Ken Robinson
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Ken Robinson
Recensão Crítica ao vídeo “How schools kill creativity”, de Ken Robinson (2006) Decorria o ano de 1950 quando, em Liverpool (Inglaterra), nascia um dos que viria a ser uma figura incontornável da Educação na Era da Informação e do Conhecimento, pelo reconhecimento gerado a nível internacional, de seu nome (Sir) Kenneth Robinson. Vindo de uma família da classe média e tendo padecido de poliomielite em criança, nada constituiu um óbice para que Ken pudesse fazer a Licenciatura em Inglês e Dramaturgia em 1972 e terminar o Doutoramento em Dramaturgia e Teatro na Educação em 1981. Será, por conseguinte, de louvar a sua inteligência e determinação. A sua linha de orientação académica, associada à colaboração em vários projetos para o Estado e organizações sem fins lucrativos, permitiram-lhe atingir um patamar de renome internacional como autor, palestrante e consultor nas áreas e temas ligados às Arte, à Educação e à Criatividade. De realçar que, nestas áreas, as suas ideias mestras centraram-se sempre a três níveis: 1) uma oferta curricular vasta e vocacionada para o desabrochar dos talentos individuais; 2) um ensino criativo dependente de uma elevada qualidade na formação dos professores; 3) processos didáticos alternativos que permitam a valorização da criatividade. Fazendo uma breve incursão pelo seu Curriculum Vitae é de destacar o seguinte: Docência: lecionou durante 12 anos na Universidade de Warwick, mantendo esse título honorário mesmo após a sua aposentação. 1 Projetos: a implementação de um projeto de network de 2000 professores de várias escolas valeu-lhe o cargo de “Director of Arts in Schools Project”. Para além disso, e conforme referido anteriormente, pelas inúmeras colaborações na Europa, Ásia e EUA foi distinguido com algumas Menções Honrosas, das quais se destacam: títulos honorários de várias escolas, institutos e universidades ligadas a “Design, Speech, Drama e Arts”, bem como o título de “Sir” atribuído pela Rainha de UK. prémios e medalhas: Lego, Benjamim Franklin, Athena, Peabody. Literatura: Entre 1977 e 2013 publicou cerca de 10 obras literárias com linhas temáticas interligadas e relacionadas com o Teatro, a Educação, a Criatividade e o seu enquadramento numa perspetiva do Futuro. Consultoria: é considerado uma das principais referências no domínio da Criatividade, da Cultura e da Educação, para o governo Americano e da Irlanda do Norte, tendo merecido um elogio por parte da revista “The Times”. Desenvolve vídeos educacionais, de cariz ilustrativo inovador para uma associação norte-americana de especialistas e estudiosos críticos, sobejamente conhecida pela discussão de temas importantes e fraturantes do séc.XXI, denominada RSA Animate (Royal Society for the encouragement of Arts, Manufactures and Commerce). Colabora como palestrante de excelência para a TED, uma plataforma criada em 1984, que se destina à divulgação de ideias, em mais de 100 línguas, ligadas à áreas científicas, aos negócios ou a preocupações globais, bem como à sua partilha por várias comunidades a nível mundial. Foi no âmbito de uma palestra de cerca de 19 minutos, apresentada num evento TED, que Ken abordou a importância da Criatividade e a forma como a mesma é tratada na esfera educacional, atribuindo-lhe, assim, o título “how schools kill creativity” – resultou num vídeo que até hoje registou quase cerca de 30 milhões de visualizações. Revelador de uma técnica discursiva invulgar, interagiu e prendeu a atenção dos participantes através de: 1) uma clarividência e domínio do conteúdo; 2) uma inteligente retórica verbal, combinada com atitudes humorísticas 1; 3) uma postura informal; fazendo jus ao tema que o levara à palestra, ou seja lançar o repto às escolas para o aproveitamento e desenvolvimento da criatividade das crianças nos primeiros anos de escolaridade, em prol de um futuro de sucesso em termos sócio-económicos. 1 Risodinâmica, in “Ferramentas de Coaching”, p.213 2 Começando por salientar as três abordagens da génese temática do evento: 1) a evidência da criatividade humana; 2) a indefinição sobre a evolução da criatividade no futuro; 3) as capacidades das crianças para a inovação; Ken afirmou que seria nesse contexto que iria centrar o seu discurso, mas relacionando-o com um tema que sempre lhe despertara muito interesse – a Educação. Recorrendo a pequenas histórias (interessantes, à exceção da referência feita à resistência feita pelo seu filho quanto à mudança para Los Angeles, que não pareceu relevante), Ken pretendeu demonstrar que as crianças têm um potencial criativo proveniente da sua elasticidade mental, face aos estímulos dos recursos disponíveis, e concomitante saudável irracionalidade sobre o medo de errar. A este propósito, Duncan (2011) opina, igualmente, que se deve confiar no primeiro instinto “porque um juízo espontâneo e muito rápido pode (…) ser mais eficaz do que outro deliberado e cauteloso.” (p.104). Efetivamente, é a espontaneidade, livre de pré-conceptualizações, que faz despontar as genuínas capacidades que cada um de nós detém. Por outro lado, os adultos, em especial os agentes educativos, continuam formatados e acomodados a traços de personalidade resultantes de um ensino de décadas e completamente desajustado da evolução de uma sociedade industrial para uma sociedade da informação, do conhecimento e da tecnologia, sem terem a coragem de enfrentarem a “mudança” somente por terem medo de incorrerem em erros. Ao fazer esta referência, Ken não está a fazer a apologia do erro, mas sim a alertar para o facto de que a audácia de se tentar novas experiências é que poderá dar origem a ideias e soluções inovadoras. Por outro lado, num vídeo ilustrado e muito contundente feito para a RSA Animate, denominado “Changing Education Paradigms”, ken foi muito contundente relativamente à Educação desajustada das demandas da Economia. Assim, começa por lançar uma pergunta “how do we educate our children to take their place in the economies of the 21st. Century?” e faz uma análise detalhada sobre o modo como o mesmo está organizado e o resultado que produz, bem como a demonstração de que este sistema educativo assente no paradigma da Era Industrial, em que não havia a valorização do intelecto dos trabalhadores, não é compaginável com o desempenho que as empresas esperam dos seus colaboradores nesta Era da Informação e do Conhecimento, assente numa Aprendizagem ao Longo da Vida e, por conseguinte, com evolução de Saberes (Saber, Saber fazer, Saber estar, Saber aprender e Saber partilhar). 3 Ken deixa implícito, no seu discurso, que as empresas mantêm a linha deste conformismo de uma Educação conservadora e geradora de Pessoas (recursos humanos) “aceitavelmente certinhas” que irão manter uma economia estagnada, quando as Teorias da Administração defendem a “marca pessoal” assente na singularidade e no talento individual, que assegure a sustentabilidade das empresas face a uma economia cada vez mais competitiva. Por isso é que Duncan (2011) defende que se as organizações querem ter sucesso devem ter Pessoas a trabalharem de modo diferente, numa nítida alusão à performance criativa, diferenciadora e competitiva, embora colaborativa a nível intraorganizacional. A massificação do Ensino, após as duas guerras mundiais, resultaram, segundo Ken, numa evolução quantitativa de “graduações” não se traduziu numa relação qualitativa de Saberes que garantam a empregabilidade e se traduzam numa utilidade macroeconómica – “degrees aren’t worth anything”. Tal como Ken, Duncan (2011) defende que se o sistema educativo valorizasse a criatividade chegar-se-ia à conclusão de que esta proporciona “(…) aprendizagem, progresso, imaginação (…) identidade e competição. (…)”, (p.110). Para Ken, o busílis da questão do sistema educacional reside, também, na desvalorização e falta de estimulação da Inteligência. Esta é, em seu entender, dinâmica e extraordinariamente interativa. No decorrer do seu raciocínio, Ken faz referência à localização da Inteligência e aos seus três principais atributos, a saber: 1) é diversificada, pois está relacionada com os cinco sentidos que o ser humano detém (visual, auditiva, cinestésica). É um facto que quando o ser humano está no seu “estado de alerta” todos os sentidos estão ativos e complementam-se. 2) é dinâmica e extraordinariamente interativa. Sendo o cérebro a localização da inteligência, este encontra-se dividido em duas partes: 1) hemisfério esquerdo (pensamento lógico e competência comunicativa) definido como quociente intelectual (QI); hemisfério direito (pensamento simbólico e criatividade) definido como quociente emocional (QE). Numa referência à hierarquização curricular, Ken critica o facto de se valorizarem as disciplinas cujos conteúdos estão relacionados com o QI em detrimento daquelas cujos conteúdos estão mais ligados ao QE. Entende-se, assim, que as emoções e a criatividade estão como que cerceadas no seu desenvolvimento. Já em 2005, Goleman reconhecia que “(…) o tecido emocional da criança é (…) foco que é (…) 4 ignorado em quase todas as (…) escolas americanas (…), e que o movimento afetivo dos anos 60 evoluiu no sentido de educar o próprio afeto em vez de “(…) usar o afecto para educar (…)”, (pp283-284). Considerando que as mulheres têm o QE mais desenvolvido, Ken refere que estas são mais dotadas para a execução de tarefas múltiplas em concomitância, o que não parece ser relevante para a essência da sua apresentação. 3) é distinta, entenda-se, pela particularidade de que numa realidade de envolvência sistémica e de livre arbítrio, cada Pessoa tem a possibilidade de ver potenciados os conhecimentos, as competências e os comportamentos. Sendo a inteligência a base do talento, é interessante a referência que Ken faz ao livro que estava a escrever, com o título “Epiphany” baseado em entrevistas feitas a “pessoas talentosas”, no intuito de registar o modo e o momento em que haviam descoberto o seu talento. A título de exemplo, Ken conta a história de Gillian Lynne, coreógrafa dos grandes êxitos de bilheteira “Cats” e “o Fantasma da Ópera. Quando era criança, Gillian não tinha sucesso escolar, justificado, pelos professores, como sendo resultante de uma doença que afetava a sua concentração devido à sua hiperatividade. A sua sorte foi o bom senso do médico, a quem a mãe a levou, ter detetado que a sua tendência não era para as matérias curriculares mas para a dança. Sobre o “talento”, Peters, Tom (2003) refere alguns atributos que lhe são indissociáveis, tais como “(…) displays passion, (…) inspires others, (…) loves pressure, (…) craves action, (…) thrives on wow, (…) exhibits curiosity, (…) embodies “weird”, (…) exudes a sense of fun, (…) thinks at a high level, (…)” (p.254). Em jeito de sistematização, Ken afirma que “(…) our education system has mined our minds in the way that we strip-mine the earth: for a particular commodity. And for the future, it won’t serve us. We have to rethink the fundamental principles on which we’re educating our children. (…)”. Posteriormente, termina a sua intervenção elogiando o contributo que a TED aporta para a(s) sociedade(s) pela divulgação das ideias dos seus contribuidores e pela possibilidade que têm de interagirem e partilharem com o resto do mundo. 5 Referências Catalão, J.A. e Penim, A.T. (2009). Ferramentas de coaching. Edições Lidel, Lisboa. Duncan, K. (2011). Marketing greatest hits. Clube do Autor, Lisboa. Goleman, D. (1995). Inteligência emocional. Tradução de Mário Dias Correia. Temas e Debates, Lisboa. Peters, T. (2003). Re-imagine! Dorling Kindersley Ltd, London. Robinson, K. (2006). How schools kill creativity. TED. Disponível em: http://www.ted.com/talks/ken-robinson-says-schools-kill-creativity. Robinson, K. (2010). Changing education paradigms. TED. Disponível em: http://youtu.be/zDZFcDGpL4U Santos, M.Y. e Ramos, I. (2009). Business intelligence: tecnologias da informação na gestão do conhecimento. Edições Lidel, Lisboa. Disciplina: TRMEF - 1415 Docente: João Correia de Freitas Discente: Manuela Rodrigues Nº:46529 Unidade Orgânica: Faculdade de Ciências e Tecnologias Universidade Nova de Lisboa 6