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11 n 11 . 2ª série - maio 2015 Edições SINAIS VITAIS N º 11 Série II - Maio 2015 SUMÁRIO / SUMMARY EDITORIAL Arménio Guardado Cruz 7 ERROS DE PREPARAÇÃO/ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAÇÃO NA PRÁTICA DE ENFERMAGEM, EM CONTEXTO DE CUIDADOS INTENSIVOS. QUE ESTRATÉGIAS? REHABILITATION PROGRAMS IN PATIENTS WITH PULMONARY ARTERIAL HYPERTENSION - METANALYSIS PROGRAMAS DE REHABILITACIÓN EN PACIENTES CON HIPERTENSIÓN ARTERIAL PULMONAR - METANALISE Estela Filipa Marques Simões; Fernando Emanuel Monteiro Soares; Maritza Ribeiro dos Santos; Miriam Zulay Pereira Ferreira; Rui Tavares da Silva 18 A ENFERMAGEM NOS CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS EM PORTUGAL MNURSING AND PEDIATRIC PALLIATIVE CARE IN PORTUGAL LA ENFERMERÍA EN LOS CUIDADOS PALIATIVOS PEDIATRICOS EN PORTUGAL Ana Rita Castro Machado; Clara de Assis Coelho de Araújo 17 CUIDADOS OFTÁLMICOS AO DOENTE CRÍTICO: REVISÃO INTEGRATIVAR OPHTHALMIC CARE TO CRITICALLY ILL PATIENT: INTEGRATIVE REVIEW ATENCIÓN OFTALMOLÓGICA CON EL PACIENTE CRÍTICO: UNA REVISIÓN INTEGRADORA Ana Karina Rocha; Patricia Coelho 24 PREVENÇÃO DA INFEÇÃO DO TRATO URINÁRIO ASSOCIADA AO CATETER URINÁRIO: TOLERÂNCIA ZERO PREVENTION OF CATHETER-ASSOCIATED URINARY TRACT INFECTION: ZERO TOLERANCE PREVENCIÓN DEL INFECCIÓN DEL TRACTO URINARIO ASOCIADAS A CATÉTER URINARIO: TOLERANCIA CERO Isabel Cláudia Batista Cardoso ; Telma Marisa Fernandes Cardoso; Fernanda Maria Príncipe Bastos Ferreira 29 RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR POR VOLUNTÁRIOS: UM ELO PARA A VIDA CARDIOPULMONAR RESSUSCITACION BY BYSTANDER: ONE BOND FOR THE LIFE REANIMACIÓN CARDIOPULMONAR POR VOLUNTARIOS: UN BONO PARA LA VIDA Anabela Saldanha; Eduarda Coutinho; Tânia Ferreira; Isabel Araújo 39 UM OLHAR SOBRE A SUPERVISÃO EM ENSINO CLÍNICO DE ENFERMAGEM: PERSPECTIVA DOS ENFERMEIROS DE CAMPO E DOS ESTUDANTES A GLIMPSE OF SUPERVISION IN CLINICAL NURSING EDUCATION: FIELD NURSES PERSPECTIVE AND STUDENTS UN VISTAZO DE SUPERVISIÓN DE EDUCACIÓN CLÍNICA DE ENFERMERÍA: EL CAMPO DE ENFERMERAS PERSPECTIVA Y ESTUDIANTES Cidália Maria Batista Coutinho Pereira 47 RIE: registada no: LATINDEX - Sistema Regional de Informacíon en Línea para Revistas Científicas de America Latina, el Caribe, España y Portugal. http://www.latindex.unam.mx. Classificada na QUALIS (avaliação de 2014 com B4 - Avaliação de periódicos pela CAPES/Ministério da Educação do Brasil). Cuiden – Ciberindex - Base de Dados Bibliográficos sobre Cuidados de Salud en Iberoamérica (http://www.index-f.com/bibliometria/incluidas.php). REVISTA INVESTIGAÇÃO EM ENFERMAGEM Publicação /Periodicity Trimestral/quarterly DIRECTOR/MANAGING DIRECTOR Arménio Guardado Cruz Escola Superior de Enfermagem de Coimbra CONSELHO EDITORIAL/EDITORIAL BOARD Luís Miguel Nunes de Oliveira (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra); Vanda Marques Pinto (Escola Superior de Enfermagem de Lisboa); Maria do Céu Aguiar Barbiéri Figueiredo (Escola Superior de Enfermagem do Porto); António Fernando Salgueiro Amaral (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra); Nídia Salgueiro (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, aposentada) CONSELHO CIENTÍFICO/SCIENTIFIC BOARD / CORPO DE REVISORES/PEER REVIEWES Aida Cruz Mendes, PhD, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra António Marcos Tosoli Gomes, PhD, Faculdade de Enfermagem, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Arménio Guardado Cruz, PhD, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Célia Samarina Vilaça Brito Santos, PhD, Escola Superior de Enfermagem do Porto Clara de Assis Coelho de Araújo, PhD, Instituto Politécnico de Viana do Castelo Élvio Henrique de Jesus, PhD, Centro Hospitalar do Funchal Fernando Alberto Soares Petronilho, PhD, Universidade do Minho, Braga José Carlos Pereira dos Santos, PhD, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Manuel José Lopes, PhD, Escola Superior de Enfermagem S. João de Deus, Universidade de Évora Manuela Frederico, PhD, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Margarida da Silva Neves de Abreu, PhD, Escola Superior de Enfermagem do Porto Maria Antónia Rebelo Botelho, PhD, Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Maria Arminda da Silva Mendes Costa, PhD, Escola Superior de Enfermagem do Porto, ICBAS. Maria de Fátima Montovani, PhD, Universidade Federal do Paraná - Brasil Maria dos Anjos Pereira Lopes, PhD, Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Maria Manuela Ferreira Pereira da Silva Martins, PhD, Escola Superior de Enfermagem do Porto Marta Lima Basto, PhD, Unidade de Investigação e Desenvolvimento em Enfermagem Paulino Artur Ferreira de Sousa, PhD, Escola Superior de Enfermagem do Porto Paulo Joaquim Pina Queirós, PhD, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Pedro Miguel Diis Parreira, PhD, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Teresa Martins, PhD, Escola Superior de Enfermagem do Porto Zuila Maria Figueiredo Carvalho, Phd, Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Farmácia Odontologia e Enfermagem, Departamento de Enfermagem, Fortaleza, Brasil. Wilson Jorge Correia de Abreu, PhD, Escola Superior de Enfermagem do Porto Propriedade e Administração/Ownership Formasau, Formação e Saúde, Lda. | Parque Empresarial de Eiras, lote 19 | 3020-265 Coimbra | Telef. 239 801020 Fax. 239 801029 NIF 503 231 533 | Soc. por Quotas - Cap. Social 21 947,09€ Internet - www.sinaisvitais.pt/rie.php E-mail - [email protected] Grafismo/Graphic Design - Formasau, Formação e Saúde, Lda. Registo ICS: 123 486 ISSN: 2182-9764 Depósito Legal/Legal Deposit: 145933 /2000 ESTATUTO EDITORIAL 1 - A Revista Investigação em Enfermagem é uma publicação periódica trimestral, vocacionada para a divulgação da investigação em Enfermagem enquanto disciplina científica e prática profissional organizada. 2 - A Revista Investigação em Enfermagem destina-se aos enfermeiros e de uma forma geral a todos os que se interessam por temas de investigação na saúde. 3 - A Revista Investigação em Enfermagem tem uma ficha técnica constituída por um director e um Conselho Científico, que zelam pela qualidade, rigor científico e respeito por princípios éticos e deontológicos. 4 - A Revista Investigação em Enfermagem publica sínteses de investigação e artigos sobre teoria de investigação, desde que originais, estejam de acordo com as normas de publicação da revista e cuja pertinência e rigor científico tenham o reconhecimento do corpo de revisores científicos (peer reviews) constituídos em Conselho Científico. 5 - A Revista Investigação em Enfermagem é propriedade da Formasau - Formação e Saúde, Lda, entidade que nomeia o director. O Conselho Editorial é composto pelo director e por outros enfermeiros de reconhecido mérito, competindo-lhes a definição e acompanhamento das linhas editoriais. T al como como em outros sectores da nossa sociedade, hoje, na área da saúde, os tempos são de incerteza, indefinição, e muitas dificuldades para preservar e manter os padrões de qualidade dos cuidados de saúde que o SNS nos habituou. De facto, as modificações aceleradas que se verificam actualmente a nível demográfico, social, político, económico, e epidemiológico, e as interligações complexas que existem entre aqueles domínios, tornam as necessidades e as prioridades em cuidados de saúde cada vez mais incertas e em constante mutação. Esta realidade, e apesar de algumas tendências conhecidas (envelhecimento, aumento das doenças crónicas, aumento dos custos com a saúde, alterações no mundo do trabalho, etc…) reflecte-se também na área de investigação, com alteração constante dos focos de interesse e de estudo, que implicam uma formação inicial e permanente persistente e adaptada a estes novos cenários. Por isso, a formação dos actuais e novos enfermeiros deve adaptar-se a estes novos paradigmas, e permitir o desenvolvimento de novas competências científicas, técnicas, sociais e relacionais, flexíveis e transferíveis, e capacidade de raciocínio crítico. Os enfermeiros devem ser preparados e incentivados para a produção de conhecimento, em enfermagem e saúde. Necessitam de utilizar competências de pesquisa e análise para abordar questões complexas que a prática clínica lhe coloca, e ser capaz de avaliar a credibilidade das fontes de informação. Devem saber avaliar os dados de todas as fontes relevantes, decidir sobre a necessidade de utilização de novas tecnologias, colaborar na recolha, produção e disseminação de evidência, salvaguardando os direitos dos doentes no âmbito da investigação e dos cuidados. A compreensão e a capacidade de utilização dos elementos principais do processo e dos modelos de investigação torna-se fulcral, assim como a prática de uma enfermagem baseada na evidência, irá permitir aos enfermeiros tomar decisões clínicas utilizando a melhor evidência empírica, a sua experiência profissional e as preferências do doente. Neste contexto, a formação dos enfermeiros deve ancorar num ensino de cariz universitário que garanta, por um lado, o desenvolvimento, consolidação e legitimação da Disciplina Enfermagem mas, por outro lado, integrado num sistema académico interdisciplinar e articulado, a nível nacional e internacional, promova a socialização e aprendizagem em conjunto para trabalhar em equipa que, no futuro, facilite um verdadeiro trabalho de colaboração, com projectos de investigação interprofissional, decerto com maiores ganhos para a saúde das pessoas e, simultaneamente, aumento da satisfação e realização profissional. Arménio Guardado Cruz REVISTA INVESTIGAÇÃO EM ENFERMAGEM - MAIO 2015: 9-17 PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO NO DOENTE COM HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR - METANÁLISE Resumo Estela Filipa Marques Simões*; Fernando Emanuel Monteiro Soares**; Maritza Ribeiro dos Santos***; Miriam Zulay Pereira Ferreira****; Rui Tavares da Silva***** Apesar dos mais recentes avanços registados ao nível da terapia farmacológica, os doentes com Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) apresentam normalmente uma restrição significativa da sua capacidade física e tolerância ao esforço, o que compromete em grande medida a sua qualidade de vida. Habitualmente, a atividade física e a reabilitação não são recomendadas como estratégias terapêuticas na assistência a este tipo de doentes, em virtude do risco presumido de agravamento da condição clínica e de morte súbita. Estudos recentes sugerem contudo, que programas controlados de exercício físico, podem ser úteis no tratamento da HAP e contribuir para a melhoria da capacidade funcional, sem implicar a ocorrência de eventos adversos. Com a finalidade de conhecer a evidência científica disponível acerca da existência de programas de reabilitação em doentes com HAP, realizou-se uma revisão da literatura com metanálise, seguindo os princípios da metodologia PI[C]OD. Considerando os critérios de inclusão definidos para este trabalho, foram elegidos para revisão final três artigos relativos a estudos experimentais. Os estudos revelam a existência de programas de reabilitação organizados, com estrutura, duração e intensidade específicas e com ganhos ao nível da sintomatologia e classe funcional da doença, da tolerância ao exercício físico e qualidade de vida. Abstract Palavras-chave: Programa de Reabilitação; Hipertensão Arterial Pulmonar; Exercício; Treino REHABILITATION PROGRAMS IN PATIENTS WITH PULMONARY ARTERIAL HYPERTENSION-METANALYSIS Despite the recent medical therapy advances, patients with Pulmonary arterial hypertension (PAH) usually present significant physical capacity restriction and exertion tolerance, which compromises quality of life. Commonly, physical activity and rehabilitation aren’t recommended as therapeutic strategies on assisting these patients, due to the presumed risk of clinical exacerbation and sudden death. However, recent studies suggest that controlled exercise programs might be useful in PAH treatment and contribute to improve functional capacity without implying the occurrence of adverse events. In order to identify the scientific evidence available about the existence of rehabilitation programs in patients with PAH, a literature review with metanalysis was performed, adopting the PI[C]OD methodology assumptions. Considering the inclusion criteria defined for the present study, three articles were elected for final review concerning experimental studies. These studies reveal the existence of organized rehabilitation programs, with specific structure, duration and intensity and with gains in terms of symptomatology and functional class of the disease, exercise tolerance and quality of life. Resumen Keywords: Rehabilitation Program; Pulmonary Arterial Hypertension; Exercise; Training PROGRAMAS DE REHABILITACIÓN EN PACIENTES CON HIPERTENSIÓN ARTERIAL PULMONAR-METANALISE A pesar de los recientes avances registrados al nivel de la terapia farmacológica, los pacientes con Hipertensión Arterial Pulmonar (HAP) presentan por norma una restricción en su capacidad física y tolerancia para el esfuerzo, lo que compromete su calidad de vida. Habitualmente, la actividad física y la rehabilitación no están recomendadas como estrategias terapéuticas en la asistencia a este tipo de pacientes dado el riesgo de agravar la condición clínica y de muerte súbita. Estudios recientes sugieren que programas controlados de ejercicio físico pueden ser útiles en el tratamiento de la HAP y contribuir para la mejoría de la capacidad funcional, sin que ocurran efectos adversos. Con la finalidad de conocer la evidencia científica disponible sobre la existencia de programas de rehabilitación en pacientes con HAP, se realizó una revisión de la literatura con metanalise, según los principios de la metodología PI[C]OD. Considerando los criterios de inclusión del trabajo, fueron elegidos para la revisión final trés artículos relativos a estudios experimentales. Los estudios revelan la existencia de programas de rehabilitación organizados, con estructura, duración e intensidad específica y con beneficios en la sintomatología y clase funcional de la enfermedad, de la tolerancia al ejercicio físico y calidad de vida. Palabras clave: Programa de Rehabilitación; Hipertensión Arterial Pulmonar; Ejercicio; Entrenamiento Rececionado em março 2015. Aceite em abril 2015 * Enfermeira - Serviço de Cardiologia A do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra;[email protected] ** Enfermeiro - Serviço de Medicina do Centro Hospitalar de entre Douro e Vouga *** Enfermeira - Serviço de Cardiologia A do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra **** Enfermeira - UCSP Oliveira do Bairro I do ACES Baixo Vouga ***** Enfermeiro - Serviço de Cardiologia A do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra Revista Investigação em Enfermagem 9 PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO NO DOENTE COM HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR - METANÁLISE INTRODUÇÃO A HAP refere-se a um grupo de doenças caracterizadas por um aumento da resistência vascular pulmonar. Trata-se de uma síndrome rara e de elevada mortalidade, com predomínio no sexo feminino (McLaughlin et al, 2009; Humbert et al, 2006). Nos últimos anos, tem-se registado uma evolução marcada no conhecimento da sua fisiopatologia, o que contribuiu para que atualmente se encontrem disponíveis terapêuticas específicas que modificaram em parte o prognóstico da doença (Sánchez, 2008). Muito embora, o desenvolvimento e a combinação desses agentes possam melhorar a condição hemodinâmica e a capacidade de exercício, os doentes com HAP mantêm normalmente sintomas de intolerância ao esforço como a dispneia e a fadiga na consecução das atividades de vida diária, o que determina a privação progressiva da atividade física e a consequente exacerbação das limitações funcionais, com impacto significativo na qualidade de vida (Mereles et al, 2006). A atividade física era até bem recentemente contraindicada e não recomendada no contexto de HAP, dado o risco potencial de agravamento da função cardíaca, progressão acelerada da doença e morte súbita (Mereles et al, 2006). O surgimento nos últimos anos, de alguns estudos de investigação sobre a efetividade e segurança da integração do exercício físico no tratamento dos doentes com esta condição clínica, tem entretanto despertado a atenção e promovido o interesse e debate científico em torno desta problemática, na medida em que se têm registado resultados promissores. São apontados entre outros, benefícios na resposta ao esforço, baseados no aumento da distância percorrida no teste de marcha e do tempo de tolerância ao exercício em bicicleta ergométrica, assim como, melhoria da força e função muscular dos quadricípetes, regressão da sintomatologia e da classe funcional da doença (Mereles et al, 2006; de Man et al, 2009). Também são descritas melhorias nos scores de avaliação da qualidade de vida, com maior expressão nas componentes física e mental (Mereles et al, 2006). Alguns autores sugerem neste sentido, a necessidade de encarar a implementação de programas de reabilitação cardiorrespiratória, como um contributo válido e complementar da terapia médica nos doentes com HAP (Fox et al, 2011; Mereles et al, 2006). 10 Revista Investigação em Enfermagem Animados pelo crescente interesse e latente controvérsia de que se reveste a temática em análise, pretende-se com a elaboração deste artigo, reunir e sintetizar a melhor evidência científica publicada, acerca da existência de programas de reabilitação efetivos no atendimento aos doentes com HAP. QUADRO TEÓRICO A hipertensão arterial pulmonar é uma condição clínica caracterizada por crescimento e proliferação vascular, que conduz a um progressivo aumento da resistência vascular pulmonar e disfunção cardíaca direita (Rubin, 2006). Define-se, segundo Galié et al (2009), como uma elevação sustentada da pressão arterial média (PAP) em repouso (≥ 25 mmHg) e durante o exercício (≥ 30 mmHg). Esta enfermidade, foi documentada pela primeira vez em 1891 por Ernst von Romberg como esclerose vascular pulmonar (Romberg, 1891). Tem sido nas últimas décadas, alvo de várias propostas de classificação clínica por parte da Organização Mundial de Saúde, através da individualização de diferentes categorias caracterizadas por mecanismos fisiopatológicos, manifestações e opções terapêuticas semelhantes. Na quarta e última Convenção Mundial de Dana Point 2008, foi definido o atual sistema de classificação clínica da Hipertensão Pulmonar, do qual constam 5 grupos diferentes da doença segundo a sua etiologia, designadamente: Grupo 1 – Hipertensão arterial pulmonar; Grupo 1’ – Inclui principalmente doenças pulmonares veno-oclusivas; Grupo 2 – Hipertensão pulmonar associada a doenças do coração esquerdo; Grupo 3 – Hipertensão pulmonar associada a doenças respiratórias e/ou hipóxia; Grupo 4 – Hipertensão pulmonar devida a doença crónica tromboembólica (CTE); Grupo 5 – Hipertensão pulmonar de etiologia desconhecida e/ou mecanismos multifatoriais (Galié et al, 2009). O grupo 1 constitui o tipo de hipertensão pulmonar onde se tem verificado ultimamente, os mais importantes avanços na compreensão da fisiopatologia da doença e no respetivo tratamento (Sánchez, 2008; Galié et al, 2009). As descobertas sobre a biologia molecular e celular dos vasos pulmonares e os meca- PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO NO DOENTE COM HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR - METANÁLISE nismos genético-moleculares envolvidos no tónus e integridade da parede vascular, abriram no entender de Sánchez (2008) uma nova perspetiva de conhecimento. Sabe-se atualmente segundo este autor, que o aumento da resistência vascular pulmonar está relacionado com diferentes mecanismos como a vasoconstrição, a remodelação proliferativa e obstrutiva da parede dos vasos pulmonares, inflamação e trombose. As alterações histológicas principais afetam particularmente as artérias pulmonares distais, e incluem hipertrofia da túnica média, proliferação e fibrose da íntima, espessamento e inflamação da adventícia, lesões complexas e trombóticas (Galié et al, 2009). Na patogénese da doença, encontram-se envolvidos diferentes tipos de células, nomeadamente as células endoteliais, musculares lisas e fibroblastos. A disfunção endotelial resulta na redução da produção de vasodilatadores como o óxido nítrico e a prostaciclina e na sobreprodução de vasoconstritores como o tromboxano e a endotelina (Humbert et al, 2004). A par destes mecanismos fisiopatológicos, surge um conjunto inicial de sintomas inespecíficos e comuns a diversas patologias, que inclui a dispneia, fadiga, angina de peito, tonturas e síncope (McLaughlin e McGoon, 2006). O agravamento progressivo da resistência vascular pulmonar e a crescente sobrecarga de pressão ventricular direita, vão acentuando as manifestações clínicas da doença e limitando a execução de atividades físicas para esforços cada vez mais reduzidos. A insuficiência cardíaca direita constitui na opinião de Sánchez (2008), a principal causa de morte nos doentes com HAP grave e um importante indicador de prognóstico. A avaliação diagnóstica baseia-se segundo Galié et al (2009), numa série de investigações clínicas com a intenção de clarificar o grupo de hipertensão pulmonar e a etiologia específica, bem como as alterações funcionais e hemodinâmicas existentes. Compreende um processo sequencial de exames objetivos, que vão desde a apresentação clínica, teste de marcha de 6 minutos, eletrocardiografia, radiografia torácica, provas funcionais respiratórias, marcadores analíticos sanguíneos, tomografia axial computorizada, angiografia pulmonar e cateterismo cardíaco direito com teste de vasorreactividade. Uma vez diagnosticada, a HAP é usualmente classificada de acordo com um sistema de classe fun- cional inicialmente concebido pela New York Heart Association (NYHA) para a insuficiência cardíaca crónica e mais tarde adaptado pela Organização Mundial de Saúde (WHO) para a HAP. Este sistema, mede a gravidade da HAP e reflete o seu impacto na vida dos doentes, no que diz respeito à tolerância à atividade física e aos sintomas manifestados. Integra 4 classes funcionais, sendo a classe I a menos grave e a classe IV a mais grave (Rich, 1998). Nos últimos anos, a extraordinária evolução sentida ao nível do tratamento da HAP tem conduzido à aprovação de diversas terapêuticas que melhoram significativamente a sintomatologia clínica e atrasam a deterioração e progressão da doença (Galié et al, 2009). Não existindo até ao momento uma solução curativa, o objetivo fundamental do tratamento na HAP consiste em prolongar a sobrevivência e melhorar a qualidade de vida dos doentes (Humbert et al, 2004; Sánchez, 2008). As recomendações mais recentes quanto ao tratamento da HAP, estabelecidas na Convenção de Dana Point 2008 sugerem uma terapia de suporte à base de anticoagulantes orais, cardiotónicos, diuréticos e oxigénio, aliada a uma terapia específica dirigida à patologia, tais como vasodilatadores, bloqueadores dos canais de cálcio e antagonistas da remodelação e proliferação vascular, septostomia auricular com balão e transplantação pulmonar. Aconselham-se ainda, um conjunto de medidas gerais, das quais se salienta, evitar a gravidez, proporcionar apoio psicossocial e considerar a inclusão de reabilitação supervisionada em doentes condicionados fisicamente (Galié et al, 2009). QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO Com vista a situar a problemática em análise e a delimitar o campo de pesquisa, foi enunciada a seguinte questão de investigação: Existem programas de reabilitação cientificamente testados para o doente com HAP? Atendendo à natureza da questão de partida, delinearam-se os seguintes objetivos: - Identificar programas de reabilitação dirigidos aos doentes com HAP; - Caracterizar os programas de reabilitação quanto ao tipo de exercícios, duração, frequência e intensidade; - Analisar os resultados/efeitos associados aos programas de reabilitação. Revista Investigação em Enfermagem 11 PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO NO DOENTE COM HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR - METANÁLISE METODOLOGIA DE PESQUISA O presente trabalho consiste numa revisão sistemática da literatura com metanálise, a qual traduz segundo Ramalho (2005), um estudo observacional da evidência, em que são aplicados métodos científicos e estatísticos para combinar os resultados de dois ou mais estudos primários. Seguiu-se um processo sistemático desde a seleção dos recursos de pesquisa até à avaliação crítica dos artigos selecionados, para o qual foi considerado um conjunto de critérios de inclusão e exclusão. A formulação da pergunta de investigação e a definição dos critérios de inclusão e exclusão, tiveram por base o método PI[C]OD (Ramalho, 2005): Participantes – doentes com HAP; Intervenções – programas de reabilitação; Comparações – comparação entre programas de reabilitação; “Outcomes” – efeitos dos programas de reabilitação; Desenho do estudo – estudos quantitativos experimentais (Quadro 1). Em virtude da escassez de publicações recentes relevantes, verificada numa pré-análise dos últimos 5 anos, foi alargado o espaço de filtração cronológica da pesquisa para 10 anos, de 2003 a 2013. Quadro 1 – Critérios de inclusão e exclusão dos artigos para metanálise Critérios de Inclusão Critérios de Exclusão Estudos quantitativos experimentais; Centrados em programas de reabilitação em doentes adultos com Hipertensão Arterial Pulmonar; Escritos em português, espanhol ou inglês; Publicados entre os anos 2003 e 2013; Artigos com acesso ao texto integral (full text). Estudos não experimentais e/ou de revisão teórica; Repetidos em bases de dados; Não se centrarem em programas de reabilitação efetivos, descritos e aplicados; Os resultados não se reportarem à Hipertensão Arterial Pulmonar de forma discriminada; Incluírem crianças como população alvo (<18 anos). A revisão da literatura científica, foi desenvolvida durante o período de Novembro de 2012 a Fevereiro de 2013, através de pesquisa electrónica nas seguintes bases de dados: EBSCOhost (Academic Search Complete, Business Source Complete, CINAHL, ERIC, Health Business Elite, Library, Information Science & Technology Abstracts, MEDLINE with Full Text, Psychology and Behavioral Sciences Collection, Regional 12 Revista Investigação em Enfermagem Business News), INDEX, LILACS, PUBMED, RCAAP, SciELO, Sciense Direct, SCIRUS. As palavras-chave utilizadas como descritores de pesquisa foram: programa de reabilitação; hipertensão arterial pulmonar; exercício; treino. AVALIAÇÃO CRÍTICA A pesquisa eletrónica forneceu uma amostra inicial de 1268 artigos, dos quais se excluíram numa primeira fase 1245, em virtude da não conformidade do seu título e resumo com a questão de investigação e os objetivos delineados para esta metanálise. Num segundo momento, a análise do texto integral dos 23 artigos, determinou a exclusão de 20, uma vez que não respondiam aos critérios de inclusão pré-definidos. Os artigos foram revistos por todos os investigadores, conferidos os critérios de forma pareada e revisados em conjunto. O corpus de estudo do presente trabalho, ficou assim constituído por 3 artigos relativos a estudos de investigação experimentais (Quadro 2). Quadro 2 - Resultados do processo de pesquisa eletrónica Base de dados Artigos obtidos Artigos selecionados Artigos analisados EBSCOhost 122 8 2 INDEX 0 0 0 LILACS 0 0 0 PUBMED 10 10 1 SciELO 0 0 0 SCIRUS 333 3 0 RCAAP 0 0 0 SCIENCE DIRECT 803 2 0 Total 1268 23 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Pretende-se aqui, identificar a evidência científica recente sobre a existência de programas de reabilitação direcionados aos doentes com HAP. No quadro 3, apresentam-se resumidamente, os principais aspetos metodológicos dos estudos sujeitos ao processo de análise, nomeadamente, os objetivos, a amostra, o local de origem e os respetivos autores e ano de publicação. PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO NO DOENTE COM HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR - METANÁLISE Quadro 3 – Descrição dos principais aspetos metodológicos dos estudos incluídos Estudo E1 E2 E3 Autores, Ano e Local de origem Mereles et al, 2006 Dallas (USA) Fox et al, 2011 Petach Tiqwa (Israel) Chan et al, 2013 Bethesda (USA) Objetivos Amostra Avaliar a eficácia e a segurança do treino físico e respiratório em doentes com Hipertensão Pulmonar grave sintomática Averiguar se a reabilitação melhora a capacidade de exercício dos doentes com HAP/CTE Avaliar o impacto do treino de exercícios aeróbicos na função e qualidade de vida em doentes com HAP Analisando os dados descritos no Quadro 3, verifica-se que os três estudos apresentam objetivos de investigação idênticos, centrados nos efeitos dos programas de reabilitação nos doentes com HAP. As amostras incluídas, são compostas por um número de doentes aproximado, apesar de ligeiramente superior em E1, integrando todas um grupo de reabilitação (designado em E3 por EXE) e outro de controlo (EDU em E3). Salienta-se o predomínio do sexo feminino. O diagnóstico exclusivo de HAP foi apenas conseguido em E3, encontrando-se em E1 e E2 doentes com Hipertensão Arterial Pulmonar e doentes com Doença Crónica Tromboembólica. Todos os estudos são praticamente sobreponíveis nas classes funcionais reveladas nas amostras, à exceção de E1, que por incluir doentes em classe IV possui um espectro maior de gravidade da doença. No quadro 4 podem observar-se as caraterísticas estruturais dos programas de reabilitação identificados nos estudos, bem como os resultados mais relevantes. Da análise dos resultados, salienta-se que os três estudos revistos são unânimes ao concluírem sobre a eficácia dos programas de reabilitação neles testados, representada pela melhoria da capacida- 30 doentes (9M/21F) 50 ± 13 anos HAP/CTE NYHA / WHO – II, III, IV 1 grupo de controlo 1 grupo de reabilitação 22 doentes (7M/15F) 51 ± 4 anos HAP/CTE NYHA / WHO – II, III 1 grupo de controlo 1 grupo de reabilitação 23 doentes (23F) 54 ± 11 anos HAP NYHA / WHO – II, III Grupo EXE (exercício e educação para a saúde) Grupo EDU (educação para a saúde) de física dos doentes com HAP. A segurança dos doentes constituiu também um pressuposto comum aos três estudos, não se tendo verificado em nenhum deles qualquer evento adverso, tal como, a exacerbação de sintomas ou insuficiência cardíaca direita. Foram para isso acautelados os níveis de intensidade de exercício e os critérios de suspensão dos mesmos, os quais são muito similares no conjunto dos estudos (FC Máx.e SatO2). Igualmente reportado em todos eles, foi o aumento da distância percorrida no teste de marcha de seis minutos, sendo as diferenças entre o grupo de reabilitação e o grupo de controlo estatisticamente significativas (p<0.001 em E1; p=0.003 em E2; p=0.008 em E3). Traduzindo estes dados em metros, registou-se em E1 um aumento de 96±61 m no grupo de reabilitação e um decréscimo de -15±54 m no grupo de controlo. Em E2, observou-se um acréscimo de 32±11 m no grupo de reabilitação e uma redução de -26±6 no grupo de controlo e em E3, incrementou-se a distância em 43±46 m no grupo EXE, não se identificando alterações substanciais no grupo EDU. Importa referir a este propósito, que o teste de marcha de seis minutos, tem sido usado como marcador crítico primário na maioria dos estudos de investigação com doenRevista Investigação em Enfermagem 13 PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO NO DOENTE COM HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR - METANÁLISE Quadro 4 – Programas de reabilitação dos estudos analisados e respetivos resultados Est. Programa de reabilitação Duração Frequência Regime: Ambulatório e internamento E1 Resultados SatO2 > 85% ↑ teste de marcha de 6 min (p<0.001 60 - 80% da FC Máx. = Escala de Borg (p>0.05) 3 semanas Domicílio Bicicleta Ergométrica 7 dias / semana (10-25 min./dia) Caminhadas em plano e declive 5 dias / semana ↓ NYHA / WHO (p<0.001) (60 min.) ↑ qualidade de vida (física p= 0.013; mental p= 0.027) ↑ VO2 (p<0.05) Treino respiratório (30 min.) Regime: Ambulatório 12 semanas SatO2 > 90% ↑ teste de marcha de 6 min (p=0.003) Treino de passadeira Treino de bicicleta 2 dias / semana 60 - 80% da FC Máx. = Escala de Borg (p=0.08) Subir escadas 1 hora / sessão ↑ VO2 (p=0.02) Exercícios sem apoio com e sem halteres (0,5-1 kg) = NYHA / WHO (p=0.6) Suporte do peso corporal sobre uma cadeira ↑ peak work rate (p=0.051) Subir escadas Caminhadas 1 vez/dia (domicílio) Regime: Ambulatório Técnico: Desconhecido E3 de Hospital Técnico: Fisioterapeuta Treino com halteres E2 Intensidade exercício 10 Semanas ↑ teste de marcha de 6 min (p=0.008) ↑ teste de marcha de 6 min (p=0.008) Sessões educativas (fisiopatologia, tratamentos e evolução da doença, prevenção de infeções, técnicas de relaxamento, alimentação, benefícios do exercício) Treino de Passadeira 70 – 80% da FC Máx. 1hora / semana 70 – 80% da FC Máx. = VO2 (p=0.463) = NYHA / WHO (p=0.376) 3 dias / semana (30-45 min.) ↑ qualidade de vida (vitalidade - p=0.002; PGS - p=0.002) ↑ MET ( p=0.004) ↑ tempo de tolerância ao exercício ( p=0.004) Siglas: Est.- Estudos analisados; VO2 - consumo de oxigénio; NYHA / WHO - Classe funcional da HAP; p - Mann-Whitney U test (p<0.05=significado estatístico); Peak Work Rate - Ritmo máximo de trabalho; Workload - Carga de trabalho; PGS - Percepção geral de saúde; MET - Energia dispendida no exercício; min.- minutos; FC Máx.- Frequência cardíaca máxima.SatO2 - Saturação de oxigénio. tes de HAP, estabelecendo-se o valor de 500 metros como limiar de bom prognóstico (Galié et al, 2009). É segundo Solway (2001), o teste mais recomendado para avaliar a capacidade de exercício e reflete as atividades de vida diária. As evidências encontradas relativamente ao aumento do consumo de oxigénio (VO2) sugerem resultados semelhantes, apesar de menos consistentes. Enquanto que em E1 e E2 se verificaram 14 Revista Investigação em Enfermagem diferenças claras na comparação entre os grupos (p<0.05; p=0.02), este parâmetro manteve em E3, sensivelmente o mesmo valor (p=0,463), o que poderá ser justificado pela menor duração do seu programa de reabilitação e menor diversidade de exercícios físicos, bem como, por não incluir treino respiratório. O VO2 encontra-se normalmente diminuído nos doentes com HAP e traduz um importante indicador de instabilização e prognóstico PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO NO DOENTE COM HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR - METANÁLISE da doença (Galié et al, 2009). Também ao nível da classe funcional da doença (NYHA / WHO), que avalia segundo Rich (1998), a gravidade da sintomatologia e intolerância à atividade física, foram registadas algumas divergências nos resultados do corpus de estudo. Em E1, a melhoria da sintomatologia no grupo de reabilitação, traduziu-se na redução significativa da classe funcional, observando-se uma diferença estatisticamente relevante comparativamente com o grupo de controlo (p<0.001). Já nos dois outros estudos, as evidências não foram assim tão conclusivas, sendo a diferença entre os dois grupos não significativa em E2 (p=0.6) e em E3 (p=0.376). Associa-se esta situação, ao facto de no primeiro estudo o número de doentes da amostra ser superior e incluir um maior espectro de classes funcionais, o que por si só, poderá aumentar a visibilidade da regressão do perfil sintomatológico. Outro dado referido nas conclusões dos estudos, à exceção de E2, consiste na melhoria da qualidade de vida dos doentes sujeitos a um programa de reabilitação. A qualidade de vida, pressupõe uma atitude pró-ativa da pessoa perante as limitações da doença, para que sejam minimizadas as implicações na sua autonomia real e na sua vida diária (Pereira e Santos, 2011). Mereles et al (2006) ao utilizar o questionário Short Form Health Survey (SF-36) verificou no seu estudo (E1) que o grupo de doentes submetidos a exercício físico e treino respiratório, aumentaram de forma significativa o somatório dos scores da qualidade de vida relativos às escalas da componente física (p=0.013) e mental (p=0.027) e das subescalas função física (p=0.018), função limitação física (p=0.003), vitalidade (p=0.001), função social (p=0.002) e saúde mental (p=0.017). Não foram encontradas neste grupo de doentes alterações relevantes nas subescalas função emocional, dor física e perceção geral de saúde. No grupo de controlo, estes parâmetros mantiveram-se praticamente inalterados. Em E3, a qualidade de vida foi analogamente avaliada na sua forma quantitativa através do SF-36, porém numa versão mais recente (versão 2), sendo associado outro questionário de avaliação da qualidade de vida específica da doença, designado de Cambridge Pulmonary Hipertension Outcome Review (CAMPHOR). A aplicação do primeiro instrumento, evidenciou no grupo EXE, ganhos nos scores das subescalas função física (pré versus pós-exercício; p=0.009), função limitação física (p=0.023), perceção geral de saúde (p=0.002), vitalidade (p=0.002), função social (p=0.016) e saúde mental (p=0.028). Do CAMPHOR ressalta aumento da qualidade de vida (p=0.003), diminuição dos sintomas (p=0.005), aumento de energia (p=0.008) e humor (p=0.032) e diminuição da dispneia (p=0.041). No grupo EDU, não foram observadas diferenças significativas em qualquer um dos instrumentos. Conclui-se assim, que os resultados da qualidade de vida são globalmente mais expressivos em E1, com exceção das subescalas função física e perceção geral de saúde em que E3 se sobrepõe, facto que poderá ser devido ao programa de reabilitação ser mais restrito em E3, no tipo de exercícios físicos, na duração total (10 semanas versus 15 semanas em E1) e na frequência semanal (3dias/semana versus 5-7 dias/ semana). São ainda mencionados de forma dispersa pelos três estudos, alguns parâmetros menos utilizados pelos investigadores mas que isoladamente concorrem com resultados potencialmente relevantes. A carga de trabalho máxima é uma das evidências apenas observada em E1 e apresenta na comparação entre o grupo de reabilitação e o grupo de controlo, uma diferença estatisticamente significativa (p<0.05), o que poderá resultar da aplicação de um programa diversificado de exercícios, com duração e frequências elevadas. O MET, que corresponde à energia gasta durante o exercício físico, é por sua vez também relatado num só estudo (E3), onde são descritos ganhos mais expressivos no grupo EXE (p=0.004). Esta elevação pode sugerir, como refere Shah et al (2009), um incremento na capacidade física destes doentes e um preditor objetivo da melhoria das variáveis hemodinâmicas e da redução da taxa de mortalidade. E3 inclui ainda outro indicador exclusivo no seu programa de reabilitação, designado de tempo de tolerância ao exercício e os seus resultados demonstram um aumento fortemente divergente entre EXE e EDU (p=0.004). Apesar de não ter sido avaliado em E1 e E2, o facto de se ter aumenRevista Investigação em Enfermagem 15 PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO NO DOENTE COM HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR - METANÁLISE tado nos grupos de reabilitação a carga de trabalho máxima e a frequência cardíaca máxima em E1 (p<0.05 em ambas) e o ritmo máximo de trabalho em E2 (ainda que com modesta significância – p=0.051) e não se alterarem os resultados da escala de Borg, pode levar a presumir que houve também nestes dois estudos, uma melhoria da tolerância ao exercício. Realça-se por último, que os programas de reabilitação não foram conduzidos por enfermeiros em nenhum dos estudos apresentados, sendo o fisioterapeuta o profissional mais referenciado pelos respetivos autores. Em síntese, pode-se concluir que o programa de reabilitação testado no estudo de Mereles et al (2006), demonstra reunir melhores resultados de efetividade nos doentes com HAP, em virtude de evidenciar maior número de ganhos com significado estatístico. para uma explanação profunda da problemática em questão, pelo que se torna premente incrementar o desenvolvimento de estudos de investigação-ação, em particular no contexto português e no âmbito da Enfermagem de Reabilitação, com o objetivo de explorar e afirmar a efetividade dos cuidados de reabilitação na área da HAP e assim contribuir para a qualidade de vida dos doentes que padecem desta enfermidade, apostando numa prática de cuidados segura e cada vez mais baseada na evidência. Salienta-se a este propósito, que na sequência desta metanálise se encontra em fase de projeto, um estudo de investigação experimental com doentes de HAP seguidos em consulta externa no Serviço de Cardiologia-A do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, com o intuito de elaborar um programa de Reabilitação de Enfermagem passível de vir a ser integrado na prática clínica. Conclusão e recomendações Esta metanálise contribuiu para a compilação da evidência científica publicada em diversas bases de dados de referência, acerca da existência de programas de reabilitação na área da HAP, o que conduziu a um conhecimento mais aproximado do “estado da arte” sobre esta problemática. Face aos resultados da análise do corpus de estudo, conclui-se que os programas de reabilitação descritos são seguros e efetivos na melhoria da capacidade física e cardiorrespiratória e aumento da qualidade de vida, devendo por isso ser considerados como terapia coadjuvante do tratamento convencional. Algumas limitações deste trabalho podem ter condicionado a discussão em torno da temática abordada, como sejam os factos da pesquisa ficar restringida a artigos posteriores a 2003 e da insuficiência de estudos experimentais e randomizados que analisassem programas de reabilitação na HAP, de forma exclusiva. Procurou-se minimizar estas limitações, através da análise rigorosa de artigos teóricos e de investigação anteriores a 2003, que permitiram a compreensão e discussão dos dados com maior propriedade. Destaca-se que a produção científica encontrada, não se revelou tão profícua quanto seria desejável Referências bibliográficas CHAN, Leighton [et al.] (2013) – Benefits of Intensive Treadmill Exercise Training On Cardiorespiratory Function and Quality of Life in Patientes With Pulmonary Hyertension. Chest Journal [Em Linha]. Vol. 143, nº 2, p. 333-343. [Consult 28 Fev. 2013]. 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Disponível em WWW:URL:<http:// journal.publications.chestnet.org/article. aspx?articleid=1079374> Revista Investigação em Enfermagem 17 REVISTA INVESTIGAÇÃO EM ENFERMAGEM - MAIO 2015: 18-23 A ENFERMAGEM NOS CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS EM PORTUGAL Resumo Ilda Pinheiro (1); Carla Pinho (2) Os cuidados paliativos pediátricos são cuidados holísticos e proactivos, que constituem um direito humano básico para crianças e jovens com doenças crónicas complexas, limitantes de vida e/ou potencialmente fatais (APCP & SPP, 2014). A família, no contexto pediátrico, surge como o principal cuidador das crianças, e por vezes, em casa, sem quaisquer recursos ou alguém que os auxilie, como seria no ambiente hospitalar (Casey, 1988). Os cuidados de enfermagem desenvolvem-se ao longo do ciclo vital da família, com ênfase nas respostas da família aos problemas reais ou potenciais (Wright & Leahey, 2002). Os enfermeiros assumem-se como a ligação com os restantes profissionais de saúde, orientando e auxiliando quando possível os familiares para a prestação dos cuidados à criança. Com esta investigação pretendíamos compreender como é que se encontram posicionados os enfermeiros na rede de cuidados paliativos pediátricos em Portugal. Do estudo concluiu-se que os Enfermeiros apontam como principal necessidade de investimento, a formação especializada e centrada nestes cuidados, no encontro de padrões de qualidade para as suas práticas. Considerando, ainda, importante que se debatam questões culturais, morais e éticas de forma a ir ao encontro das reais necessidades das crianças e família, promovendo a decisão partilhada. Abstract Palavras-chave: Cuidados paliativos pediátricos, Doença Terminal, Enfermagem, Família, Redes de cuidados. NURSING AND PEDIATRIC PALLIATIVE CARE IN PORTUGAL The pediatric palliative care are holistic and proactive care, which constitutes a basic human right for children and young people with complex chronic diseases, life-limiting and/or life-threatening. (APCP & SPP, 2014). The family in pediatric context, emerges as the main caregiver of the children, and sometimes, at home, without any resources or someone who helps, as it would be in the hospital environment (Casey, 1988). Nursing care develop along the life cycle of the family, with emphasis on responses to actual or potential problems family (Wright & Leahey, 2002). The nurses take on as the connection with the rest of health professionals advising and assisting where possible family members for the provision of child care. With this research we wanted to understand how they are positioned the nurses in pediatric palliative care network in Portugal, which allowed us to conclude that the Nurses as primary need for investment, the specialized training and focused in these care, meeting quality standards for its practices, considering also important to discuss cultural, moral and ethical issues in order to meet the real needs of children and families, promoting shared decision Resumen Keywords: Palliative Care pediatric, Terminal illness, Nursing, Family, Health Care Networks. LA ENFERMERÍA EN LOS CUIDADOS PALIATIVOS PEDIATRICOS EN PORTUGAL Los cuidados paliativos pediátricos son cuidados holísticos e proactivos, que son un derecho humano básico para niños y adolescentes con enfermedades crónicas complejas, limitantes de la vida y/o potencialmente fatales (APCP & SPP, 2014). La familia, en el contexto pediátrico, surge como la principal cuidadora de los niños y adolescentes, y por veces, en casa, sin qualquier recurso o alguien que la auxilie, como seria en el ambiente hospitalario (Casey, 1988). Los cuidados de enfermería se desarrollan a lo largo del ciclo de vida de la familia, con énfasis en las respuestas de la familia a problemas reales o potenciales (Wright y Leahey, 2002). Las enfermeras se asumen como el enlace con otros profesionales de la salud, guiando y ayudando en lo posible a la familia para la prestación de cuidados al niño. Con esta investigación se pretende entender cómo los enfermeros están colocados en la red de cuidados paliativos pediátricos en Portugal. Del estudo permitió concluirmos que los enfermeros señalan como principal necesidad para la inversión, la especializada y enfocada formación en estos cuidados, en el cumplimiento de las normas de calidad de sus prácticas. Consideran también que será importante discutir las cuestiones culturales, morales y éticas a fin de satisfacer las necesidades reales de los niños y sus familias, mediante la promoción de las decisiones compartidas. Palabras clave: Cuidados paliativos pediátricos, Enfermedad Terminal, Enfermería, Familia, Redes de cuidados. Recepcionado em Fevereiro 2015. Aceite em Abril 2015. (1) (2) Licenciada em Enfermagem – Escola Superior de Saúde Jean Piaget Gaia; [email protected] Doutorada em Didática e Formação – Ramo Supervisão; Docente ESSJP 18 Revista Investigação em Enfermagem A ENFERMAGEM NOS CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS EM PORTUGAL Introdução A problemática deste trabalho é a de compreender “Como se encontram posicionados os enfermeiros na rede de cuidados paliativos pediátricos em Portugal?”. O estudo foi desenvolvido num formato de caracter descritivo, com uma abordagem quantitativa. Como tal, achamos necessário estabelecer alguns objetivos para esta investigação, de modo a conseguir obter as respostas pretendidas: (a) Identificar as necessidades mais evidentes das famílias com crianças que necessitam da prestação de cuidados paliativos, segundo o ponto de vista dos enfermeiros; (b) Caracterizar o trabalho desenvolvido pelos enfermeiros de cuidados paliativos pediátricos; (c) Identificar as principais estratégias desenvolvidas por estes na resposta às exigências desta área de cuidados. Fundamentação Os Cuidados Paliativos Pediátricos (CPP) constituem um direito humano básico de recém-nascidos, crianças e jovens portadores de doenças crónicas complexas, limitantes da qualidade e/ou esperança de vida, e suas famílias (GULBENKIAN, 2013). Podem definir-se como cuidados ativos, totais e integrais do corpo, mente e espírito da criança, incluindo o apoio à família, que devem ser iniciados assim que a doença é diagnosticada, mantendo-os continuamente, independentemente da criança receber ou não tratamento dirigido à doença base (EAPC, 2007). Em Portugal este tipo de cuidados são uma realidade recente, e, por isso, ainda pouco explorado o tema, revelando-se uma área de interesse e em constante evolução. Os CPP são um direito humano básico, na prestação de cuidados holísticos e proactivos, para todas as crianças, desde os recém-nascidos aos jovens e adolescentes que são portadoras de doenças limitantes de vida e/ou potencialmente fatais (APCP & SPP, 2014). A família, enquanto cuidador, torna-se fulcral para uma evolução positiva do estado de saúde da criança. No modelo de Parceria de Cuidados de Anne Casey (1988), a família, no contexto pediátrico, surge como o principal cuidador das crian- ças, e por vezes, em casa, sem quaisquer recursos ou alguém que os auxilie como seria no ambiente hospitalar. Os enfermeiros assumem-se como a ligação com os restantes profissionais de saúde, orientando e auxiliando quando possível os familiares para a prestação dos melhores cuidados à criança. Contudo não está tudo ao seu alcance e nem todas as necessidades são atendidas, precisando ainda de muitas alterações ao que há disponível em território português. Em Portugal, começam-se a dar os primeiros passos na prestação destes cuidados pediátricos, com a criação de grupos de trabalho dedicados a esta área desde fevereiro de 2013. Atualmente, também, é possível encontrar em funcionamento Unidades Móveis de Apoio Domiciliário (UMADs), criadas com a iniciativa da Fundação Gil, que procuram prestar cuidados pediátricos especializados nas necessidades das crianças e suas famílias. Até à data, podemos encontrar estas equipas no Centro Hospitalar de Lisboa Norte (CHLN), Centro Hospitalar de Lisboa Centro (CHLC), Hospital Fernando Fonseca e Centro Hospitalar de São João (CHSJ). Os cuidados paliativos pediátricos são um desafio constante entre os diferentes intervenientes, a nível organizacional e de colaboração, importantes para a criação de soluções mais eficazes e sustentáveis, independentes dos recursos disponíveis (APCP & SPP, 2014). Neste artigo dá-se conta dos principais pressupostos teóricos que estão na base do estudo realizado, com a descrição da metodologia usada, focando em seguida, a componente empírica na qual foi aplicado um questionário a enfermeiros. Neste sentido, descreve-se esse instrumento, e os seus objetivos, a amostra selecionada e os principais resultados obtidos. Da discussão dos resultados advirá a caracterização e a contribuição para uma melhor prestação dos cuidados de enfermagem em doentes terminais em idade pediátrica, pelo levantamento de necessidades na opinião dos profissionais, que foi realizada, de maneira a ajudar a ultrapassar as dificuldades atualmente existentes perante este tipo de casos. Revista Investigação em Enfermagem 19 A ENFERMAGEM NOS CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS EM PORTUGAL Material e Métodos Este artigo foca-se na vertente metodológica do estudo na qual se utilizou como instrumento de recolha de dados um inquérito por questionário organizado em quatro partes distintas. Na primeira e segunda partes pretendemos caraterizar simultaneamente os respondentes e o conhecimento dos entrevistados sobre os Cuidados Paliativos Pediátricos em Portugal em estudo, através de um conjunto de perguntas de respostas dicotómicas e questões abertas. A terceira parte destina-se a caraterizar o tipo de formação existente em Portugal, no que se relaciona com os Cuidados Paliativos Pediátricos, e, por último, a quarta parte destina-se a conhecer a posição tomada pelo entrevistado em assuntos relacionados com o envolvimento da família nos Cuidados Paliativos Pediátricos. A aplicação do questionário e a recolha das respostas foi feita durante os meses de abril a junho de 2014, ao qual responderam cerca de 34 enfermeiros de todo o país. Os resultados que apresentamos foram recolhidos em várias Instituições Hospitalares e Unidades de Cuidados de Saúde Primários. Realça-se este aspeto uma vez que este tem certamente uma grande importância na compreensão dos dados colhidos. O tratamento dos dados qualitativos do questionário foi feito através da análise de conteúdo. Para tratar a informação quantitativa recorreu-se aos programas estatísticos SPSS, através da análise estatística descritiva. Resultados Em relação aos resultados, quando questionados sobre os Cuidados Paliativos Pediátricos, grande parte dos enfermeiros inquiridos (97%) consideram que este tipo de cuidados merecem especial atenção por parte do Sistema Nacional de Saúde (SNS), pelo que também consideram necessária a criação de unidades especializadas para atender às necessidades de doentes carenciados deste tipo de cuidados (94%). Para a pergunta “Tem conhecimento da existên20 Revista Investigação em Enfermagem cia de alguma unidade dedicada aos CPP a nível Nacional?”, apenas 16% dos atores inquiridos afirma ter conhecimento da sua existência. Contudo, quando pedida a opinião sobre as respostas dessas unidades às necessidades da criança e das suas famílias, apenas 9% respondeu que as necessidades dos interessados são satisfeitas. Para os atores do estudo, quando questionados sobre as características fundamentais num serviço de prestação de CPP, os mesmos referem ser necessário/a: Acessibilidade económica para a prestação dos cuidados devidos; Estruturas físicas acolhedoras e capazes de acolher a criança doente e os seus pais; Decoração própria e material adaptado às crianças; Boas infraestruturas e equipamento adequado; Equipa multidisciplinar com formação em CPP; Recursos humanos adequados em qualidade e quantidade e Acompanhamento psicológico para crianças e família. De modo a tentar perceber o tipo de formação que os inquiridos possuem na área de CPP, apenas 6% respondeu afirmativamente – que tem formação em CPP – enquanto 9% respondeu que já teve alguma experiência com casos de CPP. Na opinião dos inquiridos, a formação necessária para a prestação de Cuidados Paliativos Pediátricos deveria de englobar os seguintes aspetos: Formação avançada em Pediatria, Cuidados Paliativos gerais e pediátricos e Cuidados Continuados; Curso de base com formação em Cuidados Paliativos; Estágios em Unidades de prestação de CPP; Formação na área de Psicologia/Psicologia Infantil; Pós-graduação em Enfermagem da Família; Formação sobre stress e situações traumáticas para prevenir o burnout. Os profissionais quando inquiridos sobre a importância da família respondem unanimemente que estes desempenham um papel fundamental, principalmente em casos de crianças com necessidade de CPP. Uma questão que poderá causar algum desentendimento relaciona-se com a decisão sobre os cuidados a prestar e quem deve de decidir onde a criança deve de permanecer quando necessidade destes cuidados. As opiniões dos enfermeiros inquiridos divergem: A ENFERMAGEM NOS CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS EM PORTUGAL • 52% considera que é a Família quem deve decidir; • 39% considera que é a Criança; • 9% considera que devem de ser os profissionais a tomar decisões. Relacionada com a vertente ética e com os princípios éticos inteiramente relacionados com o fim de vida, questionados sobre a realização de suicídio assistido em idade pediátrica, os enfermeiros responderam com grande ênfase que NÃO concordavam (69%), contra os 31% que apoiariam esta medida. De modo a querer entender por parte dos profissionais, qual o melhor local para a criança permanecer durante a prestação de CPP, estes responderam que deveria de permanecer em casa (66%), desde que esta tenha as condições necessárias e indispensáveis para a criança, contra os 34% que defendiam que as crianças estariam melhor em unidades de cuidados paliativos (de preferência pediátricas – Outros: 6%). Sobre as questões éticas relacionadas com os CPP, os atores consideram importante abordar temas como: Confronto com a doença que vai levar à morte; A verdade da informação para a criança e para os pais; A Espiritualidade e a valorização da vida; Suicídio Assistido; Prolongamento da Vida; Questões Religiosas; Respeito; Autonomia; Objeção de consciência; Auto estima; Recusa de tratamento/de cuidados ou internamento. Discussão Os dados obtidos foram agrupados de acordo com a especificidade das respostas abrangendo as variáveis sociodemográficas que permitem caracterizar os profissionais e as variáveis que caracterizam os cuidados paliativos pediátricos. Na sua maioria do sexo feminino, com uma média de idade de cerca de 33 anos, a população em estudo possui maioritariamente Licenciatura, com cerca de 11 anos de experiência profissional (em média). Dos enfermeiros inquiridos, apenas 19% possuía formação específica em Enfermagem de Cuidados Paliativos, adquirida segundo os mesmos, em cursos de formação para profissionais em instituições de referência, como o IPO e o Hospital de S. João. Para os atores do estudo, quando questionados sobre as características fundamentais num serviço de prestação de CPP, os mesmos referem ser necessária: Acessibilidade económica para a prestação dos cuidados devidos; Estruturas físicas acolhedoras e capazes de acolher a criança doente e os seus pais; Decoração própria e material adaptado às crianças; Boas infraestruturas e equipamento adequado; Equipa multidisciplinar com formação em CPP; Recursos humanos adequados em qualidade e quantidade e Acompanhamento psicológico para crianças e família; Na verdade, em Portugal ainda não existe nenhuma Unidade de CPP em Portugal. A Associação “NOMEIODONADA” tem como projeto futuro, o “Kastelo”, que ainda se encontra em construção, tendo sido lançada a primeira pedra em novembro de 2013. É, com certeza, um projeto bastante ambicioso, mas sem apoios suficientes para a sua conclusão. De modo a tentar perceber o tipo de formação que os inquiridos possuem na área de CPP, apenas 6% respondeu afirmativamente – que tem formação em CPP – enquanto 9% respondeu que já teve alguma experiência com casos de CPP. Na opinião dos inquiridos, a formação necessária para a prestação de Cuidados Paliativos Pediátricos deveria de englobar os seguintes aspetos: Formação avançada em Pediatria, Cuidados Paliativos gerais e pediátricos e Cuidados Continuados; Curso de base com formação em Cuidados Paliativos; Estágios em Unidades de prestação de CPP; Formação na área de Psicologia / Psicologia Infantil; Pós-graduação em Enfermagem da Família; Formação sobre stress e situações traumáticas para prevenir o Burnout. Os cuidados pediátricos têm a particularidade de não lidarem apenas com o doente, neste caso a criança, mas também com a sua família, que serão eles os seus principais cuidadores. Segundo o Modelo de Anne Casey (1993), da parceria de cuidados, os pais/familiares tornam-se parceiros no cuidar, funcionando como membros ativos e o elo de ligação e comunicação entre os Revista Investigação em Enfermagem 21 A ENFERMAGEM NOS CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS EM PORTUGAL profissionais de saúde e a criança. Os profissionais quando inquiridos sobre a importância da família respondem unanimemente que estes desempenham um papel fundamental, principalmente em casos de crianças com necessidade de CPP. REIS (2011) afirma que “os pais são tidos como semelhantes e respeitados pelos profissionais”. Uma questão que poderá causar algum desentendimento relaciona-se com a decisão sobre os cuidados a prestar e quem deve de decidir onde a criança deve permanecer quando necessitada destes cuidados. As opiniões dos enfermeiros inquiridos divergem: 52% considera que é a Família quem deve decidir; 39% considera que é a Criança; e, 9% considera que devem de ser os profissionais a tomar decisões. No entanto, na opinião dos mesmos, a criança apenas poderá decidir depois de atingir os 16 anos de idade. REIS (2011) declara que os pais “(…) têm o direito de decidir o que é importante quer para eles, quer para a sua família”. No entanto GUTHRIE, GREEN & MATZO (2009) defendem que “a criança também tem direito de recusar qualquer tratamento ou exames (…) desde que não seja posta em causa a sua situação clinica”. ALMEIDA (2011) conclui, visto que é exigido aos pais o consentimento quando se trata de doentes em idade pediátrica, sempre que a criança esteja em condições de poder opinar, a sua opinião deverá ser sempre solicitada e tida em conta. Os profissionais de saúde, neste caso os Enfermeiros, nos CPP, surgem como elo de ligação com os restantes profissionais com a família, e são orientadores e auxiliares dos familiares, como é defendido pelo modelo de Anne Casey, em que os cuidados de enfermagem são direcionados para a família, reconhecendo-a, valorizando-a e tornando-a importante para o bem-estar ressente e futuro da criança. De modo a querer entender por parte dos profissionais, qual o melhor local para a criança permanecer durante a prestação de CPP, estes responderam maioritariamente que deveria de ser em casa (66%), desde que esta tenha as condições necessárias e indispensáveis para a criança; os restantes, 22 Revista Investigação em Enfermagem preferem que a criança permaneça em unidades de Cuidados Paliativos (34%), de preferência pediátricas (Outros: 6%). Relacionada com a vertente ética e com os princípios éticos inteiramente relacionados com o fim de vida, questionados sobre a realização de suicídio assistido em idade pediátrica, mais de metade dos enfermeiros inquiridos responderam que NÃO concordavam (69%), contra os 31% que apoiariam esta medida. Esta prática já realizada na Holanda e na Bélgica tem como objetivo/base “o melhor interesse da criança” ou seja, eutanásia; contrapondo-se ao que é defendido por quem afirma que o “suicídio assistido deve ser baseado no desejo de uma pessoa legalmente capaz de tomar tal decisão: um adulto” (CARNEVALE, 2012). Sobre as questões éticas relacionadas com os CPP, os atores consideram importante abordar temas como: Confronto com a doença que vai levar à morte; A verdade da informação para a criança e para os pais; A Espiritualidade e a valorização da vida; Suicídio Assistido; Prolongamento da Vida; Questões Religiosas; Respeito; Autonomia; Objeção de consciência; Auto estima; Recusa de tratamento/de cuidados ou internamento. Conclusão A investigação e a pesquisa para a Enfermagem tornam-se importantes para gerar novas ideias e teorias de modo a promover o desenvolvimento e evolução do conhecimento dos investigadores. Os CPP são um direito humano de pessoas dos 0 aos 18 anos, portadores de doenças crónicas limitantes que necessitam de cuidados afetivos, emocionais, sociais e económicos, destinados à criança e suas famílias, que igualmente necessitam de um apoio especializado adequado às suas diferentes necessidades. São cuidados que devem de ter início assim que a doença é diagnosticada, devendo ser cuidados contínuos, independentemente da criança receber ou não tratamento dirigido à doença base. Na última década temos assistido a uma expansão destes serviços a nível mundial, resultado do A ENFERMAGEM NOS CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS EM PORTUGAL reconhecimento e crescente evidência do impacto da melhoria da qualidade de vida das famílias, podendo mesmo estes cuidados ser implementados com sucesso, mesmo em situações em que os recursos são limitados, sugerindo um constante desafio de colaboração e organização. A nível europeu, Portugal é o país mais atrasado na provisão de cuidados paliativos pediátricos. Até fevereiro de 2013, era mesmo o único país sem atividade, sendo-lhe reconhecida posteriormente em março de 2013 a capacidade de iniciar atividade na área. Em Portugal, a realidade dos Cuidados Paliativos é bastante recente, pelo que ainda são poucas as medidas instituídas para a prestação destes cuidados àqueles que os necessitam. Em 2006 é criada a primeira Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, onde estaria incluída a primeira equipa multidisciplinar que presta apoio e aconselhamento diferenciado em cuidados paliativos, com respostas domiciliárias. A realidade portuguesa no que toca ao tema dos cuidados paliativos pediátricos ainda é um assunto que necessita que lhe seja dada mais atenção e de ser muito trabalhado, de modo a alterar a situação nacional face a esta problemática dos cuidados em fase terminal de doentes pediátricos. Neste estudo percebemos que os enfermeiros apontam como principal necessidade de investimento, a formação especializada e centrada nestes cuidados, no encontro de padrões de qualidade para as suas práticas. Os mesmos atores consideram importante que se debatam questões culturais, morais e éticas de forma a ir ao encontro das reais necessidades das crianças e família, promovendo a decisão partilhada. Podemos ainda afirmar que se torna necessária e imprescindível a divulgação de iniciativas atualmente existentes para a criação de panoramas propícios à criação de unidades especializadas neste tipo de cuidados. Enquanto esta realidade não se torna visível, os cuidados de saúde primários, nas figuras das Unidade Funcionais ou da Unidade de Cuidados na Comunidade, deveriam chamar a si o acompanhamento, assim como o cuidar destes doentes. De futuro pretendemos alargar a nossa amostra a mais enfermeiros e promover espaços de discussão e troca de experiências, no sentido de sensibilizar as entidades responsáveis para a importância dos aspetos por nós referenciados. Bibliografia ALMEIDA, F. Ética em Pediatria - In: SERRÃO, D. & NUNES, R. (2001). Ética em cuidados de Saúde. Porto Editora. Associação “NOMEIODONADA” – O Kastelo. [em linha] (2013) [Consult 16 dez 2013] Disponível em http://www.nomeiodonada.pt/index.php/o-kastelo CARNEVALE, F. (2012). Considerações éticas em enfermagem pediátrica, Revista da Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras”, vol. 12, n.º 1, São Paulo, pág. 37-47. CASSEY, A. & MOBBS, S. (Novembro 1988). Partnership in practice. Nursing Times, Vol. 84, nº44, p. 67-68. European Association for Palliative Care (EAPC). (2007). Normas para a prática de Cuidados Paliativos Pediátricos na Europa. European Journal of Palliative Care, vol. 14, nº 3, IMPaCCT, p.109-114. Fundação Gulbenkian (2013). Reunião: Cuidados paliativos pediátricos: uma reflexão. Que futuro em Portugal? Lisboa. GUTHRIE, A. E., GREEN, C.J. & MATZO, M.L. (2009). Enfermagem Médico-cirúrgica – Perspetivas de Saúde e Doença. Lusodidactica, 8ª edição, Vol. I Capítulo 8, pág. 177-179. REIS, C. (2011). Cuidados Paliativos Pediátricos: Perspetivas dos Enfermeiros. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. World Health Organization (WHO) (1998). Cancer pain relief and palliative care in children. Geneva. WRIGHT, M. L. & LEAHEY, M. (2002). Enfermeiras e famílias. Um guia para a avaliação e intervenção na família. 3ªed. São Paulo - Roca. Revista Investigação em Enfermagem 23 REVISTA INVESTIGAÇÃO EM ENFERMAGEM - MAIO 2015: 24-28 CUIDADOS OFTÁLMICOS AO DOENTE CRÍTICO: REVISÃO INTEGRATIVA Resumo Ana Karina Rocha(1); Patricia Coelho(2) Os cuidados oftálmicos são uma componente da abordagem ao doente crítico. Na pessoa saudável existem mecanismos fisiológicos que mantém a higiene ocular, porém o doente sedado, curarizado ou inconsciente necessita de ajuda (parcial ou total) para proteger a integridade ocular proporcionando-lhe bem-estar. O objetivo desta revisão integrativa é identificar quais os cuidados oftálmicos a prestar ao doente crítico. Os passos essenciais dos cuidados oftálmicos são a higiene e hidratação ocular e o encerramento palpebral. Pode também concluir-se que o enfermeiro não deve descurar os cuidados oftálmicos ao doente crítico, de maneira a prevenir complicações e assim potenciar a qualidade dos cuidados de enfermagem prestados. Abstract Palavras-chave: Cuidados oftálmicos e doente crítico. OPHTHALMIC CARE TO CRITICALLY ILL PATIENT: INTEGRATIVE REVIEW Ophthalmic care it’s a component of the critically ill patient approach. In an healthy person there are physiological mechanisms that maintain ocular health, but the sedated patient, with curarization or unconscious needs help (partial or total) to protect the eye health and providing well-being. The purpose of this integrative review is to identify which are the ophthalmic care to provide to the critically ill patient. The essential steps of eye care are eye hygiene and hydration and the eyelid closure. It can also be concluded that nurses should not overlook ophthalmic care to critically ill patients in order to prevent complications and enhance the quality of nursing care. Resumen Keywords: Eye care; critically ill patient. ATENCIÓN OFTALMOLÓGICA CON EL PACIENTE CRÍTICO: UNA REVISIÓN INTEGRADORA Los cuidados oftalmológicos son un componente del abordaje en el enfermo crítico. En la persona saludable existen mecanismos fisiológicos que mantienen la higiene ocular, sin embargo en el enfermo sedado , curarizado o inconsciente se necesita de ayuda (parcial ou total) para proteger la integridad ocular proporcionandole bienestar. El objetivo de esta revisión integral es identifica cuáles son los cuidados oftalmológicos necesarios para el enfermo crítico. Los pasos esenciales de los cuidados oftalmológicos son la higiene, la hidratación ocular y el cierre palpebral. Puede también concluirse que el enfermero no debe descuidar los cuidados oftalmológicos en el enfermo crítico , de manera que se prevengan las complicaciones y asi potenciar la cualidad de los cuidados de enfermería ofrecidos. Resumen:cuidados oftalmológicos e enfermo crítico. Introdução O doente internado em Unidade de Cuidados Intensivos define-se como doente crítico pois é dependente de cuidados, de equipamentos e de terapêutica1. E o facto de estarem frequentemente sedados, curarizados ou inconscientes torna-os um grupo de risco quanto ao desenvolvimento de lesões da córnea 2. O plano terapêutico de cada doente pretende estabilizá-lo respondendo às necessidades imediatas sem menosprezar a prevenção de potenciais complicações tanto do tratamento como do internamento1. Os cuidados oftálmicos evidenciam-se como intervenções fulcrais ao doente em estado crítico1,3,4 pois o comprometimento ou perda de barreiras de proteção ocular potenciam lesões importantes como conjuntivites, quemoses, queratites e úlceras de córnea3,5. O reflexo do pestanejo e o filme lacrimal são ferramentas que a pessoa saudável possuiu para manter uma correta higiene e consequente proteção ocular1,3. As lágrimas são normalmente distribuídas pela superfície ocular através do pestanejar, lavando Rececionado em Dezembro 2014. Aceite em Fevereiro 2015 Enfermeira no Departamento de Emergência do Hospital da Horta – Ilha do Faial, Açores, Portugal. Estudante do 7º Curso de Pós-Licenciatura de Especialização em Enfermagem Médico-Cirúrgica, pelo Instituto Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa do Porto, Portugal; [email protected] (2) Enfermeira Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica. Docente no Instituto Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa do Porto, Portugal. Orientadora de estágio. (1) 24 Revista Investigação em Enfermagem Cuidados Oftálmicos ao Doente Crítico: Revisão Integrativa mecanicamente e proporcionando proteção pela sua ação bacteriostática. No doente crítico pelo seu elevado risco de desenvolver complicações inerentes, o enfermeiro assume um papel decisivo na prevenção de lesões oculares. Este deve prestar cuidados oftálmicos adequados e baseados na evidência, para maximizar a qualidade dos mesmos. A realização desta revisão integrativa tem como objetivo identificar quais os cuidados oftálmicos a prestar ao doente crítico. Esta necessidade emerge aquando da concretização de um estágio numa Unidade de Cuidados Introdução O doente internado em Unidade de Cuidados Intensivos define-se como doente crítico pois é dependente de cuidados, de equipamentos e de terapêutica1. E o facto de estarem frequentemente sedados, curarizados ou inconscientes torna-os um grupo de risco quanto ao desenvolvimento de lesões da córnea2. O plano terapêutico de cada doente pretende estabilizá-lo respondendo às necessidades imediatas sem menosprezar a prevenção de potenciais complicações tanto do tratamento como do internamento1. Os cuidados oftálmicos evidenciam-se como intervenções fulcrais ao doente em estado crítico1,3,4 pois o comprometimento ou perda de barreiras de proteção ocular potenciam lesões importantes como conjuntivites, quemoses, queratites e úlceras de córnea3,5. O reflexo do pestanejo e o filme lacrimal são ferramentas que a pessoa saudável possuiu para manter uma correta higiene e consequente proteção ocular1,3. As lágrimas são normalmente distribuídas pela superfície ocular através do pestanejar, lavando mecanicamente e proporcionando proteção pela sua ação bacteriostática6. No doente crítico pelo seu elevado risco de desenvolver complicações inerentes, o enfermeiro assume um papel decisivo na prevenção de lesões oculares. Este deve prestar cuidados oftálmicos adequados e baseados na evidência, para maximizar a qualidade dos mesmos. A realização desta revisão integrativa tem como objetivo identificar quais os cuidados oftálmicos a prestar ao doente crítico. Esta necessidade emerge aquando da concretização de um estágio numa Unidade de Cuidados Intensivos integrado no 7º Curso de Pós-Licenciatura em Enfermagem com Especialização em Enfermagem Médico-Cirúrgica pelo Instituto Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa do Porto. Para tal realizou-se uma pesquisa de artigos publicados nos últimos cinco anos, na base de dados científica Ebsco® e ISI Web of Science® utilizando os descritores: “cuidado ocular” ou “higiene ocular” ou “cuidados oftalmológicos” e “doente crítico” ou “cuidados intensivos”. O critério de inclusão definido foi textos completos de artigos disponíveis analisados por especialistas, na área de enfermagem, de língua inglesa ou portuguesa. Dos artigos encontrados e após análise dos resumos foram selecionados quatro artigos para esta revisão integrativa, um proveniente do Brasil, outro do Irão, outro de Itália e outro da Turquia. Resultados Todos os estudos analisados mencionam a importância dos cuidados oftálmicos e do papel do enfermeiro na prevenção de complicações oculares. Güller (2011) no seu estudo sobre a eficácia do penso de polietileno em prol das gotas de carbómero para evitar o síndrome do olho seco, no doente crítico, conclui que o primeiro oferece melhores resultados nesse sentido. O penso de polietileno é um protetor ocular que previne a evaporação do filme lacrimal da superfície ocular. As gotas de carbómero são estéreis, apresentam-se numa consistência de gel e também têm o propósito de prevenir o síndrome do olho seco5. A amostra do seu estudo abrangeu um total de 18 doentes (isto é, 36 globos oculares), 5 do sexo feminino e 13 do sexo masculino, entre os 8 e os 80 anos de idade, sem distúrbios oftálmicos prévios. Nenhum dos doentes apresentava reflexo de pestanejo, alguns cumpriam relaxantes musculares e alguns ostentavam score na Escala de Coma de Glasgow inferior a 7. Revista Investigação em Enfermagem 25 Cuidados Oftálmicos ao Doente Crítico: Revisão Integrativa Não se verificou qualquer relação entre variáveis como idade, sexo, diagnóstico, tempo de internamento5. Tab. 1 – Eficácia do Penso de Polietileno e das Gotas de Carbómero ao longo dos primeiros 5 dias de uso, no estudo de Güller 5. Eficácia do Pen- Eficácia das gotas de so de Polietileno carbómero 1º dia 2º dia 100% 56% 3º dia 100% 22% 4º dia 100% 17% 5º dia 100% - Werli-Alvarenga (2012) numa revisão sistemática relativa às intervenções de enfermagem em doentes adultos internados em cuidados intensivos com risco de desenvolver dano corneal, refere que os fatores de risco que propiciam nocividade nas córneas são: o pestanejo igual ou inferior a cinco vezes por minuto, a exposição do globo ocular, score na Escala de Coma de Glasgow inferior a 7, artificialização da via aérea através da entubação, a ventilação mecânica, curarizantes, presença de edema, internamentos prolongados, traqueostomia e oxigenioterapia1. A mesma autora defende que antes da aplicação do penso de poliuretano, o enfermeiro deve limpar a pele na periferia do globo ocular que por sua vez deve ser hidratado com soro fisiológico a cada 6 horas1. Para otimizar o encerramento palpebral e assim diminuir o risco de evaporação do filme lacrimal, a autora preconiza a colocação de uma pequena porção de adesivo de polietileno sobre a pálpebra móvel (previamente encerrada) permitindo um efeito de “clipe” uma vez que a une, à pele infra orbitária1. Este penso deve ser trocado diariamente, quando estiver sujo ou quando houver necessidade, por exemplo para avaliar o reflexo pupilar nos doentes do foro neurológico1. Alavi (2013) explanou no seu artigo os resultados de uma auditoria efetuada durante seis meses, a doentes internados em quatro Unidades de Cui26 Revista Investigação em Enfermagem dados Intensivos do Irão relativamente à presença de síndrome de olho seco ou abrasão da córnea ao quinto dia após a admissão no serviço7. Os critérios de inclusão eram semelhantes aos de outros estudos idênticos, ou seja, o doente apresentava score na Escala de Coma de Glasgow inferior a 8, não possuía reflexo de pestanejo, não tinha sofrido trauma facial ou ocular, não ostentava lesões oftálmicas prévias à admissão e apresentava um teste de Schirmer (teste que analisa a produção de lágrimas) normal7. Os enfermeiros foram informados da auditoria e os doentes foram alvo de rotinas habituais quanto aos cuidados oftálmicos. Essa rotina incluía a irrigação dos globos oculares com soro fisiológico 0.9% e a aplicação de lubrificantes a cada 6h ou o encerramento palpebral com penso comum. Ao quinto dia foram avaliados por oftalmologistas que determinaram que 32,2% dos doentes apresentaram síndrome de olho seco e 13,8% abrasão da córnea7. A auditoria permitiu também mostrar que a aplicação de lubrificantes poderá ser mais eficaz do que o encerramento palpebral com penso comum7. Tab. 2 – Percentagem de doentes que contrairam um distúrbio ocular mediante o recurso material utilizado Síndrome do Abrasão da córOlho Seco nea Lubrificante 41,40% 10,30% Penso comum 48,30% 20,70% Coiz (2014) efetuou uma revisão bibliográfica com o objetivo de identificar os cuidados preventivos e o tratamento de complicações oftálmicas em doentes críticos. Selecionou artigos relacionados com doentes adultos, publicados entre 2003 e 2013, em língua inglesa e italiana, do qual resultaram 25 artigos para análises. Concluiu que os doentes em risco de desenvolver complicações oftalmológicas devem ser identificados precocemente através do seguimento de diretrizes como: a avaliação do grau de lagoftalmia (incapacidade para encerrar a pálpebra), procedimentos preventivos e curativos, possibilidade Cuidados Oftálmicos ao Doente Crítico: Revisão Integrativa de solicitar apoio diferenciado da Oftalmologia mediante determinadas situações e obrigatoriedade de registo das avaliações, tratamentos, resultados, etc3. A higiene ocular deve ser realizada com soro fisiológico ou agua esterilizada a cada 2 a 4 horas assim como a instilação de solução lubrificante à base de água3. São usados hidrogéis de poliacrilamida, compostos maioritariamente por água. A sua porosidade torna-os permeáveis aos vapores de água, gases e pequenas moléculas proteicas mas impermeáveis às bactérias8. No entanto as pomadas de lanolina demonstram ser mais eficazes na prevenção da lesão corneana em comparação com os hidrogéis de poliacrilamida9. O encerramento incompleto da pálpebra parece ser o fator mais relevante para o surgimento de distúrbio ocular10. O penso de polietileno é o mais usual pois adere facilmente e é altamente resistente à água e outras soluções. São estas características que permitem manter a pálpebra encerrada conservando a humidade do filme lacrimal e preservando a integridade da córnea1,11. Discussão Os cuidados oftálmicos ao doente crítico são reconhecidos como intervenções de enfermagem essenciais2. Os doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos, pelo seu estado crítico, encontram-se frequentemente sob sedação, curarização ou inconscientes. A ineficácia das barreiras protetoras da córnea destes doentes incumbe o enfermeiro de vigiar e intervir de maneira a preservar o globo ocular. A literatura analisada refere que os cuidados oftálmicos a este tipo de doentes devem iniciar-se com a higiene ocular, nomeadamente a limpeza exterior da pálpebra móvel, pele infra orbitária e globo ocular com soro fisiológico ou água esterilizada, a cada 2 a 4 horas. No sentido de minimizar a infeção cruzada é importante abordar os olhos individualmente. De seguida deve-se hidratar o globo ocular aplicando gotas, géis, ou pomadas. Em relação ao hidratante, lubrificante, não existe consenso acerca do qual é mais eficaz. Mas refere-se que esta intervenção deve ser feita a cada 6 horas. Sendo a exposição da córnea o fator mais predisponente a ocorrência de lesões da própria, é fundamental otimizar o encerramento palpebral. Para tal pode utilizar-se o penso ou adesivo de polietileno para unir a pálpebra móvel à pele infra orbitária e não um penso comum ALAVI. Segundo vários estudos, o penso de polietileno previne a evaporação do filme lacrimal na superfície ocular1,3,5. Este deve ser removido diariamente ou quando necessário, por exemplo, para avaliação do reflexo pupilar. Os cuidados oftálmicos não devem ser descurados pelo enfermeiro. Estes são uma intervenção autónoma que visa preservar a integridade ocular dos doentes, proporcionando conforto e minimizando o risco de possíveis complicações associadas à própria condição clínica, tratamento ou internamento. Proteger as córneas é fulcral pois, se o doente sobreviver estas medidas irão prevenir hipotéticas lesões e manter a acuidade visual, e se o doente apresentar mau prognóstico, as córneas podem ser consideradas para a transplantação pelo que devem ser igualmente protegidas5. Conclusão Refletir sobre a importância dos cuidados oftálmicos ao doente crítico e atuar com base na evidência permitirá maximizar a qualidade dos cuidados de enfermagem prestados. Apesar dos vários estudos publicados não existe um consenso definido relativo à adequação dos produtos a utilizar porém estão estipulados os passos essenciais: a higiene, a hidratação e o encerramento palpebral. Considera-se pertinente a realização de mais investigações neste campo de forma a uniformizar o correto procedimento dos cuidados oftálmicos ao doente crítico e recursos materiais adequados. Revista Investigação em Enfermagem 27 Cuidados Oftálmicos ao Doente Crítico: Revisão Integrativa Referências Bibliográficas 1 Werli-Alvarenga, A. et al. (2012). Nursing Interventions for Adult Intensive Care Patients With Risk for Corneal Injury: A Systematic Review. International Journal of Nursing Knowledge. Vol. 24 – nº1, p. 25-29. 2 JBIEBNM (2002). Eye Care Intensive Care Patients. Best Practice. Vol. 6 – nº1, p.1-6. 3 Coiz, F. et al. (2014). Preventive care and treatment of ophthalmologic complications in critical patients – A bibliographic review. Scenario. Vol.31 – nº1, p.5-22. 4 Cisneros, N. et al. (2011). Protección ocular al paciente en estado crítico bajo efectos de sedación. Revista Mexicana de Enfermería Cardiológica. Vol.19 – nº2, p.80-82. 5 Güler, E. et al. (2011). Effectiveness of Polyethylene covers versus carbomer drops (Viscotears®) to prevent dry eye syndrome in the critically ill. Journal of Clinical Nursing. Vol. 20, p. 1916-1922. 6 Werli-Alvarenga, A. (2010). Lesões na córnea: incidência e factores de risco em Unidade de Terapia Intensiva de adultos. Dissertação apresentada para obtenção de Grau de Mestre. Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. 7 Alavi, N. et al. (2013). An audit of eye dryness and corneal abrasion in ICU patients in Iran. British Association of Critical Care Nurses. Vol.19 – nº2, p.73-77. 8 Kam, K. et al. (2013). Eye care in the critically ill: a national survey and protocol. Journal of Intensive Care Society. Vol.14 – nº2, p.150-154. 9 Ezra, D. et al. (2005). Preventing exposure keratopathy in the critically ill: a prospective study comparing eye care regimes. British Journal of Ophthalmology. Vol. 89 – nº8, p.1068-1069. 10 Ramirez, F. et al. (2008). The negleted eye: ophthalmological issues in the intensive care unit. Critical Care & Shock. Vol.11, p.72-82. 11 Koroloff, N. et al. (2004). A randomised controlled study of the efficacy of hypromellose and Lacri-Lube combination versus polyethylene/ Cling wrap to prevent corneal epitelial breakdown 28 Revista Investigação em Enfermagem in the semiconscious intensive care patient. Intensive Care Medicine. Vol.30 – nº6, p.1122-1126. REVISTA INVESTIGAÇÃO EM ENFERMAGEM - MAIO 2015: 29-37 PREVENÇÃO DA INFEÇÃO DO TRATO URINÁRIO ASSOCIADA AO CATETER URINÁRIO: TOLERÂNCIA ZERO Resumo Isabel Cláudia Batista Cardoso (1); Telma Marisa Fernandes Cardoso(2); Fernanda Maria Príncipe Bastos Ferreira(2) As Infeções do Trato Urinário Associadas ao Cateter Urinário (ITUACU) são o tipo mais comum de Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS). Implicam um aumento substancial dos custos inerentes aos cuidados de saúde, do tempo de internamento e da taxa de mortalidade e morbilidade. Definiu-se como objetivo sistematizar as intervenções de enfermagem na prevenção das ITUACU baseadas na evidência científica. Efetuou-se uma revisão sistemática da literatura seguindo a metodologia PI[C]OD para a formulação da questão de investigação e definição dos critérios de inclusão/exclusão dos estudos primários. Foram selecionados quatro estudos primários: quasi-experimentais, pré-pós intervenção e randomizado controlado. Os estudos avaliaram as intervenções da equipa multidisciplinar e o seu efeito sobre as taxas de ITUACU. Após a intervenção, verificou-se uma diminuição estatisticamente significativa nas taxas de ITUACU e do tempo de utilização do cateter urinário (CU). Conclui-se que é premente avaliar os motivos e a necessidade da cateterização urinária de forma sistemática e remover o CU quando o mesmo não é necessário. A efetividade das intervenções de prevenção, baseadas em protocolos fomentam reduções significativas na ocorrência de ITUACU e um aumento de ganhos em saúde. Os enfermeiros desempenham um papel preponderante na prevenção das ITUACU. Abstract Palavras-chave: Infeção urinária, catéter, enfermagem, prevenção. PREVENTION OF CATHETER-ASSOCIATED URINARY TRACT INFECTION: ZERO TOLERANCE Catheter-associated urinary tract infection (CAUTI) is the most common health care-associated infections (HAI). They imply a substantial increase of the costs inherent to the health care, the time of hospital occupancy and rates of mortality and morbidity. It was defined as an objective to systemize the nursing interventions in the prevention of (ITUACU) based on scientific evidence. A systematic review of the literature following a methodology PI[C]OD to formulate the question of investigation and to define the criteria of inclusion/exclusion of the primary studies. Were selected four primary studies: quasi –experimental, pre-post and randomized controlled trial. The studies measure the interventions of the multidisciplinary team and its effect over the rates of CAUTI. After an intervention, there was a significant statistical decrease on the rates of CAUTI and the time of usefulness and the urinary catheter utilization (UC). This concludes that is useful to evaluate the motifs and the necessity of the urinary catheterization in a systematic way and the removal of the UC when it is not necessary. The effectively of the preventive interventions, based in protocols, foment a significant reduction of the CAUTI and the increment of the gains in health care. The nurses are responsible for a crucial role in the prevention of CAUTI. Resumen Keywords: Urinary infection, catheter, nursing, prevention PREVENCIÓN DEL INFECCIÓN DEL TRACTO URINARIO ASOCIADAS A CATÉTER URINARIO: TOLERANCIA CERO Las infecciones del tracto urinario asociadas a catéter urinario (ITUACU) son el tipo más común de las infecciones asociadas a la salud (IAS). Implica un aumento sustancial en los costos relacionados con la atención de la salud, la duración de la estancia y la tasa de mortalidad y morbilidad. Con el objetivo de sistematizar las intervenciones de enfermería en la prevención de ITUACU basado en la evidencia científica, se realizó una revisión sistemática. Se realizó una revisión sistemática de la literatura siguiendo la metodología PI[C]DO para la formulación de la pregunta de investigación y la definición de los criterios para la inclusión/exclusión de los estudios primarios. Se seleccionaron cuatro estudios principales: cuasiexperimental, pre y post intervención y ensayo controlado aleatorizado. Los estudios evaluaron las intervenciones del equipo multidisciplinario y su efecto sobre las tasas de ITUACU. Después de la intervención, se observó una disminución estadísticamente significativa en la tasa de ITUACU y tiempo de uso del catéter urinario (CU). Se ha concluido que hay que evaluar las razones y la necesidad para la cateterización urinaria sistemáticamente y retirar el catéter urinario cuando no se necesita. La efectividad de las intervenciones de prevención, basados en protocolos puede promover reducciones significativas en la incidencia de ITUACU y un aumento de beneficios para la salud. Se concluye que las enfermeras juegan un papel clave en la prevención de ITUACU. Recepcionado em fevereiro 2015. Aceite em Abril 2015. (1) Enfermeira Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica; Pós-Graduação em Enfermagem Oncológica. Serviço de Cardiologia do Departamento de Medicina do Centro Hospitalar Baixo Vouga, EPE- Unidade de Aveiro; [email protected] (2) Enfermeira Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica. Serviço de Urgência Geral do Departamento Urgência e Emergência do Centro Hospitalar Baixo Vouga, EPE – Unidade de Aveiro. (3) Vice- Presidente Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha Portuguesa; Professora Adjunta na Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha Portuguesa. Doutoranda em Ciências de Enfermagem – ICBAS UP. Revista Investigação em Enfermagem 29 PREVENÇÃO DA INFEÇÃO DO TRATO URINÁRIO ASSOCIADA AO CATETER URINÁRIO: TOLERÂNCIA ZERO INTRODUÇÃO As IACS representam um dos eventos adversos mais evidentes em cuidados de saúde, pela sua importância e consequências na qualidade de vida dos doentes e na sociedade, embora parte destas infeções possam ser evitáveis (Portugal, 2009). O impacto das IACS implica aumento do tempo de internamento, aumento da resistência aos antibióticos, aumento da taxa de mortalidade e morbilidade, acréscimo nos custos inerentes aos cuidados de saúde e incapacidade a longo prazo para os doentes e seus familiares (Portugal, 2009; Pina et al., 2010; Revello e Gallo, 2013). São consideradas um dos indicadores de segurança e de qualidade dos cuidados de saúde e a sua vigilância é considerada uma medida custo-efetiva de prevenção e controlo, permitindo o fornecimento de informação sobre as práticas mais relevantes para a infeção, nomeadamente, o uso de antibióticos, os cuidados com a colocação e a manutenção dos dispositivos invasivos (PortugaI,2009). A magnitude e a abrangência das ITUACU em Portugal divulgam-se no Relatório do Inquérito Nacional de Prevalência de Infeção, onde é visível a prevalência de IACS adquiridas no hospital e na comunidade, sendo as infeções do trato urinário a segunda localização mais elevada, correspondendo a 23,8% das 87,3% das infeções nosocomiais (Pina, Silva e Ferreira, 2010). As ITUACU são o tipo mais comum de IACS (Gould et al.,2009; Rebmann e Grenne,2010; Marra et al., 2011; Oman et al., 2012), estando associadas várias complicações, tais como cistite, pielonefrite, prostatite, septicemia e morte (Pina et al., 2010; Revello e Gallo, 2013). O risco diário de bacteriúria em doentes submetidos a cateterismo urinário é de 3% a 10% por cada dia que o mantêm, aproximando-se de 100% após 30 dias (Gould et al., 2009; Winter et al., 2009; Pina et al., 2010). Estima-se que cerca de 17% a 69% das ITUACU, que significa que mais de 380000 infeções e 9000 mortes por ano, podem ser prevenidas com o cumprimento das medidas de controlo de infeção recomendadas (Gould et al., 2009). 30 Revista Investigação em Enfermagem A evolução tecnológica nos cuidados de saúde veio proporcionar a existência de um vasto número de dispositivos médicos interventivos e de monitorização, como o CU. A cateterização urinária consiste na introdução de um cateter através do meato urinário e uretra até a bexiga (CIPE, 2011). A sua utilização implica que os profissionais de saúde conheçam muito bem as indicações e as características dos mesmos e os utilizem, tendo por base, uma análise de custo-efetividade e de custo-benefício. Estes dispositivos criam obstáculos ao correto funcionamento dos mecanismos naturais de defesa do organismo, constituindo uma porta de entrada artificial para os microrganismos. Com o tempo, o CU fica colonizado com esses microrganismos, tornando-os resistentes aos antimicrobianos e às defesas do hospedeiro e virtualmente impossíveis de erradicar sem a remoção do cateter (Gould et al., 2009; Pina et al., 2010; Rebmann e Grenne, 2010). Uma ITUACU sintomática é uma infeção do trato urinário que ocorre num doente que foi submetido a cateterização urinária há mais de 48h, com pelo menos um dos sintomas de febre, disúria, polaquiúria, dor supra-púbica e uma urocultura positiva com não mais de duas espécies de microrganismos (CDC/ NHSN,2013; Revello e Gallo, 2013; Gould et al., 2009). A taxa de infeções urinárias numa instituição depende não só do número de doentes com cateterismo urinário bem como do tempo de permanência destes dispositivos. “Se o tempo de permanência for prolongado, a infeção é praticamente inevitável e é geralmente devida a microrganismos do próprio doente” (Pina et al. 2010,p.29). Gould et al. (2009) afirmam que na maioria dos casos, os CU’s são colocados em situações inapropriadas e os profissionais de saúde muitas vezes desconhecem os motivos pelos quais o doente está cateterizado, prolongando desnecessariamente o cateterismo urinário. Revello e Gallo (2013) apontam outro aspeto importante que é o facto dos profissionais de saúde, apesar de conhecerem os riscos inerentes à cateterização urinária, continuarem a utilizar este procedimento rotineiramente nos doentes hospitalizados. É fundamental avaliar a necessidade de proceder à cateterização urinária de um doente, ponderando os riscos e benefícios deste procedimento invasivo. PREVENÇÃO DA INFEÇÃO DO TRATO URINÁRIO ASSOCIADA AO CATETER URINÁRIO: TOLERÂNCIA ZERO De acordo com Loeb et al. (2008), Fakih et al. (2008) e Gould et al. (2009), o cateterismo urinário está indicado na retenção urinária aguda ou obstrução do trato urinário, na monitorização débito urinário em doentes críticos, no pós-operatório de procedimentos cirúrgicos específicos (cirurgia urológica ou em estruturas contíguas do trato génito-urinário) ou em que se preveja a necessidade de monitorização intraoperatória do débito urinário, em doentes incontinentes como auxiliar da cicatrização de feridas abertas na região sagrada ou perineal, em doentes que requeiram imobilização prolongada (instabilidade do tórax ou coluna lombar, múltiplas lesões traumáticas, como fraturas de bacia) e se necessário, para melhorar o conforto no fim da vida. De acordo com os mesmos autores, o cateterismo urinário está contraindicado como substituto para cuidados de enfermagem ao doente com incontinência, como um meio de obtenção de urina para cultura ou outros testes de diagnóstico (se o doente pode colaborar voluntariamente) e no pós-operatório sem indicações apropriadas. O risco de infeção urinária depende de múltiplos fatores, sendo a exposição a um CU o fator de risco major de infeção urinária e a duração (tempo) do cateterismo urinário o segundo fator de risco (Loeb et al., 2008; Gould et al.,2009; Rebmann e Grenne,2010). No quadro que se segue descrevem-se, segundo Pigrau (2013), os fatores de risco associados a ITUACU. Quadro 1 - Fatores de risco de infeção do trato urinário nos doentes com cateterização urinária. Fatores de risco de infeção do trato urinário nos doentes com cateterização urinária -Presença de um cateter urinário -Duração da cateterização urinária -Sexo Feminino -Idade Superior 50 anos -Diabetes Mellitus -Insuficiência Renal -Motivo de admissão: doença grave, doença não cirúrgica, internamento no serviço de urologia e ortopedia -Uso de técnica não asséptica -Colonização do saco coletor -Desconexão inadvertida ou não indicada do sistema de drenagem fechado do cateter -Cuidados inadequados com a manutenção do cateter Os enfermeiros têm um papel preponderante na gestão da qualidade em saúde, e em particular, na qualidade do exercício profissional. Desempenham uma ação importante na criação de guias orientadores da boa prática de cuidados de enfermagem e na sensibilização das unidades hospitalares, para que os hospitais implementem programas de prática baseada na evidência para prevenir as IACS e, especificamente as ITUACU, com notórios resultados em ganhos em saúde. É necessário investir na redução da incidência de ITUACU, avaliar os dados de vigilância e de risco, investigar sobre intervenções de prevenção de infeção, facilitar a elaboração de projetos e protocolos, tendo especial atenção à aplicação de abordagens tipo “bundle” envolvendo todos os membros da equipa multidisciplinar. Estas são estratégias que se devem implementar para a prevenção da ITUACU (Winter et al.,2009;Pina et al., 2010; Marra et al.,2011). Curran e Murdoch (2009, p. 58), citando o Institute for Healthcare Improvement define “bundle” como “um conjunto pequeno e simples de práticas – geralmente cerca de 3 a 5- que quando aplicadas em conjunto melhoram os resultados dos doentes”. A “bundle” é uma check-list que contem as intervenções mais importantes para otimizar os cuidados e contribui para a redução da ITUACU (Curran e Murdoch, 2009; Marra et al.,2011). Vários autores fazem referência e recomendam o uso de “bundles” que têm por objetivo principal a criação de estratégias para reduzir o risco de ITUACU, em programas de melhoria da qualidade e da sua aplicação por todos os elementos da equipa multidisciplinar que cuidam diretamente do doente com cateterismo urinário (Figura 1) Fonte: Pigrau (2013, p. 2) Revista Investigação em Enfermagem 31 PREVENÇÃO DA INFEÇÃO DO TRATO URINÁRIO ASSOCIADA AO CATETER URINÁRIO: TOLERÂNCIA ZERO Figura 1 – “Bundle’s” – estratégias para a redução de ITUACU Fonte: Winter et al. (2009), Curran e Murdoch (2009), Rebmann e Greene (2010) e Marra et al. (2011) Num ambiente de incremento exponencial do conhecimento científico e tecnológico, parece fundamental o acesso dos profissionais de saúde ao mesmo, sendo a via informática uma das formas mais eficazes, possibilitando o desenvolvimento de alertas nos sistemas de informação em enfermagem, no entanto podem não ser suficientes. A implementação de protocolos tipo ”stop orders”, como referem Fakih et al. (2008), consiste na elaboração de pequenos cartões redigidos com as indicações para cateterização urinária, tendo como finalidade coadjuvar a intervenção dos enfermeiros na correta avaliação diária da necessidade da utilização do CU. Estes propiciam, conjuntamente com os sistemas de informação em enfermagem, uma redução da cateterização urinária. Enquadramento Metodológico 32 Revista Investigação em Enfermagem Uma revisão sistemática permite reunir vários estudos para explorar a mesma questão de investigação, avaliando e sistematizando as evidências de estudos científicos, permitindo conhecer correntes teóricas, com o objetivo de definir o que é conhecido e o que falta conhecer sobre determinada questão. É incontestável que as revisões sistemáticas desempenham um papel importante para o desenvolvimento da enfermagem, pois objetivam melhorar a qualidade dos cuidados de enfermagem e o desenvolvimento da prática baseada na evidência (Ramalho,2005). Foi utilizada a metodologia PI[C]OD- Participantes; Intervenções; [Comparações]; Outcomes; Desenho do estudo, para a formulação da questão de investigação e possibilitou a definição dos critérios de inclusão/exclusão de estudos primários, PREVENÇÃO DA INFEÇÃO DO TRATO URINÁRIO ASSOCIADA AO CATETER URINÁRIO: TOLERÂNCIA ZERO com a finalidade de orientar a pesquisa, facilitar a comparação dos trabalhos, interpretação dos dados e aumentar a precisão dos resultados (Quadro 2). QUADRO 2- Critérios de Inclusão e Exclusão Critérios de Se- Critérios de In- Critérios de Exleção clusão clusão Participantes Doentes sujeitos a cateterização urinária Intervenção Protocolo de atuação Intervenções de prevenção e controlo de infeção Desenho Estudos de investigação primários Publicação entre Janeiro de 2007 a Dezembro de 2012 Artigos com acesso ao texto integral Cateterização urinária em crianças Estes documentos foram analisados pelas duas investigadoras individualmente e depois em grupo. Verificou-se que havia consenso em 10 artigos e, após discussão, obteve-se consenso nos restantes artigos. Assim, após a análise das 10 publicações, 2 foram rejeitadas pela leitura do resumo e 4 pela leitura integral, verificando-se na amostra a inclusão de serviços de pediatria. Restaram 4 estudos descritos no Quadro 3, que constituem a nossa amostra, dos quais se descrevem os objetivos e a amostra. Quadro 3 -Estudos analisados Estudo Dissertações ou teses de Mestrado Revisão sistemática da literatura Estudos descritivos A questão de investigação orienta e atribui significado ao tema e o processo de investigação é conduzido pela questão de investigação (Fortin; Côte; Filion 2009). Com base no descrito formula-se a seguinte questão: “Quais são as intervenções de Enfermagem na prevenção da infeção urinária nos doentes submetidos a cateterismo urinário?”. Foi definido como objetivo sistematizar as intervenções de enfermagem na prevenção da ITUACU baseadas na evidência científica. A revisão sistemática foi realizada durante os meses de Dezembro de 2012 e Janeiro de 2013, nos idiomas Português e Inglês, tendo sido selecionadas como palavras-chave: infeção urinária, cateter, enfermagem, prevenção que conduziram e delimitaram a pesquisa. Esta foi operacionalizada através de pesquisa eletrónica com recurso às bases de dados B-On, PubMed, Scielo, Medline, Science Direct, EBSCOhost, Lillacs e motor de busca Google Académico. Através desta estratégia de pesquisa foram encontradas 693 publicações, das quais 435 foram excluídas por não apresentarem texto integral e 234 por se encontrarem repetidas nas diferentes bases de dados, restando um total de 24. Após aplicados os critérios de inclusão e exclusão, foram selecionadas 10 publicações. Autores Tipo de estudo Amostra E1 FAKIH et Quasi-expeal (2008) rimental Michigan 608 camas de 12 unidades médico-cirúrgicas Mai. de 2006 a Abr. de 2007 E2 LOEB et al (2008) Canadá Estudo Controlado Randomizado 692 doentes com CU inserido há ≤ 48 horas Jan. de 2004 a Jun. 2006 MARRA et al Quasi-expe(2011) rimental São Paulo 38 camas de UCI e 49 camas de Unidades de cuidados intermédios Fase 1-Jun. de 2005 a Dez de 2007 Fase 2 – Jan. de 2008 a Jul. de 2010 E3 E4 Unidade cirúrgica com 150 doentes e unidade médica com 125 doentes OMAN et Fase 1 – Dez. de 2008 a al Pré-Pós InFev. de 2009 (2012) tervenção Fase 2 – Abr. de 2009 a Colorado Jun. de 2009 Fase 3 – Ago. 2009 a Nov. de 2009 Analisando os dados descritos no Quadro 3, verificamos que apenas um dos estudos é randomizado (E2), dois dos estudos enunciados são quasi-experimentais (E1 e E3) e em E4 um estudo de pré-pós intervenção, correspondendo plenamente aos critérios de inclusão definidos. Relativamente às características das intervenções aplicadas aos participantes (amostra) dos estudos, constatamos uma uniformidade das mesmas, permitindo a extrapolação e replicação dos dados com facilidade. Tendo por base objetivos comuns o estudo E1 e Revista Investigação em Enfermagem 33 PREVENÇÃO DA INFEÇÃO DO TRATO URINÁRIO ASSOCIADA AO CATETER URINÁRIO: TOLERÂNCIA ZERO E2, pretendem determinar a eficácia de intervenções na equipa multidisciplinar na redução do uso desnecessário do CU. Especificamente E2 avaliou a eficácia das “stop orders” para diminuição da duração do uso desnecessário do CU e incidência de ITUACU. O estudo E3 avaliou o efeito de intervenções associadas à prevenção ITUACU e analisou as diferenças nas taxas de ITUACU e os microrganismos que as originaram. Já em E4 desenvolveram-se e implementaram-se intervenções de prevenção da ITUACU. Resultados e Discussão Todos os estudos (Quadro 4) apresentam informações pertinentes para a resposta à questão desta pesquisa, uma vez que os dados obtidos revelaram a importância de se definirem e implementarem intervenções de enfermagem direcionadas à prevenção de ITUACU. Da análise transversal dos dados apresentados no quadro 4, sobressaem alguns aspetos que constituem as linhas orientadoras para a discussão dos resultados. Salienta-se como ponto de partida, que os quatro estudos revistos, são unânimes ao concluírem sobre a importância da utilização de medidas de prevenção para as ITUACU. Relativamente à distribuição dos elementos segundo as variáveis sociodemográficas em função da amostra, constatamos que os sujeitos são predominantemente do sexo feminino (E2, E3, E4), corroborando com os fatores de risco descritos por Pigrau (2013). Em E3 verificamos uma associação do sexo feminino ao número de ITUACU sendo que, na UCI é de 54 (49,5%) e na unidade de cuidados intermédios é de 58 (58,6%) na fase 1, respetivamente. Na fase 2 o número de ITUACU associada ao sexo feminino, na UCI é de 43 (56,6%) e na unidade de cuidados intermédios é de 18 (34%), respetivamente. Com base nos resultados do estudo E1, e após avaliada a necessidade e os motivos de utilização do CU, verificamos uma redução estatisticamente muito significativa da taxa de utilização de CU na fase pré-intervenção do estudo, de 203 cateter-dias por 1000 doente-dias para 162 cateter-dias por 1000 doente-dias (p=0,002), na fase de intervenção. Verificamos um aumento da taxa de uti34 Revista Investigação em Enfermagem lização de CU, da fase de intervenção para 187 cateter-dias na fase de pós-intervenção (p=0,05). Importa referir a este propósito que decorrem 4 semanas entre o términus da fase de intervenção e o início da fase de pós-intervenção, período em que não foram aplicadas as medidas de prevenção de ITUACU (avaliação da indicação do CU, formação aos enfermeiros sobre as indicações para cateterismo urinário).Segundo os autores (Fakih et al., 2008), estes resultados refletem a necessidade de implementar simples intervenções como a formação contínua dos enfermeiros e desenvolver competências na prevenção de ITUACU, para a mudança das práticas. Tal como em E2, a média de dias de utilização do CU diminuiu significativamente, bem como a média do número de dias de utilização desnecessária do CU após aplicação do protocolo instituído (p <0,001). Analogamente, ao nível do tempo médio (dias) de permanência do CU, em E4 verificamos uma diminuição estatisticamente significativa da permanência média do CU/dias/doente em unidades cirúrgicas (p=0,018), no entanto nas unidades médicas não houve tradução estatística (p=0,076). Embora, o processo de prevenção da ITUACU seja um processo complexo, o primeiro passo para a prevenção da ITUACU consiste em avaliar a necessidade da sua utilização (Winter et al., 2009; Curran e Murdoch, 2009; Rebmann e Greene, 2010, Marra et al., 2011, Revello e Gallo, 2013). As evidências encontradas relativamente à aplicação de protocolos tipo “bundle” e “stop orders” demonstraram que em E2 não há significado estatístico: o grupo do protocolo “stop orders” desenvolveu 19,0% de ITUACU e o grupo de controlo desenvolveu 20% de ITUACU (p <0,71). Contrariamente, em E3 e E4 é estatisticamente muito significativa a relação entre a aplicação de protocolos e as taxas de ITUACU. Em E3, verifica-se uma taxa de ITUACU em UCI de 7,6 por 1000 cateter- dias e de 5,0 por 1000 cateter- dias, respetivamente fase 1 e fase 2 (p <0,001). Nas unidades de cuidados intermédios obteve-se uma taxa de ITUACU 15,3 por 1000 cateter-dias, na fase 1 e 12,9 por 1000 cateter-dias na fase 2 (p <0,014). No estudo E4, a taxa de incidência de ITUACU em unidades médicas é de 0,0 por 1000 cateter- PREVENÇÃO DA INFEÇÃO DO TRATO URINÁRIO ASSOCIADA AO CATETER URINÁRIO: TOLERÂNCIA ZERO Quadro 4- Características dos estudos selecionados METODOLOGIA E1 E2 E3 E4 O estudo realizou-se em três fases: na primeira fase da intervenção foram utilizadas as indicações de inserção do CU de acordo com as guidelines do CDC. Na fase dois, foram avaliados, em equipa multidisciplinar, os motivos e necessidade do CU. Se desnecessário era contactado o médico para a sua remoção. Quatro semanas após o término da fase 2 eram colhidos novamente dados. Grupo “Stop Orders”- um enfermeiro avaliava diariamente as indicações de inserção do CU (de acordo com as guidelines do CDC) e a necessidade de manter o CU Grupo Controlo – não havia nenhuma monitorização do uso do CU Fase 1 - usadas as guidelines para cateterismo urinário de acordo com as normas do CDC; remoção do CU apenas por prescrição médica ou manifestação de evento adverso ou por não se verificar a sua necessidade Fase 2- as medidas implementadas na fase 1, introdução da “Bladder Bundle” e os enfermeiros avaliavam diariamente os doentes com CU e a possibilidade da sua remoção Fase 1- colheita de dados relativos à taxa de incidência de ITUACU Fase 2- revisão das indicações de utilização do CU e cuidados de manutenção; formação aos profissionais sobre prevenção de ITUACU Fase 3- Sessões de formação de 60 minutos; Utilização de flyers em zonas específicas das salas de enfermagem com a indicação de remoção do cateter; Responsabilizaram uma enfermeira para questionar a necessidade de manutenção do CU RESULTADOS •Taxa de utilização do cateter urinário é de 203 cateter-dias por 1000 doente-dias (pré-intervenção) e Taxa de utilização de cateter urinário é de 162 cateter-dias por 1000 doentedias (intervenção) - (p=0,002) •Taxa de utilização inadequada de cateteres urinários é de 102 cateter-dias por 1000 doente-dias (pré intervenção) e a Taxa de utilização inadequada de cateteres urinários é de 64 cateter-dias por 1000 doente-dias (intervenção) - (p <0,001) •Taxa de suspensão de utilização de cateter urinário é de 45% •Verificou-se diminuição na média do número de dias de utilização do CU e na média do número de dias de utilização desnecessária do CU após aplicação do protocolo instituído (p<0,001) •No grupo do protocolo 19,0% desenvolveu ITUACU, no grupo de controlo desenvolveu 20% de ITUACU - (p <0,71) •Grupo “Stop Orders”: M - 146; F - 201 Grupo Controlo: M - 120; F - 225 •Taxa de ITUACU em UCI é de 7,6 por 1000 cateter dias (fase 1) e 5,0 por 1000 cateter dias (fase 2) – (p <0,001) •Taxa de ITUACU em unidades de cuidados intermédios é de 15,3 por 1000 cateter- dias (fase 1) e 12,9 por 1000 cateter- dias (fase 2) – (p <0,014) •Conformidade da checklist de inserção do CU- 84,3% (fase 2 UCI); 87,9% (fase 2 cuidados intermédios) •Número de ITUACU nas mulheres UCI - 49,5 % (fase 1); 56,6% (fase 2) •Número de ITUACU nas mulheres cuidados intermédios58,6 % (fase 1); 34% (fase 2) •Média de permanência do CU/dias/doente unidade Pulmonar (p=0,076) •Taxa de ITUACU na unidade pulmonar é de 0,0 por 1000 cateter- dias (fase 2) •Média de permanência do CU/dias/doente unidade Cirúrgica (p=0,018) •Taxa de ITUACU na unidade cirúrgica é de 2,2 por 1000 cateter- dias (fase 2) •Mulheres Unidade Pulmonar: 56,3% (fase 1),58,8% (fase 2),58,3% (fase 3) •Mulheres Unidade Cirúrgica: 61,9%(fase 1),50,8% (fase 2),65,5% (fase 3) •Homens Unidade Pulmonar: 43,8% (fase 1),41,2% (fase 2),41,7% (fase 3) •Homens Unidade Cirúrgica: 38,1%(fase 1),49,2% (fase 2),34,5% (fase 3) -dias e em unidades cirúrgicas é de 2,2 por 1000 cateter-dias. Não há tradução estatística da taxa de incidência de ITUACU neste estudo, embora se tenha verificado uma redução do número de cateter-dias. Tal como Winter et al. (2009), Pina et al. (2010), Rebmann e Greene (2010) e Oman et al. (2012) referem, a prevenção da infeção urinária implica uma atualização constante de intervenções por parte dos profissionais de saúde, devendo ser implementadas na prática diária sob a forma de protocolos, associando a formação, a reeducação e sensibilização dos enfermeiros. Em E3, salienta-se uma taxa de incidência de ITUACU mensal, na sua maioria de 0,0 por 1000 cateter-dias, na fase 2, com a aplicação de todas as medidas de prevenção indicadas na literatura, reforçando as recomendações do CDC/NHSN (2013) quando refere que o risco de infeção diminui quando todos os profissionais de saúde cumprem os protocolos instituídos, em cada um dos Revista Investigação em Enfermagem 35 PREVENÇÃO DA INFEÇÃO DO TRATO URINÁRIO ASSOCIADA AO CATETER URINÁRIO: TOLERÂNCIA ZERO seus itens e para cada doente. Por sua vez, o risco de infeção aumenta quando um ou mais itens dos protocolos instituídos é excluído ou não é efetuado. Apesar dos estudos utilizarem diferentes aspetos metodológicos, em todos eles foram envolvidas as intervenções de enfermagem na avaliação da necessidade do cateterismo, o que demonstra o seu importante papel na redução das complicações do cateterismo urinário. Sintetizando, os resultados obtidos demonstram pertinência na medida em que confirmam a importância da implementação, utilização e sensibilização dos enfermeiros na prevenção de ITUACU impulsionando os ganhos em saúde. Conclusão e Recomendações Esta revisão sistemática contribuiu para distinguir a evidência científica publicada nas diversas bases de dados relativamente às intervenções de enfermagem na prevenção da ITUACU. Os enfermeiros assumem um papel preponderante na prevenção da ITUACU, na medida em que, para além dos ganhos em saúde, são um elo fundamental na cadeia da segurança do doente hospitalizado. Da análise crítica dos estudos concluímos a existência de um elevado uso inadequado e desnecessário do CU resultando daqui um procedimento fundamental para a prevenção de ITUACU que, para além da avaliação da necessidade do CU, é a não cateterização urinária. Outro, de igual forma importante, fator de risco para o aparecimento de infeções, é o fator tempo. Assim, a ser necessária a cateterização, o CU deve ser removido mais cedo possível. As melhores intervenções de enfermagem para a prevenção da ITUACU fundamentam-se em refletir sobre as indicações para o cateterismo urinário antes da sua execução, avaliar diariamente a necessidade de o manter, discutindo e sensibilizando a equipa para a importância da prevenção. Salientamos que a efetividade das intervenções de prevenção, tais como “bundle´s” e “stop orders” podem resultar em reduções significativas na duração do cateterismo urinário e na ocorrência de ITUACU. Estas intervenções parecem ser estratégias de baixo custo, de fácil acesso e apli36 Revista Investigação em Enfermagem cáveis a qualquer metodologia de trabalho com o objetivo de aumentar os ganhos em saúde. A sua aplicação depende da sensibilização das equipas multidisciplinares, da formação contínua e sistemática dos profissionais de saúde, da monitorização das suas práticas, da avaliação rigorosa da eficácia e da implementação dos protocolos baseados na evidência científica. Identificamos como limitação na realização deste trabalho, a escassez de artigos científicos primários randomizados para o período selecionado, verificando-se o predomínio de estudos descritivos. Consideramos igualmente, como uma limitação, a imposição de um horizonte temporal de 5 anos, o que restringiu em grande número as publicações encontradas. Contudo, tal atitude deve-se ao fato de as guidelines mais recentes do CDC serem de 2009, transmitindo um conhecimento mais aproximado do “ estado da arte” sobre esta problemática. Após a revisão da literatura constatamos a inexistência de produção científica em Portugal, pois não existem estudos que demonstrem a evidência no que concerne às estratégias para a melhoria da qualidade no âmbito da prevenção das ITUACU. Tal facto condicionou a discussão dos dados para a realidade portuguesa. Torna-se assim pertinente fomentar o desenvolvimento de estudos sobre este tema, no sentido de promover a atualização e implementação de protocolos que reflitam a prática das intervenções de enfermagem em Portugal relativamente à prevenção das ITUACU. Apesar de toda a formação provida e das competências que os enfermeiros adquirem, é importante analisar como é que estes as transpõem para a prática profissional. Face aos resultados obtidos, no intuito de complementar a utilização dos sistemas de informação em enfermagem, e numa fase experimental, sugerimos a implementação de uma etiqueta, intitulada ”5 passos para a prevenção da ITUACU”, com uma forma visual simples e atrativa, com realce de cor, de aplicação fácil em local que possibilite aos enfermeiros utilizarem a analogia ITUACU- Indicações; Tempo; Uniformização de registos, Avaliação; Cateter Urinário, com o objetivo de permitir a sinalização e avaliação da necessidade de cateterismo urinário nos doentes, minimizando o tempo de utilização. Pode emergir PREVENÇÃO DA INFEÇÃO DO TRATO URINÁRIO ASSOCIADA AO CATETER URINÁRIO: TOLERÂNCIA ZERO assim a cadeia de prevenção da ITUACU, composta por cinco passos, em que o funcionamento adequado de cada um, uma articulação eficaz entre si e o seu uso, por cada e por todos os membros da equipa, é vital para que o resultado final seja a prevenção (Figura 2). Figura 2 – “5 passos para a prevenção da ITUACU” Bibliografia BAPTISTA, Rui Carlos Negrão (2002) – Cuidados de enfermagem ao doente com necessidade de cateterismo vesical. Revista de Enfermagem Referência. [Em linha]. nº9, p.69-73. [Consult. 23 Dez. 2012]. Disponível em WWW:URL:< http://www. esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=public ationDetails&pesquisa=cateter&id_artigo=2072 > CDC/NHSN. (2013) - Device-Associated Module - Catheter-associated Urinary Tract Infections (CAUTI) Surveillance [Em linha]. [Consult. 18 de Jan. 2013]. Disponível em WWW:URL:< http://www.cdc.gov/nhsn/PDFs/ pscManual/7pscCAUTIcurrent.pdf> CIPE Versão 2 (2011) - Classificação internacional para a prática de enfermagem. Lisboa: Ordem do Enfermeiros. 205 p. ISBN 978-92-95094-35-2 COSTA, A. E [et al. ] (2009) - Inquérito Nacional de Prevalência de Infecção - Relatório. [Em linha]: Direcção Geral da Saúde. [Consult. 13 Jan. 2013]. 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Realizamos uma revisão sistemática da literatura, cujo objetivo foi descrever fatores associados à realização de RCP por voluntários, em contexto Pré-Hospitalar (PH), antes da chegada dos Serviços de Emergência Médica (SEM). Na pesquisa realizada na EBSCO e LILACS, foram incluídas publicações de Março de 2008 a Março 2013. Resultaram 8 artigos. Foram identificados fatores associados à realização de RCP por voluntários, nomeadamente estatuto socioeconómico, relação com a vítima, raça da vítima, tipo de RCP, local de ocorrência, instruções telefónicas, idade, conhecimentos e estado emocional do voluntário. A sensibilização e treino da população em RCP foram apontados como estratégias para aumentar a adesão à execução de RCP. A produção científica a que tivemos acesso foi reduzida, havendo necessidade de aprofundar e investigar a influência dos diferentes fatores na RCP. Abstract Palavras-chave: Ressuscitação Cardiopulmonar, Serviços Médicos de Emergência CARDIOPULMONAR RESSUSCITACION BY BYSTANDER: ONE BOND FOR THE LIFE An early recognition of a cardiac arrest and an immediate Cardiopulmonary Resuscitation (CPR) made by bystanders trained in CPR, is critical to increase the survival rate. We conducted a systematic literature review which main goal was to describe factors associated with CPR made by bystanders in a prehospital context, before the arrival of the Emergency Medical Services (EMS). In the research conducted on EBSCO and LILACS were included publications of March 2008 to March 2013. Resulted in 8 articles. We have identified factors associated with the implementation of RCP by bystanders, such as the socioeconomic status, type of relationship with the victim, the victim’s race, type of CPR, place of occurrence, telephone instructions, age, knowledge and emotional state of bystanders. Raising awareness and training the population in CPR were expressed as strategies to increase adherence to the implementation of RCP. The scientific production we had access was reduced, requiring a deeper investigation of the influence of different factors on CPR. Resumen Keywords: Cardiopulmonary Resuscitation, Emergency Medical Services REANIMACIÓN CARDIOPULMONAR POR VOLUNTARIOS: UN BONO PARA LA VIDA El reconocimiento temprano de la Parada Cardiorrespiratoria (PCR) y la realización de la Reanimación Cardiopulmonar (CPR) por los voluntarios es fundamental para la supervivencia. Hemos realizado una revisión sistemática de la literatura, cuyo objetivo fue describir los factores asociados a la RCP por voluntarios en el contexto pre-hospitalario (PH), antes de la llegada de los Servicios Médicos de Emergencia (SEM). En la encuesta realizada en EBSCO y LILACS fueron incluye publicaciones de marzo de 2008 a marzo de 2013. Resultaron 8 artículos. Han sido identificados factores asociados a la realización de RCP por voluntarios, principalmente el estatuto socioeconómico, instrucciones telefónicas, edad, conocimientos y estado emocional del voluntario. La sensibilización y entrenamiento de la población en RCP han sido apuntados como estrategias para aumentar la adhesión a la ejecución de RCP. La producción científica a que tuvimos acceso fue reducida, habiendo necesidad de profundizar e investigar la influencia de los distintos factores en RCP. Palabras clave: Agresión psicológica, Maltrato laboral, Relaciones laborales Rececionado em fevereiro 2015. Aceite em abril de 2015 Enfermeira Pós Graduada em Emergência e Trauma. Enfermeira no Serviço de Obstetrícia do Centro Hospitalar do Baixo Vouga – Aveiro; [email protected] Enfermeira Pós Graduada em Emergência e Trauma. Enfermeira no Serviço de Obstetrícia do Centro Hospitalar do Baixo Vouga Enfermeira Pós Graduada em Emergência e Trauma. (4) Doutorada em Ciências da Enfermagem, Professora Coordenadora sem agregação da Escola Superior de Saúde de Vale do Ave – CESPU, Portugal (1) (2) (3) Revista Investigação em Enfermagem 39 RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR POR VOLUNTÁRIOS: UM ELO PARA A VIDA INTRODUÇÃO A doença cardíaca isquémica é a principal causa de morte no Mundo (Nolan et al., 2010), e, segundo Pergola e Araújo, 2009, a falta de reconhecimento dos sintomas leva ao acionamento tardio dos Serviços de Emergência Médica (SEM), conduzindo a Paragem Cardiorrespiratória (PCR). Segundo o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), é no Pré-Hospitalar (PH) que ocorrem a maioria das PCR (Madeira et al., 2011). Mais se pode apurar, por dados provenientes de 37 comunidades na Europa, que a incidência anual de PCR no PH, tratadas pelos SEM, é de 38 por 100 000 habitantes (Atwood, Eisenberg, Herlitz,& Rea, 2005,citado por Nolan et al., 2010). Dada a incidência global desta problemática, foram instituídos procedimentos que se sucedem de forma encadeada, e constituem uma cadeia de atitudes em que cada elo articula o procedimento anterior com o seguinte. Surge assim o conceito de “Cadeia de Sobrevivência”, composta por quatro elos. O primeiro elo é o reconhecimento rápido da PCR e ativação precoce do Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM); o segundo é a realização de Suporte Básico de Vida (SBV) precoce; o terceiro é a desfibrilhação precoce; e por fim, os cuidados pós-reanimação (Madeira et al., 2011). Deste modo, os voluntários assumem um papel fundamental na ativação do primeiro elo e na continuação da cadeia através da realização de manobras que contribuem para a preservação da ventilação e da circulação (segundo elo). “O funcionamento adequado de cada elo e a articulação eficaz entre todos eles é vital para que o resultado final possa ser uma vida salva” (Madeira et al., 2011, p.57). A taxa de sobrevivência pode chegar aos 75% se as manobras de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) forem iniciadas de imediato e se houver desfibrilhação até 3 a 5 minutos após a PCR (Nolan et al., 2010; Madeira et al., 2011). Desde o momento da deteção da PCR até à chegada dos SEM ao local, o tempo é determinante. Qualquer pessoa, desde que instruída, pode efetuar o RCP. “Anyone, anytime, can now initiate cardiac resuscitative measures. All that is needed are two hands” (Kouwenhoven, Jude, & Knickerbocker, 1960, p. 1064, citado por Leong, 2011, p.573). Tendo isto em consideração, existem dúvidas que emergem. Qual será a realidade, atualmente, em Portugal e no Mundo? Tendo em conta a nossa inquietação, consideramos importante conhecer e 40 Revista Investigação em Enfermagem sistematizar a produção científica sobre a realização de RCP e fatores associados. O objetivo do presente estudo foi descrever os fatores associados à realização de RCP por voluntários antes da chegada dos SEM. O método utilizado foi uma revisão sistemática da literatura tendo como ponto de partida a questão de investigação: “Quais os fatores associados à realização de Ressuscitação Cardiopulmonar por voluntários, antes da chegada dos Serviços Médicos de Emergência?”. METODOLOGIA Com o intuito de alcançar o objetivo definido, a revisão sistemática da literatura compreendeu a procura de produção científica publicada entre Março de 2008 e Março de 2013. Esta pesquisa, na web, decorreu no mês de Março de 2013. Na base de dados EBSCO, refinando pelos descritores “Ressuscitação Cardiopulmonar”, “Cardiopulmonar Resuscitation” e “Serviços Médicos de Emergência”,“Emergency Medical Services”, considerando os idiomas Português, Espanhol, Brasileiro e Inglês, foram consultadas 16.518 referências. Da pesquisa na base de dados LILACS, utilizando os mesmos critérios foram consultados 1.667 artigos. Tendo em conta o objetivo do estudo foram analisados os artigos, utilizando como critérios de exclusão e inclusão os representados na Tabela 1. Tabela 1: Critérios de inclusão e exclusão de estudos selecionados Critérios Critérios de inclu- Critérios de exclude seleção são são Voluntários que presenciam vítimas em Voluntários que não ParticiPCR e que realizam realizam RCP; pantes RCP antes da chega- RCP feito pelos SEM. da dos SEM. RCP com Desfibrilhador Automático ExInterven- Realização de RCP a terno (DAE); ção vítimas de PCR. RCP com LUCASTM. Estudos realizados Contexto Estudos realizados em Ambiente Hospido estudo em contexto PH. talar. Artigos de opinião, D e s e n h o Abordagem quantiRevisão Sistemática do estudo tativa e qualitativa da Literatura. RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR POR VOLUNTÁRIOS: UM ELO PARA A VIDA Consequência dos critérios supracitados, o número de artigos para análise está apresentado na Figura 1. Figura 1 –Seleção dos artigos com recurso a descritores Dos artigos decorrentes da pesquisa na EBSCO, utilizando o critério de exclusão tempo, resultaram 956 artigos. Destes, foram excluídos 757 pelo título, 40 pelo resumo, 3 por não especificarem se a amostra consiste em voluntários ou SEM, 147 por se encontrarem duplicados e 1 por não termos tido acesso, tendo sido selecionada uma amostra de 8 artigos. Dos 39 artigos LILACS, foram rejeitados 22 artigos pelo tempo, 10 artigos pelo título,2 artigos pelo resumo e 5 artigos pela utilização do DAE. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE CRITICA DOS DADOS Atendendo às linhas orientadoras do estudo foi organizada a síntese da evidência empírica a que tivemos acesso na Tabela 2. Fazemos alusão ao tipo de estudo, amostra, objetivos e conclusões pertinentes dos 8 artigos selecionados. Tabela 2 – Síntese das evidências encontradas Artigo Principais Conclusões Autor, ano, Titulo/ tipo comunicação, país Tipo de estudo; Instrumento de colheita de dados Chew K. S.; MohdIdzwan Z.; NikHishamuddun N. A. R.; WanAasim W.A.; Kamaruddin J. “How frequent is bystander cardiopulmonary resuscitation performed in the community of Kota Bharu, Malaysia?” Malasya, 2008 Estudo retrospetivo Observacional Principais Conclusões “Cardiac arrest patients rarely receive chest compressions before ambulance arrival despite the availability of pre-arrival CPR instructions” London, 2008 Artigo da revista Resuscitation Identificar a frequência da RCP realizada no PH, antes da chegada dos SEM Estudo retrospetivo N=343 recebidas chamadas Colheita de dados por chamadas telefónicas n=25 vitimas de PCR em que voluntários realizaram RCP Determinar a proporção de vítimas de PCR no PH que receberam compressões torácicas antes da chegada dos SEM, e de voluntários que ligaram para o número de emergência Descrever barreiras para as instruções de RCP fornecidas ao telefone Da amostra analisada, 3 chamadas foram excluídas porque não estava definido se as compressões foram realizadas e 172 chamadas não eram elegíveis para obter instruções de pré-chegada (por exemplo, obviamente morto). Das 168 chamadas elegíveis para obter instruções de RCP, as compressões torácicas foram realizadas a 25 vítimas antes da chegada dos SEM. As principais razões para não seguimento das instruções de RCP incluem: chamadas de telefone desligadas antes das informações completas (19%), a recusa do informador (18%), o estado emocional do mesmo (14%), a incapacidade de ouvir as instruções por telefone e cuidar da vítima ao mesmo tempo (13%) e as limitações físicas do informador (8%). Martinage, Arnaud; Penverne, Yann; Le Conte, Philippe; San Miguel, Marie; Jenvrin, Joel; Montassier, Emmanuel; Berthier, Frédéric; Potel, Gilles. Artigo n= 23 vítimas de PCR no PH Objetivo geral Apenas em 2 casos (8,7%) foi realizada RCP antes da chegada do SEM, no entanto sem sucesso. Este resultado reflete que a frequência de RCP por voluntários nesta comunidade é reduzida e sem eficácia na técnica – sem retorno da circulação espontânea. Lerner, E. Brooke; Sayreb, Michael R.; Bricec, Jane H.; Whiteb, Lynn J.; Santinc, Amy J.; Billittier, Anthony J.; Cloude, Samuel D. Artigo Participantes Amostra “Predictive factors of successful telephone-assisted cardiopulmonary resuscitation” New York, 2013 Artigo publicado no Jornal de Emergência Médica Estudo prospetivo N=38 chamadas para RCP Colheita de dados através das chamadas telefónicas n=27 casos de PCR em que voluntários realizaram RCP Descrever o procedimento de RCP via telefone e identificar fatores que comprometem a sua realização Revista Investigação em Enfermagem 41 RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR POR VOLUNTÁRIOS: UM ELO PARA A VIDA Principais Conclusões Em 6 casos, a RCP foi realizada antes da ativação dos SEM. Após o telefonema, a RCP foi realizada até à chegada dos SEM em 27 casos. Destes, um terço dos voluntários sabia intervenções de primeiros socorros. A ausência de uma relação familiar entre o voluntário e a vítima facilitou a continuação da RCP (100% vs 37% com os laços familiares). A concordância dos voluntários em seguir as informações concedidas via telefone favoreceu a maior frequência de realização de RCP, quando comparada com situações em que houve renitência (88% vs 45%, respetivamente). Quando existiram obstáculos para a realização de RCP, esta foi realizada em 57% dos casos, contra 100% dos casos na ausência de obstáculos. McNally, Bryan; Robb, Rachel; Mehta, Monica; Vellano, Kimberly; Valderrama, Amy L.; Yoon, Paula W.; Sasson, Comilla; Crouch, Allison; Perez, Amanda Bray; Merritt, Robert; Kellermann, Arthur. Artigo “Out-of-Hospital de Vigilância Cardiac Arrest – Registro parada cardíaca para aumentar a sobrevivência (CUIDA), Estados Unidos, 1 de Outubro de 2005 a 31 Dezembro de 2010” Estudo quantitativo Colheita de dados através do registo de eventos de paragem cardíaca fora do hospital através de três fontes – 911 centros de expedição, provedores de serviços médicos de emergência e hospitais. N=40.274 registos dos quais foram excluídos 8.585 por causa não cardíaca e falta de registos hospitalares n=31.689 eventos de etiologia cardíaca presumida que receberam esforços de ressuscitação em ambiente PH Determinar o número de eventos de paragem cardíaca no PH que receberam esforços de ressuscitação. United States of America, 2011 Principais Conclusões De todos os participantes, 33.3% receberam RCP por voluntários antes da chegada do SEM. Os dados apresentados neste estudo indicam a necessidade de esforços de RCP rápidos e eficazes, de forma a aumentar a taxa de sobrevivência. Mitchell, Michael J.; Stubbs, Benjamin A.; Eisenberg; Mickey S. Artigo “Socioeconomic status is associated with provision of bystander cardiopulmonary resuscitation” Estudo retrospetivo N=4.482 vítimas de PCR Instrumento de dados: Sensos ano 2000 n=2.618 vitimas de PCR em residências privadas Washington, 2009 Principais Conclusões 44% das vítimas de PCR receberam RCP por voluntários. Destas, 17,5% receberam instruções telefónicas e 39,7% não receberam qualquer instrução. Conclui-se que a realização de RCP aumenta proporcionalmente ao estatuto socioeconómico, enfatizando a importância dos programas de treino da população em RCP. Panchal, Ashish R.; Bobrow, Bentley J.; Spaite, Daniel W.; Berg, Robert A.; Stolz, Uwe; Vadeboncoeur, Tyler F.; Sanders, Arthur B.; Kern, Karl B.; Ewy, Gordon A. Artigo Relacionar o estatuto socioeconómico da população com a realização de RCP “Chest compression-only cardiopulmonary resuscitation performed by lay rescuers for adult out-of-hospital cardiac arrest due to non-cardiac aetiologies” Estudo observacional prospetivo Análise de coorte N= 7.652 vítimas de PCR, das quais através dos critérios do estudo, resultou n=5.793 vitimas de PCR, das quais 4.913 de origem cardíaca e 880 de origem não cardíaca Relacionar o uso da compressão na RCP, e a sobrevivência após paragem cardíaca fora do hospital United StatesofAmerica, 2012 Principais Conclusões 42 Não houve diferenças na sobrevivência por tipos de RCP (nenhum, compressões, ou convencional), entre paragens cardíacas testemunhadas ou não testemunhadas. Vítimas de PCR com causas cardíacas foram mais propensas a receber RCP (32,8%) do que com causas não-cardíacas (29,1%). Vítimas de PCR com causas não-cardíacas eram menos propensas a PCR em público (10,3%) do que vítimas com causas cardíacas (18,2%). Os voluntários foram menos propensos a realizar compressões em vítimas que poderiam beneficiar de respiração artificial. Revista Investigação em Enfermagem RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR POR VOLUNTÁRIOS: UM ELO PARA A VIDA Autor, ano, comunicação, país Artigo Titulo/tipo Shiraki, Teruo; Osawa, Kazuhiro; Suzuki, Hideyuki; YoshidaMasatoki; Takahashi, Natsuki; Takeuchi, Kazufumi; Tanakaya, Machiko; KohnoKunihisa; Saito, Daiji. Tipo de estudo; Instrumento de colheita de dados Participantes Amostra N=442 vítimas PCR no PH Estudo Observacional “Incidence and Outcomes of Outof-Hospital Cardiac Arrest in the Eastern Part of Yamaguchi” Objetivo geral de n=49 vítimas de PCR no PH, 37 de causa cardíaca e 12 de causa não cardíaca Avaliar os fatores relacionados com o prognóstico de vítimas de PCR fora do hospital Japão, 2009 Principais Conclusões A taxa de RCP foi neste estudo foi baixa, no entanto, não afetou a sobrevivência de forma independente nos três pontos analisados (sobrevivência após 24h, 1 mês e boa condição neurológica). A realização de RCP por voluntários e o ritmo cardíaco inicial são fatores preponderantes para a sobrevivência das vítimas de PCR com melhor condição neurológica e prognóstico. Yasunaga, Hideo; Horiguchi, Hiromasa; Tanabe, Seizan; Akahane, Manabu; Ogawa, Toshio; Koike, Soichi; Imamura, Tomoaki. Artigo “Colaborative effects of bystanderinitiated cardiopulmonary resuscitation and prehospital advanced cardiac life support by physicians on survival of out-ofhospital cardiac arrest: a nationwide population-based observational study” Estudo prospetivo, observacional recorrendo à base de dados Utstein N=95.072 vítimas de PCR, testemunhadas por voluntários n=23.127 vítimas de PCR testemunhadas pelos SEM. Analisar os efeitos da colaboração entre voluntários que iniciam RCP e profissionais de Suporte Avançado de Vida (SAV) no PH, com ou sem médicos, nos resultados de saúde das vítimas de PCR Tokyo, Japan, 2010 Principais Conclusões Neste estudo concluíram que o treino em RCP é realizado por milhões de cidadãos por ano. Em 42% das PCR testemunhadas por voluntários, foi realizada RCP pelos mesmos. Embora este número seja relativamente alto em comparação com muitos países, devem ser feitos esforços para melhorar a quantidade e qualidade da RCP. Idealmente, uma interligação entre voluntários e SEM. Figura 2 – Percentagem de realização de RCP por voluntários Da evidência recolhida entende-se que, os investigadores utilizaram o método quantitativo. Como métodos ou técnicas de colheita de dados, recorreram à observação, registo de chamadas telefónicas para as centrais de emergência, Escala Utstein, Sensos e Multinível de regressão de Poisson captado pela CARES. Na produção científica a que tivemos acesso, obtivemos percentagens de realização de RCP por voluntários (Figura 2) e identificamos fatores que foram associados à sua execução. Martinage et al. (2013) relataram uma percentagem de realização de RCP de 71%. Destes, quan- do existiram obstáculos à realização de RCP, esta foi realizada em 57% dos casos e, na ausência de obstáculos, foi de 100%.Mencionaram que o facto dos voluntários seguirem as instruções telefónicas, contribuiu para aumentar a adesão à realização de RCP, quando comparada a situações em que houve renitência (88% vs 45%, respetivamente). Adicionalmente, Lerner et al. (2008) verificaram uma percentagem de RCP de 7,2% com instruções via telefone. Apontaram como razões para não seguirem as instruções de RCP, as chamadas de telefone desligadas antes das informações completas, a incapacidade de ouvir as instruções por telefone Revista Investigação em Enfermagem 43 RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR POR VOLUNTÁRIOS: UM ELO PARA A VIDA e cuidar das vítimas ao mesmo tempo, o estado emocional, limitações físicas e a recusa do informador. Observaram também obstáculos associados ao voluntário (pânico, apreensão, sentimentos de inadequação, incapacidade física, o testemunho indireto e cansaço), bem como à vítima (raça e a posição física). Por outro lado, Mitchell, Stubbs, e Eisenberg (2009) obtiveram uma percentagem de realização de 44% e identificaram que o estatuto socioeconómico dos voluntários favoreceu a realização de RCP, independentemente de terem ou não instruções telefónicas. Por seu lado, Panchal et al. (2012) obtiveram uma percentagem de 61,9%, sendo que as vítimas de PCR com causas cardíacas foram mais propensas a receber RCP (32,8%) do que com causas não-cardíacas (29,1%). Contrastando com estes dados, Chew, Mohd, Nik, Wane e Kamaruddin (2008) obtiveram uma percentagem de 8,7%, apontaram que a reduzida adesão dos voluntários à realização de RCP, poderá ser o reflexo da sua ineficácia na técnica. Shiraki et al. (2009), que obtiveram uma percentagem de 11%, defendem que a realização apenas de compressões torácicas poderá aumentar a adesão dos mesmos. Neste contexto, Pergola e Araújo (2009), Chew et al. (2008), Mcnally et al. (2011) e Yasunaga et al. (2010), sublinharam a importância da qualidade e eficácia das manobras realizadas e não só a sua mera realização, para um aumento das taxas de sobrevivência. Adicionalmente, Mcnally et al. (2011) relataram que se o pulso não for restaurado antes do transporte pelos SEM, os esforços adicionais no hospital quase sempre falham. Chew et al. (2008) apontaram como agente preponderante para a sobrevivência o tempo de intervalo entre o colapso e o início da RCP. Da mesma forma, Lerner et al. (2008, p. 55) afirmaram que “…mais do que um minuto é demasiado tempo para se iniciar a primeira compressão”, facto corroborado por Shiraki et al. (2009) que consideraram que o tempo de resposta entre o primeiro e o segundo elo da cadeia de sobrevivência foi elevado (cerca de 8 minutos), condicionando o retorno da circulação espontânea. Contrariamente a Chew et al. (2008), que verificaram a particularidade dos voluntários que realizam RCP serem familiares ou amigos da vítima, 44 Revista Investigação em Enfermagem Martinage et al. (2013) apuraram que a ausência de uma relação familiar entre o voluntário e a vítima facilitou a continuação da RCP (100% vs 37% com os laços familiares). Também Mcnally et al. (2011) e Shiraki et al. (2009) reconheceram diferenças na realização de RCP consoante o local de ocorrência de PCR, nomeadamente em local público ou privado (48,3% vs 34% e 30% vs 10%,respetivamente). Adicionalmente Shiraki et al. (2009) suspeitaram que a diferença entre estes resultados se devem à presença dos jovens em locais públicos, sendo que os idosos são mais propensos a hesitar na realização de RCP, mesmo que tenham conhecimentos. Mcnally et al. (2011) acrescentaram que a raça/etnia foi fator de discriminação, sendo que os brancos foram mais propensos a receber RCP 40,2% em comparação com 32,8% dos negros e 33,7% dos hispânicos. No que se refere ao género da vítima, os mesmos autores não encontraram disparidades. Yasunaga et al. (2010, p. 7) mencionaram que existiram altas taxas de sobrevivência com pobres resultados neurológicos em casos de PCR testemunhadas com realização de SAV, sem SBV prévio. Argumentaram que apesar de milhões de cidadãos por ano treinarem RCP, “…só em 42% das PCR testemunhadas…” foi realizada RCP pelos mesmos. Por seu lado, Shiraki et al. (2009), não conseguiram determinar a causa da reduzida adesão dos voluntários à realização de RCP, apesar dos cidadãos terem acesso a treinos. Pergola e Araújo (2009) afirmaram que se a sobrevivência depende da rapidez da atuação dos voluntários, interessa saber se estes conhecem o SBV e como o executam. Martinage et al. (2013) ressaltaram que os voluntários que realizaram RCP tinham conhecimentos de primeiros socorros. Shiraki et al. (2009) corroboraram que o conhecimento da população é determinante para a realização de RCP. Chew et al. (2008), Lerner et al. (2008), Mcnally et al. (2011), Leong (2011) e Madeira et al. (2011),afirmaram que os voluntários são considerados um elo vital para o sucesso da reanimação. Um resultado inverso foi obtido por Panchal et al. (2012) e Semensato, Zimerman, e Rohde (2011) que não encontraram associação entre a realização de RCP por voluntários e a sobrevivência, apesar RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR POR VOLUNTÁRIOS: UM ELO PARA A VIDA dos dados percentuais obtidos (61,4% e 28%, respetivamente).Panchal et al. (2012) propuseram informar e sensibilizar a população para a realização de suporte ventilatório em caso de PCR de causa não cardíaca. Mencionaram que a sugestão se deve à baixa recetividade dos voluntários para a execução de ventilações quando comparado com a execução de compressões (8,3% vs 18%, respetivamente). Todavia, Shiraki et al. (2009), sugeriram programas de treino à população baseados em RCP com enfoque nas compressões torácicas, como tentativa de aumentar a adesão à RCP. Igualmente, Mitchell et al. (2009), Mcnally et al. (2011) e Yasunaga et al. (2010) enfatizaram a importância dos programas de treino da população em RCP. Verificamos que apesar dos resultados obtidos, as amostras de cada artigo não são representativas da população alvo, o que vai de encontro à limitação descrita pelos investigadores. Shiraki et al. (2009) consideraram a sua amostra limitada comparativamente a outros estudos realizados em Osaka e Tokyo (27%). Também Chew et al. (2008) referiram que a amostra é reduzida, quando comparada com a percentagem mundial (33,3%). Dada a baixa prevalência global de RCP, a remoção de obstáculos à sua realização tem sido um fator importante no desenvolvimento de diretrizes internacionais para aumentar as taxas de RCP. A American Heart Association recomenda “hands only” na RCP realizada por voluntários que são ou não treinados, ou não confiantes na sua capacidade de fornecer ventilações (Sayre, 2008, citado por Rea & Page, 2010), trazendo um novo significado à citação original de Kouwenhoven et al. (1960,citado por Leong, 2011). CONCLUSÃO Após a revisão sistemática da literatura, identificamos fatores associados à realização de RCP por voluntários, nomeadamente o estatuto socioeconómico, a relação com a vítima, as PCR testemunhadas, o tipo de RCP realizada, o local de ocorrência de PCR, as instruções telefónicas, a idade, conhecimentos e o estado emocional do voluntário. Os investigadores mencionaram a sensibilização da população e implementação de programas de treino como estratégias para aumentar a adesão à realização de RCP por voluntários. Constatamos que a produção científica, a que tivemos acesso, sobre esta temática é reduzida, e necessita de maior contributo. É de salientar que os voluntários assumem um papel preponderante na ativação do primeiro elo e execução do segundo, pois de nada serve ter o melhor SAV se quem presencia a PCR não sabe pedir ajuda ou não está capacitado para a realização de RCP. Em suma, consideramos fulcral dotar a população de competências para a execução de RCP, nomeadamente enfatizando a realização de compressões, indo ao encontro das recomendações atuais “hands only”. Em Portugal não tivemos acesso a evidência científica, e sendo esta uma temática pertinente para a sobrevivência, consideramos pertinente a realização de estudos futuros no nosso país. Cientes da importância da preservação da vida humana, os fatores associados à RCP deverão ser o enfoque da investigação em estudos futuros, a fim de se afirmar com maior segurança a sua influência, bem como a continuação da formulação de estratégias de combate aos obstáculos à realização de RCP. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Chew, K. S., Mohd, I. Z., Nik, H. N. A. R., Wan, A. W. A.,& Kamaruddin, J. (2008).How frequent is bystander cardiopulmonary resuscitation performed in the community of Kota Bharu, Malaysia? Singapore Med J,49(8), 636-639. Leong, B. S. H. (2011). Bystander CPR and survival. Singapore Med J, 52(8), 573-575. Lerner, E. B., Sayreb, M. R., Bricec, J. H., Whiteb, L. J., Santinc, A. J., Billittier, A. J.,& Cloude, S. D. (2008). Cardiac arrest patients rarely receive chest compressions before ambulance arrival despite the availability of pre-arrival CPR instructions. Resuscitation(Elsevier),77,51-56. Madeira, S., Porto, J., Henriques, A., Nieves, F. 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Os sujeitos envolvidos foram 32 estudantes que realizaram o ensino clínico Enfermagem na comunidade no Centro de Saúde de Cabeceiras de Basto e 10 enfermeiros de campo que supervisionaram o ensino clínico. Procedeu-se à análise de conteúdo das narrativas “diários de aprendizagem e reflexões semanais” realizadas pelos estudantes, estando subjacente a técnica dos incidentes críticos. Resultados: Emergiram 4 áreas temáticas: 1) Formação em Contexto de Trabalho – Desenvolvimento de Competências em Ensino Clínico de Enfermagem, 2) O Supervisor, as Competências e as Estratégias Utilizadas em Ensino Clínico de Enfermagem, 3) A Relação dos Diversos Actores em Contexto de Supervisão de Ensino Clínico de Enfermagem, 4) Condições de Trabalho para a supervisão em ensino clínico de enfermagem. Conclusão: O ensino clínico enquanto actividade complexa envolve múltiplos factores, requerendo a adopção de várias estratégias. Os sentimentos, as emoções, as experiências e vivências das pessoas estão no centro de todo o processo. Abstract Palavras-chave: Formação, supervisão, ensino clínico de enfermagem A GLIMPSE OF SUPERVISION IN CLINICAL NURSING EDUCATION: FIELD NURSES PERSPECTIVE AND STUDENTS Major goal: understand the experiences of nurses and nursing students that happen on the process of supervising of clinical nursing studies of nursing, promoting the development of skills. Methods: Qualitative method and phenomenological approach. The group was composed by 32 students and 10 field nurses supervise the clinical study, where participated on the clinical study “ nursing on the community” it took place at Centro de Saúde de Cabeceiras de Basto. Was carried out a content analysis of “learning diaries and weekly reflections” made by the students, subject to the technique of critical incidents. Results: Emerged 4 thematic areas 1) workplace training - Development of competences in clinical teaching of nursing. 2) the supervisor competences and strategies used in clinical teaching of nursing 3) relationship of the various actors in supervision context of clinical teaching of nursing 4) working conditions for the supervision of clinical teaching of nursing. Conclusion: the clinical teaching of nursing it’s a complex activity that evolves multiple factors, requiring the adoptions of various strategies. The filings, the emotions, the experiences of people are in the center of the process. Resumen Keywords: Communication, nurse, patient, family, humanized care. UN VISTAZO DE SUPERVISIÓN DE EDUCACIÓN CLÍNICA DE ENFERMERÍA: EL CAMPO DE ENFERMERAS PERSPECTIVA Y ESTUDIANTES Objetivo Global: Para entender las experiencias de las enfermeras y los estudiantes que se producen en el proceso de supervisión de la enseñanza clínica de la enfermería, promoviendo el desarrollo de habilidades. Método: Estudio de naturaleza cualitativa y con un enfoque fenomenológico. Los sujetos implicados fueron 32 estudiantes que realizaron la enseñanza clínica en enfermería comunitaria en el Centro de Salud de Cabeceiras de Basto y 10 enfermeras de campo que supervisaban la educación clínica. Procedió al análisis de contenido de los diarios de aprendizaje de los relatos y las reflexiones semanales “llevada a cabo por los estudiantes que se colocan detrás de la técnica de incidentes críticos. Resultados: surgieron cuatro áreas temáticas: 1) Formación en Contexto de trabajo - Habilidades de Desarrollo en la Práctica Clínica de Enfermería, 2) el supervisor, Habilidades y estrategias utilizadas en la práctica clínica de enfermería, 3) Relación de los diversos actores en Contexto Supervisión de Enfermería de Práctica Clínica, 4) las condiciones de trabajo para la supervisión de la formación clínica de los enfermeros. Conclusión: La enseñanza clínica como una actividad compleja que involucra múltiples factores, lo que requiere la adopción de varias estrategias. Sentimientos, emociones, vivencias y experiencias de las personas que están en el centro de todo el proceso. Palabras clave: Capacitación, supervisión, formación clínica de los enfermeros Rececionado em Março 2015. Aceite em Abril 2015 Extraído da tese de mestrado em Ciências da educação - Especialização em Pedagogia “Supervisão em Ensino Clínico de Enfermagem: Perspetivas dos Enfermeiros de Campo e Estudantes/Estagiários”, Universidade Católica Portuguesa. (2) Mestre em Ciências da educação - Especialização em Pedagogia; Enfermeira Chefe do Centro de Saúde de Cabeceiras de Basto (1) Revista Investigação em Enfermagem 47 O UM OLHAR SOBRE A SUPERVISÃO EM ENSINO CLÍNICO DE ENFERMAGEM: PERSPECTIVA DOS ENFERMEIROS DE CAMPO E DOS ESTUDANTES INTRODUÇÃO A formação inicial de enfermagem integra teoria e prática e está orientada para um modelo formativo integrado, no qual se torna indispensável a complementaridade entre a formação teórica e teórico prática, ministrada nas Instituições de Ensino Superior, e a formação em contexto de trabalho, realizada em instituições de saúde ou na comunidade, partilhando entre ambas a responsabilidade de formar profissionais para os quais a ciência e a arte dos cuidados de enfermagem formem um todo. A formação em contexto de trabalho, designada por ensino clínico, ou estágio, é considerada por muitos autores como uma componente fundamental no processo formativo. Como refere Martin (1991, p.162) “ permite ao estagiário desenvolver a sua identidade profissional, apreender o seu próprio modo de aprendizagem ou lançar as bases necessárias à construção dos seus conhecimentos profissionais” . Os ensinos clínicos são constituídos por uma complexa inter-relação de oportunidades, de experiências, de treinos, de observação e de superação de receios. Como a enfermagem é uma ciência humana, relacionada com pessoas, e com uma dimensão do conhecimento que abrange o estado de saúde e doença, é necessária a consciencialização dos alunos para o desenvolvimento de competências de enorme complexidade e responsabilidade. Exige-se o desenvolvimento de processos inerentes ao conhecimento construído e não apenas a um conhecimento técnico. Este tipo de conhecimento, contextual, é construído pelo estudante de enfermagem à medida que se desenvolve o seu percurso profissional. A este respeito, Alarcão (1996) sustenta que: Ninguém pode educar o formando se ele não se souber educar a si próprio. Este tem de assumir uma postura de empenhamento auto-formativo, (…) tem de ser capaz de interpretar o que vê fazer, de imitar sem copiar, de recriar, de transformar. Só o conseguirá, se refletir sobre o que faz e sobre o que vê fazer (p.10). O aluno constrói este conhecimento integrado na equipa de enfermagem, estabelecendo relações próximas com os enfermeiros em exercício, 48 Revista Investigação em Enfermagem aprende a enfermagem prática, as regras de funcionamento da organização e, simultaneamente, prepara a sua inserção no mundo do trabalho. A par da dimensão de socialização, outras competências são adquiridas em contexto de trabalho, como o trabalho em equipa, as relações interpessoais, a partilha de responsabilidades, a capacidade de aprender a aprender com novas situações, o poder da comunicação e a decisão individual ou em grupo perante situações novas, a responsabilização do trabalho individual, aprender a contactar e a lidar com o sofrimento do outro e com a morte. Enfim, nesta interacção entre o indivíduo, a formação e o complexo contexto de trabalho desenvolvem-se outras e inúmeras capacidades de resolução de problemas e de pensamento reflexivo e crítico. A este propósito, Schön (1992) refere que do conhecimento na acção emerge o pensamento, a reflexão, que quando realizada retrospectivamente numa tentativa de redescobrir o que se faz, ou seja, a reflexão na acção, está a reconstruir o pensamento, dando lugar a uma aprendizagem pela interacção entre o individuo e a situação, resultando um conhecimento de natureza mais intuitiva e outro mais reflectido e distanciado. Este autor segue uma linha de argumentação centrada no saber profissional, tomando como ponto de partida a reflexão na acção, que é realizada ao enfrentar situações de incerteza, singularidade e conflito, sempre acompanhado por um profissional, supervisor, numa relação mediada pelo diálogo entre o profissional e o estudante, onde a atitude de dizer e demonstrar do profissional se combina com a de escuta e imitação do aluno. Trata-se, neste sentido, de uma reflexão na e sobre a acção de ambos, traduzindo-se num processo sustentado de aprendizagem, de aprender praticando. À luz deste modelo, o aluno de enfermagem desenvolve a sua aprendizagem em contexto de trabalho, sempre sob a orientação de um profissional enfermeiro, experiente, que exerce uma função de supervisão. Cabe a esse supervisor potenciar a aprendizagem e promover o desenvolvimento pessoal e profissional do estudante. Ser capaz de actuar e reflectir sobre a sua própria acção como formador, desenvolvendo estratégias e processos de orientação, ajuda e acompanhamento das práticas O UM OLHAR SOBRE A SUPERVISÃO EM ENSINO CLÍNICO DE ENFERMAGEM: PERSPECTIVA DOS ENFERMEIROS DE CAMPO E DOS ESTUDANTES clínicas, num processo de diálogo reflexivo com o estudante, sobre as situações profissionais que este encontra ou irá encontrar futuramente, dissipando sentimentos de medo, ansiedade e insegurança. Vários estudos na área da supervisão em ensinos clínicos de enfermagem, (Carvalhal, 2003; Carvalho., 2005; Logarito 1999; Martins, 2000), abordam algumas das dimensões do processo, com particular ênfase na relação docente/discente e na supervisão efectuada pelo docente e não tanto no papel do enfermeiro de campo, apesar de este ser visto como um colaborador, num processo de parceria. O estudo aqui apresentado tem como objetivo compreender este fenómeno, através da descrição, análise e interpretação das experiências vivenciadas pelos enfermeiros de campo e pelos estudantes/estagiários que ocorrem no processo de supervisão de ensinos clínicos de enfermagem. A principal finalidade é compreender de um modo aprofundado esta realidade e contribuir com propostas para a melhoria da prática da supervisão em ensinos clínicos de enfermagem. MATERIAL E MÉTODOS Como estratégia de investigação, definimos para este estudo, uma aproximação à abordagem fenomenológica, inserindo-se no paradigma naturalista, encontrando na fenomenologia uma forma particular de focar, pensar e agir. (Bogdan & Biklen, 1994). Com a adopção de uma abordagem interpretativa, de carácter qualitativo, põe-se em realce o significado intrínseco dos factos e fenómenos onde é presumido que a realidade não é uma entidade fixa, mas uma construção da mente humana e, assim, a “verdade” é um composto de múltiplas construções da realidade (Polit, et al, 2004, p. 40). Participantes do estudo: num espaço temporal de 2 anos letivos, os sujeitos envolvidos foram 32 estudantes, dos quais: 6 alunos do 1ºano (18,8%); 8 do 2º ano (25%) e 18 do 4º ano (56,3%) que, realizaram o ensino clínico Enfermagem na comunidade no C.S.C.B. e 10 enfermeiros de campo que participaram e supervisionaram esse ensino clínico. Procedimentos e Instrumento de recolha de dados: com recurso à técnica das narrativas, solicitamos aos participantes - estudantes estagiários e enfer- meiros de campo supervisores - que descrevessem situações e factos, vivenciadas ou presenciadas (incidentes críticos) por eles durante o ensino clínico, e que tiveram particular importância para o seu processo de aprendizagem. Seguindo a sugestão de Estrela & Estrela (1994), esta expressão foi substituída por incidente significativo, sugerindo aos participantes que fizessem relatos simples dos factos: como aconteceram, quando aconteceram, em que contextos situacionais aconteceram, com quem aconteceram e o que lhes fizeram sentir. Pretendia que o estudo se situasse num contexto comunicativo livre e espontâneo, não sendo, por isso, construído qualquer guião de narração. O período de registo das narrativas reportava-se a cada semana, optando, cada um, por registos diários ou por sínteses das experiências significativas ao longo do estágio, os quais deveriam ser entregues à investigadora. Não se utilizou a observação directa nem se pretendeu fazer induções ou previsões sobre o indivíduo que realizava a acção. Questões éticas: Todos os enfermeiros supervisores de campo e estudantes foram informados sobre a realização do estudo e solicitada, pessoalmente, a sua colaboração, explicando-lhes aquilo que se pretendia, aguardando algum tempo pela manifestação de interesse em participar. Atendemos às recomendações de Bogdan & Biklen (1994), no que diz respeito à ética em investigação qualitativa, como o consentimento informado, a adesão voluntária, a informação sobre os objectivos do estudo, o respeito e autenticidade na apresentação de resultados. Por último, foi garantido o carácter de confidencialidade, protegendo a identidade dos sujeitos da investigação. A formação em ensinos clínicos segue o modelo de aprendizagem de adultos, os estudantes relatam acontecimentos que revelam a importâncias dada à aprendizagem baseada na realidade e na experiência, e o modo como influencia a sua forma de estar e ser, numa perspectiva de construção pessoal “(…) Nunca tinha tido uma experiência assim, sinto que enriqueci, não só como profissional mas também como pessoa em formação que sou”. (DTT 4º ano). Alarcão & Tavares (2003) referem a aprendizagem como uma construção pessoal, também valorizada e, mesmo, expressa pelos alunos: “tenhoRevista Investigação em Enfermagem 49 O UM OLHAR SOBRE A SUPERVISÃO EM ENSINO CLÍNICO DE ENFERMAGEM: PERSPECTIVA DOS ENFERMEIROS DE CAMPO E DOS ESTUDANTES -me empenhado muito e recebido as críticas e orientações que me são feitas, sempre com a preocupação de evoluir e melhorar o meu trabalho” (DSN 2º ano). Verificamos que os alunos assumem um papel activo na sua formação, desenvolvem capacidades que permitem aprender a aprender. Existe uma crescente consciência da responsabilidade, por parte dos enfermeiros orientadores de campo de estágio, na formação de novos enfermeiros “quando penso que estou a contribuir para construir novos enfermeiros, sinto-me muito vaidosa” (RPV). Os enfermeiros orientadores de campo, embora ainda com algumas resistências à mudança, vão de encontro ao pensamento de Schön (1992), quando refere a crise da formação, como sendo a incapacidade para mobilizar as principais virtualidades criativas dos indivíduos. Alarcão & Tavares (2003) referem a aprendizagem como uma construção pessoal, também valorizada e, mesmo, expressa pelos alunos: “tenho-me empenhado muito e recebido as críticas e orientações que me são feitas, sempre com a preocupação de evoluir e melhorar o meu trabalho” (DSN 2º ano). Verificamos que os alunos assumem um papel activo na sua formação, desenvolvem capacidades que permitem aprender a aprender. Existe uma crescente consciência da responsabilidade, por parte dos enfermeiros orientadores de campo de estágio, na formação de novos enfermeiros “quando penso que estou a contribuir para construir novos enfermeiros, sinto-me muito vaidosa” (RPV). Os enfermeiros orientadores de campo, embora ainda com algumas resistências à mudança, vão de encontro ao pensamento de Schön (1992), quando refere a crise da formação, como sendo a incapacidade para mobilizar as principais virtualidades criativas dos indivíduos. Fazendo uma análise global das reflexões dos estudantes, parece-nos lícito recusar a ideia de ensino clínico como um momento de aplicação de teoria à prática, numa lógica dicotómica teoria/ pratica versus concepção/execução, mas entendido como um espaço e um tempo privilegiado de formação (Kérouac, 1996), onde os diversos actores agem e são agidos e os seus diferentes saberes 50 Revista Investigação em Enfermagem se processam numa relação dialéctica no cenário formativo e socializador do contexto de trabalho. A equipa de saúde como modelo de aprendizagem, assim professores e enfermeiros da prática devem ter consciência do modelo que transmitem, (Kramer cit. por Rauen, 1970), pois existe sempre um modelo de aprendizagem em cada desempenho profissional, por isso os orientadores deverão estar conscientes que são uma referência para os alunos e que os estudantes captam certas mensagens dos orientadores, mesmo que elas não sejam verbalizadas (1994 cit. por Carvalhal, 2003). Neste estudo vários estudantes expressam sentimentos e opiniões sobre este assunto “Considero todos os profissionais deste serviço, e em especial a minha enfermeira orientadora, um exemplo de profissional para mim” (DSMG 4ºano) “Primeiro observei como a minha tutora fazia a consulta de planeamento familiar, depois fiz sozinha.” (DSS 4ªano) Os enfermeiros orientadores de campo têm consciência e assumem o papel de modelo para o aluno. Aliás, esta é uma preocupação descrita por alguns destes profissionais “Dou por mim a questionar se será que a imagem que transmiti é a melhor? Será que não fui correcta? Era essa a atitude correcta? Em que mais poderei ajudar?” (RCB) A análise das reflexões descritas leva-nos a concluir que os orientadores de campo entendem ser fundamental, para além dos conhecimentos sobre a prática de enfermagem, ser “capaz de compreender e fazer a transferência de um modelo, ou metamodelo de enfermeira, para um modelo adequado e eficaz de ensino” (Carvalhal, 2003; p.52). Apropriação do sentido da profissão de enfermagem, é aqui, no contexto dos cuidados, e neste processo de socialização profissional, que o estudante vai construindo o seu perfil profissional, a sua forma de estar e sentir a profissão, permitindo ao futuro enfermeiro uma ideia mais objectiva do grupo de pertença (Abreu, 2003) e, eventualmente, de si próprio. Os diários de aprendizagem reflectem este complexo processo, evidenciando mesmo os sentimentos experienciados pelos estudantes neste percurso “Este tempo de ensino clínico ensina-nos o que realmente é ser enfermeiro. Sentir a agitação do serviço, as conversas com os O UM OLHAR SOBRE A SUPERVISÃO EM ENSINO CLÍNICO DE ENFERMAGEM: PERSPECTIVA DOS ENFERMEIROS DE CAMPO E DOS ESTUDANTES utentes, as dificuldades e momentos tão reconfortantes que passamos, dão-nos alento para continuar a nossa formação. Agora que o ensino clínico está a terminar e tenho que regressar à escola, vou sentir que deixei para trás um pouco de mim e que levo comigo um pouco de todos os que estiveram presentes neste ensino clínico.” (DDB 2ºano) Em síntese, as práticas clínicas ocorrem em espaços contextualizados, onde os alunos de enfermagem aprendem a ser enfermeiros, a partir dos modelos existentes construindo, gradualmente, o seu perfil como futuros profissionais de enfermagem. Categoria 2: O supervisor, as competências e as estratégias utilizadas em ensino clínico de enfermagem A relação pedagógica entre o supervisor e o aluno é essencial, baseando-se numa rede de relações que se estabelece entre o formador, o formando e o saber (Silva Lopes, 1993). Nesta construção, torna-se fundamental que ensinar e orientar o aluno, significa ajudar a promover o desenvolvimento de competências, aceitando-o como um ser individual com capacidades e características próprias. Também os orientadores que integram este estudo corroboram esta perspectiva “Tenho feito algumas anotações personalizadas, porque cada aluno é único, para em tempo oportuno fazer os comentários ao desenvolvimento do ensino clínico.” (RAL) A relação pedagógica entre o supervisor e o aluno é essencial, baseando-se numa rede de relações que se estabelece entre o formador, o formando e o saber (Silva Lopes, 1993). Nesta construção, tornase fundamental que ensinar e orientar o aluno, significa ajudar a promover o desenvolvimento de competências, aceitando-o como um ser individual com capacidades e características próprias. Também os orientadores que integram este estudo corroboram esta perspectiva “Tenho Tabela 1 - Supervisão em Ensino Clínico de Enfermagem Perspectivas dos Enfermeiros de Campo e Estudantes/Estagiários Categorias Subcategorias A formação em ensino clínico segue o modelo de aprendizagem de adultos Tensão entre o saber técnico e o saber humano Formação em contexto de trabalho A equipa de saúde como modelo de aprendizagem – Desenvolvimento de competências em ensino Contactar com o sofrimento do outro é uma experiência “humanizante” clínico de Enfermagem Apropriação do “sentido” da profissão de enfermagem As experiências vivenciadas em ensino clínico despertam sentimentos nos alunos Características do supervisor – Factores que influenciam o processo de supervisão O Supervisor e as estratégias de supervisão Competências dos supervisores – enfermeiros de campo utilizadas em ensino clínico de enfermagem Estratégias de supervisão em ensino clínico Relações interpessoais – O aluno e o utente; o aluno e o enfermeiro professor, o aluno Relação em contexto de e o enfermeiro de campo e o aluno e os outros: Colegas, equipa de saúde, família supervisão em ensino clínico de enfermagem Relações Interinstitucionais – Comunicação escola/serviço Tempo de permanência dos supervisores em ensino clínico – Ausentes/presentes para Condições de trabalho apoio e orientação para a supervisão de ensino clínico de Ambiente clínico – Recursos humanos, recursos de matérias, programação de enfermagem actividades, oportunidade para praticar, nº de alunos por serviço, constatação sobre as praticas Revista Investigação em Enfermagem 51 O UM OLHAR SOBRE A SUPERVISÃO EM ENSINO CLÍNICO DE ENFERMAGEM: PERSPECTIVA DOS ENFERMEIROS DE CAMPO E DOS ESTUDANTES feito algumas anotações personalizadas, porque cada aluno é único, para em tempo oportuno fazer os comentários ao desenvolvimento do ensino clínico.” (RAL) O conceito de supervisão na óptica dos participantes do estudo, neste estudo assumimos a supervisão como um processo em que um enfermeiro orienta, um ou mais alunos, em ensino clínico, monitorizando, de forma sistemática, a prática através de um acompanhamento contínuo (Alarcão & Tavares, 1987). Os enfermeiros de campo consideram a supervisão em ensinos clínicos como momentos privilegiados de reflexão “o meu objectivo, enquanto supervisor é “puxar” pelo aluno e colocá-lo mais a pensar reflexivamente e criticamente, para que possa evoluir na sua caminhada como aluno de enfermagem” (RPV). Da análise dos relatos verificamos que, para os enfermeiros, a supervisão é gratificante, assumem “a orientação de alunos como um tempo gratificante” (RZ), mas exigente e complexo; “todos os dias trago para casa dúvidas e questões sobre a minha orientação” (RPV). Fazem também transparecer uma perspectiva de supervisão como um produto “preocupa-me sempre muito a avaliação dos alunos, penso várias vezes na temática, “avaliação” e sobre os itens a avaliar” (REC); ou como uma oportunidade de reciclagem e transmitir saberes “gostei muito de ter orientado alunos, pois permitiu-me actualizar os conhecimentos e ajudá-los com a minha experiência” (RAA). Características do supervisor – factores que influenciam o processo de supervisão, as características mais referidas pelos estudantes e enfermeiros de campo como facilitadoras foram a disponibilidade, a confiança e a motivação. As narrativas vão de encontro à perspectiva de Alarcão & Tavares (2003), Vieira (1993) e outros autores, quando consideram o papel do supervisor como facilitador da aprendizagem, aquele que estimula, anima e dá confiança ao formando. Competências dos supervisores – enfermeiros de campo, os enfermeiros da prática confrontamse com a experiência da supervisão de alunos e com o facto de a sua formação não contemplar conhecimentos pedagógicos de modo torná-los em “peritos didácticos, capaz de criar um clima 52 Revista Investigação em Enfermagem propício à aprendizagem” (Carvalhal, 2003, p. 43). Os enfermeiros envolvidos neste estudo exprimem as suas angústias e preocupações “Não tenho nenhuma formação na área da pedagogia (…) devo confessar que esta minha dificuldade diminui a qualidade do meu trabalho enquanto enfermeira supervisora de alunos” (RAL). A complexidade que envolve a avaliação é uma das dificuldades referidas pelos enfermeiros de campo, registando o momento como preocupante. Carvalhal (2003) sustenta a este respeito que a grande valorização dada à avaliação parece reveladora do peso que ela detém no processo educativo. Do nosso ponto de vista, parece estar igualmente relacionada com a própria concepção de supervisão como um produto, referida anteriormente. Estratégias de supervisão em ensino clínico, a formulação de questões reflexivas é uma estratégia de questionamento promotor da reflexão, através do qual se pretende validar as práticas e as teorias (Amaral et al., 1996). Após a análise das narrativas dos enfermeiros de campo constatamos a utilização desta estratégia, referida como um plano de acção motor de reflexão, através do qual pretendem validar a práticas e a teoria. “Refletimos em conjunto sobre as indicações do produto e daí o alerta para as situações que não deve ser utilizada esta mistura.” (RCB) Nos diários de aprendizagem dos alunos, também encontramos a formulação de questões reflexivas. Reorganizam a experiência, recordando o que foi feito e objectivando a situação numa tentativa de construir novo conhecimento. “Entendo os erros como fazendo parte da aprendizagem (…) reconheci um erro que fiz num ensino sobre alimentação infantil, como o reconheci não vou voltar a repeti-lo e reflecti sobre as orientações da enfermeira sobre o que poderei melhorar.” (DSN 2ºano). Os alunos reflectem sobre os assuntos tentando chegar a uma conclusão sobre o porquê, através do diálogo consigo próprios e com os outros. A demonstração constitui um processo estratégico bastante utilizado em ensino clínico, dado que o ensinamento é in loco, o que significa que os alunos aprendem colaborando ou, apenas, O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO COMO ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA NO CUIDAR DA FAMÍLIA DA PESSOA EM SITUAÇÃO CRÍTICA observando a exemplificação do seu supervisor. Vejamos, a propósito, algumas reflexões dos enfermeiros de campo “(…) assim, concordamos que ficariam a observar como eu fazia (…) e enquanto o atendi expliquei passo a passo os procedimentos” (RAA) As supervisoras utilizam a demonstração como estratégia, dando ênfase aos procedimentos técnicos, apelando à participação activa dos alunos e/ou observando e colaborando nas atividades. Os alunos referem a observação como uma estratégia utilizada pelas supervisoras, considerando, no entanto, que, por vezes, contribui negativamente para a sua aprendizagem. “Quando me sinto observado fico inibida e incapaz de mostrar realmente os meus conhecimentos (…)” (DSMG 4ºano). Os supervisores confrontamse com a necessidade de observar para avaliar, mas também para melhorar, numa perspectiva formativa. Categoria 3: A relação dos diversos actores em contexto de supervisão de ensino clínico de enfermagem As relações dos diversos actores em contexto de supervisão de ensino clínico de enfermagem, constituem um projecto conjunto de múltiplos actores, da sua análise surgiram duas subcategorias: As relações interpessoais, esta subcategoria diz respeito às relações e à influência que se estabelecem entre, o aluno e o enfermeiro de campo; o aluno e o enfermeiro professor e, o aluno e os outros (colegas, equipa de saúde, família). A relação do aluno com o utente é vista, por aquele, como fundamental no processo de cuidar, considerando-a ainda mais importante que o conhecimento científico. “Para mim, saber manter uma óptima relação com o doente é, por vezes, mais importante que o saber científico” (DSMG 4ºano) e, do mesmo modo, as enfermeiras orientadoras atribuem importância à preparação dos estudantes na vertente da relação com os utentes “a comunicação com os familiares, de uma forma espontânea, simples e acessível, surpreendeu-me e valorizo muito”. (RAA) Os estudantes sabem que o sucesso da sua aprendizagem pressupõe a interacção com o grupo, mas isto nem sempre acontece, pois, como afirma um estudante, “nem todos os enfermeiros do serviço mostram interesse em nos ajudar, mas isso é como tudo na vida.” (DNP 4ºano). Ainda no que concerne às relações interpessoais, os estudantes tornam-se mais cooperantes uns com os outros, através de partilha de saberes “A interacção com os colegas da nossa escola e doutra escola é de companheirismo e muita relação de ajuda.” (DCM 4ºano) As relações interinstitucionais, no ensino clínico é imprescindível a colaboração/articulação entre os dois locais de formação, escolas e organizações de saúde. Os relatos dos enfermeiros de campo e dos estudantes revelam que, apesar de o diálogo e o apoio entre docentes e enfermeiros cooperantes proporcionarem satisfação, nem sempre se verifica comunicação e concordância entre os enfermeiros de campo e enfermeiros docentes das escolas referindo que a “falta de comunicação entre nós e as professoras da Escola, é sentida, a vários níveis”. (RPV). Categoria 4: Condições de trabalho para a supervisão em ensino clínico de enfermagem Foram encontradas duas subcategorias: Tempo de permanência dos supervisores em ensino clínico – ausentes/presentes para apoio e orientação e ambiente clínico – Recursos humanos, recursos de matérias, programação de actividades, nº de alunos por serviço, duração do ensino clínico, oportunidades para praticar, trabalhos académicos. Tempo de permanência dos supervisores em ensino clínico – ausentes/presentes para apoio e orientação, refere-se à duração da estadia dedicada pelos supervisores ao acompanhamento dos alunos, para apoio e orientação. A este propósito, os alunos referem que a proximidade do orientador é muito importante para o sucesso da aprendizagem, “penso que a orientadora deveria ter mais disponibilidade real.” (DTT 4º ano). Ambiente clínico – Recursos humanos, recursos de matérias, programação de actividades, nº de alunos por serviço, duração do ensino clínico, oportunidades para praticar, trabalhos académicos. Da análise das narrativas, verifica-se que os profissionais dos serviços são considerados recurso chave, assumindo um papel fundamental e insubstituível no processo de formação em contexto de trabalho. Revista Investigação em Enfermagem 53 O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO COMO ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA NO CUIDAR DA FAMÍLIA DA PESSOA EM SITUAÇÃO CRÍTICA O número de alunos por campo de estágio e a duração do ensino clínico influencia a qualidade do acompanhamento e orientação, sendo um factor que preocupa os enfermeiros orientadores de campo. As reflexões dos enfermeiros traduzem uma preocupação relacionada com a qualidade da formação de novos enfermeiros. Um aspecto salientado prende-se com os trabalhos académicos solicitados pela escola, no decurso do ensino clínico, considerando que eles provocam constrangimentos ao desenvolvimento das actividades práticas. Na perspectiva dos alunos, a grande quantidade de trabalhos académicos que são obrigados a realizar, durante o ensino clínico, é um factor negativo e promotor de ansiedade. “As instituições de saúde devem considerar que a sua própria forma de organização é formadora” (Abreu, 2003, p. 63) e podem influenciar, positiva ou negativamente, a aprendizagem dos alunos. Nos seus diários, os estudantes expressam os sentimentos e tensões que vivem ao longo de todo o ensino clínico, mas referem com particular acuidade os primeiros contactos com o serviço. Estes momentos são descritos pelos estudantes como muito expectantes e, também, angustiantes, podendo ser determinantes no sucesso ou insucesso da sua aprendizagem “Os primeiros dias são sempre muito difíceis, pessoas novas, realidades novas, ando perdido, não sei o que fazer, quando fazer e como fazer.” (DAG 2ºano). A SUPERVISÃO EM ENSINO CLÍNICO DE ENFERMAGEM, NA PERSPECTIVA DOS ACTORES: UMA SÍNTESE Um olhar reflexivo em torno da supervisão em ensino clínico de enfermagem A reflexão sobre as experiências vividas e o impacto destas no pensamento e na acção do estudante/estagiário, narrado por vezes de modo tão intenso, funcionou como veículo de articulação do saber académico com o profissional, sendo promotor de um aprender a fazer fazendo, um construtor de estratégias e soluções para a incerteza, análise crítica dos problemas, caminhando no sentido do conhecimento pessoal e profissional. A aprendizagem baseada na reflexão não acontece 54 Revista Investigação em Enfermagem ou é condicionada pelo ritmo alucinante com que ocorrem os acontecimentos da prática. Situação muito recorrente, por exemplo, no trabalho domiciliário, com práticas muito próximas dos modelos tradicionais a aprendizagem faz-se por imitação do profissional experiente. Exigentes consigo próprios e com os outros, os estudantes/estagiários assumem-se como críticos e reflexivos, numa matriz de enfermagem muito próximo do paradigma da transformação (Kérouac et al., 1996). Na perspectiva de algumas enfermeiras de campo, ainda predomina uma concepção de racionalidade técnica, em que as teorias, previamente adquiridas na escola, podem e devem ser reproduzidas através da prática, na maioria das vezes com sentido único sentido e não numa relação de diálogo em que a teoria e prática se informam mutuamente (Zeichner, 1992). Nesta perspectiva, o ensino clínico constitui um mero processo de treino de natureza instrumental, persistindo claramente uma preocupação por uma perfeita execução das técnicas, sendo esta vertente uma constante em todo o processo de supervisão. A relação em contexto de supervisão é encarada pela maioria dos alunos como a pedra angular de todo o processo, baseada numa relação interpessoal dinâmica, encorajadora e facilitadora da aprendizagem, (Alarcão & Tavares, 1987). Perspectivam um modelo de supervisão baseado numa filosofia humanista, e uma relação pedagógica sustentada nos princípios da relação de ajuda preconizados por Rogers (1983). No ensino clínico os profissionais tentam desempenhar o papel de supervisores transmitindo a sua experiência, articulando a lógica de desenvolvimento do trabalho com um ensino sustentado na prática quotidiana. O processo de supervisão da formação em contexto clínico adquire uma crucial importância, numa perspectiva de crescimento dos estudantes, enfermeiros de campo, utentes e instituição de saúde acolhedora da formação, potenciando o desenvolvimento de capacidades de aprendizagem individuais e colectivas. A diversidade de situações, geradoras de conflitos de papéis e o consequente desgaste do supervisor, transmitidas nas diversas reflexões, colocam em confronto a aprendizagem do futuro profissional e as suas responsabilidades como O UM OLHAR SOBRE A SUPERVISÃO EM ENSINO CLÍNICO DE ENFERMAGEM: PERSPECTIVA DOS ENFERMEIROS DE CAMPO E DOS ESTUDANTES enfermeiro de família. Vive-se uma prática clínica carregada de simbolismo, cheia de rotinas e hábitos de trabalho, contrariando, por vezes, os saberes teóricos, e colocando os alunos e os supervisores perante situações de profunda incerteza sobre as formas ideais de orientar e de aprender. Na instituição de formação inicial cria-se a imagem de uma praxis, ou seja, uma prática pensadora e criativa. Contudo, os enfermeiros de campo convidam os estudantes à modelagem, socializando-os nos seus esquemas de trabalho e nas rotinas das suas Instituições de Saúde, e, então, conclui-se que aquela imagem não passa de uma utopia, não passa de um ideal… Por um lado, é difícil o estudante perceber e dar sentido ao que aprendeu ao longo do seu curso e, por outro, é difícil ao supervisor saber exactamente os passos a seguir no processo de ensino/aprendizagem, quando se torna absolutamente necessário que o supervisor seja um enfermeiro com competências pedagógicas, capaz de compreender e fazer a transferência de um modelo, ou metamodelo de enfermeiro, para um modelo adequado e eficaz de ensino (Carvalhal, 2003, p. 52). O estudo põe em evidência a necessidade de articulação entre a teoria e a prática, no âmbito da formação inicial em enfermagem, através de uma comunhão efectiva destes dois espaços formativos, assumindo-os como um todo, integrado e complementar. CONCLUSÃO É, pois, urgente repensar as estratégias de articulação das instituições de formação inicial e as instituições prestadoras de cuidados de enfermagem, de modo a superar possíveis disfunções e a beneficiar os alunos, os docentes, os enfermeiros supervisores, no fundo, todas as partes envolvidas. O estabelecimento de redes de comunicação entre os dois espaços de formação, com recurso, por exemplo, às tecnologias de informação e comunicação, poderia ser um meio importante para o estabelecimento destas relações sinérgicas e produtivas. As instituições onde decorre o ensino clínico deveriam ser assumidas como espaços de formação por excelência. Nesse sentido, sugerimos quer a presença dos estudantes servi de base para a construção e desenvolvimento de comunidades reflexivas, contribuindo para a melhoria da qualidade dos cuidados prestados ao cidadão. A gestão e organização das instituições de saúde, onde se desenvolvem os ensinos clínicos, ainda se encontra muito marcada por princípios tayloristas, não sendo assumida claramente a supervisão dos ensinos clínicos como uma actividade integrada nas funções do enfermeiro. Estes vêem-se confrontados com constrangimentos relacionados com a sobrecarga de trabalho, levando-os a adoptar estratégias de supervisão deficitária, disponibilizando pouco tempo para a reflexão, discussão e análise do que se vai desenvolvendo ao longo da formação. Um caminho a seguir seria a consideração dos supervisores como elementos supranumerários nos serviços (Abreu, 2003). Ademais, os enfermeiros de campo não têm preparação pedagógica para a prática da supervisão, sendo confrontados com dificuldades que tentam ultrapassar. Alguns adoptam uma estratégia do tipo laisser faire laisser passez. Outros, inspirados por modelos tradicionais, tentam reproduzir de forma o mais fiel possível, os modelos em que foram formados. É importante que o estudante seja acompanhado por um supervisor conhecedor do processo educativo, que conheça a filosofia subjacente ao curso e saiba os objectivos que se prevê concretizar em cada momento da formação. Para isso, é necessário promover uma política de formação contínua que integre temáticas relacionadas com a supervisão de ensinos clínicos.. Mais que uma mera tarefa, a realização do ensino clínico deve ser um compromisso assumido, entre estudantes e supervisores, para que o desenvolvimento de competências necessárias ao desempenho profissional aconteça, que os alunos se envolvam e criem a vontade de Ser Enfermeiro dignificando a profissão. BIBLIOGRAFIA ABREU, Wilson (2001). Identidade, Formação e Trabalho: Das Culturas Locais às Estratégias Identitárias dos Enfermeiros. Lisboa: Educa e Formasau. ABREU, Wilson (2003). Supervisão, Qualidade Revista Investigação em Enfermagem 55 O UM OLHAR SOBRE A SUPERVISÃO EM ENSINO CLÍNICO DE ENFERMAGEM: PERSPECTIVA DOS ENFERMEIROS DE CAMPO E DOS ESTUDANTES e Ensinos Clínicos: Que Parcerias Para a Excelência em Saúde?. Coimbra: Formasau. ALARCÃO, Isabel (1996). Reflexão Crítica sobre o Pensamento de Shön e os Programas de Formação de Professores” In ALARCÃO, Isabel (org.). Formação Reflexiva de Professores – Estratégias de Supervisão. Porto: Porto Editora, pp. 9-39 ALARCÃO, Isabel (2002). 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De acordo com o Estatuto Editorial, os domínio dos saberes espelhados na RIE situam-se no domínio da enfermagem enquanto disciplina científica e prática profissional organizada. 1 - TIPOS DE ARTIGOS 1.1 - Cartas ao director: Publicam-se nesta secção comentários, observações científicas ou críticas sobre artigos e temas surgidos na revista, assim como dúvidas ou experiências que podem ser resumidas. Quando justificar, a direcção da RIE envia aos autores visados as cartas para direito de resposta. Extensão máxima recomendada 3 páginas. 1.2 - Artigos sobre teoria de investigação: Artigos sobre teoria, métodos e técnicas de investigação numa construção de saberes original, revisão ou mistos. Estes artigos resultam da reflexão fundamentada sobre temas de investigação, desenvolvidos coerentemente de forma a obter conclusões válidas, podendo resultar da análise crítica da bibliografia relacionada com o tema em questão. Devem estruturar-se da seguinte forma: Resumo: Até 150-200 palavras, que contará com breve informação sobre o problema analisado, discutido ou revisto e se for caso o material e métodos utilizados e conclusões. Palavras Chave: até um máximo de seis palavras que espelhem os conteúdos desenvolvidos. Introdução: Deve ser breve, focando o tema e os objectivos do trabalho. Desenvolvimento da temática Conclusão: Breve e sucinta, focando os elementos fortes do desenvolvimento que constituam novidade científica ou uma nova visão sobre problemáticas já existentes. Bibliografia: Seguindo a Norma Portuguesa - NP 405-1 (1994), ou outra norma aceite na comunidade científica. Extensão máxima recomendada 15 páginas. 1.3 - Artigos síntese de trabalhos de investigação: Artigos que se constituam em sínteses de investigação e que se estruturam da seguinte forma: Resumo; Palavras Chave; Introdução (com as características atrás enunciadas) Fundamentação: Breve revisão e localização da problemática. Material e métodos: Descrevendo-se com detalhe os métodos e as técnicas de investigação de forma a que possam ser avaliados e repetidos por outros investigadores. Resultados: Os resultados devem ser concisos e claros e incluir o mínimo necessário de tabelas e quadros. Apresentam-se de forma a que não exista duplicação e repetição de dados no texto e nas figuras. Discussão: Comentará os resultados alcançados confrontando-os com à revisão bibliográfica efectuada e relacionando-os com resultados de trabalhos prévios do próprio ou de outros autores. Conclusão: Breve e sucinta focando os elementos fortes resultantes da investigação e que constituem novidade científica ou um novo equacionar de dados já existentes. Agradecimentos: Se considerar necessário, nomeia-se pessoas e entidades. Bibliografia Extensão máxima recomendada 20 páginas. 2 - RESPONSABILIDADES ÉTICAS As investigações realizadas em instituições carecem de autorização prévia das administrações. Quando se descrevem experiências realizadas em seres humanos deve-se indicar se os procedimentos estão de acordo com as normas da comissão de ética. Não se devem utilizar nomes, iniciais ou números hospitalares. Deve ser clara a permissão de publicação por entidades/instituições que financiaram a investigação. A revista não aceita material já publicado. Os autores são responsáveis por obter as necessárias autorizações para a reprodução parcial ou total de material (texto, quadros e figuras) de outras publicações. Estas autorizações devem pedir-se tanto ao autor como à editora. Na lista de autores devem figurar unicamente as pessoas que contribuíram intelectualmente para o desenvolvimento do trabalho. De forma geral para figurar como autor deve-se cumprir os seguintes requisitos: 1 - Ter participado na concepção e realização do trabalho do qual resultou o artigo em questão. 2 - Ter participado na redacção do texto e nas eventuais revisões do mesmo. 3 - Estar de acordo com a versão que finalmente vai ser publicada. A RIE declina qualquer responsabilidade sobre possíveis conflitos decorrentes da autoria dos trabalhos que se publicam. Os autores devem mencionar na sessão de métodos se os procedimentos utilizados nos utentes e grupos de controlo se realizaram com o consentimento informado. Os autores (todos os que constarem na autoria do artigo) devem juntamente com o envio dos originais enviar uma folha onde declarem ceder graciosamente os direitos de publicação do artigo. Daí decorre que um artigo enviado para a RIE até rejeição da sua publicação não pode ser enviado para outro periódico. 3 - COMO ENVIAR ARTIGOS PARA PUBLICAÇÃO Os artigos e cartas devem de preferência ser enviados via on-line através do site da RIE: www.sinaisvitais.pt/rie.php Podem também ser serão endereçados ao director da RIE, Parque Empresarial de Eiras, lote 19 - 3020-265 Coimbra, ou Apartado 8026, 3021-901 PEDRULHA. Neste caso, deve enviar um original em suporte papel dactilografado em espaço duplo, letra 12, papel formato A4, com o tamanho máximo recomendado conforme atrás descrito para cada tipo. Deve enviar CD com o texto, de preferência em Word, construído de forma simples sem utilização de cor. Deve acompanhar carta com título do trabalho, nome dos autores, morada e forma de contacto, categoria profissional, título académico, local de trabalho. Deve acompanhar declaração, manuscrita ou dactilografada em como cedem à RIE os direitos de publicação do artigo (identificar título), datado e assinado por todos os autores. Imagens, figuras e fotografias a inserir, devem ser enviados os originais de forma ordenada e em função da sua introdução sequencial no texto (formato JPEG ou TIFF, com boa resolução). Tabelas, quadros e gráficos devem ser incluídos(as) por ordem de inclusão no texto. Os autores devem ter em atenção à sua forma gráfica, à clareza de apresentação dos dados e resultados e ao formato dos símbolos da linguagem estatística. 4 - PROCEDIMENTOS DA RIE A RIE acusa a recepção do artigo em carta enviada ao 1º autor. A RIE assim que proceder à aceitação do artigo comunica ao 1º autor a data provável de publicação. Após publicação será(ão) enviada(s) ao(s) autor(es) senha(s) de acesso à RIE em formato PDF. Os juízos e opiniões expressos nos artigos e cartas ao director são dos autores e não necessariamente do Conselho Editorial e da Formasau, Formação e Saúde Lda, editora da RIE, entidades que declinam qualquer responsabilidade sobre o referido material. Terão prioridade na publicação os artigos provenientes de autores assinantes da RIE, da Revista Sinais Vitais e do SOS, Jornal de Enfermagem. 5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Utilizam-se normas aceites pela comunidade científica nomeadamente a Norma Portuguesa, NP 405-1 (1994), alguns exemplos: Monografias; LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade – Metodologia do trabalho científico. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 1992. ISBN 85-224-0859-9 (Com mais de dois autores utilizar et al.) Artigos de publicações periódicas; WEBB, Patt – A sociedade europeia de enfermagem oncológica: passado, presente e futuro. Enfermagem Oncológica. Porto. ISSN 0873-5689. Ano 1, Nº1 (1997), p.11-18. NOTA FINAL: Todos os artigos devem ter título, resumo e palavras-chaves em língua portuguesa, inglesa e espanhola.