: O website foi criado no início do ano. Lá se pode encontrar, principalmente, um texto sobre a história e a evolução do TCR, mas também
páginas de dicas e melhorias de performance, seção de downloads
(onde se pode encontrar alguns manuais originais digitalizados), páginas dedicadas a cada série do TCR, seções de cadastro e de classificados. Eu decidi fazê-lo por diversos motivos. O primeiro foi pela falta
de um site, principalmente no Brasil, sobre TCR. Eu cheguei à conclusão de que se eu não o fizesse, ninguém mais faria. Outro motivo foi o
grupo de discussão. Eu notei que vivia escrevendo as mesmas coisas,
respondendo às mesmas perguntas o tempo todo para cada novo
membro da lista. Por que não escrever uma vez só e disponibilizar
para todo mundo? O terceiro motivo, e talvez o mais importante, foi
simplesmente o seguinte: existe muito que se falar sobre o TCR.
O site ainda está pequeno, não estou tendo tempo para publicar o
volume todo de informações e material que tenho para colocar lá.
Estou fazendo isso aos poucos, espero que dentro de um ano o site
esteja bem completo.
A Arca: Existem muitos colecionadores no Brasil? Hoje existe um
mercado ativo?
EM: Acho que não pode se dizer que exista um mercado ativo. Existem alguns negociantes de brinquedos antigos que sempre têm
itens de TCR à venda, mas é muito pouco. O próprio Mercado Livre
sempre tem algo a oferecer. Mas o que me surpreendeu muito foi a
evolução do grupo de discussão TCR Brasil nos últimos meses. Hoje
são 45 membros de todo o Brasil, participando de uma lista dedicada
única e exclusivamente ao TCR. Na minha opinião é um número bem
184
O Redator d’A Arca Perdida
expressivo. Com certeza existe muita gente espalhada por aí que
gosta do brinquedo ou que pode voltar a gostar. À medida que esse
pessoal vai se encontrando e se reunindo, pode aparecer potencial
para um mercado ativo, na minha opinião.
A Arca: O que você diria a alguém que queira conservar o próprio
TCR? Quais dicas você dá?
EM: Existem peças que se desgastam rapidamente no TCR, e aí não
existe muito jeito, elas precisam ser trocadas (as sapatas de contato,
principalmente). Fora isso, é necessário muito cuidado na montagem
da pista (os encaixes são muito delicados e se quebram com facilidade) e também cuidado com os carros, pois algumas carenagens podem se quebrar em caso de choque. Os trilhos de metal dificilmente
enferrujam, mas para garantir, sempre seque bem as pistas que forem
lavadas com água. Para conservar o plástico delas, é legal utilizar spray
de silicone. No site existem mais dicas úteis sobre este assunto.
A Arca: O que diria a alguém que acabou de ler esta entrevista
e que ficou doido para tirar o TCR da caixa, aquele que ficou no
fundo do armário por 15 anos, e quer ligá-lo novamente?
EM: Eu diria para ir em frente e montar seu TCR novamente! Mas digo
também o seguinte: não tenha grandes expectativas de que ele vá
funcionar bem após tantos anos guardado. Provavelmente os pneus
dos carros estarão ressecados, as pistas estarão sujas e por aí vai. Será
preciso paciência e bastante trabalho para trazer o brinquedo de volta à vida, mas vai valer a pena.
A Arca: Atualmente, onde encontrar TCR para compra? Quem
quiser comprá-lo, como proceder?
EM: O melhor lugar é o Mercado Livre. É o lugar mais ativo e movimentado para TCR hoje em dia. Alternativas são o eBay, onde é possível
encontrar os TCR originais da Ideal Toy, e o próprio site TCR Brasil, que
tem uma seção de classificados que deve começar a crescer. Outra
alternativa ainda são as feiras de antiguidade, como a da Praça Benedito Calisto, em São Paulo.
TCR
185
A Arca: Esse brinquedo ainda é produzido em algum lugar do
mundo?
EM: Os TCR da Ideal Toy e da Trol não existem mais. A Ideal foi comprada pela Tyco na década de 80, e a Tyco foi comprada pela Mattell há
algum tempo. Portanto, presumo que os direitos estejam hoje com a
Mattell. Entretanto, visitei recentemente o website de uma empresa
coreana que parece estar fabricando um autorama com o conceito
de mudança de pista, mas bem diferente do TCR, numa escala maior,
inclusive. Fora isso, não tenho mais informações.
A Arca: Você, como colecionador e entusiasta, pretende montar
uma exposição ou algo do tipo?
EM: Por enquanto não tenho nada em mente, mas acredito que, da
maneira como a coisa está caminhando, com certeza isso vá acontecer no futuro.
A Arca: Eduardo, nós o agradecemos muito e gostaríamos de receber suas considerações finais.
EM: Eu gostaria de agradecer a oportunidade de falar um pouco sobre esse brinquedo maravilhoso, principalmente porque não estamos falando de algo que acabou, mas, sim, de uma chama que se
acende novamente, uma tentativa de trazer de volta algo de que
gostamos, mas de um jeito melhor, mais interessante e divertido. É
uma oportunidade de mostrar às crianças de hoje, acostumadas com
video games e computadores, um brinquedo diferente de todos os
outros que conhecem. Quem quiser se juntar a nós será muito bem
vindo. Vocês podem entrar em contato comigo através do site ou da
lista de discussão.
Obrigado, Marcus!
(http://www.tcrbrasil.hpg.com.br)
(http://br.groups.yahoo.com/group/TCRBrasil/)
Night Walker:
O Andarilho da Noite
Quando era criança me diverti muito durante a exibição do
extinto programa “Clube da Criança”, veiculado pela também extinta
Rede Manchete (é, amigos, a Xuxa nem sempre esteve na Globo).
Eu adorava assistir aos episódios do desenho Don Drácula (dublado
pelo saudoso Paulo Pinheiro) e ver as trapalhadas daquele vampiro
despirocado ao lado da filha, Sangria.
É, o vampirismo vive por aí há muito tempo e eis algo que
está longe da extinção. Bram Stoker, ao escrever o clássico Drácula,
sequer imaginou a repercussão que a obra teria. Depois de Stoker,
os vampiros deixaram a Romênia, tornaram-se jovens, nada sutis,
tecnológicos e estilizados.
Basta, para comprovar minha afirmação, assistir aos
filmes “Os Garotos Perdidos”, “Vampiros”, “Blade” e
tantos outros.
No mundo do animê, o vampirismo também se faz presente. Don
Drácula, quem diria, era
apenas uma amostra do
que viria... E há, de fato,
outra ótima série além da
famosa Hellsing.
Night Walker: Mayonaka no Tantei, uma das últimas produções
a esse respeito, é um animê adulto que traz temáticas realistas. Na
verdade, Night Walker está mais para Além da Imaginação (a clássica
188
O Redator d’A Arca Perdida
série de tevê dos anos sessenta) do que para qualquer outra coisa. O
telespectador, por meio do enredo, é levado a confrontar-se com sua
própria humanidade: os medos, os temores, os desejos proibidos, a ganância, o egoísmo; o lado obscuro que se esconde dentro da alma de
cada um de nós.
O Detetive da Meia-Noite
Shido Tatsuhiko é um vampiro renegado. Era uma pessoa normal até ser mordido pelo vampiro Cain há 300 anos. Cain lhe deu a
eternidade, contudo, apagou-lhe grande parte da memória. Shido,
por outro lado, resistiu e decidiu-se por não seguir os caminhos do
mestre. A parte humana do vampiro falou mais alto. Será?
Atualmente, Shido é um detetive particular nada comum.
Ele investiga casos estranhos de assassinatos, pois conhece, eventualmente, os responsáveis pelos crimes: uma raça aparentada dos
vampiros, violentíssima e cuja sede de sangue assusta. Trata-se dos
Breeds (palavra traduzida erroneamente para o Português - como
Bleeds). Shido jurou vingança contra todas as criaturas da noite e, por
conseguinte, persegue os Breeds assim como o Capitão Ahab caçou
Moby Dick. Os Breeds, aliás, são entidades demoníacas que se apoderam dos corpos de pessoas mortas e que se alimentam da força vital
dos seres humanos. São a “escória”, segundo Shido.
Devido ao vampirismo, Shido necessita de sangue para sobreviver, embora se recuse a sair por aí a fim de morder as pessoas. O
alimento, então, é fornecido pela parceira do vampiro, a sexy Yayoi
Matsunaga; uma agente cujos contatos na polícia encobrem as investigações vampirescas – e nada usuais! – da dupla. Yayoi possui uma
estranha imunidade: embora diariamente mordida, ela própria não se
transforma em vampiro. O fato é um mistério para ela, que tem antigas memórias relativas aos Breeds. Talvez essa imunidade – e a curiosidade acerca do passado – a faça ajudar Shido.
A dupla dispõe de mais duas companhias. Riho Yamazaki é
uma colegial cujos pais foram mortos pelos Breeds. Além desse fato,
ela é apaixonada por Shido. Tanto fez que conseguiu a amizade desse
Night Walker: O Andarilho da Noite
189
e de Yayoi, e por causa disso freqüenta o “escritório” dos detetives,
auxiliando-os nas tarefas diárias. Na verdade, ela vive a dar pitacos
nas investigações do vampiro. No início da série, Riho nem desconfia
da real identidade de Shido, contudo, essa realidade mudará completamente durante os episódios e o passado dela se revelará por completo. O complemento do time é uma espécie de fada-demônio (ou
o que quer que seja!): Guni. De vez em quando o ser aparece sobre
os ombros de Shido e palpita acerca de todos os assuntos. É, amigos,
não tem jeito: todo animê precisa de um bichinho...
O Matador de Breeds
A temática de Night Walker, conforme citado, é adulta. Não
se trata apenas de mais uma produção sobre vampiros, mas de uma
série cujo conteúdo é, de certa forma, diferente. Assim como os enredos de Além da Imaginação, os desfechos das aventuras de Shido
nem sempre acontecem da forma esperada pelo telespectador. Ao
assistir Night Walker, você não deve tirar conclusões precipitadas,
isso sim!
O lado sombrio do ser humano, que chega até mesmo a surpreender Shido durante as investigações, é posto em cheque-mate.
Como num episódio em que uma família falida planeja o assassinato
do avô doente – recém operado do coração – para herdar a enorme fortuna do “velhote”. Ou
como no episódio em que a
mãe perde o filho, cujo corpo é posteriormente possuído por um Breed, mas que
prefere mantê-lo em casa
“assim mesmo” (alimentando-o com o próprio sangue)
porque não suporta a dor
da perda. Acreditem: as coisas nunca acabam bem em
Night Walker.
190
O Redator d’A Arca Perdida
Shido, “trajado” dos inseparáveis óculos escuros, fareja os Breeds facilmente. Ele descobre os casos esquisitos, investiga-os e mata
os demônios pessoalmente. Utiliza sangue como arma: cria espadas,
facas, chicotes; tudo com o próprio sangue o qual é moldado ao bel
prazer. Basta uma mordidela no dedo para as armas aparecerem! Só
descansará se eliminar a raça Breed da face da Terra. Um detalhe importante: Cain, de tempos em tempos tenta levar Shido de volta para
o ermo, para os vampiros legítimos. Tudo em vão... Combates entre
os dois, bem violentos, acontecem! Fiquem atentos!
Night Walker é uma mini-série de 12 (originalmente 4) capítulos, produzida pelo estúdio AIC em 1999. Os capítulos, de 25 minutos de duração, são divididos em “noites”: a cada episódio avança-se
uma. O visual e a animação são muito bons, e a trilha sonora instrumental, a cargo de Akifumi Tada, é compatível com o enredo, bem
bacana mesmo. Destaque, também, para os temas de abertura e de
encerramento, ambos cantados.
A série está sendo exibida diariamente (de segundas às
sextas) pelo canal Locomotion, às 22:30 horas. Embora legendada,
ponto negativo para o canal: as legendas em Português são dispostas sobre as legendas em Espanhol, o que dificulta um pouco a leitura
em algumas situações. Outro ponto negativo: a tradução foi feita a
partir do Espanhol e percebem-se problemas dos mais variados tipos, como ausências de palavras e frases sem sentido.
Assista aos episódios de Night Walker e descubra o lado sombrio do Homem. Ou melhor, constate que não somos tão diferentes
assim de Nosferatu.
Por onde andam estes sujeitos?
Parte I
atores mirins e adolescentes:
eles brilharam durante os anos 80!
Em 1985, era batata: bastaria ligar seu televisor em qualquer
horário e você veria um dos atores abaixo desfilarem na telinha. Hoje,
vinte anos depois, a pergunta que não quer calar é: cadê os caras?????
Acompanhe-nos n´A Arca e descubra que fim levou cada um deles!
Ralph Macchio, o “eterno” Karatê Kid
O ítalo-americano nascido em Nova York – em 1961 – representou Daniel LaRusso nos três primeiros filmes da série cinematográfica
Karatê Kid: em 1984, 1986 e 1989, respectivamente. Também atuou em sucessos como Vidas sem Rumo (1983) e A Encruzilhada (1986).
O início da carreira, contudo, foi bem antes dos
filmes: na época em que Ralph participou de
comerciais de tevê e fez pequenas pontas em
seriados. Infelizmente, por causa da aparência
sempre juvenil, papéis importantes e de peso
nunca mais lhe foram oferecidos após os anos
oitenta. Nos anos noventa, participou de poucos
filmes, dos quais citamos Nu em Nova York – de
1992 (no qual contracenou com Eric Stoltz).
Atualmente está casado – desde 1987 – e tem dois filhos: Julia
e Daniel. Além da atuação, recentemente arriscou-se na direção e no
roteiro do filme Love Thy Brother (2002). Ralph, de fato, vem tentando
192
O Redator d’A Arca Perdida
retomar o sucesso “perdido” há mais de dez anos. A última produção
da qual participou, A Cold Day in August, data de 2003. Hoje está com
41 anos de idade.
Curiosidade: apesar de ter interpretado o menino Daniel LaRusso em Katarê Kid (1984), Ralph Macchio já tinha 23 anos de idade
naquela época.
Curiosidade II: ele recebeu uma indicação ao prêmio Framboesa de Ouro, na categoria de Pior Ator, pelo papel em “Karatê Kid
III” (1989).
Barret Oliver: A História Sem Fim
O talentoso Barret Oliver nasceu em 1973 na Califórnia. Atuou
em filmes marcantes como A História Sem Fim (1984), D.A.R.Y.L. (1985),
Cocoon (1985) e Cocoon II (1988). Além das atuações, participou de
diversos comerciais de tevê – VISA, McDonald´s, etc. – e dublou.
Curiosidade: alguns sites sensacionalistas afirmam que Barret consumia drogas e que
assassinou os pais durante um ataque de histeria. É papo furado!
Curiosidade II: o ator sempre gostou
de trabalhar com as mãos e de produzir peças
manufaturadas. Ele ajudou a montar peças de
uma exposição sobre o naufrágio do Titanic.
Curiosidade III: Barret apareceu no episódio-piloto da série “A Super Máquina” (1982).
Por onde andam estes sujeitos? Parte I
193
Henry Thomas: El-li-oTt!!!!!!!!!
Não tem jeito! Ele ficou marcado por causa do personagem
que interpretou no filme E.T., O Extraterrestre (1982). Henry Thomas
é Elliot e Elliot é Henry Thomas. Ponto final! Isso já aconteceu tantas
vezes, não é? Leonard Nimoy é Spock, David Carradine é Kwai Chang
Caine, e assim por diante. Elliot, de fato, influenciará Henry Thomas
para o resto da vida.
Ele nasceu no Texas em 1971 e desde cedo quis atuar. Encheu tanto os pais
que esses o levaram à audição para um papel no filme Raggedy Man (1981). Desnecessário dizer que ganhou o papel. Mas foi
em 1982 que Henry consagrou-se devido
à interpretação do amigo humano de E.T.:
Elliot. Spielberg, diz a lenda, ficou tão impressionado com o desempenho de Henry
na audição que o contratou imediatamente. Após o sucesso de E.T., Henry atuou – ao
lado do ótimo Dabney Coleman – no bonitinho Os Heróis Não Têm Idade (1984) e
também no obscuro – e fracassado – filme
australiano: “The Quest” (1986).
Ainda em 1985, aos 13 anos, após as filmagens de “The Quest”
decidiu-se: não queria mais atuar, mas viver uma vida “normal” como
a de qualquer criança. Houve, então, um hiato na carreira do ator.
Somente no final dos anos oitenta, Henry arrependeu-se da decisão
tomada e quis voltar atrás. Infelizmente, já havia crescido e o “apelo”
infantil não mais existia. Henry Thomas era assombrado por Elliot.
No início dos anos noventa, alguns papéis lhe foram oferecidos, mas sempre em filmes obscuros de baixo orçamento ou em
produções cuja presença física do ator era meramente “acidental”. Ele
viveu o jovem Norman Bates em Psicose IV (1990) e foi um dos coadjuvantes de Fogo no Céu (1993). Em 1994 recebeu um papel bom: o
de irmão mais novo do personagem principal em Lendas da Paixão
(1994). A crítica gostou e paulatinamente o ator passou a aparecer
194
O Redator d’A Arca Perdida
em telefilmes (Moby Dick, de 1998, é um dos exemplos). Recentemente teve um papel no aclamado Gangues de Nova York (2002) e
neste momento está participando de dois filmes em produção: Honey Baby e 11:14. Assim como os colegas já citados, Henry Thomas
novamente busca seu lugar ao Sol no estrelato.
Hoje em dia ele mora num rancho próprio em San Antonio,
Texas, próximo à casa dos pais e está casado. Henry parece ser um
cara solitário e quieto. Está com 31 anos de idade e estuda Filosofia
na Faculdade Texas’ Blinn Jr.
Curiosidade: em 2002, durante a comemoração dos 20 anos
de E.T., Henry Thomas deu diversas entrevistas e participou das festividades ao lado dos outros atores do filme. Ele foi aplaudido de pé
durante a cerimônia (vide os extras do DVD de E.T.).
Curiosidade II: o ator toca guitarra, canta e já teve uma banda de folk-rock. Assim como Corey Feldman, também é músico, mas
apenas nas horas vagas.
Curiosidade III: ele ganhou o prêmio Globo de Ouro, em 1983,
na categoria estreante do ano em longa-metragem pela atuação no
filme E.T.
Curiosidade IV: ele ganhou o prêmio Globo de Ouro, em 1996,
na categoria melhor ator coadjuvante em uma série, mini-série ou
filme para TV pela atuação em Indictment: The McMartin Trial.
Corey Feldman: o “Boca”
Corey nasceu na Califórnia em 1971. Foi um dos astros mirins
mais requisitados de seu tempo e iniciou-se no meio artístico aos 3
anos de idade, num comercial do McDonald´s. Atuou em diversos
filmes marcantes, tais como: Gremlins (1984), Os Goonies (1985),
Conta Comigo (1986), Os Garotos Perdidos (1987) e Sem Licença para
Dirigir (1988). De fato, ele é sempre lembrado por causa do personagem “Boca”: o maluquinho que vivia se penteando em Os Goonies.
Por onde andam estes sujeitos? Parte I
195
No inicio dos anos noventa, Corey Feldman foi preso por
porte ilegal de drogas e internado. A infância difícil ao lado do pai
violento e a diminuição da procura dele pela mídia (o interesse por
Corey diminuía), dentre outras coisas, o levaram ao consumo de drogas. Felizmente, conseguiu se recuperar depois de uma dura fase de
autofrustração.
O ator vem tentando voltar ao mundo de Hollywood e tem
novamente aparecido em alguns filmes desde meados dos anos noventa. Vodoo (1995) é um dos exemplos. Corey também andou fazendo dublagens e emprestou a própria voz ao personagem Donatello,
das Tartarugas Ninjas, no primeiro e no segundo filme da série.
Atualmente está casado pela segunda vez e tornou-se vegetariano. Há alguns projetos engatilhados à espera dele e logo voltará
a atuar. Hoje está com 31 anos.
Curiosidade: atuou ao lado de
Corey Haim por 7 vezes, tendo dirigido o
amigo no filme Busted (1996).
Curiosidade II: o ator também
é compositor e fascinado por música,
tanto que tem uma banda e já lançou
alguns discos.
Curiosidade III: a atuação no
filme Os Garotos Perdidos rendeu ao
ator uma indicação ao prêmio Youth In
Film de 1987.
Corey Haim: Inocência?
Corey Haim nasceu em Toronto, Canadá, em 1971 e apareceu pela primeira vez num programa de tevê - The Edison Twins - em
1981. Em 1984, estrelou o filme First Born e logo passou a atuar em
diversas produções da época: Admiradora Secreta (1985), A Hora do
Lobisomem (1985), A Inocência do Primeiro Amor (1986), Os Garotos
196
O Redator d’A Arca Perdida
Perdidos (1987) e Sem Licença para Dirigir (1988). O olhar triste e o
sorriso de cachorrinho solitário eram a marca registrada dele.
Assim como a droga dominou o amigo Corey Feldman, Corey
Haim viciou-se em cocaína, foi detido e internado. Foi preso por comportamento hostil e violento, também. Durante os anos noventa participou de produções meio obscuras e sempre em papéis de pouca
importância em telefilmes. Foi, por outro lado, produtor executivo de
dois filmes: Demolition High (1996) e Demolition University (1997).
Atuou em algumas séries de tevê como convidado: Psi Factor (1996)
é um dos exemplos.
Ele vem tentando desvencilhar-se da imagem de menininholindo-da-mamãe, bem como do estigma de ex-drogado, para ganhar
papéis adultos e de peso. Últimos trabalhos: The Back Lot Murders
(2001) e o telefilme Without Malice (2000). Hoje está com 31 anos e
dedica-se à pintura.
Curiosidade: ele e Corey
Feldman trabalharam juntos em 7
produções.
Curiosidade II: na época do
vício, era conhecido como encrenqueiro.
Curiosidade III: largou a escola aos 13 anos de idade para dedicar-se apenas aos filmes.
Curiosidade IV: ele sonha
em concorrer ao Oscar.
Por onde andam estes sujeitos?
Parte II
Oba!!! Demorou, mas apareceu!!!
Caros leitores, há certo tempo escrevi um artigo sobre a atual
condição de alguns dos astros dos anos oitenta, especialmente os
mirins. O povo pediu e eis o novo artigo a respeito do tema, a continuação tão aguardada da primeira parte.
Neste artigo teremos, também, informações sobre algumas
garotas e, portanto, preparem-se para matar a curiosidade!
Amanda Peterson:
a namoradinha de alUguel
Nascida no Colorado em julho de
1971, Amanda Peterson estreou cedo no
meio cinematográfico ao atuar no filme
Annie, de 1982, dirigido por John Houston.
Em 1985 participou do super bacaninha
Viagem Ao Mundo Dos Sonhos, no qual
contracenou com o falecido River Phoenix
e com Ethan Hawke. De fato, é difícil resistir ao sorrisinho lindo dela, bem de criança,
visto naquele filme.
Já adolescente, representou, ao lado de Patrick Dempsey, a
jovem Cindy Mancini no famoso Namorada De Aluguel, de 1987.
Eu garanto: todos que estiverem na casa dos 25 ou dos 30 anos
198
O Redator d’A Arca Perdida
apaixonaram-se por ela quando assistiram ao filme em questão
pela primeira vez. Esse, acreditem em mim, foi um dos filmes mais
reprisados de todos os tempos durante a Sessão da Tarde.
Assim como aconteceu com Ralph Macchio e com Corey Feldman, ela fez pouquíssimas aparições durante o final dos anos oitenta e o início dos anos noventa. Naquela época participou de alguns telefilmes e de poucos seriados de tevê: Tal Pai, Tal Filho (1989),
Love and Betrayal (1989) e Encanto Fatal (1990). A última atuação de
Amanda, de que se tem notícia, aconteceu no filme O Vencedor, uma
produção de 1995.
Atualmente, aos 32 anos, está casada e tem dois filhos, Jonathan e Katie. Dentre os hobbies da ex-atriz está a paixão por eqüinos.
Jennifer Grey, a irmã do Ferris Bueller
Jennifer Grey, a garota de sorriso provocante e irmã de Ferris
Bueller em Curtindo A Vida Adoidado, nasceu em março de 1960, em
Nova Iorque. Filha do ator e dançarino Joel Grey, Jennifer estudou
teatro no lendário Neighborhood Playhouse sob os cuidados do também famoso professor Sanford Meisner. No início da carreira, princípio dos anos oitenta, ela atuou como coadjuvante nos filmes Jovens
Sem Rumo (1984), Cotton Club (1984) e Amanhecer Violento (1984).
A atriz começou a própria projeção ao interpretar Jeanie
em Curtindo A Vida Adoidado
(1986), no qual contracenou
com Matthew Broderick e com
Charlie Sheen. Curiosamente,
Jennifer foi noiva de Broderick por um tempo. O sucesso
somente veio com o famoso
Dirty Dancing (1987), quando
ela representou a bela Baby
Houseman ao lado de Patrick Swayze. O lindo rosto de
Por onde andam estes sujeitos? Parte II
199
menina, o corpo bonito e o dom de dançar de Jenny caíram no gosto
do espectador. De fato, é um dos filmes oitentianos mais lembrados
pelos adultos de hoje.
Infelizmente, Jenny não soube aproveitar o boom iniciado a partir daquele filme e parece não ter levado a sério a carreira.
Após o ano de 1987, passou a atuar em poucos telefilmes e de forma
não continuada. Apareceu como convidada, também, em algumas
séries de tevê, tais como Friends (1994). Em 1999 ganhou um seriado
– que chegou a ser exibido no Brasil - no qual interpretou a si mesma:
É Como... Você Sabe. De gosto duvidoso e repleto de piadas somente
compreendias por americanos, o programa durou apenas uma temporada e logo foi cancelado.
Apesar de ter noivado com Matthew Broderick e com Johnny
Depp, a atriz somente veio a casar-se em 2001 com o ator Clark Gregg
(que fez uma ponta em A.I. - Inteligência Artificial). Atualmente está
com 43 anos e tem uma filha, Stella.
Infelizmente, a carreira de atriz parece ter sido enterrada.
Jonathan Ke Quan:
o Data de Os Goonies
Ke Huy-Quan nasceu no Vietnã
em agosto de 1971, mas mudou-se para
Los Angeles por causa da violenta guerra vivida no país natal. Desde pequeno
interessou-se por artes marciais, mas também por atuar. O ator mirim ficou conhecido no ocidente, aos 13 anos de idade,
ao interpretar o garoto de Indiana Jones
e o Templo da Perdição. O sorriso dele era
irresistível, realmente!
200
O Redator d’A Arca Perdida
O próximo trabalho de Jonathan, assim batizado nos E.U.A., foi
o responsável por eternizá-lo na memória das pessoas: a interpretação do menino Richard ‘Data’ Wang - a la James Bond - em Os Goonies
(1985). O jeitinho atrapalhado e o leve sotaque do garoto encantaram
a todos. No ano seguinte, 1986, ele participou de um seriado de tevê
fracassado, Together We Stand, que durou apenas uma temporada.
O garoto crescia e, como reza a maldição de todo ator mirim
dos anos oitenta, foi paulatinamente esquecido e, portanto, não mais
escalado para trabalhar com a freqüência de antes. Durante os anos
noventa, por exemplo, atuou em apenas dois filmes: o tenebroso Kickboxer - Dragão De Fogo (1991) e o mediano O Homem da Califórnia (1992). Além deles, fez uma aparição como convidado em um
episódio do seriado Plantão Médico (1994).
Em 1999 dirigiu, produziu e editou o curta-metragem Voodoo, comédia que foi muito bem recebida pela crítica em festivais de
cinema. Na mesma época, também, aproveitou o gosto pelas artes
marciais e lançou-se noutra carreira, a de dublê. Ele foi, de fato, coordenador da equipe de dublês do filme X-Men (2000), bem como
diretor-assistente de coreografia e tradutor (para os dublês chineses)
de O Confronto (2001), ao lado de Jet Li.
Jonathan, além da atuação como dublê, vem tentando retornar novamente às telas como ator. A última produção da qual participou, Second Time Around, foi rodada em 2002 na China. Ah! Ele
formou-se recentemente na University of Southern California School
of Cinema Television.
Boa sorte, Johnny!
C. Thomas Howell: vulgo CT!
Christopher Thomas Howell, filho de um dublê, nasceu em
dezembro de 1966, em Los Angeles, Califórnia. Seu debute no cinema começou em 1977, aos 11 anos de idade, no filme Aconteceu No
Natal. Apesar de levar jeito para a coisa, o garoto preferia o mundo
Por onde andam estes sujeitos? Parte II
201
dos rodeios, e chegou até a ganhar títulos em torneios mirins no início dos anos oitenta.
Em 1981, C. Thomas foi contratado como dublê para participar da famosa cena das bicicletas em E. T., o Extraterrestre. Impressionado pelo jeitão do garoto, Spielberg o fez atuar como um dos
amigos do irmão de Elliott. Em 1982, foi chamado para trabalhar em
Vidas Sem Rumo, filme do diretor Francis Ford Coppola, produção
que o lançou ao estrelato.
Após ter interpretado o durão Ponyboy Curtis no já citado filme, diversos papéis lhe foram oferecidos. Trabalhou em Amanhecer
Violento (1984), em Admiradora Secreta (1985), em A Morte Pede Carona (1986) e em Uma Escola Muito Louca (1986). Nesse último, o ator
foi maquiado de forma a parecer-se com uma pessoa da raça negra.
CT, conforme era carinhosamente chamado na década de oitenta,
participou, ainda, de algumas séries de tevê como convidado; caso
de A Gata e o Rato (1985).
Nos anos noventa, Christopher atuou em aproximadamente 40 filmes, dentre os quais: Os Reis da Praia (1990), Aquela Noite
(1993) e Renegados Pela Justiça (1997). Também participou de algumas séries de tevê, tais como V.I.P. (1998) e a nova versão de O Barco
do Amor (1998).
Outra faceta de C. Thomas Howell é o trabalho de diretor. Ele dirigiu
filmes como O Próximo Alvo (1995) e
Risco Absoluto (1996), além de ter fundado o próprio estúdio: o Buckwheat
Films. Ao contrário dos colegas de profissão de antigamente, o ator não teve
sua carreira cancelada nos anos oitenta. Desde que começou no meio cinematográfico, não parou de atuar por
todos esses anos. Infelizmente, CT está
fora do Mainstream, isto é, não atua em
grandes produções há muito tempo,
talvez devido ao rosto sempre jovem
que o estigmatizou.
Animes Famosos
O longa-metragem Cowboy Bebop está estreando nos
cinemas, bem como o DVD de A Viagem de Chihiro está
prestes a ser lançado. Mas espere um pouco, você acha
que os animes (desenhos animados japoneses) se resumem somente às produções Cavaleiros do Zodíaco,
Pokémon e Dragon Ball? Mesmo? Então, caro leitor, está
precisando descobrir as pérolas que fizeram a animação
japonesa desfrutar de uma posição de destaque no mundo.
Aproveite este especial e, portanto, descubra – ou relembre –
algumas das produções mais importantes desse gênero tão
difundido e amado mundialmente pelos Otakus.
A Princesa e o Cavaleiro
A grande obra-prima do gênio Osamu Tezuka, A Princesa e o
Cavaleiro aportou no Brasil na década de setenta, época em que foi
exibida pela extinta Tupi. Tratase das aventuras da Princesa Safiri, que, como filha do rei da Terra de Prata, precisa se disfarçar
de homem para, conforme as
tradições locais, ajudar a manter
o trono do pai. Imaginem o dia a
dia da moça, vestida de homem
e engrossando a voz! E isso não
é tudo, porque Safiri precisa
204
O Redator d’A Arca Perdida
despistar o maléfico Duque Duralumínio, interessado em tornar o
seu filho, Príncipe Plástico, em herdeiro do reino. O traço marcante
de Tezuka, mestre que foi, deu o tom a essa ingênua aventura que
no final de cada episódio tráz uma lição de vida, de moral e de bons
costumes. Toda criança torcia pela princesa, que ganhou novos fãs
no início dos anos oitenta, ocasião em que o anime foi exibido pela
Record. Quantas saudades dessa poesia em forma de desenho!
Patrulha Estelar
Talvez a maior saga espacial em desenho animado, Patrulha
Estelar (Uchuu Senkan Yamato) apareceu originalmente em 1974 no
Japão e mostrou a estória de um grupo de jovens dispostos a salvar a
Terra do Império Gamilon. A nave? Um velho encouraçado japonês, o
Yamato, afundado na Segunda Guerra Mundial e remodelado como
nave espacial de combate. Fantasia? Pode até ser, mas ninguém liga,
porque esse anime - nascido
da parceria entre Reiji Matsumoto e Yoshinobu Nishizaki - é
pura poesia. No Brasil, estreou
juntamente com a extinta
Rede Manchete, no início dos
anos oitenta; emissora que
trouxe somente duas das três
sagas originais do desenho.
Saudades do capitão Derek
Wildstar e dos tripulantes da
Argo - em combates espaciais
que misturavam o estilo da Segunda Guerra Mundial às batalhas a la Guerra nas Estrelas.
Destaque para a monumental
trilha sonora composta por Hiroshi Myiagawa.
Animes Famosos
205
Sawamu: o Demolidor
Um ano após a misteriosa morte de Bruce Lee, 1974, estreou
no Japão um anime de luta que ficou super famoso no Brasil: Sawamu (lê-se Savamú). O enredo traz o personagem título, um convencido lutador de Karatê que conhece uma nova arte marcial, o Chute
Boxe (Boxe Tailandês), e que com alguma relutância passa a praticá-la.
Destemido e ambicioso, desenvolve o famoso golpe Salto no Vácuo
com Joelhada e, então, busca o campeonato mundial, tendo como
maior rival o oponente tailandês Ponshai Geriakan. A
música tema, cantarolada à
exaustão pelos moleques,
era algo ímpar: “Quem se
julgar da natureza o rei / o
dono e senhor das tempestades...”. Esse anime foi uma
das manias no início dos
anos oitenta!
Macross / Robotech
Série espacial que
marcou época, Macross (ou
Robotech, conforme conhecida nos Estados Unidos) tem
um enredo bem incomum:
uma poderosa nave espacial
alienígena cai misteriosamente na Terra e é estudada
pelos cientistas, até que esses
dominam a tecnologia extraterrestre e aprendem a controlá-la. A gigantesca nave,
206
O Redator d’A Arca Perdida
batizada de SDF-1 Macross, também continha armas especiais, como
caças que viram robôs: os Valkyries. O grande problema? A Macross
pertence a uma raça de alienígenas humanóides gigantes, os Zentraadys, os quais, na busca pela carga perdida, acham nosso planeta e
pretendem dominá-lo à força. Somente o comandante Henry Gloval
e seus asseclas são capazes de detê-los. Animação e trilha sonora excelentes compõem o clima bacana desse anime.
Zillion
Esse clássico anime,
que deixou saudade, foi exibido pela Rede Globo em 1987,
na mesma época em que a
emissora transmitiu os saudosos Transformers e Comandos
em Ação. Maris, uma colônia
humana, guerreava contra
uma raça alienígena incomum,
os Noza, que pretendiam dominar aquele mundo para
utilizá-lo como uma enorme
estufa, a fim de que a próxima
geração de seres estivesse garantida - os ovos seriam postos
no planeta. Tecnologicamente
imbatíveis, os Noza somente podiam ser detidos por três pistolas
misteriosas, batizadas de Zillion, que surgiram miraculosamente e foram parar nas mãos dos mais famosos atiradores de Maris: a equipe
White Knight. De fato, personagens como J. J., Champ e Apple ficarão
para sempre nos corações dos fãs de anime. As cenas de ação, especialmente as que envolviam as motos da turma e os tiroteios, eram
espetaculares. Curiosidade: a Tec Toy chegou a lançar os brinquedos
do desenho no Brasil.
Animes Famosos
207
Akira
Essa criação de Katsuhiro Otomo, lançada em 1988, foi um
marco na animação, sem dúvida nenhuma. Violenta, ousada e impressionante, a trama, futurista, é sobre
Kaneda, líder de uma gangue de
motoqueiros, e seu amigo, Tetsuo,
que se envolve num projeto governamental suspeito conhecido como
Akira. Ambos os amigos, o primeiro
em auxílio ao segundo, acabam se
deparando com uma torpe de criminosos, de militares revoltados e de
renegados políticos, dando aquela
idéia de conspiração à coisa toda.
Ganhador do prêmio Silver Scream
Award de 1992, Akira é o tipo de
produção que transcendeu o universo do anime. Fantástico.
Ghost in the Shell
Em 2029, num futuro caótico, tecnológico e cibernético, um
perigoso software, o The Puppet Master, foge ao controle do criador
e inicia crimes dentro da rede eletrônica de computadores, sistema
utilizado pela grande maioria da população do mundo. Cabe a um
grupo especial, o Section 9 sob o comando da major Motoko Kusanagi, a tarefa de deter os novos criminosos. Esse denso anime de 1995,
criado por Masamune Shirow, inspirou diversas produções cyberpunk
da atualidade, tendo em The Matrix um dos exemplos mais claros. A
arte, a animação e os efeitos em CG são um show à parte. Imperdível.
208
O Redator d’A Arca Perdida
Neon Gênesis Evangelion
Eis uma idéia muito original, espetacular. A Terra é atacada por
criaturas superpoderosas conhecidas como Anjos, virtualmente indestrutíveis. A única forma de detê-los são meca-organismos (espécie
de robôs orgânicos gigantes), os EVAs, criados por cientistas e pilotados por crianças – especiais – de catorze anos de idade, que dispõe
de códigos genéticos
semelhantes aos das
criaturas. Recheado de
combates espetaculares e com uma trama
para lá de Arquivo-X,
Evangelion é um dos
melhores
exemplos
de anime para adultos.
Quem são os Anjos?
Por que atacam a Terra? Assista à criação
de Hideaki Anno e tire
suas conclusões.
Ranma ½
A criação de Rumiko Takahashi é um dos animes mais engraçados já vistos até hoje. Akane Tendo é uma colegial que foi prometida pelo pai a um jovem praticante de artes marciais, Ranma Saotome. Até aí, tudo bem. As esquisitices começam quando o jovem,
ao ser molhado com água fria, transforma-se numa garota. Ah, quer
mais esquisitices? O pai de Ranma, Genma, também se transforma
quando molhado, mas num urso panda. Situações hilárias – quando
em forma de garota, Ranma é paquerado insistentemente por um
garoto – e imprevisíveis fazem desse anime algo ímpar no gênero.
Vale a pena!
Kung Fu: Uma Lenda da TV
Introdução
No início da década de setenta o Ocidente começara a alimentar-se de uma onda de curiosidade desperta a partir de meados da
década antecessora. Através dessa tal onda, o homem - “civilizado” do Ocidente passou a desejar os conhecimentos e as maneiras oriundos da Ásia, especialmente os relacionados às crenças espirituais, aos
costumes e às artes marciais. Esse fato se revelou, sobremaneira, na
moda e na música daqueles tempos; ambos tão bem representados
pelos Hippies.
No turbilhão cultural do princípio dos “Seventies”, uma série
de TV surgira a tempo de ser “digerida” pelos anseios emergentes. No
início da abertura desse seriado, via-se um homem magro e alto caminhar – ao nascer de um novo dia - cabisbaixo sobre dunas, deixando seus passos impressos na areia ao mesmo tempo em que se ouvia uma triste e típica música chinesa. Um homem perseguido pelo
passado e temeroso do futuro, preso numa terra inóspita na qual era
desconsiderado como ser humano e na qual palavras como “honra” e
“sabedoria” pouco significavam.
Era a série “Kung Fu”, tomada pelos profissionais do meio
como o primeiro “Eastern Western” (“Velho Oeste Oriental”) da história da TV.
A origem da série – A Pureza
Kung Fu é, numa análise superficial, o conto do órfão que virou
mestre das artes marciais; e, numa visão minimalista, é a história do
homem que virou mestre de si próprio, senhor de sua consciência.
210
O Redator d’A Arca Perdida
Kwai Chang Caine é um mestiço
nascido na China, filho de pai americano
e de mãe chinesa. O menino, por não ter
aonde ir ou onde se estabelecer, acabou
por bater aos portões do Templo Shaolin.
Embora mestiço, foi aceito pelo grande
mentor daquele templo, Mestre Kan (interpretado pelo falecido Philip Ahn), o
qual ignorou a premissa Shaolin – de que
apenas chineses legítimos são admitidos
- por ter sentido algo “especial” pelo pobre garoto solitário.
Como parte da abertura da série, a nós é mostrada uma cena
em flashback, representante de um dos primeiros momentos do jovem Caine no referido templo. Mestre Kan, suportando uma pequena pedra sobre a palma da mão aberta, diz ao garoto: “- Tão rápido
quanto puder, arrebata a pedra de minha mão”. Obviamente, Caine
efetuou tentativa frustrada, pois o velho Chinês cerrou a mão tão rapidamente quanto um piscar de olhos. O mestre, então, explicou ao
garoto a forma através da qual deixaria o templo: se Caine conseguisse arrebatar a pedra, estaria apto a partir.
Caine, de fato, lá permaneceu por anos, até ter se tornado um
adulto. Durante o tempo decorrido no templo, aprendeu todos os segredos e técnicas do Kung Fu, como por exemplo, os estilos “animais”
representantes das respectivas disciplinas: autocontrole, suavidade,
velocidade, paciência, graça, dentre outras. Aprendeu a cuidadosamente caminhar sobre folhas feitas de arroz, dotado de tamanha
suavidade capaz de não amassá-las e de não produzir ruídos. A lição
essencial dentre todas, entretanto, foi a de controlar a “força interior”;
algo batizado pelos chineses de Chi.
Caine cresceu ao lado de outro grande professor, Mestre Pô
(interpretado pelo falecido Keye Luke), a quem admirou muito e por
quem nutriu amor e carinho. Esse mestre, aliás, foi o responsável pelo
apelido dado ao menino: Gafanhoto. Mestre Pô era cego. O fato aguçou a curiosidade do infante, que, por ter sentido pena de seu tutor
(na constatação da cegueira) disparou um dos diálogos mais bonitos
da série:
Kung Fu: Uma Lenda da TV
211
Mestre Pô: Feche seus olhos. O que ouve?
Jovem Caine: Ouço o som da água. Ouço um pássaro.
Mestre Pô: Ouve o tilintar de seu próprio coração?
Jovem Caine: Não...
Mestre Pô: Ouve o gafanhoto que está aos seus pés?
Jovem Caine (de olhos abertos e remetidos ao chão): Velho,
como consegue ouvir essas coisas?
Mestre Pô: Meu Jovem, como não consegue ouvi-las?
A partir desse momento, Caine passou a ser “Gafanhoto”.
O momento chegou, finalmente,
e Caine foi capaz de arrebatar a pedra da
mão de Mestre Kan. Antes de partir, contudo, devia receber a “graça” por ter atingido
o status de Mestre Shaolin. A isso visando,
Caine precisaria - num ritual de passagem
- caminhar por um longo corredor repleto
de perigos ao final do qual jazia um caldeirão cheio de carvões em brasa. Às laterais
do artefato havia as figuras de um tigre e
de um dragão. Aos olhos de todos os mestres com os quais Caine estudou, precisaria
erguer o referido caldeirão, segurando-o
com os braços e punhos. Passados alguns
segundos, precisaria colocá-lo de volta.
A cerimônia foi favoravelmente realizada. Ao executar o procedimento acima descrito, Caine recebeu em seus braços, involuntariamente, as marcas do dragão e do tigre; “impressas” pelo calor do
caldeirão à pele do Shaolin. Caine deixara de ser o aprendiz que fora
durante anos. A partir daquele momento já era mestre.
212
O Redator d’A Arca Perdida
A origem da série – O “Pecado”
Alguns anos após a saída do templo, Caine encontrou-se,
por acaso, com seu antigo mestre Pô num lugar próximo ao “Templo
do Paraíso”, na Cidade Proibida. Na época em que Caine aprendia,
Mestre Pô confessou a ele a ambição de comparecer num determinado festival a ser realizado naquela cidade. A confissão se deu em
caráter privativo, mesmo porque um mestre não poderia ter ambições daquele tipo; era algo proibido aos Shaolins. Pô, nesse encontro
casual, confirmou a ida ao tal festival. Tencionando rever novamente seu querido mestre, Caine foi ao local da festividade. De fato, se
encontraram e muito conversaram durante um passeio. No mesmo
encontro, porém, se depararam com a “comitiva” na qual se integrava o arrogante sobrinho do Imperador da China. Após provocações
oriundas desse e uma séria altercação, o membro da família real sacou de uma pistola e disparou em Mestre Pô, o deixando à beira da
morte. Caine, instintivamente, jogou uma lança no jovem imperador,
matando-o instantaneamente.
O Shaolin, desesperado com a morte iminente de seu grande
mentor (e, por que não, pai?), o pegou no colo e a ele suplicou perdão
pelo assassinato cometido. Caine fora contra todos os ensinamentos
prestados a ele, a partir do momento em que matou o sobrinho do
Imperador. Mestre Pô, prestes a falecer, deu perdão ao favorito aprendiz e amigo, mas a ele também deu
um aviso: precisaria deixar a China,
pois o matariam – certamente - devido ao assassinato recém-cometido. A
cabeça do Shaolin estaria “a prêmio”.
Mestre Pô faleceu, mas, antes entregou a Caine uma “mochila” que continha os únicos pertences dos quais
dispôs em vida.
Cheio de ódio no coração,
envergonhado e aterrorizado, o jovem Shaolin decidiu seguir o último
conselho do mestre. Partiu para o
país de origem do falecido pai: os
Kung Fu: Uma Lenda da TV
213
Estados Unidos. Lá chegou no comumente conhecido “Velho Oeste”.
Ele se esconderia na imensidão daquele país, no qual dificilmente seria encontrado ou reconhecido.
A origem da série – Os Plots
As bases da série estavam prontas. Caine, o “estranho no ninho”, seria “mais um chinês” na América. Precisaria lidar com o fato
de, eventualmente, ser caçado por causa da acusação de assassinato
na China, uma vez que sua cabeça estava “a prêmio”: 10 mil dólares
seriam pagos pela captura do Shaolin, se vivo. Tanto caçadores de
recompensas chineses quanto americanos o perseguiriam; afinal, o
prêmio era alto. Precisaria, também, se deparar com o racismo desmedido dos americanos (devido às diferenças sócio-culturais e à ignorância), pois nos EU os chineses eram explorados como mão-deobra “quase” escrava.
Nos primeiros episódios da série, os criadores de Kung Fu
adicionaram um fator novo à história: Caine - supostamente - teria
um meio-irmão mais jovem, Danny, que também estaria nos Estados
Unidos. Além do plot básico citado, o Shaolin desejava encontrar-se
com esse irmão, mesmo não tendo quase informações acerca dele.
Danny, por conseguinte, seria o único parente dele, vivo e “de sangue”; Caine não tinha mais ninguém na vida.
Na visão minimalista, a busca de Kwai Chang Caine era de foro
íntimo, era a busca a si mesmo. Percebera a “burrada” feita na China.
Conforme os ensinamentos por ele recebidos, nada justificaria o assassinato de um ser vivo, ainda que esse fosse mundano; mesmo porque os Shaolins são ensinados a não julgar as pessoas. Caine, durante
todos os dias póstumos ao assassinato, permaneceu questionando
consigo mesmo sobre ter causado a morte do sobrinho do imperador;
se essa foi a atitude correta a ser tomada. Um questionamento reforçado pelo fato do sobrinho ter sido muito jovem em vida, e, portanto,
inexperiente e destituído de “maldade” ou “má intenção” verdadeiras.
O Shaolin percebeu a faceta de ser ele falho também, assim como o
214
O Redator d’A Arca Perdida
era seu Mestre Pô (por ter desejado participar do festival proibido);
afinal, ambos eram seres humanos. Talvez, a inserção do plot referente à busca ao meio-irmão tenha sido criada devido à dificuldade de
transposição à tela da TV da real busca interior de Caine.
Em cada episódio, Caine, além de procurar se esquecer do assassinato ocorrido na China e de buscar a seu irmão perdido, sempre
acabava se envolvendo com os problemas de terceiros. Ao se deparar com as injustiças do Velho Oeste (foram inúmeras, creiam-me!),
tentava auxiliar as pessoas na resolução dos problemas e em seus
infortúnios, e, para tanto, punha em prática seus conhecimentos de
Mestre Shaolin; fosse através da sabedoria ou do combate físico.
Um dos fatores mais belos da série é: Caine fazia “de tudo”
para postergar qualquer tipo de violência. Só colocava “em prática” o
Kung Fu em último caso, em última instância.
Os flashbacks são outra parte importante da série. Eles serviam para ilustrar as situações enfrentadas por Caine no dia-a-dia de
sua vida nos Estados Unidos. Nos flashbacks são mostradas ao público
as cenas de Caine no Templo Shaolin, ainda aprendiz, junto aos seus
mestres. A lembrança de um ensinamento é diretamente proporcional à situação enfrentada por ele
“na vida real”, em determinado episódio. Na minha sincera opinião,
os flashbacks são uma das coisas
mais bonitas de Kung Fu, pois através deles os criadores da série pretenderam atingir os corações e as
mentes dos telespectadores com
a beleza da Sabedoria Oriental.
São os momentos mágicos da real
“ação” de Caine sobre as pessoas
localizadas do “outro lado da tela”.
Kung Fu: Uma Lenda da TV
215
As mensagens de Kung Fu
A magia da série Kung Fu, na minha opinião, não repousa
nas belas cenas de luta ou nos combates. Está nas lindas mensagens
da Filosofia Oriental, as quais são paulatinamente mostradas no decorrer da série. Isso acontece por meio das atitudes de Caine frente
aos inúmeros problemas enfrentados, e, especialmente, através dos
flashbacks nos quais o jovem aspirante a Shaolin recebe as lições e os
ensinamentos de seus mestres: Kan e Pô.
Afirmo: o enredo de Kung Fu, embora soe como um contrasenso - devido ao próprio título da série - incita à não-violência. Ao
invés disso, mostra aos telespectadores quão bela pode ser a vida
se formos compreensivos, se dermos amor ao próximo ao invés de
molestá-lo ou de invejá-lo, se pararmos de julgar as pessoas pelas
aparências, se aceitarmos as diferenças e se aceitarmos as pessoas da
forma como elas são e agem.
As histórias dos episódios revelam o amor triunfando sobre
o ódio, o “bem vencendo o mal”. É como foi dito por mim: embora o
nome da série nos remeta à arte marcial, durante os episódios constatamos apenas alguns “segundos” de luta; a violência é evitada ao
máximo, ao passo que a percepção de mundo – moldada pelos ensinamentos Shaolins - do personagem principal é exaltada.
Caine, na realidade, não busca ao seu irmão e nem foge de
seus caçadores, mas se encontra na busca a si próprio. Ele busca a
si mesmo. Todos nós buscamos a nós mesmos desde o momento
em que nascemos. A cena de abertura da série é perfeita se tomada como ilustração: Caine anda sobre as dunas de areia, sem rumo;
apenas caminha... Aonde chegará? Ele não sabe! Nem nós sabemos,
com certeza, aonde iremos... É a eterna busca do ser humano ao autoconhecimento, ao domínio das próprias faculdades e das próprias
idéias. A busca à capacidade de “ser um com o mundo”.
Na vida fazemos isso. Caminhamos ao lado de nossos problemas, de nossos medos, de nossas decepções, ou seja, andamos sobre
nossas próprias dunas de areia. E, como Kwai Chang Caine, deixamos
os rastros de nossas pegadas. Se esses rastros perdurarão ou não, só
depende de nós.
216
O Redator d’A Arca Perdida
A criação de “Kung Fu”
Ed Spielman: esse foi um dos homens responsáveis por “Kung
Fu”. Adorador dos filmes do diretor japonês Akira Kurosawa, bem
como do cinema asiático, Spielman também amava as artes marciais.
No tempo em que esteve no Brooklyn College e estudou produção
de TV e de Rádio, Ed amigou-se com um instrutor dessas artes. Certa
vez, tal amigo disse a ele que a esposa poderia nocauteá-lo, apenas
valendo-se de um ou de dois dedos para tanto. Intrigado por aquela informação, Spielman questionou com ele; perguntou o nome da
arte praticada pela companheira. Kung Fu foi a resposta.
A partir daquele momento Spielman principiou os estudos
do tal Kung Fu e do idioma Chinês, mesmo sabendo não possuir prática imediata àquilo. Além dos estudos já citados, procurou trabalhar
como escritor humorístico juntamente ao seu caro amigo Howard
Friedlander. Porém, logo descobriria sua real vocação, pois essa não
repousava no mundo do humor.
Em longas conversas, Spielman contou a Howard lendas acerca da China e das artes marciais. Tendo por base essas lendas, escreveu uma pequena história na qual certo viajante se encontrava com
um Monje Shaolin na China. Howard tanto adorou a história que logo
uma idéia “brotou” no cérebro do escritor: sugeriu ao amigo a criação
de outro conto no qual esse Monje fosse “transportado” para o Velho
Oeste Americano.
Spielman, agitadíssimo com o novo desafio, preparou uma
história de 75 páginas, completa. Os dois amigos, tendo essa nova
história como base, escreveram conjuntamente um roteiro de 160 páginas e uma introdução de 25. A introdução continha inúmeras informações sobre artes marciais, sobre Kung Fu e sobre filosofia oriental.
Animadíssimos por todo o processo, ambos tencionavam a
realização do maior filme americano do gênero, algo nunca antes
visto pelo público. Nesse ponto, início dos anos setenta, os amigos
não cogitavam a possibilidade da criação de uma série de TV, pois
queriam produzir um longa-metragem para o Cinema.
Após a entrega do roteiro a uma agência especializada, no
final de 1970 ele foi comprado pela Warner Bros. A Warner o com-
Kung Fu: Uma Lenda da TV
217
prou, uma vez que - dentre outros motivos – ainda pretendia utilizar
os sets de filmagem dos “Western”, pois esse gênero de filme não era
mais produzido. Infelizmente, durante o ano de 1971 a Warner cancelou o projeto porque algum “figurão” da empresa achou o roteiro
muito “violento e esotérico” para os telespectadores norte-americanos. Segundo a empresa, outro proibitivo à realização do filme era o
provável alto custo de produção. O dinheiro “move o mundo”, e, por
conseguinte, não haveria “garantias” do sucesso do filme, conforme
opinião deles.
Ao término do mesmo ano, Harvey Frand, uma
espécie de “trocador de figurinhas” entre as equipes
de TV e de Cinema da Warner, leu o roteiro de Kung
Fu e se encantou com ele.
Adorou a história e a idéia,
e achou que aquilo teria
“apelo” para a TV. Harvey,
portanto, levou o material
aos executivos da ABC-TV e os convenceu da qualidade do roteiro; afirmou: Kung Fu daria um “excelente filme do mês”. O negócio foi concretizado e, finalmente, o filme sairia do papel! Seria, contrariamente aos
desejos dos criadores, um filme feito para a TV. Na ocasião, Jerry Thorpe, diretor e produtor, procurava algo diferente em que trabalhar. Felizmente, Jerry obteve o roteiro de Kung Fu. Leu-o e um “amor à primeira
vista” o acometeu. Em conjunto ao escritor Herman Miller transformaram o roteiro original (elaborado para Cinema) num script de TV.
Em dezembro de 1971 iniciaram-se as filmagens do longametragem “Kung Fu”, um “piloto”, o qual teve 90 minutos de duração.
Após a primeira exibição, o filme foi sucesso absoluto, tanto que a
ABC providenciou a produção de outros 4 “episódios” (de 1 hora de
duração cada) e exibidos mensalmente. Terminada a exibição do primeiro desses 4 episódios, mais 15 foram encomendados - tamanho o
sucesso - e, como conseqüência disso, o “piloto” original acabou por
virar realmente uma série. Estava criada uma das lendas da história
da TV: a série “Kung Fu”.
218
O Redator d’A Arca Perdida
O seriado rendeu 3 temporadas (de 1972 a 1975), tendo contabilizado 62 episódios no total. A duração de cada programa era
de 1 hora. A série findou no dia 28 de junho de 1975, data em que
foi exibido o último episódio. Infelizmente, Carradine não mais quis
interpretar Caine, pois seu contrato havia “vencido” e não desejou
renova-lo; preferiu seguir a carreira cinematográfica.
Há rumores sobre a possível participação de Bruce Lee no
processo de elaboração da série. Supostamente, algumas idéias creditadas a Ed Spielman teriam sido oriundas de Lee. Também, como
suposição, o papel de Kwai Chang Caine a Lee teria sido prometido.
A escolha do Ator – David Carradine
Previamente ao início das filmagens, se discutia sobre a possibilidade da escolha de um ator asiático para desempenhar o papel
principal da série. Bruce Lee foi um dos nomes escolhidos rapidamente. Ele não gozava da fama pela qual é hoje reconhecido, mas
o admiravam pelo excelente trabalho feito na série “O Besouro Verde” (“The Green Hornet”), na qual interpretou o “ajudante” do herói,
“Kato”. De fato, o pessoal do estúdio e da ABC ansiava por um ator
musculoso e forte.
Por outro lado, Ed Spielman (co-criador) e Jerry Thorpe (produtor e diretor) conseguiram convencê-los da contratação do ator
David Carradine, inicialmente escolhido por
eles. Carradine pareceu
ser a escolha correta,
justamente por ter interpretado tipos similares
– introspectivos – a Kwai
Chang Caine em peças
de teatro da Broadway
(“Deputy” em 1964-1965
e “The Royal Hunt of the
Kung Fu: Uma Lenda da TV
219
Sun” em 1965-1966) e em produções de TV (“Shane” em 1966-1967).
Carradine se parecia muito com Caine em certos aspectos: possuía algum conhecimento da filosofia oriental e nutria especial paixão pelo
mistério e pelos elementos místicos da vida. Caine e Carradine eram
vegetarianos.
Apesar do desapontamento inicial dos membros da AAPAA
(uma associação de atores asiáticos situados nos Estados Unidos), pela
escalação de um ator “branco” para o papel principal de uma série cujo
conteúdo “supostamente” era oriental, a maioria aceitou bem a escolha do ator. Carradine se mostrou perfeito para o papel.
Na minha opinião, Bruce Lee não desempenharia o papel de
Caine. Não o vejo como o Shaolin da série Kung Fu. Obviamente, não
havia termo de comparação entre Lee e Carradine no tocante às lutas, ao Kung Fu; o primeiro era um lutador “de verdade” e o segundo
era um ator. Porém, o olhar de Bruce Lee era inversamente proporcional ao de Carradine. Lee dispunha de um olhar “flamejante”, como
o de um tigre prestes ao ataque. Carradine tinha um olhar “triste” “ao longe” – e inquisitivo, mas bondoso. Ele era capaz de “chorar e
de sorrir” com o brilho dos olhos. Se a tônica da série fosse outra, na
qual as lutas e a violência fossem valorizadas, talvez Lee tivesse sido
o escolhido.
O Jovem Caine
Radames Pera, ator mirim à época de Kung Fu, aos 11 anos
de idade foi escolhido para interpretar o garoto Kwai Chang Caine.
De fato, Radames – filho de pai Uruguaio e de mãe Russa – também
possuía similaridades ao personagem principal do seriado. A mãe
gostava de Teosofia, e, por influência dela, Radames passou a usufruir
idéias transcendentais.
De fato, membros do elenco dizem o quão assemelhado com
Caine era Radames, ainda criança. Alguns o definem assim: “um menino muito bondoso e inocente, exatamente como Caine”.
220
O Redator d’A Arca Perdida
Curiosidades sobre a Série
• O filme “piloto”, Kung Fu, estreou nos Estados Unidos no
dia 22 de fevereiro de 1972, na rede ABC.
• David Carradine não aceitou o papel de Kwai Chang
Caine quando a ele foi oferecido inicialmente. Segundo o ator, à
época não quis se envolver em algo que, eventualmente, tomaria
tanto tempo quanto um seriado. Somente aceitou o papel após
ter lido o roteiro.
• A grande maioria das cenas de luta foram filmadas em
câmera lenta. Esse processo, segundo os criadores da série, visava a “tira-la” do ordinário (de fato, nos demais filmes de artes
marciais – e mesmo nos Westerns - tudo acontecia muito rapidamente) e a deixar os telespectadores “mais atentos” aos detalhes.
Alguns insistem em opinar que o uso da câmera lenta transparecia menos violência. Na versão de Carradine, entretanto, um dos
grandes problemas enfrentados pelos produtores da série era
justamente a existência de uma censura às cenas de luta, especialmente às que findassem em morte de personagens. Segundo
o ator, lutas belíssimas e extensamente coreografadas eram sumariamente eliminadas dos episódios por causa de “cortes” ministrados pelo “FCC” (uma espécie de entidade responsável pela
censura). De fato, o tal FCC permitia, na época, apenas 4 minutos
de cenas de luta por episódio, ao passo que a ABC requeria, pelo
menos, duas grandes seqüências. Essa problemática foi resolvida de uma maneira simples: em cada episódio inseriram 2 lutas,
conforme requisitado; uma bem pequena no início e outra maior
no final.
• A ilusão de “cegueira” de Mestre Pô foi criada através de
aplicações de lentes de contato opacas sobre os olhos do ator
Keye Luke. Pequenos orifícios foram feitos nas lentes, contudo, o
ator não enxergava praticamente nada quando as usava. O fato
curioso: Keye Luke permanecia o dia todo com elas. Isso acontecia por serem trabalhosas a colocação e a remoção dessas lentes,
e também porque o ator, daquela forma, se sentia mais incorporado ao personagem.
Kung Fu: Uma Lenda da TV
221
• Em meados da primeira temporada, Caine passou a carregar consigo uma flauta feita de bambu. Ela foi criada por Michael
Greene, um dos atores convidados (nomeado ao Emmy devido às
atuações na série) e amigo pessoal de Carradine. A idéia de se incorporar uma flauta aos pertences de Caine veio do próprio astro.
Entendia que um mestre Shaolin devia dominar uma das formas
da arte; nesse caso, a música. Houve, além da primeira, 3 outras
flautas diferentes no decorrer da série, todas manufaturadas por
Carradine (aprendeu a construí-las). Caine tocou a tal flauta pela
primeira vez no episódio de número 25 (“The Hoots”).
• Em Kung Fu trabalharam atores “novatos” à época, tais
como: Harrison Ford, Robert Duvall, Don Johnson, Gary Busey e
até mesmo Jodie Foster (ainda criança). Oportunidades foram
abertas a eles a partir de então.
• John Carradine (o pai), Keith Carradine, Bruce Carradine
e Robert Carradine (irmãos) atuaram ao lado de David em alguns
episódios.
• No início da série, Carradine teve seu cabelo totalmente
raspado. No decorrer da mesma, o cabelo do ator cresceu paulatinamente. Ao término, ele o cortou mais uma vez.
• Radames Pera, ator mirim que interpretou o jovem Caine, era freqüentemente provocado pelos colegas do colégio, pois
esses viviam querendo brigar com o garoto. Até o apelidaram de
“Eightball” (algo como o “pouca telha” do Português) por causa do
cabelo raspado.
• Muitas das cenas filmadas no interior do Templo Shaolin foram captadas à luz de velas, pois a iluminação do lugar era
feita desse modo, originalmente. Além do fato dos atores terem
passado mal nessas cenas – tamanho era o calor produzido – a
ABC nunca comprara antes tamanha quantidade de velas para
uma série de TV.
• Há rumores sobre a possível participação de Bruce Lee
do processo de elaboração da série. Supostamente, algumas
idéias creditadas a Ed Spielman teriam sido oriundas de Lee.
Também, como suposição, o papel de Kwai Chang Caine a Lee
teria sido prometido.
222
O Redator d’A Arca Perdida
• O primeiro consultor de artes marciais da série foi David Chow. Chow não era totalmente formado na arte do Kung
Fu, pois não concluíra seus estudos. Apesar disso, afirma Carradine, o amor daquele homem pela cultura Chinesa e pelas artes
marciais era imenso e empolgante. Sábio, incitou Carradine ao
real aprendizado daquela arte. Após a saída de David Chow da
série, um mestre Shaolin “real” assumiu o papel dele: Kam Yuen,
um especialista no estilo “Praying Mantis” (Louva-Deus). A partir
da entrada de Kam, as cenas de luta tornaram-se mais reais; havia
Kung Fu “de verdade” nos combates.
• No início da Terceira Temporada da série, David Carradine
principiou “oficialmente” o estudo do Kung Fu. Kam Yuen o guiou.
Kung Fu no Brasil
Em nossa terra o seriado foi exibido a partir de meados de 1973
(não conheço a data exata) pela Rede Globo. A exibição aconteceu durante quase toda a década de setenta. A primeira lembrança pessoal da série é a abertura da mesma; num “flashback” lembro-me de ter
visto, aos 5 ou 6 anos de idade, Caine caminhar pelas dunas de areia.
Também guardo recordações dos mestres Pô e Kan. Esse fato ocorreu,
provavelmente, entre 1977 e 1978 (hoje tenho 29 anos de idade).
Kung Fu fez muito alarde dentre a molecada e dentre os adolescentes. Os adultos também gostavam da série. O sucesso foi tamanho que uma editora, a Livraria José Olympio Editora, publicou
alguns livros da série, todos traduzidos ao Português.
A dublagem da série
A dublagem se realizou no estúdio “Cinecastro”. O diretor de
dublagem foi também o primeiro dublador de Caine: o falecido Ari de
Kung Fu: Uma Lenda da TV
223
Toledo. O lendário Ari foi um grande diretor de dublagem. Ao longo
dos anos emprestou sua bela voz a diversos personagens, dentre eles:
• Pernalonga
• Chefe Sharkey (série “Viagem ao Fundo do Mar”)
• Major D. West (série “Perdidos no Espaço”)
• Furuashi (série “Ultra Seven”)
Infelizmente, devido ao falecimento do artista - ocorrido em
1974 - a voz de Caine precisou de substituição. Até a conclusão desse
artigo não consegui obter os nomes dos demais dubladores do personagem. Há rumores – sem confirmação – sobre uma das possíveis
substituições: Afonso Celso de Vasconcellos (dublador do Detetive
Columbo, do Dan Moroboshi (“Ultra Seven”), do ator Sidnei Poitier e
do Líder Optimus (“Transformers”) teria dublado o personagem em
alguns episódios.
O jovem Caine foi dublado por Carlos Marques (ele alterou
a própria voz para que essa soasse como a de um menino). Carlos é
um dos dubladores mais reconhecidos dessa profissão. A voz do ator
ficou eternizada através das seguintes dublagens:
• Garfield (desenho homônimo)
• Derek Wildstar (desenho “Patrulha Estelar”)
• O sapo Pancho (desenho “Toro & Pancho”)
• Dartagnan (desenho “Dartagnan e os Três Mosqueteiros”)
Mestre Pô, aparentemente, foi dublado por dois artistas diferentes: Pietro Mario, que, dentre outros personagens, dublou:
• Zé Buscapé (desenho homônimo)
• Capitão Caverna (desenho homônimo)
• Don Pixote (desenho homônimo)
• Bosley (série “As Panteras”)
• Billy (série “Baretta”)
ou Paulo Pereira (falecido), que também dublou:
• Dom Alejandro (série “Zorro”)
224
O Redator d’A Arca Perdida
• Brutus (desenho “Popeye” – uma das vozes)
• O ator Humphrey Boggart
Infelizmente, as informações aqui descritas foram as únicas
encontradas sobre a dublagem da série.
Os atores principais da série
David Carradine como Kwai Chang Caine
Filho do ator John Carradine, David nasceu em 1936, em
Hollywood, entretanto, foi criado “um pouco” na Califórnia, em Nova
York, em Massachusetts e em Vermont. Após os períodos militar e escolar, David atuou em duas peças teatrais da Broadway: “The Deputy”
e “The Royal Hunt of the Sun”. Depois foi a Hollywood e atuou num
seriado de TV: “Shane”. Atuou também em alguns filmes.
Através das experiências vividas nessas produções, David veio
a atuar em “Kung Fu” a partir de 1972. Ele e a atriz Barbara Hershey
apaixonaram-se nessa época e tiveram um filho: Free. Após o cancelamento da série, Carradine entregou-se à carreira cinematográfica,
tendo atuado em diversos filmes.
Nos anos noventa surgiu uma “continuação” à série Kung Fu,
“Kung Fu: A Lenda Renasce”. Carradine viu-se no mundo dos Shaolins, mais uma vez. De fato, ele “entrou de cabeça” nas artes marciais,
tendo “realmente” experimentado a disciplina do Kung Fu. Carradine
publicou – em 1991 - um livro a respeito da filosofia dessa arte: “The
Spirit of Shaolin”. No mesmo ano lançou, também, 2 vídeos sobre
exercícios do Kung Fu.
Outros interesses de David Carradine eram: música e composição, escultura e pintura.
Kung Fu: Uma Lenda da TV
225
Radames Pera como o Jovem Caine
Radames Pera nasceu em 1960, em Nova York. Filho de pai Uruguaio, um artista, e de mãe Russa, aspirante a atriz e modelo. O casamento dos pais, infelizmente, não durou muito. A mãe decidiu tentar a
carreira de atriz em Hollywood. Mudou-se para a Costa Leste em 1964
(junto a Radames) e atuou em alguns seriados e filmes de TV.
A grande chance apareceu em 1967, pois estava “pronta” a
contracenar com Anthony Quinn num importante filme dirigido por
Daniel Mann. Radames foi apresentado ao diretor, tendo conseguido
um teste. Foi aprovado e ganhou o primeiro papel de sua vida: o “filho” no filme “A Dream of Kings”.
Aos 11 anos de idade foi agraciado com o papel de Gafanhoto,
na série “Kung Fu”. Na verdade, Pera teria dito para a mãe que atuaria somente por um curto período de tempo. Porém, aos 13 anos de
idade, era o “arrimo de família”, e, como tal, foi encorajado pela mãe a
prosseguir.
Após o cancelamento de Kung Fu, Radames foi quase “automaticamente” contratado a atuar num programa de TV – “Little House on the Prairie” – no qual interpretou o personagem John Junior.
Infelizmente, nunca teve uma sólida carreira de ator, uma vez
que viveu sempre interpretando personagens em “pontas”; depois
de Kung Fu, praticamente não ganhou mais nenhum papel principal
de peso.
Desanimado com esse fato, passou a experimentar - por conta
própria - a direção. Foi quando principiou a utilizar novas tecnologias
de vídeo e de áudio artisticamente. Curiosamente, no final dos anos
oitenta montou uma empresa especializada em design e em montagem de Home Theaters. Pera tem clientes famosos, como: Nicholas
Cage, Johnny Depp, Sharon Stone, dentre tantos outros.
Keye Luke como Mestre Pô
Keye Luke, nascido em 1904, estreou no mundo do show business no departamento artístico da Twentieth Century Fox. Encorajado
226
O Redator d’A Arca Perdida
a atuar, o fez num filme no qual contracenou com Greta Garbo (“Painted Veil”).
Luke ficou conhecido do público através de sua atuação na
série “Charlie Chan”, na qual interpretou o “Primeiro Filho”. Teve papéis fixos em diversas séries de TV, como em “General Hospital”. Além
das séries de TV, participou de diversos filmes e de comerciais.
Destaque para as atuações dele nos filmes: “Gremlins”, “Project X” e “Alice”.
Infelizmente, faleceu em 1991, aos 87 anos de idade.
Philip Ahn como Mestre Kan
Philip Ahn, nascido em 1905, em Los Angeles, estudou em colégios públicos e cursou a University of Southern California. A carreira
do ator se iniciou em 1936, quando foi escolhido para uma “ponta”
num filme de Bing Crosby (“Anything Goes”).
Philip atuou em diversos filmes, tais como: “The General Died
at Dawn”, “Disputed Passage”, “The Left Hand of God”, “Impact”, dentre
outros. Também participou de algumas séries de TV: “M*A*S*H*”, “Mr.
Garland” e “Love, American Style”.
O pai de Philip Ahn, Chang Ho Ahn, foi um dos fundadores
da República da Coréia. De fato, no início dos anos setenta, ele participou de festividades naquele país, visando a homenagear o pai, em
Seoul.
Infelizmente, faleceu em 1978, aos 73 anos de idade.
Atores Convidados
Houve diversos atores asiáticos convidados. Citarei os nomes
de alguns:
• James Hong: “Blade Runner”, “A Vingança dos Nerds”, “Chinatown”, “Aventureiros do Bairro Proibido”.
Kung Fu: Uma Lenda da TV
pital”.
227
• Beulah Quo: “Flower Drum Song”, “Chinatown”, “General Hos-
• Soon-Teck Oh: “Desejo de Matar 4”, “Braddock II”, “007: The
Man with the Golden Gun”.
• MAKO: “Tucker”, “The Wash”.
Epílogo
Kung Fu retornou em 1986 por meio de outro longa-metragem cujo nome é Kung Fu: The Movie. Em 1993, também, uma nova
série baseada na original foi produzida: “Kung Fu: The Legend Continues” (o título brasileiro é “Kung Fu: A Lenda Renasce”).
Por favor, aguardem meu próximo artigo acerca dessas continuações!
Os Mestres da Trilha Sonora
Parte I
No início do cinema não havia som. Gênios como Chaplin,
Eisenstein e Fritz Lang precisaram valer-se das respectivas
mentes brilhantes para entreter o público e se fazer compreender. Depois, as películas foram acompanhadas por
pianistas durante as sessões de cinema, inovação que possibilitou a inserção musical às imagens da telona.
Os primeiros filmes sonoros, então, vieram, como o histórico The Jazz Singer, de Al Jolson, e Branca de Neve e os Sete
Anões, a famosa animação da Disney. Depois dessa etapa
inicial, os primeiros compositores apareceram – e os nomes
são vários: Alfred Newman, Bernard Herrmann, Franz Waxman, Erich Wolfgang Korngold, Elmer Bernstein, Miklos
Rozsa e tantos outros.
Este artigo exclusivo d´A ARCA traz a vocês, caros leitores,
a primeira parte de um especial sobre os novos compositores de trilhas cinematográficas, artistas que começaram
seus trabalhos na década de setenta e que auxiliaram a
compor – literalmente – as atmosferas de muitos filmes
clássicos, tornando-os o que são hoje.
Nesta primeira parte teremos informações sobre os músicos James Horner, Danny Elfman e Alan Silvestri. Divirtamse e som na caixa!
230
O Redator d’A Arca Perdida
James Horner
James Horner nasceu
em Los Angeles, o filho de um
famoso designer de produção:
Barry Horner. Desde criança
mostrou tremenda aptidão
para a música e aos cinco anos
de idade iniciou o estudo formal de piano. Cursou a famosa
universidade UCLA nos anos setenta, pela qual conseguiu um
doutorado em teoria musical, e
para a qual também lecionou.
Horner começou a trabalhar com trilhas após sofrer algumas dificuldades para exibir ao
público o seu Spectral Shimmers, um concerto de música erudita,
fato que o desmotivou bastante. Nesse período, contudo, o pessoal
da American Film Institute ofereceu ao professor da UCLA uma oportunidade para compor a trilha de um filme, projeto que agarrou com
unhas e dentes. Depois dos primeiros trabalhos, de fato, o compositor pegou gosto pela coisa e foi contratado por Roger Corman, o
famoso diretor e produtor de películas B, para musicar filmes da nova
produtora desse – a New Line. A trilha do cult Mercenários das Galáxias (1980), por exemplo, foi criada por Horner em início de carreira.
Em 1981 compôs seu trabalho inicial para um estúdio de primeira linha, a Orion Pictures, para o filme A Mão, do diretor iniciante
Oliver Stone. Diversos trabalhos no mesmo ano surgiram e, então,
em 1982 foi contratado para musicar Jornada nas Estrelas II: A Ira
de Khan, obra que imortalizou Horner e fez com que entrasse para
o rol dos compositores principais de Hollywood. Muitos filmes vieram depois, como Krull (1983), Projeto Brainstorm (1983), Jornada
nas Estrelas III: À Procura de Spock (1984), Cocoon (1985), Aliens: O
Resgate (1986), Willow – Na Terra da Magia (1988) e tantas outras famosas produções. Nos anos noventa, Horner criou muita coisa boa;
foram trabalhos diversos: Rocketeer (1991), Jogos Patrióticos (1992),
O Dossiê Pelicano (1993), Lendas Da Paixão (1994), Perigo Real e
Os Mestres da Trilha Sonora – Parte I
231
Imediato (1994), Coração Valente (1995), Apollo 13 (1995), A Máscara do Zorro (1998), e por aí vai.
O ápice da carreira aconteceu em 1997, ocasião em que lançou a trilha de Titanic, o famoso filme de James Cameron. O trabalho
valeu-lhe diversas premiações, incluindo-se dois Oscar. O compositor
goza hoje de quase 150 trilhas em seu nome, dezenas de prêmios e
muitas indicações.
Uma curiosidade interessante: no princípio, ele foi “acusado”
pelos críticos de plagiar muito a si mesmo. De fato, há similaridades
inegáveis entre os scores de Krull, Star Trek II, Star Trek III e Aliens: O
Resgate.
Atualmente, Horner trabalha na trilha do filme Cinderella
Man, de Ron Howard, seu amigo.
Danny Elfman
Esse músico Texano, filho de
uma escritora infantil e de um militar
da Força Aérea, é um dos mais bem
sucedidos compositores do cenário
atual. Criador e ex-integrante da finada
banda Mystic Knights of Oingo-Boingo
(depois rebatizada de Oingo Boingo),
Elfman começou a escrever trilhas por
acaso, em Los Angeles, quando um
jovem fã da banda à época, o diretor
Tim Burton, convidou-o a compor as
músicas de seu despretensioso filme
As Grandes Aventuras de Pee Wee, de
1985, com o comediante Paul Reubens
(Pee Wee Herman).
232
O Redator d’A Arca Perdida
A parceria entre os dois rendeu inúmeras trilhas formidáveis:
Os Fantasmas Se Divertem (1988), Batman (1989), Edward Mãos-deTesoura (1990), Batman: O Retorno (1992), Marte Ataca (1996), A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999), O Planeta dos Macacos (2001)
e demais. Compôs, também, temas para algumas séries de tevê: Na
Mira Do Tira (1986), The Flash (1990), Mulher Nota 1000 (1994) e para
o cultuado desenho animado Os Simpsons (1989); trabalho pelo qual
teve enorme reconhecimento e sucesso.
Outras trilhas famosas de Elfman incluem Os Fantasmas Contra-Atacam (1988), Darkman (1990), Missão: Impossível (1996), Homens de Preto (1997) e Homem-Aranha (2002).
Dentre os muitos prêmios ganhos estão um Golden Globe,
pela trilha de O Estranho Mundo de Jack (em 1993), diversos Saturn
Awards (do Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films) por
Homem-Aranha, Homens de Preto e A Lenda Do Cavaleiro Sem Cabeça, e duas indicações ao Oscar pelos trabalhos em Homens de Preto
e em Gênio Indomável, ambos em 1998.
Atualmente, Elfman trabalha na trilha de Homem-Aranha II.
Alan Silvestri
O Nova Iorquino Alan
Silvestri iniciou a carreira musical em meados dos anos setenta, época em que compôs
trilhas para séries como Starsky & Hutch (1975) e CHiPs
(1977), e também para os famigerados filmes dos Dobermans exibidos à exaustão pelo
SBT nos anos oitenta. Mas foi
justamente naquela década
que Silvestri abraçou, definitivamente, o sucesso ao compor trilhas
para produções como Tudo Por Uma Esmeralda (1984), De Volta para
Os Mestres da Trilha Sonora – Parte I
233
o Futuro (1985), Predador (1987), O Segredo Do Abismo (1989) e para
séries de tevê como Amazing Stories (1985) e Tales From the Crypt
(1989).
A música da trilogia De Volta Para o Futuro ficou mesmo marcada no inconsciente sonoro das pessoas, e isso é um dos feitos mais
difíceis para um compositor de trilhas alcançar. A parceria entre ele
e o diretor Robert Zemeckis rendeu, verdade, material musical muito
bom.
Silvestri compôs, ainda, trilhas para os seguintes filmes de Ficção Científica e de Fantasia: O Vôo do Navegador (1986), O Segredo
Do Abismo (1989), Predador II (1990), O Juiz (1995), Contato (1997),
Jornada nas Estrelas: Insurreição (1998), O Retorno da Múmia (2001)
e outros.
O compositor ganhou uma série de prêmios e de indicações,
tais como diversos Saturn Awards (do Academy of Science Fiction,
Fantasy & Horror Films) por Predador e por De Volta Para o Futuro III,
e do ASCAP (Film and Television Music Awards) por O Pequeno Stuart
Little e Contato. Ganhou, também, uma indicação ao Oscar pelo filme
Forrest Gump, em 1995.
Atualmente trabalha no score de Van Helsing, filme de Stephen Sommers que será lançado em 2004.
Aguardem, caros leitores, pela segunda parte deste artigo,
que conterá mais compositores atuais responsáveis por trilhas formidáveis.
Os Mestres da Trilha Sonora
Parte II
Gostaram da primeira parte? Pois aproveitem, caros leitores d´A ARCA, para conhecer mais dois grandes novos compositores que fizeram história.
Howard Shore
Howard Leslie Shore nasceu no Canadá em 1946. Talentoso,
no início da década de setenta se formou em Composição e Regência,
e debutou em 1975, época em que foi o primeiro diretor musical da
banda do lendário programa Saturday Night Live. Nos anos oitenta,
produziu trilhas para filmes de seu país natal, o Canadá, tais como
The Brood (1980), e firmou uma parceria
duradoura com o lendário diretor David
Cronenberg, também canadense, através
da qual compôs para as películas Scanners: Sua Mente Pode Matar (1981), Videodrome (1983) e A Mosca (1986), dentre
outras. Na mesma década trabalhou para
diretores famosos como Martin Scorcese,
em Depois de Horas (1985), após a popularidade obtida nos Estados Unidos pelo
compositor.
236
O Redator d’A Arca Perdida
Nos anos noventa, Shore compôs as trilhas de diversas produções que marcaram época: Silêncio dos Inocentes (1991), M. Butterfly
(1993), Uma Babá Quase Perfeita (1993), Filadélfia (1993), Ed Wood
(1994), Crash (1996), Striptease (1996) e Copland (1997). Mais recentemente, em 2002, o compositor ganhou o merecido Oscar pela trilha de O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel. De fato, ele se acostumou aos diversos prêmios e indicações recebidos, dentre os quais
vários ASCAP Award (do ASCAP Film and Television Music Awards) e
um Grammy, em 2003, também por O Senhor dos Anéis. Um dos últimos trabalhos foi a trilha do filme Quarto do Pânico, de 2002, além da
esperadíssima terceira parte da obra de Tolkien, a qual deverá estrear
no final deste ano.
Atualmente compõe a trilha de King Kong, filme do aclamado
diretor Peter Jackson que será lançado em 2005.
Mark Snow
O nova iorquino Mark Snow demonstrou cedo o talento para
música. Estudou no New York’s Art and Music High School, local onde
conheceu outro compositor hoje famoso, o recém falecido Michael
Kamen. Ambos entraram na lendária Julliard Music School e foram colegas de quarto. Após a conclusão do curso, ele, Kamen e outros três
músicos formaram uma banda pop, o New York Rock’n’Roll, gravaram
alguns discos e excursionaram pelo país.
Na década de setenta, atraído pelas trilhas de séries de tevê –
São Francisco Urgente e Hawaii 5-0 – e maravilhado com o excelente
score de O Planeta dos Macacos, de Jerry Goldsmith, Snow se decidiu
por compor trilhas sonoras. Os primeiros trabalhos vieram por meio
das séries Justiça em Dobro (Starsky & Hutch - 1975), Gemini Man
(1976), Barco do Amor (1977) e Casal Vinte (1979).
Nos anos oitenta, Snow compôs os temas de diversas séries famosas, mas muitas, infelizmente, desconhecidas do público brasileiro.
Dinastia (1981) e Carro Comando (1982) são dois dos exemplos mais
comuns. Porém, foi no início dos anos noventa que o compositor se
Os Mestres da Trilha Sonora – Parte II
237
tornaria imortal ao compor o score da série
Arquivo-X. É impossível, verdade seja dita,
desassociar a música do compositor às tramas do seriado que se transformou num
dos maiores cults da história da tevê americana. O tema de abertura é inesquecível,
facilmente assimilável e, de fato, exaustivamente cantarolado ou assoviado pelos fãs
do gênero. Ainda na década de noventa
trabalhou novamente com Chris Carter, o
criador de Arquivo-X, pois também compôs a trilha da série Millennium. Outra das
séries famosas em cuja música se pode notar o talento do compositor é Nikita, aquela
baseada no filme homônimo francês.
Ainda nos anos noventa, já bastante famoso, compôs o score para um telefilme baseado no livro Vinte Mil Léguas Submarinas,
de Júlio Verne, tamanha a admiração pelo trabalho de Bernard Herrmann, compositor das antigas que musicou Viagem ao Centro da Terra e A Ilha Misteriosa, ambas também do escritor francês. Esse trabalho soa quase como uma homenagem àquele mestre.
Os últimos trabalhos de Mark Snow são as trilhas da nova série – cancelada – Além da Imaginação e de Smallville, e a música do
game Syphon Filter: The Omega Strain, que será lançado no ano que
vem. Premiado por anos consecutivos com o ASCAP Award, Snow
tornou-se um dos músicos mais famosos do showbusiness.
Os microcomputadores da Atari
Quando se fala de Atari, logo vem à nossa cabeça o console
mais famoso de todos os tempos, o 2600. Porém, a empresa de Nolan
Bushnell também lançou uma linha de microcomputadores de 8 bits
de muito sucesso no final dos anos setenta. Falamos dos Atari 8 Bit,
que não chegaram ao Brasil.
Projetados
para fazer frente aos
já consolidados Apple
II, Commodore PET e
TRS-80, os micros da
Atari foram os primeiros a receber chips
customizados e dedicados, como o CTIA,
que produziam melhores gráficos, mais cores
e sons elaborados. Os primeiros modelos chegaram em 1979 às prateleiras: Atari 400 e Atari 800. O primeiro, cujo gabinete era menor,
vinha com singelos 16 Kbytes de memória, 1 slot para cartuchos e
teclado do tipo membrana. O segundo era maior, possuía dois slots
e vinha com 48 Kbytes. Ambos pesavam muito devido a blindagem
interna, de metal, contra emissões indesejadas de radiofreqüência –
proteção mandatória segundo norma do FCC, uma agência americana reguladora do setor, para que televisores e rádios não sofressem
interferência oriunda dos micros.
No início dos anos 80, porém, a FCC “aliviou” a norma, fazendo com que não se precisasse mais empregar tamanha blindagem.
Como a fabricação em si do 400 e do 800 também era cara, a empresa
resolveu partir para um novo modelo; menor, bem mais leve e mais
barato. E foi assim que começou a nascer a linha XL.
240
O Redator d’A Arca Perdida
O próximo lançamento aconteceu em 1982 e foi o 1200 XL, que
não era necessariamente menor que os antecessores, mas era bem
mais leve e continha uma série de melhorias: 64 Kbytes de memória,
teclado mais profissional e com teclas de funções e HELP, e até mesmo um sistema de autoteste.
Na ânsia de lançar o micro, a
Atari acabou por fazer modificações cruciais de hardware
e alterações no sistema operacional que deixaram o computador incompatível com
muitos softwares e jogos préexistentes. Isso se refletiu nas
vendas, fracas, e a produção
foi abandonada precocemente no início de 1983.
Com a concorrência iminente da nova linha de micros da
Commodore, o Commodore 64, a Atari precisava se mexer para não
perder mercado. Os técnicos da empresa se debruçaram sobre a
prancheta mais uma vez e tomaram como base o fracassado 1200
XL, fazendo correções de hardware e software, e aproveitando o design do micro, inovador. E assim foram lançados dois novos produtos
no final de 1983: o Atari 600 XL, com 16 Kbytes de memória e menor,
e o Atari 800 XL, com 48 Kbytes, sendo que ambos continham a linguagem Atari BASIC na memória, o que antes só estava disponível
via software.
Embora o 800 XL, em especial, tenha feito proporcionalmente
muito sucesso, as vendas iniciais ficaram aquém do previsto devido a
um problema na linha de produção. A empresa começou a entregar
as primeiras unidades com seis meses de atraso e em pequeno número no Natal de 1983, sofrendo uma enorme concorrência do Commodore 64, que vendia como água e estava disponível em grande
escala. No período em questão, acontecia nos Estados Unidos um fenômeno que ficou conhecido como o Crash de 1983, quando houve
um desinteresse generalizado por consoles de videogame e os preços
despencaram, gerando prejuízos milionários. Como a Atari já sofria
por causa de suas massivas perdas no setor, era difícil suportar mais
Os microcomputadores da Atari
241
uma quase certa derrota com o 800 XL. Sendo assim, os executivos
da Warner, detentora da marca, resolveram vender o departamento
“home” da Atari, que englobava videogames e computadores.
O novo comprador,
por incrível que pareça, era
Jack Tramiel, ex-presidente
da concorrente Commodore.
Tramiel ordenou a imediata
suspensão do setor de consoles e a concentração no setor
de Informática. A fim de tornar o 800 XL mais competitivo, a produção foi levada para
a China e o preço caiu; ainda
assim, a Commodore levava a
melhor por conta de seu parque instalado e da constante derrubada de preços. Sob nova direção,
a Atari lançava em 1985, então, a linha XE com os micros 65 XE e 130
XE – com design diferente e com, respectivamente, 64 Kbytes e 128
Kbytes de RAM. Apesar de contar com algum software exclusivo para
a memória adicional do modelo 130, a aceitação da linha XE foi mínima. Micros de 16 bits, mais poderosos, começavam a despontar no
mercado e chamavam a atenção dos consumidores.
A última cartada da empresa, por fim, aconteceu em 1987 e
foi motivada pelo sucesso de vendas do console NES da Nintendo. A
Atari, para aproveitar o novo boom, lançou o Atari XE Game System,
mais conhecido como Atari
XEGS, um misto de videogame e computador que vinha
com pistola, teclado destacável e alguns cartuchos de
jogos exclusivos, como Bug
Hunt e Flight Simulator II.
Poucos títulos e falta de suporte de software levaram
ao total desinteresse por
parte do consumidor e ao
fracasso do XEGS.
242
O Redator d’A Arca Perdida
No início de 1992, morria oficialmente a linha Atari 8 Bit, descontinuada por ordem de Sam Tramiel, filho de Jack, que se concentrava na nova linha de micros de 16 Bits: o Atari ST e suas variações.
Periféricos
Ao longo da vida dos Atari 8 Bit, uma série de periféricos foi
lançada tanto pela Atari quanto por outras empresas, tais como Datacorders (gravadores cassete para carga de programas), disk drives,
joysticks, impressoras, modems, expansões e outros produtos.
O periférico mais revolucionário, contudo, foi criado bem depois da morte do sistema, a interface SIO2PC, que transformava seu
PC doméstico, virtualmente qualquer PC, em um disk drive “emulado” para o Atari. Em outras palavras, era possível carregar software de
verdade usando seu PC como se este fosse um disk drive, eliminando
a necessidade de se usar diskettes.
Jogos
Os jogos foram um dos motivos pelos quais os micros da Atari
fizeram sucesso. Além de dispor de versões melhoradas – em relação
ao Atari 2600 – de famosos jogos da empresa e de third parties, como
Defender, Berzerk, Pitfall!, Demon Attack, Pole Position e H.E.R.O., havia jogos mais complexos e “realistas”, como E.T. Phone Home!, um
dos primeiros da história a apresentar um final definido, além de ter
sido programado e criado por uma equipe grande de técnicos, algo
revolucionário. Os games, aliás, estavam disponíveis nos formatos
cartucho e diskette.
Os jogos de diskette eram títulos que ocupavam uma face de
um disco de 5.25 polegadas, duas faces ou até mesmo vários discos
– dependendo da complexidade. Havia games exclusivos, como o
Os microcomputadores da Atari
243
divertido Alley Cat, e versões melhoradas de jogos que existiam em
outras plataformas do período, como Spy vs. Spy, Karateka, Conan,
Raid Over Moscow e The Goonies, geralmente mais coloridos e com
música elaborada no Atari.
Um tipo de game, especialmente, fez muito sucesso, o Adventure, seja o de texto puro, como Adventureland, ou o gráfico, como
Lucifer´s Realm, The Institute e os da série Ultima; jogos em que a
missão era explorar um mundo, coletar itens e realizar tarefas, e os
comandos eram digitados, não havia uso de joystick.
De uns anos para cá,
com a onda do colecionismo de games e micros antigos, abriu-se espaço para
a produção de jogos domésticos, os famosos “homebrew”. Há uma gama de
jogos feitos em casa por fãs,
alguns muito bons como o
Yoomp!
Curiosidades
• Embora os Atari 8 Bit não tenham chegado oficialmente
ao Brasil, eles foram vendidos nas lojas do Chile à época. Uma
empresa chilena de eletrodomésticos, a Coelsa, importou um
lote de micros e periféricos, nacionalizou os produtos e os colocou à venda. No Chile, um Atari 800 XL é tão comum quanto um
Atari 2600 por aqui.
• Há vários modos gráficos disponíveis no Atari, sendo
que o usual, para jogos, mostra 9 cores simultâneas – de uma
paleta de 128 – e utiliza a resolução de 160 x 192 pixels.
244
O Redator d’A Arca Perdida
• O som dos Atari 8 Bit é similar ao dos micros MSX, muito
famosos no Brasil, e utiliza o chip customizado POKEY, que possibilita 4 canais de áudio com 4 oitavas cada.
• A Atari chegou a produzir protótipos dos modelos 1400
XL, que teria modem e sintetizador de voz embutidos, e 1450 XL,
que seria o 1400 XL com adição de um disk drive embutido. Infelizmente, ambos não foram lançados pela empresa.
• O console de videogame Atari 5200, lançado em 1982
pela Atari para combater o sucesso do concorrente ColecoVision,
foi baseado no hardware do Atari 800.
Ulrich Jon Roth,
o Deus da Guitarra
Ulrich Jon Roth, ou Uli Roth, como é conhecido artisticamente, foi um dos pioneiros a desafiar o dogma pentatônico do Blues. O
guitarrista alemão, nascido em Dusseldorf, começou a tocar aos 13
anos de idade, influenciado por Jimi Hendrix. Por outro lado, seu sangue europeu o fez caminhar às suas raízes, pois adorava os grandes
mestres, como Bach e Mozart. Esse conflito entre dois mundos o fez
desenvolver um estilo próprio, poderoso como o Rock, mas, ao mesmo tempo, suave e profundo como a música erudita.
Uli começou a demonstrar esse estilo ao mundo, ainda no início dos anos setenta, tendo ousado fabricar uma profusão de sons
diferentes em seus longos solos e composições. “The Sails of Charon”,
do álbum “Taken by Force”, é um de seus hinos, oriundo da época
em que o músico integrou o “Scorpions” – como guitarrista solo - em
quatro álbuns de estúdio e em um ao vivo. Infelizmente, entediado
com a qualidade musical produzida e com o conteúdo das letras,
acabou deixando a banda em 1978, devido desentendimentos com
os outros membros. O
Scorpions, que fora um
dia o “Deep Purple alemão”, nunca mais seria
a mesma banda... No
final dos anos setenta,
Uli partiu para a carreira solo e criou a banda
“Electric Sun”, cujo som
diferenciou-se bastante de seus trabalhos
anteriores. A influência
246
O Redator d’A Arca Perdida
clássica o dominou de vez, bem como esteve à vontade para homenagear Hendrix em suas músicas e solos. O “Electric Sun” produziu
três álbuns: “Earthquake”, “Firewind” e “Beyond the Astral Skies”. Uli,
nessa época, começou a trilhar em suas músicas um caminho, digamos, “espiritual”. Não raro, encontrava-se, nas letras por ele escritas,
conteúdo acerca da evolução do espírito humano, da evocação dos
“grandes gurus” e quetais.
Isso, aliás, era uma das marcas registradas do guitarrista, que
produziu uma pequena obra-prima em 1996 – após ter permanecido
durante anos sem lançar nada - totalmente voltada ao campo erudito. Um trabalho bem diferente do que fora visto até então, por meio
do qual Uli compilou trechos de gravações ao vivo juntamente à Orquestra Sinfônica de Bruxelas, aliados a outras gravações de estúdio;
até mesmo gravou peças de Puccini, como “E Lucevan Le Stelle”. Esse
material todo gerou a primeira parte do projeto batizado de “Sky of
Avalon”, o álbum “Prologue to Symphonic Legends”, através do qual
Uli consagrou-se, perante a crítica, um estupendo músico, além de
formidável guitarrista. Um dos fatos mais marcantes dessa ocasião
foi o surgimento de um novo tipo de guitarra, a “Sky Guitar”. Roth em
pessoa elaborou esse instrumento diferente, que contém uma corda
adicional (mais aguda), além de “casas” extras, totalizando o número
de trinta (uma guitarra comum possui vinte e uma). Segundo Uli, o
som produzido por essa nova guitarra a fez aproximar-se ainda mais
dos sons proferidos pelos violinos. De fato, é possível de se notar essa
comparação sonora, ouvindo-se o já citado “Symphonic Legends”.
Com efeito, essa guitarra “que soa como violino” pode ser muito bem
apreciada através de seu mais novo trabalho: “Transcendental Sky
Guitar”, um belíssimo e impressionante passeio pela música erudita,
salpicado ao melhor estilo de Hendrix. Erudita, sim! Quem disse que
a guitarra elétrica não poderia soar de maneira diferente?
Ulrich Jon Roth, o Deus da Guitarra
247
Uma Viagem Transcendental
“Transcendental Sky Guitar” é composto por dois CDs. O primeiro, batizado de “The Phoenix” (A Fênix), traz diversas peças interpretadas na guitarra. Paganini, Mozart, Beethoven, Mendelssohn,
dentre outros grandes compositores, compõem esse primeiro CD.
As peças são todas tocadas na guitarra, mas na especialmente criada
“Sky Guitar”; realmente, a sétima corda adicional faz toda a diferença!
A maioria das gravações do disco foram feitas ao vivo, fato que proporcionou maior dramaticidade às interpretações.
Uli Roth toca certo e bonito; emociona e arrepia. Ele interpreta as peças eruditas “nota por nota”, como não pode deixar de ser,
porém, impinge uma carga dramática e emocional a elas, motivo por
trás da grandeza desse novo álbum. O segundo CD, batizado de “The
Dragon” (O Dragão), traz regravações e improvisações sobre músicas
de Jimi Hendrix, como “Voodoo Chile”, além de diversos ensaios, improvisações e estudos baseados tanto na obra do guitarrista, como
em peças de Bach, de Monti e de Paganini.
Numa época em que os guitarristas vivem obcecados pela
técnica e pela velocidade, Roth nos mostra o tom certo, o “fio da
navalha” entre dois mundos que andam de mãos dadas: a técnica
e o “feeling”; o sentimento, a “alma” – dueto gerador de tanta controvérsia entre músicos, críticos e estudiosos. Não è à toa o fato de
Uli ter influenciado tantos outros grandes guitarristas, como Yngwie
Malmsteen e Marty Friedman.
“Transcendental Sky Guitar” é peça essencial à coleção de
qualquer amante da boa música, seja guitarrista ou não, por tratar-se
de material diferente do que se encontra por aí na “mesmice” musical
de nossos tempos. Agora, só nos resta aguardar pela seqüência da
obra “Sky of Avalon”.
Zona Morta:
o remake de um clássico
Há três semanas estreou no canal AXN a série “Zona Morta” (The Dead Zone), baseada no livro homônimo de Stephen King
– publicado em 1979 - mas também inspirada no clássico longametragem dirigido por David Cronenberg. Essa “nova” Zona Morta é
estrelada por Anthony Michael Hall e teve o respectivo enredo ligeiramente alterado, bem como transposto aos dias atuais.
O princípio
John Smith,
simpático e bem sucedido educador, sofreu
um acidente automobilístico após ter deixado a residência da
amada noiva num dia
chuvoso. Traumatizado com o infortúnio
lhe ocorrido, Johnny
permaneceu em estado de coma por quatro anos e meio.
Ao acordar na clínica do Dr. Sam Weizak, médico de vanguarda
e especialista em problemas cerebrais, Johnny o conheceu e se reencontrou com os pais. A dura realidade foi a ele contada pela mãe a
contragosto do pai: enquanto estivera em coma a amada se casara
com outro homem. Johnny esmoreceu.
250
O Redator d’A Arca Perdida
O corpo de John Smith se encontrava fraco, especialmente
no tocante às pernas e aos pés; anos em coma enfraqueceram os
músculos do professor primário. De fato, tinha imensa dificuldade
de locomoção, tanto que foi necessário a ele o início de sessões de
fisioterapia. A partir de então o pesadelo de Johnny principiou, pois
constataria um fato estarrecedor: além da perda da amada, além das
dificuldades de locomoção que doravante o fariam caminhar auxiliado de uma bengala, além da perda da carreira profissional e de ter
“acordado” num mundo ligeiramente diferente (afinal, foram quase
cinco anos “no escuro”), logo surgiria algo novo; um “dom”.
Dom ou Maldição?
Numa das passagens mais interessantes
da obra, Johnny tocou
na mão de uma enfermeira quando essa lhe
prestava cuidados na
clínica. Ao fazê-lo teve
uma visão: a casa da enfermeira em chamas, ao
passo que a filha pequena chorava desesperada
no quarto. Confuso com aquelas imagens, Johnny suplicou-lhe a ida
imediata à casa, uma vez que a mesma era consumida pelas chamas.
A enfermeira, desesperada e temerosa, partiu da clínica e
realmente encontrou a casa ardendo em chamas, mas conseguiu ter
sua filha salva pelos bombeiros, graças ao aviso de John Smith. De
outra maneira a filha morreria.
Johnny teve constantes “visões” após esse episódio do incêndio. Passou a ser alvo dos estudos do Dr. Weizak, porém teve alta da
clínica para que obtivesse “de volta” a vida normal que lhe fora roubada. Seria obra do acaso ou de Deus?
Ele voltou do coma dotado desses dons de clarividência e de
premonição. Ao longo da obra é contestado o fato da tal premonição
Zona Morta: o remake de um clássico
251
ser um dom; podia ser uma maldição, ao invés disso. Um dos detalhes intrigantes é a natureza das visões: elas somente acontecem se
Johnny tocar no corpo – vivo ou morto – ou num objeto de alguém;
ainda assim, poderia as ter ou não, uma vez que o processo foge ao
controle dele. O dom adquirido após o coma proporcionava visões
do passado, do presente ou do futuro das pessoas envolvidas, contudo, não podia ser controlado.
Johnny viveu diversas situações inusitadas, como a grande
ridicularização a ele impingida pela mídia, através da qual foi sumariamente desacreditado e tomado por louco e charlatão, e como o
auxílio prestado à polícia na resolução de crimes insolúveis pelos métodos tradicionais de investigação.
A cadeia de acontecimentos e de clarividências, ao término
do livro, levou Johnny a “salvar o mundo” do que poderia ter se tornado uma hecatombe nuclear. Está curioso? Leia!
A tal Zona Morta à qual o título se refere tem a ver também
com a natureza da clarividência de Johnny. Nas visões recebidas por
ele sempre há algum aspecto nebuloso, algo impossível de ser divisado por completo; é o “nosso” ponto-cego do Português. Numa conversa entre ele e o Dr. Weizak aprendemos: o tal ponto-cego, ou zona
morta, possui essa natureza “obscura” porque pode ser ALTERADO por
Johnny; o futuro revelado é mutável se ele assim o desejar, se INTERFERIR no desenrolar dos acontecimentos. Essa é a Zona Morta de John
Smith. Ele pode, além de prever os acontecimentos, alterá-los.
A Hora da Zona Morta
“A Hora da Zona Morta” (*) é a primeira adaptação cinematográfica do livro de King, rodada em 1983. Belíssimo filme, foi dirigido
pelo veterano David Cronenberg (de “A Mosca” e de “Videodrome”) e
estrelado pelo brilhante Christopher Walken; ganhador do Oscar de
Ator Coadjuvante pela atuação no filme “O Franco Atirador”.
A versão de Cronemberg nos encanta pelo perfeito “clima”
conseguido pelo diretor. Nessa versão, Johnny foi realmente retratado como o ser humano “normal” que é, apesar dos poderes da clarivi-
252
O Redator d’A Arca Perdida
dência; fica claro: Johnny não é um super-homem, mesmo porque o
tal “poder” lhe custou a vida. Os planos abertos de câmera, a fabulosa
e meio assustadora trilha sonora composta por Michael Kamen (também compositor de “Brazil, o Filme”, de “Highlander” e de “Máquina
Mortífera”) e a condução da narrativa são os ingredientes responsáveis pela qualidade do filme.
O professor primário foi magistralmente interpretado por
“Chris” Walken, conforme citado, que deu vida a esse personagem
tão perturbado e marcado pelo destino. Se “A Hora da Zona Morta”
tivesse apelo comercial à época, certamente o ator ganharia outro
Oscar. Walken, de fato, se tornou conhecido pelas interpretações de
tipos perturbados. As cenas em que Johnny perambula pela noite
- trajado de jaqueta preta cujas abas do colarinho se encontram viradas para cima - são de arrepiar!
Martin Sheen, Tom Skerritt, Brooke Adams e Herbert Lom são
algumas das estrelas do filme.
A Nova Zona Morta
Na série foram feitas alterações no enredo original da obra.
Os quatro anos e meio de coma foram aumentados para seis. Sarah,
a ex-noiva de Johnny, se casou com o policial Walter Bannerman
(George, no original): o responsável pelas investigações e morte de um
serial killer descoberto por meio da ajuda do clarividente. Na versão
original, Sarah se casou com um advogado bem sucedido, ao passo
que o policial é um coadjuvante. Imagino o provável motivo: isso foi
alterado de modo que o policial seja um personagem fixo da série.
O Dr. Weizak foi substituído por um médico chinês, Dr. Tran.
Johnny é auxiliado no dia-a-dia por outro personagem que não o doutor: Bruce Lewis. Os episódios são situados nos dias atuais (2002), ao
passo que na obra original a coisa toda acontece nos anos setenta.
John Smith é interpretado por Anthony Michael Hall, “rosto
conhecido” por meio dos filmes juvenis produzidos nos anos oitenta.
Como não se lembrar dele em “Mulher Nota 1000” ou em “O Clube
dos Cinco”? Infelizmente, ficará obscurecido pela interpretação de
Walken. “Sorte” aos que não assistiram ao filme de 83.
Zona Morta: o remake de um clássico
253
Até o momento foram exibidos alguns episódios. É pouca coisa disponível
para que possamos
analisar os aspectos
dessa nova produção. Os dois primeiros
episódios, o “piloto”,
retrataram os acontecimentos narrados até
metade do livro, aproximadamente. Uma das coisas bacanas são as
cenas de clarividência: os efeitos empregados são muito bons. Numa
dessas cenas o cenário “congelou-se” e Johnny caminhou por entre
as pessoas e por entre pingos de chuva – chovia muito - como se
estivesse num museu de cera ou como se tudo à sua volta estivesse
paralisado. Muito interessante! Outro detalhe importante é o fato de
Johnny procurar auxiliar as pessoas em seus problemas do dia-a-dia,
valendo-se de sua paranormalidade.
Dead Zone foi criada por Michael Piller, produtor executivo
de “Jornada nas Estrelas: A Nova Geração”, co-criador de “Deep Space
Nine”, e co-criador e produtor executivo de “Voyager”.
A série é exibida pela AXN (canal 59 da TVA) às quartas-feiras.
O horário de exibição é às 20:00 horas. Reprises acontecem aos domingos, às 19 horas, e durante os dias de semana. Confira os horários
no seu guia de programação.
Aguardemos os novos episódios, pois há muito que acontecer ainda.
Encerramos o artigo com uma frase pinçada do filme de
Cronemberg, dita por Johnny ao Dr. Weizak: “... se pudesse voltar no
tempo na Alemanha, antes de Hitler ter tomado o poder... e sabendo
do que sabe agora, o que faria? O mataria? Detalhe: o Dr. Weizak é
judeu.
(*) Terrível título nacional dado ao filme devido ao sucesso de “A Hora do Pesadelo”. Naquela época diversos filmes foram batizados desse modo, tais como “A Hora do Espanto”,
“A Hora do Lobisomem” e assim por diante.
Star Wars – Episódio 2:
Ataque dos Clones
Lembro-me de tudo como se fosse hoje: eu e minha mãe assistimos ao “Retorno de Jedi” no Cine Gazetinha, nos idos de 1983,
quando, então, tinha meus 9 anos de idade. Naquela época fiquei fascinado com a magia produzida por George Lucas, pois amávamos os
personagens presentes naquela saga, nos identificávamos com eles;
sentíamos que eram “palpáveis”, e, portanto, não eram, sobremaneira, irreais. Os belos e esmerados efeitos especiais serviam como
“pano de fundo” e complemento àquele universo maravilhoso; um
não existia sem o outro.
Em “Ataque dos
Clones”, segunda parte
da saga espacial mais famosa do Cinema, a magia
daqueles
personagens
desapareceu quase que
totalmente, dando lugar
a uma miríade de efeitos
visuais estupendos, mas
nada além disso. Estupendos, sim, entretanto, de
quando em quando nos é
possível identificar falhas grotescas em meio a tantos retoques digitais às cenas. Sinto-me triste por afirmar ter visto a Senadora Amidala,
interpretada pela bela - mas fraca - atriz Natalie Portman, “fazendo
de conta” que disparava sua arma, pois mesmo tendo reproduzido
aquele gesto de disparo - nota-se o “solavanco” da pistola - o pessoal
dos efeitos especiais “esqueceu-se” de inserir os lasers, digitalmente,
comprometendo todos aqueles segundos do filme. Que vergonha!
256
O Redator d’A Arca Perdida
Costumo dizer: em “Ataque dos Clones”, ao invés de haver efeitos especiais nas cenas, há cenas nos efeitos especiais...
A trama desse segundo episódio é um tanto quanto “nevoenta”, nitidamente escrita visando a proporcionar e valorizar os efeitos
especiais e as cenas de ação. O roteiro, contudo, não é o pior do filme,
mas sim as interpretações e caracterizações de alguns personagens.
As fracas interpretações dos atores são o pior, e muito disso deve-se
ao exagero em termos visuais. São tantos os efeitos especiais que, na
maioria das cenas, os atores viram-se contracenando com o “nada”,
mesmo porque esse “nada” seria substituído digitalmente nos momentos posteriores da edição e da montagem. Não sou ator, mas
imagino quão frustrados devem ter estado aqueles atores durante
a filmagem desse novo Star Wars. É fácil de se constatar essas interpretações “ocas”, para isso bastando atenção aos olhares dos atores;
neles há nítida falta de expressão, de sentimentos - é uma pena!
Hayden Christensen, o garoto por trás do adolescente Anakin
Skywalker, é um ator fraco demais. A interpretação dada por ele ao
“futuro” Darth Vader não nos convence, mesmo porque em “Ataque
dos Clones” o personagem encontra-se no início da caminhada ao
“Lado Negro da Força”, em que os primeiros questionamentos começam a “pipocar” na mente do jovem Jedi. Esse princípio de transição
é muito mal transposto na tela, uma vez que o ator só consegue expressar, parcamente, ódio, revolta e raiva, nada mais; não se vê nem
um resquício de bondade no olhar dele, não há a noção do duelo “interior” que começa a ocorrer em sua alma, não há a impressão de que
a perturbação da escolha dentre se fazer o bem, como Jedi que é, e
tomar as próprias decisões, se faz presente, justamente pela pobre
representação de Hayden. Esse Anakin do Episódio II nos faz lembrar
um daqueles moleques malvados e briguentos do tempo de escola.
A irrealidade dos personagens deriva das atuações mal desempenhadas, provocando a não-identificação das pessoas para com esses.
Essas atuações citadas se devem, em parte, à falta de tato de George
Lucas como diretor. Teria feito melhor, como em “O Império ContraAtaca”, se deixasse a direção a alguém do ramo.
Das atuações, por incrível que possa nos parecer, o responsável pelo show é o Mestre Yoda. Em “Ataque dos Clones”, contraria-
“Star Wars – Episódio 2: Ataque dos Clones”
257
mente aos outros filmes da Trilogia original, o supremo mestre dos
Jedis é uma criação desenvolvida em CG (Computação Gráfica). Yoda
parece um ser real, de carne e osso, tão bem-feitas ficaram as expressões faciais criadas pelo pessoal da Industrial Light & Magic. Além disso, o simpático herói verde traz ao filme o momento mais importante
e mais esperado pelos fãs: a luta com os sabres de luz. O Mestre Yoda,
em combate, é algo indescritível em palavras! O cinema, literalmente,
vai ao delírio no momento da batalha entre o Jedi e o Conde Dookan
(representado por Christopher Lee), o vilão Sith.
Há bons momentos no filme, mesmo
levando-se em conta os
problemas citados. Os
efeitos especiais são realmente impressionantes;
nada se viu até o momento como o que foi
apresentado nesse novo
Star Wars. O planeta “Coruscant”, por exemplo, é
um show à parte. Existe, juntamente à luta de
Yoda, outro momento marcante: a batalha na qual dezenas de Jedis
aparecem lutando lado-a-lado, brandindo seus sabres de luz e derrotando inúmeros dróides! Outros tipos de dróides também fazem
bons momentos, com situações cômicas nas quais os simpáticos mecânicos, R2D2 e C3PO, estão envolvidos. Há uma seqüência hilária em
que a cabeça de C3PO é separada de seu corpo.
Star Wars possui toda uma filosofia embasando suas histórias
repletas de signos; há diversas interpretações “escondidas” nas entrelinhas. Há quem diga existir muito de Tolkien (criador de “O Senhor
dos Anéis”) em Star Wars. Outros insistem em afirmar existir muito
da lenda do Rei Arthur na obra de Lucas. Não acredita? Leia “O Poder
do Mito”, de Joseph Campbell; ele faz uma dentre as várias análises
maravilhosas da obra.
258
O Redator d’A Arca Perdida
Infelizmente, Lucas parece estar direcionando “Guerra nas Estrelas” às luzes e aos efeitos especiais, esquecendo-se do realmente
importante: as pessoas e os sentimentos, as verdades ancestrais da
vida e do homem, bem representadas nos filmes da Trilogia original.
A partir do Episódio I, basta contentarmo-nos com as batalhas ao sabor dos jogos de videogame, infelizmente. Parece que esse é o novo
caminho da Força...
Cowboy Bebop:
animê de ficção científica
com pinta de coisa antiga
Séries animadas de ficção científica com ingredientes de
outros universos sempre têm seu charme. Patrulha Estelar,
a maior saga espacial de todos os tempos, ousou misturar a
Segunda Guerra Mundial com naves espaciais. Galaxy Rangers, saudosa animação exibida pela Globo nos anos oitenta, ousou mesclar o futuro distante com o velho oeste.
Cowboy Bebop, série animada produzida pela união Sunrise-Bandai, ousou trazer um ambiente ímpar no qual misturou-se a ficção científica, o jazz, os seriados policiais e um
visual dos anos quarenta. Já na abertura, que é um show à
parte, cenas a la seriados policiais dos anos setenta, regadas a um jazz bem agitado (cheio de metais), dão o tom do
que está por vir.
OS ANOS QUARENTA EM 2071?
O enredo se passa em 2071, num futuro um tanto quanto
caótico em que os caçadores de recompensa são comuns. A Terra, desolada por causa de um incidente com um portal warp, ficou quase
inteiramente desolada. Isso fez com que a população migrasse para
pequenos pontos ainda habitáveis do mundo, bem como se mudasse
260
O Redator d’A Arca Perdida
para outros planetas e luas do sistema solar. As viagens espaciais, pelo
menos isso, tornaram-se algo comuns.
Novos governos independentes surgiram e leis
“bairristas”foram instituídas.
O crime, que fugia ao controle das autoridades, também se expandiu para as
fronteiras além da Terra. O
planeta dispõe de um cinturão de asteróides composto
por um pedaço da Lua, que
explodiu há cinqüenta anos
no tal incidente.
Já sentiram que o negócio não é moleza, não? Cowboy Bebop
(que nome estranho, não?) é a nave em que os personagens principais viajam através dos diversos planetas e luas do sistema solar, muitos dos quais habitados e fervilhando de gente. Eles são uma trupe
de caçadores de recompensa, um novo “negócio” lucrativo, já que o
crime passou a imperar.
Spike Spiegel, o líder da equipe de caçadores, é um tanto
quanto esquisito e magrelo. As pessoas não podem se deixar enganar por ele, pois o cara é muito ágil e luta o Jeet Kune Do, a famosa
arte marcial criada por Bruce Lee na década de sessenta. Spike, certa
vez, pertenceu a uma gangue de criminosos de marte, a Red Dragon, e namorou, às escondidas, a namorada do melhor amigo: Julia.
Tamanha foi a confusão por causa disso que precisou forjar a própria
morte e deixar tudo para trás.
Jet Black, o mais velho da tripulação, ex-policial e também cozinheiro da nave, é o braço direito de Spike – aliás, o braço esquerdo
do grandalhão é biônico. Ele sempre salva a pele do amigo! Apesar de
possuir sua própria nave, a Hammer Head, permanece na Cowboy.
Faye Valentine, uma das garotas do grupo, é bonita e muito
perigosa. Apesar da coragem não ser o forte da mulher, o caráter
mercenário domina o temperamento de Faye, que passa facilmente
a perna nos companheiros por causa de dinheiro. Adora pequenos
Cowboy Bebop
261
gadgets e sabe atirar excelentemente. Ela, no fundo, tem quase 80
anos de idade, porque precisou ficar em sono criogênico devido a
um acidente espacial que quase a matou. Acordada do sono há apenas dois anos e curada, agora precisa pagar sua dívida para com a
clínica. É por isso que vive louca atrás de dinheiro.
Ed Tivrusky, a outra garota, quer dizer, menina, compõe o grupo. Trata-se de uma hackerzinha de 13 anos de idade, mas que sabe
tudo a respeito de redes de computadores e de protocolos de comunicação. Sabe tanto a respeito daquilo que é procurada pela polícia. Pode? Infelizmente, a garota não conheceu os pais (viu apenas
a imagem holográfica do pai) e cresceu nas ruas. Ed foi convidada a
fazer parte da tripulação após ter hackeado o computador da Bebop
depois de uma missão para a qual foi convidada a participar.
O mascote da turma é Ein (um em Alemão), um cão geneticamente alterado em laboratório cuja inteligência excede às dos outros
caninos. O bichinho foi parar dentro da nave, pois Spike salvou-o do
laboratório em questão devido à recompensa que seria paga por ele.
O coitado sofre na mão da turma na nave, quer seja por causa de Faye
ou de Ed.
O vilão da série
– não poderia deixar
de haver um – é Vicious
(não é o cara do Sex
Pistols!), líder de uma
gangue marciana conhecida como Red Dragon. O cara é todo estiloso e carrega diversas
armas, sendo especialista mesmo na Katana.
Na verdade, Spike e ele
foram companheiros e
o primeiro teve um caso com a namorada do vilão, mas sem que ele
soubesse. Desconfiado, Vicious faz de tudo para desvendar a suposta
morte do ex-amigo.
262
O Redator d’A Arca Perdida
Julia, como dissemos, é a ex-namorada de Spike e a grande
paixão do cara. Cuidou dele ao encontrá-lo ferido e à beira da morte,
após um tiroteio.
ANIMAÇÃO DE PRIMEIRA E ENREDO PECULIAR
A série dispõe de uma animação e arte espetaculares, incrivelmente realizados. As cenas de ação, especialmente as das naves e
as das lutas são de tirar o fôlego, de dar água na boca. O enredo está
imbuído de ação, de aventura, de mistério, de humor (especialmente
por causa da menina Ed), de sensualidade, de ficção científica e do
velho clichê de seriados policiais antigos. Trata-se, de fato, de uma
das séries mais queridas pelos Otakus, os fãs de anime.
CowBe, conforme conhecida no Japão, teve 26 episódios e
chegou ao Brasil em 1999 através de fitas VHS (cópias) e de DVDs importados, um ano após ter sido lançada na terra natal. O sucesso da
série se deu, é claro, pela equipe de produção que contou com astros
como Toshihiro Kawamoto (de Mobile Suit Gundam), Hajime Yatabe
(de Escaflowne), Shinichiro Watanabe (Macross +). A espetacular trilha
sonora, composta por Yoko Kanno, também é o diferencial da série.
Navio Fantasma:
é tão previsível que chega
mesmo a assustar!
O mar tem sido palco das mais diversas histórias fantasmagóricas. O mundo literário, por exemplo, é uma das maiores fontes
do armageddon oceânico: temos “Os Lusíadas” e o poderoso Gigante
Adamastor, a onipotência misteriosa de “Moby Dick”, o maldito capitão Van De Straten, vulgo “Holandês Errante”, e tantas outras lendas e
misticismos subaquáticos.
A literatura, entretanto, não detém essa exclusividade. O cinema, em especial, tem criado diversas produções acerca do tema. E os
navios não são os únicos possuídos por entidades do além: há naves
espaciais fantasmas, trens fantasmas, aviões fantasmas e até mesmo
caminhões
fantasmas. Infelizmente (ou
felizmente!) o tema
está deveras batido,
mas ainda assim os
estúdios insistem nesses filmes. Navio Fantasma (Ghost Ship),
produzido em 2002,
acabou de chegar aos
cinemas brasileiros e
é o mais novo exemplo da fantasmagoria
naval.
264
O Redator d’A Arca Perdida
Caça ao tesouro. No início da película o espectador é apresentado a um grupo de caçadores navais: pessoas que buscam embarcações e tesouros perdidos. A bordo do Arctic Warrior estão o capitão
Sean Murphy (interpretado por Gabriel Byrne) e uma equipe de técnicos, cada qual especializado numa tarefa ou num assunto. Também
faz parte da turma a comandante Maureen Epps (intepretada por Julianna Margulies de Plantão Médico), única mulher do grupo.
Durante o festejo por causa de um barco salvo, chega ao
conhecimento da equipe – através dum estranho – o seguinte: um
imenso barco estava à deriva perto do Estreito de Bering e no tal
navio poderia haver itens valiosos e tesouros. Todos acabaram atraídos ao resgate como uma abelha ao mel. Ao chegarem à misteriosa
embarcação, o capitão constatou, atônito, um achado: tratava-se do
transatlântico italiano desaparecido desde 1962: o Antonia Graza. De
fato, foi como se houvessem descoberto petróleo! O melhor de tudo,
porém, residia na possibilidade do navio lhes pertencer, uma vez que
foi descoberto em águas internacionais. A partir desse ponto – da
entrada dos “saqueadores” a bordo – os problemas dos personagens
começam. As coisas pioram ainda mais quando barras de ouro são
encontradas num compartimento do barco.
Navio Previsível. Apesar do início diferente para um filme de
(suposto) terror e das primeiras cenas interessantes, o espectador
logo é levado a praticamente todos os clichês previamente vistos nos
filmes do gênero: frases “feitas” e de “efeito”, sustos premeditados, cenas mal iluminadas, personagens pouco explorados e toda a sorte de
coisas manjadas: é como se você já o houvesse visto. É de espantar,
isso sim, o fato de Navio Fantasma ter sido produzido por dois pesos
pesados do cinema: Robert Zemeckis (ganhador do Oscar por Forrest
Gump) e Joel Silver (de Matrix). Algo que não espanta, em contrapartida, é a presença do diretor Steve Beck, o mesmo do fraco Os Treze
Fantasmas. É triste, mas deixou-se de lado o terror psicológico, que
tão bem caberia num filme como esse, e apelou-se exclusivamente
ao farto ketchup.
Navio Fantasma
265
Os efeitos visuais, pelo menos, são um atrativo; especialmente nas cenas em que o salão de festas do navio é recriado – como
num passe de mágica – em frente a um dos personagens amedrontados. Outro bom momento dos efeitos são as cenas finais da película,
realmente interessantes e bem executadas.
As fracas atuações dos atores também ajudam Navio Fantasma a naufragar mais rapidamente. Nem mesmo Gabriel Byrne esteve
bem. Ele, que impressionou a crítica ao interpretar D´Artagnan – em
O Homem da Máscara de Ferro – não convence ninguém de que
pode capitanear um barco. A cena na qual o personagem retoma o
alcoolismo, por exemplo, é patética. Um ponto positivo vai para a garotinha intérprete da menina-fantasma Katie, a atriz Emily Browning.
Final a lá Sexto Sentido? Não, não espere um final como o do
filme do diretor indiano. Não há nada de revolucionário ao término
de Navio Fantasma, cuja conclusão mais se parece com o desfecho
de um dos episódios da clássica série “Além da Imaginação”. Como se
pode constatar, tudo foi sumariamente copiado de outras produções
e nada é original. Poder-se-ia ter feito algo diferente, nos moldes de
Hitchcock, em que teríamos o horror sugerido, sutil e belo.
Verdade, nalgumas vezes é preferível nos atermos à literatura,
pois naufragar com o Navio Fantasma não assusta nem uma criança de
dez anos. E pior: não serve nem como diversão de final de semana.
Monty Python
Em 1969 surgiu o grupo que mudou a forma de se fazer
comédia na tevê e no cinema: o lendário Monty Python.
O sexteto inovou o tema com um humor visual, mas ao
mesmo tempo textual e crítico. Ridicularizações às diversas
instituições inglesas (e ocidentais), como a Igreja, os executivos engravatados, a polícia, o exército e até mesmo a
realeza Britânica, andaram lado a lado com o nonsense
comandado por puro besteirol.
Depois deles o humor nunca foi o mesmo, uma vez que
influenciaram gerações de comediantes. Prepare-se para
adentrar, através d´A ARCA, no abilolado mundo dos
Pythons ou, então, falaremos “Ni” para você!
COMO TUDO COMEÇOU
John Cleese, Graham Chapman,
Michael Palin, Terry Jones, Eric Idle e Terry
Gilliam. Estes são os nomes dos indivíduos que se tornaram conhecidos por meio
do Monty Python, grupo humorístico
que começou a ser formado na época de
faculdade de seus integrantes. Cleese e
Chapman eram colegas na Universidade
de Cambridge; o primeiro estudou direito e o segundo, medicina. Palin, estudande de História, e Jones encontraram-se
268
O Redator d’A Arca Perdida
em Oxford. Além das atividades relativas aos respectivos cursos, eles
detinham o gosto em comum por escrever e pela comédia.
O tempo passou e não demorou muito para que os futuros
membros do grupo se encontrassem e se conhecessem. De fato, iniciaram a produzir textos cômicos que de tão bons levaram-nos para
além da universidade; aos primeiros programas de tevê pré-Python,
tais como o lendário The Frost Report - entre 1966 e 1967 - para o
qual escreveram sketches humorísticas. O comediante Eric Idle, aliás,
conheceu alguns de seus futuros companheiros naquela fase.
Juntos ainda produziram, após o cancelamento de The Frost
Report, alguns programas memoráveis nos anos que se seguiram: At
Last The 1948 Show, Late Night Line-Up, Complete and Utter History
of Britain, How to Irritate People, The Magic Christian e outros. Em
1969 o grupo se decidiu por lançar um novo show criado exclusivamente por eles e para o qual os próprios escreveriam ao bel prazer,
mas, o mais importante, também atuariam nos diversos papéis que
surgissem. A idéia agradou ao produtor Barry Took, que os ajudou a
concretizar o sonho.
Na primavera de
1969 foi ao ar, pela primeira vez, o programa Baron
Von Took´s Flying Circus,
em agradecimento à ajuda
que lhes foi dada, recheado de sketches humorísticas produzidas por eles.
Foi um tremendo sucesso
e logo ganhou um horário
fixo na grade de programação da BBC, ocasião em
que teve o nome alterado para Monty Python´s Flying Circus. Uma
curiosidade que muita gente sequer imagina: o novo nome do grupo
resultou da co-autoria de Eric Idle e de John Cleese. Cleese sugeriu o
nome Python (espécie de cobra Australiana), talvez pela sonoridade,
ao que Idle sugeriu Monty (um nome próprio), pois se lembrou de um
sujeito gordo e desengonçado que, sempre ao chegar a um determinado pub, perguntava ao barman se “Monty havia estado ali”. Todos
gostaram do nome e eis que o programa foi rebatizado.
Monty Python
269
O CIRCO AÉREO?
A trupe escrevia e atuava simultaneamente. Chapman e Cleese bolavam sketches em conjunto, ao passo que Palin e Jones também. Eric Idle, futuro compositor das músicas do grupo e escritor
solitário, tinha dificuldades para fazer seu material ir ao ar, porque
estava sempre em “minoria”. O programa era dirigido pelo ator-produtor-diretor Ian MacNaughton, falecido em 2002 devido a um acidente automobilístico.
Nossa! Esquecime de Terry Gilliam! Imperdoável! Sim, Gilliam
foi o único estrangeiro
a fazer parte do grupo.
Americano que era, conheceu John Cleese em
Nova Iorque numa turnê
humorística do inglês,
oportunidade em que
o trabalho artístico do
yankee foi-lhe mostrado. No início do Monty
Python, Cleese soube que Gilliam estava de mudança para a Inglaterra – por causa de outros trabalhos – e logo o contratou para criar os
famigerados desenhos e vinhetas do programa, que eram colagens
as mais diversas, com os quais estamos acostumados. Mas não pensem vocês, caros leitores, que a coisa parava por aí, porque quando o
americano atuava, mostrava-se um dos mais desmiolados do grupo.
Não duvidem! Vejam, por exemplo, a sketche da Inquisição Espanhola – “no one expects the Spanish Inquisition!” – e comprovem.
Um dos charmes da trupe reside no fato de se travestirem e
de se disfarçarem dos mais diversos personagens, especialmente de
mulheres, para que atuassem em seus quadros humorísticos. O episódio em que vemos o supervilão Mr. Neutron, por exemplo, mostra
engraçadíssimas velhinhas fofoqueiras e, adivinhem, vividas pelos
próprios. É simplesmente hilário!
270
O Redator d’A Arca Perdida
Apesar dos personagens travestidos, houve uma mulher “real”
no grupo – e que mulher! Trata-se de Carol Cleveland, considerada
como o sétimo integrante do Python, uma linda loura inglesa que
punha os homens na linha e fazia o contraponto nos episódios.
ESCULACHO TOTAL
O material de trabalho do grupo lançava
farpas aos quatro ventos.
O pioneirismo do Python
estava, em grande parte,
no ataque aos convencionalismos e às tradições
britânicas, muitas das
quais forjadas na época
Vitoriana. A Igreja, a polícia, o feminismo, os banqueiros, os executivos engravatados, a medicina, o
sexo, a pompa inglesa, o imperialismo norte-americano e até mesmo
a rainha Elizabeth eram sumariamente massacrados por eles.
Outra parte do humor, porém, advinha de material nonsense mesmo, o famoso besteirol, como no episódio em que se mostra ao espectador o Ministério do Andar Tolo (Ministry of Silly Walk).
Também como no episódio em que Michael Palin, apresentador de
um programa sobre ciência cerebral, o It’s the Mind, discorre sobre o
tema do Deja-Vu e, de forma inédita, acaba por sofrer do fenômeno
ali mesmo durante a apresentação. Totalmente infame!
Os quadros, hoje antológicos, do grupo foram muito bem aceitos durante a primeira e a segunda temporadas. No período que se
situa entre a segunda e a terceira, importante comentar, lançou-se seu
primeiro longa-metragem, Monty Python’s And Now For Something
Completely Different, que era, na verdade, uma grande refilmagem
Monty Python
271
de alguns sketeches já vistos no seriado. Por incrível que possa parecer, o filme aportou primeiro nos Estados Unidos, ao passo que a série
apareceu depois. Os americanos, especialmente os jovens, aceitaram
bem o humor do Python, apesar do sotaque e das diferenças sutis do
inglês britânico para o inglês yankee.
CANCELAMENTO DA SÉRIE
Durante a terceira temporada, em 1973, uma bomba explode:
John Cleese, um dos cabeças do grupo, decide-se por abandonar a
trupe para partir para trabalhos solos, além de achar que o material
humorístico se repetia.
Embora a notícia os tenha abalado, o restante do Python decide-se por continuar, e a quarta temporada é, então, produzida. Infelizmente, a ausência de Cleese é visível – e não apenas como um trocadilho de minha parte, porque as piadas já não apresentam a mesma
graça e parecem, nalguns casos, arrastar-se demasiadamente.
Nessa ocasião eles lançam um especial para a tevê, o Monty
Python’s Fliegender Zirkus, que consiste de duas aparições dos ingleses na tevê alemã, gravadas em 1971 e em 1972. Em alguns dos
sketches, acreditem, eles até falam o idioma germânico.
Após 45 episódios, um especial e um longa-metragem, o grupo se separou em dezembro de 1974.
DEMAIS LONGA-METRAGENS & APRESENTAÇÕES
Não demorou muito e a turma novamente se reuniu para a
realização do segundo filme do bando: Monty Python and the Holy
Grail (Monty Python e o Cálice Sagrado), que foi lançado em 1975. Repleto de nonsense de cabo a rabo, o longa-metragem fez sucesso ao
destruir a maior das lendas britânicas, a do Rei Arthur. Os Cavaleiros
272
O Redator d’A Arca Perdida
da Távola Redonda, que cavalgam cavalos imaginários, o valente Cavaleiro Negro, que não se dá por vencido depois de ser esquartejado, o inóspito resgate encabeçado pelo bravo Lancelot, Sir Galahad
e a tentação vivida no Castelo Anthrax, A Besta Negra de Aaaarrghh
a la Gilliam, a Santa Granada de Mão, os franceses de sotaque terrível,
e diversos outros personagens hilários compuseram um dos filmes
mais engraçados da história do cinema. Curiosidade: a produção foi
co-dirigida pela dupla Jones-Gilliam.
Ainda que o besteirol reinasse, houve espaço para algumas
críticas nas entrelinhas; marca registrada do Python. O final, surpreendente, propõe que, se acreditarmos muito em algo, realmente, por
mais que seja sem sentido para outrem, para nós será verdadeiro.
Passados alguns anos, em 1979, o grupo se reúne novamente
para o lançamento do terceiro filme: Monty Python´s Life of Brian (A
Vida de Brian). Uma sátira à história de Jesus Cristo, o longa-metragem está cheio de referências bíblicas que acontecem, de maneira
inusitada, com Brian (Graham Chapman): um judeu que teve a sorte
(ou o azar?) de nascer num local próximo ao de Jesus e na mesma
data. Resultado: pelo resto da vida, Brian é confundido com o grande
mestre. Há passagens espetaculares na película: um Pôncio Pilatus
(Michael Palin) que fala errado, extraterrestres que salvam Brian de
uma queda fatal, a esmola para um ex-leproso, o voto de silêncio do
ancião, bem como todo o tipo de bagunça com a qual estamos acostumados. A Vida de Brian, um filme genuinamente ateu, recebeu severas críticas à época, especialmente oriundas de fanáticos religiosos
que não entenderam a película.
Em 1982 o grupo se reuniu de novo e se apresentou ao vivo
no famoso Hollywood Bowl. Foi uma loucura! Lotação esgotada e
mulheres atirando calcinhas para os integrantes, verdade. Nessa
apresentação, o Monty Python realizou algumas sketches ao vivo e
apresentou outras previamente gravadas. O quadro do jogo de futebol entre os filósofos alemães e gregos é formidável. A performance
da canção do Lenhador é outro dos pontos altos do show. A apresentação foi gravada em vídeo e lançada sob o título de Monty Python:
Live at the Hollywood Bowl.
Monty Python
273
No ano seguinte, 1983, o
Python reuniu-se mais uma vez
para a realização do quarto longametragem. Trata-se do ótimo Monty Python’s The Meaning of Life (O
Sentido da Vida), uma coleção de
sketches nas quais o grupo questiona o motivo de nossa existência
na Terra. De onde viemos? Aonde
iremos? Qual o motivo da vida? As
piadas iniciam-se no momento do
nascimento, passam pelo ingresso
na escola, pela maturidade, pela
morte e vão ao post mortem. A
cena do nascimento, inclusive, é
hilária. Outro quadro fantástico
tem a ver com um sujeito gordo
que entra num restaurante, Mr. Creosote (Terry Jones), e, mesmo não
“cabendo” mais nada em seu estômago, come e vomita incessantemente. A doação de rim com o sujeito ainda vivo é o must noutro dos
sketches. Alguns números musicais também compõem esse longametragem que selaria a união do grupo para sempre. Ah! Quer saber
qual o sentido da vida? Simples! Conforme dá para perceber ao assistir ao filme, a vida não tem sentido. É, coisa dos Pythons!
Infelizmente, no dia 4 de outubro de 1989 aconteceu o que os
membros do Monty Python chamaram de “uma piada de mau gosto”: a morte prematura de Graham Chapman aos 48 anos de idade. O
comediante veio a falecer por causa de um câncer que lhe tomou a
garganta e parte da coluna. O derradeiro trabalho do ator, o piloto da
série de tevê Jake´s Journey, datou de 1988. Homossexual declarado
e ex-alcóolatra, Chapman deixou órfão o segundo maior grupo humorístico da história, o qual somente esteve “atrás” dos Irmãos Marx.
Ocorrida a separação da trupe, cada qual foi para o seu canto,
como bem sabemos. A maioria continuou – e continua – até hoje no
meio cinematográfico-televisivo, tendo como exemplos de maior sucesso o comediante John Cleese e o diretor Terry Gilliam.
274
O Redator d’A Arca Perdida
O Monty Python, através de seu humor ferino e nonsense,
deixou a própria marca nos anais do cinema e da tevê. Eles, os seis,
são a maior prova de que se pode fazer humor de alto nível sem que
haja a necessidade de recorrer-se às baixarias tão sedutoras. Provaram ser possível parodiar a História, de forma inteligente e maluca ao
mesmo tempo.
Só posso imaginar o que mais teriam produzido se Chapman
não morresse. Nesse exato momento, o Céu – ou o Inferno – estão de
cabeça para baixo!
Stefan Karl Steffanson,
o Robbie Rotten de LazyTown
Ele tem 30 anos de idade, mede 1,95 metros de altura, é um
exemplo de simpatia e adorado pelas crianças. Estamos falando de um ator islandês desconhecido do público em geral, porém, cujo rosto pode ser facilmente reconhecido pelos
pequenos. Trata-se de Stefan Karl Steffanson, o intérprete
do adorável vilão da série infantil LazyTown, um sucesso
transmitido pela Discovery Kids, quem bateu um papo rápido comigo em uma divertida entrevista via e-mail.
Comprovem a simpatia deste que, escrevam aí, ainda despontará como um ator famoso de Hollywood, tão talentoso que é. E viva o Robbie Rotten!
1) É um grande prazer, para mim,
poder entrevistá-lo, Stefan. Você
dança, canta, atua, toca bateria
e piano, e dubla. É uma pessoa
muito talentosa. Como se envolveu com a área artística? Como
começou?
Stefan Karl: Ingressei no teatro, em
um grupo amador, quando ainda
muito jovem. Fiquei, para melhor
ou para pior, por mais tempo lá
do que no colégio. Aprendi a tocar piano de ouvido. Na verdade,
cheguei a ter algumas aulas, mas a
276
O Redator d’A Arca Perdida
professora se cansou de mim; mandou-me para casa para praticar. A
música faz parte de minha vida e está sempre presente. E toco bateria quando sinto vontade!
2) Como se envolveu com Lazy Town? Ajudou a criar o personagem que interpreta, Robbie Rotten?
SK: Originalmente, criei o Robbie para uma peça de teatro na Islândia,
“Robbie Rotten em LazyTown”, em 1999. Ela foi um enorme sucesso
e ficou em cartaz por dois anos. Então apareci como Robbie, por diversas vezes, em outras oportunidades até que o programa de tevê,
a pedido da Nickelodeon, começou a ser produzido. O resto vocês já
sabem.
3) É difícil, para um ator, contracenar com bonecos? Poderia, por
favor, contar aos nossos leitores a experiência de se atuar com
“pessoas” irreais?
SK: Não é difícil, é apenas diferente. É preciso se lembrar que, por trás
de cada boneco, há artistas e atores. E eles são muito bons. Como se
vê, basta que o ator se ajuste à idéia e que parta dali.
4) Uma curiosidade: Magnus Schéving, o criador de LazyTown,
é tão forte quanto Sportacus, o herói que representa? Sabemos
que ele ganhou diversos prêmios e medalhas na Islândia e na Escandinávia, certo? São amigos fora das telas?
SK: Sim, somos amigos e, verdade seja dita, ele é mesmo muito forte
e atlético. Não é papo-furado!
5) O que diz de Julianna Rose Maurielo, a Stephanie? As crianças
a adoram, a amam de paixão. Ela é muito talentosa, não?
SK: Julianna é uma atriz extremamente talentosa, apesar da pouca
idade. Ela trabalha duro e ainda tem que enfrentar as responsabilidades de uma criança comum, ou seja, a escola e os deveres de casa. Eu
realmente a admiro. Ela é fantástica.
Stefan Karl Steffanson
277
6) Qual é seu episódio favorito da
série? Por que? (O meu é o episódio
em que você interpretou o pirata,
muito engraçado!).
SK: “Rottenbeard”, o episódio dos piratas, também é um de meus favoritos.
Minha própria Arara, Olina, foi a estrela desse capítulo, sabiam? Além dele,
gosto muito do episódio em que interpretei a Senhorita Roberta.
7) Na Islândia, país natal de LazyTown, os episódios são refeitos em Islandês?
SK: Não, são apenas dublados para o
Islandês. A série é feita originalmente
em Inglês.
8) Você, Magnus e os demais atores esperavam pelo enorme sucesso que a série vem experimentando no mundo? Qual o fator,
na sua opinião, que torna LazyTown tão adorado?
SK: Claro que torcíamos pelo melhor. Estamos muito felizes com os
resultados. A mensagem de LazyTown tem a ver com amizade, com
ser saudável e ativo, e sempre compartilhar. Os princípios básicos
para uma comunidade de bem, saudável.
9) Poderia, por favor, contar para a gente uma situação engraçada que tenha vivido no set de filmagem de LazyTown?
SK: Na cena de luta do episódio dos piratas, já citado, enfrento Sportacus. O problema é que esqueci de colocar minha dentadura de Robbie Rotten. Alguns espectadores que prestarem atenção em mim
nessas cenas sentirão a falta dos dentes, pois minha aparência mudou razoavelmente. Certa vez perdi a mesma dentadura em uma
cena de ação e todo mundo no set me ajudou a procurá-la, coisa que
demorou bastante: “Por favor, encontrem os dentes de Robbie!!!”.
“Onde estão os dentes?”.
278
O Redator d’A Arca Perdida
10) Aliás, você gosta de usar aquela maquiagem? O tempo de
aplicação da mesma é longo?
SK: Demora aproximadamente duas horas para que se aplique a maquiagem em mim. Tento pegar no sono durante o processo. Quando
terminam as gravações de um episódio, é preciso apenas meia hora
para removê-la. É interessante.
11) Que outros projetos tem em mente agora, Stéfan? Quais são
seus planos para o futuro?
SK: Estou trabalhando em um longa-metragem que pretendo produzir nos Estados Unidos. Espero, também, poder criar minha própria companhia por aqui. Há anos dirijo uma instituição na Islândia, o
“Rainbowchildren”, para crianças que são molestadas e agredidas nas
escolas. Isto tem sido e sempre será meu projeto prioritário, já que
pessoalmente passei por esse tipo de chateação quando criança; eis
o motivo de meu entusiasmo a respeito do tema.
Gostaria muito, aliás, de saber como o assunto é tratado no Brasil.
Entrem em meu fansite e deixem mensagens: http://www.zyworld.
com/stefankarl/stefan.htm. De vez em quando apareço por lá e sempre olho os comentários; tento responder a todos. Promessa!
Poderão, também, saber mais sobre as coisas nas quais trabalho.
12) Poderia dizer algo aos seus fãs brasileiros? Às crianças que
adoram o Robbie Rotten?
SK: Tenho duas filhas. Quando nos mudamos pela primeira vez para
Los Angeles, tivemos uma babysitter brasileira, a Graziele. Ela contou muita coisa para nós sobre o grande país de vocês e eu adoraria
visitá-lo algum dia. Não sei se falam Inglês, mas eu gostaria de visitar
escolas no Brasil e ver como são as coisas. Infelizmente, meu Português é fraco. E estou certo de que vocês não falam Islandês, certo?
Espero poder visitá-los logo!
Muito legal poder falar com vocês! Obrigado!
Zathura:
Sessão da Tarde do século XXI!
Se uma criança viajasse no tempo, de 1985 para 2006, e entrasse em uma sessão de “Zathura – A Aventura Espacial” (Zathura,
2005), longa-metragem que estreará no próximo dia 13 em circuito
nacional, dificilmente desconfiaria de que ali, bem à frente dela, estaria uma genuína produção do século XXI. Este fato, ou seja, a semelhança proposital para com filmes como “E.T.” (1982), “Viagem ao
Mundo dos Sonhos” (1985) e “O Vôo do Navegador” (1986) mostra-se
como o principal atrativo da nova película dirigida pelo ator, produtor e roteirista Jon Favreau (de “Um Duende em Nova York”), admirador confesso de Steven Spielberg e da “década perdida”.
O enredo de
Zathura é sobre a vida
do pequeno Danny (o
engraçadinho Jonah
Bobo) e a de seu irmão
pré-adolescente, Walter (Josh Hutcherson),
ambos filhos do personagem workaholic interpretado por Tim Robbins (de “Um Sonho
de Liberdade” e “Guerra
dos Mundos”), estranhamente creditado
apenas como “Pai”. A recente separação dos pais, infelizmente, também azedou a relação entre os garotos, agora fragilizados, os quais
freqüentemente provocam um ao outro a fim de chamar a atenção
dos adultos. Cada qual quer ser o filho favorito: o que se destaca nos
esportes, o mais inteligente, o mais imaginativo e assim por diante.
280
O Redator d’A Arca Perdida
Em meio a uma das brigas rotineiras, Danny acaba preso no
porão, escuro e poeirento, da velha residência do pai e se depara, sem
querer, com a surrada caixa de um antigo jogo espacial, à corda e feito de lata, que dá título ao filme. Mais que prontamente, o pequeno,
a despeito da confusão, escapa e mostra a “novidade” para o irmão,
quem, sob forte insistência, é convencido a jogá-la. A inusitada aventura, então, tem início: sozinhos e aos cuidados da desligada irmã
adolescente, Lisa (Kristen Stewart, de “Quarto do Pânico”), os meninos descobrem que cada ação praticada na partida, tanto por um
quanto por outro, afeta a realidade das coisas; atinge em cheio a casa
em que estão, a qual acaba miraculosamente transportada ao Espaço. Uma chuva de meteoros, a perigosa proximidade gravitacional de
uma estrela, o “acidente” de Lisa, o encontro com seres alienígenas
(os Zorgons), o robô assustador que não funciona direito (dublado
originalmente por Frank Oz, a voz de Mestre Yoda), a chegada do astronauta misterioso (Dax Shepard, da série da MTV “Punk’d”) e outras
surpresinhas fazem parte dos acontecimentos baseados involuntariamente no desenrolar de cada rodada do velho jogo. Mas e agora?
Continuar a jogar e chegar ao destino final, o planeta Zathura? Será
que isto implicaria o fim do jogo? Será que, finalmente, voltariam à
Terra? Ou seria melhor deixar o estranho jogo de lado e permanecer
preso no Cosmo para sempre? Eis a questão! Somente a união verdadeira de Danny e Walter parece ser a resposta…
O filme, baseado no livro homônimo do escritor americano
Chris Van Allsburg, não por acaso o autor de “Jumanji” e de “O Expresso Polar”, é propositadamente uma tentativa de resgate dos famosos
“filmes de crianças” dos anos oitenta, produções em que os infantes saíam em aventuras alucinantes e maravilhosas, e dominavam
a ação na maior parte do tempo, isto é, davam as cartas como os
verdadeiros heróis. Esse resgate, contudo, não repousa tão somente
no roteiro, de co-autoria do famoso David Koepp (de Jurassic Park,
Quarto do Pânico e Homem Aranha), mas na ambientação por ele
proposta, realizada quase que exclusivamente em um único cenário, a casa, assim como calcada nos efeitos especiais “antiquados”,
mas eficazes. Favreau preferiu, para que se conseguissem atuações
mais convincentes e naturais das crianças, utilizar basicamente efeitos óticos e cenográficos (o cenário principal foi construído sobre
Zathura
281
uma plataforma móvel e levadiça), deixando a computação gráfica
como último recurso. Quando você vir, caro leitor, um enorme robô
na tela, saiba que as crianças também o viram no set de filmagem e
se assustaram de verdade!
Infelizmente, o longa parece sofrer de um problema crônico:
está sendo “vendido” pela mídia como a continuação direta de “Jumanji”. Literariamente falando, tal afirmação procede, contudo, nos
cinemas o último foi adaptado e concebido como um filme único, ou
seja, ele goza de vida própria. Caso o público pense realmente em assistir a um “Jumanji
Parte II”, fatalmente sairá da sala
frustrado, desapontado. Zathura
é, antes, um filme
de e para crianças, e igualmente
para pessoas que
ainda consigam
enxergar o mundo
por meio das pequenas coisas, de
detalhes simples
e sutis, mas especiais quando se encara a vida à baixa estatura. Não
espere, portanto, por tramas complexas, reviravoltas a todo momento, explosões pleonásticas, personagens multifacetados e planos dimensionais de realidades infinitas. Embora razoavelmente previsível,
por outro lado, o epílogo reserva uma grande surpresa.
Zathura proporciona uma história sobre o companheirismo,
sobre o amor e a amizade no núcleo familiar, sobre a redescoberta de
laços afetivos e amizades, e sobre redenções sinceras; temas revestidos de um caráter metalingüístico acerca da importância do imaginar, do fantasiar e do sonhar.
E você, caro leitor? Será que ainda consegue?
282
O Redator d’A Arca Perdida
Curiosidades
• A versão exibida nos cinemas brasileiros é dublada, afinal, a censura é livre e a molecada, de férias, estará presente às
salas em peso. A dublagem foi realizada no Rio e teve o dublador
Guilherme Briggs (voz de Freakazoid) como diretor. Ricardo Schnetzer, a eterna voz de Tom Cruise, dublou Tim Robbins, e Alexandre Moreno dublou o Astronauta.
• No livro, Zathura é um jogo de tabuleiro como War ou
Banco Imobiliário. No filme, porém, o diretor Jon Favreau o transformou em um brinquedo à corda, feito de lata e jogado com
cartas, para que se parecesse com um jogo das décadas de 40 ou
50, fabricado antes da Corrida Espacial e durante a Era de Ouro
da Ficção Científica.
• O DVD do filme será lançado no dia 14 de Fevereiro nos
E.U.A. e trará muitos Extras interessantes, tais como entrevistas e
vídeos dos bastidores.
• Existe um jogo de tabuleiro, recentemente produzido
pela empresa americana Pressman Toy, que é praticamente uma
réplica do Zathura visto no filme e que pode ser jogado em dois,
três ou quatro jogadores. Vêm na caixa itens como naves plásticas, um sistema ejetor de cartas, tabuleiro super colorido e outros bichos!
• Versões de Zathura para jogos de videogame foram lançadas. Os consoles XBox e Playstation 2 foram os sistemas escolhidos para recebê-las.
• A trilha sonora, inspirada em produções como Buck Rogers e Flash Gordon, foi composta por John Debney, também
responsável pelas trilhas dos filmes “Sin City”, “Todo Poderoso” e
“A Paixão de Cristo”.
Gigantes do Ringue:
A Nova Geração
Antiga fórmula do “Telecatch”
está de volta em novo horário
Michel Serdan? Aquiles? Belo? Caveira? “Figuras carimbadas”
e muito bem conhecidas das crianças e dos jovens no início dos anos
oitenta, época em que o programa mais famoso da Luta-Livre brasileira fazia sucesso entre a molecada. Originalmente exibido nas noites dos sábados pela Rede Record, “Gigantes do Ringue” possuía a
mesma fórmula de seus antecessores norte-americanos - os famosos
“telecatches” - por meio da qual enormes lutadores, que compunham
“facções” opostas representando o “bem” e o “mal”, travavam batalhas
formidáveis no ringue. Tudo muito bem coreografado e previamente
ensaiado, para não haver surpresas desagradáveis na “hora H”.
Hoje, vinte anos depois, nem todos os gigantes daquela época estão de
volta, mas pelo menos um,
o maior deles, está: Michel
Serdan. Criador da “Organização Mundial de Lutas”, Serdan
trouxe de volta à TV aquele
famoso programa, mas dessa vez “revisitado” e cheio de
efeitos especiais. “Gigantes
do Ringue: A Nova Geração”
voltou há pouco mais de um ano e vem conquistando a audiência
dos telespectadores da TV Gazeta (emissora local de São Paulo). O
novo show, repleto de lutadores realmente “monstruosos”, fortes e
muito bem treinados, nos lembra vagamente o programa original,
cheio de “velhotes” gordos e lentos; nesse novo “Gigantes” não há vez
284
O Redator d’A Arca Perdida
para os gordinhos! Lutas entre mulheres também são o novo atrativo.
Garanto: muito machão não ousaria enfrentar a famosa “Bia”...
O ginásio do Clube Sete de Setembro, na Água Rasa (em SP),
fica aboletado de crianças, de jovens e dos respectivos papais e mamães, todos ansiosos pelas aparições dos ídolos, como “Sérgio Blade”,
“Bad Boy”, “Marinheiro Jr.”, “Mozart” e “Demônio Cubano”. Durante a entrada dos “Gigantes”, iluminados por luzes estroboscópicas e ao som
de música Heavy Metal, as crianças deliram de emoção e, ao mesmo
tempo, realizam seus sonhos infantis. Ficam em êxtase ao verem seus
heróis voando de um lado para o outro do ringue ou aplicando o famoso golpe “tesoura
voadora”. Algumas,
como não poderia
deixar de acontecer,
preferem os “vilões”
aos “heróis”, e adoram “sacanagens”
como o malvado
batendo no oponente com uma cadeira ou amarrando
as mãos desse nas
cordas para facilitarlhe o “serviço”.
Você não está cansado da “velha fórmula”? Tem curiosidade
acerca desse novo programa? Deseja ver mulheres lutando contra
homens? Lutadores extremamente fortes e, ainda assim, carismáticos? Pois bem, ponha-se sentado (naquela velha poltrona) em frente
à TV, pegue seu refrigerante favorito (ou cerveja), tudo no melhor estilo norte-americano, e volte a assistir ao “Gigantes”!
Não quer...? Tudo bem... concordo com você... é uma besteira?
É tudo ensaiado? Tudo de mentirinha? Está bem, mas quem lhe garante que chatices como “Big Brother Brasil” também não são tudo isso...?
“Gigantes do Ringue: A Nova Geração” está sendo exibido nas
noites das sextas-feiras, das 22:00 às 23:00 horas, na TV Gazeta (Canal
11), tendo reprises aos domingos (melhores momentos), das 21:00 às
21:30 horas.
Jogos de Tabuleiro:
eles ainda seduzem!
Eles são quase tão antigos quanto a Humanidade e popularizaram-se em nosso país na década de oitenta. Acha
que os jogos de tabuleiro são coisa do passado? Pois leia
esta entrevista e descubra esse universo fantástico. Ricardo Christe, 30 anos, gerente de negócios de Internet, é um
dos organizadores do maior evento relacionado aos jogos
e contou tudo sobre eles para nós!
Por que os anos 80 (o início, pelo menos) são considerados a
“época de ouro” dos jogos de tabuleiro no Brasil? Essa afirmação
tem sentido ou é resultado de pura nostalgia?
Nessa época a Estrela e, principalmente, a Grow, fomentavam um
mercado muito dinâmico de jogos de tabuleiro, lançando no Brasil
vários títulos interessantes do mercado
internacional – e algumas boas obras
de autores nacionais,
também. Datam dessa época jogos como
Alerta
Vermelho,
Contatos Cósmicos,
Alaska, Diplomacia e
diversos outros, hoje
fora de catálogo. A
oferta era grande,
286
O Redator d’A Arca Perdida
e os temas, variados. Podia-se achar dezenas de jogos para adultos
coexistindo nas prateleiras das lojas. As novidades lançadas regularmente mantinham o interesse dos compradores.
Hoje, por outro lado, estamos na era dos vídeo games de 128
bits, do DVD, do Home Theater, do telefone celular e dos Palm
Tops, dentre outros monstrengos tecnológicos. O que ainda faz
uma pessoa, em meio a tudo isso, abrir uma caixa de War para
jogar? Por que os jogos de tabuleiro ainda seduzem?
Nenhum aparelho eletrônico consegue imitar a característica mais
fascinante dos jogos de tabuleiro: a interação entre as pessoas, o
olho-no-olho, a diversão gerada pela presença de vários amigos em
torno da mesa.
Jogos de tabuleiro acomodam várias pessoas de uma vez. Quase
todas as formas de entretenimento eletrônico são individualizadas.
Mesmo jogos de computador multiplayer forçam uma situação de
cada-um-no-seu-canto, ou no seu micro. Há pouco ou nenhum contato real entre as pessoas.
Videogame implica em olhar para a tela. Já o tabuleiro implica em
olhar para os outros. O jogo é estendido sobre uma mesa, as pessoas
sentam em redor, brincam e conversam, sem estresse. Sem temporizadores para a partida, e num ambiente bem mais amistoso e camarada (bem menos neuroticamente concentrado, por assim dizer) do
que numa disputa de videogame. Videogame convida a competir; jogos de tabuleiro convidam a jogar conversa fora, dar risada, brincar.
Qual o perfil do atual fã dos jogos de tabuleiro? Todo fã é um colecionador?
O pessoal que joga com mais freqüência é o mesmo que curtia os
jogos de tabuleiro nas décadas de 70 e 80. Em geral é uma turma
que acompanhou a evolução dos jogos eletrônicos, parando de jogar
tabuleiro depois de uma certa época.
Hoje, com as novas possibilidades que os jogos importados trazem,
o pessoal adora redescobrir a antiga curtição. Não é saudosismo: é
tomar contato com a evolução dos jogos de tabuleiro.
Jogos de Tabuleiro: eles ainda seduzem!
287
Os brasileiros acham que jogo de tabuleiro está extinto, ou quando
muito, estagnado nas mesmas velhas reprises, como o War e o Banco
Imobiliário. Há muito mais que isso por aí! A variedade, pelo menos
entre os importados, é enorme.
Muitos desses velhos fãs convidam amigos que nunca tinham jogado, a conhecer a brincadeira. É uma seleção natural de novos adeptos, e assim a coisa vai deixando a sala das nossas casas e ganhando
espaços públicos.
Há casos de pais de família, na casa dos 30 anos, levando os filhos
para jogar junto. Isso é sensacional; diversão em família, sem demagogia.
Quanto a colecionar jogos, nem todo fã é colecionador, mas é preciso
importar os jogos por conta própria. Não há alternativa, já que nenhuma loja em território brasileiro trabalha com jogos de tabuleiro
fabricados lá fora, contemporâneos e incrivelmente interessantes. É
preciso acessar lojas na Internet e encomendar pelo Correio. Quem
compra um, gosta e acaba comprando outro, e assim começam as
coleções.
Jogos como “Contatos Cósmicos” (da Grow), lançado em 1983,
são raridade nos dias de hoje. Como é o mercado nacional de jogos usados? Existe um comércio desse material?
Não existe um mercado estruturado. Sites de leilões pela Internet,
como o Mercado Livre, são praticamente a única forma de se adquirir
jogos de tabuleiro do passado. Mas é tudo muito esparso, ocasional.
Quais são os jogos do momento? Os jogos nacionalizados ainda
são bons? Conte-nos sobre o fascínio exercido nas pessoas pelos
jogos alemães da atualidade.
O jogo mais comentado da atualidade chama-se Puerto Rico, uma
criação do alemão Andreas Seyfarth, e já traduzido para o Inglês. É
uma simulação (estilizada) de produção e comércio agrícola no Período Colonial. Extremamente dinâmico, nele nem mesmo as etapas
da rodada têm ordem certa para acontecer. Permite muitas estratégias de vitória e possui uma tensão constante; não é possível fazer
288
O Redator d’A Arca Perdida
tudo o que se quer, os recursos para o jogador são limitados. Decidir
é difícil e divertido.
Puerto Rico é um exemplo muito bem acabado do fascínio gerado
pelos jogos alemães de hoje em dia. É um produto sofisticado, de alta
qualidade gráfica, num padrão que os jogos brasileiros estão muito
longe de atingir. É um jogo inteligente e variado, que cativa adolescentes e adultos. E suas possibilidades são tantas que não há como
enjoar dele.
A Alemanha é a maior produtora mundial de jogos de tabuleiro, com
certeza. Isso porque o mercado interno deles consome continuamente há décadas, sempre querendo novidades, mais e melhores jogos.
Com isso, gerações de crianças e adultos puderam acompanhar uma
evolução gradual no acabamento, no refinamento e na
pluralidade de temas que os
“jogos alemães” exploram.
Hoje em dia eles dominam
a criação e fabricação, e arrecadam dinheiro suficiente
para caprichar nos produtos. É muito difícil competir
de igual para igual, por isso
mesmo muitos países importam e traduzem esses
jogos para lançá-los localmente. Alguns dos autores
desses jogos são cultuados
como personalidades.
Acha que os jogos de tabuleiro poderiam fazer sucesso entre
a criançada de hoje? Como faze-las adquirir interesse pelos jogos?
Se as crianças forem educadas para gostar disso, se jogarem com os
pais, divertindo-se com eles... Não há como errar. Os jogos desenvolvem o raciocínio e a sociabilização das crianças. Divertem e refinam
a habilidade de comunicação. A Alemanha é novamente um bom
Jogos de Tabuleiro: eles ainda seduzem!
289
exemplo neste caso: lá, jogar em casa é um hábito. Pais e filhos se
divertem juntos, conversando e estimulando o pensamento, ao invés
de ficarem assistindo TV passivamente.
Você é um dos organizadores do evento “Festa do Peão de Tabuleiro”. Conte-nos tudo sobre o evento! Qualquer um pode participar?
A Festa do Peão de Tabuleiro (FPT) é uma reunião de curtidores de
jogos de tabuleiro, tanto colecionadores fanáticos, como gente simplesmente nostálgica, e mesmo pessoas que antes não se interessavam, mas têm curiosidade de conhecer as novidades importadas.
Nós reunimos quase 80 pessoas a cada nova festa, e mais ou menos
a mesma quantidade de jogos de tabuleiro (emprestados pelos donos). Não temos apoio formal de nenhuma empresa; fazemos tudo
na base do voluntariado.
Originalmente, a FPT ocorria trimestralmente em São Paulo, mas estamos crescendo! Em Agosto ocorrerá a primeira edição carioca, e o
pessoal de Fortaleza e Belo Horizonte está se mexendo também...
Para participar, é preciso antes de mais nada conhecer o site oficial:
http://www.festadopeao.tk/. Lá você se informa e pode entrar em
contato conosco, para fazer sua inscrição.
Além do evento, há outras formas de contato entre os fãs e entusiastas?
E-mail é o principal meio de contato do pessoal. Temos uma lista de
discussão por e-mail, chamada Tabuleiro, dedicada ao assunto. Qualquer entusiasta de jogos de tabuleiro, com ou sem experiência, pode
se inscrever e participar dos nossos papos. Através da lista é que lançamos os convites para as Festas do Peão.
O endereço para se inscrever é http://groups.yahoo.com/group/tabuleiro/
Adoramos conhecer gente interessada em jogos de tabuleiro!
290
O Redator d’A Arca Perdida
Para finalizar, gostaríamos que convencesse aquele leitor que
possui um jogo de tabuleiro a retirá-lo do armário e a jogá-lo novamente.
Abrir um jogo de tabuleiro diante dos amigos é envolver a todos
numa diversão incomum hoje em dia... só o gostinho da “novidade” já
valerá a experiência, tenham certeza! É muito difícil achar quem não
goste de jogar, mesmo que a pessoa a princípio não pareça. Esqueça
os preconceitos! A farra na companhia dos amigos compensa de longe o (pequeno) esforço. E tudo pode acontecer na mesa de jantar da
sua própria casa! Amigos, risadas, e pouco gasto de dinheiro... o que
pode haver de ruim nessa receita?
Se a experiência for boa, visite o nosso site e descubra um mundo
bem mais amplo do que imagina...
Especial fim de ano:
Filmes do Garrettimus
O Natal está chegando. E Natal faz com que nos lembremos de infância, de brincadeiras, de jogos, de amigos e de
filmes. Sim, filmes! Nós, do Aumanack, preparamos, em
homenagem ao Natal, um artigo especial em que cada
membro do site comentou sobre os cinco filmes favoritos
da infância! Divirtam-se!
A História Sem Fim (1984)
The Neverending Story
(de Wolfgang Petersen)
Bastian Bux (Barret Oliver), um
imaginativo garoto que acabou de perder a mãe, sente-se só e vive importunado por valentões do colégio. Ao fugir
dos garotos, Bastian adentra uma loja
de livros e toma emprestado, de uma
maneira nada convencional, um volume
muito especial: “A História Sem Fim”. Ao
começar a lê-lo, escondido na escola, o
jovem descobre o maravilhoso mundo
de Fantasia, um lugar que, aliás, ajudará,
ao lado de personagens inesquecíveis, a
salvar da ameaça definitiva: o Nada.
292
O Redator d’A Arca Perdida
Esta pequena jóia da década de oitenta, um clássico absoluto
do período e referência - direta e indireta - usada em produções posteriores, foi baseada no livro homônimo do escritor germânico Michael Ende e procura mostrar, alegoricamente, a tênue linha divisória
entre realidade e fantasia, entre imaginação e pragmatismo.
Antes, porém, penso que o filme (e o livro) seja uma apologia à importância da imaginação na vida do Homem; como ela e a
realidade, a todo tempo, se misturam e se afetam mutuante. Preste
atenção à irresistível trilha sonora composta por Giorgio Moroder e
Klaus Doldinger, ora eletrônica, ora orquestrada, além da bela música
tema gravada pelo - hoje - desconhecido cantor Limahl. Impossível,
também, não se apaixonar por Falkor, o dragão da sorte! Mas cuidado: não deixe que o Nada domine sua vida!
Viagem ao Mundo dos Sonhos (1985)
Explorers (de Joe Dante)
Ben (Ethan Hawke), um menino imaginativo e fã de Ficção
Científica, passa a ter estranhos sonhos sobre placas de circuito-impresso e componentes eletrônicos. Na companhia do amigo e geniozinho da ciência Wolfgang (River Phoenix)
e do solitário Darren (Jason Presson), Ben
acaba por descobrir o real significado de
tais sonhos: o esquema para a criação de
uma nave espacial feita de energia pura,
a qual levará os meninos ao encontro de
um destino inusitado - além de nosso
mundo.
“Viagem ao Mundo dos Sonhos”
é uma doce aventura sobre a importância dos sonhos e da imaginação; sobre o
poder de se compartilhá-los. É, também,
um filme acerca das amizades especiais
da época de nossa meninice, de quando
Especial fim de ano: Filmes do Garrettimus
293
éramos garotos e meninas, do tempo em que tínhamos um mundo à
nossa frente por explorar. O desfecho de Explorers, o clímax, está impregnado de um discurso metalinguístico relacionado à Ficção Científica e ao estereótipo do alienígena “malvado”, quando, na verdade,
o Homem seria o arquiinimigo de si mesmo, o único verdadeiramente capaz de se destruir. Os destaques da película, ao meu ver, são a
trilha sonora, composta por Jerry Goldsmith, a direção eficaz de Joe
Dante e a atuação brilhante de River Phoenix ainda garoto.
E.T. O Extraterrestre (1982)
E.T. The Extraterrestrial
(de Steven Spielberg)
Elliott (Henry Thomas) e os irmãos, Gertie (Drew Barrymore)
e Michael (Robert MacNaughton), sofrem com o afastamento do pai,
ausente; vivem ao lado da mãe em uma típica cidadezinha suburbana dos E.U.A. Em uma noite bonita, um pequeno alienígena acaba
deixado para trás, na floresta, quando a nave em que estava parte
apressadamente para o Espaço. O ser, perdido na Terra e batizado
posteriormente de E.T., acaba justamente no quintal de Elliott, quando se encontra com o menino e, então, uma linda amizade floresce
paulatinamente. O problema: pesquisadores do governo estão atrás
do E.T., que fará de tudo para “voltar para casa”.
Escrever sobre “E.T.”
é, como se diz, “chover no
molhado”. Trata-se de uma
belíssima e delicada história
de amor e de amizade, contada do ponto de vista das
crianças por meio da utilização de câmeras à baixa
estatura, ou seja, emulando
o olhar e a altura dos infantes. A cena final, em que E.T.
294
O Redator d’A Arca Perdida
finalmente parte, é uma das mais comoventes e sinceras do Cinema,
pois os atores mirins demonstraram, de verdade, seus sentimentos, já
que o filme foi rodado na sequência em que o vemos; fato que proporcionou laços afetivos entre as crianças e o ser fictício. A direção
mais que competente de Steven Spielberg, que deu enfoque aos pequenos detalhes, e a trilha sonora de John Williams são os destaques.
Curiosidade: “E.T.” ganharia logo uma seqüência cinematográfica, e
um tratamento de roteiro, “Nocturnal Fears”, chegou a ser co-escrito
por Spielberg e por Melissa Mathison, a roteirista original. Como se
sabe, tal filme sequer foi rodado, mas a continuação apareceu em
formato literário: a obra “E.T. no Planeta Verde”, escrita pelo premiado
autor William Kotzwinkle.
Os Heróis não têm Idade (1984)
Cloak & Dagger (de Richard Franklin)
Em San Antonio, Texas, David Osborne (Henry Thomas), um
imaginativo garoto de onze anos de idade, acabou de perder a mãe.
Como única companhia, já que o triste e atarefado pai (Dabney Coleman) não lhe dá a devida atenção, há um espião e amigo imaginário,
Jack Flack (interpretado também por Dabney Coleman), que acaba
por dar conselhos ao menino.
Davey adora jogar videogame e brincar de espionagem, e tem como parceira a
menina Kim Gardener (Christina Nigra). Em
um dia fatídico, ambos vão ao edifício da
empresa de eletrônica Textronics, a pedido
do amigo nerd, Morris (William Forsythe), e
o menino finge cumprir uma missão secreta.
Durante a brincadeira, contudo, David vê-se
cara-a-cara com assassinos reais quando um
estranho homem, baleado, entrega-lhe um
cartucho - de Atari - do jogo “Cloak & Dagger”, nome que dá título ao filme, e lhe pede
Especial fim de ano: Filmes do Garrettimus
295
que o leve e o mantenha em segurança. Tal cartucho especial, na verdade, contém o blueprint (a planta) de um novo avião espião americano, ultra-secreto. O objeto poderia ser levado para fora dos E.U.A.
se caísse em mãos erradas, e o segredo, revelado. A partir daquele
momento, o jovem inicia, “auxiliado” por Jack Flack, uma corrida para
escapar dos bandidos, que raptam a pequena Kim e o perseguem
implacavelmente por diversos pontos da cidade de San Antonio.
Em “Os Heróis não têm Idade”, rodado em 1983 e lançado em
1984, a tônica do enredo tem a ver com o rito de passagem da infância para a vida mais adulta, isto é, com o processo de abandono dos
heróis, imaginários ou de brinquedo, das histórias mirabolantes de
piratas e conquistadores do espaço, dos videogames e seus beep-beeps (à época do filme, os videogames eram vistos como um produto
genuinamente infantil.), e com a perda da inocência, da ingenuidade;
tudo em prol da aquisição de novas responsabilidades, do amadurecimento. Os destaques são as atuações de Henry Thomas, como Davey, e de Dabney Coleman, que encarou a difícil tarefa de interpretar
dois personagens distintos. A cena final é linda e muito comovente.
Os Goonies (1985)
The Goonies (de Richard Donner)
Penso que não exista um filme que melhor represente a Geração Oitenta como “Os Goonies”, clássico produzido e escrito por Steven Spielberg, roteirizado por Chris Columbus e dirigido por Richard
Donner. Em “Os Goonies”, um grupo de amigos, Mikey (Sean Astin),
Bocão (Corey Feldman), Data (Jonathan Ke Quan), Gordo (Jeff Cohen), Brand (Josh Brolin), Andy (Kerri Green) e Stef (Martha Plimpton),
vê a amizade de longa data ameaçada por um milionário que pretende demolir as casas do bairro em que moram, conhecido como
Goon Docks (Docas Goon), a fim de lá construir um campo de golfe,
já que os pais da garotada não têm dinheiro suficiente para cobrir a
hipoteca do local.
296
O Redator d’A Arca Perdida
Desesperados por causa da separação iminente, os meninos
se decidem por partir juntos para uma nova e última aventura quando descobrem, no sotão da casa de Mikey, um suposto mapa de um
tesouro do pirata Willy Caolho. Munidos de suas bicicletas, de alguns
apetrechos e de muita coragem, os Goonies partem, então, em direção ao ponto inicial indicado no mapa: o restaurante da família de
bandidos conhecidos como Fratelli. E em meio aos bandidos, quem
diria, conheceriam o mais novo amigo e membro do grupo, Sr. Sloth (interpretado pelo falecido John Matuszak), um personagem que
passou a morar nos corações dos fãs.
“Os Goonies” é uma aventura mágica sobre os tempos de infância, sobre as amizades
sinceras das quais dispusemos quando crianças
e pré-adolescentes. Aos
poucos, o espectador passa a ser envolvido nessa
amizade contagiante e não
mais consegue se desvencilhar dela. É difícil, concordo, apontar os destaques
deste filme, pois tudo foi
muito bem-feito e pensado: a direção, a trilha sonora (lembram-se da música
tema cantada por Cyndi
Lauper?), os atores mirins,
os efeitos, o navio pirata
etc. O clássico de uma era!
Algumas referências literárias
vistas em The Matrix
Já dizia o sábio que nada nesse mundo se cria, mas se
transforma. No mundo do cinema, é verdade, não há sequer a necessidade da sabedoria para comprovar o constante reaproveitamento das idéias. Em The Matrix, acredite
se quiser, não houve exceção.
Você, caro leitor, achava que os irmãos Wachowski criaram
sozinhos todo aquele universo? Mesmo? Então, saia da
Matrix e descubra algumas referências literárias que fazem
parte das peripécias de Neo e de Morpheus.
NEUROMANCER de
William Gibson
A premiada obra do escritor
norte-americano William Gibson, Neuromancer, teve fórmulas fundamentais
utilizadas para o formato através do qual
o filme Matrix se apresenta aos espectadores. O autor, pioneiro, apresentou a
idéia de uma rede global de informações,
a Matrix; uma simulação de realidade virtual conectada diretamente ao cérebro
humano.
298
O Redator d’A Arca Perdida
Na obra em questão, pela primeira vez o
termo Ciberespaço foi
utilizado, dando dimensão a um novo mundo
além da nossa realidade.
Assim como no filme, se
um indivíduo morresse
na Matrix de Neuromancer, morreria na vida real.
O uso de eletrodos ligados à mente humana (na
testa) também apareceu
nesse livro, idéia utilizada no filme dos Wachowski, mas ligeiramente alterada, pois a interface cerebral é inserida na base do crânio.
Assim como em Matrix, os usuários de Neuromancer se sentam em
cadeiras e se prendem a elas quando conectados ao mundo virtual.
As referências, claramente, são mais do que óbvias.
I Have No Mouth And I Must
Scream de Harlan Ellison
Harlan Ellison escreveu muita coisa boa para a televisão. Seus
roteiros foram usados em episódios de Além da Imaginação, de Jornada nas Estrelas, e em diversas produções do gênero. Uma de suas
obras de 1973, I Have No Mouth And I Must Scream, teve diversas
referências usadas no filme.
O enredo do livro, aliás, é similar demais ao da película: um supercomputador planetário combate humanos e, vencedor, assume o
controle das coisas na Terra. Os prisioneiros, então, são detidos num
mundo virtual criado pelo tirano digital. Uma das criaturas digitais,
assim como o Agente Smith, é clara ao citar que odeia os humanos.
Algumas referências literárias vistas em The Matrix
299
Outra: a célebre frase “welcome to the desert of the real” –
dita por Morpheus – também se origina do livro em questão. Porém,
a alusão mais clara à obra de Ellison repousa na cena antológica em
que a boca de Neo some; o que nos remete diretamente ao título da
obra: “não tenho boca, mas preciso gritar”.
Simulacra and Simulations
de Jean Baudrillard
Esse denso livro de 1981 permeia bastante as aventuras
de Neo dentro da Matrix. A ótica de Baudrillard dita que a cultura
pós-moderna está repleta de signos que ofuscam nossa percepção quanto ao que é ou não realidade – premissa básica do filme.
A indústria cultural, segundo
o autor, bombardeia a cabeça das pessoas, deixando-as
confusas: fatos, informações,
entretenimento, política; tudo
se mistura numa miríade de
imagens (simulações) e de signos (simulacros). O presidente
Lula, por exemplo, seria uma
simulação de político, ao passo que Guga, o tenista, seria
uma simulação do esportista;
e assim por diante. O conjunto
Simulacra-Simulation, em nossa sociedade, é o responsável
por, exemplificando, fazer com
que compremos compulsivamente, trabalhemos em
empregos dos quais desgostamos, realizemos inúmeras
atividades duvidosas – e tudo
sem nem nos darmos conta.
300
O Redator d’A Arca Perdida
Curiosidade: quando Neo abre o livro no qual esconde suas
drogas digitais, que por acaso se mostra o próprio Simulacra and
Simulations, a página está no capítulo sobre o Niilismo. O Niilismo,
simplifiquemos, crê na inutilidade da vida - que essa não tem sentido
algum - e na falência dos valores tradicionais-morais de nossa sociedade; infundados e irreais.
Alice no País das Maravilhas
de Lewis Carroll
A ilustre obra do famoso e controverso – acusado de pedofilia – autor
inglês também proporcionou grandes
referências ao filme. Algumas são óbvias demais; outras, nem tanto.
Alice, como sabemos, ao perseguir o coelho branco, acaba dentro de
um buraco de coelhos (toca). Eles, os
coelhos, também aparecem aos montes no filme. Exemplo: Neo, mandado,
precisou seguir o coelho branco, coisa
que fez ao encontrar a moça tatuada
justamente com o desenho do animal.
Ao conhecer Morpheus, esse pergunta
ao escolhido se está se sentindo como
Alice no buraco do coelho. Na cena em
que a pílula deve ser escolhida, Morpheus diz que se tomada a vermelha, mostraria o quão fundo é, na realidade, aquele buraco. Noutro
exemplo: há uma cena na qual Choi se encontra duas horas atrasado,
tal como o coelho que vive desse modo no livro, e, assim como esse,
culpa outra pessoa, Dujour, (Alice no original) pelo atraso.
Há outras referências mais sutis, como o fato do Agente Smith
ter dito a Neo que vive duas vidas distintas. Em determinada parte da
obra, Alice questiona consigo mesma a possibilidade de estar viven-
Algumas referências literárias vistas em The Matrix
301
do duas vidas. São ofertados a Neo, em diversas cenas, comestíveis
ou bebidas, também como na obra de Carroll. Exemplos: o escolhido
tomou a pílula vermelha no princípio, ao sair do Oráculo lhe foi dado
um biscoito, Cypher lhe oferece uma bebida durante a conversa que
têm; há muitos casos. Alice, por sua vez, vive a comer e a beber durante sua estada naquele mundo mágico – atividade que altera seu
corpo físico conforme o passar da história.
Quando Neo ingere a pílula, vê um espelho que se mostra
fluido e que acaba por cobrir seu corpo. Isso faz com que acorde no
mundo real, em seu casulo. Alice, por sua vez, passa por um espelho
a fim de entrar no Mundo dos Óculos; espelho esse que também se
transforma, magicamente, em um fluido sobre o qual ela sobe. Outro
exemplo: o herói quase morre afogado ao acordar naquele casulo –
repleto de líquido. Alice, igualmente, quase se afoga numa piscina
preenchida pelas próprias lágrimas.
Sobre o que é ou não real, mais referências: Neo tem dificuldades para aceitar as coisas como se apresentam a ele. Demora a
compreender que a mente, ao contrário do que pensou no princípio,
controla as coisas na Matrix. Alice também passa pela mesma situação quando ela, Tweedledum e Tweedledee, os guardiões do castelo
da Rainha de Copas, conversam a respeito do Rei Vermelho enquanto
esse dorme. Durante o papo, os guardiões questionam com Alice a
realidade da existência da menina: seria ela uma parte dos sonhos do
rei adormecido? Se ele acordasse, desapareceria ela? Ainda durante
a conversa, Alice termina por chorar, mas subitamente sorri ao se deparar com lágrimas supostamente reais. Reais? “Quem disse que são
reais?” - é o que retrucam os dois.
Caro leitor, desconhecia essas referências literárias? Há muitas, muitas mais; tantas que seria possível escrever um livro a respeito (se é que não existe), e, portanto, desafiamos vocês a encontrar
referências diferentes destas, e não apenas relacionadas à literatura.
Há outras referências em Matrix, especialmente aos animes (séries de
animação japonesas).
à luta!
Que tal começar pelo Mágico de Oz? Pois, saia da Matrix e vá
Monty Python e o Cálice Sagrado:
Um dos filmes mais engraçados da
história ganhou versão
especial em DVD
Um pouco sobre os Pythons
e sobre o Filme
“Monty Python e o Cálice Sagrado” (“Monty Python and
the Holy Grail”) é uma produção
de 1974, estrelada pelo despirocado e mais famoso grupo humorístico da história: o Monty
Python. Aquele grupo britânico,
responsável por uma verdadeira
revolução no meio humorístico
– nos anos setenta – por meio
do programa “Flying Circus”,
era composto pelos comediantes: John Cleese, Michael Palin,
Graham Chapman, Terry Gilliam
(o único americano do grupo),
Terry Jones e Eric Idle; quase todos ainda atuantes nos meios cinematográfico e televisivo.
O filme é uma divertida paródia às aventuras do Rei Arthur
e de seus Cavaleiros da Távola Redonda, oriundas da lenda devidamente registrada nos anais da Humanidade através da obra “Le Morte D´Arthur”, supostamente escrita por um tal Sir Thomas Malory (*).
A espada Excalibur, os menestréis, os alucinados “cavalos invisíveis” e
304
O Redator d’A Arca Perdida
até mesmo Deus são parte de uma grande “festa nonsense” regada
ao melhor estilo daqueles brilhantes e malucos ingleses!
Apesar de tratar-se de uma comédia, a produção foi de grande esmero no tocante às locações e à fotografia, pois tudo é muito
caprichado. Destaque também para a direção, que foi “a duas mãos”:
tanto Terry Gilliam quanto Terry Jones estiveram por trás da batuta.
Piadas à parte (algumas, inclusive, intraduzíveis ao Português), o filme é repleto de críticas à monarquia, à aristocracia e à
dominação religiosa; algumas óbvias e outras nem tanto, podendo
ser percebidas nas entrelinhas... É notório: filmes de cunho histórico
cujos conteúdos são humorísticos, mas críticos, são a grande marca
registrada dos Pythons.
Edição Especial em DVD duplo:
O filme, remasterizado digitalmente, foi lançado recentemente numa versão especial em DVD duplo, para colecionadores, a qual
nos traz inúmeros extras. Essa nova versão em formato Widescreen
Letterbox de alta-definição é um verdadeiro deleite com excelentes
som e imagem. É possível de se notar detalhes
que previamente passaram despercebidos
na única versão da obra
disponível no mercado
brasileiro: a fita de vídeo
selada da VTI (lançada
no início dos anos noventa). Além de todo o
“banho digital” dado ao
filme, o material inédito
é realmente o grande
atrativo do pacote.
Monty Python e o Cálice Sagrado
305
O segundo DVD é o dos extras. Há tanta coisa disponível que
o espectador poderá ficar perdido, literalmente. Dentre as pérolas há,
por exemplo:
• Trailers de Cinema
• Comentários dos Diretores
• “Versão especial para os surdos”
• “Como usar seus cocos?” (filme educacional)
• “Monty Python e o Cálice Sagrado” em Lego
• “Em Locação com os Pythons” (uma produção original da BBC)
• “Legendas para pessoas que não gostaram do filme”
• “Em Busca das Locações do Cálice Sagrado” (documentário
produzido por Michael Palin e Terry Jones)
Amigos, isso é apenas um exemplo dos Extras desse filme. É
muita coisa, mesmo!
É importante, porém, avisa-los do seguinte fato: o DVD em
questão é importado e pertence à chamada “Região 1”, ou seja, só poderá ser reproduzido em aparelhos nacionais de DVD que estiverem
“desbloqueados”, e, portanto, que forem compatíveis. Cuidado!
Quanto ao Monty Python, infelizmente o grupo se desfez no
final dos anos oitenta, por causa do falecimento precoce de Graham
Chapman (intérprete do Rei Arthur e homossexual declarado), vítima de câncer de garganta. Esses ingleses doidos influenciaram toda
uma geração de comediantes, como por exemplo: os integrantes dos
programas “Saturday Night Live (americano) e “Kids in the Hall” (canadense). Realmente, influenciaram e influenciam esses artistas do
riso até hoje.
Após terem produzido a obra que comentamos, ainda fizeram os filmes “A Vida de Brian” e “O Sentido da Vida”. Tomara que lancem as versões especiais desses filmes também!
(*) Na época do surgimento da obra havia, pelo menos, 4 pessoas possuidoras do mesmo
nome. Eis o motivo da incerteza quanto ao real autor.
RetrôTV:
o maior site brasileiro de
séries e desenhos antigos
Johnny Quest, Jornada nas Estrelas, Viagem ao Fundo do
Mar, Formiga Atômica, James West e Além da Imaginação.
Estes nomes lhe são familiares? Essas produções clássicas, veneradas por tantos fãs que assistiram a esses programas na
juventude, têm um magnífico espaço na Net. Trata-se do RetrôTV, o maior site brasileiro dedicado às antigas produções.
A ARCA entrevistou, com exclusividade, o criador do projeto, Maurício “Hitchcock”, que contou para nós tudo a respeito da sua criação.
A ARCA: Olá, Maurício, tudo bem? Bem-vindo! Obrigado por sua
participação. Quando teve a idéia de criar um site especializado
em desenhos e em séries antigas? Como surgiu o projeto?
MAURÍCIO “HITCHCOCK”: Foi no ano de
1999, época em que começaram a surgir hospedagens grátis de sites, e resolvi montar um para aprender como se
fazia. A intenção foi de apenas colocar
algumas imagens de desenhos e de séries antigas, mas também tive a idéia
de colocar alguns textos. Foi aí que contatei alguns amigos, fãs de
séries e desenhos antigos, e os convidei a escrever. No dia primeiro
de janeiro de 2001, o Central RetrôTV estreou na web.
308
O Redator d’A Arca Perdida
AA: Como você faz para atualizá-lo com tanta informação? É coisa que não acaba mais! Executa tudo sozinho?
MH: Realmente, o site tem um grande volume de informação. Em todos os fins-de-noite, eu dou uma atualizada. E, quando posso, nos
fins de semana também. Faço tudo sozinho. O que menos faço é escrever textos (só os reviso), pois não daria conta de tudo. Existe uma
equipe de colaboradores que escrevem para mim.
AA: Quais as produções mais procuradas pelos fãs? O pessoal
procura mais coisas dos anos 60, 70 ou 80?
MH: As produções dos anos 60 são as mais procuradas no site, tais
como Perdidos no Espaço, Viagem ao Fundo do Mar, A Feiticeira,
Jeannie é um Gênio, Brasinhas do Espaço, Jonny Quest, A Cobrinha
Azul...
AA: O RetrôTV é um dos únicos que abrem espaço para a dublagem. Por que? É um aficionado pela profissão? Aliás, o que pensa
da dublagem brasileira?
MH: A dublagem é mais importante que a imagem! Soa meio estranho, mas é a verdade. As imagens das séries e dos desenhos antigos
estão preservadas pelas suas distribuidoras. Já a dublagem, não. O
Brasil não tem muita preocupação de preservar sua memória e muitas fitas (películas), com as respectivas dublagens, foram perdidas.
Temos que dar valor aos antigos dubladores, possuidores das vozes
que mais ouvimos em toda nossa infância. Procuro colocar seus nomes no site, sempre que possível. Geralmente, tenho mais vontade
de conhecer um dublador do que o próprio ator dublado por ele. A
dublagem brasileira é uma das melhores do mundo.
AA: Como é a visitação do site? Qual o público que o acessa? Já
mediu esse tipo de dado?
MH: O site recebe, em média, 15 mil visitas por mês. A maioria do
público está entre os 30 e 40 anos, mas há também muitos jovens
de 20 anos, e os mais velhos, com mais de 50 anos. Recebo muitas
RetrôTV: o maior site brasileiro de séries e desenhos antigos
309
mensagens de pessoas emocionadas por saber ou ver algo relacionado com um programa ao qual assistiu bastante quando mais
jovem. Um fato curioso é que recebo mensagens de pais que estão preocupados em mostrar aos filhos aquilo que eles assistiram
quando crianças e, de fato, tentam fazer com que eles não vejam
Dragon Ball e Pokémon, por exemplo, devido às doses excessivas
de violência.
AA: Vocês estão empolgados por causa do novo Retro Channel?
Fale sobre o canal para os leitores d´ARCA. Parece haver muitas
reclamações a respeito.
MH: É. O Retro Channel, antes de tudo, tem me proporcionado um
certo trabalho. Tem muita gente pensando que o canal é do site, por
terem nomes parecidos. A premissa do canal é muito boa, mas estão havendo muitos
problemas, como intermináveis erros de
tradução, repetição
exaustiva de episódios e indisponibilização das dublagens. Mas temos que
dar um tempo. Aos
poucos eles devem
se acertar.
AA: Os ditos colecionadores de coisas raras, esse pessoal é sério
mesmo ou somente procura arrancar dinheiro fácil dos outros?
HM: Tem muita gente séria e muita gente pilantra. Geralmente, os
preços acabam altos demais para algumas raridades, pois também
custa caro para se recuperar as películas que são adquiridas. O problema é que esse comércio é considerado pirataria e pode causar alguns problemas para os adeptos.
310
O Redator d’A Arca Perdida
AA: Qual o futuro do RetrôTV? Aonde querem chegar com o
site?
HM: O RetrôTV hoje, além de entreter os visitantes com textos, imagens, sons e vídeos das produções clássicas, tem também a função
de lutar pelos interesses do fãs. O site leva as reclamações dos assinantes/espectadores para os canais que exibem esse tipo de programação. Recentemente, o canal Boomerang recebeu um documento
contestando as intermináveis reprises e a falta de variedade do canal.
O documento foi muito bem recebido e agora está em análise no departamento de programação do canal. O futuro é um maior número
de fãs unidos pelo site, para que possamos promover eventos, mostras, etc. Um grande número de fãs, mobilizados, facilitaria a aceitação de reclamações dos espectadores.
S.W.A.T.:
clássica série policial
dos anos setenta fez história
No final dos anos setenta, quando éramos crianças, bastava
que ouvíssemos a música tema dessa série para que corrêssemos à frente da televisão. Era batata! Batata, também, que
no dia seguinte brincássemos de S.W.A.T. durante o recreio,
cada garoto querendo representar algum dos personagens
principais da série, como o comandante Hondo Harrelson.
O quê? Nunca ouviu falar? Não mesmo? Então, caro leitor, leia
este artigo d´A ARCA e descubra uma das séries policiais mais
famosas da tevê, agora que o novo longa-metragem baseado nessa produção está estreando nos cinemas brasileiros.
A SÉRIE: Super-Homens da Lei?
S.W.A.T., sigla que significa Special Weapons And Tactics (Armas e Táticas Especiais), é uma série de tevê que originalmente surgiu
em 1975, exibida pela rede ABC em horário nobre. O enredo, repleto
de marginais, de terroristas, de policiais e de cidades sitiadas, mostra as
aventuras de um esquadrão de elite liderado pelo tenente Dan ‘Hondo’
Harrelson (Steve Forrest) sob o auxílio do sargento David “Deacon” Kay
(Rod Perry), bem como apresenta as peripécias dos policiais Jim Street (Robert Urich, falecido em 2002), Dominic Luca (Mark Shera) e T. J.
McCabe (James Coleman); todos, aliás, veteranos do Vietnã - cada qual
com habilidades únicas - que enfrentam situações incomuns, aquelas
impossíveis para a polícia normal.
312
O Redator d’A Arca Perdida
Situada na atribulada Los Angeles, S.W.A.T. proporcionava momentos espetaculares de ação e de aventura para os fãs do gênero,
apesar do caráter previsível dos episódios e do óbvio maniqueísmo.
Como não se lembrar dos heróis a correr e a entrar naquele furgão
especial, enquanto a trilha sonora (composta por
Barry De Vorzon) dava o
tom da próxima aventura
perigosa? Pôxa, todo moleque pirava com aquilo!
Armas especiais, bombas,
rifles, lutas e muitas perseguições – esse era o dia a
dia dessa série, mais uma
dentre as diversas produções policiais da década
de setenta.
SUPOSTA VIOLÊNCIA E
CANCELAMENTO PREMATURO
O seriado, spinoff de outra produção da ABC, The Rookies,
foi cancelado, infelizmente, após 39 episódios (somando-se o piloto)
em 1976 e durou apenas duas temporadas. Supostamente violento
demais para a época, retratou por muitas vezes os agentes daquele
esquadrão como super-homens invencíveis e onipotentes. Alguns
críticos, verdade, adoravam pegar no pé da série, fato que também
pressionou o estúdio ao cancelamento. É claro que, para os padrões
de hoje, a violência contida no programa é brincadeira. Praticamente
qualquer atração de tevê da atualidade é mais violenta que S.W.A.T.
S.W.A.T.
313
NO BRASIL
No Brasil, a série, dublada pela Herbert Richers, estreou em
1977, quando foi exibida nas noites de quarta-feira, na Globo, após a
novela das oito. Nos anos noventa, foi reprisada pelo Canal Sony, mas
legendada.
Aproveite, caro leitor d´A ARCA, já que esse novo longametragem estreou nos cinemas brasileiros, e procure conhecer um
pouco de um dos programas mais famosos da tevê americana. Mas,
cuidado: precisará se decidir de qual lado está – mocinhos ou bandidos – porque, do contrário, vai levar borracha, hein?
Video games clássicos
e filmes dos anos oitenta:
uma bela mistura!
Quem viveu na época, sabe: os video games - quer sejam os
domésticos, os de computadores ou os fliperamas - foram
os coadjuvantes principais da molecada durante aquela
década. Sempre estiveram ao lado de outros brinquedos
famosos como o Aquaplay, o Playmobil, os Transformers,
os Comandos em Ação ou mesmo o futebol com os amigos
da escola. O novo brinquedo foi a sensação do momento
(e, embora não soubéssemos à ocasião, tornar-se-ia popular para sempre), que marcou definitivamente os eighties
como o ponto de partida das parafernálias eletrônicas.
Como não poderia deixar de ser, eles tomaram parte de alguns filmes clássicos nos anos oitenta. Em certos casos, foram meramente citados, noutros, quase desempenharam
o papel principal. Não se lembra? Como não?
Então siga conosco nesta viagem temporal e relembre - ou
descubra! - os filmes oitentianos dos quais, de maneira original, aqueles jogos eletrônicos participaram!
316
O Redator d’A Arca Perdida
E.T., O EXTRATERRESTRE
Atari e Space Invaders (1982)
A história do alienígena mais amado da Terra foi uma das pioneiras a promover citações sobre os video games. É! Não se lembra?
Pudera, uma vez que as referências a eles são um tanto quanto sutis.
Na sequência em que Michael (Robert MacNaughton), o irmão de Elliott (Henry Thomas), é “apresentado” ao alienígena, podese ver que o jovem traja uma camiseta em cuja estampa há os dizeres
“Space Invaders”, assim como figuras dos alienígenas do jogo. Outra
citação bem escondida: antes das cenas em que se nota a tal camiseta, Michael diz a seguinte frase ao entrar no quarto do irmão: “Tyler (o
personagem de C. Thomas Howell) fez 69 mil pontos no Asteróides,
mas puxaram o fio da tomada”. Se você, caro leitor, já brincou com o
jogo em questão, clássico do Atari 2600, sabe que essa pontuação é
deveras alta e requer horas de paciência em frente ao televisor.
Noutra cena, em que Gertie (Drew Barrymore) assiste ao programa Vila Sésamo, E.T. começa a balbuciar as primeiras palavras em
inglês. Os olhos mais atentos puderam - ou poderão - notar a presença de um Atari 2600 sobre a
tevê da sala. Não acredita?
Pois veja o filme em DVD
e aumente o controle de
brilho do aparelho. Spielberg presentiu que o Atari
viraria cult e, portanto, fez
questão de não deixá-lo
de fora do filme.
TRON E SPACE PARANOID
Jogos Tridimensionais (1982)
Tron foi o primeiro filme a conter computação gráfica de forma contundente, e isso em 1982. Kevin Flynn (Jeff Bridges), hábil
Video games clássicos e filmes dos anos oitenta: uma bela mistura!
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programador e criador de muitos vídeo jogos, após ser demitido
da ENCOM, abriu o próprio arcade (fliperama). Nas cenas em que
os amigos de empresa visitam o ex-funcionário, um salão recheado
de máquinas de fliperama pode ser visto. Leitores espertos notarão jogos como Space Wars, Asteroids
Deluxe, Berzerk e Omega Race. O personagem de Jeff Bridges, porém, joga
o fictício Space Paranoid; uma de suas
criações.
Apesar do fliperama, baseado
em sketches de pré-produção, ter sido
lançado durante a execução do filme,
Flynn brinca, como disse, com um jogo
não real; uma imagem criada pelo computador Cray 1/S para somente ilustrar
aquelas cenas da película. Esse jogo,
amigos, nunca existiu, a despeito dos
boatos que andam por aí.
O BISPO DA BATALHA
Fliperama Além da Imaginação (1983)
Embora brinquei com o título, não se trata de um episódio
da clássica série criada por Rod Serling no final dos anos cinquenta,
mas de um longa-metragem que segue o mesmo estilo: Pesadelos
Diabólicos (Nightmares).
Lançado em 1983, esse filme foi escrito em uma parceira entre Jeffrey Bloom e Christopher Crowe. O primeiro escreveu, dentre
inúmeros trabalhos, episódios da antiga série Quarto Escuro (1981),
exibida no Brasil, e o longa-metragem O Jardim Dos Esquecidos, de
1987. O segundo também participou de Quarto Escuro e escreveu
episódios da série Os Novos Intocáveis, aquela de 1993.
318
O Redator d’A Arca Perdida
O enredo é composto por quatro histórias
distintas, bem ao estilo
Além da Imaginação, Galeria do Terror e Amazing
Stories. A que nos interessa foi batizada de O Bispo
da Batalha. J.J. Cooney
(Emilio Estevez em início
de carreira) é um típico
adolescente viciado em
jogos de fliperama e de video games. Passa horas a fio com eles, tão
fanático que é. Porém, ao descobrir um jogo diferente, no qual o Bispo da Batalha - o Senhor de todos os desafios - faz pouco caso dos
jogadores e os desafia, J.J. fica alucinado para derrotar o oponente,
mesmo sabendo que precisará vencer as 13 fases da partida.
O jogo, de fato, provoca tanto o jovem jogador que esse invade o fliperama de madrugada para poder jogá-lo sem interferências
e, dessa forma, vencer o último nível. O desfecho é algo estarrecedor.
O arcade Bispo da Batalha não existe, é claro, mas o observador astuto poderá notar outros jogos famosos, tais como Plêiades, Asteroids,
Venture, Donkey Kong e Tempest.
WARGAMES
Quer jogar Guerra Global
Termonuclear? (1983)
Wargames é um dos clássicos dos anos oitenta, inegável! A
história de David Lightman (Matthew Broderick em início de carreira), um garoto genial e fanático por computadores (o termo Hacker
sequer existia) que consegue penetrar nos sistemas do governo
norte-americano. Ele quase incita a Terceira Guerra Mundial ao jogar,
inocentemente, o Guerra Global Termonuclear; jogo em que os Estados Unidos e a União Soviética se enfrentam.
Video games clássicos e filmes dos anos oitenta: uma bela mistura!
319
Na verdade, descobre-se que aquilo deu início a uma simulação de guerra real e que, eventualmente, principiaria mesmo a hecatombe nuclear. Imaginem o desfecho disso, pois ainda vivíamos os
resquícios da guerra-fria.
Pôxa, o dono da locadora da qual
aluguei cartuchos de Atari - em 1983 e em
1984 - batizou-a de Wargames, e justamente por causa desse filme. Não é preciso dizer mais nada! A produção marcou
época e fez história.
O cartucho que David jogou não
existe de verdade, contudo, na cena em
que o jovem entra no fliperama, antes de ir
à escola, é possível ver diversas máquinas
reais por lá. Nessa parte do filme ele joga
o clássico Galaga. Mais uma vez, leitores
atentos notarão, ao lado direito do gabinete daquele jogo, o gabinete do também
clássico Zaxxon.
OS HERÓIS NÃO TÊM IDADE
Atari 5200 na cabeça! (1984)
Henry Thomas não ficou sem trabalho após sua atuação em
E.T., O Extraterreste, de 1982. Ele, mais do que rapidamente, interpretou outro papel no cinema: o do imaginativo garoto Davey Osborne,
que perdeu a mãe recentemente e que tem, como melhor amigo, um
personagem imaginário, Jack Flack (uma espécie de Comandos em
Ação de carne e osso), interpretado pelo excelente Dabney Coleman.
O menino envolveu-se numa trama por meio da qual o esquema de construção - o famoso blueprint - de um avião-espião foi
secretamente inserido num cartucho de Atari 5200, vídeo game lançado nos E.U.A. em 1982 e não fabricado no Brasil, o qual foi parar em
320
O Redator d’A Arca Perdida
suas mãos. Davey precisa, então, fugir de malfeitores que desejam
apoderar-se do cartucho e, por conseguinte, capturá-lo.
Em uma das cenas o garoto é visto em seu quarto jogando,
no Atari 5200, o jogo Cloak and Dagger (algo como capa e punhal –
termo usado para designar o arquétipo da espionagem); nome, aliás,
que dá título ao filme em inglês. Em outra cena famosa, em que Davey
entra numa loja de departamentos, o espectador tem a chance de ver
diversas caixas de video games e de jogos do Atari, e também caixas
do ColecoVision; tudo à venda nas prateleiras do estabelecimento.
Quanta nostalgia! Esse
fato me faz lembrar do
Natal de 1983, época
em que fui ao extinto
Mappin Praça Ramos
(em SP) para comprar
o meu Atari. Havia caixas e caixas de video
games por lá!
Detalhe interessante: o jogo visto
no filme existe mesmo e é a versão oficial do fliperama, embora tenha sido mostrada, propositadamente, como a do Atari 5200. A do
video game, infelizmente, nunca saiu do papel. Os produtores da
película conectaram a motherboard original da máquina a uma televisão convencional e fizeram com que a imagem parecesse ser a do
próprio Atari. Isso que é marketing, hein?
Os Heróis Não Têm Idade traz, ao final, uma mensagem muito
bonita e pertence àquela categoria de filmes ingênuos, bem ao estilo
manjado dos anos oitenta. O fato do ator Dabney Coleman ter interpretado, além de Jack Flack, o pai do garoto, foi genial!
Curiosidade: Henry Thomas, durante as filmagens, não chegou a jogar realmente o Cloak and Dagger ao interpretar seu personagem. Em seu lugar, o criador do jogo, Russell B. Dawe, foi chamado
pelo diretor e jogou-o às escondidas, isto é, longe das câmeras para
que o desempenho do garoto fosse convincente. Claro que era sempre o menino quem aparecia com o joystick do Atari 5200 nas mãos!
Russell, verdade, foi creditado no final do filme. Basta checar!
Video games clássicos e filmes dos anos oitenta: uma bela mistura!
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GREMLINS
Monstros verdes habitam
os video games? (1984)
No famoso sucesso dirigido por Joe
Dante e escrito por Chris Columbus, Gremlins,
também está presente o video game. Na parte
em que os monstrinhos fazem a tremenda bagunça num bar (que mais se parece com uma
taverna), alguns deles jogam Star Wars, o fliperama da Atari.
Noutra cena, na casa de Billy Peltzer
(Zach Galligan) - o personagem principal - os
Mogwais (nome dos seres quando não transformados nos Gremlins) brincam com o minigame Tabletop da Coleco: o Donkey Kong.
E isso não é tudo, pois na seqüência final do filme, aquela em
que Billy enfrenta Stripe na loja de departamentos, é mostrado muito
rapidamente um cartucho de Atari novinho sobre uma prateleira.
O ÚLTIMO GUERREIRO DAS ESTRELAS
Campeão da Sessão da Tarde (1984)
Está aí uma produção que todo moleque, hoje adulto, viu! As aventuras de Alex
Rogan (Lance Guest), campeão do fliperama
Starfighter, o qual foi recrutado pelo alienígena
Centauri (o falecido Robert Preston) para enfrentar, no mundo real, um tirano intergaláctico.
As imagens computadorizadas, incríveis para a
época, foram, assim como em Tron, renderizadas pelo computador Cray - modelo X-MP.
322
O Redator d’A Arca Perdida
As cenas em que o jovem enfrenta os inimigos são fabulosas!
Impossível não se lembrar delas! Infelizmente, o jogo de fliperama,
assim como em Tron, não existiu de verdade. Houve, sim, um cartucho
baseado no filme, mas para sistemas domésticos, que foi rebatizado
e lançado para o Atari 5200 / Atari 800: o Star Raiders II. Ele foi criado
a partir de um protótipo com base na versão oficial do jogo, a mesma
vista no filme.
VIAGEM AO MUNDO DOS SONHOS
Exploradores espaciaiS
e um Apple IIc? (1985)
Nessa simpática produção de 1985, três amigos constroem
uma nave espacial energética (uma esfera de energia), a ThunderRoad e, auxiliados por extraterrestres, vão de encontro a eles nos confins do espaço. Wolfgang Müller (o falecido River Phoenix), o geniozinho a la Dexter da turma, desenvolve o sistema guia da nave num
microcomputador Apple IIc dotado de 128 KBytes de memória - essa
parte, de fato, é muito bem frisada pelo menino. Deus sabe que, hoje,
128 KBytes de memória não são NADA! Lembro-me, no dia seguinte
à exibição da película, da molecada falar a respeito desse detalhe no
recreio.
Está bem, o filme em questão não tem nada a ver com video
games, mas, ainda assim, é uma referência que mostra o quão distantes estamos dos anos oitenta em termos de tecnologia. Ademais, o filme é muito
bacaninha. A direção de Joe
Dante e a trilha sonora do
mago Jerry Goldsmith foram
colaborações fundamentais.
Há, ainda, as participações
de Ethan Hawke e da gracinha Amanda Peterson.
Video games clássicos e filmes dos anos oitenta: uma bela mistura!
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GOONIES
O atrapalhado Chunk e o
fliperama sem fichas (1985)
Bem no início de Goonies, talvez o mais adorado e cultuado
filme dos anos oitenta, há uma cena muito engraçada que está relacionada com os jogos eletrônicos. Chunk, o gordinho atrapalhado,
aparece, em tese, jogando Cliff Hanger num fliperama. A coisa é muito rápida, pois logo ele larga tudo e espreme o copo de suco contra
o vidro da janela (a cena é impagável!) para assistir à súbita perseguição automobilística dos Fratelli.
O mais interessante é: percebe-se facilmente que o jogo estava no modo de espera, isto é, na apresentação em que se aguarda
pela inserção de fichas para iniciar-se a partida. Pôxa, então como o
gordinho estava jogando? Que furo! É por isso que escrevi que, em
tese, ele jogou.
D.A.R.Y.L.
Mais Atari 5200 (1985)
D.A.R.Y.L. (Barret Oliver) conta a história de um menino de 10
anos de idade na forma de um experimento militar: ser superdotado
- e capacitado com um microchip cerebral - que o faz pensar
e agir com o poder computacional de uma máquina. Ele
escapa de seus criadores e vai
parar numa pacata cidadezinha dos Estados Unidos, onde
é adotado por uma família local. A confusão está armada,
pois seus criadores o querem
de volta e, por outro lado, ele
procura fugir a todo custo.
324
O Redator d’A Arca Perdida
Numa seqüência do princípio, vivida na casa dos pais adotivos, Daryl impressiona a todos ao jogar, perfeitamente, o jogo Pole
Position do Atari 5200. Ele arrebenta!
A película é super bacaninha, além de diversão garantida para
a família. No final, quando Daryl pilota o Blackbird da força aérea, o
espectador chega a questionar consigo mesmo sobre as vantagens ou desvantagens - da inteligência artificial.
Bem, amigos leitores d´A ARCA, chegamos ao final! Espero que esse
apanhado tenha reavivado as memórias de vocês e que possam, caso estiverem interessados mesmo, assistir a alguns desses filmes para novamente
matar a saudade daquela época; ocasião em que nos divertíamos com video
games que não dispunham mais do que 8 ou 10 cores na tela.
Certamente existem muito mais filmes relacionados aos video games, mas os que citei são, sem sombra de dúvida, os mais conhecidos do
público brasileiro.
Será que eu consigo uma camiseta do Space Invaders igual à do
Michael?
Uma tarde no Proctologista.
Pequena crônica de
grande incômodo
Devido a alguns distúrbios de ordem nada agradável - e dos
quais não me orgulho - precisei me consultar com um Proctologista.
É, esse palavrão designa o médico que toma conta de um local muito
importante de nosso corpo; área que quase nunca, ao longo de nossas vidas, observamos em nós mesmos.
Cheguei ao consultório, localizado em uma travessa da Avenida Paulista, e, para minha surpresa, esse estava vazio. A mesa da secretária, quem diria, encontrava-se ausente da respectiva dona. Bom
sinal: ouvi vozes além de uma das portas, a qual estava providencialmente cerrada. Depois da parede, pessoas conversavam em Alemão,
pelo que parecia, pois escutei por diversas vezes a palavra “viel”, que
significa “muito” naquele idioma. Perdi-me em meus pensamentos ao
imaginar em qual situação o advérbio poderia ser aplicado.
Por fim, cansei-me de esperar pela presença de alguém e pedi
à minha esposa, via celular, que telefonasse ao consultório. Claro, eu
poderia ter simplesmente batido à porta, mas considero tal ato como
falta de educação. Dito e feito! Ring, ring! Em questão de segundos
ela se abriu e apareceram duas figuras ímpares: uma dona mais branca do que alvejante, que me cumprimentou em Alemão, e um médico baixinho, também alvo (mas nem tanto), vestido de branco, careca
e gorducho.
Desculpas pedidas e aceitas, devido à espera, e adentramos
o consultório. “Qual seu nome? Profissão? Idade?”. Essas perguntas,
respondidas, e começamos o bate-papo. Como falo mais que a boca,
minha esposa que o diga, contei-lhe acerca de minha predileção pela
escrita e de meu amor pela literatura. Ele, descendente de alemães,
326
O Redator d’A Arca Perdida
extremamente simpático e deveras empolgado, passou a curiosamente descrever o passeio de Charles Darwin a bordo do navio Beagle, no séc. XIX, em navegação pelos mares da América do Sul. Um
assunto, digamos, algo pitoresco.
Comecei a achar aquilo estranho, pois o diálogo não ia, de
jeito algum, para o motivo pelo qual eu estava ali. Muito esquisito.
Cheguei a questionar comigo mesmo se aquele baixinho era médico ou se era o terapeuta da senhora alemã alva-como-alvejante. A
verdade? Aquela situação se parecia com uma calmaria prévia à tempestade. Depois de quinze minutos de Beagle para lá, Darwin para cá,
Patagônia, Argentina e que tais, o pequeno doutor, finalmente, perguntou: “qual o motivo de sua visita?”. Interessante é o uso da palavra
visita. As pessoas dificilmente visitam um médico pelo simples prazer
do ato; são forçadas àquilo. Visita? Uma ova! Assaltou-me a impressão
de que Moby Dick apareceria no meio daquela história e subitamente afundaria, enfurecida, a embarcação de Darwin.
Tudo esclarecido. Chegou a hora do exame e, portanto, o doutor falante pediu que eu entrasse em uma saleta adjacente na qual
logo observei uma cama metálica; igual àquelas dos hospitais. Vi diversos aparelhos, vidros, compotas e coisinhas que acendiam, e então
veio a frase que nenhum homem de bem deseja ouvir de outro homem: “por favor, abaixe suas calças até o joelho. A cueca também”.
Depois pediu que, devidamente “desfalcado”, eu me sentasse na cama e me deitasse para que ficasse na posição fetal, ou seja,
postado de lado. Feito. Chovia lá fora. Pude escutar os pingos a bater na janela, o que me distraiu por alguns segundos. Distração essa,
infelizmente, quebrada pelo início da intervenção. “Dói?”. Não, não
doeu, não naquele momento. Permaneci calado por algum tempo e
ele prosseguiu. A partir dali o clímax da minha “visita” teve princípio.
Ouvi uma frase que ficará marcada para o resto da minha existência
na memória: “espere um pouco que vou colocar um aparelhinho”. Ela
soou como o estribilho de um poema de quinta categoria.
Não era “um” aparelhinho, longe disso; muito longe, aliás. Era
algo “especial” o que se reservara para mim. O que dizer de Davi frente a Golias? Pois sim! Inserido o tal instrumento de tortura, galguei
diferente patamar da existência humana; como se minh´alma saísse
Uma tarde no Proctologista – Pequena crônica de grande incômodo
327
de meu corpo e a ele voltasse repetidas vezes. Talvez fosse por isso,
quem sabe, que a palavra “viel” ia e voltava quando lá cheguei. Será?
“Relaxa, relaxa”, foi a seqüência. Como, em nome de tudo o que é mais
belo nesse mundo, poderia eu relaxar? Nunca vira aquele senhor antes, fora violado em tudo o quanto é sagrado para um homem; permanecia ali, sozinho, vulnerável, sem calças e desolado. Mas Deus é
nosso mentor: brevemente a coisa chegou ao fim e me recompus.
Grandes esperanças pareciam ao meu alcance.
Recoloquei minha honra, quer dizer, minhas calças, e passamos à saleta ao lado; a mesma na qual o caso de Charles Darwin parecia inicialmente pitoresco. Enfim, ótimo! Nada de grave e somente
cuidados adicionais se faziam necessários para que a alegria retornasse ao reino. Final feliz. Ao vencedor, as batatas! Quer dizer, as calças.
Apressadamente, dei adeus ao médico falante, àquele verborrágico
carrasco travestido de contador de histórias, e saí em direção à estação do metrô. Ainda chovia e, por conseguinte, caminhei devagar.
Cheguei ao meu destino e embarquei.
Surreal como as obras de Dalí: no metrô, era como se todos
olhassem para mim, não sei bem o porquê, e dissessem: “é, meu amigo de camiseta vermelha, sabemos que foi ao Proctologista. O que
aconteceu lá, hein? Doeu, é?”. Sensação terrível! A única coisa favorável, no caminho de volta, foi uma linda moça negra de suas vinte
e cinco primaveras; cabelo alisado, sorriso belo, dentes claros - mas
não tão alvos como a tez daquela dona - e naturalmente dotada de
belo corpo, que jazia de pé à minha frente no interior do trem. Golias
tombaria ante ao poder de Davi? Óbvio e sem pestanejos!
No prédio de minha morada, já a bordo do elevador, notei
olhares irônicos dos demais passageiros. Senti que, a qualquer momento, poderia alguém perguntar a mim: “é, meu amigo de camiseta vermelha, sabemos que foi ao Proctologista. O que aconteceu lá,
hein? Doeu, é?”.
Acho que eu precisaria responder assim: “viel! viel!”.
O dia em que – quase – visitei E.T.
O Extraterrestre
(30 anos atrasado!)
Dizer que “E.T. O Extraterrestre” seja meu filme favorito de todos os tempos é chover no molhado. Meus amigos e familiares sabem. A película sobre o pequeno alienígena perdido na Terra encanta a todos desde seu lançamento, em 1982, e mora em meu coração.
De tanto gostar, resolvi colocar em prática um antigo sonho que acalentava há duas décadas: visitar as locações de filmagem, algo que os
americanos chamam de “filming locations”.
Após pesquisar no IMdB, no excelente site de Hervé Attia e
também no maior fórum de fãs do diretor Steven Spielberg, o Playmountain, descobri que E.T. foi filmado, principalmente, em bairros/
comunidades de San Fernando Valley, subúrbio de Los Angeles, Califórnia. Aliás, o Vale de San Fernando, famoso por ter aparecido em
muitos filmes, foi uma das últimas áreas da Grande Los Angeles a ser
assentada e povoada. Descobri, também, que os locais de filmagem
foram basicamente dois: as cenas do bairro, das ruas adjacentes e do
morro/trilha de terra, chamo de primeiro local, e as cenas externas
(as internas, em estúdio) da casa da família de Elliott, o personagem
principal, chamo de segundo local.
O número um,
ou seja, o bairro, as ruas,
o playground (cena do
furgão) e o morro (Elliott
aparece com sua bicicleta BMX em uma trilha de
terra) estão em Porter
Ranch, na porção norte
330
O Redator d’A Arca Perdida
do Vale, um bairro novo à época da produção (1981). Lá, em vias como
Granada Circle, Brasilia Drive, Vista Grande Way, Killimore Ave e Viking
Ave, Spielberg rodou a cena do Halloween (E.T., disfarçado de fantasma, e os meninos saem de casa para ir à floresta), a cena da parada do
ônibus escolar (amigos da escola de Elliott o provocam com a “história do duende”) e parte das cenas que tiveram a ver com a fuga das
crianças em suas bicicletas. Em Porter Ranch também estão o morro/
barranco e a trilha de terra. Ambos fazem parte de um parque, o Palisades Park, a partir do qual há uma vista fantástica do Vale. Por último
e não menos importante, há o playground que aparece bastante na
sequência final do filme, na parte em que E.T. é retirado do furgão e
embarcado em uma das bicicletas para a fuga.
O segundo local, a
casa da família de Elliott e, por
que não, a casa de E.T., fica a
leste de Porter Ranch, em Tujunga (diz-se tãrrãnga), uma
área elevada e às margens
da cadeia de montanhas San
Gabriel. Tecnicamente, a residência está em outro vale, no
Crescenta Valley.
Há mais locais, claro, como os usados nas cenas da floresta
propriamente dita, rodadas no norte da Califórnia, e a avenida (White
Oak Ave) da famosa tomada em que os meninos “decolam” com suas
bicicletas.
Em ambos os
casos, o fator que mais
influencia na aparência
atual geral é o excesso de
vegetação e de árvores,
coisa que praticamente não havia à época. Há
muito mais verde atualmente, mas muito mais
mesmo, do que em 1981.
O dia em que – quase – visitei E.T. O Extra-Terrestre
331
A Visitação
Escolhi, como local mais ou menos central para o ponto de
partida, o bairro de Reseda, no Vale mesmo, para hospedar-me. Aliás,
em Reseda, a aproximadamente 20 minutos a pé do hotel em que fiquei, está o condomínio de apartamentos que vemos no filme Karatê
Kid original, o “South Seas”. Conforme pesquisei, a partir de Reseda
ficaria fácil e rápida a locomoção.
Um amigo americano, Tom Moser, ofereceu-se como guia
para levar-me, já que também é fã de Spielberg e de E.T. O primeiro local visitado, então, foi o playground. Ao lá chegar, após uns 10
minutos de viagem
de carro, senti uma
emoção muito grande ao ver a centopéia
colorida, a mesma
que aparece no filme. O playground,
aliás, está num local
muito bonito, muito
bem cuidado e limpo, e, como eu viria a
constatar também no
caso das outras localidades, aparenta algo
diferente da época da
película. Novos brinquedos foram adicionados, alguns antigos foram
retirados (como o trepa-trepa), várias caixas de areia foram colocadas e a vegetação cresceu bastante. No momento em que chegamos
fazia sol e havia crianças brincando em um ambiente bem familiar.
Conversamos com uma moça (mãe de uma das crianças) e, para nossa surpresa, ela sabia que aquele playground havia, de fato, sido mostrado no filme. Ao ver um conjunto de balanças (no mesmo local em
que aparecem na tela), não resisti; sentei-me em uma delas e rezei
para que a mesma não quebrasse por causa de meu peso!
Saímos do playground e, por ser praticamente ao lado, fomos
procurar a trilha de terra que aparece na cena em que Elliott, em sua
332
O Redator d’A Arca Perdida
bicicleta, segue em direção à floresta. É uma cena muito rápida, mas
muito bonita e interessante, pois dá dimensão à busca do menino
pelo extraterrestre. Programamos o GPS, mas custamos a achar o
local, pois o morro estava voltado para a direção contrária do que
imaginamos. Além disso, havia grossas cercas de metal na borda do
precipício, coisa que não havia à época (existia uma fina grade apenas). Descobri uma elevação de terra em uma rua transversal e sugeri
ao meu amigo que subíssemos. Dito e feito! A trilha de terra em questão surgiu como um sonho
à nossa frente! Afinal, acertamos o local em cheio! A
visão foi surreal, foi como se
eu assistisse ao filme bem
ali. A cena era exatamente
a mesma: o morro, a vegetação, a trilha de terra em
zigue-zague, a cerca de madeira, a vista da rua (Brasilia
Drive) abaixo. Aguarde, pois
voltaremos à trilha mais à
frente neste texto.
O próximo local visitado era o mais esperado por mim, a casa
de Elliott. Saindo do playground, pegamos a Freeway 118 (a Ronald
Reagan), rodamos uns 30 quilômetros e fomos direto a Tujunga, um
bairro bem bonito e localizado em uma região íngrime, à beira da majestosa montanha San Gabriel. Meu amigo estava ansioso também,
pois havia visitado a casa somente uma vez. Quando ele disse que
estávamos chegando,
preparei-me
psicologicamente.
“Aqui estamos”, ele
disse. Desci logo
do carro e, ao ver
a casa, senti uma
emoção
muito
grande. Só não fui
às lagrimas porque
O dia em que – quase – visitei E.T. O Extra-Terrestre
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estava acompanhado. Pode parecer bobagem, mas fiquei mesmo
emocionado ao saber que ali, bem onde eu permanecia, há 29 anos
estavam Steven Spielberg, Henry Thomas, Dee Wallace, Robert MacNaughton, Peter Coyote, Drew Barrymore e a equipe de filmagem. A
casa, aliás, é muito bonita e fica mais alta em relação à rua, que tem o
formato semelhante a uma cul-de-sac (*). Os jardins estão muito mais
repletos de verde, bem diferentes do que se vê no filme. Como citei
anteriormente, tanto Porter Ranch quanto a área de Tujunga eram
muito novas à época de E.T., então, praticamente não havia vegetação. Rapidamente postei-me à frente, ao lado da rampa de entrada
para carros, e meu amigo tomou várias fotos. O local é muito bonito,
muito bem cuidado e quieto, um silêncio incrível. Interessante como,
no filme, criou-se a ilusão de que tanto a casa quanto o bairro são
próximos, porém, os mesmos distam praticamente 40 quilomêtros
um do outro. Com um pouco de imaginação, pude vislumbrar o pequenino alienígena parado na rampa a olhar para mim e sorrir. Foi
mágico.
Chegava ao fim o primeiro dia de visitações (no mesmo dia,
entretanto, visitamos locações de outros filmes).
À noite, dirigimos pela
famosa estrada Mulholland Drive e pude, parado em um local
de descanso, observar a linda
vista noturna do Vale de San Fernando. A vista em questão, aliás,
é praticamente a mesma que se
vê no início do filme quando
E.T. observa as luzes da cidade
e, logo depois, foge ao descer o
morro em direção a ela. É absolutamente lindo! A parada ideal
fica em Laurel Canyon.
No dia seguinte, resolvi - por minha conta - visitar outras partes de Porter Ranch, pois meu amigo estava no trabalho. Resolvi, primeiramente, visitar o local da cena do Halloween, uma parte muito
bacana em que E.T., vestido de fantasma (para que ficasse escondido),
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O Redator d’A Arca Perdida
e os meninos, cada qual com sua fantasia, saem de casa - fingindo ir às
festividades - e vão à floresta para que o alienígena monte seu comunicador. Ao chegar na área, não pude deixar de admirar o local com
suas casas típicas de subúrbio Americano (cada uma com seu quintal
gramado, garagem ao lado, bandeira dos E.U.A. na parede) e quietude. Tudo absolutamente limpo e bem cuidado. Achei o ponto correto
(cruzamento da Granada Circle com a Killimore Ave), estacionei o carro
e tirei fotos. Havia um senhor e uma moça com seu cachorrinho, que
andavam e conversavam. Cumprimentei a moça e ela cumprimentoume também. Novamente, há bem mais árvores e vegetação agora do
que na época, mas é fácil reconhecer o lugar, uma vez que as casas são
as mesmas. Muito bacana. Na tela, os meninos caminham fantasiados
pela Granada Circle em direção à Killimore Ave até que E.T. vê uma
criança fantasiada de
Mestre Yoda e começa
a dizer: “Home! Home!”.
Resolvi, para o
próximo, uma vez que
era perto, escolher a
rua da parada do ônibus escolar, o local da
cena em que os garotos da escola azucrinam Elliott por causa
da história do “duende”. Dirigi pelas pacatas vias e cheguei ao ponto
indicado no GPS. Foi um pouco difícil de reconhecer, pois a rua está
muito mais arborizada. A confirmação veio através de dois ralos bem
grandes e retangulares
que ficam encostados na
calçada, eles aparecem
bem no filme.
O próximo desafio seria mesmo um
desafio. Resolvi, como
não pudemos fazê-lo no
primeiro dia, caminhar
pela trilha de terra do
O dia em que – quase – visitei E.T. O Extra-Terrestre
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Palisades Park até o ponto da cerca de madeira que aparece no filme, na já citada cena de Elliott e sua bicicleta. O primeiro problema foi encontrar um ponto de acesso ao parque, pois não achamos
(nem procuramos) anteriormente. Analisei imagens do Googlemaps
e achei duas entradas, sendo que uma delas dava acesso a um parque adjacente. Segundo a Lei de Murphy, claro que tomei a entrada
errada. Após conversar com um ciclista e receber a indicação correta, andei por cerca de 10 minutos para achar a trilha verdadeira cuja
entrada estava bem perto da avenida, mas do outro lado. De cara,
encontrei um aviso sobre o perigo de cobras cascavéis. Estou fora
de forma, portanto, sabia que, literalmente, suaria a camisa na trilha. Andei bastante, bastante mesmo, vi animais silvestres (coelhos,
esquilos), árvores muito grandes e diferentes das que temos no Brasil, algumas casas no início da trilha, uma águia (muito grande mesmo!), e ouvi sons estranhos vindos da mata, imaginando se seriam
ou não de cobras cascavéis. Após aproximadamente 25 minutos e
com imagens de referência, cheguei ao ponto correto da cerca de
madeira e certifiquei-me de estar no local apropriado. Reconheci as
casas abaixo (na Brasilia Drive), o formato correto da cerca e, olhando para o topo do morro, constatei que se tratava do local em que,
no dia anterior, eu e meu amigo estivemos, uma vez que reconheci
a cerca metálica preta acima. Foi uma sensação incrível de conquista! A vista linda, as lembranças do filme, o fato de estar onde Henry
Thomas passou em 1981, tudo colaborou para a sensação de sonho
realizado. O duro foi caminhar tudo de volta!
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O Redator d’A Arca Perdida
A próxima parada não foi bem uma parada, mas uma “dirigida”,
pois de tão diferente, alguns locais são praticamente impossíveis de
se encontrar com clareza. É o caso das vias em que filmaram as cenas
de fuga das bicicletas. Dirigi através da Killimore Ave, da Viking Ave e
da White Oak Ave, mas realmente ficou difícil de acertar algum ponto
exato de filmagem, os locais são familiares, mas não exatos. Na White
Oak Ave, por exemplo, filmou-se a cena em que os meninos “decolam”
com as bicicletas na sequência final. Dirigi por toda a extensão da
avenida, mas
ficou difícil descobrir o local
da decolagem
com precisão.
Nesses locais,
muitas casas
ainda estavam
em construção
em 1981. Agora está tudo diferente!
No terceiro dia, infelizmente o último, resolvi visitar a Brasilia
Drive, rua que fica logo abaixo do Palisades Park, para ter a visão a partir do nível da rua e observar o morro por baixo. A Brasilia Drive, aliás,
é a rua que aparece, vista por cima, na cena em que os meninos voam
com suas bicicletas logo após a decolagem - e com o pôr do Sol ao
fundo. Dirigi o carro por
toda a extensão e tomei
fotos em uma posição
bem abaixo da trilha. É
possível ver a cerca de
madeira inclusive. O
morro é muito alto, a visão, muito bonita. A rua
é adorável, limpíssima
e com casas muito bonitas. Consegui ter uma
boa noção da região.
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Brasilia Drive culminou com o fim das visitas. Depois desses
dias, visitei locais de filmagens de outras produções, como De Volta
para o Futuro, Poltergeist e A Hora do Pesadelo, mas essa é outra história.
Espero ter podido, em um nível não tão grandioso, compartilhar minha aventura com vocês. Poder estar nos locais em que meu
filme favorito foi rodado há quase 30 anos foi algo muito especial
para mim. Foi como ter visto E.T. de novo, mas pela primeira vez. E
com 10 anos de idade.