Considerações acerca do trabalho imaterial e da

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Considerações acerca do trabalho imaterial e da
Texto para o XXVII Congreso ALAS (Asociación Latinoamericana de Sociología) – GT 18: "Reestructuración productiva,
trabajo y dominación social" – Buenos Aires (Argentina), 31 de agosto a 4 de setembro de 2009
Considerações acerca do trabalho imaterial e da
produção de valor no capitalismo contemporâneo
Rafael Alves da Silva1
Pedro Peixoto Ferreira2
Em lugar de proferir frases gerais sobre "trabalho" e "sociedade", seria [...] necessário provar
concretamente como, nas presentes condições da sociedade capitalista, foram finalmente
criadas as condições materiais etc. que permitem e impelem os trabalhadores a suspender
essa maldição social. (Karl Marx, "Crítica do Programa de Gotha")
Abrimos este texto com a mesma epígrafe usada por Lazzarato, Abel e Combes (2004)
em "Le travail : un nouveau débat pour de vieilles alternatives" justamente para dar o
tom de urgência e ação política que caracteriza boa parte (ou a parte boa) do debate
contemporâneo envolvendo o conceito de trabalho imaterial. No que nos interessará
aqui, muito diferente de qualquer esforço academicista de classificação da realidade
social em termos de "antes" e "depois" ou "material" versus "imaterial", este debate
busca, sobretudo, uma compreensão operatória do capitalismo contemporâneo capaz
de indicar o seu modo de funcionamento e, assim, as possibilidades atuais de fuga e de
transformação.
Evidentemente, os teóricos do imaterial não estão livres de críticas
contundentes, e será preciso considerá-las aqui (mesmo que apenas sumariamente em
função do espaço reduzido). Limitaremo-nos, entretanto, àquelas que ajudam a
qualificar o uso do conceito de "trabalho imaterial" ao trazer à tona os seus possíveis
limites, descartando aquelas que apenas tentam desqualificá-lo sem oferecer qualquer
alternativa para o campo de ação histórico que ele tenta mapear. Assim, a função deste
texto não será celebrar a teoria do trabalho imaterial, e muito menos criticá-la, mas sim
oferecer um esforço investigativo acerca das possibilidades e limites que ela oferece
para uma compreensão operatória (i.e., com potencial político) da produção de valor no
capitalismo contemporâneo.
Capitalismo contemporâneo
Entendemos por "capitalismo contemporâneo" toda uma lógica produtiva – também
conhecida como "capitalismo pós-industrial", "capitalismo tardio", "capitalismo pósmoderno" e "capitalismo informacional", entre outros – que se disseminou
mundialmente a partir do final da Segunda Guerra Mundial.3 Tal lógica é o resultado de
diversos processos, dentre os quais gostaríamos de destacar:
•
•
A crescente mecanização e automação da produção na agricultura e na
indústria, promotoras de uma redução brutal na quantidade de postos de
trabalho.4 Assumindo que a produção de mais-valia depende da exploração do
trabalho vivo, temos que tal redução dos postos de trabalho levanta problemas
para a produção de valor.
O crescimento importante do mercado de trabalho no setor de serviços,5 nas
indústrias culturais e criativas e na inovação tecnocientífica.6 Tradicionalmente
1 Doutorando em Ciências Sociais no IFCH/Unicamp e integrante do Grupo de Pesquisa CTeMe. E-mail:
<[email protected]>.
2 Pós-doutorando associado ao Depto. de Sociologia do IFCH/Unicamp e integrante do Grupo de Pesquisa
CTeMe. E-mail: <[email protected]>.
3 Sobre essa etapa contemporânea do capitalismo, cf. Harvey (1998), Jameson (1998) e Garcia dos Santos
(2003b).
4 Sobre este ponto, cf.: Alves da Silva (2008); Antunes (2005); Bailey e Barley (2005).
5 A Organização Internacional do Trabalho (ILO 2009:28) – estima que, do total da população mundial
empregada em 2008, 43,3% estão no setor de serviços, 23,2% na indústria e 33,5% na agricultura. Para
as economias desenvolvidas e União Européia, estas porcentagens são, respectivamente: 71,2%, 25,1% e
3,7%.
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•
secundárias no cômputo da produção de valor por sua natureza
convencionalmente extra-produtiva, tais atividades exigem cada vez mais um
novo olhar sobre o seu papel na produção de valor no capitalismo
contemporâneo.
O desenvolvimento e a disseminação das tecnologias da informação e de
comunicação (TICs) e dos modelos de gestão e controle nas esferas produtiva e
comercial.7 Apesar de serem processos distintos e independentes em muitos
aspectos, o desenvolvimento e a disseminação das TICs e do toyotismo
acabaram por se potencializar mutuamente na medida em que aquelas se
tornaram as ferramentas ideais para este, e este o modelo de produção ideal
para aquelas.
A criação de novos mecanismos financeiros e legais para a acumulação e
apropriação econômica de dimensões da vida e da cultura que antes ainda
escapavam (pelo menos formalmente) à lógica do valor abstrato.8 Por um lado,
temos o capitalismo virtual do mercado financeiro, por outro, uma espécie de
acumulação neo-primitiva (ou pós-moderna) que opera por cercamentos na
esfera da informação, do conhecimento e da cultura, através de dispositivos
jurídicos de propriedade intelectual e de direitos de acesso.
Trabalho imaterial
Apesar das grandes diferenças entre os autores que trabalham com a questão do
trabalho imaterial – e.g., desde as análises mais rigorosas e conseqüentes de Lazzarato
(1992, 2001, 2004) até o otimismo mais simplista de Gorz (2005) –, todos têm em
comum a proposição de três idéias bastante criticadas na literatura sobre trabalho
imaterial: (1) a própria idéia da "imaterialidade" desse novo tipo de trabalho específico
ao capitalismo contemporâneo;9 (2) a idéia da imensurabilidade do trabalho imaterial,
sua irredutibilidade à medida tradicional em termos de duração (horas de trabalho);10 e
(3) a idéia de que haveria um potencial revolucionário imanente ao trabalho imaterial,
uma vez que ele escaparia, a priori, da lógica do capital.11 Seria útil considerarmos
brevemente como cada uma dessas críticas pode contribuir para a compreensão do
potencial analítico da idéia do trabalho imaterial.
No que se refere à imaterialidade propriamente dita, o problema mais
freqüentemente levantado pelos críticos é o fato de que, não apenas o trabalho braçal
direto nos setores primário e secundário continua existindo e tendo alta
6 Sobre este ponto, cf.: Castelfranchi (2008); Hartley (2005); Jameson (1998); Mitchell et al (2003);
Rifkin (2000).
7 Sobre este ponto, cf.: Alves da Silva (2008); Moraes Neto (1998).
8 Sobre este ponto, cf.: David (2007); Garcia dos Santos (2003a, 2003b, 2007); Kleiner e Wyrick (2007);
Worlock (2000).
9 Na formulação de Gorz (2005:20): "O trabalho do saber vivo não produz nada materialmente palpável".
Numa formulação irônica do jornal The Economist: um serviço é "qualquer coisa vendida no mercado
que não possa cair no seu pé" (cf. Rifkin 2000:83). Críticas contundentes às implicações antimaterialistas da idéia de "trabalho imaterial" podem ser encontradas em Wright (2005) e Caffentzis
(2007).
10 Gorz (2005:30), mais uma vez, fornece o exemplo: "A crise da medição do trabalho engendra
inevitavelmente a crise da medição do valor. [...] O caráter cada vez mais qualitativo, cada vez menos
mensurável do trabalho, põe em crise a pertinência das noções de 'sobretrabalho' e de 'sobrevalor'. A
crise da medição do valor põe em crise a definição da essência do valor. Ela põe em crise, por
conseqüência, o sistema das equivalências que regula as trocas comerciais." O capitalismo, tudo indica,
ainda não ficou sabendo de todas essas crises. Críticas fundamentadas à idéia de imensurabilidade do
trabalho imaterial podem ser encontradas em Bach (2001), Böhm e Land (2009), Dowling (2007) e
Hesmondhalgh e Baker (2008).
11 Após dizer que, no "capitalismo cognitivo", "a principal força produtiva, e principal fonte de valor, é pela
primeira vez suscetível de ser subtraída à apropriação privada", Gorz (2005:37) profetiza a sua
"verdadeira novidade, 'revolucionária'": "O 'capitalismo cognitivo' é a crise do capitalismo em seu sentido
mais estrito." Realmente, o capitalismo é sempre o último a saber de suas próprias crises (até mesmo a
crise financeira global deflagrada no final de 2008 não tem feito mais do que provar a capacidade sempre
renovada do capitalismo de se reconfigurar para continuar reduzindo cada vez mais esferas da vida à
lógica do valor abstrato). Críticas contundentes ao pretenso anti-capitalismo do trabalho imaterial
podem ser encontradas em Dowling (2007), Hesmondhalgh e Baker (2008) e Lessa (2002).
2
representatividade (principalmente nos países em desenvolvimento), mas também o
trabalho no setor terciário e na assim-chamada "economia do conhecimento" continua
sendo incontornavelmente material. De fato, a oposição entre "trabalho" e "trabalho
imaterial" não deveria ser entendida como aquela entre "trabalho braçal" e "trabalho
intelectual", e tampouco como aquela entre os produtos "materiais" e "simbólicos"
desses trabalhos, uma vez que, de uma perspectiva materialista, mesmo o trabalho mais
intelectual ou a mercadoria mais simbólica ainda assim guardam o seu lastro
material.12 A oposição deveria ser entendida, antes, como aquela entre duas dimensões
presentes em qualquer processo de trabalho e em qualquer produto-mercadoria desse
processo: sua dimensão substancial, que toma cada processo de trabalho ou produtomercadoria como uma totalidade fechada e finita (e.g., horas de trabalho, quantidade
de um produto); e sua dimensão relacional – esta, a "imaterial" –, que toma cada
processo ou produto como um elo numa rede que pode se estender indefinidamente
(e.g., relações de oferta/demanda, qualidade de um serviço).
Quanto à suposta imensurabilidade do trabalho imaterial, a crítica mais
contundente que se pode fazer é a simples constatação de que, para além de qualquer
paradoxo lógico-metafísico, o preço do trabalho chamado de imaterial continua sendo
realizado todos os dias no mercado. Com efeito, existe "uma diferença sutil, porém
essencial" (Bach 2001), entre a dificuldade e a impossibilidade de se quantificar o valor
do trabalho imaterial: dizer que tal medida é "difícil" tem a vantagem de chamar a
atenção para as novas estratégias desenvolvidas pelo sistema para continuar colocando
um preço no trabalho, mesmo quando ele já não pode ser reduzido às medidas
convencionais;13 dizer que tal medida é "impossível" tem a desvantagem de favorecer
uma idealização de nosso contexto histórico que apenas atrasa a sua compreensão
efetiva em termos operatórios.
Por fim, quanto ao muitas vezes mal-compreendido potencial anti-capitalista ou
revolucionário do trabalho imaterial, ele vem sofrendo críticas basicamente pela total
ausência de exemplos concretos de ruptura do trabalho imaterial com o capitalismo.
Diferentemente do trabalho definido como a única mercadoria vendável de um
trabalhador privado dos meios de produção de sua existência, o trabalho imaterial se
define pela posse diferencial, por cada trabalhador, de estoques variáveis e mais ou
menos compartilhados de conhecimentos e habilidades – daí a importância da idéia de
"capital humano" nesse contexto (cf. López-Ruiz 2007).14 Assim, o que distingue o
trabalhador convencional do trabalhador imaterial é o fato de que os meios de
produção deste último, além de compartilhados com uma comunidade, são não-rivais e
portanto só podem ser parcialmente expropriados, expropriação essa que se dá por
meio de patentes e restrições de acesso.15 Ora, o fato de que o trabalhador imaterial
12 É Negri (2004) quem o diz: "Todas essas coisas não são jamais imateriais, elas são bem 'materiais', e no
entanto o termo 'imaterial' é preferível porque ele permite compreender melhor a nova natureza do
trabalho ao delinear mais precisamente a qualidade, o skill específico." Hardt (1999:96) complementa:
"Esse trabalho é imaterial mesmo quando é corporal e afetivo, no sentido de que seus produtos são
intangíveis: um sentimento de bem-estar, satisfação, excitação, paixão – mesmo um senso de conexão
com uma comunidade."
13 Lazzarato et al (2004) notam precisamente que, se o "capitalismo contemporâneo não organiza mais o
'tempo de trabalho', mas o 'tempo de vida'" (daí a importância da biopolítica para esse debate; cf.
Lazzarato 1997 e Negri 2004), e "se esse tempo é atravessado pela acumulação capitalista, ele exige
efetivamente uma 'nova' análise da produção, da exploração e da resistência que ela suscita". Muito longe
de uma "crise da medição do valor", estamos aqui diante de um esforço para compreender como o
capitalismo continua conseguindo hoje, apesar de tudo, "colocar um preço no valor" (Garcia dos Santos
2003a:106).
14 "O conhecimento é associado, não a uma atividade, uma força, ao dispêndio de energias humanas, não à
terra ou à natureza como fontes de recursos ou transmissoras de conhecimentos, mas a um 'ativo' e a um
processo de capitalização. Tais 'ativos' não são vistos como riquezas em si. Eles são considerados como
matéria-prima, como riquezas somente a título provisório. Trata-se de valores que são objeto de um
investimento: o material 'intelectual' ou 'intangível' é tratado tendo em vista uma produção posterior.
Isso parece ser o essencial nessa proliferação de enunciados em torno do conhecimento: os ativos
intangíveis iniciais criariam maior valor e confeririam 'vantagens diferenciais', através de um processo de
captura, formalização, alavancagem." (Diaz-Isenrath 2008:81).
15 "Diferentemente dos bens tangíveis, a inscrição da informação num regime de 'propriedade' não é
expressa ou objetivada mediante um ato público ou de posse. No momento de serem transmitidos, os
3
pode ser (e efetivamente é) expropriado de seus meios de produção nos impede de
colocá-lo fora do sistema capitalista. Mas o fato de que tal trabalhador não pode ser
totalmente expropriado de seus meios de produção (pois eles não podem ser
totalmente "cercados") lhe garante uma espécie de reserva extra-capitalista passível de
acionamento por uma (ainda virtual, mas nem por isso menos real) potência
revolucionária.
Produção de valor
Para além dos mal-entendidos promovidos por alguns teóricos do trabalho imaterial, é
necessário perceber que essa linha de investigação não precisa (e nem deveria)
abandonar, em nenhum momento, o materialismo histórico. Ainda mais se
considerarmos que toda a teoria do trabalho imaterial radica, mais ou menos
explicitamente, em uma passagem dos Grundrisse de Marx (1973) na qual ele trata da
mecanização do trabalho e daquilo que poderia ser entendido como "conhecimento
coletivo" (General Intellect).16 Nesse trecho (que não podemos citar aqui sem exceder
os limites de tamanho deste texto), Marx retoma a clássica contradição entre forças
produtivas e relações de produção imanente ao capitalismo: por um lado o
desenvolvimento das forças produtivas tende a dispensar cada vez mais trabalho vivo
da esfera produtiva; por outro lado, sendo a exploração de trabalho vivo a única fonte
real de valorização do capital, o trabalho excedente gerado pelo desenvolvimento das
forças produtivas é sempre necessariamente transformado no sobre-trabalho daqueles
ainda empregados, num processo de crescente exclusão e exploração que tende a levar
ao colapso do sistema, ou pelo menos à sua reconfiguração.17 Mas Marx não se limita
aqui a apresentar a contradição.
Por um lado, Marx aponta a diferença entre riqueza verdadeira (valor de uso) e
valor econômico (valor de troca), chamando a atenção para o fato de que, com o
desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo, a discrepância entre a produção
de riqueza (valores de uso) e de valor econômico (valores de troca) se torna tão gritante
que este último tende a deixar de ser considerado uma medida adequada para aquela.
Em outras palavras, com a crescente mecanização da produção, haveria um
descolamento entre a produção de valores de uso (produtos úteis produzidos com cada
vez menos trabalho humano) e a produção de valores de troca (que, sendo baseados no
tempo médio de trabalho necessário para a produção, também tenderiam a um
mínimo), tornando cada vez mais premente uma transformação do próprio princípio
valorizador do trabalho (i.e., uma superação das relações de produção capitalistas).
Segundo Marx, tal transformação fundamentaria um novo critério vinculado não mais
ao valor de troca gerado pelo tempo de trabalho necessário para a produção de um
valor de uso, mas sim ao próprio valor de uso gerado pelo tempo liberado pelas forças
produtivas. Haveria, portanto, uma eliminação do princípio do valor de troca baseado
no tempo de trabalho, mediador da valorização do capital, em benefício de um novo
princípio baseado no tempo livre e no valor de uso – o que alguns chamam de "valor
intrínseco"18 –, mediador de necessidades e desejos das próprias coletividades
coordenadoras da produção.19
bens de informação se fazem disponíveis a todos, pelo que qualquer reivindicação de exclusividade
somente pode ser garantida por meio de intervenções ou proteções externas, tais como os mecanismos
estatais concebidos para promover o 'progresso das ciências e das artes úteis'." (Diaz-Isenrath 2008:139).
16 Cf. em especial Lazzarato (2004), Lazzarato e Negri (2001:28-9) e Virno (2001).
17 Este problema da transformação do trabalho excedente gerado pelo desenvolvimento das forças
produtivas em sobre-trabalho daqueles ainda empregados (e não, como seria de se esperar, em mais
tempo livre para todos) foi investigado em Alves da Silva (2008).
18 Cf. Gorz (2005:52-7) e, num sentido diferente, Shiva em Garcia dos Santos (2003a:79).
19 "Quanto mais essa contradição [entre as relações de produção e as forças produtivas] se desenvolve,
mais se torna evidente que o crescimento das forças produtivas não pode mais ser constrangido pela
apropriação de trabalho alienado, mas que a massa de trabalhadores deve, ela mesma, se apropriar de
seu próprio trabalho excedente. Uma vez que isso tenha ocorrido – e o tempo disponível assim deixará de
ter uma existência antitética –, então, por um lado o tempo de trabalho necessário será medido pelas
necessidades do indivíduo social, e por outro lado o desenvolvimento das forças de produção social se
dará tão rapidamente que, mesmo a produção sendo então calculada para o benefício de todos, o tempo
4
Por outro lado, na mesma passagem dos Grundrisse, Marx destaca a diferença
entre o trabalho de produção direta e o trabalho de concepção, manutenção e controle
da produção. O primeiro deles remete a uma relação simples e limitada do ser humano
com a natureza, na qual a mediação é operada por um objeto e um objetivo dados e o
operador não precisa se envolver diretamente na concepção de sua própria operação. O
segundo remete a uma relação complexa e processual do ser humano com a natureza,
na qual a mediação é operada por um objeto e um objetivo que são, em si mesmos,
mistos de natureza e humanidade, e na qual a operação realizada envolve sempre
também um trabalho renovado de concepção.20 O desenvolvimento capitalista das
forças produtivas conduziria, assim, a uma situação na qual se tornaria possível passar,
de um tipo de trabalho no qual o ser humano individual é diretamente implicado na
produção como "fermento" das forças produtivas capitalistas – seja como portador de
ferramentas na manufatura, seja como "apêndice vivo" da máquina industrial –, para
outro no qual ele tomaria distância do processo produtivo e, finalmente, passaria a
trabalhar na coordenação ativa do desenvolvimento das próprias forças produtivas.
Libertado do trabalho diretamente produtivo pelas máquinas, o ser humano passaria
então a participar da evolução coletiva e compartilhada dessa realidade mista,
intermediária entre ele e a natureza não-humana, num processo que não visaria mais a
valorização do valor, mas sim, como previa a ontologia marxiana do trabalho, a plena
autorealização das virtualidades do próprio humano.21
O interesse dessa passagem dos Grundrisse para os teóricos do trabalho
imaterial reside, muito provavelmente, na maneira como Marx aproxima o processo de
superação do capitalismo de um processo imanente de gradual acirramento das
contradições internas ao próprio sistema. Isso pois, por um lado, o trabalho imaterial
surge justamente como um resultado do próprio desenvolvimento capitalista das forças
produtivas, ao mesmo tempo em que, por outro lado, ele acaba escapando, em vários
níveis, do próprio sistema, desafiando-o assim a encontrar novas formas de cercá-lo e
de mantê-lo reduzido a um trabalho que valorize o valor. Entretanto, passa muito longe
de pensadores como Lazzarato a idéia de uma "revolução automática" pelas leis do
próprio sistema.22 Além disso, como já vimos na seção anterior, as dificuldades
disponível crescerá para todos. Pois a verdadeira riqueza é o poder produtivo desenvolvido de todos os
indivíduos. A medida da riqueza não será então mais, em nenhum sentido, o tempo de trabalho, mas sim
tempo disponível." (Marx 1973).
20 " À medida que a apropriação de trabalho alienado, como a base sobre a qual se assenta a grande
indústria, cessa, com o seu próprio desenvolvimento, de gerar riqueza, também o trabalho direto como
tal cessa de ser a base da produção, dado que, em certo sentido, ele se torna mais uma atividade de
supervisão e regulação; mas também porque o produto deixa de ser o resultado do trabalho direto isolado
e, em vez disso, é a combinação da atividade social que aparece como produtora. [...] O trabalhador não
coloca mais uma coisa natural transformada como intermediário entre o objeto e ele próprio; em vez
disso, ele coloca o processo da natureza, transformado em um processo industrial, como mediador entre
ele próprio e a natureza inorgânica, dominando-a. Ele se coloca ao lado do processo de produção, em vez
de permanecer o seu principal ator. Nessa transformação, a grande pedra-fundadora da produção e da
riqueza passa a não ser mais o trabalho humano que ele mesmo realiza, e tampouco o tempo durante o
qual ele trabalha, mas sim a apropriação de seu próprio poder produtivo geral, sua compreensão da
natureza e seu domínio sobre ela graças à sua presença como corpo social – em uma palavra, o
desenvolvimento do indivíduo social." (Marx 1973). Simondon (1969:80-2, 117-9, 241-9) iluminou
justamente essa nova relação tecnicamente mediada do homem com a natureza quando distinguiu a
atividade técnica criadora do trabalho que ele chamou de "alienado". Combes (1999:120-1, 126 nota 1),
após considerar a mesma proximidade entre Simondon e Marx, declarou: "É impressionante notar a que
ponto [...] Simondon antecipa as mutações ocorridas na organização do trabalho desde os anos 80."
21 "Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem,
por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta
com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à
sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma
útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a Natureza externa a ele e ao
modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele desenvolve as potências nela
adormecidas e sujeita o jogo de suas forças a seu próprio domínio." (Marx 1985:149). A idéia de
"dominação", destacada em Marx, pode ser entendida como a raiz das críticas que lhe dirige Simondon
(1969:241-9), questão que só poderemos desenvolver em outro texto.
22 "A história do capitalismo é a história da composição de classe e de sua luta contra a redução da
subjetividade trabalhadora ao capital variável. [...] É preciso compreender que não se trata de uma
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oferecidas pelo trabalho imaterial ao capitalismo – as dificuldades de quantificação do
valor e o surgimento de um possível espaço de manobra fora das relações de produção
capitalistas – ainda parecem longe de ameaçá-lo, e até mesmo parecem alimentá-lo
com novos domínios antes inacessíveis à exploração econômica.
Considerações finais
Limitamo-nos aqui a levantar alguns problemas relativos ao trabalho imaterial e à
produção de valor no capitalismo contemporâneo, e a indicar possíveis
desenvolvimentos para eles. Preocupamo-nos, sobretudo, em evidenciar os possíveis
benefícios que a teoria do trabalho imaterial pode trazer para um pensamento crítico
interessado em mapear o terreno de resistência à lógica mutante do capitalismo
contemporâneo.23 Para tanto, vale encerrar este texto com três questões que retomam
alguns de seus pontos principais.
Primeiro, em lugar de discutir se um dado trabalho é "braçal" ou "intelectual" –
e.g., qual é mais imaterial, o trabalho do operário que monta o computador ou o do
programador que escreve os seus programas? –, ou se ele produz um bem "material" ou
"simbólico" – e.g., qual é a mercadoria mais imaterial, uma chave de fenda ou um
software? –, não seria mais importante descobrir os novos processos de valorização e
de geração de mais-valia que vêm sendo desenvolvidos principalmente desde a segunda
metade do século XX? Segundo, em lugar de dedicar esforços à distinção entre
trabalhos considerados produtivos ou improdutivos com o objetivo de definir qual
parte da classe seria revolucionária ou não – e.g., os trabalhadores do setor de serviço
fazem parte da classe revolucionária? –, não faria mais sentido buscar entender como, e
em que medida, o potencial revolucionário se redistribui atualmente a partir da
maneira como as diferentes atividades humanas (tanto na produção quanto na
circulação das mercadorias) efetivamente contribuem para a valorização do capital? E
terceiro, em lugar de insistir exclusivamente no problema da eliminação de postos de
trabalho em função da mecanização e flexibilização da produção, ou no problema da
correspondente superexploração e precarização do trabalho daqueles que continuam
empregados (ambos os processos sendo frutos contraditórios do mesmo
desenvolvimento capitalista das forças produtivas), não seria útil considerar também a
existência e o funcionamento de novos mecanismos de geração de valor e localizar
formas novas e contemporâneas de manifestação de trabalho humano não pago, até
mesmo onde ele nem parece estar presente?
Consideramos surpreendente que atualmente ainda se possa dizer, por exemplo,
que apenas os trabalhadores diretamente ligados à produção importariam para um
pensamento revolucionário.24 Felizmente alguns sociólogos já perceberam a
necessidade de investigar a fundo as novas morfologias do trabalho, considerando tanto
o papel importante dos serviços na produção de valor25 quanto a centralidade dos
dispositivos jurídicos de propriedade intelectual e restrição de acesso26 no capitalismo
história natural do capital, mas de um processo de luta e de confronto que cada vez é determinado e
singularizado pela constituição da classe trabalhadora como sujeito político." (Lazzarato 1992).
23 Tratando do contexto pós-moderno, Jameson (1988:347) chamou justamente de "mapeamento
cognitivo" a "concepção da totalidade social (e da possibilidade de transformar todo um sistema social)"
sem a qual "nenhuma política propriamente socialista é possível".
24 Como o faz Lessa (2007) quando, ao afirmar o proletariado como o agente da revolução, exclui dele
qualquer trabalhador que não esteja vinculado diretamente à produção executando trabalho manual –
transformando elementos da natureza em valores de uso, o "conteúdo material da riqueza" –, excluindo
também o trabalho intelectual do conceito de "trabalhador coletivo" de Marx.
25 Antunes (2005:145-6) é um bom exemplo disso: "Com a inter-relação crescente entre mundo produtivo
e setor de serviços, vale enfatizar que [...] várias atividades no setor de serviços anteriormente
consideradas improdutivas tornaram-se diretamente produtivas, subordinadas à lógica exclusiva da
racionalidade econômica e da valorização do capital."
26 Herscovici (2006:6, 8) é um bom exemplo disso: "o sistema evolui para um capitalismo imaterial cujos
mecanismos se relacionam diretamente com uma lógica rentista, ligada às modalidades de apropriação
privadas do conhecimento social. [...] Assim, contrariamente ao que vários autores afirmam, não trata-se
de uma superação do capitalismo, de uma fase que se caracteriza pela produção e pela apropriação
altamente socializadas do conhecimento: trata-se, ao contrário, de um capitalismo rentista, altamente
especulativo".
6
contemporâneo. Mas as atuais dinâmicas de exploração da atividade produtiva humana
pelo capitalismo contemporâneo exigem ir ainda mais longe nessa direção, passando a
considerar também a existência de exploração de trabalho humano não pago (e
portanto de produção de valor econômico) em atividades que não são nem mesmo
vistas como trabalho.
Oliveira (2003:138) já demonstrou estar atento a tais dinâmicas quando
considerou a existência de uma espécie de "trabalho abstrato virtual", cujas formas
mais "exóticas" "estão ali onde o trabalho aparece como diversão, entretenimento,
comunidade entre trabalhadores e consumidores". Com efeito, todo um novo campo de
exploração do trabalho e de expropriação dos meios de produção, referido por termos
como "produssumo" ou "jogalho", vem se desenvolvendo, principalmente a partir de
meados dos anos 90. É o que acontece, por exemplo, quando as pessoas decidem, por
iniciativa própria e sem receber nenhum pagamento (ou até mesmo pagando por isso),
dedicar seu tempo e atenção não apenas à valorização publicitária de uma marca, mas
também à própria concepção de um produto, trabalhando de graça (e achando a maior
graça).27 Os investimentos e retornos financeiros envolvidos nesse novo tipo de
exploração e expropriação da atividade produtiva de consumidores e usuários são cada
vez mais representativos e sugerem que a importância econômica desse tipo de
trabalho imaterial – chamado de "trabalho imaterial 2.0" por Coté e Pybus (2007) – só
tende a crescer.
Nosso principal objetivo neste texto foi chamar a atenção para as contribuições
que a teoria do trabalho imaterial pode trazer para uma investigação crítica ou
operatória do funcionamento do capitalismo contemporâneo. No século XIX, Marx se
defrontou com os problemas do capitalismo industrial, construindo as bases para
qualquer análise consistente e conseqüente do capitalismo. Seria preciso inspirarmonos em sua obra para discernirmos, no século XXI, os problemas próprios ao
capitalismo pós-industrial, e para sermos capazes de analisá-los de maneira igualmente
consistente e conseqüente. É isso que, nos parece, os teóricos do trabalho imaterial vêm
tentando fazer com sucesso variável: buscar, com o referencial do materialismo
histórico, o futuro que se gesta no nosso próprio presente. Afinal, como já comentou
István Mészáros (2007), é o futuro que precisamos ter em mente com olhos críticos.
Referências
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novas formas de controle. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Campinas: IFCH-UNICAMP.
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